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Giovanni de Paula Oliveira
A VARIAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES “PARA” E “A”
NA FALA DE UBERABA E MONTES CLAROS
Universidade Federal de Uberlândia
Instituto de Letras e Linguística
2009
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Giovanni de Paula Oliveira
A VARIAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES “PARA” E “A”
NA FALA DE UBERABA E MONTES CLAROS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos - PPGEL, Curso
de Mestrado em Estudos Linguísticos do Instituto de
Letras e Linguística ILEEL - da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Linguística.
Área de concentração: Estudos em Linguística e
Linguística Aplicada.
Linha de Pesquisa: Teorias e análises Linguísticas:
estudos sobre léxico, morfologia e sintaxe.
Tema: Variação e Mudança Linguística.
Orientadora: Profª Drª Maura Alves de Freitas Rocha
Uberlândia
2009
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
O48v
Oliveira, Giovanni de Paula, 1977-
A variação das preposições “para” e “a” na fala de Uberaba e
Montes Claros / Giovanni de Paula Oliveira. -2009.
133 p. : il.
Orientadora: Maura Alves de Freitas Rocha.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, Pro-
grama de Pós-Graduação em Linguística.
Inclui bibliografia.
1. Sociolinguística - Teses. 2. Língua portuguesa - Sintaxe - Te-
ses. I. Rocha, Maura Alves de Freitas. II. Universidade Federal de
Uberlândia. Programa de Pós-Graduação em Linguística. III. Título.
CDU: 801:316
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classificação
Giovanni de Paula Oliveira
A variação das preposições “para” e “a” na fala de Uberaba e Montes Claros
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos - PPGEL, Curso
de Mestrado em Estudos Linguísticos do Instituto de
Letras e Linguística ILEEL - da Universidade
Federal de Uberlândia, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Linguística.
Área de concentração: Estudos em Linguística e
Linguística Aplicada.
Linha de Pesquisa: Teorias e análises Linguísticas:
estudos sobre léxico, morfologia e sintaxe.
Tema: Variação e Mudança Linguística.
Orientadora: Profª Drª Maura Alves de Freitas Rocha
Uberlândia, 30 de outubro de 2009
Banca Examinadora:
___________________________________________________________________
Profª D Maura Alves de Freitas Rocha - UFU Orientadora
___________________________________________________________________
Profª Drª Juliana Bertucci Barbosa - UFTM
___________________________________________________________________
Profª Drª Elisete Maria Carvalho Mesquita - UFU
À minha família e amigos
que me acompanharam...
AGRADECIMENTOS
Dirijo meus mais sinceros agradecimentos à Profª. Drª. Maura Alves de
Freitas Rocha, por haver me orientado de forma tão magnífica e me acompanhado
no processo de elaboração deste trabalho.
Aos meus familiares, que participaram de cada momento em que estive
envolvido com o curso de Mestrado em Linguística, que souberam ouvir e
compreender minha ansiedade e angústica nos momentos difíceis.
Aos professores do mestrado, que contribuíram imensamente à formação de
minha maturidade acadêmica, por meio das discussões promovidas ao longo das
disciplinas por mim cursadas.
Ao Prof. Dr. José Sueli Magalhães e à Profª. Drª. Elisete Maria de Carvalho
Mesquita pelas valiosas contribuições ao meu trabalho no Exame de Qualificação.
Às professoras Sandra Eleutério Campos Martins, Inara Barbosa Pena Elias,
Ivanilda Barbosa e Sandra Maria Ramos de Godoy (in memoriam), que desde a
graduação me incentivaram a trilhar o caminho da pesquisa rumo ao conhecimento.
Um agradecimento especial à Profª. Drª. Carmem Lúcia Hernandez Agustini e
à Profª. Drª Luisa Helena Borges Finotti pela paciência e acolhimento em relação às
minhas dificuldades nas reflexões e discussões teóricas.
Às amizades conquistadas na região de Montes Claros, em ocasião da coleta
dos dados.
Aos amigos conquistados em Uberlândia, em cada momento de minha
participação no programa.
A todos os informantes, que muito contribuíram para a efetivação desta
pesquisa.
A Deus, pela fé, esperança e auxílio infinitos.
É um homem falando que encontramos no mundo,
um homem falando com outro homem; e a linguagem
ensina a própria definição do homem...
Emile Benveniste
Não se sabe de onde é um homem
antes que ele tenha falado.
Jean-Jacques Rousseau
RESUMO
Neste trabalho, investigo, sincronicamente, a variação das preposições para e a
como introdutoras de adjuntos e complementos, na fala das regiões de Uberaba
(Triângulo Mineiro) e Montes Claros (Norte de Minas Gerais), na perspectiva da
Sociolinguística Laboviana (LABOV, 1972) e da Sociolinguística Paramétrica
(TARALLO; KATO, 1989). Esta pesquisa partiu da hipótese de que a frequência da
preposição a é maior na região de Montes Claros, contrastando com a preposição
para, que possui maior frequência na região de Uberaba. O corpus desta pesquisa é
constituído de 36 entrevistas obtidas por meio de gravação oral, sendo 18 na região
de Uberaba e 18 na região de Montes Claros. A seleção da amostra foi feita
observando quatro fatores linguísticos e três fatores sociais, a saber: (i) presença e
ausência das preposições para e a, (ii) função sintática da entidade encabeçada
pela preposição, se adjunto ou complemento, (iii) tipo de sentença, (iv) tipo de verbo,
(v) faixa etária, (vi) escolaridade e (vii) região geográfica. Após a análise dos dados,
verifiquei que a preposição para é predominante em praticamente todos os grupos
de fatores analisados, o que confirma apenas parcialmente a hipótese.
PALAVRAS-CHAVE: 1-Sociolinguística, 2-Preposições, 3-Variação intra- e inter-
linguística
ABSTRACT
In this study, I investigate, synchronically, the variation of the prepositions para and
a, as introducers of adjuncts and verbal complements, in the manner of speech of the
inhabitants of Uberaba (Triângulo Mineiro) and Montes Claros (North of Minas
Gerais), under the perspective of the Labov Sociolinguistics (LABOV, 1972) and
Parametrical Sociolinguistics (TARALLO; KATO, 1989). This research had its origin
in the hypothesis that the use of preposition a is more frequent in the region of
Montes Claros, while in the region of Uberaba the use of preposition para is more
frequent. The corpus of this research is made up of 36 recorded interviews, of which
18 were obtained in Uberaba and 18 were obtained in Montes Claros. The sample
selection was prepared, observing four linguistic factors and three social factors, as
follows: (i) presence and absence of the prepositions para and a, (ii) syntactic
function of the entity headed by the preposition, if it were an adjunct or a
complement, (iii) type of clause, (iv) type of verb, (v) age, (vi) schooling and (vii)
geographical region. After analyzing the data, I verified that the preposition para is
predominant in practically all the groups of factors analyzed, which partially confirms
the initial hypothesis.
KEY-WORDS: 1-Sociolinguistics, 2-Prepositions, 3-Intra- and inter-linguistic variation
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: mapa da região de Uberaba ............................................................................... 68
Figura 2: fotografia da cidade de Uberaba ........................................................................ 69
Figura 3: mapa da região de Montes Claros ..................................................................... 70
Figura 4: fotografia da cidade de Montes Claros .............................................................. 72
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 distribuição geral da frequência de PARA e A nas amostras. .............. 92
GRÁFICO 2 - Distribuição da frequência entre PARA e A em Uberaba e Montes
Claros. ..................................................................................................................................... 93
GRÁFICO 3 - Distribuição da frequência de PARA e A entre Uberaba e Montes
Claros ....................................................................................................................................... 95
GRÁFICO 4: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à faixa etária em
Uberaba ................................................................................................................................... 97
GRÁFICO 5: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à faixa etária em
Montes Claros ...................................................................................................................... 100
GRÁFICO 6: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à escolaridade em
Uberaba ................................................................................................................................. 105
GRÁFICO 7 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à escolaridade em
Montes Claros ...................................................................................................................... 107
GRÁFICO 8 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à função sintática,
em Uberaba .......................................................................................................................... 112
GRÁFICO 9 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à função sintática,
em Montes Claros ................................................................................................................ 114
GRÁFICO 10 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de verbo,
em Uberaba .......................................................................................................................... 118
GRÁFICO 11 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de verbo,
em Montes Claros ................................................................................................................ 120
GRÁFICO 12 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de
sentença, em Uberaba ........................................................................................................ 124
GRÁFICO 13 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de
sentença, em Montes Claros ............................................................................................. 127
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à faixa etária, em
Uberaba e Montes Claros ................................................................................................... 102
Tabela 2 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à escolaridade, em
Uberaba e Montes Claros ................................................................................................... 109
Tabela 3 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à função sintática, em
Uberaba e Montes Claros ................................................................................................... 116
Tabela 4 Distribuição da frequência de para e a em relação ao tipo de verbo, em
Uberaba e Montes Claros ................................................................................................... 123
Tabela 5 Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de sentença,
em Uberaba e Montes Claros ............................................................................................ 130
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 25
1 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 31
1.1 Weinreich, Labov e Herzog (1968) .............................................................................. 31
1.2 Labov (1972) .................................................................................................................. 38
1.3 Tarallo e Kato (1989) .................................................................................................... 42
1.4 As Preposições: definição e estudos ............................................................................ 49
1.4.1 As preposições sob a perspectiva da Gramática Tradicional e da Gramática de
Usos .................................................................................................................................. 50
1.4.1.1 A perspectiva da Gramática Tradicional ............................................................. 50
1.4.1.2 A perspectiva da Gramática de Usos ................................................................... 55
1.4.2 A definição de Mattoso Câmara Jr. (1970) ............................................................. 57
1.4.3 As preposições sob a perspectiva da Sociolinguística Paramétrica ....................... 57
1.4.3.1 O trabalho de Oliveira (2005) .............................................................................. 58
1.4.3.2 O trabalho de Kewitz (2004) ................................................................................ 60
1.5 Teoria do Caso .............................................................................................................. 63
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 67
2.1 Histórico da região de Uberaba ................................................................................... 67
2.2 Histórico da região de Montes Claros ........................................................................ 70
2.3 O envelope de variação................................................................................................. 73
2.4 Grupos de fatores ......................................................................................................... 75
2.4.1 Variável Dependente ............................................................................................... 77
2.4.2 Variáveis Independentes .......................................................................................... 79
2.4.2.1 Linguísticas ........................................................................................................... 79
2.4.2.2 Extralinguísticas ................................................................................................... 86
2.5 A coleta e a transcrição dos dados .............................................................................. 89
3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 91
3.1 Distribuição das variantes: a frequência da preposição PARA e da preposição A
nos dados de Uberaba e Montes Claros. ........................................................................... 91
3.2 Distribuição da frequência de PARA e A em relação às variáveis não linguísticas.
.............................................................................................................................................. 96
3.2.1 O fator faixa etária .................................................................................................. 96
3.2.2 O fator escolaridade .............................................................................................. 104
3.3 Distribuição da frequência de PARA e A em relação às variáveis linguísticas .... 111
3.3.1 O fator função sintática ........................................................................................ 111
3.3.2 O fator tipo de verbo ............................................................................................. 117
3.3.3 O fator tipo de sentença ........................................................................................ 123
CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 133
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 137
ANEXOS ............................................................................................................................... 143
ANEXO A: DISTRIBUIÇÃO DOS INFORMANTES DA PESQUISA .......................... 144
ANEXO B: ROTEIRO DE ENTREVISTA....................................................................... 147
ANEXO C: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................... 148
ANEXO D: TABELAS DE RESULTADOS DA PESQUISA ......................................... 149
25
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, investigo a variação das preposições para e a no Português
Brasileiro (doravante PB), na fala das regiões de Uberaba (Triângulo Mineiro) e
Montes Claros (Norte de Minas Gerais), sob a perspectiva da Sociolinguística
Laboviana (LABOV, 1972; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968) e da
Sociolinguística Paramétrica (TARALLO; KATO, 1989).
Segundo Ribeiro (2005), a região onde hoje é o Estado de Minas Gerais já foi
habitada por diversas tribos indígenas, entre elas os Tapuias, os Araxás e os Tupis.
Com a chegada dos bandeirantes vindos de São Paulo para ocupar as terras
mineiras, as tribos indígenas que não foram extintas foram escravizadas. Afirma
Ribeiro (2005, p.147) que São Paulo foi o “Brasil que subiu a serra”, levando traços
culturais que mesclavam a influência do colonizador português aos costumes
indígenas da região de São Paulo, dos brasileiros que mal falavam português e dos
escravos africanos. Conforme apontam Naro e Scherre (2007), outro fator
importante na constituição do PB foi a influência da chamada “língua geral”,
predominante no Brasil até meados do século XVIII.
O quadro linguístico inicial que surge então é o de uma comunidade
em que as línguas dos diversos grupos se influenciavam,
principalmente através do aprendizado de segundas nguas por
falantes não-nativos adultos. (NARO; SCHERRE, 2007, p.28-9)
A concepção geral dos habitantes da região do Triângulo Mineiro é de que o
falar da região Norte Mineira apresenta-se “completamente diferente” em relação às
outras regiões do Estado de Minas. Acredito que tal concepção se deve,
principalmente, à proximidade do Norte de Minas com o Sul da Bahia, o que teria
ocasionado algumas características linguísticas mais marcantes como a omissão do
artigo definido nos nomes próprios, resultando formas sentenciais como “Ø Maria
chegou”, em vez de “a Maria chegou”, esta última característica da região do
Triângulo Mineiro.
~ 26 ~
Além disso, subjacente à escolha de uma pesquisa nas regiões de Uberaba e
Montes Claros está o fato de estas regiões constituírem, historicamente, pequenos
centros comerciais e culturais de referência regional: Uberaba no Triângulo Mineiro e
Montes Claros no Norte de Minas.
As sentenças (1) e (2), a seguir, são exemplos obtidos a partir das amostras
de Uberaba e Montes Claros, respectivamente, que compõem o corpus utilizado
neste trabalho.
(01)
Nos últimos cinco anos, eu tive que assumir a chefia da família, né, então, que eu me
separei o meu filho menor tinha um ano de idade, quer dizer, eu tive que virar pai,
mãe, chefe de família, fazer tudo, então a questão financeira realmente passou a ser
uma coisa muito importante, que eu tinha que dar comida pros meus filhos, dar casa,
comida, tudo pra eles. (WDS-15-PTU)
1
(02)
Eu tinha um verdadeiro parquinho infantil na minha casa... balanço, escorregador,
piscininha, essa piscina de plástico, mas uma piscina grande pra eles brincarem e
tudo, então eu fiz o possível pra dar a eles uma infância da melhor qualidade. (MJN-
35-QTM)
Diante dessas observações, é possível perceber que o uso da preposição
para e da preposição a nas regiões de Uberaba e Montes Claros poderá ser
investigado, visto que, embora as relações estabelecidas por essas preposições
entre termos da sentença sejam semelhantes, a frequência do uso tanto de uma
quanto de outra parece sofrer variações entre diferentes regiões, no caso Uberaba e
Montes Claros.
A preposição é vista pela Gramática Tradicional como uma partícula que
apenas liga termos da sentença, porém, estudos linguísticos mais recentes
verificaram que a função da preposição vai muito além de simplesmente ligar
elementos oracionais. Por essa razão, julguei pertinente proceder a uma
1
A identificação das amostras obedeceu à seguinte convenção: o primeiro item se refere ao código de
identificação do informante, obtido geralmente pelas suas iniciais; o segundo item é o número do inquérito e o
terceiro item traz uma sequência de letras que representam, respectivamente, os grupos de fatores Faixa Etária,
Escolaridade e Região Geográfica onde o dado foi obtido. Nesse exemplo, P diz respeito à faixa etária entre 36 e
55 anos, T diz respeito ao Ensino Superior e U à região de Uberaba-MG.
~ 27 ~
comparação entre a maneira como as preposições são definidas pela Gramática
Tradicional e a maneira como são definidas pela Gramática de Usos. Para esse
estudo comparativo, foram consultadas as obras de Bechara (1997), Rocha Lima
(2001), Cegalla (1997), Cunha e Cintra (2001) e Neves (2000).
Com o objetivo de confrontar a abordagem tradicional com outras abordagens
que levem em conta a variação, foram consultados também o trabalho de Oliveira
(2005), que observou um aumento considerável do uso da preposição para no
português escrito do século XIX para o século XX, e o trabalho de Kewitz (2004),
que analisou cartas do século XIX e XX e verificou o enfraquecimento de a em
complementos.
A partir das observações e questionamentos iniciais que deram origem a esta
pesquisa, foram levantadas as seguintes hipóteses:
1) Os falantes de Uberaba utilizam com maior frequência a preposição para em
posição de adjuntos e complementos, enquanto os falantes de Montes Claros
utilizam com maior frequência a preposição a, nas mesmas posições;
2) Em Uberaba e Montes Claros, o grupo etário de 20 a 35 anos favorece o uso
de para, enquanto o grupo etário igual ou superior a 56 anos favorece o uso
de a;
3) O fator escolaridade apresenta-se relevante em ambas regiões pesquisadas.
Embora a predominância em Uberaba seja da preposição para, e em Montes
Claros seja da preposição a, quanto maior o grau de escolarização, maior o
uso de a em ambas regiões;
4) A função sintática dos constituintes encabeçados pela preposição apresenta-
se relevante ao processo de variação de para e a em Uberaba e Montes
Claros;
5) Os verbos de movimento, os verbos comunicativos e os verbos de ação
transformativa ou transpossessiva são os que mais favorecem a variação de
para e a. Os verbos predicativos, possessivos e existenciais são os que
menos favorecem essa variação;
~ 28 ~
6) As sentenças do tipo (S)-V-OI ((sujeito) verbo objeto indireto) e (S)-V-
(AdjAdv)-OD-OI ((sujeito) verbo (adjunto adverbial) objeto direto objeto
indireto) são as que mais favorecem a variação de para e a em Uberaba e
Montes Claros;
Partindo das hipóteses que foram levantadas e elencadas acima, este
trabalho possui os seguintes objetivos:
Objetivo Geral
Investigar o fenômeno da variação das preposições para e a como
introdutoras de adjuntos e complementos, entre falantes das cidades de
Uberaba e Montes Claros.
Objetivos Específicos
i. Investigar se os fatores não linguísticos faixa etária, escolaridade e região
geográfica favorecem a predominância da preposição para em Uberaba e da
preposição a em Montes Claros;
ii. Investigar se os fatores linguísticos função sintática do constituinte
encabeçado pela preposição, tipo de verbo e tipo de sentença favorecem a
predominância da preposição para em Uberaba e a em Montes Claros;
Com base nas hipóteses levantadas e nos objetivos a serem alcançados, busco
responder as seguintes questões:
a preferência pelo uso de para em Uberaba e de a em Montes
Claros é favorecida por quais fatores?
fatores não linguísticos como faixa etária e escolaridade favorecem
o uso de para e a em Uberaba e Montes Claros?
~ 29 ~
a função sintática dos constituintes encabeçados pela preposição
favorecem o uso de para e a?
o tipo de verbo favorece a predominância de para em Uberaba e a
em Montes Claros?
o tipo de sentença favorece a predominância de para em Uberaba e
a em Montes Claros?
Este trabalho foi organizado em quatro seções. Na primeira seção,
apresentarei o Referencial Teórico, com os autores que darão sustentação teórica
ao modelo escolhido, levando em consideração os objetivos da pesquisa.
Primeiramente, apresentarei os fundamentos empíricos para a teoria da mudança
linguística, propostos por Weinreich, Labov e Herzog (1968). Embora o foco do
trabalho desses autores tenha sido a Mudança Linguística e não a variação, as
reflexões nele delineadas constituem princípios importantes à Sociolinguística, visto
que toda mudança pressupõe variação. Em seguida, apresentarei a contribuição de
Labov (1972), cujo trabalho forneceu as bases teóricas e metodológicas para a
constituição da Sociolinguística Laboviana, sendo, portanto, uma das perspectivas
norteadoras deste trabalho. Em seguida, apresentarei a contribuição de Tarallo e
Kato (1989), cujo trabalho propõe a compatibilização entre a Sociolinguística
Laboviana e as propriedades paramétricas do modelo gerativista, constituindo-se
portanto a Sociolinguística Paramétrica.
Na seção 2, apresentarei os Procedimentos Metodológicos, dentro dos quais
farei o delineamento dos passos seguidos para a efetivação da pesquisa como a
contextualização das regiões de Uberaba e Montes Claros e o envelope de variação,
contendo a descrição da amostra, a coleta de dados, as variáveis e os métodos de
análise.
Na seção 3, apresentarei a Descrição e Análise dos Dados, com os gráficos
gerados após a quantificação das amostras obtidas nas entrevistas. A partir da
análise dos dados, procederei às conclusões a que terei chegado, e que serão
retomadas na conclusão.
~ 30 ~
~ 31 ~
1 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, serão apresentadas as reflexões teóricas necessárias à
fundamentação no modelo escolhido, quais sejam, a Sociolinguística Laboviana e a
Sociolinguística Paramétrica. Para isso, apresentarei um breve percurso histórico
pelos fundamentos empíricos da teoria da mudança linguística, propostos por
Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]). Embora este trabalho esteja voltado para
a variação e não para a mudança linguística, julgo pertinente, e até necessário, não
desviar da teoria desses três autores que, de certa maneira, plantaram na história da
Sociolinguística as primeiras sementes, ainda que o fenômeno da variação e
mudança já houvesse sido percebido pelos estudiosos de séculos atrás.
Posteriormente, apresentarei as contribuições de Labov (1972) e Tarallo e
Kato (1989), os quais representam grandes marcos da sociolinguística no Brasil. Na
sequência, farei uma análise de como a preposição é concebida pelas Gramáticas
Tradicional e Funcional e se as abordagens dos principais gramáticos realmente o
suficientes para conceituar e explicar o uso das preposições a que me proponho
analisar, no caso para e a. Ao final desta seção, apresentarei dois trabalhos
publicados sobre as preposições (OLIVEIRA, 2005; KEWITZ, 2004), os quais
abordam aspectos particulares de para e a.
1.1 Weinreich, Labov e Herzog (1968)
Inicio esta seção retomando duas grandes questões que em diversas épocas
permearam as reflexões em relação à mudança linguística: (i) por que as línguas
mudam? e (ii) é possível explicar a mudança?
2
Lançando o olhar sobre a história da Linguística, podemos verificar que, em
diversas épocas, estudiosos perceberam que uma língua muda com o tempo. Já nos
séculos XIII e XIV, por exemplo, Dante Alighieri, além de ser um importante poeta
italiano, realizou importantes estudos comparativistas, os quais estão descritos em
sua obra De Vulgari Eloquentia (1304-06). Segundo Robins (2004, p.133), “Dante
2
C.f. Coan (2007); Lyons (1987).
~ 32 ~
tinha profundo conhecimento das diferenças dialetais existentes dentro de cada área
linguística. Em alguns capítulos de sua obra, faz pormenorizado e bem
documentado estudo dos dialetos italianos”. Lyons (1987, p.170), afirma que a
consciência de que a mudança linguística existia era consenso entre diversos
estudiosos do passado, no entanto não havia ainda a ideia de que a mudança
linguística constituía um fato universal, comum a todas as línguas, ideia que se
desenvolveria posteriormente, a partir do movimento neogramático.
No século XX, a obra de Weinreich, Labov e Herzog (WLH), que foi
apresentada primeiramente em um simpósio no Texas, no ano de 1966, e publicada
em 1968, trouxe grandes contribuições à teoria da mudança linguística. Esta obra
também foi republicada várias vezes e em diversos idiomas, incluindo a língua
portuguesa.
Para chegar ao que chamaram de “fundamentos empíricos para uma teoria
da mudança linguística”, esses autores partem do pressuposto de que, ao
estabelecer a dicotomia sincronia/diacronia, Saussure teria reconhecido a língua
como uma entidade heterogênea, considerando-a, então, como homogênea e,
nessa perspectiva, Saussure não havia dado a devida importância ao caráter social
da linguagem. No entanto, acredito que, ao estabelecer a distinção entre a língua e a
fala, e entre a sincronia e a diacronia, Saussure considera o caráter social da língua,
não negando a existência da variação e mudança linguística. Nesse sentido, para
Saussure a língua seria homogênia exatamente por haver uma certa unidade de
entendimento que permite a comunicação entre os falantes de uma língua, e não
pelo fato de o linguista de Genebra desconsiderar o caráter social.
Analisando a obra do neogramático Hermann Paul, WLH (2006 [1968])
buscam o que parece ser de fundamental relevância aos estudos sobre mudança
linguística: Paul talvez seja o primeiro estudioso que isolou a língua do indivíduo
“como o mais legítimo objeto do estudo linguístico” (WLH, 2006 [1968], p.33).
Como mencionei anteriormente, o reconhecimento de que as línguas passam
por mudanças ao longo do tempo não é necessariamente fruto do pensamento do
século XIX. De fato, Weinreich, Labov e Herzog afirmam que muito antes de a
linguística histórico-comparada florescer, havia a consciência da mudança
linguística. A primeira evidência de que as línguas passam por mudanças ao longo
do tempo se deu no campo da evolução dos fonemas, tanto que a teoria dos
~ 33 ~
neogramáticos foi fundamentada a partir da mudança fonética, chegando a
estabelecer leis universais que regulavam essa mudança.
Paul (apud WLH, 2006 [1968]) acreditava que toda estrutura de uma língua
estava encerrada no idioleto. Para ele, cada indivíduo possui uma gramática
internalizada, responsável por gerar os enunciados necessários para os falantes se
comunicarem. Podemos reconhecer nesse pensamento um dos primeiros
rudimentos do que, em meados do século XX, seria desenvolvido por Chomsky,
compondo, assim, o modelo gerativista.
Ao postular a existência de uma gramática internalizada em cada indivíduo,
Paul (apud WLH, 2006 [1968]), de certa maneira, vincula a linguística à psicologia,
reconhecendo que há tantas línguas quantos são os indivíduos. Como afirmam WLH
(2006 [1968], p.41)
O isolamento do indivíduo, pensava Paul, tinha a vantagem de
vincular a linguística a uma ciência mais geral da psicologia. O preço
deste isolamento, contudo, foi a criação de uma oposição
irreconciliável entre o indivíduo e a sociedade. Paul então teve de
construir uma ponte teórica para passar do objeto da linguística único
e individual para uma entidade transindividual.
Essa entidade transindividual era nada mais do que aquilo que Paul chamou
de “média”, isto é, o que podemos chamar de uso linguístico. A “média” seria o
resultado da fusão dos idioletos de um determinado grupo de indivíduos. Segundo
os autores, é como se tivéssemos três indivíduos A, B e C. O resultado da
comparação entre esses indivíduos resultaria na média, isto é, no uso linguístico.
Nesta perspectiva, cada vez que juntamos mais indivíduos em dado grupo, há
também alteração da média, e, portanto, no uso.
Na visão de Paul, descrita por WLH, a mudança linguística seria o resultado
de quaisquer fatores que interferem nos idioletos de um dado conjunto, inclusive se
acréscimo ou perda de idioletos. Isso significa dizer que, se mudança em um
idioleto, essa mudança provoca automaticamente alteração no uso linguístico, isto é,
no conjunto. Portanto, a mudança no uso é fruto de mudança no idioleto. Nesse
ponto, surge uma importante questão: se reconhecermos o dizer de Paul de que a
mudança é fruto de mudanças nos idioletos, o que provoca essas mudanças? Não
~ 34 ~
estaria Paul, de certa maneira, criando também uma barreira entre o indivíduo e a
sociedade?
Na perspectiva de Paul (apud WLH, 2006 [1968]), uma mudança poderá
ocorrer no interior do idioleto ao longo da vida do indivíduo, o que implicará na
mudança do uso linguístico. “É impossível designar um ponto na vida de um
indivíduo em que se poderia dizer que o aprendizado da língua cessou” (apud WLH,
2006 [1968], p.43). Lyons (1987, p.194) chama atenção para o fato de não haver
uma resposta consensual entre os linguistas sobre as causas da mudança
linguística.
De fato, ao resenharem os escritos de Paul, WLH vão elencando várias
inconsistências existentes nos postulados do neogramático sobre mudança
linguística. Uma dessas inconsistências gira em torno da afirmação de Paul de que a
mudança linguística se desenvolve em torno da utilidade, isto é, uma ideia baseada
na seleção natural, em que um determinado uso linguístico permanece se possui
maior utilidade e desaparece se possui menor utilidade. “Como uma explicação pela
seleção natural é vazia, a menos que se postule um critério independente para a
sobrevivência, Paul invoca, como um fator especificamente linguístico, o princípio da
maior comodidade” (WLH, 2006 [1968], p.45).
Esse princípio da maior comodidade, defendido por Paul, também é chamado
pelos filólogos de “lei do menor esforço”
3
. Tal princípio, ou lei, não se sustenta
empiricamente. Embora a análise da evolução das línguas traga evidências de que o
falante busque uma posição mais cômoda do aparelho fonador, há muito mais
evidências que rompem com esse princípio. Primeiramente, aceitar a existência da
maior comodidade equivale a reduzir a mudança linguística à mera simplificação de
uma língua. Nesse sentido, levanto a seguinte questão: se uma língua sempre se
encontra em processo de evolução e se os falantes não fizessem mais que
simplificarem as línguas, então qual seria o futuro dessas línguas?
Na passagem do latim ao português, por exemplo, é possível sustentar a
maior comodidade em alguns casos como cantare > cantar e mallu > mal.
4
No
entanto, o mesmo não se verifica em stella > estrela e caveola > gaiola
5
. Se por um
lado parece aceitável que um falante busque a comodidade apagando o [e] de
3
c.f. Coutinho, 1974, p.134.
4
ibidem.
5
ibidem.
~ 35 ~
cantare e o [u] de mallu, por outro lado é difícil aceitar a ideia de que haja maior
comodidade na inserção de um [r] em stella, ou a mudança de caveola para gaiola.
Além disso, é muito comum na evolução fonética das línguas a alternância de
fenômenos como a sonorização de consoantes surdas por exemplo [p] para [b] -
ou a passagem de uma consoante surda para sonora por exemplo [d] para [t]
(COUTINHO, 1974).
Um outro aspecto apresentado por WLH que se mostra problemático é o fato
de Paul considerar a mudança linguística como o resultado da substituição do
idioleto de uma geração pelo idioleto de outra geração. Ora, tal pensamento cria a
noção de que a mudança linguística ocorre exatamente em uma sequência
cronológica, isto é, uma geração A possui um idioleto e a geração B, posterior à
primeira, possuirá outro, o que não se verifica na verdade. Duas gerações podem
perfeitamente conviver juntas sem que ocorra qualquer mudança. Além disso, uma
geração A poderá apresentar a variação de determinado elemento da língua que
somente se torna mudança em uma geração C ou D. “Se as mudanças
cronológicas na língua podem ser sobrepostas às renovações da população, fica
cancelada a necessidade de uma teoria da mudança enquanto tal, que se pode
simplesmente pensar nos falantes de um dialeto substituindo os falantes de outro”
(WLH, 2006 [1968], p.49).
Na verdade, segundo os autores, as gerações em uma comunidade formam
um continuum, e “uma teoria sólida que se baseie nas diferenças de idade tem que
estar preparada para tratá-las como um gradiente ininterrupto” (p.49). Como já
mencionado anteriormente, o próprio Paul reconheceu que mudança no idioleto
de um mesmo indivíduo, e vários estudos da atualidade verificaram a existência de
nuances entre indivíduos de menor idade e os mesmos indivíduos, anos mais tarde
(NARO, 2003, p.44).
Um ponto importante na obra de WLH é a proposição de uma aproximação
entre a sincronia e a diacronia, em vez da separação estabelecida por Saussure. Os
autores não negam a importância de Saussure na fundação da Linguística, mas
criticam o fato de o linguista suíço considerar a língua como homogênea, o que
acabaria negando os aspectos prospectivos e retrospectivos. Tarallo (1994, p.25)
afirma que a obra de Weinreich, Labov e Herzog rompe com a noção da sincronia
aliada à estrutura, de um lado, e de outro lado, com a diacronia aliada à história.
~ 36 ~
Afinal de contas, para que os sistemas mudem, urge que eles
tenham sofrido algum tipo de variação (...). E constatar o vínculo
necessário entre variação e mudança, necessariamente implica
aceitar a história e o passado como reflexos do presente,
dinamicamente se estruturando e funcionando. (Tarallo, 1994, p.25)
muitas críticas que ecoam entre linguistas s-saussureanos sobre o fato
de Saussure haver estabelecido a língua como homogênea. “Em particular, não
nada em sua teoria que pudesse acomodar uma língua heterogênea, salvando-a ao
mesmo tempo como um objeto legítimo da investigação sincrônica” (WLH, 2006
[1968], p.56). Também criticam o fato de o gerativismo considerar central a
existência da homogeneidade e citam Chomsky quando este declara que, embora
uma concepção homogênea de língua pareça ser a posição daqueles que fundaram
a linguística geral moderna, “não se tem oferecido nenhuma razão convincente para
modificá-la (a concepção homogênea de língua)” (apud WLH, 2006 [1968], p.60).
Depois de fazerem várias demonstrações em relação aos problemas de
mudança de estrutura, dentre os quais podemos citar alguns traços de mudança
fonológica no alemão e no Iídiche, os três autores, finalmente, propõem o que
chamaram de princípios empíricos para a teoria da mudança linguística, a saber, (i)
fatores condicionantes, (ii) transição, (iii) encaixamento, (iv) avaliação e (v)
implementação.
Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968]) definem fatores condicionantes
como sendo os elementos, ou conjuntos de elementos, que “impulsionam” a
mudança linguística em determinada direção, e não em outra. Os autores não
chegam a fornecer um exemplo claro de fatores condicionantes, mas argumentam
que, no caso de um sistema que possui dois fonemas em contato com outro sistema
em que houve a fusão desses dois fonemas, a menos que esses sistemas sejam
submetidos a certas condições especiais, os fatores condicionantes impulsionarão a
mudança no sentido de prevalecer a fusão dos fonemas.
Outro princípio, o da transição, pode ser entendido como a mudança de um
estado de língua para outro, em uma “distribuição contínua através de sucessivas
faixas etárias da população” (p.122). Há basicamente três situações em que a
transição ocorre: quando o falante aprende uma forma alternativa ou quando
duas formas existentes na competência linguística do falante ou, ainda, quando uma
~ 37 ~
forma se torna obsoleta e acaba sendo substituída por outra mais atual.
Independentemente da maneira como a transição ocorre, WLH admitem que esta
ocorre, pelo menos aparentemente, entre faixas etárias próximas. Nesse sentido, ao
contrário do que defendia Hermann Paul (apud WLH, 2006 [1968]), a transição, na
verdade, não ocorre de pai para filho, mas sim entre crianças em situação de
contato com outras crianças. Coan (2007, p.15) explica que, para Labov, a criança
preserva a fala de seus pais apenas em situações de isolamento, quando não
convivência com outros indivíduos da sociedade ou quando os pais possuem um
determinado traço da norma de prestígio e desejam que a criança preserve esse
traço.
também o princípio denominado encaixamento. Weinreich, Labov e
Herzog (p.123) postulam que a mudança raramente afeta o sistema inteiro. “Em vez
disso, descobrimos que um conjunto limitado de variáveis num sistema altera seus
valores modais gradualmente de um lo para outro” (p.123). A transição de um
estado de língua para outro é composto por diversos traços de mudança que vão se
“encaixando” no sistema de forma gradual (encaixamento na estrutura linguística) e
esse encaixamento, por sua vez, está relacionado com diversos fatores sociais
(encaixamento na estrutura social) como idade, sexo, região geográfica, entre
outros. Um exemplo que julgo pertinente citar aqui é a perda do parâmetro pro-drop
no PB. Duarte (1995) observou que o enfraquecimento de AGR, aliado à redução do
quadro pronominal, constituem causas do licenciamento do sujeito pleno em
detrimento do sujeito nulo no PB. Mas essa mudança ainda encontra-se em curso,
em processo lento, sendo que atualmente tanto a forma plena quando a forma nula
do sujeito convivem, embora a tendência seja do completo desaparecimento da
forma nula.
O princípio da avaliação refere-se à maneira pela qual a mudança de um
traço da língua é recebida pelos falantes de uma comunidade de fala. No processo
de transição de um estado de língua para outro, o encaixamento de determinado
item na estrutura linguística e os falantes, por sua vez, avaliarão esse encaixamento
quanto ao seu valor social, decidindo qual norma do meio social será ocupada pela
mudança.
Por último, o princípio da implementação diz respeito à maneira que uma
determinada mudança se “espalhada” pela comunidade de fala. “Sugere-se que
uma mudança linguística começa quando um dos muitos traços característicos da
~ 38 ~
variação na fala se difunde através de um subgrupo específico da comunidade de
fala” (WEINREICH; LABOV; HERZOG, p.124). Por trás de uma mudança linguística,
sempre haverá, portanto, uma variação que foi encaixada na estrutura linguística a
partir da estrutura da comunidade de fala. Weinreich, Labov e Herzog (2006 [1968])
trataram com bastante propriedade várias questões sobre a mudança linguística,
embora não apresentem ao longo do trabalho exemplos que demonstrem seus
postulados. Na próxima seção, abordarei mais detalhadamente a contribuão de
William Labov para os estudos da variação e mudança linguística.
1.2 Labov (1972)
Não parece novidade que as diferenças existentes entre dois ou mais dialetos
tenham sido percebidas ao longo da história. Saussure, ao distinguir língua e fala,
abriu espaço para que a fonologia fosse posta do lado da língua e a fonética, ao lado
da fala. De certa maneira, essas questões foram retomadas na década de 60,
quando Labov desenvolveu pesquisas que contribuíram imensamente para a
emergência do que hoje denominamos Sociolinguística Quantitativa ou Laboviana.
A proposta de Labov toma como ponto de partida o estudo da língua em seu
contexto social, com o objetivo de verificar quais os fatores exteriores à língua que
interferem em determinado elemento linguístico no sentido de impulsionar o falante
no caminho da variação e da mudança linguística. Labov toma como ponto de
partida a ideia da heterogeneidade, contrária à da homogeneidade proposta pelo
estruturalismo saussureano e difundida pelos gerativistas.
Mollica (2003, p.12) comenta que uma língua está sujeita a pressões tanto no
sentido da variação e mudança, quanto no sentido da unidade. Isto é, se por um
lado há um sistema que precisa de certa unidade estrutural para funcionar
corretamente, por outro há forças externas à língua que a “empurram” no sentido da
variação e da mudança linguística. Essa ideia pode ser vista como um dos
fundamentos da proposta de Labov em relação a uma ciência que considera o
sistema linguístico no contexto sistêmico e social. Assim, uma comunidade de fala,
segundo Labov (1972), é definida como um grupo de falantes que partilham das
mesmas normas linguísticas. Nesta perspectiva, variantes condicionadas por
~ 39 ~
diferenças de faixa etária ou de classe social podem vir a constituir comunidades de
fala um tanto diferentes, embora uma única variável possa não ser suficiente para
distinguir uma comunidade de fala da outra.
Utilizando como exemplo a proposta deste trabalho, é possível considerar as
cidades de Uberaba e Montes Claros comunidades de fala distintas por possuírem,
cada uma delas, elementos de variação linguística. Como será demonstrado na
descrição e análise dos dados, na sintaxe de ambas as regiões é possível encontrar
a ordem (S)-V-OI-OD, mas os dados demonstram que, em Montes Claros, a
preposição a ou para é geralmente omitida nesse tipo de ordem sintática, fenômeno
que geralmente não ocorre em Uberaba. No entanto, mesmo dentro de uma região,
é possível que haja mais de uma comunidade de fala. Em Uberaba, por exemplo, a
faixa etária que detém o maior uso da preposição a como introdutora de adjuntos e
complementos é a dos falantes com idade igual ou superior a 56 anos, em oposição
aos falantes de 20 a 35 anos, que usam mais a preposição para.
O trabalho que Labov empreendeu nas pesquisas sociolinguísticas pode ser
dividido em três grandes estudos. O primeiro deles data de 1963 e foi realizado em
uma ilha da região do estado de Massachusetts, conhecida como Martha‟s Vineyard,
cuja variável observada foi a centralização da vogal que constituía o núcleo dos
ditongos [ay] e [aw]. Os falantes viniardenses apresentavam um alto índice da
realização do ditongo [ay] como [Əy] em wife, right, e light; e do ditongo [aw] como
[Əw] em palavras como house, mouse e out. Enquanto a população mais velha
preservava a realização sem a centralização, considerada de prestígio na Nova
Inglaterra, os falantes mais jovens tendiam à centralização (LABOV, 1972).
É certo que o mero conhecimento da probabilidade de uma língua sofrer
variação e mudança não era suficiente para explicar o motivo de tal ocorrência na
ilha. E nem era suficiente que tal explicação fosse buscada no interior do sistema da
língua. Era preciso, sim, que Labov fosse em busca de fatores sociais, externos ao
sistema linguístico.
A ilha de Martha‟s Vineyard apresentava uma população em torno de 6.000
habitantes. Esse número subia para mais de 40.000 quando chegava o verão, nos
meses de junho e julho, e com ele os veranistas, que “invadiam” a ilha. Acrescente-
se a isso o fato de Martha‟s Vineyard apresentar um dos maiores índices de
desemprego dos Estados Unidos. Labov, então, chegou à conclusão de que a
crescente centralização da vogal [a] constituía uma reação, principalmente, da
~ 40 ~
população jovem que não aceitava a invasão dos veranistas. Assim, conforme
afirma Tarallo (1986, p.14), “atitudes linguísticas são as armas usadas pelos
residentes para demarcar seu espaço, sua identidade cultural, seu perfil de
comunidade, de grupo social separado”.
Outra importante pesquisa realizada por Labov diz respeito às variantes do [r]
pós-vocálico na fala de Nova Iorque. A pesquisa ocorreu em três grandes lojas, que
representavam, de certo modo, as classes sociais nova-iorquinas. A Saks era
frequentada por pessoas das classes mais altas, a Marcy‟s por pessoas da classe
média, enquanto a Saint Klein por pessoas de classes mais baixas.
O [r] s-vocálico pode ser pronunciado ou não pronunciado. Enquanto no
inglês britânico a forma não pronunciada - chamada por Labov de (r-0) - constitui a
variante de prestígio, nos Estados Unidos, ela constitui a variante estigmatizada,
pois a variante de prestígio é a forma pronunciada, chamada por Labov de (r-1).
A metodologia consistiu em perguntar aos funcionários das lojas visitadas
como encontrar determinado produto, de forma que a resposta pudesse
normalmente ser fourth floor. A partir dos dados obtidos, Labov chegou aos
seguintes resultados: o (r-1) teve 62% de ocorrências na Saks, 51% na Marcy‟s e
apenas 20% na S. Klein.
De posse dos resultados, era preciso que se chegasse a uma conclusão
sobre fatores sociais que pudessem condicionar a frequência de realização de (r-0)
e (r-1). Lançando um olhar sobre os funcionários que trabalhavam nas três lojas,
Labov observou que fatores como raça, entre outros, poderiam constituir-se em
variáveis independentes. De fato, dos 62% de informantes da Saks que realizaram o
(r-1), apenas 3% eram negros, em oposição à Saint Klein, que apresentou 25% de
informantes negros realizando o (r-1), de um total de 20% de ocorrências do total de
informantes. Na Marcy‟s, por sua vez, dos 51% de informantes que realizaram o (r-
1), 14% eram negros. Dessa maneira, Labov afirma que
The higher percentage of black sales people in the lower-ranking
stores is consistent with the general pattern of social stratification,
singe in general, black workers have been assigned less desirable
jobs. (1972, p. 54)
6
6
“A porcentagem mais alta de vendedores negros nas lojas de menor prestígio é coerente com o padrão geral
de estratificação social, já que, normalmente, aos trabalhadores negros são atribuídos empregos menos
prestigiados.” (LABOV, 2008, p. 75)
~ 41 ~
O terceiro grande trabalho de Labov foi uma pesquisa realizada com jovens
negros do Harlem
7
, os quais possuíam grandes dificuldades de aprendizagem de
leitura na escola. Vale dizer que a língua falada por esses jovens era uma variante
falada pelos negros, uma espécie de subsistema distinto do inglês, chamado por
Labov de BEV (Black English Vernacular). O linguista observou que, na verdade, o
fracasso escolar era fruto do conflito cultural enfrentado pelos jovens, os quais eram
rejeitados pelo sistema escolar exatamente por falarem uma variante que
apresentava um grande número de formas estigmatizadas bem diferentes do inglês-
padrão, e que eram estigmatizadas socialmente.
Acredito que podemos traçar alguns pontos principais da proposta do linguista
norte americano, que demonstrou a relevância das variáveis sociais. No trabalho em
Martha‟s Vineyard, Labov deixa claro que a não aceitação de pessoas estranhas à
ilha desencadeou uma pressão nos jovens viniardenses no sentido de impulsionar a
língua para a variação fonológica. Já no trabalho com a estratificação do [r] em Nova
York, Labov propôs a relevância dos fatores socioeconômicos e também do grau de
escolaridade como condicionadores de certas variantes. No trabalho com os
adolescentes do Harlem, temos a influência da variante de prestígio interferindo no
aprendizado dos jovens negros, falantes de uma variante não padrão, a qual era
estigmatizada pela sociedade, considerada “errada” pelos falantes do inglês padrão,
que era característica de uma classe também estigmatizada. Ou, no dizer de
Gnerre (1998, p.6), “uma variedade linguística vale o que valem na sociedade os
seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas
relações econômicas e sociais”.
Outro elemento relevante proposto por Labov é de caráter metodológico. Até
então, não havia uma metodologia de pesquisa em sociolinguística que utilizasse
meios seguros de empreender uma pesquisa. O linguista norte americano foi o
primeiro a se valer do tratamento estatístico para a coleta, seleção, quantificação e
análise dos dados coletados, propondo um modelo quantitativo em reação ao
modelo gerativista, que não incluía nas análises os aspectos sociais. Desta forma,
há, então, um modelo que buscava a heterogeneidade em oposição a outro que
7
c.f. Calvet, 2002, p.98.
~ 42 ~
insistia em manter a homogeneidade. Na verdade, a proposta gerativista parte do
pressuposto de que a explicação para um fenômeno deve ser buscada no interior do
sistema, e não fora dele.
Assim, a importância de Labov reside no fato de buscar, nas várias instâncias
sociais, elementos relevantes que interferem sensivelmente nas questões
linguísticas. Outras pesquisas foram realizadas por Labov, contribuindo para o
estabelecimento dos pressupostos teórico-metodológicos da sociolinguística
quantitativa. Expus aqui, no entanto, aquelas que merecem destaque especial, por
terem contribuído sobremaneira para o desenvolvimento do modelo sociolinguístico
variacionista.
1.3 Tarallo e Kato (1989)
Em 1989, Tarallo e Kato propuseram o modelo que chamaram de harmonia
trans-sistêmica, no qual propõem um movimento de realinhamento entre dois
grandes modelos teóricos do século XX, que até então se apresentavam como
verdadeiramente opostos: a sociolinguística variacionista e a teoria gerativa
chomskyana. Para compreendermos melhor o realinhamento proposto por Tarallo e
Kato, será necessário recorrermos a um brevíssimo intercurso na história.
Vimos que, na década de 60, os linguistas Weinreich, Labov e Herzog,
mencionados nesse trabalho, propuseram um conjunto de princípios para uma teoria
da mudança linguística que buscasse, na concepção heterogênea da língua, um
novo olhar, em reação à então concepção homogênea, defendida pelos
estruturalistas e posteriormente pelos gerativistas. Labov, por sua vez, em 1972,
propôs um modelo teórico-metodológico que buscava, basicamente, demonstrar a
importância de fatores sociais, externos ao sistema linguístico, que interferiam
sensivelmente no comportamento linguístico dos falantes, desencadeando, assim, a
variação e a mudança linguística.
Durante muito tempo, mais precisamente até o século XIX, os estudos da
linguagem eram realizados com vistas ao estabelecimento de regras, ainda que em
muitos casos não houvesse, até então, um rigor metodológico que pudesse conferir
~ 43 ~
a esses estudos um caráter cienfico - pelo menos não como é reconhecido hoje - o
que somente foi iniciado a partir de Saussure com a publicação do Curso de
Linguística Geral. também o caso do manifesto neogramático, escrito em 1878
por Osthoff e Brugmann, que de certa maneira pregava uma metodologia voltada
para as probabilidades, mas que na verdade possuía a mesma rigidez da linguística
de regras, conforme explicam Tarallo e Kato (1989). Assim, o que Osthoff e
Brugmann tentaram fazer em 1878 foi de fato realizado quase um século depois
por Labov: um modelo que trabalhasse com dados brutos e colocasse o pesquisador
para fora do gabinete, em contato com a língua em pleno funcionamento, isto é, uma
ciência de probabilidades.
Mas continuava a divergência entre os que faziam ciência de probabilidades
frente aos que faziam ciência de regras. Foi a partir destas questões, que Tarallo e
Kato, em 1989, propuseram um “abrandamento” entre a oposição que marcava as
probabilidades da sociolinguística variacionista e as propriedades paramétricas do
modelo gerativo, que “polarizar uma linguística de regras de um lado, e uma
ciência de probabilidades de outro, tem marcado presença em todas as sub-áreas
de investigação em linguística tempo até demais: na fonologia, na sintaxe, etc,
etc, etc.” (TARALLO; KATO, 1989, p.2). Nasce, então, o que chamamos hoje de
Sociolinguística Paramétrica.
Empreenderemos, sim, um novo caminho: aquele que resgata a
compatibilidade entre as propriedades paramétricas do modelo
gerativo e as probabilidades do modelo variacionista, seja para
provar seu espelhamento e reflexo, seja para realinhar um modelo
em função de outro. Acreditamos, assim, num direcionamento mútuo
entre a variação intra- e inter-linguística, enfim: na harmonia trans-
sistêmica (p.6). (grifo meu)
De acordo com o trabalho dos dois autores, entende-se por harmonia trans-
sistêmica os resultados e generalizações obtidos a partir da análise das
probabilidades e/ou propriedades paramétricas de um dado estado de língua ou
estados de línguas. Tais generalizações podem ser chamadas de pametros
sociolinguísticos e estão relacionadas às propriedades pelas quais uma língua sofre
variação ou mudança linguística (1989, p.8).
~ 44 ~
A compatibilização entre as propriedades paramétricas e as probabilidades
ajudará a reconhecer, por exemplo, que as línguas podem em algum momento
realinhar as suas gramáticas, isto é, compartilharem das mesmas propriedades
paramétricas. Parte-se, então, de uma análise de elementos intra-linguísticos
(variáveis internas em uma determinada língua), para depois proceder ao estudo
comparativo desses mesmos elementos funcionando inter-linguisticamente (como as
variáveis atuam em línguas diferentes).
Em um primeiro momento, não é difícil imaginar a existência de uma variável
intra e inter-linguística, se pensarmos em línguas historicamente afins, como é o
caso das neolatinas. Nessa perspectiva, seria possível propor que o português, o
francês, o italiano e o espanhol possuem certas propriedades paramétricas iguais,
porque são provenientes de uma mesma fonte, no caso, o latim. Mas a situação aqui
é outra. Tarallo e Kato (1989) sustentam a afirmação de que é relevante reconhecer
que duas ou mais línguas podem perfeitamente ter realinhadas determinadas partes
de sua gramática. Tomemos como exemplo a flexão verbal de dois sistemas
completamente diferentes se pensarmos na origem desses sistemas: o inglês
moderno e o português brasileiro.
No período arcaico da língua inglesa, o paradigma das conjugações verbais
obedecia a uma estrutura que conferia desinências distintas para cada uma das
pessoas e tempos, semelhante à estrutura das línguas românicas. Com o passar do
tempo, o paradigna sofreu um processo de mudança no sentido de regularizar todas
as pessoas e tempos, e hoje é composto de apenas algumas regras como o “s” da
terceira pessoa do singular do tempo presente. Assim, o verbo to love (amar), que
hoje é realizado no tempo presente como I love, you love, he loves, we love e they
love, no inglês arcaico
8
era realizado como [ic lufie], [ϸū lufast], [hē lufað], [wē lufiað]
e [hīo lufiaþ].
O português falado hoje no Brasil, em várias situações, possui um paradigma
de conjugação verbal semelhante ao inglês moderno. A norma padrão da língua
conserva o paradigma, mas as variações não padrão tendem a simplificá-la, fazendo
que a realização em [eu amo, tu amas, ele ama, nós amamos, vós amais, eles
amam] seja realizada também como [eu amo, tu ama, ele ama, nós ama, Ø, eles
8
c.f. Diamond, 1970.
~ 45 ~
ama]. Isto pode significar um realinhamento das propriedades paramétricas do PB
em direção à perda do sujeito nulo.
Tarallo e Kato (1989) sustentam a aproximação entre a teoria variacionista e a
teoria gerativa em três momentos. No primeiro momento, o reconhecimento de
que existem fatores condicionantes que conduzem, na mesma direção, línguas
como o Espanhol mexicano, o Francês canadense e o Português carioca à inversão
do sujeito. Outro exemplo seria o trabalho de Sankoff e Tarallo (1987, apud
TARALLO; KATO, 1989), realizado a partir do Tok Pisin e do PB, cujos resultados
mostraram a existência de semelhanças entre essas línguas no que diz respeito à
chamada cópia do pronome, em sentenças relativas e não relativas.
No segundo momento, os autores citam trabalhos como o de Hochberg que,
em 1986, apontou um aumento da frequência do uso do pronome de segunda
pessoa do singular na fala de Porto Rico. Nesse estudo de probabilidades, Hochberg
levanta a hipótese de erosão das consoantes finais funcionarem como fatores
condicionantes do preenchimento do pronome, na função de sujeito.
Isso traduzido em miúdos sintáticos paramétricos simplesmente
significa que AGR deixou de ser sujeito no dialeto portorriquenho e
que tal sistema tende a deixar de exibir a primeira propriedade do
parâmetro do sujeito nulo. (Tarallo e Kato, 1989, p.9)
Os autores também citam um trabalho de Naro (1981) sobre as restrições
morfológicas para o apagamento do sujeito no português, trabalho esse que
alcançou resultados parecidos com os de Hochberg, em 1986. Tarallo e Kato (1989)
apontam que, em artigo anterior (Kato e Tarallo, 1986), demonstrou-se que o uso
cada vez mais frequente de formas substitutivas como em SNs, pronomes pessoais
e o clítico “se” fazem parte de um processo de variação e mudança, no sentido de
levar o português brasileiro a perder as propriedades do sujeito nulo. Como é
possível notar, vários trabalhos que apontam a possibilidade de o PB vir a ser o
que hoje é o inglês e o francês, no que concerne à lexicalização do sujeito, isto é, há
evidências que apontam para que o parâmetro pro-drop deixe de ser ativado em
PB
9
.
9
c.f. Duarte, 1995, já citado no item 1.2
~ 46 ~
Inicialmente, pensar em um realinhamento paramétrico poderia sugerir a
afirmação de que o processo de mudança linguística em uma língua ocorrerá
exatamente como ocorreu em outra. É preciso considerar, porém, que mesmo
havendo certas regularidades na mudança, há peculiaridades dentro desse processo
de uma língua para outra. A perda do parâmetro pro-drop ocorrida no Inglês e no
Francês se deu principalmente pelo enfraquecimento de Agr. No caso do PB, a
redução do quadro pronominal, como o desaparecimento de vós e a substituição de
tu por você, é um fator que contribuiu para a lexicalização do sujeito (DUARTE,
1995). Pode ser que esse processo de perda do parâmetro pro-drop dependa de
outros fatores condicionantes em outras línguas, mas ao conhecer esse processo
em línguas como o Francês, o Inglês e atualmente o Português, é possível identificar
as tendências, quando a mudança ainda se encontra em progresso. Assim, ao
identificar fenômenos como o enfraquecimento de Agr e a redução do quadro
pronominal em uma língua pro-drop, é possível traçar um esboço sobre quais são as
tendências de mudança na língua em estudo. Daí um dos aspectos relevantes ao se
propor uma Sociolinguística Paramétrica.
No terceiro momento, Tarallo e Kato demonstram que, por um lado, é possível
a uma linguística de propriedades antecipar, por exemplo, que não haja interferência
sintática em línguas que dispõem das mesmas propriedades, o que contraria a teoria
de Weinreich (1953) (p.10). No entanto, os autores citam o trabalho de Chaves
(1987) sobre a possibilidade de haver, sim, interferência sintática conforme a teoria
weinreichiana. Nesse caso, o português falado na fronteira permite a inversão do
sujeito assim como o espanhol americano, enquanto o português falado na costa
não permite. Para resolver então essa questão, Tarallo e Kato propõem que uma
linguística de probabilidades possa prever “como um dialeto de uma determinada
língua, numa situação de contato, pode começar a realinhar as propriedades de
seus parâmetros sintáticos” (p.10).
Uma outra questão que julgo importante mencionar aqui é a reflexão que os
autores fazem quanto ao fato de que uma linguística de propriedades paramétricas
parece agir no sentido do “tudo ou nada”, enquanto que a das probabilidades agiria
no sentido do “mais ou menos”. Em outras palavras, a primeira agiria no sentido da
homogeneidade e a segunda, no sentido da heterogeneidade. Tarallo e Kato, por
sua vez, chamam atenção para a necessidade de um posicionamento entre as duas
que busque “uma postura diferenciada frente ao dado analisado”.
~ 47 ~
A fim de demonstrar com mais detalhes os fundamentos que justificam a
proposta de compatibilização entre a teoria variacionista e a teoria das propriedades
paramétricas, Tarallo e Kato (1989) apresentam um estudo sobre a ordem verbo-
sujeito (VS) no português. Os autores iniciam afirmando que a ordem VS é um tema
bastante estudado por linguistas, sob várias perspectivas. E, mesmo havendo
inúmeros estudos sobre o assunto, este se justifica pelo fato de demonstrar a
maneira como a ordem VS é realizada em outros sistemas, como nas nguas
românicas. Desta forma, os autores propõem um estudo que parte do inter para o
intra-linguístico.
Tanto para os tipologistas como Greenberg (1963), Keenan e Comrie
(1977), Anderson (1976) e outros, quanto para os universalistas
como Chomsky e seus seguidores, há um interesse em se desvendar
os parâmetros de variação nas línguas naturais. Para os primeiros, o
interesse reside em determinar a variação linguística possível e para
os últimos, o objetivo é estabelecer os princípios que determinam o
limite dessa variação. (Tarallo e Kato, 1989, p.12-13)
Partindo do conceito de parâmetro posto por Comrie (1977), para quem um
parâmetro pode ser definido como uma propriedade que sofre variação significativa
nas línguas naturais
10
, essa propriedade pode sofrer variação, quando está
relacionada a outras propriedades. Isso significa dizer que, no caso da ordem VS,
as propriedades serão significativas a partir do momento em que for possível
estabelecer relações de implicação tais como, “se VSO, então preposições e se
SOV, então posposições” (p.13).
Segundo os autores, o conceito de parâmetro está incorporado na teoria
gerativa chomskiana de forma a estabelecer um conjunto de parâmetros que seriam
importantes para entendermos a variação inter-linguística. Nesse sentido, os autores
explicam que Chomsky (1981) propôs a existência do parâmetro pro-drop e, a partir
desse parâmetro, postulou-se a possível existência de propriedades que estariam
relacionadas ao fato de a realização do sujeito nulo ser ativada juntamente com a
chamada “inversão livre”. Tarallo e Kato citam como exemplo desta afirmação o
catalão, o italiano e o espanhol. Os autores apresentam o estudo de Rizzi (apud
10
Tarallo e Kato, 1989, p.13.
~ 48 ~
TARALLO; KATO, 1989, p.13) que explica, a partir do italiano, que trabalhos têm
demonstrado a existência de propriedades sistematicamente correlatas ao sujeito
nulo, isto é, as línguas pro-drop possuem um processo de inversão livre que
normalmente não ocorre nas línguas que possuem o traço [-sujeito nulo], e citam do
trabalho de Rizzi dois exemplos, os quais reproduzo em (3).
(3)
a. Ha telefonato Gianni.
b. Ho trovato il livro.
Outro estudo citado como exemplo é o de Torrego para o espanhol (apud
TARALLO; KATO, 1989, p.13-14), que também considera a inversão livre como um
fator característico da possibilidade da existência do sujeito nulo. De Torrego, Tarallo
e Kato citam um exemplo, o qual reproduzo em (4).
(4)
Contesto la pregunta Juan.
Na mesma linha, os autores citam tamm Picallo para o catalão, o qual
também aponta a inversão livre como uma das características de uma língua pro-
drop. De Picallo, os autores citam os exemplos que reproduzo em (5).
(5) a. Ha menjat en Joan.
b. Ha menjat.
Embora Tarallo e Kato (1989) não façam no texto uma exposição detalhada
do trabalho de Rizzi e de Torrego e Picallo, a breve exposição que fazem é
importante para demonstrar a relevância da inversão livre para o parâmetro pro-
drop.
Vimos que estudos que apontam a correlação entre a existência do
parâmetro pro-drop e a aceitação da inversão livre. Entretanto, os autores chamam
~ 49 ~
atenção para o fato de línguas como uma variante do italiano, chamada trentino, e o
português, possuírem o parâmetro pro-drop, mas não admitirem a inversão livre.
Assim, para resolver esse problema, de forma a não romper com a proposta de
compatibilização entre as probabilidades e as propriedades paramétricas, Tarallo e
Kato (1989) fazem duas propostas. A primeira diz respeito à ordem VS não ser um
fenômeno portador de homogeneidade, pelo menos não como entendem os estudos
empíricos do português. A segunda proposta seria admitir que os estudos sobre
propriedades paramétricas não diferenciam línguas com o traço [+inversão livre] de
nguas [-inversão livre].
Tarallo e Kato propõem que um estudo baseado nessas duas propostas,
citadas no parágrafo anterior, além de constituir em um interessante estudo empírico
para o português, forneceria subsídios para a linguística trans-sistêmica, no que
concerne à ocorrência do fenômeno VS em cada língua estudada e que contém o
fenômeno.
Ao delinearem os estudos sobre a inversão VS, os autores demonstram a
possibilidade - e também a relevância - da compatibilização entre a sociolinguística
laboviana e a teoria gerativa das propriedades paramétricas. Acresce que a
importância do trabalho de Tarallo e Kato se faz presente, portanto, no
abrandamento da antiga oposição entre empiristas e racionalistas. É como se os
dois autores lançassem um novo olhar sobre a linguística comparada do século XIX,
no sentido de valorizar certas descobertas que foram tão importantes para a ciência
da linguagem.
Depois dessas incursões pelas principais teorias da variação e mudança
linguística, faz-se necessário começar a olhar mais afuniladamente sobre o objeto
de estudo deste trabalho, isto é, as preposições. Portanto, na próxima seção farei a
exposição da maneira como as preposições são definidas pela Gramática
Tradicional e pela Gramática de Usos. Na sequência, apresentarei alguns estudos
sobre para e a na perspectiva da Sociolínguística Paramétrica.
1.4 As Preposições: definição e estudos
~ 50 ~
As preposições, de uma forma geral, existiam na língua latina, ainda que
não fossem amplamente usadas, visto que as relações estabelecidas entre
constituintes da sentença eram marcadas na maioria das vezes pelas desinências
que compunham a marcação de Caso
11
morfológico. Com o gradual
desaparecimento do Caso morfológico, o uso das preposições tornou-se mais
frequente.
Segundo Poggio (2002, p.222), no século XVI, a preposição era definida por
João de Barros (apud POGGIO, 2002, p.222) como “uma parte da gramática que se
põe entre as outras por ajuntamento ou por composição”. Segundo a autora, as
preposições para e a estão entre as formas mais intensamente gramaticalizadas,
sendo responsáveis, principalmente, pela marcação de Caso dativo.
1.4.1 As preposições sob a perspectiva da Gramática Tradicional e da Gramática de
Usos
Nesta seção, apresento a maneira pela qual as preposições são definidas
pela Gramática Tradicional e pela Gramática de Usos. Ao apresentar as preposições
na perspectiva da Gramática Tradicional e da Gramática de Usos, pretendo
confrontar uma vertente tradicional com uma vertente que, em vez de estabelecer a
norma, busca compreender o uso na língua.
1.4.1.1 A perspectiva da Gramática Tradicional
Em linhas gerais, as gramáticas tradicionais apresentam as preposições como
palavras invariáveis cuja função é estabelecer determinadas relações entre duas
outras. Vejamos o que dizem os principais gramáticos sobre o assunto.
Bechara (1997, p.155) atribui às preposições o papel de subordinar um termo
a outro, e refere-se a essa classe de palavra como “a expressão que, posta entre
11
O termo Caso, com inicial maiúscula, será utilizado ao longo deste trabalho no sentido da teoria de atribuição
de Caso pelo VP, IP ou PP (c.f. Mioto et al. 2007).
~ 51 ~
duas outras, estabelece uma subordinação da segunda à primeira”, chamando o
primeiro termo de subordinante ou antecedente e o segundo termo de subordinado
ou consequente. Observem-se, a seguir, os exemplos dados pelo autor:
(6) a - Casa de Pedro.
12
b - Mesa de mármore.
c - Passou por aqui.
Segundo o autor, o termo subordinante é composto por substantivos,
adjetivos, verbos, pronomes, interjeições e advérbios. É o que podemos observar
nos exemplos (6a) e (6b), em que os substantivos casa e mesa exercem função
subordinante, enquanto que em (6c) temos como elemento subordinante passou,
que é verbo. os termos Pedro, mármore e aqui, respectivamente, são os
elementos subordinados das expressões. Para Bechara (1997, p.156), os elementos
subordinados são compostos por substantivos, adjetivos, advérbios e verbos no
infinitivo.
No que concerne às relações estabelecidas, Bechara (1997, p.155) observa
que em (6a) a preposição de estabelece uma relação de posse. Já em (6b) a
preposição de estabelece relação de constituição de alguma coisa (a mesa é feita de
mármore), e em (6c) a preposição por estabelece relação de lugar.
Para Rocha Lima (2001, p. 180), preposições são “palavras que subordinam
um termo da frase a outro”, fazendo o segundo termo ser dependente do primeiro.
Em sua gramática, Rocha Lima cita exemplos retirados do trabalho de Sousa Lima
13
,
os quais reproduzo em (7):
(7) a - Livro de Pedro.
14
b - Obediente a seus pais.
c - Moro em São Paulo.
12
Todos os exemplos de (6) foram retirados de Bechara (1997, p.155)
13
SOUSA LIMA, Mário Pereira de. Gramática Portuguesa, 2.ed, Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. p.38-9.
14
Os exemplos de (7) foram extraídos de Rocha Lima (2001, p.180).
~ 52 ~
Sousa Lima (apud Rocha Lima, 2001, p.180) chama de antecedente o termo
que precede as preposições (expresso em (7) pelos termos livro, obediente e moro),
e de consequente o termo que as sucede (em (7) pelos termos Pedro, seus pais e
São Paulo).
Cegalla (1997, p.250) define o conceito de preposição como “uma palavra
invariável que liga um termo dependente a um termo principal, estabelecendo uma
relação entre ambos”, como podemos observar nos exemplos citados pelo autor e
reproduzidos em (8):
(8) a - Recorremos a Jerônimo.
15
b - Choravam de alegria.
c - Olhei para ele.
e - Esperamos por você.
f - A luta contra o mal.
Nos exemplos dados em (8), recorremos, choravam, olhei, esperamos e a luta
constituem os termos principais, os quais subordinarão os termos dependentes
Jerônimo, alegria, ele, você e mal, respectivamente, pelas preposições a, de, para,
por e contra.
Para Cunha e Cintra (2001, p.555), preposição é uma palavra invariável que
possui a função de relacionar dois termos dentro de uma sentença, e, assim como
Bechara (1997, p. 155) e Sousa Lima (apud Rocha Lima, 2001, p. 180), tamm
classificam o primeiro desses termos como antecedente, enquanto que o segundo, o
que completa ou explica o sentido do primeiro, como consequente.
A gramática de Cunha e Cintra (2001), de todas as analisadas, é a que
fornece mais explicações sobre as preposições. Os autores explicam que as
relações estabelecidas entre o antecedente e o consequente podem ser de
movimento ou o movimento, entendendo essa última como uma situação.
Observe-se alguns exemplos dados pelos autores:
15
Exemplos extraídos de Cegalla (1997, p.250)
~ 53 ~
(9) a - Vou a Roma.
16
b - Todos saíram de casa.
c - Chegaram a tempo.
d - Chorava de dor.
Segundo os autores, em (9a) e (9b) há uma relação de movimento, uma ideia
de direção, que poderá ser de aproximação (9a) ou de afastamento (9b). em (9c)
e (9d), a relação estabelecida pelas preposições é de não movimento, isto é,
situacional. Cunha e Cintra (2001, p. 557) ainda esclarecem que as relações
situacionais podem ser espaciais, temporais (9c) e nocionais (9d). Destarte, a
multiplicidade de relações que as preposições podem estabelecer entre dois termos
garante que uma única preposição forneça orientações diferentes em diferentes
casos como é o caso de a e de, que estabelecem relação de movimento em (9a) e
(9b) e de situação nocional (não movimento) em (9c) e (9d).
No que concerne à função relacional, Cunha e Cintra (2001, p. 560-1)
chamam de relações fixas, quando o uso associa uma preposição a determinadas
palavras de tal maneira que passam a formar um todo significativo e citam como
exemplo a expressão dar com, que assumiu na língua o significado de “topar” (João
foi à cozinha e deu com o ladrão). A segunda função relacional é chamada pelos
autores de relações necessárias. Neste tipo de relação, a omissão da preposição
prejudica o sentido da frase, como podemos observar em (10):
(10) a - Foi vontade de Deus.
Note-se que em (10) uma relação necessária entre a preposição de e os
termos vontade e Deus. Nesse caso, o apagamento da preposição (foi vondade Ø
Deus) constitui uma forma inaceitável na língua.
O terceiro tipo de função relacional apontada pelos autores são as relações
livres, marcadas pela possibilidade do uso ou não da preposição, sem prejuízo do
sentido. É o que podemos observar em (11):
16
Os exemplos de (9) foram extraídos de Cunha e Cintra (2001, p.555-73)
~ 54 ~
(11) a - Encontrar com um amigo.
b - Encontrar Ø um amigo.
c - Procurar por alguém.
d - Procurar Ø alguém.
Cunha e Cintra (2001, p. 562) atribuem, ainda, valores às preposições, de
acordo com a relação de movimento ou situação que cada uma delas pode
estabelecer entre termos. No caso da preposição a, os valores de movimento
geralmente indicam a direção a um limite, sendo essa direção percebida de forma
concreta, nas relações de movimento no espaço e abstratas, nas relações de
movimento no tempo e na noção. os valores de situação podem indicar
coincidência ou concomitância, percebidas de forma abstrata no espaço, no tempo e
na noção. Observem-se alguns exemplos dados pelos autores ao abordarem os
valores da preposição a (p.562-3):
(12) a - Rompo à frente, tomo a mão esquerda.
b - Lá de ano a ano é que vinha procurá-la.
c - A sua vida com o marido vai de mal a pior.
d - A mulher adormeceu ao seu lado.
e - Ao entardecer, avistei uma povoação...
f - Amanhã, a frio, poderei dizer-te o contrário.
Nos exemplos dados em (12), os autores observam a presença de valores de
movimento no espaço (12a), movimento no tempo (12b) e movimento na noção
(12c). em (12d), (12e) e (12f), os valores presentes são de situação no espaço,
situação no tempo e situação na noção, respectivamente.
Os valores atribuídos à preposição para são apenas os de movimento. Nesse
caso, o valor de movimento de para difere do valor de movimento de a na medida
que em que indica uma tendência para um limite, uma finalidade ou uma
perspectiva. Observem-se os valores atribuídos pelos autores à preposição para (p.
573-4):
~ 55 ~
(13) a - Agora, não lhe interessava ir para o Huamba.
b - Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte.
c - Deram-lhe o formulário para preencher à máquina e reconhecer a firma.
Como pode ser observado em (13), os valores atribuídos por Cunha e Cintra
(2001, p. 573-4) à preposição para são os de movimento no espaço (13a),
movimento no tempo (13b) e movimento na noção (13c). Note-se que a preposição
para não possui nenhum dos valores de situação, como ocorre com a em (12c),
(12d) e (12e). Além disso, os autores afirmam que a preposição para distingue-se de
a por enfatizar mais a ideia de direção do ponto de partida, nos casos de movimento
no espaço.
Pelo que foi exposto, é possível verificar que a maioria dos gramáticos
consultados concebe a preposição como uma partícula com a mera função de ligar
dois termos dentro de uma sentença ou de um sintagma. Apenas o trabalho de
Cunha e Cintra (2001, p. 555-78) apresenta um estudo mais detalhado sobre
preposições, atribuindo-lhes valores de acordo com as relações estabelecidas por
elas entre dois termos. Porém, Cunha e Cintra (2001) não deixam claro o que deve
ser entendido por valores de espaço, de tempo e de noção, este último torna-se,
portanto, mais problemático por não haver um conceito que dê conta do que se trata
essa “noção”, se ela poderia conter subdivisões e quais seriam essas subdivisões. É
o que observo em (12c), cujo valor nocional parece apresentar uma escala gradual,
que vai do mal [-pior] até o pior; e em (13c), cujo valor nocional parece ser de
finalidade.
1.4.1.2 A perspectiva da Gramática de Usos
Como demonstrei na seção anterior, não parece ser possível esperar estudos
muito esclarecedores da Gramática Tradicional. De cunho funcionalista, a Gramática
de Usos explicita muitos fenômenos não explicados pela abordagem tradicional,
visto que considera as várias situações e usos subjacentes a cada elemento
linguístico. Neves (2000, p.601) chama de “junção” a propriedade que algumas
palavras possuem de atuar “especificamente na junção dos elementos do discurso,
~ 56 ~
isto é, ocorrem num determinado ponto do texto indicando o modo pelo qual se
conectam as porções que se sucedem”. Segundo essa autora, as preposições e as
conjunções atuam na junção dos elementos do discurso que constituem as
subestruturas da sentença, isto é, os constituintes menores que a sentença e
maiores que fonemas e morfemas. Observem-se os exemplos a seguir, retirados da
própria autora.
(14) a A mocinha se agarra à mulher.
b Terei de me agregar à linha política do Presidente da República.
c A esse fator dinâmico interno aliava-se um fator externo.
d O homem deve conformar sua conduta à Santidade de Deus
Para Neves (2000, p.601-2), a preposição a atua no sistema de transitividade
dos verbos, podendo ser introdutora de complementos que geralmente se referem,
principalmente, a um ponto de chegada ou a um ponto final de referência. Nessa
perspectiva, as relações estabelecidas podem ser de aproximação ou contato (14a),
de adição ou agregação (14b), de associação ou ligação (14c), de adaptação,
adequação ou ajuste (14d).
A preposição para é descrita por Neves (2000, p. 691) também como uma
preposição introdutora de complemento verbal. Observem-se os exemplos de (15),
também retirados da autora.
(15) a Fomos nós que trouxemos a indústria para essa terra.
b Camila se inclinou para o meu lado.
c Golda Meier canalizou a mesma energia para a vida política.
d Foram para a janela que dava para o beco, nos fundos do Teatro.
Nesse caso, o complemento diz respeito a um ponto de chegada, a um ponto
de destino ou a um ponto final. Nessa perspectiva, as relações estabelecidas são de
movimento em direção a algum lugar (15a), de inclinação (15b), direcionamento ou
orientação (15c) e o sentido de direção para algum lugar (15d).
~ 57 ~
As relações que foram elencadas acima o são as únicas possíveis.
Apresentei aqui as mais relevantes, no sentido de demonstrar que a classe das
preposições desempenha um importante papel como elemento conector. Neves
(2000) distingue, ainda, dezenas de relações possíveis entre as preposições e os
constituintes por ela unidos (junção).
Embora a abordagem funcionalista conta de várias questões não
respondidas pela Gramática Tradicional, vale lembrar que a Gramática de Usos não
abarca questões como as estruturas sintáticas da sentença.
1.4.2 A definição de Mattoso Câmara Jr. (1970)
Em uma abordagem estruturalista, Câmara Jr. (2001 [1970], p.79) afirma que
a classe das preposições constitui um dos elementos responsáveis pelo
funcionamento do mecanismo de conexões da língua. Basicamente, dois tipos
de conexão, uma com elementos coordenativos e outra com elementos
subordinativos. Os primeiros compreendem os vocábulos que possuem a função de
adicionar um termo a outro, que seriam, no caso, as conjunções coordenativas,
principalmente a partícula copulativa e
17
. No grupo dos conectivos subordinativos,
estão as conjunções subordinativas propriamente ditas, que subordinam sentenças,
e as preposições, que subordinam vocábulos. Os conectivos também são chamados
pelo autor de “morfemas gramaticais” na medida em que são responsáveis pelo
estabelecimento de relações entre elementos. Nesta perspectiva, se um morfema
acrescenta informações morfossintáticas ao vocábulo como tempo e modo verbal,
gênero e marca de plural, cabe aos morfemas gramaticais acrescentar informações
relacionais sintáticas entre sentenças, sintagmas e vocábulos.
1.4.3 As preposições sob a perspectiva da Sociolinguística Paramétrica
17
o autor cita como exemplos “flores e cadeiras”, “eu e tu” e “falei e expliquei”.
~ 58 ~
Para que seja possível atingir os objetivos deste trabalho, parece-me
relevante apresentar dois importantes trabalhos que tratam diretamente das
preposições para e a e que se enquadram no modelo da Sociolinguística
Paramétrica.
1.4.3.1 O trabalho de Oliveira (2005)
18
Oliveira (2005) analisou o comportamento da preposição “a” em dados
extraídos de cartas enviadas a jornais e anúncios publicados no século XIX. O
objetivo inicial era formular uma hipótese geral de mudança linguística em relação a
uma possível perda da preposição “a” no PB, quando introdutora de adjuntos e
complementos.
A autora fala da existência de três linhas de análise da preposição “a” no
português. A primeira diz respeito ao fato de “a” possuir conteúdo lexical pleno e, por
isso, atribuir papel temático ao argumento que for selecionado pelo verbo
19
. A
segunda linha de análise se refere ao fato de “a” ser uma preposição dummy, isto é,
uma preposição que não atribui papel temático, tendo como função atribuir
configuracionalmente o Caso
20
dativo ao objeto indireto
21
. A terceira linha apontada
pela autora confere à preposição “a” uma função de marcador dummy, que não
atribui nem papel temático, nem Caso. Esse marcador aparece anteposto ao DP
complemento que recebe Caso acusativo e sua função é de apenas conferir
“visibilidade” a esse Caso, atribuído pelo VP.
Depois de apresentar as três linhas de análise elencadas acima, Oliveira
(2005, p.4) assume a hipótese da existência de duas preposições “a”: uma
introdutora de objeto indireto que apresenta conteúdo lexical, e outra que precede o
objeto direto, sendo mero marcador morfológico de Caso, isto é, um marcador
dummy. Tal hipótese, segundo a autora, se deve às funções a serem analisadas no
trabalho, que é a preposição introdutora de adjuntos e de complementos.
18
Trabalho originalmente apresentado no V Seminário do Projeto Para a História do Português Brasileiro, em
Ouro Preto, outubro de 2002.
19
c.f. Scher (1996)
20
O termo Caso, com inicial maiúscula, será utilizado ao longo deste trabalho no sentido da teoria de atribuição
de Caso pelo VP, IP ou PP (c.f. Mioto, Figueiredo Silva, Lopes, 2007).
21
c.f. Figueiredo e Silva (2007).
~ 59 ~
A partir das funções da preposição a, descritas acima, Oliveira (2005, p.5)
propõe uma escala de gramaticalização que possui como menor item
gramaticalizado o adjunto [+Temático, +Caso], o complemento como item
intermediário, com os traços [-Temático, +Caso] e chega ao item que possui maior
gramaticalização, no caso a preposição do objeto direto preposicionado [-Temático, -
Caso]. Tem-se então o seguinte esquema
22
:
Adjunto
>
Complemento
>
=nível sintático
=nível sintático
Considerando que a diferença entre um adjunto e um complemento reside no
fato de o SP que os introduz ocupar diferentes lugares na estrutura da sentença, a
autora levanta as seguintes questões:
Considerando a escala de gramaticalização acima e o fato de que os
três contextos sofrerem mudanças no PB, pretendemos verificar qual
o contexto mais permeável à mudança. Em outras palavras,
pretendemos analisar a questão: Por onde começa a mudança, na
posição de adjunto, na posição de complemento ou na posição em
que a preposição tem papel puramente morfológico? (p.6)
A resposta a estas questões, segundo a autora, seria obtida após analisar a
realização da preposições a, para, em e a ausência de preposição (0), além do peso
do traço [+pessoa] ou [+lugar]. Os contextos de análise eram (i) verbos de
movimento propriamente dito, (ii) verbos de movimento causado, (iii) verbos dativos,
(iv) verbos causativos e perceptivos, e (v) o objeto direto preposicionado.
A análise dos dados do culo XIX mostrou que verbos de movimento como
voltar, regressar, trepar e elevar-se ocorreram apenas com a preposição a. os
verbos partir, retirar-se, embarcar, viajar e seguir ocorreram apenas com a
preposição para. O verbo passar ocorreu com a preposição em. Os dados
mostraram que os verbos ir e subir admitem a alternância de a e para, enquanto
22
c.f. Oliveira, 2005, p.6.
~ 60 ~
chegar admite alternância entre “a” e “em”. Não houve nenhum caso em que a
preposição foi omitida.
Partindo dessa análise, foi possível distinguir dois grupos de verbos que
apresentam variação de preposições. No primeiro, chamado pela autora de “grupo
a)”, encontram-se as variantes [a], [para] e [em], cujos exemplos fornecidos por
Oliveira (2005, p.8) reproduzo em (16).
(16)
a. Valle mais ir alli ao rio buscal-a. (grifo do autor)
b. ...annuncia a todos [...] que quizerem hir para a sua loje. (grifo do autor)
c. Quem no mez de setembro findo por occasião de ir na Capela de Santo
Antonio de Arguim cazar uma filha... (grifo do autor)
No segundo grupo, “grupo b)”, encontram-se duas variantes, [a] e [em], que
reproduzo em (17).
(17)
a. Hontem cheguei a esta São Paulo. (grifo do autor)
b. Ao meio dia chegou a locomotiva na Mooca. (grifo do autor)
Depois de analisar os dados obtidos, Oliveira (2005, p.22) observou, ao
contrário da hipótese inicial, uma considerável ocorrência de objeto direto
preposicionado, principalmente na presença de pronomes de tratamento. Ao mesmo
tempo, o traço [+pessoa] pareceu ativar a anteposição da preposição “a” como
marcador dummy. Oliveira (2005, p.23) conclui o trabalho propondo duas hipóteses
de mudança em relação à preposição „a‟. A primeira foi a substituição lexical de „a‟
por „em‟ e de „a‟ por „para‟ na posição de adjunto e de complemento. A segunda
hipótese de mudança verificada por essa autora foi o apagamento da preposição no
objeto direto preposicionado.
1.4.3.2 O trabalho de Kewitz (2004)
O segundo trabalho que considero relevante aos objetivos desta pesquisa é o
de Kewitz (2004), que comparou dados dos séculos XIX e XX, fazendo um
~ 61 ~
levantamento das propriedades sintáticas (gramaticalização) das preposições para e
a no PB. O corpus utilizado pela autora consistiu, do século XIX, em anúncios de
jornais, correspondências de leitores e redatores de jornais e correspondências do
ex-presidente Washington Luís. Os dados do culo XX são constituídos por cartas
de Mário de Andrade e Washington Luís, cartas de leitores da revista Viagem e
entrevistas do projeto NURC (SP, RJ e RS) e VARPORT. Embora a procedência dos
dados seja de diversas localidades do Brasil como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa
Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, a
localidade o está incorporada aos grupos de fatores da pesquisa, que não
uma uniformidade entre os dados obtidos das regiões supracitadas
23
.
O trabalho de Kewitz insere-se em um estudo mais amplo acerca da mudança
linguística das preposições “a” e “para” no PB, a partir de estudos sobre
gramaticalização de preposições em Castilho et alii (2002). O objetivo do trabalho
dessa autora é tratar das propriedades sintáticas de “a” e “para” considerando a
função sentencial do SP, o tipo de SN regido e a posição do SP na sentença.
Assumindo a posição de Castilho (apud KEWITZ, 2004, p.1), que “considera a
gramaticalização como um dos processos de criação linguística” (grifo da autora),
Kewitz divide os processos de gramaticalização em fonologização, morfologização
24
e sintaticização.
Embora o trabalho de Kewitz tenha como principal objetivo o estudo do
processo de gramaticalização das preposições a e para e não necessariamente a
variação entre as duas preposições, os resultados encontrados pela autora são
relevantes para este trabalho na medida em que indicam a possibilidade de um
processo de mudança do século XIX para o século XX.
A análise da função sentencial do objeto indireto apresentou, no século XIX, a
porcentagem de 98% para a preposição a e apenas 2% de para. No século XX, a
ocorrência de a ainda permanece superior, mas um aumento da frequência de
para, com 37%, em relação à frequência de a, com 63%. Por outro lado, a função
sentencial de complemento oblíquo com “a” apresentou, no século XIX, uma
porcentagem de 64% contra 36% de “para”, enquanto que, no século XX, a
23
“A distribuição dos dados por tipo de documento não é equilibrada nos dois séculos estudados, tanto em
relação ao período (primeira e segunda metades), quanto às localidades (por ex.: não cartas pessoais de
todos os Estados)” (KEWITZ, 2004, p.2)
24
Na época da publicação do trabalho de Kewitz (2004), a pesquisa ainda não havia sido concluída. Por essa
razão, a autora esclarece que somente a fonologização e a sintaticização foram analisadas, deixando a
morfologização para trabalhos posteriores.
~ 62 ~
preposição “a” cai para 40% e “para” sobe para 60%. Em ambos os séculos, foi
detectado a maior frequência de “para” na posição introdutora de adjunto adverbial,
mas ainda assim houve aumento na frequência de “para”. No culo XIX, “a”
apresentou 33% e “para” 67% e, no século XX, “a” cai para 14%, enquanto “para”
sobe para 86%. Os exemplos a seguir foram apresentados por Kewitz (2004, p.4) e
por mim reproduzidos em (18). Indicarei, entre parênteses, a função sentencial
introduzida pela preposição e o século em que foi empregada:
(18)
a. Habituados desde algum tempo a escrever para o Publico... (Objeto Indireto, XIX)
b. ...e é... então eu mostrava [o desenho] pra freira... a freira dizia assim... (Objeto
Indireto, XX)
c. E há huma [obra], que ainda não chegou ao prelo, a qual he hum Poema
(Complemento Oblíquo, XIX)
d. ... um supermercado às vezes passa [o peixe] pra peixaria... (Complemento
Oblíquo, XX)
e. ...não é por mim que reclamo, por ir fazer compras nessa rua para os meus
estudantes... (Adjunto Adverbial, XIX)
f. ...aí enquanto que ele pulou pra água... (Adjunto Adverbial, XX)
Os dados da língua falada, provenientes do NURC e VARPORT,
apresentaram, em todas as funções sentenciais analisadas, maior frequência de
“para” em relação à “a”. Na posição de objeto indireto, “a” ficou em 29% e “para”
obteve 71%. O complemento oblíquo apresentou uma frequência de 22% de “a” e
78% de “para”. E o adjunto adverbial apresentou exatamente 100% das ocorrências
de “para”.
Ao analisar o tipo de SN regido, a autora observou que, no século XIX, houve
maior frequência de “a” com pronome (92%), SN simples (78%) e SN complexo
(73%). Não houve nenhuma ocorrência, em ambos os séculos, de “a” com pronome
circunstancial. Observem-se os exemplos em (19):
(19)
a. ...com a condição de não envial-o [estatuto] para fóra. (pronome circunstancial,
XIX)
b. ...eu me transporto pra dentro da novela... (pronome circunstancial, XX)
c. ...o dito Francisco Carneiro, o qual vendo-me dirigio-se a mim, com estas formaes
palavras. (pronome, XIX)
~ 63 ~
d. ...hoje em dia eu já não ligo muito pra isso [jogar buraco]... (pronome, XX)
e. ...refiro-me ao Chico... (SN simples, XIX)
f. ...então você pega a massa da... periferia joga para o centro... (SN simples, XX)
g. o melhor é você escrever pro endereço da Livraria José Olympio na conhecida
rua Dovidor... (SN complexo, XX)
h. ...[os habitantes de Campos Geraes] esportavam mesmo as sobras para
Sorocaba e outros pontos (SN complexo, XIX)
Quanto à posição do SN regido na sentença, Kewitz analisou a ocorrência de
para e a em relação às seguintes ordens de constituintes:
a. S V OD SP
b. S V SP OD
c. S V SP
d. V S SP
e. SP V S OD
f. SP V OD S
g. S OD V SP
h. OD (S) V SP
i. S V X OD SP/S V X SP OD (o X pode ser preenchido por SNs ou SAdvs)
j. Voz passiva/verbos reflexivos
k. OD anafórico
Em todas as posições do século XIX, a maior ocorrência foi da preposição a.
no século XX, para possui maior frequência na maioria das posições, exceto na
posição de OD, com porcentagem de 28%, ficando a com 72%. Aparentemente, a
posição do SN regido na sentença não exerce influências relevantes no processo de
mudança. No entanto, quando chegar à análise dos dados de Uberaba e Montes
Claros, a ordem dos constituintes na sentença deverá ser observada, a fim de
verificar se ela interfere na variação entre a e para.
No final do trabalho, Kewitz dedica uma breve seção à questão da variação
entre a e para, ainda que este não seja o objetivo principal de sua pesquisa, mas o
faz devido às várias evidências de mudança encontradas nos dados analisados,
citando, inclusive, o trabalho de Oliveira (2005), o qual apresentei anteriormente.
1.5 Teoria do Caso
~ 64 ~
Como é objetivo deste trabalho investigar sintaticamente as preposições para
e a em uma perspectiva intra- e inter-linguística (TARALLO; KATO, 1989), será
necessário recorrer à Sintaxe Gerativa, mais precisamente à Teoria do Caso, a fim
de identificar as consequências sintáticas da variação para/a nas regiões
pesquisadas. Portanto, considerando o fato de as preposições para e a possuírem a
função de licenciar o Caso Dativo a DPs na posição Compl da projeção PP, faz-se
mister expor aqui alguns pontos relevantes da Teoria do Caso descrita por Mioto,
Figueiredo Silva e Lopes (2007).
Conforme afirmação de Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (2007, p.174), o Caso
constitui uma categoria da gramática necessária por permitir que os DPs possam ser
interpretados. Em línguas como o portugs, que não dispõe de marcação
morfológica de Caso, a exemplo do Latim e do Grego Clássico, o Caso é atribuído
aos DPs de forma abstrata, e toda atribuição de Caso é realizada em configuração
normal e excepcional sob regência. Segundo Oliveira (2005, p.1), todas as línguas
estão sujeitas a um sistema nuclear de atribução de Caso abstrato, mas somente
algumas delas manifestam a realização morfológica de Caso.
Segundo o Filtro do Caso, princípio que garante que todo DP pronunciado
tenha Caso, todo DP pronunciado deve receber um e apenas um Caso. A partir
desse princípio, um DP poderá receber Caso Acusativo, Caso Dativo ou Caso
Nominativo. O Caso Acusativo é atribuído pelo VP ao DP na posição argumental
interna, em Compl. o Nominativo é atribuído pela flexão IP ao DP na posição de
argumento externo, em Spec do núcleo V. O Caso Dativo é atribuído pelo PP a DPs
de posição argumental interna, em Compl. Partindo dessas considerações, tem-se,
em (20) e (21), as seguintes estruturas representativas da atribuição de Caso,
conforme Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (2007, p.177-9).
(20)
IP
3
Nominativo I‟
3
VP
3
Spec V‟
3
V Acusativo
5
~ 65 ~
(21)
PP
3
Spec P‟
3
P Dativo
5
Como é possível observar nas estruturas de (20) e (21), o Nominativo difere
do Dativo e do Acusativo na medida em que ocupa a posição de argumento externo
e mantém uma relação Spec-núcleo, ao passo que o Dativo e o Acusativo ocupam a
posição Compl e relação mantida é núcleo-Compl. Além disso, o Nominativo é o
único que pressupõe movimento, que não pode ser gerado no Spec de IP porque
esta é uma posição [–θ]. Considerando o princípio de que todo DP deve receber
Caso e Papel Temático, o DP que irá receber Caso Nominativo deve ser gerado na
posição Spec-VP, que é uma posição [], e se mover para Spec-IP para receber
Caso, que a posição Spec-VP é uma posição [K], isto é, não recebe Caso
(MIOTO; FIGUEIREDO SILVA; LOPES; 2007, p.183).
Nesta seção apresentei os modelos teóricos relevantes à sustentação teórica
deste trabalho. Ao propor uma pesquisa com base na Sociolinguística Laboviana e
Paramétrica, foi preciso expor, inicialmente, os pressupostos fundamentais da teoria
da variação e mudança linguística, e posteriormente os princípios que norteiam a
proposição de um modelo paramétrico. Em Weinreich, Labov e Herzog (1968) foi
possível perceber os fundamentos empíricos para uma teoria da mudança
linguística. Como foi dito anteriormente, embora este trabalho não tenha como foco
a mudança linguística, e sim a variação, julguei necessário o intercurso por esses
autores pela importância que seu trabalho representa na história da Sociolinguística.
Em Labov (1972), foi possível perceber, por meio dos estudos realizados em
Martha‟s Vineyard e sobre a estratificação do [r] em Nova York, a importância das
variáveis sociais no processo de variação linguística. Labov forneceu elementos que
foram cruciais ao desenvolvimento teórico-metodológico da Sociolinguística
Laboviana.
~ 66 ~
A Sociolinguística Paramétrica, por sua vez, representa a compatibilização
entre a teoria variacionista e a teoria gerativa. Por esta razão, apresentei a proposta
de Tarallo e Kato (1989), que demonstram a existência de universais no processo de
mudança linguística, isto é, uma mudança ocorre em uma língua de maneira
semelhante como ocorreu em outras.
Ainda nesta seção, expus a definição do que vem a ser uma preposição na
perspectiva de Camara Jr. (1970), na perspectiva da Gramática Tradicional
(BECHARA, 1997; ROCHA LIMA, 2001; CEGALLA, 1997; CUNHA;CINTRA, 2001) e
da Gramática de Usos (NEVES, 2000), além das pesquisas que julguei relevantes
aos objetivos deste trabalho (OLIVEIRA, 2005; KEWITZ, 2004). Finalmente, foi
apresentado alguns pressupostos da Teoria do Caso (MIOTO; FIGUEIREDO SILVA;
LOPES, 2007) com o objetivo de nortear a análise dos dados da pesquisa, visto que
a atribuição de caso poderá fornecer elementos importantes ao entendimento do
processo de variação das preposições aqui investigadas.
Na próxima seção apresentarei os procedimentos metodológicos necessários
à concretização desta pesquisa.
~ 67 ~
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os aspectos metodológicos necessários para concretizar uma pesquisa em
Sociolinguística Laboviana tiveram origem em Labov, cujos passos, sobretudo a
pesquisa em Martha‟s Vineyard e o trabalho com a estratificação do [r] em Nova
York, foram descritos em Labov (1972).
Na mesma linha, para a efetivação desta pesquisa foram necessárias várias
etapas, as quais serão descritas a partir das próximas seções. Primeiramente,
exporei um pouco da história das regiões de Uberaba e Montes Claros. Em seguida,
na apresentação e delimitação do corpus, apresentarei os critérios utilizados para a
seleção dos informantes adequados aos objetivos da pesquisa. Na sequência,
apresentarei o esquema utilizado para a organização dos grupos de fatores, com as
variáveis dependentes e independentes e seus respectivos códigos, que foram
submetidas ao programa estatístico GOLDVARB, software necessário para a
quantificação e cálculo das ocorrências no corpus coletado.
Por último, falarei sobre a coleta e transcrição dos dados, seção em que
serão descritos os passos seguidos para a coleta de dados, forma de abordagem
dos informantes, o tipo de entrevista realizada, a elaboração do roteiro de entrevista
e os critérios de transcrição adotados.
2.1 Histórico da região de Uberaba
Uberaba é uma cidade situada na região do Triângulo Mineiro, Estado de
Minas Gerais, e conhecida mundialmente como “Capital do Gado Zebu”, por possuir
longa tradição em relação à pecuária. Uberaba hoje conta com uma população em
torno de 290 mil habitantes. Sua história começa com a povoação que foi fundada,
em 1809, pelo sargento-mor Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, oriundo do
Distrito de Glaura, o qual pertencia à antiga Vila Rica, atual Ouro Preto.
~ 68 ~
Figura 1: mapa da região de Uberaba
Fonte: disponível em <http://www.credesh.ufu.br/figuras/mapa11.JPG >
acesso em 19 de março de 2009.
No princípio, Uberaba tinha o nome de "Arraial de Uberaba”, palavra que
significa Água Cristalina na língua tupi. Em 13 de fevereiro de 1811, o Arraial de
Uberaba foi elevado à condição de "Distrito de Índios", e no dia 2 de março de 1820,
passou para outra categoria, a “Freguesia de Santo Antônio e São Sebastião do
Uberaba.”
Em 1816, a região do Triângulo Mineiro, que nessa época era chamada
"Julgado do Desemboque", deixou de pertencer à Capitania de Goiás e foi anexada
à Capitania das Minas Gerais. Uberaba foi elevada à categoria de município em 22
de fevereiro de 1836, desmembrando-se de Araxá. No dia 2 de maio de 1856,
Uberaba foi elevada à categoria de cidade.
Uberaba surgiu pela migração de geralistas, como eram chamados os
habitantes das Minas Gerais, na época do Brasil Colônia, que deixaram as já
esgotadas regiões produtoras de ouro mais fracas para agricultura da Capitania de
Minas e de Goiás (Desemboque), em busca de terras rteis para se estabelecerem
como agricultores.
~ 69 ~
O local onde se instalou o Arraial de Uberaba, às margens do Córrego das
Lages, foi escolhido devido à grande quantidade de nascentes de córregos que
possuía.
Embora seja uma cidade mineira, Uberaba o é uma cidade que recebe
grandes influências do restante do Estado de Minas. O Triângulo Mineiro é uma
pequena porção de terra localizada entre os Estados de Goiás e São Paulo e, por
essa razão, a maior influência sócio-econômica-cultural e até linguística vem das
capitais paulista e goiana. O comércio uberabense é dependente, principalmente, da
cidade de São Paulo e também da cidade de Goiânia, onde a maioria dos
comerciantes que trabalham com vestuário buscam mercadorias.
Devido ao fato de a cidade haver alcançado um desenvolvimento maior em
meados do século XX, a maior parte da população, que hoje se encontra na faixa
etária a partir de 56 anos, e grande parte dos que se encontram entre 36 e 55 anos,
não são uberabenses, mas sim moradores remanescentes de cidades adjacentes a
Uberaba como Campo Florido, Conceição das Alagoas, Água Comprida, Veríssimo,
Sacramento, Santa Juliana, e até cidades um pouco mais distantes como Iturama,
Prata e Campina Verde.
Outro fator que atrai muitas pessoas à cidade é a presença das
universidades, dentre as quais se destacam a Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM) e a Universidade de Uberaba (UNIUBE).
Figura 2: fotografia da cidade de Uberaba
Fonte: disponível em < http://www.omelhordobairro.com.br/uberaba-centro/userfiles/image/uberaba1000.jpg >
acesso em 19 de outubro de 2008
~ 70 ~
2.2 Histórico da região de Montes Claros
Segundo Gomes (2002), Montes Claros é uma cidade situada em um sítio
calcário, ao norte do estado de Minas Gerais. É considerada uma metrópole
regional, por ser hoje o maior centro urbano do norte de Minas, e, por esse motivo, é
também chamada de “Princesa do Norte”. Segundo a história, aproximadamente
entre 1707 e 1720, um bandeirante chamado Matias Cardoso de Almeida, que havia
chegado ao norte de Minas, precisava de homens para guerrear e vencer os índios
Anais e Tapuias, a fim de ocupar as terras da região. Matias Cardoso, então, pediu
ajuda ao bandeirante Antônio Gonçalves Figueira, e juntos, com seus homens,
venceram os índios da região. Em paga, Matias Cardoso doou a Antônio Figueira as
terras que hoje pertencem a Montes Claros. De posse das terras, Figueira construiu
o que na época foi chamada de Fazenda Montes Claros, lugar que se tornou rota de
bandeirantes que ali paravam para descanso e aquisição de água e alimentação.
Figura 3: mapa da região de Montes Claros
Fonte: disponível em <http://www.minas-gerais.net/diretorio/catimages/mapa-nortedeminas.gif>
acesso em 18 de maio de 2008
~ 71 ~
O município de Montes Claros foi criado em 13 de outubro de 1831 e
implantado em 16 de outubro de 1832, quando tomou posse sua primeira Câmara
Municipal, obtendo assim sua emancipação político-administrativa. Em 3 de julho de
1857, o município mudou de nome, passando de "Arraial de Formigas" a "Montes
Claros", pois havia outro município denominado “Formiga” em Minas Gerais.
Inicialmente, Montes Claros se prestava à atividade agropecuária. Na década
de 60, quando foi criada a SUDENE
25
, Montes Claros passou por uma verdadeira
transformação. Com a chegada da industrialização na cidade e as promessas de
emprego sendo veiculadas nos meios de comunicação da época, muitas pessoas de
pequenas cidades vizinhas, do sul da Bahia e de outras regiões do Norte e Nordeste
foram tentar uma vida melhor na cidade Norte Mineira. Segundo Gomes (2002), ao
chegarem em Montes Claros, atraídas pelas promessas de emprego, as pessoas, ao
invés de serem empregadas, eram subempregadas, pois não possuíam qualificação
profissional. Várias empresas que se instalaram na cidade na década de 60 e que
teriam isenção de impostos durante dez anos, tão logo completaram o período de
isenção foram embora, deixando a população desempregada. Assim, teve início a
favelização de Montes Claros. Além disso, havia uma linha férrea que saía da cidade
de Salvador (BA), passava por Montes Claros e ia até São Paulo. Várias pessoas
que saíam do Nordeste em busca de emprego em São Paulo acabavam ficando em
Montes Claros, muitas vezes porque acabava o dinheiro no meio da viagem.
Todos esses fatores reunidos fizeram a população da cidade saltar de 48 mil
habitantes, na década de 60, a 98 mil, na década de 70, 350 mil no ano 2000 e com
a previsão de chegar a 500 mil até o ano de 2010. Assim, semelhante a Uberaba, a
maior parte da população a partir de 56 anos de idade e grande parte dos que
possuem idade entre 36 e 55 anos não é de Montes Claros e sim das adjacências,
dentre as principais cidades cito Csentença de Jesus, Janaúba, Bocaiúva, Grão
Mogol, Januária, Jequitaí, Francisco , Água Boa, Pirapora, Mirabela, Juramento e
Glaucilândia.
Atualmente, Montes Claros encontra-se em transição. De cidade agropecuária
passou, na década de 90, para cidade agro-industrial e está aos poucos se
transformando em uma cidade cultural, devido à chegada de diversas universidades,
25
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
~ 72 ~
entre elas a UNIMONTES e a UFMG. Por esta razão, todos os anos, a cidade
recebe centenas de estudantes vindos de outras localidades, em busca de um curso
universitário.
Figura 4: fotografia da cidade de Montes Claros
Fonte: disponível em <http://www.montesclarosmg.com.br/era/image024.jpg>
acesso em 19 de outubro de 2008
A seguir, apresento o mapa de Minas Gerais, de onde se podeter uma
visão mais clara da posição geográfica de Uberaba e Montes Claros. Note-se a
proximidade de Uberaba com o Estado de o Paulo e Goiás, e a proximidade de
Montes Claros com o lado sul do Estado da Bahia. Segundo os informantes DMC-
24-QRM e MJN-35-QTM, um outro fator que aumenta em muito o fluxo de pessoas a
Montes Claros é o hospital público da cidade. Todos os dias, a cidade recebe vários
ônibus, provenientes das adjacências e até de cidades baianas, trazendo pessoas
para tratamento de saúde. O mesmo ocorre em Uberaba com o Hospital Escola da
UFTM, o qual atende dezenas de pessoas vindas de regiões vizinhas, todos os dias.
~ 73 ~
Figura 5: mapa do Estado de Minas Gerais.
Fonte: disponível em <http://www.banstur.com.br/online/imagens/mapa_mg.gif>
acesso em 13 de fevereiro de 2009.
2.3 O envelope de variação
Para a concretização desta pesquisa, trabalhei com os dados coletados de 36
informantes, sendo 18 da região de Uberaba e 18 da região de Montes Claros,
perfazendo o total de aproximadamente 36 horas de gravação oral.
As variáveis sociais consideradas na pesquisa são as variáveis região
geográfica, escolaridade e idade. O grau de escolaridade está dividido entre os
informantes de três graus, a saber: Ensino Fundamental (de a série), Ensino
Médio e Ensino Superior. Por uma questão de sistematização da amostra, os 36
informantes selecionados foram divididos em três faixas etárias: a primeira inclui
falantes de 20 e 35 anos; a segunda inclui falantes de 36 e 55 anos de idade e a
terceira inclui falantes com idade igual ou superior a 56 anos.
As variáveis linguísticas consideradas são a função sintática do constituinte
encabeçado pela preposição, o tipo de verbo e o tipo de sentença.
A combinação de todas as variáveis consideradas, sociais e linguísticas,
formou um total de 18 células. Segundo Tarallo (1986, p.29), a constituição da
~ 74 ~
amostra deve ser pensada de forma a estabelecer 5 informantes para cada célula.
Porém, o critério utilizado neste trabalho para a definição da quantidade de
informantes foi baseado em Guy e Zilles (2007, p.115), que definem critérios
especiais em relação a pesquisas que envolvem mais de uma região geográfica,
com o objetivo de colher dados que contenham representatividade sem, contudo,
produzir um corpus extenso.
A Amostra do Varsul inclui, no mínimo, 24 pessoas de cada uma das
12 cidades selecionadas. Se um pesquisador quisesse comparar,
digamos, 8 das cidades, seria um trabalho enorme analisar todas as
pessoas em cada cidade: 24x8=192 entrevistas a codificar. Mas se
escolhesse 6 informantes de cada cidade, teria 6x8=48
entrevistas. Para a comparação geográfica, cada cidade forma uma
„célula‟, representada agora por 6 informantes, o que é um número
bom. (GUY; ZILLES, 2007, p.115)
Por esta razão, optei por definir 2 informantes por célula, de forma a produzir
um corpus de 36 entrevistas. A seleção dos informantes foi feita de forma aleatória
estratificada. Munido de um gravador e sempre identificado, abordei as pessoas na
rua e perguntei se era desejo delas contribuírem com a pesquisa. Nos casos em que
não ocorreu o preenchimento das células necessárias (cf. ANEXO A), procurei pelos
informantes, indo de porta em porta.
Por ser uma pesquisa dentro do campo da Sociolinguística, que estuda o
fenômeno da variação e da mudança linguística, os resultados desta pesquisa
contribuirão para que se compreenda o comportamento sintático das preposições
para e a em Uberaba e Montes Claros. Acresce que esta pesquisa, em se
fundamentando também na Harmonia Trans-sistêmica, poderá identificar elementos
de variação e mudança linguística no que concerne às tendências das preposições
investigadas no PB.
~ 75 ~
2.4 Grupos de fatores
Para atingir os objetivos desta pesquisa, foram definidos, ao todo, 7 grupos de
fatores, composto pela variável dependente e mais 6 variáveis independentes, 3
extralinguísticas (sociais) e 3 linguísticas. Apresento, a seguir, a distribuição geral
dos grupos de fatores que foram considerados na pesquisa.
1 - Variável Dependente
1- preposição “a”
2- preposição “para”
Variáveis Independentes
a) Linguísticas
2 - FUNÇÃO SINTÁTICA
i- objeto indireto
k- adjunto adverbial
n- complemento nominal
3 - ORDEM DOS CONSTITUINTES NA SENTENÇA
t- (S)
26
-V-OI = [(sujeito) verbo objeto indireto]
u- (S)-V-OD = [(sujeito) verbo objeto direto]
v- (S)-V-(AdjAdv)-OD-(OI) = [(sujeito) - verbo-objeto direto objeto indireto]
w- (S)-V-OI-OD = [(sujeito) verbo objeto indireto objeto direto]
z- (S)-V-AdjAdv-(OD/OI) = [(sujeito) verbo adjunto adverbial objeto indireto]
a- (S)-V-OI-AdjAdv- = [(sujeito) verbo objeto indireto adjunto adverbial]
c- OI e PR = [objeto indireto em sentenças predicativas]
d- V-(S)-OI = [verbo (sujeito) objeto indireto]
26
neste grupo, os parênteses indicam o constituinte poderá estar presente ou não nos dados coletados
~ 76 ~
e- (S)-V-OD-AdjAdv/OI = [(sujeito) verbo objeto direto adjunto adverbial]
f- Outros tipos de oração =
(S)-OD-V-OI
(S)-V-OD
(S)-V-OI-AdjAdv
(S)-V-OD-AdjAdv/OI
V-(S)-OI
4 - TIPOS DE VERBO
i- verbos de movimento
ir, voltar, vir, comparecer, mudar
andar, participar, chegar, buscar(algo)
viajar, correr, sair, entrar, caminhar
sumir (ir), nascer (vir ao mundo)
descer, caminhar, fugir, levar, forçar,
trazer, abrir, impulsionar
j- verbos de ação transpossessiva ou transformativa
dar, fazer, deixar, reverter, ligar (dar importância)
passar, olhar, vender, usar, impor, contribuir, tacar,
levar(algo a alguém), ganhar, facilitar, mandar(enviar), tirar,
trazer (algo), comprar, disponibilizar, virar (olhar), tornar,
concorrer, instituir, aplicar, pegar, pôr, servir, bater
satisfazer, abrir, comprar, transferir, arrumar (conseguir),
asfaltar, entregar, pagar, puxar, guardar, apegar, direcionar
caminhar (passar para outro nível), devolver, trabalhar
l- verbos predicativos, possessivos e existenciais
ser, estar, representar, valer(no sentido de ser),
tornar-se, ficar, ter, possuir, faltar
m- verbos comunicativos
agradecer, contar, falar, mentir, recorrer, mostrar, virar (falar),
~ 77 ~
pedir, declarar, torcer, ligar (telefonar), ensinar, chamar,
perguntar, explicar, dedicar, clamar, conhecer, lecionar,
oferecer, convidar, confessar
b) Extralinguísticas
5 - FAIXA ETÁRIA
o- 20-35 anos
p- 35-55 anos
q- acima de 55 anos
6 - ESCOLARIDADE
r- Ensino fundamental
s- Ensino médio
t- Ensino superior
7- REGIÃO GEOGRÁFICA
u- Uberaba MG
m- Montes Claros MG
A seguir, apresentarei mais detalhadamente a distribuição dos grupos de
fatores que compõem a pesquisa.
2.4.1 Variável Dependente
1) preposição “a”
~ 78 ~
- em Uberaba
Então esse metrô, ele já tomou tanto dinheiro que era pra tá totalmente interlidado...
eu uso, quando vou a São Paulo, pego lá na Estação Tietê até a Sé. (JTP-03-PRU)
-em Montes Claros
Eu em Montes Claros eu nunca fui... as vezes eu vou em Francisco de Sá, às festa
lá de Sete de Setembro. (VAP-21-PRM)
2) preposição “para”
- em Uberaba
Ela foi pra uma cidade que não era a cidade dela. (WDS-15-PTU)
- em Montes Claros
Meu pai na época tinha condição, sabe, então comprava aqueles presente muito
bonito pra nós. (MCG-23-QRM)
A variável dependente foi composta pelas preposições para e a em Uberaba
e Montes Claros. Foram consideradas as situações em que as preposições
ocuparam a posição de Compl de VP ou quando ocorreram na posição de adjunção
a VP. Para a definição da variável dependente, fundamentei-me, principalmente, no
trabalho de Oliveira (2005) e Kewitz (2004), os quais foram delineados na seção 1.
Não considerei os contextos em que a preposição aparece em sentenças infinitas do
tipo “começar a fazer”, “passei a andar” ou “ensinou a comer”, visto que são
contextos que admitem apenas a preposição a e não a preposição para.
Como esta pesquisa busca investigar as preposições para e a em caráter
sintático, e não fonológico, no processo de transcrição e codificação das amostras,
no caso de para não fiz a distinção entre formas reduzidas como pra, pro, po e pa.
Vale ressaltar, ainda, que durante a transcrição das entrevistas foram
detectadas várias situações em que a preposição em foi utilizada em lugar de para e
a. No entanto, como este trabalho visa a investigar somente as preposições para e
a, as amostras em que houve ocorrência de em serão utilizadas em trabalhos
futuros.
~ 79 ~
2.4.2 Variáveis Independentes
2.4.2.1 Linguísticas
FUNÇÃO SINTÁTICA
i) objeto indireto
- em Uberaba
1) Aí, minha mãe me levou ao ginecologista. (ECS-09-PSU)
2) A gente ligava pra tudo quanto é lugar. (LCP-13-OTU)
- em Montes Claros
1) As vezes eu vou em Francisco Sá, às festa lá. (VAP-21-PRM)
2) Ele viajava pra Montes Claros. (MCG-23-QRM)
k) adjunto adverbial
- em Uberaba
1) Não houve ocorrências.
2) Não seguiu porque foi casar, o pai puxou pra lá, e descambou. (OPS-11-
QSU)
- em Montes Claros
1) Não houve ocorrências.
2) Larguei o meu estudo aqui e fui pra . (BMP-30-QSM)
n) complemento nominal
~ 80 ~
- em Uberaba
1) Eu tenho apego a essa cidade. (WDS-15-PTU)
2) Eu acho que é necessário pra todo mundo. (VFS-01-ORU)
- em Montes Claros
1) Não existe respeito ao próximo. (AAM-29-QSM)
2) Não houve ocorrências.
O fator função sintática foi considerado nesta pesquisa em função do objetivo
geral de investigar a variação de para e a nas situações em que estas preposições
aparecem como introdutoras de adjuntos e complementos. Vale acrescentar as
considerações de Omena e Duarte (2003, p.81), para quem fatores internos como os
de ordem morfológica ou sintática não raro “aparecem infuenciando o surgimento de
uma ou outra manifestação da variável”.
Como apresentei no Referencial Teórico, o trabalho de Oliveira (2005)
havia tratado da variação da preposição a em adjuntos e complementos verbais nos
séculos XIX e XX, em que foi identificada a gradual substituição de a por para.
Também o trabalho de Kewitz (2004), com a gramaticalização de para e a nos
dados dos séculos XIX e XX, tomou como função sintática o objeto indireto e o
adjunto adverbial.
Além das funções de adjuntos e complementos verbais, me propus a
investigar se variação nos complementos nominais introduzidos pelas
preposições para e a, com o objetivo de observar quais as funções sintáticas se
mostram relevantes no caso da variação dessas preposições.
No estágio inicial desta pesquisa, a função sintática de objeto direto
preposicionado havia sido considerada em função de trabalhos como o de Oliveira
(2005) e o de Farias (2004) acerca da preposição a como marcador dummy.
Entretanto, depois de codificar as entrevistas, esta função sintática não foi
considerada devido à falta de representatividade dos dados, que houve apenas
uma ocorrência nas amostras de Montes Claros e nenhuma ocorrência nas
amostras de Uberaba.
~ 81 ~
Grupo 2: TIPO DE SENTENÇA
t) (S)
27
-V-OI = [(sujeito) verbo objeto indireto]
- em Uberaba
1) Você tinha que ter o vestidinho a tarde pra ir ao terço. (MLS-12-QSU)
2) Gravei essa música e levei pra escola. (LCP-13-OTU)
- em Montes Claros
1) Esse mal estar que acontece é que leva a essa percepção de alguma coisa
fictícia. (LFS-31-OTM)
2) Depois a gente vendeu e foi pra Campo Azul. (BMP-30-QSM)
v) (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI = [(sujeito) verbo (adjunto adverbial) - objeto direto
objeto indireto]
- em Uberaba
1) São aqueles que dão apoio às operações. (GOP-18-QTU)
2) Ele não é o guerreiro, ele é o que dá as condições para o guerreiro. GOP-
18-QTU)
- em Montes Claros
1) Tem a Avenida Sanitária que dá acesso ao centro. (VAP-21-PRM)
2) Comprava aqueles presentes muito bonito pra gente. (MCG-23-QRM)
27
No grupo de fatores TIPO DE SENTENÇA, os parênteses no sujeito indicam que este poderá aparecer tanto
na forma plena quanto na forma nula. Nos demais fatores deste grupo, os parênteses indicam que o constituinte
poderá estar presente ou não na sentença. (Por exemplo, tanto a sentença “Maria deu dinheiro ao João” quanto
a sentença “Maria deu muito dinheiro ao João” podem ser enquadradas no tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI.
~ 82 ~
w) (S)-V-OI-OD = [(sujeito) verbo objeto indireto objeto direto]
- em Uberaba
1) Não houve ocorrências.
2) Deus tem pra gente um destino traçado. (LCP-13-OTU)
- em Montes Claros
1) Tem que pedir muito a Deus força. (AAM-29-QSM)
2) Eu que fazia a merenda, os pais mandavam pra mim as coisas. (BMP-30-
QSM)
z) (S)-V-AdjAdv-(OD/OI) = [(sujeito) verbo adjunto adverbial objeto direto/
indireto]
- em Uberaba
1) Eu agradeço muito a Deus. (OPS-11-QSU)
2) Vai com a roupa passada pra casa. (MLS-12-QSU)
- em Montes Claros
1) Às vezes vai mais à igreja pra mostrar que tá indo. (VAP-21-PRM)
2) Eu ia muito pra escola pra brincar. (FAP-19-ORM)
c) Sentenças Predicativas
- em Uberaba
1) Se fosse permitido ao piloto freiar o avião. (GOP-18-QTU)
2) O papai era muito ruim pra mãe. (MMP-04-PRU)
~ 83 ~
- em Montes Claros
1) Não significa que eu tenho que ficar atolado ao que eu recebo ai. (AGM-25-
QSM)
2) Pra mim Montes Claros é uma cidade grande. (MHC-36-QTM)
f) Outros tipos de sentença
28
- em Uberaba
1) Aí minha mãe me levou ao ginecologista. (ECS-09-PSU)
2) Fazer reverter isso pros meus próprios filhos. (WDS-15-PTU)
- em Montes Claros
1) Eu tive acesso a ele [o rio] pela casa dela. (ECQ-34-PTM)
2) A tela do computador te leva pro mundo inteiro. (AGM-25-OSM)
Sabe-se que a perda do Caso morfológico nas línguas românicas acabou
trazendo como uma das consequências a necessidade da ordem direta (SUJEITO)-
VERBO-COMPLEMENTOS/ADJUNTOS. Mesmo assim, línguas como o português
admitem ainda certas construções que fogem à ordem direta. Por esta razão, julguei
pertinente considerar o fator tipo de sentença, tendo em vista a hipótese inicial de
que esse fator apresenta-se relevante no sentido de favorecer a variação de para e
a em Uberaba e Montes Claros.
Grupo 3: TIPOS DE VERBO
i) verbos de movimento: são aqueles que indicam movimento de um lugar para
outro. Os verbos de movimento encontrados nas amostras foram ir, voltar, vir,
28
Neste grupo estão incluídos os tipos de sentença que apresentaram poucas ocorrências, a saber:
(S)-OD-V-OI = [(sujeito) objeto direto verbo objeto indireto]
(S)-V-OD = [(sujeito) verbo objeto direto]
(S)-V-OI-AdjAdv = [(sujeito) verbo objeto indireto adjunto adverbial]
(S)-V-OD-AdjAdv-OI = [(sujeito) verbo objeto direto adjunto adverbial objeto indireto]
V-(S)-OI = [verbo (sujeito) objeto indireto]
~ 84 ~
comparecer, mudar, andar, participar, chegar, buscar(algo), viajar, correr/sair
correndo, entrar, caminhar, sumir (ir), nascer (vir ao mundo), descer, caminhar, fugir,
levar(alguém), forçar, trazer(alguém), abrir e impulsionar.
- em Uberaba
1) Fiquei assim, injuriada de ir à igreja justamente por isso . (SDP-17-QTU)
2) Aí ela saiu correndo para a casinha dela, latindo. (CBC-14- OTU
- em Montes Claros
1) Em Belo Horizonte eu quase não ia à igreja. (EAP-PRM)
2) A gente ia pra escola, estudava de manhã. (AAM-29-PSM)
j) verbos de ação transpossessiva ou transformativa: por ação transpossessiva
ou transformativa serão entendidos os verbos que representam a ação de transmitir
a posse de algo a alguém ou a ação de transformar algo em alguma coisa. Os
verbos de ação transpossessiva ou transformativa encontrados nas amostras foram
dar, fazer, deixar, reverter, ligar (dar importância), passar, olhar, vender, usar, impor,
contribuir, tacar(colocar), levar(algo a alguém), ganhar, facilitar, mandar(enviar),
tirar, trazer (algo), comprar, disponibilizar, virar (olhar), tornar, concorrer, instituir,
aplicar, pegar, pôr, servir, bater, satisfazer, abrir, comprar, transferir, arrumar
(conseguir), asfaltar, entregar, pagar, puxar, guardar, apegar, direcionar, caminhar
(passar para outro nível), devolver, trabalhar.
- em Uberaba
1) Eu me dedico mais ao serviço. (JTP-03-PRV
2) Meu pai ia pagar faculdade pra gente. (MMP-04-PRU)
- em Montes Claros
1) Esse mal estar que acontece é o que leva a essa percepção de alguma
coisa fictícia. (LFS-31-OTM)
2) Eu ficava observando e ouvindo o que a minha mãe passava pros alunos.
(MJN-35-QTM)
~ 85 ~
l) verbos predicativos
29
, existenciais e possessivos: por verbos predicativos são
entendidos os verbos com função copulativa. os verbos existenciais e
possessivos são os que indicam a existência de algo ou alguém e os que indicam a
posse de alguém ou alguma coisa. São verbos predicativos, possessivos e
existenciais encontrados nas amostras ser, estar, representar, valer(no sentido de
ser), tornar-se, ficar, ter, possuir, faltar.
- em Uberaba
1) Ela é mais apegada à minha prima. (PMC-07-OSU)
2) Eu acho que foi assim, fundamental pro pessoal da cidade. (VFS-01-ORU)
- em Montes Claros
1) Assuntos [que são] voltados à ciência me despertam o interesse. (AGM-25-
OSM)
2) Tem que ser pra todos. (IPM-27-PSM)
m) verbos comunicativos: pertencem a esta classe verbal os verbos que indicam a
ação de comunicar algo a alguém, ou ainda verbos que indicam que para que
determinada ação seja concretizada é preciso usar a comunicação. Os verbos
comunicativos encontrados nas amostras foram agradecer, contar, falar, mentir,
recorrer, mostrar, virar (falar), pedir, declarar, torcer, ligar (telefonar), ensinar,
chamar, perguntar, explicar, dedicar, clamar, conhecer, lecionar, convidar,
confessar.
- em Uberaba
1) Eu agradeço muito a Deus. (OPS-11-QSU)
2) Não sei o que ele falou pra ela. (MMP-04-PRU)
- em Montes Claros
1) Machado de Assis eu não leio, eu confesso a você se é um pecado eu
estou pecando. (AGM-25-OSM)
2) Eu já fui convidada pra isso ((evento religioso)). (VLM-28-PSM)
29
Neste grupo também estou incluindo os casos em que as construções predicativas apresentam elipse do
verbo, a qual será representada entre colchetes.
~ 86 ~
O fator tipo de verbo foi considerado neste trabalho a partir da hipótese de
que o verbo tende a favorecer o uso de determinada preposição, no caso para e a.
O critério utilizado para selecionar os tipos de verbo que compõem esta pesquisa
baseia-se em Oliveira (2005) e Garcia (2007), mas com algumas adequações que se
fizeram necessárias à natureza dos corpora pesquisados.
Garcia (2007) faz a distinção entre verbos predicativos (ser, estar,
permanecer, ficar), possessivos (possuir, ter) e existenciais (ter, haver, faltar).
Entretanto, optei por reunir esses três grupos verbais em um só, devido à
distribuição não equilibrada desses grupos nas amostras (por exemplo, não há
ocorrências de verbos possessivos com a preposição a em Uberaba e Montes
Claros). O mesmo ocorreu em relação aos verbos de movimento, os quais foram
divididos no trabalho de Oliveira (2005) em verbos de movimento propriamente dito
(ir, vir, chegar, partir, etc) e verbos de movimento causado (levar [alguém], forçar
[alguém], etc).
Vale ressaltar, ainda, que alguns verbos de movimento como ir, vir, sair e
chegar, embora sejam considerados, tradicionalmente, como verbos intransitivos,
foram considerados, em algumas situações, como transitivos indiretos. Para isso,
apoiei-me em Cegalla (1997, p.306), para quem os “verbos intransitivos passam,
ocasionalmente, a transitivos, quando construídos com objeto direto ou indireto”, e
Luft (2003), que considera a possibilidade de verbos intransitivos serem usados,
acidentalmente, como transitivos.
2.4.2.2 Extralinguísticas
Grupo 4 : FAIXA ETÁRIA
o) 20-35 anos
p) 35-55 anos
q) acima de 55 anos
~ 87 ~
O fator faixa etária foi considerado relevante tendo em vista o trabalho de
Labov (1972) em Martha‟s Vineyard, o qual comprovou a relevância da variável
idade no fenômeno da variação. Como foi delineado na seção 1, os falantes mais
jovens reproduziam a variante característica da ilha como forma de impor sua
identidade aos veranistas que invadiam a ilha no verão.
Para Naro (2003, p.43), um grupo de falantes mais velhos tende a preservar
as formas mais antigas, enquanto o grupo de falantes mais jovens tende a buscar
formas mais atuais, inovadoras
30
.
Os critérios para a divisão das faixas etárias que compõem esta pesquisa
foram baseados em Labov (2001, p.101) o qual afirma que
Divisions of the age continuum into groups must be roughly
consonant with life stages. In modern American society, these events
are alignment to the pre-adolescent peer group (8-9), membership in
the pre-adolescent peer group (10-12), involvement in heterosexual
relations and the adolescent group (13-16), completion of the
secondary schooling and orientation to the wider world of work and/or
college (17-19), the beginning of regular employment and family life
(20-29), full engagement in the work force and family responsibilities
(30-59), retirements (60s).
31
Isso posto, procedi à adaptação da divisão etária proposta por Labov (2001,
p.101) com vistas a estar coerente com a realidade brasileira. Nesta perspectiva, o
grupo etário de 20 a 35 anos engloba a fase de orientação para o mundo do trabalho
(com ou sem formação superior) e a constituição da família, o grupo de 36 a 55 anos
a consolidação da carreira profissional e da vida familiar, e o grupo igual ou superior
a 56 anos a preparação para aposentadoria.
Grupo 5 : ESCOLARIDADE
30
Embora esta seja a tendência geral, Labov (1972) demonstrou em sua pesquisa sobre a centralização dos
ditontos [ay] e [aw] em Martha‟s Vineyard que há situações nas quais o grupo mais jovem pode retornar a antigas
formas da comunidade de fala, com o objetivo de preservar/restagar sua identidade cultural.
31
Divisões em grupos de um continuum de idade devem ser consoantes, de modo aproximado, com os estágios
da vida. Na sociedade americana moderna, esses estágios estão em alinhamento com: grupos de pré-
adolescentes (8-9), membros de grupos de pré-adolescentes (10-12), envolvimento em relações heterossexuais
e grupos de adolescentes (13-16), Ensino Médio completo e orientação para o mundo do trabalho e/ou
universidade (17-19), o início do emprego regular e constituição de família (20-29), total engajamento no mundo
do trabalho e responsabilidades familiares (30-59), aposentadoria (60 em diante). (Tradução de minha
responsabilidade).
~ 88 ~
r) Ensino fundamental
s) Ensino médio
t) Ensino superior
A inclusão do fator escolaridade foi considerada relevante a este trabalho a
partir da hipótese de que o grau de instrução tende a preservar as formas de
prestígio em uma comunidade de fala, conforme as considerações de Votre (2003,
p.51-6).
Embora haja verbos que admitem a alternância de para e a, como o verbo dar
(dar o livro à/para aluna) e o verbo ir (ir ao/para o cinema), o uso da preposição a
em verbos que admitem a alternância de para e a ainda é recomendado pela
Gramática Tradicional. Nesse sentido, o fator escolaridade revela-se uma maneira
de contribuir para a manutenção da norma culta, ainda que o uso de para nas
situações descritas acima não chegue a constituir uma variante estigmatizada.
Grupo 6: REGIÃO GEOGRÁFICA
u) Uberaba MG
m) Montes Claros MG
O fator região geográfica foi levado em consideração devido ao meu objetivo
de investigar as preposições para e a em Uberaba e Montes Claros, a partir de
observações feitas anteriormente em trabalhos como o de Scher (1996), Kewitz
(2004), Farias (2004) e Oliveira (2005), que apontaram a tendência de a preposição
a no PB gradualmente dar lugar à preposição para, em posição de adjuntos e
complementos.
Como afirmei em uma das hipóteses deste trabalho, considero que, em
Uberaba, a preposição mais utilizada como introdutora de adjuntos e complementos
é a preposição para, enquanto que em Montes Claros a preferência é pela
preposição a.
~ 89 ~
2.5 A coleta e a transcrição dos dados
O total de horas gravadas gira em torno de trinta e seis horas de fala, uma
hora para cada informante, em inquéritos do tipo DID - diálogos entre informante e
documentador.
As gravações foram feitas por meio de áudio em gravador digital, procurando
deixar os informantes o mais próximo possível das situações naturais de
comunicação linguística. Todos os informantes foram convidados a participarem da
pesquisa, não sendo forçados em nenhum momento. Como elemento norteador da
entrevista, utilizei para todos os informantes um roteiro de entrevistas previamente
preparado (c.f. ANEXO A), o qual foi respondido apenas oralmente. A fim de
resguardar tanto o pesquisador, quanto os informantes, esses, antes de iniciarem a
entrevista, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (c.f. ANEXO
C).
Depois de realizar as entrevistas, iniciei o processo de transcrição, baseando-
me em critérios de transcrição descritos por Paiva (2003, p.135-46) e Marcuschi
(2001, p.9-13), os quais foram adaptados por mim, de acordo com os objetivos deste
trabalho. A seguir apresento os símbolos utilizados no processo de transcrição.
E = entrevistador
I = informante
||| = marcador de início e fim de trecho de fala (ex: .ah, eu não penso isso não.);
... = pausa;
[] = sobreposição da fala do entrevistador à fala do informante (quando E fala ao
mesmo tempo que I);
(()) = comentários do entrevistador/analista;
(? ?) = quando não se tem certeza do que foi dito, o trecho é colocado entre
parênteses e interrogações. ex: (?ele disse que era?)
(int) = trecho completamente ininteligível.
~ 90 ~
Nesta seção apresentei os procedimentos metodológicos que foram adotados
em consonância com os objetivos deste trabalho. Os principais aspectos históricos e
sociais das cidades de Uberaba e Montes Claros, que foram levantados aqui, serão
importantes para a análise dos dados coletados, visto que muitos aspectos
existentes no processo de variação e mudança linguística se devem à interferência
das variáveis não linguísticas (c.f. LABOV, 1972; TARALLO, 1996; MOLLICA, 2003).
Desta forma, fez-se mister considerar os fatores faixa etária e escolaridade
apresentados no envelope de variação.
Também abordei aqui o passos do desenvolvimento metodológico na
perspectiva da Sociolinguística Laboviana, como a forma de coletar os dados, o tipo
de entrevista, que no caso desta pesquisa foi DID, os critérios de transcrição das
entrevistas e o conjunto de variáveis dependentes e independentes.
Esclareço ainda que a análise dos dados, que será realizada na próxima
seção, levará em conta apenas a distribuição das porcentagens. Esta decisão foi
tomada em consonância com a decisão apresentada em Tarallo et alii (2002, p. 32).
Conscientes e cientes da querela e do impacto das críticas de
Lavandera (...) ao modelo variacionista, e norteados por uma
previsível e quase fatalística virada no modelo laboviano (...),
decidimo-nos, mesmo assim, por um tratamento quantitativo da
ordem sintática do Português falado, atendo-nos principalmente à
distribuição de dados (nesse sentido valendo-nos essencialmente de
percentagens) e considerando os grupos de fatores como meros
organizadores do universo da amostra analisada, e não como pesos
probabilísticos para a explicação da variável dependente (...)
~ 91 ~
3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Depois dos dados colhidos, codificados e devidamente cruzados,
apresentarei, nesta seção, a descrição, a análise e a discussão dos dados, como foi
delineado no envelope da variação (seção 2.4).
Em um primeiro momento, apresentarei a distribuição geral dos dados, que
compreende as ocorrências da variável dependente em relação às 36 entrevistas
que compõem o corpus, sem a especificação da região geográfica. Esta distribuição
geral é importante para que seja possível ter uma visão do todo da amostra. O
segundo passo será apresentar os dados a frequência de para e a considerando
as regiões de Uberaba e Montes Claros.
O próximo passo será a apresentação dos dados considerando as variáveis
sociais, no caso a faixa etária e o grau de escolaridade, com o objetivo de observar
a interferência das variáveis não linguísticas na fala das duas regiões pesquisadas.
Posteriormente, apresentarei a distribuição dos dados considerando as
variáveis linguísticas, sendo que a primeira dessas variáves a serem analisadas será
a função sintática dos elementos que são introduzidos pelas preposições para e a. A
segunda variável linguística a ser observada será o tipo de verbo presente na
sentença. A terceira será o tipo de sentença, com o objetivo de verificar se a ordem
dos constituintes na sentença constitui fator condicionante ao processo de variação
de para e a em Uberaba e Montes Claros.
3.1 Distribuição das variantes: a frequência da preposição PARA e da
preposição A nos dados de Uberaba e Montes Claros.
Nesta seção, apresento os resultados referentes às ocorrências de para e a
na fala de Uberaba e Montes Claros. No total, foram 877 amostras de dados obtidas
a partir da fala dos 36 informantes que compõem o corpus. O Gráfico 1
32
apresenta
a distribuição geral das ocorrências de para e a no total das amostras.
32
As tabelas correspondentes aos gráficos encontram-se no ANEXO D.
~ 92 ~
GRÁFICO 1 distribuição geral da frequência de PARA e A nas amostras.
Como é possível observar no Gráfico 1, de um total de 877 amostras, 89%
apresentaram a preposição para como introdutora de adjuntos adverbiais e
complementos. A preposição a foi detectada em 11% das ocorrências, perfazendo
uma diferença significativa de 78 pontos percentuais. Os dados gerais deixam claro
que, dentre as preposições pesquisadas neste trabalho, para é a mais frequente nos
dados gerais. Observem-se, a seguir, os exemplos das ocorrências de para e a nos
dados coletados.
(22)
Futebol sempre foi jogo de homem, sempre foi esse trem de homem... nas
arquibancadas a maioria é homem, poucas mulheres vão ao estádio de
futebol, então acho assim... que... eu acho que é um pouco de preconceito,
sabe?. (CBC-14-OTU)
(23)
A gente as vezes não conseguia aprender nada na roça porque era muito
difícil, chegava na escola já tava cansada, voltava da escola e ia pra
roça pra trabalhar. (VAP-21-PRM)
89%
11%
PARA
A
~ 93 ~
No Gráfico 1, foi possível obter uma visão geral da distribuição das
preposições para e a. Como o objetivo geral desta pesquisa é comparar o uso de
para e a em Uberaba e Montes Claros, será necessário analisar a frequência destas
preposições em cada uma das cidades pesquisadas. Por esta razão, apresento a
seguir o Gráfico 2, com a distribuição das ocorrências de para e a em Uberaba e
Montes Claros.
GRÁFICO 2 - Distribuição da frequência entre PARA e A em Uberaba e Montes Claros.
Analisando o Gráfico 2, é possível observar que, em ambas as regiões
pesquisadas, a preposição para liderou a porcentagem de ocorrências. Do total de
amostras da região de Uberaba, 95% apresentaram a ocorrência de para, enquanto
a preposição a representa 5% desse total. A diferença entre a frequência de para e
a é de 90 pontos percentuais, o que equivale a uma diferença significativa.
Observem-se os exemplos, a seguir, sobre os dados de Uberaba.
(24)
Esse metrô, ele tomou tanto dinheiro, isso daí era pra totalmente
interligado... eu uso quando vou a São Paulo, pego na Estação Tietê até a
Sé, depois da Sé eu tenho que pegar até o Belenzinho. (JTP-03-PRU)
UBERABA MONTES CLAROS
95%
83%
5%
17%
PARA
A
~ 94 ~
(25)
Quando o pai deixava, a gente aproveitava bastante, tudo tinha horário, tinha
dia, tudo certinho, foi crescendo aí foi esculhambando um pouco, férias ia pra
casa dos meus avós, era uma fazenda que ficava entre Veríssimo e Prata.
(MCS-10-PSU)
Montes Claros também apresentou uma frequência significativa da preposição
para, com 83% das ocorrências desta preposição. A preposição a apresentou o
índice de 17%, sendo que a diferença em pontos percentuais é de 66 entre para e a.
Observem-se, a seguir, os exemplos retirados dos dados de Montes Claros.
(26)
Eu venho de uma família muito tradicional, meu pai era muito rígido com a
gente, com os costumes, né, e... era assim bastante exigente, e até pra ir ao
colégio ele tinha que mandar meus irmãos me levar e me buscar. (MJN-35-
QTM)
(27)
Quando ela saía pro mercado ela deixava a gente praticamente trancado...
eram cinco, em casa era escadinha mesmo, diferença entre um ano, um
ano e meio no máximo. (VLM 28 - PSM)
Comparando Uberaba e Montes Claros, a partir do Gráfico 2, é possível
observar que os índices de ocorrências de para e a nas duas regiões encontram-se
muito próximos. O índice de para em Uberaba, 95%, comparado ao de Montes
Claros, 83%, possui uma diferença de apenas 12 pontos percentuais. O mesmo
ocorre com a preposição a, 5% em Uberaba e 17% em Montes Claros, cuja
diferença entre as duas cidades é também de 12 pontos percentuais.
Reproduzo, a seguir, o Gráfico 2 no Gráfico 3, mas mudando os eixos para
que seja possível comparar a porcentagem de cada uma das preposições nas duas
cidades.
~ 95 ~
GRÁFICO 3 - Distribuição da frequência de PARA e A entre Uberaba e Montes Claros
Comparando as ocorrências de para e a entre Uberaba e Montes Claros, a
partir do Gráfico 3, é possível observar que praticamente não variação da
preposição para entre as regiões pesquisadas. Do total de amostras em que houve
esta preposição, 55% são de Uberaba e 45% de Montes Claros, cuja diferença em
pontos percentuais é de apenas 10. A preposição a foi a que apresentou um índice
relevante de variação, que do total de amostras em que ocorreu a, 26%
corresponde aos dados de Uberaba e 74% aos dados de Montes Claros, com uma
diferença significativa de 48 pontos percentuais.
Segundo a hipótese inicial, a preposição para seria predominante entre os
falantes de Uberaba e a preposição a seria predominante em Montes Claros. No
entanto, a análise do Gráfico 2 e do Gráfico 3 leva-me a constatar que a hipótese
inicial foi confirmada apenas parcialmente, que para é predominante em ambas
regiões. A variação, portanto, ocorre somente com a preposição a que, quando
tomada separadamente, é mais usada em Montes Claros. Se por um lado, em
Montes Claros utiliza-se a preposição a com maior frequência do que em Uberaba,
reportando assim a variação, por outro lado a disposição dos dados demonstra que
para supera em muito a frequência de a em ambas regiões pesquisadas.
Conforme exposto no Referencial Teórico, Oliveira (2005) observou o
enfraquecimento da preposição a do culo XIX para o século XX, em dados de
diversas regiões brasileiras. Observação semelhante foi feita por Kewitz (2004) ao
analisar a gramaticalização das preposições a e para no PB, também em dados de
PARA A
55%
26%
45%
74%
UBERABA
MONTES CLAROS
~ 96 ~
diversas regiões
33
do século XIX e XX. Além disso, Scher (1996) havia observado
a variação de a e para na Zona da Mata Mineira, admitindo que em verbos dativos a
preposição a ou é substituída por para ou é simplesmente omitida.
Como é possível verificar a partir destas observações, tanto Uberaba quanto
Montes Claros apresentaram a predominância da preposição para devido ao
processo de mudança em progresso em que se encontra o PB, no qual a preposição
a dá lugar à preposição para.
3.2 Distribuição da frequência de PARA e A em relação às variáveis não
linguísticas.
Segundo Tarallo (1986, p.46-7), tudo o que não for estritamente linguístico
pode ser relevante no sentido de explicar um processo de variação ou mudança
linguística. Como expus no Referencial Teórico, a partir dos estudos de Labov
(1972) foi possível perceber que, dentre as variáveis não linguísticas, fatores como a
faixa etária, escolaridade e classe social mostram-se relevantes em muitas
situações, dependendo dos objetivos da pesquisa.
Diante destas questões, nesta seção examinarei os fatores extralinguísticos
considerados relevantes aos objetivos deste trabalho, a saber: o fator faixa etária e
fator escolaridade, ambos em relação ao fator região geográfica, que no caso são as
regiões de Uberaba e Montes Claros.
3.2.1 O fator faixa etária
Com o objetivo de verificar a interferência da faixa etária na variação das
preposições para e a, examinarei como se deu a ocorrência dos dados de Uberaba
e Montes Claros, em relação aos grupos etários selecionados para este trabalho.
33
c.f. seção 1.4.3.2
~ 97 ~
O Gráfico 4, a seguir, apresenta a distribuição de para e a, em relação à faixa
etária, na região de Uberaba.
GRÁFICO 4: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à faixa etária em Uberaba
Observando os dados do Gráfico 4, é possível verificar a interferência da
variável faixa etária no fenômeno de variação. Tomando como base as amostras em
que ocorreu a preposição para em Uberaba, o grupo etário de 20 a 35 anos é o que
detém maior uso desta preposição, com 43% das ocorrências.
No grupo de 36 a 55 anos, o índice obtido foi de 29%, cuja diferença entre o
grupo de 20 a 35 anos é de 14 pontos percentuais, valor esse que é menor em
apenas um ponto percentual no grupo etário igual ou acima de 56, cujo índice foi de
28%.
As sentenças (28), (29) e (30), a seguir, são exemplos da ocorrência de para
em Uberaba, em relação aos grupos etários de 20 a 35 anos, 36 a 55 anos e igual
ou superior a 56 anos, respectivamente.
(28)
Na minha profissão existem muitas coisas que na hora que a gente vê, a
gente se pega em gargalhadas e aí... contei pra ela, comentei com ela “não,
depois eu corrijo e tal” e passada essa vez depois ela voltou e agora, né, a
gente sempre lembra da francesinha e cai na risada. (VFS-01-ORU)
43%
29%
28%
25%
33%
42%
20 a 35 anos 36 a 55 anos 56 anos e acima
PARA
A
~ 98 ~
(29)
Você vê, hoje essa questão escola... antes... igual até um, um professor meu
na época que eu estava fazendo especialização fala, antes é, pergunte pra
sua mãe, ou pro seu pai né, antes, “ah, hoje sua professora é tia fulana” todo
mundo conhecia a tia fulana, a tia fulana era o exemplo de professora. (MFM-
16-PTU)
(30)
Chegou tava no paiol debulhando milho, o marido dela com mais quatro
pessoa debulhando milho... ela chegou e falou assim pra elas “ah, eu vou
embora pra dentro, sabe, um pouquinho, vocês é que precisa trabalhar”.
(OPS-11-QSU)
Nas amostras em que ocorreu a preposição a, o grupo etário de 20 a 35 anos
foi o que apresentou menor índice de uso desta preposição, com 25% dos dados.
No grupo de 36 a 55 anos, o índice foi de 33%, com uma diferença de 8 pontos
percentuais em relação ao grupo de 20 a 35 anos. no grupo igual ou superior a
56 anos, houve um índice de 42% das ocorrências de a, cuja diferença em relação
ao grupo de 36 a 55 anos foi de 9 pontos percentuais.
A seguir, as sentenças (31), (32) e (33) são exemplos da ocorrência de a em
Uberaba, em relação aos grupos etários de 20 a 35 anos, 36 a 55 anos e igual ou
superior a 56 anos, respectivamente.
(31)
Eu acho que um pouco de machismo, porque o homem, assim, futebol
sempre foi jogo de homem, sempre foi esse trem de homem, nas
arquibancadas a maioria é homem, poucas mulheres vão ao estádio de
futebol. (CBC-14-OTU)
(32)
Eu uso, quando vou a São Paulo (...) depois da Sé eu tenho que pegar ônibus
pra chegar a casa da minha mãe, são duas horas (JTP-03-PRU)
~ 99 ~
(33)
Desprezar a religião a gente não pode desprezar, às vezes vai naqueles
rituais por uma questão de rotina, vai todo dia na igreja e dentro falando
mal de todo mundo, roupa, teve uma época que eu fiquei assim injuriada
de ir à igreja justamente por isso. (SDP-17-QTU)
A análise do Gráfico 4 leva-me a concluir que, em Uberaba, a distinção entre
o uso de para e a é estabelecida entre o grupo etário de 20 a 35 anos em relação
aos grupos etários de 36 a 55 anos, e igual ou superior a 56 anos, fato que pode ser
comprovado pela diferença de pontos percentuais. Desta forma, tem-se uma
reclassificação do fator faixa etária em apenas duas faixas etárias relevantes: uma
com falantes de 20 a 35 anos e outra com falantes com idade igual ou superior a 36
anos.
Naro (2003, p.43-7) considera que nos eixos sociais os falantes mais velhos
tendem a usar formas menos atuais da língua, ao passo que os falantes mais jovens
usam formas mais atuais, mais inovadoras. É como se os falantes mais jovens
estivessem mais propensos à mudança. De acordo com a teoria dos Princípios e
Parâmetros (MIOTO; FIGUEIREDO SILVA; LOPES, 2007, p.33-6), na idade adulta o
falante possui os parâmetros da língua materna devidamente ativados, ao
contrário dos mais jovens, que estão em processo de aquisição.
As explicações sobre os processos de mudança são vários, mas, em
nosso caso, dizem respeito ao acionamento paramétrico, ou seja, ao
valor que as crianças atribuem a um determinado parâmetro. Se os
dados do input por algum motivo se tornam ambíguos, a criança
poderá atribuir ao parâmetro relevante um valor distinto daquele da
gramática adulta, provocando a mudança na língua. (MIOTO;
FIGUEIREDO SILVA; LOPES, 2007, p.36)
De fato, como foi demonstrado acima, em Uberaba a faixa etária igual ou
superior a 36 anos apresentou maior tendência à preposição à, diferentemente da
faixa etária entre 20 a 35 anos, que obteve maior uso de para. Além disso, como foi
delineado nos Procedimentos Metodológicos, a região de Uberaba constitui um
ponto de referência no Triângulo Mineiro, seja pelo comércio da região, seja pela
influência das universidades, fatores que atraem pessoas de diversas regiões do
~ 100 ~
Triângulo e de cidades do interior goiano e paulista. Por estas razões, o contato
constante dos falantes de Uberaba com o de outras regiões em que a preposição
para é predominante constitui fator importante ao processo de variação de para e a
nesta região. Desta forma, os falantes de 20 a 35 anos assumem a predominância
de para, que é a tendência atual no PB, enquanto os falantes com idade igual ou
superior a 36 anos tendem a manter o a. Vale dizer ainda que esses falantes do
grupo etário igual ou superior a 36 anos, em geral, foram escolarizados entre as
cadas de 30 a 70 do século XX, época em que havia punição quando alguma das
normas da Gramática Tradicional não fosse seguida, sendo a preposição a, nesse
contexto, tida como altamente desejável nos adjuntos e complementos. Acresce que
a forte influência da Igreja Católica na primeira metade do século XX constitui
influência ao uso da preposição a em verbos de movimento como o verbo “ir”. Isso
foi observado em diversas ocorrências da preposição a quando os informantes
falavam sobre religião, contexto no qual permitia a realização de sentenças como “ir
à igreja” ou “ir à missa”.
O Gráfico 5, a seguir, apresenta a distribuição de para e a, em relação à faixa
etária, na região de Montes Claros.
GRÁFICO 5: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à faixa etária em Montes Claros
No Gráfico 5, tomando o eixo equivalente à preposição para, verifica-se que
esta preposição foi utilizada no grupo etário de 20 a 35 anos, com um índice de
24%
33%
43%
39%
43%
18%
20 a 35 anos 36 a 55 anos 56 anos e acima
PARA
A
~ 101 ~
24%. No grupo etário de 36 a 55 anos, o índice foi de 33%, com uma diferença de 9
pontos percentuais. No grupo etário igual ou superior a 56 anos, o índice de para é
de 43%, que mantém uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao grupo
de 36 a 55 anos e 19 pontos percentuais em relação ao grupo de 20 a 35 anos.
As sentenças (34), (35) e (36), a seguir, são exemplos da ocorrência de para
em Montes Claros, em relação aos grupos etários de 20 a 35 anos, 36 a 55 anos e
56 anos e acima, respectivamente.
(34)
A maior parte dos alunos não tem carinho dos pais em casa, então quando
você fornece isso pra ele, você acaba sendo um pedaço daquilo que
preenche essa ausência. (LFS-31-OTM)
(35)
Aqui era rota de bandeirantes... aqui era a passagem, como é que vou te
descrever?... Montes Claros abastecia as bandeiras, aqui era criação de
gado, então os bandeirantes, passando por aqui, pegavam alimento pras
bandeiras, e aí a cidade foi construída nesse sentido. (MBX-33-PTM)
(36)
O padre entregou o terreno da igreja pro supermercado. (DMC-24-QRM)
Nas amostras em que ocorreu a utilização da preposição a, o grupo etário de
20 a 35 anos revelou o maior índice, com 39% das ocorrências. No grupo de 36 a 55
anos, houve um índice de 43%, com uma diferença de 4 pontos percentuais. no
grupo etário igual ou superior a 56 anos, houve uma diferença em de 25 pontos
percentuais, com 18% das ocorrências da preposição a.
As sentenças (37), (38) e (39), a seguir, são exemplos da ocorrência de a em
Montes Claros, em relação aos grupos etários de 20 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56
anos e acima, respectivamente.
~ 102 ~
(37)
Eu gosto muito daquela revista Superinteressante, a Galileu, leio elas,
Machado de Assis eu não leio, eu confesso a você, se é um pecado eu estou
pecando, mas eu não gosto... literatura, essas coisas voltadas para a
literatura não me despertam o interesse. (AGM-25-OSM)
(38)
Em Montes Claros são as festas de agosto, né, as festa de igreja, é... as de
igreja, né, muito bonita... dificilmente eu vou, aliás, eu em Montes Claros eu
nunca fui, as vezes eu vou em Francisco de Sá... às festa de Sete de
Setembro. (VAP-21-PRM)
(39)
Se a criança não valoriza aquilo que tem, ela não vai valorizar por exemplo...
digamos que ela pede um lápis emprestado ou seja uma borracha ao colega,
aquilo ela pode deixar sumir. (MHC-36-QTM)
A partir da análise do Gráfico 5, é possível observar que, em Montes Claros,
há a necessidade de reclassificar as faixas etárias em duas faixas etárias relevantes,
tal como ocorre em Uberaba: um grupo etário de 20 a 35 anos e um grupo etário
com idade igual ou superior a 36 anos, conforme evidencia a distribuição dos dados.
Com o objetivo de comparar os dados das duas cidades, tabela 1, a seguir,
apresenta a distribuição da frequência de para e a, em relação à faixa etária, em
Uberaba e Montes Claros.
Tabela 1 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à faixa etária, em Uberaba e Montes
Claros
PARA
A
Uberaba
20 a 35 anos
43%
25%
36 a 55 anos
29%
33%
56 anos e acima
28%
42%
Montes Claros
20 a 35 anos
24%
39%
36 a 55 anos
33%
43%
56 anos e acima
43%
18%
Fonte: dados elaborados pelo autor.
~ 103 ~
A análise da Tabela 1 leva-me a concluir que, em relação ao fator faixa etária,
a tendência do uso das preposições para e a em Montes Claros é diferente da
tendência do uso dessas preposições em Uberaba.
Em relação a Uberaba, fica então comprovada a hipótese inicial de que a
faixa etária de 20 a 35 anos favorece o uso de para, enquanto a faixa etária igual ou
superior a 36 anos favorece o uso de a. No caso de Montes Claros, a hipótese inicial
não pôde ser confirmada, que a faixa etária de 20 a 35 anos apresentou maior
índice de a, enquanto os falantes com idade igual ou superior a 36 anos utilizaram
mais para.
Retomando as considerações de Naro (2003, p.43-7) e de Mioto, Figueiredo
Silva e Lopes (2007, p.33-6), quando da análise da faixa etária em Uberaba, tais
considerações o podem ser aplicadas aos dados de Montes Claros. Embora a
hipótese de que a seria predominante em Montes Claros não haver sido confirmada,
conforme demonstrou a Tabela 1, era esperado que o os falantes do grupo de 20 a
35 anos realizassem mais para do que o grupo igual ou superior a 56 anos, o que
não se verificou.
Ao analisar a sociedade montesclarence, considero a existência de fatos
históricos que talvez possam explicar o motivo de a tendência em Montes Claros ser
oposta à de Uberaba. Retomando as informações expostas nos Procedimentos
Metodológicos, em relação ao histórico da região montesclarence
34
, até a década de
1960, Montes Claros experimentou um vazio demográfico chegando ao ponto de
certos bairros da cidade serem separados por porções de floresta. Nessa mesma
época, a cidade era constituída por habitantes provenientes das cidades adjacentes
como Coração de Jesus, Bocaiúva e Francisco de Sá, além de ex-empregados de
das fazendas da região. Os informantes que compõem o grupo com idade igual ou
superior a 56 anos são aqueles que tiveram a fase da infância entre as décadas de
40 a 60 do século XX, época em que Montes Claros ainda não recebia toda a
influência do Sul da Bahia e de outros pontos da região nordeste, como ocorreu
posteriormente. Nessa época, a maior influência provinha de Belo Horizonte e do
interior de Minas Gerais, regiões estas já em processo de enfraquecimento da
preposição a e predominância de para.
34
c.f. Gomes (2001)
~ 104 ~
Com a chegada da SUDENE, no final da década de 1960, Montes Claros
experimentou um alto crescimento demográfico, fazendo que ao final da década de
70 a cidade passasse, de 48 mil habitantes, a 98 mil, e chegando a 350 mil ao
ano 2000. A maior parte dessas pessoas que migraram para Montes Claros
provinham da região Nordeste, principalmente do Sul da Bahia e dos arredores de
Salvador, atraídas pelas promessas de emprego. Os falantes que hoje pertencem à
faixa etária de 20 a 35 anos, em geral, é composto por descendentes de ex-
habitantes nordestinos, onde a preposição a parece ser predominante.
No que concerne ao grupo etário de 36 a 55 anos, tanto em Uberaba quanto
em Montes Claros houve uma distribuição equilibrada dos dados, não reportando,
portanto, a variação entre para e a, que dentro do continuum apresentado no
Gráfico 4 e no Gráfico 5, esse grupo etário representa a maior aproximação entre as
preposições analisadas.
3.2.2 O fator escolaridade
Nesta seção, procederei à descrição e análise da variável escolaridade a
partir das amostras de Uberaba e Montes Claros.
Como foi delineado no envelope de variação, o fator escolaridade é
considerado um importante fator social, por ser a escola capaz de gerar mudanças
na fala e escrita, e também, ao mesmo tempo, procurar preservar as formas de
prestígio, buscando erradicar as variantes estigmatizadas na sociedade (VOTRE,
2003, p.51).
O Gráfico 6, a seguir, apresenta a distribuição da frequência de para e a em
relação à variável escolaridade, em Uberaba.
~ 105 ~
GRÁFICO 6: Distribuição da frequência de PARA e A em relação à escolaridade em Uberaba
De acordo com o Gráfico 6, em Uberaba a preposição para ocorreu em 34%
das amostras em que o grau de escolaridade foi o Ensino Fundamental. No Ensino
Médio, o índice foi de 29%, o que representa uma diferença de 5 pontos percentuais
em relação ao Ensino Fundamental. No Ensino Superior, a preposição para atingiu o
índice de 37%, que, em relação ao Ensino Médio, equivale a uma diferença de 8
pontos percentuais e, em relação ao Ensino Fundamental, apenas 3 pontos
percentuais.
As sentenças (40), (41) e (42), a seguir, são exemplos da ocorrência de para
em Uberaba, em relação aos grupos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior, respectivamente.
(40)
Hora que ela tava dentro, que é claro que ela não ia dar conta de abrir o
portão, o O. tacou, olha a ideia, a pedra no marimbondo e nós fomos embora,
vai correr pra casa... nós estudava de manhã, quando foi umas duas horas da
tarde, chega o pai dessa menina e a mãe lá na nossa casa. (MMP-04-PRU)
(41)
Quando o pai deixava, a gente aproveitava bastante, tudo tinha horário, tinha
dia, tudo certinho, foi crescendo aí foi esculhambando um pouco, férias ia pra
casa dos meus avós, era uma fazenda que ficava entre Veríssimo e Prata.
(MCS-10-PSU)
34%
29%
37%
21%
37%
42%
Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior
PARA
A
~ 106 ~
(42)
Tenho irmão, que quando... é o terceiro, né, que é aquele que eu falei que
era custoso, ele foi... todo mundo que ia nascendo ia pra oficina, com
exceção dessa segunda irmã minha, que veio depois de mim, que ela era
totalmente diferente. (WDS-15-PTU)
No que concerne à preposição a, o índice obtido no grupo de falantes
uberabenses com Ensino Fundamental foi de 21%. No Ensino Médio, esse índice oi
de 37%, o que equivale a uma diferença de 16 pontos percentuais em relação ao
Ensino Fundamental. no Ensino Superior, o índice obtido foi de 42%, com uma
diferença de apenas 5 pontos percentuais, em relação ao Ensino Médio e 21 pontos
percentuais, em relação ao Ensino Fundamental.
As sentenças (43), (44) e (45), a seguir, são exemplos da ocorrência de a em
Uberaba, em relação aos grupos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino
Superior, respectivamente.
(43)
Depois da eu tenho que pegar até o Belenzinho, pegar um ônibus pra
chegar à casa da minha mãe, são duas horas que eu levo, isso sem problema
de trânsito. (JTP-03-PRU)
(44)
A gente era pobre, a gente não era rico... não tinha essa história que tinha
que ter o vestido, o sapato e a bolsa, não tinha nada, você tinha que ter o
vestidinho a tarde pra ir ao terço, vestidinho de ir à missa, você podia vestir
um vestido, você podia ir num casamento, você podia ir num baile, você podia
repetir. (MLS-12-QSU)
(45)
No caso da TAM, se fosse permitido ao piloto freiar o avião, o que acontecia?
o avião teria derrapado, saído da pista ou tombado, mas não teria matado
aquele tanto de gente, então o excesso de automatismo prejudicou, matou
todo aquele pessoal. (GOP-18-QTU)
A conclusão a que cheguei a partir da análise do Gráfico 9 é que, em
Uberaba, o fator escolaridade não favorece o uso da preposição para, cuja
distribuição manteve-se equilibrada nos três graus de escolaridade analisados. A
~ 107 ~
maior diferença em pontos percentuais foi de 8 pontos, entre o Ensino Superior e o
Ensino Médio. Por outro lado, o fator escolaridade favorece o uso de a nessa região,
cuja distinção se estabelece entre o Ensino Fundamental e os ensinos Médio e
Superior.
A seguir, apresento o Gráfico 7, que contém a distribuição da frequência de
para e a, em relação ao fator escolaridade, na região de Montes Claros.
GRÁFICO 7 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à escolaridade em Montes Claros
De acordo com o Gráfico 7, semelhante ao que ocorre em Uberaba, em
Montes Claros houve uma distribuição equilibrada do uso da preposição para, em
relação à escolaridade. Tem-se, então, 36% no Ensino Fundamental, 29% no Ensino
Médio e 35% no Ensino Superior. A diferença entre o Ensino Médio e o Ensino
Fundamental é de 7 pontos percentuais, um valor não relevante do ponto de vista
estatístico. O mesmo ocorreu com o Ensino Superior em relação aos outros graus
de escolarização, que apresentou uma diferença de 6 pontos percentuais em
relação ao Ensino Médio e apenas 1 ponto percentual em relação ao Ensino
Fundamental.
As sentenças (46), (47) e (48), a seguir, são exemplos da ocorrência de para
em Montes Claros, em relação aos grupos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior, respectivamente.
36%
29%
35%
30%
20%
50%
Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior
PARA
A
~ 108 ~
(46)
Um colega meu, eu me lembro, ficou de castigo atrás da porta com uma
cadeira na cabeça, ajoelhado... e eu olhava pra ele assim, ficava com uma
dó, ele era magrinho... tudo de zona rural, tudo da roça... então eu tinha muita
dó dele. (MCG-23-QRM)
(47)
Eu falei assim “vai na conta de minha avó e pega salame pra nós”, e ela
“que tanto?” e eu falei assim “pega um quilo, sei lá o que você pega lá, não
sei”... a gente não tinha noção... a A. chega, ela chega com um extintor de
salame ((risos)) um extintor.... (IAP-26-OSM)
(48)
Eu sei que tem umas reuniões que são feitas naquele do Allan Kardec, mas
faz muito tempo que eu não vejo assim, é aqui perto do Hospital São Lucas
as reuniões, eles até forneciam uma sopa todo dia, ou uma vez na semana no
hospital pras pessoas pobres e tudo. (ECQ-34-PTM)
A preposição a apresentou o índice de 30% no Ensino Fundamental, 20% no
Ensino Médio, e 50% no Ensino Superior. A diferença entre o Ensino Fundamental e
Médio é de 10 pontos percentuais. O Ensino Superior mantém uma diferença de 30
pontos percentuais em relação ao Ensino Médio e 20 pontos percentuais em relação
ao Ensino Fundamental.
As sentenças (49), (50) e (51), a seguir, são exemplos da ocorrência de a, em
Montes Claros, em relação aos grupos de Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior, respectivamente.
(49)
Peguei um ônibus de Brasília a Montes Claros e logo de manhãzinha, por
volta de cinco e meia da madrugada, o ônibus chegando aqui próximo a
Montes Claros... o ônibus bate e eu, como passageiro daquele ônibus, não vi
nada. (FAP-19-ORM)
(50)
Por ser filha de pais... uma pobre... eu lembro que meu pai sempre juntava
um dinheirinho e minha mãe adorava ir a mercado, ela ia ao mercado,
quando ela tinha uma saúde boa, hoje ela tem uma saúde bem fragilizada....
(VLM-28-PSM)
~ 109 ~
(51)
Eu venho de uma família muito tradicional, meu pai era muito rígido com a
gente, com os costumes, né, e... era assim bastante exigente, e até pra ir ao
colégio ele tinha que mandar meus irmãos me levar e me buscar. (MJN-35-
QTM)
A distribuição dos dados no Gráfico 7 demonstra que, em Montes Claros, tal
como ocorre em Uberaba, o fator escolaridade não favorece a variação da
preposição para, que a distribuição foi equilibrada. Em relação à preposição a, os
dados evidenciam que, em Montes Claros, o grau de escolarização mostra-se
relevante ao uso desta preposição, cuja distinção é estabelecida entre o Ensino
Fundamental e Ensino Médio em relação ao Ensino Superior. Poder-se-ia pensar,
portanto, em dois graus de escolaridade relevantes: o Ensino Fundamental e Médio
de um lado, e o Ensino Superior de outro.
Tabela 2 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à escolaridade, em Uberaba e Montes
Claros
PARA
A
UBERABA
Ensino Fundamental
34%
21%
Ensino Médio
29%
37%
Ensino Superior
37%
42%
MONTES CLAROS
Ensino Fundamental
36%
30%
Ensino Médio
29%
20%
Ensino Superior
35%
50%
Fonte: dados elaborados pelo autor.
Conforme demonstra a Tabela 2, a preposição para obteve uma distribuição
equilibrada em todos os graus de escolaridade das duas regiões pesquisadas. a
preposição a obteve um índice significativo, cuja distinção, em Uberaba, é
estabelecida entre o Ensino Fundamental em relação aos ensinos Médio e Superior.
No que concerne à preposição a em Montes Claros, a distinção entre os graus de
escolaridade é estabelecida entre os ensinos Fundamental e Médio em relação ao
Ensino Superior. Os dados evidenciam, portanto, que, em ambas regiões,
~ 110 ~
somente dois graus de escolaridade relevantes à preposição a, e nenhum em
relação à preposição para.
Segundo a hipótese inicial, o grau de escolarização se apresentaria como um
fator relevante. Ainda que a preposição para fosse predominante em Uberaba, o
traço [+escolaridade] tenderia a favorecer o uso de a. No entanto, a análise dos
dados contraria parcialmente a hipótese inicial, que o índice de para, em todos os
graus de escolarização, se manteve equilibrado. Por outro lado, a preposição a foi
mais favorecida no Ensino Médio e Superior em relação ao Ensino Fundamental (em
Uberaba), e no Ensino Fundamental e Médio em relação ao Ensino Superior (em
Montes Claros), o que confirma parcialmente a hipótese de que o traço
[+escolaridade] favorece a preposição a.
Conforme considera Votre (2003, p.51), uma análise que busque os efeitos da
escolaridade sobre o fenômeno da variação deve ser realizada tendo como base
“algumas distinções no interior de categorias presentes na dinâmica social em que
interage a escola”. Dentre essas categorias estão, de um lado, a relação entre
prestígio social e forma relativamente neutra, e de outro lado a relação entre forma
socialmente estigmatizada e forma imune à estigmatização.
Embora a recomendação geral das Gramáticas Tradicionais seja pelo uso da
preposição a nos contextos que admitem a alternância para/a, o uso da preposição
para nesses contextos não chega a constituir um fenômeno socialmente
estigmatizado. Nesse sentido, os falantes que optam pela realização de para em
lugar de a, em sentenças como a de (48), não se expõem à estigmatização. O
mesmo parece não ocorrer quando da substituição de a por em, fenômeno este que
talvez possa se constituir em uma variante socialmente estigmatizada, mas isso teria
de ser investigado em trabalhos futuros.
O fenômeno da regência verbal, ilustrado aqui pelo estudo do verbo
ir de movimento, é mais tópico e mais limitado, como um problema
típico de domínio de regras de regência. É ensinado na escola de
forma assistemática, mas constante, com lembretes do tipo: vou ao
dentista, e não: vou no dentista; vou ao médico, e não: vou no
médico. (VOTRE, 2003, p.54) (grifo meu)
~ 111 ~
Partindo do exposto até aqui sobre a escolaridade, considero que o fato de o
uso de para não se constituir em um fenômeno socialmente estigmatizado, a escola
não teria razões para condicionar o uso de a nos contextos que admitem a
alternância de para/a, sendo este o motivo pelo qual a preposição para se manteve
equilibrada em todos os graus de escolaridade aqui analisados.
Diante destas questões, acredito ser pertinente levantar aqui uma hipótese
sobre a preposição em: tendo a alternância de a/em uma relação entre forma de
prestígio e uma possível forma socialmente estigmatizada, respectivamente, o fator
escolaridade seria relevante na medida em que o traço [+escolaridade] favoreceria o
uso de a, enquanto o traço [-escolaridade] favoreceria o uso de em. Portanto, como
essa mesma relação entre forma de prestígio e forma socialmente estigmatizada, no
que concerne ao uso de a e para, ou é inexistente, ou irrelevante, não haveria
grandes interferências da escola no sentido de impor o uso de a.
3.3 Distribuição da frequência de PARA e A em relação às variáveis
linguísticas
Nesta seção, apresento a análise dos fatores internos ao sistema linguístico.
Sabe-se que, independente dos fatores extralinguísticos relevantes a um fenômeno
de variação, qualquer alteração afeta o sistema da língua de alguma forma. Nesse
sentido, se a preposição é um elemento importante sintaticamente, então se faz
mister considerar a possibilidade de fatores linguísticos como a função sintática, o
tipo de verbo e o tipo de sentença, mostrarem-se relevantes ao fenômeno de
variação.
3.3.1 O fator função sintática
Ao investigar a relevância do fator função sintática, tive por objetivo verificar
se variação de para e a entre o objeto indireto, o complemento nominal e o
adjunto adverbial, em relação às duas regiões pesquisadas, Uberaba e Montes
Claros, como foi delimitado no envelope de variação.
~ 112 ~
Embora um constituinte sentencial possa desempenhar várias outras funções
sintáticas, além das elencadas aqui, o objeto indireto, o adjunto adverbial e o
complemento nominal são as que foram detectadas nas entrevistas realizadas.
O Gráfico 8, a seguir, apresenta a distribuição da frequência de para e a, em
relação à função sintática do constituinte encabeçado pela preposição, em Uberaba.
GRÁFICO 8 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à função sintática, em Uberaba
Como pode ser observado no Gráfico 8, na função de objeto indireto, a
preposição para apresentou 95% de ocorrências, ao passo que a preposição a
apresentou o índice de apenas 5%, perfazendo uma diferença significativa de 90
pontos percentuais. O adjunto adverbial, porém, apresentou somente ocorrências
com para, não se mostrando um fator relevante à variação de para e a em Uberaba.
Na posição de complemento nominal, para obteve índice de 71% de ocorrências,
enquanto a apresentou um índice de 29%, perfazendo uma diferença de 42 pontos
percentuais.
As sentenças (52) , (53) e (54), a seguir, são exemplos da ocorrência de para,
em relação ao objeto indireto, ao adjunto adverbial e ao complemento nominal,
respectivamente, em Uberaba.
Objeto Indireto Adjunto Adverbial Complemento Nominal
95%
100%
71%
5%
0%
29%
PARA
A
~ 113 ~
(52)
Nós fomos depois de Ubatuba, s fomos para Poços de Caldas também, foi
conhecer onde meu avô e minha vó passaram a lua de mel, também assim, é
uma cidade muito bonita, mas a gente não ficou muito tempo lá. (CBC-14-
OTU)
(53)
A minha esposa, que hoje é minha esposa, naquela época ela mudou pra cá,
eu vim visitar, tinha amizade com todo mundo, né. (JTP-03-PRU)
(54)
O computador, eu acho que se bem usado ele é ótimo, se usado pra coisa
que são necessárias para a faixa etária de idade ele é um ótimo item de se
ter em casa. (VFS-01-ORU)
As sentenças (55) e (56), a seguir, o exemplos da ocorrência de a, em
relação ao objeto indireto e ao complemento nominal, respectivamente, em Uberaba,
lembrando que não houve ocorrências desta preposição na posição de adjunto
adverbial.
(55)
Reu rezo, peço muito a Deus... assim... quando eu levanto de manhã peço
pra divino Pai Eterno e Jesus me dar força. (OPS-11-QSU)
(56)
Eu tenho um apego grande a essa cidade, embora eu reconheça as
dificuldades que ela tem, mas eu amo essa cidade, gosto muito de Uberaba...
não tenho vontade de mudar não... na altura da minha vida não. (WDS-15-
PTU)
~ 114 ~
O Gráfico 9, a seguir, apresenta a distribuição da frequência de para e a, em
relação à função sintática do constituinte encabeçado pela preposição, em Montes
Claros.
GRÁFICO 9 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação à função sintática, em Montes Claros
De acordo com o Gráfico 9, Montes Claros apresentou índice de 84% da
preposição para na posição de objeto indireto, e 16% da preposição a, perfazendo
uma diferença de 16 pontos percentuais. Assim como ocorreu em Uberaba, na
posição de adjunto adverbial não houve ocorrências de a, não reportanto, portanto, a
variação. O mesmo se verificou em relação ao complemento nominal, que obteve
apenas ocorrências com a preposição a, também não reportanto a variação.
As sentenças (57) e (58), a seguir, são exemplos da ocorrência de para em
relação ao objeto indireto e ao adjunto adverbial, respectivamente, em Montes
Claros. Note-se que não houve ocorrências desta preposição na posição de
complemento nominal.
(57)
Ela tem depressão, sabe, ela entrou no carro de C. esses dias, ela entrou...
C. ficou morrendo de medo, ela entrou “ou, me leva pro hospital que eu
passando mal, eu tenho depressão sim” (?que ela fala que tá passando mal?)
ela toma remédio demais. (IAP-26-OSM)
Objeto Indireto Adjunto Adverbial Complemento Nominal
84%
100%
0%
16%
0%
100%
PARA
A
~ 115 ~
(58)
Eu falava assim “bom, se tivesse menos filho, as pessoas podiam viver
melhor, né”, embora naquela época a gente não fosse... é... ainda não tivesse
a influência da televisão, da dia, pra incentivar o consumismo, mas eu
pensava nisso aí, e foi dessa forma que eu fui crescendo... quando eu vim
pra aqui, eu pelejei pra meu pai deixar que eu fosse fazer esse curso com
os padres, eram os padres que davam o curso. (MJN-35-QTM)
As sentenças (59) e (60), a seguir, são exemplos da ocorrência de a em
relação ao objeto indireto e ao complemento nominal, respectivamente, em Montes
Claros. Note-se que não houve ocorrências de a na posição de adjunto adverbial.
(59)
No exterior eu pretendo ir ao Chile, um dos países da América Latina que
mais me encanta, pretendo também ir ao México e à Cuba, justamente pela
cultura. (MML-32-OTM)
(60)
Tem o Rio Vieira e tem até outros córregos assim, tem até um, esse passa
perto da minha casa, que quando ele passa perto da minha casa ele é
esgoto, mas uma colega minha, que fez pedagogia comigo, ela mora acima
de mim, da minha casa... ele não é poluído, então assim, eu tive acesso a
ele pela casa dela. (ECQ-34-PTM)
A tabela 3, a seguir, apresenta a distribuição da frequência de para e a,
em relação à função sintática do constituinte encabeçado pela preposição, em
Uberaba e Montes Claros.
~ 116 ~
Tabela 3 Distribuição da frequência de PARA e A, em relação à função sintática, em Uberaba e
Montes Claros
PARA
A
UBERABA
Objeto Indireto
95%
5%
Adjunto Adverbial
100%
0%
Complemento Nominal
71%
29%
MONTES CLAROS
Objeto Indireto
84%
16%
Adjunto Adverbial
100%
0%
Complemento Nominal
0%
100%
Fonte: dados elaborados pelo autor.
A análise da tabela 3 demonstra que a hipótese inicial não foi confirmada.
Segundo essa hipótese, a função sintática seria um fator relevante ao processo de
variação entre as preposições pesquisadas. Entretanto, a variação ocorreu somente
em relação à função de objeto indireto, em Montes Claros, e apenas entre o objeto
indireto e o complemento nominal em Uberaba, não havendo ocorrências de a na
função de adjunto adverbial entre os falantes uberabenses e montesclarenses,
assim como não houve ocorrências de para na função de complemento nominal
entre os falantes montesclarenses. Desta forma, o objeto indireto constitui a única
função sintática relevante, no que concerne à variação de para e a entre regiões
pesquisadas.
Segundo a teoria da sintaxe gerativa (MIOTO; FIGUEIREDO SILVA; LOPES,
2007, p.82-3), a principal distinção entre os complementos e os adjuntos é feita a
partir de como um determinado constituinte é selecionado pelo PP e se a projeção
intermediária desse PP é ocupada por um núcleo lexical ou funcional. Assim, se a
preposição apenas c-seleciona um constituinte, então esse constituinte é um
complemento verbal ou nominal. Se a preposição, além de c-selecionar um
constituinte, também o s-seleciona, então esse constituinte é um adjunto.
De acordo com os critérios adotados neste trabalho, os quais foram expostos
no envelope de variação
35
, constituintes considerados tradicionalmente como
adjuntos adverbiais, a exemplo de “ir ao cinema”, foram considerados aqui como
objetos indiretos
36
. Foram considerados como adjuntos adverbiais introduzidos pelas
preposições para e a as expressões locativas como a do exemplo (58). Como
somente houve ocorrências com para, considero que tal fato tenha ocorrido devido à
35
c.f. seção 2.4.2.1
36
c.f. Cegalla (1997) e Luft (2003)
~ 117 ~
própria natureza lexical dos adjuntos de s-selecionar o constituinte na posição de
Compl. Nesse sentido, entre as preposições aqui analisadas, para seria a única a s-
selecionar um elemento locativo. Observem-se as sentenças de (61).
(61)
a. Eu ia pra lá.
b. *Eu ia a
c. Eu vim pra
d. *Eu vim a
A agramaticalidade de (61b) e (61d) se deve exatamente pela incapacidade
de a s-selecionar elemento locativo na condição de núcleo do PP prototipicamente
talhado para ser adjunto. Reproduzirei as sentenças de (62) em (63) substituindo os
adjuntos adverbiais por objetos indiretos.
(62)
a. Eu ia pra escola.
b. Eu ia à escola.
c. Eu vim pra Uberaba.
d. Eu vim à Uberaba.
Todas as sentenças de (62) são gramaticais porque, na posição de objeto
indireto, a relação da preposição com o complemento é de apenas c-seleção, isto é,
tanto a preposição para quanto a podem c-selecionar um complemento que tenha,
por exemplo, o traço [+lugar].
3.3.2 O fator tipo de verbo
Como foi delineado no envelope de variação, o fator tipo de verbo foi
escolhido para integrar os grupos de fatores a serem investigados a partir da
afirmação de que um determinado tipo verbal poderá favorecer ou não a realização
de uma variável linguística.
~ 118 ~
No Gráfico 10, a seguir, apresento os resultados referentes à distribuição da
frequência de para e a, em relação ao tipo de verbo, em Uberaba.
GRÁFICO 10 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de verbo, em
Uberaba
De acordo com o Gráfico 10, em Uberaba os verbos predicativos, possessivos
e existenciais apresentaram o índice de 93% da preposição para e apenas 7% da
preposição a, perfazendo uma diferença de 86 pontos percentuais. Os verbos de
ação transformativa ou transpossessiva apresentaram o índice de 97% da
preposição para e 3% de a, com uma diferença de 94 pontos percentuais. os
verbos comunicativos e os de movimento apresentaram o mesmo índice: 94% de
para e 6% de a, perfazendo uma diferença de 88 pontos percentuais.
As sentenças (63) e (64) são exemplos do uso de para e a, respectivamente,
com verbos predicativos, possessivos e existenciais, em Uberaba.
(63)
Eu fui muito rebelde, do ponto de vista das ideias, eu sempre fui muito
rebelde nesse sentido, muito rebelde, então essa questão religiosa pra mim é
bem complicada. (WDS-15-PTU)
Predicativos,
possessivos e
existenciais
Ação
transformativa ou
transpossessiva
Comunicativos Movimento
93%
97%
94%
94%
7%
3%
6%
6%
PARA
A
~ 119 ~
(64)
Meu tio, ele é uma pessoa mais reservada, ele é dentista, e gosta muito de
comédia, de desenho, é a pessoa mais velha com cabeça mais nova que eu
conheço, e adora bobeira, nada que presta ele gosta, assim, no bom sentido,
né, é ligado muito à informática também, tecnologia de alguma forma. (RDT-
08-OSU)
As sentenças (65) e (66), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos de ação transformativa ou transpossessiva, em Uberaba.
(65)
Uma vez fui numa boca de fumo com uma amiga minha e o traficante não
quis vender o negócio pra ela, eu não entendi direito o que aconteceu, eu sei
que ele pegou uma faca e saiu correndo e eu virei um risco. (LCP-13-OTU)
(66)
O intendente é aquele que trabalha em apoio às operações, então o trabalho
em apoio, são aqueles que dão apoio às operações, ele não é o guerreiro.
(GOP-18-QTU)
As sentenças (67) e (68), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos comunicativos, em Uberaba.
(67)
Um sonho que eu tenho, eu tinha vontade de ter uma coisa minha, assim, tipo
restaurante, tipo essas coisas que eu gosto de mexer, às vezes até em casa
mesmo, fazer essas coisas pra vender, mas eu tenho medo de arriscar e
depois não dar certo, quebrar a cara e perder, largar o certo pelo duvidoso,
então eu tenho medo, a minha mãe sempre ensinou pra gente, nunca um
passo maior que sua perna possa alcançar. (MCS-10-PSU)
(68)
A gente não procura inimizade com ninguém, eu rezo, peço muito a Deus,
assim, quando eu levanto de manhã. (OPS-11-QSU)
~ 120 ~
As sentenças (69) e (70), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos de movimento, em Uberaba.
(69)
Acredito em Deus, tenho uma certeza muito grande dessa presença magna
na vida da gente, no mundo, mas não consigo, não consigo me contentar, ou
me adaptar a qualquer segmento religioso, então vou pra uma missa, vou de
vez em quando, a hora que eu acho que eu devo que ir. (WDS-15-PTU)
(70)
Ela faz questão de chegar para a filha dela e falar que, vamos supor, ela
precisa ir ao médico, “ai, minha mãe me levou ao ginecologista”, realmente
aconteceu, uma menina de onze anos no ginecologista não sei pra quê.
(ECS-09-PSU)
No Gráfico 11, a seguir, apresento os resultados referentes à distribuição da
frequência de para e a, em relação ao tipo de verbo, em Montes Claros.
GRÁFICO 11 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de verbo, em
Montes Claros
A distribuição das ocorrências de para e a, em relação ao tipo de verbo,
apresentou os seguintes resultados: com verbos predicativos, possessivos e
existenciais, para apresentou o índice de 79%, enquanto a apresentou índice de
21%, com uma diferença de 58 pontos percentuais. Os verbos de ação
Predicativos,
possessivos e
existenciais
Ação
transformativa ou
transpossessiva
Comunicativos Movimento
79%
88%
81%
82%
21%
12%
19%
18%
PARA
A
~ 121 ~
transformativa ou transpossessiva apresentaram 88% de ocorrências com para e
12% com a, perfazendo uma diferença de 76 pontos percentuais. Os verbos
comunicativos apresentaram o índice de 81% com a preposição para e 19% com a
preposição a, perfazendo uma diferença de 62 pontos percentuais. Os verbos de
movimento apresentaram índice de 82% com a preposição para e 18% com a
preposição a.
As sentenças (71) e (72), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos predicativos, possessivos e existenciais, em Montes Claros.
(71)
Alguns problemas que a gente depara, no trabalho, na vida pessoal, eu acho
mais comum você colocar a mão de Deus, você esperar o retorno... seja ele
positivo ou não, mas seja o melhor pra aquele momento. (MML-32-OTM)
(72)
O montesclarense, ele deu abertura em um determinado momento, pra que
as pessoas que vieram de fora, crescessem e ajudassem Montes Claros a
desenvolver... Montes Claros ainda era muito presa à tradição, ao gado,
então essa influência rural de Montes Claros não deixava Montes Claros
crescer. (MBX-33-PTM)
As sentenças (73) e (74), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos de ação transformativa ou transpossessiva, em Montes
Claros.
(73)
Essa escola minha lá... era pelo Estado, começou pela prefeitura, sabe, mas
depois de quatro anos eu fiz uns cursos, aqui em Montes Claros mesmo, foi
até ali na faculdade... aquele... é... Unimontes, foi, e eles me passaram pra o
Estado e eu me aposentei lá. (BMP-30-QSM)
(74)
A criação também influencia... eu acho que o pai que muito pão-de-ló ao
filho é o que vai ficar (??), é o que vai ter problemas na frente, ele não
deixou ele passar por dificuldade, ele tratou a pão-de-. (VLM-28-PSM)
~ 122 ~
As sentenças (75) e (76), a seguir, o exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos comunicativos, em Montes Claros.
(75)
Elas dizia assim pra mim que elas podia e eu não... mas quando elas saía da
escola eu aprontava com elas... eu era criança, né, mas eu sentia ofendida
que a única coisa assim que eu achava que eu ia ficar bem comigo mesma
era eu dar um tapa na cara dela ou puxando o cabelo dela. (VAP-21-PRM)
(76)
Se a criança não valoriza aquilo que tem, ela não vai valorizar por exemplo...
digamos que ela pede um lápis emprestado, ou seja uma borracha, ao
colega, aquilo ela pode deixar sumir. (MHC-36-QTM)
As sentenças (77) e (78), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos verbos de movimento, em Montes Claros.
(77)
Antigamente era tudo de terra a cidade, não tinha faculdades... faculdade
apareceu a Unimontes, foi a primeira que chegou aqui... depois apareceu
essas mas não tinha, e a gente ia pra escola... aqui em Montes Claros
você andava 3 quilômetros pra chegar num colégio aí. (DMC-24-QRM)
(78)
Meu pai era muito rígido com a gente, com os costumes, e era assim bastante
exigente, e até pra ir ao colégio ele tinha que mandar meus irmãos me levar e
me buscar. (MJN-35-QTM)
A tabela 04, a seguir, apresenta a distribuição da frequência de para e a em
relação ao tipo de verbo, em Uberaba e Montes Claros.
~ 123 ~
Tabela 4 Distribuição da frequência de para e a em relação ao tipo de verbo, em Uberaba e Montes
Claros
PARA
A
UBERABA
Predicativos, possessivos e existenciais
93%
7%
Ação transformativa ou transpossessiva
97%
3%
Comunicativos
94%
6%
Movimento
94%
6%
MONTES CLAROS
Predicativos, possessivos e existenciais
79%
21%
Ação transformativa ou transpossessiva
88%
12%
Comunicativos
81%
19%
Movimento
82%
18%
Fonte: dados elaborados pelo autor.
A análise da tabela 04 demonstra que o verbo não constitui um fator relevante
à variação de para e a em Uberaba e Montes Claros, que a distribuição das duas
preposições se manteve equilibrada em todos os tipos de verbo.
Conforme sugeria a hipótese inicial, os verbos de movimento, os
comunicativos e os de ação transformativa ou transpossessiva seriam os que mais
favoreceriam a variação de para e a nas regiões pesquisadas, enquanto os verbos
predicativos, possessivos e existenciais seriam os que menos favoreceriam a
variação.
Entretanto, a hipótese inicial não foi confirmada. Os dados mostraram que a
preposição para foi predominante em ambas regiões pesquisadas. A preposição a,
embora não tenha predominado em nenhuma das duas regiões, obteve um índice
um pouco maior em Montes Claros, com distribuição equilibrada em todos os tipos
de verbo.
3.3.3 O fator tipo de sentença
Como foi delineado no envelope de variação, o tipo de sentença foi
considerado relevante com base na afirmação de que a ordem dos constituintes na
sentença tende a favorecer determinadas formas variantes.
O Gráfico 12, a seguir, apresenta a distribuição de para e a, em relação ao
tipo de sentença, em Uberaba.
~ 124 ~
GRÁFICO 12 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de sentença, em
Uberaba
De acordo com o Gráfico 12, em Uberaba, as sentenças predicativas
apresentaram o índice de 93% de ocorrências da preposição para e 7% da
preposição a, com uma diferença de 86 pontos percentuais. As sentenças do tipo
(S)-V-OI-OD apresentaram apenas ocorrências com a preposição para, não
reportanto variação. As sentenças do tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI apresentaram o
índice de 99% de ocorrências com para e apenas 1% da preposição a,
apresentando uma diferença significativa de 98 pontos percentuais. Já as sentenças
do tipo (S)-V-OI apresentaram índice de 95% de para e 5% de a, perfazendo uma
diferença de 90 pontos percentuais. Em relação aos outros tipos de sentença, a
preposição para apresentou o índice de 88% e a preposição a apresentou 12%,
perfazendo uma diferença de 76 pontos percentuais.
As sentenças (78) e (79), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças predicativas, em Uberaba.
(78)
Eu carrego comigo a marca de toda essa história de vida, de ter sido uma
criança muito repreendida, de não poder exteriorizar o que eu sentia, de não
poder ser do jeito que eu... na verdade foi muito difícil pra mim. (WDS-15-
PTU)
93%
100%
99%
95%
91%
88%
7%
0%
1%
5%
9%
12%
PARA
A
~ 125 ~
(79)
Ao invés de investir o seu potencial aqui, por conta dessa lentidão que é o
próprio ritmo da cidade, a pessoa quer interpor rápido, não vai pensar em
Uberaba, é uma tendência a maioria. (SDP-17-QTU)
As sentenças (80) e (81), a seguir, são exemplos da ocorrência de para, em
relação às sentenças do tipo (S)-V-OI-OD, em Uberaba. Não houve ocorrências
deste tipo de sentença com a preposição a.
(80)
Deus tem pra gente um destino traçado. (LCP-13-OTU)
(81)
Tento me fazer presente o máximo possível, então eu tento mostrar pra eles
a importância de um estudo
As sentenças (82) e (83), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI, em Uberaba.
(82)
Ele não é o guerreiro, ele é o que condições para o guerreiro. (GOP-18-
QTU)
(83)
O intendente... são aqueles que dão apoio às operações. (GOP-18-QTU)
As sentenças (84) e (85), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-OI, em Uberaba.
~ 126 ~
(84)
Eu ia pro colégio, estudava no Nossa Senhora das Dores, então passava
aquele cheiro fétido todo dia. (SDP-17-QTU)
(85)
Você tinha que ter o vestidinho a tarde pra ir ao terço. (MLS-12-QSU)
As sentenças (86) e (87), a seguir, o exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-AdjAdv-(OD/OI), em Uberaba.
(86)
Vai com a roupa passada pra casa. (MLS-12-QSU)
(87)
Eu agradeço muito a Deus todos os dias quando eu levanto. (OPS-11-QSU)
As sentenças (88) e (89), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação aos outros tipos de sentença, em Uberaba.
(88)
Eu não sabia como fazer pra fazer reverter isso pros meus próprios filhos.
(WDS-15-PTU)
(89)
Aí minha mãe me levou ao ginecologista. (ECS-09-PSU)
O Gráfico 13, a seguir, apresenta a distribuição de para e a, em relação ao
tipo de sentença, em Montes Claros.
~ 127 ~
GRÁFICO 13 - Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de sentença, em
Montes Claros
De acordo com o Gráfico 13, nas sentenças predicativas a preposição para
ocorreu em 82% das amostras, ao passo que a preposição a obteve o índice de
18%, perfazendo uma diferença de 64 pontos percentuais. As sentenças do tipo (S)-
V-OI-OD obteve 77% de ocorrências com para e 23% com a preposição a, o que
equivale a uma diferença de 54 pontos percentuais. Nas sentenças do tipo (S)-V-
(AdjAdv)-OD-OI, o índice obtido da preposição para foi de 84% e da preposição a
16%, perfazendo uma diferença de 68 pontos percentuais. Nas sentenças do tipo
(S)-V-OI, a preposição para obteve o índice de 82% enquanto a preposição a obteve
18%, com a diferença de 64 pontos percentuais. As sentenças do tipo (S)-V-AdjAdv-
(OD/OI) apresentaram um índice de 87% de ocorrências de para e 13% de a,
perfazendo uma diferença de 74 pontos percentuais. Nos outros tipos de sentença o
índice da preposição para foi de 86% e o da preposição a foi de 14%, com a
diferença de 72 pontos percentuais.
As sentenças (90) e (91), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças predicativas, em Montes Claros.
(90)
Pra mim Montes Claros é uma cidade grande. (MHC-36-QTM)
82%
77%
84%
82%
87%
86%
18%
23%
16%
18%
13%
14%
PARA
A
~ 128 ~
(91)
Não significa que eu tenho que ficar atolado ao que eu recebi aí. (AGM-25-
QSM)
As sentenças (92) e (93), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-OI-OD, em Montes Claros.
(92)
Eu que fazia a merenda, os pais mandavam pra mim as coisas. (BMP-30-
QSM)
(93)
Tem que pedir muito a Deus força. (AAM-29-QSM)
As sentenças (94) e (95), a seguir, o exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI, em Montes Claros.
(94)
Comprava aqueles presentes muito bonito pra gente. (MCG-23-QRM)
(95)
Tem a Avenida Sanitária que dá acesso ao centro. (VAP-21-PRM)
As sentenças (96) e (97), a seguir, o exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-OI, em Montes Claros.
(96)
A gente saía de casa com o uniforme bem branquinho, limpinho, uma beleza,
né, ia arrumadinho pra ir pra escola... (MJN 35 QTM)
~ 129 ~
(97)
Meus pais nunca foram a escola conversar com a diretora por motivo de
bagunça ou de indisciplina por minha parte... (AGM 25 OSM)
As sentenças (98) e (99), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e a,
em relação às sentenças do tipo (S)-V-AdjAdv-(OD/OI), em Montes Claros.
(98)
Eu ia muito pra escola pra brincar. (FAP-19-ORM)
(99)
Às vezes vai mais à igreja pra mostrar que tá indo. (VAP-21-PRM)
As sentenças (100) e (101), a seguir, são exemplos da ocorrência de para e
a, em relação aos outros tipos de sentença, em Montes Claros.
(100)
A tela do computador te leva pro mundo inteiro. (AGM-25-OSM)
(101)
Eu tive acesso a ele [o rio] pela casa dela.
A tabela 5, a seguir, apresenta a frequência das preposições para e a em
relação ao tipo de sentença, em Uberaba e Montes Claros.
~ 130 ~
Tabela 5 Distribuição da frequência de PARA e A em relação ao tipo de sentença, em Uberaba e
Montes Claros
PARA
A
UBERABA
PREDICATIVAS
93%
7%
(S)-V-OI-OD
100%
0%
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI
99%
1%
(S)-V-OI
95%
5%
(S)-V-AdjAdv-(OD/OI)
91%
9%
OUTROS
88%
12%
MONTES CLAROS
PREDICATIVAS
82%
18%
(S)-V-OI-OD
77%
23%
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI
84%
16%
(S)-V-OI
82%
18%
(S)-V-AdjAdv-(OD/OI)
87%
13%
OUTROS
86%
14%
Fonte: dados elaborados pelo autor.
A análise dos resultados da tabela 5 deixa claro que o único tipo de sentença
que se mostrou relevante à variação de para e a nas regiões pesquisadas foi o tipo
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI. Segundo a hipótese inicial, o tipo de sentença seria um fator
relevante em ambas regiões pesquisadas, sendo as sentenças do tipo (S)-V-OI e
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI as que mais favoreceriam a variação. Entretanto, os
resultados demonstraram que apenas as sentenças do tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI
favorecem a variação de para e a em Uberaba e Montes Claros. A hipótese foi,
portanto, confirmada parcialmente. Ainda que não chegue a ser considerada
relevante no que diz respeito à variação de para e a, ao comparar os dados da
tabela 5, o tipo de sentença (S)-V-OI foi o segundo a obter uma diferença razoável
em pontos percentuais, cujo valor foi de 13.
Nesta seção, apresentei a descrição e a análise dos dados da pesquisa sobre
o processo de variação das preposições para e a entre as regiões de Uberaba e
Montes Claros.
A análise dos resultados demonstrou que, ao contrário do que foi levantado
no estágio inicial da pesquisa, tanto em Uberaba quanto em Montes Claros a
preferência geral é pela preposição para, enquanto introdutora de adjuntos e
complementos. Embora os falantes montesclarenses apresentem maior índice de
emprego de para que de a, o uso da preposição a é ligeiramente maior que em
Uberaba, o que me leva a considerar que, em relação à tendência atual do PB,
~ 131 ~
Uberaba encontra-se mais a frente no processo de mudança, no que se refere à
questão da variação de para e a.
Na próxima seção, retomarei as observações feitas ao longo da análise de
resultados, de forma a sintetizar as conclusões a que cheguei, em relação ao
fenômeno investigado neste trabalho.
~ 132 ~
~ 133 ~
CONCLUSÃO
Neste trabalho, investiguei a variação das preposições para e a introdutoras
de adjuntos adverbiais e complementos no Português Brasileiro, na fala das regiões
de Uberaba e Montes Claros.
Na seção 1, Referencial Teórico, apresentei o trabalho de Weinreich, Labov e
Herzog (1968), que propõe os fundamentos empíricos para uma teoria da mudança
linguística; o trabalho de Labov (1972), que contém as bases teóricas e
metodológicas da sociolinguística variacionista; além do trabalho de Tarallo e Kato
(1989), que propõe a compatibilização entre a teoria variacionista e a teoria gerativa,
com o objetivo de dar conta das questões sintáticas paramétricas no processo de
variação e mudança linguística.
Ainda no Referencial Teórico, apresentei algumas definições de preposição
que julguei relevantes à fundamentação teórica deste trabalho. Para isso, apresentei
o conceito de preposição sob a perspectiva da Gramática Tradicional e da
Gramática de Usos, objetivando comparar duas visões diferentes sobre essa classe
de palavras. Também foi apresentado o conceito de preposição, sob a perspectiva
de Mattoso Camara Jr. (2001 [1970]), que traz uma abordagem descritiva dos
elementos linguísticos, e não prescritiva, como faz a GT.
Também apresentei, na seção 1, o trabalho de Oliveira (2005), que analisou
os adjuntos e complementos introduzidos pela preposição a, em dados dos séculos
XIX e XX, constatando a hipótese do enfraquecimento de a em adjuntos e
complementos, e o trabalho de Kewitz (2004), que investigou o processo de
gramaticalização das preposições a e para no PB, em dados de diversas regiões do
Brasil.
Na seção 2, procedi à descrição dos procedimentos metodológicos adotados
para esta pesquisa, com base na metodologia variacionista iniciada por Labov
(1972). Nessa seção, levantei um breve histórico da região de Uberaba e de Montes
Claros para tomar conhecimentos dos elementos sociais presentes nos falantes das
regiões pesquisadas. Além disso, apresentei os critérios para a seleção dos
informantes, a coleta e a transcrição dos dados, os objetivos que nortearam esta
pesquisa e as hipóteses levantadas com base no fenômeno em observação.
~ 134 ~
Depois de os dados haverem sido transcritos, codificados e quantificados no
programa estatístico Goldvarb, foram apresentadas, na seção 3, a descrição e a
análise dos dados, cujas conclusões, no que concerne à comprovação ou refutação
das hipóteses levantadas no envelope de variação, retomarei a seguir.
O resultado da análise geral dos dados mostrou que a preposição para é
predominante em Uberaba e Montes Claros, ao contrário de a, que apresentou um
baixo índice geral.
A primeira das hipóteses sugeria que a tendência, em Montes Claros, seria
oposta em relação a Uberaba, isto é, a preposição para seria predominante em
Uberaba, enquanto a preposição a seria predominante em Montes Claros. O
resultado da análise confirmou a predominância da preposição para em Uberaba,
mas negou a hipótese sobre Montes Claros, cuja predominância também foi da
preposição para. Entretanto, ao comparar somente a realização da preposição a
entre as duas regiões pesquisadas, observei que a frequência dessa preposição
possui índice um pouco maior em Montes Claros, embora a diferença em pontos
percentuais em relação à Uberaba não seja significativa.
A partir destas observações, e retomando os trabalhos de Oliveira (2005) e
Kewitz (2004), os quais foram apresentados no Referencial Teórico, e as evidências
trazidas pelos dados, considero que, em relação à tendência atual do PB sobre o
uso de para e a em complementos e adjuntos, o processo de mudança encontra-se
ligeiramente mais avançado em Uberaba do que em Montes Claros, no qual a
preposição a dá lugar à preposição para.
A análise dos fatores não linguísticos demonstrou que a faixa etária constitui
um fator relevante ao uso de para e a, nas duas regiões pesquisadas. A segunda
das hipóteses sugeria que, em Uberaba e Montes Claros, a preposição para seria
mais empregada entre os falantes com idade de 20 a 35 anos, enquanto a
preposição a seria mais empregada entre os falantes com idade igual ou superior a
56 anos. Essa hipótese foi confirmada parcialmente em Uberaba e negada em
Montes Claros. Em Uberaba, a faixa etária de 20 a 35 anos apresentou maior
ocorrência da preposição para, enquanto as faixas etárias de 36 a 55 anos e igual
ou superior a 56 anos apresentaram maior ocorrência de a. Em Montes Claros, a
faixa etária de 20 a 35 anos apresentou maior ocorrência da preposição a, enquanto
para foi predominante nas faixas etárias de 36 a 55 anos e igual ou superior a 56
anos. Diante destes resultados, fica claro que a distinção em Uberaba e Montes
~ 135 ~
Claros se em apenas duas faixas etárias, isto é, de 20 a 35 anos e igual ou
superior a 36 anos.
A terceira das hipóteses iniciais, que diz respeito à relevância do fator
escolaridade, sugeria que, em ambas regiões, quanto maior fosse o grau de
escolaridade, maior seria o índice de a, que falantes mais escolarizados tendem a
buscar a manutenção da norma culta. Entretanto, essa hipótese foi confirmada
apenas parcialmente. A preposição para apresentou disposição equilibrada em
todos os graus de escolaridade das duas regiões pesquisadas. A preposição a, por
outro lado, apresentou maior frequência no Ensino Médio e Superior em Uberaba, e
em Montes Claros o maior índice obtido foi no Ensino Fundamental e Médio. Nesse
sentido, em Uberaba a distinção é estabelecida entre o Ensino Fundamental em
relação aos ensinos Médio e Superior, e em Montes Claros a distinção é
estabelecida entre os ensinos Fundamental e Médio em relação ao Ensino Superior.
A conclusão a que cheguei a partir da análise dos dados é que o uso da preposição
para, em lugar da preposição a, como não constitui uma variante socialmente
estigmatizada, não favorece a variação.
No que diz respeito aos fatores linguísticos, a análise dos dados demonstrou
que a função sintática não constitui um fator relevante à variação de para e a, nas
regiões pesquisadas. A quarta das hipóteses sugeria que a função sintática
representava um fator relevante ao estudo da variação dessas preposições.
Contudo, apenas a função de objeto indireto foi favorecida, que o adjunto ocorreu
apenas com para em ambas as regiões pesquisadas, e o complemento nominal
ocorreu apenas com a, em Montes Claros. A conclusão a que cheguei em relação à
não relevância do fator função sintática nesta pesquisa é que, em termos sintáticos,
a propriedade de uma preposição c-selecionar ou s-selecionar um constituinte é
determinante do tipo de constituinte que será selecionado, se adjunto ou
complemento.
A análise dos dados demonstrou que o tipo de verbo não constitui um fator
relevante. Tais resultados contrariam a quinta das hipóteses, a qual sugeria que os
tipos de verbo mais favoráveis à variação de para e a, em Uberaba e Montes Claros,
seriam os de movimento, os comunicativos e os de ação transformativa ou
transpossessiva, enquanto os menos favoráveis seriam os predicativos, possessivos
e existenciais.
~ 136 ~
Conforme sugeria a hipótese sobre a ordem dos constituintes, os tipos de
sentença que mais favoreceriam a variação de para e a nas regiões pesquisadas
seriam as do tipo (S)-V-OI e (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI. Essa hipótese foi confirmada
apenas parcialmente, pois apenas as sentenças do tipo (S)-V-(AdjAdv)-OD-OI,
apresentaram relevância à variação de para e a, tanto em Uberaba como em
Montes Claros. O tipo de sentença (S)-V-OI também apresentou uma certa
relevância, já que o índice obtido foi ligeiramente abaixo do índice significativo.
De acordo com o objetivo geral deste trabalho, o estudo da variação das
preposições para e a nas regiões de Uberaba e Montes Claros deveria ser realizado
sob a perspectiva da Sociolinguística Laboviana e também sob a perspectiva da
Sociolinguística Paramétrica. No entanto, devido à predominância da preposição
para em ambas regiões pesquisadas, não foi possível proceder à análise
paramétrica, visto que, em relação às preposições aqui pesquisadas, o português
falado em Uberaba e Montes Claros constitui o mesmo sistema, e não sistemas
diferentes, como foi pensado no estágio inicial da pesquisa.
Finalmente, ainda que o objetivo de uma análise paramétrica entre Uberaba e
Montes Claros não tenha sido alcançado, este trabalho deixou evidente que o
português falado no norte de Minas Gerais, em relação ao uso de para e a, não se
constitui uma variante “completamente diferente”, como acreditam os falantes das
outras regiões de Minas Gerais e outros Estados. A análise demonstrou, portanto,
que, de maneira geral, os falantes das duas regiões pesquisadas também têm
preferência pela preposição para, fenômeno que já foi verificado em outros trabalhos
já realizados em outras regiões sobre a gradual substituição de a por para no PB.
~ 137 ~
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Teoria da Mudança Lingüística. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola
Editorial, 2006. 152 p.
~ 142 ~
~ 143 ~
ANEXOS
~ 144 ~
ANEXO A: DISTRIBUIÇÃO DOS INFORMANTES DA PESQUISA
INFORMANTE
SIGLA
FAIXA ETÁRIA
ESCOLARIDADE
REGIÃO
01
VFS-01-ORU
20-35 anos
Ensino
Fundamental
Uberaba
02
FLM-02-ORU
20-35 anos
Ensino
Fundamental
Uberaba
03
JTP-03-PRV
36-55 anos
Ensino
Fundamental
Uberaba
04
MMP-04-PRV
36-55 anos
Ensino
Fundamental
Uberaba
05
AVS-05-QRU
56 anos e
acima
Ensino
Fundamental
Uberaba
06
NLP-06-QRU
56 anos e
acima
Ensino
Fundamental
Uberaba
07
PMC-07-OSU
20-35 anos
Ensino Médio
Uberaba
08
RDT-08-OSU
20-35 anos
Ensino Médio
Uberaba
09
ECS-09-PSU
36-55 anos
Ensino Médio
Uberaba
10
MCS-10-PSU
36-55 anos
Ensino Médio
Uberaba
11
OPS-11-QSU
56 anos e
acima
Ensino Médio
Uberaba
12
MLS-12-QSU
56 anos e
acima
Ensino Médio
Uberaba
13
LCP-13-OTU
20-35 anos
Ensino Superior
Uberaba
14
CBC-14-OTU
20-35 anos
Ensino Superior
Uberaba
15
WDS-15-PTU
36-55 anos
Ensino Superior
Uberaba
~ 145 ~
16
MFM-16-PTU
36-55 anos
Ensino Superior
Uberaba
17
SDP-17-QTU
56 anos e
acima
Ensino Superior
Uberaba
18
GOP-18-QTU
56 anos e
acima
Ensino Superior
Uberaba
19
FAP-19-ORM
20-35 anos
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
20
LAP-20-ORM
20-35 anos
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
21
VAP-21-PRM
36-55 anos
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
22
EAP-22-PRM
36-55 anos
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
23
MCG-23-QRM
56 anos e
acima
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
24
DMC-24-QRM
56 anos e
acima
Ensino
Fundamental
Montes
Claros
25
AGM-25-OSM
20-35 anos
Ensino Médio
Montes
Claros
26
IAP-26-OSM
20-35 anos
Ensino Médio
Montes
Claros
27
IPM-27-PSM
36-55 anos
Ensino Médio
Montes
Claros
28
VLM-28-PSM
36-55 anos
Ensino Médio
Montes
Claros
29
AAM-29-QSM
56 anos e
acima
Ensino Médio
Montes
Claros
30
BMP-30-QSM
56 anos e
acima
Ensino Médio
Montes
Claros
31
LFS-31-OTM
20-35 anos
Ensino Superior
Montes
Claros
32
MML-32-OTM
20-35 anos
Ensino Superior
Montes
Claros
~ 146 ~
33
MBX-33-PTM
36-55 anos
Ensino Superior
Montes
Claros
34
ECQ-34-PTM
36-55 anos
Ensino Superior
Montes
Claros
35
MJN-35-QTM
56 anos e
acima
Ensino Superior
Montes
Claros
36
MHC-36-QTM
56 anos e
acima
Ensino Superior
Montes
Claros
~ 147 ~
ANEXO B: ROTEIRO DE ENTREVISTA
1. Gostaria que você me falasse um pouco da sua infância, das brincadeiras
que você gostava de fazer com seus amigos e amigas, se você tem boas
lembranças ou se tem más lembranças, enfim.
2. Lembra-se de alguma briga ocorrida na escola? Como foi?
3. Fale-me um pouco sobre o seu relacionamento com os seus colegas de sala
de aula.
4. E alguma situação muito engraçada na sua vida escolar, você se lembra?
5. Você se lembra de alguma situação em que sentiu muito medo? Como foi?
6. Vocêesteve alguma vez em uma situação em que estivesse correndo risco
de vida?
7. O que aconteceu?
8. Numa situação dessas, alguns dizem “bom, seja o que Deus quiser”. O que
você pensa a esse respeito?
9. Fale um pouco de sua família, seus pais e avós.
10. O que você pensa da organização do casamento na sociedade dos dias de
hoje?
11. Você sempre viveu nesta cidade? Como era a sua cidade natal em relação
aos dias de hoje?
12. Fale-me um pouco das tradições culturais e políticas desta cidade.
13. Você gosta de esporte? Qual? Fale-me um pouco desse esporte de que você
gosta.
14. Segundo dizem, o Futebol é uma paixão nacional, você acredita nisso?
15. O que você pensa do Futebol no Brasil? Torce para algum time?
16. Você segue alguma religião? Qual? Fale-me um pouco de sua vida religiosa.
17. O que você pensa a respeito das práticas religiosas de hoje em relação a
anos atrás?
18. Qual a sua profissão? Fale-me um pouco dela.
19. O que você pensa sobre a falta de emprego nos dias de hoje?
20. O que você faria se fosse o atual presidente?
21. O que você mudaria no mundo hoje em dia?
~ 148 ~
ANEXO C: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado para participar da pesquisa “A variação das Preposições A e
Para na Fala de Uberaba e Montes Claros” do curso de Mestrado em Estudos Linguísticos
da Universidade Federal de Uberlândia, sob responsabilidade dos pesquisadores Dra.
Maura Alves de Freitas Rocha e seu orientando Giovanni de Paula Oliveira.
Nesta pesquisa nós buscaremos:
a- Investigar como se comportam sintaticamente as preposições a e para em
Uberaba e em Montes Claros.
b- Investigar, em Uberaba e Montes Claros, quais verbos admitem a preposição
para, quais verbos admitem a preposição a, e verificar se o apagamento da
preposição a na fala dessas cidades.
Na sua participação você responderá oralmente a um questionário, e suas respostas
serão gravadas e depois transcritas para análise. Após a transcrição e a análise, todas as
fitas e/ou Cds contendo as gravações serão destruídos.
Em nenhum momento você será identificado. Os resultados da pesquisa serão
publicados na dissertação do orientando e, ainda assim, sua identidade será preservada.
Você não terá ônus e nem ganho financeiro por participar da pesquisa.
Os riscos serão mínimos, que apenas poderá ocorrer algum constrangimento,
caso seja muito mido. Como benefício você terá a certeza de ter contribuído para a ciência
da linguagem.
Você é livre para parar de participar a qualquer momento, sem nenhum prejuízo.
Uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido ficará com você.
Qualquer dúvida a respeito da pesquisa você poderá entrar em contato com:
Pesquisadores
Giovanni de Paula Oliveira
Maura Alves de Freitas Rocha
CEP/UFU (34) 3239-4531
De acordo,
Uberaba ( ) Montes Claros ( ), _____ de _______________ de 200___
____________________________
Participante da pesquisa
~ 149 ~
ANEXO D: TABELAS DE RESULTADOS DA PESQUISA
TABELA 1 DISTRIBUIÇÃO GERAL DA FREQUÊNCIA DE PARA E A NAS AMOSTRAS
PARA
A
TOTAL
783
89%
94
11%
877
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 2 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM UBERABA E MONTES
CLAROS
PARA
A
TOTAL
Uberaba
434
95%
24
5%
458
Montes Claros
349
83%
70
17%
419
877
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 3 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM UBERABA E MONTES
CLAROS (LEITURA VERTICAL)
PARA
A
Uberaba
434
55%
24
26%
Montes Claros
349
45%
70
74%
TOTAL
783
94
877
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 4 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À FAIXA
ETÁRIA, EM UBERABA
PARA
A
20 a 35 anos
187
43%
6
25%
36 a 55 anos
126
29%
8
33%
56 anos e acima
121
28%
10
42%
TOTAL
434
24
Fonte: dados elaborados pelo autor.
~ 150 ~
TABELA 5 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À FAIXA
ETÁRIA EM MONTES CLAROS
PARA
A
20 a 35 anos
83
24%
27
39%
36 a 55 anos
117
33%
30
43%
56 anos e acima
149
43%
13
18%
TOTAL
349
70
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 6 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À
ESCOLARIDADE EM UBERABA
PARA
A
Ensino Fundamental
145
34%
5
21%
Ensino Médio
127
29%
9
37%
Ensino Superior
162
37%
10
42%
TOTAL
434
24
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 7 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À
ESCOLARIDADE EM MONTES CLAROS
PARA
A
Ensino Fundamental
125
36%
21
30%
Ensino Médio
101
29%
14
20%
Ensino Superior
123
35%
35
50%
TOTAL
349
70
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 8 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À FUNÇÃO
SINTÁTICA, EM UBERABA
PARA
A
TOTAL
Objeto Indireto
391
95%
22
5%
413
Adjunto Adverbial
38
100%
0
0%
38
Complemento Nominal
5
71%
2
29%
7
458
Fonte: dados elaborados pelo autor.
~ 151 ~
TABELA 8 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO À FUNÇÃO
SINTÁTICA, EM MONTES CLAROS
PARA
A
TOTAL
Objeto Indireto
321
84%
59
16%
380
Adjunto Adverbial
28
100%
0
0%
28
Complemento Nominal
0
0%
11
100%
11
419
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 9 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO AO TIPO DE
VERBO, EM UBERABA
PARA
A
TOTAL
Predicativos, possessivos e existenciais
85
93%
6
7%
91
Ação transformativa ou transpossessiva
123
97%
4
3%
127
Comunicativos
48
94%
3
6%
51
Movimento
178
94%
11
6%
189
458
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 10 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO AO TIPO DE
VERBO, EM MONTES CLAROS
PARA
A
TOTAL
Predicativos, possessivos e existenciais
62
79%
16
21%
78
Ação transformativa ou transpossessiva
113
88%
15
12%
128
Comunicativos
38
81%
9
19%
47
Movimento
136
82%
30
18%
166
419
Fonte: dados elaborados pelo autor.
TABELA 11 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO AO TIPO DE
SENTENÇA, EM UBERABA
PARA
A
TOTAL
PREDICATIVAS
66
93%
5
7%
71
(S)-V-OI-OD
10
100%
0
0%
10
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI
90
99%
1
1%
91
(S)-V-OI
201
95%
11
5%
212
(S)-V-AdjAdv-(OD/OI)
53
91%
5
9%
58
OUTROS
14
88%
2
12%
16
458
Fonte: dados elaborados pelo autor.
~ 152 ~
TABELA 12 DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA DE PARA E A EM RELAÇÃO AO TIPO DE
SENTENÇA, EM MONTES CLAROS
PARA
A
TOTAL
PREDICATIVAS
58
82%
13
18%
71
(S)-V-OI-OD
7
77%
2
23%
9
(S)-V-(AdjAdv)-OD-OI
56
84%
10
16%
66
(S)-V-OI
174
82%
37
18%
211
(S)-V-AdjAdv-(OD/OI)
41
87%
6
13%
47
OUTROS
13
86%
2
14%
15
419
Fonte: dados elaborados pelo autor.
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