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levantamento das propriedades sintáticas (gramaticalização) das preposições para e
a no PB. O corpus utilizado pela autora consistiu, do século XIX, em anúncios de
jornais, correspondências de leitores e redatores de jornais e correspondências do
ex-presidente Washington Luís. Os dados do século XX são constituídos por cartas
de Mário de Andrade e Washington Luís, cartas de leitores da revista Viagem e
entrevistas do projeto NURC (SP, RJ e RS) e VARPORT. Embora a procedência dos
dados seja de diversas localidades do Brasil como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa
Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais, a
localidade não está incorporada aos grupos de fatores da pesquisa, já que não há
uma uniformidade entre os dados obtidos das regiões supracitadas
.
O trabalho de Kewitz insere-se em um estudo mais amplo acerca da mudança
linguística das preposições “a” e “para” no PB, a partir de estudos sobre
gramaticalização de preposições em Castilho et alii (2002). O objetivo do trabalho
dessa autora é tratar das propriedades sintáticas de “a” e “para” considerando a
função sentencial do SP, o tipo de SN regido e a posição do SP na sentença.
Assumindo a posição de Castilho (apud KEWITZ, 2004, p.1), que “considera a
gramaticalização como um dos processos de criação linguística” (grifo da autora),
Kewitz divide os processos de gramaticalização em fonologização, morfologização
e sintaticização.
Embora o trabalho de Kewitz tenha como principal objetivo o estudo do
processo de gramaticalização das preposições a e para e não necessariamente a
variação entre as duas preposições, os resultados encontrados pela autora são
relevantes para este trabalho na medida em que indicam a possibilidade de um
processo de mudança do século XIX para o século XX.
A análise da função sentencial do objeto indireto apresentou, no século XIX, a
porcentagem de 98% para a preposição a e apenas 2% de para. No século XX, a
ocorrência de a ainda permanece superior, mas já há um aumento da frequência de
para, com 37%, em relação à frequência de a, com 63%. Por outro lado, a função
sentencial de complemento oblíquo com “a” apresentou, no século XIX, uma
porcentagem de 64% contra 36% de “para”, enquanto que, no século XX, a
“A distribuição dos dados por tipo de documento não é equilibrada nos dois séculos estudados, tanto em
relação ao período (primeira e segunda metades), quanto às localidades (por ex.: não há cartas pessoais de
todos os Estados)” (KEWITZ, 2004, p.2)
Na época da publicação do trabalho de Kewitz (2004), a pesquisa ainda não havia sido concluída. Por essa
razão, a autora esclarece que somente a fonologização e a sintaticização foram analisadas, deixando a
morfologização para trabalhos posteriores.