Download PDF
ads:
PABLO VITORIO ANNUNZIATO RUIVO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PAIS ADOLESCENTES ACERCA DO “SER PAI”
NA ADOLESCÊNCIA
RIO GRANDE
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO EM ENFERMAGEM
PABLO VITORIO ANNUNZIATO RUIVO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PAIS ADOLESCENTES ACERCA DO “SER PAI”
NA ADOLESCÊNCIA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do
Rio Grande, como requisito para obtenção
do título de Mestre em Enfermagem Área
de Concentração: Enfermagem e Saúde e
Linha de Pesquisa: Tecnologias de
Enfermagem/Saúde a indivíduos e grupos
sociais.
Orientadora: Profª. Drª. Giovana Calcagno Gomes.
RIO GRANDE
2010
R934r Ruivo, Pablo Vitorio Annuziato
Representações sociais de pais adolescentes acerca do “ser
pai” na adolescência / Pablo Vitorio Annunziato Ruivo. – 2010.
88 f.
Orientadora: Giovana Calcagno Gomes.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande,
2010.
1. Enfermagem 2. Maternidade 3. Adolescência I. Título. II.
Gomes, Giovana Calcagno.
CDU: 616-083-053.6
Catalogação na fonte: Bibliotecária Jane M. C. Cardoso CRB 10/849
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PAIS ADOLESCENTES ACERCA DO “SER PAI”
NA ADOLESCÊNCIA
PABLO VITORIO ANNUNZIATO RUIVO
Esta dissertação/tese foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora
para obtenção do título de:
Mestre em Enfermagem
e aprovada na sua versão final em 1 de julho de 2010 atendendo às normas da legislação vigente
da Universidade Federal do Rio Grande, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Área de
Concentração: Enfermagem e Saúde.
_______________________________
Profª. Drª. Helena Heidtmann Vaghetti
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________ ____________________________
Profª. Drª. Giovana Calcagno Gomes Profª. Drª. Adriana Dora da Fonseca
Presidente (FURG) Membro (FURG)
________________________________ _________________________________
Profª. Drª. Vera Lúcia de Oliveira Gomes Profª. Drª. Daniela Centenaro Levandowski
Membro (FURG) Membro (UNISINOS)
__________________________________
Profª. Drª. Geani Maria Machado Fernandes
Suplente (FURG)
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e ao meu irmão, pelo incentivo,
desejo do sucesso e respeito que sempre demonstraram diante das minhas escolhas.
À minha orientadora e amiga Giovana
Calcagno Gomes pelos ensinamentos, confiança e competente orientação. Minha eterna
gratidão e respeito.
À banca examinadora, Profª. Drª. Vera Lúcia de
Oliveira Gomes, Profª. Drª. Adriana Dora da Fonseca, Profª. Drª. Daniela Centenaro
Levandowski e Profª. Drª. Geani Maria Machado Fernandes pela disponibilidade e
contribuições que colaboraram com a minha construção de conhecimento.
Ao corpo docente da Escola de Enfermagem
pela importância que representaram na minha trajetória profissional e pessoal. Minha admiração
e respeito.
Aos amigos e colegas pelo desejo de sucesso e
compartinhamento de saberes. As lembranças serão eternas.
Finalmente, a todos os adolescentes
participantes do estudo pela disponibilidade e confiança em dividir suas vivências, crenças
diante de um momento tão importante em suas vidas. Minha gratidão e respeito.
RESUMO
RUIVO, Pablo Vitorio Annunziato. Representações sociais de pais adolescentes acerca do
“ser pai” na adolescência. 2010. 88 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de
Pós-graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.
Este estudo tem por objetivo conhecer as representações sociais de pais adolescentes acerca do
“ser pai” na adolescência. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada no primeiro semestre
de 2010 no Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr no Rio Grande do Sul. Teve como
referencial teórico a Teoria das Representações Sociais. Foram participantes 12 pais
adolescentes com idades entre 17 e 19 anos. A coleta de dados deu-se através de entrevistas
semi-estruturadas e a análise pela técnica do Discurso do Sujeito Coletivo. A análise gerou
representações acerca do uso de métodos contraceptivos; das reações e sentimentos frente ao
diagnóstico da gravidez; das qualidades de um bom pai e do viver do pai adolescente a partir da
paternidade. Os principais métodos contraceptivos conhecidos e que os adolescentes possuem
acesso são a pílula e a camisinha. No entanto, percebe-se que muitos não os utilizam ou o fazem
de forma inadequada. Alguns utilizam no início da relação, mas com o tempo deixam de fazê-
lo. O controle da natalidade, ainda, é deixado por conta da mulher. Referem que a gravidez não
foi planejada, aconteceu por descuido ou acidente. Após o primeiro impacto acabam aceitando a
gravidez e assumem a responsabilidade pelos filhos. Em relação aos sentimentos do pai
adolescente frente à informação da gravidez verifica-se que no início podem apresentar-se
desconfiados e descrentes da veracidade deste diagnóstico para logo em seguida apresentarem-
se preocupados, tristes e, alguns, com raiva de si mesmos por não terem usado preservativos.
Percebe-se, que com o tempo ficam felizes e alegres com a paternidade. Quanto às qualidades
de um bom pai referem que ser chefe de família, trabalhar, ser o provedor e cuidar do filho
encontram-se no núcleo central das representações destes adolescentes. Em relação ao processo
de viver do adolescente verifica-se que a maioria não se sente preparada para o exercício da
paternidade necessitando de ajuda para assumir o papel de pai. Todos referem espelhar-se em
uma figura masculina de sua família como fonte de preparo. Como principais facilidades para o
desempenho do papel de pai os adolescentes apontam o apoio da família, ter um emprego e
morar com a companheira. Como dificuldades referem a falta de emprego ou a abaixa
remuneração, o medo de não saber cuidar do filho, a interrupção do processo de escolarização e,
em um dos casos, a falta de apoio familiar. Quanto às mudanças ocorridas na vida do
adolescente a partir da paternidade referem à entrada precoce no mercado de trabalho, o
aumento da responsabilidade frente ao filho e a companheira, o afastamento das amizades,
deixar de ir a festas e, principalmente, o mudar de casa para coabitar com o filho e a
companheira. Conclui-se que os profissionais da enfermagem devem estar conscientes de seu
papel de orientar e cuidar o novo pai na missão de ser pai adolescente e criar seu filho
elaborando estratégias assistenciais coerentes com o perfil deste usuário dos serviços de saúde.
Descritores: Gravidez na Adolescência. Paternidade na Adolescência. Enfermagem.
ABSTRACT
RUIVO, Pablo Vitorio Annunziato. Social representations of teenage fathers regarding to
“being a father” in adolescence. 2010. 88 p. Dissertation (Master Degree in Nursing) Post-
graduation Program in Nursing, Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande.
This study aims to focus on the social representations of adolescent fathers regarding to “being
a father” in adolescence. The qualitative research, whose theoretical background is the Theory
of Social Representations, was carried out in the first semester of 2010, in Teaching Hospital
Dr. Miguel Riet Corrêa Jr in Rio Grande do Sul. There were 12 adolescent fathers aging
between 17 and 19 years old as participants. Data collection was made through semi-structured
interviews and analysis by the Discourse of Collective Subject. The following data generated
representations on the use of birth control methods by the adolescent father; his reactions and
feelings facing the diagnosis of pregnancy, the qualities of a good father and living as a father
since paternity. The contraceptive methods widely known and of which adolescents can make
use are the pill and condom. Noticeably, however, many of them misuse such methods. Some of
the adolescents in the study claimed to use these contraceptive methods at the beginning of the
relationship, but, they eventually stop doing it. Birth control is still considered a woman’s role.
The adolescents who were interviewed mention unplanned pregnancy, which happened due to
neglect or by accident. After the initial shock, they end up accepting the pregnancy and take
over the responsibility for the children. Concerning to the feelings of the adolescent father at the
moment of being aware of the pregnancy, it is clear that the fathers may be suspicious or
unfaithful of the veracity of the diagnosis, then, they feel worried, sad and, some of them, angry
with themselves for not using condom. Apparently, they gradually become happier and cheerful
about paternity. They mention as qualities of a good father: to be the head of the family, to
work, to be the provider and to look after the child. As to the living process of the adolescent,
we could see that most of them do not feel prepared enough for paternity and in need of help to
take the role of father. All of them mention looking up to a male figure as a source of
preparation. As main positive points for the performance of a father, the adolescents pinpoint
family support, having a job and living with the partner. While as a setback, they mention lack
of job, low income, being afraid of not taking care of the child, dropping school and, in one of
the cases, lack of family support. In terms of changes in the adolescents´ lives since paternity,
they claim the early insertion in the job market, increased responsibility with the child and the
partner, being away from friends, not going to parties, and, mainly, moving in with the child and
the partner. We conclude that the nursing professionals must be aware of their roles in order to
guide and take care of the new father in this mission of being an adolescent father and raising
his children, by setting assistance guidelines consistent with the profile of this user of the health
services.
Key Words: Pregnancy in Adolescence. Paternity in Adolescence. Nursing.
RESUMEN
RUIVO, Pablo Vitorio Annunziato. Representaciones sociales de padres adolescentes a cerca
del facto de "ser padre" em la adolescencia. 2010. 88 f. Disertación (Mestrado en Enfermería).
Programa de Postogrado en Enfermería, Universidad Federal del Rio Grande. Rio Grande.
Este estudio tiene por objectivo conocer las representaciones sociales de padres adolescentes a
cerca de "ser padre" en la adolescencia. Se tratade uma investigación cualitativa realizada em el
primero semestre de 2010 en el Hospital Universitario Dr. Miguel Riet Corrêa Jr., en el Rio
Grande del Sud. Tuve como referencial teorico la Teoría de las Representaciones Sociales.
Fueran participantes 12 padres adolescentes conidades entre 17 y 19 años. La coleta de dados
fue hecha a través de entrevistas casi estructuradas y la análisis tecnica del Discurso del Sujeto
Coletivo. Los dados generaran representaciones a cerca del uso de métodos anticonceptivos por
el padre adolescente, las reacciones y sentimientos de padre adolescente, ante al diagnóstico del
embarazo, de las cualidades de un bueno padre y del vivir del padre adolescente, al partir de la
paternidad. Los principales métodos anticonceptivos conocidos y que los adolescentes tienen
acceso como píldora y condón. Mientras si pericibi que muchos los utilizan de manera
inadecuada. Unos utilizan en el início de la relación, pero con el tiempo dejan de hacerlo. El
controlde la natalidad, aún es responsabilidad de la mujer. Si referi que el embarazo no fue
planeada, ocurrió por negligencia o accidente. Despues del primero impacto terminan por
aceptar la el embarazo y asumen la responsabilidad por los hijos. En relación a los sentimientos
del padre adolescente delante la información de la del embarazo, se verifica que en início
pueden presentarse desconfiados y descreídos de la veracidadde esto diagnóstico para luego en
seguida presentarse preocupados, tristes y algunos con rabia de si mismos por no teneren usado
preservativos. Si percibi que con el tiempo quedan felices y contentos con la paternidad. Narran
que las cualidades de bueno padres de familia son ser jefe de familia, trabajara, ser el proveedor
y cuidar del hijo. En relación al proceso de vivir adolescente, se comproba que la mayoria no
tiene preparación para el ejercicio de la paternidad y necesitán ayuda para asumir lo papel de
padre.Todos hablan en seguir una figura masculina como fuente de preparo. Como principales
facilidades a la ejecución de la paternidad, los adolescentes apuntan el apoyo de la familia, tener
um empleo y vivir con la compañera. Como dificuldades mencionam lafalta de empleo o la baja
remuneración, o miedo (temor) de no saber cuidar del hijo, la interrupción del proceso de
estudio y, en uno de los casos, la falta de apoyo familiar. Cuanto a las mudanzas ocurridas en la
vida del adolescente, al partir de la paternidad, citan el ingreso en el mercado trabajo, la
ampliación de la responsabilidad ante al hijoy la compañera, el alejamiento de las amistades,
dejar de ir a las fiestas y con primacía, mudar de casa para morar com el hijo y la compañera. Si
concluye que los profesionales de enfermería deben estar consciente de su papel de orientar el
nuevo padre en la misión de ser padre adolescente y crear el hijo a través de estrategias
asistenciales coherentes con el perfil de esto usuario de los servicios de salud.
Descriptores: Embarazo en la Adolescencia. Paternidad en la Adolescencia. Enfermería.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................................9
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................................................14
2.1 ADOLESCÊNCIA...................................................................................................................14
2.2 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA.......................................................................................16
2.3 PATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA................................................................................19
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.............................................................................................23
4 PERCURSO METODOLÓGICO..........................................................................................27
4.1 TIPO DE ESTUDO.................................................................................................................27
4.2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO...........................................................................27
4.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO.................................................................................................28
4.4 MÉTODO DE COLETA DOS DADOS.................................................................................28
4.5 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS................................................................................29
4.6 ASPECTOS ÉTICOS..............................................................................................................31
5 REPRESENTAÇÕES DO PAI ADOLESCENTE ACERCA DO SER PAI NA
ADOLESCÊNCIA..................................................................................................................32
5.1 O USO DE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS PELO PAI ADOLESCENTE.....................32
5.2 REAÇÕES E SENTIMENTOS DO PAI ADOLESCENTE FRENTE AO DIAGNÓSTICO
DA GRAVIDEZ.....................................................................................................................40
5.3 QUALIDADES DE UM BOM PAI .......................................................................................47
5.4 O VIVER DO PAI ADOLESCENTE A PARTIR DA PATERNIDADE................................50
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................69
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................72
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE.......84
APÊNDICE B - ROTEIRO DE COLETA DE DADOS.............................................................85
ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA NA ÁREA DA SAÚDE -
CEPas........................................................................................................................................86
9
1 INTRODUÇÃO
Ao final do curso de graduação em Enfermagem e Obstetrícia, da Universidade Federal
do Rio Grande FURG, passei a me interessar pelos temas que envolviam crianças e
adolescentes, com maior ênfase ao segundo, fato que se iniciou quando cursei as disciplinas de
Assistência de Enfermagem à Criança e ao Adolescente I e II. Estas me proporcionaram o
contato e a assistência direta e integral com essa população.
Buscando solidificar meus conhecimentos, tornei-me membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Enfermagem e Saúde da Criança e do Adolescente (GEPESCA/FURG). Neste
grupo, junto com os demais integrantes, passei a desenvolver o pensamento crítico acerca desta
temática, realizando estudos e pesquisas que contribuíram para o meu crescimento pessoal e
profissional. Concluí, através dos encontros semanais, proporcionados pelo GEPESCA/FURG,
que a paternidade na adolescência faz parte da realidade de um significativo número de
adolescentes brasileiros e que é bem mais comum do que eu imaginava.
Para ingressar no curso de Mestrado em Enfermagem, resolvi, então, desenvolver um
projeto sobre esta problemática. Ao iniciar a revisão da produção científica disponível, deparei-
me com uma escassez, com relação a publicações realizadas por Enfermeiros. A maioria dos
estudos encontrados foi realizada por profissionais de outras áreas, tendo a Psicologia como
maior produtora dos estudos. (ABREU; SOUZA, 1999; PICCININI et al, 2004;
LEVANDOWSKI; PICCININI, 2004; TELLES, 2007).
Tornou-se, então, evidente a relevância em realizar um estudo acerca da paternidade na
adolescência, a fim de construir novos saberes, de forma a contribuir para o crescimento do
conhecimento da profissão e de subsidiar estudos futuros, assim como a solidificação dos meus
conhecimentos nesta área. No Brasil, segundo Costa et al (2005), os altos índices de gravidez na
adolescência têm preocupado profissionais da área da saúde, assim como diferentes segmentos
sociais. Entretanto, a maior parte dos estudos aborda as questões relacionadas ao sexo feminino,
possivelmente, resultado da influência sócio-cultural, na qual a mulher é considerada a principal
responsável pela gestação e cuidado com a criança.
Pouca atenção tem sido dada ao pai adolescente. Isto fica evidente na afirmação de
Levandowski (2001, p. 196) de que o “pai parece ter sido esquecido, por muito tempo, como
figura importante para o desenvolvimento psicológico da díade mãe-criança”. Corrêa (2005)
refere que o não lugar da paternidade seria decorrente do fato de que, em nossa sociedade, o
adolescente ocupa o papel de filho na família, sendo difícil entendê-lo exercendo o papel de pai.
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento humano, em que ocorre uma série de
10
transformações, tanto no âmbito físico quanto no emocional e social. (MOTTA et al, 2004).
Atualmente, a gravidez na adolescência, fenômeno observado em grande parte das cidades
brasileiras, é uma das ocorrências mais preocupantes decorrentes de relacionamento sexual na
adolescência.
O aumento na incidência e os possíveis problemas associados justificam a preocupação
com a gravidez adolescente, a ponto de ser considerada um problema de Saúde Pública.
Segundo Ballone (2003), no Brasil, a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são
filhos de adolescentes. A partir dos anos 80, começa-se a observar um crescimento relativo nas
taxas de fecundidade do grupo composto por mulheres de 15 a 19 anos, cujos índices ganham
peso quando comparados ao concomitante decréscimo nas taxas do grupo etário de 20 a 24
anos. (CAMARANO, 1998).
No município do Rio Grande, estes dados não são muito diferentes dos do resto do país,
comprovando essa incidência, mas ao mesmo tempo indicando uma pequena, porém
significativa redução dos mesmos. No ano de 2008, o Hospital Universitário Miguel Riet
Corrêa Jr. (HU), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), registrou a ocorrência de 219
partos em adolescentes. Desse total, 154 foram realizados com intervenção cirúrgica.
“Os estudos demográficos têm demonstrado que no Brasil, nos últimos anos, houve um
aumento da taxa específica de fecundidade e uma elevação relativa de nascimentos em
mulheres de 15 a 19 anos, em contraste com a tendência revelada em outros grupos etários”.
(DIAS; AQUINO, 2006, p. 1447).
O Brasil (1996) refere que o número de partos de adolescentes pelo SUS no país caiu
mais de 22% na segunda metade da década passada. Entre 2000 e 2009, essa queda foi de
34,6%. Apesar dessa importante diminuição estatística no número de partos muito ainda
precisa-se fazer para que a gravidez na adolescência deixe de ser considerada um problema de
saúde pública no Brasil.
Na região Sul, no ano 2000, foram registrados 81.530 partos de adolescentes; em 2005,
63.677; e em 2009, 51.781; totalizando uma variação de -36,50% entre os anos de 2000 e 2009,
mostrando um decréscimo no número de partos; mas são números, ainda, significativos. No Rio
Grande do Sul, em 2000, foram registrados 30.267 partos de adolescentes; em 2005, 23.345; e
em 2009, 17.837; totalizando uma variação entre os anos de -41,07%. Isso mostra que, em
nosso Estado, a redução do número de partos de adolescentes foi maior que a redução na região
Sul.
Embora os dados epidemiológicos revelem queda nas taxas de fecundidade geral no
país, a análise dessa por faixas etárias específicas indica um significativo aumento no intervalo
etário compreendido entre as mulheres mais jovens (15 a 19 anos) sendo a adolescência a fase
11
mais vulnerável ao seu acontecimento. Assim, ainda são necessárias ações educativas efetivas
para que a gravidez adolescente se dê como uma prática autônoma.
A gravidez, nessa etapa da vida, muitas vezes é inesperada, pode provocar
desorganização na vida do adolescente e de sua família. Ele nem sempre está preparado física e
emocionalmente para enfrentar a gravidez e o cuidado de um recém-nascido. (MOTTA et al,
2004). Ferreira (2006) diz que as medidas de prevenção não devem ficar restritas à informação
sobre métodos contraceptivos, mas também devem abordar questões relacionadas à formação da
identidade das jovens, incluindo a descoberta de habilidades profissionais, para que, dessa
forma, essas iniciativas se tornem mais eficientes.
Segundo Motta et al (2004), as mães adolescentes, em sua maioria, procuram apoio de
sua família em situações de auxílio nos cuidados iniciais do bebê, pois manifestam medo de
realizá-los, delegando-os a outros familiares ou a pessoas próximas. Além disso, a chegada de
um bebê altera não a dinâmica da família, mas também os modos de enfrentamento da
situação, interferindo nos projetos de vida do casal.
Em relação ao pai adolescente, Levandowski e Piccinini (2004) relatam que a
paternidade na adolescência constitui-se em uma situação complexa, uma vez que leva o
adolescente ao enfrentamento de dois processos impactantes: a adolescência e a paternidade.
Ser adolescente implica em um processo de busca da consolidação de uma identidade própria,
da experimentação de papéis sociais e sexuais, da ampliação do mundo social e da busca de
independência dos pais. (HILL, 1980; OUTEIRAL, 1994; NUNES, 1998). Essa busca
consolida-se a partir da vivência de oportunidades para a tomada de decisões, nas quais exercita
sua autonomia e experimenta o aumento gradual da responsabilidade sobre os seus atos,
desenvolvendo-se, assim, cognitiva, emocional e socialmente, preparando-se para assumir as
tarefas da vida adulta.
Por sua vez, para Teti e Lamb (1986) e Nunes (1998), a paternidade implica assumir
responsabilidades sobre escolhas de vida afetivas e laborais, restrição da liberdade, reclusão ou
maior fechamento no grupo familiar e manutenção do vínculo de dependência com os pais.
Dessa forma, abreviando o período de vivência da adolescência por esse pai e acelerando a
consolidação de sua identidade e o seu amadurecimento.
Frente à gravidez na adolescência, observa-se que a maioria das estratégias
implementadas pelos serviços de saúde são voltadas exclusivamente para a saúde da mulher,
ficando o homem sem o atendimento de suas necessidades, num momento tão importante.
Acredito que isso se deva ao fato de que, na grande maioria, o pai adolescente é retratado de
forma negativa. Muitas vezes, fica afastado do processo da gravidez, parto e puerpério.
Instrumentos oficiais de informação, como o Instituto Brasileiro de Geografia e
12
Estatística IBGE, e o Sistema Nacional de registro de Nascidos Vivos SINASC, não
contemplam dados que permitam conhecer as características sociodemográficas dos homens.
(COSTA et al, 2005). Em seu estudo acerca da paternidade na adolescência Takiuti (2001)
afirma que os adolescentes correspondem a cerca de 30% dos corresponsáveis pela gestação de
adolescentes.
Os adolescentes do sexo masculino vêm procurando cada vez mais o serviço público de
saúde no intuito de solicitar os preservativos. A prioridade é para que o rapaz seja envolvido em
outras ações, inclusive nas situações de gravidez da parceira ou da namorada, sendo estimulado
a acompanhar o pré-natal e o parto, participando do dia-a-dia da companheira e cuidando da
própria saúde, explica Thereza de Lamare, Coordenadora do Programa de Saúde do
Adolescente e do Jovem, do Ministério da Saúde. (BRASIL, 1996).
Percebe-se a existência de vários fatores que interferem na construção e vivência da
paternidade pelo adolescente. É comum, na presença da gravidez, a adolescente ser abandonada
por seu companheiro. Muitas vezes, é a própria mulher que não permite que ele participe mais
ativamente, não valorizando sua competência como pai e cuidador. Levandowski e Piccinini
(2004) referem que muitas das diferenças entre adolescentes e adultos devem-se mais a fatores
sociais e econômicos do que devido à idade do pai. Na grande maioria, os adolescentes
envolvem-se de forma bastante ativa no desempenho do papel paterno, trazendo benefícios
diretos para o bebê.
As consultas de pré-natal para adolescentes, realizadas no Hospital Universitário Dr.
Miguel Riet Corrêa Jr. (HU), da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), criam um
espaço alternativo que possibilita às mães discutirem questões relativas ao seu processo de
aprendizagem, integração, assistência, ensino-aprendizagem e pesquisa, visando o bem-estar
pessoal e do feto. No entanto, na maioria das vezes, as gestantes não se fazem acompanhar nas
consultas por seus companheiros. Dessa forma, esses deixam de receber orientações
técnicas/específicas para auxiliar a si ou a sua companheira durante o período de gravidez.
É fundamental que se compreenda melhor esse fenômeno para que se possa implementar
políticas de Saúde Pública tanto de prevenção como de atendimento aos adolescentes,
protegendo assim o jovens pais e mães, mas, sobretudo, o bebê. (LEVANDOWSKI;
PICCININI, 2004). Trindade e Menandro (2002), em um estudo realizado com pais
adolescentes, concluíram que ser pai significa, principalmente, trabalhar para prover as
necessidades da criança e também educar, dar carinho e atenção. O mesmo autor relata que a
mãe caracteriza-se por ser aquela que cuida e carinho, sacrifica-se e é a figura mais
importante na vida da criança.
Segundo Lyra (2006), os pais procuram contribuir com seu filho e a mãe. Essa ajuda, no
13
entanto, é muito informal, pois os pais adolescentes, de um modo geral, são vulneráveis
economicamente, têm dificuldades para conseguirem emprego e possuem pouca formação
escolar. Acredito que a compreensão integral da gestação abordando a maternidade e a
paternidade como um todo e uma abordagem mais adaptada para o jovem casal, e não apenas
para a mãe, pode possibilitar que as informações acerca dos cuidados na gestação, no parto e
com o bebê sejam melhor assimiladas, criando novos valores de responsabilidade para ambos,
ao mesmo tempo em que se estará gerando uma maior união.
Conforme Trindade e Menandro (2002), um ponto importante para o planejamento de
pesquisas e ações que tenham como foco a gravidez adolescente é a revisão de concepções e
valores em relação ao fenômeno, considerando toda a complexidade de aspectos a ele
relacionados. Pode-se citar, como exemplos, o desenvolvimento e a expressão da sexualidade
dos jovens, a construção e a valorização desigual dos papéis de gênero em nossa sociedade e a
paternidade adolescente.
Realizar uma reflexão acerca da paternidade adolescente necessariamente remete à
questão da gravidez na adolescência. (LEVANDOWSKI, 2001b). Discutir e investigar a
temática da gravidez na adolescência, segundo Motta et al (2004), conduz, com certeza, à
reflexão sobre os estereótipos estabelecidos e sedimentados por meio da cultura, dos hábitos,
das crenças, dos valores, dos aspectos econômicos, entre outros. A adolescente não engravida
sozinha; por isso é fundamental que os pais, independente da idade, participem de todo o
processo e com os cuidados necessários que devem ser tomados durante e após a gravidez.
Atualmente, pouco se sabe acerca da forma como pais adolescentes vêm vivenciando o
processo da gravidez e da paternidade.
Nesse contexto, a questão que norteia esta pesquisa é: Quais as representações sociais de
pais adolescentes acerca da paternidade na adolescência? A partir desta o estudo tem por
objetivo conhecer as representações sociais de pais adolescentes acerca do “ser pai” na
adolescência.
A nova perspectiva acerca da paternidade que surge na atualidade gera a necessidade da
criação de novos conhecimentos, práticas e novas políticas sociais que ofereçam suporte para
essa nova forma de exercer a paternidade. (CORRÊA, 2005). O conhecimento construído com
este estudo poderá possibilitar um novo olhar para a compreensão da paternidade na
adolescência e Enfermagem.
14
2 REVISÃO DE LITERATURA
O presente capítulo aborda aspectos referentes à adolescência, à gravidez na
adolescência e à paternidade na adolescência.
2.1 ADOLESCÊNCIA
A adolescência é um período especial na vida de todo ser humano. Segundo a OMS
(2009), adolescente é aquele que tem entre 10 e 20 anos incompletos, sendo esta a definição
utilizada neste estudo.
O processo de adolescer apresenta componentes genéticos e biológicos, que vão se
alicerçando ao longo da vida do jovem. A vivência do adolescente e as suas necessidades são
processos conduzidos ao longo de sua trajetória e é através desses aspectos que o jovem irá
definir os seus diversos modos de vida.
‘Ser jovem é aproveitar a vida!’ significa inicialmente sair, namorar, ficar, divertir-
se, paquerar, dançar e curtir. É ainda desfrutar a vitalidade dos anos, a sensualidade
dos corpos, dos olhares e a sedução pois faz parte da própria
juventude/mocidade/adolescência ser atraente, sedutor em certa medida.
(GONÇALVES; KNAUTH, 2006, p. 628).
Para os autores, o ser sedutor em certa medida está representado por ações como usar
(consumir), investir (em si ou em algo) e tirar vantagem de uma situação (emprego, ficar, beijo)
ou de alguém (por exemplo, pela esperteza). Apesar de dizer que o adolescente é aquele que
sabe aproveitar a vida, para os autores “saber aproveitar a vida é reconhecer limites sociais e
familiares, saber escolher até mesmo os parceiros, posicionar-se de modo mais aberto para o
moderno e atual”. (GONÇALVES; KNAUTH, 2006, p. 628).
Conforme Mandú (2001), esse período da vida caracteriza-se por diversas
transformações e o componente físico-corporal mesmo presente nas transformações próprias da
adolescência não são decorrentes unicamente de um processo evolutivo e orgânico. A vida do
adolescente e suas necessidades em saúde estão interligadas e pertencem aos processos
produzidos pelas sociedades, variando conforme os indicadores econômicos, político-éticos,
culturais, físico-ambientais e institucionais.
A idéia de que entre a infância e a fase adulta existe um período intermediário, com
características próprias, é recente. Sua emergência está relacionada às
transformações ocorridas no último século e seus impactos na organização do
trabalho e nos comportamentos reprodutivos [...]. (VILLELA; DORETO, 2006, p.
2468).
15
A adolescência caracteriza-se por inúmeras mudanças corporais, psicológicas, sociais e,
também, por descobertas, novas experiências, questionamentos, autoafirmação e concretização
da identidade, além dos desejos e dos prazeres ligados à sexualidade. Devido a essas inúmeras
novidades, são comuns os conflitos, as dúvidas e indagações. (BURNS; SANTOS, 2001;
FONSECA, 2004).
Vergonhas, inseguranças, medos, estereótipos e preconceitos ampliam a
vulnerabilidade de adolescentes a problemas relativos à sexualidade e reprodução,
sobretudo quando essas vivências esbarram na falta de apoio familiar e social.
(MANDÚ, 2001, p. 65).
Segundo Fonseca (2004) e De Latorre (2005), a adolescência é uma etapa marcada por
inúmeras descobertas e transformações. Começam a ocorrer mudanças no corpo e, a partir daí,
ansiedades, dúvidas e vontades vão emergindo. Nessa fase, tudo muda muito rápido e esse
período é vivido de maneira intensa. Comumente, ocorrem variações no comportamento do
adolescente que passa a elaborar e defender suas próprias opiniões.
Apresenta variações no humor, desenvolve a capacidade reprodutiva e luta pela
construção de sua identidade pessoal. Por conseqüência, essas mudanças comportamentais
geram o seu amadurecimento.
É comum, ao abordar-se a temática adolescente, salientar-se os aspectos negativos,
como rebeldia, preguiça e teimosia. Dificilmente consideram-se as demais atividades diárias
desenvolvidas por eles. A maioria estuda, trabalha, luta pela paz, opõem-se às injustiças e têm
um grande potencial de amar. (FONSECA, 2004).
A adolescência pode ser considerada uma fase em que o desenvolvimento se dá-se
através de inúmeras mudanças psicossociais, em que se pode destacar além do crescimento
físico, a maturação sexual, emocional e social. (SANTOS, 2006; MOTTA et al, 2004). Observa-
se, no entanto, que muitos adolescentes, ainda hoje, lançam-se às experiências sexuais sem
considerar aspectos relevantes como a necessidade do uso de métodos contraceptivos que, além
de evitar a gravidez, os protege das doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS.
(BRUNS; SANTOS, 2001).
É importante lembrar que cada jovem vivencia a sua sexualidade de forma diferente
com relação a si mesmo, à sua responsabilidade e à capacidade de responder pelos seus próprios
atos influenciados pela sociedade na qual está inserido. É nessa fase que, principalmente, ocorre
a solidificação e o desenvolvimento sico, emocional, afetivo e psíquico que varia de jovem
para jovem, fazendo com que cada adolescente vivencie essa fase de forma diferenciada.
(TRINDADE; BURNS, 1999).
Neste sentido, Luz e Berni (2010) referem que a adolescência é uma fase do
desenvolvimento humano, carregada de transformações, oportunidades, crises, desordens e
16
problemas sociais, e a forma como cada jovem percebe e compreende a influência dessas
transformações no seu cotidiano, pode determinar o seu comportamento. Verifica-se, nessa fase,
comportamentos e atitudes que levam os adolescentes a correrem riscos, comprometendo sua
saúde e aumentando sua vulnerabilidade. (JUNDI, 2009).
2.2 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
A sexualidade faz parte da vida de todo ser humano, o qual tem garantido o seu livre
exercício, como o de reprodução de forma saudável e segura. Conforme Fonseca (2004),
compreender o modo de viver a sexualidade está diretamente relacionado às concepções que
cada adolescente tem acerca da mesma e de como irá exercê-la. Atualmente, vigora a noção de
centralidade do indivíduo e de autonomia da “tradição moderna” ocidental, difundindo uma
concepção de adolescência que prioriza a individuação e a experimentação da autonomia e da
liberdade. Neste contexto, observa-se um aumento no número de gravidezes na adolescência.
(VENTURA; CORRÊA, 2006).
Gonçalves e Knauth (2006) referem que as aparições sociais sobre o comportamento
estão relacionadas com as consequências que ele possa provocar. O conteúdo do que se deve
aproveitar na juventude também está inserido na própria discussão gerada nos meios público e
científico sobre a precocidade da gravidez na adolescência, isto é, quando ela não deveria
acontecer. Ou seja, ao exercitar sua autonomia e liberdade, deveriam ter tido “cuidado”, ter sido
capazes de “evitar” – o que reforça a idéia de imaturos, impulsivos e inconsequentes, atributos
aceitos como próprios da juventude.
Verifica-se, assim, que, apesar do discurso acerca dos direitos sexuais e reprodutivos dos
adolescentes, quando em vista dessa autonomia e liberdade, a gravidez ocorre, ela se torna um
problema, pois a gravidez adolescente enfatiza o lado oposto, de vinculação com
compromissos: filho, companheiro, casa e cônjuge. Se a juventude deve ser aproveitada, então o
jovem não deve assumir “compromissos” como gastos com filhos, aluguel, deveres com
marido/esposa, emprego, contas ou dívidas. (GONÇALVES; KNAUTH, 2006).
Verifica-se que a prática sexual de adolescentes é cada vez mais precoce. A primeira
relação sexual na adolescência ocorre, geralmente, quando ainda são imaturos, buscam uma
compensação afetiva, estão construindo sua identidade e o fortemente influenciados pelos
demais jovens com quem convivem. Villela e Doreto (2006) referem que, entre os jovens que
17
iniciam sua vida sexual entre os doze e os dezessete anos, 61% são rapazes e 39% moças,
mostrando uma maior liberação sexual entre os meninos.
A iniciação da vida sexual de adolescentes e jovens marcou a década de 1990 e,
consequentemente, o rejuvenescimento da fecundidade no Brasil. Em 1980 cabia às mulheres
de 25 a 29 anos o maior número médio de filhos dentre grupos etários na faixa reprodutiva. Em
1991 e mantendo-se em 2000, ocorreu o primeiro deslocamento para o grupo mais jovem, de 20
a 24 anos. (BRASIL, 2006).
Estima-se que, no país, um milhão de adolescentes dão à luz a cada ano, o
correspondendo a 20% do total de nascidos vivos. Outro dado relevante é a incidência mundial
de que a cada década cresce o número de partos realizados em meninas cada vez mais jovens.
(SANTOS; SILVA, 2000). Por esse motivo, a gravidez na adolescência vem sendo encarada
como um importante problema de Saúde Pública no país, o que vem levando o governo
brasileiro a estabelecer novas formas de prevenção e controle em diversas instituições ligadas
aos jovens.
As intercorrências clínicas relacionadas à gravidez na adolescência referem um aumento
da prematuridade, da mortalidade neonatal e de recém-nascidos com baixo peso. Conforme
Mandú (2000), outros aspectos que podem ser relacionados com a gravidez nessa fase da vida
são a evasão escolar do adolescente, a dificuldade de inserção no mercado de trabalho, a
diminuição do padrão de vida, a desestruturação familiar, entre outros.
Entre adolescentes, a gravidez apresenta várias características e peculiaridades, não
repercutindo da mesma forma para todos. (VILLELA; DORETO, 2006). A gravidez, a gestação
e o nascimento significam, para o jovem casal, fases de grandes mudanças e incertezas que se
tornam mais visíveis conforme o momento do parto se aproxima.
Segundo Trindade (2005), a gravidez na adolescência es diretamente relacionada à
forma como adolescentes vêm praticando o sexo. O autor destaca os fortes estímulos de
propagandas, novelas, filmes, músicas e danças populares como incentivadores dos jovens para
o sexo. (TRINDADE, 2005).
A maioria dos estudos acerca da gravidez na adolescência é de caráter demográfico,
psicossocial e epidemiológico com foco centrado nas mulheres, o que reforça a
pouca visibilidade social do parceiro masculino no desempenho da reprodução.
(TRINDADE, 2005, p. 32).
Os maiores índices de gravidez na adolescência mostram-se mais presentes nas classes
brasileiras economicamente menos favorecidas e com menor escolarização. Esses dados
indicam uma dificuldade na obtenção de informações acerca dos métodos contraceptivos e seus
insumos pelos adolescentes. Vale ressaltar que apenas a informação o é garantia para a
eficácia na contracepção. (VILLELA; DORETO, 2006). É necessário que tenham, também,
18
acesso aos métodos contraceptivos sem discriminação.
Conforme Burns e Santos (2001), no Brasil, a sexualidade pode ser exercida pelo
adolescente desde que ocorra de forma sigilosa. As práticas sexuais, na sua maioria, ocorrem de
forma clandestina e não planejada, delegando ao parceiro o cuidado com a própria vida,
submissão aos desejos, excessivas preocupações com relação ao ato e desempenho sexual,
inibições para o diálogo e negociação com o parceiro para a satisfação de desejos, preocupações
e cuidados. (MANDÚ, 2001). Esse comportamento expõe os adolescentes a várias e graves
consequências, muitas vezes, anteriormente inimaginadas como as Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DSTs) e, entre elas, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
No que tange à responsabilidade paterna, não é possível condenar os pais ou
responsáveis pela não educação dos filhos no que diz respeito à sexualidade. É importante levar
em conta toda a bagagem do jovem e entender que a sua sexualidade é construída social,
histórica e culturalmente ao longo de sua vida. (BURNS; SANTOS, 2001). A falta de
informação, imaturidade e desconhecimento físico-corporal pode acarretar em exposições
desnecessárias frente a agentes patológicos, pois os adolescentes sozinhos, na maioria das
vezes, podem sentir-se inibidos na busca por recursos para prevenir-se de doenças ou tratar as já
adquiridas.
Inúmeros serviços de saúde encontram-se despreparados para o trabalho com
adolescentes, para a atenção às peculiaridades e complexidades das suas
necessidades. Faltam espaços e suporte apropriados às suas demandas, seja no
campo da orientação, proteção ou recuperação da sua saúde sexual e reprodutiva.
(MANDÚ, 2001, p. 65).
Analisar a gravidez de adolescentes como um problema e buscar a educação
coercitivamente visando a sua prevenção, através dos métodos contraceptivos ou das práticas
comportamentais restritivas, é negar o direito de escolha e o exercício da responsabilidade
social e dos setores de saúde. (LYRA-DA-FONSECA, 1997; MANDÚ, 2000). A principal
estratégia deveria ser justamente o oposto, proporcionando e estimulando práticas seguras e
responsáveis para que os adolescentes tenham consciência dos seus atos e da repercussão dos
mesmos para suas vidas e para com o meio social em que se encontram inseridos, levando
assim a uma maternidade e paternidade consciente e responsável.
É importante levar em conta que os adolescentes vivem uma fase de experimentações de
forma generalizada e a iniciação sexual faz parte dessa fase, podendo muitas vezes levar à
gravidez, planejada ou não. Quando essa ocorre, poderá trazer intensa mudança na vida do
jovem casal.
19
2.3 PATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA
Durante a realização deste estudo, verificou-se que poucos autores tiveram por objetivo
dar voz aos pais adolescentes. Segundo Lyra-da-Fonseca (1998), a existência de um silêncio
social em relação à paternidade na adolescência ainda ocorre, pois a sociedade não oferece ao
adolescente uma estrutura que favoreça o exercício da paternidade, dificultando o desempenho
desse papel, talvez, por considerá-lo não apropriado para esse momento de sua vida. Talvez,
esse não lugar da paternidade nessa etapa da vida seja decorrente do fato de que, em nossa
sociedade, o filho ainda é percebido como sendo da mãe e ao fato de o adolescente ser
reconhecido, sobretudo, no papel de filho. (CORRÊA, 2005).
Durante milênios, a gravidez, o parto e a maternidade existiam apenas como uma
extensão do universo feminino, não sendo possível compreender a participação dos homens
nele, a não ser como procriadores, provedores e possuidores de uma descendência. (JONES,
2006). Guimarães (2001) e Lima (2002) referem que a mulher ainda é considerada a principal
responsável pela gestação e cuidado com a criança.
Em relação à paternidade na adolescência, Paiva, Caldas e Cunha (1998) apontaram que
70,0% dos companheiros das adolescentes grávidas de seu estudo eram, também, adolescentes,
mostrando uma forte relação da gravidez na adolescência com a paternidade na adolescência. A
paternidade na adolescência corresponde ao fato de um indivíduo tornar-se pai antes de
completar 20 anos de idade. (REIS, 1987).
A gestação e o nascimento na adolescência constituem, para o jovem casal, uma etapa de
grandes modificações, com transformações e incertezas para ambos, além da aquisição de novos
papéis e responsabilidades anteriormente inexistentes. A paternidade nessa etapa da vida pode
ser considerada como permeada por conflitos determinados pela nova situação em que o jovem
se encontra, relacionada diretamente com o filho, a casa e os demais membros da família.
(FREITAS; COELHO; SILVA, 2007).
Meincke e Carraro (2009) referem que a paternidade na adolescência é vivenciada de
acordo com a cultura e, geralmente, es embasada em valores e sentimentos das famílias, os
quais foram construídos ao longo das gerações. As questões emocionais, culturais e religiosas
nos familiares, “permeiam a vivência da paternidade como uma experiência desejada ou não
desejada, a qual irá determinar como será estabelecida a relação entre o pai adolescente, sua
companheira e seu (a) filho (a)”. (MEINCKE; CARRARO, 2009, p. 90).
No que tange à saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes, o Programa de Saúde do
Adolescente (BRASIL, 1996) propõe ações educativas voltadas à prevenção da gravidez
20
indesejada e à assistência pré-natal em nível ambulatorial. Os serviços de saúde que prestam
assistência à gravidez adolescente, em geral, são voltados, para o atendimento às adolescentes
mulheres. Em relação ao pai adolescente, Levandowski, Piccinini (2004) relatam que é comum,
quando a adolescente engravida, todos os olhares dos profissionais de saúde e as políticas
públicas de saúde voltarem-se para a mulher grávida. No entanto, ao adolescente “grávido”
pouca atenção tem sido dispensada. Parece que o mesmo fica, ainda, dissociado no processo
gravídico puerperal.
Neste sentido, Corrêa e Ferriani (2006) referem que as políticas de saúde, ainda hoje,
não vêm sendo estruturadas de forma a inserir o pai adolescente na assistência pré-natal, parto e
pós-parto. Para os autores conceber a paternidade na adolescência como parte integrante do
processo gestacional favoreceria o surgimento de serviços que prestassem atendimentos a
questões gerais que envolvem a vida de adolescentes homens.
Tendo como base as desigualdades de gênero, os direitos e deveres dos homens e
mulheres são diferentes frente a paternidade e maternidade, que as mulheres são
responsabilizadas pela reprodução, cuidado e educação dos filhos; e dos homens, ainda hoje,
espera-se que realizem o sustento financeiro e o comando da família, apesar de, em muitas
situações, este ficar, também, a cargo da mulher. (MANDÚ, 2001).
Outro fato comum nas questões relacionadas à gravidez entre adolescentes é o de que
ainda vigora uma concepção de paternidade na adolescência vista, muitas vezes, como
inconsequente e descomprometida. Os pais adolescentes mais facilmente procuram fugir da
responsabilidade pela gestação, ou quando a assumem apenas cumprem as suas
responsabilidades legais, não exercendo, de fato, o cuidado ao filho. Em relação às jovens, a
concepção é oposta. Na sua grande maioria, essas assumem a maternidade, mesmo em casos
onde a gravidez foi indesejada. Tendo em vista a relação heterossexual e o envolvimento de
uma gravidez, planejada ou não, na maioria das vezes, a responsabilidade fica por conta da
mulher, fato corroborado não só pelo senso comum como também pela literatura, quando afirma
que se tem dedicado mais à maternidade que à paternidade. (TRINDADE; BURNS, 1999).
Ao contrário do relatado por estes autores, atualmente, temos evidenciado que essa
concepção vem, frequentemente, sendo refutada, tendo em vista que diversos pais adolescentes
assumem seus filhos querendo desempenhar o papel de pai conforme suas características e
singularidades sendo apoiados, na maioria das vezes, por suas famílias. Verifica-se, assim, que a
paternidade é um processo em constante construção, que se através das interações.
(MEINCKE; CARRARO, 2009).
É comum que os adolescentes acabem aceitando a gravidez quando é indesejada e com
isso passem a modificar de forma radical a sua rotina de vida, aceitando as responsabilidades do
21
processo reprodutivo. É comum encontrar a focalização das consequências da gravidez entre
adolescentes nas diferenças sociais, esquecendo que essas complicações encontram-se
inseridas no cotidiano desses jovens. Atualmente um sentimento de que, quando um rapaz
torna-se pai muito jovem, estaria com isso deixando de aproveitar as oportunidades que o
mundo lhe oferece, como trabalho, estudo e diversão. Isso comprova-se quando o mesmo deixa
de estudar para, então, desempenhar alguma atividade remunerada para sustentar sua família.
Vale lembrar que, apesar disso, nem todos os adolescentes interrompem definitivamente
a sua formação intelectual ou profissional devido ao fato de se tornarem pais. No entanto, nem
todos os jovens que têm filhos, devido ao seu pouco preparo e escolarização, conseguem uma
inserção qualificada no mercado de trabalho. (VILLELA; DORETO, 2006).
A gestação e o nascimento constituem, para os pais, transformações e incertezas que
acompanham seus novos papéis e responsabilidades. Esses papéis e responsabilidades que
passam a ser desempenhados anteriormente não faziam parte do seu cotidiano. (FREITAS;
COELHO; SILVA, 2007). Por esse motivo, muitos adolescentes, por não saberem lidar com a
situação, fogem de sua responsabilidade frente à companheira ou ao bebê, ou apresentam
grande dificuldade de assumir esse novo papel necessitando de apoio para fazê-lo.
Durante a gravidez, tanto o homem como a mulher, deixam de ser filhos para se
tornarem pais e mães vivenciando essa transição com expectativas, anseios e temores.
(FREITAS; COELHO; SILVA, 2007). No entanto, o comportamento masculino, no ciclo
grávido-puerperal não recebe destaque, comparado ao seu comprometimento sócio-econômico
de proteger, cuidar e manter a família.
Abreu e Souza (1999) ao estudarem o fenômeno da espera do parto por pais
adolescentes verificaram que eles ainda acreditam que à mulher cabe o encargo de cuidar da
casa e dos filhos, e aos homens o sustento do lar. Como muitos não se encontram aptos para
cumprir esse papel, a gravidez pode ser um motivo de grande ansiedade para eles,
comprometendo sua autoestima. Conforme os autores, a paternidade constrói-se na medida em
que o homem participa da gravidez e percebe o crescimento da barriga da companheira. No
entanto, Freitas, Coelho e Silva (2007), referem que, muitos homens, se sentem pais após o
nascimento do seu filho.
Historicamente, no passado, os homens tinham pouca participação no cuidado direto de
seus filhos. Muitas vezes seu papel consistia em dar apoio à mulher nessa tarefa ou servir de
exemplo de autoridade na família. Essa realidade, no entanto, vem se modificando. Os homens,
cada vez mais, têm procurado participar da criação de seus filhos realizando cuidados que até
pouco tempo competiam só às mulheres.
Estudos recentes utilizam uma nova categoria, denominada “Novo Homem”, a qual
22
designa o pai, como homem, deixando de enfatizar a palavra pai, conforme sua participação
frente ao seu filho. O pai surge quando o homem ocupa-se de forma diária com os seus filhos e
todas as influências sociais e culturais que podem ser englobadas nessa atividade, sendo essa a
grande diferença do pai para o homem. (ABREU; SOUZA, 1999).
Em estudo que objetivou verificar como os pais adolescentes vivenciam a gravidez,
desenvolvido por Bornhould, Wagner e Staudt (2007), foi verificado que os jovens de sexo
masculino manifestam o desejo de uma maior proximidade e participação durante a gestação e o
desenvolvimento de seus filhos. Outro aspecto encontrado por estes autores é o de que os jovens
pais mencionaram uma maior facilidade das mulheres no cuidado com os filhos, como uma
habilidade natural feminina, inata. O resultado mais relevante obtido no estudo é o de que os
pais dos dias de hoje estão refletindo e questionando a paternidade, assim como seus valores e
definições, abrindo a possibilidade de uma nova forma de vivenciar esse papel.
Para finalizar, acredito que tanto a paternidade como a maternidade devem ser vistas e
exercidas como responsabilidade do casal. No que tange à participação do pai adolescente
durante a gestação e o parto, é necessário que seja mais explorada de forma a possibilitar a
integração do casal, favorecendo a liberdade e a coerência de suas decisões.
23
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
O referencial teórico escolhido para alicerçar este estudo foi o da Teoria das
Representações Sociais (RS). Os fundamentos das Representações Sociais alicerçaram-se na
psicologia, mais expecificamente na psicologia social, através da teorização proposta pelo
psicólogo social romeno, Serge Moscovici e aprofundada posteriormente por Denise Jodelet.
(ARRUDA, 2002). Telles (2007) refere que a RS iniciou em 1961, na França, através de uma
nova abordagem do conceito das Representações Coletivas (RC) de Durkheim (1989). Esse
tinha como concepção que os fenômenos coletivos não podiam ser explicados olhando apenas o
indivíduo, porque eram produtos do meio social, da comunidade ou de um grupo.
Inspirado no conceito de Durkheim, e acreditando que o modelo de sociedade utilizado
mostrava-se muito tradicional e, ao mesmo tempo, estático e inapropriado para as sociedades
modernas e dinâmicas, Serge Moscovici realizou um estudo sobre as representações sociais e a
psicanálise, originando a Teoria das Representações Sociais. Essa, não tinha o intuído de anular
ou desmerecer as Representações Coletivas de Durkheim, mas sim servir como outro
instrumento para analisar os fenômenos através de uma outra abordagem.
Moscovici iniciou preservando o conceito de representação e substituiu o conceito de
“coletivo” das RC, devido ao seu caráter mais estático e positivista, pelo termo ”social”. Para o
autor “...o que eu proponho é considerar como um fenômeno o que antes era visto como um
conceito”. (MOSCOVICI, 2007, p. 45).
O que motivou Moscovici a desenvolver as Representações Sociais dentro de uma
metodologia científica foram suas divergências com as outras teorias que não buscavam
explicações em outras dimensões da realidade. Esse fato se deve à utilização da psicologia
social em utilizar-se das Representações Sociais no âmbito do seu campo de objeto e estudo,
relação entre indivíduo e sociedade. (ALEXANDRE, 2004). Conforme Telles (2007), a RS
passou a ter maior aceitação nos anos 80, quando se popularizou o seu uso em vários estudos.
Durante esse período, ela passou por reformulações, adaptações, críticas e análises por vários
pesquisadores.
As representações são sempre um produto da interação e comunicação e elas tomam sua
forma e configuração específicas em qualquer momento, como consequência do equilíbrio
específico desses processos de influência social. (MOSCOVICI, 2007). Segundo Moscovici
(2007, p. 10), “as representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, se
entrecruzam e se cristalizam continuamente, através duma palavra, dum gesto, ou duma
reunião, em nosso mundo cotidiano.” Para realizarmos uma pesquisa através das RS, é
24
importante que se conheçam as condições e o contexto em que os sujeitos se encontram através
de uma análise contextual aprofundada. (FRANCO, 2004). Apenas através do conhecimento do
sujeito como um todo é que se torna possível explicar os fenômenos a partir de uma perspectiva
coletiva, sem abandonar a sua individualidade pessoal.
A teoria das Representações Sociais também pode ser conhecida como a “teoria do
senso comum”, por basear-se nas construções sociais do cotidiano, produzindo conhecimento;
porém, cabe ressaltar que: não é todo conhecimento que pode ser considerado representação
social, mas somente aquele que faz parte da vida cotidiana das pessoas, através do senso
comum, que é elaborado socialmente e que funciona no sentido de interpretar, pensar e agir
sobre a realidade. (ALEXANDRE, 2004).
O conhecimento do senso comum é socialmente compartilhado e elaborado a partir de
um conteúdo simbólico e prático, contribuindo para a construção da realidade de um conjunto
social. O termo representação social deveria ser reservado ao conhecimento particular que tem
por função exclusiva a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos no
quadro da vida cotidiana. (MOSCOVICI, 2007).
A natureza das RS é convencional e prescritiva. Convencional, ao enquadrar os
acontecimentos, os objetos e as pessoas em determinadas categorias, gradualmente
transformando-os em modelos de determinados tipos, diferentes de outros e partilhados por um
grupo de pessoas. Todos os novos elementos juntam-se a esse modelo e sintetizam-se nele,
“mesmo quando uma pessoa ou objeto não se adequa exatamente ao modelo, nós o forçamos a
assumir determinada forma, entrar em determinada categoria, na realidade, a se tornar idêntico
aos outros, sob pena de não ser compreendido, nem decodificado”. (MOSCOVICI, 2007, p. 34).
As representações sociais são impostas ao ser humano; são transmitidas de geração a
geração, alterando-se no decorrer do tempo. Sendo assim, não se pode dizer que são cópias da
realidade. Arruda (2002) refere que não é nem uma instância intermediária que transporta o
objeto para perto/dentro do espaço cognitivo, mas um processo que torna conceito e percepção
intercambiáveis. As representações que se tem de algo nem sempre estão relacionadas com a
maneira segundo Moscovici (2007), pelo fato delas serem impostas e transmitidas sobre as
pessoas; portanto, são o produto de uma sequência completa de elaborações e mudanças que
ocorrem no decurso do tempo e ao longo de sucessivas gerações.
Conforme Jodelet (1989), a RS deve estudar o indivíduo na sua completude e
integralidade através dos elementos afetivos, mentais e sociais, integrando linguagem,
comunicação, relações sociais e a realidade material e social. Como conceito, se estabelece
como um conhecimento prático e partilhado socialmente, tendo como função compreender e
dominar o ambiente. “O conceito de representação social designa uma forma de conhecimento
25
específico, o saber do senso comum, cujos conteúdos manifestam a operação de processos
generativos e funcionais socialmente caracterizados. Em sentido mais amplo designa uma forma
de pensamento social”. (JODELET, 1989, p. 36).
Para Moscovici (2007), a representação envolve uma modalidade de conhecimento
particular que circula no dia-a-dia, e que tem como função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos, criando informações e familiarizando-os com coisas e situações
consideradas estranhas de acordo com a informação e formação cultural. Na teoria das
Representações Sociais, o ser humano constitui-se como um sujeito ativo na sociedade,
salientando-se na comunicação, na interação e nas relações pessoais que produz no seu
cotidiano, sendo que as construções mentais são elaboradas a partir do real, objetivando a
interpretação e reelaboração desse próprio real. Essa construção é realizada pelo sujeito através
de dois processos centrais de formação das representações sociais: a ancoragem e a objetivação.
A ancoragem, nas RS, permite ao sujeito dar significado ao objeto que se apresenta a sua
compreensão, dando sentido para esse objeto, podendo relacioná-lo com algum referencial de
sua memória, onde o mesmo será classificado. A ancoragem transforma algo estranho em
familiar, de modo a fazer com que esse objeto tenha sentido, classificação e nome, diferindo dos
demais objetos inexistentes, inclassificáveis ou sem nome. Conforme Moscovici (2007, p. 61),
“nós experimentamos uma resistência, um distanciamento, quando não somos capazes de
avaliar algo, de descrevê-lo a nós mesmos ou a outras pessoas”.
A objetivação, por sua vez, tem a função de transformar algo abstrato em algo
reconhecível, através de duas funções: naturalização, trazendo elementos da realidade que têm
sentido; e a classificação, porque permite fazer escolhas entre sistemas de categorias, regras de
conduta e separação entre seres e atributos. Ela também agrega a idéia de não-familiaridade
com a realidade, tornando-se a verdadeira essência da realidade, sendo percebida como um
universo meramente intelectual e remoto; após, torna-se física e acessível. Objetivar “é
descobrir a qualidade icônica de uma idéia, ou ser impreciso; é reproduzir um conceito em uma
imagem. Comparar é representar, encher o que está naturalmente vazio, com substância”.
(MOSCOVICI, 2007, p. 71).
Na sociedade, há uma combinação de conhecimentos circulantes a partir do consenso do
grupo, de seus valores e crenças anteriores acerca de um objeto social. Abric (2000) refere que
uma representação é constituída de um conjunto de informações, de crenças, de opiniões e de
atitudes de um dado objeto social. Esses elementos dispõem-se de forma organizada em um
núcleo central. A função desse núcleo é determinar a natureza do objeto e os tipos de relações
que o grupo mantém com esse objeto, e o sistema de valores e normas sociais que constituem o
meio ambiente ideológico do momento e do grupo.
26
Para Abric (2000), o núcleo central de uma representação assume duas funções
fundamentais: função geradora, que é o elemento pelo qual se cria, ou se transforma, o
significado dos outros elementos constitutivos da representação, sendo que “é através dele que
os outros elementos ganham um sentido, um valor”; e função organizadora, que é o núcleo
central que determina a natureza dos elos, unindo entre si os elementos da representação. Nesse
sentido, o núcleo é o elemento unificador e estabilizador da representação.
O núcleo tem a propriedade da estabilidade, é o elemento mais estável, que mais vai
resistir à mudança, assegurando a continuidade das representações sociais. Abric (2000) afirma
que toda a modificação do núcleo central provoca uma transformação completa da
representação: “é a identificação do núcleo central que permite o estudo comparativo das
representações. Para que duas representações sejam diferentes, elas devem ser organizadas em
torno de dois núcleos centrais diferentes”. (ABRIC, 2000, p. 31).
Em torno do núcleo central e como seu complemento indispensável organizam-se os
elementos periféricos que constituem a interface entre a realidade concreta e o sistema central;
por isso são mais acessíveis, mais vivos e mais concretos. (ABRIC, 2000). Esses elementos
possuem três funções primordiais: função de concretização, que possibilita a elaboração das
representações sociais e sua utilização em termos concretos, compreensíveis e transmissíveis;
função de regulação, que constitui o aspecto móvel e evolutivo das representações; e função de
defesa, a qual age como um elemento de defesa do Núcleo Central. Assim, em caso de
transformações da representação, essas acontecerão primeiramente nos elementos periféricos,
pois é neles que poderão aparecer e serem toleradas contradições.
A Teoria das Representações Sociais torna-se pertinente ao embasamento deste estudo,
pois pode auxiliar no desvelamento do significado do ser pai, para pais adolescentes,
mostrando-nos como eles têm vivenciado a paternidade nessa fase tão singular da vida.
Possibilitar-nos-á compreender os processos de ancoragem e objetivação desses jovens pais
mostrando-nos os ambientes e atores sociais que contribuem na construção dessas
representações. O conhecimento dessas representações pode nos auxiliar a planejar e
desenvolver ações que incluam o pai adolescente no processo da gravidez e do parto nos
serviços de saúde, dando resposta a seus reais anseios e necessidades.
27
4 PERCURSO METODOLÓGICO
A seguir, apresentamos as etapas utilizadas para a realização deste estudo.
4.1 TIPO DE ESTUDO
Este estudo é de caráter descritivo, com abordagem qualitativa. A abordagem qualitativa
permite ao pesquisador interpretar dados, sem empregar a estatística, como indicadores do
funcionamento de estruturas sociais, permitindo um maior aprofundamento dos
comportamentos ou atividades dos indivíduos. (SOARES, 2003). A utilização do método
qualitativo fornece uma compreensão profunda de determinados fenômenos sociais complexos
e únicos, contemplando o aspecto subjetivo, ante os quais o método estatístico apresenta-se
ineficiente. (HAGETTE, 1999).
A pesquisa descritiva é aquela que tem por finalidade a elucidação dos fenômenos
investigados, descrevendo as dimensões, as variações, a importância e o significado dos
fenômenos. (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
4.2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO
Foi desenvolvido no Ambulatório de Ginecologia e na Unidade de Internação
Obstétrica, do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr. (HU), da FURG, na cidade do
Rio Grande, interior do Rio Grande do Sul, no primeiro semestre de 2010. No Ambulatório de
Ginecologia do HU, o atendimento é realizado em um consultório que possui sala para
realização da anamnese, sala para exame físico da paciente e banheiro. As pacientes são
recebidas no corredor do ambulatório, que se encontra organizado com 20 cadeiras dispostas ao
longo de uma parede. Enquanto aguardam as consultas, as pacientes assistem a vídeos
educativos e recebem orientações acerca da gestação, parto, puerpério e aleitamento materno.
No HU um programa de pré-natal específico para as adolescentes, no qual as
consultas ocorrem duas vezes por semana. As adolescentes realizam consultas mensais e
saem com a próxima consulta agendada. A Unidade de Internação Obstétrica do HU (UIO)
28
possui 23 leitos, sendo 17 para internação de pacientes do SUS e 06 para pacientes particulares
ou conveniados.
4.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
A população do estudo foi composta por 12 pais adolescentes: 8 acompanhavam suas
parceiras, durante as consultas de pré-natal e no puerpério imediato, no ambulatório de
ginecologia; e 4 acompanhavam suas parceiras na Unidade de Internação Obstétrica do HU,
após o parto. Consideramos como adolescente aquele que possuía entre 10 e 20 anos
incompletos, obedecendo à classificação oficial da Organização Mundial da Saúde. (OMS,
2009).
Os jovens foram abordados na sala de espera para a consulta, ou na enfermaria da UIO,
após o parto. Apresentamos para o pai adolescente o objetivo do estudo e a metodologia,
solicitando a sua participação. Àqueles que aceitaram participar foi agendado o dia para a
realização da entrevista e solicitada sua assinatura e de seu familiar responsável para aqueles
que tinham menos de 18 anos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
4.4 TODO DE COLETA DOS DADOS
A coleta dos dados foi realizada através de uma entrevista composta por um instrumento
semiestruturado, contendo questões abertas, abordando a temática proposta. O instrumento foi
aplicado a cada adolescente no consultório do próprio ambulatório ou na sala de reuniões da
equipe do Hospital Amigo da Criança, anexa à Unidade de Internação Obstétrica, pois a mesma
garante o conforto e a privacidade necessária. As entrevistas foram gravadas e transcritas na
íntegra para posterior análise.
Segundo Gil (2002), a entrevista caracteriza-se pela comunicação verbal, valorizando o
significado da fala e da linguagem e serve como meio de coleta de informações sobre
determinado tema científico; pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa
situação “face a face”, e em que uma delas formula questões e a outra responde.
29
4.5 TODO DE ANÁLISE DOS DADOS
A análise e interpretação dos dados foi realizado através da técnica do Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC), proposta por Lefèvre e Lefèvre (2005), que consiste na organização e
tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos, artigos de jornal,
matérias de revistas semanais, papers, extraindo de cada um as idéias centrais ou ancoragens, e
suas correspondentes expressões-chave.
Nesta técnica, através dos depoimentos, busca-se reconstruir, com fragmentos de
discursos individuais, discursos-síntese que expressem uma forma de pensar ou representação
social sobre um fenômeno. Assim, o DSC é uma estratégia metodológica que visa tornar mais
clara uma dada representação social, bem como o conjunto das representações que conforma
um dado imaginário. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). De acordo com os autores, esse
imaginário, na técnica do DSC, adquire a forma de um painel e discursos que refletem o que se
pode pensar, numa dada formação sociocultural, numa dada coletividade, sobre um determinado
assunto.
Para elaborar os DSCs, foram criadas as seguintes figuras metodológicas:
- Expressões-chave (ECH): são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, que
devem ser sublinhadas ou coloridas pelo/a pesquisador/a, e que revelam a essência do
depoimento ou, mais precisamente, do conteúdo discursivo dos segmentos em que se divide o
depoimento; geralmente correspondem às questões de pesquisa. “As expressões-chave são uma
espécie de prova discursiva-empírica da verdade das idéias centrais e das ancoragens e vice-
versa”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, p 17). Com elas, são construídos os DSCs.
- Idéias centrais (IC): é um nome ou expressão lingüística que revela e descreve, de
maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada um dos discursos
analisados e que vai dar nascimento ao DSC. Elas são uma descrição do sentido ou de um
conjunto de depoimentos.
- Ancoragem: é a manifestação lingüística explícita de uma crença que o autor do
discurso professa e que está sendo usada pelo enunciador para enquadrar uma situação
específica. Lefèvre e Lefèvre (2005) expressam que quase todo discurso tem uma ancoragem,
na medida em que está quase sempre alicerçado em pressupostos, teorias, conceitos e hipóteses.
- Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa
do singular, a partir de trechos de discursos individuais. Esses devem aparecer em itálico para
indicar que se trata de uma fala ou de um depoimento coletivo. O DSC, como técnica de
processamento de dados com vistas à obtenção do pensamento coletivo, como resultado um
30
painel de discursos de sujeitos coletivos, justamente para sugerir uma pessoa coletiva falando
como se fosse um sujeito individual de discurso (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005). Para elaborar o
DSC, parte-se dos discursos individuais, que, após análise inicial, são decompostos, extraindo-
se as expressões-chave e as principais ancoragens ou idéias centrais, culminando numa síntese
que reconstitui discursivamente a representação social. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).
Na construção do DSC, devem-se considerar os seguintes princípios: coerência e
posicionamento próprio. A coerência significa a agregação de pedaços isolados de depoimentos
para formar um todo discursivo coerente, em que cada uma das partes se reconheça enquanto
constituinte desse todo, e o todo seja constituído por essas partes. E o posicionamento próprio,
no qual cada discurso deve sempre expressar um posicionamento próprio, distinto, original,
específico sobre o tema que está sendo pesquisado.
Ao construirmos o DSC, devemos utilizar como critérios de análise dos discursos
individuais a diferença/antagonismo ou a complementaridade. Quando se trata de discursos
diferentes, a apresentação deles, em separado, é obrigatória; quando se trata de discursos
complementares, a apresentação dos discursos depende do/a pesquisador/a querer resultados
mais detalhados ou mais genéricos. discursos que o são iguais, mas que não constituem
cadeias argumentativas inconciliáveis, então, podem ser reunidos sem provocar contradição ou
incoerência; pode-se, também, separá-los, quando se quer realçar matrizes de posicionamento.
Para fazer com que o discurso coletivo pareça individual, devem-se ‘limpar as
particularidades dos pedaços selecionados de um relato, de modo que apresentem uma estrutura
sequencial clara e coerente que possa ser atribuída ao coletivo. Para a construção do DSC, é
preciso aproveitar todas as ‘peças’, isto é todas as idéias presentes nos depoimentos para que a
figura não fique incompleta; entre as ‘peças’ repetidas ou muito semelhantes, escolhe-se apenas
um exemplar”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, p 21).
Analisando a totalidade dos depoimentos, encontramos várias idéias centrais e,
consequentemente, conseguimos construir vários DSCs. Cada DSC é uma faceta da
representação social do conjunto dos sujeitos investigados em relação ao tema investigado. O
conjunto dos discursos coletivos construídos neste estudo expressam a representação social dos
pais adolescentes acerca do ser pai.
Lefévre e Lefévre (2005) mencionam a necessidade de haver dois possíveis
interpretantes para os DSCs. Um seria o pesquisador, que é quem elabora o DSC; e o segundo,
os próprios sujeitos que constituem a população alvo da pesquisa, aos quais seriam apresentados
os DSCs obtidos. Para implementação desta etapa, após a entrevista foi combinado, com os
participantes do estudo, um dia e horário para que os mesmos vissem os DSCs construídos e
dessem sua sugestão acerca dos mesmos. Como no dia marcado nenhum pai compareceu ao
31
encontro, após a defesa da dissertação, será marcado com os mesmos um novo encontro com o
objetivo lhes apresentar o trabalho.
4.6 ASPECTOS ÉTICOS
Seguimos a Resolução 196/96 no tange aos aspectos éticos para a pesquisa com seres
humanos. Solicitamos o Consentimento da Coordenação de Desenvolvimento do HU para
realizar o estudo nesta instituição. Após, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de
Ética em Pesquisa na Área da Saúde (CEPAS) da FURG, recebendo o parecer favorável sob o
número 47/2010.
Todos os participantes e seus representantes legais foram informados e esclarecidos, a
respeito dos objetivos e metodologias da pesquisa, sendo solicitada a assinatura dos dois nas
duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O participante ficou com uma via e
a outra com o pesquisador.
32
5 REPRESENTAÇÕES DO PAI ADOLESCENTE ACERCA DO SER PAI NA
ADOLESCÊNCIA
Participaram do estudo 12 pais adolescentes: dois tinham 17 anos; quatro, 18 anos; e
seis 19 anos. Todos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os que possuíam
menos de 18 anos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido para participar do
estudo juntamente com o seu responsável legal. Só um deles possuía mais de um filho.
A maioria deles residia na periferia do município do Rio Grande. O nível de
escolaridade identificado foi o ensino fundamental incompleto (4); primeiro grau completo (4);
ensino médio incompleto (3); e ensino superior incompleto (1). Apenas um continua os estudos.
Sete estavam desempregados e cinco trabalhavam exercendo funções como auxiliar de obras
(2), pedreiro, funcionário público e atendente de loja.
A análise dos dados gerou representações acerca de: uso de métodos contraceptivos pelo
pai adolescente; reações e sentimentos do pai adolescente frente ao diagnóstico da gravidez; das
qualidades de um bom pai; e viver do pai adolescente a partir da paternidade.
5.1 O USO DE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS PELO PAI ADOLESCENTE
Em relação às representações do pai adolescente acerca dos métodos contraceptivos,
verifica-se que os métodos mais utilizados por eles são a camisinha, a pílula e o coito
interrompido. Muitos adolescentes não fazem uso de métodos contraceptivos em suas relações
sexuais ou, quando o fazem, os utilizam de forma errada. Alguns adolescentes utilizam a
camisinha no início do relacionamento; com o passar do tempo, no entanto, deixam de fazê-lo.
Geralmente, deixam por conta da mulher a responsabilidade pela anticoncepção.
Idéia central: os métodos contraceptivos mais utilizados pelos adolescentes são a camisinha, a
pílula e o coito interrompido.
Expressões Chave:
Eu já tinha feito isso antes, de tirar, só que dessa vez não deu certo.
Eu usava camisinha.
Ela tomava pílula.
Eu utilizava camisinha e ela a pílula.
DSC: Eu usava camisinha, ela tomava pílula e, algumas vezes eu já havia feito isso antes, sem
camisinha, tirava na hora. Só que desta vez não deu certo.
33
A prevenção da gravidez é um tema muito importante, especialmente na adolescência,
considerando a relevância social conferida pela ocorrência de gravidez nessa faixa etária e pela
possibilidade de exposição às doenças sexualmente transmissíveis. O conhecimento sobre os
métodos contraceptivos e os riscos advindos de relações sexuais desprotegidas são
fundamentais para que os adolescentes possam vivenciar o sexo de maneira adequada e
saudável, assegurando a prevenção da gravidez indesejada e das DST/AIDS, além de ser um
direito que possibilita cada vez mais, ao ser humano, o exercício da sexualidade desvinculado
da procriação. (VIEIRA et al, 2006).
Conforme os discursos obtidos, evidenciou-se que alguns adolescentes fizeram uso de
métodos contraceptivos, mesmo que tenham sido utilizados de forma incorreta. Os métodos de
contracepção mais citados foram a pílula anticoncepcional e o preservativo masculino de látex.
(CABRAL, 2003). Segundo a UNICEF (2009), a camisinha masculina foi o método de
prevenção de gravidez e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) mais conhecido e mais
usado entre as adolescentes entre os anos de 2001 e 2002.
Uma pesquisa em seis escolas de diferentes níveis socioeconômicos em Bauru - SP, com
128 estudantes de ambos os sexos, entre 11 e 19 anos selecionados ao acaso, revelou que 81,7%
conheciam alguns métodos anticoncepcionais, sendo o preservativo e a pílula os mais citados.
(BRUNO et al, 1997).
O autor destaca ainda que as principais fontes de informações foram os profissionais da
saúde, a escola, parentes e vizinhos. Apesar de conhecerem os métodos contraceptivos, muitos
adolescentes não os utilizam adequadamente. Segundo Klein (2005), apesar de haver uma
crescente utilização de métodos contraceptivos pelos adolescentes na primeira relação sexual,
50% das gestações ocorrem dentro dos primeiros seis meses de iniciação sexual apontando o
uso intermitente ou inadequado.
É importante ressaltar que foram encontrados alguns adolescentes que acreditam que o
coito interrompido funciona como um método contraceptivo, mas vale frisar que é uma prática
que não previne a gravidez nem a transmissão de Doenças Sexualmente Transmissíveis. O coito
interrompido é um tipo de método que, se comparado aos não naturais, comporta uma margem
de risco muito superior. No entanto, apresenta-se como um recurso largamente utilizado entre
jovens, pois o fato de acreditarem estar utilizando um método preventivo faz com que a grande
possibilidade de ocorrer uma gravidez seja, contudo, ignorada. (BEMFAM, 1999; CABRAL,
2003).
Em relação ao papel multiplicador dos agentes de saúde e educação, Siqueira et al
(2002) referem que urge discutir a questão do comportamento reprodutivo de adolescentes com
os profissionais que trabalham na área para que as diretrizes firmadas formalmente no papel
34
possam, de fato ser implementadas. É de fundamental importância a discussão sobre as políticas
públicas voltadas para os adolescentes. Destacam-se, sobretudo, aquelas voltadas para a
educação, a saúde, o trabalho/profissionalização, a cultura e o lazer, uma vez que a saúde sexual
e reprodutiva não pode ser pensada de forma desarticulada das demais
A assistência em anticoncepção pressupõe oferta de todas as alternativas de métodos
contraceptivos, assim como o acompanhamento clínico-ginecológico da adolescente. (BRASIL,
2002; SAITO; LEAL, 2003; GUIMARÃES; VIEIRA; PALMEIRA, 2003). Neste sentido,
comprova-se a necessidade da distribuição de preservativos como forma de garantir-lhes o
acesso e da orientação dos adolescentes quanto às formas corretas de utilizá-los.
Idéia central: Muitas vezes os adolescentes praticam o sexo sem o uso de nenhum método
contraceptivo ou o fazem de forma errada.
Expressões Chave:
Eu, não me cuidei e simplesmente aconteceu.
Ela não tomou pílula e eu já não utilizava mais os preservativos.
A gente tava sem camisinha e fez.
A gente não se cuidou. Ela não tomava nada e as vezes a gente fazia sem camisinha.
Houveram algumas vezes que a gente não usou nada, ela acabou engravidando.
Acho que mais por descuido meu, por não ter usado preservativo.
A gente começou a ficar juntos ai eu fui deixando de usar mesmo. Foi meio que descuido
mesmo não usar.
Nós começamos a namorar e ter relações, mas nunca demos muita importância para
preservativos.
Ela ainda não usava nada. Ela tava querendo usar a pílula, mas eu achei melhor não.
A gente teve uma relação sexual sem utilizar nenhum preservativo ou método anticoncepcional.
A gente resolveu fazer sem nada.
A gente tinha acabado de se conhecer ai sabe como é pressa.
A gente teve uma relação sexual sem utilizar nenhum preservativo ou método anticoncepcional.
Como ela esqueceu de tomar a pílula, acabou engravidando.
Eu usava camisinha, mas ai no dia, eu não tinha.
Não sei bem o que aconteceu.
Com o passar do tempo deixei de utilizar o preservativo e ficou só na pílula.
Eu já tinha feito isso antes, de tirar, só que dessa vez não deu certo.
Não tinha dificuldade, era mais esquecimento mesmo.
Eu usava camisinha às vezes.
Ah, acidente. Ela esqueceu de tomar a pílula eu acho ou então não funcionou.
Eu usava preservativo masculino, quase sempre.
DSC: A gente tinha acabado de se conhecer ai sabe como é a pressa. Ela tava querendo usar a
pílula, mas eu achei melhor não. Eu usava camisinha, mas ai no dia, eu não tinha. Eu usava
quase sempre. Era mais esquecimento mesmo. Eu já tinha feito isso antes, de tirar, só que dessa
vez não deu certo. Com o passar do tempo deixei de utilizar o preservativo e ficou só na pílula.
Mas ela esqueceu de tomar a pílula eu acho, ou então não funcionou. Um dia a gente resolveu
fazer sem nada. Eu o me cuidei, ela não tomou pílula e aconteceu. A gente não se cuidou.
Ela não tomava nada e, às vezes, a gente fazia sem camisinha. Foi meio que descuido mesmo
não usar. Na verdade, nunca demos muita importância para preservativos. Não sei bem o que
35
aconteceu. Ah, acidente! Acabou engravidando.
Os altos índices de gravidez na adolescência comprovam o não uso ou o uso inadequado
dos métodos contraceptivos por adolescentes, sendo esse um assunto de grande relevância,
tendo em vista a grande vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis em especial à
AIDs tão difundida em nosso meio. A realidade mostra que as chances de uso de algum método
contraceptivo são menores entre os adolescentes de um modo geral. (HAFFNER, 1995;
CABRAL, 2003; KLEIN, 2005).
Esse fato talvez se explique devido a uma precariedade de informações e conhecimentos
pouco consistentes sobre a anticoncepção. Raramente, na prática clínica ou no contato com
jovens no ambiente escolar, depara-se com um adolescente que negue ter recebido informações
sobre opções contraceptivas, porém vários estudos revelam o uso inadequado, assim como
relações sexuais desprotegidas e deficiência dos serviços de saúde para o atendimento e
acompanhamento de jovens nessa faixa etária. (VIEIRA et al, 2006).
No entanto, a concepção contida nos discursos deste estudo reforça a idéia que a
gravidez na adolescência pode apresentar-se como resultado de que, apesar de conhecer os
métodos contraceptivos, os adolescentes não dão muita importância para o seu uso. Talvez isso
ocorra, pelo fato deles possuírem informações incorretas acerca dos mesmos. Assim, a difusão
de informação sobre o uso correto dos métodos contraceptivos bem como a garantia de acesso
aos mesmos não seriam suficientes para aumentar a adesão dos adolescentes ao seu uso.
O problema parece bem mais complexo. Estudos revelam que, mesmo tendo
conhecimentos e acesso, a gravidez pode acontecer. Quanto mais precoce a iniciação sexual,
menores são as chances de uso de métodos contraceptivos e, consequentemente, maiores são as
possibilidades de gravidez. (CABRAL, 2003; KLEIN, 2005).
Lima et al (2004), por meio de uma análise qualitativa, buscaram conhecer as
percepções e práticas de pais adolescentes, da cidade do Recife, em relação ao uso de métodos
contraceptivos. Constataram a necessidade de aprender, presente no discurso dos adolescentes,
verificando que 68,4% consideravam importante o conhecimento sobre métodos contraceptivos
e a prevenção da gravidez. Dentre os meios mais citados encontraram: realização de palestras
(46,1%), orientações sobre sexualidade e prevenção da gravidez (23,0%), disponibilização de
métodos anticoncepcionais orais (23,0%), injetáveis (15,3%), e preservativos masculinos
(15,3%). Citaram ainda que, para a concretização de tais objetivos, devem-se buscar estratégias
de promoção que estejam mais próximas das necessidades geradas no contexto sócio-cultural a
que esse grupo populacional se vincula. (LIMA et al, 2004).
Estudo evidencia que o comportamento contraceptivo dos adolescentes é sempre
posterior ao início do relacionamento sexual com a parceira, sendo marcado por dificuldades
36
para usar adequadamente os métodos anticoncepcionais, especialmente em vista da maior
imprevisibilidade das relações sexuais nesse grupo. (BORGES; SCHOR, 2005; TELLES,
2007). Fato corroborado no DSC acima e por Vieira et al (2006) em seu estudo. Aqui, segundo
um grupo de 36 adolescentes do sexo feminino com idades entre 11 e 17 anos, a
imprevisibilidade da relação sexual também foi citada como motivo do não uso de
contraceptivos. (VIEIRA et al, 2006). Outros estudos encontraram resultados semelhantes
quanto a não utilização de métodos contraceptivos na iniciação sexual: dentre as mulheres,
prevalece a justificativa do “não esperava ter relações naquele momento”, ao passo que dentre
os homens, a alegação principal é a do “não conhecia nenhum método”. (BEMFAM, 1999,
CABRAL, 2003, p. 286).
Estudo acerca da maternidade na adolescência com jovens adolescentes verificou a
dificuldade de diálogo delas com o parceiro, a qualidade ou inadequação da informação a
respeito da contracepção e reprodução, assim como sobre o uso correto dos métodos
anticoncepcionais como causa do não uso ou uso inadequado de métodos contraceptivos.
(ALMEIDA et al, 2003). Outro estudo verificou que todas as participantes do estudo tinham
acesso a métodos contraceptivos eficazes de alguma forma. No entanto, o acesso indireto
através do companheiro, relatado por uma das participantes, pode estabelecer uma relação de
dependência e maximizar disparidades no grau de negociação entre o casal quanto à utilização
do contraceptivo. (SOUSA, 2009). Em relação à camisinha, sua não utilização estaria vinculada
à diminuição das sensações durante a relação sexual.
Uma pesquisa em seis escolas de diferentes níveis socioeconômicos de São Paulo, com
128 estudantes de ambos os sexos, entre 11 e 19 anos selecionados ao acaso, revelou que 81,7%
conheciam alguns métodos anticoncepcionais, sendo o preservativo e a pílula os mais citados.
Apesar do conhecimento, a maioria referiu não utilizá-los por não valorizar as chances de
gravidez ou por mero esquecimento. (BRUNO et al, 1997).
Inúmeros pretextos são atribuídos ao pouco uso de métodos anticoncepcionais por
adolescentes: medo dos pais descobrirem, medo de encarar a própria sexualidade, falta de
conhecimento sobre os riscos de engravidar, pensamento "mágico", etc. Não importando as
causas, o resultado é conhecido: milhares de gravidezes em adolescentes, com suas
consequências para a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes quanto para sua integração e
desenvolvimento social. (CABRAL, 2003). É possível também relacionar o não uso, ou uso
inadequado do preservativo masculino, à idéia de que sua principal utilidade seria evitar as
doenças de transmissão sexual e não a gravidez. (ALMEIDA; HARDY, 2007).
Estudo de Almeida e Hardy (2007) evidenciou que a justificativa dos adolescentes para
interromper o uso do preservativo em geral foi descuido, negligência; em um caso, foi para
37
engravidar e continuarem juntos após a proibição do pai da garota; em outro, o garoto disse que
foi para atender ao pedido de sua parceira que queria engravidar. Outro fato, relatado no estudo
de Cabral (2003), é que estar usando algum método poderia significar o planejamento de um
intercurso sexual, o que não corresponde ao imaginário da mulher ingênua e inexperiente
esperado pela família da adolescente. Usar um método contraceptivo, nesse sentido, seria
facilmente descoberto pela família, comprometendo a relação do jovem casal, que opta, então,
por manter relações sexuais desprotegidas. (ESTEVES; MENANDRO, 2005; BRANDÃO;
HEILBORN, 2006).
Em relação ao grau de escolaridade dos pais adolescentes, estudos evidenciaram que,
quanto maior o grau de escolaridade do jovem, maiores são as chances de utilização de algum
método tanto na primeira relação sexual como nas subsequentes. (CABRAL, 2003; TELLES,
2007). Nesse contexto, no entanto, Belo e Silva (2004), ao pesquisarem o conhecimento,
atitudes e práticas de adolescentes em relação ao uso de métodos contraceptivos evidenciaram
que o nível de escolaridade no grupo dos adolescentes não modificou seu conhecimento ou
influenciou na contracepção. Os autores consideram que tal aspecto aponta para as dificuldades
ou até mesmo para a inexistência de diálogos familiares que favoreceriam avanços
significativos na apropriação de conhecimentos referentes à prevenção da gravidez o
planejada.
Idéia central: alguns adolescentes utilizam a camisinha no início da relação, mas conforme
passam a “confiar” na parceira e com o passar do tempo, deixam de fazê-lo. Não usar métodos
contraceptivos é sinal de amor.
Expressões Chave:
No início eu usava camisinha. Com o passar do tempo, quando a gente foi se conhecendo
melhor, deixei de utilizar.
Eu já não utilizava mais os preservativos, porque a gente se ama.
No início eu usava, mas ai a gente começou a ficar juntos. Ai eu fui deixando de usar mesmo.
Aos poucos fui deixando de usar preservativos.
Eu usava preservativos só que mais no início. Com a confiança fui deixando.
DSC: No início eu usava camisinha. Com o passar do tempo, quando a gente foi se
conhecendo melhor, a gente começou a ficar juntos, e aos poucos fui deixando de usar mesmo.
Usava preservativos só mais no início. A gente se ama e com a confiança fui deixando.
O adolescente traz, no seu discurso, que, no início do relacionamento, ele fazia uso de
métodos contraceptivos, mas com o passar do tempo, ancorado na idéia de que o par es em
uma relação estável, ele passa a não utilizar-se mais, deixando esse cuidado ao encargo da sua
companheira. “O uso inconsistente do preservativo masculino, especialmente à medida que os
parceiros o se tornando mais íntimos, constitui registro frequente dos estudos sobre
38
comportamento sexual, tanto entre adultos quanto entre adolescentes”. (ALMEIDA; HARDY,
2007, p. 570).
Também se observa que esse comportamento, assim como a adoção de medidas
preventivas quanto às doenças de transmissão sexual, varia de acordo com o contexto da relação
e do tipo de parceria vivenciado pelos adolescentes, conforme a confiança vai ocorrendo e o
“amor” se consolidando. (ALMEIDA; HARDY, 2007). Mais uma vez, o DSC dos adolescentes
evidencia que a prática sexual segura é menos importante que a “sua” prática sexual, deixando
de utilizar os preservativos conforme o relacionamento vai se solidificando.
Esse discurso mostra que, na representação social dos adolescentes, o não uso de
contraceptivos é interpretado como sinal de confiança e amor. “Com relação à saúde sexual e
reprodutiva, percebe-se que uma associação estabelecida entre a existência do namoro ou
reconhecimento da parceira sexual como alguém conhecida, amiga ou namorada, e que por tais
razões o uso de preservativos seria dispensável”. (CORRÊA, 2005, p. 111).
O abandono do método contraceptivo pelo adolescente pode ser efetivado pelo desejo
consciente ou inconsciente do adolescente de ter um filho. Davim (1998) realizou um estudo
com 36 adolescentes, na faixa etária entre 13 a 19 anos de idade, buscando identificar, além dos
métodos contraceptivos conhecidos e utilizados, as causas que levaram esses adolescentes a
abandonarem a utilização dos referidos métodos. Os resultados indicaram desconhecimento
acerca da contracepção, da gravidez, dos riscos de uma gestação precoce, destacando-se que a
grande maioria abandonou os métodos de contracepção pelo desejo de engravidar. Esse fato
chama a atenção de que, mesmo na adolescência, a gravidez pode ser desejada. (ORLANDI;
TONELI , 2005).
Segundo Borges (2007), adolescentes podem optar por uma gravidez como forma de
inserir-se no mundo adulto. O desejo por ter um filho na adolescência pode ser justificado
porque a gravidez pode significar realização, saúde e maturidade e, nos ambientes nos quais
poucas possibilidades de atingir esse reconhecimento por outras vias, ter um filho pode ser uma
saída para os adolescentes.
Idéia central: o adolescente deixa por conta da mulher a responsabilidade pela anticoncepção.
Expressões Chave:
Como ela tomava pílula deixei de usar a camisinha.
Como ela esqueceu de tomar a pílula, acabou engravidando.
Ela tomava pílula.
Eu já não utilizava mais os preservativos e ficou só na pílula.
DSC: Como ela tomava pílula eu deixei de usar camisinha, não utilizava mais os
preservativos. Ficou só na pílula. Como ela esqueceu de tomar a pílula acabou engravidando.
39
O DSC acima apresenta-se, ancorado na idéia de que a responsabilidade pela
anticoncepção é uma tarefa exclusivamente feminina, expressando a despreocupação do
adolescente frente ao uso de preservativos assim como o diálogo com a parceira sobre a
utilização correta da pílula anticoncepcional.
Atribuir à mulher a responsabilidade pela contracepção termina sendo, indiretamente,
uma maneira de o homem não se sentir responsável pela gravidez, estando, assim, presente no
imaginário masculino que, se a fecundação acontece no corpo da mulher, ele não precisa
envolver-se diretamente com cuidados contraceptivos.
Essa representação vai ao encontro do pensamento de Luz, Berni (2010), ao referirem
que, socialmente, espera-se da mulher providências para evitar a gravidez, pois é frequente o
argumento de que quem engravida é a mulher, numa visão biologista da concepção. Em
contrapartida, o não fazer parte do escopo das preocupações do rapaz saber se o uso da pílula
es correto torna-o à mer da mulher que pode suspender o uso do anticoncepcional e
engravidar. (TELLES, 2007).
Os atributos de gênero desempenham, nesse cenário, um papel decisivo. A própria
literatura na área da saúde coletiva tem assinalado que a sexualidade masculina, pelo menos na
cultura sexual brasileira, é frequentemente representada como “incontrolável”. (VILLELA;
BARBOSA, 1996; CABRAL, 2003). Ser homem significa ter menos controle sobre seus
impulsos sexuais; e colocar a camisinha, racionalizar ou regrar seus impulsos sexuais (...) é trair
sua virilidade. (CABRAL, 2003).
A preocupação com a contracepção e a responsabilidade, tem reiteradamente caído sobre
as mulheres, principalmente com o advento do anticoncepcional oral. (ARILLHA, 1998).
Prevalece, ainda, a idéia de que os filhos e a contracepção fazem parte de um universo que, ao
longo do tempo, cristalizou-se no imaginário social como sendo do campo das mulheres. Muitas
vezes, as próprias mulheres contribuem com essa idéia, pois muitas ainda se referem à gestação
com exclusividade, utilizando-se de expressões que, consciente ou inconscientemente,
transmitem a mensagem de que essa é uma questão puramente feminina, como se a participação
do homem terminasse no momento em que o bebê é concebido. (KITAHARA; ROSSI;
GRASSIOTIN, 2005).
Outro fato que contribui para consolidar essa representação é que a heterossexualidade
aparece como natural e desejada no contexto social. A partir dessa perspectiva, os adolescentes
podem entender que a sexualidade deve ser praticada para obter satisfação de suas necessidades
corporais e prazer. (ALMEIDA; HARDY, 2007).
Também verifica-se que, ao aceitar fazer sexo, pode haver o entendimento de que a
mulher exime o homem de qualquer responsabilidade em assumir compromisso e
40
consequências futuras relacionadas ao ato sexual. O conhecimento e a utilização dos métodos
contraceptivos de forma correta passam a tornar-se um encargo da adolescente no momento em
que o casal encontra-se namorando ou mantendo uma relação “estável”. Com base nisso, o
adolescente sente-se no direito de não utilizar preservativos, deixando ao encargo da sua
companheira o uso de pílulas anticoncepcionais. (BEMFAM, 1999; CABRAL, 2003).
Neste sentido, informar os jovens sobre reprodução e métodos contraceptivos não seria,
por si suficiente ou eficaz na medida em que esbarraria na cultura de gênero. (CABRAL,
2003). Conforme Telles (2007), existe contradição no comportamento dos adolescentes quanto à
preocupação com a possibilidade de gravidez, pois se reconhece que o homem tem papel
essencial e deve prevenir-se, mas na sua prática sexual não levam isso em consideração e
deixam ao encargo da parceira.
A ausência de estudos sobre paternidade na adolescência acompanha a tradição dos
estudos de gênero, cuja produção es em larga medida voltada para o gênero feminino. Essa
situação acaba reforçando a idéia de que a reprodução e o seu controle sejam mais um “negócio
de mulheres” ou “para mulheres”, deixando excluídos os homens. (CABRAL, 2003).
5.2 REAÇÕES E SENTIMENTOS DO PAI ADOLESCENTE FRENTE AO DIAGNÓSTICO
DA GRAVIDEZ
Frente à informação da gravidez, o pai adolescente apresenta diversas reações e
sentimentos.
Frente a essa infromação, o pai adolescente leva um susto, pois refere que a gravidez na
adolescência não foi planejada, aconteceu por descuido, acidente e pelo não uso de um método
anticoncepcional. Frente ao fato pode no início não acreditar, mas, em seguida, aceita e fica
feliz com a gravidez.
O pai adolescente, no primeiro momento, pode não acreditar, apresentando sentimentos
de descrença e desconfiança no diagnóstico. Ao constatar a veracidade da gravidez, o pai
adolescente fica preocupado, triste e com raiva de si mesmo por não ter usado camisinha. No
entanto, passado o primeiro impacto do diagnóstico da gravidez, o adolescente passa a aceitar a
paternidade, sentindo-se, inclusive, feliz e alegre.
Idéia central: O adolescente se assusta porque a gravidez na adolescência não foi planejada,
aconteceu por descuido, acidente e não uso de um método anticoncepcional.
41
Expressões Chave:
Não foi planejada. Olha, ela acabou acontecendo, mas acho que vai dar tudo certo.
Não planejei. Eu, não me cuidei e simplesmente aconteceu.
Não, planejamos. Ela toma pílula, não sei bem o que aconteceu.
Ela não tomou pílula e eu já não utilizava mais os preservativos.
A gente tava sem camisinha e fez, eu já tinha feito isso antes, de tirar, só que dessa vez não deu
certo.
A gente não se cuidou. Ela não tomava nada e as vezes a gente fazia sem camisinha.
Acho que mais por descuido meu, por não ter usado preservativo.
Não, achei que não iria acontecer assim. A gravidez aconteceu por acidente. Ela esqueceu de
tomar a pílula eu acho ou então não funcionou.
Não, não foi. s começamos a namorar e ter relações, mas nunca demos muita importância
para preservativos.
Não, foi azar mesmo. O preservativo arrebentou.
A gente teve uma relação sexual sem utilizar nenhum preservativo ou método
anticoncepcional.
Não planejamos. Ah! Sabe como é, a gente nunca acredita que vai acontecer. Ao menos assim
nessa idade. É mais comum quando se é mais velho.
DSC: Não planejei. Eu, não me cuidei, a gente não se cuidou e simplesmente aconteceu. A
gravidez aconteceu por acidente. Nunca demos muita importância para preservativos. Foi azar
mesmo. O preservativo arrebentou. Ah! Sabe como é, a gente nunca acredita que vai acontecer.
Ao menos assim nessa idade. É mais comum quando se é mais velho.
Neste DSC expressa-se a idéia de que o adolescente não planeja a gravidez, ancorado na
falsa impressão de que isso, com ele, não irá ocorrer, mesmo utilizando métodos contraceptivos
de forma inadequada ou, simplesmente, não utilizando nenhum método de controle da
natalidade.
Segundo Siqueira et al (2002), fala-se que a gravidez na adolescência é indesejada,
inconsequente, fruto da irresponsabilidade, da imaturidade e da impulsividade desses jovens. Os
autores acreditam que o pai adolescente tem ancorado que, como a gravidez não ocorreu de
forma planejada, deve ser algo ruim ou que irá ter uma influência negativa na sua vida. O fato
de os adolescentes trazerem à tona a preocupação com a possibilidade de tornarem-se pais,
nesse período da vida, demonstra que esse temor faz parte do seu cotidiano.
Por serem adolescentes, talvez não se sintam capazes de assumir tal responsabilidade, e
dão-se conta que, durante a relação sexual, deixam-se levar pelo momento, mostrando que
realizam sexo de forma impulsiva. (TELLES, 2007).
Idéia central: Frente à notícia da gravidez surgem diversos sentimentos como descrença e
desconfiança no diagnóstico. Passado o impacto do diagnóstico da gravidez o adolescente passa
a aceitar a paternidade
Expressões Chave:
No início não acreditei, achei que era brincadeira, mas depois resolvi assumir.
Logo que eu soube, eu achei que a minha namorada estava brincando comigo.
42
No início fiquei meio desconfiado mais agora estou gostando.
Fiquei feliz por poder ser pai, ela já tem um filho de um outro relacionamento então agora que
já estamos juntos vai ser bom ter um filho fruto de nos dois.
Surpresa, Alegria e muita responsabilidade.
Levou um tempinho, uns 3 meses depois que ela já estava grávida é que ela me contou, nunca
eu ia imaginar isso, ser pai novo assim.
Não dei muita bola no início quando ela me falou.
No início achei que ela falou pra gente ficar juntos. Mas depois notei que era verdade
mesmo.
Logo que eu soube eu achei que a minha namorada estava brincando comigo, até porque nós
dois somos novos. Mas depois ela me confirmou que era sério mesmo. Fiquei preocupado, não
pretendia ter filhos agora nesta idade, mas agora estou bem.
Logo que nós conversamos foi muito complicado. Olha eu sou bem responsável e não queria
ter filhos agora.
A gente transava, mas achei que não iria acontecer nada.
DSC: No início não acreditei, achei que era brincadeira. A gente transava, mas achei que não
iria acontecer nada. Fiquei meio desconfiado. Foi uma surpresa. Levou um tempinho, uns 3
meses depois que ela já estava grávida é que ela me contou, nunca eu ia imaginar isso, ser pai
novo assim. Não dei muita bola no início quando ela me falou. Achei que ela falou só pra gente
ficar juntos. Mas depois notei que era verdade mesmo. Fiquei preocupado, não pretendia ter
filhos agora nesta idade, mas agora estou bem. Olha, eu sou bem responsável e não queria ter
filhos agora. Resolvi assumir. Agora estou gostando.
Este DSC expressa o sentimento de desconfiança que os adolescentes demonstram
frente à notícia de que sua parceira está grávida e que ele é o pai. Exprime a dificuldade que o
jovem tem em admitir a sua responsabilidade, frente à gravidez, por isso não acredita que possa
ser pai e que tenha engravidado sua parceira.
No momento em que a mulher informa ao homem que está grávida, implicitamente
anuncia o nome da família que a criança terá. O impacto da notícia depende da história do casal
e do tipo de relação que une o homem e a mulher, que pode ter vários efeitos, desde uma
felicidade extrema e compartilhada, até separações, afastamentos e conflitos. (KITAHARA;
ROSSI; GRASSIOTIN, 2005).
Estudo de Meincke e Carraro (2009) corrobora tais sentimentos. As autoras referem que,
frente à notícia da gravidez, o pai adolescente pode apresentar surpresa, susto, choque e não
acreditar na notícia da gravidez da namorada. Referem que esses sentimentos emergiram,
também, em outros estudos.
Após o primeiro impacto, evidencia-se que o adolescente expressa a satisfação frente à
notícia de que irá ser pai em breve. Ao se comprometer com o seu futuro filho, o jovem
demonstra alegria frente à notícia.
No nosso meio, pouco se conhece sobre o estado emocional do pai, como também sobre
seus sentimentos em relação ao ciclo gravidez-parto de sua mulher e nascimento do seu filho.
(ABREU; SOUZA, 1999). Percebe-se que o termo paternidade vem sofrendo alterações.
43
Durante muito tempo esteve associado aos papéis de provedor, autoridade, poder. Atualmente,
vem dando lugar a novos conceitos baseados no compartilhar, no prazer, face às necessidades
de condições sócio-econômicas que vêm afetando milhares de lares brasileiros e que exigem um
reordenamento nas tarefas e funções dos respectivos encargos maternos e paternos, como
também por conta de experimentar sentimentos, emoções até então desconhecidos.
Percebe-se que, apesar de um processo complexo, os pais adolescentes estão procurando
vivenciar e exercer a paternidade e se adaptar a essa nova situação. (MEINCKE; CARRARO,
2009). situações em que o uso regular de métodos contraceptivos é intencionalmente
suspenso visto que engravidar é o objetivo. A gravidez tanto pode ser negociada entre os
parceiros quanto pode ser comunicada posteriormente, pela moça ao rapaz. (CABRAL, 2003).
Ao estudarem a paternidade na adolescência, Levandowski e Piccinini (2006)
verificaram que aproximadamente 60% dos pais adolescentes investigados indicaram que a
experiência da paternidade mudaria sua vida de forma positiva, não estando arrependidos por
isso. Referiram sentir-se seguros e confiantes em seu papel parental.
Montgomery (1998, p. 78-79) acredita que a participação do homem é fundamental
durante a gestação, quando o pai aprende a lidar com as necessidades da mulher gestante e
passa a interagir com o bebê. Para ele, “a resposta do futuro pai é fundamental na evolução de
todo o contexto biopsicossocial da gestação. Quando o homem se aproxima da mulher e a
valoriza, ele também se aproxima da criança”. A participação do pai no período gestacional
seria a evolução da paternidade do novo século. Ao longo dos anos, o papel do pai foi sendo
modificado; ele passou a sentir-se mais presente e motivado em participar desse processo.
(SZEJER; STEWART, 1997; KITAHARA; ROSSI; GRASSIOTIN, 2005).
Estudo evidencia que, em muitos casos, os adolescentes aceitam a paternidade, mesmo a
gravidez não tendo sido planejada. (COSTA et al, 2005). Acompanhar a gestante ao pré-natal,
assim como todo um conjunto de atitudes diante da gravidez, faz parte do comportamento
atualmente vislumbrado pelos homens diante da paternidade. Pesquisas apontam que o pai
adolescente tem apresentado maior interesse na participação cotidiana, demonstrada através do
companheirismo e cuidados com a gestante assim como com a criança, exercitando de forma
positiva e plena a paternidade. (COSTA et al, 2005).
Para Garcia (1998) e Corrêa (2005), a paternidade é uma das formas sociais de
reconhecimento da masculinidade, pois a prática heterossexual é pré-requisito para a ocorrência
da gravidez. Dessa forma, muitos pais adolescentes parecem sentir-se orgulhosos da
paternidade, tendo em vista que o filho é a prova de sua virilidade. A paternidade na
adolescência entre jovens das camadas populares representa a ascensão à vida adulta e a
redefinição em termos de “homem sério”, “viril” e “maduro” que esse jovem pai assume
44
perante seus pares e familiares. Afable-Munsuz, Liang, Ponce, Walsh (2006) verificaram que
adolescentes, com gestações intencionais, remetiam a gravidez, principalmente, à oportunidade
de se sentirem mais amados e obterem maior aproximação com a família ou parceira.
O exercício da paternidade não constitui uma relação estanque, igual em todas as
sociedades, incorporado ao longo da existência, por experiências relativas à sexualidade,
guardando pois uma relação com as subjetividades dos indivíduos nela envolvidos (CORRÊA,
2005). Esse exercício é uma “relação múltipla por ser cultural, circunstancial, temporal,
específica e interpessoal, o que impede o estabelecimento de verdades a seu respeito” (Silveira,
1998, p.36). Dessa forma, espera-se que cada pai adolescente reaja de uma forma à notícia da
gravidez coerente com seus valores, crenças e condutas sexuais e reprodutivas, atribuindo
diferentes significados à experiência.
Idéia central: Ao constatar a veracidade da gravidez o pai adolescente fica preocupado, triste e
com raiva de si mesmo por não ter usado camisinha.
Expressões Chave:
Fiquei com raiva de mim mesmo por não ter usado camisinha.
Estou um pouco preocupado.
Fiquei meio preocupado.
Fiquei meio triste, pois não queria ser pai assim.
Fiquei preocupado, não pretendia ter filhos agora nesta idade.
Logo que nós conversamos foi muito complicado. Olha eu sou bem responsável e não queria
ter filhos agora.
Surpresa!
DSC: Fiquei preocupado, com raiva de mim mesmo por não ter usado camisinha. Triste, pois
não queria ser pai assim, nesta idade. Logo que nós conversamos foi muito complicado. Olha,
eu sou bem responsável e não queria ter filhos agora. Foi uma surpresa!
O DSC revela que o adolescente que não planejou a gravidez apresenta-se arrependido
por o ter utilizado métodos contraceptivos de forma correta e revela que tornar-se pai com
pouca idade era algo impensado nesse momento.
Conforme estudo de Trindade, Menandro (2002), a notícia de que se vai ser pai nem
sempre é bem aceita; muitas vezes causa abalo e choque como também sentimentos negativos
como revolta, medo e vergonha. Outros adolescentes afirmam a prevalência dos sentimentos de
alegria, mas na grande maioria referem despreparo para lidar com a situação de tornarem-se
pais. Alguns adolescentes referem o fato de se considerarem imaturos, inexperientes para
assumir a paternidade. Sua falta de expectativas e as exigências em relação ao que é ser pai
podem gerar um sentimento de privação com relação às oportunidades de vivenciar as etapas
importantes para o seu desenvolvimento como pai (TRINDADE e MENANDRO, 2002).
Frente à gravidez da companheira, o jovem pai pode vivenciar vários problemas
45
diminuindo a intensidade de suas aspirações com a paternidade, tais como: o aumento da
responsabilidade, a educação da criança, a falta de recursos financeiros, o sentimento de falta de
maturidade e de frustração por tentar conciliar o cuidado da criança e a vivência da
adolescência, a perda da liberdade, os conflitos com a mãe do bebê e com vários membros da
família da parceira, bem como a dificuldade de frequentar a escola (CABRAL, 2003;
LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006).
Nesse sentido, Lyra-da-Fonseca (1997) relata que, em nossa sociedade, ainda é comum,
caso a gravidez ocorra, esperar-se que o jovem “repare o erro” cometido através do casamento.
Ao pensar no filho como um erro, o adolescente pode apresentar raiva por ter se permitido estar
nessa situação devido ao não uso de um método preventivo.
Estudos com pais adolescentes evidenciam que a notícia da gravidez da namorada
causou-lhes abalo, diante do inesperado (MEINCKE, CARRARO 2009). O impacto da notícia
depende da história do casal e do tipo de relação que une o homem e a mulher. Na adolescência,
desejar um filho pode ser diferente de se projetar como pai. Enquanto o desejo de ter um filho é
ainda um plano de fantasia, imaginar-se pai, receber a notícia que isso é real, remete o
adolescente a um mundo de responsabilidades que deverão ser assumidas, o que pode causar-
lhe inseguranças e despreparo. Ao ser culpabilizado pela gravidez, pode sentir-se
incompreendido e desamparado em suas angústias (KITAHARA, ROSSI, GRAZZIOTIN,
2005).
Na sociedade contemporânea, a gravidez e a paternidade, durante essa etapa da vida,
ainda são consideradas indesejáveis, segundo não somente o senso comum como mostra a
literatura científica, por gerarem consequências negativas para a vida do adolescente
(CORRÊA, FERRIANI, 2006). A negação da paternidade é uma possibilidade basicamente
masculina, uma vez que as cobranças sociais exigem da mulher posturas maternas, ou seja, que
ela não somente assuma a gravidez como desempenhe inquestionavelmente as funções
socialmente estabelecidas como maternas (CORRÊA, 2005).
Idéia central: Alguns pais adolescentes ficam felizes e alegres frente à possibilidade da
paternidade.
Expressões Chave:
Fiquei feliz por poder ser pai
Nós já estamos juntos e vai ser bom
Vai ser bom ter um filho fruto de nós dois
Depois do susto, agora estou até gostando.
Fiquei feliz por poder ser pai.
Vou tentar melhorar e assumir o meu filho.
Agora estou bem.
46
Resolvi assumir.
Estou sentindo alegria e muita responsabilidade
DSC: Fiquei feliz por poder ser pai agora que já estamos juntos. Vai ser bom ter um filho fruto
de nós dois. Depois do susto, agora estou até gostando. Fiquei feliz por poder ser pai. Vou
tentar melhorar e assumir o meu filho. Estou bem, resolvi assumir. Estou sentindo alegria e
muita responsabilidade.
Pais adolescentes, mesmo que ainda sejam classificados como ausentes, cada vez mais
vêm assumindo o seu papel, acompanhando suas namoradas em função de uma vontade pessoal
e não somente por pressões familiares ou sociais (SIQUEIRA et al, 2002; CABRAL, 2003;
COSTA et al, 2005). Segundo –da-Fonseca (1997), o primeiro sinal do sentimento de
responsabilidade seria o reconhecimento da paternidade (legal-formal e informal-voluntário).
No reconhecimento voluntário, o pai procura acompanhar o desenvolvimento do filho e
se esforça para dar suporte à mãe. O “assumir” é indicativo de que a paternidade é um evento
biográfico importante para o jovem na construção da imagem de si, de sua identidade
masculina. (CABRAL, 2003). Em estudo realizado com pais adolescentes, a maioria dos jovens
revelou satisfação com a condição de pai, mesmo levando em conta o aumento de
responsabilidade. Além do que todos terem afirmado “o apego aos filhos”. Nesses casos, os pais
adolescentes enfatizaram outros sentimentos positivos como a felicidade, a alegria, o afeto e o
carinho sobre a concretude da paternidade. (MEINCKE; CARRARO, 2009).
Vendo o filho nascer, o pai tem a oportunidade de pari-lo emocionalmente. (RAMIRES,
1988). Ver no filho a concretização do seu amor, uma parte de si e de sua mulher, também gera
uma grande emoção no homem. (ESPÍRITO SANTO; BONILHA, 2000). Dessa forma, mesmo
em situação de grande vulnerabilidade social, a notícia da paternidade e o nascimento de seu
filho pode ser fonte de prazer e felicidade para o jovem pai.
Frente à paternidade na adolescência, estudo mostrou que futuros pais mencionaram
expectativas de mudanças pessoais após o nascimento do bebê, como aumento da
responsabilidade. O mesmo estudo identifica mudanças na forma de pensar e na organização da
casa, assim como uma maior atenção para o bebê e o aumento da família como fatores positivos
apontados pelos pais adolescentes frente à paternidade na adolescência. (LEVANDOWSKI;
PICCININI, 2006).
Segundo Ramires (1997), no que se refere aos filhos, os homens só estão excluídos do
ato de gestar e amamentar, podendo serem sujeitos coparticipantes em todos os momentos,
auxiliando, apoiando mãe e filho e fortalecendo os laços entre eles, tornando-se, assim, mais
responsáveis e felizes. (COSTA et al, 2005).
47
5.3 QUALIDADES DE UM BOM PAI
Para o pai adolescente as principais qualidades de um bom pai é ser chefe de família,
trabalhar e ser o provedor da família. Em relação ao cuidado com os filhos, para o pai
adolescente, o bom pai é aquele que dá atenção, ajuda, cuida, conversa, carinho e atenção, é
amigo e sabe educar e com quem o filho conta a qualquer hora.
Trindade e Menandro (2002) identificaram mudanças na configuração da paternidade no
discurso de adolescentes pais, na medida em que eles atrelam à figura do pai o adjetivo
cuidador; além de provedor, o pai é considerado importante no processo de desenvolvimento
dos filhos, podendo participar da relação de cuidados dos mesmos, tratando-se de fonte de
carinho e afeto. Portanto, atualmente, destaca-se, no cenário acadêmico brasileiro, uma
abordagem crítica da paternidade na adolescência, rompendo com concepções estigmatizadas
desse fenômeno.
Idéia central: Para o pai adolescente as principais qualidades de um bom pai é ser chefe de
família, trabalhar e ser o provedor financeiro da família.
Expressões Chave:
Ser um bom chefe de família, responsável e trabalhador.
É sustentar a família.
Ser trabalhador
Ser religioso, responsável e trabalhador.
Alguém pronto para tudo, enfrentar as dificuldades Saber ser homem, assumir as coisas,
comandar a família, trabalhar, essas coisas. Basicamente sustentar os filhos.
Alguém que tenha emprego, seja responsável, cuide dos outros
Ah, saber tomar conta de tudo, cuidar das necessidades dos filhos.
DSC: Ser um bom chefe de família é ser responsável e trabalhador, sustentar a família. Alguém
pronto para tudo, para enfrentar as dificuldades Saber ser homem, assumir as coisas.
Basicamente, sustentar os filhos. Ah, saber tomar conta de tudo, cuidar das necessidades dos
filhos.
Ancorado na idéia de que o pai é o homem que trabalha e sustenta a família, o jovem
passa então a reproduzir esse discurso de que, para ser um bom pai e sentir-se realizado no seu
papel, o homem tem que ser trabalhador e o provedor financeiro da família.
Muitos desses adolescentes, apesar de viverem em lares nos quais a figura paterna é
ausente e a mãe configura-se como a única provedora, reproduzem o modelo, ainda vigente,
caracterizando o bom pai como provedor. Talvez isso ocorra porque segundo Siqueira (1999, p.
193) “a função de prover a família, tradicionalmente atribuída ao homem, encontra-se associada
à própria identidade masculina. Colocando-a em xeque, conseqüentemente, a identidade
48
masculina também o está”. Verifica-se, assim, que, apesar de estar se modificando, o modelo
patriarcal de organização social deixou resquícios e marcas profundas na sociedade brasileira
contemporânea de forma que, ainda hoje, é possível encontrar posturas paternas que remetem
àquele modelo. (CORRÊA, 2005).
Mesmo assim, o papel de provedor do lar como exclusivo da figura masculina es
sendo modificado. (MEINCKE; CARRARO, 2009). Em nossa sociedade, apesar do termo
provedor ser geralmente empregado nos discursos referentes ao exercício idealizado da
paternidade, atualmente, pode-se identificar com maior frequência pais (homens) de diversas
gerações relacionando-se com seus filhos de determinadas maneiras que décadas atrás poderiam
ser consideradas inapropriadas para o até então tradicional padrão de exercício da paternidade.
(ORLANDI; TONELI, 2005).
A qualificação do adolescente para o mercado de trabalho, geralmente, é precária devido
à sua escolaridade e falta de formação profissional. Muitos desses adolescentes lutam pela
sobrevivência fora de suas casas desde cedo e, alguns, assim como as adolescentes, também
assumem tarefas em casa como o cuidar dos irmãos menores, cozinhar, limpar a casa, e assim
por diante. (SIQUEIRA et al, 2002). Dessa forma, estão longe de tornarem-se os “provedores”
exclusivos de suas famílias, estando fora dos padrões estabelecidos por eles mesmos como
qualificadores de um bom pai.
No entanto, podem ser tão competentes quanto as mães na interação com seus filhos e
filhas pequenos; por isso, é possível que uma interação positiva pai-bebê possa compensar,
parcialmente, sua falta de competência como provedores financeiros. (PARKE, 1996). Ele pode
prover sim um modelo positivo, tanto aumentando os cuidados com seus filhos, quanto
apoiando a mãe adolescente, o que contribui para uma melhor criação dos filhos. (FRIZZO;
PICCININI, 2005).
Idéia Central: Em relação ao cuidado com os filhos, para o pai adolescente, o bom pai é aquele
que dá atenção, ajuda, cuida, conversa, dá carinho e atenção, é amigo e sabe educar e com quem
este conta a qualquer hora.
49
Expressões Chave:
Cuidar dos seus filhos
É dar atenção, ser responsável, respeitar e saber educar o filho.
Ajudar os filhos.
Cuidar deles quando são pequenos
Não abandonar os filhos, assumir tudo, cuidar dos filhos e ajudar sempre.
Alguém que um filho possa contar a qualquer hora para qualquer coisa.
Saber ouvir, educar, conversar, dar carinho, atenção, ser amigo, gostar e amar seus
filhos por ai vai, mas as principais são essas.
DSC: O bom pai é aquele que da atenção, é responsável, respeita e saber educar o filho. Ajuda
os filhos. Cuida dos seus filhos quando são pequenos, não os abandona. Sabe ouvir, educar,
conversar, dar carinho, atenção, ser amigo, gosta e ama seus filhos. Alguém que um filho possa
contar a qualquer hora para qualquer coisa.
O DSC acima evidencia o surgimento de um “novo pai”. Um que além de provedor é,
também, um cuidador que mantém uma relação muito próxima de afeto com seu filho.
Verifica-se, assim, que a experiência da paternidade vem se modificando, surgindo um
maior envolvimento afetivo e uma maior preocupação do pai adolescente com a divisão de
cuidados do filho com a mãe e, também, com a interação mais próxima e um companheirismo
maior entre pai e filho. (ROHDE et al, 1991; SCHNEIDER et al, 1997). O “novo pai” que está
surgindo é um homem que procura preparar-se emocionalmente para assumir, tanto quanto a
mulher, um papel ativo nos cuidados e na criação de seus filhos e filhas.
O pai sente-se tão responsável pelo filho quanto a mãe e sabe que não basta ver o filho
de vez em quando para ser um bom pai. (BADINTER, 1985). Estudo realizado por Perucchi e
Beirão (2007) refere que a paternidade está vinculada à participação efetiva dos pais na
educação dos filhos sendo estes tão responsáveis pela construção da história dos filhos como a
mãe. A relação de pai apenas como provedor já foi superada, pois a tarefa de educar sobressai a
de prover.
Acredita-se que quanto mais precoce for o contato do pai adolescente com o filho
recém-nascido, mais é possível desenvolverem-se laços adequados entre ambos. Um dos
desafios que esse homem está precisando enfrentar é o de viabilizar o dia-a-dia do trabalho com
o exercício constante da paternidade. Os padrões de paternidade modificam-se para adaptarem-
se aos novos padrões da família. (ESPÍRITO SANTO; BONILHA, 2000).
Rico (2009) refere que, como a criança já guarda lembranças na vida pré-natal e é capaz
de retê-las, a ligação profunda e intensa pai-feto é essencial para a continuação do vínculo pós-
nascimento. Esse pai, então, deixa de ser mero provedor para compartilhar dos cuidados básicos
com o bebê, bem como de sua educação e desenvolvimento físico-emocional. (RICO, 2009).
Assim, a importância da participação do pai na relação de cuidados exigidos pelos filhos já era
alvo de pesquisas desde a década de 1970. (ORLANDI; TONELI, 2005). A literatura
50
especializada tem abordado um fenômeno denominado como “novas formas de paternidades”,
sendo que o mesmo refere-se à “participação mais efetiva dos homens no cotidiano familiar,
particularmente no cuidado com a criança”. (LYRA-DA-FONSECA, 1998, p. 194). Hoje, a
importância atribuída à afetividade na relação pais e filhos torna crescente a visibilidade da
figura do pai como cuidador.
O pai de hoje dispõe-se “a viver o novo, a ter uma relação em que não se prive de viver
a emoção de ser pai”. (SCHNEIDER et al, 1997, p 121). A concepção atual de paternidade
estabelece que, além de o pai ter uma proximidade afetiva maior com o filho, ele seja um
participante ativo e amoroso não só da concepção, mas também e principalmente da gestação,
do parto e do pós-parto (MALDONADO; DICKSTEIN; NAHOUM, 1997).
5.4 O VIVER DO PAI ADOLESCENTE A PARTIR DA PATERNIDADE
Neste capítulo, os discursos evidenciam que os adolescentes não se sentem preparados
para o exercício da paternidade no momento, necessitando de ajuda. Para exercer seu papel de
pai eles se espelham em outra figura masculina. O apoio da família apresenta-se como muito
importante para o pai adolescente nessa hora. Além disso, ter um emprego e morar com a
companheira facilita o exercício da paternidade.
Os dados revelam as principais dificuldades enfrentadas pelos pais adolescentes para o
exercício da paternidade, que são a falta de emprego ou a baixa remuneração, o medo de o
saber cuidar da criança ou o não ter tempo para cuidar, necessitando de ajuda para fazê-lo, como
também o fato de ter que trabalhar, podendo assim interromper o seu processo de escolarização,
assim como a falta de apoio familiar.
Verificou-se, também, que a necessidade de sustentar a criança faz com que o pai
adolescente tenha que entrar precocemente para o mercado de trabalho e que, para exercer a
paternidade, muitas vezes, ele precisa mudar de casa. A paternidade faz com que o adolescente
torne-se mais responsável, pois a chegada de um filho faz com que se preocupe com o cuidado,
a educação e o sustento do bebê. Além disso, ao tornar-se pai, afasta-se de suas amizades e
deixa de ir a festas.
Idéia Central: O adolescente não se sente preparado para o exercício da paternidade,
necessitando de ajuda para exercer este papel.
Expressões Chave:
51
Mais ou menos, agora acho que não adianta pensar nisso e sim fazer o que for preciso,
para que o meu filho tenha condições.
Mais ou menos, acho que só na hora eu vou saber.
Ainda não, mas já estou melhor agora, acho que até ir para casa eu já vou estar pronto
pra tudo.
Na verdade não sei mesmo. Acho que sim, mas não sei. É muita pressão, mas até agora
estou assumindo tudo.
Não me sinto preparado para ser pai, mas meu irmão está me ajudando com isso.
Mais ou menos, tenho que aprender muitas coisas ainda.
Não, vai ser complicado agora. Eu ainda não sei o que vou fazer.
DSC: Não me sinto preparado para ser pai. Acho que só na hora eu vou saber. Não adianta
pensar nisso agora. A ir para casa eu já vou estar pronto pra tudo. É muita pressão, mas até
agora estou assumindo tudo. Tenho que aprender muitas coisas ainda, mas meu irmão está me
ajudando com isso. Vai ser complicado. Eu ainda não sei o que vou fazer.
O DSC acima exprime com clareza os sentimentos dos jovens pais que, na maioria das
vezes, sentem-se despreparados para serem pais e enfrentarem o processo de paternidade, mas,
ao mesmo tempo, acreditam que, apesar das dificuldades que surgirão com a paternidade,
conseguirão dar conta do seu papel. Nutrem-se de um sentimento de autosuperação, essencial
para que consigam cumprir o seu papel como pai.
A participação do pai adolescente junto à criança traz importantes contribuições e
questões ao exercício dos direitos reprodutivos de homens e mulheres no nosso país.
(CARVALHO, 2003). A iminência da paternidade requer que o adolescente assuma um papel,
para o qual ainda pode não estar social e psicologicamente preparado, podendo colocar a ele e a
criança em situação de risco pessoal. (LEVANDOWSKI et al, 2002).
A maioria dos futuros pais adolescentes o se percebe como estando pronta para o
evento. Estudos encontrados sobre o tema enfocam principalmente a questão do frequente
abandono entre pai adolescente e os possíveis danos para o desenvolvimento da criança.
(AMAZARRAY et al, 1998; LEVANDOWSKI, 2001b, LEVANDOWSKI, PICCININI, 2002,
SOUSA, 2009). Revelaram que a paternidade é considerada na sociedade ocidental como um
evento de vida adulto. Sua ocorrência na adolescência acarretaria problemas adicionais aos
envolvidos, na medida em que não haveria uma organização social - incluindo a escola e
condições de trabalho - para preparar e apoiar os jovens nas modificações necessárias
decorrentes da chegada de um bebê. (MONTMAYOR, 1986; RUSSEL, 1980).
Os adolescentes experimentariam mais eventos estressores do que os adultos ao se
depararem com a paternidade. As possíveis causas dessa situação estressora estariam
relacionadas à imaturidade psicológica e à falta de condições estruturais (ex. condições de
sobrevivência e manutenção próprias e da família: emprego, escolarização, casa própria, etc.)
para lidar com a nova situação. Diante de uma gravidez, em pouco tempo e de modo súbito, os
52
adolescentes precisam assumir responsabilidades e desempenhar papéis que estariam fora de
seus planos de vida imediatos. (DIAS; AQUINO, 2006).
Qualquer evento percebido como estressor, inclusive a paternidade na adolescência,
pode predispor resultados negativos ou indesejados. No entanto, a trajetória do risco pode ser
amenizada pelos mecanismos de proteção disponíveis e da resiliência de cada membro da
interação frente a condições adversas. Características individuais, sistema familiar e rede de
apoio social e afetivo têm sido apontados como os indicadores de proteção mais eficazes para a
promoção de resiliência ou como os fatores de risco mais críticos para a instalação de condições
de vulnerabilidade. (LEVANDOWSKI et al, 2002).
Pais adolescentes, mesmo diante da nova situação a ser enfrentada, que é percebida
como de risco, podem fazer planejamentos, emitir ações com objetivos definidos e tecer
estratégias de como alcançá-los. No entanto, a continuidade e a estabilidade dos mecanismos de
proteção garantem o sucesso e a saúde na execução desse planejamento, uma vez que tanto a
resiliência quanto a vulnerabilidade não são fenômenos permanentes no tempo e em todas as
dimensões do desenvolvimento psicológico. (LEVANDOWSKI et al, 2002).
Alguns estudos têm salientado que mais pais adolescentes demonstram o desejo de
auxiliar financeiramente e participar do cuidado da criança. Além disso, na interação com o
bebê, podem ser tão responsivos quanto os pais adultos, pelo menos nos primeiros meses de
vida do bebê. (LEVANDOWSKI, 2001a), sentindo-se seguros e confiantes sobre o desempenho
em seu papel parental. No entanto, cada adolescente lida com a situação da paternidade de
forma única, dependendo de seus recursos pessoais, da rede de apoio social e afetiva, da relação
com a mãe do bebê, entre outros aspectos. Quando esses fatores agem de forma protetiva, o
adolescente poderá apresentar resiliência e ficar fortalecido e competente para assumir seu
papel de pai. (LEVANDOWSKI; PICCININI, 2002).
Cabral (2003), ao estudar pais adolescentes cariocas, verificou que, de forma geral, eles
consideraram inoportuno o momento da primeira gravidez, em função da ausência de condições
materiais para o cumprimento do papel de “chefe de família”. Dados semelhantes foram
encontrados por Aquino et al (2003) com pais soteropolitanos, porto-alegrenses e cariocas, pois,
no momento da primeira gravidez, a ampla maioria dos jovens entrevistados (85,6% dos
homens) não estava pretendendo tornar-se pai, ou sequer pensava no assunto.
A falta de modelos paternos e a revolução social atual deixam-nos inseguros em relação
ao que seriam as funções e comportamentos ideais a serem seguidos pelos pais. (GOMES;
RESENDE, 2004; PICCININI; GOMES; MOREIRA, 2004). Nesse contexto, os futuros pais
podem sentir-se perdidos e confusos quanto ao que esperar do novo papel, pois se encontra em
um processo de redefinição: de um lado, existem as demandas do papel tradicional de pai
53
(provedor da família) e, de outro, novas demandas de maior participação e envolvimento.
(BUSTAMANTE, 2005; CARVALHO, 2003; CASTOLDI, 2002; COSTA, 2002; COSTA et al,
2005; GOMES; RESENDE, 2004; LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006).
O que se verifica é que, frente ao diagnóstico da gravidez, os pais adolescentes
apresentam dúvida quanto à sua capacidade para desempenhar o papel paterno, e dificuldade
para imaginar-se como pai. (LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006).
Idéia central: O pai adolescente se espelha em outra figura masculina para exercer seu papel de
pai.
Expressões Chave:
O meu pai, para mim foi o melhor.
Para mim um exemplo de pai é o meu próprio pai.
Sim, meu irmão.
O meu avô, ele foi o meu pai
O meu avô, ele foi tudo para mim.
DSC: Para mim bons modelos de pai foram o meu próprio pai, meu irmão, meu avô. O meu
pai foi o melhor.
O DSC acima revela que a presença de um modelo de atuação masculina auxilia o
jovem pai na sua vivência da paternidade, possibilitando-lhe um parâmetro de como agir.
Um aspecto relevante no processo de constituição masculina como pai consiste na
apropriação dos significados referentes à atividade de cuidar dos filhos no cotidiano de sua
família de origem, no contexto das relações estabelecidas com o seu próprio pai ou outra figura
masculina significativa. (ORLANDI; TONELI, 2005). Alguns adolescentes desejavam ensinar
para o filho o que aprenderam com os próprios pais, mas corrigindo seus erros. Aliás, o fato de
tentar ser como o próprio pai corrobora com os achados de outros estudos na área de apego e
família, de que os genitores servem como modelo parental direto ou indireto para os futuros
pais e mães. (TRINDADE; BRUNS, 1999).
Tornar-se pai é uma transição existencial normal no desenvolvimento emocional do
homem. Nesse período, é necessário um reajuste dos papéis. A gravidez é um período de
preparo para pai e mãe. Nesse momento eles começam a formar o vínculo com o filho e a
preparar a família para a chegada de um novo membro. (MALDONADO; DICKSTEIN;
NAHOUM, 1997). Frente a esse preparo percebe-se uma ambiguidade dos sentimentos paternos
entre alguns jovens: ao mesmo tempo em que afirmam o exercício da paternidade, demonstrado
principalmente pela responsabilidade assumida, não se reconhecem como pais pela distância
entre o modelo idealizado da figura paterna e seus sentimentos e práticas em relação aos filhos.
(TRINDADE; MENANDRO, 2002).
54
Na busca por um equilíbrio emocional, o pai pode ser utilizado como modelo direto, o
que gera um repetir de suas ações; ou indireto, no momento em que o adolescente reflete sobre
sua experiência e a recria, elaborando uma maneira própria de educar seu filho e se relacionar
com ele. Apesar de muitos adolescentes adotarem como modelo paterno o seu próprio pai,
referem que estavam sendo melhores para suas crianças do que seus pais haviam sido para eles.
(LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006).
Idéia Central: O apoio da família apresenta-se como muito importante para o pai adolescente
nesta hora.
Expressões Chave:
Morar com os meus pais.
A ajuda da minha namorada e da minha família. A minha avó e a minha tia.
Aos nossos pais, mas basicamente a minha família.
Não sei, acho que a mãe dela me aceitar é bom.
Ao meu pai, ele disse que vai me ajudar. Acho que ter o meu pai por perto vai ajudar
bastante, ele disse que vai me ajudar. Qualquer coisa vou poder falar com ele.
A ajuda da minha vó. Acho que por não ter pai eu sei como é então vou tentar ser um
bom pai para o meu filho. Dar tudo o que eu não tive.
A minha mãe e minha irmã, elas já tem filhos, então têm mais experiência que eu e estão
dispostas a ajudar. Ter a ajuda em casa vai fazer muita diferença.
Acho que o apoio da família vai ser essencial nesse momento. Tenho muita vontade de
assumir tudo e levar em frente o relacionamento e o meu filho.
A mãe dela vai nos ajudar, pois ela está no colégio, mas vai sair. O principal vai ser a ajuda
que a mãe dela vai nos dar.
DSC: Acho que o apoio da família vai ser essencial nesse momento. A minha avó e a minha tia,
a minha mãe. O meu pai disse que vai me ajudar. Acho que ter o meu pai por perto vai ajudar
bastante. Qualquer coisa vou poder falar com ele. A minha irmã já tem filhos, então tem mais
experiência que eu e está disposta a ajudar. A mãe dela vai nos ajudar, também. Vou tentar ser
um bom pai para o meu filho. Dar tudo o que eu não tive. Tenho muita vontade de assumir tudo
e levar em frente o relacionamento e o meu filho.
O DSC demonstra a importância do apoio da família nesse momento. Além desse apoio
também é evidenciada a vontade dos jovens em cumprir com o seu papel de pai frente à sua
família e à sociedade.
A presença de uma rede de apoio é de substancial importância durante a adolescência, e,
em especial, nos casos de gravidez, visto que tanto a mãe adolescente quanto o seu bebê são
dependentes de uma atenção individual dos adultos (SOUSA, 2009). A família, nesse contexto,
representa a base para uma gravidez mais segura e, assim, com menos riscos para a díade mãe-
filho.
Meincke e Carraro (2009) afirmam que é, também, necessário cuidar do homem-pai
“grávido”, durante o processo de paternidade. É fundamental permitir, convidar, estimular,
55
proporcionar aproximação, a fim de oportunizá-lhe fazer parte desse processo. É na família que
se inicia o aprendizado sobre o exercício da sexualidade e é na infância que acontecem os
primeiros sinais de realização sexual e afetiva no contato com os pais ou substitutos, através de
relações que geram as primeiras sensações de prazer e desprazer. (CORRÊA, 2005). Assim, o
apoio familiar é um fator de grande importância no efetivo desempenho do papel paterno pelo
adolescente. (LEVANDOWSKI, 2001b).
Os avós foram mencionados por alguns pais adolescentes como fonte de orientação para
a resolução de problemas corriqueiros com as crianças e, em alguns casos, foram considerados
pelos jovens como aqueles que efetivamente criavam a criança. Os jovens mostraram-se gratos
pelo apoio oferecido pelos avós, principalmente os avós maternos. Foram referidos como apoio
a ajuda financeira, tanto para lidar com a criança como para a manutenção do casal, os cuidados
diários com a criança, possibilitando ou facilitando o estudo ou o trabalho dos pais, e o
acompanhamento das atividades de lazer em fins de semana. (TRINDADE; MENANDRO,
2002).
Estudo realizado com casais adolescentes identificou que mais de 80% deles
trabalhavam, com renda inferior ou igual a um salário mínimo, o que coloca esse grupo dentro
da condição de risco social. Assim, a instabilidade socioeconômica tem sido o principal fator
apontado para a coabitação de gestantes, mães e pais adolescentes com suas famílias de origem,
mesmo na condição de casados e de comunhão livre. (GAMA et al, 2001). Godinho et al (2000)
e Lima et al (2004) verificaram, em estudos, que todas as adolescentes grávidas investigadas
recebiam apoio financeiro dos pais e a maioria ainda morava com eles. Segundo Nascimento
(2006, p. 64)
as precárias condições de existência, agravadas pelas reduzidas oportunidades no
mercado de trabalho, retêm os jovens das classes populares no seio das famílias de
origem. Nessas circunstâncias, além de coabitarem com seus pais e/ou parentes, os
jovens permanecem economicamente dependentes deles.
Na maioria dos casos a ajuda da família é fundamental; ela é que provê moral e
materialmente as condições para que o jovem possa “assumir a paternidade”. O apoio financeiro
foi predominante nos estudos conduzidos por Siqueira et al (2002) e Cabral (2003) no contexto
brasileiro no que tange ao apoio familiar ao jovem casal grávido. Nesse sentido, percebe-se que
os pais adolescentes enfrentam muitas questões semelhantes às de pais adultos, apesar de terem
menos recursos que eles. (LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006). Além do apoio financeiro a
segurança familiar é um aspecto a ser ressaltado, pois os jovens relatam sentirem-se mais
seguros com o apoio parental. (MEINCKE; CARRARO, 2009).
Idéia Central: Ter um emprego facilita o exercício da paternidade
56
Expressões Chave:
Acho que por terem me chamado para trabalhar vai ser bem fácil.
Por já estar empregado e ela trabalhando acho que vai ser mais fácil para nós dois
Pelo menos eu tenho um emprego, tem muitos ai que não tem nem isso.
Eu estou trabalhando e vendo se consigo uma vaga melhor com um amigo.
DSC: Por estar empregado e ela trabalhando acho que vai ser mais fácil para nós dois. Eu
estou trabalhando e vendo se consigo uma vaga melhor com um amigo. Pelo menos eu tenho
um emprego, tem muitos ai que não tem nem isso.
O DSC evidencia que o trabalho apresenta-se como um importante facilitador para o pai
adolescente, diminuindo sua vulnerabilidade.
Uma das consequências da paternidade é a obrigatoriedade do trabalho. Embora, em
muitos casos, o trabalho possa fazer parte da rotina do jovem, a paternidade leva o
adolescente a ser provedor de sua própria família, resignificando o trabalho. Mesmo assim, a
maioria dos adolescentes precisa da ajuda financeira de seus pais no enfrentamento da nova
responsabilidade, especialmente no que se refere à moradia. (ALMEIDA; HARDY, 2007).
Ao assumir a paternidade, o adolescente pode passar por dificuldades de ordem
econômica. Muitos, pela pouca escolaridade passam a exercer atividades como mão de obra não
qualificada, necessitando interromper a vida escolar para entrar no mercado de trabalho. Esse
fato pode acarretar uma maior vulnerabilidade psíquica tendo prejuízos sociais tanto devido às
alterações da formação educacional quanto ao ingresso prematuro no mundo do trabalho.
(CABRAL, 2003; LUZ; BERNI, 2010).
Cabral (2003) refere que, ao se tornarem pais, os adolescentes afirmam a
imprescindibilidade de terem condições materiais suficientes, tais como emprego fixo, casa,
condições financeiras, para a criação e manutenção do filho e da parceira.
Idéia Central: Morar com a companheira facilita o exercício da paternidade
Expressão Chave:
Ela também mora aqui.
Vamos ter um local para nos acho que vai dar certo.
Já estamos morando juntos e isto facilita minha convivência com o bebê.
DSC: Já estamos morando juntos e isto facilita minha convivência com o bebê. Temos um local
para nós. Acho que vai dar certo!
O DSC evidencia que morar junto com a companheira apresenta-se como um fator de
proteção à construção da paternidade pelo pai adolescente.
Lyra-da-Fonseca (2001) e Moura (2003) referem que a gravidez na adolescência tem
sido apontada como importante fator precipitante da união não formal e coabitação entre os
casais. Apesar de a maioria das gestações entre adolescentes ocorrer na ausência da união
57
conjugal, a boa convivência com a companheira ou com a mãe do seu bebê é primordial para
que ele acompanhe a evolução da gestação, garantindo ao pai a participação ativa de todo o
processo (AQUINO et al, 2003). Trindade e Menandro (2002) referem que a deterioração do
relacionamento com as mães das crianças pode transformar-se em um obstáculo para o pai,
ficando esse impedido de manter contatos frequentes com seu filho e, dessa forma, interferindo
negativamente na qualidade do relacionamento pai-criança.
Nesse sentido, muitos adolescentes buscam na coabitação com a companheira a melhor
forma de exercer a paternidade. A concepção atual de paternidade estabelece que, além do pai
ter uma proximidade afetiva maior com o filho, ele seja um participante ativo e amoroso não só
da concepção, mas também da gestação, do parto e do pós-parto. (MALDONADO;
DICKSTEIN; NAHOUM, 1997). O nascimento de um filho é sempre uma experiência da
família como um todo. Mesmo durante o período de gestação, em que o contato da mãe com o
bebê é muito íntimo, o homem pode participar ativamente, assumindo um papel protetor em
relação à mulher e vivenciando com ela as ansiedades e temores relacionados ao parto e
puerpério.
A convivência diária do pai adolescente com sua companheira permite-lhe elaborar,
dentro de si, a sua relação com o bebê e preparar-se para sua chegada. (ESPIRITO SANTO;
BONILHA, 2000). O envolvimento do pai no parto favorece o desenvolvimento do apego e do
sentimento de proteção do pai em relação ao filho. Esse envolvimento, geralmente ocorre mais
efetivamente em situações em que o pai adolescente mora junto com sua companheira,
permitindo o desenvolvimento de um relacionamento conjugal e uma interação pai-mãe-bebê.
(FRIZZO; PICCININI, 2005).
Idéia Central: A falta de emprego ou a baixa remuneração dificultam o exercício da
paternidade pelo adolescente.
Expressões Chave:
No momento, estar desempregado.
Acho que o principal vai ser que ela vai sair do emprego e eu vou ter que assumir tudo
praticamente sozinho.
Não tenho emprego, isso vai ser difícil, se meu pai não ajudar vai complicar muito.
O meu emprego paga pouco
Acho que a principal dificuldade vai ser sustentar
Acho que nós dois deveríamos estar melhor economicamente, para poder dar melhores
condições para a criança. Isso tudo
Eu estou trabalhando, mas meu contrato já vai acabar e arranjar um emprego agora vai
ser complicado.
DSC: Acho que a principal dificuldade vai ser sustentar a criança. Estava desempregado e
agora o meu emprego paga pouco. Ela vai sair do emprego e eu vou ter que assumir tudo
58
praticamente sozinho. Vai ser difícil, se meu pai não ajudar vai complicar muito.
O DSC evidencia que a falta de emprego ou a baixa remuneração comprometem ou
dificultam o exercício da paternidade pelo pai adolescente.
Bruschini e Barroso (1980) referem que as dificuldades econômicas e afetivas podem
ser as responsáveis pelo abandono do filho pelo pai adolescente, responsável por centenas de
crianças e adolescentes desamparados.
Tendo em vista a dificuldade de o adolescente se inserir no mercado de trabalho e obter
um emprego bem remunerado devido a sua pouca qualificação profissional, a maioria considera
inoportuno o momento em que “aconteceu” o primeiro filho, sobretudo em função da ausência
das condições ideais (leia-se materiais) para poder arcar e cumprir, de imediato, com todas as
funções esperadas de um “chefe de família”. (CABRAL, 2003).
Idéia Central: O pai adolescente tem medo de não saber cuidar da criança ou não ter tempo
para cuidar necessitando de ajuda para fazê-lo.
59
Expressões Chave:
O meu serviço é muito puxado, trabalho direto. Vai ser difícil estar em casa sempre para
cuidar da criança.
Eu trabalho de noite então já sabe vai ser tudo com ela.
Acredito que as maiores dificuldades serão no cuidado com a minha filha, pois não
entendo muito bem disso, mas com o tempo irei aprender.
A maior dificuldade vai ser cuidar quando for bebe. Mas aos poucos vou ir aprendendo
tudo.
As de um pai novo, não saber fazer as coisas. Se não for pelo meu irmão que já é pai
acho que seria mais complicado.
Então não vou ter muito tempo pra ajudar.
Sem contar que não entendo praticamente nada de cuidar um filho assim como ela.
Educar o meu filho será complicado ainda mais trabalhando fora.
DSC: Acredito que as maiores dificuldades serão no cuidado com a criança, pois não entendo
muito bem disso. Sou um pai novo, não sei fazer as coisas. O meu serviço é muito puxado,
trabalho direto. Vai ser difícil estar em casa sempre para cuidar da criança. Eu trabalho de
noite e não vou ter muito tempo pra ajudar. Então sabe vai ser tudo com ela. Educar o meu
filho será complicado ainda mais trabalhando fora. Mas aos poucos vou ir aprendendo tudo.
A participação do pai no cuidado ao filho pode ser vista como um fato inato,
geneticamente determinado, mas na prática não se expressar na sua plenitude, por fatores
culturais e sociais. (KITAHARA; ROSSI; GRASSIOTIN, 2005). Em um estudo realizado por
Meincke, Carraro (2009), destacam-se, entre os sentimentos negativos, o medo com a notícia da
paternidade e a ansiedade de não saber como enfrentar o processo da paternidade.
Alguns pais adolescentes referem que poucas oportunidades têm-lhe sido dadas para
participar ativamente no cuidado à criança por suas companheiras. Ainda se fazem presentes nas
representações das adolescentes as diferenciações existentes entre o papel da mulher e do
homem no que se refere à educação e à responsabilidade para com seus filhos. As mães
adolescentes expressam que as atitudes do homem estariam mais diretamente associadas ao
prover financeiramente do que à responsabilidade com a educação das crianças. Enquanto a
mulher, por ser a geradora, acaba tendo mais obrigações com o cuidado. (TELLES, 2007). Esse
fato pode tornar o pai adolescente inseguro quanto a sua capacidade e competência como
cuidador.
De acordo com Lamb e Elster (1986), a qualidade da interação está relacionada às
características pessoais do genitor, mas também é fortemente influenciada por características da
criança e do ambiente. Especificamente, essa habilidade poderia ser influenciada pelo
desenvolvimento cognitivo do adolescente, por suas atitudes em relação ao cuidado de crianças,
pela quantidade de seus conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, pelas características
de seu bebê, pelos eventos estressantes vivenciados e sua capacidade de lidar com eles e pela
presença ou não de uma rede de apoio social.
60
Andrade, Ribeiro e Silva (2006) afirmam que a experiência do cuidar de seu filho, para
os adolescentes, é determinada pela ação e interação com sua família e os profissionais de saúde
que os auxiliam nos cuidados. A família e os profissionais de saúde exercem um papel de
substancial importância, que podem facilitar a vivência da paternidade pelos adolescentes,
oferecendo-lhes apoio e se fazendo presentes. Esse apoio pode favorecer para que os medos e
expectativas negativas sejam desfeitos com o tempo, pois, conforme Levandowski, Piccinini e
Lopes (2008), ao perceber que é capaz de cuidar de seu filho, o adolescente passa a se sentir
mais seguro.
Idéia Central: Ter que trabalhar pode interromper o processo de escolarização do pai
adolescente.
Expressões Chave:
Eu não terminei a escola e gostaria de, pelo menos, terminar o segundo grau para ter uma
chance melhor de emprego. Mas não sei como vai ser, pois vou ter que trabalhar.
Eu estou tendo que largar os estudos para ir trabalhar.
DSC: Eu não terminei a escola e gostaria de, pelo menos, terminar o segundo grau para ter
uma chance melhor de emprego. Mas não sei como vai ser, pois vou ter que trabalhar. Eu estou
tendo que largar os estudos para ir trabalhar.
O DSC refere que o ingresso no mercado de trabalho sobrepõe-se nas representações
dos adolescentes ao processo de escolarização, talvez ancorados na idéia de pai como provedor
financeiro da falia.
Os pais adolescentes, que necessitam largar a escola para trabalhar, apresentam, segundo
alguns autores, prejuízos na sua formação tanto em relação à escolarização quanto a sua
alocação no mercado de trabalho. (PERSONA; SHIMO; TARALLO, 2004). O pai adolescente,
que assume, ou que consegue assumir sua paternidade e, para isso, interrompe o processo de
escolarização, tem diminuídas suas chances futuras em adquirir melhores postos de trabalho.
Souza (1998), Costa et al (2001), Aquino et al (2003), Cabral (2003) e Santos (2008) referem
que persiste a idéia de que a gravidez na adolescência representaria um poderoso mecanismo de
transmissão intergeracional da pobreza, uma vez que seria a mola propulsora a interromper o
processo de escolarização do jovem e, portanto, constituir-se-ia num obstáculo na busca por
melhores postos de trabalho e remuneração.
Em relação ao processo de escolarização de pais adolescentes, estudo conclui que, entre
jovens de classes médias, observaram-se alterações na condução dos projetos e trajetórias
escolares, que, até então, processavam-se de modo linear. O mesmo não ocorreu entre os jovens
das classes populares, cuja irregularidade das carreiras escolares independeu da paternidade. Os
depoimentos dos homens não deixam dúvida de que o motivo principal para a evasão escolar
61
reside em sua inserção precoce no mercado de trabalho.
A dificuldade de conciliar essas atividades, associada ao forte anseio de ter o próprio
dinheiro, deságua em privilégio conferido ao trabalho em detrimento dos estudos. É muito
comum que os informantes refiram-se ao abandono escolar como uma decisão que partiu deles
próprios, a qual era mantida às expensas de uma eventual oposição dos pais, uma vez que a
renda auferida pelos garotos era em geral usada para consumo próprio, sendo assim uma
contribuição apenas indireta para a renda familiar e o sustento da criança. Sua inserção precoce
no mercado de trabalho não é, assim, legitimada pelos familiares. (HEILBORN et al, 2002).
No entanto, não se deve entender a questão da gravidez na adolescência e a evasão
escolar como causa e efeito. Sousa (2009), Dias e Aquino (2006), referem que o nascimento de
um filho pode ser entendido apenas como mais uma razão para a interrupção dos estudos e, não,
o principal motivo para sua ocorrência, pois muitos adolescentes abandonam a escola antes
mesmo da gravidez.
Segundo Cabral (2003), a adolescência vem sendo construída como uma etapa de
preparação para a vida adulta, ou seja, como um período destinado à escolarização do jovem.
Assim, a interrupção desse processo para trabalhar em decorrência da gravidez gerará
dificuldades no futuro em termos de inserção no mercado de trabalho e nível de renda, devido à
baixa escolarização.
Idéia Central: A falta de apoio familiar dificulta o exercício da paternidade pelo pai
adolescente.
Expressões Chave:
A família dela não nos quer juntos, então vai ser bem difícil. Quero poder ajudar a criança
pelo menos.
Os pais dela não estão ajudando em praticamente nada.
DSC: A família dela não nos quer juntos, então vai ser bem difícil. Os pais dela não estão
ajudando em praticamente nada. Quero poder ajudar a criança pelo menos.
A família é o palco em que se vivem as emoções mais intensas e marcantes da
experiência humana. O resgate e o fortalecimento do vínculo entre pais e filhos é um aspecto
essencial no processo desencadeado frente à gravidez na adolescência. (WAGNER;
LEVANDOWSKI, 2008).
A família é o lugar onde é possível a convivência do amor e do ódio, da alegria e da
tristeza, ou seja, é o lugar onde aprendemos a vivenciar sentimentos antagônicos, no qual
aprendemos a trabalhar vitórias e frustrações. A busca do equilíbrio entre tais emoções, somada
às diversas transformações na configuração familiar têm caracterizado uma tarefa ainda mais
62
complexa a ser realizada pelo adolescente ao constituir sua nova família, pois o mesmo terá que
assumir a paternidade em um momento da vida em que es consolidando sua personalidade.
(WAGNER, 2002). Nas situações em que o adolescente não recebe o apoio da família, poderá
ter dificuldades em lidar com suas emoções, tornando-se mais inseguro e tendo dificuldades
para o enfrentamento da situação vivida.
Desejar o filho, assumir a paternidade pode ser diferente de se projetar como pai.
Enquanto o desejo de ter um filho é ainda um plano de fantasia, imaginar-se pai, receber a
notícia que isso é real, remete-o à frente de responsabilidades que deverão ser assumidas, o que
pode causar-lhe inseguranças e mostrar despreparo, além de intensos conflitos familiares.
Alguns adolescentes podem sentir-se incompreendidos e desamparados por sua família em suas
angústias, uma vez que todos se voltam para a gestante. Frente a esse fato, alguns saem em
busca de amigos, afastando-se do ambiente doméstico, sofrendo sozinhos. (KITAHARA;
ROSSI; GRASSIOTIN, 2005).
A gravidez pode favorecer situações de conflito com a família, como rejeição, críticas
ou punições. (BALLONE, 2003). Nessas situações, o adolescente pode apresentar dificuldades
em assumir seu papel de pai. Com uma estrutura psicológica ainda imatura e sentindo-se
despreparado e inseguro, pode ter dificuldades para cuidar do bebê. Na maioria dos casos, a
família funciona como a principal rede de apoio para o adolescente e, nas situações em que a
mesma não cumpre essa função, as consequências podem oferecer riscos como a falta de
cuidados adequados da criança. Sousa (2009) relata que, por vezes, algumas adolescentes
podem apresentar a falta de desejo de ter o filho até mesmo após o parto e, quando esse fato se
soma à falta de apoio familiar, os riscos para a falta de cuidados com o bebê aumentam.
A família, nesse contexto, representa a base para uma gravidez com menos riscos para a
díade mãe-filho. No entanto, por fatores sócio-econômicos ou culturais, nem sempre ela está
preparada ou se sente capaz de cumprir seu papel. Esteves e Menandro (2005) verificaram que,
ainda hoje, é possível observar adolescentes sendo expulsas de casa em virtude de uma gravidez
nessa fase da vida. Muitas adolescentes, ao revelarem que estão grávidas passam a sofrer
violência tanto física quanto psicológica, sentido-se assim inferiorizadas, culpadas,
discriminadas, humilhadas e punidas em seu próprio lar. (MONTEIRO, 2007). Nessas
situações, a adolescente grávida necessitará do apoio do pai adolescente e de sua família como
forma de minimizar seu sofrimento. Dependendo das crenças familiares e de seus valores
morais, ela pode se sentir impotente e envergonhada frente à gravidez na adolescência. Dessa
forma, o adolescente pode passar a ser o núcleo por onde é descarregada toda a raiva e
insegurança familiar. (MONTEIRO, 2007).
63
Idéia central: A necessidade de sustentar a criança faz com que o pai tenha que entrar
precocemente para o mercado de trabalho.
Expressões Chave:
Preciso arranjar um emprego o mais rápido possível. Acabei de ser chamado em um emprego.
Tomara que dê certo.
Agora o meu dinheiro vai ir todo para o meu filho. Pretendo vender a minha moto também, vai
mudar muito desde já.
Muita coisa, agora vou ter que trabalhar.
Já consegui arranjar um emprego, que era o mais complicado, agora é só esperar.
Agora toda a minha vida vai mudar. Vou correr atrás de emprego, afinal já vou ser pai.
DSC: Agora toda a minha vida vai mudar. Preciso arranjar um emprego o mais rápido
possível. O meu dinheiro vai ir todo para o meu filho, vou vender a minha moto. Vou correr
atrás de emprego, afinal já vou ser pai. Tomara que dê certo.
O DSC evidencia que a gravidez na adolescência apresenta-se como uma das causas da
inserção precoce do adolescente no mercado de trabalho. Assim, a inserção no mercado de
trabalho, para muitos adolescentes, é uma consequência de paternidade. Trindade e Menandro
(2002), em seu estudo, identificaram que o trabalho apresenta-se como fundamental para que o
adolescente possa cumprir com suas responsabilidades frente à companheira e a seu filho.
Estudo sobre as representações de adolescentes acerca de sexualidade, gênero e as
implicações na promoção da saúde verificou que es presente, no discurso dos adolescentes, a
mudança de vida que representaria a questão da paternidade. Esses verbalizam que o pai os faria
trabalhar para sustentar o filho, tendo que estudar à noite. Encontram-se contidas nessa
verbalização as representações relacionadas ao papel de homem na sociedade como provedor e
que, para ser pai, precisam trabalhar. (CARRETEIRO, 2004; TELLES, 2007). Segundo a
autora, cabe ao pai, figura ancorada num modelo patriarcal, fazer com que o filho assuma a
paternidade, que tenha condições de prover o bebê, provando socialmente sua masculinidade
através da capacidade de responsabilizar-se por seus atos.
A autora também verificou, como presente nas representações dos adolescentes, a
necessidade de trabalhar para dar conta do aspecto civil embutido na responsabilidade com a
paternidade. Assim, concomitante com o aspecto moral de valorização e comprovação da
masculinidade, a questão do prover possui o aspecto civil que vem sendo bastante divulgado.
São frequentes as notícias de prisão paterna ou mesmo de avós paternos pelo não pagamento de
pensão alimentícia. Transparece, no discurso dos adolescentes, que isso se constitui uma
desvantagem para o homem, pois quem desfruta do dinheiro é a mãe da criança; então, de certa
forma, a interesseira, que quer tirar vantagens financeiras dos homens, utiliza a gravidez para
concretizar isso. (TELLES, 2007).
Através do trabalho remunerado, os pais procuram contribuir com seu filho e a mãe. No
64
entanto, esse auxílio é muito informal, pois os pais adolescentes, de um modo geral, são
vulneráveis economicamente, têm dificuldades para conseguirem emprego e possuem pouca
formação escolar. (LYRA-DA-FONSECA, 2001).
Idéia central: Para exercer a paternidade, o adolescente, muitas vezes, precisa mudar de casa.
Expressões Chave:
Agora vou tentar conseguir uma casa para nós dois, pois ela vai ter que passar mais tempo com
a criança e não vai poder trabalhar
Conforme for vou ter que me mudar também então não sei o que vai acontecer, espero que
ocorra tudo bem, principalmente com a criança.
DSC: Vou ter que me mudar. Vou tentar conseguir uma casa para nós dois, pois ela vai ter que
passar mais tempo com a criança e não vai poder trabalhar. Não sei o que vai acontecer.
Espero que ocorra tudo bem, principalmente com a criança.
O DSC revela que ter que morar na casa da companheira apresenta-se, para o pai
adolescente, como uma importante mudança na sua vida. A presença do pai junto à e
favorece o crescimento da relação conjugal. O apoio do pai ajuda a mulher a ter uma
experiência mais positiva do nascimento e sua participação junto à mulher pode ajudá-la a
desenvolver sua função maternal. Ao sentir-se envolvido com a paternidade, o homem prepara-
se para participar mais ativamente nos cuidados com o filho. Dessa forma, morar com a
companheira pode favorecer seu vínculo com a mesma e a possibilidade de desfrutar da alegria
da paternidade. (ESPÍRITO SANTO; BONILHA, 2000).
Os pais adolescentes que decidem ir viver com suas companheiras podem considerar
importante mostrar ao filho que pai e mãe estão juntos, fazendo tudo para que o bebê se sinta
bem. Assim, a coabitação pode ser entendida como uma forma de resposta do pai adolescente à
ordem social sobre o compromisso que está sendo estabelecido. (CABRAL, 2003). Estudos
indicam que a busca pela coabitação com a companheira tem como objetivo ajudá-la, como
decorrência de representações de cuidado desenvolvidas ao longo de sua história, dependentes
de suas relações familiares e características individuais, bem como de diretrizes culturais.
(LEVANDOWSKI; PICCININI, 2006).
Em pesquisas, além das variáveis consanguinidade e parentesco, a variável coabitação
tem tido um peso explicativo importante na definição do grupo familiar para adolescentes, por
isso são comuns o casamento e a busca pela conjugalidade por pais adolescentes na
contemporaneidade. (WAGNER; RES-CARNEIRO, 2000; JABLONSKI, 2004; TELLES,
2007).
65
Quando decide sair de sua casa e ir morar na casa da companheira, o pai adolescente
passa pelo processo de separação de sua família de origem, ocorrendo uma separação
psicológica dos pais enquanto filhos, mas, ao mesmo tempo, uma aproximação dos mesmos em
função do desempenho do papel paterno e da nova relação com o bebê com vistas à formação
de seu próprio grupo familiar. (BLOS, 1996; LEVANDOWSKI; PICCININI, LOPES, 2009).
Caso esse processo ocorra de forma positiva favorece o amadurecimento do seu ego,
tornando-o capaz de relacionamentos mais maduros e de assumir novas funções como pai.
(BLOS, 1996).
Segundo Goodyear, Newcomb e Allison (2000), ao constituir a sua própria família, o pai
adolescente estaria tentando viver uma nova experiência de intimidade, criando uma família
própria para amar e ser amado. Assim, sair de casa para morar com a companheira pode
proporcionar um novo e importante vínculo no qual a RS se ancora durante o processo de
separação emocional dos próprios pais. Dessa forma, a paternidade pode auxiliar o jovem pai a
preencher algumas carências afetivas e a coabitação com a companheira pode ser compreendida
como um aspecto positivo para o adolescente. (LEVANDOWSKI; PICCININI; LOPES, 2009).
A permanência do novo casal, que surge a partir do processo gravidez e paternidade na
adolescência, junto à família de origem do rapaz, emerge, em alguns casos, como fator
desencadeante de conflitos uma vez que os pais acabam por participar da vida do casal,
favorecendo a resolução de questões financeiras, mas interferindo em sua relação e na criação
do filho. Esse pode ser um dos motivos que levam o pai adolescente a sair de casa na busca por
constituir a sua própria família. (CORRÊA, 2005).
Idéia central: A paternidade faz com que o adolescente torne-se mais responsável e preocupado
com o cuidado, a educação e o sustento do seu filho.
66
Expressões Chave:
Agora eu vou ter que ser mais responsável
Agora que sou pai tenho que ser mais responsável
Terei que ser mais responsável, pois tenho um filho pra cuidar.
Agora vou ser pai, mais responsável com todas as coisas, com os estudos e com a minha
companheira.
A chegada de um filho muda tudo, tanto para nós dois como casal e também para as nossas
famílias. Vai se tornar difícil algumas vezes porque a responsabilidade é maior, mas acho que
vamos conseguir dar conta.
Me preparar para cuidar do meu filho.
Vários fatores, o principal é que agora vou ter alguém para educar e sustentar.
DSC: A chegada de um filho muda tudo, tanto para nós dois como casal e também para as
nossas famílias. Vai se tornar difícil algumas vezes porque a responsabilidade é maior, mas
acho que vamos conseguir dar conta. Vários fatores, o principal é que agora vou ter alguém
para educar e sustentar. Me preparar para cuidar do meu filho
O DSC sugere que a paternidade confere ao pai adolescente um novo status em relação
ao nível de responsabilidade que passa a vivenciar. Ser pai tráz embutida a idéia da
impossibilidade de alguém ser irresponsável. Meincke e Carraro (2009) referem que, ao
tornarem-se pais, os adolescentes passam a ocupar outras posições sociais decorrentes da
paternidade.
O fato de os pais adolescentes estarem assumindo seus filhos parece ir contra a
tendência comumente aceita de que eles abandonam suas parceiras ou não querem envolver-se
com elas ou seu bebê, devido à pouca idade; contudo, essa seria uma nova tendência em relação
ao evento. Conforme Levandowski (2001), atualmente nota-se um desejo dos adolescentes de
serem pais efetivos, apesar de barreiras percebidas para o seu envolvimento nos mais diversos
aspectos. Os jovens parecem dizer que “se tornam homens” ao assumir a paternidade, ou antes,
que é preciso “ser homem” para “tomar responsabilidade” e assumir o que fez. (CABRAL,
2003).
É certo que a paternidade configura-se muito mais como uma atribuição socialmente
esperada na vida do homem adulto. (CORRÊA, 2005). No entanto, Cabral (2003) refere que, na
visão dos jovens, assumir a paternidade significa ter responsabilidade e assumir as
consequências de suas atitudes, reafirmando o papel de homem. Assumir adquire o significado
de “dou conta”, “sou homem”, atendo às expectativas sociais de gênero que modelam as
atitudes dos sujeitos.
A categoria “responsabilidade” representaria uma nova posição desses jovens perante a
vida: que eles precisam abrir mão das brincadeiras, da zoação, da molecagem e dos excessos
para passar a um outro status que implica a seriedade, obrigações, vínculos, dependência, já que
optaram por assumir a paternidade. (CABRAL, 2003). Bustamante (2005), Levandowski e
67
Piccinini (2006), em seus estudos, verificaram que os jovens relacionam o aumento da
responsabilidade com a redução da liberdade, pois vislumbram de forma mais concreta as
modificações pessoais decorrentes da chegada do bebê com a maior responsabilidade e a
consequente redução da liberdade.
Medrado e Lyra-da-Fonseca (1999), Meincke e Carraro (2009) relatam que a maior
participação das mulheres na vida pública deve corresponder a uma maior participação do
homem na vida privada, representada pela responsabilidade pela vida sexual e reprodutiva, pela
criação dos filhos e pela partilha das atividades domésticas. Palma e Quilodrán (1997)
identificaram a relação entre a paternidade na adolescência e o desenvolvimento de aspectos
como a responsabilidade, sobretudo pelo provimento do filho, além da vinculação dos
adolescentes à família constituída. Trindade e Menandro (2002) relatam que alguns
adolescentes consideram a paternidade como um ganho pessoal, onde se destaca o aumento da
responsabilidade, o amadurecimento e a relação afetiva com o filho.
O assumir a responsabilidade por seu filho mostra um novo pai que quer estar mais
presente, participando ativamente do cuidado com a criança, “paternando”. A paternidade vai se
construindo aos poucos, durante a gravidez, à medida que o homem a barriga de sua
companheira crescer. A materialização do filho com o nascimento desperta no pai o desejo de
proteger e ser responsável por ele, participar de sua vida e, principalmente, cuidá-lo,
transmitindo-lhe valores morais, educativos e de autoridade. (ESPIRITO SANTO; BONILHA,
2000; LEVANDOWSKI et al, 2002).
As mudanças nos tradicionais papéis na família, com o pai assumindo maior
responsabilidade pelo cuidado ao filho, têm gerado um aumento de estudos sobre a paternidade,
em nível mundial. Essas pesquisas têm apontado que a participação do pai no cuidado dos filhos
tem consequências positivas para a família como um todo, favorecendo o aumento do bem-estar
da mãe, aconselhando e orientando o lho, dando liberdade para o filho fazer suas próprias
escolhas, conhecendo o filho primeiro para saber como melhor agir com ele. (ESPIRITO
SANTO; BONILHA, 2000; LEVANDWSKI; PICCININI, 2006).
Idéia central: A paternidade faz com que o pai afaste-se de suas amizades e deixe de ir a festas.
Expressões Chave:
Agora tenho que me cuidar mais, parar com as festas e de andar com os amigos.
DSC: Agora tenho que me cuidar mais, parar com as festas e de andar com os amigos.
O DSC revela que assumir a paternidade representa um impacto na vida social do
adolescente na qual ele passa a não ter tempo para atividades antes rotineiras como o estar com
amigos ou frequentar festas.
68
A maioria dos jovens busca adaptar-se a essa nova etapa da vida de forma a fortalecer o
vínculo familiar, buscando um afastamento das atividades que exercia anteriormente, tidas
como não tão importantes quando comparadas ao nascimento do seu filho e a manutenção dos
laços pai-filho. O ser pai causa mudanças na vida do pai adolescente exigindolhe novas
interações. Essas mudanças podem ser interpretadas como a perda de liberdade, mencionada
pelos adolescentes e traduzida pela diminuição nos contatos sociais e nos programas com os
amigos. (TRINDADE; MENANDRO, 2002).
A experiência da paternidade pode fazer com que o pai adolescente experimente a perda
de sua identidade como adolescente, pois as exigências para que ele se torne uma pessoa mais
responsável, somadas às demandas de cuidado com o filho, podem fazê-lo sentir-se preso a um
novo e diferente modo de vida. No entanto, o convívio com o filho e com a companheira pode
fazê-lo perceber-se como uma pessoa mais madura e responsável. (ANDRADE; RIBEIRO;
SILVA, 2006; GONTIJO; MEDEIROS, 2008).
O nascimento de um filho parece incrementar o processo de transição para a vida adulta.
“Ter responsabilidade”, consequência direta da paternidade, implica a incorporação ou assunção
de novos papéis caracterizados pelos atributos da “seriedade” e da “maturidade”. (CABRAL,
2003, p. 289). A passagem para o status de “pai” implica em uma seriedade maior, em
obrigações.
Os pais adolescentes precisam cuidar-se mais, levar uma vida mais regrada, pois, agora,
um filho que depende deles. Declaram alterações no “cuidar de si”, representadas pela
renúncia aos bailes de briga, assim como é frequente a referência ao “tomei responsabilidade”,
“eu virei homem”. (CABRAL, 2003, p. 289). Estudos apontam discursos nos quais os
adolescentes assinalam as alterações ocorridas no âmbito da sociabilidade, pois os imperativos
do “dar o exemplo” e do “ter que trabalhar” sinalizam uma certa diminuição do “tempo livre”
para o convívio com os pares. (LEVANDOWSKI; PICCINI, 2006).
69
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou evidenciar as representações do adolescente acerca do ser pai na
adolescência, na cidade do Rio Grande, Rio Grande do Sul, através da Teoria das
Representações Sociais. Iniciou fazendo um resgate bibliográfico da gravidez na adolescência
no Brasil, o que mostrou a pouca bibliografia disponível, na área da Enfermagem, mostrando
ser esse um campo rico para pesquisas por enfermeiros.
Os dados do estudo mostram que os principais métodos contraceptivos conhecidos e aos
quais os adolescentes possuem acesso são a pílula e a camisinha. No entanto, percebe-se que
ainda não utilizam métodos preventivos da gravidez ou fazem de forma inadequada. Alguns
utilizam esses métodos apenas no início da relação, mas com o tempo deixam de fazê-lo e o
controle da natalidade, ainda, é deixado pelo adolescente por conta da mulher. Estes dados
evidenciam a grande vulnerabilidade desses adolescentes à gravidez e às doenças sexualmente
transmissíveis.
Apesar de manterem relações sexuais desprotegidas, referem que a gravidez não foi
planejada; aconteceu por descuido ou acidente. No entanto, o estudo mostra que, após o
primeiro impacto, os adolescentes acabam aceitando a gravidez, assumindo a responsabilidade
pelos filhos. Em relação aos sentimentos do pai adolescente frente à informação da gravidez,
verifica-se que, no início, podem mostrar-se desconfiados e descrentes da veracidade desse
diagnóstico para, em seguida, apresentar-se preocupados, tristes e, alguns, com raiva de si
mesmos por não terem usado preservativos. Percebe-se, porém, que, com o tempo, ficam felizes
e alegres com a paternidade.
As principais representações dos pais adolescentes deste estudo acerca das qualidades de
um bom pai são: ser chefe, trabalhar e ser o provedor da família. No entanto, cuidar do filho
apareceu nos discursos de todos os adolescentes, mostrando a existência de uma nova
concepção de paternidade, um pai preocupado também com o cuidado direto à criança.
Em relação ao processo de viver do adolescente a partir da paternidade, verifica-se que a
maioria não se sente preparado para o exercício da paternidade, necessitando de ajuda para
assumir o papel de pai. Todos referem espelhar-se em uma figura masculina de sua família
como fonte de preparo, mesmo aqueles que foram criados pelas mães ou avós, sem a figura
paterna. Como principais facilidades para o desempenho do papel de pai, os adolescentes
apontam o apoio da família, ter um emprego e morar com a companheira. Como dificuldades
referem a falta de emprego ou a abaixa remuneração, o medo de não saber cuidar do filho, a
interrupção do processo de escolarização e, em um dos casos, a falta de apoio familiar.
70
Quanto às mudanças ocorridas na vida do adolescente a partir da paternidade, os
adolescentes referem a entrada precoce no mercado de trabalho, o aumento da responsabilidade
frente ao filho e à companheira, o se afastar das amizades e deixar de ir a festas e,
principalmente, o mudar de casa para coabitar com o filho e a companheira. Neste estudo, o
mudar de casa apresentou-se fortemente referido pelos quatro adolescentes do estudo que
vivenciaram essa situação como apresentando forte impacto pelo rompimento dos vínculos e
relações familiares que possuíam.
Entendemos que tanto o referencial teórico das representações sociais quanto o
referencial metodológico (entrevistas e discurso do sujeito coletivo) apresentaram-se
adequados, possibilitando as considerações aqui apresentadas, assim como permitiu alcançar o
objetivo deste estudo, favorecendo a análise dos dados. Verificou-se que as representações dos
adolescentes vão se modificando ao longo do tempo conforme suas vivências, crenças e valores
fortemente influenciados pelo contexto social no qual estão inseridos.
Chamamos a atenção para a grande dificuldade em obter dados quantitativos acerca da
paternidade na adolescência em nosso país. A ausência de dados sobre a população masculina
nos Sistemas Oficiais de Informação relacionados a Nascidos Vivos e Saúde Reprodutiva
(IBGE e SINASC) evidencia a necessidade de adequação desses sistemas para a viabilização de
pesquisas e ações estratégicas referentes à prevenção da gravidez na adolescência e repetição
dessa ocorrência entre adolescentes. Enquanto esses números não se tornarem oficiais, a pouca
visibilidade dessa problemática pode continuar em evidência.
Outro fato que nos chama a atenção é a pouca atenção que os profissionais da saúde dão
a essa parcela da população. Ainda hoje, os serviços estão organizados para a assistência à
adolescente grávida e pouco se sabe acerca das vivências dos pais, principalmente dos
adolescentes, durante o processo de gestação, parto e cuidados posteriores com os filhos. Ainda
persiste na literatura que o adolescente abandona a companheira grávida e é irresponsável.
Talvez, se tivessem mais apoio dos profissionais da saúde e políticas públicas sociais tendo uma
rede de apoio social, essa realidade fosse diferente. Este estudo revela que o pai adolescente tem
o desejo de estar presente em todos os momentos que envolvem o nascimento de filho e quer
tornar-se pai envolvendo-se afetivamente com o mesmo.
Esperamos, com o presente trabalho, sensibilizar os profissionais da saúde/enfermagem,
que cuidam de famílias no período de gestação, parto e pós-parto, para valorizarem e
estimularem o exercício da paternidade em todos os homens que vivenciam essa experiência.
Assim, estaremos contribuindo para o surgimento de uma nova família, onde os filhos sejam
acolhidos amorosamente pelo pai e pela mãe ao chegarem as suas vidas.
Além disso, é necessário que assumamos o nosso papel educativo junto à população de
71
adolescentes, no sentido de auxiliá-los, a partir do início de sua atividade sexual, a elaborarem
um projeto contraceptivo coerente com suas ações, incluindo a perspectiva masculina como um
importante elemento na saúde reprodutiva, evitando a gravidez não planejada e facilitando o
exercício da paternidade dos adolescentes que estiverem nessa situação. O estudo evidencia que
não basta distribuir métodos contraceptivos e informar os adolescentes quanto ao seu uso. A
situação apresenta-se bem mais complexa do que apenas melhorar o acesso desses adolescentes
aos métodos e ao conhecimento. No entanto, essas são ações mínimas que os serviços de saúde
devem contemplar como forma de auxiliar os adolescentes a terem uma vida sexual e
reprodutiva mais saudável.
Os profissionais da saúde/enfermagem precisam atuar também junto às famílias e aos
profissionais da educação, construindo uma rede de apoio social ao adolescente que, realmente,
leve em consideração questões relativas à vulnerabilidade do comportamento sexual,
sexualidade e contexto social no qual os adolescentes estão envolvidos. Essas ações devem ser
implementadas o mais precocemente possível como forma de instrumentalização do adolescente
para que tenha condições de tomar suas próprias decisões em relação a sua vida sexual e
reprodutiva, diminuindo os preconceitos e estigmas, ainda vivenciados por eles frente à
gravidez e ao exercício da paternidade.
Os futuros pais necessitam ser conhecidos e terem atendidas as suas necessidades, para
que possam desempenhar de forma mais efetiva seu novo papel em idade precoce. A temática
“paternidade adolescente” merece atenção, pesquisas e investimentos políticos e técnico-
científicos, no sentido de melhor compreendê-la enquanto questão social que ora se coloca. A
desconsideração das consequências da paternidade, por sua vez, pode implicar na omissão dos
serviços de saúde e educação no que se refere ao favorecimento da possibilidade dos
adolescentes discernirem quanto aos seus projetos de vida e as implicações de seus atos,
independente de os mesmos escolherem tornar-se pais ou não nesse período de suas vidas.
A enfermagem deve estar consciente de seu papel de orientar e cuidar o novo pai que,
junto a sua companheira, tem a missão de ser pai adolescente e criar seu filho, elaborando
estratégias assistenciais coerentes com o perfil desse usuário dos serviços de saúde. Esperamos
que as representações dos adolescentes acerca da paternidade na adolescência apresentadas
neste trabalho sirvam de referências para outras pesquisas que abordem a temática paternidade
na adolescência, sob a perspectiva dos profissionais da enfermagem, possibilitando novos
olhares acerca da temática.
72
REFERÊNCIAS
ABREU, A. S. G. T.; SOUZA, I. E. O. O pai a espera do parto: uma visão compreensiva do
fenômeno. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1999. p. 52-76.
ABRIC, J. C. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A. S. P.;
OLIVEIRA, D. C. (Org.). Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB,
2000.
ALEXANDRE, M. Representação Social: uma genealogia do conceito. Comum, Rio de
Janeiro, v. 10, p. 122-138, jul./dez. 2004. Disponível em:
<http://www.facha.edu.br/publicacoes/comum/comum23/Artigo7.pdf>. Acesso em: 10 mar.
2009.
ALMEIDA et al. Uso de contracepção por adolescentes de escolas públicas na Bahia. Revista
de Saúde Pública, São Paulo, v. 37, p. 566-75, 2003.
ALMEIDA, A. F. F.; HARDY, E. Vulnerabilidade de gênero para a paternidade em homens
adolescentes. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 565-72, 2007.
AMAZARRAY et al. A experiência de assumir a gestação na adolescência: um estudo
fenomenológico. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 11, n. 3, p. 431-440, 1998.
ANDRADE, P. R.; RIBEIRO, C.A .; SILVA, C. V. Mãe adolescente vivenciando o cuidado do
filho: um modelo teórico. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.59, n. 1, p. 30-35,
jan./fev. 2006.
AQUINO, E. M. L. et al. Adolescência e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis
sociais. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, supl. 2, p. 377-388, 2003.
ARILHA, M. Homens: entre a "zoeira" e a "responsabilidade". In: ARILHA, M.; RIDENTI, S.
G. U.; MEDRADO. B. (Org.). Homens e masculinidades: outras palavras. São Paulo:
ECOS/Editora 34, 1998. p. 51-78.
ARRUDA, A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, n. 117, p. 127-147, nov. 2002.
BALLONE, G. J. Gravidez na Adolescência. PsiqWeb, 2003. Disponível em:
http://sites.uol.com.br/gballone/infantil/adoelesc3.html. Acesso em: 13 jun. 2008.
BELO, Márcio Alves Vieira; SILVA, João Luiz Pinto e. Conhecimento, atitude e prática sobre
métodos anticoncepcionais entre adolescentes gestantes. Rev. Saúde Pública [online], v. 38, n.
73
4, p. 479-487, 2004. ISSN 0034-8910.
BEMFAM (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil), Adolescentes, jovens e a Pesquisa
Nacional sobre demografia e saúde. Um estudo sobre fecundidade, comportamento sexual e
saúde reprodutiva., Rio de Janeiro: BEMFAM, 1999.
BLOS, P. Transição adolescente: Questões desenvolvimentais. Porto Alegre: Artes Médicas,
1996.
BORGES, A. L. V. Relações de gênero e iniciação sexual em mulheres adolescentes. Revista da
Escola Enfermagem, São Paulo, v. 41, n. 4, p.5 97-604, 2007.
BORGES, A. L. V.; SCHOR, N. Início da vida sexual na adolescência e relações de gênero: um
estudo transversal em São Paulo, Brasil, 2002. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
21, n. 2, p. 499-507, mar./abr., 2005.
BORNHOLDT, E. A; WAGNER, A; STAUDT, A. C. P. A vivência da gravidez do primeiro
filho à luz da perspectiva paterna. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, v. 19 n. 1, 2007.
BRANDÃO, E. R.; HEILBORN, M. L. Sexualidade e gravidez na adolescência entre jovens de
camadas médias do Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Publica, Rio de Janeiro, v, 22,
n. 7, p. 1421-30, 2006.
BRASIL. Ministério da Justiça. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n° 8.069, de 13 de
junho de 1990. Brasília: MS, 1991.
______. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Coordenação da Saúde da Criança e do
Adolescente. Programa Saúde do Adolescente. Bases Programáticas. 2. ed. Brasília:
Ministério da Saúde, 1996. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd03_05.pdf. Acesso em: 10 jan. 2010.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde da Mulher.
Assistência em planejamento Familiar: manual técnico. 4. ed. Brasília: MS, 2002.
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Cartilha dos direitos sexuais, direitos reprodutivos e métodos
anticoncepcionais. Brasília: MS, 2006.
BRUNO Z. V. et al. Sexualidade e anticoncepção na adolescência: conhecimento e atitude.
Reprodução Clínica, v. 12, p. 137-40, 1997.
BURNS, M. A. T.; SANTOS, C. Adolescentes: Maternidade e Paternidade Inoportunos. São
74
Paulo: Ômega, 2001.
BUSTAMANTE, V. Ser pai no subúrbio ferroviário de Salvador: Um estudo de caso com
homens de camadas populares. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 3, p. 393-402, 2005.
CABRAL, C. S. Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens pais de uma
comunidade favelada do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúdeblica, Rio de Janeiro, v. 19,
supl. 2, p. S283-S292, 2003.
CAMARANO, A. A. Fecundidade e anticoncepção da população de 15-19 anos. In VIEIRA et
al (Orgs.). SEMINÁRIO GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, São Paulo. Anais... São Paulo:
Associação de Saúde da Família, 1998. p. 35-46.
CARRETEIRO, T. C. Pensando a relação de trabalho entre adolescentes e famílias. In:
SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO DA ANPEPP. 10. Aracruz.
Anais..., Aracruz, p. 43, 2004.
CARVALHO, M. L. M. Participação dos pais no nascimento em maternidade pública:
dificuldades institucionais e motivações dos casais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 19, supl. 2), p. S389-S398, 2003.
CORRÊA, A. C. P.; FERRIANI, M. G. C. Paternidade na adolescência: um silêncio social e um
vazio cientifico. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 27, n. 4, p. 499-505, dez.
2006.
CORRÊA, A.C.P. Paternidade na adolescência: vivências e significados no olhar de homens
que a experimentaram. 2005. Tese (Doutorado em Enfermagem)- Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, 2005.
COSTA et al. Gravidez na adolescência e co-responsabilidade paterna: Trajetória sócio-
demográfica e atitudes com a gestação e a criança. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,
v. 10, n. 3, p. 719-727, 2005.
COSTA et al. Indicadores materno-infantil na adolescência e juventude: sociodemográficos,
pré-natal, parto e condições de nascidos vivos. J. Pediatri., Rio de Janeiro, v. 77, n. 3, p. 235-
242, maio/jun. 2001.
DAVIM, R. M. B. A prática da contracepção: causas de abandono na utilização de métodos
contraceptivos por adolescentes. 1998. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde)- Centro
de Ciências da Saúde, Universidade da Paraíba, João Pessoa, 1998.
DE LATORRE, L. D. Adolescência, sexualidade e AIDS. 2005.Trabalho de Conclusão do
75
Curso de Enfermagem (Graduação)- Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2005.
DIAS, A. B.; AQUINO, E. M. L. Maternidade e paternidade na adolescência: algumas
constatações em três cidades do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 7,
p. 1447-1458, jul. 2006.
DURKHEIN, E. Formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Paulinas, 1989.
ESPIRITO SANTO, L. C.; BONILHA, A. L. L. Expectativas, sentimentos e vivências do pai
durante o parto e nascimento de seu filho. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v.
21, n. 2, p. 87-109, jul. 2000.
ESTEVES, J. R.; MENANDRO, P. R. M. Trajetórias de vida: repercussões da maternidade
adolescente na biografia de mulheres que viveram tal experiência. Estudos de Psicologia,
Campinas, v. 10, n. 3, p. 363-370, 2005.
FERREIRA, T. UNIFESP – Escola Paulista de Medicina. Disponível em:
<http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed159/pesq3.htm>. Acesso em: 15 ago. 2006.
FONSECA, A. D. A Concepção de sexualidade na vivência de jovens: bases para o cuidado
de enfermagem. 2004. 248 f. Tese (Doutorado em Enfermagem)- Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da UFSC, Florianópolis, 2004.
FRANCO, M. L. P. B. S. Representações Sociais, ideologia e desenvolvimento da consciência.
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 34, n. 121, p. 169-186, jan./abr. 2004.
FREITAS, W. M. F.; COELHO, E. A. C., SILVA, A. T. M. C. Sentir-se pai: vivencia masculina
sob o olhar de gênero. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 137-45, jan.
2007.
FRIZZO, G. B.; PICCININI, C. A. Interação mãe-bebê em contexto de depressão materna:
Aspectos teóricos e empíricos. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, p. 47-55, 2005.
GAMA, S. G. N. et al. Gravidez na adolescência fator de risco para baixo peso ao nascer no
município do Rio de Janeiro, 1996 a 1998. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, p.
74-80, 2001.
GARCIA, S. M. Conhecer os homens a partir do gênero e para além do gênero. In: ARILHA,
M.; RIDENTI, S. G. U.; MEDRADO, B. (Orgs.). Homens e Masculinidades: outras palavras
São Paulo: ECOS, 1998. p. 31-50.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
76
GODINHO, R. A. et al. Adolescentes e grávidas: onde buscam apoio? Revista Latino-
Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 2, p. 25-32, 2000.
GONÇALVES, H.; KNAUTH, D. R. Aproveitar a vida, juventude e gravidez. Revista de
Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 2, 2006.
GONTIJO, D. T.; MEDEIROS, M. “Tava morta e revivi”: significado de maternidade para
adolescentes com experiência de vida nas ruas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.
24, n. 2, p. 469-472, fev. 2008.
GOODYEAR, R. K., NEWCOMB, M. D., ALLISON, R. D. Predictors of Latino men's
paternity in teen pregnancy: Test of a mediational model of childhood experiences, gender role
attitudes, and behaviors. Journal of Counseling Psychology, Washington, v. 47, n. 1, p. 116-
128, 2000.
GUIMARÃES, A. M. D. N.; VIEIRA, M. J.; PALMEIRA, A. J. Informações dos adolescentes
sobre métodos anticoncepcionais. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto,
v. 11, p. 293-8, 2003.
GUIMARÃES, E. M. B. Gravidez na adolescência: uma visão multidisciplinar. Pediatria
Moderna, v. 37 (edição especial), p. 29-32, 2001.
HAFFNER, D. W. Facing facts: sexual health for America's adolescents: the report of the
national commission on adolescent sexual health. New York: Sexuality Information and
Education Council of the United States, 1995.
HAGETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
HEILBORN, M. L. et al. Aproximações socioantropológicas sobre a gravidez na adolescência.
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, vol. 8, n. 17, p. 13-45, jun. 2002.
HILL, John P. Understanding early adolescence: aframework. Chapel Hill, NC: Center for
early adolescence, 1980.
JABLONSKI, B. Atitudes de jovens solteiros frente à família e ao casamento: Novas
tendências? In: SIMPÓSIO DE PESQUISA E INTERCÂMBIO CIENTÍFICO DA ANPEPP,
10., 2004, Aracruz. Anais... Aracruz, 2004.
JODELET, D. A Representação Social: fenômenos, conceitos e teoria. São Paulo: Mimeo,
1989.
JONES, R. Pai e paternidade. Disponível em: <www.partodoprincipio.com.br>. Acesso em:
77
20 ago. 2006.
JUNDI, Maria da Graça Insaurriaga. Produção textual de adolescentes
acerca da saúde sexual e reprodutiva: subsídios para atuação de
enfermagem. 2009. 114 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)- Pós-
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande - FURG,
Rio Grande. 2009.
KITAHARA, R. H.; ROSSI, S.; GRASSIOTIN, M. C. B. Participação do pai na gestação,
parto e nascimento: uma questão de cidadania. 2005. Disponível em:
<www.uniandrade.edu.br/links/menu3/publicacoes/revista_enfermagem/artigo076.pdf>. Acesso
em: 15 jan. 2010.
KLEIN, J. D. Adolescent Pregnancy: Current Trends and Issues. Pediatrics, v. 116, n. 1, p. 281-
281, jul. 2005.
LAMB, M. E.; ELSTER, A. B. Parental behavior of adolescent mothers and fathers. In
ARTHUR, B.; ELSTER & MICHAEL, E. Lamb (Eds.), Teenage Fatherhood. Hillsdale:
Lawrence Earlbaum Associates, 1986. P. 89-106.
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A. M. C. O discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em
pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: Educs, 2005.
LEVANDOWSKI, D. C. et al. Paternidade na adolescência e os fatores de risco e de proteção
para a violência na interação pai-criança. Interações, v. 7, n. 13, p. 77-100, 2002.
LEVANDOWSKI, D. C. Paternidade na adolescência: expectativas, sentimentos e a interação
com o bebê. 2001. Dissertação (Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento)-, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001a.
______. Paternidade na adolescência: uma breve revisão da literatura internacional. Estudos de
Psicologia, Campinas, v. 6, n. 2, p. 195-209, jul./dez. 2001b.
LEVANDOWSKI, D. C.; PICCININI, C. A. A interação pai-bebê entre pais adolescentes e
adultos. Psicologia Reflexão e Crítica, v. 15, n. 2, p. 413-424, 2002.
______. Paternidade na adolescência: aspectos teóricos e empíricos. Rev. bras. crescimento
desenvolv. hum.; São Paulo, v. 14, n. 1, p. 51-67, jan./maio 2004.
______. Expectativas e sentimentos em relação à paternidade entre adolescentes e adultos.Teor.
e Pesq., Brasília, v. 22, n. 1, p. 017-028, jan./abr. 2006.
78
LEVANDOWSKI, D. C.; PICCININI, C. A.; LOPES, R. C. S. Maternidade adolescente.
Estudos de Psicologia, Campinas, v. 25, n. 2, p. 251-263, abr./jun. 2008.
______. O Processo de separação-individuação em adolescentes do sexo masculino na transição
para a paternidade. Psicologia e Reflexão Crítica, vol. 22, n. 3, p. 353-361, 2009.
LIMA, C. T. B. et al. Percepções e práticas de adolescentes grávidas e de familiares em relação
à gestação. Rev. Bras. Saúde Mat. Infant., Recife, v. 4, n. 1, p. 71-83, 2004.
LIMA, I. C. Gravidez na adolescência: atitudes e responsabilidade paterna. 2002. Dissertação
(Mestrado)- Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2002.
LUZ, A. M. H.; BERNI, N. I. O. Processo da paternidade na adolescência. Revista Brasileira
de Enfermagem, Brasília, vol.63, pp. 43-50, 2010.
LYRA-DA-FONSECA, J. L. C. Paternidade adolescente: uma proposta de intervenção. 1997.
182 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social)- Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 1997.
LYRA-DA-FONSECA, J. L. C. Paternidade adolescente: dainvestigação à intervenção. In:
ARILHA, M.; RIDENTI, S. G. U.; MEDRADO, B. (Orgs.). Homens e masculinidades: outras
palavras. São Paulo: ECOS, 1998. p. 185-211.
LYRA-DA-FONSECA, J. L. C. Paternidade adolescente: da investigação à intervenção, pp.
185-214. In: ARILHA, S. G. U.; MEDRADO, B. (Orgs.). Homens e masculinidade: outras
palavras. São Paulo: Ecos, 2001.
LYRA, J. Paternidade na adolescência: percorrendo a bibliografia. Disponível em:
<http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/Todos/Posteres/Paternidade%20na%20
Adolesc%C3%AAncia%20-%20Percorrendo%20a%20bibliografia.pdf>. Acesso em: 15 set.
2006.
MALDONADO, M. T.; DICKSTEIN, J.; NAHOUM, J. C. s estamos grávidos. 10. ed. São
Paulo: Saraiva, 1997.
MANDÚ, E. N. T. Gravidez na Adolescência: um problema? In: RAMOS, F. S.;
MONTICELLI, M.; NITSCHKE, R. G. (Org.). Projeto Acolher: um encontro da enfermagem
com o adolescente. Brasília: ABEn: Governo Federal, 2000. p. 94-97.
MANDÚ, E. N. T. Adolescência: saúde, sexualidade e reprodução. Páginas 61-74 In:
79
Associação Brasileira de Enfermagem. Projeto Acolher: adolescer: compreender, atuar,
acolher. Brasília: ABEn, 2001.
MEDRADO, B.; LYRA-DA-FONSECA, J. L. C. A adolescência "desprevenida" e a
paternidade na adolescência: uma abordagem geracional e de gênero. Disponível em:
<http://www.abmp.org.br/textos/449.htm>. Acesso em: 25 jan. 2010.
MEINCKE, S. M. K.; CARRARO, T. E. Vivência da paternidade na adolescência: sentimentos
expressos pela família do pai adolescente. Texto e Contexto Enfermagem, Florianópolis, v, 18,
n. 1, p. 83-91, jan./mar., 2009.
MONTEIRO, C. F. S. et al. A violência intra-familiar contra adolescentes grávidas. Revista
Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 4, p. 373-376, 2007.
MONTGOMERY, M. O novo pai. 5. ed. São Paulo: Gente, 1998.
MONTMAYOR, Raymond. Boys as fathers: Coping with the dilemmas of
adolescence. In Elster, Arthur B.; Lamb, Michael E. (Eds.). Adolescente
fatherhood. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum, 1986. p 1-18.
MOSCOVICI, S. Psicologia Social – Representações Sociais – Investigações em psicologia
social. 5, ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
MOTTA, M. G. C. et al. Vivências da mãe adolescente e sua família. Acta Scientiarum, 2004, v.
26, n. 1, p. 249-56.
MOURA, M. S. Q. Características clínicas e nutricionais de gestantes e adolescentes e
jovens acompanhadas no pré-natal: Hospital Geral Clériston Andrade. 2003. Dissertação
(Mmestrado)- Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2003.
NASCIMENTO, A. X. Representação social da maternidade para mães adolescentes e para
profissionais da saúde. (Dissertação de Mestrado). Universidade de Pernambuco, Faculdade de
Odontologia de Pernambuco, Camaragibe, 2006.
NUNES, C. E. G. Adolescência e paternidade: um duelo de papéis sociais. Psicologia, v. 29, n.
1, p. 125-138, 1998.
OMS. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Disponível em:
<http://www.who.int/en/index.html>. Acesso em:20 ago. 2009.
ORLANDI, R; TONELI, M. J. F. Sobre o processo de constituição do sujeito face à paternidade
na adolescência. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 11, n. 18, p. 257-267, dez. 2005.
80
OUTEIRAL, José O. Adolescer: estudos sobre adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas,
1994.
PAIVA, A. N.; CALDAS, M. L. C. S.; CUNHA, A. A. Perfil psicossocial da gravidez na
adolescência. In: MONTEIRO, D. L. M.; CUNHA, A. A.; BASTOS, A. C. (Org.). Gravidez na
adolescência. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.
PALMA, I.; QUILODRAN, C. Opções masculinas: jovens diante da gravidez. In: COSTA, A.
O. (Org.). Direitos tardios: saúde, sexualidade e reprodução na América Latina. São Paulo: Ed.
34, 1997. p. 141-171.
PARKE, R. D. Fatherhood. London: Harvard University Press, 1996.
PERSONA, L.; SHIMO, A. K. K.; TARALLO, M. C. Perfil de adolescentes com repetição da
gravidez atendidas num ambulatório de pré-natal. Revista Latino Americana Enfermagem,
Ribeirão Preto, v. 12, n. 5, p.7 4-50, set./out. 2004.
PERUCCHI, J.; BEIRÃO, A. M. Novos arranjos familiares: paternidade, parentalidade e
relações de gênero sob o olhar de mulheres chefes de família. Psicologia Clínica, v. 19, n. 2,
dez. 2007.
PICCININI, C.A. et al. Expectativas e sentimentos da gestante em relação ao seu bebê.
Psicicologia Teórica e Pesquisa, v. 20, n. 3, p. 223-32, Sept./Dec. 2004.
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enfermagem
métodos, avaliação e utilização. 5. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2004.
REIS, Janet S.; HERZ, Elicia J. Correlates of adolescente parenting. Adolescence, v. 22, p. 599-
609, 1987.
RICO, A. Paternidade. Disponível em: www.guiadobebe.uol.com.br. Acesso em: 15 dez. 2009.
ROHDE, L. A. et al. A função paterna no desenvolvimento do bebê. Revista de Psiquiatria do
Rio Grande do Sul; Porto Alegre, v. 13,n. 3, p. 127-35, 1991.
RUSSELL, Candice S. Unscheduled parenthood: transition to "parent" for the teenager.
Journal of Social Issues, v. 36, n. 1, p. 45-63, 1980.
81
SAITO, M. I.; LEAL, M. M. Aspectos éticos da contracepção na adolescência. Rev. Assoc.
Méd. Bras., v. 49, p. 234-4, 2003.
SANTOS, A. L. D . Histórias de Jovens que Vivênciaram a maternidade na adolescência
menor: um reflexão sobre as condições de vulnerabilidade. 2006. Tese (Doutorado em Saúde
Pública)- Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública. Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2006.
SANTOS, I. B. Maternidade e paternidade na adolescência: uma reflexão necessária.
Disponível em:
http://www.unama.br/extensao/sit/moduloI/paginasartigos/Maternidadeepaternidadenaadolescen
ciaumareflexao.doc. Acesso em: 15 abr. 2010.
SANTOS, I. M. M.; SILVA, L. R. Estou grávida, sou adolescente e agora? - Relato de
experiência na consulta de Enfermagem. In: Ramos, F. R. S; Monticelli, M.; Nitsche, R.
G.(Org.). Projeto Acolher: um encontro da enfermagem como adolescente brasileiro. Brasília:
ABEn, 2000. P. 176-182
SANTOS, J. L. O. Menino que faz menino ainda é menino? A invisibilidade da paternidade
adolescente. In: Resumos Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder, Florianópolis, ago.
2008.
SCHNEIDER, J. F. et al. A paternidade na perspectiva de um grupo de pais. Revista Gaúcha
de Enfermagem., Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 113-22, jul. 1997.
SIQUEIRA, M. J. T. et al. Profissionais e usuárias(os) adolescentes de quatro programas
públicos de atendimento pré-natal da região da grande Florianópolis: onde está o pai? Estudos
de Psicologia, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 65-72, 2002.
SIQUEIRA, M. J. T. Novas formas de paternidade: repensando a função paterna à luz das
práticas sociais. In: SILVA, A. L.; LAGO, M. C. S.; RAMOS, T. R. O. (Org.) Falas de gênero.
Florianópolis: Mulheres, 1999. p. 187-202.
SOARES, E. Metodologia Científica: lógica, epstemologia e normas. São Paulo: Atlas, 2003.
SOUSA, L. D. O significado da maternidade para mães adolescentes á luz da teoria das
representações sociais. 2009. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)- Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2009.
SOUZA, M. M. C. A maternidade nas mulheres de 15 a 19 anos como desvantagem social. In:
VIEIRA, E. M. et al (Org.). SEMINÁRIO GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, 1998, Rio de
Janeiro. Anais...., 1998.
82
SZEJER, M; STEWART, R. Nove meses na vida de uma mulher. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1997.
TAKIUTI, A. D. A paternidade na adolescência. CONGRESSO BRASILEIRO DE
ADOLESCÊNCIA, 2001, Salvador. Anais... Salvador, v. 1, 2001. p. 96.
TELLES, K. S. Representações de adolescentes acerca de sexualidade, gênero e as
implicações na promoção da saúde. 2007. 188 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)-
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande, Rio
Grande, 2007.
TETI, Douglas M.; LAMB, Michael E. Sex-role learning and adolescent fatherhood. In
ELSTER Arthur B.; Lamb Michael E. (Eds.). Adolescent fatherhood. Hillsdale, New Jersey:
Lawrence Erlbaum, 1986. p 19-30
TRINDADE, E.; BURNS, M. A. T. Adolescentes e paternidade: um enfoque fenomenológico.
Ribeirão Preto: Holos, 1999.
TRINDADE, R. F. C. Entre o Sonho e a Realidade: a maternidade na adolescência sob a
ótica de um grupo de mulheres da periferia da cidade de Maceió – Alagoas. 2005. Tese
(Doutorado em Enfermagem)– Programa de Doutoramento em Enfermagem.Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2005.
TRINDADE, Z. A.; MENANDRO, M. C. S. Pais adolescentes: vivência e significação.
Estudos de Psicologia, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 15-23, 2002.
UNICEF - A Voz dos Adolescentes. Disponível em:
<http://www.unicef.org/brazil/pt/vozdosadolescentes02.pdf>. Acesso em: 25 ago 2009.
VENTURA, M.; CORRÊA, S. Adolescência, sexualidade e reprodução: construções culturais,
controvérsias normativas, alternativas interpretativas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 22, n. 7, p.1505-1509, jul. 2006.
VIEIRA L. M. et al. Reflexões sobre a anticoncepção na adolescência no Brasil. Revista
Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 6, n. 1, p. 135-140, jan./mar. 2006.
VILLELA, W.; BARBOSA, R.. Opções contraceptivas e vivências de sexualidade: Comparação
entre mulheres esterilizadas e não esterilizadas em região metropolitana do Sudeste do Brasil.
Revista de Saúde Pública, v. 30, p. 452-459, 1996.
83
VILLELA, W. V; DORETO, D. T. Sobre a experiência sexual dos jovens. Cad. Saúde Pública,
Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, p. 2467-2472, nov. 2006.
WAGNER, A. Possibilidades e potencialidades da família: A construção de novos arranjos a
partir do recasamento. In: WAGNER, A. (Org.). Família em cena: tramas, dramas e
transformações. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 23-38.
WAGNER, A.; FÉRES-CARNEIRO, T. O recasamento e a representação gráfica da família do
adolescente. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 8, n. 1, p. 11-19, 2000.
84
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
Eu, Pablo Vitorio Annunziato Ruivo (pablo[email protected]m, CI: **********),
venho respeitosamente, através do presente, solicitar sua colaboração no sentido de participar
do trabalho de pesquisa que será por mim desenvolvido: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
PAIS ADOLESCENTES ACERCA DO SER PAI” NA ADOLESCÊNCIA. O objetivo deste
estudo é conhecer as representações sociais de pais adolescentes acerca do “ser pai” na
adolescência.
O mesmo é orientado pela Profª. Enfª. Drª. Giovana Calcagno Gomes
(acgomes@mikrus.com.br, CI: **********) e será realizado através de entrevistas.
Pelo presente Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que fui informada de forma
clara e detalhada dos objetivos, da justificativa, e da metodologia do trabalho através de
entrevista individual. Fui igualmente informado (a):
Da garantia de requerer resposta a qualquer pergunta ou dúvida acerca de qualquer
questão referente ao trabalho;
Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar
do trabalho, sem que me traga qualquer prejuízo;
Da segurança de que não serei identificado(a) e que se manterá caráter confidencial das
informações relacionadas à minha privacidade;
De que serão mantidos todos os preceitos éticos e legais durante ou após o término do
trabalho;
De compromisso de acesso a todas as informações em todas as etapas do trabalho bem
como da análise da coleta de dados.
Nome do/a participante: ___________________________________________________
Assinatura: _____________________________________________________________
Nome do/a responsável legal: _______________________________________________
Assinatura: _____________________________________________________________
Local: __________________________________________________ Data: __/__/20__
_____________________________________ _______________________________
Profª. Drª. Giovana Calcagno Gomes Enfº. Pablo V. Annunziato Ruivo
(pesquisador responsável) (pesquisador principal)
85
APÊNDICE B - ROTEIRO DE COLETA DE DADOS
Nome:
Idade:
Escolaridade:
01. Que idade seu pai tinha quando você nasceu?
02. O que é ser pai para você?
03. Dê um exemplo de pai para você?
04. Que qualidades um homem deve ter para ser um bom pai?
05. Você conhece alguém assim?
06. Há quanto tempo está junto com a companheira?
07. A gravidez foi planejada?
08. Como aconteceu a gravidez?
09. Que método contraceptivo vocês usavam? Se não usavam que dificuldades tiveram para
utilizar?
10. Quando soube que seria pai?
11. Que sentimentos esta notícia lhe despertou?
12. Você se sente preparado para ser pai?
13. Que dificuldades você acha que enfrentará para desempenhar seu papel de pai?
14. A quem irá recorrer frente a dificuldades?
15. Que facilidades você acha que terá para desempenhar seu papel de pai?
16. Em que você acha que sua vida mudará a partir da paternidade?
86
ANEXO PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA NA ÁREA DA SAÚDE -
CEPas
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo