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Ponta do Caju e Ilha dos Ferreiros. O estuário se estreitava progressivamente em
direção ao seu interior, sofrendo uma inflexão para a esquerda até atingir a área
correspondente a atual Praça XV. Seus principais contribuintes eram os rios Iguassú
(atual Rio Comprido), Maracanã, Trapicheiros, Joana e Catumbi, que descreviam
meandros de maré no trecho de planície, atravessando extensos manguezais.
Esses manguezais, chamados de Pantanal de São Diogo (ou ainda Mangual
de São Diogo) possuíam uma superfície de 8,0 km², atingindo à direita o atual
Campo de Santana, antigo terraço de areias marinhas elevado em relação aos
mangues, e à esquerda em direção a atual Praça da Bandeira, prosseguindo como
brejo (tejuco) até a Tijuca
Para ratificar essa distinção entre o mangual de São Diogo e Saco de São
Diogo, comumente confundidos pela denominação semelhante, Teixeira Filho (1975,
apud Pinheiro Filho, 2008 p. 74 ) faz o seguinte relato:
O Saco de São Diogo, aberto para o mar a oeste do Morro de São Diogo,
conforme aparece na carta, recebia as águas dos rios depois chamados Maracanã,
Trapicheiros, Joana e Comprido e de diversos riachos que nele desaguavam, indo até
a foz do rio Comprido, na altura da atual Avenida Presidente Vargas. Nesse ponto
bifurcava-se em forma de estreitos canais, vindo um deles terminar na altura da atual
Praça Onze de Junho e, o outro, nas imediações da atual rua do Santana na altura do
prédio de O Globo, formando o chamado Mangue de São Diogo, imenso pântano que
se estendia da atual Praça Onze ao início das praias Formosa e dos Lázaros.
O areal do Campo de Santana era coberto por uma vegetação herbácea-
arbustiva, supunha Amador (1997), baseado na vegetação de algumas restingas
locais. O porte arbustivo desta vegetação deu origem ao termo campo na
denominação de áreas como: Campos da cidade, Campo de São Domingos e
Campo da Lampadosa, que foram utilizados para pastagens de gado, que nos
primeiros séculos de ocupação, alimentaram o colonizador.
Algumas lagunas rasas, dentre as quais, a da Sentinela, Pavuna ou
Lampadosa e da Panela, tinham ligação com o estuário através de canais de maré.
Estas estavam ligadas ao estuário em sua origem e representavam uma fase de
evolução do complexo ecossistema estuarino.
O estuário orlado por manguezais e lagunas era abundantes em peixes,
moluscos, camarões, caranguejos e siris, que alimentam diversas aldeias dos
Tamoios localizadas no entorno do estuário, e implantadas sobre outeiros ou terraços.
Uma variada avefauna, de guarás, colhereiros, marrecos, irerês, biguás, garças e
soços aninhavam nas árvores de Mangie e se alimentavam nos baixios de maré. Uma
fauna de pacas, antas, veados, capivaras, porcos do mato, onças e macaco, entre
outros, povoavam principalmente a área situada entre a densa Mata Atlântica que
cobria o topo e as abas dos morros, dos mangues, brejos e pântanos periféricos. A