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UNIVERSIDADE
PRESBITERIANA
MACKENZIE
Arq. Edson Lucchini Jr.
Orientadora: Drª Ruth Verde Zein
São Paulo 2010
edifícios residenciais
Adolf Franz Heep:
Um estudo da sua contribuição para a habitação
coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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edifícios residenciais
Adolf Franz Heep:
Um estudo da sua contribuição para a habitação
coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
edifícios residenciais
Adolf Franz Heep:
Um estudo da sua contribuição para a habitação
coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Arq. Edson Lucchini Jr
Orientadora: Drª Ruth Verde Zein
São Paulo 2010
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie para obtenção do tulo de Mestre em Arquitetura
e Urbanismo
Agradecimentos
Aos meus avós Vioria e Domenico, que deram os primeiros
passos...
Aos meus pais Rosa Maria e Edson, que ampararam os
meus passos...
Aos queridos Renzo, Monica, Marilda, Dario, Luiz e Sonia,
que me ajudaram a desviar das pedras.
Ao meu amigo, irmão e sócio Ricardo Ruiz Martos, pelo
companheirismo, exemplo e paciência.
Ao amigo Friedrich Blanke e Marcia Prata, pela hospitalidade
e a imensa colaboração com meu trabalho, com materiais
e informações fundamentais.
À Diney e Reinaldo Martos pelo constante incenvo à
carreira acadêmica e às correções deste trabalho.
À Ruth Verde Zein, minha orientadora, pelas inúmeras
oportunidades oferecidas para a ampliação do meu
conhecimento, além de me ensinar a escrever tecnicamente
e analisar uma obra de arquitetura.
Ao amigo e professor Mario Arturo Figueroa Rosales, que
me ensinou a ver a arquitetura que estudo hoje.
Aos integrantes da minha banca de qualicação Paulo J. V.
Bruna, Mario Figueroa e Ruth Verde Zein pelas pernentes
considerações que foram fundamentais para a evolução
deste trabalho.
Ao amigo Fernando Marnelli, pela cordialidade e o
fornecimento de um material precioso para esta pesquisa.
Aos engenheiros Aizik Helcer, André Gorenstein e equipe
da Construtora Auxiliar pelos depoimentos e materiais
fornecidos.
Ao arquiteto Ruy Debs Franco, que nem imagina o quanto
me movou e inspirou para a execução deste trabalho.
Ao mestre Adolf Franz Heep, por ter deixado ómos
edicios que inspiraram esta dissertação.
para
Domenico Serio
1918-2010
e
Carlos Alberto Ferreira
1948 - 2010
As razões que me levaram a escolher a obra
residencial vercal de Adolf Franz Heep como tema deste
trabalho, são fruto de referenciais oriundos da infância,
somados a uma considerável coincidência recente.
Nos anos 1980, eu morava na cidade de Jundiaí,
e visitava meus avós em São Paulo aos nais de semana.
Enquanto os meninos daquela vila da Mooca queriam
jogar futebol, a minha alegria era passear de metrô com o
meu avô, principalmente em direção ao centro da cidade.
Embarcávamos na estação Belém e descíamos sempre
na estação República. O fato do nível da plataforma estar
muito abaixo do nível da cidade, faz com que a República
seja uma estação dotada de muitas escadas rolantes, e
isto, para uma criança, é muito atravo.
Quando subíamos o úlmo lance de escadas da
estação, que leva à supercie, a cidade ia aparecendo
gradualmente, e toda a sua pujança ia se revelando, na
velocidade da escada rolante. Neste momento, formava-
se em minha rena a imagem do edicio que mais me
impressionava: o Itália, que, até então, eu nem imaginava
que era um projeto de Franz Heep. Hoje, depois de uma
certa vivência prossional e acadêmica, consigo juscar
o encantamento pelo Itália sob premissas arquitetônicas,
mas quando era criança, eu conseguia dizer que adorava
aquele prédio, mas sem saber exatamente o movo.
Posso dizer que a minha relação com o centro
da cidade, que desde criança era forte, se intensicou
no momento em que passei a estudar arquitetura na
Universidade Mackenzie. Em alguns momentos, quando
me dispersava da aula, olhava pela janela do prédio nove
e conseguia ver o topo do edicio Itália e um pedaço do
Copan; era um privilégio, para um aluno de arquitetura,
olhar para o lado e ver estes ícones da arquitetura
paulistana tão próximos.
No sémo semestre do curso, o meu então
professor, Mario Figueroa, organizava passeios pelo centro
com os alunos. Nesta época, ele escrevia o seu doutorado
sobre edicios residenciais modernos no centro de São
Paulo; com os passeios, Mario mostrava aos estudantes
estes edicios in loco e contava um pouco da história de
cada um. Foi neste momento que entendi, de uma maneira
Uma das saídas da estação República do metrô de São Paulo
Foto: Edson Lucchini Jr
Edicio Itália - 1956 - Adolf Franz Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Apresentação
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
V
mais técnica e aprofundada, a importância de edicios
que desde criança me chamavam a atenção além do Itália,
como o Viadutos (Artacho Jurado) e a Galeria Metrópole
(Salvador Cândia e Gian Carlo Gasperini).
Dentre os edicios residenciais que víamos nos
passeios, dois me despertaram um maior interesse: o
Ouro Preto, situado na avenida São Luiz, e o Lausanne, na
avenida Higienópolis. Quando Mario Figueroa me disse
que estes edicios haviam sido projetados pelo mesmo
arquiteto do Itália, um alemão chamado Adolf Franz Heep,
quis conhecer outras obras deste arquiteto, até então
desconhecido para mim.
Com o doutorado de Figueroa, pude conhecer mais
dois edicios residenciais de Heep: o Icaraí, situado na
praça Roosevelt e o Normandie, na 9 de Julho.
Este interesse pela habitação vercal, produzida
pela arquitetura moderna em São Paulo, me levou à escolha
deste tema para a elaboração da monograa nal do curso
de arquitetura; nela, z um chamento pouco aprofundado
de treze edicios modernos de habitação no centro de São
Paulo, sendo que dentre eles, cinco eram de Franz Heep.
Cinco anos após a conclusão do curso de arquitetura,
resolvi retomar o contato com os estudos e optei pelo
mestrado. A escolha do tema ocorreu de maneira muito
natural, devido ao meu grande interesse pela habitação
vercal moderna. Mas era necessário um recorte mais
preciso de toda esta vasta produção; foi aí que meu amigo
e sócio, Ricardo Ruiz Martos, me disse: Você não adora o
Heep? Então, estude a obra do Heep! Neste momento,
surgia o meu tema de mestrado: os edicios residenciais de
Franz Heep em São Paulo.
Edicio Lausanne - 1953-58 - Adolf Franz Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Ouro Preto - 1954-57 - Adolf Franz Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
VI
Com o mestrado em andamento, uma grande
coincidência reforçou ainda mais a escolha do tema.
Nos anos 1960, minha avó, Vioria Birolini, e meu avô,
Domenico Serio (o mesmo que passeava comigo de metrô)
adquiriram um apartamento de veraneio na cidade de São
Vicente, no litoral paulista; foi o local onde passei muitas
de minhas férias, na infância e adolescência.
Em meados do ano de 2008, Friedrich Blanke, um
amigo alemão que também estuda a obra de Franz Heep,
me mostrava uma relação de obras do arquiteto no Brasil;
ao observar a lista ve uma grande surpresa: o edicio
Jequibá, onde eu passava minha férias em São Vicente, é
de autoria de Heep. Dentre as centenas de edicios situados
na orla de Santos e São Vicente, meus avós compraram
justamente um apartamento num edicio de Franz Heep,
sem saberem a autoria do projeto e sem imaginarem que,
décadas mais tarde, eu viria a me interessar pela obra
deste arquiteto.
Além das juscavas citadas, outro fator que
contribuiu para escolha do tema é a ausência de estudos
mais aprofundados sobre a produção residencial vercal
de Heep. Encontram-se na internet, em dissertações de
mestrado, periódicos e livros, inúmeras publicações sobre
os edicios mais famosos, como o Itália, o Lausanne e o
edicio do jornal O Estado de São Paulo; porém, ainda não
uma obra que tenha como foco a produção de Heep
para o intenso mercado imobilário paulistano dos anos
1950.
Diante de todas estas considerações pessoais,
emocionais e arquitetônicas, creio ser válida e verdadeira a
escolha deste tema, que visa resgatar e difundir a imagem
de Adolf Franz Heep e a sua grande contribuição para a
arquitetura, através de seus edicios residenciais.
Edicio Jequibá
Edicio Jequibá e a intensa vercalização da orla de Santos e São Vicente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Jequibá - 1957 - São Vicente, SP - Adolf Franz Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
VII
Sumário
Parte I
Parte II
Introdução
Os edicios: objetos de estudo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Acerca dos objevos desta pesquisa
6
Sinopse / Abstract
4
Metodologia de trabalho
7
Referenciais teóricos
9
Da necessidade de reconhecimento de uma
práca projetual
11
Modernidade de berço: a trajetória de Adolf
Franz Heep da Europa ao Brasil
13
Algumas obras não residenciais signicavas
17
A cidade que mais cresce no mundo: panorama
da modernização e vercalização de São Paulo
no pré e pós 2ª guerra
21
3.1 - Edicio do jornal O Estado de São Paulo
17
3.2 - Edicio Casa da França
18
3.3 - Edicio Souza Naves
18
3.4 - Edicio São Marcos
18
3.5 - Edicio Itália
19
3.6 - Igreja São Domingos
20
5.1 - Critérios metodológicos de análise
26
5.2 - Critérios de ordenação das análises
27
5.3 - Tabela geral dos edicios a serem
analisados
28
Parte III
Conclusões
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
As análises
30
6.1 - Edicio Ouro Verde
31
113
142
160
7.1 - Tabela com os demais edicios de Heep
em São Paulo
249
7.2 - Considerações sobre os edicios não
analisados
251
8.1 - Inserção Urbana
253
8.2 - Insolação e conforto térmico
257
8.3 - Fachadas
261
8.1.1 - Valorização e entendimento de
esquinas
254
8.3.1 - Grelhas
261
8.1.2 - Térreos elevados
255
8.1.3 - Implantação
256
6.2 - Edicio Normandie
50
6.3 - Edicio Icaraí
78
6.4 - Edicio Iba
94
6.5 - Edicio Lausanne
6.6 - Edicio Ouro Preto
6.7 - Edicio Lucerna - Cine Comodoro
6.8 - Edicio Araraúnas
183
6.9 - Edicio Guaporé
202
6.10 - Edicios Lugano e Locarno
226
Sumário
2
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
3
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Sumário
8.4.1 - Geometria e racionalização
274
8.4.2 - Setorização e uxos
274
8.4.3 - Arranjos espaciais e racionalização
hidráulica
276
8.3.2 - Composição entre caixilhos,
guarda-corpos, oreiras e cobogós; célula
e todo
263
8.3.3 - Fachadas livres e caixilhos piso-teto
265
8.3.4 - Cobogós
266
8.3.5 - Uniformidade nas fachadas,
dissimulação das comparmentações
internas e aleatoriedade
268
8.3.6 - Ordem, simetria, assimetria e
hierarquia
270
8.3.7 - Coroamentos
271
8.3.8 - Fachadas laterais e de fundos
273
8.4 - Plantas
274
9.1 - Considerações nais
283
9.2 - Bibliograa
284
9.3 - Anexos - desenhos originais
287
8.5 - Importância do detalhe bem resolvido
278
Capítulo 9
Abstract
Sinopse
Adolf Franz Heep foi uma das mais importantes
personalidades a deixar sua marca no pujante cenário
arquitetônico paulistano e brasileiro dos anos 1950 e 1960;
neste período, ele projetou inúmeros edicios, sendo
que alguns deles se tornaram referências da arquitetura
brasileira tendo contribuído para as transformações que
elevaram a cidade de São Paulo ao patamar de metrópole
moderna.
Nascido na cidade de Fachbach, Alemanha, no ano
de 1902, Heep forma a sua personalidade arquitetônica
num momento histórico em que as discussões sobre os
conceitos de moradia mínima e de racionalização eram
recorrentes. Em Paris, nos anos 1930, após trabalhar
com Le Corbusier, desenvolve alguns edicios vercais de
habitação para a classe média, em sociedade com Jean
Ginsberg; esta experiência foi fundamental para a denição
das bases de sua produção paulistana, anos mais tarde.
Após a guerra mundial, Franz Heep chega a São
Paulo, onde atuará na consolidação e racionalização de
um modelo vercal de morar, produzindo duas dezenas de
edicios residenciais que serão o objeto desta pesquisa.
A parr de um reconhecimento sistemáco dessa
produção foi realizado o estudo pormenorizado, de caráter
descrivo e analíco de uma amostra de dez edicios
projetados por Heep em São Paulo, destacando os seus
aspectos espaciais, pláscos, técnicos e urbanos; como
método para aprofundar os estudos, os edicios foram
redesenhados em meio digital, não apenas com o intuito
de ilustrar as situações descritas no texto, mas também de
registrar gracamente as suas condições originais.
Esta pesquisa visa não apenas gerar uma
documentação gráca de qualidade acerca dos edicios
residenciais de Franz Heep, mas também idencar
elementos recorrentes, que revelam o perl projetual
do arquiteto, contribuindo para o conhecimento mais
aprofundado de sua obra e a ampliação do reconhecimento
da arquitetura moderna brasileira e paulistana.
Adolf Franz Heep was one of the most important
personalies to live his mark over the strong architectonic
scenarios in São Paulo and Brazil in the years of 1950 and
1960. Around that period, he had projected countless
buildings in a way that some of than turn to be a reference
of the Brazilian architecture along with a contribuon to
transform São Paulo in one of the cies that reach status
of modern metropolis.
Born in the city of Fachbach in Germany on the year
of 1902, Heep develops his architectonics personality during
a special moment in the history when appealing discussions
about minimal dwelling places and raonalizaon were
frequent. In Paris during 1930 years, aer have worked for
Le Corbusier, he develops various vercal housing buildings,
focusing the middle class, together with Jean Ginsberg.
That experience was fundamental for the denion of the
basis in his producon in Sâo Paulo City later on.
Aer the World War Franz Heep arrives in
São Paulo were he worked on the consolidaon and
raonalizaon of a vercal way of leaving the same me as
he produced two groups of ten buildings, witch will be the
object of this research.
Beginning from the systemac recognion of this
producon, it was accomplish a detailed scruny, focusing
analyses and descripon on a sample of ten buildings
developed by Heep in São Paulo, enhancing its spaal,
plascs, technical and urban aspects as a method to go
deeper on the dissecon of the buildings itself. Those
buildings, chosen to be the object of the analyses, were
redesigned by digital methods not only to illustrate the
diverse situaon described in the text, but to record
graphically the original condions of the project made by
Heep.
This research aim, not only, generate quality
graphical documentaon about the residenal buildings
projected by Franz Heep, but also idenfy appealing
elements that reveal the way of working prole atude of
the architect. This is our contribuon to go deeper in the
knowledge of his achievements and enlarge the recognion
of the modern architecture in Brazil and São Paulo city.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
4
Parte I
Introdução
Adolf Franz Heep ao lado da maquete do Edicio Itália - nal dos anos 1950
Fonte: Acervo pessoal de Friedrich E. Blanke
O arquiteto e professor Marcelo Barbosa, concluiu
no ano de 2002 o seu mestrado pela FAU-USP, cujo tulo é A
obra de Adolf Franz Heep no Brasil”. É um importanssimo
trabalho sobre a obra deste arquiteto, que abrange toda a
sua produção em nosso país, inclusive muitos dos edicios
que serão estudados neste trabalho.
A amplitude e complexidade do recorte escolhido
por Barbosa para o seu mestrado, deniu um caráter
panorâmico, enfazando o reconhecimento da obra de Franz
Heep. Na atual dissertação se propõe, em contraponto, um
estudo pontual, que justamente busca dar connuidade
aos estudos iniciados sobre a obra deste arquiteto. O
objeto de pesquisa será um estudo aprofundado, mas
apenas dos edicios residenciais vercais, produzidos por
Heep em São Paulo.
Adolf Franz Heep é pracamente um desconhecido
do público em geral, talvez pelo fato dele não ter trabalhado
muito com obras públicas, como Oscar Niemeyer ou
Vilanova Argas por exemplo, somado à ínma difusão
que a arquitetura possui nos meios de imprensa do
Brasil. Porém, se pode armar que ele é bem reconhecido
no meio acadêmico, por ter projetado alguns edicios
icônicos da metrópole paulistana, como o Itália, o do jornal
O Estado de São Paulo e o Lausanne; porém, a grande
maioria dos exemplares de sua considerável contribuição
para a arquitetura moderna paulistana e para a habitação
coleva voltada ao pujante mercado imobiliário dos anos
1950, repousam no esquecimento.
Diante destes fatos, a presente pesquisa visa
estudar sistemacamente dez dos vinte e um edicios
residenciais de Franz Heep em São Paulo, através da análise
pormenorizada dessas obras, com foco em seus aspectos
formais, construvos e de detalhamento arquitetônico; as
análises contarão com o redesenho dos edicios, am de
produzir um conteúdo gráco de linguagem uniforme.
A pesquisa visa também realizar análises mais
abrangentes sobre o conjunto dessa obra, de modo a
idencar elementos recorrentes do repertório de Heep,
ulizados em seus edicios; com isso, será permido traçar
muito do seu perl como arquiteto e o seu modo de reagir
frente às inerentes condicionantes de um projeto.
Acerca dos objevos desta pesquisa
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
6
Enm, este trabalho se propõe a produzir um
conteúdo gráco que contribua com a documentação da
arquitetura moderna paulistana e brasileira, difundindo-a
de modo a que todos os interessados por habitação
coleva e pela obra de Franz Heep, contem com uma fonte
de pesquisa de qualidade e de fácil compreensão.
Após a escolha do tema e a denição dos edicios
residenciais de Franz Heep em São Paulo como recorte,
iniciou-se o primeiro passo da pesquisa: procurar a relação
exata de edicios projetados por Heep em São Paulo. Esta
listagem foi encontrada, em grande parte, na dissertação
de mestrado de Marcelo Barbosa, e em pesquisas feitas
anteriormente para a elaboração da tese de doutorado de
Friedrich Blanke
1
.
Paralelamente a isso, se iniciaram estudos para
a elaboração de um capítulo introdutório. Este deveria
ser capaz de contextualizar, de forma concisa, a inserção
dos edicios de Franz Heep na cidade de São Paulo, cujo
panorama, no pós guerra mundial, era de uma intensa
vercalização e modernização. Além disso, o trabalho
ainda conta com uma breve biograa, que traça a trajetória
prossional de Franz Heep, da Europa ao Brasil.
Em relação aos edicios, como resultado da
primeira etapa de pesquisa foram idencados vinte e
um exemplares residenciais vercais projetados por Heep
na cidade de São Paulo. Consequentemente se deniu o
recorte temporal do trabalho, que abrange o período entre
1949 a 1959 (ver tabela na página 8).
Com a idencação e a localização destes vinte
e um edicios, se iniciou o processo de visita a cada um
deles, para levantamento fotográco e um primeiro
contato com os síndicos, em busca de algum material que
pudesse contribuir com a elaboração dos desenhos. Em
muitas situações, não foi permido o acesso ao interior
dos edicios e não foi fornecido nenhum po de material;
nestes casos, foi preciso contatar a construtora que
executou o edicio, porém, somente uma entre as quatro
2
com quem Heep trabalhou, ainda funciona nos dias de
hoje e pôde fornecer algum po de material gráco.
(1) - Friedrich E. Blanke, alemão residente no Brasil, está com sua tese de doutoramento em andamento com o tulo “O arquiteto Adolf Franz Heep e a inuência dele na arquitetura de
São Paulo” pela Carl von Ossietzky Universität Oldenburg, na Alemanha
(2) - A construtora Auxiliar é a única que ainda atua na área da construção civil nos dias de hoje, dentre os dez edicios escolhidos para análise; as demais, C.N.I, Oo Meinberg S.A e
Dacio. A de Moraes foram exntas.
Metodologia de trabalho
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
7
Para as situações em que não se conseguiu material
referente aos edicios, nem com os síndicos e nem com as
construtoras, se tentou recorrer ao DAMP
3
da prefeitura
de São Paulo, porém, não foi obdo sucesso em nenhum
dos casos em que esta solução foi necessária; portanto, em
algumas situações, não foi possível coletar nenhum po de
material gráco, o que prejudicou ou impediu a análise do
edicio.
A revista Acrópole foi uma importante fonte de
pesquisa; seis
4
dos vinte e um edicios, foram publicados
nesta revista, fator que contribuiu com a análise deles
neste trabalho. A revista Habitat também foi ulizada na
pesquisa, já que publicou dois
5
edicios de Heep.
Após a coleta de todo material possível sobre
os vinte e um edicios, se iniciou uma pré-análise, em
que eles foram organizados segundo grupos pológicos
disntos. Com isso, foi possível constatar que em cada
categoria pológica idencada, havia um edicio-
chave, cujos elementos principais foram retomados em
outros exemplares de seu grupo. Dos vinte e um edicios
conhecidos, se pode dizer que doze possuem elementos
pológicos marcantes e disntos, que foram retomados
nos demais nove. Após esta conclusão, a idéia inicial de
analisar os vinte e um edicios foi abandonada, pois o
trabalho poderia se tornar repevo; portanto, as análises
se concentrariam em doze edicios-chave que denem
matrizes pológicas indicadas pelo enfoque da pesquisa.
Infelizmente, em dois casos, o material conseguido
não foi suciente para a elaboração de uma análise
completa; isto deniu, como amostra nal, um grupo de
dez edicios.
A parr daí se iniciavam as análises de cada caso.
A primeira fase é gráca; foram redesenhadas o máximo
de plantas, cortes e fachadas possíveis de cada edicio,
por meio vetorial computadorizado (CAD). A quandade
de desenhos de cada obra, dependeu necessariamente da
qualidade e quandade de material primário conseguido.
Com as plantas concluídas, todos os edicios
escolhidos foram modelados em três dimensões através
de um soware” especíco para este m. A modelagem
digital dos edicios teve a intenção de resgatar suas feições
originais, que em muitos casos se perderam nos dias de
os dois edifícios que não entraram na
amostra a ser analisada por falta de
material
os dez edifícios selecionados
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(3) - O DAMP ( Divisão de Arquivo Municipal de Processos) é um setor da Prefeitura de São Paulo que tem como atribuição conservar o acervo de processos administravos encerrados,
dos exercícios de 1921 até hoje.
(4) - Os edicios de Heep publicados na Revista Acrópole são: Normandie, Icaraí, Ouro Preto, Araraúnas, Lausanne e Lugano e Locarno
(5) - Os edicios de Heep publicados na Revista Habitat são: Ibaté e Tucumàn
8
hoje através de reformas arbitrárias ou pela degradação
sofrida. Foram também desenhados diversos croquis
analícos, que ilustram as situações descritas nos textos.
Cabe armar que todos os desenhos elaborados por
meio digital presentes neste trabalho, foram executados
pelo próprio autor; acredita-se que o domínio do processo
gráco, contribuiu muito para a elaboração das análises
textuais, que o redesenho de uma obra seja talvez a
maneira mais fácil de compreendê-la. Além disso, uma
linguagem gráca única para todos os edicios analisados,
de modo a criar uma sistemazação, que visa facilitar a
visualização e o entendimento dos projetos.
A primeira página de cada obra consiste sempre
numa cha técnica, com informações sucintas sobre o
edicio. As páginas seguintes são desnadas aos textos, que
são divididos em alguns temas arquitetônicos; em cada um
um momento meramente descrivo, sempre seguido
por conclusões analícas, deduzidas das descrições.
Considerações mais detalhadas referentes à estrutura de
análise de cada edicio serão comentadas no capítulo 5,
na página 26.
Após as análises das dez obras um capítulo de
conclusões gerais, onde se encontram as relações entre
os edicios e a idencação de elementos recorrentes nas
obras.
A metodologia de análise presente nesta obra é
fruto da somatória de referenciais teóricos extraídos de
trabalhos anteriores, como argos, livros, dissertações de
mestrado e teses de doutorado.
Os argos escritos por Catharine Ga para as
revistas Projeto (1987) e AU (1994) constuem pesquisas
importanssimas e pioneiras sobre a obra de Adolf Franz
Heep e a sua contribuição para a arquitetura. Além de
abrirem caminho para estudos posteriores sobre Heep,
os argos de Catharine serviram de base teórica para a
presente pesquisa.
A dissertação de mestrado de Marcelo Barbosa
6
,
cujo tema é a obra de Adolf Franz Heep no Brasil, foi muito
Referenciais teóricos
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
9
(6) - Marcelo Consiglio Barbosa é arquiteto e professor da FAU-MACKENZIE.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
importante para a elaboração do trabalho atual, pois conta
com muitas fontes primárias e uma primeira abordagem
sobre muitos dos edicios que serão aqui estudados.
Outra importante fonte para a elaboração deste
trabalho foi a dissertação de mestrado da Drª Ruth Verde
Zein
7
, cujo tulo é Arquitetura brasileira, escola paulista
e as casas de Paulo Mendes da Rocha”. Apesar desta
dissertação contar com um tema bem diferente do trabalho
atual, ela foi fundamental para a denição dos parâmetros
metodológicos de análise arquitetônica que foram aqui
ulizados.
O livro Arquitetura Metropolitana” de Denise
Xavier
8
, também contribuiu com a elaboração do sistema
de análise desta dissertação, e com temas pernentes à
contextualização das obras aqui estudadas.
A tese de doutorado do Mario Arturo Figueroa
Rosales
9
, cujo tulo é “Habitação Coleva em São Paulo,
1927>1972”, além da similaridade com o presente tema,
também representa uma importante referência para a
elaboração desta dissertação. Além das razões teóricas, a
tese de Figueroa, com o seu pioneiro sistema de chamento
de edicios, inspirou a composição das chas de análise de
cada obra desta dissertação.
(7) - Ruth Verde Zein é arquiteta pela FAU-USP (1977), mestre pela UFRS (1999) e doutora pela UFRS (2005) e pós-doutora pela FAU-USP (2008) e orientadora desta presente pesquisa.
(8) - Denise Xavier é arquiteta pela FAU PUCCAMP (1988) e mestre pela EESC- USP (2000).
(9) - Mario Arturo Figueroa Rosales é arquiteto formado pela FAU PUCCAMP (1988) doutor pela FAU-USP (2002)
10
Considera-se da maior relevância o reconhecimento
de uma práca projetual corrente entre os arquitetos da
geração de Adolf Franz Heep. Neste capítulo, haverá uma
breve reexão sobre a qualidade projetual proposta por
essa geração de arquitetos, em contraposição às prácas
atuais, através do uso de exemplos relevantes da arquitetura
moderna paulistana, preferencialmente no âmbito dos
edicios vercais habitacionais, que estes são o objeto
deste trabalho.
As décadas de 40 e 50 marcaram um período áureo
da arquitetura paulistana. Nesses anos, promotores do
recém-nascido mercado de incorporações, incumbiram
muitos excelentes arquitetos da época, da missão de
projetar edicios habitacionais vercais, principalmente
nas áreas centrais, num primeiro momento, e mais tarde
ao longo do setor sudoeste da cidade, onde alguns bairros
inteiros foram construídos com excelentes exemplares
habitacionais vercais.
Os edicios projetados nesta época, por nomes
como Vilanova Argas, Adolf Franz Heep, Abelardo de
Souza, Maurício Kogan, e muitos outros, destacam-se por
demonstrarem relações claras e elementos desenhados
segundo uma estrutura que acusa uma ordem categórica,
ulizando-se muitas vezes de um po de fechamento em
painéis modulados. Esses painéis são grandes caixilhos
que geralmente são do po piso-teto, dotados de
venezianas po guilhona”. No mercado da época, este
caixilho amplamente ulizado se chamava Janela Ideal”.
Considerações mais completas sobre este po de caixilho
serão vistas na análise do edcío Ibaté (p.94), de Franz
Heep, que uliza este recurso. (ESPALLARGAS GIMENEZ,
2009)
Capítulo 1
Da necessidade de reconhecimento de uma práca
projetual
“Para mim, ela (arquitetura moderna)
depende de uma relação necessária entre três
determinantes: o programa de necessidades; a
técnica construva e a intenção plásca dentro
de uma condição indispensável, a atualização
sincrônica dessas providências”
(LEMOS, 2005)
Propaganda da Janela “Ideal”
Fonte: Revista Acrópole nº236, janeiro de 1958
Edicio Louveira – J.B. Vilanova Argas e Carlos Cascaldi – 1946.
Fonte: Vilanova Argas arquitetos brasileiros brazilian architects. São Paulo:
Instuto Lina Bo e P.M. Bardi: Fundação Vilanova A.rgas, 1997
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
11
A boa qualidade projetual dos edicios se por
muitos aspectos, como clareza, pernência, eciência
e economia, além do fato das fachadas não sugerirem
decisões associadas a eslos, guras ou modelos, excluindo
a arbitrariedade e o exagero. São obras concisas e
consistentes, captadas pelo olhar e rapidamente associadas
à estéca moderna. Além disso, “não mediação entre
as partes porque há precisão construva e as medidas
justas correspondem a múlplos” (ESPALLARGAS GIMENEZ,
2009).
Isso se aplica também aos ambientes, que são
uma “sucessão de quadriláteros regulares e íntegros a
parr da laje que é seu retângulo maior, gerando plantas
sintécas que resolvem a questão funcional. (ESPALLARGAS
GIMENEZ., 2009).
Hoje em dia, e há alguns anos, nota-se uma
situação bem diferente O tema “habitação vercal” está
fatalmente vinculado à produção comercial voltada ao
lucro, menosprezando o projeto e colocando-o em um
papel secundário. Edicios são indiscriminadamente
copiados por toda a cidade, resultando em obras que não
foram pensadas para o terreno onde elas se encontram,
ignorando assim a relação com ele e com a cidade.
No início dos anos 60, com a consolidação do
modelo de morar em edicios vercais, a demanda
cresceu abruptamente fazendo com que as construtoras
passassem a fazer uso de soluções mais simplicadas, com
o intuito de diminuir custos e prazos. Assim, as decisões de
projeto passaram das mãos dos arquitetos para as mãos do
incorporador resultando no po de edicios massicados
que encontramos hoje por toda a cidade de São Paulo.
Por um lado este po de construção sem
atributos, e por outro, o po de arquiteto que ao
tentar combater esta monotonia acaba esbarrando em
soluções “pretensiosas, caras e inclusive inecientes”, que
podem surpreender pela imponência, elevando o nome
do autor, mas que na verdade ocultam grandes falhas no
uso dos materiais e nos demais aspectos construvos.
(ESPALLARGAS GIMENEZ., 2009)
Edicio Paulicéia - Jacques Pilon (colaboração de Gian Carlo Gasperini) - 1958
Fonte: Revista Acrópole nº246, 1958, p. 205
Edicio Paulicéia - Jacques Pilon (colaboração de Gian Carlo Gasperini) - 1958
Fonte: Revista Acrópole nº246, 1958, p. 206
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
“Nessa modernidade cenográca, a intenção
plásca se sobrepõe e é absolutamente
independente do programa de necessidades e
condiciona ou domina à sua vontade caprichosa
o sistema estrutural”. (LEMOS, 2005)
12
Este capítulo
10
tratará brevemente da vida e obra
de Adolf Franz Heep, desde a sua formação européia à
sua produção no Brasil, para que se compreenda melhor
como o contexto de sua época deniu o seu perl como
arquiteto, ressonando diretamente em seu trabalho na
cidade de São Paulo.
Adolf Franz Heep é natural da cidade de Fachbach,
Alemanha; nasceu no dia 24 de julho de 1902. Estudou
arquitetura na Escola de Artes e Ocios de Frankfurt,
que assim como a Bauhaus
11
, foi uma escola que sofreu
profundas reformas no ensino da arte e da arquitetura;
entre outros fundamentos, a nova tendência enfazava a
necessidade do projeto se voltar para uma práca anada
com as realidades contemporâneas, baseada na separação
daquilo que é meramente arbitrário do que é essencial e
pico, sem abrir mão da criavidade e do design.
Na escola de Frankfurt, Heep teve a oportunidade
de ser aluno de Walter Gropius e Adolf Meyer, com quem
posteriormente trabalhou na prefeitura de Frankfurt, entre
1924 a 1928. Neste período, a construção dos bairros
de Höhenblick e Römerstadt
12
, de Ernst May, ocorriam
na cidade; se ulizavam métodos de construção
industrializada com o uso de paredes em painéis pré-
fabricados e caixilharias padronizadas, elementos que
comparecerão em seu trabalho no Brasil, décadas depois.
Na mesma época em que Heep trabalhava em Frankfurt,
ocorria o II CIAM, em 1929, nesta mesma cidade, com o
tema A moradia para o mínimo da existência”.
Diante desses fatos, é possível inferir que a
formação da personalidade arquitetônica de Heep se deu
num contexto em que racionalização, padronização e pré-
fabricação, eram itens amplamente discudos e difundidos
nas prácas prossionais arquitetônicas da Alemanha, que
se espalharam posteriormente para o mundo.
No ano de 1928, Heep se mudou para Paris.
Trabalhou por um curto período no escritório de André
Lurçat
13
, que o apresentou a Le Corbusier; Heep colaborou
com o mestre franco-suíço por quatro anos, devido à sua
considerável experiência adquirida em canteiros de obras.
Capítulo 2
Modernidade de berço: a trajetória de Adolf Franz Heep
da Europa ao Brasil
Bairro Höhenblick - Frankfurt - Alemanha
Fonte: hp://farm3.stac.ickr.com/2026/2303433900_5e48cab5e6.jpg?v=0
Bairro Römerstadt - Frankfurt - Alemanha
Fonte: hp://farm3.stac.ickr.com/2026/2303433900_5e48cab5e6.jpg?v=0
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(10) - As informações presentes neste capítulo foram compiladas a parr das seguintes obras:
BARBOSA, Marcelo Consiglio. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. Dissertação [Mestrado em Arquitetura e Urbanismo] - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São
Paulo, 2002; GATTI, Catharine. Perl do arquiteto - Franz Heep. Revista Projeto nº 97, São Paulo, março de 1987, p. 98-104
(11) - A Bauhaus foi uma escola de design, artes pláscas e arquitetura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na Alemanha (ARGAN, Giulio Carlo; Arte moderna; São Paulo:
Editora Companhia das Letras, 1992)
(12) - Höhenblick e Römerstadt são bairros de Frankfurt cujos projetos foram desenvolvidos por Ernrst May, H. Boehm e C.H. Rudlo (BARBOSA, 2002, p.17)
(13) - André Lurçat, arquiteto modernista francês, estudou na Ecole des Beaux-Arts de Nancy, e possuia um escritório de arquitetura, design de móveis e urbanismo em Paris nos anos
1930. (COHEN, Jean-Louis. André Lurçat (1894-1970): l’autocrique d’un moderne, IFA, 1995.)
13
Em 1932, Heep cou sócio do polonês Jean
Ginsberg
14
. Eles veram a oportunidade de projetar alguns
edicios residenciais em Paris que se tornariam referência
de qualidade para a arquitetura desnada ao mercado
imobiliário da época. O método racional, que conciliava
uma arquitetura capaz de atender às necessidades da
classe média com baixo custo de execução, primava pela
ausência de formalismos gratuitos, porém, sem abrir
mão de um bom aspecto estéco, em concordância com
a época. No ano de 1945, Heep encerra a parceria com
Ginsberg e volta para a Alemanha, arrasada pela guerra.
O despedaçado ambiente europeu do pós-guerra,
fez com que muitos prossionais de várias áreas realizassem
uma verdadeira diáspora, em busca de campos de trabalho
mais férteis. No âmbito da arquitetura, a Europa pouco
nha a oferecer, devido a um cenário econômico precário,
tornando a prossão do arquiteto subordinada a trabalhos
de reconstrução.
A divulgação na Europa do livro Brazil Builds”
despertou o interesse desses prossionais desiludidos pela
destruição da guerra, soando como uma possibilidade da
produção de uma arquitetura de vanguarda, num pais em
desenvolvimento, com muito a se fazer.
A arquiteta italiana Lina Bo Bardi, que imigrou da
Itália para o Brasil em 1946, descreve assim sua reação ao
ter contato com o livro “Brazil Builds”:
Além de Lina, nomes como Lucjan Korngold
(Polônia), Hans Broos (Áustria), Giancarlo Palan (Itália),
Gian Carlo Gasperini (Itália), Victor Reif (Polônia) entre
muitos outros, vieram ao Brasil, onde viveram e obveram
muito êxito na práca arquitetônica.
Com Adolf Franz Heep não foi diferente. Ele chegou
ao Brasil em 1947; passou alguns dias no Rio de Janeiro e
logo veio à capital paulista. Elgson Ribeiro Gomes
15
, que
trabalhou muitos anos com Heep em São Paulo, relata em
entrevista a Friedrich Blanke uma história sobre a chegada
do arquiteto a São Paulo:
“Quando estava no úlmo ano de faculdade, saiu
um livro sobre a grande arquitetura brasileira,
que, naquele tempo, no imediato pós-guerra,
foi como um farol de luz a resplandecer num
campo de morte (...) era uma coisa maravilhosa.
(PROJETO, 1992, p.64)
Lina Bo Bardi
Gian Carlo Palan
Capa do livro “Brazil Builds”
Fonte: hp://www.coverbrowser.com/image/dust-jackets/1653-5.jpg
acesso em maio de 2009
Lucjan Korngold
Hans Broos
Gian Carlo Gasperini
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(14) -Jean Ginsberg, arquiteto polonês, foi para Paris no ano de 1924; estudou na Ecole Spéciale D’architecture e abriu seu escritório na mesma cidade em 1930. Foi sócio de Franz Heep
de 1932 a 1945. (BARBOSA, 2002, p. 20)
(15) - Elgson Ribeiro Gomes é arquiteto formado pela Universidade Mackenzie. Trabalhou no escritório de Franz Heep nos anos 1950. Em 1959, se mudou para Curiba, onde contribuiu
para a consolidação da arquitetura moderna local. (GNOATO, L. Salvador P. Arquitetura e urbanismo de Curiba – transformações do Movimento Moderno. Tese de Doutorado: FAU USP,
São Paulo, 2002)
14
Heep chegou em São Paulo de trem e se hospedou
num hotel próximo à estação da Luz. Ao olhar os detalhes
horrorosos das janelas do quarto em que ele estava, logo
pensou: eu sei fazer detalhes de janelas muito melhores;
serei feliz neste país”.
Certamente, Heep buscava, no progresso
econômico que a cidade de São Paulo vivia e na citada
vanguarda arquitetônica que havia no Brasil de então, uma
atraente possibilidade para exercer a sua arquitetura. Além
disso, alguns familiares de sua esposa residiam no Brasil,
fator que contribuiu para a sua vinda.
Heep foi procurar emprego; saiu pela cidade de
São Paulo olhando as placas de grandes obras, a m de
conhecer os escritórios. A placa com o nome de Jacques
Pilon chamou a sua atenção, por ser um nome francês,
cuja língua era de total domínio para ele.
Franz Heep procurou Jacques Pilon, que possuía um
dos maiores escritórios de projetos de São Paulo na época.
A experiência adquirida por Heep em seus trabalhos com
Jean Ginsberg e Le Corbusier, além da uência na língua
francesa, foram decisivas para a sua contratação por
Pilon, que também fora um arquiteto imigrante, mas em
condições totalmente diferentes das de Heep.
Trabalhando no escritório de Pilon, Heep contribui
muito para a mudança do perl projetual do escritório,
ainda vinculado aos eslos acadêmicos e ao Art Decò. O
principal exemplo disso, é a alteração do projeto da nova
sede do jornal O Estado de S. Paulo.
Ainda no escritório de Pilon, Heep desenvolve
diversos edicios comerciais e residenciais; entre os
desnados às moradias, encontram-se o edicio Davina
Lara Nogueira, situado na avenida São João e o Tinguá,
situado no largo do Arouche. Ambos encontram-se na
relação dos vinte e um edicios residenciais de Heep em
São Paulo, pré-selecionados para análise neste trabalho.
Heep trabalhou no escritório de Pilon a 1950;
neste mesmo ano, montou uma sociedade com Henrique
Mindlin
16
, que durou pouco tempo. No ano de 1952,
Heep abre o seu prório escritório, situado na rua Barão de
Itapeninga, centro da cidade de São Paulo.
Figura de Jacques Pilon
Fonte: hp://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/176/
arquiteto-empreendedor-116503-1.asp
acesso em maio de 2009
Edicio Davina Lara Nogueira
São Paulo - 1949 - J.Pilon e F. Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Tinguá
São Paulo - 1949 - J.Pilon e F. Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(16) - Henrique Mindlin (1911-1971) formou-se engenheiro-arquiteto pela Universidade Mackenzie em 1932.
15
No mesmo ano da abertura de seu escritório,
Heep estabelece uma parceria com a construtora de
Oo Meinberg, voltada principalmente para o mercado
imobiliário habitacional, mas que também produziu
o edicio mais célebre de Heep: o Itália, de caráter
comercial.
O período que vai de 1952 a 1962 foi o que
compreendeu a maciça produção de Heep como
arquiteto. Nestes anos foram projetados vinte e um
edicios residenciais em São Paulo que atenderam, desde
as classes mais abastadas, com os luxuosos edicios
de Higienópolis, a as mais humildes, com os grandes
edicios de kitchenees do centro. Além disso, Heep
projetou inúmeros edicios comerciais, fábricas e casas. As
obras mais signicavas deste período serão comentadas
mais adiante.
Dos dez edicios a serem analisados neste trabalho,
cinco foram produzidos pela parceria Heep-Meinberg, que
durou até 1962. São eles o Ouro Verde, Icaraí, Ibaté, Ouro
Preto e Guaporé. Porém, dentre os vinte e um edicios
residenciais conhecidos de Heep em São Paulo, doze são
fruto desta parceria com Meinberg.
Heep estabeleceu outras parcerias, além da que
nha com Oo Meinberg; outra muito importante foi com a
Construtora Auxiliar
17
. Com ela, Heep teve a oportunidade
de projetar seu edicio residencial mais conhecido, o
Lausanne, além das torres gêmeas Lugano e Locarno e o
edicio Lucerna, que abrigava o cine Comodoro
18
. Os três
estão dentro da amostra a ser analisada neste trabalho.
No período entre 1958 e 1965, Heep envolve-se
com a área acadêmica, lecionando a disciplina de projeto
na Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie.
Em 1972, com problemas cardíacos, Heep muda-se
para a cidade do Guarujá, no litoral paulista, onde connua
trabalhando até 1975; neste ano, Heep inicia um processo
de arteriosclerose. Em 1978, sua esposa o leva de volta a
Paris, onde falece no dia 4 de março.
A atuação de Heep foi fundamental para
o sucesso dos empreendimentos de que
parcipou, graças ao método de trabalho, ao
prossionalismo, ao gosto pelo detalhe e à
preocupação com o rigor tecnológico no canteiro
de obras”. (BARBOSA, 2002, p. 89)
Ed. Normandie - Adolf Franz Heep - 1953 - Kitchenees
Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.95.
Ed. Lausanne - Adolf Franz Heep - 1953 - Alto padrão
Fonte: Revista Acrópole 239, 1958, p.504.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(17) - Informações mais detalhadas sobre a Construtora Auxiliar estão presentes na página 278
(18) - Informações mais detalhadas sobre o Cine Comodoro estão presentes na página 160
16
Este icônico edicio da cidade de São Paulo foi
concebido inicialmente por Jacques Pilon, no ano de 1946,
em eslo Art Decò. Quando foi contratado para trabalhar
no escritório de Pilon, Heep teve a oportunidade de
desenhar uma nova proposta de fachada para o edicio,
encomendado por Julio de Mesquita, dono do jornal O
Estado de São Paulo.
Devem-se a Heep a inserção dos painéis de Di
Cavalcan e a concavidade do chanfro que forma a
fachada principal, conferindo ao edicio um interessante
entendimento da esquina e marcando-a incisivamente.
Outra grande contribuição de Heep para o projeto é a
solução dos brise-soleils móveis; foi a primeira vez que eles
foram ulizados numa obra deste porte em São Paulo.
Mesquita se entusiasmou com a nova proposta, que
começou a ser executada em 1948, elevando o patamar de
Heep dentro do escritório de Pilon, de mero desenhista,
para um cargo de chea.
Capítulo 3
3.1- Edicio do Jornal O Estado de São Paulo
Algumas obras não residenciais signicavas
19
Apesar do objeto desta pesquisa serem os edicios
residenciais produzidos por Franz Heep em São Paulo,
cabe realizar, de modo geral, um apanhado de outras
obras importantes do arquiteto, dentro e fora da capital
paulista.
Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948
Fonte: Revista Acrópole 181, 1953, p.485.
Ed. O Estado de São de São Paulo - 1948
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(19) - As informações presentes neste capítulo foram compiladas a parr das seguintes obras:
BARBOSA, Marcelo Consiglio. A obra de Adolf Franz Heep no Brasil. Dissertação [Mestrado em Arquitetura e Urbanismo] - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São
Paulo, 2002;
GATTI, Catharine. Perl do arquiteto - Franz Heep. Revista Projeto nº 97, São Paulo, março de 1987, p. 98-104, além de pesquisas realizadas por Friedrich Blanke para a realização de sua
tese de doutoramento.
17
Este também foi um projeto desenvolvido por Heep
dentro do escritório de Jacques Pilon; situa-se no centro
do Rio de Janeiro, muito próximo ao célebre edicio do
Ministério da Educação e Saúde. Foi construído com apoio
do governo da França e da colônia oriunda deste país
radicada no Brasil. O projeto data de 1950.
O Souza Naves é um edicio público, desenvolvido
por Heep, em seu próprio escritório, em parceria com
Elgson Ribeiro Gomes. O projeto era desnado ao Instuto
de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado
(IPASE). Está localizado na cidade de Curiba e seu projeto
data de 1953.
O São Marcos é um edicio de escritórios projetado
por Heep em 1959, na cidade de São Paulo. Possui fachadas
voltadas para três alinhamentos sendo que a principal
volta-se para a Praça da Sé. As demais voltam-se para a rua
XV de Novembro e Anchieta. Destacam-se neste edicio,
a fachada ritmada pela caixilharia. A predominância dos
envidraçamentos se pela orientação sul da fachada
principal, que se volta para a Praça da Sé. A fachada norte,
muito sombreada pelos edicios vizinhos, também conta
com muitas supercies envidraçadas.
3.2- Edicio Casa da França
3.3- Edicio Souza Naves
3.4- Edicio São Marcos
Ed. Casa da França - Rio de Janeiro - 1950 - J. Pilon e F. Heep
Fonte: Revista Acrópole 217, 1956, p.22.
Ed. Souza Naves - Curiba - 1953 - F. Heep e Elgson R. Gomes
Fonte:hp://circulandoporcuriba.blogspot.com/2010_03_01_
archive.html - acesso em maio de 2010
Ed. São Marcos - São Paulo - 1959 - Adolf Franz Heep
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
18
O edicio Itália, além de ser a obra mais conhecida
de Adolf Franz Heep, é um dos maiores ícones da produção
edilícia vercal paulistana e brasileira do século XX.
A inserção do Itália se deu em um terreno situado
numa das esquinas mais importantes do centro da cidade
de São Paulo: a da avenida Ipiranga com a São Luiz; o
entorno era bastante ocupado por edicios vercais,
levando Heep a uma habilidosa solução em que edicações
mais baixas, pertencentes ao conjunto do Itália, dialogam
com o gabarito do entorno, liberando o corpo principal
para um desenvolvimento vercal pleno. Desta forma,
o resultado foi um conjunto harmonioso que possui um
grande entendimento do entorno e da esquina, e se tornou
um ponto focal no centro da cidade.
Além da precisão de sua inserção urbana, o Itália
também conta com elementos inovadores no que diz
respeito à dinâmica de circulação”
20
do edicio
, além de
questões espaciais, estécas e estruturais.
“Representante da inuência norte-americana
de crescimento vercal metropolitano, e mesmo
apresentando pouca altura em relação aos
marcos estrangeiros que lhe eram referências,
o edicio Itália representou para a época uma
conquista ímpar ao alcançar, em 1959, a altura
de 151 metros, sendo considerado o edicio mais
alto da América Lana e o mais alto do mundo
em estrutura de concreto armado (...)”.
(XAVIER, 2007, p. 75)
“O projeto exibe em cada decisão o seu evidente
compromemento com os princípios modernos
de converter a ação projeva numa ação
racional”. (XAVIER, 2007, p. 78)
3.5- Edicio Itália
Ed. Itália - São Paulo - 1956
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Itália - São Paulo - 1956
Fonte: Revista Acrópole 210, 1956, p.222.
Perspecva do saguão do ed. Itália - São Paulo - 1956
Fonte: Revista Acrópole 210, 1956, p.229.
Ed. Itália - São Paulo - 1956
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(20) - Termo extraído de (XAVIER, 2007, p. 78)
19
Em 1953 Heep projetou para os Dominicanos a
Igreja São Domingos, situada no bairro de Perdizes, em São
Paulo. A conclusão da obra se deu no ano de 1961.
O campanário situa-se no topo de volume que conta
com 34 metros de altura e uma planta quadrada, com seus
cantos arredondados. Este volume, todo perfurado por
losangos, contrapõe a horizontalidade do bloco que contem
a nave, tornando-se um marco visual para o bairro.
A volumetria baseia-se no conceito da nave única,
onde um teto de casca de concreto abobadada,
apoia-se em paredes estruturais em zigue-zague
alternando empenas cegas e vazadas, sendo que
as aberturas voltadas para as faces de maior
insolação projetam uma luz natural intensa no
sendo do altar proporcionando uma sensação
de amplitude e leveza no espaço interior (...)”.
(BARBOSA, 2002, p. 162)
3.6- Igreja São Domingos
Igreja São Domingos - São Paulo - 1953
Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.41.
Igreja São Domingos - São Paulo - 1953
Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.43.
Igreja São Domingos - São Paulo - 1953
Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.43.
Igreja São Domingos - São Paulo - 1953
Fonte: Revista Acrópole 325, 1965, p.41.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
20
Neste capítulo pretende-se abordar, através de
uma ampla, mas breve revisão bibliográca, os principais
elementos que conformam a transformação e vercalização
da cidade de São Paulo. Estes processos se iniciam alguns
anos antes da 2ª grande guerra, e se consolidam após ela,
época em que a cidade vem a se armar como metrópole
industrial pujante.
As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas pela
armação das propostas modernistas, concomitantemente
com os primeiros movimentos de vercalização de São
Paulo, não somente no centro histórico, mas também no
centro novo
21
, Bela Vista e Higienópolis.
A legislação começava a se adaptar à nova
realidade emergente vercal da cidade. O Código Arthur
Saboya
22
, de 1929, permiu a construção de edicios fora
da área central.
O Plano de Avenidas, elaborado por Prestes
Maia, é um importante elemento que, além do papel de
estruturação viária da cidade, deniu vetores
23
de expansão
da vercalização na cidade de São Paulo. Dois deles são a
avenida São João, alargada e reformada com o plano, e a
9 de Julho, que foi construída. Considerações um pouco
mais detalhadas acerca do Plano de Avenidas serão vistas
mais adiante na análise do edicio Normandie (ver p.50),
situado na 9 de Julho e de autoria de Adolf Franz Heep.
Durante o período da grande guerra, a indústria
da construção em São Paulo foi fortemente abalada pela
interrupção da importação de itens fundamentais. A
incipiente indústria nacional ainda não era capaz de suprir
todas as demandas do canteiro, não pelo seu atraso
tecnológico, mas também pela incapacidade de produzir
chegando a preços nais compevos com o material
importado.
Somando-se a isso, as sucessivas leis de inquilinato,
iniciadas a parr de 1942, congelaram os preços dos
aluguéis, e acabaram desesmulando um importante
nicho de mercado da época que era o da construção para
aluguel, gerando uma enorme crise habitacional. Naquele
Capítulo 4
A cidade que mais cresce no mundo: panorama da
modernização e vercalização de São Paulo no pré e pós
2ª guerra.
São Paulo em 1949
Fonte: hp://obviousmag.org/archives/2006/03/angulos_paulist.html
acesso em maio de 2010
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(21) - Entende-se por “centro novo” de São Paulo, a parte dele que transpôs o Vale do Anhangabaú em direção ao oeste.
(22) - O “Código de Obras Arthur Saboya” teve sua promulgação como lei municipal nº 3.427 em 1929
(23) - Termo extraído de (FIGUEROA, 2002)
21
momento, a promoção privada vinha sendo incapaz de
suprir as necessidades de moradia de uma cidade em
crescimento populacional descontrolado.
O quadro ao lado comprova, em números de
construções por ano, os efeitos da crise durante os anos
da 2ª grande guerra, seguida por uma grande recuperação
nos anos seguintes.
A grande massa proletária, agora engrossada pelos
migrantes nordesnos, foi obrigada a resolver os seus
problemas de habitação com os seus próprios recursos,
com a construção de casas feitas por eles próprios em
loteamentos clandesnos em terreno residuais entre as
áreas industriais juntos à orla ferroviária. Mesmo assim, a
carência de casas populares foi crescendo abruptamente
até os dias de hoje. Ao contrário, a classe média, incapaz
de construir com suas próprias mãos, encontrava-se sem
saída, devido à escassez de imóveis para comprar e alugar.
(AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.121)
Com o m da guerra, São Paulo viveu um crescimento
industrial acelerado que impulsionava os demais setores
econômicos, intensicando o processo de vercalização da
cidade, que abriu as portas para a colocação em práca
de alguns dos ideais, formas e técnicas propostos pela
arquitetura moderna, graças à grande e intensa demanda
por projetos de edicios de todos os pos, porém agora,
não mais para aluguel, e sim para venda. É o momento da
gênese do mercado da incorporação em São Paulo.
As feições da cidade de São Paulo passam por
profundas mudanças, que o modelo de vercalização
muda do paradigma europeu, de compleição compacta
e de vercalidade moderada” para o americano, que
consiste na cidade congesonada e vercal”. (SOMEKH,
1987, p.52)
”Surge nesse momento a gura do incorporador
imobiliário, o promotor de ofertas de uma nova
mercadoria, o apartamento em condomínio.
E, até certo ponto, essa recente gura veio
também se denir como uma espécie de
agente cultural a condicionar as necessidades
ou as expectavas da classe média a soluções
programáticas ainda não experimentadas e até
a novas tendências arquitetônicas”. (AMARAL
DE SAMPAIO, 2002 p.121)
Fonte: AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.145
Av. São João em 1952
Fonte:hp://br.geocies.com/giba_fotografo/paginafotosdesp03.htm
acesso em agosto de 2009
Construção do Edicio Copan - Oscar Niemeyer - 1954
Fonte: hp://cidadecopan.zip.net/images/copan_construcao_baixa.jpg
acesso em maio de 2010
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
22
Esta conjuntura de boom” imobiliário congurou
um campo muito férl para os arquitetos brasileiros, tanto
aqueles formados em escolas locais como os arquitetos
estrangeiros que se radicaram aqui devido às conngências
da guerra européia e graças às possibilidades abertas por
essa efervescência cultural e econômica.
São Paulo, nesses anos, é um local de transformações
rápidas, já que a população mais que duplica seu tamanho
entre 1940 e 1950. Ao mesmo tempo, via-se a vercalização
maciça do centro e a expansão horizontal dos limites da
cidade.
Dentro deste contexto de vercalização e
modernização, é possível destacar o bairro de Higienópolis
como um exemplo de grande relevância. Na presente
pesquisa, serão estudados três edicios de Adolf Franz
Heep construídos neste bairro; diante disto, se torna válida
uma breve introdução acerca dele.
A construção dos edicios residenciais em
Higienópolis ocorreu mais precisamente em sua parte
mais anga, onde predominavam os maiores palacetes,
com os maiores lotes, sendo assim, as áreas de maior
valor. Estes palacetes, já então com 40 ou 50 anos de
idade, encontravam-se abandonados por seus angos
proprietários, que os alugavam para o uso de pensões,
e em alguns casos, corços. Suas dimensões generosas
demandavam uma enorme e onerosa criadagem, além do
programa arquitetônico e instalações obsoletos.
Esses fatores zeram com que os casarões virassem
alvo do novo mercado imobiliário, que esses terrenos,
além de todas as suas boas caracteríscas espaciais, ainda
se encontravam numa região da cidade dotada de uma
boa infra-estrutura.
“É o momento da criação dos museus, das
comemorações do quarto centenário e da
instuição das bienais. Surgiram novos prédios
de apartamentos, teatros, salas de cinemas,
museus, etc. onde os arquitetos parcipavam
da construção das novas feições da metrópole.
Esse processo foi promovido especialmente
pelo mercado imobiliário, com os arquitetos
modernos disputando diretamente o gosto do
público para os novos lançamentos”.
(SANCHES, 2004, p.89)
Cartaz com o símbolo das comemorações do IV Centenário - 1954
Fonte: hp://www.sampa.art.br/images/142.jpg
acesso em maio de 2010
Construção dos edicios Lugano e Locarno na av. Higienópolis - 1959
Vercalização avançando sobre os palacetes
Fonte: hp://www.sampa.art.br/images/142.jpg
acesso em maio de 2010
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
23
As novas construções vercais no bairro de
Higienópolis impulsionam um processo de modernização
de todos os serviços, no âmbito público e privado. Algumas
casas térreas e de dois pavimentos, que escaparam
da demolição para construção de edicios, se tornam
comércios..
Com o rápido crescimento do número de
automóveis, diversas mudanças nas regras de tráfego, como
mudanças em mãos de direção e alargamentos, começam
a ser adotadas.
No início do processo de vercalização do bairro
de Higienópolis, as famílias que viviam nos casarões não
aceitaram prontamente a idéia de morar em edicios
vercais, cujo modelo ainda não nha se consolidado entre
as classes mais abastadas. A presente pesquisa conta, mais
adiante, com uma análise do edicio Lausanne (p.24),
em que serão comentados brevemente alguns aspectos
referentes a esta transição sobre o modo de morar; dos
palacetes aos edicios.
“Os postos de gasolina, originalmente em eslo
neocolonial são reformados de modo a se
adaptarem ao prevalecente espírito moderno.
Outros mais são construídos nas esquinas de
maior movimento, em especial na Avenida
Angélica” (MACEDO, 1987, p.113)
“[...] a Avenida Angélica é alargada e perde a
sua arborização original. As ruas recebem novos
serviços públicos e os equipamentos urbanos
são implantados de modo a facilitar a vida dos
moradores”(MACEDO, 1987, p.113)
Avenida Angélica atualmente
Fonte: www.arstaseartes.com.br/img/3465/3465_1.jpg
acesso em maio de 2010
Ilustração da avenida Angélica nos anos 1940
Fonte: acervo de Marco Agneli
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
“Com a derrubada dos casarões e sua substuição
progressiva por prédios de apartamentos, o
bairro perde as suas caracteríscas horizontais,
mas mantém o seu traçado original, suas ruas
arborizadas e o predomínio de boas construções.
As condições de vida talvez não sejam como as
do passado, mas o bairro ainda conserva um
modelo padrão e que se destaca dos demais
bairros que o cercam. O bairro ainda é uma
referência”. (GAGGETTI, 2000, p.121)
24
Parte II
Os edicios: objetos de estudo
Este capítulo, onde se iniciam os assuntos referentes
ao objeto de estudo desta pesquisa, tem como objevo a
instrução a respeito da estrutura de análise adotada para
os dez edicios selecionados
24
.
A análise de cada edicio conta com a seguinte
estrutura metodológica:
Fichamento inicial: a primeira página de cada
análise é uma cha que idenca o edicio a ser estudado,
possuindo, sempre que possível, uma perspecva ou foto
de época dele, além de informações resumidas sobre as
suas caracteríscas fundamentais; são elas:
- Ano de projeto e conclusão da obra;
- Endereço e localização - foto aérea do edicio e
do entorno;
- Construção - construtora que executou a obra;
- Terreno - área e geometria do lote;
- Unidades - área e pos de apto. do edicio;
- Publicações - períódicos, livros e revistas em que
o edicio tenha sido publicado;
- Coeciente de aproveitamento - índice numérico
que revela em quantas vezes se mulplicou a área
do lote para se obter a área total do edicio.
- Taxa de ocupação - porcentagem de ocupação da
projeção do edicio no lote.
- Conservação - estado atual de conservação e
manutenção do edicio;
- Descaracterização - o quanto o edicio se
encontra atualmente descaracterizado em
relação ao projeto original.
Contextualização: Cada análise conta com um
breve histórico sobre o bairro, a praça ou a via em que o
edicio se situa, além da menção à construções notáveis
próximas a ele, se exisrem.
Temas de análise: em todas as obras escolhidas,
serão idencados o maior número possível de elementos
que compõe o edicio, subdivididos em alguns temas de
análise; são eles:
(24) - Os Critérios sobre a escolha desta amostra de dez edicios são comentadas no item de nome “Metodologia de trabalho”, na página 7
Capítulo 5
5.1 - Critérios metodológicos de análise
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
26
- Terreno, implantação, volumetria e entorno;
- Térreo e subsolo;
- Circulação vercal;
- Pavimento po e unidades;
- Estrutura;
- Fachadas;
- Detalhes construvos;
- Situação atual.
Desenhos técnicos: Todos os edicios foram
modelados digitalmente, produzindo perspecvas que
foram dispostas de acordo com o texto. Após as análises
textuais, as páginas que seguem contam com desenhos
técnicos como plantas, cortes e fachadas, sempre que
possível em escala 1:250.
Resumo: A úlma página de cada análise conta
com um breve resumo de alguns elementos do edicio,
exemplicados por perspecvas.
Fotos atuais e de época, desenhos extraídos de
revistas, livros e argos, além de croquis e esquemas,
ilustram as situações colocadas nas análises e descrições
textuais, visando uma maior compreensão delas.
O critério de ordenação dos edicios foi de cunho
cronológico, baseado no ano de início do projeto de cada
um. Alguns edicios foram projetados no mesmo ano,
tornando-se dicil o arranjo deles pelo critério cronológico;
nestes casos, a ordenação foi aleatória. Deste modo, a
ordem adotada dos edicios a serem analisados é:
1 - Edicio Ouro Verde, 1952;
2 - Edicio Normandie, 1953;
3 - Edicio Icaraí, 1953;
4 - Edicio Ibaté, 1953;
5 - Edicio Lausanne, 1953;
6 - Edicio Ouro Preto, 1954;
7 - Edicio Lucerna (cine comodoro), 1954;
8 - Edicio Araraúnas, 1955;
9 - Edicio Guaporé, 1956;
10 - Edicios Lugano e Locarno, 1958.
5.2 - Critérios de ordenação das análises
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
27
5.3- Tabela geral dos edicios a serem analisados
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
28
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
29
30
Capítulo 6
1952, Ouro Verde
1953, Normandie
1953, Icaraí
1953, Ibaté
1953, Lausanne
1954, Ouro Preto
1954, Lucerna
1955, Araraúnas
1956, Guaporé
1958, Lugano e
Locarno
As análises
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
cine Comodoro
Térreo:
1 ap. zelador de 50m², 1 ap. de 71m²,
1 ap. de 90m²
1º ao 8º pav:
1 ap. de 153m2, 1 ap. de 156m²
9º pav.:
1 ap. de 96m², 1 ap. de 113m²
10º pav.:
1 ap. de 160m²
Total: 22 unidades
Oo Meinberg S.A.
Rua Piauí 359 (esq. R. Sabará) - Higienópolis
Retangular - 533 m²
7.45 - Área total = 3970m²
63 %
Boa
Média
6.1 Edifício Ouro Verde 1952-54
Foto: Edson Lucchini Jr.
r. sabará
r. itambé
r. piauí
mackenzie
r. maranhão
terreno
unidades
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
31
O edicio Ouro Verde situa-se no bairro de
Higienópolis
25
, cujas caracteríscas serão vistas nas
análises posteriores dos edicios Lausanne (p.113) e
Lugano e Locarno (p.226). Situa-se na esquina entre as
ruas Piauí e Sabará, a apenas um quarteirão do campus da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. O edicio é um dos
primeiros a ser executado pela parceria Franz Heep - Oo
Meinberg
26
, além de ser o único que se encontra fora do
centro da cidade, de todos os projetados e construídos pela
dupla. O Ouro Verde conta com unidades que variam entre
70m² com um dormitório, a 160m², com três dormitórios,
o que leva a crer que o edicio possa ter sido pensado
para angir públicos disntos, englobando moradias
desnadas à famílias das classes média e alta à estudantes
universitários.
O terreno, cuja geometria não é perfeitamente
retangular devido ao chanfro que alinha-se à esquina,
possui uma face de 24,80m alinhada com a rua Piauí e
outra de 17,42m alinhada com a rua Sabará; o chanfro que
acompanha a esquina mede 3,60m de comprimento. A face
oposta à da rua Sabará mede exatos 20,00m e a oposta à
rua Piauí, 26,80m. Quanto à topograa, um leve aclive no
sendo diagonal do lote de aproximadamente um metro,
no sendo do chanfro da esquina à sua face oposta; deste
modo, o ponto mais baixo do terreno situa-se na região
próxima à esquina.
O pardo de implantação acompanha a geometria
do lote, com exceção do chanfro, denindo um volume
isolado, recuado em 2,00m do alinhamento com a rua Piauí
e 3,00m na face oposta, além de 3,70m do alinhamento com
a rua Sabará e mais 3,00m em sua face oposta. O volume
é composto por térreo mais dez pavimentos; a sua relação
proporcional é de 21,00m de comprimento por 16,00m
de largura e 28,35m de altura; porém, os 3,00m de altura
que correspondem ao térreo, possuem as faces voltadas
para a rua Piauí e Sabará recuadas 1,00m em relação às
mesmas faces nos andares superiores, denindo uma
separação clara entre o térreo e o corpo principal. Os dois
úlmos pavimentos (9º e 10º) recuam-se sucessivamente
nas faces voltadas para as ruas Piauí e Sabará gerando
um escalonamento, fruto das imposições da legislação da
época.
bloco principal
rua piauí
rua sabará
Pavimento térreo
Placa de Oo Meinberg no térreo do Ouro Verde
Foto: Edson Lucchini Jr.
(25) - Considerações sobre o bairro de Higienópolis também podem ser encontradas na página 23
(26) - Informações mais detalhadas sobre a parceria entre Franz Heep e Oo Meinberg podem ser encontradas na página 16
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Terreno, implantação, volumetria e entorno
32
As duas fachadas principais do edicio, voltadas
para as ruas Piauí e Sabará, são orientadas a nordeste e
noroeste respecvamente; todos os ambientes de estar e
repouso dos apartamentos voltam-se para estas faces.
O entorno do Ouro Verde é densamente
vercalizado e composto por edicios de gabarito
semelhante; todos os edicios que o ladeiam ao longo
da rua Sabará possuem alturas parecidas, compondo
uma fachada uniforme para a quadra. na rua Piauí,
um edicio de 20 pavimentos, cujo gabarito destoa dos
demais da mesma quadra, porém, o fato dele encontrar-se
recuado em 20,00m em relação ao alinhamento, faz com
que a percepção de sua altura seja amenizada.
O pavimento térreo, sem pilos, abriga três
apartamentos, sendo que um deles, com 50,00m², desna-
se ao zelador; este separa-se dos demais pelo acesso
principal que situa-se deslocado à esquerda do eixo da
planta, para quem da rua o edicio de frente pela rua
Piauí; um corredor de 4,00m de largura conduz ao hall social,
situado na porção central do volume, de onde se acessam
os apartamentos térreos desnados aos moradores à
direita, os elevadores ao centro, e o apartamento do
zelador à esquerda. Atrás da caixa de elevadores um
hall de serviço, onde se acessam as escadas e a saída para
os fundos do lote.
O subsolo, desnado às garagens, conta com dois
acessos feitos por rampas; um se dá pela rua Sabará,
ocupando o recuo entre a torre e a divisa do lote; o outro,
se dá pela rua Piaui, também ocupando o recuo lateral. Há
apenas a possibilidade da acomodação de 14 veículos na
garagem, número inferior ao de unidades, que somam 22.
A caixa de circulação vercal do Ouro Verde está
conda dentro do volume único do edicio; ela se por dois
elevadores, sendo que um deles abre-se para o hall social,
e o outro, para o hall de serviço, que é onde se acessam as
escadas em ferradura, sem patamar intermediário.
ap. zel.
50 m²
71 m²
90 m²
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
lojas
Esquema de distribuição do pavimento térreo
rua piauí
rua sabará
Térreo do Ouro Verde - acesso social.
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Térreo e subsolo
Circulação Vercal
33
As duas unidades térreas, desnadas a moradores,
possuem dimensões e arranjos espaciais disntos; a menor,
com 71,00m², situa-se voltada para a esquina, abrindo-se
para as ruas Piauí e Sabará. Ao adentrá-la, a cozinha se
encontra à direita, cuja parede curva que a separa do hall
social do edicio torna a sua geometria irregular. Ladeando
a cozinha, uma área de serviço com banheiro, cujas
aberturas, feitas por cobogós, voltam-se para a rua Piauí.
A salas de estar e jantar compalham o mesmo espaço
retangular de 24,00m² e abrem-se também para a Piauí.
Há um único dormitório, de 15,00m², que possui abertura
para a rua Sabará, ladeado pelo banheiro, que volta-se
para a mesma rua; é a menor unidade de todo o edicio,
com exceção ao apartamento do zelador.
O térreo também conta com uma unidade de
90,00m², cujas aberturas voltam-se para a rua Sabará;
ao acessá-la, depara-se com um espaço retangular de
31,50m² que abriga as salas de estar e jantar; entre elas,
um pequeno hall que conduz ao dormitório, à cozinha,
e ao banheiro. O domitório possui 16,50m², sendo o único
do apartamento. A cozinha, de 8,00m², abre-se para uma
área de serviço que conta com dormitório de empregada
e banheiro. Certamente uma unidade de 90,00m² poderia
contar com dois dormitórios, mas isso acarretaria em
problemas de iluminação e venlação naturais para as
salas; a opção por apenas um dormitório fez com que as
salas cassem com dimensões muito generosas e uma
geometria retangular. As unidades do térreo não se repetem
ao longo do desenvolvimento vercal do edicio, sendo as
menores dele, pois possivelmente foram pensadas para a
habitação de estudantes.
Do ao andar, a conformação espacial
do pavimento é a mesma, onde encontram-se duas
unidades pracamente idêncas em suas dimensões e
arranjos espaciais, espelhadas entre si por um eixo de
simetria diagonal, como mostra o esquema ao lado. As
áreas comuns de circulação do pavimento possuem as
dimensões necessárias para a sua função, o que as tornam
bem enxutas.
Apartamento de 90m² do pavimento térreo
Apartamento de 71m² do pavimento térreo
rua piauí
eixo de simetria
unidade 1
unidade 2
rua sabará
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Pavimento po e unidades
34
A unidades do 1º ao 8º andar possuem 153m²
e 156m², com arranjos espaciais muito semelhantes,
portanto, a descrição de uma se aplica à outra.
O acesso social do apartamento se pela sala de
jantar, que não possui divisões com a sala de estar; juntas,
elas conformam uma planta em “Lcom 39,00m². Na sala
de jantar, uma passagem para um hall que distribui
os uxos para dois dormitórios, cozinha e banheiro; os
dormitórios são idêncos e espelhados entre si, com
15,00m² cada. O banheiro, comum para os dois dormitórios,
possui 8,00m² de área e espaço para banheira, separada
do box. A cozinha, retangular, com 11,00m², pode ser
acessada pelo hall de distribuição, pela sala de jantar e
pela lavanderia, além de contar com o acesso de serviço
do apartamento, resultando num excesso de portas, que
compromete sensivelmente a distribuição do mobiliário.
A sala de estar fragmenta o setor ínmo do apartamento,
separando a suíte dos demais dormitórios, o que confere,
de certo modo, mais privacidade para esta, porém, rompe
a setorização do apartamento.
Era pouco comum nos edicios desta época
a ulização de suítes, mas nesse caso, Heep pode ter
optado por esta solução am de obter um dormitório
mais privavo e isolado; o espaço de dormir conta com
15,00m², que se abre para um terraço privavo de 5,00m².
O banheiro conta com 4,00m², não permindo a ulização
de banheira. O apartamento ainda conta com uma área
de serviço de 7,50m² que é acessada pela cozinha e conta
com um dormitório de empregada e um banheiro.
Em todos os edicios estudados, se nota uma
postura muito racional do arquiteto, de modo que sempre
uma separação muito clara entre as áreas molhadas
com as áreas de estar e repouso dos apartamentos. O
Ouro Verde constui o único exemplo, dos dez edicios
estudados, em que se encontra um banheiro isolado,
longe de outros ambientes dotados de equipamentos
hidráulicos. Nos demais casos a serem estudados, Heep
abre mão da ulização de suítes para não comprometer
a racionalização hidráulica, como poderá sem visto nos
estudos dos edicios Lausanne e Ouro Preto (p.142).
Esquema de distribuição do pavimento po do 1º ao 8º andar
rua piauí
rua sabará
153 m²
156 m²
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
lojas
Apartamento de 153m² do 1º ao 8º pavimento
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35
O pavimento sofre o primeiro recuo que escalona
os dois úlmos andares do Ouro Verde; o recuo da face
voltada para a rua Piauí é de 2,80m em relação aos andares
inferiores, e o recuo da face voltada para a rua Sabará é de
3,10m; estes recuos são ocupados por terraços descobertos
para os apartamentos. Os recuos obrigatórios trouxeram o
rompimento da simetria diagonal que ordenava os andares
inferiores, produzindo duas unidades de arranjos espaciais
e dimensões diferentes no 9º pavimento.
A unidade que se volta para a rua Piauí, conta
com uma conformação espacial muito semelhante à das
unidades de 153,00m² e 156,00m² dos andares inferiores,
diferindo-se delas na redução das dimensões de cada
ambiente e na diminuição de três para dois dormitórios,
sendo eliminada a suíte isolada.
O apartamento que se volta para a rua Sabará
possui 113,00m² e um arranjo espacial único em todo o
edicio, de modo a ser necessária a sua descrição; o acesso
principal se numa área de circulação onde à direita de
quem entra se acessam as áreas sociais, e à esquerda,
as áreas ínmas e de serviço. As salas de estar e jantar
situam-se num mesmo espaço retangular de 23,00m² que
abrem-se para o terraço descoberto. Ladeando as salas
um dormitório de solteiros de 15,00m². O dormitório
de casal conta com 14,00m² mais closet. um banheiro
de 8,00m² que atende aos dois dormitórios; esta área
permite a ulização de uma banheira separada do box.
A cozinha, de 9,00m², conta com a entrada de serviço
do apartamento, mas também é acessada pelo mesmo
corredor ínmo que leva aos dormitórios. As aberturas
da cozinha voltam-se para uma área de serviço que conta
com banheiro e dormitório de empregada. Na resolução
da planta deste apartamento, se nota um desperdício
de área com circulações exageradas; adentrando o
apartamento, à direita há um espaço de 1,90m de largura,
que pode ser considerado muito largo para um corredor,
e ao mesmo tempo, muito estreito para um ambiente de
estar, resultando num espaço pracamente sem ulidade;
além disso, ele fragmenta e distancia a sala de jantar da
cozinha.
rua piauí
rua sabará
96 m²
terraço
terraço
113 m²
Esquema de distribuição do 9º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
lojas
Apartamento de 153m² do 1º ao 8º pavimento
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O 10º pavimento sofre mais um recuo em relação
ao em 2,00m nas faces que se voltam para a rua Piauí
e Sabará. Estes recuos, assim como no pavimento,
geraram terraços descobertos, e áreas menores para os
apartamentos, porém, neste caso, optou-se pela criação
de uma única unidade no pavimento, de 160m², que é a
maior em todo o edicio; o acesso principal se num
espaço retangular de 37,00m² que abriga as salas de jantar
e de estar, abertas para o terraço através de um caixilho
de 6,00m de comprimento; à esquerda de quem acessa o
apartamento, encontra-se o setor ínmo, composto por
dois dormitórios de solteiro de 15,00m² cada e um de casal,
com 18,00m². um banheiro que serve ao dormitório
de casal, sendo acessado pelo corredor, sem congurar
uma suíte; um outro banheiro, na outra extremidade
do corredor, serve aos dois dormitórios de solteiro. O
setor de serviços é composto pela cozinha, dormitório e
banheiro de empregada. A cozinha é acessada pela sala de
jantar e conta com 13,00m²; nela também se encontra o
acesso de serviço do apartamento. uma fragmentação
da área de serviço, de modo que o dormitório e banheiro
de empregada separam-se da área de serviço pela caixa
de escadas do edicio, resultando numa situação onde
o espaço para lavagem de roupas encontra-se fora do
apartamento. Nesta unidade, pode-se obrservar uma
setorização mais precisa e independente, ou seja, é possível
acessar os diferentes setores da planta sem ter que passar
por um setor para chegar a outro.
Planta da unidade de 160m² - 10º pavimento.
rua piauí
rua sabará
160 m²
terraço
Esquema de distribuição do 10º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
lojas
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A descrição e a análise das fachadas do edicio Ouro
Verde se concentrarão nas duas voltadas para a cidade: a
da rua Piauí, com orientação nordeste e a da rua Sabará,
com orientação noroeste. As outras duas, voltadas para
os fundos do lote, possuem aberturas mais simples e com
vãos menores, pois tratam-se de ambientes de serviço.
Ambas as fachadas, voltadas para as ruas Piauí e
Sabará, contam com três momentos disntos que podem
ser divididos em base, corpo principal e coroamento;
isto corresponde respecvamente a térreo, ao
pavimento e e 10º pavimentos. O térreo destaca-se do
corpo principal por estar recuado dele em 1,00m nas faces
voltadas para as ruas Piauí e Sabará, conferindo mais leveza
ao volume superior e protegendo os acessos; além disso,
as paredes da fachada térrea são totalmente revesdas
por paslhas verdes, contrapondo a predominância da cor
branca no corpo principal. O térreo ainda conta com uma
linguagem diferente de aberturas em relação ao restante
do edicio, com cobogós e jolos de vidro, o que de certa
forma, prejudica a unidade da fachada, mas por outro lado,
realmente diferencia o térreo do restante da torre.
Fachadas do Ed. Ouro Verde atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Fachadas
39
O corpo principal, que corresponde do ao
pavimento, caracteriza-se, na fachada da rua Piauí, pelas
alternâncias de cheios e vazios. Os cheios correspondem
às faces em alvenaria, revesdas em paslhas verdes,
que possuem as aberturas quadradas dos dormitórios
de solteiro. Os vazios se dão pela subtração que os
terraços proporcionam ao volume principal, conferindo
sombreamento. Além disso, estes vazios são intercalados
por faixas de cobogós quadriculados, que protegem os
ambientes de estar e repouso da insolação intensa da face
nordeste, funcionando como uma espécie de brise, além de
encobrirem as janelas de banheiros; as faixas de cobogós,
além dos fatores mencionados, ainda representam
elementos de reforço à vercalidade, contrapostos pelas
linhas brancas horizontais que separam os pavimentos.
As janelas quadradas dos dormitórios de solteiro,
contam com venezianas que recolhem-se superiormente
por completo, permindo insolação ou escuridão máximas;
além disso, elas basculam cerca de 30
o
, permindo muita
exibilidade quanto à insolação e a venlação. Atrás das
venezianas, ainda encontram-se duas folhas de correr
em vidro. Os caixilhos das salas e quartos voltados para
os terraços são em ferro e grandes supercies em vidro.
Hoje, muitos terraços estão fechados por esquadrias de
alumínio e vidro, empobrecendo o jogo de cheios e vazios
da fachada
Fachada da rua Piauí
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Os mesmos conceitos e elementos presentes na
fachada da rua Piauí, connuam presentes na fachada da
rua Sabará; a alternância de cheios e vazios, e a subtração
dos terraços criam um um jogo de sombras, porém, a
fachada da rua Sabará possui uma empena cega, de cor
branca, que extrapola a altura do corpo principal da torre
e o seu limite com o térreo, de modo a criar um elemento
forte de marcação da esquina, que realça a presença do
edicio no entorno.
O sendo de circulação de veículos colabora com a
percepção do edicio, reforçada pela empena, que é notada
de longe, principalmente para quem vem pela rua Piauí, de
carro, em direção ao edicio. Este recurso de marcação de
esquinas através de empenas cegas será visto em outros
edicios de Heep, como por exemplo, o Ibaté, situado na
rua Augusta. Além dos fatores citados, a empena cega faz
com que a simetria da planta do pavimento po não se
transponha à fachada;
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
41
Pode-se dizer que o coroamento do Ouro Verde
ocorre nos dois úlmos pavimentos, que sofrem o
escalonamento obrigatório. Os recuos geraram terraços
descobertos em ambos os pavimentos. A linguagem das
fachadas dos andares do coroamento muda radicalmente
em relação à dos andares inferiores, já que se caracterizam
por muitas supercies em alvenaria e aberturas mais
despojadas, livres de alinhamentos e intenções de realce
de horizontalidade e vercalidade. Apesar do coroamento
signicar uma ruptura de unidade, ele não é percebido por
quem trafega pelas ruas, que encontra-se alto e recuado,
porém, ele é percebido por quem se encontra em edicios
do entorno, como mostra a foto ao lado.
Por outro lado é possível analisar a questão do
coroamento de maneira diferente; pode ter sido uma
intenção do arquiteto criar uma espécie de neutralidade
aos úlmos dois pavimentos, fazendo intencionalmente
com que eles não parcipem da composição da fachada,
que eles são pintados em branco e sem a linguagem
do restante da torre. Desta forma, o arquiteto pode ter
classicado como coroamento, a transição entre o e
pavimento, que é marcada por guarda-corpos de concreto
com aberturas inferiores horizontais.
Ed. Ouro Verde, visto da cobertura do Ed. Cinderela, de Artacho Jurado.
Foto: Edson Lucchini Jr.
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1 - acesso principal
2 - hall de social
3 - hall de serviço
4 - depósito de lixo
1 - rampas
2 - caixas d’água
planta do pav. térreo
esc. 1:250
planta do subsolo
esc. 1:250
apto. zelador - 50 m²
apto. 1 dorm. - 71 m²
apto. 1 dorm. - 90 m²
1 - sala de jantar
2 - sala-living
3 - banheiro
4 - cozinha
5 - serviço
1 - sala de jantar
2 - sala de estar
3 - dormitório
4 - banheiro
5 - cozinha
6 - serviço
7 - banh. empregada
1 - sala de jantar
2 - sala de estar
3 - dormitório
4 - banheiro
5 - cozinha
6 - serviço
7 - dorm. empregada
8 - banh. empregada
1
1
2
3
2
3
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planta do 1º ao 8º pav.
esc. 1:250
planta do 9º pav.
esc. 1:250
apto. 3 dorm. - 153 m²
apto. 2 dorm. - 96 m²
apto. 2 dorm. - 113 m²
1 - sala de jantar
2 - sala de estar
3 - hall de distribuição
4 - dorm. solteiro
5 - dorm. solteiro
6 - suíte casal
7 - banheiro casal
8 - banheiro social
9 - cozinha
10 - serviço
11 - dorm. empregada
12 - banh. empregada
1 - sala de jantar
2 - sala de estar
3 - dorm. casal
4 - dorm. solteiro
5 - banheiro
6 - cozinha
7 - serviço
8 - dorm. empregada
9 - banh. empregada
1 - sala de jantar
2 - sala de estar
3 - dorm. solteiro
4 - dorm. casal
5 - closet
6 - banheiro
7 - cozinha
8 - serviço
9 - dorm. empregada
10 - banh. empregada
1
1
2
1
2
1
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corte AA
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fachada rua piauí
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fachada rua sabará
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detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada
detalhe de fachada - coroamento
Linguagem de aberturas diferente do
corpo principal da torre. Recuo que deixa
o volume principal em balanço de 1,00m
Alternância de cheios e vazios entre ter-
raços, faixas vercais de cobogós e super-
cies mais opacas em alvenaria.
Os dois úlmos pavimentos são
escalonados e rompem com a pologia
predominante; presença dos terraços
descobertos.
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1º ao 7º pav.:
10 kitch. de 30m², 2 ap. de 52m²
8º ao 19º pav:
10 kitch. 30m2
20º pav.:
5 ap. de 52m²
21º pav:
5 ap. de 46m²
Total: 214 unidades
C.N.I.
(Engº resp. Roberto Zuccolo)
Av. 9 de Julho 656 - Centro
Irregular - 1360 m²
7.5 - Área total = 10.220m²
Acrópole 219, 1957, p.95-97
60 %
péssima
Média
6.2 Edifício Normandie 1953-57
Foto: Edson Lucchini Jr.
pça.
roosevelt
av. 9 de julho
r. marns fontes
lig. leste-oeste
r. marnho prado
Fotos do ed. Normandie em
1955
Fonte: Revista Acrópole 219,
1957, p.95.
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Nos anos, 1930 e 1940, o modelo rodoviarista se
consolidara através do Plano de Avenidas de Prestes Maia.
Este plano expansionista baseava-se na adoção de uma
estrutura viária radial-perimetral de modo a expandir a
área central, além de possibilitar e ordenar o crescimento
vercal e horizontal da cidade em anéis sucessivos. O
projeto previa a construção e alargamento de avenidas,
gerando uidez ao tráfego entre o centro e os bairros;
estas avenidas, além do papel viário, deniram vetores de
expansão vercal na cidade. Seu sucesso parcial se deu
apenas com a nomeação de Prestes Maia como prefeito,
que implantou o perímetro de irradiação, expandindo o
centro e conseqüentemente, a ocupação vercal. (AMARAL
DE SAMPAIO, 2002 p.133)
Com Maia à frente da prefeitura foram executadas
a Av. Ipiranga, o alargamento da Av. Senador Queiróz
e São Luiz, projetos da 23 de Maio e da Radial Leste e
construção da avenida Tiradentes e da 9 de Julho; esta foi
um importante exemplo de vetor de vercalização, onde
mais de 100 edicios foram erguidos por empreendedores
privados, voltados à habitação coleva de baixo custo entre
1945 e 1960. Dentre esses edicios, encontramos alguns
interessantes exemplares da arquitetura moderna, como o
Plano de Avenidas de Prestes Maia - 1935
Fonte:www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak//CD/5bd/1rmsp/
plans/h2pl-av/index.html
Acesso em abril de 2009
Edicio Guatemala – 1955 – Francisco Beck
Fonte: AMARAL DE SAMPAIO, 2002
edicio Guatemala, de 1955, do arquiteto Francisco Beck.
(AMARAL DE SAMPAIO, 2002 p.134)
O edicio Normandie, projetado por Franz Heep
em 1953 e entregue em 1957, também está inserido
neste importante vetor de vercalização criado pelo
Plano de Avenidas, que é a avenida 9 de Julho. É o edicio
com o maior número de unidades projetado por Heep
em São Paulo, totalizando 214, sendo que 209 são do
po kitchenee
27
. A reportagem da revista Acrópole
219 destaca que a opção por se construir um edicio de
kitchenees na avenida 9 de julho se dá pelo fato dela ser
uma via de grande movimento, o que não atrai famílias, e
sim, pessoas solteiras ou casais sem lhos.
No Normandie, Heep inaugura algumas pologias
que serão repedas diversas vezes por ele mesmo em
outros projetos posteriores. A fachada, marcada pelas
oreiras, por elementos curvos de concreto que separam
as unidades, e pelos caixilhos com peitoris e bandeiras
móveis, será reproduzida com pequenas variações nos
edicios Arapuã (1953), e no Japurá (1954). As soluções de
planta das kitchenees do Normandie, serão amplamente
reproduzidas em outros edicios de Heep, como o Icaraí
28
(1953), o Arapuã (1953), o Araraúnas
29
(1955), o Marajó
(1955) e o Guaporé
30
(1956).
(28) - Ver análise do edicio Icaraí na página 78
(29) - Ver análise do edicio Araraúnas na página 183
(30) - Ver análise do edicio Guaporé na página 202
(31) - O apartamento do po Kitchenee é o que possui geralmente como programa uma cozinha, um banheiro e um único espaço desnado a estar, comer e dormir. Este termo que o
designa é oriundo do nome dos “kits” de cozinha compactas ulizadas nestes apartamentos (p.56)
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A Avenida 9 de Julho e o Plano de Avenidas
51
bloco principal
circ. vertical
av. 9 de julho
9º ao 18º andar
bloco principal
circ. vertical
av. 9 de julho
1º ao 8º andar
O terreno, de topograa plana, onde situa-se o
Normandie, é conformado por um “L, onde o maior lado,
de 43,65m, alinha-se com a avenida 9 de Julho. O lote,
apesar de irregular, possui todos os seus ângulos retos,
com exceção do que se forma entre a face principal e a face
lateral esquerda, para quem da 9 de julho o vê de frente.
O pardo de implantação acompanha a geometria
do lote; o corpo elevado, disposto de modo transversal ao
terreno, está recuado no térreo, 11,60m do alinhamento
com a avenida 9 de Julho e encosta nas duas divisas
laterais; o pavimento nomeado de térreo, está na verdade
elevado em relação ao nível da avenida cerca de 2,00m, ao
passo que o subsolo encontra-se abaixo do nível dela com
a mesma medida. A parr do pavimento, até o 18º, o
corpo elevado encontra-se recuado 9,65m do alinhamento,
o que signica que estes pavimentos projetam-se cerca
de 2,00m em balanço sobre o térreo. Os primeiros oito
pavimentos, mais o térreo e o subsolo, faceiam as divisas
laterais; a parr do 8º pavimento, há recuos de 4,40m em
ambos os lados, soltando o restante da torre das laterais.
O 19º é o primeiro pavimento a sofrer interferência do
escalonamento obrigatório, recuando-se cerca de 1,00m
em relação ao alinhamento dos pavimentos inferiores.
A mesma situação ocorre sucessivamente com o 20º e o
21º pavimentos. O recuo de 9,65m do corpo elevado em
relação ao alinhamento, permiu o ganho de altura do
edicio e conferiu unidade à fachada, pois graças ao recuo,
o escalonamento da torre ocorre nos úlmos 9,45m,
dos 70,10m totais, rando do observador, localizado no
térreo, a percepção deste escalonamento.
bloco principal
circ. vertical
av. 9 de julho
Pavimento térreo
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Terreno, implantação, volumetria e entorno
52
No projeto do Normandie, Heep se deparou com
um contexto já bastante construído, o que pode esclarecer
algumas soluções de ajuste ao entorno ulizadas por ele.
Nos primeiros sete pavimentos, onde a torre encosta nas
divisas laterais, surgem terraços trapezoidais que alinham-
se com os edicios vizinhos
“(...)como a escorar o entorno
para o desenvolvimento da torre”
(BARBOSA, 2002, p.67).
Além disso, os terraços presentes nos primeiros sete andares,
abraçam” a cidade, causando uma sensação convidava.
Uma solução semelhante também foi adotada por Oscar
Niemeyer no projeto do edicio Eiel, de 1954, localizado
na praça da República. No edicio Itália (1956), de autoria
do próprio Heep,
esta possibilidade será aperfeiçoada(...)
com suas construções baixas no alinhamento fazendo um
contraponto com a torre”
(BARBOSA, 2002, p.67) e como
no Normandie, “escorando” o entorno.
Edicio Itália - 1956 - Adolf Franz Heep -
Construções baixas “escoram” o entorno.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Normandie - Terraços que “abraçam” e convidam.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Croqui do entorno do Ed. Normandie
Edicio Normandie - Diálogo com o entorno - Alinhamento de terraços
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Eiel - 1954 - Oscar Niemeyer
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
53
O térreo do Normandie, como mencionado
anteriormente, encontra-se 2,00m acima do nível da 9 de
Julho, ao passo que o subsolo situa-se 2,00m abaixo dela.
Esta decisão projetual pode ser juscada por algumas
hipóteses; a avenida 9 de Julho encontra-se no fundo de
um vale, onde passa um rio, hoje canalizado, fato que pode
sinalizar a presença de um nível d’água elevado, dicultando
e encarecendo escavações, e desta forma, induzindo a
uma opção por um subsolo semi-enterrado, minimizando
estas escavações. Ambos os pavimentos, térreo e subsolo,
são desnados à lojas comerciais; a opção por deixá-los
meio nível acima e abaixo da via faz com que o pedestre
consiga perceber visualmente a existência das lojas em
ambos os pavimentos, além de favorecer o acesso a elas.
Uma rampa curva vence o desnível entre a 9 de Julho e o
pavimento térreo, congurando um percurso de entrada,
desembarque, e saída de veículos, além de também
servir ao acesso de pedestres; a vantagem conseguida
com a adoção desta solução é a imponência que o térreo
do edicio ganha por estar 2,00m acima do nível da rua,
reforçada ainda mais pela simetria da planta, que reete-
se na fachada. O pedestre ainda pode acessar o térreo por
escadas situadas em ambas as extremidades da planta e
cobertas pelos terraços trapezoidais dos apartamentos.
No térreo, o acesso social do edicio encontra-se
na porção central da planta; um corredor de 5,00m de
largura e paredes curvas, segue na diagonal em direção ao
fundo do lote, chegando ao hall de elevadores e escadas,
que conduzem aos andares habitacionais. Os pavimentos
superiores projetam-se 2,00m em relação ao alinhamento
do térreo, criando um balanço que congurou um passeio
coberto para as cinco lojas deste pavimento, protegendo
suas vitrines e acessos das intempéries.
O acesso às sete lojas do subsolo se por três
escadas, sendo duas nas extremidades da planta e uma
na porção central, que vencem o desnível de 2,00m
existente entre este pavimento e a 9 de Julho. As áreas não
edicadas do subsolo, que correspondem ao recuo frontal,
são dotadas de jardins que possuem hoje árvores altas,
que chegam até o segundo pavimento de apartamentos.
Lojas do térreo e subsolo.
Foto: Edson Lucchini Jr.
loja
89 m²
loja
101 m²
loja
96 m²
loja
110 m²
loja
112 m²
loja
82 m²
loja
100 m²
loja
77 m²
loja
110 m²
loja
133 m²
loja
121 m²
loja
93 m²
loja
58 m²
Esquema de distribuição do pavimento térreo
Esquema de distribuição do subsolo
circulação horizontal
circulação vertical
lojas
av. 9 de julho
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Térreo e subsolo
54
A circulação vercal do edicio Normandie se em
um volume irregular de cantos arredondados, destacado
da lâmina principal do edicio e situado na parte posterior
desta, voltada para os fundos do lote. Este volume de
circulação vercal é o único elemento do projeto que rompe
a simetria da planta, e consequentemente, da fachada
posterior do edicio; essa quebra de simetria deu-se por
uma condicionante geométrica do terreno, como mostra o
croqui abaixo. Quatro elevadores, sendo três sociais e um
de serviço, levam do térreo ao 21º pavimento. Do ao
21º, as escadas são lineares sem patamar intermediário.
Somente nas transposições do 1º pavimento para o térreo
e deste para o subsolo, ela se torna curva, em forma de
ferradura, também sem patamar intermediário. A adoção
de um volume destacado da lâmina principal para a
realização da circulação vercal, era uma práca corrente
na época do Normandie, não só na obra de Heep, como na
de muitos outros arquitetos contemporâneos a ele; esta
solução é encontrada na obra de Franz Heep nos edicios
Icar (1955), Arapuã (1953), Araraúnas (1955) e Arlinda
(1958), além de também ser ulizada no Ed. Copan, de
Oscar Niemeyer.
Fachada posterior do Ed. Copan - Oscar Niemeyer - 1951 - Corpo de
circulação vercal destacado da lâmina principal.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Em todos os andares desnados às habitações
(1º ao 21º), o arranjo espacial dos pavimentos se
por um corredor linear voltado para a face posterior da
lâmina principal, que iluminado e venlado por cobogós
de concreto, distribui os uxos para os apartamentos,
voltados para a face principal. O Normandie conta com
seis situações disntas na distribuição e tamanhos dos
apartamentos nos pavimentos po, fruto dos recuos que
o edicio sofre ao longo do seu desenvolvimento vercal.
Do 1º ao 7º pavimento, o bloco principal de apartamentos
alinha-se com as duas divisas laterais do lote, acarretando
numa maior área do pavimento po e possibilitando a
distribuição de doze unidades do po kitchenee, dispostas
lado a lado, todas voltadas para a avenida 9 de Julho, com
orientação sudeste. As duas unidades das extremidades
da planta do pavimento po, do ao andar, contam
com 52m² de área e possuem largura 1,00m maior que
as dez demais, que contam com 30m² cada. Além disto,
as unidades das extremidades ainda possuem os terraços
trapezoidais, que projetam-se até o alinhamento com os
edicios lindeiros.
52m²
30m²
30m² 30m²
30m² 30m²
30m²
30m²
30m² 30m²
30m²
52m²
Esquema de distribuição do pavimento po do 1º ao 7º andar
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
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Circulação Vercal
Pavimento po e unidades
55
Projeto da cozinha de uma Kitchenee
Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.113.
Planta de uma unidade de 30m² do Normandie.
As plantas das kitchenees de 30m² são compostas
por uma cozinha, um banheiro e uma sala-living. A cozinha
conta com 1,00m de largura por 0,80m de profundidade,
cujo detalhamento aparece na publicação da revista
Acrópole 219. Uma geladeira se encaixa sob a pia de
mármore, que conta com uma cuba e um espaço suciente
para a colocação de um fogão de duas bocas. Acima da
cuba, encontram-se duas prateleiras de granilite. Heep
desenhou este pequeno espaço em todos os seus detalhes,
com equipamentos muito compactos. O conceito de
kitchenee desta época em São Paulo, se apropriava de
alguns elementos da carlha de habitação mínima de Le
Corbusier, que nha como prerrogava a não necessidade
de espaços generosos para serviços como cozinha e
lavanderia dentro do apartamento, anal a célula
31
de
habitação (termo para se denir uma unidade unifamiliar)
fazia parte de uma unidade de habitação auto-suciente,
dotada de serviços colevos, dispensando-os de estarem
dentro de cada apartamento. Neste caso paulistano, a
unidade de habitação não é auto-suciente, como a de
Le Corbusier, mas o fato do edicio de kitchenees estar
inserido num contexto urbano bem servido de opções para
as refeições, a compactação da cozinha se torna viável. As
lavanderias são ausentes nas kitchenees, mais uma vez
pressupondo que serão ulizados os serviços da cidade.
Outra possível explicação para se juscar as dimensões
reduzidas da cozinha é o fato de não exisrem na época
tantos equipamentos eletro-eletrônicos disponíveis
no mercado. Hoje, com a grande variadade desses
equipamentos, muitas das cozinhas do Normandie foram
reformadas, aumentando a sua área e diminuindo a do
banheiro, que possuia medidas mais generosas devido à
presença do bidê, fato recorrente na época.
(31) - Termo extraído de SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (org.). A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna, 1930-1964. São Carlos: RiMa, 2002
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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A sala-living é um espaço de 3,25m de largura por
5,20m de comprimento, que pode abrigar as funções de
dormir, estar e comer. Ainda um espaço, de 1,00m de
largura por 1,30m de comprimento, ladeado pela cozinha,
que funciona como um closet, abrindo-se para a sala-
living.
É importante salientar que o termo “kitchenee”,
amplamente ulizado no Brasil para designar estas unidades
como as do Normandie, teve provel origem no nome do
“kitde cozinha compacta para esse po de apartamento
(ver p.56) que se assemelha a um quarto de hotel,
possuindo além da cozinha, um banheiro e ambientes de
estar e dormir que se situam no mesmo espaço. Pela data
de projeto, acredita-se que o Normandie foi o primeiro
edicio, projetado por Heep, a possuir este po de planta,
que viria a ser largamente reproduzida posteriormente,
com pequenas variações, em sua obra residencial vercal
em São Paulo.
As unidades de 52m² das extremidades da plantas
do 1º ao 7º pavimento, também são kitchenees, mas
possuem um arranjo espacial diferente das de 30m², pois
são mais largas em 1,00m; isto permite dimensões mais
generosas para a cozinha, o banheiro e a sala-living. Além
disso, nesta unidade uma meia parede que separa o
ambiente de dormir do de estar. ainda a presença do
terraço trapezoidal de 13,00m².
Fachada do Ed. Normandie atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Planta da unidade de 52 m².
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52m²
52m²
52m² 52m²
52m²
No pavimento, a lâmina principal sofre um recuo
de 4,40m em ambas as laterais; desta forma eliminam-se
as duas unidades maiores das extremidades, resultando
num pavimento po com 10 unidades do po kitchenee,
com 30m² cada, idêncas às dos pavimentos inferiores.
Esta situação se repete até o 18º andar. O que difere o
pavimento dos demais superiores ao 18º, é o fato
dele possuir terraços nas extremidades da planta, onde
localizavam-se, nos pavimentos inferiores, as unidades
maiores.
O 19º pavimento é o primeiro a sofrer o recuo
de 1,00m em relação aos andares inferiores, no sendo
longitudinal, devido ao escalonamento obrigatório.
O arranjo das unidades não muda, em relação aos
pavimentos inferiores; a única variação é a diminuição dos
comprimentos das salas das unidades, para o ganho de
terraços.
No 20º pavimento, o recuo de mais 1,20m no
sendo longitudinal, em relação ao andar inferior, trouxe
a necessidade de uma mudança nas unidades; agora, ao
invés de dez kitchenees, o pavimento conta com cinco
unidades de 52m² e um dormitório; são as únicas unidades
não-kitchenees em todo o edicio. Os apartamentos
contam com um corredor de acesso que separa a cozinha
do banheiro, chegando ao dormitório e à sala de estar;
uma área de serviço de 2,00m² ladeia a cozinha, de
5,20m². O banheiro é um espaço de geometria quadrada
com 4,90m² que permite uma boa distribuição das peças
sanitárias e do box. A sala de estar também é um espaço
de geometria pracamente quadrada, contando com 13m²
de área, abrindo-se para um terraço, cujo comprimento
de 6,65m coincide com a largura do apartamento. O
dormitório, também quadrado, com 11,00m², ladeia a sala
de estar e também se abre para o terraço. Este arranjo
espacial descrito tornou-se corrente na obra de Heep para
os apartamentos de andares escalonados de edicios com
caracteríscas semelhantes às do Normandie, como por
exemplo, o Araraúnas (1955) e o Guaporé (1956).
30m²
30m² 30m²
30m² 30m²
30m²
30m²
30m² 30m²
30m²
Esquema de distribuição do pavimento po do 8º ao 19º andar
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Esquema de distribuição do 20º pavimento
Planta da unidade de 52m² do 20º pavimento
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No 21º pavimento, mais uma vez reduzido no sendo
longitudinal em relação ao 20º devido ao escalonamento, o
arranjo espacial é semelhante ao deste pavimento. Porém,
unidades passam a ter 46m² e voltam a ser kitchenees,
com a sala de estar e o dormitório dividindo o mesmo
espaço. As áreas molhadas deste apartamento, não sofrem
alterações em relação às unidades do 20º andar.
A estrutura do Normandie possui, no sendo
longitudinal, um vão de 3,25m, que corresponte
exatamente à largura das kitchenees. Do 1º ao 7º andar,
a presença dos apartamentos das extremidades que
faceiam as divisas laterais representa a única variação no
vão, que é de 4,25m, devido à necessidade de uma largura
maior para estes apartamentos. No sendo transversal há
três linhas de pilares, separadas por um vão de 5,00m. A
fachada do Normandie é livre, que a primeira linha de
pilares encontra-se recuada 2,00m dela provocando um
balanço do bloco principal em sua porção frontal. Não
transições estruturais, de modo que no térreo e no subsolo,
o módulo estrutural permanece o mesmo dos andares
superiores. Isto acarretou em lojas com muitos pilares em
seus interiores, prejudicando seus espaços; é possível que
a decisão da não ulização de transições possa ter ocorrido
por razões econômicas.
Esquema de distribuição do 21º pavimento
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
46m² 46m² 46m² 46m² 46m²
Planta da unidade de 46m² do 21º pavimento
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Estrutura
59
Perspecva do Normandie, visto da av. 9 de Julho
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61
O Normandie possui sua principal face voltada para
a av. 9 de Julho; esta, por ser a mais importante na interface
com a cidade, recebeu um tratamento arquitetônico
diferenciado. A fachada dos fundos, mesmo com o fato de,
hierarquicamente, ser menos importante que a primeira,
também é notada por quem trafega em ruas do entorno,
e por isso, também foi concebida de modo a contribuir
posivamente com a paisagem urbana.
No térreo e subsolo, predominam na fachada
principal as portas de acesso ao hall que conduz às moradias,
na porção central, e as portas das lojas, no restante da face
frontal. Separando o subsolo do térreo e este do primeiro
pavimento, faixas de 1,00m de altura, compostas por
elementos vazados em concreto, que correm por todo o
comprimento da fachada.
Lojas do térreo e rampa de acesso.
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Fachadas
62
Do ao 18º pavimento, a fachada do Normandie
segue a mesma pologia, porém, os primeiros sete
andares possuem os terraços trapezoidais já mencionados
anteriormente, localizados nas extremidades do bloco
principal, que estabelecem uma relação do edicio com
o entorno, além de atribuírem ao edicio uma sensação
convidava, no sendo de “abraçar” a cidade.
Destacam-se na fachada, ao longo do
desenvolvimento vercal do edicio, dois itens marcantes:
as oreiras e os elementos de concreto que separam
as janelas. As oreiras, além de exercerem o seu papel
funcional, também são elementos importantes na
atribuição de horizontalidade à fachada, com a intenção
de reduzir a sensação vercal que o edicio, com seus
vinte e um andares, fatalmente transmite. Ao se observar
a fachada do Normandie, num primeiro momento, crê-
se que as oreiras são vigas salientes que marcam as
transições entre os pavimentos, mas na verdade, elas
estão 60cm acima das lajes. A fachada do edicio é livre,
ou seja, a estrutura encontra-se recuada dela cerca de
2,00m, possibilitando liberdade quanto aos tamanhos
e quandades de aberturas. Quanto aos elementos de
concreto, além de individualizarem as unidades, impedindo
a comunicação visual entre as kitchenees tão próximas
Fachada do Ed. Normandie atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
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entre si, eles também servem como uma espécie de brise;
a orientação sudeste do edicio promove uma incidência
de luz solar na fachada principal de modo diagonal, desta
forma, as lâminas de concreto, impedem que os raios
do forte sol da tarde incidam diretamente nas unidades
residenciais. Além das questões funcionais, as lâminas
de concreto atribuem uma forte idendade à fachada do
Normandie, estabelecendo um interessante ritmo visual,
para quem vê o edicio de baixo para cima.
As aberturas das unidades, voltadas para a fachada
principal, são compostas por caixilhos de duas folhas de
correr, em vidro e aço, cujo comprimento corresponde
à largura do apartamento. Sob a oreira um peitoril
basculante em vidro. A bandeira, sobre o caixilho principal,
também bascula; este sistema de peitoris e bandeiras
basculantes tem a função de promover a troca de ar no
apartamento, de modo que o ar frio entra pela parte inferior
(peitoril) e o ar quente sai pela parte superior (bandeira).
Esta pologia de fachada descrita será retomada
por Heep, com pequenas variações, no edicio Arapuã
(1953) e no Japurá (1954).
Elementos de fachada.
Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.112.
Sistema de venlação natural.
ar frio
ar quente
bandeira
peitoril
oreira
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64
O coroamento do Normandie se nos três úlmos
pavimentos, que são os escalonados. Há uma ruptura com
a pologia predominante; os elementos que separam
os apartamentos não são mais as lâminas de curvas de
concreto, e sim, muros com ângulos retos. Além disso, os
caixilhos são agora portas de correr e não ocupam mais
toda a largura do vão estrutural, resultando em uma
maior área de fachada preenchida por alvenaria. Nos
andares escalonados, os apartamentos possuem terraços
cobertos.
Na fachada posterior predominam os panos de
cobogós
32
de concreto, presentes nos corredores. Esta
grande face permeável de cobogós é rompida pelo corpo
opaco de circulação vercal, que é deslocado do eixo do
edicio conferindo à fachada dos fundos uma conformação
assimétrica, ao contrário da fachada principal. Nota-se
a preocupação de Heep com a fachada dos fundos do
Normandie, que ela é facilmente notada por quem
trafega na rua Avanhandava, situada atrás do edicio.
Hoje, o Normandie se encontra muito degradado;
além da falta de manutenção, nota-se que os caixillhos
originais vêm sendo trocados por novos muito diferentes
entre si, comprometendo a unidade da fachada. Além
disso, o fechamento dos terraços trapezoidais trouxe um
empobrecimento considerável da volumetria.
Fachada dos fundos, vista da rua Avanhandava
Fonte: Revista Acrópole 219, 1957, p.97.
(32) - Cobogó é um sinônimo de elemento vazado
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Situação Atual
65
1 - rampa de acesso
2 - hall social - portaria
3 - hall de elevadores sociais
4 - zelador
5 - lojas
6 - estoques
7 - banheiros
planta do pav. térreo
esc. 1:250
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66
1 - lojas
2 - estoques
3 - banheiros
4 - medidores
5 - molas dos elevadores
planta do pav. térreo
esc. 1:250
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planta do 1º ao 7º pav.
esc. 1:250
kitchenee - 30 m²
kitchenee - 52 m²
1 - banheiro
2 - cozinha
3 - closet
4 - sala-living
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - ambiente de dormir
4 - ambiente de estar
5 - terraço
1
1
2
2
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1
kitchenee - 30 m²
1 - banheiro
2 - cozinha
3 - closet
4 - sala-living
1
planta do 8º pav.
esc. 1:250
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69
1
kitchenee - 30 m²
1 - banheiro
2 - cozinha
3 - closet
4 - sala-living
1
planta do 9º ao 18º pav.
esc. 1:250
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70
1
kitchenee - 30 m²
1 - banheiro
2 - cozinha
3 - closet
4 - sala-living
1
planta do 19º pav.
esc. 1:250
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71
1
apto. 1 dorm. - 52 m²
1 - cozinha
2 - área de serviço
3 - banheiro
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço
1
planta do 20º pav.
esc. 1:250
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72
1
planta do 21º pav.
esc. 1:250
kitchenee - 46 m²
1 - cozinha
2 - área de serviço
3 - banheiro
4 - sala-living
5 - terraço
1
1
planta do 21º pav.
esc. 1:250
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corte AA
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fachada av. 9 de julho
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75
fachada posterior
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detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada
detalhe de fachada - coroamento.
Rampas de acesso ao térreo, meio nível
acima da 9 de Julho; imponência à fachada,
mesmo sendo um edicio desnado às
classes menos abastadas.
Floreiras que conferem horizontalidade.
Lâminas de concreto que individualizam
as unidades trazendo privacidade, além
de proteção solar e um interessante
ritmo na fachada, para quem vê o edicio
de baixo e lateralmente.
Os três úlmos pavimentos são escalonados
rompendo com a pologia predominante;
presença dos terraços descobertos.
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77
6.3 Edifício Icaraí 1953-55
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Incorporação: Oo Meinberg S.A.
Construção: George Doppler Ltda.
Praça Roosevelt 128 - Centro
retangular - 382,5 m²
1º ao 24º pav.:
4 kitchenees de 43,00m²
Total - 96 unidades
Acrópole 210, 1956, p. 234 - 235
13.8 - Área total = 5354,61m²
58%
Boa
Baixa
pça.
roosevelt
r. nestor pestana
publicação na revista acrópole nº 210 - 1956
Foto: Edson Lucchini Jr.
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78
O terreno onde hoje situa-se a praça Roosevelt foi
ocupado, no nal do século XIX, pelo Velódromo de São
Paulo, que logo deu lugar ao primeiro estádio de futebol do
Brasil em 1902, desapropriado em 1915 para a construção
da rua Nestor Pestana. Em 1920 foi construída a igreja Nossa
Senhora da Consolação, com sua face principal voltada
para a rua de mesmo nome. Nos anos 1950, pracamente
toda a supercie da praça foi asfaltada, onde foi criado um
grande estacionamento.
Em 1967, o então prefeito da cidade de São Paulo,
José Vicente Faria Lima, anunciou o projeto para a praça,
que previa a construção de duas grandes estruturas
de concreto capazes de abrigar um supermercado,
estacionamentos, um mercado de frutas, bares e quatro
lojas; o projeto fora assinado por Roberto Coelho Cardozo,
professor de paisagismo da FAU-USP.
O projeto da praça Roosevelt sempre foi muito
cricado devido ao fato de possuir muito concreto e
poucas áreas verdes, além de um excesso de escadas,
rampas e becos. A supercie da praça es elevada
em aproximadamente 5,00m em relação às ruas que a
circundam, e os acessos não são marcantes, claros, não
propiciando uma situação convidava para a supercie,
onde espaços para eventos que quase nunca acontecem,
tornando o local pracamente inóspito.
Apesar destes problemas citados, a anga rua
Marnho Prado, que ladeia a praça, possui um enorme
potencial cultural, com a presença de inúmeros teatros,
que atraem cada vez mais bares e restaurantes ao entorno.
um projeto de revitalização para a praça que vem sendo
discudo alguns anos; alguns defendem a demolição
total das estruturas, liberando visualmente a praça, porém,
outros defendem a manutenção do pentágono principal,
por ser um teatro grego a céu aberto, que pode ser melhor
aproveitado, à medida que houver uma agenda de eventos
mais constante.
Estacionamento que ocupava o espaço da atual praça Roosevelt em 1967
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
Construção da praça Roosevelt em 1968
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
Inauguração da Praça Roosevelt - 25 de janeiro de 1970
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
(33) - As informações sobre a praça Roosevelt são provenientes do site hp://pt.wikipedia.org acessado em abril de 2010
A Praça Roosevelt
33
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
79
Praça Roosevelt em 1986
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
Inauguração da Praça Roosevelt - 25 de janeiro de 1970
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
Inauguração da Praça Roosevelt - 25 de janeiro de 1970
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
80
O edicio Icaraí, produzido pela parceria entre Franz
Heep e Oo Meinberg, está situado na praça Roosevelt,
próximo a vários outros empreendimentos realizados pela
dupla no início dos anos 1950. É um edicio onde as unidades
são todas do po kitchenee, cujas plantas possuem
pequenas variações em relação às já desenhadas por Heep
para o edicio Normandie. No Icaraí, Heep inaugura uma
pologia de fachada que será ulizada em vários outros
projetos posteriores, como no edicio Araraúnas (p.183) e
Jequibá
34
(1957), onde grelhas quadriculam a fachada e
denem terraços.
O Icaraí está localizado na praça Roosevelt, num
terreno de 15,00m de frente por 25,50m de profundidade.
Conta com subsolo, térreo e 24 pavimentos, resultando num
volume com proporção de 15,00m de largura por 85,00m
de altura e 18,25m de profundidade no corpo elevado. O
aproveitamento vercal do edicio foi possível graças à
legislação da época, onde a altura xima era denida
por uma relação com a largura da rua, ou seja, quanto
mais larga ela fosse, mais alto poderia ser o edicio. Sendo
assim, pelo fato do Icaraí estar em frente a uma praça, foi
possível que ele pudesse ter, assim como os edicios que o
ladeiam, um gabarito elevado, em comparação a edicios
que não são lindeiros à praça Roosevelt. O térreo é o único
pavimento que ocupa a totalidade do lote, com exceção
de dois vazios para iluminação natural. O corpo principal
da torre faceia o alinhamento, não possui recuos laterais e
desloca-se 7,25m da divisa de fundo do lote.
ed. Icaraí
praça
roosevelt
volume
principal
circ.
vertical
Construção da praça Roosevelt em 1968
Fonte: acervo pessoal de Dario Bueno
(34) - O edicio Jequibá é um projeto de Adolf Franz Heep datado de 1957, situado na cidade litorânea de São Vicente, SP. (p. XX)
Terreno, implantação, volumetria e entorno
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
81
O Térreo é composto por duas lojas, separadas entre
si pela entrada social do edicio situada na porção central
da planta, conformando um corredor em leve aclive que
leva ao hall dos elevadores, cuja cota de nível é de 0,40m
acima da cota da rua; a planta térra, assim como as dos
demais níveis, possui uma conformação simétrica. um
subsolo que ocupa menos de um terço do terreno e está
situado em sua parte posterior, sendo desnado apenas a
estoque das lojas; o subsolo ainda conta com duas caixas
d’água.
Situada em um volume destacado do principal
localizado na parte posterior do terreno, a circulação
vercal é composta por dois elevadores e uma escada em
três quartos de volta sem patamar intermediário.
O pavimento po é dividido em quatro kitchenees,
totalizando 96 ao longo dos 24 andares do edicio, todas
voltadas para a praça Roosevelt, com face noroeste. As
unidades são pracamente idêncas, porém rebadas,
sendo as duas da esquerda, para quem da praça o edicio
de frente, com o acesso pelo lado direito e vice-versa; a
venlação e iluminação dos banheiros e cozinhas dos dois
apartamentos do meio, são voltadas para o corredor; nos
apartamentos das extremidades, a venlação e iluminação
são voltadas para o exterior.
As duas unidades do meio possuem robustos
pilares que diminuem um pouco a cozinha, em relação às
unidades das extremidades. Os apartamentos possuem
uma planta retangular de 11,50m de profundidade por
3,50m de largura, fato que foi possível devido à divisão
do lote de 15,00m de frente por quatro unidades, e não
por cinco, o que resultaria num apartamento de 2,75m
de largura, medida mais comum entre as kitchenees
produzidas neste período. O pé-direito de 3,00m, comum
na época mas muito generoso para os dias de hoje, resulta
num espaço confortável visual e sensorialmente.
Esquema de distribuição do pavimento térreo
Esquema de distribuição do pavimento po, do 1º ao 24º andar
circulação horizontal
circulação vertical
lojas
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
praça roosevelt
43 m²
43 m² 43 m²
43 m²
loja
140 m²
loja
140 m²
Corredor de acesso às unidades
Foto: Edson Lucchini Jr.
Térreo e subsolo
Circulação Vercal
Pavimento po e unidades
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
82
As plantas são compostas por uma cozinha, um
banheiro, uma sala-living e um terraço. Os croquis ao
lado comparam a planta do Normandie, pioneiro desta
pologia na obra de Heep em São Paulo, com a do Icaraí;
neste, o banheiro de 5,00m² possui uma geometria em “L,
resultado da subtração do espaço retangular da cozinha, de
1,35m². No normandie, o banheiro é um retângulo íntegro;
a cozinha é menor, e seu espaço é resultado da subtração
de um closet.
A sala-living do Icar é um espaço retangular de
3,50m de largura por 6,60m de profundidade, que possui
um armário embudo junto à parede que a separa do
banheiro, e um caixilho piso-teto que a divide com o
terraço. É um ambiente cujas dimensões permitem uma
distribuição de um mobiliário que contemple um ambiente
de dormir, um de comer e um de estar. Na revista acrópole
210 foi publicado um croqui com uma possibilidade de
ocupação do espaço de um apartamento do Icaraí. O lay-
out foi desenhado pela “Mobília Contemporânea”, uma
famosa loja de móveis dos anos 1950, que era localizada
no térreo do próprio Icaraí; um item interessante deste
lay-out, é a mesa biparda, com uma parte no interior do
apartamento e outra no terraço.
Planta da unidade de 40 m²
ED. ICARAÍ
Planta da unidade de 30 m²
ED. NORMANDIE
Lay-Out feito pela loja “Mobília Contemporânea”
Fonte: revista acrópole nº 210 - 1956 - p. 234
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Detalhe do Caixilho do Ed. Icaraí.
Fonte: revista acrópole nº 210 - 1956 - p. 235
Interior das unidades e vista do terraço
Fotos: Edson Lucchini Jr.
O caixilho piso-teto que separa a sala-living do
terraço é composto por uma porta de madeira com
veneziana superior de venlação permanente, além de
duas folhas de vidro de correr com bandeira e peitoril
também em vidro. É do mesmo po ulizado por Heep em
outros edicios, como o Marajó e o Araraúnas. Este caixilho
confere uma boa venlação e iluminação à sala-living, além
de integrá-la visualmente ao terraço, que é um espaço de
3,50m de largura por 1,20m de profundidade, o qual, além
de funcionar como uma espécie de brise, impedindo que
o caixilho da sala-living que diretamente exposto ao sol
poente, também é um espaço para se contemplar a praça
e a cidade.
Na comparação com outros edicios de kitchenees
projetados por Heep, e até com outras unidades do centro
da cidade, pode-se dizer que sem dúvida o Icaraí se destaca
no que diz respeito aos seus atributos pláscos e espaciais,
além da localização privilegiada, fazendo dele um dos mais
procurados apartamentos de seu porte até hoje.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
84
As exigências de uso de um pavimento térreo
podem frequentemente condicioná-lo a um arranjo
espacial diferente daquele dos pavimentos po. Essas
diferentes demandas de espaços sugeriram a adoção de
dois diferentes ritmos de distribuição estrutural no edicio
Icaraí.
No pavimento po, os pilares estão distribuídos
de maneira uniforme, sempre com o mesmo ritmo, anal,
uma divisão igual do espaço em quatro apartamentos,
determinando quatro vãos. no térreo, a divisão do
espaço em duas lojas iguais e uma entrada social central,
obrigaram uma mudança no ritmo de distribuição
estrutural, inevitavelmente, acarretando em duas
transições. A primeira, e mais importante, acontece na
fachada; a grelha, que dene os terraços nos pavimentos,
é composta por cinco pilares delgados que descarregam
suas cargas numa viga de transição no térreo, apoiada
agora por quatro pilares mais robustos, permindo um
vão estrutural maior para a entrada das lojas e denindo a
entrada social entre dois apoios.
A segunda linha de pilares, no sendo do
alinhamento para o centro do terreno, é composta por
quatro vãos, ou cinco pilares, sendo que no do centro,
ocorre uma segunda transição, adotada para dividir a carga
dele em dois pilares menores, liberando o eixo de simetria
da planta térrea para a circulação. Nesta linha, os pilares das
extremidades são da espessura da parede, sendo portanto
mais nos que os do meio, porém mais compridos. A
terceira linha possui três vãos, intercalando a posição de
seus pilares com os da segunda linha, contribuindo assim
para o travamento da estrutura.
pilares no pavimento po
pilares no pavimento térreo
transições
Estrutura
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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O edicio Icar não conta com recuos laterais,
possuindo apenas duas faces com aberturas, porém, a face
posterior do volume, que volta-se para o interior da quadra,
não recebeu um tratamento arquitetônico relevante; a
face que se volta para a praça Roosevelt assume o papel
de fachada principal e divide-se em base, corpo principal
e coroamento. A base, correspondente ao térreo, tem
como elemento marcante a viga transição situada sobre
as portas das lojas e do acesso social, bem destacado por
dois robustos pilares que o ladeiam. O corpo principal, que
corresponde aos 24 andares de apartamentos, tem como
elemento principal uma grelha de pilares e lajes que vão
se tormando mais delgados no sendo do fundo do lote à
fachada principal, conferindo leveza à composição; as lajes
dos terraços também se anam no mesmo sendo. Esta
grelha estrutural, que abriga os terraços, possui 3,50m
de largura por 3,00m de altura e 1,20m de profundidade,
sendo portanto composta por elementos retangulares, mas
que ao observador, são percebidos como quadrados. Por
mais que, em termos construvos, se saiba que a grelha é
um elemento adicionado ao corpo principal da edicação,
em termos percepvos, ela pode ser vista como quadrados
subtraídos de um volume maior.
As cinco linhas vercais presentes na fachada
pracamente se unem no ponto de fuga quando se olha
o edicio de baixo para cima, o que exacerba o senso de
vercalidade da torre; para se reduzir essa percepção
demasiadamente vercal, surgem os guarda-corpos,
compostos por um elemento horizontal mais espesso
e marcante, e mais quatro tubos metálicos, também
horizontais, na parte inferior.
Originalmente, todas as paredes internas dos
terraços eram pintadas em cores vivas e variadas, gerando
um interessante movimento cromáco. Além disso, essa
pintura intensicava a sensação do vazio criado pela
subtração do terraço, trazendo tridimensionalidade à
fachada e enriquecendo, portanto, a volumetria. Diante
dessas considerações, parecia ser uma preocupação de
Heep, a visão que o observador, situado no térreo, em
frente ao edicio, teria ao olhá-lo de baixo para cima.
Apesar de não exisrem textos do autor que comprovem
essa hipótese, a análise do todo de sua obra é um indício
dessa preocupação.
Fachadas
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Unidade de Habitação de Marselha - Le Corbusier - 1945
Fonte: hp://2.bp.blogspot.com/8Rightee_2%252529.jpg
acesso em outubro de 2009
Capa da revista Acrópole
nº 210 - 1956
Além das referências à Le
Corbusier citadas na análise do
edicio Normandie no que diz respeito
a conceitos sobre arquitetura e cidade,
pode-se dizer que a fachada do Icaraí
também é impregnada de elementos
oriundos da obra deste arquiteto.
Neste caso, é muito clara a referência
à Unidade de Habitação de Marselha
35
no emprego de terraços coloridos
e subtraídos do volume principal;
em ambos os casos, o resultado
alcançado foi uma volumetria mais
rica através dos sombreamentos, que
é reforçada mais ainda pelas cores
vivas e variadas.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(35) - As Unidades de Habitação (Unité d’Habitaon) são grandes edicios modulares projetados por Le Corbusier após a guerra mundial. Elas foram construídas em Nantes-Rezé,
Briey-en-Foret, Meaux, Belim e Firminy, porém, a mais célebre é a de Marselha; nela, Le Corbusier teve, pela primeira vez, liberdade total para expressar suas concepções sobre a
habitação moderna desnada à classe média. (BOESIGER, Willy. Le Corbusier. São Paulo: Marns Fontes, 1998.)
88
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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planta do pav. térreo
esc. 1:250
planta do pav. po
1º ao 24º pav.
esc. 1:250
1 - acesso social
2 - hall elevadores
3 - lojas
4 - banheiros
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
kitchenee - 43 m²
planta do subsolo
esc. 1:250
1 - estoques/lojas
2 - caixas d’água
1
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
90
corte AA
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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fachada praça roosevelt
Edicio Icaraí atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Icaraí atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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detalhe da modulação da fachada
detalhe do coroamento
Fachada modulada pelos terraços, cuja
medida corresponte exatamente ao vão
da estrutura. Ulização de caixilho piso-
teto
O coroamento segue as linhas vercais
e horizontais da fachada, criando um
guarda-corpo para a cobertura igual aos
demais, porém opaco, sem os gradis.
detalhe do térreo
No térreo uma robusta viga de tran-
sição que possui uma leve inexão. As
portas da entrada social e das lojas são
recuadas am de serem protegidas da
chuva.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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1º ao 6º pav.:
2 kitch. de 30,75m², 5 ap. de 62m²,
1 ap. de 90,20m²
7º pav:
6 ap. de 54m2, 1 ap. de 73m²
8º pav.:
5 ap. de 42,25m², 1 ap. de 80,30m²
Total: 61 unidades
Oo Meinberg S.A.
Rua Antonio Carlos 396 - Bela Vista
Retangular - 668 m²
7.2 - Área total = 4815m²
Habitat 29, 1956, p.62-63
83 %
Boa
Baixa
6.4 Edifício Ibaté 1953-55
Foto: Edson Lucchini Jr.
r. hadock lobo
r. augusta
r. luis coelho
r. antonio carlos
Foto do ed. Ibaté em 1956 Fonte: Revista Habitat 29, 1956, p.62.
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
94
A rua Augusta, onde situa-se o edicio Ibaté, além
de siginicar uma importante conexão viária entre o centro
da cidade, a avenida Paulista e a zona sul, destaca-se pela
intensa vocação comercial, cultural e de lazer na cidade
de São Paulo, além do seu valor simbólico. As primeiras
referências históricas relacionadas à via são do nal do
século XIX, quando ela se chamava rua Maria Augusta,
passando a se chamar rua Augusta em 1897.
Nos anos 1950, a Augusta tornou-se um importante
vetor das transformações sociais, econômicas e culturais
que elevaram a cidade de São Paulo ao patamar de
metrópole moderna pujante; o edicio que simboliza
esta transformação é o Conjunto Nacional, projetado por
David Libeskind em 1954. Situado em um terreno que
corresponde à quadra delimitada pelas ruas Augusta,
Padre João Manoel, alameda Santos e avenida Paulista, o
Conjunto Nacional é possivelmente o mais bem-sucedido
projeto de edicio mulfuncional concebido na cidade
de São Paulo.
O edicio Ibaté situa-se a duas quadras do Conjunto
Nacional, na esquina da rua Augusta com a Antonio Carlos,
que é a segunda paralela à avenida Paulista na direção do
centro da cidade. É mais um edicio projetado por Franz
Heep e executado por Oo Meinberg, sendo o mais distante
do centro da cidade já produzido por esta parceria.
O terreno, de geometria retangular, onde situa-
se o edicio Ibaté, possui 46,65m de comprimento, que
acompanha o alinhamento com a rua Antonio Carlos, por
14,32m de largura, que se alinham com a rua Augusta. A
maior face do terreno, voltada para a rua Antonio Carlos,
sofre um desnível de 3,00m, no sendo da esquerda para
a direita, para quem desta rua vê o edicio de frente,
portanto, o ponto mais baixo do terreno, situa-se na
esquina com a rua Augusta.
O pardo de implantação acompanha a geometria
do lote, denindo um volume cuja relação proporcional do
corpo elevado é de 46,65m de comprimento por 14,32m
de largura e 34,00m de altura. O térreo ocupa quase
Mier van der Rohe olhando a maquete do Conjunto Nacional de David Libeskind
São Paulo
Fonte: TOMBI BRASIL, Luciana; David Libeskind; Coleção olhar arquitetônico; São Pau-
lo; Romano Guerra Editora, 2007
Rua Augusta nos anos 1960
Fonte: hp://centrosp.prefeitura.sp.gov.br/projetos/augusta.php
acesso em março de 2009
bloco principal
rua antonio carlos
rua augusta
Pavimento térreo
(36) - As informações sobre a rua Augusta foram compiladas a parr de informações provenientes do site hp://pt.wikipedia.org acessado em fevereiro de 2010
A Rua Augusta
36
Terreno, implantação, volumetria e entorno
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
95
a totalidade do lote, com exceção de três vazios para
iluminação das lojas, além de um chanfro no cruzamento
com a rua Augusta, que subtrai área interna, liberando
mais espaço para a esquina e encurtando o percurso do
pedestre que vem pela rua Augusta em direção à Antonio
Carlos e vice-versa.
A parr do primeiro pavimento, o corpo elevado
segue faceando os alinhamentos do terreno, porém, ele
recua-se da divisa dos fundos em 3,20m; somente as caixas
de escadas e elevadores, além de um pequeno trecho
da planta na extremidade direita, connuam faceando a
divisa dos fundos. O sémo pavimento sofre recuos, que
o desloca em 1,60m do alinhamento com a rua Antonio
Carlos e 1,20m do alinhamento com a rua Augusta.
No oitavo pavimento um novo recuo em relação ao
sémo em mais 1,75m no sendo longitudinal e 1,35 no
transversal. O edicio, portanto, conta com térreo mais oito
pavimentos, sendo que os dois úlmos são escalonados. A
altura total da face do volume voltada para a rua Augusta
é de 34,00m, porém, devido ao desnível que ocorre no
térreo, a face oposta do volume conta com 31,00m de
altura. Esta diferença de 3,00m, fez com que fosse possível
a adoção de uma sobreloja apenas na porção direita, para
quem o edicio da rua Antonio Carlos, como mostra o
corte esquemáco abaixo.
O entorno do Ibaté, de modo geral, é composto
por edicios de gabarito semelhante, porém algumas
variações; o edicio que o ladeia na rua Antonio Carlos
possui altura condizente, porém o edicio vizinho na rua
Augusta possui um gabarito muito inferior; o mesmo
ocorre com outras construções próximas, ainda na rua
Augusta, fazendo com que haja uma desconnuidade na
composição da fachada da quadra.
1º ao 6º andar
circ. verticalcirc. vertical
bloco principal
rua antonio carlos
rua augusta
sobreloja
r. augusta
0.00
Corte esquemáco do térreo
3.00
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
96
O pavimento térreo acompanha o desnível de
3,00m que o terreno sofre em seu sendo transversal,
na direção da esquerda para a direita, para quem, da rua
Antonio Carlos, vê o edicio de frente; deste modo, as seis
lojas acompanham este desnível, estando cada uma numa
cota diferente. Destas seis lojas, quatro estão totalmente
voltadas para a rua Antonio Carlos, uma está voltada para a
rua Augusta, e uma está na esquina, abrindo-se para ambas
as ruas. O acesso dos moradores se na porção central da
planta térrea, onde um corredor de 4,00m de largura por
12,00m de comprimento conduz aos elevadores. Ladeando
à direita o acesso principal de moradores, encontra-se
uma entrada independente que conduz à sobreloja, cujo
uso se desna a escritórios. Sem dúvida, a adoção de lojas
no térreo foi uma decisão acertada por se tratar de um
projeto implantado em uma das ruas de comércio mais
intenso da cidade.
As lojas, da esquina e a que se volta para a Augusta,
sofrem um chanfro que ra a ortogonalidade das suas
plantas, mas que atribui ao edicio um entendimento
da esquina, aumentando a sua área para os pedestres e
encurtando o caminho deles quando o trajeto é da Augusta
para a Antonio Carlos e vice-versa. Um pilar de seção
circular marca e
organiza a esquina
37
, além de conferir
leveza ao volume, que este pilar redondo afasta-se da
linha dos demais, soltando a quina.
O bom entendimento da esquina, alcançado por
Heep em outros edicios com as mesmas caracteríscas
do Ibaté como o Araraúnas, o Iporanga e o Ouro Verde,
mostra a preocupação do arquiteto com a necessidade de
se entender a esquina e o contexto urbano, valorizando as
visuais do edicio e o conforto do pedestre.
A circulação vercal do Ibaté, assim como na maioria
dos edicios laminares projetados por Heep, é feita em
volumes secundários, destacados do principal, que faceiam
a divisa de fundos do terreno, porém, neste caso em
análise, as escadas e elevadores estão em caixas separadas
e independentes entre si. A caixa de elevadores situa-se na
porção central da planta; já a de escadas, desloca-se mais
rua antonio carlos
loja
83m²
loja
97m²
loja
88m²
loja
95m²
loja
90m²
loja
86m²
rua augusta
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
lojas
Térreo do Ibaté - valorização da esquina.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Térreo do Ibaté - Lojas
Foto: Edson Lucchini Jr.
(37) - Termo extraído de (BARBOSA, 2002, p. 92)
Térreo
Circulação Vercal
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Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
97
à esquerda. Há dois elevadores, um social e um de serviço,
que servem do térreo ao oitavo andar. A escada é linear
na transição do térreo para o pavimento, assumindo a
forma de “U” com patamar curvo intermediário, do ao
8º andar.
Em todos os andares desnados às habitações (1º
ao 8º), o arranjo espacial dos pavimentos se por um
corredor linear voltado para a face posterior da lâmina
principal, que, iluminado e venlado por cobogós de
concreto, distribui os uxos para os apartamentos, voltados
para a face principal de orientação sudoeste, que abre-
se para a rua Antonio Carlos. Do ao andar, o Ibaté
conta com o mesmo arranjo espacial dos pavimentos, e
com a mesma distribuição e dimensões das unidades.
Nestes andares, oito unidades em cada, sendo duas
kitchenees de 30,75m² e cinco apartamentos de 62,00m²,
todos voltados para a rua Antonio Carlos. Há uma unidade
maior que conta com 90,20m² e se abre para a rua Augusta
e para a Antonio Carlos.
As unidades do po Kitchenee, que são minoria no
Ibaté, possuem um arranjo espacial muito semelhante ao
de outras já experimentadas por Heep em outros edicios
como o Icaraí e o Normandie, portanto, já descritos e
analisados anteriormente.
Os apartamentos de 62m² são os que predominam
no edicio Ibaté; o acesso se dá por um corredor que
distribui os uxos para os setores de serviço, social e
ínmo de maneira independente. Logo que se adentra
o apartamento, à direita situa-se o banheiro de 2,50m
de comprimento por 2,10m de largura; estas medidas
permitem a colocação de um bidê, um vaso sanitário,
uma pia e uma banheira, com espaços generosos entre
eles. Seguindo pelo corredor, mais adiante, à esquerda,
conforma-se um pequeno hall que distribui o uxo para
uma lavanderia, para a cozinha, para a sala de estar e para
o dormitório. A lavanderia é um espaço retangular de
1,00m de largura por 2,50m de comprimento, suciente
para a colocação de um tanque, porém, o uso de uma
máquina de lavar roupas não seria possível. A cozinha
é um ambiente também de geometria retangular, que
conta com 2,00m de largura por 3,65m de comprimento,
sucientes para as funções normalmente atribuídas a este
30m²
62m²
62m²
62m²
62m²
62m²
90m²
30m²
Esquema de distribuição do pavimento po do 1º ao 6º andar
Planta das unidades de 62m²
rua antonio carlos
rua augusta
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Pavimento po e unidades
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
98
espaço. As salas de jantar e estar comparlham de um
único espaço retangular de 3,15m de largura por 5,20m
de comprimento, que permite a distribuição de um lay-
out suciente para atender as funções de estar e comer. O
dormitório conta um espaço idênco ao da sala de estar,
porém, ainda possui um closet.
No edicio Ibaté, é possível idencar uma postura
racional em relação à hidráulica dos apartamentos; isto
poderá ser notado em quase todos os edicios analisados,
entre eles o Lausanne (p.113) e o Ouro Preto (p.142).
Nota-se que uma separação clara das áreas molhadas
das de estar e repouso nos apartamentos, com a intenção
de racionalizar os elementos hidráulicos, concentrando-os
numa mesma região da planta, o que siginica economia
com tubulações e facilidade de manunteção.
As maiores unidades do Ibaté possuem cerca de
90,00m² e situam-se na extremidade direita do edicio,
para quem o de frente pela rua Antonio Carlos. Assim
como nas unidades de 62,00m² descritas, neste caso,
um corredor também distribui os uxos para os diferentes
setores da planta, porém, uma fragmentação da área
ínma, que os dois dormitórios não se ladeiam e não
estão muito próximos, causando um conito entre os
setores da planta.
Este conito é, mais uma vez, um forte indício de
que na obra de Heep, o ímpeto racional prevalece sobre
as questões espaciais, que esta fragmentação da área
ínma se deu pela manutenção das áreas molhadas na
mesma porção da planta em que elas aparecem nas
demais unidades, fato que neste caso, prejudicou o arranjo
da planta, mas não agrediu a racionalização das prumadas
hidráulicas.
As dimensões dos ambientes não se diferem muito
das descritas no apartamento de 62,00m², com exceção
das salas de estar e jantar, que são 5,00m² maiores.
um terraço de 6,00m² que, acessado pelo dormitório de
solteiro e pela sala de jantar, projeta-se sobre o passeio
da rua Augusta. Estas unidades são as únicas em todo o
edicio que possuem dois dormitórios, sendo que o de
casal volta-se para a rua Antonio Carlos, e o de solteiro,
para a rua Augusta.
bloco principal
Esquema de distribuição de áreas molhadas, estar e repouso
áreas molhadas
áreas de estar e repouso
Planta das unidades de 90m²
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99
O pavimento é o primeiro a sofrer o recuo
obrigatório de 1,60m no alinhamento dele em relação
aos inferiores. O arranjo do pavimento e a distribuição
das unidades não muda signicavamente; este andar
não conta mais com as kitchenees, pois com o recuo
longitudinal de 1,60m elas cariam muito pequenas. Deste
modo, o pavimento conta com seis unidades de 54,00m²
e uma de 73,00m². O recuo não interferiu muito no arranjo
das plantas das seis unidades de 54,00m² em relação às
de 62,00m² dos andares inferiores, sendo que a única
diferença entre elas, além da perda de 8,00m², é o fato
da sala de estar e do dormitório terem se transformado
em terraços abertos, que não contam na área total do
apartamento.
A unidade de 73,00m² também possui um arranjo
espacial muito semelhante às de 90,00m² dos pavimentos
infeiores, porém, o fato dela também se voltar para a rua
Augusta, fez com que ela sofresse um recuo de 1,20m no
sendo transversal, além do recuo de 1,60m no sendo
longitudinal, como nas demais do pavimento; isto gerou
a perda de um dormitório na unidade de 73,00m² em
relação à de 90,00m².
O pavimento sofre um novo recuo em relação
ao 7º, de 1,75m no sendo longitudinal (em relação à rua
Antonio Carlos) e de 1,35m no sendo transversal (em
relação à rua Augusta), gerando uma nova distribuição das
unidades ao longo do pavimento, além de um novo arranjo
nas plantas dos apartamentos. Agora, são cinco unidades
de 42m² e uma de 80m². As unidades de 42,00m² possuem
um arranjo semelhante às de 54,00m² do andar e às
de 62,00m² do ao 6º, porém, a dimensão reduzida no
sendo longitudinal, obda graças ao recuo do pavimento,
trouxe a perda da área de serviço e do closet, além de
dimensões reduzidas para a sala de estar e o dormitório.
A unidade de 80,00m² do 8º andar possui uma
distribuição singular em todo o edicio. O acesso a ela se
por um corredor, onde à direita, de quem entra, situa-se o
banheiro e à esquerda, a cozinha, de onde se acessa a área
de serviço. Ao nal do corredor, um espaço retangular
de 22,00m² que corresponde às salas de jantar e estar,
que abrem-se para um terraço connuo e descoberto. Na
porção extrema direita da planta, para quem o edicio
de frente pela rua Antonio Carlos, situam-se os dois
dormitórios, sendo que o de solteiro volta-se para esta rua
e o de casal, para a rua Augusta.
Esquema de distribuição do 7º pavimento
rua antonio carlos
rua augusta
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
54m²
54m²
54m²
54m²
Esquema de distribuição do 8º pavimento
rua antonio carlos
rua augusta
42m²
42m²42m²
42m²
42m²
80m²
54m² 54m² 73m²
Planta da unidade de 80m²
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Perspecva do Ibaté - esquina entre as ruas Antonio Carlos e Augusta
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101
A descrição e a análise das fachadas do edicio Ibaté
se concentrarão nas duas que se voltam para a cidade: a
da rua Antonio Carlos, com orientação sudoeste e a que
se volta para a rua Augusta, com orientação nordeste. A
terceira fachada que recebeu tratamento arquitetônico é
a dos fundos, onde predominam os cobogós de concreto
que iluminam e venlam os corredores.
A fachada da rua Antonio Carlos pode ser
considerada a principal; apesar de estar voltada para
uma rua de menos signicado simbólico para a cidade, a
fachada da Antonio Carlos é a maior e para onde se voltam
a maioria das aberturas do edicio. No térreo predominam
na fachada as portas das lojas, com bandeiras superiores
de venlação e iluminação. A entrada social ocorre na
porção central da fachada da Antonio Carlos e se por
uma grande abertura de cantos arredondados que quebra
o ritmo estabelecido pelas portas das lojas, marcando
signicavamente a entrada do bloco residencial. Na
fachada da rua Augusta, também predominam no térreo
as portas das lojas. Como mencionado anteriormente,
a esquina recebeu um tratamento especial, já que o recuo
das lojas em relação ao alinhamento, produziu uma área
coberta, que aumenta e valoriza o importante espaço
de encontro entre duas vias. Além disso, o pilar redondo
deslocado da quina, solta o volume, conferindo leveza.
Fachada do Ed.Ibaté atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Fachadas
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No corpo principal da fachada, que corresponde a
seis andares de apartamentos, uma grelha não-estrutural de
concreto se sobressai no volume do edicio; ela é composta
por retangulos de 6,45m de comprimento por 3,00m de
altura e 60cm de profundidade, que correspondem a um
apartamento, e enquadram duas aberturas. Os elementos
horizontais da grelha são oreiras, que possuem 35cm de
altura; elas são os elementos mais espessos da fachada,
que enfazam a horizontalidade da composição; este
recurso foi ulizado por Heep no edicio Normandie,
onde a oreira saliente ajuda na diminuiçao da sensação
vercal. Ao se observar a fachada do Ibaté, num primeiro
momento, crê-se que as oreiras são vigas salientes que
marcam as transições entre os pavimentos, mas na verdade,
elas estão 55cm acima das lajes, iludindo a posição exata
desta transição entre os andares. Os elementos vercais
da grelha são prolongamentos das paredes internas que
separam as unidades, projetando-se na fachada, de modo
a individualizar os apartamentos. Pode-se dizer que a
grelha é um elemento que atribui volume, cheios, vazios
e sombras à fachada. Além disso, ela também exerce um
importante papel de proteção solar; a orientação sudoeste
faz com que o sol da tarde incida diagonalmente sobre
a fachada. Desta forma, a grelha, com seus elementos
salientes vercais e horizontais cria um anteparo à luz e ao
calor.
Grelha da fachada do Iba
Foto: Edson Lucchini Jr.
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103
O edicio Ibaté representa uma exceção na obra
de Franz Heep no que diz respeito aos caixilhos. Em todas
as demais obras estudadas, eles foram desenhados pelo
próprio arquiteto, porém neste caso, Heep optou por um
caixilho disponível no mercado da época: a “Janela Ideal”,
amplamente ulizada em projetos de apartamentos
residenciais nos anos 1940, 1950 e 1960. A Janela Ideal”
é um painel de madeira pré-fabricado que, na maioria
dos casos, ocupa todo o vão estrutural, pracamente
eliminando os fechamentos em alvenaria nas fachadas.
A “janela Ideal” é composta por bandeira e peitoril
xos de ripas de madeira que fazem o papel de venezianas
ou brises. As duas folhas móveis, também ripadas de
madeira, abrem como guilhona”. Duas folhas em vidro
correm por trás das venezianas.
Propaganda da Janela “Ideal”
Fonte: Revista Acrópole nº236, janeiro de 1958
“Essa condição encerra vantagens formavas
excepcionais para as fachadas dos edicios,
pois iludem a gura da janela e a conseqüente
perfuração da parede e oferecem elementos
fabricados como painéis que denem planos
quadriláteros regulares completados com
alvenarias íntegras [...]”
.
(ESPALLARGAS GIMENEZ, 2009.)
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
104
A fachada da rua Augusta pode ser dividida em
quatro faixas vercais que compõe seu todo. A primeira
faixa, da esquerda, para quem vê o edicio de frente pela
rua Augusta, é uma empena cega branca, que extrapola
a altura do edicio. Este é um recurso de marcação de
esquina ulizado por Heep no edicio Ouro Verde, de
1952. Logo acima do térreo, surge na empena um volume
sobressaliente que caracteriza uma janela de banheiro
do po “indevassável”, que também será ulizada por
Heep no edicio Araraúnas (p.183), de 1953. Ladeando a
empena cega, surge uma faixa de terraços sobressalentes,
que projetam-se sobre o passeio da Augusta; a leveza e
o jogo de volumes e sombras promovido pelos terraços,
contrapõe a austeridade e opacidade da empena ao lado,
que marca a esquina. O desenho dos guarda-corpos dos
terraços, com sua parte frontal em alvenaria e as laterais
vazadas e protegidas por grades tubulares, viria mais tarde
a ser ulizado por Heep em outros edicios, como por
exemplo o Ouro Preto, de 1954. Ao lado dos terraços,
uma faixa de caixilhos (Janela Ideal) e por m, uma
úlma empena cega, bem mais estreita que a da esquina,
deixando clara uma noção de hierarquia entre elas.
Ed. Ouro Verde - Adolf Franz Heep - 1952
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ibaté - fachada da rua Augusta atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ouro Preto - Adolf Franz Heep - 1954
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Edson Lucchini Jr.
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O coroamento do Ibaté ocorre nos dois úlmos
pavimentos, que sofrem o escalonamento obrigatório.
Os recuos geraram terraços descobertos, separados entre
si por muros de 2,00m de altura que individualizam as
unidades residenciais. Não há mais o uso da “Janela Ideal”
e sim, portas balcão de abrir com bandeira superior de
venlação permanente. O pavimento ainda conta com
a oreira da grelha dos andares inferiores, porém, no
8º, ela lugar a um guarda-corpo de concreto e tubos
metálicos.
No coroamento do edicio Ibaté, como em quase
todos os demais estudados, o escalonamento obrigatório
surge como uma forte condicionante de projeto, que
desaa a capacidade do arquiteto em obter uma solução
harmoniosa. Só o escalonamento em si já representa uma
ruptura com a unidade do corpo principal da fachada, mas
aqui neste caso, e em quase todos os projetos de Heep,
esta ruptura se reforça com a adoção de caixilhos, guarda-
corpos e oreiras diferentes dos ulizados no restante da
torre.
Considerações e hipóteses acerca da postura de
Heep em relação aos escalonamentos e coroamentos dos
edicios serão comentadas de forma mais detalhada nas
conclusões deste trabalho (p.271).
Atualmente, o edicio Ibaté encontra-se num
estado sasfatório de conservação e num nível baixo de
descaracterização em relação ao projeto original. Como
em quase todos os edicios estudados, os fatores que mais
agridem as fachadas são os fechamentos de terraços com
caixilhos variados e de péssima qualidade, que empobrecem
a volumetria original do edicio e comprometem a unidade
da fachada. Os andares escalonados estão com seus
terraços quase todos cobertos com materiais diversos,
atribuindo um aspecto negavo ao edicio.
Situação Atual
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1 - hall de social - portaria
2 - hall de elevadores sociais
3 - depósito de lixo
4 - áreas descobertas
5 - banheiros
6 - lojas
planta do pav. térreo
esc. 1:250
planta do 1º ao 6º pav.
esc. 1:250
apto. 1 dorm. - 62 m²
apto. 2 dorm. - 90,20 m²
kitchenee - 30,75 m²
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório casal
6 - dormitório solteiro
7 - terraço
8 - serviço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
1
1
2
2
3
3
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107
planta do 7º pav.
esc. 1:250
planta do 8º pav.
esc. 1:250
apto. 1 dorm. - 54 m²
apto. 1 dorm. - 54 m²
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1 - cozinha
2 - serviço
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - closet
1
1
1
1
2
2
apto. 1 dorm. - 73 m²
apto. 1 dorm. - 73 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraços
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraços
2
2
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corte BB
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corte AA
fachada rua augusta
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fachada rua antonio carlos
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detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada
detalhe de fachada - coroamento.
Ritmo das portas das lojas é rompido pela
imponência do acesso social.
Grelha cujas unidades retangulares
correspondem a um apartamento. Seus
elementos horizontais são oreiras que
iludem a transição entre os pavimentos.
Os dois úlmos pavimentos são escalonados
e rompem com a pologia predominante;
presença dos terraços descobertos.
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Térreo: 2 ap. de 165 m²
1 ap. zelador de 80 m²
1º ao 13º pav.: 4 ap. de 175 m²
14º pav.: 4 ap. de 152 m²
15º pav.: 1 ap. de 263 m²
2 ap. de 133 m²
Total - 62 unidades
Acrópole 239, 1958, p. 504 a 509
mackenzie
r. sabará
r. d.veridiana
av. higienópolis
r. maranhão
Construtora Auxiliar S.A.
(Engº resp. Elias e Aizik Helcer)
Av. Higienópolis 101/111 - Higienópolis
Retangular - 1635,00 m²
8,50 - Área total = 13.960m²
49,5 %
Óma
Baixa
6.5 Edifício Lausanne 1953-58
Perspecva original do Edicio Lausanne
Fonte: Fotograa de Fernando Marnelli do quadro que contém o desenho original, desenhado
por Franz Heep, encontrado no escritório do engenheiro Aizik Helcer em São Paulo.
Foto: Edson Lucchini Jr.
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
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113
O edicio Lausanne está situado na avenida
Higienópolis, no bairro de mesmo nome, que sempre
foi marcado pela elegância de suas construções desde
a sua primeira ocupação, no início do século XX, pelos
luxuosos casarões, até a sua vercalização, iniciada de
maneira mida no nal dos anos 1930 e com seu apogeu
nos anos 1950. Higienópolis se tornou uma referência
na substuição de casas por edicios residenciais dentro
de novas exigências legais que garanam uma ocupação
de qualidade, favorecendo a inovação arquitetônica e
associando presgio à construção vercal, que fora num
primeiro momento alvo de preconceito por parte das
classes mais abastadas. Sem dúvida, o edicio que simboliza
esta transformação do bairro de Higienópolis, tornando-se
um marco, é o Edicio Prudência (1944-1948), projetado
por Rino Levi. (GAGGETTI, 2000, p.100)
O edicio Lausanne, cujos projetos datam de 1953,
e a entrega em 1958, também foi muito importante para
a consolidação do modelo vercal de moradia de luxo. O
terreno onde ele foi erguido é o resultado da incorporação
de dois lotes, sendo que cada um deles possuia um grande
sobrado; foi adquirido por Nachman Helcer, dono da
Construtora Auxiliar S.A. e pai dos engenheiros Elias e Aizik
Helcer, que assinaram o projeto de Heep.
“O Prudência (...) era considerado um argo de
luxo e seus aluguéis eram caríssimos. O projeto
levava para o edicio todo o luxo e conforto
das angas residências, seja nas dimensões
generosas ou nos acabamentos requintados”.
.
(GAGGETTI, 2000, p.102)
“No auge de sua maturidade prossional e de
produção de seu escritório, Heep desenvolve (...)
esse prédio de apartamentos, onde resume seu
ideário racionalista”
. (BARBOSA, 2002, p.139)
Avenida Angélica no começo do século XX
Fonte: www.verbeat.org/blogs/donize/2009/03/avenida-angelica.
html - Acesso em março de 2009
Edicio Prudência- 1944- Rino Levi
Fonte: www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/imagens/311_08.
jpg - Acesso em abril de 2009
Construção do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Carimbo dos Irmãos Helcer
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Higienópolis e o edicio Prudência
114
O terreno onde situa-se o edicio Lausanne possui
topograa plana, conseguida por terraplanagem, que
o seu perl natural era caracterizado por um desnível de
aproximadamente 5,00m no sendo da rua Maranhão
para a avenida Higienópolis. A geometria retangular do
lote conta com 50,00m de frente, voltados para a avenida
Higienópolis, por 32,70m de fundo, totalizando 1635,00
de área. A ocupação dos lotes lindeiros laterais também
é dada por edicios vercais residenciais; o lote lindeiro
ao fundo, separado do lote em questão por um muro de
arrimo, possui cota 5m acima do nível do térreo do edicio
Lausanne e é ocupado pelo edicio da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
38
.
O pardo de implantação do edicio acompanhou
a geometria do lote e deniu um bloco cuja face principal
está voltada para a avenida Higienópolis e orientada a
nordeste. Além disso, este bloco está, em todas as suas
faces, recuado dos limites do terreno. O recuo frontal, que
separa o volume 9,30m do alinhamento com a avenida
Higienópolis, permiu o ganho em altura e a minimização
dos escalonamentos obrigatórios, que no caso do edicio
Lausanne ocorre somente nos dois úlmos pavimentos.
O volume ainda recua-se 3m das duas divisas laterais do
lote e 4,50m da divisa de fundo, resultando numa relação
proporcional no corpo elevado de 44,00m de largura por
32,70m de profundidade, além dos 51,55m de altura,
divididos em térreo mais 15 pavimentos, porém, os
dois úlmos sofrem o escalonamento, que diminui as
suas profundidades em 2,15m no 14º e 3,60m no 15º
pavimento. O volume é composto por dois blocos unidos
e espelhados entre si, com acessos e circulações vercais
independentes. A existência desses dois blocos disntos
é percebida apenas na fachada dos fundos; na fachada
principal a sensação é de um volume monolíco, suspenso
do chão por pilos
O edicios do entorno do Lausanne, por terem
sido construídos sob as mesmas premissas da legislação,
possuem gabarito semelhante, sem grandes distorções,
porém, o edicio que o ladeia à esquerda, de quem da
avenida Higienópolis o de frente, possui um gabarito
muito mais elevado que conta com 25 pavimentos, fato
possível por ele ter sido construído sob as premissas atuais
da lei, onde a altura da edicação não é mais relacionada à
largura da via.
av. higienópolis
bloco 1
bloco 2
circ. vertical
circ. vertical
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(38) - O edicio da rua Maranhão abrigou o curso de arquitetura e urbanismo da USP até 1968, quando este se mudou para a Cidade Universitária; de 1973 até hoje funcionam no edicio
os cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) além da biblioteca.
Terreno, implantação, volumetria e entorno
115
O pavimento térreo encontra-se 1,60m acima do
nível da avenida Higienópolis, o que permiu a decisão
por um subsolo semi-enterrado, 1,60m abaixo da cota
da mesma avenida. Esta solução reduziu as escavações e
minimizou o comprimento de rampas de acesso aos níveis
do subsolo e do térreo, cuja elevação em relação à rua,
trouxe mais visibilidade e imponência ao edicio.
Duas rampas curvas vencem o desnível entre a cota
da avenida Higienópolis e a do térreo, caracterizando um
percurso de entrada, desembarque e saída de automóveis.
também escadas que possibilitam o acesso de pedestres,
separando-os dos veículos. Outras duas rampas, situadas
em ambas as extremidades do terreno, acessam o subsolo,
vencendo outros 1,60m de desnível em relação à avenida
Higienópolis. A existência dessas duas rampas caracteriza
um percurso de entrada e saída de veículos no subsolo,
desnado às garagens, que contempla 61 vagas, porém,
este número é conseguido com o auxílio de manobristas;
o número de vagas condiz com o de apartamentos, fato
corrente na época apenas em edicios de alto padrão.
Os moradores do Lausanne que possuiam
automóvel, o deixavam com manobristas na área de
desembarque do térreo, defronte aos acessos sociais
principais do edicio. Os manobristas conduziam o veículo
para o subsolo e retornavam à área de desembarque
pelas próprias rampas de veículos; os nichos de circulação
vercal do edicio não chegavam ao subsolo e não havia
escadas independentes para acessá-lo, tornando clara a
intenção de fazer com que as garagens fossem acessadas
apenas pelos manobristas. Posteriormente, foi construída
uma escada que liga o térreo ao subsolo, facilitando o
acesso dos moradores a este pavimento, que não
mais manobristas trabalhando no Lausanne.
No nível do térreo, antes de adentrar ao edicio, o
observador depara-se com a linha de pilos que compõe
uma colunata permeada por jardins, que suspende o
volume e enquadra cheios e vazios. Dois destes vazios, são
os acessos principais, espelhados entre si e levemente
deslocados da porção central da planta. O nível térreo, assim
como quase todos os demais, organiza-se em simetria,
cujo eixo encontra-se no ponto médio da face frontal do
terreno, lindeira à avenida Higienópolis. Os dois blocos que
compõe o edicio, espelhados entre si, possuem acessos
Capa da revista Acrópole nº 239 - 1958
ap. zel.
80 m²
165 m²
165 m²
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
Esquema de distribuição do pavimento térreo
av. higienópolis
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Térreo e subsolo
116
independentes, separados pela casa do zelador, situada
na porção central do térreo, cuja planta conforma um
trapézio; a base menor está voltada para a parte frontal
do edicio, desta forma, os lados inclinados deste trapézio,
que seguem no sendo da frente para os fundos do lote,
induzem o uxo para o hall dos elevadores e de acesso aos
dois apartamentos térreos. Além disso, pode-se dizer que
os acessos principais do térreo ocorrem nos espaços vazios
entre a casa do zelador e os apartamentos, cujas paredes
curvas que os separam das áreas sociais, junto às paredes
inclinadas da casa do zelador, conformam um percurso de
acesso ao edicio, que possui momentos disntos, anal,
a conformação geométrica descrita promove, ora um
estreitamento, ora uma abertura do percurso causando
diferentes percepções e sensações de espaço. A casa
do zelador tem em sua porção frontal, na base menor
do trapézio, uma sala de estar com um grande caixilho
que também atribui ao ambiente a função de guarita; o
espaço desnado à casa do zelador ainda conta com dois
dormitórios, cozinha, banheiro e um quintal descoberto,
que é conformado pelo vazio entre os dois blocos do
edicio.
As áreas não ocupadas do térreo, resultantes dos
recuos, são caracterizadas em sua maioria por canteiros.
Além deles, há um passeio em mosaico português que
circunda toda a edicação.
Como descrito anteriormente, o edicio Lausanne
possui dois blocos disntos. Cada um deles conta com
uma caixa de circulação vercal conda dentro do volume
principal; elas são espelhadas entre si e compostas por dois
elevadores sociais, dispostos lado a lado, e um de serviço,
ladeado por uma escada em formato de “U”, sem patamar
intermediário, que se torna linear na transição do 1º andar
para o térreo, devido à existência de uma laje de transição
entre estes dois pavimentos, que obriga o aumento do
número de espelhos. Além disso, somente entre o térreo
e o pavimento, a escada se encontra em um volume
sobressaliente em relação à fachada posterior.
Edicio Lausanne em 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Edicio Lausanne em 2009
Foto: Edson Lucchini Jr
Edicio Lausanne em 2009 - Cobogós - Casa do Zelador
Foto: Edson Lucchini Jr
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Circulação Vercal
117
A distribuição das unidades no edicio Lausanne
ocorre segundo quatro conformações. O térreo conta com
duas unidades idêncas, ambas com dois dormitórios e
165m², espelhadas entre si e situadas nas extremidades
laterais da planta. Do ao 13ª pavimento, são quatro
unidades por andar, todas com 175m² e três dormitórios.
As duas situadas nas extremidades são idêncas, diferindo
das duas centrais apenas na disposição e tamanho dos
banheiros e dormitórios de empregada. No 14º pavimento,
a necessidade de um recuo obrigatório de 2,15m com
relação ao alinhamento dos pavimentos inferiores,
trouxe uma diminuição da área das unidades para 152m²,
com dois dormitórios, porém, com o arranjo espacial
semelhante ao dos apartamentos dos andares inferiores. O
15º pavimento sofre o segundo recuo obrigatório, de mais
2,15m em relação ao alinhamento do 14º andar, trazendo
a necessidade de um arranjo espacial diferente; o 15º
andar possui três unidades, sendo que uma delas ocupa
todo o bloco esquerdo do edicio e conta com 264m² de
área e três dormitórios. O bloco direito é divido em duas
unidades de 133m², com arranjos espaciais diferentes,
porém, com dois dormitórios cada. O edicio totaliza 61
unidades, sendo duas no térreo, 52 do ao 13º andar,
quatro no 14º e três no 15º.
As unidades que mais se repetem no Lausanne são
as de 175m², presentes do ao 13º andar. Junto à entrada
social do apartamento, um biombo que induz o percurso
às áreas ínmas, sem que haja necessidade da passagem
Esquema de distribuição do 1º ao 13º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
av. higienópolis
175 m² 175 m² 175 m²
175 m²
Planta da unidade de 175m² - 1º ao 13º pavimento.
Sala de Jantar e estar do apartamento de 175m²
Foto: Edson Lucchini Jr
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Pavimento po e unidades
118
pelas áreas sociais; além disso, o biombo conforma um hall
de entrada. As áreas sociais são denidas por um espaço
de 40m² sem comparmentações, cuja geometria em “L
inverdo, permite dois ambientes de estar e um de jantar.
Um caixilho de ferro e vidro, que vai do piso ao teto, separa
o terraço da sala de estar localizada na extremidade inferior
do “L inverdo. Este terraço, de geometria retangular e
área de 6,50m², é fechado pelos brises móveis coloridos
que compõe a fachada e serão descritos detalhadamente
mais adiante. Uma estante de concreto e madeira, solta
do piso e do teto, separa a sala de jantar de um corredor
ínmo, que confere privacidade à circulação entre os
dormitórios e os banheiros. Dois dos três dormitórios,
sendo um de solteiro e um de casal, estão voltados para
a face principal do edicio, orientada a nordeste; ambos
possuem as mesmas dimensões, com 16m² e a mesma
geometria retangular O terceiro dormitório, desnado à
um solteiro e com dimensões menores, está voltado para
a face lateral do edicio; ele conta com 12,5m² e separa-se
do dormitório de casal apenas pelos armários embudos
de ambos, sem o uso de parede de alvenaria. A copa e a
cozinha dividem um mesmo espaço retangular de 18m²,
separando-se apenas por armários. O acesso de serviço
do apartamento é feito pela cozinha, numa área próxima
à área de serviço, que conta com 6,70m² e funciona como
hall de distribuição para o dormitório e o banheiro de
empregada.
As plantas dos apartamentos do edicio Lausanne,
independentemente de suas dimensões e arranjos
espaciais, possuem uma clara divisão entre as áreas que
concentram as instalações sanitárias, das áreas de estar e
repouso. Isto, mais uma vez, reforça a postura racionalista
de Heep, que, na maioria dos casos, prioriza a economia
com elementos hidráulicos e a facilidade de manutenção
dos mesmos, deixando em segundo plano alguns confortos,
como por exemplo, o emprego de suítes. Desta forma, essa
racionalização hidráulica proposta por Heep acarreta em
arranjos espaciais em que os banheiros de casal e social
ladeiam-se e são acessados pelo corredor
39
. No caso do
edicio Lausanne, esta postura de racionalização hidráulica,
em detrimento do conforto é muito evidente, que os
usuários do dormitório de casal tem que atravesar todo o
corredor ínmo para acessar o seu banheiro.
circ. vertical
circ. vertical
Edicio Lausanne em 1958 - Banheiro - Janela com cantos arredondados
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Esquema de disposição das áreas molhadas, estar e repouso e circulação vercal
Edicio Lausanne em 1958 - Dormitório de solteiro
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
áreas molhadas
áreas de estar e repouso
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(39) -Este po de diposição, em que se prioriza a proximidade entre banheiros, é recorrente nos apartamentos de Heep. Os edicios Ouro Preto (p.142) e Lugano e Locarno (p.226) que
são do mesmo porte do Lausanne, contam com arranjos espaciais semelhantes.
119
Os dois apartamentos do térreo contam com uma
conformação espacial concebida sob as mesmas premissas
das ulizadas nos apartamentos dos andares superiores;
eles possuem 165m², o que não simboliza uma redução tão
signicava de área com relação aos demais apartamentos,
porém, eles possuem apenas dois dormitórios e uma sala
de estar maior, denida pelas paredes curvas que a separa
das áreas sociais do térreo.
Os apartamentos do 14º andar possuem um arranjo
espacial muito semelhante aos dos pavimentos inferiores,
porém, o escalonamento que o edicio sofre a parr deste
andar, reduz a área interna do apartamento, acarretando
num grande terraço descoberto que se estende por toda a
porção da planta que abriga o dormitório de casal e a sala de
estar, ambos voltados para a avenida higienópolis. Os dois
apartamentos das extremidades do 14º andar constuem
uma exceção na questão descrita na página anterior acerca
da racionalização hidráulica; nestes apartamentos, Heep
situa os banheiros entre os domitórios de solteiro e de
casal, criando uma suíte para este. Não foram idencadas
limitações espaciais ou construvas capazes de juscar
esta mudança na locação dos banheiros do 14º andar
em relação aos dos andares inferiores; ela pode ser fruto
de uma intenção de se criar plantas variadas, capazes de
atender a diferentes demandas.
Planta da unidade de 165m² - pavimento térreo
Esquema de distribuição do 14º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
av. higienópolis
terraço
terraço
terraço
terraço
152 m²
152 m² 152 m²
152 m²
Planta da unidade de 152m² - 14º pavimento.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
120
O 15º pavimento, devido ao escalonamento do
edicio, recua-se mais uma vez em relação ao andar
inferior, o que acarreta em um novo arranjo das plantas dos
apartamentos. Em todo edicio há dois apartamentos por
bloco, porém, no 15º andar, o bloco da esquerda, de quem
da avenida Higienópolis vê o edicio de frente, é ocupado
por apenas um apartamento de 263m² de área, o maior
do Lausanne. O bloco da direita connua dividido em duas
unidades, porém diferentes entre si; ambas contam com
133m², as menores do edicio.
O apartamento de 263m² é o maior, não só do
Lausanne, como de todos os edicios projetados por Heep
em São Paulo; junto ao seu acesso social, um hall de
11,00m² que, além de ser um espaço de recepção, também
desempenha um importante papel de distribuição dos
uxos, de maneira independente, para todos os setores
do apartamento, como mostra o esquema ao lado; o hall
de entrada ainda conta com um lavabo (ambiente que
aparece somente neste apartamento em todo o edicio).
O setor social, denido por um retângulo de 12m de
comprimento por 5m de profundidade, totaliza 62m² de
área e contempla uma sala de estar com dois ambientes e
uma sala da jantar. uma lareira, denida por um volume
deslocado de paredes, que separa os ambientes de estar
da sala de jantar sem segregá-los visualmente, conferindo
uma considerável amplitude ao espaço. Caixilhos de correr
e blocos de vidro separam as salas do terraço, cuja extensão
é equivalente ao comprimento do apartamento. Em toda a
sua extensão, o terraço é coberto por dômus, que além do
papel de iluminação natural, desenham um interessante
coroamento ao edicio. Porém, o espaço desnado ao
terraço foi, logo após a inauguração do edicio, fechado
por caixilhos de vidro, ampliando as salas de estar e jantar
e minimizando a percepção do escalonamento do volume,
porém, empobrecendo o desenho original do coroamento;
com isso, os dômus de iluminação natural caram dentro
das salas, como mostram as fotos da próxima página.
Acredita-se que essa decisão de se fechar os terraços tenha
sido tomada após o deferimento do “habite-se” do edicio,
que os projetos de prefeitura e execuvo contam com os
terraços abertos.
O setor ínmo é composto por três dormitórios,
sendo que um de solteiro e o de casal são voltados para a
face principal do edicio e abrem-se para o terraço; o outro
dormitório de solteiro está localizado na porção superior
esquerda da planta e possui a sua abertura na fachada
lateral esquerda, orientada a sudeste; este dormitório
Esquema de distribuição do 15º andar
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
unidades
av. higienópolis
152 m²
263 m²
133 m²
133 m²
terraço
terraço
terraço
setor íntimo
setor social
distribuição
acesso
setor de serviço
Setorização do apartamento de 263m² do 15º andar.
Planta da unidade de 263m² - 15º pavimento.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
121
possui um banheiro privavo. No dormitório de casal
surge, pela primeira vez, neste projeto, um closet; é por ele
que se acessa o banheiro do casal e o ambiente de dormir.
Pode-se dizer que o dormitório de casal é uma suíte, pois
possui um banheiro privavo, porém, este banheiro se
abre para o corredor, de onde se deduz que ele também
possa ser usado socialmente, caracterizando uma situação
um tanto quanto inusitada. Na porção superior direita da
Edicio Lausanne em construção - 1956 - Vista do 15º andar
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
planta do apartamento, está localizada a copa e a cozinha
com despensa, além da área de serviço, com dormitório e
banheiro de empregada.
O 15º pavimento ainda conta com duas unidades de
133,00m² e dois dormitórios cada; seus arranjos espaciais
diferem entre si não conceitualmente, mas na disposição
de alguns ambientes, como mostram os desenhos abaixo.
Edicio Lausanne em 1958 - Sala do apartamento de 263m² do 15º andar
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Planta da unidade
de 133m²
15º pavimento.
Planta da unidade
de 133m²
15º pavimento.
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Perspecva do Edicio Lausanne - Av. Higienópolis
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O edicio Lausanne caracteriza-se por um bloco
isolado, portanto, possui quatro fachadas passíveis de
tratamento arquitetônico. Na fachada voltada para a
avenida Higienópolis, idencam-se três momentos
disntos, que denem claramente o térreo, o corpo principal
e o coroamento do edicio. O térreo é caracterizado pela
sequência de pilos, que revela o ritmo estrutural do
edicio, oculto nas demais partes superiores da fachada.
Os pilos enquadram situações disntas, que por trás
deles intercalam-se situações de cheios e vazios; as partes
que, em planta, correspondem aos apartamentos térreos
e à casa do zelador, recebem na fachada supercies de
cobogós octogonais, rasgados esporadicamente por
aberturas retangulares que correspondem às janelas dos
apartamentos. momentos em que os pilos enquadram
vazios; estes correspondem aos dois acessos do edicio,
separados pela casa do zelador, que também uliza os
cobogós no fechamento de sua parte frontal.
Edicio Lausanne em 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Fachadas
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Suspenso do chão pelos pilos do térreo, o corpo
principal do edicio, que corresponde a 13 pavimentos,
é dominado pela presença das venezianas coloridas,
separadas ao longo dos andares por linhas brancas
horizontais de 30 cm de altura, que correspondem às
lajes. Entre o térreo e o primeiro pavimento, uma laje
de transição estrutural, que possui 60 cm de altura. Pode-
se dizer que não fechamentos em alvenaria na fachada
principal do edicio Lausanne. As venezianas, ou brises
de alumínio que predominam na fachada, são de correr;
as aletas que compõe os brises também são móveis,
permindo um controle muito signicavo de iluminação
e venlação. Atrás das venezianas, ainda existem caixilhos
de madeira e vidro, que correm sobre uma barra, também
de madeira, que separa o caixilho de correr de um peitoril
de vidro que vai até o chão e também se abre como um
maxi-ar inverdo. Os caixilhos do edicio Lausanne são
fruto de projetos exausvamente detalhados, com muitos
elementos em escala 1:1. Aizik Helcer, um dos engenheiros
responsáveis da obra, relata em entrevista concedida em
janeiro de 2010, algumas experiências vividas por ele
durante o projeto e a execução do Lausanne:
“Meu pai (Nachman Helcer, dono da construtora
Auxiliar) e meu irmão (Elias Helcer) achavam o Heep um
louco e diziam para eu não ir atrás das idéias dele, mas eu
sou um engenheiro que deveria ter estudado arquitetura,
pois adoro, e por isso, queria ver onde as loucuras do Heep
iriam dar. Eu acreditava nas idéias do Heep, pois sabia que
ele era um grande arquiteto, um obsnado, e por isso eu
vivia brigando com meu pai e meu irmão. Segundo eles, a
idéia de uma fachada inteira com venezianas de alumínio
coloridas, sem nenhuma alvenaria, nem terraços e
reentrâncias, tornaria o edicio caro pra executar, além de
siginifcar um fracasso de vendas. Porém, denivamente,
não foi isso que aconteceu. Tivemos muito lucro com o
Lausanne. Claro que os caixilhos caram caros, porém,
meu bom relacionamento com a Ajax (empresa de caixilhos
de alumínio) fez com que o preço fosse mais baixo que os
de mercado. Além disso, o que gastamos nos caixilhos,
economizamos no resto, pois o projeto era tão racional
e foi tão bem detalhado, com mais de 250 pranchas, que
não nhamos perdas na execução. O Heep não ligava pra
dinheiro. Ele cobrava os seus honorários pra 50 pranchas; se
dessem 250 pranchas, o preço do projeto era o mesmo”.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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A idéia de Heep era que cada ambiente voltado
para a fachada principal vesse suas venezianas pintadas
com cores diferentes. As cores propostas eram: creme,
azul-claro, vermelho e verde, dispostas de maneira
aleatória. A simetria do edicio, claramente percebida
em planta, seria fatalmente transposta à fachada. Porém,
esta simetria é quebrada pela aleatoriedade das cores
das venezianas e pelas inúmeras posições diferentes que
elas se encontram a todo momento, ora abertas, ora
fechadas, conferindo um forte dinamismo à fachada. Além
disto, as venezianas fazem com que se perca a noção das
comparmentações internas do edicio, conferindo uma
absoluta uniformidade à sua principal face. As linhas
brancas que se sobressaem na fachada, correspondem
às lajes, assumindo um importante papel na atribuição
de horizontalidade ao conjunto. Hoje, as venezianas estão
pintadas em apenas três cores: vermelho, verde e branco.
Apesar da descaracterização, o conceito da aleatoriedade,
desejada por Heep, não se perdeu totalmente.
O coroamento do Lausanne tem como elemento
marcante uma laje perfurada por elementos trapezoidais
de cantos arredondados, que caracterizam dômus; no
início eles eram externos, cobrindo os terraços do 15º
andar como uma espécie de pergolado, porém, com o
fechamento dos terraços, os dômus passaram a fazer
parte do interior dos apartamentos, perdendo uma de
suas atribuições originais, que era a de coroar o edicio,
resultando no empobrecimento da fachada.
Nas duas fachadas laterais, que se diferem apenas
pela disposição de algumas aberturas nos 14º e 15º
pavimentos, predominam supercies cegas em alvenaria,
sempre revesdas com paslhas cerâmicas brancas, porém,
destacam-se uma faixa de caixilhos similares aos da fachada
principal, que representam as aberturas dos dormitórios de
solteiro dos apartamentos, além das janelas dos banheiros
com cantos arredondados, que simbolizavam um elemento
corrente na obra de Franz Heep.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Fachada dos fundos do Lausanne e a FAU-Maranhão - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Detalhe da grade protetora da escada
Fontes: Desenho - Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Marnelli
Foto: Edson Lucchini Jr.
A fachada dos fundos obviamente recebeu um
tratamento arquitetônico mais simples, porém, o fato dela
ser facilmente notada por quem trafega pela rua Maranhão
fez com que ela tenha sido concebida sob premissas de
ordem e ritmo; simétrica e predominantemente feita
em alvenaria revesda por paslhas brancas, a fachada
dos fundos é bem organizada e composta por aberturas
generosas, que correspondem aos ambientes de serviço e
banheiros. Na porção central, aberturas de domitórios
prejudicadas pelo fato de estarem voltadas para a face
sul e pelo sombreamento causado por se situarem numa
reentrância do volume. Ao contrário da fachada principal,
na face em questão é possível notar a presença dos dois
blocos disntos que compõe o edicio.
Heep desenvolveu para o Lausanne uma série de
elementos únicos e personalizados. Um deles é uma grade
connua protetora da escada, que atravessa os pavimentos
e substui os corrimãos.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Detalhes construvos
128
Detalhe da alavanca do brise - Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Marnelli
Detalhe dos caixilhos dos dormitórios
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Marnelli
Caixilho dos dormitórios - Foto: Edson Lucchini Jr
No entanto, os itens mais exausvamente
detalhados e que mais se destacam no edicio são os
caixilhos, com seus brises móveis que compõe a fachada
principal. Além destes, todos os demais foram desenhados
e detalhados, que foram criados exclusivamente para o
Lausanne.
Caixilhos dos terraços - Foto: Edson Lucchini Jr
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
129
Hall social dos apartamentos
Foto: Edson Lucchini Jr
Croqui de Adolf Franz Heep - Detalhe das arandelas do hall dos aptos.
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Marnelli
Croqui de Adolf Franz Heep - Arandelas e bancos
Fonte: Acervo do Ed. Lausanne - cedido por Fernando Marnelli
também desenhos detalhados de elementos como
móveis e cobogós, além de itens mais incomuns, como
luminárias e arandelas.
“(...) 257 folhas, entre plantas, cortes, elevações
e detalhamento, demonstrando a intenção de ter
um controle total da obra (...) assegurando uma
perfeita execução da edicação”
. (BARBOSA,
2002, p.141)
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
130
Conceitos de integração entre arquitetura e artes
pláscas, provenientes da
Bauhaus
, eram correntes na
época em São Paulo, através da adoção de painéis ou
esculturas localizados preferencialmente nos térreos dos
edicios modernos. No edicio do jornal
O Estado de São
Paulo
(p.17) projetado por Heep quando ele trabalhava
com Jacques Pilon em 1948, um painel de Di Cavalcan
40
nomeado A imprensa” destaca-se na porção térrea da
fachada principal. No térreo do Lausanne, nas paredes
que separam a casa do zelador dos acessos e halls dos
elevadores, um painel pintado com nta a óleo, de
autoria de Clovis Graciano
41
e restaurado recentemente.
Pode-se armar que existem apenas três mudanças
principais, ocorridas no Lausanne ao longo dos anos, que o
descaracterizam com relação ao projeto original. A primeira,
ocorrida logo após a entrega do edicio, foi o fechamento
dos terraços do 15º andar, inuindo diretamente no
desenho do coroamento. A segunda foi a diminuição do
número de cores das venezianas da fachada principal;
originalmente, eram cinco cores: Verde, branco, vermelho,
creme e azul. Agora são apenas três: Verde, vermelho e
branco. A terceira mudança é fruto da insegurança dos
dias atuais; foram colocadas grades e uma guarita, no
alinhamento com a avenida Higienópolis.
Apesar destas poucas mudanças, o edicio Lausanne
conserva até hoje os principais elementos de seu projeto
original, graças à boa manutenção e principalmente, ao
conhecimento, por parte dos moradores e síndicos, da
importância e relevância arquitetônica do edicio.
Painel de Di Cavalcan A Imprensa” no Ed. do jornal O Estado de
São Paulo-1948
Foto: Edson Lucchini Jr.
Painel de Clovis Graciano no térreo do Ed. Lausanne - 1958
Foto: Edson Lucchini Jr.
Painel de Clovis Graciano no térreo do Ed. Lausanne - 1958
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(40) - Di Cavalcan (1897-1976) foi pintor, desenhista, ilustrador e caricaturista brasileiro.
(41) - Clóvis Graciano (1907-1988) foi pintor, desenhista, cenógrafo, gurinista, gravador e ilustrador brasileiro.
fontes: hp://pt.wikipedia.org acessado em maio de 2010
Elementos arscos
Situação Atual
131
1 - rampas de acesso ao
desembarque de veículos
2 - escadas de acesso de
pedestres
3 - rampas de acesso ao
subsolo
4 - halls de acesso ao
edicio
5 - halls sociais
6 - halls de serviço
7 - sala de estar/guarita
8 - dorm. casal
9 - dorm. solteiro
10 - cozinha
11 - banheiro
12 - quintal descoberto
13 - sala de jantar
14 - sala de estar
15 - dorm. de solteiro
16 - dorm. de casal
17 - banhos
18 - copa
19 - cozinha
20 - serviço
21 - dorm. empregada
22 - banho empregada
apto. zelador - 80 m²
apto. 2 dorm. - 165 m²
áreas comuns
planta do pav. térreo
esc. 1:250
1
1
2
2
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
132
planta do subsolo
esc. 1:250
1 - rampas de acesso ao
térreo
2 - caixas d’água
3 - depósitos
4 - lixeiras
Croqui de Adolf Franz Heep - distribuição de vagas
Fonte: Acervo do edicio Lausanne
Cedido por Fernando Marnelli
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
133
planta do pav. po - 1º ao 13º pav.
esc. 1:250
apto. 3 dorm. - 175 m²
1 - hall social
2 - hall de serviço
3 - sala de estar 1
4 - sala de jantar
5 - sala de estar 2
6 - dorms. de solteiro
7 - dorm. de casal
8 - banhos
9 - copa
10 - cozinha
11 - área de serviço
12 - dorm. empregada
13 - banho empregada
14 - terraço
Perspecvas axonométricas dos
apartamentos ao 13º pavi-
mento
Fonte: Acervo do edicio Lausanne
Cedido por Fernando Marnelli
1
1
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
134
planta do 14º pavimento
esc. 1:250
apto. 2 dorm. - 152 m²
1 - hall social
2 - hall de serviço
3 - sala de estar
4 - sala de jantar
5 - dorm. de solteiro
6 - dorm. de casal
7 - banhos
8 - copa
9 - cozinha
10 - área de serviço
11 - dorm. empregada
12 - banho empregada.
13 - terraço
1
1
1
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planta do 15º pavimento
esc. 1:250
apto. 3 dorm. - 263 m²
apto. 2 dorm. - 133 m²
apto. 2 dorm. - 133 m²
1 - hall social
2 - hall de serviço
3 - hall de entrada
4 - estar/lareira
5 - sala de jantar
6 - dorm. solteiro
7 - suíte casal
8 - closet
9 - banho casal
1 - hall social
2 - hall de serviço
3 - hall de entrada
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dorm. solteiro
7 - suíte casal
1 - hall social
2 - hall de serviço
3 - sala de estar
4 - sala de jantar
5 - dorm. solteiro
6 - dorm. casal
10 - suíte solteiro
11 - banho solteiro
12 - copa
13 - cozinha
14 - despensa
15 - serviço
16 - dorm. empr.
17 - banho empr.
18 - terraço
8 - banho casal
9 - banho social
10 - cozinha
11 - serviço
12 - dorm. empr.
13 - banho empr.
14 - terraço
7 - banho
8 - cozinha
9 - serviço
10 - dorm. empr.
11 - banho empr.
12 - terraço
Perspecva axonométrica do apartamento de 263
do 15º pavimento
Fonte: Acervo do edicio Lausanne
Cedido por Fernando Marnelli
1
1
2
2
3
3
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
136
corte AA
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
137
fachada av. higienópolis
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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138
fachada lateral direita
fachada lateral esquerda
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139
fachada posterior
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
140
detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada - corpo principal
detalhe de fachada - coroamento
Pilos enquadram um pano de cobogós
octogonais que fazem o fechamento dos
apartamentos térreos.
Venezianas coloridas que dominam a
fachada desprovida de fechamentos em
alvenaria. Aleatoriedade na distribuição
de cores trazem dinamismo.
Uma laje perfurada por dômus
trapezoidais caracterizam o coroamento
do edicio e minimizam a percepção do
escalonamento obrigatório do 15º andar.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
141
1º ao 11º pav.:
2 ap. de 197 m²
12º ao 19º pav.:
2 ap. de 145 m²
Total - 36 unidades
Acrópole 240, 1958, p. 554-555-570
fotos da publicação na revista acrópole nº 240 - 1958
pça. dom
josé gaspar
av. ipiranga
av. são luiz
Oo Meinberg S.A
Av. São Luiz 97 - Centro
Trapezoidal - 560 m²
14.7
95 %
Razoável
Média
6.6 Edifício Ouro Preto 1954-57
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
142
A atual avenida São Luiz teve o seu primeiro registro
em planta no ano de 1810; com o nome de Beco Comprido,
ela cortava as terras do Coronel Luiz Antônio de Souza.
Com o falecimento do Coronel, as terras foram divididas
em lotes, que em 1920 somavam 16 unidades; em
1930 havia 17 palacetes construídos, isolados em seus
lotes. Em 1940, as obras do Plano de Avenidas de Prestes
Maia chegaram à São Luiz, que teve sua calha alargada
de 13,00m para 33,00m, transformando a via, até então
de caráter local, numa avenida de maior inuência na
região central da cidade. Com isso, iniciava-se o processo
de vercalização da São Luiz, especialmente voltado para
moradias desnadas às classes mais abastadas. (LEFÈVRE,
2006)
A São Luiz tornou-se palco da produção de diversos
exemplares relevantes da arquitetura moderna paulistana,
como os edicios Itália
42
e o do Jornal
O Estado de São
Paulo
43
, ambos de Adolf Franz Heep; os Edicios Louvre
e Viadutos de Artacho Jurado; a Galeria Metrópole de
Giancarlo Gasperini e Salvador Cândia, além de outros
edicios proto-modernos como a Biblioteca Municipal
Mário de Andrade de Jacques Pilon, com quem Franz Heep
trabalhou quando chegou ao Brasil em 1947.
A parr da década de 1970 a São Luiz começa a
perder o seu caráter residencial de alto padrão; surgem os
escritórios, em inúmeras salas comerciais, que resultaram
num inchaço do centro, com excesso de trânsito para
poucas vagas de estacionamento. Isto, entre outros fatores,
trouxe a desvalorização imobiliária. Apesar disto, a São Luiz
preserva até hoje as suas caracteríscas de generosidade
de espaços públicos associada à boa arquitetura; passeios
largos e muita arborização ainda estão presentes nesta
avenida, que é de importante valor simbólico para a cidade
de São Paulo. (LEFÈVRE, 2006)
Av. São Luiz em 1956
Fonte: hp://www.abril.com.br/especial450/materias/lorca/imagens/025.jpg
acesso em maio de 2010
Edicio Itália - Adolf Franz Heep - 1956
Foto: Edson Lucchini Jr.
(42) - Maiores informações sobre o edicio Itália estão na página 19
(43) - Maiores informações sobre o edicio O Estado de São Paulo estão na página 17
A Avenida São Luiz
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
143
Av. São Luiz vista do terraço do Ed. Louvre de João Artacho Jurado - 1953
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Viadutos - João Artacho Jurado - 1951
Foto: Edson Lucchini Jr.
Cobertura do Ed. Viadutos - João Artacho Jurado - 1951
Foto: Edson Lucchini Jr.
Av. São Luiz vista da cobertura do Ed. Viadutos (João Artacho Jurado - 1951)
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. do jornal O Estado de São Paulo - Adolf Franz Heep - 1948
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
144
O edicio Ouro Preto, cujos projetos datam de
1954 e sua entrega em 1957, foi produzido pela parceria
entre Franz Heep e Oo Meinberg; assim como o Ouro
Verde, estudado anteriormente, este edicio, situado num
tradicional reduto da burguesia paulistana, alia
“técnica,
materiais duráveis e um detalhamento primoroso”
(BARBOSA, 2002, p.97) da mesma forma que os edicios
produzidos por Heep e Jean Ginsberg em Paris nos anos
1930.
O terreno onde situa-se o Ouro Preto possui a
topograa plana e uma geometria trapezoidal; a face
principal, voltada para a avenida São Luiz, e a dos fundos,
voltada para a rua Basílio da Gama, são os lados menores
e não paralelos do trapézio, medindo 15,30m e 15,45m
respecvamente. As faces maiores e paralelas do terreno,
que são lindeiras ao lotes vizinhos, medem 35,90m e
37,30m, totalizando aproximadamente 560 m² de área.
O edicio conta com térreo mais 19 pavimentos,
sendo que do ao 11º a relação proporcional do volume
é de 44,00m de altura por 15,30m de largura e 31,50m
de profundidade no corpo elevado. Do 12º pavimento ao
19º, a necessidade de recuos laterais de 2,50m deniu
um volume superior cuja largura passa a ser de 10,30m
por 27,75m de altura e a mesma profundidade do volume
inferior. Desta forma, vercalmente, indenca-se na
volumetria do Ouro Preto uma biparção; horizontalmente,
pode-se dizer que uma triparção, onde os dois
blocos maiores, que faceiam os alinhamentos da avenida
São Luiz e dua rua Basílio da Gama, correspondem aos
apartamentos, sendo unidos entre por um terceiro bloco
menor, correspondente à circulação vercal. À parr do
13º andar, a face do volume voltada para a rua Basílio da
Gama sofre um escalonamento imposto pela legislação da
época, já que a via em questão possui uma menor largura
que a avenida São Luiz.
O gabarito do edicio condiz com o dos vizinhos,
que possuem assim como o Ouro Preto, um volume
superior recuado das laterais; porém, a alguns metros do
Ouro Preto, junto à praça Dom José Gaspar, encontra-se o
edicio da Galeria Metrópole, que, por estar recuado do
alinhamento, pôde angir um gabarito mais elevado.
volume principal
r. basílio da gama
pça. da república
av. são luiz
av. são luiz
av. ipiranga
pça.
D. José
Gaspar
circ.
vertical
Terreno, implantação, volumetria e entorno
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
145
O térreo do edicio, que ocupa a totalidade do
lote, conta com quatro lojas, sendo duas voltadas para
a avenida São Luiz e duas para a rua Basílio da Gama. O
subsolo, assim como o térreo, também ocupa todo o
terreno, porém ele se desna apenas a estoque das lojas
e é acessado por escadas independentes. O acesso social
localiza-se na porção direita do terreno, para quem da
avenida São Luiz olha o edicio de frente, e possui junto ao
alinhamento, 4,70m de largura, conformando um hall de
entrada que vai gradualmente se estreitando no sendo
do centro do terreno, através de uma parede curva que
cria um corredor de 2,70m de largura e conduz ao nicho
de circulação vercal. O acesso de serviço se pela rua
Basílio da Gama, onde se inicia um corredor de 18,00m de
comprimento por 1,40m de largura que, longo e desprovido
de iluminação natural, também conduz aos elevadores e
escadas.
Apesar do terreno possuir duas frentes, uma para a
avenida São Luiz e outra para a rua Basílio da Gama, o térreo
não foi contemplado com uma conexão urbana entre essas
duas vias, através de uma possível galeria comercial, um
elemento paradigmáco no centro da cidade de São Paulo
nos anos 1950, resultando num empobrecimento da relação
do edicio com a cidade, em seu ponto nevrálgico.
A circulação vercal do edicio Ouro Preto é feita
em um volume independente, situado na porção central
do terreno, que divide o corpo elevado da torre em dois
blocos e conforma dois poços de iluminação e venlação
naturais entre eles. É composta por três elevadores, sendo
dois sociais e um de serviço, além de uma escada em
forma de ferradura, sem patamar intermediário. Os dois
elevadores sociais, dispostos lado-a-lado, são acessados
por um hall exclusivo e separado do nicho de serviço, que
contém o terceiro elevador e a escada.
loja
98 m²
loja
82 m²
loja
137 m²
loja
101 m²
r. basílio da gama
av. são luiz
Esquema de distribuição do pavimento térreo
circulação horizontal
circulação vertical
lojas
Térreo e subsolo
Circulação Vercal
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
146
A conformação volumétrica biparda vercalmente
do Ouro Preto, onde, do ao 11º pavimento o bloco
principal está encostado nas divisas laterais e, do 12º ao
19º ele está recuado 2,50m em ambos os lados, reete-
se diretamente nas plantas das unidades. Desta maneira,
o volume inferior conta com unidades de 197m², e o
superior, com unidades menores, de 145m². Em ambos
os volumes, os pavimentos contam com duas unidades
cada, espelhadas entre sí; uma voltada para a avenida
São Luiz com orientação oeste, e a outra voltada para a
rua Basílio da Gama com orientação leste, separadas pelo
corpo de circulação vercal e pelos 2 poços de iluminação
e venlação naturais.
As unidades de 197m² contam com hall de entrada,
salas de estar e jantar, terraço, 3 dormitórios, 2 banheiros,
copa/cozinha e área de serviço com domitório e banheiro
de empregada. O hall de entrada social, de 2,15m de
comprimento por 2,60m de largura, possui uma abertura
voltada para o poço menor de iluminação e venlação
naturais do edicio. As salas de jantar e estar comparlham
o mesmo espaço retangular de 9,20m de comprimento
por 4,50m de largura. A ausência de comparmentação
deste espaço, garante uma boa amplitude visual e diversas
possibilidades de distribuição do mobiliário. Isto também
propicia uma melhor iluminação e venlação das salas,
feitas por duas aberturas voltadas para a fachada do
edicio, através uma porta de vidro que separa a sala do
terraço e uma veneziana xa de venlação permanente do
po piso-teto; ambas são alinhadas com outra abertura do
lado oposto, voltada para o poço central do edicio, que
permite a venlação cruzada.
A parede que separa a sala de jantar da cozinha
possui, em seu úlmo terço, no sendo do centro do
terreno para o alinhamento, um chanfro que induz e
diminui o percurso de quem adentra o apartamento, em
direção ao corredor ínmo. Além disso, o chanfro suaviza o
encontro do corredor com as áreas sociais e contribui para
uma melhor iluminação deste, que permite a captura
de mais luz proveniente das salas. O uso do chanfro como
elemento encurtador e indutor de percursos, aparece nesta
obra na escala da domescidade, dentro de uma unidade
residencial. Na análise do todo da obra de Adolf Franz Heep,
este conceito se repete muitas vezes, mas na escala da
197 m² 197 m²
r. basílio da gama
av. são luiz
Esquema de distribuição do pavimento po, do 1º ao 13º andar
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Planta das unidades de 197m², do 1º ao 11º andar
Pavimento po e unidades
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
147
cidade, em obras que demandaram uma inserção urbana
mais rica, onde o chanfro, além de encurtar percursos de
pedestres, valoriza esquinas.
O terraço, de 2,50m de comprimento por 3,30m
de largura, é acessado somente pela sala de estar, sendo
separado desta por uma porta de correr em vidro, que
possibilita uma connuidade entre os dois espaços. Além
disso, pode-se dizer que o terraço exerce uma contribuição
ao conforto térmico do apartamento; ele evita que o
caixilho envidraçado que separa o terraço da sala que
diretamente exposto à insolação excessiva da face oeste,
no bloco voltado para a São Luiz, e a leste, no bloco voltado
para a Basílio da Gama. Esses fatores contribuem, junto
com a venlação cruzada, para a manutenção de uma
temperatura mais amena nas salas de estar e jantar. Além
disso, o terraço é um importante elemento na composição
da fachada e um espaço em que se contempla a elegante a
arborizada avenida São Luiz.
Os três dormitórios da unidade de 197m² estão
dispostos sequencialmente ao longo de um corredor
ínmo. Os dois primeiros, mais próximos às salas, possuem
as mesmas dimensões de 3,25m de largura por 6,50m
de comprimento. O terceiro dormitório, provavelmente
designado ao casal, possui a mesma largura dos demais,
porém com 7,10m de comprimento. Todos possuem as
suas aberturas voltadas para as fachadas principais, e
consequentemente, a mesma orientação oeste, para os
apartamentos voltados para a avenida São Luiz, e leste,
para os apartamentos voltados para a rua Basílio da Gama.
Essa solução foi alcançada graças à largura do terreno , que
permiu que principais espaços de permanência pudessem
ter suas aberturas voltadas para as fachadas principais,
deixando abertos para os poços centrais de iluminação
e venlação do edicio, apenas as áreas molhadas.
Porém, esta solução acarretou em salas e dormitórios
com uma conformação espacial cuja proporção da planta
é acentuadamente retangular, onde o comprimento é
sempre maior ou igual ao dobro da largura.
A porção ínma da planta conta ainda com dois
banheiros dispostos lado-a-lado, sendo um de 7,00m²,
provido de espaço para banheira, e um menor, de 4,00m².
O conceito de suíte, amplamente ulizado nos dias de hoje
em edicios de diversos padrões, aparece no universo
das obras de Heep, apenas nos edicios Ouro Verde e
Lausanne, ambos em Higienópolis e desnados às classes
mais abastadas.
Ed. Ouro Preto atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ouro Preto atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
148
A planta da cozinha é derivada de dois polígonos
de tamanhos diferentes. O menor, que pode ser ulizado
como copa, é pracamente trapeizoidal, com 6,15m² de
área, cuja forma foi denida pelo chanfro da parede que
o separa da sala de jantar. O espaço maior, pracamente
quadrado, conta com 11,50m² e abriga todas as funções
necessárias para uma cozinha, porém, o fato de possuir 3
passagens, sendo uma para a lavanderia, outra para o hall
de serviço, e outra para a copa, prejudica a distribuição
do mobiliário. A área de serviço é conformada por um
corredor de 1,30m de largura por 6,50m de comprimento,
onde realizam-se as funções de lavagem e secagem de
roupas. Este corredor, venlado e iluminado naturalmente
por cobogós, recebe as aberturas dos banheiros social e
ínmo, além de conduzir a um banheiro e a um dormitório
de empregada.
Assim como em outros edicios de Heep estudados,
nota-se que o arranjo espacial do apartamento concentra
todas as áreas molhadas em uma única porção da planta,
enfazando a postura racionalista do arquiteto, que ao
adotar esse po de solução, garante uma economia com
elementos hidráulicos, além de facilitar a manutenção.
À parr do 12º pavimento, a necessidade de recuos
laterais de 2,50m de cada lado acarretou na diminuição
das unidades para 145m². Apesar da redução da área, a
145 m²
145 m²
r. basílio da gama
av. são luiz
Esquema de distribuição do pavimento po, do 12º ao 19º andar
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Planta das unidades de 197m², do 12º ao 19º andar
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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distribuição do pavimento po connua idênca, com a
caixa de circulação vercal dividindo o volume em dois
blocos, um voltado para a av. São Luiz e outro para a rua
Basílio da Gama.
Os apartamentos deste bloco superior possuem um
arranjo espacial muito semelhante aos do bloco inferior,
pois as funções sociais, ínmas e de serviços connuam
dispostas da mesma maneira, porém com um dormitório
a menos, uma sala de estar mais estreita, que conta agora
com 3,20m de largura por 11,30m de comprimento; perda
do hall de entrada, e transformação do banheiro social
em um lavabo. Além disso, a unidade de 145m² perde a
venlação cruzada da sala de estar, que é compensada de
certa forma pela presença de algumas aberturas laterais,
possíveis agora graças aos recuos. Não mais o chanfro
na parede que separa a sala de jantar da cozinha, devido
à menor largura desta, se comparada à cozinha dos
apartamentos de 197m². As áreas de serviço também
foram reduzidas, mas abrigam as mesmas funções. Os
terraços das unidades do volume superior contam com
1,20m de largura por 9,70m de comprimento, possuindo
agora uma conformação mais connua, que abrange toda
a largura do apartamento; são acessados não pela sala
de estar, como nos apartamentos inferiores, mas também
pelos dormitórios.
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O edicio Ouro Preto possui duas fachadas que
receberam tratamento arquitetônico: uma voltada para a
avenida São Luiz e outra voltada para a rua Basílio da Gama;
isto ocorreu pois o edicio está condo entre edicações
vizinhas do térreo ao 11º pavimento. À parr do 12º, até
o 19º pavimento, recuos laterais de 2,50m em ambos
os lados, criando faces com algumas aberturas, passíveis
de elaboração, porém, como são raramente percebidas
pelo observador localizado no térreo, essas faces laterais
receberam um tratamento arquitetônico mais simples.
Na fachada voltada para a avenida São Luiz, são
idencados três momentos disntos, que, analogamente
à uma coluna clássica, podem ser chamados de base,
fuste e capitel. Deste modo, pode-se dizer que a base
corresponde ao térreo, o fuste são os apartamentos do 1 º
ao 12º andar, e o capitel é o volume sobrelevado. Porém,
cabe armar que essa relação não tem a intenção de
sugerir que o arquiteto possa ter feito qualquer remissão
à arquitetura clássica, servindo apenas para nomear as
partes, facilitando a descrição da fachada.
A base, que corresponde ao térreo e possui 5,50m de
altura, é composta pelas portas das três lojas, que ocupam
o mesmo vão estrutural dos dormitórios dos apartamentos
superiores, além da entrada social, localizada à direita de
quem da avenida São Luiz o edicio de frente, que é
protegida e marcada por um pórco que corresponde à
largura dos terraços das unidades residenciais acima. Essas
correspondências citadas, são necessárias para demonstrar
que um alinhamento preciso dos elementos da base com
os do fuste, que são interrompidos por um brise horizontal
de 2,00m de altura, que rasga toda a largura do edicio e
localiza-se logo acima das portas das lojas. Hoje, a base
do edicio Ouro Preto é o elemento mais descaracterizado
com relação ao projeto original, devido à rerada do brise
e à colocação de granito marrom no pórco de entrada,
além da troca da porta principal por uma que destoa
radicalmente das linhas do edicio.
O fuste, que corresponde aos apartamentos do
ao 11º andar, é composto por uma grelha não-estrutural,
sobressalente cerca de 20cm da fachada, cuja medida
de 3,20m por 3,20m corresponde ao vão estrutural e
enquadra as aberturas dos dormitórios, que são compostas
por um caixilho de vidro piso-teto de 3,20m de altura por
Fachadas
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1,60m de largura, ou seja, o caixilho possui a mesma altura
da parte interna da unidade da grelha e metade da sua
largura. A outra metade restante é preenchida por uma
parede de alvenaria. Venezianas em aço, que correm em
trilhos xos nas partes superior e inferior da grelha, estão
sempre em posições variadas, ora escondendo o caixilho,
ora escondendo a parede, conferindo um aspecto de
constante mutação e movimento à fachada. Os terraços,
que estão à direita de quem da avenida São Luiz o edicio
de frente, são os elementos que rompem a connuidade
da grelha, apesar de possuirem a mesma largura desta e
um comprimento cuja metade cria uma reentrância na
sala de estar, e a outra, projeta-se além do alinhamento,
provocando um jogo de cheios e vazios na fachada. Os
guarda-corpos, opacos, por serem de alvenaria na parte
frontal, contrapõe a transparência da porta de vidro que
separa a sala do terraço. As laterais dos guarda-corpos são
vazadas, protegidas por um gradil de barras horizontais.
Ed. Ouro Preto atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
“(...) numa fachada dominada por um grasmo
de venezianas móveis, Heep desloca o eixo
de simetria para a direita por meio de um
elemento de subtração - a varanda - reforçado
pela sua projeção além do limite da fachada,
formando um volume intermitente que acentua
a vercalidade da torre”.
(BARBOSA, 2002,
p.102)
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A porção da extremidade direita da fachada, de
quem o edicio de frente, é denida pelo único elemento
que não possui a mesma largura de 3,20m, presente na
grelha e nos terraços, sendo composto por uma veneziana
xa de aço de 1,00m de largura, porém, com a mesma
altura deles.
O 12º pavimento é uma espécie de transição
entre o fuste e o capitel; não possui, no que diz respeito à
fachada, a linguagem de nenhum dos dois, tornando-se um
elemento que “solta” o volume sobrelevado do inferior.
O capitel, cujo volume contém os apartamentos do
13º ao 19º andar, tem como elemento marcante os terraços,
que abrangem toda a parte frontal dos apartamentos.
O volume superior (...) sofre uma inversão, pois
o terraço domina a fachada, estando os caixilhos
recuados e sem expressão, formando uma série
de linhas que acentuam a horizontalidade deste
volume anexo”.
(BARBOSA, 2002, p.102)
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Além da análise de Barbosa, o fato dos terraços
dominarem a fachada do volume sobrelevado pode ser
juscada pela questão da forte insolação que esta face
recebe, por ser orientada a oeste e por estar num ponto
elevado, onde não mais o sombreamento causado
pelos edicios que estão do outro lado da avenida São Luiz.
Desta maneira, o uso dos terraços ocupando toda a largura
da fachada, protege as aberturas das salas e quartos da
exposição direta ao sol da tarde.
A fachada voltada para a rua Basílio da Gama, possui
o fuste idênco à da São Luiz, porém a base e o capitel
possuem diferenças. O volume posterior es recuado
6,00m do alinhamento com a Basílio da Gama, porém, o
pavimento térreo avança até o limite do lote com a rua.
Esta conformação gerou um terraço sobre o pavimento
térreo, que é ulizado pelo apartamento do 1º andar. Este
terraço possui fechamentos em elementos vazados com
uma abertura quadrada central, cuja solução lembra as
adotadas por Lúcio Costa no Parque Guinle, e por Aonso
Eduardo Reidy no Residencial Pedregulho
44
.
Fachada da Rua Basílio da Gama - Ed. Ouro Preto
Foto: Edson Lucchini Jr.
(44) - As ressonâncias de elementos da obra de Lúcio Costa e Aonso Eduardo Reidy em fachadas de Franz Heep são mais evidentes no edicio Guaporé (p.202)
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O edicio Ouro Preto se encontra hoje
num estado de conservação razoável, porém, a
descaracterização vem aumentando, à medida
em que os terraços vem sendo fechados por
vidros, empobrecendo o jogo de sombras, cheios
e vazios do projeto original. As venezianas,
originalmente em alumínio pintado na cor
creme, estão sendo trocadas aleatóriamente
por outras, ora de alumínio prateado, ora de
alumínio anodizado, simbolizando um descaso
com a preservação da fachada original; além
disso, o edicio teve a fachada do andar térreo
totalmente descaracterizada com a rerada
dos brises e com a colocação de uma porta de
acesso social num eslo que não condiz com o do
restante do edicio.
Ed. Ouro Preto atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Situação Atual
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planta do pav. térreo
esc. 1:250
planta do pav. po
1º ao 11º pav.
esc. 1:250
planta do pav. po
12º ao 19º pav.
esc. 1:250
N
1 - acesso social
2 - áreas descobertas
3 - acesso de serviço
4 - lojas
apto. 3 dorm. - 197 m²
1 - hall de entrada
2 - sala jantar
3 - sala estar
4 - terraço
5 - dorm. solteiro
6 - dorm. casal
7 - banho casal
8 - banho social
9 - cozinha
10 - área de serviço
11 - banho empr.
12 - dorm. empr.
apto. 2 dorm. - 145 m²
1 - hall de entrada
2 - sala jantar
3 - sala estar
4 - terraço
5 - dorm. solteiro
6 - dorm. casal
7 - banho social
8 - lavabo
9 - cozinha
10 - área de serviço
11 - dorm. empr.
12 - banho. empr.
1
1
1
1
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corte AA
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fachada r.
basílio da gama
fachada
av. são luiz
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detalhe de fachada
detalhe de fachada
detalhe de fachada - térreo
Biparção da fachada: do ao 11º
uma modulação através de uma grelha
quadrada com terraços salientes. Do
12º ao 19º um volume sobrelevado,
recuado das laterais, com terraços
subtraídos do volume principal.
Uso de caixilhos que ocupam a totalidade
do módulo da grelha. A extremidade
direita, de quem o edicio de frente,
rompe a modulação da grelha criando
elementos retangulares que acentuam a
vercalidade.
Uso de um brise horizontal sobre as
portas das lojas, que enfaza a separação
entre térreo e os pavimentos. Há um
pórco saliente que rompe o brise,
marcando a entrada social.
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1º pav.:
4 ap.: 57m², 60m², 64m² e 71m²;
2º ao 13º pav:
4 ap. de 56m²;
4 ap.: 57m², 60m², 64m² e 71m²;
14º pav.:
4 ap. de 56m²;
4 ap.: 49m², 52m², 56m² e 62m²;
15º pav.:
2 ap. de 56m² e 1 apto. de 112m²
4 ap.: 37m², 40m², 45m² e 50m²;
Total: 115 unidades
Irregular - 1428m²
Av. São João 1452/1474 - Centro
7.35 - Área total = 10.514m²
99 %
Ruim
Alta
6.7 Edifício Lucerna (cine comodoro) 1954-59
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Lucerna em 1959 -
Térreo ocupado pelo Cine
Comodoro.
Fonte: Acervo pessoal de
Aizik Helcer
r. ana cintra
av. dq. de caxias
r. dr. frederico steidel
av. são joão
r. br. de campinas
Construtora Auxiliar S.A.
(Engº resp. Elias e Aizik Helcer)
terreno
unidades
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
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As novas avenidas, abertas ou alargadas com o Plano
de Prestes Maia, ajudaram a elevar a cidade de São Paulo
ao patamar de metrópole moderna, com a ascensão do
modelo rodoviarista, baseado principalmente no automóvel
como uma das expressões máximas da indústria moderna.
As novas avenidas, além de revolucionarem a circulação
na cidade, também deniram vetores de vercalização,
como já estudado na análise do edicio Normandie. Além
do arranha-céu e do automóvel, outro fator fundamental
que compunha o ideário de modernização das cidades
era o cinema. A televisão chegou ao Brasil em 1950, mas
demorou ainda alguns anos para se armar como um meio
de comunicação relevante. Desta forma, pode-se dizer que
a grande janela para a percepção do mundo era o cinema.
A cinelândia paulistana se apropriava do que havia de
melhor em tecnologia cinematográca.
Fachada do Cine Metro em 1938 - Av. São João
Fonte: hp://salasdecinemadesp.blogspot.com/2009/05/as-mais-belas-
fachadas-dos-angos.html - acesso em abril de 2010
A cinelândia não lançava lmes, mas também
tecnologia e ditava os melhores padrões de
qualidade das salas. As salas são símbolo deste
momento, elas se adequam aos avanços técnicos
ao mesmo tempo que procuravam simbolizá-
los. Não é à toa que entram da discussão da
arquitetura moderna; são exemplares dessa
nova estéca ligada à funcionalidade e avanços
tecnológicos.
(SANTORO, 2005, p.9)
Da década de 1930 à de 1960, ir ao cinema era um
acontecimento social, que exigia vesmentas adequadas;
além disso, os espectadores dirigiam-se ao cinema e
não ao lme - iam assisr a um po de lme e não uma
determinada película” (SANTORO, 2005, p.9). Deste modo,
as salas eram especializadas em um determinado po
de lme, por exemplo, algumas exibiam musicais da
Broadway, outras, só lmes de faroeste, etc.
O arquiteto Rino Levi foi fundamental neste
perídodo de ascensão dos cinemas em São Paulo; ele
desenvolveu projetos especícos para salas de cinema,
aprofundando-se nas questões acúscas, tornando os
seus desenhos menos empíricos e mais técnicos, além de
afastar denivamente os projetos de salas de cinema dos
de salas de teatro. Rino tornou-se referência em projetos
de edicios que, além de cinemas, abrigam diversos usos,
como habitação e serviços como hotéis. Os exemplos são
os edicios UFA-Palácio (1936) e o cine Ipiranga (1941).
(ANELLI; GUERRA; KON, 2001)
Fachada do Cine UFA-Palácio - Arq. Rino Levi - 1936 - Av. São João
Fonte: hp://salasdecinemadesp.blogspot.com/2009/05/as-mais-belas-
fachadas-dos-angos.html - acesso em abril de 2010
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A avenida São João e a cinelândia paulistana:
161
O cine Comodoro, inaugurado no dia 14 de agosto
de 1959, situou-se até 1997 no térreo e no subsolo do
edicio Lucerna, foco desta análise. A sala para 1400 lugares
foi especialmente projetada para receber uma inovadora
tecnologia cinematográca da época chamada “Cinerama”;
esta consisa numa projeção feita simultaneamente
por três aparelhos, sendo um central e dois laterais, que
projetavam as imagens numa enorme tela de 20,00m de
comprimento por 7,00m de altura e 146º de curvatura,
produzindo um efeito tridimensional. O jornalista João
Luiz Vieira descreve em seu “blog
45
as sensações causadas
pela nova técnica de exibição:
“Os espectadores iam enchendo a sala aos poucos
e, em seguida, as luzes começavam a diminuir enquanto
que as cornas se abriam o suciente para mostrar uma
imagem quadrada, correspondente ao tamanho dos 35
mm., normal. Na tela, em preto e branco, aparecia um
documentário que fazia um breve histórico cronológico
e evoluvo das imagens em movimento, indo até a pré-
história e o homem da caverna até, claro, o Cinerama, a
‘maior conquista do homem’, etc. Mostrava as câmeras,
descrevia o processo de lmagem até que nalmente
anunciava a novidade aos espectadores: ...e agora,
senhoras e senhores... vamos ao Cinerama!’ conclamando
a platéia e inscrevendo-a diretamente dentro do
espetáculo. Aí, colorida, surgia a imagem do trenzinho
subindo uma célebre montanha russa de Coney Island, no
Brooklyn, imagem que se formava aos poucos, diante de
nossos olhos maravilhados, exatamente sincronizada com
as cornas que, então, se abriam completamente. Quando
o trenzinho chegava à parte mais alta da estrutura da
montanha russa, a imagem estava completa e a tela curva
completamente aberta com os três projetores em ação.
Começava a queda verginosa do trenzinho ao mesmo
tempo em que, por toda a sala, o som estereofônico se
abria, num envolvimento com o espetáculo absolutamente
inédito até então. Era uma sensação sica, os espectadores
se agarravam nos braços das poltronas. Você, digamos,
estava dentro do espetáculo” e dele fazia parte, como a
publicidade não cansava de enfazar.
O Comodoro encerrou suas avidades em 1997.
No ano 2000, um incêndio destruiu totalmente a sala, que
permanece, aos dias de hoje, fechada e sem previsão
para uma reforma ou um novo uso.
Esquema Ilustravo do sistema Cinerama
Fonte: hp://salasdecinemadesp.blogspot.
com/2008/06/o-cine-comodoro-cinerama-
parte-1.html - acesso em abril de 2010
Inauguração do Cine Comodoro - 1959
Fonte: Jornal “Folha da Manhã”, de 15 de Agosto de 1959
Cine Comodoro - 1974
Fonte: hp://salasdecinemadesp.blogspot.com/2008/06/o-cine-comodoro-
cinerama-parte-1.html - acesso em abril de 2010
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(45) - Disponível em hp://salasdecinemadesp.blogspot.com/2008/06/o-cine-comodoro-cinerama-parte-1.html
O Cine Comodoro
162
bloco A
cinema
av. são joão
bloco A
bloco B
bloco B
O terreno onde situa-se o edicio Lucerna conta
com 1428m² de área e uma geometria irregular; na porção
frontal, voltada para a avenida São João, a geometria do
lote se assemelha a um trapézio, com o lado inclinado
medindo 24,85m de comprimento e alinhado com a São
João. A face lateral esquerda, para quem da avenida o
edicio de frente, mede 52,75m de comprimento e a face
direita, 62,30m. O fechamento do polígono que dene
o lote se dá, nos fundos, por cinco faces irregulares e
angulosas. No sendo transversal do lote um desnível
de aproximadamente 1,00m, da direita para a esquerda
(para quem da rua o edicio de frente), que acompanha
o declive da avenida São João no sendo centro-bairro.
O pardo de implantação acompanha a geometria
do lote, sem recuos em nenhum dos lados, de modo que
o subsolo e o térreo, desnados ao cinema, ocupam a
totalidade do terreno, desprovido, portanto, de áreas
permeáveis. O corpo elevado, desnado às moradias, ocupa
o primeiro terço do lote no sendo longitudinal; é dividido
em dois blocos (A e B) com torres de circulação vercal
independentes. Ambos os blocos são denidos por dois
volumes, separados por um vazio e pelas caixas de escadas
e elevadores, sendo um voltado para a face principal que
se abre para a avenida São João, com orientação sudoeste,
e o outro, voltado para os fundos do lote, com orientação
nordeste. O volume que contém as porções frontais dos
blocos A e B possui uma geometria trapezoidal, já que sua
face principal alinha-se com a face inclinada do lote; as
demais faces do volume seguem a ortogonalidade.
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Terreno, implantação, volumetria e entorno
163
Ambos os volumes (frontal e posterior) possuem
51,00m de altura, sendo térreo mais 14 pavimentos, porém,
os dois úlmos do volume frontal sofrem o escalonamento
obrigatório, por estarem voltados para a via pública. O
volume posterior, voltado para os fundos do lote, possui
geometria perfeitamente ortogonal.
O entorno do edicio Lucerna é densamente
vercalizado, porém, os edicios que o ladeiam possuem
variações de gabarito, trazendo uma ausência de
homogeneidade à fachada da quadra.
Uma colunata composta por quatro pilares
redondos de 70cm de diâmetro cada, marca os acessos ao
cinema na poão central e frontal da planta térrea, e aos
blocos residenciais A e B espelhados entre si e situados em
ambas as extremidades laterais. A colunata confere, além
de imponência à fachada, um alargamento do passeio
público, propiciando, junto à uma marquise em balanço
de 3,00m de largura, uma considerável área coberta, que
protege das intempéries as pessoas que compram bilhetes
ou que aguardam ao início de uma exibição cinematográca.
Esta solução descrita está diretamente ligada à legislação
construva da época, que incenvava os alargamentos
de passeios e a adoção de reentrâncias e colunatas nas
fachadas de edicios desnados a cinemas. Desta forma,
cabe enfazar que a adoção desta solução arquitetônica
não é apenas fruto de decisões projetuais do arquiteto,
anal, nota-se que a maioria dos edicios desnados ao uso
de cinema nesta época possuem situações semelhantes,
evidenciando a inuência da legislação
46
.
Na reentrância térrea, que aumenta a área do
passeio, há uma bilheteria que divide em duas partes
os acessos ao inteior do cinema, controlados por portas
de madeira e vidro. Após a transposição das portas,
escadarias que conduzem ao foyer principal, meio nível
abaixo do térreo, e ao foyer do balcão, meio nível acima. O
foyer principal é um espaço de geometria trapezoidal, que
conta com 230m² de área (aproximadamente um terço da
área da sala de exibição). um café, que se comunica
com o foyer, mas se encontra 90cm abaixo dele. A sala de
exibição conta com 35,00m de comprimento por 23,90m
de largura e pé-direito de 10,00m, com capacidade para
1100 assentos no nível principal e mais 300 no balcão. A
Esquema de distribuição do pavimento térreo
av. são joão
halls de acesso aos blocos residenciais
circulação vertical
espaço livre - acesso ao cinema
hall do cinema
bloco A
cinema
bloco B
Edicio Lucerna e seu entorno atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
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(46) - O texto exato da lei é: “Art. 9 º - Parágrafo único - Estudará a prefeitura a concessão oportuna de favores especiais para os prédios que não possuírem corpos super-elevados (art.
4º) e cujos térreos apresentem recuos, galerias, colunatas ou arcadas, equivalentes a uma ampliação dos passeios, ulizáveis para mesas de cafés, bars, etc”.
(SÃO PAULO, Decreto Lei 40, de 03 de agosto de 1940. Regulamenta as construções na avenida Ipiranga e outras providências.Anais da Cãmara Municipal de São Paulo, 1940,
p.42-47)
Térreo e subsolo
164
curva de visibilidade faz com que o meio da sala, no sendo
longitudinal, tenha uma cota de nível 60cm mais baixa
que a dos acessos, e 77cm mais baixa que a cota próxima
à tela. A organização das plantas, não no térreo, mas
em todo o edicio, sempre busca a simetria, que somente
é quebrada em alguns momentos por condicionantes do
terreno irregular; desta forma, os banheiros desnados
ao público, situados atrás da tela de projeção encaixam-se
na geometria irregular e angulosa dos fundos do terreno,
rompendo a simetria presente na maioria dos setores da
planta.
O foyer do balcão situa-se meio nível acima do térreo
(1,92m); é um espaço retangular com cerca de 70m²; dele,
se acessam banheiros, masculino e feminino, espelhados
entre si, além de duas escadas, também espelhadas, que
conduzem ao nível do balcão, cuja cota é a mesma da cabine
de projeção e demais espaços desnados à parte técnica e
administrava do cinema. O balcão projeta-se sobre cerca
de um terço da sala de exibição e tem capacidade para
300 lugares, divididos em três colunas e doze leiras; ele
se apoia nas paredes laterais e em duas leiras de pilares
situadas bem próximo aos acessos principais, liberando uma
grande área sem nenhum apoio, a m de não prejudicar a
visibilidade.
A combinação de uma torre residencial, ou para
uso de um hotel, com um cinema dentro de uma mesma
edicação resulta em alguns desaos estruturais que
demandam grandes transições, que a sala de exibição
deve possuir uma planta o mais livre possível, sem a
presença dos pilares que descem dos andares superiores.
O arquiteto Rino Levi desenvolvia nos anos 1930 e
1940 situações como esta, e propunha, no projeto dos
cines UFA-Palácio (1936) e Ipiranga (1941), esta mesma
disposição posteriormente adotada no edicio Lucerna e
cine Comororo, onde evita-se ao máximo que os blocos
residenciais elevados quem sobre a sala de exibição, e
sim, sobre o foyer, que este espaço pode receber mais
pilares, minimizando as transições. Se a torre residencial
esvesse sobre a sala de exibição, que demanda uma
planta mais livre, certamente a resolução estrutural seria
muito mais complexa e de alto custo.
Os acessos aos blocos residenciais situam-se em
ambas as extremidades laterais da porção frontal da planta
térrea; eles se dão por corredores que conduzem a halls de
elevadores e escadas, cujas cotas de nível estão a 2,40m
acima do nível da rua no bloco A, e a 1,44m no bloco B.
Corte do ed. Lucerna e cine Comodoro
Planta térrea e corte longitudinal do Cine Ipiranga - Rino Levi - 1941
Fonte: (ANELLI; GUERRA; KON, 2001, p.121)
ocupação do torre em rela-
ção à sala de projeção no
cine Ipiranga
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
165
A circulação vercal do edicio Lucerna, em ambos
os blocos (A e B) é feita em duas caixas que unem os
volumes frontal e posterior. Em cada bloco, um nicho
de circulação vercal composto por dois elevadores que
se ladeiam e se separam das escadas lineares por um
hall de geometria retangular e 12,00m² de área. Apenas
na transição entre o térreo e o pavimento, a escada é
em forma de “U” sem patamar intermediário; isto ocorre
porque devido ao pé-direito mais elevado do térreo,
a necessidade de um maior número de espelhos para a
escada.
O Lucerna conta com quatro distribuições disntas
de pavimentos ao longo do seu desenvolvimento vercal.
O primeiro pavimento, conta com quatro unidades
residenciais, apenas no volume voltado para a avenida São
João. O volume posterior, separado do frontal pelas caixas
de circulação vercal e pelos vazios, abriga a área técnica e
administrava do cinema; neste mesmo nível, encontra-se
o acesso ao balcão do cinema.
As unidades residenciais do primeiro pavimento
possuem o mesmo arranjo espacial, porém, da esquerda
para a direita, para quem da avenida São João vê o edicio
de frente, as unidades vão aumentando de tamanho
devido à inclinação da face do terreno voltada para a São
João; desta forma, a unidade da extrema esquerda conta
com 57m² de área e a da extremidade direita, com 71m².
Esta situação se reperá em todos os pavimentos, do bloco
voltado para a São João.
As plantas das unidades, independentemente das
dimensões, possuem a mesma distribuição; ao se acessar
o apartamento, um corredor conduz a um hall que distribui
os uxos para as salas, cozinha, banheiro e dormitório. As
salas de estar e jantar comparlham o mesmo espaço de
geometria trapezoidal e 22,50m² de área; elas se abrem
para o terraço, presente somente nas unidades do
pavimento. O terraço se situa sobre a marquise em balanço
de 3,00m, que protege o acesso ao cinema, no térreo. Os
terraços, em todas as quatro unidades do pavimento,
contam com 3,00m de largura por 6,00m de comprimento.
O dormitório, de geometria trapezoidal e 19,50m² de área,
Esquema de distribuição do 1º pavimento
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
57m²
área técnica - cine
balcão
60m²
64m²
71m²
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Carimbo dos Irmãos Helcer com um croqui do ed. Lucerna
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Circulação Vercal
Pavimento po e unidades
166
também se abre para o terraço. Portas de correr em aço e
vidro, fazem a separação do dormitório e sala dos terraços.
Banheiro e cozinha se ladeiam, mais uma vez concentrando
as situações hidráulicas numa mesma porção da planta.
A cozinha, retangular, possui 7,00m² e acesso a uma
lavanderia; ambos os espaços possuem aberturas para
um dos vazios internos do edicio. O banheiro, também
retangular, permite que em seus 4,10m² de área sejam
colocadas todas as peças sanitárias necessárias (lavatório,
bidê e bacia), além de uma banheira.
No segundo pavimento, o volume posterior,
voltado para os fundos do lote, também passa a contar
com apartamentos, ou seja, a parr deste andar não
existem mais funções relacionadas ao cinema. Agora são
oito apartamentos por piso, situação que se reperá até
o úlmo (15º), sendo quatro situados no volume frontal,
descritos, e mais quatro no volume posterior, voltados
para os fundos do lote. Ao contrário do volume frontal,
o posterior é perfeitamente ortogonal, resultando em
unidades de tamanhos e arranjos espaciais idêncos. A
única diferença do pavimento em relação aos demais
superiores, é o fato dos quatro apartamentos do volume
posterior possuírem terraços descobertos, situados sobre
a laje do cinema.
O 14º andar é o primeiro a sofrer o recuo que
escalona o edicio em seu volume frontal; os arranjos do
pavimento e das unidades são idêncos aos dos inferiores,
porém, os apartamentos sofrem uma diminuição dos
comprimentos das salas de estar e dormitórios, situação
que resulta num terraço descoberto de 1,50m de largura,
cuja medida corresponde ao recuo obrigatório.
No 15º pavimento há uma variação na distribuição
e nas dimensões de algumas unidades; na extremidade
direita (para quem da rua o edicio de frente) do
volume posterior, o que nas unidades dos andares
inferiores eram dois apartamentos, torna-se um, que é o
maior de todo o edicio com 112m² e dois dormitórios.
Junto ao acesso, um corredor que serve como elemento
principal para a distribuição independente de todos os
setores da planta. Logo à esqueda, quando se adentra ao
apartamento, se situa a cozinha retangular, com 8,00m²
de área; dela, se acessa a área de serviço, que conta com
banheiro e dormitório de empregada, além do espaço para
o tanque e para se estender roupas. Ao nal do corredor
principal encontra-se, à esquerda, o acesso à área social,
disposta em um espaço retangular de 29,00m² composto
Planta da unidade de 64m²
1º pavimento -
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Esquema de distribuição do 2º ao 13º pavimento
57m²
56m² 56m² 56m²
56m²
60m² 64m²
71m²
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
167
por uma sala de jantar e uma sala de estar. À direita, no
nal do corredor, encontra-se o setor ínmo, que possui
um dormitório de casal, um de solteiro e um banheiro
comum para os dois. O dormitório de casal, assim como
as salas, abre-se para os fundos do lote e possui geometria
retangular, com 23,00m² de área. O dormitório de solteiro
conta com 13,00m² e tem sua abertura voltada para um
dos vazios internos do edicio. A grande medida transversal
do apartamento (12,00m) permiria a presença de mais
um dormitório ladeando a sala de estar e voltado para a
fachada dos fundos, porém, a opção foi por áreas sociais e
domitório de casal mais generosos.
No volume frontal, o recuo de mais 1,90m em
relação ao 14º pavimento fez com que o apartamento da
extremidade esquerda, para quem da rua vê o edicio
de frente, sofresse uma mudança siginicava em sua
distribuição e se tornasse o menor em todo o edicio, com
37m²; pode-se dizer que esta unidade é uma kitchenee,
pois não há divisão entre o espaço de estar e o de dormir.
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
Esquema de distribuição do 15º pavimento
112m²
56m²
56m²
37m²
40m²
45m²
50m²
Planta da unidade de 37m²
15º pavimento.
Planta da unidade de 112m² - 15º pavimento.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
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Perspecva do Ed. Lucerna e Cine Comodoro - Vista da Av. São João
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
169
No edicio Lucerna, são duas as faces que receberam
tratamento aquitetônico: a que se volta para a avenida
São João, considerada a principal, com orientação sudeste
e a que se volta para o meio da quadra, com orientação
nordeste.
A fachada principal possui situções disntas que
marcam cada etapa do desenvolvimento vercal do edicio;
no térreo, a presença do Cine Comodoro trouxe à fachada
um toque de monumentalidade, conseguido entre outros
fatores, pelos pilares redondos que marcam o acesso ao
interior da edicação. Como explicado anteriormente,
uma reentrância que alarga o passeio público foi criada
atrás dos pilares redondos gerando uma área coberta para
proteção contra intempéries, mas que também confere
leveza ao volume do edicio, que toca mais sulmente
o chão. O segundo momento da fachada, logo acima do
térreo, é composto por uma supercie de 24,70m de
comprimento por 5,00m de altura, feita em cobogós
quadrados, que enquadram um volume em balanço que
funciona como marquise e terraço para os apartamentos
Edicio Lucerna em 1959
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Fachadas
170
do andar, projetando-se em 3,00m sobre o alinhamento;
além disso, este volume contribui com a monumentalidade
da fachada, sustentando os luminosos que anunciavam os
mes em cartaz. A simetria, que não é perfeita devido
às angulosidades do terreno, é outro elemento que ajuda
a reforçar a monumentalidade da fachada, principalmente
em sua porção inferior.
Logo acima da supercie de elementos vazados,
que também pode ser entendida como um elemento
de transição entre o público e o privado, surge o corpo
principal da fachada, que é dominado pelas aberturas
dos apartamentos do ao 13º pavimento. O recuo da
estrutura em relação ao alinhamento do edicio com a
avenida São João, criando um balanço de 1,50m das lajes,
permiu a adoção de uma fachada livre, de modo que o
arquiteto pôde criar aberturas generosas e linhas delgadas,
que não vigas na fachada. A orientação sudeste, de
pouca insolação, também foi um fator que pode ter levado
à decisão pelo envidraçamento abundante da fachada.
Edicio Lucerna atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
171
Na maioria dos edicios estudados, se nota
que Heep frequentemente optava por sombreamentos
na fachada, através de volumes salientes, por razões
percepvas e de conforto térmico, entre outras. No edicio
Lucerna, a fachada não possui terraços, grelhas e nem
outros elementos salientes, que não a necessidade
de sombreamentos, devido à orientação sudeste. Porém, a
falta de volumetria da fachada é em partes compensada por
um simples tratamento cromáco que trouxe movimento
a ela; as linhas brancas compõe uma grelha, que dá a
impressão de estar sobreposta de maneira desencontrada
a uma outra grelha secundária, de cor amarela; ambas as
grelhas não possuem profundidade, não se salientando
na fachada, porém, a impressão causada é que realmente
uma está sobre a outra.
No edicio Lucerna Heep adotou uma solução, em
relação aos caixillhos, semelhante à do edicio Normandie,
onde os peitoris e as bandeiras das janelas são envidraçados
e basculantes, possibilitando uma troca de ar. Os peitoris
envidraçados, são protegidos por tubos metálicos. Mais
uma vez, Heep compõe uma fachada onde os elementos
horizontais são mais marcantes; neste caso não oreiras,
que habitualmente são os elementos horizontais preferidos
do arquiteto, mas sim linhas horizontais que, mais fortes
que as vercais, representam as lajes e os guarda-corpos.
Edicio Lucerna em atualmente - descaracterização
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
172
Assim como na maioria dos edicios estudados,
o escalonamento obrigatório dos úlmos andares acaba
assumindo um papel de coroamento ao edicio. No
Lucerna, a solução adotada para os dois úlmos pavimentos
escalonados é semelhante à de outros edicios de Heep;
no corpo principal da torre, ele sempre opta pelo mínimo
de alvenaria possível na fachada, ulizando grandes
caixilhos, porém, nos coroamentos escalonados a pologia
e dimensões dos caixilhos mudam, predominando nas
fachadas as supercies lisas em alvenaria, ou seja, o
escalonamento por confere uma diferenciação
ao coroamento do edicio, reforçada ainda mais pelas
decisões projetuais descritas.
O edicio Lucerna acompanhou a degradação do
centro da cidade, principalmente nesta região da anga
cinelândia. A fachada atualmente encontra-se muito
deteriorada, sem a menor manutenção; além disso, os
caixilhos originais vêm sendo trocados por esquadrias de
alumínio. Nota-se que em muitas unidades, as bandeiras
superiores de venlação dos caixilhos vêm sendo reradas
e preenchidas com alvenaria. As cores ulizadas também
agridem a idéia original de superposição de grelhas. Porém,
a grande perda para o edicio e para todo o entorno
foi o fechamento do Cine Comodoro em 1997, que era
considerado por muitos o melhor cinema da cidade, mas
que assim como todos os outros da região, perdeu lugar
para os cinemas em shopping centers.
Edicio Lucerna em atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Lucerna em atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
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Situação Atual
173
cine comodoro
edicio lucerna A e B
1 - bilheteria
2 - foyer do balcão
3 - banheiro fem.
4 - banheiro masc.
1 - acesso - bloco A
2 - hall de elevadores - bloco A
3 - acesso - bloco B
4 - hall de elevadores - bloco B
5 - dep. de lixo
6 - vazio
planta do pav. térreo
esc. 1:250
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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174
cine comodoro
1 - foyer principal
2 - vitrines
3 - café
4 - sala de exibição
5 - banheiro fem.
6 - banheiro masc.
7 - manut. tela
8 - depósito
9 - ante-câmara
edicio lucerna A e B
1 - medidores
2 - caldeira
3 - caixas d’água
4 - dep. de óleo
planta do subsolo
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175
planta do 1º pav.
esc. 1:250
apto. 1 dorm. - 64 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1
1
cine comodoro
1 - acesso ao balcão
2 - cabine de projeção
3 - administração
4 - enroladeira
5 - wc do operador
6 - banheiro masc.
7 - banheiro fem.
8 - depósito
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176
apto. 1 dorm. - 64 m² apto. 1 dorm. - 56 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
7 - serviço
1
1
2
2
planta do 2º pav.
esc. 1:250
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
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177
apto. 1 dorm. - 64 m²
apto. 1 dorm. - 56 m²
apto. 1 dorm. - 56 m²
apto. 1 dorm. - 56 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1
1
1
1
2
2
2
2
planta do 3º ao 13º pav.
esc. 1:250
planta do 14º pav.
esc. 1:250
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178
kitchenee - 37 m² apto. 1 dorm. - 45 m²
apto. 1 dorm. - 56 m² apto. 2 dorm. - 112 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala
4 - dormitório
5 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
7 - terraço descoberto
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - serviço
1 - corredor de distr.
2 - cozinha
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório casal
7 - dormitório solteiro
8 - serviço
9 - banh. empregada
10 - dorm. empregada
1
1
2
3
4
2
3 4
planta do 15º pav.
esc. 1:250
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corte AA
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180
fachada av. são joão
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181
detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada
detalhe de fachada
Colunata composta por quatro pilares
redondos marcam o acesso ao cimena e
conferem monumentalidade.
Volume saliente que serve como marquise,
ampliando a área coberta para quem
compra bilhetes ou aguarda ao início do
lme.
Corpo principal da torre com uma fachada
livre, muito envidraçada, com grelhas que
enquadram as aberturas.
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182
Dácio A. de Moraes S.A
Av. São João 1821-1845 Centro
Irregular de esquina - 570 m²
1º ao 13º pav.: 11 kitch. de 25m²
1 ap. de 1 dorm. - 42 m²
14º pav.: 10 kitch. de 23 m²
15º pav. : 5 ap. de 1 dorm. - 39 m²
Total: 171 unidades
Acrópole 234, 1958, p. 212-213
elevado
costa e silva
av. são joão
al. glee
10.8 - Área total = 6152,70m²
69 %
Ruim
Alta
Folheto de vendas do Ed. Araraúnas - 1955
6.8 Edifício Araraúnas 1953-55
Foto: Edson Lucchini Jr.
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
183
A avenida São João é uma das mais importantes
vias da cidade de São Paulo não só no âmbito viário como
no simbólico. Foi a primeira via pavimentada da cidade,
e em sua conformação atual, pode ser considerada uma
via arterial que liga o centro da cidade à zona oeste. Nos
anos 1940, o Plano de Avenidas de Prestes Maia incluiu
a São João no perímetro de irradiação, resultando no
seu alargamento e em outras reformas que atribuíram à
avenida uma maior uidez de tráfego, além de denirem
um importante vetor de expansão vercal na cidade. A
São João foi também, dos anos 1930 aos anos 1970, um
dos principais núcleos culturais da cidade, principalmente
pelo seu caráter de cinelândia, como foi visto na análise do
edicio Lucerna e cine Comodoro (p.160). (TOLEDO, 2004)
A topograa da cidade de São Paulo é
predominantemente acidentada, o que de certa forma
deniu ruas e avenidas com caracteríscas mais curvas,
repletas de aclives de declives, com exceção das que
ocuparam os leitos ou várzeas de rios e córregos; estas
são planas, mas nem sempre lineares. A São João é uma
das poucas avenidas da cidade que tem sua conformação
integralmente linear, que a deniu como um grande eixo,
cujo ponto focal é o imponente edicio Alno Arantes, sede
do Banespa
47
, inspirado no célebre Empire State Building
48
de Nova Iorque. A construção do elevado Costa e Silva
49
,
em 1970, trouxe inúmeras consequências negavas para o
centro da cidade, amplamente conhecidas, porém, talvez
a pior delas seja o fato do elevado ter rado da São João
o caráter de eixo visual, que quando se trafega sob ele,
perde-se a noção do todo e não se enxerga o ponto focal.
O edicio Araraúnas, foco desta análise, é um dos muitos
prejudicados pelo elevado, que está a apenas 5,00m de
sua fachada.
A ocupação vercal da São João, assim como em
quase todo o centro da cidade, foi intensa e acelerada a
parr do início da década de 1940. Um exemplar notável,
e precedente do edicio Araraúnas, é o edicio Trussardi,
projetado por Rino Levi em 1941; este edicio possui
elementos que serão incorporados por Franz Heep em
vários projetos posteriores, como a subtração do volume
principal por terraços, e fechamentos parciais com cobogós,
atribuindo movimentos de cheios e vazios à fachada.
Av. São João em 1976
Fonte: hp://drivaneios.les.
wordpress.com/2009/02/aveni-
dasaojoao19701.jpg - acesso em
maio de 2010
Ed. Trussardi - Rino Levi - 1941
Fonte: FIGUEROA, Mário. Habitação coleva
em São Paulo 1928 -1972. Tese de doutora-
mento. São Paulo: FAU/USP, 2002, p.203
Av. São João em 1942 - Edicio
do BANESPA como ponto focal.
Fonte: Revista Life, nº123, 1942
Av. São João atualmente - Eleva-
do ra a percepção da avenida
como um eixo visual.
Foto: Edson Lucchini Jr
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(47) - Banco do Estado de São Paulo, atual Santander S.A
(48) - O Empire State Building é um arranha-céu de 102 andares de eslo Art déco situado na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. De 1931 a 1972 foi o edicio mais alto do mundo.
(49) - Também conhecido por “minhocão”, o Elevado Costa e Silva é uma via expressa da cidade de São Paulo que liga o centro a zona oeste. Foi construído sobre a rua Amaral Gurgel e
avenida São João e responsável, em parte, pela degradação do centro da cidade.
A Avenida São João
184
O terreno onde localiza-se o Edicio Araraúnas
situa-se na esquina da Alameda Glee com a Avenida
São João e possui sua maior face voltada para esta. Conta
com 570m² de área e uma geometria irregular, sem faces
paralelas. O edicio possui térreo e mais 15 pavimentos,
denindo uma proporção de 49,00m de altura por 36,00m
de largura e aproximadamente 11,30m de profundidade
no corpo elevado. A relação proporcional quase quadrada
da fachada principal resultou numa volumetria onde a
sensação de vercalidade não é tão intensa ao observador
localizado no térreo, em frente ao edicio, fato reforçado
pelo recuo obrigatório dos dois úlmos pavimentos, por
imposição legislava da época. O gabarito não possui
discrepâncias com o entorno, já que a grande maioria
dos vizinhos foram construídos na mesma época, sob as
mesmas premissas da legislação.
O edicio foi construído junto a três alinhamentos
do terreno com os lotes lindeiros e com a Alameda Glee,
porém, a principal face do volume, que é voltada para a
avenida São João e orientada ao leste, é levemente curva,
sendo portanto a única que não acompanha o alinhamento,
deslocando-se gradavamente dele. A curvatura da fachada
principal, assim como todos os demais elementos do
edicio, resulta de decisões de projeto que revelam certo
interesse; embora não haja como comprovar as verdadeiras
intenções do arquiteto, restam algumas interpretações
possíveis. O primeiro dos benecios conseguidos pela
curva é espacial, que ela gera o aumento da supercie de
fachada, consequentemente resultando numa maior área
do pavimento po, e por m, num maior número possível
de unidades, ou em espaços mais generosos para elas. O
segundo resultado importante obdo pela solução curva
é o aumento da amplitude visual do edicio para quem
trafega no sendo centro-bairro da avenida São João, ou
para quem vem ao encontro dele pela Alameda Glee.
Outro item a ser considerado é o fato de que a curvatura do
volume principal o desloca gradualmente do alinhamento,
liberando e ampliando o passeio da esquina, onde uma
marquise também curva, cobre o espaço vazio criado. Além
disso, esta curvatura também resulta num encurtamento
do percurso do pedestre que vem na Avenida São João em
direção à Alameda Glee, enaltecendo a inserção urbana
do edicio. Hoje, com o fechamento lateral desta marquise
de esquina para ganho de espaço interno das lojas, os
conceitos de encurtamento de percursos e valorização da
esquina se perderam.
corpo de circulação
vertical
volume principal
av. são joão
- percurso de pedrestres sob marquise
alameda glette
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Terreno, implantação, volumetria e entorno
185
O térreo ocupa pracamente a totalidade do lote,
com exceção de dois pequenos vazios para a iluminação
natural que benecia cinco das seis lojas existentes. Todas
estão voltadas para a Avenida São João, com exceção de
uma, que é acessada pela alameda Glee. O subsolo do
edicio não é desnado à garagens e não é servido pelos
elevadores, funcionando apenas como estoque para as
lojas. É acessado por escadas individuais, presentes em
cada uma delas.
O edicio conta com dois acessos no térreo. O
social é feito pela avenida São João e se através de um
corredor de 2,55m, que corresponde à largura de uma das
kitchenees dos pavimentos superiores. Este corredor leva
à parte posterior do terreno, onde se encontra o corpo
de circulação vercal. O acesso de serviço ocorre pela
Alameda Glee. Um corredor, adjacente à divisa do lote,
conduz ao hall de elevadores.
Situada em um volume destacado do principal,
a circulação vercal do edicio é composta por dois
elevadores e uma escada em forma de ferradura, sem
patamar intermediário. Na transposição do primeiro
andar para o térreo, a escada torna-se linear, que o pé-
direito mais elevado deste resulta num maior número de
degraus.
O Araraúnas possui, assim como o edicio Icar
(p.78), uma grelha que abriga os terraços, se tornando
o principal elemento da fachada em ambos os edicios.
Porém, no Icaresta grelha é estrutural pois as paredes
que dividem os terraços são pilares que sustentam as suas
lajes e travam a estrutura do edicio. no Araraúnas,
essas paredes que dividem os terraços não possuem
papel estrutural; os terraços estão em balanço, com os
pilares recuados da fachada e com um vão de 2,55m, que
corresponde à largura das kitchenees. No térreo uma
mudança no ritmo estrutural, de modo que o vão passa a ser
av. são joão
loja
49 m²
loja
51 m²
loja
49 m²
loja
49 m²
loja
49 m²
loja
68 m²
alameda glette
Esquema de distribuição do pavimento térreo
circulação horizontal
circulação vertical
lojas
Térreo do Araraúnas atualmente
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Térreo e subsolo
Circulação Vercal
Estrutura
186
de 5,10m, correspondendo exatamente à largura de duas
das kitchenees superiores. Esta mudança, possibilitada
pela adoção de uma viga de transição, foi necessária para
tornar as lojas maiores e com a planta livre.
O Edicio Araraúnas possui o mesmo arranjo
espacial do 1º ao 13º andar, contando com 11 kitchenees
situadas na face curva do volume, todas voltadas para a
avenida São João e orientadas ao leste. Além disso, são
organizadas em pares, espelhadas entre si, denindo
uma parede hidráulica comum para os seus respecvos
banheiros. Na face voltada para a alameda Glee, com
orientação sul, encontram-se unidades maiores, de um
dormitório. A circulação horizontal nos pavimentos é feita
por um corredor que, venlado e iluminado por cobogós,
acompanha a curvatura do volume principal. Esta solução,
corrente em grande parte dos edicios laminares da época,
é fundamental para a venlação natural das cozinhas e
banheiros, já que eles estão voltadas para o corredor.
As unidades do po kitchenee possuem plantas
compostas por uma cozinha, um banheiro, uma sala-living
e um terraço, totalizando 25m². A cozinha conta com
1 metro de largura por 70cm de profundidade, espaço
suciente para abrigar uma pia com cuba, um fogão de
duas bocas e uma pequena geladeira sob o tampo. O
banheiro possui planta em “L, derivada da subtração
do espaço da cozinha. As medidas mais generosas do
banheiro, são decorrentes da necessidade deste espaço
também ser ulizado como uma opcional área de serviço,
além do uso do bidê, muito comum na época. A sala-living
é um espaço retangular de 2,55m de largura por 5,20m
de profundidade, que possui um armário embudo junto
à parede que a separa do banheiro, além de um caixilho
piso-teto que a separa do terraço. É um ambiente cujas
dimensões obrigam a compactação da função de dormir
com a de estar, sugerindo o uso de um sofá-cama.
O caixilho piso-teto que separa a sala-living do
terraço é composto por uma porta de madeira com
veneziana superior de venlação permanente, além de
duas folhas de vidro de correr com bandeira e peitoril
também em vidro. Este caixilho, do mesmo po do
ulizado no edicio Icaraí, confere uma boa venlação e
iluminação à sala-living, além de integrá-la visualmente ao
av. são joão
alameda glette
Esquema de distribuição do pavimento po, do 1º ao 13º andar
Planta das unidades de 25m², do 1º ao 13º andar
Caixilho - sem a bandeira original com
veneziana
Foto: Edson Lucchini Jr.
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
25 m²
42 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
25 m²
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Pavimento po e unidades
187
terraço, que é um espaço de 2,55m de largura por 1,10m
de profundidade e funciona como uma espécie de brise,
impedindo que o caixilho da sala-living que diretamente
exposto ao sol nascente. As kitchenees do Edicio
Araraúnas possuem um arranjo espacial muito semelhante
às do edicio Icaraí, porém com dimensões bem inferiores.
Pode-se armar que são as menores unidades de todas as
demais estudadas nesta obra, e possivelmente, as menores
projetadas por Heep em São Paulo.
Ao se observar o arranjo espacial em pares
espelhados das kitchenees, nota-se que a unidade da
extremidade direita, para quem da avenida São João
o edicio de frente, poderia ser maior que as demais,
apropriando-se do espaço do corredor. Porém isso não
ocorre, pois esse aumento de espaço traria uma mudança
total no acesso e nas áreas molhadas desta unidade. Esta
opção por mantê-la igual às demais pode ser juscada
através de uma análise do método projetual de Heep, que,
adepto ao ideário racionalista, priorizava a padronização e
a repeção de elementos arquitetônicos e construvos ao
máximo possível. Assim sendo, o arquiteto optou por não
mudar a planta desta unidade da extremidade do corredor,
para não perder a vantagem da parede hidráulica comum
para dois banheiros, que o ganho de espaço não seria
tão signicavo.
Os apartamentos voltados para a alameda Glee
possuem um programa denido por um hall de entrada,
uma sala de estar e uma de jantar que comparlham o
mesmo espaço , além de um dormitório, uma cozinha e um
banheiro, somando 42m² de área úl. As aberturas em ta
da sala e dormitório estão voltadas para a face sul, o que
talvez explique o fato delas serem bem menores que as das
kitchenees, dotadas de caixilhos piso-teto envidraçados.
Os recuos impostos pela legislação geraram um
escalonamento dos úlmos dois pavimentos do edicio,
tornando os seus arranjos espaciais diferentes dos demais
inferiores. No 14º andar as kitchenees são dispostas da
mesma maneira que as dos andares inferiores, porém com
a sala-living medindo 1,00m de comprimento a menos, e os
seus terraços descobertos; as dez unidades do pavimento
contam com 23m² cada, sendo portanto as menores do
edicio. Este andar possui uma kitchenee a menos na
extremidade esquerda, para quem da avenida São João
o edicio de frente, graças ao escalonamento também
necessário na fachada da alameda Glee; por este mesmo
movo, o 14º andar não conta mais com o apartamento de
Planta das unidades de 42m², do 1º ao 13º andar
av. são joão
alameda glette
Esquema de distribuição do 14º pavimento
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
23 m²
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
188
42m² voltado para alameda Glee, resultando num terraço
de uso comum.
A diminuição de 1,40m no sendo longitudinal do
15º pavimento, graças a mais um recuo em relação ao 14º,
acarretou na necessidade do aumento das dimensões das
unidades no sendo transversal, porém, a consequência
foi a redução do número delas no pavimento, que conta
agora com apenas cinco unidades de um dormitório, com
39m² cada.
O arranjo espacial das unidades do 15º pavimento
conta com um corredor de acesso, situado na porção
central da planta, que separa a cozinha do banheiro; este
conta com 3,30m², área suciente para a colocação de vaso,
pia, bidê e banheira. A cozinha possui 4,40m², podendo
abrigar uma geladeira comum, sem a necessidade dos
“kits” de cozinha compacta vistos na análise do edicio
Normandie (p.50). O corredor termina num hall onde se
acessa o dormitório e a sala; esta possui 10,00m² e pode
abrigar as funções de estar e comer. O dormitório, cuja
medida é de 8,40m², possui armário embudo. Tanto a
sala como o dormitório, possuem ligação com o terraço
descoberto. Esta distribuição de planta para apartamentos
de um dormitório e dimensões semelhantes, repete-se
com frequência na obra de Heep, como já visto no edicio
Normandie, além de outros que foram estudados, como o
Ibaté (p.94) e o Lucerna (p.160).
av. são joão
alameda glette
Esquema de distribuição do 15º pavimento
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
39 m²
39 m²
39 m²
39 m²
39 m²
Planta das unidades de 39m² do 15º andar
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
189
Perspecva do Araraúnas em sua condição original
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
190
Na fachada principal do edicio Araraúnas,
vericam-se três momentos disntos, que caracterizam
uma base, correspondente ao térreo, um corpo principal,
correspondente aos pavimentos de 1 a 13, e um coroamento,
que corresponde aos dois úlmos pavimentos (14º e 15º)
escalonados. No térreo, predominam na fachada as portas
metálicas das lojas, com bandeiras superiores em cobogós
quadriculados de concreto para venlação permanente. O
acesso social é feito por uma porta de altura maior que a das
lojas e de linguagem bem disnta delas, a m de destacar
a posição de entrada para a torre de apartamentos. No
térreo também se destaca a marquise curva que protege
a esquina, mencionada anteriormente. Na porção
térrea da fachada lateral, voltada para a rua Glee, não
há elementos de destaque; apenas há a porta de uma loja,
na mesma linguagem das da fachada principal, além do
acesso de serviço do edicio.
Edicio Araraúnas
Foto: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Fachadas
191
O corpo principal da fachada do Araraúnas, que
é voltada para a avenida São João, tem como elemento
principal uma grelha, onde cada unidade, que corresponde
a um apartamento, possui de 2,55m de largura por 2,80m
de altura e 1,20m de profundidade. A grelha abriga os
terraços e segue a curvatura do volume principal, além
de que percepvamente, ela atribui cheios e vazios à
fachada, criando terraços sombreados. Por mais que, em
termos construvos, se saiba que a grelha é um elemento
adicionado ao corpo principal da edicação, em termos
percepvos, ela pode ser vista como quadrados subtraídos
do volume maior. Os guarda-corpos dos terraços são
compostos por tubos metálicos na parte inferior e por um
elemento mais marcante e espesso em concreto na parte
superior, que reforça as linhas horizontais da fachada.
As kitchenees da extremidade direita, de quem da
avenida São João olha o edicio de frente, não possuem
terraços, quebrando o ritmo corrente da fachada e
denindo um elemento vercal que contrapõe a marcante
horizontalidade, já citada dos terraços.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
192
A kitchenee da extremidade esquerda, de quem
da avenida São João o edicio de frente, não pôde ter
a abertura de seu banheiro voltada para o corredor como
as demais. Portanto, a solução adotada para se resolver a
venlação e a iluminação dele foi voltar a sua abertura para
a fachada lateral, através de uma “janela indevassável”.
Este termo encontrado na matéria da revista Acrópole
214 sobre o edicio Araraúnas, se refere aos volumes
retangulares salientes que se destacam na fachada
lateral, venlando e iluminando os banheiros sem deixá-
los expostos. Além disso, são elementos que conferem
volume, sombras e ritmo à fachada da alameda Glee.
Esta, além dos volumes descritos, também é composta
pelas janelas em ta dos apartamentos de um dormitório
e por estreitas aberturas sem caxilho, que venlam
lateralmente os terraços das kitchenees da extremidade
esquerda, para quem da avenida São João vê o edicio de
frente. A fachada da rua Glee, por estar orientada ao sul,
de pouca insolação e ventos frios, possui mais supercies
opacas em alvenaria, além de caixilhos menores.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
193
No 14º andar, o recuo da fachada faz com que
a grelha, que predominava nos andares inferiores, se
transformasse em pórcos que separam as unidades,
conferindo um elegante coroamento ao edicio; os
pórcos, que ajudavam a minimizar a percepção do
escalonamento dos úlmos pavimentos, eram percebidos
por quem trafegava na avenida São João e ruas do
entorno. Foi sem dúvida uma solução criava que o
arquiteto encontrou para lidar com o escalonamento dos
úlmos pavimentos, imposto pela legislação da época; na
maioria dos casos presentes na cidade, os edicios com as
mesmas carateríscas não possuem nenhum tratamento
arquitetônico em seus escalonamentos, resultando numa
estéca desagradável.
O Araraúnas possui uma grande semelhança
pológica ao edicio Icaraí, estudado, não no que
diz respeito à planta, mas também com relação à fachada.
Em ambos edicios, Heep ulizou a idéia dos terraços,
obrigando o recuo do caixilho, rando-o da exposição
direta ao sol. Como no Icaraí, os terraços criam uma fachada
repleta de cheios e vazios. Porém hoje, com a presença
do elevado Costa e Silva a menos de 6,00m do edicio, os
terraços foram em sua maioria fechados por caixilhos de
alumínio de diversos pos, descaracterizando a fachada e
empobrecendo o seu volume original, agora desprovido
do jogo de sombras e da sensação de profundidade que os
terraços abertos promoviam.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
194
O Edicio Araraúnas encontra-se hoje num estágio
muito elevado de descaracterização com relação ao projeto
original de Adolf Franz Heep, além da conservação, muito
comum no entorno e agravada certamente pela presença
do elevado Costa e Silva a 6,00m da fachada principal. O
fechamento dos terraços por caixilhos variados e a escolha
de cores sem critérios, são os principais elementos que
descaracterizam o edicio, originalmente pintado na cor
branca. Além disso, os pórcos do coroamento foram
fechados por diferentes pos de caixilho e telhas de
amianto, para ganho de área nos apartamentos dos dois
úlmos pavimentos, criando no topo do edicio uma
desuniformidade visual, semelhante à de uma favela. No
térreo, o principal fator de descaractarização é o fechamento
lateral da marquise curva para ganho de mais uma loja.
Isto prejudicou o conceito original de generosidade com
o espaço público, que o projeto tornava o passeio da
esquina mais amplo e coberto.
Fotos do edicio Araraúnas atualmente -
Descaracterização e degradação
Fotos: Edson Lucchini Jr.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Situação Atual
195
planta do pav. térreo
esc. 1:250
planta do pav. po
1º ao 13º pav.
esc. 1:250
1 - acesso social
2 - áreas descobertas
3 - acesso de serviço
4 - lojas
apto. 1 dorm. - 42 m²
1 - sala estar/
jantar
2 - cozinha
3 - banho
4 - dormitório
kitchenees - 25 m²
1 - banho
2 - mini cozinha
3 - sala-living
4 - terraço
2
2
1
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
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196
kitchenees - 23 m²
1 - banho
2 - mini cozinha
3 - sala-living
4 - terraço
apto. 1 dorm. - 39 m²
1 - cozinha
2 - banho
3 - sala
4 - dormitório
5 - terraço
planta do 14º pav.
esc. 1:250
planta do 15º pav.
esc. 1:250
1
1
1
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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197
corte AA
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fachada av. são joão
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fachada al. glee
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200
detalhe do térreo
detalhe da modulação da fachada
Marquise curva cobre a esquina; acesso
social destacado das portas das lojas.
Grelha dos terraços em balanço sobre o
térreo.
Fachada modulada pelos terraços, cuja
medida corresponte exatamente ao vão
da estrutura. Ulização de caixilho piso-
teto
detalhe do coroamento
Os Pilares do 14º andar tornam-se pórcos
para conferir um coroamento elegante
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
201
1º pav.: 2 kitch. de 44m², 9 kitch. de 35m2
2 ap. de 62m², 1 ap. de 71m2, 1 ap. 105m²
2º ao 8º pav:
4 kitch. de 44m2, 8 kitch. de 35m2
4 ap. de 62m²
9º pav.: 2 kitch. de 44m², 8 kitch de 35m²
2 ap. de 66m², 3 ap. de 52m²
10º pav.: 2 kitch. de 44m², 8 kitch de 35m²
2 ap. de 70m², 2 ap. de 62m²
Total: 155 unidades
pça.
roosevelt
r. marns fontes
r. da consolação
r. nestor pestana
Oo Meinberg S.A
R. Nestor Pestana 87 - Centro
Irregular - 2780 m²
7.3 - Área total = 20.240m²
99 %
Razoável
Média
Térreo com 3 lojas e garagens, 2 sobrelojas,
2 subsolos - 292 vagas para autos
6.9 Edifício Guaporé 1956-59
Foto: Edson Lucchini Jr.
terreno
unidades
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
observações
construção
endereço e localização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
202
O Edicio Guaporé está situado na rua Nestor
Pestana, uma via de calha estreita, trânsito local e muito
arborizada. É uma via de usos muito diversicados; num
trecho de 400m encontram-se diversos bares, boates,
edicios comerciais, instucionais, residenciais e religiosos.
A rua Nestor Pestana ainda conta com o teatro Cultura
Arsca, projetado por Rino Levi em 1942.
O Guaporé é mais uma de muitas obras da parceria
Franz Heep - Oo Meinberg; num raio de 1,5km, são nove
50
edicios residenciais projetados por Heep e executados
por Meinberg nos anos 1950. O Edicio Guaporé pode
ser considerado híbrido, pois concentra usos comerciais,
residenciais e instucionais; o térreo possui três lojas
voltadas para a rua. Além disso, duas sobrelojas que
abrigam uma das sedes do CREA-SP. quatro níveis de
garagens, totalizando 292 vagas para automóveis, o que
representa um fato incomum na época, não só na obra de
Heep, mas como nas demais situadas na região central da
cidade, que na maioria dos casos nem sequer possuiam
garagens.
O terreno onde situa-se o Guaporé possui a
topograa plana no sendo perpendicular à rua Nestor
Pestana e um desnível de 50cm no sendo da direita para
a esquerda, para quem da rua, o edicio de frente. A
geometria do terreno é irregular; na sua porção frontal,
ele possui ângulos retos entre a face principal e as laterais,
porém, nos fundos, o fechamento do polígono que dene
o lote se por divisas não paralelas, sem ângulos retos.
A principal face do terreno, voltada para a rua Nestor
Pestana, não é a maior e possui 33m; a face lateral direita
mede cerca de 85m, congurando um terreno de 2780m²
de área.
O corpo elevado, situado no terço frontal do
terreno e disposto de modo transversal em relação
a ele; é composto por um embasamento de 33,00m
de comprimento que faceia o alinhamento com a rua
Nestor Pestana, por 34,20m de profundidade e 14,35m
de altura, compreendendo o térreo mais dois andares
de sobrelojas. O volume mais alto, que compreende os
apartamentos residenciais, é divido em dois blocos, ambos
situados sobre o embasamento; o bloco voltado para a
rua Nestor Pestana está recuado 5,50m do alinhamento
bloco 2
bloco 1
circ.
vertical
circ.
vertical
garagens
embasamento
rua nestor pestana
Teatro Cultura Arsca - Rino Levi - 1942
Fonte: hp://lucianasabbag.les.wordpress.com/2008/08/02.jpg
acesso em janeiro de 2010
(50) - Ver tabela completa com a relação de edicios e suas respecvas construtoras na página 8
Terreno, implantação, volumetria e entorno
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
203
com ela e possui 33,00m de comprimento por 11,20m de
profundidade e 28,70m de altura, porém, este bloco frontal
sofre o escalonamento obrigatório, que abrange o e o
10º andares; o fato deste bloco estar recuado 5,50m do
alinhamento, minimizou este escalonamento dos andares
superiores. O volume posterior, voltado para os fundos
do lote, se separa do frontal por um vazio de 5,00m de
largura por 20,00m de comprimento, e possui uma relação
proporcional de 33,00m de comprimento por 12,60m de
largura e os mesmos 28,70m de altura do volume frontal,
porém, não sofre escalonamento. A disposição transversal
do corpo elevado em relação ao terreno, possivelmente
deve-se à orientação com relação à insolação; as faces
do volume onde se localizam as áreas de estar e repouso
dos apartamentos voltam-se para oeste no bloco frontal,
e a leste no bloco posterior, favorecendo a insolação das
unidades. Se a disposição dos blocos fosse no sendo
longitudinal, certamente teria sido possível um melhor
aproveitamento em termos de área construída, resultando
em mais apartamentos, porém, isto acarretaria em blocos
com faces orientadas no sendo norte-sul, prejudicando
a insolação de metade das unidades residenciais, que
a orientação sul não é recomendada para ambientes de
longa permanência. Isto é um indício de que a arquitetura,
naquele momento, ainda era capaz de se impor em relação
ao mercado, privilegiando a qualidade e a salubridade dos
espaços, mesmo que isto gerasse menos lucro.
O embasamento e os dois blocos não possuem
recuos laterais, conformando empenas cegas e
possibilitando assim, a construção de edicios vizinhos
também sem recuos laterais. O lote lindeiro à lateral
direita do Guaporé, para quem da rua o de frente, é
ocupado por um edicio de gabarito semelhante; do lado
esquerdo um lote sem edicações, fato que permite
a visão da empena cega lateral do edicio em análise.
O entorno, apesar de possuir alguns terrenos vazios ou
com construções de gabarito muito baixo, é composto
predominantemente por edicios vercais de gabarito
maior ou igual ao do Guaporé.
Como já citado anteriormente, o Guaporé é um
edicio híbrido, sendo que o térreo e as sobrelojas possuem
usos comerciais e instucionais. A porção frontal do térreo,
voltada para a rua Nestor Pestana, é dividida, no sendo
Térreo, embasamento e subsolo
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
204
transversal, em cinco partes de larguras semelhantes; a
parte da extremidade direita, para quem da rua o edicio
de frente, é desnada à portaria dos blocos residenciais
e das sobrelojas. A parte central representa o acesso de
veículos às garagens e as demais partes correspondem às
lojas. No sendo longitudinal, pode-se dizer que as lojas
ocupam um terço do terreno; os dois terços restantes são
ocupados por garagens cobertas, o que resultou numa
taxa de ocupação do terreno de pracamente 100%.
Há quatro níveis de garagens, que totalizam 292 vagas
de estacionamento; no térreo, elas ocupam a área do
terreno restante das áreas das lojas e dos acessos sociais.
Sobre esta mesma projeção, um pavimento desnado
exclusivamente às garagens. O edicio ainda conta com
dois subsolos, cujas plantas são pracamente idêncas;
ambos ocupam a totalidade do lote.
A circulação vercal do edicio Guaporé possui duas
situações disntas; o embasamento possui um elevador
independente, assim como escadas, que possuem uma
largura de 2,50m; estas dimensões generosas devem-se
ao fato delas servirem às sobrelojas, que abrigam o CREA-
SP, e portanto, possuem um intenso uxo de pessoas. Nos
blocos residenciais, a circulação vercal situa-se entre o
bloco frontal e o posterior; três elevadores dispostos
lado-a-lado e escadas lineares, sem patamar intermediário,
porém, diferentemente dos demais edicios estudados, os
elevadores e escadas não estão agrupados em um único
nicho; a caixa de elevadores situa-se próxima à extremidade
esquerda da planta, para quem da rua o edicio de
frente, e as escadas localizam-se na extremidade oposta.
O pavimento po do edicio Guaporé apresenta-
se disposto espacialmente do seguinte modo: a circulação
horizontal, feita através de corredores, circunda o vazio
existente entre os dois blocos, distribuindo os uxos para os
apartamentos. Os corredores são iluminados e venlados
naturalmente por cobogós retangulares de concreto;
esta solução se faz necessária pelo fato das aberturas das
cozinhas e banheiros das unidades estarem voltadas para
o corredor.
Acesso ao hall de elevadores no térreo
Foto: Edson Lucchini Jr.
Escadas de acesso às sobrelojas
Foto: Edson Lucchini Jr.
r. nestor pestana
garagens
loja
115 m²
loja
125 m²
loja
140 m²
Esquema de distribuição do pavimento térreo
circulação horizontal
circulação vertical
lojas
Circulação Vercal
Pavimento po e unidades
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
205
No pavimento de apartamentos, situado logo
acima do embasamento do edicio, é possível acessar o
vazio central entre os blocos. Neste espaço, hoje ulizado
como uma espécie de praça comum do edicio, quando se
olha para cima, pode-se observar os fechamentos com os
cobogós de concreto dos corredores de todos os pavimentos
superiores. Ao analisar o projeto original, acredita-se que
este espaço não tenha sido pensado para ser uma área de
lazer do edicio, pois nele encontrava-se o depósito de
lixo, cujo espaço hoje é ocupado pelo escritório do síndico;
era comum em edicios contemporâneos ao Guaporé a
presença de dutos de lixo, por onde os sacos eram jogados
de cada pavimento, caindo em um depósito térreo.
várias distribuições disntas das unidades ao
longo dos pavimentos do Guaporé; o bloco posterior,
voltado para o fundo do lote e orientado a leste, possui
sempre a mesma distribuição de unidades do po
kitchenee em todos os pavimentos, com duas unidades
de 44m² nas extremidades da planta e oito unidades de
35m² na porção central. no bloco frontal, voltado para
a rua Nestor Pestana e orientado a oeste, as unidades
variam nas dimensões e nos arranjos espaciais de acordo
com o pavimento. O fato do primeiro andar estar logo
acima do embasamento permiu que os apartamentos
vessem terraços descobertos de 5,50m de comprimento,
que corresponde ao recuo da torre de apartamentos em
relação ao alinhamento com a via. As cinco unidades do
primeiro pavimento no bloco frontal possuem quatro
arranjos espaciais e dimensões disntas; na extremidade
direita da planta do primeiro pavimento, para quem da
rua vê o edicio de frente, um apartamento de 105m²,
o maior de todo o edicio, além de ser o único a possuir
dois dormitórios e área de serviço com dormitório de
empregada. Ao acessá-lo, depara-se com um corredor que
distribui os uxos para a área de serviço, cozinha e para
as áreas sociais. Um único espaço de geometria retangular
e 25m² de área abriga a sala de estar e de jantar, que,
assim como os dois dormitórios, abrem-se para o terraço
descoberto de 53m².
Esquema de distribuição do 1º pavimento
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
44 m²
44 m²35 m²
35 m²
35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m²
35 m²
62 m² 62 m²
71 m²
pátio interno
terraços
descob.
105 m²
r. nestor pestana
Planta da unidade de 105m² do 1º andar
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206
Na extremidade esqueda da planta do pavimento
po, situa-se o segundo maior apartamento de todo o
edicio com 71m² de área, contando com um dormitório;
esta unidade também possui a sala de estar e o dormitório
voltados para o terraço descoberto. Na porção central
da planta do bloco frontal do primeiro pavimento ainda
encontram-se duas unidades de 62m² e um dormitório,
cujo arranjo espacial se reperá nos andares superiores.
também uma kitchenee de 44m²; ambos possuem abertura
para o terraço descoberto sobre o embasamento.
Planta da unidade de 71m²
do 1º andar
Planta da unidade de 62m²
do 1º andar
Vazio central do Edicio Guaporé - cobogós de concreto dos corredores
Foto: Edson Lucchini Jr.
Cobogós de iluminação e venlação
Foto: Edson Lucchini Jr.
“Praça” do 1º pavimento
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Do 2º ao 8º pavimento, a distribuição das unidades
ao longo dos andares é a mesma; o bloco frontal conta com
duas kitchenees de 44m² nas extremidades da planta e
quatro apartamentos de 62m² e um dormitório, na porção
central. As kitchenees das extremidades do pavimento
possuem um arranjo espacial muito semelhante ao das
menores, de 35m², porém, contam com uma cozinha maior
e disposta de maneira diferente. As kitchenees menores
possuem a distribuição espacial e conceitos iguais aos dos
edicios Araraúnas e Icaraí, projetados também por Heep
e já estudados anteriormente. Os quatro apartamentos de
62m² contam com um corredor de entrada de 3,45m de
comprimento, que separa o banheiro da cozinha, além de
conduzir ao dormitório e à sala, ambos com saídas para os
terraços cobertos, que do ao pavimentos possuem
3,00m de comprimento por 1,50m de largura.
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
44 m²
44 m² 44 m²
44 m²35 m²
35 m²
35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m² 35 m²
62 m² 62 m²
62 m² 62 m²
r. nestor pestana
Esquema de distribuição do pavimento po, do 2º ao 8º andar
Planta das unidades de 62m²
do 2º ao 8ª pavimento
Planta das kitchenees de 35m²
do 1º ao 10ª pavimento
Planta das kitchenees de 44m²
do 1º ao 10ª pavimento
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208
O pavimento possui, no bloco frontal, uma
distribuição diferente das unidades devido ao fato de ser
o primeiro pavimento a sofrer o recuo obrigatório; não há
mais kitchenees, exisndo apenas apartamentos de um
dormitório, sendo que os dois das extremidades possuem
66m² e os três do centro possuem 52m², totalizando cinco
unidades. Não há relevantes variações no arranjo espacial
destes apartamentos com relação aos demais, também de
um dormitório, descritos anteriormente.
O 10º pavimento sofre o segundo recuo obrigatório,
causando uma diminuição do pavimento no sendo
longitudinal; isto fez que se diminuíssem de cinco para
quatro o número de unidades, agora, menores que as dos
pavimentos inferiores no sendo longitudinal, mas maiores
no sendo transversal. As duas unidades das extremidades
são idêncas e espelhadas, contando com 70m² de área
cada. As duas do centro também são iguais, espelham-se,
e possuem 62m² cada; o arranjo espacial destas é único
em todo o edicio. Elas contam com um hall de entrada
de 3,50m², que também funciona como distribuidor de
uxos para todos os ambientes do apartamento, que
são: sala de estar, dormitório, cozinha e banheiro. um
terraço descoberto de 8,00m de comprimento por 1,85m
de largura que é acessado pela sala e pelo dormitório. Os
dois apartamentos das extremidades contam com 70m²
de área e uma distribuição espacial onde não hall de
entrada; se adentra ao apartamento pela sala de jantar, que
está conda no mesmo espaço retangular de 18,00m² que
também abriga a sala de estar. Um corredor de 3,15m de
comprimento distribui os uxos para a cozinha, dormitório
e banheiro.
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
44 m²
44 m²
70 m²
70 m²
66 m²
66 m²
44 m²
44 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
35 m²
52 m² 52 m² 52 m²
r. nestor pestana
r. nestor pestana
Esquema de distribuição do 9º pavimento
Esquema de distribuição do 10º pavimento
62 m²
62 m²
Planta das unidades
de 62m² do 10ª pavi-
mento
Planta das unidades
de 70m² do 10ª pavi-
mento
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209
Do ao andar, o ritmo de
distribuilção estrutural do edicio
Guaporé é o mesmo; nos apartamentos
das extremidades o vão é de 3,90m,
e nos demais, o vão é de 3,00m, que
dene a largura das kitchenees no
bloco posterior, e a largura dos quartos
e salas no bloco frontal. Apenas no
10º pavimento, o que sofre o segundo
recuo obrigatório, a necessidade
de um novo arranjo espacial dos
apartamentos obrigou uma mudança
neste ritmo, apenas no bloco frontal,
como mostram os esquemas ao lado.
Entre o primeiro pavimento e
o embasamento existe uma transição
estrutural que reduz o número de
vãos de dez para cinco no sendo
transversal. No sendo longitudunal,
os vãos permanecem os mesmos. As
necessidades espaciais que os usos
presentes nas sobrelojas e no térreo
possuem são obviamente diferentes
dos usos residenciais, portanto, a
transição se fez necessária para que as
lojas do térreo e as sobrelojas fossem
menos comparmentadas. O mesmo
ritmo estrutural presente no térreo
e sobrelojas, também é aplicado aos
subsolos.
Esquema estrutural do 1º ao 9º pav.
Esquema estrutural do 10º pav.
Estrutura
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Perspecva do Guaporé - vista da rua Nestor Pestana
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O edicio Guaporé, por não possuir recuos laterais,
possui duas faces passíveis de tratamento arquitetônico;
a frontal, orientada a oeste e voltada para a rua Nestor
Pestana, e a posterior, orientada a leste e voltada para
os fundos do terreno. A fachada principal possui cinco
momentos disntos, que são um reexo das conformações
das plantas, adotadas para os diferentes usos do edicio.No
térreo, a face que compreende as portas de acesso às lojas,
garagens e portaria, está recuada 1,70m do alinhamento;
como os dois andares superiores de sobrelojas faceiam o
alinhamento, criou-se um passeio coberto no térreo junto
às vitrines das lojas, protegendo-as de intempéries.
O segundo momento a ser destacado na fachada
é o corpo de cobogós de concreto que, permeado por
aberturas quadradas, possui 33,00m de comprimento
por 11,20m de altura, correspondendo aos dois andares
de sobrelojas. Este pano de cobogós, que marca o
embasamento do edicio, se sobressai na paisagem da rua
Lojas do térreo e embasamento do Guaporé
Foto: Edson Lucchini Jr.
Fachadas
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
212
Nestor Pestana, tornando-se um elemento marcante, cuja
imponência condiz com o uso instucional das sobrelojas,
ocupadas pelo CREA-SP. Além disso, o embasamento
confere uma forte idendade visual ao Guaporé e marca a
transição vercal dos pavimentos de uso público para os de
uso privado. Este elemento possui claras ressonâncias de
obras cariocas como o Parque Guinle de Lúcio Costa e do
Residencial Pedregulho, de Aonso Eduardo Reidy. Estas
soluções também aparecem em outros edicios de Heep
em São Paulo, como no Ouro Preto, da avenida São Luiz e
no Buri, da rua Maria Antonia.
O terceiro momento da fachada corresponde ao
1º pavimento de apartamentos, situado logo acima do
embasamento do edicio; isto fez com que os apartamentos
deste pavimento pudessem ter grandes terraços, que
ocupam o recuo que entre a torre e o alinhamento. Desta
forma, os apartamentos do 1º pavimento não contam com
os terraços de 1,50m de largura, presentes nas demais
unidades superiores, acarretando num desenho de fachada
diferente, somente para este andar. As perspecvas da
página seguinte ilustram as situações descritas.
Parque Guinle - Lucio Costa - Rio de Janeiro - 1948-54
Foto: Nelson Kon; Fonte: hp://www2.nelsonkon.com.br - acesso em dez. 2009
Res. Pedregulho - Aonso Eduardo Reidy - Rio de Janeiro - 1947-1950
Fonte: hp://www.educatorium.com
acesso em dez. 2009
Edicio Buri - Adolf Franz Heep - 1956
Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Ouro Preto - Adolf Franz Heep - 1954
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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214
O quarto, e predominante, momento da fachada é
o que corresponde aos apartamentos do 2º ao 8º andares;
aqui Heep adota mais uma vez a idéia da grelha que abriga
os terraços, mesma solução já ulizada em outros edicios
estudados anteriormente, como o Icare o Araraúnas, além
de outros como o Marajó (Rua Santo Amaro) e o Jequibá,
em Santos. Ao analisar estes edicios, nota-se que todos
eles possuem orientação oeste ou leste, o que reforça o
indício de que os terraços, na obra de Heep, funcionam
como uma espécie de brise, que protege os caixilhos de salas
e quartos da exposição direta ao sol. No caso do Guaporé,
orientado a oeste e leste, além da adoção desta grelha
de terraços como proteção solar, Heep também cria um
brise feito com os mesmos cobogós de concreto presentes
no embasamento do edicio, que, além de impedirem a
penetração excessiva dos raios solares, conferem unidade
à fachada do edicio. Os mesmos cobogós ainda compõe
os guarda-corpos dos terraços. O desenho abaixo mostra
como é feita a organização da fachada do ao
pavimentos, destacando-se a grelha que abriga os terraços,
composta pelos cobogós que funcionam como brises e
guarda-corpos. Hoje, o fechamento dos terraços com
caixilhos de diferentes modelos, fez com que a fachada
perdesse a sua unidade visual e a contenção dos intensos
raios solares presentes na face oeste.
Fachada do edicio Guaporé atualmente.
Foto: Edson Lucchini Jr.
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Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
215
O quinto e úlmo momento a ser analisado na
fachada são os recuos sucessivos do 9º e 10º andares,
que caracterizam um coroamento, mais compulsório que
intencional. Am de tentar manter a unidade com as
demais partes da fachada, Heep uliza os mesmos guarda-
corpos de cobogós presentes nos andares inferiores,
porém, nestes andares não foi possível que se colocassem
os brises, que a legislação impedia que esses terraços
fossem cobertos, deixando os caixilhos das salas e quartos
diretamente expostos ao sol. Hoje, o fechamento dos
terraços do e 10º andares está presente em quase todas
as unidades, conferindo um aspecto negavo ao edicio,
que os materiais ulizados são de baixa qualidade e variam
muito, eliminando a unidade original. A fachada do bloco
posterior é, do ao 10º andares, uniforme, seguindo as
mesmas caracteríscas presentes do ao pavimentos
no bloco frontal.
O edicio Guaporé se encontra hoje num estado
sasfatório de conservação em suas áreas sociais, porém
a fachada necessita de reparos. Como ocorre na grande
maioria dos edicios da cidade, os terraços vem sendo
fechados com caixilhos variados, empobrecendo a
volumetria e a unidade da fachada.
Fachada do edicio Guaporé atualmente.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Situação Atual
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
216
planta do pav. térreo
1 - portaria
2 - elevador de acesso às
sobrelojas
3 - hall de elevadores
sociais
4 - banheiros
5 - lojas
6 - grelhas de venlação
dos subsolos
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planta dos subsolos 1º e 2º
1 - molas dos elevadores
2 - medidores
3 - vazio de venlação
4 - banheiros
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planta do 1º pav.
esc. 1:250
kitchenee - 35 m²
kitchenee - 44 m²
apto. 1 dorm. - 71 m² apto. 1 dorm. - 62 m² apto. 2 dorm. - 105 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
1 - hall de entrada
2 - cozinha
3 - banheiro
4 - sala de jantar
5 - sala de estar
6 - dormitório
7 - terraço descoberto
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dorm. solteiro
6 - dorm. casal
7 - dorm. empregada
8 - banho empregada
9 - serviço
1
1
1
4
4
5
5
3
3
2
2
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planta do pav. po
2º ao 8º
esc. 1:250
kitchenee - 35 m²
kitchenee - 44 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
apto. 1 dorm. - 62 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço
1
1
1
2
3
2
3
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220
kitchenee - 35 m²
kitchenee - 44 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
apto. 1 dorm. - 66 m²
apto. 1 dorm. - 52 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
planta do 9º pav.
esc. 1:250
1
2
1
2
3
3
4
4
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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kitchenee - 35 m²
kitchenee - 44 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala-living
4 - terraço
apto. 1 dorm. - 70 m²
apto. 1 dorm. - 62 m²
1 - cozinha
2 - banheiro
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
1 - hall de entrada
2 - cozinha
3 - banheiro
4 - sala de estar
5 - dormitório
6 - terraço descoberto
planta do 10º pav.
esc. 1:250
1
2
1
2
3
3
4
4
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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corte AA
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fachada r. nestor pestana
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detalhe de fachada - térreo
detalhe de fachada - embasamento
detalhe de fachada - 2º ao 8º pavs.
Lojas, acesso social e acesso às garagens
cobertos por projeção das sobrejojas,
conferindo um passeio protegido de
intempéries
Cobogós em concreto, permeados
por aberturas quadradas, marcam
o embasamento do Guaporé, com
ressonâncias de Lúcio Costa e Aonso
Eduardo Reidy.
Uso dos mesmos cobogós do embasamento,
conferindo unidade à fachada. Brises e
guarda-corpos compondo as unidades da
grelha que abriga os terraços
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
225
Térreo:
1 ap. zelador de 51m², 2 ap. de 170m²,
1 ap. de 141m²
1º ao 12º pav.:
2 ap. de 181m², 2 ap. de 188m²
13º pav.:
2 ap. de 155m², 2 ap. de 175m²
Total: 56 un. x 2 torres = 112 unidades
Av. Higienópolis 324, 360 - Higienópolis
Retangular - 3484,37 m²
7.2 - Área total = 25.224m²
Acrópole 287, 1962, p. 347 a 349
46 %
Óma
Baixa
6.10 Edifícios Lugano e Locarno 1958-62
Foto: acervo pessoal de Aizik Helcer
av. angélica
r. itacolomi
r. marim francisco
av. higienópolis
Construtora Auxiliar S.A.
(Engº resp. Elias e Aizik Helcer)
Perspecva original dos Edicios Lugano e Locarno desenhada por Franz Heep.
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer.
terreno
unidades
publicações
coef. de aproveitamento
taxa de ocupação
conservação
descaracterização
construção
endereço e localização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
226
OsediciosLuganoeLocarnosãomaisumexemplo
daintensavercalizaçãoquemudouoconceitodemorar
das classes mais abastadas; os palacetes davam lugar aos
ediciosvercaisnobairrodeHigienópolisnosanos1950,
como já estudado no caso do edicio Lausanne (p.113).
Afotoaolado,radaem1959duranteaconstruçãodos
ediciosLuganoeLocarno,retrataprecisamenteocontexto
da época; a vercalização intensa avançando sobre os
palacetes.
OprojetodosediciosLuganoeLocarnofoioúlmo
da parceria entre Franz Heep e a Construtora Auxiliar, da
família Helcer, que já havia produzido anteriormente o
edicio Miri
51
, o Lucerna (p.160) e o Lausanne. Porém,
noLuganoeLocarno,pelaprimeiravezHeepassinouum
projetodeediciovercaldesdeasuachegadaaoBrasil,
jáqueconseguiranalmenteumnúmerodeCREA.
Av. Higienópolis - Construção dos edicios Lugano e Locarno em 1959
Foto: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Vista da rua Itacolomi em 1959 - ao fundo o terreno já com a placa da obra.
Foto: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Carimbo do projeto de prefeitura com a assinatura de Adolf Franz Heep.
Foto: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Rua Augusta nos anos 1960
Fonte:hp://centrosp.prefeitura.sp.gov.br/projetos/augusta.php
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(51)-OedicioMirisitua-senapraçaJúlioPrestes,bempróximoàestaçãodemesmonome.Algumasimagenseinformaçõesbásicassobreesteediciopodemservistasnatabelada
página 250
227
bloco A
bloco A
av. higienópolis
r. itacolomi
O terreno de geometria retangular onde situam-
se os edicios Lugano e Lucarno, possui 50,00m de
frente que acompanham o alinhamento com a avenida
Higienópolis, por 70,45m de fundo, totalizando 3484,37m²
de área;o perl natural do lote possui uma declividade
de aproximadamente 2,00m no sendo longitudinal,
da avenida Higienópolis para os fundos. A implantação
é congurada por dois blocos laminares, idêncos e
espelhados, dispostos longitudinalmente ao terreno e
separadosporumespaçovaziode18,00m,quepodeser
entendido como uma rua interna; o eixo longitudinal de
simetriadoterrenopracamentecoincidecomoeixoda
calhadaruaItacolomi
52
.Destaforma,pode-sedizerque
a rua interna criada pela disposição dos blocos, é uma
connuidade da rua Itacolomi para dentro do lote, de
modoacriarumainteressanterelaçãodopúblicocomo
privado, perdida nos dias de hoje graças à colocaçãode
grades,queimpedemqueacidadepermeieolote,além
debarrarvisualesicamenteaconnuidadedaItacolomi
para o interior do terreno.
Deve-se considerar que a denição do pardo
arquitetônico,quegerouaimplantaçãodescrita,atribuiu
uma inserção urbana mais rica aos edicios, porém, a
orientação solar das lâminas, resultante deste pardo,
trouxe uma situação a qual um bloco sombreia o outro
duranteosperíodos damanhãedatarde,comomostra
oesquemaabaixo;nestesperíodosdodia,aruainterna
presentenoespaçoentreosblocos,recebemuitopouca
luz solar. Na maioria dos edicios de Heepestudados,a
orientação solar sempre teve um papel fundamental
nas decisões projetuais, porém, neste caso, os atributos
urbanos do lote se impuseram sobre a insolação na
deniçãodopardoarquitetônico.
torre
locarno
bloco B
bloco B
torre
lugano
manhã
N
S
L
O
N
S
L
O
tarde
rua
interna de
pedestres
e jardins
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Terreno, implantação, volumetria e entorno
(52)-AruaItacolomi,situadanobairrodeHigienópolis,estádispostaperpendicularmenteàavenidaHigienópolis.
228
Osdoisblocoslaminares,idêncoseespelhados,
contam com 61,50m de comprimento por 13,00m de
largura e 43,45m de altura; a parte inferior do volume,
que corresponde ao térreo, conta com 3,60m de altura
e possui pilos na porção frontal da planta, próxima ao
alinhamentocomaavenidaHigienópolis.Asdemaispartes
do térreo não possuem pilos, pois são ocupadas por
apartamentos. O corpo principal do volume, que vai do
ao 12º pavimento, possui 36,40m de altura e projeta-
se 1,20m em balanço,no sendo transversal da lâmina,
sobre o térreo, na face voltada para a rua interna. O 13º
pavimentorecua-seemrelaçãoaosinferioresem1,15no
sendolongitudinaleem0,80mnosendotransversal.Os
blocos recuam-se 5,75m da divisa frontal do lote, 3,00m
das divisas de fundo e laterais; além disso, os dois blocos
separam-se em 18,00m, congurando a rua interna de
pedestres.
O entorno do Lugano e Locarno é composto
por edicios de gabarito semelhante, sem grandes
variações, porém, no bairro de Higienópolis, apesar da
intensa vercalização, os edicios são espaçados entre
si, e geralmentenão possuem empenas cegas, podendo
contarcomaberturasem todasasfaces,oque favorece
ainsolaçãoeavenlação;estasituaçãoéopostaaoque
ocorre na grande parte dos exemplares estudados no
centrodacidade,ondeécomumapresençadeedicios
sem recuos laterais, de modo que em muitos casos, a
venlaçãoeiluminaçãodeambientesdeestarerepouso
acabam se voltando para vazios internos.
Edicios Lugano e Locarno - Rua interna
Foto:EdsonLucchiniJr.
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No térreo dos edicios Lugano e Locarno, a
rua interna de pedestres situada na porção central do
terrenodistribuios uxosparaos acessosaosblocosde
moradia,cobertospormarquisesqueconduzemaoshalls
sociais; estes são compostos por uma escada disposta
diagonalmente,queinduzouxoaoselevadores.Aparte
frontaldaslâminascontacompilos quesuspendemos
volumes principais, e marcam o acesso ao conjunto. O nível
dos acessos aos blocos residenciais, encontra-se 0,50m
acimadoníveldaavenidaHigienópolis;estaelevaçãodo
térreo,somadaà declividade naturaldoterreno, ajudou
a minimizar escavações para a execução do subsolo. A
diferençadenívelévencidaporumarampaquesesituana
porçãocentraldaplantaesealinhacomaruainterna.Cada
lâminacontacomquatroapartamentostérreos,sendoum
para o zelador na porção frontal, próximo aos pilos, e
maistrêsqueocupamorestantedaplantatérrea.Comojá
mencionado anteriormente, a rua interna presente entre
osblocospodeserentendidacomoumaconnuidadeda
ruaItacolomi,eaausênciadegradesnosprimeirosanos
deexistênciadosedicios,possibilitavaumaconnuidade
doespaçopúblicoparadentrodolote.Otérreocontacom
canteiros que acompanham a rua interna de pedestres,
resultando numa grande área verde passível de tratamento
paisagísco.
Háumníveldesubsolodesnadoàsgaragensque
ocupapracamentetodaaprojeçãodolote,comexceção
dos recuos laterais e frontal; sua cota é de 3,25m abaixo
do nível térreo. Os veículos o acessam por duas rampas
lineares,espelhadasentresieseparadaspelaruainterna.
Asquatrocaixasdeelevadoreseescadaschegamaestenível
degaragens,quetemcapacidadeparaaproximadamente
80vagas,númeroinferioraodeapartamentos,queéde
112.
OsediciosLuganoeLocarnopossuemdoisblocos
cada, com uma caixa de circulação vercal interna para
cadaumdeles,totalizandoquatro.Osnichosdecirculação
vercalsãocompostoscadaumpordoiselevadoreseuma
escada semi-circular sem patamar intemediário; apenas na
transiçãodoprimeiropavimentoparaotérreo,aescada
muda para uma conformação linear, disposta de modo
diagonal.
ap.
zel.
51m²
ap.
zel.
51m²
170 m²
170 m²
141 m²
141 m²
170 m²
rua
interna de
pedestres
e jardins
170 m²
circulação horizontal - hall social
circulação vertical
apartamentos térreos
av. higienópolis
Esquema de distribuição do pavimento térreo
Edicios Lugano e Locarno em 1959
Fotos: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Térreo e subsolo
Circulação Vercal
230
OsediciosLuganoeLocarnoapresentam,do1º
ao 12º andar, o mesmo arranjo espacial do pavimento
po; são quatro apartamentos por andar para cada
lâmina, agrupados em dois pares espelhados entre si e
separadosporumajuntadedilatação;cadaparpossuium
hallcomum,ondeseacessaonichodecirculaçãovercal.
O13ºandarpossuiexatamenteamesmaconformação;o
recuo escalonado apenas diminui a área das unidades, sem
causar mudanças em sua distribuição espacial. Edicios
de conformação laminar que possuem muitas unidades
de pequenas dimensões por pavimento, necessitam de
longos corredores para que elas sejam acessadas; neste
caso,comoasunidadessãodedimensõesgenerosas,não
houveanecessidadedaadoçãodecorredores,esimum
hallquedistribuiuxosparaapenasduasunidades.
O pavimento po conta com duas unidades de
181m²,situadasemambasasextremidadesdalâmina,e
duasde188m²,naporçãocentral.Osarranjosespaciaisde
ambassãosemelhantes.Oapartamentode181m²conta
comumacessodeserviçoeumsocial,queseabrempara
o hall comum do andar. Ao se adentrar à unidade pelo
acessosocial,oprimeiroambienteéumhalldeentrada
de4,50m²,deondeseacessaacozinha,àdireitadequem
entra,eassalasdeestarejantaràesquerda.Noprojetodo
edicioLausanne,Heepconcebeuplantasondeerapossível
acessar os diferentes setores do apartamento de maneira
independente,demodoqueumhalldeentradadistribuia
osuxosparacadasetor(social,ínmoedeserviços)sem
interferência,ouseja,nãoeraprecisopassarporumsetor
parachegaremoutro.Nestecasoemanálise,estasituação
nãofoipossível,talvezdevidoàconformaçãomaislaminar
doedicio,queobrigouosambientesaseremdistribuídos
de modo mais vagonar. Porém, Heep manteve alguns
princípios que se notam em plantas de outros edicios,
comoporexemplo,odeseconcentrarasáreasmolhadas
numa única porção da planta. As salas de jantare estar
ocupam o mesmo espaço retangular de 44,50m², cujas
aberturas voltam-se para a rua interna, com orientação
oeste na torre Lugano e leste na torre Locarno. Sob a
mesmaorientação,situam-seumdormitóriodesolteirode
17,50m² e um de casal, com 20m² e closet. Há um terceiro
dormitório,de16,50m²,queéoúnicoambientedeestar
ourepousoquenãoseabreparaaruainterna,esimpara
a av. Higienópolis, no caso das unidades da extremidade
sul, e para os fundos do lote, no caso das unidades da
extremidade norte.
181m²
181m²
181m²
181m²
188 m²
188 m²
188 m²
188 m²
Esquema de distribuição do pavimento po do 1º ao 12º andar
Planta das unidades de 181m²
circulação horizontal
circulação vertical
unidades
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Pavimento po e unidades
231
No corredor ínmo, se acessa à esquerda os
dormitórioseàdireitaosbanheiros.MaisumavezHeep
nãoulizaoconceitodesuíte,colocandoobanheirodo
casale osocialabertosparaocorredor.Acozinhaéum
espaço retangular de 15m² que pode ser dividida, de
modoase criarumacopa.Aáreade serviço,que conta
com dormitório e banheiro de empregada, é acessada
pelacozinhaeabre-separaafacelestedalâminanatorre
LuganoeaoestenatorreLocarno.
A unidade de 188m², ao contrário das de 181m²,
possuiaberturasapenasparaasorientaçõeslesteeoeste;
Heepdispôsosdomitóriosemsequência,todosvoltados
paraaruainterna,assimcomoasaladeestar.Naresolução
daplantadaunidadede188m²,asaladejantarconnua
sesituandonumespaçoconguoàsaladeestar,porém,
voltadaparaafaceopostaàdaruainterna.Estasolução
resultou numa situação onde a entrada de serviço do
apartamentonãoacessaacozinha,esim,asaladejantar.
O 13º pavimento sofre o recuo obrigatório; a face
voltada para a rua interna recua-se 0,80m e a voltada
paraaav.Higienópolis,1,15m. Estasituaçãonãocausou
mudanças na distribuição do pavimento ou no arranjo
internodasunidades,queapenasperderamárea,passando
de 181m² e 188m² para 155m² e 175m².
No térreo há quatro apartamentos por lâmina,
sendoqueum,de51m²,situadopróximoaoalinhamento
comaavenidaHigienópolis,desna-seaozelador.Asduas
unidadesespelhadas,naporçãocentraldalâmina,contam
com170m²cadaepossuemarranjoespacialidêncoao
das unidades dos pavimentos superiores que situam-se
na mesma porção da planta. A unidade da extremidade
norte na lâmina, é a menor de todo o edicio, com
141m², e possui um arranjo espacial um pouco diferente
das demais. A escada em diagonal que liga o térreo ao
primeiro pavimento trouxe uma conformação espacial
trapezoidalàcozinha.Assalasdeestarejantarsesituam
no mesmo espaço retangular de 33,00m², e se voltam
para a rua interna. O dormitório de casal ladeia a sala
de jantar e também se abre para a rua interna; o outro
dormitório, de solteiro, abre-se para os fundos do lote.
Nestecaso,aocontráriodasdemaisunidades,hásomente
umbanheiroqueatendeaosdormitórios,porém,elepode
ser considerado grande, com uma área de 11m²; o fato
deleseroúnicobanheirofezcomquesuasfunçõesfossem
comparmentadas,amdepossibilitarousosimultâneo
delas,comrelavaprivacidade.
Planta das unidades térreas de 141m²
Planta das unidades de 188m²
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Edicios Lugano e Locarno em 1959
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Perspecva dos edicios Lugano e Locarno
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Os edicios Lugano e Locarno, por terem sido
implantados com recuos frontais e laterais, contam com
todas as faces de seus volumes passíveis de tratamento
arquitetônico.Afachadaprincipalpossuitrêsmomentos
disntos que caracterizam um embasamento, um corpo
principal e um coroamento. O embasamento, que
correspondeaotérreo,alternacheiosevazios;oscheios
correspondem às fachadas dos apartamentos térreos,
caracterizadasporaberturascentralizadasemsupercies
de blocos de vidro, que dispensam as alvenarias; estas
supercies, que separam os apartamentos térreos dos
jardins,recuam-seem1,20memrelaçãoaoalinhamentodos
andaressuperiores,congurandoumbalanço,queajudaa
destacar mais ainda o térreo do corpo principal. Os vazios
sedãograçasaospilospresentesnasextremidadesdas
lâminaspróximasaoalinhamentocomaav.Higienópolis,
queconferemlevezaaovolumeepermeiamotérreo.
Apartamentos térreos dos edicios Lugano e Locarno em 1959
Foto: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Fachadas
235
Ospilospossuemformatrapezoidal,cujasbases
menoressãoosapoios;elessóaparecemnotrechotérreo
maispróximoàavenidaHigienópolis,demodoaestabelecer
amodernarelaçãoentretérreo,pilosecidade.
Outros elementos de destaque no térreo são as
marquisesqueprotegemosacessossociaisdosedicios.
As duas que marcam as entradas dos blocos mais
próximos à avenida Higienópolis são lajes sustentadas
por uma viga inverda que se apoia em um único pilar
central.Aextremidademaispróximaàentradadoedicio
é sustentada por dois rantes, presos à laje nervurada
queseparao térreodoprimeiro pavimento; o resultado
estéco foi uma peça leve, que marca elegantemente o
acessoaoedicio.Porém,asduasmarquisesquemarcam
asentradasdosblocosmaispróximosaosfundosnãosão
asmesmasulizadasparaosblocosfrontais;sãoestruturas
menos arrojadas, com quatro apoios convencionais e
uma linguagem bem diferente das outras duas frontais,
comomostramasfotosaolado.Talvez,aopçãoporuma
soluçãomaissimplestenhasidopelofatodasmarquises
dos fundos não serem percebidas facilmente por quem
trafega na avenida Higienópolis, mas sem dúvida, este
fator prejudicou levemente a unidade do térreo, porém,
semcomprometê-la.
Marquises frontais
do térreo
Foto: Acervo pessoal
de Aizik Helcer
Marquises dos fundos
do térreo
Foto: Acervo pessoal
de Aizik Helcer
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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 Ocorpoprincipaldafachada,quecorrespondea12
pavimentos,émarcadopelasjanelasemta;afachadaé
livre, ou seja, o fato da estrutura estar recuada possibilitou
liberdadeaoarquitetonaconcepçãodela,porém,Heepnão
optouporcaixilhospiso-tetocomofeznoedicioLausanne,
massim,janelasemtacompeitorisdealvenariade80cm
de altura e uma faixa de 50cm de cobogós quadrados
acimadelas,queajudamnavenlação.Asjanelasemta
e a faixa de cobogós são elementos que atribuem uma
fortesensaçãodehorizontalidadeaoconjunto.Adecisão
porumaruainternaqueseparaosdoisblocospermiu,ao
observadorqueadentraaoconjunto,umapercepçãodo
todo;alémdisso,aslinhashorizontaisdasjanelasemtae
dasfaixasdecobogós,conduzemoolhardafrenteparao
fundodolote,ondepode-sedizerqueseencontraoponto
defugadaslinhashorizontaisdaslâminas,reforçandomais
aindaapercepçãodoconjunto,comoilustraaperspecva
abaixo.
Os caixilhos são de alumínio e, ao contrário do
edicio Lausanne, não foram pintados, permanecendo
nacororiginaldo metal,porém,sembrilho;nafachada
dosediciosLuganoeLocarnoaopçãocromácafoipor
sobretons de cinza. As aberturas dos dormitórios possuem
venezeianas de correr, e as salas, apenas esquadrias de
alumínio e vidro. .
Fachada dos edicios Lugano e Locarno em 1959
Foto: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Outro elemento de
destaque na fachada são
as oreiras; elas são peças
de concreto, cuja elevação
assemelha-seaum“H”esituam-
se sob os peitoris das janelas dos
dormitórios das extremidades
norteesuldaslâminas.Logoapós
o projeto do Lugano e Locarno,
Heep desenvolveu o edicio
Arlinda,nolargodoArouche,cuja
pologiadefachadaésemelhante;
neste projeto, Heep produz uma
variação do desenho da oreira,
como mostra a foto ao lado. No
projeto do Arlinda, o arquiteto
se apropria do mesmo po de
composição entre o caixilho, a
oreira e o elemento vazado,
porém, o resultado indícios
deumaprimoramentododesenho,jáqueasoreiras
ganhamumdesenhoassimétricoesedispõesobtodas
asjanelas,conferindoumintensomovimentoàfachada.
Tanto no projeto do Arlinda como no do Lugano e
Locarno, as oreiras conferem, além de movimento,
sombrasevolumetria,visuaisinteressantesparaquem
vêoediciodebaixoparacima.
Composiçãocaixilho-oreira-cobogónoedicioArlinda-1959
Foto:EdsonLucchiniJr.
Composiçãocaixilho-oreira-cobogónoedicioArlinda-1959
Foto:EdsonLucchiniJr.
Composiçãocaixilho-oreira-cobogónafachadadosediciosLuganoeLocarno
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Ocoroamentodosediciossedáno13ºpavimento
queserecuadosdemaisinferioresem80cmnafaceque
sevoltaparaaruainterna;oespaçoresultantedorecuo
foi aproveitado como oreira. Na facequese voltapara
aavenidaHigienópolis,orecuofoide1,15m,cujoespaço
resultante foi aproveitado para terraço. Heep ulizou o
mesmopodecaixilhosedecobogósdorestantedatorre,
de modo a conferir unidade. Acima da faixa de cobogós de
venlaçãodosapartamentos,encontra-seoutrasemeste
caráterfuncional, servindo apenas de elemento estéco
quemarcaocumedoedicio.
O fato da estrutura estar recuada da fachada,
possibilitou que as janelas em ta da fachada principal
a extrapolassem, girando 90º em direção à fachada da
avenida Higienópolis, soltando a quina, como ilustra o
desenho acima; a composição desta fachada de dá por
estasjanelasdescritas,porumafaixavercalcegaepelas
aberturas de dormitórios com os mesmos cobogós de
venlaçãosobreelas.
A fachada dos fundos das lâminas também foi
concebidasobcritériosdeorganizaçãoeritmo,jáqueela
épercebidaporquemtrafeganaavenidaHigienópolis.É
composta também por aberturas em ta, interrompidas
por faixas vercais de alvenaria. As aberturas desta
fachada correspondem aos ambientes de serviço dos
apartamentos
Fachada dos fundos dos
edicios Lugano e Locar-
no em 1959
Foto: Acervo pessoal de
Aizik Helcer
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OsediciosLugano e Locarnoseencontramhoje
muitobemconservadosecomsuascaracteríscasoriginais
sasfatoriamente bem preservadas, porém, nota-se que
emalgunsapartamentosasoreirasestãosendoulizadas
comosuporteparacondensadorasdearcondicionadoenão
para receber plantas, gerando um aspecto desegradável.
Acolocaçãodeguaritasegradesnamaiorpartedos
edicios,nãosódeHigienópoliscomoemtodaacidade,
vemsendoumdosprincipaisfatoresdedescaracterização
deles, porém, no caso do Lugano e Locarno, este fator
empobreceu radicalmente o caráter de generosidade com
o espaço público que o projeto original contemplava. O
fechamentodaruainternaporgradesdimunuiumuitoa
percepçãodeconnuidadedaruaItacolomiparadentro
dolote,noaspectosicoevisual.Alémdisso,aescolhado
localdeimplantaçãodeguaritas,sobospilos,prejudicou
sensivelmenteapercepçãooriginaldevazioedeinterface
comacidadequehavianesteespaço.
Edicios Lugano e Locarno atualmente - grades e guaritas
Fotos:EdsonLucchiniJr.
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Situação Atual
241
planta do pav. térreo
ap. 3 dorm. - 170 m²
ap. 2 dorm. - 141 m²
1-hall
2 - sala de jantar
3 - sala de estar
4-cozinha
5 - dorm. solteiro
6 - dorm. casal
7-banheirocasal
8-banheirosocial
9-serviço
10 - dorm. empregada
11 - wc empregada
1-hall
2-cozinha
3 - sala de estar
4 - sala de jantar
5 - dorm. casal
6 - dorm. solteiro
7-banheiro
8-serviço
9 - dorm. empregada
10 - wc empregada
2
2
3
3
ap. zelador - 51 m²
1-hall
2-cozinha
3-banheiro
4 - dorm. solteiro
5 - dorm. casal
6-serviço
1
1
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planta do subsolo
1-halldecirc.vercal
2 - depósito de lixo
3 - caixas d’água
4 - medidores
5 - rampas
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planta do 1º ao 12 º
pav.
esc. 1:250
planta do 13º pav.
esc. 1:250
ap. 3 dorm. - 181 m²
ap. 3 dorm. - 155 m²
ap. 3 dorm. - 188 m²
ap. 3 dorm. - 175 m²
1-hall
2-cozinha
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dorms. solteiro
6 - dorm. casal
7-banheirocasal
8-banheirosocial
9-serviço
10 - dorm. empregada
11 - wc empregada
1-hall
2-cozinha
3 - sala de jantar
4 - sala de estar
5 - dorms. solteiro
6 - dorm. casal
7-banheirocasal
8-banheirosocial
9-serviço
10 - dorm. empregada
11 - wc empregada
1-hall
2 - sala de jantar
3 - sala de estar
4-cozinha
5 - dorms. solteiro
6 - dorm. casal
7-banheirocasal
8-banheirosocial
9-serviço
10 - dorm. empregada
11 - wc empregada
1-hall
2 - sala de jantar
3 - sala de estar
4-cozinha
5 - dorms. solteiro
6 - dorm. casal
7-banheirocasal
8-banheirosocial
9-serviço
10 - dorm. empregada
11 - wc empregada
1
1
2
2
2
2
1
1
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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corte AA
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fachadaruainterna
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fachadaav.higienópolis
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térreo - rua interna
detalhedotérreo-marquises
detalhedotérreo-pilos.
Aimplantaçãodeduaslâminasresidenciais
deniu uma rua interna, que pode ser
entendida como um prolongamento da
ruaItacolomi
Marquisescomumapoiocentralfeitopor
umpilarquesustentaumavigainverda,
criam um percurso coberto de acesso aos
hallssociais.
Os pilos são trapezoidais, com a base
menor servindo de apoio. Eles liberam o
térreoapenasnapartefrontal,quefaza
interface com a cidade.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Capítulo 7
7.1 - Tabelas dos demais edicios residenciais de Heep
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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7.1- Tabelas com os demais edicios residenciais de Heep
em São Paulo
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Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Nas considerações a respeito dos critérios que
deniram a amostra de edicios a ser analisada neste
trabalho (ver p.7), comentou-se que as escolhas se deram,
na maioria dos casos, por razões pológicas; logo, os dez
exemplares escolhidos para análise foram considerados
edicios-chave, portadores de matrizes pológicas,
retomadas nos demais onze.
Porém, cabe armar que duas exceções claras,
em que os critérios de escolha não foram determinados pela
pologia, mas pela importância do edicio. Por exemplo:
o edicio Tucumàn
53
(1950) possuia, em sua conformação
original, uma fachada dominada por venezianas coloridas
dipostas aleatoriamente; estes elementos foram retomados
no projeto do célebre edicio Lausanne (1953). De acordo
com os critérios de escolha da amostragem, o edicio que
deveria ter sido analisado é o Tucumàn, mas neste caso, a
importância e notoriedade do Lausanne prevaleceram.
O mesmo ocorreu no caso da escolha do edicio
Icar(1953) como parte da amostragem. No edicio Marajó
(1952), ocorrem pela primeira vez, dentro do universo
de obras de Heep, os elementos de fachada que seriam
retomados no Icaraí; porém, o fato deste ter sido publicado
na revista acrópole
54
e de estar situado num local de mais
visibilidade, atribuiu a ele mais notoriedade. Ademais,
o Icar se encontra atualmente com as caracteríscas
originais bem preservadas, ao contrário do Marajó, cuja
fachada foi totalmente descaracterizada
55
.
7.2- Considerações sobre os edicios não analisados
Ed. Lausanne -1953
Fonte: Revista Acrópole 239, 1958, p.504.
Ed. Tucumàn -1950
Fonte: Revista Habitat 18, 1954, p.28.
Ed. Marajó - 1952
Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Icaraí - 1953
Foto: Edson Lucchini Jr.
(53) - O edicio Tucumàn, situado na rua Marns Fontes, é hoje um hotel; as venezianas da fachada foram reradas, dando lugar a uma pele de vidro.
(54) - O edicio Icaraí foi publicado na revista Acrópole nº 210, 1956, p.234-235.
(55) - A fachada original do ed. Marajó possuia a mesma conformação do ed. Icaraí. A foto acima mostra o Marajó atualmente; nota-se, por trás dos novos vitrôs, o mesmo po de
caixilhos presentes no Icaraí.
251
Parte III
conclusões
Mesmo com a escolha de dez obras pologicamente
diversas, é possível idencar semelhanças conceituais
entre elas, em que se pretende concluir que situações
recorrentes nos edicios residenciais de Heep que,
independentemente de variações estécas e funcionais,
se repetem, deixando claras certas posturas do arquiteto. A
análise das dez obras selecionadas permiu traçar um perl
projetual de Adolf Franz Heep quanto ao enfrentamento
do problema da habitação vercal e a sua relação com o
contexto urbano de São Paulo.
As análises possibilitaram a idencação e o
aperfeiçoamento de algumas pologias de plantas, fachadas
e volumes, dentro do universo de sua obra residencial
vercal paulistana nos anos 1950. Foi possível também
idencar o posicionamento do arquiteto frente a questões
técnicas, onde ca clara a sua postura racionalista, oriunda
de sua formação e de suas experiências prossionais na
Europa.
A seguir destacam-se alguns temas arquitetônicos
relevantes extraídos das análises; são eles: inserção
urbana, insolação e conforto térmico, fachadas, plantas e
importância do detalhe bem resolvido.
Pode-se armar que as obras selecionadas para
análise neste trabalho são de cunho privado e voltadas ao
mercado imobiliário. Sabe-se que em muitos casos, este
po de obra tem demonstrado uma ruptura da arquitetura
com a cidade, com edicios que se individualizam em seus
lotes, ignorando o contexto urbano. Nas obras analisadas
de Heep nota-se, sempre que possível, uma preocupação
com a inserção na cidade; em alguns casos, os terrenos
não propiciaram situações que levassem o arquiteto a
desenvolver situações interessantes de relação com a
urbanidade, pelo fato desses lotes situarem-se no meio
das faces das quadras e comprimidos entre edicações
existentes. Porém, quando a situação do lote propiciava
algum po de situação em que o projeto pudesse contribuir
com o enriquecimento do âmbito urbano, pode-se dizer
que Heep o fez.
Capítulo 8
Conclusões
8.1- Inserção Urbana
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Das dez obras estudadas, três são situadas em lotes
de esquina; são elas os edicios Ouro Verde (p.31), Ibaté
(p.94) e Araraúnas (p.183). No Araraúnas, a curvatura da
lâmina principal a desloca gradualmente do alinhamento,
liberando e ampliando o passeio da esquina, onde uma
marquise também curva, cobre o espaço vazio criado. Além
disso, esta curvatura também resulta num encurtamento
do percurso do pedestre que vem na Avenida São João em
direção à Alameda Glee, enaltecendo a inserção urbana
do edicio. também uma clara preocupação de Heep
com as visuais do edicio; a curvatura da lâmina aumenta a
amplitude visual dele para quem trafega no sendo centro-
bairro da avenida São João. A questão do encurtamento
do percurso do pedestre na esquina também está presente
no edicio Ibaté, onde Heep chanfra uma loja do térreo,
alargando o passeio na esquina e desta forma, cedendo
um espaço à cidade.
O Ibaté e o Ouro Verde, também situados em lotes
de esquina, contam com conceitos de valorização das
visuais, mas desta vez, através de empenas cegas brancas,
que extrapolam a altura do edicio, criando um elemento
contundente de marcação e de idencação do edicio à
distância.
- encurtamento do percurso de pedrestres na
esquina
av. são joão
alameda glette
rua antonio carlos
rua augusta
Edicio Ibaté
Edicio Araraúnas
Empenas cegas brancas que marcam as esquinas
Edicios Ouro Verde e Ibaté
8.1.1- Valorização e entendimento de esquinas
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Os edicios Lausanne (p.113) e Normandie (p.50)
são desnados à classes sociais muito disntas; o primeiro
situa-se no bairro de Higienópolis e possui apartamentos
com áreas muito generosas; o segundo está situado na
avenida 9 de Julho e suas unidades são quase todas do po
kitchenee, desnadas às classes menos abastadas.
Mesmo com estas grandes diferenças em seus
públicos-alvo, ambos os edicios contam com um recurso
semelhante de diálogo com a cidade; os seus térreos
encontram-se meio nível acima da cota da rua. Este
desnível, nos dois edicios, é vencido por rampas curvas
que conguram um percurso de entrada, parada e saída
de veículos e pedestres. Os térreos elevados em relação ao
nível da rua, juntamente com as rampas curvas, atribuem
imponência aos edicios e visuais interessantes, que
enriquecem a relação com suas respecvas ruas.
Térreo do edicio Lausanne
Térreo do edicio Normandie
8.1.2- Térreos elevados
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Os edicios Lugano e Locarno (p.226), situados
na Avenida Higienópolis, são compostos por dois blocos,
separados por 18,00m, congurando uma rua interna,
cujo eixo coincide exatamente com o da rua Itacolomi,
perpendicular à face principal do terreno. Este alinhamento
cria uma sensação de connuidade da Itacolomi para
dentro do lote, de modo a criar uma interessante relação
do público com o privado, fundindo a arquitetura à cidade.
Na análise dos edicios Lugano e Locarno, idencou-se
que a implantação dos blocos, que deniu esta interessante
simbiose urbana, se sobrepôs à questão da insolação, que
cou prejudicada nas faces dos blocos voltadas para a rua
interna.
Atualmente, a colocação de grades limitando o
acesso à rua interna empobreceu a relação urbana original
do edicio e prejudicou a connuidade visual da rua
Itacolomi para dentro do lote.
rua interna
rua
itacolomi
av. higienópolis
8.1.3- Implantação
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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256
Outra situação idencada na análise das dez
obras é o posicionamento de Heep frente às questões da
orientação solar dos edicios e como ela inui, desde a
escolha do pardo arquitetônico, à resolução de caixilhos,
brises e demais elementos que, além das suas atribuições
funcionais, compõe as fachadas dos edicios.
No universo das obras analisadas foi possível
constatar que os edicios que possuem terraços frontais
estão sempre orientados para as faces de maior insolação.
Isto indícios de que na obra de Heep, estes espaços,
além da sua função espacial habitual, também funcionam
como elementos de proteção solar, fazendo com que os
caixilhos de quartos ou salas de estar quem recuados
da fachada, evitando assim a sua exposição à insolação
direta.
Dos dez edicios analisados, o Araraúnas, orientado
a leste, e o Icaraí (p.78), orientado a oeste, são os primeiros
na obra residencial vercal de Franz Heep, a ulizarem
este recurso do terraço servindo como um elemento de
proteção à insolação excessiva. No edicio Ouro Verde,
esta preocupação também é notada, mas não de forma tão
contundente, anal, nesta obra os terraços não dominam a
fachada como nos anteriormente citados. No edicio Icar
pode-se dizer que o terraço impede a entrada excessiva
dos raios solares até por volta das 15:00 horas; depois
deste horário, eles incidem de maneira acentuada, graças
à orientação oeste da fachada principal.
No edicio Guaporé (p.202), surge um indício de
aperfeiçoamento na questão das preocupações com a
insolação; a fachada principal do edicio possui a mesma
orientação oeste da fachada do Icaraí, o que levou Heep
à mesma opção pelo uso dos terraços, porém, neste
caso surgem brises feitos em cobogós de concreto, que
diminuem de modo mais eciente, a penetração dos raios
solares nos ambientes de estar e repouso no período da
tarde. Fora da amostra de dez edicios escolhida, esta
solução do terraço como elemento de proteção solar
“O pardo arquitetônico, como Heep ensina, é
claro e objevo. Baseia-se em premissas xas,
das quais a primeira é a orientação correta em
função da latude, garanndo luz e insolação
adequadas”.
. (GATTI, 1994, p.102)
Terraços do Icaraí - proteção solar
Terraços do Araraúnas - proteção solar
Terraços e brises em cobogós no Guaporé - proteção solar
8.2-Insolação e conforto térmico
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
257
também é percebida nos edicios Marajó
56
e Jequibá (p.VII), ambos também com suas
fachadas principais orientadas à oeste.
Ao longo das análises das dez obras,
nota-se que os terraços não são a única forma
de contenção dos excessivos raios solares da
manhã e tarde. O edicio Ouro Preto (p.142)
possui suas fachadas orientadas à leste e
oeste; nesta obra, do 1º ao 11º andar, os
elementos predominantes de proteção solar
são as venezianas móveis de alumínio;
nos pavimentos superiores, situados num
volume sobrelevado, os terraços dominam
toda a fachada, novamente assumindo o
papel de proteção solar.
No edicio Ibaté, orientado a oeste, a
proteção contra o sol da tarde se dá por uma
grelha sobressaliente de concreto situada na
fachada, que sombreia as partes superiores
das aberturas. Somente a grelha não seria
eciente na contenção solar; a adoção da
Janela Ideal”, composta por venezianas de
madeira, protege os ambientes de estar e
repouso da exposição direta à luz solar.
No edicio Lausanne, cuja fachada
principal é orientada à nordeste, a
preocupação com as questões de incidência
solar levaram Heep à adoção das soluções
mais soscadas, de todas as encontradas nas
demais análises. Neste caso, as venezianas
móveis de alumínio dominam a fachada
em sua totalidade; além de correrem, elas
são compostas por aletas basculantes que
permitem um controle muito mais preciso
da iluminação e venlação.
Após todas essas considerações,
pode-se concluir que em todos os edicios
estudados, cujas orientações são de forte
incidência solar, Heep adotou alguma forma
de contê-la.
As preocupações do arquiteto frente
às questões de fachadas que recebem
pouca luz solar também são percebidas
Terraços e brises em cobogós no Guaporé - proteção solar
Grelha e Janela Ideal no Ibaté - proteção solar
Venezianas do Lausanne - proteção solar
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
(56) - O edicio Marajó, situado na rua Santo Amaro, bairro da Bela Vista, não está presente na amostra de dez ediícios selecionados para esta pesquisa, porém, nas páginas 249 e 251
se encontram algumas informações sobre ele.
258
na análise das dez obras; os edicios orientados
a sul, sudeste e sudoeste, contam com maiores
supercies envidraçadas em suas fachadas, sem
reentrâncias ou sobressaliências volumétricas
que as sombreiem, como por exemplo terraços ,
de modo a um maior aproveitamento da luz solar
e do calor, mais escassos nestas orientações. No
edicio Lucerna (p.160), cuja fachada principal
está voltada para o sul, os caixilhos não possuem
venezianas ou brises, predominando as supercies
em vidro; não há, na fachada do Lucerna, nenhum
po de elemento sobressaliente que a sombreie.
No item 8.1.3, que falava sobre implantação,
ressaltou-se a a interessante disposição no lote
que os edicios Lugano e Locarno possuem, em
que se cria uma rua interna entre as duas lâminas,
congurando uma connuidade da rua Itacolomi.
Porém, a adoção deste pardo que privilegia as
visuais e a integração com a cidade, prejudica a
insolação dos blocos, principalmente em suas faces
voltadas para a rua interna, que uma lâmina
sombreia a outra durante os períodos da manhã
e da tarde; isto simboliza, dentro da amostragem
de obras deste trabalho, o único projeto de
Heep onde as questões de insolação não foram
as mais importantes para a denição do pardo
arquitetônico.
O edicio Normandie possui sua fachada
principal orientada à sudeste; a incidência diagonal
de raios solares levou Heep a inaugurar neste projeto
uma solução de proteção solar que se transformou
num elemento pológico marcante em sua obra;
são abas de concreto, chamadas popularmente de
orelhas”, que se situam entre as aberturas e estão
dispostas perpendicularmente à fachada, atuando
como uma espécie de brise lateral, barrando os
raios solares que incidem diagonalmente, devido à
orientação sudeste. Além de atuarem como brise,
as orelhas” possuem outras funções estécas e
funcionais que serão descritas posteriormente;
esta solução se reperá nos edicios Arapuã (1953)
e Japurá (1954), cujas fachadas principais possuem
orientações semelhantes à do Normandie.
manhã
Esquema de insolação nos
edifícios Lugano e Locarno
N
S
L
O
tarde
N
S
L
O
Fachada do Lucerna - sem reentrâncias ou saliências
Fachada do Normandie - “orelhas” como brises laterais
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259
As questões relacionadas à incidência de luz
solar nas fachadas está diretamente ligada, não à
iluminação, mas ao conforto térmico dos apartamentos.
Esta preocupação aora na medida em que se analisam
as soluções adotadas por Heep no que diz respeito aos
caixilhos, que, até mesmo em obras desnadas às classes
menos abastadas, possuem desenhos elaborados. Neles,
notam-se claramente preocupações com trocas de ar, am
de propiciar um maior conforto térmico.
Os caixilhos do edicio Normandie, ulizados
também nos edicios Lucerna, Arapuã e Japurá, são
um exemplo disso; eles são compostos por elementos
envidraçados que consistem num peitoril basculante, um
corpo principal com duas lâminas de correr e uma bandeira
superior, também basculante; este sistema tem a função de
promover a troca de ar no apartamento, fazendo com que
o ar frio entre pela parte inferior (peitoril) e o ar quente
saia pela parte superior (bandeira). Nos dias frios, fecha-
se a parte superior, impendindo-se que o ar quente saia.
Os caixilhos do edicio Lausanne, além das venezianas
descritas, possuem em sua parte voltada para o interior
do apartamento, um peitoril basculante em vidro, que
aumenta a área de venlação da abertura.
Corte dos caixilhos ulizados nos
edicios Normandie, Arapuã e
Japurá
Edicio Arapuã - Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Japurá - Foto: Edson Lucchini Jr.
Edicio Normandie - Foto: Edson Lucchini Jr.
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
260
É possível armar que as fachadas de um
edicio também são elementos importantes na
relação da arquitetura com a cidade, que são
elementos ímpares na composição da paisagem
urbana.
No item anterior, foram idencados
fatores relacionados à orientação solar e conforto
térmico, cujas soluções resultam em elementos de
composição estéca das fachadas, que serão agora
comentados mais profundamente.
Dos dez edicios estudados neste trabalho,
seis possuem grelhas de concreto como elementos
principais na composição de suas fachadas frontais;
são eles os edicios: Icaraí, Araraúnas, Ibaté,
Ouro Preto, Lucerna (p.160) e Guaporé. Com isso,
pode-se concluir que as grelhas são elementos
recorrentes na obra residencial vercal de Franz
Heep.
A seguir serão vistas diversas variações
do uso das grelhas nas fachadas dos edicios de
Heep, porém, cabe armar que em todos eles, as
grelhas funcionam como um elemento atribuidor
de ordem e unidade às fachadas, enquadrando as
aberturas, conferindo sombreamentos e volume,
além de individualizar os apartamentos.
Nos edicios Icaraí, Araraúnas e Guaporé
as grelhas que compõe suas fachadas possuem
funções semelhantes; elas abrigam os terraços,
sendo que cada unidade que a compõe é
pracamente quadrada e corresponde a um
apartamento, ou a um ambiente, como ocorre
no Guaporé. A diferença entre as grelhas destes
edicios é que no caso do Icarela é estrutural,
ou seja, os elementos que a compõe são pilares e
lajes; já no Araraúnas e no Guaporé, os elementos
vercais da grelha são fechamentos em alvenaria.
No Icaraí, é possível notar um alamento da grelha
no sendo da sua extremidade, conferindo mais
esbeltez e leveza.
Grelha da fachada do Icaraí
Grelha da fachada do Araraúnas
Grelha da fachada do Guaporé
8.3- Fachadas
8.3.1- Grelhas
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261
O edicio Ibaté não possui terraços em sua
fachada principal, mas também conta com uma
grelha como elemento marcante. Ela é composta por
elementos retangulares que enquadram duas aberturas e
correspondem a um apartamento; no Ibaté, os elementos
horizontais da grelha são oreiras de concreto.
Na comparação entre as grelhas dos edicios
Icaraí e Ibaté surge uma diferença; no Icaraí, os elementos
horizontais da grelha são lajes, que marcam claramente
a transição entre os pavimentos; no Ibaté, os elementos
horizontais da grelha são oreiras, de modo a se criar uma
ilusão da posição exata da transição entre os pavimentos.
A fachada do edicio Ouro Preto possui uma grelha
com elementos quadrados e levemente sobressalientes,
que enquadram as aberturas dos dormitórios e sustentam
as venezianas de correr; porém, neste caso, a grelha é
interrompida pelos terraços das salas, que são elementos
atribuidores de volumes mais ricos e sombras à fachada.
No edicio Lucerna, como explicado
anteriormente, a orientação sul da fachada principal
fez com que Heep não ulizasse nenhum elemento
sobressaliente, que pudesse sombrear ainda mais a
fachada que naturalmente recebe pouca luz. Mesmo assim,
ele cria duas grelhas sobrepostas, desencontradas e não
sobressalientes, feitas apenas por variações cromácas.
Grelha da fachada do Iba
Grelha da fachada do Ouro Preto
Grelha da fachada do Lucerna
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262
Ao analisar as fachadas projetadas por Heep, surgem
indícios de uma preocupação na resolução da unidade ou
célula, em um primeiro momento, para posteriormente,
arranjá-las de modo a criar um todo hamornioso, com
ritmo, ordem, cheios e vazios.
Em todos os casos estudados, há uma composição
clara entre os caixilhos, guarda-corpos e eventualmente
oreiras e cobogós, compondo células que correspondem
geralmente a um apartamento; posteriormente, estas
células são arranjadas de modo intercalado, espelhado, ou
simplesmente dispostas lado a lado, compondo o todo da
fachada.
O edicio Arlinda (1959), mesmo estando fora dos
dez selecionados para análise neste trabalho, representa
uma das mais interessantes composições, não das
células, mas como do todo. Cada célula conta com uma
composição entre o caixilho, o guarda-corpo, uma faixa
superior de elementos vazados e uma oreira assimétrica.
O arranjo de todas estas células, intercalando a posição
das oreiras entre os pavimentos, gera na escala do todo,
uma fachada com um intenso movimento e volumetria.
Célula composiva da fachada do ed. Arlinda - 1959
Fonte: Revista Acrópole nº 286, 1962, p. 325
Composição das células - Edicio Arlinda - 1959
Foto: Edson Lucchini Jr.
Células criam o todo - Edicio Arlinda - 1959
Foto: Edson Lucchini Jr.
Células criam o todo - Edicio Arlinda - 1959
Foto: Edson Lucchini Jr.
8.3.2- Composição entre caixilhos, guarda-corpos,
oreiras e cobogós; célula e todo
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
263
Um interessante exemplo
deste po de composição ocorre
na fachada do edicio Normandie.
Cada apartamento, que corresponde
a uma célula da fachada, possui um
arranjo entre a oreira, o caixilho e as
orelhas”, citadas anteriormente como
elementos de proteção solar, mas que
também servem para individualizar as
unidades e atribuir mais privacidade,
que os apartamentos são muito
próximos. Na escala da célula, a
oreira assume um papel de guarda-
corpo, separando o peitoril do corpo
principal do caixilho.
Saindo da escala da célula para
a escala do todo, as orelhas” atribuem
ritmo à fachada do Normandie e
um interessante jogo de sombras e
volumes, principalmente para quem
o edicio de baixo para cima.
Também na escala do todo, as oreiras
assumem o papel de importantes
elementos horizontais da fachada,
que ajudam a contrapor a sensação
vercal excessiva da torre, com seus
21 pavimentos.
Nos edicios Icar e
Araraúnas, as células que compõe a
fachada são denidas pela grelha,
mencionada;
o guarda corpo é uma
viga de concreto a sublinhar a grelha”
(BARBOSA, 2002, p.150), além de
atribuir horizontalidade à fachada.
Enm, após todas essas
considerações, surge a hipótese de que
poderia ser uma preocupação de Heep
a percepção que o observador, situado
no térreo, tem ao olhar os edicios
de baixo para cima; os elementos
que compõe cada célula da fachada
propiciam visuais muito interessantes
do todo para este observador, repletas
de cheios e vazios, movimento, ritmo
e sombreamentos, como mostram as
imagens ao lado
Composição da fachada privilegia visão do observador situado no térreo - Edicio Icaraí
Composição da fachada privilegia visão do observador situado no térreo - Edicio Normandie
Composição da fachada privilegia visão do observador situado no térreo - Edicios Lugano e Locarno
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264
Adolf Franz Heep, assim como outros arquitetos
de sua geração, ulizava em seus edicios o recurso
da fachada livre; isto consiste no recuo da estrutura em
relaçâo à fachada, conferindo mais liberdade composiva
à ela. A leveza, resultante da rerada de pilares e vigas das
faces principais dos edicios, é um dos principais fatores
conseguidos pela adoção da fachada livre; deste modo, os
únicos elementos estruturais que aparecem nas fachadas
são as lajes, que, devido às suas espessuras mais delgadas,
marcam suavemente a transição entre os pavimentos.
Nos edicios estudados de Heep, é possível notar
que pracamente não ulização de alvenarias nas
fachadas principais. Em quase todos os casos, elas são
compostas por caixilhos pré-fabricados, do po piso-teto,
que preenchem todo o vão estrutural, resultando numa
composição mais limpa e homogênea.
Os edicios Icaraí, Araraúnas, Lausanne, Ibaté, Ouro
Preto, Lucerna e Normandie, apresentam caixilhos piso-
teto compondo suas fachadas. Nas torres gêmeas Lugano e
Locarno, há um peitoril em alvenaria, criando aberturas de
menor altura, mas que são importantes na atribuição de
horizontalidade à fachada. No edicio Ouro Verde, nota-
se uma exceção, que as aberturas dos dormitórios são
cavidades em uma grande empena de alvenaria.
Ed. Ouro Verde - Janelas com peitoril e bandeira em alvenaria - exceção
Ed. Lausanne - Lajes são os únicos elementos estruturais na fachada -
Caixilhos piso-teto
Foto: Edson Lucchini Jr
Ed. Ouro Preto - caixilhos piso-teto enquadrados por grelha
Foto: Edson Lucchini Jr
8.3.3- Fachadas livres e caixilhos piso-teto
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265
O uso de cobogós é um fato recorrente, não só nas
dez obras selecionadas para este trabalho, como em toda
a sua produção no Brasil, seja em residências, edicios ou
fábricas.
As análises deixam claro que para Heep, o cobogó
é um elemento que assume múlplas funções; são elas:
composição de fachadas, dissimulação de aberturas
pequenas, proteção solar, iluminação e venlação.
O edicio Ouro Verde, de 1952, é o primeiro, dos
exemplos paulistanos, em que Heep uliza o cobogó de
concreto, com um desenho quadriculado. Neste edicio, ele
assume um papel importante na composição da fachada,
já que atua como um elemento que intercala cheios e
vazios; além disso, os cobogós do Ouro Verde dissimulam
as aberturas de banheiros na fachada principal e também
funcionam como elementos de proteção solar.
No edicio Lausanne, o cobogó conta com um
desenho mais requintado, servindo de fechamento para os
apartamentos térreos e enquadrando suas aberturas; além
disso, os cobogós do térreo diferenciam este pavimento do
restante da torre.
Cobogós da fachada do edicio Ouro Verde
Cobogós da fachada do edicio Ouro Verde
Cobogós da fachada térrea do edicio Lausanne
Foto: Edson Lucchini Jr.
Foto: Edson Lucchini Jr.
8.3.4- Cobogós
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266
No edicio Guaporé, os cobogós retangulares de
concreto possuem um papel marcante na composição
da fachada do edicio, que dominam o seu imponente
embasamento. No corpo da torre, os cobogós atuam
como fechamentos inferiores dos guarda-corpos e como
elementos de proteção solar. No caso do Guaporé, notam-
se ressonâncias da arquitetura de Lucio Costa e Aonso
Eduardo Reidy, nos residenciais Parque Guinle e Pedregulho,
com os elementos vazados enquadrando aberturas. Esta
mesma linguagem será ulizada por Heep nos edicios
Ouro Preto e Buri, situado na rua Maria Antonia, mas fora
da amostragem selecionada para este trabalho.
Embasamento do Guaporé - cobogós
Foto: Edson Lucchini Jr.
Cobogós do corpo da torre são do mesmo po do embasamento - obtenção de unidade
Ed. Buri - Foto: Edson Lucchini Jr.
Ed. Ouro Preto - Foto: Edson Lucchini Jr.
Res. Pedregulho - Aonso Eduardo Reidy - Rio de Janeiro - 1947-1950
Fonte: hp://www.educatorium.com/images/projetos_referenciais/
AFONSO%20EDUARDO%20REIDY_CONJ%20PEDREGULHO.jpg
acesso em dez. 2009
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
267
Em pracamente todos os edicios estudados,
a composição da fachada deixa clara a idéia de que cada
célula dela corresponde a um apartamento, ou a um
cômodo, pois estas células são bem denidas, ou seja, as
comparmentações das plantas se reetem nas fachadas.
Porém, dentro da amostragem escolhida, pode-se dizer
que apenas o edicio Lausanne simboliza uma exceção.
No Lausanne, a fachada não apresenta nenhum po
de divisão horizontal pois os caixilhos preenchem todo o vão
estrutural e não permitem que as paredes que separam os
ambientes e os apartamentos apareçam, ou seja, os caixilhos
dissimulam totalmente as comparmentações internas do
edicio, resultando numa forte uniformidade da fachada.
Porém, esta perfeita uniformidade poderia acarretar numa
monotonia, que foi rompida pelo tratamento cromáco
dado aos caixilhos.
Heep escolheu duas cores claras e duas escuras que
foram aplicadas de maneira totalmente aleatória. Desta
forma, o arquiteto conseguiu, apenas pelo fator cromáco,
movimento, cheios e vazios à fachada; a percepção dos
cheios se pelos caixilhos escuros, e a dos vazios, pelos
caixilhos claros.
Foto: Edson Lucchini Jr.
Foto: Edson Lucchini Jr. Foto: Edson Lucchini Jr.
Dissimulação das comparmentações internas na fachada do Lausanne
8.3.5- Uniformidade nas fachadas, dissimulação das
comparmentações internas e aleatoriedade
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
268
Unidade de Habitação de Marselha - Le Corbusier - 1945
Fonte: hp://2.bp.blogspot.com/8Rightee_2%252529.jpg
acesso em outubro de 2009
No edicio Icaraí, Heep ulizou
o mesmo recurso de aleatoriedade
cromáca presente no edicio Lausanne,
mas desta vez, através da pintura das
paredes internas dos terraços. Neste
caso, além da atribuição de movimento,
as cores reforçam o vazio causado pela
subtração do terraço, enriquecendo a
volumetria.
Pode-se armar que o
movimento cromáco da fachada do
Icare os terraços subtraídos do volume
principal fazem uma clara remissão à
Unidade de Habitação de Marselha, de
Le Corbusier.
Hoje, os terraços do Icar
encontram-se totalmente pintados na
cor branca, o que representa o maior
fator de descaracterização do edicio.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Todos os dez edicios analisados neste trabalho
contam com fachadas que podem ser divididas em
base, fuste e capitel, estabelecendo uma analogia com
a ordenação de uma coluna clássica, mas sem querer
insinuar que Heep tenha tentado atribuir às suas fachadas
ressonâncias dos eslos acadêmicos. Em todos os edicios,
pode-se armar que a base corresponde aos térreos e
embasamentos; o fuste corresponde aos corpos principais,
onde se situam os apartamentos; os capitéis correspondem
aos coroamentos, que na maior parte dos casos, consistem
nos andares recuados pelo escalonamento obrigatório dos
edicios.
Da amostragem escolhida para análise, cinco
exemplares possuem uma conformação simétrica e outros
cinco possuem uma conformação assimétrica, deixando
claro que não há uma predileção gratuita do arquiteto por
uma situação ou outra, e desta forma, enfazando que
esta escolha se por fatores inerentes a cada situação
especíca.
O edicio Ouro Verde exprime uma interessante
situação em que a simetria das plantas, ordenada por um
eixo diagonal, não se repete na fachada graças à decisão
do arquiteto de voltar as aberturas de um dormitório para
outra face, criando-se uma empena cega, que além de ser
um elemento de marcação da esquina, rompe a simetria
da fachada, criando uma hierarquia entre as faces voltadas
para duas vias.
BASE
FUSTE
CAPITEL
Ed. Ouro Verde - a simetria das plantas não se transpõe à fachadaTriparção composiva na fachada do Ed. Ouro Preto
8.3.6- Ordem, simetria, assimetria e hierarquia
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
270
A análise das amostras escolhidas neste trabalho
permiu a elaboração de hipóteses a respeito da abordagem
que o arquiteto possui com relação aos coroamentos de
seus edicios.
Sabe-se que nos anos 1950, a legislação construva
vigente determinava que a altura máxima dos edicios
deveria ser extraída através de uma linha imaginária,
traçada a parr do alinhamento do lado oposto da via, com
um ângulo de 60º com o solo; esta linha determina a altura
do edicio e a parr de qual pavimento deveria ocorrer
o escalonamento. Isto resulta numa situação em que o
gabarito é determinado pela largura da via, ou seja, quanto
mais larga ela fosse, mais alto poderia ser o edicio.
Diante da situação descrita, da amostra escolhida
para análise neste trabalho apenas o edicio Icaraí não
possui escalonamento, pois o fato dele estar em frente
a uma grande praça possibilitou um gabarito elevado
(24 pavimentos). Os outros nove edicios analisados
possuem andares escalonados, que surgem como uma
forte condicionante de projeto, que desaa a capacidade
do arquiteto em obter uma solução harmoniosa.
algumas abordagens disntas nos
escalonamentos superiores dos edicios de Heep; nos
edicios Araraúnas e Lausanne, ca clara a intenção do
arquiteto em associar o escalonamento obrigatório a um
coroamento elegante. No Araraúnas, a grelha que domina
a fachada é nalizada no 14º andar (o primeiro a sofrer
o recuo obrigatório), por elegantes pórcos que separam
as unidades, sendo percebidos por quem trafega pela
avenida São João. No Lausanne, Heep coroa o edicio no
segundo andar escalonado, o 15º do edicio, através de
aberturas zenitais trapezoidais. Em ambos os edicios,
as soluções adotadas para os andares escalonados,
minimizam a percepção estecamente negava que estes
escalonamentos geralmente produzem.
Coroamento do edicio Araraúnas
Coroamento do edicio Lausanne
8.3.7- Coroamentos
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
271
Nos demais edicios estudados (Ouro Verde, Ibaté,
Normandie, Lucerna, Guaporé, Lugano e Locarno) os
escalonamentos dos andares superiores são tratados de
maneira diferente. Neles, nota-se uma clara ruptura com
a linguagem do restante do edicio, que são ulizados
caixilhos diferentes e grandes supercies lisas em alvenaria,
sem nenhum po de tratamento; isto permite a elaboração
de hipóteses sobre o que realmente os escalonamentos
signicavam para Heep, na composição da fachada de um
edicio.
A primeira hipótese consiste na intenção proposital
do arquiteto em projetar os andares escalonados com uma
linguagem diferente do restante da torre am de destacá-
los, deixando bem denido que o escalonamento é o
coroamento. Com isso, uma diferenciação clara entre o
coroamento e o corpo principal, que também sempre se
diferencia da base do edicio.
A outra hipótese idencada é a de que à parr do
momento em que Heep desenha os andares escalonados
de modo diferente do restante da torre, e sempre com
uma linguagem bem mais simples, ele deseja atribuir uma
intenção de neutralidade destes pavimentos, para que
eles interram o menos possível na composição do corpo
principal da fachada, que é onde o arquiteto coloca em
práca seus conceitos composivos plenos. Ao se aceitar
esta hipótese, pode-se concluir então que os coroamentos
nos edicios de Heep situam-se na transição entre o úlmo
andar do corpo principal e o primeiro andar escalonado. No
edicio Ouro Verde, por exemplo, há cavidades horizontais
que marcam bem esta transição.
Coroamento do edicio Normandie
Coroamento do edicio Ibaté
Coroamento do edicio Lucerna
Coroamento do edicio Guaporé
Coroamento do edicio Ouro Verde
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272
Uma outra preocupação notada constantemente
nas obras estudadas de Heep é a elaboração de fachadas
laterais e de fundo, principalmente quando a implantação
do edicio faz com que elas sejam vistas por quem trafega
em ruas do entorno; isto deixa clara a preocupação do
arquiteto com a paisagem urbana, que estas fachadas
também são elementos que a compõe. Os exemplos
mais relevantes de elaboração de fachadas laterais e de
fundos ocorrem nos edicios Lausanne, Lugano e Locarno
e Normandie.
A fachada dos fundos do edicio Lausanne é
facilmente percebida por quem trafega pela rua Maranhão,
por isso, ela foi concebida cuidadosamente baseada em
alinhamentos, ritmos. hierarquias e sombras, além de
possuir caixilhos de bom padrão estéco, todos desenhados
e detalhados por Heep. Nos edicios Lugano e Locarno,
as fachadas dos fundos das lâminas são vistas por quem
trafega pela avenida Higienópolis, fator que contribuiu
para o seu desenho elaborado, com grandes supercies em
jolos de vidro que enquadram as aberturas. A fachada dos
fundos do edicio Normandie é evidentemente percebida
por quem trafega pela rua Avanhadava; isso levou Heep a
uma solução elegante para esta face, onde predominam
grandes panos de cobogós de concreto que iluminam e
venlam os corredores.
Fachada dos fundos do Ed. Lausanne
Fachada dos fundos do Ed. Normandie
Fachada dos fundos dos Edicios Lugano e Locarno
8.3.8- Fachadas laterais e de fundos
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
273
Este item tratará de conclusões a respeito de
elementos recorrentes nas decisões projetuais de Franz
Heep no âmbito das plantas dos edicios.
Na análise das obras selecionadas para este trabalho,
algumas posturas de Heep com relação à resolução de
plantas tornam-se claras. Assim como outros arquitetos de
sua geração, Heep sempre buscava, na resolução de suas
plantas, situações racionais, em que se privilegiavam os
alinhamentos e disposições de ambientes que condiziam
com o vão estrutural do edicio. Além disso, os projetos
exigiam precisão construva, que as medidas justas
correspondiam a múlplos. Os espaços eram uma sucessão
de quadriláteros regulares e íntegros a parr da laje, que
era seu retângulo maior, gerando plantas sintécas que
resolviam a questão funcional, sem chanfros, dentes” e
demais mesquinharias.
Estes elementos citados estão presentes em todos
os dez edicios analisados, com exceção do Ouro Verde;
este edicio não possui a racionalidade na divisão dos
espaços que os demais edicios possuem, principalmente
nos apartamentos dos andares escalonados, por razões
desconhecidas que podem ter fugido do domínio do
arquiteto.
Nas plantas dos edicios estudados, principalmente
nas que possuem programas maiores, se nota uma
preocupação constante do arquiteto na busca de uma
setorização bem denida. Esta condição visa separar
claramente os setores ínmo, social e de serviços, sem
interferências entre eles, e de preferência, sem que se
tenha que passar por um para chegar ao outro, deixando-
os bem independentes.
Perspecvas axonométricas de apartamentos do Ed. Lausanne
Fonte: Acervo do edicio Lausanne
Cedido por Fernando Marnelli
8.4- Plantas
8.4.2- Setorização e uxos
8.4.1- Geometria e racionalização
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
274
Observando as plantas dos apartamentos, mesmo
nos de menores dimensões, nota-se a recorrência de halls
de distribuição, que permitem o acesso aos diferentes
setores da planta de modo independente.
No maior apartamento do edicio Lausanne,
situado em seu úlmo pavimento, Heep consegue uma
setorização perfeita e totalmente independente, como
mostra o esquema ao lado; um hall de entrada distribui os
uxos para todos os setores, sem interferências.
É evidente que situações em que esta perfeita
e independente distribuição dos setores da planta, como
ocorreu no Lausanne, se torna pracamente impossível, por
condicionantes sicas do pavimento po. Porém, é possível
notar na obra de Heep, uma tentava máxima de sucesso
neste sendo, como ocorre nos apartamentos dos edicios
Lugano e Locarno. Neste caso, não foi possível a adoção de
um hall de distribuição que conduzisse a todos os setores da
planta sem interferências entre eles, porém, uma clara
tentava de fazer com que se interra o menos possível
num setor para chegar a outro, como mostra a planta ao
lado. Para chegar ao setor ínmo, é preciso passar pelo
social, mas a distribuição escolhida, faz com que o usuário
o cruze discretamente, sem interferir muito nas salas de
estar e jantar. A mesma situação ocorre nos apartamentos
predominantes do edicio Lausanne.
setor íntimo
setor íntimo
setor social
setor social
distribuição
distribuição
setor de
serviço
setor de
serviço
Setorização da unidade de 263m² do Lausanne
Planta da unidade de 263m² do Lausanne
Planta da unidade de 181m² do Lugano e Locarno
Setorização da unidade de 181m² do Lugano e Locarno
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Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
275
Ao analisar as plantas dos apartamentos projetados
por Heep, é possível concluir que ele possuía premissas
xas para a resolução de cada po de planta, dependendo
do padrão do edicio.
As kitchenees, por exemplo, possuem os mesmos
conceitos em todos os edicios em que foram ulizadas,
porém, sofreram pequenas variações; a disposição mais
usual caracteriza-se por uma cozinha de dimensões
mínimas, cujo espaço, é subtraído do banheiro; este conta
com medidas mais generosas, capazes de abrigar as peças
sanitárias convencionais e box. A sala-living situa-se num
espaço geralmente mais amplo e retangular, que possui um
armário embudo junto à parede que a ladeia ao banheiro;
em alguns casos, a sala-living se abre para um terraço.
Este modelo descrito foi o mais ulizado por Heep,
no que diz respeito a plantas de kitchenees, e aparece
pela primeira vez no edicio Icaraí. Esta diposição se
reperá no Araraúnas, Ibaté e Guaporé. O arranjo espacial
ulizado nas unidades do edicio Normandie, o primeiro
a ser construído, não se aplicou aos empreendimentos
posteriores, dando indícios de um aprimoramento do
desenho. No Normandie, o banheiro é um retângulo
íntegro, impedindo que a cozinha tenha uma abertura para
o corredor, como no Icaraí.
Esquema de Kitchenee 1
Ulizado no Ed. Normandie
Esquema de Kitchenee 2
Ulizado no Ed. Icaraí. Araraúnas,
Ibaté e Guaporé
Cozinha de uma Kitchenee
Foto: Edson Lucchini Jr.
Sala-living de uma Kitchenee
Foto: Edson Lucchini Jr.
8.4.3- Arranjos espaciais e racionalização hidráulica
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
276
Os apartamentos de um dormitório também
contam com um arranjo espacial muito semelhante em
quase todos os edicios que se desnavam a este po de
unidades. O acesso se pelo eixo da planta, onde surge
um corredor que separa a cozinha do banheiro e conduz a
um pequeno hall que distribui os uxos para a sala de estar
e o dormitório. Esta disposição é a que mais se repete na
obra de Heep, sendo ulizada nos edicios Ibaté, Lucerna
e Guaporé, além de aparecerem nos andares escalonados
dos edicios Araraúnas e Normandie.
Ao longo das análises das plantas desenhadas por
Heep, é possível notar que não era uma práca comum em
sua obra a ulização de suítes, mesmo em apartamentos
desnados às classes mais abastadas. Esta situação pode
ser observada em edicios de padrão mais elevado como o
Ouro Preto, o Lausanne e o Lugano e Locarno.
A hipótese mais provável para a não ulização das
suítes tem a ver com a questão da racionalização hidráulica,
presente em nove, dos dez edicios estudados. No Lausanne,
por exemplo, as plantas dos apartamentos possuem uma
clara divisão entre as áreas que concentram as instalações
sanitárias, das áreas de estar e repouso. Isto reforça a
postura racionalista de Heep, que, na maioria dos casos,
prioriza a economia com elementos hidráulicos e a facilidade
de manutenção dos mesmos, deixando em segundo plano
alguns confortos, como por exemplo, o emprego de suítes.
Desta forma, essa racionalização hidráulica proposta por
Heep, acarreta em arranjos espaciais onde os banheiros de
casal e social ladeiam-se e são acessados pelo corredor. No
caso do edicio Lausanne, esta postura de racionalização
hidráulica, em detrimento do conforto é muito evidente, já
que os usuários do dormitório de casal têm que atravessar
todo o corredor ínmo para acessar o seu banheiro.
Apenas no edicio Ouro Verde, um banheiro foi
colocado numa região da planta que não conta com outros
equipamentos hidráulicos próximos, congurando uma
suíte isolada. Este é o único edicio estudado que não
conta com uma racionalização hidráulica plena.
Planta de um apartamento de 1
dormitório mais recorrente na
obra de Heep.
Esquema de disposição das áreas molhadas - Ed. Lausanne
Esquema de disposição das áreas molhadas - Ed. Ibaté
Esquema de disposição das áreas molhadas - Ed. Ouro Verde
áreas molhadas
áreas de estar e repouso
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Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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“(...) Heep não detalha obsnadamente seus
trabalhos porque era minucioso ou compulsivo;
detalha para garanr qualidade e cobrar
resultados”.
. (BARBOSA, 2002, p.147)
Nos anos 1950, em suas experiências paulistanas
com habitação vercal, Heep teve a oportunidade de
colocar em práca suas premissas, sendo que uma das
principais era a que primava pela excelência do detalhe,
como um modo de controle total da obra.
Dos dez edicios analisados, três foram construídos
por uma parceria entre Franz Heep e a construtora Auxiliar:
o Lausanne, as torres gêmeas Lugano e Locarno e o edicio
Lucerna, que abrigava o cine Comodoro. Nestes projetos,
Heep teve liberdade para aplicar de maneira plena os seus
conceitos arquitetônicos e técnicos.
Em entrevista com Aizik Helcer, engenheiro e
sócio da construtora Auxiliar, foi possível entender alguns
elementos importantes do método de trabalho de Heep
e o quanto era dicil colocar em práca a sua losoa de
trabalho, na realidade precária e artesanal da construção
civil brasileira da época, somada a uma indústria
incipiente.
Aizik Helcer comandava a construtora em parceria
com seu irmão, Elias Helcer e o pai, Nachman Helcer, dono
da Auxiliar. Aizik ressalta o quanto era dicil convencer
o pai e o irmão de que as idéias de Heep eram boas e
inovadoras, e resultariam em edicios referenciais para o
mercado da época. Portanto, Heep teve em Aizik Helcer,
um aliado para a execução de suas idéias. Helcer não
hesita em dizer que os edicios feitos pela parceria com
Heep deram muito lucro na vendas; por mais que o tempo
desnado ao projeto fosse muito longo, a quandade e a
precisão e dos detalhamentos garanam rapidez às obras,
além de economia.
O projeto do edicio Lausanne totaliza 257 pranchas,
sendo que a maioria dos projetos para edicios de porte
semelhante contavam com no máximo 80. A construtora
Auxliar, cordialmente, contribuiu com a elaboração deste
trabalho, fornecendo os projetos execuvos completos das
três obras feitas pela parceria com Heep. Abaixo, algumas
folhas de detalhes dos edicios Lausanne, Lucerna e Lugano
e Locarno.
O engenheiro calculista do Lausanne - Aizik Helcer - fev. 2010
Foto: Edson Lucchini Jr
8.5- Importância do detalhe bem resolvido
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Detalhe do cobogó do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Detalhe do cobogó do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Detalhe das escadas do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Detalhe da guarnição das portas dos elevadores do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Detalhe de caixilhos do Edicio Lausanne - 1956
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Detalhe da escada do Edicio Lucerna - Cine Comodoro - 1957
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Corte do Cine Comodoro - 1957
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Projeto execuvo do Cine Comodoro - 1957
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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282
Heep chegou ao Brasil em 1947 com 45 anos de
idade e uma bagagem prossional respeitável; a sistemáca
de trabalho ulizada por ele aqui foi desenvolvida nos anos
1930 em Paris, quando produziu alguns edicios vercais
de habitação para a classe média, junto com seu então
sócio Jean Ginsberg. A produção de Heep em Paris baseava-
se em soluções que visavam atender aos anseios da classe
média de modo racional; as premissas de seus projetos
baseavam-se na durabilidade dos elementos e na facilidade
de manutenção, além de outros fatores conceituais, que
seriam recorrentes na sua produção paulistana dos anos
1950.
Após a análise da amostra de dez edicios
produzidos por Heep em São Paulo, é possível idencar
uma imensa coerência entre eles sob vários aspectos.
Em todos os edicios, pode-se armar com propriedade,
que não exageros, tampouco, arbitraridade. Todos
os elementos que compõe um edicio de Heep estão
porque têm que estar; sempre uma juscava para o
emprego de um determinado item.
Desta forma, sem exageros e elementos
desnecessários, surge a beleza em sua obra; uma beleza
proveniente da geometria, dos alinhamentos e jogos de
Capítulo 9
Considerações nais
volumes e sombras, presentes em suas fachadas. Logo,
a beleza na obra de Franz Heep, provém da própria
arquitetura, pura, sem ornamentações ou guras que
possam associá-la a eslos ou modelos.
As análises também revelaram indícios de
um pensamento que tratava arquitetura e cidade
como elementos em constante simbiose, onde uma,
inevitavelmente, depende da outra. Isto se percebe no
cuidado de Heep com todas as fachadas de um edicio,
anal, elas não pertencem só a ele, mas principalmente, à
composição da paisagem urbana.
Ademais, sempre que as condições do lote
permiram, Heep criou conexões urbanas, encurtamento
de percursos para pedestres e cessões de área de terrenos
para o ganho de passeios públicos; notam-se ainda precisas
inserções em esquinas, sempre tratadas como pontos
focais, onde a arquitetura a entende de modo especial.
Enm, se espera que este trabalho tenha colaborado
de alguma forma para enriquecer o conhecimento sobre a
obra de Adolf Franz Heep, a m de que seu nome e a sua
imensa contribuição para a arquitetura ocupem, cada vez
mais, o lugar de destaque que eles merecem.
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
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Periódicos
Textos na internet
286
287
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9.3 - Anexos - desenhos originais
Maçanetas - Ed. Lugano e Locarno - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Escadas - Ed. Lugano e Locarno - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
289
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Apartamento do ed. Lugano e Locarno - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Fachada av. Higienópolis do ed. Lugano e Locarno - 1958
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Croqui de Franz Heep - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
290
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Caixilho de banheiro - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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Fachada - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Rampas frontais - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
292
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Grade da porta do elevador - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Grampa da cozinha - Ed. Lausanne 1953
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
293
Adolf Franz Heep: edifícios residenciais
Edson Lucchini Jr.
Um estudo da sua contribuição para a habitação coleva vercal em São Paulo nos anos 1950
Planta de forro - Cine Comodoro 1954
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
Vista do fundo da sala de exibição - Cine Comodoro 1954
Fonte: Acervo pessoal de Aizik Helcer
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