profissional de Bethânia se deu a partir do “folclorismo” de Nara Leão, pois esta, como
foi visto, tomou conhecimento do grupo dos baianos, e de Bethânia, a partir de sua
busca pelas autênticas raízes da música brasileira.
2.3 – Por uma tradição musical
A carreira discográfica de Maria Bethânia iniciou-se a partir da gravação de seu
primeiro disco em 1965. De então até 1978, ela gravou um total de 18 LPs
112
. Nestas
gravações, encontramos uma diversidade de estilos e temas nas canções, mas, em sua
maioria, românticas, o que permite analisar sua produção musical nas décadas de 1960 e
1970 – período de formação da moderna música popular brasileira. Alberto Moby, ao
fazer um estudo sobre a censura na música popular brasileira, afirma que, durante o
período de chumbo da ditadura, há um declínio qualitativo e quantitativo na produção
musical tanto de compositores quanto de cantores. Para ele, este fato gerou composições
herméticas de difícil compreensão, mas que, concomitantemente, começou a surgir uma
preocupação com a memória musical brasileira
113
. Compositores como Cartola, Nelson
Cavaquinho e Ismael Silva, que estavam “esquecidos” pelo mercado fonográfico,
voltaram a gravar. Paralelamente, intérpretes como Maria Bethânia, Elis Regina e até
mesmo compositores como Paulinho da Viola e Chico Buarque regravaram músicas de
antigos compositores. O autor situa neste contexto do início dos anos de 1970 a
invenção da tradição musical brasileira. Com relação à Maria Bethânia, Moby destaca o
show Drama, luz da noite, realizado no Teatro da Praia no Rio de Janeiro em 1973, no
qual, segundo ele, grande parte das músicas era de compositores dos anos 1940 e 1950.
A partir da afirmação do autor, podemos levantar dois pontos: primeiro que essa
revalorização de compositores, como Cartola e Nelson Cavaquinho, ocorre não só no
início da década de 1970, mas também, em meados dos anos 1960, com a busca de um
112
Neste período, Maria Bethânia gravou os seguintes discos: Maria Bethânia, LP, RCA, 1965 (BBL
1339); Maria Bethânia canta Noel Rosa, CPD, RCA-Victor, 1965 (LCD-1142); Edu e Bethânia, LP,
Elenco, 1966 (ME-37); Recital na Boite Barroco, LP, Odeon, 1968 (MOFB 3545); Maria Bethânia, LP,
Odeon, 1969 (MOFB 3577); Maria Bethânia ao vivo, LP, Odeon, (SMOFB 3615); A tua presença, LP,
Philips, 1971 (6349 001); Rosa dos ventos – o show encantado, LP, Philips, 1971 (6349 015); Vinícius +
Bethânia + Toquinho en La Fusa, LP, 1971 (XT 80017); Drama – Anjo exterminado, LP, Philips, 1972
(6349 050); Drama 3º ato, LP, Philips, 1973 (6349 089); A cena muda, LP, Philips, 1974 (6349 123);
Chico Buarque e Maria Bethânia ao vivo, LP, Philips, 1975 (6349 146); Pássaro proibido, LP, Philips,
1976 (6349 188); Doces Bárbaros, LP, Philips, 1976 (6349 307/8); Pássaro da manhã, LP, Philips, 1977
(6349 333); Maria Bethânia e Caetano Veloso ao vivo, LP, Philips, 1978 (6349 386) e Álibi, LP, Philips,
1978 (6349 405).
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SILVA, Op. Cit., pp. 150-152.