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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras
Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa
ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS:
REPRESENTAÇÃO FONOLÓGICA E VARIAÇÃO
Luiza Fernandes Tem Tem
2010
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras
Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa
ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS:
REPRESENTAÇÃO FONOLÓGICA E VARIAÇÃO
Luiza Fernandes Tem Tem
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de
Janeiro como quesito para a obtenção do Título
de Mestre em Letras Vernáculas (Língua
Portuguesa).
Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre
Victorio Gonçalves
Rio de Janeiro
Agosto de 2010
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Faculdade de Letras
Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa
Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação fonológica e
variação
Luiza Fernandes Tem Tem
Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas.
Aprovada por:
Presidente, Prof. Carlos Alexandre Victorio Gonçalves (UFRJ)
_________________________________________________
Prof. Mônica de Toledo Piza Costa Machado (UFRRJ)
_________________________________________________
Prof. Roberto Botelho Rondinini (UFJF)
_________________________________________________
Prof. Mônica Maria Rio Nobre (UFRJ)
_________________________________________________
Prof. Carmen Teresa Dorigo (UFRJ/Museu Nacional)
Rio de Janeiro
Agosto de 2010
SINOPSE
Estudo da alternância entre as consoantes líquidas,
classe fonológica que agrupa laterais e vibrantes, nos
grupos consonantais (Rotacismo), tal como ocorre na
realização de F[l]amengo por F[Ȏ]amengo.
Verificação da ocorrência do fenômeno em uma
comunidade situada na Zona Oeste da cidade do Rio de
Janeiro. Análise variacionista do rotacismo.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar comigo em todos os momentos e por tornar possível a realização
deste trabalho.
À minha querida mãe, pela luta diária em favor dos meus estudos.
Ao prof. Carlos Alexandre Gonçalves, meu orientador, pelo direcionamento tomado
por esta pesquisa, pelo apoio, pela leitura minuciosa, pelas correções.
Às professoras Cláudia de Souza Cunha, Márcia dos Santos Machado Vieira e Sílvia
Rodrigues Vieira, pelos ensinamentos fundamentais à concretização desta
dissertação.
Aos meus irmãos, pelo incentivo em todo o tempo.
Aos meus alunos, integrantes fundamentais deste trabalho, pelo interesse e pela
participação.
Às amigas de trabalho, pela força e pela paciência em ouvir-me falar repetidas vezes
sobre este trabalho.
Ao companheiro Luiz Carlos, meu esposo amado, pelo incentivo, pela ajuda com os
gráficos, pelas discussões acerca do trabalho, pela cobrança para que a pesquisa
fosse prioridade em minha vida.
“O saber a gente aprende com os
mestres e com os livros. A
sabedoria se aprende é com a
vida e com os humildes."
(Cora Coralina)
RESUMO
ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS: UMA ANÁLISE
VARIACIONISTA
Luiza Fernandes Tem Tem
Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Letras Vernáculas.
Nesta Dissertação, são analisadas manifestações de fala real que evidenciam
a ocorrência da alternância das líquidas [l] e [Ȏ] nos grupos consonantais no
português não-padrão. Os mesmos informantes de uma comunidade escolar da
Zona Oeste do Rio de Janeiro foram recontactados após quatro anos, possibilitando
o estudo de uma possível mudança em sua fala. Ressalta-se a grande semelhança
entre os segmentos [l] e [Ȏ] do ponto de vista fonético, fonológico e fonotático, fato
que favorece o fenômeno, porém detém-se este estudo, principalmente, na
perspectiva social. Dentre os condicionantes sociais, econômicos e culturais,
destaca-se o nível de escolaridade. Fundamenta-se esta pesquisa na compreensão
de que existe uma estreita relação entre língua e sociedade, assumindo-se, por isso
mesmo, os pressupostos da sociolinguística variacionista (LABOV, 1994, 1972 a).
Palavras-chave: Rotacismo; Fonologia autossegmental; Sociolingüística
Quantitativa.
Rio de Janeiro
Agosto de 2010
ABSTRACT
RHOTACIZATION OF LIQUIDS IN CONSONANT CLUSTERS: A
VARIATIONIST ANALYSIS
Luiza Fernandes Tem Tem
Advisor: Professor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Summary of Dissertation submitted to the Graduate Program in Vernacular
Literature, Faculty of Letters, Federal University of Rio de Janeiro - UFRJ, as part of
the requirements to obtain the title of Master of in Vernacular Literature.
In this dissertation, we analyzed actual speech events that indicate the
occurrence of alternate liquids [l] and [Ȏ] in consonant clusters in the Portuguese
non-standard. The same informants of a community school in the Western Zone of
Rio de Janeiro were recontacted after four years, allowing the study of a possible
change in his speech. Admittedly, a very great similarity between the phones [l] and
[Ȏ] in terms of phonetic, phonological and phonotactic, a fact which favors the
occurrence of the phenomenon, but this study holds up, especially from a social
perspective. Among the social conditions, economic and cultural highlight is the level
of schooling. This research is based on the understanding that there is a close
relationship between language and society, assuming, therefore, the assumptions of
variationist sociolinguistics (Labov, 1994, 1972 a).
Keywords: Rhotacism; Autosegmental phonology; Quantitative Sociolinguistics.
Rio de Janeiro
August, 2010
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................15
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..........................................................................17
2.1. Português padrão e português não-padrão ................................................17
2.2. Teoria da Variação (paradoxos superados) ................................................19
2.2.1. Cisão entre sincronia e diacronia.........................................................20
2.2.2. Impossibilidade da heterogeneidade estrutural ...................................20
2.2.3. Disfuncionalidade da mudança............................................................21
2.2.4. Não-motivação no processo da mudança linguística...........................22
2.2.5. Exclusividade das relações internas ao sistema..................................22
2.2.6. Exclusão da estratificação social e da avaliação social das variantes
linguísticas .........................................................................................................22
2.2.7. Comunidade de fala homogênea.........................................................23
2.2.8. Alcance uniforme da mudança.............................................................23
2.2.9. Homogeneidade na competência linguística do falante.......................23
2.2.10. Passividade do falante em relação ao sistema ................................24
2.2.11. Alternância entre códigos.................................................................24
2.3. Contribuições da Sociolinguística para o desenvolvimento da teoria
linguística...............................................................................................................25
2.4. Comunidade de fala....................................................................................26
2.5. Tempo aparente X tempo real ....................................................................27
3. OS SEGMENTOS LÍQUIDOS: ASPECTOS FONÉTICOS E FONOLÓGICOS.28
3.1. A Lateral......................................................................................................29
3.2. A Vibrante ...................................................................................................29
4. ROTACISMO .....................................................................................................32
4.1. Ponto de vista histórico...............................................................................34
4.2. Características fonotáticas..........................................................................36
4.3. Fonética e fonologia....................................................................................39
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE VARIACIONISTA .........50
5.1. Tratamento estatístico dos dados ...............................................................50
5.2. descrição da comunidade de fala ...............................................................57
5.3. O grupo amostral controlado.......................................................................60
5.4. Variáveis controladas..................................................................................63
5.4.1. Variável dependente ............................................................................63
5.4.2. Variáveis independentes......................................................................64
6. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS (RESULTADOS)...................................................68
6.1. Rodada geral (variantes realizadas) ...........................................................68
6.2. Modo de articulação do segmento precedente à líquida do grupo
consonantal (fricativo ou oclusivo).........................................................................71
6.3. Vozeamento do segmento precedente à líquida.........................................73
6.4. Tonicidade da sílaba do grupo consonantal................................................76
6.5. Posição do grupo consonantal....................................................................79
6.6. Presença de outra líquida na palavra..........................................................80
6.7. Faixa etária .................................................................................................82
6.8. Gênero/Sexo...............................................................................................87
6.9. Escolaridade dos informantes.....................................................................89
6.10. Escolaridade dos genitores .....................................................................92
6.11. Perfil econômico e cultural dos pais ........................................................94
6.11.1. Mercado de trabalho e renda ...........................................................94
6.11.2. Rede social.......................................................................................95
6.11.3. Acesso aos bens culturais (práticas de leitura) ................................97
CONCLUSÃO ...........................................................................................................98
REFERÊNCIAS.......................................................................................................100
ANEXO A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA........................................................107
ANEXO B: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 5-7 ...............................109
ANEXO C: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 9-11 .............................132
ANEXO D: REGISTROS DE ROTACISMO EM ATLAS LINGUÍSTICOS ..............147
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: aplicação das variantes amostra 2006 ......................................................68
Tabela 2: aplicação das variantes amostras 2006 e 2010 ........................................70
Tabela 3: rotacismo 2006 (modo de articulação do segmento precedente à líquida)71
Tabela 4: rotacismo 2010 (modo de articulação do segmento precedente à líquida)73
Tabela 5: rotacismo 2006 (vozeamento do segmento precedente à líquida) ............74
Tabela 6: rotacismo 2010 (vozeamento do segmento precedente à líquida) ............75
Tabela 7: amostra 2006 rotacismo (fator tonicidade) ................................................76
Tabela 8: amostra 2010 rotacismo (fator tonicidade) ................................................78
Tabela 9: rotacismo 2006 (posição silábica do grupo consonantal)..........................79
Tabela 10: rotacismo 2010 (posição silábica do grupo consonantal)........................79
Tabela 11: rotacismo 2006 (ausência ou presença de outra líquida na palavra) ......80
Tabela 12: rotacismo 2010 (ausência ou presença de outra líquida na palavra) ......81
Tabela 13: rotacismo (faixa etária) ............................................................................86
Tabela 14: resultados de apagamento pela variável sexo (Mollica, Paiva & Pinto,
1989)..................................................................................................................87
Tabela 15: rotacismo 2006 (fator sexo).....................................................................88
Tabela 16: rotacismo 2010 (fator sexo).....................................................................89
Tabela 17: rotacismo total de anos de escolaridade .................................................90
Tabela 18: escolaridade e rotacismo (aspecto qualitativo)........................................91
Tabela 19: escolaridade pai ......................................................................................92
Tabela 20: escolaridade mãe ....................................................................................92
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: árvore de organização dos traços (Clements & Hume, 1995)....................41
Figura 2: organização das consoantes pela geometria de traços .............................42
Figura 3: representação da lateral pela geometria de traços ....................................44
Figura 4: representação da vibrante pela geometria de traços .................................45
Figura 5: representação do rotacismo pela geometria de traços...............................46
Figura 6: representação da líquidas (Dickey, 1997) ..................................................47
Figura 7: representação da lateral e do tepe (Dickey, 1997).....................................48
Figura 8: representação de rotacismo (Dickey, 1997)...............................................48
Figura 9: cruzamento das variáveis modo de articulação e vozeamento ..................74
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: diferenças entre o português padrão e o português não-padrão (Bagno,
2005)..................................................................................................................18
Quadro 2: distribuição dos róticos (Camara Jr, 2004) ...............................................31
Quadro 3: escala de sonância de Bonet e Mascaró (1996) ......................................34
Quadro 4: origem do português padrão (Bagno, 2005).............................................34
Quadro 5: distribuição das duas consoantes prevocálicas (Silva, 2003)...................37
Quadro 6: líquidas na posição posvocálica ...............................................................38
Quadro 7: articulação das líquidas ............................................................................39
Quadro 8: matriz fonética (Chomsky e Halle, 1968)..................................................40
Quadro 9: modelo de codificação Goldvarb ..............................................................50
Quadro 10: formulário de coleta de dados ................................................................61
Quadro 11: combinações da amostra 2006 ..............................................................62
Quadro 12: combinação das amostras 2006 e 2010.................................................63
Quadro 13: codificação das variantes .......................................................................63
Quadro 14: percentual de palavras reconhecidas 2006 e 2010 ................................70
Quadro 15: exemplo de realização de rotacismo por informante ..............................72
Quadro 16: células amostra recontato (totais de aplicação de rotacismo) ................76
Quadro 17: cruzamento de modo de articulação e tonicidade ..................................77
Quadro 18: escala de força de Hooper (1976) ..........................................................80
Quadro 19: cruzamento das variáveis modo de articulação e presença de outra
líquida ................................................................................................................81
Quadro 20: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (1)...............84
Quadro 21: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (2)...............84
Quadro 22: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (3)...............85
Quadro 23: mercado de trabalho (diferenças entre pais e mães) .............................94
Quadro 24: profissões exercidas pelos genitores......................................................95
Quadro 25: redes sociais (grupos de referência) ......................................................97
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: rotacismo (fator idade) na amostra 2006 ..................................................82
Gráfico 2: aumento no vocabulário dos alunos 5-7 anos ..........................................85
Gráfico 3: percentual escolaridade pais X rotacismo na fala dos filhos.....................93
15
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho objetiva investigar, à luz da sociolinguística variacionista
(LABOV, 1994, 1972 a), os contextos favorecedores da alternância entre as
consoantes líquidas, classe fonológica que agrupa laterais e vibrantes, nos grupos
consonantais, tal como ocorre na realização de f[l]amengo como f[Ȏ]amengo
1
. Esse
tema foi escolhido devido à ocorrência dessa alternância (chamada de rotacismo) no
português, desde sua formação, constituindo-se uma variação estável na língua
(BAGNO, 2005).
O fenômeno do rotacismo será examinado, além da teoria da variação e
mudança (LABOV, op. cit.), pela visão da Fonologia Autossegmental e, mais
especificamente, da Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME, 1995). A Fonologia
Autossegmental propõe a não linearidade entre um segmento e seus traços,
demonstrando que um traço pode ser manipulado independentemente, como
verificaremos na representação fonológica das líquidas. O rotacismo pode ser
explicado, do ponto de vista estrutural, pelo compartilhamento de propriedades entre
a lateral e a vibrante. Em decorrência, alguns autores defendem que diferenças
entre os traços que compõem esses segmentos podem justificar a ocorrência da
vibrante em lugar da lateral.
Nossos objetivos gerais são:
Contribuir para a descrição do português;
Utilizar como base para a descrição a análise de dados de fala;
Demonstrar a ocorrência do fenômeno desde a formação da língua
portuguesa até a atualidade;
Descrever o fenômeno do rotacismo do ponto de vista fonético, fonológico
e fonotático;
Apresentar abordagens a respeito das consoantes líquidas;
Representar o fenômeno por meio da Geometria de Traços;
1
Esse símbolo representa um som classificado como tepe ou vibrante simples. O tepe ocorre, em
português, em posição intervocálica ou seguindo consoante, como em cara e brava. Na produção
desse som, “o articulador ativo toca rapidamente o articulador passivo, ocorrendo uma rápida
obstrução da corrente de ar através da boca” (CRISTÓFARO SILVA, 2003: 34).
16
Analisar os fatores linguísticos e extralinguísticos condicionadores do
fenômeno por meio da análise variacionista.
Os corpora utilizados são os seguintes: (a) dados da fala de alunos de uma
escola municipal situada na comunidade Jardim Moriçaba, na zona oeste da cidade
do Rio de Janeiro, coletados em 2006 e analisados em Tem Tem (2006), e (b) dados
resultantes do recontato dos mesmos informantes, quatro anos após a primeira
entrevista.
As hipóteses norteadoras do trabalho são as seguintes:
O rotacismo constitui um fenômeno de variação estável no português, de
uma forma geral, e na comunidade estudada, mais particularmente;
A substituição entre [l] e [Ȏ] é socialmente motivada;
Fatores estruturais e sociais o relevantes na ocorrência do fenômeno,
porém considera-se escolaridade como a principal variável;
Por ser um fenômeno altamente estigmatizado, com a pressão
normatizadora da escola e da sociedade, a mudança, no sentido da
extinção dessa variante desprestigiada, se processa de forma mais rápida
que em outros fenômenos.
A frequência e o peso relativo de cada variável foram obtidos pelo uso do
pacote Goldvarb 2001. Em seguida, os resultados são analisados em conformidade
com a orientação laboviana.
O presente estudo se estrutura da seguinte maneira: no capítulo 2, são
apresentados os conceitos teóricos que o fundamentam. No capítulo 3, são descritas
as consoantes quidas, na visão de alguns teóricos. No capítulo 4, o fenômeno é
analisado sob as perspectivas histórica, fonética/ fonológica, fonotática e social. No
capítulo 5, de natureza metodológica, são expostas detalhadamente as
características do grupo amostral e das variáveis controladas. Além disso,
apresenta-se toda a estrutura do questionário-guia da entrevista, bem como a
divisão dos informantes. Na introdução ao capítulo, detalha-se o tratamento
estatístico oferecido aos dados. No capítulo seguinte (6), prossegue-se com a
análise dos resultados para cada variável. Por fim, procede-se às considerações
finais da investigação.
17
2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Nesse capítulo, apresentamos as diferenças entre a língua padrão e não-
padrão, consoante Bagno (2005). Essa diferenciação se faz necessária por
analisarmos neste trabalho uma variante altamente estigmatizada que, por sua vez,
alterna com a forma padrão, recomendada pela escola.
Em seguida, reconhecendo a variação, empreendemos um breve histórico da
teoria variacionista (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), passando por teorias
que contemplam a língua como sistema homogêneo, desconsiderando a avaliação
social das variantes linguísticas. Essas teorias, entretanto, não esclarecem os
paradoxos para o estudo da mudança linguística advindos dessa visão homogênea
de língua. Desse modo, apresentamos esses paradoxos e as contribuições da
sociolinguística no desenvolvimento da teoria linguística, a partir do reconhecimento
da heterogeneidade da língua.
Após assumir a heterogeneidade ordenada da língua, ou seja, a existência de
regras (fatores estruturais e sociais) que a governam, com base em Scherre (2006) e
Gregory Guy (2000), procedemos à definição de comunidade de fala, por ser o grupo
no qual essa heterogeneidade se concretiza.
Por fim, de modo a esclarecer a escolha do grupo amostral controlado nesta
pesquisa, necessitamos diferenciar as estratégias para o estudo da mudança em
progresso: análise em tempo aparente e análise em tempo real (LABOV, 1994).
2.1. PORTUGUÊS PADRÃO E PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO
A língua padrão é, para muitos, a única representante dos falantes da língua.
Nesse sentido, enquanto esse modo de falar, entendido como “correto”, possui
prestígio social, as outras variedades são ainda consideradas inadequadas, pobres,
ineficientes.
O português-padrão é a norma oficial “usada na literatura, nos meios de
comunicação, nas leis e decretos do governo, e ensinada nas escolas”, conforme
afirma Bagno (2005, p. 28). o português não-padrão compreende um conjunto de
18
variedades da língua, algumas das quais deram origem à própria norma-padrão, por
motivações históricas, econômicas, sociais e culturais. Segundo o autor, na
realidade, escolheu-se uma variedade para controlar as demais. Acredita que a
língua se transformou em arma a favor do preconceito, da estratificação social, e
com a qual uns poucos exercem seu poder sobre a maioria do povo que, por sua
vez, não se enquadra nos moldes impostos pela rigidez desse falar. Enfim, o
português não-padrão, embora falado no cotidiano por muitas pessoas
escolarizadas, apresenta traços, como o rotacismo, altamente estigmatizados. Essas
marcas são, em geral, utilizadas por pessoas carentes, de pouca escolarização,
pertencentes a classes por vezes marginalizadas, desprestigiadas. Essa variedade
de língua pode ser comparada ao latim vulgar, não só pelo preconceito que sofre,
como também pela liberdade de transformação no contato social.
No quadro abaixo, extraído de Bagno (2005, p. 36), o registradas as
principais diferenças entre o português padrão (PP) e o português o-padrão
(doravante PNP):
QUADRO 1: DIFERENÇAS ENTRE O PORTUGUÊS PADRÃO E O PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO (BAGNO,
2005)
PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO PORTUGUÊS PADRÃO
Natural Artificial
Transmitido Adquirido
Apreendido Aprendido
Funcional Redundante
Inovador Conservador
Tradição oral Tradição escrita
Estigmatizado Prestigiado
Marginal Oficial
Tendências livres Tendências refreadas
Falado pelas classes dominadas Falado pelas classes dominantes
Esclarecendo o quadro acima, o PNP é natural, por seguir as tendências
espontâneas da língua. Além disso, é transmitido no convívio social e não adquirido,
como o é a língua-padrão. Acrescente-se a isso ser funcional, eliminando marcas
supérfluas, como as marcas morfológicas de concordância, características do
19
português dito “correto”, bem como ser inovador, aceitando mudanças da língua
enquanto sistema vivo. Ademais, é marcado pela oralidade e não pela escrita, como
a língua ensinada nas escolas. Por todas as características expostas acima, oferece
liberdade às forças transformadoras da língua, enquanto o português padrão tende a
refrear as mudanças.
É importante reconhecer que, embora ocorram tentativas de conter a ação
das mudanças na língua e mesmo de não reconhecê-las, principalmente por parte
de gramáticos que acreditam em uma unidade linguística, se concebe a tendência
à variação. Nesse sentido, uma língua não é um sistema unitário, mas um conjunto
de sistemas linguísticos, isto é, um diassistema. Assim sendo, a partir dessa nova
concepção de língua, “tornou-se possível o esclarecimento de numerosos casos de
polimorfismo, de pluralidade de normas e de toda a inter-relação dos fatores
geográficos, históricos, sociais e psicológicos que atuam no complexo operar de
uma língua e orientam a sua deriva” (CUNHA & CINTRA, 2001, p. 3).
2.2. TEORIA DA VARIAÇÃO (PARADOXOS SUPERADOS)
A Sociolinguística compreende que a investigação linguística deve levar em
consideração as implicações existentes entre língua e relações sociais e a
consequente heterogeneidade existente no interior das línguas e das sociedades
humanas.
Na introdução do ensaio Empirical Foundations for a Theory of Language
Change (EFTLC), Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 98) chamam atenção para
os paradoxos introduzidos pelos estudos linguísticos estruturalistas, afirmando que,
embora essas abordagens sejam frutíferas na investigação sincrônica,
sobrecarregam a linguística histórica com um fardo de paradoxos que não foram
totalmente superados: “The present paper is based on the observation that structural
theories of language, so fruitful in synchronic investigation, have saddled historical
linguistics with a cluster of paradoxes which have not been fully overcome.”
As pesquisas que seguem os pressupostos formalistas encontram dificuldade
em lidar com a variação linguística, uma vez que essas teorias, ao aceitarem
dicotomias como langue e parole (no Estruturalismo saussuriano) e competência e
20
desempenho (no Gerativismo chomskyano) e ao estabelecerem langue ou
competência como objeto de estudo legítimo da Linguística, não levam em conta a
variação inerente aos sistemas linguísticos, que procuram a invariância, ou seja,
aderem ao axioma da homogeneidade e recusam a possibilidade de haver
heterogeneidade estrutural.
A partir da leitura dos textos de Lucchesi (2004) e de Weinreich, Labov &
Herzog (1968), focalizaremos os paradoxos decorrentes dessa visão. Cumpre
ressaltar que os paradoxos não são independentes; na verdade, encontram-se inter-
relacionados e os tratamos separadamente aqui apenas por uma questão
metodológica, a fim de alcançar um maior entendimento da questão.
2.2.1. Cisão entre sincronia e diacronia
O estabelecimento da dicotomia sincronia versus diacronia, nos termos
saussurianos, trouxe para a Linguística a possibilidade de estudar a língua num
determinado ponto da linha do tempo ou ao longo da história, respectivamente. Vale
ressaltar que o estruturalismo diacrônico mantinha uma análise sincrônica a-
histórica. Entretanto, estudar a história de uma língua é observar o desenvolvimento
dessa estrutura; portanto, isso inviabiliza perceber a estrutura e a funcionalidade de
uma língua no presente desprezando o percurso histórico dessa estrutura, o que se
dá sob o ponto de vista do estruturalismo.
Lucchesi (2004, p. 181-182) reconhece essa dificuldade do abandono da
história na análise sincrônica: “se o estudo da história de uma língua é o estudo do
desenvolvimento da estrutura dessa língua, como sustentar que a história dessa
estrutura nada tem a dizer na explicação da organização estrutural e funcional da
língua no presente?”
O paradoxo reside exatamente em não se perceber o processo contínuo da
variação e mudança das línguas, que formam um sistema heterogêneo inserido num
contexto sócio-histórico e cultural.
2.2.2. Impossibilidade da heterogeneidade estrutural
Os estudos sociolinguísticos destacaram outro paradoxo das análises
estruturais. Do ponto de vista estruturalista, entender a língua como estrutura implica
necessariamente entender a língua como algo homogêneo. Assim, não haveria
possibilidade de conceber a heterogeneidade estruturada.
21
“Os princípios empíricos do EFTLC permitem-nos resolver a oposição
paradoxal entre estrutura e mudança. A mudança linguística não é mais
vista como exterior ao sistema, mas parte integrante do seu caráter
normalmente heterogêneo.
(LUCCHESI, 2004, p. 199)
A saída desse impasse seria romper com a antinomia entre estruturalidade e
heterogeneidade. Segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 101), a solução se
encontra em desfazer a identificação de estruturalidade com homogeneidade. O
segredo para se conceber racionalmente a mudança linguística reside na
possibilidade de descrever a heterogeneidade ordenada numa língua que serve a
uma comunidade. Segundo os autores, disfuncional seria a ausência de
heterogeneidade estruturada em uma língua que serve a uma comunidade
complexa: “One of the corollaries of our appoach is that in a language serving a
complex community, it is absense of structured heterogeneity that would be
dysfunctional.” (grifo dos autores)
2.2.3. Disfuncionalidade da mudança
Aceitar que a língua é autônoma e homogênea leva necessariamente a
acreditar que a variação e a mudança são disfuncionais. Assim, temos um novo
paradoxo: todas as línguas funcionam na prática e, ao mesmo tempo, exibem vários
exemplos de variação e mudança.
Lucchesi (2004, p. 199) questiona a concepção de que a variabilidade e a
mudança eram associadas aos processos que ameaçavam a funcionalidade da
língua. Não compreende esse paradoxo: “como a língua funciona se ela está
permanentemente em processo de mudança?”
Quanto mais os estruturalistas se esforçam por apontar vantagens funcionais
da estrutura, mais difícil se torna o entendimento das mudanças de uma língua. Essa
dificuldade se justifica, pois, se reconhecermos a língua estruturada como eficiente,
o que dizer dos períodos pelos quais pressões esmagadoras forçam a língua à
mudança? Será a comunicação menos eficiente nesses períodos? Por que, na
prática, não são verificadas tais ineficiências? (WEINREICH, LABOV & HERZOG,
1968, p. 101).
22
2.2.4. o-motivação no processo da mudança linguística
Partir do pressuposto de que a língua é uma entidade homogênea e
autônoma leva a outro paradoxo que não se sustenta na observação dos dados
empíricos: crer que toda variação é livre, não condicionada. De fato, se o
estruturalismo pressupõe que a língua exista num vácuo, então não há motivações
externas que condicionem a mudança.
Consoante Lucchesi (2004, p. 166), para superar esse paradoxo seria
necessário considerar a variação como inerente ao sistema linguístico, para analisá-
la de forma sistemática:
A tarefa de determinar a sistematicidade da variação levantava a
necessidade de se considerar os chamados fatores externos na análise
linguística, pois o que era, no plano estritamente linguístico, aleatório
tornava-se sistemático quando correlacionado com os fatores sociais e
estilísticos. (Grifo do autor)
2.2.5. Exclusividade das relações internas ao sistema
Ao se considerarem as motivações externas ao sistema tais como fatores
sociais ou estilísticos – para explicar a mudança linguística, expõe-se outro paradoxo
da abordagem homogeneizante da língua: a de que a análise linguística se restringe
apenas ao exame das relações internas ao sistema linguístico. Portanto, considerar
a interferência de fatores externos revelaria a necessidade de conceber a
perspectiva social.
2.2.6. Exclusão da estratificação social e da avaliação social das
variantes linguísticas
Por não abordarem a variação linguística e por não considerarem a relação
existente entre língua e sociedade, os estudos estruturalistas não puderam explicar
as correlações observadas entre estratificação social e variação, de um lado, e
variação e avaliação social, de outro, tal como prestígio e estigmatização de
variantes.
Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 132) citam Hymes (1962) e Labov
(1966), ao afirmar que em muitos estudos sociolinguísticos controlados fica
comprovado que a percepção de fato é controlada pela estrutura linguística, porém
essa estrutura não inclui somente unidades definidas por função contrastiva, mas
também unidades definidas por seu papel estilístico e por seu poder de identificar o
falante como membro de um subgrupo específico da comunidade.
23
2.2.7. Comunidade de fala homogênea
A crença de que o sistema linguístico é homogêneo tem como corolário a
ideia de que a comunidade de fala é homogênea, que teoricamente todos teriam
acesso ao mesmo código.
Dois importantes princípios teóricos a que Weinreich, Labov & Herzog (1968)
se opuseram são os seguintes: (i) a crença de que a comunidade de fala é
normalmente homogênea, e (ii) o estabelecimento do idioleto como objeto próprio da
descrição linguística.
A substituição da língua como objeto de estudo pela gramática da
comunidade de fala contraria esses dois princípios teóricos estruturalistas:
“Contrariamente à língua homogênea e unitária do estruturalismo, a gramática da
comunidade de fala apresenta como característica essencial a heterogeneidade”
(LUCCHESI, 2004, p. 169).
2.2.8. Alcance uniforme da mudança
Como a visão estrutural-funcionalista entende que a mudança é uma função
da organização estrutural e da lógica funcional do sistema linguístico, o pressuposto
é de que a mudança atinja a comunidade de fala como um todo, ao mesmo tempo.
Eis o questionamento de Lucchesi:
Se a mudança é exclusivamente uma função do sistema linguístico, como
ela pode atingir de maneira diferenciada os membros da comunidade
linguística, se todos usam o mesmo sistema? (2004, p. 184)
O esquema estrutural-funcionalista certamente não esclarece esse paradoxo,
visto que se baseia apenas na lógica interna do sistema linguístico. Ao contrário do
que postulam funcionalistas e estruturalistas, a mudança se processa
“gradualmente, percorrendo uma complexa e sinuosa trajetória dentro da estrutura
social” (LUCCHESI, op. cit.).
2.2.9. Homogeneidade na competência linguística do falante
Ao pressupor que a heterogeneidade é funcional e constitutiva da estrutura
linguística, a Sociolinguística destaca a capacidade de o falante monolíngue lidar
com a heterogeneidade.
Weinreich, Labov e Herzog (1968, p. 100) enfatizam que a capacidade do
falante em lidar com a heterogeneidade do sistema não tem relação com
24
multidialetalismo, nem com o “mero” desempenho, mas é parte da competência
linguística monolíngue.
De acordo com Lucchesi (2004, p. 171), “esse ajuste da competência
linguística do falante à heterogeneidade da língua é apontado então como um fato
empírico importante na sustentação da concepção de língua da sociolinguística”.
2.2.10. Passividade do falante em relação ao sistema
A capacidade do falante de lidar com a heterogeneidade discutida no item
anterior aponta para outro paradoxo do Estruturalismo. Nesse modelo, o falante é
visto com passivo, sendo um receptáculo da língua, incapaz de agir sobre ela:
Para Saussure, e para todo o estruturalismo, o falante tem um papel passivo
diante da língua, a organização estrutural do sistema linguístico é concebida
independentemente da ão do falante, da prática linguística ou das
disposições estruturadas nas quais essa prática se efetiva. (LUCCHESI,
2004, p.171).
Como encarar o falante como passivo, se percebemos que nossas escolhas
linguísticas, muitas vezes, são determinadas, por exemplo, pela intenção de ser
aceito socialmente ou mesmo de confrontar o padrão linguístico de outro grupo
social?
2.2.11. Alternância entre códigos
Lucchesi (2004) reconhece que a “alternância de formas ou regras que estão
disponíveis a todos os membros de uma comunidade de fala não é, por assim dizer,
uma descoberta da sociolinguística; ela é referida dentro da literatura
estruturalista” (p. 201). No entanto, como a abordagem estruturalista poderia lidar
com a heterogeneidade dentro de um sistema homogêneo? Para resolver esse
impasse, criou-se um artifício teórico: a noção de diassistema. O diassistema é um
conjunto formado por sistemas homogêneos e independentes entre si. Essa
definição não constitui uma ruptura com a visão homogênea de língua, visto que
cada sistema é específico e, em conjunto com outros sistemas, todos coerentes,
forma o sistema geral da comunidade. Nesse sentido, “a mudança e a variabilidade
seriam vistas como processos aleatórios, contingenciais de empréstimos, ou
interferência entre um sistema e outro.” (LUCCHESI, 2004, p. 202)
25
2.3. CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA O
DESENVOLVIMENTO DA TEORIA LINGUÍSTICA
Em primeiro lugar, a Sociolinguística considera, ao contrário das teorias
supracitadas, que a associação entre estrutura e homogeneidade é ilusória. Postula
uma heterogeneidade ordenada da língua, ou seja, reconhece que existe variação,
contudo essa variação não é livre: existem regras (fatores estruturais e sociais) que
a governam na comunidade de fala (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, p.
125). Assim sendo, a Sociolinguística inaugura uma nova concepção de língua, na
qual a variação é estruturada. Essa estrutura bem como a competência linguística,
por sua vez, são heterogêneas. Nesse sentido, as variáveis sociais fazem parte da
competência dos falantes (e não do desempenho). Os falantes não são passivos,
mas ativos, já que suas realizações possuem estrutura.
Outro avanço diz respeito à mudança, pois estas era considerada resultado
do contato entre idioletos. Nessa nova teoria, passa a ser concebida como resultado
de um período de variação. Para o Gerativismo, o período no qual a língua sofre
pressões pela mudança seria um momento menos eficiente e as variações
linguísticas, nesse sentido, seriam resultado do multidialetalismo ou do desempenho.
Para a Sociolinguística, as variações e, consequentemente, a mudança estão na
competência monolíngue.
Embora o fato de as línguas serem heterogêneas ser algo aparentemente
óbvio, os estudos sociolinguísticos inauguram um avanço que reside no fato de essa
heterogeneidade ser ordenada, como explicitado acima. Labov (1972 a, p. 3), ao
estudar as variantes fonéticas /ay/ e /aw/ na ilha de Marthas Vineyard, no estado de
Massachusetts (EUA), afirma que não se pode compreender o desenvolvimento de
uma mudança linguística sem considerar a vida social da comunidade na qual ela se
insere.
Reconhecemos, no entanto, que a sociolinguística também apresenta
limitações, como não possibilitar o estudo da aquisição da linguagem e não dar
conta da gramática universal. A apresentação dos paradoxos se realiza no sentido
de apontar avanços e não de descartar teorias anteriores, fundamentais para o
desenvolvimento da linguística atual. Nesta dissertação, por exemplo, analisamos o
rotacismo com base na fonologia gerativa que, por sua vez, apresenta outros pontos
26
de vista do fenômeno, de modo tão relevante quanto a análise baseada na
sociolinguística.
2.4. COMUNIDADE DE FALA
A definição do que seja uma comunidade de fala é algo complexo. Como bem
afirma Scherre (2006, p. 716), há diferentes pontos de vista, com enfoque em
diferentes aspectos sociais ou formais.
2
Labov (1972 a, p. 248) afirma que a
comunidade de fala não é definida por qualquer acordo marcado no uso de
elementos da linguagem, tanto quanto pela participação em um conjunto de normas
comuns, que podem ser observadas em tipos claros de comportamento de avaliação
e pela uniformidade dos padrões abstratos de variação.
3
Gregory Guy (2000, p. 18), em seu artigo intitulado “A identidade linguística
da comunidade de fala: paralelismo interdialetal nos padrões da variação linguística”,
apresenta três características comuns a diversos estudos na definição de
comunidade de fala:
1. Compartilhamento de características linguísticas, ou seja, uso comum de
palavras, sons, construções gramaticais na comunidade, porém não
comum fora dela;
2. Comunicação interna dentro da comunidade maior que fora dela;
3. Compartilhamento de normas, ou seja, a comunidade compartilha as
mesmas normas em relação à variação estilística e são comuns suas
avaliações sociais de variáveis linguísticas.
No capítulo 5, apresentaremos o grupo de informantes investigado na
pesquisa e as características apontadas em Guy (2000) que possibilitam entender
esse grupo como comunidade de fala.
2
“Some viewpoints emphasize formal or political configurations, while others high-light social or
interactional circumstances, and still others attempt to achieve equilibrium between social and formal
aspects.”
3
“…the speech community is not defined by any marked agreement in the use of language elements,
so much as by participation in a set of shared norms; these norms may be observed in overt types of
evaluative behavior, and by the uniformity of abstract patterns of variation (…).
27
2.5. TEMPO APARENTE X TEMPO REAL
Segundo Labov (1994), o estudo da mudança em progresso pode ser
realizado consoante duas estratégias: a análise em tempo aparente e a análise em
tempo real. A análise em tempo aparente apresenta a distribuição, a frequência de
uso de uma variável em cada faixa etária. Essa estratégia pode revelar
características de determinada faixa etária; no entanto, pode ser insuficiente para
revelar mudança na comunidade.
A combinação da análise em tempo real com a análise em tempo aparente
parece dar conta mais satisfatoriamente do estudo da mudança. A análise em tempo
real se configura pela análise de dois períodos distintos de tempo, porém na mesma
comunidade. Essa segunda análise pode ser realizada pelo estudo “painel”, que se
concretiza pelo recontato dos mesmos indivíduos, após um intervalo de tempo de
pelo menos uma geração (cerca de 18 anos), para o reconhecimento da estabilidade
ou da mudança na fala do indivíduo ou da comunidade. ainda o estudo
“tendência”, com amostras distintas, porém de falantes da mesma comunidade.
Nesta dissertação, os mesmos informantes foram recontactados em um
curtíssimo período de tempo, quatro anos, por acreditarmos que, pelo forte estigma
que recobre o fenômeno do rotacismo e pelas pressões que a escola exerce sobre a
fala dos alunos, a mudança se processa de forma mais rápida.
Além das questões comentadas, a Teoria de Variação enfatiza a
necessidade do tratamento matemático dos dados de fala. Como uma variável
dependente pode possuir diversas variáveis independentes, que podem aumentar
ou diminuir a frequência de cada variante em estudo, necessitamos dispor de um
programa computacional que calcule a significância de cada um desses fatores.
Utilizamos o GoldVarb 3.0, que é uma versão para ambiente Windows do pacote de
programas Varbrul, capaz de calcular os pesos de cada variante e de cada variável
independente, bem como analisar em conjunto esses fatores. No capítulo 5,
detalhamos o programa.
28
3. OS SEGMENTOS LÍQUIDOS: ASPECTOS FONÉTICOS E FONOLÓGICOS
Segundo Callou e Leite (2003, p. 26), “líquida é um termo herdado dos
gramáticos da antiguidade e abrange a classe das laterais e das vibrantes”.
Conforme o próprio vocábulo “líquido” pressupõe, podemos pensar em segmentos
com certa fluidez na produção. Jakobson (1972, p. 72) aponta o deslizamento como
característico na produção dos segmentos líquidos.
O estudo das consoantes líquidas, segundo Oliveira (1983, p. 64), apresenta,
no entanto, certa complexidade por não haver consenso nas análises de diferentes
estudiosos.
Do ponto de vista histórico, o termo “líquido” provém da poesia e da filologia
gregas. Inicialmente, na classe das consoantes líquidas consideravam-se não as
laterais e os róticos, mas também as nasais (ALLEN, 1973, p. 211). Camara Jr.
(1977, p. 40), do mesmo modo, ao falar das consoantes líquidas, cita os gregos,
afirmando que eles assim chamaram essa classe de sons, por compararem-na a um
líquido que obliqua somente na sua direção ao vir correndo e ser interceptado.
As laterais e os róticos o agrupados na classe das líquidas por
compartilharem características fonéticas, fonológicas e fonotáticas (LADEFOGED &
MADDIESON, 1996, p. 182). Além disso, essas consoantes são articuladas com
uma configuração aberta do trato, e, ainda que exista obstáculo à saída do ar, tal
obstáculo não impede que ele escoe livremente. Essa articulação assemelha esses
sons aos vocálicos, situando-se as quidas, portanto, entre os sons consonânticos e
vocálicos (D’INTRONO et al., 1995, p. 113).
Consoante Cunha e Cintra (2001, p. 41), do ponto de vista acústico, os
segmentos líquidos apresentam um traço que os opõe aos demais segmentos
consonânticos: a proximidade com os sons vocálicos. Por isso, as laterais e as
vibrantes recebem a denominação de soantes. Segundo os autores, em algumas
línguas, esses segmentos podem até mesmo servir de centro de sílaba.
29
3.1. A LATERAL
As consoantes laterais, segundo Cunha e Cintra (2001, p. 41), são
caracterizadas pela passagem da corrente expiratória pelos dois lados da cavidade
bucal, em virtude de um obstáculo formado no centro desta pelo contato da língua
com os alvéolos, dentes ou palato. Como o ar é expelido por ambos os lados desta
obstrução, esses segmentos são denominados laterais (SILVA, 2003, p. 34).
Segundo Tasca (2002, p. 271), a corrente de ar não é obstruída oralmente na
produção do segmento lateral, porém desviada. Para Matzenauer (2005, p. 23), na
produção de um som lateral, “o ar sai da boca na vizinhança dos dentes molares”.
Em português, são laterais os segmentos [l] (lateral alveolar vozeada) e [λ]
(lateral palatal vozeada). O primeiro caracteriza-se pelo fato de o articulador ativo,
que é a lâmina da língua, tocar os alvéolos (articulador passivo). o segundo
possui como articulador ativo a parte média da língua e como articulador passivo, a
parte final do palato duro (SILVA, 2003, p. 32).
Para Camara Jr. (2004, p. 49), as laterais são consoantes linguais, pela
atuação da articulação da língua, sendo que para a produção de [l], a ponta da
língua toca os dentes superiores, o que deixa seus lados caídos, e, para a produção
de [λ], “o médio-dorso central da língua se estende no médio-palato”, deixando os
seus lados com o mesmo movimento presente nos lábios. Interessa-nos, nesse
trabalho a lateral alveolar como segundo elemento do grupo consonantal.
3.2. A VIBRANTE
As vibrantes são “caracterizadas pelo movimento vibratório rápido de um
órgão ativo elástico (a língua ou o véu palatino), que provoca uma ou várias
brevíssimas interrupções da passagem da corrente expiratória” (CUNHA e CINTRA,
2001, p. 41).
Segundo Monaretto (2002, p. 253), a vibrante apresenta realizações diversas,
que vão desde a vibrante alveolar à aspiração laríngea, podendo até mesmo sofrer
apagamento em posição final na palavra. Esses sons não-laterais, de acordo com a
30
maneira de articulação, são classificados como vibrante (múltipla), tepe (vibrante
simples) ou retroflexo.
Na produção da vibrante múltipla, produz-se vibração, quando o articulador
ativo toca algumas vezes o articulador passivo, a exemplo da pronúncia “forte” de
“marra”. na produção do tepe, um toque rápido do articulador ativo no
articulador passivo, ocorrendo obstrução rápida da passagem da corrente de ar
através da boca, como em “cara” e “brava”. Na articulação do som retroflexo, a
ponta da língua é o articulador ativo e o palato duro, o articulador passivo. A ponta
da língua se levanta e se encurva em direção ao palato duro. A pronúncia de “mar
no dialeto caipira é retroflexa. (SILVA, 2003, p. 34).
Segundo Callou & Leite (2003, p. 74), no que concerne à vibrante do
português, embora o r ocorra em variados contextos, tradicionalmente, há duas
espécies que, fonologicamente, se opõem apenas em posição intervocálica (caro:
carro). Nos outros contextos, segundo as autoras, a oposição fica neutralizada.
Wiese (2001, p. 335), diante dos diversos tipos de r, questiona o
reconhecimento de uma unidade nesses segmentos que, por sua vez, são
denominados róticos
4
. Para Wiese, o traço rótico é problemático por não ter um
correlato fonético.
5
Questiona a unidade desses segmentos, embasada, por
exemplo, em termos de traços segmentais. Desse modo, propõe que os róticos
sejam definidos em termos de traços prosódicos.
Após apresentar várias abordagens a respeito da vibrante e refutá-las, Wiese
(op. cit.) apresenta sua proposta para a unificação dos róticos. Para tal, questiona a
escala de sonância proposta por Clements (1990), na qual as duas quidas
possuem o mesmo valor de sonância: Obstruintes > Nasais > Líquidas > Glides >
Vogais. Wiese propõe então uma revisão dessa hierarquia. Segundo o autor, o /r/
deve ter seu próprio valor na escala de sonância, situado entre a consoante lateral e
os glides.
6
O autor apresenta algumas línguas como exemplo. Aponta algumas
sequências na coda que, em outras línguas, denunciam que o /r/ é mais alto na
4
Phoneticians and phonologists have always referred to a type of sound segment symbolized by "r",
and recognized that this comes in various varieties. The Ipa-system recognizes at least eight such
kinds of "r", which can be very different from each other. The problem then in this: what makes the
unity of these r-sounds, or rhotics? Ladefoged and Maddieeson (1996) in their survey of r-sounds
conclude that there is no phonetic basis for a unity within this otherwise well-motivated class, and see
only a historical and orthographic basis for referring to a group of r-sounds.” (Wiese, 2001,335)
5
“...[rhotic] works more like a cover feature, one with no phonetic correlate and no basis identifiable in
the data.” (Wiese, 2001,344)
6
“…/r/ is the point on the sonority scale between laterals and vowels” (Wiese, 2001, p.350).
31
hierarquia de sonância que o /l/, e este é superior à nasal, pois o Princípio de
Sequenciamento de Sonância postula uma coda com queda de sonância.
Nesse sentido, para Wiese (op. cit., 360), o rotacismo, deve ser visto não
como mudança segmental, mas como uma mudança em termos de pontos na
hierarquia de sonância.
7
Como vimos, na escala de sonância de Wiese um lugar
para a lateral e outro para a vibrante.
No português brasileiro, embora ocorram várias realizações das vibrantes,
existe um padrão de distribuição, ou seja, a vibrante múltipla (incluindo o flape
alveolar, a fricativa velar e a aspirada, entre outros) e a vibrante simples (tepe)
ocorrem nos mesmos ambientes e se revezam por diferentes contextos. O quadro
abaixo possibilita visualizar a distribuição entre os róticos, nele referenciados, do
mesmo modo que em Camara Jr. (2004), como vibrante simples (tepe) e múltipla
(realizações variadas):
QUADRO 2: DISTRIBUIÇÃO DOS RÓTICOS (CAMARA JR, 2004)
contextos simples múltipla
V – V (intervocálico) fera ferra
V – (coda silábica) cor (RJ) cor (RS)
C–V (grupo consonântico) praça
C. – V (após coda) Israel, honra
– V (início de palavra) rato
Dickey (1997, 171-172), por sua vez, afirma não haver uma propriedade única
compartilhada por todos os róticos e sim uma família de semelhanças cuja base
fonética não é única, mas um conjunto de propriedades ligadas. Define a classe dos
róticos por traços de Ponto de Consoante. Os róticos, desse modo, seriam sons com
um Laminal não primário (Coronal>Apical>Laminal), como veremos no capítulo
seguinte.
7
“A rhotacism in the sense of “some sound turns into /r/” should then be seen not as segmental
change, but as a change in terms of points on the sonoroty hierarchy”. (Wiese, 2001, 360)
32
4. ROTACISMO
As mudanças fônicas que ocorreram nas palavras ao longo de sua história
(metaplasmos) são apresentadas, do ponto de vista histórico, como um processo
natural de variação da língua. Na perspectiva sincrônica, entretanto, as variantes são
consideradas “erros” com relação à forma padrão por muitos estudiosos da língua.
Nesse sentido, mostra Bagno (2005, p. 40), “o preconceito linguístico se baseia na
crença de que existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria
a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos
dicionários”. Para o autor, todavia, devem-se considerar as variantes linguísticas das
camadas mais populares dentro de um contexto de bilinguismo ou plurilinguismo.
Reassumindo o tema da evolução fonética, dividem-se os metaplasmos em
quatro tipos: permuta (transformação ou troca), adição (aumento), subtração
(diminuição) e transposição (COUTINHO, 1968). Esta investigação compreenderá
um metaplasmo por permuta, o rotacismo.
Segundo Freire (1987, p. 28), rotacismo é o “fenômeno fonético em virtude do
qual a fricativa dental s, em posição intervocálica, se sonoriza na vibrante sonora r”,
como ocorreu na palavra latina arbos>arbosis>arboris.
Sincronicamente, temos vários exemplos desse fenômeno, como em
pobrema, pranta, Framengo, úrtimo, arface, paper, crasse, Cráudia, chicrete,
exempro. Como se pelos exemplos, qualquer permuta de uma lateral por um
rótico constitui caso de rotacismo. Na dissertação, no entanto, restringimo-nos à
análise do rotacismo nos grupos consonantais tautossilábicos, ou seja, adotamos o
conceito de rotacismo como a transformação do segmento [l] em [Ȏ].
Conforme Gomes e Souza (2007, p. 76), a alternância entre as líquidas, ou
rotacismo, é bastante antiga, conforme podemos observar no Appendix Probi (cf.
clatri non cracli), e, em determinado momento, passou da condição de mudança em
progresso à condição de variação estável. As autoras baseiam sua afirmativa em
textos do português arcaico e em gramáticos, como Fernão de Oliveira.
Castilho (2006, p. 249), ao descrever a variedade de sujeitos não-
escolarizados do português falado, apresenta como uma das características a troca
entre as líquidas, com documentação em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco,
33
Bahia e Rio Grande do Sul. Apresenta as conclusões de Head (1985) no estudo
desse fenômeno na Bahia: as líquidas são alternantes, com frequência maior de uso
na posição de coda não final de palavra e como segundo elemento do grupo
consonantal. Além disso, as formas com [Ȏ] predominam na fala de homens
analfabetos e a pronúncia com [l], na fala das mulheres alfabetizadas. Esse autor
destaca a ocorrência de rotacismo no Norte de Portugal, como prova contrária à
hipótese meridionalista da origem do português brasileiro.
Camara Júnior (1970, p. 55) afirma que o quadro consonântico do português
atual apresenta oposições instáveis, transitórias, mesmo no estilo de articulação
cuidada da língua padrão. Para o autor, as mudanças se processam no estilo
relaxado da língua padrão, ou por intromissão de subsistemas dialetais. Nesse
sentido, afirma que “é bil a oposição entre /l/ e /r/ (a preferência é para a última)
quando em seguimento à constritiva labial ou oclusiva (cf. fluir “correr (um líquido)”:
fruir “gozar”) e a língua literária tem casos até de variação livre” (cf. flecha ao lado de
frecha). O mesmo autor (2004, p. 51) reconhece o fenômeno do rotacismo como um
dos contrastes precários, presentes “nos dialetos sociais inferiores e mesmo num
registro muito familiar”. Segundo o autor, nos grupos de líquidas como segundo
elemento do grupo consonantal, nos dialetos sociais populares o rotacismo de /l/,
que se transforma em /r/.
Para Wiese (2001, p. 360), o rotacismo seria resultado de uma mudança em
termos de pontos na hierarquia de sonância e não uma mudança segmental, como
vimos no capítulo 3. Assim, postula que a vibrante, sendo uma unidade prosódica,
encontra-se com valor de sonância superior à lateral, fato que pode favorecer o
rotacismo. Na abordagem de Dickey (1997, p.171-172), o rotacismo pode ser visto
como resultado da perda do traço dorsal no coronal e do acréscimo de um
laminal não primário. A autora considera que os segmentos líquidos são
especificados com o traço [líquido] no de raiz e com um de ponto de
consoante complexo, apical-laminal nos róticos e coronal-dorsal nas laterais.
De acordo com a escala de sonância de Kiparsky (1979) e Bonet e Mascaró
(1996), o rotacismo pode ser resultado das diferenças de sonância entre a vibrante,
a lateral e o tepe. Os valores distintos entre esses segmentos justificam a
predominância da vibrante no ataque, pois o crescimento de sonância seria mais
abrupto (da vibrante à vogal), e do tepe como segundo elemento de grupo
34
consonantal (ataque complexo) ou na coda silábica. Como a teoria postula que o
ataque complexo tenha uma subida maior de sonoridade, prefere-se o tepe à lateral
nesse contexto. Como podemos observar na escala de sonância abaixo, o tepe está
mais próximo dos segmentos vocálicos, portanto possui maior valor de sonância que
a lateral:
QUADRO 3: ESCALA DE SONÂNCIA DE BONET E MASCARÓ (1996)
Oclusivas > Fricativas e Vibrantes > Nasais > Laterais > Glides e Tepe > Vogais
4.1. PONTO DE VISTA HISTÓRICO
A relação entre a diacronia e as variedades do português não-padrão é de
extrema importância para o presente estudo, visto que o fenômeno aqui abordado,
representativo no português não-padrão, embora encarado como demonstração do
uso incorreto da língua, reflete processos fonológicos que contribuíram para a
formação do português padrão.
Observando o quadro abaixo, retirado de Bagno (2005, p. 41), comprovamos
que esse fenômeno atual da língua apresentou-se em outros momentos históricos:
QUADRO 4 – ORIGEM DO PORTUGUÊS PADRÃO (BAGNO 2005)
PORTUGUÊS PADRÃO ETIMOLOGIA ORIGEM
branco
Blank
germânico
brando
Blandu
latim
cravo
Clavu
latim
dobro
Duplu
latim
escravo
Esclavu
latim
fraco
Flaccu
latim
frouxo
Fluxu
latim
grude
Glúten
latim
obrigar
Obligare
latim
praga
Plaga
latim
prata
Plata
provençal
prega
Plica
latim
35
Analisando o quadro, observamos uma tendência da língua à rotacização do
/l/ nos encontros consonantais formados tanto por oclusivas quanto por fricativas. Do
mesmo modo, verifica-se essa inclinação no português não-padrão. Entretanto, esse
falar é considerado “errado”, por ser comumente realizado nas classes sociais mais
baixas, nas quais o acesso à escola ainda é muito limitado.
Para demonstrar essa visão preconceituosa, Bagno (2005, p. 45) apresenta
trechos do ilustre poeta Luís de Camões, em Os Lusíadas, nos quais se verificam
palavras rotacizadas: “E não de agreste avena, ou frauta ruda” (canto I, verso 5).
Como “o estudo do passado para iluminar o presente” constitui uma
importante via de análise linguística (FARACO, 1990), a abordagem do fenômeno no
latim vulgar pode nos trazer dados relevantes para a investigação do rotacismo em
grupos consonânticos no português não-padrão da comunidade de fala aqui
relevada.
Segundo Ismael de Lima Coutinho (2005, p. 30), o latim vulgar era falado
pelas classes mais humildes da sociedade romana. Dessas classes, faziam parte as
pessoas ditas “incultas”, sem preocupações literárias ou artísticas: agricultores,
homens de circo, soldados, enfim, aqueles não-escolarizados ou que da escola
reservaram apenas conhecimentos indispensáveis à profissão.
Essa gente do povo, segundo Bagno (2005, p. 41), era enviada para os
territórios conquistados pelas legiões romanas, a fim de colonizar novas terras para
o Império. Além de colonizar as terras, cidadãos romanos pobres transmitiram sua
língua para os habitantes originais das províncias conquistadas. Desse latim
simples, surgiram as línguas românicas, dentre elas o português. Essa língua, ao
contrário do latim clássico (latim falado por poetas e oradores), era uma ngua de
grande flexibilidade.
Embora tenha originado tantas línguas, “um romano de alta linhagem
certamente achava que o latim vulgar era ‘latim falado errado’” (BAGNO, 2005, p.
41), exatamente o mesmo preconceito que sofrem pessoas que falam Framengo,
crube, bicicreta.
36
Uma das fontes do latim vulgar que demonstra claramente a não-aceitação
desse sermo vulgaris
8
é o “Appendix Probi”. Esse documento, que data,
provavelmente, do século III d.C., teria sido escrito por um autor anônimo, de origem
africana. O “Appendix Probi” possui 227 registros de vocábulos incorretos e sua
correção, procurando preservar a norma culta e considerada “correta” da língua
latina. Por outro lado, revelou-nos claramente a língua falada pelo povo. Recebeu o
nome de Probi, visto essa fonte ter sido encontrada em apêndice à gramática de
Valério Probo, que viveu no século I d.C.
9
. Na listagem, registro de duas palavras
rotacizadas:
a) flagellum non fragellum
b) clatri non cracli
É interessante verificar a tendência ao rotacismo, tanto no latim vulgar, quanto
no PNP, e observar, ainda, a semelhança entre os contextos social, econômico e
cultural favorecedores da ocorrência do fenômeno, independentemente de
realizações em épocas bastante distantes.
Viaro (2005, p. 233), ao descrever a origem das variantes no português,
afirma que “rotacismos de encontros consonantais como pl>pr datam desde os
empréstimos latinos no período medieval e são encontrados em toda parte, do Brasil
à China, incluindo o Português Europeu”.
No caso do rotacismo nos grupos consonantais, variação estável
(GOMES, 1987): a alternância entre as líquidas, no português brasileiro, perpassa
toda sua história, desde sua formação, sem a substituição total de uma variante em
favor de outra.
4.2. CARACTERÍSTICAS FONOTÁTICAS
Utilizando-se como base o dialeto carioca, observa-se que as consoantes /l/ e
/Ȏ/ assemelham-se também do ponto de vista fonotático, visto que, na sílaba,
8
Sermo vulgaris é linguagem da vida corrente, da vida cotidiana, linguagem mais familiar ou linguagem
coloquial” (Freire, 1998: 382).
9
Informações extraídas de ARAUJO, Ruy Magalhães de. Fontes do latim vulgar, com alguns comentários ao
Appendix Probi por Serafim da Silva Neto. Disponível na internet via http://
www.filologia.org.br/soletras/5e6/07.htm.
Rio de Janeiro, 10 dez. 2005. Arquivo consultado em : 23 abr. 2006.
37
ocupam praticamente as mesmas posições: ambas podem apresentar-se sozinhas
na posição prevocálica /l/ no começo e no meio de palavras e /Ȏ/, apenas no meio,
como se vê no esquema a seguir, com os respectivos exemplos:
Consoante início de palavra meio de palavra
/ l /
/ l / ata ma / l / a
/ Ȏ /
_*
ka / Ȏ / a
* Encontramos o tepe em início de palavra, na fala de algumas pessoas, porém não no
dialeto carioca.
Os segmentos em questão podem figurar como a segunda consoante
prevocálica em encontros consonantais, como se nos exemplos abaixo, extraídos
de Cristófaro Silva (2003: 156):
QUADRO 5: DISTRIBUIÇÃO DAS DUAS CONSOANTES PREVOCÁLICAS (SILVA, 2003)
Encontro
consonantal
Início de palavra Meio de palavra
/p Ȏ/ /p Ȏ/ece a/p Ȏ/eço
/p Ȏ/
/p l/ano a/p l/ica
/b Ȏ/ /b Ȏ/asil a/b Ȏ/e
/b l/ /b l/oco em/b l/ema
/t Ȏ/ /t Ȏ/ato a/t Ȏ/ás
/t l/ _____________ a/t l/as
/d Ȏ/ /d Ȏ /acula enqua/d Ȏ /ei
/d l/ _____________ _____________
/k Ȏ/ /k Ȏ/avo la/k Ȏ/ei
/k l/ /k l/áusula es/k l/erose
/g Ȏ/ /g Ȏ/ave ma/g Ȏ/a
/g l/ /g l/utão en/g l/oba
/f Ȏ/ /f Ȏ/aco Á/f Ȏ/ica
/f l/ /f l/ama a/f l/uente
38
/v Ȏ/
_____________
li/v Ȏ/o
/vl/ /vl/admir _____________
Os encontros consonantais com /Ȏ/ são mais frequentes na língua portuguesa.
Pode-se mesmo dizer que aqueles com /l/ constituem formas congeladas que
sobreviveram através do freio imposto artificialmente por convenções ortográficas
que interromperam, na modalidade escrita, a tendência natural do português ao
rotacismo na modalidade oral: são combinações não mais produtivas na língua em
seu estágio atual. Como se pode observar acima, várias células vazias para a
combinação de uma consoante com /l/, o que não acontece com /Ȏ/, que
praticamente não apresenta restrições (exceto na combinação com /v/ em início de
palavra).
Fato digno de nota é a fragilidade da oposição entre esses segmentos na
situação ora focalizada. Há, na língua, pouquíssimos pares mínimos envolvendo a
permuta e muitos deles constituem formas eruditas, pouco usuais no PNP:
/f l/ uir
/f Ȏ/ uir
/g l/ ande
/g Ȏ/ ande
/b l/ indar
/b Ȏ/ indar
/f l/ anco
/f Ȏ/ anco
/g l/ ossa
/g Ȏ/ ossa
/c l/ ave
/c Ȏ/ ave
As consoantes /l/ e /Ȏ/ figuram, também, na posição posvocálica, em sílabas
travadas, quer no meio, quer no fim da palavra. Vejam-se os exemplos no quadro
abaixo:
QUADRO 6: LÍQUIDAS NA POSIÇÃO POSVOCÁLICA
Consoante Meio de palavra Final de palavra
/ l / fa / l/ ta cana / l /
/ Ȏ / a / Ȏ / ma ma / Ȏ /
39
Também são raros os pares mínimos nessa oposição, a exemplo de ‘falto’ e
‘farto’. Nesse caso, a oposição se perde porque está praticamente consolidada a
vocalização da lateral na posição de coda silábica. A realização de uma alveolar
velarizada, [ǻ], é encontrada em pouquíssimas áreas dialetais brasileiras (CALLOU
& LEITE, 2002).
4.3. FONÉTICA E FONOLOGIA
As consoantes /l/ e /Ȏ/ são muito parecidas do ponto de vista articulatório, fato
que pode justificar, em termos de produção, a troca de uma consoante pela outra.
Na fonologia de inflexão estruturalista, tais segmentos são comumente referenciados
como no quadro a seguir:
QUADRO 7: ARTICULAÇÃO DAS LÍQUIDAS
/
l
/ /
Ȏ
/
Ponto de articulação
alveolar alveolar
Modo de articulação
lateral vibrante
Ressonância
oral oral
Vibração laríngea
sonora sonora
Quanto à articulação, percebe-se que a diferença entre os dois segmentos
reside apenas no modo de articulação: enquanto o primeiro é lateral, ou seja, o som
é produzido à medida que o ar escapa pelos lados de um obstáculo formado no
centro da cavidade bucal pelo contato do ápice da língua com os alvéolos, o
segundo é vibrante simples (um tepe). Assim, o som é produzido à medida que o ar
escoa por uma passagem estreita formada por um toque rápido da lâmina da língua
contra os alvéolos.
Tomando como base os traços binários propostos por Chomsky e Halle
(1968), no escopo da fonologia gerativo-transformacional chamada de standard,
pode-se apresentar uma matriz descritiva para tais sons (cf. Christófaro Silva, 2003:
195), de modo a salientar ainda mais as semelhanças entre eles:
40
QUADRO 8: MATRIZ FONÉTICA (CHOMSKY E HALLE, 1968)
/l
ll
l/ /Ȏ
ȎȎ
Ȏ/
Soante + +
Contínua + +
Anterior + +
Coronal + +
Sonora + +
Nasal - -
Lateral + -
Como se pode observar no quadro acima, uma única diferença entre os
segmentos em análise, levando-se em conta uma abordagem baseada em traços, é
detectada na última linha das matrizes: enquanto /l/ é especificado positivamente
para o traço [lateral], /Ȏ/ é marcado negativamente para esse mesmo traço. Nas
demais propriedades fonológicas, portanto, os segmentos são idênticos.
A Fonologia Autossegmental trabalha não apenas com matrizes de traços e
com segmentos completos, como a acima citada, mas também com a segmentação
de maneira independente de partes dos sons das nguas. Ao contrário de Chomsky
& Halle (op. cit.), rejeita a bijectividade, relação de um-para-um entre um segmento e
o conjunto de traços que o caracteriza. Nesse sentido “os traços podem estender-se
além ou aquém de um segmento” e o “apagamento de um segmento não implica
necessariamente o desaparecimento de todos os traços que o compõem”
(MATZENAUER, 2005, p.45).
Cagliari (2002, p. 125) afirma que a abordagem da Fonologia Autossegmental
“difere basicamente da forma como os traços eram tratados, ou seja, formando
matrizes, cujo resultado era apenas um feixe de elementos ajuntados
aleatoriamente”. Nesse novo modelo, as regras passam a agir sobre os traços e não
sobre as matrizes, como no modelo anterior.
Além de rejeitar a relação bijetiva entre segmento e traços que o compõem, a
Fonologia Autossegmental reconhece que existe uma hierarquização entre os traços
que caracterizam determinado segmento da língua; desse modo, o segmento
apresenta uma estrutura interna. Com o reconhecimento dessa hierarquia, os
41
segmentos o analisados em camadas (tiers), ou seja, o som é dividido em partes
que podem ser manipuladas de modo independente (MATZENAUER, 2005, p. 46).
A Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME, 1995) faz parte do modelo
autossegmental; entretanto amplia a concepção autossegmental, por organizar
hierarquicamente os traços. Segundo Clements & Hume (1995, p. 251) os valores
dos traços são ordenados em camadas separadas, onde podem entrar em relações
não-lineares (não-bijetivas entre si); traços o, ao mesmo tempo, organizados
numa hierarquia (‘árvore’) e essa hierarquia obedece a critérios específicos (nível de
constrição). Os traços se apresentam em fileiras hierarquizadas, nas quais cada
constituinte pode funcionar como uma unidade individual nas regras fonológicas.
Nesse modelo, os traços são organizados em camadas e agrupados em nós
de classe (no final de um nó classe está um traço terminal). Os nós emanam
diretamente da raiz (o lugar que os traços mais importantes ocupam, no topo). A
raiz, por sua vez, está ligada a uma posição de esqueleto, que corresponde a uma
unidade abstrata de tempo. Na representação esquemática a seguir, observa-se a
organização dos traços no modelo de Clements & Hume (1995, p. 249):
FIGURA 1: ÁRVORE DE ORGANIZAÇÃO DOS TRAÇOS (CLEMENTS & HUME, 1995)
a
D
C
B
A
r
X
b
c
d
e
f
g
42
Apresentamos, na figura abaixo, a forma de organização das consoantes pela
Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME,1995, p. 292):
FIGURA 2: ORGANIZAÇÃO DAS CONSOANTES PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS
No esquema acima, percebe-se uma configuração hierárquica em uma
estrutura arbórea, na qual os traços estão organizados em camadas e agrupados
em nós de classe, que designam unidades funcionais de traços, incluindo o
laringal, o do local de articulação, o da cavidade oral, dentre outros. Os nós
dependem diretamente da raiz (que corresponde ao som da fala); cada nó, terminal
ou não-terminal, constitui um plano independente e hierarquizado (CLEMENTS &
HUME, 1995, p. 249).
Na representação acima, de modo detalhado, verifica-se que:
[espalhado]
Cavidade
oral
Laringal
[nasal]
rai
z
[constrito]
[vozeado]
Local de c [contínuo]
[labial]
[coronal]
[dorsal]
[anterior]
[distribuído]
+ soante
+
aproximante
+ vocóide
43
1. uma relação direta entre a raiz e os traços de modo de articulação que
constituem as duas grandes classes de sons ([cons] e [soan]), especificando-
se, portanto, o nível de constrição;
2. Da raiz, desdobram-se imediatamente dois traços de modo de articulação:
([lateral] e [nasal]);
3. Da raiz, emanam, ainda, dois nós de classe ligados ao vozeamento e ao
ponto de articulação (Laríngeo e Cavidade Oral);
4. Os nós de classe são escritos em maiúsculas e os traços entre parênteses
retos;
5. Do nó Laríngeo, ramifica-se o traço [vozeado];
6. Do Cavidade Oral, provêm os traços [contínuo] e os 3 nós de classe do
ponto de articulação: o Labial, o Coronal (de que dependem os traços
[anterior] e [distribuído]) e o Dorsal;
7. Deve especificar-se, ainda, entre o Cavidade Oral e os 3 traços de ponto
de articulação, se se trata de um Ponto de V (articulação vocálica) ou Ponto
de C (articulação consonantal).
Essa estrutura se justifica, segundo Matzenauer (2005, p.52), pois atende ao
“princípio de que as regras fonológicas constituem uma única operação, seja de
desligamento de uma linha de associação ou de espraiamento de um traço”. Como
os traços funcionam de modo solidário em regras fonológicas, são agrupados em um
mesmo nó de classe.
Sendo a fala produzida pelo uso de vários articuladores (lábios, parte anterior
da língua, corpo da língua, raiz da língua, palato mole, laringe) que funcionam de
modo independente e que exercem papel fundamental na organização estrutural dos
segmentos, Clements e Hume (1995, p. 292) propõem a representação desses
articuladores por seus próprios nós (nós de classe).
Na representação a seguir, descrevem-se, nesta ordem, a lateral alveolar e o
tepe, ambos caracterizados, no de raiz, como [+soante, +aproximante, -vocálico],
por serem segmentos soânticos. Como se vê, a diferença está na especificação
[lateral], presente apenas em /l/:
44
FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO DA LATERAL PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS
Cavidade oral
Laringal
[lateral]
raiz
/ l /
[+vozeado]
Local de c [+contínuo]
[coronal]
[+anterior]
[+distribuído]
+ soante
+ aproximante
- vocóide
45
FIGURA 4: REPRESENTAÇÃO DA VIBRANTE PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS
As configurações acima refletem a estrutura interna de um segmento e têm
uma base fonética (articulatória). Os traços redundantes não devem estar presentes
na representação de um segmento, que são previsíveis. A Geometria de Traços
vale-se dessa representação/organização para explicitar e descrever os processos
que podem ocorrer numa dada língua ou num dado enunciado de fala.
A estrutura arbórea possibilita expressar a naturalidade dos processos
fonológicos que ocorrem nas línguas do mundo, atendendo ao princípio de que as
regras fonológicas constituem uma única operação, seja de desligamento de uma
Cavidade oral
Laringal
raiz
/ r /
[+vozeado]
Local de c [+contínuo]
[coronal]
[+anterior]
[+distribuído]
+ soante
+ aproximante
- vocóide
46
linha de associação ou de espraiamento de um traço (MATZENAUER, 2005).
Consequentemente, a estrutura apresenta, sob o mesmo de classe, traços que
funcionam solidariamente em processos fonológicos. Portanto, os nós têm razão de
existir quando há comprovação de que os traços que estão sob o domínio funcionam
como uma unidade em regras fonológicas.
Mostramos, na seção precedente, que o sistema de traços de Chomsky e
Halle (1968) diferencia as líquidas em análise pela especificação +/- no traço
[lateral]. De modo análogo o faz a Geometria de Traços (doravante GeoTr), apesar
de apresentar esse traço de modo hierarquizado (e o disposto aleatoriamente
numa matriz) e interpretá-lo como monovalente (sem especificação +/-). Na GeoTr, o
rotacismo pode ser descrito pelo desligamento do traço [lateral], referenciado apenas
em /l/, como se na representação a seguir, em que o desligamento é formalizado
com o corte da linha de associação que liga [lateral] diretamente ao nó de raiz.
FIGURA 5: REPRESENTAÇÃO DO ROTACISMO PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS
Cavidade
oral
Laringal
[lateral]
raiz
/ r /
[+vozeado]
Local de c [+contínuo]
[coronal]
[+anterior]
[+distribuído]
+ soante
+ aproximante
- vocóide
47
No âmbito da GeoTr, estudos que postulam outras possibilidades de
organização dos traços e que, até mesmo, questionam a existência de alguns deles.
Para Wiese (2001), por exemplo, o rotacismo seria resultado de uma
mudança em termos de pontos na hierarquia de sonância e não uma mudança
segmental. Assim, postula o autor que a vibrante, sendo uma unidade prosódica,
encontra-se com valor de sonância superior à lateral, fato que pode favorecer o
rotacismo, como vimos no capítulo precedente.
Dickey (1997), por sua vez, defende a abordagem para a qual as líquidas são
diferenciadas por traços de ponto e não de modo. O traço lateral é abolido nessa
versão. Ao nó de raiz é acrescido o traço [líquido], de modo a especificar as
consoantes líquidas laterais e os róticos. Na proposta de Dickey (op. cit.), do
coronal não mais emanariam os traços [anterior] e [distribuído]; as laterais seriam
definidas pela dorsalidade e os róticos, pela articulação apical e pelo traço [laminal]
não primário, conforme podemos observar na representação abaixo (DICKEY, p.67 e
106):
FIGURA 6: REPRESENTAÇÃO DA LÍQUIDAS (DICKEY, 1997)
/l/ /r/
PC
Coronal
PC
Coronal
Dorsal Apical
Laminal
Como a articulação lateral é consequência de um ponto de consoante
coronal-dorsal, o traço [lateral] torna-se redundante, sendo, desse modo,
dispensável na representação.
Quanto à lateral alveolar e o tepe, objetos de estudo nesta dissertação, temos
a seguinte representação (DICKEY, p. 172 e 174):
48
FIGURA 7: REPRESENTAÇÃO DA LATERAL E DO TEPE (DICKEY, 1997)
[l]
[Ȏ]
líquido
+ soante
+ cons.
PC
líquido
+ soante
+ cons.
PC
Coronal Coronal
Dorsal
Apical
Apical
Laminal
De acordo com Dickey (1997), o rotacismo é resultado da perda do traço
[dorsal] no nó coronal e do acréscimo de um nó [laminal] não primário, como ilustra a
representação a seguir:
FIGURA 8: REPRESENTAÇÃO DE ROTACISMO (DICKEY, 1997)
[líquido]
PC
Coronal
Dorsal
Apical
[laminal]
49
Como se vê, o rotacismo nos grupos consonânticos pode ser descrito com
bastante naturalidade na GeoTr: trata-se de uma operação fonológica que manipula
um traço hierarquizado seja ele [lateral], no modelo de Clements & Hume (1995),
ou [dorsal], na proposta de Dickey (1997). Cabe, no entanto, mostrar sob que
condições o processo se aplica, que constitui operação variável em português. No
próximo capítulo, com base em resultados estatísticos, analisamos as variáveis
linguísticas e extralinguísticas relevantes.
50
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE VARIACIONISTA
5.1. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
Neste trabalho, utilizamos o GoldVarb 2001, que é uma versão para ambiente
Windows do pacote de programas VarbRul (Variable Rules Analysis). Segundo Guy
e Zilles (2007, p.105), o GoldVarb “é um conjunto de programas computacionais de
análise multivariada, especificamente estruturado para acomodar dados de variação
sociolinguística”. Esse programa foi idealizado por Steve Harlow, que tomou como
base a versão anterior, GoldVarb 2.0, de Rand & Sankoff (1990) para Macintosh. O
GoldVarb 2001 foi desenvolvido na Universidade de York, como um projeto
colaborativo entre o Departamento de Língua e Linguística e o Departamento de
Ciências da Computação (ROBINSON, LAWRENCE & TAGLIAMONTE, 2001).
Por ser um aplicativo .exe (executável), o necessita de instalação ou de
outros programas para complementá-lo. Os resultados da análise obtidos através do
GoldVarb 2001 são evidências que vão auxiliar o pesquisador a confirmar ou não
sua hipótese inicial. Assim, se um fenômeno linguístico tem seus grupos de fatores
apontados como não significativos pelo programa, a hipótese é rejeitada; se os
grupos de fatores são significativos, mas a influência dos fatores o é como se
previu no valor de aplicação, a hipótese também é rejeitada; se os grupos de fatores
são significativos e a influência dos fatores é como a prevista no valor de aplicação,
a hipótese é confirmada.
Segue abaixo um modelo de como foi organizado o arquivo de dados no
Goldvarb:
QUADRO 9: MODELO DE CODIFICAÇÃO GOLDVARB
(0fnhxStIA
p[Ȏ]ástico
(2moixRtNL prob[Ø]ema
51
A codificação representada na primeira linha acima significa que, na palavra
“plástico”, proferida por um informante do sexo feminino, ocorreu o rotacismo (0).
Tanto o pai (n) quanto a mãe (h) dessa informante possuem Ensino Fundamental
incompleto. Nesse exemplo, o primeiro elemento do grupo consonantal é oclusivo
(x). O segmento que precede à líquida é surdo (S). Além disso, a sílaba com grupo
consonantal é tônica (t) e inicial (I). Por fim, não nessa palavra outro segmento
líquido (A). Na segunda linha, ocorreu apagamento (2) da líquida do grupo
consonantal. Trata-se de um informante do sexo masculino, seu pai (o) e sua mãe (i)
possuem Ensino Fundamental completo. O primeiro elemento do grupo consonantal
é oclusivo (x) e sonoro (R). A sílaba do grupo consonantal é tônica (t) e não-inicial
(N). Por fim, nessa palavra outra líquida, a vibrante na primeira sílaba, além da
que aparece no grupo consonantal (L).
Os dados codificados são salvos em uma extensão “.tkn”. Ao renomearmos a
pasta, usamos o nome de nossa variante enfocada: Rotacismo.tkn.
Após esse passo, procedemos à inserção e especificação dos grupos de
fatores (variáveis estruturais e sociais).
52
Para inserção dos grupos de fatores no programa, visualizamos a janela
Groups, através da janela página principal, e clicamos em View > Groups. Nessa
etapa, priorizamos como grupo 1 a variável dependente e, em seguida, as
independentes. Nas entrevistas, encontramos três variantes em competição: (0)
rotacismo (utilização da vibrante no grupo consonantal), (1) padrão (utilização da
lateral no grupo consonantal) e (2) apagamento da líquida. Por isso, foram inseridos
três fatores nesse primeiro grupo (0, 1, 2), sendo considerado Default, ou seja, fator
base, a variante rotacismo (0). No programa, para adicionarmos novos grupos de
fatores, clicamos na janela group, depois em New Group. Em seguida, clicamos no
número do grupo e na caixa New Factor digitamos os fatores e clicamos em add
para adicioná-los. No campo Default, digitamos o fator considerado base. Repetimos
esses passos com cada grupo de fatores. Para finalizarmos, salvamos em Save to
token file e Ok.
O GoldVarb 2001 possui um comando que nos permite verificar se algum
erro de digitação na sequência de códigos. Realizamos a verificação por meio da
janela token, clicando em Action > No recod. Na janela Token, clicamos em Action >
Check Tokens. Após esse passo, o programa cruza os dados digitados com os
fatores especificados para as variáveis, apontando possíveis erros.
53
Ao comando Chec Tokens, o GoldVarb faz uma verificação e nos aponta
possíveis erros nos códigos digitados (números ou letras trocadas, sequência de
códigos inválida etc.). Ao indicar os erros, o programa sempre informará o grupo
onde está o erro e a linha onde foi digitado, facilitando a localização. Após as
correções, aplicamos novamente o comando Check Tokens.
Se são executadas todas as correções indicadas, o programa informa o
número de fatores inseridos e a quantidade de linhas utilizadas.
Uma vez digitados os grupos e os fatores, vamos para os comandos que
definirão os primeiros resultados da análise quantitativa. Isso é obtido, na janela
principal, com um clique em View > Results. Na janela Results, clicando em Action >
Load cell to memory, o programa solicita que se informe o valor de aplicação. O
valor de aplicação define qual das variedades estudadas é nossa hipótese de
“preferência dos falantes”. Nesse caso, nossa hipótese é de que a maioria dos
falantes tende à troca l ~ r; assim, marcamos o código 0 como nosso valor de
aplicação.
54
São dois os problemas mais comuns nas rodadas do programa: KnockOut e
Singleton Group. KnockOut ou nocaute é uma terminologia de análise do GoldVarb
(também utilizada em todos os programas da rie VarbRul): “é um fator que, num
dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um
dos valores da variável dependente” (GUY e ZILLES, 2007, p. 158). O nocaute é um
problema analítico no processamento dos dados com GoldVarb, uma vez que um
grupo de fatores é zero, não variação e o programa não tem com o que exprimir
pesos e frequências. Assim, quando obtemos um nocaute nos resultados, significa
que, para um determinado fator, não há seu par opositor nos dados colhidos dos
informantes.
55
No exemplo acima, temos um KnockOut, pois, para o grupo adjetivos (a),
encontramos frequência 0% para /l/ e 100% para /r/.
Singleton Group é uma terminologia utilizada pelo GoldVarb para indicar a
ocorrência de um único fator dentro do grupo de fatores, ou seja, significa que na
tabela Groups, há um grupo de fatores com somente um código na coluna Factors.
Nesse caso, portanto, temos a ocorrência de um Singleton Group, pois para o
grupo (2) só ocorreram substantivos (s).
duas possibilidades para a correção desses problemas: acrescentar um
dado fictício no grupo de fatores nulo e rodar o programa novamente ou excluir os
grupos de fatores em questão, uma vez que não apresentaram variação. Corrigidos
os problemas, vamos para a segunda etapa de resultados: Cross Tabulation, o que
é obtido, na janela Results, clicando-se em Action > Cross Tabulation > Text.
56
Os resultados Cross Tabulation aparecem na própria janela Results. Até esta
etapa, o GoldVarb 2001 apresenta resultados referentes ao número de ocorrências e
às percentagens. As próximas duas etapas de análise nos fornecem resultados
referentes ao input, peso relativo e grupos favoráveis à ocorrência do fenômeno
estudado.
Por fim, a opção Step testa a significância de cada grupo de fatores,
fornecendo informações sobre os “melhores” grupos de fatores (GUY & ZILLES,
2007, p. 164), ou seja, aqueles que favorecem a presença do fenômeno observado.
57
5.2. DESCRIÇÃO DA COMUNIDADE DE FALA
Conforme os Cadernos Favela-Bairro (2005), a comunidade de Jardim
Moriçaba a estudada neste trabalho compreende uma área de 105 mil metros
quadrados, possuindo aproximadamente 4750 moradores. Está delimitada pelo
Maciço da Pedra Branca, localizado no bairro de Senador Vasconcelos, zona oeste
do Rio. A região, a 50 quilômetros do centro da cidade, integra a XVIII Região
Administrativa (Cadernos Favela-Bairro, 2005, p. 15).
O material da Prefeitura do Rio de Janeiro nos traz ainda a origem da
ocupação do espaço que surgiu com a abertura de um loteamento de mesmo nome,
em 1952, pelo loteador J. Polatinik. Os anos 1960 são o marco histórico, à medida
que a ocupação da área ocorreu a partir da construção do Hospital Geriátrico
Eduardo Rabelo do Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de
Janeiro - IASERJ. A situação fundiária da comunidade se estruturou em posses de
áreas pertencentes ao estado, à medida que, além de pertencente ao IASERJ, parte
da comunidade era propriedade do INCA - Instituto Nacional do Câncer.
Os Cadernos Favela-Bairro contam também a história dessa comunidade,
que começa de fato em 1920, quando chegaram moradores de áreas agrícolas do
interior do estado. Todavia, em 1947, a ocupação se adensa devido à abertura da
Estrada Moriçaba, que significa “carinho” em língua indígena. Até 1971, o acesso à
comunidade era feito por terra batida, em meio a plantações de goiaba, de manga e
de jamelão, dentre outras frutas, sendo inexistentes as redes de esgotamento
sanitário e abastecimento de água ou luz até os anos 1970 (Cadernos Favela-Bairro,
2005, p. 17).
O material disponibilizado pela Prefeitura sobre a comunidade comemora
ainda a nomeação de espaços em homenagem a antigos moradores. É o caso do
Caminho do Veloso, nome atribuído à família Veloso, uma das primeiras a chegar ao
local e que construiu um asilo para cuidar dos idosos. Caracteriza os primeiros anos
da favela como predominantemente rurais, ricos em chácaras e terrenos onde se
cultivavam taioba, caruru e couve, entre outros legumes e verduras.
O crescimento da comunidade após as primeiras ocupações, no entanto,
deixou os moradores longe dos pequenos serviços oferecidos. A convivência com
esgoto a céu aberto fez com que ocorresse a proliferação de ratos e de insetos.
58
Além disso, havia problemas de abastecimento de água, sendo a dos serviços
domésticos retirada de poços e de outras minas (Cadernos Favela-Bairro, 2005, p.
18).
O histórico da comunidade aponta algumas características relevantes para o
nosso objeto de estudo: em primeiro lugar, a ocupação da comunidade Jardim
Moriçaba iniciou-se com moradores oriundos de áreas rurais. Sabe-se que o
rotacismo, tanto em ataque complexo (grupo consonantal), quanto na posição de
coda, é comum na fala rural. Amadeu Amaral, ao descrever o dialeto caipira,
apresenta essas duas realizações. Primeiro, em final de sílaba, “muda-se em r:
quarquér, papér, mér, arma. Quando subjuntivo de um grupo, igualmente se muda
em r: craro, cumpreto, cramô(r), frô(r)(AMARAL, 1955, p.82). Amaral considera o
rotacismo um vício de pronúncia. A troca l ~ r, segundo o autor, é um dos vícios mais
enraizados no falar dos paulistas, sendo frequente “entre muitos dos que se acham,
por educação ou posição social, menos em contato com o povo rude”.
Bortoni-Ricardo (2004, p. 51-52), para esclarecer a variação no português
brasileiro, estabelece três contínuos, dentre os quais cabe aqui destacar o contínuo
de urbanização. Segundo a autora, em um dos extremos do contínuo situam-se os
falares rurais mais isolados; no outro extremo, residem as variedades urbanas
padronizadas difundidas pela escola, pela imprensa e por obras literárias. O espaço
entre os dois extremos é ocupado pela zona “rurbana”. Essa área intermediária é
ocupada por grupos que, embora sofram influência urbana, através da mídia e do
acesso à tecnologia, ainda preservam muito da cultura e do repertório linguístico
rural. Poderíamos postular que nossa comunidade, por seu histórico, situa-se entre
os polos urbano e rural, sendo um dos índices dessa posição o uso do rotacismo.
Para a autora, esse fenômeno é encontrado em falares rurais e “rurbanos” e, às
vezes, até em falares urbanos. Entretanto, o rotacismo é considerado um traço
descontínuo, por não ser gradual, ou seja, por não estar presente na fala da maioria
ou de todos os brasileiros e, principalmente, por receber uma maior carga de
avaliação negativa.
Em segundo lugar, embora, nos anos seguintes, a comunidade tenha
recebido moradores de origens diversas, parece-nos que o crescimento populacional
não foi acompanhado pelas condições adequadas de saneamento básico. Somente
após a implantação do Programa Favela Bairro, os moradores passaram a ter
59
condições mais adequadas, com a chegada dos serviços básicos de água, esgoto e
luz. A precariedade de condições revela que os moradores desse grupo social
pertenciam a classes sociais mais baixas. Acrescente-se a isso o acesso restrito à
escola. Segundo relatos do Diretor da unidade escolar, na qual foram realizadas
entrevistas, à época da inauguração da escola, em 1991, foi necessário adentrar a
comunidade em busca de alunos, pois ali não havia uma cultura que visualizasse a
escola como relevante para a vida dos moradores. Além disso, durante muitos anos,
quando chovia, a escola ficava praticamente vazia, pois era difícil para os moradores
circularem nas ruas enlameadas.
Analisemos as características apontadas por Gregory Guy (2000, p. 18) na
definição de comunidade de fala, elencadas na seção 2.4, em relação ao grupo de
informantes desta dissertação.
Quanto à primeira característica, compartilhamento de características
linguísticas, podemos verificar que o rotacismo é uma variante comum na fala dos
moradores dessa comunidade geograficamente considerada.
A respeito da segunda característica, comunicação interna dentro da
comunidade maior que fora dela, podemos observar, a partir de entrevistas com os
informantes, que seus contatos sociais, em geral, realizam-se dentro dos limites da
própria comunidade. Por fim, quanto ao compartilhamento de normas, parece haver
um compartilhamento da norma vernácula da comunidade, sendo uma das
características o uso de rotacismo, porém quem utiliza essa variante parece não ter
consciência da avaliação negativa desse fenômeno. Não analisamos a fala de outros
grupos; somente analisamos a escola. Essa instituição faz o papel de avaliar as
variáveis linguísticas, reconhecendo o grupo em questão como uma comunidade de
fala, pelo valor social negativo atribuído ao rotacismo. Assim, podemos visualizar o
limite entre a escola, representativa de outros grupos que o utilizam a variante
estigmatizada, e essa comunidade.
Admitimos, contudo, a dificuldade em considerar esses informantes como
pertencentes a uma comunidade de fala. Reconhecemos que a variante aqui
estudada é característica de diversos outros grupos e compartilhada por muitos
falantes do dialeto carioca, e mesmo por falantes de outras regiões do país,
conforme podemos visualizar em atlas linguísticos de outras regiões (anexo D).
Desse modo, utilizamos o termo comunidade nesta dissertação, considerando esse
60
grupo de informantes, representativo de muitos outros, em oposição à escola e ao
grupo que a representa, com uma norma diferenciada.
5.3. O GRUPO AMOSTRAL CONTROLADO
Como este trabalho orientou-se pela sociolinguística laboviana e por ter sido,
segundo Tarallo (2004, p. 7), “William Labov quem, mais veementemente, voltou a
insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se
sistematizar a variação existente e própria da língua falada”, esta pesquisa não
poderia deixar de analisar dados concretos, exemplos de fala real. Assim, procurou-
se, como realidade-modelo, a fala de crianças de uma escola municipal situada em
Senador Vasconcelos (Zona Oeste do Rio de Janeiro) e com maioria da clientela
oriunda da própria comunidade. A comunidade em questão é muito carente e
apresenta características sócio-econômicas aparentemente facilitadoras da
ocorrência da rotacização do /l/ nos encontros consonantais.
Analisando entrevistas feitas pelos professores, verificou-se que grande parte
dos pais possui escolaridade baixa. muitos que sequer frequentaram a escola.
Quanto ao aspecto econômico, muitos atuam em áreas que não necessariamente
exigem escolarização elevada: são vendedores ambulantes, pedreiros, empregadas
domésticas, empregados do comércio, dentre outros. Há, ainda, muitos
desempregados.
Os informantes desta pesquisa, em 2006, faziam parte de turmas distintas:
eram 20 alunos de turmas de Educação Infantil, compostas de alunos com 5 anos
de idade, e 20 alunos do segundo ano do ensino fundamental, de 7 anos de idade.
Tenciona-se avaliar, além da ocorrência da rotacização do /l/, até que ponto dois
anos de diferença na escolarização podem exercer influência na fala dessas
crianças.
Para a análise, foram selecionadas trinta e uma palavras. Algumas foram
representadas por meio de desenhos. No caso de verbos, faziam-se perguntas. O
desenho era apresentado e o aluno devia dizer o nome. Em alguns casos, solicitava-
se que os informantes completassem a frase ou respondessem a perguntas
10
. Dada
10
Em anexo, encontram-se as estratégias utilizadas na realização do questionário.
61
a resposta do aluno, imediatamente era registrado um X em uma das opções
presentes ao lado da palavra. Havia três alternativas: a primeira representava a fala
padrão; a segunda, a alternância do /l/ pelo /Ȏ/ e a terceira, por fim, a opção 0 (zero),
para a ocorrência de síncope do /l/, como em f[Ø]oresta. Ao lado das três
possibilidades de ocorrência, havia um espaço para registro de resposta diferente da
esperada (caso de sinônimos ou mesmo para a ausência de resposta do aluno). As
palavras que compõem o corpus da pesquisa, bem como o modelo que serviu de
guia para a recolha dos dados, aparecem no quadro a seguir:
QUADRO 10: FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS
PALAVRAS REALIZAÇÃO DO ALUNO
OUTRAS
RESPOSTAS
plástico pl ( ) pr ( ) 0 ( )
Flamengo Fl ( ) Fr( ) 0 ( )
Fluminense Fl ( ) Fr( ) 0 ( )
placa pl ( ) pr ( ) 0 ( )
planta pl ( ) pr ( ) 0 ( )
explodir pl ( ) pr ( ) 0 ( )
Pluto pl ( ) pr ( ) 0 ( )
claro cl ( ) cr ( ) 0 ( )
planeta pl ( ) pr ( ) 0 ( )
flocos fl ( ) fr ( ) 0 ( )
flor fl ( ) fr ( ) 0 ( )
chiclete cl ( ) cr ( ) 0 ( )
blusa bl ( ) br ( ) 0 ( )
bloco bl ( ) br ( ) 0 ( )
Globo gl ( ) gr ( ) 0 ( )
Cláudia cl ( ) cr ( ) 0 ( )
flagra fl ( ) fr ( ) 0 ( )
flecha fl ( ) fr ( ) 0 ( )
floresta fl ( ) fr ( ) 0 ( )
bicicleta cl ( ) cr ( ) 0 ( )
biblioteca bl ( ) br ( ) 0 ( )
Bíblia bl ( ) br ( ) 0 ( )
problema bl ( ) br ( ) 0 ( )
flauta fl ( ) fr ( ) 0 ( )
clóvis cl ( ) cr ( ) 0 ( )
62
cloro cl ( ) cr ( ) 0 ( )
glacê gl ( ) gr ( ) 0 ( )
atleta tl ( ) tr ( ) 0 ( )
completo pl ( ) pr ( ) 0 ( )
nublado bl ( ) br ( ) 0 ( )
Floribela Fl ( ) Fr ( ) 0 ( )
O formulário contou também com informações importantes para a análise das
respostas: dados pessoais do informante e escolaridade dos pais.
Como se objetiva contextualizar a ocorrência do rotacismo, investigou-se não
somente a escolaridade dos pais, mas todo o contexto sócio-econômico e cultural.
Entretanto, os dados sobre escolaridade foram obtidos diretamente com os alunos
entrevistados, por meio de um questionário entregue aos pais; já a realidade cultural,
social e econômica da comunidade foi analisada a partir de entrevistas realizadas
pelos professores, constantes dos arquivos da escola.
De modo a analisar os dados de forma representativa, fez-se uma
amostragem com quatro combinações diferentes envolvendo sexo e idade:
QUADRO 11: COMBINAÇÕES DA AMOSTRA 2006
masculino 5 anos Grupo A 10 informantes
masculino 7 anos Grupo B 10 informantes
feminino 5 anos Grupo C 10 informantes
feminino 7 anos Grupo D 10 informantes
Para cada uma das quatro lulas formadas, foram selecionados,
aleatoriamente, dez informantes de turmas diferentes, totalizando quarenta crianças.
Pretendeu-se, desse modo, atingir um número razoável de entrevistados, bem como
permitir que diversos membros da comunidade participassem da pesquisa,
ampliando a visão da ocorrência do fenômeno na escola trabalhada. Não foi casual,
entretanto, a escolha das crianças em certos aspectos, como visto anteriormente,
que se firmaram determinados critérios, como, por exemplo, possuírem os alunos
determinada idade, pertencerem a uma determinada rie e, ainda, terem nascido,
obrigatoriamente, na comunidade.
Acreditávamos que haveria diferenças entre a fala dos informantes de 5 anos
e os de 7 anos, pois esses últimos haviam iniciado o processo de alfabetização.
63
Entretanto, não houve diferença significativa (cf. TEM TEM, 2006). Os dois grupos
realizavam um percentual considerável de rotacismo.
Em 2010, recontactamos 30 desses informantes: 15 de cada sexo. Desse
total, para a análise comparativa dos dados de 2006 e 2010, estabelecemos a
seguinte combinação:
QUADRO 12: COMBINAÇÃO DAS AMOSTRAS 2006 E 2010
masculino 5-7 anos Grupo A
feminino 5-7 anos Grupo B
masculino 9-11 anos Grupo C
feminino 9-11 anos Grupo D
5.4. VARIÁVEIS CONTROLADAS
5.4.1. Variável dependente
Consideramos como variável dependente a ocorrência ou não da troca entre
as líquidas /l/ e /Ȏ/ nos grupos consonantais, ou melhor, a realização ou não de
rotacismo. Como ressaltamos anteriormente, nosso fenômeno variável apresentou
três variantes: rotacismo (substituição da líquida lateral pela vibrante /l/ por /Ȏ/,
variante codificada como 0), padrão (realização da líquida lateral, considerada
padrão pela escola, codificada como 1) e apagamento (supressão da líquida,
codificada como 2). Exemplos da cada uma dessas realizações são vistos a seguir:
QUADRO 13: CODIFICAÇÃO DAS VARIANTES
Variante Realização Codificação
Rotacismo
f[Ȏ]oresta
(0)
Padrão f[l]oresta (1)
Apagamento f[Ø]oresta (2)
De modo a compreender a realização de uma ou outra variante, propusemos
grupos de fatores de natureza interna e externa à língua que podem influenciar no
emprego, em especial, de rotacismo.
64
5.4.2. Variáveis independentes
As variáveis independentes controladas nesta dissertação dividem-se em
estruturais e sociais. As variáveis estruturais ou linguísticas consideradas foram:
modo de articulação do segmento precedente à líquida no grupo consonantal (x=
oclusivo/ y= fricativo), vozeamento do segmento precedente à líquida (S= SURDO/
R=SONORO), tonicidade da sílaba do grupo consonantal (t= tônica/ a= átona),
posição do grupo consonantal na palavra (I= Inicial/ N= Não inicial) e presença de
outro segmento líquido na palavra (L=presença de outra líquida/ A= ausência de
outra líquida). as variáveis sociais ou extralinguísticas consideradas foram: faixa
etária (5-7 e 9-11), sexo (f= feminino/ m=masculino), escolaridade dos informantes
(menos de 4 anos de escolarização/ mais de quatro anos de escolarização) e
escolaridade do pai (n= ensino fundamental incompleto; o= ensino fundamental
completo; p= ensino médio incompleto; q= ensino médio completo e r= não
respondeu) e escolaridade da e (h= ensino fundamental incompleto; i= ensino
fundamental completo; j= ensino médio incompleto; k= ensino médio completo e l=
não respondeu) .
5.4.2.1. Modo de articulação do segmento precedente à líquida do grupo
consonantal (fricativo ou oclusivo)
Por meio dessa variável, pretendemos identificar a classe de consoantes,
precedente à líquida (oclusivas ou fricativas) que influencia mais significativamente a
ocorrência de rotacismo. Supomos que as oclusivas (plástico, atleta, bicicleta)
favoreçam a troca de líquidas /l/ e /Ȏ/ em maior proporção que as fricativas (flauta,
flor). Baseamo-nos, para sustentar essa hipótese, na articulação das oclusivas, das
fricativas e do tepe, como veremos na análise dos resultados.
5.4.2.2. Vozeamento do segmento precedente à líquida
Tencionamos investigar se um segmento sonoro precedente à liquida (bloco,
glacê) é a variável que mais fortemente condiciona a ocorrência de rotacismo ou se
é um segmento surdo (placa, flocos) o que melhor desempenha esse papel.
Mollica e Paiva (1991) realizaram o cruzamento entre modo de articulação e
grau de sonoridade do segmento precedente à líquida, concluindo que uma forte
tendência à realização da vibrante quando a consoante do grupo consonantal é uma
65
consoante [+ forte], no continuum de força proposto por Hooper (1976, p. 206).
Pretendemos verificar essa hipótese, mais adiante, em nossa análise.
Apresentamos também a escala de força consonantal proposta por Murray
(1987, p. 119), na qual os segmentos são diferenciados quanto à sonoridade.
5.4.2.3. Tonicidade da sílaba do grupo consonantal
Essa variável diz respeito ao acento do grupo consonantal. Investigamos se o
grupo consonantal presente em sílaba tônica, como em ‘planta’, favorece mais
fortemente a realização de rotacismo ou se sua posição em sílaba átona, como em
'floresta', motiva mais a aplicação do fenômeno.
5.4.2.4. Posição do grupo consonantal na palavra
Investigamos se o grupo consonantal em sílaba inicial ('plástico', 'Flamengo')
é mais significativo na aplicação do fenômeno ou em posição não inicial ('bíblia',
'bicicleta').
5.4.2.5. Presença de outra líquida na palavra
Investigamos se a presença de outra líquida na palavra ('cloro', 'claro')
favorece o rotacismo, como sustentam Mollica e Paiva (1991). Nesse trabalho, as
autoras investigam, no dialeto carioca, a hipótese de dissimilação (substituição da
lateral) quanto a de enfraquecimento (apagamento da vibrante), pela presença de
outra líquida, em função da escala de força proposta por Hooper (1976).
5.4.2.6. Faixa etária
Na primeira pesquisa realizada, como ressaltamos mais acima, os
informantes foram divididos da seguinte forma: 20 informantes de Educação Infantil,
com 5 anos de idade e 20 informantes no segundo ano do ensino fundamental, com
7 anos de idade (TEM TEM, 2006). Acreditava-se que, aos sete anos de idade, pelo
fato de esses alunos terem iniciado o processo de alfabetização (letramento),
haveria uma queda na realização de rotacismo. Entretanto, essa hipótese não se
confirmou. Os percentuais de rotacismo continuaram elevados.
Nesta dissertação, recontactamos os mesmos informantes, quatro anos após
as primeiras entrevistas. Conjecturamos que, nessa nova faixa etária, o fenômeno
de rotacismo não se faz presente na mesma escala na fala desses alunos; ao
66
contrário, acreditamos que haverá uma redução no percentual dessa variante não-
padrão.
5.4.2.7. Sexo
Esse fator extralinguístico costuma ser apontado como um indício de
diferenças de comportamento linguístico de homens e mulheres. Diversos estudos
(CHAMBERS & TRUDGILL, 1980; LABOV, 1991) apresentam a influência dessa
variável na fala. Alguns apontam a ocorrência de formas não-padrão como comum
na fala masculina, sendo as mulheres mais conservadoras da fala padrão, por ser
uma variante de maior prestígio. Tencionamos verificar a significância dessa variável
na aplicação de rotacismo.
5.4.2.8. Escolaridade dos informantes
Diversos estudos (SCHERRE, 1996; VOTRE, 2007) apontam escolaridade
como um fator relevante no comportamento dos falantes, em relação ao uso de
determinadas variantes. A escola, ao mesmo tempo em que gera mudanças na fala
de seus alunos, incutindo-lhes a forma considerada padrão, mostra-se resistente
através da preservação dessa variante de prestígio, em face de mudanças dentro da
comunidade. Presumimos que esse fator exerce grande influência na realização de
rotacismo, no sentido de que quanto maior a escolaridade, menor a ocorrência do
fenômeno na fala dos alunos.
5.4.2.9. Escolaridade dos genitores
Como nos primeiros dados de fala, coletados em 2006, os informantes
encontravam-se nos anos iniciais de escolarização, acreditamos que essa fala fosse
influenciada diretamente pelo núcleo familiar e, mais especificamente, pelos pais
dessas crianças. Como supomos que a escolaridade dos genitores apresente
reflexos em sua fala, relacionamos essa variável com a ocorrência de rotacismo na
fala dos filhos. Realizaremos, ainda, uma análise distinta entre os resultados de pais
e mães.
Além da escolaridade, pretendemos traçar um perfil social, econômico e
cultural dos pais, por meio de dados coletados em entrevistas atuais, que permitem
a análise de fatores como mercado de trabalho, redes sociais e acesso aos bens
67
culturais. Esses fatores, no entanto, não foram rodados no Goldvarb, visto que nem
todos os informantes responderam à entrevista.
68
6. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS (RESULTADOS)
6.1. RODADA GERAL (VARIANTES REALIZADAS)
Na tabela abaixo, apresentam-se os resultados sobre o comportamento dos
encontros consonantais controlados na pesquisa.
TABELA 1: APLICAÇÃO DAS VARIANTES AMOSTRA 2006
VARIANTE APL./ TOTAL %
Rotacismo 294/648 45.4
Padrão 259/648 40.0
Apagamento
95/648
14.7
Os resultados foram obtidos a partir das médias gerais sobre os percentuais
individuais de cada criança. É importante destacar que os percentuais individuais
correspondem às realizações de cada fenômeno somente sobre as palavras
identificadas. Assim sendo, do total de palavras reconhecidas, 40 % foram
pronunciadas na forma-padrão, 14,7 % foram pronunciadas com síncope do /l/ e
45,4 % das palavras reconhecidas foram rotacizadas. Somando-se os percentuais
de apagamento aos de rotacismo, fica ainda mais evidente o uso do português não-
padrão nessa comunidade.
se esperava a predominância de rotacismo sobre a forma padrão, uma vez
que a realidade social da comunidade, de certa forma, favorece o fenômeno.
Contudo, desconhecia-se a realização de encontros consonantais com síncope do
segundo elemento. A palavra ‘floresta’, por exemplo, foi pronunciada “foresta” por 20
crianças, ou seja, 50% dos informantes promoveram o apagamento da líquida lateral
nesse vocábulo.
Outra palavra que sofreu síncope da lateral em sua realização foi ‘bíblia’. Por
possuir sílabas parecidas em sequência, além do apagamento da lateral (“bíbia”),
esse vocábulo apresentou várias realizações, como “blíbia”, “blíblia”, “briba”, “bibra e
69
“bríbria”. Observa-se que o encontro consonantal sofre metátese
11
, alternando entre
a primeira e a segunda sílaba, ou mesmo ocorrendo nas duas ora com /l/, ora com
/Ȏ/. A pronúncia “bíbia” pode ser explicada por um fenômeno comum, mesmo entre
os falantes que utilizam a forma-padrão: em palavras tautossilábicas, ou seja, em
palavras que possuem as sílabas praticamente idênticas, como em ‘próprio’ e
‘propriedade’, é comum a redução de um dos grupos consonânticos. Em geral,
produzem-se formas como prop[Ø]iedade e próp[Ø]io.
Os dados mostram, como explicitado anteriormente, que a maioria dos
informantes realizou o fenômeno. Mesmo aqueles que usaram a forma padrão, na
maior parte das respostas rotacizaram uma ou outra palavra. Houve quatro
informantes que não realizaram rotacismo, dentro das palavras que reconheceram.
Dois desses alunos apresentaram elevado percentual de apagamento nas palavras
que reconheceram. Nesse caso, em função do índice elevado, tornou-se necessário
realizar um teste após a pesquisa, a fim de verificar-se a habilidade fonológica
desses informantes em pronunciar o /l/, como forma de validar os resultados da
pesquisa. Caso esses alunos não conseguissem pronunciar o encontro consonantal
com a lateral, seriam excluídos da pesquisa, pois talvez apresentassem problemas
fonoaudiológicos. O teste foi simples: o entrevistador pediu aos alunos que
repetissem as palavras “floresta” e “planeta” e os entrevistados deviam repetir na
forma padrão. As duas crianças conseguiram pronunciar o [l], o que descarta a
possibilidade de patologia na fala (dislalia, por exemplo).
Apesar de não entrar nos percentuais, a opção “outras respostas” revelou um
dado social interessante: nas primeiras entrevistas, em 2006, as crianças possuíam
um vocabulário bastante restrito, fato relacionado diretamente ao nível sócio-
econômico da comunidade. Como se tratava de informantes de pouca idade, houve
dificuldade no reconhecimento de grande parte das figuras apresentadas pelo
entrevistador; em geral, as crianças tentavam chegar à solução por meio de suas
vivências, oferecendo como resposta o relato de acontecimentos próximos ao que a
figura mostrada representa em suas vidas. No quadro a seguir, percebemos um
percentual maior de reconhecimento das palavras. Esse percentual seria ainda
maior, se considerássemos sinônimos como dados válidos para a pesquisa, como
‘rosa’ para ‘flor’.
11
Metátese é a troca de posição de segmentos, verificada na mesma sílaba ou entre sílabas.
70
QUADRO 14: PERCENTUAL DE PALAVRAS RECONHECIDAS 2006 E 2010
INFORMANTES
IDADE
RECONHECIDAS
2006
Total % recon
RECONHECIDAS
2010
Total
% recon
Bár 9
16
31
51,61%
23
30
76,67%
Let 9
14
31
45,16%
20
30
66,67%
Mar 9
12
31
38,71%
20
30
66,67%
Nat 9
13
31
41,94%
17
30
56,67%
Val 9
18
31
58,06%
21
30
70,00%
Vit L. 9
5
31
16,13%
23
30
76,67%
Vit O. 9
15
31
48,39%
22
30
73,33%
Yas 9
16
31
51,61%
21
30
70,00%
Ana 11
21
31
67,74%
24
30
80,00%
Taí 11
23
31
74,19%
29
30
96,67%
Vit 11
16
31
51,61%
25
30
83,33%
And 11
16
31
51,61%
19
30
63,33%
Tha 11
17
31
54,84%
25
30
83,33%
Kar 11
21
31
67,74%
27
30
90,00%
Bea 11
25
31
80,65%
26
30
86,67%
Dou 9
15
31
48,39%
26
30
86,67%
Eri 9
23
31
74,19%
25
30
83,33%
Mar 9
7
31
22,58%
16
30
53,33%
May 9
13
31
41,94%
21
30
70,00%
Ren 9
17
31
54,84%
22
30
73,33%
Ric 9
18
31
58,06%
21
30
70,00%
Lor 9
12
31
38,71%
19
30
63,33%
Ath 9
16
31
51,61%
25
30
83,33%
Edi 11
12
31
38,71%
23
30
76,67%
Gio 11
20
31
64,52%
25
30
83,33%
Joã 11
20
31
64,52%
28
30
93,33%
Leo 11
25
31
80,65%
27
30
90,00%
Val 11
15
31
48,39%
24
30
80,00%
Leo. B 11
19
31
61,29%
24
30
80,00%
Van 11
19
31
61,29%
26
30
86,67%
TABELA 2: APLICAÇÃO DAS VARIANTES AMOSTRAS 2006 E 2010
Variante
Apl./ Total -
2006
%
Apl./ Total -
2010
%
Rotacismo 294/648 45.4 160/694 23.1
Padrão 259/648 40.0 519/694 74.8
Apagamento
95/648
14.7 15/694 2.2
71
Como se nos resultados, os mesmos informantes apresentam
comportamento diferenciado em relação às variantes consideradas; percebe-se uma
redução no percentual de rotacismo. Ao mesmo tempo, uma elevação
considerável do uso da variante padrão (algumas palavras são pontuais,
apresentando a vibrante como segundo elemento, como é o caso de ‘flagra’). o
percentual de apagamento chega a um nível de quase inexistência, apesar de
ocorrer em palavras com onsets idênticos, a exemplo de 'bíblia', 'biblioteca'. Esses
dados confirmam nossa hipótese de redução no percentual de rotacismo em virtude
da aquisição da variante padrão.
6.2. MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À
LÍQUIDA DO GRUPO CONSONANTAL (FRICATIVO OU OCLUSIVO)
No questionário, apresentaram-se nove palavras com encontro consonantal
formado pela fricativa /f/ acrescida de líquida /l/. Além disso, selecionaram-se vinte e
duas palavras com a presença de oclusivas também seguidas da líquida /l/. Um dos
objetivos da presente pesquisa foi verificar se a incidência de rotacismo é maior em
grupos formados por oclusivas ou por fricativas. Os resultados aparecem na tabela a
seguir:
TABELA 3: ROTACISMO 2006 (MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)
Modo de
articulação
Frequência Peso relativo
Oclusivo 219/467=46,9% .51
Fricativo 75/181=41,4% .46
Os percentuais apresentados na tabela acima foram extraídos das
realizações de rotacismo em encontros com segmentos fricativos e oclusivos, a
partir do número de fricativas e oclusivas reconhecidas por cada informante.
Exemplifiquemos: os dados abaixo representam a realização de um dos informantes:
72
QUADRO 15: EXEMPLO DE REALIZAÇÃO DE ROTACISMO POR INFORMANTE
Quantidade de palavras
rotacizadas
Quantidade de palavras
reconhecidas
Aluno
fricativas oclusivas fricativas oclusivas
Ric 4 11 5 13
No quadro acima, vemos que, de um total de nove fricativas apresentadas na
pesquisa, o aluno em questão reconheceu apenas cinco. Dessas cinco, quatro foram
rotacizadas. De um total de vinte e duas oclusivas pesquisadas, o aluno reconheceu
treze e, dessas, rotacizou onze. Assim sendo, o aluno Ric rotacizou 80% das
palavras com fricativas que reconheceu e, quanto às oclusivas, rotacizou 84,6% das
que reconheceu.
A tabela acima demonstra que as palavras com encontros com oclusivas
favorecem, com maior frequência, a realização de rotacismo. Nesse sentido, com o
objetivo de se esclarecer esses percentuais, abre-se um parêntese para uma
discussão do ponto de vista fonético e fonológico. Para tal, apresentam-se abaixo
algumas informações extraídas de Cagliari (2002, p. 94) em relação ao sistema de
traços de Jakobson, Fant e Halle (1963):
Resumo do sistema de Jakobson, Fant e Halle (1963)
Vocálico: vogais e líquidas
Não-vocálico: os glides e as obstruintes
Consonântico: obstruintes e líquidas
Não-consonântico: vogais e glides
Contínuo: fricativas e laterais
Não-contínuo: oclusivas, vibrantes e africadas.
Dos traços distintivos apresentados acima, esta pesquisa ressalta as duas
últimas propriedades, referentes à continuidade na produção dos sons. De acordo
com Christófaro Silva (2003: 193), “um som é [+ contínuo] quando a constrição
principal do trato vocal permite a passagem do ar durante todo o período de sua
produção”; quando há bloqueio da passagem da corrente de ar, o som é [-contínuo].
73
Analisando os dados, explica-se a proximidade entre as oclusivas e o tepe
(vibrante simples), do ponto de vista articulatório, visto que a soltura da corrente de
ar é abrupta nas duas classes de sons. As oclusivas e o tepe são, portanto, sons
não-contínuos. Já as fricativas e o /l/ possuem em comum a soltura sem interrupção
do fluxo de ar, sendo, desse modo, sons contínuos.
Assim sendo, de forma a justificar os percentuais do gráfico, pode-se
entender que as oclusivas favorecem a rotacização, pois têm pouca semelhança
com o /l/ e são mais próximas do /Ȏ/, enquanto as fricativas podem favorecer o uso
da forma padrão, pela proximidade com o /l/, ou mesmo tenderem ao apagamento
do /l/. Nesta pesquisa, como citado anteriormente, a palavra ‘floresta’ realizou-se
‘f[Ø]oresta’ na fala de muitos entrevistados.
TABELA 4: ROTACISMO 2010 (MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)
Modo de
articulação
Frequência Peso relativo
Oclusivo 101/490= 20,6% .46
Fricativo 59/204= 28,9% .57
Os resultados revelam um percentual maior de rotacismo nos grupos iniciados
por fricativa. Percebemos, por exemplo, que a palavra ‘flagra’ foi produzida 17 vezes
com a vibrante, mesmo entre aqueles que apresentaram um percentual alto de
variante padrão. Parece-nos que o vocábulo, talvez por seu uso restrito, tenha se
cristalizado com a vibrante como segundo elemento na expressão utilizada na
entrevista para que os alunos a completassem: Peguei no... (flagra). Antes da frase,
apresentamos uma situação: imagine que você encontra um amigo que está fazendo
algo errado sem perceber que você o vê. Ao tocá-lo nos ombros, você diz: “Peguei
no...”.
6.3. VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE A LÍQUIDA
Os resultados abaixo revelam um peso maior dos segmentos sonoros
precedentes à líquida:
74
TABELA 5: ROTACISMO 2006 (VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)
Vozeamento Frequência Peso relativo
Surdo 211/477= 44,2% .49
Sonoro 83/171= 48,5% .53
De acordo com a escala de força consonantal proposta por Murray (1987, p.
119), os segmentos são diferenciados quanto à sonoridade. Os segmentos surdos
apresentam maior valor de força consonantal; desse modo, as estruturas silábicas
formadas por um segmento sonoro como primeiro elemento do grupo consonantal
tendem a sofrer processos. Isto justificaria o fato de segmentos sonoros precedentes
à líquida favorecerem o rotacismo.
Na figura abaixo, verificamos o cruzamento das variáveis modo de articulação
e vozeamento:
FIGURA 9: CRUZAMENTO DAS VARIÁVEIS MODO DE ARTICULAÇÃO E VOZEAMENTO
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
S 0: 136 46: 75 41| 211 44
-: 160 54: 106 59| 266 56
: 296 : 181 | 477
+ - - - - + - - - - + - - - -
R 0: 83 49: 0 --| 83 49
-: 88 51: 0 --| 88 51
: 171 : 0 | 171
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
Os resultados acima revelam um percentual maior de aplicação de rotacismo
nas oclusivas sonoras (49%); enquanto as oclusivas surdas apresentaram 46% de
realização da vibrante. Mollica e Paiva (1991), no entanto, em análise da variação
l~r, verificaram o contrário, conforme veremos a seguir.
75
TABELA 6: ROTACISMO 2010 (VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)
Vozeamento Frequência Peso relativo
Surdo 129/533=24,2% .51
Sonoro 31/161= 19,3% .44
Os dados obtidos no recontato apresentam um resultado diferente do obtido
nas entrevistas de 2006. Aqui, os segmentos surdos mostram-se mais favorecedores
de rotacismo que os sonoros. Ao realizarem o cruzamento entre modo de articulação
e grau de sonoridade do segmento precedente à líquida, Mollica & Paiva (1991)
concluíram, seguindo a proposta de continuum de força de Hooper (1976, p. 206),
que há uma forte tendência à realização da vibrante quando a consoante do grupo
consonantal é uma consoante [+ forte]. Segundo esse contínuo, os segmentos
surdos são mais fortes que os sonoros.
Assim como no modo de articulação, talvez a palavra “flagra” tenha ajudado a
aumentar o percentual de rotacismo em grupos com primeiro segmento surdo, pois
foi pronunciada com a vibrante por 17 informantes. Conforme podemos observar na
tabela abaixo, a célula yStIL pode ser representativa das palavras ‘flor’ e ‘flagra’, pois
ambas possuem primeiro elemento do grupo consonantal fricativo (f), surdo (S), são
tônicas (t), o grupo consonantal está no início da palavra (I) e possuem duas líquidas
(L). A palavra ‘flagra’, foi codificada como mStIL, para o sexo masculino e como
fStIL, para o sexo feminino. Das quatorze realizações dessa palavra, os meninos
rotacizaram oito. Todas essas oito, além de rotacismo, apresentaram apagamento
da outra líquida, sendo pronunciadas f[Ȏ]ag[Ø]a. De quinze realizações de ‘flagra’
pronunciadas pelas meninas, 10 foram rotacizadas e, como na fala dos meninos,
tiveram a segunda líquida apagada. No quadro abaixo, podemos visualizar o total de
células, as palavras correspondentes, bem como o total de aplicação de rotacismo
em cada uma delas.
76
QUADRO 16: CÉLULAS AMOSTRA RECONTATO (TOTAIS DE APLICAÇÃO DE ROTACISMO)
Codificação Palavras Pronunciadas
Aplic. de
Rotacismo % aplic.
myStIL flor/flagra 26
11
42,31%
myStIA flecha/flauta 37
5
13,51%
mySaIL floresta 13
1
7,69%
mySaIA Flamengo/Fluminense 29
5
17,24%
mxStNA chiclete/bicicleta/completo/atleta 50
9
18,00%
mxStIL claro/cloro 25
2
8,00%
mxStIA plástico/placa/planta/Pluto/Cláudia/clóvis 66
11
16,67%
mxSaNL explodir 13
4
30,77%
mxSaIA planeta 14
3
21,43%
mxRtNL problema 9
2
22,22%
mxRtNA nublado 12
1
8,33%
mxRtIA blusa/Globo/bloco 26
4
15,38%
mxRaNA biblioteca/Bíblia 25
1
4,00%
mxRaIA glacê 7
1
14,29%
fyStIL flor/flagra 27
14
51,85%
fyStIA flecha/flauta 33
10
30,30%
fySaIL floresta 10
3
30,00%
fySaIA Flamengo/Fluminense 29
10
34,48%
fxStNA chiclete/bicicleta/completo/atleta 45
10
22,22%
fxStIL claro/cloro 24
2
8,33%
fxStIA plástico/placa/planta/Pluto/Cláudia/clóvis 67
22
32,84%
fxSaNL explodir 12
4
33,33%
fxSaIA planeta 12
2
16,67%
fxRtNL problema 10
3
30,00%
fxRtNA nublado 10
3
30,00%
fxRtIA blusa/Globo/bloco 28
7
25,00%
fxRaNA biblioteca/Bíblia 27
5
18,52%
fxRaIA glacê* 7
4
57,14%
* Em 'glacê' o percentual de aplicação de rotacismo foi alto, porém o número de palavras pronunciado
foi pequeno.
(f)= sexo feminino
(m)= sexo masculino
6.4. TONICIDADE DA SÍLABA DO GRUPO CONSONANTAL
Na tabela a seguir, registram-se os percentuais de rotacização em função do
acento. Observe os resultados:
TABELA 7: AMOSTRA 2006 ROTACISMO (FATOR TONICIDADE)
Tonicidade Frequência Peso relativo
Tônica 222/456= 48,7% .53
Átona 72/192= 37,5% .42
77
Analisando-se a tabela acima, percebe-se que, nas palavras pesquisadas, a
incidência de rotacismo foi maior nos grupos consonantais situados em sílaba tônica.
A explicação para esse fato se encontra, na realidade, nos encontros consonantais
presentes em sílabas átonas, visto que, neste trabalho, percebeu-se que muitas das
sílabas átonas se realizaram com apagamento da lateral. Foram muito comuns as
seguintes respostas:
Bíblia> Bíbia
biblioteca> bibioteca
floresta> foresta
Floribela> Foribela
No cruzamento de dados entre modo de articulação e tonicidade, percebemos
um percentual baixo de aplicação de rotacismo em fricativas átonas (28%); esses
segmentos favoreceram o apagamento:
QUADRO 17: CRUZAMENTO DE MODO DE ARTICULAÇÃO E TONICIDADE
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
t 0: 172 47: 50 54| 222 49
-: 192 53: 42 46| 234 51
: 364 : 92 | 456
+ - - - - + - - - - + - - - -
a 0: 47 46: 25 28| 72 38
-: 56 54: 64 72| 120 62
: 103 : 89 | 192
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
Um fenômeno apontado como evidência para a classe das líquidas é a
dissimilação, processo fonológico no qual dois segmentos iguais tendem a ficar
diferentes, podendo um deles, até mesmo, desaparecer, para se evitar identidade, a
exemplo do que ocorreu na evolução de liliu > líriu, calamelu > caramelo e memorare
> membrar > lembrar, entre tantas outras. No caso de ‘B
íblia’ e ‘biblioteca’, temos
duas oclusivas sonoras iguais, porém não verificamos mudanças nesses segmentos;
entretanto, sobre a lateral, atuaram diversos processos fonológicos: esse segmento
78
dissimilou para uma vibrante ’Bíbria’; sofreu apagamento ‘Bíbia’; sofreu metátese, ou
seja, mudou de posição na palavra ‘Blíbia’; dentre outras alterações. Acreditamos
que essas mudanças foram motivadas pela presença de segmentos idênticos que,
por sua vez, dificultam a articulação da palavra. Para Lloret (1997), a dissimilação é
um processo fonológico de alteração de um segmento que tem a função de evitar
sequências de segmentos iguais restringidas pelo Princípio do Contorno Obrigatório
(OCP).
No caso de florestater se realizado com apagamento, não diríamos que a
tonicidade foi o fator fundamental, porém acreditamos que a interação desse fator
com o modo de articulação pode esclarecer essa ocorrência: essa palavra possui um
grupo complexo, no qual o segmento fricativo, a lateral e a vogal são elementos
contínuos; esses segmentos possuem produção muito parecida, o que não seria
ideal, pelo Princípio do Contorno Obrigatório. Desse modo, a líquida tende a sofrer
processos como o apagamento ou o rotacismo nessas condições.
Os resultados da tabela abaixo demonstram, pelos percentuais e pesos muito
próximos, não ser o fator tonicidade tão revelador dessa variável na troca entre as
líquidas:
TABELA 8: AMOSTRA 2010 ROTACISMO (FATOR TONICIDADE)
Tonicidade Frequência Peso relativo
Tônica 116/495= 23,4% .50
Átona 44/199= 22,1% .48
Embora os percentuais de rotacismo em sílaba tônica e átona sejam muito
próximos, esse percentual ainda é levemente superior em sílabas tônicas. Talvez,
mais uma vez, a palavra ‘flagra’ tenha favorecido o aumento desse percentual. O
segmento fricativo de ‘flagra’, embora contínuo, no caso específico dessa palavra,
apresenta um maior número de realizações com a vibrante, possivelmente, pela
cristalização da palavra com essa variante na comunidade estudada.
79
6.5. POSIÇÃO DO GRUPO CONSONANTAL
Os resultados da tabela abaixo demonstram um peso maior de ocorrência de
rotacismo em palavras nas quais o encontro consonantal apresenta-se em sílaba
inicial:
TABELA 9: ROTACISMO 2006 (POSIÇÃO SILÁBICA DO GRUPO CONSONANTAL)
Posição silábica Frequência Peso relativo
Inicial 192/416= 46,6% .51
Não-inicial 100/232= 43,1% .47
Nos dados obtidos, percebe-se que em palavras como ‘biblioteca’, ‘problema’
e ‘Bíblia’, com encontros em sílaba não inicial, houve favorecimento de outras
variantes como o apagamento. Palavras como ‘Bíblia’ e ‘biblioteca’, como vimos
anteriormente, com segmentos próximos igualmente especificados como [+
contínuo], apresentaram diversas realizações: apagamento da líquida no grupo
consonantal e acréscimo da líquida, ora a vibrante, ora a lateral na sílaba inicial:
Blíbia, Bríbia; rotacismo no grupo consonantal e acréscimo da vibrante na sílaba
inicial: Bríbria; acréscimo da líquida vibrante na sílaba inicial: Blíblia; dentre outras.
TABELA 10: ROTACISMO 2010 (POSIÇÃO SILÁBICA DO GRUPO CONSONANTAL)
Posição silábica Frequência Peso relativo
Inicial 117/480= 24,4% .52
Não-inicial 43/214= 20,1% .46
Em 95 de 127 palavras rotacizadas, o grupo consonantal se encontrava em
sílaba inicial. Os mesmos processos ocorridos nas palavras ‘Bíblia’ e ‘biblioteca’ na
entrevistas de 2006 são recorrentes em 2010, o que talvez explique o percentual
baixo de aplicação de rotacismo em sílaba não-inicial.
A palavra ‘problema’ também sofreu diversos fenômenos, possivelmente
motivados pelo fato de possuir segmentos homorgânicos (p e b), ou seja, segmentos
que se diferenciam pelo vozeamento, sendo um surdo e outro sonoro, além de
duas líquidas, igualmente homorgânicas (/l/ e /r/). Mais uma vez, o Princípio do
Contorno Obrigatório parece ter influência na realização de um vocábulo. Tanto na
80
primeira entrevista quanto no recontato, verificamos as seguintes realizações:
’poblema’, ’probema’, ‘pobrema’, plobema’ e ‘ploblema’.
6.6. PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA
Mollica & Paiva (1991, p.185) investigam, no dialeto carioca, a hipótese de
dissimilação (substituição da lateral) e de enfraquecimento (apagamento da
vibrante), pela presença de outra líquida, em função da escala de força proposta por
Hooper (1976), que vai do segmento mais forte ao mais fraco:
QUADRO 18: ESCALA DE FORÇA DE HOOPER (1976)
glides líquidas nasais contínuas sonoras obstruintes sonoras
contínuas surdas
obstruintes surdas
1 2 3 4 5 6
Os resultados encontrados pelas autoras indicam que a presença de outra
líquida na palavra favorece a ocorrência da vibrante nos grupos formados por
consoante + líquida lateral. Nos grupos formados por consoante + vibrante, a
presença de outra líquida favorece o apagamento, como em prop[Ø]ietário.
Em nossa pesquisa, não contemplamos os encontros consonantais com
vibrantes. Nossos dados baseiam-se em palavras que apresentam encontros com
líquida lateral + líquida em outra sílaba, que podem vir a sofrer rotacismo ou mesmo
apagamento. Eis os resultados:
TABELA 11: ROTACISMO 2006 (AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA)
Outra líquida Frequência Peso relativo
Ausência 221/459= 48,1% .53
Presença 73/189= 38.6% .43
A palavra ‘floresta’, como visto anteriormente, foi pronunciada f[Ø]oresta por
20 crianças, ou seja, 50% dos informantes promoveram o apagamento da líquida
lateral nesse vocábulo. Assim como nos grupos com a vibrante, como ‘próprio’,
realizado próp[Ø]io, nossos resultados demonstram que a presença de outra líquida
também favorece o apagamento em grupos com a lateral. De modo a esclarecer
81
melhor esses resultados, realizamos o cruzamento entre modo de articulação e
presença de outra líquida, conforme quadro abaixo:
QUADRO 19: CRUZAMENTO DAS VARIÁVEIS MODO DE ARTICULAÇÃO E PRESENÇA DE OUTRA
LÍQUIDA
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
A 0: 180 48: 41 51| 221 48
-: 198 52: 40 49| 238 52
: 378 : 81 | 459
+ - - - - + - - - - + - - - -
L 0: 39 44: 34 34| 73 39
-: 50 56: 66 66| 116 61
: 89 : 100 | 189
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
Os resultados do cruzamento entre modo de articulação e presença de outra
líquida revelam uma aplicação de 48% de rotacismo nas palavras com oclusivas
sem a presença de outra líquida; além disso, observa-se uma aplicação de 44% de
rotacismo em oclusivas com a presença de outra líquida. No cruzamento de
fricativas e presença de outra líquida, verificamos uma aplicação de 51% de
rotacismo, em fricativas sem a presença de outra líquida; em fricativas com a
presença de outra líquida, 34% de aplicação de rotacismo.
Esses dados revelam um percentual menor de rotacismo em fricativas com
duas líquidas, como é o caso de ‘floresta’. Postulamos que a fricativa pode favorecer
o apagamento em virtude de ser um som contínuo. Segundo Silva (2003, p. 193), um
som é contínuo quando “a constrição principal do trato vocal permite a passagem do
ar durante todo o período de sua produção.” Como a líquida lateral e as vogais
também são sons contínuos, essa característica pode favorecer o enfraquecimento e
até mesmo o apagamento desse segmento.
TABELA 12: ROTACISMO 2010 (AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA)
Outra líquida Frequência Peso relativo
Ausência 114/525= 21,7% .48
Presença 46/169= 27,2% .56
82
Os resultados na amostra recontato apontam a presença de outra líquida
como favorecedora de um percentual um pouco mais alto de rotacismo,
provavelmente, como exposto anteriormente, pela realização de ‘flagra’ como f[ſ]
ag[Ø]a.
6.7. FAIXA ETÁRIA
No gráfico 3, a seguir, aparecem os resultados da variável idade na pesquisa
de TEM TEM (2006). Observem-se os percentuais de rotacização:
GRÁFICO 1: ROTACISMO (FATOR IDADE) NA AMOSTRA 2006
5 anos
48%
7 anos
52%
O gráfico demonstra que a ocorrência de rotacismo entre as crianças de 7
anos é um pouco maior que entre os alunos de 5 anos. Esperava-se que com a
diferença de dois anos de escolaridade ocorresse uma diminuição nesse percentual,
dada a influência da escola, a ampliação dos contatos sociais ao longo do tempo e,
até mesmo, a influência da mídia. Entretanto, não foi o que ocorreu. Nesse sentido,
é interessante observar que, embora a maioria dos informantes tenha acesso à
televisão, realiza “Framengo”, “Fruminense”, o que torna clara a força da fala da
família e da comunidade, em detrimento de veículos de comunicação, como a TV, e
em prejuízo da escola, com sua tentativa de estabelecer a forma padrão.
83
Percebeu-se, contudo, uma ampliação do vocabulário nos alunos de 7 anos
(ver gráfico 4). Porém, algumas dessas novas palavras chegam à criança
rotacizadas em seu meio social ou são rotacizadas por ela por analogia a palavras
que já conhece.
Segundo Coutinho (2005, p. 150), analogia “é o princípio pelo qual a
linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos
frequentes a outras regulares e frequentes”. Acrescenta ainda que, em todo fato
análogo, um termo considerado ativo, que exerce influência ou modela um termo
passivo.
Para um termo ser considerado ativo, ainda consoante Coutinho (2005, p.
153), deve satisfazer algumas condições, das quais, para a presente pesquisa,
destacam-se: a) que seja de uso mais geral; b) que seja mais “de harmonia com a
índole da língua”.
Esclarecendo a primeira condição citada acima, pode-se verificar, amesmo
pelos dados obtidos neste estudo, que a comunidade estudada realiza com mais
frequência os encontros consonantais com [Ȏ], em prejuízo do [l] padrão. Desse
modo, o rotacismo constitui termo ativo, na terminologia de Coutinho (2005),
influenciando novas palavras que surjam no vocabulário. Assim, por exemplo, nas
entrevistas, todos os alunos de 5 anos não pronunciaram a palavra “glacê”. Algumas
meninas de 7 anos reconheceram e rotacizaram esse termo, talvez por analogia a
outras palavras, como “globo”, realizada “grobo” por muitos.
Quanto à harmonia com a “índole da língua”, observa-se uma tendência
natural da língua à rotacização, até mesmo pelas semelhanças entre /l/ e /Ȏ/, do
ponto de vista fonético, fonológico, fonotático, e pela própria história de formação da
língua portuguesa, como apresentado no capítulo 4.
Convém, nesse ponto do trabalho, realizar uma digressão, com o objetivo de
esclarecer o assunto em pauta. Para tal, procura-se conhecer a evolução de cada
grupo consonantal do latim ao português, de modo a reforçar essa inclinação da
língua a realizar encontros consonantais com /Ȏ/ e não com /l/.
Coutinho (2005, p. 118-123), ao discorrer sobre os grupos consonantais,
apresenta cada grupo e exemplos de transformação. Dentre eles, ressaltam-se, para
84
efeitos desta pesquisa, aqueles formados por oclusiva ou constritiva e a líquida /l/: cl,
fl, pl, bl, gl em posição inicial e cl, fl, pl, bl, gl, tl em posição medial.
Os grupos iniciais latinos conservam-se, em português, se a líquida é /Ȏ/,
porém modificam-se quando a líquida é /l/. Aqueles formados por cl-, fl-e pl- se
modificam em ch. vocábulos de época posterior transformam-se em cr-, fr- e pr-,
respectivamente, como se observa abaixo:
QUADRO 20: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (1)
cl
> ch-: clamare > chamar
> cr-: clavu > cravo
fl
> ch-: flagrare > cheirar
> fr-: flaccu > fraco
pl
> ch-: plenu > cheio
> pr-: placere > prazer
os grupos iniciais bl- e gl- se modificaram em br- e gr ou reduziram-se a
simples l.
QUADRO 21: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (2)
bl
> br-: blandu > brando
> l-: blastimare > lastimar
gl
> gr-: glute > grude
> l-: glattire > latir
Os grupos mediais -cl-, -fl- e -pl-, latinos ou românicos, precedidos de
consoantes, evoluem, em português, para -ch-; os mesmos grupos, e ainda -bl- e -gl,
depois de vogal, passam a -lh-. Em época posterior, esses grupos modificaram-se,
respectivamente, em -cr- ou -gr-; -fr-, -br- ou -pr-, -br- ou -vr-; -gr-; -tl- já se reduzira a
-cl- no próprio latim:
85
QUADRO 22: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (3)
Retomando a questão do aumento de vocabulário nos alunos de 7 anos, o
gráfico abaixo demonstra significativamente essa elevação. Os alunos de 5 anos
reconheceram somente 41,9% das palavras. os maiores tiveram um aumento no
vocabulário de 16,2 %. Esse aumento não se realiza apenas com o vocabulário
padrão, mas com palavras em que, como exposto acima, a criança aprende já
rotacizadas ou em que ela rotaciza por analogia a outras de uso mais geral em seu
meio social.
GRÁFICO 2: AUMENTO NO VOCABULÁRIO DOS ALUNOS 5-7 ANOS
-cl-
>- ch-: manc(u)la por macula > mancha
> -lh-: oc(u)lu > olho
> -gr-: eclesia > igreja
> -cr-: concludere > concruir (arc.)
-bl-
> -lh-: trib(u)lu > trilho
> -br-: obligare > obrigar
> -vr-: parab(o)la > palavra
-fl-
> -ch-: inflare > inchar
> -cr-: affligere> afrigir (arc.)
-gl-
> -lh-: coag(u)lu > coalho
> -gr-: reg(u)la > regra
-pl-
>- ch-: implere> encher
> -lh-: scop(u)lu > scoclu > escolho
> -br-: duplu > dobro
> -pr-: implicare > empregar
-tl-
> -cl- > -ch-
: ast(u)la>ascla
>acha
> -cl- > -lh-
: vet(u)lu>veclu
>velho
41,9%
58,1%
58,9%
41,1%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
5 anos 7 anos
reconhecidas não-reconhecidas
86
Para Paiva & Duarte (2007, p. 186), o estudo “painel” se realiza no recontato
de indivíduos gravados algum tempo. Considera-se, segundo as autoras, que
cerca de 18 anos, ou seja, o espaço de uma geração, “é suficiente para fornecer
indícios acerca da estabilidade ou mudança no comportamento linguístico do
indivíduo e da comunidade de fala.”
Nossos resultados, no entanto, apontam um espaço de tempo menor para a
mudança na fala de nossos informantes, conforme podemos observar a seguir:
TABELA 13: ROTACISMO (FAIXA ETÁRIA)
Variante Apl./ Total % PR
Faixa 5-7 294/648 45,4% .62
Faixa 9-11 160/694 23,1% .38
Conforme prevíamos, os mesmos informantes, em outra faixa etária,
reduziram o percentual de rotacismo em sua fala, ao passo que aumentaram o uso
da variante padrão. Essa redução da variante estigmatizada, no entanto, não
creditamos somente à mudança de faixa etária, mas à escolarização. Esse valor
conferido à escolaridade pôde ser observado na fala dos alunos que nesses quatro
anos, após as entrevistas, conseguiram acompanhar o processo de letramento. O
aumento da realização da forma padrão é significativo. Entretanto, a fala daqueles
que não conseguiram concluir o processo de alfabetização, daqueles que ficaram
retidos nos anos iniciais do ensino fundamental, revela ainda a predominância da
variante não-padrão. Assim, ainda que o tempo na escola seja o mesmo (quantidade
de anos), o aspecto qualitativo, ou seja, o que foi feito desses anos de escola é
decisivo na implementação da variante de prestígio. Dos alunos que recontactamos,
os que ainda não leem e não escrevem são os que apresentam um percentual alto
de rotacismo em sua fala.
Detalhando a situação atual desses alunos, o grupo de crianças de 5 anos
deveria estar cursando o quarto ano (antiga 3ª série); já o grupo de sete anos
deveria cursar o sexto ano (5ª série). Entretanto, dos trinta alunos recontactados,
seis não seguiram o curso normal de escolarização. Desses alunos, quatro estão no
terceiro ano, antiga 2ª série, e alcançaram esse nível, devido ao regime de ciclos,
no qual o aluno pode ficar retido se não atingir os objetivos propostos ao final de
87
um ciclo de três anos. Quanto aos outros dois alunos, um está cursando o quarto
ano, porém deveria estar no sexto; o outro, que também deveria estar na rie,
ano passado, foi inserido em uma classe de realfabetização, conseguindo ser
alfabetizado. Atualmente, está em uma classe de aceleração, para dar conta dos
conteúdos que ficaram defasados em função das dificuldades de leitura e de escrita
que apresentava. Esse último, talvez pelo trabalho de alfabetização, foi o único com
percentual reduzido de rotacismo (7,7%).
Quanto ao índice de reconhecimento de palavras, conforme se pode verificar
no item 6.1.1 deste trabalho, observamos um aumento no percentual de
identificação das palavras na amostra recontato.
6.8. GÊNERO/SEXO
John L.Fischer (1958), em seu trabalho “Influências sociais na escolha de
variantes linguísticas”, realizado a partir de entrevistas com 24 crianças, apresenta a
distribuição entre as variantes –ing e –in, sufixo de gerúndio em inglês, entre
meninos e meninas. Seus resultados demonstram que ing, forma de maior
prestígio, simboliza os falantes do sexo feminino e –in (forma de menor prestígio), os
meninos.
Mollica, Paiva & Pinto (1989) apresentam os resultados quanto à variável
sexo em relação ao apagamento da vibrante nos grupos consonantais, no linguajar
carioca, a exemplo de propriedade/ propiedade:
TABELA 14: RESULTADOS DE APAGAMENTO PELA VARIÁVEL SEXO (MOLLICA, PAIVA & PINTO, 1989)
Gênero/ sexo Frequência PR
Masculino 280/1137=25% .45
Feminino 468/1411=33% .57
Os resultados apontam que as mulheres fazem menor uso da forma não-
padrão que os homens. Diversos estudos (Chambers & Trudgill, 1980; Labov, 1991)
apresentam a influência da variável sexo na fala. Alguns apontam a ocorrência de
formas não-padrão como comum na fala masculina, sendo as mulheres mais
conservadoras da fala padrão, por ser a variante de maior prestígio. Outros estudos,
88
como o empreendido por Labov (1966), sobre o inglês de Nova York, demonstram
que as mulheres participam mais ativamente da mudança quando a nova forma
possui prestígio social. A esse respeito, Labov (1972, p. 243) assim se posiciona:
Aqui, como noutros, é evidente que as mulheres são mais sensíveis que os
homens à ostensiva dos valores sociolinguísticos. Mesmo quando as
mulheres usam as formas mais extremas de uma variável sociolinguística,
avançando em seu discurso casual, corrigem de forma mais acentuada do
que os homens em contextos formais.
12
Pressupondo que as mulheres utilizam mais as formas de prestígio,
pretendemos verificar se o rotacismo é mais recorrente na fala masculina. Os
resultados estão na tabela a seguir:
TABELA 15: ROTACISMO 2006 (FATOR SEXO)
Gênero/sexo Frequência Peso relativo
Feminino 170/322= 52,8% .57
Masculino 124/326= 38% .42
Conforme podemos observar, nossos resultados apontam, ao contrário do
esperado, as meninas realizando um percentual de rotacismo (variante
desprestigiada, estigmatizada) bem maior que o percentual dos meninos.
É importante salientar que a presença de outros fatores, como classe social,
conjugados ao gênero/sexo, podem apontar resultados diferentes em relação ao uso
de formas de prestígio. Paiva (2007, p. 37) afirma que as diferenças na fala de
homens e mulheres podem ser acentuadas ou atenuadas, de acordo com a classe
social a qual pertencem. Segundo a autora, de modo geral, na classe média as
diferenças na fala entre os gêneros são mais visíveis que nas classes alta e baixa.
Os resultados da tabela demonstram que as meninas rotacizaram mais
palavras que os meninos. A primeira hipótese para esse fato é de que elas teriam
reconhecido mais palavras que os meninos, porém essa diferença foi mínima e os
percentuais foram extraídos apenas das palavras reconhecidas. Uma explicação
para esse resultado poderia residir no perfil do sexo feminino na comunidade em
estudo. Há um percentual grande de mulheres que não concluem os estudos. Essas
12
Here as elsewhere, it is clear that women are more sensitive than men to overt
sociolinguistic values. Even when women use the most extreme forms of an advancing
sociolinguistic variable in their casual speech, they correct more sharply than men in formal
contexts.
89
situações são muito comuns na comunidade, visto que ainda muitos casos de
meninas que deixam a escola para cuidar da casa e dos irmãos mais novos, bem
como muita ocorrência de gravidez na adolescência: muitas mães solteiras e
desempregadas, que se dedicam a cuidar dos filhos.
TABELA 16: ROTACISMO 2010 (FATOR SEXO)
Gênero/sexo Frequência Peso relativo
Feminino 100/342=29,2% .58
Masculino 60/352=17% .41
Percebemos que as diferenças quanto ao rotacismo, na fala das crianças,
mantiveram-se, na amostra recontato. As meninas realizaram 29,2% de rotacismo,
enquanto os meninos apresentaram 17% de substituição da lateral pela vibrante. As
meninas, no entanto, aumentaram o peso relativo do fenômeno e os meninos
reduziram o peso, ainda que com um valor mínimo.
Cabe destacar que, na comunidade estudada é comum as mulheres se
dedicarem aos cuidados com o lar e com os filhos, enquanto os homens trabalham
fora de casa. Em entrevista recente com os pais dos entrevistados, percebemos que
60% das mães entrevistadas não trabalham; apenas os pais são responsáveis pelo
sustento do lar. Além disso, como citado anteriormente, muitas meninas
abandonam os estudos em razão de gravidez precoce ou em virtude da necessidade
de auxiliar seus pais nos afazeres domésticos.
6.9. ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES
Diversos estudos apontam a escolaridade como fator relevante no
comportamento dos falantes, em relação ao uso de determinadas variantes. A
escola, ao mesmo tempo em que gera mudanças na fala de seus alunos, incutindo-
lhes a forma considerada padrão, mostra-se fiel à preservação da variante de
prestígio, em face de mudanças dentro da comunidade.
Para uma análise cuidada das correlações entre variação e a variável
escolaridade, Votre (2007) estabelece algumas “distinções no interior de categorias
presentes na dinâmica social em que interage a escola”. Uma delas diz respeito à
90
diferença entre fenômeno socialmente estigmatizado e fenômeno imune à
estigmatização. O fenômeno socialmente estigmatizado é uma forma rejeitada pela
escola, considerada vício ou erro que na comunidade discursiva, como um todo,
funciona como um indicador de que o falante que a utiliza não possui prestígio
econômico e social. Segundo o autor, “a forma estigmatizada é interpretada como
inferior em termos estéticos e informativos, pelos membros da comunidade
discursiva. Assim, criam-se consensos quanto ao caráter estigmatizado dos usuários
de framengo, pobrema e homi.”
Outra distinção interessante diz respeito aos fenômenos controlados e os não
controlados pela escola. É interessante verificar que a escola “pune, com
veemência, o uso de formas com supressão e/ou troca de líquidas” (VOTRE, 2007,
p. 53). Entretanto, aceita formas redundantes como a expressão “há anos atrás”.
Podemos perceber que um grau de estigmatização muito alto em relação ao
rotacismo; por isso resolvemos investigar, em pouco tempo, o resultado da
escolarização na fala dos mesmos informantes. Acreditamos que não as
pressões da escola, como também a busca do falante, quando se conscientiza do
prestígio das formas valorizadas pela escola, podem ser responsáveis, em pouco
tempo, pelo abandono parcial ou total de formas estigmatizadas como o rotacismo.
A tabela abaixo mostra claramente a redução no percentual de rotacismo com
o aumento da escolarização:
TABELA 17: ROTACISMO TOTAL DE ANOS DE ESCOLARIDADE
Escolaridade Apl./ Total %
1-3 anos 294/648 45.4
5-7 anos 127/512 24.8
Nos primeiros anos de escolarização 45,4% das palavras reconhecidas foram
rotacizadas, enquanto com cinco ou mais anos de escolarização, percebe-se uma
redução do percentual de rotacismo, que passa a 24,8% das palavras reconhecidas.
Soma-se a isso, o crescimento do percentual de uso da variante padrão. Com base
nesses resultados, percebemos que fenômenos avaliados negativamente, como é
caso do rotacismo, tendem a desaparecer mais rápido com a escolarização. Em
apenas quatro anos, confirmando nossa hipótese, observamos que a variante
91
padrão passa a dominar as outras, principalmente se essa é estigmatizada, marcada
pelo preconceito.
Entretanto, a quantidade de anos que o aluno passa na escola não pressupõe
que todos sejam “afetados” por essa instituição normativa, da mesma maneira. Os
informantes desta pesquisa cumpriram mais quatro anos na escola, desde a primeira
entrevista. No entanto, alguns ficaram retidos, tendo de rever objetivos que ficaram
para trás. Parte desses alunos não consolidou o processo de letramento. Alguns não
leem e não escrevem. A escola não conseguiu, por diversos fatores, muitas vezes
externos a sua jurisdição, incutir-lhes a norma. Considerando que tempo não
significa qualidade, fizemos uma análise da aplicação de rotacismo na fala desses
alunos, em comparação com a fala dos alunos que seguiram o curso natural de
escolarização. Os resultados são observados a seguir:
TABELA 18: ESCOLARIDADE E ROTACISMO (ASPECTO QUALITATIVO)
Qualidade
Escolaridade
(2010)
Apl./ Total %
(w) Aprovados 106/574 18.5
(z) Retidos 54/120 45.0
A aplicação de rotacismo na fala dos alunos aprovados é de 18, 5%,
enquanto na fala dos alunos que ficaram retidos em um ou mais anos de
escolaridade é de 45%. Os resultados demonstram claramente que o percentual de
rotacismo não é elevado apenas nos primeiros anos de escolaridade: se não houver
paridade entre a quantidade de anos que se passa na escola e a qualidade do
processo de letramento, esse percentual continua elevado.
92
6.10. ESCOLARIDADE DOS GENITORES
Abaixo, seguem os resultados em cada faixa etária:
TABELA 19: ESCOLARIDADE PAI
Pai
13
Variante Apl./ Total % Peso relativo
EFI 210/374 56.1 .62
EFC 73/172 42.4 .49
EMI 2/20 10.0 .13
EMC 2/22 9.1 .11
Nos resultados dos pais, percebe-se claramente que nos filhos de pais com
ensino fundamental incompleto, a incidência de rotacismo é considerável (56,1%).
TABELA 20: ESCOLARIDADE MÃE
Mãe
14
Variante Apl./ Total % Peso relativo
EFI 183/375 48.8 .54.
EFC 33/138 23.9 .27
EMI 25/44 56.8 .61
EMC 43/78 55.1 .60
Nos resultados das es, houve certo enviezamento, visto que, pelos
percentuais, os filhos de mães com maior escolaridade parecem realizar mais
rotacismo que os filhos de mães com menor nível de escolarização. Percebe-se,
entretanto, que o total de mães em nível mais alto é menor que nos níveis menores
de escolaridade. Além disso, esse total de ensino médio incompleto representa
13
Legenda e codificação Goldvarb: EFI= ensino fundamental incompleto (n); EFC= ensino
fundamental completo (o); EMI= ensino médio incompleto (p) e EMC= ensino médio completo (q).
14
Legenda
e codificação Goldvarb: EFI= ensino fundamental incompleto (h); EFC= ensino
fundamental completo (i); EMI= ensino médio incompleto (j) e EMC= ensino médio completo (k).
93
apenas 2 informantes e o total de ensino médio completo, 4 informantes. Veja-se o
gráfico a seguir:
GRÁFICO 3: PERCENTUAL ESCOLARIDADE PAIS X ROTACISMO NA FALA DOS FILHOS
66,9%
12,4%
14,0%
6,7%
0
2
4
6
8
10
12
14
16
EFI EFC EMI EMC
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Pai Mãe rotacismo
Legenda:
EFI - Ensino Fundamental Incompleto
EFC - Ensino Fundamental Completo
EMI - Ensino Médio Incompleto
EMC - Ensino Médio Completo
O gráfico demonstra que quanto menor a escolaridade dos pais, maior a
ocorrência de rotacismo nos filhos. Fica evidente a queda na realização de rotacismo
entre o ensino fundamental incompleto e o ensino fundamental completo. É
interessante observar essa diferença em um mesmo nível de ensino.
Embora se esperasse que o percentual de rotacismo sofresse queda
progressiva com o aumento da escolaridade, uma pequena alteração (subida) no
percentual de rotacismo nos filhos de pais com ensino médio incompleto. Entretanto,
percebe-se que o percentual de mães nesse nível de escolaridade é menor que o
percentual de pais. A questão que se faz é a seguinte: terá a escolaridade das mães
influenciado esse aumento no índice de rotacismo dos filhos?
É inegável que as mães, nessa comunidade em especial, são mais atuantes
na educação dos filhos, devido a vários fatores, sinalizados mais acima e aqui
repetidos por conveniência: muitas são mães solteiras, não havendo participação
dos pais na criação dos filhos; há, ainda, muitas mães que não trabalham fora de
casa, enquanto os pais ficam a maior parte do dia no trabalho; nos dois casos, as
94
mães permanecem mais tempo com os filhos e, de certo modo, essa permanência
repercute na fala das crianças. Além disso, analisando os dados obtidos na
entrevista, observa-se que, em uma mesma família, o pai concluiu o primeiro
segmento (anos iniciais) do ensino fundamental, enquanto a mãe estudou até, no
máximo, a segunda série. Enfim, um percentual grande de mulheres que não
concluem os estudos.
6.11. PERFIL ECONÔMICO E CULTURAL DOS PAIS
Quanto ao perfil econômico e cultural dos pais, utilizaram-se como fonte de
informações entrevistas realizadas no início do ano letivo com os responsáveis. A
partir das declarações sobre funções exercidas no trabalho e salário, práticas de
lazer, acesso à tecnologia, contatos sociais e práticas de leitura, desenhamos um
retrato que acreditamos ser favorecedor da fala não-padrão, sendo um dos índices o
rotacismo.
6.11.1. Mercado de trabalho e renda
Concluiu-se que grande parte das famílias possui renda inferior a dois salários
mínimos, embora seja constituída, em geral, de, no mínimo, quatro pessoas. Essa
realidade é consequência de vários fatores, dentre eles, a baixa escolaridade que,
por sua vez, é resultado da pobreza, da falta de oportunidades. Enfim, uma
dificuldade origina outras ainda maiores.
QUADRO 23: MERCADO DE TRABALHO (DIFERENÇAS ENTRE PAIS E MÃES)
Mercado de trabalho
60% DAS MÃES NÃO TRABALHAM
30% GANHAM ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO
10% GANHAM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
59% DOS PAIS GANHAM ATÉ UM SALÁRIO
MÍNIMO
23% GANHAM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
18% GANHAM ATÉ 3 SALÁRIOS
Bortoni-Ricardo (2004, p. 48) aponta mercado de trabalho como um fator
condicionador do repertório linguístico de um falante. Para a autora, há certas
95
profissões que precisam de flexibilidade estilística, como professor, advogado, juiz,
caracterizadas pelo
domínio dos estilos monitorados.
Na entrevista realizada com os pais, conforme podemos verificar a seguir,
percebe-se que as profissões por eles ocupadas não exigem escolarização
avançada e, nem tampouco, um monitoramento na fala.
QUADRO 24: PROFISSÕES EXERCIDAS PELOS GENITORES
PROFISSÕES
Mães Pais
Diarista
Doméstica
Acompanhante de idoso
Manicure
Auxiliar de limpeza
Montador de andaime
Ajudante de caminhão
Salgadeiro
Motorista
Ajudante de carga de engradados
Motorista autônomo
Pedreiro
Padeiro
Auxiliar de rampa aeroporto
Taxista
Carregador
Bombeiro
Lancheiro
Auxiliar de serviços gerais
Ajudante de eletricista
Repositor de estoque
Açougueiro
Essas profissões, bem como o nível de escolarização, são fatores que estão
estreitamente ligados ao nível socioeconômico dos entrevistados. Verificamos, como
dito anteriormente, que a maioria dos informantes possui renda até um salário
mínimo. ainda aqueles que vivem da informalidade, não possuindo rendimento
fixo.
Segundo Bortoni-Ricardo (op. cit.) “as diferenças de status socioeconômico
representam desigualdades na distribuição de bens materiais e bens culturais, o que
se reflete em diferenças sociolinguísticas.”
6.11.2. Rede social
De acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p. 49), “cada um de s adota
comportamentos muito semelhantes ao das pessoas com que convivemos em nossa
rede social.” Além da rede social, a autora considera o grupo de referência, ou seja,
pessoas que são modelos de conduta para o indivíduo, embora não haja entre eles
96
interação. Essa referência é construída, por exemplo, quando o indivíduo assiste à
televisão. As características das pessoas com as quais um indivíduo interage, nos
diferentes domínios sociais, podem ser determinantes em seu repertório linguístico.
A mesma autora (2005, p. 96), ao associar resultados de estudos
socioantropológicos de redes e análises sociolinguísticas, conclui:
... as redes densas, cujos laços são contraídos em um território limitado, são
próprias de grupos de nível socioeconômico mais baixo, onde prevalece a
orientação para a identidade. Em termos sociolinguísticos, verifica-se que
nesses grupos, há uma forte tendência à preservação do vernáculo, ou seja,
da variedade usada no lar e no círculo de amigos e vizinhos.
os indivíduos com maior mobilidade social, por estabelecerem redes de
relacionamento mais esparsas, estão mais propensos a mudanças, no sentido da
aquisição da forma de prestígio.
Milroy (2001, p. 557) afirma que o comportamento linguístico (conservador vs
inovador) está relacionado à integração de três importantes redes, incluindo aquelas
que envolvem trabalho e exposição de variedades de línguas não-local.
15
Consoante Milroy (op. cit., p. 567), “enquanto o relacionamento entre a classe,
rede e mobilidade é evidente, o seu caráter exato ainda não é tão claro quanto são
os resultados linguísticos associados com as interações entre essas variáveis
sociais.”
16
Após análise das entrevistas, vimos que a maioria das mães não trabalha;
suas relações, desse modo, se estabelecem dentro da própria comunidade. os
pais, embora saiam da comunidade para trabalhar, em geral, seus empregos
localizam-se em comunidades próximas.
Os genitores citam como motivos para deixar o local onde residem: trabalho,
visitas a parentes, passeios a shoppings; entretanto, relatam que essas saídas são
raras. Na comunidade, a integração com outros indivíduos ocorre na praça, na
escola, nas igrejas e nas lanchonetes. As práticas de lazer ocorrem nesses locais.
Seus grupos de referência poderiam ser encontrados principalmente na televisão,
que a maioria não tem acesso à internet. Entretanto, não nos parece haver uma
influência desses meios de comunicação na fala dessas pessoas.
15
Overall, the best correlate of linguistic behavior (conservative vs. innovatory) was integration into
three important networks, including those which involved workplace and exposure to non-local
language varieties.
16
While the relationship between class, network, and mobility is evident, its precise character is a yet
unclear as are the linguistic outcomes associated with interactions between these social variables.
(Milroy, p. 567)
97
Apresentamos um quadro com o percentual de programas preferidos por
nossos informantes:
QUADRO 25: REDES SOCIAIS (GRUPOS DE REFERÊNCIA)
TV % preferência
novelas 39,29%
esportes 7,14%
prog auditório 10,71%
noticiários 21,43%
prog religioso 7,14%
filmes 14,29%
Constatamos ainda que a maioria possui televisão e faz uso frequente desse
entretenimento. Quanto ao rádio, sua utilização não é tão frequente. Contudo, pelo
menos é o que indica esta pesquisa; esses meios parecem, como dito
anteriormente, não exercer tanta influência na linguagem dos membros da
comunidade.
6.11.3. Acesso aos bens culturais (práticas de leitura)
O perfil cultural dos pais foi analisado por meio de informações sobre práticas
de leitura e escrita no lar. A maioria dos pais revelou que leitura e escrita não são
práticas comuns nas famílias. A leitura de jornais é esporádica, destacando-se
resumos de novelas, classificados e notícias policiais. Não desconsideramos a
leitura de jornal pelo conteúdo ou pelas seções mais lidas, mas por sua frequência.
A leitura de revistas é rara nessa comunidade; de livros, também. Para este trabalho,
importa reconhecer que a realidade linguística desse grupo está atrelada a fatores
socioeconômicos e culturais.
98
CONCLUSÃO
Esta dissertação se propôs a investigar o processo de rotacismo do /l/ nos
encontros consonantais, formulando hipóteses que comprovassem que fatores
sociais são decisivos na substituição de [l] por [Ȏ], considerando escolaridade como a
principal variável.
Procuramos evidenciar que o rotacismo constitui fenômeno de variação
estável no português, de uma forma geral, e na comunidade estudada, mais
particularmente. Por meio de informações sobre a formação da língua portuguesa a
partir do latim vulgar, conseguimos demonstrar a estabilidade da alternância entre as
líquidas.
Além da relevância dos fatores sociais, pretendemos identificar os fatores
estruturais significativos para a ocorrência do fenômeno. As análises empreendidas
demonstraram que o cruzamento de fatores, como modo de articulação, presença de
líquida, vozeamento e tonicidade, mostrou-se mais produtivo que a análise dos
fatores isoladamente.
No decorrer da análise, observou-se uma interessante coincidência de
fatores, principalmente no que se refere à escolaridade. Assim sendo, quanto menor
a escolarização, maior a ocorrência de rotacismo. A influência dessa variável na
realização do fenômeno foi confirmada. A baixa escolaridade revelou-se uma das
principais variáveis favorecedoras ao fenômeno na primeira amostra. Na amostra
resultante do recontato, verificamos uma queda considerável no percentual de
rotacismo. Para uma análise mais precisa, realizamos a comparação entre a fala dos
alunos que seguiram o curso normal da escolarização e a fala daqueles que ficaram
retidos, na amostra recontato. Os dados revelaram que o rotacismo permanece com
percentual elevado de realização na fala dos informantes que não consolidaram o
processo de letramento. Comprovamos através dos resultados que, pelo fato de ser
o fenômeno do rotacismo estigmatizado socialmente, a mudança no sentido da
implementação da variante padrão na fala desses informantes vem ocorrendo com
mais velocidade que em outros fenômenos, para os quais, geralmente, a mudança
se verifica no período de, pelo menos, uma geração.
99
Apresenta-se abaixo um trecho, extraído de Coutinho (2005: 30), que retrata
claramente as classes que falavam o latim vulgar:
A estas pertenciam os soldados (milites), os marinheiros (nautae), os
artífices (fabri), os agricultores (agricolae), os barbeiros (tonsores), os
sapateiros (sutores), os taverneiros (caupones), os artistas de circo
(histriones), etc., homens livres e escravos, que se acotovelavam nas ruas,
que se comprimiam nas praças, que freqüentavam o fórum, que
superlotavam os teatros, a negócio ou em busca de diversões, toda essa
gente, enfim, que, se passara pela escola, dela só conservara os
conhecimentos mais necessários ao exercício da sua atividade.
Em comparação com a realidade do grupo amostral estudado, há muitas
semelhanças, como apontado anteriormente nos dados sobre perfil social dos pais.
Essas similaridades envolvem grau de escolaridade, profissão e acesso a bens
culturais. Em primeiro lugar, a maioria dos pais não concluiu o ensino fundamental.
Depois, quanto às profissões, estas não exigem um grau de escolaridade elevado:
há muitos pedreiros, motoristas, empregadas domésticas, auxiliares de serviços
gerais, trabalhadores do comércio, trabalhadores que exercem serviços temporários
e, ainda, muitos desempregados. O acesso aos bens culturais é bastante limitado.
Além disso, a leitura e a escrita, em geral, não são práticas comuns na família. As
características acima propiciam a realização da fala não-padrão, sendo um índice
dessa ocorrência o rotacismo. É certo que a continuidade dos estudos, a ampliação
dos contatos sociais e o acesso à cultura podem incutir a fala padrão, mesmo nas
pessoas que nasceram em comunidades desfavorecidas.
Acreditamos ter cumprido nossos objetivos, contribuindo para a descrição do
português, visto que utilizamos dados de fala para a descrição do fenômeno, por
meio de uma análise variacionista. Além disso, formalizamos o processo fonológico
de substituição de /l/ por /r/ nos grupos consonantais, por meio da Geometria de
Traços (CLEMENTS & HUME, 1995), observando que características articulatórias
favorecem a substituição e que traços são manipulados nessa operação.
Evidentemente, a simplificação e sistematização aqui propostas merecem um
aprofundamento posterior, seja através do levantamento de outros vocábulos, seja
pela ampliação das obras referenciais ou mesmo pela realização da pesquisa em
outras faixas etárias. Espera-se, contudo, que a pesquisa tenha prestado alguma
contribuição para os estudos sobre variação fonológica, de uma forma geral, e sobre
o rotacismo, mais especificamente.
100
REFERÊNCIAS
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study in theory and reconstruction. Cambridge: Cambridge University Press,
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107
ANEXO A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA
108
PALAVRAS
ESTRATÉGIAS DA ENTREVISTA
plástico
Apresentou-se uma embalagem de cola e perguntou-se: “De que
material é feito esse tubo de cola?
Flamengo Foto de jornal
Fluminense Foto de jornal
placa Foto de jornal
planta Ilustração de um livro
explodir
Desenho de uma bomba seguido de pergunta: “Se eu acender o pavio,
o que vai acontecer?”
Pluto “Como se chama o cachorro do Mickey?”
claro “Quando o dia não está escuro, está...?
planeta Ilustração de um livro
flocos Ilustração de um sorvete. “Qual o sabor desse sorvete?”
flor Ilustração de um livro
chiclete Embalagem do doce
blusa Ilustração de um livro
bloco Ilustração de um livro
Globo Logomarca da TV Globo
Cláudia “Qual o nome da professora que trabalha nessa sala à tarde?
flagra
O entrevistador perguntava: “O que você costuma dizer quando vê
alguém fazendo algo errado às escondidas? Peguei no...”
flecha Ilustração de um livro
floresta Ilustração de um livro
bicicleta Ilustração de um livro
biblioteca
“Como se chama o local onde são guardados os livros e onde
podemos consultá-los?”
Bíblia Ilustração de um livro
problema “Quando você está em situação difícil, está com um...para resolver.”
flauta Ilustração de um livro
clóvis “Qual o outro nome dado ao bate-bola?”
cloro
“Como se chama o líquido que colocamos em roupas brancas para
retirar manchas?”
glacê
Ilustração de um bolo, no qual o entrevistador perguntava o nome
dado à cobertura.
atleta Ilustração de um livro
completo “Terminei minha coleção de figurinhas, meu álbum está...”
nublado
“Quando há sol forte, o tempo está ensolarado. E quando há muitas
nuvens escuras no céu, o tempo está...”
Floribela Foto de revista
109
ANEXO B: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 5-7
110
• CELL CREATION • 27/7/2010 20:31:16
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of token file: ROTACISMO 5-7.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
)
Number of cells: 194
Application value(s): 0
Total no. of factors: 22
Non-
Group Apps apps Total %
--------------------------------------
1 (2)
f N 170 152 322 49.7
% 52.8 47.2
m N 124 202 326 50.3
% 38.0 62.0
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
2 (3)
n N 210 164 374 57.7
% 56.1 43.9
o N 73 99 172 26.5
% 42.4 57.6
r N 7 53 60 9.3
% 11.7 88.3
p N 2 18 20 3.1
% 10.0 90.0
q N 2 20 22 3.4
% 9.1 90.9
Total N 294 354 648
111
% 45.4 54.6
--------------------------------------
3 (4)
h N 183 192 375 57.9
% 48.8 51.2
j N 25 19 44 6.8
% 56.8 43.2
i N 33 105 138 21.3
% 23.9 76.1
l N 10 3 13 2.0
% 76.9 23.1
k N 43 35 78 12.0
% 55.1 44.9
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
4 (5)
x N 219 248 467 72.1
% 46.9 53.1
y N 75 106 181 27.9
% 41.4 58.6
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
5 (6)
S N 211 266 477 73.6
% 44.2 55.8
R N 83 88 171 26.4
% 48.5 51.5
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
6 (7)
t N 222 234 456 70.4
% 48.7 51.3
a N 72 120 192 29.6
% 37.5 62.5
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
112
7 (8)
I N 194 222 416 64.2
% 46.6 53.4
N N 100 132 232 35.8
% 43.1 56.9
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
8 (9)
A N 221 238 459 70.8
% 48.1 51.9
L N 73 116 189 29.2
% 38.6 61.4
Total N 294 354 648
% 45.4 54.6
--------------------------------------
TOTAL N 294 354 648
% 45.4 54.6
Name of new cell file: .cel
• GROUPS & FACTORS • 27/7/2010 20:31:29
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
----------------
Group Default Factors
1 0 012
2 f fm
3 n nopqr
4 h hijkl
5 x xy
6 S SR
7 t ta
8 I IN
9 L LA
• BINOMIAL VARBRUL • 27/7/2010 20:31:48
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
Threshold, step-up/down: 0.050001
Stepping up...
---------- Level # 0 ----------
113
Run # 1, 1 cells:
Convergence at Iteration 2
Input 0.454
Log likelihood = -446.378
---------- Level # 1 ----------
Run # 2, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.453
Group # 1 -- f: 0.575, m: 0.426
Log likelihood = -439.234 Significance = 0.000
Run # 3, 5 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.433
Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.127, q: 0.116
Log likelihood = -408.467 Significance = 0.000
Run # 4, 5 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.449
Group # 3 -- h: 0.540, j: 0.618, i: 0.279, l: 0.804, k: 0.602
Log likelihood = -426.498 Significance = 0.000
Run # 5, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.454
Group # 4 -- x: 0.515, y: 0.461
Log likelihood = -445.591 Significance = 0.212
Run # 6, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.454
Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.532
Log likelihood = -445.908 Significance = 0.344
Run # 7, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.453
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420
Log likelihood = -442.937 Significance = 0.009
Run # 8, 2 cells:
Convergence at Iteration 3
Input 0.454
Group # 7 -- I: 0.513, N: 0.478
Log likelihood = -446.003 Significance = 0.405
Run # 9, 2 cells:
114
Convergence at Iteration 4
Input 0.453
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432
Log likelihood = -443.910 Significance = 0.029
Add Group # 2 with factors norpq
---------- Level # 2 ----------
Run # 10, 8 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.543, m: 0.457
Group # 2 -- n: 0.625, o: 0.480, r: 0.156, p: 0.148, q: 0.135
Log likelihood = -406.501 Significance = 0.048
Run # 11, 13 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.433
Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.515, r: 0.224, p: 0.130, q: 0.046
Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.563, i: 0.339, l: 0.735, k: 0.732
Log likelihood = -395.964 Significance = 0.000
Run # 12, 10 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.128, q: 0.118
Group # 4 -- x: 0.514, y: 0.464
Log likelihood = -407.878 Significance = 0.282
Run # 13, 10 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.128, q: 0.117
Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.530
Log likelihood = -408.090 Significance = 0.403
Run # 14, 10 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.628, o: 0.491, r: 0.145, p: 0.126, q: 0.118
Group # 6 -- t: 0.537, a: 0.414
Log likelihood = -404.830 Significance = 0.009
Run # 15, 10 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.147, p: 0.126, q: 0.116
Group # 7 -- I: 0.516, N: 0.471
Log likelihood = -407.912 Significance = 0.294
115
Run # 16, 10 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.494, r: 0.145, p: 0.124, q: 0.114
Group # 8 -- A: 0.533, L: 0.420
Log likelihood = -405.416 Significance = 0.014
Add Group # 3 with factors hjilk
---------- Level # 3 ----------
Run # 17, 18 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.614, o: 0.497, r: 0.229, p: 0.158, q: 0.049
Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.517, i: 0.347, l: 0.690, k: 0.760
Log likelihood = -393.506 Significance = 0.029
Run # 18, 26 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.433
Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.516, r: 0.224, p: 0.130, q: 0.046
Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.565, i: 0.337, l: 0.734, k: 0.735
Group # 4 -- x: 0.517, y: 0.457
Log likelihood = -395.169 Significance = 0.209
Run # 19, 26 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.433
Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.515, r: 0.224, p: 0.131, q: 0.046
Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.562, i: 0.338, l: 0.734, k: 0.733
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.534
Log likelihood = -395.510 Significance = 0.354
Run # 20, 26 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.129, q: 0.045
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.567, i: 0.335, l: 0.740, k: 0.738
Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406
Log likelihood = -391.845 Significance = 0.007
Run # 21, 26 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.433
Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.516, r: 0.223, p: 0.129, q: 0.046
Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.564, i: 0.339, l: 0.739, k: 0.730
Group # 7 -- I: 0.515, N: 0.474
Log likelihood = -395.532 Significance = 0.368
116
Run # 22, 26 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.518, r: 0.222, p: 0.126, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.570, i: 0.335, l: 0.748, k: 0.735
Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.413
Log likelihood = -392.462 Significance = 0.009
Add Group # 6 with factors ta
---------- Level # 4 ----------
Run # 23, 35 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.694, k: 0.766
Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406
Log likelihood = -389.402 Significance = 0.030
Run # 24, 52 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.223, p: 0.129, q: 0.045
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.568, i: 0.335, l: 0.739, k: 0.739
Group # 4 -- x: 0.507, y: 0.481
Group # 6 -- t: 0.538, a: 0.411
Log likelihood = -391.704 Significance = 0.612
Run # 25, 52 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.130, q: 0.045
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.566, i: 0.335, l: 0.739, k: 0.740
Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.539
Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404
Log likelihood = -391.230 Significance = 0.273
Run # 26, 52 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.128, q: 0.045
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.567, i: 0.336, l: 0.742, k: 0.737
Group # 6 -- t: 0.539, a: 0.409
Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484
Log likelihood = -391.696 Significance = 0.602
Run # 27, 52 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
117
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.126, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.572, i: 0.333, l: 0.751, k: 0.739
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419
Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427
Log likelihood = -389.546 Significance = 0.036
Add Group # 1 with factors fm
---------- Level # 5 ----------
Run # 28, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.766
Group # 4 -- x: 0.507, y: 0.482
Group # 6 -- t: 0.538, a: 0.410
Log likelihood = -389.282 Significance = 0.640
Run # 29, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.157, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.520, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.767
Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538
Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404
Log likelihood = -388.831 Significance = 0.288
Run # 30, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.226, p: 0.155, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.696, k: 0.765
Group # 6 -- t: 0.539, a: 0.408
Group # 7 -- I: 0.507, N: 0.487
Log likelihood = -389.301 Significance = 0.665
Run # 31, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.226, p: 0.154, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419
Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425
Log likelihood = -387.008 Significance = 0.032
Add Group # 8 with factors AL
118
---------- Level # 6 ----------
Run # 32, 125 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.446
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767
Group # 4 -- x: 0.496, y: 0.510
Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417
Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.423
Log likelihood = -386.973 Significance = 0.793
Run # 33, 116 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.341, l: 0.705, k: 0.768
Group # 5 -- S: 0.491, R: 0.526
Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417
Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430
Log likelihood = -386.756 Significance = 0.484
Run # 34, 129 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422
Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484
Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425
Log likelihood = -386.850 Significance = 0.590
No remaining groups significant
Groups selected while stepping up: 2 3 6 1 8
Best stepping up run: #31
---------------------------------------------
Stepping down...
---------- Level # 8 ----------
Run # 35, 194 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.224, p: 0.153, q: 0.047
119
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766
Group # 4 -- x: 0.497, y: 0.509
Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.535
Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.418
Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480
Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427
Log likelihood = -386.444
---------- Level # 7 ----------
Run # 36, 152 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.219, p: 0.126, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.334, l: 0.752, k: 0.738
Group # 4 -- x: 0.499, y: 0.503
Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.536
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420
Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.475
Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430
Log likelihood = -388.874 Significance = 0.031
Run # 37, 100 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.446
Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.429
Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.770, k: 0.651
Group # 4 -- x: 0.499, y: 0.503
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.534
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422
Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480
Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435
Log likelihood = -414.580 Significance = 0.000
Run # 38, 99 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.543, m: 0.457
Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.482, r: 0.150, p: 0.143, q: 0.135
Group # 4 -- x: 0.497, y: 0.508
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.532
Group # 6 -- t: 0.531, a: 0.426
Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.475
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.433
Log likelihood = -400.113 Significance = 0.000
Run # 39, 160 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.224, p: 0.153, q: 0.047
120
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420
Group # 7 -- I: 0.513, N: 0.477
Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.429
Log likelihood = -386.469 Significance = 0.829
Run # 40, 165 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.526, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.765
Group # 4 -- x: 0.501, y: 0.496
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.423
Group # 7 -- I: 0.510, N: 0.482
Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.426
Log likelihood = -386.850 Significance = 0.385
Run # 41, 145 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.449
Group # 2 -- n: 0.614, o: 0.500, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.524, i: 0.344, l: 0.707, k: 0.762
Group # 4 -- x: 0.511, y: 0.472
Group # 5 -- S: 0.492, R: 0.521
Group # 7 -- I: 0.523, N: 0.459
Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.423
Log likelihood = -389.018 Significance = 0.025
Run # 42, 164 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.154, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.523, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.768
Group # 4 -- x: 0.491, y: 0.522
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533
Group # 6 -- t: 0.537, a: 0.412
Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.424
Log likelihood = -386.594 Significance = 0.601
Run # 43, 145 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.551, m: 0.450
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.698, k: 0.765
Group # 4 -- x: 0.509, y: 0.477
Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538
121
Group # 6 -- t: 0.536, a: 0.414
Group # 7 -- I: 0.517, N: 0.469
Log likelihood = -388.454 Significance = 0.047
Cut Group # 4 with factors xy
---------- Level # 6 ----------
Run # 44, 126 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.219, p: 0.126, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.333, l: 0.752, k: 0.738
Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.536
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420
Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.474
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.431
Log likelihood = -388.879 Significance = 0.031
Run # 45, 81 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.446
Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.429
Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.770, k: 0.651
Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422
Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480
Group # 8 -- A: 0.526, L: 0.436
Log likelihood = -414.585 Significance = 0.000
Run # 46, 79 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.544, m: 0.457
Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.482, r: 0.150, p: 0.143, q: 0.135
Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.530
Group # 6 -- t: 0.531, a: 0.427
Group # 7 -- I: 0.515, N: 0.473
Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435
Log likelihood = -400.135 Significance = 0.000
Run # 47, 129 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422
Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484
Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425
Log likelihood = -386.850 Significance = 0.401
122
Run # 48, 116 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.500, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.523, i: 0.344, l: 0.706, k: 0.762
Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.528
Group # 7 -- I: 0.517, N: 0.469
Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.414
Log likelihood = -389.211 Significance = 0.019
Run # 49, 116 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.341, l: 0.705, k: 0.768
Group # 5 -- S: 0.491, R: 0.526
Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417
Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430
Log likelihood = -386.756 Significance = 0.462
Run # 50, 119 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.449
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.225, p: 0.156, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.697, k: 0.766
Group # 5 -- S: 0.484, R: 0.545
Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.407
Group # 7 -- I: 0.512, N: 0.478
Log likelihood = -388.565 Significance = 0.043
Cut Group # 7 with factors IN
---------- Level # 5 ----------
Run # 51, 90 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.127, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.333, l: 0.749, k: 0.740
Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.528
Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.416
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432
Log likelihood = -389.256 Significance = 0.028
Run # 52, 56 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.446
123
Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.428
Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.767, k: 0.652
Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.527
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420
Group # 8 -- A: 0.526, L: 0.437
Log likelihood = -414.833 Significance = 0.000
Run # 53, 56 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.544, m: 0.456
Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.481, r: 0.151, p: 0.145, q: 0.135
Group # 5 -- S: 0.492, R: 0.522
Group # 6 -- t: 0.532, a: 0.424
Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435
Log likelihood = -400.570 Significance = 0.000
Run # 54, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.226, p: 0.154, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419
Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425
Log likelihood = -387.008 Significance = 0.484
Run # 55, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.227, p: 0.155, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.701, k: 0.764
Group # 5 -- S: 0.494, R: 0.518
Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.413
Log likelihood = -389.762 Significance = 0.015
Run # 56, 68 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.157, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.520, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.767
Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538
Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404
Log likelihood = -388.831 Significance = 0.044
Cut Group # 5 with factors SR
---------- Level # 4 ----------
124
Run # 57, 52 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.126, q: 0.044
Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.572, i: 0.333, l: 0.751, k: 0.739
Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419
Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427
Log likelihood = -389.546 Significance = 0.026
Run # 58, 32 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.446
Group # 1 -- f: 0.573, m: 0.428
Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.768, k: 0.651
Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.433
Log likelihood = -415.122 Significance = 0.000
Run # 59, 32 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.431
Group # 1 -- f: 0.545, m: 0.456
Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.481, r: 0.151, p: 0.144, q: 0.135
Group # 6 -- t: 0.532, a: 0.425
Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432
Log likelihood = -400.759 Significance = 0.000
Run # 60, 35 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.446
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.227, p: 0.154, q: 0.047
Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.702, k: 0.763
Group # 8 -- A: 0.537, L: 0.411
Log likelihood = -389.882 Significance = 0.017
Run # 61, 35 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.432
Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448
Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048
Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.694, k: 0.766
Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406
Log likelihood = -389.402 Significance = 0.032
All remaining groups significant
Groups eliminated while stepping down: 4 7 5
Best stepping up run: #31
Best stepping down run: #54
125
• BINOMIAL VARBRUL, 1 step • 27/7/2010 20:32:05
••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
One-level binomial analysis...
Run # 1, 194 cells:
Convergence at Iteration 9
Input 0.431
Group Factor Weight App/Total Input&Weight
1: f 0.553 0.53 0.48
m 0.448 0.38 0.38
2: n 0.615 0.56 0.55
o 0.499 0.42 0.43
r 0.224 0.12 0.18
p 0.153 0.10 0.12
q 0.047 0.09 0.04
3: h 0.488 0.49 0.42
j 0.524 0.57 0.46
i 0.342 0.24 0.28
l 0.708 0.77 0.65
k 0.766 0.55 0.71
4: x 0.497 0.47 0.43
y 0.509 0.41 0.44
5: S 0.487 0.44 0.42
R 0.535 0.49 0.47
6: t 0.535 0.49 0.47
a 0.418 0.38 0.35
7: I 0.511 0.47 0.44
N 0.480 0.43 0.41
8: A 0.530 0.48 0.46
L 0.427 0.39 0.36
Cell Total App'ns Expected Error
mriyStIL 3 1 0.226 2.874
mriyStIA 4 0 0.439 0.493
mriySaIL 3 0 0.145 0.152
mriySaIA 3 0 0.214 0.231
mrixStNA 6 0 0.563 0.621
mrixStIL 2 0 0.144 0.155
mrixStIA 9 1 0.945 0.004
126
mrixSaNL 2 0 0.082 0.085
mrixRtNL 1 0 0.076 0.083
mrixRtNA 2 0 0.222 0.250
mrixRtIA 4 0 0.497 0.568
mrixRaNA 3 0 0.218 0.235
mrixRaIA 1 1 0.081 11.278
mqkyStIL 2 1 0.161 4.762
mqkyStIA 2 0 0.234 0.265
mqkySaIL 2 0 0.104 0.109
mqkySaIA 2 0 0.153 0.165
mqkxStNA 3 0 0.300 0.334
mqkxStIA 4 0 0.448 0.505
mqkxSaNL 1 0 0.044 0.046
mqkxSaIA 1 0 0.073 0.079
mqkxRtNL 1 1 0.082 11.254
mqkxRtNA 1 0 0.119 0.135
mqkxRtIA 1 0 0.132 0.153
mqkxRaNA 2 0 0.155 0.168
mphyStIL 1 0 0.085 0.093
mphyStIA 2 0 0.248 0.283
mphySaIL 1 0 0.055 0.058
mphySaIA 2 0 0.162 0.177
mphxStNA 3 0 0.319 0.357
mphxStIL 1 0 0.082 0.089
mphxStIA 4 1 0.475 0.658
mphxSaNL 1 0 0.047 0.049
mphxSaIA 1 0 0.078 0.084
mphxRtNL 1 0 0.087 0.095
mphxRtIA 2 1 0.280 2.149
mphxRaNA 1 0 0.082 0.090
mokyStIL 2 2 1.277 1.132
mokyStIA 2 2 1.456 0.747
mokySaIL 2 0 1.049 2.208
mokySaIA 2 2 1.252 1.196
mokxStNA 3 3 2.077 1.334
mokxStIL 1 1 0.627 0.594
mokxStIA 5 5 3.591 1.961
mokxSaNL 1 1 0.481 1.078
mokxSaIA 1 1 0.614 0.628
mokxRtNL 1 1 0.642 0.557
mokxRtNA 1 1 0.731 0.368
mokxRtIA 2 2 1.510 0.648
mokxRaNA 2 1 1.259 0.144
moiyStIL 3 1 0.656 0.230
moiyStIA 1 1 0.298 2.357
moiySaIL 2 0 0.298 0.350
moiySaIA 3 1 0.629 0.278
moixStNA 7 3 1.839 0.993
moixStIL 1 0 0.211 0.267
moixStIA 8 3 2.302 0.297
moixSaNL 3 1 0.385 1.130
127
moixRtNL 3 1 0.665 0.217
moixRtNA 2 0 0.603 0.862
moixRtIA 3 1 0.985 0.000
moixRaNA 3 1 0.637 0.263
mnkyStIL 1 0 0.740 2.840
mnkyStIA 1 1 0.811 0.232
mnkySaIL 1 0 0.640 1.775
mnkySaIA 2 1 1.458 0.530
mnkxStNA 2 2 1.567 0.553
mnkxStIL 1 0 0.730 2.706
mnkxStIA 3 2 2.412 0.358
mnkxSaNL 1 1 0.599 0.671
mnkxSaIA 1 1 0.719 0.391
mnkxRtNL 1 1 0.743 0.346
mnkxRtIA 1 0 0.832 4.957
mnkxRaNA 1 1 0.732 0.366
mnixStIA 1 0 0.394 0.650
mnhyStIL 14 8 6.333 0.802
mnhyStIA 10 5 5.558 0.126
mnhySaIL 9 0 3.063 4.644
mnhySaIA 13 6 5.703 0.028
mnhxStNA 27 10 13.836 2.181
mnhxStIL 1 1 0.440 1.271
mnhxStIA 32 15 17.399 0.725
mnhxSaNL 11 5 3.327 1.207
mnhxSaIA 2 2 0.854 2.686
mnhxRtNL 9 5 4.107 0.357
mnhxRtNA 2 1 1.119 0.029
mnhxRtIA 18 12 10.627 0.433
mnhxRaNA 12 2 5.312 3.706
friyStIL 1 1 0.110 8.064
friySaIA 1 0 0.105 0.117
frixStNA 1 1 0.136 6.337
frixStIA 1 0 0.152 0.179
frixRtIA 1 1 0.178 4.621
frhyStIL 1 0 0.185 0.227
frhySaIA 1 0 0.177 0.215
frhxStNA 2 0 0.449 0.579
frhxStIL 1 0 0.178 0.217
frhxStIA 2 0 0.494 0.657
frhxSaNL 1 0 0.107 0.119
frhxRtIA 2 1 0.568 0.458
frhxRaNL 1 0 0.126 0.144
frhxRaNA 1 0 0.180 0.219
fojyStIL 2 1 0.951 0.005
fojySaIL 2 0 0.723 1.133
fojySaIA 1 1 0.462 1.165
fojxStNA 3 0 1.607 3.462
fojxStIL 1 0 0.463 0.864
fojxStIA 2 0 1.134 2.617
fojxSaNL 1 1 0.323 2.101
128
fojxRtNL 1 0 0.480 0.922
fojxRtNA 1 0 0.583 1.396
fojxRtIA 2 1 1.226 0.107
fojxRaNA 2 0 0.932 1.744
foiyStIL 3 2 0.898 1.931
foiyStIA 1 1 0.393 1.546
foiySaIL 4 0 0.843 1.067
foiySaIA 2 1 0.576 0.439
foixStNA 6 0 2.113 3.261
foixStIL 1 0 0.289 0.407
foixStIA 5 1 1.906 0.697
foixSaNL 1 1 0.183 4.460
foixRtNL 1 0 0.303 0.434
foixRtNA 1 0 0.397 0.657
foixRtIA 4 2 1.708 0.087
foixRaNA 2 0 0.582 0.822
fohyStIL 4 1 1.757 0.582
fohyStIA 5 4 2.714 1.334
fohySaIL 6 2 1.972 0.001
fohySaIA 2 1 0.852 0.045
fohxStNA 8 4 3.994 0.000
fohxStIL 4 1 1.710 0.514
fohxStIA 11 5 5.837 0.256
fohxSaNL 3 1 0.874 0.025
fohxSaIA 1 1 0.414 1.416
fohxRtNL 1 0 0.443 0.796
fohxRtNA 2 0 1.093 2.412
fohxRtIA 7 4 4.043 0.001
fohxRaNA 5 2 2.149 0.018
fnlyStIL 1 1 0.763 0.311
fnlySaIL 2 1 1.335 0.253
fnlxStNA 3 2 2.410 0.355
fnlxStIA 2 2 1.645 0.432
fnlxSaNL 1 1 0.628 0.593
fnlxRtNL 1 1 0.765 0.306
fnlxRtIA 2 1 1.697 1.892
fnlxRaNA 1 1 0.755 0.324
fnkyStIL 2 1 1.625 1.281
fnkyStIA 1 0 0.868 6.561
fnkySaIL 1 0 0.730 2.706
fnkySaIA 1 0 0.804 4.099
fnkxStNA 2 2 1.693 0.363
fnkxStIL 1 0 0.805 4.126
fnkxStIA 2 2 1.724 0.320
fnkxSaIA 1 0 0.796 3.905
fnkxRtNL 1 1 0.815 0.227
fnkxRtIA 2 2 1.766 0.265
fnkxRaNA 1 1 0.806 0.240
fnjyStIL 3 2 1.779 0.067
fnjyStIA 1 1 0.688 0.453
fnjySaIL 2 0 0.953 1.821
129
fnjySaIA 2 2 1.159 1.450
fnjxStNA 4 4 2.599 2.156
fnjxStIL 1 0 0.581 1.389
fnjxStIA 5 5 3.389 2.377
fnjxSaNL 1 1 0.433 1.307
fnjxRtNL 1 1 0.597 0.675
fnjxRtIA 3 3 2.154 1.179
fnjxRaNA 2 1 1.167 0.058
fnjxRaIA 1 1 0.614 0.629
fniyStIL 2 1 0.814 0.072
fniyStIA 1 0 0.510 1.040
fniySaIL 1 0 0.300 0.429
fnixStNA 3 0 1.399 2.621
fnixStIA 4 0 1.991 3.962
fnixSaNL 1 1 0.265 2.775
fnixSaIA 1 1 0.382 1.616
fnixRtNL 1 1 0.411 1.433
fnixRtIA 2 1 1.090 0.016
fnixRaNA 2 0 0.795 1.321
fnixRaIA 1 1 0.428 1.336
fnhyStIL 9 7 5.017 1.771
fnhyStIA 7 5 4.593 0.105
fnhySaIL 8 1 3.523 3.229
fnhySaIA 6 6 3.263 5.034
fnhxStNA 18 15 11.084 3.600
fnhxStIL 8 2 4.363 2.816
fnhxStIA 25 17 16.126 0.133
fnhxSaNL 6 4 2.388 1.807
fnhxSaIA 2 2 1.063 1.761
fnhxRtNL 5 3 2.807 0.030
fnhxRtNA 3 2 1.979 0.001
fnhxRtIA 14 10 9.622 0.047
fnhxRaNA 11 6 6.026 0.000
fnhxRaIA 2 2 1.157 1.456
Total Chi-square = 235.0051
Chi-square/cell = 1.2114
Log likelihood = -386.444
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:33:46
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:31:16
• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #4 -- horizontally.
Group #5 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
S 0: 136 46: 75 41| 211 44
130
-: 160 54: 106 59| 266 56
: 296 : 181 | 477
+ - - - - + - - - - + - - - -
R 0: 83 49: 0 --| 83 49
-: 88 51: 0 --| 88 51
: 171 : 0 | 171
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:33:55
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:31:16
• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #4 -- horizontally.
Group #6 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
t 0: 172 47: 50 54| 222 49
-: 192 53: 42 46| 234 51
: 364 : 92 | 456
+ - - - - + - - - - + - - - -
a 0: 47 46: 25 28| 72 38
-: 56 54: 64 72| 120 62
: 103 : 89 | 192
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:34:05
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:31:16
• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #4 -- horizontally.
Group #7 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
I 0: 119 51: 75 41| 194 47
-: 116 49: 106 59| 222 53
: 235 : 181 | 416
+ - - - - + - - - - + - - - -
131
N 0: 100 43: 0 --| 100 43
-: 132 57: 0 --| 132 57
: 232 : 0 | 232
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:34:19
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:31:16
• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #4 -- horizontally.
Group #8 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
A 0: 180 48: 41 51| 221 48
-: 198 52: 40 49| 238 52
: 378 : 81 | 459
+ - - - - + - - - - + - - - -
L 0: 39 44: 34 34| 73 39
-: 50 56: 66 66| 116 61
: 89 : 100 | 189
+---------+---------+---------
0: 219 47: 75 41| 294 45
-: 248 53: 106 59| 354 55
: 467 : 181 | 648
132
ANEXO C: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 9-11
133
• CELL CREATION • 27/7/2010 20:14:54
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of token file: ROTACISMO 9-11.tkn
Name of condition file: Untitled.cnd
(
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
)
Number of cells: 29
Application value(s): 0
Total no. of factors: 12
Non-
Group Apps apps Total %
--------------------------------------
1 (2)
f N 100 242 342 49.3
% 29.2 70.8
m N 60 292 352 50.7
% 17.0 83.0
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
--------------------------------------
2 (3)
x N 101 389 490 70.6
% 20.6 79.4
y N 59 145 204 29.4
% 28.9 71.1
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
--------------------------------------
3 (4)
S N 129 404 533 76.8
% 24.2 75.8
R N 31 130 161 23.2
% 19.3 80.7
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
134
--------------------------------------
4 (5)
t N 116 379 495 71.3
% 23.4 76.6
a N 44 155 199 28.7
% 22.1 77.9
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
--------------------------------------
5 (6)
I N 117 363 480 69.2
% 24.4 75.6
N N 43 171 214 30.8
% 20.1 79.9
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
--------------------------------------
6 (7)
A N 114 411 525 75.6
% 21.7 78.3
L N 46 123 169 24.4
% 27.2 72.8
Total N 160 534 694
% 23.1 76.9
--------------------------------------
TOTAL N 160 534 694
% 23.1 76.9
Name of new cell file: .cel
• BINOMIAL VARBRUL • 27/7/2010 20:15:24
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
Threshold, step-up/down: 0.050001
Stepping up...
---------- Level # 0 ----------
Run # 1, 1 cells:
Convergence at Iteration 2
Input 0.231
135
Log likelihood = -374.716
---------- Level # 1 ----------
Run # 2, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.225
Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415
Log likelihood = -367.391 Significance = 0.000
Run # 3, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.229
Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578
Log likelihood = -371.995 Significance = 0.020
Run # 4, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.230
Group # 3 -- S: 0.517, R: 0.445
Log likelihood = -373.838 Significance = 0.189
Run # 5, 2 cells:
Convergence at Iteration 3
Input 0.230
Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487
Log likelihood = -374.646 Significance = 0.708
Run # 6, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.230
Group # 5 -- I: 0.519, N: 0.457
Log likelihood = -373.938 Significance = 0.215
Run # 7, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.230
Group # 6 -- A: 0.482, L: 0.556
Log likelihood = -373.652 Significance = 0.154
Add Group # 1 with factors fm
---------- Level # 2 ----------
Run # 8, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.466, y: 0.581
Log likelihood = -364.517 Significance = 0.017
136
Run # 9, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.224
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414
Group # 3 -- S: 0.518, R: 0.441
Log likelihood = -366.399 Significance = 0.168
Run # 10, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.225
Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415
Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487
Log likelihood = -367.319 Significance = 0.706
Run # 11, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.224
Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415
Group # 5 -- I: 0.519, N: 0.457
Log likelihood = -366.609 Significance = 0.214
Run # 12, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.224
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415
Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557
Log likelihood = -366.292 Significance = 0.148
Add Group # 2 with factors xy
---------- Level # 3 ----------
Run # 13, 6 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.574
Group # 3 -- S: 0.508, R: 0.473
Log likelihood = -364.346 Significance = 0.573
Run # 14, 8 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.464, y: 0.586
Group # 4 -- t: 0.511, a: 0.472
Log likelihood = -364.221 Significance = 0.456
Run # 15, 6 cells:
Convergence at Iteration 4
137
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.577
Group # 5 -- I: 0.504, N: 0.490
Log likelihood = -364.493 Significance = 0.831
Run # 16, 8 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.575
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.541
Log likelihood = -363.983 Significance = 0.302
No remaining groups significant
Groups selected while stepping up: 1 2
Best stepping up run: #8
---------------------------------------------
Stepping down...
---------- Level # 6 ----------
Run # 17, 29 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.413
Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.572
Group # 3 -- S: 0.505, R: 0.483
Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477
Group # 5 -- I: 0.501, N: 0.497
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539
Log likelihood = -363.661
---------- Level # 5 ----------
Run # 18, 15 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.228
Group # 2 -- x: 0.471, y: 0.569
Group # 3 -- S: 0.504, R: 0.486
Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.478
Group # 5 -- I: 0.502, N: 0.496
Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.538
Log likelihood = -371.172 Significance = 0.000
Run # 19, 23 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414
138
Group # 3 -- S: 0.512, R: 0.460
Group # 4 -- t: 0.502, a: 0.495
Group # 5 -- I: 0.513, N: 0.470
Group # 6 -- A: 0.484, L: 0.550
Log likelihood = -365.231 Significance = 0.081
Run # 20, 22 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.576
Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.475
Group # 5 -- I: 0.502, N: 0.495
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540
Log likelihood = -363.719 Significance = 0.740
Run # 21, 18 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.472, y: 0.567
Group # 3 -- S: 0.507, R: 0.478
Group # 5 -- I: 0.503, N: 0.494
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539
Log likelihood = -363.852 Significance = 0.548
Run # 22, 22 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.413
Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.573
Group # 3 -- S: 0.505, R: 0.482
Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477
Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.539
Log likelihood = -363.662 Significance = 0.971
Run # 23, 20 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578
Group # 3 -- S: 0.506, R: 0.479
Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.476
Group # 5 -- I: 0.500, N: 0.499
Log likelihood = -364.129 Significance = 0.345
Cut Group # 5 with factors IN
---------- Level # 4 ----------
Run # 24, 11 cells:
139
Convergence at Iteration 5
Input 0.228
Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.571
Group # 3 -- S: 0.504, R: 0.485
Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477
Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.538
Log likelihood = -371.175 Significance = 0.000
Run # 25, 14 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414
Group # 3 -- S: 0.515, R: 0.449
Group # 4 -- t: 0.503, a: 0.493
Group # 6 -- A: 0.484, L: 0.550
Log likelihood = -365.566 Significance = 0.051
Run # 26, 16 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.579
Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.474
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540
Log likelihood = -363.724 Significance = 0.729
Run # 27, 12 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.471, y: 0.569
Group # 3 -- S: 0.507, R: 0.477
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539
Log likelihood = -363.864 Significance = 0.534
Run # 28, 12 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.579
Group # 3 -- S: 0.506, R: 0.479
Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.476
Log likelihood = -364.128 Significance = 0.346
Cut Group # 3 with factors SR
---------- Level # 3 ----------
Run # 29, 8 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.228
140
Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.575
Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.475
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539
Log likelihood = -371.217 Significance = 0.000
Run # 30, 8 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.224
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415
Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487
Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557
Log likelihood = -366.225 Significance = 0.028
Run # 31, 8 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.575
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.541
Log likelihood = -363.983 Significance = 0.479
Run # 32, 8 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
Group # 2 -- x: 0.464, y: 0.586
Group # 4 -- t: 0.511, a: 0.472
Log likelihood = -364.221 Significance = 0.326
Cut Group # 4 with factors ta
---------- Level # 2 ----------
Run # 33, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.228
Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.572
Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540
Log likelihood = -371.472 Significance = 0.000
Run # 34, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.224
Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415
Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557
Log likelihood = -366.292 Significance = 0.035
Run # 35, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.223
Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414
141
Group # 2 -- x: 0.466, y: 0.581
Log likelihood = -364.517 Significance = 0.302
Cut Group # 6 with factors AL
---------- Level # 1 ----------
Run # 36, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.229
Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578
Log likelihood = -371.995 Significance = 0.000
Run # 37, 2 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.225
Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415
Log likelihood = -367.391 Significance = 0.017
All remaining groups significant
Groups eliminated while stepping down: 5 3 4 6
Best stepping up run: #8
Best stepping down run: #35
• BINOMIAL VARBRUL, 1 step • 27/7/2010 20:15:29
••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
One-level binomial analysis...
Run # 1, 29 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.222
Group Factor Weight App/Total Input&Weight
1: f 0.589 0.29 0.29
m 0.413 0.17 0.17
2: x 0.470 0.21 0.20
y 0.572 0.29 0.28
3: S 0.505 0.24 0.23
R 0.483 0.19 0.21
4: t 0.509 0.23 0.23
a 0.477 0.22 0.21
5: I 0.501 0.24 0.22
142
N 0.497 0.20 0.22
6: A 0.487 0.22 0.21
L 0.539 0.27 0.25
Cell Total App'ns Expected Error
myStIL 26 11 6.512 4.127
myStIA 37 5 7.913 1.364
mySaIL 13 1 2.955 1.674
mySaIA 29 5 5.604 0.081
mxStNA 50 9 7.542 0.332
mxStIL 25 2 4.538 1.735
mxStIA 66 11 10.096 0.096
mxSaNL 14 5 2.095 2.065
mxSaIA 14 3 1.921 0.703
mxRtNL 9 2 1.498 0.202
mxRtNA 12 1 1.678 0.318
mxRtIA 26 4 3.686 0.031
mxRaNA 25 1 3.130 1.656
mxRaIA 7 1 0.889 0.016
fyStIL 27 14 10.922 1.456
fyStIA 33 10 11.752 0.406
fySaIL 10 3 3.743 0.236
fySaIA 29 10 9.498 0.039
fxStNA 45 10 11.940 0.429
fxStIL 24 2 7.459 5.797
fxStIA 67 22 17.993 1.220
fxSaNL 12 4 3.370 0.164
fxSaIA 12 2 2.931 0.392
fxRtNL 10 3 2.887 0.006
fxRtNA 10 3 2.484 0.143
fxRtIA 28 7 7.040 0.000
fxRaNA 27 5 6.085 0.250
fxRaIA 7 4 1.598 4.680
Total Chi-square = 32.7628
Chi-square/cell = 1.1298
Log likelihood = -363.661
• GROUPS & FACTORS • 27/7/2010 20:17:03
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
----------------
Group Default Factors
1 0 012
2 f fm
3 x xy
4 S SR
5 t ta
6 I IN
7 L LA
143
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:18:38
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #3 -- horizontally.
Group #4 -- vertically.
S % R % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
t 0: 96 24: 20 21| 116 23
-: 304 76: 75 79| 379 77
: 400 : 95 | 495
+ - - - - + - - - - + - - - -
a 0: 33 25: 11 17| 44 22
-: 100 75: 55 83| 155 78
: 133 : 66 | 199
+---------+---------+---------
0: 129 24: 31 19| 160 23
-: 404 76: 130 81| 534 77
: 533 : 161 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:19:05
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #3 -- horizontally.
Group #5 -- vertically.
S % R % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
I 0: 101 25: 16 24| 117 24
-: 311 75: 52 76| 363 76
: 412 : 68 | 480
+ - - - - + - - - - + - - - -
N 0: 28 23: 15 16| 43 20
-: 93 77: 78 84| 171 80
: 121 : 93 | 214
+---------+---------+---------
0: 129 24: 31 19| 160 23
-: 404 76: 130 81| 534 77
: 533 : 161 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:20:48
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
144
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #3 -- horizontally.
Group #6 -- vertically.
S % R % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
A 0: 88 23: 26 18| 114 22
-: 295 77: 116 82| 411 78
: 383 : 142 | 525
+ - - - - + - - - - + - - - -
L 0: 41 27: 5 26| 46 27
-: 109 73: 14 74| 123 73
: 150 : 19 | 169
+---------+---------+---------
0: 129 24: 31 19| 160 23
-: 404 76: 130 81| 534 77
: 533 : 161 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:22:49
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #2 -- horizontally.
Group #3 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
S 0: 70 21: 59 29| 129 24
-: 259 79: 145 71| 404 76
: 329 : 204 | 533
+ - - - - + - - - - + - - - -
R 0: 31 19: 0 --| 31 19
-: 130 81: 0 --| 130 81
: 161 : 0 | 161
+---------+---------+---------
0: 101 21: 59 29| 160 23
-: 389 79: 145 71| 534 77
: 490 : 204 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:00
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
145
Group #2 -- horizontally.
Group #4 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
t 0: 76 20: 40 33| 116 23
-: 296 80: 83 67| 379 77
: 372 : 123 | 495
+ - - - - + - - - - + - - - -
a 0: 25 21: 19 23| 44 22
-: 93 79: 62 77| 155 78
: 118 : 81 | 199
+---------+---------+---------
0: 101 21: 59 29| 160 23
-: 389 79: 145 71| 534 77
: 490 : 204 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:11
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #2 -- horizontally.
Group #5 -- vertically.
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
I 0: 58 21: 59 29| 117 24
-: 218 79: 145 71| 363 76
: 276 : 204 | 480
+ - - - - + - - - - + - - - -
N 0: 43 20: 0 --| 43 20
-: 171 80: 0 --| 171 80
: 214 : 0 | 214
+---------+---------+---------
0: 101 21: 59 29| 160 23
-: 389 79: 145 71| 534 77
: 490 : 204 | 694
• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:20
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 27/7/2010 20:14:54
• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #2 -- horizontally.
Group #6 -- vertically.
146
x % y % %
+ - - - - + - - - - + - - - -
A 0: 84 21: 30 23| 114 22
-: 313 79: 98 77| 411 78
: 397 : 128 | 525
+ - - - - + - - - - + - - - -
L 0: 17 18: 29 38| 46 27
-: 76 82: 47 62| 123 73
: 93 : 76 | 169
+---------+---------+---------
0: 101 21: 59 29| 160 23
-: 389 79: 145 71| 534 77
: 490 : 204 | 694
147
ANEXO D: REGISTROS DE ROTACISMO EM ATLAS LINGUÍSTICOS
148
ESBOÇO DE UM ATLAS LINGUÍSTICO DE MINAS GERAIS (CARTA 11):
149
ESBOÇO DE UM ATLAS LINGUÍSTICO DE MINAS GERAIS (CARTA 23):
150
ATLAS LINGUÍSTICO-ETNOGRÁFICO DA REGIÃO SUL DO BRASIL-ALERS
(CARTA 38):
151
ATLAS LINGUÍSTICO DO AMAZONAS- ALAM (CARTA 95):
152
ATLAS LINGUÍSTICO DO SERGIPE (CARTA 25):
153
ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 16):
154
ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 20):
155
ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 36):
156
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