194
... o desenho da criança não reproduz uma realidade material, mas a
realidade conceituada. Ou seja, o desenho da criança exprime o
conhecimento conceitual que a criança tem de uma dada realidade.
Conhecimento que é constituído socialmente e para o qual concorrem
memória, que possibilita o registro do que é conhecido e conceituado, e
imaginação, que, conforme Vygotsky, também está vinculada às
experiências acumuladas pelo sujeito. Assim, os desenhos materializam as
imagens mentais do que a criança conhece e tem registrado na memória,
com a contribuição da imaginação. Ou seja, criança não faz desenho de
observação, mas de memória e imaginação. (FERREIRA, 1998, p. 12)
Ainda sobre a importância da memória no ato de desenhar, Ferreira afirma que
Para pensar, a criança depende se sua memória. Seu desenho é produto de
seu pensamento. Logo, a criança precisa da memória para desenhar. Ela
pensa lembrando e desenha pensando. Na idade pré-escolar, a criança
pensa recordando e apóia-se em suas experiências anteriores para isso.
Vygotsky (1993) diz que toda intenção exige a participação da memória. Cita
Spinoza para dizer que intenção é memória. A criança, ao ter a intenção de
desenhar alguma coisa, faz isso lembrando das figuras esquemáticas
referentes a essa coisa que conseguiu memorizar. Isso, porém, não é tão
simples quanto parece. A criança memoriza o que faz sentido para ela.
Assim, os esquemas figurativos dos objetos reais, que dispõe na memória,
estão carregados de significação.
A realidade conceituada da criança só é possível pela palavra e é por esta
que a criança toma consciência daquela. (1998, p. 30)
Algumas crianças representaram apenas os instrumentos, soltos, distribuídos
pela folha de papel. Estes instrumentos muitas vezes são identificados por alguma
característica marcante registrada pela criança. Muitas vezes ela não desenha este
instrumento com todas as informações que o objeto real apresenta, mas registra neste
instrumento as características que são mais significativas para ela. A criança, portanto,
“carrega” em seu desenho tudo aquilo que conhece do objeto que está simbolizando
graficamente (FERREIRA, 1998, p. 32). Dessa forma, a criança, ao ter a intenção de
desenhar alguma coisa, faz isso lembrando das figuras esquemáticas referentes a essa
coisa que conseguiu memorizar (FERREIRA, 1998, p. 33). A importância desses
desenhos reside no fato de que
Desenhando os objetos reais, a criança expressa o significado e o sentido
das coisas que vê. Portanto, o que ela desenha não é a realidade material do
objeto, mas a realidade conceituada. É essa a realidade percebida.
(FERREIRA, 1998, p. 30)
Assim, os desenhos são fundamentais para o conhecimento mais aprofundado
sobre esta realidade musical percebida pela criança. Veja abaixo alguns exemplos dos