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Na peleja particular entre Paula Souza e Arthur Neiva certamente entram variáveis
específicas da “Pátria Paulista”
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. Uma delas, o “orgulho máximo de ser
paulistanamente”, para o qual os “estrangeiros” eram bem vindos como imigrantes
trabalhadores, mas não no fechado clube político do estado (Love, 1982)
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. Arthur
Neiva, cientista de renome internacional e com grande experiência no serviço
sanitário era sem dúvida um problema a ser superado pelas pretensões da Fundação
Rockefeller em São Paulo, o mesmo ocorrendo como o Instituto de Hygiene em
relação ao Butantan. Talvez por não encontrar alternativa por onde desqualificá-lo,
Paula Souza tacharia-lhe de “nortista”.
Deve-se ainda pesar que a historiografia disponível sobre o tema apresenta um nítido
predomínio de fontes históricas que se remetem à visada original da Fundação
Rockefeller, o que a torna insuficiente para definir com precisão os movimentos
observados na saúde pública paulista entre as reformas de 1925 e 1931. Além disto,
aos estudiosos nem sempre o significado descritivo almejado consegue se eximir de
uma dimensão axiológica (imperativa na “história militante”). Veja-se, por exemplo,
a ampla convicção de que Waldomiro Oliveira era um ferrenho opositor das idéias –
ou “modelo” – da reforma de 1925. Diante de seus textos em favor dos CSs, Cristina
Campos chega a declará-lo de “[...] contraditório, fazendo-se parecer adepto dos
preceitos deixados pelo antecessor”. Mesmo conhecendo seus escritos de 1948,
acredita nas “provas” contrárias, que se traduz nas palavras de Fred L. Soper, diretor
da Fundação (Campos, 2002:120)
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. Sem querer esgotar as possibilidades dessa
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A relação entre Paula Souza e Arthur Neiva daria um bom estudo. À frente do Serviço Sanitário
paulista, Neiva investia para que o Instituto Butantan se tornasse mais importante que o Instituto
Oswaldo Cruz (Benchimol, Teixeira, 1993). Paula Souza, talvez vendo-o como uma sombra a
rivalizar com Instituto de Higiene, decretou na reforma de 1925 (artigo 58) a unificação os Institutos
Bacteriológico, Soroterápico (Butantan) e Vacinogênico sob a direção do mesmo profissional. Salles
Gomes faria o inverso (Faria, 2007). Um relato é precioso: em 1930, temendo que se requisitasse
prédio de seu instituto para hospital, um Paula Souza estupefato narra para Fred. L. Soper seu
encontro com o Secretário dos Negócios do Interior: “[...] o Dr. Neiva procurou me convencer que não
sabia qual a verdadeira situação do Instituto de Hygiene, pedindo-me que lhe escrevesse para lhe dizer
quais são os objetivos do Instituto de Hygiene e sua orientacão e que tipo de trabalho se realizou nos
últimos anos!!” (Candeias, 1984)
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Numa inserção estadual completamente adversa, o primeiro interventor de Vargas, tenente João
Alberto Lins de Barros, “forasteiro”, era referido como “o Pernambucano”.
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Mesmo historiadores de reconhecida competência como Lina Faria não deixam pontualmente de
revelar alguma afinidade com uma das partes historiadas: “[...] Waldomiro de Oliveira foi bolsista da
Fundação Rockefeller, entre 1922 e 1923, na Escola de Higiene e Saúde Pública da Johns Hopkins,
onde se diplomou em saúde pública, sem distinção acadêmica. É difícil fazer conjecturas de caráter