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Herdeiros do ''Clarín'' fazem teste de DNA
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A batalha entre a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o Grupo Clarín
ganhou ontem um novo capítulo, quando os herdeiros do maior grupo de mídia
do país, Felipe e Marcela Noble Herrera, foram submetidos a um exame de
DNA para verificar se são filhos de vítimas da ditadura militar (1976-83), que
assassinou 30 mil civis e sequestrou 500 crianças, filhos dos presos políticos. Os
dois irmãos, ambos de 33 anos, foram adotados em 1976 quando eram recém-
nascidos por Ernestina Herrera de Noble, a presidente do Clarín.O resultado do
exame - que ficará pronto entre 15 e 45 dias - é de interesse especial de Cristina
e de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, que seriam beneficiados por
um eventual escândalo que envolvesse a presidente do Grupo Clarín na suposta
cumplicidade com o sequestro de bebês durante a ditadura. O casal Kirchner
está em pé de guerra com o Clarín desde o ano passado. Desde então, o governo
adotou diversas medidas para reduzir o poder do grupo, que se tornou a
principal fonte de denúncias dos casos de corrupção dos Kirchners. Ernestina,
de 84 anos, afirma que Marcela foi abandonada dentro de uma caixa na porta
de sua casa, enquanto Felipe teria sido entregue por uma mulher, a mãe
biológica, que depois partiu sem deixar pistas. No entanto, organismos de
defesa dos direitos humanos, entre eles as Avós da Praça de Maio, acreditam
que os dois foram sequestrados pelos militares.Diversas famílias que possuem
filhos desaparecidos durante o regime militar pretendem saber se Felipe e
Marcela são seus netos sequestrados. O juiz federal Conrado Bergessio, no
entanto, só autorizou a comparação das amostras genéticas dos jovens com o
DNA de duas famílias que abriram um processo na Justiça para exigir a
identificação dos herdeiros do Clarín. As Avós da Praça de Maio protestaram
contra a restrição e a decisão de realizar o exame no Corpo Médico Legista, em
vez do Hospital Durand, tradicional centro para esse tipo de teste. Ernestina já
foi detida em 2002, suspeita de ter adotado os filhos de forma ilegal, mas foi
liberada poucos dias depois.
Os regimes totalitários do século XX, que aviltaram os direitos humanos com sua
posição antidemocrática, tiveram milhares de pessoas que seguiram seus preceitos por se
identificarem com o regime, outras não aceitaram, todavia o inimigo era visível aos olhos
dos seus opositores. Pelo contrário, na atualidade, o sistema capitalista se permite uma
opressão que vem em tons de liberdade e realização, ofuscando aqueles que
verdadeiramente oprimem a sociedade.
As manifestações em torno do problema como os panelaços das "Madres de Plaza
de Mayo" na Argentina e as mobilizações realizadas pelo grupo “Tortura Nunca Mais” no
Brasil, tiveram repercussão massiva na sociedade, contudo o fato de milhares de pessoas
que por motivos variados desaparecem por dia de suas famílias não tem qualquer
repercussão na sociedade. Vimos na mídia ocasionalmente Organizações Não
Governamentais, como as “Mães da Sé”, chorarem por seus filhos e/ou pupilos, mas estas
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Agência Estado, on line, Ariel Palacios, correspondente, Buenos Aires, disponível em
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091230/not_imp488504,0.php