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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL – MESTRADO E DOUTORADO
Susana Margarita Speroni
PLANEJAMENTO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL:
SOBRE A ESTRATÉGIA ACADÊMICA E COMPROMISSO POLÍTICO DO
MODELO COMUNITÁRIO DE INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS NO RS
Santa Cruz do Sul, junho de 2010
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Susana Margarita Speroni
PLANEJAMENTO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL: SOBRE A ESTRATÉGIA
ACADÊM ICA E COMPROMISSO POLÍTICO DO MODELO COMUNITÁRIO DE INSTITUIÇÕES
UNIVERSITÁRIAS NO RS
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Susana Margarita Speroni
PLANEJAMENTO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL:
SOBRE A ESTRATÉGIA ACADÊMICA E COMPROMISSO POLÍTICO DO
MODELO COMUNITÁRIO DE INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS NO RS
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Regional Mestrado e Doutorado,
Universidade de Santa Cruz do Sul UNISC, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Desenvolvimento Regional.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Artemio Fischborn Ferreira
Santa Cruz do Sul, junho de 2010
Bibliotecária responsável: Muriel Thurmer - CRB 10/1558
S749p Speroni, Susana Margarita
Planejamento, gestão democrática e integração regional: sobre a estratégia
acadêmica e compromisso político do modelo comunitário de instituições
universitárias no RS / Susana Margarita Speroni. - 2010.
202 f.; 30 cm.
Orientador: Marcos A. F. Ferreira.
Tese (Doutorado) – Universidade de Santa Cruz do Sul, 2010.
Bibliografia.
1. Universidades e faculdades comunitárias - Rio Grande do Sul. 2. Planejamento
institucional. 3. Integração regional. 4. COMUNG. 5. ABRUC. I. Ferreira, Marcos
Artêmio Fischborn. II. Universidade de Santa Cruz do Sul. Programa de Pós-Graduação
Desenvolvimento Regional. III. Título.
CDD: 378.8165
2
Susana Margarita Speroni
PLANEJAMENTO, GESTÃO DEMOCRÁTICA E INTEGRAÇÃO REGIONAL:
SOBRE A ESTRATÉGIA ACADÊMICA E COMPROMISSO POLÍTICO DO
MODELO COMUNITÁRIO DE INSTITUIÇÕES UNIVERSITÁRIAS NO RS
Esta Tese foi submetida ao Programa de s-Graduação
em Desenvolvimento Regional – Mestrado e Doutorado,
Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em
Desenvolvimento Regional.
Dr. Marcos Artemio Fischborn Ferreira
Professor Orientador
Dr. Dieter Rugard Siedenberg
Dr ª. Ângela Cristina Trevisan Felippi
Drª. Denise Balarine Cavalheiro Leite
Dr
ª.
Solange Maria Longhi
3
Aos meus pais, Nelly (in memoriam) e Pedro.
Aos meus filhos, José Ignacio, Agustin Higinio
e Thales, pelo carinho, incentivo e
compreensão.
4
AGRADECIMENTOS
Muito especialmente ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Artemio F. Ferreira pelo
companheirismo, ensinamentos e orientações pacienciosas que possibilitaram a realização
deste trabalho.
À Universidade de Santa Cruz do Sul pelo benefício da bolsa aperfeiçoamento para
doutorado prevista nas suas políticas de formação docente.
Aos colegas e professores do Programa de Mestrado e Doutorado em
Desenvolvimento Regional pelos conhecimentos transmitidos.
Aos meus colegas do Departamento de Educação da Unisc pela amizade e suporte
técnico necessário para conclusão do doutorado.
À Universidade Regional da Campanha, Universidade de Caxias do Sul e
Universidade de Santa Cruz do Sul e suas respectivas comunidades acadêmicas, professores,
funcionários e estudantes que possibilitaram o acesso às informações desta pesquisa.
A todos os que, de uma forma ou de outra, permitiram desvelar os resultados e as
contingências deste trabalho.
5
A máscara não é necessariamente o que esconde a realidade...
No nosso mundo ocidental tornou-se [...] um signo de
dissimulação e mesmo de fraude: quanto mais ela oculta, mais
ela simula...
Em outras tradições [...] é símbolo da identificação, ao ponto de
nela se confundirem o ser e o parecer, a pessoa e a
personagem...
Não há mais apenas um ser congelado em um momento de
verdade que faz unir a contingência do aqui-agora e a
imutabilidade de uma natureza...
(CHARAUDEAU, P. Prólogo do livro: Discurso Político)
6
TÍTULO
Planejamento, gestão democrática e integração regional: sobre a estratégia acadêmica e
compromisso político do modelo comunitário de instituições universitárias no RS.
RESUMO
A tese aborda de forma comparada os mecanismos discursivos que explicitam as
diretrizes que orientam a gestão de 3 instituições universitárias denominadas comunitárias (do
COMUNG), através de seus Planos de Desenvolvimento Institucional, projetos político-
pedagógicos e demais documentos oficiais organizadores da estratégia institucional em sua
inserção regional. A leitura dos textos documentais, combinada com os depoimentos de
agentes envolvidos na sua elaboração contextualiza essa produção. O ponto de partida
conceitual será baseado nas categorias trabalhadas por K. Mannheim nas obras “Liberdade,
poder e planificação democrática” e “Ideologia e utopia”, onde se destacam três temas
fundamentais para este estudo: de um lado, a ênfase na crença do papel superior da educação
para a formação de sociedades livres; de outro, a concepção de uma intelectualidade
“socialmente desvinculada” e, por fim, as tensões entre democracia e liberdade numa
sociedade planejada. As questões colocadas por Mannheim no segundo pós-guerra ganham
força na sociedade globalizada de amplo domínio da ideologia de mercado. Indaga-se, por
isso, o quanto a ideia de articular democracia, planejamento e influência institucional, pode
ser desinteressada devendo, pois, ser problematizada acerca das possibilidades de sua
concretização e seus modos de operação num cenário de constantes ameaças à democracia e à
autonomia social, no campo compreendido entre a ideologia e utopia de Mannheim. Os
conceitos e argumentos levantados pelo autor imprimem força teórica para análise da
realidade institucional em estudo, na medida em que se busca aliar ao conjunto das
características definidas como próprias das instituições de ensino comunitárias instituição
privada de caráter público, amparo no ideal comunitário, preponderantemente, da comunidade
regional de origem, com o necessário enfrentamento de situações práticas para atuar com
eficiência num mercado crescentemente competitivo, ameaçador de sua reprodução por
ausência de um estatuto jurídico especial. Ao incorporar racionalidades voltadas para
7
sobreviver no mercado da educação superior, as relações internas e externas dessas IES
revelam um conjunto de aspectos contraditórios que impregna a relação discurso-prática de
elementos ideológicos para sustentação das bases institucionais. Nessa trajetória histórica
afirma-se a produção discursiva do mito fundador como força impulsionadora, em que se
cruzam e se confrontam de forma permanente os dilemas entre gestão democrática, espírito
comunitário, ação pública e a lâmina afiada que conduz as relações de mercado.
Palavras-chave: Universidade comunitária, COMUNG, ABRUC, Integração Regional,
Planejamento Institucional
8
ABSTRACT
The thesis focuses on comparative discursive mechanisms that explain the guidelines
of the management of 3 academic institutions called Communitarians universities, through its
PDIs, (Plan for Institutional Development) and other official documents organizers of
institutional strategy in their regional integration. The reading of documentary combined with
the testimony of agents involved in the reality of these institutions, contextualizes this
production. The starting point was based on conceptual categories worked by K. Mannheim in
their works "Freedom, power and democratic planning" and "Ideology and Utopia," where we
highlight three key themes for this study: on one hand, the emphasis on belief in the role of
higher education for the development of free societies, on the other, the design of an
intelligentsia "socially disconnected" and, finally, the tensions between democracy and
freedom in a planned society. The questions raised by Mannheim in postwar are powered in
the analysis of global society based on discourses and social practices of market ideology.
One wonders, therefore, how the idea of linking democracy, planning and institutional
influence can be disinterested and must therefore be questioned about the possibilities of its
realization and its modes of operation against a backdrop of continuing threats to democracy
and social autonomy, a field between ideology and Utopia in Mannheim. The concepts and
arguments raised by the author strength the theoretical power analysis of the institutional
study. The framework seeks to combine the set of characteristics defined as specific of
communitarian educational institutions - private institution with public character, supported
by an vague communitarian ideal, mainly of the regional community of origin, with the
necessary coping with practical situations to work effectively in a increasingly competitive
market field of relations, threatening their reproduction by the absence of a special legal
status. By incorporating rationalities aimed to survive in the market for higher education,
internal and external relations of these IES reveal a number of contradictory aspects that
pervades the relationship between discourse and practice of ideological elements of the
institutional foundations for support. In this historical trajectory states the discursive
production of the founding myth as leverage, in which cross and face permanently the
dilemma between democratic management, community spirit, public action and the sharp
razor of leading market relations.
Keywords: Communitarian Universities, COMUNG, ABRUC, Territorial Integration,
Institutional Planning
9
LISTA DE FIGURAS
1 Divisão Regional do Rio Grande do Sul adotada no trabalho .........................................
16
2 Modelo analítico - Integração das dimensões institucionais ligadas à reprodução das
universidades .................................................................................................................... 51
3 Análise institucional do material empírico e suas contingências...................................... 63
4 A institucionalidade e as suas relações internas ............................................................. 164
10
LISTA DE QUADROS
1 A crise da e na Universidade Comunitária ........................................................................ 56
2 Evolução do Ensino Superior no Rio Grande do Sul ........................................................ 88
3 Década de início de funcionamento e do reconhecimento como universidade das oito
instituições do Rio Grande do Sul que pertencem à categoria Comunitária em stricto
sensu ...................................................................................................................................... 91
4 Instituições de Ensino Superior comunitárias do estado do Rio Grande do Sul ............... 93
5 Instituições de Ensino Superior no Brasil, Censo do Inep – 2008 .................................... 94
6 Comparativo dos tipos ideais de território ...................................................................... 103
7 Dados institucionais que exemplificam a ação no território das três universidades
estudadas .........................................................................................................................
105
8 Os primeiros cursos de Educação Superior em Bagé e suas respectivas mantenedoras.. 112
9 Os primeiros cursos de Educação Superior em Caxias do Sul e suas respectivas
mantenedoras ................................................................................................................... 113
10 Diferenças entre os PDIs das instituições estudadas ..................................................... 129
11 As instâncias decisórias na URCAMP ............................................................................. 142
12 Composição dos órgãos Deliberativos da URCAMP .....................................................
143
13 As instâncias decisórias na UNISC ...............................................................................
144
14 As instâncias decisórias na UCS ................................................................................... 147
15 Comparação entre as estruturas e dinâmicas administrativas, de representação e de
controle patrimonial nas três mantenedoras estudada .................................................... 157
16 As Universidades estudadas e sua configuração territorial............................................. 158
17 Quadro resumo para construção do modelo decisório das três Instituições de Educação
Superior estudadas ..............................................................................................................
166
11
LISTA DE ABREVIATURAS
ABE Associação Brasileira de Educação
ABRUC Associação Brasileira de Universidades Comunitárias
ACAFE Associação Catarinense das Fundações Educacionais
ADUNISC Associação dos docentes da Universidade de Santa Cruz do Sul
AD Análise de discurso
AFUNISC Associação dos Funcionários da UNISC
AIEs Aparelhos Ideológicos do Estado
APESC Associação Pró-Ensino em Santa Cruz do Sul
APESC Associação Pró-Ensino Superior dos Campos de Cima da Serra
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CFE Conselho Federal de Educação
CEPE Conselho de Pesquisa e Extensão
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa Científica
COMUNG Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas
CONPPEX Conselho de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão
CONGRAD Conselho de Graduação
CONSUN Conselho Superior da Universidade
CONSUNI Conselho Universitário
ESEF Escola de Educação Física
FAT Fundação Áttila Taborda
FEEVALE Universidade FEEVALE
FERVI Fundação Educacional da Região dos Vinhedos
FISC Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul
FUCS Fundação Caxias do Sul
FUNBA Faculdades Unidas de Bagé
FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
Valorização do Magistério
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IES Instituições de Educação Superior
IFETS Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
INEP
Teixeira
ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros
LDBN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC Ministério de Educação e Cultura
MEC-USAID Ministério da Educação (MEC) e United States Agency for
International Development (USAID)
PAIUNG Programa de Avaliação Institucional do COMUNG
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional
PE Planejamento Estratégico
PG Plano Geral
PNE Plano Nacional de Educação
PPI Projeto Político-Pedagógico Institucional
PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
SUMOC Superintendência da Moeda e do Crédito
UAB Universidade Aberta do Brasil
12
UCS Universidade de Caxias do Sul
UCPEL Universidade Católica de Pelotas
UDF Universidade do Distrito Federal
UERGS Universidade Estadual do Rio Grande do Sul
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UNB Universidade de Brasília
UNE União Nacional dos Estudantes
UNICRUZ Universidade de Cruz Alta
UNILA Universidade Federal da Integração Latino-americana
UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa
UNISC Universidade de Santa Cruz do Sul
UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNIVATES Centro Universitário do Vale do Taquari
UNIJUÍ Universidade de Ijuí
UPF Universidade de Passo Fundo
URI Universidade Integrada do Alto Uruguai e Missões
URCAMP Universidade Regional da Campanha
USP Universidade de São Paulo
13
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 14
PARTE 1 ................................................................................................................................. 18
1 DESENHANDO O OBJETO DE ESTUDO: MANNHEIM, OS VALORES
INTEGRADORES NO ESPAÇO ENTRE A IDEOLOGIA E A UTOPIA .......................... 19
2 O ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES E SUAS TEORIAS .................................................... 30
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE IDEOLOGIA E UTOPIA ................................ 39
4 O DISCURSO INSTITUCIONAL E A METODOLOGIA ANALÍTICA DO OBJETO
DE ESTUDO ........................................................................................................................... 51
5 A UNIVERSIDADE BRASILEIRA: BREVE RESENHA HISTÓRICA DE CRIAÇÃO
E CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR ................................... 64
6 AS COMUNITÁRIAS DO RS, SUAS AMBIGUIDADES E ANTINOMIAS NA
HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR DO ESTADO ............................................................ 86
7 AS QUESTÕES TERRITORIAIS E A AÇÃO DAS UNIVERSIDADES
COMUNITÁRIAS .................................................................................................................. 98
PARTE 2 ............................................................................................................................... 106
8 AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO INSTITUCIONAL: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA ESTRUTURAÇÃO DO MITO CRIADOR.......... 108
9 O DISCURSO INSTITUCIONAL E AS CATEGORIAS QUE NORTEIAM O MODELO
DE UNIVERSIDADE ........................................................................................................... 126
PARTE 3 ............................................................................................................................... 151
10 ENCAMINHAMENTOS CONCLUSIVOS .................................................................... 152
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 168
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 175
ANEXOS .............................................................................................................................. 183
14
APRESENTAÇÃO
A presente tese relata o resultado de uma pesquisa realizada com objetivo de atender
os requisitos do curso de Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa
Cruz do Sul (UNISC), na qual também a autora exerce as funções de professora do
Departamento de Educação e Presidente da Associação dos Docentes (ADUNISC).
O estudo focaliza as universidades comunitárias do Rio Grande do Sul como um
campo institucional em consolidação e submetido a pressões internas e externas que o
desafiam, e as induzem a buscar alternativas que garantam melhores possibilidades de
reprodução institucional sem, no entanto, perder as particularidades que norteiam o modelo e
as distinguem das demais instituições que a legislação denomina de privadas.
1
O foco da pesquisa consiste na verificação dos mecanismos e instrumentos
institucionais voltados para reduzir as incertezas atuais criadas por um campo de tensões
instaurado entre os compromissos sociais e territoriais de sua ação constitutivos de seu
ideário
2
e as condições que interferem em seu padrão de reprodução institucional, a saber: a
concorrência com IES particulares propriamente ditas e os novos investimentos do Estado
brasileiro em sua nova estratégia de expansão do ensino universitário.
O “modelo” de universidade
3
estudado revela uma configuração institucional
diversificada entre as unidades aqui consideradas, com estruturas e dinâmicas que as
singularizam no seu interior, tais como: padrões de relações entre mantida e mantenedora e da
diversidade de relações entre o núcleo administrativo central e suas unidades dispersas pelo
território regional. Por outro lado, algumas similaridades entre as IES devem ser assinaladas
1
O MEC/INEP classifica as IES em públicas e privadas. Estas, o as mantidas e administradas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado”. Podem se organizar segundo instituições com ou sem fins lucrativos.
Estas últimas se classificam em comunitárias, confessionais e filantrópicas, sendo as comunitárias instituídas
por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e
alunos que incluam, na sua entidade mantenedora, representantes da comunidade”.
http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/tipos_de_instituicao.stm. Acesso em: 4 de julho de 2008.
2
Valores e princípios, acordados em diferentes cenários históricos, ao longo da segunda metade do século vinte,
conferem às instituições comunitárias de ensino superior um ideário que define os alicerces de suas identidades:
ser regional, comunitária e democrática.
3
O estudo concentrou-se apenas nas IES que se constituem como universidades, excluindo, portanto os centros
universitários. O COMUNG Consórcio de Universidades Comunitárias do Rio Grande do Sul -congrega 12
instituições de ensino superior, sendo 10 universidades e 2 centros universitários. Foram estudadas 3 das 8
universidades laicas do interior do estado.
15
tais como seu repertório de princípios fundantes: ser uma instituição de caráter público não-
estatal, ser regional, comunitária e democrática
.
A inserção deste tema de pesquisa no contexto do Programa em Desenvolvimento
Regional tem a ver com o papel integrador e emulador de práticas de desenvolvimento no
campo do desenvolvimento regional, que as instituições universitárias autodenominadas
comunitárias têm exercido, e, consequentemente, como os êxitos e abalos que experimentam e
repercutem de forma diferenciada com relação às regiões que as constituíram. Na origem das
diferenças estão a complexidade econômica e sócio-cultural de cada região e a
institucionalidade que as constitui, que podem sinalizar para a capacidade de cada uma delas
lidar com as crises
4
.
O modelo comunitário de instituições de ensino superior tem sua gênese e história
mais vigorosa no Rio Grande do Sul, a partir de meados da segunda metade do século vinte.
Sua história singular tem revelado um campo institucional de grande relevância no estado, na
medida em que passou a cumprir um papel substitutivo ao do Estado na expansão do ensino
superior no interior do sul do país, principalmente no Rio Grande do Sul.
Tal perspectiva confere ao tema das universidades comunitárias em tempos de crise,
uma dimensão de importância sobre o destino de um modelo que se define desde a origem,
como atores institucionais com forte incidência sobre os rumos do desenvolvimento de cada
uma das regiões onde se insere.
A partir da lista das doze Instituições que compõem o Consórcio de Universidades
Comunitárias, COMUNG foram selecionadas as oito Universidades localizadas no interior do
Estado, sendo assim excluídas a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, UNISINOS, e a
Pontifícia Universidade Católica, PUC, por estarem localizadas na Capital do Estado e sua
área Metropolitana. Da mesma forma não serão considerados os Centros Universitários
UNIVATES e FEEVALE por não serem portadores do status de Universidade. As 8
Universidades Comunitárias do interior do Estado do Rio Grande do Sul são: Universidade de
Caxias (UCS), de Ijuí (UNIJUÍ), Passo Fundo (UPF), Santa Cruz do Sul (UNISC), Integradas
4
A seleção das universidades para estudo teve como um dos critérios sua inserção em uma das três
macrorregiões do estado do Rio Grande do Sul, Norte, Nordeste e Sul, segundo a publicação de Jackson De
Toni, Herbert Klarmann, Regionalização e Planejamento, reflexões metodológicas e gerenciais sobre a
experiência gaúcha, Fundação de Economia e Estatística, Porto Alegre, s.d., mimeo. 19 p.
16
do Alto Uruguai e Missões(URI), da Região da Campanha (URCAMP), Católica de Pelotas
(UCPEL) e a de Cruz Alta (UNICRUZ).
Para os fins desta pesquisa foram escolhidas 3 Universidades Comunitárias do interior
do Estado do Rio Grande do Sul, localizadas nas seguintes Macro-Regiões do estado:
Nordeste, Universidade de Caxias, Norte, Universidade de Santa Cruz do Sul e na Sul
Universidade da Região da Campanha.
O critério de escolha destas universidades se relaciona com a localização geográfica
(uma em cada uma das macro-regiões do estado) bem como pelas suas características
distintivas no que se refere ao período em que obtiveram autorização de funcionamento como
universidade, número de campi, a presença de pólos, núcleos ou convênios.
Figura 1: Divisão Regional do Rio Grande do Sul adotada no trabalho
Fonte: Rio Grande do Sul. Secretaria da Coordenação e Planejamento. Marco referencial
do plano plurianual: 2004-2007. Porto Alegre, SCP, 2002. (CD-ROM).
O estudo aqui considerado se caracteriza pela sua natureza qualitativa, que descreve
comparativamente situações da realidade institucional a partir do corpus discursivo construído
com o material empírico, documentos oficiais e entrevistas semi-estruturadas que foram
submetidas a análise com base nas categorias e conceitos do neoinstitucionalismo histórico.
Os resultados aqui apresentados encontram-se divididos em três partes com focos bem
diferenciados. Assim, a primeira trata das questões teórico-metodológicas que foram
17
importantes na definição do objeto de estudo e no desenho da pesquisa e analise dos dados.
a segunda atende de forma particular os resultados obtidos e a terceira se preocupa com as
análises críticas, conclusões e encaminhamentos futuros.
18
PARTE 1
Esta sessão trata das questões teórico-metodológicas que foram importantes na
definição do objeto de estudo e no desenho da pesquisa e análise dos dados.
No primeiro capítulo encontramos alguns elementos teóricos decorrentes dos estudos
do sociólogo alemão Karl Mannheim que foram relevantes para o desenho do objeto de
estudo, principalmente em relação aos valores integradores e o planejamento democrático.
O segundo capítulo trata da discussão de conceitos e tendências da teoria
neoinstitucionalista com o intuito de aprofundar o estudo das instituições aqui focalizadas,
universidades comunitárias do Rio Grande do Sul, construindo campos comparativos a partir
das categorias consideradas como mais relevantes para esta tendência teórica.
O terceiro capítulo traz algumas considerações sobre conceitos que ainda hoje
provocam tensões e ambiguidades, a ideologia e a utopia, mas que aqui serão considerados
como importantes na definição das condições de produção do discurso institucional e a
construção da credibilidade e legitimidade necessária para manter a coesão institucional.
O quarto capítulo faz considerações sobre a análise crítica do discurso e a perspectiva
aqui utilizada na análise dos dados.
Finalizando esta primeira parte nos capítulos cinco, seis e sete, trataremos da
universidade brasileira, seus modelos e crises, o modelo comunitário, sua ação territorial, seus
valores e princípios, bem como as contribuições deste modelo na história do ensino superior
no Rio Grande do Sul.
19
1
DESENHANDO O OBJETO DE ESTUDO: MANNHEIM, OS VALORES
INTEGRADORES NO ESPAÇO ENTRE A IDEOLOGIA E A UTOPIA.
Karl Mannheim foi um sociólogo judeu que nasceu em Budapeste, Hungria, no dia 27
de março de 1893 e faleceu em Londres em janeiro de 1947. Participou de estudos com Georg
Lukács e Alfred Weber (irmão de Max Weber) e posteriormente entre 1930 e 1933 foi
professor extraordinário de sociologia em Frankfurt. No período nazista se radicou na
Inglaterra onde foi professor da London School of Economics.
Inicialmente com influências marxistas acabou se tornando um teórico do liberalismo,
sendo muito influenciado pelo historicismo alemão e pelo pragmatismo inglês.
Seu primeiro livro, Ideologie und Utopia (Ideologia e utopia), de 1929, é também
considerado seu mais importante escrito. Nesta obra, Mannheim afirma que todo ato de
conhecimento não resulta apenas da consciência puramente teórica mas também de inúmeros
elementos de natureza não teórica, provenientes da vida social e das influências e vontades a
que o indivíduo está sujeito.
Segundo Mannheim, a influência desses fatores é da maior importância, destacando
que sua investigação deveria ser o objeto de uma nova disciplina que denominou de
sociologia do conhecimento. Defendia a tese de que a história da humanidade teria várias
fases nas quais poderiam ser identificadas formas de pensamento particulares e às vezes
opostas ou conflitantes, assim, quando elas apontassem para a conservação dos valores
dominantes teriamos as ideologias e quando os conflitos e mudanças se tornarem mais
marcantes haveria a possibilidade de construir utopias.
Realizou estudos importantes sobre o pensamento e ação, teoria do planejamento e a
caracterização da sociedade de massas.
Mannheim é um sociólogo que parte de um pressuposto teórico chamado "Sociologia
do Consenso”. Esta perspectiva corresponde à noção de que as mudanças na sociedade
ocorrem de maneira gradual e sem a presença de eventos de luta armada entre grupos e
20
classes sociais (tal como visto, por exemplo, na teoria social marxista) sendo que para ele é a
cultura o elemento principal das mudanças ocorridas em sociedade.
Mannheim retoma algumas questões weberianas em relação à educação no que se
refere ao seu potencial de treinamento no sentido de operar como uma técnica social que
influencia o comportamento humano no sentido de se enquadrar nos padrões vigentes da
interação social.
Por técnicas sociais compreendo o conjunto dos métodos que visam a influenciar o
comportamento humano e que, quando em mãos do Governo, agem como meios
especialmente poderosos de controle social... A razão pela qual dou tanta ênfase a
estas técnicas sociais é elas limitarem a direção em que a sociedade moderna pode
acabar desenvolvendo-se. A natureza de tais técnicas é ainda mais fundamental para
a sociedade do que a estrutura econômica ou a estratificação social de uma dada
ordem: com seu auxílio pode-se entravar ou remodelar o funcionamento do sistema
econômico, destruir classes sociais e instalar outras no lugar delas (MANNHEIM,
1967, p.2-3)
Sublinha a educação como uma técnica que serve tanto ao padrão autoritário quanto ao
democrático de controle dos grupos. Ela não molda o homem em abstrato, mas o ser humano
que vive em uma dada sociedade e para ela a partir da possibilidade de expressar os seus
valores integradores.
Os objetivos educacionais da sociedade não podem ser adequadamente entendidos
quando separados das situações que cada época é obrigada a enfrentar e da ordem social para
a qual eles são formulados.
O apogeu das tendências integradoras, porém, é alcançado quando não só na prática,
mas também na teoria, admitimos singelamente que a educação é apenas uma dentre
muitas agências sociais que influem no comportamento humano, e que como tal,
quer queiramos ou não, sempre atende a uma finalidade social e visa
deliberadamente a forjar determinados tipos humanos (MANNHEIM, 1967, p. 64).
Percebeu a importância da sociologia na modernidade, para o estudo dos fenômenos
educacionais, justamente porque a vida baseada na tradição estava se esgotando. Nas épocas
históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a educação resumia-se a ajudar a criança a
ajustar-se à ordem social tradicionalmente estabelecida. Valendo-se da influência da
psicanálise, observa que tal processo era apenas de assimilação “inconsciente”, pela criança,
do modelo da ordem vigente.
21
Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida,
provocada pela consolidação da sociedade industrial, mais os conteúdos educacionais devem
ser transmitidos num processo “consciente”, em que o educador se apropria do meio social em
que vive e das mudanças pelas quais este passa. Nem os objetivos do processo educacional
nem as metas podem ser concebidos sem a consideração do contexto social, pois eles são
socialmente orientados.
Para Mannheim o pensamento social não pode explicar a vida humana, mas apenas
expressá-la, assim o papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam sobre a sociedade
e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela.
O autor defendia uma sociedade essencialmente democrática, visando o bem-estar
social onde o planejamento racional teria um papel fundamental na medida em que este seria
responsabilidade dos intelectuais.
Mannheim, preocupado com o contexto sócio-histórico dominado pelas profundas
transformações sociais e econômicas que levaram à sociedade de massas, diferencia
transformação social de desintegração social, no sentido de que, na primeira, ocorre a
substituição de uma ordem social por outra, e na segunda um enfraquecimento gradual da
estrutura social e das forças que sustentam a sociedade sem o crescimento simultâneo de uma
nova ordem.
O processo de desintegração social é incentivado com a destruição dos pequenos
grupos e seu poder auto-regulador onde as decisões podem ser compartilhadas porque se
percebe o fim das ações e o que se espera e se deve exigir do grupo é visualizado por todos.
Por outro lado, nestes grupos pequenos encontramos os controles mútuos. “O controle é
mútuo porque ainda não foi transferido para uma agência que o exerça em nome do grupo
[...]” (Mannheim, 1962, p.190). Assim, o autor se preocupa com o estudo das forças
responsáveis pela coesão social e pela estabilidade social que denomina genericamente de
controles sociais.
Os controles sociais são os responsáveis pela ordem e a estabilidade social... é o
conjunto de métodos pelos quais a sociedade influencia o comportamento humano,
tendo em vista manter uma determinada ordem. Cada sociedade tem um sistema
diferente de controles ou, pelo menos da ênfase a diferentes controles que podem ser
manipulados, a partir de diferentes posições-chave (MANNHEIM, 1962, p.190).
22
Nas grandes metrópoles dificuldade para existir coesão social porque se perde a
vida em comum, a interdependência funcional e a clareza do propósito.
O papel das instituições é evitar a manipulação e impedir a desintegração que leva à
falta de liberdade. Uma sociedade funciona quando todos estão ligados por regras e
compromissos e a liberdade existe entre os limites desses compromissos.
O autor destaca ainda que em toda situação social duas possibilidades de controle
primário dos grupos: o autoritário de comando e obediência ou o democrático que serve para
o desenvolvimento e a orientação da ação por meio da cooperação.
Assim, afirma
Todas as formas complicadas de organização política e social em nível mais alto são
derivadas destes dois padrões primários. São métodos alternativos para conseguir a
divisão do trabalho e a diferenciação das funções sociais. O primeiro método [...] é
prejudicial aos indivíduos que o sofrem. A alternativa de cooperação representa um
princípio criador. Este método de controle compartilhado constitui um dos inventos
mais significativos do campo das técnicas sociais (MANNHEIM 1972, p.33).
Mannheim, preocupado com a passagem da sociedade do laissez faire para uma
sociedade democraticamente planejada destaca a tarefa de mobilização dos valores
necessários para “ajustar a vida social, em todas as esferas às exigências da nova técnica e,
depois, uma nova definição dos valores morais fundamentais para que se ajustem às
necessidades nascentes da ordem desejada” (1972, p.54). Ele define os valores como “parte
do processo social... não são entidades abstratas e nem são, também, qualidades intrínsecas de
um objeto [...] dependem do nosso sistema social” (1962, p. 197). Acrescenta, que esta
abordagem “atrai o indivíduo democraticamente educado porque, nela, a obrigação social
pode ser razoavelmente testada” (MANNHEIM, 1962, p.198).
Ele acrescenta ainda que se uma sociedade evolui e se torna planejada, o princípio da
não interferência é imprescindível quando se pensa em termos de política em longo prazo. “E
por esse motivo que procuramos suplementar de modo sistemático a antiga enumeração feita
ao acaso, por meio de um planejamento democrático executado de modo sistemático”
(MANNHEIM, 1972, p. 60).
23
Em diversos momentos da sua obra K. Mannheim destaca que o planejamento por si só
não é nem bom nem mau. “Teremos que distinguir entre planejamento para a conformidade e
planejamento para a liberdade e diversificação” (1942, p. 5) Sublinha a importância da
coordenação das técnicas sociais como a educação no sentido de que ela pode ser feita para a
monotonia ou com a ideia de variedade. Salienta também que tanto o planejamento quanto a
coordenação “podem ser feitos estribados no aconselhamento democrático” (MANNHEIM,
1942, p.6).
O autor ressalta que a verdadeira planificação consiste na coordenação das instituições,
da educação, dos valores e da psicologia. A essência da planificação democrática deve tomar
como tema a vida social em sua totalidade: novas instituições, homens novos, valores novos
(MANNHEIM, 1972, p. 18). Afirmando ainda, que o planejamento deve ser do tipo que
orienta para a liberdade e sujeito ao controle democrático, assim ele reforça
[...] mas não planejamento restricionista que favoreça os monopólios de grupos,
sejam de homens de empresas ou de associações operárias, mas [...] para a plenitude,
isto é, pleno emprego e total exploração dos recursos, [...] para a justiça social, mais
que igualdade absoluta, com diferenciação de recompensas e status, sobre a base da
genuína igualdade mais do que do privilégio, [...] não para uma sociedade sem
classes, mas para uma sociedade que suprima os extremos de riqueza e pobreza, [...]
para padrões culturais sem nivelamento por baixo - uma transição planejada
favorecendo o progresso, sem suprimir o que de valioso na tradição, [...] que
neutralize os perigos de uma sociedade de massas, [...] coordenando os instrumentos
de controle social, mas interferindo nos casos de deteriorização institucional ou
moral definidos por critérios coletivos, planejamento para o equilíbrio entre a
centralização e dispersão de poder, [...] para a transformação gradual da sociedade, a
fim de estimular o desenvolvimento da personalidade, em resumo, planejamento
mas não arregimentação (MANNHEIM 1972, p.49).
Entre as condições necessárias da ordem social onde o planejamento para a liberdade é
possível cabe destacar o papel das instituições que, enquanto órgãos administrativos com
poder centralizador podem expandir o modo de vida democrático e as experiências
constitucionais. Além disto, são imprescindíveis as classes médias acrescidas dos grupos
autônomos de elites intelectuais e dos grupos de planificadores. Por outro lado, cabe a elite
planificadora selecionada democraticamente construir o equilíbrio ótimo entre a autoridade
centralizada e a delegação de poderes aos organismos locais e regionais. Finalmente, o autor
sublinha que nenhuma sociedade sobrevive se não integrar entre si os valores básicos, as
instituições e a educação.
24
Para Mannheim, a caminhada na busca da consolidação da democracia
5
tem como
pressuposto a instauração de um processo cognitivo coletivo a modular a tensão posta pelos
limites entre as exigências do capitalismo e as constantes ameaças autoritárias sobre a vida
social; está colocado o reconhecimento das dificuldades em manter a democracia frente aos
avanços que a racionalidade capitalista impõe seja no planejamento público, seja no mundo
da produção e dos negócios.
O autor sublinha a ideia de que “a democracia perdeu de vista o conceito claro do tipo
de cidadão que se pretende criar” (Mannheim, 1972, p. 261) Assim, destaca a necessidade da
elaboração de um padrão ideal que serviria como norte a ser seguido pelo esforço educativo
de toda a sociedade democrática, o que por outro lado, não significa uniformidade, na medida
em que cabe a todas as esferas de ação aderir ao seu modo a este padrão. O respeito às
idiossincrasias das diversas instâncias sociais focaliza as variadas maneiras de se encarar a
disposição em cooperar respeitando a personalidade dos concidadãos “sem jamais utilizá-lo
como instrumento ou meio para os nossos próprios fins” (MANNHEIM, 1972, p. 262).
A mentalidade democrática [...] está mais próxima da realidade [...] embora
reconheça a necessidade da autoridade em certas situações e em certos níveis de
organização social, seu alvo continua sendo reduzir ao mínimo a dominação
mediante novos inventos sociais, substituir as formas sociais fundadas na dominação
por outras mais humanizadas e manter o poder sob controle da comunidade
(MANNHEIM, 1972, p. 264).
Para Mannheim os desafios colocados pelas dificuldades de afirmação da democracia
frente à racionalidade de mercado, a seu ver desagregadora, teria na difusão do que
denominou de “valores integradores” um recurso valioso para manter a coesão social.
Desde o início deste estudo não tivemos vida em considerar o comportamento
integrador não como uma realidade estabelecida, porém como um ideal da
democracia (MANNHEIM, 1972, p.264).
Para ele o conceito de integração é fundamental na medida em que serve para ilustrar
as suas idéias sobre a relação entre a natureza do homem e as instituições sociais, a
centralidade em relação à ação social, as reformas e as estratégias sociais, pela sua função de
reunir diferentes áreas como a política, o trabalho e o lazer.
5
Não se pode esquecer o contexto de produção da obra do autor, sempre às voltas com a realidade do
autoritarismo comunista e nazista anterior e durante a segunda grande guerra.
25
Ernst Bramstedt e Hans Gerth nas “Notas Preliminares” que precedem o livro
Liberdade, Poder e Planificação Democrática destacam o conceito de comportamento
integrador como sendo o padrão ideal de uma comunidade democrática na medida em que
expressa suas atitudes cooperativas em oposição ao padrão competitivo que prevalece em uma
sociedade autoritária”.
(MANNHEIM,
1972, p. 15). Cabe lembrar que as atitudes cooperativas
são resultado de interações entre iguais onde não existe a necessidade de disputar status,
acolhendo os desacordos
chegando à raiz do problema, concluímos que a receptividade às mudanças está
apenas ao alcance das pessoas que se sentem seguras e, portanto, não temem perder
a posição social ou a individualidade ao submeter-se sinceramente aos testes de
cooperação e da troca de idéias (MANNHEIM, 1972, p.263).
Dentre as características que distinguem o modus operandi do padrão democrático está
a idéia de cooperação entre iguais ou como também foi chamado o princípio da mútua
deferência. Resgatando os trabalhos de Piaget (1932), Anderson (1939) e Harding (1940)
Mannheim acrescenta a idéia de reciprocidade no processo social democrático e de conduta
integradora no sentido de que a personalidade democrática “acolhe de bom grado o
desacordo, porque tem a coragem de se expor as mudanças”. (1972, p.263)
Demarcar um ideal não significa que possamos atingí-lo completamente, antes
assinala um rumo para a educação e os controles mútuos[...] Quanto mais crescerem
as necessidades sociais e mais necessária for a organização maior número de
elementos de dominação procurarão introduzir-se no sistema[...] mas quanto mais
permanecer vivo o ideal do comportamento integrador[...].como verdadeiro motivo
dinâmico[...]existirá a tendência a restringir a obediência cega [...] e a introduzir
situações que favoreçam o comportamento democrático (MANNHEIM,1972,
p.264).
Desta forma, os valores integradores são uma utopia a ser perseguida que nos mostra,
antes de qualquer coisa, a direção na qual as técnicas sociais como a educação e os controles
mútuos têm que ser orientados.
O termo comportamento integrador é apenas uma definição científica de tendências
latentes que sempre estiveram presentes na idéia de democracia e de tolerância.
Além de tornar essas tendências mais conscientes e explícitas, adapta a idéia da
cooperação democrática a uma etapa mais avançada da história [...] O
comportamento integrador transcende também a idéia da simples cooperação, na
medida em que aplica este princípio a um mundo em dinâmica evolução, no qual
estão surgindo sempre novas finalidades (MANNHEIM, 1972, p. 266).
26
Mannheim localizou na intelligentsia um grupo social que definiu como sendo
desvinculado de amarras ideológicas: denominou-o de “freischwebende intelligentz”. Tal
grupo teria o compromisso e responsabilidade histórica, pelas características de seu trabalho,
de difundir os valores integradores. Nesse sentido, cumpriria um papel decisivo na afirmação
dos valores democráticos.
Ele acrescenta:
Uno de los hechos más impresionantes de la vida moderna es que, en ella, a
diferencia de las culturas anteriores, la actividad intelectual no es privilegio de una
clase rigurosamente definida, como el clero, sino más bien un estrato social, en
grande parte desligado de cualquier clase social y que se recluta en un área cada vez
más extensa de la vida social. Este hecho sociológico determina esencialmente el
carácter único de la mente moderna, que fundamentalmente no se basa en la
autoridad del clero, ni es cerrada y limitada, sino más bien dinámica, elástica, en
flujo constante y que perpetuamente tiene que enfrentarse con nuevos problemas
(MANNHEIM , 2004, p.193)
6
Assim, ele utiliza a categoria que Alfred Weber denominou de intelligentsia a esse
estrato intersticial da sociedade moderna que, pela sua mobilidade mental e social se
emancipam do patrocínio feudal, das estruturas burocráticas e têm a possibilidade de
desvendar as visões de mundo que são construídas a partir de um tipo de conhecimento
ateórico. O pesquisador teria a possibilidade de buscar formas de acesso ao conhecimento
implícito para explicá-lo teoricamente na tentativa de compreender a sociedade como um
todo. “A própria competição pelas idéias podia inspirá-los para uma síntese das perspectivas
parciais e levá-los, assim, ao entendimento gradualmente compreensivo e racional da
realidade, pré-requisito para um acesso científico à política e à mudança social”
(MANNHEIM 1972, p.11).
7
Caberia assim a este grupo a possibilidade de realização de sínteses:
Tentativas de síntese não aparecem sem relações umas com as outras, pois cada
síntese, ao resumir as forças e opiniões de seu tempo, prepara o caminho para a
seguinte. Pode-se notar um certo progresso em direção a uma síntese absoluta, no
sentido utópico, no fato de cada síntese tentar alcançar uma perspectiva mais ampla
que a precedente, vindo a última a incorporar os resultados das que a precederam
(MANNHEIM, 1972, p.177).
6
Esta citação encontra-se na versão brasileira do livro Ideologia e utopia de 1972 na página 181
7
Tradução para o espanhol de Ideologia e utopia, 2004, p.191
27
Por outro lado, o autor afirma em relação ao caráter dialético da síntese
Una verdadera síntesis no es un promedio aritmético de las diversas aspiraciones de
los grupos sociales existentes. Si fuera eso, tendería meramente a estabilizar el status
quo en beneficio de aquellos que recientemente hubieran conquistado el poder y que
quisieran proteger sus ganancias contra el ataque de las “derechas” lo mismo que
contra los de las “izquierdas”. Al contrario, una síntesis válida debe fundarse en una
posición política que constituirá un desarrollo progresivo, en el sentido de que
retendrá y aprovechará gran parte de las conquistas culturales y de las energías
sociales acumuladas de épocas anteriores. El “aquí” espacial y el ahora” temporal
deben considerarse en toda situación en el sentido histórico y social, y deben tenerse
presentes a fin de determinar de un caso a otro lo que ha dejado de ser necesario y lo
que aún no es posible (MANNHEIM, 2004, p.191).
Mannheim em 1947, no livro Liberdade, poder e planificação democrática, afirma em
meados do século XX, que a tarefa dos intelectuais comprometidos com a liberdade humana
era compreender a natureza dos problemas reais.
Caberia então aos intelectuais de fato, pela sua possibilidade de trabalhar com o
conhecimento crítico e assim “libertar-se das amarras ideológicas”, então, a incumbência de
balizar os caminhos e de iluminar os debates e as discussões a respeito das dificuldades atuais
no que diz respeito às soluções dos problemas relacionados com as desigualdades, a pobreza e
a concentração de rendas. Deveriam os intelectuais se
[...] preocupar com as conseqüências sociais da transformação da sociedade, que têm
suas raízes na última guerra, mas que agora (1947) começam a manifestar-se
plenamente. Não estudamos mudanças secionais ou parciais em si mesmas, mas
somente em sua interdependência. Sem menosprezar a significação da estrutura
econômica, salientaremos que, sem as modificações correspondentes no plano
político e cultural não há reformas satisfatórias (MANNHEIM, 1972, p. 17).
Giovanni Semeraro no texto “Intelectuais "orgânicos" em tempos de pós-
modernidade”, publicado em 2006, refere-se ao desempenho de diversas funções intelectuais
que nunca deve justificar hierarquias ou divisão de classes na sociedade, destacando o
afastamento das reflexões de Gramsci em relação ao conceito de uma "intelligentsia"
livremente "flutuante" com uma missão especial e de capacidades "objetivas" que, desde
Mannheim (1986), têm ocupado muitas discussões contemporâneas. Por outro lado, não se
aproxima das posições de Bobbio sobre a função dos intelectuais que reedita o dualismo de
Weber ao distinguir entre o "ideólogo" e o "expert" (Bobbio, 1993, p. 117), entre o filósofo e
o técnico (p. 140 e 159), ou seja, entre a "ética da convicção" e a "ética da responsabilidade",
princípios muito importantes para os liberais e a maioria dos nossos políticos.
28
A obra de K. Mannheim foi muito vasta, mas, sem dúvida, existem algumas
publicações que tiveram, no Brasil, uma difusão mais ampla como o livro Ideologia e Utopia
(1950), Diagnóstico do nosso tempo (1961), Sociologia Sistemática. Uma introdução ao
estudo da Sociologia (1962), Introdução à Sociologia da Educação (1969) e Liberdade, poder
e planificação democrática (1972) (VILAS BOAS, 2006).
Valle (2001) aponta que, de toda a obra de K. Mannheim, Ideologia e Utopia;
Diagnóstico do nosso tempo e Liberdade, poder e planificação democrática “son las obras que
recogen el pensamiento de K. Mannheim, mas es en el primero donde se expone la línea de
investigación sobre la sociologia del conocimiento científico” (VALLE, 2001, p.292).
Em trabalho recentemente publicado Glaucia Villas Boas analisa a obra de Mannheim
e sua recepção no Brasil afirmando que foi lido por gerações de intelectuais estrangeiros e
brasileiros e ainda hoje é referência quando se fala em intelectuais ou em sociologia do
conhecimento acrescentando que “teve inúmeros leitores e, particularmente no Brasil, a
sociologia, no seu afã de entender a modernidade no país estabeleceu um diálogo longo e
fecundo com suas idéias” (VILLAS BOAS, 2006, p.111).
A pesquisadora destaca ainda que, entre os nomes que foram relevantes na divulgação
das teses mannheimianas, podemos mencionar Emilio Willems, Florestan Fernandes,
Marialice Foracchi, César Guimarães, Moacir Palmeira, Antonio Bertelli e Otávio Velho.
Acrescentando ainda que “debates sobre o pensamento conservador e, mais recentemente,
sobre o problema das gerações (Weller, 2005) vêm ocupando os pesquisadores” ( p.117).
Toda a repercussão da obra de Mannheim pode ser apreendida dentro do quadro
de uma dimensão utópica e profética, que acreditou na “força das idéias” para
implementar o projeto de democracia e modernidade (VILAS BOAS, 2006, p.130).
O presente capítulo não tem como objetivo fazer um estudo aprofundado dos trabalhos
de Karl Mannheim nem a sua influência nos intelectuais brasileiros principalmente daqueles
que, na época do ISEB, (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) considerado por Caio
Navarro Toledo como uma fábrica de ideologias (1997), contribuíram na definição do projeto
desenvolvimentista brasileiro, cujos princípios ainda se encontram presentes na sociedade
atual e suas instituições.
29
Assim, considera-se muito relevantes na definição do objeto da presente tese, os
conceitos de valores integradores, planejamento democrático e a educação enquanto técnica
social que contribuiu institucionalmente na definição do contexto social delineado nos limites
flexíveis e difusos compreendidos entre a ideologia e a utopia, tema que, no próximo capítulo
será aprofundado.
30
2 O ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES E SUAS TEORIAS
Romero
8
(1999) destaca o renascimento do estudo das instituições como “marco
fundamental de restricciones en la toma de decisiones y en el conjunto de los
comportamientos sociales” (p.7). Sublinhando ainda que “el redescubrimiento de las
instituciones ha abierto una agenda interesante de investigación en política y economía
comparadas” (p.7).
A Sociologia tem como um dos seus conceitos centrais o que corresponde a instituição
e os processos de institucionalização, sendo estes, por vezes relacionados com a presença de
regras ou de organização. “Este uso se ajusta a lo que puede ser el significado central de
institución en la sociologia general, es decir, la institución como un procedimiento organizado
y establecido” (JEPPERSON, 1999, p.193).
9
De uma forma ou de outra podemos sublinhar o caráter polissêmico e difuso do termo
instituição. Neste sentido, Ferreira (2006) destaca a queixa generalizada entre os
neoinstitucionalistas que ainda não chegaram a acordos satisfatórios sobre o que seja uma
instituição
10
, trazendo ainda as contribuições de Ostrom
11
(2003) que destaca que as
instituições implicam “um aprendizado de cada individuo sobre sua inserção social e os
desafios que deve enfrentar na complexidade da sua vida atual”.(p.37).
Assim, as instituições são organizações ou mecanismos sociais que controlam o
funcionamento da sociedade e dos indivíduos, na medida em que, as regras e normas que as
organizam, refletem as experiências quantitativas e qualitativas decorrentes das interações
8
Estudio Introductório: Los nuevos institucionalismos: sus diferencias, sus cercanías. Texto que inicia a versão
em español do livro El nuevo institucionalismo en el análisis organizacional de Walter W. Powell y Paul J.
Dimaggio publicada em 1999.
9
DiMaggio e Powell destacam estudos de Maclver (1935, p.15-17) no sentido de distinguir mais claramente
entre uma asociación, como um grupo organizado, y uma institución, como un procedimiento organizado (1999,
p. 193).
10
Inmergut “…the new institutionalist do not propose one generally accepted definition of an institution, nor do
they appear to share a common research program or methodology” (1998, p.5).
11
Elinor Ostrom... “To understand institutions one needs to Know what they are, how and why they are crafted
and sustained, and what consequences are generated in diverse setting. Understanding anything is a process of
learning what it does, haw and why it works, how to create or modify it….Broadly defined, institutions are the
prescriptions that humans use to organize all forms of repetitive and structural interactions or situations including
those in within families, neighborhoods, market, firms, spots leagues, churches, private associations, and
governments at all scales” (2003, p.1).
31
sociais formais ou informais. Desta forma, implicam uma tensão dinâmica entre o conflito e a
cooperação servindo também como forma de coordenação. “La instituición representa un
orden o patrón social que ha alcanzado cierto estado o propiedad; la institucionalización es el
proceso para alcanzarlo” (Jepperson, 1999, p.195). Ainda o autor destaca que ela demonstra
um conjunto de interações sequenciadas que configuram um padrão determinado e um
processo de reprodução particular.
André Lecours (2002) no seu texto A abordagem neo-institucionalista em ciência
política: unidade ou diversidade? ressalta que o retorno das instituições como referencial
teórico se constitui num marco importante no avanço da Ciência Política. O foco principal
desta importância se relaciona com a influência das instituições sobre a ão, os
comportamentos e estratégias dos atores, suas preferências, identidades, o desenvolvimento
institucional, a origem e o caráter das instituições levando ao pesquisador a se questionar
como se produzem-reproduzem e se inscrevem num processo onde a paisagem institucional
existente num momento dado e num determinado espaço cotidiano condiciona a possibilidade
e a trajetória de mudança institucional.
Bruno Théret (2003) destaca que
Foi na Ciência Política, com o trabalho de Peter Hall e Rosemary Taylor, que surgiu
a preocupação de avaliar a variedade de novos institucionalismos presentes no
interior de uma mesma disciplina [...] A grande contribuição de Hall e Taylor,
reforçada pelo trabalho de Ellem Inmergut, está em mostrar que, na verdade,
desenvolveram-se em Ciência Política três novos institucionalismos e não apenas
um.
A escola neoinstitucionalista se apresenta como uma realidade constituída por três
possibilidades ou tendências, sejam o institucionalismo histórico, o da escolha racional e o
sociológico. Théret sublinha ainda que “Hall e Taylor construíram analiticamente a distinção
a partir de duas questões: Como esses enfoques encaram a relação entre instituições e
comportamentos individuais e como vêem o processo de formação e transformação das
instituições”.
A corrente do neoinstitucionalismo histórico focaliza a associação entre instituições e
organizações, as suas regras e/ou convenções formais. Para esta vertente as instituições são
produto de processos históricos concretos particularmente marcados pela dinâmica dos
32
conflitos decorrentes de relações de poder. Apresenta como conceitos chave o de path
dependence
12
e os mecanismos de reforço (positive feedback) gerados pelas instituições.
O institucionalismo da escolha racional, por outro lado, se concentra na importância
estratégica das instituições tentando combinar o movimento behaviorista com a análise
institucional. Explica as instituições em função dos constrangimentos e das oportunidades
oferecidas aos atores explicando os fenômenos institucionais menos como derivados da
estrutura da instituição e mais como resultado das decisões individuais e coletivas.
(Lecours,2002) Por outro lado, esta corrente as instituições como produtoras de
mecanismos de coordenação, explica a criação institucional especificando as funções de uma
instituição e averiguando as formas pelas quais os atores se beneficiam destas funções,
destaca também que as existência de instituições é produto do cálculo estratégico resultante
dos dilemas ligados a tomada de decisões coletivas. Assim as mudanças institucionais são
orientadas pelas idéias de crescimento, de maximização da utilidade e da eficácia.
O institucionalismo sociológico encontra as suas bases nas teorias das organizações, na
medida em que elas refletem os símbolos e as práticas culturais em vigor, contribuindo com
as percepções dos atores e suas influências na reprodução institucional. Sugere que as
instituições se transformam de maneira a ampliar a sua legitimidade social se adaptando às
mudanças na prática social. As mudanças institucionais são explicadas via path dependence e
enfatizando as percepções e os aspectos cognitivos balizados por códigos culturais próprios ao
contexto institucional existente.
Apesar das diversas configurações as IES comunitárias, em linhas gerais possuem
estrutura e dinâmicas semelhantes, seja no que se refere a alguns padrões de relacionamentos
entre mantida e mantenedora ou entre as diversas instâncias da estrutura administrativa e sua
dinâmica que podem ser consideradas, conforme Powell e Dimaggio (1999) na categoria
teórica denominada por ele de isomorfismo institucional, isto é, um processo restritivo que
força uma unidade a parecer com as outras que enfrentam o mesmo conjunto de condições
tanto externas quanto internas.
12
Neste sentido, Hall e Taylor (2003), destacam o trabalho de Theda Skocpol sobre as revoluções reforçado por
outros autores como Sven Steinmo, Kathleen Thelen , afirmando que os fenômenos sócio-políticos são
fortemente condicionados pelos fatores contextuais, exógenos, os atores, sendo que muitos são de natureza
institucional
33
A formação de um campo institucional requer como condição básica, a existência de
semelhanças que podem ser relativas as práticas institucionais ou as formas das instituições
integrantes. No caso particular deste estudo nos referimos às IES de direito privado sem fins
lucrativos e comunitárias.
Podemos pensar o campo organizacional das IES privadas sem fins lucrativos
considerando que as comunitárias em sentido estrito se encontram numa posição central na
medida em que pelos seus princípios institucionais têm melhores condições de operacionalizar
a característica básica do campo que se refere a ausência de fins lucrativos e a adequação a
categoria de público-não-estatal. A relação mantenedora-mantida é diferente das
confessionais no sentido de que a ela corresponde a responsabilidade de dar conta da
reprodução institucional do ponto de vista econômico-financeiro.
O fenômeno definido por Powell e Dimaggio (1999) como isomorfismo institucional
leva as instituições a se assemelharem entre si. Os autores ainda destacam que este processo
pode ser de três tipos: coercitivo, mimético e normativo.
Assim, em relação ao primeiro, os autores afirmam que “el isomorfismo coercitivo
resulta de presiones tanto formales como informales que sobre unas organizaciones ejercen
otras de las que dependen y que ejercen también las expectativas culturales en la sociedad
dentro de la cual funcionan las organizaciones” (POWELL e DIMAGGIO, 1999, p.109). Da
mesma forma o efeito de persuasão e de pressão pode ser materializado por pressões
governamentais muitas vezes calcadas na legislação formal principalmente pelas
regulamentações impostas pela legislação educacional, outras por pressões indiretas (a
competição por matrículas decorrente do aumento da oferta), mas que de qualquer forma
produzem ou incitam a mudanças organizacionais que afetam aspectos da estrutura ou do
comportamento de uma instituição e o tipo de relacionamento interno e externo, enfim a sua
dinâmica de resposta interna e externa para tender a sua reprodução.
O segundo tipo denominado de isomorfismo mimético ocorre quando uma organização
imita práticas de outra organização, para enfrentar as incertezas ambientais.
34
La incertibumbre también es uma fuerza poderoza que propicia la imitación [...]
cuando se entienden poco las tecnologias organizacionales, las metas son ambiguas
y cuando el ambiente cria incertidumbre simbólica, las organizaciones pueden
construirse siguiendo el modelo de otras organizaciones (POWELL e DIMAGGIO,
1999, p.111).
Assim, instituições acabam imitando outras que se mostram mais legítimas ou melhor
sucedidas. “Quizá la ubicuidad de ciertas clases de arreglos estructurales puede atribuirse más
a la universalidad de los procesos miméticos que a cualquier evidencia concreta de que los
modelos adoptados aumentan a eficiencia” (POWELL e DIMAGGIO, 1999, p.111).
Diversas ações ou políticas institucionais formuladas e implementadas no interior das
universidades mantidas, nas dimensões de Ensino, Pesquisa e Extensão, sugerem semelhanças
instigantes que apontam no sentido do isomorfismo mimético principalmente, no intuito de
reduzir as tensões externas impostas pelo mercado, reduzindo custos e buscando alternativas
de manter a legitimidade institucional em torno dos seus princípios fundantes.
A Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (ABRUC
13
) foi fundada em
de 1995 e reúne aproximadamente 54 instituições de ensino superior sem fins lucrativos,
confessionais ou não, mas representativas da sociedade civil organizada focalizadas no
desenvolvimento de projetos que atendam às necessidades regionais de suas áreas de
abrangência. Esta entidade tem como objetivo o de promover, consolidar e defender os
conceitos de universidade e centro universitário comunitários, através da participação em
fóruns oficiais e organizando eventos e seminários em todo o país com o intuito de representar
e defender os princípios e acordos de suas filiadas.
O COMUNG,
14
Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas foi resultado
de um acordo assinado por nove instituições comunitárias do Rio Grande do Sul no ano de
1993 momento em que firmaram um Protocolo de Ação Conjunta com o intuito de buscar a
integração e o fortalecimento institucional cujos benefícios revertessem na comunidade
universitária e na sociedade gaúcha. Dentre os seus objetivos destacamos os que se
relacionam com o planejamento e a promoção de ações conjuntas, otimizando as relações
internas, com as instituições públicas e com a sociedade; assegurar maior força na defesa dos
13
http://www.abruc.org.br/
14
http://www.comung.org.br/1024/index.html
35
interesses educacionais dos seus participantes, através de negociações mais significativas no
âmbito público em todas as esferas administrativas e da sociedade civil organizada; buscar
maior representatividade perante organismos financiadores internacionais, pela capacidade de
integração político-institucional, operacionalizar convênios, acordos, protocolos com
instituições e órgãos governamentais e privados, tanto nacionais como internacionais.
ABRUC e COMUNG são instâncias que representam também as instituições
focalizadas neste estudo o que poderia sugerir que elas exercem um papel na difusão de
mecanismos miméticos através da divulgação de acordos e práticas institucionais bem
sucedidas.
Ao estudar um campo institucional ainda jovem em termos históricos o das
universidades comunitários do Rio Grande do Sul -, é fundamental dar-se conta de algumas
condições que delimitam o campo de análise em seus termos mais centrais para compreensão
dos problemas elencados: o movimento heurístico será buscado na articulação entre conceitos
e noções de campos teóricos e disciplinares, como os da teoria neo-institucionalista e da
análise do discurso político (CHARAUDEAU, 2006).
As escolhas revelam a intenção dos pesquisadores em trabalhar as questões referentes
à reprodução institucional e as mudanças operadas em tempos identificados como de crise”,
através da tensão entre os sinais ameaçadores – presentes e/ou anunciados – da questão
econômico-financeira e o conjunto dos discursos e das práticas políticas e administrativas do
campo institucional.
Em consequência, foi acionado um conjunto de noções, conceitos e categorias que
desenham este campo de estudo segundo a verificação constante da conexão entre estruturas,
discursos e práticas, que são ao mesmo tempo, constitutivas das instituições (no sentido de
definirem suas perenidades), mas também, como sinais relevantes de mudanças.
A análise neo-institucionalista em ciência política tem se revelado como um recurso
com grande capacidade heurística para o estudo das mais diversas esferas da atividade
humana. Sua validade implica, desde sua menção na literatura sociológica mais remota, na
apreciação da ação social coletiva por excelência em termos de seu significado. Tal
36
posição teórica define a própria abrangência do objeto construído
15
onde os campos das
práticas e dos discursos são inventariados em seu sentido e coerência, vis-à-vis as estruturas
sedimentadas, sua lógica interna de funcionamento e seus princípios orientadores. Nesse
sentido, as inferências não se restringem à exclusividade das funções ou estruturas, ou do
agenciamento dos indivíduos; busca-se reduzir assim, a solidão e incompletude das
dissociações entre agência e estrutura, que o neo-institucionalismo tem conseguido em sua
agenda de pesquisa com sucessos variáveis. (SMITH, 2005; GOODIN, 2003).
No caso específico do objeto em pauta, particularmente no caso desta tese, a
discursividade toma vulto, em grande medida pela perspectiva adotada: a do discurso político,
via tradição francesa da Análise do Discurso (AD), principalmente através da obra de Patrick
Charaudeau (2006). Ao reproduzir as palavras do autor, estão dadas as coordenadas deste
artigo em suas questões mais centrais:
[...] convém tentar definir a problemática geral na qual será construído e estudado
[o] objeto. Aqui, mais particularmente, trata-se de tomar posição quanto às relações
entre linguagem, ão, poder e verdade, afim de determinar a problemática
particular na qual será estudado o discurso político. (2006, p. 16)
Partindo da análise de um campo muito amplo – o da palavra que envolve os percursos
da ação social, que inclui relações de poder de diversas naturezas o autor define
antecipadamente sobre que eixo vai vasculhar seu objeto, situando-o necessariamente sobre a
tensão discurso e ação, onde a verdade que evoca, sofre pelo seu estatuto de nível da
abstração e relativismo, de imensa dificuldade para ser compreendida e mesmo avaliada, na
medida em que o campo da política, segundo define o autor, não passa de um imenso teatro.
Sabedor disso tudo, Charaudeau direciona sua démarche para noções de maior aproximação
empírica como a veracidade dos discursos.
O discurso político compreende uma forma de comunicação singular, em que
sobressaem algumas características: delimitar um campo de relações governantes e
governados, soberanos e submetidos, permitir/exigir formulações ambíguas e flexibilidade,
lidar com expectativas e desejos, pretender o convencimento ou resignação.
15
BOURDIEU, P., CHAMBOREDON, J-C, PASSERON, J-C, El Oficio de Sociólogo. Presupuestos
Epistemológicos. 5ª. Ed. México: Siglo Veinteuno, 1981. cap. 2. “La construcción del objeto. El hecho se
construye: Las formas de la renuncia empirista. Um quase manifesto contra uma sociologia ingênua ou
espontânea que confunde tema com objeto -, ou seja, que assume “el imperativo científico de la subordinación
al hecho [fato que] desemboca en la renuncia pura y simple ante al dato”. p. 66.
37
Nele, estão contidos e o constituem ingredientes que Habermas (1987) define como
constitutivos da ação dramatúrgica, tipificadora desta modalidade de discurso. Charaudeau
chama a atenção para as exigências e consequências de tais características:
A encenação do discurso político oscila entre a ordem da razão e da paixão,
misturando logos, ethos e pathos para tentar responder à questão que supostamente
se coloca o cidadão: “o que me leva a aderir a este ou aquele valor?” Para o político,
é uma questão da estratégia a ser adotada na construção de sua imagem (ethos), para
fins de credibilidade e sedução, da dramatização do ato de tomar a palavra (pathos),
para fins de persuasão, da escolha e da apresentação dos valores para fins de
fundamento do projeto político. (CHARAUDEAU, 2006, p. 84)
Levando-se em conta que as instituições representam instâncias em que se adensam
um repertório de valores, fins, estruturas, regras que regulam as práticas coletivas, assim
como suas conexões internas e externas, é mister reconhecê-las como teatro de exercício de
relações de poder a exigir a reprodução de discursos coerentes. Tal coerência, se exitosa em
sua recorrência, favorece o princípio de adesão a valores e identificação da comunidade
interna com as regras que objetivam a produção e reprodução da estabilidade institucional.
Neste sentido, Scott corrobora as afirmações de Charles Tilly (1984, p. 81) que
considera dentro de um sistema teórico mais amplo, as instituições incluindo elementos
cognitivos, culturais, normativos e reguladores junto com as atividades e recursos associados,
a produzirem sua estabilidade e significação da vida social.
Attempting to bring some coherence to the enterprise, the approach I adopted was to
construct what Tilly (1984: 81) terms an “encompassing” framework, that
incorporates related but different concepts and arguments and locates them within
the a broader theoretical system. I postulated that institutions are variously
comprised of “cultural-cognitive, normative and regulative elements that, together
with associated activities and resources, provide stability and meaning to social life”
(SCOTT, 2005, p. 464).
Por outro lado,
[…] these elements and in the levels of analysis at which they work, all recognize
the common theme that social behavior and associated resources are anchored in
rule systems and cultural schema. Relational and material features of social
structures are constituted, empowered and constrained by the virtual elements,
which they, in turn produce and reproduce (GIDDENS, 1979; SEWELL, 1992).
38
Margaret Levi (1991)
16
enfrenta o problema de conceituação do termo instituição no
sentido de se transcender a noção usual que “toma as instituições como um conjunto de regras
que regulam comportamentos recorrentes” pela necessidade premente de diferenciar
instituição de normas. Assim, a autora lança mão a uma tipologia das instituições na tentativa
de evidenciar as características diferenciadoras. Ela denomina as instituições formais
definindo-as como
Subconjunto particular de instituições caracterizadas por arranjos formais de
agregação e de regulamentação comportamental, os quais mediante o uso de regras
explícitas e de processos decisórios, são implementadas por um ator ou um conjunto
de atores formalmente reconhecidos como portadores deste poder. (Levi,1991, p.
82).
Destaca também que as regras ou acordos podem ser verbais ou escritos formalmente,
mas de uma forma ou de outra “expressam expectativas de comportamento relativamente
claras”. A estabilidade das regras implica em certas configurações de relações de poder, bem
como mecanismos de estímulo ou desestímulo às ações dos atores sociais.
Levi questiona também os mecanismos utilizados pelas instituições na mudança das
regras e nos processos de implementação destas conduzindo a mecanismos diferenciados ou
alternativos que podem ser estimulados ou repreendidos. “As mudanças institucionais
implicam para a autora em redistribuição de poder, e é fruto do abandono do comportamento
de submissão por parte de pessoas ou grupos a arranjos institucionais vigentes” (apud Rocha,
2005, p.21) A autora enfatiza tal possibilidade de mudança através de consensos que
denomina de contingentes, implicando o arbitramento dos envolvidos com as múltiplas
funções institucionais. Consensos aqui necessariamente entendidos em sua expressão prática:
a da reciprocidade de atitudes.
Consenso contingente é um conceito proposto pela autora que implica reciprocidade
de comportamentos, envolve cumprir com expectativas alheias, implica cooperação
condicional onde cada um faz a sua parte com base na honestidade e a reciprocidade
(p.22).
Ou seja, reciprocidade de atitudes que envolvem relações institucionais as mais
equitativas possíveis no sentido de possibilitar a construção de mecanismos democráticos de
gestão.
16
Apud Rocha, Carlos Vasconcellos no seu artigo “Neoinstitucionalismo como modelo de análise para as
políticas públicas”. Civitas, Porto Alegre, v.5.n.1, jan-jun2005,p.11-28
39
3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE IDEOLOGIA E UTOPIA
O livro Ideologia e Utopia, uma das principais obras de Karl Mannheim, foi publicado
na sua primeira edição em alemão em 1929. Nele o autor desenvolve a Sociologia do
Conhecimento ou Wissensoziologie
a partir da tese de que as idéias emergem, se desenvolvem e são determinadas pela
situação sócio-histórica em que se encontram os grupos intelectuais mais
experimentados. As categorias básicas, a visão de mundo, do passado e do futuro e a
concepção de liberdade demonstram estar ligados a posição política e ao grupo com
o qual o pensador se identifica (1972, p. 9).
Na edição de Ideología y utopía comemorativa aos setenta anos da editora Fondo de
Cultura Econômica, publicada em 2004, encontramos o prefácio assinado por Louis Wirth
que o inicia com as seguintes afirmações:
La edición original, em alemán, de Ideologia y Utopia se publicó en un ambiente de
aguda tensión intelectual, marcada por una acalorada discusión que se apla
únicamente con el destierro o el silencio forzado de los pensadores que buscaban
una solución plausible y honrada de los problemas que se habian planteado[...]Los
problemas intelectuales que en un tiempo se consideraron como la preocupación
exclusiva de los escritores alemanes han invadido todo el orbe. Lo que antaño
pareció un asunto esotérico, que solo interesaba a unos cuantos intelectuales de una
sola nación, se ha vuelto ahora una condición común del hombre moderno. (Wirth,
2004, p.11)
Por outro lado, Valle (2001) após levantar as contribuições de Bacon e Montesquieu
como antecessores das idéias de Mannheim afirma:
después del planteamiento marxista, la fe en el progreso (éxitos de la revolución
industrial) y los desastres de la Primera Guerra Mundial, que abrieron las puertas
para el pesimismo, aparece en 1929 la obra Mannheim Ideología y Utopía [...] que
presenta un programa (pela primeira vez) de investigación de lo que se ha venido
denominando de sociología del conocimiento (VALLE, 2001, p.292).
Mannheim salienta que para a maioria das pessoas a palavra ideologia está
intimamente relacionada com o marxismo apesar de historicamente este termo ter uma origem
muito mais remota. Afirma:
No hay mejor introducción al problema del análisis del término “ideologia” que
desentrañar los diferentes matices de significado que se han mezclado aquí en una
seudounidad, y una determinación más precisa de las variaciones de los significados
40
del concepto, tal como se le emplea ahora, allanará el camino al análisis sociológico
e histórico de él. (MANNHEIM, 2004, p.89)
Com objetivo de compreender melhor os seus significados ele os agrupa
artificialmente nas categorias que denomina de concepções particular e total. A concepção
particular da ideologia se relaciona com o estado de ceticismo em relação às ideias do outro,
no sentido de que podem ser percebidas como um (ou vários) disfarce(s), mais ou menos
conscientes, da real natureza de uma situação, que o seu reconhecimento não estaria de
acordo com os seus interesses. Por outro lado, a concepção total de ideologia corresponderia à
ideologia de um grupo histórico social concreto.
As duas concepções apresentam elementos comuns, dentre os quais destacamos:
Nenhuma delas depende do que efetivamente foi dito pelo outro (expressamente
denominado por Mannheim como opositor) para atingir uma compreensão do seu
real significado ou de sua intenção.
17
Ambas estão voltadas para o sujeito seja ele indivíduo ou grupo, no sentido do que
foi dito se relaciona com as condições sociais desse indivíduo ou grupo.
18
Há possibilidade de perceber diferenças entre as duas concepções como, por exemplo:
Enquanto a concepção particular se refere a uma parte do enunciado do opositor
que se relaciona com o conteúdo, a concepção total questiona a visão de mundo
total do opositor e seu aparato conceitual ao tentar compreender estes conceitos
como sendo consequência da vida coletiva.
A concepção particular se preocupa com o nível psicológico
Se, por exemplo, pretende-se que um opositor esteja ocultando ou distorcendo uma
dada situação de fato, pressupõe-se, não obstante, que ambos partilham de critérios
comuns de validade, pressupõe-se também que é possível refutar mentiras e desfazer
fontes de erros tendo como referência critérios aceitos de validade objetiva comuns a
ambos os lados (MANNHEIM, 1972, p.83).
17
2
O autor acrescenta que “Las ideas expresadas por el sujeto se consideran em tal forma como funciones de su
existência...Significa además que el carácter específico y la situación vital del sujetoejercen una influencia sobre
sus opiniones, sus percepciones y sus interpretaciones” (2004, p. 90)
41
Por outro lado, na concepção total existe a preocupação de se transcender ao conteúdo
do pensamento, focalizando os modos de experiências e interpretação, bem como com os
esquemas cognitivos e as estruturas de pensamento que são determinados historicamente,
motivo pelo qual podem se diferenciar dos nossos.
Quando utilizamos a concepção total de ideologia procuramos reconstruir todo o
modo de ver de um grupo social e, neste caso, nem os indivíduos concretos nem o
seu somatório abstrato podem ser legitimamente considerados como portadores
desse sistema ideológico de pensamento como um todo (MANNHEIM, 1972, p.85).
Segundo Mannheim a função total da ideologia partindo dos conceitos weberianos de
ação social e relação social, enfatizando que é nesse nível que o fenômeno ideológico aparece
em toda a sua originalidade, ligado à necessidade que um grupo social tem de representar-se.
Destaca seu caráter mobilizador com a função de perpetuar a energia vital e transformar em
credo os princípios fundadores de uma comunidade histórica ou grupo social . Além disso, ela
é dinâmica porque movida pelo desejo de demonstrar que o grupo social que a professa tem
razão de ser o que é.
A ideologia é um fenômeno insuperável da existência social, na medida em que a
realidade social sempre possui uma constituição simbólica e comporta uma
interpretação, em imagens e representações, do próprio vínculo social. (RICOEUR,
1990, p.75)
Para Mannheim, toda ideologia é também simplificadora e esquemática, sendo
representada por um código que identifica uma visão do conjunto do grupo, de sua história e,
em última análise, do mundo; é esse caráter codificado é inerente à sua função justificadora.
Acrescenta também que o fato de ser operatória e não temática, vem da impossibilidade de
um grupo tematizar, formular e propor tudo como objeto de pensamento, situando-se em uma
instância não critica. Por fim, apresenta a função de dissimulação da ideologia, exercida,
sobretudo em relação a realidades vividas pelo grupo sociais não admitidas pelo esquema
diretriz. Desta forma inicia-se o processo de intolerância que ameaça a possibilidade de um
grupo reconhecer-se e surge a contradição desse traço com a função primeira da ideologia,
que é a de prolongar os efeitos dos atos fundadores.
Neste mesmo sentido, Paul Ricoeur considera como primitiva a relação de uma
comunidade histórica com o ato que a instaurou, acrescentando que “a ideologia é função da
42
distância que separa a memória social de um acontecimento, que no entanto, trata-se de
repetir”( 1990, p.68)
Seu papel (o da ideologia) não é somente o de difundir a convicção par a além do
círculo dos pais fundadores, para convertê-la num credo de todo um grupo, mas
também o de perpetuar sua energia inicial para além do período de efervescência.
(RICOEUR, 1990, p. 68)
O Weltanschauung ou visão de mundo de um determinado grupo é resultado de uma
série de experiências ou de vivências ligadas a uma mesma estrutura e é construída a partir de
ações práticas que pertencem a um campo de conhecimento que ele denomina de ateórico mas
que podem ser conhecidas através da explicação teórica. Cabe aos intelectuais desvendar esse
conhecimento. Em cada período histórico da humanidade aparecem tendências conflitantes
seja no sentido da conservação ou da mudança. A adesão à primeira tende a produzir
ideologias e a adesão à segunda tende a produzir utopias. Neste sentido a primeira nos remete
ao passado e a segunda ao futuro.
Mannheim atribuía a desagregação da sociedade à coexistência de rias visões de
mundo, Weltanschauungen, que impediam a construção de sistemas de significação unânimes
que permitissem a construção de consensos.
Su preocupación central fue, pues, la del análisis de las ideologías, ya que en una
sociedad de esas características la unanimidad sólo podía rehacerse a base de
definiciones que reinterpretasen funcionalmente aquello que anteriormente había
sido substancial (CARDUS I ROS, 1993, p.124).
Paul Ricoeur, (1997) analisa a relevância do trabalho de Mannheim com relação à
ideologia destacando a clivagem entre as visões sociais voltadas para o passado e o
significado de sua convivência com visões de futuro:
En primer lugar Karl Mannheim fue quien por primera vez reunió la ideología y la
utopía dentro de la problemática general de la incongruencia. Observó que hay dos
maneras en que un sistema de pensamiento puede ser incongruente respecto de la
tendencia general de un grupo o sociedad: o bien aferrándose al pasado lo cual
representa una resistencia al cambio o bien dando un salto hacia delante, lo cual
constituye una clase de estímulo al cambio (RICOEUR, 1997, p. 191).
Segundo este autor o segundo mérito de K. Mannheim é ter ampliado o conceito de
marxista de ideología até o ponto de
43
convertirlo en un concepto desconcertante porque incluye el propio concepto. [...]
Mannheim lleva el concepto de ideología y la crítica de la ideología hasta el punto
en que se hace paradójico [...] cuando se extiende y se universaliza de suerte que
abarca a todo aquel que pretende usarlo (p.191).
Acrescenta ainda que
La idea es esta: si podemos dar una descripción exacta de todas las fuerzas de la
sociedad, estaremos en condiciones de situar cada ideología en su lugar correcto.
Comprender el todo nos salva de las implicaciones del concepto. Tal vez aquí esté la
falta de Mannheim, porque esta Sociología del conocimiento nunca logró
convertirse en una ciencia ni alcanzó pleno desarrollo (RICOEUR, 1997, p.197).
Por outro lado, Van Dijk (1999) salienta que a ideologia envolve um conceito difuso e
controverso justificando esta posição pela condição histórica que divide os estudiosos em
marxistas e não marxistas. Na primeira categoria coloca Marx, Engels, Lukács, Gramsci e
Althusser como expoentes mais destacados. Já entre os não marxistas Durkheim e Mannheim.
Os debates tradicionais materializam no senso comum a idéia de ideologia como um
sistema de crenças equivocadas, falsas, distorcidas ou mal encaminhadas. Van Dijk (1999)
sublinha que nessas concepções correntes aparecem as noções de falsidade no sentido de
ocultar as relações sociais verdadeiras, correspondem às crenças dos outros e pressupõem
definições de verdade e falsidade cuja natureza serve social e politicamente aos seus próprios
interesses. O autor destaca que um elemento crítico se associa com a questão de poder e
dominação no sentido de que seguindo Marx e Engels as ideologias foram definidas como as
idéias dominantes de uma determinada época, que se associavam com as classes governantes
constituindo uma parte da superestrutura e sendo determinadas pela base econômica material
da sociedade.
Da mesma forma, Ricoeur (1997) acrescenta que segundo Mannheim a contribuição
de Marx
al desarrollo del concepto de ideología [...] es una concepción mas general [...] en el
sentido de que ya no es solo un fenómeno psicológico relativo a los individuos, ya
no es una deformación o una mentira, en un sentido moral, o como el error en un
sentido epistemológico[…] La concepción total , por otra parte, incluye toda una
visión del mundo y está sustentada por una estructura colectiva (p.193).
Assim, se estas questões são verdadeiras desvendar o processo ideológico requer
métodos de análise específicos.
44
Ricoeur (1999) adverte sobre as duas principais “armadilhas” que podem ocorrer ao
analisar-se o fenômeno ideológico. A primeira delas, devido a forte marca marxista sobre o
problema, é aceitar a evidência de que uma abordagem em termos de classes sociais é fechar-
se em uma “polêmica estéril”, que em última instância, se resumiria em colocar-se a favor ou
contra o marxismo. A segunda armadilha” corresponde a definir a ideologia por sua função
de justificação, que diz respeito não somente aos interesses de uma classe, mas de uma classe
dominante o que para o autor não parece correto, que a dominação é apenas uma dimensão
da ideologia. Desta forma se estará admitindo o aspecto negativo da ideologia e não o enfoque
da ideologia como integração social.
Ricoeur apresenta a função de dominação da ideologia, sem a negar e, no entanto,
assimilando-a a função anterior de integração, vinculando-a aos aspectos hierárquicos da
organização social, afirmando que o que a ideologia justifica e interpreta é a relação com a
autoridade que procura legitimar-se, sempre com um peso maior do que a crença dos
indivíduos nesse mesmo sistema de autoridade. Assim, o caráter de distorção e de
dissimulação da ideologia passa a um primeiro plano quando o papel mediador encontra-se
com o fenômeno da dominação. Por fim, na última etapa dessa análise, o autor apresenta a
função de deformação da ideologia, chegando então ao conceito propriamente marxista.
Ressalta que o conceito de Marx, da deformação por inversão, está intimamente ligado à
religião, mas que sua contribuição, realmente inovadora, destaca-se ao afirmar que a função
justificadora da ideologia aplica-se por privilégio, à relação de dominação oriunda da divisão
em classes socais e da luta de classes. Conclui então, ao resumir suas etapas de análise, que a
ideologia é um sistema insuperável da existência social, na medida em que a realidade social
constrói simbolicamente e interpreta o próprio vínculo social.
O autor Salvador Cardus i Ros no seu texto “Notas para una lectura actualizada de
Ideologia y Utopia” após destacar que esta obra clássica, porém polêmica, da Sociologia pode
ser muito mais atual do que em décadas passadas, afirma:
[...] en la reformulación que Mannheim propuso del concepto de ideología, que en
su forma total incluye no sólo el pensamiento del adversario, sino también el propio
pensamiento, la simple teoría de la ideología se transforma en sociología del
conocimiento (1993, p.125)
45
Mannheim ressalta que a principal dificuldade da sociedade moderna consiste na
magnitude da falta de articulação orgânica (gliederung) exigida por uma sociedade complexa
destacando que a coesão social e a integração dependem acima de tudo de fatores racionais e
irracionais dominantes na sociedade industrial de massas.
Assim ele acrescenta que, nos pequenos grupos, a ação e o pensamento o regulados
pelo senso comum, e as regras fixadas pelos costumes atuais e pelos precedentes. Isto implica
que as tarefas têm que ser simples e frequentes necessitando somente de uma organização
limitada para executá-las. Quando as ações se complexificam a racionalidade necessária para
dividir o todo nas partes é mais elaborada pela possibilidade ampliada de opções. Quando as
transformações são lentas e a tradição pode agir é possível preservar um mínimo de
concordância necessária para realizar ações cooperativas. O desenvolvimento técnico, por sua
vez, dificulta as condições de cooperação.
Os processos de industrialização, urbanização e burocratização criaram formas de
controle que, por falta de coordenação acabaram fortalecendo as forças desintegradora,
competição com elementos desiguais, processos de poder que estão fora de controle, perda
das raízes dos estratos inferiores, que vão perdendo a sua capacidade de participação na vida
social, o que provoca, apatia, frustração e vários mecanismos que provocam a fuga da
liberdade”.
Quanto à circulação da obra e conceitos de Mannheim no Brasil, Maria José Rezende,
no texto “Celso Furtado e Karl Mannheim”, de 2004, destaca as contribuições de Mannheim a
um dos intelectuais brasileiros mais marcantes envolvidos nos processos de mudança social:
Suas reflexões (as de Celso Furtado) sobre a racionalidade capitalista, o papel da
ciência, o papel do intelectual, a criatividade, a sensibilidade para compreender o
mundo e suas modificações levaram-nos a diálogos férteis com Mannheim (1983-
1947) sobre a planificação democrática, a reconstrução institucional e o papel social
dos intelectuais em épocas de crises ameaçadoras [...] como estudioso de Mannheim,
estava convencido de que um amplo esforço de reconstrução institucional tornara-se
indispensável, se o objetivo era preservar a liberdade do homem. (FURTADO, !997,
p.99 apud Rezende, (2004, p.239)
46
Para finalizar este breve texto inicial sobre K. Mannheim e sua obra trazemos as
palavras de Ernest K. Bramstedt e Hans Gerth que o descrevem nas notas preliminares da
obra Liberdade, Poder e Planificação Democrática
[...] como analista, seguiu as pegadas de Marx, Max Weber e Mead, ao reconhecer a
força condicionante das estruturas sociais em relação ao pensamento e a volição. E,
como educador, acreditava firmemente nas potencialidades criadoras do homem, de
acordo com o legado democrático e humanista de Rousseau, recebido pela
psicologia e pela pedagogia moderna [...]. A nova sociedade pode surgir como
criação de homens dispostos a reajustar-se a si mesmos uma vez mais, porém sobre
a estrela polar dos valores genuínos (!972, p.16)
Paul Ricoeur (1999, p.88) sintetiza
Eis como MANNHEIM generaliza o conceito de ideologia. Para ele as ideologias se
definem, essencialmente, por sua não congruência, por sua discordância emface a
realidade social. diferem das utopias por traços secundários. As ideologias são
mais professadas pela classe dirigente. E são as classes subprivilegiadas as que as
denunciam. As utopias o, preferencialmente, professadas pelas classes
ascendentes. As ideologias se acomodam à realidade que justificam e dissimulam,
ao passo que as utopias enfrentam a realidade e a fazem explodir.
Em 1996 a editora Contraponto publica um livro organizado por Zizek intitulado O
mapa da ideologia que na sua introdução afirma mais uma vez que o conceito de ideologia é
ambivalente até o ponto máximo no sentido de que pode designar qualquer coisa, uma atitude
contemplativa que desconhece qualquer relação com a realidade social ou um meio a partir do
qual os indivíduos vivenciam as suas relações com a estrutura social e até mesmo as idéias
falsas que legitimam o poder político dominante. Acrescenta ainda que a contingência do real,
carente de sentido é internalizada, simbolizada e adquire sentido. Ou seja, ela pode significar
a internalização de uma contingência ou a externalização de uma necessidade interna. “Aqui a
tarefa da crítica da ideologia é justamente discernir a necessidade oculta, naquilo que se
manifesta como mera contingência” (p.10).
Por outro lado acrescenta que a compreensão prévia ou espontânea parece, pelo menos
implicitamente mostrar o que não é ideologia.
“A ideologia não é necessariamente falsa enquanto a seu conteúdo positivo, ela pode
ser “verdadeira” e muito precisa, pois o que realmente importa não é o conteúdo
afirmado como tal, mas o modo como esse conteúdo se relaciona com a postura
subjetiva envolvida em seu próprio processo de enunciação. Estamos dentro do
espaço ideológico propriamente dito no momento em que esse conteúdo
“verdadeiroou “falso” (se verdadeiro tanto melhor para o efeito ideológico) - é
funcional com respeito a alguma relação de dominação social(poder, exploração) de
maneira intrinsecamente não transparente, para ser eficaz a lógica de legitimação da
relação de dominação tem que permanecer oculta”(p.14)
47
Zizek (1996) também sublinha a necessidade de superar as avaliações do conceito e
suas várias noções em relação à veracidade interpretando a multiplicidade de determinações
como um indicador de situações históricas concretas.
O autor destaca que para Marx a religião se constituía na expressão máxima da
ideologia por reunir as três categorias fundamentais para a sua constituição, a saber, doutrina,
crenças e rituais ou os três momentos ideológicos identificados por Hegel. Zizek aponta ainda
que poder-se-ia ficar tentado a utilizar esses eixos como base para a crítica dos ltiplos
significados da palavra ideologia:
1. A ideologia como um complexo de ideias, (teorias, convicções, crenças, métodos
de argumentação);
2. A ideologia em seu aspecto externo, ou seja, a materialidade da ideologia, os
Aparelhos Ideológicos de Estado,
3. A ideologia espontânea que atua no cerne da própria realidade social (p.15)
Dentre as várias críticas possíveis ao termo ideologia uma das mais promissoras surge
a partir da analise do discurso “[...] A própria ideia de um acesso à realidade que não seja
distorcido por nenhum dispositivo discursivo ou conjunção com o poder é ideológica. O nível
zero da ideologia consiste em (des) apreender uma formação discursiva como um fato extra
discursivo” (p. 16).
Zizek alerta para o fato de que ao tentar traçar uma linha demarcatória clara entre a
ideologia e a própria realidade efetiva parece impor a idéia de que a única postura não
ideológica consiste em renunciar à noção de realidade extra-ideológica, “e aceitar que tudo
com o que lidamos são ficções simbólicas, com uma pluralidade de universos discursivos, e
nunca com a “realidade- mas essa solução “pos-moderna”, rápida e astuta, é a ideologia por
excelência” (p.22).
a exterioridade desconhecida pela ideologia é a exterioridade do “texto” em si , bem
como a exterioridade da realidade social “extra textual” [...] Por fim, essa própria
realidade social extra textual divide-se no exterior institucional, que domina e regula
a vida dos indivíduos de cima para baixo” (os AIEs), e numa ideologia que não é
imposta pelos AIES, mas emerge “espontaneamente” de “baixo para cima”, da
atividade extra-institucional dos indivíduos (fetichismo da mercadoria) - para dar o
nome aos bois, Althusser vs Luckács
(p.23)
48
Louis Althusser (1970) propõe uma tentativa de avanço rumo a uma teoria das
ideologias em geral como uma forma de transcender as teorias das ideologias em particular
que sempre expressam posições de classe.
Uma teoria das ideologias se baseia na história das formações sociais e, portanto, dos
modos de produção combinados nas formações sociais e das lutas de classes que se dão dentro
delas.
Por um lado, penso ser possível afirmar que as ideologias têm uma história própria
(ainda que esta seja determinada, em última instância, pela luta de classes); e por
outro, creio ser possível afirmar que a ideologia em geral o tem história- não num
sentido negativo (sua história lhe é externa) mas num sentido absolutamente
positivo[...].se é verdade que a peculiaridade da ideologia está em ela ser dotada de
uma estrutura e funcionamento tais que a tornam uma realidade a-histórica, isto é,
uma realidade oni-histórica no sentido dessa estrutura e funcionamento serem
imutáveis, acharem-se presentes de uma mesma forma em tudo o que chamamos de
história [...] (ALTHUSSER,1996, p.124).
O autor destaca ainda que a ideologia representa uma relação imaginária dos
indivíduos com as suas condições reais de existência. “Não existe ideologia a não ser para
sujeitos concretos e essa destinação da ideologia é possível pelo sujeito, ou seja, pela
categoria de sujeito e seu funcionamento” (p.131)[...] “a categoria do sujeito é constitutiva
de qualquer ideologia na medida em que toda ideologia tem a função (que a define) de
“constituir” indivíduos concretos como sujeitos”(p.132)
Conclui então destacando a dupla constituição do funcionamento da ideologia, não
sendo mais do que o funcionamento nas formas materiais de existência desse funcionamento.
“Um dos efeitos da ideologia é a negação prática, pela ideologia, do caráter ideológico da
ideologia.” (ALTHUSSER,1996, p.134)
É por isso que os AIEs não são a realização da ideologia em geral, nem tampouco a
realização sem conflito da ideologia da classe dominante.A ideologia da classe
dominante não se transforma na ideologia dominante pela graça divina, nem em
virtude da simples tomada do poder estatal.É através da instauração dos AIEs, em
que essa ideologia é realizada e se realiza, que ela se torna dominante (p.140).
Michel Pêcheux tem como objetivo neste texto expor as bases de uma teoria
materialista do discurso e para tanto explica a expressão “condições ideológicas de
reprodução-transformação das relações de produção” chamando a atenção para os seguintes
fatos:
49
O campo da ideologia não é o único onde ocorre a reprodução-transformação das
relações de produção que não podem ser ignoradas as determinações
econômicas que condicionam essa produção-reprodução.
Destaca o caráter contraditório dos modos de produção baseados na divisão de
classes, ou seja, que os fatores que contribuem com a reprodução não estão
diametralmente opostos aos que contribuem com a transformação. “A luta de
classes perpassa o modo de produção como um todo, o que no campo da ideologia,
significa que a luta de classes “passa” pelo que Althusser chamou de Aparelhos
Ideológicos do Estado” (p.143) Justificando que as ideologias não se compõem de
ideias mas de práticas:
1. A ideologia não se reproduz como um Zeitgeist ou espírito da época impostos a
sociedade de maneira homogênea e regular, os AIEs não são a realização de uma
ideologia em geral.
É por isso que os AIEs não são a realização da ideologia em geral, nem tampouco a
realização sem conflito da ideologia da classe dominante.A ideologia da classe
dominante não se transforma na ideologia dominante pela graça divina, nem em
virtude da simples tomada do poder estatal.É através da instauração dos AIEs, em
que essa ideologia é realizada e se realiza, que ela se torna dominante” (Pêcheux,
1996, p.144).
2. Os AIEs não são puros instrumentos da classe dominante que servem para
reproduzir as relações de produção existentes, a instauração desses AIEs é o pivô
de uma luta de classes muito acirrada e continua que implica em dizer que os AIEs
constituem contraditória e simultaneamente a sede e as condições ideológicas da
transformação das relações de produção.
3. As condições ideológicas de produção-reprodução das relações de produção são
contraditórias, constituídas num momento histórico específico e numa dada
formação social, pelo conjunto complexo dos AIEs contidos nessa formação
social.Cabe destacar que na complexidade estão incluídas relações de contradição-
subordinação-desigualdade.
50
Portanto, o aspecto ideológico da luta pela transformação das relações de produção
reside, sobretudo, na luta para impor, dentro do complexo de Aparelhos Ideológicos
de Estado, novas relações de desigualdade-subordinação. (PÊCHEUX, 1996, p.145).
4. Resumindo: a objetividade material da instância ideológica se caracteriza pela
estrutura de desigualdade-subordinação de “todo complexo que está no domínio”
das formações ideológicas de uma dada formação social, uma estrutura que
expressa a contradição reprodução-transformação que constitui a luta de classes
(Pêcheux, 1996, p.146).
A forma da contradição inerente à luta ideológica de classes entre as duas classes
antagônicas não é simétrica, no sentido de cada classe tentar obter em seu próprio
benefício a mesma coisa que a outra: insisto nesse ponto porque, como vimos,
muitas concepções da luta ideológica tomam como um fato evidente, antes da luta,
que a sociedade existe (com o Estado acima dela) como um espaço, como o terreno
dessa luta. (PÊCHEUX, 1996, p.146).
A ideologia então é um sistema insuperável da existência social na medida em que a
realidade social constrói simbolicamente e interpreta o próprio vínculo social.
Ricoeur (1999, p.68) destaca que das três funções da ideologia a justificação e a
integração se relacionam com a representação da autoridade na busca de legitimidade. Por
outro lado, a função de dominação transcende a crença desses mesmos indivíduos nesse
mesmo sistema de autoridade.
Concluindo esta sessão concebemos o processo ideológico como intimamente
relacionado com o mito fundador que caracteriza as instituições comunitárias sendo que a
lembrança deste fato torna-se ideológica pela própria função de justificação de uma
determinada realidade social ou como coloca o autor acima mencionado pela possibilidade de
difundir a convicção para além do círculo de pais fundadores para convertê-lo no credo de
todo o grupo, perpetuando a energia vital para além do período de efervescência.
Assim o fenômeno ideológico é sempre posterior ao fato criador que é modelado
retroativamente mediante uma representação que pode ser retomada e re-atualizada para além
do momento inicial.
51
4 ANÁLISE INSTITUCIONAL COMO PROPOSTA ANALÍTICA DO OBJETO DE
ESTUDO DESENHADO
A abordagem neo-institucionalista, então, permite acesso ao objeto de forma a
desvendar alguns movimentos em dois planos: o interno e aqueles em relação ao ambiente
externo, que (re)organizam relações, (re)definem pautas prioritárias, (re)compõem arranjos de
poder e, finalmente, (re)estruturam as próprias instituições. Nesse cenário tomam vulto os
mecanismos que organizam o campo de tomadas de decisão como decorrência de novas
regras implementadas, e da nova correlação de forças internas.
A construção do objeto foi pautada pelo reconhecimento da interdependência de
instâncias constituidoras dessas universidades, tomadas em níveis distintos de atuação, a
saber: princípios e valores, estrutura administrativa e regras que normatizam os processos de
tomada de decisão, conforme a Figura 2. Entre elas, na condição de resultado da dinâmica
entre as três instâncias citadas se configura o campo das práticas institucionais onde são
destacadas as estratégias de reprodução e as políticas que lhes dão substância.
Figura 2: Modelo analítico – Integração das dimensões institucionais ligadas à
reprodução das universidades
19
19
Modelo elaborado pela autora.
52
O modelo permite visualizar a ideia de como este trabalho compreende as instituições
estudadas, ao mesmo tempo em que define o foco de atenção para acesso ao conjunto de
questões formuladas sobre os comportamentos institucionais em tempos de crise.
Ao se falar em crise é necessário definir sob que ponto de vista estas crises são
consideradas como ameaças às instituições, em se tratando de um tipo particular de
instituições brasileiras de ensino superior, definidas como comunitárias. A crise de que se fala
tem várias facetas que podem ser identificadas como de distintas origens, com efeitos
singulares, que se potencializam sobre as instituições. Elas são tanto externas ao setor
educacional como próprias do mesmo. Sua determinação é nacional, mas também transcende
essa fronteira, tornando-se, por exemplo, latino-americana, conforme Claudio Rama, em seu
modelo das “Fases da Educação Superior na América Latina” (2008). No entanto, é nas
regiões onde os efeitos mais sensíveis se revelam, por força dos laços que essas instituições
mantêm com a sociedade local e regional, em termos de origem, sustentação, legitimidade
social e expectativas de suas das comunidades de origem sociedades regionais que compõem
seu nascedouro.
Na visão do autor, as mudanças que o ensino superior tem experimentado na América
Latina podem ser agrupadas em três grandes reformas que passaram por características de
autonomia e monopólio num primeiro momento, até a configuração de um modelo binário
marcadamente mercantilista que está sendo pressionado cada vez mais por fatores
internacionais, na transição para um modelo que o autor denomina de “ternário”. Neste, a
garantia de qualidade está vinculada a padrões estipulados internacionalmente replicados
pelos governos nacionais que os aplica sobre seus sistemas educacionais. Um dos efeitos
dessas novas regras implica redução sensível dosveis de autonomia universitária, seja sobre
a direção das estratégias pedagógicas, seja com relação às agendas de pesquisa e/ou extensão,
com implicações importantes no campo da gestão institucional e seus compromissos com as
sociedades locais e regionais.
Os elementos que compõem a figura 2 em termos de suas interações e resultados
definem a gica de construção pensada para uma instituição, consistindo assim, na unidade
53
básica para estruturar o que denominou-se de “campo institucional.”
20
A redução dos
elementos que se integram numa representação mínima implica a compreensão da necessária
conexão entre as unidades estudadas, que formam em sua complexidade empírica, ou seja, o
cenário de investigação.
O acesso ao empírico fica necessariamente recortado segundo categorias que conferem
ao modelo a representação construída através das perguntas formuladas pelo pesquisador. No
caso, todas elas resumindo uma preocupação central: as condições de reprodução das
instituições em tempos de crise, frente à sua estrutura, suas regras, valores
21
e, por
conseguinte - assim foi pensado - sua capacidade de lidar com a crise.
Independentemente do período histórico ou do país focalizado é, (ou melhor, seria
desejável que fosse), uma característica imanente da universidade estar em crise, o que não
pode acontecer é que, esta crise seja, como coloca Milton Santos, reduzida exclusivamente a
componentes econômico-financeiros como visões mais simplistas tendem a fazer.
Existem, portanto, muitos autores e trabalhos que focalizam a crise da universidade
nos seus diversos aspectos, porém nossa abordagem busca situar alguns aspectos que auxiliem
na contextualização das instituições comunitárias e seus desafios.
Crise e “mal-estar” aparecem muitas vezes associados como conceitos ou categorias
que se inter-relacionam, mas se fazem presentes em muitas universidades.
Com efeito, muitos entendem que o diagnóstico desse mal-estar nada tem a ver com
a realidade, mas seria antes um sintoma de veneração... Algo como uma nostalgia de
certo caráter vetusto que a Universidade teria perdido devido às relações que teve de
estabelecer com a sociedade contemporânea (SILVA
22
, 2006, p.288).
20
Mais precisamente, um “sub-campo”, na medida em que o conjunto das universidades do país definem o
“campo”, com seus regramentos, processos de avaliação, estruturas decisórias, discursos, hierarquias, modelos
de representação sobre as tarefas a realizar, enquanto as instituições comunitárias definiriam uma parte desse
campo, onde se destacam algumas características que as tornam passíveis de categorização. No entanto, para os
fins deste artigo a subcategoria das universidades comunitárias foi reconhecida / identificada / denominada em
sua condição de “campo” institucional, dadas as singularidades que as constituem.
21
Reforçando para o leitor que, entre os valores, princípios, missão, visão e os compromissos institucionais
aparece em destaque o papel das comunitárias no processo de integração regional e o zelo pelos vínculos
comunitários plasmados desde suas origens.
22
Universidade: a ideia e a história de Franklin Leopoldo e Silva. In: STEINER, J.E.; MALNIC, G. Ensino
Superior: conceito e dinâmica. p. 285-296.
54
Entende-se assim que a universidade é uma das instituições da sociedade ou visto de
outra forma, um dos atores sociais com papel mais ou menos ativo dependendo do momento
sócio-histórico e do modelo institucional considerado.
Marilena Chauí afirma que “A universidade é uma instituição social e como tal
exprime, de maneira determinada, a estrutura e o modo de funcionamento da sociedade como
um todo” (2003, p.67)
Então, este ator social, universidade, estabelece uma série de relações e intercâmbios
com outros atores sociais que, na sua constituição, definem o projeto de sociedade no qual
estão inseridos.
Assim, SILVA (2006) acrescenta
[...] desde a origem a Universidade esteve mergulhada em dilemas criados por ela
mesma e pelo seu contexto. A dificuldade de transitar pela contradição que se
estabelece entre a formação de um consciência corporativa e uma consciência
pública esteve desde o inicio presente...pela necessidade de se afirmar ao mesmo
tempo pela singularidade e a pretensão de universalidade[...] (p. 289).
Entre as várias formas metafóricas que autores utilizaram para definir a crise da
universidade destacamos a mencionada por Cristovan Buarque
23
em trabalho apresentado na
Conferência Mundial de Educação Superior + 5, ocorrida em Paris no período compreendido
entre 23 e 25 de junho de 2003 e que explicita que a universidade encontra-se numa
encruzilhada
24
e sublinha “A crise da universidade brasileira coincide com a crise global da
instituição universitária. A humanidade encontra-se numa encruzilhada [...]” também ao ter
que fazer escolhas frente as modificações da modernidade. Ele acrescenta que “Não há dúvida
de que a universidade foi duramente maltratada pelo neoliberalismo nas últimas décadas [...]
A falta de recursos é um indicador da crise e o Brasil não é um exemplo isolado” (p.27).
Por outro lado, retomando a questão inicialmente levantada em relação a ampliar a
discussão para além das questões econômico-financeira o autor assinala que “[...] em vez de
23
Ministro da Educação do Brasil.
24
A universidade numa encruzilhada corresponde a um capítulo do livro A Universidade na Encruzilhada.
Resultado do seminário Universidade: por que e como reformar? Promovido pelo MEC em Brasília nos dias 6 e
7 de agosto de 2003.
55
perceber a crise em toda a sua profundidade, as universidades em sua maioria, vêm-se
convertendo em prisioneiras das suas necessidades imediatas” (p.28).
Defendendo a necessidade de reformar a universidade no contexto das reformas mais
amplas do estado agrega
Esta não é a primeira vez que a universidade se confrontada com a sua
necessidade de mudar, mas nunca ela precisou mudar tanto como agora. Tampouco
é a primeira vez que a universidade parece não se dar conta da sua própria crise, mas
também não será a primeira vez que ela irá superar suas dificuldades e se
reorganizar (p.28).
rias questões podem contribuir com a dificuldade de percepção e de reconhecimento
da crise de forma mais profunda para além dos limites das questões econômico-financeiras,
entre elas cabe mencionar a perda de legitimidade. “Desde o seu surgimento, a universidade
pública sempre foi uma instituição social, isto é, uma ão social, uma prática social fundada
no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas atribuições [...]” (CHAUÍ, 2003,
p.67).
25
A autora destaca que esta legitimidade foi construída a partir da sua história como
instituição republicana, laica e pública e desta forma se relaciona com a democratização do
saber (ou o questionamento pela elitização do mesmo), alertando ainda que com as alterações
da sociedade atual os limites entre estas categorias estão cada vez mais difusos o que afeta a
imagem de legitimidade institucional. Por outro lado, a universidade se relaciona
diferenciadamente com o Estado republicano e democrático e, desta forma se consolida como
instituição social. Assim, com as mudanças e reformas na conformação do Estado no governo
de Fernando Henrique Cardoso, a universidade se altera principalmente ao ser colocada a
Educação no Setor de Serviços não Exclusivos do Estado o que implica, então, na sua
transformação num serviço que pode ser privatizado. Neste contexto “A reforma do Estado
definiu a universidade como uma organização social e não como uma instituição social”
(p.68).
26
25
Texto incluído no livro: A Universidade na encruzilhada: por que e como reformar?, 2003.
26
Seguindo a Escola de Frankfurt CHAUI afirma: “A organização difere de uma instituição por definir-se por
uma prática social determinada por sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios administrativos
particulares para a obtenção de um objetivo particular.Não está referida a ações articuladas às idéias de
reconhecimento externo e interno, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias
balizadas pelas idéias de eficácia e de sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo
56
O Quadro 1 mostra as múltiplas facetas que pode apresentar a crise na universidade e
que, de forma variada, tem incidido na configuração institucional atual que definem o
contexto no qual as universidades comunitárias estão inseridas, denotando também os marcos
das tensões de ordem interna e externa que a impulsionam constantemente a se pensar e
repensar para garantir a sua reprodução institucional sem perder as suas particularidades de
universidade comunitária.
HUMBOLIANA
Indissociabilidade
ensino -pesquisa-extensão
MODELO
NAPOLEÓNICA
Profissionalizantes
focalizadas no ensino
PÚBLICO/ PRIVADO LAICA/ CONFESSIONAL
ELITES/MASSAS URBANO/RURAL
LEGITIMIDADE
⇑⇓
CREDIBILIDADE
VALORES COMUNITÁRIOS/QUALIDADE
Liberalismo vs comunitarismo
Pressão do mercado
CRISE
DA/NA
UNIVERSIDADE
GESTÃO
ESTRUTURA
ADMINISTRATIVA
Busca equilíbrio financeiro
Quadro 1: A crise da e na Universidade Comunitária
Fonte: Quadro síntese elaborado a partir do estudo de vários autores como Chauí, Souza
Santos.
Cabe destacar também que no caso das Universidades Comunitárias as crises,
principalmente as que afetam os mecanismos de reprodução institucional em relação à
captação de recursos decorrentes da matrícula de alunos, se encontram pautadas num processo
altamente competitivo. A disputa por alunos ocorre não somente com o setor privado, mas
também com o público, principalmente frente às ações do atual governo Federal que apontam
para uma ampliação da oferta de matrículas, tanto presenciais quando à distância. Por outro
lado, existe uma pressão muito intensa das instituições privadas do tipo empresarial que
ofertam cursos por preços muito baixos e, muitas vezes com qualidade acadêmica
questionável. A disputa por matrículas é desigual se levadas em conta as disparidades entre os
regimes jurídicos institucionais dos tipos mencionados, assim como o volume crescente de
despesas que as comunitárias arcam para o financiamento de atividades como pesquisa e
extensão, além dos planos de carreira.
27
particular que a define. Por ser uma administração é definida por idéias de gestão, planejamento, previsão,
controle e êxito...”( 2003, p.69)
27
Neste sentido cabe destacar que das três Universidades Comunitárias estudadas somente uma delas mantêm
um plano de carreira ativo e submetido a avaliações e re-avaliações periódicas com subseqüentes perdas de
direitos. Morosini e Dal Pai Franco em seu texto Universidades Comunitárias e sustentabilidade: desafio em
tempos de globalização destacam: Na via da qualificação, é ressaltado o esforço para atingir “(...) 87% dos
professores com mestrado e doutorado, qualificação que vem desde 1983 e que sofre dificuldade para ter
continuidade. A IES (...) tem um plano de carreira, hoje com mais de 50% de professores com horas para a
57
O cenário aponta para uma situação de desequilíbrio crescente entre os desafios
econômicos impostos às instituições comunitárias, pois não contam, por força dos princípios
que regem seu modelo, com instrumentos para enfrentamento das ameaças. O fato de não se
constituírem nem se regerem por princípios empresariais, nem serem reconhecidas pelo
Estado como instituições a serem subsidiadas por recursos públicos, as comunitárias se
debatem num espaço muito restrito de possibilidades para reagir à altura.
28
Este estudo trata de um cenário em crise, onde a questão econômico-financeira
submete as instituições comunitárias a rever práticas e reconsiderar aspectos importantes de
sua condição, incluindo os princípios e valores que as formaram. Tal situação representa em
última análise, a geração de desequilíbrios de vários tipos, que devem passar da esfera
administrativa para o plano político em cada instituição e, mesmo, no conjunto delas.
O amadurecimento institucional estrutura, funções e seus resultados tem requerido
incorporação crescente de conhecimento novo a respeito de avaliação de processos e de
aperfeiçoamento das regras de convivência internas e externas
29
. O conhecimento novo
aplicado às necessidades impostas pela complexidade das relações e dos cenários que se
transformam, pode conferir às instituições a redução dos níveis de incerteza na gestão e
promover o aprimoramento das múltiplas tarefas, criando instrumentos de aferição, incluindo
algoritmos para soluções mais criativas e, por que não, mais baratas, assim como de
organização gerencial e da projeção de tendências.
No entanto, os comentários acima aparentemente tão claros e incontestáveis, pelo
menos a princípio devem ser relativizados quando tratamos de estruturas institucionais com
características singulares como as das universidades comunitárias.
pesquisa, extensão ou gestão”, o que exemplifica as colocações anteriores em relação ao plano de carreira”
Educar, Curitiba, n. 28, p. 55-70, 2006. Editora UFPR.
28
Estudo de Morosini e Dal Pai Franco traz observações a respeito das possibilidades de enfrentar tal condição
desfavorável: “[em primeiro lugar] Por meio do Comung, ou de projetos a ele ligados, buscando criar uma
identidade estadual e de instituição comunitária na relação política com as outras IES (Entrevistado1 das
autoras). O segundo, pela participação em associações e fóruns universitários como Abruc 9 (nacional) e
Comung (estadual), “(...) reafirmando sua identidade comunitária, buscando fortalecer a integração regional face
às investidas de novas concorrentes (novas IES oriundas da iniciativa efetivamente privada), na modalidade de
ensino presencial e à distância” Morosini e Dal Pai Franco, opus cit, p. 63.
29
Destaque-se formulação e consolidação de processos de avaliação institucional nas dimensões básicas de
ensino, pesquisa e extensão, assim como dos processos de estudo e avaliação da estrutura administrativa e as
relações com as mantenedoras.
58
Isso, porque os processos de gestão nesses casos devem ser examinados pela ótica
gerencial modulada por um extenso campo de compromissos que transcendem as práticas
administrativas segundo os princípios de sua eficácia e eficiência. A gestão de uma
Universidade Comunitária corresponde à necessária busca de equilíbrio entre as práticas
administrativas, contábeis e o planejamento instrumentos a serviço dos fins educacionais
incorporados ao ideário que envolve cada uma das instituições estudadas. Não basta ter
balanços equilibrados ou crescimento contínuo, mas traduzir nas ações e políticas, os ganhos
que o repertório cognitivo incorporado à gestão podem e devem estar “a serviço” das causas
da educação no âmbito dos territórios que correspondem às suas áreas de abrangência.
Analisando os momentos da historia institucional aqui denominados como crises
institucionais podemos perceber que eles correspondem a períodos nos quais ocorre o que
Rodrigues
30
denomina de ciclos de mobilização, que interagem com períodos de reforma
institucional no Brasil.
O conceito de ciclos de mobilização é proposto pelo autor de acordo com as
contribuições de Sidney Tarrow (1988; 1989), que o formula pensando numa forma de
relacionar conceitos como ativação política e mudanças institucionais propondo “a noção de
ciclo de protesto e reforma” (RODRIGUES, 2001).
Tratar as mudanças institucionais das universidades comunitárias do RS através da
noção de “ciclos de mobilização” implica a compreensão do contexto mais amplo em que
foram criadas e se desenvolveram. Nascidas em período que compreende o governo militar de
1964 e a democracia instituída - (entre 1967 e 1993
31
) elas correspondem a modelos
institucionais que comportam tanto traços de conservadorismo, como de anseios por
processos de renovação institucional decorrentes de sua origem nas sociedades locais.
Neste contexto definimos como primeiro ciclo de mobilização o que corresponde ao
período de criação das Universidades Comunitárias estudadas a partir da mobilização das
instâncias locais/regionais e das experiências que lhes deram origem, como faculdades
isoladas e, a seguir, faculdades integradas. Este ciclo inclui também as diferentes formas
30
Ciclos de mobilização política e mudança institucional no Brasil. Rev. Sociol. Polit. n.17 Curitiba, nov. 2001.
31
UCS (1967), Urcamp (1986) e Unisc (1993).
59
como a ocupação do território vai sendo ampliada no sentido da incorporação de outras
unidades locais ou da criação de novos espaços de oferta de serviços. Corresponde ao período
de criação e consolidação das universidades aqui consideradas e que termina no final dos anos
noventa.
O segundo ciclo de mobilização tem a ver com crises bem diferenciadas tanto na sua
natureza quanto intensidade, que se relacionam mais especificamente com cada instituição e
sua idiossincrasia, e a forma de como lidam com os seus valores estruturantes, sem esquecer
das pressões externas impostas pelo Sistema de Educação e suas reformas e pelo próprio
contexto regional e seus fatores econômicos.
De uma forma ou de outra, nestes ciclos podem ser constatados movimentos nos quais
a participação se amplia ocorrendo alterações no desenho institucional, na organização das
instâncias decisórias e nas formas de implementação das respostas encontradas (AVRITZER,
2008)
A origem das universidades comunitárias no Rio Grande do Sul pela sua estreita
relação com a mobilização social de grande expressão ao longo da segunda metade do século
vinte é reconhecida por alguns autores (Bittar, Frantz, Longhi, Vanucci, entre outros) como
uma resposta das sociedades locais à falta de oferta de ensino superior no interior do estado.
Tal condição de origem imprime nessas instituições a marca de seus territórios e com
eles estabelece um pacto de reciprocidade onde tomam forma legal suas mantenedoras.
Suas fundações ou associações exigência legal para o funcionamento e provimento
de instituições de ensino superior representavam um suporte de recursos de várias ordens
político, econômico e de reconhecimento que afiançava a relação entre instituição e
território. Nesse sentido, a territorialidade a princípio local teve sua abrangência espacial
alargada com o passar dos anos, em face dos compromissos crescentes assumidos para além
dos limites municipais de origem.
Desenhar mais detalhadamente a crise das/nas universidades comunitárias implica em
detalhar dimensões da mesma em termos de perda de:
60
HEGEMONIA: com a instalação de uma concorrência mais acirrada no contexto
regional decorrente do processo de expansão do ensino universitário particular e o processo de
internacionalização do mesmo. Assim há uma perda da exclusividade na ocupação do
território cujas bases foram sentadas quando da implantação dos distritos geo-educacionais.
LEGITIMIDADE: em relação ao lugar ocupado pelo modelo comunitário no Sistema
Brasileiro de Educação Superior.
IDENTIDADE INSTITUCIONAL: como conseqüências das pressões externas e
internas vários ajustes foram realizados, seja de ordem estrutural: (Econômico-
administrativos, Pedagógicos,...) ou Filosófica na modificação dos seus princípios
integradores.
Assim, neste contexto rapidamente colocado, a nossa hipótese de trabalho foi:
“Os mecanismos de reprodução institucional das IES Comunitárias num contexto de
mercado tornam imperativa a revisão profunda dos valores comunitários a orientar as
estratégias de reprodução institucional e de sua integração regional colocando em xeque os
mecanismos de coesão interna baseados nos valores fundadores, cuja ênfase recai sobre
padrão democrático de gestão”. A partir dela definimos então como objetivo geral “Avaliar a
matriz discursiva constituinte do modelo de Universidade Comunitária no RS, frente às
práticas discursivas atuais, com ênfase nos valores amplamente difundidos de planejamento
democrático e participativo e integração comunitária e regional”.
A partir dos dados coletados nos documentos e entrevistas selecionados com base nas
categorias analíticas planejamento, democracia e integração regional, foi sendo construído um
corpus discursivo através de um conjunto de sequências discursivas estruturadas a partir da
relação entre as condições de produção das diversas falas, onde se cruzam formações
discursivas e o interdiscurso que as determina.
32
32
Pêcheux, 1990; p.163
61
Corpus este com uma grande heterogeneidade de possibilidades nas relações entre o
texto, cotexto e o contexto, revelando as diferenças na constituição do objeto de análise, que é
um objeto teórico.
Através dos enunciados podemos identificar as diferentes posições assumidas pelo
sujeito no discurso ora em estudo e que, neste caso particular, encontra-se num contexto
determinado pelos desafios impostos pelo mercado ao modelo comunitário de instituição
universitária, que colocam em xeque o binômio democracia vs mercado e ideologia vs utopia.
Van Dijk (2000) confere ao entrelaçamento entre discurso e ideologia um vínculo
indissolúvel. Nesse sentido: “Os discursos difundem ideologias, cânones, naturalizam fatos
sociais, neutralizam fatos conflituosos e universalizam particularidades” (FERREIRA, 2007).
Concebemos a ideologia como um conjunto de concepções, idéias, teorias
representações, que orientam para a estabilização, legitimação ou reprodução da ordem
estabelecida, sendo que neste sentido nos remete ao passado. Utopia como um conjunto de
idéias, representações, teorias que aspiram à outra realidade não existente no momento e,
neste sentido, nos remete ao futuro (MANNHEIM)
Assim, o conceito de intertextualidade adquire destaque especial através dos campos
da memória e da presença.
Os documentos que constituem o corpus discursivo são:
1. Estatuto e regimento da Universidade de Caxias do Sul, (UCS), da Universidade
de Santa Cruz do Sul, (UNISC) e da Universidade Regional da Campanha,
(URCAMP).
2. Estatuto e regimento das três mantenedoras, Fundação Caxias do Sul,(FUCS),
Associação Pro-Ensino Santa Cruz, (APES) e Fundação Atila Taborda, (FAT)
respectivamente.
3. Plano de desenvolvimento institucional das três instituições universitárias.
4. Cinco entrevistas com gestores da administração superior de cada uma das três
universidades. Os entrevistados selecionados correspondem a gestores da
administração superior, Reitores e Pró-reitores. As entrevistas semi-estruturadas
62
tiveram duração aproximada de três horas. Os entrevistados são identificados pela
letra E seguida pela sigla da instituição e por um número de 1 a 5.
5. Transcrição das falas do Seminário do Consórcio das Universidades Comunitárias
promovido pelo COMUNG em Caxias do Sul no ano de 1999.
6. Analise do livro Instituições Comunitárias: instituições públicas não-estatais.
7. Manifesto das Instituições Comunitárias de Educação Superior.
33
8. Proposta de projeto de Lei das Instituições Comunitárias encaminhado pelo
Sistema ACAFE e COMUNG para discussão e posteriores encaminhamentos na
ABRUC.
Para sistematizar o processo analítico foram seguidas as seguintes etapas na análise
dos documentos:
1. Transcrição de cada entrevista e escuta das gravações para ajustes e correções das
falas.
2. Leitura de cada um dos documentos buscando identificar a idéia geral ou foco
além de marcar expressões-chave ou frases que identificam possíveis
contingências do foco.
3. Desenho das unidades de significado ou idéias centrais.
4. Desconstrução do texto em unidades de significado ou ideias centrais marcando as
expressões chave de acordo com os enunciados do discurso.
5. Agrupamento e categorização das ideias centrais comuns ou diferentes do conjunto
do material empírico.
6. Fechamento da análise buscando confrontar as diferentes categorias discursivas
com os conceitos da análise institucional e do modelo teórico buscando desenhar
os fatores contingentes de cada categoria.
7. Desenho das categorias contingenciais dos valores integradores.
34
:
A figura 3 representa a análise institucional do material empírico e suas contingências.
33
Documento produzido pelas instituições do Sistema ACAFE, pela a ANEC, ABIEE, COMUNG e ABRUC,
instancias descritas posteriormente neste trabalho.
34
Andréas Schedler: Mapeando a contingência e La incertidumbre institucional y las fronteras borrosas de la
transición democrática.
63
Figura 3: Análise institucional do material empírico e suas contingências
Após analise do material empírico foram elaboradas como recurso metodológico, um
conjunto de fichas síntese, que encontram-se nos anexos 1, 2 e 3 que se constituíram em
elementos primordiais para o aprofundamento da analise e desenho posterior do mito criador.
Desta forma, após leitura das entrevistas, foi identificado o sentido global ou tema
central de cada uma delas, destacando expressões chave e idéias centrais que auxiliaram do
desenho das categorias.
O conjunto das categorias contribuíram no delineamento do mito criador que emerge
dos valores integradores decorrentes do planejamento e gestão democrática e das questões
territoriais.
64
5 A UNIVERSIDADE BRASILEIRA: BREVE RESENHA HISTÓRICA DO
PROCESSO DE CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO
SUPERIOR
Os estudos sobre as instituições de Educação Superior podem ser focalizados a partir
de algumas categorias gerais que servem como eixos estruturantes que podem permitir,
posteriormente, obter subsídios para aprofundar o conceito de Universidade Comunitária.
Assim, é importante assinalar expressões muitas vezes utilizadas como equivalentes em nossa
realidade como educação superior ou universidade, modelos de universidades ou tipos
institucionais, para mencionar apenas algumas. Por outro lado, categorias como a relação
entre as atividades fins e atividades meio, o papel da gestão, regulação /controle de ordem
interna ou externa (intra ou interinstitucional), financiamento das atividades fins, por vezes
dadas como inerentes a este nível de ensino não são consideradas com o devido cuidado no
desenho do objeto de estudo.
Cunha (2004) afirma:
O estudo do processo de desenvolvimento do ensino superior no Brasil é uma tarefa
desafiadora, tantas e tão complexas são as dimensões nele implicadas (p.796). [...] O
fato é que o desenvolvimento do ensino superior tem sido feito à base da
improvisação docente, no âmbito do patrimonialismo prevalecente nas instituições
públicas e privadas (p. 797).
Por outro lado, é sempre importante resgatar, alguns fatos históricos, mesmo em
termos gerais, que contribuíram com o desenho institucional que se configura na atualidade,
motivo pelo qual, este capítulo será iniciado levantando pontos relevantes da complexa
história da universidade brasileira até a constituição de um sistema de Educação que inclui
dois níveis, a saber, a Educação Básica e a Educação Superior, definidos em termos legais a
partir da promulgação da segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN),
lei 9394/96 de 20 de dezembro de 1996.
O Sistema Brasileiro de Educação Superior é diferenciado e diversificado, categorias
estas que “tornaram-se categorias analíticas dos sistemas e instituições de Educação Superior,
nas últimas décadas, quando se verifica grande expansão da oferta deste nível de ensino e se
debatem as formas como as universidades respondem ou podem responder às pressões
econômicas, sociais e políticas contemporâneas” (LUCE, 2001, p.2).
65
Assim a diversidade do sistema pode ser abordada a partir das categorias natureza
administrativa, organização institucional e modalidades acadêmicas conforme discriminado a
seguir:
1. NATUREZA ADMINISTRATIVA: se relaciona com a natureza das mantenedoras
e com o tipo de fins.
a. Públicas: encontramos as IES (Instituições de Ensino Superior) criadas,
mantidas e administradas pelo Poder Público podendo ser Federais,
Estaduais ou Municipais. Podem ser:
i. federais: dependem do nível federal e operam com a educação
como bem público.
ii. estaduais: dependem do nível estadual e operam com a educação
como bem público ou
iii. municipais porque sustentadas por mantenedoras ligadas ao
município e operam com fins ideais.
b. Privadas: são as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas
de direito privado. Podem ser:
i. Particulares: são mantidas por fundações que operam com o valor
econômico e a busca do lucro.
ii. Confessionais: são mantidas por fundações ligadas a diferentes
religiões as quais fornecem alguns princípios ou valores
institucionais que as estruturam, operam com fins ideais ou muito
próximos dos ideais, sem perseguir o lucro comprometendo-se e
reinvestir as sobras em outras atividades ligadas ao fim primordial.
iii. Comunitárias propriamente ditas por que laicas ou comunitárias
confessionais, são mantidas por associações ou fundações que
vivem permanentemente o dilema dos fins ideais vs os fins
econômicos, e da mesma forma, não buscam relações lucrativas ou
divisão de dividendos.
2. ORGANIZAÇÃO:
a. Universidade
b. Centros Universitários
c. Faculdades
66
3. MODALIDADES ACADÊMICAS:
a. Presencial
b. Não presencial
Por outro lado, este sistema foi sendo construído a partir de um conjunto de oposições
conceituais que nem sempre se colocaram em pontos extremos, mas constituíram gradientes
discursivos com nuances distintas dependendo do período e do arranjo institucional estudado.
Refere-se à formação das elites/formação de massas; caráter laico ou confessional, público ou
privado, urbano (se localizado nas grandes cidades) ou rural por estar nas cidades de médio
porte do interior e que se relaciona com
a institucionalização da universidade no Brasil por via legal, sem a correspondência
real de uma estrutura, o que condicionou o processo de formação desta universidade
a mais uma das dicotomias que tem caracterizado a educação brasileira [...]
(CAVALCANTE, 2000, p. 8).
Luce (2001) destaca que a diferenciação institucional se refere a um processo, implica
a compreensão da dinâmica de mudança que vence as pressões externas ou internas que
pressionam no sentido da homogeneização promovendo particularidades institucionais. Alerta
também para o amplo “arco conceitual e explicativo com que estes estudos têm sido
realizados, mas que “reconhecem as complexas relações do ambiente (social, econômico,
político e normativo) com as instituições de Educação Superior”. Sublinha também que neste
tipo de estudos é imprescindível “[...] uma clara definição das unidades e categorias de análise
[...]” (p.3).
A heterogeneidade do atual sistema de educação superior brasileiro seja na sua
diferenciação quanto na sua diversificação foi sendo construída mais tardiamente em relação a
outros países da América Latina a partir de diferenças entre a colonização espanhola e a
portuguesa se relaciona com a forma como a universidade foi encarada desde sua origem.
Enquanto a Espanha, já no século XVI, cria um conjunto de instituições em diversos
países de seu domínio, Portugal relega o máximo possível este fato e com a vinda da Família
Real Portuguesa já no século XIX funda as primeiras escolas de Educação Superior.
67
Assim podem ser mencionadas como primeiras universidades hispânicas: a
Universidad Autônoma de Santo Domingo fundada entre 1538 e 1558 e a Universidad de San
Marcos fundada em 1551, ano no qual também iniciam as atividades da Real y Pontifícia
Universidad de México. A Universidad de Córdoba
35
, na Argentina foi criada em abril de
1622 sob a orientação dos jesuítas. Posteriormente, esta instituição protagonizará um
movimento que se amplia por toda América Latina sob a denominação de Reforma
Universitária e que defendia os seguinte princípios: autonomia, participação dos estudantes na
gestão universitária, concurso público, liberdade de cátedra, acesso amplo e gratuito, inserção
social.
A história da universidade brasileira
36
esteve ligada à formação das elites desde o
momento quando a transferência da família real para o Brasil conduz a implementação de
uma série de medidas para garantir a infra-estrutura necessária ao funcionamento do império
seja do ponto de vista administrativo, econômico e cultural.
Estes fatos são destacados por FÁVERO (2000, p. 17) trazendo estudos de outros
autores como Moacyr quando afirma
A história da criação de universidades no Brasil revela, inicialmente, considerável
resistência tanto por parte de Portugal, como reflexo de sua política de colonização,
como por parte dos brasileiros, que não viam justificativa para a criação de uma
instituição deste nero no País, considerando mais adequado que as elites da época
procurassem a Europa para fazer seus estudos superiores (1937, v.II, p. 580-581).
Cavalcante (2000) acrescenta com base nas colocações de Chagas (1967) que houve
três momentos na busca pela implantação da universidade brasileira:
...o primeiro, em que “já tínhamos a Universidade, embora não possuíssemos a
instituição”; o segundo, em que tivemos a instituição mas não possuíamos a
Universidade”; e o terceiro, “a caracterizar-se por uma constante busca de autênticos
padrões de funcionamento” ( p.15).
Em relação ao primeiro período compreendido desde o início da colonização até 1759,
Fávero (2000) coloca ainda que “O ensino jesuítico oferecido na Colônia, em geral abrangia
os Cursos de Letras e Artes. Era um ensino médio do tipo clássico chegando a ser, em alguns
35
http://www.unc.edu.ar/institucional/historia
36
A universidade é aqui considerada pela autora como laica, pública e constituída como um espaço de produção
e disseminação do conhecimento a partir do ensino, a pesquisa e a extensão.,
68
estabelecimento, como no Colégio Central da Bahia e no do Rio de Janeiro um curso
intermediário entre os estudos de humanidades e os cursos superiores” (p. 17) Acrescentando
ainda que a continuação destes estudos poderia ser feita no Colégio Central da Bahia, nos
seminários maiores ou na Faculdade de Teologia ou no caso do Direito a Universidade de
Coimbra ou Montpellier quando o curso pretendido era Medicina.
Por outro lado, Sguissardi (2003)
37
, afirma
Como diz o mestre Anísio Teixeira, “A história da idéia de universidade no Brasil
revela uma singular resistência do País a aceitá-la” (1988:164). Primeiro, a Coroa
negou-a aos jesuítas; depois, durante o Império e a República Velha, apesar dos
muitos projetos e do grande entusiasmo, a idéia jamais se efetivou.
Assim como houve disputas e obstáculos para a construção de possibilidades de
continuação dos estudos no Brasil, houve também esforços e tentativas por parte dos jesuítas
que buscavam “vencer a recusa à concessão de graus acadêmicos no Brasil que de certa forma
se prolonga até o período monárquico [...]” (FÁVERO, 2000, p.17).
Na primeira década de 1800 ocorrem fatos importantes como, em 1808, foram criados
os primeiros estabelecimentos de ensino médico-cirúrgico de Salvador e do Rio de Janeiro
com caráter marcadamente profissionalizante. Em 1811, o Rio de Janeiro foi cenário da
inauguração da Academia Real Militar com objetivo de formar oficiais e engenheiros civis e
militares e que em 1874 se transforma na Escola Politécnica de caráter totalmente civil.
Este período foi fecundo na ampliação de oferta de cursos como o de Agricultura
(1812), Química (1817), assim como de outras iniciativas culturais e científicas, como a da
criação da Real Academia de Ciências, Artes e Ofícios (1816) e a Academia de Pintura,
Escultura e Arquitetura Civil (1820), a Imprensa Régia, da Biblioteca Nacional e dos
primeiros periódicos científicos entre outros.
Cavalcante (2000) acrescenta:
37
26a Reunião Anual da ANPEd, 2003, Poços de Caldas. Novo Governo/Novas Políticas GT: Política de
Educação Superior /n.11.
37
http://www.ufrj.br/pr/conteudo_pr.php?sigla=HISTORIA. Acesso em: 28 de
dezembro de 2008.
69
[...] a idéia de universidade reapareceu de maneira transitória no Movimento da
Inconfidência Mineira e quando da transferência da família real para o Brasil. O que
prevaleceu nessa época, entretanto, foi a criação de estabelecimentos superiores
eminentemente profissionalizantes, com objetivo de atender às necessidades
imediatas da corte (p.8).
Por outro lado, Fávero (2006) sublinha ainda a
criação dos cursos jurídicos, em 1827, instalados no ano seguinte: um em de
março de 1828 no Convento de São Francisco, em São Paulo e outro no Mosteiro de
São Bento, em Olinda, em 15 de maio daquele ano [...] com grande influência na
formação das elites e da mentalidade política do Império. (p.21).
O Império dá lugar à proclamação da República e novas tentativas são feitas.
Cavalcante (2000, p.8) acrescenta que “até 1915, cerca de trinta tentativas entre
projetos de criação, discursos oficiais, criação de instituições livres foram feitas no sentido
de instituir a universidade brasileira sem que isso acontecesse”, correspondendo assim ao
segundo período em que “tivemos a instituição mas não possuíamos a universidade”.
As políticas oficiais denotam um processo de abertura ou de flexibilização do governo
que permitem aos estados a criação de universidades como instituições livres conforme
sublinha Fávero (2000)
Assim, embora o surgimento da universidade, apoiado em ato do Governo Federal,
continuasse sendo postergado, o regime de “desoficialização” do ensino acabou por
gerar condições para o surgimento de universidades, tendendo o movimento a
deslocar-se momentaneamente da órbita do Governo Central para a dos Estados.
Neste contexto surge em 1909 a Universidade de Manaus, em 1911 é instituída a de
São Paulo e em 1912 a do Paraná como instituições livres (p. 24).
A autora mostra que, em 1920, é criada a primeira universidade oficial, “[...] que
resulta da justaposição de três escolas tradicionais, sem maior integração entre elas e cada
uma conservando suas características próprias [...]” (p.28).
Este fato é detalhado por Cavalcante (2000, p.8) que acrescenta “Pela Reforma Carlos
Maximiliano (Lei 2.924, de 5/1/15), o governo foi autorizado a reunir as três faculdades
existentes no Rio de Janeiro numa “universidade”, o que veio acontecer em 1920 pelo
Decreto nº 14.343, de 7 de setembro do mesmo ano”.
70
Sguissardi (2003) reforça a concepção de universidade como uma reunião formal de
escolas ou faculdades sem maior integração:
Somente em 1920, veio à luz a primeira universidade brasileira (Universidade do
Rio de Janeiro), mas nascida como uma confederação de escolas Medicina,
Politécnica e Direito ( Fávero, 1999). Depois, foi a vez da Universidade Federal de
Minas Gerais, em 1927, com a aglutinação de cinco faculdades engenharia,
medicina, direito, farmácia e odontologia. Era o modelo neonapoleônico fornecendo
alguma coordenação a faculdades profissionais, que se originaram em cátedras;
também essas faculdades heranças do velho modelo francês. O Estatuto das
Universidades Brasileiras, de 1931, iria consagrar esse modo de constituição de
universidades, por aglutinação de unidades preexistentes (SGUISSARDI, 2003).
As características de justaposição de unidades pré-existentes, bem como o despreparo
tanto do ponto de vista administrativo quanto pedagógico se mantêm ainda hoje em várias
situações institucionais, porém ainda cabe destacar em relação a Universidade Federal do Rio
de Janeiro que ela surge
[...] de um ato político e protocolar de justaposição de instituições de ensino superior
já existentes: a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica e a Faculdade de
Direito, sendo esta última resultante da união de duas outras escolas livres
existentes. Esse vício de origem define a trajetória posterior da Universidade,
levando ao estabelecimento de uma cultura burocrática e cartorial, que contamina de
maneira profunda sua existência e que, decorridas mais de oito décadas, ainda se
constitui obstáculo a um desenvolvimento verdadeiramente republicano.
38
Cavalcante (2000, p.8) sublinha que “o caráter desarticulado, individualista e
profissionalizante das instituições de ensino superiores então existentes, não seria a
superposição de uma reitoria que iria transformá-las em universidade”. Acrescentando ainda
que correspondessem a instituições de ensino superior e não a universidades, que em 1960
existiam 31 aglomerados de escolas profissionalizantes mantidas “artificialmente” por uma
reitoria exceção seja feita a Universidade de São Paulo e a do Rio de Janeiro reestruturada em
Universidade do Brasil. Estes modelos, porém, foram desarticulados pelas contingências
políticas relativas ao Estado Novo.
Por outro lado, conforme lembra Fávero (2000) a década de 20 se destaca pela
profusão de idéias novas que marcaram o futuro em relação a questões de ordem social,
cultural e política. Ela destaca a Semana de Arte Moderna (1922) em São Paulo e o
38
Página oficial da UFRJ, http://www.ufrj.br/pr/conteudo_pr.php?sigla=HISTORIA. Acesso em: 12 de junho de
2009
71
“Movimento Tenentista” que culminaria com a Revolução de 30. Também cabe sublinhar a
transformação da Academia de Ciências, Artes e Ofícios criada em 1816 para Sociedade
Brasileira de Ciências. Outro fato importante é a criação em 1924 da Associação Brasileira de
Educação (ABE). Ambas as instituições com importante papel na discussão da concepção de
universidade e suas funções assim como a autonomia universitária e o modelo de universidade
a ser adotado no país.
Prosseguindo este rápido transcurso histórico a autora acrescenta:
O inicio dos anos 30 é marcado por uma conscientização maior dos problemas
educacionais. A concepção de que a reforma da sociedade se daria pela reforma da
educação e do ensino, assim como pelo espírito de “criação” e de
“reprodução/modernização” das elites, herdados da década anterior, adquiriram
maior força e ampliaram as suas perspectivas. Tais projetos de reconstrução da
sociedade, no entanto, nem sempre convergiram na mesma direção; ao contrário, às
vezes se desdobraram em conflito de uns com os outros até serem silenciados com o
Estado Novo. (FÁVERO, 2000, p. 40).
Cabe destacar que no contexto da modernização decorrente da “Revolução de 30” se
consolidam dois projetos convergentes na sua intenção básica: o da Universidade de São
Paulo USP (1934) e a Universidade do Distrito Federal UDF (1935). Nesta última, os
pensamentos liberais e progressistas da ABE e do ABC estiveram representados por Anísio
Teixeira (defendendo a liberdade de pensamento e a autonomia universitária) que não
consegue impor as suas idéias às do Ministro Capanema representante das elites dominantes.
Assim, ambas as instituições exemplificam posições políticas e modelos institucionais
contrastantes que se opunham às tendências centralizadoras “reflexo da política autoritária
adotada desde o início do Governo Provisório” (Fávero, 2006, p.24). De uma forma ou de
outra, “A perspectiva de uma universidade autônoma, produtora de saber desinteressado,
formadora de indivíduos teórica e politicamente críticos, cultores da liberdade, foi vista como
ameaça à ordem e às boas relações Universidade-Estado”, acrescenta SGUISSARDI
(2003).
Em 1934, como foi mencionado, é criada a Universidade de São Paulo (USP), sob a
influência de um grupo de intelectuais inovadores liderado por Fernando de Azevedo. A
criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, como centro integrador da busca crítica
do saber denota a tentativa de mudança do modelo de universidade tradicional
profisssionalizante ou napoleônico para o germânico/humboldtiano, o que provocou rias
72
reações conservadoras das escolas profissionais. Este fato é destacado por Sguissardi (2003,
p.3) quando acrescenta: “A universidade sobreviveu, porém mais como federação de escolas
do que como efetiva universidade e revestindo-se dos traços do usual modelo napoleônico,
profissional”.
A Era Vargas é marcada por vários mecanismos centralizadores que se tornam mais
evidentes a partir de 1931 com o Código dos Interventores que limita a ação dos Estados. A
criação do Ministério de Educação e Saúde Pública (1930) permite a implementação de uma
série de medidas e reformas do ensino secundário, superior e comercial.
É neste contexto que o Governo elabora o seu projeto universitário com a
promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras até a reorganização da
Universidade do Rio de Janeiro, passando pela proposta de reestruturação do
Ministério de Educação e Saúde Pública até chegar à institucionalização da
Universidade do Brasil (FÁVERO, 2000, p. 40).
A autora acrescenta ainda nas palavras de Schwartzman, (1979, p.176) que
A Reforma do Ensino Superior de 1931 é promulgada num contexto que não
incentivava o movimento de constituição de um sistema universitário, baseado numa
comunidade científica organizada de forma autônoma, que estava em processo de
gestação, a partir dos grupos mais ativos da Academia Brasileira de Ciências e da
Associação Brasileira de Educação.
A década de 30 finaliza com a publicação do ato legal de extinção da Universidade do
Distrito Federal, conforme Fávero (2006) destaca, assim como com a transferência de todos
os seus cursos para a Universidade do Brasil instituída pela Lei nº. 452/37 com funções de
caráter nacional e diretamente dependente do governo central responsável pela sua
manutenção e escolha de seus dirigentes.
Oliven (1990, p.63) sublinha que “a criação de uma universidade independente do
Estado e subordinada à hierarquia eclesiástica” a partir das pressões da Igreja Católica com
foco principal nos cursos humanistas e com objetivo de “ressocializar as elites brasileiras
conforme princípios ético-religiosos da moral católica”. É, então, a partir deste movimento
que surge a primeira Pontifícia Universidade Católica do Brasil.
O Estado Novo chega ao fim com a deposição de Vargas iniciando-se no Brasil uma
nova fase de questionamentos em relação ao período anterior marcado pelo autoritarismo,
73
questionamentos estes que de materializam na Constituição de 1946 que marca o período de
“redemocratização do país”.
A década de quarenta finaliza com um aumento considerável do número de
universidades de cunho profissionalizante focalizadas no ensino e com pouca pesquisa. A
década de 50 inicia com um crescimento no processo de desenvolvimento do país e com uma
também crescente preocupação com o estado das universidades brasileiras. “No governo
Vargas, os anos 1951-1954 caracterizam-se pela retomada de políticas de desenvolvimento
econômico sob os auspícios de desempenho mais ativo do setor público” (DOURADO, 2001,
p.37).
O autor acrescenta que a compreensão do período pós-50 implica em compreender a
ideologia desenvolvimentista de Juscelino que advogava “desenvolvimento com segurança”,
ou seja, progresso dentro da ordem e da preservação dos ideais cristãos. Acrescentando que
“O projeto janista, por outro lado, é marcado pelo discurso ideológico da adesão política, de
deslocamento constante do desenvolvimento econômico para a defesa da justiça, da
racionalidade e do interesse nacional [...]” (DOURADO, 2001, p.38).
Por outro lado, diversos setores da sociedade e principalmente os ligados às correntes
católicas tinham no centro das suas preocupações, por um lado, a propagação das ideias
comunistas e por outro lado, a liberalização dos costumes decorrente da crescente influência
dos Estados Unidos.
Ao longo dos anos 50/ 60, o ensino superior no Brasil sofreria o impacto das duas
ideologias que se constituíram na base de sustentação dos governos que se
sucederam a1964, e que iriam condicionar tendências diferentes e algumas vezes
contraditórias que marcaram a forma como o ensino superior se desenvolveu durante
esse período. Sob o impacto do populismo, o ensino superior passou por um
primeiro surto de expansão no país. Cunha (1983) aponta algumas características
desse processo de expansão. O número de universidades existentes no país cresceu
de 5, em 1945, para 37, em 1964 (MENDOÇA, 2000, p.141).
Acrescentando ainda que, enquanto neste período o número de universidades aumenta
sete vezes, o de faculdades isoladas não chega a duplicar-se. Entre os diversos fatores que
contribuíram com este processo destaca-se a agregação das faculdades isoladas em
universidades e os processos de federalização de faculdades estaduais ou particulares.
74
Cabe acrescentar ainda que na década de 50, precisamente em 1951 cria-se o CNPq
Conselho Nacional de Pesquisa Científica, simultâneo ao surgimento da CAPES -
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior duas instâncias fundamentais
para a consolidação da universidade brasileira enquanto lócus de produção do conhecimento
através da pesquisa.
Os anos 50 marcam o período desenvolvimentista com crescente industrialização e
crescimento econômico e vai se consolidando um diagnóstico não muito animador em relação
à educação brasileira e a situação de suas universidades, como já foi assinalado anteriormente.
Neste contexto começa a ser tramitado um projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional onde o binômio escola pública versus escola privada está no centro da pauta e cujo
debate extrapola os meios acadêmicos e políticos. Além disto, a criação da Universidade de
Brasília marca o processo de modernização de ensino superior brasileiro tanto pela sua
organização institucional quanto pelas suas finalidades (FÁVERO, 2006)
Este fato é reforçado por Dourado ao afirmar que
A política desenvolvimentista adotada pelo Estado, resultante do processo de
monopolização, acelera a expansão do ensino, especificamente do ensino superior,
no período 1946-1964. Essa expansão efetivar-se-á, privilegiadamente, mediante a
criação de escolas e a federalização de escolas já existentes (2001, p.39).
Dourado, Oliveira e Catani (2003, p.23) reforçam ainda que no processo de
constituição do sistema de educação superior no Brasil ocorrem vários movimentos de
contenção e expansão que “intensificam-se a partir do período populista, especialmente por
meio da federalização de instituições de ensino superior nas décadas de 1940 e 1950”.
A promulgação da LDBN 4024/61 traz consigo entre outras questões a tentativa de
organização de um sistema de educação no Brasil integrando as diversas instâncias. Em
relação à educação superior “[...] a criação do Conselho Federal de Educação (CFE) pela Lei
de Diretrizes e Bases de 1961 [...] quem viria a assumir a direção da política oficial de ensino
superior, estratégia que seria reforçada após 1964” (MENDONÇA, 2000, p. 146).
Dourado, Oliveira e Catani (2003) acrescentam ainda que “Durante o regime militar,
sobretudo na fase posterior a reforma universitária de 1968, o processo expansionista assumiu
75
feição predominantemente privatista, consubstanciada pelas políticas de liberalização
adotadas pelo Conselho Federal de Educação (CFE)” (p.23).
Por outro lado, Cavalcante (2000) alerta que a primeira LDBN não dedica muito
espaço a educação superior (somente 20 artigos) “mantendo a estrutura anterior de escolas
reunidas, a separação de órgãos que desenvolviam pesquisa (os institutos) e ensino (as escolas
ou faculdades) enquanto contraditoriamente falava em autonomia, flexibilidade e
experimentação” (p. 9). Também destaca a confusão conceitual presente na lei em relação à
diferença entre educação superior e a concepção de universidade.
Em 1961 é criada a Universidade de Brasília (UNB) no governo de João Goulart em
moldes mais flexíveis e abertos a inovações. A busca de independência científica a coloca em
destaque no inicio de sua estruturação, no período compreendido “entre 1964 e 1968 a UNB
sofreria rios danos de ordem institucional, intelectual e moral” refletindo o panorama geral
imposto pelos militares cujas consequências foram o afastamento do projeto inicial.
Cavalcanti (2000, p.10) acrescenta “Tudo isso modificou a concepção inicial da UNB”.
(Universidade Nacional de Brasilia)
Oliven ressalta que a
criação da Universidade de Brasília representava os interesses e aspirações dos
setores modernizantes da sociedade. Entre os objetivos a serem alcançados,
destacava-se o desenvolvimento de uma cultura e tecnologias nacionais, como parte
de um projeto desenvolvimentista (1990, p. 69)
apontando ainda que esta universidade foi a primeira no Brasil nascida a partir de um
projeto próprio e único e definido.
A UNB iniciou suas atividades no ano de 1962 representando o “movimento de
modernização do ensino superior no Brasil” e um “divisor de águas na história das
instituições universitárias, quer por suas finalidades, quer por sua organização institucional,
como foram a USP e a UDF nos anos trinta ” (FÁVERO, 2006, p.29).
Por outro lado, a intelectualidade brasileira que constituíam instituições como a UNB
exerce papel de oposição ao regime militar sofrendo represálias que implicaram na
76
modificação do modelo institucional da UNB e na extinção do ISEB (Instituto Superior de
Estudos Brasileiros)
Cabe destacar algumas medidas encaminhadas pelo governo em relação específica à
universidade. Fávero (2006) sublinha:
[...] o plano de assistência técnica estrangeira, consubstanciado pelos acordos
MEC/USAID; o Plano Atcon (1966) e o Relatório Meira Mattos (1968). Concebida
como estratégia de hegemonia, a intervenção da USAID na América latina se
processa de modo integrado, nos anos 60, em várias áreas e sob três linhas de
atuação; assistência financeira, traduzida em recursos para financiamento de projetos
e compra de equipamentos nos EUA, além da assistência militar, concretizada pela
vinda de consultores militares norte-americanos ao Brasil e do treinamento de
militares brasileiros nos Estados Unidos, assim como do fornecimento de
equipamentos militares (FÁVERO, 1994, p.152).
rios outros aspectos contribuíram para desenhar o contexto necessário para a
construção da Reforma de 1968, seja através do movimento estudantil com a participação
ativa da União Nacional dos Estudantes (UNE), quanto às disputas teóricas representadas
pelos intelectuais que lideravam o CNPq - cujo foco principal era o desenvolvimento da
pesquisa científica e tecnológica nas áreas de ciências exatas e biológicas financiando a
compra de equipamentos - e a CAPES liderada por Anísio Teixeira que investia na formação
de quadros universitários.
A meu ver, não se pode negar que, mesmo considerando que várias das soluções
pedagógico-administrativas incorporadas à Reforma de 1968 tenham emergido do
momento anterior a 1964, há um evidente deslocamento do eixo em torno do qual se
articula a reforma da universidade. Este se transfere do âmbito da reflexão sobre a
sua responsabilidade social e política num projeto global de desenvolvimento, para o
âmbito da racionalidade administrativa e econômica, num contexto marcadamente
repressivo (MENDOÇA, 2000, p.147).
A Reforma Universitária de 1968, consubstanciada na Lei no 5.540/68 e legislação
complementar foi construída após o primeiro impacto do golpe militar que tentou intervir,
reprimir e desarticular os movimentos que sustentavam as tentativas de mudança seja pelas
pressões exercidas pelas classes médias que se traduzia na questão dos excedentes, quanto
pelas necessidades inerentes ao próprio processo de modernização econômica. Assim, dito
documento legal afirmava
explicitamente constituir-se a universidade na forma ideal de organização do ensino
superior, na sua tríplice função de ensino, pesquisa e extensão, enfatizando-se a
77
indissolubilidade entre essas funções, particularmente entre ensino e pesquisa, sendo
esta última o próprio distintivo da universidade (MENDOÇA, 2000, p.148).
Cavalcante lembra que este dispositivo legal vem ocupar um espaço deixado em aberto
pela LDBN, lei 4024/61 que não definia adequadamente as funções da universidade brasileira
nem suas funções e tenta, ao mesmo tempo, impor “[...] princípios de racionalização,
integração e flexibilidade [...]” o que mostrava “a busca de uma universidade mais orgânica
(internamente) e mais integrada (externamente)” (2000, p.10).
Por outro lado, Silva e Sguissardi (2001) esclarecem que no período militar pós 64 não
houve grandes rupturas em relação ao projeto de modernização iniciado no período
desenvolvimentista, porém ele vai se modificando para um projeto de desenvolvimento
associado e dependente dos maiores expoentes do capitalismo ocidental. Este quadro de
“expansão monopolista necessitava de profissionais especializados que não contestassem... a
nova hegemonia” (p.181), acrescentando ainda que
A história do Ensino Superior no Brasil, pós Reforma Universitária de 1968, mostra-
o, à primeira vista, como um projeto articulado e necessário à implantação e
manutenção do modelo cio-econômico adotado pelos governos militar-
autoritários.
Acrescentando que as demandas do capitalismo que estava se implantando no Brasil
implicavam na “[...] necessidade da ampliação do acesso ao ensino de 3º Grau” (2001, p.
177).
Lei 5.540/68, no seu artigo 10 determina que “O Ministério da Educação e Cultura,
mediante proposta do Conselho Federal de Educação fixará os distritos geoeducacionais para
aglutinação em universidades ou federação de escolas, dos estabelecimentos isolados de
Educação Superior. Acrescentando no parágrafo único que “Para efeito do disposto neste
artigo, será livre a associação de instituições oficiais ou particulares de ensino superior na
mesma entidade de nível universitário ou federação”.
Cabe destacar ainda que nesta lei dois outros artigos importantes a nossa discussão,
como o artigo 2 que trata do ensino superior indissociável da pesquisa e que deverá
ministrado preferencialmente em universidades e o artigo 4 que fixa que as universidades ou
78
as instituições isoladas oficiais se organizarão em autarquias ou fundações e as privadas sob a
forma de fundações ou associações.
A pesar de somente na Constituição de 1934 aparecer formalizada num texto legal a
questão do planejamento, é no âmbito da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei 4024//61que se constrói o primeiro Plano Nacional de Educação em 1962
resumindo-se a um conjunto de metas a serem cumpridas num prazo de oito anos.
Posteriormente a Constituição de 88 exige a formatação do PNE e a segunda LDBN, Lei
9394/96 reitera essa necessidade. Embora este último documento legal não mencione os
distritos geoeducacionais, ainda se percebe na atualidade uma busca pela manutenção da
regionalização deles decorrentes e que se materializava na área de abrangência.
Retomando a questão dos momentos em que transcorreu o processo de implantação da
universidade brasileira, cabe destacar que a promulgação da primeira LDBN em 1961 e a
Reforma Universitária de 68, marcam o final do segundo período e o início do terceiro “a
caracterizar-se por uma constante busca de autênticos padrões de funcionamento conforme
denominados por Chagas em 1967 e citados anteriormente.
Cunha (2001) reforça dizendo que
A reforma de ensino empreendida em 1968, mediante a lei 5.540 e o Estatuto do
Magistério Superior Federal do mesmo ano (lei 5.539), propiciaram condições
institucionais para a efetiva criação da universidade no Brasil, onde, até então
existiam apenas instituições isoladas ou ligadas por laços mais simbólicos do que
materiais (p.126).
Se as condições para o funcionamento da universidade pública estavam postas a partir
da reforma de 68 e a primeira LDBN começa a organizar a educação brasileira como um
sistema de educação este apresentava, em relação a educação superior uma série de problemas
a respeito dos quais Martins (2002 ) destaca que,
No início dos anos de 1960, o sistema contava com aproximadamente uma centena
de instituições, a maioria delas de pequeno porte, localizadas predominantemente
nos centros urbanos, voltadas para atividades de transmissão do conhecimento e
contando com um corpo docente com escassa profissionalização acadêmica. Esses
estabelecimentos, vocacionados, fundamentalmente, para a reprodução de quadros
da elite nacional, e, em geral, cultivando um ethos e uma mística institucional,
abrigavam pouco mais de 100 mil estudantes, com predominância do nero
masculino (p.197).
79
Silva e Sguissardi (2001, p.184) descrevem o contexto no qual um novo aspecto
educação superior brasileira começa a se desenhar, dentro do processo de expansão
anteriormente descrito, como conseqüência da consolidação da internacionalização da
economia brasileira no interior do capitalismo. Eles referem que neste momento começa a
integrar o “mercado educacional a denominada iniciativa privada não-confessional. Esse fato
alteraria a organização e correlação de forças que estruturaram o campo educacional no nível
superior”.
Cavalcante (2000, p. 10)
acrescenta que
em 1968, as universidades representavam cerca de 12% do número de
estabelecimentos de ensino superior; em 1975 esse percentual baixou para 7%; no
último Censo da Educação Superior, em 1999, as universidades representam 15% e
atualmente, pelos dados do Cadastro de Instituições de Ensino Superior do Inep são
13%.
Por outro lado, Oliven (1999) acrescenta que, no caso do Brasil dos anos 70, onde
havia necessidade de treinamento de novos quadros para atender as necessidades da economia
em mudança, a expansão da educação superior se modifica formando um sistema dual de
universidades e faculdades isoladas sendo que principalmente estas últimas protagonizam o
processo denominado pela autora de paroquialização do ensino superior.
Tais escolas (as faculdades isoladas do interior pertencentes ao setor privado) por se
encontrarem disseminadas em várias cidades do interior, e pelo seu caráter
paroquial, diminuíram drasticamente a possibilidade de mobilização da comunidade
em termos de uma contestação de caráter político (p.107).
Chauí (2003) sublinha que a universidade
39
brasileira, como instituição social foi
atravessada por contradições decorrentes da reprodução da hierarquia social, como por
exemplo o conflito entre “privilégio e mérito e essa contradição lhe dava brechas
democráticas” (p.70), situação esta que se altera a partir dos governos militares que instalam
as bases para a passagem de “instituição para organização
40
.
39
Cabe apontar que a autora está se referindo a universidade pública principalmente.
40
A autora afirma que “Uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma outra prática social,
qual seja, a de sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de meios (administrativos) particulares para
obtenção de um objetivo particular.Não está referida a ações articuladas às idéias de reconhecimento interno e
externo, de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como estratégias balizadas pelas idéias de
eficácia e sucesso no emprego de determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define.Por ser
uma administração é regida pelas idéias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito”( 2001, p.218-219)
80
A autora assim reconhece nesta passagem três etapas:
1. Universidade funcional: coincide com o milagre econômico dos anos 70 que se
constituiu “no premio consolação que a ditadura ofereceu a base de sustentação
político-ideológica, isto é, a classe média despojada de poder” (p.70)
2. Universidade de resultados: gestada pela etapa anterior mas convivendo com a
expansão da rede particular e com parcerias com empresas tanto para financiar
pesquisas diretamente ligadas aos seus interesses quanto estágios remunerados
para os estudantes.
3. Universidade operacional: altera a sua vocação e se volta diretamente para si
mesma por ser uma organização o que “não significa um retorno a si e em si, mas
uma perda de si mesma” (p.71).
Nunes (2003) acrescenta que da forma como o sistema de educação superior está
estruturado para atender a fins regulatórios “acaba sendo levado a duas camisas de força uma
que pressiona o sistema para um certo isomorfismo. A outra é a que pressiona o sistema para
uma certa isonomia de funções, hierarquias, salários e vantagens” (p.172) concluindo com a
necessidade de estudos e reflexões profundas sobre a educação superior brasileira e seu
posicionamento estratégico.
Cunha (2001) destaca que “as fronteiras entre o espaço público e o espaço privado no
campo do ensino superior tem mudado significativamente ao longo da história do Brasil”. ( p.
39). Faz um percurso na história levantando dados significativos que ilustram a sua afirmação.
Dentre eles que na Colônia os cursos eram ligados a igreja católica que enquanto instituição
privada “se mesclava ao Estado pelo regime de padroado”. A partir da primeira década de
1800 o ensino superior estatal foi incentivado pressionando as instituições confessionais a
formação do clero.
Por outro lado, nos primeiros tempos republicanos ocorreu a legitimação do Ensino
Superior não-federal (o estadual e privado) através dos processos de reconhecimento dos
cursos. Houve, ainda de acordo com o autor, um período de expansão e complexificação do
ensino superior que permitiu a projeção e formação das elites locais pela presença de
instituições estaduais (nas capitais) e confessionais ou empresariais (privadas) nas cidades de
médio porte do interior; assim era atendida a demanda reprimida que as instituições federais
81
não conseguiam atender de forma que este quadro permanece quase inalterado até meados dos
anos 90.
Em relação a esta questão Trindade (2001) afirma “Há no Brasil, como em muitos
outros países, uma tradição de um sistema de ensino superior público e privado, mas o que
nos singulariza é a baixa qualidade média deste último” (p.36). Sublinhando o papel de
liderança que o Brasil tem em relação a expansão do ensino privado de baixa qualidade.
De uma forma ou de outra o Sistema de Educação Superior Brasileiro continua
dividindo responsabilidades entre o setor público e privado bem, como apresentando-se
diversificado do ponto de vista institucional.
Retomando o nosso percurso histórico a Reforma de 68 instituiu o sistema
departamental, o vestibular unificado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a matrícula por
disciplinas. O departamento passa a ser compreendido como a base da organização
universitária ao ser entendido como lócus do ensino e da pesquisa o que despertou várias
resistências que perduraram três cadas a que a segunda Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei 9394/ 96 suprime a sua obrigatoriedade.
Mas antes de passar ao estudo deste dispositivo legal cabe destacar as afirmativas de
Cunha (2001) em relação a Constituição de 1988 que reforça o argumento aqui tratado em
relação à oposição público-privado
Na linha das constituições republicanas anteriores, a de 1988 determina que o ensino é
livre à iniciativa privada, desde que cumpridas as normas gerais fixadas pelo poder
público e autorização de funcionamento para os estabelecimentos educacionais, mas
inova ao prever avaliação da qualidade neles ministradas. Os recursos públicos, por sua
vez, somente são destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos às escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, que entre outros requisitos, comprovem
finalidade não-lucrativa. (p.42-43).
A segunda LDBN “apresenta-se como uma reordenação do sistema educacional por
inteiro e abre um conjunto de inovações que podem fazer o acesso ao ensino superior menos
elitista” (CAVALCANTE, 2000, p.12). Porém, hoje doze anos depois de sua promulgação,
cabe contextualizar melhor esta afirmação em decorrência das diversas políticas públicas
82
implementadas para atender pressões internas e externas aos governos que se sucederam neste
período.
O Governo de Fernando Collor embora defendesse o aumento das vagas nas
instituições públicas na prática acaba favorecendo a tendência de períodos anteriores onde a
expansão ocorre via ampliação da rede privada a pesar da oposição do Conselho Federal de
Educação a quem cabia o reconhecimento e credenciamento de cursos e instituições
(CORBUCCI, 2004, p.680).
Por outro lado, o autor acrescenta que “A política do MEC para o ensino superior
brasileiro, no governo Fernando Henrique Cardoso, beneficiou-se das medidas adotadas em
gestões anteriores, sobretudo no que se refere a extinção do CFE, ocorrido no governo de
Itamar Franco”(p. 681) destacando ainda que, mais uma vez, a expansão ocorrerá através da
responsabilidade da esfera privada a partir de uma certa falta de regulação do setor pela
flexibilização dos requisitos para a criação de cursos e instituições.
Cunha, 2004, sublinha ainda que “no octênio de FHC, as IES federais foram
submetidas a um arrocho mais forte do que antes, restringidos os recursos para custeio e
investimento, ao passo que as privadas foram brindadas com novas vantagens” (p.803) e
acrescenta ainda que na segunda LDBN há um forte caráter privatista.
Além do anteriormente exposto, no ano de 1997 é alterada a organização acadêmica
incluindo 4 tipologias diferenciadas em relação as exigências impostas pela legislação e que
favoreceram o processo de privatização. São elas: universidades
41
, centros universitários
42
,
faculdades integradas e faculdades, institutos superiores ou escolas superiores.
Por outro lado, a esfera administrativa privada foi subdividida em duas categorias que
se diferenciam pela possibilidade de auferir lucros, no caso das particulares e as instituições,
teoricamente sujeitas a uma lógica diferente da do mercado por não buscar lucro e que são
denominadas de filantrópicas, confessionais e comunitárias.
41
Organizadas com base no tripé ensino,pesquisa e extensão
42
Focalizados no ensino
83
Chauí (2003) afirma que a universidade dos anos 90, metamorfoseada em organização,
transcende a esfera administrativa no sentido que
regida por contratos de gestão, avaliada por índices de produtividade, calculada para
ser flexível, a universidade operacional está estruturada por estratégias e programas
de eficácia organizacional e, por tanto, pela particularidade e instabilidade dos meios
e objetivos (p.71).
Assim, se tornando muito semelhante, em vários aspectos que independem do fato de
ser pública ou privada.
No Governo Lula varias medidas foram implementadas no sentido de democratizar o
acesso e a permanência na educação superior. Dentro delas, o Programa Universidade para
Todos-PROUNI que apesar das dificuldades e equívocos iniciais principalmente da oposição
que temia a privatização do MEC, acabou atendendo a questão da expansão das matrículas
quanto a democratização do acesso para camadas menos abastadas.
Outra questão enfrentada pelo governo para aumentar o acesso foi a reserva de vagas
através de cotas para alunos da rede pública ou as chamadas cotas raciais.
Dentre as ações promovidas pelo governo federal através do Ministério de Educação
encontramos o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)
43
que tem como prioridade
principal aumentar os investimentos em educação básica, profissional e superior de qualidade.
Assim, a partir de 2007 vários programas vêm sendo implementados, por exemplo,
dentro da educação básica destacamos:
1. Lei 11.494, que regulamentou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que
funcionará até o ano de 2021 e veio para substituir o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef)
criado após a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
LDBN, Lei n° 9394/96. O novo fundo atende toda a educação básica desde a
creche até o ensino médio.
43
http://pde.mec.gov.br. Acesso em: 16 de fevereiro de 2010
84
2. O índice de Desenvolvimento da Educação Básica, IDEB, tem como função
auferir a qualidade da educação através de uma escala de zero a dez em relação ao
cumprimento de metas estabelecidas bi-anualmente para cada escola e rede até
2022.
3. A Universidade Aberta do Brasil (UAB) é um programa de implantação de um
sistema de educação superior à distância com a participação de instituições
públicas de educação superior e em parceria com estados e municípios. O objetivo
é oferecer formação inicial para professores em efetivo exercício nas redes pública
de ensino e propiciar formação continuada.
Em relação à Educação Profissional, em 2008 o governo federal criou 38 institutos
federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifets) com função de oferecer em todo o Brasil
ensino médio integrado ao profissional, cursos superiores de tecnologia, bacharelado em
engenharias e licenciaturas além de investir em pesquisa, extensão e na formação de
professores para as redes públicas de educação básica.
Em relação à Educação Superior foi criado o do Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) com o objetivo de ampliar o
acesso e a permanência dos estudantes neste nível de ensino. O programa tem duração
prevista de cinco anos e tem o intuito de melhorar a qualidade dos cursos de graduação, a
infra-estrutura física e os recursos humanos. São objetivos do programa: aumentar o número
de vagas, ampliar ou abrir cursos noturnos, reduzir o custo por aluno, flexibilizar os currículos
e combater a evasão escolar.
No Estado do Rio Grande do Sul a partir do Reuni foi firmado um acordo de
cooperação técnica entre a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade
Federal de Pelotas (UFPel) para criação da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, na
metade sul com o intuito de promover o desenvolvimento regional desta parte do estado
tradicionalmente estagnada economicamente.
Em relação à expansão da formação profissional do Reuni a oferta de cursos
tecnológicos de duração de até três anos aumentou consideravelmente neste ano seja pela
oferta das instituições federais existentes ou pelos Ifets criados recentemente.
85
Nesta rápida apresentação diversas tensões emergem na história da educação superior
brasileira, a forma como elas são enfrentadas podem configurar crises o períodos nos quais a
universidade como principal ator deste sistema se defronta com uma série de
questionamentos.
Para fins deste estudo consideraremos duas grandes crises que em maior ou menor
grau se relacionaram com a promulgação e implementação das duas LDBN no país na medida
em que nas duas também são negociadas duas Reformas Universitárias, a saber, a de 1968 e a
que se encontra em curso nesta primeira década do século XXI.
86
6 AS COMUNITÁRIAS DO RS, SUAS AMBIGUIDADES E ANTINOMIAS NA
HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR DO ESTADO.
O Rio Grande do Sul desde seus primórdios apresenta características regionais
peculiares em função de processos históricos diferenciados de ocupação do espaço os quais
influenciam, até hoje, as estratégias através das quais estes diferentes contextos buscam
soluções aos problemas regionais específicos.
O surgimento do ensino superior no Rio Grande do Sul seguiu, de início, o padrão
tradicional no país: criação de escolas e faculdades isoladas de nível superior que,
posteriormente, eram agregadas para formar uma universidade. A dinâmica do
desenvolvimento político e econômico regional, com a mudança dos centros
dinâmicos, implicou em alterações na concentração, demanda e oferta de ensino
superior, bem como novas propostas institucionais (NEVES, 2003, p.199).
Neves (2003), em seu artigo “O ensino superior no Rio Grande do Sul” analisa a
formação e evolução deste sistema, destacando que esta se de forma diferenciada em
relação ao resto do pais, no sentido de ter originado modelos regionais de oferta de ensino e
desenvolvimento da pesquisa assim como processos de interiorização particulares referindo-se
as instituições comunitárias. Neste trabalho destaca também o fato do Estado ter se
beneficiado pelo processo de federalização.
No processo de conquista da autonomia o interior assiste a fundação da Universidade
Federal de Santa Maria e sua proposta de multiversidade com caráter regional e as Instituições
de Ensino Superior de caráter comunitário, as quais surgiram a partir de uma organização das
comunidades onde estão inseridas, visando atender a demanda por ensino superior no interior
do Estado, a partir da segunda metade do século XX.
O surgimento de ‘movimentos e mobilizações das sociedades locais ou regionais’ e
de organizações comunitárias, mesmo que a partir da visão de lideranças políticas ou
intelectuais, a favor do ensino superior comunitário e regional, deve ser
compreendido no sentido da ‘socialização política’ e da ‘ampliação dos espaços
públicos’ (FRANTZ, 2002, p.19).
As Instituições que exemplificam os esforços regionais de ampliar a oferta e o acesso
ao Ensino Superior e que são adjetivadas como comunitárias anunciam sua opção pelo
controle público das atividades, o desenvolvimento de atividades sem fins lucrativos; a
transparência administrativa; a austeridade da gestão financeira e a ênfase no
87
desenvolvimento da comunidade local e regional onde estão inseridas, constituindo-se num
espaço entre o público e o privado, ou como denominado pelo autor acima citado público não-
estatal.
Hoje, no contexto do debate sobre reforma universitária, reacende-se o debate sobre
o ensino superior brasileiro, permitindo que, com a discussão, aflorem diversos
conceitos e práticas de organização e funcionamento do ensino superior, entre elas a
experiência da universidade comunitária (FRANTZ, 2002, p. 1).
Compreender e analisar esta tipologia institucional implica situá-la na história da
educação superior do Rio Grande do Sul motivo pelo qual apresentamos o seguinte quadro
adaptado a partir de Neves (1992, 2003), que esquematiza o processo de evolução pontuando
as características mais marcantes.
Em relação à fase de consolidação das Universidades comunitárias a autora sublinha...
“que ocorrem novos arranjos institucionais através da integração de IES isoladas formando
universidades multi campi como por exemplo a URI,da anexação de IES a uma universidade
constituída, formato multi campi, como a UCS, UPF, Unijuí, URCAMP; da reunião de
faculdades formando uma nova universidade; por exemplo UNISC, UNICRUZ...” (p.203).
Cabe esclarecer também que na quinta fase ocorre a ruptura do princípio de referência
territorial dos distritos geo-educacionais como base da organização da oferta de vagas (p.203)
como conseqüência da multiplicação de campi, surgem as IES de cunho empressarial e mais
recentemente a criação de universidades públicas com a UERGS de dependência do RS e com
estrutura multi campi e as federais UNIPAMPA e a Universidade do MERCOSUL (UNILA).
No entanto, esta categoria institucional por vezes denominada de modelo comunitário
ou simplesmente comunitárias, carrega consigo uma série oposições conceituais que
dificultam a construção de uma identidade mais clara. São assim, na sua concepção e na sua
categorização, antinômicas no sentido de que carregam ou defendem teses conflitantes que
podem conduzir a paradoxos ou a caminhos sem saída (aporias).
88
Quadro 2: Evolução do Ensino Superior no Rio Grande do Sul. UERGS Universidade
Estadual do Rio Grande do Sul, UNIPAMPA Universidade Federal do Pampa, UFCSPA
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, IFF – Instituto Federal de
Farroupilha, IFRS Instituto Federal do Rio Grande do Sul, IFSUL Instituto Federal Sul-
riograndense.
Fonte: Ampliado a partir de Neves, (1992, p. 96-7); (2003, p.200)
Franco e Longhi (2008) afirmam que as 51 IES comunitárias são exemplos da
diversificação do Sistema de Educação Superior construído a partir da Constituição Federal e
da LDBN, lei 9394/96. “[...] elas (IES comunitárias) tem sido estudadas sob duas idéias
centrais: a procura de diferenciação em face dos demais segmentos da E.S. e o seu caráter
alternativo (Longhi, 1998; Bittar, 1999; Neves, 2003; Morosini e Franco, 2004) (p. 186).
Se considerarmos os marcos legais do Sistema de Educação Brasileiro percebemos,
conforme foi demonstrado brevemente na sessão anterior, que eles foram historicamente
definidos a partir da sua natureza administrativa, que contrapõe o público do/ao privado. Mas
que de uma forma ou de outra, se relaciona com a propriedade de um determinado bem ou
patrimônio, seja o Estado ou o indivíduo.
1° fase 2° fase 3° fase 4° fase 5° fase 6° fase
Instalação Centralização
Interiorização:
Modelos
regionais
Consolidação
das
Universidades
comunitárias
Diversificação do
sistema de ensino
superior
1883 a 1930
Do Império
até Primeira
República
1930 a 1960
1960 a meados
de 1980
Meados de 1980
a 1996
1996 inicio dos anos
2000
2001 em
diante
Pelotas
Porto Alegre
Porto Alegre
com a
federalização
em 1950 da
Universidade
do Rio Grande
do Sul
Santa Maria
Ijuí
Caxias do Sul
Passo Fundo
Rio Grande do
Sul
Rio Grande do Sul
Rio Grande
do Sul
Escolas e
Faculdades
Universidades
UPA/
URGS/UFRG
S
PUC/RS
Universidades
e instituições
isoladas
Univ. multi-
campi
Núcleos
Universitários
Instituições
isoladas
Multiplicação dos
campi fora de sede
Centros universitários
IES de caráter
empressarial
Expansão sistema
público ES
UERGS
UNIPAMPA
UFCSPA
IFF
IFRS
IFSUL
89
Frente a esta situação Frantz, 2002, contrapõe׃
Na prática da organização e do funcionamento do ensino superior brasileiro
constata-se a existência e a construção de um novo modelo de universidade [...]
Pode-se afirmar que é algo novo em construção, no espaço da ampliação da esfera
pública. Trata-se de uma iniciativa da sociedade civil, sem fins lucrativos, isto é, [...]
a sua lógica não é a do capital, isto é, a remuneração do capital investido. Por isso,
não pode ser confundida com a sociedade empresária. Trata-se de uma iniciativa que
não nasceu no núcleo do poder público-estatal, mas na sua periferia, isto é, no
espaço da ampliação da esfera pública. Nasceu como expressão de vozes e vontades
que querem se fazer ouvir e participar da construção de um espaço de educação,
socialmente mais amplo e democrático (FRANTZ, 2002, p.3).
Neste contexto as instituições de educação superior comunitárias encontram-se
inseridas num marco conceitual paradoxal e que autores como Longhi, Bittar, Franco e
Longhi (2008) destacam
o caráter alternativo tem expressão no esforço de conferir ao segmento das IES
comunitárias um traço diferenciador daquelas particulares de orientação comercial, e
de entendê-las, mesmo que privadas, em uma perspectiva de instituições públicas
não estatais (p. 186).
Ambigüidade esta decorrente de, estas instituições, se definirem como pertencentes a
uma terceira categoria na qual a propriedade passa a ser de ordem intermediária ou pública-
não estatal. Este é um primeiro elemento dos vários que trataremos no decorrer do texto e que
contribuem com a definição do caráter antinômico das comunitárias.
Cabe destacar que, o termo ambíguo carrega consigo conotações de contradição e
dubiedade podendo implicar ora um sentido ora outro. O conceito de paradoxo também não é
unívoco, mas inclui sempre uma ideia de conflito ou de dificuldade insuperável.
O argumento utilizado pelas diversas instâncias para resolver a contradição de ser
público e privado ao mesmo tempo sempre utiliza como tese central da sua defesa o caráter
público da propriedade, considerando que esta pertence a um grupo ou coletividade que é a
comunidade local ou regional. Este argumento permite que definamos, então, o comunitário
como um conceito antinômico e não ambíguo. Cabe lembrar que no inicio da história destas
instituições comunitárias e de algumas confessionais elas recebiam subsídios do poder
público o que lhes conferia um melhor enquadramento na categoria alternativa. Com as
mudanças do sistema econômico e político várias ondas ou ciclos de subvenção foram se
alternando com maior ou menos impacto no orçamento destas instituições e que muitas vezes
90
era compensado através da expansão das matrículas. Nos últimos anos as políticas públicas
sofrem uma inversão, tal vez, pela primeira vez o Estado assume a sua responsabilidade com a
Educação Superior reorienta o financiamento colocando novos requisitos com a justificativa
corresponder à ampliação da esfera pública, provoca uma nova onda de mobilização com
várias tentativas decorrentes da necessidade de definir melhor o significado de público não
estatal para assim ter acesso a verbas públicas.
Tramontin e Braga (1888) afirmam que as universidades comunitárias se caracterizam
pelo “seu caráter praticamente público e o alcance bastante difuso de suas atividades” (p.16)
chamando à atenção para o fato de que muitas delas surgiram com a tutela do estado ou no
mínimo como consequência das políticas públicas em relação ao sistema de educação
superior.
Longhi (1998) chama a atenção para a origem destes dispositivos legais afirmando que
“Se encontram na própria história do ensino superior brasileiro e, talvez, de forma mais
acentuada, na história desse ensino no Rio Grande do Sul” (p.200) onde houve uma grande
mobilização no período anterior a elaboração da LDBN para garantir as características deste
modelo alternativo mesmo que, em alguns momentos históricos e de acordo com alguns
autores não se perceba uma diferenciação clara entre as comunitárias em sentido estrito e as
confessionais.
A busca pela identidade das comunitárias teve uma fase importante de mobilização no
período de articulação que antecedeu a promulgação da Constituição de 1988, Bittar
acrescenta... “O período compreendido entre o inicio da década de 80 e meados dos anos 90
foi especialmente importante para o setor privado de ensino superior que vivia o auge de sua
expansão e almejava garantir o acesso às verbas governamentais” (p. 2) Esta questão marcava
a necessidade urgente de construir parâmetros diferenciais em relação as outras instituições
privadas.
Raulino Tramontim e Ronald Braga no seu estudo intitulado As Universidades
Comunitárias: um modelo alternativo (1988) afirmam:
A universidade comunitária é uma instituição particular ( porque a iniciativa de sua
criação não se deu na esfera pública, nem o Estado é o seu principal mantenedor)
que apresenta, contudo, uma especial dimensão pública, por causa das seguintes
91
características: a- a insttuição mantenedora não está subordinada a nenhum interesse
empresarial de pessoas físicas ou grupos, mas unicamente a um objetivo social; b-
seus bens não são propriedade de ninguém em particular, não são transmitidas por
herança e tem profunda vinculação ou com a região ou com um amplo contingente
da populaçãoc-a evidência de que a instituição não tem dono aparece, entre outras,
na rotatividade dos cargos de direção da universidade.d- o controle e a participação
no poder está com amplos segmentos da sociedade civil, através de suas
organizações representativas (p.17-18).
O processo de origem e estruturação deste novo modelo iniciou no final na década de
trinta, mas incrementou-se consideravelmente a partir da década de cinquenta conforme
registrado no quadro a seguir que mostra as universidades comunitárias gaúchas.
Década Início de Funcionamento Reconhecimento como universidade
30 PUCRS
44
1948
40 UNICRUZ 1993
50 UNISINOS
45
- UCPEL
46
- UNIJUI - UPF 1968, 1960, 1985, 1986, respectivamente.
60 UCS - URI - URCAMP - UNISC 1967 ,1992, 1989,1993, respectivamente
Quadro 3: Década de início de funcionamento e do reconhecimento como universidade das
oito instituições do Rio Grande do Sul que pertencem à categoria Comunitária em stricto
sensu
Fonte: adaptado de BITTAR, M. O ensino Superior privado no Brasil e a formação do
segmento das universidades comunitárias. CD-room da 23º Reunião da ANPED, GT
Educação Superior
.
Segundo Marilucce Bittar no seu artigo “O ensino Superior no Brasil e a formação do
segmento das Universidades Comunitárias”
47
Sob a denominação de Universidades Comunitárias agrupam-se várias instituições:
as comunitárias confessionais (entendidas como comunitárias latu sensu) e as
comunitárias não confessionais ou comunitárias stricto sensu; essa união deu-se em
função de fatores intrínsecos à própria dinâmica e vocação das universidades, bem
como fatores extrínsecos, como por exemplo, a política governamental para o ensino
superior brasileiro (BITTAR, p.1).
Na medida em que as Instituições foram adquirindo/conquistando o status de
Universidade os movimentos de conceituação/afirmação do seu caráter comunitário se
multiplicaram. Assim, acompanhando as tendências nacionais que já haviam organizado
44
A PUCRS, além de comunitária se declara confessional e uma das universidades mais antigas do Brasil.
45
UNISINOS além de comunitária se declara confessional.
46
UCPEl além de comunitária se declara confessional.
47
http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/1108T.PDF. Acesso em: 3 de abril de 2007.
92
instâncias como a ABRUC
48
, surge no estado do Rio Grande do Sul o Consórcio de
Universidades Comunitárias, o COMUNG, que congrega 12 instituições de Ensino Superior.
Uma caracterização e definição das universidades comunitárias, que se entendem como
públicas não-estatais, permitindo apontar diferenças fundamentais com as outras categorias de
organizações do ensino superior, consta do documento das Universidades Públicas Não-
Estatais, Comunitárias-Fundacionais”, produzido em 07 de dezembro de 1998, em Passo
Fundo, por ocasião de uma reunião dos reitores das universidades integrantes do COMUNG -
Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas.
No texto desse documento podem ser verificados os esforços na tentativa de buscar
argumentos que permitissem uma auto-definição, principalmente em relação à sua natureza
pública não-estatal e comunitária como características distintivas em relação as demais
instituições privadas (tanto em sentido estrito quanto confessionais). Da mesma forma estes
argumentos foram utilizados na defesa pela manutenção de seu caráter filantrópico que
implicava na isenção do recolhimento da contribuição previdenciária.
Cabe destacar então, conforme foi mencionado anteriormente, que a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(estas duas instituições foram as últimas a se associar ao COMUNG em 2005) e a
Universidade Católica de Pelotas pertencem categoria de comunitárias confessionais e por
isso são entendidas como comunitárias em lato sensu.
Aldo Vannucci no seu livro A universidade comunitária: o que é como se faz? Lembra
que a universidade brasileira surge tardiamente no inicio do século 20 por iniciativa
governamental e que até “por volta de 1940, havia no país apenas 7 universidades”,
localizadas em algumas capitais do pais... “Essa lentidão oficial impulsionou a Igreja
Católica, que possuía expressiva tradição no ensino de 1º e graus, a preencher o vazio de
instituições de ensino superior, ampliando a sua missão educativa também até o terceiro
grau.” (p. 9).
48
Associação Brasileira de Universidades Comunitárias fundada em 18 de janeiro de 1995
93
O Quadro 4 descreve o número de alunos atendidos pelo conjunto de Instituições de
Educação Superior do Rio Grande do Sul, de caráter comunitário, bem como o número de
professores Mestres e Doutores envolvidos nas três dimensões básicas de ensino, pesquisa e
extensão; com o intuito de mostrar o impacto destas instituições no âmbito estadual.
Instituição N° de alunos N° de profs Mestres e doutores
PUCRS 32.000 1600 1.312
UNISINOS 30.000 900 774
UNIVATES 8.657 358 223
FEEVALE 15.000 617 306
UNISC 11.987 536 471
URI 16.325 892 587
UNICRUZ 4.928 313 178
UCS 33.440 1.144 843
URCAMP 10.620 881 218
UCPEL 7.219 421 260
UNIJUI 11.090 528 432
UPF 16.959 1.190 652
Total 198.225 9.380 6.256
Quadro 4: Instituições de Ensino Superior comunitárias do estado do Rio Grande do Sul
Fonte: DADOS DE 2005, http://www.comung.org.br/1024/index.html. Acesso em: 7 de
setembro de 2008
Um segundo elemento que contribui com o caráter antinômico que estamos
defendendo se relaciona a oposição entre o laico e o confessional que neste grupo de
instituições encontramos os dois tipos, destacando ainda que, mesmo nas que se auto-
proclamam como laicas as entidades confessionais podem se fazer presentes como
representantes da sociedade.
Mariluce Bittar acrescenta que até a metade dos anos 60 a educação superior brasileira
era composta quase que exclusivamente por universidades públicas e confessionais que
tinham como preocupação primeira difundir os princípios de suas crenças não se preocupando
com a busca de lucro. Porém, ainda hoje, “não se pode negar que uma das grandes questões
continua sendo o financiamento das universidades, especialmente no tocante as confessionais
que, até início dos anos 70, ainda eram destinatárias de verbas governamentais” (p. 3).
94
Assim, sublinha-se um segundo elemento antinômico que se relacionada ao caráter
confessional ou não deste conjunto diferenciado de instituições ora em estudo e que no Estado
do Rio Grande do Sul, conforme mostrado na Tabela 3 corresponde a quase 200.000 alunos
matriculados, em torno de 9.400 professores dos quais aproximadamente 6.000 mestres e
doutores de acordo com os dados de 2005 apresentados pelo site do COMUNG.
Ressalta-se
ainda, que as
[...] universidades não-confessionais são originarias das iniciativas dos imigrantes
que se estabeleceram no Rio Grande do Sul: caracterizam-se por serem instituições
cujo nascimento traz a marca da inspiração religiosa, embora hoje sejam
denominadas de comunitárias stricto-sensu e apresentem um modelo de gestão
diferenciado das comunitárias confessionais (Bittar, p.5).
Como terceiro elemento antinômico nos referiremos aos fins lucrativos e não
lucrativos que diferenciam as instituições comunitárias das particulares.
O quadro abaixo mostra a situação das instituições de ensino superior no Brasil de
acordo com o Censo do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) de 2008.
Tipo Total Capitais Interior
Públicas 236 82 154
Federais 93 54 39
Estaduais 82 28 54
Municipais 61 - 61
Privadas 2.016 729 1.287
Particulares 1.579 575 1.004
Comuns/confess/filantrópicas 437 154 283
Total geral 2.252 811 1.441
Quadro 5: Instituições de Ensino Superior no Brasil, Censo do Inep – 2008
Fonte: MEC/Inep/Deaes. 2008.
O Quadro 5 ilustra a dificuldade de diferenciar o segmento das comunitárias no
processo de levantamento de dados censitários pelo órgão responsável no Brasil, o Inep, que
agrupa numa mesma categoria as confessionais, filantrópicas e comunitárias. Porém, ainda
cabe destacar que a partir de 2004 se conseguiu um avanço ao diferenciar as particulares
que com orientações empresariais buscam o lucro das não empressariais que são regidas por
uma lógica não mercantil, ou seja, não orientadas pela busca do lucro.
95
Franco e Longhi (2008) destacam que no Brasil e em outros países houve expansão da
oferta de vagas sem qualidade nem regulação, pelo esgotamento da capacidade de pagamento
dos alunos a inadimplência aumentou até limites alarmantes, se instalaram processos de
concorrência muitas vezes desleais, em fim, as tensões são muitas e o dilema se configura em
torno de manter-se ou mudar, ou seja, encontrar soluções inovadoras ou ceder às pressões
isomórficas que tendem a homogeneizar o sistema diminuindo a diferenciação institucional.
Por outro lado, o conceito de educação como bem público se vai modificando a
medida que o processo de globalização avança e as novas diretrizes do banco mundial
induzem a refocalização do sistema.
Embora não se trate propriamente de uma questão propriamente antinômica no sentido
que esta-se defendendo no presente trabalho temos que destacar uma outra questão importante
que se relaciona com a localização das comunitárias e se constitui em mais um elemento que
agrega diversidade ao conjunto. Nos referimos especialmente a localização na capital do
estado ou sua área metropolitana ou o interior.
Localizadas no interior do estado encontramos 8 Universidades Comunitárias:
Universidade de Caxias (UCS), de Ijuí (UNIJUÍ), Passo Fundo (UPF), Santa Cruz do Sul
(UNISC), Integradas do Alto Uruguai e Missões(URI), da Região da Campanha (URCAMP),
Católica de Pelotas (UCPEL)
49
e a de Cruz Alta (UNICRUZ), além dos Centros
Universitários UNIVATES e FEEVALE.
Finalmente a Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) e a Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (UNISINOS) localizadas na Capital do Estado e sua área Metropolitana.
Constata-se ainda que este movimento de interiorização acompanha a tendência
nacional que foi se construindo no decorrer da história do Sistema de Educação Superior
Brasileiro.
Mudanças no sistema produção/acumulação capitalista, novo desenho político com a
finalização da ditadura militar e redemocratização do país, crise do Estado
49
UCPEL de caráter confessional
96
Desenvolvimentista e disseminação do neoliberalismo são alguns aspectos que impõem
alterações no Ensino Superior. Mudanças estas,que nem sempre se configuram como
novidades e muitas vezes indicam permanência de algumas características consolidadas
mais de cinqüenta anos, mas que de qualquer forma, significam desafios importantes a serem
enfrentados principalmente quando consideramos as Universidades Comunitárias.
Sguissardi (2002) destaca que as transformações ocorridas nas Instituições de Ensino
Superior no Brasil são semelhantes às ocorridas nos países centrais e se relacionam com as
mudanças nos meios de produção, a crise do Estado de Bem Estar Social, crise do Estado
desenvolvimentista. Para o autor, as características marcantes desse processo compreendem o
novo modelo relacionado com o déficit público, a reforma gerencial do Estado, a privatização
dos serviços públicos e à Educação Superior como um bem com características de ordem mais
privada, em contraposição a educação básica que é um bem mais público, princípios estes que
estão presentes nos documentos do Banco Mundial, do FMI, do BID, OMC e do Consenso de
Washington. Acrescenta ainda:
Um simples olhar panorâmico sobre a expansão quantitativa de instituições
privadas, notadamente com fins lucrativos (for profit), e das matrículas nessas
instituições, assim como sobre a lenta mas firme redução dos investimentos estatais
nas universidades públicas, com relação ao PIB, de uma amostra aleatória de países
ricos e pobres, fornecerá provas contundentes de que a universidade e, por extensão,
a educação superior estão passando por profundas mudanças, de que esse dilema -
público ou privado/mercantil - ocupa lugar central (SGUISSARDI, 2005).
Frantz (2002) adverte em relação ao caráter polissêmico da palavra comunitário sendo
necessário delinear melhor o significado enquanto um adjetivador que definirá o modelo ora
em estudo. Assim, ele
[...] expressa uma dimensão e atitude política nova e está mais perto da noção de
democracia e justiça social que de privilégios de acesso ao ensino superior. Sob essa
ótica, o termo comunitário incorpora e soma a noção geográfica de identidade
regional, o sentido sociológico de relações culturais, sociais e políticas de uma
determinada população local e regional (FRANTZ, 2002 p.14).
De uma forma ou de outra o grande desafio que estas instituições enfrentam na
atualidade se relaciona com a manutenção dos seus compromissos comunitários
concomitantemente com a sua reprodução como instituição que tem que dar respostas aos
desafios do mercado e da competição desenfreada, mantendo a sua saúde financeira e suas
particularidades identitárias. Em decorrência disto respostas diferenciadas vêm sendo
97
construídas historicamente, entre elas, os diversos processos de regionalização e de ocupação
do território formam sendo implementadas.
Ao mesmo tempo, uma onda de mobilização está sendo desencadeada através das
diversas instâncias organizativas (ABRUC, ACAFE
50
, COMUNG) na busca de recursos
públicos para subvenção/diversificação/complementação do financiamento orçamentário
que conforme afirma Tramontin e Braga, “estas universidades mereceram sempre, apesar de
sujeito a oscilações, o apóio técnico e financeiro do governo, em reconhecimento aos serviços
que prestavam” (1988, p. 9).
Os atuais encaminhamentos na busca da definição mais clara do modelo comunitário
podem ser exemplificados com a publicação do livro “Instituições comunitárias: instituições
públicas não estatais” que reúne uma série de escritos de vários representantes ligados ao
COMUNG e à ACAFE.
Frantz, 2002 acrescenta, “A opção pelo termo comunitário, [...] tem seu significado
histórico. Contém a noção de identidade, de responsabilidade coletiva e de cooperação.
Contém, acima de tudo, a experiência histórica de organização dos espaços econômicos,
sociais, culturais e, especialmente, dos espaços da educação, na formação da sociedade
riograndense, marcada pelas experiências e concepções de organização social e pela cultura
dos imigrantes”. (FRANTZ, 2002, p.21)
Por sua vez, Longhi (1998) sublinha:
Atualmente, uma tendência nítida, principalmente entre as universidades
comunitárias propriamente ditas, de se regionalizarem, calcadas em uma estrutura
organizacional multicampi. Para essas universidades, uma imbricação profunda entre
o ser-comunitária e o ser-regional. A contribuição no desenvolvimento regional, ainda
que se apresente como uma das maiores dificuldades, continua sendo enfatizada como
seu compromisso social, elas buscam cumprir esses compromissos através do ensino e
da pesquisa, porém ele se concretiza principalmente pelas ações de extensão que
desenvolvem em sua comunidade local e regional (LONGHI, 1998, p. 250).
50
Associação Catarinenese de Fundações Educacionais
98
7 AS QUESTÕES TERRITORIAIS E A AÇÃO DAS UNIVERSIDADES
COMUNITÁRIAS
A partir do final da Segunda Guerra Mundial são inúmeras as alterações provocadas
na sociedade pelo processo histórico de articulação e implementação do capitalismo, tanto na
área econômica quanto territorial, na medida em que os territórios são re-organizados e
fragmentados vertiginosamente. Assim, o planejamento, cada vez mais, assume o papel de
controle da sociedade através das normas e regulamentos que classificam os indivíduos, as
sociedades e as economias para serem aptos a produzir o tipo desejado de mudança social.
Neste momento do estudo propõe-se uma reflexão a respeito do caráter polissêmico de
vários conceitos importantes para a ciência geográfica como espaço, região e território que
são conceitos estruturantes da ciência geográfica mas também transcendem os seus limites
para campos interdisciplinares como o desenvolvimento regional.
Do conjunto de conceitos da geografia o espaço é conceito-chave que permite a sua
objetivação, isto é, o ângulo específico com que a sociedade é analisada, ângulo que confere á
geografia a sua identidade e a sua autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. Dita
identidade se estrutura em torno de “cinco conceitos–chaves: paisagem, região, espaço, lugar
e território... cada um dos quais submetido a amplo debate tanto envolvendo a geografia
quanto transcendendo os seus limites para outras áreas do conhecimento” (Correa, 2000,
p.16).
De acordo com Moraes (1990), o espaço em Ratzel é visto como base indispensável
para a vida do Homem que desenvolve o conceito de território e de espaço vital, ambos com
fortes raízes na ecologia, ligados a apropriação de um território e a provisão das necessidades
de subsistência e as necessidades territoriais buscando uma relação de equilíbrio. De acordo
com o autor “O espaço transforma-se, assim, através da política, em território, um conceito-
chave da geografia” (apud Correa, 2000, p.18).
Por outro lado, Haesbaert (2005, p.67-75) acrescenta “De certa maneira podemos
afirmar que o espaço trabalhado por Lefebvre é um espaço feito território através dos
processos por ele denominados de apropriação (que começa com a apropriação da própria
99
natureza) e dominação (mais característica da sociedade moderna capitalista). Cabe esclarecer
o sentido que ele dá a apropriação relacionando-a com ritmos, tempos, símbolos e práticas, ou
seja o complexo e diverso tempo vivido pelos usuários.
Nos anos setenta a geografia crítica fundada no materialismo histórico e na dialética
procura romper, de um lado, com a geografia tradicional e, de outro, com a geografia
teorético-quantitativa sendo que o resultado desta disputa é o reaparecimento do conceito de
espaço como estruturante da geografia, como um “conceito multidimensional que decorre de
práticas sociais distintas, dos diferentes grupos que nele produzem, circulam, consomem,
lutam, sonham, enfim, vivem e fazem a vida caminhar”.(CORREA, 2000, p.44)
Abordar a questão da polissemia conceitual em relação ao termo região (outro dos
conceitos estruturantes da geografia) implica num duplo movimento, por um lado, analisar a
organização da própria ciência geográfica e sua estruturação conceitual e, por outro, pensar
nos movimentos implícitos na área econômica e mais especificamente no capitalismo.
Régio é uma palavra latina da qual deriva o termo região e era utilizado para
denominar a unidade político territorial do Império Romano; deriva do verbo regere que
agrega uma conotação política. Desta forma chamamos a atenção ao fato de que
etimologicamente o termo região nos remete a estruturas político-administrativas que ocupam
um segmento do território.
Na linguagem cotidiana do senso comum, a noção de região parece existir
relacionada a dois princípios fundamentais: o de localização e o de extensão. Ela
pode assim ser empregada como uma referência associada à localização e à extensão
de certo fato ou fenômeno, ou ser ainda uma referência a limites mais ou menos
habituais atribuídos à diversidade espacial [...] também podendo ser associada à
questão administrativa e, neste caso, a divisão regional é o meio pelo qual se exerce
freqüentemente a hierarquia e o controle na administração dos Estados. (GOMES,
2000, p.53).
As acepções conferidas à palavra região até os anos setenta incluíam a sua
diferenciação em região natural, paisagem e homogênea. Assim, no primeiro caso entendida
como uma porção determinada da superfície terrestre com uma particular combinação de
relações entre seres vivos, animais e vegetais, e não vivos, relevo, clima. A região paisagem
passa a ser entendida como um processo de transformação da paisagem natural em paisagem
cultural, ou seja, o gênero de vida que faz com que os habitantes a vivenciem e a reconheçam,
100
como o caso da denominação dada a Campanha gaúcha, por exemplo. Finalmente as regiões
homogêneas são consideradas como um recorte criado para fins específicos como uma criação
intelectual organizada para atender objetivos e características particulares. Os recortes podiam
corresponder a regiões homogêneas que se agrupavam de acordo com características fixas ou
as regiões funcionais classificadas de acordo com os fluxos.
A geografia física fundamentada no materialismo dialético agrega, a partir de 1970,
considerações diversas ao termo região, a partir dos quais outros aspectos são acrescentados
ao conceito, como por exemplo, ao se considerar como a regionalização da divisão social do
trabalho e do processo de acumulação capitalista, da reprodução da força-de-trabalho e dos
processos políticos e ideológicos. É considerada também, como foco de identificação pelo
conjunto de relações culturais que permitem a construção de imagens simbólicas e, que em
última instância, denotam a apropriação do espaço por um determinado grupo. Ou seja, a
região é um espaço vivido. É a visão política da região no sentido de que as relações de poder
são cruciais ao processo de diferenciação de áreas. “A história de cada porção da superfície
terrestre não é mais autônoma, mas dependente, em maior ou menor grau, de processos gerais
universais” (CORRÊA, 2000, p.89).
Assim, passou a ser encarada como um lugar particularizado capaz de mediar os
processos mais amplos como a globalização, e os singulares, particularmente específicos, que
se traduzem especialmente em cada região como conseqüência da comunidade que realmente
o organiza e dirige.
A paisagem é a porção visível da configuração territorial correspondendo a todo o
conjunto de elementos naturais e os constituídos pelo trabalho humano, ou seja, nela se
concretizam as relações entre os seres humanos e deles com todos os elementos constitutivos
da natureza.
Da mesma forma, o espaço geográfico é a articulação entre a paisagem e as relações
sociais e de produção caracterizando-se pela sua mutabilidade tanto a nível local quanto
regional. Os espaços geográficos podem ser divididos de acordo com critérios específicos
como homogeneidade, polarização ou centralidade. A regionalização é o processo de
formação/transformação das regiões acompanhando suas dinâmicas e suas mudanças de
conteúdo.
101
No Brasil foram encaminhadas diversas regionalizações, destacando que o primeiro
esforço de sistematização foi encaminhado em 1940 como consequência da necessidade de se
ter uma divisão regional estável para facilitar o uso de dados estatísticos e permitir a sua
comparabilidade no decorrer do tempo.
A partir de 1960 um novo modelo considera as características geo-econômicas
reconhecidas através dos estudos de espaços homogêneos e polarizados, fluxos e relações
espaciais de produção e consumo. A divisão regional neste período devia atender a três
objetivos: fins estatísticos; fins de descentralização administrativa; fins de planejamento. A
divisão regional brasileira passou a ter então cinco grandes regiões : Norte, Nordeste, Sudeste,
Sul, Centro-Oeste. Na divisão regional de 1977 o modelo anterior é acrescido por mais um
nível a Meso-região que é o agrupamento de várias micro-regiões.
Diversos outros processos de regionalização foram sendo encaminhados, como
exemplo particular implantado no Rio Grande do Sul mencionamos os Conselhos Regionais
de Desenvolvimento (Coredes) que foram criados pela Lei 10.283 de 17/10/1994 e
regulamentados pelo decreto 35.764, de 28/12/1994, pelo então governador Alceu Collares
(PDT), como fóruns de discussão a respeito de políticas e ações que visem ao
desenvolvimento das regiões em que o estado foi dividido. Foram instituídos com os
seguintes objetivos principais: promoção do desenvolvimento regional harmônico e
sustentável, integração dos recursos e das ações do governo da região, melhoria da qualidade
de vida da população, distribuição equitativa da riqueza produzida, estímulo a permanência do
homem em sua região, preservação e recuperação do meio ambiente. Cabe destacar o papel
central das Universidades Comunitárias tanto na origem quanto na manutenção dos conselhos
ao auxiliar no estabelecimento de estratégias para o desenvolvimento regional por meio das
suas ações de pesquisa e extensão, bem como ainda hoje dar muita da infra-estrutura
necessária.
Conforme tratado anteriormente a Lei 5540/68 no seu Capítulo 5 trata da organização
dos distritos geoeducacionais, que teriam o objetivo de promover a associação de instituições
públicas ou privadas numa mesma entidade ou federação de faculdades.
102
Porém somente através da Portaria 514, de 27 de agosto de 1974 o então Ministro
da Educação e Cultura, Ney Braga fixa os Distritos Geoeducacionais, previstos no art. 10 da
Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968. Definindo, ainda, no seu artigo II
Determinar que, na apreciação de projetos e programas com vistas e aglutinação ou
associação de estabelecimentos de ensino superior em universidade ou federação de
escolas bem como daqueles que visem a expansão do ensino superior no país, sejam
observadas a situação e as necessidades da rede de ensino nos limites de cada
Distrito.
Ricken (1981, p.12) definiu “os distritos geoeducacionais como uma área que engloba
unidades municipais, sempre pertencentes ao mesmo estado, senso que sua delimitação
obedece a critérios sociais, econômicos e cuja finalidade é servir como instrumento de analise
e planejamento da Educação Superior”.
Jose Mariano da Rocha Filho foi membro do Conselho Federal de Educação e um dos
idealizadores das áreas ou distritos geoeducacionais porque considerava que a vocação do
solo e a cultura da região deveriam orientar o ensino. Em 1968 propõe a implantação de um
campus fora da cidade sede da universidade desenvolvendo o conceito de multiversidade
51
.
Fialho (2005) destaca que de acordo com Romanelli (1984, p.228)
no período posterior a Reforma de 68 sob a disciplina da lei 5540 e do decreto lei
464 de 11 de fevereiro de 1969 que atribuiu preferência as universidades para
administrar Ensino Superior em contraposição aos estabelecimentos isolados, que
ocorre o processo de agregar unidades isoladas é modificado pelo CFE que é
incumbido de estudar e formular distritos geoeducacionais para aglutinação , em
universidades ou federação de escolas os estabelecimentos isolados de ensino
superior já existentes.
Os distritos geoeducacionais ou suas consequências conhecidas como área de
abrangência entram em crise no final da década de oitenta e inicio de noventa, porém as suas
ações territoriais e regionais enquanto uma política de regionalização efetiva se mantêm
através de práticas concretas de intercambio de experiências, estudos, apoios e incentivos que
contribuíram com a construção de marcas institucionais que ainda persistem nas universidades
comunitárias. Como exemplos mais concretos podemos citar os processos de busca pela
federalização que foi rejeitada pela comunidade caxiense ou mais recentemente a busca da
federalização pela URCAMP como uma saída a forte crise institucional.Por outro lado, os
51
http://www.ufsm.br/planetario/mariano/historia.htm. Acesso em: 9 de fevereiro de 2009.
103
diversos processos de aglutinação decorrentes da constituição das estruturas multicampi, no
caso da UCS e da URCAMP também ilustram este fato.
Gomes (2000, p.72) afirma:
Ao mesmo tempo, porém, o discurso regional pode ser também o veículo encontrado
por uma elite local para a sua preservação, forjando um conflito que reitera sua
posição de liderança e seu controle sobre aquele espaço (Castro, 1988)... Mais grave
ainda são as situações bem contemporâneas onde a aspiração da autonomia, baseada
em um discurso regionalista, está a serviço de um grupo não exclusivo em uma dada
área, que pretende impor uma identidade que o colocará na posição de controle
“legítimo” daquele território.
Retomando as colocações de Lefebvre anteriormente descritas Rogério Haesbaert
(2005) propõe a construção de dois “tipos ideais” para investigar o território, o território
funcional e o simbólico, entre os quais se desenvolve um continuum que que é histórico, se
relaciona tanto com o contexto histórico quanto com o geográfico e pode ser caracterizado
por:
Território funcional Território simbólico
Processos de dominação Processos de apropriação
“Territórios da desigualdade” “Territórios da diferença”
Território sem territorialidade
(empiricamente impossível)
Territorialidade sem território
(ex Terra Prometida dos judeus)
Princípio da exclusividade
(no seu extremo a unifuncionalidade)
Princípio da multiplicidade
Território como recurso: valor de troca Território como símbolo, valor simbólico
Controle físico, produção, lucro “Abrigo” “lar”, segurança afetiva
Quadro 6: comparativo dos tipos ideais de território.
Fonte: HAESBAERT (2005)
Souza concorda com as colocações anteriores e destaca que o território é
fundamentalmente um espaço de exercício de relações de poder:
O território é fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de
relações de poder. A questão primordial, aqui, não é na realidade, quais são as
características geoecológicas e os recursos naturais de uma certa área, o que se
produz em um dado espaço, ou ainda quais as ligações afetivas e de identidade entre
um grupo social e seu espaço (2000, p. 78,).
104
O autor destaca ainda que o território corresponde a um espaço concreto apropriado
por um grupo social determinado que pode ser potencialmente capaz de gerar identidade
sócio-cultural, bem como pode refletir também as diferentes formas dos grupos de poder
desse território.
O território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par
de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade, a diferença
entre “nós” (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os insiders) e os outros
(os de fora, os estranhos, os outsiders). Ou seja, como o autor assinala, “os territórios são em
primeiro lugar relações sociais projetadas em espaços concretos”. (SOUZA, 2000, p. 86).
Outro fato importante destacado pelo autor acima citado se relaciona com a
dependência dos conceitos de território e desenvolvimento no discurso científico a uma visão
estado-centrista que no Brasil tem a ver com uma matriz de valores conservadores. Sendo que
a base do desenvolvimento como processo de auto-instituição da sociedade rumo a mais
liberdade e menos desigualdade, capaz de gerir autonomamente o seu território catalisador de
sua identidade, de superar os pequenos grandes desafios das diversas escalas, locais,
regionais, nacionais e transnacionais.
A territorialidade não é um epifenômeno no contexto da luta por uma maior justiça
social e, como horizonte “utópico”, pela plena autonomia. Para uma dada
coletividade, gerir autonomamente o seu território e autogerir-se são apenas os dois
lados da mesma moeda, e representam ambos uma conditio sine qua non para uma
gestão socialmente justa dos recursos contidos no território. (SOUZA, 2000, p.112).
Como consequência dos aspectos levantados anteriormente apresenta-se o quadro 6
que exemplifica dados das três universidades estudadas em relação a sua ação territorial
concretizada principalmente por suas atividades fins tanto no ensino quanto na pesquisa e
extensão.
Assim, de acordo com os dados do Censo da Educação Superior do Inep publicados na
página do COMUNG, encontramos nas três IES, 2567 professores, 52.156 estudantes de
graduação, 191 grupos de pesquisa, 483 projetos de pesquisa, 533 projetos de extensão.
Atividades que são desenvolvidas num total de 913 laboratórios e de 319.296
(m²)
de área
construída.
105
UNISC UCS URCAMP
Ano funcionamento como
universidade
1993 1967 1986
Professores (total) 536 1.144 881
Projetos de Pesquisa 186 215 82
Grupos de Pesquisa 42 109 40
Projetos de Extensão 363 102 32
Cursos de Graduação 46 40 32
Alunos de Graduação 10.828 31.328 10.000
Área Física Construída (m²) 54.184,00 192.702,83 72.410
Laboratórios 152 681 83
Quadro 7: Dados institucionais que exemplificam a ação no território das três universidades
estudadas
.
Fonte: http://www.comung.org.br/1024/index.html, acesso em 2007.
Por outro lado, as atividades fins seja no ensino, pesquisa ou extensão foram e são os
mecanismos de ação direta no território tanto local quanto regional participando ativamente
do que afirma Ther Rios em relação ao reconhecimento das imbricações entre memórias,
estruturas sociais e imaginários que contribuem com os processos de territorialização e re-
territorialização:
El territorio es más bien - y por sobretodo- tiempo espacializado de las actividades
humanas cuya expresión viene a estar dada por imbricaciones contextuadas. En
consecuencia, el análisis del territorio y sus transformaciones exigiendo un fuerte
reconocimiento de lo local (que siempre es ya un entretejido denso con
profundidad), exige también la interacción de este ámbito con lo global (entretejido
de extensiones). El reconocimiento de estas imbricaciones contextuadas posibilitan
analíticamente visualizar al territorio y sus devenires en y por juegos de memorias,
estructuras sociales e imaginarios que dan lugar a continuos procesos de
territorializaciones/desterritorializaciones /reterritorializaciones (THER RÍOS,
2006)
52
.
52
THER RÍOS, F. Complejidad territorial y sustentabilidad: notas para una epistemológia de los estudios
territoriales, Horiz. Antropol. v.12 n.25 Porto Alegre jan./jun. 2006.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832006000100006&lng=pt&nrm=iso
106
PARTE 2:
Apresentar o resultado das analises dos dados coletados é o intuito da segunda parte
desta tese; nela estabelecer-se-á um diálogo entre as questões teóricas que nortearam o
presente estudo e o discurso institucional presente nos documentos oficiais e na fala dos
gestores.
A metáfora utilizada como fio condutor desta análise é muito importante para
sublinhar questões importantes do texto.
As perguntas que pairaram durante todo o trabalho de pesquisa foram relacionadas a
tensões entre o público- privado, lucro- não–lucro, gestão democrática-autocrática,
centralização-descentralização... Em fim, tensões representadas por polos que lembram as
cabeças de uma quimera...
Então nova pergunta se desenha, por que escolher a quimera?
Ao pensar em quimeras, minotauros e dragões vem à minha lembrança. Jorge Luis
Borges e o seu Livro dos seres imaginários, onde ele se refere a um “manual dos estranhos
entes, que engendrou, ao longo do tempo e do espaço, a fantasia dos homens” (BORGES e
GUERRERO, 1981, p.XI).
Borges é também um autor importante na construção do imaginário do povo argentino,
país de origem da autora, mas também lido no Brasil, seu país por opção, sob outras
perspectivas relacionadas a visões de mundo diferentes...
Então, a quimera é um ser mitológico que apresenta as particularidades híbridas do
leão na parte anterior, da cabra no meio do corpo e na parte de trás a serpente.
Cabeça de leão, ventre de cabra e cauda de serpente... Ou três cabeças representativas
de cada animal que a tornam muito heterogênea porque nas palavras de Borges elas se opõem
à possibilidade de formar um único animal.
107
No decorrer dos tempos a incoerência das formas vai desaparecendo e a palavra passa
a significar o impossível, a idéia falsa, a imaginação...
O sentido que nasce de todo ato de linguagem é o resultado do encontro entre um
sujeito que enuncia e outro que interpreta cada qual agindo em função daquilo que
imagina do outro, pode-se dizer que a identidade desses sujeitos não é nada mais que
a imagem co-construída que resulta desse encontro. Assim, cada um é para o outro
apenas uma imagem. Não absolutamente uma imagem falsa, uma aparência
enganosa, mas uma imagem que é o próprio ser em sua verdade da troca. Nesse
momento, a máscara seria o nosso ser presente; ela não dissimularia, ela nos
designaria como sendo nossa imagem diante do outro.
(
Prólogo do Livro Discurso
Político de PATRICK CHARAUDEAU, 2006
).
O argumento do autor permite que a tarefa de análise de desencontros e aparentes
incongruências em toda a extensão da manifestação institucional, seja sob a forma de
documentos, relatórios, entrevistas, material de divulgação, atas, entre tantos outros, possa ser
enfrentada com menor aflição por parte do pesquisador. Quer dizer, o material empírico antes
de se apresentar como uma peça contraditória, confusa, enganosa e indecifrável, a medida
das possibilidades de sua construção em cada situação histórica, territorial e temporal das
instituições.
Esta parte da tese tem como objetivo colocar em evidência as particularidades do
modelo comunitário que emergem dos dados analisados bem como através deles conduzir o
leitor a uma compreensão mais profunda deste campo institucional. Assim, apresenta-se os
dois capítulos que a compõem:
Capítulo 8: As condições de produção do discurso institucional: algumas
considerações a respeito da estruturação do mito criador.
Capítulo 9: O discurso institucional à luz das categorias que norteiam o modelo de
universidade em estudo.
108
8 AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO INSTITUCIONAL: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA ESTRUTURAÇÃO DO MITO CRIADOR.
Inicia-se esta sessão levantando algumas questões históricas que consideramos
relevantes no sentido de demarcar as condições do contexto que favoreceram ou permitiram o
surgimento das iniciativas locais no RS que posteriormente originarão as universidades
comunitárias com ações territoriais específicas. Da mesma forma, políticas públicas e ações
governamentais firmaram as bases das condições de produção do discurso institucional que
influenciaram na construção e estrutura dos princípios que norteiam o modelo comunitário.
Enquanto na América Espanhola as universidades surgem no século XVI, no Brasil,
conforme tratado em capítulo anterior, as primeiras universidades vão surgir muito
tardiamente, na cada de 1920 principalmente durante o início do processo de
industrialização e se configuraram como um conglomerado de instituições isoladas. Desta
forma, a Universidade do Paraná e do Rio de Janeiro se agregavam a um pouco mais de uma
centena de instituições isoladas distribuídas pelo país e que não apresentavam a gratuidade
entre suas características.
No governo Vargas observou-se acirrada disputa entre as lideranças católicas e laicas
cujo resultado é marcado pela criação de universidades confessionais católicas. De uma forma
ou de outra, as instituições de educação superior eram marcadamente elitistas, com cátedras
vitalícias, atendendo pequenas e privilegiadas parcelas da população.
Assim, as instituições de educação superior, na forma de faculdades isoladas,
integradas ou mesmo universidades, foram deixando as suas marcas na configuração histórica
de um sistema de educação superior muito heterogêneo, que inclui atualmente diferenças
quanto à natureza institucional, categorias administrativas, personalidade jurídica das
mantenedoras, caráter laico ou confessional ou até mesmo a definição de seu caráter
empresarial em que a busca de lucro é uma categoria explícita na atual classificação.
Getulio Vargas foi figura marcante a sentar as bases de várias questões legais que
decorreram dos diferentes cargos que exerceu no Brasil nas décadas posteriores aos anos 30,
passando de chefe do governo provisório depois da Revolução de 1930, a presidente eleito
109
pela Constituinte em 1934, e ditador entre 1937 e 1945 quando foi deposto pelos militares.
Em janeiro de 1951 retornou ao poder eleito pelo voto popular e segundo fontes oficiais se
suicida em 24 de agosto de 1954.
No período posterior a agosto de 1954 quando ocorre à morte de Vargas, conforme
mencionado anteriormente, o Brasil entra numa fase de expansão do capitalismo dependente
com vinculo acentuado no capital externo e com consequências no incremento da
desigualdade social.
No ano de 1956, durante o governo Juscelino Kubitschek, é criado o ISEB - Instituto
Superior de Estudos Brasileiros, idealizado e concretizado por um conjunto de militares
claramente ligados aos tenentes dos anos 20, bem como um conjunto de destacados grupos
intelectuais que buscavam construir um ideário nacionalista, uma representação de ser
brasileiro, que permitisse diagnosticar e agir sobre os problemas nacionais. A ideologia
nacionalista destes intelectuais não consegue impedir que o governo JK programe o primeiro
grande momento de internacionalização de nossa economia. Cabe destacar que algumas
medidas anteriores foram tomadas como, por exemplo, a criação da Superintendência da
Moeda e do Crédito (SUMOC) que foi instituída através do Decreto-Lei 7.293 de 2 de
fevereiro de 1945 por exigencia do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional para
controlar as políticas monetárias brasileiras orientando as políticas de cambio.
Caio Navarro de Toledo no seu livro intitulado Iseb: fábrica de ideologiasdestaca:
“Propunha-se o Iseb conforme estabeleciam os seus estatutos a constituir ou lançar as
bases de um pensamento brasileiro (autêntico ou não-alienado) através de um projeto teórico-
ideológico de natureza totalizante onde confluíam disciplinas e ciências diversas...” (1997,
p.25-26). O autor acrescenta ainda
Estudos recentes sobre a teoria do Estado nas sociedades de classe m procurado
desenvolver a tese - posta a luz pelos clássicos do pensamento marxista - segundo a
qual as ideologias não existem enquanto “sistemas conceituais” ou discursos
abstratos: elas freqüentemente se materializam ou se concretizam em práticas
diversas no interior da formação social. Na realização de suas funções prático-
sociais, e pretensamente teórico-explicativas, as ideologias têm suportes e estão
inscritas em aparelhos e instituições distintos e especializados (p. 25).
Os intelectuais isebianos tinham em mente a tomada de consciência do Brasil e seu
subdesenvolvimento para assim participar ativamente da sua superação através de um projeto
110
desenvolvimentista com características nacionalistas. Cabe destacar que embora a ideologia
nacional desenvolvimentista fosse hegemônica no instituto foi objeto de posições e
interpretações às vezes opostas.
Cardoso (1978) apud Dourado acrescenta que
a compreensão deste período da historiografia brasileira implica a análise das
ideologias do desenvolvimento em curso no país no pós-50, quando é possível
detectar a existência de projetos distintos de formulação da ideologia dominante
constituindo dois períodos - o de Juscelino e o de Jânio Quadros-, a despeito de
ambos apresentarem em comum não a defesa da formulação social capitalista
pelo combate ao comunismo, mas também a absorção do modelo ocidental
hegemônico (2001, p.38).
Segundo o autor o projeto de Juscelino enfatiza o desenvolvimento com segurança no
sentido de programar mudanças dentro da ordem do capitalismo mundial/transnacional,
ocultando os mecanismos de dominação e naturalizando as diferenças via discursos oficiais.
A ideologia, em tal processo, não assume efetivamente o papel de adesão política”.
Em contraposição
O projeto janista [...] é marcado pelo discurso ideológico de adesão política, de
deslocamento constante do desenvolvimento econômico para a defesa da justiça, da
racionalidade e do interesse nacional; seu fundamento maior reside na ruptura com
as relações “colonialistas” e na “desideolologização” das relações internacionais,
buscando, assim, resguardar a soberania nacional (DOURADO, 2001, p.38).
O discurso desenvolvimentista e a ideologia nele implícita se apresentam como um
bloco coeso onde as políticas de expansão da educação superior aparecem como fator de
progresso e desenvolvimento no período.
A política desenvolvimentista adotada pelo Estado, resultante do processo de
monopolização, acelera a expansão do ensino, especialmente do ensino superior, no
período de 1946 a 1964. Essa expansão efetivar-se-á, privilegiadamente, mediante a
criação de escolas e a federalização das escolas já existentes” (DOURADO, 2001, p.
39).
A ideologia desenvolvimentista defendida pelo ISEB, com marcas teóricas
desenvolvidas por Mannheim e as políticas de expansão da educação superior consolidada
pela criação de instituições ou a incorporação ao sistema federal caracterizam o período
levando-nos a novas reflexões, nesta altura do trabalho, no sentido de que, tanto os fatos
111
históricos quanto os aspectos teóricos retomados, nos permitem a síntese de uma nova
categoria presente no discurso institucional das instituições comunitárias: a do mito criador.
Então, em relação ao processo ideológico retomamos colocações de Mannheim
apresentadas no capítulo 3 que descreve o fenômeno ideológico a partir de dois aspectos que
ele denominou de concepção particular e total, salientando que, ambas se aproximam no
sentido de que não dependem do que efetivamente foi dito pelo outro, mas se relacionam com
as condições sociais de produção dessa fala. Por outro lado, sublinha que as distâncias entre as
duas se relacionam com o conteúdo (no caso da concepção particular) ou com o conjunto
conceitual que caracteriza a visão de mundo do outro que ele denominou de opositor.
Tanto num caso quanto no outro, o autor destaca a busca de critérios comuns de
validade tanto para experiências comuns quanto para suas interpretações através de esquemas
cognitivos ou estruturas de pensamento que são consequência de processos históricos
decorrentes de ações e relações sociais complexas. Este fato apresenta um forte poder
mobilizador em relação a um conjunto de princípios fundantes ou integradores do grupo em
questão.
Assim, o conjunto de princípios integradores configura um esquema simplificado que
serve a função de justificação ideológica de determinada ação social. Por outro lado, a função
de dissimulação pode ameaçar o processo de reconhecimento coletivo entrando em
contradição com o processo de justificação que ocorre através do prolongamento do efeito
do(s) ato(s) fundador (ES).
Ricoeur em várias das suas obras retoma algumas questões neste sentido reforçando
que o fenômeno ideológico se difunde para além do conjunto de pais fundadores expandindo
a energia inicial do ato fundante. A busca de legitimidade por parte de um determinado grupo
social mobiliza um conjunto de crenças que auxiliam na interpretação da realidade social e
constroem e recompõem os significados dos vínculos sociais. A narrativa destas ideias conduz
o ato fundante para o futuro, aproximando-o da utopia no sentido trazido por Mannheim.
112
Por outro lado, Marilena Chauí
53
em seu livro Brasil, Mito Fundador e Sociedade
Autoritária, descreve o mito fundador em dois sentidos, um que se relaciona mais com o
significado etimológico ao qual se associam aspectos como lendas ou crenças que são
narradas por um grupo determinado e outro que inclui uma narrativa utilizada para explicar e
justificar determinada realidade social e as tensões decorrentes das contradições que dela
emergem. Assim, o mito criador se aproxima do processo ideológico principalmente na sua
função de justificação.
Então neste contexto de um sistema de educação superior que se inicia muito
tardiamente em relação a outros países da América do Sul e que apresenta as marcas
ideológicas das tensões decorrentes entre o público e o privado, o laico e confessional bem
como do projeto desenvolvimentista liderado pelo ISEB, surgem as primeiras manifestações
de educação superior em Bagé, no período compreendido ente 1953 e 1960, conforme
registrado na tabela abaixo:
Ano criação Instituição Mantenedora
1953 Criação faculdade de Ciências Econômicas
Mantida pela Associação de Cultura
Econômica
1955
Faculdade Católica de Filosofia, Ciências e
Letras
Extensão da Faculdade Católica de
Pelotas
1960
Autorização dos cursos de Pintura e Música
no Instituto Municipal de Belas Artes
Mantidos pela Prefeitura Municipal de
Bagé
Quadro 8: Os primeiros cursos de Educação Superior em Bagé e suas respectivas
54
mantenedoras.
Fonte: Quadro elaborado pela autora.
Pode-se observar, então, que os primeiros cursos superiores em Bagé seguem o padrão
nacional das faculdades isoladas que são mantidas por diversas instâncias seja o poder público
municipal ou privado representadas pelas mantenedoras da então Faculdade Católica de
Pelotas ou a Associação de Cultura Econômica de orientações laica e confessional
respectivamente.
53
CHAUÍ, Marilena. Brasil, Mito Fundador e Sociedade Autoritária. 4. ed. São Paulo: Fund. Perseu Abramo,
2001.103 p.
113
Por outro lado, no inicio da década de 60 em Caxias do Sul, surgem as primeiras
faculdades repetindo-se a diversidade de mantenedoras sublinhada em Bagé, mas com papel
mais destacado, até os dias de hoje, da Mitra Diocesana.
Os movimentos em torno da construção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (1° LDBN), lei 4024/61 põem em evidência novamente a disputa entre os
defensores do ensino público e os privatistas, bem como inicia um processo de modernização
do ensino superior representado pela criação da Universidade de Brasília com uma
organização institucional e com funções diferenciadas.
Faculdade / Instituição Mantenedora
Faculdade de Ciências Econômicas e
Faculdade de Filosofia.
Mitra Diocesana;
Escola de Enfermagem Madre Justina
Inês,
Sociedade Caritativo-Literária
São José;
Faculdade de Direito,
Sociedade Hospitalar Nossa
Senhora de Fátima
Início da
década de
60
Escola de Belas Artes,
Prefeitura Municipal
Quadro 9: Os primeiros cursos de Educação Superior em Caxias do Sul e suas respectivas
mantenedoras
Fonte: Quadro elaborado pela autora.
Dourado (2001) destaca conforme foi assinalado anteriormente que no período
compreendido entre os anos finais da década de quarenta e o golpe militar de 64, no bojo das
políticas desenvolvimentistas acelera-se a expansão do sistema de educação superior através
da criação de faculdades isoladas e da federalização das escolas já existentes. Dourado,
Oliveira e Catani (2003) reforçam ainda que no processo de constituição do sistema de
educação superior no Brasil ocorrem vários movimentos de contenção e expansão que
“intensificam-se a partir do período populista, especialmente por meio da federalização de
instituições de ensino superior nas décadas de 1940 e 1950” (p. 23).
Dentro de esse processo de expansão encontramos mais um exemplo no interior do Rio
Grande do Sul, na cidade de Santa Cruz do Sul, quando em 1962, ocorre um movimento de
várias lideranças locais que fundam e organizam a Associação Pró Ensino de Santa Cruz do
Sul, APESC, responsável pela condução do processo de implantação de ensino superior na
114
cidade. Este fato seria consolidado com a criação da Faculdade de Ciências Contábeis e do
Curso de Ciências Contábeis dois anos depois. Neste momento o caráter público da
associação se manifesta através da declaração de utilidade pública municipal pelo poder
público local. O caráter “comunitário” pode ser exemplificado, neste caso, pela campanha de
arrecadação de fundos para compra de livros que mobilizou a comunidade através da compra
de carnês.
No livro UNISC: a construção de uma universidade comunitáriapublicado em 2003
encontra-se os registros que exemplificam tanto a mobilização comunitária através das
associações de pais e mestres e de estudantes, quanto às alterações da educação superior na
cidade de Santa Maria com a criação da Universidade Federal de Santa Maria. “Somente no
ano seguinte as mudanças que estavam ocorrendo na área de influência da Universidade
Federal de Santa Maria vão favorecer a instalação de uma extensão da Faculdade Imaculada
Conceição de Santa Maria - FIC em Santa Cruz do Sul” (p.30). Destaques do ano de 1967:
“SCS tinha duas faculdades totalmente desvinculadas uma da outra: a FACCOSUL,
autônoma, muito vinculada à Apesc e a Extensão da Faculdade de Filosofia da FIC de Santa
Maria mais ligada à Diocese e às Irmãs Franciscanas, embora formalmente apoiada pela
Apesc” (p.32) e recebendo complementação orçamentária da prefeitura quando necessário.
No ano de 1967 ocorre a fundação da Universidade de Caxias do Sul que reune as
faculdades existentes em Caxias do Sul e é mantida pela Associação Universidade de Caxias
do Sul formada a partir da integração das instituições mantenedoras das primeiras faculdades.
Assim, se concretiza a criação de uma Universidade que, no entender de seus idealizadores,
deveria simbolizar a expressão cultural da região e do seu tempo e manter fortes vínculos com
a sua comunidade”
55
No ano seguinte a criação da UCS é aprovada a Lei no 5.540/68 e sua legislação
complementar que será conhecida como Reforma Universitária de 1968, construída após o
primeiro impacto do golpe militar para ocupar espaços não definidos pela LDBN de 1961
em relação à educação superior, tentando impor “princípios de racionalização, integração e
flexibilidade” (CAVALCANTE, 2000, p.10) e atender as demandas da modernização
capitalista que exigia formação profissional.
55
www.ucs.br. Acesso em: fevereiro de 2009.
115
Oliven, (1990) Assinala que “o período autoritário pós-64 instaurou um novo estilo de
encaminhamento dos problemas universitários” colocando também neste contexto o Plano
Acton de 1965, os acordos MEC-USAID no período 1965-67, o Relatório Meira Mattos de
1968:
Tais estudos tratavam, em geral de aspectos isolados da problemática universitária
como a expansão e reestruturação do ensino superior, as atividades estudantis, a
produtividade, reduzindo a questão da reforma universitária aos seus aspectos
meramente institucionais (p.70).
No ano de 1968 é instalada a faculdade de Direito como uma extensão da faculdade de
Direito de Santa Maria e dois anos depois passa a ser uma extensão da UFSM integrando o
seu projeto inicial de multiversidade. No entanto, devido a questões legais envolvendo o
reconhecimento das extensões as lideranças locais optam por encaminhar projeto de
reconhecimento do curso de Direito de Santa Cruz do Sul ao Conselho Federal de Educação
que o reconhecerá em 1972.
Em 1970 ocorre a criação da Escola Superior de Educação Física - ESEF em Santa
Cruz do Sul, como uma extensão vinculada à UFRGS que se reconhecida quatro anos
depois pelo decreto Presidencial 73.669.
O Acordo MEC-Usaid efetivado com a interferência norte- americana dominará o
campo educacional que é visto como um canal de divulgação da ideologia do golpe, os
defensores da escola pública perdem espaço para os que lutavam pela hegemonia do ensino
privado e que foram ganhando cada vez maior destaque frente ao discurso da necessidade de
expansão das matrículas com o menor contingente de recursos possível. Fato este que foi
particularmente marcante no caso da Educação Superior.
O movimento privatista ganha impulso na expansão do ensino superior, a partir de
três frentes básicas articuladas no período pós-64: a expansão de matrículas nas
faculdades e universidades públicas-expansão com contenção-; o estabelecimento
pelo poder público de incentivos e subvenções às faculdades e universidades
particulares (crédito educativo, isenção de impostos, bolsas) e a implementação de
fundações educacionais (Cunha, 1989; Martins, 1988 apud Dourado, 2001,
).
A política educacional então permite o surgimento e expansão de uma forma
institucional diferenciada do ensino privado que se caracteriza pela orientação empresarial.
116
Então, nesse contexto de expansão da Educação Superior ocorre, no ano de 1969, a
criação da Fundação Universidade de Bagé transformada posteriormente na Fundação Attila
Taborda. Também, em Bagé são criados novas faculdades/cursos no período compreendido
entre 1969 e 1976, como as Faculdades de Direito, Educação Física, Medicina Veterinária e
Veterinária respectivamente. Integração das unidades de ensino sob um único regimento que
organizava institucionalmente as Faculdades Unidas de Bagé (FunBA) mantidas pela
Fundação Attila Taborda. Em relação a FunBA o PDI da URCAMP destaca:
caracterizada como instituição educacional autônoma do ponto de vista
administrativo, didático, financeiro e disciplinar constituída por sete Unidades de
Ensino integradas funcionalmente conforme Regimento Unificado. Naquela época a
instituição oferecia 18 cursos superiores todos reconhecidos pelo Conselho Federal
de Educação (p.9).
Destacamos a fala do entrevistado 5 da URCAMP:
Nós surgimos da FUNBA, das Faculdades Unidas de Bagé, que por sua vez, tiveram
origem em 1953, quando começaram as tratativas para criação do primeiro curso
superior em Bagé, que foi o curso de Ciências Econômicas. Durante um período a
mantenedora foi chamada de Fundação Universitária de Bagé, que o MEC e o
antigo Conselho Federal de Educação, hoje Conselho Nacional de Educação nos
puxaram a orelha porque a terminologia universidade é privativa de universidade e nos
não o éramos. Então nós mantivemos a sigla, FUNBA e adaptamos a denominação
para Faculdades Unidas de Bagé
O mesmo entrevistado destaca também as raízes históricas da Fundação Faculdades
Unidas de Bagé ligadas a uma instituição confessional:
“Tenho que esclarecer a FUNBA teve um período em que era associada da
Universidade Católica de Pelotas onde se originou. Mas depois se criou a Fundação
Mantenedora em Bagé, isto em 1979. Não tenho bem certeza da data em que foi criada
a Fundação Attila Taborda em homenagem a Atila Taborda que era um médico
caçapavoano, mas que viveu a vida toda aqui em Badedicado a filantropia e ensino
superior” (EURCAMP 5) .
Cabe destacar mais uma vez as contribuições dos distritos geoeducacionais como uma
política de regionalização muito importante principalmente para as comunitárias no sentido de
que através das relações e intercâmbios com instituições públicas acabam internalizando
princípios como o caráter público e regional que determinam aspectos da sua estrutura e
funcionamento.
117
O estado do Rio Grande do Sul encontrava-se dividido em quatro distritos
geoeducacionais que correspondiam aos distritos 35, 36, 37 e 38 que, na prática dividiam o
território em quatro regiões que de formas diversas influenciaram a determinação das áreas de
influência das universidades comunitárias ao impulsionar as faculdades isoladas a se
aglutinarem aderindo à formação de universidades multicampi como uma estratégia de
reprodução institucional sendo que cada caso vem a configurar ações no território que são
diferenciadas.
Tivemos num processo histórico, dentro das nossas comunitárias, que nós tínhamos
um território definido e uma identidade definida. Nós éramos únicos dentro de nossas
regiões, tínhamos todas as possibilidades com o auxilio de verbas, etc., de fazer todas
as nossas intenções, todas as nossas inserções. Então nos tornamos multi campi a
região se ampliou e.os problemas também”. (EURCAMP 1).
Uma das consequências da política dos distritos geoeducacionais foi a ação territorial
diferenciada através dos processos vivenciados pela URCAMP na aglutinação de outras
instituições educacionais da sua área de abrangência e que se materializaram nos movimentos
comunitários de instalação da Comissão de estudos e encaminhamentos para elaboração da
Carta Consulta do projeto URCAMP ao CFE visando a transformação em universidade no
período de 1983-1986. “A elaboração da Carta Consulta se constituiu em mais do que um
expediente protocolar - provocou discussões, integrou concepções e definiu um perfil
acadêmico” (PDI URCAMP, p.9). Dito documento atendia os requisitos legais necessários
para a transformação em universidade
56
. Assim, integra-se 1986 o campi Dom Pedrito, em
1990 São Gabriel e em 1992 Santana do Livramento, em 1996 Alegrete e São Borja. Estes 10
anos foram marcados pela “busca da consolidação identidade institucional marcada pela
estrutura regional, multicampi, comprometida com a elaboração do saber, com a integração de
saberes regionais, sem descuidar da dimensão universal do conhecimento”. (PDI da
URCAMP, p.30).
“Nós temos que transformar a FUNBA em universidade, nós temos que transformar a
FUNBA em universidade”. Em 86 nós fomos a Brasília, começamos as tratativas no
Conselho Federal de Educação da época e recebemos todas as orientações possíveis
para a elaboração de uma carta-consulta. Bom, essa carta-consulta foi aprovada
porque estava bem elaborada, pegamos uma equipe boa, e nos deram dois anos de
acompanhamento. Então, isso foi em 87. de 87 a 89 nós trabalhamos com a equipe do
MEC e do próprio conselho [...]Com a aprovação da carta-consulta veio a questão da
escolha do nome, Universidade de Bagé. todo mundo falava em UBA, mas Bagé é muito
56
Lei 5540/68 de 28/11/68, da Resolução do CFE n°03/83, do Decreto n°87911/82 e da Portaria n°11/83 que
regulamentam o encaminhamento da Carta Consulta visando transformação em universidade.
118
pequeno para o que nós queremos uma universidade para região, mas qual é a região?
nós estamos na Campanha, vamos fazer uma Universidade para Região da Campanha
( EURCAMP 5).
Os anos noventa na UCS também são marcados pela preocupação com a
regionalização o que é objeto de encaminhamento de projeto específico ao CFE em 1993; o
qual incorpora os campi de Bento Gonçalves e Vacaria.
Foram criadas novas unidades
universitárias em sub-polos regionais e passaram a integrar a UCS a Fundação Educacional da
Região dos Vinhedos, com sede em Bento Gonçalves e a Associação Pró-Ensino Superior dos
Campos de Cima da Serra, com sede em Vacaria o que referendava um compromisso
assumido pelas lideranças que preconizaram uma Universidade para a Região nas palavras do
redator que analisou o projeto.
“Em 1982 a UCS lançou o programa da regionalização [...] A FERV naquela época
tinha um projeto próprio de criação de universidade que foi abandonado quando as
negociações com a UCS se desenvolveram no segundo esforço pela regionalização,
nós fizemos então a proposta de nos integrar na regionalização junto com Vacaria.
Criamos comissões em conjunto e teve todo um trabalho, inclusive aqui em Bento
Gonçalves, para se convencer a Fundação, os professores queriam, isso foi um
movimento do corpo docente daqui da FERV, a presidência da FERV não estava
querendo” (EUCS 2).
A regionalização na URCAMP pode ser exemplificada nas suas tensões pela
lembrança de um dos entrevistados em relação à escolha do nome:
Com a aprovação da Carta Consulta veio a questão da escolha do nome da futura
universidade,surge a idéia de UBA, Universidade de Bagé, mas este nome não
contemplava o que nos queríamos, uma universidade para a região da Campanha,
assim se consolida o nome URCAMP” Acrescentando ainda:“Para nós o ser regional
está na nossa história com as coisas boas e ruins que isso acarreta [...]Em 86 s
fomos a Brasília, e começamos as tratativas no Conselho Federal de Educação da
época, para saber dos encaminhamentos necessários. Nomeamos uma equipe boa e
elaboramos uma carta-consulta que foi aprovada com dois anos de acompanhamento
por parte do MEC. isso foi em 87, de 87 a 89 nós trabalhamos com a equipe do MEC e
do próprio conselho(EURCAMP5).
Em relação à história da Universidade de Caxias do Sul um entrevistado lembra
acrescentando mais um elemento relacionado com os conflitos institucionais:
Quando a universidade teve a intervenção do MEC em 72 ou 73, o interventor saiu
deixando o estatuto novo da universidade, que era uma cópia do estatuto da
universidade do Brasil, com toda a estrutura da universidade, então a UCS foi feita nos
moldes de uma universidade pública, não aquela tradicional, era uma universidade
nova, projeto Darci Ribeiro, o tinha faculdades, mas o espírito da universidade é
este, muito mais próximo do publico [...] Hoje um dos pontos de conflito dialético da
universidade é entre os representantes da comunidade e os representantes que são do
poder público, os da comunidade vem a universidade muito mais do ponto de vista
119
empresarial... Os representantes da comunidade entendem que se devem buscar
resultados acima de tudo, o que nem sempre é verdade” (EUCS 3
).
Por outro lado, num contexto de mudanças ocorre na cidade de Santa Cruz do Sul a
integração de várias IES mediante a aprovação do Regimento Unificado pelo Parecer 971
do CFE, de 05/ 08/ 80; constituindo as Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC)
mantida pela APESC.
Nos anos seguintes a FISC será palco de intensas mobilizações na i
mplantação de uma
nova estrutura acadêmica, tipo universitário com um Diretor geral nomeado pelo presidente da
APESC dentre os professores titulares em exercício.
Os diretores das faculdades eram nomeados pelo Diretor da FISC. A estrutura
administrativa incluía também o conselho departamental e os seus respectivos departamentos.
Em 1986, num contexto de redemocratização do Brasil, ocorre na FISC um movimento
que termina com a implantação de um processo de democratização nas primeiras eleições diretas
para Direção- Geral, Direções de Faculdade e Chefias de Departamento.O período seguinte
compreendido entre os anos de 1991-1993 foi marcado por uma serie de ações
57
que culminariam
com o reconhecimento da Universidade através da Portaria 880, de 23. 06. 93, D. O. U. de 25/
06/ 93, com base no Parecer CFE nº 282, 05. 05. 93.
Alguns outros fatos da historia institucional das universidades aqui focalizadas
merecem destaque como o movimento dos alunos da UCS no final dos anos 70 em prol da
federalização que acabou não se efetivando por resistências das lideranças locais que tinham
maior poder na mantenedora. Este movimento esteve relacionado com uma crise institucional
desta universidade. Em relação a este processo um entrevistado lamenta:
Em 86, o grande projeto era a federalização da universidade, e não o foi por causa
que esse grupo que manda hoje( referindo-se ao Conselho Diretor a Mantenedora) que
não quis. Senão a UCS seria federal” (EUCS 1).
57
1991-Diretor- Geral da FISC assume cumulativamente a Presidência da APESC; - Aprovação da Carta-
Consulta (Parecer 91/ 91, do CFE, de 19/ 02/ 91); - Re-departamentalização - Redução de 16 para 12
Departamentos. 1992- Extinção das Faculdades e implantação experimental da Estrutura Universitária com a
criação das Superintendências de Pesquisa e Extensão, de Ensino e de Administração. 1993- Criação das Pró-
Reitorias: de Ensino, de Pesquisa e Extensão e de administração.1994- Posse do primeiro Reitor, Vice- Reitora e
Pró- Reitores em 31. 01. 94, e nomeação dos Coordenadores de Graduação, de Pesquisa e de Extensão;
120
O mesmo entrevistado ainda traz outras contribuições importantes em relação
A greve de 1989, na data base da categoria, durante a campanha salarial que buscava
a reposição salarial e a democratização da instituição. Foi um momento histórico de
mobilização que tentou ser repetido, mas o de 89 dá para se dizer que foi uma das
greves mais marcantes porque teve a participação dos funcionários, os funcionários
que puxaram a greve e depois os professores vieram. Agora não para comparar
parece que os funcionários não existem” (EUCS 1).
Porém, na URCAMP a crise dos primeiros anos do século XXI provocou uma
mobilização comunitária em busca da federalização e que segundo o Reitor da URCAMP
acabou se materializando na Universidade Federal do Pampa, bem como em uma linha de
financiamento especial na forma de bolsas para estudantes ligados ao Programa Bolsa
Família. Um entrevistado ilustra:
Tivemos uma audiência com o Ministro de Educação Tarso Genro, e estávamos de
pé, nas despedidas, e ele me olhou e disse assim “mas vocês não estão pensando em
federalizar a URCAMP?” para mim foi, uma situação inusitada , mas se o senhor nos
autoriza eu levo a idéia vamos enfrentar as mudanças necessárias embora pensei hoje
não existe tendência em federalizar, a tendência é desestatizar, é de privatizar, não
existe tendência de estatizar. Vamos, o Ministro está dizendo que pode então surge a
mobilização que foi a maior mobilização que a região teve numa reunião com 40 mil
pessoas , o Presidente da República e o Tarso Genro estava saindo do Ministério da
Educação e o seu secretario executivo que era o Haddad indicado aqui em Bagé para
ser substituto do Tarso. Então o susto, no lugar da federalização é anunciada a
proposta de fundação da UNIPAMPA [...]”(EURCAMP 5).
Referindo-se as semelhanças históricas nos processos institucionais vivenciados um
dos entrevistados afirma
Eu penso que os processos históricos de várias instituições comunitárias são
parecidos com os nossos, ou seja, elas foram criadas por organizações da comunidade,
portanto um viés pluralista nascedouro e este pluralismo, o fato de não ser uma
única força política ou um governo que criou a instituição, isso favorece sobremaneira
as relações externas, mas também internamente favorece, por exemplo, os processos de
rotatividade do poder que é uma característica de grande parte das nossas
organizações [...] certamente é um elemento que favoreceu a implantação de processos
democráticos de gestão” (EUNISC 4).
O processo histórico de construção das IES Comunitárias foi sendo pautado por
valores ou categorias do contexto externo e interno que foram se assentando e consolidando
no discurso institucional de formas diferentes, mas que, ao serem lembradas constantemente,
evocam momentos do passado que não se questionam e adquirem status de mito, tamanha a
energia que emanam. Assim os aspectos da utopia que se concretiza na forma institucional das
Universidades Comunitárias busca definir uma identidade caracterizada por aspectos
121
contraditórios, quiméricos na sua essência, mas com força legitimadora ainda suficiente para
justificar as próprias contradições.
Zygmunt Bauman no seu livro Comunidade: a busca de segurança no mundo atual
nos lembra questões importantes para a nossa discussão. Em relação ao mito ele afirma que:
Os mitos não são histórias divertidas. Seu objetivo é ensinar por meio da reiteração
sem fim da sua mensagem: um tipo de mensagem que os ouvintes só podem
esquecer ou negligenciar se quisserem. (2003, p.14).
No que se refere à identidade o autor coloca que
Uma vida dedicada à procura de identidade é cheia de som e de fúria. Identidade”
significa aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singular- e assim, a procura da
identidade não pode deixar de dividir e separar.E no entanto a vulnerabilidade das
identidades individuais e a precariedade da solitária construção da identidade levam
os construtores da identidade a procurar cabides em que possam, em conjunto,
pendurar seus medos e ansiedades individualmente experimentados e, depois disso,
realizar os ritos de exorcismo em companhia de outros indivíduos também
assustados e ansiosos (p.21).
Desta forma, o mito criador, ao expandir o efeito legitimador do discurso institucional
auxilia os atores institucionais a buscar os cabides necessários para pendurar as contradições
vivenciadas entre o que se fala e se faz no cotidiano, diminui as incertezas decorrentes das
tensões entre os valores comunitários e os valores gerenciais e de mercado. A lembrança da
comunidade como lugar cálido, acolhedor e protegido do qual se sente falta, do tipo de
“mundo” que não está ao nosso alcance, do paraíso que foi perdido frente às necessidades de
expansão que a reprodução institucional exige.
No contexto de evocação do mito criador foi possível que, em diversos momentos
históricos, soluções institucionais fossem implementadas mesmo implicando em perdas de
conquistas e de salários, sacrifícios coletivos necessários para impedir a insustentabilidade
institucional.
Comunidade esta onde, tal vez seja necessário pendurar no cabide as questões
relacionadas à democracia percebida por alguns entrevistados como uma ameaça institucional,
um processo perigoso que torna a universidade morosa nas suas decisões ou ameaça o
controle de grupos que se mantêm no poder por décadas como mostrado principalmente pela
história de uma das instituições estudadas.
122
Comunidade cálida e acolhedora que frente às crises institucionais se mobiliza e se
expande na busca de soluções que não se concretizam porque utópicas, mas alimentam as
narrativas do próprio mito.
Identidade que não consegue se desenhar nitidamente e se confunde na busca de novos
caminhos legais que permitam dar cobertura para acesso a outras fontes de financiamento que
não a matrícula dos alunos.
Territorialidade que desafia os limites das regiões definidas pelas áreas de abrangência
resguardadas pelos distritos geoeducacionais e busca novas formas de significar o território de
origem e outros alheios a ela, através das suas ações de ensino, pesquisa e extensão.
Assim, o mito criador se assenta num tripé que inclui a ligação com as comunidades
de origem, as bases regionais e os aspectos relacionados com a gestão democrática como
lugar de aproximações e disputas de percepções que constroem e desconstroem significados
dando vida própria às formas institucionais. Algumas falas dos entrevistados exemplificam
estas colocações colocando em evidência os próprios campos de disputa identitária
principalmente no que se refere às questões relacionadas com a categoria que os entrevistados
genericamente denominam democracia.
“A UCS não é comunitária. Ela é uma empresa [...] além do mais [...] há concentração
de poder, apadrinhamento político, representantes indicados pelo poder estabelecido, a
eleição indireta é uma forma de maquiagem do processo de escolha que as listas
podem não ser respeitadas, quem decide mesmo é o Conselho Diretor da FUCS
[...]temos necessidade de buscar a democracia [...].de construir a nossa utopia [...].o
Zorzi é a promessa de democracia[....” (EUCS1).
A percepção do entrevistado mostra que, segundo ele, se não escolha direta não se
respeita a característica básica das IES comunitárias.
Outro gestor contrapõe:
Houve (na UCS) um período de grande concentração de poder entre os anos 90 e
2000. Grande restrição da discussão interna momento este [...] em que criticar a
direção era criticar a instituição [...] Se criou certo clima de medo de expor as idéias
[...] Assim, ele afirma [...] Recentemente temos o inicio de um processo de
redemocratização [...] Mas há cobrança de princípios democráticos de gestão. Há
demanda de eleições diretas ou pelo menos proporcionais [...] Temos uma democracia
próxima da universidade pública [...] Necessidade de se comprometer conscientemente
em discutir juntos quais os limites da instituição [...] De implantar um processo de
descentralização coordenada [...] discutir a escassez ou limitação ao acesso de
123
recursos [...] passar de um projeto individual para um projeto coletivo [...] seja no
ensino, na pesquisa e na extensão. A UCS esta no meio do caminho entre as
confessionais e as laicas em sentido stricto(EUCS 2).
As afirmações seguintes agregam mais uma necessidade institucional, a de garantir
regras mais claras de acesso:
Democratizar o acesso dos professores e funcionários (processo seletivo) bem como o
plano de cargos e salários [...] Regras que garantam as mesmas condições de acesso as
promoções tanto dos professores quanto dos funcionários[...]” (EUCS5).
Finalmente, todos os entrevistados da UCS concordam em que é necessário revitalizar
e consolidar o processo de regionalização através da redefinição das regras entre os centros,
núcleos e campi que, principalmente a estes cabe a responsabilidade de construir
alternativas que não as determinadas por Caxias, de equilibrar o poder de Caxias do Sul.
As colocações dos entrevistados URCAMP evidenciam várias diferenças em relação
ao seu processo de construção e associam as marcas mais autoritárias e centralizadoras nos
processos de gestão a características regionais:
Somos diferentes das outras comunitárias que o nosso processo histórico
constituição URCAMP foi diferenciado [...] Construímos um modelo de universidade
comunitária formada por outras que existiam, não copiamos de ninguém [...] Somos
uma região com raízes muito conservadoras então é difícil superar o personalismo, o
eu... Na verdade é uma instituição única, mas ainda temos problemas de integração
[...] Estamos construindo normas e procedimentos porque antes cada um fazia
diferente, do seu jeito [...] No entanto, o Reitor é escolhido e ele indica os outros cargos
de gestão [...] eu tenho minhas restrições em relação a eleição direta que muita
democracia pode ameaçar a segurança e a continuidade do trabalho institucional
[...]”(EURCAMP3).
Por outro lado, desejos de ampliação na participação de toda a comunidade acadêmica
aparecem na fala do seguinte entrevistado que sublinha também a necessidade de construção
de regras e normas escritas como uma forma de controle institucional que evite os processos
de personalização do poder:
Somos um modelo ortodoxo dentro das comunitárias [...] formado pela integração de
patrimônios públicos e privados [...] A nossa estrutura é eminentemente regional [...]
Precisamos diminuir a centralização[...]Ampliar a participação [...] Mudar nas regras
[...] Ampliar a participação [...] Criar controles institucionais [...] para evitar a
personalização do poder [...] Temos que permitir que outros votem[...]. segmentos
como os alunos que nunca participaram, nunca votaram...agora no novo estatuto é
diferente [...] Estamos descentralizando decisões, separando reitoria de mantenedora
[...]” ( EURCAMP 4).
124
A necessidade de aumento da densidade institucional através de instrumentos de
gestão escritos que permitam concretizar a transparência e o resgate da credibilidade é
apontada através da seguinte fala:
Estamos reformando nossos regulamentos, estatutos, modernizando e adaptando aos
novos tempos [...] Cada funcionário representava uma situação, não tínhamos regras
gerais, este foi um grande desafio na minha gestão [...]. Agora o planejamento é crucial
para a legitimação da universidade perante os órgãos públicos [...] Tínhamos que
superar o absolutismo da direção anterior [...] Defendi a transparência administrativa,
a regularização financeira e a administração colegiada [...] Elegi-me com 78% dos
votos do colégio eleitoral [...]” (EURCAMP5
).
A democracia é percebida como crucial na construção da credibilidade institucional e
adjetivada de formas diversas nas colocações de outro entrevistado:
Tenho dito que o resgate da credibilidade institucional [...] implica em superar nossas
raízes autocráticas [...] buscar construir uma democracia sem exageros [...] buscar
formas de delegação de poderes [...] construir processos de descentralização [...]
Integrar os campi apesar das suas diferenças [...] Equilibrar os processos de
centralização - descentralização, local-regional [...] Para sobreviver temos que
construir acordos e consensos diários...Por outro lado, a crise nos mobilizou, nos fez
tomar ciência de que tinham se passado 20 anos da gestão anterior [...] nos tornou
imensamente criativos na busca de soluções [...] A crise nos fez definir regras mais
claras na distribuição dos recursos [...] nos fez resgatar a essência do ser comunitário
[...]” (EURCAMP2).
Em relação às questões da gestão democrática os entrevistados da UNISC colocam:
É a nossa característica fundacional é ter um modelo de gestão democrática e
descentralizada que propicia a participação de toda a comunidade acadêmica e
regional nas decisões colegiadas tanto da administração básica quanto superior.
Lembrando sempre que fomos das primeiras IES a instituir eleições diretas para Reitor
no ano de 1986. Também temos uma gestão que busca constantemente a auto-
sustentabilidade através de uma constante busca do equilíbrio financeiro [...]
(EUNISC 4).
Acrescentando ainda que
A nossa instituição tem uma vivência democrática consolidada (escolha direta dos
seus gestores) [...] Para s [...] Ser comunitária tem a ver também com o ser
democrática [...] A democratização na nossa instituição começou com o movimento de
86 [...] Na década de noventa o ambiente externo era marcado pela redemocratização
que levava as pessoas a um desejo muito intenso de participação [...] A democracia
extrapola os limites da escolha direta dos gestores e se refere a intensa participação
nas decisões e nos fóruns e debates[...]Os gestores vivem a tensão dos princípios
administrativos e de gestão acadêmica que constrói a sustentabilidade.As urgências
econômicas impõem aperfeiçoar os processos de coordenação que não implicam
necessariamente uma guinada ideológica.São tensões constantes a serem
negociadas[...]” (EUNISC 3
).
125
Complementando ainda que:
O nosso Projeto de universidade, nosso ideal de universidade comunitária stricto
sensu inclui as características de laicicidade e participação, além do princípio de
democracia na gestão (EUNISC 1).
Apesar da diversidade discursiva encontrada, o valor democrático não perde força na
integração do mito criador e sua força legitimadora, ele se constitui ora numa realidade ora
num horizonte utópico a ser perseguido.
126
9 O DISCURSO INSTITUCIONAL E AS CATEGORIAS QUE NORTEIAM O
MODELO DE UNIVERSIDADE EM ESTUDO
Chega-se então às particularidades do modelo comunitário, quimérico em relação aos
aspectos aqui considerados, no que diz a respeito dos seus valores integradores, as marcas
mais presentes em seu processo decisório e sua ão territorial, questões estas que serão
analisadas em cada uma das sessões deste capítulo. Destaca-se que o caráter quimérico do
modelo se relaciona com o conjunto de tensões as quais o mesmo se encontra submetido e que
dificultam o desenho de uma identidade institucional melhor definida.
A ação política determina a vida social ao organizá-la em busca do bem comum
sendo ao mesmo tempo responsável pelas decisões coletivas. Toda ação é finalizada
em função de um objetivo e se estrutura em um espaço fechado irreversível, que faz
com que o responsável, o agente seja um decisor
58
ao que deve se dar os meios de
atingir seus fins. (RICOEUR, 1991, p.17)
Cabe destacar que a ação coletiva implica, então, num projeto coletivo decorrente de
princípios comuns concretizados em ações também comuns. A organização da ação política
implica um espaço de discussão dos objetivos, um modo de acesso ao poder (eleições) e
modalidades de controle ou de regulação.
A ação política implica em duas instâncias: a política, que é de tomada de decisão, ou
seja, implica num processo de escolha ou seleção de alternativas dentro de num espectro de
possibilidades disponíveis para atender fins específicos que se relacionem com os valores
institucionais. Assim, no sentido de que a instância política que decide, projeta o futuro,
através de ações ou estratégias, que emergem do próprio processo, ou seja, age em função do
possível. A segunda instância da ação política é a instância cidadã que escolhe os atores
principais da anterior, para fazer o desejável, para concretizar ações utópicas porque
localizadas no futuro. “Nasce, assim, um exercício difícil do poder político, que consiste em
ditar a lei e sancioná-la, sempre se assegurando do consentimento da instância cidadã
59
(RICOEUR, 1991, CHARAUDEAU, 2006, p.19).
58
Decisor, nas palavras de Charaudeau, “quer dizer que o agente não somente elaborou um projeto no qual está
inscrito o fim a atingir, mas que, além disso, tomou a decisão de engajar-se na concretização dessa ação pela
qual ele é, a partir desse momento responsável” (2006, p.17)
59
Teoria da dominação legítima de Weber que vai até a justificação da violência como meio de submissão à
autoridade. (Apud Charaudeau, 2006, p.19) Acrescentando que o espaço de ação da instância política é um
127
Para continuar o aprofundamento das questões inerentes ao modelo comunitário
retoma-se as preocupações de Karl Mannheim sublinhadas capítulo 1, que se relacionam com
os processos de desagregação social decorrentes do contexto sócio-histórico no qual ele viveu,
e que foi caracterizado pela diminuição da densidade do tecido social, trazida pelo
enfraquecimento dos mecanismos de auto-regulação dos grupos, que se tornavam cada vez
maiores pelo processo de urbanização decorrente do avanço do capitalismo industrial e
financeiro, na primeira metade do século XX. Este processo implicou numa diminuição das
decisões cooperativas e compartilhadas afetando a coesão e a estabilidade social. Segundo o
autor, cabe às instituições evitar a manipulação e a desintegração que levam a falta de
liberdade.
Assim, ele defendia a tese de que para se garantir uma sociedade democraticamente
planejada havia necessidade de mobilizar um conjunto de crenças ou valores que seriam
necessários para ajustar a vida social à nova ordem. Por outro lado, se preocupava com as
constantes tensões provocadas pelo avanço do capitalismo competitivo e a manutenção dos
padrões democráticos com suas relações mais cooperativas e simétricas.
O contexto sócio-histórico mudou nestes últimos sessenta ou setenta anos, mas as
idéias de Mannheim ainda podem ser utilizadas e adaptadas para contextos sociais mais
simplificados que vivenciam as suas preocupações básicas, como as instituições que compõe
o objeto de pesquisa desta tese: as Universidades Comunitárias do Rio Grande do Sul, que
cotidianamente tem que dar conta das tensões decorrentes do mercado para garantir a sua
reprodução institucional, sem perder as particularidades do modelo, quimérico na sua
essência
60
e que serviram de base estruturante para o mito criador.
O texto a seguir será estruturado incluindo as determinações legais que contextualizam
as exigências de construção dos instrumentos de planejamento institucional por parte do
Ministério de Educação bem como as condições institucionais nas quais os documentos foram
elaborados. Em segundo lugar far-se-ão considerações a respeito dos valores integradores e
como eles se fazem presentes no discurso institucional. Finalmente será abordada a estrutura
espaço de persuasão onde entram em jogo razão e paixão na busca da adesão da instância cidadã sendo estes
argumentos suficientes para justificar a expressão weberiana “dominação legítima”.
60
Considera-se como valores institucionais ser comunitária, regional e democrática. Para análise destes valores
foram utilizados os documentos institucionais oficiais, os Planos de Desenvolvimento Institucional, PDI e
depoimentos resultantes das entrevistas realizadas.
128
organizacional e a forma de escolha dos gestores. Nas três situações as instituições serão
analisadas na seguinte sequência, URCAMP, UNISC e UCS respectivamente.
Assim, no intuito de introduzir a questão do planejamento institucional são trazidas as
questões legais que regulamentam a exigência de um documento denominado de Plano de
Desenvolvimento Institucional. Através da promulgação da Lei 10.861, de 14 de abril de
2004 o Ministério de Educação estabelece o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (SINAES) e inicia um processo de revisão de atribuições e competências nas suas
Secretarias de Educação Superior SESu e de Educação Profissional e Tecnológica
SETEC, além do Conselho Nacional de Educação CNE e do Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisa Educacionais INEP com o intuito de conferir maior eficiência e eficácia aos
dispositivos contidos na Lei nº 9.394/96.
Desta forma, se inclui como um dos itens do processo avaliativo das Instituições de
Ensino Superior IES a exigência de apresentação do seu planejamento estratégico,
sintetizado no documento Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI.
61
Este documento tem que ser revisto a cada cinco anos e deverá ser apresentado pela
instituição universitária cada vez que solicitar o credenciamento ou re-credenciamento de
instituição de Educação Superior ou credenciamento de um novo curso.
Em maio de 2006 o Decreto nº 5.773 dispõe sobre as funções de regulação, supervisão
e avaliação das IES que fazem parte do sistema federal de ensino e no seu Art. 16. trata
especificamente sobre o plano de desenvolvimento institucional e seus elementos
constituintes
62
:
I - missão, objetivos e metas da instituição, em sua área de atuação, bem como seu
histórico de implantação e desenvolvimento, se for o caso;
II - projeto pedagógico da instituição;
61
Como dispositivos legais de orientação à elaboração de PDI, destacam-se: Lei 9.394/1996 (LDB), Lei
10.861/2004, Decreto 2.494/1998, Decreto No 3.860/2001, Decreto 4.914/2003, Decreto 5.154/2004,
Decreto 5.224/2004 e Decreto 5.225/2004, Portaria MEC 301/1998, Portaria MEC 1.466/2001,
Portaria MEC Nº 2.253/2001, Portaria MEC Nº 3.284/2003, Portaria MEC 7/2004, Portaria MEC Nº
2.051/2004, Portaria MEC Nº 3.643/2004, Portaria MEC nº 4.361/2004, Resolução CES/CNE No 2/1998,
Resolução CNE/CP No 1/1999, Resolução CES/CNE 1/2001, Resolução CP/CNE 1/2002 (art.7º),
Resolução CES/CNE No 10/2002, Parecer CES/CNE Nº 1.070/1999.
62
Texto oficial do artigo 16.
129
III - cronograma de implantação e desenvolvimento da instituição e de cada um de
seus cursos, especificando-se a programação de abertura de cursos, aumento de
vagas, ampliação das instalações físicas e, quando for o caso, a previsão de abertura
dos cursos fora de sede;
IV - organização didático-pedagógica da instituição, com a indicação de número de
turmas previstas por curso, número de alunos por turma, locais e turnos de
funcionamento e eventuais inovações consideradas significativas, especialmente
quanto a flexibilidade dos componentes curriculares, oportunidades diferenciadas de
integralização do curso, atividades práticas e estágios, desenvolvimento de materiais
pedagógicos e incorporação de avanços tecnológicos;
V - perfil do corpo docente, indicando requisitos de titulação, experiência no
magistério superior e experiência profissional não-acadêmica, bem como os critérios
de seleção e contração, a existência de plano de carreira, o regime de trabalho e os
procedimentos para substituição eventual dos professores do quadro;
VI - organização administrativa da instituição, identificando as formas de
participação dos professores e alunos nos órgãos colegiados responsáveis pela
condução dos assuntos acadêmicos e os procedimentos de auto-avaliação
institucional e de atendimento aos alunos;
VII - infra-estrutura física e instalações acadêmicas com especificações detalhadas
no documento oficial.
VIII - oferta de educação à distância, sua abrangência e pólos de apoio presencial;
IX - oferta de cursos e programas de mestrado e doutorado; e
X - demonstrativo de capacidade e sustentabilidade financeiras.
Em relação às condições institucionais e o processo de elaboração dos seus Planos de
Desenvolvimento Institucional, as três instituições estudadas cumpriram e exigência legal de
elaboração dos seus PDIs porém, cada documento, tem períodos diferentes de validade e foi
resultado de processos históricos institucionais bem diferenciados. Estes processos
influenciam tanto na forma quanto no processo de construção, refletindo as particularidades
dos valores institucionais presentes na estrutura dos processos internos. A Tabela 9, a seguir,
resume algumas destas particularidades.
PDI IES Validade Forma de elaboração
Adequação a requisitos
legais
URCAMP 2005-2009
Centralizada- com pouca participação. Sem
nenhuma estrutura institucional formal
específica para o planejamento
Atende parcialmente
PPP- em construção...
Apresenta apenas as
linhas muito gerais.
UNISC
2002-2006
2007-2011
Descentralizada e participativa, com a
coordenação da Pró-Reitoria de Planejamento
Atende integralmente.
UCS 2007-2011
Coordenada pela Pró-Reitoria de Planejamento
que busca um aumento da participação.
Atende integralmente.
Quadro 10: diferenças entre os PDIs das instituições estudadas.
Fonte: quadro elaborado pela autora.
130
Cabe sublinhar que embora regulado externamente na sua formalidade o discurso
institucional expresso nos PDIs se relaciona com o contexto no qual é produzido denotando
aspectos da(s) visão(ões) de mundo (Weltanschauungen) de grupos determinados como
resultado de uma série de experiências ou vivências ligadas a uma mesma estrutura que, por
sua vez, se constituem na base comum das experiências que perpassam a vida de múltiplos
indivíduos. Assim, nas palavras de Charaudeau (2006, p.20), “os valores se agrupam sob a
figura de um terceiro, de um outro, no qual todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e
desapossados...este despojamento é fundador
63
”.
Para compreender os sentidos é imprescindível buscar as condições de produção
desses discursos entendidas como o contexto sócio-histórico e ideológico de formulação das
estruturas discursivas, dos sujeitos que falam e do lugar onde estes sujeitos estão falando,
sublinhando, mais uma vez o sentido de movimento que implica estar sempre se fazendo e
refazendo.
Assim, as condições de produção podem ser abordadas sob duas óticas, num sentido
mais restrito ou num sentido amplo. No primeiro nos referimos às circunstâncias de
enunciação que correspondem ao contexto próximo
64
, ou seja, formas de ação dos dirigentes
institucionais expressa nos documentos analisados, mudanças na estrutura administrativa ou
nos encaminhamentos normativos construídos para dar resposta as crises institucionais
impostas pelas regulamentações externas e as forças do mercado. No segundo, destacamos o
contexto sócio-histórico e ideológico; ou, colocado de outra forma, as condições de produção
nos remetem ao que é material e concreto na realidade institucional e aos mecanismos que
poderíamos denominar de imaginários ou simbólicos como, por exemplo, aspectos ligados ao
mito criador e a forma como ele é acessado na busca de legitimidade discursiva.
Quando se pensa em textos institucionais e na sua importância dentro de um esquema
de funcionamento mais amplo que suas relações intrínsecas, parece inevitável assumir como
idéia prática inicial, que o ambiente coloca em evidência o problema das condições de
produção como um conjunto de informações prévio e necessário à observação no interior de
63
Charaudeau chama a atenção também que o poder político é um espaço de discussão e persuasão onde os
valores refletidos nas ações são construídos por meio da palavra.
64
Também denominado cotexto. Seria uma primeira e necessária etapa de apreensão de condições que
contextualizam a fala enunciada em seu entorno não linguageiro. Define, portanto, o contexto mais próximo e de
grande influência nas condições de produção do texto.
131
cada realidade discursiva
65
. Como conseqüência, articular o “interno” e o “externo”, implica
apreender o conjunto das condições que organizam a fala dos sujeitos.
Far-se-ão a seguir algumas colocações em relação às condições de produção do
discurso institucional da URCAMP no período de elaboração e encaminhamento do PDI,
2005-2010. Esta universidade comunitária saiu de um processo de quase 20 anos de
permanência no cargo de um mesmo gestor sendo que tal situação foi identificada com fortes
traços de personalização do mando
66
. Dita situação culminou com uma crise institucional
muito séria que incluiu situações de dificuldade para o conjunto dos funcionários e quadro
docente, como atrasos no pagamento dos salários e uma grande dificuldade de obtenção de
recursos financeiros por parte da instituição em face de ter a sua credibilidade institucional
abalada pelo processo. Esta situação provocou um intenso processo de mobilização em busca
da federalização levantada como possibilidade por algumas instâncias governamentais.
Marcelo Gonzatto no artigo O que pode mudar na Urcamp, publicado no jornal Zero
Hora do dia 25 de julho de 2005 afirma
A criação de um modelo inédito de instituição pública de ensino é a proposta
defendida pela comissão pró-federalização da Universidade da Região da Campanha
(Urcamp) para recuperar o estabelecimento, com sede em Bagé. A idéia articulada
pela comissão gaúcha é implantar uma universidade federal na estrutura física da
Urcamp por meio de um consórcio. Embora o MEC se negue a falar sobre o assunto,
a novidade vem sendo analisada por técnicos do ministério e pode ser confirmada na
próxima semana...A luta pela federalização da Urcamp vem mobilizando a Região
Sul nos últimos meses. A proposta desenhada em um protocolo de intenções
estabelece que a Fundação Attila Taborda, mantenedora privada da Urcamp, seria
transformada em uma fundação pública para permitir um convênio com a União. O
MEC criaria uma universidade federal que firmaria um consórcio com a fundação e
se instalaria no espaço físico dos oito campi da Urcamp. Esta saída combinaria a
desejada expansão do ensino público superior e gratuito na metade sul do Estado,
região acuada pela debilidade econômica, com a recuperação da universidade
gaúcha, envolta em dívidas e com dificuldade de atrair novos alunos...
Um dos entrevistados acrescenta:
65
Que compreende a produção textual de cada uma das IES estudadas, observadas, entendidas e delimitadas
pelas características singulares de seu universo próprio, interior, assim como em suas conexões com o (sub)
campo institucional a que pertence– das IES comunitárias - e o campo da educação superior no país.
66
Segundo um entrevistado “havia na URCAMP um processo muito sério de personalização na gestão, sem
nenhum tipo de delegação de atribuições, um comportamento altamente autocrático” (EURCAMP2)
132
“[...] passamos por um momento político de mudança naquele espaço da federalização,
naquele movimento todo que acabou gerando, segundo o próprio reitor, a UNIPAMPA.
[...] acho que o movimento deu um resultado positivo em termos de ensino superior na
região, mas ao mesmo tempo nos trouxe a necessidade de uma reformulação grande em
termos da universidade e de seus documentos [...], havia uma necessidade de revisão,
de estudar o estatuto, uma forma de abrir a universidade para comunidade pós-
federalização. E dali para frente, com uma nova reitoria assumindo, toda uma mudança
de ordem, de vida institucional, de vivência de grupo, de compreensão do espaço
acadêmico [...]” (EURCAMP1).
Este processo de busca do status federal da URCAMP culmina com a sanção no dia
11 de janeiro de 2008, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da lei que cria formalmente
a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Ela apresenta dez campi em fase de
implantação em Jaguarão, Santana do Livramento, Itaqui, São Borja, Alegrete, São Gabriel,
Dom Pedrito, Caçapava do Sul e Bagé.
A mobilização infrutífera que provocou um resultado diferente do esperado agrega
mais pressão à situação instável da URCAMP, mas o governo federal, na tentativa de
diminuir os problemas implementou
[...] um Programa de Estímulo ao Ensino Superior Comunitário (Proesc), que
prevê a injeção de R$ 12 milhões na Urcamp em 36 parcelas. A quantia está sendo
liberada em uma operação que envolve o Ministério da Agricultura e as prefeituras
dos municípios onde estão instalados campi da universidade. Firmado oficialmente
em dezembro de 2006, o Proesc determina que os executivos municipais custeiem
750 bolsas de estudo na Urcamp, recebendo em troca do Ministério verba para
construção e recuperação de estradas vicinais em áreas rurais”.
67
Segundo um dos entrevistados:
A URCAMP é única, neste processo de vinculo com a federalização, com a
publicização
68
, hoje o nosso modelo de público não-estatal é possivelmente um projeto
piloto. Eu vejo como um projeto piloto e nós também estamos tentando nos identificar
novamente. São alunos bolsa-família, o PROESC e bolsa-família, a prefeitura seleciona
entre os alunos que recebem a bolsa-família e tem condições de entrar na universidade,
fazem o vestibular e se inserem na universidade [...], isso nos um aporte de alunos
grande, mas ao mesmo tempo não alunos pagantes, mas em contrapartida são dívidas e
negociações que estão sendo abatidas e isso ameniza a nossa crise financeira
(EURCAMP1).
Então, seja pelas questões internas decorrentes do processo de crise-mobilização
descrito anteriormente, como pelas pressões externas decorrentes do processo de regulação do
MEC, as reformas institucionais foram se concretizando sob nova estrutura de gestão e novas
67
Jornal Extra Classe. Ano 13 - nº 121. MARÇO de 2008. SINPRO/RS
68
Este termo é utilizado pelo entrevistado no sentido de se aproximar da condição de instituição de direito
público.
133
regras administrativas que buscam maior divulgação das informações na complexa estrutura
multicampi da Universidade Regional da Campanha. Como coloca um entrevistado:
nosso maior desafio hoje, a nossa utopia, é criar e manter uma unidade de
pensamento, não é meu campus, é um dos oito campi da URCAMP, não são oito
universidades; assim, precisamos regras claras e valores únicos para todos... definir
percentuais fixos de distribuição de receita é um exemplo”(EURCAMP3)
De uma forma ou de outra, pode-se destacar, nesta altura da análise que pese as
tentativas realizadas na busca de reformas institucionais profundas que refletissem mudanças
nos processos institucionais, seja de planejamento ou de decisão, avanços na construção de
processos que aumentassem a densidade institucional, pouco se avançou no sentido da
construção de um processo de integração, sendo este limitado, quase que exclusivamente as
questões orçamentárias.
Retomando a analise do PDI da URCAMP constata-se que no capítulo 2 no relato do
processo histórico de construção da universidade faz-se referência a elaboração da Carta
Consulta do Projeto URCAMP que foi elaborada num período de 3 anos que refletiu um
processo coletivo de três décadas de história institucional. A Carta Consulta e seu conteúdo
proporcionou sustentação política nos primeiros 10 anos e tem se constituído em referencial
interno e externo para todos os encaminhamentos organizacionais (PDI, URCAMP, p.9).
Sublinha-se que ambos os documentos, além do Estatuto e do Regimento Geral da
Universidade, se revestem de particular importância no sentido de que a instituição não
possui, ou não os torna públicos, muitos registros escritos dos seus processos institucionais
principalmente quando se refere às questões de planejamento.
Cabe destacar, igualmente, que no PDI considerado aparecem registros e análise das
potencialidades e limitações do processo de avaliação institucional que operacionalizaram
através de ações concretas as determinações da Carta Consulta quando afirma que o projeto
de universidade inclui “criar mecanismos de constante reavaliação organizacional tendo como
referenciais a co-responsabilidade no processo decisório e a regionalização efetiva” (Carta
Consulta, 1987, p.32).
134
A URCAMP organizou um Plano de Avaliação Institucional de acordo com a
legislação vigente em 1993 que foi executado em 4 edições nos anos de 1993, 1994, 1995 e
1996 dentro de orientações gerais pré-estabelecidas mas com espaços abertos na busca de
elaboração de consensos e mecanismos de participação.
O processo avaliativo foi interrompido no período compreendido entre 1997 e 2001
como conseqüência das mudanças no processo de avaliação externa e sua normatização bem
como pela fragilidade do processo interno ainda incipiente, a realidade institucional em
processo de implantação e os condicionantes externos de ordem econômica que limitaram a
sobrevivência institucional.
No ano de 2003 o processo foi retomado com a 5 edição do Plano de Avaliação
Institucional que aconteceu de forma restrita somente no sentido de atender as exigências da
avaliação externa. Neste período houve uma grande concentração de esforços para mobilizar a
comunidade acadêmica para um novo processo eleitoral de escolha de um novo Reitor.
Superando um período de permanência de mais de 20 anos do mesmo gestor que se
reelegia sucessivamente, novos tempos vão se delineando através de promessas de uma gestão
participativa e colegiada e que, a luz das novas perspectivas legais do SINAES conferem
novos significados ao processo de avaliação.
Por sua vez, a UNISC elaborou o seu primeiro PDI no ano de 1992, assim o PDI I
correspondeu ao período de 1993-1997, o PDI II foi elaborado para o período de 1997-2001 e
o PDI III (com seus devidos ajustes) teve validade entre os anos de 2002-2006. Quando da
elaboração do PDI III não havia clareza nem regras que explicitassem a forma que o
documento deveria ter, por este motivo, ele foi formatado muito detalhadamente compondo
um total de cinco volumes que incluíam todos os documentos comprobatórios dos aspectos
considerados.
O discurso institucional na UNISC no momento de construção do PDI IV
correspondente ao período compreendido entre 2007-2011 foi marcado por uma crise
institucional causada pela diminuição da expansão do número de alunos decorrente do
estabelecimento de outras instituições na região, que oferecem cursos de qualidade
questionável e a preços mais reduzidos. Neste período também houve um processo de eleição
135
de nova reitoria marcado pela continuidade do grupo que dirige a instituição que se mantêm
embora com a mudança do Reitor.
A grande mudança que houve do ponto de vista econômico é a concorrência. Quando
éramos únicos em nossa região, e em pleno processo de crescimento, não éramos tão
tensionados no dia a dia a pensar um gerenciamento que tivesse o elemento econômico
tão presente”. E continua mais adiante “havia, uma preocupação com o econômico que
não era o forte porque estávamos numa situação economicamente mais tranqüila,
então, não é que mudou o viés, mas a urgência mudou [...] a crise bateu na nossa
porta[...]” completando ainda,“na verdade a gerência é uma conseqüência dos fatos,
pessoalmente eu não vejo assim uma guinada ideológica nem nessa reitoria nem no
ambiente geral da casa, mas as urgências econômicas são de tal monta que se
precisava aperfeiçoar mais ainda controles administrativos tentar também de certo
modo aprender as artimanhas do mercado, para usar uma expressão que tenha a ver
com astúcia, com esperteza, com agilidade, com os mecanismos que são próprios do
mercado de concorrência” (EUNISC3).
A fala do entrevistado ilustra o contexto que, no ano de 2007, provocou um processo
de ajuste orçamentário e financeiro que, ao ser implementado, implicou num conjunto de
medidas dentre as quais cabe destacar o desconto salarial de 10% do salário dos professores.
Nós na UNISC passamos por decisões difíceis como a doação de salário nos anos
noventa e a redução salarial neste ano, em ambos os casos o que venceu foi o projeto
institucional[...]” (EUNISC1).
Este processo de ajuste institucional, assim como o da URCAMP, também trouxe
consigo um aumento da participação que incluiu uma grande assembléia de professores para
votação do desconto salarial permanente resultado do ajuste orçamentário anteriormente
mencionado.
A crise não interferiu consideravelmente no processo de mobilização que estava em
curso quando da realização do diagnóstico da graduação. No dia 27 de março de 2008 o
Conselho Universitário aprova um documento denominado de Projeto Político-Pedagógico
Institucional, de caráter mais permanente e que tem função de delinear as políticas
institucionais em todas as dimensões do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão.
Consta no PPI que as políticas de planejamento institucional se orientam pelas
diretrizes de efetividade e integração entre o PPI, PDI dos Planos Gerais e do planejamento
das unidades. Cabe destacar que o PG é anual e tem como objetivo operacionalizar através de
ações concretas as diretrizes determinadas nos documentos anteriores. Neste sentido, o
136
documento estabelece também a busca de aperfeiçoamento dos sistemas informatizados
necessários ao planejamento.
Cabe destacar ainda que a UNISC tem um programa de avaliação institucional
denominado PAIUNISC que iniciou em 1994 na sua primeira fase.No ano de 2004 a
instituição elaborou o PAIUNISC na sua fase III (2004-2006) a partir das discussões da
comunidade interna em consonância com as diretrizes propostas pelo SINAES.
Finalmente, na Universidade de Caxias do Sul o discurso institucional no período de
elaboração do PDI foi marcado pela mudança institucional que incluiu alterações no grupo
diretor e a entrada de um novo Reitor, que trouxe promessas de alterações nos processos de
gestão incluindo maior participação e democracia. As marcas do seu discurso podem ser
ilustradas com os compromissos de gestão que ainda hoje podem ser encontrados na gina
principal da instituição.
69
Dentre o repertório de intenções expresso na Carta de intenções elaborada pelo
candidato a Reitor da UCS, anteriormente mencionada, cabe destacar o chamamento à
promoção harmônica de mudanças em consonância com o Conselho Diretor da Fundação
Universidade de Caxias do Sul, FUCS
70
, visando à priorização dos fins da Universidade tanto
no ensino, quanto na pesquisa e na extensão. As diretrizes de gestão institucional apelam para
a melhor definição do papel de complementaridade entre as atribuições da Universidade e da
FUCS. Redefinição e regulamentação definitiva do processo de escolha do Reitor.
Implantação de um novo modelo de gestão mais horizontal com ênfase no trabalho coletivo e
de formação de equipes, bem como na distribuição das responsabilidades, observados os
critérios de competência científica e pedagógica. Manter o processo de planejamento
estratégico da Instituição, destacando o planejamento acadêmico e o planejamento da gestão,
de forma distinta, mas integrada em todas as unidades, visando principalmente o
fortalecimento do modelo comunitário e regional.
A Universidade de Caxias do Sul inicia o PDI correspondente ao período 2007-2011
com uma avaliação crítica da versão anterior, ou seja, do PDI 2002-2006 salientando a
69
http://www.ucs.br/ucs/institucional/cartacompromisso
70
Cabe destacar que na estrutura institucional o Conselho Diretor da FUCS tem poder decisório inclusive acima
das instâncias decisórias colegiadas da universidade. No caso da eleição de Reitor cabe a este conselho a escolha
do nome a partir de uma lista previamente encaminhada. No corrente ano encontramos exemplo específico no
qual a consulta foi feita mas o Conselho Diretor não escolheu o nome que estava no primeiro lugar.
137
implantação do Programa de Desenvolvimento Institucional em 2002 que diagnosticou as
forças e franquezas institucionais com objetivo de corrigir e aperfeiçoar os programas, a
gestão, e os fundamentos das ações institucionais(PDI 2007-2011, p.14). um destaque
especial no sentido de registrar um avanço na democratização das relações institucionais com
a criação de outros espaços de interlocução como diversos fóruns de Diretores de Campi,
Núcleos Universitários e Centros, além do Fórum das Licenciaturas, o de Coordenadores e
Orientadores de Cursos de Graduação e o Fórum de Coordenadores de Cursos Seqüenciais
que foram instalados em 2003 e 2004.
Destaca-se também o fato de que a UCS também construiu o seu Projeto Pedagógico
Institucional que define os pressupostos epistemológicos e pedagógicos nas dimensões de
ensino, pesquisa e extensão. O PPI deve, portanto, ser instrumento de gestão das atividades de
ensino, pesquisa e extensão, constantemente examinado e redefinido, como forma de
acompanhar a velocidade de produção/disseminação do conhecimento.
No ano de 2002 foi iniciado um processo de escuta das comunidades interna e externa
e em 2004 se consolida como um Plano de Avaliação Institucional que tem como objetivo
elaborar um “diagnóstico fidedigno... das fragilidades e potencialidades institucionais” (PDI,
p.17) que servirá para a elaboração do PDI 2007-2011 após a retomada do planejamento
estratégico.
Consta no item 2.6 do PDI em estudo que as políticas de gestão na UCS devem estar
perfeitamente definidas e embasadas nos pressupostos de seu propósito institucional” (p.70).
Neste sentido o planejamento institucional adquire importância cada vez maior. A história do
Planejamento Estratégico (PE) é impulsionada no ano de 1995 quando passa a ser considerada
como uma ferramenta de gestão descentralizada, no sentido de permitir ampla participação e a
supervisão, acompanhamento, controle e avaliação da execução das ações nas unidades. O PE
orienta a definição do Plano de Desenvolvimento Institucional para o período. Posteriormente
segue a elaboração do Plano de Gestão alia as questões relativas aos princípios, objetivos e
projetos com o horizonte orçamentário da instituição. Assim, é formatado o Plano Anual e a
proposta orçamentária que é encaminhada ao Conselho Universitário que, se aprovado o
remete ao Conselho Diretor da Fundação, instância decisória máxima responsável pela
aprovação.
138
Retomando o Plano de Desenvolvimento Institucional da URCAMP (2005-2009), o
mesmo foi elaborado no período imediatamente posterior à crise institucional do ano 2003-
2004, responsável por uma ampla mobilização que trouxe como resultado uma reestruturação
importante da universidade. Neste período foi elaborada a Missão e a Visão além dos
objetivos institucionais, que são apresentados no documento e que demonstram a preocupação
com a manutenção dos requisitos básicos, os pilares fundamentais da condição universitária,
ou seja, o ensino, a pesquisa e a extensão. Consta também que a missão institucional que
assinala a preocupação com a difusão do conhecimento e a
Formação de cidadãos comprometidos com o desenvolvimento regional, com uma
percepção global da sociedade nas dimensões políticas, sociais, econômicas e
culturais... (PDI, URCAMP, p.12)
Esta instituição se declara como uma universidade regional e comunitária com
estrutura multicampi comprometida com o conhecimento e com a realidade do homem da
Região da Campanha e Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul, no sentido de difundir e
concretizar os seguintes princípios permanentes de gestão: valorização do homem, primazia
do bem comum, educação transformadora seja na compreensão quanto na intervenção da
realidade, pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas buscando a integração entre os
compromissos universais e a vocação regional (PDI, URCAMP, p.12).
A URCAMP define como seu objetivo geral “Promover a formação do cidadão,
através do ensino, da pesquisa e da extensão, comprometido com o desenvolvimento regional
e com a transformação da sociedade em todas as suas dimensões”. O documento reforça
estas afirmações por meio de um conjunto de metas institucionais dentre as que se destaca a
promoção de políticas de gerenciamento através de um modelo de gestão participativa que
auxilie na construção da identidade institucional (PDI, URCAMP, p.17).
No caso da UNISC os PDIs 2002-2006 e o PDI 2007-2011 afirmam que a instituição
pretende ser reconhecida nacionalmente por sua atuação como Universidade Comunitária por
meio das suas contribuições decisivas para o desenvolvimento das regiões em que atua.
Sublimam ainda os documentos mencionados que esse reconhecimento será legitimado por
sua alta qualidade acadêmica, da produção intelectual, da relevância social, do
profissionalismo da gestão e pelas propostas de solução para as demandas e questões da
comunidade regional e da sociedade brasileira” (PDI, UNISC, 2002-2006, p.25).
139
Ao analisar os compromissos institucionais desta universidade ficam mais claramente
definidos e explicitados em varias situações do texto os valores integradores ao se destacar o
compromisso com a qualidade universitária, que se expressa por meio das políticas de ensino,
pesquisa e extensão assentadas no programa de avaliação institucional e no de capacitação
docente planos de carreira dos docentes e dos técnico-administrativos.
O segundo compromisso é com a democracia, materializada pela escolha direta de
seus gestores, pela prática participativa e pelas relações com a sociedade.
No caso do compromisso com a comunidade regional o PDI II afirma: Se expressa
pela política de participação ativa no processo de desenvolvimento social, cultural e
econômico da região, traduzida por ações institucionais definidas a partir das demandas e
necessidades da comunidade” (PDI, UNISC, 2002-2006, p.25).
Finalmente, destaca-se o compromisso com a manutenção das suas características
comunitárias que se relacionam com a gestão democrática, transparência administrativo-
financeira e a inserção na comunidade.
Cabe destacar que estes compromissos encontram-se contemplados explicitamente na
Visão Institucional, o desejo para um futuro próximo e que se adapta às intenções
estratégicas, a saber Ser uma Universidade comunitária e democrática, reconhecida por
relevantes contribuições ao desenvolvimento da região e do pais, capaz de responder criativa
e agilmente às transformações do contexto educacional” (PPI, p.26)
O PDI da UCS elaborado para o período 2007-2011 inclui o seu Projeto Pedagógico
Institucional e destaca que a visão da instituição é presença indispensável no processo de
desenvolvimento sustentado do conhecimento” (PDI, p.11), e sua missão afirma que a UCS se
compromete em “Produzir, sistematizar e tornar o conhecimento acessível à sociedade,
contribuindo principalmente para o desenvolvimento sustentável da região” (PDI, UCS,
p.12).
Do conjunto de onze princípios elencados no PDI, a questão comunitária encontra-se
expressa na oitava posição onde consta que A Universidade buscará consolidar seu caráter
comunitário, preservando a necessária autonomia no exercício da sua missão”. Em relação à
gestão democrática acrescenta a Universidade promoverá a vivência democrática buscando
140
a participação da comunidade nos processos de planejamento e gestão”. Finalmente, o
último dos onze princípios trazidos pelo documento aponta a necessidade de preservar a
necessária autonomia didático-científica, administrativa, disciplinar e de gestão financeira e
patrimonial, para assegurar o cumprimento de sua missão” (PDI, UCS, p.13).
Completando a lista de princípios encontramos os seguintes: ética e responsabilidade
social, respeito à pessoa, qualificação institucional, prevalência do interesse institucional,
inovação, integração acadêmica, inserção local, regional, nacional e internacional e
compromisso com o meio ambiente (PDI, UCS, p.12).
Embora a questão comunitária encontra-se numa posição quase secundária no elenco
dos princípios, ela é retomada ao se definir a inserção regional, onde o caráter público a ela
atribuído adiciona responsabilidades e compromissos com a sociedade local e regional que a
instituiu, para além dos compromissos com a produção e disseminação do conhecimento que
é próprio das universidades. Colocações estas reforçadas a partir das seguintes afirmações:
“Embora seja suposto que todas as universidades devam voltar-se para o exame do
seu entorno, com o objetivo de aportar contributos em sua esfera de competência,
para as universidades comunitárias isso integra o conjunto de prioridades maiores e
assume lugar de destaque no processo de planejamento e desenvolvimento” (PDI,
UCS, p.38
).
Assim, na tensão quimérica entre o possível e o desejável, da redução do espaço de
ação política decorrente das pressões internas e externas, passaremos a analisar as instâncias
de gestão, suas formas de acesso ao poder em cada uma das universidades objeto do estudo,
bem como as questões contingentes à mesma relacionadas com a estrutura organizacional e a
forma de escolha dos representantes.
No caso deste tipo de instituições denominadas de universidades comunitárias chama-
se à atenção para a complexidade do processo decisório nestas instituições estudadas, onde
dita complexidade encontra-se contingenciada pela própria estrutura administrativa, pelos
tipos de decisões que devem ou podem ser tomadas além de outros fatores intervenientes que
podem influenciar o processo e que tem a ver com as determinações legais, as dimensões
estruturais, principalmente no que se relaciona com a difusão de informações e a ação dos
grupos de pressão. Assim, no ambiente externo refere-se a todos os mecanismos regulatórios
encaminhados pelo Ministério de Educação que determinam o tipo e a direção de processos
141
de tomada de decisão, mas, e ao mesmo tempo, condicionam processos institucionais no
sentido de definir prazos e espectro de possibilidades na busca de soluções.
A seguir busca-se trazer dados referentes às diversas instâncias da estrutura
organizacional das três IES estudadas, URCAMP, UNISC e UCS respectivamente.
A URCAMP se estrutura em três níveis ou instâncias que correspondem à
Administração Básica, Intermediária ou da Administração acadêmica setorial e Superior
conforme discriminado no Quadro 11.
Na administração superior o Conselho Universitário e as respectivas Câmaras
exercem funções deliberativas e a Reitoria as funções executivas coordenando e
supervisionando todas as atividades da Universidade (PDI, URCAMP, p.22).
Cabe destacar que a reforma institucional provocada pela necessidade de
simplificação da estrutura administrativa decorrente da crise de 2003-2004 implicou uma
alteração na denominação das instâncias componentes da Administração Superior que
deixaram de ser denominadas de Vice-reitorias e passaram a ser chamadas de Pró-reitorias,
houve também uma integração entre a Vice-reitoria de Graduação e Pesquisa, Extensão e Pós-
graduação que passaram a constituir a Pró-Reitoria Acadêmica. Assim, atualmente a Reitoria,
compreende uma Pró-reitoria Acadêmica e uma Pró-reitoria de Administração. A esta
estrutura estão ligadas a Coordenadoria de Extensão e Pesquisa, a Coordenadoria de Pós-
graduação, e as Pró-reitorias de campi Universitários. O Gabinete da Reitoria conta também
com a Procuradoria Jurídica e assessorias técnicas
.
Os cursos são integrados em seis centros que constituem a administração
intermediária e que exercem as funções básicas de ensino, pesquisa e extensão. O conselho de
Centro é a instância deliberativa e o Diretor de Centro exerce as funções executivas.
Finalmente, na administração básica encontramos o Colegiado de Curso com funções
deliberativas e o Coordenador de Curso com funções executivas. No anexo 4 encontramos
quadro que discrimina a distribuição dos cursos nos diferentes campi mostrando assim, a
particularidade desta instituição na ação territorial pela manutenção de quadros permanentes
de funcionários e professores.
142
ESTRUTURAS FORMAIS
INSTÂNCIAS
Deliberativas Executivas
ESTRUTURAS
INFORMAIS
BÁSICA
Colegiado de Curso Coordenador de Curso
INTERMEDIÁRIA
CONSELHO DE
CENTRO
Diretor de Centro
Administração
SUPERIOR
CONSELHO
UNIVERSITÁRIO
Câmara de política
Acadêmica.
72
Câmara de Política
Institucional.
7374
Reitoria:
Reitor, Pró-Reitores
dos Campi
Universitários, Pró-
Reitoria
75
Acadêmica e
Pró-Reitoria de
Administração
76
que
coordenam as
atividades fins e
meio
77
Não possui
71
COMISSÕES
78
Quadro 11: As instâncias decisórias na URCAMP
Fonte: PDI URCAMP 2005-2009. Regimento Geral. Título III da Administração da
Universidade
As instâncias deliberativas da URCAMP são: o Colegiado de Curso que corresponde a
Administração Básica, o Conselho de Centro no nível intermediário e no nível superior o
Conselho Superior que é composto pelas Câmaras de Política Acadêmica e de Política
Institucional. O quadro 12 a seguir detalha a composição de cada um dos veis de
deliberação.
71
Cabe o esclarecimento que nos documentos e entrevistas analisados não aparece nenhum tipo de registro a
esse respeito, porém sabe-se da existência do Fórum das Licenciaturas.
72
mara de Política Acadêmica surge da fusão das Câmaras de Ensino e Câmara de Pesquisa, Pós-Graduação e
Relações Comunitárias a partir da reforma administrativa em vigor e documentada pelo Regimento Geral.
73
Os membros das maras que não tem cargos executivos o escolhidos por eleição convocada pelo Reitor no
caso da representação dos professores e coordenadores de curso.
74
A representação dos coordenadores de curso é no máximo de 10 assim distribuídos: três para sede- Bagé e um
para cada campi escolhidos entre todos os coordenadores
75
Os titulares das Pró-Reitorias são designados pelo Reitor e correspondem a cargos da sua confiança.
76
A partir da última reforma administrativa são extintas as 3 Vice-Reitorias e substituídas por duas Pró-
Reitorias.
77
Integram a reitoria também o Gabinete da Reitoria, as Assessorias que prestam serviços ao Reitor em caráter
consultivo e opinativo e a Procuradora Jurídica que pode também auxiliar a Mantenedora caso necessário.
78
As Câmaras podem instituir comissões temporárias ou permanentes para tratar de assuntos específicos.
143
INSTÂNCIAS
ÓRGÃOS
DELIBERATIVOS
COMPOSIÇÃO
Básica Colegiado de Curso
79
Coordenador do curso no campus sede (que o preside),
por representantes do curso dos campi universitários na
forma do artigo 13, um representante de cada centro
que ministra disciplina não específica do curso, decano
do curso no campus sede, representante discente.
Intermediária Conselho de Centro
80
Diretor do Centro que o preside, conta com a
representação dos Coordenadores de curso conforme
artigo 13 do Estatuto (em número de 10), dois
representantes dos professores, o decano do centro,
representação discente.
Conselho Universitário
83
Câmara de Política Institucional
Câmara de Ensino
ADMINISTRAÇÃO
Superior
81
82
Câmara de Política
Acadêmica
84
Pró-Reitor Acadêmico (que a preside),
Pró-Reitor de Administração, Diretores de Centro,
Pró-Reitores dos campi universitários,
Coordenador de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão,
representantes dos Coordenadores de cursos de
graduação
85
,
Superintendentes Acadêmicos dos campi
universitários,
três representantes dos professores,
representação discente (corresponde a 10% da
totalidade dos demais membros da Câmara)
Quadro 12: Composição dos órgãos Deliberativos da URCAMP.
Fonte: PDI URCAMP 2005-2009. Regimento Geral. Estatuto Título III da Administração da
universidade.
Destaca-se que toda a estrutura organizacional bem como as normas e documentos que
orientam formalmente as ações institucionais estão sendo revistas e adaptadas à estrutura
organizacional reformulada a partir das exigências ou necessidades de adaptação decorrentes
do processo de federalização.
Por outro lado, a UNISC se estrutura em dois níveis administrativos. A administração
superior inclui a Reitoria como órgão executivo e os Conselhos de natureza deliberativa.
79
O Colegiado de curso destina-se ao planejamento, acompanhamento e avaliação do ensino associado à
pesquisa e extensão. Os colegiados de curso dos cursos sediados em Basão sediados neste curso.No caso de
cursos sediados em outros lugares são sediados no campi onde funciona o curso mais antigo.
80
O Conselho de Centro é órgão normativo e consultivo.
81
Cabe ao Conselho Universitário apreciar proposta de destituição do Reitor e Vice-Reitor, por representação da
Câmara de Política Institucional decidida pelo voto secreto de dois terços de seus membros.
82
Tanto o Reitor quanto o Pró-Reitor de Ensino pode tomar decisões ad referendum” da respectiva instância
Conselho Universitário ou Câmara de Ensino que deverá ratificar (ou não) o mesmo.
83
O Conselho Universitário é o órgão de jurisdição superior da Universidade, responsável pela política geral da
instituição e pela supervisão das atividades fins e meio com função deliberativa, normativa, consultiva e recursal.
84
As atribuições da Câmara de Política Acadêmica é de ser órgão deliberativo, normativo, consultivo e recursal
em matéria relativa ao ensino de Graduação e Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão.
85
A representação dos coordenadores de curso é no máximo de 10 assim distribuídos: três para sede - Bagé e um
para cada campi escolhidos entre todos os coordenadores
144
A Administração Básica conta com 17 departamentos nos quais são lotados os
diversos cursos e também os professores. Neste encontramos o colegiado de departamento
como órgão deliberativo e a chefia de departamento com funções executivas.
ESTRUTURAS FORMAIS
INSTÂNCIAS
Deliberativas Executivas
ESTRUTURAS
INFORMAIS
BÁSICA
Colegiado de
Departamento
86
Chefia de
Departamento
INTERMEDIÁRIA
Não possui Não possui
Administração
SUPERIOR
CONSELHOS
Conselho de
Graduação
Conselho de
Pesquisa, Pós-
Graduação e
Relações
Comunitárias.
Conselho
Universitário
87
REITORIA:
Composição:
Reitor, Vice-Reitor, 5
Pró-Reitores
Coordenadores e
Chefia de Gabinete.
Fórum das
Licenciaturas
Fórum Universitário
(2000)
Fórum de
Planejamento (2000)
Reunião Geral-
comunidade
acadêmica (2003)
COMISSÕES
88
Quadro 13: As instâncias decisórias na UNISC.
Fonte: PDI 2002-2006 e 2007-2011 e Estatuto Geral e Regimento da Universidade.
Os diversos Conselhos (de Graduação e de Pesquisa, Extensão e Pós Graduação) têm
funções deliberativas em áreas restritas correspondentes às suas funções e o Conselho
Universitário se constitui como instância máxima. O detalhamento da composição de todos os
Conselhos encontra-se no anexo 7.
O Conselho Universitário, com função deliberativa, se constitui em instância máxima
da UNISC sendo composto por 50 representantes entre os quais além do Reitor que o preside
e o Vice-Reitor, encontramos os 17 Chefes de Departamento e oito Coordenadores de Curso
bem como um representante para cada três Programas de Pós-Graduação stricto sensu. As
Associações de Professores e Funcionários (ADUNISC e AFUNISC) elegem três
86
Nos Departamentos encontram-se os diversos cursos que são geridos pelos Coordenadores de Curso
87
A representação da Associação dos professores no Conselho Universitário corresponde a três titulares e dois
suplentes
88
As Comissões podem ser permanentes ou temporárias: Existem duas Comissões permanentes de concursos e
de Avaliação (CPA) nas quais a Associação também tem um representante.Nas Comissões temporárias: como no
caso da Comissão do processo eleitoral para o Reitor e Vice o número de representantes é de três ale de um
representante na Comissão Eleitoral Central. A comissão de Avaliação do Desempenho na Docência (CADD) 4
representantes e 4 suplentes. Comissão de Estudos sobre a Estrutura um representante e um suplente
145
representantes cada uma. O Diretório Central dos Estudantes indica representantes dos alunos
na proporção de até 1/5 do total dos Conselheiros.
O Conselho de Graduação é o órgão responsável pela deliberação em assuntos da
graduação e é composto pelo Pró-Reitor de Graduação que o preside e pelos Coordenadores
da Pró-Reitoria de Graduação bem como por todos os Coordenadores de Curso, três Chefes de
Departamento indicados pelo CONPPEX, coordenadores dos campi fora de sede, e por
representantes discentes na mesma proporção do conselho anterior. Cabe destacar que de
acordo com o artigo 10 do estatuto da Universidade este Conselho é composto pela maioria
absoluta, por docentes. Cabe a ele propor as políticas referentes a esta dimensão e fixar as
normas a elas pertinentes (PPI, 2008, p.33).
O Conselho de Pesquisa e Extensão e Relações Comunitárias é composto pelos Pró-
Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação bem como os Coordenadores das respectivas Pró-
Reitorias.O incluem também todos os 17 Chefes de Departamento, Coordenadores dos
Programas de Pós-Graduação (Mestrados e Doutorados), três Coordenadores de Curso
indicados pelo CONGRAD, Coordenador do Centro de Educação Profissional,
Coordenadores dos campi fora de sede e do Comitê de Ética em Pesquisa bem como os
representantes discentes . Este Conselho delibera questões pertinentes a pesquisa, extensão e
relações comunitárias bem como é responsável pela proposta de políticas institucionais nestas
dimensões bem como fixar as normas pertinentes (PPI, 2008, p.33).
Na Administração Básica, departamentos e cursos, as decisões são tomadas nos
Colegiados de Departamento e de Curso respectivamente.
As instâncias aqui denominadas de informais, criadas por encaminhamentos da
Reitoria, contribuem principalmente na difusão de informações e de esclarecimentos de
ordem mais geral. Elas são denominadas de informais no sentido de que sua regulamentação
não consta nos documentos oficiais como instância deliberativa, não cumprem uma
periodicidade rígida e se constituem como fóruns informativos com pouco espaço para
questionamentos.
As comissões na UNISC têm função de levantar informações e realizar estudos
propositivos em assuntos específicos com propostas e encaminhamentos que serão
146
submetidos posteriormente as instâncias decisórias correspondentes. De forma geral, as
comissões mantêm estrutura semelhante no sentido de ter representação paritária da
ADUNISC, AFUNISC, DCE e da Reitoria.
A UNISC apresenta uma instância recentemente reconhecida nos seus documentos,
mas que funcionava na prática algum tempo que é o Colegiado da Reitoria e é composto
pelo Reitor, Vice-Reitor, todos os Pró-Reitores e assessores que se reúnem semanalmente
com objetivo de analisar assuntos relevantes para a instituição e assessorar o Reitor nas suas
decisões bem como construir a agenda ou pauta decisória que deverá tramitar nas outras
instâncias deliberativas.
Cabe destacar que esta instituição adota um sistema de rodízio de cursos nos seus
diversos campi, ou seja, não existe um quadro permanente de cursos nem uma lotação
específica de professores para esses cursos. Os docentes são lotados nos departamentos
existentes no campus central de Santa Cruz do Sul e se deslocam semanalmente para ministrar
as suas disciplinas. No caso dos Coordenadores de Curso sublinha-se o fato deles
apresentarem carga horária específica para executar as tarefas específicas da coordenação em
cada um dos campi.
O critério de oferta dos cursos, em princípio se rege pela diretriz de duas ofertas
consecutivas ou o atendimento dos requisitos nimos para oferta que se relaciona com um
número mínimo de alunos matriculados. O quadro demonstrativo da oferta de cursos no
presente momento nos diferentes campi encontra-se no anexo 5 exemplificando um dos
modos de ação territorial desta instituição
Finalmente, no caso específico da UCS encontramos a estrutura dividida entre
Administração Superior e Básica.
A Administração Superior corresponde a Reitoria que inclui o Gabinete do Reitor, as
Pró-Reitorias Administrativa e Acadêmica além da Sub-Reitoria responsável pela direção do
Campus dos Vinhedos. A Pró-Reitoria Acadêmica inclui o Pró-Reitor, Pró-Reitor Acadêmico
Adjunto e os Coordenadores de Ensino, de Pesquisa e Pós-Graduação stricto sensu, de
147
Inovação, Desenvolvimento e Extensão, Coordenador Adjunto de Inovação, Desenvolvimento
e Extensão.
89
Cabe destacar a existência de divergências na estrutura que consta nos documentos
oficiais e a apresentada na página da universidade atualmente
90
. Nos documentos como PDI a
Reitoria inclui o Gabinete do Reitor, as Pró-Reitorias de Planejamento e Desenvolvimento
Institucional, de Graduação, de Pós-Graduação e Pesquisa, de Extensão e Relações
Universitárias, a Pró-Reitoria de Administração e a Sub-Reitoria.
ESTRUTURAS FORMAIS
Instâncias
Deliberativos Executivos
ESTRUTURAS
INFORMAIS
Conselho Departamental
Unidades:
Diretor de Unidade
Assembléia do
Departamento
Chefe de
Departamento
Básica
Conselho Consultivo do
Núcleo
Diretor do Núcleo
91
Conselho Universitário l
Administração
Superior
Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão
Reitoria: Reitor e
Vice, 5 Pró-Reitorias,
Sub-Reitoria e
Diretorias dos Campi
e Núcleos.
Fórum de
Coordenadores e
Orientadores dos Cursos
de Graduação
2004
Fórum das Licenciaturas
2003
Fórum de Diretores de
Campi , Núcleos
Universitários e Centros
Comissões
92
Quadro 14: As instâncias decisórias na UCS.
Fonte: PDI UCS 2007-2011, Estatuto e Regimento Geral da Universidade.
A estrutura organizacional da UCS inclui também duas instâncias de Deliberação
Superior denominadas respectivamente pelas siglas de CONSUNI e CEPE que correspondem
ao Conselho Universitário e o Conselho de Pesquisa e Extensão.
89
http://www.ucs.br/ucs/institucional/estruturaeorganizacao. Acesso em: 5 de fevereiro de 2010.
90
Alterações na estrutura foram efetivadas em agosto de 2009.
91
Os Núcleos terão quadro de docentes, técnicos e auxiliares, as instalações e demais recursos necessários à sua
tarefa e os serviços próprios de administração. (art.131 Regimento Geral).
92
As comissões encontram-se regulamentadas no Regimento Geral nos artigos 63 e 71 C
148
O CONSUNI é responsável pela formulação das políticas universitárias nos aspectos
financeiros, administrativos e disciplinar sendo também responsável pela interlocução com o
Conselho Diretor da Mantenedora, a Fundação Caxias do Sul. É presidido pelo Reitor e
integrado pelo Vice-Reitor, pelos Pró-Reitores, Sub-Reitor do Campus dos Vinhedos,
Diretores dos Campi e Núcleos Universitários, Diretores de Unidades e por representantes dos
professores, dos alunos, dos funcionários e da comunidade regional correspondendo a um
total de 33 integrantes.
Destacamos que dentre eles encontram-se representantes dos 11 centros do campus
Central bem como dos três centros do campus de Bento Gonçalves, dos sete núcleos bem
como das duas ( FERV e APESC) mantenedoras que, durante o processo de regionalização, se
integraram a FUCS na forma de comodato por tempo determinado. Outro fato que merece ser
sublinhado é a representação dos professores que não ocorre via Associação dos Docentes da
UCS que participa somente como convidada especial.
O CEPE é o órgão deliberativo no que concerne as questões de ensino, pesquisa e
extensão, sendo formado pelo Reitor que é seu presidente, além do Vice-Reitor, Pró-Reitor
Acadêmico, Pró-Reitor Administrativo, e de representantes dos diversos Centros
correspondendo a um total de 22 representantes.
93
A Administração sica é composta por 11 Centros nos quais estão lotados os cursos
bem como também atividades de pesquisa e extensão. São eles: Centro de Ciências Exatas e
Tecnologia, de Computação e tecnologia da Informação, de Ciências Humanas, de Ciências
Agrárias e Biológicas, de Ciências da Administração, de Ciências Econômicas, Contábeis e de
Comercio Internacional, de Ciências Jurídicas, de Ciências da Saúde, de Ciências da
Comunicação, de Filosofia e Educação e de Artes e Arquitetura, todos estes no campus de
Caxias do Sul.
93
Centros de Ciências Exatas e Tecnologia - CCET, Centro de Ciências Humanas - CECH, Centro de Ciências
da Comunicação - CECC, Centro de Ciências da Saúde - CECS, Centro de Filosofia e Educação - CEFE, Centro
de Artes e Arquitetura - CEAA, Centro de Ciências da Administração - CCAD, Centro de Ciências Econômicas,
Contábeis e de Comércio Internacional - CECI, Centro de Ciências Agrárias e Biológicas - CCAB, Centro de
Ciências Jurídicas - CCJU , Centro de Computação e Tecnologia da Informação - CCTI, Representantes dos
centros do Campus Universitário da Região dos Vinhedos - CARVI: Centro de Ciências Humanas e da
Educação, Centro de Ciências Exatas, da Natureza e Tecnologia, Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Por
outro lado integram este conselho representantes Campus Universitário de Vacaria CAMVA, Representantes
dos Professores Categoria Titular e Adjunto além de um Acadêmico para os Cursos de Graduação.
149
No campus da Região dos Vinhedos três Centros: o de Ciências Humanas e da
Educação, o de Ciências Exatas, da Natureza e Tecnologia e o de Ciências Sociais
Aplicadas.
94
Nos Centros uma instância deliberativa que é o Conselho de Centro e uma
executiva representada pelo Diretor.
Além da descrição da estrutura organizacional que mostra as instâncias encarregadas
do processo de tomada de decisões do ponto de vista formal é importante que se abordem as
questões envolvidas na escolha dos representantes que exercem as funções decisórias. Assim,
a forma de recrutamento dos atores institucionais que exercem o processo de gestão apresenta
diferentes características em cada uma das instituições estudadas.
Assim, na URCAMP, o Reitor e seu vice são escolhidos por eleições diretas do
colégio eleitoral. O colégio eleitoral é composto pela comunidade universitária sendo que o
peso de cada categoria é corresponde a: Corpo docente: 70%, Corpo administrativo:
20%,Corpo discente: 10%. Por outro lado, a eleição de diretor de centro e coordenador de
curso se dará por lista sêxtupla elaborada pelo colégio eleitoral e encaminhada ao Reitor que
escolhe e efetua a indicação. O provimento dos demais cargos de gestão ocorre por indicação
dos gestores responsáveis da instância correspondente. A regulamentação do processo de
escolha ou Regimento eleitoral está em processo de formalização como conseqüência das
mudanças estruturais promovidas recentemente.
Na UNISC ocorre eleição direta tanto para Administração Superior (Reitor e Vice)
quanto na administração básica (Chefes de Departamento, Coordenações de Curso e
Coordenações de Programas de Pós Graduação - Mestrados e Doutorados) regulamentada por
Regimento eleitoral permanente embora sujeito as adaptações necessárias em cada eleição. O
mandato do Reitor e seu Vice é de quatro anos (sendo possível uma recondução) e o dos
componentes da Administração Básica é de dois anos (sendo possível duas reconduções).
A UCS apresenta um processo de eleição indireta com a constituição de lista tríplice
através de consulta a comunidade acadêmica e posteriormente encaminhada ao Conselho
Diretor da Mantenedora (FUCS) que decide o nome do Reitor. Atualmente foi elaborado um
94
Cabe destacar que nos núcleos há principalmente atividades de ensino.
150
Regimento Eleitoral que foi divulgado no intuito de orientar o processo em andamento. Estes
encaminhamentos se constituem em exemplo específico das relações mantenedora-mantida
com controle externo a Universidade. Nos outros níveis institucionais uma combinação do
processo de escolha direta, indicação e formação de listas tríplice conforme explicitado no
anexo 9
95
.
Destaca-se que embora estruturalmente apareçam várias instâncias decisórias o
controle externo intenso exercido pelo Conselho Diretor da FUCS impõe processos decisórios
muito centralizadores cristalizados ao longo do período de gestão do reitor que ficou no cargo
por quase 15 anos. Por outro lado, neste período, a instituição atinge um tamanho que a coloca
entre as maiores do Estado com quase 36.000 alunos, se regionaliza aumentando a sua área de
abrangência fatores estes que aliados às dificuldades de divulgação de informações, a falta de
regras claras e a baixa densidade institucional, afetam a forma como a instituição é percebida
pela comunidade acadêmica que tem dificuldade em considerá-la como comunitária.
Sintetizando, o processo de tomada de decisões institucionais inicia na Reitoria, que
de forma colegiada seleciona as pautas e encaminhamentos em reuniões periódicas e as
encaminha as instâncias colegiadas correspondentes. Os Colegiados funcionam com
frequência determinada regimentalmente, com quoruns mínimos de metade mais um dos
componentes e decidem por votação de maioria simples dos presentes com votação aberta ou
fechada conforme o assunto tratado. Os recursos cabem ao Conselho Universitário (ou com
denominações equivalestes) que toma posição final e realiza os devidos encaminhamentos.
95
Destacamos que conforme o conforme os documentos analisados anteriormente a atual reforma institucional,
os representantes no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão que correspondem as unidades administrativas
são eleitos pelo Conselho de Unidade dentre seus membros, por dois anos, permitida uma recondução. Por outro
lado, os representantes dos professores serão eleitos por seus pares, observados os critérios de qualificação
científica e de experiência universitária por dois anos sendo permitida uma recondução sendo indicado um titular
e um suplente para cada categoria do quadro de carreira docente. O Diretor de Unidade é escolhido pelo Reitor a
partir de lista tríplice elaborada pelos professores lotados nos Departamentos que a integram, pelos alunos
regularmente matriculados em cursos que conferem grau e diploma vinculados a unidade e pelos funcionários
lotados na Unidade e efetivos na instituição por meio de votação secreta.
151
PARTE 3:
O intuito desta parte do trabalho relaciona-se com aspectos decorrentes do processo
comparativo das três instituições estudadas com base na articulação entre os conceitos da
teoria neoinstitucionalista, do discurso político e dos autores que auxiliaram na compreensão
da estrutura dos complexos processos institucionais.
Partindo da metáfora de que o modelo comunitário é quimérico na sua essência, as
reflexões encaminhadas a seguir têm como objetivo colocar em evidência aspectos que
caracterizam as tensões a que está submetido.
Por que encaminhamentos conclusivos?
Muitos, senão todos os textos produzidos sobre o tema foram lidos e analisados, deste
processo foi se materializando a idéia de que a discussão sobre o tema atende a aspectos
recorrentes construindo a noção de que nada mais se tinha a dizer ao respeito.
Ao abordar as relações entre mantenedora-mantida, a ação territorial, e a gestão
pretende-se mostrar novos subsídios ao significado de ser comunitária. Dito de outra forma se
pretende alimentar a reflexão a respeito dos elementos que podem (riam) se constituir em
princípios integradores da identidade institucional. Dito de outra forma, pretende-se alimentar
a reflexão a respeito dos elementos que se reconhece como fundantes, os princípios
integradores da identidade institucional, cotejando-os com circunstâncias históricas que
desenharam os conjuntos possíveis de serem constituídos em cada instituição, definindo-se aí,
relações que aprimoram ou fazem sucumbir algumas das idéias sustentadoras do modelo
comunitário de instituições de educação superior.
152
10 ENCAMINHAMENTOS CONCLUSIVOS
As transformações do sistema brasileiro de Educação Superior nas últimas décadas
revelaram um avanço importante das instituições acadêmicas de caráter privado, com
características empresariais. Dados do Censo do Inep nos mostram que no ano de 1995 o
sistema brasileiro estava composto por 23,5% de instituições públicas e 75,5% de instituições
privadas. Esta configuração acentua-se como marcadamente privatista no final do governo de
Fernando Henrique Cardoso quando nele encontramos 11,9% de IES públicas e 88,1% de IES
privadas. Com algumas variações esta tendência se mantém e no ano de 2008 o sistema é
composto por 10,48% de IES públicas e 89,52 IES privadas, mas a partir do segundo mandato
do Governo Lula diversas políticas de apoio a expansão do sistema público foram sendo
formuladas e implementadas.
Segundo dados do Censo da Educação Superior do INEP de 2008, no Estado do Rio
Grande do Sul o sistema é composto por 99 IES das quais 10 são públicas (nove federais e um
estadual) e 89 particulares. Das 99 IES 18 são universidades, 6 centros universitários, 72
faculdades e três CEFeT. Por outro lado, das 89 privadas 11 são universidades, seis centros
universitários e 72 faculdades. Da mesma forma, das 89 privadas 52 são particulares e 37
comunitárias, confessionais ou filantrópicas das quais 11 são universidade, cinco centros
universitários e 21 faculdades.
No Estado do Rio Grande do Sul a ampliação do sistema público de Educação
Superior e sua distribuição territorial com uma interiorização marcante se constitui em mais
um fator de crise das comunitárias no sentido da disputa por alunos. Dentre os programas
implementados encontramos o Reuni no qual foi firmado um acordo de cooperação técnica
entre a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas
(UFPel) para criação da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA, na metade sul, com o
intuito de promover o desenvolvimento regional desta parte do estado tradicionalmente
estagnada economicamente.
Em relação à expansão da formação profissional do Reuni a oferta de cursos
tecnológicos de duração de até três anos aumentou consideravelmente neste ano seja pela
oferta das instituições federais existentes ou pelos Ifets criados recentemente. A título
ilustrativo o anexo 6 apresenta um quadro que descreve a distribuição dos pólos/ núcleos
153
decorrentes da ampliação do sistema público de educação superior e tecnológica do Rio
Grande do Sul e que pela sua localização se constituem em mais um fator de disputa e pressão
para algumas das IES Comunitárias.
No Estado, a constituição do Sistema Comunitário, uma das marcas regionais, se
caracteriza por incluir universidades e centros universitários de orientação laica ou
confessional, localizados tanto no interior quanto na capital. Estas instituições podem
apresentar modalidades de ensino presencial ou não presencial e se diferenciam ainda por
serem mantidas por associações ou fundações de direito privado.
Este conjunto de IES configura um campo institucional, o das IES de direito privado
sem fins lucrativos e comunitárias, pelo fato de apresentarem semelhanças nos seus princípios
integradores, na suas estruturas e nas práticas
96
.
Neste campo as comunitárias em sentido estrito se encontram numa posição central, na
medida em que pelos seus princípios institucionais tem melhores condições de operacionalizar
a característica básica do campo que se refere à ausência de fins lucrativos e a adequação à
categoria de público-não-estatal.
Em posição periférica do campo podemos localizar as IES confessionais que se
distinguem das anteriores pela forma como lidam com a tensão entre os fins ideais e aos fins
econômicos. De uma forma ou de outra, o campo institucional encontra-se submetido a
pressões cada vez mais intensas seja por parte das IES empresariais quanto das decorrentes da
ampliação do sistema público em processo de implantação, pressões estas que provocam
crises institucionais desafiando as próprias estratégias de reprodução calcadas na ampliação
do número de matrículas.
96
Para além de um conjunto discursivo que inclui princípios, valores, missão - o fato de se alinharem como
instituições de caráter comunitário, sem fins lucrativos -, o plano das diferenças entre elas vai se desenhar neste
estudo, a partir de suas estruturas organizacionais, contingentes a circunstâncias históricas, assim como o
conjunto de suas práticas. A linha que une semelhanças e diferenças vai constituindo um painel desafiador para o
estudioso, a juntar os elementos num esforço de bricolage – para compreender ou recuperar um sentido lógico da
presença de elementos de origens distintas, formando um conjunto heteróclito. Nesse sentido, o recurso da figura
da quimera se afirma como imagem representativa desse conjunto irregular e heterogêneo.
154
Aprofundar as compreensões em relação às diferenças entre os subcampos
institucionais mencionados anteriormente requer que se analise com mais cuidado as relações
entre mantenedora-mantida.
Independente da sua configuração (universidades, centros universitários, faculdades,
institutos superiores de educação, entre outros), a legislação educacional estabelece que as
IES´s operem integradamente como um sistema composto por instâncias independentes,
autônomas e complementares: a entidade mantenedora e a(s) entidade(s) mantida(s).
Roque Bersch (2003) afirma:
É na mantenedora, pois, que se manifesta o traço formal evidente do que chamamos
de instituição comunitária. os dispositivos sobre o provimento do cargo de
dirigente da IES mantida variam, entre as comunitárias, como também varia em
outros tipos de instituições (BERSCH, 2003, p.20).
Por outro lado, Tramontin e Braga (1988), incluem no "modelo comunitário" as
instituições confessionais, definindo como atributos de "comunitários” os que seguem:
1. mantenedora subordinada única e diretamente a um objetivo social;
2. patrimônio pertencente a ente coletivo comunitário;
3. rotatividade dos cargos da direção;
4. controle e poder subordinado a amplos segmentos da sociedade civil organizada.
Cabe destacar que as mantenedoras podem ser de dois tipos: as fundações e as
associações, que têm personalidade jurídica de direito privado, reconhecida e regulamentada
pela Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. A regulamentação entrou em vigor em 10 de
janeiro de 2003. O art. 44 do Código Civil brasileira acrescenta: “São pessoas jurídicas de
direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações”.
Nas associações um grupo de pessoas se organiza em torno de objetivos comuns; os
dispositivos legais presentes no Código Civil Brasileiro acrescentam,
Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos. Destacando no parágrafo único que não há, entre os associados, direitos
e obrigações recíprocos (Capítulo II, Art. 53.Das Associações).
155
Caracterizam-se por possuir um patrimônio constituído pela contribuição dos
associados, por doações, subvenções, etc.; bem como a possibilidade de seus fins poderem ser
alterados pela deliberação livre dos seus associados. Assim, elas se consolidam em torno dos
princípios de adesão voluntária, gestão democrática, autonomia e independência e interesse
pela comunidade.
As fundações podem ser definidas como uma pessoa jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos constituída pela destinação de um patrimônio para fins determinados. O seu
instituidor estabelece a sua criação mediante a dotação de bens e declaração de fins, modo de
funcionamento e aprovação pelo Ministério Público. Assim, podemos sublinhar que a
fundação caracteriza-se pela atribuição de personalidade jurídica a um patrimônio. As
fundações de Direito Privado são reguladas pelo Código Civil nos seus artigos 62 a 69 e pela
lei 6515/73 que exigem o registro da sua escritura e respectivo Estatuto junto ao Cartório de
Registro de Títulos e Documentos.
Em ambos os casos, o documento que estabelece as normas gerais e específicas
através das quais serão geridas as atividades é denominado de Estatuto da Mantenedora que
define tanto a estrutura de gestão quanto a forma de lidar com as questões relativas a
propriedade de bens e serviços.
Na medida em que a entidade mantenedora é quem goza de personalidade jurídica,
cabendo a ela todas as questões administrativas, financeiras, jurídicas, contábeis, de estrutura
física e manutenção, e que ela pode se apresentar com configurações diferenciadas,
principalmente em relação às questões da propriedade das instituições, o seu estudo é
primordial no sentido de avançar na conceituação acima exposta. No caso particular deste
estudo encontramos dois tipos específicos de mantenedoras que podem ser agrupadas nas
categorias de fundação e associação.
A entidade mantenedora que obedece a legislação vigente possui estatuto ou contrato
social que regulamenta suas atividades internas. Independente de sua natureza, com ou sem
finalidade lucrativa, as entidades mantenedoras possuem uma estrutura que inclui o conselho
de mantenedora como órgão supremo, composto pelos sócios mantenedores (que no nosso
caso representam instâncias da sociedade civil organizada); presidência e vice-presidência,
Conselhos e Assembléias.
156
As mantenedoras se caracterizam por estruturas e dinâmicas de representação. Nesse
sentido, o grau da participação da sociedade civil pode indicar particularidades na
concretização de um dos princípios, o público não-estatal.
Por outro lado, destaca-se que os dados do presente estudo apontam no sentido de que
a relação mantenedora-mantida no caso da APESC-UNISC e FAT-URCAMP, de forma geral,
seguem padrões de cooperação-negociação e no caso da FUCS-UCS padrões de
subordinação. Ditos padrões emergem do estudo da estrutura dinâmica administrativa, suas
instâncias e funções de monitoramento, controle, representação e/ou execução.
Torna-se ainda necessário esclarecer, com relação à mantenedora, se o controle
patrimonial corresponde a elementos externos à mantida, ou seja, a sociedade civil, ao seu
meio interno, correspondendo somente à mantida, ou equilibrado entre ambas as dimensões.
Esta diferenciação no controle patrimonial pode estar relacionada à forma como este
patrimônio foi sendo constituído a partir da expansão ou incorporação de outras
mantenedoras. Tanto no caso da FAT quanto da FUCS há uma constituição patrimonial
proveniente de outras mantenedoras que foram sendo agregadas durante os processos de
regionalização, cedendo o patrimônio na forma de comodato por tempo delimitado.
A questão comunitária fica mais clara quando se analisa a configuração administrativa
registrada nos documentos, no sentido de destacar as instâncias da sociedade representadas,
bem como a destinação e configuração patrimonial. Percebe-se também que mudanças na
representação, principalmente da comunidade, podem resultar de alterações na configuração
patrimonial, ao agregar patrimônios de outras mantenedoras em decorrência de processos de
regionalização que aumentem a área de abrangência institucional.
Os documentos aqui analisados apontam no sentido de que instituições com maior
número de representantes presentes na composição das instâncias de decisão poderiam
apresentar uma capacidade maior de resposta frente às crises e adversidades ou até projetar
ações preventivas com vistas a reduzir a sua vulnerabilidade e melhor garantir a sua
reprodução institucional partindo do pressuposto que esses atores têm a capacidade potencial
de interferir no rumo da pauta decisória.
157
O Quadro 15 ilustra as possibilidades de relacionamento mantenedora-mantida no
conjunto de IES objeto deste estudo.
Mantenedora E&D Administrativa E&D Representação E&D Patrimonial
APESC
Três instâncias administrativas
com as mesmas funções:
monitoramento e
controle,
representação
execução
Representação da Sociedade
Civil extensa e abrangente
Equilíbrio do controle
interno & externo
FUCS Idem
Representação da Sociedade
Civil restrita
Predomínio Controle
Externo
FAT Idem
Equilíbrio entre
representação Interna e
Externa
Predomínio Controle
Interno
Quadro 15: Comparação entre as estruturas e dinâmicas administrativas, de representação e
de controle patrimonial nas três mantenedoras estudadas.
Fonte: Quadro elaborado pela autora.
A ação territorial das três instituições estudadas mostra configurações bem diferentes,
que foram sendo estruturadas durante o processo de criação-consolidação das universidades,
como parte de uma estratégia de reprodução institucional calcada no aumento das matrículas e
na expansão territorial.
Dita expansão territorial nos últimos anos da década de 90 do século passado e
primeiros anos do século XXI ainda apresentava características até certo ponto ligadas as
áreas de abrangência que lembravam regiões definidas de atuação.
Com o acirramento da concorrência e a entrada cada vez mais efetiva de IES
empresariais os limites territoriais foram ficando cada vez mais difusos e novas possibilidades
foram sendo construídas dentro as opções permitidas pelo marco legal. Refere-se
principalmente, aos cursos fora de sede oferecidos pela Unisc em Rio Pardo, Candelária e
Boqueirão do Leão, com o objetivo específico de atender a formação de professores leigos.
No caso da UCS encontramos Núcleos Universitários em Canela, Farroupilha, Guaporé, Nova
Prata, Veranópolis e Vale do Cai que mantêm uma estrutura simplificada e dependente dos
campi, tanto do ponto de vista de infra-estrutura física, administrativa e da atuação
pedagógica.
158
Quadro 16: As Universidades estudadas e sua configuração territorial
99
Fonte: http://www.urcamp.tche.br, http://www.unisc.br, http://www.ucs.br
Por outro lado, as três instituições constroem estruturas territoriais diferentes ao se
configurar como multi campi. Neste sentido a URCAMP nasce com vários campi enquanto a
UCS e UNISC incorporam esta estrutura posteriormente como parte de uma estratégia de
reprodução institucional calcada na ampliação do número de matrículas.
Em relação à URCAMP os sete campi apresentam situação de autonomia relativa auto
proclamada pelo seu Reitor, exemplificada pelo fato de que, dos recursos brutos gerados em
cada um deles, cerca de 80% ficam no local e 20% são encaminhados para a sede de Bagé.
Cabe destacar que esta situação é uma conquista recente decorrente da reforma institucional
em curso e que a decisão de se integrar à universidade na maioria das vezes partiu do
97
Outro mecanismo de inserção regional se relaciona com a preocupação da Instituição com o desenvolvimento
de atividades de pesquisa e extensão que se institucionalizaram na FISC em 1984 e tiveram grande impulso a
partir de 1993. Em 1997, houve um incremento à pesquisa com a criação do FAP Fundo de Apoio à Pesquisa,
sendo em 1999 criado o Programa de Apoio à Implantação de Grupos de Pesquisa – PROGRUPE – e o
Programa de Apoio aos Projetos e Programas de Extensão PAPEDS –, além da instalação de um Comitês
Assessores Externos ad hoc, constituídos por doutores, para avaliação de projetos de pesquisa e extensão e de
programas de extensão. http://www.unisc.br/universidade/historico.html
98
Em 1993, o projeto de regionalização da UCS, submetido ao MEC, teve parecer favorável do Conselho
Federal de Educação. No documento oficial, as palavras do relator resumiam o sentimento de todos os que,
através dos anos, haviam abraçado a causa da regionalização da UCS e referendava um compromisso assumido
pelas lideranças que preconizaram uma Universidade para a Região. Dizia ele: "O tempo ensinou que o
somatório de forças é a melhor opção, agora em forma de Universidade Regional. Verifica-se, pois, que a
Regionalização, tão sonhada e perseguida, chega na hora certa; na maturidade plena das Instituições
participantes; na jovialidade perene dos que se lançam e perseveram na arte e na ciência de promover pessoas
humanas através da educação". http://www.ucs.br/ucs/institucional/historico/apresentacao
99
FERREIRA, M.A.F., SPERONI, S.M. Instituições de Ensino Superior e Integração Regional: As
Universidades Comunitárias do RS. In: Anais do IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2008, Santa Cruz do Sul. Gestão Territorial e Desenvolvimento Regional:
A agenda política e de pesquisa. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2008, v. único (cd-rom). 27p.
Universidade URCAMP UCS UNISC
Sede e ano de
criação
Bagé -1986* Caxias do Sul-1967*
Santa Cruz do Sul-
1993*
97
Campi 1 Dom Pedrito -1986
Bento Gonçalves -
1993
Sobradinho ***
2002
Campi 2 São Gabriel-1990 Vacaria **-
98
1993 Venâncio Aires 2003
Campi 3
Santana do
Livramento-1992
Capão da Canoa- 2002
Campi 4 Alegrete - 1996 Montenegro ****
Campi 5 São Borja -1996
Campi 6 Caçapava - não consta
Campi 7 Itaqui-2001
159
município de origem, ou seja, a incorporação se deu por decisão de iniciativa das localidades
da região.
No que se refere à UNISC pode-se destacar que os campi mantêm uma relação que se
denominou neste artigo como “centro-periferia”, onde uma centralização quase total a
partir da sede em Santa Cruz do Sul. Nesse sentido, é grande a presença e interferência
permanente da sede nas demais unidades regionais, significando para aquelas baixo nível de
autonomia. Nas unidades fora da sede é mantida uma estrutura mínima para a prestação do
serviço, pois as funções mais nobres no campo administrativo ou pedagógico são comandadas
a partir da sede.
Por outro lado, a estrutura da UCS em relação às instâncias que permitem a sua
inserção regional mais direta (campi e núcleos) é híbrida no sentido de que os campi têm
autonomia, mesmo que relativa, e no caso dos núcleos relações do tipo “centro periferia”.
Como exemplo pode-se citar a lotação de professores que é específica para cada campus e que
no caso dos Núcleos não acontece. Tal condição a coloca numa posição intermediária no
universo aqui considerado.
Por fim, na ação no território e sua gestão as instituições comunitárias se mostram
como atores ativos no reconhecimento das imbricações entre memórias, estruturas sociais e
imaginários que contribuem com os processos de territorialização e reterritorialização, cujos
frutos de uma experiência quase cinquentenária apresentam reconhecido vigor e valor social.
Assim, como os padrões de relacionamento entre mantenedora-mantida e a ação
territorial, decorrem de um conjunto simbólico que aqui foi denominado de mito criador, a
gestão também expressa um conjunto de valores, premissas e lógicas decorrentes do modelo
de universidade ou do campo institucional que se está considerando; por tanto, se existem
paradoxos na definição do modelo comunitário na relação público-privada, as formas de
gestão adotadas denotarão estas contradições e podem se expressar na tensão entre
centralização ou descentralização; normatização ou burocratização; democratização ou
autoritarismo...
O processo decisório é um processo de escolha de opções que compõem, em última
instância, um elenco de possibilidades para formação da agenda decisória. Esta parte de
160
processo pode ser de ordem mais individual ou colegiada dependendo da situação e da
instituição considerada.
É evidente a complexidade inerente à formulação de alternativas de decisão numa
instituição universitária, principalmente se ela pertence ao campo institucional comunitário,
onde os valores que orientam a gestão interferem nas percepções dos envolvidos no processo
em relação aos objetivos e consequências, dificultando a tomada de posição. Este fato torna-
se mais intenso no caso de IES com baixa densidade institucional onde as normas e regras
formais não existem, não são claras ou não estão disponíveis para todos os participantes do
processo decisório.
Se a forma de gestão é decorrente da diferença na lógica pública ou privada, ou
melhor, na busca de lucro ou sem ele, os padrões relacionais entre as diversas instâncias
administrativas terão a ver com formas institucionais diferenciadas tanto nas normas, quanto
nas rotinas, nos processos decisórios e de burocratização.
Franco (2007, p.5) afirma:
A gestão da educação superior é expressão de formas relacionais presentes nas IES e
entre instituição/Sistema de Educação Superior/interlocutores no plano de políticas e/ou
práticas ligadas aos processos de tomada de decisão no desenvolvimento de ações. Ela,
no entanto, além de assumir a marca de políticas e de práticas que qualificam as formas
relacionais, imprime suas próprias marcas na dialética do instituinte/instituído.
A discussão da construção do espaço de sustentabilidade das Instituições de Educação
Superior Comunitárias é pautada pela expansão das tensões decorrentes da diminuição do
número de alunos pagantes, como conseqüência da implementação de políticas descritas
anteriormente em relação a expansão do sistema público e privado empresarial. Este fato
acentuou um fenômeno que estava se desenhando anteriormente no sentido de
supervalorização da dimensão relativa à gestão que se soma as três anteriores (ensino,
pesquisa e extensão) na definição do modelo de universidade.
O cenário aponta para uma situação de desequilíbrio crescente entre os desafios
econômicos impostos às instituições comunitárias, pois não contam, por força dos princípios
161
que regem seu modelo, com instrumentos para enfrentamento das ameaças
100
.) O fato de não
se constituírem nem se regerem por princípios empresariais, nem serem reconhecidas pelo
Estado como instituições a serem subsidiadas por recursos públicos, as comunitárias se
debatem num espaço muito restrito de possibilidades para reagir à altura.
101
Assim, o Mito Criador enunciado constantemente, tanto pelos discursos institucionais
dos dirigentes quanto presente dos documentos analisados, é eminentemente político
102
no
sentido levantado por Charaudeau (2006), exigindo como características fundamentais a busca
constante de construção de processos de legitimidade e credibilidade o que coloca em
evidência constantemente a tensão entre os fins ideais e os fins econômico-financeiros que
caracteriza o campo institucional ora em estudo. Entre os aspectos salientados como premisas
teóricas e metodológicas para análise do discurso político pelo autor, está a conduta de
tomar posição quanto às relações entre linguagem, ação, poder e verdade, a fim de
determinar a problemática particular na qual será estudado o discurso político.
(CHARAUDEAU, 2006, p. 16).
Nesse sentido, continua,
Antes, porém, é necessário interrogar-se sobre a natureza e o funcionamento do que
chamaremos, por ora, de palavra política, na medida em que ela se inscreve em uma
prática social, circula em certo espaço público e tem qualquer coisa que ver com as
relações de poder que aí se instauram (CHARAUDEAU, 2006, p. 16).
100
Cabe destacar que, nesse período mais recente, o quadro competitivo se exacerbou pela liberação/autorização
(pelo MEC) de modalidades empresariais de ensino apoiadas no ensino à distância. As instituições privadas tem
apresentado grande agilidade na multiplicação de formas de ampliação de sua clientela, disseminação acelerada
de pontos de captação de matrículas, uso de propaganda intensiva sob vários formatos e na estipulação de preços
baixos ao alcance dos interessados, o que altera os termos da competitividade com as instituições de ensino de
modelo convencional. O sistema de avaliação não tem acompanhado a velocidade da difusão desse modelo, o
que submete o sistema de ensino a abalos nas suas condições de reprodução. Por outro lado, a população que é
alvo dessas modalidades, que não contam com o rigor fiscalizatório imposto às instituições tradicionais, está á
mercê de uma novidade sem a correspondente vigilância do sistema sobre o cumprimento dos padrões esperados.
101
Estudo de Morosini e Dal Pai Franco traz observações a respeito das possibilidades de enfrentar tal condição
desfavorável: “[em primeiro lugar] Por meio do Comung, ou de projetos a ele ligados, buscando criar uma
identidade estadual e de instituição comunitária na relação política com as outras IES (Entrevistado1 das
autoras). O segundo, pela participação em associações e fóruns universitários como Abruc 9 (nacional) e
Comung (estadual), “[...] reafirmando sua identidade comunitária, buscando fortalecer a integração regional face
às investidas de novas concorrentes (novas IES oriundas da iniciativa efetivamente privada), na modalidade de
ensino presencial e à distância” Morosini e Dal Pai Franco, opus cit, p. 63.Se bem que a realidade tem
demonstrado que estas questões não tem sido suficientes para ampliar nem o seu espaço de atuação nem o seu
reconhecimento
102
O discurso político via tradição francesa da Análise do Discurso (AD), principalmente através da obra de
Patrick Charaudeau (2006), busca evidenciar as relações entre linguagem, ação, poder e verdade, a fim de
determinar a problemática na qual será estudado (p.16)
162
Aqui o pesquisador se encontra com algumas dificuldades próprias das características
do campo de estudo escolhido. O conjunto dos discursos e das práticas políticas e
administrativas características do campo institucional nem sempre evidencia as conexões
desejadas principalmente para a comunidade acadêmica em geral que não exerce cargos de
gestão ou se envolve com os processos institucionais.
Partindo da análise de um campo muito amplo – o da palavra que envolve os percursos
da ação social, que inclui relações de poder de diversas naturezas – Charaudeau define
antecipadamente sobre que eixo vai vasculhar seu objeto, situando-o necessariamente sobre a
tensão discurso e ação, onde a verdade que evoca, sofre pelo seu estatuto de nível da
abstração e relativismo, de imensa dificuldade para ser compreendida e mesmo avaliada, na
medida em que o campo da política, segundo define o autor, não passa de um imenso teatro.
Sabedor disso tudo, Charaudeau direciona sua démarche para noções de maior aproximação
empírica como a veracidade dos discursos. (FERREIRA e SPERONI, 2008) Como forma
particular de comunicação o discurso político compreende características específicas
relacionadas com a delimitação de um campo de relações governantes e governados,
soberanos e submetidos, permitir/exigir formulações ambíguas e flexibilidade, lidar com
expectativas e desejos, pretender o convencimento ou resignação.
Levando-se em conta que as instituições representam instâncias em que se adensam
um repertório de valores, fins, estruturas, regras que regulam as práticas coletivas, assim
como suas conexões internas e externas, é mister reconhecê-las como teatro de exercício de
relações de poder a exigir a reprodução de discursos coerentes. Tal coerência, se exitosa em
sua recorrência, favorece o princípio de adesão a valores e identificação da comunidade
interna com as regras que objetivam a produção e reprodução da estabilidade institucional.
Não é suficiente que os valores integradores como, por exemplo, ser regional e
democrática apareçam expressos nos documentos institucionais, eles precisam transcender o
mito criador e ser significados e re-significados inclusive pelos novos atores institucionais,
sendo que esta identificação tem que ocorrer tanto a nível individual quanto coletivo que o
sentido é voltado para a possibilidade de desenhar um padrão de identidade comunitária.
Retomando as palavras de Levi (1991) sublinha-se o conceito de instituição que
permeia o presente trabalho como um dos conceitos centrais a contribuir para a compreensão
163
do significado de densidade institucional. Para a autora as instituições se caracterizam com
um conjunto de arranjos e regras formais implementadas por atores reconhecidos para realizar
este processo. Destaca também que as regras ou acordos podem ser verbais ou escritos
formalmente, mas de uma forma ou de outra “expressam expectativas de comportamento
relativamente claras”. A estabilidade das regras implica em certas configurações de relações
de poder bem como mecanismos de estímulo ou desestímulo às ações dos atores sociais que
tem como objetivo diminuir as incertezas institucionais.
O amadurecimento institucional estrutura, funções e seus resultados tem requerido
incorporação crescente de conhecimento novo a respeito de avaliação de processos e de
aperfeiçoamento das regras de convivência internas e externas
103
. O conhecimento novo
aplicado às necessidades impostas pela complexidade das relações e dos cenários que se
transformam, pode conferir às instituições a redução dos níveis de incerteza na gestão e
promover o aprimoramento das múltiplas tarefas, criando instrumentos de aferição, incluindo
algoritmos para soluções mais criativas e, por que não, mais baratas, assim como de
organização gerencial e da projeção de tendências.
O resultado da análise do material da presente pesquisa (documentos oficiais e
entrevistas com gestores) das três instituições aqui consideradas de forma comparativa
induziu à construção da figura abaixo, que relaciona três categorias em relação à institucional
idade e a forma como a universidade comunitária lida com as regras e normas que
regulamentam o seu funcionamento, bem como as formas de conduzir a gestão dos processos
relacionados com os seus fins, ou seja, o ensino, a pesquisa e a extensão.
Os tipos assinalados na figura abaixo influenciam também as diferenças e/ou
semelhanças em relação à solução dos diversos tipos de crises institucionais bem como a sua
relação com os territórios onde os fins são realizados.
103
Destaque-se formulação e consolidação de processos de avaliação institucional nas dimensões básicas de
ensino, pesquisa e extensão, assim como dos processos de estudo e avaliação da estrutura administrativa e as
relações com as mantenedoras.
164
Centralismo autocrático Gestão Democrática
Institucionalidade frágil escassez
de regras
Institucionalidade maduraregras
consolidadas e reconhecidas
Institucionalidade em
construçãoregras em curso de
p
rodução
Transição pactuada
Figura 4: A institucional idade e as suas relações internas.
Fonte: Figura elaborada pela autora.
Os processos decisórios denominados de centralismo autocrático, transição pactuada, e
gestão democrática transcendem à presença formal de regras (ou sua ausência), mas de forma
variada se relacionam com certa coerência entre os princípios que orientam as IES
comunitárias desde sua origem e como eles aderem às práticas executadas. Da mesma forma,
os mecanismos coercitivos ou indutores da participação e de ações cooperativas no interior da
comunidade acadêmica, se cristalizam, tornando-os perenes no imaginário coletivo criando,
de certa forma, esquemas de pensamento que se constroem e re-configuram, nas e pelas ações,
os meios institucionais que a elas se relacionam. Cabe salientar que as categorias utilizadas
são fortes em seu significado e, poderiam talvez, receber críticas quanto à provável
inexistência na vida real das instituições. No entanto, à maneira da tradição weberiana dos
tipos-ideais, cada uma das categorias responde por um conjunto de características que a
tornam possível de abrigar mesmo em análises futuras situações empíricas com variações
com relação à posição que ocupam, mas, ao mesmo tempo, conservando alguns dos traços que
correspondem ao lugar que lhe coube na avaliação do pesquisador.
Os processos de gestão nesses casos devem ser examinados pela ótica gerencial
modulada por um extenso campo de compromissos que transcendem as práticas
administrativas segundo os princípios de sua eficácia e eficiência. A gestão de uma
Universidade Comunitária corresponde à necessária busca de equilíbrio entre as práticas
administrativas, contábeis e o planejamento instrumentos a serviço dos fins educacionais
incorporados ao ideário que envolve cada uma das instituições estudadas. Não basta ter
165
balanços equilibrados ou crescimento contínuo, mas traduzir nas ações e políticas, os ganhos
que o repertório cognitivo incorporado à gestão se revelem estar “a serviço” das causas da
educação no âmbito dos territórios que correspondem às suas áreas de abrangência.
Tal perspectiva define uma orientação diferenciada da ação institucional – via políticas
sobre seu território de atuação, se comparada a instituições que não têm essas questões na
agenda de compromissos. Daí sua singularidade em relação às demais instituições privadas.
Implica, nesse sentido, a potencialização do conhecimento que incorpora, transformando-o em
prática cotidiana, que se difunde tanto pelo uso que faz como dos resultados que produz. A
sociedade local e regional é informada e integrada no circuito de valorização das práticas
cotidianas, irrigada por novos conhecimentos, inclusive pelas muitas modalidades de sua
difusão e indução de sua aplicação.
Levi (1991) questiona também os mecanismos utilizados pelas instituições na
mudança das regras e nos processos de implementação destas conduzindo a mecanismos
diferenciados ou alternativos que podem ser estimulados ou repreendidos. A autora enfatiza
tal possibilidade de mudança através de consensos que denomina de contingentes, implicando
o arbitramento dos envolvidos com as múltiplas funções institucionais. Consensos aqui
necessariamente entendidos em sua expressão prática: a da reciprocidade de atitudes, atitudes
cooperativas condicionadas a expectativas negociadas. As crises institucionais e os períodos
de mobilização subsequentes tem exigido dos atores institucionais pelo menos o esforço de
consensuar parâmetros mínimos onde os fatores contingentes apareçam na sua expressão mais
reduzida possível.
Em relação ao padrão democrático de gestão, é necessário que se esclareça o
significado do mesmo para além da escolha dos dirigentes observando o que à história
institucional deste conjunto nos mostra no sentido de perceber que em diversos momentos
elas foram responsáveis por processos de centralização ou descentralização das relações de
poder se colocando em posições mais democráticas ou autocráticas, sendo que estas
categorias são pólos extremos ligados por um continuum de possibilidades combinações que
dependem do contexto histórico e institucional.
O quadro 17 tem como objetivo sintetizar os dados analisados que serviram de base
para a construção do modelo decisório.
166
Modelos de gestão
Categoria geral Detalhamento
Autocrática Transição pactuada Democrática
Regras formais Quase nunca Às vezes Quase sempre
Rotinas fixas e
determinadas
Rotinas variáveis caso a caso
Intermediário, em processo de
construção
Rotinas fixas, porém com certa
maleabilidade.
Divulgação informação Dificuldade de divulgação Seleção prévia do que será divulgado.
Possibilidade de acesso mais amplo para
quem solicitar
Regras e
processos
Sintonia dos processos
institucionais
Quase nunca existe. Às vezes existe
Horizonte a ser perseguido mas não
concretizado totalmente
Estabilidade do quadro de
professores e
funcionários.
Na maioria das vezes existe
permanência nos quadros
Às vezes existe. Quadro permanente vs
quadro temporário
Quadro permanente com regime de horas
e quadro temporário na forma de
contratos.
Formas de escolha dos
quadros
Escolha direta (Reitor) e indicação.
Regimento e regras de escolha não
formais.
Escolha indireta, indicação e nos
quadros inferiores escolha direta.
Todos os gestores da Administração
Superior e Básica por escolha direta de
acordo com Regimento fixo.
Recursos
humanos
Permanência dos quadros
na gestão
Alta permanência
Períodos de longa permanência
seguidos de troca de grupos e inicio de
nova fase.
Pouca renovação dos quadros de gestores.
Pouquíssimos
Nomes novos.
Respeito às regras eleitorais.
Formas de escolha da
agenda decisória
Centralizada na Reitoria
Idem, porem com a participação mais
clara de outros integrantes da mesma.
Idem.
Instância colegiada reconhecida
formalmente: Colegiado da Reitoria.
Restrição às ações de
grupos de pressão
Não evidentes Idem Idem
Processo
decisório
Comissões de
especialistas
Para atender interesses específicos e
sem reconhecimento formal.
Reconhecimento formal mas não com
composição paritária formalizada.
Composição paritária de alunos,
professores, funcionários e Reitoria.
Formas e tipos Estratégico Idem Idem
Características-temas
Centralizado na Reitoria e ensaiando
alguma participação sob a forma de
consulta.
Centralizado no Gabinete do Reitor
após a perda do status de Pró-Reitoria
Descentralizado
Coordenado pela Pró-Reitoria de
Planejamento e Desenvolvimento
Institucional.
Fórum de Planejamento e Gestão como
instância de divulgação de informações.
Orçamento Orçamento Orçamento
Planejamento
Áreas
PDI PDI PDI
Quadro 17: Quadro resumo para construção do modelo decisório das três Instituições de Educação Superior estudadas.
Fonte: Quadro elaborado pela autora.
166
167
É evidente a complexidade inerente na formulação de alternativas de decisão numa
instituição universitária, principalmente se ela pertence ao campo institucional comunitário,
onde a dificuldade de desenhar nitidamente os valores que orientam a gestão interferem nas
percepções dos envolvidos no processo em relação aos objetivos e conseqüências dificultando
a tomada de posição. Este fato torna-se mais intenso no caso de IES com baixa densidade
institucional onde as normas e regras formais não existem, não são claras ou não estão
disponíveis para todos os participantes do processo decisório.
As instâncias da estrutura institucional podem se constituir em degraus de construção
de “accountability” institucional, formas de prestação de contas que , em quanto instrumento
de gestão permitam formas de percepção da “transparência” administrativa das ações de
gestão que legitima os gestores.
A prestação de contas se relaciona com aspectos relativos ao acesso as informações
compreensíveis e permeáveis para todos os que potencialmente podem “decidir”. Ela pode ser
contingente a grupos de pressão que solicitem, por exemplo desagregação das informações no
sentido de evidenciar outros aspectos que anteriormente estavam obscuros.
O processo decisório e a sua manifestação na forma de ações ou resultados práticos
pode evidenciar consensos ou dissensos e seus respectivos processos de negociação.
O controle do processo decisório pode se dar via controle da agenda, da informação
disponível ou através de comissões especializadas nas quais grupos dominantes detêm
maioria. Comissões especializadas com padrões fixos de constituição, paritárias, dariam maior
garantia de liberdade decisória.
As decisões podem privilegiar a estrutura hierárquica justificando, dessa forma a
descentralização ou a centralização, este tipo de justificativa desfocaliza os processos que tem
potencial de construção de arenas políticas onde podem se elaborar consensos ou alterar a
direção das decisões.
168
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciar a construção de um projeto de tese é um dos momentos mais desafiadores da
vida de um doutorando, significa iniciar “uma aventura que não se sabe aonde vai nos levar,
ou melhor, que depois de algum tempo, se saiba não ser mais possível abandonar”. Mario
Osório Marques utiliza essa expressão para identificar o ato de escrever e o de pesquisar,
acrescentando ainda “mas no pesquisar o escrever está polarizado, persegue um tema preciso.
E quando se chega ao assunto, o escrever se faz pesquisar...” (1998, p.91).
Construir o objeto de estudo e as categorias analíticas que definem as linhas de
orientação do processo de pesquisa, implica na formulação de uma hipótese devidamente
amparada em categorias teóricas, que articuladas possam dar conta do processo de
investigação que está sendo desenhado.
Assim, Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon e Jean-Claude Passeron no livro
“Ofício de Sociólogo”
Por mais parcial e parcelar que seja um objeto de pesquisa, pode ser definido e
construído em função de uma problemática teórica que permita submeter a uma
interrogação sistemática os aspectos da realidade colocados em relação entre si pela
questão que lhes é formulada (BORDIEU, CHAMBOREDON e PASSERON, 2005,
p.48).
Neste ponto da trajetória – o de conclusão do trabalho de tese a percepção é de que a
caminhada foi produtiva e que a apropriação do objeto está presente no relato e análise de
uma trajetória institucional muito peculiar: o das universidades comunitárias do Rio Grande
do Sul, conjunto aqui representada por três instituições, e seus dilemas. No sentido da
afirmação dos autores acima, é possível apreender o quanto o objeto - teórico e metodológico
– permite o acesso qualificado e devidamente instruído a planos da realidade institucional que
a visão mais apressada oculta.
Durante o percurso de elaboração do projeto e dos seminários de tese foi sendo
amadurecida a compreensão sobre a indicação do orientador com relação à obra de Karl
Mannheim sua contribuição para compreensão do tema e consequente desenho do objeto de
pesquisa
169
A obra do pensador alemão, associada a conceitos das novas abordagens sociológicas,
políticas e históricas das instituições, permitiu a definição de subtemas e processos a serem
questionados e observados a partir de determinados ângulos devidamente caracterizados.
Assim, os dilemas institucionais dessas universidades com seus compromissos de afirmação
de valores comunitários, de integração territorial e de gestão democrática, diante situações-
limite no campo de sua reprodução, são observados no âmbito de suas relações internas e
externas.
A mobilização política eventual das comunidades internas, os meios de acesso aos
cargos de gestão, as mudanças sensíveis dos processos administrativos diante das pressões
externas de várias ordens, como o avanço dos processos avaliativos e seu rigor crescente, a
presença de um mercado agressivo e escassamente regulado do ensino superior de caráter
empresarial, a ausência de um estatuto regulador específico para o campo das comunitárias
por parte do MEC, assim como a recente expansão do sistema público de ensino conferem ao
objeto um conjunto de singularidades que foram observadas vis-à-vis os padrões que forjaram
sua constituição histórica.
Uma das questões centrais que sempre impregnou as observações e análises é a
referente à capacidade dessas universidades em agir contra as ameaças de diversas ordens. Em
sequência, o quanto sua condição de instituição de direito privado, não empresarial não
lucrativa – de propriedade social, laica, que se apregoa aberta e fiel às necessidades da
comunidade de origem, lhe possibilita atuar com êxito, alinhavando suas estratégias em toda a
extensão com os compromissos propagados.
Peço licença ao leitor para manifestar-me pessoalmente no sentido de relatar as minhas
experiências pessoais que limitaram ou potencializaram o processo de pesquisa, mas que
sempre significaram o grande desafio de, à luz das questões teóricas, buscar o afastamento
necessário à interpretação dos fatos da realidade.
Refiro-me em primeiro lugar a minha formação inicial na área de Ciências Naturais,
Biologia, área esta que se estrutura a partir de quadros teóricos muito diferentes dos que
utilizaria nesta tese. Em segundo lugar, a minha experiência particular como professora tanto
da Educação Básica quanto da Educação Superior e que, em determinados períodos, atuou
como gestora de alguma instância educativa tanto pública quanto comunitária. Finalmente, o
170
fato de ser brasileira por opção, não por obrigação de nascimento, agrega questões
diferenciadas a minha visão de mundo ou Weltanschauungen no sentido apontado por Karl
Mannheim.
Apropriar-se do conjunto teórico significou também a busca de novos escritos e
interpretações dos conceitos formulados por Mannheim, autor que nem sempre foi bem
compreendido no Brasil, mas que se tornou fundamental em relação às categorias de valores
integradores, planejamento democrático e ideologia e utopia, temas estes que se sobressaíram
na necessidade de buscar outros autores que permitissem mais aprofundamentos teóricos.
Assim, retomo os aspectos levantados por Mannheim em relação à concepção total de
ideologia quando ele resgata os conceitos weberianos de ação e relação social por considerar
que é neste vel que o fenômeno ideológico se manifesta na sua originalidade no sentido de
mobilizar e perpetuar valores e princípios fundantes de uma determinada comunidade
histórica.
Ou seja, assumir esta postura teve como princípio fundamental desfocalizar à noção de
ideologia relacionada com a idéia de distorção direcionando as questões no sentido de captar
um conjunto de conceitos e idéias que emanam da visão de mundo de um grupo determinado
e que por isso são consequência de um processo coletivo.
Por outro lado, a ideologia na concepção mannheiminiana tem características
simplificadoras e esquemáticas se constituindo num código através do qual ela exerce a sua
função justificadora.
Paul Ricoeur corrobora as posições de Mannheim ao afirmar que a ideologia é um
fenômeno insuperável da existência social pelas possibilidades de construção de
representações simbólicas do próprio vínculo social e destaca que se relaciona com o ato
fundador, um mito que emana energia para além de si, justificando e legitimando as ações
para além dos pais fundadores.
Ricoeur nos permitiu reflexões importantes, que, no período de analise do material
principalmente, foram fundamentais para a definição do mito criador, ponto de encontro entre
as narrativas ideológicas e utópicas que, ao aproximar passado e futuro, emanam força
171
legitimadora para o discurso institucional, para além dos conflitos atuais aos quais as
instituições comunitárias estão sendo submetidas.
Mito fundador que é sempre posterior ao conjunto de fatos criadores que são
modelados retroativamente mediante representações que podem ser retomadas e re-
atualizadas para além do momento inicial na busca da construção de mecanismos
legitimadores das narrativas institucionais conforme foi registrado no final do capítulo 3.
Cabe destacar que, dito capítulo, teve como objetivo sintetizar o processo de construção
teórica que alicerçou a definição da categoria mito criador a partir das contribuições de vários
dos autores estudados.
As seguir a busca de referenciais relativos ao estudo das instituições ou
neoinstucionalismo abriu novas perspectivas de aproximação a partir de autores como Elinor
Ostrom, Walter W. Powell e Paul J. Dimaggio, Bruno Théret e André Lecours, por mencionar
alguns dos mais significativos. Eles permitiram o acesso ao objeto pautado pelo
reconhecimento da interdependência das instâncias constituidoras das universidades
comunitárias tomadas em níveis distintos como os princípios e valores, estrutura
administrativa e regras que normatizam os processos de decisão bem como a dinâmica entre
as três instâncias que configuram o campo das práticas institucionais onde se destacam as
estratégias de reprodução institucional e as políticas que lhes dão substância. Estas questões
foram fundamentais na avaliação da densidade institucional bem como na elaboração de um
modelo analítico constituído por três categorias básicas construídas no sentido weberiano de
modelos ideais utilizadas para analisar o processo decisório e que serão nominadas e
analisadas posteriormente.
Assim, foi definida a hipótese de trabalho explicitada no capítulo 4 e que permitiu a
definição do objetivo geral: Avaliar a matriz discursiva constituinte do modelo de
Universidade Comunitária do Rio Grande do Sul, frente às práticas discursivas atuais, com
ênfase nos valores amplamente difundidos de planejamento democrático e participativo e
integração comunitária e regional”.
Questões relativas ao discurso político e institucional foram condutoras de novos
estudos de autores como Patrick Charaudeau, Haquira Osakabe, Dominique Maingueneau e
José Luiz Fiorin.
172
Como professora senti-me, novamente peço licença para colocar minha experiência
pessoal, obrigada a sintetizar uma série de passos sistemáticos que orientassem o trabalho de
pesquisa e analise dos dados mesmo ciente da limitação que o ordenamento das etapas
poderia apresentar no sentido de não apreender os diversos movimentos de construção e
reconstrução que o processo investigativo implica.
Finalmente a organização da tese, o resultado final, em três partes, a primeira
abordando as questões teórico-metodológicas importantes para o desenho do objeto de estudo.
A segunda conduzida por uma metáfora, a quimera, com objetivo de construir um diálogo
entre as questões teóricas e o discurso institucional e, finalmente, a terceira parte com sínteses
mais analíticas em relação aos padrões de relacionamento entre mantenedoras e mantidas, os
processos de ação territorial e de gestão.
As Universidades Comunitárias estudadas sofrem no atual contexto vários tipos de
tensões em relação a questões que são muito caras ao modelo, por exemplo, definir-se como
públicas que não entanto, não podem acessar verbas estatais que nos editais o acesso fica
restrito principalmente para as federais e algumas estatais mais destacadas.
Na tentativa de encontrar um novo status legal vem sendo organizado pela ABRUC
um movimento de mobilização nacional que envolva não somente as comunitárias laicas, mas
também as confessionais. Este movimento se constitui num esforço de construção de
consensos em torno de alguns dos princípios integradores, destaque-se que o princípio
democrático de gestão e de escolha dos dirigentes não se apresenta como possibilidade de
construção de consenso.
Estas afirmações nos conduzem novamente ao mito criador, como um conjunto de
idéias força, primordiais para a legitimação do discurso institucional e as possibilidades de
construção identitária. Como foi assinalado no decorrer do trabalho um dos eixos
estruturantes deste mito criador é o ser democrático como realidade de escolha direta dos seus
gestores e formas de gestão democrática, como um horizonte utópico que, se não vivenciado
na atualidade, merece a possibilidade de ser projetado para o futuro. Cabe o questionamento:
a impossibilidade de construir acordos em torno desta questão afetará os processos de
identificação institucional? De que forma? As possíveis respostas deverão ser objeto de novas
pesquisas no futuro, mas é um alerta que não pode ser desconsiderado.
173
O presente estudo demonstrou que no contexto desta investigação processos
semelhantes afetam o processo decisório em relação à centralização (ou descentralização) da
escolha da pauta da agenda decisória bem como os mecanismos de escolha da opção
adequada a uma situação problema determinada. Neste sentido, foram formulados três tipos
decisórios denominados de gestão autocrática, transição pactuada e gestão democrática. Estes
elementos se situam num continuum que varia de situação para situação e de instituição para
instituição, não sendo possível uma classificação geral e definitiva em um extremo ou em
outro.
Cabe destacar, no entanto, que o processo decisório numa universidade é
extremamente complexo, esta situação é potencializada no campo institucional das
comunitárias, onde os valores institucionais que orientam a gestão são tensionados pelos
desafios externos e internos ligados a reprodução institucional, dificultando o processo de
tomada de posição. No caso de universidades com baixa densidade institucional a falta de
regras formais, claras e compreensíveis, bem como a dificuldade de acesso às informações
necessárias, interferem na participação ativa no processo decisório, favorecendo, conforme foi
constatado na presente pesquisa, processos de permanência e de personalização da gestão por
parte de grupos detentores de poder. Ou seja, a menor densidade institucional há maior
propensão a desenvolver mecanismos de gestão mais autocrática.
Em relação às questões envolvidas no planejamento institucional também foram
constatadas diferenças históricas, também relacionadas com a densidade institucional.
Constatou-se que em instituições de baixa densidade que desenvolveram gestões autocráticas
e personalistas o planejamento não foi um instrumento de gestão utilizado para projetar o
futuro a meio e longo prazo. Quando ele existiu, se existiu, foi intimamente ligado aos
aspectos orçamentários e financeiros de curto prazo.
Por outro lado, as universidades com maior densidade institucional planejaram seu
futuro e utilizaram este planejamento como um instrumento de gestão. Assim, foi constatado
que duas das instituições estudadas se apresentaram com certa tradição de planejamento de
características mais pró-ativas e uma na qual o planejamento é reativo as determinações legais
exigidas pelo órgão regulador. Estas questões aparecem refletidas nos PDIs analisados e que
na atualidade, conforme foi mostrado no trabalho o exigência legal para o processo de
avaliação institucional por parte do MEC.
174
As questões territoriais demonstraram ação diferenciada no território, mas se
constituem sempre numa ação necessária para a reprodução institucional que busca aumento
do número de matrículas e, portanto, captura de recursos. As formas de operacionalizar as
funções básicas da universidade, bem como, o processo histórico de constituição patrimonial
das mantenedoras e as decorrentes formas de regionalização na busca da ampliação da área de
abrangência, influenciaram a ação territorial conferindo a ela uma maior ou menor
possibilidade de re-significação simbólica. Este potencial é decorrente do tipo de relação que
se estabelece com o núcleo central.
Assim, constatou-se dois tipos de ação territorial, um no qual os diversos campi tem
autonomia e outro no qual se estabelece uma relação tipo centro-periferia no sentido de que
todas as ações dependem do campus central. Igualmente, cabe destacar que existe uma
situação intermediária que combina as duas anteriores, a saber, autonomia relativa em relação
aos campi e relações de centro-periferia nos núcleos.
Assim, de volta ao começo, citando Mario Osório Marques referindo-se as conclusões,
ao fim do trabalho de pesquisa, ele argumenta:
Uma parada para verificar a que ponto atingiu o desenvolvimento do tema e qual a
situação das hipóteses de trabalho. Não se trata de repousar sobre os louros mas de
tomar fôlego novo para novos caminhos que se descortinam...Nunca conclusivas as
conclusões devem apontar para novos horizontes de pesquisa (p. 119).
É
nesse sentido que o fim de uma pesquisa nos incita uma série de questionamentos,
de interrogações a respeito de como seria diferente se o trabalho inicia-se hoje, é o fim e o
começo...
175
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ANEXO 1: Ficha síntese das entrevistas da UCS
Identificação da
entrevista
Sentido global ou tema Expressões chave Idéias centrais Categorização
Necessidade de democratização
Não democrática
Zorzi: promessa de democracia, aceitar
as diferenças.
Carreira na gestão
Crise de 86.
Greve de 89
Greve iniciada pelos funcionários
...os professores vieram depois.
A UCS não é comunitária. Ela é uma
empresa.
Apadrinhamento político.
UCS1
Utopia: conquista da democracia direta
Concentração de poder. Os campi
tencionam o poder de Caxias.
Maquiagem da eleição: eleição indireta
Representantes indicados pelo poder
Os professores estão na primeira linha do
poder.
Democratização
Regionalização Integração FERV, APESC e FUCS
Integração patrimonial na forma de
comodato
Mundialização
Produção do conhecimento a serviço
do desenvolvimento regional
Muda o papel da universidade
Comunitária
A UCS esta no meio do caminho
entre as confessionais e as laicas em
sentido estricto.
Conselho principal tem metade dos
membros representantes do poder público
e a outra metade representantes da
comunidade.( 6 membros ao todo)
Democracia próxima da universidade
pública
Há democracia com cooperação,
vontade de cooperar.
Há demanda de eleições diretas ou
pelo menos proporcionais.
Na UCS há cobrança de princípios
democráticos de gestão.
Garantia de equidade de conhecimentos e
concursos públicos para admissão de
docentes.
UCS2
Houve um período de grande
concentração de poder entre os anos 90
e 2000.
Grande restrição da discussão
interna.
Processo de redemocratização.
Houve um momento em que criticar
a direção era criticar a instituição.
Se criou um certo clima.Um certo medo
de expor as idéias.
Necessidade de se comprometer
conscientemente em discutir junto quais
os limites da instituição.
Alguém tem que pagar.
Democratização
da pesquisa e da
pós graduação
Consolidação da
regionalização
183
185
O conselho Diretor não tem o direito de
agir autocraticamente.
A Fundação já pode ser autoritária agora
não mais.
Acho que se está avançando.
O próprio processo de escolha do
diretor já sinalizou neste sentido.
Há um consenso em torno da necessidade
de autonomia da universidade.
Descentralização coordenada
Escassez ou limitação ao acesso de
recursos
Pesquisa projeto individual para pesquisa
de projeto coletivo.
Velho ciclo centrado na graduação para o
novo ciclo centrado na produção do
conhecimento e de participação na
inovação tecnológica
Propus a inversão na denominação
da pro reitoria colocando a pesquisa
em primeiro lugar
Ser comunitária
A regionalização não enfrentou o
problema da escolha direta de gestores.
Mística dos valores comunitários.
Conselho diretor da Fucs escolhe os
representantes
Universidade comunitária
Foge a lógica das IES totalmente
públicas
Ainda não se sabe lidar bem com as
esferas públicas em relação as verbas.
O processo de federalização foi
impedido pelas instâncias privadas de
Caxias.
Ainda hoje o Conselho Diretor
decide acima de tudo, escolhe o
reitor.
Crise: separação do Conselho Diretor do
Reitor.
Necessidade de reestruturação fundação
mantenedora e as mantidas
Necessidade instauração de
mecanismos de accountability
Mecanismos de auditoria internas.
Redemocratização Escolha direta do reitor. Maior participação
Formação para a gestão
Divulgação das informações.
Precisamos aprender a gestão da
pesquisa e da pos-graduação.
Valores institucionais.
Sabemos gerir a graduação
Consolidação da regionalização.
Redefinição das relações com os
campi e centros.
Outras formas de escolha dos dirigentes.
Orçamento participativo
Informações e controles gerenciais.
Descentralização
Critérios de distribuição mais equitativa
dos investimentos: percentual de rateio.
UCS3
Função do planejamento.
Formular e acompanhar diretrizes.
Coordena, alimenta e distribui
informação.
Atende aos princípios filosóficos
institucionais expressos no PDI.
Pró-reitoria administração coordena a
distribuição.
Maior
participação
Descentralização
Coordenação na
divulgação de
informações
UCS4
Função da universidade é a capacidade
de gerar conhecimento
Busca pela excelência acadêmica
Formação geral e específica.
Interprofissionalidade.
Soluções conjuntas para problemas
complexos comuns.
Núcleo comum das licenciaturas
Mudar para
buscar a
excelência
acadêmica.
184
186
Núcleo comum.
3 Princípios de gestão:
interdisciplinaridade
Não especialização
Flexibilidade dos currículos
Solução pedagógica para um
problema administrativo.
Mudança na lógica da posse e
domínio das disciplinas
Partilha de disciplinas para diminuição de
custos.
Racionalização de oferta.
Princípios operacionalizados em
disciplinas obrigatórias(da Prograd)
.A graduação sustenta a
universidade(84% dos recursos gerados)
Descentralização do planejamento.
Critérios distribuição de recursos.
Projetos de curso participativos
Percentual de investimento passa pela
gestão das unidades
Maior autonomia administrativa aos
diretores de centro.Maior
descentralização.
Revitalização da regionalização passa
por projetos de formação continuada
Tem que se lidar com a rapidez do
setor privado que tensiona a lentidão
do setor público.
Nas questões acadêmicas nos Prograd
somos a palavra final...nas questões
administrativas o Conselho Diretor tem a
palavra final: temos que saber lidar com
as tensões decorrentes
Precisamos mais democracia
Se teu pensamento não é
hegemônico tem que assumir o que
a maioria pensa.
Conseguimos escolha indireta através de
lista tríplice.É ainda eleição indireta mas
avançamos na distribuição de
informações.Temos que melhorar o
processo seletivo de funcionários e
professores assim como o plano de
quadros e salários.
A minha utopia é ver a UCS como a
melhor universidade da região e das
melhores do pais.
Formando os melhores quadros
profissionais.
Melhor formação geral( princípios gerais)
e a melhor específica da profissão .
Revitalização da
regionalização
Democratizar o
acesso dos
professores e
funcionários
(processo
seletivo)
Escolha direta
A regionalização foi iniciativa dos
professores de Bento, a Ferv era
contrária...questão patrimonial
Acordos de integração patrimonial
resulta em comodato por períodos
determinados.
O nome que expressa a regionalização é
UCS: a universidade comunitária da
Serra.
O Conselho diretor acima de todos os
órgãos da universidade
Recém agora neste ano o Conselho
Diretor tem um representante de
Bento através da indicação do
governo do Estado
Conselho Diretor não pode ser
contingente aos órgãos da universidade.
Reformas estatutárias da mantenedora
são exigidas pelo MEC.
Forças isomórficas: estamos nos
espelhando no estatuto da UNISC...
Novo estatuto com um novo papel do
reitor no conselho diretos.
UCS5
Carreira na gestão Força de Bento
Sub-Reitor como uma forma de
concretizar a regionalização e conquistar
de maior autonomia
Reforma
estatutária para
redefinir o papel
do Conselho.
Regionalização
mostrando a
força de Bento
185
187
Carreira na gestão
O administrativo acima de
tudo...tem que demitir, se demite se
não tu é demitido...
Tensão constante docência-gestão
Lacuna no certificado de filantropia
Endividou a FERV numa dívida
impagável...
Nem vendendo todos os prédios
poderemos pagar...
UCS6
A melhor coisa que tem a UCS são os
professores
A garra dos professores
Conforme Paviani falava: Vino formar
grupos pensantes é nossa maior herança...
Força dos
professores de
Bento.
Problemas na
filantropia e
dívida INSS
186
188
ANEXO 2: ficha síntese das entrevistas da Unisc
Identificação
da entrevista
Sentido global ou tema Expressões chave Idéias centrais Categorização
Fazer com... Participação
Projeto de universidade.
Ideal de universidade comunitária stricto
senso
Laica e participativa
Integração universidade-Estado
Projetos de Extensão: educação
popular
Formação continuada de professores
cedências de professores do estado –troca
de serviços
Planejamento participativo.
Faltou coordenação tentamos
respeitar demais a caminhada
Superação da fragmentação das áreas
do conhecimento.
Deveríamos ter dito isso pode, isso
não pode...
Áreas preferenciais : pesquisa individual
para pesquisa coletiva- em grupos de
interesse da instituição.
Eram muitos programas
prioritários.Houve rejeição dos
programas de mestrado.
Na verdade o Vilson foi o idealizador e
quando ficou doente nos vimos
motivadas pela solidariedade
Diagnóstico da graduação, um olhar
coletivo para dentro da graduação.
Não é um trabalho comum na
instituição.
Não faz parte do cotidiano
institucional parar para olhar para
dentro para depois propor.
Dar o tempo mas não o tempo
todo...fazer com requer
paciência...saber ler as ausências, os
silêncios...fazer um diagnóstico de
gestão implica limitações técnicas e
teóricas, é um instrumento de gestão
não uma tese...
Momento externo de ajuste orçamentário
trouxe muitas incertezas...
O pedagógico sendo influenciado pelo
administrativo...
Legislação do MEC, limitação da
autonomia...
Perseverar e ter paciência para fazer
aquilo que a gente entende que será
positivo para todos...
Racionalização de recursos
Evitar duplicação.
Compartilhamento de disciplinas
Políticas e diretrizes da graduação.
Tradução em ações concretas possíveis
de serem realizadas.Este processo terá
que ser constantemente avaliado.
Unisc1
Nossa estratégia de sobrevivência
está baseada na expansão
Expansão de oferta de novos cursos,
de novas vagas implantação de
novos campi.
Processos seletivos contínuos.
Mecanismos de incentivo a formação
continuada
Participação
Troca público-privado
Mito criador
Diagnóstico da graduação
Estratégias de reprodução
institucional
18
7
189
A Unisc é uma instituição vigorosa
na sua qualidade
Vigor com base na participação.
Limitação em relação ao
distanciamento entre discurso e
prática
Aprimoramento da sua imagem...esse
jeito de ser participativo...jeito particular
que advêm de um grande esforço por
parte de todos...jeito particular de ser
democrática...eleição direta
A minha utopia é ver a Unisc
consolidada na sua opção de
universidade comunitária de
qualidade
Grande universidade nas três
dimensões ensino, pesquisa e
extensão...
Mostrando novas formas de gestão
Utopia: o desejo de futuro
Relações comunitárias: com
empresas, escolas, movimentos
sociais...
Relações externas
COMUNG, ACAFE, ABRUC
Fazer frente a expansão do sistema
público.
Competição desleal das privadas
empresariais.
Não podemos esconder as diferenças.
Discussão do novo marco legal das
comunitárias.
Criação de novas parcerias público-
privadas.
Desenhar uma identidade
comunitária com base nos princípios
comuns, sem parecer uma colcha de
retalhos.
Construir acordos com as confessionais.
Unir esforços sem perder as
particularidades.
Poderíamos aproveitar nossos espaços
ociosos com o sistema público ofertando
cursos gratuitos...
As questões regionais tem se
alterado com a chegada da
concorrência
Diminuição do número de alunos e
de créditos matriculados.
Foram pensadas estratégias de
manutenção dos alunos como o
alongamento dos cursos com 4 noites ou
os modulados que permitem bons
descontos...
Também o aumento do número de alunos
por turma
Nos campi não temos um custo fixo
muito elevado, temos uma estrutura
enxuta de funcionários e os
professores são praticamente os
mesmos.
Matrícula global que gera margem
de contribuição para cobrir os custos
fixos.
Alongamento dos cursos diminui a
mensalidade e se mantêm o aluno
Se pensam pacotes com descontos,
programas como o Voltare, desconto para
vários integrantes da mesma família...
Unisc2
Relações comunitárias
Temos que priorizar as escolas, os
bairros e as empresas e diferenciar o
que se refere ao trabalho comunitário
da prestação de serviços. Temos que
institucionalizar uma gama muito
Unisc-Escolas é uma tentativa de retomar
o papel da universidade perante a
comunidade. Antigamente através das
cedências havia estes intercâmbios com o
Estado (RS)
Acordos para fortalecer as
relações externas com as
outras instituições
comunitárias
Estratégias
administrativas adequadas
a realidade que melhorem
as condições para os
alunos
Esta universidade está
profundamente inserida
na comunidade.
188
190
grande de atividades que são
realizadas nas horas atividades com
o intuito de associar o ensino, a
pesquisa e a extensão.
Filantrópica-comunitária,
Comunitária tem a ver com as
raízes locais
Uma forma de operacionalizar o ser
comunitária atualmente é o
PROUNI
Foi criada (a UNISC) a partir da
mobilização das forças da comunidade
para suprir uma falha do Estado em
ofertar ensino universitário no interior do
estado do RS
Ser comunitária tem a ver também
com o ser democrática.
A democratização começou com o
movimento de 86.
Na década de noventa o ambiente
externo era marcado pela
redemocratização que levava as
pessoas a um desejo muito intenso de
participação
Conjunto de instituições sociais da
sociedade civil local e que hoje ainda se
encontram representadas na assembléia
comunitária e no conselho superior da
mantenedora.
Ser comunitário hoje tem a ver com
o fortalecimento da extensão
A democracia extrapola os limites da
escolha direta dos gestores e se
refere a intensa participação nas
decisões e nos fóruns e debates.
Se há um mérito indiscutível é o fato
dos professores terem sabido separar
suas preferências partidárias do seu
trabalho profissional.
Relação entre as elites políticas
progressistas de esquerda(Campis) e da
igreja. Mas também da Arena
influenciados pela teologia da libertação
(Vilson).
Houve rupturas apoiados pelo movimento
estudantil que na época conseguiram
mobilizações importantes...
Sempre houve diferentes militâncias
político partidárias que conviveram
pacificamente.
As comunitárias com o aumento da
concorrência tem se voltado para
sua própria sobrevivência
Como conseqüência das aflições e
angustias dos últimos tempos é
urgente discutir e defender um novo
marco jurídico para este segmento.
Temos capacidade técnica e política para
isso. Podemos articular externamente
através dos órgãos representativos
externos(COMUNG, ABRUC)
Novo marco jurídico
A idéia é discutir com o Governo que
as ies comunitárias bem estruturadas
possam ser incluídas no projeto de
desenvolvimento para o pais,
firmando parcerias para aproveitar as
nossas capacidades
Documentos produzidos: livro,
manifesto, minuta de projeto, audiências
públicas, Frente parlamentar
Unisc3
Viés pluralista no nascedouro...
Rotatividade no poder vs poder nas
mãos de grupos únicos.
As instituições da
sociedade civil local
sustentaram o nascedouro
da APESC e depois da
UNISC.
Lembrança do mito
fundador
A democratização
significou uma ruptura
A nossa instituição tem
uma vivência democrática
consolidada.(escolha
direta)
Gestores na tensão entre o
administrativo e o
pedagógico: a busca da
sustentabilidade
189
191
Necessidade de aprimorar os
controles na gestão
Artimanhas do mercado.
Novas estratégias de reprodução
institucional, novas formas de manter
os alunos na universidade, novas
formas de gerenciar.
Os gestores vivem a tensão dos princípios
administrativos e de gestão acadêmica
que constrói a sustentabilidade. As
urgências econômicas impõem
aperfeiçoar os processos de coordenação
que não implicam necessariamente uma
guinada ideológica.São tensões
constantes a serem negociadas.
Planejamento cada vez mais
necessário.
Descentralização...A Proplam
sistematiza as informações e divulga
através dos Fóruns de Planejamento
e gestão.
A Proplan sintetiza as informações e
conduz os processos de avaliação. O tom
é de colegiado...
Ajuste orçamentário, doação de
salário...
Há momentos de tensionamentos
como o do passado em relação a
doação de salários ou do ajuste
orçamentário...mas há também o
movimento oposto de minimizar as
tensões ...a busca do equilíbrio...
Fora dos conselhos e das instâncias de
decisão há possibilidade de construir re-
aproximações e garantir o equilíbrio em
busca do bem comum,
Unisc comunitária
Por ser instituída pelas forças vivas
da comunidade.
Público-não estatal
Não havia na região ensino superior
então a região mobiliza forças
públicas e privadas para preencher
esta lacuna
A comunidade cria uma instituição que
faz o papel do estado, uma instituição que
cumpre um dever do Estado.
Laica
Embora uma das forças vivas
mobilizadas seja a igreja melhor as
igrejas da região (católicas e
evangélicas)
Patrimônio público
Os donos d o patrimônio são os
sócios da mantenedora que são hoje
em torno de 60 entidades da
sociedade civil.
Relaciona com o status legal das
comunitárias.
Os serviços prestados se relacionam com
as necessidades da comunidade regional.
Área de abrangência
Tem se alterado inicialmente era o
Vale do Rio Pardo e Taquari, hoje
temos Capão da Canoa, teremos
Montenegro e outros lugares
Estratégia de atração de novos alunos
Unisc4
Modelo de gestão democrática e
descentralizadas.
Propicia a participação de toda a
comunidade acadêmica e regional.
Das primeiras IES a instituir eleições
diretas para Reitor em 1986.
Comunitária
Democrática
Pública-não estatal
Laica
Regional
Não busca lucro.
Excelência acadêmica
190
192
Característica fundacional
Decisões colegiadas tanto na
administração básica quanto
superior.
Gestão que busca constantemente a auto-
sustentabilidade.Constante busca do
equilíbrio financeiro.Não busca lucro
Busca da excelência acadêmica
Investimentos em programas
próprios de qualificação profissional
Plano de carreira qualificado que pre
horas para pesquisa ou extensão e
preparação de aulas.
Concurso público
191
193
ANEXO 3: Ficha síntese das entrevistas da URCAMP
Identificação da
entrevista
Sentido global ou tema Expressões chave Idéias centrais Categorização
Reconstrução identidade
institucional
Somos resultado de processos
Históricos únicos nas nossas regiões
Construir credibilidade: tornar
público compromissos
Éramos únicos em nossas regiões
Tínhamos autonomia para
concretizar as nossas intenções
Crises foram a causa da busca de
soluções.
Concorrência
Crise mobiliza e provoca
participação
Democratização. Eleição.
Crise provocou reformulação
institucional.
Urcamp1
Aprender a planejar coletivamente
Difusão da informação.
Integração apesar da diversidade
institucional
Crise VS custo-benefício
Construção identidade
comunitária regional
Identidade que integre
valores e significados
pessoais e coletivos
Resgate da credibilidade
institucional
Superar nossas raízes autocráticas. Democracia sem exageros.
Tanto dentro quanto fora da
institição.
Delegação de poderes
O trabalho conjunto nos fez
recuperar muitas coisas
Descentralização
Resgate do ser comunitária.
Ser multicampi e ter uma unidade Reestruturação administrativa
A crise nos fez definir regras mais
claras na distribuição dos recursos.
.
O aumento da concorrência pública e
privada
A crise nos torna imensamente
criativos na busca de soluções
Urcamp2
O PDI foi construído em gabinete, o
próximo , o PPI será diferente.
A crise nos mobilizou, nos fez
tomar ciência de que tinham se
passado 20 anos da gestão anterior.
Integrar os campi apesar das
suas diferenças.
Equilibrar os processos de
centralização –
descentralização, local-
regional.
Para sobreviver temos que
construir acordos e
consensos diários.
Urcamp3
Papel ativo na construção do
projeto da universidade.
Na verdade é uma instituição única,
mas ainda temos problemas de
integração
Estamos construindo normas e
procedimentos porque antes cada
um fazia diferente, do seu jeito.
Processo histórico
constituição URCAMP
192
194
Seguimos as normas pedagógicas e
administrativas determinadas por
Bagé.
Construímos um modelo de
universidade comunitária formada
por outras que já existiam, não
copiamos de ninguém.
Deixar claro o que posso ou não
fazer é importante para que é gestor
de um campus
Tivemos autonomia total, depois
centralização total, agora estamos no
meio termo, em busca de um
equilíbrio
Somos uma região com raízes muito
conservadoras então é difícil superar
o personalismo, o eu...
O Reitor é escolhido e ele indica os
outros cargos de gestão
O colégio eleitoral é formado pelos
professores
Tenho minha restrições em relação
a eleição direta.
Hoje a nossa grande responsabilidade
é manter esta instituição aberta
Planejamos a curto prazo, mas em
termos de orçamento....
Por não planejar não percebemos
as mudanças que estavam
acontecendo...não percebemos a
concorrência quando vimos ela já
estava instalada.
Somos diferentes das outras
comunitárias.
O maior valor da
universidade é a pertinência
social.
Muita democracia pode
ameaçar a segurança e a
continuidade do trabalho
institucional
A federalização foi para nós
como um canto de sereia,
nos encantou mas....no fim
mobilizou toda a
comunidade, provocou
mudanças
A nossa estrutura é eminentemente
regional
Somos um modelo ortodoxo dentro
das comunitárias
Patrimônios públicos e privados.
Diminuir a centralização.
Ampliar a participação Mudança nas regras.
Temos que permitir que outros
votem.
Criação de controles
Temos que evitar a personalização do
poder.
Participação ampliada na negociação
das dívidas
Urcamp4
A fundação terá maior
participação....
Há segmentos como os
alunos que nunca
participaram, nunca
votaram...agora no novo
estatuto é diferente...
Estamos descentralizando
decisões, separando reitoria
de mantenedora
193
195
História institucional
Pouca rotatividade nos cargos de
gestão.
Maior participação
Todos os municípios tem assento no
conselho da mantenedora.
Estamos reformando nossos
regulamentos, estatutos,
modernizando e adaptando aos
novos tempos e exigências....
A regionalização sempre foi da
periferia para o centro, dos
municípios para Bagé.
Não temos experiência na prática
de planejamento...
Neste meu mandato não fui reitor,
me dediquei a FAT, a resolver
problemas financeiros.
Urcamp5
Tínhamos que superar o
absolutismo da direção anterior.
Me elegi com 78% dos votos do
colégio eleitoral.
Defendi a transparência
administrativa, a regularização
financeira e a administração
colegiada.
Cada funcionário
representava uma situação,
não tínhamos regras gerais,
este foi um grande desafio
na minha gestão.
Agora o planejamento é
crucial para a legitimação da
universidade perante os
órgãos públicos...
Temos que renovar o
reconhecimento e fazer um
novo PDI.
194
196
ANEXO 4 : URCAMP, Centros e relação dos cursos nos campi
Centro Curso Campus
Medicina veterinária Bagé - campus rural- Alegrete
Ciências Rurais
Agronomia Bagé - campus rural
Pedagogia
Alegrete - Bagé- Caçapava do Sul- Dom Pedrito- Itaqui-
Santana do Livramento- São Borja- São Gabriel-
Matemática
Alegrete - Bagé- Dom Pedrito- Santana do Livramento- São
Borja- São Gabriel-
Letras
Alegrete - Bagé- Caçapava do Sul- Dom Pedrito-- Santana
do Livramento- São Borja- São Gabriel-
História Dom Pedrito - Santana do Livramento- São borja
Enfermagem Bagé
Educação Física Alegrete - Bagé- São Borja- São Gabriel-
Educação Artística Bagé
Publicidade Bagé
Jornalismo Bagé
Ciências Sociais Bagé- Caçapava do Sul
Ciências da
Educação,
Comunicação e
Artes
Ciências Biológicas
Alegrete - Bagé- Caçapava do Sul- Santana do Livramento-
São Borja- São Gabriel-
Ciências Exatas e
ambientais
Engenharia Civil Santana do Livramento
Centro de Ciências
Jurídicas
Direito Alegrete - Bagé- Santana do Livramento- São Gabriel
Psicologia Bagé
Nutrição Bagé
Fisioterapia Bagé
Centro de Ciências
da Saúde
Farmácia Bagé
Gestão de Tecnologia
da Informação
Caçapava do Sul
Informática Alegrete - Bagé- Santana do Livramento- São Gabriel
Ciências Econômicas Alegrete
Ciências Contábeis
Alegrete - Bagé- Caçapava do Sul- It aqui- Santana do
Livramento- São Borja- São Gabriel-
Arquitetura e
Urbanismo
Bagé
Centro de Ciências
da Economia e
Informática
Administração
Alegrete - Bagé- Santana do Livramento- São Borja- São
Gabriel
197
ANEXO 5: Distribuição dos cursos nos diversos campi da UNISC.
Campi Cursos
Administração
Direito
Sistemas de Informação
Capão da Canoa
Pedagogia e Educação Física. Cursos encerrados.
Administração
Ciências Contábeis
Letras:Português-Inglês
Sistemas de Informação
Sobradinho
Pedagogia - curso encerrado
Administração
Direito
Sistemas da Informação
Venâncio Aires
Pedagogia
198
ANEXO 6: Quadro descritivo da distribuição dos pólos/ núcleos decorrentes da ampliação do
sistema público de educação superior e tecnológica do Rio Grande do Sul.
UERGS
104
UNIPAMPA
105
UFCSPA
106
IFF
107
IFRS
108
IFSUL
109
Região 1:
Cidreira
Novo Hamburgo
Guaíba
Porto Alegre
Alegrete Porto Alegre
Reitoria-
Santa Maria
237-Bento
Gonçalves-
Núcleo
Avançado de
Feliz
Reitoria
Pelotas
Região 2;
Bento Gonçalves
Encantado
São Francisco de
Paula
Caxias do Sul
Montenegro
Vacaria
Bagé
Campus
Alegrete
Canoas
Sapucaia
Do
Sul
Região 3;
Cruz Alta
Frederico
Westphalen
Sananduva
Erechin
Ibirubá
Caçapava do
Sul
Campus
Julho de
Castilhos
Caxias do Sul Charqueadas
Região 4:
São Luiz
Gonçaga
Três Passos
Dom Pedrito
Campus
Santa Rosa
Erechim
Passo
Fundo
Região 5:
Cachoeira do Sul
Santa Cruz do
Sul
Itaqui
Campus São
Borja
Farroupilha
(campus
Federalizado)
Camaquã
Região 6:
Alegrete
Bagé
SãoBorja
Santana do
Livramento
Jaguarão
Campus
Santo
Augusto
Ibirubá
(campus
Federalizado)
Bagé
Região 7:
Tapes
Santana do
Livramento
Campus São
Vicente do
Sul
Osório
Venâncio
Aires
São Borja
Núcleo
Avançado de
Jaguari
Porto Alegre
São Gabriel Restinga
Uruguaiana Rio Grande
Sertão
104
http://www.uergs.edu.br/. . Acesso 16 de fevereiro de 2010
105
. http://www.unipampa.edu.br. Acesso 16 de fevereiro de 2010
106
http://www.ufcspa.edu.br/. Acesso 16 de fevereiro de 2010
107
http://www.iffarroupilha.edu.br .Acesso 16 de fevereiro de 2010
108
http://www.ifrs.edu.br/site/. Acesso 16 de fevereiro de 2010
109
http://www.ifsul.edu.br/portal/ Acesso 16 de fevereiro de 2010
ANEXO 7: Composição dos órgãos deliberativos da UNISC.
INSTÂNCIAS
DELIBERATIVAS
COMPOSIÇÃO
Conselho Universitário
Reitor, que o preside; Vice-Reitor;
Pró-Reitores; Chefes de Departamento;
oito Coordenadores de Curso,indicados pelo Conselho de Graduação; um representante para cada três Cursos e/ou
Programas próprios de Pós-Graduação
stricto sensu, indicados pelo Conselho de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Relações Comunitárias; um
representante indicado pela Escola de Educação Básica Educar-se; um representante dos professores, indicado pela
Associação dos Professores da
Escola de Educação Básica Educar-se;
três representantes dos professores, indicados pela Associação dos Docentes da Universidade; três representantes
dos funcionários, indicados pela Associação dos Funcionários da
Universidade; Coordenadores ou responsáveis pelos campi da universidade fora de sede;
Coordenador do Centro de Educação Profissional - CEPRO; cinco representantes da comunidade, sendo um
indicado pelo Poder Público
Estadual, através da Coordenadoria Regional de Educação; um pelo Poder Executivo Municipal de Santa Cruz
do Sul; um pelo Poder Legislativo Municipal de Santa Cruz do Sul; um pelo Conselho Regional de
Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo e um indicado pela Associação Comercial e Industrial de Santa Cruz do
Sul; e representantes do corpo discente, indicados pelo Diretório Central de Estudantes, na proporção de um quinto
sobre o total dos Conselheiros, até o número inteiro imediatamente inferior à fração.
Conselho de Graduação
Pró-Reitor de Graduação, como Presidente; Coordenadores da Pró-Reitoria de Graduação; Coordenadores dos
Cursos de Graduação; três Chefes de Departamento, indicados pelo Conselho de Pesquisa, Pós- Graduação,
Extensão e Relações Comunitárias; Coordenadores ou responsáveis pelos campi da Universidade fora de sede; um
representante indicado pela Escola de Educação Básica Educar-se; e representantes do corpo discente, indicados
pelo Diretório Central de Estudantes - DCE -, na proporção de um quinto sobre o total de Conselheiros, até o
número inteiro imediatamente inferior à fração.
110
ADMINISNISTRAÇÃO
Superior
Conselho de Pesquisa e
Extensão e Relações
Comunitárias
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação; Pró-Reitor de Extensão e Relações Comunitárias; Coordenadores da Pró-
Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação; Coordenadores da Pró-Reitoria de Extensão e Relações Comunitárias;
Chefes dos Departamentos; Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu; três Coordenadores de
Curso indicados pelo Conselho de Graduação;
Coordenador do Centro de Educação Profissional; Coordenadores ou responsáveis pelos campi da Universidade
fora de sede; Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa - CEP; um representante indicado pela Escola de
110
Artigo 10 § do Estatuto da Universidade: Em atendimento ao princípio da gestão democrática, o Conselho de Graduação é composto em sua maioria absoluta - metade
mais um - por pessoal docente da Instituição
198
Educação Básica Educar-se; e representantes do corpo discente, indicados pelo Diretório Central de Estudantes -
DCE -, na proporção de um quinto sobre o total de Conselheiros, até o número inteiro imediatamente inferior à
fração.
Básica
Colegiado de
Departamento
111
É constituído por todos os professores das disciplinas
112
que o integram e por uma representação discente, indicada
pelo Diretório Central de Estudantes, ouvido o Conselho de Diretórios Acadêmicos, na proporção de um quinto
sobre o total de integrantes do Colegiado, até o número inteiro imediatamente inferior à fração.
113
Fonte: PDI 2002-2006 e 2007-2011 e Estatuto Geral e Regimento da Universidade.
111
Art. 26. do Estatuto da Universidade: Os Departamentos reúnem-se colegiadamente para decisões de ordem didático científica e administrativa.
112
As disciplinas que pertencem ao Departamento se relacionam com os cursos a eles ligados ou ao campo ou área de conhecimento específica.
113
§ Em atendimento ao princípio da gestão democrática, o Colegiado de Departamento é composto em sua maioria absoluta - metade mais um - por pessoal docente da
Instituição
199
201
ANEXO 8: Composição dos órgãos Deliberativos da UCS
INSTÂNCIAS DELIBERATIVAS COMPOSIÇÃO
Conselho Universitário
Reitor, (presidente), Vice-Reitor, Pró-Reitores,
pelos Presidentes dos Conselhos Departamentais,
um representante dos professores titulares, um dos
professores adjuntos, 1 dos auxiliares, dois
representantes discentes, um representante da
comunidade e seis representantes da região.
Superior
Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão.
Reitor(presidente), Vice-Reitor, Pró-Reitores,
coordenador de cada colegiado de curso, dois
representantes de cada campus, um representante
de cada núcleo e dois representantes discentes.
Conselho de Unidade
Diretor da Unidade que o preside, chefes dos
departamentos e Coordenadores de curso que a
integram e pelo representante discente.
Assembléia do Departamento
Docentes em exercício no departamento e a
representação discente sendo presidida pelo Chefe
de Departamento.
ADMINISTRAÇÃO
Básica
Conselho Consultivo do
Núcleo
114
Diretor (Presidente)
Representantes da comunidade
Representantes dos Municípios
Representantes dos docentes
Representantes discentes
Fonte: PDI UCS 2007-2011, Estatuto e Regimento Geral da Universidade.
114
Regimento Geral da Universidade, art.130
202
ANEXO 9: Formas de escolha da representação nos Conselhos deliberativos na UCS
INSTÂNCIAS
ESTRUTURAS
DELIBERATIVAS
FORMA DE ESCOLHA
Conselho
Universitário
115
Escolha do Reitor e do Vice se dá por indicação do Conselho
Diretor da Fundação Universidade de Caxias do Sul. Votação
secreta.
Os representantes dos docentes (um titular e um suplente para
cada categoria) serão eleitos pelos seus pares, sendo
permitida uma recondução.
Os 2 representantes discentes serão indicados pelo seu órgão
máximo por um ano sendo permitida uma recondução.
O representante dos funcionários será indicado pelo seu
órgão máximo de representação com mandato de 2 anos
permitida uma recondução.
Os 3 representantes da comunidade serão indicados pela
Câmara de Industria, Comercio e Serviços de Caxias do Sul,
pela Fundação Educacional da Região dos Vinhedos, de
Bento Gonçalves e pela Associação Pró-Ensino Superior dos
Campus de Cima da Serra, de Vacaria.
Superior
Conselho de
Ensino, Pesquisa e
Extensão.
116
Cada unidade terá um professor representante (e um
suplente) eleito pelo Conselho de Unidade dentre seus
membros por dois anos, permitida uma recondução.
Os representantes dos professores serão eleitos por seus
pares, observados os critérios de qualificação científica e de
experiência universitária por dois anos sendo permitida uma
recondução sendo indicado um titular e um suplente para
cada categoria do quadro de carreira docente.
A representação discente será indicada pelo seu órgão
máximo sendo um deles da graduação e um da pós-graduação
com mandato de um ano sendo permitida uma recondução.
Conselho de
Unidade
O Diretor de Unidade é escolhido pelo Reitor a partir de lista
tríplice elaborada pelos professores lotados nos
Departamentos que a integram, pelos alunos regularmente
matriculados em cursos que conferem grau e diploma
vinculados a unidade e pelos funcionários lotados na Unidade
e efetivos na instituição.
117
Votação secreta.
Assembléia do
Departamento
A Chefia de Departamento corresponde ao chefe e subchefe
com mandato de dois anos e uma recondução escolhidos pelo
Reitor a partir de listas tríplices organizadas pela Assembléia
do Departamento.
118
ADMINISTRAÇÃO
Básica
Conselho
Consultivo do
Núcleo
Diretor de Núcleo indicado pelo Reitor.
115
Art.6 do Estatuto da UCS
116
Art. 9 do Estatuto da UCS
117
Art.18 do Estatuto da UCS
118
Art.21 do Estatuto da UCS
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