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CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
JOSÉ EVARISTO SILVÉRIO NETTO
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE
ESPORTES EM JOVENS ATLETAS E
FATORES ASSOCIADOS
Londrina
2010
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i
JOSÉ EVARISTO SILVÉRIO NETTO
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE
ESPORTES EM JOVENS ATLETAS E
FATORES ASSOCIADOS
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação Associado
em Educação Física – UEM/UEL para
obtenção do título de Mestre em
Educação Física.
Orientador: Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
Londrina
2010
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ii
JOSÉ EVARISTO SILVÉRIO NETTO
MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE ESPORTES EM
JOVENS ATLETAS E FATORES ASSOCIADOS
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa Associado de Pós-Graduação
em Educação Física - UEM/UEL, aprovada
pela Comissão julgadora em:
______/______/2010.
Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
Orientador
Londrina
2010
iii
COMISSÃO JULGADORA
Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes
Orientador
Prof. Dr. José Luiz Lopes Vieira
Membro Interno
Prof. Dr. Ismael Forte Freitas Junior
Membro Externo
Silvério Netto, José Evaristo. Motivação para a prática de esportes em jovens
atletas e fatores associados. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de
Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, Paraná, 2010.
iv
DEDICATÓRIA
Às entidades que interferiram,
interferem, e interferirão nos muitos
momentos da minha existência
À minha mãe Neide Aparecida Nery
e meu irmão, Fernando Silvério,
fontes maiores de inspiração, pelo
carinho e ensinamentos, sem os
quais nada seria possível
v
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Dartagnan Pinto Guedes, por ter me oferecido a oportunidade
de estudar a motivação para a prática esportiva, assim como por ter me desafiado a
enveredar por tema totalmente novo e intrigante. Sua genialidade e simplicidade na
condução dos trabalhos do mestrado ficaram registradas no meu pensar e agir.
Aos meus amigos Ederson Tadeu Barbosa, Eberti Cristovão, Sergio Eduardo
Moura, Cassio Gustavo, Jorge Navarrete, pelo carinho e força.
Aos amigos (as) Andréia Kelly Marques, Izabel Cristina Marques, Julio Tumbi
Are, e Tiago Tago Elewa, pelo apoio, ensinamentos, carinho, e Luz.
À Mandala e família, nas pessoas Clélia Prestes Zerbini, Cláudio Adão, Cláudia
Rosalina Adão, Gildean Panikinho, e Cláudia Prestes, pela infinita Luz, dedicação à
amizade sem a qual não seria possível a mim estar nesta condição.
À minha companheira Maria Carolina Gonçalves Venuto, pela inspiração e
felicidade que fazem com que a vida seja colorida.
Finalmente, à minha mãe, Neide Aparecida Nery, e ao meu irmão, Fernando
Silvério, pela proteção e amor incondicional.
vi
Silvério Netto, José Evaristo. Motivação para a prática de esportes em jovens
atletas e fatores associados. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Centro de
Educação Física e Esporte. Universidade Estadual de Londrina, Paraná, 2010.
RESUMO
Os objetivos do estudo foram (a) realizar a tradução para o idioma português, a
adaptação transcultural e a identificação das propriedades psicométricas do
instrumento Participation Motivation Questionnaire (PMQ); e (b) analisar os motivos
para a prática de esporte de jovens atletas de acordo com gênero, idade, condição
socioeconômica familiar e histórico de treino. Para tanto, inicialmente, dois especialistas
bilíngües fizeram a tradução da versão original do PMQ para o idioma português de
maneira independente, que após análise resultaram em uma versão de consenso. A
seguir, dois tradutores do idioma inglês nativo e bilíngües ficaram encarregados da
retrotradução. Um comitê de juízes foi formado para analisar as versões do
questionário. O comitê utilizou como critério de análise as equivalências semântica,
idiomática, cultural e conceitual. Para identificação das propriedades psicométricas a
versão final do PMQ traduzido para o idioma português foi administrado em uma
amostra de 1517 jovens atletas (714 moças e 803 rapazes) com idades entre 12 e 18
anos participantes dos Jogos da Juventude do Paraná em 2008. Para identificar as
propriedades psicométricas do PMQ traduzido para o idioma português foi realizada
análise fatorial exploratória com rotação Varimax e, na seqüência, para análise da
consistência interna de cada fator de motivação, foi empregado coeficiente alfa de
Cronbach. Quanto ao impacto de gênero, idade, condição socioeconômica familiar e
histórico de treino nos escores dos fatores de motivação, recorreu-se aos cálculos da
analise de covariância, mediante controle de variáveis independentes. Os resultados
mostram que, após discretas modificações apontadas nos processos de tradução, o
comitê de juízes considerou que a versão para o idioma português do PMQ apresenta
equivalências semântica, idiomática, cultural e conceitual. A análise fatorial exploratória
confirmou estrutura de oito fatores de motivação originalmente proposta para o PMQ,
explicando 67% da variância total com satisfatórios valores de consistência interna. A
vii
aplicação do PMQ traduzido para o idioma português na amostra selecionada indicou
que os fatores de motivação mais importantes para a prática de esporte foram
“Competência Técnica” e “Aptidão Física”; porém, diferenças significativas foram
observadas quanto ao gênero, idade, condição socioeconômica e histórico de treino.
Concluindo, a tradução, a adaptação transcultural e as qualidades psicométricas do
PMQ foram satisfatórias, podendo ser recomendado para avaliação dos fatores de
motivação para a prática de esporte de jovens atletas.
Palavras-chave: PMQ; adaptação transcultural; propriedades psicométricas;
treinamento esportivo; adolescentes.
viii
Silvério Netto, José Evaristo. Sport motivation in young athletes and associated
factors. Dissertation (Master of Physical Education) – Center for Physical Education
and Sport. State University of Londrina, Paraná, Brazil. 2010.
ABSTRACT
The study aimed (a) to translate for the Portuguese language, describe the cross-
cultural adaptation and identify the psychometric properties of the Participation
Motivation Questionnaire (PMQ); and (b) to analyze the motives for participation in sport
among young athlete according to gender, age, socioeconomic status and training
history. Initially, two independent bilingual specialists translated the PMQ to Portuguese
language, who after discussion, arrived at a consensus version. Later, two independent
translators native in the target language and fluent in Portuguese translated this
consensus version back into English. A committee of experts was formed to analyze all
the versions of the questionnaire. The committee used as criteria the semantic,
idiomatic, cultural and conceptual equivalence. The final version translated into
Portuguese was administered in a sample of 1517 young athletes (714 females and 803
males) aged between 12 and 18 years who participated in the Youth Games of Paraná,
Brazil in 2008. To identify the psychometric properties of the PMQ translated into
Portuguese exploratory factorial analysis with Varimax rotation were completed.
Cronbach’s alpha coefficient was used to assess the internal consistency reliability of
each motivational factor. Analysis of covariance, controlling independent variables, was
calculated to identify the impact gender, age, socioeconomic status and training history
in motivational factors scores. The results showed that after discrete changes evidenced
by the processes of translation, the committee of experts considered that the
Portuguese version of the PMQ is semantic, idiomatic, cultural and conceptual
equivalent. The exploratory factorial analysis confirmed the scale’s eight-factor structure
originally proposed for the PMQ explaining 67% of the total variance and presenting
reasonable values of internal consistency reliability. The application of the PMQ
translated into Portuguese in the selected sample indicated that the most important
motivational factors for participating in sports were “skill development” and “fitness”, but
ix
motivational differences significant were found according to gender, age, socioeconomic
status and indicators of training history. In conclusion, the translation, cross-cultural
adaptation and psychometric performance of the PMQ were satisfactory, and can be
recommended to assess motivational factors within the context of sport for young.
Keywords: PMQ; cross-cultural adaptation; psychometric properties; sport training;
Adolescents.
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Reciprocidade triádica segundo a Teoria Social Cognitiva .................................
22
Figura 2. Continuum de autodeterminação exemplificando os estilos regulatórios, lócus
de percepção de causalidade, e processos regulatórios relevantes ...................
31
Figura 3. Seqüência motivacional descrita por Vallerand (1997) e o modelo do processo
motivacional em Educação Física (Ntoumanis, 2001) .........................................
35
Figura 4. Modelo proposto por Wang e Biddle (2003) de inter-relação entre crença na
habilidade, orientações das metas, competência percebida e motivação
intrínseca .............................................................................................................
38
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Características psicométricas do Participation Motivation Questionnaire
(PMQ)...................................................................................................................
50
Tabela 2. Universo de jovens atletas que participaram dos Jogos da Juventude do
Paraná no ano de 2008 .....................................................................................
60
Tabela 3. Número de jovens atletas analisados no estudo ............................................... 61
Tabela 4. Indicadores sociodemográficos e histórico de treinamento da amostra de
jovens atletas analisados no estudo ..................................................................
65
Tabela 5. Análise fatorial exploratória do Participation Motivation Questionnaire (PMQ)
traduzido para o idioma português administrado em jovens atletas do Estado
do Paraná ...........................................................................................................
67
Tabela 6. Estrutura fatorial do Participation Motivation Questionnaire (PMQ) traduzido
para o idioma português administrado em jovens atletas do estado do
Paraná.................................................................................................................
68
Tabela 7. Informações estatísticas (média ± desvio-padrão) dos fatores de motivação
para a prática de esportes em jovens atletas do estado do Paraná mediante a
aplicação do Participation Motivation Questionnaire (PMQ) ..............................
70
Tabela 8. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com o gênero dos jovens atletas ....................
71
Tabela 9. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a idade dos jovens atletas ......................
73
Tabela 10. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a classe econômica familiar dos jovens
atletas .................................................................................................................
73
Tabela 11. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a idade de início do treino dos jovens
atletas .................................................................................................................
76
Tabela 12. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com o tempo de treino dos jovens atletas ......
76
Tabela 13. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a freqüência semanal de treino dos
jovens atletas .....................................................................................................
77
Tabela 14. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a duração das sessões de treino dos
jovens atletas .....................................................................................................
77
Tabela 15. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com a característica da modalidade esportiva
praticada ............................................................................................................
78
Tabela 16. Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para
a prática de esportes de acordo com o nível de competição dos jovens
atletas..................................................................................................................
80
Tabela 17. Estrutura fatorial do Participation Motivation Questionnaire (PMQ) identificada
no estudo original de Gill, Gross e Huddleston (1983) e no presente estudo .....
84
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 14
2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 19
3.
JUSTIFICATIVA ...................................…………………………………………… 20
4. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 21
4.1. Teoria Cognitiva Social e Auto-Eficácia ...................................................... 21
4.2. Teoria de Autodeterminação e Motivação .................................................. 29
4.3. Motivos para a Prática Esportiva .......................…………...................…… 39
4.6. Instrumento Participation Motivation Questionnaire (PMQ) ........................ 47
4.4. Indicadores Sociodemográficos ................................................................. 50
4.4.1. Cor da Pele/ Etnia ............................................................................. 51
4.4.2. Condição Socioeconômica Familiar ................................................. 54
4.4.3. Escolaridade ..................................................................................... 55
4.4.4. Gênero .......................………………………………………………….. 55
5. MÉTODOS.............................................…………………………………………… 57
5.1. Tradução e Adaptação Transcultural do PMQ ........................................... 57
5.2. Aplicação do Instrumento Traduzido PMQ ................................................. 59
5.2.1. Seleção da Amostra ......................................................................... 59
5.2.2. Coleta de Dados ............................................................................... 61
5.3.1. Tratamento Estatístico dos Dados..................................................... 62
6. RESULTADOS .................................................................................................. 64
6.1. Tradução, Adaptação Transcultural, e Propriedades Psicométricas do
PMQ ...................................................................................................................
65
6.2. Identificação dos componentes motivacionais relacionados à prática de
esporte de acordo com gênero, idade, e condição socioeconômica familiar ....
70
6.3. Impacto do histórico de treino nos componentes motivacionais
relacionados à prática de esporte ......................................................................
74
7. DISCUSSÃO ..................................................................................................... 81
7.1. Tradução, Adaptação Transcultural, e propriedades psicométricas do
PMQ ...................................................................................................................
81
7.2. Identificação dos componentes relacionados à prática de esporte ............ 87
8. CONCLUSÃO .................................................................................................... 93
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 95
10. ANEXOS ............................................................................................................ 104
Anexo 1 – Aprovação do Comitê de Ética ...................... .................................. 105
12
13
Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...... ........................... 106
Anexo 3 – Motivos para a Prática de Esporte (PMQ) ........................................ 107
Anexo 4 – Questionário Sociodemográfico ....................................................... 108
Anexo 5 – Participation Motivation Questionnaire ............................................. 109
13
14
1. INTRODUÇÃO
O esporte, em particular o esporte juvenil, vem sendo cada vez mais
objeto de discussão na área da Educação Física, dado o crescimento da sua
importância no campo da saúde coletiva. Enquanto um direito de todos de
acordo com a Carta Internacional de Educação Física e Esporte disseminada
pela UNESCO, no contexto social, o esporte apresenta três formas de
manifestação: ‘esporte-educacional’, ‘esporte-rendimento’ e o ‘esporte-
participação’. O ‘esporte-educacional’ apresenta caráter de formação mediante
princípios educacionais; o ‘esporte-rendimento’ apresenta caráter de elite por
meio de regras específicas das modalidades esportivas, organizações que o
regulamenta, patrocínios e institucionalizações; e o ‘esporte-participação’
promove a interação social e a saúde mediante a promoção do bem-estar, do
lazer lúdico e da utilização construtiva do tempo livre (BÖHME, 2003).
A participação esportiva com aspirações de aprimoramento e
manutenção da saúde positiva, mediante promoção do bem-estar e da
qualidade de vida do praticante, pode ser trabalhado dentro das manifestações
educacional e participativa, e encontra respaldo no contemporâneo construto
de saúde preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Este construto
assume a saúde como uma “multiplicidade de aspectos do comportamento
humano voltados ao completo bem-estar físico, mental, social” (WHO, 2002).
Segundo Gomes (2006), para os profissionais de Educação Física a
educação é um elemento transformador capaz de integrar as pessoas na
realidade social com autonomia e agência pessoal; é um instrumento que
propicia a melhora da saúde, da qualidade de vida, e do bem-estar. Saúde,
assim como o conceito de esporte, possui várias dimensões, a citar
conservação da saúde, promoção da saúde, educação para a saúde,
prevenção/controle de doenças, e reabilitação da saúde. Em se tratando de
saúde pública, trabalhos importantes vêm sendo publicados acerca de doenças
ocasionadas por um estilo de vida pouco ativo fisicamente e pouco saudável
(HALLAL et al., 2007). A posição da Sociedade Brasileira de Medicina do
Esporte, no que diz respeito à quantidade mínima de atividade física, é a
14
15
defesa de que deve-se manter um dispêndio energético semanal de pelo
menos 2000 kcal, para uma pessoa de 70 kg (CARVALHO et al., 1996).
Nas sociedades modernas indivíduos em quantidade crescente, e mais
precocemente, assumem comportamentos de risco para a saúde como o
consumo de tabaco, de álcool, de drogas psicotrópicas, sendo
insuficientemente ativos, entre outros comportamentos deletérios à saúde
positiva. Alguns estudos apontam para a importância do esporte na
manutenção da saúde positiva dos jovens, mediante níveis de prática habitual
de atividade física adequados. Segundo Alves et al. (2005), é importante que
políticas públicas incentivem os jovens para a prática esportiva, uma vez que,
os hábitos de prática da atividade física na adolescência parece se transferir
para a idade adulta.
Embora a literatura não apresente consistência na relação atividade
física na adolescência e na vida adulta, pesquisas sugerem que praticas
esportivas durante a adolescência contribuem para atividade física de lazer e
manutenção de maior dispêndio energético, e diminuição do sedentarismo na
vida adulta (AZEVEDO JUNIOR et al., 2006; ALVES et al., 2005). Promover a
prática de atividade física no cotidiano de crianças e adolescentes mediante a
prática esportiva parece ser mais eficiente na medida em que os jovens
demonstram grande afinidade por atividades competitivas, assim como pelo
prazer no engajamento em atividades desafiadoras e estimulantes, sendo este
um perfil psicológico comum da adolescência.
O esporte possui um valor terapêutico importante, que contribui para o
aprimoramento da saúde positiva. Este valor terapêutico está na maior
absorção do jovem atleta na atividade esportiva, de modo que, no momento da
prática, o jovem não esteja sob a pressão da “vida cotidiana”, ou mesmo não
esteja em um estado de auto-análise ou introspecção. De acordo com Lawther
(1978), a transição da atenção para fora de si mesmo que ocorre com o jovem
atleta em um processo de concentração para a atividade esportiva não é
saudável somente do ponto de vista psíquico, como também oportuniza
satisfação emocional.
Apesar de o esporte causar grande impacto na saúde pública, e nas
sociedades de forma geral, as práticas esportivas no Brasil, tanto nas esferas
recreacional como de desempenho competitivo, carecem de abordagens
15
16
interdisciplinares que contemplem os múltiplos fatores que interagem para o
sucesso, ou fracasso, em determinada modalidade esportiva. Os profissionais
do esporte, especialmente o treinador esportivo, em sua maioria subestimam a
importância dos aspectos psicológicos e sociais, supervalorizando as ciências
biológicas relacionadas ao treinamento esportivo, especialmente fatores
fisiológicos e bioquímicos do desempenho competitivo. Este fato prejudica o
entendimento do processo de treinamento esportivo, uma vez que o
treinamento esportivo é um processo ontológico, sendo fundamental a dialética
instrução-educação. Trata-se de um processo pedagógico onde a ‘instrução’ se
refere ao ensino e a aprendizagem de técnicas e táticas esportivas, e a
realização de tarefas para atingir as metas. Neste caso, a ‘educação’ se refere
ao desenvolvimento das qualidades da personalidade para o adequado
rendimento atlético ou comportamento frente aos desafios inerentes às
modalidades de esportes. Este entendimento do processo de treinamento
esportivo parece ser fundamental para o sucesso de um programa de
treinamento com atletas de todas as idades e níveis de desempenho, uma vez
que não se treina o corpo do individuo, e sim o próprio indivíduo. Desta forma,
os jovens atletas são não somente matéria e energia biológica, mas também
sentimentos e pensamentos, porque gostam do que fazem e estão motivados
para a atividade esportiva (CASAL, 2000).
A superestimação de fatores fisiológicos acaba por diminuir o caráter
lúdico que promove prazer e bem-estar na atividade que se pratica,
transformando, por vezes, o esporte em um trabalho desumano, exaustivo e
sem sentido. Segundo Freire (2005), a confusão de sentidos entre jogo e
trabalho, provocada por profissionais do esporte na pratica profissional, causa
nos jovens atletas um aborrecimento com o que fazem, dificuldade em alcançar
suas metas nos desempenhos, perda da qualidade nos movimentos realizados,
além da perda da idéia geral do contexto do jogo, por submeter estes atletas a
rotinas de treinos exaustivos que poucos trabalhadores suportariam,
descaracterizando o jogo.
A Teoria do Treinamento Esportivo deve, portanto, ser norteada por
variáveis sociais, intelectuais, e emocionais, assim como por variáveis
biológicas (CASAL, 2000). Bara Filho e Ribeiro (2005) sugerem que são
necessários estudos que investiguem a correlação de variáveis psicológicas,
16
17
fisiológicas, físicas e sociais, para que se tenha um entendimento científico
mais robusto sobre a complexidade do esporte. Pesquisas com o objetivo de
melhor entender os processos psicológicos responsáveis por melhores
desempenhos são fundamentais neste panorama de supervalorização dos
fatores limitantes biológicos do desempenho esportivo.
As federações e as confederações esportivas pouco têm contribuído
para mudar este quadro de despreparo entre os profissionais da prática
esportiva, de resultados insatisfatórios de programas e projetos de promoção
do esporte, como baixa adesão de crianças e adolescentes a prática esportiva,
desmotivação e elevado número de abandono, ínfimos resultados dos jovens
atletas de desempenho competitivo em competições internacionais
importantes, entre outros problemas. Essas entidades esportivas recebem
recomendações, quando a modalidade é olímpica, de suas respectivas
federações internacionais para as idades adequadas ao inicio da participação
em competições estaduais e nacionais. Porém, de acordo com os achados de
Arena e Böhme (2004), tanto federações de modalidades esportivas individuais
como coletivas optam por não acompanharem essas orientações, promovendo
competições para crianças em média dois anos mais novas do que o que é
preconizado pelas entidades internacionais.
É consenso entre acadêmicos e profissionais do esporte que um
adequado trabalho de fatores psicológicos, físicos, técnicos e materiais,
utilizando instrumentos de análise e metodologia específicos à modalidade
esportiva, é determinante ao sucesso do técnico e do atleta (SILVA e RUBIO,
2003). Gouveia (2001) trás a tona uma idéia interessante sobre uma integral
compreensão do comportamento motor, explicando que somente mediante a
integração e interação de diferentes áreas do conhecimento, a citar a fisiologia,
a bioquímica, a psicologia, a educação, e perspectivas sócio-culturais, é
possível promover tal entendimento nos contextos do movimento.
No geral, tanto atletas de modalidades esportivas coletivas como
individuais, encontram-se sobremaneira despreparados psicologicamente e
sem suporte social que lhes garanta uma adaptação positiva ao estresse
inerente à carreira esportiva. Desta maneira, parece ser fundamental
desenvolver pesquisas que investiguem os aspectos psicológicos dos jovens
atletas, e levantem conclusões para o melhoramento da aderência, da adesão,
17
18
do aumento da motivação para a prática, e do fomento de atitude positiva
frente as dificuldades inerentes à carreira esportiva.
Machado, Piccoli e Scalon (2005) afirmam que a motivação é um
elemento básico que faz com que o atleta siga as orientações do treinador e
atenda diariamente as rotinas de treinamento. De acordo com Smith (2007), ao
entender o que é comportamento motivado e como motivar os atletas, poder-
se-ia disponibilizar o melhor ambiente possível em que os atletas poderiam
potencializar suas experiências individuais, além de tornarem-se mais positivos
e saudáveis em contextos específicos. A motivação para a prática de esportes
é um tema crucial para o entendimento do esporte juvenil e suas limitações no
que se refere ao indesejado abandono e à aderência dos jovens envolvidos.
Em se tratando de políticas de fomento ao esporte infantil e juvenil,
torna-se importante identificar não somente os motivos que levam os jovens a
praticarem esportes, mas também os indicadores sociodemográficos e histórico
de treinamento esportivo associados a esses motivos que, de uma forma ou
outra, podem demonstrar algum impacto no comportamento dos jovens diante
das atividades esportivas. De posse dos motivos para a prática de esportes e
de sua associação com indicadores sociodemográficos e de histórico de
treinamento mais relevantes, aumenta-se a possibilidade de auxílio a
intervenções para o incremento da prática esportiva, inclusive oferecendo
subsídios na tentativa de encaminhar soluções para possíveis obstáculos que
limitam a participação de jovens no esporte.
18
19
2. OBJETIVOS
Diante do exposto, o presente estudo analisou os componentes
motivacionais relacionados à prática de esporte em jovens atletas. A fim de que
as metas estabelecidas para o estudo pudessem ser alcançadas em toda a sua
plenitude, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
Realizar a tradução para o idioma português, a adaptação
transcultural e a identificação das propriedades psicométricas do
instrumento Participation Motivation Questionnaire (PMQ);
Identificar os componentes motivacionais relacionados à prática
de esporte em jovens atletas de acordo com gênero, idade e
condição socioeconômica familiar; e
Verificar o impacto do histórico de treino nos componentes
motivacionais para a prática de esporte de jovens atletas.
19
20
3. JUSTIFICATIVA
Tanto na atividade física como no esporte, e em qualquer outro âmbito
da sociedade, o sucesso depende de muitos atributos relacionados ao campo
biológico, sociocultural e psicológico, entre outros, sendo a motivação um dos
aspectos mais importantes para o bom desempenho. A motivação atua como
um fator regulador da energia e da intensidade empregada para alcançar
objetivos previamente estabelecidos (VALDÉZ, 1996 apud AZOFEIFA, 2006).
Segundo Plonczynski (2000), a motivação para o envolvimento em
atividades que exigem esforços físicos mais intensos, como é o caso da prática
de esporte, é uma preocupação importante devido a natureza complexa da
atividade esportiva e a confusão dos muitos métodos disponibilizados na
literatura para investigação do tema.
Profissionais do esporte, professores de educação física na função de
treinadores e psicólogos que atuam no campo esportivo, para desempenharem
suas funções de maneira mais adequada necessitam, cada vez mais, identificar
os motivos que levam os jovens a praticar esportes nas diferentes modalidades
e a manter por mais tempo possível esta prática. Portanto, estudos
relacionados aos aspectos motivacionais para a prática de esporte são tidos
como tema relevante, atual e de crítica importância quando necessitamos
compreender o esporte infantil e juvenil, e especificamente os fatores que
maximizam a participação dos jovens em diferentes modalidades esportivas.
20
21
4. REVISÃO DA LITERATURA
A motivação humana é entendida dentro das teorias sócio-cognitivas,
estas apresentando em seu cerne algumas subteorias com princípios,
pressupostos e hipóteses específicas. Devido à complexidade do tema
Motivação para a Prática Esportiva, a organização da revisão de literatura foi
esquematizada em função do suporte teórico que a fundamenta, em detrimento
do tema em questão.
Desta forma, o primeiro tópico nomeado ‘Teoria Cognitiva Social e Auto-
Eficácia’, estará relacionado com a explicação da Teoria Sócio-Cognitiva que
faz-se importante para o entendimento do comportamento e motivação
humana, além de ter influenciado a elaboração dos pressupostos da motivação
tal qual atualmente são aceitos. O próximo tópico, intitulado ‘Teoria de
Autodeterminação’, estará situando a motivação com seus princípios,
pressupostos e hipóteses, dentro da Teoria de Autodeterminação e suas
subteorias sobre a Motivação, que se traduzem no construto teórico mais
aceito e amplamente testado em diferentes contextos, dentre os quais o
esportivo. A seguir, seguem os sub-tópicos ‘Motivos Para a Prática Esportiva’,
‘Instrumento Participation Motivation Questionnaire (PMQ)’, e ‘Indicadores
Sociodemográficos’.
4.1. Teoria Cognitiva Social e Auto-Eficácia
A Teoria Cognitiva Social têm como prerrogativa que o componente
emotivo auto-eficácia, é o principal mediador de mudança de comportamento,
sendo modulado mediante aspectos cognitivos. Ainda, a cognição é vista como
um mediador em mudanças de comportamentos iniciais que envolvem sucesso
e subseqüente auto-eficácia (PLONCZYNSKI, 2000).
A Teoria Social Cognitiva explica o comportamento humano mediante a
inter-relação entre o comportamento, os fatores pessoais e o ambiente, todos
agindo como determinantes que se influenciam bidirecionalmente. Segundo
Azzi e Polydoro (2006), esta relação é denominada reciprocidade triádica,
sendo representada por um triangulo cujos vértices se relacionam em dois
21
22
sentidos com forças não necessariamente iguais (figura 1). A Teoria Cognitiva
Social oferece um modelo de agência interativa (ação recíproca) onde as
pessoas contribuem e afetam suas próprias motivações e ações dentro de um
sistema triádico de causa recíproca. Neste modelo, ação, cognição, afeto,
fatores pessoais, e eventos ambientais, operam como determinantes da
interação (BANDURA, 1989).
Fatores Pessoais Ambiente
Comportamento
Figura 1. Reciprocidade triádica segundo a Teoria Social Cognitiva.
Segundo Bandura (1989), nenhum mecanismo de agência pessoal é tão
penetrante quanto à crença das pessoas sobre sua capacidade de controlar os
eventos que afetam suas vidas. A crença de auto-eficácia é utilizada para
explicar o comportamento humano em inúmeros contextos sociais, sendo
utilizada por diversas áreas do conhecimento, como é o caso da saúde, do
esporte, da educação, e do trabalho. Dobránszky e Machado (2001) apontam
que a auto-eficácia pode ser utilizada como forma de investigar como o atleta
se julga capaz de atingir determinada meta durante treinos e competições,
sendo, portanto, especifica de determinado momento em determinado
contexto, em que o individuo avalia a situação e atribui subjetivamente o
desempenho que poderá alcançar. O construto da Auto-Eficácia foi criado por
Albert Bandura em 1977 e, desde então, veio sofrendo alterações em sua
definição seguindo a evolução da Teoria Social Cognitiva (AZZI e POLYDORO,
2006). A Auto-Eficácia leva em consideração a subjetividade do ser humano, e
não apenas aspectos objetivos, além das possibilidades de ser o responsável
pela organização e execução das estratégias para se chegar a um objetivo,
sendo definida por Bandura (1994) como as crenças de uma pessoa em sua
22
23
capacidade em produzir determinados níveis de desempenho que exercem
influência sobre os eventos e que afetam suas vidas.
Os benefícios do construto da auto-eficácia facilitam o entendimento e o
desenvolvimento de comportamentos que auxiliam o sucesso de técnicos
esportivos e atletas. Aqueles que apresentam forte senso de auto-eficácia
podem ser mais seguros em competições importantes e treinos difíceis,
acreditando em suas capacidades para superar as adversidades. Quando as
adversidades não são superadas, esses atletas rapidamente podem recuperar
o senso de eficácia, atribuindo as perdas como falta de empenho ou
conhecimento deficiente, assumindo um comportamento de empenhar-se mais,
ou adquirir mais conhecimento (crenças de melhoramento, com orientação das
metas à tarefa). Se as perdas ou derrotas não são freqüentes podem reforçar a
motivação mais autodeterminada dos atletas, assumindo papel positivo para o
desenvolvimento através do reforço de máximos rendimentos, sendo percebido
como um desafio estimulante e prazeroso (LAWTHER; 1978). Por fim, estes
atletas com forte senso de eficácia podem ser menos estressados e
depressivos, assim como lidar com situações adversas crendo em poder
controlá-las futuramente. Já os atletas que apresentam um fraco senso de
auto-eficácia têm grandes chances de não encarar as dificuldades inerentes
das atividades esportivas de forma positiva, sempre as enxergando como
situações pessoalmente ameaçadoras. O comportamento desses atletas é
propenso a ser de fraco engajamento nas modalidades esportivas, e frente a
dificuldades de diminuição do empenho e desistência, tendem a salientar suas
deficiências pessoais como falta de aptidão. São pessoas que provavelmente
não acreditam que possam melhorar porque vêem a aptidão atlética como um
dom e não como resultado de um trabalho bem realizado (crenças de
entidades, com orientação das metas ao ego). Por fim, são atletas suscetíveis
a altos graus de estresse e depressão.
Segundo Bandura (1989), para a operação da agência humana
entendida dentro da ‘estrutura de causa interacional’ (reciprocidade triádica), a
Teoria Social Cognitiva elucida quatro fontes principais na qual a crença na
auto-eficácia é desenvolvida, sendo estas as ‘experiências diretas’,
‘experiências vicárias’, a ‘persuasão social’ e os ‘estados físicos e emocionais’.
23
24
As informações provenientes dessas fontes são interpretadas, auxiliando na
construção das crenças de auto-eficácia e operando a agência humana.
A ‘experiência direta’ de sucesso e superação é a fonte mais forte de
desenvolvimento da crença da auto-eficácia, porque é responsável pela
construção de uma crença robusta na sua eficácia pessoal. A análise desta
fonte baseia-se não apenas no resultado obtido, mas também nas
características da tarefa e do ambiente onde se está inserido (AZZI e
POLIDORO, 2006). Já as experiências diretas de fracasso são relacionadas à
diminuição do senso de auto-eficácia, principalmente se ocorrerem antes de
qualquer experiência de sucesso em determinada atividade (BANDURA, 1994).
Porém, alguns estudos dizem que experiências de fracasso, ao contrário,
podem aumentar a motivação, assim como experiências de sucesso podem
desestimular os atletas. Quando as vitórias em eventos esportivos são
conquistadas facilmente, não reforçam a motivação dos atletas, e podem até
mesmo provocar nestes um baixo engajamento em eventos futuros. Porém,
quando as vitórias são conquistadas com dificuldade a tendência é de
valorização da conquista e reforço da motivação (LAWTHER, 1978).
A segunda fonte de desenvolvimento do senso de auto-eficácia é a
‘experiência vicária’, que traduz na observação de um modelo social. Para o
esporte esta fonte de influência é extremamente importante uma vez que os
atletas mais experientes geralmente são os espelhos dos atletas mais jovens.
Quanto mais semelhante for o modelo social em características físicas,
modalidade esportiva, estilo de jogo, entre outros fatores que façam com que o
indivíduo se espelhe, maior será a influência. Os atletas procuram modelos que
possuem as competências que desejam adquirir, e assim, estes modelos
sociais conseguem transmitir conhecimento e ensinar aos seus observadores
padrões e estratégias de lidar com as demandas do ambiente (BANDURA,
1994). A percepção dos observadores com relação ao impacto social dos
modelos altera a força desta fonte de influência, onde professores, técnicos,
pais ou ídolos esportivos, oferecem diferentes percepções de prestígio social.
A ‘persuasão social’ fortalece o senso de auto-eficácia através da
persuasão verbal de que o individuo possui a capacidade para administrar
determinadas demandas da situação. Os incentivos direcionados por pessoas
de grande prestígio social ou de grande valor pessoal, conduzem os indivíduos
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25
a se esforçarem muito para obter sucesso, auxiliando o desenvolvimento de um
comportamento e senso de eficácia pessoal necessários a superação das
adversidades da carreira esportiva. Porém, incentivos não reais e em
descompasso com os desempenhos não satisfatórios de um atleta são
rapidamente convertidos em descrença nas capacidades pessoais.
Orientações e elogios de treinadores esportivos exercem pouca influencia
sobre o valor das aspirações dos atletas quando estes sentem que seus
rendimentos não estão condizentes com o requerido (LAWTHER, 1978).
Por fim, os ‘estados somáticos e emocionais’ também influenciam no
julgamento das suas capacidades. Sensações de estresse, tensão, além de dor
física, fadiga e fraqueza, além do humor, são sinais de vulnerabilidade e
debilidade física que levarão a um desempenho fraco (BANDURA, 1994). Um
atleta obtém maiores percepções de auto-eficácia quando está com um bom
humor. Quando está de mau humor, sob forte estresse e tensão, ou com dores
no corpo, interpreta seu estado físico de maneira negativa. Os estados
somáticos e emocionais podem ocorrer antes ou durante a atividade,
funcionando como um filtro para o senso de auto-eficácia (AZZI e POLYDORO,
2006).
A crença de auto-eficácia afeta o comportamento humano através de
quatro processos psicológicos: ‘processo cognitivo’, ‘processo motivacional’,
‘processo afetivo’ e ‘processo de seleção’ (BANDURA, 1994). Assim, influencia
as escolhas que fazemos, os esforços que colocamos nas atividades que
realizamos, o grau de persistência que mostramos em face das dificuldades, e
como nos sentimos ao realizá-la (AZZI e POLYDORO, 2006). Alguns destes
processos como estímulo afetivo e padrão de pensamento são importantes na
consideração dos próprios acertos, mas não exatamente como influenciadores
de intervenção da ação (BANDURA, 1989).
Os cursos de ação para atingir as metas estabelecidas são organizados
inicialmente através do pensamento, e, neste processo, as crenças de auto-
eficácia auxiliam na construção dos esquemas antecipatórios das situações
premeditadas. Os indivíduos que têm elevada crença de auto-eficácia
construirão esquemas antecipatórios de sucesso, e organizarão adequados
cursos de ação e estratégias (BANDURA, 1989). As pessoas que possuem
baixas crenças de auto-eficácia irão construir esquemas antecipatórios de
25
26
situações premeditadas de fracasso, visualizarão muitos obstáculos e
problemas que não conseguirão resolver, e por isso não conseguirão organizar
cursos de ação que as conduzam ao sucesso na situação futura. De acordo
com Bandura (1994) com relação às pessoas que são confrontadas com as
demandas ambientais de difícil controle, as que possuem dúvidas sobre sua
eficácia não conseguem manter um raciocínio analítico regular, estabelecem
metas inferiores, e seus desempenhos são piores.
A crença da auto-eficácia afeta a auto-regulação da motivação e
determina quanto esforço um indivíduo exercerá na atividade e durante quanto
tempo persevera em face dos obstáculos (BANDURA, 1989). As pessoas se
motivam e antecipadamente guiam suas ações através de planejamento
premeditado, formando as crenças sobre o que podem fazer. Bandura (1994)
aponta a existência de três diferentes motivadores cognitivos: ‘atribuição
causal’, explicado pela Teoria da Atribuição; as ‘expectativas de resultados’,
explicadas pela Teoria das Expectativas Avaliadas; e as ‘metas de cognição’,
explicadas pela Teoria das Metas. Na ‘atribuição causal’, as pessoas com forte
crença de auto-eficácia atribuem os seus fracassos a um esforço insuficiente,
enquanto aquelas que possuem fraca crença de auto-eficácia atribuem os
fracassos a pouca habilidade. ‘Atribuições causais’ afetam a motivação, o
desempenho e as reações, principalmente através das crenças de auto-eficácia
(BANDURA, 1994). Com relação às ‘expectativas de resultados’, a motivação é
modulada pela expectativa dos resultados que os cursos de ação organizados
produziriam, além do valor destes resultados. As pessoas agem baseadas em
suas crenças sobre o que podem fazer, assim como sobre os resultados do
desempenho. O principal mecanismo cognitivo de motivação, porém, ocorre
através do estabelecimento de metas desafiadoras, que são capazes de
aumentar e sustentar a motivação. As metas operam pelo processo de auto-
influência em vez da regulação da motivação e ação direta (BANDURA, 1994).
A motivação baseada no cenário das metas desafiadoras constrói um processo
de comparação cognitiva, onde uma experiência de satisfação provoca, em
cenários subjacentes de metas semelhantes, a busca desta satisfação e
comportamento de perseverar em seus esforços até que as metas sejam
cumpridas. Segundo Bandura (1989), as realidades sociais comuns são
dotadas de dificuldades, como impedimentos, fracassos, adversidades,
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contratempos, frustrações, sendo preciso ter um robusto senso de eficácia
pessoal para sustentar um esforço perseverante que é necessário para obter
sucesso. No cenário esportivo isso é evidente, uma vez que os atletas tentam a
todo o momento ultrapassar seus limites na busca pela obtenção de melhores
desempenhos, e superar os adversários em treinos e competições.
Com relação ao ‘processo afetivo’, a crença de uma pessoa em sua
capacidade de perseverar afeta a quantidade de depressão e estresse que ele
conseguirá suportar em situações difíceis. Bandura (1989) sugere que as
reações emocionais podem afetar as ações de maneira direta e indireta, pela
alteração da natureza e do curso dos pensamentos. Pessoas que têm elevadas
crenças de auto-eficácia podem controlar as ameaças das atividades e manter
os padrões de pensamentos organizados. Porém, aqueles que não crêem em
sua capacidade para controlar as demandas ameaçadoras das atividades,
desenvolvem elevados níveis de ansiedade e estresse durante a atividade, e
têm distúrbios nos padrões de pensamento (BANDURA, 1994). Assim,
futebolistas com diminuída crença de auto-eficácia provavelmente realizariam
muitos passes errados, se posicionariam mal para as marcações, e finalizariam
sem sucesso em situações de “quase gol”. Da mesma forma, atletas de
modalidades individuais que não crêem em si na execução do gesto motor
provavelmente não conseguiriam executar a técnica correta do movimento,
devido ao excesso de ansiedade e estresse. Não apenas as crenças na
capacidade de perseverar afetam a ansiedade e o estresse, mas também, a
crença na capacidade de controlar os pensamentos é fator chave neste
processo (BANDURA, 1994) onde quando um indivíduo se percebe como
ineficaz em desenvolver estratégias e controlar os pensamentos (“coping”),
desenvolve altos níveis de distração subjetiva, estímulos autonômicos, e
secreção de catecolaminas plasmáticas (BANDURA, 1989). Experiências reais
de controle e sucesso, segundo a Teoria Cognitiva Social, é o principal meio de
interiorizar um robusto senso de eficácia para perseverar (suportar).
As pessoas são, em parte, produto do meio em que freqüentam. Porém,
as crenças de auto-eficácia podem formar o caminho de suas vidas levado pela
influência dos tipos de atividade e ambiente que estas pessoas selecionam
(BANDURA, 1994). As pessoas evitam situações onde crêem que não
possuem capacidade de suportar as adversidades, e selecionam situações e
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28
atividades onde crêem possuir capacidade de perseverar diante dos desafios.
Indivíduos podem exercer alguma influência no curso de suas vidas pela
seleção e construção do meio-ambiente (BANDURA, 1989).
A motivação para a prática de esportes é um tema fundamental a ser
trabalhado junto a profissionais do esporte, em equipes esportivas de todos os
graus de desempenho, pois contêm construtos teóricos que fornecem
importantes fatores limitantes do desempenho atlético que não são levados em
consideração atualmente na prática esportiva. As necessidades psicológicas
básicas devem ser contempladas para uma aderência consistente dos atletas à
modalidade esportiva, e empenho máximo destes atletas para superação das
dificuldades inerentes do esporte de desempenho. Atletas jovens que não têm
contempladas as necessidades psicológicas de autonomia, senso de
competência e relacionamento, possivelmente não perceberão o lócus interno
de causalidade das motivações e, por isso, serão motivados por tipos menos
autodeterminados.
Atletas que crêem na sua capacidade de tomar cursos de ação que os
levem a vitória e sucesso são aqueles que melhor lidarão com os fracassos e
obstáculos que a carreira esportiva impõe e, provavelmente, são os que
conseguirão avaliar adequadamente as situações de desafio e estresse
durante um jogo, tomando cursos de ação satisfatórios. Deste modo, é
importante desenvolver as crenças de auto-eficácia nos atletas, para que
consigam lidar bem com as pressões sociais que estão submetidos, e com os
desafios e obstáculos da vida atlética. Atletas com fortes crenças de auto-
eficácia possuem, conseqüentemente, tipos motivacionais mais
autodeterminados, e suas metas são orientadas á tarefa (MURCIA e
GONZÁLES-CUTRE, 2006).
A aplicabilidade dos construtos motivacionais e de auto-eficácia
precisam ser o alvo de pesquisas no cenário esportivo brasileiro, assim
proporcionando maior aderência dos atletas de desempenho e recreacionais à
prática da sua modalidade. A autodeterminação da motivação depende de
fortes crenças de auto-eficácia, e traduz-se em um importante aspecto para o
desenvolvimento de comportamentos de aderência e resiliência frente aos
obstáculos do esporte, além de serem fundamental para a evolução esportiva e
manutenção da excelência esportiva no caso de atletas de elite.
28
29
4.2. Teoria de Autodeterminação e Motivação
A motivação é o principal fator a ser trabalhado em atletas que visam
desempenho esportivo ou manutenção e melhoramento do estado de saúde,
uma vez que os fatores motivacionais são responsáveis pela manifestação da
ação como um todo, ou seja, pelas escolhas, orientação a objetivos, esforço e
perseverança (GUIMARÃES e BZUNECK, 2002). Azofeifa (2006) aponta que é
fundamental para profissionais da Educação Física, treinadores esportivos e
instrutores de exercício físico, conhecer os principais motivos que levam os
sujeitos sob sua responsabilidade a praticarem atividade física, para terem
como subsídios na elaboração adequada de planos de trabalho para a
manutenção da aderência, a promoção do prazer na execução, o aumento do
ciclo de vida ativo e o afastamento de comportamentos sedentários. Murcia e
Gonzáles-Cutre (2006) afirmam que a motivação pode determinar a eleição de
uma ou de outra atividade física e modular a intensidade com que a sua prática
é realizada. Nesta mesma direção, Ryan e Deci (2000) ressaltam que a
motivação tem sido questão central no campo da psicologia por estar no cerne
das regulações biológica, cognitiva e social.
Os recentes achados dos pesquisadores conduzem a três necessidades
psicológicas inatas, inerentes a qualquer sujeito – necessidades de
‘competência’, de ‘autonomia’ e de ‘relacionamento’ – que, quando satisfeitas,
resultam no aumento da auto-motivação e da saúde mental, e quando não
satisfeitas, diminuem a motivação e o bem-estar.
No contexto esportivo, a motivação associada com outras variáveis
psicológicas como estresse, ansiedade e outras emoções, é dependente da
interpretação e atribuição que o indivíduo faz sobre suas capacidades técnicas,
estratégias, análise do adversário, e todas as diversas habilidades que fazem
parte dos processos cognitivos (DOBRÁNSZKY e MACHADO, 2001).
Portanto, os fatores que levam os jovens a praticarem determinada
modalidade esportiva são múltiplos, e, por conseguinte, apresentam
experiências e conseqüências muito variadas, e desta maneira a motivação é
tratada como um construto singular (RYAN e DECI, 2000). Lawther (1978)
destaca que muitos jovens gostam de testar a si próprio, para saber o que são
29
30
capazes de fazer do ponto de vista físico, na tentativa de dimensionar qual é a
sua capacidade potencial.
A motivação possui duas fontes, intrínseca e extrínseca. A motivação
intrínseca diz respeito a participação voluntária em uma atividade, sem a
preocupação com recompensas e/ou pressão externa, além de interesses
individuais advindos unicamente da atividade, como buscar novidades,
desafios e prazer (FERNANDES e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005). O jovem
atleta motivado intrinsecamente possui orientação das metas à tarefa e,
teoricamente, apresenta maior grau de satisfação com a atividade e menor
grau de estresse e ansiedade, além de apresentar maior aderência no esporte.
Em contrapartida, a motivação extrínseca diz respeito a interesses externos,
como obter prestígio social, ganhar prêmios ou evitar cobranças. Assim, o
jovem atleta motivado extrinsecamente possui orientação das metas ao ego, é
influenciado por recompensas, busca prestígio social, apresenta menor
aderência ao esporte praticado, e teoricamente concebe o esporte como um
meio para alcançar tais metas.
Deci e Ryan (1985) com o objetivo de elucidar o mecanismo da
motivação intrínseca elaboraram a Teoria da Autodeterminação e delinearam
um caminho fundamental para os estudos em motivação humana, mediante
construtos teóricos (sub-teorias) mais coerentes e sólidos para explicar as
motivações humanas, inclusive no campo das atividades físicas e esportivas.
Neste caso, estes construtos são Teoria da Avaliação Cognitiva, Teoria da
Integração Orgânica, Teoria das Necessidades Básicas e Teoria das
Orientações de Causalidade.
A Teoria da Avaliação Cognitiva (sub-teoria) entende que o ser humano
comporta-se baseado na motivação intrínseca, extrínseca ou na desmotivação
(DESCHAMPS e DOMINGUES FILHO, 2005), e tem o objetivo de explicar a
variabilidade da motivação intrínseca, analisando as necessidades básicas de
autonomia e competência, e sua inter-relação com os prêmios, e outros
aspectos da motivação extrínseca (MURCIA e MARTINEZ, 2006). Segundo
Pelletier et al. (2001) de acordo com a sub-teoria da Avaliação Cognitiva,
quando o sujeito percebe o seu comportamento como um comportamento
induzido por agentes externos, ocorre a condução da percepção do lócus de
causalidade interna para externa.
30
31
Por meio da Teoria de Autodeterminação, desenvolveu-se uma nova
linha de pesquisas que entende a motivação intrínseca e extrínseca mediante
um continuum de autonomia dentro de diferentes níveis de regulação e
diferentes lócus de causalidade percebido (figura 2). Quando os sujeitos
percebem o comportamento dentro do lócus de causalidade interna,
desenvolvem ações autodeterminadas, e quando o comportamento se encontra
dentro do lócus de causalidade externo, a ação se inicia por influência de
fatores externos. Quando ocorre a condução do lócus de causalidade
percebido interno para o externo, os sujeitos deixam de participar da atividade
simplesmente pelo prazer em executá-la, e passam a atuar de acordo com
entidades externas, por exemplo, como um prazo estabelecido (PELLETIER et
al., 2002).
Comportamentos
Tipos
Motivacionais
Estilos
Regulatórios
Lócus de
Percepção de
Causalidade
Processos
Regulatórios
Relevantes
Não
Autodeterminado
Continuum
Autodeterminado
Desmotivado
Motivação
Extrínseca
Motivação
Intrínseca
Não
Regulatório
Regulação
Externa
Regulação
Introjeção
Regulação
Identificação
Regulação
Integração
Regulação
Intrínseca
Impessoal
Externo
Predomínio
Externo
Predomínio
Interno
Interno
Interno
Ausência de:
Competência
Contingência
Intenção
Presença de:
Recompensas
externas
Punição
Aprovação
social
Envolvimento
para o ego
Valorização
da atividade
Importância
pessoal
Síntese de
regulações
identificadas
ciencons tes
Divertimento
Prazer
Satisfação
Figura 2. Continuum de autodeterminação exemplificando os estilos regulatórios, lócus
de percepção de causalidade, e processos regulatórios relevantes.
Neste continuum de autodeterminação, existem três tipos de motivação:
‘desmotivação’ (ou amotivação), ‘motivação extrínseca’ e ‘motivação
intrínseca’. A ‘amotivação’ está no extremo menos autodeterminado do
continuum, e se caracteriza pela ausência de motivação extrínseca e
intrínseca, no qual o individuo deixa de valorizar uma atividade, perde a
intencionalidade para atuar (RYAN e DECI, 2000), não percebe contingência
31
32
entre os resultados e suas ações (NTOUMANIS, 2001), não se sente
competente, ou mesmo não crê que o resultado será o planejado ou o
esperado (MURCIA e MARTINEZ, 2006). São iniciados e regulados por forças
além do controle intencional do individuo (FERNANDES e VASCONCELOS-
RAPOSO, 2005).
A ‘motivação extrínseca’ se caracteriza por diferentes tipos motivacionais
de acordo com sua regulação, consistindo em conjunto de comportamentos
objetivando um fim que não a sensação do prazer e do divertimento oferecidos
pela própria atividade (FERNANDES e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005), ou
satisfazendo uma demanda externa ou contingência de recompensas (RYAN e
DECI, 2000). Segundo Ntoumanis (2001), os comportamentos extrinsecamente
motivados tornam-se evidentes quando a atividade é realizada como um meio
para atingir um fim, e não pelo seu próprio benefício. A Teoria (sub-teoria) da
Integração Orgânica detalha os tipos de motivações extrínsecas e os fatores
contextuais que auxiliam ou dificultam a internalização e integração da
regulação destes comportamentos (RYAN e DECI, 2000), e aponta quatro tipos
de motivações extrínsecas: ‘regulação externa’, ‘regulação introjetada’,
‘regulação identificada’, e ‘regulação integrada’.
A ‘motivação extrínseca de regulação externa’ é a forma menos
autodeterminada e mais básica da motivação extrínseca, onde a regulação é
feita pela imposição de demandas externas por outras pessoas (FERNANDES
e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005) se caracterizando por ter um lócus de
controle externo (MURCIA e MARTINEZ, 2006), e sendo o comportamento
controlado por recompensas ou ameaças (NTOUMANIS, 2001).
A ‘motivação extrínseca de regulação introjetada’ é mais afetiva do que
cognitiva, onde os comportamentos são originados de pressões internas (culpa
e ansiedade) mediante impulsos conflituosos (fazer ou não fazer)
(FERNANDES e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005), ou para atingir os
assessórios do ego tais como o orgulho (RYAN e DECI, 2000) na tentativa de
demonstrar habilidade para manter os sentimentos de valor (auto-estima). São
comportamentos que começam a ser internalizados; porém, não são
amplamente autodeterminados (NTOUMANIS, 2001).
A ‘motivação extrínseca de regulação identificada’ é mais
autodeterminada do que a ‘motivação extrínseca de regulação introjetada’, pois
32
33
a identificação, segundo Ryan e Deci (2000), reflete uma valorização
consciente de uma meta comportamental, de maneira que a ação é adotada
como pessoalmente importante. Porém, embora o comportamento seja
regulado internamente, o indivíduo coloca importância não na atividade em si,
mas nos benefícios que esta pode trazer a sua condição. Segundo Ntoumanis
(2001), este tipo de comportamento é feito com menor pressão, mesmo a ação
não sendo muito agradável, e o resultado é muito valorizado.
A ‘motivação extrínseca de regulação integrada’ é a forma mais auto-
regulada de motivação extrínseca, onde há a possibilidade de escolha, mas a
ênfase não se limita a própria atividade, sendo que o individuo busca um auto-
reconhecimento ou um bem estar pessoal. Neste tipo de regulação da
motivação extrínseca, regulações identificadas são amplamente assimiladas
para si, o que significa que estas foram avaliadas e alocadas em congruência
com outros valores e necessidades (RYAN e DECI, 2000). Guimarães e
Bzuneck (2002) afirmam que as condições ambientais que incluem estratégias
de ensino adequadas podem conduzir o indivíduo da ‘motivação externa’ até
possivelmente a ‘motivação externa de regulação integrada’.
A ‘motivação intrínseca’, assim como a ‘motivação extrínseca de
regulação integrada’, possui um lócus de percepção de causalidade interno.
Porém, diferente da motivação extrínseca, na motivação intrínseca a ênfase
está na própria atividade em vez de nos resultados da atividade, além da busca
pelo desafio (NTOUMANIS, 2001), e o indivíduo sente prazer e satisfação na
sua realização. A ‘motivação intrínseca’ é importante para comportamentos
autodeterminados ou autônomos, e é relacionada à satisfação das
necessidades de sentir-se competente (RYAN e DECI, 2000), pertencer ou
estar vinculado a outras pessoas (GUIMARÃES e BZUNECK, 2002), sendo
considerado o construto motivacional chave para percepção de competência
(WANG e BLIDE, 2003).
Guimarães e Bzuneck (2002) afirmam que a satisfação das
necessidades psicológicas básicas de autonomia, de competência, e de
relacionamento ou de estar vinculado a outras pessoas, reforça a ‘motivação
intrínseca’, enquanto que falhas na satisfação de tais necessidades implicam
em um decréscimo ou um impedimento do seu surgimento. Sobre a
necessidade de sentir-se competente, o conceito de auto-eficácia desenvolvido
33
34
dentro do modelo da Teoria Cognitiva Social de Bandura, fornece valiosas
informações. Para Murcia e Martinez (2006), as necessidades psicológicas
básicas de autonomia, competência e relacionamento, de acordo com a teoria
de autodeterminação, atuam como mediadores psicológicos dos diferentes
tipos de motivação.
De acordo com Ntoumanis (2001) os tipos ‘regulação externa’ e
‘regulação introjetada’ são considerados formas controladas de motivação,
enquanto que os tipos ‘regulação identificada’, a ‘regulação integrada’ e a
‘regulação intrínseca’ são formas auto-reguladas de motivação. O contexto
social exerce um forte impacto nas motivações autodeterminadas e no
processo de internalização. Pelletier et al. (2001) afirmam que os contextos
sociais que dão suporte a autonomia individual facilitam a motivação
autodeterminada, ao passo que os contextos que dificultam a autonomia, como
são os casos dos contextos controlados, são responsáveis por minar a
motivação autodeterminada.
Vallerand (1997) criou um padrão de seqüência da motivação para
explicar as relações entre ‘fatores sociais’, ‘moduladores motivacionais’, ‘tipos
de motivações’ e ‘conseqüências’ (figura 3). Diferentes tipos motivacionais são
influenciados por ‘fatores sociais’, contudo as influências destes ‘fatores
sociais’ são manifestadas através da satisfação de necessidades psicológicas.
Finalmente os diferentes ‘tipos motivacionais’ conduzem a importantes
‘conseqüências’ cognitivas, afetivas e comportamentais.
Ntoumanis (2001) testou a seqüência motivacional no contexto
desenvolvido por Vallerand (1997) e encontrou as seguintes relações entre os
‘moduladores psicológicos’ e os ‘tipos motivacionais’: 1) relação negativa entre
modulador ‘competência percebida’ e ‘desmotivação’ (-0,64), além de uma
relação positiva entre modulador ‘competência percebida’ e ‘motivação
intrínseca’ (0,90); 2) relações positivas, porém fracas, entre modulador
‘relacionamento’ e os ‘tipos motivacionais’ ‘motivação intrínseca’ (0,11),
‘motivação de regulação identificada’ (0,17), e relação forte entre
‘relacionamento’ e ‘motivação de regulação introjetada’ (0,79); e 3) relação
negativa e fraca entre modulador ‘autonomia’ e ‘motivação de regulação
externa’ (-0,12). Ntoumanis (2001) teve de ajustar o modelo original, uma vez
que no resultado do teste não se verificou relação entre o modulador
34
35
psicológico ‘autonomia’ e ‘motivação intrínseca’, e nem a relação entre
‘motivação de regulação identificada’ e a conseqüência ‘esforço’. Entre os tipos
motivacionais e as conseqüências, os resultados foram os seguintes: 1) a
‘motivação intrínseca’ se relacionou fortemente com o ‘esforço’ (0,93), e
moderadamente com ‘intenção’ e ‘tédio’, 2) a ‘motivação de regulação externa’
teve fraca relação com ‘tédio’ (0,12), e 3) a ‘desmotivação’ teve fraca relação
com o ‘tédio’ (0,29).
De acordo com o modelo de seqüência motivacional descrita por
Vallerand (1997) testado pelo modelo motivacional para o contexto de
Educação Física de Ntoumanis (2001), o modulador psicológico ‘percepção de
competência’ possui grande importância para determinar comportamentos
intrinsecamente motivados, pois se relaciona com todos os tipos motivacionais,
favorecendo os comportamentos auto-regulados.
Fatores
Sociais
Moduladores
Psicológicos
Tipos Motivacionais
Conseqüências
Aprendizado
em
Cooperação
Ênfase
no
Melhoramento
Relacionamento
Competência
Motivação
Intrínseca
Regulação
Identificada
Regulação
Intro
j
etada
Regulação
Externa
Esforço
Intenção
Tédio
Desmotivação
Autonomia
Aprendizado
em
Cooperação
Figura 3. Seqüência motivacional descrita por Vallerand (1997) e o modelo do
processo motivacional em Educação Física (Ntoumanis, 2001).
Sobre os fatores sociais, o modelo suporta a tese de que estes são
importantes para determinar tipos motivacionais autodeterminados. Por
exemplo, no contexto esportivo das rotinas de treinamento diárias e em
35
36
situações de campeonato, existem numerosos fatores sociais que são
determinantes para a motivação intrínseca, ou para a motivação extrínseca
mais autodeterminada dos atletas.
A prática esportiva na contemporaneidade se configura em um meio de
atingir prestígio social, recompensas financeiras e materiais, além de poder
político. Silva e Rubio (2003) afirmam que, uma vez conquistadas vitórias e
recordes, o atleta é premiado com grande prestígio e poder social dentro e fora
do seu país, além de vultosas retribuições financeiras, melhorando sua
condição social e favorecendo sua inserção em espaços sociais desejados.
Esta busca por recompensas materiais e reconhecimento social traduz a
orientação ao ego, e motivação extrinsecamente regulada dos atletas. Isto se
explica porque o esporte contemporâneo se constitui em um meio de vida, uma
atividade profissional, inclusive sendo norteado por leis trabalhistas. Neste
sentido entende-se que os atletas iniciam no esporte recreacional por prazer
em praticar determinada modalidade, e se profissionalizam almejando construir
uma carreira profissional de sucesso. Daí a grande dificuldade dos técnicos e
atletas, em conseguirem desenvolver um desejo de treinar e competir
desvinculado dos fatores extrínsecos supracitados. As recompensas passam a
ser a tônica da atividade, o motivo. Lawther (1978, p.46) coloca que os atletas
jovens buscam ganhar reconhecimento, aprovação e prestígio, além de
investirem em uma pratica esportiva para escaparem das ansiedades e
monotonia da rotina das tarefas diárias.
A motivação é altamente influenciada pela mídia e a torcida, através da
expectativa sobre o nível de desempenho do atleta, interferindo na auto-
eficácia e, por conseguinte, aumentando ou diminuindo a motivação intrínseca.
Porém, segundo Damatta (2003), o esporte enfatiza comportamentos sociais
ligados a área do lazer, que, para nós, é definido em contraste relativo com o
trabalho. Corroborando com está idéia, estudos trazem que ao deixar-se
absorver por um jogo ou um esporte, os atletas podem, pelo menos
temporariamente, se livrar de eventuais frustrações em outras áreas da vida,
ou mesmo descarregar sentimentos acumulados como irritações e
agressividades, através da difícil prática esportiva (LAWTHER, 1978). Talvez
seja correto pensar que o lazer esteja intimamente relacionado com a
motivação intrínseca ou motivações mais auto-reguladas segundo o continuum
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37
de autodeterminação, uma vez que o lazer nos dá a idéia de bem-estar. Assim,
o trabalho estaria relacionado com motivações mais determinadas por fatores
externos, sociais, como prestígio social, poder aquisitivo, entre outras
motivações. Porém, o lazer na sociedade moderna também é obrigatório, pois
para passear, se divertir, viajar, é preciso investir, e se você não realizar estas
atividades acaba sendo excluído, vítima dos elementos de compulsão, de
coerção, da sociedade moderna.
Embora a quantidade de publicações sobre motivação seja grande, a
aplicação das teorias no contexto prático é uma tarefa extremamente difícil.
Plonczynski (2000) mostra que existe grande deficiência no campo da
psicologia do esporte que é a utilização de modelos cognitivos que não são
adequados para explicar ou predizer os comportamentos do exercício físico,
em razão de serem criados em outros contextos.
Wang e Blide (2003) destacam que os atletas que crêem que a
habilidade esportiva é um dom ou algo comum à condição de ser atleta (crença
de entidade), possuem ‘orientação das metas’ para o ‘ego’ e menor grau de
‘motivação intrínseca’. Ao contrário, os atletas que crêem que a habilidade é
determinada pela aprendizagem (crença na melhora) possuem ‘orientação das
metas’ voltada para a ‘tarefa’ e maior grau de ‘motivação intrínseca’. Estes
pesquisadores criaram um modelo de relação entre concepções de crenças na
habilidade esportiva, orientação das metas, competência percebida e
motivação intrínseca, onde a ‘crença na melhora’ influencia a orientação das
metas para a ‘tarefa’, que por sua vez influencia ambas as ‘competência
percebida’ e a ‘motivação intrínseca’. Por sua vez, a ‘crença na entidade’
influencia a orientação das metas para o ‘ego’, que finalmente influência a
‘competência percebida’ (figura 4). Segundo a Teoria de Orientação das Metas,
um indivíduo orientado à ‘tarefa’ coloca maior esforço para atingir os objetivos
pessoais porque sabe que quanto mais se esforçar mais perto de obter êxito
estará, percebe o nível de habilidade comparando consigo mesmo. Já um
indivíduo orientado ao ‘ego’ se compara as outras pessoas, colocando como
meta superar o desempenho de outros indivíduos e não o seu próprio
desempenho, percebendo habilidade através de comparação social
(AZOFEIFA, 2006).
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38
Portanto, existem dois grupos de crenças em que as pessoas constroem
suas visões de maleabilidade de qualidades ou atributos: as ‘crenças de
entidades’ e ‘crenças de melhoramento’. A ‘crença de entidades’ se refere à
visão que uma qualidade particular é fixa, ou relativamente estável. Já a
‘crença de melhoramento’ diz respeito a visão de uma qualidade particular que
é mutável e aberta a se desenvolver. Segundo Wang e Blide (2003), as
‘crenças de entidades’ são mais próximas às metas para o ‘ego’ (externamente
referenciadas), enquanto as ‘crenças de melhoramento’ têm sido mais ligadas
às metas para a ‘tarefa’ (auto-referenciadas).
No contexto esportivo, atletas com elevados níveis de ‘crença em
melhoramento’ possuem grandes possibilidades de desenvolver
comportamentos que os levam ao sucesso, considerando que esses atletas
têm grandes chances de assumirem atitudes positivas frente às adversidades
inerentes a carreira esportiva; portanto, apresentando forte aderência ao
esporte, além de apresentar elevada auto-eficácia e altos níveis de tipos
motivacionais mais autodeterminados.
Orientação
das Metas
Cren
ç
as
Melhora Tarefa
Ego
Competência
Percebida
Motivação
Intrínseca
Entidade
Figura 4. Modelo proposto por Wang e Biddle (2003) de inter-relação entre crença na
habilidade, orientações das metas, competência percebida e motivação
intrínseca.
Neste sentido, a ‘crença de melhoramento’ influenciando a orientação
das metas à ‘tarefa’, a auto-eficácia, e por fim, a motivação, forma um sistema
de retro-alimentação positiva em que, quanto mais o atleta se encontra
motivado intrinsecamente, mais desenvolverá ‘crenças de melhoramento’,
potencializando sua percepção de eficácia pessoal, e aumentando a motivação
à prática esportiva, e assim sucessivamente.
Desta maneira, entendendo o mecanismo de funcionamento da
motivação, e aliado à quantificação e identificação dos principais motivos para
a prática de esportes, é possível lançar mão de estratégias de intervenção para
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39
a promoção de tipos motivacionais mais autodeterminados, e/ou aumentar a
intensidade da motivação de jovens engajados em programas esportivos ou de
atividade física. Fatores extrínsecos à atividade esportiva, em especial fatores
sociais de acordo com a teorias e sub-teorias supracitadas, são influenciadores
de primeira ordem da motivação, de modo que a investigação de indicadores
sociodemográficos configura em uma importante estratégia para o
entendimento mais profundo dos motivos para a prática de esportes em jovens
atletas.
4.3. Motivos para a Prática de Esportes
Nas últimas décadas, e mais intensamente a partir dos anos 1990, a
importância dos motivos para a participação em atividade física e esporte
cresceu substancialmente devido ao reconhecimento da importância da
motivação para o aumento da participação e da aderência de jovens em
programas esportivos. Porém, ainda hoje, torna-se difícil confrontar os
resultados das pesquisas publicadas devido aos diferentes procedimentos de
análise e instrumentos dos trabalhos desenvolvidos, além das diferenças sócio-
culturais das populações analisadas, o que dificulta a comparação dos motivos
para a participação esportiva entre diferentes populações.
García, Weis e Valdivieso (2005) analisando os motivos para a
participação esportiva de crianças brasileiras sulistas no basquetebol, mediante
a versão brasileira do Participation Motivation Questionnaire (GILL, GROSS E
HUDDLESTON; 1983) traduzido, adaptado e validado por Scalon, Becker e
Brauner (1999), constataram que os itens considerados mais importantes pelas
crianças foram ‘melhorar minhas habilidades técnicas’, ‘estar alegre e divertir-
me’, ‘gosto pelos esportes de equipe’ e ‘gosto por fazer exercícios’. Os itens
supracitados caracterizam os tipos motivacionais de regulação intrínseca de
execução (em que o sujeito se compromete no esporte pelo prazer de melhorar
ou superar a si próprio), e de regulação intrínseca de estimulação (em que o
sujeito se compromete para experimentar sensações associadas aos seus
próprios sentidos). Por outro lado, os itens menos considerados pelas crianças
no estudo foram ‘gosto pelos esportes individuais’, ‘gosto em participar, não
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40
importando a vitória’, ‘gosto de se sentir importante e famoso’ e ‘desejo de
viajar’.
De maneira geral, as crianças reunidas no estudo consideram
importante as recompensas como a vitória, que representam o tipo
motivacional de regulação extrínseca introjetada e identificada. Porém, quando
as idades foram estratificadas em três grupos, verificou-se que o grupo de
menos idade (8-10 anos) demonstrou maior importância às motivações
voltadas às recompensas externas, quando comparado com os outros dois
grupos (11-13 anos e 14-16 anos). Porém, Azofeifa (2006), mediante estudo de
revisão da literatura, não encontrou consistência à tese de que crianças de
menores idades apresentam motivações voltadas às recompensas, uma vez
que os resultados das publicações discutidas em seu trabalho de revisão
mostram que ambas as motivações, extrínsecas e intrinsecamente reguladas,
são destacadas como importantes para os sujeitos mais jovens.
Ainda, no estudo de Garcia, Weis e Valdivieso (2005) foram extraídos
através da análise fatorial exploratória cinco fatores principais: ‘reconhecimento
social’, ‘afiliação, diversão e excelência’, ‘amizade e saúde’, ‘ação-emoção’ e
‘competência’. Analisando as pontuações médias atribuídas pelos jovens
reunidos no estudo aos itens do instrumento nos fatores supracitados,
observou-se que, considerando os três grupos etários, o fator ‘afiliação,
diversão e excelência’ foi o mais importante: 8-10 anos (3,62 pontos), 11-13
anos (3,57 pontos), e 14-16 anos (3,74 pontos), seguido dos fatores
‘reconhecimento social’: 8-10 anos (3,49 pontos), 11-13 anos (3,10 pontos), e
14-16 anos (3,00 pontos), e ‘amizade e saúde’: 8-10 anos (3,45 pontos), 11-13
anos (3,30 pontos), e 14-16 anos (3,30 pontos).
Cecchini, Méndez e Muñiz (2002) analisaram os motivos para a prática
de esportes em escolares de oito a dezoito anos e, utilizando para tanto
questionário idealizado pelos próprios autores, e encontraram mediante uma
escala Likert de três pontos (‘nada importante’ (1), ‘bastante importante’ (2) e
‘muito importante’ (3)) que os principais motivos foram ‘ficar saudável’ (2,80
pontos), ‘manter a forma’ (2,74 pontos), ‘ter progresso e melhorar o nível
esportivo’ (2,73 pontos) e ‘melhorar minhas habilidades’ (2,72 pontos). Embora
tanto os rapazes como as moças tenham apontado os mesmos motivos como
mais importantes, a ordem de importância diferiu entre os gêneros. O motivo
40
41
‘ficar saudável’ foi para as moças mais importante que para os rapazes (2,83 e
2,76 pontos respectivamente), e o motivo ‘melhorar minhas habilidades’ foi
mais importante para os rapazes que para as moças (2,77 e 2,68 pontos
respectivamente). Porém, os motivos menos importantes foram ‘ser famoso e
popular’ (1,28 pontos), ‘porque os esportistas são atraentes para o sexo oposto
(1,35 pontos) e ‘ter mais êxito com o sexo oposto’ (1,42 pontos).
Os autores ainda identificaram nove fatores onde os motivos para a
prática de esportes foram alocados através da análise dos fatores principais,
sendo omitidas as cargas fatoriais abaixo de 0,40. Os fatores criados para a
população total foram ‘Condição física/Aparência corporal’,
‘Heterossexualidade’, ‘Equipe’, ‘Diversão/Amizade’, ‘Habilidade’, ‘Vencer’,
‘Relaxamento’, ‘Saúde’, e ‘Aprovação social’, não ocorrendo diferenças para a
identificação dos fatores separados por gênero, sendo que, os rapazes
apresentaram oito fatores, ao invés de nove fatores, em razão dos fatores
‘Condição Física/Aparência’ e ‘Saúde’ terem sido combinados em um único
fator (CECCHINI, MÉNDEZ e MUÑIZ, 2002).
Embora no trabalho de Cecchini, Méndez e Muñiz (2002) as crianças e
os adolescentes, em geral, identificarem o motivo ‘ficar saudável’ como o mais
importante, uma revisão de literatura conduzida por Allender, Cowburn e Foster
(2006), analisando o resultado das pesquisas qualitativas publicadas entre
1990 e 2004 em ampla rede de bases de dados eletrônicas, mostrou que
mesmo muitos jovens reconhecerem os benefícios para a saúde associados à
prática de atividade física, esta não é a principal razão para a participação. De
acordo com os autores, outros fatores como a manutenção do peso, o prazer, a
interação social e o apoio foram razões mais comuns para que os jovens se
mantenham ativos fisicamente. Assim, entre os estudos que analisaram os
motivos para a participação em crianças, foram identificados como principais
motivos a ‘experimentação’, as ‘atividades não-usuais’, o ‘apoio dos pais’, e a
‘segurança do ambiente’. Nesta mesma população, foram identificados como
barreiras para a participação os ‘esportes de competição’ e as ‘atividades
altamente estruturadas’. Em contrapartida, entre as moças adolescentes foi
identificado como motivações ‘estética do corpo’, ‘manutenção do peso’, ‘nova
rede social’, ‘apoio da família’; e como barreiras ‘experiências negativas na
escola’, ‘pressão dos pares’, ‘conflito de identidade’, ‘uniformes de Educação
41
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Física’, ‘domínio dos rapazes na classe’, ‘classe competitiva’, e ‘variedade de
apoio do professor’ (ALLENDER, COWBURN e FOSTER, 2006).
Guzmán Lujan e Carratalá Deval (2006) analisando os tipos de
motivação de judocas em situação pré-competitiva e sua relação com a
percepção de autonomia, competência e relacionamento com os demais
(variáveis independentes), verificaram diferenças estatisticamente significantes
quando as percepções foram estratificadas em altas e baixas, utilizando para a
coleta dos dados a Escala de Motivação Esportiva, traduzida do instrumento
Sport Motivation Scale (PELLETIER et al. 1995). Através da prova dos efeitos
inter-sujeitos verificou-se que dentro do fator ‘percepção de competência’
apenas o tipo motivacional externo de ‘regulação externa’ não apresentou
diferença estatisticamente significante entre os estratos de alta e de baixa
percepção. No fator ‘percepção de autonomia’ foram identificadas diferenças
estatisticamente significantes apenas entre os estratos nos tipos motivacionais
de ‘regulação intrínseca de conhecimento’, de ‘estimulação’ e de ‘execução’.
Por fim, dentro do fator ‘percepção de relações sociais’ não ocorreram
diferenças significantes nos tipos motivacionais ‘extrínseca de regulação
introjetada’ e ‘amotivação’.
Outro objetivo do estudo foi testar o modelo hierárquico da motivação,
em que a participação de fatores sociais mediados pela percepção de
competência, de autonomia e relacionamento social influenciaram os tipos
motivacionais. Os resultados concordaram em parte com o modelo hierárquico,
uma vez que foi observado que dentro dos fatores os estratos ‘altas
percepções’ e ‘baixas percepções’ não se diferiram no tipo motivacional de
motivação externa de ‘regulação externa’, sugerindo que quanto maior a
percepção de ‘autonomia’, de ‘competência’ ou ‘relação social’, maior será este
tipo de motivação, sendo que o modelo defende o contrário. Uma provável
explicação deste resultado segundo os pesquisadores é que a situação de pré-
competição estimula os judocas a querer recompensas sociais associadas às
vitórias, e que esses tipos motivacionais são importantes em atletas de
desempenho (GUZMÁN LUJAN e CARRATALÁ DEVAL, 2006).
Jones, Mackay e Peters (2006) analisando os motivos para a prática de
diferentes modalidades de artes marciais de 75 sujeitos ingleses, identificaram
que o continuum dos fatores, dos mais importantes para os menos importantes,
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foram ‘afiliação’ (mais importante), ‘aptidão’, ‘desenvolvimento de habilidades’,
‘amizade’, ‘status/recompensa’, ‘situacional’ e ‘competição’ (menos importante).
Os autores investigaram nestes nomeados fatores motivacionais, diferenças
relacionadas ao gênero, à experiência na prática das artes-marciais e
quantidade de horas de treinamento/semana, não sendo identificado qualquer
diferença significativa. Também foi investigado eventuais diferenças
relacionadas entre os itens gênero, experiência na prática das artes-marciais e
quantidades de horas de treinamento/semana, e oito questões individuais que
investigavam importância percebida de tradição, progressão através dos níveis,
aprendizagem de habilidades de autodefesa, habilidade técnica dos instrutores,
custos da participação, desenvolvimento de confiança, suporte filosófico e
estilo de instrução. Os resultados identificaram um efeito principal significante
para quantidade de horas de treino/semana e suporte filosófico das artes-
marciais. Desta forma, aqueles indivíduos que treinavam artes-marciais por
mais do que 4 horas/semana identificaram o suporte filosófico como mais
importante do que os indivíduos que treinavam menos que 4 horas/semana
(JONES, MACKAY e PETERS, 2006).
Breese (1998) buscando identificar os motivos para a prática do
taekwondo, relativos às diferentes graduações de faixas e ao tempo total de
prática, analisaram as respostas de 72 indivíduos submetidos a um
questionário de questões abertas construído para o estudo. As categorias
motivacionais gerais da amostra, extraídas das respostas às perguntas
abertas, foram ‘aptidão’ (ficar em forma ou estar forte), ‘poder pessoal e
controle’ (ter o controle de si e das influências dos outros), ‘competência’
(aprender e melhorar habilidades e alcançar metas), ‘afiliação’ (estar com
amigos ou fazer novos, benefícios familiares, ter interação social e
camaradagem), ‘prazer’ (ter diversão e experiências prazerosas), ‘atividade’
(um interesse que dá propósito para a vida e proporciona ao indivíduo algo
para fazer) e ‘fatores contextuais’ (fatores que são especificamente associados
a participação no taekwondo). Com relação aos indivíduos com diferentes
graduações de faixas, a ‘aptidão’ foi a principal categoria motivacional em
indivíduos de faixas brancas e amarelas (faixas iniciais), com 34% dos
indivíduos tendo citado como primeiro fator em grau de importância. Porém, em
indivíduos de faixas verdes e azuis (faixas intermediárias) a importância da
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44
‘aptidão’ reduziu, com 23% dos indivíduos tendo citado como primeiro fator em
grau de importância. Ao contrário, a categoria ‘poder pessoal e controle’
ganhou importância com o aumento da graduação de faixas, sendo que, foi
citada como primeira em grau de importância por 19% dos indivíduos de faixas
brancas e amarelas, 23% dos indivíduos de faixas verdes e azuis, e 33% dos
indivíduos de faixas vermelhas, pretas e acima das faixas pretas. Com relação
ao tempo total de prática do taekwondo, o comportamento das respostas foi
semelhante às respostas organizadas segundo às graduações das faixas,
sendo que, quanto maior o tempo de prática menos a ‘aptidão’ foi percebida
como mais importante e mais a categoria motivacional ‘poder pessoal e
controle’ foi percebida como mais importante.
Os motivos de 450 indivíduos adultos para a participação de atividades
físicas de um centro de lazer de Nottingham (Reino Unido) foram investigados
por Trembath, Szabo e Baxter (2002), através do Participation Motivation
Questionnaire (GILL, GROSS, e HUDDLESTON, 1983). As razões mais
importantes apontadas pelos sujeitos foram ‘fazer exercício físico’, ‘estar em
forma’, ‘estar fisicamente ajustado’ e ‘ter diversão’, em ordem de mais para
menos importante. As razões menos importantes foram ‘ganhar status’, ‘gosto
do instrutor’, ‘pais e amigos me querem lá’ e ‘ser popular’, em ordem de menos
para mais importante. Análise dos componentes principais foi realizada em que
somente os fatores com eigenvalues igual ou superior a 1 foram retidos para a
rotação final. Foram encontrados oito fatores principais com 60,5% do total de
variância, sendo ‘orientação de equipe’ (23,8% da variância, alfa Cronbach
0,83), ‘orientação de aptidão’ (8,9% da variância, alfa Cronbach 0,72),
‘orientação de realização’ (6,9% da variância, alfa Cronbach 0,75), ‘fatores
extrínsecos’ (5,5% da variância, alfa Cronbach 0,62), ‘diversos’ (incluiu razões
de recompensas, liberação de tensão e uso de equipamento, com 5,1% da
variância e alfa Cronbach 0,61), ‘evitar enfado’ (3,6% da variância, alfa
Cronbach 0,60), ‘popularidade’ (3,5% da variância, alfa Cronbach 0,63), e
‘auto-melhoramento’ (3,4% da variância, alfa Cronbach 0,62).
Em um estudo sobre a natação Andrade, Salgueiro e Márquez (2006)
investigaram os motivos para a prática esportiva de 425 nadadores
pertencentes às categorias mirim, petiz, infantil, juvenil, júnior e adulto, de
diferentes níveis competitivos. Para a coleta dos dados foi utilizado a versão
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portuguesa do Oregon Swimming Questionaire de Brodkin e Weiss (1990),
questionário com 35 itens, em que os respondentes são submetidos a uma
escala Likert de cinco pontos: 1 referente a “nada importante” até 5 “muito
importante”. Através da analise fatorial os pesquisadores encontraram oito
principais fatores com eigenvalues superiores a 1 unidade e alfas de Cronbach
superiores a 0,60, sendo: ‘status social’, ‘cooperação’, ‘competição’,
‘diversão/movimento’, ‘forma física’, ‘influência alheia’, ‘socialização’ e
‘habilidade motora’. No que se refere à variável gênero, os pesquisadores
encontraram distribuição similar entre homens e mulheres, sendo ‘habilidade
motora/saúde’, ‘cooperação’ e ‘socialização’ os mais pontuados em ambos os
casos. Quanto à variável categoria competitiva houve diferenças significativas
em três dos oito fatores motivacionais. O fator ‘competição’ obteve aumento
dos valores com o aumento da idade e os fatores ‘influência alheia’ e
‘habilidade motora/saúde’ apresentaram diminuição da pontuação com o
aumento da idade.
Zanetti, Lavoura e Machado (2008) através de questionário estruturado
composto de apenas uma questão, sobre os motivos para a procura da
modalidade de voleibol, encontraram que, em amostra de 30 atletas entre 12 e
19 anos, foram apontados os seguintes motivos: ‘prazer’ (28,9%), ‘influência da
família’ (13,3%), ‘ser um(a) grande atleta’ (11,1%), ‘aprender a trabalhar em
equipe’ (8,9%), ‘fazer uma atividade física/esporte’ (6,7%), ‘influência dos
amigos’ (6,7%), e ‘outros motivos’ (24,4%).
Lopes e Nunomura (2007) analisaram em 20 ginastas femininas, os
motivos para a escolha pela ginástica artística, assim como para continuarem
praticando a modalidade, os objetivos e metas das ginastas e o tempo que as
ginastas pretendem dedicar ao treinamento, a mobilização para o máximo
rendimento e a motivação para treinar após resultados positivos e negativos.
As pesquisadoras utilizando para a investigação uma entrevista semi-
estruturada com posterior análise de conteúdos, em que os dados foram
categorizados e quantificados a partir de freqüência de ocorrências,
encontraram que 55% das ginastas tiveram como motivo da escolha da
modalidade ‘gosto através da visualização da atividade’, 30% das ginastas
relataram ‘incentivo dos pais’ como motivo da escolha, e 15% das ginastas
relataram ‘seleção por escolas de esportes’. No que se refere aos motivos de
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permanência na modalidade ginástica artística, 55% ginastas foram
organizadas na categoria ‘gostam devido às características da prática’, 20%
das ginastas foram enquadradas na categoria ‘praticam por necessidade
fisiológica e psicológica’, 10% das ginastas foram colocadas na categoria
‘gostam porque preenchem o tempo livre’ e 15% restante das ginastas
colocadas nas categorias ‘gostam porque é diferente’, ‘gostam porque têm
amigas praticando’ e ‘gostam devido às conseqüências materiais’.
Paim e Pereira (2004) analisaram a motivação para a prática da
capoeira em 18 adolescentes escolares da cidade de Santa Maria – RS
mediante o Inventário de Motivação para a Prática Esportiva (GAYA e
CARDOSO, 1998) em escala Likert de três níveis de importância: ‘nada
importante’, ‘pouco importante’ e ‘muito importante’. Os autores do estudo
classificaram os motivos em ‘competência esportiva’, ‘saúde’, e ‘amizade/lazer’,
Os resultados apontaram que o motivo ‘saúde’ foi o que obteve maior
freqüência de respostas ‘muito importante’, seguido do motivo ‘amizade/lazer’,
e o menos freqüente foi o motivo ‘competência desportiva’.
Murcia et al. (2007) investigaram o impacto do gênero, da idade e da
freqüência de prática esportiva na percepção do clima motivacional, orientação
das metas, mediadores motivacionais, automotivação e prazer de 394 sujeitos
(156 mulheres e 238 homens) ativos fisicamente e não-atletas. Utilizando a
Escala de Percepção do Clima Motivacional dos Iguais (CMI), Escala de
Orientações de Meta no Exercício (GOES), o Questionário de Regulação da
Conduta no Exercício Físico-2 (BREQ-2) e a Escala de Desfrute na Atividade
Física (PACES). Os resultados apontaram que: (a) os homens perceberam
maior clima motivacional voltado ao ego, estavam mais orientados ao ego,
pontuaram mais na satisfação de competência e que as mulheres pontuaram
mais na necessidade de relacionar-se com os demais; (b) o grupo de
praticantes com mais idade (24-54 anos) pontuou mais na satisfação da
necessidade de relacionamento com os demais do que os grupos de idade
intermediária (19-23 anos) e menor idade (12-18 anos), o grupo de maior idade
(24-54 anos) também pontuou mais em prazer e autodeterminação que os
outros dois grupos de menor idade; (c) os indivíduos que praticavam mais de
três dias por semana apresentaram maior orientação da metas voltadas à
tarefa que os sujeitos que praticavam esporadicamente.
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Sobre os efeitos que fatores sociodemográficos produzem nos motivos
para a prática esportiva, verificaram em sujeitos espanhóis fisicamente ativos e
não-atletas que, com relação ao fator gênero, as mulheres apresentaram
valores mais altos que os homens em ‘prazer’, ‘aparência’, ‘social’ e ‘aptidão’.
Com relação ao fator idade, o grupo com idade 16-24 anos apresentou maiores
valores médios em ‘aparência’em comparação com os grupos de idades 25-34
e 35-73 anos. Em ‘aptidão’ o grupo de maior idade (35-73 anos) apresentou
maior pontuação que os grupos 25-34 anos e 16-24 anos (MURCIA et al.,
2007).
Chantal et al. (1996) investigaram em atletas búlgaros, através do
instrumento Sport Motivation Scale (SMS), a influência do nível de
desempenho esportivo e do gênero nos tipos de motivação descritos pela
Teoria de Auto-Determinação: motivação intrínseca, motivação extrínseca auto-
determinada, motivação extrínseca não auto-determinada e amotivação. Com
relação ao desempenho, encontraram que a ‘motivação extrínseca não auto-
determinada’ e a ‘amotivação’ foram significativamente afetadas pelo ‘nível de
desempenho’, em que quanto maior o ‘nível de desempenho’, menos auto-
determinado foi o tipo de motivação. Os atletas de ‘alto rendimento’
apresentaram pontuação média de 3,49 ± 0.65 e 2.25 ± 0.84, ‘motivação
extrínseca não auto-determinada’ e ‘amotivação’ respectivamente, enquanto os
de ‘baixo rendimento’ apresentaram média de 3.21 ± 0.62 e 1.93 ± 0.61
respectivamente, para a ‘motivação extrínseca não auto-determinada’ e
‘amotivação’. Entre estes dois tipos de motivação não auto-determinada, a
‘amotivação’ foi a que mais sofreu influência do ‘nível de desempenho
esportivo’, levando a crer que atletas de elite desenvolvem tipos motivacionais
não autodeterminados, em comparação com atletas de menor nível atlético.
Com relação ao gênero, os pesquisadores encontraram efeitos significantes no
tipo ‘motivação intrínseca’, na ‘motivação extrínseca auto-determinada’, não
ocorrendo diferenças significativas entre homens e mulheres atletas.
4.4. Instrumento Participation Motivation Questionnaire (PMQ)
No início dos anos 1980, Gill, Gross e Huddleston (1983) com o objetivo
de suprir a carência de modelos de pesquisa em motivação para a prática de
47
48
esportes em jovens atletas e a necessidade de estabelecer padrão
metodológico de mensurações neste campo de pesquisa, propuseram o
instrumento específico Participation Motivation Questionnaire (PMQ). O intuito
principal dos pesquisadores foi auxiliar os profissionais do esporte no
desenvolvimento de modelos de pesquisa e bases conceituais que melhor
explicassem a motivação para a prática esportiva de jovens atletas, e também
auxiliar no desenvolvimento de um padrão de mensuração da motivação para a
prática de esporte em jovens atletas que poderia ser utilizado em uma
variedade de projetos de pesquisa e planejamentos de programas esportivos.
O PMQ foi desenvolvido baseado nos resultados de dois estudos-piloto.
O primeiro estudo foi conduzido envolvendo acadêmicos de graduação do
curso de Psicologia do Esporte da Universidade de Waterloo, Ontário, Canadá.
em que cada acadêmico se incumbiu de entrevistar cinco jovens praticantes de
esportes e cinco adultos envolvidos com programas de esportes para jovens. A
amostra neste primeiro estudo foi composta por 750 jovens praticantes de
esportes, que indicaram as razões para sua participação, e 750 adultos
envolvidos com programas de esportes para jovens, que indicaram os objetivos
dos programas mediante questionário aberto. No segundo estudo os
pesquisadores construíram, utilizando as respostas abertas do primeiro estudo
e informações disponibilizadas na literatura, um questionário inicialmente
contendo 37 itens (afirmações), que foi administrado em 27 rapazes e 24
moças com idades entre 12 e 16 anos, participantes de programa comunitário
de futebol em Waterloo, Ontário, Canadá. Modificações foram realizadas no
questionário, resultando em versão final contendo 30 itens denominado PMQ
(GILL, GROSS e HUDDLESTON, 1983).
Após os dois estudos pilotos o PMQ foi concebido, em sua primeira
versão, questionário com 30 itens equivalentes ao elenco de motivos que leva
os jovens atletas a praticar esportes. Neste caso, assumiu-se o pressuposto de
que essas seriam todos os motivos que os jovens atletas poderiam apresentar
para participar de programas esportivos. Em cada motivo (item) os
respondentes indicam o grau de importância que mais se aplica a sua
condição, mediante escala de medida tipo Lickert de três pontos: 1 ‘importante’;
2 ‘pouco importante’; e 3 ‘nada importante’. Desta forma, quanto menor a
48
49
pontuação indicada, ou a média de pontuação, mais motivado o praticante esta
para a prática de esporte.
Gill, Gross e Huddleston (1983) aplicaram inicialmente o PMQ em 720
rapazes (9-18 anos) e 418 moças (8-18 anos), que participavam de diferentes
programas de esportes coletivos e individuais de uma escola de esportes de
verão. Mediante análise fatorial foi identificado, tanto para amostra de rapazes,
como para amostra de moças, e para amostras combinadas, os mesmos oito
fatores:
Fator 1 – Realização e Status Social: equivalentes as principais razões
relacionadas a vencer, sentir-se importante, ser popular, ganhar status, fazer o
que é bom e recompensas.
Fator 2 – Trabalho em Equipe: equivalente as razões do trabalho em
equipe, espírito de equipe e estar em uma equipe.
Fator 3 – Aptidão Física: equivalente à estar em forma, fazer exercício
físico e desenvolver-se fisicamente.
Fator 4 – Gasto Energético: equivalente a alcançar dispêndio energético,
liberação de tensão, algo para fazer, viajar, e sair de casa.
Fator 5 – Fatores Situacionais: equivalente as razões relacionadas aos
parentes e amigos íntimos, técnicos, e equipamentos e facilidades.
Fator 6 – Desenvolvimento de Habilidades: equivalente as razões
relacionadas ao aprimoramento das, aprender novas habilidades e ir para um
alto nível.
Fator 7 – Afiliação: equivalente a estar com amigos e fazer novos
amigos.
Fator 8 – Diversão: equivalente a ter diversão, ação e excitação.
A consistência interna dos oito fatores foi examinada pelos
pesquisadores utilizando análise de correlação sobre todos os possíveis pares
de itens (motivos) dentro de cada fator. A confiança foi calculada utilizando a
analise de variância (ANOVA), sendo o alfa de Cronbach calculado para cada
fator – tabela 1.
Os idealizadores do PMQ constataram mediante os testes psicométricos
que os valores de consistência interna dos fatores foi boa, sendo que os fatores
49
50
‘Realização/Status’, ‘Equipe’ e ‘Aptidão’ apresentaram muito-elevado valores
de alfa de Cronbach, e o fator ‘Amizade’ foi o que apresentou consistência
interna mais frágil (GILL, GROSS e HUDDLESTON, 1983).
Tabela 1. Características psicométricas do Participation Motivation Questionnaire (PMQ).
Fator Consistência Interna Alfa de Cronbach
1. Realização/Status 0,34 0,76
2. Equipe 0,54 0,78
3. Aptidão 0,51 0,75
4. Dispêndio de Energia 0,28 0,65
5. Outros 0,25 0,49
6. Habilidades 0,25 0,44
7. Amizade 0,14 0,30
8. Diversão 0,28 0,55
Fonte: GILL, GROSS e HUDDLESTON, 1983.
Na seqüência, para atender praticantes de esportes no meio
universitário, Dwyer (1992) realizou uma adaptação na escala de medida
original do PMQ, ampliando as opções de valores para cinco pontos e
reduzindo as dimensões motivacionais para seis fatores: trabalho em equipe,
realização/status social, aptidão física, afiliação, desenvolvimento de
habilidades e diversão/excitação/desafio.
4.5. Indicadores Sociodemográficos
Indivíduos com menores graus de percepção de competência, como por
exemplo, os grupos sociais marginalizados, tendem a apresentar menores
níveis de motivação intrínseca e de intenção para prática esportiva
(FERNANDES e VASCONCELOS-RAPOSO, 2005). Uma vez não satisfeitas
as necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência e afiliação
ou pertencimento, cria-se uma situação onde dificilmente os atletas
conseguirão desenvolver formas motivacionais intrinsecamente reguladas. As
pessoas normalmente possuem sentimentos de inferioridade e necessitam ter
êxito, popularidade e admiração de seus pares nos eventos da vida cotidiana.
O esporte cumpre este papel, uma vez que os êxitos esportivos, segundo
Lawther (1978, p. 44), levam a uma melhor aceitação dos seus pares em seu
50
51
grupo, além de desenvolver nos indivíduos um sentimento de segurança dentro
do grupo social, sendo esta necessidade muito comum entre os adolescentes.
Os fatores sociodemográficos são alvos de investigações tendo como
objetivo verificar o impacto na prática habitual de atividade física. Pesquisas
têm conduzido a robustas relações entre atributos familiares, fatores
ambientais e nível de pratica de atividade física (RICHMOND et al., 2008).
Palma et al. (2006) investigaram a associação entre participação em
programas de exercícios físicos e indicadores sociodemográficos em
residentes da cidade do Rio de Janeiro, e encontraram influência das faixas
etárias, gênero, estado civil, quantidade de filhos e apoio da família, na prática
de exercícios físicos.
4.5.1. Cor da Pele e Etnia
Para Munanga (1999), o racismo surgiu na Europa no século XV quando
os europeus, durante a dominação de outras terras, começaram a incutir seu
pensamento sobre as sociedades violentadas. Desde então, o racismo se
constitui em instrumento de dominação e controle de um povo sobre outros,
gerando desigualdades, violência, e diminuição dos níveis de saúde das
populações acometidas. De acordo com a Conferência Mundial contra o
Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, ocorrida em
Durban – África do Sul no ano de 2001, o racismo é uma grave ameaça para a
segurança e estabilidade de todos os países, sendo uma realidade de todas as
sociedades (SANÉ, 2002).
O racismo e o preconceito étnico/racial são concepções e ações que, no
Brasil, promovem a idéia de que o individuo negro é inferior ao não-negro
(RANGEL, 2006). Esta concepção e ação provocam uma alteração psicológica
importante tanto em indivíduos negros como em não-negros; porém, no
primeiro, um prejuízo do senso de auto-estima, auto-imagem, auto-eficácia, de
modo que são levados a crer que não são capazes de cumprir algum curso de
ação pelo fato de serem negros. Souza (2003) adverte que as sociedades que
fundamentam suas desigualdades sociais no fenótipo dos indivíduos
promovem, nas crianças em momento de introspecção, a atribuição de um
significado social à cor da pele, pelos sinais dos adultos de aprovação ou
51
52
desaprovação. Segundo Rangel (2006), o valor depreciativo dos controladores
da mídia colocando atores negros em papéis como os de empregada
doméstica, motorista, e escravo, aliado ao modo como na escola a história do
Brasil era estudada sob a ótica do colonizador promovendo exemplos
extremamente negativos, contribui para que a criança negra possua pouca
expectativa de ascensão social. Deste modo, indivíduos negros percebem,
desde a infância, o baixo prestígio que ele e o seu grupo de referência
possuem perante a sociedade (Souza, 2003).
As relações interpessoais no Brasil, nas mais variadas esferas sociais,
são reguladas por valores racistas que provocam assimetria nas relações entre
as pessoas negras e não-negras e, embora o racismo se traduza em uma
grande limitação ao desenvolvimento humano, há pouco comprometimento da
comunidade acadêmica no sentido de entender profundamente seus
mecanismos de atuação, ou de superar seus efeitos no comportamento das
pessoas vitimadas.
O construto de auto-eficácia construído por Albert Bandura (1977) dentro
da Teoria Social Cognitiva, utilizado para a análise do movimento do corpo
humano em vários contextos, como saúde, educação, esporte e trabalho,
explica o movimento do corpo humano através da inter-relação entre o
comportamento, fatores pessoais e fatores ambientais, todos agindo como
determinantes do comportamento humano, e que se influenciam
bidirecionalmente, sendo esta relação nomeada de reciprocidade triádica (AZZI
e POLYDORO, 2006). Os benefícios do construto de auto-eficácia facilitam o
entendimento e o desenvolvimento de comportamentos que auxiliam o sucesso
em atividades nas quais as pessoas estejam engajadas. Pessoas com forte
senso de auto-eficácia podem ser mais seguras em situações consideradas
desafiadoras, persistindo frente a obstáculos e tendo adequada avaliação das
dificuldades e facilidades inerentes da situação, por acreditarem em sua
capacidade para organizar cursos de ação que os conduzam ao sucesso.
No Brasil, considerando o racismo como presente e norteador das
relações humanas, atividades básicas como procurar emprego, trabalhar,
estudar, se divertir, muitas vezes configuram-se em eventos extremamente
desafiadores e difíceis para as pessoas vitimadas, dependendo das situações
ambientais, locais, fatores pessoais, experiências pregressas, entre outros
52
53
fatores contidos na reciprocidade triádica que regula o comportamento humano
segundo a Teoria Social Cognitiva. O racismo responde por muitos efeitos
deletérios ao comportamento humano, como diminuição da auto-estima e da
motivação, efeitos estes que contrariam os provocados por um forte senso de
auto-eficácia. Os fatores motivacionais recebem forte influência do senso de
auto-eficácia, ou percepção de competência (NTOUMANIS, 2001; BANDURA,
1994; LAWTHER, 1978), de modo que indivíduos que não se percebem
capazes de cumprir tal tarefa em uma atividade não se encontrarão fortemente
e intrinsecamente motivados para a sua execução.
As condições pelas quais crescem e amadurecem os jovens negros,
devido as discriminações e vulnerabilidades específicas, e da necessidade de
demarcações identitárias raciais, apresentam especificações próprias evidentes
e preocupantes (UNESCO, 2004, p.28). Segundo o Censo (2000), em se
tratando de variáveis sociodemográficas dos jovens brasileiros, existem
desigualdades muito intensas entre os jovens considerando a cor da pele e a
origem urbana ou rural. Tratando-se dos jovens estudantes que vivem em
situações de exclusão social, 69,2% são pretos e pardos. Segundo Castro e
Abramovay (2002), tratando-se da vulnerabilidade dos jovens quanto ao
trabalho, foi elencado entre as dificuldades mais comuns para se conseguir
emprego o preconceito racial.
Diferentes estudos têm demonstrado a existência de disparidades
étnico-raciais nos níveis de atividade física de adolescentes (RICHMOND et al.,
2008). Tais disparidades podem ser fruto de situações ambientais como a
pouca oferta de locais para a prática de esportes nos bairros periféricos onde a
maioria dos moradores são negros, diminuída disponibilidade de serviços de
promoção da saúde e reabilitação de doenças, níveis elevados de violência nos
bairros específicos, dentre outros fatores como a baixa auto-estima e baixo
senso de auto-eficácia provocado por experiências de exclusão social e
discriminação étnico/racial. Os atletas negros, dentro deste panorama social
adverso, podem apresentar um perfil motivacional diferentes dos seus pares
não-negros, e isso pode seguramente influenciar a assunção de um
comportamento positivo frente às adversidades inerentes a carreira esportiva,
além da aderência ao esporte.
53
54
4.5.2. Condição Econômica Familiar
A condição econômica familiar é um aspecto crucial para determinação
do comportamento individual, uma vez que, este apresenta forte impacto dos
valores sociais vigentes, principalmente entre indivíduos jovens. Neste sentido,
o ‘ser jovem’ possui diferentes significados se considerados diferentes estratos
sócio-econômicos, e se manifesta de formas diferentes de acordo com
contextos e circunstâncias (UNESCO, 2004, p. 25).
Estudos têm investigado o impacto da renda familiar, condições de
moradia e do bairro, entre outros fatores econômicos, no nível de prática
habitual de atividade física e na realização de exercícios físicos de pessoas
envolvidas com programas esportivos. Salles-Costa et al. (2003) identificaram
em funcionários de uma universidade localizada no Rio de Janeiro, que tanto
homens quanto mulheres apresentaram níveis mais elevados de prática
habitual de atividade física no tempo de lazer quando a renda per capita (renda
familiar do último mês dividida pelo número de dependentes desta renda) era
maior. Entre as mulheres esta associação foi mais sensível do que entre os
homens.
No Brasil, país que ocupa a oitava pior distribuição de renda do mundo,
as chances de ascensão social são pequenas, e uma grande parcela das
crianças e jovens sonham em ser atletas de sucesso como um meio de
conquistar melhores condições e qualidade de vida. As famílias dos jovens com
menor poder aquisitivo inseridos em programa esportivo acabam por incentivar
a seguirem a carreira esportiva, por sentirem que esta é uma das poucas
maneiras de evoluírem no campo econômico, depositando nestes jovens uma
grande responsabilidade. A situação de grande pressão familiar, aliada à
grande responsabilidade de promover a ascensão social, podem desenvolver
tipos motivacionais situados em um lócus de controle externo, com orientação
das metas ao ego, e baseados em recompensas advindas do sucesso na
carreira esportiva. Torna-se portanto, extremamente difícil desenvolver tipos
motivacionais intrinsecamente motivados dentro de um quadro de
favorecimento do desenvolvimento de motivações extrinsecamente reguladas
pelo desejo de ascensão e reconhecimento social.
54
55
A percepção do lócus de causalidade da motivação externa implica em
tipos motivacionais baseados em aprovação social, envolvimento para o ego,
recompensas, pressão social, e outros motivos que não traduzem o prazer na
própria atividade (NTOUMANIS, 2001).
4.5.3. Escolaridade
Jovens atletas que possuem altos níveis de escolaridade possuem maior
entendimento da sua condição de saúde e da importância de manter
comportamento de promoção da saúde para além do melhoramento do
desempenho esportivo. Em estudo com amostra representativa dos
adolescentes norte-americanos, Richmond et al. (2008) verificaram que
diferenças no nível de participação de adolescentes moças de grupos étnicos
diferentes em práticas esportivas identificadas em diversos estudos prévios,
são explicadas por diferenças das escolas que freqüentam. Garotas negras,
brancas e hispânicas quando freqüentavam mesmas escolas relataram níveis
similares de atividade física; no entanto, quando freqüentavam escolas que
apresentavam quadro de segregação racial (proporcionalidade de alunas
negras, brancas e hispânicas desiguais) obtiveram níveis de prática de
atividade física diferentes.
Palma et al. (2006) verificaram em indivíduos com mais de 20 anos de
idade, residentes do município do Rio de Janeiro, que o nível educacional pode
estar associado significativamente ao sedentarismo. Sugere-se, ademais, que
tal fato pode ser proveniente do comprometimento da qualidade e quantidade
de informações sobre saúde, além do modo positivo às baixas condições
gerais do indivíduo. Deste modo, parece que o nível de escolaridade pode
exercer alguma influência na prática esportiva dos jovens, através do que estes
jovens sabem sobre saúde, qualidade de vida, e fatores de risco à saúde.
4.5.4. Gênero
As moças jovens constituem-se em um grupo social que vêm se
destacando no imaginário social, principalmente se considerarmos as
sociedades latino-americanas contemporâneas (UNESCO, 2004). Os
55
56
movimentos por direitos humanos, em especial os movimentos feministas, têm
conquistado muitas vitórias, sendo responsáveis pela quebra de diversos
paradigmas machistas. De acordo com Salles-Costa et al. (2003), na época do
surgimento das práticas esportivas entre as mulheres na Europa no final do
século XIX, a sociedade julgava imoral e negativo tudo o que desviava as
mulheres da condição de mães dedicadas exclusivamente ao lar, ao passo
que, para os homens, o sucesso esportivo significava status social. Apenas na
primeira metade do século XX a mulher começou a se aproximar do esporte
competitivo, sendo que nos anos 50 e 60 houve uma ocupação efetiva deste
espaço esportivo pelas mulheres (RUBIO e SIMÕES, 1999).
Um estudo de Murcia et al. (2007) enfatizou diferenças entre gêneros
com relação à orientação das metas, sendo que os homens apresentavam
relações positivas com orientações das metas ao ‘ego’, enquanto que as
mulheres apresentaram relações positivas com orientações das metas à
‘tarefa’. Esta diferença tem grande implicação na motivação para a prática do
esporte, uma vez que indivíduos orientados ao ‘ego’ possuem tipos
motivacionais menos autodeterminados, e aqueles que são orientados à ‘tarefa’
possuem tipos motivacionais mais autodeterminados.
Salles-Costa et al. (2003) constataram que as mulheres apresentam
uma prática significativamente menor de atividade física quando comparadas
aos homens. Segundo os autores, isso pode ser reflexo das jornadas triplas de
trabalho que contribuem para a limitação do tempo destinado ao lazer.
Também verificaram que, entre a população masculina, os esportes mais
praticados foram de modalidades coletivas como o futebol e o voleibol; e de
força muscular, como a corrida e a musculação. Já entre a população feminina,
as atividades praticadas individualmente foram as preferidas, com destaque
para a caminhada, a ginástica, a dança e a hidroginástica.
56
57
5. MÉTODOS
Os procedimentos metodológicos do estudo apresentaram dois momentos
distintos, porém, relacionados entre si. Primeiro, procedimentos equivalentes à
tradução e à adaptação transcultural da versão original do instrumento
Participation Motivation Questionnaire (PMQ). Segundo, procedimentos
equivalentes à coleta dos dados para identificação das propriedades psicométricas
da versão traduzida do PMQ e análise dos aspectos motivacionais relacionados à
prática de esporte em jovens atletas.
5.1. TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL DO PMQ
Os protocolos de tradução e adaptação transcultural acompanharam
procedimentos sugeridos por Guillemin, Bombardier, Beaton (1993). Uma tradução
inicial do idioma original (inglês) para o português foi realizada de maneira
independente por dois docentes universitários com entendimento detalhado do
instrumento PMQ. Os dois docentes têm como idioma nativo o português;
contudo, ambos têm amplo domínio do idioma inglês, inclusive com experiência
em traduções de textos acadêmicos. Além da tradução em si, foi solicitado que os
tradutores registrassem aquelas expressões que eventualmente poderiam
oferecer dúbia interpretação.
Na seqüência, grupo bilíngüe formado por três pesquisadores da área do
esporte comparou ambos os textos traduzidos, uniformizando o uso de
expressões divergentes, produzindo uma única versão do questionário que
sintetizou as duas versões anteriores. Depois, ocorreu a retrotradução do
questionário por dois outros tradutores que também atuaram de maneira
independente. No entanto, neste caso, os tradutores escolhidos têm como idioma
nativo o inglês; porém, com domínio do idioma português, atuando como docente
universitário em Instituição brasileira. Novamente, foi solicitado aos tradutores que
57
58
registrassem aquelas expressões que pudessem gerar dúvidas no processo de
retrotradução. O grupo bilíngüe comparou ambos os textos retrotraduzidos,
produzindo uma única versão.
A próxima etapa foi realizada a partir da formação de um comitê que
analisou o processo de tradução e os resultados alcançados nas etapas
anteriores. O comitê foi formado por nove membros, incluindo os autores do
estudo, tradutores que participaram do processo de tradução/retrodução e três
docentes universitários da área do esporte, todos bilíngüe inglês-português. A
atuação do comitê foi realizar a revisão das sete versões do instrumento PMQ
disponível: versão original em língua inglesa, as duas versões traduzidas para o
idioma português, a versão síntese de ambas as traduções para o idioma
português, as duas versões de retrotradução e a versão síntese de ambas as
retrotradução.
Além disso, o intuito do trabalho do comitê foi realizar a apreciação dos
tipos de equivalência entre o questionário original e a versão no idioma português.
Para tanto, os membros do comitê receberam orientações por escrito sobre o
objetivo do estudo e as definições adotadas para as equivalências. Cada membro
do comitê respondeu individualmente a um formulário de análise que compara
cada uma das questões com as respectivas opções de resposta do questionário
original, da versão síntese traduzida para o idioma português e da versão síntese
de retrotradução, em relação às equivalências semântica, idiomática, cultural e
conceitual. O formulário de análise foi estruturado mediante escala diferencial com
as alternativas discretas ‘inalterada’, ‘pouco alterada’, ‘muito alterada’ e
‘completamente alterada’.
A última etapa do processo de tradução e adaptação transcultural foi a
testagem do questionário traduzido para o idioma português, com intuito de
verificar as eventuais dificuldades e sugestões dos jovens quanto à compreensão
das questões. O questionário foi aplicado experimentalmente pelos autores do
estudo em 70 jovens com idades entre 14 e 18 anos (31 moças e 39 rapazes),
praticantes de esportes de entidades esportivas de Londrina, Paraná. As
58
59
dificuldades e sugestões apresentadas pelos jovens foram consideradas após
nova apreciação pelos membros do comitê de análise bilíngüe.
5.2. APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO TRADUZIDO PMQ
Para elaboração do estudo foi utilizado banco de dados construído a partir
de levantamento descritivo de corte transversal, envolvendo informações
relacionadas a características selecionadas sociodemográficas, ao histórico de
treinamento esportivo e aos fatores motivacionais para a prática de esportes em
jovens atletas.
A coleta dos dados foi realizada no mês de setembro de 2008 e os
protocolos de intervenção utilizados foram aprovados pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Estadual Londrina (Processo n° 086/08 – CAAE -
0163.0.268.000-08) e acompanharam normas da Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos – Anexo 1.
5.2.1. Seleção da Amostra
A população de referência para o estudo incluiu jovens atletas do Estado do
Paraná, de ambos os gêneros, com idades entre 14 e 17 anos, participantes dos
Jogos da Juventude do Paraná no ano de 2008. De acordo com informações
apresentadas pela Secretaria de Esportes do Estado do Paraná, participaram da
competição cerca de 9692 jovens atletas, em 6 modalidades coletivas (3220
jovens atletas) e 10 modalidades individuais (6472 jovens atletas), representando
104 cidades – tabela 2.
Para a seleção da amostra utilizou-se método não-probabilístico casual.
Para tanto, previamente ao início das competições, todos os técnicos e dirigentes
participantes dos Jogos da Juventude do Paraná no ano de 2008 foram
contatados e informados quanto à natureza, aos objetivos do estudo e convidados
para participarem da coleta dos dados. Mediante confirmação pelo termo de
consentimento livre e esclarecido (Anexo 2), 1510 jovens atletas (708 moças e
59
60
802 rapazes) concordaram em participar do estudo, o que representa 15,6 % do
universo de participantes da competição – tabela 3.
Tabela 2 – Universo de jovens atletas que participaram dos Jogos da Juventude
do Paraná no ano de 2008.
Modalidades Moças Rapazes Total
Coletivas
Basquetebol
Voleibol
Handebol
Futsal
Futebol
Vôlei de Praia
Individuais
Atletismo
Ciclismo
Ginástica Rítmica
Natação
Tênis de Campo
Judô
Karatê
Tênis de Mesa
Xadrez
Taekowdo
1292
276
312
336
300
-
68
2846
810
175
165
416
40
378
171
55
168
468
1928
312
300
364
312
572
68
3626
1085
400
-
480
64
432
264
95
234
572
3220
588
612
700
612
572
136
6472
1895
575
165
896
104
810
435
150
402
1040
Fonte: Secretaria de Esportes do Estado do Paraná.
60
61
Tabela 3 – Número de jovens atletas analisados no estudo.
Modalidades Moças Rapazes Total
Coletivas
Basquetebol
Voleibol
Handebol
Futsal
Futebol
Vôlei de Praia
Individuais
Atletismo
Ginástica Rítmica
Natação
Tênis de Campo
Judô
Karatê
Tênis de Mesa
Xadrez
Taekowdo
428
88
82
162
66
-
30
286
64
21
73
7
15
23
21
32
30
505
101
95
131
75
63
40
298
49
-
69
15
22
44
20
34
45
930
189
177
290
141
63
70
580
112
21
141
22
37
67
41
65
74
Total 714 803 1517
5.2.2. Coleta dos Dados
A coleta dos dados foi realizada mediante instrumento de medida
constituído de duas seções: indicadores sociodemográficos e histórico de
treinamento esportivo, e fatores motivacionais para a prática de esportes em
jovens atletas – Anexo 3. Na seção relacionada aos indicadores
sociodemográficos foram levantadas informações quanto ao gênero, à idade e à
classe econômica familiar. Para classificação do nível econômico familiar
61
62
recorreram-se as diretrizes propostas pela Associação Nacional de Empresas de
Pesquisa (ABEP, 2007). No caso do histórico de treinamento esportivo foi utilizado
instrumento elaborado especificamente para este propósito, envolvendo
informações relacionadas à modalidade esportiva praticada, ao tempo de
treinamento na modalidade, à freqüência semanal dos treinos e ao resultado
esportivo mais significativo.
As informações quanto aos fatores motivacionais para a prática de esportes
em jovens atletas foram obtidas mediante a aplicação do instrumento Participation
Motivation Questionnaire (PMQ), originalmente idealizado em língua inglesa (Gill,
Gross, Huddleston, 1983), traduzido e adaptado transculturalmente no presente
estudo. Trata-se de um questionário com 30 afirmações, em que os jovens atletas
indicam o grau de importância destas afirmações para a sua prática esportiva,
disponibilizado em uma escala Lickert de 5 pontos (0 ‘nada importante’ até 5
‘muito importante’).
O instrumento de medida com as três seções foi aplicado em um único
momento, individualmente para cada jovem atleta, por um único pesquisador e no
próprio local e horário das competições. Os participantes do estudo receberam o
instrumento com instruções e recomendações para o seu preenchimento, não
sendo estabelecido limite de tempo para o seu término. As eventuais dúvidas
manifestadas pelos respondentes foram prontamente esclarecidas pelo
pesquisador que acompanhava a coleta dos dados.
5.2.3. Tratamento Estatístico dos Dados
Os dados coletados foram analisados utilizando-se do pacote estatístico
computadorizado Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 17.0.
Foram empregados os recursos da estatística descritiva para caracterização
sociodemográfica e histórico de treinamento esportivo da amostra, envolvendo o
cálculo da proporção de distribuição em cada estrato considerado.
Para identificação das propriedades psicométricas do instrumento PMQ
foram empregados dois procedimentos estatísticos. Para análise e confirmação da
62
63
estrutura fatorial originalmente proposta por Gill, Gross, Huddleston (1983) foi
empregada à análise fatorial exploratória, por intermédio da técnica de
componentes principais com rotação ortogonal (varimax) e normalização de
Kaiser, seguindo critério de exclusão daqueles itens com carga fatorial inferior a
0,40 ou que estejam representados em mais de um fator. Para a investigação
quanto à consistência interna os itens foram analisados mediante a estimativa do
α Cronbach.
Para análise dos aspectos motivacionais relacionados à prática de esporte
na amostra de jovens atletas selecionada, inicialmente, foi testada a distribuição
de freqüência por intermédio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Considerando que
os dados mostraram distribuição de freqüência normal, recorreu-se aos recursos
da estatística paramétrica, mediante cálculo de média e desvio-padrão e,
posteriormente, para identificação de diferenças entre os estratos formados a
partir das variáveis independentes, à análise de covariância acompanhada do
teste de comparação múltipla de Scheffe para identificação das diferenças
específicas.
63
64
6. RESULTADOS
Detalhamento quanto ao gênero, à idade, à classe econômica familiar e ao
histórico de treinamento esportivo dos jovens atletas selecionados para o estudo
esta descrito na tabela 4. Dos 1517 jovens atletas envolvidos no estudo, 47% são
moças e, considerando ambos os gêneros, 49,3% deles têm entre 15 e 16 anos e
proporção similar se distribui em idades 14 anos e 17 anos. Contudo,
identifica-se maior proporção de rapazes (30,9%), em comparação com as moças
(18,5%), em idades 17 anos. No que se refere à classe econômica familiar, com
proporções similares em ambos os gêneros, 25,2% são categorizados na classe A
(maior nível econômico) e 2,8% na classe D (menor nível econômico). Nas classes
intermediárias B e C são identificados 48,7% e 23,3% dos jovens atletas
selecionados na amostra.
No que se refere ao histórico de treinamento esportivo, proporções similares
de moças (28,7%) e rapazes (31,3%) iniciaram os treinos em idades 9 anos; no
entanto, mais elevada proporção de rapazes iniciaram os treinos em idades 14
anos (23,4% versus 13,7%). Quanto à experiência de treino, identifica-se menor
tempo de treino entre as moças, sendo que, 30,8% delas apontaram ter 2 anos
de treino em comparação com 18,1% dos rapazes. Com experiência de treino 7
anos observa-se 15,2% das moças e 25,5% dos rapazes. De maneira similar em
ambos os gêneros, maior proporção de atletas jovens reunidos na amostra
(44,6%) treina 5 vezes/semana e 14,1% relataram freqüência de treino 2
vezes/semana. Com relação à duração das sessões de treino, 68,3% apontaram
treinar 1 - 2 horas/sessão e 22,6% 3 – 4 horas/sessão. Constata-se predomínio de
treino em modalidades coletivas (61,5%) e 84,7% dos jovens atletas demonstram
experiência em competições de abrangência regional e estadual. Do restante,
10,9% e 4,4% relataram experiência em competições nacionais e internacionais,
respectivamente.
64
65
Tabela 4 – Indicadores sociodemográficos e histórico de treinamento da
amostra de jovens atletas analisados no estudo.
Moças
(n = 714)
Rapazes
(n = 803)
Ambos os
Gêneros
(n = 1517)
Idade
14 Anos
15 – 16 Anos
17 Anos
Classe Econômica Familiar
Classe A (Maior)
Classe B
Classe C
Classes D (Menor)
Idade de Inicio do Treino
9 Anos
10 – 11 Anos
12 – 13 Anos
14 Anos
Tempo de Treino
2 Anos
3 – 4 Anos
5 – 6 Anos
7 Anos
Freqüência de Treino
2 vezes/semana
3 – 4 vezes/semana
5 vezes/semana
Duração do Treino
1 hora/treino
1 – 2 horas/treino
3 – 4 horas/treino
5 horas/treino
Modalidade Esportiva
Individuais
Coletivas
Nível de Competição
Internacional
Nacional
Estadual
Regional/Municipal
243 (34,0%)
339 (47,5%)
130 (18,5%)
183 (25,6%)
334 (46,8%)
173 (24,2%)
24 (3,4%)
205 (28,7%)
210 (29,4%)
201 (28,2%)
98 (13,7%)
220 (30,8%)
203 (28,4%)
183 (25,6%)
108 (15,2%)
115 (16,1%)
290 (40,6%)
309 (43,3%)
55 (7,7%)
460 (64,4%)
180 (25,2%)
19 (2,7%)
286 (40,1%)
428 (59,9%)
21 (2,9%)
63 (8,8%)
293 (41,1%)
337 (47,2%)
145 (18,1%)
409 (51,0%)
248 (30,9%)
200 (24,9%)
405 (50,4%)
180 (22,4%)
18 (2,3%)
251 (31,3%)
168 (20,9%)
196 (24,4%)
188 (23,4%)
145 (18,1%)
191 (23,8%)
262 (32,6%)
205 (25,5%)
98 (12,2%)
337 (42,0%)
368 (45,8%)
49 (6,1%)
576 (71,7%)
163 (20,3%)
15 (1,9%)
298 (37,1%)
505 (62,9%)
45 (5,6%)
103 (12,8%)
329 (41,0%)
326 (40,6%)
388 (25,6%)
748 (49,3%)
378 (25,1%)
383 (25,2%)
739 (48,7%)
353 (23,3%)
42 (2,8%)
456 (30,1%)
378(24,9%)
397 (26,2%)
286 (18,8%)
365 (24,1%)
394 (26,0%)
445 (29,3%)
313 (20,6%)
213 (14,1%)
627 (41,3%)
677 (44,6%)
104 (6,9%)
1036 (68,3%)
343 (22,6%)
34 (2,2%)
584 (38,5%)
933 (61,5%)
66 (4,4%)
166 (10,9%)
622 (41,0%)
663 (43,7%)
6.1. Tradução, adaptação transcultural e propriedades psicométricas do PMQ
A versão traduzida do PMQ pode ser conferida no anexo 3. Discretas
divergências no uso de expressões foram observadas durante as diferentes
etapas do processo de tradução. As eventuais divergências foram sempre
discutidas no comitê de análise, prevalecendo as expressões de mais fácil
compreensão e de uso freqüente entre os jovens, na tentativa de facilitar seu
entendimento. Dos 30 itens que compõe o PMQ, em 24 deles (80%) os membros
65
66
do comitê de análise apontaram “inalterado” simultaneamente nas equivalências
semântica, idiomática, cultural e conceitual. Nos 6 itens restantes (20%) os
membros do comitê apontaram “pouco alterado” em pelo menos uma das
equivalências consideradas. Ainda, nenhum item da versão traduzida do PMQ
apresentou “muito alterado” ou “completamente alterado” em comparação com a
versão original.
Por ocasião da aplicação experimental do instrumento traduzido no grupo-
alvo, os jovens atletas não manifestaram maiores dificuldades quanto à clareza e
ao entendimento das expressões empregadas; contudo, a maioria deles sugeriu
suprimir as expressões “Eu quero” e “Eu gosto” que originalmente iniciava a frase
de cada item, na tentativa evitar a monotonia de repetir constantemente
expressões idênticas e tornar a leitura mais imediata para o preenchimento do
instrumento. Em vista disso, o comitê de análise optou por modificar a tradução
ipsis literis da versão original do instrumento, e o conjunto dos 30 itens passou a
ser precedido da afirmação “Eu pratico esporte para .....”. Neste caso, a grafia de
cada item passou a ser um complemento da afirmação inicial, em que o
respondente assinala na escala de medida o grau de importância para sua
decisão em praticar esporte.
Quanto às propriedades psicométricas, considerou-se, inicialmente, a
adequação para se realizar a análise fatorial exploratória com o conjunto dos 30
itens que compõe o PMQ. Para tanto, recorreu-se aos testes estatísticos de
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de esfericidade de Bartlett, o que permite identificar a
existência de correlações lineares significativas entre os itens, condição sine-qua-
non para a realização adequada da análise fatorial exploratória. O valor do teste
de KMO é equivalente a 0,930 e o teste de esfericidade de Bartlett χ
2
(435)
=
17003,867 (p = 0,000), apontando para a legitimidade da realização da análise
fatorial.
Mediante a realização da análise fatorial exploratória com rotação
ortogonal, de acordo com o critério de normalização de Kaiser, encontram-se 8
fatores de motivação com eigenvalues superior a uma unidade, que contribuem
para explicar conjuntamente por volta de 67% da variância total. As informações
66
67
dos fatores extraídos e das respectivas proporções de variância explicada podem
ser observadas na tabela 5.
Após a extração dos 8 fatores de motivação identificou-se a estrutura fatorial
do PMQ na amostra de jovens atletas selecionada no estudo. Neste caso,
considerando que nenhum dos itens apresenta carga fatorial inferior a 0,40 ou
estejam representados em mais de um fator, todos os 30 itens são contemplados
na estrutura fatorial do PMQ traduzido para o idioma português. A consistência
interna de cada fator é analisada mediante a estimativa do alfa de Cronbach (α). A
definição da estrutura fatorial encontra-se exposta na tabela 6.
Tabela 5 – Análise fatorial exploratória do Participation Motivation Questionnaire
(PMQ) traduzido para o idioma português administrado em jovens atletas do
Estado do Paraná.
Proporção de Variância Explicada (%)
Fatores Extraídos
Eigenvalues
Individual Acumulada
Fator 1
Fator 2
Fator 3
Fator 4
Fator 5
Fator 6
Fator 7
Fator 8
11,021
6,298
3,936
2,916
1,973
1,486
1,294
1,157
33,67
7,23
6,90
5,45
4,01
3,87
3,43
2,92
33,67
40,90
47,80
53,25
57,26
61,13
64,56
67,48
O fator 1 é composto pela maior quantidade de itens. Os sete itens que
compõe este fator apresentam saturação individual entre 0,816 (Ser conhecido) e
0,701 (Fazer algo em que é bom). O valor calculado eigenvalue é de 11,021,
proporção de variância explicada de 33,67% e índice de consistência interna de
0,827. A estrutura fatorial encontrada sugere denominar este fator de
“Reconhecimento Social”.
Quatro itens representam o fator 2, com diferenças na saturação individual
extremas bastante discretas: entre 0,805 (Satisfazer treinador/professor) e 0,753
(Trabalhar em equipe). O valor calculado eigenvalue reduziu-se para 6,298, por
67
68
conseqüência a proporção de variância explicada para 7,23%. No entanto, o
índice de consistência interna se manteve bastante elevado (0,790). Em razão dos
itens reunidos por este fator, parece inequívoca sua denominação de “Atividade
em Grupo”.
Tabela 6 – Estrutura fatorial do Participation Motivation Questionnaire (PMQ)
traduzido para o idioma português administrado em jovens atletas.
Fatores de Motivação / Itens Peso
Fatorial
Alfa de
Cronbach
Fator 1 – Reconhecimento Social
25. Ser conhecido
28. Ser reconhecido e ter prestígio
21. Ter a sensação de ser importante
14. Receber prêmios
19. Pretexto para sair de casa
3. Ganhar dos adversários
12. Fazer alguma coisa em que é bom
0,816
0,813
0,782
0,744
0,730
0,712
0,701
0,827
Fator 2 – Atividade em Grupo
27. Satisfazer treinador/professor
18. Desenvolver o espírito de equipe
22. Pertencer a um grupo
8. Trabalhar em equipe
0,805
0,790
0,771
0,753
0,790
Fator 3 – Aptidão Física
6. Manter a forma física
24. Estar em boas condições físicas
15. Fazer exercício físico
17. Ter ação
0,828
0,827
0,803
0,755
0,753
Fator 4 – Emoção
7. Procurar emoções fortes
13. Controlar tensões
4. Liberar energia
0,749
0,710
0,682
0,744
Fator 5 – Competição
20. Competir
26. Enfrentar desafios
0,793
0,764
0,722
Fator 6 – Competência Técnica
10. Aprender novas habilidades
23. Atingir nível esportivo mais elevado
1. Melhorar as habilidades esportivas
0,776
0,750
0,701
0,693
Fator 7 – Afiliação
2. Estar com os amigos
11. Fazer novas amizades
22. Ser influenciado pela família e amigos
0,873
0,842
0,797
0,640
Fator 8 – Diversão
30. Utilizar instalações e equipamentos esportivos
5. Viajar
16. Ter alguma coisa para fazer
29. Divertir
0,804
0,726
0,666
0,661
0,543
68
69
O fator 3 também reúne quatro itens e recebe a denominação de “Aptidão
Física”. Apresenta saturação entre 0,828 (Manter a forma física) e 0,755 (Ter
ação), valor calculado de eigenvalue de 3,936, explicando 6,90% da variância
total. O índice de consistência interna é equivalente a 0,753.
O fator 4 concentrou três itens que, em comparação com os demais fatores,
apresenta as menores saturações. O item 7 (Procurar emoções fortes) apresenta
saturação de 0,749, enquanto o item 4 (Liberar energia) apresenta saturação de
0,682. O valor calculado eigenvalue é de 2,916, equivalente à explicação de
5,45% da variância total, com índice de consistência interna de 0,744. Este fator
recebe a denominação de “Emoção”.
Com dois itens reunidos em sua estrutura e com saturação de 0,793
(Competir) e 0,764 (Enfrentar desafios), o fator 5 recebe a denominação
“Competição”. O valor calculado de eigenvalue é de 1,973, equivalente a uma
proporção de variância explica de 4,01%. O índice de consistência interna deste
fator corresponde a um alfa de Cronbach de 0,722.
O fator 6 é formado por três itens e apresenta uma estrutura que indica a
denominação “Competência Técnica”. As saturações individuais variam de 0,776
(Aprender novas habilidades) a 0,701 (Melhorar as habilidades esportivas). Este
fator apresenta valor calculado de eigenvalue de 1,486, explicando 3,87% da
variância total, com índice de consistência interna de 0,693.
Com uma estrutura que aponta a denominação “Afiliação”, o fator 7 também
reúne três itens com saturações de 0,873 (Estar com os amigos) a 0,797 (Ser
influenciado pela família e amigos). O valor calculado eigenvalue é de 1,294 com
capacidade explicativa da variância total de 3,43%. O índice de consistência
interna apresenta magnitude de 0,640.
Agregando quatro itens com a mais elevada amplitude de variação entre as
saturações individuais, o fator 8 é denominado de “Diversão”. A saturação de seus
itens varia de 0,804 (Utilizar instalações e equipamentos esportivos) a 0,666 (Ter
algo para fazer). O valor calculado de eigenvalue é bastante próximo de uma
unidade (1,157), o que equivale a uma capacidade explicativa de 2,92% da
69
70
variância total. O índice de consistência interna é o mais baixo entre os fatores
extraídos no estudo (0,543).
6.2. Identificação dos componentes motivacionais relacionados à prática de
esporte de acordo com gênero, idade e condição socioeconômica
familiar
A tabela 7 apresenta valores equivalentes à média e ao desvio-padrão de
cada fator de motivação extraído mediante a análise fatorial exploratória do PMQ
traduzido para o idioma português, administrado nos jovens atletas reunidos no
estudo. Ao considerar a hierarquia dos valores médios encontrados para cada
fator de motivação, verifica-se que os fatores mais importantes são característicos
de um contexto de motivação intrínseca relacionada à “Competência Técnica”
(4,22 ± 0,83) e à “Aptidão Física” (4,09 ± 1,02). Por outro lado, os fatores menos
importantes se identificam em um contexto de motivação extrínseca ao sujeito,
estando relacionada à “Diversão” (2,86 ± 1,22) e ao “Reconhecimento Social”
(2,78 ± 1,15). Os quatro outros fatores de motivação são reunidos em posição
intermediária em que os valores médios observados nos fatores “Amizade” (3,90 ±
1,10) e “Senso de Coletividade” (3,89 ± 1,04) se diferem significativamente dos
valores médios encontrados nos fatores “Competição” (3,45 ± 1,06) e “”Emoção”
(3,29 ± 1,18).
Tabela 7 – Informações estatísticas (média ± desvio-padrão) dos fatores de
motivação para a prática de esportes em jovens atletas do estado do Paraná
mediante a aplicação do Participation Motivation Questionnaire (PMQ)
1
.
Fatores de Motivação Média ± Desvio-Padrão
F6. Competência Técnica
F3. Aptidão Física
4,22 ± 0,83
a
4,09 ± 1,02
a
Fatores Mais
Importantes
F7. Afiliação
F2. Atividade de Grupo
F5. Competição
F1. Emoção
3,90 ± 1,10
b
3,89 ± 1,04
b
3,45 ± 1,06
c
3,29 ± 1,18
c
Fatores de Importância
Intermediária
F8. Diversão
F4. Reconhecimento Social
2,86 ± 1,22
d
2,78 ± 1,15
d
Fatores Menos
Importantes
1
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de
motivação (p < 0,01).
70
71
A tabela 8 apresenta informações estatísticas equivalentes aos fatores de
motivação separadamente por gênero. Os resultados da análise de covariância,
controlando estatisticamente a idade e a classe econômica familiar dos jovens
atletas, apontam diferenças estatísticas entre ambos os gêneros em quatro fatores
de motivação considerados. Neste caso, os rapazes assinalaram oferecer
significativamente maior importância para a prática de esporte nos fatores
“Competição” (F = 6,243; p = 0,011) e “Competência Técnica” (F = 7,808; p =
0,000). Enquanto as moças demonstram valores médios significativamente mais
elevados nos fatores “Atividade de Grupo” (F = 4,285; p = 0,039) e “Afiliação” (F =
5,846; p = 0,015). No que se refere à organização hierárquica, tendo como
referência a magnitude dos valores médios de cada fator de motivação, moças e
rapazes também apontaram ordem de importância diferente nos fatores de
motivação para a prática de esporte. Se, por um lado, os rapazes elegeram
igualmente os fatores de motivação “Competência Técnica” e “Aptidão Física” com
os mais importantes para se praticar esporte, por outro, as moças apontaram
como mais importantes, além desses dois fatores, os fatores de motivação
“Atividade de Grupo” e “Afiliação”.
Tabela 8 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de
motivação para a prática de esportes de acordo com o gênero dos jovens atletas
1
.
Moças Rapazes Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,76 ± 1,17
a
3,98 ± 1,08
b
4,05 ± 1,07
b
3,23 ± 1,20
c
3,29 ± 1,06
c
4,07 ± 0,87
b
4,08 ± 1,12
b
2,80 ± 1,23
a
2,82 ± 1,13
a
3,79 ± 1,02
b
4,14 ± 0,98
c
3,34 ± 1,16
d
3,52 ± 1,07
d
4,33 ± 0,78
c
3,77 ± 1,09
b
2,92 ± 1,23
a
0,790
4,285
3,034
2,591
6,243
7,808
5,846
2,768
ns
0,039
ns
ns
0,011
0,000
0,015
ns
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas à idade e à classe
econômica familiar. Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas
entre os fatores de motivação (p < 0,01).
As informações estatísticas equivalentes aos fatores de motivação tendo em
conta a idade dos jovens atletas são disponibilizadas na tabela 9. Os resultados
da análise de covariância, mediante controle estatístico quanto ao gênero e à
classe econômica familiar, apontam diferenças significativas em quatro dos fatores
71
72
72
de motivação considerados. Os fatores de motivação relacionados ao
“Reconhecimento Social” (F = 3,919; p = 0,034) e à “Diversão” (F = 5,393; p =
0,000) apresentaram valores médios significativamente maiores nos jovens atletas
com menos idade; ao passo que os fatores de motivação identificados com a
“Competição” (F = 9,289; p = 0,000) e a “Competência Técnica” (F = 5,201; p =
0,006) apresentam valores médios significativamente mais elevados com o avanço
da idade. Chama atenção o fato das diferenças estatísticas mais importantes
serem observadas entre os valores médios apresentados pelos jovens atletas com
idades 14 anos em comparação com seus pares de mais idade. Na confrontação
dos valores médios equivalentes aos jovens atletas reunidos nos grupos etários
15-16 anos e 17 anos não são identificadas diferenças que possam ser
apontadas em linguagem estatística. A organização hierárquica associada à
magnitude dos valores médios de cada fator de motivação é bastante semelhante
nos três grupos etários definidos ( 14 anos; 15-16 anos; 17 anos), sugerindo,
desse modo, que a ordem de importância dos fatores de motivação para a prática
de esporte tende a não se alterar com a idade dos jovens atletas analisados no
estudo.
Quanto à classe econômica familiar, na tabela 10 são observadas as
informações estatísticas associadas à análise de covariância mediante controle do
gênero e da idade dos jovens atletas. Os resultados sugerem que os valores
médios dos fatores de motivação tendem a ser mais elevados nas classes
econômicas familiar mais baixas. As diferenças encontradas são detectadas
estatisticamente no caso dos fatores de motivação relacionados ao
“Reconhecimento Social” (F = 2,664; p = 0,031), à “Emoção” (F = 4,902; p =
0,001), à “Afiliação” (F = 3,191; p = 0,027) e à “Diversão” (F = 5,817; p = 0,000), e
entre os valores médios identificados somente nos jovens atletas pertencentes a
classe econômica familiar mais alta (Classe A) em comparação com os jovens
atletas pertencentes a classe econômica familiar mais baixa (Classe D). Por outro
lado, apesar das diferenças significativas observadas entre os valores médios,
constata-se que a organização hierárquica dos fatores de motivação é bastante
semelhante nos quatro estratos econômicos considerados.
73
73
Tabela 9 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de acordo
com a idade dos jovens atletas
1
.
14 Anos 15 – 16 Anos 17 Anos Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp
Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,91 ± 1,19
a
3,87 ± 1,13
b
3,90 ± 1,10
b,d
3,24 ± 1,14
c
3,26 ± 1,13
c
4,05 ± 0,86
d
3,84 ± 1,16
b
2,98 ± 1,11
a
2,76 ± 1,14
a
3,89 ± 1,01
b
4,07 ± 1,00
c
3,28 ± 1,19
d
3,44 ± 1,06
d
4,22 ± 0,80
c
3,90 ± 1,09
b
2,75 ± 1,14
a
2,67 ± 1,11
a
3,90 ± 1,02
b
4,10 ± 0,95
c
3,32 ± 1,15
d
3,56 ± 0,99
d
4,34 ± 0,85
c
3,96 ± 1,05
b
2,70 ± 1,10
a
3,919
0,566
2,007
0,927
9,289
5,201
1,187
5,393
0,034
ns
ns
ns
0,000
0,006
ns
0,000
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero e a classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
Tabela 10 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com a classe econômica familiar dos jovens atletas
1
.
Classe A (Maior) Classe B Classe C Classe D (Menor) Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,75 ± 1,15
a
3,79 ± 1,17
b
4,15 ± 0,99
c
3,21 ± 1,22
d
3,35 ± 1,06
d
4,15 ± 0,89
c
3,64 ± 1,06
b
2,62 ± 1,20
a
2,79 ± 1,11
a
3,88 ± 1,01
b
4,19 ± 1,02
c
3,30 ± 1,18
d
3,48 ± 1,06
d
4,24 ± 0,80
c
3,90 ± 1,10
b
2,88 ± 1,19
a
2,90 ± 1,20
a
3,96 ± 0,93
b,e
4,16 ± 1,05
b,d
3,43 ± 1,12
c
3,50 ± 1,08
c
4,27 ± 0,80
d
3,95 ± 1,13
e
3,02 ± 1,27
a
3,16 ± 1,21
a
3,97 ± 0,96
b
4,26 ± 1,01
c
3,69 ± 1,06
d
3,78 ± 1,10
d
4,32 ± 0,87
c
4,03 ± 1,18
b
3,34 ± 1,26
a
2,664
1,417
0,659
4,902
2,021
1,122
3,191
5,817
0,031
ns
ns
0,001
ns
ns
0,027
0,000
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero e à idade.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
74
6.3. Impacto do histórico de treino nos componentes motivacionais
relacionados à prática de esporte
O impacto que a idade de início do treino possa oferecer as dimensões e a
organização hierárquica dos fatores de motivação para a prática de esporte
apontados pelos jovens atletas pode ser observado na tabela 11. Em razão dos
resultados encontrados anteriormente, a análise de covariância foi desenvolvida
mediante controle estatístico simultâneo do gênero, da idade e da classe
econômica familiar. Os fatores de motivação relacionados à “Aptidão Física” (F =
3,405; p = 0,038), à “Competição” (F = 3,122; p = 0,041) e à “Competência
Técnica” (F = 5,345; p = 0,000) são os fatores de motivação que apresentam
diferenças significativas entre as idades de início do treino. Neste caso, as
diferenças estatísticas mais importantes são observadas entre os valores médios
apresentados pelos atletas jovens que relataram ter iniciado os treinos em idades
9 anos em comparação com seus pares que relataram ter iniciado os treinos em
idades 14 anos, apontando valores médios mais elevados entre aqueles que
iniciaram os treinos mais precocemente. A organização hierárquica quanto à
magnitude dos valores médios encontrados em cada fator de motivação não
apresenta diferença que deva ser destacada. Portanto, os resultados encontrados
sugerem que, independentemente da idade de início do treino, os atletas jovens
analisados apontam importância semelhante no grau de importância dos fatores
de motivação para a prática de esporte.
Informações estatísticas associadas aos fatores de motivação referente ao
tempo em que os jovens atletas já estão envolvidos com o treino estão
disponibilizadas na tabela 12. Os resultados encontrados apontam que, na medida
em que aumenta o tempo de experiência de pratica de esporte, os fatores de
motivação relacionados à “Aptidão Física” (F = 3,466; p = 0,036), à “Competição”
(F = 3,350; p = 0,039) e à “Competência Técnica” (F = 3,528; p = 0,031)
demonstram valores médios significativos e proporcionalmente mais elevados.
Contudo, no caso dos fatores de motivação “Afiliação” (F = 3,317; p = 0,040) e
“Diversão” (F = 4,369; p = 0,021), aqueles jovens atletas com 2 anos de
experiência em treino apresentam valores médios estatisticamente mais elevados
74
75
75
em comparação com seus pares com 7 anos de experiência em treino. Ainda,
apesar das diferenças significativas observadas entre os valores médios, constata-
se que a organização hierárquica dos fatores de motivação é semelhante nos
estratos de tempo de treino considerados.
Indicadores associados ao volume de treino relatado pelos atletas jovens
analisados no estudo também são atributos de impacto observados nas
dimensões dos valores médios equivalentes aos fatores de motivação para a
prática de esporte. Informações estatísticas quanto à freqüência semanal e à
duração das sessões de treino são mostradas nas tabelas 13 e 14,
respectivamente. No caso da freqüência semanal, aqueles jovens atletas que
relataram estarem envolvidos em maiores quantidades de sessões/semana
demonstram valores médios equivalentes aos fatores de motivação relacionado à
“Aptidão Física” (F = 4,739; p = 0,009), à “Competição” (F = 6,063; p = 0,002) e à
“Competência Técnica” (F = 3.311; p = 0,037) proporcional e significativamente
mais elevados que seus pares que relataram estarem envolvidos em menores
quantidades de sessões/semana. De maneira similar, no que se refere a duração
das sessões, aqueles jovens atletas que apontaram estarem envolvidos em
sessões de treino de maior duração também demonstram valores médios
equivalentes aos fatores de motivação relacionado à “Aptidão Física” (F = 4,769; p
= 0,001), à “Competição” (F = 3,634; p = 0,020) e à “Competência Técnica” (F =
2,427; p = 0,046) mais elevados em linguagem estatística que seus pares que
relataram estarem envolvidos em menores sessões se treino de menor duração.
Quanto à organização hierárquica dos fatores de motivação, independentemente
da freqüência semanal e da duração das sessões que esta envolvido no treino, os
jovens atletas oferecem uma ordem de importância similar aos fatores de
motivação para a prática de esporte.
76
Tabela 11 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com a idade de início do treino dos jovens atletas
1
.
9 Anos 10 – 11 Anos 12 – 13 Anos 14 Anos Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,77 ± 1,17
a
3,74 ± 1,13
b
4,35 ± 0,93
c
3,40 ± 1,20
d
3,54 ± 1,07
d
4,50 ± 0,77
c
3,84 ± 1,14
b
2,86 ± 1,24
a
2,77 ± 1,17
a
3,92 ± 1,01
b
4,14 ± 1,02
c
3,30 ± 1,19
d
3,47 ± 1,06
d
4,23 ± 0,84
c
3,93 ± 1,08
b
2,86 ± 1,20
a
2,80 ± 1,20
a
3,84 ± 1,05
b
4,07 ± 1,06
c
3,22 ± 1,20
d
3,37 ± 1,14
d
4,12 ± 0,84
c
3,88 ± 1,11
b
2,75 ± 1,23
a
2,80 ± 1,09
a
3,73 ± 1,02
b
4,01 ± 1,03
c
3,24 ± 1,15
d
3,26 ± 1,01
d
4,05 ± 0,83
c
3,76 ± 1,09
b
2,96 ± 1,23
a
0,110
2,160
3,405
1,322
3,122
5,345
0,451
1,534
ns
ns
0,038
ns
0,041
0,000
ns
ns
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
Tabela 12 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com o tempo de treino dos jovens atletas
1
.
2 Anos 3 – 4 Anos 5 – 6 Anos 7 Anos Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,79 ± 1,17
a
3,75 ± 1,09
b
4,02 ± 1,05
c
3,24 ± 1,20
d
3,29 ± 1,09
d
4,02 ± 0,80
c
4,05 ± 1,15
c
3,15 ± 1,26
d
2,80 ± 1,21
a
3,90 ± 1,04
b
4,06 ± 0,99
c
3,25 ± 1,18
d
3,38 ± 1,10
d
4,13 ± 0,80
c
3,88 ± 1,07
b
2,86 ± 1,17
a
2,76 ± 1,12
a
3,88 ± 1,03
b
4,13 ± 1,04
c
3,34 ± 1,16
d
3,49 ± 0,99
d
4,29 ± 0,87
c
3,84 ± 1,09
b
2,79 ± 1,20
a
2,81 ± 1,07
a
3,95 ± 1,01
b
4,35 ± 0,99
c
3,36 ± 1,18
d
3,60 ± 1,05
e
4,40 ± 0,86
c
3,73 ± 1,07
e
2,76 ± 1,26
a
0,126
1,727
3,466
0,316
3,350
3,528
3,317
4,369
ns
ns
0,036
ns
0,039
0,031
0,040
0,021
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
76
77
77
Tabela 13 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com a freqüência semanal de treino dos jovens atletas
1
.
2 vezes/semana 3 – 4 vezes/semana 5 vezes/semana Teste F
Fatores Md ± Dp Md ± Dp
Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,73 ± 1,14
a
3,77 ± 1,04
b
3,97 ± 1,15
c
3,24 ± 1,16
d
3,31 ± 0,97
d
4,12 ± 0,94
c
3,82 ± 1,18
b
2,71 ± 1,21
a
2,77 ± 1,16
a
3,92 ± 0,99
b
4,05 ± 1,05
c
3,25 ± 1,20
d
3,38 ± 1,11
d
4,19 ± 0,82
c
3,89 ± 1,10
b
2,86 ± 1,22
a
2,82 ± 1,14
a
3,91 ± 1,09
b
4,18 ± 0,94
c
3,40 ± 1,16
d
3,57 ± 1,05
d
4,28 ± 0,79
c
3,94 ± 1,07
b
2,91 ± 1,23
a
0,534
1,753
4,739
2,655
6,063
3,311
1,122
1,492
ns
ns
0,009
ns
0,002
0,037
ns
ns
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
Tabela 14 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com a duração das sessões de treino dos jovens atletas
1
.
1 hora/treino 1 – 2 horas/treino 3 – 4 horas/treino 5horas/treino Teste F
Fatores Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,77 ± 1,15
a
3,61 ± 1,05
b
3,87 ± 1,16
c
3,25 ± 1,12
d
3,27 ± 1,03
d
4,01 ± 0,95
c
3,67 ± 1,11
b
2,80 ± 1,14
a
2,75 ± 1,14
a
3,73 ± 1,01
b
3,90 ± 1,22
c
3,30 ± 1,09
d
3,31 ± 1,08
d
4,13 ± 0,81
c
3,91 ± 1,08
b
2,83 ± 1,12
a
2,90 ± 1,15
a
3,90 ± 1,11
b
4,16 ± 0,98
c
3,33 ± 1,04
d
3,37 ± 1,02
d
4,24 ± 0,83
c
3,95 ± 1,07
b
2,95 ± 1,13
a
2,70 ± 1,00
a
3,80 ± 1,13
b
4,30 ± 0,97
c
3,34 ± 1,14
d
3,55 ± 1,00
e
4,32 ± 0,71
c
3,73 ± 1,14
b
2,95 ± 1,15
a
1,862
2,261
4,769
0,905
3,634
2,427
1,999
1,724
ns
ns
0,001
ns
0,020
0,046
ns
ns
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
78
Com relação à característica da modalidade esportiva praticada, mediante
informações estatísticas apresentadas na tabela 15, constata-se que os jovens
atletas que praticam modalidades esportivas coletivas apresentam valores médios
significativamente mais elevados que seus pares que praticam modalidades
esportivas individuais nos fatores de motivação relacionados ao “Atividade de
Grupo” (F = 6,218; p = 0,000), à “Competência Técnica” (F = 3,456; p = 0,037) e à
“Afiliação” (F = 4,129; p = 0,002). Em contrapartida, diferenças significativas
favorecendo os valores médios encontrados entre os jovens atletas que praticam
modalidades esportivas individuais são observadas nos fatores de motivação
relacionados à “Aptidão Física” (F = 7,014; p = 0,000) e à “Competição” (F = 5,137;
p = 0,000). A organização hierárquica relacionada à magnitude dos valores
médios equivalentes a característica da modalidade esportiva praticada também
apresenta diferenças a serem consideradas. Enquanto os jovens atletas que
praticam modalidades esportivas coletivas elegeram os fatores de motivação
relacionados à “Competência Técnica”, ao “Atividade de Grupo” e à “Afiliação”
como os mais importantes para se praticar esporte, os jovens atletas que praticam
modalidades esportivas individuais ofereceram importância apenas intermediária
aos fatores de motivação relacionados ao “Senso de Coletividade” e à “Amizade”,
apontando os fatores de motivação relacionados à “Aptidão Física” e à
“Competência Técnica” como os mais importantes para a pratica de esporte.
Tabela 15 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de
motivação para a prática de esportes de acordo com a característica da
modalidade esportiva praticada
1
.
Esportes
Coletivos
Esportes
Individuais
Teste F
Fatores de Motivação Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,74 ± 1,09
a
4,12 ± 1,07
b
3,71 ± 0,96
c
3,37 ± 1,13
d
3,24 ± 0,99
d
4,43 ± 0,83
e
4,09 ± 1,06
b
2,91 ± 1,16
a
2,83 ± 1,12
a
3,69 ± 0,97
b
4,41 ± 1,04
c
3,21 ± 1,17
d
3,69 ± 1,03
b
4,06 ± 0,96
e
3,75 ± 1,11
b
2,82 ± 1,14
a
0,612
6,218
7,014
0,725
5,137
3,456
4,129
0,593
ns
0,000
0,000
ns
0,000
0,039
0,002
ns
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à
classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de
motivação (p < 0,01).
78
79
79
As informações estatísticas associadas aos componentes motivacionais de
acordo com o melhor resultado em competição alcançado pelos jovens atletas
selecionados no estudo estão disponibilizados na tabela 16. Na medida em que
aumenta o nível de exigência das competições, da abrangência regional/municipal
para a abrangência internacional, os fatores de motivação relacionados à “Aptidão
Física” (F = 6,105; p = 0,000), à “Competição” (F = 3,274; p = 0,036) e à
“Competência Técnica” (F = 4,222; p = 0,001) demonstram valores médios
significativos e proporcionalmente mais elevados. Por outro lado, de maneira
inversa, no caso dos fatores de motivação relacionados ao “Reconhecimento
Social” (F = 4,907; p = 0,000), à “Atividade de Grupo” (F = 4,218; p = 0,001), à
“Emoção” (F = 4,301; p = 0,000), à “Afiliação” (F = 3,506; p = 0,029) e à “Diversão”
(F = 5,326; p = 0,000) aqueles jovens atletas que alcançaram seus melhores
resultados em competições regionais/municipais apresentam valores médios
estatisticamente mais elevados que seus pares que alcançaram seus melhores
resultados em competições internacionais. Neste caso, diferentemente das demais
situações do histórico de treino consideradas, a organização hierárquica
relacionada à magnitude dos valores médios associados ao melhor resultado
alcançado em competições também apresenta diferenças a serem consideradas.
Enquanto os jovens atletas que alcançaram seus melhores resultados em
competições internacionais elegeram os fatores de motivação “Aptidão Física” e
“Competência Técnica” com os dois mais importantes a prática de esporte, os
jovens atletas que alcançaram seus melhores resultados em competições
regionais/municipais ofereceram importância apenas intermediária ao fator de
motivação “Aptidão Física”, apontando os fatores de motivação “Atividade de
Grupo”, “Competência Técnica” e “Afiliação” com os mais importantes para a
prática de esporte.
80
80
Tabela 16 – Média (Md), desvio-padrão (Dp) e estatística F dos fatores de motivação para a prática de esportes de
acordo com o nível de competição dos jovens atletas
1
.
Internacional Nacional Estadual Regional/Municipal Teste F
Fatores Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp Md ± Dp
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
2,64 ± 1,13
a
3,71 ± 1,00
b
4,38 ± 1,22
c
3,11 ± 1,20
d
3,58 ± 1,09
b
4,45 ± 0,84
c
3,72 ± 1,10
b
2,66 ± 1,28
a
2,67 ± 1,00
a
3,77 ± 1,06
b
4,15 ± 0,93
c
3,26 ± 1,15
d
3,40 ± 1,06
d
4,27 ± 0,80
c
3,81 ± 0,92
b
2,73 ± 1,20
a
2,93 ± 1,13
a
3,76 ± 1,07
b
4,04 ± 0,98
c
3,41 ± 1,20
d
3,36 ± 0,98
d
4,11 ± 0,85
c
3,92 ± 1,12
b
2,85 ± 1,21
a
3,04 ± 1,16
a
4,05 ± 1,24
b
3,80 ± 1,06
c
3,46 ± 1,18
d
3,27 ± 1,04
d
4,02 ± 0,82
b
4,07 ± 1,13
b
3,02 ± 1,22
a
4,907
4,218
6,105
4,301
3,274
4,222
3,506
5,326
0,000
0,001
0,000
0,000
0,036
0,001
0,029
0,000
1
Análise de covariância mediante controle das informações associadas ao gênero, à idade e à classe econômica familiar.
Valores subscritos pelas mesmas letras indicam similaridades estatísticas entre os fatores de motivação (p < 0,01).
81
7. DISCUSSÃO
A discussão dos resultados deverá acompanhar a mesma linha de
orientação adotada em sua apresentação. Em sendo assim, considerar-se-ão dois
momentos distintos. O primeiro, abordará o processo de tradução, adaptação
transcultural e propriedades psicométricas do PMQ, e o segundo incidirá na
abordagem dos resultados direcionados à identificação dos componentes
motivacionais relacionados à prática de esporte de acordo com gênero, idade,
condição socioeconômica familiar e histórico de treino.
7.1. Tradução, adaptação transcultural e propriedades psicométricas do PMQ
O PMQ é um instrumento de medida freqüentemente empregado com
intuito de analisar os componentes de motivação para prática de esporte.
Originalmente idealizado no início da década de 1980 em idioma inglês para
aplicação em jovens com idades entre 7 e 18 anos, composto por 30 itens
reunidos em oito fatores, o PMQ vem sendo traduzido e adaptado para utilização
em diferentes idiomas (SERPA, 1992; BUONAMANO et al, 1995; SHANG, 1997;
PARK, 2003; CHADHA, KOLT, 2004; DOULIAS et al, 2005; HU, WEI, 2005;
THIBORG, 2005; GÜRBUZ et al, 2007). Contudo, é importante destacar tendência
que se repete nas diferentes versões traduzidas do PMQ. Neste sentido,
destacam-se aumento de 3 para 5 pontos na escala de medida policotômica, re-
definição da estrutura fatorial e re-organização dos itens em cada fator de
motivação.
Especificamente em idioma português são identificadas duas tentativas
anteriores de tradução e adaptação do PMQ para aplicação em populações
jovens. Uma primeira tentativa envolveu o idioma português europeu e recebeu
nova denominação: Questionário de Motivação de Actividades Desportivas
QMAD (SERPA, 1992). Neste caso, foram mantidos na versão traduzida os 30
itens propostos inicialmente; porém, reagrupados em somente sete fatores de
81
82
motivação e mediante disposição acentuadamente diferente da versão original. No
entanto, estudos mais recentes apontam limitações metodológicas na definição do
QMAD que podem comprometer sua aplicação (FONSECA, MAIA, 2001). Com
relação à amostra envolvida no estudo que propôs o QMAD, foi selecionada
quantidade insuficiente de sujeitos (90 moças e 85 rapazes) para que se possa
alcançar ajuste do modelo fatorial estatisticamente adequado com 30 itens.
Também, somado a isso, não ocorreram eventuais re-especificações na busca de
melhor adequação entre itens e fatores; assim, sólidos critérios conceituais
disponibilizados no campo da motivação cederam preferência aos comprometidos
achados estatísticos.
Na seqüência, para utilização no Brasil, Gaya e Cardoso (1998) procuraram
idealizar nova adaptação do PMQ, utilizando como referência a versão já
traduzida para o idioma português do QMAD. Para tanto, baseando-se em estudo-
piloto com abordagem exploratória envolvendo jovens de 7 a 14 anos de idade,
em que 110 sujeitos foram convidados a descrever os cinco principais motivos que
os levavam a praticar esporte, reduziram arbitrariamente a quantidade de itens de
30 para 19, excluindo itens originais e inserindo novos itens. Esta versão recebeu
denominação de Inventário de Motivação para a Prática Desportiva – IMPD e
abriga os itens em três fatores de motivação: competência esportiva,
amizade/lazer e saúde. Mediante análise mais detalhada identifica-se que
quantidade significativa de itens inseridos no IMPD não esta presente na versão
original do PMQ e seus conteúdos são claramente voltados para crianças em
idades mais precoces. Logo, parece mais lógico assumir que o IMPD não seja
uma tradução/adaptação do PMQ, mas sim, instrumento inédito direcionado a
identificar os motivos que levam crianças ainda não envolvidas em programas
sistematizados de treino a praticar esporte.
Com relação à tradução e à adaptação transcultural do PMQ realizadas no
presente estudo, a efetivação das várias etapas do processo não apresentou
maiores dificuldades graças à metodologia adotada e à estrutura simples e
objetiva de formulação dos itens da versão original do PMQ. A tradução inicial
realizada pelos dois tradutores foi pouco modificada nos processos subseqüentes
82
83
da metodologia utilizada. A retrotradução quando comparada a versão original
apresentou discretas discrepâncias, geradas devido alguns ajustes realizados
para atender especificidades de determinados itens. A análise das equivalências
semântica, idiomática, cultural e conceitual, equivalente a adaptação transcultural,
corroborou com a etapa de tradução, indicando que o instrumento foi de fácil
tradução.
A análise das equivalências demonstrou que os domínios do PMQ são
apropriados e o construto utilizado na versão original do questionário é igualmente
válido para a cultura alvo, atendendo, desse modo, à equivalência cultural. A
equivalência conceitual indicou que poucos itens necessitaram de ajustes. Em
geral, os itens puderam ser considerados de maneira muito semelhante ao
formato original, indicando, mais uma vez, que a estrutura de formulação dos itens
do PMQ foi bem elaborada. No que se refere a equivalência idiomática, a versão
traduzida para o idioma português demonstrou que 80% dos itens apresentaram
inalterado” e 20% apresentaram “pouco alterado” entre as versões original e
retrotraduzida do instrumento. A equivalência semântica apontou que nenhum
membro do comitê de análise considerou algum item como “pouco alterado”,
quando da comparação entre as versões dos instrumentos original, traduzido e
retrotraduzido.
Quanto à estrutura fatorial do PMQ, traduzido e adaptado no presente
estudo para o idioma português, constatou-se disposição semelhante a
encontrada na versão original proposta por Gill, Gross, Huddleston (1983),
também sendo extraído oito fatores de motivação. Porém, observou-se que a
consistência interna de cada fator de motivação, apontada pelos valores alfa de
Cronbach, de modo geral, foram mais elevados na estrutura fatorial do PMQ
traduzido para o idioma português em comparação com a versão original – tabela
19. Também, a amplitude de variação entre o escore mais elevado (0,827) e mais
baixo (0,543) é inferior a apresentada pela versão original do PMQ (0,76 e 0,30), o
que sugere maior equilíbrio entre os fatores de motivação do versão traduzida
para o idioma português. Prováveis justificativas para esses achados possam
estar associadas às diferenças nas dimensões da escala de pontuação utilizada
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em ambas as versões do PMQ e às características das amostras selecionadas em
um e outro estudo. Na versão original foi empregada escala de medida de três
pontos, enquanto na versão traduzida do PMQ utilizou-se de escala de medida de
5 pontos; logo, com maior capacidade discriminatória em suas respostas. No que
se refere às características das amostras selecionadas em um e outro estudo,
originalmente o PMQ foi aplicado em jovens engajados em programas de férias de
verão envolvendo esporte em um contexto de lazer (Iowa Summer Sports School),
enquanto no presente estudo os jovens se encontravam em contexto de elevada
competição, participando da etapa final dos Jogos da Juventude do Paraná,
principal competição estadual para jovens atletas com 18 anos. Portanto, é
possível que os contextos em que ambos os estudos foram realizados possam ter
definido diferenças quanto ao perfil de interesse pela prática de esporte.
Tabela 17. Estrutura fatorial do Participation Motivation Questionnaire (PMQ)
identificada no estudo original de Gill, Gross e Huddleston (1983) e no presente
estudo.
Gill, Gross e Huddleston (1983) Presente Estudo
Fatores
De Motivação
Itens
Alfa de
Conbach
Fatores
de Motivação
Itens
Alfa de
Conbach
Achievement/Status
Team
Fitness
Energy Release
Miscellaneous Reasons
Skill Development
Friendship
Fun
6
3
3
5
3
3
2
3
0,76
0,78
0,75
0,65
0,49
0,44
0,30
0,55
Reconhecimento Social
Atividade de Grupo
Aptidão Física
Emoção
Competição
Competência Técnica
Afiliação
Diversão
7
4
4
3
2
3
3
4
0,827
0,790
0,753
0,744
0,722
0,693
0,640
0,543
O primeiro fator de motivação da versão traduzida para o idioma português,
denominado “Reconhecimento Social”, procura atender aspectos de motivação
vinculados à aprovação social, à busca de prestígio, à superação pessoal e à
auto-realização. Em comparação com a versão original do PMQ, definido pela
expressão “Achievement/Status”, este fator de motivação passa a reunir 7 itens ao
invés dos 6 propostos no estudo de Gill, Gross, Huddleston (1983). Neste caso, a
estrutura fatorial indicou a adição do item “Pretexto para sair de casa”, que
originalmente atendia o fator de motivação “Energy Release”. Interessante
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observar que, além de ser identificado em todas as demais versões traduzidas do
PMQ, mesmo demonstrando diferentes composições, em todas as versões é o
fator de motivação que reúne a mais eleva quantidade de itens.
O próximo fator de motivação, identificado como “Atividade de Grupo”,
também pode ser considerado como tendo vínculo com motivos associados à
aprovação social. Também comporta um item a mais que a versão original do
PMQ, o que no idioma inglês foi denominado de “Team-Oriented Reasons”. O item
Satisfazer treinado/professor” removido para este fator de motivação
originalmente se encontra no fator de motivação denominado “Miscellaneous
Reasons”. Na versão traduzida para o idioma português do PMQ o fator de
motivação “Aptidão Física” relaciona-se com motivos de ordem fisiológica e de
condicionamento fisco para a prática de esporte, podendo atender critérios
vinculados a saúde. Além dos três itens contemplados na versão em idioma
inglês, denominada “Fitness”, este fator de motivação abriga o item “Ter ação”
que, originalmente, atende ao fator de motivação “Fun”.
Em comparação com a versão original do PMQ, os fatores de motivação
“Emoção” e “Diversão” foram os que apresentaram as mais acentuadas diferenças
na estrutura fatorial de seus componentes. No entanto, ambos os fatores de
motivação abrigam importantes componentes intrínsecos potencialmente
relacionados ao impulso da própria vontade, ou seja, o que induz alguém
voluntariamente a fazer algo com desfrute. Na versão original o equivalente fator
de motivação “Emoção”, denominado de “Energy Release”, abriga cinco itens,
enquanto na versão traduzida a analise fatorial identificou apenas três itens, ainda
assim, somente dois deles coincidentes em ambas as versões do PMQ: “Controlar
tensões” e “Liberar energia”. O terceiro item identificado neste fator de motivação
na versão traduzida foi “Procurar emoções fortes” que, na versão em idioma
inglês, é contemplado no fator de motivação “Fun”.
No que se refere ao fator de motivação “Diversão”, que na versão original
do PMQ recebe a denominação de “Fun” e engloba três itens, passou a reunir na
versão traduzida para o idioma português quatro itens. No entanto, apenas um
deles, “Divertir”, pertence ao agrupamento original. Neste caso, para compor a
85
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nova estrutura fatorial, o fator de motivação “Diversão” recebeu dois itens
originariamente pertencente ao fator de motivação “Energy Release”: “Ter algo
para fazer” e “Viajar”, e um item presente na versão original no fator de motivação
Miscellaneous Reasons”: “Utilizar instalações e equipamentos esportivos”.
Provavelmente, diferentes concepções dos jovens selecionados em ambos
os estudos quanto à componentes intrínsecos relacionados à “Emoção” e à
“Diversão” possam justificar estruturas fatoriais tão divergentes entre as versões
original e traduzida para o idioma português. Evidência desta possibilidade é o fato
dos fatores de motivação presentes na versão original “Energy Release” e
Miscellaneous Reasons” nem sempre se repetirem em versões traduzidas para
outros idiomas do PMQ, tendo seus itens excluídos da estrutura fatorial ou
agrupados em outros fatores de motivação, como foi o caso da versão traduzida
para o idioma português.
Fator de motivação não relacionado na versão original; porém, com
importante peso fatorial na versão traduzida do PMQ foi o que recebeu a
denominação de “Competição”. Este fator resultou da agregação de dois itens
associados ao enfrentamento de desafios e à exposição de riscos. No entanto, na
versão original do PMQ ambos os itens foram excluídos de sua estrutura fatorial
por estarem representados em mais de um fator; logo, neste caso, passaram a ser
utilizados tão-somente como questões-placebo. Mais uma vez, existe
possibilidade das diferentes concepções quanto às ações de “Competir” e
“Enfrentar desafios”, apresentadas pelos jovens reunidos no estudo de Gill, Gross,
Huddleston (1983) e no presente estudo, terem contribuído para que diferentes
estruturas fatoriais pudessem ser identificadas. O fator de motivação
“Competência Técnica” abriga três itens em que o jovem atleta justifica a prática
de esporte mediante metas de auto-realização associadas ao domínio e ao
aperfeiçoamento das habilidades esportivas. Na versão original do PMQ este fator
de motivação recebe a denominação de “Skill Development” e reúne os mesmos
três itens da versão traduzida para o idioma português.
O fator de motivação “Afiliação” concentrou três itens voltados à aprovação
social de extrema importância para a percepção de amizade com os pares. Na
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constituição desse fator de motivação, além dos dois itens também contemplados
na versão original do PMQ, mediante o fator de motivação denominado
Friendship Itens”, o item “Influência da família/amigos”, anteriormente presente no
fator de motivação “Miscellaneous Reasons”, também foi fatorizado em sua
estrutura.
7.2. Identificação dos componentes motivacionais relacionados à prática de
esporte
Nesta fase do estudo buscou-se identificar os fatores de motivação para a
prática de esporte de acordo com gênero, idade, condição socioeconômica familiar
e histórico de treino na amostra selecionada de jovens atletas. Esta aproximação
deverá permitir que se conheçam as características motivacionais de jovens
atletas e disponibilizar informações relevantes com o propósito de fomentar a
prática de esportes na população jovem. Para tanto, as informações quanto aos
fatores de motivação foram obtidas mediante a aplicação do PMQ traduzido e
validado para o idioma português. Neste sentido, o PMQ mediante versões
traduzidas e adaptadas em diferentes idiomas, provavelmente seja o instrumento
mais utilizado para análise dos motivos que possam levar os jovens a praticar
esporte (SERPA, 1992; VIEIRA, 1993; BUONAMANO et al, 1995; SHANG, 1997;
KOIVULA, 1999; ZAHARIADIS, BIDDLE, 2000; MORUISI, 2002; DOULIAS et al,
2005; GARCIA, WEIS, VALDIVIESO, 2005; THIBORG, 2005; SIRARD et al, 2006;
GÜRBUZ et al, 2007).
Os resultados encontrados revelaram que, de modo geral, a “Competência
Técnica” e a “Aptidão Física” foram os principais fatores de motivação para a
prática de esporte apontado pelos jovens atletas. Ou seja, os inquiridos indicaram
que fundamentalmente praticavam esporte em busca de aprimoramento e
manutenção de suas habilidades técnicas e condição física. Mesmo em se
tratando de jovens atletas, estes achados não devem ser considerados
surpreendentes, assumindo ser perfeitamente compreensível que jovens ao
decidir praticar esporte privilegiem motivos que estão intimamente relacionados ao
87
88
sucesso de sua pratica. Estudos disponibilizados na literatura, envolvendo jovens
inseridos em diferentes contextos cultural, apresentaram resultados semelhantes
(WEINBERG et al, 2000; KIM et al, 2003; CECCHINI et al, 2002; SIRARD et al,
2006).
Por outro lado, os fatores de motivação relativos à “Diversão” e ao
“Reconhecimento Social” foram os considerados pelos jovens atletas como os que
menos contribuem para a prática de esporte. No que concerne ao
“Reconhecimento Social”, informações disponíveis na literatura revelam que,
efetivamente, este fator de motivação é, via de regra, considerado como
relativamente pouco importante pelos jovens atletas no que se relaciona com sua
decisão de praticar esporte (ALDERMAN, WOOD, 1976; WILLIAMS, COX, 2003).
No entanto, em relação à procura de “Diversão”, as indicações da literatura não
são consensuais. De fato, se em alguns estudos este motivo tem sido destacado
como sendo um dos mais importantes para os jovens praticarem esporte
(CAMPBELL et al, 2001; WEINBERG et al, 2000), em outros estudos tal evidência
não tem se confirmado (CECCHINI et al, 2002; SIRARD et al, 2006). Possível
explicação para essa situação possa decorrer do significado semântico atribuído a
expressão “divertir”. Para alguns jovens, divertimento e entretenimento podem não
ser entendidos como fruição, mas sim como brincadeira, sendo, portanto,
liminarmente rejeitados, já que o esporte é, para eles, algo de muito sério,
originando-se assim, a inconsistência de resultados encontrados entre os estudos.
No que se refere aos fatores de motivação relacionados à “Afiliação”, à
“Atividade de Grupo”, à “Competição” e à “Emoção”, importantes fatores com
predomínio de dimensões da motivação intrínseca, verificou-se que esses foram
considerados como tendo importância moderada na decisão dos jovens atletas de
praticarem esporte, e em posição significativamente inferior diante de fatores
classicamente representantes de dimensões da motivação extrínseca:
“Competência Técnica” e “Aptidão Física”. Esses achados constituem em dado
interessante, e que talvez mereça ser melhor clarificado em futuras investigações,
ao se atentar para a proposição de pressupostos teóricos que procuraram
88
89
enfatizar a maior importância de atributos vinculados a motivação intrínseca na
decisão dos jovens de praticar esporte (GILL, WILLIAMS, 2008).
Ao tratar os motivos para a prática de esporte de acordo com o gênero,
constatou-se que os rapazes atribuíram grau de importância aos fatores de
motivação “Competição” e “Competência Técnica” significativamente mais elevado
que as moças, enquanto estas valorizaram em maior grau os motivos relacionados
à “Atividade de Grupo” e à “Afiliação”. Evidências disponibilizadas na literatura
confirmam a tendência das moças em se identificarem mais intensamente com
motivos sociais e de convivência em grupo para a prática de esporte, ao contrário
dos rapazes que tendem a valorizar atributos relacionados ao desafio e à busca
de excelência técnica (WEINBERG et al, 2000; CECCHINI et al, 2002; KIM et al,
2003; SIRARD et al, 2006).
Quanto à idade, apesar dos valores médios observados nos fatores de
motivação “Reconhecimento Social” e “Diversão” serem os mais baixos
comparativamente com os demais fatores identificados no estudo, os jovens
atletas com menos idade atribuíram importância significativamente mais elevada a
estes dois fatores que jovens atletas com 17 anos, o que confirma a pré-
disposição típica dos mais jovens em valorizarem o componente lúdico do esporte,
ao mesmo tempo que estabelecem expectativas de serem reconhecidos no
contexto social mediante a sua prática (GILL, WILLIAMS, 2008). Aqueles jovens
atletas com idades mais avançadas relataram ser significativamente mais
motivados que seus pares com 14 anos para a prática de esporte por conta de
atributos vinculados à “Competição” e à “Competência Técnica”. Resultados
semelhantes foram identificados em estudos anteriores (HELLANDSIG, 1998;
CECCHINI et al, 2002; NIGG, 2003) e podem ser justificados em razão dos jovens
com mais idade oferecerem significado mais competitivo ao esporte e uma
oportunidade de colocar a prova sua competência pessoal.
Aqueles jovens atletas pertencentes à classe econômica familiar menos
privilegiada (Classe D) demonstraram ser significativamente mais motivados para
a prática de esporte em comparação com os pertencentes a classe econômica
familiar mais elevada (Classe A) por intermédio dos fatores “Reconhecimento
89
90
Social”, “Emoção”, “Afiliação” e “Diversão”. Para o nosso conhecimento, até o
momento, eventuais associações entre classe econômica familiar e fatores de
motivação para a prática de esporte não foram referidas na literatura; contudo, no
campo especulativo, pressupõe que, entre os jovens atletas de menor nível
econômico familiar, em razão do contexto sociocultural em que estão inseridos,
possa existir maior interesse na eventual possibilidade de ascensão social que o
esporte venha a oferecer aos seus praticantes. Também, a importância que os
fatores de motivação “Emoção”, “Afiliação” e “Diversão”, em conjunto, assume
entre os jovens atletas de menor nível econômico familiar, em comparação com
seus pares de mais elevado nível econômico familiar, pode estar relacionada às
possíveis restrições econômicas a que são submetidos, o que reflete na redução
das opções de atividades disponíveis para atender suas expectativas de desfrute,
convívio com amigos, lazer e entretenimento, elegendo, desse modo, a prática de
esporte como importante recurso neste sentido.
Indicadores relacionados ao histórico de treino relatados pelos jovens
atletas também repercutiram no grau de motivação atribuído a prática de esporte.
Jovens atletas que iniciaram os treinos em idades mais precoces e que
demonstraram possuir maior tempo de experiência de treino tenderam a elevar
significativamente a magnitude de importância dos motivos para a prática de
esporte voltados aos fatores “Aptidão Física”, “Competição” e “Competência
Técnica”; enquanto jovens atletas que demonstraram possuir menor tempo de
experiência de treino valorizaram significativamente mais os fatores de motivação
identificados com a “Afiliação” e a “Diversão”. Esses resultados são consistentes
com evidências teóricas (GILL, WILLIAMS, 2008) e empíricas (PETHERICK,
WEIGAND, 2002; KIM et al, 2003) disponibilizadas na literatura e reforça a
hipótese no sentido de que os praticantes iniciantes de esporte são tipicamente
mais motivados por razões relacionadas à amizade e à ludicidade, ao contrário
dos mais experientes que evocam preferencialmente a busca por desafios e da
excelência no campo das habilidades técnicas e do condicionamento físico.
O volume de treino, evidenciado mediante informações associadas à
freqüência semanal e à duração das sessões de treino, também se definiu como
90
91
importante atributo vinculado ao histórico de treino que impacta de maneira
significativa nos motivos atribuídos pelos jovens atletas para a prática de esporte.
Neste caso, na medida em que os jovens atletas apontaram treinar mais vezes por
semana e por mais tempo em cada sessão de treino maior foi a importância
atribuída aos fatores de motivação vinculados à “Aptidão Física”, à “Competição” e
à “Competência Técnica”. Esses resultados coincidem com evidencias
disponibilizadas pelos raros estudos referidos na literatura que trataram do tema
(WEINBERG et al, 2000; CECCHINI et al, 2002); contudo, mediante delineamento
transversal, como é o caso do presente estudo, não é possível afirmar se o traço
motivacional voltado à busca por desafios e da excelência no campo das
habilidades técnicas e do condicionamento físico é responsável ou conseqüência
do maior volume de treino, salientando a possível ação de reversibilidade nessa
relação.
Os resultados obtidos por característica de modalidade esportiva
pressupõem que as escolhas dos esportes que os jovens atletas praticam poderão
eventualmente ser influenciadas pelos fatores de motivação. Neste sentido, os
jovens atletas que praticam esportes coletivos ofereceram grau de importância
significativamente maior aos fatores de motivação “Atividade em Grupo”,
Competência Técnica” e “Afiliação”, enquanto os que praticam esportes individuais
valorizaram mais intensa e significativamente os fatores de motivação “Aptidão
Física” e “Competição”. A literatura disponibiliza razoável quantidade de estudos
que procuraram identificar os motivos que levam jovens atletas a praticarem
esportes coletivos (GARCIA, WEIS, VALDIVIESO, 2005; THIBORG, 2005;
GÜBURZ et al, 2007; ALMAGRO et al, 2009), individuais (KLINT, WEISS, 1986;
SHANG, 1997; SALGUERO et al, 2003) e de ambas as características
conjuntamente (SERPA, 1992; BUONAMANO et al, 1995; KOIVULA, 1999;
WEINBERG et al, 2000; ZAHARIADIS, BIDDLE, 2000; MORUISI, 2002; SIRARD
et al, 2006). Contudo, até o momento, desconsiderou eventuais diferenças que
possam existir entre os motivos que movem os jovens atletas a optarem pela
prática de esportes coletivos ou individuais e, neste contexto, mais
especificamente quanto aos esportes de quadra, campo, aquáticos, luta, raquete,
91
92
radicais, entre outros. Em vista disso, os achados encontrados no presente estudo
podem ser entendidos como dados exploratórios e contribuir para o delineamento
de investigações futuras direcionadas ao aprofundamento desta questão.
O nível de competição foi a estratificação que mais apontou diferenças
significativas no grau de motivação apontado pelos jovens atletas para a prática
de esporte. Os jovens atletas que relataram atuar, até então, somente em
competições municipais/regionais atribuíram significativamente maior importância
aos fatores “Reconhecimento Social”, “Atividade de Grupo”, “Emoções”, “Amizade”
e “Diversão”. Por outro lado, os fatores “Aptidão Física”, “Competição” e
“Competência Técnica” foram significativamente mais valorizados pelos atletas
jovens que apontaram já ter atuado em competições internacionais. Estas
constatações confirmam resultados de estudos anteriores quanto à preocupação e
ao investimento que se deve dispensar aos motivos sociais e afetivos em estágios
iniciais da carreira esportiva dos jovens atletas (GILL, WILLIAMS, 2008). Contudo,
a medida que os estágios de desempenho esportivo se elevam em direção as
competições internacionais, passando por competições estaduais e nacionais, as
maiores exigências solicitadas fazem com que motivos associados ao desafio e à
competência física e técnica passem a ser mais atraente para os jovens atletas de
mais elevado desempenho atlético.
92
93
8. CONCLUSÃO
O instrumento PMQ traduzido e adaptado para o idioma português alcançou
bom desempenho psicométrico frente à amostra do presente estudo,
apresentando elevados coeficientes alfa de Cronbach calculados para os fatores
de motivação gerados. A análise fatorial exploratória com rotação Varimax
possibilitou a geração de oito fatores de motivação que, em conjunto, explicam
proporção de variância próxima de 67 %. A solução fatorial gerada foi similar a
apresentada originalmente no estudo de Gill, Gross e Huddleston (1983), e da
maioria dos estudos publicados utilizando o mesmo delineamento experimental.
Desta maneira, a versão do PMQ disponibilizada no presente estudo mostrou-se
adequada para utilização em futuras intervenções com objetivo a analise de
analisar os motivos para a prática de esporte em jovens atletas.
Em linhas gerais, os jovens atletas paranaenses percebem-se motivados
para a prática de esporte, sobretudo por motivos vinculados à auto-realização
associada ao aperfeiçoamento das habilidades esportivas e por motivos de ordem
fisiológica associada ao condicionamento físico, uma vez que os fatores de
motivação mais pontuados foram “Competência Técnica” e “Aptidão Física”.
Também, identificou-se impacto importante de gênero, idade, classe econômica e
indicadores relacionados ao histórico de treino nos fatores de motivação para a
prática de esporte.
Os resultados encontrados no presente estudo estão em consonância com
achados disponibilizados na literatura, sugerindo que fatores de motivação de
jovens atletas de diferentes contextos culturais parecem acompanhar os mesmos
comportamentos. Eventuais divergências neste sentido podem ser verificadas
quando os sujeitos em questão apresentam características diferentes quanto à
idade e ao nível de competição.
Na amostra selecionada no estudo, composta por jovens atletas do estado
do Paraná, é notória a importância atribuída aos motivos inerentes à prática de
esporte relacionados ao domínio e ao aprimoramento das habilidades esportivas,
93
94
à realização de exercício físico e manter boas condições físicas. Portanto, são
motivos voltados à tarefa, relacionados com a atividade, e não, com o que a
atividade pode proporcionar de desfrute, assim, motivos mais autodeterminados.
Intervenções neste contexto devem ser oferecidas a fim de contemplar estas
demandas motivacionais, proporcionando maior qualidade sócio-afetiva nas
rotinas de treino, possibilitando, desse modo, maior chance de aderência presente
e futura a prática de esporte.
Finalmente, chama-se atenção para a necessidade de futuros estudos de
mesmo delineamento experimental; porém, de acompanhamento longitudinal, na
tentativa de reunir subsídios para um entendimento mais efetivo quanto ao
impacto de indicadores sociodemográficos e do histórico de treino nos fatores de
motivação para a prática de esporte em períodos específicos na carreira esportiva
de atletas jovens e na idade adulta.
94
95
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103
104
ANEXOS
104
105
ANEXO 1
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
105
106
ANEXO 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TÍTULO DO PROJETO: MOTIVAÇÃO PARA A PRÁTICA DE ESPORTES EM JOVENS ATLETAS
E FATORES ASSOCIADOS
Objetivo do projeto: Investigar os motivos para à prática de esportes em jovens atletas
participantes dos Jogos da Juventude do Paraná e sua associação com fatores relacionados à
experiência esportiva e às características do treinamento a que são submetidos. Procedimentos:
Aplicação de questionário por uma equipe de entrevistadores treinados para utilização de seus
procedimentos. Na presença dos técnicos e/ou responsáveis pelos atletas, cada entrevistador
deverá expor os objetivos do estudo e a forma adequada de responder os questionários. A
identidade dos jovens será mantida em sigilo, e para tal, após responderem os questionários, os
atletas deverão colocá-los em envelopes iguais, não nomeados.
Desconfortos e Riscos: O
questionário a ser aplicado já foi validado para utilização na realidade brasileira. Desse modo,
acredita-se que não deverão haver riscos ou desconfortos para a integridade física, mental ou
social dos participantes. Benefícios esperados: Os resultados obtidos a partir do estudo deverão
trazer a luz a situação motivacional dos jovens atletas paranaenses, além de auxiliar no
desencadeamento de ações intervencionistas que favoreçam o aumento da motivação para a
prática do esporte, aumentando a aderência e a possibilidade de melhores desempenhos em
competições subseqüentes. Esclarecimentos antes e durante a pesquisa: Todos os jovens e
seus treinadores envolvidos na investigação terão acesso, a qualquer tempo, às informações sobre
os procedimentos, os riscos e os benefícios relacionados à pesquisa. Qualquer questão sobre a
metodologia utilizada no projeto ou informações adicionais que se fizerem necessárias serão
encorajadas. Liberdade de recusar ou retirar o consentimento: A permissão para participar do
projeto é voluntária. Portanto, os responsáveis legais estarão livres para negar esse consentimento a
qualquer momento, sem que isto traga qualquer tipo de constrangimento ou penalização.
Despesas decorrentes da participação no projeto de pesquisa: Os voluntários estarão isentos
de qualquer despesa ou ressarcimento decorrente do projeto de pesquisa. Exposição dos
resultados e preservação da privacidade: Os resultados obtidos no estudo deverão ser
publicados, independentemente dos resultados encontrados; contudo, sem que haja identificação
dos jovens que prestaram sua contribuição como sujeitos da amostra, respeitando, assim, a
privacidade dos participantes conforme rege as normas éticas.
CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Eu,_________________________________________, declaro que, após ter sido
convenientemente esclarecido pelo professor José Evaristo Silvério Netto e ter entendido o que me
foi explicado, não havendo mais dúvidas, CONCORDO VOLUNTARIAMENTE em participar do
projeto.
_________________________________________________
Assinatura do participante
Eu, José Evaristo Silvério Netto, declaro que forneci todas as informações referentes ao projeto.
Em caso de qualquer dúvida, favor entrar em contato conosco na Direção do Centro de Educação
Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina – Fones (18) 32292137 ou (11) 6280-6430
___________________________________________________
Assinatura do Pós-Graduando
Londrina, _________de ___________________de 2008.
106
107
ANEXO 3
MOTIVOS PARA A PRÁTICA DE ESPORTES
Participation Motivation Questionnaire
(Traduzido e adaptado de Gill, Gross e Huddleston, 1983)
Abaixo é apresentado um conjunto de motivos que levam as pessoas a praticar esporte.
Leia com atenção cada item e marque com um “X” o quanto cada um desses motivos é
importante atualmente para Você praticar sua modalidade esportiva.
Nada Muito
Importante Importante
Eu pratico esportes para:
1 Melhorar as habilidades técnicas 0 1 2 3 4 5
2 Estar com os amigos 0 1 2 3 4 5
3 Ganhar dos adversários 0 1 2 3 4 5
4 Liberar energias 0 1 2 3 4 5
5 Viajar 0 1 2 3 4 5
6 Manter a forma física 0 1 2 3 4 5
7 Ter emoções fortes 0 1 2 3 4 5
8 Trabalhar em equipe 0 1 2 3 4 5
9 Satisfazer a família ou amigos 0 1 2 3 4 5
10 Aprender novas habilidades 0 1 2 3 4 5
11 Fazer novas amizades 0 1 2 3 4 5
12 Fazer algo em que sou bom 0 1 2 3 4 5
13 Liberar tensões 0 1 2 3 4 5
14 Ganhar prêmios 0 1 2 3 4 5
15 Fazer exercício físico 0 1 2 3 4 5
16 Ter algo para fazer 0 1 2 3 4 5
17 Ter ação 0 1 2 3 4 5
18 Desenvolver espírito de equipe 0 1 2 3 4 5
19 Sair de casa 0 1 2 3 4 5
20 Competir 0 1 2 3 4 5
21 Sentir importante 0 1 2 3 4 5
22 Pertencer a um grupo 0 1 2 3 4 5
23 Superar limites 0 1 2 3 4 5
24 Estar em boas condições físicas 0 1 2 3 4 5
25 Ser conhecido 0 1 2 3 4 5
26 Vencer desafios 0 1 2 3 4 5
27 Satisfazer o professor/treinador 0 1 2 3 4 5
28 Ser reconhecido e ter prestígio 0 1 2 3 4 5
29 Divertir 0 1 2 3 4 5
30 Utilizar instalações e equipamentos esportivos 0 1 2 3 4 5
107
108
ANEXO 4
INSTRUMENTO SOCIODEMOGRÁFICO E HISTÓRICO ESPORTIVO
1. Qual cidade Você representa: 2. Qual modalidade Você pratica:
3. Qual é o seu sexo:
( ) Feminino
( ) Masculino
4. Como Você identifica sua etnia:
( ) Branco ( ) Asiático
( ) Negro ( ) Índio
( ) Outra etnia, qual _______________
5. Qual é a sua idade:
( ) 14 Anos
( ) 15 Anos
( ) 16 Anos
( ) 17 Anos
( ) 18 Anos
6. Com que idade Você começou a treinar:
( ) 7 Anos
( ) 8 – 9 Anos
( ) 10 – 11 Anos
( ) 12 – 13 Anos
( ) 14 – 15 Anos
( ) 16 Anos
7. Quanto tempo Você está treinando:
( ) 1 Anos
( ) 2 Anos
( ) 3 Anos
( ) 4 Anos
( ) 5 Anos
( ) 6 Anos
( ) 7 Anos
8. Quantas vezes Você treina por semana:
( ) 1 vez
( ) 2 vezes
( ) 3 vezes
( ) 4 vezes
( ) 5 vezes
( ) 6 vezes
( ) 7 vezes
9. Qual é a duração de cada treino:
( ) 1 hora
( ) 1 – 2 horas
( ) 3 – 4 horas
( ) 5 horas
10. Seu melhor resultado foi em competição:
( ) Internacional
( ) Nacional
( ) Estadual
( ) Regional
( ) Municipal
11. Em que série Você está estudando:
( ) Eu não estudo
( ) 1ª à 4ª Série do Ensino Fundamental
( ) 5ª à 6ª Série do Ensino Fundamental
( ) 7ª à 8ª Série do Ensino Fundamental
( ) 1ª à 3ª Série do Ensino Médio
12. Qual é o nível de escolaridade de seu pai
ou da pessoa responsável por Você:
( ) Analfabeto/Primário incompleto
( ) Primário completo/Ginásio incompleto
( ) Ginásio completo/Colegial incompleto
( ) Colegial completo/Superior incompleto
( ) Superior completo
13. Assinale o número de itens de utensílios domésticos que possui na casa em que Você
reside com a família:
Não tem 1 2 3 4
Televisão em cores ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Geladeira e freezer
Videocassete ou DVD ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Não possui
Rádio ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Possui só geladeira
Aspirador de pó ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) sem freezer
Máquina de lavar roupa ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) Possui geladeira
Banheiros ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) duplex ou freezer
Automóvel ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
Empregada(o) mensalista ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
108
109
ANEXO 5
PARTICIPATION MOTIVATION QUESTIONNAIRE
(Gill, Gross e Huddleston, 1983)
Below are some reasons that people give for participating in sports. Read each item
carefully and decide if that item describes a reason why you participate in your sport. Mark
an “X” to indicate if that reasons is Very Important, Somewhat Important, or Not at all
Important for you.
Very Somewhat Not at all
Important
um I want to improve my skills
dois I want to be with my friends
três I like to win
4 I want to get rid f energy
5 I like to travel
6 I want to stay in shape
7 I like the excitement
8 I like the teamwork
9 My parents or close friends want me to play
10 I want to learn new skills
11 I like to meet new friends
12 I like to do something I’m good at
13 I want to release tension
14 I like the rewards
15 I like to get exercise
16 I like to have something to do
17 I like the action
18 I like the team spirit
19 I like to get out of the house
20 I like to compete
21 I like to feel important
22 I like being on a team
23 I want to go an to a higher level
24 I want to be physically fit
25 I want to be popular
26 I like the challenge
27 I like the coaches or instructors
28 I want to gain status or recognition
29 I like to have fun
30 I like to use the equipment or facilities
109
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