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diferenciando-se quanto ao papel que atribuem à língua materna durante esse processo de
aquisição.
Apesar de trabalhos como o de Platzack (apud WHITE, 2000), que nega a
possibilidade de a L1 atuar na aquisição de L2, atribuindo somente à GU a importância de
constituir o estado inicial, serão enfatizados trabalhos que mais se assemelham à postura
adotada para este trabalho. Portanto serão apresentados, a seguir, alguns dos trabalhos que
afirmam a possibilidade de acesso à GU e a influência da L1 nesse processo.
A primeira perspectiva a ser contemplada nesse sentido é a proposta de Liceras (1996).
A autora diz que a tentativa dos investigadores em determinar se os princípios da GU estão ou
não disponíveis para a aquisição de L2 constitui-se em um grande problema para os estudos
de aquisição, pois uma vez que as propriedades da GU se manifestam em todas as línguas
naturais, esse acesso poderia ser realizado indiretamente através da L1. Desse modo, Liceras
sugere investigar o que, de fato, variaria entre as línguas, isto é, os valores paramétricos.
Tomando como ponto de partida a noção de linguagem como instinto e órgão que
cresce, a autora diz ser incongruente propor que um mesmo órgão cresça duas vezes, ou seja,
sendo a língua materna um órgão já crescido, não é possível caracterizar a linguagem não
nativa (L2) do mesmo modo que a L1. Com isso, Liceras sugere a postulação de um outro tipo
de mecanismo para a aquisição de línguas não nativas, mecanismo esse chamado de tinkering
ou bricolage, que se trata da reestruturação de unidades específicas das representações pré-
existentes na mente do indivíduo adulto.
Uma outra proposta, formulada por Vainikka e Young-Scholten (1996), afirma ser o
estado inicial uma gramática baseada nas representações da L1, porém, somente parte da
gramática da L1 constituiria o estado inicial. De acordo com essa hipótese, chamada de
“Árvores Mínimas”, há no estágio inicial transferência da L1 somente de projeções lexicais e
a partir desse ponto uma estrutura gramatical é construída da mesma maneira que uma criança
adquire sua língua materna, ou seja, através da GU.
Apesar de se defender que no estado inicial não haja categorias funcionais, assume-se
que elas possam ser adquiridas de forma gradativa e sequencial, com base no input recebido
pela L2. Logo, a partir do novo input, o aprendiz adquire uma projeção funcional não
especificada, ou seja, uma projeção que ainda não está associada aos traços específicos
correspondentes. A seguir, com o aumento significativo na quantidade e forma de elementos
funcionais, é possível que haja, nessa proposta, a aquisição de uma projeção funcional.
Um outro trabalho, de certa maneira similar ao de Vainikka e Young-Scholten (op.
cit.), aceita a possibilidade de a GU atuar na aquisição de L2, porém nessa visão, a de