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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FERNANDA NUNES ESTRÊLA
A INTERPRETAÇÃO ASPECTUAL DO MORFEMA –ED POR FALANTES NATIVOS
DO PORTUGUÊS DO BRASIL APRENDIZES DE INGLÊS L2
RIO DE JANEIRO
2010
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Fernanda Nunes Estrêla
A INTERPRETAÇÃO ASPECTUAL DO MORFEMA –ED POR FALANTES NATIVOS
DO PORTUGUÊS DO BRASIL APRENDIZES DE INGLÊS L2
Rio de Janeiro
2010
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Linguística, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como requisito à obtenção
do título de Mestre em Linguística.
Orientador:
Prof. Dr. Celso Vieira Novaes
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Estrêla, Fernanda Nunes.
A interpretação aspectual do morfema -ED por falantes nativos do português do
Brasil aprendizes de inglês L2. / Fernanda Nunes Estrêla. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2010.
Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, FL.
1. Sintaxe. 2. Aspecto. 3. Tese (Mestrado – UFRJ/FL) I. Título
Fernanda Nunes Estrêla
A INTERPRETAÇÃO ASPECTUAL DO MORFEMA –ED POR FALANTES NATIVOS
DO PORTUGUÊS DO BRASIL APRENDIZES DE INGLÊS L2
Aprovada em
______________________________________________________________________
Presidente, Professor Doutor Celso Vieira Novaes (Linguística/UFRJ)
______________________________________________________________________
Professora Doutora Márcia Maria Dâmaso Vieira (Linguística/UFRJ)
______________________________________________________________________
Professora Doutora Maria Mercedes Riveiro Quitans Sebold (Letras Neolatinas/UFRJ)
______________________________________________________________________
Professora Doutora Christina Abreu Gomes (Linguística/UFRJ), suplente
______________________________________________________________________
Professora Doutora Aurora Maria Soares Neiva (Linguística Aplicada/UFRJ), suplente
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Linguística, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como requisito à obtenção
do título de Mestre em Linguística.
Dedico esta dissertação aos meus queridos pais.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, por ter me dado a vida e ter me colocado entre pessoas tão
especiais.
À minha família, pela felicidade que me proporciona, pelo carinho com que me trata,
pelas recordações inesquecíveis.
Aos meus pais, por cuidarem sempre tão bem de mim e me presentearem com os
momentos mais acolhedores da minha vida.
À minha mãe, pelo apoio e defesa ferrenha, por entender minha correria, ansiedade e
desespero nos momentos difíceis. Por entender que, em certos momentos, eu não poderia
fazer mais do que eu fiz.
Ao meu pai, que, através de sua exigência despercebida, me fez perceber que eu podia
ir além do que eu achava ser possível. Obrigada por tudo.
Ao Léo, pela paciência, carinho, por suportar e compreender todo meu estresse e
cansaço. Pela solicitude infinita e admirável. Por torcer e acreditar em mim em todos os
momentos dessa caminhada.
A todos os meus amigos que, distantes ou não, transmitiam pensamentos positivos e
me davam forças com as mais belas palavras de incentivo e carinho que se pode esperar.
Obrigada à Aline, à Talita, à Gaia, ao Victor, à Natalinha, à Vanessa pelo carinho e força. Ao
Fabrício, um agradecimento todo especial simplesmente por reunir tudo o que um melhor
amigo deve ter, por ficar até de madrugada fazendo e refazendo gráficos, por me ensinar mil
vezes a usar o excel e por me ouvir reclamar a mesma coisa incontáveis vezes.
Aos meus alunos e ex-alunos, por entenderem meu cansaço e desânimo diversas vezes.
Por me fazerem rir e esquecer dos problemas e preocupações.
Aos participantes desta pesquisa, pois sem sua disponibilidade, nada disso seria
possível.
Às professoras Laura, Adriana Albuquerque, Adriana Rebello e Sílvia Becher, por
terem me guiado até os nativos de inglês.
Às minhas companheiras de aventura, Leitão, Lessa, Letícia, Sarinha, Fernandinha,
Urânia, Marcelinha, Mercedes, Sílvia, Lana e às meninas de Iniciação Científica. Um
agradecimento mais do que especial para a pessoa mais solícita que já conheci: Adriana
Leitão.
À UFRJ por ter sido uma pequena extensão da minha casa por esses anos e,
especialmente, ao professor Celso Novaes, por ter me dado a chance única de ter me integrado
a esse grupo de pesquisa tão competente e que me deixa tão orgulhosa. Agradeço também por
ter me acolhido de braços abertos e ter acreditado que, apesar do meu jeito tímido de ser, era
exatamente esse caminho que eu queria para a minha vida profissional. Obrigada Celso, pelo
profissional exemplar que és e por apostar na minha capacidade até o fim.
Obrigada a todos, por contribuírem para a minha felicidade neste momento.
“Life is never that easy”
Noam Chomsky
ESTRÊLA, Fernanda Nunes. A interpretação aspectual do morfema -ED por falantes
nativos do português do Brasil aprendizes de inglês L2. Rio de Janeiro, 2010. Dissertação
(Mestrado em Linguística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2010.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é analisar a aquisição de morfemas aspectuais e suas
associações com os traços de perfectividade e imperfectividade. Nosso foco particular
consiste em analisar, especificamente, a aquisição do morfema –ED do inglês por falantes
nativos do português do Brasil (PB), aprendizes de inglês L2.
Para isso, foram selecionados 30 (trinta) indivíduos, 15 (quinze) nativos do inglês dos
EUA e 15 (quinze) nativos do PB aprendizes de inglês L2 e, aos dois grupos, foi aplicado um
teste de produção escrita. O teste é composto por 30 (trinta) slides e cada slide é composto por
três elementos: uma figura, uma expressão adverbial de tempo e um verbo na forma infinitiva,
todos escritos em língua inglesa. A tarefa realizada pelos informantes consistia em criar uma
frase utilizando os três elementos descritos acima. Aos aprendizes, uma segunda tarefa lhes
foi atribuída, a de traduzir todas as frases criadas na primeira etapa do teste.
Com base nos resultados, pode-se concluir que: a) os aprendizes parecem ter adquirido
o morfema –ED, b) os aprendizes de inglês, ao contrário dos nativos, ainda não associam o
morfema –ED ao traço de imperfectividade, c) em contraste com os falantes nativos do inglês,
os aprendizes usam, frequentemente, a estrutura “USED TO” para expressar o aspecto
imperfectivo. Tais resultados mostram os dois estágios pelos quais a aquisição passa:
primeiramente, a aquisição de morfemas e, segundo, a associação destes aos seus respectivos
traços.
ESTRÊLA, Fernanda Nunes. A interpretação aspectual do morfema -ED por falantes
nativos do português do Brasil aprendizes de inglês L2. Rio de Janeiro, 2010. Dissertação
(Mestrado em Lingüística) - Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2010.
ABSTRACT
The goal of this work is to analyze the acquisition of aspectual morphemes and their
associations with perfective and imperfective features. Our particular focus consists in
analyzing, specifically, the acquisition of the English morpheme –ED by Brazilian native
speakers learning English as a second language (L2).
For that purpose, 30 individuals were selected, 15 native speakers of North-American
English and 15 native speakers of Brazilian Portuguese learning English as L2 and, a written
production test was applied to them. The test consists of 30 slides and each one is composed
by 3 elements: a picture, a time adverbial expression and a verb in the infinitive form. All
slides were written in English. The task to be performed by the individuals was to create a
sentence using all the elements described above. A second task was given to the Brazilian
learners: to translate all sentences created in the first part of the test to Portuguese.
Based on the results, we concluded that: a) learners seem to have acquired the –ED
morpheme, b) the learners, differently from the native speakers of English, do not associate
the –ED morpheme with the imperfective feature, yet c) in contrast to the native speakers of
English, Brazilian learners frequently use the expression “USED TO” to convey the
imperfective aspect. Such results show both stages through which the acquisition process
passes: first, the acquisition of morphemes and, latter, the association of these morphemes to
their respective features.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AGR Concordância
AGRP Nódulo de concordância
A-P Sistema articulatório-perceptual
ASP Aspecto
ASPP Nódulo aspectual
ASP
PERF
Nódulo aspectual (BOK-BENNEMA, 2001)
C-I Sistema computacional-intencional
E-D Estrutura profunda
E-S Estrutura superficial
EUA Estados Unidos da América
F Traços
FL Faculdade da Linguagem
FLEX Flexão
GU Gramática Universal
I Flexão
IRREG Irregular
L Língua
L1 Primeira língua ou língua materna
L2 Segunda língua
LF Forma lógica
PB Português do Brasil
PF Forma fonética
PM Programa Minimalista
PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
T Tempo
TP Nódulo temporal
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Representação arbórea da estrutura sintagmática
Figura 2 - Representação arbórea da sentença
Figura 3 – Proposta de inserção do nódulo aspectual na árvore sintática
Figura 4 – Slide-alvo / expressão adverbial perfectiva
Figura 5 – Slide-alvo / expressão adverbial imperfectiva
Figura 6 – Slide distrator / expressão adverbial de presente
Figura 7 – Slide distrator / expressão adverbial de futuro
Figura 8 - Slide de instrução / nativos do inglês
Figura 9 - Slide de instrução / nativos do PB
Gráfico 1 – Desempenho dos nativos de inglês nos slides que elicitavam o aspecto perfectivo
Gráfico 2 – Desempenho dos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o aspecto
perfectivo
Gráfico 3 – Porcentagem referente às frases traduzidas pelos aprendizes de inglês nos slides
que elicitavam o aspecto perfectivo
Gráfico 4 – Desempenho dos nativos de inglês nos slides que elicitavam o aspecto
imperfectivo
Gráfico 5 – Desempenho dos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o aspecto
imperfectivo
Gráfico 6 – Porcentagem referente às frases traduzidas pelos aprendizes de inglês nos slides
que elicitavam o aspecto imperfectivo
Tabela 1 – Divisão dos grupos de aprendizes (Montrul e Slabakova, 2002)
Tabela 2 – Perfil dos aprendizes
Tabela 3 – Distribuição dos verbos e possíveis complementos
Tabela 4 – Distribuição das expressões adverbiais de tempo
Tabela 5 – Estágios de aquisição do morfema –ED e seus traços
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 14
2. A TEORIA GERATIVA............................................................................................... 16
2.1. O GERATIVISMO E AS CATEGORIAS FUNCIONAIS ......................................... 16
2.2. A REPRESENTAÇÃO SINTÁTICA ......................................................................... 18
2.3. O PROGRAMA MINIMALISTA E A QUESTÃO DOS TRAÇOS .......................... 21
2.4. OS TRAÇOS DE ASPECTO ...................................................................................... 24
3. AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM ................................................................................ 30
3.1. A AQUISIÇÃO DE LÍNGUA MATERNA ................................................................ 30
3.2. A AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA ................................................................ 34
4. METODOLOGIA ......................................................................................................... 41
4.1. INFORMANTES ......................................................................................................... 41
4.2. DESENHO DO TESTE ............................................................................................... 42
4.3. ORGANIZAÇÃO E PROCEDIMENTO .................................................................... 46
5. RESULTADOS ............................................................................................................. 48
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 63
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 66
ANEXO A .......................................................................................................................... 68
ANEXO B .........................................................................................................................101
ANEXO C ........................................................................................................................102
14
1. INTRODUÇÃO
O interesse em desvendar o mistério do conhecimento atravessa a nossa história desde
os grandes filósofos gregos. Tal preocupação continuou a repercutir através da tradição
intelectual do Ocidente e, ao deixar um pouco de lado a mera especulação e ao fazer uso de
métodos empíricos para testar suas hipóteses, o final do século XIX chega com uma
proliferação de novas ciências e de especialidades filosóficas que pretendiam discutir a
natureza da mente humana.
Vários campos de pesquisa preocupavam-se com tal questão, dentre eles, a psicologia,
a antropologia e a linguística. No entanto, será a lingüística, cujo caráter revolucionário no
estudo da cognição deve-se à publicação de Syntactic Structures (1957), de Noam Chomsky, a
ciência adotada no intuito de guiar as discussões aqui apresentadas.
Os estudos linguísticos que seguem a linha de pesquisa gerativista liderados por
Chomsky têm por objetivo entender a mente através de um aspecto exclusivamente humano: a
linguagem. Ao contrário da visão de linguagem de Skinner, que entendia o processo de
aquisição de linguagem como um conjunto de hábitos, a visão de linguagem adotada neste
trabalho, baseada na teoria gerativa, pressupõe a existência de um conjunto de princípios
inatos que regem todas as línguas, a Gramática Universal (GU).
Os princípios da GU associados aos dados da ngua, aos quais um falante é exposto,
dão conta de todo o seu conhecimento linguístico. Embora esse conhecimento possa ser posto
em uso de diferentes maneiras, há componentes invariáveis que permeiam todas as línguas. É
a tentativa de descoberta desses componentes o foco atual de muitos estudos gerativistas.
No entanto, para se chegar ao conhecimento desses elementos invariáveis é preciso
observar os elementos perceptivelmente variáveis entre as mais diferentes línguas do mundo.
Estudos recentes propõem que a divergência entre as línguas se encontraria no léxico e na
morfologia flexional dos verbos. Desse modo, muitos estudos passaram a focalizar as
categorias funcionais, uma vez que elas abrigam informações referentes à morfologia verbal.
Neste trabalho, o objetivo é investigar, especificamente, como se a interpretação
aspectual do morfema –ED por falantes brasileiros aprendizes de inglês L2. Espera-se que os
aprendizes testados tenham adquirido tal morfema, mas que ainda não o correlacionem aos
traços de imperfectividade.
Para tanto, são contemplados, no primeiro capítulo, alguns dos pressupostos teóricos
da Gramática Gerativa, enfatizando a relação entre eles e a noção de Aspecto. No segundo
capítulo, são apresentadas algumas hipóteses no que se refere ao processo de aquisição de
15
primeira e segunda língua, dando atenção especial à aquisição de aspecto e ao trabalho de
Montrul & Slabakova (2002), estudo motivador para a nossa pesquisa, sobre a aquisição de
conexões de forma e significado nos domínios aspectuais e temporais por falantes nativos de
inglês adquirindo espanhol como L2. No terceiro capítulo, é apresentada a metodologia
empregada para se tentar alcançar o objetivo em questão e, por fim, nos capítulos quatro e
cinco, são descritos os resultados obtidos e levantados alguns pontos de discussão.
16
2. A TEORIA GERATIVA
2.1. O GERATIVISMO E AS CATEGORIAS FUNCIONAIS
O campo da linguística, assim como outros campos das ciências modernas, tem
passado por inúmeras mudanças de paradigma. Chomsky promoveu, com a publicação de
Syntactic Structures (1957), uma revolução científica que, de acordo com Fromkin (1991),
exerceu grande influência não somente no campo da linguagem, mas também em outras
ciências humanas e sociais uma vez que redefiniu o modo de fazer ciência como um todo.
Antes da revolução chomskyana, o “fazer linguística” consistia comumente da
gravação de sentenças elicitadas de um informante, sua transcrição fonética detalhada e a
organização dos dados em pares mínimos que eram analisados dentro de um inventário
fonêmico, ou seja, o enfoque dado à pesquisa era descritivo e com preocupação fonética. Com
a revolução, uma nova visão de linguagem surge e, com ela, um novo modo de se “fazer
linguística”. Para Chomsky e seus seguidores, a linguagem deixa de ser vista como um
conjunto de hábitos linguísticos para ser entendida como algo que é geneticamente
determinado e que possui “normas” mentalmente representadas em nosso cérebro.
Uma vez definida a mente como objeto de estudo, é necessário estudá-la. Como base
para esse estudo, Chomsky assume uma visão modularista da mente, entendendo-a como um
sistema complexo, com “faculdades” autônomas e que interagem entre si, constituídas de
propriedades e funções exclusivas. Além disso, opta por estudar a mente através de um
componente mental exclusivo da espécie humana, a faculdade da linguagem (FL).
Tal estudo foi possível a partir da distinção entre competência e desempenho proposta
por Chomsky. O desempenho, ou seja, o uso real da língua, forneceria dados para o estudo da
competência, conhecimento linguístico mentalmente representado e que constituiria em
apenas um dos muitos fatores que interagem para determinar o desempenho.
Tendo como objeto de estudo a competência, desenvolve-se, em meados dos anos 50,
o que é chamado de Gramática Gerativa, uma teoria que se preocupa com os aspectos que
dizem respeito à forma e ao significado das expressões de uma ngua particular e que são
determinados pela FL. Segundo Chomsky (1986), entender a natureza dessa faculdade
constitui o objetivo central de uma teoria linguística que busca descobrir o sistema de
princípios comuns a todas as línguas possíveis. A essa teoria chamamos de Gramática
Universal (GU).
17
Chomsky, ao assumir a existência da mente formada por componentes ou módulos,
dentre os quais a FL, possibilitou o surgimento de questões que substituiriam a linguística
simplista e mecânica vigente por uma ciência teórica e explanatória que vem se
desenvolvendo com o passar do tempo. Tal mudança de foco, do comportamento ou produtos
do comportamento para os estados da mente/cérebro fez com que a preocupação central dessa
nova ciência passasse a ser o conhecimento de uma língua: sua natureza, origem e uso. Com
isso, Chomsky propõe três perguntas básicas que servirão de guia para o novo programa de
investigação linguística:
1) O que constitui o conhecimento de uma língua?
2) Como esse conhecimento é adquirido?
3) Como ele é posto em uso?
Na tentativa de buscar as respostas para tais questões, é necessário que o linguista
colete os dados linguísticos aos quais o indivíduo é exposto durante sua fase de aquisição de
linguagem, para que uma gramática de sua língua particular seja construída. Após a coleta e
descrição dos dados linguísticos, deve-se buscar formular uma teoria e a da faculdade da
linguagem, isto é, descrever os princípios da GU que operam em todas as línguas.
Este trabalho preocupa-se, principalmente, com as primeiras etapas descritas acima.
Partindo do pressuposto de que o caminho a ser percorrido pelo lingüista no que se refere à
aquisição de primeira ngua também se aplica à aquisição de segunda língua, tem-se por
objetivo descrever e analisar o fenômeno aspectual, através da observação do desempenho de
brasileiros adquirindo uma segunda língua (L2) em um teste desenvolvido nessa L2, no caso,
o inglês, e a partir dos resultados encontrados, tentar fornecer alguma contribuição teórica
sobre a gramática mental de um indivíduo aprendendo uma L2. Para isso, faz-se necessário
mostrar, na próxima seção, o modo como as sentenças estariam representadas na mente de um
indivíduo normal.
18
2.2. A REPRESENTAÇÃO SINTÁTICA
Raposo (1992), em seu livro Teoria da Gramática. A faculdade da linguagem, traça o
caminho percorrido pela Gramática Gerativa, expondo seus pressupostos e a evolução de seus
conceitos decorrentes do avanço dos estudos. Esta seção tem por objetivo apresentar
brevemente o que o autor diz a respeito do tratamento que a Teoria Gerativa, inaugurada por
Chomsky, propõe para os constituintes de uma oração. Para começar, é interessante retomar
alguns dos exemplos do português fornecidos por Raposo (op. cit.). Vejamos:
(1) a) O mecânico limpou o automóvel com um pano.
b) * O limpou mecânico automóvel o pano com.
c) * O um o com mecânico limpou automóvel pano.
O autor ressalta que a não gramaticalidade das sentenças (b) e (c) sugere que a
“competência do falante/ouvinte do Português contém um mecanismo que atribui uma
estrutura interna à sequência linear de elementos numa oração, e que a estrutura atribuída por
esse mecanismo é incompatível com as sequências (1b, c)” (RAPOSO, 1992, p.65).
Logo, as palavras “o” e “mecânico” juntam-se para formar um grupo, assim como a
sequência “o automóvel” forma um outro grupo de mesmo nível. o verbo “limpou” une-se
aos grupos “o automóvel” e “com um pano” formando a sequência “limpou o automóvel com
um pano”, hierarquicamente superior aos seus constituintes. Por fim, os grupos “o mecânico”
e “limpou o automóvel com um pano” formam a estrutura mais elevada, a frase, objeto de
estudo da Gramática Gerativa.
A organização de uma frase em grupos hierárquicos complexos construídos a partir de
elementos de veis inferiores incluídos em estruturas maiores chama-se “estrutura de
constituintes”. Essa estrutura é, por sua vez, frequentemente representada nos estudos
gerativistas através de uma representação em árvore, uma estrutura hierárquica composta por
nódulos binários.
Segundo Raposo (op. cit.), a árvore sintática seria constituída a partir de um número
finito de categorias lexicais, dentre elas, o Substantivo ou Nome (N), o Adjetivo (A), o Verbo
(V), a Preposição (P) e o Advérbio (Adv)
1
. Cada uma dessas categorias é o elemento central
de uma categoria hierarquicamente superior. Desse modo, a categoria N constitui a categoria
1
Raposo, em seu livro, considera o advérbio o núcleo de um sintagma, ao contrário de muitos autores que o
consideram especificador de um núcleo.
19
central do grupo superior Grupo Nominal (NP); o Verbo, o elemento central da categoria (VP)
e assim por diante. Tais grupos superiores são chamados de categorias sintagmáticas.
As categorias sintagmáticas ou sintagmas são, por sua vez, formadas por um núcleo X,
o complemento do núcleo, uma projeção intermediária, um especificador e uma projeção
máxima. O núcleo X pode ser uma das categorias lexicais citadas acima, ou seja, um nome,
um adjetivo ou um verbo, por exemplo. Ao núcleo, combina-se seu complemento, formando
uma projeção intermediária (X’). Essa projeção intermediária ainda pode se juntar a um
adjunto formando, assim, uma nova projeção intermediária, acima da primeira. Já o
especificador combina-se com a projeção intermediária mais alta da árvore formando a
projeção máxima do núcleo do sintagma, (XP). Vejamos a seguir um exemplo de
representação arbórea no nível do sintagma:
Posteriormente, o esquema proposto para o nível sintagmático estendeu-se ao nível da
sentença, porém alguns ajustes tiveram que ser feitos. Fez-se necessário eleger um núcleo
para a sentença e o primeiro a ser sugerido foi o auxiliar. Este constituiria então o núcleo
máximo da sentença. Entretanto, como em algumas sentenças ao invés do auxiliar tem-se
apenas uma flexão agregada ao verbo, sugeriu-se, mais tarde, que a flexão (FLEX ou I) fosse
o núcleo da sentença. A seguir, temos o exemplo fornecido por Raposo nos moldes da
representação arbórea descrita para a sentença:
XP
Spec X’
X’
X YP YP
Complemento Adjunto
Figura 1- Representação arbórea da estrutura sintagmática
20
Esse tipo de representação, composto por uma camada lexical
2
e uma camada
flexional, é ainda muito discutido em termos de sua organização e, ao longo da sua evolução,
várias propostas de mudanças lhe foram atribuídas. Uma das propostas de grande importância
para os estudos na área da linguística gerativa refere-se à constituição da camada flexional e
foi desenvolvido por Pollock em 1989. O autor, ao fazer um estudo comparativo entre o
francês e o inglês, se propõe a fornecer uma explicação que dê conta da posição dos advérbios
em relação à partícula de negação, ao advérbio e ao quantificador nas duas línguas estudadas.
Ao analisar o comportamento dos verbos não finitos nas duas línguas, Pollock propõe
a cisão do nódulo flexional na árvore sintática. O autor percebe que tais verbos podem sofrer,
em francês, algum movimento para a esquerda do advérbio/quantificador. Entretanto, foi
também observado que verbos lexicais não finitos dessa língua aparecem sempre à direita da
negação (pas). Relacionando tais fatos, o autor sugere, então, que os verbos não finitos podem
se mover para uma posição intermediária entre a partícula de negação e a posição ocupada
pelo advérbio/quantificador. A partir disso, Pollock aponta a necessidade de haver dois
nódulos na camada flexional e sugere que essa posição intermediária seja um nódulo flexional
que abrigue informações de concordância verbal AGRP. A outra projeção flexional
abrigaria informações sobre o tempo verbal e seria, por isso, denominada, TP. Esta é a
proposta de “cisão do nódulo flexional”.
2
A camada lexical seria formada por itens lexicais e a camada flexional seria o local onde estariam abrigadas as
informações referentes às flexões do verbo, cuja realização morfológica ou força dos traços variaria entre as
línguas.
I
V’
NP V’
V
complemento
adjunto
O Mecânico
-
limp
-
o carro
com o pano
IP
I
NP
PP
Figura 2- Representação arbórea da sentença
21
Várias discussões surgiram a respeito da dominância na árvore sintática no que se
refere aos nódulos de AGRP e TP. Chomsky ainda propôs a existência de dois nódulos para a
concordância (AGR), um que fosse responsável pela concordância do sujeito e outro referente
à concordância do objeto. Porém, foi, em 1995, que Chomsky publicou uma nova abordagem
para os estudos gerativistas que mudou a trajetória de tal discussão. A essa nova abordagem
deu-se o nome de Programa Minimalista (PM).
2.3. O PROGRAMA MINIMALISTA E A QUESTÃO DOS TRAÇOS
Nesse programa de investigação, a linguagem é tratada como um sistema econômico e
simples que interage com outros sistemas, chamados sistemas de desempenho, sendo eles, o
articulatório-perceptual (A-P), responsável pela interpretação das representações fonéticas
geradas pela linguagem e o computacional-intencional (C-I), responsável pela interpretação
das representações semânticas. Tais sistemas impõem condições que a linguagem precisa
satisfazer, são elas as condições de legibilidade.
As representações de som e significado que serão lidas pelos sistemas de desempenho
são fornecidas pelos níveis de interface. Os dois níveis propostos no PM, que estão na
interface com os sistemas externos são a Forma Fonética (PF) e a Forma Lógica (LF). Desse
modo, os níveis de Estrutura Profunda (estrutura-D) e Estrutura Superficial (estrutura-S)
propostos na versão anterior da teoria são eliminados.
Além das condições de legibilidade, os princípios de economia na determinação das
computações e das estruturas linguísticas geradas também ganharam força nessa fase da
teoria, uma vez que, através da postulação de princípios gerais e da eliminação de aspectos
desnecessários do ponto de vista da necessidade conceptual, tornar-se-ia possível uma maior
aproximação a uma arquitetura minimalista.
A linguagem seria, portanto, formada por dois componentes básicos: o léxico e um
sistema computacional. O léxico, responsável pelas diferenças entre as línguas, seria
constituído por elementos substantivos, com propriedades idiossincráticas (nomes, verbos
etc.) e por algumas categorias funcionais (tempo, complementizador, determinante e AGR,
por exemplo). o sistema computacional, composto por princípios invariáveis, seria
responsável por utilizar os itens fornecidos pelo léxico para gerar as derivações linguísticas.
É importante ressaltar que o léxico é entendido como “uma lista de exceções”. Nesse
sentido, uma entrada lexical deve fornecer propriedades idiossincráticas que são minimamente
22
suficientes para se derivar uma representação para as componentes LF e PF. Às entradas
lexicais, não cabe especificar propriedades universais ou específicas de uma dada língua, mas
sim, especificar os traços que não são predizíveis a partir de outras propriedades da entrada
lexical.
No que se refere ao sistema computacional, além das operações de merge, que funde
dois objetos para a constituição de uma estrutura maior, e move, operação em que
determinado item da estrutura linguística se desloca, a operação central que consiste na
verificação de traços. Ao contrário da visão de Pollock (op. cit.) de que os verbos se moviam
para incorporar afixos, no PM, o movimento do verbo ocorre para checar os traços que
estariam presentes no verbo desde o léxico.
A fim de entender essa mudança de foco, da afixação de morfologia verbal para
checagem de traços, é importante saber um pouco o que é falado sobre eles. Segundo Adger e
Svenonius (2009), um traço seria uma propriedade de uma categoria que a subclassifica,
diferentemente da noção de categoria, que seria uma definição essencialmente posicional.
Com base nisso, os autores distinguem os dois tipos de traços da sintaxe minimalista: aqueles
que atuam nas interfaces de som e significado, e aqueles cuja função é primariamente interna
à sintaxe.
Nas palavras de Pollard e Sag (apud ADGER e SVENONIUS, 2009, p.1-2),
“Intuitively, a feature structure is just an information-bearing object that describes or
represents another thing by specifying values for various attributes of the described thing; we
think of the feature structure as providing partial information about the thing described”.
3
Os
traços propostos por Chomsky são binários, marcados positivamente para um traço presente e
marcado negativamente para um traço ausente. Um verbo seria classificado, portanto, como
[+V] ou [-N].
Segundo o PM, dois tipos de traços lexicais: aqueles que recebem interpretação
apenas na interface fonológica e aqueles que recebem interpretação somente na interface
semântica. também os traços formais, que são acessíveis no decorrer da computação,
como por exemplo, [± Nome] e Plural]. Dentro do grupo de traços formais, alguns são
intrínsecos, estritamente determinados por propriedades enumeradas na entrada lexical.
Outros são opcionais, acrescentados no momento em que o item lexical entra na computação.
3
“Intuitivamente, uma estrutura de traços é somente um objeto informativo que descreve ou representa uma
outra coisa através da especificação de valores para vários atributos da coisa descrita, pensamos que a estrutura
de traços fornece uma informação parcial sobre a coisa descrita.”
23
A propriedade de força de um traço seria um dos elementos da variação linguística.
Um traço formal pode ser forte ou fraco. Caso seja forte, esse traço desencadeia uma operação
visível, ou seja, uma operação antes de Spell-out
4
para que seus traços sejam eliminados
através de sua verificação antes que uma estrutura maior seja formada. Caso contrário, a
derivação fracassa nas interfaces.
Chomsky (1995) cita o caso de airplane e mostra que essa entrada lexical possui três
grupos de traços: traços fonológicos [começa por vogal], traços semânticos [artefato] e traços
formais [nominal]. Os traços fonológicos seriam eliminados pela operação spell-out e
ficariam à disposição apenas da componente fonológica, os outros traços permaneceriam,
podendo assim, ser acessados através de uma computação não visível para LF. As
propriedades intrínsecas de airplane incluem o traço categorial [nominal], o traço de pessoa
[3º pessoa] e o traço de gênero [- humano]. Entre suas propriedades opcionais, estariam os
traços não categoriais de número e caso.
A questão dos traços teria uma grande importância para a sintaxe minimalista uma vez
que, nessa abordagem, cada traço projetaria um nódulo na árvore e isso teria consequência
direta na hierarquia ou sequência das categorias funcionais.
A fim de atender às condições impostas pelo sistema computacional-intencional,
somente traços interpretáveis, ou seja, conceptualmente motivados, projetariam nódulos
relevantes na estrutura sintática. Ao analisar a funcionalidade do traço de AGR, Chomsky
afirma que o fato de, por exemplo, um verbo ser singular ou plural não interfere na
interpretação desse verbo, nem mesmo na interpretação do sujeito sentencial como singular ou
plural. Com base nisso, Chomsky conclui que a concordância verbal (AGR) não seria uma
categoria conceptualmente motivada e que, por isso, não se justificaria como um nódulo na
árvore sintática.
A partir da proposta de Chomsky de que somente categorias conceptualmente
motivadas deveriam ocupar um espaço na estrutura sintática, surgiu a necessidade de eleger
uma nova categoria para ocupar o lugar de AGR. Uma das propostas feitas é a de que a
categorial funcional de aspecto (ASP) ocuparia essa posição.
Tendo como base o estudo de Pollock (op. cit.) de que haveria dois sítios de
aterrissagem para o verbo, um para T (tempo) e um para AGR (concordância), Bok-Bennema
(2001), em um trabalho comparativo entre o espanhol e o francês, discute quais seriam, então,
os sítios de aterrissagem do verbo em relação ao advérbio uma vez que AGR, no PM, deveria
4
Spell-out é o ponto da computação em que a estrutura formada entra para a componente fonética.
24
ser eliminado. A autora mantém a proposta de Pollock de que o sítio de aterrissagem do
movimento longo do verbo seria Tempo, porém propõe que, ao invés de AGR, um nódulo
aspectual (ASPperf) deveria ser o nódulo alvo do movimento curto do verbo, nódulo este
especificado como [+] ou [-] perfectivo.
No que se refere a estudos com indivíduos que sofreram algum tipo de lesão cerebral,
é interessante destacar o trabalho de Novaes e Braga (2005). Os autores investigaram a
produção de tempo e aspecto de uma afásica agramática e a análise dos dados revelou que a
paciente tinha mais problemas com aspecto do que com tempo, uma evidência de que esses
traços estariam representados separadamente na árvore sintática. Além disso, a paciente
apresentava mais problemas com o aspecto imperfectivo do que perfectivo, o que constitui
uma possível indicação de que o aspecto “perfectivo” funcionaria como traço default.
É mostrada abaixo uma das propostas de inserção de aspecto na árvore sintática. Na
próxima seção, será discutida a relação entre os traços de tempo e aspecto.
2.4. OS TRAÇOS DE ASPECTO
Comrie (1976), em seu livro Aspect, estuda o fenômeno aspectual como parte de uma
teoria linguística geral, utilizando como exemplos línguas que, de alguma forma, contribuíram
para o desenvolvimento do estudo de aspecto. O autor critica a abordagem tradicional, que
AspP
Asp’
Asp
TP
T’
T
VP
V’
V
NP
Figura 3- Proposta de inserção do nódulo aspectual na árvore sintática
25
considera, por exemplo, tanto o passado simples como o imperfectivo como tempos
5
. A fim
de clarear a confusão terminológica e conceitual referentes a tempo e aspecto, Comrie decide
definir tais conceitos, mostrando suas similaridades e diferenças.
Segundo Comrie, tempo (do inglês, tense) seria uma categoria dêitica uma vez que ele
relaciona o Tempo (do inglês, Time) da situação referida a algum outro momento,
frequentemente o momento da fala. Os tempos mais comuns encontrados nas línguas são
presente, passado e futuro. Por outro lado, aspecto não relaciona o Tempo de uma situação a
algum outro ponto no Tempo, ao invés disso, aspecto refere-se “a constituição temporal
interna de uma situação”. Os exemplos abaixo mostram a diferença entre tempo e aspecto:
(2) a) Ele estava lendo um livro.
b) Ele leu um livro.
Percebe-se que ambas as sentenças referem-se ao passado. Contudo, uma diferença
no modo como a constituição interna da situação é vista, ou seja, uma diferença aspectual
entre elas. Enquanto no exemplo “a” o aspecto é o imperfectivo, no exemplo “b” o aspecto é o
perfectivo.
Comrie (op. cit.) considera o aspecto perfectivo e o imperfectivo aspectos básicos das
línguas. O aspecto perfectivo trata a situação ou evento como um todo, completo e, o aspecto
imperfectivo se refere essencialmente à estrutura interna de uma situação, vendo-a de dentro.
No que se refere à expressão de tempo passado no PB, os morfemas –OU e –EU são
comumente associados ao aspecto perfectivo como em “Ela comprOU uma bolsa nova” e
“Ele comEU uma maçã”. Por outro lado, os morfemas -AVA e –IA do PB são comumente
associados ao aspecto imperfectivo, denotando ora um hábito como em “Maria caminhAVA
todas as manhãs” e “João corrIA nos fins de semana” ora um evento em andamento em
determinado momento passado como em “Maria estAVA cozinhando quando o telefone
tocou”. A língua inglesa, no entanto, apesar de possuir a expressão USED TO, comumente
relacionada ao aspecto imperfectivo, também possui um mesmo morfema, o –ED, que pode
ser associado ora ao aspecto perfectivo como em “Mary preparED some sandwiches
5
O presente trabalho adota a terminologia partilhada por muitos autores de “Tempo”, quando se quer fazer
referência ao conceito de Tempo (do inglês, Time) e de “tempo para a expressão gramatical de tempo (do
inglês, tense).
26
yesterday”
6
ora ao aspecto imperfectivo “Mary cookED for her husband everyday”
7
, a
depender do complemento do verbo e a expressão de tempo contida na sentença.
O autor também propõe que, apesar de os aspectos perfectivo e imperfectivo serem os
aspectos básicos, o imperfectivo pode ser subdividido em dois conceitos distintos: habitual e
contínuo/durativo. Quanto ao imperfectivo habitual, Comrie (op. cit.) explica que o que é
comum a todas as ações habituais é o fato de elas serem características de um determinado
período de tempo, de modo que elas não sejam vistas como acidentais. O autor ressalta a
importância de não se igualar os conceitos de habitualidade e iteratividade, ocorrência
sucessiva de uma mesma situação, pois uma ação habitual não é necessariamente iterativa.
Frases com a expressão used to da língua inglesa são utilizadas pelo autor para representar
exemplos típicos de ações habituais:
(3) Jones used to live in Patagonia.
8
Por outro lado, ações contínuas ou durativas são aquelas descritas como em
andamento em determinado período de tempo. O imperfectivo contínuo ainda subdivide-se
em progressivo como é expresso pelo verbo “brincar” em “Todas as tardes, quando ele
chegava em casa, as crianças estavam brincando na rua” e não progressivo como em “Todas
as tardes, quando ele chegava em casa, as crianças brincavam na rua”. Além disso, Comrie
(op. cit.) destaca que uma definição geral de progressividade pode ser mais bem entendida
como uma combinação de sentido progressivo e não estativo uma vez que as características de
um verbo de estado seriam incompatíveis com a noção de progressividade.
O autor também menciona as propriedades do aspecto inerente de várias classes de
itens lexicais e também mostra como essas propriedades interagem com outras noções
aspectuais, ora proibindo certas combinações, ora restringindo severamente seus significados.
Para isso, Comrie (op. cit.) classifica os verbos de acordo com seu aspecto inerente, ou
seja, quanto às suas propriedades semânticas particulares. Alguns tipos de aspecto inerente
citados são: pontual (sem estrutura interna – exemplo: espirrar, tossir, bater), semelfativo (que
acontece uma vez exemplo: espirrar uma vez) ou iterativo (que se repete - exemplo: uma
série de espirros).
6
“Mary preparou alguns sanduíches ontem”.
7
“ Mary cozinhava para seu marido todos os dias”.
8
“Jones morava na Patagônia.”
27
Um verbo pontual como “espirrar”, por exemplo, referindo-se a um único espirro, não
admitiria uma combinação com o aspecto progressivo, que possui significado imperfectivo,
i.e. “ele estava espirrando” seria inapropriado caso fizesse referência a um único espirro. A
única interpretação possível para uma sentença como essa seria a referência a uma série de
espirros. Desse modo, a pontualidade inerente de “espirrar” restringiria a possibilidade de
interpretações que podem ser atribuídas à forma imperfectiva desse verbo.
Ao falar de tipo de situação, ou seja, da estrutura interna de uma situação, Comrie faz
uso dos termos télico e atélico. Para ilustrar bem a diferença entre os conceitos, o autor expõe
dois exemplos. São eles:
(4) John is singing.
9
(5) John is making a chair.
10
Ambos os exemplos se referem a situações durativas uma vez que elas duram
determinado período de tempo, seja ele curto ou longo. Contudo, uma diferença entre os
tipos de situação de cada exemplo. Em John is making a chair, haveum momento em que
John completará a ação de fazer uma cadeira, momento no qual a cadeira está pronta e, após
esse ponto, a situação descrita terá um ponto final. Além disso, até que esse ponto final seja
alcançado, não se pode dizer que John fez uma cadeira. Por outro lado, em John is singing,
John pode parar de cantar a qualquer momento que, ainda assim, ele terá cantado, mesmo que
não tenha terminado a canção ou canções que escolheu para cantar.
Logo, a situação descrita por “fazer uma cadeira” possui um ponto final inerente,
depois do qual a ação não pode continuar. Situações como essa são chamadas de télicas. Por
outro lado, situações que não possuem um ponto final inerente ou situações que podem ser
interrompidas a qualquer momento e mesmo assim terem acontecido (cantar), o chamadas
de atélicas.
A telicidade é uma das noções utilizadas por Vendler (1967) para propor a
classificação dos verbos em quatro (4) categorias aspectuais: verbos de atividade [(+atélicos]),
que possuem duração, mas não possuem um ponto final como dançar, cantar, correr; verbos
de estado ([+atélicos]), ou seja, verbos não dinâmicos em que o estado permanece sem que
alguma energia tenha que ser aplicada como amar, querer, ver; verbos de processo culminado
([+télicos]), que possuem duração, mas também possuem um ponto final inerente como fazer
9
“João está cantando”.
10
“João está fazendo uma cadeira”.
28
uma cadeira, ler um livro; e verbos de culminação ([+télicos]), que possuem ponto final
instantâneo como espirrar, bater, morrer.
Smith (1991), em seu livro The parameter of aspect, aborda de forma geral e também
específica os sistemas aspectuais de maneira similar ao tratamento dado a eles por Comrie
(op. cit.). A autora diz que o aspecto é um parâmetro com realizações diferentes entre as
línguas e que ele tradicionalmente se refere à apresentação de eventos através de pontos de
vista gramaticalizados, tais como o perfectivo e imperfectivo.
Ambos os pontos de vista e tipos de situação, termos adotados por Smith (op. cit.) ao
longo do seu trabalho, transmitem informação sobre fatores temporais de situações, tais como
o começo, o fim e a duração. A interação entre esses dois componentes traz a essência da
natureza compósita do significado de aspecto e a informação resultante dessa interação é
representada em um esquema temporal.
Segundo a autora, o tipo de situação é assinalado pelo verbo e seus argumentos.
Classifica-os em estados “amar, saber, conhecer” (estáticos, durativos); atividades “rir,
caminhar” (dinâmicos, durativos e atélicos); processo culminado “construir uma casa”
(dinâmicos, durativos, eventos télicos que consistem de um processo com um ponto final),
culminação “ganhar a corrida” (dinâmicos, télicos e instantâneos) e semelfativos “bater, abrir”
(dinâmicos, atélicos, instantâneos). Já o ponto de vista é assinalado por um morfema
gramatical, que é, normalmente, parte do verbo ou do sintagma verbal. Além disso, a autora
menciona que os advérbios e morfemas de tempo são elementos que podem contribuir para a
informação temporal e aspectual de um evento.
O ponto de vista fornece ao receptor da informação uma visão completa ou parcial de
um evento, apresentando-o com uma extensão e foco particular. Eles são similares entre as
línguas, mas não são idênticos.
Os principais tipos de ponto de vista para ela são: perfectivo, imperfectivo e neutro. O
ponto de vista perfectivo focaliza a situação como um todo, completo, com ponto inicial e
final. Já o imperfectivo focaliza parte de uma situação, não incluindo informações sobre o seu
ponto inicial nem seu ponto final. Por último, o ponto de vista neutro, que não aparece na
abordagem de Comrie (op. cit.), é flexível e refere-se às sentenças aspectualmente vagas cuja
interpretação permite tanto leituras abertas quanto fechadas. A seguir, foram reproduzidos
alguns exemplos, dois do inglês e um do francês, apresentados por Smith (op. cit.) para
ilustrar tais conceitos:
29
(6) Aspecto perfectivo: The king reigned for thirty years.
11
(7) Aspecto imperfectivo: Kelly was singing.
12
(8) Aspecto neutro: Jean dormira quand Marie entrera dans le bureau.
13
O presente trabalho tem por objetivo entender como aprendizes de uma segunda língua
relacionam o morfema temporal/aspectual -ED da língua inglesa aos traços semânticos
relacionados a ele. Para tanto, é necessário explorar, minimamente, o que é descrito na
literatura a respeito do processo de aquisição de primeira e segunda ngua. Assuntos esses,
tratados no próximo capítulo desta dissertação.
11
“O rei reinou por trinta anos.”
12
“Kelly estava cantando.”
13
“Jean dormirá quando Maria entrar no gabinete.”
30
3. A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
3.1. A AQUISIÇÃO DE LÍNGUA MATERNA
O fato de todos os seres humanos (salvo casos patológicos ou condições muito
específicas) terem e fazerem uso da linguagem constantemente faz com que muitos ignorem
sua importância e o seu caráter altamente sofisticado. É necessário refletir sobre questões que
a norteiam para que um primeiro passo seja dado a fim de entender o que constitui essa
característica exclusiva da espécie humana.
Como é possível uma criança fazer uso da linguagem de forma eficaz com
aproximadamente apenas três anos de idade? Como é possível que a linguagem se desenvolva
de maneira uniforme independentemente de culturas ou da linguagem a qual a criança é
exposta? Como é possível utilizarmos a linguagem para refletir, discutir e entender seu
próprio funcionamento? Essas são apenas algumas das questões que interessam aos estudiosos
da linguagem e é através do estudo de indivíduos adquirindo uma primeira ou segunda língua
que buscaremos entendê-la.
Algumas hipóteses foram formuladas para tentar dar conta de questões como essas.
Utilizando-se como base o trabalho de Guasti (2004), destacaremos três delas. A primeira
hipótese, que a autora apresenta brevemente no primeiro capítulo de seu livro, estabelece que
o aprendizado de língua se desenvolve através da imitação. Nessa visão, entende-se que a
criança aprende a sua língua materna através da imitação do que os adultos ao seu redor
falam. Contudo, alguns problemas são decorrentes de tal afirmação. Um deles, apontado por
Guasti (op. cit.), consiste no fato de que a criança parece obter um nível linguístico muito
mais rico que o input (dados linguísticos do meio) que recebe. Alguns estudos mostram,
inclusive, que uma grande proporção da fala dos pais, por exemplo, é formada por perguntas
ou comandos direcionados à criança e é observado também que esses tipos de enunciados não
são característicos das crianças. Pelo contrário, a fala dos pequenos é predominantemente
formada por frases declarativas.
Além disso, as crianças parecem produzir enunciados nunca antes ouvidos, como por
exemplo, hipergeneralizações do tipo “eu sabo” ao invés de “eu sei” devido a uma
generalização de regras de conjugação que permitem “eu falo, canto, pulo” etc. Tais
ocorrências não podem ser justificadas pela imitação dos pais, porque nenhum adulto
cometeria esse equívoco.
31
A segunda hipótese, defendida por psicólogos de linha behaviorista como Skinner,
descreve a aquisição de linguagem como um mecanismo que reforça a associação estímulo-
resposta, o mecanismo que atuaria em outros processos de aprendizado tanto em humanos
quanto em animais. De acordo com essa visão, a criança receberia um reforço positivo quando
produzisse uma sentença correta e receberia um reforço negativo caso produzisse uma
sentença incorreta. Entretanto, percebe-se que isso não acontece. Eventuais erros gramaticais
cometidos pelas crianças, por exemplo, não são comumente corrigidos e quando são, o
ignorados ou esquecidos, ou seja, a hipótese sobre o reforço também não é capaz de explicar a
aquisição de linguagem pelas crianças.
A terceira hipótese apresentada pela autora é chamada de conexionismo. Essa
abordagem dita que a aquisição é baseada em analogias. Tomando-se como exemplo a
aquisição do passado regular do inglês, as crianças associariam o passado de verbos como talk
(falar) com verbos como walk (andar), por terem a mesma terminação. Logo, se a criança
aprende que o passado do primeiro verbo é formado através da adição do morfema –ed, de
forma analógica, a criança aprenderá que o passado do segundo verbo é formado da mesma
maneira. Desse modo, cada palavra nova com determinada forma fonética será associada à
outra com o mesmo padrão.
Entretanto, Guasti (op. cit.) nos chama a atenção para o fato de que tais associações
não parecem dar conta de fenômenos mais abstratos como no caso de sentenças ambíguas.
Além disso, uma vez que a associação seria feita exclusivamente com base no input,
sentenças degeneradas também deveriam ser aprendidas como tais, porém não é isso o que se
nota.
Percebe-se, portanto, que muitos aspectos que uma teoria de aquisição de
linguagem deve considerar. De acordo com Lightfoot (1982), uma teoria satisfatória deve
abrigar argumentos que suportem o problema lógico da aquisição da linguagem, ou seja, uma
teoria de aquisição de linguagem deve ser capaz de explicar o alto nível de conhecimento
linguístico atingido por crianças em um intervalo de tempo relativamente curto e com base em
dados degenerados. A seguir, serão abordados de forma sucinta, alguns dos aspectos básicos
enumerados por Lightfoot (op. cit.) que envolvem tal questão.
O primeiro problema abordado pelo autor é conhecido como “pobreza do estímulo” e
se refere à disparidade entre o input e a gramática final atingida. Discute-se como as pessoas
são capazes de adquirir um sistema linguístico tão rico e complexo que vai muito além dos
dados fornecidos pela experiência. Uma criança é capaz, por exemplo, de fazer relações de
32
som e significado para produzir e compreender um número infinito de sentenças e expressões
mesmo que elas nunca tenham sido ouvidas antes.
As frases as quais a criança tem acesso pelos adultos ao seu redor não são sempre
formadas por sentenças completas e bem-formadas. Ao contrário, a criança é também exposta
a hesitações, mudanças bruscas de pensamento, sentenças simplificadas a seu favor, como a
conhecida motherese
14
e, além disso, adquirem linguagem com base em evidência positiva, ou
seja, com base em dados que mostram as possibilidades da língua e não o que não é possível.
Nem por isso, deixam de obter esse conhecimento complexo e uniforme que atravessa
qualquer barreira cultural e social.
Como mostra Lightfoot (op. cit.), as pessoas são também capazes de lidar com
propriedades mais abstratas da linguagem, como entender piadas, se engajar em diferentes
tipos de situações comunicativas etc. Além disso, possuem intuições a respeito de que
sentenças são possíveis na sua língua ou não, além de poder identificar que sentenças são
ambíguas e quais as suas possíveis interpretações. Todo esse conhecimento é adquirido pela
criança de forma espontânea, relativamente rápida e sem qualquer tipo de instrução ou esforço
para aprendê-lo.
Tais argumentos evidenciam que existe algo além da mera imitação ou associação de
palavras ou sentenças. Se o estímulo não é suficientemente rico de modo a justificar a
complexidade do conhecimento adquirido por uma criança, uma outra propriedade deve suprir
a deficiência do meio. Essa propriedade que permite a uma criança adquirir qualquer língua a
qual ela é exposta é considerada pelos linguistas como uma capacidade inata, geneticamente
determinada e específica da espécie humana, um conjunto de princípios abstratos que, através
do contato com o meio, é ativado para a formação de uma língua particular. Essa é a hipótese
adotada para este trabalho, a hipótese inatista sobre a aquisição de linguagem.
Uma grande questão a respeito do processo de aquisição de uma língua de perspectiva
inatista consiste em entender a relação entre os traços universais da Gramática Universal e os
traços das línguas particulares. Chomsky (2001) sugere que o estudo da linguagem deve ser
guiado pelo Princípio da Uniformidade: “In the absence of compelling evidence to the
contrary, assume languages to be uniform, with variety restricted to easily detectable
properties of utterances” (CHOMSKY, 2001, p. 2).
15
14
A criação do termo motherese é atribuído à professora Elissa L. Newport e se refere à linguagem de caráter
simplificado e repetitivo comumente usada não pelas mães, mas por todos que convivem com a criança a
quem se dirige.
15
“Na ausência de evidência contrária, assume-se a linguagem como uniforme, com variedade restrita a
propriedades facilmente detectáveis pelos enunciados” (CHOMSKY, 2001, p. 2).
33
Contudo, Sigurðsson (2005) aponta um paradoxo no argumento de Chomsky quando
ele diz, logo a seguir, que as línguas particulares selecionam traços da GU:
FL specifies the features F that are available to fix each particular language L. [...]
We adopt the conventional assumption that L makes a one-time selection [F
L
] from
F. These are the features that enter into L; others can be disregarded in use of L.
(CHOMSKY, 2001, p.10).
16
Com base nessa discussão a respeito da seleção ou uniformidade dos traços,
Sigurðsson (op. cit.) formula uma nova hipótese que vai ao encontro da proposta de
uniformidade dos traços. Para o autor, “a linguagem audível surgiu do silêncio”, isto é, apesar
de pouco se saber sobre quando a linguagem foi primeiramente externalizada, não é
concebível uma proposta de seleção a partir do que não é audível.
Segundo Sigurðsson (op. cit.), os traços seriam universais e as diferenças resultariam
da maneira diversa pelas quais essas propriedades se manifestariam ou até mesmo pela opção
de não se manifestar. Assumindo como possibilidade o fato de um traço não ser expresso
morfologicamente, o autor formula o “Princípio do Silêncio”. A diferença entre as línguas
estaria, desse modo, apenas na superfície, a variedade entre elas sendo decorrente da
expressão morfológica ou não de determinados traços.
Neste trabalho, busca-se entender como se a aquisição das categorias funcionais
através do estudo de indivíduos adquirindo uma segunda língua. A partir da análise dos dados,
tentar-se-á fornecer uma proposta a respeito da relação entre os traços das categorias
funcionais, em especial os traços de aspecto, e a morfologia da nova língua sendo adquirida,
no nosso caso específico, o inglês. É necessário, no entanto, compreender como algumas
teorias abordam o processo de aquisição de segunda língua. Assunto a ser tratado na próxima
seção desta dissertação.
16
“A FL especifica os traços que estão disponíveis para fixar cada língua L. [...] Nós adotamos a assunção
convencional de que L faz uma seleção por vez dos traços. Esses traços seriam os que entrariam na língua L; os
outros poderiam ser desprezados no uso de L” (Chomsky, 2001, p. 10).
34
3.2. A AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA
Muitos estudos em aquisição de segunda língua são elaborados com base nas hipóteses
a respeito dos processos de aquisição de língua materna. Uma vez defendida a existência da
GU na aquisição de L1, tem-se talvez como assunto central nos trabalhos que envolvem a
aquisição de L2, a atuação ou não da GU nesse processo.
Alguns estudiosos defendem sua participação com a justificativa de que o
conhecimento atingido é, como proposto para a aquisição de L1, muito maior do que os dados
oferecidos. Outros caracterizam a gramática desses aprendizes como selvagem, assumindo
que ela não é restringida por princípios da GU. Nesta seção, serão apresentadas algumas
propostas que se ocupam em entender como se dá o processo de aquisição de uma L2.
Dentre os autores que não são favoráveis à ideia de que a GU opera na aquisição de
segunda língua, será citado Bley-Vroman (1997), que defende um sistema de aquisição por
construção, uma vez que, segundo o autor, o sistema para seleção de parâmetros estaria
indisponível no aprendizado de uma segunda língua.
O autor entende por construção “um arranjo de categorias que é por si mesmo uma
categoria” (BLEY-VROMAN, 1997, tradução nossa) cada a qual constituída por uma
semântica e uma pragmática associada, podendo ser subcategorizada de acordo com sua
estrutura interna, ou seja, quanto aos vários tipos de categorias existentes ou quanto à sua
distribuição ou função externa. Tomando-se como base que o processo de construção é na sua
essência a formação de uma categoria, espera-se haver efeitos de protótipos que,
provavelmente, possuem alguma relação com a frequência, a saliência ou a falta de
pragmática apropriada.
Um indivíduo em fase de aquisição de uma L2 adiciona à sua gramática construções
ou padrões que estão presentes no input e o faz mais facilmente se esse novo input
corresponde aos padrões de sua língua nativa. Nos casos em que se nota a emergência de
construções gramaticais que não representam a gramática da L1 nem da L2, o autor não
recorre a GU para prover uma explicação. De acordo com sua visão, cada informante pode
perceber ou analisar o mesmo input de maneira diversa, o que justificaria a variação
interaprendizes, os casos de opcionalidade e a falta de sucesso esperadas nessa perspectiva.
A linha de pesquisa vista acima apresenta argumentos e propostas um pouco diferentes
das que são comumente empregadas na área de aquisição. Serão expostas a seguir algumas
hipóteses que aceitam a possibilidade de a GU atuar no processo de aquisição de uma L2,
35
diferenciando-se quanto ao papel que atribuem à língua materna durante esse processo de
aquisição.
Apesar de trabalhos como o de Platzack (apud WHITE, 2000), que nega a
possibilidade de a L1 atuar na aquisição de L2, atribuindo somente à GU a importância de
constituir o estado inicial, serão enfatizados trabalhos que mais se assemelham à postura
adotada para este trabalho. Portanto serão apresentados, a seguir, alguns dos trabalhos que
afirmam a possibilidade de acesso à GU e a influência da L1 nesse processo.
A primeira perspectiva a ser contemplada nesse sentido é a proposta de Liceras (1996).
A autora diz que a tentativa dos investigadores em determinar se os princípios da GU estão ou
não disponíveis para a aquisição de L2 constitui-se em um grande problema para os estudos
de aquisição, pois uma vez que as propriedades da GU se manifestam em todas as línguas
naturais, esse acesso poderia ser realizado indiretamente através da L1. Desse modo, Liceras
sugere investigar o que, de fato, variaria entre as línguas, isto é, os valores paramétricos.
Tomando como ponto de partida a noção de linguagem como instinto e órgão que
cresce, a autora diz ser incongruente propor que um mesmo órgão cresça duas vezes, ou seja,
sendo a língua materna um órgão crescido, não é possível caracterizar a linguagem não
nativa (L2) do mesmo modo que a L1. Com isso, Liceras sugere a postulação de um outro tipo
de mecanismo para a aquisição de línguas não nativas, mecanismo esse chamado de tinkering
ou bricolage, que se trata da reestruturação de unidades específicas das representações pré-
existentes na mente do indivíduo adulto.
Uma outra proposta, formulada por Vainikka e Young-Scholten (1996), afirma ser o
estado inicial uma gramática baseada nas representações da L1, porém, somente parte da
gramática da L1 constituiria o estado inicial. De acordo com essa hipótese, chamada de
“Árvores Mínimas”, no estágio inicial transferência da L1 somente de projeções lexicais e
a partir desse ponto uma estrutura gramatical é construída da mesma maneira que uma criança
adquire sua língua materna, ou seja, através da GU.
Apesar de se defender que no estado inicial não haja categorias funcionais, assume-se
que elas possam ser adquiridas de forma gradativa e sequencial, com base no input recebido
pela L2. Logo, a partir do novo input, o aprendiz adquire uma projeção funcional não
especificada, ou seja, uma projeção que ainda não está associada aos traços específicos
correspondentes. A seguir, com o aumento significativo na quantidade e forma de elementos
funcionais, é possível que haja, nessa proposta, a aquisição de uma projeção funcional.
Um outro trabalho, de certa maneira similar ao de Vainikka e Young-Scholten (op.
cit.), aceita a possibilidade de a GU atuar na aquisição de L2, porém nessa visão, a de
36
Schwartz e Sprouse (1996), toda a L1 constituiria o estado inicial, ou seja, o estado inicial de
aquisição de L2 seria o estado final da aquisição de L1. Contudo, os aprendizes não estariam
limitados às representações baseadas em sua língua materna. Caso o input da L2 exigisse uma
representação diferente daquela instanciada na L1, o acesso à GU seria possível.
Retomando seu trabalho anterior no qual analisaram a produção oral espontânea de um
falante nativo turco chamado Cevdet adquirindo alemão como L2 e a partir da análise da
posição de verbos finitos nas orações da língua em questão, Schwartz e Sprouse (op. cit.)
formulam a hipótese conhecida como “Hipótese de transferência total e acesso total”.
De acordo com essa hipótese, assume-se que haja transferência total, ou seja, o estado
inicial da aquisição de L2 se constitui de toda a gramática da L1, excluindo-se apenas as
matrizes fonéticas dos itens lexicais ou morfológicos. Assume-se que haja acesso total, ou
seja, caso não seja possível atribuir uma representação à informação expressa no input, uma
reestruturação da gramática deverá acontecer a partir das opções disponíveis na GU. Cada
reestruturação constitui um sistema intermediário que é comumente chamado de interlíngua.
Apesar de se prever que o desenvolvimento da L2 seja guiado pela GU, não se defende
que a gramática final do aprendiz seja idêntica à gramática do falante nativo, uma vez que as
propriedades da L1 podem levar os aprendizes a uma análise do input diferente daquela dos
nativos. No que se refere aos estágios de desenvolvimento das interlínguas, os autores
sugerem que a causa de qualquer diferença no curso da aquisição de uma L2 se deve ou a
razões não linguísticas ou ao seu estágio inicial, uma vez que o input permaneceria sempre
constante.
A fim de justificar o fato de que na aquisição de L2, assim como na aquisição de L1,
os aprendizes também passam pelo problema lógico de aquisição de linguagem, White (2000)
afirma a necessidade de a competência linguística dos aprendizes de L2 ser restringida pelos
mesmos princípios universais que governam a aquisição de primeira língua, ou seja, a GU.
propriedades gramaticais abstratas e complexas que não são determinadas pelo input da L2 e
que, mesmo assim, são adquiridas.
Mesmo considerando a GU como estado inicial, a autora não nega a participação da
L1 nesse processo como Platzack. Ao contrário, afirma a grande influência da L1, inclusive
nos estágios finais da aquisição de L2. Contudo, na sua visão, nem toda divergência entre a
gramática de um nativo e a de um aprendiz pode ser atribuída a efeitos da L1 uma vez que,
segundo a autora, a escolha de determinadas formas linguísticas em determinadas situações
pode ser apenas uma questão de preferência, que permeia tanto as escolhas de aprendizes
quanto a de nativos. Além disso, questiona-se ainda se tal divergência não é consequência de
37
uma dificuldade de mapeamento de categorias abstratas para suas manifestações particulares
de superfície.
Ao debater muitas propostas sobre o assunto em seu livro, White (op. cit.) destaca que,
apesar de haver um constante progresso no entendimento da natureza das interlínguas, os
estudiosos devem atentar-se para possíveis equívocos decorrentes da associação errada entre
aspectos relacionados ao desempenho e à competência dos aprendizes. A autora reprova a
associação direta entre o desempenho e a competência, principalmente no que se refere a
dados obtidos através do estudo da produção linguística dos aprendizes.
Shirai e Miyata (2006) chamam a atenção para o mesmo fato ao falar de aquisição de
morfemas temporais por crianças adquirindo sua L1. Os autores sugerem que o uso de um
morfema não garante que o indivíduo saiba o seu significado correto e o uso contrastivo de
morfemas não é suficiente para determinar a aquisição de uma noção temporal, por exemplo.
Desse modo, destaca-se a importância de não se fazer uma relação direta entre o uso
de uma forma linguística e o desenvolvimento conceptual relacionado a essa forma. Shirai e
Miyata (op. cit.) afirmam que muitos fatores que contribuem para a produção de formas
linguísticas e que, entre esses fatores, estariam o desenvolvimento conceptual e o processo de
gramaticalização. Um olhar cuidadoso sobre os dados e o contexto no qual eles são coletados
pode evitar conclusões precipitadas tanto para pesquisas em L1 quanto L2.
Tomando como hipóteses a atuação da GU e a grande influência da língua materna na
aquisição de L2 e tendo em vista que, em um estudo de produção, muitos fatores podem
interferir no desempenho dos informantes, caminha-se agora, mais especificamente, para o
foco deste trabalho: a relação entre morfemas e os seus traços semânticos associados. Para
isso, é necessário contemplar, primeiramente, o estudo motivador para essa pesquisa, o estudo
de Montrul & Slabakova (2002).
Dentre os diversos trabalhos que as autoras realizaram sobre as categorias de tempo e
aspecto, um servirá de base sólida para o presente trabalho: “The L2 acquisition of
morphosyntatic and semantic properties of the aspectual tenses Preterite and Imperfect”
17
.
Nesse trabalho, as autoras exploram a interface entre morfossintaxe e semântica
através da investigação de como aprendizes de uma L2 adquirem conexões de forma e
significado nos domínios aspectual e temporal. Para tanto, focalizam a interpretação aspectual
dos tempos Pretérito Perfeito e Pretérito Imperfeito do espanhol por nativos de inglês de
17
“A aquisição de propriedades semânticas e morfossintáticas dos tempos Pretérito Perfeito e Imperfeito por
aprendizes de L2”.
38
níveis intermediário e avançado. Adotam como metodologia dois testes: o primeiro, um teste
de proficiência e o segundo, um teste de julgamento de sentenças relacionadas.
O primeiro teste foi adaptado do Diploma de Español como Lengua Extranjera
(DELE) e consistia de uma versão de uma passagem do livro Pasajes. Nesse teste, a tarefa do
aprendiz era a de escolher, entre duas opções, a forma correta do verbo no passado, Pretérito
Perfeito ou Pretérito Imperfeito. Desse modo, seria possível perceber se os informantes eram
capazes de distinguir as terminações morfológicas que dizem respeito a tais tempos no
contexto da narrativa. A transcrição de um pequeno trecho referente ao primeiro teste
utilizado pelas autoras pode ser vista a seguir:
(9) El jefe le 1) daba / dio
el dinero a la empleada para depositarlo en el banco. La
empleada 2) trabajó / trabajaba para la compãnía pero no
3) estuvo / estaba contenta con su trabajo y (4) quiso / quería otro trabajo.
18
o segundo teste tinha por objetivo testar as implicações semânticas dos tempos
mencionados. Para isso, os sujeitos foram apresentados a sentenças compostas por 2 orações
coordenadas cada, ligadas pelas conjunções y “e” ou pero “mas”. Algumas combinações eram
lógicas enquanto outras não o eram. A tarefa do informante era a de julgar, entre uma escala
que variava de -2 (ilógica) a +2 (lógica), as orações coordenadas.
(10) La clase era (imperf) a las 10 pero empezó a las 10:30.
The class was at 10 but started at 10:30.
-2 -1 0 +1 +2
(11) La clase fue (pret) a las 10 pero empezó a las 10:30.
The class was at 10 but started at 10:30.
-2 -1 0 +1 +2
De acordo com os resultados obtidos no teste de proficiência, os aprendizes de
espanhol L2 foram divididos em dois grupos: intermediário e avançado. Essa divisão foi feita
a fim de relacionar o desempenho do primeiro teste com o desempenho do segundo teste, e
18
“O chefe dava/deu o dinheiro para a funcionária depositá-lo no banco. A funcionária trabalhou/ trabalhava
para a companhia, mas não esteve /estava feliz com seu trabalho e quis/queria outro trabalho”.
39
com isso também, ser possível analisar tal relação dentro de cada nível estabelecido. Os
resultados apontam que ambos os grupos parecem distinguir as sentenças do Pretérito Perfeito
e do Pretérito Imperfeito com todas as classes verbais propostas por Vendler, sugerindo que
os grupos distinguem semanticamente os dois tempos verbais.
Os aprendizes que obtiveram acertos iguais ou superiores a 80% no primeiro teste
foram considerados aptos a associar a morfologia com cada tempo verbal e foram, por isso,
enquadrados em um grupo chamado sim-morfologia. Os aprendizes que obtiveram resultado
inferior por, provavelmente, ainda não associarem a morfologia com o tempo verbal, foram
enquadrados no grupo não-morfologia. Todos os alunos do nível avançado ficaram no grupo
sim-morfologia, com a exceção de um, enquanto os alunos do nível intermediário foram
divididos em dois subgrupos: 18 (dezoito) aprendizes do intermediário no grupo sim-
morfologia e 24 (vinte e quatro) no grupo não-morfologia. Segue abaixo a reprodução da
tabela que resume a divisão dos grupos:
Sim-morfologia Não-morfologia
18- nível intermediário
28- nível avançado
24- nível intermediário
1- nível avançado
Total: 46 aprendizes Total: 25 aprendizes
Os resultados sobre o teste de julgamento de sentenças relacionadas mostraram um
contraste estatisticamente significativo entre o Pretérito Perfeito e o Pretérito Imperfeito para
todas as classes verbais lexicais nos grupos de nativos, aprendizes de nível avançado e
aprendizes do nível intermediário que faziam parte do grupo sim-morfologia.
A proporção de aprendizes do grupo não-morfologia que adquiriram a oposição
semântica entre o perfectivo/imperfectivo foi bastante baixa. A maior parte dos aprendizes
que não adquiriram a morfologia está também concentrada no grupo não-semântica, ou seja,
também não adquiriam o contraste semântico. Também um número elevado de aprendizes
que participam do grupo sim-morfologia, mas que ainda não adquiriram o contraste
semântico. Esses resultados sugerem que a aquisição da morfologia precede a aquisição da
semântica e que ambos os tipos de aquisição são desenvolvimentos graduais.
Com base nos resultados encontrados por Montrul & Slabakova, busca-se verificar
nesta dissertação, basicamente, quais traços os aprendizes brasileiros de inglês associam ao
Tabela 1
-
Divisão dos grupos de aprendizes (Montrul e Slabakova, 2002).
40
morfema –ED. As hipóteses sugeridas são: a) os aprendizes ainda não possuem as
propriedades semânticas associadas aos morfemas que utilizam, uma vez que seu uso não se
faz em todos os contextos obrigatórios e quando é feito nem sempre se realiza de maneira
apropriada; b) os aprendizes farão uso de duas formas linguísticas para expressar os traços
aspectuais de perfectivo e imperfectivo na língua alvo, uma vez que a L1 os expressa por
morfologias distintas.
41
4. METODOLOGIA
4.1. INFORMANTES
Com o objetivo de investigar a relação entre a aquisição do morfema ED e seus
traços associados, foram selecionados 30 (trinta) informantes para participação nesta
pesquisa: 15 (quinze) falantes nativos do português do Brasil aprendendo inglês como L2 e 15
(quinze) falantes nativos de inglês dos EUA.
Os falantes nativos do inglês eram todos americanos e alunos de português para
estrangeiros ou da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ ou da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC-RJ. Tais informantes foram selecionados a
fim de se compor um grupo controle, ou seja, um grupo cujo desempenho serviria de
parâmetro para se analisar o comportamento dos brasileiros aprendizes de inglês.
Os falantes nativos do português aprendendo inglês como L2 eram, no momento da
pesquisa, alunos do Curso de Idiomas Pró-Saber, localizado na Baixada Fluminense. Esses
informantes haviam estudado a língua inglesa até aquele momento e em um ambiente formal,
por aproximadamente dois anos e meio e foram, por isso, considerados de nível intermediário.
A seguir, é mostrada uma tabela com o perfil dos aprendizes de inglês L2. Nessa
tabela, são apresentadas as iniciais de seus nomes com suas respectivas idades e tempo de
estudo da língua inglesa:
Informantes Idade Tempo que
estuda inglês
R.C.
21 3,5 anos
T.B.
19 4 anos
S.M.
42 2 anos
E.C.
17 2 anos e meio
T.E.
27 2 anos
A.P.
25 2 anos
L.M.
15 5 anos
C.O.
18 2 anos e meio
L.F.
23 2 anos e meio
C.S.
25 4 anos
A.Cr.
38 2 anos
M.B.
18 2 anos e meio
M.E.
16 2 anos e meio
R.Cr.
20 2 anos
A.C.
30 2 anos
Tabela 2
-
Perfil dos aprendizes
42
4.2. DESENHO DO TESTE
A fim de investigar como nativos de inglês e brasileiros aprendizes de inglês L2
associam o morfema –ED aos traços aspectuais de perfectivo ou imperfectivo, elaboramos um
teste escrito de produção que foi aplicado aos dois grupos de informantes em questão.
O teste é composto por trinta 30 (trinta) slides e cada slide é composto por uma figura,
uma expressão adverbial de tempo e um verbo na forma infinitiva, todos escritos em língua
inglesa. Dos trinta slides, 10 (dez) deles eram slides-alvo, ou seja, seriam eles que elicitariam
as respostas a serem investigadas, ao passo que 20 (vinte) deles eram distratores, ou seja,
serviriam apenas para distrair a atenção dos informantes para que eles não percebessem o
fenômeno a ser investigado, evitando assim, um possível automonitoramento.
Dentre os 10 (dez) slides-alvo, 5 (cinco) possuem expressão adverbial compatível com
o passado perfectivo, ou seja, com uma ação finalizada e 5 (cinco) possuem expressão
adverbial compatível com o passado imperfectivo habitual, uma ação característica de
determinado período de tempo no passado. É importante mencionar que nos slides-alvo, os
mesmos verbos que apareciam com expressões temporais referentes ao passado perfectivo
apareciam com expressões referentes ao passado imperfectivo.
Os slides-alvo e os slides distratores diferenciam-se quanto ao tempo e aos tipos de
verbo. Os verbos dos slides-alvo são todos regulares e transitivos diretos. Já os verbos dos
slides distratores podem ser transitivos diretos ou indiretos, regulares ou irregulares. A
diferença primordial entre esses dois tipos de slides é o fator temporal. Os slides que elicitam
as estruturas a serem investigadas possuem expressão adverbial referente ao passado e é essa
expressão que elicitará o caráter temporal/aspectual da ação, como yesterday (ontem), last
weekend (final de semana passado) para ações perfectivas, finalizadas, ou in the past (no
passado/antigamente) para ações imperfectivas habituais passadas. Os slides distratores
possuem expressão adverbial referente ao presente ou futuro, como at the moment (neste
momento) ou everyday (todos os dias) e tomorrow (amanhã) ou next weekend (no próximo
fim de semana), respectivamente. É importante ressaltar dois aspectos: a) a expressão
adverbial de tempo seria o fator responsável por ensejar a produção de uma sentença no
presente, passado ou futuro e, b) os verbos foram escolhidos de modo a ensejar um processo
culminado nos slides com advérbio e figura que elicitariam o perfectivo e de modo a ensejar
uma atividade nos slides com advérbio e figura que elicitariam o imperfectivo.
A seguir, são reproduzidos dois slides-alvo, um com uma expressão adverbial que
elicitava a criação de uma sentença no passado perfectivo (Figura 1) e outro que elicitava uma
43
sentença no passado imperfectivo (Figura 2). São também mostrados dois slides distratores,
um com uma expressão adverbial que elicitava a criação de uma sentença no presente (Figura
3) e outro que elicitava uma sentença no futuro (Figura 4).
Figura 4 - Slide-alvo / expressão adverbial perfectiva
Figura 5 - Slide-alvo / expressão adverbial imperfectiva
44
A seguir, duas tabelas são apresentadas, a primeira com todos os verbos e alguns
possíveis complementos elicitados pela figura, e a segunda, com todas as expressões
adverbiais que compõem o teste.
Figura 6 – Slide distrator / expressão adverbial de presente
Figura 7 – Slide distrator / expressão adverbial de futuro
45
VERBOS
SLIDES-ALVO SLIDES DISTRATORES
PERFECTIVO IMPERFECTIVO
HABITUAL
PRESENTE FUTURO
play (cards) play (videogame) Eat (sandwiches) Ride (a bike)
watch (a movie) watch (cartoons; tv) Study (Math) Make (a cake)
prepare (a cake) prepare (sandwiches) Read (books) wash (the car)
practice (karate) practice (volleyball) Paint (pictures) Buy ( carrots, food)
fix (a bike) fix (cars) Read (the paper) Clean (the kitchen)
Drink
(a glass of milk)
Wash (the clothes)
Eat (salad) Clean
(the mirror; the
bathroom)
Drink (coke) Ride (a horse)
Study (English) Buy (shoes)
Paint (a house; a wall) Make (a pizza)
EXPRESSÕES ADVERBIAIS
SLIDES-ALVO SLIDES DISTRATORES
PERFECTIVO IMPERFECTIVO
HABITUAL
PRESENTE FUTURO
Last weekend
Yesterday
Last Saturday
Last Monday
In the past On weekends
On Wednesdays
Everyday
Every morning
On Mondays
Next Sunday
Tomorrow
Next Tuesday
Next Friday
Next Saturday
Next weekend
Tabela 3
Distribuição dos verbos e possíveis complementos
Tabela 4
-
Distribuição das expressões adverbiais de tempo
46
4.3. ORGANIZAÇÃO E PROCEDIMENTO
A aplicação do teste foi feita pela própria pesquisadora com o auxílio de um
computador portátil. Os informantes receberam uma folha de respostas a qual continha 30
(trinta) linhas a serem preenchidas por uma frase correspondente ao slide em questão. Na
folha de respostas, os informantes foram orientados, antes de começar o teste, a preencherem
um cabeçalho com seus dados pessoais, tais como, nome, idade, sexo, e-mail e país de origem
para os nativos de inglês e, no caso dos aprendizes, nome, idade e por quanto tempo estavam
estudando a língua inglesa em um ambiente formal.
Após o preenchimento do cabeçalho, iniciou-se a explicação a respeito do
procedimento do teste na língua materna dos informantes. Além de um primeiro slide no qual
constava a explicação do teste, os indivíduos foram informados oralmente que o teste
consistia da criação de uma frase de sua preferência com a única condição de sempre fazerem
uso dos três elementos que compunham cada slide: a figura, a expressão adverbial de tempo e
o verbo na forma infinitiva. A seguir, foram reproduzidos os slides de instrução tal como
foram apresentados aos informantes, o primeiro apresentado aos nativos de inglês e, o
segundo, apresentado aos aprendizes de inglês.
Figura 8- Slide de instrução / nativos do inglês
Instructions for the test:
Next, you will see 30 slides with 1 picture in
each one. Below each picture there will be an
expression of time and a verb in the infinitive
form.
Task: You have to create 1 sentence taking into
consideration 3 items presented in each slide:
picture + time expression (eg:tomorrow)+ verb
(eg: to watch).
PS: You are allowed to modify the verb form
the way you want to, but the time expression
must be written the way it is shown. Please,
don´t forget to write the time expression.
47
Com a confirmação de que haviam entendido com clareza o procedimento, iniciou-se a
aplicação do teste. Ao aviso dos informantes de que haviam concluído a formação de uma
sentença, a pesquisadora passava os slides adiante. É importante informar que, uma vez
passado o slide, o informante não poderia mais alterar a sentença criada.
A fim de comparar o uso que os aprendizes fizeram dos morfemas e a interpretação
que deram a eles, uma segunda tarefa lhes foi atribuída, a de traduzir todas as sentenças
criadas na primeira parte do teste.
Figura 9- Slide de instrução / nativos do PB
Instruções para o teste:
A seguir, você verá 30 slides compostos por 1
figura cada. Abaixo de cada figura haverá uma
expressão de tempo e um verbo na forma
infinitiva.
Tarefa: Você deverá criar 1 frase levando em
consideração 3 fatores presentes em cada slide:
figura + expressão de tempo (ex. amanhã)+ verbo
(ex: assistir).
OBS: Você poderá modificar a forma do verbo
como desejar, mas a expressão adverbial deverá
permanecer como a apresentada. Por favor,
não se esqueça de escrever a expressão de
tempo.
48
5. RESULTADOS
A análise dos dados levou em consideração somente as frases criadas com base nos
slides-alvo, uma vez que os slides distratores serviriam para distrair a atenção do
informante para outro aspecto que não fosse o fenômeno a ser investigado. Os informantes
que fizeram uso constante de itens diferentes dos que estavam nos slides, assim como aqueles
que deixaram de usar o mesmo estímulo em diversas frases, foram descartados uma vez que
mostravam não ter entendido os procedimentos para o teste.
Os resultados foram contabilizados a partir do número de ocorrências dos morfemas
empregados pelos informantes de cada grupo: nativos do inglês e nativos do português do
Brasil, aprendizes de inglês L2. Juntamente com a porcentagem referente ao número de
ocorrências, serão mostrados alguns exemplos que ilustram cada variação morfológica.
Os resultados que dizem respeito ao desempenho dos nativos do inglês e dos nativos
do português, aprendizes de inglês L2, estão distribuídos em seis gráficos que são
distribuídos, por sua vez, em dois grupos: três gráficos para o aspecto perfectivo e três
gráficos para o aspecto imperfectivo. Em cada grupo, o primeiro gráfico refere-se aos
morfemas utilizados pelos nativos do inglês, o segundo gráfico refere-se aos morfemas
utilizados pelos aprendizes brasileiros de inglês ao criar as frases e o terceiro refere-se aos
morfemas utilizados em língua portuguesa pelos aprendizes para traduzir as frases
anteriormente escritas em inglês.
No que se refere aos slides que elicitavam o aspecto perfectivo no passado, os
resultados foram compatíveis com a nossa expectativa, isto é, houve preferência tanto dos
nativos do inglês quanto dos aprendizes pelo uso do morfema –ED para expressar tal aspecto.
Como se pode ver no gráfico 1, os nativos do inglês fizeram uso do morfema –ED em 98,7%
das frases criadas e em apenas 1,3% das frases usaram uma outra forma, nesse caso, a forma
associada ao past continuous, o que representa apenas uma ocorrência do total de frases. Logo
abaixo, está reproduzido o exemplo de ocorrência da forma associada ao past continuous:
Past Continuous
Informante J.O.:
(12) Last weekend they were playing cards.
49
No gráfico 2, percebe-se que a preferência dos aprendizes pelo morfema –ED para
expressar o aspecto perfectivo representa 81,3% do total dos slides que elicitavam tal aspecto.
Dentre os 18,7% das frases restantes, os verbos foram realizados de outras formas como, por
exemplo:
Com verbos auxiliares de futuro
Informante A.P.:
(13) Last Saturday the cookie will prepare the cake.
Morfologia zero
19
Informante C.O.:
(14) I play handball last weekend with my friends
(15) He prepare cookies last saturday
(16) He practice karate yesterday
(17) They fix the bike last Monday.
Infinitivo
Informante A.P.:
(18) They to fix the bike in last Monday.
19
Uma vez que a expressão adverbial era compatível com o passado, a ausência de morfema correspondente a
esse tempo foi denominada “morfologia zero” e não uma realização referente ao presente.
Gráfico 1 - Desempenho dos nativos de inglês nos slides que elicitavam o aspecto perfectivo.
1,3%
98,7%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
100,0%
ED Outro
50
Past continuous
Informante R.C.:
(19) He was practicing karate yesterday.
Informante S.M.:
(20) We were playing cards last weekend.
Informante A.Cr.:
(21) They were playing cards last weekend
(22) They were watching tv in the morning.
Past perfect
Informante M.E.:
(23) I had played cards with my friends last weekend.
Ainda se referindo aos aprendizes, foi observada a tradução que os mesmos deram às
frases que criaram, a fim de tentar entender qual a relação que estabeleceram entre o morfema
expresso na língua inglesa e o morfema expresso em língua portuguesa. Através da
morfologia utilizada para a tradução, poderia-se correlacionar seus traços aspectuais ao
morfema utilizado em inglês.
Notou-se que todas as ocorrências do morfema –ED para os slides que remetiam ao
aspecto perfectivo foram traduzidas com morfologia usada para expressar o aspecto perfectivo
Gráfico 2- Desempenho dos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o aspecto perfectivo.
81,3%
18,7%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
100,0%
ED Outro
51
passado no português, ou seja, houve a correlação esperada entre o morfema –ED e o traço de
perfectividade em 81,3% dos casos, como em:
Informante R.C.:
(24) They played cards last weekend – Eles jogaram baralho no último fim de semana.
No que se refere aos 18,7% restantes, percebem-se alguns dados interessantes. Em
9,35% dos casos, os aprendizes utilizaram uma forma diferente do –ED e a traduziram com
uma forma associada ao aspecto perfectivo, evidenciando que, talvez nesses casos, o advérbio
tenha sido o fator determinante para a interpretação aspectual de perfectivo:
Futuro
Informante A.P.:
(25) Last Saturday the cookie will prepare the cake No último sábado o cozinheiro
preparou um bolo.
Morfologia zero
Informante C.O.:
(26) He practise karate yesterday – Ele praticou karate ontem.
Infinitivo
Informante A.P:
(27) They to fix the bike in the last Monday – Eles consertaram a bicicleta esta manhã.
Past perfect
Informante M.E.:
(28) I had played cards with my friends last weekend Eu tinha jogado carta com
meus amigos no último final de semana.
Nos outros 9,35% dos casos de slides que elicitavam o aspecto perfectivo, os
aprendizes usaram outra forma, no caso, morfologia associada ao past continuous, com
interpretação aspectual compatível com o aspecto imperfectivo durativo, como pode ser visto
a seguir:
52
Past Continuous
Informante R.C.:
(29) He was practicing karate yesterday – Ele estava praticando karate ontem.
Os dados que representam a interpretação aspectual dada pelos aprendizes de inglês
nos slides que elicitavam o aspecto perfectivo estão ilustrados no gráfico 3:
O gráfico mostrado abaixo ilustra os resultados que dizem respeito à expressão
morfológica dos nativos do inglês nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo. Nota-se
que a preferência para se expressar o aspecto imperfectivo no passado, em 80% dos slides, foi
pelo morfema -ED. Dos 20% dos slides restantes, 12% foram expressos com morfologia
associada ao present perfect e 8% foram expressos com a forma USED TO. Portanto, pode-se
concluir que o morfema –ED é preferido pelos nativos de inglês para expressar tanto o
aspecto perfectivo quanto o aspecto imperfectivo e que a forma USED TO, tipicamente
relacionada ao imperfectivo habitual, foi a forma menos utilizada para expressar tal aspecto.
Gráfico 3 – Porcentagem referente às frases traduzidas pelos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o
aspecto perfectivo.
81,3%
9,35% 9,35%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
100,0%
ED Perfectivo Outro Perfectivo Outro Imperfectivo
53
Apesar de os aprendizes terem recebido instrução explícita em sala de aula de que o
morfema –ED também poderia ser associado aos traços de imperfectividade, eles fizeram uso
desse morfema em apenas 56% dos casos em que os slides elicitavam o aspecto imperfectivo,
caracterizando uma preferência por essa associação bastante reduzida se comparada a dos
nativos de inglês. A segunda forma mais utilizada foi USED TO, que apareceu em 26,7% das
frases. Dos 17,3% restantes, os aprendizes utilizaram outras formas, como pode ser visto nos
exemplos transcritos a seguir:
Morfologia zero
Informante C.O.:
(30) In the past I fix my car.
Present continuous
Informante A.Cr.:
(31) They are fixing the car their.
Infinitivo
Informante M.B.:
(32) In the past they to fix your car.
Gráfico 4 – Desempenho dos nativos de inglês nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo.
80%
12%
8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
ED Present Perfect Used to
54
Present perfect
Informante: L.F.:
(33) They have fixed my car in the past
(34) Adults usually have watched cartoons in the past.
Past continuous
Informante A.Cr.:
(35) They were watching tv in the morning.
O fato de a expressão USED TO ser a segunda forma mais utilizada pelos aprendizes
nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo pode ser justificado pela grande ênfase dada
nos livros didáticos de língua inglesa pela oposição do morfema –ED para expressar o aspecto
perfectivo e a expressão USED TO para expressar o aspecto imperfectivo. Contudo, o
desempenho dos nativos do inglês nos slides que elicitam o aspecto imperfectivo parece
mostrar que a expressão USED TO possui características peculiares, que restringem seu uso a
contextos específicos, contextos esses que talvez não tenham sido abarcados pela expressão
“in the past”, mas que talvez possam ser contemplados por expressões como “When I was a
child”.
Faz-se necessário estudar mais detalhadamente a expressão USED TO para que se
delimite os contextos em que é utilizada e evitar uma associação equivocada de sua realização
morfológica e seus traços associados. Provavelmente, os traços associados a essa expressão
representem algo mais restrito do que apenas um hábito regular no passado” e que, em
consequência disso, uma expressão de tempo mais específica do que “in the past” seja mais
adequada para determinar seu uso.
Gráfico 5 – Desempenho dos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo.
56%
26,7%
17,3%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
ED Used to Outro
55
É interessante observar a interpretação aspectual que os aprendizes atribuíram às
formas que utilizaram para os slides que elicitavam o aspecto imperfectivo. Apesar desses
informantes fazerem uso do morfema –ED em 56% das frases, a interpretação dada a esses
casos foi de aspecto perfectivo em 28% das frases e de aspecto imperfectivo nos restantes
28% dos casos:
–ED com interpretação perfectiva
Informante E.C.:
(36) They watched tv in the past – Eles assistiram tv no passado.
Informante L.M.:
(37) In the past I prepared a sandwich with vegetable No passado eu preparei um
sanduíche com vegetais.
–ED com interpretação imperfectiva
Informante E.C.:
(38) She practiced volleyball in the past – Ela praticava vôlei no passado.
Informante C.S.:
(39) In the past, I played game with my friends Antigamente eu jogava videogame
com meus amigos.
Esse dado mostra que, apesar de os aprendizes usarem o morfema –ED na maioria das
frases que elicitavam o aspecto imperfectivo, a relação que estabelecem, nesse caso, não é
sempre entre o morfema –ED e os traços de imperfectividade. Pelo contrário, parecem não ter
essa associação clara, interpretando o –ED como perfectivo mesmo com expressões
adverbiais como “in the past” que remete ao aspecto imperfectivo. Logo, duas hipóteses são
levantadas para dar conta de tal questão: ou o aspecto perfectivo é o traço default, como é
proposto no trabalho de Novaes e Braga (2005) ou a expressão “in the past” não é a mais
indicada para elicitar imperfectividade habitual.
56
Uma vez que nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo apenas 28% das
realizações do morfema –ED foram associadas aos traços de imperfectividade, pode-se dizer
que a segunda forma mais associada a esses traços foi a forma USED TO (26,7%). Parece,
portanto, que os aprendizes preferem a associação entre o –ED e os traços de perfectividade:
81,3% de uso e interpretação perfectiva do –ED nos slides que elicitavam o aspecto
perfectivo, em oposição a 28% de uso e interpretação imperfectiva do –ED nos slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo. Para expressar o aspecto imperfectivo, os aprendizes
oscilam entre o uso do morfema –ED (28%) e a forma USED TO (26,7%).
Com base nos dados apresentados, é possível perceber uma transferência de padrão,
isto é, a transferência de um comportamento da língua materna para a segunda língua sendo
adquirida. que, no PB, dois morfemas distintos para expressar perfectividade e
imperfectividade e no inglês um mesmo morfema, o –ED, que pode estar associado aos 2
traços em questão, os nativos do PB aprendizes de inglês L2 parecem transferir o padrão ou
expectativa de sua L1 para o inglês, buscando uma forma diferente do –ED, no caso, o USED
TO, para expressar imperfectividade. Tal transferência de padrão seria capaz de justificar a
oscilação entre as formas –ED e USED TO para expressar imperfectividade pelos aprendizes
de inglês L2.
Esperava-se que a maioria dos aprendizes participantes desta pesquisa preferissem a
expressão USED TO para expressar imperfectividade por motivos já mencionados, contudo
esperava-se também que os aprendizes com mais tempo de estudo correlacionassem mais
claramente o morfema –ED aos traços de imperfectividade. Analisando individualmente os
resultados dos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo referentes aos aprendizes com
Gráfico 6 – Porcentagem referente às frases traduzidas pelos aprendizes de inglês nos slides que elicitavam o
aspecto imperfectivo.
28%
28% 26,7%
9,3% 8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
ED Perfectivo ED Imperfectivo Used to
Imperfectivo
Outro
Imperfectivo
Outro Perfectivo
57
mais tempo de estudo L. M., T.B., C.S. e R.C com 5 anos, 4 anos, 4 anos e 3,5 anos de estudo,
respectivamente, observa-se que:
a) O participante L.M. utilizou em 4 dos 5 casos referentes aos slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo o morfema –ED com interpretação
imperfectiva e em apenas 1 caso utilizou o morfema –ED com tradução
compatível com o aspecto perfectivo;
b) O participante T.B. utilizou em 4 dos 5 casos referentes aos slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo a expressão USED TO com interpretação
imperfectiva e em apenas 1 caso utilizou o morfema –ED com tradução
compatível com o aspecto perfectivo;
c) O participante C.S. utilizou em 3 dos 5 casos referentes aos slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo o morfema –ED, contudo, 2 ocorrências
do –ED foram traduzidas com morfema compatível com o aspecto
imperfectivo do português e 1 ocorrência foi traduzida com morfema
compatível com o aspecto perfectivo da mesma língua; as outras 2
ocorrências foram expressas por morfologia zero;
d) O participante R.C. utilizou em todos os casos referentes aos slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo a expressão USED TO com tradução
compatível com o aspecto imperfectivo do português.
Portanto, apenas o participante L.M. com 5 anos de estudo de língua inglesa obteve
desempenho de acordo com as expectativas para os aprendizes com mais tempo de estudo,
correlacionando mais claramente o morfema –ED aos traços de imperfectividade. Em
contrapartida, os aprendizes T.B. com 4 anos de estudo da língua inglesa e R.C. com 3,5 anos
de estudo ainda correlacionam de forma bastante consistente os traços de imperfectividade à
expressão USED TO. No que se refere à utilização do morfema –ED nos slides que elicitavam
o aspecto imperfectivo, nota-se que, com exceção do informante R.C., os outros três
informantes apresentaram 1 ocorrência cada do morfema –ED com tradução compatível com
o aspecto perfectivo, o que pode sinalizar o resquício de uma fase de aquisição em que o traço
de perfectividade está intimamente relacionado a esse morfema.
Em relação aos aprendizes que utilizaram a mesma forma em todos os slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo, destacam-se os aprendizes S.M., L.F., R.Cr. e M.E..
58
O informante S.M. fez uso da forma USED TO em todos os slides que elicitavam o
aspecto imperfectivo e traduziu todas as ocorrências com uma forma associada aos traços de
imperfectividade, porém utilizou a expressão costumava + verbo” característica do PB para
se remeter a um hábito no passado, evidenciando uma transferência de padrão da língua
materna para a L2 sendo adquirida:
Informante S.M.:
(40) My mother and I used to watch cartoons in the past - Minha mãe e eu
costumávamos assistir desenho no passado.
O aprendiz L.F. fez uso do present perfect em todos os slides que elicitavam o aspecto
imperfectivo, embora tenha traduzido 3 das 5 ocorrências com morfema compatível com o
aspecto perfectivo. A tradução compatível com o aspecto perfectivo deve-se ao fato de o
informante ter interpretado a expressão adverbial “in the past” de forma diferente nesses
slides.
Informante L.F.:
(41) It seems she´ve practiced a lot in the past Parece que ela praticou muito no
passado.
(42) She´ve prepared sandwiches in the past – Ela preparou sanduíches faz um tempo.
Apesar de o aprendiz R.Cr. ter feito uso do morfema –ED em todos os slides que
elicitavam o aspecto imperfectivo, traduziu todas as ocorrências com morfema compatível
com o aspecto perfectivo mostrando, nesses casos, a interpretação particular de um evento
completo possivelmente elicitado pela expressão de tempo “in the past”:
Informante R.Cr.:
(43) The athlete practiced volleyball in the past – Ele praticou vôlei no passado.
Embora o aprendiz M.E. tenha declarado somente 2 anos e meio de estudo da língua
inglesa, foi o informante que mais se aproximou da expectativa e do desempenho dos nativos
do inglês. O informante fez uso do morfema –ED em todos os slides que elicitavam o aspecto
imperfectivo e traduziu todas as ocorrências com morfologia associada ao aspecto
imperfectivo, como em:
59
Informante M.E.:
(44) They watched tv together in the past – Eles assistiam televisão juntos no passado.
Por outro lado, informantes como E.C., M.B. e A.C. fizeram uso consistente do
morfema –ED nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo, nesse caso, em 4 dos 5 slides,
porém a tradução dos mesmos oscilavam entre morfemas compatíveis com o aspecto
perfectivo e imperfectivo do PB, mostrando que talvez ainda não tenham a associação clara
entre o morfema –ED e seus traços, como é exemplificado a seguir:
Informante M.B.:
(45) In the past they watched cartoons – No passado eles assistiam desenho.
(46) She prepared a sandwich in the past – Ela preparou um sanduíche no passado.
Como pode ser observado através dos resultados desta pesquisa, o fato de um aprendiz
utilizar o morfema –ED nos slides que elicitam o aspecto imperfectivo o é suficiente para
afirmar que tal informante faz a correta associação entre o morfema –ED e traços de
imperfectividade. Foram citados casos como o do informante R.Cr. que fez uso do morfema
ED em todos os slides que elicitavam o aspecto imperfectivo, mas que o traduziu através de
um morfema associado ao aspecto perfectivo do PB. Além disso, casos como os de E.C.,
M.B. e A.C., vistos acima, mostram que esses informantes estão em um estágio em que o
morfema –ED é ora associado aos traços de perfectividade ora associado aos traços de
imperfectividade.
Quanto aos aprendizes com maior tempo de estudo, percebe-se que os informantes
T.B. e R.C. ainda se encontram na fase de transferência de padrão da L1 para a L2, na qual há
a necessidade inicial de buscar um morfema para expressar o aspecto perfectivo e outro para
expressar o aspecto imperfectivo, explicando, desse modo, a associação que fazem do
morfema –ED à perfectividade e USED TO à imperfectividade, enquanto a informante L.M.
parece ter superado tal necessidade. Tais dados parecem ir ao encontro das propostas de que
a) há inicialmente uma transferência de expectativa da língua materna para a L2 sendo
adquirida e b) segundo Montrul e Slabakova (2002), a aquisição de morfemas precede a
aquisição da semântica associada a eles e que esses dois processos são graduais.
Os resultados encontrados mostram também que o grupo de aprendizes participantes
da presente pesquisa apresentam um padrão de comportamento diversificado que parece
refletir uma sequência de três estágios no que se refere ao morfema –ED:
60
Estágio 1: Realização do morfema –ED associada apenas a traços de perfectividade.
Estágio 2: Realização do morfema –ED associada ora a traços de perfectividade ora a traços
de imperfectividade x realização de outras formas.
Estágio 3: Realização do morfema –ED associada a traços de perfectividade e
imperfectividade em seus devidos contextos.
Tomando como base os estágios propostos acima, os aprendizes investigados são
enquadrados da seguinte maneira:
Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3
R.Cr. A.P. M.E.
S.M. A.C. L.M.
R.C. E.C.
C.O. C.S.
A.Cr. M.B.
L.F. T.E.
T.B.
Os aprendizes enquadrados no estágio 1 associaram todas as ocorrências do morfema
–ED aos traços de perfectividade, mesmo nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo,
mostrando que, na fase de aquisição de L2 em que se encontram, o morfema –ED parece ser
associado somente aos traços de perfectividade.
Os aprendizes A.P. e A.C., enquadrados no estágio 2, utilizaram o morfema –ED em 3
dos 5 slides que elicitavam o aspecto perfectivo e interpretaram essas ocorrências com um
morfema do PB associado ao perfectivo. Nos slides que elicitavam o aspecto imperfectivo o
informante A.P. oscilou entre o uso do –ED e do USED TO e o informante A.C. oscilou entre
a interpretação do –ED como perfectivo ou imperfectivo.
Os aprendizes E.C., C.S, M.B. e T.E., também enquadrados no estágio 2, utilizaram o
morfema –ED em todos os slides que elicitavam o aspecto perfectivo e traduziram tais
Tabela 5
-
Estágios de aquisição do morfema
ED e seus traços
61
ocorrências com um morfema associado ao aspecto perfectivo do PB, refletindo uma
interpretação perfectiva desse morfema. No que se refere aos slides que elicitavam o aspecto
imperfectivo esses informantes utilizaram o morfema –ED em alguns casos, porém oscilaram
entre as interpretações perfectiva e imperfectiva, além disso, alguns optaram por expressar o
imperfectivo de outras formas, utilizando o USED TO, por exemplo. Parece, portanto, que
esses informantes possuem a associação entre o –ED e perfectividade bastante clara, enquanto
a associação –ED e imperfectividade ainda não se manifesta de forma consistente,
diferentemente dos informantes A.P. e A.C. que também não demonstram uma associação do
–ED com traços de perfectividade de forma tão consistente.
Os aprendizes M.E. e L.M. são os que mais se aproximam do comportamento dos
nativos de inglês. O aprendiz M.E. utilizou a forma –ED com interpretação perfectiva em 4
dos 5 slides que elicitavam o aspecto perfectivo e utilizou o morfema –ED com interpretação
imperfectiva em todos os slides que elicitavam o aspecto imperfectivo. o aprendiz L.M.
utilizou a forma –ED com interpretação perfectiva em todos os slides que elicitavam o
aspecto perfectivo e utilizou o morfema –ED com interpretação imperfectiva em 4 dos 5
slides que elicitavam o aspecto imperfectivo, ou seja, esses informantes parecem estar no
último estágio de aquisição do morfema em questão, associando o –ED tanto aos traços de
perfectividade quanto aos traços de imperfectividade, como reflete o comportamento dos
nativos de inglês.
É importante mencionar que, além de um estágio inicial em que se destaca a grande
influência da L1 na transferência de padrões, é necessário ressaltar, dentre outros fatores, o
papel do input escrito, representado pelo material didático das instituições de ensino, assim
como o input oral, vindo essencialmente da fala do professor de língua estrangeira. Uma vez
que o contraste entre as formas –ED para expressar perfectividade e USED TO para expressar
imperfectividade é constantemente enfatizado nas aulas de língua estrangeira, ao menos nos
estágios iniciais de aquisição é aceitável a dificuldade de mapeamento dos traços de
imperfectividade ao morfema –ED pelos aprendizes de inglês como L2.
Tomando como base a ideia de Sigurðsson (2005) de que os traços são universais e
que a diferença entre as línguas estaria na maneira diversa de se expressar morfologicamente
as propriedades dos traços, é possível dizer que, no estágio inicial de aquisição de L2, os
aprendizes possuem todos os traços disponibilizados pela GU e que o processo de aquisição
de uma L2 consiste da aquisição de morfemas e sua associação aos traços disponíveis. A
dificuldade de mapeamento seria decorrente do input e dos padrões de associação morfema-
62
traço estabelecidos através da sua L1 cuja atuação seria altamente influenciadora ao menos
no estágio inicial do processo de aquisição da L2.
Na próxima seção, serão retomados os pontos mais importantes discutidos neste
trabalho a fim de confrontar os resultados encontrados através desta pesquisa com os estudos
previamente contemplados.
63
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve por objetivo investigar o processo de aquisição de aspecto por
falantes adultos do PB aprendendo inglês como L2. Para isso, foi necessário, primeiramente,
apresentar alguns pressupostos da Teoria Gerativa que subjazem a essa pesquisa. Dentre eles,
a crença de que a mente é modular, ou seja, constituída por módulos autônomos, mas que
interagem entre si. Tomou-se como objeto de estudo um desses dulos, a Faculdade da
Linguagem, composta por princípios universais, a GU, que guiam a aquisição de qualquer
língua natural.
A seguir, foi contemplada a estrutura da frase, sua divisão em categorias sintagmáticas
e, ainda, a construção e organização de cada sintagma no modelo de representação arbórea.
Foram apresentadas algumas propostas no que se refere à composição da árvore sintática,
mentalmente representada, tais como a proposta de cisão do nódulo flexional feita por Pollock
(1989) e a discussão a respeito de quais elementos deveriam ser abrigados na árvore.
Com a noção de Chomsky (1995) de que somente categorias conceptualmente
motivadas deveriam ocupar um lugar na árvore sintática e a decorrente eliminação de AGRP,
fez-se necessário eleger uma nova categoria para essa posição. Foi sugerido, então, através de
resultados obtidos por Bok-Bennema (2001), Novaes e Braga (2005), entre outros, que ASPP
deveria compor a camada flexional ao lado de TP.
A partir da posição de destaque atribuída à categoria ASP e, em consequência, às
categorias funcionais, caracterizadas como locus de variação linguística, muitos estudos
ocuparam-se em entender melhor sua natureza. A fim de entender um pouco sobre esse novo
candidato a ocupar uma posição na árvore sintática, foram expostos alguns conceitos de
especialistas no assunto, como Comrie (1976) e Smith (2000).
Em seguida, algumas hipóteses sobre aquisição de primeira ngua foram apresentadas
a fim de relacioná-las às hipóteses sobre aquisição de segunda língua, foco deste trabalho.
Uma visão geral a respeito de algumas perspectivas na área de aquisição de L2 foi esboçada,
enfatizando a discussão sobre a atuação ou não da GU nesse processo, além do papel
desempenhado pela L1 em seu desenvolvimento.
Para atingir o objetivo proposto, foi elaborado um teste de produção escrito em língua
inglesa que foi aplicado a dois grupos de informantes: o primeiro grupo, composto por 15
(quinze) nativos de inglês dos EUA e o segundo, composto por 15 (quinze) nativos do PB
aprendizes de inglês L2. O teste era composto por 30 (trinta) slides e cada slide, por sua vez,
composto por três elementos: uma figura, uma expressão adverbial de tempo e um verbo na
64
forma infinitiva. Os informantes deveriam criar uma frase utilizando os três elementos
descritos acima e os aprendizes deveriam também traduzir todas as frases criadas na primeira
etapa do teste.
A análise dos resultados mostrou que o morfema –ED é preferido pelos nativos de
inglês para expressar tanto o aspecto perfectivo quanto o aspecto imperfectivo e que a forma
USED TO foi a forma menos utilizada para expressar tal aspecto. Em relação aos aprendizes,
nota-se a preferência clara pelo –ED para expressar o aspecto perfectivo. No entanto, é no que
se refere à expressão do aspecto imperfectivo que se observa dados interessantes.
Ao se comparar as frases criadas pelos aprendizes a partir dos slides que elicitavam o
aspecto imperfectivo e a tradução atribuída a elas, foi possível perceber que muitos aprendizes
ora oscilam entre a escolha do morfema ED e a forma USED TO para expressar tal aspecto
ora utilizam o morfema –ED para expressar imperfectividade, mas traduzem as frases com
morfema correspondente ao aspecto perfectivo no PB. Esse comportamento parece refletir
uma característica de sua língua materna uma vez que, no PB, um morfema para expressar
o aspecto perfectivo e outro para expressar o aspecto imperfectivo. Parece, portanto, que os
aprendizes fazem uso da forma USED TO a fim de suprir a necessidade de haver dois
morfemas para expressar essa distinção aspectual que, segundo Comrie (1976), é uma
distinção básica nas línguas.
Esses resultados ilustram, primeiramente, a necessidade inicial de um mapeamento do
conhecimento abstrato e a realização morfológica na L2 da mesma maneira que se na L1.
Isto é, se para cada tipo de distinção aspectual um morfema na língua materna, os
aprendizes reproduzem o mesmo comportamento no processo de aquisição de L2, justificando
a dificuldade com morfemas confluentes, ou seja, com morfemas que abrigam duas
interpretações possíveis, como o –ED. Desse modo, alguns aprendizes que adquiriram a
forma USED TO a utilizam como contraste para a forma –ED, marcando a distinção
imperfectivo e perfectivo, respectivamente. Por outro lado, os aprendizes em um estágio de
aquisição mais avançado parecem ter adquirido a associação do morfema -ED também com
traços de imperfectividade.
Por fim, conclui-se que o desempenho desviante dos aprendizes pode ser atribuído,
além de uma possível transferência de expectativa da ngua materna para a L2, à natureza do
input que recebe. Ao analisar alguns livros para ensino de inglês como língua estrangeira, tais
como livros das séries Touchstone e Interchange, da editora Cambridge e English Express, da
Editora Richmond, entre outros, percebe-se que o tratamento dado à distinção perfectivo e
imperfectivo reflete exatamente o comportamento dos aprendizes. No que se refere ao
65
morfema –ED e aos verbos irregulares no passado, os livros de inglês comumente apresentam
explicações, exemplos e expressões adverbiais compatíveis com sua interpretação somente de
forma perfectiva. Em contrapartida, a forma USED TO é apresentada nos livros em contraste
com o –ED para se expressar imperfectividade habitual, ou seja, uma ação característica do
passado que não acontece mais no momento presente.
Considerando que a grande maioria dos professores brasileiros de língua inglesa
adquiriu a língua através de livros como esses, tem-se uma reação em cadeia: um grande
número de professores de língua inglesa aprendem a associação unívoca entre o –ED e traços
de perfectividade presente nos livros e repassam esse comportamento para seus alunos tanto
através da explicação gramatical explícita quanto através de sua fala, dificultando a
associação correta entre os traços universais disponíveis na GU (Sigurðsson, 2005) e os
morfemas da L2 sendo adquiridos.
Logo, três aspectos devem ser considerados no processo de aquisição de segunda
língua: a natureza do input, a influência da língua materna ao menos nos estágios iniciais de
aquisição e os dois estágios pelos quais a aquisição passa: primeiramente, a aquisição de
morfemas e, em segundo, a associação destes aos seus respectivos traços.
66
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68
ANEXO A - TESTE
Slide de instrução / nativos
69
Slide de instrução / aprendizes
70
Slide 1
71
Slide 2
72
Slide 3
73
Slide 4
74
Slide 5
75
Slide 6
76
Slide 7
77
Slide 8
78
Slide 9
79
Slide 10
80
Slide 11
81
Slide 12
82
Slide 13
83
Slide 14
84
Slide 15
85
Slide 16
86
Slide 17
87
Slide 18
88
Slide 19
89
Slide 20
90
Slide 21
91
Slide 22
92
Slide 23
93
Slide 24
94
Slide 25
95
Slide 26
96
Slide 27
97
Slide 28
98
Slide 29
99
Slide 30
100
Slide de agradecimento
101
ANEXO B – FOLHA DE RESPOSTAS DOS NATIVOS
8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGR5LRGH-DQHLUR
1DPHBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
&RXQWU\DQGFLW\BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB$JHBBBBBB0)
HPDLOBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
&DQ \RX VSHDN RWKHU ODQJXDJHV" ,I \HV ZKLFK RQHV DQG KRZ ZHOO"
BBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
1) _______________________________________________________________________
2) _______________________________________________________________________
3) _______________________________________________________________________
4) _______________________________________________________________________
5) _______________________________________________________________________
6) _______________________________________________________________________
7) _______________________________________________________________________
8) _______________________________________________________________________
9) _______________________________________________________________________
10) ______________________________________________________________________
11) ______________________________________________________________________
12) ______________________________________________________________________
13) ______________________________________________________________________
14) ______________________________________________________________________
15) ______________________________________________________________________
16) ______________________________________________________________________
17) ______________________________________________________________________
18) ______________________________________________________________________
19) ______________________________________________________________________
20) ______________________________________________________________________
21) ______________________________________________________________________
22) ______________________________________________________________________
23) ______________________________________________________________________
24) ______________________________________________________________________
25) ______________________________________________________________________
26) ______________________________________________________________________
27) ______________________________________________________________________
28) ______________________________________________________________________
29) ______________________________________________________________________
30) ______________________________________________________________________
102
ANEXO C – FOLHAS DE RESPOSTAS DOS APRENDIZES
8QLYHUVLGDGH)HGHUDOGR5LRGH-DQHLUR
)DFXOGDGHGH/HWUDV²&/$
'HSDUWDPHQWRGH/LQJtVWLFDH)LORORJLD
Colaborador: ___________________________________________ Data: ____/____/____
Tempo que estuda inglês: ____________ Idade: ______
1) _______________________________________________________________________
2) _______________________________________________________________________
3) _______________________________________________________________________
4) _______________________________________________________________________
5) _______________________________________________________________________
6) _______________________________________________________________________
7) _______________________________________________________________________
8) _______________________________________________________________________
9) _______________________________________________________________________
10) ______________________________________________________________________
11) ______________________________________________________________________
12) ______________________________________________________________________
13) ______________________________________________________________________
14) ______________________________________________________________________
15) ______________________________________________________________________
16) ______________________________________________________________________
17) ______________________________________________________________________
18) ______________________________________________________________________
19) ______________________________________________________________________
20) ______________________________________________________________________
21) ______________________________________________________________________
22) ______________________________________________________________________
23) ______________________________________________________________________
24) ______________________________________________________________________
25) ______________________________________________________________________
26) ______________________________________________________________________
27) ______________________________________________________________________
28) ______________________________________________________________________
29) ______________________________________________________________________
30) ______________________________________________________________________
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Colaborador: ______________________________________________________________
Tradução das frases:
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