Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos
Área de Bromatologia
Caracterização da bacteriocina produzida por Lactococcus lactis subsp.
lactis MK02R isolado de rúcula (Euruca sativa Mill.) e avaliação do seu
potencial probiótico utilizando o modelo dinâmico TIM-1
Monika Francisca Kruger
Tese para obtenção do grau de
DOUTOR
Orientadora:
Profa. Dra. Bernadette D. G. M. Franco
São Paulo
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Monika Francisca Kruger
Caracterização da bacteriocina produzida por Lactococcus lactis subsp. lactis
MK02R isolado de rúcula (Euruca sativa Mill.) e avaliação do seu potencial
probiótico utilizando o modelo dinâmico TIM-1
Comissão Julgadora
da
Tese para obtenção do grau de Doutor
Profa. Dra. Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco
orientador/presidente
____________________________
1
o
. examinador
____________________________
2
o
. examinador
____________________________
3
o
. examinador
____________________________
4
o
. examinador
São Paulo, ___________________ de _______ .
ads:
Viva como se você fosse morrer amanhã,
mas aprenda como se você fosse viver para sempre”
Mahatma Ghandi
AGRADECIMENTOS
À Prof
a
. Dr
a
Bernadette D. G. M. Franco, pela orientação segura, oportunidade de
aprendizado e confiança depositada em mim durante todo o curso de doutorado.
Ao Matheus de Souza Barbosa, Dr. Svetoslav D. Todorov e Daniella N. Furtado pela
amizade verdadeira e pelo apoio durante a realização dos experimentos.
Ao prof
o
. Dr. Antônio de Miranda do Departamento de Biofísica da Universidade Federal
de São Paulo pelo apoio nas realizações dos testes cromatográficos.
Ao prof
o
. Dr. João Moreira do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Minas Gerais pelo auxílio na identificação do isolado MK02R.
Às professoras Dr
a
Maria Teresa Destro e Dr
a
Mariza Landgraf pela atenção e o pronto
auxílio nos momentos de dúvidas.
À prof
a
. Dr
a
Susana Saad pela oportunidade de participação no projeto CAPES-
WAGENINGEN (n°. 3916-06-5), o qual me proporcionou a realização do estágio na
Holanda.
Aos professores Dr. Hauke Smidt e Dr. Erwin Zoetendal da Universidade de Wageningen
pelo auxilio constante na execução e análise dos experimentos realizados.
Ao Dr. Koen Venema e Sanne Van Rijn pelo apoio na execução e análise dos experimentos
realizados no TNO (Zeist, Holanda) e pelo convívio agradável.
Aos colegas do Laboratório de Microbiologia da Universidade de Wageningen pelo auxílio
e pelos momentos agradáveis de descontração.
Às funcionárias Kátia e Lúcia do Laboratório de Microbiologia de Alimentos da FCF-USP
pelo incentivo, apoio e amizade.
Aos colegas do Laboratório de Microbiologia de Alimentos da FCF-USP pelo convívio
agradável no ambiente de trabalho e também pelos bons momentos de descontração que
compartilhamos.
Aos funcionários Jorge e Elaine da secretaria de Pós-graduação da FCF-USP pela paciência
e disposição.
Aos secretários Mônica, Edilson e Cleonice da FCF-USP, pela colaboração e auxílio nos
momentos necessários.
À minha mãe Elza, ao meu pai Armin (in memorium), e aos meus irmãos Rainer, Karin,
Francine e Roberto, pelo amor, respeito, reconhecimento, compreensão e apoio em todos
os momentos da minha vida.
À minha tia Brunilde e ao tio André pela inspiração, amor, reconhecimento e apoio.
Aos meus sobrinhos Anna Luiza e Erich por trazerem sempre aquele sorriso ingênuo e
alegre de criança, tornando minha vida muito feliz.
À toda minha família, meus tios e primos, e meus amigos que na convivência do dia-a-dia
me apóiam e me respeitam e, sem perceberem, tornam mágicos muitos momentos de
minha vida.
Ao Krisztián Kovacs pelas flores, amor e amizade e à família Kovacs pelo carinho e apoio.
À CAPES pela concessão das bolsas de estudo do programa de doutorado, do programa
PAE e do programa de estágio no exterior.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................................... X
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................... XI
LISTA DE ANEXOS ......................................................................................................................... XIV
RESUMO ........................................................................................................................................ XV
ABSTRACT .................................................................................................................................... XVII
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 01
1.1. Bactérias láticas e suas aplicações em alimentos ........................................................................ 02
1.2. BAL e segurança dos alimentos .......................................................................................................... 05
1.2.1. Nisina e suas aplicações em alimentos ..................................................................................... 11
1.3. BAL como cultura probiótica em alimentos funcionais .................................................................... 16
2. OBJETIVOS ................................................................................................................................. 21
2.1. Objetivo global .................................................................................................................................. 21
2.2. Objetivos específicos ........................................................................................................................ 21
3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................... 23
3.1. Isolamento e identificação de bactérias láticas ........................................................................... 23
3.1.1. Isolamento de bactérias láticas ........................................................................................ 23
3.1.2. Caracterização morfológica e bioquímica dos isolados ................................................... 23
3.1.3. Avaliação inicial da atividade antimicrobiana das BAL isoladas ....................................... 24
3.1.4. Identificação do isolado MK02R ....................................................................................... 25
3.2. Identificação e caracterização das bacteriocinas ......................................................................... 26
3.2.1. Avaliação da natureza protéica ........................................................................................ 27
3.2.2. Caracterização da bacteriocina produzida pelo isolado MK02R ...................................... 27
3.2.2.1. Avaliação da estabilidade térmica ........................................................................................ 28
3.2.2.2. Avaliação da influência do pH ............................................................................................... 28
3.2.2.3. Avaliação da sensibilidade à compostos tensoativos, detergentes e NaCl .......................... 29
3.2.2.4. Avaliação do espectro de ação ............................................................................................. 29
3.2.3. Avaliação da ação da bacteriocina MK02R ............................................................................. 31
3.2.3.1. Avaliação da inibição da multiplicação microbiana .............................................................. 31
3.2.3.2. Avaliação da capacidade de causar lise celular .................................................................... 31
3.2.4. Avaliação da influência da temperatura e da presença de cisteína na produção da
bacteriocina MK02R ................................................................................................................................. 32
3.2.5. Determinação da presença do gene nisina no isolado MK02R ........................................... 33
3.2.6. Adsorção da bacteriocina MK02R às células produtoras ..................................................... 34
3.2.7. Purificação da bacteriocina MK02R ........................................................................................ 34
3.2.8. Análise por cromatografia de fase líquida (HPLC) e espectrometria de massas .............. 35
3.3. Avaliação da sobrevivência das BAL no ambiente simulado do trato gastrointestinal
humano, utilizando o modelo dinâmico TIM-1 .................................................................................... 36
3.3.1. Preparo do modelo dinâmico do trato gastrointestinal TIM-1 para a realização dos
experimentos ................................................................................................................................ 39
3.3.2. Preparo do material para os testes no modelo dinâmico do trato gastrointestinal
TIM-1 ............................................................................................................................................. 41
3.3.3. Avaliação da sobrevivência das BAL no modelo dinâmico do trato gastrointestinal
TIM-1 ............................................................................................................................................. 43
3.3.4. Avaliação da atividade de bacteriocinas após o trânsito no modelo dinâmico do
trato gastrointestinal TIM-1 .......................................................................................................... 44
3.3.5. Análise estatística ............................................................................................................ 45
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................................... 46
4.1. Isolamento e identificação das cepas de BAL isoladas de rúcula .............................................. 46
4.2. Caracterização da bacteriocina produzida por L. lactis MK02R ................................................. 48
4.2.1. Avaliação do espectro de atividade da bacteriocina produzida por L. lactis MK02R ...... 50
4.2.2. Avaliação da inibição da multiplicação microbiana .............................................................. 52
4.2.3. Avaliação da capacidade de causar lise celular ..................................................................... 53
4.2.4. Avaliação da influência da temperatura e da presença de cisteína na produção da
bacteriocina MK02R ................................................................................................................................. 54
4.2.5. Adsorção de bacteriocina MK02R às células produtoras .................................................... 57
4.2.6. Determinação da presença do gene de nisina em L. lactis MK02R. ................................... 58
4.2.7. Determinação dos aminoácidos da bacteriocina MK02R por espectrometria de
massas após purificação por cromatografia de fase-líquida (HPLC) ................................................. 61
4.3. Avaliação da sobrevivência de L. lactis MK02R, L. sakei 2a e do efeito do co-cultivo
com E. faecium LMA1 no modelo dinâmico do trato gastrointestinal TIM-1 ................................. 64
4.3.1. Avaliação da produção de bacteriocinas por L. lactis MK02R e L. sakei 2a no
modelo dinâmico do trato gastrointestinal TIM-1 .............................................................................. 70
5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 73
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 75
X
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Características bioquímicas de bactérias láticas (adaptado de Salminen et
al., 2004)
04
Tabela 2: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas
segundo Klaenhammer (1993)
06
Tabela 3: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas
proposta por Cotter, Hill e Ross (2005)
07
Tabela 4: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas
proposta por Heng et al. (2007)
08
Tabela 5: Cepas bacterianas e condições de cultivo empregadas na determinação
do espectro da bacteriocina produzida pelo isolado MK02R
30
Tabela 6: Microrganismos utilizados nos testes no modelo dinâmico TIM-1
42
Tabela 7: Composição da amostra inicial injetada no modelo dinâmico TIM-1
43
Tabela 8: Caracterização inicial da substância antimicrobiana produzida por L. lactis
MK02R avaliada pelo método spot-on-lawn
49
Tabela 9: Espectro de atividade do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R
51
XI
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura primária das variantes naturais de nisina: A, Z, Q e U. Dha,
dehidroalanina; Dhb, dehidrobutirina; Ala-S-Ala, lantionina; Abu-S-Ala, metil-
lantionina. Os aminoácidos marcados em cinza diferem dos aminoácidos da nisina A.
13
Figura 2: Mecanismos de ação da nisina. A dupla ação está representada por sua
ligação à membrana, causando a formação de poros e também o bloqueio da síntese
de peptideoglicanos da parede celular.
15
Figura 3: Esquema simplificado do modelo dinâmico TIM-1 (TNO). A) compartimento
do estômago; B) esfíncter pilórico; C) compartimento do duodeno; D) válvula
peristáltica; E) compartimento do jejuno; F) válvula peristáltica; G) compartimento
do íleo; H) válvula íleo-cecal; I) eletrodos de pH; J) frasco de secreção gástrica com
ácidos e enzimas; K) frascos de secreções duodenais com e bicarbonato; L) soluções
com eletrólitos para controle do pH intestinal; M) pré-filtro N) filtro com membranas
de exclusão de 5 kDa; O) sistema de absorção de líquidos; P) fechamento do sistema
de diálise.
37
Figura 4: Média dos valores de pH nos compartimentos do estômago, duodeno,
jejuno e íleo no modelo TIM-1, durante os experimentos.
40
Figura 5: Proporção dos volumes médios do efluxo final e de líquidos retidos durante
os experimentos no modelo TIM-1.
41
Figura 6: Produto de 800 pb gerado por amplificação do 16S-23S DNAr de L. lactis
MK02R. Marcador de peso molecular (M) de 1 Kb.
46
Figura 7: Restrição enzimática do amplicom do produto de PCR do 16S-23S DNAr de
L. lactis MK02R. Os sinais positivos e negativos na parte inferior da figura significam
clivagem positiva ou negativa, respectivamente. Marcador de peso molecular (M) de
1 Kb.
47
Figura 8: Multiplicação de Listeria innocua a 37°C em caldo BHI com ou sem a adição
de 20% do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
52
XII
Figura 9: Multiplicação de Listeria monocytogenes Scott A a 37°C em caldo BHI com
ou sem a adição de 20% do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
52
Figura 10: Multiplicação de Lactobacillus sakei ATCC 15521 a 30°C em caldo MRS
com ou sem a adição de 20% do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
53
Figura 11: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina
MK02R (barras) a 37°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
54
Figura 12: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina
MK02R (barras) a 30°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
55
Figura 13: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina
MK02R (barras) a 25°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
55
Figura 14: Produto de amplificação do DNA obtido através da PCR com os primers de
expressão de nisina (Nisf e Nisr). Marcador de peso molecular (M) de 100 pb.
59
Figura 15: Sequência de aminoácidos da bacteriocina produzida por L. lactis MK02R
deduzida por análise do DNA, comparada com as sequências das nisinas A, Z, F e Q.
O peptídeo der das variantes de nisina consiste de 13 aminoácidos (da posição -13
até a posição 1), seguida pelos aminoácidos que codificam o peptídeo maduro (da
posição 1 até a posição 34). A diferença entre os aminoácidos da nisina produzida
por L. lactis MK02R em relação às outras variantes de nisina estão sinalizadas com a
cor vermelha.
60
Figura 16: Perfil cromatográfico (HPLC) da amostra purificada da bacteriocina MK02R
utilizando a coluna preparativa C
18
(2,2 150 mm, 3,5 m, 60 poros, Nova-Pak,
Waters C18).
62
Figura 17: Perfil da espectrometria de massas da bacteriocina MK02R (A) e da nisina
Z (B). (A) Obtido utilizando Micromass (ZMD- Waters Corporation, Milford, MA,),
com eluição em 30 minutos com gradiente linear de acetonitrila (CH
3
CN) acidificado
de 5% a 95% a uma vazão de 0,4 ml/min. (B) Obtido de Sun et al. (2009).
62
XIII
Figura 18: Viabilidade de Lactococcus lactis MK02R utilizando os Protocolos 1 e 2 (P1
e P2) durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1
64
Figura 19: Viabilidade de Lactobacillus sakei 2a utilizando os Protocolos 1 e 2 (P1 e
P2) durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1
65
Figura 20: Viabilidade de Enterococcus faecium LMA1 utilizando os Protocolos 1 e 2
(P1 e P2) durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1
65
Figura 21: Flutuação das contagens da população de L. lactis MK02R em comparação
com as amostras iniciais durante a passagem no modelo TIM-1
69
Figura 22: Flutuação das contagens da população de L. sakei 2a em comparação com
as amostras iniciais durante a passagem no modelo TIM-1
69
Figura 23: Flutuação das contagens da população de E. Faecium LMA1 em
comparação com as amostras iniciais durante a passagem no modelo TIM-1
70
XIV
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Anotação do sequenciamento genético do 16-23S DNAr de Lactococcus
lactis subsp. lactis MK02R
98
Anexo 2: Representação dos aminoácidos em código, abreviação, bem como seu
códon genético
99
XV
RESUMO
Após a constatação da escassez de estudos realizados com vegetais crus
na busca por novas estirpes de bactérias láticas (BAL) produtoras de bacteriocinas
e diante do potencial tecnológico da aplicação destas cepas tanto como agentes
de conservação em alimento, bem como cultura probiótica em alimentos
funcionais, este estudo objetivou isolar e identificar cepas de bactérias láticas
potencialmente bacteriocinogênicas de amostras de rúcula obtidas no comércio
local de São Paulo, SP Brasil, identificar e caracterizar as bacteriocinas
produzidas pelos isolados e avaliar o potencial probiótico dos isolados testando
sua sobrevivência no modelo dinâmico do trato gastrointestinal TNO gastro-
Intestinal Model - TIM-1 disponível no TNO (The Netherlands Organization for
Applied Scientific Research) divisão Quality of Life (Zeist, Holanda). A produção de
bacteriocinas neste modelo também foi avaliada, comparando-se com L. sakei 2a,
também produtora de bacteriocinas e ainda avaliou-se a interferência na
viabilidade de E. faecium LMA1. A cepa Lactococcus lactis subsp. lactis MK02R de
rúcula produziu uma bacteriocina sensível à enzimas proteolíticas, termoestável e
não influenciada pelo pH, sendo capaz de inibir Enterococcus faecium,
Lactobacillus sakei, Listeria innocua, Lactobacillus delbrueckii e Listeria
monocytogenes de diferentes grupos sorológicos. Os ensaios genéticos utilizando
primers Nisf e Nisr confirmaram que a bacteriocina MK02R é uma nisina,
apresentando uma alteração dos aminoácidos no peptídeo líder em relação às
nisinas A, Z, Q, F e U, porém com a estrutura do peptídeo maduro idêntica ao da
nisina F. Estes resultados foram confirmados por espectrometria de massas de
amostras purificadas por HPLC. L. lactis MK02R resistiu à passagem no modelo
XVI
dinâmico TIM-1, apresentando uma alta capacidade de sobreviver nas condições
simuladas do trato gastrointestinal humano. Entretanto, não foi capaz de causar a
redução no número de E. faecium LMA1. Em contrapartida, L. sakei 2a, mesmo
apresentando uma sobrevivência menor, foi capaz de causar uma redução de 70%
na população de E. faecium LMA1 no ambiente simulado do TGI. Não foi
detectada atividade residual da ação antimicrobiana das bacteriocinas produzidas
por L. lactis MK02R ou L. sakei 2a após a passagem pelo modelo dinâmico TIM-1.
Estes resultados evidenciam a possível aplicação de L. lactis MK02R como um
agente de controle biológico na conservação de alimentos e também como uma
cultura potencialmente probiótica.
Palavras-chave: Bactérias ácido láticas (BAL), Lactococcus lactis subsp. lactis,
Nisina, Trato gastrointestinal, Probióticos, Vegetais.
XVII
ABSTRACT
Given the scarcity of studies performed with raw vegetables addressing the
search for new bacteriocinogenic strains of lactic acid bacteria (LAB) and
considering the technological application of these strains as food preservatives and
probiotic cultures in functional foods, this study was aimed at isolation and
identification of bacteriocinogenic LAB strains from samples of rocket salad
obtained in the local market of São Paulo, SP - Brazil, subsequent characterization
of the bacteriocins produced by these LABs and evaluation of their probiotic
potential by testing their survival in the dynamic gastrointestinal model TNO gastro-
Intestinal-Model - TIM-1, available at the TNO (Netherlands Organization for
Applied Scientific Research) Quality of Life division (Zeist, Netherlands). The
studies in the TIM-1 model were also done with another bacteriocinogenic strain L.
sakei 2a for comparison, evaluating their interference on the viability of E. faecium
LMA1. The bacteriocin produced by strain Lactococcus lactis subsp. lactis MK02R
isolated from rocket salad was sensitive to proteolytic enzymes, heat-stable and not
influenced by the pH. The bacteriocin inhibited the growth of Enterococcus faecium,
Lactobacillus sakei, Listeria innocua, Lactobacillus delbrueckii and Listeria
monocytogenes from different serological groups. The amplification with specifc
primers Nisf and Nisr indicated that the bacteriocin produced by the strain MK02R
is a nisin, with a change in the amino acid sequence of the leader peptide when
compared to nisin A, Z, Q, U and F, but with the structure of the mature peptide
homologous to that of nisin F. These results were confirmed by mass spectrometry
of purified samples obtained by HPLC. L. lactis MK02R withstood the test in the
dynamic model TIM-1, presenting capability to survive in the simulated conditions
XVIII
of the human gastrointestinal tract. However, the strain was not able to cause a
reduction in the number of E. faecium LMA1. On the other hand, L. sakei 2a, even
presenting lower survival, was able to cause 70% reduction in the population of E.
faecium LMA1 in the gut simulated environment. No residual antimicrobial activity
of bacteriocin produced by L. lactis MK02R or L. sakei 2a was detected after the
transit through the dynamic model TIM-1. These results demonstrate the possible
application of L. lactis MK02R both as a biocontrol agent in food preservation and
as a potentially probiotic culture.
Keywords: Lactic acid bacteria (LAB), Lactococcus lactis subsp. lactis MK02R,
Nisin, Probiotic, Vegetables.
1
1. INTRODUÇÃO
Bactérias láticas ou bactérias ácido láticas (BAL) constituem um grupo de
microrganismos amplamente distribuídos na natureza. As BAL são
tradicionalmente usadas na fermentação de alimentos e bebidas, contribuindo para
o desenvolvimento do sabor e do aroma através da produção de compostos
aromáticos (Ponce et al., 2008; Saguir et al., 2009). Entretanto, sua utilização em
alimentos se torna a cada dia mais interessante por vários motivos além da
fermentação.
Muitas BAL são capazes de produzir de uma grande variedade de
compostos antimicrobianos, tais como ácidos orgânicos, diacetil, peróxido de
hidrogênio, dióxido de carbono, álcool, aldeídos e bacteriocinas, que podem
interferir na multiplicação de bactérias deteriorantes e patogênicas presentes nos
alimentos. As bacteriocinas produzidas pelas BAL se apresentam como uma
alternativa tecnológica bastante promissora na solução do aumento da resistência
microbiana decorrente do uso de conservantes convencionais (Gálvez et al., 2010;
Mitra, Chakrabartty e Biswas, 2010; Ponce et al., 2008; Rodríguez et al., 2010;
Soliman e Donkor, 2010).
Outro motivo do interesse da indústria pelas BAL é que algumas espécies,
como Lactobacillus acidophilus e Lactobacillus rhamnosus, são reconhecidamente
probióticas, agregando o status de alimento funcional ao produto onde são
adicionados (Justé, Thomma e Lievens, 2008). Além disso, a utilização de culturas
de BAL e/ou seus produtos metabólicos em alimentos é reconhecida pelos
consumidores como uma forma natural de conservação, o que demonstra seu
2
aspecto positivo considerando a demanda crescente por produtos livres de
conservantes artificiais (Carr, Chill e Maida, 2002; Gálvez et al., 2010; Rodríguez et
al., 2003).
1.1. Bactérias láticas e suas aplicações em alimentos
A designação bactérias láticas (BAL) se aplica a um grupo de bactérias que
m o ácido lático como principal produto metabólico da fermentação de açúcares,
gerados através de duas vias metabólicas distintas: a via glicolítica e a via da
pentose-fosfato (Axelsson, 1998; Klaenhammer et al., 2005). Desde o primeiro
isolamento de uma cultura pura de uma bactéria produtora de ácido lático de
amostras de leite por J. Lister em 1873, classificada como "Bacterium lactis"
(Axelsson, 1998), houve uma expansão na classificação destas bactérias, que
passaram a ser isoladas de vários outros alimentos e também do trato
gastrointestinal (TGI) de humanos e de animais.
As BAL são microrganismos Gram positivos, não patogênicos, não
esporulados, anaeróbios/aerotolerantes, desprovidos de citocromos, apresentam
reação de catalase negativa, são ácido tolerantes e possuem o metabolismo
estritamente fermentativo (Górska et al., 2007). Os gêneros Lactobacillus,
Streptococcus, Leuconostoc e Pediococcus formam a base do grupo das bactérias
láticas. Além destes, os gêneros Aerococcus, Carnobacterium, Enterococcus,
Lactococcus, Oenococcus, Tetragenococcus, Vagococcus, e Weissella possuem
importância do ponto de vista da tecnologia dos alimentos (Górska et al., 2007),
enquanto que os gêneros Lactobacillus, Streptococcus e Enterococcus são
microrganismos comensais do TGI humano (Ranadheera, Baines e Adams, 2010).
3
A diferenciação dos gêneros dentro do grupo das bactérias láticas está
baseada no modo de fermentação da glicose em condições específicas de
multiplicação, podendo ser caracterizadas como homofermentativas, quando o
produto metabólico é principalmente ácido lático, ou heterofermentativas, quando
além do ácido lático, são produzidos também o etanol, ácido acético e CO
2
(Kučerová et al., 2007).
Os gêneros de BAL diferem entre si em relação à temperatura de
multiplicação, tolerância ao NaCl e sais biliares e resistência ao pH. A Tabela 1
apresenta resumidamente as características bioquímicas dos diferentes gêneros
de BAL (Kučerová et al., 2007; Salminen, Von Wright e Ouwehand, 2004). No
entanto, para a identificação das espécies das BAL são necessários testes de
fermentação de carboidratos, formação de acetoína, análise da hidrólise da
arginina, testes de hemólise, bem como a utilização de métodos moleculares
complementares para a detecção da presença de nucleotídeos altamente
específicos situados na seção intergênica do 16S-23S DNA ribossomal (Amor,
Vaughan e De Vos, 2007; Kučerová et al., 2007).
As BAL utilizadas como culturas “starters” e seus produtos metabólicos, tal
como as bacteriocinas, o considerados Generally Regarded as Safe (GRAS)
pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, ou seja, podem ser
utilizados em alimentos sem nenhuma restrição (Deegan et al., 2006;
Maragkoudakis et al., 2009).
4
Tabela 1: Características bioquímicas de bactérias láticas (adaptado de Salminen et al., 2004)
Bacilos
Cocos
Características
Carnobacterium
Lactobacillus
Aerococcus
Enterococcus
Lactococcus
Vagococcus
Leuconostoc
Pediococcus
Streptococcus
Tetragenococcus
Produção de CO
2
a
-
±
-
-
-
+
-
-
-
Multiplicação a
10°C
+
±
+
+
+
+
±
-
+
Multiplicação a
45°C
-
±
-
+
-
-
±
±
-
Multiplicação em
NaCl 6.5%
NI
±
+
+
-
±
±
-
+
Multiplicação em
NaCl 18%
-
-
-
-
-
-
-
-
+
Multiplicação em
pH 4.4
NI
±
-
+
±
±
+
-
-
Multiplicação em
pH 9.6
-
-
+
+
-
-
-
-
+
Produção de ácido
lático
b
L
D,L,DL
L
L
L
D
L, DL
L
L
a
homofermentativo (-) e heterofermentativo (+)
b
produção de D, L ou DL ácido lático a partir de glicose
NI: não informado
5
1.2. BAL e a segurança dos alimentos
Um dos aspectos importantes da aplicação das BAL em alimentos se refere
ao seu uso como bioconservante, visando a segurança dos alimentos (Gálvez et
al., 2010; Savadogo et al., 2006). O efeito de conservação não se apenas pelas
condições ácidas que estes microrganismos criam nos alimentos, mas também
pode resultar da produção de diversas substâncias antimicrobianas, como o
peróxido de hidrogênio, etanol, diacetil, dióxido de carbono (CO
2
), e ainda,
bacteriocinas ou substâncias semelhantes às bacteriocinas (Dalié, Deschamps e
Richard-Forget, 2010; lvez et al., 2010; Maragkoudakis et al., 2009; Ponce et
al., 2008).
As bacteriocinas são peptídeos biologicamente ativos produzidos por uma
grande variedade de microrganismos Gram positivos e Gram negativos, porém, as
produzidas por bactérias láticas são as mais estudadas por apresentarem um
grande potencial de aplicação nos alimentos (Deegan et al., 2006; Gálvez et al.,
2010; Gutiérrez et al., 2005; Rodgers, 2008).
Estas substâncias antimicrobianas diferem dos antibióticos clássicos quanto
aos mecanismos de síntese, modo de ação, espectro antimicrobiano, toxicidade e
mecanismos de resistência (Montville e Chen, 1998; Sang e Blecha, 2008; Settanni
e Corsetti, 2008). As bacteriocinas são sintetizadas nos ribossomos das bactérias
e atuam na membrana citoplasmática de células sensíveis dissipando a força
próton motriz, através da formação de poros na bicamada lipídica ou causando a
inibição da síntese de compostos essenciais à sobrevivência da célula (Dalié,
Deschamps e Richard-Forget, 2010; Devlighere et al., 2004). De maneira geral, as
bacteriocinas apresentam efeito bactericida decorrente da lise celular, podendo
6
também apresentar um efeito bacteriostático, impedindo a multiplicação celular
(Dalié, Deschamps e Richard-Forget, 2010; Oscáriz et al., 2008).
As bacteriocinas são moléculas catiônicas, anfifílicas, contendo entre 30 e
60 aminoácidos, e são agrupadas em classes distintas de acordo com suas
características bioquímicas e genéticas, porém esta classificação passa por
constantes atualizações (Cotter, Hill e Ross, 2005; Dalié, Deschamps e Richard-
Forget, 2010; Drider et al., 2006; Heng e Tagg, 2006; Heng et al., 2007). A primeira
classificação feita por Klaenhammer em 1993, já dividia as bacteriocinas em quatro
classes (Tabela 2).
Tabela 2: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas segundo
Klaenhammer (1993)
Classe
Características
Exemplos
I
Ia
Lantibióticos, peptídeos pequenos (<5kDa), contendo
aminoácidos lantionina e β-metil-lantionina, catiônicos e
hidrofílicos com estrutura flexível
Nisina, Lactacina 481
Ib
Lantibióticos, peptídeos pequenos (<5kDa), contendo
aminoácidos lantionina e β-metil-lantionina, globulares, com
estrutura rígida e rede de anéis não carregados ou
carregados com carga negativa
Mersacidina
II
IIa
Peptídeos pequenos (<5kDa), termoestáveis, sintetizados a
partir de resíduos de glicina, ativos contra Listeria, contendo
uma sequência YGNGV-C no N-terminal
Pediocina PA-1, Sakacinas A
e P, Leucocina A,
Carnobacteriocinas, etc.
IIb
Peptídeos formados por dois componentes agindo
simultaneamente na formação de poros
Lactococina G e F, Lactacina
F, Plantaricina EF e JK
III
Proteínas grandes (>30kDa) termolábeis
Helveticinas J e V-1829,
Acidofilucina A, Lactacinas
A e B
IV
Proteínas complexas, com atividade dependente da
associação de um ou mais grupos funcionais (carboidratos
ou fosfolipídios)
Plantaricina S, Leucocina S,
Lactacina 27 e Pediocina J1
7
Porém, com o isolamento e caracterização de novas bacteriocinas
produzidas por bactérias Gram positivas, novas classificações foram propostas
(Cotter, Hill e Ross, 2005; De Jong et al., 2006; Eijsink et al., 2002; Heng e Tagg,
2006; Heng et al., 2007), conforme indicado nas Tabelas 3 (Cotter, Hill e Ross,
2005) e 4 (Heng et al., 2007).
Tabela 3: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas proposta
por Cotter, Hill e Ross (2005)
Classe
Características
Exemplos
I
Lantibióticos, peptídeos ou proteínas catiônicas e
hidrofílicas contendo aminoácidos lantionina e β-
metil-lantionina. Inclui os peptídeos lineares ou
globulares, e ainda os lantibióticos contendo dois
componentes
Nisina, Lactacina 481,
Mersacidina, Salvaricina A,
Sublancina 168,
Cinamicina
II
IIa
Peptídeos pequenos (<5kDa), termoestáveis,
sintetizados através de resíduos de glicina, ativos
contra Listeria, contendo uma sequência YGNGV-C
no N-terminal
Pediocina PA-1, Sakacinas
A e P, Leucocina A
IIb
Peptídeos formados por dois componentes agindo
simultaneamente na formação de poros
Lactococina G e F,
Lactacina F, Plantaricina,
Lacticinina 3147
IIc
Peptídeos com estrutura cíclica, envolvendo a
ligação das terminações N e C-terminal
(IIc i) Enterocina AS48;
(IIc ii) Gassericina A,
Reuterina 6
IId
Peptídeos lineares, tipo não-pediocina, podendo ser
subdivididos de acordo com a sequência do
peptídeo líder, não classificadas nos outros grupos
Lactococina A, Divergicina
A, Carnobacteriocinas,
Turicina S
Bacteriolisinas
Proteínas complexas, grandes (>30kDa) termolábeis,
com atividade dependente da associação de um ou
mais grupos funcionais (carboidratos ou
fosfolipídios)
Lisostafina, Enterocina A
8
Tabela 4: Classificação das bacteriocinas produzidas por bactérias Gram positivas proposta
por Heng et al. (2007)
Classe
Características
Exemplos
I
Ia
Ia1
Lantibióticos pequenos (<5kDa) contendo aminoácidos
lantionina e β-metil-lantionina, catiônicos e hidrofílicos com
estrutura alongada e flexível do tipo nisina
Nisina A, Z, Q, U e F
Ia2
Lantibióticos pequenos (<5kDa) contendo aminoácidos
lantionina e β-metil-lantionina, catiônicos e hidrofílicos com
estrutura alongada e flexível do tipo SA-FF22
Lacticina 481,
Salvaricina A,
Sublancina 168.
Ib
Lantibióticos, peptídeos pequenos (<5kDa) contendo
aminoácidos lantionina e β-metil-lantionina, globulares,
com estrutura rígida e rede de anéis não carregados ou
carregados com carga negativa
Mersacidina,
Cinamicina
Ic
Lantibióticos formados por dois peptídeos contendo
lantionina agindo simultaneamente
Lactacina 3147,
Citolisina
II
IIa
Peptídeos pequenos (<5kDa), estáveis ao calor, sintetizados
através de resíduos de glicina, ativos contra Listeria,
contendo uma sequência YGNGV-C no N-terminal
Pediocinas,
Sakacinas, Leucocina
A, Bavaricina A
IIb
Peptídeos formados por dois componentes agindo
simultaneamente na formação de poros
Lactococina G,
Lactacina F
Plantaricinas,
Lactococina G,
Acidocina JI 132
IIc
Peptídeos sec-dependentes, com os terminais C e N ligados
por ligação covalente
Divergicina A,
Lactococina A e 972
III
IIIa
Proteínas grandes (>30kDa) termolábeis capazes de causar
lise, ou bacteriolisinas
Helveticina V-1829,
Acidofilucina A,
Lacticinas A
IIIb
Proteínas grandes (>30kDa) termolábeis não líticas
Helveticina J,
Colicinas E2-E9
IV
Proteínas complexas, geralmente globulares com atividade
dependente da associação de um ou mais grupos funcionais
como carboidratos ou fosfolipídios
Leucocina S,
Lacticina 27 e
Enterocina AS-48
A maioria das BAL produtoras de bacteriocinas conhecidas atualmente
foram isoladas de alimentos (Adnan e Tan, 2007; Deegan et al., 2006; Gálvez et
al., 2010), sendo considerados os microorganismos mais indicados para melhorar
9
a segurança microbiológica destes produtos, uma vez que se apresentam
adaptadas a estes ambientes (Gálvez et al., 2010).
Embora comuns em outros alimentos, poucos estudos relatam a ocorrência
de cepas de BAL produtoras de substâncias antimicrobianas em vegetais crus.
Trias et al. (2008) isolaram 496 cepas de BAL de frutas frescas, sementes,
vegetais orgânicos não processados e saladas prontas para o consumo, vendidas
em embalagens plásticas na Espanha, verificando que apenas 18 foram capazes
de inibir Xanthomonas campestris, Erwinia carotovora, Penicillium expansum,
Monilinia laxa ou Botrytis cinerea, que são importantes microrganismos
deteriorantes em vegetais. Pela caracterização do gene 16S DNAr, os isolados
com atividade antimicrobiana foram identificados como Leuconostoc
mesenteroides, Leuconostoc citreum, Lactobacillus plantarum, Lactococcus lactis,
Weissella cibaria e Enterococcus mundtii. O sobrenadante das culturas destes
isolados foi ativo contra pelo menos um dos microrganismos alvo testados, porém,
a atividade antimicrobiana decorreu da ação de ácidos ou peróxido de hidrogênio,
não tendo sido detectada nenhuma substância antimicrobiana de natureza
protéica, como bacteriocinas.
Ponce et al. (2008) isolaram quatro cepas de BAL potencialmente
bacteriocinogênicas a partir de amostras de vegetais orgânicos na Argentina,
observando que Lactococcus lactis e Enterococcus canis isolados de espinafre, e
Enterococcus hirae e Enterococcus faecium isolados de acelga apresentaram
atividade inibitória contra diversos patógenos de origem alimentar. Apesar de a
atividade antimicrobiana ter ocorrido pela ação de compostos protéicos presentes
no sobrenadante das culturas, os autores não identificaram ou caracterizaram
estas substâncias.
10
Sathe et al. (2007) avaliaram a atividade antifúngica de uma cepa de
Lactobacillus plantarum isolada de espinafre comercializada na Índia, e
observaram a inibição de Aspergillus flavus, Fusarium graminearum, Rhizopus
stolonifer e Botrytis cinerea, tanto pela inoculação direta da bactéria lática neste
vegetal, como pelo uso do sobrenadante da cultura. As amostras inoculadas
apresentaram um aumento da vida-de-prateleira e a atividade antimicrobiana foi
atribuída à ação de bacteriocinas, embora nenhum estudo tenha sido feito para a
caracterização destes peptídeos.
Uhlman et al. (1992) isolaram a cepa L. lactis D53 a partir de uma amostra
de salada fresca contendo endívia, alface e rabanete e de cenouras fermentadas
comercializadas na Alemanha. O sobrenadante da cultura foi submetido a vários
testes de resistência a enzimas proteolíticas, atividade em diferentes valores de pH
e de tolerância térmica, confirmando-se que a atividade inibitória contra as
diversas cepas de Listeria monocytogenes testadas decorreu da ação de
bacteriocinas. O estudo apresentou evidências da produção de um peptídeo do
tipo nisina, porém o foram feitos testes adicionais para uma melhor
caracterização do composto antimicrobiano.
As bacteriocinas da Classe I o as mais estudadas e melhor
caracterizadas. São também denominadas lantibióticos (“lanthionine containing
antibiotic”) devido à presença de aminoácidos tioeter lantionina (Lan) e/ou β-metil-
lantionina (MeLan) no anel intramolecular, ou ainda à presença de outros resíduos
modificados, como a 2,3- didehidroalanina (Dha) ou a 2,3-didehidrobutirina (Dhb),
em sua estrutura química (Cotter, Hill e Ross, 2005; Ghalfi et al., 2010; McAuliffe,
Ross e Hill, 2001; Miller, Chumchalova e McMullen, 2010). As bacteriocinas da
classe I mais conhecidas são a nisina A e suas variantes naturais Z, Q, U e F.
11
1.2.1. Nisina e suas aplicações em alimentos
A nisina foi descoberta na Inglaterra em 1928, durante observação do
metabolismo de uma linhagem especial de Streptococcus lactis (reclassificado
posteriormente como Lactococcus lactis), capaz de inibir cepas de bactérias láticas
pela liberação de uma substância protéica. Esta proteína foi isolada e denominada
nisina. O nome deriva de Group N Inhibitory Substanceacrescido do sufixo “-ina”,
comumente utilizado para antibióticos (Settanni e Corsetti, 2008).
Em 1947, a nisina foi purificada a partir de culturas de Lactococcus lactis
subsp. lactis e utilizada inicialmente como agente terapêutico no controle da
mastite em animais. Posteriormente, em 1951, foi proposto seu uso como
antimicrobiano alimentar devido à sua degradação pelas enzimas digestivas do
trato gastrointestinal (Thomas, Clarkson e Delves-Broughton, 2000).
A primeira preparação comercial de nisina (Nisaplin®) foi feita em 1953 pela
empresa Aplin and Barrett, Ltd., Inglaterra, comercializada atualmente pela
empresa Danisco A/S, Dinamarca. Porém, a aprovação da Food and Drug
Administration (FDA Estados Unidos) para utilização em alimentos ocorreu
apenas em 1988. Após o seu reconhecimento como GRAS, houve um
considerável aumento no interesse pela nisina e outras bacteriocinas como
agentes de conservação de alimentos (Bastos, Coutinho e Coelho, 2010;
Maragkoudakis et al., 2009; McAuliffe, Ross e Hill, 2001; Tafreshi et al., 2010).
A nisina é produzida durante a fase exponencial da multiplicação de L. lactis
subsp. lactis, geralmente cessando sua produção quando o microrganismo entra
na fase estacionária (Gillor, Etzion e Riley, 2008; Nes, Yoon e Diep, 2007; Tafreshi
et al., 2010). A nisina é sintetizada nos ribossomos como um pré-peptídeo
12
biologicamente inativo, que é posteriormente modificado enzimaticamente e
transportado para o ambiente extracelular, onde se torna uma molécula ativa. O
processo envolve genes de transcrição organizados em quatro operons:
nisABTCIPRK, nisI, nisRK e nisFEG (Lubelski et al., 2008).
Até o momento, cinco variantes naturais de nisina são conhecidas: nisina A,
nisina Z, nisina Q, nisina U e nisina F (Kwaadsteniet, Ten Doeschate e Dicks,
2008). A nisina A, a primeira a ser descoberta, difere da nisina Z apenas no
aminoácido da posição 27, possuindo uma histidina no lugar da asparagina. A
nisina Q difere da nisina A por apresentar modificações nos aminoácidos das
posições 15, 21, 27 e 30. A nisina U apresenta alterações nos aminoácidos das
posições 4, 15,18, 20, 21, 27, 29, 30 e 31, quando comparada à nisina A. a
nisina F, recentemente caracterizada por Kwaadsteniet, Ten Doeschate e Dicks
(2008), possui uma isoleucina no lugar da valina na posição 30, quando
comparada à nisina Q. Apesar das diferenças nas posições dos aminoácidos, a
atividade antimicrobiana das nisinas é bastante similar (Lubelski et al., 2008). A
Figura 1 apresenta a estrutura química das nisinas A, Z, Q e U.
Com exceção da nisina U produzida por Streptococcus uberis isolado de
secreções mamárias de bovinos (Jayarao et al., 1991; Wirawan et al., 2006), todas
as outras variantes naturais de nisina conhecidas até o momento são produzidas
por cepas de Lactococcus lactis.
13
Figura 1: Estrutura primária das variantes naturais de nisina: A, Z, Q e U. Dha,
dehidroalanina; Dhb, dehidrobutirina; Ala-S-Ala, lantionina; Abu-S-Ala, metil-lantionina. Os
aminoácidos marcados em cinza diferem dos aminoácidos da nisina A.
Fonte: https://oa.doria.fi/bitstream/handle/10024/29669/lantibio.pdf?sequence=1
14
A cepa produtora da nisina A foi isolada a partir de uma cultura “starter”
utilizada para a fabricação de queijos (Gross e Morell, 1971), enquanto que cepas
produtoras de nisina Z foram isoladas de queijos (Mulders et al., 1991; Olasupo et
al., 1999), Kimchi (Park, Itoh e Fujisawa, 2003), Dahi (Mitra, Chakrabartty e
Biswas, 2007) e leite cru (Bravo, Rodríguez e Medina, 2009). L. lactis produtor da
nisina Q foi isolado de água do rio Hikosan, no Japão (Zendo et al., 2003), e a
cepa produtora de nisina F foi isolada do intestino de peixes (Clarias gariepinus) de
água doce na África do Sul (Kwaadsteniet, Ten Doeschate e Dicks, 2008). Até o
momento não há informação sobre BAL isolada de vegetais crus capazes de
produzir nisina.
A nisina tem um espectro de ação limitado, sendo ativa contra alguns
microrganismos Gram positivos, como Lactococcus spp, Streptococcus spp,
Staphylococcus spp, Listeria spp, Mycobacterium spp, e células vegetativas ou
esporos de Bacillus e Clostridium. Normalmente a nisina o tem ação inibitória
contra microrganismos Gram negativos. No entanto, relatos sobre a atividade
quando a nisina é utilizada em combinação compostos que causam lesões na
membrana celular de bactérias Gram negativas, como agentes quelantes (EDTA,
por exemplo) e tensoativos (SDS, por exemplo) (Hammou et al., 2010; Pranoto,
Rakshit e Salokhe, 2005; Samelis et al., 2005).
O mecanismo de ação dos lantibióticos ainda não está totalmente
esclarecido. Estudos indicam que a porção N-terminal da molécula de nisina é
capaz de interagir com grupos fosfolipídicos na membrana citoplasmática das
células alvo, interferindo na síntese de peptideoglicanos, enquanto que a porção
C-terminal é a responsável pela formação de poros (Cotter, Hill e Ross, 2005).
Desta maneira, a nisina pode apresentar um modo de ação duplo: ela pode se ligar
15
ao lipídeo II, que é o principal transportador de subunidades de peptideoglicanos
do citoplasma para a parede celular, impedindo a síntese da parede celular e
levando a célula à morte; ou ainda pode utilizar o lipídeo II como uma molécula de
acoplamento para sua inserção na membrana, levando à formação de poros e
consequente dissipação da força próton-motriz, inibição do transporte de
aminoácidos e o efluxo de substâncias com baixo peso molecular, como íons e
ATP (Cotter, Hill e Ross, 2005; Richard et al., 2006; Wilson-Stanford et al., 2009).
Na Figura 2 é possível visualizar o duplo modo de ação da nisina.
Figura 2: Mecanismos de ação da nisina. A dupla ação está representada por sua ligação à
membrana, causando a formação de poros e também o bloqueio da síntese de
peptideoglicanos da parede celular.
Fonte: http://www.nature.com/nrmicro/journal/v3/n10/images/nrmicro1273-f2.gif
16
1.3. BAL como cultura probiótica em alimentos funcionais
Outra aplicação bastante importante das BAL em alimentos está
relacionada aos produtos probióticos com atribuição do status de alimento
funcional. Estes alimentos têm um grande apelo comercial, diretamente
relacionado com seu potencial terapêutico e/ou benefícios conferidos ao
organismo (Kimoto-Nira et al., 2009; O`Flaherty e Klaenhammer, 2010).
O termo probiótico deriva da expressão grega pro bios”, que significa a
favor da vida” (Hörmannsperger e Haller, 2010). Segundo a ANVISA (Brasil, 2008),
as bactérias probióticas são microrganismos vivos capazes de melhorar o
equilíbrio microbiano intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo”.
De acordo com a Food and Agriculture Organization/World Health Organization
(FAO/WHO, 2001), probióticos são definidos como microrganismos vivos que
oferecem benefícios ao organismo quando ingeridos em quantidades adequadas.
Alguns dos efeitos benéficos à saúde atribuídos ao consumo de produtos
probióticos descritos na literatura incluem: o aumento da resistência contra invasão
de agentes patogênicos na mucosa do TGI, a prevenção da diarréia do viajante, da
diarréia infantil e da síndrome do intestino irritável, o fortalecimento do sistema
imunológico, a redução da intolerância à lactose, a redução dos níveis séricos de
colesterol, a prevenção da osteoporose e o melhor aproveitamento dos nutrientes
dos alimentos (Culligan, Hill e Ross, 2009; Oelschlaeger, 2010; O`Flaherty e
Klaenhammer, 2010; Ranadheera, Baines e Adams, 2010; Sanders, 2008). Outros
benefícios estão relacionados à prevenção e tratamento de doenças crônicas dos
tratos gastrointestinal, respiratório e urogenital (Culligan, Hill e Ross, 2009;
O`Flaherty e Klaenhammer, 2010; Ranadheera, Baines e Adams, 2010).
17
Recentemente, Oelschlaeger (2010) propôs uma classificação para o efeito
terapêutico dos probióticos, baseada em três mecanismos distintos de ação no
TGI: (1) efeito imunomodulador, ou seja, capacidade de modular as defesas do
hospedeiro, incluindo a imunidade inata e o sistema imune adquirido; (2) efeito
antimicrobiano, ou seja, ação direta sobre outros microrganismos comensais e/ou
agentes patogênicos, competindo por nutrientes ou indisponibilizando sítios de
adesão; e (3) efeito modulador, ou seja, inativação de toxinas e desintoxicação do
hospedeiro, atuando no metabolismo e digestão de componentes dos alimentos no
ambiente do TGI. Os três modos de ação estão envolvidos de alguma forma na
defesa contra infecções, na prevenção de câncer e na manutenção ou
reconstituição do equilíbrio fisiológico da microbiota intestinal (Oelschlaeger, 2010).
Para proporcionar algum benefício ao organismo, as BAL probióticas devem
atingir 10
6
-10
9
UFC/g do conteúdo intestinal (Kimoto-Nira et al., 2009). No Brasil, a
ANVISA (Brasil, 2002) estipula que a quantidade mínima viável do probiótico no
produto pronto para o consumo deva estar entre 10
8
e 10
9
UFC.
Os principais representantes das bactérias probióticas pertencem aos
gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, pois não apresentam fatores de virulência
para o organismo humano (Moussavi e Adams, 2010; Sakar, 2010; Sanders,
2008). É importante ressaltar que o gênero Bifidobacterium, apesar de ser
tradicionalmente designado como BAL, utiliza a enzima frutose-6-fosfoquinase
(bifid shunt) para a degradação das hexoses, estando portanto filogeneticamente
separado do grupo das BAL (Felis e Dellaglio, 2007).
Na lista de alegações da ANVISA (Brasil, 2008), são consideradas bactérias
probióticas com uso permitido no Brasil as seguintes espécies: Lactobacillus
acidophilus, Lactobacillus casei Shirota, Lactobacillus casei rhamnosus,
18
Lactobacillus casei variedade defensis, Lactobacillus paracasei, Lactococcus lactis,
Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium animallis (incluindo a subespécie B.
lactis), Bifidobacterium longum e Enterococcus faecium. Porém, estudos recentes
citam ainda Lactobacillus crispatus, Lactobacillus delbrueckii subsp. bulgaricus,
Lactobacillus fermentum, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus johnsonii,
Lactobacillus plantarum, Lactobacillus reuteri, Lactobacillus helveticus,
Bifidobacterium breve, Bifidobacterium infantis, Bifidobacterium adolescentis,
Bifidobacterium essensis, Bifidobacterium laterosporus, Saccharomyces boulardii,
Streptococcus thermophilus, e algumas espécies dos gêneros Propionibacterium,
Pediococcus e Leuconostoc como as principais espécies microbianas utilizadas
como probióticos (Ranadheera, Baines e Adams, 2010).
Segundo Sakar (2010), a seleção de uma cepa probiótica de uso em
alimentos funcionais depende não apenas de sua capacidade de causar um
benefício de saúde definido, mas também de algumas características fisiológicas
do microrganismo, tais como tolerância à bile e ao pH ácido. A atividade
antimicrobiana é também um fator importante, mas sabe-se que cepas probióticas
semelhantes podem ter diferentes mecanismos de ação contra patógenos
(Culligan, Hill e Ross, 2009; Hörmannsperger e Haller, 2010; Sakar et al., 2010;
Wohlgemuth, Loh e Blaut, 2010).
Uma das características mais importantes das cepas probióticas está
relacionada com sua sobrevivência durante a passagem pelo trato gastrointestinal
(Frizzo et al., 2010; Fujiwara et al., 2001; Maragkoudakis et al., 2006). Para esta
avaliação, frequentemente são utilizados testes simulados in vitro, que são
limitados uma vez que não reproduzem com fidelidade as condições encontradas
19
no trato gastrointestinal. O comportamento dos microrganismos nos testes in vitro
pode ser muito diverso do observado in vivo (Bonomo et al., 2010; Dunne et al.,
2001; Golod et al., 2009; Morelli, 2007; Sakar et al., 2010). No entanto, os testes in
vivo também são limitados por não reproduzem adequadamente o TGI humano,
que modelos animais como ratos, porcos e cachorros são utilizados. Desta forma,
em função da diversidade de fatores, incluindo a variabilidade dos modelos e as
qualidades específicas das cepas empregadas, os resultados das culturas
avaliadas são em sua maioria reportados como espécie-dependentes (Bernbom et
al., 2006; Gronbach et al., 2010; Park et al., 2008). Uma alternativa para avaliar de
forma mais adequada a viabilidade de culturas probióticas durante a passagem no
trato gastrointestinal é a utilização de modelos dinâmicos capazes de mimetizar as
condições do trato gastrointestinal e a cinética do processo de digestão, tal como o
modelo TIM-1, desenvolvido pelo TNO (The Netherlands Organization for Applied
Scientific Research), Zeist, Holanda (Kheard et al., 2010; Marteau et al., 1997;
Minekus et al., 1995). O modelo dinâmico TIM-1 oferece precisão,
reprodutibilidade, fácil manipulação e possibilidade de coleta de amostras em
qualquer ponto do trato digestivo e em qualquer momento durante a digestão
simulada, sem restrições éticas como as necessárias quando se utiliza modelos
animais (Blanquet et al., 2004). Além disso, resultados obtidos utilizando-se o
modelo TIM-1 foram validados quando comparados à estudos com voluntários
humanos ou com animais monogástricos em relação à cinética de trânsito
intestinal e concentrações de ácido e bile durante a digestão (Minekus et al.,
1995), à sobrevivência microbiana no estômago e no intestino delgado (Marteau et
al., 1997), à biodisponibilidade de minerais em cereais (Larsson, Minekus e
Havenaar, 1997) e à biodisponibilidade de vitaminas em leite (Verwei et al., 2006).
20
Apesar de inúmeros estudos terem avaliado a sobrevivência de bactérias
láticas probióticas no TGI, a capacidade de produção de bacteriocinas por estas
culturas no ambiente do trato gastrointestinal humano raramente é estudada, de
forma que os possíveis efeitos benéficos do estabelecimento destas culturas no
ambiente competitivo do intestino são ainda pouco conhecidos (Ross et al., 2010;
Sleator, 2010).
21
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo global
Isolar bactérias láticas (BAL) produtoras de bacteriocinas a partir de
alimentos de origem vegetal, identificar e caracterizar as bacteriocinas produzidas
e ainda avaliar o potencial probiótico destas culturas, mensurando-se sua
capacidade de sobreviver e de produzir bacteriocinas durante a passagem pelo
modelo simulado do trato gastrointestinal humano, TIM-1.
2.2. Objetivos específicos
Isolar e identificar novas cepas de BAL produtoras de bacteriocinas a partir de
amostras de rúcula comercializada na cidade de São Paulo SP, utilizando
métodos fenotípicos e genotípicos;
Caracterizar as bacteriocinas produzidas pelas BAL isoladas quanto à sua
natureza protéica, estabilidade, espectro de ação e dinâmica de produção;
Identificar as bacteriocinas produzidas através da determinação dos genes
envolvidos em sua produção e do sequenciamento dos peptídeos por
espectrometria de massas após purificação por cromatografia de fase líquida
(HPLC);
22
Avaliar a sobrevivência das BAL e sua capacidade de produção de
bacteriocinas no trato gastrointestinal humano, utilizando o modelo dinâmico
TIM-1 (TNO gastro-Intestinal Model), disponível no TNO (The Netherlands
Organization for Applied Scientific Research), Zeist, Holanda;
Avaliar a influência das BAL bacteriocinogênicas na sobrevivência do
microrganismo entérico E. faecium LMA1 no trato gastrointestinal humano,
utilizando o modelo dinâmico TIM-1.
23
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Isolamento e identificação de bactérias lácticas
3.1.1. Isolamentos de bactérias láticas
Porções de 10g de rúcula crua obtidas no mercado local de São Paulo, SP
(Brasil) foram homogeneizadas com 90 ml de água peptonada (AP - 0,1% peptona
bacteriológica) esterilizada, empregando-se um homogeneizador de pistões
(Stomacher - Seward Medical, Inglaterra). A partir deste homogeneizado foram
preparadas diluições decimais seriadas em AP e alíquotas de um mililitro destas
diluições foram inoculadas em placas adicionando-se porteriormente 20 ml do
meio seletivo para bactérias láticas MRS ágar (Difco). As placas foram incubadas
em aerobiose por até 96 horas a 30°C. Dez a doze colônias foram selecionadas
aleatoriamente e purificadas em ágar MRS (Difco) pelo método de esgotamento.
As culturas puras foram armazenadas a -70°C em caldo MRS (Difco)
suplementado com glicerol (20%, v/v).
3.1.2. Caracterização morfológica e bioquímica dos isolados
As colônias isoladas foram primeiramente submetidas a testes morfológicos,
fisiológicos e bioquímicos que incluíram coloração de Gram, produção de catalase
e oxidase e tolerância a 15% de cloreto de sódio ou a 20% de sais biliares
(Kučerová et al., 2007). A coloração de Gram foi feita através do tratamento de
24
células devidamente fixadas em lâminas de vidro pelo calor e coradas com cristal
violeta, lugol, álcool e fucsina. O teste de catalase foi feito adicionando-se uma
gota de peróxido de hidrogênio à superfície das culturas cultivadas em ágar MRS
(Difco), observando-se o borbulhamento imediato da culturapara resultado positivo.
A produção de oxidase foi testada com o auxílio de tiras de Oxidase (Laborclin
Ltda.).
Para o teste de tolerância ao sal e sais biliares, frascos contendo caldo MRS
(Difco) foram acrescentados de NaCl (Sigma) para a concentração final de 15%
(p/v) ou de sais biliares (Oxoid) para a concentração final 20% (p/v), inoculados
com os isolados e incubados em aerobiose a 30°C por 48 horas. Após este
período, uma alíquota de cada caldo foi transferida para placas contendo ágar
MRS (Difco) e incubadas novamente em aerobiose a 30°C por 24 horas. A
presença de colônias nas placas foi interpretada como resistência a 15% de NaCl
ou 20% de sais biliares.
Colônias com características de cocos ou bacilos Gram positivos, catalase e
oxidase negativas, capazes ou não de se multiplicarem em MRS acrescido de 15%
de NaCl ou 20% de sais biliares foram consideradas bactérias láticas.
3.1.3. Avaliação inicial da atividade antimicrobiana das BAL
isoladas
Dos isolados iniciais, apenas sete foram identificados como bactérias láticas
e submetidos ao teste spot-on-lawn para detecção da capacidade de inibir Listeria
monocytogenes Scott A e Lactobacillus sakei ATCC 15521 (Lewus e Montville,
1991). Para isso, os sete isolados foram cultivados em caldo MRS (Difco) a 30ºC
25
por 24 horas e as culturas foram submetidas à centrifugação 12.000 x g por 10
minutos. O pH dos sobrenadantes foi ajustado para 6,0, utilizando-se solução de
NaOH 10 N (Sigma), para evitar uma possível atividade inibitória decorrente da
produção de ácidos orgânicos. Em seguida os sobrenadantes foram esterilizados
por filtração em membrana (0,22 µm Millipore, Estados Unidos) e transferiu-se
10µL para a superfície de placas previamente inoculadas com 10
5
UFC/ml de
Listeria monocytogenes Scott A em ágar BHI (Difco) ou 10
5
UFC/ml de
Lactobacillus sakei ATCC 15521 em ágar MRS (Difco). A formação de um halo de
inibição de multiplicação bacteriana no local onde o sobrenadante foi colocado
indicou a atividade antimicrobiana. Dos isolados testados, apenas um, denominado
MK02R, apresentou atividade antimicrobiana, assim que somente este isolado foi
utilizado no desenvolvimento do restante do trabalho.
3.1.4. Identificação do isolado MK02R
Para a identificação, o isolado MK02R foi submetido a testes moleculares de
sequenciamento da seção intergênica 16-23S DNAr por PCR-ARDRA (Amplified
Ribosomal DNA Restriction Analysis) de acordo com Moreira et al., (2005).
O DNA total do isolado MK02R foi extraído utilizando-se o kit Qiagen ®
"Blood DNeasy & Tissue Kit" (Qiagen, Valencia, Estados Unidos) seguindo as
recomendações do fabricante. O DNA ribossomal da seção intergênica 16S-23S
foi amplificado por Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) utilizando-se
oligonucleotídeos ou primers universais 16-1A, 5'-GAATCGCTAGTAATCG- 3’ e
23-1B, 5'-GGGTTCCCCCATTCGGA-3' (Moreira et al., 2005). O programa de
26
amplificação utilizado foi: 94°C por 2 min, 35 ciclos de 94°C por 30 s, 55°C por 1
min 72°C por 1 min e 72°C por 10 min. Os produtos da PCR foram submetidos à
eletroforese em gel de agarose 1,4% em tampão TBE (0,5% Tris-Borato-EDTA) e
visualizados por transiluminador UV, após coloração com brometo de etídio.
Supercoiled DNA Ladder (1 Kb) (GE Healthcare Bio-Sciences Inglaterra) foi
utilizado como o marcador de peso molecular. O gene de interesse foi selecionado
pelo número e tamanho das bandas dos fragmentos de DNA gerados pelo isolado.
O peso molecular esperado da amplificação do16-23S DNAr pode variar entre 500
a 900 pb, dependendo da espécie de BAL detectada. Os fragmentos que
apresentaram peso molecular compatível com os genes de interesse foram
purificados utilizando-se o kit GFX™ PCR DNA and Gel Band Purification (GE
Healthcare Bio-Sciences - Inglaterra), submetidos à análise de restrição enzimática
(PCR-ARDRA), e então sequenciados.
Os experimentos de amplificação do DNA, os ensaios com enzimas de
restrição e o sequenciamento dos fragmentos de DNA amplificados obtidos na
PCR foram realizados no Núcleo de Análise de Genoma e Expressão Gênica
(NAGE), no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas
Gerais.
3.2. Identificação e caracterização das bacteriocinas
As bacteriocinas produzidas pelo isolado MK02R foram caracterizadas
através de uma série de ensaios bioquímicos e térmicos. Em todos estes ensaios,
a atividade antimicrobiana foi monitorada empregando-se o método spot-on-lawn
27
utilizando as culturas de Listeria monocytogenes e Lactobacillus sakei ATCC
15521 como microrganismos indicadores, conforme descrito no item 3.1.3..
3.2.1. Avaliação da natureza protéica
A natureza protéica das substâncias antimicrobianas produzidas pelo
isolado MK02R foi verificada através do tratamento com protease tipo XIV (5,8
U/mg - Sigma), proteinase K (45,2 U/mg - Sigma), α-quimiotripsina (55 U/mg -
Sigma), pepsina (Merk, INGLATERRA) e papaína (Wallerstein Ltda) na
concentração final de 1 mg/ml em 0,2 M tampão fosfato pH 7,0. Alíquotas do
sobrenadante da cultura de MK02R obtidas conforme descrito no item 3.1.3. foram
incubadas na presença das enzimas por 2 horas a 37°C. Em seguida essas
amostras foram aquecidas a 100°C por 2 minutos, para inativar as enzimas
adicionadas, e garantir que a inibição dos microrganismos indicadores se desse
efetivamente pela ação da bacteriocina. Alíquotas de caldo MRS (Difco)
esterilizado adicionado das enzimas em tampão fosfato pH 7,0 serviram como
controles negativos do experimento. A atividade antimicrobiana foi avaliada
utilizando-se o método spot-on-lawn, conforme descrito no item 3.1.3..
3.2.2. Caracterização da bacteriocina produzida pelo isolado
MK02R
A bacteriocina produzida pelo isolado MK02R foi caracterizada através de
uma série de ensaios bioquímicos e térmicos. Em todos os ensaios, a atividade
28
antimicrobiana da bacteriocina foi monitorada empregando-se o método spot-on-
lawn, conforme descrito no item 3.1.3.
3.3.2.1 Avaliação da estabilidade térmica
A estabilidade térmica das bacteriocinas produzidas pelo isolado MK02R foi
determinada incubando-se o sobrenadante da cultura, obtido conforme descrito no
item 3.1.3., a 60°C e 100°C por 10, 30 e 60 minutos. Também foi avaliada a
resistência da bacteriocina à temperatura de esterilização por autoclavagem, ou
seja, a 121°C por 15 min. Como controle positivo, empregou-se o sobrenadante
não submetido aos testes de calor.
3.3.2.2. Avaliação da influência do pH
A influência do pH sobre a estabilidade das bacteriocinas produzidas pelo
isolado MK02 foi avaliada ajustando o pH do sobrenadante da cultura para 2,0; 6,0
e 9,0 utilizando HCl 1M (Sigma) ou NaOH 1M (Sigma) e incubando a 37°C por 2
horas. A atividade residual da bacteriocina foi testada após o ajuste do pH para
6,0, a fim de evitar a interferência do pH na avaliação da atividade do peptídeo. A
atividade antimicrobiana foi determinada pela presença de uma zona clara de
inibição nas placas contendo a cultura dos microrganismos indicadores.
29
3.3.2.3. Avaliação da sensibilidade à compostos
tensoativos, detergentes e NaCl
Para esta avaliação, amostras separadas do sobrenadante da cultura do
isolado MK02R foram acrescentadas de SDS (Dodecil sulfato de sódio) 1%
(Sigma), uréia 1% (Sigma), EDTA (Ácido etilonodiamino tetra-acético) 1% (Sigma)
ou NaCl 6,5% (Sigma) e incubadas por 5 horas a 37°C. Alíquotas do sobrenadante
sem a adição destes compostos e aquotas destes compostos dissolvidos em
água destilada estéril foram utilizadas como controle positivo e negativo,
respectivamente.
3.3.2.4. Avaliação do espectro de ação
O espectro de ação foi avaliado utilizando-se os microrganismos listados na
Tabela 5, que apresenta também os meios de cultivo e temperatura utilizados,
assim como a origem destes microrganismos. Para este teste, o sobrenadante da
cultura MK02R foi diluído sucessivamente na razão de 1:2 (v/v) em placas de
microtitulação estéreis (Microwel Plates 96F), utilizando-se o diluente MES (2 - [N-
morfolina] etanosulfônico). As diluições foram submetidas ao teste spot-on-lawn
conforme descrito no item 3.1.3. em placas contendo os diferentes microrganismos
em teste, quantificando-se a atividade antimicrobiana de acordo com Rosa et al.
(2002). A atividade foi calculada em unidades arbitrárias (UA) por ml, sendo uma
UA definida como a recíproca da maior diluição que apresentou inibição. A
30
sensibilidade à bacteriocina foi determinada pela presença de uma zona clara de
inibição na cultura dos microrganismos indicadores.
Uma solução contendo 25 mg/ml de Nisaplin® (Danisco A/S, Dinamarca)
diluída em HCl 0,1 N (Sigma), esterilizada por filtração em membrana (0,22 µm
Millipore, Estados Unidos) foi utilizada em paralelo neste teste para comparação
dos resultados obtidos.
Tabela 5: Cepas bacterianas e condições de cultivo empregadas na determinação do
espectro da bacteriocina produzida pelo isolado MK02R
Culturas
Temperatura de incubação
Meio de cultura
Gram-positivas
Bacillus cereus ATCC 11778
30°C
TSBye
Enterococcus faecium LMA1 (a)
37°C
TSBye
Lactobacillus delbrueckii (b)
30°C
MRS
Lactobacillus sakei ATCC 15521
30°C
MRS
Lactobacillus sakei subsp. sakei 2a (c)
30°C
MRS
Listeria innocua (d)
37°C
TSBye
L. monocytogenes Scott A
37°C
TSBye
L. monocytogenes ATCC 7644
37°C
TSBye
Staphylococcus aureus ATCC 29213
37°C
TSBye
Gram-negativas
Escherichia coli ATCC 8739
37°C
TSBye
Escherichia coli ATCC 35150
37°C
TSBye
Escherichia coli O157:H7
37°C
TSBye
Enterobacter aerogenes ATCC 13048
37°C
TSBye
Enterobacter aerogenes ATCC 7644
37°C
TSBye
Salmonella Enteritidis ATCC 13076
37°C
TSBye
S. Thyphimurium ATCC 14028
37°C
TSBye
(a) Isolada de alimentos (b) Isolada de leite; (c) Isolada de linguiça frescal; (d) Isolada de carne de frango;
TSBye: Caldo Tripticase de Soja (Difco) acrescido de 0,5% de extrato de levedura (Sigma); MRS: caldo MRS (Difco)
31
3.2.3. Avaliação da ação da bacteriocina MK02R
3.2.3.1. Avaliação da inibição da multiplicação microbiana
O potencial de inibir a multiplicação celular foi avaliado através da adição de
20 ml do sobrenadante do isolado MK02R, obtido conforme descrito no item 3.1.3.,
a 100 ml da cultura de Listeria monocytogenes Scott A e de Listeria innocua em
meio BHI e de Lactobacillus sakei ATCC 15521 em MRS, na fase exponencial de
crescimento (DO
600nm
~ 0,02) (Todorov et al., 2008). Os frascos foram incubados a
37°C e a multiplicação dos microrganismos foi monitorada através de leituras da
densidade ótica (DO
600nm
) a cada hora até o tempo máximo de 14 horas. As
leituras foram feitas em espectrofotômetro (Ultraspec® 2000, Amershan Pharmacia
Biotech, Estados Unidos). Como controle positivo utilizou-se a cultura dos
microrganismos indicadores sem a adição do sobrenadante da cultura do isolado
MK02R.
3.2.3.2. Avaliação da capacidade de causar lise celular
O potencial de causar lise nas células viáveis dos microrganismos
indicadores pela bacteriocina MK02R foi avaliado através da adição do
sobrenadante da cultura a um volume igual de cultura de Listeria monocytogenes
Scott A e de Listeria innocua em meio BHI e Lactobacillus sakei ATCC 15521 em
MRS no início da fase estacionária de multiplicação (DO
600nm
~ 0,8-1,5). Para isso,
os microrganismos indicadores foram cultivados a 37°C por até 18 horas para que
32
atingissem o início da fase estacionária de multiplicação, e então foram
centrifugados a 5000 x g por 5 min (4°C), lavados com solução salina esterilizada
(SS) por duas vezes e ressuspensos em 10 ml de SS. Volumes iguais do
sobrenadante da cultura de MK02R, obtidos conforme descrito no item 3.1.3.,
foram adicionados às culturas indicadoras e incubados por 1 hora a 37°C. A
determinação do número de células viáveis dos microrganismos indicadores foi
feita através da semeadura em ágar antes e após a incubação e seu resultado foi
expresso em UFC/ml. Suspensões dos três microrganismos indicadores sem a
adição do sobrenadante da cultura MK02R foram utilizadas como controles
positivos de multiplicação.
3.2.4. Avaliação da influência da temperatura e da presença de
cisteína na produção da bacteriocina MK02R
Nesta avaliação, o isolado MK02R foi cultivado em 250 ml de caldo MRS a
25°, 30° ou 37°C, na presença de L-mono-cisteína (Sigma) 0,0%, 0,5% e 1,0%, a
fim de avaliar a melhor combinação de temperatura e concentração de cisteína
para a produção da bacteriocina. A cisteína é um agente redutor que promove a
formação de um ambiente anaeróbio no meio de cultura, estimulando a
multiplicação das BAL (Ravula e Shah, 1998). A multiplicação bacteriana foi
monitorada através de leituras de absorbância a 600 nm, usando um
espectrofotômetro (Ultraspec® 2000, Amersham Pharmacia Biotech, Estados
Unidos), a cada hora durante 17 horas. A produção de bacteriocina nas diferentes
33
condições de cultivo foi determinada pelo método spot-on-lawn, conforme descrito
no item 3.1.3., utilizando-se L. sakei ATCC 15521 como cultura indicadora.
3.2.5. Determinação da presença do gene de nisina no isolado
MK02R
O DNA total do isolado MK02R foi extraído pelo kit Qiagen ® "DNeasy Blood
& Tissue Kit" (Qiagen, Valencia, Estados Unidos) seguindo a recomendação do
fabricante. O DNA isolado foi amplificado com os primers Nisf, 5- ATG AGT AAA
ACA GAT TTC AAC TT - 3 e Nisr, 5- TTA TTT GCT GTG TAC AAC CG - 3,
construídos com base no gene estrutural da nisina Q (GenBank AB100029)
descrito por Kwaadsteneit et al. (2008). As condições de amplificação foram: 1
ciclo de 94°C por 4 min, 35 ciclos de 94°C por 45 s, 48°C por 30 s, e 72°C por 45
s; e 1 ciclo de 72°C durante 7 min. Os produtos da PCR foram purificados com o
kit de purificação QiaQuick PCR (Qiagen) e sequenciados por empresa
terceirizada. A sequência de aminoácidos da bacteriocina MK02R foi deduzida
pelos dons (Anexo 2) do DNA amplificado utilizando o programa BLAST
(http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi) e sua homologia foi comparada com as
sequências das variantes naturais de nisina listadas no GenBank.
34
3.2.6. Adsorção da bacteriocina MK02R às células produtoras
Este teste foi feito com o objetivo de avaliar a adsorção da bacteriocina à
membrana citoplasmática da própria cepa produtora. Foi utilizado o método
descrito por Yang, Johnson e Ray (1992), que consiste na obtenção da maior
quantidade possível de bacteriocinas livres em solução através do abaixamento do
pH, que provoca uma alteração na tensão da membrana celular, liberando para a
solução os peptídeos naturalmente aderidos às membranas das células
produtoras. Para isto, uma cultura do isolado MK02R com 18 horas de incubação
em aerobiose a 30°C teve seu pH ajustado para 6,0 com uma solução de NaOH
1M (Oxoid) esterilizada. A cultura foi centrifugada (20.000 x g, 15 min, 4°C), as
células foram lavadas com tampão fosfato 0,1M (pH 6,5) esterilizado e
ressuspensas em 10 ml de NaCl 0,1M (Sigma), pH 1,5, sendo então mantidas sob
agitação constante a 4°C por 1 hora. Em seguida, a cultura foi novamente
centrifugada (20000 x g, 15 min, 4°C), selecionando-se o sobrenadante, que teve o
pH neutralizado a 7,0 com NaOH 1M (Sigma). A atividade antimicrobiana da
solução foi avaliada pelo método spot-on-lawn de acordo com Rosa et al., (2002),
com modificações (Todorov et al., 2008), conforme descrito no item 3.1.3..
3.2.7. Purificação da bacteriocina MK02R
Uma cultura de 24 horas do isolado MK02R (2%, v/v) foi adicionada a 8L de
caldo MRS (Difco) acrescido de 0,5 mg/ml de cisteína (Sigma). Após incubação a
30C, sem agitação, por 18 horas a cultura foi submetida à centrifugação (3.000 x
35
g, 10 min, 4°C). Após a remoção do sobrenadante, as células foram submetidas a
uma extração ácida, conforme descrito por Yang, Johnson e Ray (1992) e Rosa et
al. (2002). Para isto o sedimento foi submetido à duas lavagens com tampão 2 -
[N-morfolina] etanosulfônico (MES, Sigma) a 0,5 M, pH 6,5, e ressuspenso em 400
mL de solução de NaCl 0,1 M (Sigma) com pH ajustado para 1,5 com ácido
fosfórico (Sigma) concentrado. Após 2 horas de agitação a 4°C, a suspensão foi
novamente centrifugada a 3000 x g por 15 min a 4°C. Em seguida, o pH do
sobrenadante foi neutralizado a 7,0 com NaOH 20N (Sigma) e submetido à diálise
e concentração através do sistema Amicon (Millipore, Bedford, Estados Unidos),
utilizando-se membranas com limite de exclusão de 1.000 Da. Este extrato foi
esterilizado por filtração em membrana (0,22 µm Millipore, Estados Unidos) e
posteriormente submetido aos testes de atividade antimicrobiana conforme
descrito no item 3.1.3..
3.2.8. Análise por cromatografia de fase líquida (HPLC) e
espectrometria de massas
O extrato obtido no item 3.2.7. foi purificado por HPLC (Waters Delta 600,
Milford, Estados Unidos), utilizando-se uma coluna preparativa de fase reversa. As
amostras foram carregadas na coluna C18 Júpiter (21,2 x 250 mm, 15 mm, 300
poros, Phenomenex, Torrance, Estados Unidos) com gradientes lineares (declive B
0,33%/min) e eluídas utilizando-se os solventes A (TFA/H2O 0,1%) e B (0,1%
TFA/H2O: CH3CN - 40:60) com uma vazão de 10,0 ml/min. As frações contendo a
bacteriocina purificada foram injetadas em HPLC contendo uma coluna C18 Nova-
36
Pak (2,2 150 mm, 3,5 m, 60 poros, Waters C18) acoplado a um
espectrofotômetro de massas Micromass (ZMD- Waters Corporation, Milford, MA,).
A eluição foi realizada em 30 minutos utilizando gradiente linear de acetonitrila
(CH
3
CN) acidificado de 5% a 95% a uma vazão de 0,4 ml/min. A absorbância foi
medida entre 191 e 400 nm, utilizando um modelo de arranjo de diodos Waters
996. As medições das massas foram realizadas com escala de massa entre 500 e
3.930 m/z (relação massa/carga) (fluxo de gás nitrogênio: 2,6 L/h; agulha: 2,5 kV;
cone de tensão: 47 V; aquecedor da fonte: 105ºC; aquecedor do solvente: 400ºC,
energia íon 1,0 V e multiplicador: 996 V) (Fukao et al., 2008). Os experimentos de
HPLC e espectrometria de massas foram realizados no Departamento de Biofísica
da Universidade Federal de São Paulo.
3.3. Avaliação da sobrevivência das BAL no ambiente simulado do
trato gastrointestinal humano, utilizando o modelo dinâmico
TIM-1
Para a avaliação da sobrevivência das BAL no ambiente do TGI humano
utilizou-se o modelo dinâmico TNO gastro-Intestinal Model (TIM-1), descrito por
Minekus et al. (1995), disponível no TNO (The Netherlands Organization for
Applied Scientific Research) divisão Quality of Life (Zeist, Holanda) (Figura 3).
O modelo TIM-1 é composto por quatro compartimentos conectados que
simulam o estômago, o duodeno, o jejuno e o íleo. Cada compartimento é
constituído de dois tubos de vidro com tubos plásticos flexíveis em seu interior. O
espaço entre os tubos plásticos flexíveis e os tubos de vidro é preenchido com
37
água aquecida a 37ºC com o objetivo de simular a temperatura do corpo humano.
Além disso, esta água é submetida à pressão pulsante controlada por sensores e
monitorada por computador, de forma a simular os movimentos peristálticos do
estômago e do intestino delgado. As frequências de contrações são de cinco e seis
vezes por minuto para os compartimentos gástrico e duodenal, respectivamente, e
de sete vezes por minuto para os compartimentos do jejuno e do íleo.
Figura 3: Esquema simplificado do modelo dinâmico TIM-1 (TNO). A) compartimento do estômago;
B) esfíncter pilórico; C) compartimento do duodeno; D) válvula peristáltica; E) compartimento do
jejuno; F) válvula peristáltica; G) compartimento do íleo; H) válvula íleo-cecal; I) eletrodos de pH; J)
frasco de secreção gástrica com ácidos e enzimas; K) frascos de secreções duodenais com e
bicarbonato; L) soluções com eletrólitos para controle do pH intestinal; M) pré-filtro N) filtro com
membranas de exclusão de 5 kDa; O) sistema de absorção de líquidos; P) fechamento do sistema
de diálise.
Fonte: http://www.whole-isticsolutions.com/hr_pdf/research.pdf
38
O pH em cada compartimento e o trânsito do conteúdo luminal de um
compartimento para outro o controlados por computador, simulando os índices
esperados para o TGI de humanos, podendo ainda ser ajustado para simular o
TGI de crianças ou animais. O pH é constantemente monitorado por eletrodos
acoplados à todos os compartimentos e, quando necessário, uma solução de HCl
1M (Sigma) ou NaHCO
3
1M (Sigma) é injetada para restabelecer o pH ideal de
cada um dos compartimentos. O trânsito do conteúdo luminal é controlado por
bombas e válvulas que são abertas automaticamente quando o volume excede a
capacidade máxima de um determinado compartimento. As bombas injetam
constantemente o suco gástrico dentro do compartimento do estômago, enquanto
bile e suco pancreático são injetados no compartimento do duodeno. O suco
gástrico contém pepsina (0,28 ml/mg) da mucosa gástrica de suínos (CE 3.4.23.1,
Sigma-Aldrich, Brasil) e lipase (0,25 mg/ml) de Rhizopus oryzae (CE 3.1.1.3,
Amano Pharmaceuticals, Japão) dissolvidos em uma solução de eletrólitos (NaCl,
3 g/l; KCl, 1,1 g/l; CaCl
2
, 0,15 g/l; NaHCO
3
0,60 g/l; pH 2,0). A secreção duodenal
contém 7% de pancreatina em pó (Pancrex V, Paines & Byrne, Greenford, Reino
Unido) e 4% de extrato de bile de suínos (Sigma-Aldrich Canadá, Ltd.), também
dissolvidos numa solução de eletrólitos (NaCl, 5 g/l; KCl, 0,6 g/l; CaCl
2
, 0,30 g/l; pH
7,0).
Nos compartimentos do jejuno e do íleo está acoplado um dispositivo
tubular de fibras, contendo membranas semipermeáveis em seu interior, que
dializam o fluído do quimo, simulando a absorção de nutrientes durante o processo
de digestão. Compostos com até 5 kDa são filtrados pelas membranas e
transferidos para o fluído de diálise. Esse sistema de absorção é ativado quando
mais fluído entrando pelo duodeno (via conteúdo luminal) que saindo pelo íleo
39
(via válvula íleo-cecal). Após a passagem por todos os compartimentos, as frações
do fluído luminal são eliminadas do modelo e recolhidas em tubos acondicionados
em gelo.
3.3.1. Preparo do modelo dinâmico do trato gastrointestinal TIM-1
para a realização dos experimentos
Antes de iniciar e após o término de cada experimento, o modelo foi
desinfetado por 60 minutos com uma solução (10% v/v) de um detergente
comercial contendo cloro em sua composição (Lavo Inc., Montreal, PQ, Canadá),
seguido por lavagens sucessivas com água desmineralizada estéril. A completa
eliminação de cloro foi monitorada mensurando-se o pH da água de lavagem em
todos os compartimentos desinfetados, sendo considerados satisfatórios aqueles
que apresentaram pH 6,0.
Os experimentos com o modelo TIM-1 foram realizados nas mesmas
condições fisiológicas encontradas para o TGI humano. Assim, o pH do estômago
foi ajustado para 2,0 ±0,5, do duodeno para 6,5±0,5, do jejuno para 6,5±0,5, e do
íleo para 7,0 ±0,5, conforme indicado na Figura 4. As secreções digestivas foram
injetadas à velocidade 0,5 mL/min de suco gástrico e 1,0 mL/min de bile e suco
pancreático durante as seis horas de análise.
40
Figura 4: Média dos valores de pH nos compartimentos do estômago, duodeno, jejuno e
íleo no modelo TIM-1, durante os experimentos.
O esvaziamento gástrico iniciou-se 20 minutos após a injeção da amostra
em teste, seguido por um escape gradual e contínuo até o tempo máximo de 3,5
horas, momento em que houve a completa eliminação do volume contido no
estômago. As frações liberadas do estômago circularam continuamente pelos
compartimentos do duodeno, jejuno e íleo, seguindo a cinética das condições
fisiológicas do TGI humano. Os volumes eliminados pelo compartimento íleo-
cecal, ou seja, após a passagem completa pelo modelo TIM-1, foram denominados
efluxo final. A Figura 5 apresenta os volumes médios de efluxo final obtidos desde
a primeira até a sexta hora de análise.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1
2
3
4
5
6
pH
Tempo (horas)
Estômago
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1
2
3
4
5
6
pH
Tempo (horas)
Duodeno
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1
2
3
4
5
6
pH
Tempo (horas)
Jejuno
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1
2
3
4
5
6
pH
Tempo (horas)
Íleo
41
Figura 5: Proporção dos volumes médios do efluxo final e de líquidos retidos durante os
experimentos no modelo TIM-1.
3.3.2. Preparo do material para os testes no modelo dinâmico do
trato gastrointestinal TIM-1
Além do isolado MK02R, as cepas L. sakei 2a e E. faecium LMA1 também
foram submetidas aos testes de sobrevivência no modelo dinâmico do trato
gastrointestinal TIM-1. A cepa L. sakei 2a, também isolada no laboratório de
Microbiologia de Alimentos da FCF/USP por De Martinis e Franco (1998), foi
selecionada por ser outra cepa de BAL produtora de bacteriocinas para fins de
comparação de resultados. A cepa de E. faecium LMA1 foi selecionada por ser
uma BAL presente na microbiota intestinal, empregada como um indicador da
atividade das BAL produtoras de bacteriocinas na redução de um patógeno
entérico no ambiente intestinal simulado.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
Volume medido / volume inicial (%)
Tempo
Efluxo final
Líquido retido
42
O comportamento das cepas no modelo TIM-1 foi avaliado empregando-se
as culturas isoladamente ou em combinação, conforme descrito na Tabela 6.
Tabela 6: Microrganismos utilizados nos testes no modelo dinâmico TIM-1
Microrganismos
1
Isolado MK02R
2
Isolado MK02R + E. faecium LMA1
3
L. sakei 2a
4
L. sakei 2a + E. faecium LMA1
5
E. faecium LMA1
O isolado MK02R e L. sakei 2a foram cultivados por 18 horas em caldo
MRS (Difco) a 30°C e E. faecium LMA1 foi cultivado em BHI (Difco) a 37°C. As
culturas foram centrifugadas (3.000 x g, 10 min, 10°C) e ressuspendidas em 10 ml
de SS de forma a obter uma suspensão com 10
9
-10
10
UFC/mL.
As soluções iniciais contendo enzimas (2.100 U/mg de pepsina, Sigma;
12.700 U/mg de tripsina Tipo III, Sigma e 15.000 U/mg de lípase, Amano
Pharmaceuticals, Japão), suco gástrico (conforme descrito no item 3.4.), 250 g de
água (Protocolo 1) ou 250 g de leite de vaca comercial esterilizado (Protocolo 2)
(Tabela 7), foram adicionadas das suspensões bacterianas em teste. A utilização
de dois protocolos diferentes objetivou avaliar a interferência de uma matriz
alimentar (leite) na sobrevivência das BAL no TIM-1.
43
Tabela 7: Composição da amostra inicial injetada no modelo dinâmico TIM-1
Componentes
Protocolo
1
2
Água esterilizada
250 g
--
Leite de vaca esterilizado
--
250 g
Suco gástrico
50 g
50 g
Enzimas
5 g
5 g
Suspensão bacteriana
10 g
10 g
Total
315 g
315 g
pH final
5,5
5,5
3.3.3. Avaliação da sobrevivência das BAL no modelo dinâmico do
trato gastrointestinal TIM-1
A viabilidade dos microrganismos durante a passagem pelo modelo TIM-1
foi monitorada nas amostras da solução inicial antes de serem injetadas no
equipamento (Tempo 0) e nas amostras do efluxo final, a cada hora, até o tempo
máximo de 6 horas, através de semeadura pour plate conforme Hoben e
Somasegaran (1982). Todas as amostras foram submetidas à diluição decimal
seriada em SS e alíquotas de um mililitro destas diluições foram transferidas para
placas de petri vazias, às quais se adicionou ágar MRS para quantificação do
isolado MK02R e L. sakei 2a ou ágar BHI para contagem de E. faecium LMA1,
com incubação a 30ºC e 37ºC, respectivamente, por 24 horas. Nos ensaios
realizados com culturas em combinação, adicionou-se neomicina (5mg/ml) para a
contagem seletiva de L. sakei 2a, nisina (2mg/ml) para a contagem seletiva do
isolado MK02R ou vancomicina (5mg/ml) para a contagem seletiva de E. faecium
LMA1. Considerando a hipótese de aquisição intrínseca de resistência aos
44
antibióticos, os microrganismos presentes nas placas foram confirmados através
da adição de uma sobrecamada de ágar BHI contendo E. faecium LMA1 (10
5
UFC/ml), incubando-se a 30ºC por mais 24 h. As colônias que apresentaram um
halo de inibição sobre o microrganismo indicador da sobrecamada foram
quantificadas como as BAL do objeto de estudo.
As contagens obtidas nas placas foram ajustadas de acordo com o fator de
diluição dos líquidos ao longo de sua passagem no modelo TIM-1, com auxílio do
software TIMALL 041201 disponível no TNO (Quality of Life, Zeist, Holanda). Os
resultados foram expressos em log UFC/g.
3.3.4. Avaliação da atividade de bacteriocinas após o trânsito no
modelo dinâmico do trato gastrointestinal TIM-1
Para a avaliação da atividade das bacteriocinas nas amostras coletadas
após a passagem pelo TIM-1 as enzimas digestivas presentes nessas amostras
foram inativadas através de imersão imediata em água aquecida a 100°C por 10
min, seguida de centrifugação a 12.000 x g por 10 minutos. Em seguida, os
sobrenadantes foram neutralizados a pH 6,0 pela adição de NaOH 1M (Sigma),
esterilizados por filtração em membrana (0,22 µm Millipore, Estados Unidos) e
submetidos ao teste de antagonismo spot-on-lawn, conforme descrito no item
3.1.3., utilizando-se L. sakei ATCC 15521 como cultura indicadora.
45
3.3.5. Análise estatística
Os resultados obtidos nos testes de sobrevivência no ambiente do TGI
utilizando o modelo dinâmico TIM-1 foram submetidos à análise de variância
(ANOVA) e, quando detectadas diferenças significativas (p<0,05) entre as médias
dos resultados, aplicou-se o teste de comparação T de Student. O programa
utilizado foi o STATISTICA (StatSoft
®
, versão 7.0 - Oklahoma, Estados Unidos).
46
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Isolamento e identificação das cepas de BAL isoladas de rúcula
Das colônias inicialmente isoladas das amostras de rúcula em ágar MRS,
sete foram caracterizadas como bactérias láticas. Entretanto, apenas um destes
isolados, denominado MK02R foi capaz de inibir Listeria monocytogenes Scott A e
Lactobacillus sakei ATCC 15521 nos testes iniciais de antagonismo, sendo o único
isolado selecionado para a continuidade do trabalho.
As figuras 6 e 7 apresentam os resultados da amplificação do DNA total de
L. lactis MK02R e dos testes de restrição enzimática, respectivamente. Na Figura 6
é possível visualizar o fragmento amplificado com os primers utilizados, de peso
molecular de aproximadamente 800 pb.
Figura 6: Produto de 800 pb gerado por amplificação do 16S-23S DNAr de L. lactis MK02R.
Marcador de peso molecular (M) de 1 Kb.
47
O fragmento do 16S-23S DNAr do isolado MK02R extraído do gel de
agarose (Figura 7) apresentou o perfil de Lactococcus nos testes de PCR-ARDRA
visto que não foi restringido com as enzimas Sph, NcoI, Nhe, Ssp, Sfu, EcoRV,
Vsp, Hinc, EcoRI, HindI e AvrII, mas apresentou clivagem positiva com a enzima
Dra.
Figura 7: Restrição enzimática do amplicom do produto de PCR do 16S-23S DNAr de L.
lactis MK02R. Os sinais positivos e negativos na parte inferior da figura significam clivagem
positiva ou negativa, respectivamente. Marcador de peso molecular (M) de 1 Kb.
Através dos testes morfológicos, fisiológicos, bioquímicos e do
sequenciamento do fragmento 16S-23S DNAr, o isolado MK02R foi identificado
como Lactococcus lactis subsp. lactis (doravante denominado L. lactis MK02R). O
sequenciamento do DNA do isolado apresentou 99% de homologia esta espécie,
conforme anotação genética disponível no GenBank (Anexo 1).
Cepas de L. lactis subsp. lactis, como a isolada neste estudo, são comuns
em alimentos (Campos et al., 2006; Gálvez et al., 2010; Goméz et al., 2002; Mitra,
Chakrabartty e Biswas, 2007; Park, Itoh e Fujisawa, 2003; Ponce et al., 2008),
porém poucas são provenientes de vegetais crus (Ponce et al., 2008). A maioria
48
das cepas de L. lactis conhecidas atualmente são provenientes de produtos
lácteos e seus derivados, vegetais fermentados ou produtos cárneos. Ponce et al.
(2008) identificaram apenas uma cepa de L. lactis subsp. lactis dentre 45 isolados
obtidos de amostras de espinafre. Trias et al. (2008) identificaram apenas uma
cepa de L. lactis dentre 496 isolados de BAL provenientes de amostras de frutas
frescas, sementes, vegetais orgânicos não processados e saladas prontas para o
consumo.
4.2. Caracterização da bacteriocina produzida por L. lactis MK02R
A atividade antimicrobiana do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R
em caldo MRS (Difco) foi destruída após o tratamento com protease do tipo XIV
(5,8 U/ml - Sigma), proteinase K (45,2 U/mg - Sigma), α-quimiotripsina (55 U/mg -
Sigma) e papaína, mas não foi afetada pelo tratamento com pepsina (Tabela 8).
Estes resultados confirmam a natureza protéica do inibidor produzido por L. lactis
MK02R. Sua atividade manteve-se inalterada após o tratamento térmico de 60
minutos a 60°C ou 100°C, mas foi perdida após 15 minutos a 121°C
(autoclavagem). A bacteriocina MK02R permaneceu ativa após a incubação em pH
2,0, 6,0 e 9,0 por duas horas e após o tratamento com agentes químicos SDS
(1%), uréia (1%), EDTA e NaCl (6,5%).
49
Tabela 8: Caracterização inicial da substância antimicrobiana produzida por L. lactis MK02R
avaliada pelo método spot-on-lawn
Atividade da bacteriocina MK02R
Tratamento
L. monocytogenes Scott A
Scott A
L. sakei ATCC 15521
Enzimas
α-quimiotripsina
-
-
Protease
-
-
Proteinase K
-
-
Papaína
-
-
Pepsina
+
+
pH
2,0
+
+
6,0
+
+
9,0
+
+
Temperatura
60°C por 10 min
+
+
por 30 min
+
+
por 60 min
+
+
100°C por 10 min
+
+
por 30 min
+
+
por 60 min
-
+
121°C por 15 min
-
-
Compostos
SDS 1%
+
+
Uréia 1%
+
+
EDTA 1%
+
+
NaCl 6,5 %
+
+
Kelly, Davey e Ward (1998), Ponce et al. (2008), e Uhlman et al. (1992)
obtiveram resultados bastante semelhantes aos aqui relatados em relação à
atividade residual dos compostos antimicrobianos produzidos por cepas de L. lactis
isoladas de vegetais após o tratamento térmico e exposição à diversos valores de
pH. Mitra, Chakrabartty e Biswas (2007), observaram que a bacteriocina
produzida por L. lactis W8 permaneceu estável ao tratamento com agentes
químicos (surfactantes ou detergentes), tais como uréia, EDTA, SDS, entre outros,
também em conformidade com os resultados apresentados neste trabalho.
50
A estabilidade das bacteriocinas é um importante fator para seu uso como
conservante em alimentos (Mitra, Chakrabartty e Biswas, 2007; Simsek et al.,
2009). Considerando que o sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R
apresentou-se estável em diferentes valores de pH, após o tratamento térmico e
após à exposição à agentes detergentes e surfactantes, a bacteriocina produzida
pelo isolado MK02R tem grande potencial de utilização como conservante natural.
4.2.1. Avaliação do espectro de atividade da bacteriocina
produzida por L. lactis MK02R
A bacteriocina MK02R inibiu Enterococcus faecium LMA1, Listeria innocua e
Listeria monocytogenes ATCC 7644 com uma concentração final de 1600 UA/ml,
mas foi mais eficaz contra Lactobacillus sakei subsp. sakei 2a, Lactobacillus
delbrueckii e L. monocytogenes Scott A com atividade de 200 UA/ml (Tabela 9). A
concentração de apenas 100 UA/ml foi suficiente para inibir Lactobacillus sakei
ATCC 15521. O sobrenadante não foi eficaz contra Staphylococcus aureus ATCC
29213, ou contra as cepas Gram negativas como Escherichia coli ATCC 8739,
Escherichia coli ATCC 35150, Escherichia coli O157:H7, Enterobacter aerogenes
ATCC 13048, Enterobacter aerogenes ATCC 7644, Salmonella Enteritidis ATCC
13076, S.Thyphimurium ATCC 14028. Os controles paralelos com nisina comercial
Nisaplin® (25 mg/ml, Danisco A/S, Dinamarca) mostraram que a substância
antimicrobiana produzida por L. lactis MK02R possui um espectro de ação
bastante semelhante à nisina.
51
Tabela 9: Espectro de atividade do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R
Atividade antimicrobiana (UA/ml)
Culturas
Bacteriocina MK02R
Nisaplin ®
Gram-positivas
Bacillus cereus ATCC 11778
-
+
Enterococcus faecium LMA1 (a)
1600
+
Lactobacillus delbrueckii (a)
200
+
Lactobacillus sakei ATCC 15521
100
+
Lactobacillus sakei subsp. sakei 2a (c)
200
+
Listeria innocua (d)
1600
+
L. monocytogenes Scott A
200
+
L. monocytogenes ATCC 7644
1600
+
Staphylococcus aureus ATCC 29213
-
-
Gram-negativas
Escherichia coli ATCC 8739
-
-
Escherichia coli ATCC 35150
-
-
Escherichia coli O157:H7
-
-
Enterobacter aerogenes ATCC 13048
-
-
Enterobacter aerogenes ATCC 7644
-
-
Salmonella Enteritidis ATCC 13076
-
-
S. Thyphimurium ATCC 14028
-
-
(a) Isolada de alimentos (b) Isolada de leite; (c) Isolada de linguiça frescal; (d) Isolada de carne de frango;
TSBye: Caldo Tripticase de Soja (Difco) acrescido de 0,5% de extrato de levedura (Sigma); MRS: caldo MRS (Difco)
A atividade de bacteriocinas contra cepas relacionadas às cepas produtoras
é uma das características principais destes antimicrobianos (Bastos, Coutinho e
Coelho, 2010; Heng et al., 2007), assim, não é surpresa que o antimicrobiano
produzido por L. lactis MK02R tenha sido ativo contra as cepas de Lactobacillus
testadas. A inibição de diferentes cepas de L. monocytogenes ressalta o potencial
do uso desta bacteriocina em alimentos, considerando que este patógeno possui
grande importância em se tratando de doenças transmitidas por alimentos.
52
4.2.2. Avaliação da inibição da multiplicação microbiana
Os resultados da multiplicação celular após a adição de 20% do
sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R às culturas frescas de L. innocua, L.
monocytogenes e L. sakei ATCC 15521 estão apresentados nas Figuras 8, 9 e 10,
observando-se que o antimicrobiano foi capaz de inibir a multiplicação de todos os
microrganismos testados por até 14 horas.
Figura 8: Multiplicação de Listeria innocua a 37°C em caldo BHI com ou sem a adição de 20% do
sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
Figura 9: Multiplicação de Listeria monocytogenes Scott A a 37°C em caldo BHI com ou sem a
adição de 20% do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
DO
600nm
Tempo (horas)
L. innocua
L. innocua + bacteriocina MK02R
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
DO
600nm
Tempo (horas)
L. monocytogenes
L. monocytogenes + bacteriocina MK02R
53
Figura 10: Multiplicação de Lactobacillus sakei ATCC 15521 a 30°C em caldo MRS com ou sem a
adição de 20% do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R.
4.2.3. Avaliação da capacidade de causar lise celular
A adição do sobrenadante da cultura de L. lactis MK02R à cultura de L.
monocytogenes Scott A contendo 10
8
- 10
9
UFC/ml resultou numa acentuada
redução no número de células viáveis, que não foram mais detectadas após uma
hora de contato, ou mesmo após mais 48 horas de incubação. No entanto, não
houve alteração na quantidade de células das amostras controles (10
8
e 10
9
UFC/ml), sugerindo uma ação bactericida do antimicrobiano produzido por L. lactis
MK02R. Resultados semelhantes foram obtidos com as bacteriocinas HA-6111-2
produzidas P. acidilactici e bacteriocina HA-5692-3, produzida por E. faecium
(Albano et al., 2007).
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
DO
600nm
Tempo (horas)
Lactobacillus sakei
Lactobacillus sakei + bacteriocina MK02R
54
4.2.4. Avaliação da influência da temperatura e da presença de
cisteína na produção da bacteriocina MK02R
As figuras 11, 12 e 13 apresentam a multiplicação de L. lactis MK02R e a
produção da bacteriocina MK02R em caldo MRS contendo diferentes
concentrações de cisteína por até 17 horas a 37°C, 30°C e 25°C, respectivamente.
Figura 11: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina MK02R
(barras) a 37°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Atividade (UA/ml)
DO
600nm
Tempo (horas)
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
55
Figura 12: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina MK02R
(barras) a 30°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
Figura 13: Multiplicação de L. lactis MK02R (linhas) e produção da bacteriocina MK02R
(barras) a 25°C em caldo MRS acrescido de 0,0%, 0,5% ou 1,0% de cisteína.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Atividade (UA/ml)
DO
600nm
Tempo (horas)
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
1,40
1,60
1,80
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Atividaade (UA/ml)
DO
600nm
Tempo (horas)
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
0% cis
0.5% cis
1.0% cis
56
Verificou-se que, independente da concentração de cisteína no caldo MRS
(Difco), a fase exponencial foi mais rapidamente atingida quando a cultura de L.
lactis MK02R foi realizada a 37ºC. Nesta temperatura, a fase exponencial foi
atingida duas horas após o início do cultivo, enquanto que a 30ºC foram
necessárias três horas, e a 25ºC, seis horas.
Quanto à produção de bacteriocina, verificou-se que a máxima
concentração atingida foi de 600 UA/ml, obtida após 8h a 37ºC e 30ºC, e após 14
horas a 25ºC. As curvas apresentadas nas Figuras 11, 12 e 13 indicam que a
produção da bacteriocina inicia-se aproximadamente na metade da fase
exponencial de multiplicação de L. lactis MK02R, atingindo o máximo de produção
no início da fase estacionária, independente da temperatura de incubação.
Campos et al. (2006) relataram resultados semelhantes trabalhando com L. lactis
subsp. lactis isolado do intestino de peixes, verificando ainda que a atividade
antimicrobiana estava presente mesmo após 72 horas. Outros autores também
relatam que a produção da bacteriocina está diretamente relacionada com a fase
de multiplicação do microrganismo (Franz et al., 1997; Ponce et al., 2008; Tafreshi
et al., 2010). Geralmente a produção inicia-se na metade ou no final da fase
exponencial de crescimento, podendo se estender durante a fase estacionária de
multiplicação (Ponce et al., 2008; Tafreshi et al., 2010).
Conforme pode ser observado nas Figuras 11, 12 e 13, a presença de
cisteína no caldo MRS nas concentrações de 0,5% ou 1,0% aumentou a produção
da bacteriocina pela cepa L. lactis MK02R, de forma mais evidente quando a
temperatura utilizada foi 37ºC. Quando a incubação foi feita a 30ºC ou a 25ºC,
esse efeito foi menor. No entanto, a presença de cisteína teve pouca influência na
57
multiplicação de L. lactis MK02R. A 25ºC observou-se certo efeito negativo no
período de 8 a 13 horas, que desapareceu em seguida. Apesar de interferir pouco
na multiplicação da cepa, a cisteína influenciou a produção de bacteriocina,
principalmente quando a incubação foi feita a 37ºC. Sabe-se que fatores que
alteram a taxa de multiplicação do microrganismo produtor da bacteriocina estarão
diretamente relacionados com a produção do peptídeo (Gillor, Etzion e Riley, 2008;
Liu et al., 2010; Penna et al., 2005).
Penna e Moraes (2002) testaram o efeito da adição de sacarose,
asparagina, fosfato de potássio ou Tween ao meio MRS na produção de nisina e
observaram que 5,0 g/l de sacarose com 29 g/l de asparagina resultaram em
máxima produção de nisina na fase exponencial da multiplicação de L. lactis. A
cisteína, utilizada nos experimentos como coadjuvante para potencializar a
produção da nisina (Stoyanova et al., 2006), apresentou um efeito positivo sobre a
produção da bacteriocina MK02R quando concentrações de 0,5% ou 1,0% foram
adicionadas ao MRS com incubação a 37°C. No entanto, quando a incubação foi
feita a 25°C ou 30°C, este efeito potencializador não foi tão proeminente.
4.2.5. Adsorção da bacteriocina MK02R às células produtoras
Os resultados indicam que após o tratamento das células em pH 1,5 houve
uma liberação de grande quantidade de bacteriocina adsorvida à membrana de L.
lactis MK02R para o meio. Após a neutralização do pH da solução observou-se
uma atividade antagônica de 200 UA/ml sobre L. monocytogenes Scott A. Estes
resultados estão de acordo com outros estudos que também relataram pouca ou
nenhuma adsorção de bacteriocinas às células produtoras em pH 1,5, como a
58
plantaricina ST31 (Todorov et al., 1999), a pediocina ST18 (Todorov e Dicks,
2004), as bacteriocinas HA-6111-2 e HA-5692-3 (Albano et al., 2007) e a bozacina
B14 (Ivanova et al., 2000).
Cerca de 93 a 100% da bacteriocina sintetizada ficam aderidas à parede
das células produtoras quando cultivadas em pH 6,0, porém essa adsorção cai
para menos de 5% quando em pH 1,5 - 2,0 (Pongtharangku e Demirci, 2007;
Yang, Johnson e Ray, 1992). O estudo da adsorção/dessorção de bacteriocinas à
membrana celular das células produtoras é imprescindível no desenvolvimento de
protocolos eficientes visando a máxima recuperação do peptídeo antimicrobiano
para a purificação de grandes quantidades destes compostos (Pongtharangku e
Demirci, 2007).
4.2.6. Determinação da presença do gene de nisina em L. lactis
MK02R
Visto que o isolado MK02R foi identificado como L. lactis subsp. lactis, uma
espécie freqüentemente produtora de nisina, e que o espectro de ação da
bacteriocina MK02R apresentou-se similar ao da nisina comercial Nisaplin®
(Danisco A/S, Dinamarca), testou-se a presença do gene responsável pela
produção de nisina no DNA do isolado. O resultado da amplificação do DNA de L.
lactis MK02R com os primers Nisf e Nisr está apresentado na Figura 14.
59
Figura 14: Produto de amplificação do DNA obtido através da PCR com os primers de
expressão de nisina (Nisf e Nisr). Marcador de peso molecular (M) de 100 pb.
Quando o DNA de L. lactis MK02R foi amplificado com os primers Nisf e
Nisr foi gerado um fragmento com peso molecular de 300 pb, indicando que L.
lactis subsp. lactis MK02R possui determinantes genéticos associados à produção
de uma variante da nisina (Kwaadsteneit et al., 2008). Os primers Nisf e Nisr
amplificam o gene de codificação da nisina Q, e diferem apenas por uma ou duas
bases dos genes estruturais da nisina A, Z, U e F, o que permite a amplificação
dos genes destas nisinas. Para a confirmação da nisina produzida por L. lactis
MK02R a sequência dos aminoácidos da bacteriocina MK02R foi deduzida com
base neste fragmento de 300 pb gerado após a amplificação do DNA utilizando os
primers Nisf e Nisr. A sequência obtida foi comparada com as sequências das
nisinas A, Z, Q e F, disponíveis no GenBank, conforme apresentado na Figura 15.
60
Figura 15: Sequência de aminoácidos da bacteriocina produzida por L. lactis MK02R
deduzida por análise do DNA, comparada com as sequências das nisinas A, Z, F e Q. O
peptídeo líder das variantes de nisina consiste de 13 aminoácidos (da posição -13 até a
posição 1), seguida pelos aminoácidos que codificam o peptídeo maduro (da posição 1 até
a posição 34). A diferença entre os aminoácidos da nisina produzida por L. lactis MK02R
em relação às outras variantes de nisina estão sinalizadas com a cor vermelha.
A sequência de aminoácidos deduzida da nisina MK02R difere das demais
nisinas nos aminoácidos das posições -12, -11, -8, -7, -6 e -5, correspondentes à
sequência do peptídeo líder da nisina.
A sequência da nisina produzida por L. lactis MK02R apresentou
semelhança à sequência gravada para o gene estrutural de codificação da nisina Z
(número de acesso GenBank X61144), exceto pela presença de valina em vez de
isoleucina na posição 30. Esta comparação também foi feita com a nisina Q
(número de acesso GenBank AB100029), que também apresenta valina na
posição 30. A cepa L. lactis MK02R difere da nisina Q pois possui alanina e não
valina na posição 15, e metionina no lugar da leucina na posição 21 do peptídeo
líder. No entanto, apresenta homologia à sequência da nisina F nas posições
correspondentes à sequência do peptídeo maduro (posições 1 até 34).
-20 -10 1 10 20 30
Nisina MK02R MSTKDFNLDL VMV SVSRRRS GASPRITSIS LCTPGCKTGA LMGCNMKTAT CNCSVHVSK
Nisina F MSTKDFNLDL V SVSKKDS GASPRITSIS LCTPGCKTGA LMGCNMKTAT CNCSVHVSK
Nisina Z MSTKDFNLDL V SVSKKDS GASPRITSIS LCTPGCKTGA LMGCNMKTAT CNCSIHVSK
Nisina A MSTKDFNLDL V SVSKKDS GASPRITSIS LCTPGCKTCA LMGCNMKTAT CNCSIHVSK
Nisina Q MSTKDFNLDL V SVSKTDS GASTRITSIS LCTPGCKTGV LMGCN LKTAT CNCSVHVSK
61
É importante ressaltar que a aplicação de diferentes abordagens para a
caracterização de uma bacteriocina é crítica. Muito frequentemente, os autores
relatam a identificação de uma nova bacteriocina apenas com base na presença
de genes de produção de bacteriocinas, sem avaliar se tais genes são expressos
(Kwaadsteniet et al., 2006; Kwaadsteniet, Ten Doeschate e Dicks, 2008). Albano et
al. (2007) assinalaram a presença dos genes da pediocina PA-1 em duas cepas
diferentes de P. acidilactici, porém, não apresentaram evidências efetivas da
expressão destas bacteriocinas, assim que a expressão e produção destes
antimicrobianos são apenas presumidas. A purificação da bacteriocina seguida
pela espectrometria de massas e o sequenciamento de aminoácidos, mesmo que
apenas parcial, são necessários para verificar se os genes das bacteriocinas estão
sendo expressos (Zendo et al., 2008).
4.2.7. Determinação dos aminoácidos da bacteriocina MK02R por
espectrometria de massas após purificação por
cromatografia de fase líquida (HPLC)
A Figura 16 apresenta os resultados da separação primária da bacteriocina
por cromatografia de fase líquida (HPLC) e a Figura 17 a varredura por
espectrometria de massas.
62
Figura 16: Perfil cromatográfico (HPLC) da amostra purificada da bacteriocina MK02R
utilizando a coluna preparativa C
18
(2,2 150 mm, 3,5 m, 60 poros, Nova-Pak, Waters
C18).
Figura 17: Perfil da espectrometria de massas da bacteriocina MK02R (A) e da nisina Z (B).
(A) Obtido utilizando Micromass (ZMD- Waters Corporation, Milford, MA,), com eluição
em 30 minutos com gradiente linear de acetonitrila (CH
3
CN) acidificado de 5% a 95% a
uma vazão de 0,4 ml/min. (B) Obtido de Sun et al. (2009).
63
O sequenciamento parcial dos aminoácidos das amostras purificadas do
antimicrobiano por espectrometria de massas demonstrou certa homologia com o
sequenciamento deduzido do DNA amplificado com os primers Nisf e Nisr,
reforçando principalmente a presença de uma valina na posição 30 e de alanina na
posição 15. Os outros aminoácidos modificados deduzidos pelo sequenciamento
do DNA, como a metionina na posição 21, não puderam ser confirmados pelo
cromatograma.
Apesar da eficácia na caracterização parcial de nisina, o método de
cromatografia líquida (HPLC) apresenta certa dificuldade na identificação exata do
peptídeo, visto que as moléculas das nisinas A, Z, Q, U e F são bastante parecidas
(Zendo et al., 2008). No entanto, os resultados apresentados indicam que a cepa
L. lactis subsp. lactis MK02R o possui um determinante genético para a
produção de nisina, como também é capaz de produzir e exportar a nisina para o
meio extracelular.
A presença de aminoácidos modificados no peptídeo líder da nisina F
produzida por L. lactis MK02R pode auxiliar em estudos futuros relacionados à
regulação da expressão e na caracterização dos processos moleculares
envolvidos na biosíntese desta bacteriocina. A função do peptídeo líder das
bacteriocinas está relacionada com sua atividade biológica, que é o peptídeo
responsável por fornecer o sinal de reconhecimento para o gene ABC
transportador. Se houver uma alteração na estrutura do peptídeo líder, o processo
de reconhecimento fica comprometido e a bacteriocina não é exportada para o
meio extracelular (Todorov, 2009).
64
Entretanto, os testes cromatográficos confirmaram a produção e os testes
de antagonismo confirmaram a ação da nisina produzida por L. lactis MK02R. A
alteração dos genes da nisina produzida por L. lactis MK02R é única, e pode servir
para elucidar a influência da organização dos operons envolvidos na biosíntese da
nisina.
4.3. Avaliação da sobrevivência de L. lactis MK02R, L. sakei 2a e do
efeito do co-cultivo com E. faecium LMA1 no modelo dinâmico do
trato gastrointestinal TIM-1
As figuras 18, 19 e 20 apresentam os resultados da sobrevivência de L.
lactis MK02R, L. sakei 2a e E. faecium LMA1, respectivamente, no modelo
dinâmico TIM-1.
Figura 18: Viabilidade de Lactococcus lactis MK02R utilizando os Protocolos 1 e 2 (P1 e P2)
durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1.
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0
1
2
3
4
5
6
Log (UFC/g)
Tempo (horas)
L. lactis MK02R P1
L. lactis MK02R + E. faecium P1
L. lactis MK02R P2
L. lactis MK02R + E. faecium P2
65
Figura 19: Viabilidade de Lactobacillus sakei 2a utilizando os Protocolos 1 e 2 (P1 e P2)
durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1.
Figura 20: Viabilidade de Enterococcus faecium LMA1 utilizando os Protocolos 1 e 2 (P1 e
P2) durante o trânsito no modelo dinâmico TIM-1.
Conforme apresentado na Figura 18, L. lactis MK02R resistiu bem à
passagem pelo TIM-1, apresentando contagens de 7 log UFC/g nas amostras
obtidas no Tempo 0, mantendo uma população de 6 log UFC/g desde a primeira
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0
1
2
3
4
5
6
Log (UFC/g)
Tempo (horas)
L. sakei 2a P1
L. sakei 2a + E. faecium P1
L. sakei 2a P2
L. sakei 2a + E. faecium P2
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0
1
2
3
4
5
6
Log (UFC/g)
Tempo (horas)
E. faecium P1
E. facecium + L. lactis MK02R P1
E. faecium + L. sakei 2a P1
E. faecium P2
E. faecium + L. lactis MK02R P2
E. faecium + L. sakei 2a P2
66
até a sexta hora de análise, sem diferenças significativas (p>0,05) nestas
contagens. Da mesma maneira não foram detectadas diferenças significativas nas
contagens obtidas nos experimentos em co-cultura com E. faecium LMA1 ou nas
contagens obtidas utilizando os protocolos P1 e P2 (p>0,05).
Durante a passagem pelo modelo dinâmico TIM-1, houve uma redução
significativa (p<0,05) na viabilidade de L. sakei 2a (Figura 19). No Tempo 0 as
contagens de L. sakei 2a eram de 6 log UFC/g, porém na primeira hora estas
contagens foram significativamente reduzidas para 2 log UFC/g (p<0,05). Em
seguida a cepa apresentou uma recuperação gradual, atingindo contagens de 4
log UFC/g na sexta hora de análise.
Em contrapartida, E. faecium LMA1 (Figura 20), quando cultivado
isoladamente, apresentou uma alta capacidade de persistir nas condições
simuladas do trato gastrointestinal, atingindo populações de aproximadamente 8
log UFC/g desde o Tempo 0 até a sexta hora de análise, independente do
protocolo utilizado (p>0,05).
L. lactis MK02R resistiu às condições de estresse a qual foi submetida
durante a passagem no modelo TIM-1, estando em acordo com estudos que
demonstraram um alto índice de sobrevivência de L. lactis no ambiente do TGI
(Kang et al., 2010; Roy et al., 2008; Kimoto et al., 2003; Bernbom et al., 2006;
Drouault et al., 1999; Klijn, Weerkamp e De Vos, 1995). Kimoto et al. (2003)
observaram que Lactococcus lactis N7 apresentou resistência a diferentes valores
de pH e aos sais biliares em testes in vitro, e ainda demonstraram a capacidade de
sobrevivência de L. lactis N7 no ambiente do trato gastrointestinal ao recuperar a
cultura nas fezes de ratos após 12 (10
5
-10
6
UFC/g), 24 (10
3
UFC/g) e 48 (10
2
67
UFC/g) horas após a administração do microrganismo via oral. Em outro estudo,
Bernbom et al. (2006) observaram o efeito da administração de Lactococcus lactis
CHCC5826, produtora de nisina A em comparação com Lactococcus lactis
CHCH2862, não produtora de bacteriocinas, na composição da microbiota
intestinal de ratos. Os autores concluíram que a administração de ambas as
linhagens de L. lactis causaram um aumento no número de células de
Bifidobacterium e uma redução no número de espécies de Enterococcus/
Streptococcus no duodeno, íleo, ceco e cólon quando comparados com ratos
controles, sem diferença significativa entre os resultados das cepas produtora ou
não produtora de nisina. Drouault et al. (1999) também avaliaram a viabilidade de
L. lactis no TGI de ratos e observaram um índice de 90-98% de sobrevivência no
estômago, demonstrando a alta capacidade de adaptação do microrganismo ao
estresse ácido. Entretanto, observaram que apenas 10-30% da população foi
recuperada no duodeno e jejuno, indicando que a cepa apresenta uma baixa
resistência à secreção biliar e ao suco pancreático.
Em contrapartida, L. sakei 2a apresentou uma baixa resistência à passagem
pelo modelo dinâmico TIM-1 quando comparada com L. lactis MK02R. Park et al.
(2008) descreveram índices de 50% de sobrevivência de L. sakei probio 65 ao
suco gástrico e de 79% de sobrevivência do microrganismo na presença de sais
biliares desconjugados em testes in vitro. Bonomo et al., (2010) observaram uma
redução de 80% na sobrevivência de L. sakei subsp. sakei submetida ao
tratamento em condições de estresse ácido, observando que o menor valor de pH
suportado pelo microrganismo é de 2,5.
68
E. faecium caracteriza-se como um microrganismo altamente adaptado ao
ambiente do TGI (Weiss et al., 2010). Além disso, a cepa de E. faecium LMA1
selecionada para este estudo é resistente ao antibiótico vancomicina, o que pode
aumentar sua virulência e patogenicidade, considerando que cepas de E. faecium
resistentes à vancomicina estão associadas a um alto índice de mortalidade (53%)
decorrente de infecções em hospitais no Brasil (Pereira et al., 2010). Nos Estados
Unidos, o grupo Enterococci resistentes à vancomicina é o terceiro maior grupo de
patógenos relacionado aos casos de bacteremia e infecção neonatal (Piper et al.,
2009).
O efeito protetor do leite sobre as células de BAL é bastante conhecido e
foi demonstrado também nas condições adversas do intestino (Kheadr et al., 2010;
Kimoto et al., 2003). Este efeito protetor foi mais evidente nos experimentos feitos
com L. sakei 2a, causando um aumento significativo (p<0,05) da sobrevivência e
permanência do microrganismo no ambiente simulado do TGI humano, que
apresentou contagens entre 5 e 6 log UFC/g durante as seis horas de análise. No
entanto, a sobrevivência de L. lactis MK02R e E. faecium LMA1 não foi
significativamente (p>0,05) afetada pela adição da matriz alimentar, visto que estes
microrganismos apresentaram boa sobrevivência, mesmo sem a presença do leite.
Apesar da alta capacidade de sobrevivência demonstrada por L. lactis
MK02R ao ambiente simulado do TGI, o microrganismo não foi capaz de causar a
redução de E. faecium LMA1. Em contrapartida, L. sakei 2a, mesmo apresentando
uma viabilidade reduzida, foi capaz de reduzir em 70% o número de células viáveis
de E. faecium LMA1 quando estas culturas foram co-inoculadas. Recentemente,
Carvalho et al. (2010) demonstraram que L. sakei 2a produz, além da sakacina,
69
outros dois peptídeos com atividade antimicrobiana contra E. faecium, enquanto
que, como foi apresentado neste estudo, L. lactis MK02R produz apenas um
antimicrobiano ativo contra esta cepa. Por outro lado, Bambirra et al. (2007)
comprovaram que a atividade in vivo de L. sakei 2a contra a colonização intestinal
por L. monocytogenes Scott A em ratos gnobióticos foi decorrente da competição
por sítios de adesão, e não pela produção de bacteriocinas in situ.
As Figuras 21, 22 e 23 apresentam os valores das diferenças na população
de L. lactis MK02R, L. sakei 2a e E. faecium LMA1, respectivamente, em relação
ao inóculo inicial, durante a passagem no modelo TIM-1.
Figura 21: Flutuação das contagens da população de L. lactis MK02R em comparação com as
amostras iniciais durante a passagem no modelo TIM-1.
Figura 22: Flutuação das contagens da população de L. sakei 2a em comparação com as amostras
iniciais durante a passagem no modelo TIM-1.
-6,00
-5,00
-4,00
-3,00
-2,00
-1,00
0,00
0 1 2 3 4 5 6 7
Δ Log (UFC/g)
Tempo (horas)
L. lactis MK02R P1
L. lactis MK02R + E. faecium P1
L. lactis MK02R P2
L. lactis MK02R + E. faecium P2
-5,00
-4,00
-3,00
-2,00
-1,00
0,00
0 1 2 3 4 5 6 7
Δ Log (UFC/g)
Tempo (horas)
L. sakei 2a P1
L. sakei 2a + E. faecium P1
L. sakei 2a P2
L. sakei 2a + E. faecium P2
70
Figura 23: Flutuação das contagens da população de E. Faecium LMA1 em comparação com as
amostras iniciais durante a passagem no modelo TIM-1.
Apesar do considerável potencial da aplicação dos probióticos na terapia ou
na prevenção de doenças do TGI, é importante ressaltar que muitas cepas
probióticas com alegação de benefícios à saúde não tiveram sua ação confirmada
por evidências experimentais, sugerindo que a eficácia demonstrada por uma
cultura específica não deve ser transferida à espécie (Wohlgemuth, Loh e Blaut,
2010).
4.3.1. Avaliação da produção de bacteriocinas por L. lactis MK02R
e L. sakei 2a no modelo dinâmico do trato gastrointestinal
TIM-1
Neste estudo, não foi observada a atividade residual de bacteriocinas
produzidas por L. lactis MK02R ou L. sakei 2a após a passagem dos
microrganismos pelo modelo dinâmico TIM-1. Poucas pesquisas descrevem o
comportamento das bacteriocinas em ambientes do trato gastrointestinal. Bernbom
-8,00
-6,00
-4,00
-2,00
0,00
2,00
0 1 2 3 4 5 6 7
Δ Log (UFC/g)
Tempo (horas)
E. faecium P1
E. facecium + L. lactis MK02R P1
E. faecium + L. sakei 2a P1
E. faecium P2
E. faecium + L. lactis MK02R P2
E. faecium + L. sakei 2a P2
71
et al. (2006) observaram que a administração de nisina A não causou qualquer
alteração na composição da microbiota de ratos após a ingestão oral do peptídeo
antimicrobiano purificado. Entretanto, Kheadr et al. (2010) relataram atividade
antimicrobiana de pediocina produzida por Pediococcus acidilactici UL5
recuperada do compartimento do estômago, do duodeno, do jejuno e do íleo em
ensaios realizados no TIM-1. Reunanen e Saris (2009) avaliaram a degradação da
nisina (6,75 μg/g) no TGI de cachorros, observando que no jejuno houve uma
recuperação de 66% de nisina 30 minutos após a ingestão do antimicrobiano. No
entanto, após uma hora de exposição neste ambiente, apenas 17,5% da
concentração inicial da nisina foi recuperada. A nisina, assim como outras
bacteriocinas produzidas por BAL, são degradadas pela enzima pancreática α-
quimiotripsina presente no ambiente do TGI. Segundo Gálvez et al. (2010), além
do impacto sobre a atividade das bacteriocinas, as enzimas digestivas podem
interferir na produção destes antimicrobianos, de uma maneira cepa-dependente.
Se por um lado as bacteriocinas não agem de maneira efetiva no ambiente
intestinal, por outro, não possuem efeito adverso ao organismo quando
administrados em soluções puras, ou quando produzidos in situ, a partir de
culturas instaladas na microbiota intestinal (Bernbom et al., 2006; Reunanen e
Saris, 2009; Ross et al., 2010).
A compreensão de como as lulas produtoras de bacteriocinas
sobrevivem no ambiente do TGI pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias
para uma melhor aplicação destas culturas tanto em nível industrial, como em nível
terapêutico (Ross et al., 2010; Simsek et al., 2009). A produção desses metabólitos
antimicrobianos é geralmente demonstrada em estudos in vitro, porém ainda não
72
está claro se estes peptídeos antimicrobianos são produzidos ou se possuem
alguma atividade in vivo. Os resultados obtidos neste estudo concordam com
outros apresentados na literatura, demonstrando que o antagonismo de
bacteriocinas contra células sensíveis nos testes in vitro não são geralmente os
mesmos aos apresentados no ambiente do trato gastrointestinal (Bambirra et al.,
2007; Simsek et al., 2009).
No que diz respeito a aplicações terapêuticas, os agentes antimicrobianos
produzidos por BAL utilizadas como culturas probióticas podem desempenhar um
papel importante nas interações in vivo durante sua passagem pelo trato
gastrointestinal humano, contribuindo assim para a saúde do intestino. No entanto,
mais estudos são necessários para desvendar o papel preciso das bacteriocinas
produzidas por BAL neste processo (De Vuyst e Leroy 2007; Ross et al., 2010).
73
5. CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que:
(A) Lactococcus lactis subsp. lactis MK02R isolado de rúcula produz a nisina F,
com atividade inibitória contra E. faecium LMA1, L. sakei ATCC 15521, L.
sakei 2a, e microrganismos de importância alimentar, tal como L. innocua e
L. monocytogenes, apresentando um alto potencial de aplicação para a
conservação de alimentos;
(B) A nisina F produzida por L. lactis MK02R apresentou alta estabilidade
térmica, resistência ao pH ácido ou básico e à compostos surfactantes e
detergentes, aumentando sua potencialidade de aplicação em alimentos;
(C) L. lactis MK02R apresentou uma boa capacidade de sobreviver nas
condições de estresse do ambiente simulado do trato gastrointestinal
humano, apresentando um grande potencial de utilização como cultura
probiótica;
(D) L. sakei 2a apresentou baixa resistência às condições simuladas do TGI,
no entanto, inibiu E. faecium LMA1, apresentando potencial para estudos
futuros como uma cultura potencialmente probiótica.
74
(E) Não foi detectada atividade residual de bacteriocinas após os ensaios no
modelo dinâmico TIM-1, assim que não se pode inferir se houve a produção
destes compostos no ambiente do TGI, ou ainda se estariam relacionados
com a ação das BAL na redução E. faecium LMA1, de forma que testes
mais sensíveis são necessários para validar esta hipótese.
75
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADNAN, A.F.M., TAN, I.K.P. Isolation of lactic acid bacteria from Malasyan food
and assessment for the isolates for industrial potential. Bioresource
Technology, v. 98 (7), p. 1380-1385, 2007.
ALBANO, H., TODOROV, S.D., VAN REENEN C.A., HOGG, T., DICKS L.M.T.,
TEIXEIRA, P. Characterization of two bacteriocins produced by Pediococcus
acidilactici isolated from "Alheira", a fermented sausage traditionally produced in
Portugal. International Journal of Food Microbiology, v. 116 (2), p. 239-47,
2007.
AMOR, K.B., VAUGHAN, E.E., DeVOS, W.M. Advanced molecular tools for the
identification of lactic acid bacteria. The Journal of Nutrition, v. 137 (3), p.
741S-747S, 2007.
AXELSSON, L. 1998. Lactic acid bacteria: Classification and physiology In S.
Salminen, A. Von Wright. New York: Marcel Dekker, Inc. Lactic acid bacteria:
microbiology and functional aspects, p. 01-72, 1998.
BAMBIRRA, F.H.S., LIMA, K.G.C., FRANCO, B.D.G.M., CARA, D.C., NARDI,
R.M.D., BARBOSA, F.H.F., NICOLI, J.R. Protective effect of Lactobacillus sakei
2a against experimental challenge with Listeria monocytogenes in gnotobiotic
mice. Letters in Applied Microbiology, v. 45 (6), p. 663-667, 2007.
__________________________________________________________________
As referências bibliográficas estão de acordo com a norma NBR6023/2002
preconizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
76
BASTOS, M. C.F, COUTINHO, B.G., COELHO, M.L.V.; Lysostaphin: A
Staphylococcal bacteriolysin with potential clinical applications.
Pharmaceuticals, v. 3 (4), p. 1139-1161, 2010.
BERNBOM, N., RASK LICHT, T., BROGREN, C-H., JELLE, B., JOHANSEN, A.H.,
BADIOLA, I., VOGENSEN, F.K., NØRRUNG, B. Effects of Lactococcus lactis on
composition of intestinal microbiota: role of nisin. Applied and Environmental
Microbiology, v. 72 (1), p. 239-244, 2006.
BLANQUET, S., ZEIJDNER, E., BEYSSAC, E., MEUNIER, J-P., DENIS, S.,
HAVENAAR, R., ALRIC, M., A dynamic artificial gastrointestinal system for
studying the behavior of orally administered drug dosage forms under various
physiological conditions. Pharmaceutical Research, v. 21 (4), p. 585-591,
2004.
BONOMO, M.G., SICO, M.A., GRIECO, S., SALZANO, G. Fluorescent differential
display analysis of Lactobacillus sakei strains under stress conditions. Journal
of Microbiological Methods, v. 82 (1), p. 28-35, 2010.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 2,
de 7 de Janeiro de 2002, Anexo 2, item 2.1.3. Regulamento Técnico de
substâncias bioativas e probióticos isolados com alegação de propriedades
funcional ou de saúde. Disponível em: <www.anvisa.gov.br/legis/resol/2002/02_02rdc.htm>
Acesso em: 19/07/2010.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC nº 2,
de 7 de Janeiro de 2002, Anexo 4. Alimentos com Alegações de Propriedades
Funcionais e ou de Saúde, Novos Alimentos/Ingredientes, Substâncias Bioativas
77
e Probióticos. Disponível em: <www.anvisa.gov.br_alimentos_comissoes_tecno_lista_alega.pdf>
Atualizada em: Julho de 2008. Acesso em: 19/07/2010.
BRAVO, D., RODRÍGUEZ, E., MEDINA, M. Nisin and lacticin 481 coproduction by
Lactococcus lactis strains isolated from raw ewe`s milk. Journal of Dairy
Science, v. 92 (10), p. 4805-481, 2009.
CAMPOS, A., RODRIGUEZ, O., CALO-MATA, P., PRADO, M., BARROS-
VELÁSQUEZ J. Preliminary characterization of bacteriocins from Lactococcus
lactis, Enterococcus faecium and Enterococcus mundtii strains isolated from
turbot (Psetta maxima). Food Research International, v. 39 (3), p. 356-364,
2006.
CARR, F.J., CHILL, D., MAIDA, N. The lactic acid bacteria: a literature survey.
Critical Reviews in Microbiology, v. 28 (4), p. 281-370, 2002.
CARVALHO, K.G., BAMBIRRA, F.H.S., KRUGER, M.F., BARBOSA, M.S.,
OLIVEIRA, J.S., SANTOS, A.M.C., NICOLI, J.R., BEMQUERER, M.P.,
MIRANDA, A., SALVUCCI, E.J., SESMA, F.J.M., FRANCO, B.D.G.M.
Antimicrobial compounds produced by Lactobacillus sakei subsp. sakei 2a, a
bacteriocinogenic strain isolated from a Brazilian meat product. Journal of
Industrial Microbiology & Biotechnology, v. 37 (4), p. 381-390, 2010.
CHANG, J.-H., SHIM, Y.Y., CHA, S.-K., CHEE, K.M. Probiotic characteristics of
lactic acid bacteria isolated from kimchi. Journal of Applied Microbiology,
v. 109 (1), p. 220-230, 2010.
78
COTTER, P.D., HILL, C., ROSS, R.P. Bacteriocins: developing innate immunity for
food. Nature Reviews Microbiology, v. 3 (10), p. 777-788, 2005.
CULLIGAN, E.P., HILL, C.S., ROY, D. Probiotics and gastrointestinal disease:
successes, problems and future prospects. Gut pathogens, v. 1, p. 19, 2009.
DALIÉ, D.K.D., DESCHAMPS, A.M., RICHARD-FORGET, F., Lactic acid bacteria -
Potential for control of mould growth and mycotoxins: A review. Food Control,
v. 21 (4), p. 370-380, 2010.
DE JONG, A., VAN HIJUM, S., BIJLSMA, J.J.E., KOK, J., KUIPERS, O.P. BAGEL:
a web-based bacteriocin genome mining tool. Nucleic Acids Research, v. 34,
p. W273-W279, 2006.
DE VUYST, L., LEROY, F. Bacteriocins from lactic acid bacteria: Production,
purification and food applications. Journal of Molecular Microbiology
Biotechnology, v. 13 (4), p. 194-199, 2007.
DEEGAN, L.H., COTTER, P.D., HILL, C., ROSS, P. Bacteriocins: Biological tools
for bio-preservation and shelf-life extension. International Dairy Journal, v. 16
(9), p. 1058-1071, 2006.
DEVLIEGHERE, F., VERMEIREN, L., DEBEVERE, J. New preservation
technologies: Possibilities and limitations. International Dairy Journal, v. 14 (4),
p. 273-285, 2004.
79
DRIDER, D., FIMLAND, G., HÉCHARD, Y., MCMULLEN, L.M., PRÉVOST, H. The
continuing story of class IIa bacteriocins. Microbiology and Molecular Biology
Review, v. 70 (2), p. 564-582, 2006.
DROUAULT, S., CORTHIER, G., EHRLICH, S.D., RENAULT, P. Survival,
physiology, and lysis of Lactococcus lactis in the digestive tract. Applied and
Environmental Microbiology, v. 65 (11), p. 4881-4886, 1999.
DUNNE, C., O'MAHONY, L., MURPHY, L., THORNTON, G., MORRISSEY, D.,
O'HALLORAN, S., FEENEY, M., FLYNN, S., FITZGERALD, G., DALY, C.,
KIELY, B., O'SULLIVAN, G.C., SHANAHAN F., COLLINS, K. In vitro selection
criteria for probiotic bacteria of human origin: correlation with in vivo findings.
American Journal of Clinical Nutrition, v. 73 (2), p. 386S-392S, 2001.
EGERT, M., DE GRAAF, A.A., SMIDT, H., DE VOS, W.M., VENEMA, K. Beyond
diversity: Functional microbiomics of the human colon. Trends in Microbiology,
v. 14 (2), p. 86-91, 2006.
EIJSINK, V.G.H., AXELSSON, L., DIEP, D.B., VARSTEIN, L.S., HOLO, H., NES,
A.I.F. Production of class II bacteriocins by lactic acid bacteria: An example of
biological warfare and communication. Antonie van Leeuwenhoek:
International Journal of Genenetics Molecular Biology, v. 81 (4), p. 639-654,
2002.
FAO/WHO. Health and nutritional properties of probiotics in food including powder
milk with live lactic acid bacteria. (www.who.int/foodsafety/publications/fs_management/en
/probiotics.pdf), 2001.
80
FELIS, G.E., DELLAGLIO, F. Taxonomy of Lactobacilli and Bifidobacteria. Current
Issues in Intestinal Microbiology, v. 8 (2), p. 44-61, 2007.
FRANZ, C.M., Du TOIT, M., SCHILLINGER, U., HOLZAPFEL, W.H. Production of
nisin-like bacteriocins by Lactococcus lactis strains isolated from vegetables.
Journal of Basic Microbiology, v. 37 (3), p. 187-196, 1997.
FRIZZO, L.S., BERTOZZI, E., SOTO, L.P., SEQUEIRA, G.J., ARMESTO, R.R.,
ROSMINI, M.R. Studies on translocation, acute oral toxicity and intestinal
colonization of potentially probiotic lactic acid bacteria administered during calf
rearing. Livestock Science, v. 128 (1-3), p. 28-35, 2010.
FUJIWARA, S., SETO, Y., KIMURA A., HASHIBA, H. Establishment of orally-
administered Lactobacillus gasseri SBT2055SR in the gastrointestinal tract of
humans and its influence on intestinal microflora and metabolism. Journal of
Applied Microbiology, v. 90 (1), p. 43-52, 2001.
FUKAO, M., OBITA, T., YONEYAMA, F., KOHDA, D., ZENDO, T., NAKAYAMA, J.,
SONOMOTO, K. Complete covalent structure of nisin Q, new natural variant,
containing post-translational modified amino acids. Bioscience Biotechnology
and Biochemistry, v. 72 (7), p. 1750-1755, 2008.
GÁLVEZ, A., ABRIOUEL, H., BENOMAR, N., LUCAS, R. Microbial antagonists to
food-borne pathogens and biocontrol. Current Opinion in Biotechnology, v. 21
(2), p. 142-148, 2010.
81
GHALFI, H., BENKERROUM, N., ONGENA, M., BENSAID, M., THONART, P.
Production of three anti-listerial peptides by Lactobacillus curvatus in MRS broth.
Food Research International, v. 43 (1), p. 33-39, 2010.
GILLOR, O., ETZION, A., RILEY, M.A. The dual role of bacteriocins as anti- and
probiotics. Applied Microbiology and Biotechnology, v. 81 (4), p. 591-606,
2008.
GOLOD, N.A., LOIKO, N.G., MULYUKIN, A.L., NEIYMATOV, A.L., VOROBJEVA,
L.I., SUZINA, N.E., SHANENKO, E.F., GAL’CHENKO, V.F., EL-REGISTAN, G.I.
Adaptation of lactic acid bacteria to unfavorable growth conditions.
Microbiology, v. 78 (3), p. 280-289, 2009.
GÓRSKA, S., GRYCKO, P., RYBKA, J., GAMIAN, A. Exopolysaccharides of lactic
acid bacteria: structure and biosynthesis. Postpy Higieny i Medycyny
Dowiadczalnej, v. 14 (61), p. 805-818, 2007.
GRONBACH, K., EBERLE, U., MÜLLER, M., OLSCHLÄGER, T.A., DOBRINDT, U.,
LEITHÄUSER, F., NIESS, J.H., DÖRING, G., REIMANN, J., AUTENRIETH, I.B.,
FRICK, J.S. Safety of probiotic Escherichia coli strain Nissle 1917 depends on
intestinal microbiota and adaptive immunity of the host. Infection and
Immunology, v. 78 (7), p. 3036-3046, 2010.
GROSS, E., MORELL, J.L. The structure of nisin. Journal of American Chemistry
Society, v. 93 (18), p. 4634-4635, 1971.
82
GUEIMONDE, M., SALMINEN, S. New methods for selecting and evaluating
probiotics. Digestive and Liver Disease, v. 38 (Suppl. 2), p. S242-S247, 2006.
GUTIÉRREZ, J., CRIADO, R., CITTI, R., MARTIN, M., HERRANZ, C., NES, I.F.,
CINTAS, L.M., HERNÁNDEZ, P.E. Cloning, production and functional
expression of enterocin P, a sec-dependent bacteriocin produced by
Enterococcus faecium P13, in Escherichia coli. International Journal of Food
Microbiology, v. 103 (3), p, 239-250, 2005.
HAMMOU, F.B., SKALI, S.N., IDAOMAR, M., ABRINI, J. Combinations of nisin with
salt (NaCl) to control Listeria monocytogenes on sheep natural sausage casings
stored at 6°C. African Journal of Biotechnology, v. 9 (8), p. 1190-1195, 2010.
HENG, N.C.K., TAGG, J.R. What’s in a name? Class distinction for bacteriocins.
Nature Reviews Microbiology, v. 4 (2), 160, 2006.
HENG, N.C.K., WESCOMBE P.A., BURTON J.P., JACK R.W., TAGG, J.R. The
diversity of bacteriocins produced by Gram-positive bacteria. In: Riley MA,
Chavan M (eds), New York: Springer Inc. Evolution and ecology of
bacteriocins, p. 45-92, 2007.
HOBEN, H.J., SOMASEGARAN, P. Comparison of the pour, spread and drop plate
methods for enumeration of Rhizobium ssp. in inoculants made from
presterilized peat. Applied and Environmental Microbiology, v. 44 (5), p.
1246-1247, 1982.
83
HÖRMANNSPERGER, G., HALLER, D. Molecular crosstalk of probiotic bacteria
with the intestinal immunesystem: Clinical relevance in the context of
inflammatory bowel disease. International Journal of Medical Microbiology,
v. 300 (1), p. 63-73, 2010.
IVANOVA, I., KABADJOVA, P., PANTEV, A., DANOVA, S., DOUSSET, X.
Detection, purification and partial characterization of a novel bacteriocin
substance produced by Lactoccous lactis subsp. lactis b14 isolated from Boza-
Bulgarian traditional cereal beverage. Biocatalysis, v. 41 (6), p. 47-53, 2000.
JAYARAO, B.M., OLIVER, S.P., TAGG, J.R., MATTHEUS, K.R. Genotypic and
phenotypic analysis of Streptococcus uberis isolated from bovine mammary
secretions. Epidemiology and Infection, v. 107 (3), p. 543-555, 1991.
JUSTÉ, A., THOMMA, B.P.H.J., LIEVENS, B. Recent advances in molecular
techniques to study microbial communities in food-associated matrices and
processes. Food Microbiology, v. 25 (6), p, 745-761, 2008.
KANG, P., TOMS, D., YIN,Y., CHEUNG, Q., GONG, J., LANGE, K.D., LI, J.
Epidermal growth factor-expressing Lactococcus lactis enhances intestinal
development of early-weaned pigs. The Journal of Nutrition, v. 140 (4), p. 806-
811, 2010.
KELLY, W., DAVEY, G., WARD, L. Characterization of Lactococci isolated from
minimally processed fresh and vegetables. International Journal of Food
Microbiology, v. 45 (2), p. 85-92, 1998.
84
KHEADR, E., ZIHLER, A., DABOUR, N., LACROIX, C., LE BLAY, G., FLISS, I.
Study of the physicochemical and biological stability of pediocin PA-1 in the
upper gastrointestinal tract conditions using a dynamic in vitro model. Journal of
Applied Microbiology, v. 109 (1), 54-64, 2010.
KIM, H.J., CAMILLERI, M., McKINZIE, S., LEMPKE, M.B., BURTON, D.D.,
THOMFORDE, G.M., ZINSMEISTER, A.R. A randomized controlled trial of a
probiotic, VSL#3, on gut transit and symptoms in diarrhoea-predominant irritable
bowel syndrome. Alimentary Pharmacology and Therapeutics, v. 17 (7), 895-
904, 2003.
KIMOTO, H., NOMURA, M. KOBAYASHI, M., MIZUMACHI, K., OKAMOTO, T.
Survival of lactococci during passage through mouse digestive tract. Canadian
Journal of Microbiology, v. 49 (11), p. 707-711, 2003.
KIMOTO-NIRA, H., KOBAYAHI, M., NOMURA, M., OKAMOTO, T., FUJITA, Y.
Factors for bile tolerance in Lactococcus lactis: Analysis by using plasmid
variants. Folia Microbioliga, v. 54 (5), p. 395-400, 2009.
KLAENHAMMER , T.R., BARRANGOU, R., BUCK, B.L., AZCARATE-PERIL, M.A.,
ALTERMANN E. Genomic features of lactic acid bacteria effecting
bioprocessing and health. FEMS Microbiology Reviews, v. 29 (3), p. 393-409,
2005.
KLAENHAMMER, T.R. Genetics of bacteriocins produced by lactic acid bacteria.
FEMS Microbiology Reviews, v. 12 (1), p. 39-86, 1993.
85
KLIJN, N., WEERKAMP, A.H., DE VOS, W.M. Genetic marking of Lactococcus
lactis shows its survival in the human gastrointestinal tract. Applied and
Environmental Microbiology, v. 61 (7), p. 2771-2774, 1995.
KUCEROVÁ, K., CHUMCHALOVÁ, J., MÍKOVÁ, K., CUPÁKOVÁ, S.,
KARPÍSKOVÁ, R., LINDA, H. Screening of lactic acid bacteria for antimicrobial
properties from mayonnaise-based products and raw materials. European Food
Research Technology, v. 226 (1-2), p. 265-272, 2007.
KWAADSTENIET, M., FRASER, T., REENEN, C.A., DICKS, L.M.T. Bacteriocin
T8, a novel class IIa sec-dependent bacteriocin produced by Enterococcus
faecium T8, isolated from vaginal secretions of children infected with human
immunodeficiency virus. Applied and Environmental Microbiology, v. 72 (7),
p. 4761-4766, 2006.
KWAADSTENIET, M., TEN DOESCHATE, K., DICKS, L.M.T. Characterization of
the Structural Gene Encoding Nisin F, a New Lantibiotic Produced by a
Lactococcus lactis subsp. lactis Isolate from Freshwater Catfish (Clarias
gariepinus). Applied and Environmental Microbiology, v. 74 (2), p. 547-549,
2008.
LARSSON, M., MINEKUS, M., HAVENAAR, R.. Estimation of the bioavailability of
iron and phosphorus in cereals using a dynamic in vitro gastrointestinal model.
Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 74 (1), p. 99-106, 1997.
LEWUS, C.B., MONTVILLE, T.J. Detection of bacteriocins produced by lactic acid
bacteria. Journal of Microbiological Methods, v. 13 (2), p.145-150, 1991.
86
LIU, L.S., JIN, T., COFFIN, D.R., LIU, C,-K., HICKS, K.B. Poly(lactic acid)
membranes containing bacteriocins and EDTA for inhibition of the surface
growth of gram-negative bacteria. Journal of Applied Polymer Science, v. 117
(1), p. 486-492, 2010.
LUBELSKI J., RINK, R., KHUSAINOV, R., MOLL, G.N., KUIPERS, O.P.
Biosynthesis, immunity, regulation, mode of action and engineering of the model
lantibiotic nisin. Cellular and Molecular Life Science, v. 65 (3), p. 455-476,
2008.
MARAGKOUDAKIS, P.A., MOUNTZOURIS, K.C., PSYRRAS, D., CREMONESE,
S., FISCHER, J., CANTOR, M.D., TSAKALIDOU, E. Functional properties of
novel protective lactic acid bacteria and application in raw chicken meat against
Listeria monocytogenes and Salmonella enteritidis. International Journal of
Food Microbiology, v. 130 (3), p. 219-226, 2009.
MARAGKOUDAKIS, P.A., ZOUMPOPOULOU, G., MIARIS, C.,
KALANTZOPOULOS, G., POT, B., TSAKALIDOU, E. Probiotic potential of
Lactobacillus strains isolated from dairy products. International Dairy Journal
v. 16 (3), p. 189-199, 2006.
MARTEAU, P., MINEKUS, M., HAVENAAR, R., HUIS IN’T VELD, J.H.J. Survival of
lactic acid bacteria in a dynamic model of the stomach and small intestine:
validation and the effects of bile. Journal of Dairy Science, v. 80 (6), p. 1031-
1037, 1997.
MARTINS, A.D.O., MENDONÇA, R.C.S., SILVA, D.L., RAMOS, M.S., MARTINS,
M.C., DONZELE, J.L., ANDRADE, N.J. Resistência de bactérias lácticas,
87
isoladas de fezes de suínos e sua capacidade antagônica frente a
microrganismos indicadores. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 5 (1), p.
53-59, 2006.
McAULIFFE, O.; ROSS, R.P.; HILL, C. Lantibiotics: structure, biosynthesis and
mode of action. FEMS Microbiology Review, v. 25 (3), p, 285-308, 2001.
MILLER. P., CHUMCHALOVA, J., McMULLEN, L.M. Nisin-producing Lactococcus
spp. from mayonnaise-based products and their raw materials. European Food
Research and Technology, v. 231 (1), p. 137141, 2010.
MILLETE, M., DUPONT, C., ARCHAMBAULT, D., LACROIX, M. Partial
characterization of bacteriocins produced by human Lactococcus lactis and
Pediococcus acidilactici isolates. Journal of Applied Microbiology, v. 102 (1),
p. 274-282, 2007.
MINEKUS, M.P., MARTEAU, P., HAVENAAR, R., HUIS IN’T VELD, J.H.J. A
multicompartmental dynamic computer-controlled model simulating the stomach
and small intestine. Alternative Laboratory Animal Journal, v. 23, p. 197-209,
1995.
MITRA, S., CHAKRABARTTY, P.K., BISWAS, S.R. Potential production and
preservation of dahi by Lactococcus lactis W8, a nisin producer strain. LWT
Food Science and Technology, v. 43 (2), p. 337-342, 2010.
88
MITRA, S., CHAKRABARTTY, P.K., BISWAS, S.R. Production of nisin Z by
Lactococcus lactis isolated from dahi. Applied Biochemistry and
Biotechnology, v. 143 (1), p. 41-53, 2007.
MONTVILLE, T.J., CHEN, Y. Mechanistic action of pediocin and nisin: recent
progress and unresolved questions. Applied Microbiology Biotechnology,
v. 50 (5), p. 511-519, 1998.
MOREIRA, J.L.S., MOTA, R.M., HORTA, M.F., TEIXEIRA, S.M.R., NEUMANN, E.,
NICOLI, J.R., NUNES, A.C. Identification to the species level of Lactobacillus
isolated in probiotic prospecting studies of human, animal or food origin by 16S-
23S rRNA restriction profiling. BMC Microbiology, v. 5, p. 15, 2005.
MORELLI, L. Review: In vitro assessment of probiotic bacteria: From survival to
functionality. International Dairy Journal, v. 17 (11), p. 1278-1283, 2007.
MOUSSAVI, M., ADAMS, M.C. An in vitro study on bacterial growth interactions
and intestinal epithelial cell adhesion characteristics of probiotic combinations.
Current Microbiology, v. 60 (5), p. 327-335, 2010.
MULDERS, J.W., BOERRIGTER, I.J., ROLLEMA, H.S., SIEZEN, R.J., DE VOS,
W.M. Identification and characterization of the lantibiotic nisin Z, a natural nisin
variant. European Journal of Biochemistry, v. 201 (3), p. 581-584, 1991.
NES, I.F., YOON, S-S., DIEP, D.B. Ribosomally synthesized antimicrobial peptides
(bacteriocins) in lactic acid bacteria: a review. Food Science and
Biotechnology, v. 16 (5), p. 675-690, 2007.
89
O`FLAHERTY, S., KLAENHAMMER, T.R. The role and potential of probiotic
bacteria in the gut, and the communication between gut microflora and gut /
host. International Dairy Journal, v. 20 (4), p. 262-268, 2010.
OELSCHLAEGER, T.A. Mechanisms of probiotic actions A review. International
Journal of Medical Microbiology, v. 300 (1), p. 5762, 2010.
OLASUPO, N.A., SCHILLINGER, U., NARBAD, A., DODD, H., HOLZAPFEL, W.H.
Occurrence of nisin Z production in Lactococcus lactis BFE 1500 isolated from
Wara, a traditional Nigerian cheese product. International Journal of Food
Microbiology, v. 53 (2-3), 141-152, 1999.
OSCÁRIZ, J.C.; CINTAS, L.; HOLO, H.; LASA, I.; NES, I.F.; PISABARRO, A.G.
Purification and sequencing of cerein 7B, a novel bacteriocin produced by
Bacillus cereus Bc7. FEMS Microbiology Letters, v. 254 (1), p. 108-115, 2006.
PARK, C.W., YOUN, M., JUNG, Y.-M., KIM, H., JEONG, Y., LEE, H.-K., KIM, H.O.,
LEE, I., LEE, S.W., KANG, K.H., PARK, Y.-H. New functional probiotic
Lactobacillus sakei Probio 65 alleviates atopic symptoms in the mouse. Journal
of Medicinal Food, v. 11 (3), p. 405-412, 2008.
PARK, S.H.; ITOH, K.; FUJISAWA, T.; Characteristics and identification of
enterocins produced by Enterococcus faecium JCM 5804T. Journal of Applied
Microbiology, v. 95 (2), p. 294-300, 2003.
90
PENNA, T.C., MORAES, D.A. Optimization Of Nisin Production By Lactococcus
lactis. Applied Biochemistry and Biotechnology, v. 98-100 (1-9), p. 775-789,
2002.
PENNA, T.C.V., JOZALA, A.F., NOVAES, L.C.L., PESSOA, A.J., CHOLEWA, O.
Production of nisin by Lactococcus lactis in media with skimmed milk. Applied
Biochemistry and Biotechnology, v. 122 (1-3), p. 619-637, 2005.
PEREIRA, G.H. MÜLLER, P.R., ZANELLA, R.C., LIMA, M.J.C., TORCHIO, D.S.,
LEVIN, A.S. Outbreak of vancomycin-resistant enterococci in a tertiary hospital:
The lack of effect of measures directed mainly by surveillance cultures and
differences in response between Enterococcus faecium and Enterococcus
faecalis. American Journal of Infection Control, v. 38 (5), p. 406-409, 2010.
PIPER C., COTTER P.D., ROSS R.P., HILL, C. Discovery of medically significant
lantibiotics. Current Drug Discovery Technologies, v. 6 (1), p. 1-18, 2009.
PONCE, A.G., MOREIRA, M.R., DEL VALLE, C.E., ROURA, S.I. Preliminary
characterization of bacteriocin-like substances from lactic acid bacteria isolated
from organic leafy vegetables. LWT Food Science and Technology, v. 41
(3), p. 432-441, 2008.
PONGTHARANGKU, T., DEMIRCI, A. Online recovery of nisin during fermentation
and its effect on nisin production in biofilm reactor. Applied Microbiology and
Biotechnology, v. 74 (3), p. 555-562, 2007.
91
PRANOTO, Y., RAKSHIT, S.K., SALOKHE, V.M. Enhancing antimicrobial activity of
chitosan films by incorporating garlic oil, potassium sorbate and nisin. LWT
Food Science and Technology, v. 38 (8), p. 859-865, 2005.
RANADHEERA, R.D.C.S., BAINES, S.K., ADAMS, M.C. Importance of food in
probiotic efficacy. Food Research International, v. 43 (1), p. 1-7, 2010.
RAVULA, R.R., SHAH, N.P. Selective enumeration of Lactobacillus casei from
yogurts and fermented milk drinks. Biotechnology Techniques, v. 12 (11), p.
819-822, 1998.
REUNANEN, J., SARIS, P.E.J. Survival of nisin activity in intestinal environment.
Biotechnology letters, v. 31 (8), p. 1229-1232, 2009.
RICHARD C., CANON, K., NAGHMOUCHI K., BERTRAND D., PRÉVOST H.,
DRIDER D. Evidence on correlation between number of disulfide bridge and
toxicity of class IIa bacteriocins. Food Microbiology, v. 23 (2), p. 175-183,
2006.
RODGERS, S. Novel applications of live bacteria in food services: probiotics and
protective cultures. Trends in Food Science & Technology, v. 19 (4), p. 188-
197, 2008.
RODRÍGUEZ, J.M., MARTÍNEZ, M.I., HORN, N., DODD, H.M. Heterologous
production of bacteriocins by lactic acid bacteria. International Journal of Food
Microbiology, v. 80 (2), p. 101-116, 2003.
92
RODRÍGUEZ, N., SALGADO, J.M., CORTÉS, S., DOMINGUÉZ, J.M. Alternatives
for biosurfactants and bacteriocins extraction from Lactococcus lactis cultures
produced under different pH conditions. Letters in Applied Microbiology, v. 51
(2), p. 226-233, 2010.
ROSA, C.M., FRANCO, B.D.G.M., MONTVILLE, T.J., CHIKINDAS, M. Purification
and mechanistic action of a bacteriocin produced by a Brazilian sausage
isolated, Lactobacillus sake 2a. Journal of Food Safety, v. 22 (1), p. 39-54,
2002.
ROSS, R.P., MILLS, S., HILL, C., FITZGERALD, G.F., STANTON, C. Specific
metabolite production by gut microbiota as a basis for probiotic function.
International Dairy Journal, v. 20 (4), p. 269-276, 2010.
ROY. K., MEYRAND, M., CORTHIER, G., MONNET, V., MISTOU, M.-Y. Proteomic
investigation of the adaptation of Lactococcus lactis to the mouse digestive tract.
Proteomics, v. 8 (8), p. 1661-1676, 2008.
SAGUIR, F.M., CAMPOS, I.E.L., MATURANO, C., NADRA, M.C.M. Identification of
dominant lactic acid bacteria isolated from grape juices. Assessment of its
biochemical activities relevant to flavor development in wine. International
Journal of Wine Research, v. 1, p. 175-185, 2009.
SAKAR, S. Approaches for enhancing the viability of probiotics: a review. British
Food Journal, v. 112 (4), p. 329-349, 2010.
93
SALMINEN, S., VON WRIGHT, A., OUWEHAND, A. Lactic acid bacteria:
microbiological and functional aspects (3rd edn), New York: Marcel Dekker, 633
p., 2004.
SAMELIS, J., BEDIE, G.K., SOFOS, J.N., BELK, K.E., SCANGA, J.A., SMITH,
G.C. Combinations of nisin with organic acids or salts to control Listeria
monocytogenes on sliced pork bologna stored at 4ºC in vacuum packages. LWT
Food Science and Technology, v. 38 (1), p. 21-28, 2005.
SANDERS, M.E. Probiotics: definition, sources, selection, and uses. Clinical
Infectious Diseases, v. 46 (Suppl. 2), S58-S151, 2008.
SANG, Y., BLECHA, F. Antimicrobial peptides and bacteriocins: alternatives to
traditional antibiotics. Animal Health Research Review, v. 9 (2), p. 227-35,
2008.
SATHE, S.J., NAWANI, N.N., DHAKEPHALKAR, P.K., KAPADNIS, B.P. Antifungal
lactic acid bacteria with potential to prolong shelf-life of fresh vegetables.
Journal of Applied Microbiology, v. 103 (6), p. 2622-2628, 2007.
SAVADOGO, A., OUATTARA, C.A.T., BASSOLE, I.H.N., TRAORE, S.A.
Bacteriocins and lactic acid bacteria - a minireview. African Journal of
Biotechnology, v. 5 (9), p. 678-683, 2006.
SETTANNI, L., CORSETTI, A.; Application of bacteriocin in vegetable food
biopreservation. International Journal of Food Microbiology, v. 121 (2), p.
123-138, 2008.
94
SIMSEK, O.; BUZRUL, S.; AKKOÇ, N.; ALPAS, H.; AKÇELIK, M.; Stress response
kinectics of two nisin producer strains Lactococcus lactis spp. lactis. Applied
Biochemistry and Biotechnology, v. 158 (2), p. 387-397, 2009.
SLEATOR, R.D. Probiotic therapy - recruiting old friends to fight new foes. Gut
pathogens, v. 2 (5), p. 1-5, 2010.
SLEATOR, R.D., WATSON, D., HILL, C., GAHAN, C.G.M.The interaction between
Listeria monocytogenes and the host gastrointestinal tract. Microbiology, v. 155
(5), p. 2463-2475, 2009.
SOLIMAN, L.C., DONKOR, K.K.; Method development for sensitive determination
of nisin in food products by micellar electrokinetic chromatography. Food
Chemistry, v. 119, 802-805, 2010.
STOYANOVA, L.G., SUL’TIMOVA, T.D., BOTINA, S.G., NETRUSOV, A.I. Isolation
and identification of new nisin-producing Lactococcus lactis subsp. lactis from
milk. Applied Biochemistry and Microbiology, v. 42(5), 492499, 2006.
SUN, Z., ZHONG, J., LIANG, X., LIU, J., CHEN, X., HUAN. L. Novel mechanism for
nisin resistance via proteolytic degradation of nisin by the nisin resistance protein
NSR. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 53 (5), p. 1964-1973, 2009.
TAFRESHI, S.H., MIRDAMADI, S., NOROUZIAN, D., KHATAMI, S., SARDARI, S.
Effect of non-nutritional factors on nisin production. Journal of Biotechnology, v.
9 (9), p. 1382-1391, 2010.
95
THOMAS, L.V., CLARKSON, M.R., DELVES-BROUGHTON, J. Nisin. In: NAIDU,
A.S., (eds). Natural Food Antimicrobial Systems. California: CRC Press, 2000.
pg. 463-524.
TODOROV, S., ONNO, B., SOROKINE, O., CHOBERT, J.M., IVANOVA, I.,
DOUSSET, X. Detection and characterization of a novel antibacterial substance
produced by Lactobacillus plantarum ST 31 isolated from sourdough.
International Journal of Food Microbiology, v. 48 (3), p. 167-177, 1999.
TODOROV, S.D., DICKS, L.M.T. Screening of lactic-acid bacteria from South
African barley beer for the production of bacteriocin-like compounds. Folia
Microbiologica, v. 49 (4), p. 406-410, 2004.
TODOROV, S.D. Bacteriocin production by Lactobacillus plantarum AMA-K
isolated from Zimbabwean fermented milk product and study of the adsorption of
bacteriocin AMA-k to Listeria sp. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39 (1),
p. 178-187, 2008.
TRIAS, R., BAÑERAS, L., MONTESINOS, E., BADOSA, E. Antifungal lactic acid
bacteria with potential to prolong shelf-life of fresh vegetables. International
Microbiology, v. 11 (4), p. 231-236, 2008.
UHLMAN, L., SCHILLINGER, U., RUPNOW, J.R., HOLZAPFEL, W.H. Identification
and characterization of two bacteriocin-producing strains of Lactococcus lactis
isolated from vegetables. International Journal of Food Microbiology, v. 16
(2), p. 141-151, 1992.
96
VERWEI, M., FREIDIG, A. P., HAVENAAR, R., GROTEN, J. P. Predicted serum
folate concentrations based on in vitro studies and kinetic modeling are
consistent with measured folate concentrations in humans. Journal of Nutrition,
v. 136 (12), p. 3074-3078, 2006.
WEISS, A., DOMIG, K.J., KNEIFEL, W., MAYER, H.K. Evaluation of PCR-based
typing methods for the identification of probiotic Enterococcus faecium strains
from animal feeds. Animal Feed Science and Technology, v. 158 (3-4), p. 187-
196, 2010.
WILSON-STANFORD, S., KALLI, A., HÅKANSSON, K., KASTRANTAS, J.,
ORUGUNTY, R.S., SMITH, L. Oxidation of lanthionines renders the lantibiotic
nisin inactive. Applied and Environmental Microbiology, v. 75 (5), p. 1381-
1387, 2009.
WIRAWAN, R.E., KLESSE, N.A., JACK, R.W., TAGG, J.R. Molecular and genetic
characterization of a novel nisin variant produced by Streptococcus uberis.
Applied and Environmental Microbiology, v. 72 (2), p. 1148-1156, 2006.
WOHLGEMUTH, S., LOH, G., BLAUT, M. Recent developments and perspectives
in the investigation of probiotic effects. International Journal of Medical
Microbiology, v. 300 (1), p. 03-10, 2010.
YANG, R., JOHNSON, M.C., RAY, B. Novel method to extract large amounts of
bacteriocin from lactic acid bacteria. Applied and Environmental
Microbiology, v. 58 (10), p. 3355-3359, 1992.
97
ZENDO, T., FUKAO, M., UEDA, K., HIGUCHI, T., NAKAYAMA, J., SONOMOTO,
K. Identification of the lantibiotic nisin Q, a new natural nisin variant produced by
Lactococcus lactis 61-14 isolated from a river in Japan. Bioscience,
Biotechnology and Biochemistry, v. 67 (7), p. 1616-1619, 2003.
ZENDO, T., NAKAYAMA, J., FUJITA, K., SONOMOTO, K. Bacteriocin detection by
liquid chromatography/mass spectrometry for rapid identification. Journal of
Applied Microbiology, v. 104 (2), p. 499-507, 2008.
98
ANEXO 1
Anotação do sequenciamento genético do 16-23s DNAr de Lactococcus lactis subsp.
lactis MK02R
H05 well H05 Placa22_281107 Run01 Cimarron 3.12 579
GACACTGNTGCTAATACTGCACGTTGAGCGCTGAAGGTTGGTACTTGTACCGACTGGATGAGCAGCGAACG
GGTGAGTAACGCGTGGGGAATCTGCCTTTGAGCGGGGGACAACATTTGGAAACGAATGCTAATACCGCATA
AAAACTTTAAACACAAGTTTTAAGTTTGAAAGATGCAATTGCATCACTCAAAGATGATCCCGCGTTGTATTAG
CTAGTTTGGTGAGGTAAAGGCTCACCAAGGCGATGATACATAGCCGACCTGAGAGGGTGATCGGCCACATT
GGGACTGAGACACGGCCCAAACTCCTACGGGAGGCAGCAGTAGGGAATCTTCGGCAATGGACGAAAGTCT
GACCGAGCAACGCCGCGTGAGTGAAGAAGGTTTTCGGATCGTAAAACTCTGTTGGTAGAGAAGAACGTTG
GTGAGAGTGGAAAGCTCATCAAGTGACGGTAACTACCCAGAAAGGGACGGCTAACTACGTGCCAGCAGCC
GCGGTAATACGTAGGTCCCGAGCGTTGTCCGGATTTATTGGGCGTAAAGCGAGCGCAGGTGGTTTATTAAC
GTCTGGTGTAAAAGGCAGTGGGCTACAACCATTGTATGCATTGGAAACTGGGTTACAGACTTGGACGTGCC
ACGGGAAGCAGAGNAGAAAGTGGGGAAAAATTTTTCCCCACTGGGTTGGTTAGCCGGGGGTGCACATTGG
CCGTTTAGCATTCATCACTNNAGCACGAGGAAACCAAACCAGGGGTTGGGCGGAAGCGAGGCGTCCTATCC
TTGGGAGGCCCTATGTAAACTTAGACGCCANTGAAGGGCTCNAAAACAGCNGGTTGGGGGGANCGCAAN
AAAGCAGGGAGTTAAGAAATAC
>H06 well H06 Placa22_281107 Run01 Cimarron 3.12 876
GTACTTAGAGCGCCTCCTTNTTTGTTAGGCAACCTACTTCGGGTACTCCCAACTCTCCGGTGGTGTGACGGG
CGGTGTGTACAAGGGCCCGGGAACGTATTCACCGCGGCGTGCTGATCCGCGATTACTAGCGATTCCGACTT
CATGTAGGCGAGTTGCAGCCTACAATCCGAACTGAGAATGGTTTTAAGAGATTAGCTAAACATCACTGTCTC
GCGACTCGTTGTACCATCCATTGTAGCACGTGTGTAGCCCAGGTCATAAGGGGCATGATGATTTGACGTCAT
CCCCACCTTCCTCCGGTTTATCACCGGCAGTCTCGTTAGAGTGCCCAACTTAATGATGGCAACTAACAATAGG
GGTTGCGCTCGTTGCGGGACTTAACCCAACATCTCACGACACGAGCTGACGACAACCATGCACCACCTGTAT
CCCGTGTCCCGAAGGAACTTCCTATCTCTAGGAATAGCACGAGTATGTCAAGACCTGGTAAGGTTCTTCGCG
TTGCTTCGAATTAAACCACATGCTCCACCGCTTGTGCGGGCCCCCGTCAATTCCTTTGAGTTTCAACCTTGCG
GTCGTACTCCCCAGGCGGAGTGCTTATTGCGTTAGCTGCGATACAGAGAACTTATAGCTCCCTACATCTAGC
ACTCATCGTTTACGGCGTGGACTACCAGGGTATCTAATCCTGTTTGCTCCCCACGCTTTCGAGCCCTCAGTGT
CAGTTACAGGCCCAGGAGAGCCGCTTTCGCCACCGGTGTTCCTCCCAGTATATTCTACGGCAGTTTCACCGG
TACCCATGGAATTCCACTCTCCTCTCCTGGACCTCAAGNCTACCCAGGTTCCATGGCTTACAATGGTTGAGCC
CACTGCCTTTTTTCACCGGATTTATTAACCACCCTGGGGTTCGTTTTAGCCCCAATAAATCCGGGCGAAGGTC
TGGGACTCACGTTTCCGGGTGTGGNACGGTTAATTTTGGCCGGCCCCTTCCTCGGGGGTGGGTAACCCGCC
NTTTGTANAGGTTTCCTCCTCTTCACCAAGGTTTTTCTTTTCCACCAGAGTTTTACTCAGACGCTTTTTTTCTCC
ACGNGGGGNAGCGCGAAATTTATTGNGNAACCATCCTGTGNCCCCNATGGGGGGTGACACAGGGCGCCCC
ACAGGGTGNGCTCGGNTCCCAACATCAAGCGATGNGGTCAG
99
ANEXO 2
Representação dos aminoácidos em código, abreviação, bem como seu códon genético
Código
Abreviação
Aminoácido
Trios de bases (códons) no DNA
A
Ala
Alanina
gct, gcc, gca, gcg
C
Cys
Cisteína
tgt, tgc
D
Asp
Ácido Aspártico
gat, gac
E
Glu
Ácido Glutâmico
gaa, gag
F
Phe
Fenilalanina
ttt, ttc
G
Gly
Glicina
ggt, ggc, gga, ggg
H
His
Histidina
cat, cac
I
Ile
Isoleucina
att, atc, ata
K
Lys
Lisina
aaa, aag
L
Leu
Leucina
tta, ttg, ctt, ctc, cta, ctg
M
Met
Metionina
atg
N
Asn
Asparagina
aat, aac
P
Pro
Prolina
cct, ccc, cca, ccg
Q
Gln
Glutamina
caa, cag
R
Arg
Arginina
cgt, cgc, cga, cgg, aga, agg
S
Ser
Serina
tct, tcc, tca, tcg, agt, agc
T
Thr
Treonina
act, acc, aca, acg
V
Val
Valina
gtt, gtc, gta, gtg
W
Trp
Triptofano
tgg
Y
Tyr
Tirosina
tat, tac
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo