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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E
URBANISMO
CÁLCULO DO EMPUXO ATIVO COM
DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DA SUPERFÍCIE
FREÁTICA
Petrucio José dos Santos Junior
Orientador: Prof. Pérsio Leister de Almeida Barros
CAMPINAS
2010
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i
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E
URBANISMO
CÁLCULO DO EMPUXO ATIVO COM
DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DA SUPERFÍCIE
FREÁTICA
Petrucio José dos Santos Junior
Orientador: Prof. Pérsio Leister de Almeida Barros
Dissertação de Mestrado apresentada à Comissão de pós-
graduação da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, como
parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia Civil, na área de concentração de Geotecnia.
CAMPINAS
2010
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
Sa59c
Santos Junior, Petrucio José dos
Cálculo do empuxo ativo com determinação numérica
da superfície freática / Petrucio José dos Santos Junior. --
Campinas, SP: [s.n.], 2010.
Orientador: Pérsio Leister de Almeida Barros.
Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo.
1. Muro de Contenção. 2. Método dos elementos de
contorno. 3. Análise em fluxo. 4. Métodos numéricos.
5. Permeabilidade. I. Barros, Pérsio Leister de Almeida.
II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
Título em Inglês: Calculation of active thrust with numerical determination of the
phreatic surface
Palavras-chave em Inglês: Retaining wall, Boundary element method, Flow
analysis, Numerical methods, Permeability
Área de concentração: Geotecnia
Titulação: Mestre em Engenharia Civil
Banca examinadora: Francisco Antonio Menezes, Waldemar Coelho Hachich
Data da defesa: 26/08/2010
Programa de Pós Graduação: Engenharia Civil
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E
URBANISMO
CÁLCULO DO EMPUXO ATIVO COM
DETERMINAÇÃO NUMÉRICA DA SUPERFÍCIE
FREÁTICA
Petrucio José dos Santos Junior
Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:
Campinas, 26 de agosto de 2010
iv
v
A todos os geotécnicos comprometidos com o avanço da
engenharia
vi
vii
AGRADECIMENTOS
A meus avós
Ao professor Pérsio. Pessoa que me fez conhecer o que é a geotecnia
A minha esposa e amiga Elisângela por nunca me deixar desistir ou mesmo fraquejar durante
todos esses anos
A minha querida mãe por todo o apoio oferecido nesses anos
Aos meus colegas e amigos da Maccaferri, Jorge Santos, Alexandre Texeira, Jaime Duran,
Lavoisier Machado e Gerardo Fracassi. Pessoas a quem aprendi a respeitar e valorizar no meu dia
a dia
Ao amigo e irmão, Saulo por ser quem ele é
viii
ix
As soluções, eu já as possuo há muito tempo.
Mas ainda não sei como cheguei a elas.
Carl Friedrich Gauss
x
xi
RESUMO
SANTOS, P. J. CÁLCULO DO EMPUXO ATIVO COM DETERMINAÇÃO NUMÉRICA
DA SUPERFÍCIE FREÁTICA. Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, 2010. 88p. Dissertação de Mestrado.
A determinação do empuxo ativo através de métodos de equilíbrio limite, para análise de
muros de contenção é prática comum na engenharia geotécnica, principalmente pela simplicidade
analítica de sua obtenção. Porém, havendo a presença de uma superfície freática no solo arrimado
tal determinação não apresenta resultado analítico, sendo então requerido um estudo numérico
para obter um valor que auxilie com certa precisão nessa análise. Poucos trabalhos foram feitos
sobre esse tema e ainda assim sua importância não deixa de ser relevante para a verificação das
condições de estabilidade de estruturas de arrimo drenantes. Nesse trabalho é feita uma
abordagem numérica através do Método dos Elementos de Contorno (MEC) para determinação
da posição da superfície freática e posterior cálculo do empuxo ativo pelo Método de Coulomb
considerando a influência dessa superfície. É implementado um programa de computador, cujo
algoritmo de cálculo, baseado em MEC, apresenta a posição da freática, o valor da vazão total
que chega ao sistema de drenagem e o empuxo ativo atuante sobre a estrutura de contenção.
PALAVRAS CHAVE: Superfície freática, Elementos de Contorno, Empuxo Ativo, Rede de
fluxo, Potencial, Contenção.
xii
xiii
ABSTRACT
SANTOS, P. J. CALCULATION OF ACTIVE THRUST WITH NUMERICAL
DETERMINATION OF THE PHREATIC SURFACE. Campinas, School of Civil
Engineering, Architecture and Urban Design, State University of Campinas, 2010. 88p. Master’s
Thesis.
The determination of active thrust in retaining wall analysis through limit equilibrium is
a routine in geotechnical engineering, mostly due to analytic simplicity. However, when there is a
phreatic surface in the retained soil, such determination does not present an analytic result. Then
a numerical study is necessary to obtain a representative value of prore water pressures in the soil
for the analysis. There are few technical publications about this theme, but its importance is
recognized in drained retaining wall stability calculation. This work proposes a numerical
approach using Boundary Element Method (BEM) to evaluate the position of phreatic surface
and calculation of active thrust coefficient through Coulomb’s method considering the influence
of this position. A computer program, which calculation algorithm based on BEM is developed. It
presents the results of the phreatic surface position, the total flow volume that arrives to the
drainage system and the active thrust value.
KEYWORDS: Phreatic surface, Boundary Elements, Active earth thrust, Seepage, Potential,
Retaining wall.
xiv
xv
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................................................... xi
ABSTRACT ................................................................................................................................. xiii
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. xvii
LISTA DE SÍMBOLOS ............................................................................................................... xxi
1. Introdução.................................................................................................................................... 1
1.1 Objetivos................................................................................................................................ 2
1.2 Estrutura do trabalho ............................................................................................................. 2
2. Estruturas de contenção............................................................................................................... 3
2.1 Pressões laterais de Terra ...................................................................................................... 3
2.2 Teoria de Rankine.................................................................................................................. 6
2. 3 Teoria de Coulomb............................................................................................................. 12
2.3.1 Equilíbrio Limite .......................................................................................................... 17
2. 4 Influência da percolação de água em maciços de solo....................................................... 20
2.4.1 Muros de contenção de face vertical com drenagem ao seu tardoz.............................. 21
3. Método dos elementos de contorno para problemas de potencial............................................. 30
3.1 Introdução............................................................................................................................ 30
3.1.2 Equação Integral básica................................................................................................ 31
3.1.3 Solução Fundamental ................................................................................................... 34
xvi
3.1.4 Descrição física do problema ....................................................................................... 36
3.2 Formulação da equação integral de contorno...................................................................... 40
3.2.1 Discretização das integrais de contorno usando elementos constantes........................ 43
3.2.2 Discretização das integrais de contorno usando elementos lineares ............................ 45
3.2.3 Discretização das integrais de contorno usando elementos quadráticos ...................... 50
4. Métodos e critérios adotados..................................................................................................... 53
4.1 Construindo o modelo numérico ......................................................................................... 53
4.1.1 Determinação numérica da superfície freática ............................................................. 58
4.1.2 Determinação da interseção Parábola–Reta ................................................................. 62
5. Busca da superfície de ruptura crítica........................................................................................ 65
5.1 Etapas de Cálculo ................................................................................................................ 67
5.2 Exemplo de cálculo ............................................................................................................. 73
6. Resultados obtidos..................................................................................................................... 80
7. Conclusões e comentários finais ............................................................................................... 84
8. Sugestões para trabalhos futuros ............................................................................................... 87
Apêndices ...................................................................................................................................... 89
A.1 Integração das equações principais..................................................................................... 93
A.1.2 Equações integrais de contorno para problemas 2D.................................................... 93
Referências Bibliográficas............................................................................................................. 95
xvii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2. 1 - Empuxo atuante sobre um anteparo vertical móvel (Barros, 2005). .......................... 3
Figura 2. 2 - Aplicação do Empuxo Ativo. ..................................................................................... 7
Figura 2. 3 - Deslocamento produzido. ...........................................................................................7
Figura 2. 4 - Aplicação do Empuxo Passivo. .................................................................................. 8
Figura 2. 5 - Deslocamento produzido. ...........................................................................................8
Figura 2. 6 - Tensão de Tração e profundidade da fenda de tração. a) Zona ativa ao tardoz do
muro; b) Profundidade da fenda de tração; c) Diagrama de Tensão sugerido para solos coesivos
(Bowles, 1996). ............................................................................................................................. 10
Figura 2. 7 - Planos de ruptura nos estados ativo e passivo (Barros, 2005).................................. 10
Figura 2. 8 - Profundidade da fenda de tração e altura crítica....................................................... 11
Figura 2. 9 - Cunha de falha usada ao deriver a equação de Coulomb para a tensão ativa (Bowles,
1996).............................................................................................................................................. 13
Figura 2. 10 - Cunha de tensão ativa de Coulomb. a) Condições assumidas para que ocorra a
falha; b) Indicação de que todos os vetores de força podem não passar pelo ponto O,
consequentemente o equilíbrio estático não é satisfeito; c) Diagrama de forças para estabilizar P
a
(Bowles, 1996). ............................................................................................................................. 13
Figura 2. 11 - Cunha de Empuxo passivo definida por Coulomb (Bowles, 1996)........................ 15
xviii
Figura 2. 12 - Método do equilíbrio limite, variando o empuxo com a superfície de ruptura
(Barros, 2005)................................................................................................................................ 17
Figura 2. 13 - Cunha de Empuxo ativo definida por Coulomb para solos coesivos. .................... 19
Figura 2. 14 - Rede de fluxo através do maciço arrimado. A) Muro de contenção em gabião,
considerada autodrenante; b) Estrutura de contenção com dreno ao tardoz (Barros, 2005). ........ 20
Figura 2. 15 - Muro de contenção vertical com formação de rede de fluxo (Barros, 2006). ........ 22
Figura 2. 16 - Rede de fluxo formada devido a uma chuva constante (Lambe, 1979).................. 23
Figura 2. 17 - Determinação da força de poropressão para uma superfície com 45 graus de
inclinação (Lambe, 1979).............................................................................................................. 23
Figura 2. 18 - Diagrama de forças para determinação do empuxo ativo, considerando uma
superfície de falha com 45 graus de inclinação (Lambe, 1979). ................................................... 24
Figura 2. 19 - Gráfico que mostra os resultados para vários ângulos de superfícies potenciais de
falha (Lambe, 1979). ..................................................................................................................... 24
Figura 2. 20 - Descrição do problema de fluxo (Barros, 2006)..................................................... 26
Figura 2. 21 - Estrutura de contenção vertical. a) cunha que representa a massa de solo induzida
pela superfície potencial de falha; b) diagrama de corpo rígido que representa as forças atuantes
na cunha de solo (Barros, 2006).................................................................................................... 29
Figura 3. 1 - Definições geométricas para equação de Laplace (Brebbia e Domínguez, 1989).... 32
Figura 3. 2 - Fluxo um cubo infinitesimal (Beer et al, 2008)........................................................ 38
Figura 3. 3 - Potencial aplicado em um ponto G a partir de um ponto fonte F (Beer et al, 2008).39
Figura 3. 4 - Ponto x se aproximando do trecho S
ε
(Liu, 2009)..................................................... 41
Figura 3. 5 - Discretização do contorno usando elementos constantes (Liu, 2009)..................... 43
Figura 3. 6 - Discretização do contorno S usando elementos lineares (Liu, 2009)....................... 45
Figura 3. 7 - Discretização do contorno S usando elementos quadráticos (Liu, 2009)................. 52
Figura 4. 1 - Condições de contorno estabelecidas para o problema em estudo. a) condição inicial
com nível d’água constante; b) condição final com a formação de uma superfície freática......... 54
Figura 4. 2 - Diagrama de subpressão determinado através de pontos potenciais obtidos pelo
método dos elementos de contorno. .............................................................................................. 56
Figura 4. 3 - Programa para cálculo do coeficiente de empuxo ativo com determinação numérica
da superfície freática, WALLSEEP............................................................................................... 59
Figura 4. 4 - Representação esquemáticas dos elementos ao longo do contorno.......................... 61
xix
Figura 4. 5 – Interseção entre a reta de Coulomb com o elemento parametrizado da parábola.... 63
Figura 5. 1 – Mudança de escala do resultado da freática obtido no modelo unitário para o
modelo real. ................................................................................................................................... 65
Figura 5. 2 – Resultado esquemático obtido pelo programa WALLSEEP com muro de altura
unitária........................................................................................................................................... 66
Figura 5. 3 – Diferentes pesos específicos. a) Área acima da superfície freática – γ; b) Área abaixo
da superfície freática - γ
sat
. ............................................................................................................. 66
Figura 5. 4 – Esquema do equilíbrio de forças atuantes no modelo real para o cálculo do Empuxo
Ativo.............................................................................................................................................. 69
Figura 5. 5 – Versão final do programa WALLSEEP................................................................... 70
Figura 5. 6 – Fluxo total obtido pelo programa WALLSEEP....................................................... 71
Figura 5. 7 – Distribuição parametrizada da derivada do potencial para um elemento s.............. 72
Figura 5. 8 – Diagrama de bloco referente ao cálculo da superfície freática. ............................... 72
Figura 5. 9 – Diagrama de bloco referente ao cálculo do empuxo ativo máximo......................... 73
Figura 5. 10 – Cálculo do empuxo ativo sem influência da superfície freática pelo programa
WALLSEEP, considerando o muro vertical. ................................................................................ 74
Figura 5. 11 – Cálculo do empuxo ativo sem influência da superfície freática pelo programa
WALLSEEP, considerando talude sobre o muro e inclinação do paramento frontal. .................. 75
Figura 5. 12 – Cálculo do empuxo ativo com influência da superfície freática pelo programa
WALLSEEP, considerando o muro vertical. ................................................................................ 76
Figura 5. 13 – Cálculo do empuxo ativo com influência da superfície freática pelo programa
GawacWin, considerando o muro vertical. ................................................................................... 77
Figura 5. 14 – Resultados das análises do software GawacWin. .................................................. 77
Figura 5. 15 – Determinação gráfica da força de poropressão referente ao exemplo 3. ............... 78
Figura 6. 1 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da vazão em função da altura de
saída do nível d’água e a permeabilidade variando em relação a inclinação do paramento ao
tardoz da contenção. ...................................................................................................................... 80
Figura 6. 2 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da área saturada em função da
altura de saída do nível d’água variando em relação a inclinação do paramento ao tardoz da
contenção....................................................................................................................................... 81
xx
Figura 6. 3 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da força de poropressão em função
da altura de saída do nível d’água e o peso especifico da água variando em relação a inclinação
do paramento ao tardoz da contenção............................................................................................ 82
Figura 6. 4 – Gráfico que possibilita a determinação do valor do coeficiente de empuxo ativo com
influência da freática variando com a relação entre a altura de saída do nível d’água e a altura do
muro............................................................................................................................................... 83
Figura A. 1 - Integração analítica em um segmento de reta arbitrário.......................................... 94
xxi
LISTA DE SÍMBOLOS
E
a
- Empuxo ativo
d
- altura de saída do nível d’água – modelo unitário
U
- Força de poropressão – modelo unitário
τ
- Tensão cisalhante ao longo de uma superfície de ruptura
σ
- Tensão normal que age sobre a superfície de ruptura
φ
- Ângulo de atrito interno do solo
γ
- Peso específico do solo
α
- inclinação em relação a horizontal do plano de aplicação do empuxo ativo
ρ
- inclinação em relação a horizontal do plano de ruptura
δ
- ângulo de aplicação do empuxo ativo
σ
1
- Tensão principal
σ
3
- Tensão principal ortogonal a σ
1
Δ
a
- Deslocamento sob ação do empuxo ativo
σ
h
- Tensão horizontal
Δ
p
- Deslocamento sob ação do empuxo passivo
γ
sat
- Peso específico do solo saturado
xxii
σ
v
- Tensão vertical
γ
w
- Peso específico da água
A
- Área total da cunha
A
sat
- Área saturada da cunha
C - Coesão do solo
d
- altura de saída do nível d’água
E
o
- Empuxo em repouso
E
p
- Empuxo passivo
G - Constante de Catalan
H
- Altura do muro
h
cr
- Altura crítica
i
- inclinação do talude sobre o muro
i - gradiente hidráulico
k
- permeabilidade
K
a
- Coeficiente de empuxo ativo
K
as
- coeficiente de empuxo ativo com ação da superfície freática
K
o
- Coeficiente de empuxo no repouso
K
p
- Coeficiente de empuxo passivo
N
- Força Normal
P
- Peso da cunha de solo
p
o
- Pressão lateral em repouso
p
v
- Pressão vertical atuante
P
w
- Pressão da água
q
- Fluxo normal a um plano
Q - Vazão total
S - Resistência ao cisalhamento
u - Potencial em um ponto
U
- Força de poropressão
z
o
- Profundidade da fenda de tração
1
1. INTRODUÇÃO
Os problemas relativos à influência da água no solo normalmente são conhecidos por
engenheiros geotécnicos e discutidos em vários trabalhos acadêmicos de maneira bem direta.
Despertar a atenção para os métodos de cálculo existentes permite aos projetistas analisarem o
problema de maneira simples e com clareza de resultados.
Harr (1962) já comentava em sua obra que embora os fundamentos das águas
subterrâneas já estivessem estabelecidos há mais de um século o tratamento científico ainda era
muito recente. Tal afirmação foi feita há mais de quarenta anos e os avanços científicos sobre
águas subterrâneas ainda não se encontram totalmente consolidados, o que motiva o
aprimoramento de métodos já consagrados através de modelagens numéricas atuais.
A obtenção da superfície freática através de cálculos analíticos ou aproximações
empíricas é algo muito comum entre os modelos de projetos existentes. Porém isso leva a crer
que tais aproximações carregam influência subjetiva que podem induzir a um erro ou mesmo a
uma simplificação excessiva de uma proposta já aproximada. Mesmo assim, tal adoção serve
como parâmetro ou dado de entrada em projeto para determinação do coeficiente de empuxo
ativo atuante sobre estruturas de contenção, considerando no cálculo de equilíbrio de forças uma
componente resultante da poropressão atuante sobre a superfície freática adotada.
Barros (2006) propôs em seu trabalho uma solução geral para o cálculo do empuxo ativo
em muros de face vertical através da solução analítica para o fluxo d’água em um maciço de solo
homogêneo e utilização da formulação de Coulomb. Tal procedimento apresenta basicamente
duas limitações, muro apenas vertical e solo totalmente saturado. Foi baseado nessas duas
limitações que esse trabalho teve sua principal motivação, obter através de análise numérica uma
solução para o problema de fluxo com determinação da superfície freática para paramentos
frontais verticais ou inclinados e posterior obtenção do coeficiente de empuxo ativo.
2
1.1 Objetivos
Esse trabalho tem como objetivo principal a criação de um programa computacional em
linguagem de programação pascal orientada para objeto que calcula o valor do coeficiente de
empuxo ativo pela formulação de Coulomb em função da determinação numérica da superfície
freática, cujo problema de fluxo será solucionado pelo Método dos Elementos de Contorno
(MEC).
1.2 Estrutura do trabalho
Este trabalho está estruturado em seis capítulos descritos a seguir:
O primeiro capítulo apresenta uma introdução e os objetivos do trabalho, relatando de
maneira simples a motivação para realização desse trabalho.
O segundo e terceiro capítulo apresentam uma revisão bibliográfica sobre os conceitos
necessários sobre estruturas de contenção e método dos elementos de contorno, respectivamente.
Tais capítulos são necessários para a compreensão de todos os aspectos envolvidos na temática
do trabalho.
No quarto capítulo são apresentados os métodos e critérios adotados para a elaboração
de um programa de computador capaz de realizar a análise numérica do problema em questão.
No quinto capítulo são apresentados os resultados obtidos no trabalho e no sexto
capítulo são apresentadas as conclusões. Finalmente no sétimo capítulo são apresentadas algumas
sugestões para trabalhos futuros.
3
2. ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO
2.1 Pressões laterais de Terra
Entende-se por pressão lateral de terra também comumente chamado de empuxo lateral
ou empuxo de terra, como sendo o esforço produzido por um maciço de solo sobre uma
determinada estrutura de contenção ou arrimo que deve suportá-lo. Essas pressões podem ser
devidas ao peso próprio do solo ou a sobrecargas aplicadas sobre ele.
O valor do empuxo sobre uma estrutura depende do deslocamento que esta sofre sob a
ação deste empuxo. Pode-se visualizar esta interação através de um experimento que utiliza um
anteparo vertical móvel, como ilustrado na figura 2.1, suportando um desnível de terreno.
Verifica-se que a pressão exercida pelo solo sobre o anteparo varia à medida que este se desloca.
Figura 2. 1 - Empuxo atuante sobre um anteparo vertical móvel (Barros, 2005).
4
Quando o anteparo se afasta do solo arrimado, ocorre uma diminuição no valor do
empuxo até um mínimo que corresponde à total mobilização da resistência interna do solo. Esta
condição é atingida mesmo com um pequeno deslocamento do anteparo e é chamada de estado
ativo. O empuxo atuante neste instante então é chamado empuxo ativo “E
a
”.
Se ao contrário, o anteparo for movido contra o solo arrimado, haverá um aumento no
empuxo até um valor máximo onde haverá novamente a mobilização total da resistência do solo.
A este valor máximo é dado o nome de empuxo passivo “E
p
”, e a condição de deformação em
que ocorre é chamada estado passivo. Diferentemente do estado ativo, o estado passivo só é
atingido após um deslocamento bem maior do anteparo.
Caso o anteparo, porém, se mantenha imóvel na posição inicial, o empuxo em repouso
“E
o
”, se manterá entre os valores do empuxo ativo e do empuxo passivo. Nesta condição não há
uma completa mobilização da resistência do solo.
Os muros de arrimo à gravidade em geral permitem a deformação do solo arrimado o
suficiente para que sua resistência seja totalmente mobilizada. Assim devem ser dimensionados
sob a ação do empuxo ativo.
O problema da determinação da magnitude e distribuição da pressão lateral do solo é,
porém, estaticamente indeterminado e são necessárias hipóteses simplificadoras entre as tensões e
as deformações do solo para que se possa chegar à solução.
Os métodos clássicos empregados na geotecnia na determinação dos empuxos ativos ou
passivos adotam uma relação do tipo rígido-plástica entre as tensões e deformações do solo. Este
modelo apresenta a vantagem de dispensar o cálculo dos deslocamentos da estrutura, já que
qualquer deformação é suficiente para se alcançar a plastificação do material.
Levando em conta a plastificação do material, pode ser empregado quase que
exclusivamente o critério de Mohr-Coulomb, onde, segundo este critério, a tensão cisalhante “τ
5
ao longo de uma superfície de ruptura deve se igualar à resistência “s”, a fim de se determinar a
tensão limite de ruptura, que é dada pela equação 2.1.
tanssc
τ
σφ
≤→=+ (2.1)
onde:
s é a resistência ao cisalhamento;
τ
é a tensão cisalhante ao longo de uma superfície de ruptura;
σ
é a tensão normal que age sobre a superfície de ruptura;
c é a coesão do solo;
φ
é o ângulo de atrito interno do solo.
No desenvolvimento da solução, geralmente são tomadas fatias unitárias do maciço e da
estrutura de arrimo, admitindo-se que todas as seções são iguais, o que equivale a se aproximar a
um problema bidimensional de deformação. Esta aproximação simplifica bastante a análise e,
além disso, é em geral mais conservadora que a análise tridimensional.
Quanto ao empuxo em repouso ”E
o
”, que age sobre estruturas que não permitem
qualquer deslocamento, sua determinação é feita normalmente através de expressões empíricas,
baseadas na determinação, em laboratório ou no campo, das pressões laterais. Jàky (1944)
desenvolveu uma das expressões mais utilizadas para determinação do coeficiente de empuxo em
repouso e ela é dada pela equação 2.2.
φ
sen1
p
p
K
v
o
o
==
(2.2)
onde:
p
o
é a pressão lateral em repouso;
p
v
é a pressão vertical atuante;
K
o
é o coeficiente de empuxo em repouso.
6
Esta expressão é válida apenas para solos normalmente adensados. Para solos pré-
adensados o valor da pressão lateral é mais elevado, dependendo principalmente do grau de pré-
adensamento do material.
2.2 Teoria de Rankine
Essa teoria se baseia na equação de ruptura de Mohr (Caputo, 1988).
++
+=
2
45tanc2
2
45tan
22
31
φφ
σσ
(2.3)
onde:
σ
1
e σ
3
são tensões principais;
φ é o ângulo de atrito interno do solo;
c é a coesão do solo.
O interior da massa de solo é considerado como um semi-espaço infinito, limitado
apenas pela superfície do terreno e sem nenhuma sobrecarga. Uma das tensões principais tem a
direção vertical e o seu valor é dado pelo peso próprio do solo. A direção da outra tensão
principal será, consequentemente, horizontal.
Para solos não coesivos se admite que a parede AB da figura 2.2 se afasta do terrapleno
e a pressão horizontal σ
h
diminuirá até alcançar um valor mínimo (equação 2.4).
3ha
KH
σγ
== (2.4)
A pressão vertical σ
v
será, nesse caso, a pressão principal maior (equação 2.5).
7
1v
H
σ
σγ
== (2.5)
Figura 2. 2 - Aplicação do Empuxo Ativo.
Figura 2. 3 - Deslocamento produzido.
Uma vez que o deslocamento do anteparo definido pelo segmento AB continue, deixará
de haver continuidade das deformações e se produzirá o deslizamento (Figura 2.3) ao longo do
segmento BC formado por um ângulo de 45 + φ/2 com a direção da pressão principal menor.
A relação σ
h
/σ
v
assume, para solos não coesivos, a relação representada em 2.6,
chamada de
coeficiente de empuxo ativo.
=
+
===
2
45tan
2
45
1
KK
2
a
1
3
φ
φ
σ
σ
(2.6)
A expressão do empuxo ativo total, E
a
, igual a área do triângulo ABD, será definida pela
equação 2.7.
8
2
0
1
2
h
aa a
EKzdz HK
γγ
=⋅=
(2.7)
onde, essa força será aplicada a 1/3 da altura da H.
Assumindo-se agora que o anteparo AB se desloque no sentido inverso, ou seja, contra o
terrapleno (Figura 2.4), haverá ainda um deslizamento ao longo de BC, porém no sentido inverso
ao anteriormente mostrado na figura 2.3 e formado por um ângulo de 45 - φ/2 (figura 2.5).
Figura 2. 4 - Aplicação do Empuxo Passivo. Figura 2. 5 - Deslocamento produzido.
Para que se produza o deslizamento, o empuxo deverá ser maior do que o peso do
terrapleno. Assim, pode-se supor que a pressão principal maior é a horizontal, e a menor, a
vertical.
Sob essas condições a relação σ
v
/σ
h
assume, para solos não coesivos, a relação
representada em 2.8, chamada de coeficiente de empuxo passivo.
9
+=+===
2
45tan
2
45KK
2
p
3
1
φφ
σ
σ
(2.8)
A expressão do empuxo ativo total, E
p
, igual a área do triângulo ABD, será definida pela
equação 2.9.
2
0
1
2
h
pp p
EKzdz HK
γγ
=⋅=
(2.9)
Para solos coesivos, partindo da equação Mohr (2.3) é possível escrever, considerando o
estado ativo de equilíbrio limite (σ
1
= σ
v
= γz e σ
3
= σ
h
) a equação 2.10.
=
2
45tanc2
2
45tanz
2
h
φφ
γσ
(2.10)
Para
σ
h
= 0:
a
o
K
c2
2
45tan
c2
zz
γ
φ
γ
=
+== (2.11)
A equação 2.11 mostra que a pressão horizontal se anula, sendo negativa acima de z
o
e
positiva abaixo dessa profundidade (Figura 2.6), ou seja, o solo coesivo no estado ativo fica
sujeito a tensões de tração na sua porção superior até uma profundidade z
o
. Como o solo
normalmente não resiste a tensões de tração, abrem-se fendas na superfície até esta profundidade.
Sendo assim, não se pode contar com estas tensões que diminuiriam o valor do empuxo ativo
resultante. Além disso, estas fendas podem estar preenchidas com água proveniente de chuvas, o
que pode aumentar ainda mais o valor do empuxo. O resultado é a distribuição de tensões
mostrada na figura 2.6. Pode-se adotar para efeito de cálculo uma distribuição aproximada como
a mostrada na mesma figura e sugerida por Bowles (1996).
10
Figura 2. 6 - Tensão de Tração e profundidade da fenda de tração. a) Zona ativa ao tardoz do muro; b) Profundidade da fenda de tração; c) Diagrama
de Tensão sugerido para solos coesivos (Bowles, 1996).
As direções das superfícies de ruptura nos estados ativo e passivo são mostradas na
figura 2.7.
Figura 2. 7 - Planos de ruptura nos estados ativo e passivo (Barros, 2005).
11
Figura 2. 8 - Profundidade da fenda de tração e altura crítica
De acordo com a Figura 2.8 a pressão lateral acima de z
o
é negativa e abaixo desta
profundidade é positiva. Calculando o empuxo ativo total, considerando agora a tensão de tração,
é possível obter o resultado apresentado em 2.12.
22
0
1
tan 45 2 tan 45
22 2
h
az
EdzH cH
φ
φ
σγ
⎛⎞ ⎛⎞
==
⎜⎟ ⎜⎟
⎝⎠ ⎝⎠
(2.12)
Quando E
a
= 0, tem-se que:
22
1
tan 45 2 tan 45
22 2
HcH
φ
φ
γ
⎛⎞ ⎛⎞
−=
⎜⎟ ⎜⎟
⎝⎠ ⎝⎠
,
que a uma profundidade crítica
H = h
cr
,
4
tan 45 2
2
cr o
c
Hh z
φ
γ
⎛⎞
== +=
⎜⎟
⎝⎠
(2.13)
onde, h
cr
é a altura crítica teórica, profundidade onde a pressão lateral sobre a parede AB se
anula. Para esta altura o maciço se mantém estável sem necessidade de nenhuma contenção.
12
2. 3 Teoria de Coulomb
Coulomb (1776) formulou um dos métodos mais conhecidos para determinação de
empuxo aplicado sobre muros de contenção, admitindo que no instante da mobilização total da
resistência do solo formam-se superfícies de deslizamento ou de ruptura no interior do maciço.
Estas superfícies delimitariam então uma parcela do maciço que se movimentaria em relação ao
restante do solo no sentido do deslocamento da estrutura. Se esta parcela do solo for considerada
como um corpo rígido, o empuxo pode então ser determinado através do equilíbrio das forças
atuantes sobre este corpo rígido.
Bowles (1996) cita as hipóteses admitidas por Coulomb em sua teoria. São elas:
1.
Solo isotrópico e homogêneo e a existência de ângulo de atrito interno e coesão;
2.
Superfície de ruptura plana e a superfície do terrapleno é planar, ou seja, admite talude,
mas não formas irregulares, como por exemplo, bermas;
3.
A resistência por atrito é uniformemente distribuída ao longo da superfície de ruptura e o
coeficiente de atrito ocorre entre solo/solo, f = tan
φ
;
4.
Um pequeno deslocamento da parede é suficiente para mobilizar estado limite;
5.
Adota condição de equilíbrio limite, ou seja, a resistência ao cisalhamento é mobilizada
instantaneamente e o estado plástico desenvolve-se numa cunha (como um bloco rígido);
6.
Existe atrito de interface no muro, ou seja, como a cunha de falha se move com respeito a
parte posterior do muro uma força de atrito se desenvolve entre o solo e o muro.
7.
A falha é um problema de deformação plana, isto é, o problema é avaliado a partir de uma
seção de largura unitária.
O método de Coulomb admite que tais superfícies de ruptura são planas e o empuxo é
aquele que age sobre a mais crítica das superfícies de ruptura planas. A vantagem deste método
reside no fato de que se pode considerar a ocorrência de atrito entre a estrutura de arrimo e o solo,
além de possibilitar a análise de estruturas com o paramento não vertical.
13
As equações baseada na teoria de Coulomb para solos não coesivos podem ser derivadas
a partir das figuras 2.9 e 2.10, usando várias relações trigonométricas. O peso da cunha de solo
ABE, para uma espessura unitária perpendicular ao desenho (Figura 2.9) é:
() ()
(
)
()
2
2
1
2
sen i
H
PA sen
sen sen i
α
γ
γαρ
αρ
⎡⎤
+
== +
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
(2.14)
Figura 2. 9 - Cunha de falha usada ao deriver a equação de Coulomb para a tensão ativa (Bowles, 1996).
Figura 2. 10 - Cunha de tensão ativa de Coulomb. a) Condições assumidas para que ocorra a falha; b) Indicação de que todos os vetores de força
podem não passar pelo ponto O, consequentemente o equilíbrio estático não é satisfeito; c) Diagrama de forças para estabilizar P
a
(Bowles, 1996).
14
A força ativa E
a
é uma componente do vetor peso como ilustrado na figura 2.10c.
Aplicando a lei dos senos, é possível obter,
()
()
180
a
o
E
P
sen
sen
ρφ
α
ρφδ
=
−−++
ou
()
()
180
a
o
Psen
E
sen
ρφ
α
ρφδ
=
−−++
(2.15)
A partir da equação 2.15 é possível perceber que o valor de E
a
depende do ângulo ρ, isto
é, todos os termos para um dado problema são constantes, e o valor de E
a
passa ser além de
principal, possível. Combinando as equações 2.14 e 2.15, obtém-se,
()
(
)
()
(
)
()
2
2
2
180
a
o
sen i sen
H
Esen
sen sen i
sen
αρφ
γ
αρ
αρ
α
ρφδ
⎡⎤
+−
=+
⎢⎥
−++
⎢⎥
⎣⎦
(2.16)
A força ativa máxima ou Empuxo ativo máximo é encontrado uma vez que dE
a
/d
ρ
= 0,
assim,
(
)
()
()()
()()
2
2
2
2
2
1
a
sen
H
E
sen sen i
sen sen
sen sen i
αφ
γ
φδ φ
ααδ
αδ α
+
=
+−
−+
−+
(2.17)
Se β = δ = 0 e α = 90º (um muro vertical reto com aterro horizontal) e a equação 2.17
pode ser simplificada para,
(
)
()
22
2
1
tan 45
21 2 2
o
a
sen
HH
E
sen
φ
γγ
φ
φ
⎛⎞
==
⎜⎟
+
⎝⎠
(2.18)
15
que é a mesma equação proposta por Rankine e apresentada na equação 2.7. De uma forma geral
a equação 2.18 pode ser reescrita como:
2
2
aa
H
EK
γ
=
onde,
(
)
()
()()
()()
2
2
2
1
a
sen
K
sen sen i
sen sen
sen sen i
αφ
φδ φ
ααδ
αδ α
+
=
⎡⎤
+−
⎢⎥
−+
−+
⎢⎥
⎣⎦
(2.19)
O empuxo passivo é determinado de forma similar ao ativo, exceto pelo fato de que o
diagrama de forças apresenta ângulos distribuídos de maneira distinta (Figura 2.11). O valor da
força peso, P, da massa de solo sujeita a falha é determinado através da equação 2.20.
Figura 2. 11 - Cunha de Empuxo passivo definida por Coulomb (Bowles, 1996).
()
(
)
()
2
2
sen i
H
Psen
sen i
α
γ
αρ
ρ
+
=+
(2.20)
Aplicando a lei dos senos, é possível obter,
16
()
()
180
p
o
Psen
E
sen
ρφ
ρ
φδα
+
=
−−
(2.21)
A força mínima que determina o Empuxo passivo é encontrado, uma vez que dE
p
/d
ρ
=
0, assim,
(
)
()
()()
()()
2
2
2
2
2
1
p
sen
H
E
sen sen i
sen sen
sen sen i
αφ
γ
φδ φ
ααδ
αδ α
=
++
++
++
(2.22)
Se β = δ = 0 e α = 90º (um muro vertical reto com aterro horizontal) e a equação 2.22
pode ser simplificada para,
()
()
22
2
1
tan 45
21 2 2
o
p
sen
HH
E
sen
φ
γγ
φ
φ
+
⎛⎞
==+
⎜⎟
⎝⎠
(2.23)
De uma forma geral a equação 2.23 pode ser reescrita como:
2
2
pp
H
EK
γ
=
onde,
(
)
()
()()
()()
2
2
2
1
p
sen
K
sen sen i
sen sen
sen sen i
αφ
φδ φ
ααδ
αδ α
=
⎡⎤
++
⎢⎥
+−
++
⎢⎥
⎣⎦
(2.24)
17
2.3.1 Equilíbrio Limite
Segundo Barros (2005), caso o solo seja coesivo ou a superfície do maciço não seja
plana, não há como aplicar diretamente a teoria de Coulomb. Tal afirmação passa a ser verdade
quando não é feita uma extensão ou adaptação ao método. Nestes casos pode-se adotar um
método de análise semelhante ao de Coulomb, mas voltado ao problema específico em questão.
Tome-se como exemplo o caso mostrado na Figura 2.12. Como a superfície do maciço
possui uma descontinuidade no talude, ou seja, não apresenta inclinação constante, não é possível
utilizar as expressões apresentadas na seção anterior para determinação do empuxo. Neste caso,
pode-se fazer uma análise por tentativas, onde se consideram várias posições para a superfície de
ruptura e para cada uma delas determina-se o valor do empuxo pelo equilíbrio de forças. Estes
valores são colocados em função da superfície de ruptura que lhes deu origem e assim pode-se
estimar a variação correspondente. Determina-se então a posição mais crítica da superfície de
ruptura e o empuxo correspondente.
Figura 2. 12 - Método do equilíbrio limite, variando o empuxo com a superfície de ruptura (Barros, 2005).
18
O valor do empuxo ativo E
a
é determinado então para cada uma das cunhas através do
equilíbrio das forças que agem sobre ela.
()
()
a
Psen
E
sen
ρφ
α
ρφδ
=
+−
(2.25)
A partir da equação (2.25) pode ser construído um gráfico como o da Figura 2.12, que
relaciona o ângulo da superfície de ruptura com o empuxo ativo, interpolando-se uma curva que
liga os pontos obtidos. O ponto máximo da curva de variação de E
a
determina o valor do empuxo
ativo que age sobre a estrutura e a posição da superfície de ruptura crítica (Figura 2.12).
O Método do equilíbrio limite visa determinar o empuxo ativo, E
a
, a partir de algumas
hipóteses básicas:
1.
Assume-se a existência de uma superfície de ruptura plana;
2. A massa de solo ou rocha encontra-se em condições de ruptura generalizada iminente
isto é, em um estado de equilíbrio limite;
3.
Assume-se um critério de ruptura (em geral Mohr-Coulomb), o qual é satisfeito ao
longo de toda a superfície de ruptura;
O ponto de aplicação do empuxo sobre a estrutura de arrimo é determinado através de
uma reta paralela à superfície de ruptura mais crítica, passando pelo centro de gravidade da cunha
crítica.
A teoria de Coulomb pode ser estendida para solos coesivos, utilizando as considerações
do equilíbrio limite e introduzindo a parcela de adesão. Assume-se que trincas de tração possam
se desenvolver até uma profundidade z
o
, a qual é estimada de acordo com a teoria de Rankine,
como mostrado na seção anterior em 2.12. As superfícies potenciais de ruptura se desenvolvem
conforme mostra a Figura 2.13. As forças atuantes na cunha ABCD são:
19
1. peso da cunha P;
2.
reação entre a parede e o solo (P) , com inclinação δ;
3. força devido a componente de adesão: C
w
= c
w
×EB;
4. reação R no plano potencial de deslizamento, atuando a um ângulo φ;
5. força no plano potencial de deslizamento devido a parcela de coesão C = c ×BC.
As direções de todas as componentes são conhecidas, assim como as magnitudes de P,
C
w
e C. Com o traçado do polígono de forças, determina-se o valor de E. Se a trinca for
preenchida por água, esta parcela deve ser acrescida no polígono de forças.
Utilizando-se o método do equilíbrio limite, o empuxo é determinado através do equilíbrio
de forças para cada superfície de ruptura calculada por tentativas até que se encontre a mais
crítica. A cada uma dessas superfícies deve corresponder uma fenda de tração, pois a distribuição
real destas fendas é aleatória, e a localização mais crítica é aquela que coincide com a superfície
de ruptura mais crítica.
Figura 2. 13 - Cunha de Empuxo ativo definida por Coulomb para solos coesivos.
20
2. 4 Influência da percolação de água em maciços de solo
Segundo Barros (2005) outro caso bastante comum é a ocorrência de percolação d'água
através do maciço arrimado. Isto acontece, por exemplo, quando o nível do lençol freático que se
encontrava pouco abaixo da fundação da estrutura se eleva por ocasião da época das chuvas ou,
ainda quando em estruturas parcialmente submersas, ocorre uma brusca redução do nível do
curso d'água. Nestes casos há percolação d'água através do maciço na direção da estrutura de
arrimo, o que faz aumentar o valor do empuxo sobre esta. Para que a água não fique retida atrás
do muro, aumentando ainda mais o valor do empuxo, deve-se usar estruturas autodrenantes,
como por exemplo, os gabiões, ou prover à estrutura de drenos e filtros que impeçam o
carreamento das partículas do solo.
Para se analisar este tipo de problema deve-se determinar inicialmente a rede de fluxo
formada como mostrado na figura 2.14.
a) b)
Figura 2. 14 - Rede de fluxo através do maciço arrimado. A) Muro de contenção em gabião, considerada autodrenante; b) Estrutura de
contenção com dreno ao tardoz (Barros, 2005).
21
As forças que atuam sobre a cunha de solo formada pela superfície de ruptura incluem o
peso próprio desta (considerando o peso específico saturado γ
sat
do solo) e a força U devido à
resultante de poropressão que age sobre a superfície de escorregamento. Esta última é
determinada a partir do diagrama de subpressões atuantes na superfície de ruptura (Figura 2.14).
Esse diagrama é obtido através da determinação dos pontos de poropressão atuantes ao longo da
superfície de ruptura.
Para cada uma das superfícies de ruptura analisadas traça-se o diagrama de subpressões
que agem sobre ela e então se determina à força U devida à pressão da água ao longo da
superfície de ruptura. O valor de U é dado pela área do diagrama de subpressão multiplicado pelo
peso específico da água γ
w
.
No cálculo do peso P de cada cunha deve-se utilizar o peso específico saturado γ
sat
do
solo para a parte da cunha que estiver abaixo da superfície freática.
2.4.1 Muros de contenção de face vertical com drenagem ao seu tardoz
Barros (2006) apresenta uma solução analítica para o problema de fluxo em muros de
contenção de face vertical, obtendo os valores de poropressão dentro de uma massa de solo
homogênea. Tal dedução permite traçar a rede de fluxo (Figura 2.15) e determinar a resultante de
poropressão atuante ao longo de uma superfície de falha.
De maneira mais simplificada é possível obter o traçado gráfico de uma rede de fluxo
segundo algumas hipóteses básicas. Estabelecem-se previamente as linhas tidas como
equipotenciais e as linhas tidas como de fluxo e essas se desenham em intervalos constantes de
tal maneira que o intervalo de potencial seja igual ao intervalo das funções de fluxo, sua
interseção ocorre formando ângulos retos e a malha resultante forma um sistema de quadriláteros
ou quadrados curvilíneos. Tal solução gráfica não apresenta boa precisão quanto ao seu resultado.
22
Uma vez que a poropressão é nula em todos os pontos ao longo do dreno vertical, o
potencial total no dreno deve ser igual à carga geométrica. Se existir igual perda de carga entre
sucessivas equipotenciais, essas equipotenciais devem ser espaçadas uniformemente ao longo do
dreno (Figura 2.16).
Figura 2. 15 - Muro de contenção vertical com formação de rede de fluxo (Barros, 2006).
Lambe (1979) apresenta um exemplo que ilustra a obtenção da força de poropressão, U,
aplicada sobre uma superfície potencial de falha através da solução gráfica da rede de fluxo. Foi
assumida uma superfície com 45 graus de inclinação, onde a Figura 2.17, juntamente com a
tabela que a acompanha, mostra a distribuição de poropressão contra a superfície de falha adotada
e o cálculo da resultante da força de poropressão, U, contra essa mesma superfície. A Figura 2.18
mostra o diagrama de forças e equação, derivada desse diagrama, para determinação do empuxo
ativo. Para a superfície de falha a 45 graus, o empuxo calculado é de 148.8 kN por metro de
muro. Os resultados para vários ângulos que representam possíveis superfícies potenciais de falha
estão apresentados na Figura 2.19, onde o empuxo ativo máximo ocorre a aproximadamente 45
graus.
Nível d’água
Rede de fluxo
Impermeável
Face
Drenante
23
Figura 2. 16 - Rede de fluxo formada devido a uma chuva constante (Lambe, 1979).
Ponto h
p
(m)
ΔL (m) (h
p
)
med
ΔL
0 0
0.366 0.084
1 0.457
0.518 0.355
2 0.915
0.640 0.673
3 1.189
0.701 0.930
4 1.463
0.945 1.426
5 1.555
1.159 1.767
6 1.494
1.677 2.147
7 1.067
2.591 1.382
8 0
8.764
Força de poropressão = 8.764 m² x 9.81 kN/m³ = 86.0 kN/m de muro.
Figura 2. 17 - Determinação da força de poropressão para uma superfície com 45 graus de inclinação (Lambe, 1979).
0.762
m
0.762
m
0.762
m
0.762
m
0.762
m
0.762
m
0.762
m
0.762
m
1.524
m
1.524
m
24
Figura 2. 18 - Diagrama de forças para determinação do empuxo ativo, considerando uma superfície de falha com 45 graus de inclinação
(Lambe, 1979).
10.000
150 kN/m
P
(kN/m)
0
45°
Figura 2. 19 - Gráfico que mostra os resultados para vários ângulos de superfícies potenciais de falha (Lambe, 1979).
25
Barros (2006) apresenta uma solução analítica para a mesma rede de fluxo considerando
uma condição de fluxo constante sob um domínio definido por x
0, 0
z
H onde o solo é um
meio isotrópico, homogêneo e saturado, cujo coeficiente de permeabilidade é denominado por k
(Figura 2.20).
A solução analítica do problema consiste em determinar a distribuição do potencial total,
h(x, z) ao longo do domínio do fluxo. O nível d’água é mantido na superfície do terreno e dessa
maneira o valor do potencial seja h(x, H) = H, enquanto ao longo da face frontal drenante h(0, z)
= z. Como a superfície horizontal em z = 0 é uma camada impermeável, tem-se que,
()
0
,
=
z
zxh
.
Para que haja uma condição de fluxo contínuo a Lei de Darcy é valida, o que resulta na
equação diferencial de Laplace (Harr, 1962), ²h(x, z) = 0, a qual governa o problema de da
distribuição potencial h(x, z) através do domínio estabelecido.
Barros (2006) apresentou a solução final para o problema de fluxo, cujos valores de
potencial para o domínio estabelecido anteriormente podem ser obtidos através da equação 2.26.
()
=
=
H
Mz
e
M
Hzxh
H
M
m
X
cos
2
1,
0
2
(2.26)
onde, H é a altura total do muro de contenção e
(
)
2
12
π
+
=
m
M .
A poropressão em qualquer ponto internamente ao domínio estabelecido, ou seja, dentro
da massa de solo contida é determinada pela equação 2.27.
() ()
[]
zzxhzxu
w
= ,,
γ
(2.27)
onde γ
w
é o peso específico da água.
26
É possível ainda obter a componente horizontal da velocidade de percolação ao longo da
interface solo/estrutura, derivando a equação (2.26) e multiplicando o resultado obtido pelo
coeficiente de permeabilidade k.
()
()
H
Mz
M
k
x
zxh
kzxv
m
xxx
cos
2,
,
0
00
=
==
=
= (2.28)
Daí, é possível obter a vazão total do sistema,
=
==
H
m
kH
G
dz
H
Mz
M
kQ
0
0
2
8
cos
2
π
(2.29)
onde G = 0.915966... é conhecido como constante de Catalan (Abramowitz & Stegun, 1972).
Figura 2. 20 - Descrição do problema de fluxo (Barros, 2006).
Nível d’água
Impermeável
27
Segundo Barros (2006) se a interface solo/muro não possui atrito, o empuxo ativo atua
na direção horizontal. Quando o movimento do muro é suficiente para mobilizar toda a
resistência cisalhante na massa de solo (estado ativo), ocorre à formação da superfície de falha
que é assumida como plana. A cunha de solo definida por essa superfície de falha é tratada como
um corpo rígido e as forças atuantes ao longo de seu contorno são mostradas na Figura 2.21b.
De acordo com a Figura 2.21 o peso da cunha é dado por,
2
1
2
sat
PaH
γ
=
(2.30)
onde,
γ
sat
é peso específico saturado,
H é a altura do muro,
θ
é a inclinação da superfície de falha e a = cotgθ,
E
a
é o empuxo ativo,
N é força normal
T é a força tangencial atuante sobre a superfície de ruptura.
A força de poropressão U é a resultante das poropressões atuantes ao longo da superfície
de ruptura, dada por,
() ()
22
0
2
1
2
1
1, aaUHdzazazuU
w
H
+=+=
γ
(2.31)
onde,
()
()
=
+
+
=
0
32
)cos(
1
4
1
m
aM
aM
senMMaea
Ma
e
aU (2.32)
28
Considerando o diagrama de corpo rígido, mostrado na Figura 2.21, expressa-se a
condição de equilíbrio para o sistema de forças atuantes sobre a cunha de solo.
22
1
11
a
a
NP E U
aa
=+
++
(2.33)
22
1
11
a
a
TfNP E
aa
==
++
(2.34)
onde f = tanφ’ é o coeficiente de atrito interno efetivo do solo.
Rearranjando as equações (2.33) e (2.34), obtém-se a equação (2.35) que determina o
empuxo ativo P
a
.
(
)
(
)
22
2
1
1
2
asat
aaf gfUa a
EH
af
γ
−+ +
=
+
(2.35)
onde, g = γ
w
/γ
sat
0.5. O valor máximo de E
a
é função de a que determina a superfície de ruptura
crítica. Sendo assim, a equação (2.35), torna-se,
2
1
2
asatas
EHK
γ
= (2.36)
onde K
as
é o coeficiente de empuxo ativo com ação da superfície freática, dado por,
(
)
(
)
fa
aaUgffaa
K
a
as
+
++
=
>
22
0
1
max
(2.37)
Seguindo a proposta de Barros (2006) é possível calcular a força de poropressão U, para
um muro vertical, cujo domínio respeita as condições de contorno para o fluxo como comentado
anteriormente. Tomando como referência a Figura 2.21, calcula-se o peso da cunha que deve ser
induzida pela superfície potencial de falha.
29
a) b)
Figura 2. 21 - Estrutura de contenção vertical. a) cunha que representa a massa de solo induzida pela superfície potencial de falha; b) diagrama de
corpo rígido que representa as forças atuantes na cunha de solo (Barros, 2006).
Nível d’água
Impermeável
Superfície de
ruptura
Movimento do muro
ρ
H
30
3. MÉTODO DOS ELEMENTOS DE CONTORNO PARA PROBLEMAS DE
POTENCIAL
3.1 Introdução
Neste capítulo serão apresentados os conceitos básicos do método dos elementos de
contorno aplicados à solução de problemas de potencial.
O Método dos elementos de contorno - MEC (Boundary Element Method – BEM) é um
método computacional desenvolvido para solucionar sistemas de equações diferenciais, dispostas
na forma de integral. É aplicado em áreas da engenharia que apresentam circunstâncias tais que, o
domínio de estudo é infinito ou semi-infinito, casos que, comparados aos métodos dos elementos
finitos, apresentam melhor desempenho.
A resolução de problemas formulados a partir de uma equação integral de contorno é
obtida por uma aproximação que normalmente é definida por um conjunto de valores em pontos
discretos localizados sobre o contorno da geometria do modelo analisado.
Segundo Noronha (2005) na resolução de problemas de potencial, o método dos
elementos de contorno faz uso de equações integrais de contorno, tornando fundamental o
conhecimento dos valores de potencial u e do fluxo normal q para um ponto genérico situado no
contorno da geometria do modelo. A representação exata do contorno e das variáveis associadas
do problema é inviável na prática, pois envolveria o conhecimento de valores em um número
infinito de pontos. A estratégia adotada pelo MEC para resolver esta situação consiste em
representar o contorno e os valores de potencial e fluxo de forma aproximada através de um
número finito de valores nodais associados a um conjunto de pontos sobre o contorno. As
aproximações da geometria e das variáveis de estado têm como base uma discretização do
contorno utilizando um conjunto finito de nós e de elementos.
31
Ainda segundo Noronha (2005) na representação discretizada, o contorno fica dividido
em um número de segmentos correspondentes aos elementos de contorno. A aproximação da
geometria e das variáveis é feita através da interpolação sobre os elementos de contorno, que
podem possuir um ou mais nós de acordo com o seu grau de interpolação.
O MEC permite representar um problema considerando apenas as variáveis no contorno
do modelo proposto, o que além de reduzir o número de variáveis envolvidas, permite simplificar
o procedimento de geração e discretização do modelo. Avaliando-se corretamente as integrais
numéricas é possível obter alta precisão na utilização do MEC, isso porque as aproximações
adotadas pelo método são introduzidas apenas no contorno discretizado.
A análise pelo MEC é efetuada basicamente em duas etapas. A primeira obtém os
resultados de potencial e fluxo para o contorno discretizado e a segunda permite a obtenção dos
resultados de potencial e fluxo para qualquer ponto do domínio. Tal procedimento torna o MEC
mais flexível e com melhor desempenho que outros métodos de discretização de domínio.
3.1.2 Equação Integral básica
O texto a partir desse item foi extraído em grande parte de Brebbia e Dominguez (1989),
a fim de explicitar os conceitos a serem utilizados nesse trabalho.
A equação integral de contorno requerida pelo método pode ser deduzida de uma
maneira simples baseada nas considerações de resíduos ponderados, teorema da reciprocidade de
Betti, Terceira identidade de Green ou princípios fundamentais tal como trabalho virtual. A
vantagem de usar resíduos ponderados é sua generalidade, permitindo a extensão do método para
resolver equações diferenciais parciais mais complexas. Isso pode também ser usado para
relacionar elementos de contorno a outras técnicas numéricas e pode ser facilmente
compreendida por engenheiros.
32
Considerando a busca para solução da equação de Laplace em um domínio Ω (duas ou
três dimensões), Figura 3.1.
²u = 0 em Ω (3.1)
com as seguintes condições de contorno Γ:
- Condição Essencial do tipo u = ū em Γ
1
;
(3.2)
- Condição Natural onde
qnuq
=
= / em Γ
2
;
onde
n é a normal ao contorno, Γ = Γ
1
+ Γ
2
e as hachuras indicam que os valores são conhecidos.
As condições de contorno se tornam mais complexas quando apresenta acima de duas
combinações, ou seja,
αu + βq = γ (3.3)
onde
α, β e γ são parâmetros conhecidos, podem ser facilmente incluídas, mas não serão
consideradas agora por causa da simplicidade desejada.
Figura 3. 1 - Definições geométricas para equação de Laplace (Brebbia e Domínguez, 1989).
33
A principio o erro introduzido na equação anterior se os valores exatos (porém
desconhecidos) de
u e q forem substituídos por uma solução aproximada podem ser minimizados
ortogonalizando-os em relação a uma função ponderadora u*, com derivadas no contorno
nuq = /**.
Em outras palavras se R são os resíduos, em geral, pode-se escrever que,
0
2
= uR
(3.4)
0
1
= uuR
(3.5)
0
2
= qqR (3.6)
onde
u e q são valores aproximados. (O fato de um ou mais dos resíduos poder ser igual à zero
não prejudica a generalidade do argumento).
ΓΓΩ
ΓΓ=Ω
12
***
12
dqRduRduR (3.7)
ou
()
()
(
)
ΓΓΩ
ΓΓ=Ω
12
***
2
dquuduqqduu (3.8)
Integrando por partes o lado esquerdo dessa equação, obtém-se,
ΓΓΓΓΩ
Γ+ΓΓΓ=Ω
1112
****
*
dquduqdquduqd
x
u
x
u
kk
(3.9)
onde
k = 1, 2, 3 e o somatório de Einstein para índices repetidos foram usados. Integrando por
partes o lado esquerdo da equação 3.9, obtém-se:
34
()
ΓΓΓΓΩ
Γ+ΓΓΓ=Ω
1112
*****
2
dquduqdquduqduu
(3.10)
A equação 3.10 é importante como um ponto de partida para as aplicações do Método
dos elementos de contorno. A meta agora é apresentar a equação 3.10 dentro de uma equação
integral de contorno. Isso pode ser feito usando um tipo especial de função ponderada
u*
chamada
Solução Fundamental.
3.1.3 Solução Fundamental
A solução fundamental
u* satisfaz a equação de Laplace e representa o campo gerado
pela unidade de carga concentrada atuando no ponto
i. O efeito dessa carga é propagado do ponto
i até o infinito sem qualquer consideração de condições de contorno. Por causa disso a solução
pode ser escrita como:
0*u
i2
=Δ+ (3.11)
onde Δ
i
representa uma função Delta de Dirac que tende a infinito no ponto x = x
i
e é igual a zero
em qualquer lugar. A integral de Δ
i
é igual a 1. O uso da função Delta de Dirac é uma maneira
elegante de representar a unidade de cargas concentradas como forças quando se trabalha com
equações diferenciais.
A integral de uma função Delta de Dirac multiplicada por qualquer outra função é igual
ao valor da última no ponto
x
i
. Consequentemente:
() ()
ii2
ududu*u ==
ΩΩ
ΩΔΩ
(3.12)
A equação 3.10 agora pode ser escrita como,
35
+=++
1212
d*qud*uqd*qud*uqu
i
ΓΓΓΓ
ΓΓΓΓ
(3.13)
É necessário lembrar que a equação 3.13 se aplica para uma carga concentrada em “
i” e
consequentemente os valores de
u* e q* são aqueles que correspondem à posição particular de
carga. Para cada outra posição de
x
i
haverá uma nova equação integral.
Considerando agora uma função G(x,y), cuja solução fundamental para problemas de
potencial satisfaz a equação 3.11.
322
R/Ry,x,0)y,x()y,x(G =+
δ
, (3.14)
onde as derivadas são tomadas no ponto y, isto é,
2
=
2
()/y
i
y
i
, e R2 e R3 indicam os espaços
bi e tridimensionais, respectivamente. A função δ(x,y), Δ
i
de Dirac, representa uma fonte unitária
no ponto fonte x, e G(x,y) representa a resposta no ponto campo y devido ao fonte.
A solução fundamental G(x,y) é dada por:
para duas dimensões
=
,
r
,
r
log
)y,x(G
π
π
4
1
1
2
1
para três dimensões
(3.15)
onde r é a distância entre o ponto fonte x e o ponto campo y, e sua derivada normal é:
para duas dimensões
()
()
()
()
,yn,r
r
,yn,r
r
yn
y,xG
)y,x(F
kk
kk
2
4
1
2
1
π
π
para três dimensões
(3.16)
36
com
r,
k
=
r/
y
k
= (y
k
– x
k
)/r. A solução fundamental satisfaz a seguinte identidade integral:
Primeira
identidade
()()
=
S
Ex,
Vx,
ydSy,xF
0
1
(3.17)
Segunda
identidade
()
()
()
=
S
EVx,ydS
xn
y,xF
0
(3.18)
Terceira identidade
()
()
() ()
(
)
()
()()
()
=
S
k
kk
S
k
Ex,
Vx,xn
ydSxy
xn
y,xF
ydSyn
xn
y,xG
0
(3.19)
Quarta identidade
()( )
(
)
(
)
(
)
(
)
=
S
k
S
kk
EVx,ydSyny,xGydSxyy,xF 0
(3.20)
onde S pode ser um contorno fechado arbitrário (para duas dimensões) ou superfície (para três
dimensões),
V é o domínio inserido em S, e E é o domínio infinito fora de S. É possível obter
essas identidades prontamente pela equação 3.14 sobre o domínio
V e invocando o teorema de
Gauss.
3.1.4 Descrição física do problema
Segundo Beer et al. (2008) além de especificar as condições geométricas do problema é
importante definir a resposta física do problema de maneira matemática. Isso é possível,
discretizando-se uma porção infinitesimal do sólido a ser estudado. Isso facilita o entendimento
do problema além de ajudar a definir de maneira clara as condições de contorno segundo a
equação diferencial adotada.
Para o problema de potencial, tem-se que o fluxo por unidade de área
q é relacionado ao
potencial
u, através da seguinte equação:
37
uDq = (3.21)
onde o sinal negativo é devido ao fato de que o fluxo ocorre sempre do maior para o menor
potencial. O vetor fluxo é definido como:
=
z
y
x
q
q
q
q
(3.22)
o tensor D, que representa a permeabilidade, é dado por:
=
zzzyzx
yzyyyx
xzxyxx
kkk
kkk
kkk
D (3.23)
onde
k
xx
, k
xy
, k
xz
, etc., são permeabilidades medidas em [m/s]. Os coeficientes D representam o
fluxo por unidade de gradiente de potencial.
O operador diferencial
para problemas tridimensionais de potencial é definido como:
=
z
y
x
(3.24)
e para problemas bidimensionais:
=
y
x
(3.25)
38
A condição de conservação de energia indica que o fluxo que sai deve ser igual ao que
entra, mais um fluxo por unidade de volume,
Q
ˆ
, gerado por uma fonte interna.
Figura 3. 2 - Fluxo um cubo infinitesimal (Beer et al, 2008).
Para o cubo infinitesimal da figura 3.2, tem-se que:
ˆ
y
x
z
xyzxyz
q
q
q
q dx dydz q dy dxdz q dz dxdy q dydz q dxdz q dxdy Qdxd
y
dz
xyz
⎛⎞
⎛⎞
⎛⎞
+++++=+++
⎜⎟
⎜⎟
⎜⎟
∂∂∂
⎝⎠
⎝⎠
⎝⎠
cancelando-se os termos, tem-se
0
ˆ
=
+
+
Q
z
q
y
q
x
q
z
y
x
(3.26)
e considerando a lei de Darcy para materiais isotrópicos, ou seja, k
xx
= k
yy
= k
zz
= k e k
xy
= k
xz
=
k
yz
= 0, obtém-se a equação diferencial governante na qual se busca a solução fundamental.
0
ˆ
2
2
2
2
2
2
=
+
+
Q
z
u
y
u
x
u
k
(3.27)
39
A solução fundamental para esse problema já foi mostrada na seção anterior, onde a
partir de um ponto fonte F de magnitude unitária colocado em um domínio infinito homogêneo
ocorre a geração de fluxo e em nenhum outro lugar além do ponto F.
Como comentado em 3.1.3 a função que descreve essa variação se refere a função Delta
de Dirac que tende a infinito no ponto x = x
i
e é igual a zero em qualquer outro lugar. A integral
de
Δ
i
, portanto é igual a 1. Portanto, é possível dizer que,
()
0= GF
δ
, onde F
G
()
1=Ω
Ω
dGF
δ
(3.28)
onde G é um ponto qualquer no domínio
Ω
. Devido a uma fonte unitária no ponto F o potencial
G pode ser escrito de maneira tridimensional como descrito em 3.15.
()
rk
GFU
π
4
1
, =
(3.29)
onde
()()()
222
FGFGFG
zzyyxxr ++= é a distância entre o ponto fonte F e o ponto
campo G (Figura 3.3).
Figura 3. 3 - Potencial aplicado em um ponto G a partir de um ponto fonte F (Beer et al, 2008).
40
3.2 Formulação da equação integral de contorno
Para derivar à equação integral de contorno correspondente a equação diferencial parcial
(3.11), aplica-se a segunda identidade de Green no Delta de Dirac,
[]
=
SV
dS
n
u
n
udVuu
υ
υ
υυ
22
(3.30)
tomando
υ
(y) = u(y), que satisfaz a equação 3.11, e u(y) = G(x,y), que satisfaz a equação 3.14,
Tem-se, da equação 3.30,
( ) () () ( ) () ( )
(
)
()
()
()
()
()
22
,
,,,
VV
uy Gxy
G xy u y u y G xy dV y G xy u y dS y
ny ny
⎡⎤
⎡⎤
∇− =
⎢⎥
⎣⎦
∂∂
⎢⎥
⎣⎦
∫∫
Aplicando as equações 3.11, 3.14 e o Delta de Dirac, obtém-se,
() ( )()
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)()
,, , ,
SV
u x G x y q y F x y u y dS y G x y f y dV y x V
⎡⎤
=− +
⎣⎦
∫∫
(3.31)
onde q =
u/
n.
A equação 3.31 é a representação integral da solução u dentro do domínio V para a
equação 3.11. Uma vez que os valores de contorno de u e q sejam conhecidos em S, a equação
3.31 pode ser aplicada para calcular u em qualquer lugar em V.
41
Figura 3. 4 - Ponto x se aproximando do trecho S
ε
(Liu, 2009).
Para encontrar os valores das incógnitas de u e q que pertencem ao contorno em S,
deixa-se x tender a S para obter uma equação integral de contorno da equação 3.31. Para fazer
isso, considera-se o seguinte limite,
() ( )() ( )() () ( ) () ()
{
lim lim , , ,
SV
xS xS
u x G x y q y F x y u y dS y G x y f y dV y
→→
⎡⎤
=−+
⎣⎦
∫∫
(3.32)
Utilizando o caso 2D para calcular como se comporta os limites na equação 3.32, divide-
se o contorno S em duas partes SS
ε
e S
ε
, onde S
ε
é um pequeno segmento de comprimento 2
ε
centralizado ao redor do ponto no qual x abordará (Figura 3.4)
A primeira integral do lado direito da equação 3.32 é avaliada como,
()()()
(
)
(
)
(
)
(
)()
()
+=
εε
ξ
ε
ε
S
d
SS
S
S
Sx
yqydSy,xGlimydSyqy,xGlimydSyqy,xGlim
0
0
,
onde y
ξ
é um ponto em S
ε
. Quando
ε
é pequeno, S
ε
pode ser considerado como um segmento reto
(assumindo S como um contorno suave); a integração analítica de G neste segmento de reta está
42
apresentada no Apêndice A, equação A.5. Quando a equação A.5 for usada, o limite desta
integral sai, tornando-se:
()()
()
0
0
0
=
ε
ξ
ε
S
d
yqydSy,xGlim ,
então,
( )() ()
(
)
(
)
(
)
(
)() ()
==
SSS
S
S
Sx
ydSyqy,xGydSyqy,xGlimydSyqy,xGlim
ε
ε
(3.33)
onde a última integral é avaliada com a definição de um valor principal de Cauchy. De maneira
análoga, a segunda integral do lado direito da equação 3.32 é avaliada como,
()()()
(
)
(
)
(
)()
(
)
(
)
0
0
lim , lim , lim ,
SSS S
xS S d
FxyuydS y F xyuydS y F xydS yuy
εε
ξ
ε
ε
→→
=+
∫∫
Aplicado o resultado na equação A.6 do Apêndice A, tem-se,
()()
()
()
0
0
1
lim , , ,
2
S
d
FxydSyuy ux x S
ε
ξ
ε
=
−∈
( )() () ( )() () ()
( )() ()
()
0
1
lim , lim ,
2
1
,,
2
SSS
xS
S
FxyuydSy FxyuydSy ux
FxyuydSy ux x S
ε
ε
→→
=
−=
=−
∫∫
(3.34)
onde a última integral é entendida como um valor principal de Cauchy que é avaliado em
S – S
ε
onde
ε
0. A terceira integral do lado direito da equação 3.32, torna-se,
( )() ()
(
)
(
)
(
)
=
VV
Sx
ydVyfy,xGydVyfy,xGlim (3.35)
Substituindo as equações 3.33, 3.35 em 3.32 e combinando os termos livre, alcança-se a
seguinte equação integral de contorno,
43
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
(
)
,, , ,
SV
cxux Gxyq y F xyu y dS y Gxy f ydV y x S
⎡⎤
=− +
⎣⎦
∫∫
(3.36)
onde
c(x) é um coeficiente igual 1/2 se S é suave ao redor x.
3.2.1 Discretização das integrais de contorno usando elementos constantes
Aplicam-se os elementos de contorno para discretizar as equações integrais do contorno
a fim de encontrar numericamente as variáveis desconhecidas do contorno. Assumindo
f =0 na
equação 3.36 é possível resolver o problema em duas dimensões usando elementos constantes.
Primeiramente, divide-se o contorno
S em segmentos retos (elementos) ΔS
j
e coloca-se um nó em
cada elemento (Figura 3.5). O número total de elementos é
M, e o número total de nós é N. Como
o contorno está sendo discretizado em elementos constantes, M = N. Ao colocar o ponto fonte
x
no nó
i, nota-se que, u(y) = u
j
e q(y) = q
j
, no elemento ΔS
j
.
Figura 3. 5 - Discretização do contorno usando elementos constantes (Liu, 2009).
44
onde
u
j
e q
j
(j = 1, 2,..., N) são os valores nos nós de
φ
e q, respectivamente, no elemento
Δ
S
j
para
elementos constantes. Daí, a equação integral de contorno se torna,
11
1
2
jjj
NN
iijij ijij
SSS
jj
u G q F u dS G dSq F dSu
ΔΔΔ
==
⎡⎤
=−=
⎣⎦
∑∑
∫∫
(3.37)
onde
G
i
e F
i
são as funções principais do problema (definidas analiticamente no Apêndice A)
com o ponte fonte
x colocado no nó i. Discretizando a equação 3.36 para o nó i, obtém-se,
1
1
, 1, 2,...,
2
N
iijjiji
j
ugqfu i N
=
⎡⎤
=− =
⎣⎦
(3.38)
onde os coeficientes são dados por,
N,...,,i,dSFf,dSGg
jj
S
iij
S
iij
21===
ΔΔ
(3.39)
As integrais anteriores podem ser avaliadas analiticamente quando i = j ou i j (ver
Apêndice A). Na forma matricial a equação 3.38 pode ser escrita como,
11 12 1 1 11 12 1 1
21 22 2 2 21 22 2 2
12 12
NN
NN
NN NNN N N NNN
f
ffugggq
f
ffugggq
f
ffugggq
⎡⎤
⎢⎥
⎪⎪ ⎪⎪
⎢⎥
=
⎨⎬ ⎨⎬
⎢⎥
⎪⎪ ⎪⎪
⎢⎥
⎪⎪ ⎪⎪
⎣⎦
""
""
##%## ##%# #
""
(3.40)
onde
f
ij
= f
ij
+ ½
δ
ij
. De maneira a criar um sistema de equações para determinar as incógnitas do
problema rearranjando a matriz representada em 3.40.
bAou,
b
b
b
aaa
aaa
aaa
NNNNNN
N
N
=
=
λ
λ
λ
λ
##
"
#%##
"
"
2
1
2
1
21
22221
11211
(3.41)
45
onde A é a Matriz coeficiente, λ é o vetor incógnita (com
u ou q variável em cada nó), e b é o
vetor que ordena os valores conhecidos. A solução do sistema determinado pela equação 3.41
pode ser obtida através do método de eliminação de Gauss. Dessa forma é possível obter os
valores incógnitos de
u e de q ao longo do contorno.
3.2.2 Discretização das integrais de contorno usando elementos lineares
Para discretização do contorno usando elementos lineares (Figura 3.6), cada elemento
deve ser associado a dois nós colocados nas suas extremidades. Considera-se que o elemento é
reto e que os valores apontados nos nós variam linearmente dentro do elemento.
Figura 3. 6 - Discretização do contorno S usando elementos lineares (Liu, 2009).
46
Duas funções de forma são introduzidas para representar a função sobre um elemento.
Por exemplo, no elemento ΔS
k
(k = 1, 2, 3,..., M, onde M é número total de elementos), daí tem-
se:
() () ()
2
1
uy u N u
α
α
α
ξξ
=
==
(3.42)
() () ()
=
==
2
1
qNqyq
α
α
α
ξξ
(3.43)
onde
u
1
, u
2
e q
1
, q
2
são os valores nodais de u e q nos nós 1 e 2 respectivamente; ξ é a coordenada
local definida no elemento e N
1
(ξ) e N
2
(ξ) são funções lineares de forma dadas por,
()
ξ
ξ
=1N
1
e
(
)
ξ
ξ
=
2
N (3.44)
colocando o ponto fonte,
x no nó i (i = 1, 2, 3,..., N), tem-se,
[]
1
k
M
ii i i
S
k
cu Gq Fu dS
Δ
=
=−
=
Δ
==
Δ
=
=
M
k
S
i
M
k
S
i
kk
dSFNFdSqNG
1
2
11
2
1
α
α
α
α
α
α
22
11 11
kk
MM
ii
SS
kk
GN dS q FN dS u
α
α
αα
αα
ΔΔ
== ==
⎡⎤
=−
⎢⎥
⎣⎦
∑∑ ∑∑
∫∫
(3.45)
ou seja,
22
11 11
MM
i i ik ik
kk
cu g q f u
α
ααα
αα
== ==
=−
∑∑ ∑∑
(3.46)
onde,
Δ
=
k
S
iik
dSNGg
α
α
,
Δ
=
k
S
iik
dSNFf
α
α
, (3.47)
47
com
i = 1, 2, 3,..., N (número de nós), k = 1, 2, 3,..., M (número de elementos) e
α
= 1 e 2
(número de nós locais em cada elemento). Rearranjando os termos de acordo com os nós globais,
obtém-se da equação 3.46,
11
NN
ii ij j ij j
jj
cu g q f u
==
=−
∑∑
(3.48)
onde
g
ij
e f
ij
são somatórias das integrais
α
ik
g e
α
ik
f nos elementos em torno do nó j,
respectivamente. Consequentemente, tem-se um sistema de equações similar ao da equação 3.38
e a forma matricial é idêntica a equação 3.40, onde
f
ij
= f
ij
+ c
i
δ
ij
.
Em geral, o esquema de integração numérica precisa ser usado para avaliar os
coeficientes na equação 3.40 usando as equações em 3.47. Por exemplo, para os termos fora da
diagonal principal (i j), tem-se que,
()
[]
()
==
Δ
1
0
ξξξ
αα
α
dJNy,xGdSNGg
i
S
iik
k
(3.49)
onde a coordenada global y está relacionada a coordenada local por
() ()
21
2
1
,lpara,yNy
ll
==
=
α
α
α
ξξ
com
α
l
y sendo o valor de y
l
no nó, e
2
2
2
1
2
2
2
1
+
==
+
=
ξξ
ξξ
ξξ
d
dy
d
dy
Jonde,dJd
d
dy
d
dy
dS
é o jacobiano da transformação de coordenadas. A integral no lado direito da equação 3.49 pode
ser avaliada pelo método da quadratura de Gauss.
48
O método da quadratura de Gauss é um dos mais utilizados para solucionar problemas
de integrações numéricas. Neste método os pontos não são mais escolhidos pelo usuário, mas
seguem um critério bem definido, com o objetivo de fornecer resultados exatos para polinômios
escolhidos.
As integrais podem ser escritas como,
() ( )
1
1
1
n
ii n
i
I
fd wf E
ξξ ξ
+
=
== +
(3.50)
onde
n é o número de pontos de integração,
ξ
i
é a coordenada do ponto i de integração, w
i
o fator
peso associado ao número de pontos e
E
n
é o erro ou resíduo,
()
()()
()
4
12
3
2
2!
,
212!
nn
n
n
ndf
E
d
nn
ξ
ξ
+
=
⎡⎤
+
⎣⎦
(-1 <
ξ
< 1) (3.51)
A equação (3.50) é baseada na representação de f(
ξ) por meio do polinômio de Legendre
P
n
(
ξ
). O valor de
ξ
i
é a coordenada em um ponto i onde P
n
é zero e para o qual os pesos são
dados por,
()
()
2
2
2
1
i
i
n
i
w
dP
d
ξ
ξ
ξ
ξ
ξ
=
=
⎡⎤
⎢⎥
⎣⎦
(3.52)
Os valores
ξ
i
e w
i
estão listados na tabela 3.1, onde os valores de
ξ
i
são simétricos com
respeito à
ξ
= 0 e w
i
simétrico para o mesmo valor. Para esse trabalho serão utilizados 10 pontos
de integração.
49
Tabela 3.1 – Valores de
ξ
e w para um número n de pontos (n = 2, 3...10)
±ξ
i
w
i
±ξ
i
w
i
n = 2 n = 8
0.577350291 1 0.1834346424
0.5255324099
0.7966664774
09602898564
0.3626837833
0.3137066458
0.2223810344
01012285362
n = 3 n = 9
0
0.7745966692
0.8888888888
0.5555555555
0
0.3242534234
0.6133714327
0.8360311073
0.9681602395
0.3302393550
0.3123470770
0.2606106964
0.1806481606
0.0812743883
n = 4 n = 10
0.3399810435
0.8611363115
0.6521451548
0.3478548451
0.1488743389
0.4333953941
0.6794095682
0.8650633666
0.9739065285
0.2955242247
0.2692667193
0.2190863625
0.1494513491
0.0666713443
n = 5
0
0.5384693101
0.9061798459
0.5688888888
0.4786286704
0.2369268850
n = 6
0.2386191860
0.6612093864
0.9324695142
0.4679139345
0.3607615730
0.1713244923
n = 7
0
0.4058451513
0.7415311855
0.9491079123
0.4179591836
0.3818300505
0.2797053914
0.1294849661
Para os termos na diagonal principal, é possível avaliar os coeficientes analiticamente
usando a definição do valor principal de Cauchy. Os resultados são:
N,...,,,i,f,
L
log
L
L
log
L
g
ii
b
a
a
a
ii
3210
1
23
8
1
23
8
==
++
+=
ππ
(3.53)
50
onde L
a
e L
b
são os comprimentos dos dois elementos antes e depois do nó i. Para o coeficiente
fii, existe um modo simples de calcular seus valores. Suponha que haja um campo de potencial
uniforme, com φ =1 e q = 0 em qualquer lugar. Então, a partir da equação 3.40 se obtém,
=
N
ij
ijii
ff (3.54)
para problemas de domínio finito, onde se evita calcular o valor de c
i
em cada nó. Para problemas
de domínio infinito, as contribuições das integrais no infinito não desaparecem para potenciais
uniformes. Consequentemente, a relação na equação 3.54 é mudada para,
=
N
ij
ijii
ff 1
(3.55)
Os resultados das equações 3.54 e 3.55 são exatos, isso significa que não foi introduzido erro
adicional.
3.2.3 Discretização das integrais de contorno usando elementos quadráticos
Os elementos quadráticos podem ser usados para problemas que demandam maior
precisão, como por exemplo, uma superfície freática, cujos elementos curvos apresentariam
maior precisão para os pontos que definem os potenciais dessa superfície, considerando-a um
domínio curvo. Existem três nós em um elemento quadrático (Figura 3.7). As três funções de
forma quadráticas são dadas na coordenada local ξ, como apresentadas a seguir:
() () ()()() () ()
,N,N,N 1
2
1
111
2
1
321
+=+==
ξξξξξξξξξ
(3.56)
51
onde em cada elemento, tem-se:
() () ()
=
==
3
1
α
α
α
φξξφφ
Ny (3.57)
() () ()
=
==
3
1
α
α
α
ξξ
qNqyq (3.58)
e para a geometria,
() ()
.,lpara,yNy
ll
21
3
1
==
=
α
α
α
ξξ
(3.59)
Usando elementos quadráticos, é possível escrever a forma discretizada da equação
integral de contorno (Equação 3.36).
∑∑ ∑∑
== ==
=
M
k
M
k
ikikii
f
ˆ
qgc
1
3
11
3
1
αα
αααα
φφ
(3.60)
onde,
Δ
=
k
S
iik
dSNGg
α
α
,
Δ
=
k
S
iik
dSNFf
ˆ
α
α
(3.61)
com i = 1, 2, 3,..., N, k = 1, 2, 3..., M e α = 1, 2, 3.
Rearranjando os termos de acordo com as coordenadas globais dos nós, é possível obter
um sistema de equações similar ao obtido em (3.40), onde g
ij
e f
ij
devem ser calculados
numericamente através da quadratura de Gauss, exceto pelo valor de f
ii
, que ainda será
determinado pela equação (3.54) para um domínio finito.
52
A discretização com elementos quadráticos permite que os valores de fluxo em ambos os
lados dos nós que conectam dois elementos sejam diferentes. Por exemplo, ao utilizar elementos
quadráticos é possível ter algumas situações bem peculiares como:
a)
quando os fluxos são prescritos como diferentes em ambos os lados do nó, o potencial
passa a ser a incógnita;
b)
quando o potencial e o fluxo em um dos lados são prescritos, o outro lado passa
apresentar o fluxo como incógnita;
c)
quando apenas o potencial é prescrito e o valor do fluxo em um dos lados é a incógnita e
este será igual em ambos os lados do nó.
Figura 3. 7 - Discretização do contorno S usando elementos quadráticos (Liu, 2009).
53
4. MÉTODOS E CRITÉRIOS ADOTADOS
Esse capítulo aborda os detalhes sobre a construção de um programa computacional para
a obtenção numérica da posição da superfície freática de um solo homogêneo através do MEC
para problemas de potencial e determinação do coeficiente de empuxo ativo, através do método
de Coulomb, sob a influência da variação dessa posição.
Propõem-se condições de contorno pré-estabelecidas para obter a solução numérica de
um problema, onde analiticamente não há solução. Isso representa a determinação do coeficiente
de empuxo ativo para uma estrutura de contenção influenciada pela existência de uma superfície
freática, cujo paramento frontal encontra-se inclinado.
A partir do MEC é possível determinar a forma da superfície freática para um paramento
frontal vertical ou inclinado, onde posteriormente, através do cálculo por tentativas se determina
a superfície de falha para o maciço de solo arrimado que intercepta a curva freática, permitindo
assim determinar o coeficiente de empuxo ativo com variação do nível freático.
Optou-se por fixar um padrão unitário para obter a superfície freática, onde a altura da
estrutura de contenção é a referencia do modelo, sendo assim considerada como unitária.
4.1 Construindo o modelo numérico
Como em todo problema numérico, as condições de contorno são fundamentais para
permitir que um problema tenha solução ou para que admita certo grau de generalidade. Partindo
dessa premissa foram estimadas certas condições que respeitam os critérios estabelecidos pelo
método dos elementos de contorno para um problema de potencial (Figura 4.1).
54
(Topo)
(Limite)
(Base)
(Muro)
du(x,y)/dy = 0
du(x,y)/dy = 0
u(x,y) = Hu(x,y) = y
a)
(Limite)
(Base)
(Muro)
du(x,y)/dy = 0
u(x,y) = Hu(x,y) = y
(Topo)du(x,y)/dy = 0
u(x,y) = y
b)
Figura 4. 1 - Condições de contorno estabelecidas para o problema em estudo. a) condição inicial com nível d’água constante; b) condição final
com a formação de uma superfície freática.
Segundo as condições de contorno estabelecidas foram prescritos valores tanto para o
fluxo quanto para o potencial. Isso permite que o modelo se assemelhe às condições de campo e
seja possível assim tirar proveito dos resultados obtidos. Essa estratégia foi antes abordada e
desenvolvida por Menezes e Pulino Filho (1984).
Ao adotar que o solo de fundação sob o qual a estrutura de contenção está apoiada seja
composto por um solo impermeável, tem-se que nesse plano não haverá fluxo atravessando-o em
nenhum dos lados, por esse motivo à derivada do potencial será igual à zero,
u(x,y)/
y = 0. Na
parte superior, haverá variação da superfície freática e não haverá fluxo atravessando-a, sendo
assim o valor da derivada do potencial também será igual a zero,
u(x,y)/
y = 0, em um instante
inicial. Posteriormente haverá uma variação da posição dos pontos de contorno até que u(x, y) =
y, formando assim a superfície freática pretendida. Restam dois outros planos, onde um deles
representa a própria estrutura de contenção drenante e esse terá seu potencial variando em função
55
da altura, ou seja, u(x,y) = y. O outro plano receberá alimentação constante do fluxo, por esse
motivo terá então uma carga constante e igual a altura do muro, u(x,y) = H.
Por fim, o problema de potencial tem suas condições de contorno estabelecidas com
valores prescritos que definem as características físicas do problema. As Figuras 4.1a e Figura
4.1b ilustram as condições de contorno antes citadas e servirão como base para descrever a
metodologia empregada neste trabalho.
O objetivo principal desse trabalho é determinar o coeficiente de empuxo ativo atuante
sobre estruturas de contenção com a influência de superfície freática. Porém ao se determinar a
solução numérica para a curva freática é possível obter outros resultados interessantes como, por
exemplo, a altura de saída do nível d’água e o fluxo unitário no plano que representa a contenção.
Uma vez determinada numericamente a curva freática, é possível determinar o valor da
força U que corresponde a cada superfície de ruptura de Coulomb e por tentativas é possível
chegar à superfície de ruptura critica.
Para determinar o valor da força U foi utilizado o método de integração de Gauss-
Lobatto, que é uma variação do método da quadratura de Gauss utilizado no processo de
integração numérica dos elementos do contorno.
O intervalo de integração que é estabelecido pela superfície de falha apresenta seu inicio
na base da estrutura de contenção e o seu final na interseção com a superfície freática ambos tem
seu valor de poropressão nulo (Figura 4.2), ou seja, apresentam um valor conhecido e que seria
desprezado pelo método convencional de Gauss. Já a regra de quadratura de Gauss-Lobatto é
definida por uma quadratura gaussiana nos quais os pontos extremos do intervalo de integração [-
1, 1] são incluídos em um total n de abscissas, dando r = n-2 abscissas dentro do intervalo, ou
seja, os pontos extremos do intervalo são incluídos no processo de integração numérica (Hunter e
Nikolov, 2000). As abscissas são simétricas sobre a origem e a equação geral proposta é,
56
u(x,y) = y
y
Figura 4. 2 - Diagrama de subpressão determinado através de pontos potenciais obtidos pelo método dos elementos de contorno.
()
1
1
1
1
2
(1) (1) ( )
n
nii
i
f
xdx wf wf wf x
=
=−+ +
(4.1)
As abscissas internas x
i
para i = 2, ..., n – 1 são raízes do polinômio P’
n-1
(x), onde P(x) é
um polinômio de Legendre (Abramowitz e Stegun, 1972). Os pesos das abscissas internas são,
()
() ()
() ()
2
2'' '
1
1
22
,
1
1
i
in imi
ni
n
w
xP xPx
nn P x
==
(4.2)
e os pesos das abscissas nas extremidades do intervalos são,
()
1,
2
.
1
n
w
nn
=
(4.3)
O erro é dado por,
Su
p
erfície freática
Superfície de ruptura
Pontos de
g
auss
57
() ( )
()( )
()
()
4
3
21
22
3
12 2!
,
2122!
n
n
nn n
Ef
nn
ξ
⎡⎤
−−
⎣⎦
=−
⎡⎤
−−
⎣⎦
(4.4)
para ξ (-1, 1). A Tabela 4.1 apresenta os parâmetros para a 3 n 6. Beyer (1987) fornece uma
tabela de parâmetros até n = 11 e Chandrasekhar (1960) até n = 9.
Tabela 4.1 – Abscissas e pesos correspondentes a 3 n 6.
nx
i
x
i
w
i
w
i
3 0 0.00000
4
3
1.333333
±1 ±1.00000
1
3
0.333333
4
1
5
5
±
±0.447214
5
6
0.833333
±1 ±1.000000
1
6
0.166667
5 0 0.000000
32
45
0.711111
1
21
7
±
±0.654654
49
90
0.544444
±1 ±1.000000
1
10
0.100000
6
()
1
727
21
±0.285232
(
)
1
14 7
30
+
0.554858
()
1
727
21
+
±0.765055
(
)
1
14 7
30
0.378475
±1 ±1.000000
1
15
0.066667
58
4.1.1 Determinação numérica da superfície freática
A fim de determinar a superfície como mostrado na Figura 4.1b, foram propostas
algumas condições geométricas para o problema.
1.
A altura do muro será unitária. Tal procedimento permite generalizar o problema para
qualquer altura, uma vez que se tenha a solução numérica para a superfície freática.
2.
A distância entre o paramento frontal e o plano limite que define a fonte geradora de fluxo
é de 5 vezes a altura, onde será avaliada sua influência sob o resultado obtido.
3.
O paramento frontal poderá ser vertical ou inclinado, motivo pelo qual a solução
numérica é necessária, uma vez que não há solução analítica para tais condições;
Nesta etapa do problema o MEC entra como ferramenta fundamental para que se
encontre uma solução numérica, baseado nas condições comentadas anteriormente. A estratégia
adotada pelo MEC para resolver o problema de potencial consiste em representar o contorno e os
valores dos potenciais e fluxos de forma aproximada através de um número finito de valores
nodais associados a um conjunto de pontos sobre o contorno. Essa aproximação se dá através de
uma discretização do contorno utilizando um conjunto finito de nós e de elementos. A
aproximação da geometria e das variáveis é feita através da interpolação sobre os elementos de
contorno, que podem possuem um ou mais nós de acordo com o seu grau de interpolação. A
interpolação sobre um elemento pode ser parametrizada usando uma coordenada local, variando
de -1 a +1 entre as extremidades do elemento e para tanto se dispõe de funções de forma que
definem a maneira como o elemento deve ser discretizado. O item 3.2 deste trabalho trata em
detalhes das funções de forma normalmente utilizadas para o MEC.
Devido à forma curva da superfície freática, a solução para o problema apresenta uma
discretização do contorno por elementos quadráticos que possuem três nós por elemento, dois nas
extremidades e um terceiro variando entre as extremidades do elemento. Esse tipo de elemento
apresenta resultados mais precisos, permitindo uma melhor representação de contorno com
arestas curvas, simulando assim uma superfície freática mais suave (Figura 4.1b).
59
Obter a superfície freática a partir das condições de contorno pré-estabelecidas é o
primeiro passo desse trabalho. A Figura 4.1a mostra a condição inicial do contorno onde a parte
superior apresenta um valor prescrito igual a,
u(x,y)/
y = 0. Tal condição indica que o solo se
encontra totalmente saturado e o nível d’água está na superfície do terreno. Em um dado instante
o contorno superior deve alcançar o equilíbrio e assim tomar a forma da superfície freática. Tal
condição indica que o domínio adquiriu um novo contorno, cuja parte superior se encontra com
u(x,y)/
y = 0 e u(x,y) = y.
Figura 4. 3 - Programa para cálculo do coeficiente de empuxo ativo com determinação numérica da superfície freática, WALLSEEP.
Foi desenvolvido o programa WALLSEEP (Figura 4.3) baseado no programa
POQUABE (Brebbia e Domínguez, 1989) que permite calcular a forma da superfície freática
utilizando o MEC, segundo os procedimentos apresentados a seguir.
60
1.
Entra-se com os números de elementos de contorno para cada lado do domínio
considerado. No caso em questão um retângulo, com as seguintes denominações: MURO,
TOPO BASE, LIMITE (Figura 4.1a).
2.
Definem-se os valores prescritos segundo as condições de contorno apresentadas na
Figura 4.1;
3.
Uma vez definida a coordenada dos nós ao longo do contorno e definido seus valores
prescritos, calcula-se as matrizes G e F, e dessa forma, o sistema de equações pode ser
armado de forma matricial,
Fu = Gq, (4.5)
4.
Através de manipulações algébricas, a equação 4.5 pode ser expressa na forma usual de
um sistema de equações através da consideração das condições de contorno prescritas do
problema. A partir da identificação dos valores nodais incógnitos e conhecidos, realiza-se
o pivotamento entre as colunas das matrizes F e G a fim de obter um sistema dado por:
A
λ
= b (4.6)
onde x é o vetor das incógnitas, A é a matriz formada pelas colunas de H e G associadas
aos valores de u e q incógnitos, que por sua vez são dispostos no vetor x e o vetor F é
obtido pelo produto entre os valores nodais conhecidos
u e q e as correspondentes
colunas de F e G.
5.
O vetor b é calculado multiplicando as condições de contorno prescritas pelos
correspondentes termos de G e F.
6.
Obtidos os valores do vetor b ao longo do contorno é possível compará-los com os valores
de carga altimétrica nos pontos que correspondem ao trecho definido como TOPO com n3
61
elementos, começando a partir do primeiro ponto desse trecho indicado esquematicamente
em vermelho na Figura 4.4.
22 22ij ij
cF y
+− +−
=−
22 22
0.5
ij ij
y
yc
−−
=+ (4.7)
22 22
0.5
ij ij
x
xcder
−−
=+
onde, i = n1+n2+1...n1+n2+n3 e j = 2...3, e der corrige a posição do ponto fazendo com
que essa varie apenas sobre uma reta pré-definida, o que evita que as trajetórias dos
pontos durante o processo iterativo se cruzem.
Figura 4. 4 - Representação esquemáticas dos elementos ao longo do contorno.
7.
Verifica-se o módulo da diferença entre o novo valor prescrito calculado para o contorno
e a nova carga altimétrica. Caso esse valor seja > 0.001 se inicia o processo voltando ao
item 3. Essa checagem é feita até a diferença ser 0.001, ou seja, quando o valor prescrito
para o contorno for igual ou bem próximo da carga altimétrica no ponto.
(BASE)
n1 elementos
(LIMITE)
n2 elementos
(MURO)
n4 elementos
(TOPO)
n3 elementos
62
4.1.2 Determinação da interseção Parábola–Reta
Uma vez determinada numericamente a superfície freática, deve-se obter sua interseção
com a superfície de ruptura. Como tal superfície freática foi discretizada em elementos
quadráticos e cada elemento possui três pontos, cujas coordenadas foram obtidas numericamente
como citado no item 4.1.1, é possível determinar uma equação de parábola paramétrica no plano,
para cada elemento do contorno. Como a superfície de ruptura é representada por uma reta com
inclinação previamente definida, tem-se agora que criar um condicionante que ao variar essa
inclinação se possa identificar qual elemento da freática está sendo interceptado e qual é a
coordenada de interseção com esse elemento de equação paramétrica também definida. Ou seja,
tem-se um caso de interseção entre reta e parábola variando ao longo da superfície freática, cujo
critério de parada será a determinação da inclinação que representa a superfície de ruptura crítica.
Uma vez que se têm definido todos os pontos coordenados da superfície freática, é
possível determinar a inclinação das retas que partem da origem (0,0) do sistema de coordenadas
cartesianas globais e encontra os pontos localizados na extremidade de cada elemento (Figura
4.5).
Tomando s como um elemento qualquer e n-1 e n+1 como os pontos localizados na
extremidade desse elemento, cujas coordenadas já foram definidas pela determinação numérica
da superfície freática, tem-se de maneira simples os ângulos
η
1 e
η
2, respectivamente (Figura
4.5). Sendo
ρ
a inclinação da reta que define a superfície de ruptura, a condição para que essa se
encontre interceptando o elemento s é,
()()
210
ρη ρη
−− (4.8)
ou seja, sendo a condição da equação (4.8) satisfeita a reta que define a superfície de ruptura está
interceptando o elemento s, e como cada elemento é definido por uma equação paramétrica de
parábola é possível calcular qual é o ponto de interseção entre as duas superfícies.
63
n
n + 1
n - 1
ρ
η1
η2
(ρ−η2).(ρ−η1) < 0
elemento s
y
(0,0)
superfície de ruptura
Figura 4. 5 – Interseção entre a reta de Coulomb com o elemento parametrizado da parábola.
A equação da parábola no plano pode ser obtida na forma paramétrica como:
() ()
(
)
112 23 3
x
NxN xNx
ξξξ
=+ +
(4.9)
() ()
(
)
112 233
yN y N y N y
ξξξ
=+ + (4.10)
onde,
() ()
1
1
1
2
N
ξξξ
=−
() ( )( )
2
11N
ξ
ξξ
=− +
() ()
3
1
1
2
N
ξξξ
=+
e x
i
, y
i
são as coordenadas dos nós do elemento.
ponto de interseção
(
x,
y)
64
A equação da reta que representa a superfície de ruptura de Coulomb é dada por,
y
ax= (4.11)
onde, tana
ρ
= , e
ρ
é a inclinação da superfície de ruptura em relação ao plano horizontal. Note-
se que a reta passa pela origem do sistema de coordenadas. O ponto de interseção entre a reta e a
parábola é dado pela solução da seguinte equação,
() ()
(
)
(
)
(
)
(
)
112 233 112233
NyN yNyaNxNxNx
ξξξ ξξξ
++= ++
(4.12)
A solução para a equação (4.12) é,
2
1,2
4
2
B
BAC
A
ξ
−±
=
(4.13)
onde,
()
123123
22
A
ax x x y y y=−++
()
13 13
B
axx y y=−+ +
()
22
2Caxy=−
Se
–1
ξ
1
+1 ou –1
ξ
2
+1, então a reta intercepta o elemento. As coordenadas do
ponto de interseção são obtidas ao colocar o valor de
ξ
1
ou
ξ
2
na equação (4.9) e (4.10).
65
5. BUSCA DA SUPERFÍCIE DE RUPTURA CRÍTICA
O programa WALLSEEP fornece o valor do fluxo total obtido por ocasião da superfície
freática numericamente determinada e o valor do coeficiente do ativo para uma superfície de
ruptura critica pelo método de Coulomb.
Como se optou por fixar um padrão unitário para a obtenção da superfície freática, a
altura de saída do nível d’água é a referencia do modelo. Portanto, criou-se uma relação de escala
para adequar o modelo unitário ao modelo real em função das alturas de saída do nível d’água
real
()d
, encontrado no campo, e unitário ()d . Fixada essa relação é possível trazer as
dimensões do modelo unitário para o modelo real e realizar o cálculo do empuxo ativo utilizando
à posição da superfície freática adequada as condições de campo (Figura 5.1).
1.00
d
d
d
d
H
Figura 5. 1 – Mudança de escala do resultado da freática obtido no modelo unitário para o modelo real.
66
A Figura 5.2 mostra esquematicamente o resultado obtido pelo WALLSEEP para um
muro unitário. Nessa figura é possível observar que são determinados os valores de
d
, altura de
saída do nível d’água,
U , força resultante da poropressão e
s
at
A que corresponde a área sob a
superfície freática delimitada pela superfície de ruptura, todos os valores tirados do modelo
unitário.
Figura 5. 2 – Resultado esquemático obtido pelo programa WALLSEEP com muro de altura unitária.
A presença do lençol freático faz com que existam duas áreas a considerar com dois
pesos específicos distintos, um sobre e outro abaixo da curva freática (Figura 5.3), e por esse
motivo devem ser determinados dois pesos para a cunha de ruptura, um definido pela área do
triângulo ABC e outro pela área definida abaixo da curva freática.
a) b)
Figura 5. 3 – Diferentes pesos específicos. a) Área acima da superfície freática – γ; b) Área abaixo da superfície freática - γ
sat
.
Superfície
freática
Superfície
de ru
p
tura
ρ
ρ
67
5.1 Etapas de Cálculo
Uma vez determinada a numericamente a superfície freática, resta ajustar os valores
obtidos no modelo unitário com o modelo real. Tal ajuste deve ser feito através de um fator de
escala que obtido pela relação entre a altura de saída do nível d’água real com o a altura de saída
do nível d’água no modelo unitário
(/)dd.
As etapas de cálculo passam a ser:
a)
Determinação numérica da superfície freática, onde são obtidas as coordenadas
cartesianas, os valores de potencial e de derivada do potencial em cada ponto e a
altura de saída do nível d’água, todos resultados correspondentes ao modelo
unitário, ou seja, muro com altura igual a 1.00;
b)
Defini-se uma inclinação para a superfície de ruptura ρ e a partir daí:
i.
Calcula-se a interseção entre a inclinação da superfície de ruptura (modelo
real) e a superfície freática, conforme descrito no item 4.1.2;
ii.
Através do método de Gauss-Lobatto, determina-se o valor da poropressão
em 10 pontos ao longo da superfície de ruptura, definido desde o ponto
(0,0) até o ponto de interseção com a superfície freática, calculando-se
assim o valor da força de poropressão
U
no modelo unitário;
iii.
Calcula-se o valor da força de poropressão para o modelo real:
2
d
UU
d
⎛⎞
=
⎜⎟
⎝⎠
(5.1)
iv.
Calcula-se o valor da área saturada
s
at
A no modelo unitário. Esse valor foi
obtido através do cálculo por coordenadas cartesianas de uma poligonal
fechada.
68
v.
Calcula-se o valor da área saturada para o modelo real:
2
sat sat
d
AA
d
⎛⎞
=
⎜⎟
⎝⎠
(5.2)
vi.
Calcula-se a área total do triângulo ABC para o modelo real, segundo
Barros (2005),
()
()
()
()
(
)
()
2
2
180
180
2 180
sen i
H
Asen
sen sen i
α
αρ
αρ
−+
=−+
−−
(5.3)
vii.
Calcula-se o valor da força peso referente à área da cunha definida pelo
triângulo ABC no modelo real. Lembrando que nesse caso têm-se dois
pesos específicos distintos (Figura 5.3),
()
s
at sat sat
PAA A
γγ
=− + (5.4)
viii.
Calcula-se o equilíbrio da cunha e se obtém o valor do empuxo ativo, E
a
,
através da equação abaixo obtida pelo equilíbrio de forças mostrado na
Figura 5.4,
(
)
()
(180 )
a
Psen Usen
E
sen
ρ
φφ
α
φδ ρ
−+
=
++
(5.5)
O valor de
Ea corresponde à superfície de ruptura
ρ
definida no item b). As etapas de
cálculo devem ser repetidas desde o item i ao item viii até que seja encontrada a inclinação
ρ
que
corresponde ao Empuxo Ativo Máximo.
Para a busca do ângulo que determina o Empuxo Ativo Máximo, utilizou-se um método
de maximização/minimização conhecido como razão áurea. Press et al (2007) apresenta em sua
publicação uma rotina denominada GOLDEN que foi utilizado nesse trabalho para maximizar a
69
função definida na equação (5.5). Ou seja, as etapas propostas do item i ao viii foram
incorporadas à rotina GOLDEN sendo determinado assim o valor do Empuxo Ativo Máximo.
Figura 5. 4 – Esquema do equilíbrio de forças atuantes no modelo real para o cálculo do Empuxo Ativo.
Ao final o programa WALLSEEP permite ao usuário obter de maneira muito simples o
valor do empuxo ativo em função dos seguintes dados:
9 altura do muro;
9 inclinação do muro, α;
9 altura de saída do nível d’água, d;
9 número de elementos no contorno;
9 ângulo de atrito interno do solo, φ;
9 ângulo de atrito de interface solo/muro, δ;
9 peso especifico do solo natural e saturado, γ e γ
sat
;
9 inclinação do talude, i.
70
Figura 5. 5 – Versão final do programa WALLSEEP.
Uma outra informação extraída do programa WALLSEEP é o valor do fluxo total,
q
obtido numericamente através dos valores da derivada dos potenciais no trecho referente à altura
de saída do nível d’água. Esse valor pode ser útil principalmente no cálculo de um sistema de
drenagem eficaz.
71
Figura 5. 6 – Fluxo total obtido pelo programa WALLSEEP.
Considerando que a derivada do potencial foi obtida pelo MEC ao longo do contorno, é
possível utilizar tais valores no trecho definido pela altura de saída do nível d’água,
d.
O cálculo pode ser feito integrando a equação paramétrica da parábola ao longo de cada
elemento (Figura 5.7). Daí, obtém-se,
() ( ) ()
()
2
22
12 1 12 2 12
12
2
6
cacab
s
ll fl f fll fl fll
q
ll
+−+ + + +
=
(5.6)
onde:
l
1
distância entre o ponto 2
n-1
e o 2
n
l
2
distância entre o ponto 2
n
e o 2
n+1
f
a
, f
b
, f
c
valor da derivada do potencial nos pontos, f
3n-2
, f
3n-1
e f
3n
, respectivamente.
Somando o valor de cada vazão obtida por elemento definida na equação (5.6) ao longo
de d, é possível obter o valor do fluxo total (Figura 5.6).
72
Figura 5. 7 – Distribuição parametrizada da derivada do potencial para um elemento s.
Figura 5. 8 – Diagrama de bloco referente ao cálculo da superfície freática.
73
Estima o valor
de
ρ
Cálcula interseção
com a freática
(modelo unitário)
Cálcula o valor de U
por Gauss-Lobatto
(modelo unitário)
Cálcula o valor de U
corrigindo escala
(modelo real)
Cálcula a área
saturada A
sat
(modelo unitário)
Corrige a área
saturada A
sat
(modelo real)
Cálcula a
força peso
(modelo real)
Cálcula o
empuxo ativo
(modelo real)
Varia a
inclinação
até E
ρ
a máx
Figura 5. 9 – Diagrama de bloco referente ao cálculo do empuxo ativo máximo.
5.2 Exemplo de cálculo
Serão realizados três exemplos, os dois primeiros não considerando a presença da
superfície freática e o último a considerando. A comparação dos resultados obtidos para o
primeiro exemplo será feita pelo método de Rankine e o segundo pelo método de Coulomb, para
o terceiro exemplo a comparação será feita com um software de cálculo conhecido e distribuído
gratuitamente pela empresa Maccaferri, GawacWin® (Gabions Wall Calculation for Windows).
Os dados utilizados para o primeiro exemplo sem superfície freática são:
altura do muro, H = 5.00m
inclinação do muro, α = 90 graus
altura de saída do nível d’água, d = 0.00m
ângulo de atrito interno do solo, φ = 30 graus
ângulo de atrito de interface solo/muro, δ = 0 graus
peso especifico do solo natural, γ = 18.00kN/m³
inclinação do talude, i = 0 graus
74
Será feito um exemplo simples, cujo resultado servirá para verificar se apenas o cálculo
do empuxo ativo está correto.
Figura 5. 10 – Cálculo do empuxo ativo sem influência da superfície freática pelo programa WALLSEEP, considerando o muro vertical.
O resultado obtido foi E
a
= 75kN/m.
Calculando agora por Rankine, tem-se que o coeficiente de empuxo ativo é igual,
()
2
tan 45 / 2 0.33
o
a
K
φ
=−=
2
0.50 75 /
aa
EHKkNm
γ
==
75
No segundo exemplo será considerada uma inclinação de 10 graus para o talude sobre o
muro e uma inclinação 96graus segundo a Figura 2.10 para o método de Coulomb.
Figura 5. 11 – Cálculo do empuxo ativo sem influência da superfície freática pelo programa WALLSEEP, considerando talude sobre o muro e
inclinação do paramento frontal.
Calculando agora por Coulomb, tem-se que o coeficiente de empuxo ativo é igual,
(
)
()
()()
()()
2
2
2
2
73.94 /
2
1
a
sen
H
EkNm
sen sen i
sen sen
sen sen i
αφ
γ
φδ φ
ααδ
αδ α
+
==
⎡⎤
+−
⎢⎥
−+
−+
⎢⎥
⎣⎦
76
Os dois primeiros exemplos estão compatíveis com os modelos clássicos propostos.
Resta agora realizar a verificação dos resultados considerando a influência da superfície freática.
No terceiro exemplo serão considerados os mesmos dados do primeiro.
Figura 5. 12 – Cálculo do empuxo ativo com influência da superfície freática pelo programa WALLSEEP, considerando o muro vertical.
Esse terceiro exemplo terá seu resultado comparado como o software GawacWin que
considera a influência da superfície freática pelo método gráfico proposto no item 2.4.1.
77
Figura 5. 13 – Cálculo do empuxo ativo com influência da superfície freática pelo programa GawacWin, considerando o muro vertical.
Figura 5. 14 – Resultados das análises do software GawacWin.
78
Para confirmar de maneira aproximada o valor da força de poropressão obtida, foi feito
um cálculo manual pelo método gráfico apresentado no item 2.4.1.
No problema em questão como existe fluxo dentro do maciço de solo a carga total ao
longo da superfície freática varia. Portanto, a carga potencial ou altura de pressão ao longo da
superfície de ruptura deveria ser determinada através do traçado de uma rede de fluxo. De
maneira conservadora é possível determinar a altura de pressão (u/
γ
w
) como se o sistema se
encontrasse sob condições de pressões hidrostáticas, tomando simplesmente a diferença de
alturas entre a posição da freática e da superfície de ruptura crítica. Como a superfície de ruptura
foi divida em dez partes para determinar o valor da força
U pelo método de integração de Gauss-
Lobatto, tem-se dez valores definidos como cargas potenciais a serem usadas no processo gráfico
do cálculo da força de poropressão. Foram tomadas as coordenadas cartesianas da curva freática e
de ruptura obtida numericamente pelo programa WALLSEEP com a finalidade de obter
graficamente os valores de potencial.
Figura 5. 15 – Determinação gráfica da força de poropressão referente ao exemplo 3.
79
A tabela 5.1 apresenta o resultado gráfico da força de poropressão extraído do desenho
da Figura 5.14. Os resultado gráfico encontrado foi de 1.997 kN/m e o resultado numérico foi de
1.764 kN/m.
Tabela 5.1 – Resultado gráfico da força de poropressão.
Potencial Potencial médio Intervalo (Potencial) x (intervalo)
0.000
0.050 0.030 0.00015
0.010
0.025 0.060 0.0015
0.040
0.065 0.090 0.00585
0.090
0.120 0.110 0.0132
0.150
0.180 0.120 0.0216
0.210
0.240 0.130 0.0312
0.270
0.295 0.120 0.0354
0.320
0.340 0.110 0.0374
0.36
0.370 0.090 0.0333
0.38
0.400 0.060 0.024
0.42
0.2036
Força de poropressão = 0.2036 x 9.81 = 1.997 kN/
m
80
6. RESULTADOS OBTIDOS
A fim de apresentar de maneira prática os resultados obtidos através do programa
WALLSEEP foram feitas algumas simulações de cálculo com parâmetros de entrada
normalmente adotados em projetos.
A Figura 6.1 possibilita a determinação da vazão de saída de uma estrutura de contenção
drenante em função da inclinação do paramento de tardoz variando de 70 a 110 graus.
Figura 6. 1 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da vazão em função da altura de saída do nível d’água e a permeabilidade variando
em relação a inclinação do paramento ao tardoz da contenção.
81
Ao realizar o processo de busca por tentativas da força de poropressão atuante sobre a
superfície de falha crítica, são determinadas varias áreas saturadas, o que possibilitou traçar um
gráfico de tais áreas, variando com a altura de saída do nível d’água, em função das possíveis
superfícies de ruptura (Figura 6.2). A fim de simplificar os resultados obtidos, foram adotados
alguns parâmetros de entrada:
inclinação do muro, α variando de 80 a 110 graus
ângulo de atrito interno do solo, φ = 30 graus
ângulo de atrito de interface solo/muro, δ = 0 graus
peso especifico do solo natural, γ = 18.00kN/m³
peso especifico do solo saturado, γ = 21.60kN/m³
inclinação do talude, i = 0 graus
Figura 6. 2 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da área saturada em função da altura de saída do nível d’água variando em relação a
inclinação do paramento ao tardoz da contenção.
82
Como descrito anteriormente na determinação do gráfico da Figura 6.2, segue-se um
processo similar para determinação da força de poropressão, variando com o peso específico da
água e a altura de saída do nível d’água, em função das possíveis superfícies de ruptura (Figura
6.3).
Figura 6. 3 – Gráfico que possibilita a determinação do valor da força de poropressão em função da altura de saída do nível d’água e o peso
especifico da água variando em relação a inclinação do paramento ao tardoz da contenção.
O programa WALLSEEP possibilita o cálculo do empuxo ativo através da inserção dos
parâmetros de entrada descritos no item 5.2, e a Figura 6.4 simplifica esse procedimento através
da obtenção do coeficiente de empuxo ativo em função da relação entre a altura de saída do nível
d’água e a altura do muro. Como existem muitas variadas a serem declaradas para esse cálculo,
foram adotados os seguintes parâmetros:
83
inclinação do muro, α = 90 graus
ângulo de atrito interno do solo, φ = 30 graus
ângulo de atrito de interface solo/muro, δ = 0 graus
peso especifico do solo natural, γ = 20.00kN/m³
inclinação do talude, i = 0º, i = 20º e i = 26.56º (1V:2H)
A equação 6.1 determina o coeficiente de empuxo ativo em função dos parâmetros
acima descritos e a Figura 6.4 representa graficamente os resultados obtidos.
2
0.50
a
a
E
k
H
γ
= (6.1)
Figura 6. 4 – Gráfico que possibilita a determinação do valor do coeficiente de empuxo ativo com influência da freática variando com a relação
entre a altura de saída do nível d’água e a altura do muro.
84
7. CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS FINAIS
Referente ao cálculo de empuxo ativo pelos métodos tradicionais, fica evidente a
simplicidade das fórmulas clássicas encontradas na literatura estudada. O critério de Mohr-
Coulomb empregado simplifica bastante a análise, além de ser mais conservador que a análise
tridimensional. Sendo assim, o cálculo de empuxo, respeitando tais critérios, faz com que a teoria
de Rankine e Coulomb apresente uma identidade matemática muito clara. Em particular a teoria
utilizada por Coulomb, que foi um dos alicerces desse trabalho, apresenta diversidade geométrica
suficiente para que a busca por tentativas da superfície de ruptura critica justifique a necessidade
de algoritmos matemáticos que possam fazer parte de modelagens computacionais mais
complexas.
A idéia da realização desse trabalho foi baseada no artigo publicado por Barros (2006)
que estuda a influência da percolação da água em maciços homogêneos no cálculo do empuxo
ativo por Coulomb. Esse artigo despertou a necessidade em calcular o empuxo ativo sob
condições geométricas variadas, uma vez que a solução analítica apresentada não possui solução
para paramentos frontais inclinados.
O uso do Método dos Elementos de Contorno foi à alternativa escolhida para discretizar
o problema e buscar uma aproximação numérica para o problema do fluxo. Essa escolha foi
baseada mais uma vez nas condições geométricas do problema e na idéia de que a superfície
freática faz parte do contorno e que esse pode variar em funções das condições prescritas a ele.
Brebbia e Dominguez (1989) trazem em sua obra várias rotinas computacionais que
favorecem o leitor em usar o MEC, por esse motivo foi utilizada rotina POQUABE que discretiza
o contorno em elementos quadráticos e possibilita a obtenção da solução numérica para
problemas de potencial.
Baseado no que foi descrito por Brebbia e Dominguez (1989) foram feitas adaptações à
rotina POQUABE, culminando na criação do WALLSEEP, que em um primeiro momento tornou
85
possível o cálculo da superfície freática, como descrito no item 4.1.1. Como resultado final,
obteve-se o fluxo total para a curva freática proposta, além das coordenadas cartesianas de todos
os pontos que a compõe. O fato de o programa fornecer as coordenadas cartesianas como valor de
saída, possibilita a geração de arquivos de planilhas eletrônicas, o que facilita para o usuário no
uso dessas coordenadas, por exemplo, em outros programas.
Em um segundo momento foi proposta uma rotina de cálculo para a busca por tentativas
da superfície de ruptura. A maneira elegante encontrada foi à utilização de métodos de
maximização/minimização de funções, como descrito por Press et al (2007). Utilizou-se uma
rotina de minimização denominada por Press et al (2007) como GOLDEN. Como essa rotina é de
minimização, buscou-se um valor negativo para a função.
Um ponto importante para se implementar o cálculo do empuxo ativo foi a busca pela
interseção entre a superfície de ruptura de Coulomb com a superfície freática, a fim de determinar
em qual trecho da reta de Coulomb a força de poropressão deve ser aplicada. O item 4.1.2
descreve muito bem esse processo sendo passível de aplicação em modelos matemáticos
similares.
O programa WALLSEEP determina o valor do empuxo ativo sob a influência da
superfície freática, porém não determina seu ponto de aplicação. Tal determinação é importante
para a verificação da estabilidade externa (deslizamento, tombamento e tensões na base). Barros
(2006) demonstra que o ponto de aplicação do empuxo ativo com a influência da curva freática
está ligeiramente abaixo de
H/3, o que sugere o uso desse valor como uma aproximação
conservadora para o cálculo da estabilidade externa.
Os resultados apresentados no item 5.2 mostram que o programa está compatível com a
teoria clássica sem considerar a influência da superfície freática e ao considerá-la apresenta
similaridade numérica com o modelo gráfico utilizado (Tabela 5.1). É certo que a aproximação
numérica utilizada pode trazer resultados mais precisos em função do número de elementos
propostos no contorno, por esse motivo foram utilizados 110 elementos no contorno quando sob
influência da superfície freática contra 65 elementos quando sem a presença da água.
86
Observou-se que um maior número de elementos no trecho denominado “TOPO”
interfere principalmente no cálculo da interseção entre a superfície de ruptura e a curva freática.
Isso se deve ao fato de que ocorre uma maior concentração de elementos no trecho da curva
próxima ao paramento frontal o que gera maior precisão nos resultados para a interseção e
posterior cálculo da força de poropressão, uma vez que o ângulo crítico deve estar próximo de
45º+
φ/2, ou seja, bem próximo do trecho denominado “MURO”. Por esse motivo se deve optar
por utilizar um maior número de elementos na parte denominada “TOPO”, considerando o valor
mínimo de 40 elementos.
87
8. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
As principais sugestões para realização de trabalhos futuros são:
Aperfeiçoamento gráfico da interface do programa;
Implementar o cálculo de taludes com superfície finitas;
Determinação numérica do ponto de aplicação do Empuxo Ativo;
Implementar visualmente ao usuário o traçado da rede de fluxo. Tarefa simples uma
vez que se têm os valores do potencial e de sua derivada ao longo do contorno.
Estudar a possibilidade analisar superfície de falha curvas.
88
89
APÊNDICES
90
91
Apêndice A – Integração analítica das equações principais
92
93
A.1 Integração das equações principais
A.1.2 Equações integrais de contorno para problemas 2D
Para os problemas potenciais em duas dimensões, tem-se quatro funções as equações
integrais convencionais de contorno (Liu, 2009).
()
=
r
yxG
1
log
2
1
,
π
, (A.1)
()
()
()
()
ynr
ryn
yxG
yxF
kk
,
2
1),(
,
π
=
= , (A.2)
()
()
()
()
xnr
rxn
yxG
yxK
kk
,
2
1),(
,
π
=
=
, (A.3)
()
()
() ()
() () () ()
[]
ynrxnrynxn
r
ynxn
yxG
yxH
llkkkk
,,2
2
1,
,
2
2
=
=
π
. (A.4)
As integrais das quatro funções no segmento reto
ΔS, mostrado na figura A.1, podem ser
avaliadas analiticamente. Sendo assim, considera-se que
Δ
S, r = d/cos
θ
, dS = rd
θ
/cosθ.
() ()
[]
Δ
++=
S
rTrTRddSyxG
112212
loglog2
2
1
,
θθ
π
, (A.5)
() ()
12
2
1
,
θθ
π
=
ΔS
dSyxF , (A.6)
() ()() () ()
xnyt
r
r
yndSyxK
kkk
S
+=
Δ
1
2
12
log
2
1
,
θθ
π
, (A.7)
() () () ()
xnyt
rr
dyn
r
T
r
T
dSyxH
kkk
S
+
=
Δ
2
1
2
2
2
1
1
2
2
2
11
2
1
,
π
, (A.8)
94
onde
2R (= T2 – T1) é o comprimento total do segmento linear e t
k
é o componente do vetor
tangencial
t (Figura A.1). Esses resultados podem ser usados para avaliar diretamente os
coeficientes das equações integrais de contorno para problemas de potencial bidimensionais
usando elementos constantes. Se o ponto fonte
x estiver no elemento de integração (no ponto
médio do segmento), tem-se que
θ
2
-
θ
1
=
π
, d = 0, r
1
= r
2
= R, T
1
= - T
2
= -R, e as quatro
integrais, A.5, A.6, A.7 e A.8 se tornam:
() ()
R
R
dSyxG
S
log1, =
Δ
π
, (A.9)
()
2
1
,
=
ΔS
dSyxF , (A.10)
()
2
1
,
=
ΔS
dSyxK , (A.11)
()
R
dSyxH
S
π
1
, =
Δ
, (A.12)
Figura A. 1 - Integração analítica em um segmento de reta arbitrário.
95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abramowitz, M. & Stegun, I. A. (eds)
Handbook of mathematical functions with formulas,
graphs, and mathematical tables
, 9th edn. New York: Dover, 1972.
Barros, P. L. A. “Empuxo exercido por maciço não homogêneo sobre muros de arrimo”,
Simpósio de Informática em Geotecnia, Associação Brasileira de Mecânica dos Solos - NRSP, pp
159-166, 1994.
Barros, P. L. A.
Obras de Contenção – Manual Técnico, Maccaferri, 2005.
Barros, P. L. A. “A Coulomb-type solution for active earth thrust with seepage”,
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