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marca tatuada no pecador, o homem não poderá, ele mesmo, tatuar-se.
É o que lemos no livro sagrado dos cristãos, Pentateuco e judeus,
Torah
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: Não fareis golpes na vossa carne, pranteando mortos; nem
fareis figuras algumas, nem marcas sobre o sobre o vosso corpo”.
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Submetidas à escritura sagrada, as religiões Judaica e Cristã
proibiram a prática de inscrição de marcas na pele. Mas em alguns
períodos da história a tatuagem funciona como uma alternativa segura
de identificação e documento de fé para os cristãos. Gilles Rabary
mostra que essa prática foi utilizada durante as vigílias na Terra Santa
contra ataques mulçumanos, do oitavo ao décimo século DC. Aos que
partem nessa missão, uma cruz é tatuada na parte interna do braço,
garantindo, assim, um sepultamento cristão aos que morrem em
território mulçumano. Mesmo com a reprovação da Igreja Católica,
essa prática retorna na Idade Média, durante o período das
peregrinações à Jerusalém. Peregrinos têm o hábito de tatuar sua fé na
forma de uma imagem religiosa. Essas tatuagens, ainda hoje, são
souvenirs daqueles que vão à Jerusalém e Belém. A imagem da
Virgem Maria e a cabeça de Cristo são testemunhos de fé, diz Ribary.
O Islamismo, a terceira religião monoteísta, também proíbe esta
prática. Lê-se no Alcoorão, o seu livro sagrado: “a tatuagem é uma
marca satânica, causa maldição, as abluções rituais não têm nenhum
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O Livro sagrado dos judeus é a Torah. O Pentateuco, formado pelo Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números, Deuteronômio, é o Antigo Testamento da Bíblia Cristã. Gênesis é o primeiro livro que trata
da origem do mundo; Êxodo, palavra de origem grega que significa saída, trata da saída dos judeus do
Egito. Levítico, o terceiro livro, fala da escolha de Deus pelo povo de Levi e contém a legislação
mosaica (pureza legal, santidade dos sacerdotes, votos e dízimos); Números, o quarto livro, fala do
senso do povo judeu, um ano após a saída do Egito; Deuteronômio, o quinto livro, significa segunda
lei, porque repete e explica a lei do Monte Sinai.
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Segundo Tenenhaus, essa proibição bíblica referia-se, possivelmente, a uma prevenção de ordem
sanitária por causa da transmissão da lepra, pois ela está nas normas da lei para a purificação dos
corpos contra a lepra. (s/d, p. 26)