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CLAUDIA MOREIRA DE SOUSA PIRES
PAISAGEM E LUGAR NO CONTEXTO DA TURISTIFICAÇÃO DE GUAIBIM-
VALENÇA,BA: UMA LEITURA A PARTIR DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DA
COMUNIDADE LOCAL.
Trabalho apresentado à Universidade do
Estado da Bahia como requisito para obtenção
do título de mestre em Cultura, Memória e
Desenvolvimento Regional- Linha de pesquisa
2: “Políticas públicas de desenvolvimento
regional”- sob a orientação do Profº. Dr. Jânio
Roque Barros de Castro.
SANTO ANTÔNIO DE JESUS – BAHIA
2010
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3
CLAUDIA MOREIRA DE SOUSA PIRES
PAISAGEM E LUGAR NO CONTEXTO DA TURISTIFICAÇÃO DE GUAIBIM-
VALENÇA,BA: UMA LEITURA A PARTIR DAS POLÍTICAS PÚBLICAS E DA
COMUNIDADE LOCAL.
Trabalho apresentado à Universidade do Estado da Bahia como requisito
para obtenção do título de mestre em Cultura, Memória e Desenvolvimento
Regional. Linha de pesquisa 2: Políticas públicas de desenvolvimento
regional.
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________
Profº. Dr. Janio Roque Barros de Castro
Universidade do Estado da Bahia-UNEB-Campus V
(Orientador)
_________________________________________________
Profº. Dr. Renato Leone Miranda Léda
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
_________________________________________________
Profº. Drº. Onildo Araújo da Silva
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
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4
Dedico este trabalho aos meus queridos pais Marinalva e
Esmeraldo, que me ensinaram valores que levarei por toda a minha
vida, e deram-me um bem de valor imensurável, que ninguém
jamais poderá arrancar de mim, a minha educação. A Ana Beatriz
que em cada gesto me incentivava a prosseguir, seja através dos
risos ou dos choros, no auge dos seus seis meses de vida, ela torna
meus dias mais suaves.
5
AGRADECIMENTOS
As lutas foram muitas até chegar aqui. No meio do caminho descobri que estava grávida de
dois, mas não de gêmeos. Sabia que primeiro daria à luz a Ana Beatriz e que sete meses
depois teria que passar novamente pelo trabalho de parto, teria que dar à luz a tão sonhada e
desejada dissertação. O caminho foi cheio de desafios, mas também de pessoas especiais que
estavam sempre por perto, dispostas a ajudar. E agora nada mais justo do que agradecer a
essas pessoas. Antes de citar os nomes, peço, desde já, desculpas se, por um acaso e também
pela mente cansada, vier a omitir o nome de alguém. Primeiramente agradeço e louvo a
Deus por ele existir em minha vida e por me permitir ter chegado até aqui. Obrigado ao meu
querido orientador Jânio, O Roque. Com você aprendi muito mais do que possa imaginar.
Obrigada por toda a compreensão, dedicação e ensinamentos. Nesse momento digo também
obrigada aos meus queridos pais, sem dúvida foram os responsáveis por eu ter chegado aqui.
Em especial a minha querida Mãe que, apesar da distância, está ao meu lado a todo instante,
incentivando-me e vibrando com minhas vitórias, que acabam sendo nossas. Obrigada ao meu
Sogro, João, e minha Sogra, Neide. Vocês são fundamentais em minha vida. Não poderia
esquecer a querida Tia Ilma, por todas as vezes em que se dispôs fazer o trabalho de campo
junto comigo. Obrigada também aos meus queridos colegas de Jornada, Maria da Paz,
Eduardo, Gilvânia e Lene. Obrigada a Cesar, Julinara e Nice, vocês fazem a diferença, eu me
diverti muito com vocês. Obrigada aos meus queridos professores Renato Léda, Ely Estrela,
Rocio Kutsner, Paula Arcoverde e Alícia Ruiz que contribuíram para o meu crescimento.
Obrigada ao Professor Onildo Araújo, que contribuiu significativamente na qualificação.
Obrigado, a Ercírio pela paciência dispensada todas a vezes em que precisei da biblioteca.
Obrigada às pessoas que contribuíram me permitindo conhecer suas percepções, abrindo as
portas para a realização da pesquisa. Finalmente, de forma especial, agradeço ao meu
companheiro de jornada, sempre incansável, sem você teria sido mais difícil chegar aqui.
Israel, seus risos e brincadeiras foram um bálsamo, obrigado por ter sido amigo, esposo,
“mestrando, quando preciso,” dividindo comigo as minhas discussões e anseios durante a
pesquisa.
6
Os lugares íntimos são lugares onde
encontramos carinho, onde nossas
necessidades fundamentais são
consideradas e merecem atenção sem
espalhafato.(Tuan, 1983)
7
RESUMO
O turismo é uma importante atividade econômica da atualidade que transforma as paisagens e
reinventa as formas de uso, leitura e apropriação dos lugares. Esse fenômeno ocorre num
espaço sem fronteiras, num processo em que locais, até então pouco conhecidos, veem-se de
uma hora para outra transformarem-se em destinos turísticos, com uma completa
reorganização espacial, acompanhada de uma drástica transformação do cotidiano dessas
comunidades. Portanto, no presente trabalho, propõe-se analisar as especificidades do
processo de turistificação do distrito de Guaibim, no município de Valença-Ba, a partir das
políticas públicas, bem como entender as concepções de lugar e paisagem dos seus
moradores. Para tanto, busca-se compreender quais os níveis de interação, convergência e
descompasso entre as políticas públicas voltadas a dinamizar o turismo no distrito de
Guaibim, e avaliar o papel da atividade turística na recomposição espacial e paisagística,
considerando a leitura da população local frente o processo de turistificação. A peculiaridade
desta pesquisa está no fato de considerar o planejamento territorial sob um recorte
humanístico, o que leva a se considerar a percepção/olhar da comunidade sob seu espaço de
vivência. Para alcançar esse objetivo, partiu-se do referencial teórico, depois de pesquisas de
campo com o uso de entrevistas, mapas mentais e de análises documentais de publicações
voltadas ao planejamento turístico. Enfim, observou-se que, mesmo nos lugares turistificados
como Guaibim, os moradores têm a paisagem como portadora de sentidos, como reveladora
de significados. Esses espaços acabam despertando a afetividade da comunidade, mesmo
nesse contexto racionalizado turistificamente pelas políticas públicas e pelos grupos
econômicos.
Palavras-chave: Turistificação. Políticas Públicas. Percepção. Paisagem. Lugar.
8
ABSTRACT
The tourism is an important economical activity of the present time that transforms the
landscapes and it reinvents the use forms, reading and appropriation of the places. That
phenomenon happens in a space without borders, in a process in that places, until then little
known, they see each other suddenly they be transformed in tourist destinies, with a complete
space reorganization, accompanied of a drastic transformation of the daily of those
communities. In the present work, she intends to analyze the specificities of the process of
turistificação of the district of Guaibim, in the municipal district of Valencia-nanny, starting
from the public politics, as well as to understand the place conceptions and their residents'
landscape. For so much, it is looked for to understand which the interaction levels,
convergence and descompasso among the returned public politics the dinamizar the tourism in
the district of Guaibim, as well as to evaluate the paper of the tourist activity in the space
recomposição and paisagística, considering the reading of the population local front the
turistificação process. The peculiarity of this research is in the fact of considering the
territorial planning under a humanistic cutting, which perpassa for considering the perception
to look of the community under her existence space. To reach this objective she broke of the
theoretical referencial, after field researches with the use of interviews, mental maps and of
documental analyses of publications returned to the tourist planning. Finally, it was observed
that, even in the places turistificados as Guaibim, the residents have the landscape as bearer of
senses, as developing of meanings. Those spaces end up waking up the community's
affectivity even in that context rationalized turistificamente for the public politics and for the
economical groups.
Key words: Turistificação. Public politics. Perception. Landscape. Place.
9
LISTA DE SIGLAS.
PRODETUR-BA : Programa de Desenvolvimento do Turismo na Bahia.
PRODETUR- NE: Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
PDDU: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
CAP: Conselho Administrativo Participativo
COMTUR: Conselho Municipal de Turismo.
EMBRATUR: Empresa Brasileira de Turismo.
BAHIATURSA: Empresa de Turismo da Bahia S.A.
SUTURSA: Superintendência de Turismo na Cidade de Salvador
SIC: Secretaria de Indústria e Comércio
CETUR: Conselho Estadual de Turismo
CFT: Coordenação de Fomento ao Turismo
EMTUR: Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A.
CONBAHIA: Empresa Bahia Convenções S.A
SUDENE: Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.
BID: Banco de Desenvolvimento Interamericano.
PNT: Plano Nacional de Turismo
PDTIS: Plano de Desenvolvimento de Turismo Integrado e Sustentável.
SEI: Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
APA: Área de Proteção Ambiental
CONDER: Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia.
SENAC: Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
SEBRAE: Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas.
PMV: Prefeitura Municipal de Valença.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Região Econômica do Litoral Sul da Bahia, com destaques para a sub-região do
Baixo Sul e o município de Valença. ................................................................................ 18
Figura 2 - Mapa de Localização Geográfica da APA do Guaibim, Valença-Bahia. ............... 19
Figura 3 - Imagem de satélite Landsat TM-5, localizando a APA da Planície Costeira do
Guaibim. ............................................................................................................................ 20
Figura 4 - Mapa Pictórico das Zonas Turísticas da Bahia com destaque para a Costa do
Dendê. ............................................................................................................................... 48
Figura 5 - Primeiras edificações na Praia de Guaibim. ........................................................... 56
Figura 6 - Avenida Principal da Praia de Guaibim.................................................................. 57
Figura 7 - Avenida Principal da Praia de Guaibim.................................................................. 57
Figura 8 - Lixo expostos ao longo da orla. .............................................................................. 60
Figura 9 - Lixo expostos ao longo da orla. .............................................................................. 60
Figura 10 - Lixo expostos ao longo da orla. ............................................................................ 61
Figura 11 - Ponte sobre o Rio Patipe. ...................................................................................... 63
Figura 12 - Estrada e ponte atual sobre o Rio Patipe. ............................................................. 63
Figura 13 - As palafitas de Guaibim........................................................................................ 64
Figura 14 - Imagem da área central de Guaibim, localizado no atual Guaibizinho. ............... 93
Figura 15 - Imagem da praia de Guaibim, no início do processo de turistificação. ................ 95
Figura 16 - Ponte do Patipe. Ontem e Hoje. ............................................................................ 95
Figura 17- Loteamento Nova Canaã........................................................................................ 97
Figura 18 - Entrada da praia de Guaibim. ............................................................................... 97
Figura 19- Avenida principal de acesso à Praia. ..................................................................... 98
Figura 20 - Imagem da área central do distrito destinada ....................................................... 99
11
Figura 21 - Construção da Praça de São José. ......................................................................... 99
Figura 22 - Praça do Guaibim. .............................................................................................. 100
Figura 23 - Praça do Guaibim. .............................................................................................. 100
Figura 24 - Modificações na Paisagem. ................................................................................ 101
Figura 25 - Avenida Taquari. ................................................................................................ 103
Figura 26 - Pousadas na Avenida Taquari. ............................................................................ 103
Figura 27 - Pousadas na Avenida Taquari. ............................................................................ 104
Figura 28 - Praia do Taquari, foz do rio Taquari, quando ainda era uma fazenda. ............... 105
Figura 29 - Praia do taquari. .................................................................................................. 105
Figura 30 - Barracas na Praia de Taquari. ............................................................................. 106
Figura 31 - O que mais a comunidade gosta em Guaibim. ................................................... 109
Figura 32 - O que a comunidade não gosta em Guaibim. ................................................... 111
Figura 33 - Lugares preferidos da população. ....................................................................... 112
Figura 34 - O que é mais bonito em Guaibim. ...................................................................... 113
Figura 35 - O que torna o distrito de Guaibim mais conhecido. ........................................... 114
Figura 36 - Mapa Mental; D. professora aposentada, 86 anos. ............................................ 116
Figura 37 - Mapa Mental; R. Dona de Casa, 42 anos............................................................ 118
Figura 38 - Mapa Mental; S, pescador, 35 anos. ................................................................... 119
Figura 39 - Mapa Mental; G. 52 anos, vendedora. ................................................................ 120
Figura 40 - Mapa mental; A, professora, 44 anos. ................................................................ 121
Figura 41 - Mapa Mental. N,15, estudante. ........................................................................... 122
Figura 42 - Mapa mental; L, marisqueira, 47 anos............................................................... 123
Figura 43 - Mapa Mental; T,estudante, 17 anos. ................................................................... 125
Figura 44 - Mapa mental: F. 15 anos estudante..................................................................... 126
Figura 45 - Mapa mental; M.15 anos, estudante. ................................................................. 127
12
Figura 46 - Mapa mental, W.14 anos, estudante. .................................................................. 128
Figura 47 - Mapa mental; J, 15 anos, estudante, trabalha no setor informal durante o verão.
......................................................................................................................................... 129
Figura 48 - Mapas Mentais; M e C , 14 anos, estudantes e durante o verão desenvolvem
atividades informais. ....................................................................................................... 129
130
13
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice 1 - Entrevista (SECRETÁRIO DE CULTURA E TURISMO) ...................................
Apêndice 2 - Entrevista (MORADORES) ...................................................................................
Apêndice 3 - Entrevista (COMERCIANTES) ............................................................................
Apêndice 4 - Entrevista (DONOS DE HOTEIS E POUSADAS) ...............................................
Apêndice 5 - Entrevistas com adolescentes de quinta a oitava série. ..........................................
Apêndice 6 - Entrevista com adultos e idosos ............................................................................
14
ANEXO
Anexo – MAPA DO DISTRITO DE GUAIBIM ........................................................................
15
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16
1 O TURISMO E SUAS IMPLICAÇÕES ESPACIAIS: UMA LEITURA GEOGRÁFICA.
...........................................................................................................................................26
1.1. Turismo: Uma abordagem geográfica. ...................................................................... 26
1.2 O turismo na Bahia: a invenção da vocação turística. ............................................... 36
1.3 O que se esperar desse modelo turístico: uma análise da atual estratégia turística
baiana. ................................................................................................................................... 43
1.4 Confrontando o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Valença com as
políticas estaduais e federais de turismo. .............................................................................. 49
2 A INVENÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO E A ATUAÇÃO DE DIFERENTES
AGENTES ESPACIAIS: UM ESTUDO DE CASO. .............................................................. 53
2.1. Espaço Turístico: organização e impactos. ................................................................ 68
2.2 Guaibim-Valença no contexto do planejamento turístico do Estado. ........................ 70
2.3. A atuação do poder municipal e o papel da comunidade. ......................................... 76
2.4. Entre o discurso e a prática: uma análise do PDDU (Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano). ................................................................................................... 80
3 REDISCUTINDO OS CONCEITOS DE LUGAR E PAISAGEM A PARTIR DO
DISTRITO DE GUAIBIM. ...................................................................................................... 85
3.1. Analisando a paisagem: o ontem e o hoje. ................................................................. 92
3.2 Turismo, paisagem e lugar sob a ótica dos moradores de Guaibim. ....................... 106
3.3 Desvelando olhares: analisando os mapas mentais. ................................................. 115
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 133
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 133
APÊNDICES .......................................................................................................................... 143
ANEXOS ................................................................................................................................ 133
140
144
150
16
INTRODUÇÃO
A globalização da sociedade e da economia gera mundialização do espaço geográfico,
carregando-o de novos significados. Com isso, pequenos vilarejos, como Guaibim, antigos
lócus de pescadores, veem-se invadidos pelo processo de turistificação, que, por ora, muda
drasticamente a paisagem e altera significativamente os costumes locais, com a inserção de
novos hábitos e novas formas de consumo do espaço. Parafraseando Santos (1988), pode-se
dizer dessas novas realidades, sejam elas naturais ou culturais, ou provenham de intervenções
políticas ou técnicas, que significam uma verdadeira redescoberta da natureza ou pelo menos
uma revalorização total, em que cada parte, isto é, cada lugar assume um novo papel, ganha
um novo valor. Esse cenário emergente de um contexto novo, devido o processo da
globalização, tem gerado uma série de preocupações, e uma delas é com o papel que as
pequenas cidades, ou até mesmo vilarejos, passaram a desempenhar, a partir da turistificação
que sofreram sem um prévio planejamento e, principalmente, com o crescimento rápido e a
qualquer custo dessas localidades.
O turismo consiste numa atividade que produz fundamentalmente espaço, num
processo em que a paisagem passa a ser valorada. Esse processo de produção dos locais
turísticos ocorre mediante a inserção de equipamentos infraestruturais de suporte à atividade
econômica, que, por ora, transforma a paisagem dos locais, o que acaba provocando também
mudanças nas relações da comunidade com seu espaço de vivência. Por exemplo, não se
poderá mais olhar o horizonte de qualquer lugar e visualizar a Via Láctea, já que a iluminação
impede a visibilidade, dentre outras transformações que afetam diretamente o cotidiano local.
Tem-se, ainda, a desapropriação da comunidade local da linha litorânea, devido à expansão e
valorização imobiliária, comprimindo-as no interior, quando não, muitas vezes, no
manguezal, ocasionando profundas degradações ambientais, bem como a proliferação de
favelas. Rodrigues (1999) concebe que esse processo altera tanto a “paisagem” física de uma
área como as relações sociais dos moradores que passam a gravitar em torno da indústria e da
prestação de serviços.
Assim, os espaços turistificados acabam redimensionados para atender uma nova
funcionalidade. No entanto, esquece-se a importância da paisagem que até então existia para o
habitante do lugar, para quem passa a ter referências múltiplas que vão desde as geográficas,
lúdicas e afetivas, às informativas e contemplativas. A turistificação passa a desconsiderar a
paisagem como essência cotidiana do habitante, que por suas peculiaridades agrada também o
17
visitante. Desta maneira, a paisagem reflete não apenas um conjunto de formas, mas acaba
explicitando as mediações simbólicas que permeiam as atitudes pessoais que estão intrínsecas
nos espaços de vivência. É dentro desse cenário que aqui se propõe analisar as especificidades
do processo de turistificação do distrito de Guaibim, no município de Valença, a partir das
políticas públicas nacional, estadual e municipal, bem como das concepções/leituras de
paisagem e lugar dos seus moradores.
O recorte espacial estabelecido se justifica por Guaibim apresentar um modelo de
turistificação que se assemelha às demais localidades do Litoral Sul; no entanto, a forma
como esse fenômeno vem se desenvolvendo ali difere desses espaços, que em Guaibim as
relações da comunidade com seu espaço de vivência envolvem relações de apego e de
intimidade, bem como não existem as instalações e bens voltados a acelerar o tempo. A forma
como esse espaço aparece nas políticas públicas que direcionam a atividade turística aponta
para a existência de lacunas e empecilhos, que o analisadas ao longo deste estudo. Portanto,
ao se deter sobre o espaço de Guaibim, surgem importantes reflexões no que concerne ao
fenômeno da turistificação e as suas implicações na paisagem e no cotidiano dessas
comunidades.
Analisar esse fenômeno remete a Andrade (2001) ao abordar que o turismo na região
de Valença teve sua origem na década de 1970, quando um número restrito de pessoas do
exterior e do centro-sul, em busca de um estilo de vida alternativa, foi atraído para o Morro de
São Paulo, devido as características socioambientais que favoreciam o contato mais direto
com a natureza. Segundo esse autor, Valença passou a assistir ao crescimento espontâneo
dessa atividade como conseqüência da expansão do fluxo turístico formado, sobretudo, por
jovens procedentes do exterior e do centro-sul do país. Guaibim situa-se no município
Valença que está, em relação a Salvador, a uma distância de 262 km (via BR 324) e 104 km
(via Bom Despacho e ferry boat). Possuindo uma área territorial de 1.191 km².
18
Figura 1 - Região Econômica do Litoral Sul da Bahia, com destaques para a sub-região do Baixo Sul e o
município de Valença.
Fonte - SEI, 1999 (Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Planície Costeira do Guaibim - 2004) .
Em Valença existe uma longa área de restinga herbácea, na faixa de terra
compreendida pela Área de Proteção Ambiental
1
do Guaibim (Figura 02). Os mangues estão
próximos aos estuários do Rio Una, são hospedeiros de uma fauna rica e povoados
principalmente por moluscos e crustáceos. Os solos oferecem grandes restrições ao uso por
deficiência de fertilidade. Essa área apresenta um quadro ambiental relativamente em
desequilíbrio, devido, principalmente, às alterações das características ecológicas dos
ecossistemas ali inseridas. Os impactos são evidenciados pela forte pressão exercida pelo
processo de expansão dos sítios urbanos da Vila do Guaibim, como também pelos
desmatamentos generalizados. Consequentemente, esses fatores podem acelerar o
1
APA- Área de Proteção Ambiental.
19
empobrecimento biológico e produzir rapidamente uma deterioração social e econômica das
populações que vivem nessas áreas. Administrativamente, o município é composto por cinco
distritos, sendo eles: Valença, Serra Grande, Maricoabo, Guerém e Guaibim. Dentre os
distritos, o Guaibim é o menos populoso (representa apenas 2,3% do total), com maioria de
seus habitantes concentrando-se na vila (91,6%) e apenas 8,4% na zona rural (IBGE, 2000).
Figura 2 - Mapa de Localização Geográfica da APA do Guaibim, Valença-Bahia.
Fonte - Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Planície Costeira do Guaibim (2004).
20
Guaibim localiza-se na parte litorânea do município, a 17 km da cidade de Valença e a
42 km da cidade de Nazaré, por via rodoviária de Valença, pela BA-001. A praia com o
mesmo nome, banhada pelo oceano atlântico, tem uma extensão de 30 km de areia clara e
coqueirais por toda sua orla, e se configura como um dos principais atrativos turísticos do
município. A APA (Planície Costeira do Guaibim) foi criada em 11/05/92 por um Decreto
Estadual.
Figura 3 - Imagem de satélite Landsat TM-5, localizando a APA da Planície Costeira do Guaibim.
Fonte - ENGESAT, 2000. (Plano de Manejo da Área de proteção Ambiental Planície Costeira do Guaibim,
2004). Sem escala gráfica, no original. Escala: 1:25.000.
No que concerne à história do distrito de Guaibim, não foram encontrados
bibliografias que a relatasse, assim, ficou-se restrito a um “livreto,”
2
de autoria de Adaulto
Mascarenhas Mauro, intitulado a História do Guaibim- Valença-Ba. Segundo esse autor, o
povoado inicialmente tem sua criação que remonta ao período colonial. Somente por volta do
2
O breve histórico do Guaibim aqui apresentado refere-se, a uma síntese de um “livreto” da autoria de Adauto
Mascarenhas Mauro, um documento intitulado História do Guaibim, Valença-Ba, que resgata aspectos pouco
conhecidos da origem desse distrito.
21
ano 1912 tem-se registro da chegada a Guaibim dos primeiros moradores do povoado,
oriundos da Vila Velha de Jequiriçá. O local inicialmente povoado não foi exatamente na
atual localização da vila, mas numa área próxima onde hoje se encontra uma fazenda de coco.
A transferência da área inicial para a atual deveu-se a uma violenta enchente, no ano de 1914,
que obrigou, não os pescadores, mas também suas famílias e outros que se dedicavam a
atividades diversas a procurarem melhor abrigo. Nesse mesmo ano (1914), o Sr. João Clímaco
Teixeira veio residir no Guaibim, por isso ele é conhecido como o fundador do povoado,
apesar de na sua chegada ter encontrado alguns pescadores morando no local. O povoado
continuou a crescer, mas com muitas pendências quanto à posse da terra, pois o proprietário
ainda não havia se manifestado com relação ao povoado que nascia. Surgiu a importância
do “João Futuca” (apelido do Sr. João Clímaco Teixeira), como alguém que se destacava na
defesa dos interesses da comunidade. De acordo o Sr. Adauto Mauro, autor do documento que
relata essa história, não se tem certeza da procedência do apelido de “Futuca”, mas acredita-se
que foi pelo fato dele se envolver em tudo que viesse favorecer os moradores do lugar,
apresentando, portanto, um forte espírito de liderança comunitário. Com amigos, e inimigos
velados, o “fundador do Guaibim” continuou o seu caminho para concretizar o sonho de
tornar a terra ocupada por ele e outros pescadores em um povoado. Assim, viajou para o Rio
de Janeiro, que por Salvador nada conseguiu. Lá, dirigiu-se ao Serviço do Patrimônio da
União e ao Ministério da Marinha, alegando que esses terrenos eram pertencentes à União e,
portanto, não poderiam ser de propriedade particular. Segundo o documento, não se sabe o
que o Sr. Futuca obteve de concreto com essa viajem, o certo é que ele conseguiu convencer o
Sr. Aloísio Fonseca a disponibilizar o terreno para que ele demarcasse e distribuísse
gratuitamente para os moradores locais.
Quatro quilômetros após a praia de Guaibim, encontra-se um prolongamento dessa
praia conhecida como Taquari, nome de um rio que por ali fazia seu curso para o mar. Esse
local, com o crescimento da área urbana do distrito, virou a Avenida Taquari, onde localizam-
se os hotéis, pousadas e condomínios, bem como local de moradia das classes altas. Tudo isso
marca a história do povoado do Guaibim, que com o passar dos anos tornou-se um local
turistificado.
O turismo consiste numa atividade econômica que tem o espaço geográfico como um
dos seus principais condicionantes. E a organização espacial de uma determinada área ou
localidade representa um atributo essencial para essa atividade e se manifesta como elemento
importante no desenvolvimento local. Segundo aborda Cruz,
22
O turismo é a única atividade econômica em que o consumo do espaço constitui a
razão de ser. Para nenhuma outra atividade econômica, ainda, a porção visível do
espaço geográfico- a paisagem- é tão relevante. Daí o significado da preservação do
patrimônio natural e cultural do país para o turismo. Não necessariamente pelo papel
que desempenham na economia, na cultura, na vida do lugar, mas pelo que aparenta
ser aos olhos do turista. (CRUZ, 2002, p.57)
Neste trabalho, propõe-se a analisar a organização espacial do distrito de Guaibim, a
partir do processo de turistificação, considerando o planejamento e as políticas públicas, bem
como a leitura que a comunidade faz do local. A especificidade deste trabalho está em não se
separar o planejamento do espaço do recorte humanístico, onde concentram-se os conceitos de
lugar, paisagem e percepção, tão caros para uma perfeita compreensão de um fenômeno
espacial tão complexo como o que envolve os espaços turistificados. Segundo Claval (2001),
essa abordagem considera como a vida dos indivíduos e dos grupos se organiza no espaço,
nele se imprime e nele se reflete. O estudo do espaço geográfico de Guaibim é fundamental
para compreender as contradições que se inscrevem na paisagem do lugar, bem como a
eficácia dos planos e das políticas públicas existentes e executadas ali. Até porque, segundo
Cruz (2003), se por um lado a apropriação dos lugares pelos turistas se dá a partir de relações
por demais fugazes com os lugares que visitam; por outro, os residentes desses lugares têm
relações mais duradouras com seu quinhão do lugar. Diante disso, a existência de
infraestrutura é um elemento fundamental para a comunidade, bem como para o
desenvolvimento da atividade turística, que as infraestruturas urbanas e turísticas estão na
base da atratividade dos lugares para o turismo, as formas ditas alternativas de turismo
também se utilizam dessas infraestruturas (aeroportos, vias de acesso), além disso, uma
atratividade exercida por lugares densamente urbanizados sobre os fluxos turísticos.
É importante ressaltar que Guaibim encontra-se numa região de grandes interesses do
governo estadual, inclusive com planejamentos voltados a dinamizar o turismo no Litoral Sul
por meio de políticas públicas estaduais. No entanto, o desenvolvimento, ao longo dessa
região, não ocorre de forma homogênea, originando espaços com grandes fluxos turísticos e
outros sem nenhum destaque regional. Isso repercute na total inexistência de planejamentos
turísticos para várias dessas localidades, bem como na falta de diálogo entre o planejamento
estadual e municipal, como é o caso de Guaibim, que deveria ser considerado como o portal
de entrada do Litoral Sul e que, no entanto, não desempenha nenhuma notoriedade como
destino turístico.
23
Quanto às questões-problema, as que irão nortear a presente pesquisa são: quais os
níveis de interação, convergência e descompasso entre as políticas públicas federal, estadual e
municipal, aplicadas para incrementar o turismo local em Guaibim; qual o papel da atividade
turística na reconfiguração espacial e paisagística do distrito de Guaibim-Valença; qual a
leitura/percepção que os moradores desse local têm da paisagem e do lugar após o processo de
turistificação.
A importância desta análise está na compreensão das mudanças que se inscreveram no
espaço geográfico de Guaibim ao longo do processo de turistificação e que implicam em
consequências diretas na sociedade local. Assim, propõe-se identificar como a população
apreende essa dinâmica, inclusive a partir de comportamentos que merecem ser analisados
quando comparadas tais localidades pequenas com espaços onde o turismo se desenvolveu
de forma tal que deixou conseqüências desastrosas à comunidade, deixando um rastro de
destruição e estagnação, cabendo assim discutir formas de evitar/minimizar que essas pequena
localidades, onde o processo de turistificação não chegou no seu auge e onde se permite,
ainda, algum planejamento, bem como a ação consciente da comunidade local. Portanto, é
fundamental compreender a leitura que as pessoas fazem dessas paisagens, assim como
refletir sobre as relações que elas constroem com esses lugares, num espaço permeado por
simbolismos e representações que surgiram com a turistificação.
Para se alcançar os objetivos estabelecidos nesta pesquisa, partiu-se inicialmente de
pesquisa bibliográfica, com a qual se construiu o arcabouço teórico-conceitual, quando se
analisou o conceito de turismo, como atividade econômica de repercussão direta no espaço
geográfico, bem como a atuação dos diferentes agentes socioespaciais envolvidos com essa
atividade econômica, na produção do espaço de Guaibim. Inicialmente entrevistou-se o
Secretário de Turismo e Cultura do município de Valença, visando investigar a atuação do
poder municipal no turismo em Guaibm. A definição dos sujeitos levou em consideração o
fato de fazerem parte de uma parcela considerável da população na qual encontravam-se
diretamente envolvidos com a atividade turística, seja desenvolvendo atividades no setor, ou
indiretamente relacionados as consequências da atividade. Os sujeitos entrevistados primeiro
foram os agentes socioespaciais ligados diretamente à atividade econômica, como donos de
pousadas, comerciantes, barraqueiros, já que esses eram os principais envolvidos com a
produção do espaço para o turismo. Em seguida, foi realizado um trabalho de grupo focal,
quando se provocou uma “tempestade de ideias”, visando obter informações que norteassem a
construção das entrevistas; assim, investigou-se a percepção de pessoas da comunidade, como
24
donas de casas, professoras, aposentadas e donas de barracas, procurando analisar o olhar
dessas pessoas para o fenômeno da turistificação. Visando compreender as percepções da
comunidade sobre as mudanças ocorridas na paisagem com o processo de turistificação, assim
como analisar as relações que a comunidade tem com seu espaço de vivência, foram
realizadas entrevistas questionando sobre as mudanças ocorridas com a turistificação, como se
dava a relação dessas pessoas com o espaço em estudo, como elas viam a ação do poder
público municipal, bem como aplicou-se mapas mentais entre adolescentes, pessoas adultas e
idosos que vivem na comunidade e tem seu cotidiano construído sobre esse espaço, para se
entender como eles viam Guaibim. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, o número de
entrevistas e mapas mentais foi definido a partir do momento que as respostas e desenhos
começaram a se repetir. Cabe pontuar que alguns entrevistados pediram que seus nomes
fossem mantidos.
Em seguida, analisa-se a atuação das políticas públicas nacional, estadual e municipal
respectivamente o Plano Nacional de Turismo (PNT), Plano de Desenvolvimento Integrado
do Turismo Sustentável (PDITS) e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município
de Valença (PDDU). E paralelo a isso realizou-se as comprovações empíricas por meio do
estudo de campo. Por conseguinte, utilizou-se como procedimento entrevistas para o
responsável pela gestão municipal, o secretário de turismo, da Prefeitura Municipal de
Valença, quando se investigou a atuação de planos e políticas públicas voltadas a planejar e
direcionar essa atividade econômica nesse espaço. Foram também adquiridos documentos a
partir da consulta a órgãos públicos que realizam estudos sobre o turismo ou atividades
econômicas relacionadas, como a BAHIATURSA
3
e, EMBRATUR
4
e a Prefeitura Municipal
de Valença. A sistematização dos resultados, com a organização dos dados obtidos nas fases
anteriores, bem como a sua análise, digitação e elaboração de gráficos fazem parte da etapa
final do trabalho.
No primeiro capítulo, discute-se o turismo e suas implicações espaciais, a partir de
uma leitura geográfica, seguindo o viés de se compreender o fazer turístico no âmbito das
políticas públicas existentes, voltadas para direcionar atividade nas escalas nacional, estadual
e municipal. No segundo capítulo, investiga-se a invenção do espaço turístico e a atuação dos
diferentes agentes espaciais, a partir da análise de como ocorreu o processo de turistificação,
ou seja, como se deu a sua criação como espaço turístico, bem como busca-se entender a
dinâmica das mudanças que ocorreram no espaço e as conseqüências positivas e negativas
3
BAHIATURSA- Empresa de Turismo da Bahia S.A
4
EMBRATUR- Empresa Brasileira de Turismo.
25
desse fenômeno, tudo isso mediante a análise de documentos institucionais como o PDDU
5
e
os PDTIS
6
. No terceiro capítulo, analisa-se a transformação da paisagem e a reinvenção do
lugar em Guaibim com o processo de turistificação, suscitando uma discussão a cerca dos
conceitos de paisagem e lugar, avaliando a leitura/percepção da comunidade sobre seu espaço
de vivência.
Portanto, neste trabalho, propõe-se analisar a organização espacial do distrito de
Guaibim, a partir do processo de turistificação e da criação das políticas públicas, levando-se
em consideração a percepção da comunidade local sempre considerando os aspectos
humanísticos e os conceitos de paisagem e lugar, identificando as mudanças que se
inscreveram na paisagem e de que forma essas alterações influem no fazer turístico atual e na
percepção e atuação da população local nesse contexto.
5
PDDU- Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano.
6
PDTIS- Plano de Desenvolvimento do Turismo Integrado e Sustentável.
26
1 O TURISMO E SUAS IMPLICAÇÕES ESPACIAIS: UMA LEITURA
GEOGRÁFICA.
Como se destacou na introdução, pretende-se inicialmente analisar a questão do
turismo a partir das políticas públicas e documentos institucionais para posteriormente
procurar entender essa atividade econômica no distrito de Guaibim, a partir da ótica dos
agentes envolvidos, partindo-se dos conceitos de paisagem e lugar. A princípio se realizará
uma leitura geográfica das relações que envolvem os conceitos de turismo e espaço, bem
como turismo e paisagem, para em seguida desenvolver uma abordagem do fenômeno
turístico nas esferas nacional, estadual e municipal, a partir da leitura geográfica das políticas
públicas existentes, que norteiam o turismo, como o Plano Nacional do Turismo, Plano de
Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Baixo Sul e Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano do município Valença, que se constituem objeto deste estudo. A partir da análise
desses projetos, propõe-se pensar sua viabilidade na promoção do turismo, assim como
discutir como o turismo surge no território baiano, quais as conseqüências desse modelo
turístico e, em seguida, analisar as interrelações que estabelecem entre si, e qual o papel
desempenhado pela comunidade nessa relação.
1.1. Turismo: Uma abordagem geográfica.
A análise que será desenvolvida em torno do turismo partirá de uma abordagem
geográfica devido a sua importância enquanto atividade que dinamiza e transforma o espaço,
imprimindo, inclusive, novas formas como resultado de percepções e valores que o
merecedoras de análises, devido ao contexto dinâmico no qual estão inseridas. Desta maneira,
observa-se que a categoria de análise, espaço, objeto de estudo da Geografia, é o elemento
primordial nesse contexto, visto que é onde se materializam as ações e práticas relacionadas
ao turismo. A invenção do espaço para o turismo emerge no cenário da ciência geográfica nas
análises que abordam a produção espacial e suas implicações sociais, culturais, ambientais e
espaciais, que refletem diretamente no cotidiano e no espaço.
Convém, aqui, discutir como os espaços turistificados são produzidos segundo uma
lógica que atende a determinados agentes e até mesmo ao Estado, que, por ora, obedece uma
seletividade responsável por lugares que são mais turistificados, atendendo à lógica da cultura
globalizante, e outros que conseguem fugir a essa lógica, com uma cultura mais voltada para o
local, com forte relações de afetividades dos indivíduos com o lugar, e, por conseguinte, uma
27
menor descaracterização. No entanto, os espaços que estão aquém da preferência dessas
seletividades, acabam tendo carências de infraestruturas, o que acaba gerando dificuldades
para comunidade. De acordo com Yázigi,
O turismo é a única prática social que consome, fundamentalmente, espaço, sendo
este consumo efetivado por meio da apropriação do espaço pelo turismo, ou seja,
por meio das formas de consumo [...] que se estabelecem entre turista e lugar
visitado. (YÁZIGI, 2002 , p.109)
Apesar dos estudos de Yázigi se referirem a áreas metropolitanas e até mesmo a
regiões turísticas, como o Complexo Sauípe
7
, na Bahia, que é notabilizado midiaticamente,
ele consegue trazer importantes reflexões para a compreensão do fenômeno turístico em
pequenas localidades, como é o caso do distrito de Guaibim, que apesar de não se constituir
numa grande ou média cidade, tem no seu modelo turístico elementos que comumente
ocorrerem em outros espaços turistificados. Assim, depreende-se que o turismo desenvolvido
em Guaibim apresenta peculiaridades que podem muito bem serem analisadas considerando
as reflexões tecidas por Yázigi, o que permite inclusive traçar uma análise profunda acerca da
produção desse espaço, bem como da atuação das políticas públicas no seu planejamento e
organização , considerando o olhar que a comunidade apresenta sobre esse espaço.
A proposta de compreender a paisagem de Guaibim deve considerar que a geografia
do turismo surge para compreender um fenômeno considerado novo, que aparentemente
acontece num espaço sem fronteiras, que ele pode acontecer em qualquer parte do planeta,
mas que, pela sua própria natureza, se manifesta complexo. Antes mesmo de um maior
aprofundamento na relação que envolve turismo e paisagem, é fundamental uma reflexão em
torno da compreensão das analogias entre turismo e espaço, visto que o espaço precede a
paisagem e traz em si os processos sociais que originarão a paisagem. Todo processo de
turistificação representa um emaranhado de relações, representações e percepções que se
produzem e se materializam no espaço. Segundo Gomes (1996), a paisagem acaba sendo uma
imagem voluntariamente produzida e editada, resultado de um “pastiche” cultural, ou seja, de
uma empobrecedora apresentação da cultura local, escondendo muito mais do que revelando.
Nesse sentido, Côrrea (2006) considera que as identidades se associam ao espaço, quando se
7
Localizada na Linha Verde, Litoral Norte da Bahia, no município de Mata de São João, a Costa do Sauípe é um
destino turístico, um resort. O empreendimento é formado pelos hotéis Costa do Sauípe Grande Hotel, Costa do
Sauípe Suítes, Costa do Sauípe Golf e Spar, Pousadas de Sauípe, Costa do Sauípe All Inclusive e Superclubs
Breezes. (www.costadosauípe.com.br)
28
baseiam nas lembranças divididas, nos lugares visitados pelas pessoas, no contexto em que
cada grupo reinventa permanentemente o mundo, introduzindo novos recortes. Convém aqui
pontuar que o turismo, ao ser inserido num espaço, introduz novas percepções e
representações seguidas de uma completa modificação na paisagem. Ainda segundo Corrêa
(2006), as regras da vida social variam de um ponto a outro e se modificam sem cessar.
Portanto, a compreensão do turismo, como fenômeno espacial, não pode deixar de considerar
que ele é dinâmico em sua essência e que pode, de acordo com Rodrigues (2001), ter períodos
de estabilidade e de rupturas que tendem a uma reestruturação, ou até mesmo passar por totais
mudanças que coincidem com a produção de novos espaços. Tal aspecto, inclusive, reflete
bem a análise que será tecida no capítulo seguinte, quando se irá analisar as mudanças que
foram inseridas na paisagem de Guaibim, ao longo do processo de turistificação. Assim,
conforme Adyr Rodrigues, “[...] é fundamental insistir no fenômeno do turismo em toda a sua
complexidade, expressa pelas relações sociais e pela materialização territorial que engendra
no processo de produção do espaço.” (RODRIGUES, 2001, p.61)
Cabe considerar, a partir do que foi até aqui discutido, que o espaço do turismo,
conforme Rodrigues (2001), é considerado essencialmente fluido, devido a sua natureza
implicar em mobilidades horizontais e verticais. Tais mobilidades, sejam de indivíduos ou das
técnicas, representam as diversas atuações da sociedade na produção do espaço, assim com a
ação dos fluxos, que são muitas vezes oriundos de vozes que se encontram distantes dos
espaços turísticos, a exemplo das destoantes vozes que tomam forma com a globalização,
como o capital e até as agências multilaterais. A mobilidade torna-se marca registrada nesses
espaços, tanto de pessoas, das técnicas, como de ideias. Atrelado a isso, acrescenta-se a
cultura que é produzida. De acordo com Claval (1999), ela é construída através das redes de
contatos nas quais os indivíduos se acham inseridos e pelas quais recebem informações,
códigos e sinais. A cultura na qual ele evolui é função das esferas de intercomunicação das
quais ele participa. Percebe-se, dessa maneira, que a produção e o consumo dos espaços
turísticos ocorre num incessante e interminável processo que envolve incorporação de
ciência, técnica e informação e, principalmente, a partir de um processo em que se consome
destruindo e produzindo (RODRIGUES, 2001).
Resultado de um processo conflitante, a inserção do turismo em determinadas
localidades reflete diretamente nas culturas locais que se vêem modificadas por conta das
ações dos agentes sociais que, ao ditarem as regras do turismo, desconsideram questões
importantes como a realidade de comunidades até então isoladas, muitas vezes tradicionais,
29
que de uma hora para outra se veem turistificadas. Segundo Rodrigues (2001), são espaços
produzidos pelo turismo e para o turismo, apesar da ausência de quase todos os fatores
apontados como favoráveis à produção do espaço turístico. Por conseguinte, os pressupostos
apresentados por Rodrigues, ao se analisar espaços de dimensões turísticas regionais, a
exemplo do Complexo Sauípe, cabe à realidade em análise de Guaibim, desde que era apenas
uma vila de pescadores e que de uma hora para outra viu seu espaço totalmente modificado,
voltado para atender uma nova demanda: o turismo. O recorte espacial estabelecido se
justifica por Guaibim apresentar um modelo de turistificação semelhante às demais
localidades do litoral sul; no entanto, a forma como esse fenômeno se desenvolve, bem como
a atuação das políticas públicas, preconiza a existência de lacunas e empecilhos que merecem
ser analisados. Paralelo a isso, o turismo ocasionou consequências sociais e ambientais, sem
precedentes nesse espaço, que interferem diretamente no fazer turístico atual, o que será
discutido posteriormente no capítulo seguinte. E, assim, de acordo com o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) e as análises empíricas realizadas no trabalho de campo,
tem-se espaços sem nenhuma infraestrutura turística, porque não possui redes de esgotos,
pavimentação nas ruas, local destinado ao lixo, portanto espaços degradados por um turismo
de massa, que não gera nenhuma benesse à comunidade. Conforme Rodrigues,
O processo de globalização unifica mercados, definindo subespaços hierarquizados
ou não, que vão dos centros às periferia, determinando relações de dominação e de
subordinação -verticalidades-[...]. As novas relações que se estabelecem em escala
mundial e local podem desarticular o local do regional e do nacional, ignorando-se
as fronteiras do Estado-nação. Assim, as redes e as hierarquias engendradas pelas
empresas transnacionais devem ser reavalidadas à luz de novos paradigmas, em que
o tempo desempenha papel fundamental no desenho de novas verticalidades sobre
regulação horizontais preexistentes. (RODRIGUES, 2001, p.66-67)
Depreende-se nessa análise que os novos fluxos de capitais, manipulados pelos
agentes envolvidos e o Estado, atuam no sentido de criar um espaço voltado a atender às
demandas dos turistas, muitas vezes descaracterizando os espaços e até mesmo criando
simulacros. Para Ana Fani (1999), a indústria do turismo transforma tudo o que toca em
artificial, transformando o espaço em cenário para o “espetáculo”, de modo que o real é
metamorfoseado para seduzir e fascinar. No caso de Guaibim, esse processo ainda não
ocorreu com toda sua intensidade, visto que esse espaço não faz parte dos roteiros turísticos
do governo do Estado, e está voltado mais ao turismo doméstico e, por conseguinte, possui
pouca infraestrutura voltada ao mercado turístico. Nesse cenário, a análise da paisagem de
30
Guaibim demonstra, como lembra Corrêa (1998), que o local é, então altamente complexo,
com múltiplos patamares de significado, e, assim, o local é um lugar simbólico, onde muitas
culturas se encontram e talvez entrem em conflito.
Essa discussão suscita uma outra que considera como alguns espaços são turistificados
e como esses não possuem seus conteúdos dimensionados de acordo com a demanda de um
núcleo turístico, o que acaba criando espaços turísticos onde prevalece o caos para a
comunidade, onde carências básicas para a população, tendo muitas vezes falta de
infraestrutura até para o turista. De acordo com Ana Ribeiro (1999), tais mudanças,
necessariamente, trazem consequências para as sociedades locais, que significam pressão
por alterações na materialidade e em comportamentos sociais correlatos à presença de novos
agentes e seus interesses, na disputa por recursos e, portanto, na definição de investimentos e
projetos. Assim, a expressão espacial da atividade turística do Guaibim, como um processo
específico que afeta diretamente as condições de urbanização local, é definida, segundo
Corrêa (1989), como um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como também
daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas
espaciais da situação presente. Considera-se também que as desigualdades presentes nesse
espaço constituem características próprias da realidade mercantilizada que nesses locais são
feitos e refeitos pelos agentes sociais. Daí a necessidade de se avaliar o processo de
turistificação que vêm sendo empreendido em pequenas localidades e se procurar refletir
sobre os mecanismos que envolvem sua realização. Sobre esse aspecto, Rodrigues considera
que:
Nos estudos do turismo se logra um avanço em relação aos trabalhos meramente
técnicos e operacionais quando a análise espacial capta a complexa engrenagem que
expressa todos os elementos da oferta e todos os elementos da demanda e da
população residente, em ação e interações recíprocas. (RODRIGUES, 2001, p.74)
O turismo toma proporções mundiais paralelo ao fenômeno da globalização, o que lhe
confere elementos bastante singulares. Inclusive, ele se apresenta como uma excelente
alternativa para a obtenção de recursos (Claval, 2001) e está entre os três maiores produtos
geradores de riquezas, (6% do PIB global), perdendo para a indústria de armamentos e de
petróleo. Em face dessa realidade, muitos países acabaram efetuando significativas mudanças
em seu espaço para adequá-lo às exigências da atividade turística, a exemplo do Cancún, no
México, e Las Vegas, no EUA. No entanto, é importante pontuar que esse fenômeno não se
31
restringiu somente aos países centrais, mas acabou por alcançar os mais variados recônditos
do planeta, chegando a às nações periféricas, sendo encarado até como uma possível
alternativa de crescimento econômico fácil e em curto espaço de tempo. Depreende-se que, no
contexto da turistificação, a paisagem passa a ser vista como recurso, daí emerge a
necessidade de avaliar que a importância da paisagem como imagem atrativa para o turismo
extrapola as regras da mercantilização da sociedade de consumo, obedecendo a uma lógica
muito mais intensa, que diz respeito ao imaginário social. Essa linha de pensamento enquadra-
se na perspectiva de uma geografia que valoriza o componente das manifestações culturais
como fundamental ao se analisar qualquer espaço, seja ele turístico ou não. Nesse sentido, a
análise tecida sobre o espaço de Guaibim permite uma compreensão importante da forma
como o turismo se desenvolve nesse distrito e de como a comunidade se comporta em face
das várias representações que ela assume, e que lhe confere singularidade dentre outros
destinos turísticos do litoral Sul, o que será discutido no terceiro capítulo. Ou seja, a
abordagem cultural da paisagem não pode deixar de considerar que se tratam de espaços
dinâmicos que são produzidos por uma sociedade em constantes transformações, mas que
independente de ser ou não um espaço turístico, antes mesmo é o espaço cotidiano de uma
comunidade. Assim, de acordo com Castro (2002), sendo a paisagem um produto cultural, ela
é também um bem coletivo e deve estar disponível para a coletividade, mesmo que sua
fruição seja individualizada. De qualquer maneira, em sendo um produto social, mas que não
estar disponível para todos, a paisagem torna-se também um problema político enfrentado
pelos governos em suas diferentes escalas. O que se pretende aqui é desconstruir a
prevalecente ideia de pensar a paisagem apenas para o turismo, desconsiderando que quanto
mais valorizada socialmente, mais valor o lugar adquire, tanto para os habitantes como para
os visitantes. Para Castro,
Chama a atenção, por exemplo, a falta de sentido da idéia de bem comum e a falta
de consciência de que a perda do espaço coletivo reduz a qualidade de vida e limita
esta qualidade ao espaço doméstico. Como vivemos em sociedade, a possibilidade
do bem viver ou, para usar termo mais corrente, da qualidade de vida fica
reduzida à metade, além da perda adicional do sentido estético do ambiente de vida e
convivência. (CASTRO, 2002, p.135)
Essa discussão lembra a impossibilidade de se abordar de forma separada a existência
de uma paisagem para o turismo e outra para a comunidade local, que é o que ocorre no Brasil
e demais países periféricos, quando locais, que são verdadeiros simulacros, são construídos
32
voltados apenas para atender a demanda do turismo. Ao passo que nos países desenvolvidos
os espaços são planejados, dotados de infraestrutura e, por conseguinte, conseguem atender
às demandas turísticas. Vale a pena pontuar que, no caso do distrito de Guaibim, pensar uma
organização espacial voltada ao bem estar da comunidade, e que seja por ela também pensada,
incide diretamente numa alternativa de construção de um espaço que seja turístico, mas
principalmente que permita bem-estar à população, e que, conseqüentemente, promova
desenvolvimento ao local.
De acordo com Bercker (1999), a análise do turismo implica, sobretudo, uma olhar
mais apurado em face das implicações que essa atividade pode causar. Segundo a mesma
autora,
[...]o turismo é um híbrido, [...] no sentindo em que ele é, ao mesmo tempo, um
enorme potencial de desenvolvimento, e ao mesmo tempo, um enorme potencial de
degradação do meio ambiente e mesmo social, na ausência de uma regulação
adequada para o setor. (BECKER, 1999, p.181)
Concebe-se, que no Brasil a organização socioespacial dos espaços destinados ao
turismo, em sua maioria são deficientes e carentes de equipamentos para receber o turista.
Isso inclusive reflete a realidade dos destinos turísticos do Litoral Sul que, por ora, vêm sendo
dotados de equipamentos para atender à demanda turística. Dessa forma, apesar do Brasil, a
exemplo dos países tropicais, ser cercado por praias e matas, a mercantilização e a injustiça
social acabaram por marcar significativamente a paisagem, de forma que o turista percebe
pobreza e miséria por todos os espaços, inclusive nos lugares mais sofisticados. Tem-se, dessa
forma, uma urbanização precária que deixa bastante visível uma paisagem e uma consciência
que incomoda ao visitante. De acordo com Yázigi,
A questão social torna-se assim um dos principais problemas a serem resolvido pelo
desenvolvimento do turismo ou, se preferirem, o turismo se torna uma excelente
pretexto para se elevar os padrões nacionais de vida e seus reflexos no espaço.
(YÁZIGI, 2002, p. 18)
Assim é preciso se pensar o turismo como ele realmente deve ser considerado, não
como uma ferramenta que vai promover desenvolvimento local em Guaibim, visto que a
forma como ele é concebido e promovido na atualidade, segue as regras da mercantilização
33
dos lugares, uma das facetas da lógica capitalista, muito distante dos ideais de
desenvolvimento; mas é preciso, sim, avaliar esse modelo turístico, pensado alternativas, de
forma que as decisões de planejar o turismo em Guaibim considere a relevância que a
população deve ter nos projetos dos espaços destinados ao turismo.
Aqui é importante se suscitar a discussão em torno do papel das políticas públicas de
turismo, bem como avaliar a existência dessas políticas voltadas a ordenar e direcionar a
atividade turística no Brasil. Propõe-se, assim, de forma sucinta, alcançar uma melhor
compreensão da atividade turística, bem como compreendê-la a luz do que se propôs
enquanto políticas públicas voltadas a essa atividade. De acordo com Souza (2006),
compreende-se que a política pública consiste no campo do conhecimento que busca, ao
mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa variável e, quando necessário,
propor mudanças no rumo ou curso dessas ações. Assim, as políticas públicas, após
desenhadas e formuladas, desdobram-se em planos, programas, projetos, bases de dados ou
sistemas de informação e pesquisas. Quando postas em ação, são implementadas, ficando daí
submetidas a sistemas de acompanhamento e avaliação. Cabe aos governos a definição e
implementação de ações; e a construção de uma consciência coletiva sobre determinado
problema é fator poderosamente determinante na definição de uma agenda de ação. Quanto à
eficácia e existência das políticas públicas de turismo no Brasil, segundo Cruz que o que há é
[...] a ausência de dimensão espacial das políticas e do planejamento urbano e a
descontinuidade político-administrativa, que impede a consecução de qualquer
política ou plano de médio e longo prazo.”, são elementos que refletem diretamente
nas políticas de turismo no Brasil.(CRUZ, 2000, p. 34)
Apesar de uma política pública poder ter impactos a curto prazo, geralmente elas são
de consequências a longo prazo. Portanto, as descontinuidades político-administrativas
acabam interferindo negativamente em sua eficácia. O Brasil é um país que, ao longo de sua
história, nem sempre dispensou uma valorização adequada a essa atividade econômica e deu-
lhe pouca ênfase; isso se pode depreender pelas escassas políticas públicas que existiram ao
longo da história, voltadas a direcionar e organizar a atividade e as descontinuidades político-
administrativas dos projetos, que muitas vezes são utilizados como instrumento político;
começam, mas nem sempre são concluídos. Além disso, a história do turismo no Brasil
sempre foi de muitas contradições, visto que nem sempre existiu um ministério dedicado
unicamente a esse setor, como existe o da indústria e saúde, por exemplo, havendo sempre um
34
jogo com o turismo para com outros setores. Assim, o que se percebe é descaso e desleixe
com essa atividade por parte do Estado ao longo do tempo. Somente em 1960 o país passou a
ter políticas públicas relacionadas às atividades turísticas.
Essa circulação da atividade turística por tão diversas esferas da administração
pública, conduz a diferentes interpretações. Uma delas está associada ao fato de o
turismo nunca ter estado entre as prioridades das políticas federais de
desenvolvimento, do que seria resultado a “fraqueza política”do setor, traduzida na
inconstância dos organismos oficiais encarregados da gestão da atividade.( CRUZ,
2000, p.45)
Segundo Becker (1999), no contexto nacional, a natureza, para um mundo pós-guerra,
suscita novos valores de consumo e apresenta-se como produto, como mercadoria para o
turismo, que lhe atribui novo significado. Nesse cenário, o turismo bem que poderia consistir
numa alternativa de melhoria de vida para as comunidades, promovendo a sustentabilidade,
desvinculando-se da visão desenvolvimentista de crescimento rápido, ponderando a
preocupação social e valorizando as especificidades das regiões.
Segundo a análise estabelecida por Becker(1999),
A política nacional de turismo no Brasil iniciou-se nos anos 50, com as primeiras
regulações foram feitas em 58 por Juscelino kubistschek, ligadas, evidentemente, à
energia, transporte, circulação de automóveis, estradas e a formação de uma classe
média do fusca. [...] O marco nesta evolução da política foi a criação da Embratur
em 66, como uma autarquia, e que via o turismo como uma importante indústria
nacional, importante, só que nos moldes do governo militar.[...] Era uma coisa
extremamente controlada.[...] Na década de 80 houve um avanço neste sentido. No
governo Sarney houve uma certa liberalização deste mercado [...] Mas o mais
marcante na década de 80, foi sem dúvida a articulação do turismo com a questão
ambiental, porque houve como se sabe, a criação de uma política nacional de meio
ambiente, 1981, e a partir daí uma tentativa de se criarem laços do turismo com a
questão ambiental [...] Mas o marco mesmo mais recente da política de turismo foi
no governo Collor, em 1992. [...] momento nacional de esgotamento do
desenvolvimentismo, das tendências neoliberais, das pressões ambientalistas com a
Rio-92.[...] Esta foi a época em que foram promulgadas todas estas novas regulações
para a política do turismo e que se implantou então uma nova política nacional do
turismo, em 1992. (BECKER,1999, p.187)
Nessa perspectiva, entende-se que essa nova política de turismo, a partir do governo
de Fernando Collor, na década de 90, tem de peculiar a ideia do turismo como fator de
desenvolvimento, desde que seja atrelado às ideias ambientalistas e de desenvolvimento
sustentável. Aqui se observa um momento único para a política de turismo, que passa a ser
35
vista com outro olhar, e incentivada como uma possibilidade de encontro com a natureza e
com as ideias de uso consciente do meio ambiente. É importante ressalvar que essas ideias
estavam embasadas dentro da política neoliberal, que se inseria no contexto da globalização.
Esse momento trouxe consigo as ideias da descentralização quando, inclusive, houve a defesa
para a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) deixar de ser executora da atividade,
passando a execução a outras esferas governamentais, de estados e municípios e até à
iniciativa privada. Portanto, a importância crucial dessa nova política de turismo estar
justamente na delegação do governo federal como coordenador e indutor das atividades, e o
incentivo para as ONGs, grupos de interesses e os movimentos sociais se envolverem nos
governos, assim como na formulação das políticas públicas. Ou seja, é a partir desse momento
que as políticas de turismo passam a ser desenhadas com outro olhar, muito mais voltado a
dinamizar o turismo, com forte incremento de infraestrutura, buscando organizar essa
atividade. O objeto central dessa política está em fomentar os programas de pólos turísticos, a
exemplo do PRODETUR-NE (Programa de ão para o Desenvolvimento do Turismo no
Nordeste Brasileiro) que foi implementado ocasionando mudanças significativas em todo
nordeste, bem como na área em estudo. Esse olhar para as políticas de turismo acarreta um
valor diferente à região nordeste, que passa a ter novo destaque dentro do quadro nacional.
Tem-se, dessa forma, uma superação do modelo desenvolvimentista para uma
tentativa que valoriza a ordenação, a regulação e direciona a utilização do território.
Conforme Becker deixa claro, a política nacional transparece a essa crise de Estado em prol
da democratização, que fica nítida na constituição de 1988, ao deliberar maior autonomia aos
estados e municípios. A marca forte desse momento consiste num maior discurso da
preservação ambiental, bem como da pressão da sociedade civil nesse mesmo sentido. Nesse
moderno contexto onde os estados, municípios e a própria sociedade civil aparecem com
novos papéis, elementos peculiares iram surgir, como a guerra travada para obter capitais e
até mesmo o maior risco de diluição do poder. Sobre esse aspecto, Becker afirma que o poder
deve-se ampliar, estimulando inclusive a competição agressiva entre os lugares. Portanto,
observa-se que por muito tempo houve ensaios à promoção de uma política pública de
turismo, que em sua maioria não obteve sucesso, pela própria inconsistência do setor que
sempre foi relegado a um segundo plano; fato tão comum nos países periféricos. Os atuais
avanços foram conseguidos mediante essa mudança de paradigma que houve e ao olhar
diferenciado sobre os benefícios que essa atividade turística pode trazer quando bem utilizada
em prol e/por a comunidade local.
36
Cuidados e reflexões constantes são necessários porque o turismo é uma atividade
econômica que impacta significativamente o espaço geográfico que é seu objeto de consumo e
é submetido a inúmeras transformações sociais, ambientais, culturais e espaciais, que acabam
dando novas funcionalidades aos espaços turistificados. Quase sempre muitos locais são
turistificados sem, contudo, haver uma preocupação com as comunidades locais e nem com os
seus espaços de vivência, o que acaba originando espaços sem infraestrutura para a
comunidade local e para o turista. Isso, inclusive, reflete muito bem o que foi enunciado
anteriormente sobre a escassez de políticas públicas de turismo voltadas para o
direcionamento da atividade econômica no próprio processo turístico, bem como as
inconsistências do setor devido às descontinuidades político-administrativas, o que repercute
diretamente nos destinos turísticos.
1.2 O turismo na Bahia: a invenção da vocação turística.
O turismo na Bahia emergiu de um contexto, na década de setenta, em que, segundo
Porto Filho (2006), essa atividade estava sensivelmente prejudicado pela conjuntura negativa
pós-milagre econômico brasileiro e pela crise do petróleo no mundo, o que desencadeou uma
busca do Estado por novas alternativas que dinamizassem a economia, mesmo que as elites
não estivessem de pleno acordo e temessem que, de alguma forma, com o surgimento de uma
nova atividade fossem perder sua hegemonia. Deve-se a esse fato à inconsistência encontrada
no setor turístico baiano que por muito tempo encontrou empecilhos que dificultaram seu
desenvolvimento. É dentro desse cenário que emerge a necessidade de um exame minucioso,
voltado a analisar como ocorreu a invenção da vocação turística e principalmente a maneira
como foram pensadas e implementadas as políticas públicas voltadas a promover essa
atividade econômica em espaços que, a a década de 1970, não apresentavam nenhuma
infraestrutura para tal. Segundo publicação da BAHIATURSA (1998), o governo do Estado
pensou o turismo para o interior no início da década de setenta, criando o Plano de Turismo
do Recôncavo, no qual indicava rumos para uma política estadual de turismo. Embora os
municípios do interior não apresentassem infraestrutura de transporte, estradas, saneamento
básico e equipamentos de um modo geral, para atender a comunidade e muito menos ao
visitante. Isso vai-se refletir sobre o espaço que é objeto deste estudo, o Litoral Sul, mais
precisamente o distrito de Guaibim, que traz uma história de deficiência de infraestrutura até
na atualidade, mesmo com o governo do Estado voltado a promover o turismo nessa região.
37
Portanto, dentre os desafios principais, nesse momento, tem-se um espaço que não está
preparado para desenvolver essa atividade econômica, visto que o PDDU
8
e as análises
empíricas, por meio dos estudos de campo, demonstram a carência de infraestrutura. Além
disso, o governo desconsidera os efeitos dessa atividade para as populações locais.
O turismo tratado de forma sistematizada e articulada, na Bahia, consiste num
movimento recente, visto que, anterior à década de setenta, os movimentos que existiam em
função de promover essa atividade econômica eram pontuais e não poderiam ser consideradas
atividades organizadas. Conforme afirma Queiroz,
[...] a Bahia vivenciava o surgimento de uma nova mentalidade na área econômica,
comandada pelo governo do Estado, sob a liderança de uma equipe ligada ao
economista Rômulo Almeida. Esse grupo, dotado de uma nova visão administrativa
e econômica, sofreu fortes resistências das tradicionais oligarquias baianas, o que
não chegou a impedir que se concretizasse um amplo esforço de planejamento
estadual [...] (QUEIROZ,2002, p.51)
Isso se deveu sobretudo à aristocracia conservadora existente na época que temia
perder sua hegemonia, em face do surgimento de uma atividade econômica moderna.
Segundo Queiroz (2002), na década de setenta, o turismo já era uma realidade em muitos
países do mundo, visto inclusive como possível alternativa para o desenvolvimento. De
acordo com a análise proposta na publicação Bahia Século XXI, do governo do Estado,
Entre os anos de 1953 e 1964, foram tomadas algumas iniciativas embrionárias em
benefício do turismo na capital do estado, a exemplo da criação do Conselho de
Turismo de Salvador e da transformação da Secção de Turismo da Diretoria do
Arquivo e Divulgação( primeiro órgão municipal de turismo) em Diretoria
Municipal de Turismo.No mesmo período, elabora-se um Plano Municipal de
Turismo, sem desdobramentos posteriores, e institui-se a Superintendência de
Turismo da cidade de Salvador (SUTURSA
9
). ( BAHIA, 2005, p.39)
Percebe-se, dessa maneira, como a atividade era incipiente e embrionária,
caracterizada, sobretudo, pelo fraco desempenho econômico. No entanto, convém explicitar
que na Bahia, apesar do Estado começar a despontar de forma mais sistematizada para essa
atividade nos anos de 1970, muitas eram as dificuldades encontradas, como o número de
8
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município de Valença-BA.
9
Superintendência de Turismo da Cidade de Salvador.
38
hotéis e pousadas, a viabilidade aérea e rodoviária, e a própria infraestrutura que de uma
forma geral era bastante incipiente nesse momento, o que requereria pesados investimentos
para, assim, dotar o estado com infraestrutura adequada a atender as novas demandas
advindas com a atividade econômica. Segundo Porto Filho (2006), a primeira empresa voltada
a promover o turismo na Bahia data de 29 de agosto de 1968, quando o Diário Oficial do
Estado publicou na primeira página uma lei assinada pelo governador Luiz Viana Filho que
dava o “ponta pé” inicial para uma empresa que, a partir de 1973, seria a cursora do turismo
Baiano. O trecho inicial dizia que o governo executivo autorizava constituir uma sociedade
por ações a qual denominava-se Hotéis de Turismo do Estado da Bahia S.A.- Bahiatursa, que
tinha como atribuições construir e estimular a construção de hotéis e pousadas, bem como
ampliar e reformar as instalações e serviços de hotéis nas estâncias hidrominerais de Itaparica
e Cipó.
Assim, de acordo com publicação do Governo da Bahia (2005), a Bahiatursa segue ao
longo deste período assumindo novas responsabilidades como de implementar a política de
turismo, passando a executar um amplo programa de treinamento de mão-de-obra e a
desenvolver ações promocionais nas regiões sul e sudeste, bem como a desenvolver o trabalho
de orientação empresarial para os investidores do turismo no Estado. Ao longo dos anos
percebe-se uma evolução nas atribuições dessa empresa de turismo, no sentido de dinamizar o
turismo no espaço baiano.
Vale a pena abrir um parêntese para suscitar uma reflexão em torno do papel que a
política adotada pelo grupo liderado pelo falecido ex-governador Antonio Carlos Magalhães
10
teve na implementação das políticas de turismo do estado baiano. Segundo Porto Filho
(2006), em 15 de março de 1971, com a posse do referido mandatário, o turismo foi
finalmente incluído nas metas prioritárias do governo e obteve o reconhecimento da sua
importância econômica e social para o Estado através da Lei nº 2.930, de 11 de maio de 1971,
que criou, na estrutura da Secretaria da Indústria e Comércio (SIC)
11
, o Conselho Estadual de
Turismo (Cetur)
12
e a Coordenação de Fomento ao Turismo (CFT)
13
. Desde sua primeira
gestão, o então Governador Antonio Carlos Magalhães deu acentuada ênfase à estratégia de
expansão do turismo e, à medida que suas sucessivas gestões advinham, sua estratégia de
promover e dinamizar o turismo estadual aumentava. Segundo Porto Filho (2006), as ações
10
Antonio Carlos Magalhães foi governador da Bahia pelo partido político PFL, atualmente denominado DEM-
Democratas.
11
SIC-Secretaria da Indústria e Comércio.
12
CETUR- Conselho Estadual de Turismo.
13
CFT- Coordenação de Fomento ao Turismo.
39
oriundas desse governo a buscavam um diferencial que permitisse competir com outros
mercados turísticos. Esse diferencial era proposto a partir das diferentes manifestações
culturais, na culinária exótica, bem como no jeito de ser do povo baiano. Segundo esse autor,
a estratégia do governo era fazer o turista viver a Bahia e não apenas visitá-la. Visando
alcançar este objetivo, era necessário, sobretudo, dotar o estado de infraestrutura turística
que era incipiente na época. Imediatamente diversas ações foram iniciadas. A exemplo, tem-
se o Plano de Turismo do Recôncavo, que foi implementado buscando atrair investimentos
hoteleiros, sem descuidar de reforçar outras atividade necessárias ao bom desenvolvimento do
turismo receptivo. Observa-se, mediante essas ões, que o turismo no estado passa a ter uma
importante contribuição. Segundo Porto Filho,
É de justiça registrar a visão do então governador Antonio Carlos Magalhães, que
compreendeu o significado do turismo como segmento econômico importante para o
desenvolvimento do Estado. Na Bahia essa atividade começava a ser uma realidade
concreta mediante a conscientização da política de turismo como efetivo
instrumento de desenvolvimento econômico. Passou a ser implementado um
programa de planejamento estratégico para o setor, inédito no Brasil nos primeiros
anos da década de 1970, com uma visão clara da importância da cultura como fator
diferencial, a utilização de instrumental de marketing, atração de investimentos de
grupos empresariais consolidados, treinamento e formação de mão-de-obra para o
turismo. (PORTO FILHO, 2006, p.144)
Cabe aqui salientar que, em 1979, numa nova gestão do governador Antonio Carlos
Magalhães, houve um grande salto na política estadual de turismo, ao suprimir diversos
órgãos setoriais de turismo e instituir um comando único nas empresas do sistema, ou seja,
um mesmo presidente para a Bahiatursa, Emtur
14
e Conbahia
15
. Assim, o governador colocou
à frente do Sistema Estadual de Turismo dois executivos experientes. Para secretário da
Indústria e Comércio nomeou Manoel Figueiredo Castro, ex-presidente da Bahiatursa, que
automaticamente passou a presidir o Conselho de Administração da Bahiatursa; no
comando da empresas colocou Paulo Renato Dantas Gaudenzi. Nesse contexto, crises
surgiram na economia brasileira, mas ainda assim foi publicada em outubro de 1980 uma
proposta para um plano diretor de desenvolvimento turístico do litoral do nordeste. Percebe-
se, dessa forma, um interesse maciço por parte da gestão carlista
16
de incentivar a vocação
turística baiana, a qual teve como carro chefe a capital, Salvador, mesmo que atrelado a isso a
14
Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A.
15
Empresa Bahia Convenções S.A.
16
Carlismo consistiu num modelo de gestão desenvolvido pelo Governador Antonio Carlos Magalhães.
40
visão do turismo propagada fosse de uma indústria, ainda que em alguns momentos outros
elementos fossem incorporados ao planejamento da atividade. Observa-se mediante o que foi
aqui posto, e considerando a discussão traçada em publicação da BAHIATURSA (1998) que
o turismo no cenário baiano conheceu diversas fases, sendo que destaca-se o avanço nas
políticas de turismo do ponto de vista estratégico, quando, inclusive, nasceu o PRODETUR-
Bahia, um programa inovador que previa investimentos e ações em infraestrutura. Portanto, a
política desenvolvida pelo grupo político do falecido líder político Antonio Carlos Magalhães
desempenhou uma posição de destaque na promoção do turismo do cenário baiano, que tratou
principalmente de incentivar e enaltecer a vocação turística do estado.
No entanto, por muito tempo não existiu um departamento voltado a direcionar o
turismo no estado, a princípio tal tentativa de direcionamento estava centrada basicamente em
Salvador, ainda assim encontrando uma série de inconvenientes, o que ocasionou, por
diversas vezes, o desmantelamento dessas estruturas voltadas para o turismo da capital.
Entretanto, algumas tentativas foram realizadas para dinamizar o turismo no interior no
estado, como o Plano de Turismo do Recôncavo e o Programa Caminhos da Bahia, mas a
própria inexperiência do setor, principalmente no que concerne às pessoas envolvidas com
essa atividade, tenderam a levar tais planos ao fracasso. Todavia, eles foram de fundamental
importância para embasar e subsidiar demais planos que vieram a surgir futuramente. De
acordo com Queiroz,
O plano de turismo do Recôncavo, apesar não ter sido implementado integralmente,
exerceu grande influência nas sucessivas gestões turísticas que se seguiram à sua
formulação, contribuindo para que, ainda que de de forma assistemática, outros
elementos, como o patrimônio histórico, natural, cultural, etc., viessem a se
constituir em objeto das preocupações dos gestores turísticos. Enfim, o Plano de
Turismo do Recôncavo efetivamente contribuiu para a mudança da visão do turismo
como indústria, visão que, entretanto, viria de fato a ser consolidada em meados
da década de 90.(QUEIROZ, 2002, p.108)
Na opinião dessa mesma autora, o despontar da atividade turística no cenário baiano
teve aqui elementos que foram fundamentais, como a construção da BR-116, a Rio-Bahia, em
1963, e demais investimentos viários como a BR-242, Salvador-Brasília, em 1968, e a BR-
101, ligando o norte a sul do país, concluída em 1972, formando a base para impulsionar o
turismo no estado. Dessa maneira, percebe-se que a Bahia não apresentava seu espaço apto a
recebe uma atividade econômica que dependia de dotar o espaço com infraestrutura para
receber o visitante, até por que o produto fundamental a ser vendido era a paisagem. Nesse
41
momento, o distrito, objeto de estudo, carecia de vias de acesso, que, segundo Andrade
(2001), foi somente em 1993 que houve a conclusão da BA-001 (trecho Nazaré-Valença-
Camamu) e BA-650 (Camamú-Travessão), bem como uma maior preocupação com a
infraestrutura dessa região para atender às demandas do turismo regional, que vinha tendo um
crescimento rápido e desordenado. Visando dinamizar e ampliar o Sistema Estadual de
Turismo, foram criadas agências para fomentar o turismo, inclusive sendo incentivado pela
EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo), na época recém-criada, como a
Empreendimentos Turísticos da Bahia S.A.-EMTUR, voltada a atrair empreendimentos
hoteleiros para a Bahia, mas serviu também para dinamizar o turismo receptivo no interior do
Estado. Houve ainda a criação da Empresa Bahia Convenções S.A-Conbahia, que, segundo
Aquino (2002), propunha-se a “ampliar o tempo de permanência do visitante na Bahia,
reduzindo a sazonalidade do turismo e diversificar a oferta turística existente,[...].” Observa-
se, dessa forma, que tais empresas tiveram o papel de preparar o terreno para a futura
estruturação do Sistema Estadual de Turismo, que mais tarde passará a ser referência
nacional.
Mesmo que a política desenvolvida a partir da gestão do Ex-Governador Antonio
Carlos Magalhães tenha sido conduzida segundo os moldes neoliberais, e tenha sido altamente
conservadora em muitos aspectos, foi somente nessa gestão que o turismo no Estado foi ter
um caráter empreendedor e empresarial, voltado a dinamizar a economia do Estado, sobretudo
do Litoral. O que até então não passava de tentativas de dinamizar a economia a partir do
turismo, tomou fôlego e corpo e passou a fazer parte das prioridades estatais, como o
desenvolvimento de políticas voltadas a direcionar a atividade econômica. Isso significou a
inserção de um novo dinamismo ao espaço do litoral que recebeu investimentos buscando
estruturar o espaço e produzir profundas mudanças na paisagem.
Foi justamente nesse contexto que emergiu a necessidade de criação de uma Proposta
para um Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico do Litoral do Nordeste, o qual foi
proposto pela SUDENE
17
e apoiado pelo governo Francês. Segundo Queiroz (2002, p.133),
“à luz desse diagnóstico, visava-se elaborar um plano diretor para o litoral nordestino, plano
que viria a ser implementado mais tarde e em outras bases, com o Programa de
Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (PRODETUR-NE).” O despontar do turismo
baiano, num momento de ampla oscilação na economia nacional, repercutiu
significativamente na liderança da Bahia nessa atividade, dentre os estados nordestinos. Por
17
SUDENE- Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.
42
muito tempo o turismo esteve atrelado a demais secretarias e departamentos da administração
pública, o que agora era inconcebível, já que a atividade havia despontado no cenário baiano,
requisitando uma maior atenção por parte do governo do Estado. O que, conforme Queiroz,
[...]indicou-se como imprescindíveis à implementação da sua proposta algumas
modificação no aparato institucional público voltado para o planejamento e fomento
do turismo na Bahia, entre as quais a constituição de um novo marco que
congregasse, em “uma única secretária forte”, não as atividades ligadas ao
turismo, à cultura e ao lazer [...]. (QUEIROZ, 2002, p.143)
Foi neste cenário que emergiu a Bahiatursa, a princípio uma empresa voltada para o
fomento à rede de hospedagem, depois sofreu algumas mudanças, passando a responder
também pelas funções de promoção e planejamento. Assim, a partir de 1990, quando Antonio
Carlos Magalhães assumiu pela terceira vez o governo do estado teve contato com os dois
estudos turísticos já mencionados anteriormente que vieram a servir de subsídios para a
estratégias empreendidas pelo governo estadual. Anterior ao PRODETUR-NE, o governo
baiano realizou uma importante intervenção na área do turismo, que consistiu no
PRODETUR-BA. Tratava-se do Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia, que,
segundo a Bahiatursa (2006), seria um instrumento de política econômica previsto para
vigorar entre 1991 e 2002, cuja implementação foi precedida de um planejamento estratégico
abrangente e criterioso, contemplando a construção de infraestrutura básica nas áreas
turísticas do estado, bem como o incentivo ao setor privado para a implementação de
equipamentos e serviços turísticos e a capacitação dos serviços públicos que dão suporte à
atividade, à qualificação dos recursos humanos e promoção turística. E, assim, a partir da
década de noventa, houve o lançamento de uma série de proposições para a constituição de
um programa para o turismo nordestino financiado pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento. Vale salientar que o país estava mergulhado em forte crise, e por
conseguinte o deslanchar da atividade turística apresentava-se como alternativa favorável
para divulgar a imagem do Brasil, seguindo a experiência de alguns países que apontavam o
turismo como uma possível saída para enfrentar a retração econômica e as desigualdades
sociais. Isso favoreceu o BID
18
e o Banco Mundial financiarem projetos direcionados a essa
atividade. Por conseguinte, nesse contexto, foi solicitado que os estados nordestinos criassem
projetos de planejamento para o turismo dos estados, os quais seriam financiados pelo BID.
18
BID- Banco de Desenvolvimento Interamericano.
43
Esse plano foi concebido tendo como público-alvo o mercado internacional. Assim, os
estados fizeram seus planos, e a Bahia fez e apresentou o seu denominando-o PRODETUR-
BA. Essa nomenclatura o BID adotou para abranger todo o projeto. De acordo com Queiroz,
[...] as pesquisas para a elaboração do PRODETUR não só permitiram a formulação
de estratégias baseadas nas Zonas estabelecidas e nos Centros Turísticos previstos
como identificaram uma série de entraves ao desenvolvimento da atividade turística
baiana, que subsidiaram a recomendação de ações públicas. Dentre essas destacam-
se: o cuidado como patrimônio ambiental; a implantação de um programa
mercadológico; a intensificação dos incentivos a charters e a instituição de acordos
com companhias regulares , de modo a favorecer a acessibilidade ao estado, e a
implantação de programas visando reduzir a violência urbana.(QUEIROZ, 2002,
p.151)
O PRODETUR acabou investindo pesadamente para melhorar a infraestrutura da
Bahia, mais precisamente de Salvador e do litoral, visando dinamizar o turismo. Inclusive, o
próprio plano incentivou a descentralização, bem como o envolvimento da comunidade no
projeto; mas que fique claro, as ações, bem como a sua elaboração, partiram sempre de ações
centralizadas por parte do governo do Estado. E se valorizou algumas regiões, onde os
recursos ficaram concentrados, em detrimento de outras. Um ponto que merece ser aqui
discutido é que as infraestruturas em prol do turismo foram sendo implantadas, mas a
comunidade não participou do processo decisório quanto ao que seria melhor para as
localidades. Portanto, é preciso uma análise profunda em torno da maneira como o turismo se
desenvolveu sempre de forma verticalizada, favorecendo os grandes agentes hegemônicos,
dinamizando determinadas áreas do estado em detrimento de outras. Isso considerando que os
investimentos no turismo aconteceram sempre em função de favorecer interesses políticos,
sem considerar a percepção da comunidade ante o fenômeno turístico.
1.3 O que se esperar desse modelo turístico: uma análise da atual estratégia turística
baiana.
Cabe nesse momento tecer algumas considerações em torno do que se projeta ser a
estratégia turística do governo do estado da Bahia, a partir de 2007, considerando a percepção
da política pública enquanto estratégia, bem com as implicações reais desse modelo de
planejamento. Os anos de 1990 ficaram registrados na história da Bahia como a década do
turismo, quando foram obtidos os primeiros resultados das políticas setoriais de turismo. De
44
acordo com a Bahiatursa (2006), o turismo baiano recebeu fortes impulsos dos investimentos
públicos voltados para a melhoria e ampliação da infraestrutura de apoio, que mais
recentemente foram subsidiados pelos recursos do Programa de Desenvolvimento do Turismo
no Nordeste (PRODETUR-NE), o que imprimiu um caráter mais dinâmico à atividade.
Entretanto, essa dinamicidade não é equitativa em todo seu contexto, visto que apresenta um
caráter muito mais mercadológico, do que sustentável. Assim, tem espaços que o
descobertos pelo turismo e que são estruturados para essa atividade sem contudo, a população
local estar pronta para as mudanças empreendidas.
Uma breve análise no que consiste a atual estratégia turística, leva a observar como
ela é fundamentada considerando a afirmação encontrada na BAHIATURSA (2006), que
considera como fundamental a atração de novos mercados emissores e renomados grupos da
hotelaria internacional. Entretanto, essa ação traz em si uma profunda desconsideração ante as
comunidades locais que muitas vezes se veem desapropriadas do seu espaço e sem possuírem
as qualificações exigidas pelos padrões internacionais, vão desenvolver atividades de mão-de-
obra precárias, sem falar que os lucros dessa atividade, além de não ficarem para a
comunidade local, dificilmente são revertidos em seu benefício. Esse cenário reflete a
realidade das comunidades do baixo sul, assim como a de Guaibim, desde que a comunidade
apresenta uma postura passiva, o que impede até mesmo o desenvolvimento das associações,
(aspecto que sediscutido no capítulo seguinte). O que se percebe é a grande capacidade da
atividade turística em gerar divisas, emprego e renda, diminuindo as desigualdades
socioeconômicas entre as regiões. Aqui cabe esclarecer que o que se tem visto e observado,
partindo da realidade em estudo, no que concerne ao Litoral Sul, é que existem grandes
diferenças dentro de uma mesma região, já que os investimentos de recursos e as disparidades
socioeconômicas são aprofundadas porque se investe mais em determinadas localidades em
detrimentos de outras. Observa-se com isso que o objetivo do governo do estado da Bahia
foge do seu discurso de promover o turismo como atividade sustentável, por ser empreendido
como uma mera atividade econômica desconsiderando a realidade ambiental, social e cultural
que envolve o processo de turistificação, o que é observado em diversas localidades do
Litoral Sul, não apenas em Guaibim, mais em lugares como Itacaré e, até mesmo, Morro de
São Paulo.
Analisar o turismo no cenário baiano requer primeiramente compreender um contexto
mais amplo que envolve as políticas públicas, direta ou indiretamente, em âmbito nacional,
estadual e local, a começar pelo Plano Nacional de Turismo proposto pelo Governo federal.
45
Conforme mencionado anteriormente, por muito tempo não houve um Ministério dedicado
apenas ao turismo, que geralmente coexistia junto com outros, como o Ministério da Indústria
e Transporte. No entanto, em 2003, durante o Governo do Presidente Luís Inácio Lula da
Silva, houve a criação do Ministério do Turismo e, por conseguinte, do Plano Nacional de
turismo (PNT
19
), que concebe a formulação, implementação e execução de políticas públicas
voltadas para o turismo. O PNT emerge numa conjuntura sócio-econômica e política melhor
adaptada ao contexto da globalização, inclusive com o incentivo a atividades até então pouco
valorizadas como o turismo.
O turismo atualmente tende a ser visto como uma ferramenta para a obtenção de
recursos e redução de desigualdades sociais, para a melhoria da qualidade de vida de espaços
até então sem nenhuma alternativa de desenvolvimento. Tal discurso irá nortear o Plano
Nacional de Turismo. Enaltecendo o Programa de regionalização do turismo- Roteiros do
Brasil, lançado em abril de 2004 (PNT), marcado por um forte discurso voltado ao
desenvolvimento local/regional. Tal contextualização se faz necessária visto que os PDTIS
(Plano de Desenvolvimento do Turismo Integrado e Sustentável) encontram-se no seio do
PNT, bem como os atuais direcionamentos voltados às políticas públicas que direcionam o
turismo baiano.
O discurso preponderante dentro do PNT, ao qual se tece algumas críticas neste
trabalho, é economicista e prevê um certo imediatismo nas ações. Ele ainda concebe o turismo
como panacéia para o desenvolvimento de diversas comunidades tradicionais, como indutor
não apenas do desenvolvimento, mas também de emprego e renda. E emerge o
questionamento: para quem e o que, de fato, esse turismo trouxe as essas comunidades que se
veem destituídas de infraestrutura e bem estar, sem ter para si o que poderia ser oferecido ao
turista? E mediante a análise do PNT, mais uma vez nos deparamos com a questão de
consolidar o país como um dos principais destinos turísticos mundiais, quando a maioria das
localidades destinadas ao turismo encontra-se destituídas, de infraestrutura social, urbana e
logística. Esse Plano constrói um ideário para o turismo que talvez exista na sua
idealização e que dificilmente comporá o real, até porque a forma como propõe o
desenvolvimento local ou regional, a descentralização administrativa e até a inserção de
infraestrutura, de um modo geral, não foi acompanhado do amadurecimento dessas
populações envolvidas na atividade, para o despertar da participação cidadã e,
principalmente, de pensar qual o desenvolvimento que as pessoas almejam para as suas
19
PNT- Plano Nacional de Turismo
46
localidades. No documento não fica claro, ao se analisar a metodologia, quais segmentos de
fato participaram da sua elaboração. Depreende-se, dessa forma, que o turismo proposto pelo
PNT dificilmente será uma mola propulsora para o desenvolvimento local, já que é concebido
nos moldes mercadológico. O turismo, para impulsionar o desenvolvimento local, deve ser,
antes de qualquer coisa, de base comunitária, considerando as fragilidades e potencialidades
de cada lugar e, principalmente, pensado a partir das percepções das comunidades.
A partir das discussões até aqui propostas e da análise tecida sobre os PDITS,
considera-se que esse último encontra seus fundamentos dentro do PNT, visto ser esse o plano
político maior que concebe o turismo. Os PDITS consistem num planejamento para o
desenvolvimento do turismo dentro do pólo Litoral Sul que tem como objetivo: “promover a
estruturação e o planejamento do desenvolvimento do turismo em mesorregiões vocacionadas,
formação de parcerias, mobilização e integração dos atores locais com foco na atividade
turística e nos resultados, em benefício da população local”. (PDITS, p.200). O modelo de
desenvolvimento proposto nesse plano preconiza que a atividade turística venha contribuir
com a economia local de três formas distintas: a princípio acrescentando renda e emprego
para os habitantes; em segundo lugar, aumentando o mercado consumidor dos produtos da
região através do fluxo de visitantes; e, por fim, colaborando com a melhoria das condições de
acesso e distribuição da produção local, pois se trata de um requisito prévio para o
desenvolvimento do turismo. No entanto, é fundamental considerar que, aqui, está se
discutindo o planejamento de uma atividade econômica para uma região que apresenta
inúmeras lacunas quanto à infraestrutura, e até à logística de transporte, bem como questões
sociais que se apresentam como barreiras à execução dessa atividade, podendo-se, ainda,
pontuar a fragilidade quanto à participação cidadã das comunidade que compõem o litoral sul,
mais precisamente a denominada Costa do Dendê (figura 4).
Nenhum plano turístico, hoje, deve desconhecer a necessidade de envolvimento da
comunidade no planejamento do turismo em cada localidade, até porque os próprios PDITS
preveem a criação dos conselhos municipais de turismo, para que não parta apenas de uma
ação verticalizada e, principalmente que seja uma alternativa para a melhoria da vida dessas
comunidades e não uma maneira de deixá-la mais estagnada e destruída, a mercê dos agentes
hegemônicos. Enfim, dentre os diversos empecilhos existentes na implementação de planos
turísticos, a participação da comunidade se mostra como um dos mais preocupantes, visto que
isso facilita que demais agentes pensem e planejem o espaço de Guaibim desconsiderando o
47
olhar da comunidade e favorecendo a continuidade de uma atividade mercadológica sem,
contudo, promover desenvolvimento.
48
Figura 4 - Mapa Pictórico das Zonas Turísticas da Bahia com destaque para a Costa do Dendê.
Fonte - Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia e Secretaria de Turismo de Valença Disponível no
www.sct.ba.gov.br/prodetur.aspwww.valenca.tur.br/localizaçao.asp, acessado em agosto de 2009.
49
1.4 Confrontando o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Valença com as
políticas estaduais e federais de turismo.
Diante do que foi discutido nos itens anteriores quanto à forma como o turismo é concebido
pela gestão pública, seja federal ou estadual, e o que é posto em prática, cai-se então na
questão da burocracia que envolve esses projetos e o quanto eles são rotulados e
padronizados, desconsiderando inclusive o papel da comunidade no planejamento das
atividades econômicas para o espaço de vivência. O equívoco acaba se perpetuando também
na esfera municipal quando deliberam ações a partir do plano diretor de desenvolvimento
urbano, desmerecendo o olhar da comunidade ante seu lugar, bem como as especificidades
locais. Paralelo a isso, tem-se um turismo que em vez de dinamizar e promover o bem estar da
comunidade, apresenta-se como uma atividade predatória, com fortes conseqüências sociais,
ambientais e espaciais, com lucros restritos a uma minoria. Assim, o envolvimento da
comunidade e sua participação no processo de planejamento deve ser um elemento
fundamental na construção de um espaço melhor para a comunidade viver, e até para atender
ao turista.
A análise do fenômeno turístico em Guaibim, considerando as ações do plano diretor
de desenvolvimento urbano, demonstra que as propostas não implicam numa relação
racionalizada, onde o que foi planejado será posto em prática, visto que inúmeras variáveis
existentes tanto internas quanto externamente influenciam na execução, principalmente se
considerarmos que as ações são em sua maioria intencionais. O PDDU contempla, a
princípio, o planejamento das ações em função da melhoria de vida da comunidade. No
entanto, o plano é pensado e deliberado na Câmara Municipal, onde, geralmente, o papel da
comunidade é muito mais consultivo do que deliberativo, o que acaba se manifestando como
um elemento que acabará dificultando o processo, visto que nem sempre os interesses locais
serão considerados; além disso as descontinuidades político-administrativas e até mesmo o
PDDU não ser considerado prioridade, acabarão dificultando sua execução. Desta forma,
concordando com Santos (1997), depreende-se que os resultados da ação humana não
dependem unicamente da racionalidade da decisão e da execução, existindo sempre uma
quota de imponderabilidade no resultado, devido a própria natureza humana. Outro aspecto é
o clientelismo que pode existir nas relações políticas da comunidade com o poder público, que
muitas vezes se utiliza de projetos e planos para beneficiar determinados setores que
geralmente podem render mais benefícios políticos e eleitorais do que para população mais
carente. E, conforme pontuado anteriormente, a própria comunidade não cria espaços para
50
deliberar, visto que os planos e projetos são pensados de forma unilateral, ficando difícil as
pessoas manifestarem seus interesses e opiniões.
É importante ressaltar que o turismo proposto pelo Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano acaba se inserindo dentro de um contexto maior no qual está posto o PNT (Política
Nacional de Turismo) que propõe a qualificação de profissionais, a descentralização da gestão
turística, a municipalização para o turismo e a terceirização de algumas demandas para o setor
privado. Enfim, a atual proposta do PNT, pensada para o governo do Presidente Luís Inácio
Lula da Silva, encontra-se no tripé da atividade sustentável, descentralizada e associada às
políticas sociais. Por outro lado, de acordo com Santos (1997), percebe-se que ações
intencionadas podem conduzir a resultados não-intencionados, característica, aliás, muito
comum no processo de mudança social ou de mudança espacial, que acaba sendo inerente aos
espaços envolvidos com a atividade turística. Geralmente ações são pensadas de forma
unilateral e a partir de centros decisórios distantes do espaço onde a ação deve ser executada
e, conforme enunciado anteriormente, desmerecendo os saberes locais, bem como a percepção
da população sobre a atividade que será implantada no seus espaço. Nesse sentido, Santos
(1997) ressalta que uma das razões pelas quais não se pode prever totalmente o resultado da
ações vem, exatamente, do fato de que a ação sempre se dar sobre o meio, combinação
complexa e dinâmica, que tem o poder de deformar o impacto da ação. Diante desse quadro,
percebe-se que os agentes hegemônicos possuem até o poder de agir sobre o espaço e
modificá-lo, no entanto essa interferência não é garantia de sucesso nem de que a atividade i
despontar trazendo desenvolvimento à comunidade. Isso, inclusive, pode ser notado em
espaços vocacionados para o turismo, por disporem de potencial natural, embora não possua
nenhuma infraestrutura para ser, de fato, um espaço turístico. Por conseguinte, a atividade
tende ao fracasso ou quem sabe a produzir um processo desenfreado de turismo em massa,
com consequências sociais, espaciais e ambientais desastrosas ou, pior ainda, haver uma forte
valorização imobiliária, destituindo a população do seu direito à terra e do seu modo de viver.
Por isso, é fundamental que nos espaços dedicados à atividade turística o planejar se
manifeste como um elemento minucioso, visto que a forma como o espaço será utilizado
consiste num dado fundamental, até mesmo considerando a manutenção da atividade
futuramente. Desta maneira, a prioridade de qualquer planejamento turístico deve
primeiramente garantir autossuficiência da comunidade, considerando atividades sustentáveis
que permitam a comunidade desenvolver-se independente do turismo em si mesmo; mas,
51
principalmente, garantindo qualidade de vida e maneiras alternativas de sustentabilidade, de
forma que o turismo seja apenas uma das formas de dinamizar a economia local.
É primordial considerar que o turismo poderá contribuir com o local, só e somente se
a economia não estiver centrada unicamente nesse setor, visto que ele pode até gerar ganhos,
mas traz também, em seu bojo fragilidades. Dessa maneira, concebe-se que qualquer proposta
para promover o turismo deve estar atrelada, como conseqüência, a um plano ou até a uma
política pública que promova primeiramente e prioritariamente o desenvolvimento social ,
com melhoria da qualidade de vida e ganhos efetivos para comunidade, de forma que o
turista perceba ali um espaço digno de viver, onde não prevaleçam as desigualdades sociais,
bem como a degradação ambiental, tão comuns nos espaços turísticos brasileiros e que
retratam muito bem o caso que será analisado do distrito de Guaibim. Propõe-se, aqui, pensar
em casos onde o espaço tem sua paisagem degradada, refletindo as disparidades sociais e
econômicas, manifestando-se como um elemento que acaba expulsando o turista.Segundo
discorre Yázigi,
Os conflitos sociais são latentes e facilmente observados, especialmente na
localização dos bairros de moradia da população trabalhadora. Essa vive em função
do veraneio”, em áreas mais distantes do mar, em terras mais baratas ou devolutas,
ou ainda de propriedade do Estado. Essas terras, áreas de matas, morros, alagadiços
e florestas de manguezais, não são de fato as mais indicadas para a urbanização, e
são ocupadas devido a real impossibilidade financeira de tal população adquirir ou
alugar residências em lugares já totalmente urbanizados.(YÁZIGI, 2002, p.184)
Enfim, esse cenário descrito traduz muito bem a realidade de diversas localidades
turísticas espalhadas pelo território brasileiro e baiano; e como não poderia fugir à regra,
reflete muito bem o caso de Guaibim. Salienta-se que uma das deficiências encontradas para o
desenvolvimento de Guaibim, talvez, seja a falta de consciência da comunidade para pensar o
desenvolvimento que almeja para o seu espaço de vivência. O próprio plano diretor concebeu
a retirada da população residente nas palafitas, uma área de mangue com condições sub
humana de sobrevivência, para um loteamento, o que se tornou uma prerrogativa do
PRODETUR para a liberação dos recursos para a construção da orla do distrito. Isso foi
necessário porque a urbanização informal, bastante precária, tende com o passar dos anos a se
consolidar, sendo reconhecida legal pelo Estado, que procura fixar tais populações , remediar
e nem sempre resolver os problemas mais emergentes. Esse quadro inclusive em se tratando
de espaços turísticos tende a atuar dificultando a atividade econômica.
52
Ao longo das discussões até aqui estabelecidas, observa-se a importância de uma
análise profunda na realidade dessas comunidades que ainda não despontaram totalmente para
o turismo e que ainda podem ter os impactos do turismo minimizados a partir de um
planejamento sério e comprometido com o bem estar social dessas comunidades. Isso decorre
principalmente por considerar as relações que envolvem a comunidade e seu lugar, bem como
estudar formas de minimizar os impactos que a nova atividade econômica pode trazer, através
de institucionalização de projetos que visem qualificar a comunidade e promover projetos que
permitam uma vivência mais sustentável, através de cooperativas, por exemplo. Aqui cabe
considerar a importância da participação comunitária na elaboração das políticas públicas que
irão nortear a direção da atividade econômica. A seguir, propõe-se uma análise centrada na
compreensão das consequências que sobressaem nos lugares turistificados, de forma vertical e
unilateral, desconsiderando os valores da comunidade, bem como um planejamento
sistematizado voltado à organização do espaço. Assim, ao longo do capítulo seguinte, propõe-
se uma discussão acerca das conseqüências do fenômeno turístico para o espaço de Guaibim,
no que concerne às implicações sociais, econômicas, espaciais e ambientais resultantes do
processo de turistificação naquele espaço, ao longo do tempo.
53
2 A INVENÇÃO DO ESPAÇO TURÍSTICO E A ATUÃO DE DIFEREN-
TES AGENTES ESPACIAIS: UM ESTUDO DE CASO.
A construção dos espaços turísticos implica necessariamente em profundas mudanças
na paisagem. Como ressalta Luchiari (2001), a razão simbólica, constitutiva do processo de
construção da paisagem, desnaturaliza seu significado e revela sua dimensão cultural. A partir
do processo de turistificação, o espaço recebe equipamentos, bem como novos componentes
culturais, que não se configurarão apenas nas formas, mas principalmente nos simbolismos,
na vida do lugar, no pensar e no cotidiano da comunidade. Uma análise da valorização da
paisagem sob a abordagem humanística pressupõe, assim, o deslocamento da atenção do
objeto externo para os fenômenos que ocorrem com os sujeitos que a vivenciam, não no
sentido de determinar ou quantificar os sentimentos envolvidos, mas de descrever e
compreender a forma como os indivíduos vivenciam suas relações.
Considerando os espaços que são construídos e (re)construídos mediante o fenômeno
da turistificação, observa-se que muitas vezes o processo é responsável por verdadeiras
metamorfoses do espaço, ora trazendo crescimento econômico, ora transformações, sejam elas
sociais, culturais ou ambientais. Sobre o distrito de Guaibim, Oliveira afirma que,
Como uma comunidade que tem no turismo sua principal atividade econômica, o
processo não planejado de estruturação urbana da Vila do Guaibim tem
comprometido intensamente os ecossistemas locais, com repercussões na qualidade
de vida dos seus moradores. [...] Nessa realidade, nota-se ainda uma deficiência de
políticas públicas que estabeleçam critérios de desenvolvimento turístico, uma vez
que se trata de uma unidade de conservação que vem sendo explorada de modo não
sustentável [...].(OLIVEIRA, 2007, p.70)
O processo de turistificação que vem ocorrendo no litoral da Bahia implica, na maioria
das vezes, numa completa transformação dos espaços, visto que geralmente ele obedece a
lógica dos agentes envolvidos e do Estado, os quais nem sempre ponderam as conseqüências,
o que acarreta que equipamentos serão instalado sem, contudo, obedecer as capacidades reais
dos espaços. Sobre esse aspecto, Yázigi (2001) concebe que, no Brasil, cujo o padrão de
metropolização não conheceu o capitalismo concorrencial, comumente uma pequena cidade
assume ares de fragmento de cidade grande ou, o que é pior, fica sem as qualidades do
pequeno e com muitas desvantagens do grande. Pensar a turistificação no Litoral Sul da
Bahia, mais precisamente na região turística da Costa do Dendê, permite elucidar como esse
54
processo pode ser propício às metamorfoses desses locais, visto que ele acontece guiado por
políticas públicas que, geralmente, favorecem os agentes hegemônicos envolvidos e o Estado,
e não a comunidade. Assim, o discurso proferido por esses agentes afirmam que o turismo é
uma oportunidade de melhoria de vida para muitas populações; entretanto, essas
comunidades, muitas vezes, não estão aptas a desenvolver a atividade turística. Para Corrêa,
O mesmo espírito preservacionista que protegeu ecossistemas naturais também
selecionou paisagens naturais para serem mercantilizadas e transformadas em novas
territorialidades das elites urbanas- agora, com estatuto de guardiães da natureza- e
restringiu ou excluiu antigas práticas sociais de subsistência das populações
tradicionais. (LUCHIARI, 2001, p.10)
A exemplo dessa realidade tem-se a construção de APAs
20
e parques que não têm
seus limites reconhecidos pela comunidade, por isso acabam sendo invadidos e ali proliferam-
se submoradias e favelas. A visualização desse cenário leva a uma análise da percepção, bem
como a atuação dos diferentes agentes que veem atuando nesse contexto, como os hoteleiros,
os comerciantes de forma geral e também o poder público, setores que possuem um papel de
destaque no contexto da turistificação. A importância desses agentes espaciais está no papel
de produzir seu espaço de vivência, bem como de assumir sua responsabilidade sobre a
organização e a estruturação, papéis esses queo cabem apenas ao poder público. Até
porque a essência da paisagem é formada de elementos retransmitidos e reinterpretados
permanentemente, o que significa que cada um desenvolve sua própria cultura em função do
contexto social onde vive, trabalha e viaja e das dificuldades que vivencia. Numa análise
sobre o processo de turistificação em Guaibim, é imprescindível compreender como ele se
desenvolveu, considerando o olhar dos agentes espaciais . Os agentes que serão analisados
nesse momento consistem nos proprietários dos meios de produção, os quais são responsáveis
pela ocupação do espaço urbano local. Em Guaibim, esse grupo de agentes sociais é composto
por donos dos postos comerciais (supermercados, farmácias, padarias), os donos de barracas
de praia ( os restaurantes que se estendem ao longo da orla de Guaibim e os hoteleiros. Tais
proprietários são importantes agentes que organizam o espaço urbano. Quando questionados
sobre as mudanças que ocorreram na paisagem de Guaibim, ao longo do processo de
turistificação, alguns comerciantes comentaram que as principais alterações que ocorreram no
espaço foram:
20
APA- Área de Proteção Ambiental.
55
“Eu cheguei com nove anos de idade e não tinha trinta casas no geral, que eram chamadas de oca.
tinha duas casas de telhas. Os pescadores pescavam de jerere e puxava as redes de mão. Calão era uma arte de
pesca que se usava naquele tempo. E como se pegava muito peixe e não se tinha como estocar, perdia muito.
Geralmente quinhentos quilos de peixe era o que se jogava fora, pois não tinha quem consumisse. Então as
mudanças são muitas e, hoje, até o peixe tem como estocar. O lugar cresceu muito, muitas casas, muitos hotéis e
muitas mansões.” (Entrevista realizada no dia 23/08/2009, com o Senhor Sonio Caetano, 62 anos, comerciante)
“Quando eu retornei em 1981, pois saí para estudar, não tinha energia elétrica, água, esgoto, era muito
difícil. Não tinha rede hoteleira, só tinha uma pousada, a Guaibim, que fica na avenida Taquari e foi a
primeira,inclusive esse lugar era até um fazenda de coco, e hoje uma grande rede hoteleira.” (Entrevista realizada
no dia 23/08/2009, com a senhora Dainha, 53 anos, comerciante)
“Quando cheguei tinha trinta e oito barracos de palha e de chão, com piso de taboa. tinha duas casas
de telha e a parede era de lama do mangue” (Entrevista realizada no dia 23/08/2009, com o Senhor Roque, 79
anos, comerciante.)
“Cheguei aqui em 1976, só tinha areia e casa de palha, e hoje estar uma cidade.” (Entrevista realizada
no dia 23/08/2009, com o Senhor Adalberto, 58 anos, comerciante.)
Meu comércio existe desde 1968, e eu sou nativo daqui. Quase tudo mudou, primeiro não tinha
estradas era variante, segundo fizeram a estrada de cascalho e depois asfaltaram. As casas eram de palha, depois
passou a ser de barro e depois de bloco. Só então colocaram telhas nas casas e ultimamente as pessoas só querem
construir na laje.” (Entrevista realizada no dia 23/08/2009, com o Senhor Manoel, 77 anos, barraqueiro)
Essas memórias se assemelham por caracterizarem o espaço de Guaibim anterior ao
período da turistificação, quando a paisagem predominante era uma vila de pescadores com
número restrito de edificações, construídas de forma artesanal, utilizando a madeira da própria
mata nativa e do manguezal. As áreas desse espaço eram destinadas à agricultura, ao cultivo
de coco e a pequenos cultivos de subsistência, o que remete inclusive a uma imagem bucólica
desse espaço. E a principal atividade econômica, que fica clara nos discursos, era a pesca, que
apesar de acontecer de forma tradicional, rendia muito peixe que se perdia, por não ter local
para estocagem, que não havia energia elétrica, e portanto, espaços de refrigeração, bem
como não existiam estradas que pudessem viabilizar a comercialização desse produto. O que
se percebe, hoje, nesse mesmo espaço, é uma imagem totalmente diferente daquela vila de
pescadores rodeada de mata e coqueirais. Atualmente tem-se nesse espaço muito pouco dessa
antiga vila de pescadores, desde que houve a construção de uma estrada de acesso à Guaibim,
que trouxe consigo um fluxo de bens, pessoas e equipamentos que trataram de transformar
56
esse local num destino turístico. O que se tem hoje é uma comunidade que tem no turismo sua
principal atividade econômica e o processo não planejado de estruturação urbana da Vila do
Guaibim tem comprometido intensamente os ecossistemas locais, com repercussões na
qualidade de vida dos seus moradores. Nessa realidade, nota-se ainda uma deficiência de
políticas públicas que estabeleçam critérios de desenvolvimento turístico, uma vez que se trata
de uma unidade de conservação que vem sendo explorada de modo não sustentável,
necessitando de uma gestão que atenda às diretrizes previstas no Plano de Manejo.
Nos depoimentos observa-se que ocorreu, em Guaibim, uma transformação no seu
espaço, desde que era apenas uma vila de pescadores, onde não existia o comércio, ruas e
estradas, casas, infraestrutura de energia elétrica, água encanada e esgotamento.
Figura 5 - Primeiras edificações na Praia de Guaibim.
Fonte - Edvaldo Borges de Andrade.
57
Figura 6 - Avenida Principal da Praia de Guaibim.
Fonte: Autora. Trabalho de campo em Abril de 2010.
As análises das imagens permitem afirmar que, apesar de ser esse um lugar turístico,
não apresenta um portal de entrada, nem uma urbanização que demonstre que houve um
planejamento urbano direcionado a organizar esse espaço e nem adequá-lo à turistificação.
Esse cenário de carência e descaso com o espaço urbano e principalmente com o espaço
público é uma marca em Guaibim que, além de inviabilizar o turismo, acarreta sérias
consequências para a comunidade.
Figura 7 - Avenida Principal da Praia de Guaibim.
Fonte: Autora. Trabalho de campo em Abril de 2010.
58
Ou seja, quando comparado a localidade de hoje, concorda-se com o que já foi
afirmado por Yázigi (2001), anteriormente, de um espaço que acaba ganhando ares de
fragmento de cidade grande, perdendo-se inclusive as características e qualidade da vida de
uma cidade pequena. A partir do olhar de Luchiari (2001), depreende-se que o imaginário
coletivo define a concepção social de natureza e a traduz, transformando-a em artefatos
materiais e simbólicos, ou seja, em cultura. Esse imaginário coletivo, em Guaibim, sofreu
transformações com o processo de turistificação, introduzindo elementos que marcam a
cultura do lugar, portanto, é inegável que a paisagem seja portadora de sentido. De acordo
com Corrêa,
A produção de um novo contexto material altera a forma/paisagem e introduz novas
funções, valores e objetos. Esses objetos, formas dotadas de conteúdos, permeadas
pelas ações e contextualizadas por um sistema de valores, são imbuídos de
significação e intencionalidades. (LUCHIARI, 2001, p.12-13)
Refletindo sobre o que propõe esse autor, é possível compreender que ocorreram
mudanças no que era a Vila de São José para o destino turístico Guaibim, que acabou se
tornando um lugar turístico, sem um prévio planejamento, o que reflete diretamente na
organização desse espaço tão carente de infraestruturas, não apenas para a comunidade, mas
até mesmo para receber o turista. Essa visão desse espaço é comum também aos hoteleiros
que, quando questionados sobre as mudanças que ocorreram na paisagem de Guaibim,
principalmente no que concerne à infraestrutura, em unanimidade as respostas foram as
seguintes:
“Mudou muita coisa que não se tinha energia, água, estradas, transportes, e a gente ia para Valença
andando ou de animal. Pra mim mudou muita coisa. Pelos menos antes do turismo não tinha emprego e agora
tem, ainda que seja poucos, tem. Pra mim mudou tudo, não tinha supermercados e hoje tem, tem asfalto, hoje é
melhor, apesar de precisar melhorar muita coisa. [...] hoje ainda falta muita coisa, tem lugares sem calçamento,
esgotamento não tem, ficando tudo a céu aberto, descendo para o rio, quer dizer, para a praia. Falta emprego,
pois tem no verão. Não tem lazer para a crianças, nem um bom ensino. Num tem atividade para os meninos
que estão crescendo e eles se envolvem no mundo das drogas.” ( Entrevista realizada em Agosto 2009, com a
C.C, 40 anos, gerente de Pousada.)
“Aqui, o que mais tem mudado é o número de construções que vem crescendo muito, agora a
infraestrutura é ruim ainda [...] precisa melhor a iluminação, construir uma orla, melhorar a pavimentação das
ruas, pois tem muitas que, quando chove, alaga tudo, uma praça, que agora é que estão começando a arrumar.” (
Entrevista realizada em Agosto de 2009, J.M, 56 anos, proprietário de Pousada.)
59
“Eu tenho dois anos aqui, sou de Brasília e desde que eu cheguei nada mudou quando à infraestrutura,
gente piorar e piorar. Aqui precisa muita coisa, a começar por baixo, construindo uma praça,
conscientização do pessoal que unidos podemos mais, construção da orla, limpeza pública adequada que
atualmente não tem. Além do mais, não se interesse nenhum do governo para melhorar a infraestrutura do
Guaibim.” ( Entrevista realizada em Agosto de 2009, E, 26 anos, proprietária de Pousada.)
“Olha, eu vejo que ultimamente as barracas melhoraram, mais no geral a infraestrutura não é boa, o
calçamento é ruim, não possui rede de esgoto, sendo tudo fossa, o que vai acabar um dia comprometendo o
lençol freático, se é que já não estar comprometido. Qual o tipo de turismo que o turista vem buscar, senão as
belezas naturais. Num tem uma festa, uma atração cultural, num tem nada, nenhuma praça para o turista dizer
“eu vou conhecer os nativos”. Agora que tão fazendo ali, se bem não for realmente uma praça, pelo menos estão
calçando. Infelizmente, essa é a realidade de Guaibim, independente de prefeito e partido político.” ( Entrevista
realizada em Agosto 2009, K, 50 anos, proprietário de Pousada.)
As palavras desses entrevistados remetem a elementos que apareceram nos discursos
dos agentes entrevistados anteriormente, mas remetem também a elementos que não havia
aparecido ainda. Nesses discursos se percebem mudanças que reportam à funcionalidade do
espaço, por exemplo, é citado que com o turismo passou a existir gerando mais empregos para
a comunidade, bem como serviços que não existiam, como supermercados. Percebe-se
também uma percepção/sensibilização ambiental, quando a primeira entrevistada, desse
bloco, fala da existência de esgotos a céu aberto, que não existiam antigamente. Outro
elemento que aparece no discurso da mesma entrevistada é que a falta de lazer e de atividades
que envolvam os adolescentes e facilitam a entrada no mundo das drogas; esse elemento
novo, que anterior à turistificação os adolescentes contribuíam nas atividades domésticas e
extrativas, na pesca, no cultivo da terra e as moças na confecção das redes para pesca. Não
existia naquele local a presença de drogas. A percepção ambiental aparece na fala de outros
entrevistados, na forma de preocupação com os rios e lençóis freáticos que alimentam
Guaibim, bem como a consciência de que essas destruições dos elementos naturais
repercutirão diretamente no próprio turismo, conforme a fala do senhor K, quando ele
questiona “ o que o turista vem buscar em Guaibim” , senão as belezas naturais? Essa
preocupação com as mudanças advindas com a turistificação remete também ao lixo que é
disposto nas ruas sem um prévio cuidado. O componente cultural também aparece nas
entrevistas como elemento que não é incentivado e que acaba dificultando a recepção do
turista.
60
Figura 8 - Lixo expostos ao longo da orla.
Fonte: Autora,-trabalho de campo em Abril de 2010.
Figura 9 - Lixo expostos ao longo da orla.
Fonte - Autora,- trabalho de campo em Abril de 2010.
61
Figura 10 - Lixo expostos ao longo da orla.
Fonte: Autora- trabalho de campo em Abril de 2010.
É importante se perceber que a paisagem isoladamente é um vetor passivo. Somada
ao valor social que lhe é atribuído, transforma-se em espaço, processo ativo da dinâmica
social. A partir da compreensão das representações que envolvem esse espaço, o que inclusive
fica mais nítido quando se observa o discurso das pessoas, percebe-se que, conforme lembra o
cronista Rubem Alves (2000), o que está em jogo não são os olhos, mas os acordos
institucionais que fazem com que vejamos ou não vejamos. Ou seja, a observação da
paisagem, bem como do cotidiano, permite inferir quem são os agentes envolvidos na
construção e organização desse espaço e como se processam as suas ações.
A partir dessas análises, observa-se um quadro de opiniões que se aproximam ao
afirmarem a carência de infraestrutura que existe em Guaibim, assim como deixam claro o
descaso do poder público para um espaço que poderia ser aproveitado para ser o cartão postal
do município de Valença. Ou seja, a política municipal de turismo primeiro deveria dotar o
espaço dos equipamentos que ele não possui, visto que isso influi diretamente na qualidade de
vida do lugar. Assim, a inexistência de praças públicas, de esgotamento sanitário,
pavimentação, iluminação pública em pontos estratégicos da localidade, bem como a
construção de uma orla que valorize o olhar da comunidade e organize as barracas ao longo
da faixa de praia, são proposições de intervenções feitas para o espaço público, voltados a sua
promoção e à melhoria da infraestrutura, bem como torná-lo mais propício à atividade
turística.
62
Salienta-se ainda a falta de organização social da comunidade no que concerne à
reivindicação de seus direitos, ou seja, tem-se uma comunidade desmobilizada politicamente e
que tem sua parcela de culpa na estagnação de Guaibim. As pessoas apresentam sempre
posturas individualistas, o que é notório com a existência de associações que existem no
papel, ou que não possuem associados, os próprios entrevistados mencionam esses aspectos:
“[...]tem que se unir, pois falta união entre a comunidade, participei de associação e desisti, foi muito
difícil.” (Entrevista realizada em Agosto de 2009, D, 53 anos, comerciante)
“[...] falta união e uma representação política da comunidade.(Entrevista realizada em Agosto de
2009, S.C,50 anos, comerciante)
“[...] o pessoal nativo não tem opinião e o povo de fora faz o que quer.(Entrevista realizada em
Agosto de 2009, R, 79 anos, comerciante.)
[...] as associações agem em prol de alguns, fui inclusive membro e um dos fundadores da Associação
Ativa, mas a associação tem diretoria e não tem associado, ou seja, quando tem algum evento quem se
beneficia são os diretores; como não sou conivente com isso, caí fora” ( Entrevista realizada em Agosto de
2009, K, 50 anos, proprietário da Pousada S.M.)
Percebe-se, nessas narrativas, que o problema que vem se desenhando em Guaibim,
enquanto entrave para o desenvolvimento do espaço desse distrito diz respeito a falta de
envolvimento da comunidade nas associações, bem como a falta de diálogo com o poder
público, num jogo onde as ações que são realizadas no espaço de Guaibim, dependem de
agentes de fora; assim, como a comunidade encontra-se alheia ao papel que realmente lhe
compete na organização do seu espaço de vivência, o que fica nítido ao se analisar o bloco de
entrevistas anterior. Assim, observa-se vozes que entoam um mesmo clamor, mas que são
destoantes quando deveriam entoar um grito por uma batalha que é única e de interesse dos
vários agentes espaciais que atuam nesse espaço.
Esse cenário passou por muitas transformações principalmente devido a construção da
estrada Valença-Guaibim, que começou a ser construída segundo Mauro, autor do “livreto”,
no ano de 1962, sendo concluída somente em 1972. É importante esclarecer que um dos
empecilhos para a construção dessa estrada foi o Rio Patipe, que necessitava de uma ponte
melhor estruturada, porque a que existia foi construída muitas vezes de forma artesanal,
conforme mostrada na figura 11. Com a construção da estrada e de uma ponte para esse rio,
segundo imagem abaixo, ficou facilitado o turismo, be
inserção de infraestruturas.
Fonte:
Figura
Fonte:
Não se pode deixar de reconhecer
desse espaço, bem como
para
segundo imagem abaixo, ficou facilitado o turismo, be
m como a dinamização do local e a
Figura 11 - Ponte sobre o Rio Patipe.
Fonte:
Memorial da Câmara de Vereadores de Valença.
Figura
12 - Estrada e ponte atual sobre o Rio Patipe.
Fonte:
Autora, trabalho de campo em Abril de 2010.
Não se pode deixar de reconhecer
a importância dessa estrada para a dinamização
para
impulsionar a turistificação, já que
facilitou
63
m como a dinamização do local e a
a importância dessa estrada para a dinamização
facilitou
a circulação de
64
bens e pessoas, e acabou favorecendo o crescimento da comunidade, bem como a construção
de casas, dos hotéis e pousadas, das barracas de blocos, a chegada de energia elétrica e água
encanada, imprimindo, nesse espaço, elementos que favoreceram a ruptura para o surgimento
de um espaço turístico. Em face desse processo de desenvolvimento, o distrito adquiriu as
características atuais. No entanto, o crescimento do distrito trouxe consigo não apenas a
inserção de infraestrutura que melhorou a vida da comunidade, como a instalação de energia
elétrica e construção da estrada, facilitando a circulação de pessoas, bens e serviços, como
também trouxe problemas atrelados a uma urbanização sem planejamento, incentivada
principalmente pela possibilidade da migração de pessoas advindas de municípios vizinhos, as
quais vinham em busca de trabalho e de melhores condições de vida.
Figura 13 - As palafitas de Guaibim
Fonte: Clovez Luz,2004.
Essa imagem permite tecer importantes considerações sobre esse espaço. Primeiro que
ela evidencia uma invasão ao manguezal, denominada de palafitas, que ficavam sujeitas ao
movimento das marés, numa condição de insalubridade, que não apresenta rede de esgoto e
os dejetos são despejados diretamente no próprio manguezal. Também apresenta um lugar
65
sem água encanada e nem energia elétrica legal, que por se tratar de uma invasão esses
benefícios são oriundos de ligações clandestinas, os chamados “gatos”. Com o próprio
movimento das marés a condição de vida torna-se insuportável que se misturam ao
manguezal (que possui um odor característico e não agradável) lixo, dejetos e esgoto,
favorecendo um ambiente insalubre com proliferação de doenças e péssimas condições de
vida. Yázigi (2001) enfatiza que bairros imensos de populações locais apresentam arquitetura
totalmente descuidada, popular, desleixada. Esse fenômeno se converte em grande adversário
do turismo, devido seu aspecto favelizado quase irreversível. Para Yázigi (1999), a miséria
incomoda não só o miserável como o passante. Não fica difícil concluir que, com nossas
milhares de favelas e campos favelizados, seria ingênuo esperar muito mais do turismo.”
Portanto, essa imagem reflete um caos social, ambiental e espacial, consequência do turismo
que expulsa os nativos e migrantes, comprimindo-os nestes locais, devido à especulação
imobiliária.
O que se observa, ao se analisar as consequências da turistificação em Guaibim, é que
os problemas oriundos desse fenômeno falam mais alto que os benefícios que esse processo
deveria trazer. Guaibim, na forma como ele se encontra sem infraestrutura, não é bom nem
para o turista nem para a comunidade. São produzidos espaços que tendem a assumir uma
urbanização anômala, que produz um local fragmentado. Essas mudanças, no caso dos
espaços turistificados, assumem proporções nem sempre benéficas para a população residente.
A princípio, o próprio processo de valorização imobiliária desses locais tende a expulsar
grande parte da comunidade local para locais impróprios para moradia, assim como favorecer
a ocupação clandestina de imigrantes que vêm em busca de empregos nesses locais.
Considera-se ainda, de acordo com Yázigi,
[...] que os cidadãos de alto poder aquisitivo podem não importar materiais, como
ter ampla escolha e contar com arquitetos, os menos providos da sociedade ficam
reduzidos a uma extrema pobreza construtiva, mesmo quando criativa. Suas
condições econômicas permite adquirir o que é mais barato ou ficar com restos;
têm de se contentar com uma arquitetura que expõe entranhas- tal a impossibilidade
de até mesmo rebocarem paredes- e por isso mesmo m se constituindo em
identidade. (YÁZIGI, 2001, p13)
Esse mesmo autor ainda afirma que,
66
É assim que surgem inexoráveis bairros que são a vergonha do cotidiano e do
turismo. O conflito social se estampa na paisagem como visão incômoda, a partir
dos redutos “suíços”ou de paraísos tropicais que acabam se achando diminuídos de
valor.(YÁZIGI, 2001, p.199)
Tal fenômeno é muito notório em localidades como Guaibim, Morro de São Paulo,
Itacaré
21
, áreas turísticas que compõem o Litoral Sul e figuram muito bem o caso em estudo,
no qual assiste-se a uma progressiva visibilidade da miséria, devido a proliferação de
submoradias, inclusive em áreas impróprias, constituindo a identidade de uma diversidade de
espaços que vem tomando esse destino. Atrelado a isso, de acordo com Yázigi (2001), segue
também o espaço público que acaba complementando a miséria em simetria, em que ruas
pavimentadas fazem parte de um sonho distante e quando se tem, são feitas sem um mínino
de nobreza de recursos. E para concluir esse “perfeito” quadro de espaços turísticos, tem-se
ainda fiações, as tubulações clandestinas e o lixo completando o quadro. De acordo com
Yázigi, este fenômeno se converte em grande adversário do turismo, por ser o próprio
antiturismo, visto seu caráter favelizado.” (YÁZIGI,2001, p.89). Ainda segundo esse autor a
favela se manifesta sempre por ser uma autoconstrução térrea ou assobradada, mais ou menos
factível para o conhecimento comum, na qual a mancha urbana resultante é praticamente
irreversível. Isso acaba sendo o retrato completo do centro de Guaibim, onde as construções
se aglomeram e produzem um espaço caótico, que reflete uma paisagem contraditória e, nas
palavras de Yázigi, espaço “antiturista”.
Desta forma, ao se analisar o espaço de Guaibim deve-se considerar os elementos que
compõem os espaços turísticos analisando-os sempre como fragmentados, articulados, reflexo
e condicionante social, e que, segundo Côrrea (1997), é resultado de um processo que
produziu um mosaico não favorável nem para a comunidade local nem para a atividade
turística que a urbanização das planícies costeiras, cheias de ecossistemas frágeis como
mangues, restingas e dunas, e que tem no mar sua grande vedete, exige uma tecnologia
construtiva mais sofisticada e muito mais custosa, numa realidade onde essas reservas são
alvo de invasões residenciais e comerciais quando não recursos para planos de manejo e
manutenção. E onde se terá um espaço poluído visual e sonoramente, com descuidos na
arquitetura (Yázigi, 2001) . Esse problema vai muito além de uma mera análise de uma
questão de urbanização de um espaço turístico, visto que perpassa, primeiramente, pela
questão do abismo social que irá se refletir no espaço e na identidade dessas comunidades;
21
Morro de São Paulo e Itacaré são destinos turísticos localizados no Litoral Sul, com destaque nacional e
internacional.
67
Ali se revela, também, uma visível carência de espaço para o exercício da cidadania, como
quadras de esportes, parques e etc, reivindicação constantes dos diversos agentes espaciais.
A análise aqui tecida busca compreender o espaço em suas variadas faces e, como
considera Holzer (1992), concebê-lo como experiência contínua, egocêntrica e social, um
espaço de movimento e um espaço-tempo vivido, o qual liga-se ao afetivo e ao imaginário. O
espaço fala por meio de sua própria existência; como sugere Santos (1997), uma forma-
conteúdo. Cabe aqui esclarecer a importância da abordagem cultural. Quando as análises são
meramente racionais, funcionalistas não dão conta dos fenômenos que se inscrevem no espaço
cotidiano, que é prenhe de contradições e do conflituoso cotidiano que abarca qualquer
comunidade. Assim, segundo Buss (1996), a paisagem, concebida como conjunto dinâmico,
na qual o sujeito vive, se desloca e busca por significados, compreende os cenários vividos, os
quais assumem diferentes sentidos segundo o “modo de olhar” e, portanto, não se trata de um
horizonte fixo e estático, mas construído de valores e sentimentos.
O espaço turístico que apresenta uma determinada densidade de frequentação, serviços
e equipamentos turísticos com uma personalidade que lhe caracteriza é, ainda de acordo com
Santos (1997), um espaço que se impõe através das condições que ele oferece para a
produção, circulação, residência, comunicação, exercício da política, das crenças, para o lazer
e como condição de “viver bem”. Portanto é preciso considerar que antes mesmo de ser um
espaço turistificado, Guaibim é também lugar, e aqui cabe a ressalva de se analisar o turismo
na forma como ele surgiu, como irá se sustentar ao longo do tempo, considerando sempre a
realidade da comunidade ali instalada e não apenas do “produto”, ou melhor, do visitante.
Assim, pensar um planejamento turístico considerando o que a comunidade preconiza como
necessidade mais emergencial, é essencial para que concomitantemente haja a organização
espacial desse distrito, bem como para impulsionar o turismo enquanto atividade econômica
que atrai melhorias para a comunidade. Ou seja, dotar o espaço público de esgotamento
sanitário, ruas pavimentadas, iluminação pública, espaços de lazer, escolas de qualidade, além
da recuperação ambiental, constitui-se mais do que uma simples exigência da comunidade, o
que ficou muito claro ao longo das entrevistas, mas um direito à cidadania e um meio da
população se expressar como cidadãos que desejam ter direitos e potenciais respeitados.
Ou seja, a forma como esse espaço foi produzido em face do turismo e as
consequências da turistificação consistem em elementos que, para serem bem avaliados,
devem considerar como o fenômeno se inseriu no cotidiano dessa comunidade, e a percepção
de como ela foi modificada, ante todas as implicações que repercutiram mediante as
68
consequências da turistificação. Assim, tem-se um sistema de objetos que foi modificado
com a inserção de novos objetos que surgem mediante novas ações, as quais, em sua maioria,
incidem diretamente no espaço sem, contudo, surgirem no espaço. Tem-se assim um elemento
fundamental a ser considerado, desde que as ações que incidem em Guaibim não emergem de
dentro do espaço de vivência da comunidade, mais de fora, como as ações do Governo do
Estado e até mesmo as ações municipais, que são pensadas na sede do município
desconsiderando o olhar da comunidade do distrito. Guaibim não possui nenhum
representante da comunidade na Câmara de Vereadores, para reivindicar e levar os anseios e
direitos da comunidade. Paralelo a isso, tem-se a inoperância e fragilidade das associações
que, apesar de existirem, não funcionam, como demonstram as entrevistas anteriormente
mencionadas. Restando, portanto, que as ações que incidem nesse espaço partem, em sua
maioria, de fora do espaço de Guaibim e, por consequência, demonstram uma grande
fragilidade social da comunidade, o que ficou explícito na fala do diretor de turismo ao
pontuar a perda das verbas do PRODETUR destinados a construção da orla de Guaibim. Esse
fato nos leva a pensar no quanto o turismo pode transformar esses pequenos “oásis” a ponto
de sofrerem forte descaracterização, tanto do ponto de vista físico e natural como do ponto de
vista sociocultural. Isso é uma constante que pode ser analisada ao longo do Litoral Sul e no
caso particular de Guaibim.
Portanto, é imprescindível que a análise em torno do processo de turístificação
envolva sobretudo o papel dos diversos agentes espaciais que passaram a agir sobre esse
espaço, num contínuo processo de produção e (re)produção, a partir de um conjunto de
objetos e ações que acabaram ocasionando um novo contexto, de um espaço que sem um
planejamento institucionalizado virou um lugar turístico com fortes implicações sociais e
espaciais que incidem diretamente na percepção e no cotidiano da comunidade. Como
enfatiza Yázigi (2001), o turismo, como prática social e econômica, é também identidade,
dependendo da intensidade e forma como se organiza, no contexto em que estar inscrito.
Enfim, segundo esse autor, a paisagem seria o momento comunicativo entre dois sistemas, o
social e o territorial.
2.1. Espaço Turístico: organização e impactos.
Conforme as discussões que foram até aqui tecidas, ressalta-se as transformações
abruptas e agressivas que envolvem os espaços turistificados, gerando sempre uma profunda
69
necessidade de se avaliar o papel desempenhado pelos diversos agentes espaciais na
produção do espaço. Observa-se que cada agente apresenta uma representação e simbolismos
que são materializados na produção do espaço, isso também é o que marca a heterogeneidade
dos lugares. Tem-se, assim, espaços mais organizados e com uma infraestrutura mais
articulada e outros em que os agentes não atuam de forma articulada, ocasionando a produção
de espaços que refletem a desordem urbana, devido à falta de infraestrutura e o caos social,
que afeta principalmente a comunidade local.
Na realidade da região analisada, o litoral sul da Bahia, prevalece um padrão turístico
em que os espaços são turistificados sem um planejamento prévio e institucionalizado. O
espaço vê-se invadido pela nova atividade econômica e só então o poder público desperta para
a necessidade do planejamento e de infraestruturas para nortear a atividade. Assim também
acontece com a própria população que a princípio na “novaatividade econômica uma
oportunidade de crescimento econômico e melhoria de vida, não percebendo o quanto altera
rapidamente o meio natural, social, e, até mesmo, a “alma do lugar” com transformações no
cotidiano. Esse quadro reflete de forma singular o caso de Guaibim, que hoje tem seu espaço
imerso nas consequências da turistificação, e com forte desarticulação dos diversos agentes
espaciais, principalmente as lideranças locais como os comerciantes da comunidade e donos
de barracas. Não se pode esquecer que no processo de turistificação, o poder público tem o
papel fundamental de nortear a atividade com a institucionalização do planejamento espacial,
em prol de um ordenamento do espaço que por ora iser receptáculo de uma nova atividade.
Assim, caberá aos poderes públicos, principalmente o municipal, criar leis para o uso do solo,
bem como para organizar os espaços públicos e privados. De acordo com Yázigi (2001), o
espaço público pode ser apreendido de formas diversas, como estruturador físico ou até
mesmo como o principal cartão de visita do lugar. Nessa assertiva, percebe-se a grande
responsabilidade que cabe ao poder municipal, a quem fica o maior peso no que concerne a
prover esse espaço de infraestruturas que sirvam ao bem-estar da comunidade e,
consequentemente, do turista. Nesse sentido Yázigi afirma que,
Para todos, e mais ainda para os residentes, é o elemento mais visível da ordem
política, aquele cuja organização e normas mostram em que grau o lugar lida com
conceitos como liberdade, democracia, respeito recíproco. O espaço público é um
retrato do grau de coesão comunitária na medida em que desempenha uma função de
forte peso na eficácia dos símbolos, pois reúne em si o maior número de pessoas que
partilham dos mesmos códigos. (YÁZIGI, 2001, p.202)
70
Constata-se, a partir das considerações de Yázigi, que, em certa medida, a presença
dos equipamentos públicos (e pode-se perfeitamente inserir as infraestruturas) demonstra o
grau de coesão social, bem como a presença dos equipamentos responsáveis pelo bem-estar
da comunidade. Não somente isso, como também o grau de diálogo que esses agentes
espaciais conseguem estabelecer entre si, no sentido de pensar o seu espaço a partir de
organizações como associações voltadas a planejar, organizar e produzir seu espaço de
vivência. O que consiste num importante termômetro para medir o grau de coesão
comunitária, que acaba sendo o combustível para o desenvolvimento do lugar. Um espaço
dotado de infraestrutura urbana, como equipamento de esgotamento sanitário, ruas
pavimentadas, existência de praças públicas, destinação apropriada para o lixo, assim como o
respeito a capacidade do ecossistema na implantação das habitações, demonstra uma certa
organização que incide diretamente no bem-estar da população e, principalmente, no do
visitante, o que não ocorrem em Guaibim. Concordando ainda com Santos (1997), o que se
avalia aqui é a natureza desse espaço, que é formado, de um lado pelo resultado material
acumulado das ões humanas através do tempo e, por outro lado, animado pelas ações atuais
que hoje lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade. O que se propõe aqui é
justamente perceber que os diversos agentes espaciais possuem um peso fundamental no
dinamismo desse espaço e pelo que foi até aqui abordado, o poder público possui uma parcela
diferencial. É uma pena que a análise do espaço de Guaibim sinalize um certo descompasso
entre os diversos agentes envolvidos, bem como no diálogo entre eles, e o poder municipal
criando um descompasso nas ações dos diversos agentes que vivem nesse espaço. Isso remete
a Yázigi (2001) ao afirmar que esta desunidade tem como filha a poluição visual, que está
em todos os campos imagináveis. Isso inclusive recai no próprio aspecto do lugar onde a
desorganização prevalece ora na desunidade construtiva, ora na dualidade social de extrema
visibilidade. Enfim, é essencial nesse contexto que os diversos agentes espaciais tomem
posições e efetivamente exerçam as funções em favor de melhorar seu espaço de vivência.
2.2 Guaibim-Valença no contexto do planejamento turístico do Estado.
Ao se tecer uma análise em torno dos PDITS (Plano de Desenvolvimento Integrado
do Turismo Sustentável) para se compreender as especificidades do distrito de Guaibim,
percebe-se inúmeras carências no que concerne à inserção de infraestrutura, bem como maior
descentralização administrativa, para equacionar a participação cidadã. Nos PDITS, Valença é
71
concebida como o portal de entrada do Litoral Sul e o município de destaque da Costa do
Dendê
22
, que detém o maior número de oferta de bens e serviços. No entanto, os PDITS
pouco dialogam com o PDDU, observa-se, dessa maneira, que muitas das ações sugeridas no
plano, não se constituem prioridade nos PDITS. Pode-se ainda chamar atenção para a
abordagem que os PDITS (2006) dão ao fato de Guaibim não ser citado na categoria de
principais atrativos efetivos na categoria natural, nem nos atrativos naturais na categoria em
potencial. Ou seja, para o planejamento do turismo estadual, Guaibim não apresenta potencial,
não se enquadrando nos principais roteiros turísticos do Estado. O que é justificado pelo
padrão turístico desse espaço atender mais à demanda doméstica do que o turismo nacional e
internacional. Enfim, diante disso, observa-se a necessidade da comunidade ser mais engajada
para pensar e propor transformações nesse local, por meio de alternativas sustentáveis. Mas,
como potencial natural Guaibim tem a oferecer ao visitante a praia que encontra-se
descuidada, já que o lixo é disposto ao longo de toda a sua extensão; quanto ao seu potencial
cultural, não é incentivado, havendo uma carência demasiada de manifestações artísticas e
culturais. Resta, assim, um espaço que não figura expressividade nenhuma no contexto
regional.
Cabe aqui abrir um parêntese para analisar a fala do então diretor de turismo do
município de Valença, no ano de 2009, na ocasião em que foi questionado sobre como o
turismo em Guaibim aparece no contexto do turismo do Estado. Ele enfatizou que Valença
desfruta, e ele incluía Guaibim, de credibilidade junto ao Governo do Estado. No entanto,
ele se contradiz ao afirmar que não existia nenhuma política pública voltada a essa área, bem
como afirmou que a infraestrutura desse local é precária e que a prefeitura, por meio da
secretaria de Turismo, estava tentando, junto ao CONDER, recursos para efetivar algumas
ações emergenciais. Outro aspecto relevante abordado por ele foi que os governos falham,
pois esperam o destino turístico ter um boom para então investir, ou seja, não incentivam a
atividade, não planejam, permitindo que a atividade cresça desordenadamente. Quando
questionado quanto à credibilidade que ele afirmou existir entre o Governo do Estado e
Guaibim, o diretor disse está se referindo ao trade turístico, que consistia na boa estrutura de
hotéis e pousadas, a qual o governo estadual via com bons olhos.
A partir dessa entrevista com o representante do poder público municipal alguns
questionamentos surgiram. A princípio, onde se encontra o “respaldo com o Governo do
Estado”, se Guaibim aparece de forma tão secundária nos PDITS e carece de diversas
22
Regionalização turística da Era Carlista.
72
infraestruturas? Ou seja, que trade turístico é esse num espaço onde inexistem até mesmo os
elementos básicos para a vida da comunidade, até porque hotéis e pousadas, não significam o
melhor no que concerne ao turismo. Quando se fala em destino âncora da Costa do Dendê, o
que surge é o Morro de São Paulo. Ou seja, apesar da proximidade com o Morro de São
Paulo, o turismo exercido em Guaibim apresenta um caráter periferizado quando comparado
com o modelo turístico desenvolvido em Morro de São Paulo, que se manifesta segundo os
padrões internacionais e tem destaque dentro dos Planos e Políticas do Governo estadual.
Enunciar que o distrito possui um trade turístico de respaldo no governo do Estado remete a
analisar os equipamentos que existem nesse espaço que nada favorecem a comunidade e nem
mesmo ao visitante, ficando algum lucro restrito às pousadas e hotéis. O discurso do diretor
permite inferir importantes reflexões acerca da importância que a gestão municipal dispensa a
Guaibim, quando ele menciona falta de uma política pública eficaz para a direcionar o turismo
no distrito do Guaibim, a falta de infraestrutura básica que pelo menos atenda à comunidade,
assim como a inexistência de uma secretaria de turismo forte e engajada capaz de planejar a
atividade econômica nesse espaço. Vale lembrar que os PDITS tendem a valorizar algumas
atividades dentro da comunidade de Guaibim, como ações pontuais no que concerne ao
artesanato local, feito à base de conchas de crustáceos, que são encontrados na praia, e com
palha de coqueiro. A importância dessa atividade, para o turismo nessas comunidades, é
salientada nos PDITS:
O turismo e o artesanato possuem uma relação próxima, em função da possibilidade
de complementação da experiência turística no momento em que o viajante toma
contato com as formas de expressão artística de uma comunidade, assim como pela
possibilidade de estruturação da produção artesanal voltada ao turista como um meio
de geração de renda.(PDITS, 2004 p.56)
Observa-se que, apesar da importância dada ao trabalho local, na realidade de Guaibim
o artesanato não é incentivado, nem promovido como atividade que pode favorecer o turismo,
a cultura e a sociedade. Inclusive durante entrevista com o diretor de turismo, questionou-se
sobre o que é realizado para dinamizar essa ação, ou até mesmo outras que busquem capacitar
a comunidade. Ao que ele respondeu que nesse primeiro momento nada estava sendo
realizado para capacitação da comunidade, inclusive, durante o Conselho Regional da Costa
do Dendê foi mencionado tanto pelo Senac
23
como pelo Sebrae
24
que houve problemas com
23
SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
73
relação ao pessoal do Guaibim, que não participavam das reuniões e se colocavam contra o
trabalho da secretaria, que era realizado em parceria com o Sebrae. Cursos pelo Senac para
capacitação de garçons, camareiras, barmen, não foram realizados pelas prefeitura que os
prefeitos tinham assumido o mandato no mesmo ano, sendo que esses cursos estavam sendo
solicitados para serem realizado em novembro próximo. (Trecho escrito a partir da entrevista
realizada com o Diretor de Turismo Vitor Teles em Agosto de 2009)
Isso inclusive foi bem pontuado, em entrevista, pelos donos de pousada quando um
dele colocou que “eles investem em capacitação e a comunidade não participa dos cursos, o
que leva o SEBRAE, a desistir por apresentar um número mínino de participantes[...]”
(entrevista realizada em agosto de 2009, com o senhor K, proprietário da pousada S.M.).
Percebe-se o total descaso da população no que concerne à capacitação para atuar no
mercado de trabalho, o que recai diretamente no próprio atendimento ao turista que muitas
vezes não tem um bom tratamento por parte da população que desenvolve atividades no
setor.
Depreende-se desta maneira que o distrito de Guaibim apresenta potencial turístico,
mas não é incentivado, não existindo nenhuma deliberação voltada a valorizar essa atividade.
Pode-se pontuar ainda as descontinuidade político-administrativas que acabam dificultando o
desenvolvimento do espaço como um todo. Outro ponto, que aparece no plano, consiste em
avaliar a falta de consciência da comunidade para o trato com lixo, que é disposto ao longo
dos espaços do distrito , sem nenhum cuidado especial. Assim, percebe-se ainda que, de
acordo com o plano, a cidade de Valença apresenta os maiores valores absolutos no que
concerne ao número de segunda residência. Pontua-se ainda que, em Guaibim, existe o
problema da falta de infraestrutura, bem como a existência de moradias dentro do mangue, e
aí o próprio plano estabelece que,
[...] em localidades onde o turismo esteja consolidado ou onde haja potencial para
desenvolvimento da atividade, os componentes de infra-estrutura devem ser
dimensionados e adequados segundo um estudo do tamanho e distribuição temporal
dos fluxos turísticos, além das próprias necessidades da comunidade local. A análise
do impacto econômico proporcionado pela atividade turística deve considerar os
investimentos adicionais em infra-estrutura requeridos para a recepção da população
flutuante.( PDITS, 2004, p.177)
24
SEBRAE- Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas.
74
Ao discutir os problemas de moradia de Guaibim deve-se considerar, as considerações
de Yázigi (2001), quando diz que cada um que constrói o faz só para si e nada ou bem pouco
para a cidade. Aqui se percebe o individualismo presente de forma marcante na produção do
espaço, o qual deveria ter sua produção pensada de forma coletiva, que o que é produzido é
um bem coletivo, o espaço em si. Segundo Yázigi, (2001), a desordem espacial dada pela falta
de unidade não é produto causado unicamente pelo fosso social, sendo que esse aliás criou
uma unidade paisagística, sim, nivelada por baixo pelas classes desprovidas, que não têm
outra opção além de refugos e baixa tecnologia, em que a arquitetura se assemelha à entranha
exposta. Paralelo a isso, ainda os problemas de saneamento, os quais causam impactos
diretos nas comunidades locais, mas também afetam os projetos de desenvolvimento do
turismo. Cursos hídricos contaminados por esgotos não tratados afetam o conjunto cênico de
uma destinação e comprometem as condições de banho em praias procuradas pelos turistas.
Esses problemas são menores postos em comparação aos riscos de saúde aos quais os turistas
se expõem com a ingestão de água e alimentos contaminados e o contato com águas
contaminadas. Esse ponto inclusive estar entre as prioridades da atual gestão municipal, e é
um dos principais problemas que vem afetando a comunidade.
Outro aspecto a ser analisado é onde se encontram as ações do Governo do Estado,
bem como da gestão municipal. No que concerne às ações voltadas para o turismo, pode-se
citar as ações do PRODETUR-NE (Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste)
que consiste em um plano que se concentra nas ações planejadas para reforçar a capacidade da
Região Nordeste em manter e expandir sua crescente indústria turística contribuindo, assim,
para o desenvolvimento socioeconômico regional através de investimentos em infraestrutura
básica e serviços públicos em áreas atualmente de expansão turística. Esse programa foi
concebido tanto para criar condições favoráveis à expansão e melhoria da qualidade da
atividade turística na Região Nordeste, quanto para melhorar a qualidade de vida das
populações residentes nas áreas beneficiadas. O PRODETUR/NE é financiado com recursos
do BID e tem o Banco do Nordeste como Órgão Executor. Apesar de ser gerido de fora” do
espaço de Guaibim, sua incidência repercute diretamente no local. Dentro do PRODETUR-
NE, encontra-se os PDTIS (Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável)
para o Litoral Sul, que consiste nas ações específicas para os municípios do Litoral Sul, e
nesse contexto encontra-se o distrito de Guaibim, quanto às ações do Governo do Estado.
Chama-se atenção ainda para o que vem sendo prioridade nos PDITS segundo os
planejadores, para promover e dinamizar o turismo. Que fique bem claro, no que consiste
75
dinamizar o turismo. E aí ele traz a construção do aeroporto nas proximidades da BA-001, que
liga Valença a Guaibim, a construção de um centro de convenções nessas imediações, bem
como a construção de uma orla. Vale a pena abrir um espaço para suscitar algumas discussões
como: primeiro, quem concebeu tais “necessidades” como prioridades para as comunidades
envolvidas; segundo, o turista que visita Guaibim não se utiliza do aeroporto, que foi
construído na primeira fase do PRODETUR I, visto que seu mercado é o doméstico e de
pessoas advindas de Brasília, por considerarem essa praia a mais próxima da capital do país.
Sendo assim, percebe-se que essa estrutura aeroviária é muito mais para facilitar o acesso ao
Morro de São Paulo. Quanto à construção do centro de convenções e sua localização,
observa-se nitidamente que ele irá beneficiar um público totalmente desvinculado daquele que
visita o Guaibim. Quanto à construção da orla existe a necessidade de uma organização do
espaço que não apresenta infraestrutura adequada. No entanto a comunidade apresenta
outras necessidades mais urgentes que vão além das propostas pelo governo do estado, e que
estão elencadas nos PDITS.
Percebe-se, ainda, pelas análises até aqui desenvolvidas, que os projetos de
planejamentos dos espaços voltados à atividade turística, em sua maioria, se repetem quando
pensam que criar um turismo sustentável para a comunidade perpasse unicamente por criar
orlas, aeroportos e centros de convenções. Ou seja, cai-se em um grande erro quando se pensa
que apenas dotar o espaço de infraestrutura “voltada” a promover o turismo seja a solução
para essas comunidades. Enfim, é preciso considerar e valorizar a percepção da comunidade
quanto ao modelo turístico a ser estabelecido e considerar principalmente o que a comunidade
tem por prioridades. Por outro lado, a contradição estar no fato de no mesmo plano não
existir planejamento de ações voltadas a dotar esses espaços com infraestrutura para
dinamizar o turismo nesse distrito, já que ele não estar dentro dos espaços eleitos pelo
governo do estado com “vocação e potencial” para essa exigente atividade econômica.
a necessidade de cobrar do Governo do Estado que priorize Guaibim, pensando
principalmente em melhorar a qualidade de vida nesse espaço e dinamizar a sustentabilidade,
de forma que o turismo não seja a única alternativa, mas que possam ser integradas a ele
outras atividades econômicas consideradas sustentáveis. Paralelo a isso é importante
considerar o consentimento prévio e informado das comunidades, o respeito as suas estruturas
de organização comunitárias, o respeito e o fortalecimento de seus direitos relativos ao seu
território e aos recursos naturais nele existentes e a valorização de seus conhecimentos,
76
hábitos e modos de produção devem ser condicionantes para as atividades turísticas em
regiões que possam afetar o ambiente e a cultura dessas comunidades.
2.3. A atuação do poder municipal e o papel da comunidade.
Por ora propõe-se uma análise em torno do espaço que foi construído com o processo
de turistificação, principalmente considerando o atual contexto mundial no qual Guaibim
encontra-se inserido, que inclusive traz à tona elementos que não faziam parte desse espaço. E
assim, torna-se fundamental analisar as repercussões desse fenômeno para a comunidade,
além de considerar a forma como ela vem respondendo a essa atividade econômica. Ao se
reportar para a competitividade entre os lugares, pode-se debater a questão que envolve as
diversas comunidades, muitas antigas vilas de pescadores, que comportam-se de formas
variadas ao serem turistificadas, visto que o turismo acarreta conseqüências sociais,
ambientais e urbanas. No Litoral Sul, tem-se espaços turísticos bastante diferenciados,
principalmente no que concerne à oferta de bens, serviços e principalmente infraestrutura. Por
um lado, tem-se Morro de São Paulo, dotado de uma série de equipamentos que lhe conferem
a “cara do mundo”, como bens tecnológicos, como agências de viagens, pista de pouso,
inclusive com vôos regulares advindos da capital do estado, e até mesmo o envolvimento da
comunidade com a própria atividade econômica; por outro lado tem-se um outro cenário, ao
se observar Guaibim.
Considerando as conseqüências que envolvem o processo de turistificação em
Guaibim e demais espaços do Litoral Sul, que foram turistificados, percebe-se muito mais
prejuízos a esses espaços do que benefícios reais a essas comunidades. Conforme foi
discutido anteriormente, antes de Guaibim ser um destino turístico, ele é o espaço de vivência
de uma comunidade, que vive com carências de infraestrutura básica. Essa realidade é
enfatizada pela própria comunidade durante um grupo focal onde se procurou saber as
percepções deles sobre desenvolvimento e afirmaram que o turismo em si traz poucos
benefícios à comunidade, principalmente porque se restringe apenas aos meses de janeiro e
fevereiro, e que com a turistificação cresceu consideravelmente a pobreza, expansão dos
problemas de infraestrutura; o que não foi acompanhado de bem-estar social da comunidade,
que encontra-se desprovida dos equipamentos necessários para dinamizar o turismo de forma
adequada nesse espaço. Essa realidade fica muito clara na voz de Dona Edna durante o grupo
focal:
77
Precisa de algo que chame atenção do turista, pois a praia somente é pouco. Não tem nada de criativo
para oferecer. necessidade de organização, de se construir uma orla, praças, mas o turismo é somente dois
meses, o que não melhora a economia nem a nossa sociedade. (Grupo focal realizado em Guaibim, Maio de
2009)
As carências em Guaibim vão muito além de equipamentos para a racionalização mais
efetiva do espaço turístico, carecendo principalmente de condições melhores de vida para a
comunidade. Desta maneira, tem-se uma atividade econômica insustentável, o que é
observado pelas conseqüências que ela produz no espaço desse distrito. Ou seja, ao longo do
processo de turistificação tem-se inscrito, na paisagem de Guaibim, um quadro de
considerável desigualdade social, configurando-se visivelmente dois “Guaibins”: o da vila e o
da praia denominada Taquari, que abrange as áreas dos hotéis, pousadas e das residências de
classe média e alta. Isso reflete, na escala local, a dinâmica do sistema capitalista que produz
segregação socioespacial.
É importante aqui considerar as ações que partem da escala micro, as direcionadas ao
espaço, principalmente quando partem da gestão municipal, que é a esfera que deveria melhor
conhecer o espaço de vivência da comunidade. Erros de planejamento na gestão do espaço
quando partem do poder estatal são mais fáceis de se compreender do que quando partem da
inação do poder municipal.
Apesar de ser considerado como espaço turístico, as ações que norteiam essa atividade
econômica são bastante acanhadas no contexto de Guaibim principalmente em se tratando do
governo do estado, da gestão municipal e da própria comunidade. O turismo sem um
ordenamento sempre foi uma marca desse espaço e, assim, ações pontuais produziram objetos
específicos desse contexto, que inclusive conseguem diferenciar esse distrito dos demais
espaços turísticos de destaque existentes na região.
Os constantes problemas de descontinuidades político-administrativas são marcantes
no cenário de Guaibim desde que os gestores do município, devido a problemas de
improbidade administrativa, raramente completam os quatro anos de um mandato de prefeito.
Paralelo a isso, soma-se que as ações por parte dessas gestões são, em sua maioria,
incompletas, o que acaba refletindo caos ao longo do espaço do município.
Em entrevista com o então diretor de turismo questionou-se o que tem sido realizado
em relação às políticas de turismo voltadas ao Guaibim. Ele salientou que assumiu essa
secretaria, recentemente, no início de 2010, durante o verão, o que dificultou um pouco as
78
ações voltadas ao turismo no verão passado. Quanto às ações atuais, ele deteve-se em frisar
que elas estão concentradas totalmente na reabilitação ambiental do Guaibim, que se encontra
bastante degradado devido a turistificação que vêm ocorrendo nesse espaço sem um
planejamento. E ele pontuou, ainda, os principais projetos para recuperar as áreas de
manguezais onde se localiza a Rua do Guaibinzinho e a antiga área das palafitas. Apesar das
palafitas já terem sido retiradas, o problema com o esgotamento sanitário continua, assim
busca-se, através de projetos realizados em parceria com a CONDER
25
e PMV
26
, resolver
esses problemas. Outra ação a ser realizada consiste num projeto de recuperação da praça de
São José, que é o principal portal de entrada de Guaibim, bem como uma requalificação da
área da barracas, visando sua padronização.
Uma análise sob essas ações permite avaliar bem a postura do diretor de turismo,
desde que as mesmas sejam essenciais ao próprio bem-estar da comunidade, como a questão
do esgotamento sanitário e a reabilitação das praças ações essas que se encontram inseridas no
próprio PDDU. Percebe-se assim uma atitude bem direcionada é que a qualidade de vida da
comunidade é levada em consideração, inclusive como elemento primordial para a própria
estruturação da atividade turística.
Apesar de ações louváveis mencionadas pelo discurso do diretor, em alguns momentos
ele se perde dentro do discurso mercadológico, tão comuns nos documentos institucionais
como o PDDU e PDTIS, conforme foi mostrado anteriormente quando ressalta que
Guaibim possuí respaldo do governo do Estado, por apresentar um certo trade turístico. Outra
ação que vem enfatizada pela atual gestão trata de promover um marketing turístico de
Guaibim, por meio de fixação de placas ao longo de algumas estradas da região buscando
divulgar o potencial turístico de Guaibim. O que também faz parte das ações propostas pelo
PRODETUR.
Um aspecto que chama atenção, na fala do diretor, é que ele enuncia que, até no
momento da entrevista, nada das deliberações do PRODETUR haviam sido realizadas em
Guaibim. Assim, foram feitas solicitações à CONDER, já que o projeto de construção da orla,
prevista pelo PRODETUR, foi desertada três vezes, o que, segundo ele, ocorreu por ter
perdido o prazo para execução, por apresentar o valor do projeto muito baixo e, ainda assim,
precisar de licença ambiental, o que requereria um valor financeiro maior que o da
construção. Ainda segundo ele, o recurso para a construção da Orla havia sido totalmente
perdido, não estando nem mais alocado no PRODETUR. Isso havia ocorrido em Junho e a
25
Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia.
26
Prefeitura municipal de Valença.
79
entrevista ocorreu em Agosto. Assim, a prefeitura vem tentando conseguir esse recurso via
CONDER, por algum ministério. O secretário afirmou ainda que pelo PRODETUR pouca
coisa foi realizado em Guaibim tanto pelo PRODETUR I como pelo PRODETUR II. Nem a
relocação das palafitas ocorreram com as verbas do PRODETUR e sim pelo Programa do
Governo Federal. Tanto que foi muito questionado no rum Estadual de Turismo, o que
também foi questionado pela secretária de turismo de Maraú, ao secretário estadual Leoneli, o
porque das ações do PRODETUR não estarem acontecendo na região. Por sinal, existe
recurso para a construção dos atracadouros das cidades da Costa do Dendê (exceto Tancredo
Neves que não possui praia) e para recuperação ambiental do Morro de São Paulo, os quais
estão todos emperrados, ou seja, demonstrando que nenhuma ação do PRODETUR vem
ocorrendo na região. Ressalta-se que a única ação que ocorreu através do PRODETUR foi a
colocação das placas de sinalização das praias, que aconteceram devido à liberação de
recursos, que levaram cinco anos para serem liberados, visando sinalizar todo litoral sul,
abrangendo a Costa do Dendê e do Cacau. Segundo ele, há muitos anos nem ações do
PRODETUR I ocorreram em Valença. ( Entrevista realizada com Vitor Teles, Diretor de
Turismo, em Agosto de 2009)
As considerações do diretor permitem traçar importantes considerações como a que
envolve a perda da verba do PRODETUR para a construção da orla por negligência e
inoperância da gestão municipal. Ou seja, um planejamento pelo Estado ao qual o
município de alguma forma não consegue responder. Isso se mostra como um problema sério
de diálogo do governo do Estado com o município e, principalmente, de como as ações que
partem de fora do ambiente do município, que estavam centradas nas ações do
PRODETUR, às vezes, tem uma certa dificuldade para serem materializadas, diferentemente
do que poderia ocorrer se fossem pensadas a partir de uma gestão participativa.
De acordo com Santos (1997), a intenção é central na prática diária, enquanto o
propósito supõe ambições ou projetos de longo prazo. E é fundamental a ação da
comunidade de Guaibim, como ela se comporta enquanto agente do seu espaço cotidiano, que
vem sendo tão carente de ações, de modo bem generalizado. Novamente Santos (1997)
enfatiza que raramente os homens agem com um fim claro na cabeça. Para se ilustrar o que
acontece em Guaibim, dentro de um contexto bem pontual, pode-se citar o caso das quatro
associações, que não passam de instituições existentes apenas no papel, sem nenhuma força
política, nem capacidade de empreender mudanças em virtude principalmente de pensar
sempre individualmente o que deveria ser discutido e deliberado sempre coletivamente. O
80
próprio diretor comenta a dificuldade de realizar os cursos de capacitação, quando a
população não se envolve para se qualificar e acredita que sempre as ações devam partir
somente do poder público, como se a gestão participativa fosse algo impróprio à realidade
deles ou até mesmo como se eles a desconhecessem.
Quanto às ões do município, elas apresentam-se bastante pontuais e acanhadas, não
se observando decisões efetivas que impulsionem o turismo no município, e até mesmo no
distrito em estudo, assim como empreendimentos efetivos no intuito de melhorar a vida da
comunidade. Até porque uma coisa é planejar e outra é promover ões para mudar o quadro
de abandono em que se encontra essa comunidade. E assim, torna-se fundamental
compreender as relações que a comunidade vem estabelecendo com seu espaço de vivência,
bem como a forma como ela vem se comportando com o turismo. Um outro ponto a ser
analisado é verificar se a paisagem que é produzida pelo turismo em algum momento se
mistura ou até mesmo se confunde com a que envolve o cotidiano de Guaibim. Portanto, a
partir de agora propõe-se pensar nas infraestruturas existentes nesse distrito.
2.4. Entre o discurso e a prática: uma análise do PDDU (Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano).
Propõe-se, aqui, analisar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano enquanto um
instrumento que tem como objetivo organizar a vida urbana em prol do bem estar da
população bem como do espaço como um todo. Supostamente, um PDDU deve considerar a
realidade do espaço no qual ele estar inserido, avaliando suas potencialidades e fragilidades a
luz da percepção da comunidade. De nada adianta um PDDU construído por um planejador
externo que crie planos globais, desvinculados do local, que desconheça a realidade do lugar e
produzirá um documento burocrático que dificilmente se adequará às necessidades existentes.
O ideal seria um plano elaborado com a participação da comunidade na sua produção,
avaliação e execução incentivando iniciativas de participação cidadão para promover, de fato,
o desenvolvimento no espaço. Ou seja, a gestão participativa emerge como um elemento
novo e essencial para a execução do plano desde que ele seja pensado e incentivada numa
gestão descentralizada que consiga quebrar as amarras que envolvem as descontinuidades
político-administrativas, tão comuns nesses municípios. Refletindo sobre questões como essa,
Yázigi considera que
81
Os planos diretores, também previstos pela Constituição, podem ser excelentes
instrumentos de gestão do território (e da construção da identidade), mas que sem
legitimação pelo legislativo e prática efetiva, perdem o vigor, por razões
conhecidas. Planos diretores são usualmente encomendados de estranhos ao lugar,
daí que a falta de participação direta de seus executores na autoria não os
desmotiva, como perde o vigor local pelo lugar comum. Mesmo quando contam com
ótima qualificação técnica, desinteressam a gestão seguinte, em especial se esta for
oposição. (YÁZIGI, EDUARDO. 2001, p.132)
Desta forma, a construção do PDDU deve ser, antes de mais nada, um instrumento
para salvaguardar e institucionalizar as questões identitárias que, segundo Yázigi (2001), do
ponto de vista legal, são as leis de uso e ocupação do solo, as leis de proteção ambiental e os
códigos de obras que institucionalizam a questão da identidade. Diante isso, o PDDU
apresenta-se como um instrumento essencial na organização e gerenciamento do espaço,
considerando primeiramente a percepção da comunidade, bem como os laços de afetividade.
É uma pena que nem sempre isso seja de fato uma premissa levada a sério e, talvez, seja por
isso que muitos planos acabam engavetados e, por consequência, o espaço permaneça
destituído de planejamento e gestão. Sobre esse aspecto, Yázigi (2001) pondera que, em
muitos casos, o que estar errado não são as leis em si, mas a exequibilidade delas,
comprometida pelas relações de força.
O PDDU do município de Valença não foi elaborado com a participação da
comunidade que, quando muito, desempenhou um papel muito mais consultivo que
deliberativo. Além disso, o plano foi realizado a partir de uma empresa contratada e não
precisamente pela própria comunidade em suas diversas esferas. A análise do PDDU mostra
uma proposta de focalizar Valença enquanto centro econômico que detém maior número de
bens e serviços da região, polarizando, assim, considerável parte do Litoral Sul, competindo
apenas com Ilhéus. No entanto, apesar do enfoque principal ser em torno dessa proposta,
percebe-se uma postura pontual da Prefeitura Municipal em tentar promover o turismo no
município, tendo como carro-chefe a Praia de Guaibim. Na verdade, o que se tem no
momento atual é uma secretaria de turismo em processo de estruturação com ações bastante
acanhadas, não existindo ações agressivas voltadas, de fato, para a dinamização do município.
O turismo, conforme discutido, mesmo ao longo do tempo, foi promovido no
distrito sem planejamento, acarretando consequências à comunidade. Ou seja, o turismo na
forma como ele vem sendo desenvolvido produz entraves à continuidade da própria atividade
econômica, o que atualmente mostra-se insustentável.
82
O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, instrumento de planejamento para o
desenvolvimento do município, concebe o turismo em Guaibim de uma maneira contrária aos
PDTIS, ou seja, tem-se um quadro de pouco diálogo entre os planejamentos estadual e
municipal. Por sinal, o plano do Estado visualiza Valença apenas como um portal da Costa do
Dendê, sem grandes atrativos e potencial turístico, contrário aos demais municípios que
compreendem essa região e que apresentam atrativos importantes segundo os PDTIS. No
PDDU do município, Guaibim se configura com potencial para fomentar o turismo para o
município, a partir de ações que vão desde a restituição ambiental e melhoria da qualidade
de vida, até construção de equipamentos para dinamizar o turismo, assim como elenca as
ações a serem realizadas visando promover o turismo no distrito, tais como:
Projeto da orla do Guaibim;
Centro de convenções na BA(001) que liga Valença a Guaibim;
Programa Vida bairro vivo;
Programa Verdejar;
Programa de Ação Ambiental;
Programa Água Viva;
Previsão de construção de um estacionamento e terminal rodoviário periférico,
para desafogar a área da praça, cujo os usos no final de semana compromete a área central da
praça;
Previsão de construção de um centro de abastecimento de médio porte.
Tais projetos visam, primeiramente, promover o turismo, ou seja, capacitar Guaibim
de elementos que lhe permitam despontar no cenário e destino turístico da Costa do Dendê. O
projeto orla de Guaibim, segundo o PDDU, visa urbanizar a orla tornando o espaço mais
acessível e agradável para “favorecer” a atividade turística. O Projeto de construção do centro
de convenções na BA, (001) visa instaurar um espaço para eventos dinamizando a rota
Guaibim-Valença. O Programa Vida Bairro Vivo, consiste numa ação concentrada e integrada
de urbanização, regularização fundiária, qualificação ambiental e ampliação das
possibilidades de acesso à renda por parte da população residente nas unidades urbanas
inseridas no programa. Já o Programa Verdejar propõe a criação de um sistema de parques
urbanos e unidades de conservação, envolvendo áreas de relevante valor ecológico (mata
atlântica, restinga e manguezal) com potencial para o ecoturismo e pesquisas científicas,
assim como áreas com potencial de aproveitamento para atividades de lazer. O Programa de
Ação Ambiental, por sua vez, é uma proposta para implantação de 2 (dois) subprogramas
83
fundamentais que, interagindo, possibilitarão à cidade de Valença e ao Guaibim a melhoria de
suas condições ambientais, tanto nas áreas urbanas propriamente ditas quanto na periferia,
credenciando-as como nucleações urbanas de boa qualidade ambiental para seus habitantes e
visitantes, reforçando o potencial turístico que possuem. ainda o Programa Água Viva que
consiste numa ação concentrada e integrada de recuperação e conservação dos recursos
hídricos superficiais e subterrâneos envolvendo as sub-bacias do rio Una no perímetro e
entorno de Valença e os rios Pian, Taquari e foz do Rio Jiquiriçá, no distrito de Guabim.
É notório que esses projetos partem de ações centralizadas e verticalizadas das quais a
população local não participa, não se envolve; o que implica que, mesmo que as mudanças
aconteçam, quando chega a hora da comunidade pensar na preservação ambiental, cai-se mais
uma vez no círculo vicioso do individualismo e do imediatismo, elementos que são
responsáveis por estagnar Guaibim e colocá-lo num espaço onde não cabe o desenvolvimento.
Ao se pensar o desenvolvimento em Guaibim, deve-se considerar primeiramente a percepção
que a comunidade tem e o que seja prioridade para ela. A partir da compreensão do espaço,
como $resultado das diferentes ações, seja do poder público ou dos agentes privados, bem
como da sociedade civil, Guaibim deve ser tomado como resultado da ação e inação conjunta
desses variados agentes. Segundo Yázigi (2002), a paisagem é considerada então como
produto e como um sistema; como produto por ser o resultado de um processo social de
ocupação e gestão de um território; como sistema, porque, a partir de qualquer ação sobre ela
impressa, com certeza, haverá uma reação correspondente, no caso, equivalendo ao
surgimento de uma alteração morfológica parcial ou total.
Assim, ao se planejar alternativas de melhoria do espaço urbano de Guaibim, é
preciso, primeiramente, reconsiderar o olhar que é posto nesse distrito, que o concebe apenas
a partir e para o turismo, desconsiderando elementos que são fundamentais para a comunidade
e para o desenvolvimento local, que considere, de fato, o bem estar social. Até por que, ao se
analisar os discursos propostos do PNT, PDTIS e no próprio PDDU, percebe-se uma ligeira
tendência em propagar o turismo enquanto propulsor do desenvolvimento e alternativa para
comunidades litorâneas que até então tinha um cotidiano baseado na pesca e em atividades
extrativas, em que os moradores eram donos da força de trabalho, bem como dos lotes dos
terrenos. agora, destituídos e expulsos do seu espaço de vivência pela especulação
imobiliária, as pessoas acabaram tendo que habitar áreas impróprias para moradia e terão que
trabalhar em atividades pouco rentáveis e desvalorizadas. Enfim, não se pode desconhecer a
importância que a comunidade tem nesse contexto e o quanto ela é excluída dos processos
84
decisórios que envolvem principalmente as ações por parte da gestão pública e o que seja
melhor para o espaço de Guaibim.
Portanto, o que se refletiu até aqui foram os impactos da turístificação no espaço de
Guaibim, avaliando as conseqüências benéficas e os prejuízos bem como uma análise
centrada na produção/invenção desempenhada pelos diversos agentes espaciais na produção
desse espaço. Observa-se, por fim, que o turismo na forma como ele vem sendo desenvolvido,
sem um planejamento, já ocasionou diversos impactos nesse espaço, e tem por ora dificultado
o próprio desenvolvimento da atividade. Atrelado a esse fato, observa-se que não existe um
política de turismo direcionada a esse espaço, o que explica a carência de infraestruturas e a
falta de diálogo com os planos estaduais, bem como a degradação ambiental que aflora nos
diversos locais dessa comunidade. Fica, assim, a necessidade de uma reflexão em torno do
que pode ser feito nesse espaço se houver um maior diálogo entre os diversos agentes
espaciais, e também entre as diversas políticas e planejamentos municipais, estaduais e
nacionais. Assim, busca-se, a seguir, compreender os olhares que a comunidade tem sobre
esse espaço, bem como as relações que ela estabelece com seu lugar.
85
3 REDISCUTINDO OS CONCEITOS DE LUGAR E PAISAGEM A PARTIR
DO DISTRITO DE GUAIBIM.
Ao se pensar em rediscutir os conceitos de paisagem e lugar segundo a realidade do
distrito de Guaibim deve-se considerar que esses conceitos passam a ter um novo sentido na
compreensão do espaço geográfico desde que são inseridas novas contradições que se
manifestam inventando novos valores, onde se reorganizam novos espaços a partir da
reorganização da sociedade inteira, em função dos centros de poder, dando um novo sentido
para o espaço. Isso reflete os lugares turistificados, que passam por profundas transformações
nas paisagens que irão se refletir no cotidiano dessas comunidades. A importância de se deter
nesse ramo da geografia estar justamente, na abordagem humanística que é dada aos
conceitos de paisagem e lugar, tão caros nos estudos sobre turismo. Considerando a
abordagem cultural, convém elucidar que, segundo Claval, (2001), no final do século XIX
existia uma geografia cultural, não nos moldes de hoje, mas que analisava o espaço a partir de
sua tradução material, ou seja, por meio dos artefatos criados. A lacuna deixada por essa
abordagem foi suprimida com a abordagem atual que a geografia cultural dar aos estudos dos
fenômenos, e reflete sobre a dinâmica dos lugares considerando que os comportamentos
humanos não são universais, dependem das crenças filosóficas e dos valores. Assim, a
geografia cultural passou por uma transformação significativa a partir de 1970, quando houve
uma mudança completa de atitudes e surgiu a constatação de que a organização social dos
indivíduos, a vida das pessoas, bem como suas atividades não são apenas materiais, mas são
reflexo dos processos cognitivos, de atividades mentais, de trocas de informações e de ideias.
Portanto, a produção do espaço tem uma dimensão psicológica e sociopsicológica.
Assim, hoje, tende-se por uma abordagem cultural que, de acordo com Claval (2001),
faz desaparecer o conjunto dessas limitações, pois alarga e aprofunda consideravelmente o
campo coberto pela geografia cultural da primeira metade do século XX. Além disso, ela
impacta profundamente, porque transforma a perspectiva global da geografia humana
descritiva, conseguindo agora interrogar os homens sobre a experiência daquilo que os
envolve, sobre o sentindo que dão a sua existência e sobre a maneira pela qual modelam as
paisagens, afirmando sua personalidade, suas convicções e suas experiências. Numa
abordagem cultural, é possível compreender a paisagem, segundo Gomes (1996), enquanto
um eficiente instrumento para se conhecer a forma pela qual a população se significa, se
projeta-se (sobre o plano do espaço) e se utiliza dessas formas físicas como elementos para a
86
comunicação. Por conseguinte, uma ciência que conseguisse compreender as singularidades
inscritas na paisagem, bem como as relações que os habitantes estabelecessem com seu
espaço de vivência, a partir de sua compreensão valorativa e qualitativa, conseguiria também
compreender essas paisagens dos espaços turistificados. Até porque, conforme o mesmo
autor, o conceito de paisagem acaba incorporando a dimensão da cultura ao espaço.
Para Claval (2001), devido à complexidade da atividade turística, ela deve ser
analisada em âmbito multidisciplinar, particularmente pelo conjunto das ciências sociais,
entrelaçando os aspectos histórico-geográficos, com os econômicos, sociológicos,
antropológicos, políticos, culturais e ecológicos. Esse autor ainda aborda que a análise, a
partir da geografia cultural, permite inferir que o trabalho sobre representações traz à tona as
limitações da visão racional, principalmente considerando que, por muito tempo, a escrita
pesada dominou os textos geográficos. Assim, Claval pressupõe que os estudos sobre o
espaço vivido oferecem perspectivas novas sobre a variedade do mundo e o modo como ele é
percebido e valorizado. Agora, mais do que nunca, é preciso analisar os fenômenos
considerando a atuação dos agentes sociais que atuam produzindo paisagens diversas. Ou
seja, dentro de um mesmo espaço, as leituras que se pode inferir acabam sendo as mais
variadas possíveis, que se tem um palimpsesto paisagístico e, portanto, uma infinidade de
representações. De acordo com Gomes, a paisagem age como
[...] uma espécie de “vitrine” de um localidade e, portanto, de sua população. Nesse
sentido as paisagens são como sujeitos, pretendem ser as consciências “oficiais” de
um lugar, são mise-em-scène de uma vivência espacial e é isso que elas podem nos
comunicar através da sensibilidade estética. (GOMES, 1996, p. 08)
Essa abordagem favoreceu uma revolução da geografia humana e avanços
significativos nos estudos geográficos suscitando questões até então desconsideradas, como a
dimensão da percepção, da emotividade e dos sentidos. A análise centrada na geografia
cultural permite compreender as paisagens considerando, de acordo com Claval (2001), que a
diversidade de culturas apresenta-se cada vez menos fundamentada sobre seu conteúdo
material, principalmente em se tratando de processos sociais, econômicos e políticos, que
estão diretamente relacionados com as culturas onde eles atuam, e se refletem diretamente no
espaço. Assim, fique claro, está se falando de agentes sociais que são responsáveis por
produzir seus espaços, o que irá repercutir diretamente nas paisagens que são prenhes de
imaginário e simbolismos. Ou seja, a análise humanística do fenômeno turístico em Guaibim
87
permite que se perceba peculiaridades desse espaço turístico que não ocorrem em outras
localidades do Litoral Sul, que diferem do modelo mercadológico tão comum nos grandes
centros turísticos dessa região e que podem ser usadas para promover um modelo turístico
diferenciado nesse espaço, valorizando principalmente a percepção da população para o
desenvolvimento local. Essa realidade permite compreender que a paisagem humana não trata
de uma impressão impessoal de forças demográficas e econômicas, mas é, sobretudo, repleta
de representações, valorações e das percepções das pessoas que residem. Nesse sentido,
Corrêa afirma que,
Revelar os significados na paisagem cultural exige a habilidade imaginativa de
entrar no mundo dos outros de maneira auto-consciente, então, re-presentar essa
paisagem num nível no qual seus significados possam ser expostos e
refletidos.(CORRÊA, 1998, p.103)
Portanto, o movimento constante que dar vidas às formas é fundamental para se
entender como a dinâmica do turismo agiu e continua agindo na paisagem de Guaibim, num
intenso processo no qual os agentes sociais comportam-se a cada momento num dado papel,
originando assim uma verdadeira colcha de retalhos, ou seja, um local heterogêneo onde as
opiniões e papéis divergem a todo instante. Visando uma compreensão do que foi aqui
comentado, é pertinente os conceitos de mediância e de geograficidade de Berque (2008) que
tratam justamente, o primeiro, da contingência da história, já o segundo está ligado à
memória, ou melhor dizendo, o primeiro refere-se à análise da essência paisagem e o segundo
nos leva a estudar a essência do lugar. A essência da paisagem permite conhecer as formas
que dotam o espaço Guaibim, que não consegue atender plenamente a atividade econômica do
turismo, visto não ter sido planejado para esse fim, mas recebeu equipamentos a partir de
iniciativas individuais voltadas a dinamizar essa atividade. Contudo, a essência do lugar nos
remete a elementos que falam por si mesmo, desde que refletem os rumores da comunidade,
os papéis que existem, as contradições que se materializam a todo instante, bem como os
papéis sociais que tomam forma constantemente, refletindo os anseios, sentimento e
percepções da comunidade, diante do movimento que se inscreve nesse local.
Desta forma, uma análise centrada nos espaços turísticos deve primeiramente em
avaliar o peso das paisagens que deveriam ter relevância, visto que antes mesmo de serem
espaços turísticos são espaços de vivência e cotidiano de pessoas. Para Castro (2002), tem-se
na paisagem não apenas a referência visual, representação e cotidiano social, mas também um
88
valor de uso e de troca. Segundo o mesmo autor, essa paisagem é real e é representação, que
permite uma análise positivista, mas também reconhece que ela exista primeiro na sua relação
com um sujeito coletivo: a sociedade que a produz, reproduz e a transforma. “A paisagem vai,
portanto, muito além do real oferecido pela natureza, embora ela também o incorpore,
resultando na cultura e ao mesmo tempo fazendo parte dela.” (CASTRO, 2002, p.123)
Segundo Yázigi, ao se relacionar os estudos de turismo com uma análise do conceito
de paisagem busca-se acima de tudo compreendê-la enquanto prática cultural, buscando
identificar seus efeitos e o alcance dessa prática no interior da sociedade. Até porque a
paisagem possui importância não apenas para o turista, mas principalmente para o cidadão
comum. De acordo com esse autor, ao refletir os espaços, as paisagens demonstram sua
dinamicidade, visto que se o espaço é dinâmico, ele o é por ser construído socialmente, e
assim também são as paisagens, tanto pela dinamicidade social quanto natural. Portanto, a
compreensão da paisagem como reflexo dos espaços permite inferir que toda a transformação
neste último perpassa por alguma transformação na paisagem, se não na aparência, mas no
seu significado.
A paisagem então revela-se uma ligação essencial entre a geo-grafia e o imaginário
social, um articulação entre a imaginação e o espaço, pois o imaginário reporta-se
aos objetos geográficos e reflete, embora transformando, as relações que o homem
estabelece com os espaço, criando uma materialidade para a memória coletiva e
fundando o que podemos chamar de imaginário geográfico. (CASTRO, 2002, p.
125)
Em conformidade com Corrêa (1998), a paisagem consegue ser simultaneamente uma
marca, uma grafia, impressa na superfície, mas que reflete a natureza da sociedade que realiza
a grafia e, assim, as marcas se constituem matrizes, isto é, condições para a existência e ação
humana. Esse autor ainda considera que
[...] a sociedade é feita de indivíduos que não se contentam em refletir
condicionamentos sociais exteriores, mas os interiorizam, os reelaboram e os
colocam em ação em função das circunstâncias e de sua experiência.(CORRÊA,
1999, p. 74)
Esse fenômeno repercute diretamente nos locais, na vida e no cotidiano, sendo
fundamental entender esses espaços partindo da ideia de que o processo de construção dos
89
lugares articula-se no plano da reprodução da vida no qual é preciso considerar o ponto de
vista do habitante, para quem o espaço se reproduz enquanto lugar, onde se desenrola a vida
em todas as suas dimensões- o habitar e tudo o que ele implica e revela. O viver em um lugar
se revela numa constituição de uma multiplicidade de relações sociais como prática espacial
que está na base do processo de constituição da identidade com o lugar e com o outro e que,
portanto, foge à racionalidade homogeneizante hegemônica. Ou seja, apesar da existência
desses espaços que entronizaram o processo de turistificação e se adequaram à mundialização
com profundas modificações culturais, sociais e espaciais, espaços que permanecem como
lugar. Segundo Augé (1997), finalmente , o lugar é necessariamente histórico a partir do
momento em que, conjugando identidade e relação, ele se define por uma estabilidade. O
lugar se completa pela fala, a troca alusiva de algumas senhas, na convivência e na intimidade
cúmplice dos locutores.
O cenário pode ser compreendido quando observado a paisagem e o ambiente cultural
que nela se inscreve. Assim, a paisagem materializará o conjunto das representações e
simbolismo que permeiam os lugares e por conseguinte a sua essência. Segundo Corrêa,
Definir uma cultura significa apreciar na paisagem o conjunto das modificações que
o homem trouxe para o meio ambiente. [...] A cultura assim compreendida é feita de
elementos que a atividade humana inscreve de maneira visível no ambiente. Ela
engloba as construções, estradas, campos, aterros, cercas e culturas. [...] a cultura é o
conjunto de representações sobre as quais repousa a transmissão de uma geração a
outra ou entre parceiros da mesma idade, das sensibilidades, idéias e normas.
(CORRÊA, 2002, p.137-141)
Nos espaços em que o processo de mundialização não chegou em toda sua magnitude,
como é o caso de Guaibim, a análise da paisagem, bem como do imaginário social dessa
comunidade por meio das entrevistas e mapas mentais, permite observar que muitos desses
equipamentos que norteiam os espaços mundializados não estão presentes, assim como
percebe-se o forte sentimento de afetividade da comunidade com seu espaço de vivência,
podendo firmá-lo como lugar identitário, relacional, histórico (Augé,1997).
A paisagem assume um papel diferenciado nessa análise por permitir uma
compreensão do lugar, visto que ela possibilita compreender as representações e percepções
da comunidade que se inscrevem na formas e, principalmente, nos signos existentes no
espaço. Repensar esses conceitos, segundo o espaço de Guaibim, é importante por ser esse um
local turistificado, em que o peso da paisagem tem um papel fundamental para o turismo. Por
90
isso, compreender as relações que a comunidade mantém com seu espaço de vivência dentro
desse cenário, é crucial, que o distrito de Guaibim apresenta elementos que o diferem dos
demais destinos turísticos da região.
Apesar de estar localizado no Litoral Sul, o Guaibim possui um modelo turístico, bem
como uma organização social e espacial, bem diversa das citadas anteriormente.
Para Côrrea (1998), a paisagem consiste no resultado da ão cultural por um
determinado tempo sobre a paisagem natural. Essa ação contínua acabará imprimindo formas,
a partir das representações e dos elementos simbólicos que irão dar uma “personalidade” ao
espaço, uma “cara”, uma identidade. A paisagem é constituída de tempos desiguais, já que é
resultado da ação humana durante um determinado período sobre o espaço. Assim, concorda-
se com Tuan (1983) para quem o espaço apresenta-se como histórico por ter uma direção e
uma perspectiva privilegiada. Com isso a visualização da paisagem em perspectiva pressupõe
uma reordenação do tempo e do espaço. Tuan 1983) afirma, ainda, que o espaço e o tempo
ganharam subjetividade ao serem orientados para o homem numa relação em que eles sempre
estiveram estruturados de acordo com os sentimentos e necessidade humanas individuais.
As análises aqui desenvolvidas consideraram a existência de um mundo cultural no
qual, segundo Kozel (2007), as formas de linguagens referendadas no sistema de relações
sociais, as quais possuem em si valores, atitudes e vivências, constituem imagens que passam
a ser compreendidas como mapas mentais. Essa linguagem é sustentada pelos signos que
consistem de representações sociais. Essa mesma autora define esses mapas mentais como
[...] uma forma de linguagem que reflete o espaço vivido representado em todas as
suas nuances, cujos signos são construções sociais. [...] enquanto construções
sígnicas requerem uma interpretação/ decodificação, foco central desta proposta
metodológica, lembrando que estas construções sígnicas estão inseridas em
contextos sociais, espaciais e históricos coletivos referenciando particularidades e
singularidades. (KOZEL, 2007, p.115)
Concebe-se que os mapas mentais constituem uma metodologia peculiar nos estudos
humanísticos por permitir o entendimento das representações e percepções das pessoas e,
assim, permitir a compreensão do espaço geográfico. Essa metodologia permite a
compreensão dos fenômenos a partir da análise dos signos que constituem símbolos e
representam elementos do real. Para Kozel (2007), os mapas demonstram a ideia que os
indivíduos tem do mundo, e por conseguinte, extrapolam a percepção individual refletindo
uma construção social. A utilização desses mapas demonstra a importância da percepção e da
91
cognição aliadas à representação, refletindo a importância dos estudos qualitativos no
conhecimento da percepção e cognição dos moradores e visitantes. A utilização de mapas
mentais na analise é fundamental por esse instrumento permitir compreender a essência da
paisagem; e quando aplicados a lugares turísticos servem para a compreensão do imaginário
social da comunidade de Guaibim, observando os signos que mais surgem nos mapas e que
mais caracterizam a paisagem para eles, assim como permite identificar o sentimento
topofílico ou topofóbico
27
que a comunidade tem com seu cotidiano.
A análise do espaço de Guaibim, a princípio, observando apenas a paisagem, reflete
como as imagens de paisagens podem, pintadas ou capturadas por uma máquina fotográfica,
permitir a organização dos elementos visuais numa dramática estrutura espaço-temporal. O
local manifesta-se como um espaço complexo por permitir um emaranhado de significados,
sendo o mesmo lugar simbólico, onde muitas vozes se encontram ao longo do tempo. Esse
lugar é também lócus da experiência, das construções e reconstruções sociais, culturais e
espaciais. Essa discussão remete a Tuan (1983) ao considerar que o espaço transforma-se em
lugar à medida que adquire definição e significado. Esse autor ainda afirma que o ser humano
move-se das experiências diretas e íntimas para aquelas que envolvem cada vez mais
apreensão simbólica e conceitual.
A paisagem, como reflexo de uma ordem cultural materializada no espaço, significa,
de acordo com Gomes (1996), e age como sujeitos, consciências “legítimas” de um lugar.
Entretanto, é importante deixar claro que as experiências íntimas são difíceis de expressar. As
entrevistas deixaram claro o relacionamento que a comunidade estabelece com seu espaço de
vivência. Assim, conforme Tuan (1983),
Os lugares íntimos são lugares onde encontramos carinho, onde nossas necessidades
fundamentais são consideradas e merecem atenção sem espalhafato. [...] Os
momentos íntimos são muitas vezes aqueles em que nos tornamos passivos e que
nos deixam vulneráveis , expostos à carícia e ao estímulo de nova
experiência.(TUAN, 1983, p.152)
Essa intimidade com o espaço de vivência é notória nas relações cotidianas, no
relacionamento entre as pessoas da comunidade, nos laços de afetividade, nos saudosismos. O
estudo da paisagem humana permite compreender diversos significados, demonstrando que
27 Para Tuan (1980), Topophilia é o elo afetivo entre a pessoa e o lugar e o meio ambiente físico, termo que
associa sentimento com lugar e paisagem. Topofobia, consiste no sentimento contrário a Topofilia, que é o
sentimento de aversão ao lugar.
92
ela não pode ser analisada somente a partir da visão racional, visto que para as pessoas que
vivem aquele lugar, a paisagem diz respeito à vida e seu sentido. Para Buss (1996), a
paisagem é oferecida a nossa percepção como produto de nossas experiências pessoais e
coletivas, favorecendo inclusive uma reflexão sobre a reprodução de nossa cultura e de nossa
geografia humana. Essa imersão no espaço geográfico não ocorre despida de significados,
mas, segundo Carlos (1999), ela considera que no lugar emerge a vida, posto que é que se
dá a unidade da vida social. Cada sujeito se situa num espaço concreto e real onde se
reconhece ou se perde, usufrui e modifica, posto que o lugar tem usos e sentidos em si; tem a
dimensão da vida, permitindo que o ato de produção revele o sujeito. A estruturação e a
organização do espaço permitem um conhecimento da essência do lugar, que reflete a cultura
em suas mais variadas faces, seja nas suas formas e até mesmo em suas funções. Diante disso,
considera-se que a forma como os objetos estão postos espacialmente encadeiam uma lógica,
no entanto, o emaranhado de ações que se desenvolvem em volta dessa organização acaba
gerando um produto novo, resultado sempre da interação da organização física e as práticas
sociais que aí têm lugar.
Portanto, ao discutir os conceitos de paisagem e lugar, a partir do distrito de Guaibim,
deve-se considerar o emaranhado de relações que existem nesse espaço, as quais produzem
representações que são responsáveis pela imagem veiculada de Guaibim. Observa-se, então,
que a paisagem desse distrito está diretamente ligada ao imaginário social da comunidade,
permitindo assim uma leitura que é intencional desde que o espaço é percebido e apreendido a
partir da construção de práticas e crenças que são de natureza social.
3.1. Analisando a paisagem: o ontem e o hoje.
Para analisar a paisagem de Guaibim é preciso compreendê-la como resultado do
processo de turistificação, que acabou inserindo diversas transformações nesse espaço, e
podem ser observadas a partir da análise das diversas imagens desses locais ao longo do
tempo. A abordagem que será desenvolvida busca compreender a essência dessas paisagens,
a partir da valorização do olhar do habitante do lugar. De acordo com Yázigi (1999), para o
residente do local, a paisagem é virtualmente conclamada a desempenhar várias funções entre
as quais: a de espaço mediador para a vida e as coisas acontecerem- não de receptáculo, mas o
de constantes transformações; e as de referências múltiplas, geográficas, psicológicas (lúdicas
e afetivas), informativas fonte de contemplação, fonte de inspiração e de alimento à memória
93
social, sendo portanto a responsável pela idéia de lugar. Visando a compreensão das diversas
paisagens desse espaço propõe-se observar o mapa com os logradouros do distrito (no
apêndice 7).
A análise da paisagem de Guaibim, ao longo do tempo, favorece a reflexão em torno
das mudanças que ocorreram nesse local desde quando ainda era uma fazenda de coco e foi
turistificado. Vale ressaltar que essas mudanças implantadas nesse espaço são fruto de
construções sociais, bem como das representações de uma comunidade que era apenas uma
vila de pescadores e foi transformada em um destino turístico. Esse processo de construção
de um espaço turístico se deu sem um prévio planejamento por parte da gestão municipal e
estadual, como se discutiu . Ou seja, ocorreu o processo de turistificação, as pessoas foram
“descobrindo” Guaibim, a princípio pessoas do próprio município de Valença e localidades
vizinhas e, em face das necessidades que iam surgindo, a prefeitura ia implantando
infraestrutura, sempre num processo bem lento, que continua ainda hoje. Visando tornar a
análise mais clara e precisa, convida-se a um passeio ao longo do texto sobre as paisagens que
compõem esse cenário, bem como uma reflexão sobre as mudanças que ocorreram,
considerando os depoimentos de alguns moradores antigos.
Figura 14 Imagem da área central de Guaibim, localizado no atual Guaibizinho.
Fonte: Memorial da Câmara de Vereadores de Valença.
94
A princípio era apenas um local em que havia o uso do espaço da praia com o
aproveitamento do espaço dos coqueirais. Essa imagem deixa transparecer três décadas, o que
pode ser confirmado pelos modelos dos veículos encontrados, bem como pela inexistência de
edificações e pavimentações, demonstrando inclusive a imagem da praia conforme o discurso
de alguns moradores, (citado no capítulo anterior) e que foi confirmado nas entrevistas
realizadas em Abril de 2010:
“Antigamente tudo era uma fazenda de coco do senhor Aloísio Fonseca, tinha apenas cinco casas de
palha e as pessoas viviam da pescaria. meu avô, conhecido como João Futuca, conseguiu do governo um
pedaço dessa fazenda para dar para as pessoas. começou vim gente de Valença, a gente pescava e dava
peixes, era uma fartura.” (A. 44 anos, professora da educação básica, entrevista concedida em trabalho de campo
em Abril de 2010)
“Eram casa de palhas e as ruas sem energia.” (M.A. 55 anos, aposentada, entrevista concedida em
trabalho de campo em Abril de 2010)
“Era muito atrasado, ruas de areia sem calçamento, casas de palhas, sem energia, sem água encanada.”
(D. 86 anos, professora aposentada, entrevista concedida em trabalho de campo em Abril de 2010)
“Era mal, as casas de palhas, sem energia, sem estrada.” (G. 40 anos, pescador, entrevista concedida em
trabalho de campo em Abril de 2010)
Esse bloco de respostas reflete uma paisagem anterior ao processo de turistificação,
quando Guaibim era apenas uma vila de pescadores bem diferente do que se atualmente.
Naquele tempo tinha-se um espaço praticamente bucólico, que o acesso era inexistente por
não existir estradas de acesso ao local, a pesca era praticada artesanalmente, sendo uma
atividade de subsistência. Não havia energia elétrica e as edificações, em sua maioria, eram
de palha e com o chão de areia. Segundo o “livreto” que conta a história de Guaibim, “[...]
em 1950, existiam nessa época no povoado as casas de telhas de propriedade de José
Leopoldo, Zé Cundunga,D. Mocinha [...], existia a escola de D. Dedé, filha do Futuca, que foi
destruída em mais ou menos 1963 a 1965.”
95
Figura 15-Imagem da praia de Guaibim, no início do processo de turistificação.
Fonte: Memorial da Câmara de Vereadores de Valença.
Esse cenário passou por muitas transformações, principalmente, devido à construção
da estrada Valença-Guaibim, que começou a ser construída no ano de 1962, segundo Adaulto
Mauro, e concluída somente em 1972, fato que confirma a idade média desses veículos
encontrados na figura 14, bem como o momento dessa imagem. A figura três remete um
tempo que, provavelmente, foi logo em seguida à construção da ponte do Patipe, que se
observa um grande número de pessoas freqüentando a praia, num momento em que havia a
ausência de barracas estruturadas e a presença de barracas improvisadas, sendo ainda
marcante a quantidade de coqueiros à beira da praia, demonstrando os resquícios da antiga
fazenda de coco, que tinha na agricultura a atividade econômica predominante.
Figura 16 - Ponte do Patipe. Ontem e Hoje.
Fonte: Imagens montadas pela autora.
96
As imagens acima compõem duas paisagens diferentes de um mesmo espaço, em
tempos distintos. A primeira ponte é anterior ao processo de turistificação, e a segunda
construída durante o processo de turistificação, já que foi concebida para atender às demandas
dessa atividade econômica. A primeira imagem da ponte demonstra uma paisagem em que os
elementos naturais estão preservados, diferentes da segunda quando se observa a inserção
do elemento edificado no espaço.
Segundo afirma Barbosa (2001) a paisagem estabelece um lugar de senso-percepção
sem o qual o drama representado perde sua condição de estabelecer referências à vida real.
Até porque a paisagem é um recurso estético que envolve, encobre, pontua, expõe e funde
cores e formas as tramas do tecido narrativo, tornando-se, por excelência, a expressão do
ritmo cênico. Tem-se, sobremaneira, que considera, ao se analisar a realidade desses espaços
turistificados, que o espaço envolve uma ordem natural, que não desfaz a importância da
cultura material e imaterial, da economia e da memória que definem seus elementos que por
sua vez irão definir o lugar, sua identidade cotidiana tão cara à comunidade e, por
conseguinte, ao visitante. Os agentes têm uma ligação direta com a paisagem, o que reflete a
cultura local em todas as suas faces; portanto, entender a paisagem significa compreender a
cultura local. Por conseguinte, entender Guaibim em suas múltiplas faces, ou seja, enxergar a
essência do espaço de Guaibim, parte primeiramente do olhar sobre o lugar. Isso pode ser
compreendido na afirmação de Luchiari:
[...] os símbolos contidos nos objetos de uma paisagem são perigosos, pois não se
revelam totalmente a um olhar pouco reflexivo, podendo escapar a apreensão e
tornar mais eficaz a fetichização da paisagem. (LUCHIARI, 2001, p.13)
A imagem a seguir é do Condomínio Nova Canaã, um conjunto de 155 casas
populares, construído recentemente, o que fica visível pelas edificações serem novas, estarem
em perfeito estado de conservação, pelas ruas serem pavimentadas, com área destinada a
passeios para pedestres, com rede elétrica e de esgoto. É um espaço que foi construído para
receber a comunidade que vivia nas palafitas mencionadas anteriormente.
97
Figura 17- Loteamento Nova Canaã.
Fonte: Autora trabalho de campo nos dias 14 e 15/04/2010.
Figura 18 - Entrada da praia de Guaibim.
Fonte: Autora trabalho de campo nos dias 14 e 15/04/2010.
98
Figura 19- Avenida principal de acesso a Praia.
Fonte: Autora trabalho de campo nos dias 14 e 15/04/2010.
A observação das imagens acima permite afirmar que, apesar de ser um lugar turístico,
não apresenta um portal de entrada, as casas o construídas sem nenhum padrão, o que
reflete uma atividade econômica que surgiu sem um planejamento. Isso fica claro na figura
que essa imagem é de um local que foi construído sob o manguezal, a partir de aterramentos,
com vias de circulação comprimidas, sem espaço de circulação para pedestre, com edificações
sem um padrão e amontoadas, por conseguinte, sem nenhum padrão urbanístico.
Durante o trabalho de campo realizado em agosto de 2009, a população reclamou da
inexistência de praças públicas, espaços de lazer, saneamento, e a construção da orla(
discursos que foram citados durante o capítulo dois). No entanto, naquele momento, enquanto
acontecia o trabalho de campo estava sendo construída uma praça (visualizada a seguir em
seus três momentos, nas figuras 20, 21,22,23)
99
Figura 20 - Imagem da área central do distrito destinada
construção da praça, onde localiza-se a igreja de São José.
Fonte: Cloves Luz.
Figura 21 - Construção da Praça de São José.
Fonte: Autora. Trabalho de campo em Agosto de 2009.
100
Figura 22 - Praça do Guaibim.
Fonte: Autora.Trabalho de campo Abril de 2010.
Figura 23 - Praça do Guaibim.
Fonte: Autora. Trabalho de campo Abril de 2010.
A construção da praça favorece a comunidade que passa a desfrutar de um espaço de
uso, e de alguma forma influencia na definição da identidade do morador, que agora passa a
ter um espaço de encontro e construção de cidadania, além de ser espaço de lazer. Na
101
imagem 20, na área destinada à praça, observa-se a falta de pavimentação, com o chão de
areia, refletindo um local sem planejamento, sendo essa área o centro do distrito. Na imagem
seguinte figura-se a construção da praça, realizada em agosto de 2009 (quando estava sendo
realizado o trabalho de campo). na figura 22 , observa-se a praça construída, com espaço
para encontro, a rua central que corta a praça pavimentada, bem como um parque para o lazer
das crianças. Por conseguinte, essa construção será benéfica para o morador mas também para
o turista que visita Guaibim.
na análise da paisagem a seguir (figura 24), pode-se tecer inúmeras considerações
quanto às diversas transformações que ocorreram nesse espaço. Visando uma melhor
compreensão dessas mudanças, propõe-se que se observe a imagem aérea e a compare com as
demais que mostram as principais modificações ocorridas.
Figura 24 - Modificações na Paisagem.
Fonte - Montagem realizada pela autora.
102
1. Praça de esportes.
2. Orla de Guaibim onde localiza-se as barracas de praia.
3. Rua que liga a orla a Avenida Taquari.
4. Espaço em que existia um galpão degradado e foi constrído uma residência.
Nota-se na figura 24 que houve a construção de uma praça de esportes, assim como a
pavimentação da avenida principal com paralelepípedos e com inserção de elementos
infraestruturais e estéticos. Essas alterações são recentes, já que se observa ruas largas e
pavimentadas, com rede elétrica e iluminação. Os coqueirais fazem uma composição estética,
enfeitando e ornamentando a praia e a avenida, assim como representam um mbolo da
tropicalidade. Observa-se, ainda, alguns canteiros ao longo da avenida, bem como a
demolição de um espaço degradado que havia na esquina no final da avenida. Ou seja, o que
era uma estrada sem pavimentação, sem via de circulação para pedestres e ciclistas, assim
como degradada visualmente, passa agora a ter uma nova forma e funcionalidade. Observa-se
ainda o aumento da apropriação do espaço para uso mercadológico, com a construção das
barracas de praia. Todas essas transformações beneficiaram Guaibim, assim como
favoreceram a comunidade com um espaço mais urbanizado. Mais uma vez, tem-se
equipamentos que foram instalados e favoreceram também ao turismo.
Na Avenida Taquari, onde se localiza os hotéis, pousadas e condomínios, observa-se a
existência de dois Guaibins, que inclusive foi citado durante um grupo focal realizado na
comunidade: O Guaibim da vila, onde residem os nativos e pessoas de baixo poder aquisitivo;
e o da Avenida Taquari, onde residem pessoas de elevado poder aquisitivo e onde se localiza
a rede hoteleira, o que pode ser visualizado nas imagens, casas de luxo, e pousadas ao longo
da costa com distribuição de energia, água encanada, num ambiente distante da vila e, por
conseguinte, distante da agitação inerente as aglomerações urbanas. Esse quadro reflete a
segregação socioespacial existente naquele espaço.
103
Figura 25 - Avenida Taquari.
Fonte: Autora. Trabalho de campo Abril de 2010.
Figura 26 - Pousadas na Avenida Taquari.
Fonte: Autora. Trabalho de campo Abril de 2010.
104
Figura 27 - Pousadas na Avenida Taquari.
Fonte: Autora. Trabalho de campo Abril de 2010.
O final da Avenida Taquari, onde se localiza a praia de mesmo nome, já bem diferente
da sede do distrito, caracteriza-se por ser um local tranquilo, longe de grandes agitações, o
que pode ser visualizado nas imagens a seguir, onde podem ser visualizadas a alguns anos
atrás uma paisagem paradisíaca, com a foz do rio Taquari encontrando-se com o mar,
demonstrando um espaço caracterizado pela agricultura com longos coqueirais, bem como
espaços de vegetação natural, com áreas de floresta e vegetações arbóreas e arbustivas.
Contrastando com essa paisagem tem-se uma outra imagem dessa mesma praia com uma
vegetação de pinhos e com uma edificação bem diferente da realidade encontrada
atualmente. A partir do trabalho de campo observou-se, nesse mesmo espaço, outra
configuração territorial, inclusive com o início de uma apropriação mercadológica desse
espaço com barracas, segundo pode ser visto a seguir.
105
Figura 28 - Praia do taquari, foz do rio Taquari, quando ainda era uma fazenda.
Fonte: Cloves Luz.
Figura 29 - Praia do taquari.
Fonte - Cloves Luz.
106
Figura 30 - Barracas na Praia de Taquari.
Fonte - Cloves Luz.
Portanto, a análise que foi efetuada até aqui deteve-se em observar as principais
mudanças ocorridas na paisagem de Guaibim ao longo do processo de turistificação. Essas
mudanças ocasionaram fortes impactos nesse espaço desde que foram inseridos diversos
equipamentos voltados para atender às demandas turísticas, o que resultou em impactos sobre
o meio ambiente, assim como sobre a cultura local. Essa mudanças afetaram diretamente a
percepção da comunidade, bem como seu imaginário social, desde que novos símbolos foram
inseridos produzindo, por conseguinte, novos signos sobre a paisagem de Guaibim. As
próximas discussões abordarão justamente o imaginário social dessa comunidade, a partir da
análise dos mapas mentais observando esses signos predominantes que dizem muito sobre a
relação das pessoas com seu espaço de vivência.
3.2 Turismo, paisagem e lugar sob a ótica dos moradores de Guaibim.
Uma paisagem por si só enuncia as relações que uma comunidade tem com seu
espaço, por que ali se mostram as formas nos artefatos materiais, assim como mostra sua
essência, nos signos que se inscrevem e que são passíveis de leitura, permitindo assim a
compreensão do espaço geográfico. Dessa forma, o espaço só é passível de ser apreendido em
sua completude se observado em suas entrelinhas, buscando uma percepção profunda dos
107
elementos sígnicos que passam despercebidos se desconsiderado o papel das representações e
simbolismos. Segundo Kozel,
O espaço não é somente apreendido através dos sentidos, ele referenda uma relação
estabelecida pelo ser humano, emocionalmente de acordo com as suas experiências
espaciais. Assim o espaço não é somente percebido, sentido e representado, mas
também vivido. As imagens que as pessoas constroem estão impregnadas de
recordações, significados e experiências. (KOZEL, 2007.p. 117)
A relação com os espaços turistificados tem na paisagem seu principal objeto de valor,
por ser ela o cartão de visita para os fins turísticos, além de oferecer os elementos que podem
refletir no termômetro social, que pode dizer muito sobre o planejamento e organização do
local. Esse enfoque sobre o fenômeno geográfico vai de encontro à lógica positivista de
espaço, predominante nos anos de 1960 a 1970. De acordo com Kozel (2007), a nova
perspectiva de análise passa a valorizar o espaço local e o específico, o lugar, privilegiando
novas qualidades como a subjetividade, intuição, sentimentos, experiências e simbolismos,
valorizando assim o singular e não o geral. O principal objetivo nessa abordagem não é
explicar o mundo, mas compreendê-lo e entender as pessoas em sua essência. Portanto, o
elemento cultural passa a ser fundamental na compreensão do mundo, que, conforme Kozel
(2007), o espaço passa a ser entendido como entidade verbalizada, cujos signos são
construídos socialmente e encontram-se embasados no sistema cultural.
Uma ferramenta importante é o mapa mental, que, quando analisado, pode-se
observar, segundo Tuan (1983), o valor do lugar a partir dos elementos gnicos que surgem
no desenho, o qual irá refletir a intimidade de uma relação humana particular. Desta forma,
Tuan (1983) concebe que cada troca íntima acontece em um local, que participa da qualidade
do encontro. Os lugares íntimos configuram-se tantos quantos as ocasiões em que as pessoas
verdadeiramente estabelecem contato, sendo transitórios e pessoais. De acordo com Kozel
(2007),
Essa multiplicidade de sentidos que um mesmo “lugar” contém para os seus
moradores e visitantes está ligada, sobretudo ao que se denomina de imaginação
criadora, função cognitiva que ressalta a fabulação como vetor a partir do qual todo
ser humano conhece o mundo que habita. O espaço percebido pela imaginação não
pode ser o espaço indiferente, é um espaço vivido. E vivido não em sua positividade,
mais com todas as parcialidades da imaginação. (KOZEL, 2007, p.121)
108
É por isso que Tuan (1980) considera que a percepção se dá através dos sentidos, mas
é imprescindível considerar que a cultura influencia a forma de perceber e a construção da
visão de mundo e das atitudes. Portanto, segundo Silva (1999), a construção coletiva de uma
determinada identidade procede na formulação e difusão de imagens de certos espaços que
acabam sendo socialmente percebidos e mantidos. Nisso, supõe-se que a percepção pode
condicionar a manutenção da organização espacial dada ou mesmo provocar uma
reorganização, em sentido contrário e/ou complementar. É mediante essa noção que se pode
traçar um diagnóstico a partir da percepção que as comunidades fazem do seu lugar. Enfim,
qualquer imagem oriunda de representação social necessita ser analisada por cada pessoa e
reelaborada, até porque as pessoas se constituem sujeitos ativos e sociais, com poder de criar e
recriar imagens e conceitos.
A compreensão da leitura realizada pela comunidade de Guaibim da sua paisagem
permite entender inúmeros signos que permeiam as representações sociais dessa comunidade
e que compõem o seu imaginário social. Esses signos, que compreendem símbolos que
permeiam o cotidiano dessas pessoas, transitam numa relação em que, de acordo com Tuan
(1997), acontecimentos simples acabam, com o passar do tempo, se transformando num
profundo sentimento de lugar. E, assim, muitas imagens acabam condicionando as ações das
pessoas, chegando a relação em que signos que constituem elementos midiáticos ligados ao
turismo são incorporados de tal forma, que eles estão desprovidos de instrumentos cognitivos
que lhes permitam um olhar mais intencional sobre o que ocorre no seu lugar. Esse dado será
observado durante a análise de alguns mapas mentais.
As análises que serão tecidas partem de uma metodologia que não é rigorosa, o que
permite uma diversidade de estratégia, métodos e instrumento (Sousa, 2002). A partir da
aplicação desses instrumentos, torna-se possível explicitar os diferentes modos de perceber o
lugar, a partir dos referenciais próprios da comunidade, o que se torna mais evidente quando
analisado junto com as entrevistas. Levando em consideração a essência da problemática,
acabou-se adotando, na pesquisa, a opção de coletar mais dados qualitativos que quantitativos.
Assim, observou-se qual a imagem de Guaibim que as pessoas tinham, identificando os
elementos sígnicos que prevaleciam, para assim efetivar a análise e obter o resultado a partir
do conjunto de procedimentos definido. O resultado dessa análise será apresentada
quantitativamente, por meio de percentuais e elementos qualitativos (desenhos e
comentários).
Os mapas mentais a seguir são comentados considerando que cada imag
um conjunto de ide
ias e valores originados a partir da percepção i
espaços geográficos; essas imagens são comunicadas à
social que podem responder de forma variada a cada imagem e repres
Complementando essa ide
ia
transformar na imagem do espaço total
elemento da dinâmica da paisagem pode ser tomado como a imagem total do espaço
geográfico
, a partir do momento que traz à
materializada essa imagem no conjunto das representações
social, sendo proeminente à maioria dos sujeitos sociais , acarretando
dos sujeitos. Uma vez as representações direcionando as açõ
meio, construindo o espaço geográfico.
A partir dessas reflexões torna
confrontá-los
com o referencial teórico, partindo
(expres
sas em percentuais). As entrevistas foram realizadas e en
quantificadas
a partir do resumo das várias palavras citadas por um ou mais entrevistados
mesmo considerando a totalidade. Quando questionados sobre o que mais gostavam em
Guaibim as respostas surgiram numa tempestade de palavras que iam
a elementos abstrato
s, que envolvem sentimentos,
Figura
O que mais a comunidade gosta em
Ar livre
Os mapas mentais a seguir são comentados considerando que cada imag
ias e valores originados a partir da percepção i
ndividual e coleti
espaços geográficos; essas imagens são comunicadas à
s pessoas que compõem um grupo
social que podem responder de forma variada a cada imagem e repres
ia
,
Silva (1999) argumenta que a imagem de um
transformar na imagem do espaço total
no
qual esse lugar se insere ou
elemento da dinâmica da paisagem pode ser tomado como a imagem total do espaço
, a partir do momento que traz à
tona essa realidade. Por consegu
materializada essa imagem no conjunto das representações
,
ela passa a compor o imaginário
social, sendo proeminente à maioria dos sujeitos sociais , acarretando
uma direção da
dos sujeitos. Uma vez as representações direcionando as açõ
es,
elas passam a interagir com o
meio, construindo o espaço geográfico.
A partir dessas reflexões torna
-se
possível analisar os dados
com o referencial teórico, partindo
-
se primeiramente das análises quantitativas
sas em percentuais). As entrevistas foram realizadas e en
a partir do resumo das várias palavras citadas por um ou mais entrevistados
mesmo considerando a totalidade. Quando questionados sobre o que mais gostavam em
Guaibim as respostas surgiram numa tempestade de palavras que iam
de elementos materiais
s, que envolvem sentimentos,
como pode-
se observar no gr
Figura
31 - O que mais a comunidade gosta em Guaibim.
Fonte - Pesquisa realizada em abril de 2010.
Elaboração: Claudia Pires
10%
3%
61%
16%
3%
7%
O que mais a comunidade gosta em
Guaibim.
Turismo
Praia
Tranquilidade
Praça
109
Os mapas mentais a seguir são comentados considerando que cada imag
em representa
ndividual e coleti
va sobre os
s pessoas que compõem um grupo
social que podem responder de forma variada a cada imagem e repres
entação.
Silva (1999) argumenta que a imagem de um
“lugar” pode se
qual esse lugar se insere ou
, quem sabe, um
elemento da dinâmica da paisagem pode ser tomado como a imagem total do espaço
tona essa realidade. Por consegu
inte, uma vez
ela passa a compor o imaginário
uma direção da
s ações
elas passam a interagir com o
possível analisar os dados
e conseqüentemente
se primeiramente das análises quantitativas
sas em percentuais). As entrevistas foram realizadas e en
tão analisadas e
a partir do resumo das várias palavras citadas por um ou mais entrevistados
mesmo considerando a totalidade. Quando questionados sobre o que mais gostavam em
de elementos materiais
se observar no gr
áfico:
O que mais a comunidade gosta em
Pesca
110
Esse gráfico resume as várias palavras citadas por um ou mais entrevistados mesmo
considerando a totalidade.
A análise do gráfico 31 revela que os elementos ligados à afetividade da comunidade
são múltiplos e plurais e compreendem categorias diferentes de valoração, como elementos
ligados à natureza, atividades econômicas e a valores sentimentais e materiais. A praia, o ar
livre a tranquilidade, a pesca e a praça são os elementos que somam noventa por cento na
apreciação das pessoas e constituem aspectos desvinculados do turismo como atividade
econômica global. Segundo Augé (1994), o espaço do não-lugar não cria nem identidade
singular nem relação, mas, sim, solidão e similitude, o que acaba indo de encontro aos
elementos predominantes nos discursos anteriores, que esses elementos, de acordo com
Tuan (1980), refletem laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material numa
relação em que podem prevalecer desde o prazer do efêmero até a sensação de beleza,
igualmente fugaz, mas intensa. Para esse mesmo autor, a afeição duradoura pelo lar é, em
parte, resultado de experiências íntimas e aconchegantes, ou seja, os lugares íntimos são
aqueles onde prevalecem o carinho, onde as pessoas se tornam mais passíveis; assim lugar é
uma pausa no movimento. Os elementos apresentados no gráfico confirmam o que esse autor
supõe ser os sentimentos que se tem com o lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o
meio de se ganhar a vida.
Os elementos acima compõem um imaginário social em que as relações
predominantes versam sobre os laços de afetividade como a praça e a praia, espaços de lazer e
de encontro, bem como os elementos “ar livre” e “tranqüilidade” que constituem o avesso dos
espaços turistificados e urbanizados. Até mesmo a pesca, que surge, consiste na atividade
econômica nos modelos tradicionais, já que essas entrevistas foram realizadas com pescadores
antigos da comunidade. Assim, seria esse primeiro gráfico um indicativo da relação que a
comunidade estabelece com seu espaço de vivência. Ao serem questionados quanto aos
elementos que lhes causam aversão, obtivemos os seguintes resultados:
Figura
Os dados
da figura 32
turistificação como o responsável por todos esses elementos que constituem objeto de aversão
da comunidade. B
asta analisar
representa vinte e seis por cento das aversões,
trouxe uma urbanização anômala, originando áreas sem iluminação pública, e ruas sem
pavimentação, o que
soma trinta e dois por cento das aversões. Todas essas antipatias
anteriores relacionam-
se com as migrações de pessoas que buscavam melhores condições de
vida e emprego, acarretando na invasão dos manguezais para a cons
consequentemente,
a poluição. Assim
encontravam empregos
desemprego ao longo do restante do ano, outro elemento
comunidade. Todos ess
es elementos juntos, bem como a proliferação de festas
o turismo,
apontado por sete por c
da pesca,
com sete por cento de aversão
de
vido a degradação predominante nos espaços, o que vai de encontro a uma atividade
tradicional que permeia o imaginário social dessa comunidade.
o lugar,
o meio ambiente é
percebido como símbolo, ou seja, a pesca é um símbolo no rol das representações e no
imaginário dessa comunidade. Os treze por cento que compete
3%
7%
3%
O que a comunidade não gosta em
Figura
32 - O que a comunidade não gosta em Guaibim.
Fonte: Pesquisa realizada em abril de 2010.
Elaboração: Claudia Pires
da figura 32
se bem compreendidos iram apontar para o fenômeno da
turistificação como o responsável por todos esses elementos que constituem objeto de aversão
asta analisar
que
a poluição da praia, dos manguezais e das ruas, o que
representa vinte e seis por cento das aversões,
são resultados d
o processo de turistificação que
trouxe uma urbanização anômala, originando áreas sem iluminação pública, e ruas sem
soma trinta e dois por cento das aversões. Todas essas antipatias
se com as migrações de pessoas que buscavam melhores condições de
vida e emprego, acarretando na invasão dos manguezais para a cons
a poluição. Assim
,
essas levas de pessoas advindas de outros municípios
encontravam empregos
no verão, e no setor informal, o que acarreta uma onda de
desemprego ao longo do restante do ano, outro elemento
que gera insatisfação na
es elementos juntos, bem como a proliferação de festas
apontado por sete por c
ento dos entrevistados
como aspecto negativo
com sete por cento de aversão
,
também reflete as exigências dos órgãos ambientais,
vido a degradação predominante nos espaços, o que vai de encontro a uma atividade
tradicional que permeia o imaginário social dessa comunidade.
Porque, segundo
o meio ambiente é
um
veículo de acontecimentos emocionalmente fortes ou é
percebido como símbolo, ou seja, a pesca é um símbolo no rol das representações e no
imaginário dessa comunidade. Os treze por cento que compete
m à
desvalorização do lugar
26%
16%
16%
3%
3%
7%
3%
13%
7%
3%
O que a comunidade não gosta em
Guaibim.
Poluição
Dezemprego
Carência de Iluminação Pública
Festas
Violência
Proibição da pesca
Turismo
111
se bem compreendidos iram apontar para o fenômeno da
turistificação como o responsável por todos esses elementos que constituem objeto de aversão
a poluição da praia, dos manguezais e das ruas, o que
o processo de turistificação que
trouxe uma urbanização anômala, originando áreas sem iluminação pública, e ruas sem
soma trinta e dois por cento das aversões. Todas essas antipatias
se com as migrações de pessoas que buscavam melhores condições de
vida e emprego, acarretando na invasão dos manguezais para a cons
trução de favelas e
essas levas de pessoas advindas de outros municípios
no verão, e no setor informal, o que acarreta uma onda de
que gera insatisfação na
es elementos juntos, bem como a proliferação de festas
, chegaram com
como aspecto negativo
. A proibição
também reflete as exigências dos órgãos ambientais,
vido a degradação predominante nos espaços, o que vai de encontro a uma atividade
Porque, segundo
Tuan (1999),
veículo de acontecimentos emocionalmente fortes ou é
percebido como símbolo, ou seja, a pesca é um símbolo no rol das representações e no
desvalorização do lugar
O que a comunidade não gosta em
Dezemprego
Carência de Iluminação Pública
Proibição da pesca
representam
diretamente na ineficiência das políticas públicas estaduais e municipai
a comunidad
e de Guaibim de elementos infra
conseguinte, promovam
o turismo. Quanto aos três por cento de
essa estação
significar a estagnação do local, o desemprego, bem como co
de aversão por lugares parados.
Quando questionados quanto aos lugares que mais gostavam no distrito, eles deixaram
sua respostas viajar, conforme enuncia o pensamento de Tuan (1980) na afirmação de que a
apreciação da paisagem é mais p
incidentes humanos, podendo também perdurar além do efêmero qu
estético com
curiosidade científica. Assim
pode ocorrer por
uma revelação repentina
atrativas, pode
revelar aspectos que antes passavam desapercebidos. O gráfico
essa situação:
A
preferência dessas pessoas pela praia, casa e rua, Taquari, praça, orla e “todos
lugares”, que
juntos somam noventa e dois por cento,
locais de encontro, trocas de sentimento, contato físico, prazer, identidade, aspectos que
4%
Lugares preferidos da população
Praia
Casa e rua
Pista de skate
diretamente na ineficiência das políticas públicas estaduais e municipai
e de Guaibim de elementos infra
estruturais que dinamizem o espaço e
o turismo. Quanto aos três por cento de
rejeição
significar a estagnação do local, o desemprego, bem como co
de aversão por lugares parados.
Quando questionados quanto aos lugares que mais gostavam no distrito, eles deixaram
sua respostas viajar, conforme enuncia o pensamento de Tuan (1980) na afirmação de que a
apreciação da paisagem é mais p
essoal e duradoura quando está mesclada com lembranças de
incidentes humanos, podendo também perdurar além do efêmero qu
ando combinado
curiosidade científica. Assim
,
o despertar profundo para a beleza ambiental, que
uma revelação repentina
ou quem sabe por cenas simples e
revelar aspectos que antes passavam desapercebidos. O gráfico
Figura 33 - Lugares preferidos da população.
Fonte - Pesquisa realizada em abril de 2010.
Elaboração: Claudia Pires
preferência dessas pessoas pela praia, casa e rua, Taquari, praça, orla e “todos
juntos somam noventa e dois por cento,
demonstra
que todos esses espaços são
locais de encontro, trocas de sentimento, contato físico, prazer, identidade, aspectos que
30%
23%
13%
8%
9%
2%
2%
9%
Lugares preferidos da população
Praia
Orla
Taquari
Casa e rua
Atracadouro Praça
Pista de skate
Kiosk Todos os lugares
112
diretamente na ineficiência das políticas públicas estaduais e municipai
s em dotar
estruturais que dinamizem o espaço e
, por
rejeição
ao inverno, é por
significar a estagnação do local, o desemprego, bem como co
m os três por cento
Quando questionados quanto aos lugares que mais gostavam no distrito, eles deixaram
sua respostas viajar, conforme enuncia o pensamento de Tuan (1980) na afirmação de que a
essoal e duradoura quando está mesclada com lembranças de
ando combinado
o prazer
o despertar profundo para a beleza ambiental, que
ou quem sabe por cenas simples e
mesmo pouco
revelar aspectos que antes passavam desapercebidos. O gráfico
seguinte reflete
preferência dessas pessoas pela praia, casa e rua, Taquari, praça, orla e “todos
os
que todos esses espaços são
locais de encontro, trocas de sentimento, contato físico, prazer, identidade, aspectos que
Lugares preferidos da população
refletem a topofilia, que segundo Tuan
ambiente físico. O
item “todos os lugares”
dessas pessoas com seu espaço de vivência. Os oito por cento que restaram indicam inclusive
espaços de passagem, de compra e venda, bem como de uso mercadológico do espaços, que
são o atracadouro, localiza
do
localizadas na orla, que comercializam alimentos, bem como o espaço da praia, que para
sentar nas cadeiras e mesas da praia deve
antagoni
smo entre os lugares preferidos da população
cento preferem os lugares, enquanto apenas oito por cento optaram pelos não
segundo Augé, os
espaço
histórico. Assim, um não
-
transportes, trânsitos, comércio , lazer). Para esse mesmo autor
lugar nunca está ausente de qualquer lugar que seja.
Quanto
aos elementos con
apontaram
os seguintes porcentuais:
Esse fascínio
pelos elementos naturais como a praia, o Taquari, as belezas naturais, o
mangu
ezal e a imagem do mar remetem à
11%
O que é mais bonito em Guaibim.
Praia
Praça
Imagem do Mar
refletem a topofilia, que segundo Tuan
(1980) é elo afetivo entre
pessoa e o lugar e o meio
item “todos os lugares”
revela mais enfaticamente
a afeição e identificação
dessas pessoas com seu espaço de vivência. Os oito por cento que restaram indicam inclusive
espaços de passagem, de compra e venda, bem como de uso mercadológico do espaços, que
do
fora do distrito de Guaibim, e os
localizadas na orla, que comercializam alimentos, bem como o espaço da praia, que para
sentar nas cadeiras e mesas da praia deve
-
se consumir nos quiosques. Portanto
smo entre os lugares preferidos da população
, observa-
se que noventa e oito por
cento preferem os lugares, enquanto apenas oito por cento optaram pelos não
espaço
s que não podem
se definir nem como identitário, nem como
-
lugar seriam os espaços constituídos em relação a certos fins(
transportes, trânsitos, comércio , lazer). Para esse mesmo autor
,
possibilidade
lugar nunca está ausente de qualquer lugar que seja.
aos elementos con
siderados mais
bonitos existentes nos distrito
os seguintes porcentuais:
Figura 34 - O que é mais bonito em Guaibim.
Fonte - Pesquisa realizada em abril 2010.
Elaboração - Claudia Pires
pelos elementos naturais como a praia, o Taquari, as belezas naturais, o
ezal e a imagem do mar remetem à
valorização da natureza, enquanto perfeição e
47%
19%
14%
3%
3%
3%
O que é mais bonito em Guaibim.
Imagem do Mar
Belezas Naturais
Taquari
Manguezal
113
pessoa e o lugar e o meio
a afeição e identificação
dessas pessoas com seu espaço de vivência. Os oito por cento que restaram indicam inclusive
espaços de passagem, de compra e venda, bem como de uso mercadológico do espaços, que
quiosques,
que são as barracas
localizadas na orla, que comercializam alimentos, bem como o espaço da praia, que para
se consumir nos quiosques. Portanto
, em face do
se que noventa e oito por
cento preferem os lugares, enquanto apenas oito por cento optaram pelos não
-lugares, que são
se definir nem como identitário, nem como
lugar seriam os espaços constituídos em relação a certos fins(
possibilidade
s de o não-
bonitos existentes nos distrito
, as entrevistas
pelos elementos naturais como a praia, o Taquari, as belezas naturais, o
valorização da natureza, enquanto perfeição e
Manguezal
Kiosk
beleza. Isso demonstra um ritmo mais lento de experiência que
vai de encontro à
s sociedades mais avançadas
envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que prevaleceu no passado, quando o
ritmo da vida era mais lento e do qual as crianças ainda desfrutam. De acordo com Tuan
(1980),
A natureza produz sensações deleitáveis à criança, que tem mente aberta, indiferença
por si mesma e falta de preocupação pelas regras de belezas definidas. O adulto deve
aprender a ser complacente e descuidado como uma criança, se quiser desfrutar
poliformicamente da natureza. (TUAN,
Os
setenta e oito por cento
lazer, local de onde
se retira
seja,
elementos destinados a construção das casas, principalmente em tempo anterior a
turistificação. Isso remete
a afirmação de Tuan (1980)
deve ver algum valor em seu mundo. Os dezenove por cento
espaço de beleza se justifica por ser esse
construção de relações de amor e apego ao local
Neste gráfico
destacam
tornam Guaibim conhecid
o:
Figura
O que torna o distrito de Guaibim mais
beleza. Isso demonstra um ritmo mais lento de experiência que
,
de acordo com Tuan (1980)
s sociedades mais avançadas
e que os grupos
hippies
envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que prevaleceu no passado, quando o
ritmo da vida era mais lento e do qual as crianças ainda desfrutam. De acordo com Tuan
A natureza produz sensações deleitáveis à criança, que tem mente aberta, indiferença
por si mesma e falta de preocupação pelas regras de belezas definidas. O adulto deve
aprender a ser complacente e descuidado como uma criança, se quiser desfrutar
poliformicamente da natureza. (TUAN,
1980, p.111)
setenta e oito por cento
referentes
aos elementos naturais remetem a espaços de
se retira
alimento e suprime
ntos materiais como a madeira do mangue
elementos destinados a construção das casas, principalmente em tempo anterior a
a afirmação de Tuan (1980)
ao afirmar que
,
deve ver algum valor em seu mundo. Os dezenove por cento
que caracterizam
espaço de beleza se justifica por ser esse
espaço de uso e não de troca, destinado a encontros e
construção de relações de amor e apego ao local
.
destacam
-se os aspectos que, segundo
os entrevistados
o:
Figura
35 -
O que torna o distrito de Guaibim, mais conhecido.
Fonte - Pesquisa realizada em abril de 2010.
Elaboração: Claudia Pires
44%
9%
5%
3%
19%
16%
2% 2%
O que torna o distrito de Guaibim mais
conhecido.
Praia
Sua beleza
Atracadouro
Taquari
Comidas Típicas
Turismo
Hotéis
Artesanato
114
de acordo com Tuan (1980)
,
hippies
parecem procurar, o
envolvimento suave, inconsciente com o mundo físico, que prevaleceu no passado, quando o
ritmo da vida era mais lento e do qual as crianças ainda desfrutam. De acordo com Tuan
A natureza produz sensações deleitáveis à criança, que tem mente aberta, indiferença
por si mesma e falta de preocupação pelas regras de belezas definidas. O adulto deve
aprender a ser complacente e descuidado como uma criança, se quiser desfrutar
aos elementos naturais remetem a espaços de
ntos materiais como a madeira do mangue
, ou
elementos destinados a construção das casas, principalmente em tempo anterior a
,
para viver, o homem
que caracterizam
a praça como
espaço de uso e não de troca, destinado a encontros e
os entrevistados
, destacam o que
O que torna o distrito de Guaibim, mais conhecido.
O que torna o distrito de Guaibim mais
Praia
Sua beleza
Atracadouro
Taquari
Comidas Típicas
Turismo
Hotéis
Artesanato
115
Assim, os entrevistados consideram que Guaibim chama atenção das pessoas pela sua
praia (44%), pela sua gastronomia(19%), pelo próprio turismo(16%), elementos que acabam
chamando atenção de mais pessoas a conhecerem o lugar, numa experiência turística que,
segundo Augé (1999), permite a construção de uma relação fictícia entre o olhar e a paisagem.
Esse autor ainda afirma que se chama de “espaço” a prática dos lugares que definem
especificamente a viajem; ainda é preciso acrescentar que existem espaços onde o indivíduo
se experimenta como expectador, sem que a natureza do espetáculo lhe importe totalmente. Se
setenta e nove por cento dos elementos que conferem a Guaibim singularidade estão
atrelados a uma experiência turística, os demais, em menor amplitude, também remetem a
espaços turístico como o artesanato que é vendido como souvenirs , numa proposta de levar
um pedacinho do local ou, como coloca Tuan (1980), para o turista é indispensável a máquina
fotográfica, porque com ela pode provar a si mesmo e aos outros vizinhos que realmente
esteve-se no local; tais contatos com a natureza certamente pouco tem de autêntico. Assim
também se coloca a presença da rede hoteleira e do atracadouro que também remeteriam à
experiência dos não-lugares; que, de acordo com Augé (1999), os não-lugares são tanto as
instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens (o atracadouro liga o
aeroporto ao Morro de São Paulo) quanto os próprios meios de transportes ou grandes
centros comerciais ou ainda os campos de trânsitos prolongados onde estão estacionados os
refugiados do planeta.
Depreende-se, dessa maneira, que a relação da comunidade com Guaibim, quando
analisados os elementos quantitativos, reflete uma relação de afetividade dessa comunidade
com seu espaço, com a existência de um imaginário social, permeado de signos que marcam
seu cotidiano, os quais apareceram nas respostas das entrevistas como a praia, a Avenida
Taquari, as belezas naturais e o manguezal. Tais signos remetem aos símbolos que estão
presentes no seu cotidiano e à ideia de lugar dos moradores.
3.3 Desvelando olhares: análise dos mapas mentais.
A perspectiva cultural que valoriza a percepção possibilita analisar minuciosamente os
mapas mentais, bem como algumas obras literárias buscando identificar os signos que
compõem as representações dessa comunidade, assim como compreender a imagem de
Guaibim que norteia o espaço geográfico. Para o melhor entendimento de como isso ocorre,
elegeu-se alguns desenhos mais representativos para interpretar a linguagem implícita e/ou
explícita, buscando identificar os ícones mais recorr
“referência à soma total de todo conhecimento espacial que qualquer indivíduo carrega
consigo na forma de conhecimento tácito e imagens espaciais potenciais.” (PETCHNICH
apud KOZEL, 2007,p.121).
Ao se analisar os dese
linguagem é um veículo de significados e valores sociais e o signo, ao refletir a realidade,
manifesta a visão social da realidade, interpretada por alguém
antemão, esclarece-
se que os mapas foram aplicados à
adolescentes, adultos e idosos, que o objetivo do trabalho estava em conhecer a imagem
que essas pessoas tem de Guaibim.
As
pessoas adultas e idosas apresentam uma imagem de
turistificação até o presente momento,
co
mo relação ao período anterior à
prevalecem o ideal de Guaibim enquanto espaço turístic
paraíso tropical e/ou de local turístico.
Primeiramente serão analisados os mapas dos adultos e pessoas idosas, bem como os
comentários tecido nas entrevistas,
mapas foi mais difícil e,
por isso
por
que as pessoas idosas recusara
Figura
Fonte:
explícita, buscando identificar os ícones mais recorr
entes. Para Kozel
mapa mental soa como
“referência à soma total de todo conhecimento espacial que qualquer indivíduo carrega
consigo na forma de conhecimento tácito e imagens espaciais potenciais.” (PETCHNICH
apud KOZEL, 2007,p.121).
Ao se analisar os dese
nhos, é preciso ter em mente que,
segundo Kozel (2007)
linguagem é um veículo de significados e valores sociais e o signo, ao refletir a realidade,
manifesta a visão social da realidade, interpretada por alguém
,
pela sua vivência social.
se que os mapas foram aplicados à
s pessoas da comunidade priorizando
adolescentes, adultos e idosos, que o objetivo do trabalho estava em conhecer a imagem
que essas pessoas tem de Guaibim.
pessoas adultas e idosas apresentam uma imagem de
Guaibim que vai de antes da
turistificação até o presente momento,
todavia sobressaindo-
se um sentimento saudosista
mo relação ao período anterior à
chegada do Turismo. nos mapas dos adolescentes
prevalecem o ideal de Guaibim enquanto espaço turístic
o de panfletos e outdoors, como
paraíso tropical e/ou de local turístico.
Primeiramente serão analisados os mapas dos adultos e pessoas idosas, bem como os
comentários tecido nas entrevistas,
que
remetem a símbolos saudosistas.
por isso
, encontram-se
em número menor do que o dos adolescentes
que as pessoas idosas recusara
m-se a produzir os desenhos.
Figura
36: Mapa Mental. D. professora aposentada,
86 anos.
Fonte:
Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
116
mapa mental soa como
“referência à soma total de todo conhecimento espacial que qualquer indivíduo carrega
consigo na forma de conhecimento tácito e imagens espaciais potenciais.” (PETCHNICH
segundo Kozel (2007)
, a
linguagem é um veículo de significados e valores sociais e o signo, ao refletir a realidade,
pela sua vivência social.
De
s pessoas da comunidade priorizando
adolescentes, adultos e idosos, que o objetivo do trabalho estava em conhecer a imagem
Guaibim que vai de antes da
se um sentimento saudosista
chegada do Turismo. nos mapas dos adolescentes
o de panfletos e outdoors, como
Primeiramente serão analisados os mapas dos adultos e pessoas idosas, bem como os
remetem a símbolos saudosistas.
A construção desses
em número menor do que o dos adolescentes
,
86 anos.
117
Esse mapa mental traz símbolos que representam o período anterior à turistificação, o
que fica claro no depoimento a seguir:
“Antigamente era tudo muito atrasado, as coisas mudaram de uns vinte anos para cá, as ruas eram de
areia, sem calçamento, as casas eram de palha, sem energia, e a gente vivia da pesca. Era uma fartura, que
pegávamos tanto peixe que, como a gente não tinha onde guardar, aí perdíamos(...) e hoje falta peixe, ás vezes, a
gente compra mariscos em Valença.”( D. professora aposentada, 86 anos)
Os elementos predominantes nesse mapa retratam o período anterior à turistificação.
Nele não existem edificações de concreto, somente casas de palhas se assemelhando a ocas
indígenas, conforme indica o histórico do distrito na introdução. Os elementos da natureza
que predominam são a água, os peixes e árvores, num cenário em que prevalece os espaços
livres de edificações com casas esparsas, espaços livre de circulação demonstrando o período
em que se iniciava o povoamento do distrito. Enfim, os elementos naturais predominam sobre
os elementos humanos. Para ela, sobressai a ideia de paisagem natural. Segundo Tuan (1980),
o “selvagem” não pode ser definido objetivamente, sendo tanto um estado de espírito como
uma descrição da natureza. A natureza chegou a representar sabedoria, conforto espiritual e
santidade. Percebe-se, assim, um saudosismo por um tempo pretérito, que é refletido nos
signos que compõem o imaginário social, onde prevalecem o sentimento e a emotividade.
Observando e refletindo as transformações ocorridas no seu principal modo de produção, a
pesca, foi relatado que atualmente têm sido maiores as dificuldades na atividade pesqueira,
considerando, para tanto, o aumento da concorrência com imigrantes e a consequente
diminuição de pescados em função de problemas relacionados à poluição do mar. Quando
questionada se prefere o Guaibim de antes ou o de hoje ela respondeu:
“Por um certo modo, o de hoje. Tinha muito peixe, mas não tinha para onde vender (...)não tinha
estrada, era variante(...) vivemos melhor hoje, mas tem a violência, as maldades e o tráfico de drogas.” ( D.
professora aposentada, 86 anos)
Aqui se observa, concordando com Silva (1999) que, a cada nova ação de construção-
recostrução espacial, novas representações podem ser elaboradas e outras negadas. A cada
representação produzida, seus elementos condicionam modificações ou até mesmo
reproduzem ações novas na interação processual homem/meio.
Ao se analisar outro mapa mental
paisagem em que os símbolos presentes também se aproximam do ideário de natureza,
encontrado na imagem anterior.
Figura
Fonte:
Mais
uma vez observa
coqueirais,
com vegetação arbustiva, rasteira e gramíneas, basicamente uma vegetação
litorânea, com áreas livres de circulação e ausência de edificações. Para ela a representação de
Guaibim detém-
se no lugar natural e na paisagem natural. Entretan
sol,
elemento cosmológico
essa imagem apresenta símbolos que se enquadram na imagem veiculada nos c
propagandas midiáticas que promovem os lugares turísticos. Segundo Tuan (1980)
ambiente pode o ser a causa direta da topofilia, mas fornece o estímulo sensorial que, ao
agir como imagem percebida, forma às nossas alegrias e ideais. C
apesar de preferir o Guaibim de hoje, os símbolos que permeiam suas representações são de
um tempo em que “as casas eram de taipa, palha, tinha areia
(Moradora A,
76 anos, aposentada)
Para Tuan (198
0), aquilo a que decidimos prestar atenção, valorizar ou amar, é um
acid
ente do temperamento individual
Ao se analisar outro mapa mental
, da senhora R. de 42 anos,
deparamo
paisagem em que os símbolos presentes também se aproximam do ideário de natureza,
encontrado na imagem anterior.
Figura
37 - Mapa Mental; R. Dona de Casa. 42 anos.
Fonte:
Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
uma vez observa
-
se o predomínio de elementos da natureza com a presença de
com vegetação arbustiva, rasteira e gramíneas, basicamente uma vegetação
litorânea, com áreas livres de circulação e ausência de edificações. Para ela a representação de
se no lugar natural e na paisagem natural. Entretan
to, é notório a presença do
elemento cosmológico
, objeto de contemplação; contudo
não se pode perder o foco que
essa imagem apresenta símbolos que se enquadram na imagem veiculada nos c
propagandas midiáticas que promovem os lugares turísticos. Segundo Tuan (1980)
ambiente pode o ser a causa direta da topofilia, mas fornece o estímulo sensorial que, ao
agir como imagem percebida, forma às nossas alegrias e ideais. C
apesar de preferir o Guaibim de hoje, os símbolos que permeiam suas representações são de
um tempo em que “as casas eram de taipa, palha, tinha areia
[...]
vivia
76 anos, aposentada)
0), aquilo a que decidimos prestar atenção, valorizar ou amar, é um
ente do temperamento individual
e das forças culturais que atuam em determinada época.
118
deparamo
-nos com uma
paisagem em que os símbolos presentes também se aproximam do ideário de natureza,
se o predomínio de elementos da natureza com a presença de
com vegetação arbustiva, rasteira e gramíneas, basicamente uma vegetação
litorânea, com áreas livres de circulação e ausência de edificações. Para ela a representação de
to, é notório a presença do
não se pode perder o foco que
essa imagem apresenta símbolos que se enquadram na imagem veiculada nos c
artazes e
propagandas midiáticas que promovem os lugares turísticos. Segundo Tuan (1980)
, o meio
ambiente pode o ser a causa direta da topofilia, mas fornece o estímulo sensorial que, ao
agir como imagem percebida, forma às nossas alegrias e ideais. C
onforme a entrevista
apesar de preferir o Guaibim de hoje, os símbolos que permeiam suas representações são de
vivia
-se da pescaria [...]”
0), aquilo a que decidimos prestar atenção, valorizar ou amar, é um
e das forças culturais que atuam em determinada época.
Portanto, o sentimento saudosista permite que signos, signif
uma
realidade a partir da interpretação das pessoas e das suas vivências sociais.
É importante observar como essa imagem de Guaibim permeia inclusive as obras
literárias, re
forçando a percepção de Guaibim
se a im
agem de um Guaibim bucólico, um espaço “deserto”
turistificação.
“Como é bom contigo andar
Qual duas crianças felizes
Na passarela sem fim
Da deserta Praia de Guaibim,
Quando o dia amanhece
E a gente da vida esq
(Poesia de Aluisio Rodrigues Lobato, 2001)
Observa-se
uma relação de intimidade com o espaço físico,
lar
, lócus da intimidade e afeição.
podem ser manejadas,
cheiradas e provadas
cerram os olhos e,
com isso
segundo
Tuan (1980), lareira, refúgio, lar ou sede são lugares íntimos para
quer q
ue seja. Sua sensação e significância são temas de poesia e prosa.
Fonte
Portanto, o sentimento saudosista permite que signos, signif
icados e valores sociais
realidade a partir da interpretação das pessoas e das suas vivências sociais.
É importante observar como essa imagem de Guaibim permeia inclusive as obras
forçando a percepção de Guaibim
ligada a elementos da natureza. Aqui
agem de um Guaibim bucólico, um espaço “deserto”
,
semelhante ao período anterior
“Como é bom contigo andar
- me dizes-
Qual duas crianças felizes
Na passarela sem fim
Da deserta Praia de Guaibim,
Quando o dia amanhece
E a gente da vida esq
uece.”
(Poesia de Aluisio Rodrigues Lobato, 2001)
uma relação de intimidade com o espaço físico,
o
, lócus da intimidade e afeição.
Tuan (1983) considera que as coisas muito próximas a nós
cheiradas e provadas
e, assim,
nos momentos ínti
com isso
, se sentem à
vontade, mergulhados na ambiência do lugar.
Tuan (1980), lareira, refúgio, lar ou sede são lugares íntimos para
ue seja. Sua sensação e significância são temas de poesia e prosa.
Figura 38 - Mapa Mental. S, pescador, 35 anos.
Fonte
:Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
119
icados e valores sociais
reflitam
realidade a partir da interpretação das pessoas e das suas vivências sociais.
É importante observar como essa imagem de Guaibim permeia inclusive as obras
ligada a elementos da natureza. Aqui
, observa-
semelhante ao período anterior
à
o
qual é tomado como
Tuan (1983) considera que as coisas muito próximas a nós
nos momentos ínti
mos, as pessoas
vontade, mergulhados na ambiência do lugar.
Ainda
Tuan (1980), lareira, refúgio, lar ou sede são lugares íntimos para
as pessoas, onde
Nesse mapa,
apesar de não
esportiva, o surf
, o que demonstra que a paisagem
elemento natural utilizado pelo ser humano.
levantar algumas questões sobre relação
dependência, que é do mar que ele tira seu sustento e sua sobrevivência, ou quem sabe de
uso e desejo, como por exemplo a vontade de ser um surfista. Observa
em
concordando com Tuan
intimidade, amplamente reconhecidos pelas pessoas. Por exemplo, o
símbolo de boa vida. A experiência diz muito sobre o vivido, e a cultura é a responsável por
ditar o foco e a amplitude dess
constituir-
se numa experiência de liberdade.
coração, pode-
se colecionar inúmeras bugingagas, sem a discriminação percep
inteligência, mas p
revalecendo os desejos e elementos oníricos. Aqui
importância dos elementos afetivos e de desejos na construção do imaginário social.
Figura
Fonte
Os signos predom
inantes
imaginário social
remete para uma época
natureza. Apesar de Guaibim ser uma área continental
ilhotas numa concepção de paisagem criada e imaginada, com base nos elementos que ele tem
em Guaibim. A imaginação dele criou
a presença humana. Percebe
apesar de não
haver área edificada,
uma pessoa
, o que demonstra que a paisagem
, para ele,
tem seu foco no mar como um
elemento natural utilizado pelo ser humano.
Por ser
essa a percepção de um pescador
levantar algumas questões sobre relação
dele
com o mar, que pode ser de sujeição e
dependência, que é do mar que ele tira seu sustento e sua sobrevivência, ou quem sabe de
uso e desejo, como por exemplo a vontade de ser um surfista. Observa
-
se
concordando com Tuan
(1983), q
ue cada cultura possui seus próprios símbolos de
intimidade, amplamente reconhecidos pelas pessoas. Por exemplo, o
símbolo de boa vida. A experiência diz muito sobre o vivido, e a cultura é a responsável por
ditar o foco e a amplitude dess
e conhecimento. Portanto, para o pescador
se numa experiência de liberdade.
O mesmo autor
afirma que
se colecionar inúmeras bugingagas, sem a discriminação percep
revalecendo os desejos e elementos oníricos. Aqui
importância dos elementos afetivos e de desejos na construção do imaginário social.
Figura
39 - Mapa Mental. G. 52 anos. Vendedora.
Fonte
:Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
inantes
no mapa 39 são
as árvores, a terra e o
remete para uma época
antes da turistificação, com um olhar concentrado na
natureza. Apesar de Guaibim ser uma área continental
, tem-
se nesse mapa a ide
ilhotas numa concepção de paisagem criada e imaginada, com base nos elementos que ele tem
em Guaibim. A imaginação dele criou
,
na dimensão onírica, do sonho, paisagens
a presença humana. Percebe
-se a presença forte do elemento
natureza representando Guaibim.
120
uma pessoa
numa prática lúdica e
tem seu foco no mar como um
essa a percepção de um pescador
, pode-se
com o mar, que pode ser de sujeição e
dependência, que é do mar que ele tira seu sustento e sua sobrevivência, ou quem sabe de
se
, nesse mapa mental,
ue cada cultura possui seus próprios símbolos de
intimidade, amplamente reconhecidos pelas pessoas. Por exemplo, o
surf pode ser um
símbolo de boa vida. A experiência diz muito sobre o vivido, e a cultura é a responsável por
e conhecimento. Portanto, para o pescador
, o surf pode
afirma que
através do tato e do
se colecionar inúmeras bugingagas, sem a discriminação percep
tiva visual ou
revalecendo os desejos e elementos oníricos. Aqui
, o autor esclarece a
importância dos elementos afetivos e de desejos na construção do imaginário social.
as árvores, a terra e o
mar, mais uma vez o
antes da turistificação, com um olhar concentrado na
se nesse mapa a ide
ia de pequenas
ilhotas numa concepção de paisagem criada e imaginada, com base nos elementos que ele tem
na dimensão onírica, do sonho, paisagens
desertas sem
natureza representando Guaibim.
121
Segundo Tuan (1983), a simbologia da praia, impregnada no imaginário social, remete à
refletir na concepção de Sauer sobre os ambientes praianos:
[...] O mar especialmente a parte da praia que sofre a maré, apresentou a melhor
oportunidade para comer, fixar, reproduzir e aprender. Permitiu provisões
abundantes e diversas, contínuas e inesgotáveis. Foi um convite para o
desenvolvimento das habilidades manuais. Deu-lhe um nicho ecológico apropriado
para que a etologia animal pudesse transformar em cultura humana. (SAUER apud
TUAN, 1983, p.132)
A praia é rememorada por um modo de vida tradicional incorporado não tanto pela
recompensa econômica, mas pela satisfação obtida no estilo de vida tradicional e ancestral.
Figura 40 - Mapa mental; A, professora, 44 anos.
Fonte: Autora, trabalho de campo abril de 2010.
Nesse mapa, tem-se signos que até então não haviam surgido, como a presença do
Morro de São Paulo, refletindo assim uma paisagem contemplativa e dos desejo, que esse
destino turístico tem uma visibilidade nacional e internacional. A relação da midiatização e
turistificação do lugar reforça os desejos e a visão de mundo das pessoas. Observa-se, ainda, a
presença humana desempenhando uma atividade econômica tradicional e de subsistência. É
notória a pequenez humana ante o conjunto apresentado com uma natureza majestosa, mesmo
com todas as mudanças introduzidas pelo ser humano e até mesmo com a turistificação.
Fica claro o quanto as paisagens
(1980),
quanto mais laços ho
para essa
pessoa acaba sendo direcionada por sua bagagem cultural, mas também pelos seus
desejos, os quais acabam sendo fortemente influenciados pela mídia, que divulga Morro de
São Paulo como
um local moderno, que recebe turistas de todos os lugares,
vida noturna, ao contrário de Guaibim.
apenas uma parte do iceberg;
horizontes do espaço vivido.
Fonte
Essa figura 41
traz elementos significativos para a compreensão da paisagem de
Guaibim, que apresenta um equilíbrio
coqueiro,
símbolo turístico e imagem da tropicalidade, o mar e os peixes e seu uso pelo
explo
ração humana para a subsistência
dominação humana sob o espaço geográfico. Outro elemento novo consiste nas edificações,
chamando atenção a arquitetura que traz a imagem de uma igreja,
ma
s também de afetividade com o local.
servem para aumentar o senti
lealdade para com o lugar. Outro ponto significativo
que remetem à imagem de lar
Fica claro o quanto as paisagens
são pessoais à
medida que
quanto mais laços ho
uver
mais forte fica o vínculo emocional. A imagem de Guaibim
pessoa acaba sendo direcionada por sua bagagem cultural, mas também pelos seus
desejos, os quais acabam sendo fortemente influenciados pela mídia, que divulga Morro de
um local moderno, que recebe turistas de todos os lugares,
vida noturna, ao contrário de Guaibim.
Portanto, o comportamento pode ser con
apenas uma parte do iceberg;
para Kozel (2007), registrá-
lo é apenas uma abertura para
horizontes do espaço vivido.
Figura 41 - Mapa Mental. N,15, estudante.
Fonte
- Autora- trabalho de campo abril de 2010.
traz elementos significativos para a compreensão da paisagem de
Guaibim, que apresenta um equilíbrio
entre elemento
s naturais e humanizados;
símbolo turístico e imagem da tropicalidade, o mar e os peixes e seu uso pelo
ração humana para a subsistência
e para
atividade econômica, demonstrando assim a
dominação humana sob o espaço geográfico. Outro elemento novo consiste nas edificações,
chamando atenção a arquitetura que traz a imagem de uma igreja,
como
s também de afetividade com o local.
De acordo com Tuan
(1983), esses sinais visíveis
servem para aumentar o senti
mento de identidade das pessoas e
incentivam a consciência e a
lealdade para com o lugar. Outro ponto significativo
nessa
paisagem seria
que remetem à imagem de lar
e lugar, espaço cotidiano e de relações afetivas. Para esse
122
medida que
, como lembra Tuan
mais forte fica o vínculo emocional. A imagem de Guaibim
pessoa acaba sendo direcionada por sua bagagem cultural, mas também pelos seus
desejos, os quais acabam sendo fortemente influenciados pela mídia, que divulga Morro de
um local moderno, que recebe turistas de todos os lugares,
e apresenta uma
Portanto, o comportamento pode ser con
siderado
lo é apenas uma abertura para
os
traz elementos significativos para a compreensão da paisagem de
s naturais e humanizados;
tem-se o
símbolo turístico e imagem da tropicalidade, o mar e os peixes e seu uso pelo
atividade econômica, demonstrando assim a
dominação humana sob o espaço geográfico. Outro elemento novo consiste nas edificações,
como
símbolo hegemônico,
(1983), esses sinais visíveis
incentivam a consciência e a
paisagem seria
a presença de casas
e lugar, espaço cotidiano e de relações afetivas. Para esse
mesmo
autor, o valor do lugar depende
é um local íntimo e real.
Assim,
Pensamos na casa como
evocadas não tanto pela totalidade do prédio, que somente pode ser visto, como
pelos seus elementos e mobiliário, que podem ser também tocados e cheirados
este certamente é o significado do lar
por todos os dias anteriores. (TUAN,
A presença d
o pássaro remete a ide
Guaibim não é visto como luga
circular livremente. Observa
excelência, que
, apesar da existência de
também
é um mbolo. Aqui se percebe que as representações de mun
produção desses objetos culturais que, reunidos no tempo e no espaço, transformam a
paisagem em lugar. A
ssim
reproduzem-se, regenera
m
mundo
vivido é cheio de significados
intersubjetividade.
Figura
Fonte:
autor, o valor do lugar depende
da intimidade de uma relação humana particular, o lar
Assim,
Pensamos na casa como
lar e lugar, mas as imagens atraentes do passado são
evocadas não tanto pela totalidade do prédio, que somente pode ser visto, como
pelos seus elementos e mobiliário, que podem ser também tocados e cheirados
este certamente é o significado do lar
- u
m lugar em que a cada dia é multiplicado
por todos os dias anteriores. (TUAN,
1983 . p.160)
o pássaro remete a ide
ia de liberdade. Daí pode
Guaibim não é visto como luga
r degradado e turistificado, ma
s como um local em que
circular livremente. Observa
-se, então,
que o próprio distrito é um centro de significados por
, apesar da existência de
muitos símbolos visíveis, a paisagem do distrito
é um mbolo. Aqui se percebe que as representações de mun
produção desses objetos culturais que, reunidos no tempo e no espaço, transformam a
ssim
, como sugere Corrêa
(2001), as representações não se esgotam,
m
-se, renovam-se, assim como as sociedad
es.
vivido é cheio de significados
e
faz parte do “mundo social e cultural” repleto de
Figura
42 - Mapa mental. L, marisqueira, 47 anos
Fonte:
Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
123
da intimidade de uma relação humana particular, o lar
lar e lugar, mas as imagens atraentes do passado são
evocadas não tanto pela totalidade do prédio, que somente pode ser visto, como
pelos seus elementos e mobiliário, que podem ser também tocados e cheirados
[...]
m lugar em que a cada dia é multiplicado
ia de liberdade. Daí pode
-se interpretar que
s como um local em que
se pode
que o próprio distrito é um centro de significados por
muitos símbolos visíveis, a paisagem do distrito
é um mbolo. Aqui se percebe que as representações de mun
do são construídas na
produção desses objetos culturais que, reunidos no tempo e no espaço, transformam a
(2001), as representações não se esgotam,
es.
Dessa maneira, o
faz parte do “mundo social e cultural” repleto de
124
Essa paisagem também mostra a presença dos elementos edificados , os quais são
indicativos de um lugar, que nele há casas, espaço de morada e não de estadia, ou seja, lar,
lugar de intimidade, num processo que, de acordo com Tuan (1983), o sentimento se
desenvolve a partir da familiaridade. Para Kozel (2007), o espaço referenda uma relação
estabelecida pelo ser humano emocionalmente, de acordo com as suas experiências; assim, o
espaço não é somente percebido, sentido ou representado, mas, também, vivido. As imagens
que as pessoas constroem estão impregnadas de recordações, significados e experiências. Essa
afeição desperta os sentimentos mais profundos do ser humano e pode, inclusive, virar arte.
Ainda se pode visualizar as vias de circulação e deslocamento dando a ideia de locais de
passagem com vias pavimentadas, que podem sinalizar um local turístico, urbanizado com
pessoas circulando. Observa-se ainda a presença de elementos naturais, mas no plano da
estética do espaço. Nesse sentido é que Tuan (1980) considera que uma das funções da arte
literária é dar visibilidade a experiências íntimas, inclusive às de lugar.
“Tudo é poesia na Praia de Guaibim.
É muito fácil ser poeta assim.
Tem poesia até no escuro céu azul
E no brilhante Cruzeiro do Sul
Que- com destaque, é daqui visto,
Indicando o caminho de Cristo
(...)
E cantar matinal do passarinho,
Que vindo do coqueiral vizinho,
Me faz de procurar co’insistência?
Pois, por deliciosa coincidência,
O seu trinado lindo e sutil
É o nosso combinado assobio.
É poesia o desfilar incomum,
Na praia, de dezenas de guaiamuns
Que só ao rude nativo não choca.
Sabe que é a “andada da patachoca”.
A fêmea que vai a “sapupa” lavar
Para o amor, quando ao charco voltar.
(...)
(Poesia de Aluisio Rodrigues Lobato, 2001)
O
poema acima consiste numa leitura poética da Praia de Guaibim enquanto lugar,
através de uma visão contemplativa. Nesse poema fica
relação de afetividade do autor do poema com o lugar Guaibim. Assim ele afirma que em
Guaibim tudo é poesia, demonstrando que esse local é um mundo
mundo de fatos e negócios, mas um mundo de valores, um mundo prático. Nesse espaço el
reconhece símbolos que são compartilhados, embora cada in
singular
mente e pessoal. Quando ele aborda que “na
ao rude nativo não choca. Sabe que é a andada da patachoca”, ele se refere a um fe
natural que é a andada da Patachoca,
autor da poesia
utiliza uma linguagem que é compreendida somente ao nativo que conhece os
símbolos utilizados nesse trecho.
fêmea colocar os ovos na praia. Observa
um fenômeno natural que consiste
remete a um mundo-
vivido cultural, comum a quem vive nes
assim,
o guaiamum, o céu estrelado, a deserta praia, o coqueiral, o passarinho, fazem parte do
mundo social e cultural, repleto de intersubjetividade
nos é dado e está pré-
determinado
tematicamente, pois na experiência estão inter
Fonte:
Para o amor, quando ao charco voltar.
(Poesia de Aluisio Rodrigues Lobato, 2001)
poema acima consiste numa leitura poética da Praia de Guaibim enquanto lugar,
através de uma visão contemplativa. Nesse poema fica
m claros
elementos que remetem a
relação de afetividade do autor do poema com o lugar Guaibim. Assim ele afirma que em
Guaibim tudo é poesia, demonstrando que esse local é um mundo
-
vivido, não apenas um
mundo de fatos e negócios, mas um mundo de valores, um mundo prático. Nesse espaço el
reconhece símbolos que são compartilhados, embora cada in
divíduo possa construí
mente e pessoal. Quando ele aborda que “na
praia, de dezenas de guaiamuns
ao rude nativo não choca. Sabe que é a andada da patachoca”, ele se refere a um fe
natural que é a andada da Patachoca,
a fêmea do Guaiamum, que vai à
utiliza uma linguagem que é compreendida somente ao nativo que conhece os
símbolos utilizados nesse trecho.
N
o trecho a fêmea que vai a sapupa
fêmea colocar os ovos na praia. Observa
-se, dessa maneira,
uma visão emotiva e simbólica de
um fenômeno natural que consiste
na
reprodução do Guaiamum. Para Kozel (2007), isso
vivido cultural, comum a quem vive nes
se espaço, cheio de significados ;
o guaiamum, o céu estrelado, a deserta praia, o coqueiral, o passarinho, fazem parte do
mundo social e cultural, repleto de intersubjetividade
s, diferindo-
se do “mundo natural” que
determinado
antes de nascermos. Esses
mundos se distinguem apenas
tematicamente, pois na experiência estão inter
rrelacionados.
Figura 43 - Mapa Mental. T,estudante, 17 anos.
Fonte:
Autora. Trabalho de campo, abril de 2010.
125
poema acima consiste numa leitura poética da Praia de Guaibim enquanto lugar,
elementos que remetem a
uma
relação de afetividade do autor do poema com o lugar Guaibim. Assim ele afirma que em
vivido, não apenas um
mundo de fatos e negócios, mas um mundo de valores, um mundo prático. Nesse espaço el
e
divíduo possa construí
-lo
praia, de dezenas de guaiamuns
que
ao rude nativo não choca. Sabe que é a andada da patachoca”, ele se refere a um fe
nômeno
a fêmea do Guaiamum, que vai à
praia reproduzir. O
utiliza uma linguagem que é compreendida somente ao nativo que conhece os
o trecho a fêmea que vai a sapupa
lavar”, ele se refere à
uma visão emotiva e simbólica de
reprodução do Guaiamum. Para Kozel (2007), isso
se espaço, cheio de significados ;
o guaiamum, o céu estrelado, a deserta praia, o coqueiral, o passarinho, fazem parte do
se do “mundo natural” que
mundos se distinguem apenas
Nessa imagem,
o coqueiro
turísticos presente nos panfletos e outdoors que divulgam esses locais. Apesar da presença de
elementos naturais como pássaros e o mar, essa imagem
transparecer a
presença do turismo, como pela presença
atividade econômica e a mercantilização do espaço.
quando destaca que
o sujeito se entrega às manipulações desfrutando a própria alienação e a
dos outros.
Fonte:
Nessa representação, é
objeto de desejo dos
adolescentes entrevistados, reforçando a imagem de Guaibim
periférica, espaç
o de passagem e lugar turístico
a turistificação do espaço. Nela observa
co
mo um local turístico, enaltecendo inclusive o acarajé que é um símbolo da especificidade
cultural da Bahia. De acordo com Carlos
contempla a vitória da mercadoria que produz cenários ilusórios, vigiados, con
aparência da liberdade. E
o receptor do processo representativo apreende aspectos do objeto
conferindo-
lhe maior ou menor relevância
Para Kozel (2007),
se por um lado conhece
o coqueiro
se configura como
elemento publicitário dos lugares
turísticos presente nos panfletos e outdoors que divulgam esses locais. Apesar da presença de
elementos naturais como pássaros e o mar, essa imagem
apresenta
presença do turismo, como pela presença
do
quiosque, que expressa uma
atividade econômica e a mercantilização do espaço.
Isso remete as ide
o sujeito se entrega às manipulações desfrutando a própria alienação e a
Figura 44 - Mapa mental. F. 15 anos estudante.
Fonte:
Autora- trabalho de campo abril de 2010
Nessa representação, é
perceptível como o
Morro de São Paulo aparece como um
adolescentes entrevistados, reforçando a imagem de Guaibim
o de passagem e lugar turístico
. Essa paisagem é a que mais consegue mostrar
a turistificação do espaço. Nela observa
-se a presença do banhista,
apresentando Guaibim
mo um local turístico, enaltecendo inclusive o acarajé que é um símbolo da especificidade
cultural da Bahia. De acordo com Carlos
(1999),
nesses lugares turísticos
contempla a vitória da mercadoria que produz cenários ilusórios, vigiados, con
o receptor do processo representativo apreende aspectos do objeto
lhe maior ou menor relevância
, atribuindo-lhe
um duplo vetor de conhecimento.
se por um lado conhece
-
se o objeto pelo modo como é representado, por
126
elemento publicitário dos lugares
turísticos presente nos panfletos e outdoors que divulgam esses locais. Apesar da presença de
símbolos que deixam
quiosque, que expressa uma
Isso remete as ide
ias de Kozel(2007)
o sujeito se entrega às manipulações desfrutando a própria alienação e a
Morro de São Paulo aparece como um
adolescentes entrevistados, reforçando a imagem de Guaibim
como praia
. Essa paisagem é a que mais consegue mostrar
apresentando Guaibim
mo um local turístico, enaltecendo inclusive o acarajé que é um símbolo da especificidade
nesses lugares turísticos
, o espetáculo
contempla a vitória da mercadoria que produz cenários ilusórios, vigiados, con
trolados sob
o receptor do processo representativo apreende aspectos do objeto
um duplo vetor de conhecimento.
se o objeto pelo modo como é representado, por
127
outro, a resposta ao desafio de representação obriga o indivíduo a re-trabalhar todas as
informações assimiladas pela sua história pessoal.
Figura 45 - Mapa mental; M.15 anos. Estudante.
Fonte: Autora, trabalho de campo abril de 2010.
Nessa imagem fica nítida a presença dos signos da tropicalidade divulgados pela
mídia, o coqueiro, o sol e o mar, dando a esse desenho o aspecto de um panfleto publicitário.
Apesar disso, percebe-se um reforço à idéia topofílica de “meu lugar”, ao se observar que a
palavra Guaibim aparece no barco. Para Kozel (2007), o espaço passa a ser entendido como
entidade verbalizada pela linguagem, cujos signos são construídos socialmente. A palavra
Guaibim emerge como um grito do quanto esse espaço significa para essa pessoa, como local
de afetividade, de “meu lugar”. Isso consiste num elemento revelador do elo afetivo com o
local explicitado, e a importância da praia, como elemento topofílico. Muito além de sua
função óbvia que é a atividade pesqueira, culturalmente costuma-se combinar as atividades de
lazer com as necessidades de sobrevivência, ao mesmo tempo que as pessoas pescavam,
contemplavam o mar e desfrutavam de longas conversas. Ou seja, a praia acaba tendo um
valor utilitário, mas também simbólico. Percebe-se na palavra “Guaibim”, do barquinho, uma
manifestação específica da topofilia que evidencia como o morador experiencia a paisagem,
com emoções e o “pensamento tão colorido”.
128
Figura 46 - Mapa mental. W.14 anos estudante.
Fonte: Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
Nesse mapa fica claro a percepção de alguém que reside nesse espaço e que o
experiencia em suas mais variadas formas. A imagem de um pescador entre duas lanchas
demonstra a turistificação do espaço e, por conseguinte, a submissão desse indivíduo a
pessoas que utilizam Guaibim como espaço turístico. Mas a praia, embora iconizado pela
atividade turística, preserva, ainda, o conteúdo e o significado tradicionais para os moradores.
Visualiza-se que a praia é um território preferido pelos moradores nativos do lugar. O mapa
mental acima acaba se revelando como uma cartografia cultural. Já que reflete o indivíduo no
contexto social e cultural no qual ele estar inserido. Os sujeitos estão penetrados, onde
também modelam suas identidades, personalidades e maneiras de ver esse espaço criando um
imaginário social. Tem-se assim uma relação visível do morador de Guaibim com o
sentimento de lugar e paisagem.
129
Figura 47 - Mapa mental. J, 15 anos, estudante, trabalha no setor informal durante o verão.
Fonte: Autor. Trabalho de campo abril de 2010.
É notória apresença do Sol em praticamente todas as imagens por ser esse um dos
ícones mais representativos da natureza e a tropicalidade. Nessa imagem, o mar se apresenta
como coadjuvante já que o mais importante é a malha urbana de Guaibim. Percebe-se, ainda,
a presença da praça que representa o espaço de encontro e afetividade. Para Carlos(1999),
O sujeito pertence ao lugar como este a ele, pois a produção do lugar se liga
indissociavelmente à produção da vida. No lugar emerge a vida, posto que é que
se dá a unidade da vida social. Cada sujeito se situa num espaço concreto e real onde
se reconhece ou se perde, usufrui e modifica, posto que o lugar tem usos e sentidos
em si. Tem a dimensão da vida, por isso o ato de produção revela o
sujeito.(CARLOS, 1999, p. 29)
Ou seja, aquele que experiencia a paisagem e mora, olha a paisagem e sabe tudo
sobre o local, porque diz respeito a sua vida e seu sentido. Nessa imagem fica clara a ideia de
espaço de circulção que ela não apresenta casas, mas não deixa de refletir espaços
marcados e remarcados, nomeados, natureza transformada e, principalmente, prática social,
resultado de acumulação cultural.
Figura 48 - Mapas Mentais.
M e C , 14 anos
Fonte:
Essa duas imagens se distinguem das demais por representarem Guaibim
enfaticamente como
local turístico.
consistem de infraestrutura para atividade econômica.
que o espaço geográfico se (re)
identidades ao que
vão corresponder
a presença de signos que não surgiram nos mapas anteriores
turismo e seu caráter mercadológico que geralmente prevalecem nos não
Augé. Nela fica clara a
turistificação com a produção
M e C , 14 anos
, estudantes e durante o verão desenvolve
Fonte:
Autora. Trabalho de campo abril de 2010.
Essa duas imagens se distinguem das demais por representarem Guaibim
local turístico.
Observa-
se que nelas prevalecem as edificações que
consistem de infraestrutura para atividade econômica.
Assim, conforme
que o espaço geográfico se (re)
-constrói ou se (re)or
ganiza os sujeitos sociais criam novas
vão corresponder
a
novas representações sociais. Observa
a presença de signos que não surgiram nos mapas anteriores
,
principalmente os ligados ao
turismo e seu caráter mercadológico que geralmente prevalecem nos não
turistificação com a produção
de espaços de diversão, encontro e
130
m atividades informais.
Essa duas imagens se distinguem das demais por representarem Guaibim
mais
se que nelas prevalecem as edificações que
Silva (1999) à medida
ganiza os sujeitos sociais criam novas
novas representações sociais. Observa
-se nesses mapas
principalmente os ligados ao
turismo e seu caráter mercadológico que geralmente prevalecem nos não
-lugares, definido por
de espaços de diversão, encontro e
131
sonoridade, mas com a presença da mercantilização através das barracas de praia, e dos locais
em que tem som ao vivo, onde as pessoas pagam para usufruir desse espaço. Tal cenário
inclusive vai de encontro à ideia de tranqüilidade presente em diversos discursos e imagens.
Segundo Carlos (1999), o não-lugar não é a simples negação do lugar, mas uma outra
coisa, produto de relações outras; diferencia-se do lugar pelo seu processo de constituição; é,
nesse caso, produto da indústria turística que com sua atividade produz simulacros por meio
da não-identidade, e produz comportamentos e modos de apropriação desses lugares. Os
elementos desenhados dão a ideia de que podem representar qualquer outro local turístico
litorâneo, uma vez que essas imagens são maciçamente veiculadas e quase homogeneizadas
quando se referem aos espaços de lazer no modelo “sol e praia”. Nesses mapas mentais, aqui
analisados, visualiza-se uma imagem que caracteriza qualquer destino turístico praiano;
portanto, essa mesma imagem pode representar Morro de São Paulo, Ilhéus, Salvador, ou seja
é, a praia apropriada para mercantilização. Nesse sentido, Carlos (1999) afirma que a
característica do espaço produzido é a homogeneidade, com a ausência dos elementos
identitários. Esse mapa deixa transparecer as imagens que mais são exploradas, são os ícones
mais marcantes da paisagem de Guaibim, para esses jovens.
Ainda de acordo com essa autora, como a indústria, o turismo não parece criar
perspectivas que se abririam para o conhecimento do lugar ou para o lazer como atividade que
possam se impor num cotidiano fragmentado ou mesmo alienado, com perspectiva de
superação das alienações impostas pelo cotidiano.
O que mais chama atenção nesses dois últimos mapas é que eles foram produzidos por
adolescentes que durante o verão desenvolvem atividade de ambulantes e que, por
conseguinte, estão diretamente envolvidos com a atividade econômica. Durante a coleta das
entrevistas um deles afirmou:
“Eu não gosto do verão. Eu tenho que trabalhar, fico muito cansado. Não posso me divertir.(....) (M.15
anos. Estudante e ambulante durante o verão.)
Enfim, o imaginário desse adolescente é constituído pelos símbolos mercadológicos de
apropriação do espaço, que consiste no local onde ele tem que estar durante as férias, para
ajudar no sustento da família. Portanto, apesar de Guaibim ser um espaço turistificado, a
forma como essa atividade econômica vem se desenvolvendo não ocasionou uma completa
descaracterização da paisagem. O que predomina é uma afeição profunda, embora
inconscintemente formada pela familiaridade e tranqüilidade, com recordações de sons e
132
perfumes, de atividades comunais e prazeres simples acumulados ao longo do tempo, como
lembraria Tuan (1983), elementos que tornam Guaibim um lugar. Ainda que esse espaço
tenha sido turistificado, alí predominam relações de apego, afeição e familiaridade da
comunidade com a paisagem, o que ficou claro ao se analisar os mapas mentais e as
entrevistas. É um Guaibim íntimo para essas pessoas. Os discursos apontaram para um lugar
que pode ser saboreado, “quando nós aproveitávamos para comer ‘gairu’ uma frutinha típica,
que não existe mais” (D.E. 86anos), cheirado ao sentir a maresia que impregna o lugar,
ouvido no barulho das ondas e no canto dos pássaros, sentido em toda sua complexa
simplicidade, através de um sentimento topofílico.
133
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Este trabalho conseguiu reunir respostas àquelas indagações iniciais que nortearam
toda a pesquisa. Entretanto, de forma alguma julgo encerrado as discussões sobre o tema, uma
vez que os resultados obtidos acabam suscitando novas questões percebidas e, dentro do
possível, identificadas, mas não analisadas pelas contingências de prazo e limites no recorte
estabelecido para o objeto de estudo. O desenvolvimento da reflexão em torno do tema
a
paisagem e o lugar no contexto da turistificação de Guaibim, uma leitura a partir das políticas
públicas e da comunidade local, revelou aspectos apriorísticos referentes à problematização, o
que permitiu a contemplação do tema central, mas permitiu, ainda, que novas questões
potencialmente interessantes se revelassem.
Os estudos sobre o espaço vivido oferecem perspectivas novas sobre a variedade do
mundo e o modo como ele é percebido e valorizado. A discussão do tema se deu tão logo se
lançou mão de instrumentos metodológicos qualitativos e quantitativos, que permitiram
analisar não a paisagem, mas também as variadas formas de interpretar os simbolismos e
representações existentes na paisagem. Diante desse quadro, a percepção da comunidade sob
seu espaço de vivência emerge como um elemento fundamental para a compreensão da
organização espacial, bem como para pensar alternativas para seu planejamento. A análise das
políticas públicas que direcionam o turismo nas diversas escalas governamentais, (federal,
estadual e municipal) permitiram tecer um quadro claro do quanto essas esferas não dialogam,
o que acaba interferindo diretamente na realidade das diversas localidades do Litoral Sul e,
mais especificamente, no caso do distrito de Guaibim. Refletiu-se ainda sobre a forma como
o turismo é proposto a essas comunidades como única alternativa de desenvolvimento sem,
contudo, estarem preparadas para desenvolver essa atividade, não existindo, uma política de
planejamento preventivo em vista dos impactos advindos com a atividade econômica. Isso se
deve, sobremaneira, ao modelo de turismo proposto pelas próprias agências governamentais
com um caráter mercadológico e empresarial, que acaba excluindo a parcela mais
significativa dessas localidades, a comunidade local. Paralelo a todo esse contexto, pensar as
consequências concretas do processo de turistificação sob o espaço geográfico, deu-se a partir
de um mergulho profundo na alma dessas localidades, ou seja, analisar de perto o que a
turistificação trouxe e, no caso em estudo, conhecer a fundo a paisagem de Guaibim, a partir
das mudanças que se sucederam depois que se transformou em um destino turístico. Atrelado
a isso procurou-se descortinar como os planejamentos estadual e municipal veem o turismo
134
para Guaibim no momento atual. E, enfim, compreender como a população de Guaibim se
comporta nesse contexto, onde deve desempenhar o papel de protagonista.
Diante das reflexões que foram construídas até o presente momento e do diálogo com
os dados obtidos em trabalho de campo realizados, pode-se considerar que o turismo
consiste num fenômeno que exerce um papel relevante na organização dos espaços, em
diferentes níveis organizacionais. Ou seja, um espaço que passou pelo processo de
turistificação necessariamente terá seu espaço modificado abruptamente, o que lhe conferirá
uma nova “cara”, uma nova paisagem, em função da atividade econômica que passará a se
desenvolver ali. Entretanto, nem sempre, ou melhor, na maioria das vezes esse processo não é
precedido de um planejamento e de uma avaliação visando identificar a vocação do lugar,
bem como analisar se a inserção dessa atividade será viável àquela localidade. É justamente
nesse contexto que se insere as ações das diversas escalas governamentais que geralmente
propõem um modelo turístico desconsiderando a realidade das comunidades que serão
atingidas e, principalmente, não avaliando o impacto cultural, social, espacial e ambiental da
atividade, além de não dialogar com essas populações. O que se tem são políticas públicas de
turismo pensadas de forma verticalizada, as quais desconsideram as especificidades dessas
diversas localidades e que, devido o caráter meramente empresarial e mercadológico,
dificilmente acarretam melhoria de vida à comunidade. A partir desse cenário, tem-se um
padrão de turismo voltado a favorecer apenas aos grandes agentes hegemônicos, que
geralmente se instalam nessas localidades usufruindo de baixos impostos, mão-de-obra barata
e certeza de lucro. Cabe aqui abrir um parêntese para refletir sobre até que ponto esses
programas federais, estaduais e municipais dialogam entre si, quando o que se tem são
propostas totalmente desconexas com objetivos diferenciados, que acabam incidindo
diretamente nessas localidades, como o que aconteceu com uma verba do PRODETUR-NE,
para a construção da orla de Guaibim, que foi perdida por expirar o prazo de planejamento e
execução, ficando assim o distrito prejudicado. E, muitas vezes, a comunidade nem toma
conhecimento dessas questões.
A análise sobre as políticas públicas de turismo (estadual e municipal) revelou que
elas não convergiam para o mesmo objetivo de dotar esses espaços para receber a atividade
econômica, nem de planejar a atividade. O que se percebeu foram objetivos que divergiam ao
longo dos planos. Assim, o Plano Nacional de Turismo propunha um turismo que valorizasse
a participação local e as especificidades dos espaços; no entanto, ele foi concebido de forma
fechada e centrada em objetivos mercadológicos. Já o PRODETUR foi pensado sem
135
considerar o olhar das diversas comunidades, quanto ao que elas consideram importante,
assim como o programa “elegeu” espaços para receberem investimentos (como Morro de São
Paulo) em detrimento de outros considerados “menos atrativos” (como Guaibim). Além disso,
esse programa não dialoga em momento algum com o PDDU, e acontecem problemas
como a perda da Verba para a construção da orla. Portanto, qual o papel dessas políticas
públicas se elas não convergem para o mesmo objetivo? Esse foi um dos questionamentos
que surgiram ao longo da pesquisa.
Sem um planejamento institucionalizado, o espaço de Guaibim turistificou-se e
paralelo a esse processo adveio também um série de questões que precisavam ser resolvidas e
direcionas, até porque esse espaço não estava preparado para essa atividade econômica, até
então era uma pequena vila de pescadores. Assim, cresceu o destino turístico Guaibim, e com
ele os problemas de saneamento básico, destinação do lixo, iluminação pública, construção e
pavimentação de vias de acesso, problemas ambientais e de saúde, além dos problemas
urbanísticos. Ou seja, mediante a turistificação, a paisagem de Guaibim foi transformada a
partir da inserção de equipamentos e bens voltados a dinamizar a atividade econômica nesse
espaço. O que chama atenção aqui é que a paisagem produzida não foi precedida de um
projeto, um plano, acarretando um espaço desorganizado que, por si só, enuncia
desigualdades sociais e espaciais que refletem as contradições dessa paisagem. Portanto, é
inegável que a paisagem de Guaibim expõe relações que podem até passar despercebidas por
um simples olhar, mas se bem analisado pode-se ver além, das formas materiais, um local
que é preenhe de significados e contradições. Ou seja, a paisagem não é neutra, mas carregada
de representações, de simbolismos, intencionalidades, interesses e ideologias que muito nos
dizem sobre a vida do lugar. Apesar desse ser um destino turístico, ele apresenta muitos
elementos que refletem um espaço que é histórico, relacional, bem diferente dos não-lugares
conceituados por Augé (1994). Os agentes sociais estabelecem relações variadas com o
espaço de Guaibim, o que repercute diretamente na leitura que eles fazem da paisagem. Por
conseguinte, os comerciantes, donos de hotéis e pousadas leem a paisagem de Guaibim, como
destino turístico, com potencial para dinamizar a atividade econômica. os moradores, veem
Guaibim para além de um destino turístico. Para essa parcela da comunidade, o Guaibim é um
lugar onde se estabelece valor, sentimento, intimidade, um espaço em que o valor de uso
supera o de troca.
O que se percebe de peculiar no turismo exercido em Guaibim é que ele consegue não
ter a amplitude dos pontos turísticos consolidados como Morro de São Paulo e Porto Seguro,
136
os quais são bastante descaracterizados devido o turismo de massa e acabam tendo “cara” de
grande centro urbano. Esse elemento peculiar permite em Guaibim uma importante reflexão a
partir de uma abordagem humanística, reveladora de elementos que nos levam a pensar que a
estruturação e a organização do espaço permitem um conhecimento da essência do lugar,
visto que alí reflete a cultura em suas mais variadas faces, seja nas suas formas e até mesmo
em suas funções. Foi justamente seguindo essa linha de pensamento que se propôs considerar
que o planejamento do território deve ser pensado conjuntamente com o recorte humanístico,
no qual o papel da comunidade deve ser considerado fundamental na análise do espaço,
desde que passa a ser percebido como lugar da convivência, do lazer e da cotidianidade
Com uma abordagem humanística pode-se afirmar que, se por um lado a paisagem de
Guaibim se revelou carente de equipamentos voltados a atender a demanda turística, num
contexto em que o fenômeno da turistificação ocorreu num espaço que não estava apto a essa
atividade, por outro lado Guaibim mostrou-se um espaço de vivência, de convivência, de
construções afetivas, onde o cotidiano da comunidade se inscreve de uma maneira muito
peculiar. As relações estabelecidas nesse espaço diferem bastante das encontradas nos centros
turístico do Litoral Sul, como Morro de São Paulo. Em Guaibim, a comunidade tem um
sentimento de valoração e identidade com seu espaço, como se observou nas entrevistas e
mapas mentais, instrumentos utilizados para chegar a essas conclusões. Isso ficou muito claro
durante o trabalho de campo, quando as entrevistas e os mapas mentais apontaram para a
imagem de Guaibim, como “meu lugar”. A comunidade revelou em seu imaginário um
Guaibim que surgia como um espaço bucólico, tranquilo, a partir da construção de signos que
remetiam ao saudosismo em relação à antiga vila de pescadores, onde prevaleciam os
elementos da natureza, bem como desenhos de casas e pessoas no seu cotidiano mostrando
um lugar diferente dos espaços turistificados de grande visisbilidade.
A partir do desenvolvimento das entrevistas e dos mapas mentais dos moradores,
percebeu-se quanto a percepção espacial e a produção da imagem local dessas pessoas desvela
a paisagem como lugar das trocas afetivas, da natureza social da identidade, do sentimento de
pertencimento e também da acumulação cultural que ali se inscreve. Constata-se, assim, que o
espaço, além de ser percebido, é também construído por práticas e crenças sociais. A maioria
dos mapas mentais apontaram para uma outra leitura: Guaibim é tido por eles como “lugar”,
onde se estabelece vínculos, onde prevalece as relações cotidianas. Cabe aqui pontuar que
entre os adolescentes existem uma imagem de Guaibim com elementos ligados à
turistificação, mas, ainda assim, esse espaço comporta-se como “lugar”. O referencial dos
137
adolescentes representa a paisagem original cooptada pelo turismo, numa visão do todo, que
apreende e absorve a imagem e discurso da mídia de Guaibim como destino turístico. Apesar
da construção social variar com a faixa etária, gênero e categoria profissional, salienta-se que
a apreensão de todas as dimensões e dessas variáveis é extremamente difícil. Portanto, durante
a pesquisa, embora tenha havido o cuidado de estratificar o universo dos entrevistados, não se
fez a luz de todas as variações citadas. Focalizou-se as atenções nas variações existentes entre
adolescentes, adultos e idosos, que, por si foram suficientemente reveladoras de
especificidades. A leitura que a comunidade faz dessa paisagem é singular, já que ela vê nesse
local elementos que transpõem a turistificação, que vai além. O que se observa é um
imaginário social permeado por recordações, emoções, desejos e sonhos que compõem os
comportamentos de uma coletividade em relação a uma lugar que lhes é íntimo, onde se
conhece signos que lhes são particulares e que, por ora, viram poesia. Assim, a “andada da
patachoca”, o canto dos pássaros, o barulho das ondas, a maresia e a praia deserta acabam
tendo um valor sentimental e quem vivencia Guaibim consegue compreender o valor
desses elementos. O viver em Guaibim, mesmo com todos os problemas inerentes à
comunidade, para essas pessoas significa viver no paraíso, que, conforme Tuan (1980), é
nos lugares íntimos que se estabelece afetividade, afeição, numa relação sentimental. O que
faz de Guaibim um lugar.
Algumas questões surgiram ao longo da pesquisa, dentre elas a importância que a
dimensão humanística pode proporcionar para o planejamento local/ regional dos espaços
turísticos e como os agentes sociais que leem a paisagem de forma variada poderiam ter uma
participação mais efetiva. Até porque é inegável que os espaços turísticos, não importando sua
localização, acabam se transformando em lugar para os diferentes agentes sociais que o
vivenciam, desde que exista uma relação íntima, afetiva desses, com o espaço experienciado.
Por fim, remete-se, mais uma vez, à afirmação de Yázigi (2002) ao enfatizar que a relação do
morador com seu quinhão do território é de valoração e afeição, bem diferente da relação do
turista com esse espaço.
Enfim, o caráter mercadológico e empreendedor, tão divulgado e incentivado
atualmente pelos órgãos governamentais, o qual está tão imbricado no discurso dos
responsáveis pelas agências fomentadoras dessa atividade econômica, precisa ser mudado
para um padrão que valorize outros requisitos, como a comunidade local, suas especificidades
e suas potencialidades, o respeito às culturas e ao meio ambiente. E assim, poder-se-á pensar
num turismo de base local, capaz de valorizar o lugar em todas suas peculiaridades.
138
Nas análises empreendidas neste trabalho, buscou-se compreender o fenômeno
geográfico a partir da abordagem humanística, concentrando-se na geografia cultural, que
prioriza a percepção e as representações sociais na compreensão do espaço geográfico.
Visando entender as percepções da comunidade sobre a paisagem de Guaibim, levando em
conta o processo de turistificação, bem como as relações dessas pessoas com seu espaço de
vivência, observou-se que, apesar de Guaibim ser um destino Turístico, não sofreu todas as
mudanças abruptas que envolvem a descaracterização de muitos espaços.
139
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143
APÊNDICE 1 - ENTREVISTA (SECRETÁRIO DE CULTURA E TURISMO)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. Quais as diretrizes para a política de turismo do município?
2. Quais os projetos existentes em Guaibim, voltados para o turismo? E as ações atuais
voltadas p o turismo?
3. Quais as ações desenvolvidas nos últimos anos visando impulsionar o turismo em
Guaibim?
4. A gestão municipal oferece alguma capacitação para a comunidade buscando prepará-
la para receber o turista?
5. As diretrizes do PRODETUR-NE são executadas em Guaibim? Você pode citar
alguma que esteja sendo desenvolvida?
6. Como a gestão municipal se utiliza da cultura local para atrair o turista? São
promovido eventos voltados a valorizar a cultura em Guaibim?
7. Quais as estratégias utilizadas na baixa estação para fomentar o turismo?
8. Como o turismo em Guaibim aparece no contexto do planejamento turístico do
estado?
9. foram feitos estudos de acompanhamento dos impactos ou natureza do turismo em
Guaibim? Em caso afirmativo como foi feito?
10. Existe algum projeto voltado a valorizar a cultura popular em Guaibim?
144
APÊNDICE 2 - ENTREVISTA (MORADORES)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. Como era a vila de Guaibim antes da chegada do turismo? (ruas, cotidiano)
2. Qual era a atividade econômica antes da chegada do turismo? (do que vivia população, o
que vocês faziam por aqui para sobreviver?)
3. Quando as coisas começaram a mudar por aqui?
4. Você prefere o Guaibim de antes ou de hoje?
5. Quais as festas populares que tinha na comunidade, anterior a chegada do turismo? ( o que
vocês faziam por aqui para se divertir antes da chegada do turismo, e quais festas de
santos existiam?)
6. Qual era o lazer das crianças naquela época? ( O que os meninos faziam quando criança,
do que brincavam?)
7. Olhando o lugar que você vive o que mudou com a chegada do turismo?
8. Você acha que as pessoas vivem melhor hoje?
9. Quais as coisas boas e ruins que o turismo trouxe?
10. Como você vê a atuação do poder público municipal, no espaço de guaibim? (O que vocês
vêm os governantes fazerem por Guaibim?)
11. O que você acha que a gestão pública poderia estar fazendo para a melhoria da vida de
vcs?(O que vocês acham que os governantes poderiam fazer para melhorar a vida de
vocês?
12. Enquanto comunidade o que vcs fazem para melhorar o espaço que vcs vivem.
13. O que vcs acham que pode ser feito para dinamizar o turismo em Guaibim?
14. Você sente-se bem em morar em Guaibim?
15. O que mais você gosta neste lugar?
16. O que você não gosta em guaibim?
145
APÊNDICE 3 - ENTREVISTA (COMERCIANTES)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. Quanto tempo tem seu comercio em Guaibim?
2. Quais as mudanças na paisagem,vc viu acontecer, desde que aqui chegou? ( O que
mudou em Guaibim desde que vc chegou aqui?)
3. Como vc vê hoje a organização espacial de Guaibim? O que vc acha que pode ser feito
para melhorar?( Você acha Guaibim, um lugar organizado para viver, e o que você
que pode ser feito para melhorar esse lugar)
4. Como vc qualifica as ações do poder público municipal no espaço de Guaibim? (Você
acha que os governantes têm algo de bom para Guaibim?)
5. O que vc acha que pode ser feito visando a melhoria desse espaço? (O que vc acha que
pode ser feito para melhorar a vida em Guaibim?)
6. Como vc acha que a comunidade pode contribui?(O que você acha que as pessoas de
Guaibim podem fazer para o lugar que vocês vivem?)
7. Qual seu principal mercado consumidor? ( Quem é que compra no seu
estabelecimento? Pessoas daqui ou turistas?)
146
APÊNDICE 4 - ENTREVISTA (DONOS DE HOTEIS E POUSADAS)
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. Quanto tempo tem seu empreendimento em Guaibim?
2. Quais os datas de maior movimento no hotel/pousada?
3. Seu estabelecimento fica aberto durante todo o ano?
4. O turista que visita seu estabelecimento vem em busca de que em Guaibim?
5. O que mudou na paisagem em Guaibim desde que você chegou aqui? (O que mudou
em Guaibim desde que você chegou aqui?)
6. O que vc acha que precisa ser feito no espaço de guaibim, no que concerne a infra-
estrutura para a melhoria da paisagem?
7. No seu olhar o que deve ser feito para impulsionar o turismo em guaibim?
147
APÊNDICE 5 – ENTREVISTA COM ADOLESCENTES DE QUINTA A OITAVA
SÉRIE.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. O que você mais gosta em Guaibim? O que você menos gosta em Guaibim?
2. Quais os lugares que você mais gosta em Guaibim?
3. O que você acha mais bonito em Guaibim? O que você acha mais feio?
4. O que você acha que torna Guaibim mais conhecido?
5. Quais os lugares que você mais freqüenta em Guaibim?
6. Quando você viaja você sente saudades de Guaibim?
7. Quais são suas áreas de lazer?
148
APÊNDICE 6 -
ENTREVISTA COM ADULTOS E IDOSOS
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA MEMÓRIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL – CAMPUS V
1. O que você mais gosta em Guaibim? O que você menos gosta em Guaibim?
2. Quais os lugares que você mais gosta em Guaibim?
3. O que você acha mais bonito em Guaibim? O que você acha mais feio?
4. O que você acha que torna Guaibim mais conhecido?
5. Quais os lugares que você mais freqüenta em Guaibim?
6. Quando você viaja você sente saudades de Guaibim?
7. Quais são suas áreas de lazer?
8. Como era a vila de Guaibim antes da chegada do turismo? (ruas, cotidiano)
9. Do que vivia população, o que vocês faziam por aqui para sobreviver?
10. Quando as coisas começaram a mudar por aqui?
11. Você prefere o Guaibim de antes ou de hoje?
12. O que vocês faziam por aqui para se divertir antes da chegada do turismo, e quais
festas de santos existiam?
13. O que os meninos faziam quando criança, do que brincavam?
14. Você acha que as pessoas vivem melhor hoje?
149
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