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aqui falando baixinho com medo de alguém escutar o que a gente está
conversando na sala, é muito maior.
P: É, pegando esse gancho, eu gostaria de saber como que você avalia a questão
da violência conjugal? Qual é sua avaliação a respeito dessa questão?
H: Olha, eu acho que a questão da violência conjugal é uma, uma coisa que... já
vem, né, de uma própria in...cultura mesmo. Já vem, já vem é esboçado a
questão do empoderamento do homem, né, e que vem permeando isso de uma
forma é... natural né, e que as mulheres acabam ficando submissas e omissa em
relação a isso e vai permitindo, né. E... eu, acho que é isso.
P: Tá. E quais são seus sentimentos em relação aos agressores?
H: Olha, meus sentimentos em relação aos agressores, assim, mudou bastante,
eu acho que nesse período em que eu estive aqui a gente fez uma capacitação e,
e... foi então que eu me deparei com a questão de fazer análise da questão da
violência, pegando a questão mais cultural. Já tinha a análise da questão do
ma..., do, do, do das sociedades patriarcais tudo, mas eu não tinha feito ainda
aquela, canalizar para a questão cultural, por exemplo, né, nu...nu... que é a
questão da violência ela está enraizada com a questão do patriarcado tal e que...
e aí eu começo a perceber, nós vivemos em uma cultura violenta, né, que onde a
violência, ela é, ela é, ela ainda é uma técnica de educação, né (risos). A gente
vive num, num país que até um dia desses a violência era uma técnica para
educar, né, a palmatória, bom, enfim, todos os artifícios que historicamente se
teve, né, pra educar as pessoas e que a palmada, a violência em si era uma coisa
aceita culturalmente. Então tem uma coisa da violência que ela é aceita
culturalmente, né, como correção, como aquela coisa. Então, eu vejo que é isso,
né...então assim, é... reformula a pergunta...
P: Seus sentimentos em relação aos agressores.
H: Então o, então, essa questão dos agressores para mim, eu vejo, eu consigo
ver ele como um fator cultural, que ele também é uma vítima de toda essa, essa
cultura machista que está, ele também sofre, né. O homem também sofre, né, em
função dessas questões todas, né, mas...
P: Mas tem algum sentimento seu, específico com relação a eles, ou não?
H: (pausa) Olha, meu mesmo em relação a eles... eu acho, eu acho que, que eu
não tenho, sabe assim. Embora eu tenha vindo de uma educação também muito
forte, né, é... de pai nordestino, né, meu pai era um nordestino era muito, ele
sempre... meu pai não era de bater, mas meu pai era de... de gritar muito. A pre...
a violência dele era psicológica, ele assustava a gente no grito. Então assim ,é...
mas, eu acho que tem tudo a ver, mas assim, eu não, não consigo ver assim o...o
ódio que eu tenho em relação a isso, né, em relação aos agressores, você está
entendendo? Eu não , eu não sinto isso. Eu vejo que tem outra pessoa do outro
lado também sofrendo bastante e que tem uma outra pessoa do lado de cá que
precisa tomar uma atitude, só isso.
P: Tá, tá. E seus sentimentos em relação às vítimas, às mulheres, tem algum
sentimento específico em relação a elas?
H: Olha... tinha uma coisa assim, de, de...de, de... paternalizar assim, de, de...
vitimizar, de achar ela com vítima, também que eu aprendi agora recentemente
que eu vejo que ela é... apesar de toda a história de nós temos da nossa cultura,
machista, e... todo esse, esses viés que vem, eu vejo assim que... que ela... que a
minha relação com ela, por exemplo, antigamente eu sentia assim: “nossa,
coitada da mulher, coitadinha”, hoje eu já percebo que ela não é tão coitadinha
assim, entendeu? Eu mudei essa forma de pensar sobre a mulher, né que... ela,