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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS (MESTRADO)
PAULA CAMILA MESTI
ANÁLISE DISCURSIVA DOS ETHÉ DE UM SUJEITO
POLÍTICO EM CAMPANHA ELEITORAL
MARINGÁ – PR
2010
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1
PAULA CAMILA MESTI
ANÁLISE DISCURSIVA DOS ETHÉ DE UM SUJEITO
POLÍTICO EM CAMPANHA ELEITORAL
Dissertação apresentada à Universidade
Estadual de Maringá, como requisito parcial
para a obtenção de grau de Mestre em Letras,
área de concentração: Estudos Lingüísticos.
Orientadora: Prof
a
Dr
a
Maria Célia Cortez
Passetti
MARINGÁ – PR
2010
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2
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)
Mesti, Paula Camila
M586a Análise discursiva dos Ethé de um sujeito político em
campanha eleitoral / Paula Camila Mesti. -- Maringá, 2010.
149 f. : il. color., figs., tabs., retrs.
Orientador : Prof.ª Dr.ª Maria Célia Cortez Passetti.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de
Maringá, Programa de Pós-Graduação em Letras, área de
concentração: Estudos linguísticos, 2010.
1. Discurso político - Análise. 2. Análise do discurso -
Político. 3. Análise do discurso - Campanha eleitoral -
Maringá - 2004-2008. 4. Ethé - Discurso político -
Audiovisual. 5. Barros II, Silvio Magalhães - Discurso
político. I. Passetti, Maria Célia Cortez, orient. II.
Universidade Estadual de Maringá. Programa de Pós-Graduação
em Letras. Área de concentração: Estudos linguísticos. III.
Título.
CDD 21.ed.
401.41
3
4
Dedico este trabalho aos meus pais,
Anisio e Marlene, e minha irmã Renata,
pessoas essencialmente importantes em minha vida.
5
AGRADECIMENTOS
À professora e amiga Prof
a
. Dr
a
. Angela Boer, que acreditou em meu potencial, que me
orientou em Projetos de Iniciação Científica durante a graduação, que me ensinou a diferença
entre os dispositivos teóricos e analíticos, que despertou em mim a vontade de estudar Análise
do Discurso, que incentivou e testemunhou a minha passagem do lato sensu ao stricto sensu.
À professora e orientadora Prof
a
. Dr
a
. Maria Célia Cortez Passetti, que participou de meu
crescimento acadêmico – Projeto de Iniciação Científica, Monografia e Dissertação. Obrigada
por ter me dado credibilidade, por ter me ensinado sobre as inquietações do discurso político e
pela competência e atenção que dispensou durante as leituras e releituras dos textos
provisórios.
Às professoras da Banca de Qualificação e Banca de Defesa Prof
a
. Dr
a
. Ismara Tasso e
Prof
a
. Dr
a
. Vanice Sargentini por terem aceitado fazer parte dessa história. Obrigada pela
seriedade na leitura cuidadosa do meu trabalho, pela solidariedade ao compreenderem as
minhas escolhas, pela competência em mostrarem seus pontos de vista, ampliando os meus
gestos de interpretação.
Aos professores Dr. Carlos Piovezani e Dr
a
. Sonia Benites que tão prontamente aceitaram ser
suplentes das bancas de qualificação e de defesa.
Aos professores do Mestrado Prof. Dr. Pedro Navarro, Prof
a
. Dr
a
. Sonia Benites, Prof
a
. Dr
a
.
Ismara Tasso, Prof
a
. Dr
a
. Ceci Honório, Prof
a
. Dr
a
. Fátima e Prof
a
. Dr
a
. Maria Célia pelos
ensinamentos, discussões e reflexões que tanto contribuíram para este trabalho.
À professora e amiga Ana Paula Peron que cedeu suas aulas para que eu fizesse meu estágio
de docência, contribuindo para meu desempenho didático. Aos alunos da Letras Português /
Francês que se formaram em 2009, agradeço por terem me recebido como professora-
estagiária, por terem participado das aulas e por me mostrarem os desafios e as satisfações da
docência.
À CAPES que financiou um ano de pesquisa.
Aos meus pais amados, Anisio e Marlene, meus exemplos, meus espelhos. Obrigada pela
vida, pelo amor, pelo cuidado, pelo apoio incondicional, pelos gestos e sorrisos, pela
paciência e por terem sonhado junto comigo. Graças a vocês, o sonho se tornou realidade.
À minha querida irmã Renata e meu cunhado João Filipe, minhas fontes de alegria. Obrigada
pela companhia, pela acessoria, pela torcida, por terem me escutado quando eu precisava falar
e por terem falado o que eu precisava ouvir.
À sempre presente tia Regina Lúcia, que acompanhou de perto cada fase desta pesquisa, me
motivando, me ajudando a continuar, me impulsionando a fazer reflexões teórico-
metodológicas. Obrigada por me lembrar da importância do título e do valor dos afetos.
6
Ao primo Diogo Mesti, que ao iniciar sua caminhada no mestrado tornou-se inspiração para
que também eu fizesse essa escolha. Agradeço as conversas sinceras, as reflexões produtivas,
as discussões de temas complexos e os telefonemas demorados.
Aos meus Avós, tios, tias e primos que tantas vezes tiveram que se acostumar com a minha
ausência, mas que sempre torceram pelo meu sucesso acadêmico dizendo que tudo iria dar
certo.
Aos amigos do mestrado que fazem parte de minhas mais felizes memórias. Obrigada pela
convivência, pela amizade, pelas confidências e discussões teóricas: André Lima, Poliana
Lachi, Érica, Thaís Marconi, Josebely Sousa, Maria Fernanda, Valquíria Botega, Dani
Mendes, Margarida Liss, Bruno Franceschini, Raquel Arcine, Raquel Fregadoli, Jefferson
Campos, Gui Duran, Andrea e Nathália Esteves.
Aos participantes do grupo de estudos GEPOMI, pelas reflexões, conversas e partilhas sobre
as pesquisas científicas e as teorias político-midiáticas: Sonia Benites, Eliane Greco, Renata
Lara, Edson Romualdo, Maria Célia Passetti, Verinha, Juliana, Elaine, Adélli, Verônica,
Raquel, Tiago, Douglas.
Aos amigos queridos que acompanharam todo o meu percurso, que estranharam o meu
distanciamento, que compreenderam os meus motivos e que sempre torceram pelas minhas
conquistas: Lilian Ciardulo, Gisele Manjurma, Keila Fernandes, Marcelo Weihmayr, Sr.
Adriano Lima, D. Margarida, Lucio Valentim, Vânia Borghetti, Rodrigo Remolli, Alice
Nespollo, Júnior, Mônica Feliz e Thaís Morales.
Aos amigos que fiz durante os giros pelos congressos: Giovani Aiub, Rodrigo Fonseca, Elisa
Stumpf, Helson e Alexandre. Obrigada pelas excelentes conversas nos restaurantes, pelos
esclarecimentos da teoria pechetiana nos cafés e pelas trocas de experiências. Um
agradecimento especial ao Giovani que, mesmo em uma proximidade longínqua, acompanhou
as fases mais importantes deste trabalho, me ajudando a teorizar, ouvindo minhas reflexões e
inquietações, torcendo por mim sempre.
Aos amigos de outras áreas do conhecimento: André Valentini e Luis Fernando Pessoa, pelas
conversas sobre o materialismo histórico e posicionamentos políticos; Chris Miranda, pelas
explicações sobre psicanálise; Elison, pelos ensinamentos do saber-técnico em informática;
Rodrigo Remolli, pela tradução do resumo.
7
[...] O vento da ‘pós-modernidadesoprou sobre
as formas de representação política: a teatralidade
do espetáculo político se transformou
profundamente com as novas mídias, que
perturbaram o lugar da fala na comunicação
política. O discurso perdeu sua autonomia e sua
eficácia; ele é, desde então, indissociável da
imagem do homem político e está freqüentemente
subordinado a essa imagem.
Jean-Jacques Courtine
8
RESUMO
ANÁLISE DISCURSIVA DOS ETHÉ DE UM SUJEITO
POLÍTICO EM CAMPANHA ELEITORAL
A predominância da imagem, a velocidade da transmissão de informações, a supervalorização
da mídia, a metamorfose ocorrida na maneira de se fazer política, a impossibilidade de se
separar o verbo do corpo que enuncia são práticas corriqueiras no atual mundo globalizado.
Considerando este contexto, as transformações ocorridas no discurso político contemporâneo
e o dispositivo teórico da Análise do Discurso, a presente pesquisa tematiza o modo de
construção das imagens que o sujeito político Silvio Barros de si em seus discursos para
prefeito de Maringá-PR. O corpus de análise desta pesquisa é constituído pelas gravações e as
transcrições dos Horários Gratuitos de Propaganda Eleitoral na televisão (HGPE) das
campanhas de 2004 e 2008. Sua verificação possibilitou algumas inquietações: o que faz
definir quais tipos de ethé serão construídos em cada campanha eleitoral? Para analisar os
ethé de um sujeito político deve-se considerar apenas seu discurso? Existe um saber-técnico
que contribui para o reforço desses ethé? Partindo dessas indagações alguns objetivos foram
traçados: de modo geral, contribuiu-se para a ampliação do conceito de ethos discursivo para,
mais especificamente, definir e estabelecer o modo de construção dos ethé do sujeito político
Silvio Barros. A fim de se produzir gestos de interpretação, diferentes materialidades
discursivas foram utilizadas: transcrições de textos verbais, jingles, tabelas, sequências
discursivas, infográficos, frames imagéticos. São estas materialidades que guiam a pesquisa
para múltiplos caminhos metodológicos que confluem para a obtenção de alguns resultados:
a) a existência da sobreposição de tipos de ethé; b) a simultaneidade da construção de ethé
positivos para o candidato e de ethé negativos para seu adversário, e c) o apelo a formações
discursivas esportivas e religiosas para evitar a deriva dos efeitos de sentido produzidos pelos
ethé. Também se deve destacar a importância dos discursos dos sujeitos testemunha, a
presença do audiovisual e o uso do saber-técnico que contribuíram para a edificação da
credibilidade e do processo de identificação do eleitor / telespectador com o sujeito político.
Palavras-Chave: Discurso político; ethé; campanha eleitoral.
9
ABSTRACT
DISCURSIVE ANALYSIS OF ETHÉ OF A POLITICAL
SUBJECT IN ELECTORAL CAMPAIGN
The predominance of the image, the speed of information transmission, the super valorization
of the media, the metamorphosis occurred in how to make policy, the impossibility of
separating the word from the body which enunciates are unexceptional practices in the current
globalised world. Considering this context, the changes in contemporary political discourse
and the theoretical device of Discourse Analysis, this research is addressed to the construction
of images that the political subject Silvio Barros gives about himself in his speeches for
mayor of Maringá-PR. The corpus of analysis of this research is consisted of the recordings
and transcriptions of Free Timetables of Electoral Advertising on television (HGPE) of the
marketing years of 2004 and 2008. Its verification enabled some concerns: what makes it
possible to define what types of ethé shall be constructed in each election campaign? To
analyze the ethé a political subject, it must be to only consider its discourse? Is there a
technical know-how that contributes to the strengthening of these ethé? Based on these
questions some objectives are mapped out: in general, it was contributed to the enlargement of
the concept of discursive ethos for, more specifically, to define and to establish the
construction of ethé of the political subject Silvio Barros. In order to produce gestures of
interpretation, different discursive materialities were used: transcriptions of verbal texts,
jingles, tables, discursive sequencies, infographic, picture frames. These are the materialities
that guide the research to multiple methodological paths that converge to the obtaining of
interesting results: a) the existence of overlapping types of ethé; b) the simultaneity of
positive ethé construction for the candidate and negative ethé for his opponent, and c) the
appeal to sporting and religious discursive formations in order to avoid the drift of the
meaning effects produced by the ethé. It is also important to highlight the speech importance
of the witness subjects, the presence of audiovisual and the use of technical know-how that
contribute to the edification of the credibility and of the process of the elector / viewer
identification with the political subject.
Key-words: Political discourse; ethé; electoral campaign.
10
LISTA DE FRAMES
Frame 1: Logotipo Canal 11 ........................................................................................
114
Frame 2: Abertura Canal 11 ........................................................................................
114
Frame 3: Apresentadores do Canal 11 .........................................................................
114
Frame 4: Logotipo Estúdio 11 ......................................................................................
115
Frame 5: Apresentadores do Estúdio 11........................................................................
115
Frame 6: Logotipo do Partido Progressista ..................................................................
117
Frame 7: Quadro Fazendo História ..............................................................................
119
Frame 8: Quadro Na Voz do Povo é Silvio De Novo.....................................................
119
Frame 9: Quadro Agora sou Silvio................................................................................
120
Frame 10: Quadro Silvio nos Bairros............................................................................
120
11
LISTA DE INFOGRÁFICOS
Infográfico 1: Categorias dos Ethé de 2004 .................................................................
92
Infográfico 2: Categorias dos Ethé de 2008 .................................................................
94
Infográfico 3: Ethé do HGPE de 2004 ..........................................................................
96
Infográfico 4: Ethé do HGPE de 2008 ..........................................................................
96
Infográfico 5: Ethé legitimados por sujeitos testemunha .............................................
102
12
LISTA DE QUADROS DE FRAMES
Quadro de Frames 1: Slogan de 2004 .........................................................................
107
Quadro de Frames 2: Slogan de 2008 .........................................................................
108
Quadro de Frames 3: Esquema de rememoração das urnas eletrônicas ......................
116
Quadro de Frames 4: O saber-técnico .........................................................................
116
Quadro de Frames 5: Cenografia no HGPE 2004 .......................................................
121
Quadro de Frames 6: Fotos utilizadas para produzir efeitos de verdade ....................
122
Quadro de Frames 7: Cenografia no HGPE 2008 .......................................................
123
Quadro de Frames 8: Performance no palanque em 2004 ..........................................
125
Quadro de Frames 9: Performance no palanque em 2008 ..........................................
125
Quadro de Frames 10: Gestos que legitimam os ethé de identificação em 2004 ........
126
Quadro de Frames 11: Gestos que legitimam os ethé de identificação em 2008 ........
127
Quadro de Frames 12: Giro com o Prefeito e o ethos de competência de 2008 .........
128
Quadro de Frames 13: Efeito Zoom no HGPE de 2004 ..............................................
136
Quadro de Frames 14: Efeito Zoom no HGPE de 2008 ..............................................
136
Quadro de Frames 15: Sorrisos do sujeito político em 2004 ......................................
137
Quadro de Frames 16: Sorrisos do sujeito político em 2008 ......................................
137
Quadro de Frames 17: Gestos das mãos em 2004 e em 2008 .....................................
138
Quadro de Frames 18: Expressão corporal em 2008 ..................................................
139
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Os “ditos” e os “não-ditos” ...........................................................................
81
Tabela 2: Porcentagem dos tipos de Ethé construídos em 2004 e em 2008 .................
97
Tabela 3: Porcentagem dos tipos de Ethé reforçados por sujeitos
testemunha em 2004 .....................................................................................
99
Tabela 4: Porcentagem dos tipos de Ethé reforçados por sujeitos
testemunha em 2008 .....................................................................................
100
Tabela 5: Porcentagem dos tipos de Ethé reforçados por sujeitos testemunha ............
102
Tabela 6: O Implícito no slogan de 2008 .....................................................................
108
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16
1. DISPOSITIVO TEÓRICO GERAL:
A NOÇÃO DE POLÍTICA E SUAS RELAÇÕES COM A MÍDIA ...................
25
1.1 DO CONCEITO DE POLÍTICA .......................................................................
25
1.2 MÍDIA E POLÍTICA: UM ENTRELAÇAMENTO .........................................
27
1.3 TRANSFORMAÇÕES: UM OUTRO FAZER POLÍTICO .............................
29
1.4 ELEIÇÕES: UM RITUAL LEGITIMADO ......................................................
32
1.4.1 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral ....................................................
33
2. DISPOSITIVO TEÓRICO ESPECÍFICO:
A ANÁLISE DO DISCURSO, O DISCURSO POLÍTICO E O ETHOS............
35
2.1
ANÁLISE DO DISCURSO: NOÇÕES, CONCEITOS E POSICIONAMENTO..
......
35
2.2 DISCURSO POLÍTICO: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES .......
47
2.3 CONCEITO DE ETHOS E SUA FUNÇÃO
ESTRATÉGICA NO DISCURSO POLÍTICO..................................................
50
3. DISPOSITIVO TEÓRICO-ANALÍTICO:
ETHÉ CONSTRUÍDOS E ETHÉ LEGITIMADOS.............................................
55
3.1 ETHÉ CONSTRUÍDO PELO SUJEITO POLÍTICO EM 2004 E 2008 ............
55
3.1.1 Os Ethé de Credibilidade ........................................................................
56
3.1.1.1 O ethos de Sério ............................................................................
56
3.1.1.2 O ethos de Virtuoso .......................................................................
58
3.1.1.3 O ethos de Competência ................................................................
59
3.1.2 Os Ethé de Identificação .........................................................................
62
3.1.2.1 O ethos de Potência .......................................................................
63
3.1.2.2 O ethos de Caráter .........................................................................
63
3.1.2.3 O ethos de Inteligência ..................................................................
66
3.1.2.4 O ethos de Humanidade ................................................................
69
3.1.2.5 O ethos de Chefe ...........................................................................
71
3.1.2.6 O ethos de Solidariedade ...............................................................
73
3.1.2.7 O ethos de Proximidade . ..............................................................
76
3.2 ETHÉ REFORÇADOS POR SUJEITOS TESTEMUNHA NOS
HGPE DE 2004 E 2008 ......................................................................................
78
3.2.1 Ethé de Credibilidade Reforçados por Sujeitos Testemunha............... 79
3.2.1.1 Ethos de Sério Legitimado por Sujeitos Testemunha ...................
79
3.2.1.2 Ethos de Virtuoso Legitimado por Sujeitos Testemunha ..............
81
3.2.1.3 Ethos de Competência Legitimado por Sujeitos Testemunha .......
82
3.2.2 Ethé de Identificação Reforçados por Sujeitos Testemunha ............... 84
3.2.2.1 Ethos de Caráter Legitimado por Sujeitos Testemunha ................
84
3.2.2.2 Ethos de Inteligência Legitimado por Sujeitos Testemunha .........
85
3.2.2.3 Ethos de Humanidade Legitimado por Sujeitos Testemunha .......
86
15
3.2.2.4 Ethos de Chefe Legitimado por Sujeitos Testemunha ..................
87
3.2.2.5 Ethos de Solidariedade Legitimado por Sujeitos Testemunha ......
88
3.2.2.6 Ethos de Proximidade Legitimado por Sujeitos Testemunha .......
89
4. DISPOSITIVO ANALÍTICO-QUANTITATIVO:
UMA COMPARAÇÃO NOS HGPE DE 2004 E 2008 .........................................
91
4.1 O FUNCIONAMENTO DOS ETHÉ CONSTRUÍDOS
PELO SUJEITO POLÍTICO NOS HGPE...........................................................
91
4.1.1 Os ethé construídos pelo sujeito político no HGPE de 2004 ................
92
4.1.2 Os ethé construídos pelo sujeito político no HGPE de 2008 ................
94
4.1.3 Comparação dos ethé construídos pelo sujeito político em
2004 e 2008 ...........................................................................................
96
4.2 O FUNCIONAMENTO DOS ETHÉ LEGITIMADOS
POR SUJEITOS TESTEMUNHA NOS HGPE .................................................
98
4.2.1 Os Ethé Legitimados por Sujeitos Testemunha no HGPE de 2004 .... 98
4.2.2 Os Ethé Legitimados por Sujeitos Testemunha no HGPE de 2008 .... 100
4.2.3 Comparação dos Ethé Reforçados por Sujeitos
Testemunha em 2004 e 2008 ..................................................................
101
5. DISPOSITIVO TEÓRICO-ANALÍTICO DE IMAGENS:
O AUDIOVISUAL PRODUZINDO SENTIDOS ...............................................
105
5.1 DISPOSITIVO TEÓRICO DO QUADRO CÊNICO..........................................
106
5.1.1 Cena Englobante e Circunstâncias de Enuncião:
os Slogans e os Jingles .........................................................................
107
5.1.2 Cena Genérica e Cenografia: Efeitos de Verdade
e Legitimação dos Ethé ..........................................................................
111
5.1.2.1 Estratégias que Reforçam os Ethé de Proximidade .......................
124
5.1.2.2 Estratégias que Reforçam os Ethé de Competência ......................
128
5.2 O AUDIOVISUAL E A PRODUÇÃO DE SENTIDOS: ......................................
132
5.2.1 O Corpo em Evidência: Expressões Faciais, Sorrisos e Gestos ........... 135
CONCLUSÃO ............................................................................................................. 140
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 144
ANEXOS DIGITALIZADOS EM DVD – acompanham o trabalho
149
16
INTRODUÇÃO
Maringá, também conhecida como “Cidade Canção” e “Cidade Verde”, teve seu
povoamento iniciado no início da década de 40, quando a Companhia Melhoramentos do
Norte do Paraná se responsabilizou pela venda das terras e lotes, além da construção de
estradas e implantação de núcleos urbanos. Logo nos primeiros anos, mais e mais famílias de
colonos paulistas, mineiros e nordestinos foram chegando, além dos migrantes japoneses,
portugueses, árabes, alemães e italianos. Atualmente a cidade conta com 335.511 habitantes,
de acordo com dados do IBGE/2009.
Planejada pela Companhia Melhoramentos, Maringá foi elevada à categoria de
município em 1951. Possuindo uma área de 487,9 km², a cidade apresenta um
traçado
urbanístico planejado e modernista, sendo conhecida pela preservação de grandes áreas de
mata nativa dentro do perímetro urbano e índices elevados de qualidade de vida.
Mas qual a origem do nome Maringá? Várias são as especulações sobre o nome dado a
esta cidade, a mais aceita e divulgada é a de que recebeu o nome da canção de Joubert de
Carvalho, que por sua vez também tem sua história: no interior da Paraíba, morava numa
ruazinha coberta por ingazeiros uma linda cabocla de beleza rara, pele morena, olhos e
cabelos negros, chamada Maria. Um dia, por conta da seca, Maria veio a falecer, deixando o
político Rui Carneiro desolado. Para exaltar a mulher amada e sua terra natal, pediu para que
seu amigo Joubert de Carvalho fizesse uma música. Ao misturar as palavras de “Maria” e
“Ingá”, surgiu Maringá, canção de sucesso em 1935.
1
E o perfil político de Maringá? Em seu livro, Dias (2008) mostra todo o percurso das
eleições municipais maringaenses e considera que a cidade não possui um perfil político
sólido, ou seja, os eleitores maringaenses não costumam votar sempre no mesmo partido ou
nos mesmos grupos políticos. São os momentos sócio-históricos que influem no voto da
população: necessidade de alternância partidária objetivando desenvolvimento; vontade de
mudanças políticas vinculadas ao desejo de justiça e retorno às tradições renovadas.
Pensando nos líderes mais expressivos da história política local, Dias (2008, p. 230)
infere sobre a idéia de partido estar associada a um “[...] tipo de liderança personalista,
1
Informações verificadas no site <http://www.maringa.pr.gov.br>.
17
construída na interseção das questões nacionais com as locais”, tornando possível pensar
em um partido de João Paulino, outro de Said Ferreira, outro de Ricardo Barros, sujeitos
políticos de renome.
Tendo em vista esta peculiaridade da política maringaense e considerando as
especificidades deste trabalho, estabeleceu-se um percurso político-histórico que permitiu
compreender a origem da tradição dos “Barros” no meio político, para tanto, apresentar-se-á,
ainda que resumidamente, a trajetória política de Silvio Barros, eleito prefeito de Maringá em
1972; Ricardo Barros, vitorioso no pleito de 1988; e Silvio Barros II, escolhido nas votações
de 2004 e 2008, período que constitui o corpus de análise desta pesquisa.
A eleição é concebida como um momento e um procedimento de escolha daqueles que
irão exercer “poderes” na sociedade. Neste rito periódico e legitimado, escolhem-se aqueles
que estarão em lugares de comando, aqueles que terão parcelas substanciais de poder para
governar. A primeira eleição para prefeito de Maringá foi realizada em 1952, elegendo
Inocente Villanova Junior com 32% dos votos válidos. Silvio Magalhães Barros (MDB), em
1972, com 65% dos votos, foi o sexto prefeito escolhido em urnas maringaenses, mas antes, já
despontava como liderança e subira “[...] degrau por degrau, a escala da representação
parlamentar: vereador em 1964, deputado estadual em 1966 e deputado federal em 1970. Essa
ascensão o credenciou a candidato a prefeito em 1972.” (DIAS, 2008, p. 99).
Passados 16 anos, o engenheiro e empresário Ricardo Barros (PFL), filho de Silvio
Barros, se elege com 34% dos votos, era a “renovação dentro da tradição” (DIAS, 2008, p.
135). A maior diferença entre as eleições de 1988 e as anteriores é que, naquela, verificou-se
que a mídia televisiva proporcionava um amplo alcance do eleitorado, fazendo com que os
telespectadores / eleitores assistissem às propostas dos candidatos no conforto de seus lares.
De acordo com as reflexões de Dias (2008, p. 142), o candidato Ricardo Barros obteve êxito
nas urnas porque foi o único candidato daquela disputa que soube utilizar as novas
tecnologias.
Ao contratar uma firma de propaganda de Curitiba-PR, o candidato consegue traçar o
perfil de prefeito desejado pelos eleitores daquela conjuntura. Desta maneira, Ricardo Barros
não apresenta um programa de governo, mas dois produtos que representavam as prioridades
da cidade: transporte e moradia. Sabendo explorar o desgate político sofrido naquela época e
apontando possíveis soluções, o filho do ex-prefeito Silvio Barros, aos 29 anos de idade, foi o
18
mais jovem a chefiar o Executivo maringaense e, desde 1995, vem se reelegendo como
Deputado Federal, estando em seu quarto mandato. (DIAS, 2008, p. 146).
Nas eleições de 1996, o irmão de Ricardo Barros, Silvio Barros II (PFL), apareceu
pela primeira vez na cena política maringaense ao se candidatar ao mesmo cargo que seu pai e
seu irmão. Apesar de ter recebido grande quantidade de votos, Silvio não conseguiu se eleger,
ficando em segundo lugar. Outro candidato que disputou pela primeira vez as eleições para o
cargo de prefeito e também não alcançou a vitória foi José Cláudio Pereira Neto (PT), que,
não desistindo, candidatou-se novamente em 2000, quando foi eleito. Em 1996, Jairo Gianoto
foi eleito com 34,5% dos votos válidos. Durante seu mandato foram feitas muitas denúncias
de corrupção, improbidade administrativa e peculato, fazendo com que o Ministério Público o
afastasse do cargo antes do término de seu mandato.
Algumas especificidades das eleições de 2000 devem ser expostas: foi a primeira
eleição na história da cidade a ter dois turnos, ou seja, Maringá contava com a marca de mais
de 200 mil eleitores, assim, para que o candidato fosse eleito no primeiro pleito, ele deveria
obter a maioria dos votos válidos (isto é, excluídos os votos brancos e nulos), caso isso não
ocorresse, haveria o segundo turno em que concorreriam apenas os dois candidatos mais
votados no primeiro. Constata-se que, com a ampliação do eleitorado, no primeiro turno os
votos são mais dispersos e cada candidato precisa conquistar a confiança da maior quantidade
possível de eleitores. No segundo turno, entretanto, esta persuasão é mais direcionada e o
pathos
2
torna-se outro, pois deve-se fazer com que os eleitores que votaram em outros
candidatos no primeiro momento, mudem seu voto. É comum verificar que no segundo turno
os candidatos que não foram vitoriosos passam a apoiar um dos que ficaram para o segundo
turno. A história mostra que na maioria das vezes em que os políticos fazem discursos de
apoio incentivando seus eleitores a votarem no candidato por ele apoiado, estão, na verdade,
galgando um possível futuro cargo de confiança dentro da próxima administração.
Nota-se que os Barros tentam voltar para a cena política de Maringá: como
mencionado anteriormente, em 1996 Silvio Barros II disputou as eleições. Em 2000, mudando
as estratégias, Cida Borghetti (PP) também entrou na luta pelo cargo de prefeito, mas
conseguiu apenas 13% dos votos. Cida é esposa de Ricardo Barros e, apesar de não ter sido
eleita em Maringá, alcançou o posto de deputada estadual em 2002 e atualmente exerce seu
2
Na retórica, pathos refere-se ao público, neste caso, os eleitores que são persuadidos pelos candidatos.
19
segundo mandato na Assembléia Legislativa, fortalecendo a tradição e a força política da
família Barros.
Em 2000, Jairo Gianoto, que , apesar de não ter concluído seu mandato, não teve seus
direitos políticos cassados, chegou a se candidatar, mas não conseguiu reprisar o feito de
1996, fazendo com que o segundo turno fosse disputado por Dr. Batista ( PTB) e José Cláudio
(PT). Neste ano, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi eleito com 69,7% dos votos válidos,
tendo como representante o sujeito político José Cláudio que governou “[...] sem o apoio da
imprensa, um município com parcos recursos, cidadãos desconfiados e com a auto-estima
abalada pela corrupção.” (BENITES, 2008, p. 106). Porém, por questões de saúde, o então
prefeito José Cláudio se afasta de sua função e, após algumas cirurgias, não consegue se
recuperar, vindo a falecer antes do fim de seu mandato. Este acontecimento fez com que seu
vice-prefeito, João Ivo Caleffi, assumisse o gabinete e continuasse seguindo as atividades
iniciadas por José Cláudio. (DIAS, 2008, p. 196).
Na campanha de 2004, João Ivo Caleffi candidata-se à reeleição. No primeiro turno,
seus principais adversários eram Dr. Batista (PTB) e Silvio Barros (PP), o representante da
família Barros, que tentava novamente galgar o cargo de prefeito. Finalizado apenas no
segundo turno, o pleito de 2004 foi decidido entre João Ivo Caleffi e Silvio Barros, sendo este
eleito com 53,5% dos votos. Os Barros retomam o poder do Executivo maringaense e mais
uma vez demonstram que conseguem se beneficiar das novas mídias. Tal qual seu irmão,
Silvio Barros utilizou o marketing político e dispensou uma maior atenção à qualidade
imagética na tevê, sendo o único candidato a utilizar a simulação de um telejornal para
apresentar suas propostas durante o HGPE na tevê, além de disponibilizar um site com
recursos interativos na internet.
Durante a campanha de 2008, ao ser o político da situação, pois estava na condição de
prefeito que se recandidatava, o sujeito Silvio Barros (PP) buscou autoridade e credibilidade
para não manter-se no cargo como mostrar-se digno de nele continuar. Devido às
diferenças ideológicas internas “[...] que culminou na desfiliação do ex-prefeito” (DIAS,
2008, p. 215), João Ivo Caleffi ingressa no PMDB e se candidata novamente ao cargo de
prefeito. O PT, por sua vez, elege Enio Verri para a disputa. A expectativa era de que o
segundo turno fosse composto por Silvio Barros e Enio Verri, reprisando os mesmos partidos
que participaram do segundo turno de 2004 (PP x PT), ou Silvio Barros e João Ivo Caleffi,
repetindo os mesmos sujeitos políticos de 2004. Porém, Silvio Barros, com 57% do total dos
20
votos válidos, tornou-se, no primeiro turno, o primeiro prefeito a se reeleger. Enio Verri
(PT) ficou em segundo lugar com 21% dos votos, Wilson Quinteiro (PSB) em terceiro, com
7,87% e João Ivo Caleffi (PMDB), com 6,86%, ficou na quarta colocação.
Dada a conjuntura sócio-histórica da política maringaense, percebe-se nela a grande
participação da família Barros na política local e a utilização maciça de recursos midiáticos
em suas campanhas, em consonância com as novas tendências do discurso político eleitoral na
contemporaneidade. Se antes os atores políticos faziam seus discursos em comícios,
mostrando suas capacidades eloquacionais, hoje o espaço mais importante da campanha é o
espaço eletrônico, mais especificamente o televisivo, pois a conduta e a prática social agora se
estruturam e se ambientam na mídia. Desta maneira, surgem novos formatos na tela para o
acontecer político, como os horários e os debates eleitorais. São estes horários eleitorais,
juntamente com sua nova formatação, cenário e sujeitos que formam o corpus de análise e
estimula este trabalho.
Nesse sentido, a presente pesquisa tematiza os ethé
3
, ou seja, o modo de construção
das imagens que o sujeito político Silvio Barros de si em seus discursos de campanha
eleitoral inseridos no contexto da política local. Ao comparar as construções discursivas dos
ethé deste candidato à prefeitura da cidade de Maringá encontrada nas propagandas eleitorais
gratuitas na tevê, este trabalho visa apontar e compreender a ocorrência de mudanças nos ethé
construídos.
Com base no arquivo midiático dos HGPE de 2004 e 2008, foi construído um corpus
discursivo de sequências verbo-imagéticas organizadas em função dos ethé construídos por
este sujeito político. Os programas exibidos no HGPE foram gravados em DVDs e transcritos
para que se fosse possível ter à disposição o material imagético e o material linguístico
4
. Este
corpus possibilita a observação das dispersões e das regularidades do discurso político
3
Do grego, ethé indica plural e ethos, singular.
4
Em anexo, digitalizado no CD e no DVD que acompanha este trabalho. Cabe mencionar que as transcrições
dos cinco programas exibidos na última semana do segundo turno das eleições de 2004 foram gentilmente
cedidas pela pesquisadora Vera Lucia da Silva, responsável pela organização e transcrição deste material
utilizado em sua tese de Mestrado intitulada “As regularidades discursivas de sujeitos políticos no horário
gratuito de propaganda eleitoral (HGPE/TV) nas eleições/2004 de Maringá” e defendida no ano de 2006 na
Universidade Estadual de Maringá. Ressalta-se, ainda, que a organização e transcrições dos dezoito programas
exibidos durante a campanha de 2008 também estão à disposição no grupo GEPOMI/CNPq/UEM Grupo de
Pesquisas Políticas e Midiáticas para que outros participantes possam utilizar esse material em futuras
pesquisas.
21
eleitoral local e a reflexão sobre algumas transformações ocorridas na políticas
contemporânea.
Com as modificações no discurso político causadas pela influência da dia televisiva
que é a que mais massifica a campanha, os sujeitos políticos em geral têm investido muito na
construção de sua imagem pública, que o ethos pode levar a um processo de identificação
do eleitor com o candidato. Como as estratégias discursivas dos sujeitos políticos
contemporâneos quase sempre passam pelo marketing político, elas visam “[...] adequar as
expectativas dos eleitores e as propostas do candidato” (MIGUEL, 2000, p. 81-82), sendo
assim, não é raro encontrar candidatos adaptados em função do mercado político. Contudo,
tais estratégias dependem e consideram outros fatores que definem o que o candidato deve
atacar e o que deve defender, a saber, a própria identidade social do sujeito político; a posição
dos adversários. Então, o que define os tipos de ethé que devem ser construídos em cada
campanha eleitoral? Entre os ethé de credibilidade e identificação, qual é o mais importante?
Quais elementos são necessários para a fabricação desses ethé? Eles são formados apenas pelo
sujeito político? Existe um saber-técnico que contribui para o reforço desses ethé?
Este estudo contribui, sobretudo, para a descrição da movência dos enunciados
praticados por um sujeito político historicamente situado nos períodos de campanhas
eleitorais para prefeito de Maringá em 2004 e 2008. As análises indicam que o ethos além de
ser construído no discurso do sujeito político, também é legitimado por meio do discurso de
terceiros (CHARAUDEAU, 2008), bem como os recursos audiovisuais participam
constitutivamente da produção dos sentidos e reforçam os ethé existentes. Esta pesquisa
possibilita um aprofundamento das reflexões sobre as estratégias de persuasão utilizadas no
discurso político eleitoral.
Assim, tem-se como objetivo geral contribuir para avanços no estudo do ethos e mais
especificamente: a) definir / estabelecer o modo de construção e fixação dos ethé do sujeito
político Silvio Barros nos HGPE das campanhas eleitorais de 2004 e 2008; b) verificar como
as condições de produção interferem na construção do ethos; c) interpretar os tipos de
ocorrência de ethos e seu predomínio nas duas campanhas; d) fazer uma análise comparativa
entre os ethé reforçados pelos sujeitos testemunha em cada eleição, e e) descrever e comparar
as principais estratégias audiovisuais usadas para a fixação dos ethé, refletindo sobre a
importância das imagens no espetáculo político contemporâneo.
22
A pesquisa seguirá os pressupostos teóricos dos estudos linguísticos em Análise de
Discurso (AD), mais especificamente, os estudos do ethos. Com base no primado do
interdiscurso, a noção de ethos que será empregada nesta pesquisa, leva em consideração o
fato de que cada um enuncia a partir de posições que são historicamente constituídas, ou seja,
que em determinada posição ocupada pelo sujeito enunciador é analisado o que ele diz e o que
ele pode dizer estando nestas condições de produção. O discurso não se reduz apenas ao texto
escrito, mas abrange as expressões gestuais e corporais, desta sorte, tornou-se imprescindível
utilizar teorias que aprofundassem as estratégias de interpretação de textos imagéticos.
Devido às diferentes materialidades usadas para produzir os gestos de interpretação
(transcrições de textos verbais, jingles, tabelas, sequências discursivas, infográficos e frames
imagéticos), deve-se salientar que a metodologia usada em cada gesto interpretativo será
especificada em cada capítulo.
Esta dissertação como um traçado de pesquisa, constituiu o percurso do pesquisador
que aprende a analisar o texto e o discurso identificando os procedimentos de textualização,
de discursivização, os efeitos de sentido, de memória e historicidade. Foi dado um maior
destaque para o corpus discursivo constituído por materialidades lingüísticas que forneceram
as sequências discursivas posteriormente separadas e analisadas. Nesse processo de
pesquisador, o homo videns se faz analista: aprende a ver as imagens nas imagens, aprende os
sentidos articulados na co-presença do verbal e visual. Mais do que observar as construções
dos ethé, dedicou-se a reconhecer os efeitos de sentido sentidos e a destacar a participação do
visual no reforço de cada construção verbal. Esta narrativa é aqui usada para justificar a
organização desta pesquisa em cinco capítulos e considerações finais:
Incentivada pelos objetivos e buscando respostas à situações de revisão bibliográfica e
análise de corpus, esta pesquisa seguirá um percurso que começa por delinear o
dispositivo teórico geral. Nesse dispositivo, apresentado no capítulo 1, será abordada a
distinção que se costuma fazer entre política e político, trazendo informações sobre o
seu surgimento e sua utilização, bem como serão mostradas a relação entre a mídia e a
política na contemporaneidade, apontando as transformações ocorridas na política e no
fazer político.
No segundo capítulo serão apresentados os dispositivos teóricos específicos que
versam sobre a disciplina da AD, ressaltando noções importantes como os conceitos
de língua, discurso, história, memória discursiva, efeitos de sentido, condições de
23
produção, formações imaginárias, formações discursivas, entre outras. Dentre estes
conceitos, serão destacadas as diferentes posturas teóricas que problematizam a noção
de ethos discursivo, verificando sua relação com o discurso político que ambiciona a
persuasão e a sedução dos telespectadores / eleitores.
O dispositivo teórico-analítico empregado no terceiro capítulo baseia-se na tipologia
dos ethé proposta por Charaudeau (2008) para o discurso político, a qual permitiu
verificar e analisar os tipos de ethé
5
construídos pelo sujeito político nos HGPE de
2004 e 2008. No decorrer das análises, constatou-se ser necessário expandir essa
teoria, aplicando a mesma tipologia ao discurso produzido por testemunhas, uma vez
que o reforço e a legitimação dos ethé feitos por outros sujeitos mostraram-se
característico do discurso político eleitoral.
Para efetuar uma comparação do funcionamento dos ethé nas duas campanhas, no
capítulo 4 é mobilizado um dispositivo analítico-quantitativo que permitiu sintetizar e
interpretar os resultados quantitativos, destacando as três tipologias mais utilizadas
pelos sujeitos políticos e pelos sujeitos testemunha, observando os efeitos de sentido
que as interpretações desses dados numéricos produziram.
O dispositivo teórico-analítico de imagens aplicado no quinto capítulo demonstra
como o verbal e o audiovisual produzem efeitos de sentido. Baseado na teoria do
quadro cênico elaborada por Maingueneau (2005; 2008), serão evidenciadas as
imagens que caracterizam a cena englobante, a cena genérica e a cenografia do corpus
aqui analisado, demonstrando como o discurso imagético contribui para a legitimação
e a manutenção dos ethé discursivos.
Ao final desse percurso em que foram utilizados diferentes dispositivos teóricos,
analíticos, comparativos e imagéticos, foram feitas reflexões sobre os resultados
encontrados nos vários gestos de interpretação, evidenciando os fenômenos
relacionados ao momento sócio-histórico que se entrelaçaram e direcionaram a
produção de ethé. Embora o foco não se constitua em aprofundar os estudos e
discussões sobre as questões midiáticas na pós-modernidade, nestas considerações
5
De acordo com a tipologia empregada por Charaudeau (2008), os ethé podem ser divididos entre os de
credibilidade e os de identificação. Cada uma dessas categorias possui, ainda, outras subdivisões que indicam
que qualificam cada tipo, por exemplo, nos ethé de credibilidade observam-se os ethos de sério, virtuoso e
competente, e nos de identificação m-se: potência, caráter, inteligência, humanidade, chefe, solidariedade e
proximidade.
24
verificaram-se a presença da mídia televisiva e das imagens na edificação da
credibilidade e da identificação do sujeito político, que ocasionam um efeito de
espetacularização dos acontecimentos.
25
1. DISPOSITIVO TEÓRICO GERAL: A NOÇÃO DE POLÍTICA E SUAS
RELAÇÕES COM A MÍDIA
1.1 DO CONCEITO DE POLÍTICA
Partindo da premissa de que a noção de política envolve a “idéia de disputa pelo
poder”, Miguel (2000, p. 57) aponta três estratégias para a definição de tal conceito. São elas:
a) Abrangente: considerando os ensinamentos deixados por Foucault em que se postulam
as relações de poder em todas as esferas de relações humanas, atrelando a concepção
de Abner Cohen (1978 apud MIGUEL, 2000, p. 57) que afirma que na política estão
envolvidos os processos de “[...] distribuição, exercício e manutenção do poder”.
Entretanto, este primeiro conceito de política pode ser interpretado como amplo e
abrangente;
b) Limitado: considera que se faz política dentro da política institucional, ou seja, só
existe política quando se trata de partidos, governos, parlamentos, eleições, e
c) Específico da política: assim, o entremeio, o que não é abrangente nem, tão pouco,
limitado, quando realizada fora das políticas institucionais. Considerando que na
estética tem-se o belo e o feio; na ética, o bom e o mau; na política considera-se o
amigo e o inimigo, sendo possível verificar essa fronteira por meio do discurso.
Em outras palavras, é no e pelo discurso que a política se concretiza, se desenvolve e
se transforma. Tudo é “[...] expresso e debatido através do discurso(MIGUEL, 2000, p. 58).
Retomando Claude Laforte (1991 apud MIGUEL, 2000, p. 58) a política “[...] sempre
implicou uma relação definida entre homens, relação esta regida pela exigência de responder
a questões que põem em jogo a sorte comum”, assim, o discurso é o responsável por estas
respostas, pelos pronunciamentos, pelos slogans de manifestações, pelos projetos, pela
própria luta política. Segundo Hannah Arendt (1987 apud MIGUEL, 2000, p. 58), “[...] quase
todas as ações políticas [...] são realmente realizadas por meio das palavras.”
É muito comum observar o adjetivo político (a) qualificando os vocábulos luta, jogo e
debate. De acordo com Miguel (2000, p. 60), na “[...] luta, o objetivo é a destruição do
inimigo; no jogo, a vitória sobre o adversário, obedecido um conjunto de regras; no debate, o
26
convencimento e portanto a adesão do interlocutor [...] Na política, os três aspectos se
justapõem” e são permeados pelo discurso.
Foi em Atenas, no século 5 a.C. que se deu a origem da relação entre a política e a
comunicação. Naquele tempo, eram feitas, ao mesmo tempo, reflexões acerca da política, da
retórica e da prática política. O fato de a retórica ser uma estratégia de convencimento pelo
discurso fez com que ela sempre estivesse presente na prática política, uma vez que uma das
funções da política daquela época era resolver a questão do poder político através de cidadãos
que atuavam e debatiam publicamente, ambicionando encontrar alternativas para melhor
governar a sociedade. (RUBIM, 2000).
O decorrer do tempo, as evoluções tecnológicas, as lutas dos dominados contra as
classes dominantes resultaram em uma transformação da configuração política, por exemplo:
o surgimento dos Parlamentos, dos partidos, das eleições, da legitimidade advinda da opinião
pública e não mais do “direito divino”, a conquista da liberdade associativa e partidária, a
ampliação da democracia, entre outros aspectos, contribuíram para acentuar o caráter público
da política, atingindo um número maior de cidadãos e tratando, também, de temas mais
vastos. (RUBIM, 2000, p. 22).
Nesta perspectiva, a política moderna e contemporânea, segundo Rubim (2000, p. 23),
caracteriza-se
[...] enquanto possibilidade, como inclusão formal ou real, ampliação potencial de
participação, alargamento temático, caráter majoritariamente público e
predominância de realização sob a forma de disputa de hegemonia. Tais
componentes inscrevem como possibilidades históricas a socialização real da
política, a desconcentração do poder e, enfim, a realização de um radical, ampliada e
efetiva democracia em toda a sociedade.
Toda essa mudança da sociedade obrigou adequações nas dimensões públicas
contemporâneas. Ao se tornar um espaço propício à circulação de saberes e, ainda, um
dispositivo para o exercício de poderes, a mídia influencia a política para que esta adquira
novos requisitos e modalidades. Até mesmo a presença maçante de imagens visuais e sociais
oferecidas pela mídia resulta em “[...] um elenco de alterações sociais e comunicacionais que
contraditam as tendências anteriores e exigem novas configurações.” (RUBIM, 2000, p. 26).
Alguns aspectos conferiram à política moderna a especificidade que a distanciou da
situação anterior: a) o seu caráter formalmente não excludente; b) a amplitude de sua
dimensão, e c) seu caráter representativo.
27
Comentando sucintamente cada uma das características, tem-se, na primeira, o fato
de esta política considerar a cidadania, de ela tentar incluir todos os membros da sociedade, de
fazer com que os cidadãos entendam o que é ter direito a ter direitos. Na segunda
característica – amplitude de sua dimensão pode-se apreender a sua importância ao pensar o
sigilo político, pois com a ampliação da dimensão política, tem-se a sensação de uma maior
visibilidade ao que se refere às decisões dos políticos, possibilitando prever as ações alheias e
valorizando a opinião pública. Quanto à terceira especificidade, observa-se o destaque
dispensado à representabilidade, já que para fazer valer o direito de cidadão é preciso que haja
alguém com voz ativa, capaz de lutar por seus direitos, alguém legítimo que o represente da
melhor maneira possível.
1.2 MÍDIA E POLÍTICA: UM ENTRELAÇAMENTO
Apesar de simplista, a afirmação de que os sociólogos fizeram na década de 20 a
respeito da relação entre o declínio na participação eleitoral e a incapacidade da política
mostrar-se tão atrativa quanto o cinema, o rádio, a TV e outras formas de entretenimento,
possui sua parcela de verdade. Assim, os aspectos espetaculosos da política tiveram que se
transformar. (MIGUEL, 2000, p. 72).
Os meios de comunicação de massa modificaram a quantidade e a qualidade das
informações, bombardeando homens e mulheres contemporâneos com mero exorbitante de
informação e de imagens. As imagens possuem o poder de intervir na constituição do sujeito,
de instituir valores de verdade, de criar / produzir sentidos com efeitos de verdade fazendo
com que os telespectadores as recebam como fragmentos indiscutíveis e imediatos do real.
Sendo este um poder que a palavra não tem, as imagens se tornaram, com muita rapidez, uma
maneira eficaz de persuasão, modificando o comportamento social e, com ele, a política:
A mídia transmite sua perspectiva da política não apenas nos espaços ostensivos
dedicados a ela (noticiários, editoriais, debates, charges), mas também na
programação de entretenimento (novelas, programas de auditório), seja
conformando uma visão geral sobre o que é ou deve ser a política, seja apresentando
posições menos ou mais cifradas sobre as questões políticas em pauta no momento.
(MIGUEL, 2000, p. 73).
28
Considerando que a mídia tenha modificado o modo das práticas discursivas, e com
elas, o discurso político, os estudos atuais sobre a política devem passar, obrigatoriamente,
pelas representações de real que a mídia vem construindo.
A comunicação política que há algumas décadas tinha como alicerce, quase que
exclusivamente, a palavra, fosse ela falada ou impressa, agora tem como base o uso da
imagem. Essa transformação ocorreu devido às evoluções tecnológicas. De início, as
propostas eram feitas sob o palanque, depois, o rádio ganhou espaço, permitindo ao político
chegar mais perto de seus eleitores, lugares em que, possivelmente, cartazes e santinhos não
chegariam. No cinema, observavam-se cenas dos políticos em seus palanques. Nenhum desses
aparelhos midiáticos alterou, na essência, a forma do discurso político. Esta tarefa ficou ao
cargo da televisão.
Segundo Miguel (2000), a televisão fez da imagem a protagonista absoluta. Para
garantir dinamismo à mensagem, a televisão utiliza-se de cenas externas e para ilustrar os
conteúdos, as imagens de arquivo, fazendo com que o político se aproxime do público através
do gesto e do rosto, provocando um sentimento de intimidade. “Essa intimidade modifica o
formato do discurso [...] O tom do palanque, que remete à praça pública, soa impróprio. É
melhor falar mais baixo, dirigir-se diretamente ao espectador, como num bate-papo.”
(MIGUEL, 2000, p. 74).
Considerando a velocidade da televisão e sua pretensão de não aborrecer o
telespectador, que poderia optar por trocar de canal, as redes de televisão e os assessores de
comunicação política incentivaram (para não dizer obrigaram) os sujeitos políticos a serem
também mais sucintos, fazendo com que as reflexões mais profundas fossem abandonadas.
Portanto, os políticos se adaptaram “[...] à frase curta, que encerra todo o raciocínio nela
própria, isto é, à frase plenamente ‘editável’ na TV.” (MIGUEL, 2000, p. 76).
Além das definições dadas por Miguel (2000, p. 61) de que política é luta, jogo e
debate, vale destacar seu outro traço importante: o espetáculo. De acordo com o mesmo autor,
o espetáculo sempre esteve presente na política. No século XVII, recuperando as palavras de
Jean-Marie Apostolidès (1993 apud MIGUEL, 2000, p.61), “[...] o espetáculo é a necessidade
intrinsecamente associada ao exercício do poder: o monarca deve deslumbrar o povo”, pode-
se dizer que tal pensamento se encontra muito presente nos dias atuais.
A respeito da espetacularização da vida privada dos políticos, Courtine (2006) publica
um artigo intitulado As derivas da vida pública: sexo e política nos Estados Unidos. Neste
29
trabalho, o referido autor faz comparações entre as trajetórias dos políticos americanos e os
políticos franceses, constatando diferenças nos pensamentos e nas ideologias dos eleitores de
cada país. Mais especificamente, ele afirma que os franceses não possuem a necessidade que
os americanos têm de saber dos detalhes da vida privada dos políticos, ou seja, a
“espetacularização” francesa é quase nula quando comparada a outros países.
Neste artigo de Courtine (2006), o que mais interessa para os objetivos desta pesquisa
é o processo de personalização da esfera pública identificado por este autor durante seus
estudos. Tal processo indica as transformações pelas quais as “[...] formas discursivas de
comunicação política” passaram desde o século XIX. (COURTINE, 2006, p. 131).
Buscando alicerçar-se nos estudos feitos por Murray Edelman (1985 apud MIGUEL,
2000, p. 62), procura demonstrar a diferença existente entre a política voltada à platéia e a
política como disputa de interesses: enquanto a primeira é encaminhada ao público, julgado,
nessa conjuntura, como incapaz de compreender as ações políticas e suas consequências,
respondendo apenas aos apelos emocionais, a segunda é “[...] privilégio de pequenos grupos
atuantes, conscientes dos objetivos pelos quais pelejam.” Cabe frisar que ambas as políticas
possuem ligação, pois não pertencem às esferas distintas, afinal, “[...] o espetáculo político
existe em função da disputa de interesses”. Ao reduzir a política pura e simplesmente ao
espetáculo, passa-se a ter uma visão errônea sobre o conceito de política.
1.3 TRANSFORMAÇÕES: OUTRO FAZER POLÍTICO
No contexto de mudanças e acontecimentos, diferentes formatos foram sendo
adquiridos pela política em tempos de mídia. De acordo com Miguel (2000, p. 17):
O contato entre o político e seu público é cada vez mais intermediado pelos meios
de comunicação eletrônicos. [...] Não é que os novos meios sejam incapazes de
transmitir as velhas mensagens; é que as novas formas, que só eles tornam possíveis,
mostram-se muito mais sedutoras.
Segundo Rubim (2000, p. 51), têm-se: a) telepolítica: realizados em redes eletrônicas,
analógicas ou digitais, e b) novos ingredientes políticos: marketing, sondagem de opinião.
Esmiuçando os itens acima citados, observa-se que a telepolítica, também conhecida
como videopolítica e mídia política, surgiu com o aparecimento do rádio e se popularizou
30
com a televisão nas décadas de 70 e 80. O fato de o homem ter se tornado um ser
dependente de estímulos visuais fez com que ocorressem transformações no ser político e no
conduzir político. Rubim (2000, p. 53), destaca o papel da imagem com estas palavras: “O
novo mundo se caracteriza pelo predomínio da imagem sobre a palavra, do visível sobre o
inteligível, da percepção sobre o conceito, da capacidade de ver sobre a capacidade de
pensar.”
Fazendo parte de um momento de adaptações ao novo modo de pensar a política, os
novos ingredientes surgem para atender as novas demandas e configuram-se como condições
de emergência dos discursos e do fazer político da atualidade. Tem-se, assim, o marketing e
as sondagens de opinião como principais meios de garantir a simpatia do eleitorado e, com
ela, os votos.
Ao deixar de lado os legítimos debates de caráter político e se preocupar mais com
uma abordagem que favorece o marketing político, vale mencionar a diferenciação, usada
nessa nova abordagem, entre os conceitos comunicação política e marketing político feita por
Laurent Habib (1992 apud MIGUEL, 2000, p. 81), a comunicação política objetiva “[...]
valorizar e promover homens e idéias, propostas ou programas que supor-se-á, por hipótese,
predefinidos”. o marketing político, ou eleitoral, visa “[...] adequar as expectativas dos
eleitores e as propostas do candidato”, considerando, desta maneira, “[...] o candidato e seu
programa como simples produtos, criados, modificados ou adaptados em função do mercado.”
O uso de técnicas publicitárias na política acaba por desviar principalmente os
objetivos primeiros das campanhas eleitorais. Atualmente pode-se observar o caráter
manipulativo das propagandas, os discursos em que se promete a realização dos desejos dos
eleitores, sendo que para saber quais são esses “sonhos” são feitas pesquisas / sondagens de
opinião. Nesta prática, o discurso político se adapta às expectativas dos eleitores e sofre uma
“[...] diluição dos conteúdos das mensagens.” (MIGUEL, 2000, p. 81).
Outro tipo de sondagem, a de intenções de voto, pode interferir e repercutir no
resultado das eleições ao produzirem o efeito bandwagon, ou seja, quando os eleitores votam
nos candidatos favoritos à vitória eleitoral. Porém, autores como Champagne (1995 apud
MIGUEL, 2000, p. 83), posicionam-se favoravelmente às pesquisas pré-eleitorais, afirmando
que elas permitem
31
[...] criar um verdadeiro suspense que, dia após dia, contribui para manter a
atenção de eleitores e telespectadores que, na maioria, estão pouco interessados
pelos debates políticos, com o que eles podem ter de complexo, de difícil, de
específico e, por isso, de desinteressante para os profanos. Em suma, essas
sondagens tornam possível uma apresentação atraente da luta política, sobre o
modelo, mais familiar ao “grande público”, da competição esportiva ou da
confrontação de personalidades.
Todas estas transformações fazem surgir “[...] novas e polissêmicas configurações e
formatos da política” (RUBIM, 2000, p. 59) e tornam-se importantes para a análise do
discurso, uma vez que é de grande valia saber como ocorreram as transformações do fazer
político para que se possa refletir e compreender os modos de pensar a política
contemporânea.
No âmbito destas transformações políticas, cabe ressaltar a necessidade de uma
mudança de postura e de uma adaptação dos métodos de análise nas pesquisas que tinham
como corpus o discurso político. Neste panorama, surgem os trabalhos de Courtine que, ao
analisar as alterações da fala pública, considerando o “reinado das imagens”, disponibiliza um
dispositivo teórico-metodológico que considera as materialidades não verbais, constituintes da
historicidade dos discursos.
Em estudos mais recentes, Courtine (2008), dialogando com os estudos feitos por
Bauman (2001), explica a liquidez do discurso político ao compará-lo ao mercado de
consumo, porque ele “[...] tende a se tornar uma mercadoria como outra qualquer e que seu
enunciador não seja nada mais do que um simples detentor de um ‘capital de celebridade’ ou
de ‘aprovação’, no grande mercado da bolsa de valores políticos.” (COURTINE, 2008, p. 14).
As mudanças que ocorrem em um pequeno espaço de tempo são tantas que não acontecem
cristalizações de modos ou rotinas, por isso chamado discurso líquido.
Para finalizar, convém ressaltar que o campo da fala pública está, na atualidade,
perpassado e “[...] saturado por imagens nas quais percebemos, ao mesmo tempo, a força de
seu impacto e a instantaneidade de sua obsolescência” (ibidem, p. 17). Desta maneira, torna-
se inviável dissociar o funcionamento dessas imagens dos discursos com os quais elas se
relacionam, mudando, também, as práticas dos analistas de discursos políticos que, agora,
devem observar o suporte material, os fluxos tecnológicos de circulação da fala pública e o
estado líquido das discursividades políticas, apreendendo “[...] seu alcance, suas lógicas, suas
estratégias, seus dispositivos e suas composições de imagens e de discursos” (ibidem, p. 18).
32
1.4 ELEIÇÕES: UM RITUAL LEGITIMADO
A eleição é concebida como um momento e um procedimento de escolha daqueles que
irão exercer poderes na sociedade. Neste rito periódico e legitimado, escolhem-se aqueles que
estarão em lugares de comando, aqueles que terão parcelas substanciais de poder para
governar.
O ato de votar é “[...] a principal expressão da soberania popular, no regime
democrático representativo” (MIGUEL, 2000, p. 14), uma vez que o “[...] ideal da democracia
representativa prevê cidadãos conscientes e informados, decidindo racionalmente em
concordância com seus interesses (e com o bem comum), dentro de um cardápio de propostas
apresentadas o mais nitidamente possível” (MIGUEL, 2000, p. 13) aquele que deve ocupar tal
cargo.
Dissertando sobre o ato de votar e suas consequências, Miguel (2000, p. 61)
complementa:
A votação não é apenas um rito de coesão ou coroação ao espetáculo político por
excelência, que é a campanha eleitoral. É um dos momentos em que a disputa de
interesses (dos ‘bastidores’) é obrigada a se remeter à coletividade. E a decisão
tomada por esta coletividade não é inócua, ou seja, a concessão da maioria a um ou
outro partido possui efeitos para seu cotidiano e para seu futuro.
O fato de o momento eleitoral ser privilegiado para que se façam estudos sobre a
comunicação e suas relações com a política se explicam por se tratar de uma disputa
comunicacional, ou seja, os atores envolvidos nesta cena (os candidatos) são obrigados a
apresentar uma boa performance comunicacional, eles necessitam melhorar a comunicação,
investem em estratégias, dispositivos e instrumentos, afinal, precisam “[...] comunicar idéias e
propostas, convencer, argumentar, emocionar, enfim, de mobilizar mentes e corações em uma
disputa, nomatizada em ambiente público [...]” (RUBIM, 2000, p. 96).
Assim como um casamento exige preparação, cuidados especiais com alguns
elementos que compõe a festa, também a eleição possui uma série de componentes
necessários para a sua realização. São eles: candidaturas, programas políticos, partidos,
comícios, horário gratuito de propaganda eleitoral na televisão, passeatas, caravanas, embate
corpo-a-corpo e alguns materiais específicos (documentos, panfletos, cartazes, símbolos e
jingles, entre outros).
33
1.4.1 Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
Desde 1962 os candidatos em campanha têm direito ao acesso gratuito nos meios de
comunicação (rádio, jornal impresso e televisão, principalmente) para divulgar suas propostas.
Entretanto, o caráter obrigatório da transmissão dessas propagandas eleitorais na televisão faz
com que os eleitores a considerem “[...] uma imposição arbitrária e nociva à liberdade de
escolha dos telespectadores. Seria uma intrusão injustificada numa televisão que é tida
exclusivamente como meio de entretenimento.” (MIGUEL, 2000, p. 120). Assim, duas vezes
por dia, o telespectador tinha sua programação (filmes, novelas, telejornais, entre outros)
interrompida pelo HGPE durante uma hora.
Em 1974 o governo proibiu a veiculação de propagandas pagas na mídia, objetivando
justiça entre os partidos de maior e menor poder aquisitivo. As regras que indicam os modos
de utilização das mídias variam a cada eleição, podendo observar mudanças em relação à
distribuição do tempo entre os partidos ou, até, mesmo, na forma do candidato apresentar seu
discurso aos telespectadores. Em 1976, por exemplo, segundo Miguel (2000, p. 121), por
causa da Lei Falcão era permitido apenas a exibição da foto do candidato e a narração de seu
currículo, que era feita por um locutor. Somente em 1985, depois da redemocratização é que
se teve mais liberdade de expressão nos programas eleitorais na televisão.
As regras para o pleito de 1994 sofreram alterações significativas. Na busca de reduzir
a influência do poder econômico nas campanhas, a legislação proibia a “[...] utilização de
trucagens, imagens externas ou animações (art. 76, parágrafo 1º); além disso, era vedada a
participação de convidados.” (MIGUEL, 2000, p. 121). Neste período, os candidatos
deveriam falar ao vivo, para uma câmera fixa e em estúdio neutro. Atitude que ofendia a
estética televisiva e reduzia a audiência da propaganda eleitoral, ocasionando para o eleitor /
telespectador uma perda de informação. Apesar da rigidez das regras, a Lei 8. 713 não
conseguiu nivelar os programas eleitorais:
Com o objetivo declarado de minimizar a influência do poder econômico e da
pirotecnia mistificadora que cercava os candidatos para ocultar seus projetos,
terminou por limitar o alcance político dos programas eleitorais. Eles se tornaram
incapazes de criar novos fatos políticos e mesmo de expor eficazmente a visão que
partidos e candidatos tinham da realidade. (MIGUEL, 2000, p. 124).
34
Em campanhas anteriores a 1994, os partidos tinham livre acesso à criatividade,
verificava-se a utilização mimética dos programas de tevê convencionais, ou seja, era comum
os políticos se apresentarem aos telespectadores utilizando-se de formatos conhecidos, como
“[...] telejornais, propaganda comercial, talk-show e mesmo telenovela, como fez Maluf em
1989” (MIGUEL, 2000, p. 125), ações que o significavam degradação da mensagem
política, mas uma adaptação, uma tradução do discurso político para a linguagem televisiva,
sendo esta mais íntima do público. Tais fatos comprovam a importância de determinado
suporte midiático como elemento que pode promover coerções / mudanças no próprio gênero
discursivo político.
35
2. DISPOSITIVO TEÓRICO ESPECÍFICO: A ANÁLISE DO DISCURSO, O
DISCURSO POLÍTICO E O ETHOS
2.1 ANÁLISE DO DISCURSO: NOÇÕES, CONCEITOS E POSICIONAMENTOS
Ao longo da história dos estudos da linguagem, não se ousou oferecer um conceito
suficientemente exaustivo para abarcar todos os seus modos de manifestação. Por isso, em vez
de dizer o que é linguagem, os estudiosos têm preferido propor modos de pensar a linguagem.
A partir da década de 60, a linguagem passa a ser entendida como ação, forma de agir no
mundo. O texto, por sua vez, é entendido como evento discursivo no qual interagem múltiplas
vozes, que interferem sobremaneira na elaboração do imaginário à luz do qual o sujeito e o
sentido são formulados; dessa vez, no discurso. Nesse percurso, surgem teorias com os mais
variados cortes metodológicos, tendo em vista as múltiplas facetas da linguagem como
atividade cognitiva, social, histórica, plástica, ou seja, como entidade sempre em devir,
sempre em estado de acontecimento.
Não obstante a abrangência dos estudos lingüísticos, o interesse pela compreensão da
linguagem não para aqui. Em diferentes lugares, sob o prisma de diferentes perspectivas
epistemológicas filosofia, política, história, antropologia, etc. a linguagem continua
interagindo com outros saberes e com outras indagações concernentes aos múltiplos
fenômenos com os quais ela está relacionada. No âmbito específico dos estudos lingüísticos, é
este o panorama no qual se inserem as formulações que, integradas com conhecimentos de
outras ordens, constituem o pano de fundo do dispositivo teórico que norteou as pesquisas do
presente trabalho.
Para o interesse desta pesquisa, ressalta-se o lugar da linguagem na intelectualidade
francesa, no fim da década de 60, quando “[...] sob o horizonte comum do marxismo e de um
movimento de crescimento da lingüística que se encontra em franco desenvolvimento e
ocupa o lugar de ciência piloto” (MUSSALIM, 2004, p. 102), passa a ser instituída a Análise
do Discurso de linha francesa. No entanto, é difícil saber o marco fundador da Análise do
Discurso, pois ela é o resultado da convergência de correntes recentes e da re-leitura de
práticas de estudos antigos de textos.
Inicialmente, a AD não era tratada como uma disciplina, por não delimitar seu objeto
de pesquisa e seus métodos de análise, no entanto, os avanços dos estudos lingüísticos fizeram
36
com que aumentassem o campo dos estudos de produções verbais, com que desenvolvesse
um aparelho conceitual específico, com que houvesse o diálogo cada vez mais rico com as
correntes teóricas, além de definir métodos específicos, diferentes dos que eram usados nas
análises de conteúdo.
Um dos principais articuladores dos estudos que envolviam a Análise do Discurso foi
Michel Pêcheux, que, em 1969, ao publicar seu livro Análise Automática do Discurso, indica
o discurso como um novo objeto de estudo durante o auge do estruturalismo, que tinha como
constante a deliberada exclusão do sujeito. Sob a perspectiva de uma ação transformadora, a
AD visa combater o excessivo formalismo lingüístico e abrir um campo de questões dentro da
própria linguística, passando a rever os conceitos de língua, historicidade e sujeito.
O quadro epistemológico no qual a AD se insere articula três linhas do conhecimento
científico. Segundo Pêcheux e Fuchs (Apud GADET, 1993, p. 163):
1. o materialismo histórico, como teoria das formações sociais e de suas
transformações, compreendida aí a teoria das ideologias;
2. a lingüística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de
enunciação ao mesmo tempo;
3. a teoria dos discurso, como teoria da determinação histórica dos processos
semânticos.
Convém explicitar ainda que estas três regiões são, de certo modo, atravessadas e
articuladas por uma teoria da subjetividade (de natureza psicanalítica).
Ao trabalhar na fronteira entre certas áreas, articulando conceitos inconciliáveis, não
raro a AD sofre problemas de confusões entre as diferentes noções empregadas. No entanto, é
justamente este caráter revolucionário, capaz de romper com conjunturas políticas e
epistemológicas que legitima a necessidade da AD em se articular a outras áreas das ciências
humanas, principalmente a lingüística, o materialismo histórico e a psicanálise, como
mencionado anteriormente.
Diferenciando-se das linguísticas imanentes, que se centravam na língua por ela
mesma, e também das demais ciências humanas que usavam a língua como instrumento para
explicar textos, a AD recorta seu objeto teórico, o discurso, tornando-se uma disciplina de
entremeio que se distingue das demais áreas por seu aparato teórico, seu método de análise e
sua prática.
Antes de aprofundar as noções teóricas empregadas na AD, vale antecipar algumas
transformações que esta disciplina vem admitindo nas últimas décadas, compreendendo o
37
contexto destas mudanças e a atual preferência por outros conceitos, outros pontos de vista.
Courtine, um dos teóricos contemporâneos que presenciou e estudou algumas destas
transformações teóricas e metodológicas da AD e, ainda, responsável pela propagação dessas
novas posturas, esclarece em seus livros e artigos estas “metamorfoses do discurso” que serão
aqui retomadas.
Com base nas leituras feitas dos textos deste autor, mais especificamente no capítulo
intitulado Uma genealogia da Análise do Discurso (COURTINE, 2006), é possível
compreender melhor o entrelaçamento das disciplinas basilares da AD e a inicial preferência
em se analisar corpora de discursos políticos na França da década de 60. Visando produzir
sentidos a respeito das realidades históricas e políticas, a AD elege o discurso para constituir
seu objeto de análise, pretendendo, assim, “[...] ao mesmo tempo, compreender a sociedade e
operar sua transformação.” (COURTINE, 2006, p. 38).
O projeto inicial da AD visava conciliar uma dimensão histórica e crítica advindos
dos estudos históricos e uma dimensão instrumental e positiva provenientes dos estudos
lingüísticos. Entretanto, segundo o referido autor, atualmente pode-se perceber que a maioria
dos trabalhos feitos em AD não seguem mais este projeto, principalmente ao que se refere
ao apagamento da história. Fato que pode ser tomado como “compreensível” ao se considerar
a evolução e a transformação histórica das práticas discursivas, pois as “[...] metamorfoses
políticas, a evolução das sensibilidades, as mutações tecnológicas conturbaram os regimes de
discursividades das sociedades ocidentais contemporâneas.” (COURTINE, 2006, p. 50).
Como se sabe, na AD não existe métodos prontos e imutáveis de análise. Cada objeto
usado como corpus de pesquisa requer uma maneira específica de análise, um modo que
respeite suas possíveis transformações. Segundo Courtine (2006, p. 50):
Não fazemos a mesma análise do discurso político quando a comunicação política
consiste num comício que reúne uma multidão em torno de um orador e quando essa
comunicação toma forma de shows televisivos, aos quais cada um assiste em
domicílio. Tampouco fazemos a mesma análise do discurso independentemente das
crenças, das segmentações sociais e ideológicas, das polêmicas antigas ou recentes;
elas exercem suas coerções sobre o discurso das ciências humanas, sobre as escolhas
dos sujeitos, sobre a definição dos objetos e sobre a reprodução dos recortes formais.
Conforme o acima exposto, a prática dos analistas de discurso franceses revelava uma
tendência, para não dizer preferência, a ter como corpus de análise os discursos políticos. A
explicação para a repetida escolha desse objeto é encontrada na estreita relação que a
38
linguística tinha com o marxismo, fazendo-o ocupar lugar de destaque em debates teóricos
e políticos. Outra consideração que se pode fazer a este respeito relaciona-se ao momento
sócio-histórico revolucionário na década de 60 daquele país, quando esses movimentos
impulsionavam a produção e circulação de discursos políticos, ocasionando a existência dessa
problemática linguística do discurso, objetivando cumprir “[...] absolutamente ao mesmo
tempo, uma função política e crítica e uma função científica e ‘positiva’; quis sustentar o
conjunto, cimentar a aliança entre uma teoria marxista do discurso, uma leitura engajada dos
textos, por um lado, e uma análise automática do discurso, por outro.” (COURTINE, 2006, p.
55).
Como sugere a literatura pertinente (ORLANDI, 2005; MAINGUENEAU, 1997,
2001; MUSSALIM, 2004), a compreensão da AD exige, primeiro, uma mudança de
perspectiva para entender a noção de discurso, ora inserida em um contexto acadêmico-
científico no qual entrecruzam saberes lingüísticos, sociológicos, filosóficos e,
principalmente, políticos e ideológicos.
O discurso passa a ser determinado e apreendido dentro de uma relação com a história,
ou seja, ele é determinado por um exterior, tornando-se o “[...] tecido histórico-social que o
constitui” (GADET, 1993; PECHEUX, 1988, 1997), além disso, em AD a língua é vista sob
outra ordem, na qual o texto, entendido como unidade simbólica, representa ato de
interpretação.
Segundo Orlandi (2005), etimologicamente, a palavra discurso tem em si a idéia de
curso, de percurso, de movimento. Assim, o discurso é a palavra em movimento, de modo que
o estudioso do discurso observa o homem falando em um processo de historização contínuo.
O discurso “[...] é o efeito de sentidos entre locutores” (PÊCHEUX, 1993, p. 82), pois o que é
encontrado no discurso é um complexo processo de constituição de sujeitos e de produção de
sentidos oriundos da tensão entre constituição e formulação.
Devido ao fato de os discursos terem sua legitimidade assegurada no dito, a
memória, eles não são fixos, mas se transformam e assumem outros valores, de acordo com a
época, o lugar e a ideologia vigente (FERNANDES, 2008). Por isso, o discurso vai além do
pronunciamento político e, apesar de necessitar da língua para existir, também a ultrapassa,
visto que as palavras, quando ditas, estão impregnadas de aspectos sócio-ideológicos que as
fazem produzir sentidos que extrapolam as fronteiras linguísticas do texto.
39
Integrando o discurso na ordem do enunciado e da enunciação, a semântica global,
defendida por Maingueneau, visa a significância discursiva em seu conjunto fazendo existir
um “[...] sistema que investe o discurso na multiplicidade de suas dimensões
(MAINGUENEAU, 2005, p. 80). Os planos que compõem as diferentes dimensões
responsáveis por esta semântica global, segundo Maingueneau (2005), são: intertextualidade,
vocabulário, temas, estatuto do enunciador e do destinatário, dêixis enunciativa, modo de
enunciação e modo de coesão.
A intertextualidade refere-se à possibilidade de os discursos citarem discursos
anteriores pertencentes ao mesmo campo discursivo. Assim, são definidos dois tipos de
intertextualidade: a interna e a externa. Compreendendo campo discursivo como um conjunto
de formações discursivas que se encontram em concorrência (o campo discursivo político, no
caso deste trabalho), a intertextualidade interna possui um duplo trabalho da memória
discursiva dentro de um mesmo campo discursivo. A intertextualidade externa refere-se à
relação que os textos possuem com outros campos discursivos.
No plano do vocabulário tem-se o fato de que cada discurso explora de maneira
diferente as mesmas unidades lexicais, desta maneira, autores tendem a usar suas próprias
formas de enunciação pelo fato de que o discurso possuir um vocabulário “obrigatório”,
fazendo com que a significação lingüística de um termo e o sistema de restrições de um
discurso se imbriquem. Desta sorte, as palavras terminam por adquirir um valor semântico
singular dentro de determinado discurso, chegando a possuir “[...] estatuto de signo de
pertencimento” (ibidem, p. 85) e marcam a posição dos enunciadores dentro do campo
discursivo.
Entendendo por tema “[...] aquilo que um texto fala” (MAINGUENEAU, 2005, p. 85),
o referido autor afirma ser mais importante o seu tratamento semântico, ou seja, como o
discurso significa. Resumindo: a) um discurso integra semanticamente todos os seus temas,
ou seja, estão todos de acordo com seus sistemas de restrições; b) São definidos dois tipos de
tema, os impostos e os específicos; c) Os temas impostos subdividem-se em compatíveis – que
direcionam semanticamente ao sistema de restrições e incompatíveis que apesar de não
convergirem aos mesmos sistemas, integram-nas; d) Os temas específicos são próprios a um
discurso, possuem uma relação semântica privilegiada com o sistema de restrições.
No discurso político eleitoral a estabilidade de conjunto de temas é pequena, pois, para
ser aceito, o discurso é obrigado a se impor a um número variado de temas, a fim de abarcar
40
uma grande quantidade de assuntos e “convencer” sujeitos diferentes. Assim, a
especificidade de um discurso é definida pela sua formação discursiva e não por seus temas.
Para legitimar seu dizer o enunciador tem seu discurso definido por um estatuto que
confere seu próprio dizer e que é conferido ao seu destinatário. Segundo Maingueneau (2005,
p. 91), “[...] os diversos modos de subjetividade enunciativa dependem igualmente da
competência discursiva”. A partir de determinados discursos torna-se possível supor quais
sãos os conhecimentos que o enunciador possui a respeito daquela região do saber.
Enunciar supõe uma dêixis espaço temporal construída pelo discurso por causa de seu
próprio universo. Uma instância de enunciação legítima é definida em sua dupla modalidade
espacial e temporal. Essa dêixis delimita a cena e a cronologia que o discurso constrói para
autorizar sua enunciação. Surge, desta maneira, a necessidade de estabelecer uma cena e uma
cronologia conforme às restrições da formação discursiva.
Além de ser um conteúdo associado a uma dêixis e a um estatuto de enunciador e de
destinatário, o discurso também é um modo de enunciação, ou seja, uma maneira específica
de dizer. O discurso tem uma voz própria, uma corporalidade, por mais “escrito” que seja e
por mais que ele negue essa voz. O tom, já foi o aspecto menos estudado da “vida verbal”, no
entanto, hoje ele é uma dimensão que “[...] suscita muito interesse através da reflexão sobre a
‘voz’, a ‘oralidade’, o ‘ritmo’, e, para além disso, sobre o próprio corpo” (Maingueneau, 2005,
p. 95). O tom sustenta-se sobre uma figura dupla estreitamente relacionadas e são
inseparáveis: o caráter (ethos) e a corporalidade.
Caracterizado psicologicamente, o rosto suporte ao tom e é produzido pelos modos
de enunciação. Já por corporalidade, entende-se os esquemas que definem uma certa maneira
de “habitar” seu corpo de enunciador e, indiretamente, de enunciatário. No discurso o corpo
(corporalidade) nunca é visto, mas disseminado em todos os planos discursivos. A
incorporação será compreendida como uma “[...] imbricação do discurso com seu modo de
enunciação” (ibidem, p. 98). Através do corpo textual o discurso faz com que o enunciador
encarne-se, ou seja, ele ganha corpo. Esse fenômeno permite o enunciador habitar o mundo e
entrar em relação com o outro. Essa dupla incorporação assegura a “incorporação imaginária”
dos destinatários no corpo dos adeptos do discurso. O destinatário é consumidor das idéias e
alcança uma “maneira de ser” através de uma “maneira de dizer”.
O modo de coesão refere-se à interdiscursividade própria de cada formação discursiva.
Ela também é chamada de anáfora discursiva, ou seja, a maneira pela qual um discurso
41
constrói sua rede de remissões internas. Fazem parte desse domínio os fenômenos de
recorte discursivo exercido em um nível fundamental, atravessando as divisões em gêneros
constituídos e o encadeamento ocorre em um nível superficial que se refere aos modos
como cada formação discursiva constrói seus parágrafos, capítulos, argumentos, entre outros.
Finalmente, Maingueneau (2005, p. 101), assevera que “[...] o sistema de restrições define
tanto uma relação com o corpo, com o outro... quanto com idéias, é o direito e o avesso do
discurso, toda uma relação imaginária com o mundo.”
Desta maneira, a AD surge como uma ciência que possibilita trabalhar tanto com a
linguagem enquanto estrutura quanto como acontecimento, ou seja, o analista de discurso
pode analisar a ordem, a regra e também o acaso, o equívoco, a forma histórica da
significação na compreensão de cada gesto de interpretação. No âmbito teórico da AD, o
importante não é o que determinado texto significa e sim como ele significa. Desta forma, AD
tem como objetivo compreender a língua no momento em que ela faz sentido, enquanto
trabalho simbólico, que faz parte do homem e de sua história (ORLANDI, 2005;
FERNANDES, 2008).
Nos estudos anteriores à AD, a interpretação não passava de uma análise de conteúdo.
Nessa perspectiva, o sentido de um texto era interpretado com base na informação que ele
trazia em seu material lingüístico. A AD rompe com esta prática introduzindo a noção de
efeitos de sentido entre interlocutores. Esse dispositivo teórico, não aceitava o fato de que as
palavras, expressões ou estruturas sintáticas fossem a garantia de sentido, ou que bastasse
conhecer os autores e suas épocas para alcançar o sentido de um texto. Para a AD, a ngua é
polissêmica e opaca.
Na prática, a AD trata da relação da língua com a sua exterioridade, ou seja, está
interessada em investigar o modo como os sujeitos usam a linguagem para se constituírem
como tais e para veicular sentidos em gestos de interpretação. Os sentidos são produzidos de
acordo e concordando com a ideologia dos sujeitos em questão, resultando na forma como tais
sujeitos entendem a realidade política e social em que estão inseridos. O elemento simbólico
do ato de interpretação é o texto que, por sua vez, desafia o analista a identificar o modo como
ele aponta os efeitos estruturadores de sentido na tensão entre sua constituição e sua
formulação.
No âmbito da AD, os estudos discursivos pensam o sentido dimensionado no tempo e
no espaço das práticas do homem, refletindo sobre a maneira como a linguagem está
42
materializada na ideologia e como a ideologia se manifesta no discurso por meio de textos e
imagens. Como mostra Orlandi (2005), na maioria das vezes, os diferentes sentidos
encontrados em diferentes enunciados remetem à memórias e à circunstâncias externas,
mostrando que o sentido não está apenas nas palavras e no texto propriamente dito, mas na
tensão das relações de forças:
Os dizeres não são, como dissemos, apenas mensagens a serem decodificadas. São
efeitos de sentidos que são produzidos em condições determinadas e que estão de
alguma forma presentes no modo como se diz, deixando vestígios que o analista de
discurso tem de apreender. o pistas que ele aprende a seguir para compreender os
sentidos produzidos em relação ao dizer com sua exterioridade, suas condições de
produção. Esses sentidos têm a ver com o que é dito ali, mas também em outros
lugares, assim como com o que não é dito, e com o que poderia ser dito e não foi.
Desse modo, as margens do dizer, do texto, também fazem parte dele. (ORLANDI,
2005, p. 30).
Retomando a idéia pecheutiana de que o sentido não existe em si, mas é determinado
pelas posições ideológicas em que as palavras são produzidas e de que as palavras mudam de
sentido de acordo com as posições dos sujeitos que as empregam, Orlandi (2005) esclarece
que é através da formação discursiva (FD) que se consegue compreender o processo de
produção de sentidos, a sua relação com a ideologia, sendo ela o que determina o que pode ser
dito.
O conceito de FD é considerado complexo e de “paternidade” duvidosa dentro dos
estudos da AD. Segundo Baronas (2004), tanto Pêcheux quanto Foucault partilhavam do
interesse pela história das ciências e das idéias, entretanto, apenas Pêcheux, no nível prático,
tentou elaborar um dispositivo operacional de análise do discurso.
Em Foucault, a noção de FD aparece pela primeira vez em Arqueologia do saber
1969 –, quando o autor descreve o método arqueológico de análise que visa descrever e
compreender os discursos das ciências humanas. Neste método, buscam-se as condições de
existência dos enunciados, sendo que tais enunciados são “[...] condicionados por um
conjunto de regularidades internas, constituindo um sistema relativamente autônomo,
denominado de formação discursiva”. (BARONAS, 2004, p. 51).
Segundo o referido autor, em Pêcheux, o conceito de FD parece pela primeira vez no
artigo A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem e discurso, de 1968, quando
Pêcheux faz uma “[...] intervenção epistemológica nas semânticas lingüísticas” (ibidem, p.
43
52), propondo encarar a problemática do discurso, pensado, agora, à luz do materialismo
histórico e relacionando-o com a ideologia.
Em Pêcheux, a FD é compreendida como um jogo de princípios reguladores que
formam a base de discursos efetivos. Essa formulação sugere então que “[...] palavras,
expressões e preposições adquirem seus significados a partir de determinadas formações
discursivas nas quais são produzidas (os elementos lingüísticos selecionados, como eles são
combinados)” (ibidem, p. 54).
Pêcheux exemplifica sua noção de FD a partir de discursos ideologicamente marcados,
privilegiando a luta política: “Aquilo que pode e deve ser dito (articulado sob a forma de um
arenga de um sermão, de um panfleto, de uma exposição, de um programa etc) a partir de uma
posição dada na conjuntura social.” (PÊCHEUX, 1988, p. 188).
Sob o prisma da Análise do Discurso, faz-se necessário considerar a ideologia para
refletir sobre a constituição dos sentidos, mobilizando, desta maneira, o exterior lingüístico.
Considerando que o sentido se dentro de uma formação discursiva e que esta representa
uma formação ideológica materializada na linguagem, pode-se entender que a ideologia
direciona os sentidos, produzindo um efeito de evidência.
Segundo Pêcheux (1997, p. 92), “[...] todo processo discursivo se inscreve em uma
formação ideológica de classes”, ou seja, é a ideologia que fornece evidências de que uma
dada palavra, expressão, proposição signifique aquilo que ela está significando em
determinado momento sócio-histórico.
Nesta perspectiva, ainda sobre a questão do sentido, o referido autor afirma que as
formações ideológicas
[...] comportam, necessariamente, como um dos seus componentes, uma ou várias
formações discursivas interligadas que determinam o que pode e deve ser dito [...] a
partir de uma posição dada numa conjuntura’, isto é, numa certa relação de lugares
no interior de um aparelho ideológico, e inscrita numa relação de classes
(PÊCHEUX, 1997, p.166).
No âmbito da exterioridade linguística, deve-se ressaltar que o conceito de história
com o qual a AD trabalha não é o tradicional em que se observa uma dimensão temporal
expressa na forma da cronologia e da evolução. Os analistas, em geral, preferem falar em
termos de “historicidadeconstitutiva dos discursos para que os termos o se confundam. A
compreensão dos processos discursivos dentro da AD implica, de um lado, o entendimento do
44
funcionamento da organização linguística e, de outro, a abrangência da relação do discurso
com a exterioridade.
Para se conhecer esta exterioridade, é necessário compreender a maneira como os
sentidos trabalham o texto. A AD traz para a análise aquilo que é deixado de fora pela
lingüística tradicional, passando a considerar o componente histórico, sendo as condições de
produção do discurso, a ideologia e o interdiscurso os componentes que formam aquilo que
está na ordem da historicidade.
O “batimento analítico”, que visa a descrição e a interpretação dos enunciados, faz
intervir uma memória discursiva, uma historicidade para que se compreendam os sentidos
construídos em tal enunciado e, o mais importante, as condições de produção do discurso que
também consideram os sujeitos.
Segundo Orlandi (2005, p. 30), pode-se considerar “[...] as condições de produção em
sentido estrito e temos as circunstâncias da enunciação: é o contexto imediato. E se as
consideramos em sentido amplo, as condições de produção incluem o contexto sócio-
histórico, ideológico.” De acordo com a referida autora (ibidem, p. 40),
As condições de produção implicam o que é material (a língua sujeita a equívoco e a
historicidade), o que é institucional (a forma social, em sua ordem) e o mecanismo
imaginário. Esse mecanismo produz imagens dos sujeitos, assim como do objeto do
discurso, dentro de uma conjuntura sócio-histórica.
Courtine (2009, p. 52-53), ao retomar duas metáforas do discurso, como teatro e como
combate, explica que a articulação teórica da linguística com a história ocorre em campo
fechado, ou seja, os discursos são historicamente determinados. Devido às especificidades
deste trabalho, cabe destacar a metáfora do discurso como combate, própria do discurso
político, em que as condições de produção desse discurso se identificam com um ringue em
que ocorre uma luta de boxe: o “conflito político” é tomado como um “afrontamento inter-
individual”. Vale citar que todo o discurso (e por consequência, todo o discurso político) “[...]
é meio de ação, o que atrai nossa atenção são seus procedimentos de produção na interação,
suas finalidades, suas estratégias em função da situação dos interlocutores, das forças políticas
em presença e dos objetivos que ele persegue.” (COURDESSES, 1971 apud COURTINE,
2009, p. 53).
Outra noção cara à AD é o conceito de interdiscurso, compreendido como a relação de
sentidos produzidos quando um discurso remete a outro. Pêcheux (1997, p. 77) afirma que
45
[...] o processo discursivo não tem, de direito, início: o discurso se conjuga sem
pre
sobre
um discursivo prévio, ao qual ele atribui o papel de matéria-prima, e o orador
sabe que quando evoca tal acontecimento, ou já foi objeto do discurso, ressuscita no
espírito dos ouvintes o discurso no qual este acontecimento era alegado, com as
‘deformações’ que a situação presente introduz e da qual pode tirar partido.
O interdiscurso é, para Orlandi (2001), o lugar em que os sentidos se constituem
enquanto tradutor de um já-dito e esquecido pelo sujeito que o produz, conforme as condições
de produção exigidas para o momento dado. O discurso, segundo Maingueneau (1997), não
escapa à interdiscursividade para se constituir. Por toda sua existência, ele se obriga a
esquecer que não nasce de um retorno às coisas, mas da transformação de outros discursos. O
mesmo autor afirma que o interdiscurso tem precedência sobre o discurso, desta sorte, será o
espaço de trocas entre vários discursos.
A noção de sujeito é uma questão que levou diversos linguistas que estudam o
discurso a identificarem diferentes denominações, sendo que cada uma varia de acordo com a
opção teórica a qual pertence o estudioso. Locutor, emissor e enunciador estão relacionadas
ao fenômeno da enunciação, enquanto que receptor, ouvinte, interlocutor, destinatário,
alocutário e co-enunciador voltam-se para o fenômeno da comunicação.
Dentro dos limites pertinentes à teoria do discurso, a categoria de sujeito empírico do
indivíduo é abandonada. Trabalha-se com um sujeito dividido, com uma categoria teórica que
visa “[...] dar conta de um lugar a ser preenchido por diferentes posições-sujeito em
determinadas condições circunscritas pelas formações discursivas.” (LEANDRO FERREIRA,
2005, p. 18).
O sujeito do discurso é um termo usado para especificar o estatuto, o lugar e a posição
do sujeito que fala com relação ao seu ato de linguagem. Segundo Charaudeau &
Maingueneau (2006, p. 457), a competência do sujeito agora passa a ser considerada “[...] ao
mesmo tempo comunicacional, discursiva e lingüística”, pois são observadas “[...] as relações
que o sujeito mantém com os dados da situação de comunicação na qual ele se encontra, os
procedimentos de discursivização, assim como os saberes, opiniões e crenças que possui e que
supõe serem compartilhados pelo seu interlocutor.”
No âmbito da exterioridade constitutiva do sujeito, mais especificamente na ideologia
que interpela este conceito, a autora Orlandi (2005, p. 50) afirma que o sujeito é “[...] ao
mesmo tempo livre e submisso. Ele é capaz de uma liberdade sem limite e uma submissão
46
sem falhas: pode tudo dizer, contanto que se submeta à língua para sabê-la. Essa é a base do
que chamamos de assujeitamento.” O assujeitamento faz com que o “[...] discurso apareça
como instrumento (límpido) do pensamento e um reflexo (justo) da realidade.” (ibidem, p.
51).
O sujeito não é o centro de seu dizer. Esta afirmação retoma as observações sobre os
esquecimentos um e dois formuladas por Pêcheux e Fuchs (1993): a) o primeiro
esquecimento, também conhecido como “esquecimento ideológico”, produz no sujeito a
ilusão de ser a origem do que diz, fato que não é verdadeiro, pois ele está retomando sentidos
pré-existentes; b) o segundo esquecimento, chamado de “esquecimento enunciativo”, produz
no sujeito a impressão de que o que ele diz pode ser dito daquela maneira e não de outra.
Entretanto, esse esquecimento não é total, porque, ao recorrer às famílias parafrásticas, o
sujeito reconhece que o dizer poderá ser sempre outro.
O sujeito se subjetiva na medida em que se projeta de seu lugar no mundo para sua
posição no discurso. Nessa medida, sujeito e sentido se constituem ao mesmo tempo na
articulação da língua com a história. Para a AD, o sujeito não é a origem de si e, portanto, sua
identidade resulta de um processo de identificação-interpelação do sujeito feita pela ideologia.
2.2 DISCURSO POLÍTICO: CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICIDADES
Ao que concerne os interesses da presente pesquisa, faz-se necessário uma pequena
reflexão e retomada aos estudos realizados por Miguel (2000), Courtine (2006; 2008) e
Charaudeau (2008) a respeito da relação que existe entre a política e o discurso político.
Conforme mencionado anteriormente, a política acontece no e pelo discurso, assim, é
possível atribuir-lhe um papel dialógico. Ao fazer ponderações a respeito do discurso político,
Miguel (2000, p. 85) também descreve as ações e o que um sujeito político precisa ter em
mente para que seu discurso não se torne incoerente. Deste modo, o discurso político
[...] é inteiramente conformado pelos diagnósticos, propostas e pontos de vista que o
antecederam, instituindo-se contra alguns e a favor de outros; em especial, precisa
estabelecer uma relação com as visões hegemônicas ou de senso comum com as
questões que aborda. E cria estratégias de antecipação para neutralizar as possíveis
objeções que se levantarão contra ele.
Ainda no âmbito das caracterizações do discurso político, estudos aprofundados por
Courtine (2003; 2006; 2008) retomam os conceitos: línguas de madeira e línguas de vento. A
47
primeira refere-se às línguas duras e herméticas, próprias dos discursos jurídicos e políticos;
têm como característica as formas longas e monológicas das falas blicas; nelas são
apresentados os programas, as proposições intermináveis, as dissertações políticas. As línguas
de madeira, segundo Courtine (2003, p. 23) tornaram-se “[...] geradoras de aborrecimentos,
suspeitas de duplicidade, opacas, alusivas e mentirosas [...]”.
Em oposição àquela, têm-se as nguas de vento que, por serem flexíveis e fluidas,
apontam para a língua usada nos discursos publicitários. As formas breves, as rmulas, as
pequenas frases são exemplos utilizados nestas línguas. Tais características transformaram
enunciativamente a fala pública, deixando-a “[...] interativa, descontínua e fragmentada”
(COURTINE, 2003, p. 22). Por serem claras, as línguas de vento têm por atributo serem
transparentes. Por serem objetivas, tornaram-se simples. Ou seja, o discurso político
contemporâneo atende à exigência de um “falar-verdadeiro” e um “falar-francamente”.
Porém, vale ressaltar que “[...] a brevidade e a simplicidade normalizadas das proposições não
garantem em nada a transparência das intenções.” (COURTINE, 2003, p. 23).
Foi observando as mutações da fala pública que Courtine (2006, p. 132) fez alguns
apontamentos em relação às mudanças sofridas desde as tradições retóricas. De acordo com o
autor, na atualidade o uso retórico e as prescrições gramaticais caíram no desuso, dando lugar
a outros estilos linguageiros que se preocupam mais com “[...] a prosa simples, declarativa,
sem ornamentos supérfluos”, fazendo com que os discursos políticos adotassem um “estilo
dialogado, familiar, pessoal de conversação”. De acordo com Courtine (2006, p. 132):
Os usos públicos da linguagem se despojam pouco a pouco das formas discursivas
tradicionais de autoridade e de hierarquia, quando são inventados os estilos
intermediários (midding styles), isto é, os estilos de fala pública que misturam as
formas populares e cotidianas com os usos lingüísticos mais refinados e elevados.
Mas, independente dessas mutações, é possível caracterizar de modo geral o
funcionamento do discurso político. É o que faz Charaudeau (2008) ao explicar o “contrato de
comunicação” que faz com que o discurso político circule e seja eficaz. Sendo assim, vale
ressaltar a metáfora que este autor usa para afirmar que a comunicação humana é um teatro.
Neste teatro, existe uma ampla cena em que os atores “[...] representam, por meio da
linguagem, espetáculos relacionais diversos nos quais alguns papéis estão previstos e outros
são improvisados.” (CHARAUDEAU, 2008, p. 51).
48
Inserida neste espetáculo encontra-se a cena política, na qual “[...] se representam
relações de poder segundo os lugares, os papéis e os textos previstos” (ibidem, p. 52).
Levando em consideração que a comunicação é estruturada por um dispositivo que valida um
lugar determinado aos parceiros da troca, torna-se evidente que, para se entender as
estratégias dos discursos políticos, precisa-se, a priori, descrever a cena política, ou seja, a
situação de comunicação política.
No discurso político, como mencionado anteriormente, existe um contrato de
comunicação que trata do encontro entre as trocas simbólicas (que são estruturadas de acordo
com as relações de força) e as estratégias de encenação da linguagem. Charaudeau (2008), diz
que este contrato é fruto da intersecção de um “campo de ação” e um “campo de enunciação”.
Os políticos, desta maneira, enfrentam alguns desafios ao ambicionarem a eficácia de seus
discursos, pois o discurso político é, ao mesmo tempo, heterogêneo e estável devido às várias
possibilidades de significação e de “comportamentos enunciativos” adotados por estes
sujeitos. Assim, as significações e os efeitos advindos destes discursos, são resultantes do
entrecruzamento de saberes e de crenças fabricados pelo dispositivo da comunicação e por
seus atores.
Segundo Charaudeau (2008), é de responsabilidade destes dispositivos estruturar e
organizar os lugares em que as trocas linguageiras acontecem, levando em consideração os
lugares ocupados pelos sujeitos, bem como a natureza de suas identidades e a relação
instaurada entre eles, garantindo a significação do discurso político.
São companheiras do “contrato de comunicação” as instâncias, entendidas aqui como
categorias abstratas, conhecimentos amplos, que são caracterizadas pela posição que ocupam
no dispositivo e para as quais os indivíduos são remetidos. A importância destas instâncias,
dentro da AD, encontra guarida no fato de que sem elas a interpretação dos dizeres seria
errônea, pois elas evitam que se caia em dois pólos diferentes: “[...] o que reduzir as
explicações dos fatos políticos apenas à personalidade psicológica e social dos atores reais da
vida política [...]” e “[...] o que consiste em interessar-se apenas pelas idéias veiculadas pelos
discursos (a ideologia), sem levar em conta a natureza das instâncias do dispositivo.”
(CHARAUDEAU, 2008, p. 55).
São três as instâncias do discurso político, a saber: a) instância política X instância
adversária; b) instância cidadã, e c) instância midiática. A instância política busca a
legitimidade para alcançar o lugar de autoridade e credibilidade de seus atores, logo, estes
49
atores anseiam o “fazer” poder de ão e o “fazer pensar” poder de manipulação. No
discurso desta instância encontram-se proposições programas / plataformas dos políticos
candidatos às eleições –; justificativas ao que se refere às decisões e atitudes dos sujeitos –;
críticas quando se trata de idéias adversárias e reforçar sua posição e conclamação
objetivando o senso social e o apoio dos cidadãos. a instância adversária, apesar de ocupar
o mesmo lugar que a política, não possui poderes e produz um discurso que critica o governo
que está no poder naquele determinado momento.
A instância cidadã é constituída por indivíduos de uma mesma comunidade nacional
que estão e vivem juntos. Nela, estes indivíduos constroem suas opiniões fora do governo e
buscam uma reflexão para poder julgar os programas propostos e as ações que são impostas
pelos governantes para, depois, elegerem seus representantes. Os discursos produzidos pela
instância cidadã são de: reivindicação para protestos contra decisões e omissões do poder
em vigor –; interpelação para exigir explanação e ação e sanção para eleger ou reeleger
os representantes.
A instância midiática é o elo que une a instância cidadã e a instância política, para
tanto, ela se utiliza de diferentes meios de comunicação para alcançar esse objetivo: panfletos,
cartazes de rua, cartas, internet, outdoors, TVs, rádios, entre outros. Atuando no papel de
informante, o principal objetivo desta instância é o de obter a credibilidade dos cidadãos e dos
políticos. Os dispositivos que integram a instância midiática são de: exibição que busca a
credibilidade do público mostrando as verdades escondidas nos discursos políticos, além de
denunciar, interpelar e acusar os poderes blicos e espetáculo que, narrando e
dramatizando os acontecimentos, objetiva conquistar a fidelidade do público.
Assim, Charaudeau (2008, p. 63) afirma que:
O dispositivo do contrato de comunicação política é, de certa forma, uma máquina de
forjar discursos de legitimação que constroem imagens de lealdade (para a instância
política), que reforçam a legitimidade da posição de poder; de protesto (para a
instância cidadã), que justificam a legitimidade do ato de tomar a palavra; de denúncia
(para a instância midiática), que mascaram a lógica comercial pela lógica democrática,
legitimando esta em detrimento daquela.
De acordo com Menezes (2005, p. 165), além do contrato de comunicação, o sujeito
“comunicante-candidato” também deve circunscrever-se em um espaço de estratégias visando
organizar o seu dizer segundo três níveis de realização: legitimidade, credibilidade e captação.
50
A legitimidade é importante para que o sujeito falante torne-se apto a tomar a
palavra e dirigir-se à instância cidadã. Esta legitimidade situa-se na identidade sócio-
institucional do sujeito, entretanto, não basta mostrar seu “estatuto”, o sujeito político é
legitimado em seu próprio ato discursivo. Em outros termos, ao mostrar a imagem que tem de
si e do mundo por meio do discurso, este sujeito legitima seu ethos. (MENEZES, 2005, p.
166).
Mas ainda é necessário que o sujeito falante faça com que o outro acredite naquilo que
diz. Na busca da credibilidade, ele se insere em um imaginário de autenticidade que conta
com os índices de verossimilhança para provar a verdade de seu discurso, o que a retórica
denomina de logos.
Na estratégia da captação, o sujeito comunicante tem como objetivo seduzir e induzir
o sujeito interpretante (pathos, de acordo com a retórica) através de suas formulações. No
discurso político eleitoral, o sujeito comunicante, quando bem sucedido, persuade o ouvinte,
seja através de “[...] recursos linguísticos, lúdicos, estratégias de escrita, estilo e cenografia.”
(MENEZES, 2005, p. 166).
2.3 CONCEITO DE ETHOS E SUA FUNÇÃO ESTRATÉGICA NO DISCURSO POLÍTICO
Dentro das categorizações aparelho de Estado e cidadão, têm-se os sujeitos que
almejam ser um sujeito comunicante, ou seja, um candidato que busca um posto no aparelho
do Estado (MENEZES, 2005). Para conseguir este lugar, o candidato necessita ganhar o
maior número de votos possível e para tanto ele precisa de um discurso persuasivo e eficaz
durante sua campanha. Porém, persuasão e eficiência não são garantias de sucesso. É
necessário, portanto, que tal sujeito tenha autoridade e legitimidade para ocupar o cargo.
No momento em que o candidato inicia seu discurso, é dado a ele o direito e a
oportunidade de se dirigir ao eleitor persuasivamente. É, também, nesta hora que o candidato
pode salientar sua legitimidade enquanto homem, pai de família, indivíduo que exerce
determinadas funções profissionais, que se preocupa com o bem social-coletivo, que é
membro de determinado partido político e tantas outras possibilidades de caracterizações. Não
obstante possua este leque de apresentações legítimas e que seja possível escolher aquelas
com altos níveis de reconhecimento dos eleitores, tais apresentações são argumentos fracos
51
para quem pretende representar a sociedade, pois raramente “[...] um sujeito comunicante
expressa o contrário diante do público.” (MENEZES, 2005, p. 169).
É por esta razão que o discurso político-eleitoral utiliza-se de outras justificações e
fundamentações para autorizar a legitimidade de representação do sujeito comunicante, como
dito anteriormente. Estas justificações nada mais são que imagens idealizadas construídas
pelos sujeitos políticos e apresentadas para aqueles que participam do jogo político,
objetivando adequar “[...] sua imagem a um tipo ideal que lhe permite representar uma
autoridade amplamente admitida no espaço público.” (ibidem, p. 169). Este procedimento, no
qual o candidato passa a mostrar as características de um benfeitor que apenas ambiciona o
bem comum da população, é chamado de incorporação do ethos por encarnação do tipo real.
Desde a Antiguidade Clássica verifica-se na literatura pertinente uma constante
preocupação com o estudo do ethos. No livro Retórica, de Aristóteles, o ethos é considerado
“[...] a mais importante das três provas engendradas pelo discurso, a saber: logos, pathos e
ethos(EGGS, 2005, p. 29). Vale esclarecer que o logos foi associado ao domínio da razão,
da materialidade linguística do discurso, relacionando-se ao convencimento do auditório.
Ligados ao campo das emoções, encontram-se o pathos e o ethos, que, através do discurso,
são capazes de emocionar o público, sendo que ao pathos relacionam-se procedimentos
retóricos que suscitam as paixões no auditório e no ethos concentram-se o caráter que o
orador deve mostrar em seu discurso.
Usada para designar a [...] construção de uma imagem de si destinada a garantir o
sucesso do empreendimento oratório” (AMOSSY, 1998, p.10), na antiguidade o ethos referia-
se aos traços de caráter do enunciador, a maneira de se mostrar ao público tendo como
objetivo causar boa impressão, sem importar se o que foi mostrado é verdade. Esta
apresentação de si é construída através do estilo, da competência lingüística e enciclopédica,
crenças implícitas que o locutor mostra pelo modo que se expressa. Segundo a teoria
aristotélica, é necessário que o orador possua algumas características para que obtenha êxito
em sua empreitada: a capacidade de agir ponderadamente (phronésis); apresentar-se de
maneira simples e sincera (arétê); ser amável e transmitir uma imagem agradável de si
(eunóia).
Por se tratar de uma teoria complexa e utilizada muito tempo, torna-se
compreensível que se encontre algumas discordâncias, por exemplo, os autores que defendem
que o ethos é um elemento existente a priori, ou seja, é anterior ao discurso. Estes autores
52
afirmam que se pode parecer sincero, amável e honesto quando o orador realmente
possuir tal caráter diante do auditório, ou, ainda, por não considerar a ligação exclusiva entre
o ethos e o exercício da palavra, concebe-se um ethos pré-discursivo que se apóia a elementos
preexistentes para a construção de sua imagem. Em oposição a esta noção, alguns autores
apostam no ethos discursivo, isto é, basta parecer, mostrar-se honesto, amável e sincero sem
que, necessariamente o seja, fazendo com que o caráter do orador seja constituído no e pelo
discurso.
Estudos contemporâneos defendem a possibilidade de se considerar as duas
perspectivas acima explicitadas. Meyer (2007) contribui para o aprofundamento destes
estudos ao estabelecer os conceitos de ethos projetivo” construído no discurso e de
ethos efetivo” – relacionado ao sujeito/orador em sua ação real.
O éthos é uma excelência que não tem objeto próprio, mas se liga à pessoa, à
imagem que o orador passa de si mesmo, e que o torna exemplar aos olhos do
auditório, que então se dispõe a ouvi-lo e a segui-lo. As virtudes morais, a boa
conduta, a confiança que tanto umas quanto outras suscitam conferem ao orador
uma autoridade. O éthos é o orador como princípio (e também como seu argumento)
de autoridade. A ética do orador é seu “saber específico de homem, e esse
humanismo é a sua moralidade, que constitui fonte de autoridade. Evidentemente,
liga-se ao que ele é e ao que ele representa. (MEYER, 2007, p. 34-35).
À luz dos estudos feitos por Maingueneau (2008, p.60), pode-se compreender a noção
de ethos sob três aspectos, a saber: a) por se constituir por meio do discurso, o ethos não é
uma “imagem” do locutor exterior à fala, mas uma noção discursiva; b) é fundamentalmente
um processo interativo de influência sobre o outro; c) não pode ser apreendido fora de uma
situação de comunicação precisa. Assim, o referido autor descreve o ethos como um dos
elementos do sistema semântico global de uma dada formação discursiva e considera o
contexto sócio-histórico como caráter que constitui e configura a existência de determinados
ethé em detrimento de outros.
Ao dissertar sobre suas concepções de ethos, Maingueneau (2008, p.61) assevera:
“Minha perspectiva ultrapassa bastante o quadro da argumentação. Além de persuasão pelos
argumentos, a noção de ethos permite refletir sobre o processo mais geral da adesão dos
sujeitos a um certo posicionamento.” O mesmo autor comenta, ainda, que esta noção permite
articular corpo e discurso, em outras palavras, diz que a instância subjetiva (manifestada por
meio do discurso) é concebida como uma voz e associa-se a um corpo enunciante.
53
Diferentemente do que assinala a retórica, Maingueneau (2008) associa a concepção
de ethos à oralidade e também a textos escritos, pois estes possuem uma vocalidade própria
que os ligam a uma caracterização do corpo do enunciador, “[...] a um 'fiador' que, por meio
de seu 'tom', atesta o que é dito.” (MAINGUENEAU, 2008, p. 61). Desta maneira, ele destaca
que sua concepção é uma concepção mais encarnada do ethos, porque, não obstante ela leve
em consideração o verbal, também considera aspectos físicos e psíquicos relacionados ao
fiador, atribuindo-lhe um caráter e uma corporalidade, sendo que o primeiro corresponde a
um “[...] feixe de traços psicológicos” e o segundo é associado a uma “[...] compleição física e
a uma forma de vestir” (ibidem, p. 62).
Tornou-se comum ouvir que é a mídia que dita padrões de beleza, de moda, de
comportamentos contemporâneos. Se aceita o fato de que o homem tenha se tornado um ser
visual, um ser que sente mais prazer, que acredita e se ilude com aquilo que vê. Porém, ainda
se tem dificuldade em concordar que os eleitores votem mais pela imagem vendida a eles do
que pelo programa político dos candidatos ao cargo. O fato é que as massas votantes
escolhem um candidato de acordo com a imagem que mais se identificam e é por isso que os
políticos possuem inúmeras estratégias que visam se adaptar a maior quantidade possível de
eleitores e, assim, obter a vitória nos urnas.
Os candidatos trabalham / atuam de acordo com aquilo que percebem que o povo
anseia e, a partir disso, constroem seus discursos, em que se pode perceber se o ator está
atacando ou se defendendo, se ele enfatiza os valores de suas idéias ou o valor de sua
plataforma política, se reconhece o valor dos cidadãos que também atuam na política.
Nesta atuação, com o intuito de descobrir as razões que levam cada cidadão a aderir a
esta ou aquela proposta de governo, os candidatos são levados a seguir a estratégia da
construção de sua própria imagem, eles precisam construir um personagem para si,
necessitam montar um ethos, ou vários ethé, que tenha credibilidade, que seduza os eleitores e
também possua outras características próprias.
A construção do ethos é uma atitude inerente ao ser humano, uma vez que todo ato de
linguagem passa por este mecanismo. Charaudeau (2008, p. 86) assinala que “[...] a partir do
momento em que falamos, aparece (transparece) uma imagem daquilo que somos por meio
daquilo que dizemos.” No domínio político, a construção dessa personagem não possui uma
eficácia garantida e também não é previsível: a existência do ethos é dada nas / pelas
condições de emergência dos discursos.
54
Partindo da afirmação: “O ethos é como um espelho no qual se refletem os desejos
uns dos outros” (CHARAUDEAU, 2008, p. 87), pode-se compreender que durante a
construção do ethos do sujeito político existe um diálogo entre a instância cidadã e a instância
política, pois é da natureza do cidadão ambicionar melhorias para sua cidade, seu país, sua
vida, bem como é da natureza do candidato ao cargo convencer o eleitor de que ele é a pessoa
ideal para realizar tais melhorias, assim, o ethos passa a ter função de suporte de identificação,
passa a viabilizar os valores comuns desejados, passa a refletir os desejos de ambas as
instâncias.
6
6
Cabe sublinhar que embora esta pesquisa incorpore a tipologia de ethos proposta por Charaudeau, a visão
retórico-pragmática que este autor dispensa a tal conceito não é aqui compartilhada. Neste trabalho optou-se por
privilegiar a noção de ethos discursivo apresentada por Maingueneau.
55
3. DISPOSITIVO TEÓRICO-ANALÍTICO: ETHÉ CONSTRUÍDOS E ETHÉ
LEGITIMADOS
Neste capítulo será apresentado o dispositivo teórico-analítico utilizado para verificar
os ethé construídos pelo sujeito político Silvio Barros nos HGPE de 2004 e 2008 e os ethé
legitimados pelos sujeitos testemunha
7
dessas duas campanhas. Para cada ethos que será
especificado, serão apresentadas sequências discursivas de cada uma das campanhas,
exemplificando e analisando a presença dessa imagem de si construída através do discurso do
candidato e do discurso do outro.
Objetivando analisar os ethé construídos e os legitimados, foi identificado no discurso
desses sujeitos as sequências discursivas
8
que designavam tipos diferentes de ethos, de
credibilidade e de identificação, organizados em tabelas (em anexo no DVD que acompanha
esta dissertação). Estas tabelas apresentam as sequências discursivas dos ethé construído pelo
sujeito político e do ethé legitimado pelos sujeitos testemunha em cada período eleitoral. Essa
organização foi necessária para as análises quantitativas apresentadas no capítulo 4.
3.1 ETHÉ CONSTRUÍDO PELO SUJEITO POLÍTICO EM 2004 E 2008
De acordo com Maingueneau (2002 apud CHARAUDEAU, 2008, p. 118): “As idéias
são construídas por maneiras de dizer que passam por maneiras de ser [...]”, bem como as
maneiras de ser também determinam as de dizer. Seguindo este raciocínio, entende-se que
“[...] não se pode separar o ethos das idéias” (ibidem, p. 118). Na política, as idéias
possuem valor quando atreladas aos sujeitos que as divulgam, que as defendem, que
prometem sua aplicação e, mesmo assim, é necessário que tais sujeitos sejam críveis e
capazes de dar suporte de identificação à sua pessoa. Melhor explicando: é preciso que se
7
Sujeitos testemunhas são aqui compreendidos como sujeitos de discursos políticos que ocupam a posição de
aliados ao candidato.
8
que se destacar a dificuldade de se separar as sequências discursivas por tipos de ethé, pois se verificou que
em uma mesma sequência, ethé diferentes eram identificados, coexistiam. Todas as vezes em que essa
ocorrência foi observada, tomou-se a decisão de colocar a mesma sequência discursiva nas duas categorias que
ela indicava, denominando este fenômeno de sobreposição de ethos, como se verifica ao longo das análises deste
capítulo. A fim de atender aos objetivos deste trabalho, deve-se, ainda, mencionar que foi pela tipologia que se
fez a entrada no corpus de análise, escolha que resultou na dificuldade de refletir com mais profundidade sobre a
historicidade dos discursos.
56
creia que determinado político seja capaz de fazer, bem como é necessário que ocorra a
identificação do eleitor com o sujeito político para que aquele adira à sua personagem.
Diante do exposto, convém ressaltar que estas figuras identitárias do discurso político
dividem-se em dois tipos de ethos: o de credibilidade, ligado ao discurso da razão, e o de
identificação, ligado ao discurso do afeto. No interior das categorias de credibilidade e de
identificação propostas por Charaudeau (2008), encontram-se diversas subcategorias que
fazem parte do dispositivo analítico desta pesquisa e que serão mais bem explicitadas nos
subitens que se seguem.
3.1.1 Os Ethé de Credibilidade
Feita de maneira que leve as pessoas a aceitarem que são dignos de crédito, os sujeitos
políticos constroem seus ethé de credibilidade a partir de uma identidade discursiva
apresentada por tal sujeito e que contem traços de homem “sério”, “virtuoso” e “competente”,
que busca ser aceito e, para isso, fabrica esta imagem possuidora das qualidades acima
descritas.
Algumas condições são impostas no momento em que se julga se um indivíduo é
digno de crédito ou não: a) condição de sinceridade: quando se verifica se o que é dito pelo
sujeito corresponde aos seus pensamentos; b) condição de performance: quando se observam
as condições, os meios que o sujeito têm em colocar em prática suas promessas; c) condição
de eficácia: quando se comprova que suas ações são seguidas de efeitos positivos.
(CHARAUDEAU, 2008). O mesmo autor conclui que “[...] a credibilidade repousa sobre o
poder de fazer, e mostrar-se crível é mostrar ou apresentar a prova de que se tem esse poder.”
(ibidem, p. 119).
3.1.1.1 O ethos de Sério
Fazendo parte dos ethé de credibilidade, o ethos de sério depende, obviamente, do que
cada grupo social tem como representação daquilo que seja “ser sério”. Várias são as
características que modulam este ethos, por exemplo, a postura corporal, a expressão facial
pouco sorridente, autocontrole diante de situações críticas, demonstração de capacidade e
57
energia para o trabalho, fidelidade na vida conjugal, tom de voz firme e comedido, sem usar
“frases de efeito”, uso de palavras e construções sintáticas simples e ainda declarações a
respeito de si mesmo, principalmente ao que concernem às idéias que fazem parte do fazer
político do sujeito. (CHARAUDEAU, 2008, p. 120-122).
No discurso do ethos de sério encontra-se a noção que o político possui de realidade e
de realizável. Buscando o bem-estar do cidadão, o sujeito não faz promessas impossíveis e
não possui sonhos utópicos de melhoria, atitudes que garantem o ar de seriedade desta
construção discursiva. Desta maneira, tem-se como exemplo deste ethos:
Silvio Barros em 25/10/2004: Eu sou maringaense, nascido e criado nessa cidade,
estudei aqui, fui me qualificar e me sinto perfeitamente qualificado para exercer o
cargo mais importante dessa cidade, o cargo de prefeito.
Silvio Barros em 01/09/2008: Como você viu, Marinexemplo para o Brasil
em muitas áreas. E na geração de empregos e desenvolvimento econômico não
poderia ser diferente. E tudo isso foi possível porque a gente trabalhou muito
sério.
Na sequência discursiva de 2004, quando da segunda participação de Silvio Barros nas
eleições maringaenses, observa-se a construção do ethos de sério deste sujeito político
quando, ao relatar seu percurso de estudos, formula uma imagem de pessoa capaz e digna de
ter a confiança do eleitor ao mencionar que se sente “perfeitamente qualificado para exercer o
cargo mais importante”.
Quando o sujeito político Silvio Barros é candidato a ocupar novamente o cargo de
prefeito de Marin em 2008, observou-se, numericamente, uma maior quantidade de
sequências discursivas que mostram seu ethos de sério. Isso ocorre não somente pela maior
quantidade de programas analisados nesta campanha, mas porque este sujeito político, por ter
administrado a cidade por quatro anos, tenta mostrar para os eleitores a seriedade com que
realizou seus trabalhos. Este ethos é legitimado através da performance do candidato, que por
ter provado possuir condições de cumprir com seus compromissos ao relatar a conclusão de
seus trabalhos, faz com que se acredite que ele também realizará seus próximos projetos,
afinal, “trabalhou muito sério”.
58
3.1.1.2 O ethos de Virtuoso
Para ser, ou ao menos parecer, não é suficiente “dizer”. É nesta afirmação que estão
assentadas as características do ethos de virtuoso. Dito de outra maneira, não basta
representar, é preciso ser sincero, fiel e honesto para servir de exemplo de “homem virtuoso”
para os cidadãos.
No entanto, estas imagens de virtude são construídas com o tempo, com a realidade,
com o agir do sujeito político e isso é cobrado tanto em relação à sua vida pública quanto em
relação à sua vida privada. Esse ethos existe quando o candidato consegue dizer o que
pensa, consegue ter uma vida transparente, quando ele comprova que nunca participou de
negócios obscuros e quando age lealmente diante de seu oponente, seja não planejando golpes
baixos, seja reconhecendo as qualidades do outro, principalmente diante de sua própria
derrota. A característica mais marcante deste ethos é o tom de resposta à instância cidadã que
ele passa, pois o sujeito político quer superar as expectativas que tal instância possui: a de
eleger alguém digno de crédito, virtuoso, honrado, leal e que respeita o cidadão.
(CHARAUDEAU, 2008, p. 122-124).
Silvio Barros em 29/10/2004: Existem políticos que escolhem a verdade, na hora de
participar de uma campanha como a sua arma preferencial e existem outros que
preferem aquilo que se chama verdade conveniente, boataria, assim pra ser bem
explícito, mentira mesmo. Durante essa campanha, a nossa honestidade foi
questionada, mas tudo ficou na acusação, ninguém conseguiu provar nada. Até
foram a Manaus procurar, na Junta Comercial, provas e não encontraram
absolutamente nada. Todos os meus negócios estão aqui em Maringá.
Silvio Barros em 29/08/2008: É verdade, Dani. E temos que agradecer não o
ministro Orlando Silva, mas também os deputados em Brasília e ao Vanderlei
Cordeiro de Lima, nosso maratonista, pelo ótimo relacionamento que Maringá tem
com o Governo Federal, que nos permitiu levar adiante este grande projeto.
Silvio Barros em 01/10/2008: Bem, a nossa campanha, assim como a nossa
administração foi limpa e transparente e acima de tudo, foi responsável.
Na sequência discursiva de 2004, data do último dia de programa eleitoral, o sujeito
político Silvio Barros estabelece um diálogo como Outro, diretamente manifesto em seu
discurso. Ao caracterizar a existência de dois grupos de políticos (os verdadeiros / honestos e
os mentirosos / desonestos), o candidato em questão se mostra filiado ao primeiro tipo e, por
59
oposição, situa seu adversário no segundo. Ao optar por mostrar sua inocência, este
candidato constrói simultaneamente um ethos de virtuoso para si e um anti-ethos de “não-
virtuoso” para o adversário, sem que para isso seja colocado em discussão as tais “mentiras”
do adversário nem as condições de produção de tais dizeres.
Segundo Lessa (2009, p. 229-230), isso acontece porque “[...] o discurso político rege-
se por uma lógica agônica; estruturada por uma bi-polaridade afetiva, a partir da qual os
atores sociais marcam diferenças uns em relação aos outros, constroem imagens valorizantes
de si e desvalorizantes do adversário.” Por meio de raciocínios lógicos, o discurso é
construído como evidente, não questionando, dessa maneira, os pré-construídos e os discursos
Outros que o suscitaram.
Nos programas de 2008 também foram encontrados exemplos de sequências
discursivas que edificam esse ethos de pessoa virtuosa ao reconhecer as qualidades e as ações
positivas de outros políticos. Ao agradecer o apoio do ministro Orlando Silva e de outros
deputados de Brasília, o sujeito político Silvio Barros mostra que não é possível administrar
um município sozinho, fabricando, desta forma, seu ethos de virtuoso.
No último exemplo de 2008, verifica-se novamente a presença de um discurso que
constrói a imagem de um sujeito virtuoso e honesto formulada pelo próprio sujeito político ao
mencionar que tanto a sua campanha quanto a sua administração foram transparentes. Vale
destacar que a grande ocorrência de pronomes possessivos (nosso, nossa) e verbos na terceira
pessoa do plural (temos, nos permitiu) serviram para aumentar a legitimidade do ethos de
virtuoso e construir uma figura de homem modesto.
3.1.1.3 O ethos de Competência
Charaudeau (2008, p. 125), diz que o de ethos de competência é encontrado,
principalmente, nos discursos em que o próprio sujeito político faz declarações enfatizando
seu percurso político, sua experiência, seus estudos e funções exercidas na carreira
profissional. É quando o que é dito serve para comprovar que este indivíduo é competente e
hábil para exercer o cargo para o qual está concorrendo.
Nesse tipo de discurso é importante e inevitável que se encontre dizeres que mostrem
que o candidato conhece todos os mecanismos que impulsionam a política, fatos que
60
comprovem que ele saberá como agir e quais as decisões que deverá tomar em situações
específicas. Observa-se, ainda, falares que destacam a capacidade necessária para a realização
dos objetivos declarados em sua proposta de governo e para a obtenção de bons resultados,
lembrando que é através destes discursos que se determina o grau de competência dos sujeitos
políticos. Como pode-se observar em:
Silvio Barros em 25/10/2004: Também queria dizer a vocês que eu tive muitas
oportunidades na vida, sou grato a Deus por tudo, foram oportunidades muito raras e
muito preciosas. Eu como consultor do SEBRAE, trabalhei em todos os estados do
Brasil, menos no Piauí. Ajudei comunidades extrativistas a se organizarem para
geração de empregos e renda e também ajudei empresários a estruturarem a sua
estratégia de competitividade para que eles pudessem ganhar mais, para que
pudessem empregar mais pessoas. Gente eu fiz isso em várias partes do Brasil.
Ajudei as comunidades extrativistas lá no interior da Amazônia, no Amapá, no Acre,
no sul do Pará, também na Bahia e ajudei a organizar empresários em Recife,
Florianópolis, Curitiba e em muitas outras cidades do Brasil. Também tive o
privilégio de trabalhar em vários países. Fui consultor na Europa, fui consultor na
África, na América Latina, organizando e ajudando comunitários e empresários a
fazerem, cada vez melhor, a sua atividade e serem muito mais competitivos, isso
certamente pode e vai ajudar Maringá.
Silvio Barros em 20/08/2008: E o que importa é que hoje a realidade é outra. As
contas estão em ordem, a prefeitura tem todas as certidões negativas. A gente foi
campeão na captação de recursos federais. Os pagamentos de todos os fornecedores,
das entidades parceiras, dos salários dos funcionários estão rigorosamente em dia.
Enfim, as finanças da nossa Prefeitura estão equilibradas e a gestão é realmente
transparente. Com a comunidade fiscalizando de dentro pra fora os gastos públicos,
a convite do prefeito.
Segundo Charaudeau (2008, p. 125), o ethos de competência é difícil de ser construído
por políticos jovens, uma vez queo se possua muita experiência para ser mostrada e
comprovada. Entretanto, apesar de nunca ter ganhado nenhum cargo no Executivo
maringaense, em seus discursos ele retoma os cargos políticos que já teve, os estados
brasileiros em que trabalhou, os estudos que fez e a herança política e genética que possui.
Nesta sequência discursiva observam-se os verbos em primeira pessoa do singular [ajudei, fiz,
tive, fui] mostrando ser ele próprio capaz de realizar os feitos enunciados.
Pensando nas premissas argumentativas e nos subentendidos, verifica-se o uso de uma
linguagem lógica quando se pensa nas sequências em que o candidato fala de seus trabalhos
anteriores fazendo com que se chegue a conclusões lógicas, mas não ditas em seu discurso.
Exemplos: “Se [ajudei comunidades extrativistas a se organizarem para geração de empregos
e renda], também poderei ajudar na criação de empregos e renda em Maringá”; “Se [também
61
ajudei empresários a estruturarem a sua estratégia de competitividade para que eles
pudessem ganhar mais, para que pudessem empregar mais pessoas], logo, farei o mesmo por
esta cidade”; “Se [Ajudei as comunidades extrativistas lá no interior da Amazônia, no Amapá,
no Acre, no sul do Pará], lugares tão longínquos, por que não ajudaria a nossa comunidade?”;
“Se [ajudei a organizar empresários em Recife, Florianópolis, Curitiba e em muitas outras
cidades do Brasil] vou, é claro, organizar o empresariado de Maringá”.
A última reflexão deste exemplo é centrada no período “isso certamente pode e vai
ajudar Maringá”. Assim, deve-se questionar: isso o quê? O que não ficou explícito neste
último período, mas subentendido? É correto compreender que o pronome demonstrativo
“isso” retoma toda a experiência apresentada por este candidato, experiência esta que, por
meio dos pressupostos e premissas, lhe conferiu a imagem de competente. Sem contar o
advérbio “certamente” que, antecedendo os verbos “pode” e “vai”, demonstra a certeza que
este candidato tem em sua própria capacidade.
Diferentemente do que ocorreu em 2004, quando o candidato precisava atestar que
seria capaz de administrar a cidade discursando sobre suas experiências, aptidões e propostas
para a cidade, na campanha de 2008 atentou-se para a questão de que este sujeito político
precisava comprovar sua competência durante sua gestão e, para isso, ele conta para o
telespectador / eleitor todas as obras que fez durante os quatro anos que passou no poder, seja
na área da saúde, na área da educação, da segurança, do trânsito ou moradia.
No exemplo de sequência discursiva de 2008, tem-se simultaneamente uma construção
do ethos de competente do sujeito político Silvio Barros. Para que um sentido seja fixado é
necessário apagar outros. Neste discurso do candidato é apagado, ou como diria Orlandi
(2007), é silenciado toda a instauração de uma gestão popular e participativa levada a cabo
por seu adversário petista, em outras palavras, ocorre uma desconstrução da imagem do
sujeito político e ex-prefeito João Ivo Caleffi. Nesta sequência, pré-construídos inerentes ao
discurso (PÊCHEUX, 1988) são produzidos resultando em efeitos de verdade que apontam
para um anti-ethos de incompetente para Calleffi. Melhor entendendo, em “[...] hoje a
realidade é outra. As contas estão em ordem”, então como era ontem? As contas não estavam
em ordem? Esse ontem deve ser compreendido como “gestão anterior a esta”? Em “[...] a
prefeitura tem todas as certidões negativas”, mas e antes, não tinha? No período “[...] A gente
foi campeão na captação de recursos federais[...]”, ora, a outra administração por acaso
arrecadava pouco?
62
E os exemplos que exaltam o atual prefeito em detrimento do ex-prefeito
continuam: “Os pagamentos [...] estão rigorosamente em dia”; “[...] as finanças da nossa
Prefeitura estão equilibradas e a gestão é realmente transparente.” No último período
encontra-se uma valorização da atuação do prefeito ao mencionar que conta com o trabalho e
a fiscalização da população e que isso é feito “a convite do prefeito”, subentendendo que em
outras gestões a população não participava e que os outros prefeitos não convidavam.
Independentemente de a gestão petista ter instaurado uma participação popular inédita na
cidade, todos estes efeitos de sentido negativos refletem na imagem do adversário.
Ressalta-se ainda neste exemplo de 2008, que para evitar a deriva de sentidos o sujeito
político não enunciou uma vez em seu próprio nome, era sempre “a gente”, “a nossa
prefeitura”, “a gestão” e, até mesmo no momento em que fala do convite feito ao cidadão de
participar da política local, usa-se “a convite do prefeito”. Na tentativa de mostrar que conta
com a ajuda de outras pessoas para administrar a cidade, este sujeito evita o uso da primeira
pessoa (“ao meu convite”); ou até para livrar-se de eventuais cobranças.
3.1.2 Os Ethé de Identificação
Como dito anteriormente, os ethé de identificação estão relacionados ao discurso
afetivo, pois o cidadão se identifica com o político através de um processo irracional. Assim,
visando alcançar a identificação com o maior mero de eleitores, o ethos político se constrói
a partir de uma mistura “[...] de traços pessoais de caráter, de corporalidade, de
comportamentos, de declarações verbais, tudo relacionado às expectativas vagas dos cidadãos,
por meio de imaginários que atribuem valores positivos e negativos a essas maneiras de ser.”
(CHARAUDEAU, 2008, p. 137).
Segundo o referido autor, os ethé encontrados no discurso político são dirigidos para si
mesmo, para o cidadão e para os valores que indicam o imaginário da instância cidadã.
Objetivando a identificação com o maior número de indivíduos, os políticos acabam usando
valores opostos para construir sua imagem, tendo em vista que as pessoas são e pensam de
maneiras diferentes. Por isso, encontram-se políticos que mostram, em um mesmo momento,
uma figura de moderno, mas também tradicional, além de algumas serem voltadas para si
63
mesmos (com o intuito de refletir os traços que definem e humanizam os políticos) e outras
para o cidadão.
3.1.2.1 O ethos de Potência
Estreitamente relacionado ao sexo masculino, o ethos de potência é verificado por
meio da força física, da virilidade sexual, da realização de “proezas físicas pessoais”, por
comícios que exaltam a força, pela apresentação de si em voz altiva e palavras fortes. Este
ethos chega a ponto do seu verbal ser violento quando se trata do oponente (entenda-se aqui, o
uso de insultos, ameaças, etc.). É usado para transmitir a imagem de que não se é “[...] apenas
um homem de palavra, mas também de ação”. (CHARAUDEAU, 2008, p. 139).
Não foi identificado nos discursos analisados nenhum exemplo de ethos de “potência”.
Porém, tendo como apoio as imagens apresentadas nos programas de propaganda eleitoral,
pode-se assinalar que o candidato Silvio Barros demonstre este ethos. Essa afirmação
encontra guarida no fato de que são mostradas imagens deste sujeito político em momentos
diferentes: com o povo, conversando com políticos, fazendo discursos em comícios
inclusive, em alguns desses discursos a imagem é de alguém que fala com força, com
determinação, com virilidade. As imagens que colaboraram para a legitimação desse ethos
estão presentes no quinto capítulo desta pesquisa.
3.1.2.2 O ethos de Caráter
Ainda dentro das categorias ensinadas por Charaudeau (2008, p. 139-145), nota-se que
um mesmo ethos pode ter imagens diferentes e que, até certo ponto, se completam. No ethos
de caráter isso ocorre. São inúmeras imagens que se juntam para construir esse tipo de
personagem. O ethos de caráter também pertence a um imaginário de força, porém, neste
caso, é a força do espírito, força de quem sabe responder (ou até “berrar”) quando é
provocado, pois não consegue ficar calado diante de tantas ofensas e/ou inverdades.
Têm caráter tanto aqueles que apresentam uma figura de provocadores quanto de
polêmicos. Os provocadores agem objetivando a reação dos adversários, no entanto, é
necessário mostrar-se sutil e sincero para que a provocação não seja vista negativamente pelos
64
cidadãos. Os polêmicos, encontrados em situações de conflito (como os debates), negam os
argumentos alheios.
Para mostrar que tem caráter, o político utiliza a estratégia da advertência, em que é
anunciado a priori “[...] qual é a posição do sujeito, qual será seu limite [...] e, eventualmente,
quais serão as conseqüências negativas para o sujeito advertido [...]” (CHARAUDEAU, 2008,
p. 142).
Outra figura deste ethos é a da força tranqüila, quando o tempo, a perenidade, a
tenacidade é posta em destaque. São características desta figura, também, as atitudes de não
abandonar os compromissos, de sempre ter vontade de vencer, de pensar no futuro. Bem
próxima desta figura está a do controle de si, que é representada por um caráter equilibrado,
que consegue pensar friamente, independente da situação em que se encontra, de homem que
pensa antes de agir, que pensa nos prós e nos contras antes de tomar qualquer decisão.
Ainda neste ethos, tem-se a figura de coragem, daquele que passa tamanha confiança
para o cidadão que este aposta que o candidato não terá receio algum de enfrentar as futuras
adversidades do meio político. Têm-se, também, as figuras de firmeza e de moderação. A
primeira está presente naqueles sujeitos políticos que demonstram atitudes de reivindicação,
de ação efetiva, de energia e determinação inabalável. A segunda refere-se ao poder de
intermediar os conflitos, de contribuir em difíceis negociações, ambicionando o acordo entre
as partes.
Silvio Barros em 29/10/2004: Agora, se coloque no meu lugar, me responda uma
coisa. Como eu deveria me comportar, sabendo que informações equivocadas
podem induzir as pessoas a errar na hora de votar? Será que eu devia ser omisso?
Ficar calado? Ou talvez, será que eu devia fazer a mesma coisa? Sair informando,
espalhando informações mentirosas, boatos? Ou será que eu devia ser também um
cordeiro na televisão e um lobo no resto da campanha? Mas, e depois na
administração? Seria lobo, cordeiro, ou dependeria da situação?
Silvio Barros em 15/09/2008: Ah, é importante lembrar que estes projetos levaram
dois anos e meio para serem desenvolvidos e aprovados pela comunidade e pelo
Banco Interamericano. Se mudar o projeto, como alguns candidatos estão sugerindo,
começa tudo de novo, novos estudos, novas consultas e muitos meses de espera para
resolver o trânsito de Maringá.
Neste exemplo do HGPE de 2004, verifica-se que este sujeito político constrói para si
um ethos de caráter, pois ele se mostra indignado diante de situações que considera injusta e
não fica calado, expondo que é capaz de lutar pelo o que pensa ser correto, que não se resigna
65
diante de acusações adversárias. Neste exemplo, deve-se levar em consideração as
condições de produção em que estes discursos foram produzidos, como mencionado, em
2004 o sujeito Silvio Barros candidatou-se pela segunda vez ao cargo de prefeito de Maringá.
Na maioria dos exemplos de ethos de caráter apresentados em 2004, este sujeito
político apresenta a figura de provocador sutil, a figura de coragem e a de firmeza,
principalmente quando ataca e denigre a atuação de seu adversário, o sujeito político João Ivo
Calleffi. Nesta sequência é possível observar como os atos de fala
9
auxiliam a construção do
ethos.
Assim, nesta sequência discursiva de 2004, observam-se os atos de fala sendo
utilizados para assegurar o ethos de caráter. Em “[...] se coloque no meu lugar [...]” e “[...] me
responda uma coisa [...]” têm-se atos ilocucionários de afirmação que se transformam em atos
de fala indiretos de ordem. Ao criar uma imagem de vítima, o sujeito político ordena que seu
interlocutor / eleitor / telespectador compreenda a situação pela qual ele passou, ação é
concretizada somente na e pela linguagem.
Ao questionar o interlocutor / eleitor / telespectador, fazendo com que este se
aproxime e se familiarize com ele, este sujeito político sutilmente denigre a imagem de seu
adversário ao enunciar “[...] Ou talvez, será que eu devia fazer a mesma coisa?[...]”, poder-se-
ia perguntar: que coisa está sendo feita para que este sujeito também a faça? E a questão logo
é respondida: “[...] Sair informando, espalhando informações mentirosas, boatos?[...]”. Nesta
passagem o anti-ethos do adversário é fabricado e posteriormente reforçado nos enunciados
seguintes: “[...] Ou será que eu devia ser também um cordeiro na televisão e um lobo no resto
9
Na Filosofia da Linguagem, Austin (1965 apud SILVA, 2005) afirma que, além de transmitir informações,
o dizer é uma forma de agir sobre o outro e sobre o mundo circundante, ou seja, certas afirmações realizam
ações. A estes enunciados, foi dada a designação de performativos, e podem ser entendidos como locucionários
(quando se observam os elementos lingüísticos que compõem a frase), ilocucionário (quando se atenta para a
ação que é realizada na linguagem, exemplo, uma promessa) e perlocucionário (quando se verifica que o
resultado da ação ocorreu pela linguagem, uma promessa que se tornou uma ameaça, por exemplo).
Aprofundando os estudos feitos por Austin, Searle (1979 apud SILVA, 2005) postula que toda a linguagem
é performativa e que ela possui diversos tipos de atos. Para este trabalho, os mais importantes são os atos
comissivos aqueles que comprometem o locutor com uma ação futura, quando ele faz promessas, por exemplo
e os atos expressivos quando o locutor expressa sentimentos: pedidos de desculpas, agradecimentos, entre
outros. Simplificando um pouco mais sua teoria, o referido autor afirma que no fim existem dois tipos de atos de
fala: os diretos e os indiretos. Aos primeiros cabe a explicação de que eles recorram a formas lingüísticas
especializadas, típicas, em que uma entonação e o ponto de interrogação significam pura e simplesmente uma
pergunta, um questionamento. Aos atos de fala que se realizam indiretamente, entende-se que, por meio de
formas típicas, outras ações são feitas. Por exemplo, ao se perguntar “Você tem um cigarro?” é realizado, na
realidade, um pedido com aparência de pergunta. Nesse tipo de ato de fala é o contexto o grande responsável em
esclarecer o valor perlocutório.
66
da campanha? No implícito produzido pelo advérbio também é subentendido que o
adversário possui duas faces, pois, só se pode “ser também” algo que o outro “já é”.
Em contrapartida, nas análises dos programas de 2008 não foi encontrado nenhuma
figura de provocador, o que se observou foi uma estratégia da advertência, em que o político
tenta persuadir o eleitor de que se ele não for reeleito, a cidade é que sofrerá as conseqüências.
À luz dos estudos dos atos de fala, mais especificamente, os indiretos, tem-se neste exemplo
um dizer feito sob a aparência de outra coisa, ou seja, a advertência transformada em ameaça.
Verifica-se que o sujeito político como certo que só pode ser assim, que é inviável alterar
os projetos mostrando (e ameaçando) que o eleitor deverá votar nele para que a cidade não
seja prejudicada e tenha “[...] muitos meses de espera para resolver o trânsito de Maringá”. E,
ainda dentro desta ameaça/advertência, este candidato consegue acusar seus adversários de
não quererem o melhor para a cidade quando enuncia que é este atraso que “[...] alguns
candidatos estão sugerindo”. Assim, amparadas pela teoria dos atos de fala, as análises das
sequências discursivas e do próprio ethos tornam-se mais críticas mostrando que existe certa
contradição na construção de uma imagem de caráter que devido aos deslizamentos de sentido
que podem ocorrer, imagens ameaçadoras e ditatoriais são mostradas.
3.1.2.3 O ethos de Inteligência
Este ethos é construído no dizer e é responsável por provocar a admiração e o respeito
dos eleitores pelos sujeitos políticos que demonstre possuí-lo. Em seu livro, Charaudeau
(2008, p. 145-148) defende a idéia de que o ethos de inteligência é percebido em função do
que se pode apreender do comportamento do indivíduo em sua vida privada, e não apenas
diante da maneira como ele se porta e pronuncia nos acontecimentos políticos.
Encontram-se duas figuras representativas deste ethos: a de homem culto e a de
homem astuto. A primeira explica-se, principalmente, pela idéia tradicional de que “[...] um
homem culto não pode ser senão um homem de bem” (CHARAUDEAU, 2008, p. 145).
Ainda neste quesito, os políticos considerados cultos participam de programas culturais,
frequentam exposições artísticas, escrevem livros, relembram os títulos universitários
adquiridos por eles, entre outros. o homem astuto, ou até malicioso, é aquele que sabe jogar
67
com o ser e o parecer. Ele dissimula as reais intenções, faz crer que tomará certas
providências quando, o que ocorre, algumas vezes, é o oposto.
Tendo em vista o jogo político e o papel da mídia dentro deste jogo, tornou-se
necessário que o sujeito político que apresente o ethos de inteligência, tenha, também, uma
certa malícia para se sair bem neste jogo. Assim, segundo Charaudeau (ibidem, p. 147), “[...]
o político deve prever uma utilização deformada de suas próprias declarações e fabricar frases
ambíguas que sejam diversamente interpretadas [...]”. Possibilitando uma interpretação
positiva e outra negativa, a malícia pode ser vista como habilidade e como duplicidade.
Silvio Barros em 25/10/2004: Eu também queria dizer a vocês que tive a
oportunidade de trabalhar e desempenhar meu trabalho em universidades dos
Estados Unidos, fiz palestras em vários lugares do mundo pra atrair investidores pra
cá, acompanhei comitivas do presidente Fernando Henrique é como palestrante para
atrair turistas e para trazer pessoas que pudessem investir na nossa infra-estrutura
aqui no Brasil.
Silvio Barros em 27/10/2004: Bem gente, chegamos ao final da campanha. Eu
queria aproveitar esse nosso último programa eleitoral, pra chamar a sua atenção pra
essa enorme responsabilidade, que todos nós vamos ter no domingo, de escolher o
melhor candidato, a melhor proposta, aquele que vai ser o prefeito da nossa cidade.
E lembrar que tudo que ele fizer ou deixar de fazer nos próximos quatro anos, vai
afetar a vida de todos cidadãos maringaenses. Nós temos dois dias pra meditar
nesse assunto, pra pensar bastante nisso, avaliar a campanha, avaliar as propostas e
no domingo tomar uma decisão bem consciente.
Silvio Barros em 10/09/2008: Porque depois de estudar a fundo e ouvir atentamente
a população, a gente encontrou saídas mais baratas e mais inteligentes para resolver
os mesmos problemas. E nós vamos mostrar quais foram estas alternativas no
próximo programa, que será sobre as soluções para o trânsito de Maringá.
Silvio Barros em 22/09/2008: E aqui, bem do lado do posto de Saúde, nós fizemos
a ATI número 11, a primeira do Jardim alvorada, mas olha, número 11 heim.
Nestas sequências discursivas de Silvio Barros que datam 2004, nota-se que o
candidato constrói este ethos de inteligência com muita eficiência, a começar pela formação
da imagem de homem culto, que é “viajado”, experiente, atuou em faculdades no exterior e
trabalhou com personalidades brasileiras. Nota-se neste exemplo uma sobreposição de ethos.
Ao enunciar seus feitos, que ratificam a imagem de homem culto, este sujeito político
constrói, concomitantemente, um ethos de competência. Aliás, pode-se pensar que estes ethé
sejam construídos nesta mesma ordem: primeiro inteligência, pois é necessário possuí-la para
68
depois poder fazer, construindo, neste momento, o ethos de competência. Em resumo, seria
um “poder saber para poder fazer”.
No outro exemplo, a figura de homem astuto é perceptível, ao se colocar no mesmo
patamar que os telespectadores, dizendo que ele também possui esse papel difícil que é o de
ser eleitor, sendo necessária muita reflexão para fazer a escolha certa. Tais palavras acabam
produzindo vários efeitos de sentido: o de advertência, mostrando ao eleitor a importância do
voto; o de admiração dos eleitores, afinal o candidato fala as características que devem ser
avaliadas, em nenhum momento diz que correto é votar nele, deixando a população “livre”
sem mostrar suas reais intenções.
No entanto, estes efeitos ocorrem nos enunciados ilocutórios, ou seja, naquilo que se
observa na linguagem. Mas, pensando nos efeitos produzidos pela linguagem, em enunciados
perlocutórios, obtém-se outra visão. No excerto: “E lembrar que tudo que ele fizer ou deixar
de fazer nos próximos quatro anos, vai afetar a vida de todos cidadãos maringaenses[...]”, não
se pensa mais em advertência, mas ameaça, coação. O verbo “lembrar” poderia ser trocado
por “assustar”, porque no nível perlocutório, é isso que ocorre. Verifica-se uma ameaça, o
sujeito não está lembrando as ações que um prefeito pode ter, e sim apavorando os cidadãos,
fazendo com que eles pensem que o futuro pode não ser muito auspicioso.
Um exemplo de ethos de inteligência é visto na sequência discursiva de 10/09/2008,
quando o sujeito político diz ter estudado por muito tempo os problemas da cidade e que
havia encontrado soluções inteligentes. Na superfície ilocutória, observa-se que ele mesmo
diz que suas atitudes são próprias de pessoas que usam o conhecimento para encontrar a
melhor solução. Não obstante a imagem de inteligência tenha sido construída, verifica-se no
nível perlocutório a existência de uma justificação, por exemplo, por que o sujeito político
inicia seu enunciado com a conjunção “porque”? O que ele estaria explicando? Quais ditos
foram silenciados aqui? Seria possível pensar que este sujeito político esteja justificando a
demora na resolução dos problemas? Justificando um não cumprimento de alguma promessa
feita na campanha anterior e agora diz que gastou tempo por estar estudando uma solução
inteligente?
Entretanto, chamou a atenção o fato de que a maioria dos exemplos de ethos de
inteligência analisados nos programas de 2008 possuírem a figura de homem astuto, como é o
caso da sequência em que o candidato diz ter construído a ATI número 11 e depois de dizer
isso faz o comentário “[...] mas olha, número 11 heim”. Essa investida produz efeitos de
69
memória no telespectador / eleitor que se recorda do fato de que o número 11 é o número
de identificação deste candidato, o número que está sendo sugerido que se escolha no dia da
eleição.
3.1.2.4 O ethos de Humanidade
Sendo um imaginário importante para a imagem do político, no ethos de humanidade é
observada a capacidade do indivíduo em demonstrar sentimentos, compaixão, confessar suas
fraquezas e gostos pessoais, mostrando para a população todo o seu lado humanístico, de
pessoa comum que tem momentos felizes e tristes. (CHARAUDEAU, 2008, p. 149-153).
O sentimento, uma das figuras deste ethos, é mostrado para o público, com a ajuda das
mídias, quando os sujeitos políticos fazem visitas aos necessitados, ou quando comparecem
em situações trágicas oferecendo ajuda e demonstrando suas condolências, seja através de
palavras, seja através de ações.
A figura da confissão, segundo o mesmo autor, pode atribuir a este ethos um ar de
fraqueza, porém ela também pode representar coragem e sinceridade, uma vez que saber
reconhecer os erros não revela sua incapacidade diante dos fatos e sim seu poder de analisar a
real situação.
Relacionado à vida privada do político, a figura do gosto tem o papel de mostrar as
coisas que apetecem o indivíduo: gosto literário, artístico, culinário, de vestuário, entre outros.
Ligado ao gosto, tem-se a figura da intimidade, que é apresentada pela mídia como os
segredos ou descobertas feitas a respeito dos políticos, como se fossem as coisas que eles não
falariam ou não fariam em público: indignação perante alguns acontecimentos, momentos de
fúria, confidências, entre outros. Analisando os exemplos:
Silvio Barros em 25/10/2004: Esse é o espírito, o espírito de servir e foi isso que eu
aprendi em casa, aprendi com a minha família, que quando eu nasci, meu pai já tinha
tomado essa decisão, de servir a cidade que ele ajudou a fundar, que ele ajudou a
construir. Isso eu aprendi com o meu pai, com a minha mãe e minha mãe até hoje,
continua servindo a essa comunidade.
Silvio Barros em 29/10/2004: A única coisa valiosa pra mim que está lá em Manaus
é a minha filha Ana Teresa de nove aninhos. Aliás, é realmente o meu patrimônio
mais precioso. Ser filho de político, gente é muito difícil, principalmente na
adolescência, que a gente vai na escola e fica ouvindo os comentários dos colegas,
70
dos professores. Os comentários maldosos que aparecem na época da campanha e
sempre com um propósito eleitoreiro.
Silvio Barros em 03/09/2008: Ah, e eu ia esquecendo, ainda tem a calçada que
foi feita no fundo de vale, para as crianças poderem vir para a escola com mais
segurança.
Silvio Barros em 22/09/2008: O povo aqui do Novo Alvorada sofrendo muito
com o barro e com a poeira.
Silvio Barros em 24/09/2008: E olha, mesmo tendo evoluído muito, a gente sabe
que ainda não bom. Nós precisamos de um atendimento ainda melhor e de mais
médicos. E é por isso que nós estamos assumindo agora novos compromissos com
você.
Silvio Barros em 29/09/2008: Eu gosto demais dessa cidade gente. E você que vive
aqui sabe e sente a mesma coisa.
Em 2004, o sujeito político Silvio Barros salienta seu ethos de humanidade no
exemplo em que fala de como era sua infância, revelando os aprendizados que teve dentro de
casa, assuntos que podem ser considerados mais íntimos. Ainda neste primeiro exemplo,
verifica-se a presença da Formação Discursiva (FD) religiosa. Ao se pensar que estes
discursos são feitos em campanha eleitoral, supõem-se que deveriam mostrar a presença de
FDs políticas, no entanto, neste tipo de ethos, o que mais se encontram são as FDs Religiosas.
Desta maneira o mandato de um prefeito, passa a ser visto como missão; a ação que os
políticos devem ter, a de gerir, passa a ser compreendida como servir; o espírito toma o lugar
do compromisso, bem como o divino supera o posto do humano.
Nota-se, ainda, a figura de sentimento quando este sujeito assume suas emoções
paternas, ao enfatizar o quanto sua filha lhe é importante. Sob o aspecto da figura de
sentimento, o candidato indícios de estar relembrando sua infância quando comenta a
respeito de ser difícil ser filho de político. Pode-se dizer que este sujeito também faz
insinuações sobre o comportamento de seu adversário, produzindo um efeito de sentido que
deixa claro que as acusações de Ivo Caleffi são de mau gosto e com fins eleitoreiros.
Nos programas de 2008, as sequências discursivas evidenciam que este sujeito político
mostrou algumas figuras de seu ethos de humanidade, por exemplo, quando demonstra
compaixão em relação ao sofrimento das crianças que tinham pouca segurança ao irem para
escola e dos moradores que sofriam com o barro e a poeira do bairro em que moravam (dias
09 e 22 de setembro, respectivamente). Nesses enunciados, o sujeito político se mostra
71
sensível ao sofrimento alheio fazendo com que ocorra um processo de identificação entre o
político e o eleitor. Essa identificação se não pelo fato de o sujeito político ser igual aos
cidadãos, por também ele sofrer com as mesmas adversidades, mas por se demonstrar
humano, verdadeiro e compassivo a ponto de se comover com a angústia dos cidadãos.
Segundo Charaudeau (2008, p. 149), “[...] a confissão surge em certas declarações,
como em uma campanha eleitoral, quando o candidato é levado a fazer o balanço de sua
atividade passada e confessa não ter obtido sucesso em todas as frentes.” Contudo, esta
confissão mostrada na sequência discursiva de 24 de setembro, não produz efeitos negativos,
pois é entendido que este sujeito político teve coragem para assumir os erros e mostra-se
disposto a trabalhar para solucioná-los “[...] nós estamos assumindo agora novos
compromissos com você.”
No enunciado “[...] mesmo já tendo evoluído muito, a gente sabe que ainda não tá bom
[...]”, percebe-se a presença do ethos de competente ao ser mencionado que se desenvolveu
bastante. E, também, o ethos de humanidade que, por meio da confissão, demonstra fraqueza.
Neste momento sócio-histórico, este sujeito político é interditado, é proibido, é vetada a
possibilidade de dizer que a gestão “estava ruim”. Assim, as FDs são responsáveis por
determinar o que um sujeito pode ou não dizer estando em determinada posição discursiva.
Aqui, a FD estabeleceu a construção do ethos de humanidade, fazendo com que o sujeito
enuncie que algo “ainda não está bom”, ao invés de dizer que “está ruim”.
E por fim, o último exemplo que caracteriza este ethos é a sequência em que aparece o
gosto pessoal do sujeito Silvio Barros, que neste caso é a gosto pela cidade de Maringá,
apontado para seu lado mais humano, se aproximando dos cidadãos, efetuando, desta maneira,
o processo de identificação.
3.1.2.5 O ethos de Chefe
Baseado nas categorizações feitas por Charaudeau (2008), o ethos pode ser voltado ao
mesmo tempo para si e para o outro. O ethos de chefe (ibidem, p. 153-163) se direciona para o
cidadão, pois ele é construído de maneira que o público se identifique, adira e siga tal
representação. Por se tratar de um ethos presente no domínio político, o candidato se
obrigado a prestar contas de seus atos aos cidadãos, retribuindo, assim, a confiança que estes
72
depositaram neles, criando uma relação de dependência e fazendo surgir várias figuras de
chefe: a de guia, a de soberano e a de comandante.
Incapacitados de determinar e ver seu destino, o grupo social escolhe um guia
supremo que se mostra capaz de guiar esse grupo em meio às tribulações do tempo, à fortuna
e aos acontecimentos do mundo. Dentro desta figura, têm-se algumas variantes: guia pastor e
guia profeta. O guia pastor é responsável por reunir o rebanho, iluminando o caminho com
perseverança, demonstra-se como homem que sabe se fazer seguir, determinado e sábio.
Também responsável por agregar o povo, o guia profeta é uma palavra, uma voz, um ser
inspirado, um visionário que objetiva ocupar a posição de líder na cena política.
(CHARAUDEAU, 2008, p. 154-155).
A legitimidade de um indivíduo político está fundada na soberania que este possui. A
figura de guia soberano carrega em si a posição que o político deve assumir de fiador dos
valores daquela sociedade. Este “papel” pode ser feito de várias maneiras: a) fazendo
discursos que mostrem seus valores; b) situando-se acima do conflito, ou seja, mostrando que
não participa de “joguinhos politiqueiros”; c) mostrando que os adversários são incapazes de
dirigir a nação, e d) deixando que terceiros construam sua imagem.
Considerado autoritário, e até agressivo, a figura do comandante diferencia-se das
anteriores por apresentar o sujeito político como “senhor das guerras”, capaz de declarar
guerra aos inimigos e de defender seu território. Segundo Charaudeau (2008, p. 159), o “[...]
comandante deve ter uma visão clara do que faz a diferença entre o bem e o mal, e,
conseqüentemente, ao dizer-se esclarecido por uma força sobrenatural, indicar a via que segue
para combater as forças do mal.”
Esta figura de ethos é muito encontrada nos “líderes populistas”, pois esta imagem é
capaz de conduzir multidões. Porém, duas são as possibilidades desta figura ser reprovada
pelo povo e ambas encontram-se nos extremos do ser: se o comandante age como general, de
modo excessivo e autoritário, ele pode ser recriminado pelos cidadãos e será lembrado por
estes que fora eleito por eles e que deve explicações para eles; em contrapartida, se o
comandante for modesto, ou fugir do combate, ou se retirar após uma derrota, também será
recriminado pelo povo, porque um comandante não pode abandonar seu exército, mas morre
com ele.
73
Silvio Barros em 29/10/2004: Já o nosso concorrente, na televisão era uma
pessoa e fora da campanha, era outra bem diferente. Você que assistiu comícios,
participou de reuniões em empresas, você sabe o que eu tô falando.
Silvio Barros em 29/09/2008: Enfim, gente, vamos continuar no rumo certo.
Silvio Barros em 29/09/2008: É por isso que eu tenho por missão, cuidar com
muito carinho e com muita responsabilidade da nossa Maringá. E com a força do seu
voto, nós vamos juntos continuar honrando a Maringá do passado e construindo a
Maringá do futuro.
Na sequência discursiva produzida em 2004 foi construído um ethos de “chefe” cuja
imagem reflete a de um comandante, um general autoritário que não se melindra ao atacar o
adversário fazendo acusações sérias a respeito de sua atuação na política. Falando diretamente
com o eleitor / telespectador, este ethos tenta manipulá-lo, tentando fazer com que concordem
com as coisas que estão sendo ditas.
Guia pastor é uma variante de Guia Supremo, que, sendo responsável por reunir o
rebanho e “fazendo-se seguir” demonstra-se capaz de comandar a população, mostrando os
caminhos a serem seguidos. As sequências encontradas nos programas de 2008 apontam essas
figuras de ethos de chefe: que mostra o “[...] rumo certo” e que possui uma “[...] missão [...]”,
prevendo “[...] a Maringá do futuro.”
Vale destacar a importância da FD religiosa na construção deste ethos. As próprias
denominações das figuras neste ethos de chefe apontam para o discurso religioso: guia,
pastor, profeta. Desta forma, também os enunciados tendem a seguir esta FD, tanto que
“rumo certo” é usado para se referir ao “desenvolvimento do município” na FD político-
econômica e a “responsabilidade” de outrora, circula agora como “missão”.
3.1.2.6 O ethos de Solidariedade
Importante para conseguir a simpatia da população, o ethos de solidariedade
caracteriza-se pela vontade que o sujeito político mostra de estar junto do povo, de não fazer
distinção entre os membros do grupo, de unir-se a eles em momentos difíceis, mostrando que
não está apenas ciente de determinada situação, mas que é responsável por ela, ou pela sua
resolução. (CHARAUDEAU, 2008, p. 163-166).
74
A solidariedade, no domínio político, é construída através de atos e declarações,
podendo, por exemplo, ser solidário de maneira silenciosa, ao associar-se a manifestações,
passeatas, ou propondo slogans que demonstrem que o político está do lado do povo, que o
apóia e que toma atitudes para o bem da população, afinal, concordando com Charaudeau
(ibidem, p. 164), todo “[...] movimento de solidariedade passa por um processo de
identificação de um grupo por meio de uma idéia, um valor.”
Segundo o referido autor, o sujeito político que pretende sustentar o ethos de
solidariedade deve mostrar-se verdadeiramente interessado pelas necessidades do povo,
consciente de seus deveres, deve saber ouvir. Pode-se dizer que ouvir é uma atitude
imprescindível que o político deve ter, pois denota a sua consideração para com aquele que
fala, mostra seu respeito diante do outro, fazendo-o existir.
Silvio Barros em 27/10/2004: A prefeitura é uma prestadora de serviços ela existe
para atender as necessidades de cada cidadão maringaense. Por isso, na nossa
administração, o Paço Municipal vai funcionar em período integral, é maior
facilidade, conveniência e rapidez na solução do seu problema.
Silvio Barros em 29/10/2004: Quando eu permiti que o nosso programa fosse usado
pra dar oportunidade aos maringaenses, pra abrir o coração, pra dizer como é que
eles estavam se sentindo, pra contestar informações da administração municipal, que
eles entendiam que não eram verdadeiras. Tudo o que nós falamos era verdade, mas
isso chocou a população e disseram que os meus apresentadores estavam batendo.
Nós nunca batemos e nunca faltamos com respeito ao prefeito. O povo e o programa
questionaram o desempenho da administração municipal e as informações que,
muitas vezes, foram equivocadas. A nossa postura foi única e foi transparente. Tudo
o que nós falamos na televisão, era a mesma coisa que nós falávamos no resto da
campanha.
Silvio Barros em 20/08/2008: E hoje, graças, sobretudo a Deus, eu me sinto
plenamente realizado satisfeito com o que a nossa equipe conseguiu fazer. Eu fui um
prefeito presente e acessível.
Silvio Barros em 22/08/2008: Então Angelina, aqui é a tua casa?
Angelina: Aqui é minha casa.
Silvio Barros: E funciona tudo direitinho?
Angelina: Meu pedacinho do céu Silvio. Aqui é o meu pedacinho do céu, pensa em
uma mulher que está super feliz com o meu cantinho.
Silvio Barros: Que bom!
Silvio Barros em 01/10/2008: E precisamos, sim, personificar a esperança da
comunidade. Porque voto o é número, voto é gente. Cada voto representa uma
pessoa, as suas necessidades, seus problemas, as suas esperanças
75
Nos exemplos acima expostos, percebe-se a tentativa do sujeito político em
demonstrar sua pretensão de ouvir a população, saber de seus anseios e problemas. Na
primeira sequência discursiva de 2004 é possível notar que, ao mesmo tempo em que este
sujeito político constrói seu ethos de solidariedade também fabrica um anti-ethos de seu
adversário. O não-dito é constituinte do dizer, desta maneira, quando é enunciado “[...] na
nossa administração, o Paço Municipal vai funcionar em período integral [...]”, subentende-se
que a prefeitura da situação não trabalhava em tempo integral e, consequentemente, não era
solidária para com a população.
Os fatores que são apagados, silenciados no discurso do sujeito político Silvio Barros
podem ser evidenciados ao se resgatar o momento sócio-histórico de 2001, ano que a
administração do PT assumiu a prefeitura de Maringá. Ao se deparar com uma prefeitura com
dificuldades nos recursos financeiros, o prefeito José Cláudio reduziu o horário de trabalho
dos servidores públicos, uma forma encontrada de diminuir as despesas com energia, água e
até mesmo com os salários desses trabalhadores. Após sua morte, antes do fim de seu
mandato, seu vice, João Ivo Caleffi, assumiu o cargo e continuou seguindo as medidas
econômicas iniciadas por José Cláudio.
Verifica-se, ainda, uma aproximação, uma singularização, uma individualização do
eleitor / telespectador no enunciado em que este sujeito político afirma que contribuirá para a
“[...] solução do seu problema”, entendendo que o pronome possessivo “seu” pode ser
compreendido e individualizado por cada telespectadores / eleitores, produzindo um efeito de
sentido de que este sujeito político será capaz de resolver os dilemas pessoais dos cidadãos.
No segundo exemplo, sofrendo as coerções da semântica global que rege seu discurso
e objetivando sustentar seu ethos, o sujeito político Silvio Barros usa da estratégia de dar voz
aos cidadãos para que eles falem do candidato adversário, ou seja, foi dada a “[...]
oportunidade aos maringaenses [...]” para que eles contestassem informações sobre a
administração municipal tudo o que “[...] eles entendiam que não [...]” era verdade. Apesar de
ter usado enunciados em que não mostra seu posicionamento “[...] O povo e o programa
questionaram” é na cena discursiva que se verifica ser o próprio sujeito político Silvio
Barros que julga e duvida da honestidade de seu adversário. Neste exemplo compreende-se
que a FD política permite que se ataque o adversário, contudo, para não prejudicar seu ethos
de caráter, torna-se apropriado que outras pessoas (cidadãos, jornalistas, o programa eleitoral)
façam as supostas acusações no lugar do candidato.
76
Nas propagandas de 2008, o sujeito político Silvio Barros também constrói este
ethos de solidariedade demonstrando seu interesse pelas necessidades da população afirmando
que foi um “[...] prefeito presente e acessível”, que soube ouvir a população, como
demonstrado no diálogo entre o candidato e uma moradora da cidade, obtendo, assim, a
simpatia da população que durante os HGPE é levada a constatar que tal candidato realmente
se interessa pelo povo e que considera que “[...] voto não é número, é gente”.
3.1.2.7 O ethos de Proximidade
Este ethos não faz parte das categorias criadas por Charaudeau (2008) e aqui
utilizadas. Devido à especificidade do corpus analisado, foi necessária uma nova
denominação de ethos que é construída por meio do discurso do sujeito político quando este
fala diretamente com o telespectador / eleitor, produzindo um efeito de sentido de
proximidade para com ele. É possível observar esta construção nas sequências discursivas
seguintes:
Silvio Barros em 25/10/2004: Gente, nós estamos entrando na última semana da
eleição.
Silvio Barros em 28/10/2004: Mas pra isso, eu preciso do seu apoio, eu preciso do
seu voto.
Silvio Barros em 29/10/2004: Eleitor, eleitora maringaenses, domingo você vai
escolher entre dois candidatos, entre dois currículos, entre duas experiências de vida,
entre dois comportamentos e princípios. Medite bastante.
Silvio Barros em 20/08/2008: Eu convido a você a assistir e a ouvir nossos
programas, a acessar o nosso site da campanha.
Silvio Barros em 29/08/2008: E nós terminamos por aqui esse giro especial com o
prefeito, mostrando tudo o que nós estamos fazendo pelo esporte em Maringá, vejo
você no próximo programa.
Silvio Barros em 15/09/2008: Esse é mais um compromisso que eu assumo com
você.
Silvio Barros em 19/09/2008: E você sabe, se a gente fala, a gente faz.
77
Os exemplos de 2004 provam que o ethos de proximidade foi muito utilizado por
este sujeito político principalmente nos momentos em que ele pedia o apoio, pedia votos para
o telespectador / eleitor. Nessas construções observa-se que as palavras gente” e “você” são
constantes na materialidade linguística, aproveitando-se do fato de que tanto uma quanto a
outra pode ter como sujeito da enunciação aquele que assiste ao programa, seja o João do
Alvorada, ou a Maria do Guaiapó, ou a Ana da UEM. Todos são “você”, todos são gente” e
ainda, todos são “gente de Maringá”, nome dado à Coligação deste candidato.
Uma pequena mudança foi verificada no programa de 2008: o candidato fez pouco uso
do termo “gente”, privilegiando o pronome de tratamento “você” que é mais individualizado,
sem deixar de ser abrangente. Nestas sequências nota-se como o telespectador / eleitor é
tratado com intimidade, com proximidade e para deixar pequena a distância entre a instância
política e a instância cidadã, este sujeito político cria um site para deixar disponíveis
informações de sua campanha, conforme enunciado no primeiro exemplo.
Na sequência apresentada no dia 29 de agosto, tem-se “[...] vejo você no próximo
programa.” esta citação, típica dos telejornais e programas de TV, produz uma inversão de
papéis. O telespectador / eleitor é convidado a assistir ao próximo programa, portanto ele, o
telespectador, que i“ver” o candidato na televisão. Entretanto, ao fazer essa enunciação o
sujeito político rompe com o princípio de realidade produzindo a sensação no telespectador de
que ele também é visto pelo político. Esse efeito de proximidade longínqua (COURTINE,
2006; 2008) também contribui para diminuir a distância entre ambos e cria impressão de que
são próximos e íntimos.
Buscando dar continuidade à aproximação criada, o candidato começa a assumir
compromissos diretamente com o “você” que testemunha a programação, produzindo o efeito
de que essa responsabilidade é tão estreita que não deixará de ser realizada. Fato semelhante
ocorre em: “E você sabe, se a gente fala, a gente faz” aqui o sujeito político usa o “você”
para servir de testemunha de sua competência, como se os dois se conhecessem há tanto
tempo que o candidato conta como certo o fato do eleitor conhecer sua procedência e saber
que ele cumpre com seus compromissos.
78
3.2 ETHÉ REFORÇADOS POR SUJEITOS TESTEMUNHA NOS HGPE DE 2004 E
2008
Durante as leituras teóricas e as análises feitas nesta pesquisa, observou-se que em
algumas situações a imagem construída do sujeito político não é legitimada por meio de seu
próprio discurso, mas por outras pessoas que “testemunham” a seu favor. Este mecanismo
serve mais como uma estratégia que valida e mais credibilidade aos ethé existentes. De
acordo com Charaudeau (2008, p. 182): “Evidentemente, aqui o ethos não é mais construído
pelo próprio político, mas a imagem de si resulta tanto de estratégias dele próprio, quanto da
que lhe é atribuída pelo público, por boatos e pela mídia.”
Produzindo um efeito de sentido positivo junto ao eleitor / telespectador, esta
estratégia de “[...] deixar que sua imagem seja construída por declarações de um terceiro [...]
(CHARAUDEAU, 2008, p. 159) faz com que se obtenha mais credibilidade, garantindo-lhe a
legitimidade dos “adjetivos”, uma vez que a instância cidadã valoriza e aceita mais facilmente
quando outras pessoas falam bem” do candidato. Sem esquecer que o excesso de virtudes
construídas e mostradas por este sujeito político em seu próprio discurso poderia produzir
efeitos de arrogância, falta de humildade e falsidade.
Dentro do âmbito da caracterização desta outra maneira de pensar o ethos, pode-se
dizer que são verificados feixes de traços psicológicos que outras pessoas reforçam do sujeito
de quem enunciam, objetivando mostrar que existe uma identificação entre elas, o candidato e
o eleitor / telespectador. Tem-se, ainda, a oportunidade de se refletir sobre o fato de que as
características ressaltadas por estas “testemunhas” apontam o imaginário que a instância
cidadã possui daquilo que é ser bom político e, por seguinte, aprovam a candidatura do sujeito
sobre o qual estão produzindo enunciados.
Vale destacar que ao se identificar os sujeitos que dão suporte aos ethé cidadãos
maringaenses, jornalistas do Canal 11 e do Estúdio 11, políticos favoráveis e políticos
adversários também serão verificados os efeitos de sentido produzidos pelos ethé
construídos por estes cidadãos. Nos próximos subitens, para cada exemplo de ethos serão
apresentados exemplos de sequências que demonstram o apoio de testemunhas em 2004 e em
2008. Tendo em vista a quantidade de sujeitos que reforçaram o mesmo tipo de ethos, optou-
se por usar o índice de incidência para escolher qual testemunha teria a sequência discursiva
usada na demonstração, ou seja, se em 2008 mais jornalistas do Estúdio 11 foram
79
responsáveis por reforçar o ethos de proximidade, então esta será a sequência usada na
análise.
3.2.1 Ethé de Credibilidade Reforçados por Sujeitos Testemunha
Nos ethé de credibilidade legitimados por terceiros são consideradas as sequências
discursivas em que aparecem outras pessoas, e não o sujeito político, falando sobre o poder de
realização que o candidato em questão mostrava possuir e também sobre a confiança que estas
pessoas (políticos, jornalistas, cidadãos) depositam no político de quem estão testemunhando,
seja enunciando que acreditavam em suas promessas ou apoiando a candidatura. Pertencem
ainda a este tipo de ethos as sequências enunciadas por testemunhas que falam, mostram e
comprovam os feitos do sujeito político.
3.2.1.1 Ethos de Sério Legitimado por Sujeitos Testemunha
O ethos de sério foi observado nas sequências discursivas em que outras pessoas falam
da seriedade, do compromisso e da energia para o trabalho que este sujeito político possuiria.
Também presente nos enunciados que mostram os compromissos e promessas assumidas pelo
candidato, mais ainda, caracterizam-se por demonstrações de confiança e apoio que os
sujeitos testemunha depositam no sujeito político Silvio Barros.
Maria Aparecida Pereira (Mãe de JoCláudio “Político Adversário”) em
26/10/2004: No primeiro turno, nós apoiamos Edmar Arruda, eu e minha família.
No segundo turno, junto com Edmar Arruda e a minha família estamos apoiando
Silvio Barros, porque achamos nele uma pessoa competente, séria, íntegra que
preparado para ser o prefeito de Maringá. Está apto pra governar Maringá. Nós
estamos apoiando o Silvio Barros porque confiamos nele, na pessoa dele.
Cristian Marcos da Silva (Cidadão Maringaense) em 01/09/2008: Quando eu
entrei pra vender, comecei vender, me falaram: cuidado que você vai vender porque
a prefeitura não paga. Nessa gestão agora eu to recebendo certinho, vendo carne
para o bosque, para as creches e estão me pagando certinho.
No exemplo de 2004 observa-se o apoio e a confiança que o sujeito testemunha
adversário deu a Silvio Barros, legitimando seus ethé. Deve-se explicar a peculiaridade da
denominação sujeitos testemunha “políticos adversários”: devido aos acontecimentos
80
ocorridos na história política maringaense, a produção de discursos feita por estas
testemunhas adversárias pode ser compreendida quando se aciona a memória sócio-
discursiva. Como comentado anteriormente, o ex-prefeito José Cláudio (PT) faleceu
durante seu mandato, fazendo com que seu vice João Ivo Caleffi (PT) assumisse o cargo
de prefeito de Maringá. Em 2004, ao tentar a reeleição, esperava-se que os arquivos
midiáticos que continham imagens e depoimentos de José Cláudio fossem utilizados para
apoiar a candidatura de Ivo Caleffi, bem como a família do ex-prefeito, porém, o apoio foi
dado a Silvio Barros (PP). Desta sorte, a denominação “político adversário” utilizada neste
trabalho, refere-se ao fato de que, a priori, estas testemunhas seriam adversárias do candidato
do partido progressista, mas que no HGPE de 2004 produziram enunciados favoráveis à
candidatura deste sujeito, fato que não se repetiu em 2008.
Este tipo de ethos implica diferentes produções de efeitos de sentido, pois o “quem
fala” possui mais relevância do que o “o que fala”. Nesta sequência discursiva que
exemplifica o ethos de sério legitimado por um sujeito testemunha adversário, quem enuncia é
uma cidadã maringaense Maria Aparecida Pereira que é mãe do ex-prefeito de Maringá,
José Cláudio (PT). Neste percurso analítico, algumas memórias já estabilizadas são acionadas:
o papel da mãe na sociedade, retomando, por exemplo, os sentidos de que “mãe não mente” e
“intuição de mãe nunca falha”. De acordo com Silveira e Passetti (2007, p. 277), o “[...] efeito
de sentido produzido pelo acionamento dessa memória confere à candidatura de Silvio Barros
(PP) um valor bastante positivo no sentido de que a mãe, a senhora de idade [...] apóia o
candidato, logo o apoio de uma mãe poderá ser muito melhor recebido que um outro apoio
qualquer”, principalmente quando se trata da “mãe do outro”.
Por ser um fato novo e improvável, o apoio que a mãe de José Cláudio deu ao
candidato Silvio Barros pode ser considerado um acontecimento histórico-discursivo, pois
teve “[...] força e importância para ser noticiado e, ao mesmo tempo, capaz de produzir
memória.” (SILVEIRA; PASSETTI, 2007, p. 276). Os enunciados produzidos pela mãe de
José Cláudio e divulgados durante os HGPE tornaram-se estrategicamente significativos,
principalmente ao se verificar a materialidade linguística que sustenta e legitima o ethos de
sério do sujeito político Silvio Barros. Nesta sequência discursiva nota-se, ainda, uma
sobreposição do ethos de competente e uma construção do anti-ethos do outro candidato
através dos não-ditos, pois ao enaltecer Silvio Barros, esta testemunha desqualifica seu
concorrente, João Ivo Caleffi:
81
“Dito” sobre Silvio Barros
“Não-dito” sobre João Ivo Caleffi
Competente Não-competente
Sério Não-Sério
Íntegro Não-íntegro
Apto / preparado Não-apto / Não-preparado
Confiável Não-confiável
Tabela 1
Na sequência discursiva de 2008 observa-se que o sujeito testemunha contribui para a
intensificação do ethos de sério do sujeito político ao elogiar a gestão da atual administração
e, ao mesmo tempo, critica a gestão anterior a de Silvio Barros, a saber, José Cláudio e João
Ivo Calleffi, pois primeiro enuncia “[...] a prefeitura não paga” e em seguida continua: “Nessa
gestão agora eu to recebendo certinho”. Ao desqualificar o ex-prefeito, este sujeito
testemunha demonstra seu apoio ao sujeito político em campanha, mostrando sua seriedade na
administração da cidade ao revelar que recebe pontualmente o pagamento por seus serviços
prestados à prefeitura.
3.2.1.2 Ethos de Virtuoso Legitimado por Sujeitos Testemunha
O ethos de virtuoso legitimado por sujeitos testemunha caracteriza-se por apresentar
sequências discursivas que apontam a honestidade, a sinceridade e a fidelidade do sujeito
político. Além de exaltar a lealdade que o candidato possui perante seus adversários e o
respeito pelos cidadãos.
Dorival Dias (Político Favorável) em 28/10/2004: Sou Silvio Barros. Votar onze é
votar na valorização do servidor.
Eleitora 1 (Cidadão Maringaense) em 29/10/2004: Eu creio que sim, ele é um
homem de palavra.
Nestes exemplos, tanto um político quanto um cidadão salientam as características de
um ethos virtuoso. Na primeira sequência de 2004, é destacada a valorização que o sujeito
político ao servidor público. Tal efeito é construído no próprio discurso, pois o “Político
Favorável” não enunciou “Silvio valoriza o servidor”, mas fez um processo de identificação,
82
persuasão e memória. No início, em “Sou Silvio Barros”, o sujeito testemunha menciona
seu apoio. Em seguida, “[...] votar 11” produz efeitos de sentido que necessitam da memória
do telespectador / eleitor para que se faça a identificação de que o número onze é o número do
candidato Silvio Barros e que “votar 11” significa votar em Silvio Barros. E por fim, no
trecho “[...] é votar na valorização do servidor”, mais uma vez, por paráfrase, subtende-se que
o candidato Silvio Barros valoriza o servidor, porque ele é 11 e é Silvio Barros.
Na segunda sequência discursiva nota-se que o ethos de virtuoso é legitimado por
meio da frase “[...] um homem de palavra”. Não foi dito “Silvio Barros é honesto”, mas este é
o subentendido, porque é considerado na filosofia, na antropologia, nas sociedades em geral
que “homens de palavra” são pessoas que cumprem suas promessas, que são honestas e fiéis
consigo, com seus amigos e até inimigos, enfim, um homem virtuoso.
3.2.1.3 Ethos de Competência Legitimado por Sujeitos Testemunha
Quando terceiros falam do percurso político que o candidato fez com o intuito de
comprovar que este está apto para exercer o cargo de prefeito, diz-se que se formulou um
ethos de competência. Também é verificado este ethos quando os “sujeitos testemunha” falam
de todos os feitos, as obras, as melhorias que o sujeito político candidato realizou ou
simplesmente por apresentar indícios de que é capaz de realizá-las. Seguem os exemplos:
Cecília Fraga (Jornalista Canal 11) em 26/10/2004: E com a falta do candidato do
PT o debate também foi transformado em entrevista e mais uma vez o Silvio
mostrou que é o mais competente e apresentou as melhores propostas.
Marcio Fortes (Político Favorável) em 15/09/2008: Alguns vão pensar. Não, o
Márcio deu o recurso ao Silvio porque ele é do mesmo partido. Não é isso que
vão pensar? Será que foi por isso? Ou será que o Silvio é competente! Será que o
Silvio sabe fazer projeto. Essa é a verdade, não adianta ser amigo. É importante
saber fazer as coisas. É importante você saber qual é o pedido de cada cidadão. É
isso que faz o Silvio e é isso que faz o meu Ministério.
Dani Luz (Jornalista Estúdio 11) em 29/09/2008: E quem viu as realizações e
conhece os compromissos que ele está assumindo agora, não tem mais dúvidas.
Nos exemplos encontrados fica nítida a colaboração que os sujeitos testemunha
jornalistas deram para a legitimidade do ethos de competente deste sujeito político. Na
83
sequência discursiva de 2004, tem-se, além da construção do ethos de competente do
sujeito político Silvio Barros, uma desconstrução, ou difamação, do sujeito político adversário
João Ivo Caleffi, designado como “[...] o candidato do PT”. Neste momento cria-se um anti-
ethos de incompetente de Calleffi, subentendendo que se ele não foi capaz de comparecer ao
debate, como poderá administrar a cidade? Neste exemplo, verifica-se ainda, uma retomada
da capacidade e competência do sujeito político Silvio Barros ao se usar “[...] e mais uma vez
o Silvio mostrou que é o mais competente”, atentando para a ênfase presente no artigo o e no
advérbio de intensidade mais, produzindo efeito de sentido de superioridade, efeito que
também se faz presente em “[...] as melhores propostas.”
Nos exemplos de 2008 formulados por um político favorável e um jornalista, tem-se o
ethos de competência marcado no “saber fazer”. No caso do sujeito testemunha político, deve-
se observar a importância deste sujeito no quadro das relações políticas nacionais. Não é
qualquer político que reforça o ethos do candidato, mas Márcio Fortes, representante do PP no
governo Lula que, desde 2005, cumpre a função de Ministro das Cidades. Atendendo as
reivindicações de movimentos sociais que lutavam pela reforma urbana, o Ministério das
Cidades, criado em janeiro de 2003, objetiva contestar as desigualdades sociais,
ambicionando a transformação das cidades em espaços mais urbanizados, proporcionando à
população amplo acesso à moradia, ao saneamento e ao transporte
10
. Assim, ao conhecer este
contexto, torna-se correto afirmar que o ethos reforçado por esta testemunha possui mais
legitimidade e produz efeitos de sentido positivos ao se enunciar sobre a capacidade do
candidato em “[...] saber fazer projeto”, “[...] saber fazer as coisas(não especificando quais
coisas) e “[...] saber ouvir o pedido de cada cidadão”.
Ao analisar o enunciado da jornalista do Estúdio 11, verificou-se que os ethé também
são construídos dentro da lógica argumentativa, utilizando-se de raciocínios lógicos implícitos
no discurso. Assim, este sujeito testemunha comprova que o candidato é capaz: “E quem viu
as realizações e conhece os compromissos que ele está assumindo agora, não tem dúvidas”.
Esta sequência discursiva pode ser interpretada da seguinte maneira: ora, se é possível ver
as realizações, de alguém que as fez, e, se foram feitas, esse alguém comprovou ser
competente o suficiente para realizá-las, e, se as realizou, também será competente para
efetuar as próximas realizações, que cumprirá os novos compromissos assumidos.
10
Para mais informações, conferir o site do governo disponível em <http://www.cidades.gov.br/ministerio-das-
cidades>
84
3.2.2 Ethé de Identificação Reforçados por Sujeitos Testemunha
Nos ethé de identificação reforçados pelos cidadãos, jornalistas e políticos
maringaenses verificou-se a presença de características ligadas a traços psicológicos, por
exemplo, quando terceiros falam do caráter, do comportamento, dos gostos, da história de
vida do sujeito político aqui analisado. Nestes tipos de ethé é criada uma imagem de
identificação, de humano, aproximando o candidato de seus eleitores / telespectadores. Essa
imagem é intensificada por enunciados que falam da vida “comum” do sujeito político, bem
como enunciados que mostram a acessibilidade a este candidato, perguntas feitas diretamente
para o sujeito político Silvio Barros, por exemplo, apontam esta aproximação e, por
conseguinte, a identificação.
3.2.2.1 Ethos de Caráter Legitimado por Sujeitos Testemunha
As características que compõem o ethos de caráter são as que aparecem em sequências
discursivas em que as “testemunhas” falam da incapacidade do sujeito político ficar calado
perante ofensas. Outro exemplo que se insere neste ethos é quando terceiros falam sobre o
fato do candidato pensar no futuro, seja da cidade ou dos cidadãos:
Luiz Nishimori (Político Favorável) em 26/10/2004: É um homem sério,
trabalhador, com visão administrativa e futurista, tem grande capacidade.
Sérgio Mendes (Jornalista Estúdio 11) em 17/09/2008: Além disso, o Silvio está
informatizando o sistema. Todos os postos terão acesso às fichas de pacientes, que
trarão mais rapidez ao atendimento e agendamento das consultas e exames
especializados.
Nos exemplos acima, é privilegiada a característica de “pensar no futuro” que o sujeito
político possui. Na sequência discursiva da campanha de 2004, o sujeito testemunha Luiz
Nishimori (PSDB), deputado estadual eleito em 2002 e reeleito em 2006, é um político
favorável à candidatura de Silvio Barros que, além de reforçar o ethos de caráter, também
intensifica o ethos de competência do candidato por meio do enunciado “[...] visão
85
administrativa futurista”, uma vez que o adjetivo “futurista” está atrelado ao imaginário
sócio-discursivo de modernidade, de melhoria, de competência.
No exemplo de 2008 também se observa uma sobreposição de ethos, visto que em
uma mesma sequência discursiva pode-se encontrar mais de um ethos, neste caso, o de caráter
e o de humanidade. O ethos de caráter reforçado pelo sujeito testemunha jornalista é
evidenciado na passagem “[...] o Silvio está informatizando o sistema. Todos os postos terão
acesso às fichas de paciente [...]”. Esse pensamento de informatização, de globalização, em
que todos os postos de saúde estarão interligados demonstra um “pensar no futuro”, afinal, na
atualidade grande parte da burocracia está sendo facilitada pela informática e pela internet.
Ao pensar no futuro, este sujeito político acaba por pensar e melhorar as condições de
atendimento da população nos postos públicos, pensando no bem estar dos cidadãos,
garantindo rapidez e consultas e exames especializados. Nesta passagem, o ethos de
humanidade, de pessoa que ajuda os mais necessitados é legitimado pelo jornalista,
juntamente com o ethos de caráter.
3.2.2.2 Ethos de Inteligência Legitimado por Sujeitos Testemunha
Ao demonstrarem admiração e respeito pelo sujeito político, os sujeitos testemunha
contribuem para o fortalecimento do ethos de inteligência do sujeito político. Este ethos
também se faz presente nas sequências discursivas em que são comentados os conhecimentos
culturais do candidato, cabendo aos cidadãos mostrar de forma sutil, astuta e habilidosa mais
uma “virtude” do candidato.
Luiz Nishimori (Político Favorável) em 26/10/2004: Eu conheço o Silvio muito
tempo, Cecília, e pude conhecer melhor ainda quando minha esposa Kemy
concorreu, como vice, em eleições anteriores. Todos nós sabemos que o Silvio
nasceu aqui, estudou aqui e se formou na UEM.
Dani Luz (Jornalista Estúdio 11) em 22/08/2008: Isso mesmo Sérgio. Mas o
Silvio, que sabe o real valor da educação, já trabalhou sério para resolver o
problema. Vejam só.
86
O sujeito testemunha político contribui para o reforço do ethos de inteligência do
sujeito político ao ressaltar suas qualidades intelectuais, ou seja, quando informa ao eleitor /
telespectador que “[...] o Silvio nasceu aqui, estudou aqui e se formou na UEM.”
A sequência discursiva apresentada no programa eleitoral de 2008 exemplifica uma
formulação astuta e inteligente do jornalista, e não do sujeito político propriamente dito.
Como é possível verificar no aposto “[...] que sabe o real valor da educação [...]”. Entretanto,
se pode pensar: se a testemunha que fala bem do político é astuta, o político também o é,
afinal, não é uma pessoa qualquer que está enunciando sobre o candidato, mas uma repórter,
uma jornalista contratada para apresentar o programa e certamente reforçar as imagens do
sujeito político que sejam positivas e que se fossem feitas por ele mesmo poderiam deslizar
seu sentido fabricando um anti-ethos, uma imagem de arrogante ou, até mesmo, de falso.
Além do mais, o aposto inserido na fala deste sujeito testemunha refere-se ao valor da
educação, do conhecimento e, assim, à inteligência que o candidato possuiria.
3.2.2.3 Ethos de Humanidade Legitimado por Sujeitos Testemunha
Os sujeitos testemunha que contribuíram para o reforço do ethos de humanidade das
campanhas de 2004 e de 2008 produziram enunciados em que se evidenciam algumas ões
do sujeito político relacionadas à população. Por exemplo, quando terceiros falam que tal
candidato se preocupa com a população, mencionam o fato de este sujeito político ter ajudado
os mais necessitados, prestando serviço à comunidade. Porém, ainda fazem parte deste ethos
algumas características pessoais do sujeito político que são enunciadas por estas testemunhas:
o gosto e a intimidade do político; o fato de conhecerem pessoalmente este candidato; menção
à tradição que a família do sujeito político Silvio Barros possui na cidade.
Bárbara Barros (Cidadã Maringaense e mãe de Silvio Barros) em 29/10/2004:
Mas, como Jesus nos ensinou perdoa, porque não sabe o que faz. Quantas vezes o
Silvio teve que passar cera no chão e caiam lágrimas, mas era assim que tinha que
ser em casa. O Ricardo com aquela pilha de sapatos pra engraxar, o Silvio com o
chão pra encerar, era tarefa de cada um né? É assim que nós educamos os nossos
filhos.
Dani Luz (Jornalista Estúdio 11) em 17/09/2008: Atenção especial também faz
parte da saúde preventiva. Por isso o Silvio investiu nos programas da Saúde da
Mulher, Saúde do Idoso, Saúde da Criança e Adolescente, na alimentação saudável e
no combate ao tabagismo.
87
O sujeito testemunha de 2004 que reforça esse ethos de humanidade do candidato não
é qualquer cidadão maringaense, mas a mãe do sujeito político que está sendo analisado. se
tem uma aproximação, uma intimidade que caracteriza o ethos de humanidade. Ao revelar
como foi a infância do candidato com os enunciados “[...] o Silvio teve que passar cera no
chão e caiam grimas [...]” e [...] o Silvio com o chão pra encerar [...]”, essa testemunha
legitima com muita eficácia o ethos de humanidade do sujeito político em questão,
observando-se, ainda, o tom apelativo que usa para falar da infância deste candidato, fato que,
possivelmente, deve ter produzido efeitos de sentido de identificação, compreensão e empatia
junto aos eleitores / telespectadores do segundo turno.
Em 2008, o exemplo apresentado possui, novamente, uma sobreposição de ethé. O
ethos de humanidade, reforçado pela jornalista do Estúdio 11, é verificado nas passagens em
que mostram a preocupação com a população que o sujeito político possui e por isso criou
programas que atendem todos os tipos de necessitados (mulheres, idosos, crianças,
adolescentes, entre outros). O outro ethos, o de competente, é legitimado no momento em que
se enuncia “[...] o Silvio investiu nos programas [...]”. Nesta sequência discursiva é relevante
perceber que um ethos não é mais importante que o outro, mas o fato de estarem juntos é que
torna o enunciado mais forte, afinal de contas, melhor que ser competente é ser competente e
humano, porque não é “investir”, mas saber que tipo de investimento se faz, neste caso, na
melhoria de serviços designados à população.
3.2.2.4 Ethos de Chefe Legitimado por Sujeitos Testemunha
Dos enunciados produzidos pelos sujeitos testemunha e que constituem este corpus de
análise, apenas um exemplo de ethos de chefe foi identificado. Nesta sequência é verificado o
conselho dado aos cidadãos, o jornalista diz que a população deve seguir o candidato, deve
confiar nele, pois ele sabe o que faz:
Sérgio Mendes (Jornalista Estúdio 11) em 24/09/2008: Nas caminhadas, nos
bairros, no centro é cada vez maior o apoio e a certeza de que Maringá está no rumo
certo.
88
Apesar de não se encontrar o nome do sujeito político que esta testemunha apóia,
sabe-se que é sobre o candidato Silvio Barros que se está enunciando. No excerto “[...]
Maringá está no rumo certo” se tem a possibilidade de fazer uma paráfrase e se obter: “Silvio
Barros está governando corretamente”. Em outras palavras, o ethos de chefe é formulado
quando se subentende que o sujeito político está guiando e levando a cidade para o melhor
caminho, pois, segundo este jornalista, este candidato sabe o que faz.
3.2.2.5 Ethos de Solidariedade Legitimado por Sujeitos Testemunha
Ao dissertar sobre a vontade que o sujeito político possui de estar junto ao povo, os
sujeitos testemunha consolidam o ethos de solidariedade desse candidato. Outras
características mencionadas por estas testemunhas são o interesse que o sujeito político possui
pelos cidadãos e o fato deste candidato ouvir o que a população tem a dizer, sejam
reclamações ou agradecimentos.
Cecília Fraga (Jornalista Canal 11) em 27/10/2004: O Silvio ouviu o povo e o
Paço Municipal voltará a atender nos dois períodos sem prejuízo aos servidores.
Bárbara Barros (Cidadã Maringaense e mãe de Silvio Barros) em 29/10/2004:
O Silvio gosta de estar no meio do povo, tanto que cada vez que termina o espaço da
cidadania ele diz: esse é o melhor pedaço do dia, né? Porque estar com vocês
cidadãos é o melhor pedaço da vida.
Eliana Dranca (Cidadã Maringaense) em 24/09/2008: Pode ter certeza, vinte anos
que eu tenho na prefeitura, eu vou falar, o respeito que eu tive como funcionária
pública, eu louvo a Deus. Porque você é um homem de Deus.
Na primeira sequência discursiva de 2004 tem-se um sujeito testemunha jornalista do
Canal 11 enunciando o fato de que o sujeito político ouviu e atendeu ao pedido da população
e se comprometeu em abrir o Paço Municipal em dois períodos para melhor atender os
cidadãos, reforçando, desta maneira, o ethos de solidariedade, entretanto, não é mencionado o
como que essas ações serão realizadas, um exemplo da língua de vento estudada por Courtine
(2003). Nesta sequência, identifica-se, ainda, um anti-ethos do adversário presente no
enunciado “[...] voltará a atender [...]”, pois sendo uma promessa do candidato da oposição de
que a prefeitura “voltará” a funcionar em dois períodos, significa que ela não está, naquele
momento sócio-histórico, trabalhando como a população gostaria. Construindo, desta forma,
89
um ethos “anti-solidário” do adversário junto aos eleitores / telespectadores, subentendendo
que o prefeito daquela situação (João Ivo Caleffi) não ouvia a população. Entretanto, o não-
dito que silencia as condições de produção e não apontam para a realidade vivida naquele
período sócio-histórico já foram explicadas anteriormente.
O ethos de solidariedade legitimado pela cidadã e mãe do candidato ressalta o gosto
que tal candidato tem de “[...] estar no meio do povo [...]”. Percebe-se na fala desta
testemunha uma estratégia usada para, através de seu discurso, dar voz para o sujeito político,
usando o discurso indireto em “[...] ele diz: esse é o melhor pedaço do dia, né? Porque estar
com vocês cidadãos é o melhor pedaço da vida”, ratificando o ethos de solidariedade
reforçado por esta cidadã.
Em 2008, o ethos de solidariedade consolidado pelo sujeito testemunha cidadã
maringaense é, ainda, comprovado pelas imagens, pois no HGPE aparece esta maringaense
conversando pessoalmente com o sujeito Silvio Barros, fato que indica a vontade deste sujeito
político em estar junto do povo e em ouvi-lo. Nesta sequência discursiva, a frase "[...] o
respeito que eu tive como funcionária pública (...)” contribui para a consolidação desse tipo de
ethos.
3.2.2.6 Ethos de Proximidade Legitimado por Sujeitos Testemunha
A principal característica do reforço dado pelos sujeitos testemunha quando da
construção do ethos de proximidade deste sujeito político é o fato de falarem diretamente com
o sujeito político Silvio Barros, chamando-o pelo nome ou por sua função. Esse ethos é
identificado em pedidos, em agradecimentos, em cobranças ou convites para um “giro” pela
cidade. Seguem os exemplos:
Eleitor 5 (Cidadão Maringaense) em 27/10/2004: Silvio Barros, por favor faça a
prefeitura funcionar o expediente inteiro.
Dani Luz (Jornalista Estúdio 11) em 29/08/2008: E que o assunto é esporte,
vamos dar uma olhada em mais algumas ações e obras do Silvio nessa área. E pra
você não perder nenhum detalhe, hoje eu chamo direto da Vila Olímpica mais um
Giro com o Prefeito edição especial de esportes. Olá prefeito está pronto para dar
mais um giro pela cidade? Pra onde nós vamos hoje?
90
Eleitor 1 (Cidadão Maringaense) em 15/09/2008: Silvio, o que pode ser feito
para melhorar o trânsito de Maringá?
Na sequência discursiva de 2004 verifica-se um pedido, uma frase imperativa feita por
um cidadão ao sujeito político. Um pedido com sentido de ordem que, ao se assistir ao
programa eleitoral tem-se a resposta/promessa do candidato dizendo que o eleitor será
atendido. Esta sequência foi considerada como exemplo que reforça o ethos de proximidade
por ter sido enunciada diretamente para o sujeito político candidato e por conter o nome deste
candidato no enunciado.
No primeiro exemplo de 2008 percebe-se um ethos de proximidade muito forte e
consistente legitimado por meio do enunciado do sujeito testemunha jornalista. Em “[...] Olá
prefeito está pronto para dar mais um giro pela cidade?” verificam-se características informais
de tratamento, como se esta testemunha estivesse falando com um amigo, um vizinho. No
momento em que é enunciado “[...] Para onde nós vamos hoje?” não se tem muito claro quem
são as pessoas que representam este nós. Seria nós para a jornalista e o prefeito? Nós para o
prefeito e todos os eleitores / telespectadores? Ou, ainda, seria esse nós capaz de, mesmo
dando idéia de plural, singularizar e se tornar individualizado para cada pessoa, melhor
explicando, o indivíduo ao assistir o programa pensa ser ele, somente ele e o candidato que
farão o passeio pela cidade? Todos estes sentidos são possíveis e podem ser produzidos pelos
eleitores / telespectadores.
Na última sequência, construída por um cidadão, percebe-se um ar de cobrança, de
insatisfação do cidadão em relação ao trânsito da cidade, porém, não é enunciado que o
trânsito está ruim, é feita apenas uma pergunta positiva, uma curiosidade em saber “como
melhorar”. No entanto, o ethos de proximidade reforçado por esta testemunha encontra-se
apoiado no fato de o cidadão ter tido a liberdade para perguntar e cobrar diretamente o sujeito
político, chamando-o pelo nome e deixando claro que espera uma solução.
91
4. DISPOSITIVO ANALÍTICO-QUANTITATIVO: UMA COMPARAÇÃO NOS
HGPE DE 2004 E 2008
Em princípio poder-se-ia pensar que não é relevante obter dados quantitativos em uma
pesquisa discursiva, no entanto, foi observando esses números que outros efeitos de sentido
ocultos na dispersão dos enunciados foram identificados. Talvez essa maneira de analisar o
discurso político traga mais perguntas que respostas, mas são perguntas pertinentes, perguntas
que não apareceriam se não fosse feita a contagem dos ethé construídos pelos sujeitos
políticos e os legitimados pelos sujeitos testemunha.
Após a separação do discurso do sujeito político e dos sujeitos testemunhas em
sequências discursivas, verificou-se que era possível contar quantas sequências cada tipo de
ethos possuía e, assim, separá-las por categorias e períodos eleitorais. Porém, o fato de o
corpus desta pesquisa ser constituído por apenas cinco programas de HGPE referentes ao ano
de 2004 e dezoito programas do ano de 2008, fez com que houvesse uma divergência na
quantidade de sequências encontradas em cada ano, explicando melhor: em 2004 obteve-se o
montante de 64 sequências discursivas e em 2008 encontrou-se 304 sequências. Por ser uma
diferença numérica expressiva do total das sequências discursivas, tornou-se necessário, ao
fazer comparações, verificar apenas as quantidades percentuais de cada item, para que não
ocorressem deslizamentos dos sentidos numéricos.
A partir destes números, foi possível construir tabelas e gráficos demonstrativos que
auxiliaram a evidenciar os tipos predominantes de ethé fabricados e reforçados em cada ano
eleitoral. Observando os resultados obtidos, neste capítulo serão apresentados gestos de
interpretação que indicam as peculiaridades de cada momento sócio-histórico.
4.1 O FUNCIONAMENTO DOS ETHÉ DISCURSIVOS CONSTRUÍDOS PELO SUJEITO
POLÍTICO NOS HGPE
Examinando as estratégias usadas pelo sujeito político ao construir seus ethé, em
seguida serão apresentados gestos de interpretação relativos à quantidade de ethé fabricados
em cada uma das campanhas deste candidato, bem como uma comparação dos dois períodos
eleitorais que tem por objetivo identificar as regularidades e as dispersões destas estratégias,
identificando, por conseguinte, a importância das condições de produção, uma vez que são
92
responsáveis por determinar o discurso do próprio sujeito político. A fim de ressaltar as
descobertas mais relevantes, serão identificados, exemplificados e verificados os efeitos de
sentido produzidos por três ethé, privilegiando, desta maneira, aqueles que foram mais
fabricados pelo sujeito político Silvio Barros.
4.1.1 Os ethé construídos pelo sujeito político no HGPE de 2004
Como comentado anteriormente, o sujeito político Silvio Barros candidatou-se pela
segunda vez ao cargo de prefeito de Maringá-PR em 2004 e, apesar de pertencer a uma
família tradicional, pioneira e que tinha influência política não apenas nesta cidade, este
candidato precisou criar estratégias que legitimassem sua candidatura e que lhe conferissem
credibilidade perante os telespectadores / eleitores, fatos que se confirmaram através das
demonstrações de construções de ethé feitos por este candidato.
Observando o gráfico:
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
1
Categorias dos
Ethé
de 2004
Ethos de Sério
Ethos de Virtuoso
Ethos de Competência
Ethos de Cater
Ethos de Inteligência
Ethos de Humanidade
Ethos de Chefe
Ethos de Solidariedade
Ethos de Proximidade
Infográfico 1
Lembrando que os três primeiros ethos da legenda referem-se aos ethé de
credibilidade, já se pode verificar que na campanha eleitoral de 2004 foram os ethé de
identificação que tiveram maior índice de produção, em média 75% do total. Neste subitem
serão analisados e exemplificados os ethé de proximidade, de competência e de humanidade
produzidos pelo sujeito político Silvio Barros.
93
O ethos de proximidade foi o mais construído nesta campanha - 21,8% do total. A
partir deste dado pode-se indagar: de que maneira esse ethos foi legitimado por meio do
discurso do candidato?
Os exemplos mostraram que este ethos era usado principalmente nos momentos em
que Silvio Barros pedia o apoio, os votos do telespectador / eleitor – Silvio Barros em
25/10/2004: “Gente, nós estamos entrando na última semana da eleição”; Silvio Barros em
29/10/2004: “Eleitor, eleitora maringaenses, domingo vovai escolher entre dois candidatos
[...]”– Nessas construções observam-se que as palavras “gente” e “você” são constantes na
materialidade linguística, aproveitando-se do fato de que tanto uma quanto a outra pode ter
como sujeito da enunciação aquele que assiste ao programa. Assim, por ser candidato da
oposição, o candidato se utilizou desse tipo de discurso para criar uma identificação com os
eleitores, fazendo com que estes passassem a acreditar e se “aproximar” dele, legitimando sua
candidatura, tão questionada e comentada pelos adversários. Este contexto de produção
explica a presença do ethos de proximidade no segundo turno de 2004, era necessário chegar
perto do povo, fazer-se confiável, amigo.
Apesar de nunca ter exercido nenhum cargo político em Maringá, o referido candidato,
em seus discursos, pode-se observar a presença de enunciados que retomam os cargos
políticos que este sujeito teve, indicam os estados brasileiros em que trabalhou, apontam os
estudos que o preparou, além de destacar sua herança política – Silvio Barros em 25/10/2004:
“[...] Ajudei as comunidades extrativistas no interior da Amazônia, no Amapá, no Acre, no
sul do Pará, também na Bahia e ajudei a organizar empresários em Recife, Florianópolis,
Curitiba e em muitas outras cidades do Brasil.”
Nos exemplos deste ethos, observou-se que os verbos em primeira pessoa do singular
indicam que este sujeito pode possuir uma capacidade de realização. Entretanto, deve-se
indagar: por que o segundo maior índice 17,1% de verificação de ethé é do tipo de
competência? Uma possível resposta seria que não basta apenas se aproximar do povo, é
necessário mostrar-se competente. Outra hipótese seria a de que o candidato formulou esta
imagem de si ao pensar que no imaginário da instância cidadã, para ser considerado um bom
político deve-se ter um perfil de homem amigável e competente.
O terceiro ethos mais encontrado no corpus analisado, com 15,6% do total, foi o de
humanidade, contribuindo para o fortalecimento da identificação dos eleitores por este sujeito
político. A partir dos exemplos encontrados, pode-se dizer que este ethos foi usado para
94
mostrar aos cidadãos que os políticos também são “gente”, são “humanos”, tem
“humanidade”. Silvio Barros em 25/10/2004: “Esse é o espírito, o espírito de servir e foi isso
que eu aprendi em casa, aprendi com a minha família, que quando eu nasci, meu pai tinha
tomado essa decisão, de servir a cidade que ele ajudou a fundar, que ele ajudou a construir.”
4.1.2 Os ethé construídos pelo sujeito político no HGPE de 2008
Em 2008, quando o programa eleitoral foi inteiramente montado e organizado
baseando-se na simulação e dissimulação de um telejornal, denominado Estúdio 11, o sujeito
político Silvio Barros, após governar a cidade por quatro anos, tenta sua reeleição. Como
havia conseguido a identificação da população maringaense nas eleições de 2004, observou-se
certo equilíbrio no que diz respeito à construção de ethos durante sua segunda candidatura.
Desta maneira, torna-se correto afirmar que o maior índice de ethé de credibilidade 53%
aponta para o interesse deste candidato em buscar a validação de sua competência, ou seja,
mostrar e provar ao eleitor / telespectador que teria capacidade e poderia fazer melhorias.
Aqui também serão privilegiados os três ethé que apresentaram os maiores índices do
total construído por este sujeito político em 2008, são eles: competente, sério e proximidade:
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
1
Categorias dos Ethé de 2008
Ethos de Sério
Ethos de Virtuoso
Ethos de Competência
Ethos de Caráter
Ethos de Inteligência
Ethos de Humanidade
Ethos de Chefe
Ethos de Solidariedade
Ethos de Proximidade
Infográfico 2
Neste momento sócio-histórico, o sujeito político usou seu tempo no HGPE para se
mostrar competente, era hora de enunciar todas as benfeitorias que havia feito na cidade, era
tempo de reforçar que seria capaz de fazer ainda mais pela cidade e pela população, assim,
conseguiu construir 26,9% de ethos de competente. Mas como este candidato enunciou sua
95
“competência”? Os estudos feitos nesta pesquisa mostraram que o ethos de competência
fabricado por este sujeito político teve como base principal para sua legitimação o quadro
Giro com o Prefeito. Neste quadro os telespectadores / eleitores viam em pouquíssimos
minutos muitas melhorias feitas pela administração em toda a cidade, bem como as promessas
de campanha Silvio Barros em 03/09/2008: “No Hermam Moraes, estamos construindo
casas e também construímos barracões industriais, onde estão funcionando várias empresas
[...]”. Vale destacar que os enunciados feitos por este candidato eram atrelados a muitas
imagens, estratégia que garantia a veracidade daquilo que era dito. Por ser um quadro
importante na campanha de 2008, capaz de produzir efeitos de sentido de completude,
totalidade e verdade, cabe mencionar que este será analisado com mais profundidade no
capítulo 6.
Na esfera política, retomando os ensinamentos de Charaudeau (2008, p. 119), um
indivíduo pode ser julgado digno de crédito se satisfizer as três condições: de sinceridade, de
performance e de eficácia; além disso, deve mostrar-se sério. Nos discursos produzidos no
HGPE de 2008, encontrou-se que 23,6% das sequências discursivas referiam-se ao ethos de
sério construído pelo sujeito político. Nestes enunciados o candidato usa essa estratégia para
mostrar os novos compromissos e projetos que está assumindo com a população, fazendo com
que a instância cidadã acredite em sua seriedade e em sua vontade de trabalhar pelo bem
comum: Silvio Barros em 22/08/2008: “Agora, a meta é implementar o programa ‘Sonho de
Criança’ que através de acompanhamento sério vai identificar os dons naturais das crianças
para a arte, para esporte e empreendedorismo.”
Em 2008 o terceiro maior índice de ethos foi o de proximidade. Dos 47,3% do total de
ethé de identificação, 20,3% são os de proximidade. Pode-se pensar que este sujeito político
teve a necessidade de se mostrar próximo do povo, um amigo pronto para ouvir as objeções
populares e mostrar-se íntimo dos cidadãos. No discurso essa proximidade é marcada pelo uso
informal da língua e pela sensação amigável e carinhosa ocasionada pelos convites que o
candidato fazia aos telespectadores / eleitores para conhecer as melhorias ou assistir aos
próximos programas: Silvio Barros em 05/09/2008: “E aqui, exatamente onde vai passar o
Contorno Norte, nós encerramos o Giro de hoje. Eu espero você no próximo programa no
Jardim Universo. Até lá.”
96
4.1.3 Comparação dos ethé construídos pelo sujeito político em 2004 e 2008
Ethé do HGPE de 2004
23%
77%
Ethé de Credibilidade
Ethé de Identificação
Ethé do HGPE de 2008
53%
47%
Ethé de Credibilidade
Ethé de Identificação
Infográfico 3 Infográfico 4
Ao se observar e comparar estes gráficos constata-se a ocorrência de uma inversão nas
categorias de ethé produzidos pelo sujeito político em 2004 e em 2008. Em 2004 prevalecem
os ethé de identificação, totalizando 76,5%. em 2008, a construção dos ethé de
identificação e de credibilidade foi mais equilibrada – 47,3% e 52,6%, respectivamente.
Na tabela que se segue estão apresentados os tipos de ethé de credibilidade e os de
identificação encontrados em cada campanha. Estes dados estatísticos corroboram com os
apresentados anteriormente em que se observou um maior número de ethé de identificação em
2004 (e com eles, o ethos de proximidade) e, em 2008, um grande valor de ethé de
credibilidade (juntamente com o ethos de competente), mostrando que “[...] há um tempo para
os ethé de identificação e outro para os de credibilidade. Mas quem pode prevê-los?
(CHARAUDEAU, 2008, p. 184). Assim, pode-se entender que são as condições de produção,
em sentido estrito e amplo, que determinam qual ethos será o melhor, o mais aceito pelos
cidadãos.
97
Porcentagem dos tipos de Ethé construídos
2004 2008
Ethos de Sério 3,1% 23,6%
Ethos de Virtuoso 3,1% 1,9%
Credibilidade
Ethos de Competência 17,1% 26,9%
Ethos de Caráter 14% 0,9%
Ethos de Inteligência 14% 4,2%
Ethos de Humanidade 15,6% 14,4%
Ethos de Chefe 1,5% 1,6%
Ethos de Solidariedade 9,3% 5,5%
Identificação
Ethos de Proximidade 21,8% 20,3%
Tabela 2
Uma regularidade observada a partir desses números: nas duas eleições analisadas, os
ethé de identificação e de credibilidade mais construídos foram os mesmos. O ethos de
proximidade e o ethos de competência. Tem-se, desta forma, a possibilidade de refletir sobre
as estratégias de construção de ethé usada por este sujeito político. Partindo-se dos dados,
pode-se identificar que este sujeito político seguiu a estratégia de se apresentar próximo e
competente para atender às necessidades da população.
Algumas dispersões: em 2004 este sujeito político apresentou 14% de ethos de caráter
e também de ethos de inteligência, entretanto, em 2008 estes ethé foram pouco contemplados
(0,9% e 4,2%, respectivamente). Verifica-se que em 2008 foram enfatizadas as ações do
candidato e não o seu “ser identitário”.
Todas estas reflexões, suposições e conjecturas servem para fazer entender que na
política, bem como em outros campos discursivos, apontam possibilidades, hipóteses feitas a
partir de números que poderiam passar despercebidas, mas que produziram efeitos de sentido
na história e no sujeito enquanto participante dela.
98
4.2 O FUNCIONAMENTO DOS ETHÉ DISCURSIVOS LEGITIMADOS POR
SUJEITOS TESTEMUNHA NOS HGPE
Conforme mostrado no capítulo anterior, os discursos dos sujeitos testemunha tiveram
grande relevância no que diz respeito ao reforço dado aos ethé do candidato aqui analisado.
Desta maneira, considerou-se interessante para este trabalho produzir gestos de interpretação
a partir dos dados quantitativos que demonstraram os tipos de ethé legitimados por essas
testemunhas.
A seguir serão mostradas as reflexões feitas a partir das tabelas e infográficos que
apontam os tipos de ethé consolidados pelos diferentes sujeitos testemunha durante as
eleições de 2004 e de 2008 e, ainda, um contraponto dos dois períodos eleitorais, mostrando
as semelhanças e as diferenças encontradas em cada período. Entretanto, por questões
metodológicas, aqui serão analisados, exemplificados e apontados os efeitos de sentido
produzidos pelos três ethé que apresentaram os maiores índices quantitativos reforçados pelos
sujeitos testemunha, sejam eles: político adversário ao candidato, político favorável à
candidatura, jornalistas do Canal 11e Estúdio 11 e cidadãos maringaenses.
4.2.1 Os Ethé Legitimados por Sujeitos Testemunha no HGPE de 2004
No segundo turno das eleições de 2004, o sujeito Silvio Barros buscou apoio dos
candidatos derrotados, assim, o discurso das testemunhas e os apoios políticos tornaram-se
fundamentais para a sustentação dos ethé deste sujeito político, sendo que os de credibilidade
foram os mais reforçados por estes cidadãos – 78,8%. A tabela a seguir mostra as quantidades
percentuais de sequências discursivas encontradas no corpus de análise. Neste período
eleitoral os três ethé mais reforçados por sujeitos testemunha foram: sério, virtuoso e
competente.
99
Porcentagem dos tipos de Et reforçados por sujeitos testemunha em 2004
Tipos de
Ethé
Político
Adversário
Político
Favorável
Jornalistas Cidadãos Total
Sério
2,5% 10,1% 20,3% 9,3%
42,2%
Virtuoso
1,6% 0,8% 4,2% 0,8%
7,4%
Competente
1,6% 7,6% 14,4% 5%
28,6%
Caráter
- 0,8% - 0,8%
1,6%
Inteligência
- 0,8% 0,8% -
1,6%
Humanidade
1,6% 0,8% 1,6% 1,6%
5,6%
Chefe
- - - -
-
Solidariedade
- - 4,3% 0,8%
5,1%
Proximidade
- - 0,8% 5,9%
6,7%
TOTAL 7,3% 20,9% 46,4% 24,2% 98,8%
Tabela 3
O ethos de credibilidade que apresentou o maior índice foi o ethos de sério, com
42,2%. Nesta categoria de ethos foram verificados o apoio que os sujeitos testemunhas deram
em favor do candidato, verificando em seus discursos a confiança e a crença na seriedade que
depositavam no sujeito em questão. Considerando que os sujeitos políticos favoráveis e os
jornalistas foram os principais responsáveis pelo reforço deste ethos, têm-se estes exemplos:
Cecília Fraga (Jornalista Canal 11) em 27/10/2004: “[...] o Silvio assumiu o compromisso de
baixar a passagem dos ônibus e explica como vai fazer isso.” E Pinga Fogo (Político
Favorável) em 29/10/2004: [...] Eu confio, eu tenho certeza, eu acredito que o Silvio Barros
vai cumprir todos os compromissos que ele fez com Maringá.”
Atrelada à seriedade encontra-se a competência. Na campanha de 2004, o ethos de
competente alcançou a marca de 28,6%, sendo que 14,4% destes foram legitimados pelos
jornalistas do Canal 11. Nas sequências discursivas verificou-se que os sujeitos testemunhas
discursavam sobre as qualidades do candidato, incluindo sua formação acadêmica e
profissional, lembrando que a palavra “competente” ou “competência” era bastante enunciada
Cecília Fraga (Jornalista Canal 11) em 26/10/2004: E com a falta do candidato do PT o
debate também foi transformado em entrevista e mais uma vez o Silvio mostrou que é o mais
competente e apresentou as melhores propostas.”
O terceiro lugar no ranking dos ethé reforçados por sujeitos testemunha pertence à
categoria “virtuoso”, com 7,4%. Nos exemplos encontrados deste ethos, observou-se que as
testemunhas salientavam as características pessoais e psicológicas do candidato, por exemplo,
em 29/10/2004, quando Cecília Fraga (Jornalista Canal 11) enuncia: O Silvio é o mais
preparado e competente, honesto por formação e trabalhador por natureza. É por isso que
100
agora é Silvio!” Neste excerto são apresentadas características que compõem o imaginário
que determina o que é ser um homem virtuoso: capaz, de caráter e disposto a trabalhar.
4.2.2 Os Ethé Legitimados por Sujeitos Testemunha no HGPE de 2008
Recordando os acontecimentos sócio-históricos de 2008, deve-se lembrar que as
eleições não tiveram segundo turno, o sujeito político Silvio Barros alcançou a vitória nas
urnas maringaenses com 57,04% dos votos válidos no primeiro turno. Entretanto, apesar ter
vencido logo no primeiro combate, este sujeito político contou com a ajuda dos discursos dos
sujeitos testemunhas que legitimaram os ethé utilizados durante a campanha. Conforme
esperado, os ethé de credibilidade foram os mais reforçados por estes cidadãos 67,5%,
restando uma margem de 32,4% de ethé de identificação. Aqui os três ethé reforçados por
sujeitos testemunhas que apresentaram os maiores índices foram: de sério, de competente e de
humanidade.
Porcentagem dos tipos de Et reforçados por sujeitos testemunha em 2008
Tipos de
Ethé
Político
Favorável
Jornalistas Cidadãos Total
Sério
1,9% 15,2% 16,5%
33,6%
Virtuoso
- - -
-
Competente
3,9% 19,8% 9,9%
33,6%
Caráter
- 0,6% -
0,6%
Inteligência
- 4,6% -
4,6%
Humanidade
0,6% 11,9% 1,3%
13,8%
Chefe
- 0,6% -
0,6%
Solidariedade
- 1,3% 1,3%
2,6%
Proximidade
- 4,6% 3,9%
8,5%
TOTAL 6,4% 58,6% 32,9% 97,9%
Tabela 4
Em 2008, verificou-se um empate ao que se refere ao índice de ethos mais legitimado
pelos sujeitos testemunha: tanto o ethos de sério quanto o de competente tiveram a marca de
33,6% do total para cada um. Estes dados deixam claro que os dois ethé são importantes, pois
mostram que o sujeito político deve ter a seriedade para assumir compromissos e a
competência para realizá-los.
101
Os ethé de sério, de competente e de humanidade foram reforçados por todas as
categorias de sujeito testemunha. Do total atribuído ao ethos de sério, cerca de 16,5% foram
legitimados por cidadãos maringaenses. O outro ethos que alcançou um alto índice, o de
competente, foi produzido em sua maioria pelos jornalistas do Estúdio 11 19,8%. Neste
ethos são evidenciadas as obras feitas pelo candidato durante sua administração e também os
projetos que seriam implementados a partir de 2009. Cabe ressaltar que a instância cidadã
também contribuiu na legitimação deste ethos, como em “O homem não é dez, é 11”,
enunciado feito por uma eleitora e apresentado no HGPE do dia 03 de setembro de 2008 e
também por Sérgio Mendes (Jornalista Estúdio 11) em 03/09/2008: “É de pequeno que se
constrói o futuro, na reportagem especial de hoje, tudo que o Silvio fez e vai continuar
fazendo pelas nossas crianças.”
O ethos de humanidade, que apresentou o terceiro maior índice 13,8% teve como
principal sujeito testemunha os jornalistas do Estúdio 11, responsáveis por legitimarem 11,9%
do total desses ethé. Buscando enfatizar o lado humano do candidato, mostrando sua
preocupação com a população, principalmente, os enunciados apresentam em sua
materialidade linguística esses indícios de humanidade: “gente em primeiro lugar”, “respeito
aos idosos”, “homem bom”, “pai de família”. Virtudes atribuídas ao sujeito político que
garantiram a veracidade de sua imagem humanitária: Sérgio Mendes (Jornalista Estúdio 11)
em 25/08/2008: “‘Gente em primeiro lugar’ olha, esta é uma frase que o Silvio gosta e usa
bastante.”
4.2.3 Comparação dos Ethé Reforçados por Sujeitos Testemunha em 2004 e 2008
Visando comparar as campanhas, outros gráficos e tabelas serão utilizados para
produzir gestos de interpretação dos tipos de ethé que foram reforçados nos discursos dos
sujeitos testemunha. No gráfico a seguir observa-se a divisão entre ethos de credibilidade e
ethos de identificação de 2004 e de 2008. Nota-se que em ambos os anos os ethé que
apresentaram maiores índices foram os de credibilidade: 78,8% em 2004 e 67,5% em 2008.
Com estes números pode-se presumir que dentro do discurso político eleitoral os sujeitos
testemunha cumprem a função de consolidar os ethé de credibilidade dos candidatos.
102
Ethé legitimados por sujeitos testemunhas
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
2004 2008
Ethé Credibilidade
Ethé Identificação
Infográfico 5
Objetivando aprofundar essas análises e comparar as campanhas de cada ano, a tabela
a seguir mostra a porcentagem dos tipos de ethé reforçados por sujeitos testemunha em sua
função de garantir a credibilidade do sujeito político junto ao telespectador / eleitor. É
pressuposto que a utilização dessas tabelas e gráficos tornou-se importante pelo fato de elas
conseguirem apontar o quanto as condições de produção interferem na maneira e nos tipos de
ethé que são construídos e legitimados.
Porcentagem dos tipos de Ethé reforçados por sujeitos testemunha
Político
Adversário
Político
Favorável
Jornalistas Cidadãos Total
Tipos de
Ethé
2004 2008 2004 2008 2004 2008 2004 2008 2004 2008
Sério
2,5% - 10,1% 1,9% 20,3% 15,2% 9,3% 16,5%
42,2% 33,6%
Virtuoso
1,6% - 0,8% - 4,2% - 0,8% -
7,4% -
Competente
1,6% - 7,6% 3,9% 14,4% 19,8% 5% 9,9%
28,6% 33,6%
Caráter
- - 0,8% - - 0,6% 0,8% -
1,6% 0,6%
Inteligência
- - 0,8% - 0,8% 4,6% - -
1,6% 4,6%
Humanidade
1,6% - 0,8% 0,6% 1,6% 11,9% 1,6% 1,3%
5,6% 13,8%
Chefe
- - - - - 0,6% - -
- 0,6%
Solidariedade
- - - - 4,3% 1,3% 0,8% 1,3%
5,1% 2,6%
Proximidade
- - - - 0,8% 4,6% 5,9% 3,9%
6,7% 8,5%
TOTAL 7,3% - 20,9% 6,4% 46,4% 58,6% 24,2% 32,9% 98,8% 97,9%
Tabela 5
Em 2008 não foram constatados ethos construído pelos sujeitos testemunha políticos
adversários, como mencionado anteriormente, essa categorização é peculiar à política local e
subordinada às condições históricas próprias do período eleitoral de 2004, tanto que neste ano
os sujeitos testemunha políticos adversários reforçaram 7,3% dos ethé, sendo que destes,
2,5% foram de ethos de sério. Observando os outros tipos de ethé que os políticos adversários
103
reforçaram, têm-se os ethé de sério, virtuoso, competente e de humanidade, mostrando que
a maior quantidade de ethé legitimados por eles também são da categoria de credibilidade, o
que conduz à reflexão de que dentro da esfera política o primordial é possuir a qualidade de
ser crível.
Alguns apontamentos sobre os ethé de identificação reforçados pelos sujeitos
testemunha também foram considerados. Somando uma menor quantidade de tipos de ethos
quando comparados aos ethé de credibilidade, os de identificação apresentam algumas
especificidades: a) os ethé de chefe, de solidariedade e de proximidade foram construídos
apenas pelos sujeitos testemunha jornalistas e cidadãos maringaenses; b) os políticos
adversários e políticos favoráveis construíram 3% do total dos ethé de caráter, de inteligência
e de humanidade. Pode-se pensar que a função de criar uma identificação entre o sujeito
candidato e o eleitor / telespectador é feita pelos jornalistas e pelos cidadãos e a credibilidade
do sujeito político é reforçada por políticos.
Nestas análises devem ser ressaltadas algumas questões próprias da política, como o
fato de que se produzem efeitos de sentido diferentes quando a credibilidade do outro é
consolidada por um sujeito que antes era seu adversário, por exemplo, os temas relacionados
às alianças políticas feitas entre os partidos que perderam o primeiro turno das eleições com
aqueles que irão concorrer ao segundo turno
11
.
Os ethé de sério, de competente e de humanidade foram legitimados por todas as
categorias de sujeito testemunha, sendo que o maior índice do ethos de sério apresentado
20,3% foi encontrado na campanha de 2004, tendo sido reforçado pelos jornalistas. Em
2008, os cidadãos é que mais colaboraram para a consolidação desse tipo de ethos: 16,5%.
Com estes dados e atentando para a questão das condições de produção dos discursos, pode-se
indicar que em 2004 os cidadãos ainda não podiam atestar a seriedade do sujeito político e
que em 2008 eles já estavam aptos para tal ação.
O ethos de competente alcançou seu maior número em 2008 por meio do auxílio dado
pelos jornalistas: 19,8%. Em 2004, mais políticos favoráveis foram responsáveis por esse
ethos de competente 7,6% enquanto os cidadãos reforçaram apenas 5%. Essa situação se
11
Por exemplo, no primeiro turno os sujeitos políticos que eram adversários passaram a apoiar a candidatura de
Barros no segundo turno. De acordo com Silva (2006, p. 49), Silvio Barros “[...] acabou recebendo o apoio de
Edmar Arruda do PPS e dos partidos PL e PRONA. Em decorrência desse apoio, o candidato pepista incorporou
algumas propostas do candidato derrotado que o apoiou [...]”.
104
inverteu em 2008, quando os cidadãos legitimaram cerca de 9,9% desse ethos de
competência e os políticos favoráveis, 3,9%. Esta inversão pode compreendida ao se refletir
sobre o fato de que em 2004, por se tratar do segundo turno das eleições, o sujeito político
recebeu apoio e fez alianças políticas com os candidatos que não foram vitoriosos no primeiro
turno.
105
5. DISPOSITIVO TEÓRICO-ANALÍTICO DE IMAGENS: O AUDIOVISUAL
PRODUZINDO SENTIDOS
Nos dias atuais é notório o aumento de pessoas interessadas nos estudos das imagens.
Esta crescente vontade de interpretar melhor as imagens que lhes cercam deve-se à
competência comunicativa que as imagens possuem. Num mundo globalizado onde os
indivíduos não têm muito tempo, as imagens conseguem armazenar e transmitir um universo
de informações em pouquíssimos minutos. Aquilo que no discurso verbal-escrito precisaria de
muitas laudas para informar seus receptores, no discurso imagético ocorre com um simples
olhar. Sob este ponto de vista, fica redundante dizer que desde seu surgimento, as imagens
sempre foram usadas para informar, para transmitir idéias e ideais e agradar o espectador. Por
estar vinculada ao domínio do simbólico, a imagem serve de mediadora entre o espectador e a
realidade.
Ao estudar o discurso político eleitoral televisivo, expresso em um nero diferente,
apresentar-se-á, neste capítulo, um gesto de interpretação que considera os efeitos de sentido
produzidos pelas materialidades audiovisuais
12
. Neste capítulo optou-se por fazer análises
comparativas, isto é, elas não serão separadas por campanha eleitoral, fazendo com que a
noção de condições de produção, interdiscurso, efeitos de sentido produzidos pela escolha dos
nomes dos slogans e jingles estejam sempre em contraste. Esse método comparativo também
será utilizado para a verificação das imagens como consolidadoras dos ethé discursivos.
Por se tratar de uma materialidade heterogênea (texto escrito e texto imagético), em
cada subitem será apresentada a metodologia específica utilizada para aquele tipo de gesto de
interpretação, entretanto, desde se deve destacar que a organização deste capítulo foi feita
de acordo com os pressupostos teóricos do quadro cênico formulado por Maingueneau (2005;
2008). Desta sorte, as imagens que evidenciam o discurso político enquadram-se na cena
englobante, o audiovisual que caracteriza o gênero discursivo do HGPE exemplifica a cena
genérica e, por fim, o discurso imagético do telejornal corresponde à cenografia e contribui
para a legitimação e a manutenção de determinados ethé discursivos.
12
Cabe mencionar que as imagens selecionadas para produzir os gestos de interpretação deste capítulo foram
separadas por temas, isto é, grupos imagéticos usados para verificar os quadros dos HGPE, imagens agrupadas
para observar os gestos e sorrisos, frames dispostos lado a lado para mostrar o reforço dos ethé, por exemplo.
106
5.1 DISPOSITIVO TEÓRICO DO QUADRO CÊNICO
Utilizada na bibliografia pertinente como “encenação”, “cenografia”, “contexto
semtico”, entre outros, a cena enunciativa é a própria situação de enunciação. Ela é
responsável por definir as “[...] condões de enunciador e de co-enunciador, mas também o
espaço (topografia) e o tempo (cronografia) a partir dos quais se desenvolve a enunciação.
(MAINGUENEAU, 2001, p. 123).
Fazem parte da cena enunciativa o próprio enunciado, o modo pelo qual o enunciador
se inscreve (gestualmente, proxemicamente a maneira que ele utiliza o espaço do cenário)
no momento e no espaço de seu interlocutor, bem como todas as determinações semânticas e
sintáticas. (MAINGUENEAU, 1997, p. 31). A cena enunciativa visa enfatizar a preeminência
e a preexistência do lugar social em que os falantes se inscrevem e no qual cada falante
alcança sua identidade.
Maingueneau (2001) diz que, dependendo da posição que se pode assumir existem,
três pontos de vistas para a escolha da cena da enunciação. A primeira seria através do tipo de
discurso, a segunda através do gênero de discurso e a terceira forma é uma análise direta dos
elementos enunciadores na cena da enunciação. A cada um deles é chamado, respectivamente,
de cena englobante, cena genérica e cenografia.
Nesta análise pode-se ver a cena englobante correspondente ao tipo de discurso, e é
na cena englobante em que se define o quadro espaço-temporal. Levando em conta que no
discurso existe também o co-enunciador, a cena genérica irá utilizar os gêneros de discurso
particulares no qual cada gênero de discurso define seus pprios papéis, tanto para os
parceiros da enunciação, como para as circunstâncias, o suporte material, o modo de
circulão e mesmo a finalidade. Estas duas “cenasdefinem conjuntamente o que se pode
chamar de quadro cênico do texto. E é o quadro nico que define o espaço esvel no
interior do enunciado do qual este adquire sentido do tipo e do gênero. A cena da
enunciação costuma se resumir a estas duas cenas, entretanto, o próprio discurso pode
instituir uma terceira cena, a cenografia. (MAINGUENEAU, 2008, p. 116).
A cenografia é a enunciação que se desenvolve e se esforça para construir
progressivamente o seu pprio dispositivo de fala. A cenografia implica um processo de
enlamento paradoxal, logo de início a fala supõe certa enunciação que vai sendo validada
107
no decorrer dela mesma. Desse modo a cenografia [...] é ao mesmo tempo a fonte do
discurso e aquilo que ele engendra” (MAINGUENEAU, 2001, p. 87).
5.1.1 Cena Englobante e Circunstâncias de Enuncião: os Slogans e os Jingles
Ao considerar que a cena “[...] englobante é a do discurso político cujos parceiros se
encontram reunidos no espaço-tempo de uma eleição” (MAINGUENEAU, 2001, p. 91), deve-
se pensar nas condições de produção que determinam esse discurso fazendo com que seja
possível identificá-lo como pertencente ao tipo político ao lê-los e/ou ouvi-los, por exemplo,
os slogans e os jingles das campanhas eleitorais.
Em 2004, o sujeito político Silvio Barros, pertencente à coligação “Gente de
Maringá”, usou como slogan de sua campanha o enunciado:
Quadro de Frames 1: Slogan de 2004
Apresentado durante seu HGPE, sua materialidade linguística remete ao âmbito
político ao usar o verbo votar. Este, ao ser qualificado de “certo”, deixa implícito que o voto
em número de outra candidatura seria um voto “errado”. Ao se considerar o momento sócio-
histórico, observa-se que esse slogan indica, mais especificamente, o momento das eleições
municipais e retoma as propostas e os desejos do candidato em construir uma imagem
legitimada de si. À serviço de um marketing pessoal, os adjetivos honesto e competente,
suscitaram efeitos de sentido positivos junto aos eleitores, que esse ethos é dado como
evidente e inquestionável e levam, necessariamente, ao voto certo. O slogan é um exemplo da
eficácia do discurso desse sujeito político em sua busca de identificação com o eleitor
maringaense que resultou em 53,5% dos votos válidos.
Já o slogan utilizado em 2008:
108
Quadro de Frames 2: Slogan de 2008
não apresenta indícios da cena englobante a qual pertence, pois ao lê-lo não se pode
identificar o universo político em que está inserido. Sintaticamente, tem-se a ausência de
complementos – fala o quê? Faz o quê? –, fato que propicia o trabalho com paráfrases:
Slogan
Interpretações Implícitas
[Se] Silvio fala, [logo] Silvio faz.
Silvio Barros é um homem de
ação; não é só de fazer
discursos, é competente.
[Tudo que] Silvio fala, Silvio faz.
Ele não fica só na promessa;
seus projetos se tornam
realizações.
Tabela 6
Por meio dessas paráfrases chega-se a conclusão de que esse sujeito político é
totalmente crível. Não é levado em consideração “o que Silvio Barros falou” exatamente, e
muito menos “como ele fez” as melhorias na cidade – se foi com dinheiro público em parceria
com empresas privadas, se houve ou não a participação da população, se suscitou o
endividamento do município, entre outras. Nota-se que esse slogan não permite espaço para
brechas de interpretações negativas, bem como as possibilidades de derivas de sentidos são
vetadas, produzindo somente efeitos de sentido positivos que reforçam os ethé de honesto e
competente, já construídos em 2004.
Na posição-sujeito de prefeito candidato à reeleição, verificou-se que a característica
mais forte dessa campanha foi a estratégia de reforçar, a todo momento, a competência desse
sujeito político, fosse pelo slogan, pelos jingles, pelos seus próprios discursos, pelos discursos
de sujeitos testemunhas e pelas imagens. Tal estratégia resultou no fato deste sujeito político
ter se tornado o primeiro prefeito reeleito na história de Maringá, alcançando a marca de 57%
dos votos válidos, não precisando, desta maneira, disputar o segundo turno das eleições.
109
Os jingles utilizados nas campanhas também apontam para uma cena englobante
que indica que aquele discurso é do tipo político, além de marcarem as diferenças dos
momentos sócio-históricos em que são produzidos. Em 2004, durante os cinco programas da
segunda semana do segundo turno foram apresentados para os telespectadores / eleitores
quatro jingles diferentes. Durante toda a campanha de 2008, apenas duas canções foram
usadas.
A literatura pertinente diz que a estética televisiva articula três dimensões produtoras
de sentido: visual, verbal e sonora. De acordo com (1991 apud TASSO, 2006, p. 134), a
dimensão sonora estabelece percepções capazes de compreender o todo, dito de outra forma, a
música produz efeitos de sentido. Santaella (2005 apud TASSO, 2006, p. 135) denomina três
maneiras que a música utiliza para produzir efeitos de sentido emocional, energético e
lógico – que determinam, respectivamente, os modos de ouvir – com a emoção, com o corpo e
com a intelectualidade. Além dessa importância sonora, deve-se considerar que estes jingles
exemplificam e comprovam a presença do interdiscurso.
Os jingles que compõem os HGPE de 2004
13
apresentaram algumas regularidades aqui
exemplificadas: a) o número de identificação do candidato: “Silvio Barros vote onze”, “[...] eu
vou votar no onze”; b) o nome da coligação: “[...] gente de Maringá”; c) os verbos indicando
as promessas / propostas do candidato: “[...] Silvio Barros construindo”, “[...] a cidade
evoluindo”, “[...]todo mundo vai ganhar”, “[...]A gente quer progresso, também quer
construção”, “[...] Silvio será o prefeito, Maringá é que ganhou”.
Em conformidade ao exposto anteriormente, as mensagens musicais usadas como
propaganda marcaram com muita eficácia a cena englobante destes discursos políticos, bem
como os momentos sócio-históricos da campanha do candidato. Por exemplo, no início,
quando foi preciso marcar a identidade do sujeito político ouviu-se o jingle que dizia “Silvio
Barros vote onze, é gente de Maringá”. Posteriormente, objetivando mostrar que o referido
13
Jingle 1: “Silvio Barros vote onze, é gente de Maringá / Silvio Barros construindo, a cidade evoluindo, todo
mundo vai ganhar.” (em 25/10/2004).
Jingle 2: “A gente não quer pena, não quer compaixão, / quer dignidade, só um pouco de atenção. / A gente quer
progresso, também quer construção, / mas quer ver um Brasil inaugurando cidadãos / Gente em primeiro lugar,
porque gente é feita prá brilhar / Gente, gente em primeiro lugar.” (em 25/10/2004).
Jingle 3: “Todo mundo agora é Silvio / é nessa que eu vou / Silvio é gente boa, eu também sou / Pelo bem de
Maringá, eu vou votar no onze / agora quero Silvio, aqui perto, vote onze.” (em 26/10/2004).
Jingle 4: “Vira, vira, vira, o jogo virou, já virou / Silvio será o prefeito, Maringá é que ganhou / Vira, vira.
(em 27/10/2004).
110
sujeito pensava na população, surgiu a música que afirmava “Gente em primeiro lugar,
porque gente é feita prá brilhar”. Em 26 de outubro de 2004, faltando três dias para o último
HGPE, o verso “Todo mundo agora é Silvio” visava convencer os eleitores que haviam
votado em candidatos adversários no primeiro turno e também aqueles que preferem votar no
candidato que as pesquisas o indicam como vencedor. Em um ritmo musical que lembra as
marchinhas de carnaval, os versos do último jingle lançado – “Vira, vira, vira, o jogo já virou,
virou / Silvio será o prefeito, Maringá é que ganhou” referia-se ao fato das pesquisas
indicarem que o sujeito político Silvio Barros havia ultrapassado a porcentagem de pretensões
de voto destinados ao candidato da situação João Ivo Caleffi.
Comprovando o fato de que as músicas correspondem às condições de produção dos
discursos, Tragtenberg (1999 apud TASSO, 2006, p. 136) assevera que “[...] a música de cena
é um poderoso meio de narrativa [...]”, isto é, através dela é possível compreender os
acontecimentos sócio-históricos.
Em 2008 a narrativa dos jingles
14
encenaram a imagem de um “prefeito-candidato”
competente “[...] Silvio Barros trabalha” que havia administrado a cidade durante quatro
anos e, por conta das melhorias feitas, deveria ser reeleito porque “Maringá não pode parar” e
essa seria a maneira dos cidadãos dizerem “[...] te amo Maringá”.
Mais uma vez o número que identifica o candidato é mencionado nas músicas “[...]
Eu voto 11”; “[...] vote certo, vote 11” – bem como o nome da coligação – “Maringá cada vez
melhor”. Além da utilização de apenas dois jingles durante os quarenta dias de campanha,
outra diferença pode ser observada nas mensagens musicais do HGPE de 2008: o
interdiscurso fazendo-se presente e produzindo efeitos de sentido.
Sendo um já-dito e esquecido, alguns versos de um dos jingles de 2008 remetem aos
discursos enunciados em 2004, mais especificamente o slogan da campanha “Silvio 11,
honesto e competente, vote certo, vote 11”. A fim de produzir efeitos de sentido positivos da
14
Jingle 1: “Ele vem de novo / ele vem de novo / Ele vai continuar / Representando o nosso povo, nossa voz / o
trabalho vai seguindo / Marinevoluindo / alegrias para todos nós. // Silvio Barros prefeito / vote certo, vote
11 que o trabalho vai continuar/ Silvio Barros prefeito / esse é o nosso jeito / de dizer te amo Maringá. //
Em qualquer idade / o respeito ao cidadão / o nosso orgulho é cada vez maior / compromisso e transparência /
honestidade e competência / Maringá é cada vez melhor.” (Refrão a partir de 20/08/2008 outros versos durante a
campanha).
Jingle 2: “Eu quero o Silvio / o Silvio / Maringá não pode parar / vamos juntos / vamos votar / Silvio Barros
trabalha / Silvio tem que ficar / Eu quero o Silvio / o Silvio / Maringá não pode parar / Eu voto 11 / não vou
mudar / Silvio Barros tem que ficar/ Silvio já.” (A partir de 26/09/2008).
111
imagem do candidato em questão, referindo-se ao modo de trabalho deste sujeito, é
enunciado: “[...] compromisso e transparência / honestidade e competência / Maringá é cada
vez melhor.” No discurso político eleitoral de reeleição, o sujeito precisa convencer o
eleitorado de que não há necessidade de mudança, mas sim de continuidade, porém esta é pré-
construída sob um aspecto negativo. Nesse sentido, a expressão “cada vez melhor” não
denega a continuidade enquanto “mesmice”, mas também fica subentendido que votando
no 11 (ou seja, continuando) haverá progresso, melhorias; que votando em outra candidatura a
mudança implicaria retrocesso.
No outro exemplo de interdiscurso, têm-se os versos “Silvio Barros prefeito / vote
certo, vote 11 que o trabalho vai continuar” operando a favor de um já-dito que indica a ação
correta que o telespectador / eleitor dever ter: votar no 11. Tanto nos slogans quanto nos
jingles, o verbo votar é responsável por indicar que a cena englobante é a do discurso do tipo
político.
5.1.2 Cena Genérica e Cenografia: Efeitos de Verdade e Legitimação dos Ethé
De acordo com os postulados de Maingueneau (2001, p. 91), dentro do discurso
político, a “[...] cena genérica é a das publicações por intermédio das quais um candidato
apresenta seu programa a seus eleitores.” Sob este prisma, torna-se correto afirmar que foi no
HGPE que o candidato apresentou suas propostas, seus programas de governo, isto é, a cena
genérica do corpus deste trabalho são as propagandas eleitorais veiculadas na televisão.
Lista telefônica é um pico exemplo de gênero discursivo que tem sua cenografia
limitada. Há, entretanto, gêneros discursivos que exigem que se escolha uma cenografia, por
exemplo, o gênero literário. (MAINGUENEAU, 2008, p. 119). Pensando no corpus de
análise, tem-se a possibilidade de indagar: o HGPE exige uma cenografia ou limita-se às
cenas genéricas de rotina?
Os programas eleitorais na televisão tendem a exibir uma cenografia em que o
candidato se apresenta para seu interlocutor usando diferentes cenários e, algumas vezes,
usufruindo de cenografias de entrevistas televisivas por exemplo, quando um jornalista é
contratado para fazer perguntas ao candidato, deixando o programa mais dinâmico. Não
obstante seja um gênero proveniente do universo discursivo midiático, o telejornal usado
112
como propaganda eleitoral do sujeito político Silvio Barros em suas campanhas adquire o
estatuto de cenografia, uma vez que esta é a cena “[...] da correspondência particular, que põe
em contato dois indivíduos que mantêm uma relação pessoal.(MAINGUENEAU, 2001, p.
91).
De acordo com Maingueneau (2008, p. 117), ao explicar sobre libelos
15
que utilizam
cenografias de cartas, o referido autor salienta que a cenografia “[...] tem inevitavelmente por
efeito fazer passar a cena englobante e a cena genérica ao segundo plano, de modo que o
leitor se encontre preso numa armadilha: se a cenografia é bem explorada, ele recebe esse
texto primeiramente como uma carta, e não como um libelo.” Da mesma maneira, pode-se
dizer que a cenografia do HGPE foi bem planejada, pois se apresenta, ao mesmo tempo,
simulante e dissimulante (PIOVEZANI, 2003, p. 55), ou seja, ele “[...] faz parecer aquilo que
não é” parece, mas não é um telejornal e “[...] faz não parecer aquilo que é” não parece
que é um programa eleitoral. Para dar continuidade ao gesto de interpretação aqui iniciado,
deve-se refletir: por que se escolheu para a cenografia do HGPE uma simulação de telejornal?
Qual o efeito de sentido produzido por esta dissimulação?
De acordo com os estudos feitos por Arnheim (1932 apud AUMONT, 1993, p. 78), as
imagens podem ser representativas, simbólicas e imagens-signos. As primeiras são aquelas
que representam o real, as coisas concretas; as que possuem valor de mbolo representam
coisas abstratas, e as imagens-signos representam um “[...] conteúdo cujos caracteres não são
visualmente refletidos por ela” (AUMONT, 1993, p. 79), as placas de trânsito, por exemplo.
Ao garantir, reforçar, reafirmar e explicitar a relação dos seres humanos com o mundo
visual, a imagem também ocasiona investimentos psicológicos por parte do espectador, são
eles: o reconhecimento e a rememoração. O reconhecimento está relacionado à função
representativa da imagem, fazendo com que o espectador utilize mais a sua memória, seu
intelecto, seu raciocínio. Filiado à memória, o reconhecimento faz a comparação entre o que
se e o que foi visto, ligando-se à rememoração. (AUMONT, 1993, p. 84). Esta, por sua
vez, relaciona-se com a função simbólica da imagem, fazendo com que o telespectador
perceba o que é visível e observe a relação mimética com o real. A rememoração aciona
esquemas no telespectador, estratégias de estruturas simples, memoráveis que, por serem
econômicas e legíveis, tornam-se eficientes na função de rememorar.
15
São artigos ou escritos de caráter satírico ou difamatório; panfletos que discutem ideologias políticas.
113
Uma das propriedades do sistema visual é o prazer do reconhecimento que “[...]
resulta da satisfação psicológica pressuposta pelo fato de ‘reencontrar’ uma experiência visual
em uma imagem, sob forma ao mesmo tempo repetitiva, condensada e dominável.”
(AUMONT, 1993, p. 83).
Diz-se que a imagem representa o real, mas qual é a noção de representação
empregada nesta afirmação? Em geral as representações visam ser confundidas com aquilo
que representam. Segundo Aumont (1993, p. 103), “[...] a representação é um processo pelo
qual se institui um representante que, em certo contexto limitado, tomará o lugar do que
representa. Através da representação o espectador pode ver, por meio de um substituto, uma
realidade ausente.” Essas representações produzem um efeito de real: o espectador sabe que
aquilo que não é o real, mas que existe, existiu ou poderá existir no real. Nas palavras de
Sartori (2001, p. 56),
“[...] Pela televisão a autoridade está na própria visão, é a autoridade da imagem.
Não importa que as imagens possam enganar mais ainda que as palavras [...]. O fato
é que o olho acredita naquilo que vê; e, portanto, a autoridade cognitiva mais
acreditada se torna a realidade vista. Aquilo que se vê aparece como ‘real’,
implicando simultaneamente a aparência de ser verdadeiro.”
Tendo em vista o corpus usado neste trabalho, para este gesto de interpretação serão
privilegiados os programas de 2008 em função da maior quantidade de programas exibidos e
por se constituírem, em sua totalidade, pela cenografia de telejornal, ou seja, a propaganda
eleitoral é o próprio telejornal, diferente do HGPE mostrado em 2004, quando o uso do
telejornal se fazia em apenas um quadro independente da propaganda, não possuindo nem
mesmo uma interação entre o sujeito político e os jornalistas. Entretanto, alguns comentários a
respeito do HGPE de 2004 poderão ser feitos a fim de apontar as principais mudanças
ocorridas em cada eleição.
114
Frame 1
Frame 2
Frame 3
Em 2004 os programas eram quadros de um
telejornal político que era intercalado com os discursos
do candidato, sendo que um não interagia com o outro,
eram coisas independentes. Neste telejornal,
denominado Canal 11, dois jornalistas Sérgio Mendes
e Cecília Fraga apareciam sentados atrás de uma
bancada prata com o nome do programa escrito em azul.
No campo do jornalismo televisivo, os jornalistas são
vistos como intermediadores responsáveis por apresentar
as notícias para a instância cidadã e/ou como especialis-
tas autorizados a comentar os fatos. No Canal 11, a
função-repórter de Sérgio Mendes e Denise Fraga era o
de sustentar os efeitos de verdade fazendo entrevistas
com os políticos aliados de Silvio Barros e também
entrevistando cidadãos nas ruas, função retomada nas
eleições seguintes.
Os programas de 2008 mostraram algumas
regularidades em sua estrutura, dentre elas, destacam-se:
dois apresentadores-âncoras do telejornal político
Estúdio 11; quadros que dinamizam e trazem informa-
ções adicionais para o telejornal; a mobilização de
outros repórteres para apresentarem entrevistas externas, feitas em locais específicos da
cidade e/ou com cidadãos maringaenses; discurso do candidato, sempre mostrado em close e
em primeiro plano; clipes e jingles sempre alegres.
Apesar de ser um formato diferente do que se espera de um programa eleitoral, logo
que se inicia a primeira exibição o telespectador / eleitor consegue perceber que se trata de um
telejornal. Todas estas imagens efêmeras e representativas contribuem para que ocorra um
reconhecimento por parte do espectador, proporcionando-lhe um tipo de prazer ao reconhecer,
deixando-o “desarmado” e receptivo para as propostas que serão exibidas durante o programa.
Não seguindo sempre a mesma ordem na apresentação, mas possuindo a maioria dos
elementos que constituíram seu programa, o “telejornal político” de Silvio Barros inicia-se
com estas imagens:
115
Durante a exibição do Frame
16
4, quando aparece a
abertura do “jornal”, tem-se, juntamente com a imagem,
um narrador que enuncia: “Está no ar Estúdio 11: por uma
Maringá cada vez melhor.” Ao tomar o lugar daquilo que
representa, o Canal 11 e o Estúdio 11 ativam uma
memória coletiva filiada às aberturas dos telejornais, como
o Jornal Nacional, exibido pela emissora Rede Globo, o
telejornal com maior audiência no país.
Entretanto, se deve atentar para o fato de que em
2004 os repórteres do Canal 11 apresentam “as notícias”
acomodados em uma bancada, tal qual os apresentadores-
âncoras Willian Bonner e tima Bernardes. Já no
Estúdio11, a apresentação do telejornal é feita com Sérgio
Frame 4
Frame 5
Mendes e Dani Luz em pé mostrando certa movimentação
e interação com o cenário, dinamizando as cenas, ações que retomam o estilo de apresentação
do programa Fantástico, exibido aos domingos na emissora acima citada.
Outra questão que deve ser ressaltada é o fato de que o número usado nos nomes dos
telejornais políticos é o número da legenda do partido do candidato, o mesmo que foi digitado
nas urnas eletrônicas por aqueles eleitores que foram seduzidos pelas propostas e decidiram
votar neste sujeito político. Este entrelaçamento entre o nome do programa e o número do
candidato, é mais um esquema de rememoração, pois produz efeitos de memória no eleitor,
fazendo com que este não se esqueça do que precisa na hora de votar: saber a identificação de
seu escolhido. Para reforçar esta estratégia de rememoração, a empresa de marketing
contratada pelo partido do candidato se utiliza de um saber-técnico que produz uma memória
visual nos telespectadores / eleitores. Trata-se de imagens gráficas da urna eletrônica, feitas
com o auxílio de softwares de informática que indicam a trajetória, o “passo a passo”, a
atitude que o eleitor deverá ter no dia das eleições: votar no 11, Silvio Barros prefeito e
confirmar.
16
Neste trabalho, utilizados a título de exemplificação, os Frames indicam recortes de imagens em movimento.
Em alguns casos foram usados sozinhos e em outros foram agrupados, formando os “quadros de frames”.
116
Quadro de Frames 3: Esquema de rememoração das urnas eletrônicas
Nas duas campanhas desse sujeito político verificou-se o uso desse saber-técnico,
dessas estratégias que trabalham em favor do candidato ao produzirem efeitos de memória nos
telespectadores / eleitores:
2004 2008
Quadro de Frames 4: O saber-técnico
Ao se fazer uma
comparação entre as duas
campanhas, é possível observar
que ambas usufruíram dos mesmos
esquemas de memória visual: a) a
utilização de imagens de jornais
locais impressos para produzir
efeitos de real e legitimar o que era
enunciado no HGPE; b) o emprego
de textos escritos, exibidos em
forma de tópicos, para enunciar as
propostas do candidato frases
curtas com promessas vagas,
estrategicamente fáceis de
memorizar; c) a exibição de
gráficos demonstrativos de inten-
ções de votos apontavam um saber-técnico que legitimava o ethos de competência.
Ao se observar os HGPE, nota-se predomínio das cores do partido que, tal qual as
palavras e os sons, também produzem efeitos de sentido. Sendo uma sensação visual colorida,
a cor é produzida pelo cérebro a partir de um raio de luz branca que atravessa os olhos. Desde
a antiguidade, a cor era observada, estudada e sentida pelos homens. Elas passaram a
significar e simbolizar coisas diferentes em culturas distintas. De acordo com Farina (1986, p.
117
25), é “[...] evidente que na força comunicativa da imagem, o que predomina é o impacto
exercido pela cor.”
A cor exerce sobre as pessoas uma ação tripla: a) impressiona é vista pela retina; b)
expressa é sentida, provoca emoções, e c) constrói é entendida, comunica uma idéia
através de sua linguagem. Cada campo de atuação humana utiliza as cores de forma
específica, ou seja, em cada área, a cor terá uma linguagem própria capaz de produzir
sensações visuais.
Lembrando que a série em análise é formada de
propagandas eleitorais e, como se sabe, as propagandas
têm como objetivo a venda de um produto, ou, ao menos
fazer com que o consumidor passe a conhecê-lo melhor,
neste caso o HGPE tenta vender a imagem, as propostas e
a ideologia política de seus anunciantes / enunciadores,
portanto, trata-se de um discurso publicitário e como tal
também deve ser verificado.
Frame 6
As cores aplicadas à criatividade publicitária pos-
suem significados diferentes. O vermelho, por exemplo, aumenta a atenção, é estimulante e
motivador. O azul possui grande poder de atração, mas também é neutralizante nas
inquietações humanas. E o branco, que é utilizado apenas em combinações com outras cores,
torna-se estimulante e predispõe a simpatia quando composto com o azul.
Segundo Farina (1986, p. 201), as cores primárias (azul, vermelho e amarelo) são as
que mais atraem os consumidores no ambiente publicitário, isso porque elas têm a
característica de não serem decomponíveis, melhor dizendo: são firmes, puras.
Voltando a pensar no formato do Jornal Nacional, no Frame 5 desta série enunciativa
têm-se os âncoras Sérgio Mendes e Dani Luz que durante todos os HGPE de 2008 foram
responsáveis pela abertura e o encerramento do programa, bem como pelas chamadas dos
quadros que o integram e por alguns enunciados a respeito do candidato Silvio Barros e seus
adversários. Após a saudação dos repórteres feita ao público, são iniciadas as headlines, ou,
no jargão jornalístico, as manchetes. De forma intercalada, cada jornalista diz um tópico que
será abordado no programa daquele dia e, em seguida, o jornal é iniciado de fato. Esta prática
também ocorre nos jornais “reais” com o intuito de mostrar para o telespectador logo no
começo quais matérias serão exibidas, desta forma, o mesmo pode escolher entre continuar
118
assistindo aquele programa ou operar o efeito zapping, que consiste na troca do canal feita
por meio do controle remoto. Segundo Peixoto (1991, p. 77), este efeito “[...] resulta da
impaciência do telespectador em relação a qualquer vestígio de duração e continuidade” dos
programas.
A este respeito, cabe salientar uma das diferenças entre o telejornal “real” e a
cenografia. O HGPE tem a vantagem de não sofrer o efeito zapping, uma vez que é uma
propaganda gratuita, instituída obrigatoriamente por lei, ela é transmitida para todos os canais,
na mesma hora. Isto faz com que a única opção do sujeito telespectador seja desligar a
televisão caso não se interesse por aquela programação.
No encerramento do programa, os jornalistas se despedem do blico e fazem uma
“propaganda” para que o eleitor não perca o próximo Estúdio 11 e ainda dizem o endereço de
um site
17
na internet no qual os eleitores poderão ter mais informações sobre as propostas e a
campanha do candidato. Tal qual o ocorrido na propaganda do sujeito político Silvio Barros,
também se observa no Jornal Hoje, dando outro exemplo de telejornal da Rede Globo, e em
tantos outros telejornais de outros canais, no fim de cada edição os jornalistas mencionam o
endereço eletrônico do jornal para aqueles telespectadores que desejam ter informações
complementares.
Esta simples inclusão de um endereço eletrônico na web feita por um político e
mostrado em seu programa eleitoral televisivo comprova a mudança veloz e significativa que
vem ocorrendo na política atual. 2010 é ano de eleição, pode-se ter como hipótese que neste
ano os políticos irão usar, além das já tradicionais páginas comerciais, sites e blogs, o twiter
uma rede social que permite ao usuário enviar e receber atualizações pessoais de outros
contatos através da web, por SMS ou softwares específicos.
Sendo o primeiro candidato local a colocar no ar um site de sua candidatura, Silvio
Barros produziu, com esta atitude, efeitos de sentido positivos junto ao eleitor, pois esta ação
pode ser concebida como uma tentativa de dar informações ilimitadas ao público, bem como
uma possível aproximação, mostrando ser um candidato que se importa com a população e
não desconsidera as inovações tecnológicas existentes.
Pensando ainda no corpus deste trabalho, tem-se a oportunidade de observar na
organização dos programas a ordem da editoração: a) substituição de um quadro por outro no
17
Na ocasião, o endereço do candidato era <www.silviobarros.can.br>.
119
programa seguinte (Silvio nos Bairros no lugar de Fazendo História, por exemplo); b)
execução e a renovação dos jingles; c) inclusão de um sujeito que fala diretamente para seu
telespectador, um sujeito que assume seu lugar de candidato e pede votos.
Verificando os quadros que constituíram os programas eleitorais de Silvio Barros em
2008, no quadro Fazendo História são apresentados testemunhos de maringaenses afirmando
como suas vidas melhoraram após o início da administração de Silvio Barros em 2005. O
quadro é montado com as confissões de vários moradores da cidade, cada um com suas
imagens, músicas e discursos que enfatizavam a mudança positiva ocorrida na história de suas
vidas.
Por mostrar a vida de diferentes maringaenses, de sexos e idades variados, pode-se
entender que foi criada uma identificação entre o eleitor e as “testemunhas”, uma vez que o
cidadão maringaense está sendo ali representado.
Frame 7
Frame 8
dizia o ditado popular “A voz do povo é a voz
de Deus”. Mesmo não estando explícito no título do
quadro, este provérbio é resgatado pela memória
discursiva dos eleitores ao lerem Na voz do povo é Silvio
de Novo. Neste programa, cidadãos são filmados
afirmando que irão votar em Silvio Barros e que este
será “de novo” o prefeito de Maringá.
O efeito de sentido de “amigo”, que escuta e
voz para o povo foi produzido. Um efeito importante
para construir a imagem de um sujeito político
democrático e confiável.
Para mostrar a importância da mudança e
salientar que admitir os erros é o primeiro passo para
120
Frame 9
Frame 10
acertar na hora da escolha do voto é que se pode dizer
que foi introduzido o quadro Agora sou Silvio. Nele,
as pessoas confessam que não votaram neste candidato
nas eleições de 2004, mas que estão arrependidas, pois
observaram durante os quatro anos de mandato as
benfeitorias proporcionadas para a cidade. Logo, para
não errarem novamente, essas pessoas se tornam
fiadoras da imagem do sujeito político e declaram para
as câmeras que “Agora sou Silvio”, ou seja, seus votos
serão destinados para este sujeito político. Marcado por
um tom cômico, efeito produzido pelo trocadilho da
palavra bairros com o sobrenome do candidato, o quadro
Silvio nos Bairros o exibe visitando diversas localidades
da cidade, apresenta as melhorias estruturais executadas
e a interação do sujeito político com os moradores. Neste quadro, os eleitores fazem
pedidos e agradecimentos ao candidato, que se mostra solidário e atencioso.
Fez-se necessário fazer uma verificação cautelosa de alguns quadros de frames da
campanha de 2004 e de 2008 em que o mostrados para o telespectador / eleitor o sujeito
político enunciando em espaços e tempos diferentes ao do cerio dos esdios dos
telejornais. Nestes quadros de frames serão observados quais efeitos de sentido são
produzidos e quais tipos de et as imagens refoam.
121
Os quadros cênicos dos
HGPE aqui analisados são
semelhantes: indicam a cena
englobante como sendo o tipo de
discurso político eleitoral. A cena
genérica aponta o gênero de HGPE e
como cenografia, o telejornal. Faz-se
necessário dizer que por ter sido
instaurada pela cena genérica do
HGPE, o telejornal é a cenografia
desse discurso, no qual contdos
vão sendo desenvolvidos,
propiciando especificar e validar o
ethos. (MAINGUENEAU, 2008, p.
71). O papel enunciativo de “locutor-
candidato”, representado por Barros,
Quadro de Frames 5: Cenografia no HGPE 2004
o inscreve na cenografia dos HGPE,
que, ao enunciar seu discurso, produz efeitos de sentido e mostra seus gestos e sua maneira
de ocupar o espaço da cena, isto é, constitui seus ethé. Em conformidade com os
ensinamentos de Maingueneau (2008, p. 70), o ethos [...] é parte pregnante da cena de
enunciação.
Na campanha de 2004 as cenografias que mais legitimaram ethé e produziram efeitos
de sentido positivos foram: uma sala de reuniões, uma imagem externa no Paço Municipal e
imagens de arquivo do debate exibido nos jornais locais.
Pode-se dizer que as sequências imagéticas da sala de reunes produziram um efeito
de real que colabora para legitimar o ethos de competência deste sujeito potico, uma vez
que o candidato se posiciona na cabeceira da mesa como líder daquelas pessoas ali reunidas.
A figura de uma pessoa forte, firme, mostrando que sabia como agir naquelas situações
quesitos que fortalecem seu ethos de chefe Silvio Barros alcança o imagirio do blico,
que passa a observá-lo como indiduo competente. O discurso proferido neste cenário
confirma sua imagem de líder e ainda valoriza o fato de, mesmo antes de ser eleito, já es
122
sendo respeitado e apoiado pelos prefeitos das cidades vizinhas.
As sequências de imagens do Paço Municipal atrelado aos enunciados feitos pelo
sujeito político sugere o pensamento de que o candidato considera ser aquele “o seu lugar” e
que seria ali que os maringaenses iriam encontrá-lo nos próximos quatro anos. Para enfatizar
seu ethos de competente, o candidato evoca o “poder da tradição” ao dizer que é filho de
político, que sempre conviveu em meio aos mais importantes políticos nacionais e que seu pai
foi considerado o melhor prefeito brasileiro em 1976. Para comprovar que o que está sendo
dito é verdadeiro, sujeito político mostra inúmeras fotos enquanto apresenta seu currículo
qualificado, calcado em experiências obtidas em diferentes lugares do país e do mundo. “Essa
característica foi utilizada tanto pelo candidato, como requisito de autovalorização, quanto
pelas correntes opositoras para justificarem que se tratava de um candidato que não era “gente
de Maringá.” (SILVA, 2006, p. 49).
Quadro de Frames 6: Fotos utilizadas para
produzir efeitos de verdade
O encaixe sintático verbo-visual
dessas sequências auxilia a construção do
ethos de virtuoso e estabelece: a) um efeito
de realidade através das imagens externas
do pdio da prefeitura que tem o nome do
pai do candidato, comprovando que o que
está sendo falado é verdadeiro; b) efeito
persuasivo de memória, levando o eleitor a
pensar no provérbio “tal pai, tal filho”,
produzindo um efeito positivo, fazendo
compreender que ele havede ser tão bom
quanto seu pai, pois teria uma suposta
“herança” de liderança e competência.
No segundo turno da campanha de
2004 para prefeito de Maringá, os
jornalistas do quadro Canal 11 exibiram do
arquivo do debate televisivo as seqncias
123
de imagens que mostram a cadeira vazia com as inscrições que a identificavam como
pertencente a João Ivo Caleffi, significando a ausência deste candidato no debate ocorrido.
Em seguida, aparece o mesmo cenário com o candidato Silvio Barros, proporcionando o
entendimento de que este candidato compareceu ao debate. Este encaixe imagético contribuiu
para que se firmasse o ethos de caráter do sujeito político, comprovando ser uma pessoa que
honra seus compromissos.
Quando o sujeito político Silvio Barros candidatou-se à reeleição, em 2008, verificou-
se uma diversidade maior nos cenários utilizados no HGPE. Enquanto as enunciações de 2004
feitas em estúdio tinham como cenário imagens que não identificavam que o candidato estava
utilizando o mesmo ambiente das gravações do Canal 11, em 2008 as propagandas eleitorais
deste sujeito tornaram-se o próprio telejornal.
Os pronunciamentos feitos em
estúdio nesse período mostravam
explicitamente que se tratava do
mesmo local onde as gravações do
Estúdio 11 eram efetuadas. Sempre
filmado em close up, era possível
observar que as imagens presentes no
segundo plano alteravam-se de
acordo com o assunto do dia. Nos
exemplos aqui apresentados, tem-se o
candidato segurando um cartão,
chamado por ele de “cartão saúde” e,
ao fundo, 5 imagens de pessoas
sorridentes – 4 mulheres e um homem
– sendo que uma das mulheres usa
um estetoscópio , identificando - a
Quadro de Frames 7: Cenografia no HGPE 2008
como uma médica e reafirmando que
o discurso pronunciado naquele dia é sobre saúde.
Na outra cena, ao falar sobre os avanços e as melhorias feitas na cidade, observa-se
uma foto que destaca os prédios da cidade, pode-se dizer que as construções civis
simbolizavam o desenvolvimento do município. Sempre em colaboração, o verbal e o
124
imagético participam da construção do ethos de inteligência do sujeito político. Os temas
dos programas são discutidos pela “voz”, pelos “verbos” e reafirmados por meio das imagens,
uma evidência de astúcia pelo uso de estratégias de persuasão.
Os frames que contém os ambientes das salas de estar corroboram para a manutenção
do ethos de proximidade. Segundo Courtine (2006, p. 138), o “living room politics” produz
um efeito de sentido de intimidade, como se o candidato tivesse aberto as portas de sua casa
para que as pessoas pudessem conhecê-lo com mais profundidade, um verdadeiro “de sofá
para sofá” – considerando que os telespectadores o assistem no conforto de seus lares.
Ao que concerne às sequências de imagens do candidato em ambientes internos e
externos, em alguns pontos da cidade, pode-se afirmar que são estratégia de fortalecimento do
ethos de competência. Esta asserção pode ser feita devido à sincronia existente entre a
linguagem verbal e a imagética. Melhor explicando: em um dos frames aqui apresentados,
tem-se em primeiro plano o candidato e em segundo a Rodoviária da cidade. Enquanto se
observam essas imagens, o sujeito político enuncia sobre as reformas feitas na rodoviária,
produzindo um efeito de verdade – Silvio fala, Silvio faz – o candidato fala e mostra o que fez,
comprovando que foi competente.
5.1.2.1 Estratégias que Reforçam os Ethé de Proximidade
De acordo com Piovezani (2009, p. 355), a “[...] sedução alia-se ainda à emoção e
tende a ser contraposta à razão [...] hoje o que seduz é a fluidez e a velocidade”. Partindo
deste pressuposto, identificou-se nos HGPE um verdadeiro bombardeio de imagens
instantâneas que são lançadas principalmente durante os jingles. Imagens mostrando o sujeito
político em pronunciamentos públicos, em reuniões e assembléias, em visitas à população e às
empresas, nas ruas da cidade, nas casas dos eleitores, abraçando crianças, jovens e adultos,
uma verdadeira infinidade de representações imagéticas que fortalecem os ethé de
identificação deste candidato.
Durante o intenso fluxo de imagens apresentadas durante a execução dos jingles,
poucas são do candidato falando para a uma platéia presente no mesmo espaço e em um
mesmo tempo de sua enunciação. Os frames dos HGPE mostram vários quadros dos mesmos
comícios. Retomando os estudos sobre as transformações ocorridas no discurso político
125
contemporâneo, mais especificamente a diminuição dos comícios em praças públicas,
aponta-se a escassez deste ato.
Quadro de Frames 8:
Performance no Palanque em 2004
Quadro de Frames 9:
Performance no palanque em 2008
De acordo com os postulados de Courtine (2006, p. 138), a respeito das metamorfoses
do discurso político, é compreensível que os gestos efetuados durante os comícios em
palanques fossem mais expressivos e grandiosos, bem como a voz mostrava-se mais potente,
devido à necessidade de fazer-se ver e ouvir pelos eleitores que, muitas vezes, ficavam
distantes do palco. A videopolítica fez com que os sujeitos políticos se adaptassem às regras
que regem a tevê e impõem que sejam feitos gestos mais suaves e que os falares sejam mais
doces. Mas, então por que utilizar imagens de momentos sobre os palanques?
O ethos de potência do candidato é reconhecido por meio dessas imagens no HGPE,
confirmando que ele possui um falar forte e preciso e com gestualidades viris, características
importantes para aqueles que pretendem governar, mas pouco recomendada de se realizar na
126
tevê, por isso, na maioria das vezes, são mostradas sequências de fotografias dos comícios
e trechos de filmagens do candidato discursando. Além disso, essas imagens mostram a
interação do candidato com a população, sustentando seu ethos de proximidade.
Quadro de Frames 10: Gestos que legitimam os ethé de identificação em 2004
As sequências de imagens aqui selecionadas demonstram que quando o político desce
do palanque ou sai dos estúdios de gravações e vai até o povo com o objetivo de escutá-lo,
consegue produzir efeitos de sentido positivos junto à população, ocasionando a identificação.
Este efeito de identificação também ocorre quando o eleitor constata, durante as efêmeras
apresentações destas imagens durante os jingles, que ele se encontra nelas representado. Ao
serem exibidas imagens em que o candidato à prefeitura está cumprimentando maringaenses e
esses indivíduos se universalizam ao representarem as diferentes identidades da população
principalmente ao que se refere às diferenças entre sexo, idade e profissão o telespectador /
eleitor que assiste ao programa em sua casa se reconhece e se identifica.
Os exemplos imagéticos retirados dos HGPE de 2004 e de 2008 são bem semelhantes.
Ambos apresentam a proximidade do candidato com as crianças, os jovens, as mulheres, os
homens e os idosos. Em cada cena, um cenário diferente, sugerindo que o sujeito político “vai
onde o povo está” para ouvi-lo. Em cada episódio um gesto acolhedor: abraços, apertos de
mãos, conversas “olho no olho”. Atitudes que propõem uma preocupação por parte do político
para com a população, um reforço para o ethos de solidariedade.
127
Quadro de Frames 11: Gestos que legitimam os ethé de identificação em 2008
A projeção dessas imagens em consonância com os jingles alegres produzem efeitos
de autenticidade e sinceridade nas ações ali apresentadas, uma vez que “[...] a espontaneidade
e a livre expressão de pessoas comuns apontam para a autenticidade do contexto de
enunciação e, por extensão, para a sinceridade dos enunciados produzidos”. (PIOVEZANI,
2009, p. 303).
Retomando os ensinamentos de Courtine & Haroche (1988, p. 184):
O silêncio é o do homem prudente que se poupa, se conduz com circunspecção, que
nem sempre se abre, que não diz tudo o que pensa, que nem sempre explica sua
conduta e as suas intenções; que, sem trair os direitos da verdade, nem sempre
responde claramente, para não se deixar descobrir.
O silêncio é necessário no meio político. Além de falar, sabe-se ouvir, consegue
compreender as prioridades da população, é capaz de observar as ações, corrigir os erros e
buscar os acertos. Presente durante um abraço, no momento do sorriso, no instante de um
aperto de mãos, o silêncio fala e, ao falar, constrói vários ethé de identificação,
principalmente os de proximidade e de solidariedade.
128
5.1.2.2 Estratégias que Reforçam os Ethé de Competência
Valendo-se de seu status de atual prefeito – e candidato à reeleição – e uma linguagem
coloquial giro é tomado com o significando passeio um quadro que produziu efeitos de
sentido significativos durante a campanha de 2008 foi o Giro com o Prefeito. Nele, o
candidato utiliza um carro que tem como pintura o logotipo do Estúdio 11, identificando-o
como veículo exclusivo do “telejornal” para ir aos pontos da cidade em que a prefeitura havia
feito melhorias. Considerando que as imagens são capazes de reforçar os ethé já existentes, os
de credibilidade e identificação, pode-se dizer que atreladas ao verbal, as interpretações dadas
aos movimentos das câmeras, que atuam como se fossem o olho humano, mostravam o
candidato dentro do carro ajudavam a consolidar o ethos de proximidade, pois além do título
sugestivo dado ao quadro Giro com o Prefeito , o candidato enunciava “Vem comigo!” ou
“Vamos lá?!”, sem contar o banco do passageiro que ficava vazio na maioria dos programas.
Desta forma, todos os telespectadores são convidados a darem um “passeio” pela cidade e
observar as metas cumpridas pela administração do município e ouvir as propostas para o
próximo mandato.
Quadro de Frames 12: Giro com o Prefeito e o ethos de competência de 2008
Nesta situação, ocorre o uso excessivo dos dêiticos, fazendo com que somente as
imagens projetadas sejam capazes de dar ao telespectador / eleitor a identificação do lugar
129
sobre o qual se está enunciando. Isso acontece porque o “ali” no momento da enunciação
não é designado pelo nome, mas apontado pela mão do candidato. Deve-se mencionar que as
imagens que mostram o sujeito político usando cinto de segurança enquanto dirige sugerem a
emergência do ethos de virtuoso, afinal, uma pessoa que se preocupa com a própria segurança
também se preocupará com a do próximo.
Este quadro é aqui considerado aqui como uma estratégia eficaz e bem sucedida de
mostrar para a população as realizações da administração. Dos 18 programas apresentados
durante a campanha, 11 exibem o quadro Giro com o Prefeito. Nos primeiros, os “giros” eram
feitos por regiões da cidade, por exemplo, zona sul, região oeste. Em outros dias, os
programas mostravam as modificações feitas em alguns bairros: Guaiapó, Mandacaru, Tuiuti,
Jardim Alvorada, entre outros. E ainda os programas chamados de “especiais” por retratarem
todas as obras relacionadas ao esporte e à saúde.
Entretanto, um olhar e uma escuta mais cuidadosos identificam que o candidato não
enuncia apenas realizações, mas também as transformações que ainda serão feitas. Esta
maneira de mostrar o que foi feito intercalado com promessas de um fazer futuro produziria
um efeito que ludibria o telespectador / eleitor?
Ao fim do quadro, depois da exibição de imagens e enunciações, torna-se difícil
constatar quais obras foram executadas e quais ainda são promessas, assim, ao se lembrarem
da quantidade de obras mencionadas, os telespectadores / eleitores passam a enxergar uma
imagem de “político capaz” e o ethos de competência é legitimado. Mas como esse quadro
produziu esse efeito de totalidade e competência?
Considerando as regularidades presentes no quadro Giro com o Prefeito e objetivando
ilustrar a estratégia usada neste quadro do HGPE, será feito um gesto de interpretação
utilizando apenas o programa exibido no dia 22/08/2008
18
. Nesta primeira exibição do
18
Transcrição do “Giro com o Prefeito”, em 22/08/2008: Hoje nós vamos dar um giro pela zona sul da cidade
para ver um pouquinho do que a nossa administração está fazendo. Você é meu convidado, vamos lá.
Começamos pela Avenida Centenário, atrás do aeroporto velho, onde fizemos a iluminação que ajudou muito os
moradores do Bertioga, do Jardim Aeroporto e toda essa região. Aqui no Residencial Aeroporto, começamos
com a reforma da Creche Ângelo Viegas e da escola Hellenton Borba Cortes. Aqui nesse terreno, do lado da
creche, nós vamos fazer uma ATI ((Candidato aponta para o terreno e fala olhando para a câmera)) pro pessoal
que mora nessa região. ((Acena para os moradores e diz)) Tudo bom? Ainda aqui no Residencial Aeroporto
estamos construindo o salão comunitário. Agora, nós vamos ali pro Jardim Europa, Porto Seguro e Céu Azul.
Tem bastante obra também. Nós estamos entrando agora no Jardim Europa, esse asfalto aqui fomos nós que
fizemos na nossa administração. Asfalto novo e iluminação rebaixada. Aqui, na creche do Céu Azul, a Creche
130
quadro, o candidato convida a população de telespectadores / eleitores para conhecer as
benfeitorias realizadas na Zona Sul da cidade de Maringá. Durante este “passeio”, 14 bairros
da cidade são visitados, a saber: Bertioga, Jardim Aeroporto, Residencial Aeroporto, Jardim
Europa, Porto Seguro, Céu Azul, São Silvestre, Jardim Catedral, Prolar, Cidade Canção,
Conjunto Madri, Jardim Paraíso, Cidade Alta e Vilage Tereza.
Em cada bairro são enunciadas as realizações que a prefeitura fez e também os
projetos que pretende executar. Vale destacar que junto ao discurso verbal enunciado pelo
sujeito político, têm-se as imagens que mostram e comprovam os lugares e a existência das
obras, dando legitimidade à enunciação e produzindo efeitos de verdade. No programa
exibido neste dia, foram mostradas 32 ações que beneficiaram a população dos bairros acima
citados, sendo que destas, constam 12 melhorias que se repetem em cada bairro: iluminação
rebaixada, creches, escola, ATIs, salão comunitário, asfalto, centro esportivo, telecentro da
cidadania, centro de qualificação profissional, posto de saúde, casas populares, horta
comunitária.
A apresentação das obras no programa indicam um ethos de competência do sujeito
político, entretanto, esta estratégia pode ser desqualificada ao se analisar os verbos que
acompanham essas melhorias. Esta afirmação pode ser feita quando se compara, por exemplo,
Noema Villanova é uma das creches mais bonitas de nossa administração. Pertinho da Creche do Céu Azul, no
Porto Seguro, nós fizemos o campinho de futebol e essa obra que vocês estão vendo é a nova ATI. No São
Silvestre tem um Centro Esportivo e aqui nós fizemos bastante coisa, estamos recuperando totalmente o Centro
esportivo do São Silvestre. ((Aperta a mão e conversa com um guarda municipal))
Tudo bom? Tudo jóia! Este é
o terreno no qual nós vamos construir a ATI e aqui nós também fizemos o Telecentro da Cidadania e o Centro de
Qualificação Profissional, Costurando a Cidadania. E para poder ampliar o posto de saúde do São Silvestre,
compramos o terreno aqui do lado, e enviamos o projeto para Brasília para a obtenção dos recursos. Aqui no
Jardim Catedral, neste terreno será construído um ginásio de esportes, uma grande quadra coberta para atender
toda a região. Aqui no Prolar inauguramos a ATI número 25. Ficou muito boa! E bem pertinho, no Cidade
Canção fizemos o campinho de futebol, rebaixamos a iluminação e estamos terminando o Salão Comunitário.
Agora nós iremos lá no Conjunto Madri para ver as casas que a gente está construindo, faz parte do nosso projeto
Minha Casa. Estamos realizando o sonho da casa própria para mais de 70 famílias. Tá quase pronto! Aqui no
Jardim Paraíso estamos terminando toda a tubulação, inclusive o emissário e logo em seguida é fazer o
asfalto. Fizemos também a iluminação da Avenida Dolores Duran e o ginásio da escola Manuel Dias. Estamos
chegando aqui em mais umas das nossas ATI´s, essa é a mero 17, do Cidade Alta. Esse Posto de Saúde logo
aqui atrás foi o primeiro de toda nossa rede a está totalmente informatizado ((diz isso movimentando-se em um
dos aparelhos da ATI)). E agora nós estamos chegando aqui na Horta Comunitária do Cidade Alta. Parceria
com a Eletrossul, muito bom projeto, aliás, é olhar, né?! Essa obra aqui é um dos motivos de orgulho da
nossa administração. Aqui no Vilage Tereza nós realizamos o sonho da Casa Própria para mais de 390 famílias,
vem conhecer. Aqui em frente o Ginásio, nós estamos fazendo a segunda pista da Avenida José Alves Nendo.
Nós encerramos por hoje o nosso giro com o prefeito. Encontro você no próximo programa.
131
os enunciados: “começamos com a reforma da Creche Ângelo Viegas” e “estamos
construindo o salão comunitário”. Na prática, existe grande diferença entre reformar e
construir: o primeiro verbo produz o efeito de sentido de que se está emendando, corrigindo,
melhorando algo que já existe; o segundo indica ações novas, produzindo um efeito de poder
edificar, fabricar e dar estrutura para coisas originais. Na transcrição utilizada nesta análise,
foram encontrados 9 verbos diferentes, sendo que recuperar, reformar, ampliar e rebaixar
indicam ações de melhoria; os verbos fazer, construir, realizar, comprar e informatizar
revelam a realização de novas obras.
Ao se verificar os verbos torna-se imprescindível olhar com mais atenção os tempos
verbais utilizados durante o programa, uma vez que eles apontam para as ações que estão
sendo ou foram realizadas reforçando o ethos de competência e as ações que ainda
serão praticadas – as promessas de campanha que legitimam o ethos de sério do candidato. Ao
contabilizar a quantidade de verbos empregados, encontrou-se que os 22 que foram
responsáveis pela construção do ethos de competência indicam os tempos verbais Pretérito
Perfeito (fizemos; realizamos) e Presente do Indicativo acompanhado de Gerúndio (estamos
fazendo; estamos realizando). Já os 4 verbos que são apresentados no futuro que indicam o
ethos de sério possuem duas formas: Futuro do Presente mais Particípio (será construído) e
Presente do Subjuntivo mais Infinitivo (vamos construir).
Essa análise do material linguístico do quadro Giro com o Prefeito, apresentado no
programa eleitoral de 2008, quando o candidato tentava sua reeleição, indica que houve uma
maior preocupação em mostrar as obras que este sujeito político fez durante sua administração
e sua competência em gerir os bens públicos, fazendo com que os telespectadores / eleitores
acreditassem na legitimidade e credibilidade construídas durante a campanha. Em
contrapartida, ao considerar o escasso uso dos verbos que indicam futuro, é adequado
observar que, ao privilegiar o passado, as responsabilidades que seriam assumidas para a
gestão seguinte ficaram em segundo plano.
O giro, a volta, o círculo, a retomada, a repetição deram um ar de competência e
totalidade ao programa e, por seguinte, ao sujeito político. O giro pela cidade, a volta nos
bairros, o círculo de obras executadas, a retomada dos projetos e a repetição das enunciações
fizeram com que se tivesse a sensação de que muita coisa foi feita durante a gestão deste
candidato, no entanto, verificou-se que a repetição presente nos programas foi a responsável
por criar tal efeito de sentido. Esta estratégia pode ser demonstrada ao se isolar uma sentença
132
do quadro apresentado no dia 22 de agosto, em que são mostradas algumas melhorias
executadas no bairro São Silvestre:
No São Silvestre tem um Centro Esportivo e aqui nós fizemos bastante coisa,
estamos recuperando totalmente o Centro esportivo do São Silvestre [...] Este é o
terreno no qual nós vamos construir a ATI e aqui nós também fizemos o Telecentro
da Cidadania e o Centro de Qualificação Profissional, Costurando a Cidadania. E
para poder ampliar o posto de saúde do São Silvestre, compramos o terreno aqui
do lado, e enviamos o projeto para Brasília para a obtenção dos recursos.
O bairro acima citado é retomado outras duas vezes durante a campanha nos
programas chamados de “especiais”, quando trataram de assuntos relacionados ao esporte e à
saúde. Assim, se pode perceber que ocorre a repetição das mesmas obras mencionadas no
primeiro dia do programa, como se pode observar nos excertos do dia 29 de agosto de 2008,
quando foi enunciado: “Aqui no Centro Esportivo do São Silvestre, nós estamos reformando a
área administrativa, o salão, o parquinho, vamos colocar iluminação na piscina e fazer os
vestiários, vamos cobrir a quadra e fazer as rampas de acessibilidade”. E, mais tarde, em 26
de setembro de 2008, quando “saúde” foi o tema do programa: “Mas não é aqui nessa
região que vai ter posto novo, no Jardim Universo e no São Silvestre também vamos fazer
unidades novinhas”.
5.2 O AUDIOVISUAL E A PRODUÇÃO DE SENTIDOS
De acordo com Piovezani (2009, p. 247), a “[...] força retórica das mensagens da
televisão fundamenta-se nesse mostrar, nesse fazer ver”. O corpus de análise deste trabalho é
composto por imagens efêmeras, imagens responsáveis por produzir efeitos de sentido de
diferentes naturezas (principalmente identificação e verossimilhança), fato que proporciona
um gesto de interpretação que visa verificar como os usos das imagens nos HGPE atestam,
legitimam e comprovam o que está sendo enunciado. Essas novas formas de discurso político
eleitoral transmitido pela TV apontam algumas especificidades “[...] que, possivelmente, não
seriam satisfatoriamente consideradas em uma análise estritamente linguística”.
(PIOVEZANI, 2009, p. 281).
Como mencionado, este contemporâneo modo de fazer política impôs, sobretudo
aos analistas do discurso, um novo posicionamento, uma nova postura, ou seja, foram
133
necessárias algumas mudanças teórico-metodológicas. Agora, para analisar os discursos
políticos produzidos e transmitidos pela televisão, deve-se considerar que as imagens, o
verbo, o corpo e a voz “[...] participam constitutivamente da produção dos sentidos”
(PIOVEZANI, 2009, p. 176) e, assim, se buscam outros estudos, outras áreas de pesquisa
capazes de mostrar como o corpo, o rosto, o sorriso, a expressão produzem sentido na
cenografia e validam os ethé.
Para produzir as análises da materialidade audiovisual deste trabalho, ambicionando
mostrar como essas imagens contribuíram para a legitimação e a manutenção de determinados
ethé discursivos, contou-se com as contribuições dos autores Cohen (2009) para que se
entendesse melhor a linguagem do corpo humano e seus significados; Courtine & Haroche
(1988), com seus ensinamentos sobre a história dos estudos do rosto e Piovezani (2009) que
em seu mais recente livro (sua tese de doutorado) analisa o HGPE das eleições presidenciais
de 2002 e considera a importância da imagem na produção dos efeitos de verdade produzidos
nestes programas.
No livro A história do rosto, de Courtine & Haroche (1988), é feita uma retomada
histórica apontando como eram feitos os estudos do rosto desde o século XVI até o século
XIX, ressaltando as mudanças dos métodos de estudo, bem como as transformações que a
sociedade sofreu devido tais observações do outro. Desta forma, os autores não dispensaram
verbos para dizer as características de cada tipo de estudo, informações que seriam úteis para
esta pesquisa. No entanto, a contribuição deste livro se ao se comprovar que as
observações do corpo, do rosto e dos gestos dos seres humanos sempre foram fonte de
inquietações que inspiraram diversas pesquisas, fato que justifica o uso de alguns conceitos de
base fisiognomônica neste trabalho.
Fisiognomonia é o nome da ciência que tem como objeto de estudo o rosto para obter
o conhecimento do caráter dos indivíduos, pois “[...] o rosto normalmente prediz e indica [...]
de tal forma revela e desnuda o coração, sendo por ele conhecida as vozes dos pensamentos e
cogitações íntimas, coisas que estão todas contidas na verdade fisiognomônica”.
(COURTINE; HAROCHE, 1988, p. 31).
Também conhecida como ciência da alma, a fisiognomonia interpreta a relação entre o
corpo e a alma por considerar que o corpo exprime aquilo que a alma possui. Este pensamento
mantém-se como verdadeiro nos textos do século XVI. Sua finalidade social era colaborar na
escolha das companhias, ou seja, se observavam os outros para que não se tornasse íntimo de
13
4
pessoas sem caráter. O julgamento feito pelo rosto fez com que a sociedade passasse a
controlar alguns de seus sentimentos, dissimulando as manifestações de suas paixões,
tornando-se de grande utilidade para a política. Entretanto, um fisiognomonista “[...] pode
descobrir a alma corrompida sob os artifícios da dissimulação, despojar as fisionomonias
mentirosas da máscara que as abriga. Os rostos perdem o seu segredo.” (COURTINE;
HAROCHE, 1988, p. 35). Neste período, era necessário:
[...] saber decifrar os sinais aparentes do rosto e ainda saber predizer, a partir de uma
origem psicológica, o conjunto dos traços físicos que a manifestam. Adivinhava-se a
alma pelos indícios corporais; deduzir-se-á o corpo das qualidades espirituais.
Aparentadas a literatura de ‘caracteres’, estas leituras complementares devem
garantir uma maior legibilidade dos corpos e das almas na sociedade civil.
(COURTINE; HAROCHE, 1988, p. 60).
Ao fornecer às práticas de observação do rosto a legitimidade de sua tradição, a
fiosiognomonia participou da constituição da sociedade civil. Porém, ao mencionar as
qualidades que um homem de caráter deve possuir, estes estudos contribuíram para que se
falsificassem as aparências, dando razão à frase “para ser basta parecer”. Segundo Courtine &
Haroche (1988, p. 229), o poder político sempre esteve atento às atitudes que a sociedade civil
tomava, pois queriam controlá-las e sonhavam em domesticá-las. Os estudos feitos pelos
referidos autores terminam por caracterizar a sociedade civil que, desde o século XVI mostra-
se uma
[...] sociedade de silêncio e de linguagem, de dissimulação e de sinceridade, de
recolhimento em si e bem assim de compaixão; é deste modo que as formas na vida
civil aproximam os indivíduos e os põem à distância; é assim que elas os
constrangem, mas é também assim que os protegem. (COURTINE; HAROCHE,
1988, p. 229).
Em conformidade ao exposto anteriormente, a ciência da fisiognomonia julgava o
caráter das pessoas através da aparência que elas possuíam. Neste trabalho não se pretende
agir da mesma maneira que os fisiognomonistas. Pretende-se, apenas, demonstrar um “gesto
de olhar”, uma “observação reflexiva”, uma verificação mais apurada e demorada das
imagens presentes nos HGPE de 2004 e de 2008. Nesta empreitada esforçar-se-á para refletir
a respeito das imagens que contribuíram para a manutenção e legitimação de certos ethé
discursivos.
135
5.2.1 O Corpo em Evidência: Expressões Faciais, Sorrisos e Gestos
Quando os discursos políticos ainda eram feitos em sua maioria sob os palanques, os
eleitores viam o corpo e os gestos dos sujeitos que enunciavam e ainda ouviam suas vozes.
Hoje, com o desenvolvimento e a supervalorização das tecnologias midiáticas, os palanques
deixaram de ser o principal lugar de pronunciamentos políticos eleitorais, passando este posto
para a televisão. Entretanto, sabe-se que neste novo meio de fazer política o telespectador /
eleitor não o corpo do locutor, mas uma imagem. Apesar do espaço e do tempo separarem
os interlocutores e a fala tornar-se unilateral, as imagens na tevê proporcionam ao público
uma nitidez do rosto e uma clareza na voz, deixando mais próximo e propício à observação de
alguns detalhes que as imagens projetadas na tela apresentam dos corpos, das expressões
faciais e dos gestos dos sujeitos políticos.
Esta aproximação longínqua proporcionada pelas imagens da tevê ganha ainda um
reforço com o uso da técnica do efeito de zoom, que consiste em um tipo de afunilamento da
imagem, uma aproximação precisa de determinado objeto. Esta técnica foi muito usada nas
imagens transmitidas pelos HGPE de 2004 e 2008.
As sequências imagéticas das eleições de 2004 devem ser “lidas” verticalmente para
que se possa observar o efeito zoom. Nestes exemplos têm-se imagens do pronunciamento que
o sujeito político fez utilizando o cenário da sala de estar. À medida que o candidato ia
enunciando seu discurso, a câmera passava do plano aberto para o plano fechado. Observa-se
que este último plano fazia com que o rosto do candidato ocupasse praticamente todo o campo
visual, deixando o sujeito enunciador cada vez mais perto, contribuindo, assim, para a
manutenção do ethos de proximidade. A mesma estratégia é apresentada em 2008, porém os
exemplos devem ser observados horizontalmente porque foram empregados apenas dois
níveis de zoom.
136
Quadro de Frames 13: Efeito Zoom no HGPE de 2004
Quadro de Frames 14: Efeito Zoom no HGPE de 2008
Por meio desses closes, essa aproximação do sujeito político, suas expressões e seus
gestos são observados pelos telespectadores / eleitores que são “[...] interpelados pelo locutor
que lhes dirige diretamente a fala, por meio da orientação do olhar” (PIOVEZANI, 2009, p.
287) convocando-os a assumir seus lugares inscritos na cena de enunciação.
(MAINGUENEAU, 2008, p. 90). Nos estudos feitos pela fisiognomonia, o olho é o órgão
mais importante. De acordo com Courtine & Haroche (1988, p. 59), faziam-se estudos
morfológicos analisando “[...] a forma, a situação, a cor dos olhos”, avaliavam-se os
movimentos dos “[...] olhos que estremecem, que piscam, que se movem” e a própria
expressão, por exemplo, “[...] olhos risonhos, olhos tristes”.
A parte da psicologia que estuda a “linguagem do corpo” e suas significações também
faz alguns apontamentos sobre os olhos: a) as pessoas em geral são mais facilmente atraídas
por outras pessoas que possuem as pupilas dos olhos maiores; b) piscar muitas vezes seguidas
e desviar o olhar podem ser indícios de que a pessoa esteja mentindo; c) olhar diretamente
para frente faz o outro fixar o olhar naquilo que vê. (COHEN, 2009, p. 120). Nas sequências
imagéticas acima expostas pode-se ponderar que o sujeito político Silvio Barros consegue
fazer o outro fixar o olhar na tela, pois ele lança um olhar direto que tem como resultado a
137
sensação de que é para aquele telespectador / eleitor que o candidato está olhando,
contribuindo para a sustentação dos ethé de credibilidade.
Outra característica bastante estudada por especialistas da linguagem corporal é o
sorriso. Cohen (2009, p. 138) assevera que “[...] os candidatos políticos que sorriem mais
conseguem mais votos”. Do corpus analisado foram retirados os seguintes exemplos de
sorriso:
Quadro de Frames 15:
Sorrisos do sujeito político em 2004
Quadro de Frames 16:
Sorrisos do sujeito político em 2008
Para fazer o gesto de interpretação das imagens em que aparece o sorriso do candidato,
tomou-se o cuidado de escolher representações visuais em que o candidato estivesse no
estúdio de gravação em dias diferentes. Esta metodologia se justifica pela necessidade de
padronizar essas séries imagéticas. Assim, o vídeo era “congelado” normalmente no fim dos
pronunciamentos do locutor, quando apareciam sorrisos leves. Ao notar as imagens postas
lado a lado, verifica-se que em 2008 o candidato mostrou-se mais sorridente que em 2004,
pode-se entender que a fisionomia mais sóbria e austera do sujeito político auxilia a
consolidação do ethos de sério e o semblante mais feliz torna autêntico o ethos de
proximidade apresentado na campanha de 2008.
Ao analisar os programas, constatou-se nas sequências imagéticas o fato de que este
candidato, na maioria das vezes, fez seus pronunciamentos sentado, privilegiando a captura da
138
imagem de seu rosto e busto. Essas imagens de “meio corpo” mostram que o sujeito
produz muitos gestos com as mãos enquanto enuncia seu discurso. Valendo-se dos estudos
realizados no âmbito gestual, torna-se inevitável analisar os gestos corporais do candidato.
Quadro de Frames 17: Gestos das mãos em 2004 e em 2008
Em 2004, o gesto que mais aparece é o das mãos com os dedos entrelaçados. De
acordo com Cohen (2009, p. 98), esta posição pode indicar uma tentativa do candidato em se
tranqüilizar, sendo considerado uma demonstração de ansiedade perante os telespectadores /
eleitores, deixando de produzir efeitos de sentido positivos. Nas imagens retiradas dos HGPE
de 2008 destaca-se a posição das palmas das mãos do candidato: sempre viradas para dentro,
para ele mesmo. Estes gestos podem firmar o ethos de potência, uma vez que, de acordo com
o referido autor, são movimentos próprios de pessoas fortes.
Na última sequência de imagens do HGPE de 2008 verificam-se expressões gestuais
que completam a linguagem verbal. A imagem em que aparece o candidato acenando para o
telespectador / eleitor contribui para a manutenção do ethos de proximidade. Acompanhando
os estudos feitos por Cohen (2009, p. 100), a imagem do sujeito político com as mãos na
cintura indica uma pessoa que está pronta para assumir o controle, um sujeito que consegue
comprovar e solidificar seu ethos de chefe.
139
A última imagem selecionada mostra um momento em que o candidato à prefeito e
seu vice Roberto Pupim estão visitando bairros da cidade a fim de mostrar suas propostas
para o público, nesta cena o vice é quem está enunciando fazendo com que o sujeito Silvio
Barros
Quadro de Frames 18: Expressão corporal em 2008
fique em silêncio, com uma das
mãos no bolso, aguardando sua
vez de falar. Nos estudos que
utilizam uma psicologia, o gesto
de esconder a mão no bolso
sugere a interpretação de um
indivíduo que se sente tímido
perante alguma situação ou que
está à espera de alguma coisa e,
para se sentir mais confortável,
encontra essa maneira de se
tocar e transmitir para si alguma
segurança. Ao colocar a mão no
bolso, o sujeito político
fortalece o ethos de
humanidade, mostrando que
também pode se sentir constran-
gido.
Nas imagens em que aparece o candidato apresentando suas propostas para melhorar o
trânsito maringaense, nota-se que o sujeito político fala e, ao mesmo tempo, aponta na tela os
traçados das mudanças que seriam realizadas na cidade, um gesto que indica uma ação
pedagógica aprimorada pelo seu saber-técnico e pela utilização de recursos tecnológicos,
reforçando seu ethos de competência. Outro efeito de sentido produzido nesta cenografia
indica sua preocupação em fazer compreender o que está sendo explicado, legitimando um
ethos de solidariedade.
140
CONCLUSÃO
[...] discursos estão imbricados em práticas o-
verbais, em que o verbo o pode mais ser dissociado
do corpo e do gesto, em que a expressão pela
linguagem se conjuga com a expressão do rosto, em que
o texto torna-se indecifrável fora de seu contexto, em
que não se pode mais separar linguagem e imagem.
Jean-Jacques Courtine
No intuito de investigar como o sujeito político construiu seus ethé nas campanhas
eleitorais para prefeito de Maringá em 2004 e 2008, verificou-se que além dos discursos
enunciados pelo candidato, também os discursos dos sujeitos testemunha, o audiovisual e o
saber-técnico contribuíram para reforçar e legitimar os ethé deste candidato. Acredita-se que o
percurso interpretativo desenvolvido nessa pesquisa foi capaz de mostrar, demonstrar,
exemplificar e comprovar que as atuais estratégias do discurso político seguem as exigências
impostas pela mídia e esperadas pelos telespectadores / eleitores.
A verificação do ethos discursivo do sujeito político Silvio Barros, ou seja, as
imagens de si que este sujeito construiu em seus discursos de campanha eleitoral, apontaram
para a importância de se observar as condições de produção, uma vez que elas foram
responsáveis pela escolha feita em 2004 de se construírem mais ethé de identificação. Foi
nesse período em que o candidato volta para a cidade e lança sua candidatura, havendo a
necessidade de se aproximar e se fazer conhecer pelos telespectadores / eleitores. Em 2008,
houve a exigência de se produzir mais ethé de credibilidade, pois o candidato tentava se
reeleger e precisava comprovar sua competência.
Na constatação da colaboração feita por sujeitos testemunha, imagens e jingles para a
legitimação e sustentação dos ethé do sujeito político, a pesquisa enredou-se na busca de
análises que mostrassem como esse apoio imagético-discursivo foi realizado. Após as análises
dos ethé legitimados pelos sujeitos testemunha notou-se que em ambas as campanhas estes
sujeitos reforçaram com maior intensidade os ethé de credibilidade, mesmo sendo em
momentos sócio-históricos distintos. Este fator fez inferir que tais sujeitos testemunha
possuem a função de apoiar e reforçar as virtudes e os traços de competência do candidato,
valorizando os ethé de credibilidade. Tendo em vista que está se tornando comum a prática de
autoridades políticas usarem esse mecanismo de legitimação da imagem de si por meio do
141
discurso de terceiros, acredita-se que esta é mais uma contribuição deste trabalho para o
estudo dos discursos políticos contemporâneos.
As diferentes materialidades discursivas que guiaram esta pesquisa para os múltiplos
caminhos metodológicos confluíram para a obtenção de resultados que ampliam o aparato
teórico-metodológico da Análise do Discurso, mais especificamente para o aprofundamento
reflexivo sobre a noção de ethos discursivo:
A sobreposição de tipos de ethé: mesmo separando o discurso em sequências
discursivas, constatou-se que em uma mesma sequência podem coexistir mais de um
tipo de ethos. Por exemplo, uma sequência que caracteriza o ethos de sério também
pode apontar para o ethos de competente. Pode-se inferir que esse fenômeno
comprova a liquidez do discurso, a flutuação dos sentidos;
A simultaneidade da construção de ethé positivos e de ethé negativos (ou anti-ethé):
esta dupla fabricação é feita tanto pelo sujeito político quanto pelos sujeitos
testemunha. Uma especificidade desse mecanismo discursivo é que os ethé positivos
são sempre enunciados, são mostrados, são verbalizados. os anti-ethé são
inferidos apenas pelos implícitos, são construídos através dos não-ditos que os
dizeres dizem. Esta estratégia de construção e legitimação de ethos indica uma
relação de oposição, de contrariedade: se o candidato x é competente, seu adversário
y só pode ser não-competente;
O apelo a outras formações discursivas para evitar a deriva dos sentidos: observou-se
a frequência com que o sujeito político recorria a esta estratégia para legitimar seu
próprio discurso. Pode-se dizer que tal ação tem o objetivo de impedir o deslize dos
efeitos de sentido, uma vez que a evocação a uma FD religiosa ou uma FD esportiva,
por exemplo, coíbe este ethos de produzir efeitos de sentido contrários, negativos,
impróprios, e
A existência do ethos de proximidade construído pelo sujeito político visando
intensificar sua identificação com o eleitor/telespectador.
Por se apresentar capaz de produzir fortes efeitos de sentido, contribuindo para a
legitimação dos ethé, a materialidade audiovisual dispensou uma atenção especial durante as
análises. Por não possuir modelos que pudessem ser usados nesse tipo de gesto interpretativo,
os mecanismos teórico-metodológicos foram sendo construídos durante a execução das
142
próprias análises que levaram em consideração os ensinamentos advindos de áreas
distintas, como a Psicologia, a História e os estudos das imagens.
No corpus analisado observou-se a confirmação da presença das imagens e dos verbos
na constituição da propaganda eleitoral. A inovação identificada na estratégia de simular ser
um telejornal contribuiu para o efeito de proximidade e de verossimilhança que, ao refletir a
estrutura semelhante dos programas televisivos de noticiários apresentados nas mídias,
alcança um estatuto de verdade. Os vestígios imagético-discursivos verificados levam a crer
que a escolha de se fazer um telejornal para mostrar as propostas do sujeito político deveu-se
ao fato de os cidadãos estarem familiarizados a este tipo de formato televisivo, afinal,
pesquisas revelam que os brasileiros adquirem seus conhecimentos a respeito de informações
sociais, econômicas, políticas e culturais quase que exclusivamente através das mídias
televisivas, ou mais especificamente, dos telejornais que são exibidos nos horários de maior
audiência televisiva.
Outra questão que favoreceu a funcionalidade da cenografia telejornalística exibida na
campanha do referido sujeito político é que os telejornais transmitidos pelas emissoras de
televisão sempre reafirmam o seu compromisso com a verdade e a neutralidade, ou seja,
inverdades dificilmente são noticiadas. Este fato contribuiu para que os enunciados proferidos
no Canal 11 e no Estúdio 11 fossem igualmente recebidos como verdades absolutas pelo
eleitor / telespectador que, naquele momento toma a propaganda eleitoral como verdadeira,
não percebendo as estratégias de reconhecimento e rememoração utilizadas para o
convencimento do público. A estratégia de deslocar o gênero do telejornal para outro âmbito
discursivo não aponta para uma particularidade da política local, afinal esta estratégia já foi
utilizada algumas vezes por outros sujeitos, em outros momentos sócio-históricos. Entretanto,
o uso desse gênero no HGPE comprova a amplitude das possibilidades do fazer político
contemporâneo.
Examinou-se, ainda, que a utilização da cenografia do telejornal dentro do gênero
discursivo propaganda eleitoral serviu como estratégia de preservação de face do candidato.
Ao longo dos programas, os discursos produzidos discorreram sobre as propostas de melhoria
para o próximo mandato e sobre as benfeitorias feitas por ele durante os quatro anos de sua
administração. O discurso de ataque aos adversários ficou reservado aos jornalistas, que
frequentemente, apresentavam respostas aos outros candidatos ou comentavam as condutas
pouco satisfatórias dos adversários.
143
Após as análises feitas nesta pesquisa, foi possível constatar que as imagens
exerceram papéis fundamentais para que outros tipos de ethé fossem reforçados. Os cenários
em que o sujeito político discursava contribuíram para fortalecer os ethé de inteligência e de
competência. O ethos de proximidade foi intensificado pelas imagens que utilizaram a
estratégia do efeito zoom, fazendo com que o sujeito político chegasse mais perto dos
telespectadores / eleitores. Os gestos, os olhos, os sorrisos legitimaram os ethos de
humanidade, de chefe, de potência, de virtuoso e de proximidade, bem como a ausência do
sorriso solidificou o ethos de sério.
Lembrando da capacidade que as imagens têm de produzir efeitos de real, efeitos de
verdade, deve-se atentar para os efeitos positivos que o quadro Giro com o Prefeito produziu,
pois intensificou o ethos de competência apresentado por esse candidato através de seu
discurso que mostrava as melhorias feitas na cidade misturadas às promessas de benfeitorias,
as imagens comprovavam a existência do que era enunciado. A exploração de técnicas
especializadas que manipulam os discursos audiovisuais foi um ponto positivo usado na
campanha do sujeito político Silvio Barros. O saber-técnico apresentado por este sujeito
político reforçou seu ethos de competência. Na atualidade, esse saber-técnico é cada vez mais
difundido e utilizado pela mídia e se reflete nos programas gratuitos de propagandas eleitorais
na televisão.
Tendo em vista a especificidade do propósito deste trabalho, acredita-se que foi
possível mostrar como o verbal e o audiovisual contribuem para a legitimação e sustentação
dos ethé construídos pelos sujeitos políticos durante suas campanhas eleitorais. Pressupõe-se,
ainda, que se contribuiu para a ampliação satisfatória do quadro teórico-metodológico das
pesquisas feitas em Análise do Discurso político contemporâneo eleitoral, mesmo sabendo de
sua instabilidade, poisde se considerar a velocidade das metamorfoses do discurso político
que não se apóiam mais nos monólogos intermináveis, a predominância da imagem, a
velocidade da transmissão de informações e a impossibilidade de se separar o verbo do corpo
que enuncia.
144
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