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RICHARD CARDOSO DA SILVA
Caracterização de genes hipotéticos e o papel da
enolase da superfície de C. albicans na adesão
celular
Tese apresentada à Universidade
Federal de São Paulo Escola
Paulista de Medicina, para obtenção
do Título de Mestre em Ciências.
SÃO PAULO
2010
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ii
RICHARD CARDOSO DA SILVA
Caracterização de genes hipotéticos e o papel da
enolase da superfície de C. albicans na adesão
celular
Tese apresentada à Universidade
Federal de São Paulo Escola
Paulista de Medicina, para obtenção
do Título de Mestre em Ciências.
Orientador: Pro Dr. Marcelo Ribeiro
da Silva Briones
SÃO PAULO
2010
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iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DISCIPLINA DE MICROBIOLOGIA
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA, IMUNOLOGIA
E PARASITOLOGIA
Chefe do departamento: Prof. Dra. Clara Lúcia Barbieri Mestriner
Coordenador da Pós-Graduação: Profº. Dr. Renato Arruda Mortara
iv
Silva, Richard Cardoso da.
Caracterização parcial de genes hipotéticos e estudo da função da
enolase da superfície de C.albicans / Richard Cardoso da Silva - São
Paulo, 2010, 141p.
Tese (Mestrado)-Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista
de Medicina. Programa de Pós-graduação em Microbiologia e Imunologia
Hypothetical genes characterization and the role of C. albicans surface
enolase on cell adhesion.
1.Genes hipotéticos 2.Genes CaYlr339c e CaYdr187c 3. Enolase da
parede celular 4. Plasminogênio 5. Adesão ao tecido gastrointestinal
v
Este trabalho foi financiado pela Capes (bolsa
de mestrado) e pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP,
Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento - CNPq, World Health
Organization - WHO e Howard Hughes Medical
Institute - HHMI.
vi
Aos meus queridos pais
Cardoso e Sueli
vii
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer imensamente ao Dr. Marcelo Briones por ter me
aceitado em seu laboratório ainda na graduação, pelos ensinamentos que tanto
contribuíram para a minha formação científica e principalmente por ter acreditado em
meu potencial.
Aos meus queridos pais e irmãos pelo apoio, amizade, carinho, atenção,
incentivo e compreensão em cada etapa da minha vida profissional.
À Dra. Renata Carmona por todas as ajudas em várias etapas deste trabalho,
por ter realizado a inferência filogenética da enolase e pela colaboração em todos os
meus trabalhos.
À Dra. Silvia Kawashita pela amizade, companheirismo, discussões e por
todos os ensinamentos desde a iniciação científica.
À Dra Ana Carolina Padovan por ter me ensinado muitas das técnicas
experimentais aplicadas neste trabalho.
À Paloma Hernandez pelo suporte técnico, ajuda nos experimentos e por
todos os seqüenciamentos de DNA.
Ao Luiz Fernando por ter me auxiliado na realização das infencias
filogenéticas e na utilização do programa MrBayes.
À Vitória Amorim pela indispensável ajuda em todas as etapas deste trabalho.
À Carla Cristi e Claudio Viera pelo auxilio durante as imunizações de coelhos
e camundongos.
viii
Ao técnico Manoel da disciplina de biofísica da Unifesp, pela disponibilização
de instrumentos para a realização dos experimentos com intestinos de
camundongos.
À Paola Rossi pela essencial ajuda em diferentes etapas deste trabalho.
Às amigas do laboratório Carol Vaidotas, Danielle, Melissa, Paloma e Thais
pelo companheirismo, agradável convívio, incentivo e ajudas em diferentes etapas
deste trabalho.
Às alunas Denise e Cristiane e as técnicas Ivanilde e Mônica da disciplina de
microbiologia por todas as ajudas ao longo deste trabalho.
A todas as pessoas do departamento de Microbiologia, Imunologia e
Parasitologia (professores, funcionários e alunos) que de alguma forma colaboraram
para a realização este trabalho.
ix
"Nothing is impossible; there are ways
that lead to everything, and if we had sufficient will we
should always have sufficient means. It is often merely for
an excuse that we say things are impossible."
Francois La Rochefoucauld
x
SUMÁRIO
Lista de Figuras ........................................................................................................ xiv
Lista de Tabelas ....................................................................................................... xvi
Lista de Abreviaturas ................................................................................................ xvii
Resumo .................................................................................................................... xix
Abstract .................................................................................................................... xx
1. INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................ 01
2. CARACTERIZAÇÃO PARCIAL DE GENES HIPOTÉTICOS DE C. albicans .... 04
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 05
2.1.1. O genoma de C. albicans ............................................................................... 06
2.2 OBJETIVO ..................................................................................................... 09
2.3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 10
2.3.1. LINHAGENS DE Escherichia coli ................................................................... 10
2.3.2. LINHAGENS DE C. albicans e S. cerevisiae .................................................. 10
2.3.3. PLASMÍDEOS ................................................................................................ 10
2.3.4. OLIGONUCLEOTÍDEOS ................................................................................ 11
2.3.5. MANIPULAÇÃO DE RNA ............................................................................... 12
2.3.5.1 Indução de hifas em C. albicans .................................................................. 12
2.3.5.2 Extração do RNA total de C. albicans (levedura e hifa) ............................... 12
2.3.5.3. Quantificação do RNA total ......................................................................... 13
2.3.5.4. Verificação da integridade do RNA total em gel de agarose ...................... 13
2.3.5.5 Tratamento do RNA com DNAse I ............................................................... 14
2.3.5.6 Reação de Transcriptase reversa ................................................................ 14
2.3.5.7 PCR com cDNA de levedura e hifa .............................................................. 14
2.3.6. CLONAGEM DAS ORFS CaYlr339c e CaYdr187c ........................................ 15
2.3.6.1 Extração de DNA genômico de C. albicans ................................................. 15
2.3.6.2 Tratamento do DNA com RNase ................................................................. 16
2.3.6.3. Amplificação das ORFs CaYlr339c e CaYdr187c ........................................ 16
2.3.6.4. Eletroforese de fragmentos de DNA ............................................................ 16
2.3.6.5 Tratamento do DNA e ligação...................................................................... 17
2.3.6.6 Preparação de bactérias competentes ........................................................ 17
2.3.6.7 Transformação de bactérias competentes ................................................... 18
2.3.6.8 Minipreparação de DNA plasmidial .............................................................. 18
2.3.7. SEQUENCIAMENTO DE DNA ....................................................................... 19
xi
2.3.7.1 Reação de Sequenciamento........................................................................ 19
2.3.7.2 Precipitação do DNA ................................................................................... 20
2.3.7.3. Montagem das seqüências consenso – contigs .......................................... 20
2.3.8. MUTAGÊNESE SÍTIO DIRIGIDA ................................................................... 21
2.3.8.1 Amplificação por PCR .................................................................................. 21
2.3.8.2 Tratamento com DpnI e Pfx ......................................................................... 21
2.3.8.3. Ligação (Circularização) .............................................................................. 22
2.3.9. EXPRESSÃO HETERÓLOGA DE PROTEÍNAS RECOMBINANTES ............ 22
2.3.9.1 Construções em pET28a(+) e pGEX6P3 ..................................................... 22
2.3.9.2 Expressão das proteínas recombinantes ..................................................... 23
2.3.9.3. Purificação da proteína recombinante His
6
-Caylr339cp .............................. 23
2.3.9.4 Purificação da proteína recombinante GST-126aa187cp ............................ 24
2.3.9.5 Quantificação de proteínas .......................................................................... 24
2.3.10. GEL SDS-PAGE (Sodium dodecyl sulfate polyacrilamide gel electrophoresis)
PARA SEPARAÇÃO DE PROTEÍNAS ..................................................................... 24
2.3.11. PRODUÇÃO DE SOROS ............................................................................. 25
2.3.11.1. Produção de soro anti His
6
-Caylr339cp em coelhos .................................. 25
2.3.11.2. Produção de soro anti GST-126aa 187cp de camundongos ..................... 26
2.3.12. WESTERN BLOT ......................................................................................... 26
2.3.13. DETECÇÃO DA PRESENÇA DA PROTEÍNA CaYlr339cp EM EXTRATOS
CELULARES DE C. albicans .................................................................................... 27
2.3.14. REAGENTES UTILIZADOS.......................................................................... 28
2.3.14.1. Meios de cultura ........................................................................................ 28
2.3.14.2. Tampões .................................................................................................... 29
2.3.15. ANÁLISE IN SÍLICO DA SEQUÊNCIA DEDUZIDA DE AMINOÁCIDOS DAS
ORFs CaYlr339c E CaYdr187c. ............................................................................... 29
2.3.16. INFERÊNCIA FILOGENÉTICA ..................................................................... 30
2.3.16.1. Obtenção das sequências e alinhamentos ................................................ 30
2.3.16.2. Inferência filogenética ................................................................................ 30
2.4 RESULTADOS .............................................................................................. 32
2.4.1. SELEÇÃO DOS GENES HIPOTÉTICOS ....................................................... 32
2.4.2. PREDIÇÕES DAS PROTEÍNAS PUTATIVAS EM SERVIDORES DE
PREDIÇÃO ............................................................................................................... 33
2.4.3. AS ORFs CaYdr187c E CaYlr339c SÃO TRANSCRITAS .............................. 37
xii
2.4.4. AMPLIFICAÇÃO DAS ORFs .......................................................................... 38
2.4.5. INFERÊNCIA FILOGENÉTICA ....................................................................... 42
2.4.6. ANÁLISE DA ESTRUTURA SECUNDÁRIA ................................................... 45
2.4.7. MUTAGÊNESE SÍTIO DIRIGIDA ................................................................... 49
2.4.8. EXPRESSÃO HETERÓLOGA DAS PROTEÍNAS EM E.coli .......................... 51
2.4.8.1. Proteína His
6
-CaYlr339cp ............................................................................ 51
2.4.8.2. Proteína GST-CaYdr187cp .......................................................................... 53
2.4.9. PRESENÇA DAS PROTEÍNAS EM C. albicans ............................................. 55
2.4.9.1. Proteína putativa CaYlr339cp ...................................................................... 55
2.4.9.2. Proteína putativa CaYdr187cp ..................................................................... 58
2.5 DISCUSSÃO.................................................................................................. 60
2.6 CONCLUSÕES .............................................................................................. 67
2.7 PERSPECTIVAS FUTURAS ......................................................................... 68
3. ESTUDO DA FUNÇÃO DA ENOLASE DA SUPERFÍCIE DE C. albicans ......... 69
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 70
3.1.1. C. albicans no intestino ................................................................................... 70
3.1.2. Enzimas da via glicolítica expressas na superfície celular ............................. 74
3.1.3. A enolase ........................................................................................................ 75
3.2 OBJETIVO ..................................................................................................... 80
3.3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 81
3.3.1. PREPARAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE His
6
-enolase E ANTI-SORO
................................................................................................................................. 81
3.3.1.1 Expressão da proteína recombinante His
6
-enolase ..................................... 81
3.3.1.2 Purificação da proteína recombinante His
6
-enolase .................................... 81
3.3.1.3. Purificação do anti-soro anti-His
6
enolase .................................................... 82
3.3.1.4. Pureza e viabilidade da proteína recombinante ........................................... 82
3.3.2. ENSAIO DE ADESÂO DE C. albicans AO TRATO GASTROINTESTINAL
MURINO ................................................................................................................... 83
3.3.2.1 Microorganismos e condições de crescimento ............................................ 83
3.3.2.2 Preparação de discos de tecido gastrointestinal de camundongos ............. 83
3.3.2.3. Ensaio de adesão de C.abicans ao tecido gastrointestinal murino .............. 84
3.3.2.4. Ensaio de inibição da adesão por competição ............................................ 84
3.3.2.5 Ensaio de inibição da adesão (bloqueio da C. albicans com anticorpos) .... 85
xiii
3.3.2.6 Ensaio de atividade fungicida das proteínas recombinantes e dos soros .... 85
3.3.2.7 Ensaio de inibição da adesão (bloqueio de receptores de C. albicans
ligantes de fibronectina e plasminogênio Humanos) ................................................ 86
3.3.2.8 Análise dos dados ...................................................................................... 86
3.3.3. ENSAIOS DE LIGAÇÃO DE C. albicans A FIBRONECTINA E
PLASMINOGÊNIO HUMANOS ................................................................................ 87
3.3.4. CO-IMUNOPRECIPITAÇÃO........................................................................... 88
3.3.4.1 Preparo do extrato protéico de C. albicans .................................................. 88
3.3.4.2 Pre-Clearing do extrato protéico .................................................................. 88
3.3.4.3. Co-imunoprecipitação .................................................................................. 88
3.3.5. INFERÊNCIA FILOGENÉTICA ....................................................................... 89
3.3.6. ANÁLISE DAS SEQUÊNCIAS ........................................................................ 90
3.4 RESULTADOS .............................................................................................. 91
3.4.1. Expressão heteróloga de enolase em E.coli ................................................... 91
3.4.2. O bloqueio da enolase com anticorpos é capaz de inibir a adesão de C.
albicans ao TGI murino ............................................................................................. 93
3.4.3. Adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal murino ............................... 94
3.4.4. Pré-incubação de discos de TGI com enolase recombinante inibe a adesão de
C. albicans ................................................................................................................ 97
3.4.5. Ligação de C. albicans a fibronectina e plasminogênio humanos .................. 101
3.4.6. Ensaios de Ligação da proteína recombinante His
6
-enolase a fibronectina e
plasminogênio humano por western blot .................................................................. 104
3.4.7. Co-Imunoprecipitação ..................................................................................... 104
3.4.8. Ensaios de inibição da adesão ao tecido gastrointestinal a partir do bloqueio de
receptores da superfície de C. albicans .................................................................... 107
3.4.9. Inferência filogenética ..................................................................................... 109
3.5 DISCUSSÃO.................................................................................................. 113
3.6 CONCLUSÕES .............................................................................................. 123
3.7 PERSPECTIVAS FUTURAS ......................................................................... 124
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 125
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Classificação das ORFs do genoma de C. albicans linhagem SC5314 .... 02
Parte 1
Figura 1. Classificação das ORFs do genoma de C. albicans linhagem SC5314 .... 08
Figura 2. Análise in sílico das proteínas putativas CaYlr339cp e CaYdr187cp ........ 34
Figura 3. Predição de Modificações pós traducionais das proteínas putativas ........ 36
Figura 4. Gel de agarose 1% - PCR com cDNAs de levedura e hifa de C. albicans 37
Figura 5. Gel de agarose 1% - PCR das ORFs CaYlr339c e CaYdr187c ................ 38
Figura 6. Alinhamento das sequências de nucleotídeo das ORFs CaYlr339c e
CaYdr187c, linhagem SC5314 e WO-1 de C. albicans ............................................ 41
Figura 7. Árvore filogenética inferida pelo método Bayesiano a partir das sequências
de aminoácidos de proteínas similares a CaYlr339cp .............................................. 44
Figura 8. Alinhamento múltiplo da sequência de aminoácidos e comparação da
estrutura secundária de proteínas similares a CaYlr339cp ...................................... 47
Figura 9. Cromatogramas gerados no seqüenciamento das ORFs para confirmão
das mutações sítio dirigida realizadas por PCR ....................................................... 50
Figura 10. Expressão da proteína His
6
-CaYlr339cp em E. coli ................................ 52
Figura 11. Expressão da proteína GST-CaYdr187cp em E. coli. ............................. 53
Figura 12. Detecção da proteína CaYlr339cp em extratos celulares de C. albicans por
western blot .............................................................................................................. 56
Figura 13. Detecção da proteína CaYlr339cp em extratos celulares de levedura e hifa
de C. albicans, mas não em meios condicionados por western blot ........................ 57
Figura 14. Reconhecimento de proteína recombinante GST-187cp pelo soro
policlonal ................................................................................................................... 59
Parte 2
Figura 1. Microscopia eletrônica da mucosa do intestino delgado humano (Biópsia)
................................................................................................................................. 72
Figura 2. Esquema da Interação de C. albicans com a superfície da mucosa ........ 74
Figura 3. Pureza da proteína His
6
-enolase determinada a partir da análise
eletroforética em géis de poliacrilamida corados com azul de Coomassie e Nitrato de
prata ......................................................................................................................... 91
xv
Figura 4. Reconhecimento da proteína enolase recombinante com anti-His
6
enolase
por western blot ........................................................................................................ 92
Figura 5. Adesão de C. albicans (linhagem SC5314 e L757) a discos de tecido
gastrointestinal murino .............................................................................................. 94
Figura 6. Inibição da adesão a discos de TGI murino a partir do bloqueio de C.
albicans com anti-His
6
enolase .................................................................................. 95
Figura 7. Atividade fungicida de anti-His
6
-enolase contra C. albicans ..................... 97
Figura 8. Inibição da adesão de C. albicans a discos de tecido gastrointestinal
murino previamente incubados com His
6
-enolase .................................................... 98
Figura 9. Avaliação da atividade fungicida da proteína recombinante His
6
-enolase
contra C. albicans ..................................................................................................... 100
Figura 10. Reconhecimento das proteínas humanas purificadas (fibronectina e
plasminogênio) com anticorpos específicos por western blot ................................... 102
Figura 11. Análise qualitativa da ligação de C. albicans a fibronectina e plasminogênio
humanos blot ............................................................................................................ 103
Figura 12. Co-Imunoprecipitação do plasminogênio e enolase ............................... 106
Figura 13. A proteína fibronectina não é co-imunoprecipitada com a enolase ........ 106
Figura 14. Ensaio de Inibição da adesão ao tecido gastrointestinal a partir do bloqueio
de receptores de fibronectina e plasminogênio ........................................................ 108
Figura 15. Árvore filogenética inferida pelo método Bayesiano a partir das sequências
de aminoácidos das enolases .................................................................................. 112
Figura 16. Alinhamento múltiplo e comparação das estruturas secundárias das
enolases de C. albicans, M. musculus e H. sapiens ................................................. 113
xvi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Linhagens de E.coli ................................................................................. 10
Tabela 2 - Linhagens de C. albicans e S. cerevisiae................................................ 10
Tabela 3 - Plasmídeos ............................................................................................. 10
Tabela 4 - Oligonucleotídeos ................................................................................... 11
xvii
LISTA DE ABREVIATURAS
µg Micrograma
µl Microlitro
°C Graus Celsius
A absorbância
aa amincido
ANOVA - Análise de variância
ATP trifosfato de adenosina
BSA Albumina bovina sérica
CAI Índice de Adaptação dos Códons
cDNA Ácido desoxiribonucleico complementar
Contig contiguous
D.O. Densidade óptica
dATP Desoxiadenosina trifosfato
dCTP Desoxicitosina trifosfato
DEPC Dietilpirocarbonato
dGTP Desoxiguanosina trifosfato
DNA Ácido desoxiribonucleico
dNTP Desoxinucleosídeo
DTT ditiotreitol
dTTP Desoxitimidina trifosfato
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
EGTA
Ethylene glycol tetraacetic acid
fM Fentomol
FN Fibronectina
g aceleração da gravidade
GST Glutationa S-transferase
GTR general time reversible (modelo geral de tempo reversível)
h Hora
His Histidina
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
HRP Horseradish peroxidase
HSP Heat Shock Protein
Ig Imunoglobulina
IPTG Isopropil-D-tiogalactopiranosídeo
Kb Quilobase
kDa Quilodaltons
LB Lysogeny Broth
LPS Lipopolissacarídeo
M Molar
mA miliampére
mab Anticorpo monoclonal
mb Megabase
MEC Matriz extracelular
mg Miligrama
min Minuto
mL Mililitro
mm Milímetro
mM Milimolar
xviii
MW peso molecular
N Nitrogênio ou Normal
ng Nanograma
nm Nametro
ORF fase aberta de leitura
PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida
pb Pares de bases
PBS Tampão fosfato salina
PBS-T Tampão fosfato salina com 0,1% de tween-20
PCR Reão de polimerização em cadeia
pH potencial de hidrogênio
PLG Plasminogênio
pM Picomol
PMSF Fluoreto de fenil-metil-sulfonila
PVDF Poly(vinylidene fluoride)
RGD Arginina - Glicina - Ácido aspártico
RIPA
RNA Ácido ribonucleico
rpm Rotações por minuto
RT-PCR Reão de polimerização em cadeia transcriptase reversa
SDS dodecil sulfato de sódio
SE Erro pado
SNP Polimorfismo de base única
SOC Super Optimal Catobolite Repression Broth
Spp. Espécies
TAE Tris acetato EDTA
TEMED N,N,N,N-tetrametiletilenodiamina
TGI Tecido gastrointestinal
Tris Tris-hidroximetil amino metano
U unidade de enzima
U.V. Luz ultravioleta
UFC Unidade formadora de colônia
V Volume
v/v volume por volume
YPD Extrato de levedura, peptona e dextrose
xix
RESUMO
Os agentes antifúngicos de uso corrente na medicina apresentam alta toxicidade e
efeitos colaterais, tem como alvo poucos constituintes celulares, e muitos mecanismos de
resistência foram descritos. Com o objetivo de identificar potenciais novos alvos para
drogas antifúngicas, duas ORFs hipotéticas de Candida albicans, potencialmente essenciais
e com perfis singulares de expressão foram caracterizados. A ORF CaYlr339c é conservada
em outros fungos do gênero Candida e Saccharomyces, é transcrita nas fases de levedura e
hifa e a presença de seu produto protéico de aproximadamente 18 kDa foi constatada em
extratos celulares de leveduras e hifas de C. albicans a partir de experimentos de western
blot. A ORF CaYdr187c é conservada em poucos representantes do gênero
Saccharomyces, é transcrita apenas na fase de levedura e potencialmente codifica uma
proteína de superfície. Esses dados indicam que as ORFs selecionadas são genes reais e
podem ser bons candidatos para a descoberta de novas funções e para o desenvolvimento
futuro de novos agentes antifúngicos. Numa tentativa de testar o possível papel da proteína
putativa de superfície CaYdr187cp na adesão celular, constatamos que a incubação de
discos de tecido gastrointestinal com a proteína recombinante enolase, utilizada inicialmente
como controle em nossos experimentos, foi capaz de inibir a adesão de C. albicans de
maneira dose dependente em até 70%. O papel da enolase de superfície na adesão celular
foi confirmado a partir da inibição da adesão em até 50% observada com o bloqueio da
superfície de C. albicans com anticorpos anti-enolase. A capacidade de ligação da enolase
de C. albicans ao plasminogênio foi confirmada a partir de experimentos de co-
imunoprecipitação. A pré-incubação de C. albicans com esta proteína foi capaz de inibir
parcialmente sua adesão reforçando a idéia de que a enolase realmente esteja mediando à
adesão deste organismo ao tecido gastrointestinal. Em contrapartida, a enolase não foi co-
imunoprecipitada com a fibronectina e a pré-incubação de C. albicans com esta proteína
falhou em inibir sua adesão indicando que a inibição observada com a enolase
recombinante não é decorrente do bloqueio da fibronectina no tecido gastrointestinal. Este
trabalho é o primeiro a demonstrar que a enolase presente na superfície de C. albicans está
envolvida em mecanismos de adesão, podendo ser um importante fator de virulência neste
organismo. Assim, esta proteína poderia ser utilizada no desenvolvimento de vacinas ou
estratégias de controles a partir da inibição da adesão de C. albicans ao tecido
gastrointestinal com o intuito de prevenir sua proliferação.
xx
ABSTRACT
Current antifungal agents in medicine presents high toxicity and collateral
effects, targets limited cell constituents and different resistance mechanisms have
already been described. In order to identify novel potential antifungal drug targets,
two hypothetical Candida albicans genes potentially essential and with singular
expression profile have been characterized. The ORF CaYlr339c is conserved
among fungal species from Candida and Saccharomyces genus, is transcribed in
yeast and hyphae and an approximately 18-kDa protein was identified in hyphae and
yeasts C. albicans cell extracts by western blotting. The ORF CaYdr187c is
conserved in a few representatives of the Saccharomyces genus, is transcribed only
in yeasts and potentially codifies a surface protein. These findings indicate that the
selected ORFs are real genes and could be good candidates for the discovery of new
functions and the development of new antifungal agents in the future. In an attempt
to test the possible role of the putative surface protein CaYdr187cp on cell adhesion,
we find out that incubation of the gastrointestinal Murine disks with the recombinant
protein enolase, initially employed as a control in our experiments, was able to inhibit
C. albicans adhesion in a dose-dependent manner in 70%. The role of surface
enolase on cell adhesin was confirmed with the 50% of the adhesion inhibition
observed after blocking C. albicans surface with antibodies anti-enolase. The binding
capacity of enolase to plasminogen was confirmed by co-immunoprecipitation.
Preincubation of C. albicans with this protein partially inhibited the adhesion
supporting the idea that enolase is really mediating the adhesion of this organism to
gastrointestinal tissues. On the other hand, enolase was not co-immunoprecipitated
with fibronectin and pretreatment of C. albicans with this protein failed to inhibit the
adhesion, indicating that the observed inhibition with recombinant enolase was not
due to the blocking of fibronectin in the gastrointestinal disks. This was the first work
to demonstrate that surface C. albicans enolase is involved in cell adhesion, being a
potential virulence factor in this organism. Accordingly, this protein could be useful in
vaccine development and is a promising candidate for the prevention of C. albicans
proliferation by the inhibition of its adhesion.
1
Esta tese é composta de uma Introdução geral e duas partes independentes
compostas de: Introdução, objetivos, materiais e métodos, resultados, discussões e
conclusões específicas. A primeira parte da tese trata da caracterização parcial de
genes hipotéticos de C. albicans e a segunda parte trata do papel da enolase na
adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal.
1 INTRODUÇÃO GERAL
A Candida albicans é um fungo oportunista, do filo Ascomycota, ordem
Saccharomycetales, (Alexopoulos, et al., 1996). Sob circunstâncias normais, a
levedura C. albicans é um membro benigno da microbiota de indivíduos sadios,
vivendo como comensal na superfície das mucosas, incluindo o trato gastrointestinal
e a cavidade oral (Odds, 1988; Ruhnke, 2002). Em seu estado comensal, C. albicans
existe em equilíbrio com outros organismos da microbiota, com o tecido epitelial,
com as defesas do sistema imunológico do hospedeiro e outras condições
ambientais. Entretanto, perturbações deste equilíbrio em um paciente vulnerável
podem resultar em um crescimento desordenado deste organismo, (Pittet, 1994)
podendo causar desde micoses superficiais (candidíase) até infecções
generalizadas (candidemia), se disseminando pelo sangue e invadindo órgãos
internos (Dalle, 2010; Murad, 2001).
A habilidade de sobreviver e infectar vários sítios anatômicos distintos, com
suas pressões ambientais específicas, é importante para que este organismo possa
sobreviver como comensal ou patogênico (Brown, 2002). C. albicans é considerada
um fungo dimórfico, uma vez que apresenta dois modos proeminentes de
proliferação: a forma de levedura (célula oval que se reproduz por brotamento), e a
forma de hifa (filamento linear formado de células separadas por septos, sem
constrições visíveis nestes locais) (Figura 1). A mudança entre essas formas é o
resultado de uma complexa interação de fatores internos e externos e é coordenada
em parte por proteínas reguladoras que são conservadas entre células eucarióticas.
Entretanto, leveduras e hifas não são os únicos estados morfológicos desse
organismo. A pseudo-hifa (cadeia de células alongadas cuja separação da célula
filha e da célula mãe o ocorreu durante o processo de brotamento, com
constrições visíveis na junção célula-célula) (figura 1), o clamidósporo (esporos
2
assexuais, unicelulares e esféricos, e com uma espessa parede celular)
(Alexopoulos, et al., 1996) e a forma opaca (necessária para a realização do mating),
representam tipos celulares distintos e se formam em resposta a condições
genéticas e ambientais específicas (Mitchell, 1998; Whiteway e Bachewich, 2007). A
mudança de morfologia de levedura para a hifa contribui para a virulência de C.
albicans, sendo a hifa a forma mais invasiva e a mais freqüentemente identificada
em tecidos infectados (Calderone e Fonzi, 2001; Gow e Odds, 2002; Lo, 1997;
Rooney, 2002; Stoldt, et al., 1997). Mutantes defectivos na formação de hifa são
avirulentos. Tal fato denota a relevância da transição levedura-hifa para a
patogenicidade de C. albicans (Leberer, 1996).
Figura 1. Morfologia da C. albicans. Levedura: célula oval que se reproduz por brotamento.
Hifa verdadeira: células separadas por septos. Pseudo-hifa: cadeia de células com
constrições na junção lula-célula. Fonte: Arnaud et al (2009).
Além disso, outros fatores de virulência estão envolvidos na patogênese de C.
albicans dentre ele: a adesão às células e ao tecido do hospedeiro, a secreção de
proteinases e fosfolipases que também contribuem para invasão e disseminação de
tecidos, a variabilidade antigênica e a imunomodulação dos mecanismos de defesa
do hospedeiro (Calderone e Fonzi, 2001; Chaffin, 1998). Estes fatores são
importantes para a alta adaptabilidade e capacidade de colonização de C. albicans
(Hostetter, 1994).
Quatro espécies de Candida, C. albicans, C. glabrata, C. tropicalis e C.
parapsilosis, juntas são responsáveis por aproximadamente 95% das infecções por
3
Candida (Butler e Baker, 1988). No entanto C. albicans ainda é o agente mais
comumente isolado, ficando em lugar na lista de infecções adquiridas em
hospitais nos Estados Unidos, atrás apenas de infecções causadas por bactérias
gram negativas (Sanglard e Bille, 2002), com uma taxa de mortalidade variando de
35 a 40% (Chen, 2003). No Brasil, Candida spp. é o quarto patógeno mais
frequentemente isolado de hemoculturas. A cada 1000 admissões de pacientes em
hospitais, 2,49 casos apresentam candidemia, sendo que 40,9% destes casos são
causados por C. albicans (Colombo, 2006).
Características comuns a pacientes que desenvolvem candidemia incluem, e
não se restringem a: doença cardíaca e pulmonar, ncer, insuficiência renal,
cirurgia, presença de cateter intravenoso e especialmente terapia anterior com
antibióticos (94% dos casos) (Cheng, et al., 2006; Colombo, 2006). O crescente
aumento no número de infecções causadas por fungos oportunistas é decorrente do
aumento da freqüência de pacientes transplantados, do emprego de quimioterapia
mais agressiva e do aumento do número de indivíduos contaminados com o vírus
HIV (Marr, et al., 2002).
Já a alta taxa de mortalidade associada à candidíase sistêmica se deve
principalmente a (i) morosidade no diagnóstico por conta da ausência de
manifestações clínicas específicas. (ii) Ausência de testes diagnósticos sensíveis e
específicos que acarretam na administração empírica de altas quantidades de
drogas nefrotóxicas, muitas vezes desnecessárias. (iii) Limitações do tratamento por
conta da baixa eficiência, resistência e efeitos colaterais resultantes do uso das
drogas antifúngicas de uso corrente. Tais fatores contribuem para que a candidemia
represente um grande peso na mortalidade, morbidez e gastos clínicos em todo o
mundo (Pfaller, 1992).
Assim, a elucidação dos mecanismos, fatores e moléculas responsáveis pela
patogenicidade de C. albicans são de extrema importância para o desenvolvimento
de novas e mais eficientes estratégias para o combate de infecções causadas por
este e por outros fungos patogênicos.
4
2: CARACTERIZAÇÃO DE GENES HIPOTÉTICOS DE C.
albicans.
5
2.1 INTRODUÇÃO
O recente progresso na pesquisa genômica iniciou-se em 1995 com o
seqüenciamento, pelo método de shotgun, do primeiro genoma completo de um
organismo celular. O genoma de 1.8 Mb da bactéria Haemophilus Influenzae
(Fleischmann, 1995). Desde então, o sequênciamento dos genomas de uma grande
variedade de espécies de eubactérias, arqueobactérias e eucariotos foram
finalizados e muitos outros estão em andamento (ncbi.nlm.nih.gov/genomeprj),
resultando num rápido acúmulo de informações em bancos de dados e na
necessidade de desenvolvimento de algoritmos para a identificação de genes,
baseado nas características de suas sequências (Gerstein, 2007). A identificação da
maioria dos genes nos genomas seqüenciados é baseada tanto na similaridade com
outros genes conhecidos quanto na significância estatística de uma sequência ser
codificadora de proteína (Rogic, 2001). Na maioria dos casos o gene é identificado
como uma fase aberta de leitura (ORF do inglês Open Reading Frame) anotada no
genoma (Doolittle, 1996).
Uma ORF é definida com uma fita de DNA que começa em um códon de
iniciação (ATG), finaliza em um dos códons de terminação e pode potencialmente
ser traduzida em um polipeptídeo. O processo de anotação de um genoma
geralmente envolve a utilização de ferramentas computacionais que realizam a
tradução dos nucleotídeos nas seis fases de leitura possíveis, identificando as ORFs
com tamanhos previamente definidos (Stein, 2001). No projeto de seqüenciamento
do genoma de C. albicans, por exemplo, as ORFs com menos de 100 aminoácidos
foram desconsideradas (Jones, et al., 2004). De acordo com o Candida Genome
Database (CGD), uma ORF não é considerada um gene até que seja evidenciada a
presença de um transcrito e ou de um produto protéico (Arnaud, 2005). Nesta tese,
ORFs que não atendam a estes critérios serão designadas como genes hipotéticos.
Genes hipotéticos são aqueles que ainda não foram caracterizados
experimentalmente e cuja anotação não pode ser inferida a partir da simples
comparação com genes conhecidos. Esses genes podem não possuir nenhum
homólogo conhecido ou podem ser homólogos de genes com fuão desconhecida,
sendo portanto denominados genes hipotéticos conservados. Esses genes
correspondem a uma fração significativa dos bancos de dados blicos (Kolker,
6
2004). O genoma de C. albicans linhagem SC5314 foi re-anotado e estima-se que
~32% dos genes codificadores de proteínas sejam hipotéticos (figura 1a) (Braun,
2005).
A re-anotação de ORFs previamente detectadas é uma prática comum na
pesquisa genômica. Motivações para re-anotações incluem a possibilidade de
descoberta de novos genes, proteínas e funções celulares. Geralmente as re-
anotações envolvem a correção das sequências de nucleotídeos que afetam o
códon de iniciação ou de terminação, a fase de leitura ou a sequência codificadora
de uma determinada ORF, ou ainda a anotação de diferentes sítios de iniciação ou a
presença de introns e exons. Embora o processamento automático dos dados seja
um importante elemento no processo de revisão e atualização das sequências do
genoma, somente a verificação experimental dos genes e de seus produtos
funcionais irá avaliar o desempenho de ferramentas computacionais na anotação de
um genoma. Como todas as anotações de genomas representam hipóteses que
precisam ser verificadas (Ouzounis e Karp, 2002), a caracterização de genes
hipotéticos é de extrema importância para testar essas hipóteses.
2.1.1 O genoma de C. albicans
Apesar das dificuldades encontradas na montagem de seu genoma, em
decorrência de sua diploidia e alta heterozigose, C. albicans foi o primeiro fungo
patogênico a ter o seu genoma seqüenciado (Magee e Magee, 2005). O projeto foi
finalizado em 2004, (Jones, et al., 2004) totalizando aproximadamente 16 milhões de
pares de bases, distribuídos em 412 supercontigs (Montagem 19). A linhagem
SC5314 foi escolhida para o seqüenciamento em decorrência de sua virulência em
modelos animais e de seu cariótipo diplóide verificado em experimentos de
eletroforese. O número de ORFs que codificam proteínas acima de 100 aminoácidos
foi estimado em 6197. O genoma diplóide de C. albicans possui 8 pares de
cromossomos homólogos com tamanhos que variam de 1 a 4 Mb. Os cromossomos
são enumerados do cromossomo R ao cromossomo 7 em ordem decrescente de
tamanho (Magee e Magee, 2005). Uma nova montagem do genoma de C. albicans
foi realizada em 2008 (montagem 21), totalizando aproximadamente 14,3 Mb e 6107
ORFS codificadoras de proteínas de 100 ou mais aminoácidos (Butler, 2009). As
7
ORFs codificadoras de proteínas do genoma de C. albicans são classificadas pelo
Candida Genome Database (CGD) em não caracterizadas, quando são preditas com
base na comparação de suas sequências com genes conhecidos, sendo que a
inexistência de dados experimentais que evidenciem a expressão de um produto
protéico é o que impede sua classificação como uma ORF verificada. A ORF é
classificada como dúbia, quando não é conservada em outras espécies fúngicas e
não parecem indistinguíveis de sequências aleatórias presentes no genoma, sendo
pouco provável que codifiquem um produto protéico (candidagenome.org). A figura
1b demonstra a classificação das ORFs do genoma de C. albicans linhagem SC5314
denotando o elevado número de ORFs classificadas como não caracterizadas no
genoma de C. albicans.
O seqüenciamento da linhagem WO-1 de C. albicans, que pertence a um
diferente subgrupo populacional (Tavanti, 2005), foi publicado em 2009 (Butler,
2009). As montagens das duas linhagens (SC5314 e WO-1) são altamente
colineares, com 12 inversões de 5 a 94 kb, exceto que na linhagem WO-1, alguns
cromossomos não homólogos sofreram recombinações de suas sequências
repetitivas principais (MRS). Foram encontradas taxas similares de polimorfismos de
base única (SNPs, do inglês Single Nucleotide Polymorphism) em cada linhagem
(um SNP para cada 330-390 bases) e duas vezes essa taxa entre as linhagens. A
montagem do genoma da linhagem WO-1 totalizou aproximadamente 14,4 Mb e
6107 ORFs (Butler, 2009).
8
Figura 1. Classificação das ORFs do genoma de C. albicans linhagem SC5314 A: Genes
hipotéticos no genoma de C. albicans, linhagem SC5314 de acordo com a re-anotação do
genoma realizada por Braun et al (2005). Em vermelho: Genes hipotéticos (13%), em
verde: Genes hipotéticos conservados (19%) e em azul: demais genes (68%). B:
Classificação das ORFs do genoma de C. albicans linhagem SC5314 de acordo com o
CGD. Em verde: Verificadas (20%), em azul: Não caracterizadas (77%) e em vermelho:
Dúbias (3%). Dados obtidos a partir do CGD Candida Genome Database.
(candidagenome.org/chace/genomesnapshot) acesso em: 17/09/2009.
9
2.2 OBJETIVO
Os agentes antifúngicos de uso corrente na medicina apresentam alta
toxicidade e efeitos colaterais, tem como alvo poucos constituintes celulares, e
muitos mecanismos de resistência foram descritos (Ghannoum e Rice, 1999),
indicando a necessidade de desenvolvimento de novos alvos para drogas
antifúngicas que escapem a estes mecanismos. Uma busca manual no genoma
sequenciado de C. albicans foi realizada em nosso laboratório com base em três
critérios. (i) Os genes deveriam ser hipotéticos, aumentando assim a probabilidade
de se identificar novos genes, (ii) potencialmente essenciais, que se deseja a
morte do organismos causador da infecção, (iii) e com baixo nível de expressão, o
que implica numa menor dosagem da droga e menos efeitos colaterais. Dentre os
genes hipotéticos pré selecionados, as ORFs CaYdr187c e CaYlr339c foram as que
melhor atenderam a esses critérios e portanto foram selecionadas para este estudo.
Assim, o principal objetivo deste trabalho foi realizar a caracterização molecular
destes potenciais novos alvos para drogas antifúngicas.
10
2.3 MATERIAIS E MÉTODOS
2.3.1 LINHAGENS DE Escherichia coli
Tabela 1 - Linhagens de E. coli
Linhagem
Referência
DH5α supE, ∆lacU169, (ϕ80lacZ∆M15),
hsdr17, recA1, endA1, gyrA96, thi-1,
relA1, F´(traD36, proAB+, lacq,
lacz∆M15)
(Woodcock, et al., 1989)
BL21(DE3) F-, ompT, hsdS
B
(r
B
-
m
B
-
), dcm, gal
λ(DE3)
Novagen
Rosetta (DE3)
F-, ompT, hsdS
B
(r
B
-
m
B
-
), gal, dcm
(DE3), pRARE (
argU, argW, ilex, glyT,
leuW, proL)
Novagen
2.3.2 LINHAGENS DE C. albicans e S. cerevisiae
Tabela 2 - Linhagens de C. albicans e S. cerevisiae
Organismo
Linhagem
Origem
C. albicans SC5314 Stanford Genome Technology Center
C. albicans L757 LEMI (Laboratório Especial de Micologia da Unifesp)
S. cerevisiae
S288c (Mortimer e Johnston, 1986)
2.3.3 PLASMÍDEOS
Tabela 3 - Plasmídeos
Plasmídeo
Descrição
Origem
Aplicação
pBluescript II SK
pUC Ori, origem de replicação ColE1, amp
R
Stratagene
Clonagem
pET 28a (+)
Promotor T7 lac, His-tag N-terminal, sítio
para trombina, Kan
R
Novagen
Expressão
heteróloga de
proteínas
recombinantes
pGEX 6P3
Glutationa S-transferase N-terminal, lac l
q
,
sítio para Prescission, amp
R
Amersham
Expressão
heteróloga de
proteínas
recombinantes
11
2.3.4 OLIGONUCLEOTÍDEOS
Tabela 4 - Oligonucleotídeos
Oligonucleotídeo
Sequência
Aplicação
Exylr339c-F
Exylr339c-R
5’-CTCGGATCCATGTTCAACATGTTCAA -3’
5’-CTGCTCGAG
TCAATACTTCTCCAAAT-3’
Amplificação da ORF
Caylr339c
Mtylr339c1-F
Mtylr339c1-R
5’-GTTGGAACACCCAAAGCTTGG-3’
5’-CAAGATTGCAGAAGGTACC-3’
Mutação do 1º códon
CTG para TCT
Mtylr339c2-F
Mtylr339c2-
5’-GCACCAGCT
TCT
GCTGGTGCAGC-3’
5’-CGTTGCTCCAAAAGATGTTTGG-3’
Mutação do 2º códon
CTG para TCT
Mtylr339c3-F
Mtylr339c3-R
5’-CTCTT
TCG
ACCATGGTG-3’
5’-CCATCGAAGGTTTCTTGTC-3’
Mutação do 3º e 4º códon
CTG para TCG
Mtylr339c5-F
Mtylr339c5-R
5’-CATTTGTTGGGAAGAAAC-3’
5’-CACGAAATAGAAAAGGCC-3’
Mutação do 5º códon
CTG para TCT
Exydr187c-F
Exydr187c-R
5’-CTCGGATCCATGGGGTTGGTAAACAC-3’
5’-CTGCTCGAG
TCATTGCCCACCAATGT-3’
Amplificação da ORF
Caydr187c
Exydr187c2-R 5’-CTGGAATTCTGTCCACCCCGTAGTG-3’ Amplificação da ORF
Caydr187c (Região I)
Mtydr187c1-F
Mtydr187c1-R
5’-CCAATGTTAACAATTTTTCAGC-3’
5’-GCTTGAATGTAGATGAAATC-3’
Mutação do 1º códon
CTG para TCT
Mtydr187c2-F
Mtydr187c2-R
5’-TGGCTCCGTCGGCATTGGA-3’
5’-TTATCGAAAATGTTGAAGCA-3’
Mutação do 2º códon
CTG para TCG
M13-F
M13-R
5’-CGTTTTACAACGTCGTGACTGGG-3’
5’-CCTGTGTGAAATTGTTATCCGCT-3’
Sequenciamento
pbluescript II SK
5pGEX
3pGEX
5’- GGGCTGGCAAGCCACGTTTGGTG-3’
5’-CCGGGAGCTGCATGTGTCAGAGG-3’
Sequenciamento
pGEX6P 3
T7-F
T7-R
5’-TAATACGACTCACTATAGGG-3’
5’-GCTAGTTATTGCTCAGCGG-3’
Sequenciamento
pET28a (+)
ACT1-F
ACT1-R
5’-GAACGTCCAATGAATCCAAAATC-3’
5’-GTTCGAAATCCAAAGCAACGTAAC-3’
Amplificação do gene da
actina de C. albicans
Sublinhado: Sítios de restrição para BamHI e XhoI nos oligonucleotideos Forward e Reverse
respectivamente.
Negrito: Códons que foram modificados por mutagênese sítio dirigida por PCR.
12
2.3.5 MANIPULAÇÃO DE RNA
2.3.5.1 Indução de hifa de C. albicans
A linhagem SC5314 de C. albicans foi cultivada em 10 mL de meio YPD
líquido a 37ºC overnight, 200 rpm. Uma alíquota desta cultura foi centrifugada por 5
min a 6.000 rpm e lavada 3 vezes com PBS 1X pH 7.4 e ressuspensa em 1 mL de
PBS. A absorbância foi medida a 660 nm para se obter a concentração das
leveduras. A concentração foi estimada a partir da curva pré-estabelecida de
densidade ótica x concentração de leveduras. As células foram então diluídas para a
concentração 10
7
células/mL no soro fetal bovino com dextrose 5 mg/mL. As
leveduras foram incubadas por 2 h à 37ºC, 200 rpm. Após esta incubação, as células
foram observadas ao microscópio para estimar a proporção de hifas e leveduras. Foi
encontrada a porcentagem aproximada de 90% de hifas em relação às leveduras.
As hifas assim induzidas foram lavadas com PBS e submetidas à extração e
quantificação do RNA total.
2.3.5.2 Extração do RNA total de C. albicans (levedura e hifa)
Para a extração de RNA total as células foram centrifugadas a 10.000 rpm por
2 min, lavadas com EDTA 10 mM (pH 8,0) e ressuspensas em 200 µL de tampão
protoplasto (sorbitol 1 M, EDTA 100 mM e DTT 50 mM pH 7,5) acrescido de
Zimoliase (Zymo- Research). A amostra foi incubada a 37ºC por 120 min com
agitação ocasional e novamente centrifugada a 10.000 rpm por 5 min. 1 mL de
TRIZOL
®
(Invitrogen) foi adicionado ao precipitado, seguido de agitação em vortex e
incubação à temperatura ambiente por 5 min. A amostra foi centrifugada a 12.000
rpm por 15 min a 4ºC, a fase aquosa transferida para um novo tubo e precipitada
com 500 µL de isopropanol. Após incubação de 10 min no gelo, a suspensão foi
centrifugada a 12.000 rpm por 10 min a 4ºC. Descartado o sobrenadante, o
precipitado de RNA foi lavado em 500 µL de etanol 70% e novamente centrifugado a
8.500 rpm por 5 min a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o precipitado seco por
10 min à temperatura ambiente. O RNA foi ressuspenso em 40 µL de água DEPC e
imediatamente congelado à -80ºC. As hifas induzidas foram processadas da mesma
maneira para extração do RNA total.
13
2.3.5.3 Quantificação do RNA total
Para quantificação do RNA, Foram diluídos 5 µL de DNA em 1 mL de água
Milli-Q estéril. Em seguida a absorbância foi medida em comprimento de onda de
260 nm e obedecida à proporção de 40 µg/mL de RNA para a absorbância de 1.
Também foi medida a absorbância em 280 nm de comprimento de onda para
verificar a pureza do RNA. A razão entre as leituras DO
260
/DO
280
permite uma
estimativa da pureza do DNA, sendo que valores da razão entre 1,8 e 2,0 indicam
extrações puras. A razão abaixo de 1,6 indica grande quantidade de contaminantes,
e na sua ocorrência procedia-se uma nova extração de RNA.
2.3.5.4 Verificação da integridade do RNA total em gel desnaturante de
agarose
A integridade do RNA total extraído foi verificada a partir da visualização do
mesmo em gel de eletroforese contendo 1,5% de agarose em tampão fosfato de
sódio e formaldeído. Para 50 mL de gel, 0,500 g de agarose foi acrescentado a 41,5
mL de água Milli-Q tratada com DEPC e 0,5 mL de tampão fosfato de sódio 1 M (pH
7,0). A solução foi aquecida até a dissolução completa da agarose. Na capela após
o acréscimo de 8 mL de formaldeído, o gel foi colocado no suporte por 45 min á
temperatura ambiente até sua polimerização. Na preparação das amostras
utilizaram-se aproximadamente 4 µg de RNA, 3 vezes o volume de tampão de
amostra para RNA, EDTA 10 mM e 1 µL de brometo de etídio 1 µg/µL. As amostras
foram desnaturadas a 70ºC por 5 min e esfriadas no gelo por 2 min. O tampão
fosfato de sódio 0,01 M foi utilizado na corrida eletroforética sob as condições de 80
V por 1 h e 30 min. O tampão foi circulado a cada 15 min para reequilibrar o pH na
cuba.
14
2.3.5.5 Tratamento do RNA com DNAse I
O RNA extraído foi tratado com DNase livre de RNase para eliminação de
eventual contaminação do RNA por DNA. Nessa reação, foram utilizados 5 µg de
RNA, 1 µL de DNase livre de RNAse (Promega), 1X tampão para Dnase (Tris-HCL
40mM pH 8,0, MgSO4 10mM, CaCl
2
1mM), 2,8 µL de RNAguard
TM
41U/µL
(Amersham Pharmacia), e água Milli-Q DEPC para um volume final de 32 µL. A
mistura foi incubada por 30 min a 37ºC e a reação interrompida com a adição de 1X
RQ DNAse stop solution (EGTA 20 mM pH 8,0), seguida de incubação a 65ºC por 15
min. O RNA tratado com DNAse foi estocado a -80ºC.
2.3.5.6 Reação de Transcriptase reversa
A enzima SuperScript
TM
II (Invitrogen) foi utilizada na RT-PCR, seguindo o
protocolo sugerido pelo fabricante. Utilizou-se nessa reação 12 µg de RNA, 400 ng
de Oligo d(T)
15
(Promega), 0,5 mM de dNTP mix e água DEPC para um volume final
de 14 µL, incubando a mistura por 15 min a 65ºC e passando-a para o gelo por 2
min. Posteriormente, foram adicionados 4 µL de 5X Tampão First-Strand Buffer
(Invitrogen), 1 µL de DTT 0,1 M e 1 µL da enzima SuperScript
TM
II. A reação foi
incubada a 42ºC por 1 h e inativada a 65ºC por 15 min. Após a RT-PCR, o cDNA foi
tratado com RNAse H para remoção do RNA complementar, adicionando
diretamente à reação, 1 U da enzima e incubando a 37ºC por 20 min.
2.3.5.7 PCR com cDNA de levedura e hifa
Para verificar a ausência de contaminação de DNA nas amostras, assim
como a presença e integridade do cDNA, o produto de RT-PCR de levedura e hifa
foram submetidos a PCR com os oligonucleotídeos que flanqueiam as ORFs
CaYlr339c e CaYdr187c, assim com o gene ACT1-actina de C. albicans. Todas as
reações consistiram de MasterMix 2X (Promega), 15 pMoles de cada
oligonucleotídeo, 2 µL de cDNA de levedura ou hifa e água Milli-Q para um volume
final de 25 µL. As condições de ciclagem foram as seguintes: 94
o
C por 5 min, 35
ciclos de 94
o
C por 45 seg, 54
o
C por 1 min e 72
o
C por 1 min, seguidos de uma
15
extensão final de 72
o
C por 10 min. Como controle as mesmas reações foram
realizadas utilizando 0,5 µL de RNA tratado com DNAse de levedura e hifa para
descartar a possibilidade de amplificação devido à possível contaminação do RNA
com DNA.
2.3.6 CLONAGEM E SEQUENCIAMENTO DA ORF CaYlr339c e
CaYdr187c.
2.3.6.1 Extração de DNA genômico de C. albicans
A linhagem SC5314 de C. albicans foi crescida overnight em 2 mL de meio
YPD a 37
o
C em agitação até o começo da fase estacionária (2 x 10
8
células/mL). 1,3
mL da cultura foi transferido para um tubo eppendorf de 1,5 mL e centrifugado a
6.000 rpm durante 3 min. Em seguida o sobrenadante foi removido, ressupendido em
1 mL de água Milli-Q estéril e centrifugado a 6.000 rpm por 3 min. O sobrenadante foi
descartado, as células foram ressuspendidas em 200 µL de tampão protoplasto (10
µL β-mercaptoetanol (Sigma), 100 µL Tris - HCl 1 M, pH 7,4, 20 µl EDTA 10 mM, 100
µL zimoliase 100 U/80 µL (Zymo Research), 770 µL água Milli-Q estéril) e incubadas
por 2 h a 37
o
C sob inversão de 20 em 20 min. Posteriormente foi adicionado 200 µL
de solução de lise (20 µL NaOH 10 N, 100 µL SDS 10%, 880 µL água Milli-Q estéril)
e misturada cuidadosamente por inversão. A amostra foi incubada a 65
o
C por 20 min
e esfriada rapidamente no gelo. Foi adicionado 200 µL de acetato de potássio 5 M,
pH 5,4 e misturado por inversão. A amostra foi incubada no gelo por 15 min e
centrifugada a 13200 rpm por 3 min a 4ºC. O sobrenadante foi tranferido para tubos
novos onde posteriormente foi adicionado 0,6 volumes de isopropanol e misturado
por inversão. A amostra foi incubada á temperatura ambiente por 5 min e
centrifugada por 5 min a 13.200 rpm à temperatura ambiente. Foi adicionado 1 mL de
etanol 70%, misturado por inversão, incubado a temperatura ambiente por 10 min e
centrifugado por 10 min a 13200 rpm. A lavagem e centrifugação com etanol foi
repetida mais uma vez. O pellet foi seco por 20 min á temperatura ambiente e diluído
em 50 µL de água Milli-Q estéril.
16
2.3.6.2 Tratamento do DNA com RNase
Para a purificação do DNA, foi adicionado 48 µL de água Milli-Q estéril, 1 µL
de Tris-HCl 1 M pH 7,5 e 1 µL de RNAseA (Sigma) ao pellet e incubado à 37ºC por 1
h. O DNA foi precipitado com a adição de 10 µL de acetato de sódio (NaOAc) 3 M e
220 µL de etanol absoluto gelado. A suspensão foi homogeneizada, incubada por 10
min no gelo e centrifugada por 15 min a 13.000 rpm. Após desprezar o
sobrenadante, foram adicionados 500 µL de etanol 80%. A amostra foi novamente
centrifugada por 15 min a 13.000 rpm, o etanol retirado e o pellet seco por 10 min. O
pellet foi eluído em 50 µL de água Milli-Q esterilizada. O DNA foi quantificado
conforme item 2.3.5.3 obedecida a proporção de 50 µg/mL de DNA para a
absorbância 1.
2.3.6.3 Amplificação das ORFs CaYlr339c e CaYdr187c.
Os oligonucleotídeos para a amplificação das ORFS Caylr339c e Caydr187c
foram desenhados com base nas sequências provenientes do seqüenciamento do
genoma de C. albicans linhagem SC5314, montagem 19, disponível em
(candidagenome.org). Para a amplificação destas ORFS, foram utilizados MasterMix
2X (Promega), oligonucleotídeos na concentração final de 500 nM, 40 ng de DNA
genômico e água Milli-Q para um volume final de 20 µl. As condições de ciclagem
foram as seguintes: 94ºC por 5 min; 35 ciclos de 94ºC por 1 min, hibridação por 30
seg nas temperaturas (Exylr339c: 54ºC, Exydr187c: 53ºC, Exydr187c2: 50ºC) e
elongação a 72ºC por (Exylr339c e Exydr187c: 1 min, Exydr187c2: 35 seg),; seguido
de uma extensão final a 72ºC por 10 min. Os amplicons foram purificados utilizando
GFX
TM
PCR DNA and Gel Band Purification kit (GE Healthcare) conforme protocolo
do fabricante. As PCR´s foram posteriormente quantificadas em gel de agarose 1%.
2.3.6.4 Eletroforese de fragmentos de DNA
Alíquotas de DNA genômico total, plasmidial, digestões ou produtos de PCR
foram analisados em gel de agarose em tampão TAE para análise qualitativa e
17
quantitativa. Os fragmentos foram visualizados em transiluminador de UV e
fotografados utilizando o Gel Logic 100 Imaging System (Kodak).
2.3.6.5 Tratamento do DNA e ligação
A clivagem do vetor foi realizada a partir da seguinte reação: 5 µg de
pBluescript II SK, 10X tampão React 2, 10 U de EcoRV (Amersham) e água MilliQ
para um volume final de 20 µL. A reação foi incubada a 37ºC overnight. A
defosforilação do vetor foi realizada conforme a seguinte reação: 20 µL do vetor
clivado, 10X tampão CIAP, 1 U de CIAP Calf Intestinal Alkaline Phosphatase
(Promega) e água MilliQ para um volume final de 40 µL. A reação foi incubada a
37
o
C por 30 min e posteriormente foi adicionado mais 1 U de CIAP com uma nova
incubação de 37
o
C por 30 min . O vetor tratado foi então purificado com o kit GFX
(GE Healthcare) e quantificado em gel de agarose 1%, utilizando o marcador High
Mass (Invitrogen). A fosforilação e o preenchimento de extremidades protuberantes
dos produtos de PCR foram realizadas a partir da incubação a 37
o
C por 1 h de 20µL
de PCR, 10X B/K (Blunting/Kinasing buffer), 6 U de PNK (Polinucleotídeo quinase) e
5 U de Klenow (USB) e água MilliQ para um volume final de 40 µL. O inserto foi
purificado com o kit GFX (GE Healthcare) e quantificado em gel de agarose 1%,
utilizando o marcador Low Mass (Invitrogen). A reação de ligação consistiu de 1 U
de T4 DNA Ligase (Invitrogen), 5X buffer, 20 fMoles do vetor, 60 fMoles do inserto e
água MilliQ para um volume final de 40 µL. A reação foi incubada overnight a 14
o
C.
2.3.6.6 Preparação de bactérias competentes
As linhagens de E. coli DH5α, BL21 (DE3) e Rosetta (DE3) foram preparadas
para a transformação de acordo com metodologia descrita (Sambrook, et al., 1989),
Inoculamos uma pequena quantidade de E. coli em 2 mL de meio LB sem
antibióticos. Após crescimento overnight a 37°C sob agitação (200 rpm), uma
alíquota de 500 µL do meio de cultura foi diluída (1:100) em 50 mL de meio LB em
um erlenmeyer. A cultura foi incubada sob agitação por um período de 2 h à
temperatura de 37ºC, para que as células entrassem em fase logarítmica de
crescimento. A absorbância da solução foi medida em espectrofotômetro em
18
comprimento de onda de 560 nm. Após leitura entre 0,5 e 0,7, a cultura foi colocada
em gelo e centrifugada a 6.000 rpm por 5 min a 4ºC. O sobrenadante foi removido e
o precipitado ressuspendido em 5 mL de CaCl
2
100 mM gelado. Completado o
volume para um total de 50 mL, a suspensão foi incubada em gelo por 10 min e
depois centrifugada por 5 min a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e foi adicionado
CaCl
2
100 mM gelado em volume correspondente a 10 vezes a DO da cultura. A
suspensão foi incubada no gelo por 30 min e depois conservada em geladeira até o
dia seguinte quando glicerol foi adicionado até a concentração de 15% do volume.
Após a adição do glicerol, alíquotas de 200 µL foram preparadas e estocadas em
freezer -80ºC.
2.3.6.7 Transformação de bactérias competentes
Todo o volume da reação de ligação acrescido de água Milli-Q estéril para um
volume de 100 µL foram misturados á alíquotas de células competentes previamente
descongeladas. As células foram incubadas por 30 min no gelo e posteriormente
submetidas a choque térmico a 42ºC por 1,5 min e retornadas ao gelo por 2 min. A
suspensão foi transferida para um tubo estéril, contendo 1 mL de meio SOC e 40 µL
de IPTG (Isopropyl-B-D-Thiogalactopyranoside) e incubadas à 37ºC durante 1 h com
agitação suave (125 rpm), para permitir a expressão do gene de resistência a
ampicilina e do gene LacZ. A suspensão de bactérias foi plaqueada em meio sólido
apropriado, recoberto com 70 µL de Bluo-Gal 20 mg/mL (Life Technologies, Grand
Island, NY, USA). A placa foi incubada a 37ºC overnight.
2.3.6.8 Minipreparação de DNA plasmidial
As colônias isoladas foram crescidas em meio LB com ampicilina (100 µg/mL)
durante 18 h a 37ºC, 200 rpm. 1,5 mL da cultura foi centrifugado por 1 min a 13.200
rpm em temperatura ambiente e o sobrenadante foi descartado. O pellet foi
ressuspenso com 100 µL de Solução I (Glicose 50 mM, Tris-HCL 25 mM, EDTA 10
mM pH 7,5) contendo 1 µL de RNAse A 100 µg/mL (Sigma) utilizando vortex.
Foram adicionados 200 µL da Solução de lise II (lise) (NaOH 0,2 N, SDS 1%),
homogeneizado suave e brevemente em vortex e acrescentados 200 µL da Solução
19
III (de neutralização) (Acetato de Potássio 3 M pH 4,5). A suspensão foi
homogeneizada suavemente por inversão, incubada no gelo por 30 min e
centrifugada durante 15 min a 13.200 rpm à temperatura ambiente. O sobrenadante
foi transferido para um tubo novo, adicionado de 300 µL de isopropanol, misturado
suavemente por inversão e centrifugado por 10 min a 13.200 rpm. O pellet de DNA
plasmidial foi lavado com etanol 70% gelado, centrifugado por 5 min a 13.200 rpm,
drenado com papel absorvente, seco a 60ºC até a evaporação completado etanol. O
DNA foi ressuspenso em 30 µL de água Milli-Q estéril e analisado em gel de agarose
temperatura ambiente e ressuspenso em 30 µL de água Milli-Q estéril.
2.3.7 SEQUENCIAMENTO DE DNA
2.3.7.1 Reação de Sequenciamento
Os seqüenciamentos dos fragmentos de DNA clonados foram feitos em
seqüênciador automático de capilar ABI PRISM 3100 (Applied Biosystem, Foster
City, CA, USA). Em cada reação eram utilizados os oligonucleotídeos que hibridam
no plasmídeo externamente ao fragmento clonado (M13-F, M13-R; T7-F, T7-R;
5pGEX, 3pGEX). O seqüenciamento procedeu de acordo com o método de
terminação de cadeia por dideoxinucleotídeo (Sanger, et al., 1977) modificado para
seqüenciamento utilizando terminadores de cadeia dideoxinucleotídeos
fluorescentes BigDye
TM
. Para tanto, 1 µg de plasmídeo foram colocados em uma
reação padrão contendo 2 µl Big Dye
TM
Terminator Ready Reaction Mix DNA
polimerase AmpliTaq, tampão Tris-HCL pH 9,0, MgCl
2
, deoxinucleotídeos trifosfato
(dATP, dCTP, dITP, dUTP) e dideoxinucleotídeos marcados com um doador e um
aceptor de fluorescência, 2µl de tampão Save Money, 1 µl de oligonucleotídeo 3,2
pmoles/µL e água Milli-Q para completar 10µL. As condições de ciclagem foram:
96ºC por 5 min, 25 ciclos de 96ºC por 10 seg, 50ºC por 5 seg e 60ºC por 4 min.
20
2.3.7.2 Precipitação do DNA
Ao final da ciclagem, foram acrescentados à reação de seqüenciamento 40 µL
de etanol 80%, e a reação foi incubada à temperatura ambiente por 15 min. A
reação foi, então, centrifugada durante 45 min a 2.970 x g, à temperatura ambiente,
e o etanol desprezado por inversão. Foram adicionados 150 µL de etanol 70%, e a
reação foi novamente centrifugada por 15 min a 2.970 x g. O álcool foi descartado
por inversão e os tubos foram deixados por 15 min em estufa a 60°C. 10 µL de
formamida HI-DI
TM
foram acrescentados a cada reação. No momento da aplicação
no gel, a solução foi desnaturada por 5 min a 90°C e mantida no gelo por 5 min.
2.3.7.3 Montagem das seqüências consenso – contigs
As seqüências consenso contigsforam montadas utilizando os programas
Phred, Phrap e Consed (Ewing e Green, 1998; Ewing, et al., 1998a; Gordon, et al.,
1998). O programa Phred é um programa de identificação de bases que gera dois
tipos de arquivos de saída: um com a seqüência de nucleotídeos propriamente dita,
e outro com um escore de qualidade atribuído para cada nucleotídeo de um
cromatograma, valor que é utilizado pelo programa Phrap para a montagem de
contigs com um escore associado. O programa Phrap foi implementado para a
montagem de seqüências de DNA obtidas por shotgun e permite a utilização de
seqüências inteiras ao invés de apenas as regiões de boa qualidade, pois ao invés
de determinar uma seqüência consenso a partir das parciais, constrói um mosaico
utilizando as regiões de melhor qualidade de cada uma. O programa Consed permite
editar as montagens das seqüências consenso realizadas pelo Phrap.
21
2.3.8 MUTAGÊNESE SÍTIO DIRIGIDA
2.3.8.1 Amplificação por PCR (Polymerase Chain Reaction)
Os cinco dons CTG da ORF CaYlr339c e os dois códons CTG da ORF
Caydr187c foram modificados para TCT ou TCG (Tabela 3) através da técnica de
mutagênese sítio dirigida por PCR (Weiner, 1995). As reações de amplificação foram
realizadas com o Elongase Amplification System (Invitrogen) e consistiram de 40
pMoles de cada oligonucleotídeo (Tabela 3), 300 µM de dNTP, mistura dos tampões
A e B (60 mM Tris-SO
4
(pH 9,1), 18 mM (NH
4
)
2
SO
4
), numa proporção em que a
concentração final de MgSO
4
na reação fosse de 1,4 mM, 100 ng da miniprep (ORF
Caylr339c ou Caydr187c mutada + pbluescript II SK), 2 µl de Elongase Enzyme Mix
e água MilliQ para um volume final de 50 µl. As condições de ciclagem foram as
seguintes: 94
o
C por 30 seg, 25 ciclos de 94
o
C por 30 seg, hibridação por 30 seg nas
temperaturas (Mtylr339c1: 47ºC, Mtylr339c2: 54.1ºC, Mtylr339c3: 50ºC, Mtylr339c5:
55.5ºC, Mtydr187c1: 50ºC, Mtydr187c2: 52ºC) e 68
o
C por 4,3 min, seguidos de uma
extensão final de 68
o
C por 10 min.
2.3.8.2 Tratamento com DpnI e Pfx
O DNA parental e o novo DNA sintetizado contendo a mutação foram tratados
com a enzima DpnI–5´-Gm6ATC-3´ (QIgene) que cliva apenas o DNA metilado
(template). A enzima PfX (Invitrogen) foi utilizada para remover as bases
indesejadas estendidas pela DNA polimerase, permitindo a posterior ligação do DNA
linear. A reação consistiu de 40 µl da PCR (ORFs mutadas + pbluescript II SK), 0,1
µl de BSA 10 µg/µL e água MilliQ para um volume final de 70 µL. A reação foi
incubada a 37ºC overnight. Foi adicionado 5 U da enzima PfX e incubado por 1 h a
68ºC. A digestão foi purificada com o Kit para purificação de DNA GFX
TM
PCR DNA
and Gel Band Purification kit (GE Healthcare) conforme protocolo do fabricante.
22
2.3.8.3 Ligação (Circularização)
A ligação do DNA sintetizado contendo a mutação foi realizada a partir da
reação de 20 µL do DNA purificadado, 4 µL de ATP 10 mM, 2 U de T4 DNA Ligase
(Invitrogen), 5X Ligase Buffer e água Milli-Q para um volume final de 40 µL. A reação
foi incubada overnight a 14ºC. Posteriormente o DNA foi transformado em E. coli -
DH5α conforme item 2.3.6.7. A miniprepração e o sequenciamento para confirmação
da presença da mutação foram realizados conforme itens 2.3.6.8 e 2.3.7
respectivamente.
2.3.9 EXPRESSÃO HETERÓLOGA DE PROTEÍNAS RECOMBINANTES
2.3.9.1 Construções em pET28a(+) e pGEX6P3
Os fragmentos foram liberados do vetor de clonagem pBluescript II SK
através da digestão com as enzimas de restrição BamHI e XhoI (Amersham). Os
vetores pET28a(+) e pGEX6P3 foram digeridos com as mesmas enzimas de
restrição conforme especificações do fabricante. Os vetores foram desfosforilados
com a enzima CIAP (Promega). Os fragmentos e os vetores digeridos foram
purificados com o GFX
TM
PCR DNA and Gel Band purification Kit (GE Healthcare) e
quantificados em gel de agarose. A reação de ligação foi realizada com a enzima T4
DNA ligase (Invitrogen) conforme especificações do fabricante. Todo o volume da
ligação foi utilizado na transformação de bactérias DH5
α conforme descrito no item
2.3.6.7. Após a extração dos plasmídeos recombinantes e a confirmação da
clonagem por sequenciamento, 1µg de plasmídeos foram utilizados na
transformação de bactérias competentes da linhagem BL21 (DE3) ou Rosetta (DE3).
Após o insucesso da expressão da proteína integral e de segmentos sem o peptídeo
sinal e sem as regiões transmembranas com cauda de histidina, optou-se por
expressar a proteína integral e alguns segmentos fusionados com GST (Glutationa
S-transferase) no vetor pGEX6P3 (Amersham).
23
2.3.9.2 Expressão das proteínas recombinantes
Colônias isoladas de bactérias das linhagens BL21 (DE3) ou Rosetta (DE3)
contendo o plasmídeo de expressão foram crescidas em um pré-inóculo a 37°C em
meio LB com o antibiótico apropriado por 18 h. O pré-inóculo foi diluído 1:50 no
mesmo meio. A cultura foi incubada a 37°C, com agitação a 200 rpm, até atingir A
600
= 0,2 - 0,3 (para indução de 18 h) ou A
600
= 0,6 (para indução por até 4 h). Nesse
ponto foi realizada a indução da expressão protéica com IPTG 1 mM, em condição
de alta aeração (250 rpm em frascos de volume superior a pelo menos 5X o volume
de cultura). As proteínas recombinantes His
6
-Caylr339cp e GST-126aa187cp foram
induzidas a 23ºC overnight (18 h). A cultura pós-indução foi centrifugada a 4.000 rpm
por 10 min a 4°C, e o precipitado foi ressuspenso em PBS 1X gelado, na proporção
1,5 ml tampão: 100 ml cultura. A amostra foi congelada a -80ºC e, após
descongelamento, foi incubada no gelo com lisozima (para uma concentração final
de 1 mg/ml, a partir de solução estoque 50 mg/ml) por 30 min, e em seguida
sonicada (sonicador Branson Sonifier 450) e centrifugada em tubos de 2 ml para
microcentrífuga a 14.000 rpm por 20 min a 4°C. O sobrenadante (fração solúvel) e o
precipitado ressuspenso em solução de uréia 6 M (fração insolúvel) foram
aliquotados e armazenados a -20ºC.
2.3.9.3 Purificação da proteína recombinante His
6
-Caylr339cp
Verificou-se por SDS-PAGE que His
6
-Caylr339cp encontrava-se na fração
insolúvel do extrato. A resina quelante de níquel (QIAGEN) foi lavada três vezes em
água Milli-Q em tubo de 15 mL e equilibrada três vezes com 4 volumes de tampão
de ligação (imidazol 5 mM, NaCl 500 mM, Tris-HCl 20 mM pH 8,0, uréia 6 M). O
extrato insolúvel foi adicionado à resina e incubado por 2 h sob agitação a 4ºC. Após
três lavagens com 6 volumes de tampão de ligação, a resina foi lavada três vezes
com 6 volumes de tampão de lavagem (imidazol 20 mM, NaCl 500 mM, Tris-HCl 20
mM pH 8,0, uréia 6 M). Foram feitas, então, três eluições com 2 volumes de tampão
de eluição (imidazol 1 M, NaCl 500 mM, Tris-HCl 20 mM pH 8,0, uréia 6 M). Todas
as eluições foram dialisadas 3 h contra um tampão Tris-HCl 20 mM pH 8,0, uréia 2 M
e depois contra um tampão Tris-HCl 20 mM pH 8,0, uréia 1 M overnight a 4ºC. A
24
proteína recombinante foi quantificada pelo método de Bradford utilizando diferentes
concentrações de BSA como padrão (Bradford, 1976).
2.3.9.4 Purificação da proteína recombinante GST-126aa187cp
A proteína GST-126aa187cp foi obtida na fração insolúvel do extrato. Com o
objetivo de se obter a fração solúvel da proteína e purifica-la com o GST-Glutathione
Affinity System (Amersham), diferentes linhagens de E. coli, temperaturas e
concentrações de IPTG foram testadas sem sucesso. Assim o extrato contendo a
proteína insolúvel foi aplicado em um gel SDS-PAGE 10%. Um pequeno pedaço do
gel foi corado com azul de Coomassie e descorado (conforme item 2.3.10) de modo
a guiar o corte da banda correspondente. A proteína recombinante foi cortada com
lâminas limpas e eluída overnight a 4ºC em água Milli-Q. A proteína resultante foi
concentrada em tubos centricon (Millipore) e quantificada pelo método de Bradford
(Bradford, 1976).
2.3.9.5 Quantificação de proteínas
Quantidades variáveis da proteína recombinante purificada foram adicionadas
a 1 mL de solução de Coomassie Brilliant Blue e a absorbância a 595 nm foi
determinada em espectrofotômetro. A concentração da proteína foi determinada
utilizando uma curva-padrão de BSA de 2 a 10 µg (Bradford, 1976). A proteína
também foi quantificada por SDS-PAGE (utilizando como padrão quantidades
conhecidas de BSA). Diluiu-se a proteína para uma concentração final de uso de
800 ng/µL.
2.3.10 GEL SDS-PAGE (Sodium dodecyl sulfate polyacrilamide gel
electrophoresis) PARA SEPARAÇÃO DE PROTEÍNAS.
25
Os géis foram preparados conforme abaixo:
Composição
Gel de separação
Gel de
Empacotamento
10% 15% 20%
Acrilamida/bis-acrilamida (30%/ 0,8%)
5 mL 5 mL 5 mL 1,3 mL
Tris-HCl 3M pH 8,8 1,9 mL 1,9 mL 1,9 mL X
Tris-HCL1M pH 6,8 X X X 1,25 mL
H
2
O destilada 8,1 mL 5 mL 5 mL 7,2 mL
SDS 10%
150 µL 150 µL 150 µL 100 µL
Persulfato de amônia 10%
150 µL
150 µL 150 µL
100 µL
TEMED (GIBCO BRL)
40 µL 40 µL 40 µL 20 µL
Para análise protéica foi utilizado o método de SDS-PAGE. Extratos celulares
ou proteínas purificadas foram adicionados de tampão Laemmli 4X ,fervidas por 5
min e aplicadas no gel. Para coloração dos geis foram usadas soluções de azul de
Coomassie (0,25% Coomassie Blue R250 em etanol 50% e ácido acético 7,5%). Os
geis foram descorados e fixados em solução ácido acético 10% e etanol absoluto
20%. Após este procedimento os géis foram secos a 37
o
C em Gel Drying Film
(Promega).
2.3.11 PRODUÇÃO DE SOROS
2.3.11.1 Produção de soro anti His
6
-Caylr339cp em coelhos
Para a produção de anticorpos policlonais contra a proteína His
6
-Caylr339cp,
2 coelhos foram imunizados por injeção subcutânea de 150 µg de His
6
-Caylr339cp
purificada, acompanhada do mesmo volume de adjuvante completo de Freund
(Sigma), seguida de 2 injeções de 100 µg da proteína acompanhada do mesmo
volume de adjuvante incompleto de Freund (Sigma) a cada 22 dias depois da
primeira dose. Uma alíquota de sangue foi coletada no dia da primeira administração
com a finalidade de se obter o soro Pré-Imune. O sangue total foi coletado 50 dias
depois da primeira imunização por punção cardíaca. Para obtenção do soro, o
sangue dos animais foi incubado por 1 h 37°C e depois a 4°C overnight. Após
centrifugação a 1.000 rpm por 15 min, passou-se o sobrenadante (soro) para tubos
novos, armazenando-os a -20°C.
26
2.3.11.2 Produção de soro anti GST-126aa 187cp de camundongos
Para a produção de anticorpos policlonais contra a proteína GST- Caydr187cp
foram utilizados 8 camundongos Balb/c. Foram realizadas quatro imunizações com
intervalos de 7 dias. Cada dose consistiu de 25 µg da proteína GST-126aa187c
purificada por camundongo, acompanhada do mesmo volume de adjuvante
completo (primeira dose) ou incompleto (demais doses) de Freund (Sigma). Como
controle, 3 camundongos foram imunizados com 10 µg de GST. A coleta do sangue
foi feita por punção cardíaca. O soro foi obtido conforme acima (item 2.3.11.1).
2.3.12 WESTERN BLOT
Após a resolução por SDS-PAGE, as proteínas foram transferidas para
membrana de nitrocelulose - Hybond
ECL ou de PVDF
- Hybond P (GE Healthcare),
em tampão apropriado (Tris-HCl pH 8,3, glicina 192 mM, metanol 20%), em cuba de
transferência (Transphor Power Lid Hoefer). Para verificar a eficiência da
transferência, a membrana foi corada com Ponceau (Ponceau 0,5% (Sigma), ácido
acético 1%). Em seguida, a membrana foi lavada com água bidestilada para
remoção do corante e bloqueada com solução de leite desnatado 5% (Molico) à
temperatura ambiente por 1 h, sob agitação. A membrana foi então lavada com
água bidestilada e incubada com anticorpo primário (anti-soro, soro pré-imune ou
anticorpo monoclonal) em PBS 1X nas diluições conforme abaixo.
Anticorp
o / Soro
Diluição
Incubação
Anti-His
6
Tag camundongo
Anti-His
6
-Caylr339cp - coelho
Soro pré-imume Coelho
Anti-GST - camundongo
Anti-GST-126aa187cp - camundongo
Soro pré-imune camundongo
Anti-His
6
enolase - coelho
Monoclonal
Policlonal
Policlonal
Policlonal
Policlonal
1:3000
1:500
1:500
1:1000
1:400
1:400
1:1000
TA – 1 h
4ºC - On
TA – 1 h
TA – 1 h
TA – 1 h
TA – 1 h
TA – 1 h
A membrana foi incubada sob agitação conforme tabela 5. Em seguida, a
membrana foi lavada três vezes com PBS 1X/Tween
20 0,1% e incubada com
anticorpo secundário anti IgG-HRP (horseradish peroxidase) (GE Healthcare) na
27
diluição de 1:1.000 ou proteína A-HRP (GE Healthcare) na diluição de 1:3000 em
PBS-T 1X à temperatura ambiente por 1 h, sob agitação. Após essa incubação, a
membrana foi lavada mais quatro vezes com a solução PBS 1X/Tween
20 0,1% e
depois com água bidestilada aa remoção total do detergente. A detecção foi feita
por quimioluminescência, utilizando o ECL ou ECL-Plus Western blotting
TM
analysis
system (GE Healthcare), segundo protocolo do fabricante. Quando necessário
reutilizar a mesma membrana para incubação com outro anticorpo, a membrana
após a primeira revelação foi incubada por 30 min a 55
o
C com solução de stripping
(Tris-HCl 62,5mM pH6,8; SDS 2%; β-mercaptoetanol 100mM). Depois de repetidas
lavagens com água, a membrana foi bloqueada e o protocolo foi seguido como
descrito acima para o soro ou anticorpo em questão.
2.3.13 DETECÇÃO DA PRESENÇA DA PROTEÍNA CaYlr339cp EM
EXTRATOS CELULARES DE C. albicans
Para a preparação do extrato protéico de leveduras, Células (C. albicans
SC5314 e L757 e S. cerevisiae S288c) foram crescidas em meio YPD a 30ºC
overnight, sob agitação (200 rpm), centrifugadas a 6.000 rpm por 3 min e lavadas 3
vezes com PBS gelado. A ausência de hifas foi avaliada a partir da visualização das
células em microscópio ótico. Posteriormente as células foram ressuspendidas
em PBS, quantificadas em espectrofotômetro (comprimento de onda de 660
nm) e diluídas para concentrações de (6 x 10
7
, 6 x 10
8
e 6 x 10
9
células com
RIPA buffer (150 mM NaCl, 1% NP-40, 0,5% Deoxycholate DOC, 0,1% SDS, 50
mM tris pH 8,0,). Posteriormente foram adicionados a suspensão: 1 mM de PMSF,
0,5 µL de antipaína 1 µg/mL e 0,5 µL de coquetel de inibidores de protease (Sigma –
p8215). As suspensões foram adicionadas a tubos contendo o mesmo volume de
Beads geladas (500 µm). As suspensões foram então vortexadas vigorosamente
duas vezes por 3 min, com intervalo de 1 min no gelo e centrifugadas a 10.000 g por
5 min a 4ºC. O sobrenadante foi transferido para tubos novos e congelados a -80ºC
até o momento do uso. A concentração protéica do extrato foi estimada pelo método
de Bradford conforme item 2.3.9.5. Para o preparo de extrato protéico de hifas, C.
albicans SC5314 foi crescida conforme acima e induzidas conforme item 2.3.5.1. Foi
encontrada a porcentagem aproximada de 88% de hifas em relação às leveduras
28
após observação por microscopia ótica das células induzidas. O extrato protéico de
1 x 10
8
células (hifas) foi preparado conforme acima. Para o preparo de meio
condicionado, C. albicans SC5314 foram crescidas em meio YPD a 30
o
C por 72 h
com a finalidade de se obter o extrato protéico do meio condicionado. Para isso,
após a incubação, os meios foram separados das células por centrifugação.
Posteriormente os mesmos foram filtrados em membranas de 0,22 µm,
concentrados em pelo menos 550 X e congelados a –80
o
C. A presença da proteína
CaYlr339cp nos extratos protéicos de levedura e hifa foi realizada por western blot
utilizando o anti-soro produzido em coelhos contra a proteína CaYlr339cp numa
diluição de 1:500. O anticorpo secundário foi substituído pela proteína A-HRP (GE
Healthcare) e detecção foi possível a partir da utilização do ECL-Plus Western
blotting
TM
analysis system.
2.3.14 REAGENTES UTILIZADOS
2.3.14.1 Meios de cultura
Para bactérias:
Meio LB:
Triptona (DIFCO) 1%, NaCl (Synth), 0,5% extrato de levedura (DIFCO) 1%, ágar
(DIFCO) 2% (para meio sólido) com antibiótico apropriado (Ampicilina 100 µg/mL ou
Canamicina 15 µg/mL)
Meio YT:
Triptona 0,8%, NaCl 0,25%, extrato de levedura 1%, ágar 2%,
canamicina 15 µg/mL.
Meio SOC:
Triptona (DIFCO) 2%, NaCl (Synth) 0,05%, KCl (Synth) 2,5mM, MgCl
2
(MERCK)
7mM, glicose (DIFCO) 20mM, pH 7,0.
Para fungos:
Meio YPD:
Extrato de levedura (DIFCO) 1%, dextrose (MERCK) 2%, peptona (DIFCO) 2%, agar
2% (para meio sólido).
29
YPD com cloranfenicol:
Cloranfenicol: 34 µg/mL.
2.3.14.2 Tampões
Tampão de amostra para DNA (6x):
Orange G 0,25%, ficol (type 400, GE) 15%,diluídos em água.
Tampão de amostra para RNA:
750 µL formamida, 90 µL formaldeído, 15 µL tampão fosfato 1 M, 270 µL água
DEPC, 0,1 mg azul de bromofenol.
Tampão LB 4X:
0,625 M Tris-HCl pH 6,8; 10% glicerol; 3% SDS; 5% β-mercaptoetanol, 0,1% azul de
bromofenol.
Tampão de corrida para SDS-PAGE RB 10X:
Tris-base 3 g/L, Glicina 14,4 g/L, SDS 0,1%.
Tampão TAE:
Tris-acetato 40 mM, EDTA 1 mM pH 8,0.
2.3.15 ANÁLISE IN LICO DA SEQUÊNCIA DEDUZIDA DE AMINOÁCIDOS
DAS ORFs CaYlr339c E CaYdr187c.
Análises das características da proteína putativa (peso molecular teórico, e
estrutura secundária) foram realizadas utilizando o programa Protean do pacote
DNAstar (DNAstar Inc., Madison, Wis). O mapeamento das estruturas secundárias
nos alinhamentos foi realizado a partir da exportação dos dados do programa
Protean para planilhas do Excel (pacote Office). Predições de modificações pós-
traducionais (sítios putativos de glicosilação e fosforilação) foram realizadas nos
servidores de predição disponíveis na página (cbs.dtu.dk/services/).
30
2.3.16 INFERÊNCIA FILOGENÉTICA
2.3.16.1 Obtenção das sequências e alinhamentos
A sequência de nucleotídeos das ORFs CaYlr339c e CaYlr339c (nº de acesso
no Genbank: XM_715215.1 e XM_713964 respectivamente) foi obtida no Candida
Genome Database, (candidagenome.org), montagem 19, e utilizada como query
para a realização de buscas utilizando o serviço BLAST (Basic Local Alignment
Search Tool). Mais especificamente essas buscas foram realizadas utilizando o
BLASTN (busca em banco de dados de nucleotídeos utilizando a sequência de
nucleotídeos como query) e TBLASTX (busca em base de dados de nucleotídeos
traduzidos nas seis fases de leitura utilizando a sequência de nucleotídeos traduzida
como query). As ORF CaYlr339c e CaYdr187c possuem um overlap total com as
ORFs CaYlr340w e CaYdr188w (fita sense). Uma vez que as ferramentas BLASTN
E TBLASTX realizam buscas nas seis fases de leitura das sequências de
nucleotídeos depositadas nos bancos de dados, somente as sequências (+) foram
selecionadas, que a utilização de sequências (-) eram referentes às ORFs
CaYlr340w e CaYdr188w. As sequências de aminoácidos deduzidas das sequências
de nucleotídeos foram então utilizadas, e quando indisponíveis, as sequências de
nucleotídeos foram traduzidas in sílico a partir do programa Bioedit. As sequências
de aminoácidos deduzidas da ORFs também foram submetidas ao serviço BLASTP
(Busca em banco de dados de proteínas utilizando uma sequência de aminoácidos
como query) Somente sequências com E-value igual ou inferior a e-
20
foram
consideradas. As sequências selecionadas foram alinhadas pelo programa ClustalW
(Thompson, et al., 1994) e ajustadas manualmente no editor de sequência Seaview
(Galtier, 1996).
2.3.16.2 Inferência filogenética
A árvore filogenética foi inferida pelo programa MrBayes (Huelsenbeck,
2001), utilizando o modelo GTR (General Time Reversible) para substituição de
aminoácidos com distribuição gama. As árvores foram calculadas por 5 x 10
6
gerações em duas análises independentes, amostrando-se uma árvore a cada 100
31
gerações, até que os desvios padrão das freqüências de partições split
frequencies, ficassem abaixo de 0.01 (Distribuição estacionária da probabilidade
posterior). Os parâmetros e as árvores foram sumarizados a partir do descarte de
25% das amostras obtidas (50.001 amostras) totalizando 12.500 árvores. A árvore
foi posteriormente formatada utilizando o programa FigTree v1.3.1.
32
2.4 RESULTADOS
2.4.1 SELEÇÃO DOS GENES HIPOTÉTICOS
Com o objetivo de se identificar potenciais novos alvos para drogas anti-
Candida albicans, uma busca manual no genoma sequenciado de C. albicans foi
realizada em nosso laboratório como parte da tese de Doutorado da estudante
Renata Carmona e Ferreira (Ferreira, 2007) com base em três critérios.
Os genes deveriam ser:
Hipotéticos, aumentando assim a probabilidade de se identificar novos genes.
Para isso, a montagem 19 do genoma de C. albicans, linhagem SC5314
(candidagenome.org) foi inspecionada manualmente, seguindo os seguintes
critérios: ORFs maiores que 500 pb, com similaridade 60% com genes de
Saccharomyces cerevisiae e Schizosaccharomyces pombe.
Potencialmente essenciais, uma vez que se deseja a morte do organismo a partir
da inibição de seu produto gênico.
Baseado em dados da deleção sistemática disponíveis no banco de dados do
genoma do S. cerevisiae (yeastgenome.org) (Giaever, et al., 2002).
Com baixo nível de expressão, o que implica numa menor dosagem da droga e
redução de possíveis efeitos colaterais.
O Índice de adaptação dos códons (CAI) (Sharp e Li, 1987) que prediz o nível de
expressão dos genes, foi calculado pelo programa codonW disponível em
(bioweb.pasteur.fr/seqanal/interfaces/codonw.html).
Dentre os 744 genes hipotéticos, as ORFs CaYdr187c (orf19.6098) e
CaYlr339c (orf19.7014), foram selecionadas para este estudo, pois possuíam os
menores CAIs (0,084 e 0,088 respectivamente numa escala de 0 a 1, indicando
assim uma baixa expressão gênica. Para efeito de comparação, a ORF que codifica
a abundante proteína enolase em C. albicans possui um CAI de 0.679.
33
2.4.2 PREDIÇÕES DAS PROTEÍNAS PUTATIVAS EM SERVIDORES DE
PREDIÇÃO
As proteína putativas codificadas pelas ORFs CaYlr339c e CaYdr187c foram
previamente caracterizadas em servidores de predição por Ferreira (2007).
As análises indicaram que a proteína putativa codificada pela ORF CaYlr339c
possui peso molecular de aproximadamente 18 kDa é rica em regiões de alfa-hélice
e folhas beta, possui algumas regiões de alta hidrofilicidade e é consideravelmente
antigênica (Figura 2a). As análises indicaram ainda que esta proteína possivelmente
não possua peptídeo sinal canônico e hélices transmembrana.
As análises indicaram que a proteína putativa CaYdr187cp possui peso
molecular aproximado de 26 kDa, peptídeo sinal putativo e 2 hélices
transmembrana. Análises in sílico da sequência de aminoácidos desta protna
indicaram ainda que a mesma possui poucos aminoácidos envolvidos na formação
de alfa-hélice e muitos aminoácidos envolvidos na formação de folhas beta, além de
regiões de hidrofobicidade que corroboram os dados obtidos a partir da predição de
hélices transmembrana. Embora bastante hidrofóbica esta proteína é
consideravelmente antigênica (Figura 2b).
Com o objetivo de se determinar as possíveis funções e categorias funcionais
dessas proteínas putativas, suas sequências de aminoácidos foram submetidas ao
servidor ProtFun por Ferreira (2007). Este método preditivo parte do princípio de que
proteínas que realizam as mesmas funções compartilham alguns atributos e
características. O Protfun integra (utilizando o método de redes neurais), 14 atributos
individuais, dentre eles: sequências de sinalização e localização intracelular, sítios
de N e O-glicosilação, fosforilação de S (serina) / T (treonina) / Y (tirosina),
propriedades físicas e químicas de aminoácidos, estrutura secundária, dentre outras.
Nem sempre tais atributos estão relacionados com a estrutura primária das
proteínas, sendo que padrões mais complexos de correlações entre aminoácidos
também são considerados (Jensen, 2002). O método classifica a proteína em três
categorias: (1ª) Categoria funcional, descrita inicialmente para a E. coli (Riley, 1993),
(2ª) enzima/não enzima (Jensen, 2002) e (3ª) ontologia (Apenas 14 categorias),
baseado no sistema de classificações de ontologia dos genes (Gene ontology – GO)
(Ashburner, et al., 2000). As predições indicaram que a proteína CaYlr339cp não é
uma enzima, está relacionada ao processo de tradução celular na categoria
34
funcional, e na categoria ontologia foi relacionada com a resposta imune celular. A
proteína CaYdr187cp também não foi classificada como uma enzima, é
possivelmente uma proteína do envelope celular, e sua ontologia é de resposta
imune (Ferreira, 2007).
35
Figura 2. Análise in sílico da sequência de aminoácidos das proteínas putativas. A:
CaYlr339cp, B: CaYdr187cp. As letras à esquerda referem-se a regiões de alfa-hélice (A),
folha beta (B), giro - turn –T (T) e espiral -coil C (C) de acordo com diferentes métodos
listados à direita. Todos os métodos e índices foram implementados utilizando o programa
Protean (DNAstar, Madison, Wisconsin). Fonte: Ferreira (2007)
As sequências de aminoácidos das proteínas putativas foram submetidas aos
servidores NetNGlyc Server para predição de N-glicosilação e NetOGlyc Server para
predição de O-glicosilação. A proteína CaYlr339cp possui 13 possíveis sítios de O-
glicosilação nas posições 20, 21, 23, 24, 26, 38, 60, 61, 65, 74, 75, 79 e 129 e não
possui nenhum sítio possível de N-glicosilação (figura 3a), corroborando as demais
predições que indicam que esta proteína seja intracelular. a proteína
CaYdr187cp, possui 2 sítios putativos de N-glicosilação nas posições 85 e 98 (score
de 0,6699 e 0,6738 respectivamente (limiar: 0,5), que como em predições anteriores,
sugerem que está proteína seja de superfície. Também foram preditos 3 sítios
putativos de O-glicosilação nas posições 29, 30 e 211 para esta proteína (figura 3b).
As proteínas também foram submetidas ao servidor NetPhos para predição de tios
putativos de fosforilação de serinas, treoninas ou tirosinas. A proteína CaYlr339cp
36
possui 15 sítios possíveis de fosforilação nas posições 10, 28, 38, 60, 69, 74, 75, 81,
110, 115, 131, 137, 152, 157 e 168 (figura 3a). A proteína CaYdr187cp também
possui 15 sítios de fosforilação nas posições 30, 48, 87, 89, 92, 95, 130, 134, 145,
200, 206, 210, 213, 218 e 225 (figura 3b).
A) CaYlr339cp
MFNMFNKVAS EGPTLASCST TLTSETISMV PSAILVGTPK AWKKEVLPGSI
PVLPAGIQTS FGATAPASAG AATTLETTMS LMDFKSPLVK MKPTLPLMNGN
NFSNSGNSDK KPSMALSTMV FLPIKTTASP LKAFSISCIC WEETLSTPTTK
IDL
YSSNNSL NLEKY
B) CaYdr187cp
MGLVNTTTLD LAAFLTVPSG SLGKTIPLTT CDWESDAPMT LTTLMLSTLKD
PFFITRATAS TTSLAMVSST PYCLAAITGF TAFNRSVSND STFSTTNSSNV
FITNLFAKLN PWMISSTFKP NVNNFSA
TLR NSPARMITRL VLSPISNSCCF
DAWIKIFTTG WTISNSLSMV AASLVMNFLP NLLTMILFLP LGPM
EVSKIEA
ISRTASTFSI MAPSALEKEE YPCLNKPEFG ACGNFNDIGGQ
Figura 3. Predição de tios de N e O-glicosilação. Sequência de aminoácidos das proteínas
putativas A: CaYlr339cp e B: CaYdr187cp e seus possíveis sítios de N e O-glicosilação.
Aminoácidos em verde: sequência sinal putativa predita pelo servidor Signal P 3.0.
Aminoácidos sublinhados: Duas hélices transmembrana preditas pelo servidor TMHMM
v2.0. Em caixas azuis estão destacadas as serinas (S) e treoninas (T) preditas como O-
glicosiladas em proteínas intracelulares (
NetOGlyc); em caixas amarelas estão destacadas
as aspariginas (N) preditas como N-glicosiladas (
NetNGlyc). Aminoácidos em vermelho
indicam as serinas (S), treoninas (T) e tirosinas (Y) preditas como fosforiladas (NetPhos
Server).
37
2.4.3 AS ORFs CaYdr187c E CaYlr339c SÃO TRANSCRITAS
Para confirmar se as ORFs CaYdr187c e CaYlr339c são transcritas, as
mesmas foram amplificadas por RT-PCR utilizando cDNA obtido de RNA
extraído da linhagem SC5314 de C. albicans. As amplificações foram
realizadas com oligonucleotídeos específicos, desenhados a partir da
seqüência depositada no genoma de C. albicans (montagem 19) conforme a
tabela 4. O gene da actina 1 foi utilizado como controle positivo. Amplificações
sob as mesmas condições foram realizadas utilizando o RNA tratado com
DNase (controle negativo), indicando que o RNA estava livre de DNA e que as
ORFs foram realmente amplificadas a partir do cDNA. Os resultados indicam
que a ORF CaYlr339c é transcrita tanto na fase de levedura como na fase de
hifa, e que a ORF CaYdr187 é transcrita apenas na fase de levedura (figura 4).
Resultados similares foram obtidos a partir da amplificação das ORFs
utilizando cDNAs obtidos de diferentes extrações de RNA, confirmando desta
maneira a transcrição das ORFs e a expressão levedura específica da ORF
CaYdr187c.
Figura 4. Gel de agarose 1% do PCR com cDNAs de levedura e hifa de C. albicans
linhagem SC5314. M: Marcador Ladder 100 1: cDNA de levedura, 2: RNA de levedura
tratado com DNAse, 3: cDNA de hifa, 4: RNA de hifa tratado com DNAse. Os nomes
acima dos números indicam as ORFs que foram amplificadas. A ORF CaYdr187c
(738pb) foi amplificada apenas na fase de levedura. A ORF CaYlr339c (507pb) foi
amplificado tanto na fase de levedura como na fase de hifa. Parte do gene da Actina 1
(300pb) foi utilizado como controle positivo. Não houve amplificação quando da
utilização de RNA tratado com DNAse como template (controle negativo).
38
2.4.4 AMPLIFICAÇÃO DAS ORFs
As ORFs CaYlr339c e CaYdr187c foram amplificadas com os mesmos
oligonucleotídeos utilizados na RT-PCR (figura 4) desenhados a partir da
montagem 19 do genoma de C. albicans linhagem SC5314. A ORF CaYdr187c
também foi amplificada sem a sequência sinal putativa (figura 5).
Figura 5. Gel de agarose 1% dos produtos de PCR. M: Marcador Ladder 100, 1:
CaYlr339c (507 pb), 2: CaYdr187c (738 pb), 3: CaYdr187c sem peptídeo sinal (648
pb).
As sequências de nucleotídeos das ORFs CaYlr339c e CaYdr187c,
amplificadas a partir da linhagem SC5314, foram clonadas, seqüenciadas e
apresentaram 100% de identidade com as sequências depositadas no genoma
de C. albicans SC5314 (Jones, et al., 2004). Porém, algumas diferenças foram
verificadas entre as sequências de nucleotídeos das ORFs CaYlr339c e
CaYdr187c da linhagem SC5314 em relação a sequência das mesmas ORFs
depositada no genoma de C. albicans, linhagem WO-1 (Butler, 2009).
Ao todo foram verificadas nove substituições de nucleotídeos na ORF
CaYlr339c. As substituições nas posições 213 e 399 foram sinônimas,
mantendo os aminoácidos glicina e leucina respectivamente. As demais
substituições (sete) foram não sinônimas e estão localizadas nas posições 357,
39
476, 478-480, 481 e 490, originando a troca de cinco aminoácidos para grupos
químicos diferentes: serina (polar) por leucina (hidrofóbico), serina (polar) por
fenilanina (hidrofóbico), asparigina (polar) por leucina (hidrofóbico), asparigina
(polar) por histidina (carregado), asparigina (polar) por ácido aspártico (não
carregado), respectivamente (Figura 6a). A ORF CaYdr187c possui seis
substituições de nucleotídeos sinônimas nas posições 111, 279, 312, 363, 444
e 495 mantendo os aminoácidos alanina, isoleucina, lisina, serina, treonina e
alanina, respectivamente (figura 6b).
40
A) CaYlr339c
SC5314 ATGTTCAACATGTTCAACAAGGTAGCTTCGGAAGGACCAACTTTAGCATCTTGTTCAACAACCTTAACATCGGAAACAATTTCAATGGTACCTCTGGCA
M F N M F N K V A S E G P T L A S C S T T L T S E T I S M V P L A
WO-1 ------------------------------------------------------------------------------------ATGGTACCTCTGGCA
SC5314 ATCTTGGTTGGAACACCCAAAGCTTGGAAGAAAGAGGTCTTACCTGGTTCCATACCAGTGTTACCGGCTGGAATCCAAACATCTTTTGGAGCAACGGCA
I L V G T P K A W K K E V L P G S I P V L P A G I Q T S F G A T A
WO-1 ATCTTGGTTGGAACACCCAAAGCTTGGAAGAAAGAGGTCTTACCTGGTTCCATACCAGTGTTACCGGCTGGAATCCAAACATCTTTTGGAGCAACGGCA
SC5314 CCAGCTCTGGCTGGTGCAGCAACAACATTAGAAACAACAATGTCTCTAATGGATTTTAAATCACCGTTGGTGAAAATGAAACCAACGTTACCTTTGATG
P A L A
G A A T T L E T T M S L M D F K S P L V K M K P T L P L M
WO-1 CCAGCTCTGGCTGGAGCAGCAACAACATTAGAAACAACAATGTCTCTAATGGATTTTAAATCACCGTTGGTGAAAATGAAACCAACGTTACCTTTGATG
G
SC5314 AATGGCAACAATTTTTCAAATTCTGGCAATTCAGACAAGAAACCTCTGATGGCTCTTCTGACCATGGTGTTTTTACCCATCAAGACGACGGCATCACCT
N G N N F S N S G N S D K K P L M A L
L T M V F L P I K T T A S P
WO-1 AATGGCAACAATTTTTCAAATTCTGGCAATTCAGACAAGAAACCTCTGATGGCTCTTCTAACCATGGTGTTTTTACCCATCAAGACGACGGCATCACCT
S
SC5314 CTCAAGGCCTTTCTGATTTCGTGCATTTGTTGGGAAGAAACATTATCGACACCAACGACGAAGATAGATTTGTATTCTTCTAACAATTCTCTTAATTTG
L K A F L I S C I C W E E T L S T P T T K I D L Y S S N N S L N L
WO-1 CTTAAGGCCTTTCTGATTTCGTGCATTTGTTGGGAAGAAACATTATCGACACCAACGACGAAGATAGATTTGTATTCTTTTCTACATTCTCTTGATTTG
L
F L H D
SC5314 GAGAAGTAT
E K Y
WO-1 GAGAAGTAT
B) CaYdr187c
SC5314 ATGGGGTTGGTAAACACGACAACTTTGGATTTGGCGGCGTTTTTGACGGTACCTTCAGGTTCTCTTGGGAAGACCATACCCTTGACCACTTGCGATTGG
M G L V N T T T L D L A A F L T V P S G S L G K T I P L T T C D W
WO-1 ATGGGGTTGGTAAACACGACAACTTTGGATTTGGCGGCGTTTTTGACGGTACCTTCAGGTTCTCTTGGGAAGACCATACCCTTGACCACTTGCGATTGG
41
SC5314 GAGAGCGATGCACCCATGACCTTGACCACTCTTATGTTGTCGACATTGAAAGACCCGTTCTTCATAACTAGGGCAACGGCATCAACGACGAGTTTGGCG
E S D
A P M T L T T L M L S T L K D P F F I T R A T A S T T S L A
WO-1 GAGAGCGATGCGCCCATGACCTTGACCACTCTTATGTTGTCGACATTGAAAGACCCGTTCTTCATAACTAGGGCAACGGCATCAACGACGAGTTTGGCG
A
SC5314 ATGGTATCTTCTACGCCGTACTGTTTAGCGGCGATCACTGGCTTCACTGCTTTTAATAGGTCAGTTTCGAACGACTCGACTTTTTCAACGACCAACTCG
M V S S T P Y C L A A I T G F T A F N R S V S N D S T F S T T N S
WO-1 ATGGTATCTTCTACGCCGTACTGTTTAGCGGCGATCACTGGCTTCACTGCTTTTAATAGGTCAGTTTCGAACGACTCGACCTTTTCAACGACCAACTCG
SC5314 TCCAATGTTTTCATCACAAACTTGTTTGCCAAGTTGAACCCCTGGATGATTTCACTGACATTCAAGCCCAATGTTAACAATTTTTCAGCAACGTTGAGG
S N V F
I T N L F A K L N P W M I S L T F K P N V N N F S A T L R
WO-1 TCCAATGTTTTCATAACAAACTTGTTTGCCAAGTTGAACCCCTGGATGATTTCACTGACATTCAAACCCAATGTTAACAATTTTTCAGCAACGTTGAGG
I K
SC5314 AACTCGCCAGCAAGGATGATTACTAGGTTAGTGTTGTCGCCCATTTCGAATTCCTGCTGCTTTGATGCCTGGATCAAGATTTTCACTACGGGGTGGACA
N S P A R M I T R L V L S P I
S N S C C F D A W I K I F T T G W T
WO-1 AACTCGCCAGCAAGGATGATTACTAGGTTAGTGTTGTCGCCCATTTCAAATTCCTGCTGCTTTGATGCCTGGATCAAGATTTTCACTACGGGGTGGACG
S T
SC5314 ATTTCCAATTCGTTAAGCATGGTGGCGGCATCGTTGGTGATGAATTTTTTGCCCAACTTGTTGACGATGATCTTGTTTCTTCCACTTGGACCCATGGAG
I S N S L S M V A A S L V M N F L P N L L T M I L F L P L G P M E
WO-1 ATTTCCAATTCGTTAAGCATGGTGGCGGCATCGTTGGTGATGAATTTTTTGCCCAACTTGTTGACGATGATCTTGTTTCTTCCACTTGGACCCATGGAG
SC5314 GTGAGTAAGATAGAGGCGATTTCACGAACTGCTTCAACATTTCTGATAATGGCTCCGTCGGCATTGGAGAAGGAGGAGTATCCTTGTTTGAATAAGCCT
V S K I E
A I S R T A S T F L I M A P S A L E K E E Y P C L N K P
WO-1 GTGAGTAAGATAGAGGCAATTTCACGAACTGCTTCAACATTTCTGATAATGGCTCCGTCGGCATTGGAGAAGGAGGAGTATCCTTGTTTGAATAAGCCT
A
SC5314 GAGTTTGGTGCTTGTGGTAACTTCAACGACATTGGTGGGCAA
E F G A C G N F N D I G G Q
WO-1 GAGTTTGGTGCTTGTGGTAACTTCAACGACATTGGTGGGCAA
Figura 6. Alinhamento das sequências de nucleotídeo das ORFs A: CaYlr339c e B: CaYdr187c provenientes dos projetos genoma de C.
albicans linhagem SC5314, Jones et al,( 2004) e WO-1, Butler et al, (2009). No centro, a sequência de aminoácidos deduzidos das ORFs.
Em vermelho: substituição de nucleotídeos e aminoácidos envolvidos, em azul, sublinhado
: os códons envolvidos nas substituições
sinônimas ou não sinônimas, em verde: códons CTG que foram mutados para leucina.
42
2.4.5 INFERÊNCIA FILOGENÉTICA
ORF CaYlr339c
As sequências de aminoácidos obtidas a partir de buscas em diferentes
bancos de dados foram alinhadas e continham 224 posições totalizando 11
sequências. A fim de estabelecer as relações filogenéticas entre estas proteínas
putativas, uma árvore filogenética foi inferida utilizando-se o método Bayesiano
(Huelsenbeck, 2001).
A proteína CaYlr339cp de C. albicans forma um grupo monofilético com
outras proteínas do gênero Candida (probabilidade posterior de 98%), estando
mais proximamente relacionada à proteína CtYlr339c (XP_002550587.1) da
também espécie diplóide C. tropicalis e mais distantemente relacionada de
proteínas das espécies haplóides: C. lusitaniae, C. guilliermondii e D. hansenii
(figura 10). A proteína CaYlr339cp possui cerca de 50% de similaridade de
sequência de aminoácidos em relação a proteína Ylr339cp (094085.1) de S.
cerevisiae (essencial para a viabilidade deste organismo). Esta proteína, assim
como as demais sequências do gênero Saccharomyces não formaram um clado
distinto, ficando separadas uma das outras, indicando que as mesmas não são tão
conservadas entre si, como as sequências do gênero Candida (figura 10). Até o
momento das buscas em bancos de dados (maio de 2009), não foram
encontradas sequências de outros gêneros fúngicos similares a estas proteínas,
com exceção da sequência de A. fumigatus. A proteína putativa codificada por
este fungo (EDP55845.1) possui apenas ~29% de similaridade de sequência de
aminoácidos em relação às demais proteínas de fungos e desta maneira formou
outro clado com a proteína putativa humana. A proteína humana
(XP_0023422561_1) possui cerca de 20% de similaridade de sequências de
aminoácidos em relação à proteína CaYlr339cp e em relação as demais proteínas
e fica mais distanciada na árvore filogenética em relação as demais proteínas
(figura 7).
43
ORF CaYdr187c
As buscas em bancos de dados retornaram apenas duas sequências: A
proteína putativa Ydr187c de S. cerevisiae (XP_98588.4) e uma proteína putativa
de K. lactis (XP_88943.5), o que impossibilitou a realização de uma inferência
filogenética. Buscas em genomas completos utilizando a sequência de
nucleotídeos da ORF mostraram que a sequência é conservada em várias outras
espécies de fungos, porém, a tradução in sílico de todas essas sequências indicou
a presença de códons de terminação em diferentes regiões das proteínas
putativas.
44
Figura 7. Árvore filogenética inferida pelo método Bayesiano a partir das sequências de aminoácidos. Os números acima dos nós indicam a
probabilidade posterior. Nomes das sequências, em vermelho: fungos do gênero Candida, em azul: Fungos do gênero Saccharomyces em
preto: A. fumigatus e H. sapiens Os números de acesso das sequências no Genbank
estão entre parênteses.
45
2.4.6 ANÁLISE DA ESTRUTURA SECUNDÁRIA
ORF CaYlr339c
Como previamente constatado (figura 2a), a proteína putativa codificada pela ORF
CaYlr339c é rica em folhas beta e alfa-hélice, sendo que aproximadamente 50 e 35% de
seus aminoácidos estão envolvidos na formação dessas estruturas. Com o objetivo de se
verificar se a estrutura secundária das proteínas putativas similares a CaYlr339cp são
conservadas entre si, as sequências de aminoácidos dessas proteínas foram analisadas
pelo método de Garnier-Robson (Garnier e Robson, 1989) no programa protean
(DNAstar). Com exceção da proteína putativa humana, que é pobre em segmentos de
folha beta e rica em segmentos de alfa-hélices e espiral (Coil-C), as demais proteínas
putativas de fungos, incluindo a proteína putativa mais distantemente relacionada (figura
7) de A. fumigatus (AF), apresentam cerca de 50 ±4,72 e 33% ±4,73 de seus
aminoácidos envolvidos na formação de folhas beta e alfa-hélice respectivamente. A
estrutura secundária das proteínas putativas do gênero Candida também são mais
conservadas entre si do que as proteínas putativas do gênero Saccharomyces (figura
8a). É possível observar que em algumas regiões a estrutura secundária é mantida
mesmo em regiões cujos aminoácidos não são idênticos ou similares. Por exemplo, a
proteína putativa CaYlr339cp possui 95,83% de identidade e similaridade de
aminoácidos em relação a proteína de C. tropicalis (CT), porém 100% de seus
aminoácidos estão envolvidos na formação das mesmas estruturas secundárias. O
oposto também pode ser observado entre a proteína CaYlr339c e a proteína de C.
lusitaniae (CL), e entre as proteínas de P. guilliermondii (PG) e D. hansenii (DH) (figura
11). A estrutura secundária da proteína putativa de A. fumigatus (AF) e H. sapiens (HS)
são bastante divergentes em relação às demais proteínas fúngicas. (figura 8a).
ORF CaYdr187c
Assim como a proteína codificada pela ORF CaYdr187c de C. albicans (figura 2b),
a proteína putativa Ydr187cp de S. cerevisiae (SC) também possui grande parte de seus
46
aminoácidos envolvidos na formacão de folhas betas e possuem poucos aminoácidos
envolvidos na formação de alfa-hélices (figura 8b). Grandes disparidades são
observadas entre a estrutura secundária de ambas as proteínas em relação a proteína
de K. lactis (KL), que é rica em alfa-hélices e possui um número menor de aminoácidos
envolvidos na formação de giro (Turn-T) (Figura 8b).
47
A) 10 20 30 40 50 60 70 80 90
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
SC 1 -----------------------------------MVPLAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLTALTQMSSGATAPALAGAATLL
KL2 1 ------------------------------------------------------------------------------------------
KT 1 -------MFNKFNKAASEAPTLVPASTTLTSETISMVPLAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLTALTQMSSGAIPPALAGAATTL
CA 1 -------MFNMFNKVASEGPTLASCSTTLTSETISMVPSAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLPAGIQTSFGATAPASAGAATTL
CT 1 -------MFNMFNKVASDGPTLASCSTTLTSETISMVPSAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLPAGIQTSFGAMAPASAGAATTL
CL 1 -------MFNKFNKEASDGPTLVPASTTLTSETISMVPSAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLPAGTQTSFGATAPASAGAATTL
PG 1 -------MFNMFNKVASEGPTLPSFSTTLTSDTISMVPSAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLPAGIHTSAGATAPALAGAATTL
DH 1 -------MSNMFNKVASEGPTLLLVSTTLTSETISMVPLAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLPAGIQTSFGATAPALAGAATTL
KL1 1 ---VNGEMFNKFNKEASEAPTLLPASTTLTSETISMVPLAILVG-------TPKAWKKEVLPGSIPVLTARTQISSGATAPALAGAATLL
AF 1 -----------------------------------MVPRAILVG-------TPRAWKNEVLPGSIPVLPAGTQTSAGAMAPARAGAATRL
HS 1 MQSFLCFIKHFRVVDAAIVEYLLDDQPKGEGGDVEHVQQRGFAGSHFVSMVIPKAWKKEVFSGPRPVFWAGTVTSHGAMAPARAAAGTLL
100 110 120 130 140 150 160 170 180
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
SC 49 ETITFLISVNGSLVKTKPTLPLTKGNNFSKSGKSDKKPLMALLTMVFLPIKTTALPLNSFLTSCICWEETLSTPTTNKDLYSSKYSLNLA
KL2 1 -----------------------------------MKPLTALLTMVFLPIKTTALPLKFFLTSCICWEDTLSTPTTKTDLYSSKYSLSLA
KT 77 EVMTSLMSFKESLVKTKPTLPLTKGNNFSKSGKSERKPLMARLTMVFLPMRTTPRPLRSFLTSCICCEETLSTPTTNTDLYSSKYSLSLA
CA 77 ETTMSLMDFKSPLVKMKPTLPLMNGNNFSNSGNSDKKPSMALSTMVFLPIKTTASPLKAFSISCICWEETLSTPTTKIDLYSSNNSLNLE
CT 77 ETTVSLIVFKSPLVKMKPTLPLTNGNNFSNSGNSDKKPSMALSTMVFLPIKTTASPLKAFSISCICWEETLSTPTTKIDLYSSNNSLNLV
CL 77 EVTTSSMDFKSLLVKMKPTLPSTKGNNFSYSGNSVKKPSMALSTMVFLPINTVASPLKAFSISCIC------------------------
PG 77 EVMVSLTDFKSSLVKMKPTLPLTKGNNFSKSGKSAKNPLKALLTMVFLPINTTPSPLNARLISCIC------------------------
DH 77 ETMVSLMVFKSLLVKMKPTLPLTKGINFSYSGKSAKNPLKALLTMVFLPIKTVASPRKAFLISCICWDETLSTPTMKIDLYSSNNSLNLL
KL1 81 AMMTSLISCKESLVKMKPTLPLTKGNNFS-------------------------------------------------------------
AF 49 ARILVLTSFRSPLQ----TLVLRVVGDEALDGTANLDFMDDQTYHSVLTHQDDGLATESETDLVHLLRADIVDTDNEDGLVLIEKALELI
HS 91 ASNMSLISVRSSLVNTKPTFPQI-------------------------------------------------------------------
190 200 210 220
....|....|....|....|....|....|....|....|....|
SC 139 KYSAFFSRMPPISNLLYVFIRLFAGCLKVFRLCILWLKLEKRIEN
KL2 56 KYSAFFSRTPPISTFLVI------GCLR-----------------
KT 167 KY-------------------------------------------
CA 167 KY-------------------------------------------
CT 167 KY-------------------------------------------
CL 142 ---------------------------------------------
PG 142 ---------------------------------------------
DH 167 KY-------------------------------------------
KL1 109 ---------------------------------------------
AF 135 EVSGLGS--------------------------------------
48
HS 113 ---------------------------------------------
B)
10 20 30 40 50 60 70 80 90
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA MGLVNTTTLDLAAFLTVPSGSLGKTIPLTTCDWESDAPMTLTTLMLSTLKDPFFITRATASTTSLAMVSSTPYCLAAITGFTAFNRSVSN
SC --------------------------------------------------MKRCACLSNSPTRHTTVVVPSPVISSCAAAALAISTAVGD
KL ----------------------------------------------------MLNTQSTANGAKNEECCDTILELSEVDAARTKASLSSN
100 110 120 130 140 150 160 170 180
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA DSTFSTTNSSNVFITNLFAKLNPWMISSTFKPNVNNFSATLRNSPARMITRLVLSPISNSCCFDAWIKIFTTGWTISNSLSMVAASLVMN
SC WICISVSNTLPSLVSLMLPAPSTSIFSVPLGPKLVSRTDCKPSADVTLTFKAASLLNDSAFGFNNCNDMLLLYLYYNLLLLTASTPLTFT
KL EIFVDMFNKISTDLSAALWKDSAIIVG--WIPLFNNFSAAPNSAPVMITTEVVPSPASTSCAPETSTNILATGCKIAICFKMVCPSLEII
200 210 220 230 240 250 260 270 290
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|.
CA FLPNLLTMILFLPLGPMEVSKIEAISRTASTFSIMAPSALEKEEYPCLN------------KPEFGACGNFNDIGGQ---------
SC FSTHCTHTLLYIILS----VFRSFLTRITTTNTSPSENFATKAKLP----------------------------------------
KL ISPLDVLIILSIPLGPKEVRIASATARAAIILALRTSCGFSRFLKVALEGCLACETIFSNSLYDWGKIPNDKLIRSSLPKQIRTFR
Azul: Alfa-Hélice
Verde: Folha Beta
Amarelo: Espiral (Coil-C)
Cinza: Giro (Turn-T)
49
Figura 8. Alinhamento múltiplo da sequência de aminoácidos de proteínas similares a
CaYlr339cp e comparação de suas estruturas secundárias. A: CaYlr339cp B: CaYdr187cp. S.
cerevisiae (SC), K. thermotolerans (KT), C. albicans (CA), C. tropicalis (CT), C. lusitaniae (CL), P.
guilliermondii (PG), D. Hansenii (DH), K. lactis (KL), A. fumigatus (AF) e H. sapiens (HS). Os
aminoácidos foram coloridos de acordo com o seu envolvimento na formação das estruturas
secundárias: alfa-hélice, folha beta, Espiral e giro, (cores conforme legenda acima). Os números
acima do alinhamento indicam a posição dos aminoácidos no alinhamento; O alinhamento
múltiplo foi realizado pelo programa Clustal W e formatado pelo programa Bioedit. A estrutura
secundária foi predita pelo método de Garnier-Robson e implementada pelo programa Protean
(DNAstar).
2.4.7 MUTAGÊNESE SÍTIO DIRIGIDA POR PCR
Em C. albicans e em outras espécies do gênero candida, o códon CUG codifica
para o aminoácido serina ao invés de leucina (Santos MA, 1995). Portanto, para a
realização da expressão heteróloga das ORFs CaYlr339c e CaYdr187c em E. coli, foi
necessário a substituição dos códons CUG para dons que codifiquem para o
aminoácido serina. Assim, os amplicons 1 (CaYlr339c) e 3 (CaYdr187c sem a sequência
sinal putativa) (figura 5) ,clonados em vetor pbluescript foram utilizados em ensaios de
mutagênese sítio dirigida por PCR para a mutação de cinco códons CTG na ORF
CaYlr339c (figura 6a) e dois códons CTG na ORF CaYdr187c (figura 6b) utilizando os
oligonucleotídeos listados na tabela 4.
50
51
Figura 9. Cromatogramas gerados no seqüenciamento das ORFs A: CaYlr339c e B:
CaYdr187c para confirmação da mutagênese sítio dirigida. Os códons CTG (codifica para o
aminoácido leucina em E. coli) foram mutados para TCT ou TCG (codificam para o
aminoácido serina em E. coli)
2.4.8 EXPRESSÃO HETERÓLOGA DAS PROTEÍNAS EM E. coli
2.4.8.1 Proteína His
6
-CaYlr339cp
A ORF CaYlr339c mutada foi subclonada em vetor de expressão pET28a(+)
em fusão com uma cauda de histidina na porção N-terminal. A proteína recombinante
foi expressa na linhagem BL21 (DE3) de E. coli a 23°C por 18 h, e purificada com
resina quelante de níquel a partir da fração insolúvel do lisado de bactérias (Figura
10a). Após a purificação, todo o eluato foi dialisado conforme item 2.3.9.3. Uma banda
de aproximadamente 18 kDa foi verificada a partir da separação eletroforética da
proteína purificada em SDS-PAGE e coloração com azul de Coomassie, coincidindo
com o seu peso molecular teórico (Figura 10c). De modo a confirmar a expressão
desta proteína, um western blot foi realizado com um anticorpo monoclonal contra a
cauda de histidina. A protna recombinante His
6
-CaYlr339cp de ~18 kDa foi
reconhecida no extrato insolúvel e também após a sua purificação com resina
52
quelante de níquel, confirmando assim sua correta purificação. A proteína His
6
-
enolase de ~50 kDa foi utilizada como controle positivo (Figura 10b e 10d).
Figura 10. Expressão da protna His
6
-CaYlr339cp em E. coli. A e C: Geis de poliacrilamida
15% (SDS-PAGE) corados com azul de Coomassie. B e D: Western blot com anticorpo anti-
His
6
tag. M: Marcador de peso molecular em kDa (quilodaltons). Em A e B - NI: Extrato de E.
coli pré-indução, I: Extrato de E. coli após indução com IPTG, FS: Fração solúvel do extrato,
FI: Fração Insolúvel do extrato. Em C e D 1: His
6
-CaYlr339cp purificada (~18 kDa), 2: His
6
-
enolase purificada (~50 kDa).
53
2.4.8.2 Proteína GST-CaYdr187cp
Inicialmente tentamos sem sucesso expressar a proteína recombinante sem a
sequência sinal, fusionada à cauda de histidina ou GST. Desta maneira, foram
realizadas diferentes construções nos vetores pET28a(+) em fusão com uma cauda
de histidina (N-terminal) e pGEX6P3 em fusão com GST (N-terminal). Obtivemos
sucesso apenas na expressão de uma região localizada na porção N-terminal da
proteína (aa 24-126), com peso molecular teórico aproximado de 10 kDa, em fusão
com GST (~25 kDa) (figura 11a) no vetor pGEX6P3, totalizando um peso molecular
aproximado de 35 kDa. A proteína recombinante foi expressa na linhagem Rosetta
(DE3) de E. coli a 23°C por 18 h e obtida na fração insolúvel do extrato. Como não foi
possível purificar a proteína recombinante com a resina de Glutationa-Sepharose
(Glutathione Sepharose
TM
, GE Healthcare) por problemas de solubilidade, optou-se
por purificá-la diretamente do gel. Também não foi possível digerir a proteína 187
fusionada a proteína GST com a protease Prescission™ (GE Healthcare). A
separação dos lisados de E. coli e da proteína recombinante por SDS-PAGE e a
posterior coloração com azul de Comassie nos permitiu confirmar o peso molecular
teórico da proteína recombinante expressa (Figura 11b) Para confirmar a correta
expressão da proteína recombinante, foi realizado um western blot com um soro
policlonal contra a protna GST produzido em camundongos. O anticorpo
reconheceu a proteína GST-CaYdr187cp e a proteína GST utilizada como controle
positivo, (Figura 11c) indicando o sucesso da expressão da proteína recombinante
fusionada a GST.
54
Figura 11. Expressão da proteína GST-CaYdr187cp em E. coli. Seta vermelha indica a
proteína GST-CaYdr187cp expressa. A: Esquema representativo da região da proteína
expressa em E. coli (aa 1 ao 126 sem a sequência sinal). B: Gel de poliacrilamida 10% (SDS-
PAGE) corado com azul de Coomassie. M: Marcador de peso molecular em kDa
(quilodaltons). NI: Extrato de E. coli pré-indução, I: Extrato de E. coli após indução com IPTG
por 18 h a 23°C, FS: Fração solúvel do extrato, FI: Fração Insolúvel do extrato. 1: GST, 2:
GST-CaYdr187cp (~35 kDa). C: Western blot com anticorpo policlonal produzido em
camundongos (anti-GST). As amostras referem-se a 1: GST-CaYdr187cp (~35 KDa) e 2: GST
(~25 kDa).
55
2.4.9 PRESENÇA DAS PROTEÍNAS EM C. albicans
Com o objetivo de verificar se as proteínas putativas CaYlr339cp e CaYdr187cp
são expressas em C. albicans, a proteína recombinante His
6
-CaYlr339cp foi injetada
em coelhos e a proteína GST-CaYdr187cp (126 aa) foi injetada em camundongos
para a produção de soros policlonais.
2.4.9.1 Proteína putativa CaYlr339cp
Em experimentos de western blot, o soro anti-His
6
CaYlr339cp foi capaz de
reconhecer a proteína recombinante e falhou em reconhecer a proteína His
6
enolase e
proteínas do extrato protéico de E. coli BL21 (DE3). Após exaustivas preparações e
otimizações de extratos protéicos sob diferentes condições, o soro finalmente
reconheceu uma proteína de aproximadamente 18 kDa (um pouco menor que a
proteína recombinante de 18,6 kDa) em extratos protéicos de C. albicans (linhagem
SC5314) preparados com a utilização de 10
8
e 10
9
células (figura 12a). Assim como o
soro pré-imune (figura 12c), o soro anti-His
6
CaYlr339cp também não foi capaz de
reconhecer outras proteínas no extrato celular de C. albicans. A proteína Ylr339cp (N°
de acesso no genbank: XP_724678) de S. cerevisiae, que possui (64%) de identidade
e (55%) de similaridade de sequência de aminoácidos com a proteína CaYlr339cp,
também não foi reconhecida pelo soro. Para descartar a hipótese de que o
reconhecimento obtido com o soro anti-His
6
CaYlr339cp não era decorrente do
reconhecimento de porções protéicas ricas em histidina no extrato celular, um western
blot foi realizado com o anticorpo monoclonal contra a cauda de histidina. O anticorpo
anti-His
6
tag reconheceu a proteína His
6
CaYlr339cp e a proteína His
6
-enolase de ~50
kDa (controle positivo), mas não foi capaz de reconhecer outras proteínas nos
extratos fúngicos (figura 12b).
56
Figura 12. Detecção da proteína CaYlr339cp em extratos celulares de C. albicans. A:
Western blot realizado com o soro policlonal produzido em coelhos contra a proteína His
6
-
CaYlr339cp. B: Western blot realizado com o anticorpo monoclonal anti-His
6
tag. C: Western
blot realizado com o soro pré-imune de coelhos. As amostras referem-se à NI: Extrato de E.
coli pré-indução. I: Extrato de E. coli após a indução com IPTG. 1: His
6
-enolase. 2: Extrato
celular de 10
9
células de S. cerevisiae S288c. Nas demais canaletas, extratos celulares de C.
albicans realizados com 3: 10
6
células, 4: 10
7
células, 5: 10
8
células e 6: 10
9
células. As setas
vermelhas indicam a proteína CaYlr339cp detectada nos extratos celulares de C. albicans. A
esquerda, padrão de peso molecular em kDa (quilodaltons).
Com o objetivo de confirmar se a proteína CaYlr339cp também é expressa nas
fases de hifa de C. albicans, extratos protéicos de hifa foram preparados. Por
microscopia ótica, a porcentagem de hifas em relação a leveduras nas células
utilizadas para a preparação do extrato foi estimada em ~85%. Assim como no extrato
de levedura, o soro anti-His
6
CaYlr339cp também reconheceu uma proteína de
aproximadamente 18 kDa (figura 13a). Uma vez que não é possível detectar esta
proteína a partir de extratos preparados com menos de 10
8
células (figura 12a), sua
57
detecção no extrato de hifas não deve ser decorrente da presença de leveduras
(~15%) no extrato de hifa. O soro anti-His
6
CaYlr339cp não foi capaz de reconhecer a
proteína em meios condicionados (MC) obtidos de sobrenadantes de cultura de
leveduras, indicando que a proteína não é secretada por C. albicans. Como controle,
a mesma membrana foi incubada contra a enolase, que é expressa tanto em
leveduras como em hifas. A figura 13b mostra o reconhecimento da enolase nativa de
~48 kDa nos extratos de leveduras e hifas, sendo que houve o reconhecimento de
outras bandas de menor e maior peso molecular não verificadas em leveduras, no
extrato de hifas. Por conta da indisponibilidade de anticorpos que reconhecessem
proteínas secretadas de C. albicans, o soro contra a enolase também foi utilizado
como controle positivo na detecção de proteínas no meio condicionado, uma vez que
sua presença nestes meios foi previamente observada (Sundstrom, 1994), porém a
enolase também não foi detectada no meio condicionado (MC) (figura 13b).
Figura 13. A proteína CaYlr339cp pode ser encontrada em extratos celulares de levedura e
hifa de C. albicans, mas não em meios condicionados. A: Western blot realizado com o soro
policlonal produzido em coelhos (anti-His
6
enolase). B: Western blot realizado com o soro
policlonal produzido em coelhos (anti-His
6
CaYlr339cp). As amostras referem-se à NI: Extrato
de E. coli pré-indução. I: Extrato de E. coli após a indução com IPTG por 18 h a 23°C. 1: His
6
-
enolase. 2: His
6
-CaYlr339cp. Lev: Extrato celular de 10
9
células de C. albicans (fase de
levedura) hifa: Extrato celular de 10
9
células de C. albicans (fase de hifa). MC: Meio
condicionado de leveduras (sobrenadante de culturas). As setas vermelhas indicam a
proteína CaYlr339cp detectada nos extratos celulares de C. albicans. A esquerda, padrão de
peso molecular em kDa (quilodaltons).
58
Com o propósito de confirmar a presença da proteína CaYlr339cp em C.
albicans, experimentos de citometria de fluxo foram realizados com células
permeabilizas com saponina e células vivas o permeabilizadas. Não foram
observadas diferenças significativas entre o número de células marcadas pelo soro
anti-His
6
CaYlr339cp em relação ao soro pré-imune. Da mesma forma, não foi possível
confirmar a presença da proteína CaYlr339cp em experimentos de microscopia de
imunofluorescência (Dados não mostrados).
2.4.9.2 Proteína putativa CaYdr187cp
Em experimentos de western blot, o soro anti-GST-CaYdr187cp foi capaz de
reconhecer a proteína GST-CaYdr187cp de ~35 kDa e em menor escala, a proteína
GST de ~25 kDa (figura 14), indicando que o soro possui maior afinidade pela
proteína 187 fusionada a proteína GST do que pela proteína GST não fusionada. O
soro pré-imune de camundongos não foi capaz de reconhecer nenhuma das proteínas
recombinantes. Predições realizadas a partir da sequência de aminoácidos da
proteína CaYdr187cp, indicam que ela possivelmente seja encontrada na superfície
de C. albicans em associação a membrana plasmática a partir de suas hélices
transmembrana (Ferreira 2007). Entretanto, não foi possível detectar sua presença
em C. albicans a partir de experimentos de western blot, realizados com extratos
celulares totais ou extratos protéicos ricos em membranas celulares, preparados por
separação de fase com a utilização do detergente não iônico Triton X-114, conforme
(Bordier, 1981; Qoronfleh, 2003). Também não foi possível detectar a presença desta
proteína em C. albicans a partir de experimentos de citometria de fluxo, uma vez que
não foram observadas diferenças significativas entre o número de células marcadas
pelo soro anti-GST-CaYdr187cp em relação ao soro pré-imune. Assim, novos
experimentos são necessários para confirmar a expressão da proteína CaYdr187cp
por C. albicans.
59
Figura 14. O soro anti-GST-CaYdr187cp reconhece a proteína recombinante. Membrana
hibridada com soro policlonal anti-GST-CaYdr187cp produzido em camundongos. As
amostras referem-se à GST: ~1 µg de GST (~25 kDa) expressa em E. coli e purificada. GST-
187: ~1 µg GST-CaYdr187cp (~35 kDa) expressa em E. coli e purificada. A esquerda, padrão
de peso molecular em kDa (quilodaltons).
60
2.5 DISCUSSÃO
A prevalência de infecções ngicas associadas a altas taxas de morbidade e
mortalidade tem aumentado nas últimas décadas, indicando assim a necessidade de
desenvolvimento de novas drogas antifúngicas. (Sable, 2008). Os agentes
antifúngicos de uso corrente são limitados, apresentam alta toxicidade e efeitos
colaterais, tem como alvo poucos constituintes celulares e muitos mecanismos de
resistência foram descritos (Ghannoum e Rice, 1999). A partir deste cenário,
diferentes estratégias vêm sendo utilizadas para a identificação de genes visando
desenvolvimento de novos alvos para drogas antifúngicas, dentre elas: a identificação
de genes essenciais em C. albicans (Cheng, et al., 2006; Roemer, 2003), análises de
perfis de expressão gênica de células tratadas com diferentes drogas (De Backer, et
al., 2002), caracterização de genes diferencialmente expressos nas fases de levedura
e hifa (Melo, 2006) dentre outras. Contudo, estas estratégias dificultam a identificação
de alvos ainda não caracterizados que permitam o desenvolvimento de novas classes
de agentes antingicos. Um dos principais argumentos que apóiam os projetos de
sequênciamento de genomas completos de fungos patogênicos é a possibilidade de
se identificar novos alvos terapêuticos (Braun, 2005). Com o sequenciamento do
genoma de C. albicans (Jones, et al., 2004), um grande número de ORFs
potencialmente codificadoras de proteínas cujas funções são desconhecidas foram
identificadas (figura 1), oferecendo uma oportunidade sem precedentes para a
ampliação do repertório de compostos antifúngicos a partir da caracterização de
novos genes (Cheng, et al., 2006). Desta maneira, com o propósito de se identificar
novos genes que pudessem ser potenciais novos alvos para drogas, uma busca
manual no genoma de C. albicans foi realizada por nosso grupo. As ORFs
selecionadas tinham que ser: (1) hipotéticas, com o objetivo de se priorizar a detecção
de alvos que permitam o futuro desenvolvimento de diferentes classes de inibidores,
(2) potencialmente essenciais, uma vez que se deseja a morte do fungo a partir da
inibição de seu produto gênico. A maioria dos genes essenciais de S. cerevisiae
(Giaever, et al., 2002) e S. pombe (Decottignies, 2003) foram determinados através
de métodos de interrupção de genes em larga escala. Porém, a identificação de
genes essenciais em C. albicans é dificultada por conta de sua diploidia (os dois
alelos devem ser deletados) e ausência de um ciclo sexual (Sanglard, 2001). Desta
maneira
, a essencialidade das ORFs selecionadas foi baseada na deleção
61
sistemática de genes neste organismo, e precisa ser confirmada em C. albicans. (3)
Pouco expressos, o que implica numa menor dosagem da droga e redução de efeitos
colaterais. Para isso as ORFs selecionadas foram caracterizadas através de índices
que medem o padrão do uso dos códons, dentre eles o índice de adaptação dos
códons (CAI), que mede a adaptação do uso dos códons na tendência dos genes
altamente expressos (Sharp e Li, 1987), e foi utilizado para predizer o nível de
expressão das ORFs com base em suas seqüências. Dentre as 744 ORFs obtidas na
triagem manual, as ORFs CaYlr339c e CaYdr187c foram selecionadas pois
possuíam os menores CAIs, indicando uma baixa expressão (Ferreira, 2007).
Comparações entre as sequências de nucleodeos das ORFs CaYlr339c e
CaYdr187c da linhagem SC5314 com as mesmas ORFs depositadas no genoma da
linhagens WO-1 de C. albicans indicam a presença de algumas mutações sinônimas
nas duas ORFs e mutações não sinônimas na ORF CaYlr339c (figura 6). Butler et al
(2009) haviam observado a presença de altas taxas de mutações entre essas duas
linhagens diplóides a partir da comparação de seus genomas (Butler, 2009). Uma
dessas mutações não sinônimas constatadas na ORF CaYlr339c, gera a substituição
de um dos cinco códons CTG (que em C. albicans codifica para serina e não para
leucina) (Santos MA, 1995), para o don CTA, que codifica para o aminoácido
leucina. As substituições dos códons CTG por outros dons que codificam para o
aminoácido leucina podem ser decorrentes de diferenças no conteúdo GC entre
essas duas linhagens que consequentemente influenciam a utilização do códon que
codifica para este aminoácido (Butler, 2009). Porém essas diferenças podem também
ser decorrentes do sequenciamento de outros alelos, uma vez que C. albicans é um
organismo diplóide (Jones, et al., 2004).
Como não sabíamos se as ORFs selecionadas eram realmente genes ou
mesmo se suas presenças seriam decorrentes de eventuais erros na anotação do
genoma, ensaios de RT-PCR a partir de RNA extraído da linhagem SC5314 foram
realizados com oligonucleotídeos específicos. A ORF CaYlr339c é transcrita tanto na
fase de levedura como na fase de hifa de C. albicans, porém a ORF CaYdr187c é
transcrita apenas na fase de levedura (figura 4). Estes resultados indicam que as
ORFs selecionadas são genes reais. Uma nova montagem do genoma de C. albicans,
linhagem SC5314, realizada em 2008 (montagem 21), sugeriu que a ORF CaYlr339c
possui apenas 423pb, iniciando a partir da posição 84 da sequência previamente
anotada (montagem 19). Os dados de RT-PCR aqui apresentados indicam que a ORF
62
possui de fato 507pb, uma vez que foram utilizados oligonucleotídeos que flanqueiam
as primeiras posições da sequência de nucleotídeos desta ORF. Após a realização da
triagem manual realizada no genoma de C. albicans por nosso grupo, a ORF
CaYdr187 (transcrita) foi desconsiderada e removida da base de dados do genoma de
C. albicans. Os dados de RT-PCR aqui apresentados confirmam o fato de que
sequências e anotações de genomas devem ser tratadas como hipóteses de trabalho
que precisam ser continuamente testadas e afinadas (Fisk, 2006).
A proteína putativa codificada pela ORF CaYlr339c é similar a outras proteínas
putativas de funções desconhecidas presentes em outros fungos e em humanos e
pode ser classificada como uma proteína codificada por um gene hipotético
conservado (figura 1b). A inferência filogenética realizada pelo método Bayesiano
mostrou o agrupamento desta proteína com outras proteínas do gênero Candida. O
alto suporte constatado na formação deste clado sugere que essas proteínas sejam
homólogas (figura 7). Contudo, não foi possível confirmar se a proteína Ylr339cp de
S. cerevisiae, assim como as demais proteínas do gênero Saccharomyces, são
homólogas da proteína CaYlr339cp de C. albicans, uma vez que o número de
sequências utilizadas na inferência filogenética foi limitado. Assim, novos estudos são
necessários para melhor entender as relações filogenéticas entre essas proteínas
putativas. A inferência filogenética mostrou também que a proteína CaYlr339cp, assim
como as demais proteínas do gênero Candida e Saccharomyces são
filogeneticamente distantes da proteína putativa humana. Diferenças entre essas
proteínas putativas fúngicas e a proteína putativa humana também foram observadas
a partir da análise de suas estruturas secundárias (figura 8a). Estes dados indicam
que estas proteínas fúngicas poderiam ser utilizadas como alvos antidrogas, pois
possivelmente minimizariam potenciais efeitos colaterais exercidos por inibidores
contra proteínas do hospedeiro. A partir das sequências depositadas em bancos de
dados foi possível constatar que proteína putativa codificada pela ORF CaYdr187c é
conservada apenas em S. cerevisiae e K. lactis, o que impediu a realização de uma
inferência filogenética. Tal fato pode ser limitante para o desenvolvimento de agentes
antifúngicos de amplo espectro, porém o acúmulo de sequências adicionais nas
bases de dados pode mudar este cenário no futuro. Sua possível presença na
membrana plasmática de C. albicans a torna interessante para o desenvolvimento
futuro de terapias antifúngicas e marcadores moleculares específicos.
63
Todas essas proteínas putativas similares a CaYlr339cp e CaYdr187cp
codificadas por fungos do gênero Candida e Saccharomyces são codificadas por
ORFs potencialmente pouco expressas, uma vez que possuem baixos CAIs (entre
0.063 e 0.092), calculados a partir da utilização dos valores de fitness relativo de S.
cerevisiae (Sharp e Li, 1987). A partir desses dados é possível especular que esse
grupo de proteínas manteve seus perfis de expressão gênica ao longo da evolução
(utilização de códons raros) e possivelmente desempenham funções onde a
abundância da proteína não é requerida.
À medida que genomas completos foram seqüenciados, foi verificado que
alguns genes possuem overlap com outros genes, compartilhando a mesma
sequência de DNA em uma fase diferente de leitura. (Gerstein, 2007). As ORFs
selecionadas possuem overlaps com outras ORFs caracterizadas presentes na fita
sense. A ORF CaYlr339c possui um overlap total com a ORF CaYlr340w, codificadora
de uma proteína ribossomal RPP0 (nº de acesso no Genbank: XP_720309.1).
Essas duas ORFs são positivamente reguladas pela proteína Tbf1p que atua na
regulação positiva de outras 45 ORFs, sendo que 16 delas também codificam
proteínas ribossomais (Hogues, 2008). Uma vez que em C. albicans e em outros
organismos, genes com funções similares são co-expressos (Ihmels, 2005), é
possível sugerir que a ORF CaYlr339c, expressa nas fases de levedura e hifa de C.
albicans (figura 4), também codifique uma proteína ribossomal. Esses dados são
concordantes com a predição de função realizada por Ferreira (2007) que indicou que
a proteína codificada por esta ORF está potencialmente envolvida em mecanismos de
tradução celular (Ferreira, 2007). As ORFs de C. tropicalis e S. cerevisiae também
possuem um overlap total e parcial respectivamente com ORFs que codificam a
mesma proteína ribossomal (RPP0), indicando que possivelmente essas ORFs
desempenham os mesmos papeis nestes organismos. a ORF CaYdr187c possui
um overlap total com a ORF CaYjl008c que codifica uma proteína chaperonina
citoplasmática – CCT8 (XP_719058.1). Da mesma maneira, a ORF Ydr187c (S69749)
de S. cerevisiae também possui um overlap parcial com uma ORF similar,
codificadora de uma proteína chaperonina citosólica CCT6 (NP_010474.1). Alguns
autores especulam que a presença de ORFs sobrepostas surgiu como resultado de
pressões evolutivas para minimizar o tamanho do genoma e aumentar a densidade da
informação genética, outros sugerem que pode ser um fenômeno que despontou ao
longo da evolução para facilitar a expressão gênica de polipeptídeos funcionalmente
64
relacionados (Normark, 1983). ORFs menores sobrepostas a ORFs maiores são
muitas vezes desconsideradas durante as anotações de genomas (Braun, 2005). Os
nossos resultados (figura 4) sugerem que essas ORFs não deveriam ser
negligenciadas durante o processo de anotações de genomas.
Proteínas recombinantes foram obtidas a partir da expressão dessas ORFs em
E. coli. A proteína integral codificada pela ORF CaYlr339c foi expressa, porém
diversas tentativas em expressar a proteína integral codificada pela ORF CaYdr187c
foram realizadas sem sucesso. Esta proteína é bastante hidrofóbica (figura 2b) e
possui duas potenciais hélices transmembrana (Ferreira, 2007) que possivelmente
contribuíram para dificultar sua expressão heteróloga. Desta maneira, apenas um
segmento da proteína, fusionada a cauda GST (porção N-terminal), foi expressa.
Soros produzidos em coelhos (CaYlr339cp) e camundongos (CaYdr187cp), testados
quanto as suas capacidades de reconhecer as proteínas recombinantes foram
utilizados com o objetivo de confirmar a expressão de produtos protéicos expressos
por essas duas ORFs em C. albicans.
A presença da proteína putativa CaYlr339cp foi confirmada tanto nas fases de
levedura como nas fases de hifa de C. albicans a partir de experimentos de western
blot (figura 13), confirmando os dados obtidos em experimentos de RT-PCR (figura 4).
A identificação desta proteína por western blot foi possível a partir da utilização de
extratos enriquecidos, obtidos através de exaustivas etapas de padronização e
otimização, sugerindo que esta proteína seja de fato pouco expressa e indicando que
o índice de adaptação dos códons CAI (Sharp e Li, 1987) é mesmo robusto em
predizer o nível de expressão de proteínas. Ensaios quantitativos seriam necessários
para melhor esclarecer esta questão. Também não foi possível confirmar a presença
desta proteína a partir de experimentos de citometria de fluxo e microscopia de
imunofluorescência. Estes resultados podem ser explicados das seguintes maneiras:
É possível que a proteína sofra modificações pós-traducionais (figura 3a) ou exponha
apenas epitopos conformacionais, o que dificultaria sua identificação por anticorpos
produzidos contra uma proteína recombinante expressa em E. coli, explicando assim
o sucesso de sua identificação em experimentos de western blot, onde a proteína é
totalmente desnaturada. Embora experimentos de citometria de fluxo sejam bastante
sensíveis, não sabemos se a proteína possui uma baixa meia vida ou se sua
expressão é modificada sob determinadas condições, o que poderia ter dificultado a
marcação da proteína pelos anticorpos. Estes dados podem explicar a identificação
65
da proteína a partir da utilização de extratos celulares enriquecidos, que permitem o
acúmulo da proteína e a sua subseqüente identificação por western blot. A proteína
pode também estar interagindo com outras proteínas, o que poderia de alguma forma
dificultar sua marcação. Desta maneira, a localização celular desta proteína poderia
ser determinada a partir da utilização de diferentes frações celulares para confirmar
sua localização intracelular a partir de experimentos de western blot. Experimentos
futuros também poderiam ser realizados a partir do preparo de extratos protéicos ricos
em ribossomos a fim de detectar seu possível papel como uma proteína ribossomal.
A presença da proteína CaYdr187cp (supostamente localizada na membrana
celular) não pôde ser confirmada em C. albicans a partir do emprego de diferentes
metodologias. A proteína CaYdr187cp possivelmente possui duas hélices
transmembrana, porém não sabemos quais segmentos da proteína são expostos na
porção intracelular ou extracelular de C. albicans, ou mesmo se são realmente
expostos. Assim, o soro produzido contra esta proteína foi utilizado em experimentos
de citometria de fluxo com células vivas ou permeabilizadas. No entanto, não foi
constatado diferenças entre o número de células marcadas com o anti-soro em
relação ao soro pré-imune. Pode ser que o segmento utilizado para a produção do
soro anti-CaYdr187cp o seja suficiente para detectar a proteína diretamente em C.
albicans, ou ainda, conforme previamente relatado, a proteína pode sofrer
modificações s- traducionais (figura 3b), possuir uma curta meia vida ou ainda
associar-se a outras proteínas, o que poderia dificultar sua detecção. Diferentes
extratos celulares (solúveis, insolúveis, ricos em proteínas de membrana) preparados
sob diferentes condições foram utilizados sem sucesso em experimentos de western
blot. Estes resultados podem ser decorrentes da alta hidrofobicidade de proteínas de
membrana que são difíceis de manipular e isolar, são insolúveis em muitos tampões
de amostra e podem precipitar facilmente quando da variação de pH (Luthje, 2009).
Estas características inerentes destas proteínas também têm dificultado a detecção
de outras proteínas das membranas celulares de C. albicans em experimentos de
proteômica (Cabezon, 2009). Uma vez que esta proteína é potencialmente pouco
expressa e possivelmente encontra-se na membrana, existe a possibilidade de que a
confirmação de sua presença na lula esteja fora do limite de detecção de técnicas
padrões aqui utilizadas. Desta maneira, novos estudos são necessários para
confirmar a presença desta proteína em C. albicans. É possível que ambas as
proteínas tenham sua expressão aumentada sob diferentes condições de
66
crescimento, pH, temperatura e estresse. Desta maneira, a expressão diferencial
desses genes poderia ser testada no futuro com o propósito de facilitar a
caracterização dessas proteínas.
Em resumo, este trabalho identificou dois genes com perfis singulares de
expressão e características que os tornam bons candidatos para a descoberta de
novas terapias antifúngicas. O gene CaYlr339c é conservado em outros fungos do
gênero Candida e Saccharomyces, é transcrito, codifica um produto protéico presente
nas fases de levedura e hifa de C. albicans, e pode estar envolvido em mecanismos
de tradução protéica. O gene CaYdr187c é conservado apenas em S. cerevisiae e K.
lactis, é transcrito, porém em decorrência de problemas técnicos e experimentais, o
foi possível detectar a presença de seu produto protéico em C. albicans.
Proteínas de
membrana são consideradas importantes alvos farmacológicos e podem realizar
diferentes funções nas células tais como: transdução de sinal, síntese de proteínas da
parede celular, interação com o hospedeiro, adesão celular, dentre outras (Qoronfleh,
2003). Desta maneira esta proteína pode estar envolvida em alguns destes
mecanismos e portanto continuará sendo estudada em nosso laboratório. Numa
tentativa de testar sua possível participação na adesão celular de C. albicans ao
hospedeiro, discos de tecido gastrointestinal murino foram incubados com a proteína
recombinante e posteriormente com C. albicans
. Não foi constatado inibição da
adesão nestes experimentos. Em contrapartida, a incubação de discos com a proteína
recombinante enolase (utilizada como controle nestes experimentos) foi capaz de
inibir significativamente a adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal. A partir
desses surpreendentes resultados, os trabalhos foram voltados para o estudo da
função da enolase da superfície de C. albicans e seu papel na adesão celular. (2
a
parte desta tese – item 3).
67
2.6 CONCLUSÕES
Os nossos dados permitem concluir que as ORFs CaYlr339c e CaYdr187c são
genes reais e bons candidatos para a descoberta de novas funções, podendo ser
úteis para o desenvolvimento futuro de novos agentes terapêuticos antifúngicos.
Mais especificamente concluímos que:
1- O gene CaYlr339c é transcrito nas fases de levedura e hifa e o gene CaYdr187c é
transcrita apenas na fase de levedura.
2- O gene CaYlr339c é bastante conservado em espécies do gênero Candida e
Saccharomyces.
3- O gene CaYdr187c é conservado apenas em S. cerevisiae e K. lactis
4- A proteína codificada pelo gene CaYlr339c é expressa nas fases de levedura e hifa
de C. albicans.
68
2.7 PERSPECTIVAS FUTURAS
1) Confirmar a localização celular das proteínas CaYlr339c e CaYdr187c em C.
albicans
2) Uma vez que ambas as ORFs possuem um overlap total com outras ORFs de
C. albicans, a geração de mutantes nulos fica impossibilitada, desta maneira a
essencialidade dessas ORFs será confirmada a partir de técnicas de RNA de
interferência conforme (De Backer, 2001).
3) Elucidar a função dessas ORFs a partir de estudos por complementação em S.
cerevisiae, superexpressão em C. albicans e em ensaios de duplo híbrido.
69
3: O PAPEL DA ENOLASE DA SUPERFÍCIE DE C.
albicans NA ADESÃO CELULAR.
70
3.1 INTRODUÇÃO
Em seu ambiente natural, C. albicans é comumente encontrada associada a
superfícies (Kumamoto e Vinces, 2005), sendo capaz de aderir a uma variedade de
tecidos e nichos no corpo humano. Superfícies do corpo humano que podem ser
colonizadas por C. albicans, incluem a parede da vagina e as superfícies do trato
gastrointestinal, da cavidade oral e anorretal (Soll, et al., 1991). Estes locais oferecem
diferentes condições ambientais para o crescimento de C. albicans, que desenvolveu
mecanismos específicos de adaptação (Sohn, 2006). C. albicans também pode
crescer em superfícies completamente artificiais tais como plásticos e equipamentos
médicos, o que acarreta na formação de biofilmes em cateteres, resultando em
infecções que são refratárias a terapias com drogas antifúngicas. (Kumamoto e
Vinces, 2005).
3.1.1 C. albicans no intestino
A microbiota intestinal é estabelecida em estágios sucessivos nos primeiros
anos de vida e consiste de numerosas espécies de bactérias, arqueobactérias e de
algumas espécies fúngicas (Schulze e Sonnenborn, 2009). O estabelecimento destes
microrganismos no trato gastrointestinal depende da quantidade de muco, do
peristaltismo do intestino, da presença de IgAs (Imunoglobulinas A) específicas e da
capacidade de adesão dos mesmos a células epiteliais. (Senet, 1998). Estudos
mostraram que Candida spp são detectadas em 96% dos neonatos ao fim do primeiro
mês de vida (Kumamoto e Vinces, 2005). Fungos foram detectados em todas as
seções do tecido gastrointestinal de aproximadamente 70% de indivíduos adultos
sadios (Schulze e Sonnenborn, 2009), sendo que 50% dos indivíduos possuem C.
albicans colonizando o trato gastrointestinal (Nair e Samaranayake, 1996). Acredita-
se que o principal reservatório de C. albicans em humanos seja o trato gastrointestinal
e que infecções sistêmicas predominantemente são originadas deste reservatório
(Nucci e Anaissie, 2001; Voss, 1994) Esta suposição é apoiada pela observação de
Krause et al, (1969) que reportaram o desenvolvimento de candidemia após a
ingestão de uma suspensão contendo C. albicans em um individuo com o trato
gastrointestinal normal (Krause, et al., 1969) e pela demonstração de que um grande
número de fungos oportunistas provenientes do trato gastrointestinal podem se
71
espalhar sistemicamente e invadir outros órgãos (Green e Bulmer, 1979; Haupt, et al.,
1983; Kennedy, et al., 1982; Kennedy e Volz, 1983; Wingard et al., 1982; Wingard, et
al., 1980). A ida de que a candidemia se origina de Candida spp. colonizando o trato
gastrointestinal, implica que a candidemia é precedida por colonização. De fato,
colonização prévia por Candida spp. é um fator de risco para a candidemia (Bow,
1995; Guiot, 1994; Karabinis, 1988; Martino, et al., 1994; Wey, et al., 1988) e tipagens
moleculares de linhagens de Candida spp. tem mostrado que cepas presentes na
infecção por Candida eram idênticas aquelas que previamente colonizavam os
mesmos pacientes (Reagan, 1990; Voss, 1994). Porém, Infecções hematogênicas por
Candida spp podem também ser adquiridas por via exógena, através do contato das
mãos de profissionais de saúde, com pacientes portadores de cateteres vasculares
em posição central, implante de próteses contaminadas, bem como pela
administração parenteral de soluções contaminadas (Colombo, 2003; Pfaller, 1996;
Wenzel, 1995)
.
C. albicans permanentemente interage com células da mucosa do epitélio
intestinal tanto no estágio comensal como durante o início da infecção (figura 1)
(Dalle, 2010). A camada epitelial do intestino é compreendida por enterócitos
individuais arranjados em colunas que são estritamente conectados por uma rede
subapical de junções intercelulares e formam um limite entre o lúmen e o restante do
organismo (Hecht, 1999; Scott e Hancock, 2000). Enterócitos especializados (células
de Goblet) secretam uma grande quantidade de muco (Scott e Hancock, 2000) que
são de extrema importância para o estabelecimento de microrganismos no trato
gastrointestinal (Senet, 1998). A camada mucosa é composta de duas frações, sendo
que a primeira delas é constituída por um gel luminal viscoso, composto
principalmente de glicoproteínas secretadas (principalmente mucinas), carboidratos e
lipídeos (Theolis Barbosa, 2009) e pode ser removida por sucção (Atuma, 2001). A
segunda fração é fortemente aderida às células epiteliais e constitui o glicocálice das
mesmas. É composta principalmente de glicoproteínas (principalmente mucinas)
associadas a membranas e muitos outros glicoconjugados (Theolis Barbosa, 2009). A
diversidade dos constituintes do muco do intestino e seu rápido turn over possuem um
papel importante em limitar a multiplicação de C. albicans. Enzimas imunocitolíticas
secretadas por C. albicans (capazes de lisar o muco do intestino) podem contribuir
para a virulência de C. albicans, facilitando sua penetração pela barreira do muco e a
subseqüente adesão as células epiteliais (Colina, 1996). O muco funciona também
72
como uma barreira protetora da mucosa do trato gastrointestinal (Atuma, 2001). De
fato, altas incidências de candidemia são decorrentes da interrupção da integridade
da mucosa após cirurgias gastrointestinais (Calandra, 1989), Da mesma maneira,
pacientes com leucemia ou linfoma são expostos a regimes de quimioterapia que
podem causar sérios danos a mucosa do intestino, contribuindo para a colonização
por Candida spp. e subseqüente invasão da corrente sanguínea (Bow, 1995).
Figura 1. Microscopia eletrônica da mucosa do intestino delgado humano (Biópsia). No centro
são observadas leveduras associadas à superfície da mucosa do intestino (seta vermelha); à
esquerda e a direita são observadas hifas (Aumento de 3000 vezes), Modificado de Schulze e
Sonnenborn (2009).
Uma análise microscópica da mucosa intestinal de camundongos inoculados
gastricamente com C. albicans, mostrou que este organismo pode se associar ao
intestino por diferentes mecanismos distintos: (i) adesão direta ao epitélio, (ii) adesão
ao muco que recobre o epitélio, (iii) co-adesão a outras Candida spp aderidas (adesão
indireta ao epitélio), (iv) co-adesão a bactérias aderidas (adesão indireta ao epitélio).
Foi postulado que a adesão direta ao epitélio possivelmente ocorre a partir de
73
interações com o glicocálice epitelial. C. albicans pode aderir de maneira direta ao
muco, ou ainda ser totalmente envolvida por ele. A adesão indireta de C. albicans a
outros organismos (bactérias e a própria C. albicans) também foi relatada nestas
análises. Mais especificamente no intestino delgado, estas análises demonstraram
que C. albicans pode se associar as vilosidades, dobras e muco do intestino, ou ainda
aderir diretamente à superfície do epitélio. Finalmente, depressões no epitélio
possivelmente decorrentes da secreção de proteases por C. albicans, foram
observadas após o início da adesão e podem ser importantes para a invasão do
tecido (Kennedy, et al., 1987). Em outros estudos, C. albicans foi encontrada
principalmente aderida à superfície do epitélio queratinizado do estômago e do
intestino delgado (Field, et al., 1981; Pope, et al., 1979). Assim, a adesão de C.
albicans a células epiteliais do hospedeiro é um fator crítico para a colonização da
superfície da mucosa. No entanto, as adesinas e seus respectivos mecanismos de
adesão ao epitélio do hospedeiro não são completamente elucidados. O epitélio e
endotélio estão em contato direto com a matriz extracelular. A ligação de adesinas a
estas proteínas é de extrema importância para a colonização e invasão das células do
hospedeiro. Existem dois tipos principais de matriz extracelular, o interstício e a
membrana basal, e seus componentes estão intimamente associados com as
superfícies das células do hospedeiro nos tecidos. A laminina, é encontrada
principalmente na membrana basal subendotelial, A fibronectina, que é uma
glicoproteína dimérica de 440 kDa, e os vários tipos de colágeno, estão presentes no
interstício, particularmente como parte das fibras reticulares (Liakka e
Autioharmainen, 1992). Fibronectina encontra-se também distribuída na região da
membrana basal do epitélio da superfície do trato gastrointestinal (Stenman, 1978).
Assim, a presença ubíqua da matriz extracelular faz de seus componentes, alvos
atrativos para a adesão de microorganismos (Chaffin, 1998).
A mudança de morfologia de levedura para hifa parece ser importante para a
translocação de C. albicans pela mucosa do intestino. A translocação ocorre por
penetração direta dos enterócitos pela C. albicans (Alexander, 1990) e culmina na
subseqüente invasão, penetração e colonização de tecidos e vasos sanguíneos
subjacentes (figura 2) (Senet, 1997). O sucesso desta translocação está estritamente
associado com a expressão de diferentes ligantes que propiciam a interação de C.
albicans a diferentes receptores do hospedeiro (Senet, 1998), sendo que adesinas
74
frequentemente exibem expressão diferencial entre as fases de levedura e hifa (Zhu e
Filler, 2010).
Figura 2. Interação de C. albicans com a superfície da mucosa. A: Leveduras aderidas a
células da mucosa. B: A transição para hifas pode preceder a invasão das células da mucosa.
Leveduras também podem invadir as células do hospedeiro por C: Persoption (Penetração)
ou D: Fagocitose induzida. E: C. albicans presentes na corrente sanguínea também podem
invadir o tecidos. fonte: Calderone e Gow, (2002)
3.1.2 Enzimas da via glicolítica expressas na superfície celular
Por conta de sua presença ubíqua em todos os seres vivos e de sua natureza
conservada ao longo de milhões de anos, enzimas da via glicolítica sempre foram
consideradas unicamente responsáveis pela conversão de substratos em ambas as
direções em resposta a pressões regulatórias. (Pancholi, 2001). Contudo, a presença
destas clássicas enzimas citoplasmáticas (que não possuem sinais canônicos de
75
transporte para a superfície e ancoramento à membrana plasmática) na superfície de
diferentes células, dentre elas células hematopoiéticas, epiteliais, neuronais e também
bactérias, fungos e parasitas, têm sido demonstrada em diferentes estudos.
(Chhatwal, 2002; Pancholi e Chhatwal, 2003).
O primeiro relato da presença de uma enzima da via glicolítica na superfície de
um microrganismo foi reportado em 1992. A enzima GAPDH (gliceraldeído-3-fosfato
desidrogenase) foi encontrada enzimaticamente ativa na superfície de Streptococcus
pyogenes, desempenhando importantes papeis no reconhecimento de fibronectina,
lisozima, miosina, actina e plasmina (Lottenberg, 1992; Pancholi e Fischetti, 1992). A
enzima também foi encontrada na superfície de vários microrganismos (Pancholi e
Chhatwal, 2003) incluindo o fungo Kluyveromyces marxianus (Fernandes, et al., 1992)
e em S. cerevisiae, onde é codificada por 3 genes (Delgado, et al., 2001). Em C.
albicans, GAPDH foi encontrada na superfície, associada à parede celular, e é capaz
de se ligar a laminina e fibronectina. (Gozalbo, 1998) e de induzir uma forte resposta
imune humoral em pacientes com candidíase sistêmica (GilNavarro, et al., 1997).
Outras importantes enzimas da via glicolítica encontradas na superfíce de C. albicans
(Pancholi e Chhatwal, 2003) são a PGK (Phosphoglicerato kinase), (Alloush, 1997), a
enolase (Eroles, et al., 1997) e a ADH (Alcohol dehydrogenase), sendo esta última
descrita como uma possível ligante de fibronectina (Pendrak e Klotz, 1995). Além
disso, as enzimas fosfoglicerato mutase e triose fosfato isomerase foram observadas
na superfície de bactérias (Pancholi e Fischeti, 1997), pom não existem relatos da
detecção das mesmas na superfície de C. albicans e outros microrganismos
eucarióticos (Pancholi e Chhatwal, 2003).
3.1.3 A enolase
A enolase é responsável por catalisar a conversão de 2-fosfoglicerato em
fosfoenolpiruvato na via glicolítica e também a reação inversa durante a
gluconeogenese (Day, 1993). É considerada uma das proteínas citosólicas mais
abundantes em muitos organismos, incluindo C. albicans e S. cerevisiae (Holland e
Holland, 1978). Em S. cerevisiae, enolase é codificada por dois genes (ENO1 e
ENO2) cuja expressão é diferencialmente regulada dependendo da fonte de carbono
e da fase de crescimento (Mcalister e Holland, 1982). Análises filogenéticas revelaram
que dois eventos de duplicação gênica ocorreram em vertebrados dando origem a
76
três isozimas: α (Alfa), β (Beta) e γ (Gama) enolase. Em mamíferos a alfa-enolase é
encontrada em quase todos os tecidos adultos, enquanto que a beta-enolase é
encontrada em músculos e a gama-enolase é expressa em tecidos neuroendócrinos e
neuronais (Oliva, 1989), sendo que somente a alfa-enolase é encontrada em
microorganismos. Alguns autores designam as três enolases presentes em
vertebrados por números: A alfa-enolase é designada por (ENO1), a beta-enolase por
(ENO2) e a gama-enolase por (ENO3) (Liu e Shih, 2007; Plow e Das, 2009). Os
números utilizados para designar as enolases nesta tese referem-se à quantidade de
genes que codificam a alfa-enolase nos microorganismos procarióticos e eucarióticos.
A enolase pode ser considerada uma proteína multifuncional, uma vez que
desempenha diferentes funções além de seu papel primordial na via glicolítica.
(Pancholi, 2001). Este fenômeno é conhecido como gene sharing e ocorre quando um
gene, sem duplicação, adquire uma segunda função, mantendo a sua função original
(Tracy e Hedges, 2000). Alguns efeitos de gene sharing foram observados em
enolase: Em humanos, a utilização de um códon de iniciação da tradução alternativo
no gene que codifica a alfa-enolase acarreta na tradução de uma proteína nuclear que
interage fisicamente com histonas, funcionando como repressora da atividade
transcricional (Subramanian, 2000). Alguns estudos mostram o envolvimento da
enolase no desenvolvimento de carcinomas, doenças auto-imunes e degenerativas do
cérebro (Collini, et al., 2003; Kakinuma, et al., 2003; Liu e Shih, 2007). Foi postulado
que a alfa-enolase (superexpressa em células tumorais por conta do aumento da
glicólise aeróbica) pode interagir com o citoesqueleto promovendo o aumento de ATP
e a migração de células tumorais (Liu e Shih, 2007). Parálogos ao gene que codifica a
alfa-enolase em mamíferos são componentes estruturais do cristalino de peixes,
anfíbios, répteis e aves (Piatigorsky, 2003; Wistow, 1988). Em situações de hipóxia, a
alfa-enolase é up-regulada e promove proteção para células endoteliais a partir do
aumento do metabolismo aeróbico (Aaronson, 1995).
A enolase também funciona como uma Heat shock protein (HSP) em S.
cerevisiae, estando envolvida na tolerância termal e no controle do crescimento deste
organismo (Iida e Yahara, 1985).
Assim como algumas enzimas da via glicolítica previamente discutidas, a alfa-
enolase também é expressa na superfície de uma variedade de células tais como:
neutrófilos, monócitos, células T e B, células neuronais e endoteliais, além de
77
microrganismos procariotos e eucariotos (Liu e Shih, 2007) incluindo C. albicans
(Eroles, et al., 1997) e S. cerevisiae (Lopez-Villar, 2006).
Certos patógenos, células do sistema imune e células tumorais utilizam a alfa-
enolase expressa em suas superfícies como receptores de plasminogênio. O
plasminogênio é abundante no plasma humano e em fluidos extracelulares (Malke,
1994). Ativadores eucarióticos convertem o plasminogênio em plasmina que em
mamíferos atua na degradação de proteínas da matriz extracelular e na
desagregação de coágulos (Chapman, 1997). Durante o recrutamento de monócitos e
macrófagos para o sítio de inflamação, a alfa-enolase presente na superfície dos
leucócitos, liga-se ao plasminogênio que é então convertido em plasmina por
ativadores específicos. A plasmina associada à alfa-enolase, facilita a transmigração
dessas células a partir da degradação direta de proteínas da matriz extracelular ou a
partir da ativação de metaloproteinases que degradam colágeno, fibronectina e
laminina. O plasminogênio, quando ligado a receptores de superfície é mais
prontamente ativado em plasmina que consequentemente é protegida da inativação
que ocorre na ausência desta associação. (Liu e Shih, 2007; Plow e Das, 2009; Plow,
et al., 1995 ). Em células tumorais, a plasmina é capaz de ativar alguns fatores de
crescimento que em conjunto com a degradação de proteínas da matriz extracelular
promovem a metástase (Andreasen, et al., 2000).
A enolase expressa na superfície de vários microrganismos interage com o
plasminogênio do hospedeiro promovendo a atividade proteolítica de suas superfícies
a partir da ativação da plasmina realizada pelos mesmos mecanismos descritos. A
ativação da plasmina representa um importante fator de virulência uma vez que
favorece a invasão do tecido hospedeiro pelos micropatógenos (Pancholi, 2001).
Vários autores relataram a interação entre enolase e plasminogênio em diferentes
organismos: Streptococcus spp (Ge, 2004; Pancholi e Fischeti, 1998), Pneumocystis
carinii (Fox e Smulian, 2001), C. albicans (Jong, 2003), Onchocerca volvulus (Jolodar,
2003), pneumococcus spp. (Bergmann, 2001), Mycoplasma fermentans (Yavlovich,
2007), Trichomonas vaginalis, (Mundodi, 2008) Leishamania mexicana (Vanegas,
2007), Bacillus anthracis, (Agarwal, 2008), Bifidobacterium spp. (Candela, 2007)
dentre outros. A enolase de bactérias possui maior afinidade de ligação ao
plasminogênio do que a enolase de mamíferos (Derbise, 2004; Redlitz, 1995;
Subramanian, 2000). Não existem relatos na literatura a respeito da afinidade de
ligação entre o plasminogênio e a enolase de outros microrganismos. Em
78
streptococcus (grupo A), a enolase de superfície diretamente ligada ao plasminogênio
foi caracterizada como enzimaticamente ativa (Bergmann, 2001). Ainda não se sabe
se a enolase mantém sua atividade enzimática na superfície de outros organismos.
Além do plasminogênio, a Enolase de alguns organismos podem
potencialmente mediar importantes papeis na adesão ao tecido do hospedeiro, uma
vez que as mesmas foram recentemente caracterizadas como potenciais receptores
de proteínas da matriz extracelular. A enolase das bactérias Streptococcus suis
(Esgleas, 2008) e Lactobacillus plantarum (Castaldo, 2009) e do fungo
Paracoccidioides brasiliensis (Donofrio, 2009) são capazes de se ligar a fibronectina
humana e a enolase de Staphylococcus aureus é capaz de se ligar a laminina
(Carneiro, 2004). Ainda, a enolase de Streptococcus mutans é capaz de se ligar a
mucina salivar humana MG2 indicando que a enolase pode estar envolvida na adesão
deste organismo a tecidos orais (Ge, 2004).
Em C. albicans, enolase é codificada por um único gene (ENO1) (Franklyn e
Warmington, 1993; Mason, 1993), e foi inicialmente descrita como uma enzima
citoplasmática de aproximadamente 48 kDa capaz de promover uma forte resposta
humoral em pacientes com candidiase (Strockbine, 1984). Sua presença foi
detectada em sobrenadante de culturas (Sundstrom, 1994) e no sangue de pacientes
com candidemia sistêmica, onde pode ser utilizada como marcador (Walsh, 1991). A
enolase de C. albicans também já foi descrita como um importante alérgeno (Ito, et
al., 1995). Por ser altamente imunogênica, anticorpos anti-enolase possuem alto valor
diagnóstico (Gutierrez, 1993). Em C. albicans, a enolase também é encontrada na
superfície da célula. Angiolella et al (1996) demonstraram que a mesma encontra-se
associada à glucanas nas camadas mais internas da parede celular (Angiolella,
1996). Outros autores no entanto relataram a sua presença nas porções mais
externas da parede celular (Eroles, et al., 1997). A enolase de C. albicans também é
um receptor de plasminogênio. Sua ligação ao plasminogênio humano foi capaz de
induzir uma atividade proteolítica in vitro e intensificar sua capacidade de invasão a
células HBEC (Human brain microvascular endothelial cells). Estes estudos
demonstram a importância da enolase e de outros receptores de plasminogênio
(Crowe, 2003), para C. albicans, uma vez que sua disseminação e invasão
geralmente ocorrem na corrente sanguínea, local onde o plasminogênio é abundante
(Jong, 2003). Os estudos descritos acima reforçaram a idéia de que a enolase pode
de fato realizar uma variedade de funções celulares importantes para células
79
procarióticas e eucarióticas sendo desta maneira uma proteína multifuncional,
contudo, ainda não são conhecidos os mecanismos envolvidos no transporte dessa
enzima para a superfície celular, assim como o seu papel na patogenicidade de
microrganismos (Chaffin, 1998; Pancholi, 2001).
80
3.2 OBJETIVOS
A enolase é uma abundante enzima citoplasmática e sua presença na
superfície de uma grande variedade de células já foi demonstrada, indicando que esta
proteína possua funções distintas além de seu papel primordial na via glicolítica. A
presença da enolase na parede celular sugere seu possível envolvimento na
patogenicidade de C. albicans, uma vez que esta estrutura é fundamental para sua
interação com o hospedeiro. Contudo, as funções desempenhadas por esta proteína
na superfície deste organismo ainda são desconhecidas. Assim, o principal objetivo
deste trabalho foi:
-Investigar o envolvimento da enolase de superfície na adesão de C. albicans ao
tecido gastrointestinal e seu papel como possível fator de virulência.
81
3.3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.3.1 PREPARAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE His
6
-enolase E ANTI-
SORO.
3.3.1.1 Expressão da proteína recombinante His
6
-enolase
A protna recombinante His
6
-enolase (codificada pelo gene ENO1 de C.
albicans) havia sido previamente expressa em nosso laboratório. Um pré-inóculo foi
realizado a partir de bactérias linhagem BL21 (DE3) congeladas na presença de
glicerol a -80
o
C, contendo o plasmídeo de expressão pET28a(+) com o inserto ENO1
clonado nos sítios NotI e BamHI. As células foram crescidas a 37ºC em meio LB com
canamicina (15 µg/mL) por 18 h. O pré-inóculo foi diluído 50 vezes no mesmo meio. A
cultura foi incubada a 37
o
C, com agitação a 200 rpm, até atingir a absorbância de 0,6
em comprimento de onda de 600 nm. A indão da expressão da proteína
recombinante foi realizada com IPTG 1 mM por 2 h a 37ºC. A separação das frações
pós-indução foi realizada conforme item 2.3.9.2
3.3.1.2 Purificação da proteína recombinante His
6
-enolase
Verificou-se por SDS-PAGE que a proteína recombinante His
6
-enolase
encontrava-se predominantemente na fração solúvel do extrato. A resina quelante de
níquel (QIAGEN) foi lavada três vezes em água Milli-Q em tubo de 15 mL e
equilibrada três vezes com 4 volumes de tampão de ligação (imidazol 5 mM, NaCl 500
mM, Tris-HCl 20 mM pH 8,0). O extrato solúvel foi adicionado à resina e incubado por
1h sob agitação a 4ºC. Após três lavagens com 6 volumes de tampão de ligação, a
resina foi lavada três vezes com 6 volumes de tampão de lavagem (imidazol 20 mM,
NaCl 500 mM, Tris-HCl 20 mM pH 8,0). Foram feitas, então, três eluições com 2
volumes de tampão de eluição (imidazol 1 M, NaCl 500 mM, Tris-HCl 20 mM pH 8,0).
Após várias tentativas frustradas de diálise sob diferentes condições (a proteína
precipitava), o eluato foi finalmente diluído e dialisado por 24 h a 15ºC contra PBS
utilizando a membrana Spectra/Por MWCO de 2 kDa. A proteína resultante foi
concentrada em tubos centricon (Millipore) e quantificada pelo método de Bradford
82
utilizando diferentes concentrações de BSA como padrão (Bradford, 1976) conforme
item 2.3.9.5.
3.3.1.3 Purificação do anti-soro anti-His
6
enolase
O soro hiper-imune contra His
6
-enolase foi previamente produzido em coelhas
em nosso laboratório. A proteína recombinante purificada totalizando (~1 mg) foi
separada em gel de poliacrilamida 10% (SDS-PAGE) conforme item 2.3.10. A
proteína foi posteriormente transferida para membrana de nitrocelulose Hybond ECL
(GE Healthcare) conforme item 2.3.12. A região da membrana correspondente a
proteína (membrana corada com Ponceau) foi cortada e bloqueada com 5% de leite
desnatado em água por 1 h à temperatura ambiente. A membrana foi então cortada
em tiras e incubada com o soro de coelhas diluído 10 vezes em PBS por 5 h sob
agitação a temperatura ambiente. As tiras foram lavadas 3 vezes com PBS por 5 min
e incubadas com 5 mL de (Glicina 0,1 M pH 2,5 e EGTA 1 mM) por 10 min a
temperatura ambiente. A solução foi então neutralizada com 5 mL de tris-base 0,1 M.
As tiras foram novamente incubadas com o soro e tratadas conforme acima para
obtenção da segunda alíquota. O anticorpo policlonal purificado foi concentrado em
tubos centricon 5000 MW (Millipore), quantificado pelo método de Bradford conforme
item 2.3.9.5 e diluído para uma concentração de 250 ng/µl.
3.3.1.4 Pureza e viabilidade da proteína recombinante
Para testar a pureza e a viabilidade da proteína recombinante nos ensaios
seguintes, uma alíquota da mesma foi separada em gel de poliacrilamida 10% (SDS-
PAGE) e corada com azul de Coomassie conforme item 2.3.10 e Nitrato de prata
conforme (Sambrook, et al., 1989). De maneira resumida, o gel foi fixado (solução de
fixação contendo: 10% ácido acético e 30% etanol absoluto), corado com solução de
nitrato de prata 0,1% revelado com solução de carbonato de sódio 2,5% e
formaldeído 0,02% e lavado com solução de ácido acético 1%. A proteína
recombinante também foi analisada por western blot utilizando o anticorpo purificado
anti-His
6
enolase e o anticorpo monoclonal anti-His
6
Tag conforme item 2.3.12.
83
3.3.2 ENSAIO DE ADESÂO DE C. albicans AO TRATO GASTROINTESTINAL
MURINO
3.3.2.1 Microorganismos e condições de crescimento
Para os ensaios de adesão de C. albicans, as linhagens SC5314 e L757 (item
2.3.2 tabela 2) foram crescidas a 30°C em meio YPD por 24 h sob agitação (200
rpm) e aeração (fase estacionária). As culturas foram transferidas para tubos de
1,5 mL, centrifugadas a 6.000 rpm por 3 min e lavadas três vezes com PBS
esril. Posteriormente as células foram ressuspensas em PBS e a absorbância
das suspensões celulares foi medida em espectrofotômetro (comprimento de
onda de 660 nm). As células foram diluídas em PBS para uma concentração final de
2,5 x 10
6
células/mL. As células foram também observadas ao microscópio ótico com
o objetivo de avaliar sua viabilidade e a possível presença de hifas.
3.3.2.2 Preparação de discos de tecido gastrointestinal de camundongos
Camundongos Balb/c machos com aproximadamente 5 meses de vida foram
mantidos sob condições estéreis e sacrificados por deslocamento cervical. Logo em
seguida seus intestinos foram exteriorizados e utilizados para o preparo de discos de
tecido gastrointestinal. Para a obtenção dos discos, uma modificação do protocolo
descrito por (Segal e losica, 1995) foi realizada. Todos os ensaios foram realizados
em fluxo laminar, utilizando instrumentos e soluções estéreis. A porção integral do
intestino delgado (continuação do estômago ao início do ceco) foi removida com o
auxílio de tesouras e pinças e enxaguada uma vez em PBS para remoção de
agregados. Como as diferentes porções do intestino não possuem limite nítido e
tínhamos interesse em utilizar o intestino delgado, um corte foi realizado após 5 mm
da porção terminal do estomago e 5 mm antes da porção inicial do ceco. O intestino
delgado (Duodeno, Jejuno e Íleo) foi colocado em superfície plana (placa de Petri) e
uma incisão longitudinal foi cuidadosamente realizada com o auxílio de tesoura,
lâmina de bisturi e palito de plástico descartável. O tecido foi então lavado gentilmente
três vezes em PBS gelado e aberto novamente com a porção luminal voltada para
cima em superfície plana. Discos de 6 mm de diâmetro foram obtidos com o auxílio de
84
um perfurador de tecidos de metal. Os discos foram utilizados nos ensaios de adesão
com C. albicans com um limite de no máximo 1 h após a preparação.
3.3.2.3 Ensaio de Adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal murino
Os ensaios de adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal murino foram
realizados conforme protocolo descrito por (Segal e losica, 1995), com algumas
modificações. Foi utilizado um disco de tecido gastrointestinal murino preparado
conforme item 3.3.2.2 por ensaio de adesão. Os discos foram adicionados em 1 mL
de C. albicans SC5314 (2,5 x 10
6
células) em tubos de 2 mL. As suspensões foram
incubadas a 37ºC por 2 h sob agitação (orbital). Os discos foram então transferidos
para tubos novos e estéreis contendo 1 mL de PBS e misturados suavemente por
inversão (cinco vezes). O PBS foi removido cuidadosamente com o auxílio de pipeta e
as lavagens foram realizadas por mais cinco vezes. Os discos foram então
macerados, homogeneizados em termomixer a 22ºC por 30 min e eluidos em 1 mL de
PBS estéril. A eluição foi então apropriadamente diluída e plaqueada em meio YPD
sólido contendo 34 µg/mL de cloranfenicol. As placas foram incubadas por 48 h a
30ºC e o número de C. albicans por disco foi estimado com base no número de
Unidades formadoras de colônias (UFC) levando em consideração a diluição
realizada. As UFCs foram contadas utilizando-se o programa Image Analyzer (GSA).
As diluições foram otimizadas de modo que o número de UFC não fosse menor do
que trinta e maior do que trezentas.
3.3.2.4 Ensaio de inibição da adesão por competição
Os discos de tecido gastrointestinal murino foram obtidos conforme item 3.3.2.2
e incubados por 4 h a 4ºC com diferentes concentrações (0,1 mg / 0,2 mg / 0,5 mg) de
His
6
-enolase para um volume final de 1 mL em PBS estéril. Discos incubados com 0,5
mg/mL de His
6
-339cp ou somente com PBS foram utilizados como controle negativo.
Posteriormente os discos foram enxaguados suavemente por duas vezes em PBS
estéril para a remoção das proteínas não aderidas ao tecido. Os discos foram então
adicionados a tubos de 2 mL contendo 1 mL de C. albicans SC5314 (2,5 x 10
6
células). As etapas de incubação, lavagem e tratamento dos discos, bem como a
estimativa do número de células por disco foram realizadas conforme item 3.3.2.3.
85
3.3.2.5 Ensaio de inibição da adesão (bloqueio da C. albicans com
anticorpos)
O soro purificado anti-His
6
enolase produzido em coelhos nas concentrações de
10 e 20 µg diluídos em PBS estéril para um volume final de 100 µl foram adicionados
em 1 mL de C. albicans SC5314 (5,2 x 10
6
lulas) e incubados por 4 h a 4ºC sob
agitação (orbital). A concentração de 20 µg de soro purificado anti-His
6
339cp e soro
pré Imune numa diluição de 1:20 ambos provenientes de coelhos foram incubados
com as células e utilizados como controle negativo. Um controle negativo adicional foi
realizado sob as mesmas condições a partir da incubação de C. albicans com o
anticorpo monoclonal anti-Hi
6
Tag (Santa-Cruz) numa diluição de 1:250 em PBS-T.
Posteriormente as células foram centrifugadas a 3.000 rpm por 3 min a 4ºC e lavadas
com PBS estéril gelado por três vezes. Discos foram adicionados a células então
ressuspendidas em 1 mL de PBS estéril. As etapas de incubação, lavagem e
tratamento dos discos, bem como a estimativa do número de células por disco foram
realizadas conforme item 3.3.2.3.
3.3.2.6 Ensaio de atividade fungicida das proteínas recombinantes e dos anti-
soros.
Os ensaios de atividade fungicida foram realizados conforme (Magliani, et al.,
1997), com algumas modificações. A viabilidade das células antes e após as
incubações foram checadas a partir de observações em microscópio ótico. As
possíveis atividades fungicidas do soro e da proteína recombinante foram testadas da
seguinte maneira: Para o teste do soro anti-His
6
enolase, C. albicans SC5314 foi
crescida e lavada conforme item 3.3.2.1 e diluída para a concentração final de 5,2 x
10
4
células em 1 mL. As células (125 µl) foram incubadas com 50 ng de anti-His
6
-
enolase e 50 ng de anti-His
6
339cp para um volume final de 300 µL em PBS estéril por
4 h a 4ºC. Para o teste da proteína recombinante His
6
-enolase, C. albicans SC5314
foi crescida e lavada conforme item 3.3.2.1 e diluída para a concentração final de 2,5
x 10
4
células em 1 mL. As células (125 µl) foram incubadas com 1,6 µg de cada uma
das proteínas (His
6
-enolase, His
6
-339cp e His
6
-P21) para um volume final de 300 µL
em PBS estéril por 4 h a 4ºC. As células foram centrifugadas a 3.000 rpm por 3 min a
86
4ºC, lavadas com PBS estéril gelado por três vezes e eluidas em 1 ml de PBS estéril.
Diluições seriadas foram realizadas em PBS e plaqueadas em meio YPD sólido
contendo cloranfenicol (34 µg/mL). As placas foram incubadas por 48 h a 30ºC e o
número de células foi estimado com base no número de UFC.
3.3.2.7 Ensaio de inibição da adesão (bloqueio de receptores de C. albicans
ligantes de Fibronectina e Plasminogênio Humanos)
100, 200 e 500 pM de Fibronectina de plasma Humano (44 , 88 e 220 µg)
(Sigma-F2006) e 100, 200 e 500 pM de Plasminogênio de Plasma Humano (8,1, 16,2
e 40,5 µg) (Sigma-P7999) diluídos em PBS estéril para um volume final de 100 µl,
foram adicionados a tubos de 2 mL contendo 1 mL de C. albicans SC5314 (2,5 x 10
6
células). As células foram incubadas por 2 h a 37ºC. 500 pM de BSA (Promega)
incubado com a mesma concentração de células foi utilizado como controle negativo.
Posteriormente as células foram centrifugadas a 3.000 rpm por 3 min a 4ºC e lavadas
com PBS estéril gelado por três vezes. Discos foram adicionados a células então
ressuspendidas em 1 mL de PBS estéril. As etapas de incubação, lavagem e
tratamento dos discos, bem como a estimativa do número de células por disco foram
realizadas conforme item 3.3.2.3.
3.3.2.8 Análise dos dados
O número de células por disco (tecido gastrointestinal murino) foi estimado
multiplicando-se os fatores de diluição pelo de UFC obtidos na contagem realizada
pelo software Image analyzer -GSA (validado a partir da contagem manual). Os dados
referentes aos ensaios de adesão e inibição da adesão a discos de tecido
gastrointestinal murino são expressos como médias e barras de erro padrão
representativas de três experimentos realizados em triplicata. Todos os resultados
foram analisados usando o ANOVA (Análise de variância) fator único, não-
paramétrico. O valor de P> 0.05 foi considerado estatisticamente significativo. Todas
as análises estatísticas foram implementadas utilizando o Excel (Pacote Office).
87
3.3.3 ENSAIOS DE LIGAÇÃO DE C. albicans A FIBRONECTINA E
PLASMINOGÊNIO HUMANOS
Aproximadamente 1 x 10
7
células/mL de C. albicans linhagem SC5314 foram
lavadas em PBS estéril e incubadas com diferentes concentrações (25, 50 e 150 pM)
de Fibronectina humana (Sigma-F2006) e Plasminogênio humano (Sigma-P7999) por
2 h a 37ºC em PBS. Posteriormente as células foram centrifugadas a 6.000 rpm por 3
min a 4ºC e lavadas por 5 vezes com PBS estéril gelado. As mesmas concentrações
da proteína GST expressa em E. coli BL21 (DE3) foram utilizadas como controle
negativo. Foram adicionados as células: 2 µL de PMSF 100 mM, 0,5 µL de antipaína
1 µg/mL e 0,5 µL de coquetel de inibidores de
protease (Sigma-p8215). As células
foram congeladas a -80ºC overnight. Posteriormente as células foram ressuspensas
em 15 µL de Laemmli (LB) 4X e fervidas por 5 min. As amostras foram aplicadas em
gel de poliacrilamida SDS-PAGE 10% conforme item 2.3.10 e transferidas para
membrana de nitrocelulose Hybond ECL (GE Healthcare). A ligação das proteínas
humanas a C. albicans foram avaliadas a partir de ensaios de western blot conforme
item 2.3.12. As membranas foram incubadas por 1 h a temperatura ambiente com os
anticorpos conforme abaixo:
Ensaio de ligação a:
-Fibronectina: anti-fibronectina humana (Sigma-F3648) 1:1000 em PBS.
-Plasminogênio: anti-plasminogênio Humano (Sigma-WH0005340M1) 1:1000 em
PBS.
-GST: anti-GST 1:500 em PBS.
Após as lavagem das membranas com PBS-T, as mesmas foram incubadas com anti
IgG-HRP
(horseradish peroxidase) (GE Healthcare) por 1 h à temperatura ambiente e
detectadas conforme item 2.3.12. Em seguida as membranas foram incubadas com
solução de stripping conforme item 2.3.12. e incubadas por 1 h a temperatura
ambiente com anti-His
6
enolase numa diluição de 1:1000 (Controle positivo).
88
3.3.4 CO-IMUNOPRECIPITAÇÃO
3.3.4.1 Preparo do extrato protéico de C. albicans
Para os ensaios de co-Imunoprecipitação, a linhagem SC5314 de C. albicans
foi crescida a 30ºC overnight sob agitação (200 rpm). 6 tubos contendo 1 mL de meio
foram centrifugado a 6.000 rpm e lavados 3 vezes com PBS gelado. As células foram
ressuspendidas em 200 µL de buffer de lise o desnaturante (20 mM Tris Hcl, pH
8,0, 137 mM Nacl, 10% glicerol, 1% NP-40 e 2 mM EDTA) acrescidos de 1 mM de
PMSF, 0,5 µL de antipaína - 1 µg/mL e 0,5 µL de coquetel de inibidores de protease
(Sigma – P8215). As suspensões foram adicionadas a tubos contendo o mesmo
volume de glass beads geladas (500 µm) e em seguida foram vortexadas
vigorosamente duas vezes por 3 min, com intervalo de 1 min no gelo. Os tubos foram
centrifugados a 10.000 g por 5 min a 4ºC e os sobrenadantes (extrato protéico) foram
transferidos para um tubo de 2 mL.
3.3.4.2 Pre-Clearing do Extrato protéico
Um pre-clearing do extrato protéico foi realizado a partir da incubação de 1 mL
de extrato protéico com 50 µL de anti-soro irrelevante de coelho por 1 h no gelo. Após
esta etapa, 100 µL de beads - Sepharose A CL4B (GE Healthcare) foram adicionadas
a suspensão que foi incubada sob agitação a 4ºC por 30 min (orbital). A suspensão
foi então centrifugada a 14.000 g por 10 min a C e o sobrenadante transferido para
um tubo gelado de 1,5 mL (mantido no gelo).
3.3.4.3 Co-imunoprecipitação
Tubos contendo 200 µL de extrato protéico de C. albicans (pre-cleared) foram
incubados com 12 pM de Fibronectina humana 5,4 µg (Sigma-F2006) 12 pM de
Plasminogênio humano - 1 µg (P7999) e 12 pM de His
6
-339cp ~2 µg (controle
negativo) por 2 h a 4ºC. Em paralelo, aproximadamente 1 µg de anti-soro de coelhos
(anti-His
6
enolase) com 65 µL de beads - Sepharose A CL4B (GE Healthcare) para um
volume final de 200 µL com PBS gelado foi incubado sob agitação (orbital) a 4ºC por
2 h. As mesmas concentrações dos anti-soros de coelhos anti-His
6
339cp foram
89
incubadas com beads sob as mesmas condições (controle negativo). Após incubação,
as suspensões foram centrifugadas a 4.000 por 2 min a 4ºC e lavadas com PBS
gelado por 3 vezes. Os anticorpos agora acoplados as beads foram ressuspendidos
em 100 µL de PBS e adicionados ao extrato protéico. As suspensões foram
incubadas por 2 h a 4ºC sob agitação (orbital). As amostras foram centrifugadas a
4.000 rpm por 2 min a 4ºC e lavadas 10 vezes com o buffer de lise não desnaturante
gelado. Após a última centrifugação, o sobrenadante foi removido e as beads foram
ressuspendidas em 40 µL de Laemmli 4X e fervidas por 5 min. As amostras foram
rapidamente centrifugadas e o sobrenadante foi aplicado em gel de poliacrilamida
(SDS-PAGE 10%). As proteínas foram transferidas para membranas de PVDF
Hybond-P (GE Healthcare) que foram posteriormente bloqueadas conforme item 3.13.
Após o bloqueio, as membranas foram incubadas com anticorpos anti-fibronectina
humana (Sigma) na diluição de 1:1000 em PBS-T e anti-plasminogênio humano
(Sigma) na diluição de 1:3000 em PBS-T. Após lavagens com PBS-T, as membranas
foram incubadas com a proteína A-HRP (GE Healthcare) na diluição de 1:3000 em
PBS-T. A detecção foi feita por quimioluminescência utilizando o ECL Western
blotting
TM
analysis system (GE Healthcare), segundo protocolo do fabricante.
Posteriormente as membranas foram re-analisadas a partir da incubação das mesmas
com solução de stripping conforme item 2.3.12. As detecções posteriores foram feitas
a partir da incubação das membranas com anti-His
6
enolase e, anti-His
6
339cp numa
diluição de 1:500 em PBS-T por 1 h à temperatura ambiente com lavagens e
incubações secundárias conforme descrito acima.
3.3.5 INFERÊNCIA FILOGENÉTICA
23 sequências de aminoácidos de representantes das enolases de bactérias,
fungos e de mamíferos (α-enolase), além da sequência da enolase do milho - Zea
May (utilizada como outgroup) foram obtidas no Genbank (ncbi.nlm.nih.gov/Genbank).
As seguintes sequências foram inseridas na análise, (número de acesso do Genbank
entre parênteses) Staphylococcus epidermis (AAW53886), S. aureus (AAC17130),
Streptococcus pneumoniae (ACF56025), Enterococcus hirae (Q8GR70), Lactobacillus
plantarum (CAD99191), Salmonella typhimurium (AAZ21832), Escherichia coli
(NP_417259), Bifidobacterium longum (NP_696193), B. lactis (aaz22544.1),
Metanococcus jannaschii (NP_247203), S. cerevisiae ENO1 (NP_011770) e ENO2
90
(NP_012044), Candida glabrata ENO1 (Q6FTW6) e ENO2 (Q6FQY4), Kluveromyces
lactis (CAE51943), K. thermotolerans (XP_002552158), C. dubliniensis
(XP_002417447), C. albicans (XP_711912.1), C. tropicalis (XP_002548866),
Schisosaccharomyces pombe (AAA70080), Zea mays (NP_001105896.1), Mus
musculus (AAH24644) e H. sapiens (AAH22545). As sequências foram então
alinhadas pelo programa Clustalw (Thompson, et al., 1994) e ajustadas manualmente
no editor de sequências Seaview (Galtier, 1996). A árvore filogenética foi inferida pelo
programa MrBayes (Huelsenbeck, 2001), utilizando o modelo GTR (General Time
Reversible) para substituição de aminoácidos com distribuição gama. As árvores
foram calculadas por 5 x 10
6
gerações em duas análises independentes, amostrando-
se uma árvore a cada 100 gerações, até que os desvios padrão das freqüências de
partições split frequencies, ficassem abaixo de 0.01 (Distribuição estacionária da
probabilidade posterior). Os parâmetros e as árvores foram sumarizados a partir do
descarte de 25% das amostras obtidas (50.001 amostras) totalizando 12.500 árvores.
A árvore foi enraizada com as sequências das enolases de mamíferos, utilizando o
programa FigTree v1.3.1.
3.3.6 ANÁLISE DAS SEQUÊNCIAS
A análise da estrutura secundária das sequências de aminoácidos das
enolases foi realizada pelo método de Garnier-Robson (Garnier e Robson, 1989) e
implementada pelo programa Protean do pacote DNAstar (DNASTAR Inc., Madison,
Wis). O mapeamento das estruturas secundárias no alinhamento foi realizado a partir
da exportação dos dados do programa Protean para planilhas do Excel (pacote
Office) e coloração manual.
91
3.4 RESULTADOS
3.4.1 Expressão heteróloga de enolase em E. coli
A expressão heteróloga da proteína recombinante His
6
-enolase havia sido
previamente realizada em nosso laboratório como parte da tese de Doutorado da
estudante Ana Carolina Barbosa Padovan (2008). Assim, o gene ENO1 de C. albicans
(1.323 nucleotídeos) encontrava-se subclonado entre os sítios NotI e BamHI no vetor
de expressão pET28a(+). Este plasmídeo havia sido transformado na linhagem BL21
(DE3) de E. coli que se encontrava devidamente armazenada com glicerol a -80ºC. A
proteína recombinante foi expressa em abundância (fusionada com uma cauda de
histidina na região N-Terminal) a 37ºC por 2 h, purificada com resina de níquel a partir
da fração solúvel do lisado de bactérias e dialisada com PBS. A pureza da proteína
purificada foi constatada a partir de sua separação em SDS-PAGE 10% e posterior
coloração com azul de Coomassie (figura 3a) e nitrato de prata (figura 3b).
Figura 3. Pureza da proteína His
6
-enolase (~50 kDa) determinada a partir da análise
eletroforética de 3 µg da proteína recombinante em géis de poliacrilamida 10% (SDS-PAGE)
corados com A: nitrato de prata 0,1% e B: Azul de Coomassie. M, refere-se aos marcadores
de peso molecular em kDa (quilodaltons).
Com o objetivo de confirmar a expressão e a viabilidade da proteína
recombinante His
6
-enolase purificada, foi feito um western blot com o soro hiper-
imune produzido em coelhos (purificado). O soro pré-imune foi utilizado como controle
92
negativo. O soro hiper-imune reconheceu de maneira específica a proteína His
6
-
enolase (peso molecular de aproximadamente 50 kDa) e falhou em reconhecer a
proteína recombinante His
6
-339cp (~18 kDa) utilizada como controle negativo (figura
4).
Figura 4. Amostras das proteínas His
6
-enolase e His
6
-339cp (Controle negativo) foram
separadas em gel de poliacrilamida 10% (SDS-PAGE) e A: coradas com azul de Coomassie
ou B: analisadas por western blot com o soro hiper-imune produzido em coelhos. Somente a
proteína His
6
-enolase (~50 kDa) foi detectada com o soro anti- His
6
enolase. M, refere-se ao
marcador de peso molecular em kDa (quilodaltons).
Também não houve reconhecimento da protna recombinante His
6
-enolase
quando da realização de um western blot utilizando o soro pré-imune de coelho. O
soro contra His
6
-enolase também reconhece de maneira específica a proteína
enolase nativa (~48 kDa) em ensaios de western blot com extratos protéicos obtidos
nas fases de levedura e hifa de C. albicans (figura 13b item 2.4.9.1). O soro pré-
imune de coelhos não reconheceu proteínas de C. albicans, o que permitiu sua
utilização como controle negativo em ensaios posteriores de adeo
. Ainda,
resultados prévios obtidos por nosso grupo mostraram, a partir de ensaios de
imunofluorescência e citometria de fluxo, utilizando o soro hiper-imune contra His
6
-
enolase, a presença desta proteína no citoplasma e na parede celular de C. albicans
(Dados não publicados).
93
3.4.2 Adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal murino.
Com o objetivo de avaliar a capacidade de adesão de C. albicans a mucosa
gastrointestinal in vitro, discos de tecido gastrointestinal (6 mm de diâmetro) obtidos a
partir da remoção e corte do intestino delgado de camundongos Balb/c sacrificados,
foram incubados com C. albicans. O número de células por disco foi estimado após
diluições seriadas do tecido macerado, plaqueamento e contagem das UFC
(Unidades formadoras de colônias). A adesão a discos de tecido gastrointestinal
murino foi demonstrada em estudos anteriores utilizando a linhagem 4918 de C.
albicans (Segal e Savage, 1986). Como não existem dados em relação à adesão de
outras linhagens de C. albicans a discos de tecido gastrointestinal (TGI) murino in
vitro, nos perguntamos se existem diferenças na habilidade de adesão de duas
linhagens que diferem quanto as suas capacidades de induzir hifa e formar biofilmes.
A linhagem SC5314 possui maior capacidade de produzir biofilme e formar hifas em
relação à linhagem L757 (Padovan et al, 2009). As duas linhagens foram crescidas
sob as mesmas condições e diluídas em PBS na mesma concentração. Amostras das
células foram observadas em microscópio ótico e não foi constatada a presença de
hifas em nenhuma das linhagens. As células foram então incubadas com discos de
TGI murino por 2 h a 37ºC. A figura 5 mostra que o número de células da linhagem
L757 aderidas ao disco gastrointestinal foi menor do que o número de células da
linhagem SC5314, porém a diferença não foi significativa (P >0.05). O número de
células da linhagem SC5314 obtidas após a incubação dos discos foi estimada em
21,09 x 10
3
células por disco (SE± 2282) e o número de células da linhagem L757 foi
estimado em 20,35 x 10
3
células por disco (SE± 2032) sob as condições de incubação
e lavagens estabelecidas nesta tese. De modo a garantir que as colônias verificadas
após a realização dos ensaios de adeo não eram provenientes da microbiota dos
camundongos (mesmo que mantidos sob condições estéreis), um controle negativo
foi realizado a partir da incubação dos discos de tecido gastrointestinal apenas com
PBS. Não houve crescimento de colônias em experimentos realizados em triplicata.
94
Figura 5. Adesão de C. albicans a discos de tecido gastrointestinal murino. Discos removidos
de camundongos Balb/C foram incubados com as mesmas quantidades de C. albicans,
linhagens SC5314 (barra preta) e L757 (barra azul) por 2 h a 37ºC e lavados extensivamente
para remoção de células não aderidas. O de células por disco foi estimado a partir da
homogeneização e diluição do tecido, plaqueamento e contagem do de UFC. Os
resultados são expressos como médias de três experimentos independentes realizados em
triplicata. As barras representam o erro padrão (SE) das médias. A diferença entre o número
de células por disco não foi significativa entre as duas linhagens de C. albicans (P >0.05).
3.4.3 O bloqueio da enolase com anticorpos é capaz de inibir a adesão de
C. albicans ao TGI murino.
A presença da enolase na superfície de C. albicans foi previamente
demonstrada por diferentes autores (Angiolella, 1996; Eroles, et al., 1997) e também
por nosso grupo (dados não publicados), porém sua função na superfície da célula
ainda permanece desconhecida. Uma vez que a adesão de fungos as células do
hospedeiro é mediada por adesinas presentes na parede celular, a hipótese de que a
enolase presente na superfície de C. albicans pudesse estar de algum modo
mediando à adesão as células do hospedeiro foi levantada. Assim, se de fato a
enolase desempenhasse algum papel na adesão as células do hospedeiro,
esperaríamos que o seu bloqueio na superfície de C. albicans com anti-soro
específico inibisse sua adesão ao tecido gastrointestinal, que é considerado o sítio de
contato inicial entre a C. albicans e o hospedeiro (Bendel, 1993). Para testar estar
hipótese, a linhagem SC5314 de C. albicans foi pré-incubada com soros obtidos de
95
coelhos e posteriormente incubada com discos de tecido gastrointestinal murino.
Como mostrado na figura 6, o número de células por disco obtidos a partir da
incubação com o soro purificado anti-His
6
339cp obtido de coelhos (Controle negativo)
não diferiu significativamente em relação ao número de células obtidos a partir da
incubação dos discos com o soro pré-imune de coelhos (P >0,05). No entanto, o
bloqueio de C. albicans com 10 e 20 µg de soro purificado anti-His
6
enolase obtido de
coelhos foi capaz de inibir sua adesão ao disco de TGI em 42,72 e 47,95%
respectivamente (P <0,001) em relação a C. albicans bloqueada com o soro anti-
His
6
339cp (controle negativo). Ainda, a inibição da adesão parece saturar a partir da
utilização de 10 µg de soro anti-His
6
enolase, que a pré-incubação de C. albicans
com o dobro de soro (20 µg) o inibiu consideravelmente a adesão (figura 6). Um
anticorpo monoclonal contra a cauda de histidina não foi capaz de reconhecer
proteínas em extratos protéicos de C. albicans em experimentos de western blot
(Figura 15 item 2.4.9.1), mesmo assim, para descartar a hipótese de que a inibição
possa ter sido decorrente do reconhecimento e bloqueio de proteínas da superfície
com regiões ricas em histidina, C. albicans foi incubada com o anticorpo monoclonal
contra a cauda da histidina. Nenhuma diferença foi observada entre a inibição da
adesão obtida com o anticorpo monoclonal e o soro pré-imune (Dados não
mostrados).
96
Figura 6. Bloqueio de C. albicans com anti-His
6
enolase é capaz de inibir sua adesão a discos
de TGI murino. A: de células por disco x 10
3
(Estimadas com base no número de UFC)
obtidas após incubação dos discos com C. albicans SC5314 previamente bloqueadas com
anticorpos. O bloqueio das células com 10 ou 20 µg de anti-His
6
enolase foi capaz de inibir
sua adesão aos discos de maneira significativa (P < 0.001) em relação ao controle negativo
(bloqueio das células com 20 µg de anti-His
6
339cp). A diferença entre o número de células
por disco obtidas a partir da incubação de C. albicans com anti-His
6
339cp e o soro pré-imune
(controles negativos) não foi significativa (P >0.05). Os resultados são expressos como
médias de três experimentos independentes realizados em triplicata. As barras representam o
erro padrão (SE) das médias. B: Percentual de inibição da adesão decorrente do bloqueio
com anti-His
6
enolase em relação ao bloqueio com anti-His
6
339cp (considerado como 100%).
Alguns autores já reportaram a atividade fungistática de alguns anticorpos
contra C. albicans (Moragues, et al., 2003). Deste modo, seria a diminuição do
número de lulas por disco decorrente da morte do fungo provocada pelos
anticorpos contra a protna His
6
enolase. Para tratar esta questão, C. albicans
SC5314 foi pré-incubada com anti-His
6
enolase ou com anti-His
6
339cp, e o número de
células foi posteriormente estimado. Não foi verificada variação significativa (P >0,05)
no número de células a partir da incubação de C. albicans com PBS (controle
negativo) ou com os soros (anti-His
6
enolase ou anti-His
6
339cp) (figura 7). Estes
resultados indicam que o bloqueio da enolase expressa na superfície de C. albicans
com anti-soro específico é capaz de inibir sua adesão a discos de tecido
gastrointestinal murino, sugerindo que esta proteína possui um importante papel na
adesão de C. albicans a células do hospedeiro.
97
Figura 7. Atividade fungicida de anti-His
6
-enolase contra C. albicans. Comparação do de
células obtidas (estimadas com base no número de UFC) após a incubação de C. albicans
com anti-His
6
enolase, anti-His
6
339cp e com PBS (controle negativo). Não houve diferença
significativa (P>0.05) entre o de células obtidas após a incubação com anti-His
6
enolase e
anti-His
6
339cp em relação à incubação das células com PBS. Os resultados são expressos
como médias de três experimentos independentes realizados em triplicata. As barras
representam o erro padrão (SE) das médias.
3.4.4 Pré-incubação de discos de TGI com enolase recombinante inibe a
adesão de C. albicans.
Uma vez que o bloqueio da enolase da superfície de C. albicans foi capaz de
inibir sua adesão ao tecido gastrointestinal (figura 6), partimos do pressuposto de que
o bloqueio de possíveis ligantes da enolase presentes no tecido gastrointestinal
poderia de alguma maneira inibir a adesão de C. albicans. Para verificar esta
possibilidade, discos de tecido gastrointestinal de camundongos obtidos conforme
item 3.2.2.2 foram incubados com diferentes concentrações de His
6
-enolase. Após a
incubação, os discos foram devidamente lavados para a remoção de proteínas não
aderidas e então incubados com C. albicans, linhagem SC5314. Surpreendentemente
a incubação dos discos com 0,5 mg/mL da proteína His
6
-enolase foi capaz de inibir a
adesão de C. albicans em 69,8% em relação à incubação com a proteína His
6
-339cp
utilizada como controle negativo (P< 0.001). A inibição da adesão foi dose
98
dependente, uma vez que a incubação dos discos com 0,1 e 0,2 mg/mL inibiu a
adesão em 39,52 e 52,58% respectivamente em relação ao controle negativo (P<
0.001). Não houve diferença significativa no número de células a partir da incubação
dos discos com His
6
-339cp e PBS (P> 0.05) (figura 8).
99
Figura 8. Inibição da adesão de C. albicans a discos de tecido gastrointestinal murino
previamente incubados com His
6
-enolase. A: Nº de células por disco (Estimadas com base no
número de UFC) obtidas após incubação de C. albicans com discos previamente incubados
com diferentes proteínas. A incubação prévia dos discos com 0,1; 0,2 e 0,5 mg/ml de His
6
-
enolase foi capaz de inibir a adesão de C. albicans de maneira dose dependente e
significativa (P< 0.001) em relação aos discos incubados com 0,5 mg/ml de His
6
-339cp
(controle negativo). A diferença entre o número de células por disco obtidas a partir da
incubação dos discos com a proteína His
6
-339cp e PBS (controles negativos) não foi
significativa (P> 0.05). Os resultados são expressos como médias de três experimentos
independentes realizados em triplicata. As barras representam o erro padrão (SE) das
médias. B: Percentual de inibição da adesão obtida com a incubação dos discos com His
6
-
enolase em relação aos discos incubados com His
6
-339cp (considerado como 100%).
A pureza da proteína His
6
-enolase foi atestada a partir de sua separação
eletroforética e colorações conforme previamente relatado (figura 3). Porém não foi
descartada a possibilidade de que possíveis impurezas (LPS, Imidazol ou outros
possíveis contaminantes) não verificáveis através da coloração com azul de
Coomassie e nitrato de prata, pudessem se associar ao tecido (mesmo após a
lavagem) promovendo a morte de C. albicans, colaborando assim para a diminuição
dose dependente do número de células por disco de tecido gastrointestinal, mesmo
com a utilização de proteínas recombinantes purificadas da mesma maneira. Para
responder a esta queso, diferentes ensaios foram realizados incubando as mesmas
concentrações de C. albicans SC5314 com cada uma das proteínas recombinantes
purificadas de E. coli BL21 (DE3) com a resina de níquel: His
6
-enolase, His
6
-339cp e
His
6
-P21 (Tripanosoma cruzi). Após a incubação, o número de células foi estimado. O
número de células obtidas após a incubação de C. albicans com as três proteínas
recombinantes não foi significativamente diferente em relação ao mero de células
obtidas após a incubação com PBS utilizado com controle negativo, (P> 0.05) (figura
9) indicando que a inibição da adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal murino
não foi decorrente de impurezas da proteína recombinante. Fato este corroborado
pela não inibição da adesão a partir da utilização da proteína His
6
-339cp purificada da
mesma maneira como controle negativo (Figura 8).
100
Figura 9. Avaliação da atividade fungicida da proteína recombinante His
6
-enolase contra C.
albicans. Comparação entre o nº de células obtidas (estimadas com base no número de UFC)
após a incubação de C. albicans com His
6
enolase, His
6
-339cp, His
6
-P21 (t. cruzi) e PBS
(controle negativo). Não houve diferença significativa (P>0.05) entre o de células obtidas
após a incubação com His
6
-enolase em relação à incubação com as demais proteínas e com
PBS. Os resultados são expressos como médias de três experimentos independentes
realizados em triplicata. As barras representam o erro padrão (SE) das médias.
3.4.5 Ligação de C. albicans a fibronectina e plasminogênio humanos
Proteínas da matriz extracelular desempenham importantes papeis na adesão
de C. albicans aos tecidos epiteliais e endoteliais. C. albicans é capaz de se ligar a
diferentes proteínas da matriz extracelular tais como: fibrinogênio, colágeno, laminina,
fibronectina dentre outros (Silva, et al., 1995). A ligação de fibronectina humana a C.
albicans foi previamente descrita a partir de diferentes experimentos utilizando
diversas linhagens de C. albicans (Chaffin, 1998). Com o objetivo de confirmar o
potencial de ligação de C. albicans a fibronectina e avaliar qualitativamente se esta
capacidade não é uma característica específica de outras linhagens ou de outras
condições experimentais, C. albicans SC5314 foi incubada com diferentes
101
concentrações de fibronectina humana. Posteriormente as células foram lavadas e
hibridadas com anticorpo anti-fibronectina humana (previamente testado figura 10b)
em um ensaio de western blot. Foi possível detectar a ligação de fibronectina a
superfície de C. albicans (~220 kDa) a partir da concentração mínima utilizada (25
pM; figura 11a), porém, mesmo com o aumento progressivo das concentrações de
fibronectina, (50 e 150 pM; figura 11a) não foi possível evidenciar aumento do sinal no
western blot, indicando uma possível saturação da ligação da fibronectina aos seus
receptores em C. albicans sob as condições destes experimentos. Os resultados
confirmam a capacidade de ligação de fibronectina a linhagem SC5314 de C.
albicans.
Pelo menos nove receptores putativos de plasminogênio foram descritos
para C. albicans, (Crowe, 2003) dentre eles a enolase (Jong, 2003). Sabe-se que
esses receptores putativos desempenham possíveis papeis no mecanismo de invasão
a célula do hospedeiro. Com o objetivo de avaliar qualitativamente a capacidade de
ligação de C. albicans ao plasminogênio humano, sob as condições de crescimento
de C. albicans estabelecidas nesta tese (crescimento a 30ºC até a fase estacionária).
C. albicans SC5314 foi incubada com as mesmas concentrações de plasminogênio
(25, 50 e 150 pM) e sua ligação a C. albicans foi estimada após hibridação com um
anticorpo anti-plasminogênio humano (A especificidade do anticorpo foi previamente
testada, figura 10a). Diferentemente da fibronectina, a ligação de plasminogênio
parece aumentar levemente com o aumento progressivo da concentração da proteína
(~81 kDa) (figura 11b). Não foi observado sinal quando da incubação de C. albicans
apenas com PBS ou com as mesmas concentrações de GST (figura 11c) (controle
negativo). A incubação das membranas com anti-His
6
enolase foi utilizada como
controle positivo (figura 11d). Além de indicar as quantidades de proteínas que
deveriam ser utilizadas em outros experimentos desta tese, os dados aqui
apresentados confirmam a ligação de plasminogênio a C. albicans SC5314. É
importante ressaltar que os ensaios de ligação de plasminogênio e fibronectina aqui
apresentados são meramente qualitativos e não são passiveis de comparação, uma
vez que os anticorpos reconhecem as proteínas com afinidades distintas. A fim de
garantir que a ligação observada não foi decorrente da lise das lulas durante a
incubação, amostras de células foram observadas ao microscópio ótico antes e
depois da incubação. Não foi observada a lise de células em nenhuma destas etapas.
102
Figura 10. Western blot das proteínas FN (fibronectina humana de ~220 kDa) e PLG
(plasminogênio humano de ~81 kDa). A: Incubação com anti-plasminogênio e B: Incubação
com anti-fibronectina. O smear reconhecido pelo anticorpo anti-fibronectina é decorrente da
mobilidade da proteína fibronectina (dímero de 440 kDa) em géis SDS-PAGE.
103
Figura 11. Análise qualitativa da ligação de C. albicans a fibronectina e plasminogênio
humanos. Células foram incubadas com as concentrações indicadas das proteínas e então
analisadas por western blot. A: Células incubadas com fibronectina e hibridadas com anti-
fibronectina. B: Células incubadas com plasminogênio e hibridadas com anti-plasminogênio.
C: Células incubadas com GST e hibridadas com anti-GST (controle negativo). D: Células
hibridadas com anti-His
6
enolase.
104
3.4.6 Ensaios de Ligação da proteína recombinante His
6
-enolase a
fibronectina e plasminogênio humano por western blot.
Ensaios de ligação por western blot foram realizados com o propósito de
avaliar a interação da enolase recombinante com a fibronectina e o plasminogênio.
Assim, fibronectina e plasminogênio foram aplicados em géis de poliacrilamida (SDS-
PAGE 10%) que foram transferidos para membranas de PVDF. As membranas foram
então incubadas com His
6
-enolase, lavadas e incubadas com o anticorpo anti-
His
6
enolase. Não foi observada a ligação da enolase as proteínas fibronectina e
plasminogênio, provavelmente por conta da desnaturação das proteínas, que quando
separadas por SDS-PAGE perdem domínios importantes, responsáveis por sua
capacidade de ligação a outras proteínas. Assim, os ensaios também foram
realizados de maneira inversa. Alíquotas da proteína recombinante His
6
enolase foram
separadas em géis de poliacrilamida e transferidas para membranas conforme
descrito acima. Em seguida as membranas foram incubadas com fibronectina e
plasminogênio. Após a lavagem, as membranas foram incubadas com os anticorpos
anti-fibronectina e anti-plasminogênio. Mesmo com a utilização de reagentes de
detecção de luminescência extremamente sensíveis como o ECL-Plus (GE
Healthcare), não foi possível detectar a ligação destas proteínas a enolase a partir
desta metodologia (Dados não mostrados).
3.4.7 Co-Imunoprecipitação
A capacidade de enolase da superfície de outros microorganismos em se
associar a fibronectina, (Castaldo, 2009; Donofrio, 2009; Esgleas, 2008) nos levou a
hipótese de que a enolase recombinante poderia estar de alguma forma bloqueando a
fibronectina no TGI murino e contribuindo assim para a inibição da adesão de C.
albicans. Para testar esta hipótese, inicialmente um ensaio de co-imunoprecipitação
foi realizado com objetivo de verificar se a enolase de C. albicans é capaz de se
associar com a fibronectina. O plasminogênio foi utilizado para confirmar os dados
obtidos por (Jong, 2003). Um extrato celular de C. albicans (levedura) foi incubado
com as proteínas de interesse (plasminogênio e fibronectina) e posteriormente com
anticorpos acoplados a beads (protein A sepharose). Ao final da incubação as
suspensões foram lavadas extensivamente em tampão de lise e centrifugadas. O
105
sobrenadante foi removido e os imunocomplexos submetidos à eletroforese em gel de
poliacrilamida e western blot com anticorpos específicos. De modo a garantir que a
co-imunoprecipitação das proteínas humanas com o soro anti-His
6
enolase era
específica, e não um artefato obtido pelo possível excesso de proteínas ligadas as
beads, um ensaio controle foi realizado a partir da incubação do extrato celular com
beads sem anticorpos. Não foram observadas ligações inespecíficas das proteínas
com as beads conforme mostram as figura 12 e 13,
canaleta 3. O soro obtido de
coelhos anti-His
6
339cp (anti-soro irrelevante - controle negativo) não foi capaz de
imunoprecipitar nem o plasminogênio nem a fibronectina, indicando a especificidade
dos ensaios (figura 12 e 13, canaleta 2). A figura 12b e 13b mostram a ausência de
reconhecimento a partir da incubação das membranas com anti-His
6
339cp. A proteína
enolase de C. albicans (~48 kDa) foi imunoprecipitada pelo soro anti-His
6
enolase,
como era previsto. As figuras 12 e 13c canaleta 1 mostram ensaios de western blot
originados a partir da incubação da membrana contendo o imunocomplexo com o
próprio anti-soro anti-His
6
enolase. Os soros anti-His
6
enolase e anti-His
6
339cp
reconheceram também de maneira leve as cadeias da imunoglobulina G mesmo com
a utilização de proteína A acopladas a peroxidade na incubação secundária dos
ensaios de western blot. (dados não mostrados). O plasminogênio (~81 kDa) também
foi capaz de co-imunoprecipitar com a enolase, conforme demonstrado no western
blot obtido a partir da incubação da membrana com o anticorpo anti-plasminogênio
(figura 12a canaleta 1). Porém, a fibronectina (~220 kDa) não foi capaz de co-
imunoprecipitar com a enolase, conforme evidenciado na figura 13a canaleta 1, a
incubação da membrana com o anticorpo anti-fibronectina não foi capaz de
reconhecer nenhuma proteína. Assim, a possível interação entre a fibronectina e a
enolase não pôde ser confirmada a partir deste tipo de ensaio. Os resultados aqui
obtidos confirmam a capacidade de ligação da enolase nativa de C. albicans ao
plasminogênio.
106
Figura 12. Co-Imunoprecipitação do plasminogênio e enolase. O extrato celular de C.
albicans foi incubado com plasminogênio e com o 1: anti-His
6
enolase ou 2: anti-His
6
339cp
(controle negativo) acoplados a beads (proteína A Sepharose), 3: Beads não acopladas
também foram incubadas com extrato (controle negativo). Os imunocomplexos foram então
analisados por western blot com: A: anti-plasminogênio, B: anti-His
6
339cp e C: anti-
His
6
enolase. As protnas plasminogênio e enolase foram co-imunoprecipitadas pelo anti-
His
6
enolase conforme canaleta 1, ensaios A e C.
Figura 13. A proteína fibronectina não é co-Imunoprecipitada com a enolase. O extrato celular
de C. albicans foi incubado com fibronectina e com o 1: anti-His
6
enolase ou 2: anti-His
6
339cp
(controle negativo) acoplados a beads (proteína A Sepharose), 3: Beads não acopladas
também foram incubadas com extrato (controle negativo). Os imunocomplexos foram então
analisados por western blot com. A: anti-fibronectina, B: anti-His
6
339cp e C: anti-His
6
enolase.
A proteína fibronectina não foi co-imunoprecipitada pelo anti-His
6
enolase conforme canaleta
1, ensaios A e C.
107
3.4.8 Ensaios de inibição da adesão ao tecido gastrointestinal a partir do
bloqueio de receptores da superfície de C. albicans.
Mesmo que não evidenciada a ligação de fibronectina a enolase por co-
imunoprecipitação, a hipótese levantada no item 3.4.7, de que a enolase
recombinante poderia estar bloqueando a fibronectina no tecido gastrointestinal
acarretando no bloqueio da adesão observado no item 3.4.4, foi novamente testada.
C. albicans possui diferentes receptores putativos para fibronectina (Chaffin, 1998).
Se o bloqueio destes receptores expressos na superfície de C. albicans com
fibronectina fosse capaz de inibir sua adesão ao tecido gastrointestinal, poderíamos
sugerir o possível envolvimento de algum destes receptores no processo de inibição.
Da mesma maneira, esperava-se que o bloqueio de C. albicans com plasminogênio
inibisse a adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal, uma vez que sua ligação a
enolase nativa foi previamente demonstrada por co-imunoprecipitação. Assim, C.
albicans foi bloqueada por 2 h a 37ºC com 100, 200 e 500 pM de fibronectina ou
plasminogênio. Posteriormente as células bloqueadas foram incubadas com discos de
TGI murino e o número de células por disco foi estimado.
A incubação de células com 100, 200 e 500 pM de fibronectina foi capaz de
inibir a adesão de C. albicans aos discos de TGI de maneira não significativa em torno
de 3,23, 2,72 e 3.45% respectivamente (P >0.05) em relação a incubação das células
com 500 pM de BSA (Bovine serum albumin) (controle negativo) (figura 14). A
inibição obtida a partir da incubação de lulas com 100, 200 e 500 pM de
plasminogênio embora não significativa (P> 0.05) foi bem maior do que a inibição
obtida a partir da incubação das células com fibronectina. O percentual de inibição em
relação ao bloqueio com BSA foi de 9,80 e 18,51 e 17,60% respectivamente (P
>0.05), sendo que nestes ensaios a inibição parece ter saturado a partir da incubação
das células com 200 pM de proteínas, uma vez que não houve aumento da inibição a
partir da incubação das células com 500 pM de plasminogênio (figura 14).
108
Figura 14. Ensaio de Inibição da adesão ao tecido gastrointestinal a partir do bloqueio de
receptores de fibronectina e plasminogênio. A: de células por disco (Estimadas com base
no número de UFC) obtidas após incubação dos discos com C. albicans SC5314 previamente
incubadas com as concentrações indicadas das proteínas humanas. BSA foi utilizada como
controle negativo. Os resultados são expressos como médias de três experimentos
independentes realizados em triplicata. As barras representam o erro padrão (SE) das
médias. B: Percentual de inibição da adesão decorrente do bloqueio com fibronectina e
plasminogênio em relação ao bloqueio com BSA (considerado como 100%).
109
3.4.9 Inferência filogenética
Com o objetivo inicial de comparar a enolase de C. albicans com a enolase de
outros organismos, sequências de aminoácidos da enolase de alguns representantes
de eubactérias, fungos e de mamíferos, aqui representados pela α enolase de Mus
musculus e H. sapiens foram obtidas no Genbank. Um alinhamento múltiplo foi
realizado com as 23 sequências de aminoácidos obtidas, resultando em um
alinhamento de 468 posições. De maneira geral, as sequências de aminoácidos das
enolases analisadas são bem conservadas (>62% de identidade e >76% de
similaridade). Dentre as sequências analisadas, a enolase de C. dubliniensis possui o
maior percentual de identidade e similaridade (sequência de aminoácidos) em relação
à enolase de C. albicans (97,95% de identidade, 99% de similaridade), seguido pela
enolase de C. tropicalis (90,68 de identidade e 95,68% de similaridade).
A enolase de S. pneumoniae (ACF56025), que possui 48,87% de identidade e 65,54%
de similaridade de aminoácidos em relação à enolase de C. albicans, possui dois sítios de
ligação ao plasminogênio caracterizados, sendo que um deles correponde a uma lisina (K)
localizada na região C-terminal da proteína (Ehinger, 2004). Análises do alinhamento múltiplo
gerado revelaram que a lisina C-terminal está presente em todas as bactérias analisadas, exceto
em E. coli, S. typhimurium e E. hirae. Este tio também é ausente na enolase de C. albicans
(Figura 16) e de todos os demais eucariotos analisados, exceto em mamíferos (α-enolase de M.
Musculus e H. sapiens). O segundo motivo, constituído de aminoácidos negativamente e
positivamente carregados, flanqueados por resíduos hidrofóbicos (FYDKERKVY) de S.
pneumoniae (Gandhi, 2008), é parcialmente conservado em outras bactérias e eucariotos,
incluindo C. albicans (Figura 16), o que reforça a idéia de que a enolase desses organismos é
capaz de se associar ao plasminogênio. Vale ressaltar que não existem estudos que demonstrem
a participação deste motivo na ligação de plasminogênio em C. albicans e em outros
organismos. A fim de se estabelecer as relações evolutivas entre a enolase desses organismos,
uma árvore filogenética foi inferida pelo programa MrBayes, utilizando o modelo GTR
(General Time reversible) para substituições de aminoácidos com distribuição gama. A
sequência da enolase do milho - Zea May foi utilizada como outgroup. As sequências de
aminoácidos das enolases de fungos e bactérias foram agrupadas em clados distintos. Dentro do
clado dos fungos, a enolase de C. albicans agrupou-se com enolases do gênero candida: C.
dubliniensis e C. tropicalis, com uma probabilidade posterior de 100%. Os dados indicam que a
enolase de C. albicans está mais próxima da enolase de C. dubliniensis. Assim como no
110
gênero Candida, as enolases do gênero Saccharomyces incluídas nesta análise: ENO1 e 2 de S.
cerevisiae, ENO2 C. glabrata e as enolases de K. lactis e K. thermotolerans formaram outro
grupo (pp de 100%). No entanto, a enolase 1 de C. glabrata não se agrupou com as demais
enolases do gênero Saccharomyces, formando um clado distinto. (Figura 15). Diferentemente
das duas enolases de S. cerevisiae que possuem identidade de 95,19% e similaridade de 98,16%
entre si, as duas enolases de C. glabrata são um pouco menos conservadas, com identidade de
71,91% e similaridade de 84,47%. Tais diferenças também são observadas em relação as suas
estruturas secundárias. Um número 23% menor de aminoácidos da ENO1 de C. glabrata estão
envolvidos na formação de alfa-hélice e um número 29% maior de aminoácidos estão
envolvidos na formação de folhas beta em relação a ENO2, esta disparidade também não é
observada entre as Enolases 1 e 2 de S. cerevisiae. Como esperado, as enolases de bactérias
formaram um grupo monofilético (pp de 100%). As enolases de mamíferos ficaram mais
distantemente agrupadas em relação as demais enolases de bactérias e fungos e portanto, foram
utilizadas no enraizamento da árvore (Figura 15). A enolase de C. albicans possui um
considerável percentual de identidade e similaridade (sequência de aminoácidos) em relação à
enolase de M. musculus e H. sapiens (~62% de identidade e 77% de similaridade). No entanto
algumas diferenças foram observadas a partir da comparação da estrutura secundária dessas três
proteínas pelo método de Garnier-Robson (Garnier e Robson, 1989). Diferenças mais
expressivas foram observadas na região N-terminal das enolases (a partir dos resíduos 143),
mais especificamente nas seguintes posições do alinhamento: 141 a 149, 177 a 186, 205 a 220,
259 a 291 (Motivo putativo de ligação ao plasminogênio), 303 a 321 e 435 a 445. Diferenças
mais significativas na porção C-terminal das enolases (resíduos 1 a 134), foram observadas nas
posições 99 a 115 do alinhamento (figura 16). Mesmo assim, estas enzimas possuem
praticamente o mesmo percentual de aminoácidos envolvidos na formação dessas estruturas:
50% dos aminoácidos estão envolvidos na formação de alfa-hélice (
α
-helice), 35% na
formação de folhas beta (
β
-sheets) 10% na formação de espiral (Coil-C) e 7% na formação de
giro (Turn-T). Estas diferenças podem ser úteis para o desenvolvimento de novas estratégias
terapêuticas.
111
Figura 15. Árvore filogenética inferida pelo método Bayesiano a partir das sequências de aminoácidos das enolases. Asteriscos: gênero
*Saccharomyces, **Candida. Os números acima dos nós indicam a probabilidade posterior. Nomes das sequências em azul: bactérias, em
vermelho: fungos, em verde: milho - Zea Mays (utilizada como outgroup), em preto: mamíferos. Os números de acesso das sequências no
Genbank
estão entre parênteses.
112
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA 1 MSYATKIHARYVYDSRGNPTVEVDFTTDKGLFRSIVPSGASTGVHEALELRDGDKSKWLGKGVLKAVANVNDIIAPALIKAKIDVVDQAKIDEFLLSLDG
MM 1 -MSILRIHAREIFDSRGNPTVEVDLYTAKGLFRAAVPSGASTGIYEALELRDNDKTRFMGKGVSQAVEHINKTIAPALVSKKVNVVEQEKIDKLMIEMDG
HS 1 -MSILKIHAREIFDSRGNPTVEVDLFTSKGLFRAAVPSGASTGIYEALELRDNDKTRYMGKGVSKAVEHINKTIAPALVSKKLNVTEQEKIDKLMIEMDG
Finger print
110 120 130 140 150 160 170 180 190 200
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA 93 TPNKSKLGANAILGVSLAAANAAAAAQGIPLYKHIANISNAKKGKFVLPVPFQNVLNGGSHAGGALAFQEFMIAPTGVSTFSEALRIGSEVYHNLKSLTK
MM 92 TENKSKFGANAILGVSLAVCKAGAVEKGVPLYRHIADLAGNPE--VILPVPAFNVINGGSHAGNKLAMQEFMILPVGASSFREAMRIGAEVYHNLKNVIK
HS 92 TENKSKFGANAILGVSLAVCKAGAVEKGVPLYRHIADLAGNSE--VILPVPAFNVINGGSHAGNKLAMQEFMILPVGAANFREAMRIGAEVYHNLKNVIK
210 220 230 240 250 260 270 280 290 300
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA 187 KKYGQSAGNVGDEGGVAPDIKTPKEALDLIMDAIDKAGYKGKVGIAMDVASSEFYKDGKYDLDFKNPESDPSKWLSGPQLADLYEQLISEYPIVSIEDPF
MM 184 EKYGKDATNVGDEGGFAPNILENKEALELLKTAIAKAGYTDQVVIGMDVAASEFYRSGKYDLDFKSPD-DPSRYITPDQLADLYKSFVQNYPVVSIEDPF
HS 184 EKYGKDATNVGDEGGFAPNILENKEGLELLKTAIGKAGYTDKVVIGMDVAASEFFRSGKYDLDFKSPD-DPSRYISPDQLADLYKSFIKDYPVVSIEDPF
PLG
310 320 330 340 350 360 370 380 390 400
....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA 283 AEDDWDAWVHFFERVGDKIQIVGDDLTVTNPTRIKTAIEKKAANALLLKVNQIGTLTESIQAANDSYAAGWGVMVSHRSGETEDTFIADLSVGLRSGQIK
MM 279 DQDDWGAWQKFTASAG--IQVVGDDLTVTNPKRIAKAASEKSCNCLLLKVNQIGSVTESLQACKLAQSNGWGVMVSHRSGETEDTFIADLVVGLCTGQIK
HS 279 DQDDWGAWQKFTASAG--IQVVGDDLTVTNPKRIAKAVNEKSCNCLLLKVNQIGSVTESLQACKLAQANGWGVMVSHRSGETEDTFIADLVVGLCTGQIK
410 420 430
440 450
....|....|....|....|....|....|....|....|....|
CA 383 TGAPARSERLAKLNQILRIEEELGSEAIYAGKDFQKASQL----- Azul: Alfa-Hélice
MM 377 TGAPCRSERLAKYNQILRIEEELGSKAKFAGRSFRNPLAK----- Verde: Folha Beta
HS 377 TGAPCRSERLAKYNQLLRIEEELGSKAKFAGRNFRNPLAK----- Amarelo: Espiral (Coil-C)
Cinza: Giro (Turn-T)
Figura 16. Alinhamento múltiplo e comparação das estruturas secundárias da Enolase de C. albicans (CA) e das enolases de M. musculus
(MM) e H. sapiens (HS). Os aminoácidos foram coloridos de acordo com o seu envolvimento na formação das estruturas secundárias: alfa-hélice,
folha beta, Espiral e giro, (cores conforme legenda acima). Os números acima do alinhamento indicam a posição dos aminoácidos no
alinhamento; números em vermelho indicam as posições cujas estruturas secundárias são menos conservadas entre as três espécies.
Aminoácidos sublinhados (Posições 259-265) e as lisinas em vermelho (K) na região C-terminal posição 445, (ausentes em C. albicans) indicam
os motivos putativos de ligação ao plasminogênio conforme Gandhi, (2008). O alinhamento múltiplo foi realizado pelo programa Clustal W. A
estrutura secundária foi predita pelo método de Garnier-Robson e implementada pelo programa Protean (DNAstar).
113
3.5 DISCUSSÃO
A enolase, uma abundante enzima citoplasmática, pode ser considerada uma
proteína multifuncional, uma vez que desempenha outros papeis além de sua função
primordial na via glicolítica (item 3.1.4). Uma variedade de estudos tem
demonstrado a presença desta e de outras enzimas da via glicolítica, que carecem
de sinais clássicos de transporte, na superfície de diferentes tipos celulares. A
localização inesperada dessas enzimas permite sua designação como uma classe
especial de proteínas de superfície cujas funções ainda permanecem desconhecidas
(Pancholi e Chhatwal, 2003). A enolase de C. albicans também pode ser encontrada
na superfície celular, mais especificamente na parede (Eroles, et al., 1997). No
entanto, sua exata localização nesta estrutura ainda é discutida, sendo que sua
presença em associação a glucanas nas porções mais internas da parede celular
foi relatada (Angiolella, 1996). Sua localização na parede celular nas fases de
levedura e hifa de C. albicans também foi confirmada por nosso grupo, a partir de
experimentos de microscopia confocal e citometria de fluxo (Padovan, 2008).
Embora a função da enolase da superfície como um possível receptor de
plasminogênio tenha sido demonstrada (Pancholi, 2001), pouco se conhece sobre
os possíveis papeis que esta proteína desempenha na superfície celular de C.
albicans e de outros organismos. Como comensal e patógeno, C. albicans evoluiu
para persistir na superfície da mucosa do hospedeiro normal e invadi-lo em
situações de imunodeficiência. Sua presença no hospedeiro é mediada por
moléculas presentes em sua parede celular. Desta maneira é apropriado supor que
uma das possíveis funções da enolase na superfície seria mediar à adesão de C.
albicans a mucosa do hospedeiro. A interação entre este organismo e o hospedeiro
pode ser avaliada por diferentes metodologias in vitro. Dentre os diferentes métodos
disponíveis, optamos por empregar aquele que avalia a adesão de C. albicans a
discos de tecido gastrointestinal (TGI) murino (intestino delgado) in vitro (Segal e
Savage, 1986), por acreditar que estes mimetizam de maneira mais real a
complexidade da mucosa colonizada por C. albicans e mantém algumas
propriedades que são eliminadas quando da utilização de monoculturas de células.
Além do mais, pouco se conhece sobre os mecanismos envolvidos na adesão de C.
albicans a mucosa gastrointestinal. Inicialmente, os ensaios de adesão foram
realizados com duas linhagens diferentes de C. albicans, para avaliar se as mesmas
114
diferem quanto as suas capacidades de adesão a discos de TGI murino. A linhagem
L757 é considerada possivelmente menos patogênica do que a linhagem SC5314
em decorrência de sua menor capacidade de formar hifas e produzir biofilme
(Padovan et al, 2009). Entretanto essas duas linhagens parecem não diferir quanto
as suas habilidades de adesão in vitro, uma vez que o mero de células por disco
de TGI obtidas após a incubação com essas linhagens não diferiu significativamente
(Figura 3). Segal e Savage (1986) também não constataram diferenças na
capacidade de adesão a discos de TGI entre as distintas linhagens 4918, 4918-10
(resistente a cerulenina inibidor da síntese de lipídeos) e CBS562 de C. albicans.
Da mesma forma, não foram observadas diferenças entre a capacidade de adesão
de C. albicans a partir da utilização de intestino provenientes de camundongos das
linhagens Balb/c, C57BL/6 e DBA (Segal e Savage, 1986). Desta maneira,
decidimos utilizar a linhagem SC5314 que teve o seu genoma seqüenciado (Jones,
et al., 2004) e camundongos isogênicos Balb/c em todos os ensaios de adesão
posteriores.
A adesão de C. albicans aos discos de TGI não parece ser mediada pela hifa,
uma vez que o foi constatada sua presença a partir da análise microscópica de
diferentes alíquotas coletadas após a incubação das células (linhagens SC5314 e
L757) com os discos (Dados não mostrados).
A inibição da adesão de C. albicans a superfícies do hospedeiro é uma das
atividades mais bem documentadas mediadas por anticorpos, e diferentes graus de
inibição a partir da utilização de diferentes anticorpos contra diferentes antígenos da
parede celular de C. albicans foram descritos (Bavoil, et al., 2008; Bendel, 1993;
Cotter, et al., 1998). Assim, a capacidade da enolase em mediar à adesão a discos
de TGI foi avaliada. O bloqueio da enolase da superfície de C. albicans na fase de
levedura com anti-His
6
enolase purificado por imunoafinidade foi capaz de inibir
consideravelmente sua adesão a discos de TGI murino, sendo que a inibição da
adesão foi saturada a partir da utilização de 20 µg de anti-His
6
enolase (figura 4), o
que corrobora o fato de que múltiplas adesinas da superfície celular de C. albicans
medeiam à adesão ao hospedeiro. A hipótese de que a enolase presente na
superfície celular poderia estar envolvida na adesão a células do hospedeiro
também foi levantada por outros grupos. O bloqueio da enolase da parede celular de
P. brasiliensis com anticorpos específicos foi capaz de inibir significativamente sua
115
adesão a células epiteliais pulmonares (Donofrio, 2009), ainda, anticorpos contra a
enolase da superfície de Streptococcus Suis foram capazes de inibir sua adesão a
células endoteliais (Esgleas, 2008). foi previamente reportado que alguns
anticorpos podem exercer atividades anti-C. albicans in vitro (morte direta do fungo
após contato com o anticorpo) (Moragues, et al., 2003; Polonelli, 1997). Para garantir
que a inibição da adesão observada era decorrente do bloqueio da enolase e não da
morte do fungo ocasionada pelo possível reconhecimento inespecífico de algum
epitopo pelo anti-soro policlonal, células foram incubadas com o anticorpo anti-
His
6
enolase. Não foram observadas diferenças no número de células obtidas neste
ensaio em relação ao número de células obtidas após a incubação das células com
PBS ou anticorpos irrelevantes (figura 5). Estes dados mostram que a enolase da
superfície de C. albicans medeia a adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal
de camundongos in vitro.
A participação de adesinas putativas na adesão de microorganismos ao
hospedeiro também pode ser avaliada a partir do bloqueio dos ligantes do
hospedeiro com adesinas purificadas ou com lisados celulares (Calderone e Gow,
2002). A incubação de discos de TGI murino com quitina (açúcar componente da
parede celular) comercial ou obtida de extratos de C. albicans, por Segal e Savage
(1986) foi capaz de inibir significativamente a adesão de C. albicans ao tecido.
(Segal e Savage, 1986). Desta maneira, passamos a nos questionar se o bloqueio
de possíveis ligantes da enolase no tecido intestinal também seria capaz de inibir a
adesão de C. albicans. Para este fim uma grande quantidade de His
6
-enolase foi
expressa em E. coli e purificada. Surpreendentemente, a incubação dos discos de
TGI murino com a proteína recombinante foi capaz de inibir a adesão de C. albicans
de maneira dose dependente, em aproximadamente 70% (figura 6). Experimentos
realizados a partir da incubação de C. albicans com diferentes proteínas
recombinantes expressas em E. coli e purificadas sob as mesmas condições indicam
que os resultados obtidos não são decorrentes da morte do fungo ocasionada por
possíveis contaminantes presentes na proteína His
6
-enolase (figura 7). Estes dados
indicam que receptores presentes no tecido gastrointestinal, importantes para a
adesão de C. albicans, foram bloqueados pela enolase recombinante, inibindo sua
adesão, confirmando os dados obtidos com a inibição da enolase de superfície a
partir do bloqueio com anticorpos (figura 4). Assim, é possível sugerir que a enolase
116
de C. albicans, secretada para a superfície por mecanismos ainda desconhecidos,
esteja envolvida na adesão, possivelmente contribuindo para a persistência de C.
albicans no tecido gastrointestinal. A capacidade da enolase de C. albicans em
mediar à adesão a superfície do hospedeiro poderia também explicar alguns
resultados obtidos por nosso grupo. Previamente, a enolase foi identificada, por
espectrometria de massa, como sendo uma das proteínas majoritárias da matriz do
biofilme de C. albicans (Padovan, 2008). Porém, o papel que esta proteína estaria
desempenhando na matriz do biofilme ainda permanece desconhecido. Uma vez
que a etapa de adesão a superfície é importante para a formação do biofilme
(Kumamoto e Vinces, 2005), podemos supor que a enolase esteja presente no
biofilme como um dos componentes capazes de promover sua adesão ao substrato.
Contudo, novos experimentos para avaliar a capacidade de adesão da enolase a
outras superfícies são necessários para testar esta hipótese.
Como previamente relatado (item 3.1.4 da introdução), a enolase de
diferentes células e microorganismos é capaz de se ligar ao plasminogênio,
desempenhando um possível papel de receptor. Postula-se que o plasminogênio
presente na superfície de células eucarióticas e de microorganismos seja ativado em
plasmina. A ativação do plasminogênio em células eucarióticas pode estar envolvida
no recrutamento de monócitos para sítios de inflamação e na invasão de tecidos por
células cancerosas. Além disso, a concentração da enolase da superfície de
monócitos é aumentada quando as células são estimuladas com LPS (recrutamento
para o sítio de inflamação), provavelmente para favorecer sua ligação ao
plasminogênio e conseqüente direcionamento para o local da inflamação (Wygrecka,
2009). Não sabemos se a concentração da enolase nas superfícies de C. albicans
ou outros microorganismos é aumentada em decorrência de modificações
ambientais, principalmente no contato com células e moléculas do hospedeiro. Em
microorganismos a ativação do plasminogênio pode favorecer a invasão dos tecidos
do hospedeiro (Liu e Shih, 2007; Plow e Das, 2009; Plow, et al., 1995). Sabe-se que
C. albicans é capaz de se ligar ao plasminogênio, sendo que esta habilidade foi aqui
confirmada a partir de experimentos de western blot (figura 9). Inicialmente, Crowe et
al (2003) não foram capazes de identificar a enolase de C. albicans em
experimentos de proteômica e ensaios de ligação ao plasminogênio por western
blot. (Crowe, 2003). Porém a enolase recombinante (His
6
-enolase) de C. albicans
117
expressa em E. coli por Jong et al (2003), foi capaz de se ligar ao plasminogênio de
maneira lisina dependente (característica de receptores de plasminogênio) em
experimentos utilizando colunas de afinidade. Resultados obtidos por este mesmo
grupo indicam que a ligação de plasminogênio a enolase da superfície de C.
albicans esteja envolvida na invasão de células endoteliais cerebrais (Jong, 2003).
Os dados aqui obtidos a partir da co-imunoprecipitação da enolase de um lisado
celular de C. albicans previamente incubado com plasminogênio humano
corroboram os dados de Jong et al (2003) (figura 10) e sugerem que a enolase da
superfície de C. albicans seja realmente um possível receptor de plasminogênio.
Não fomos capazes de confirmar a co-imunoprecipitação do plasminogênio com a
proteína recombinante (His
6
-enolase) por problemas de ligações inespecíficas de
plasminogênio as beads (Dados não mostrados). No entanto, existe a possibilidade
de que a enolase recombinante expressa em E. coli por nosso grupo possua
atividade enzimática, uma vez que a atividade enzimática da enolase recombinante
expressa em E. coli foi demonstrada pelo grupo de Jong et al (2003). A enolase de
Streptococcus pyogenes mantém sua atividade enzimática quando é secretada para
a superfície da célula (Pancholi e Fischeti, 1998), porém não sabemos se o mesmo
ocorre com a enolase secretada para a parede de C. albicans. Assim, estudos
posteriores deverão ser feitos para responder a estas perguntas. O fato de também
não termos obtido sucesso em ensaios de ligação por western blot com
plasminogênio e enolase (Dados não mostrados) pode explicar a ausência da
identificação da enolase nos experimentos realizados por Crowe et al (2003).
O plasminogênio é encontrado em abundância no plasma e em fluidos
extracelulares (Malke, 1994), e, portanto não esperaríamos que o mesmo estivesse
mediando à adesão a partir da ligação com a enolase da superfície. Assim,
resolvemos aproveitar a capacidade de interação entre enolase e plasminogênio
para melhor estabelecer a participação da enolase na inibição da adesão de C.
albicans a discos de TGI murino observada em nossos experimentos (figuras 4 e 6).
A incubação de C. albicans com diferentes concentrações de plasminogênio humano
inibiu a adesão de C. albicans a discos de TGI em torno de ~18 %, sendo que a
inibição foi saturada a partir da incubação com 200 pM de plasminogênio (figura 12).
Como não existem estudos que quantificam a afinidade de ligação entre a enolase
de C. albicans e o plasminogênio, não podemos afirmar que o percentual de inibição
118
observado, mesmo que estatisticamente não significativo (P> 0.05) foi baixo. Estes
resultados podem ainda ter sido decorrentes das condições experimentais aqui
estabelecidas (tempo e temperatura de incubação e condições de crescimento de C.
albicans dentre outros). Portanto estes dados reforçam a idéia de que a enolase
esteja realmente mediando à adeo aos discos de tecido GI in vitro. Como C.
albicans possui diferentes receptores putativos para plasminogênio, não podemos
também descartar a idéia de que a inibição observada nestes ensaios não seja
decorrente do bloqueio de outros receptores pelo plasminogênio.
Assim, passamos a focar na detecção de possíveis ligante(s) da enolase de
C. albicans presentes no disco de TGI murino. A matriz extracelular (MEC) é uma
estrutura macromolecular estável encontrada na membrana basal e interstício de
células epiteliais e endoteliais (Westerlund e Korhonen, 1993). Mais
especificamente, a fibronectina é encontrada no interstício e na membrana basal de
células epiteliais (Liakka e Autioharmainen, 1992; Stenman, 1978). Alguns estudos
também demonstram a expressão de fibronectina na superfície de células epiteliais
(Kalo, et al., 1988; Skerl, et al., 1984). Muitas das proteínas que constituem a MEC
podem potencialmente servir como receptores de superfície para microorganismos.
As enolases do fungo P. brasiliensis (Donofrio, 2009) e das bactérias S. suis
(Esgleas, 2008) e Lactobacillus plantarum (Castaldo, 2009) são capazes de se ligar
a fibronectina in vitro. Embora não existam relatos na literatura que demonstrem a
capacidade de associação de C. albicans ao intestino a partir de interações com
constituintes da MEC, levantamos a hipótese de que a enolase de C. albicans
poderia ter se associado à fibronectina presente na MEC do tecido, expressa por
alguma célula epitelial (Kalo, et al., 1988; Skerl, et al., 1984) ou ainda expostas a
partir da preparação dos discos, e desta maneira inibido a adesão ao TGI. Sabe-se
que C. albicans é capaz de se ligar a vários domínios da molécula de fibronectina
(Skerl, et al., 1984), incluindo o domínio RGD (arginina-glicina-ácido aspártico) que
pode ser reconhecido por vários receptores da superfície celular da família das
integrinas (Fujita, 1995). O número exato de receptores de fibronectina em C.
albicans ainda é discutido, no entanto algumas estimativas apontam que a ligação
de fibronectina a C. albicans seja saturada a partir de 8.000 sítios por célula (Klotz e
Smith, 1991), outros estudos apontam para aproximadamente 5.000 sítios de ligação
de alta afinidade e aproximadamente 30.000 sítios de baixa afinidade por lula
119
(Negre, 1994). A partir de ensaios de western blot, confirmamos a ligação da
linhagem SC5314 a fibronectina humana (figura 9). Para avaliar a capacidade de
associação da enolase de C. albicans a fibronectina humana in vitro, o anticorpo
anti-His
6
enolase foi utilizado para co-imunoprecipitar a fibronectina previamente
incubada com um lisado celular de C. albicans. Em contraste aos resultados obtidos
com o plasminogênio humano (figura 10), a fibronectina não foi co-imunoprecipitada
com a enolase (figura 11). A fibronectina também não foi capaz de se ligar a enolase
(nem vice e versa) em experimentos de ligação por western blot (Dados não
mostrados). Estes resultados podem ter sido decorrentes da incapacidade de ligação
da enolase a fibronectina in vitro nas condições experimentais estabelecidas (tempo
e temperatura de incubação, buffer de lise, anticorpos dentre outros) e não indicam
que a enolase não esteja se associando com a fibronectina presente no intestino.
Desta maneira, se a fibronectina estivesse de alguma forma envolvida na inibição da
adesão a discos de TGI, esperaríamos que o bloqueio de seus receptores na
superfície de C. albicans tivesse algum efeito na inibição da adesão. Contudo, após
a incubação de C. albicans com diferentes concentrações de fibronectina humana,
foi constatado um percentual de inibição não significativo em torno de 3% em todas
as concentrações de fibronectina utilizadas (figura 12). Estes resultados podem ser
explicados de três maneiras: 1- A quantidade de fibronectina utilizada não foi
suficiente para bloquear os receptores de C. albicans. 2- A fibronectina pode ter se
ligado com pouca afinidade a C. albicans sob as condições experimentais aqui
estabelecidas. 3- Receptores de ligação a fibronectina podem não estar envolvidos
na inibição da adesão, sendo que a pequena inibição observada, embora não
significativa, pode ter sido decorrente da ligação inespecífica da fibronectina a algum
receptor necessário para a adesão ao intestino. Uma vez que não foi constatado
aumento da adesão a partir da utilização de concentrações mais altas da protna
(500 pM), acreditamos que de fato a fibronectina não esteja envolvida na inibição da
adesão de C. albicans ao intestino. Estes dados são corroborados pela não ligação
da enolase a fibronectina in vitro (figura 11). Pode ser que a capacidade de ligação a
fibronectina seja característica específica da enolase de alguns organismos e não da
enolase de C. albicans, entretanto, novos estudos são necessários para confirmar
estas possibilidades.
O crescimento de C. albicans em meio contendo hemoglobina
é capaz de ativar a capacidade de ligação a fibronectina por C. albicans (Yan, et al.,
120
1998). Todos os nossos ensaios de adesão foram realizados sob condições de
crescimento padrão, mesmo assim, a realização de experimentos sob tais condições
poderia trazer novas informações a cerca destas questões.
A mucosa intestinal é formada por uma camada epitelial arranjada em colunas
individuais (Hecht, 1999; Scott e Hancock, 2000) composta por duas frações de
muco, uma aderida às células epiteliais (glicocálice) e outra fração que forma uma
camada mais espessa e é facilmente removida por sucção (Atuma, 2001). Cada
disco de TGI murino utilizado nos experimentos de adesão possui cerca de seis
milímetros de diâmetro, com uma espessura média de aproximadamente quarenta
micrômetros (Adjei, 1996). Conforme descrito na introdução (item 3.1.1), C. albicans
é capaz de se associar ao intestino por adesão direta ao epitélio ou ao muco. A
partir deste cenário, é possível supor que a enolase recombinante esteja se
associando preferencialmente a porção luminal do intestino (epitélio e muco), uma
vez que esta região possui uma área ~40 vezes maior do que o lado. Porém a exata
localização de associação da C. albicans e da enolase recombinante nos discos
poderá ser estabelecida em experimentos futuros de imunohistoquímica.
A enolase recombinante de Streptococcus suis - sorotipo dois (His
6
-enolase)
também produzida em E. coli, foi capaz de inibir a adesão deste organismo a
monoculturas de lulas epiteliais (Zhang, et al., 2008). Estes dados sugerem que a
enolase recombinante de C. albicans poderia possivelmente ter aderido diretamente
a receptores espeficos expressos nas células epiteliais do tecido GI e inibido a
adesão, uma vez que enolases são bastante conservadas entre diferentes
organismos (Tracy e Hedges, 2000). Experimentos com lulas epiteliais serão
realizados no futuro a fim de testar esta hipótese. Yancey et al, (1987) mostraram
que no preparo de amostras de intestino murino para microscopia, a fração mais
espessa de muco é removida (Kennedy, et al., 1987). Embora nossos discos não
sejam fixados, acreditamos que as lavagens com PBS realizadas durante o preparo
dos discos (item 3.3.2.2 Materiais e métodos) sejam capazes de remover a
camada mais espessa de muco. Desta maneira, é possível especular que a enolase
recombinante poderia ter se ligado a glicoproteínas expressas na superfície do
epitélio e desta maneira inibido a adesão de C. albicans. Essa especulação é
corroborada pelo fato de que a enolase de Streptococcus mutans é capaz de se
associar a uma mucina salivar normalmente presente na mucosa oral in vitro (Ge,
121
2004). Ensaios de ligação de enolase de C. albicans a mucinas intestinais também
poderiam ser úteis para encontrar os possíveis ligantes da enolase expressos no
tecido gastrointestinal. Assim, novos estudos são necessários para a caracterização
do(s) ligante(s) da enolase presentes no TGI.
A adesão de C. albicans ao tecido gastrointestinal é essencial para a
permanência do organismo no hospedeiro, e subseqüente invasão da corrente
sanguínea e/ ou tecidos. Assim, a caracterização de novas adesinas pode ser
essencial para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas (Senet, 1998).
Desta maneira é de extrema importância estabelecer as relações filogenéticas entre
as enolases de diferentes espécies do gênero Candida e Saccharomyces e a
enolase do hospedeiro. A enolase é uma proteína bastante conservada em
arqueobactérias, eubactérias e eucariotos (Brown, 1998). Os vertebrados possuem
três isozimas (α-enolase, β-enolase e γ-enolase) (Oliva, 1989), sendo que apenas a
α-enolase é encontrada em microorganismos. Em C. albicans a enolase é codificada
por um único gene. em S. cerevisiae, a enolase é codificada por dois genes
(ENO1 e ENO2) que são diferencialmente regulados dependendo da fonte de
carbono e da fase de crescimento da levedura, sendo que somente a deleção dos
alelos de ENO2 é letal (Mcalister e Holland, 1982). A enolase de C. glabrata também
é codificada por dois genes, porém não existem informações na literatura a cerca de
sua expressão diferencial. A filogenia realizada pelo método bayesiano mostrou o
agrupamento das enolases (sequência de aminoácidos) de fungos, bactérias e
humanos em clados separados com probabilidade posterior de 100%, atestando
desta maneira a congruência da inferência (figura 13). As relações filogenéticas
encontradas em nossas análises estão de acordo com a de outras inferências
realizadas a partir de sequências de aminoácidos por métodos de distancia
(Neighbor-Joining) (Tracy e Hedges, 2000) e máxima verossimilhança (Maximum
likelihood) (Hannaert, 2000). A enolase de C. albicans formou um grupo monofilético
com outras enolases do gênero candida, estando mais relacionada com a enolase
de C. dubliniensis. As enolases do gênero Saccharomyces, incluindo as duas
proteínas de S. cerevisiae, formaram outro grupo separado como esperado. Porém,
uma das duas enolases de C. glabrata (ENO1) não foi agrupada com as enolases do
gênero Saccharomyces como seria esperado, ficando separada (figura 13). Esta
proteína pode ter evoluído para desempenhar funções específicas em C. glabrata.
122
Assim, a análise filogenética mostra que as enolases dos fungos de importância
clínica são bastante conservadas e estão filogeneticamente mais distantes em
relação à α-enolase do hospedeiro.
O aumento da incidência de candidemia e as altas taxas de mortalidade
associadas às infecções causadas por C. albicans e por outras espécies de Candida
indicam que o desenvolvimento de uma vacina é extremamente necessário. A
maioria dos esforços para o desenvolvimento de vacinas anti-C. albicans têm se
voltado para a adesina ALS1 (Agglutination-like sequence), (Ibrahim, 2006). No
entanto, resultados modestos vêm sendo obtidos com esta proteína em vacinações
experimentais de camundongos. Para ser um bom alvo para o desenvolvimento de
vacinas, uma resposta contra a enolase de C. albicans não deveria ser capaz de
reconhecer a enolase do hospedeiro. A enolase de C. albicans possui considerável
identidade e similaridade de aminoácidos em relação à α-enolase humana (62 e
72% respectivamente), porém, algumas diferenças em relação à estrutura
secundária de ambas as proteínas foram observadas (figura 14). Estes dados em
conjunto com outros experimentos para avaliação de possíveis reações cruzadas
com proteínas humanas podem ser úteis para a utilização da enolase como alvo
para o desenvolvimento de vacinas, uma vez que a enolase de C. albicans está
possivelmente envolvida na adesão as lulas do hospedeiro, é altamente
imunogênica, e anticorpos anti-enolase podem ser detectados em soros de
pacientes com candidemia (Gutierrez, 1993).
123
3.6 CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos neste trabalho podemos concluir que a enolase
da superfície pode estar envolvida na adesão de C. albicans ao hospedeiro,
podendo ser estabelecida como um possível fator de virulência.
Mais especificamente concluímos que:
1- As linhagens SC5314 e L757 não diferem quanto as suas capacidades de adesão
a discos de tecido gastrointestinal (TGI) murino.
2- O plasminogênio, mas não a fibronectina, é co-imunoprecipitado com a enolase
de extratos celulares de C. albicans, confirmando assim sua capacidade de ligação
ao plasminogênio humano.
3- O bloqueio da enolase da parede celular com anticorpos específicos inibe a
adesão de C. albicans a discos de TGI murino.
4- O pré-tratamento de discos de TGI murino com enolase recombinante inibe
significativamente a adesão de C. albicans.
5- O bloqueio da enolase da parede celular com plasminogênio inibe parcialmente a
adesão de C. albicans a discos de TGI murino, corroborando a participação da
enolase na adesão.
6- O bloqueio de receptores de fibronectina em C. albicans o foi capaz de inibir
sua adesão a discos de TGI murino, sugerindo que a inibição observada nos demais
experimentos de adesão não é decorrente da ligação da enolase a fibronectina.
7- A enolase de C. albicans poderia ser utilizada no desenvolvimento de vacinas ou
estratégias de controles a partir do bloqueio de sua adesão ao intestino, com o
intuito de prevenir sua proliferação em pacientes imunocomprometidos.
124
3.7 PERSPECTIVAS FUTURAS
1. Realizar ensaios de imunohistoquímica com o objetivo de avaliar o sítio de
ligação da enolase e da C. albicans nos discos de tecido gastrointestinal.
2. Identificar o ligante da enolase no disco de tecido gastrointestinal.
3. Verificar se a enolase mantém sua atividade enzimática na superfície de C.
albicans.
4. Avaliar o envolvimento da enolase na adesão de C. albicans a células
epiteliais e endoteliais humanas e a outras superfícies.
5. Avaliar a capacidade protetora da enolase contra infecções por C. albicans a
partir da imunização de camundongos.
125
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