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Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
A interferência da asma no cotidiano das crianças
Marisa Augusta Trinca
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Pública para obtenção do título
de Mestre em Saúde Pública.
Área de concentração: Serviços de Saúde Pública
Orientadora: Profa. Dra. Isabel M. T. Bicudo Pereira
São Paulo
2010
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A interferência da asma no cotidiano das crianças
Marisa Augusta Trinca
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde blica para obtenção do título
de Mestre em Saúde Pública.
Área de concentração: Serviços de Saúde Pública
Orientadora: Profa. Dra. Isabel M. T. Bicudo Pereira
São Paulo
2010
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É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto
na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou
parcial é permitida exclusivamente para fins acadêmicos e
científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor,
título, instituição e ano da tese/dissertação.
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram,
mas na intensidade com que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis,
coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
(Fernando Pessoa)
À minha amada família, especialmente
meu pai Antônio e minha mãe Augusta,
inesgotável fonte de amor e inspiração.
Agradecimentos
À minha orientadora Profa. Dra. Isabel M. T. Bicudo Pereira, por me
proporcionar, com carinho, paciência, delicadeza e extrema competência, a
oportunidade de realizar este trabalho.
À Profa. Dra. Maria Cecília F. Pelicioni, amiga e incentivadora em todas
as etapas deste percurso, por compartilhar seu grande conhecimento,
encorajando e mostrando novos caminhos da ciência, e com seu exemplo
pude transformar obstáculos em degraus para essa conquista.
À Profa. Dra. Ana M. C. Lefèvre e ao Prof. Dr. Fernando Lefèvre, que me
acolheram e instruíram pacientemente em momentos difíceis na realização
deste trabalho.
À minha irmã Maria Cristina, que não poupou esforços, dispensando seu
tempo e conhecimento para me auxiliar neste caminho.
Aos amigos queridos, que de algum modo estiveram sempre ao meu
lado com sua competência e carinho.
A toda a equipe da escola onde foi realizada a pesquisa, por me receber
e facilitar o desenvolvimento do trabalho.
Às crianças e seus pais que me confiaram palavras e gentilmente se
dispuseram a contribuir para a realização e conclusão deste trabalho.
Trinca MA. A interferência da asma no cotidiano das crianças [dissertação de
mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2010.
Resumo
A asma é responsável pelo acometimento de grande número de crianças em
nosso meio, o que a torna uma das doenças de maior relevância na infância. A
presente pesquisa tem como objetivos investigar a interferência da asma no
cotidiano das crianças portadoras desta patologia e identificar a representação
que elas e seus pais fazem da doença. Adotou-se uma metodologia qualitativa
capaz de evidenciar, com base na fala dos sujeitos, sua Representação Social
da patologia. Para tanto foram realizadas entrevistas com 45 crianças em idade
escolar matriculadas na rede pública da cidade de São Paulo com referência
da doença, bem como com seus pais e/ou responsáveis. Na análise foram
identificadas as representações sociais desta população, utilizando-se o
todo do Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados dessa pesquisa
revelaram o conhecimento adequado das interferências da asma no cotidiano
da criança, contribuindo para o enfrentamento de suas repercussões negativas
e na elaboração de estratégias de promoção da saúde e qualidade de vida
dessas crianças. Essas questões quando conhecidas e compreendidas, trazem
alertas à equipe médica responsável pela criança asmática, dada a relação
intrínseca entre a representação construída da doença pela criança asmática e
por seus pais e a maneira como se sente e interage com o mundo e com a
sociedade à qual pertence.
Descritores: Asma; Promoção da saúde; Representação social; Criança;
Escola; Qualidade de vida; Cotidiano.
Trinca MA. A interferência da asma no cotidiano das crianças./The interference
of asthma in the quotidian of children [dissertation]. São Paulo(BR): Faculdade
de Saúde Pública da USP; 2010
Abstract
Asthma afflicts a great number of children in our society which makes it a
significant childhood disease. The present study aims at investigating the
disruption caused in the children‟s daily lives by asthma as well as identifying
the way the disease is represented by the children and their parents. A
qualitative methodology, based on the verbal discourse of the subjects, was
chosen to identify the Social Representation of the pathology. Interviews on the
disease were conducted with 45 school children, enrolled in the public schools
of São Paulo, together with their parents and/or guardians. Social
representations of asthma by this population were identified, using the method
of Collective Subject Discourse Method. The results of the research showed
enough knowledge, on the part of the subjects, of the interference of asthma in
their children‟s daily lives, helping them to face the negative effects and
elaborate strategies to improve their health and quality of life. Once these
issues are known and understood, they provide warnings to the medical team
responsible for the asthmatic child, due to the intrinsic nature between the
representations of the disease built by the asthmatic child and his parents and
the way he feels and interacts with the world around him and the society to
which he belongs.
Descriptors: Asthma; Health promotion; Social representation; Child; School;
Quality of life; Quotidian.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8
1.1 ASMA ................................................................................................... 11
1.1.1 Definição .................................................................................... 11
1.1.2 Diagnóstico ................................................................................. 12
1.1.3 Classificação .............................................................................. 13
1.1.4 Prevalência, morbidade e mortalidade ........................................ 15
1.1.5 Fatores desencadeantes ............................................................ 17
1.1.6 Prognóstico ................................................................................ 18
1.1.7 Tratamento ................................................................................. 20
1.1.8 A criança asmática ..................................................................... 23
2. OBJETIVOS .............................................................................................. 28
3. MÉTODOS................................................................................................. 29
3.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS E ENTREVISTAS ............................ 32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................. 37
4.1 ENTREVISTAS COM OS PAIS OU RESPONSÁVEIS ......................... 37
4.2 ENTREVISTAS COM AS CRIANÇAS .................................................. 52
4.3 COMPARAÇÃO PERGUNTA 1-CRIANÇA E 3-PAIS ........................... 60
4.4 COMPARAÇÃO PERGUNTA 2-CRIANÇA E 4-PAIS ........................... 63
5. CONCLUSÃO ............................................................................................ 70
6. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 72
ANEXOS
Anexo 1 - Termo de consentimento livre e esclarecido.....................................76
Anexo 2 Imagens do flanelógrafo...................................................................77
CURRÍCULO LATTES
8
1. INTRODUÇÃO
A Asma é uma doença complexa, que provoca alterações no
desenvolvimento pessoal da criança e na sua dinâmica familiar e social. A
doença é representada de formas distintas nas diferentes sociedades, segundo
suas especificidades culturais, sociais e históricas, trazendo uma série de
significados, além dos conhecimentos científicos dos profissionais da saúde.
Deve-se pensar o doente e suas relações familiares e sociais,
considerando, sob um olhar mais amplo e crítico, o processo saúde-doença, o
normal e o patológico, o homem em sua integridade física e mental e a doença
como um processo dinâmico entre o ser humano e o seu meio (BORBA e
SARTI, 2005).
Sendo assim, este trabalho procurou investigar a interferência da asma no
cotidiano das crianças portadoras desta patologia, identificando e
compreendendo a representação que elas e seus pais fazem sobre a doença,
que passa a compor e a definir suas práticas cotidianas como também atua de
forma determinada na construção de sua individualidade e representação
social.
Para obter uma fundamentação mais sólida sobre as representações da
asma, considerou-se necessário uma reflexão inicial sobre a patologia, sua
definição conceitual, diagnóstico, manifestações clínicas, classificação da
gravidade, dados sobre morbidade e mortalidade, seguida por pesquisa de
campo que buscou mapear os aspectos psicológicos e as dinâmicas do
cotidiano familiar e escolar da criança asmática. Assim, pretendeu-se traçar um
percurso teórico-metodológico, tendo como referencial a teoria das
Representações Sociais.
9
Segundo JODELET (2001) as representações referem-se a fenômenos
observáveis diretamente ou reconstruídos por um trabalho científico. Tal
percepção vem se tornando um assunto central para as ciências humanas, e
em torno deles se constituiu um domínio de pesquisa com instrumentos
conceituais e metodológicos próprios, que interessa a várias disciplinas. A
observação das representações sociais implica no levantamento de nuances
da realidade, na evidência de fenômenos tidos como naturais que circulam nos
discursos; são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens
na mídia, transformadas em condutas e em organizações materiais e espaciais.
De acordo com a mesma autora, por meio de várias significações, as
representações dão uma definição específica ao objeto por elas representado,
e quando partilhadas pelos membros de um mesmo grupo, essas definições
constroem uma visão consensual da realidade para esse grupo. O conflito de
visões entre grupos é um guia para as ações e trocas cotidianas, sendo função
e dinâmica social das representações.
Como forma de captar e demonstrar tal dinâmica social, segundo
LEFÈVRE e LEFÈVRE (2005), pode-se fazer uso do Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), como um recurso metodológico onde um conjunto de
processos e procedimentos harmônicos apresentam de forma descritiva, a
opinião de uma dada coletividade como produto qualiquantitativo a partir de
depoimentos colhidos em pesquisas de campo. Trata-se de uma metodologia
de preparo da matéria-prima dos depoimentos para revelar o que pensam as
coletividades, para que se consiga exercitar explicações sociológicas,
antropológicas, sanitárias, filosóficas, éticas, políticas, educacionais, literárias e
do senso comum, conseguindo mostrar porque as coletividades pesquisadas
pensam assim.
Para entender o que as coletividades pensam é preciso descrever esse
pensamento e interpretá-lo a partir de seu cotidiano. O Discurso do Sujeito
Coletivo é uma forma científica de diagnóstico da opinião coletiva, realizado por
meio de um discurso da realidade, sendo direto, sem ou com pouca mediação,
possibilitando vir à tona a afetividade das representações sociais resgatadas.
10
Cabe neste momento, fazer uma pequena reflexão sobre o conceito de
cotidiano. Amplamente debatido no interior das ciências sociais, extrapola a
definição transposta do dicionário, muito além da mera definição de aquilo que
se repete no dia a dia. O cotidiano surgiu no final da década de 1920, como
conceito, ou espaço de realização do homem que necessita de ser
compreendido e definido. Desde então, diferentes correntes de pensamento
buscaram construir e definir o sentido do cotidiano para suas análises.
Os debates em torno do cotidiano com conceito ou apropriação do real,
tornaram-se mais significativos nos anos 1960, quando duas correntes distintas
do pensamento colocaram de forma mais definida o conceito de cotidiano. De
um lado, os teóricos da escola marxista/estruturalista que utilizaram como
fundamento do cotidiano os mecanismos de controle e produção e, do outro, os
teóricos da Nova Escola Francesa, que por meio das discussões
transdisciplinares apresentaram um cotidiano que emerge das subjetividades
dos indivíduos.
Neste sentido, o cotidiano, somente pode ser compreendido como o local
social da experiência humana, onde as representações elaboradas pelos
múltiplos sujeitos tomam a forma de ações. O cotidiano torna-se o espaço no
qual os sujeitos se relacionam uns com os outros, onde expressam suas
opiniões, onde realizam seus desejos. Apresenta-se assim, um cotidiano
dinâmico, definido pelo próprio comportamento social dos sujeitos, sensível a
todo tipo de alteração na medida em que o sujeito modifica sua auto-percepção
e representação (BURKE, 1997).
MICHEL DE CERTEAU (1994) definiu o cotidiano como "aquilo que nos é
dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos
oprime, pois existe uma opressão do presente". A configuração de uma
cotidianeidade seria a vivência organizada do dia a dia, a vida dos homens
envolvidos por uma atmosfera natural, normativa e instintiva que pode ser
modificada a todo instante.
Pode-se imaginar o cotidiano como um cenário, sempre móvel, no qual o
sujeito se realiza. Pensar nas formas como o diagnóstico de uma doença
11
crônica como a asma interfere na construção do seu “eu” a partir das
alterações nas práticas cotidianas de uma criança pode colaborar para melhor
compreensão da doença bem como ratificar a necessidade de pensar a doença
como parte integrante da vida, contribuindo para a melhoria de sua qualidade
de vida.
1.1 ASMA
1.1.1 Definição
Identificada há milênios, a asma é uma doença que afeta pessoas de todas
as idades, em todas as regiões do mundo, praticamente. Sua denominação
deriva do grego ásthma que significa sopro curto, ofegante, numa acepção
muito próxima deste significado etimológico, originalmente definiu-se a asma
como “respiração opressiva e difícil” (Loras, 1983 apud BOSI, 1998, p.11).
Geralmente a definição da asma é realizada com base na sua
caracterização clínica e/ou fisiopatológica.
Segundo o III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma (2002) "asma é uma
doença inflamatória crônica caracterizada por hiper-responsividade das vias
aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível
espontaneamente ou com tratamento (...)". Isto significa que asma é uma
inflamação dos brônquios e que o pulmão do asmático precisa de menor
quantidade de estímulo para desencadear a inflamação do que o pulmão de
um indivíduo normal. A partir daí, começa uma reação em volta dos brônquios,
deixando o local de passagem do ar estreito o que leva à limitação do fluxo de
ar. É uma doença crônica: não tem cura, porém tem controle, o que permite
uma vida normal para os pacientes.
Asma e bronquite são termos popularmente usados para definir a mesma
doença. Bronquite é uma inflamação genérica dos pulmões e a asma é a
12
inflamação com características definidas acima, com um quadro que se
manifesta com episódios repetidos de tosse, chiado, aperto no peito e falta de
ar, principalmente á noite. É resultado da interação entre os fatores genéticos,
presentes na família e exposição ambiental a fatores diversos desencadeantes
como poeira, ácaro, mofo, irritantes químicos, mudanças climáticas, infecções
e exercício físico, sendo chamados de gatilhos (FIKS, 2008).
Percebe-se atualmente que vem surgindo muitos questionamentos para
chegar a um consenso sobre a definição mais precisa da asma e de como
controlá-la de modo eficiente. De acordo com Cukier, citado por ZORZETTO e
MOURA (2009, p.20), a atual classificação é simplista, pois reúne variações de
uma enfermidade que pode ter origem em mecanismos distintos, apesar de
semelhantes sinais clínicos. Deste modo, o autor considera que novas
diretrizes deverão ser propostas a fim de beneficiar os pacientes.
Segundo comentários de PARK (1995), sabe-se hoje que fatores
hereditários, alérgicos infecciosos e, inclusive, psicogenéticos são tidos como
determinantes etiológicos da asma, e ainda que o desencadear de uma crise
asmática é um processo complexo que, geralmente, ocorre de maneira
semelhante, independentemente da sua etiologia. Mesmo na ausência de
consenso aceita-se que a asma tem uma predisposição sotica, com fortes
indícios de que seja uma alteração geneticamente definida e modulada pelo
ambiente; mas, a forma pelo qual os fatores orgânicos interagem com as
influências emocionais, ambientais, familiares e médicas, determinam sua
gravidade e grau de incapacitação devido à asma, no entanto, ainda o foi
elucidado. Adicionalmente, o senso comum considera a asma como uma
doença principalmente “emocional”, e isto coincide com conceitos iniciais sobre
essa doença.
1.1.2 Diagnóstico
A precocidade na obtenção do diagnóstico da asma é fundamental e
necessário para evitar o aparecimento de complicações no desenvolvimento
13
físico, psicológico e social da criança, contudo nem sempre é fácil de ser
realizado.
Sendo muito complexo e nunca isolado, o diagnóstico da asma deve ser
baseado nos achados clínicos, funcionais, alérgicos e diferenciais de outras
enfermidades. O diagnóstico clínico avalia as crises e recorrência de sintomas;
o diagnóstico funcional fornece medidas para avaliação da limitação do fluxo
aéreo como, a espirometria e pico de fluxo expiratório (PFE); o diagnóstico da
alergia identifica a exposição a alérgenos relacionados à asma por meio de
testes cutâneos e IgE sérica e, o diagnóstico diferencial avalia algumas
condições específicas que podem ser confundidas com asma. Muitos estudos
mostram que de 50% a 80% das crianças asmáticas desenvolvem sintomas
antes do quinto ano de vida, sendo difícil o diagnóstico clínico nesta faixa etária
(IV Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma, 2006).
Existe um número de investigações auxiliares disponíveis para o
diagnóstico e sua escolha vai depender do problema particular do paciente,
bem como da capacidade de colaboração da criança (GODFREY et al., 1997).
1.1.3 Classificação
Atualmente, recomenda-se que o manejo dos pacientes seja baseado no
grau da gravidade da doença (Ministério da Saúde, 2002).
A classificação da gravidade da asma é primordial para seu tratamento e
controle. A gravidade não é uma característica fixa do paciente com asma e
pode se alterar no decorrer de meses ou anos, recomendando-se avaliação
periódica para o estabelecimento do tratamento.
É difícil retratar um quadro clínico patognomônico de asma uma vez que os
sintomas podem variar em intensidade e podem ser mais proeminentes em
alguns pacientes; esta variabilidade de sintomas dificulta a realização de
estudos sobre a asma devido à falta de uma definição clínica que seja
amplamente aceita em estudos epidemiológicos (BARNES et al., 1997;
CASAGRANDE et al., 2008).
14
De modo geral, as crises o comumente noturnas podendo causar
interrupção do sono. As crises diurnas são menos freqüentes, contudo,
algumas vezes podem estar relacionadas com acontecimentos variados, como
mudança de temperatura, inalação de odores fortes, choques emocionais,
entre outros.
Alguns eventos biofisiológicos já foram identificados para justificar essa
característica noturna da doença, contudo, esse fenômeno ainda não está
muito esclarecido. Adicionalmente, esta característica noturna pode estar
relacionada com fatores de natureza psicológica demonstrando uma relação
criança-mãe baseada em forte dependência e superproteção, fazendo com que
a criança asmática expresse uma angústia primária relativa ao medo da perda
e do abandono ao deitar (Harrison,1988 apud BOSI, 1998, p.17).
Classificar a gravidade tem como principal função determinar a dose de
medicamentos, suficiente para que o paciente atinja o controle no menor prazo
possível. Estima-se que 60% dos casos de asma sejam intermitentes ou
persistentes leves, 25% a 30% moderados e 5% a 10% graves, o que apesar
de representar a minoria, leva à maior parcela da utilização dos recursos de
saúde (IV Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma, 2006).
O Quadro 1, transcrito literalmente do III Consenso Brasileiro no Manejo
da Asma (2002), mostra a classificação da gravidade da asma, baseada na
freqüência das crises, na presença de sintomas entre as crises, no uso de
medicamentos, e na recomendação de exames médicos específicos e na
interferência que a asma ocasiona sobre o estilo de vida da criança e da
família. Não sendo uma doença estática, pode variar por qualquer fator e a
qualquer tempo, necessitando de avaliações periódicas para adequação do
tratamento, principalmente no que diz respeito à determinação da dose
medicamentosa.
15
Quadro 1 Classificação da gravidade da asma
Fonte: III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma, 2002.
1.1.4 Prevalência, morbidade e mortalidade
Por muito tempo, a asma foi considerada uma doença trivial e não fatal,
passando, na década de 1960, a ser vista como causa de sofrimento humano,
de elevados custos financeiros e morte, o que motivou ações conjuntas do
governo e de sociedades médicas, visando seu controle (Speizer, 1968 apud
WIJESINGHE et al., 2009).
Hoje entre as enfermidades da infância, a asma infantil é certamente a
doença crônica que mais merece atenção do ponto de vista da morbidade e
pode ser considerada a principal doença respiratória crônica da criança e do
adolescente. Possui múltiplos fatores desencadeantes e apresenta importância
16
individual e coletiva por se tratar de um processo potencialmente grave cuja
prevalência vem crescendo mundialmente nos últimos anos com participação
crescente na mortalidade (MAIA et al., 2004; SOLÉ et al., 2004).
A asma afeta aproximadamente de 7 a 10% da população. A estimativa de
prevalência média mundial da asma mostrou ser de 11,6% entre escolares
(seis e sete anos) e, de 13,7% entre adolescentes (treze e catorze anos). No
Brasil encontram-se índices elevados, em torno de 20% para as duas faixas
etárias, segundo dados do International Study for Asthma and Allergies in
Childwood (ISAAC) (Ministério da Saúde, 2002; SOLÉ, 2005).
Segundo SOLÉ et al. (2006) o ISAAC foi idealizado para avaliar a
prevalência de asma e doenças alérgicas em crianças em diferentes partes do
mundo, empregando para tal um método padronizado.
De acordo com o relato de CASAGRANDE et al. (2008) especialmente no
Brasil as pesquisas epidemiológicas, como as propostas pela metodologia
ISAAC, revelam-se importantes pelo desafio da coexistência entre alta
prevalência de asma e precárias condições socioeconômicas.
A asma é responsável, em nosso país, por aproximadamente 350.000
internações hospitalares por ano no Sistema Único de Saúde, constituindo-se
na quarta causa de hospitalizações, na terceira causa entre crianças e adultos
jovens e no terceiro maior valor gasto do total anual de custos com uma única
doença (IV Diretrizes Brasileiras para o Manejo da Asma, 2006).
Outro importante estudo, com índices semelhantes aos encontrados no
ISAAC, mostra que o Brasil apresenta um dos mais altos índices de ocorrência
de uma doença crônica, a asma, que afeta 300 milhões de pessoas no mundo,
e a cada ano, mata 250 mil. Esses dados colocam o Brasil em sexto lugar com
respeito á proporção de casos confirmados de asma, e em primeiro lugar nos
casos suspeitos, possivelmente pela dificuldade de acesso da população a
serviços de saúde (ZORZETTO e MOURA, 2009).
17
1.1.5 Fatores desencadeantes
Fatores desencadeantes ou precipitantes, chamados de gatilhos da asma,
indicam que algo inicia a cascata de reações, que com o processo inflamatório
vai causar os sintomas da asma. Os gatilhos são muito variados e as respostas
bastante individuais, podendo mudar de característica em uma mesma pessoa.
O indivíduo tem que estar sensível àquele gatilho, naquele período, isto é, o
desenvolvimento da inflamação no pulmão exige uma interação entre o agente
desencadeante e o indivíduo. Muitos gatilhos da asma o fatores
completamente independentes da vontade do sujeito. Quando os fatores
desencadeantes o identificados e quando é possível afastá-los, melhor o
resultado do tratamento. Não se pode subestimar uma crise de asma;
independente do fator desencadeante, a falta de ar, o chiado e todas as
conseqüências são iguais (FIKS, 2004).
Entre os fatores desencadeantes ou agravantes das crises nas crianças
estão as infecções das vias respiratórias, fatores emocionais, os alérgenos
inaláveis, o exercício físico, as alterações climáticas, a exposição à fumaça
e/ou outros elementos irritantes (SOLÉ e NASPITZ, 1998).
Pode-se destacar que um dos fatores desencadeantes mais comuns da
asma são as infecções virais, as gripes e resfriados; a inflamação pode levar a
um aumento na secreção e até mudança da sua cor. Outro fator muito
importante é o emocional, pois as situações estressantes podem ocasionar
piora da crise tornando difícil o seu controle. Portanto, as medidas devem ser
tomadas a fim de minimizar os efeitos do fator emocional.
A adoção de medidas de higiene domiciliar tem a finalidade de criar um
ambiente livre de alérgenos que constituem a causa primária de asma,
principalmente em crianças. Pode-se dizer que estes alérgenos domiciliares se
formam de uma mistura de ácaros, fungos, insetos, pêlos de animais e pólen e,
a eliminação destes fatores constitui uma tarefa intensa e muitas vezes
complicada, uma vez que essas medidas podem ser onerosas e nem sempre
eficientes para o controle da doença.
18
Com relação aos animais domésticos, o alérgeno mais comum é o pêlo do
gato, e o maior problema é o apego familiar com o animal; outro alérgeno
importante é a barata, sendo um problema principalmente em escolas e locais
onde haja estoque de comida. O exercício físico pode ser um gatilho, porém
em casos onde a asma está fora de controle, o menor esforço físico pode
agravar uma crise; o uso de determinadas medicações pode piorar a asma;
uma outra causa que gera discussões é a relação entre asma e o refluxo
gastroesofágico, que devem ser tratados em conjunto (FIKS, 2004).
1.1.6 Prognóstico
A asma é uma enfermidade que se apresenta sob diversos aspectos e
possui múltiplos fatores determinantes e por isso possui um prognóstico
variável entre bom e reservado.
Segundo BOSI (1998) o prognóstico da asma necessita de elementos
gerais como o caráter evolutivo dos sintomas, o tipo de resposta à terapêutica,
as características do meio envolvente e as marcas lesionais das crises;
contudo, na maioria das vezes, pode ser considerado como bom. Por outro
lado a negação ou subestimação da doença pelo paciente, terapia
subdimensionada para a gravidade da doença, não utilização ou utilização
incorreta das medicações antiasmáticas, dificuldade de acesso à rede de
saúde, presença de co-morbidades, e fatores inerentes à própria doença
podem agravar o prognóstico.
Quando a família, o paciente ou o médico não reconhecem que o paciente
é portador de asma é pouco provável que ele receba um tratamento adequado
(BARNES et al., 1997). O manejo bem sucedido da asma depende muito das
informações fornecidas à criança e aos seus responsáveis de modo que ambos
adquiram um bom entendimento sobre a natureza da asma e seu tratamento, e
quando bem empregado propiciará ao paciente controle da doença e
normalidade no seu cotidiano (GODFREY et al., 1997).
19
Em suma, BOSI (1998) refere que um bom prognóstico envolve crises
espaçadas e pouco intensas sem repercussões na vida escolar, familiar e
social da criança. Implica cooperação e boa resposta ao tratamento; enquanto
que um pior prognóstico está diretamente relacionado com a freqüência e
gravidade das crises, dano importante à função respiratória, repercussões
negativas ao desenvolvimento físico e psico-afetivo, alta taxa de absenteísmo
escolar, ambiente desfavorável existente, terapêutica desordenada com
automedicação, falta de cooperação e resposta insuficiente à terapêutica.
Acrescentando, MAHLER (1982) acredita que os episódios de remissão da
doença, extrapolam os efeitos fisiológicos e também podem estar associados a
alguns movimentos psico-afetivos, como o processo de separação-
individualização que comumente acontece ao final da infância e inicio da
puberdade.
As variáveis psicológicas bem como as variáveis sociais podem ser
antecedentes, conseqüentes ou manter uma relação circular, perpetuando ou
agravando o estado físico do doente. Outros estudos destacam a influência de
estados emocionais negativos, como a depressão e a ansiedade nos períodos
de agudização da doença e a negação, no prognóstico da doença, na sua
morbidade, mortalidade. (MATOS e MACHADO, 2007).
Diante disso ADAMS et al. (2004) referem que a presença de variáveis
emocionais e cognitivas negativas, além da pouca percepção de controle físico
atuam como fatores determinantes de uma baixa qualidade de vida no domínio
do estado de saúde física em doentes asmáticos.
A relação entre o curso da asma e os fatores psicossociais é referida por
TEIRAMAA, (1978) uma vez que, segundo o autor, a boa adaptabilidade social
associada a uma personalidade mais madura e tolerante ao estresse possui
um efeito benéfico na evolução da asma. Essa relação é confirmada por
MATOS e MACHADO, (2007) que verificaram a associação esperada entre as
variáveis psicológicas e o nível de funcionamento de indivíduos asmáticos.
20
1.1.7 Tratamento
Utilizar ações educativas e intervenção psicológica associadas em
complementariedade às ações médico-farmacológicas da asma constitui uma
abordagem pluridisciplinar da doença. Assim, MATOS e MACHADO (2007)
reforçam a importância de desenvolver programas de intervenção psicológica
que visem a melhora da adaptação da pessoa à realidade da doença,
promovendo sua qualidade de vida. Da mesma forma os autores destacam a
necessidade de realizar uma avaliação biopsicossocial, multidimensional
considerando capacidades funcionais, aspectos psicológicos/comportamentais
e o funcionamento social destes doentes, o que permitiria ajustar as
intervenções às necessidades de cada paciente.
O tratamento da asma inclui medidas educacionais, fisioterapia respiratória
e terapia medicamentosa. Este protocolo visa diminuir os sintomas, prevenir
crises recorrentes e manter a função pulmonar o mais próximo possível do
normal. (Ministério da Saúde, 2002).
O objetivo principal do manejo da asma é a obtenção do controle da
doença e, os objetivos terapêuticos básicos são: minimizar os sintomas que
limitam as atividades diárias, prevenir crises recorrentes, diminuir as visitas às
emergências e hospitalizações, reduzir a necessidade do uso de medicação de
alívio e manter a função pulmonar o mais próximo possível do normal
(Ministério da Saúde, 2002; III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma, 2002 ).
Desse modo, organizações e sociedades médicas definem consensos para
que rotinas diagnósticas e terapêuticas sejam efetivas na abordagem de
doenças. A asma é uma enfermidade que determina importante sofrimento
humano e implica em grandes prejuízos financeiros caracterizando assim, um
sério problema de saúde pública. Mesmo diante de todo empenho da
comunidade médica em alcançar uma boa efetividade no manejo da asma,
pesquisas recentes mostram que um desacordo entre as expectativas dos
doentes e as ações médicas realizadas, além do inadequado manejo
promovido por parte dos profissionais de saúde e o impacto que a doença
21
acarreta no cotidiano e nos orçamentos pessoais, institucionais e
governamentais (CAMPOS, 2009).
Assim, sabe-se que os sintomas e as disfunções causados pela asma
interferem no cotidiano de seus portadores, bem como o tratamento adequado,
quando instituído precocemente, pode controlá-la e permitir ao asmático ter
uma vida normal (CAMPOS, 2007).
Todos os pacientes com asma e seus familiares devem receber
orientações sobre a doença e noções de como eliminar ou controlar os fatores
desencadeantes, especialmente os domiciliares e ocupacionais. Devem ser
enfatizadas as diferenças entre tratamento sintomático e tratamento de
manutenção regular. O paciente deve entender a doença e seu tratamento, e
ter um plano de ação escrito para uso em caso de exacerbação dos sintomas.
A terapia deve focar de forma especial a redução da inflamação. O tratamento
ideal é o que mantém o paciente controlado e estável com a menor dose de
medicação possível. Caso o controle ideal o seja obtido, antes de quaisquer
mudanças terapêuticas deve-se considerar: a adesão do paciente ao
tratamento; os erros na técnica de uso dos dispositivos inalatórios; a presença
de fatores desencadeantes e/ou agravantes (IV Diretrizes Brasileiras para o
Manejo da Asma, 2006).
É considerada um problema de saúde pública, produzindo uma importante
utilização de serviços sanitários, principalmente no caso de asma grave. Além
disso, esta enfermidade tem um alto impacto social e psicológico em crianças.
Em seu tratamento, medicações cada vez mais eficazes estão disponíveis,
porém o controle da asma será possível com o cumprimento do tratamento
prescrito e com o desenvolvimento de procedimentos educativos junto aos
pacientes e seus familiares. Nos últimos anos, tem se dado importância maior
para aspectos relacionados à qualidade de vida no tratamento de crianças
asmáticas (NEVOT, 2000).
Segundo MELLO-DA-SILVA (2005), as condições ambientais são
consideradas como importantes fatores determinantes da saúde na infância, e
atualmente existe uma preocupação maior com situações desfavoráveis, que
22
podem contribuir para a mortalidade e morbidade infantil. A criança com idade
pré-escolar e escolar interage de maneira permanente com o meio que a cerca;
incluindo o ambiente doméstico, áreas de lazer e escola. Em virtude de suas
necessidades nutricionais, demandas metabólicas e características
comportamentais, estes ambientes podem favorecer o contato com agentes
químicos presentes na água, ar e solo, além da fumaça do tabaco que tem sido
cada vez mais relacionada ao aumento da ocorrência de doenças como a
asma. Observar a incidência e prevalência de doenças e utilizar essa
informação para desencadear intervenções é uma estratégia bem estabelecida
na abordagem geral em Saúdeblica.
Observa-se um interesse maior pelas ações educativas em asma, pois
acredita-se que elas podem melhorar a qualidade de vida dos portadores e
diminuir os índices de morbidade; através da compreensão da doença e
aprimoramento no auto-manejo pelos pacientes, pode-se mudar atitudes e
crenças referentes à patologia, melhorando também a adesão ao tratamento
(SANTANA, 2005).
Alguns trabalhos mostram que programas educacionais são importantes na
repercussão da função respiratória dos pacientes asmáticos.
Um programa educacional de auto-manejo em crianças e adolescentes
melhora a função pulmonar e o auto-controle, reduz o absenteísmo escolar, o
número de restrição de atividades diárias, o mero de visitas em serviços de
emergência médica e os distúrbios noturnos. Portanto, deve ser considerado
uma parte importante da rotina de cuidados com as crianças portadoras de
asma (GUEVARA et al., 2003).
Variações estatisticamente significativas foram observadas em um
programa para pacientes pediátricos portadores de asma e seus cuidadores,
incluindo redução da sintomatologia e atividades diárias restritas para crianças
e dias de trabalho para os adultos, concluindo-se que um programa de
intervenção em larga escala na população significa benefícios clínicos e
econômicos (GEORGIOU et al., 2003).
23
Um programa educacional de auto-manejo em crianças previne e ajuda a
controlar as crises que são incorporadas na rotina do tratamento de asma e
devem focar a morbidade e a funcionalidade, incluindo qualidade de vida e
alguns componentes de intervenção (WOLF et al., 2003).
A doença crônica exige um tratamento mais abrangente, que não se
restringe unicamente a medicamentos, havendo necessidade de um manejo
global para que a efetividade real seja obtida.
A adesão ao tratamento é um dos itens fundamentais para a mencionada
melhoria de qualidade de vida. A ocorrência de baixa adesão a esquemas
terapêuticos em doenças crônicas está bem documentada: em asma, estudos
mostram que cerca da metade das prescrições médicas não são obedecidas
(CHATKIM et al., 2006).
Portanto, é necessário realizar um tratamento que conte com a participação
ativa dos pacientes asmáticos e de seus familiares, uma vez que existem
limitações físicas, emocionais e sociais. Para o controle da doença, os
envolvidos devem ser informados sobre a asma, fatores que desencadeiam e
como evitá-los, conseguindo reconhecer os sinais de alteração do seu
organismo em relação à doença, além do uso correto das medicações. Assim,
apesar de ser diversa a forma para atingir bons resultados, consegue-se com
programas de educação, se realizados de maneira individual, a partir de
interferências positivas no cotidiano e na qualidade de vida; o que trará como
conseqüência a diminuição de visitas aos serviços de emergência e de
hospitalizações, reduzindo os parâmetros de morbidade e mortalidade
(BETTENCOURT et al., 2002).
1.1.8 A criança asmática
Como dito anteriormente, a asma é uma doença que representa um grande
problema social e individual, refletindo altos custos financeiros para o doente e
para a sociedade. É um desafio diário à adaptação da enfermidade que exige
ajustes no cotidiano a fim de minimizar as influências e o curso da doença. É
24
importante fornecer ao paciente asmático uma compreensão da doença, as
inter-relações entre afetos, um conhecimento sobre seus comportamentos,
processos biológicos e ambiente e procurar realizar um trabalho conjunto com
o paciente, intervindo sempre que se fizer necessário.
Fatores psicológicos e sócio-econômicos têm grande influência sobre o
comportamento. Diante disso CADMAN et al. (1987) referem que comumente
crianças portadoras de doenças crônicas apresentam maior possibilidade de
ter problemas de cunho psicológico.
A asma implica menor resistência física, e em muitas crianças pode-se
observar um atraso da maturidade nas relações emocionais, sendo objeto de
cuidados exagerados por parte de seus pais, familiares e até professores,
privando de experiências físicas adequadas à sua idade, o que a impede de
desenvolver-se como uma criança normal. Esta superproteção tornará a
criança mais insegura e ansiosa, facilitando assim suas crises. Isto geralmente
acontece porque os pais não conseguiram resolver o conflito entre dar
liberdade para a criança crescer e se desenvolver, ou restringí-la para protegê-
la das crises (BOSI, 1998; CLARK 1980; TEIRAMAA, 1978).
Como forma compensatória ao sofrimento ocasionado pela doença, os pais
se empenham em satisfazer o menor desejo do filho doente. Ao perceber essa
fraqueza dos pais, a criança utiliza a debilidade (nem sempre verdadeira) para
obter o que deseja. Contudo, na impossibilidade de conseguir „manipular‟ todas
as pessoas do seu meio, o filho superprotegido pode se tornar desajustado
socialmente. Desse modo, os fatores psicossociais podem ser desencadeantes
de crises am de afetar o desenvolvimento da criança e sua sociabilidade.
Em função de suas características de doença crônica, a asma afeta a
criança e a família por vários motivos (Lewiston et al.,1977 apud BOSI, 1998,
p.33):
- pelo caráter hereditário da doença, podendo dar aos pais a sensação de
culpabilidade por terem provocado a doença no filho;
25
- pela distorção das relações familiares, vinda da frustração de ter filho
doente e da ansiedade em lidar com a doença, que acaba por restringir a vida
social do casal e de toda a família, e muitas vezes organizando-se uma aliança,
em geral entre a mãe e a criança portadora;
- pela necessidade de adaptação na casa, com recomendações de
medidas profiláticas, como higiene do ambiente físico, tirando cortinas, tapetes,
animais de estimação, o que pode frustrar a criança, irmãos e até os pais;
- possíveis problemas com os irmãos, que sentindo-se negligenciados,
ressentem-se contra o irmão doente, expressando sutilmente seus sentimentos
com sua exclusão das atividades lúdicas, tratando-o como criança fraca e
doente, levando-o frequentemente a um isolamento relativo do grupo, com
diminuição da sua auto-estima e auto-confiança;
- pelos problemas financeiros que a família pode enfrentar em
consequência dos altos custos com o tratamento.
Vale ressaltar que a asma é uma doença complexa que envolve múltiplos
fatores e não se pode estabelecer uma relação direta entre os fatores
psicológicos e a ocorrência da crise asmática.
A asma infantil ocorre em um contexto muito complexo que envolve todo o
universo que a rodeia, que é afetado tanto pelas transformações cotidianas que
a doença acarreta, quanto pelas fantasias que suscita, necessitando do olhar
de um profissional para monitorar esse percurso para que sua qualidade de
vida não seja afetada (BORBA e SARTI, 2005).
As relações no mundo social da criança portadora de asma giram em torno
da família, da escola e do serviço de saúde que acaba fazendo parte da sua
vida. Torna-se portanto, importante compreender o significado que as pessoas
atribuem à asma, conhecer a relação entre os profissionais, o paciente e sua
família, verificar o impacto da doença na vida da criança e sua família,
contribuindo para construir um modelo de assistência, com a necessidade de
um tratamento interdisciplinar, de modo a proporcionar às pessoas envolvidas
26
um crescimento e melhoria da qualidade de vida, vivenciando a asma como
parte da suas vidas (BORBA e SARTI, 2005).
A manifestação da asma ocorre em um contexto de relações interpessoais
o que mostra a necessidade de um tratamento interdisciplinar que contemple
as dimensões bio-psico-sociais. O papel dos profissionais é contribuir para que
crianças e suas famílias possam vivenciar a asma como parte de um processo
dinâmico da vida, a fim de que a qualidade do atendimento represente um
caminho de crescimento para todos (BORBA e SARTI, 2005).
Segundo BOSI e REIS (2000), é cada vez mais evidente a importância de
se conhecer a representação social da família acerca da criança asmática,
além de questões referentes ao conhecimento da doença e as repercussões
que seu diagnóstico produz nas relações familiares. Aspectos limitadores da
asma têm incidência importante na vida escolar das crianças, e a escola
apresenta-se não como espaço complementar, mas um prolongamento
direto ou indireto da família. É o lugar em que a família projeta expectativas,
desejos, anseios e até a responsabilidade pelo cuidado e educação da criança;
constitui o principal espaço físico, institucional e de socialização, onde se
processa o essencial de seu desenvolvimento, que acaba sendo prejudicado
na medida em que a preocupação com a saúde da criança é colocada em
primeiro plano servindo como desculpa e dessa forma, a ausência da criança
às aulas é aceita sem restrições.
É com a entrada da criança na escola que ressurge o conflito entre
dependência e independência, trazendo à tona aspectos relacionados à
estruturação da personalidade, tanto da criança como da família. Entretanto,
muitas famílias, inconscientemente, adotam de forma equivocada condutas de
superproteção, tais como as faltas às aulas por exemplo, revelando uma
preocupação mais dos pais do que das próprias crianças. Observa-se que à
medida que a escolarização avança, parece haver uma normalização das
relações da família com a escola e também há uma remissão do processo
asmático, podendo ser decorrente da desdramatização da representação da
criança asmática na família, na medida em que ela passa a participar de
27
atividades extrafamiliares; esta expansão da vida da criança traz benefícios
diretos, atenuando o processo asmático (BOSI e REIS, 2000).
A sociedade estabelece meios de categorizar as pessoas, pelos atributos
considerados comuns e naturais que tornam-se referência, e quando se
apresenta alguém que não se enquadra nestes moldes, é excluído passando a
ser considerado como uma pessoa que tem um defeito, uma fraqueza ou uma
desvantagem. A criança asmática pode carregar o peso do estigma de viver
num conflito constante entre a identidade social e a real. No ambiente escolar,
as relações com os colegas são conflituosas e marcadas por fracos vínculos de
amizade. Sua presença é rejeitada pelos mesmos, assim, numa atitude
compensatória, para provar sua capacidade e auto-afirmação, a criança exige
de si um bom desempenho (BORBA e SARTI, 2005).
Sendo a asma uma das doenças de maior importância da infância e
compreendendo grande número de crianças portadoras, torna-se cada vez
mais importante desenvolver trabalhos que estimulem o conhecimento sobre a
doença e suas formas de prevenção, bem como saber como se sentem as
pessoas que a tem presente no seu cotidiano: as próprias crianças e seus
familiares. O conhecimento adequado sobre a doença e as interferências no
cotidiano da criança contribuirá para o enfrentamento das repercussões
negativas e na elaboração de estratégias de promoção da sua saúde e
qualidade de vida.
Estudar a asma infantil e sua interferência no cotidiano é um desafio
decorrente do fato de que a prática profissional de assistência às crianças
ainda está respaldada principalmente em aspectos biológicos, ignorando-se as
dimensões psicológicas e sociais.
Assim, decidiu-se realizar a presente pesquisa, cujos objetivos são a seguir
relacionados.
28
2. OBJETIVOS
Objetivo Geral
- Investigar a interferência da asma no cotidiano das crianças portadoras
desta patologia.
Objetivos Específicos
- Identificar a representação que as crianças portadoras de asma fazem
sobre a doença.
- Identificar a representação que pais de asmáticos fazem sobre a
doença.
29
3. MÉTODOS
Com a finalidade de entender os problemas e as necessidades presentes
no cotidiano das crianças portadoras de asma, utilizou-se metodologia
qualitativa nesta pesquisa, buscando-se identificar as representações sociais,
presentes nas suas falas e de seus pais.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, trabalha
com um espaço profundo das relações, dos processos e dos fenômenos, um
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2010).
O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações,
das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem
seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2007).
Segundo MOSCOVICI (1978, 2003), precursor do campo de estudos psico-
sociológicos e responsável pela proposição do termo, "uma representação
social é o senso comum que se tem sobre um determinado tema, onde se
incluem também os preconceitos, ideologias e características específicas das
atividades cotidianas (sociais e profissionais) das pessoas". Ou ainda, refere-se
às respostas como "representações sociais entendidas como um conjunto de
conceitos, proposições e explicações originados da vida cotidiana".
De acordo com JODELET (2001) "representação social é uma forma de
conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e
que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social”.
30
As representações foram criadas com o intuito de se conseguir uma
adaptação ao mundo que está ao redor, e são chamadas de sociais porque se
partilha esse mundo com outros. Mostram-se como fenômenos complexos
compostos por elementos que indicam um saber que se refere a um estado da
realidade, e podem ter um caráter informativo, cognitivo, ideológico, normativo,
e também relacionados a crenças, valores, atitudes, opiniões, entre outros. As
representações sociais, enquanto sistemas de interpretação indicam a
definição das identidades pessoais e sociais, a expressão de um grupo e as
transformações sociais, bem como podem intervir em processos diversos,
como a difusão e assimilação dos conhecimentos e no desenvolvimento
individual e coletivo.
De acordo com SPINK (1993), “a representação é uma construção do
sujeito enquanto sujeito social. Sujeito que não é apenas produto de
determinações sociais nem produtor independente, pois que as representações
são sempre construções contextualizadas, resultados das condições em que
surgem e circulam”.
LEFÈVRE e LEFÈVRE (2003), aconselham a pesquisa qualitativa de base
indutiva porque os pensamentos, na qualidade de expressão da subjetividade
humana, precisam passar previamente pela consciência, sendo necessário
recuperar e resgatar estes pensamentos com o objetivo de construir o
pensamento coletivo. Trata-se assim de pensar o relato com evidência,
percebendo que o singular, pode se transpor para o coletivo.
Ainda segundo os mesmos autores (2005), para resgatar o pensamento de
uma coletividade sobre um dado tema, por meio de uma pesquisa social
empírica, é necessário considerar que o pensamento ou a opinião dos
indivíduos que compõem essa coletividade só podem ser vistos como um
depoimento discursivo, como uma manifestação lingüística de um
posicionamento diante de um dado tema, composto por uma idéia central e
seus respectivos conteúdos e argumentos.
O discurso do sujeito coletivo - DSC constitui um recurso metodológico que
permite a realização de pesquisas de resgate das opiniões coletivas, onde o
31
pensamento, como comportamento discursivo e fato social individualmente
internalizado possa se expressar e é coletado por entrevistas individuais com
questões abertas.
Neste estudo os dados obtidos foram analisados à luz do DSC proposto
por LEFÈVRE e LEFÈVRE (2005), segundo o qual busca-se descrever e
expressar um determinado posicionamento ou opinião sobre um tema presente
numa formação sociocultural. O DSC é uma forma de representar a opinião
coletiva por meio de um discurso da realidade, sendo um discurso direto, sem
ou com pouca mediação, resgatando o pensamento coletivo e as
representações sociais, que desemboca num conjunto de discursos coletivos,
ou DSCs. É um processo complexo, subdividido em momentos e efetuado por
várias operações realizadas sobre o material verbal coletado nas pesquisas.
O DSC está alicerçado em três figuras metodológicas: as expressões
chaves, a idéia central e a ancoragem, sendo necessárias à identificação
dessas figuras para que se produzam os DSCs:
Expressões-Chave (E-Ch) o trechos selecionados que melhor
descrevem o conteúdo de cada depoimento;
Idéias Centrais (ICs) são fórmulas sintéticas que descrevem o sentido
presente nos depoimentos de cada resposta e no conjunto de respostas de
diferentes indivíduos com sentido semelhante ou complementar;
Ancoragens (ACs) são fórmulas sintéticas que descrevem as ideologias, os
valores e as crenças presentes na respostas individuais ou agrupadas, sob a
forma de afirmações genéricas enquadrando situações específicas;
O Discurso do Sujeito Coletivo (DSCs) propriamente dito é a reunião das E-
Ch de respostas que m ICs e/ou ACs de sentido semelhante ou
complementar.
A pesquisa típica que usa o DSC é alicerçada em três, quatro ou cinco
questões abertas a serem respondidas por uma amostra de população,
gerando diferentes posicionamentos, ou seja, distintos DSCs do ponto de vista
32
qualitativo, com opiniões e posicionamentos diferentes e do ponto de vista
quantitativo sendo cada um deles resultado da contribuição de um número de
entrevistas ou depoimentos de indivíduos portadores de atributos
demográficos. Na técnica do DSC a qualidade e a quantidade se fundem,
gerando o pensamento coletivo como soma qualitativa a ser quantificada.
O DSC consiste numa forma não matemática nem metalingüistíca de
representar o pensamento de uma coletividade que, após uma série de
operações sobre os depoimentos, chega-se a um discurso-síntese, fruto de
respostas de indivíduos diferentes com conteúdos discursivos com sentido
semelhantes.
3.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS E ENTREVISTAS
Inicialmente realizou-se uma visita a todas as classes de 1ª. a 4ª. séries do
Ensino Fundamental de uma Escola Estadual da Zona Oeste da cidade de São
Paulo, no período matutino e vespertino com acompanhamento da
coordenadora pedagógica. Foi apresentado o objetivo da pesquisa e
distribuídos os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido para os pais das
crianças portadoras de asma, candidatos a participar da pesquisa por meio de
entrevista. Em uma nova visita, foram recolhidas essas autorizações em
número de 45, devidamente preenchidas e iniciando-se a partir daí
providências para a realização das entrevistas.
Foi feito contato com os pais das crianças e depois de devidamente
esclarecidos, foram agendadas entrevistas com eles e seus filhos
individualmente e realizadas na escola. Contou-se com a presença de 41 pais,
sendo que os 4 não entrevistados alegaram problemas pessoais e
indisponibilidade pela jornada de trabalho, porém autorizaram a realização da
entrevista com o filho.
33
Perfil dos pais/responsáveis
SEXO
IDADE (anos)
GRAU DE INSTRUÇÃO
M
20-30
30-40
40-50
+ 50
EF I
EF II
Superior
Sem instrução
5
5
20
12
4
23
15
2
1
Perfil das crianças
SEXO
SÉRIE
IDADE (anos)
PERÍODO
F
M
06
07
08
09
10
11
12*
13*
Manhã
Tarde
20
25
5
12
12
16
3
4
11
10
10
5
1
1
16
29
*O estudo foi realizado com a participação de todas as crianças com diagnóstico de asma, não
sendo portanto, excluídas duas delas com idade superior à faixa etária previamente estabelecida.
QUEM?
Neste projeto foram entrevistadas crianças portadoras de asma com idade
escolar entre 6 e 11 anos, com autorização prévia dos pais ou responsáveis
além de seu pai/mãe ou responsável que se dispuseram a colaborar com a
pesquisa de forma voluntária e anônima.
A faixa etária das crianças portadoras de asma que nesta pesquisa foi
limitada entre 6 e 11 anos teve relação com o fato de ser nessa idade que
verifica-se o agravamento do quadro da asma, sendo ainda este o momento
próximo da adolescência onde, alterações orgânicas e psíquicas começam a
se manifesta. Esta é também a fase de inserção no ambiente escolar, onde
verificam-se aspectos relacionados à estruturação de uma nova rotina, com
34
exposição à imprevisibilidade de clima e das crises de asma, incertezas em
relação ao futuro, e exigências sociais de desempenho e autonomia.
ONDE?
As entrevistas iniciadas em setembro de 2009 foram realizadas nas
dependências de uma Escola de Ensino Fundamental I, da rede pública da
cidade de São Paulo, situada na região oeste de São Paulo, após autorização
prévia das autoridades competentes. A escolha da região foi decorrente da
prevalência da asma em 31% dos escolares com resposta afirmativa à questão
sobre sibilância, maior que em outras regiões da cidade, de acordo com o
estudo de CASAGRANDE et cols (2008), sobre a prevalência de asma e
fatores de risco da cidade de São Paulo. Uma das hipóteses para a alta
prevalência da asma nesta população aponta para seu baixo nível
socioeconômico e fatores ambientais.
COMO?
A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo, onde o
pesquisador busca obter informações contidas na fala dos atores sociais,
sendo um meio de coleta dos fatos relatados pelos atores da pesquisa que
vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada.
Segundo MINAYO (2010), uma forma de entrevista é a semi-estruturada,
que articula a modalidade aberta ou o-estruturada, onde o informante fala
livremente do tema proposto, com a modalidade estruturada que pressupõe
perguntas previamente formuladas.
As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora, com base em roteiro de
entrevistas previamente testado com sujeitos que obedeciam aos critérios
descritos anteriormente. Todas as entrevistas foram gravadas com a permissão
dos entrevistados, mediante preenchimento de Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (Anexo 1) e garantia de sigilo de acordo com as orientações do
Comitê de Ética em Pesquisa - COEP/FSP. As gravações foram transcritas
literalmente, constituindo o campo de análise do presente estudo.
35
Os dados foram analisados com o auxílio do Qualiquantisoft®, o software
do DSC (Discurso do Sujeito Coletivo), identificando-se as expressões-chave,
idéias centrais, categorizando esses dados, que resultaram no Discurso do
Sujeito Coletivo (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2005).
Foram elaboradas questões respondendo aos objetivos de investigar a
interferência da asma no cotidiano das crianças portadoras desta patologia, e
identificar as representações que essas crianças e seus pais faziam sobre a
doença.
ROTEIRO DE ENTREVISTAS:
PARA OS PAIS SOBRE A CRIANÇA
1ª. Pergunta Como você soube que ele(a) tem asma?
2ª. Pergunta Como ele(a) reagiu com esse diagnóstico de asma?
3ª. Pergunta Como é o dia a dia dele(a) em casa de dia e de noite?
4ª. Pergunta E como é o fato de ser uma criança asmática na escola?
PARA AS CRIANÇAS PORTADORAS DE ASMA
1ª. Pergunta Estamos vendo uma casa, e esse menino(a) mora nessa
casa. Faz de conta que você é esse menino(a). Como é a vida desse
menininho(a) que tem asma, de dia e de noite?
2ª. Pergunta Agora estamos vendo uma escola, e esse menino(a) estuda
nessa escola. Faz de conta que você é esse menino(a). Como é a vida desse
menininho(a) que tem asma, na escola?
3ª. Pergunta Conta para mim o que aconteceu quando você soube que
tinha asma?
36
No caso das crianças, a pesquisadora optou por utilizar um instrumento
facilitador na entrevista. Para isso desenvolveu um flanelógrafo, conforme
fotografia no Anexo 2, que é um quadro recoberto com feltro, sobre o qual
ilustrações e letreiros podem ser colocados, retirados ou deslocados de sua
posição inicial. Foi reproduzido um cenário com paisagem simples, um céu azul
com nuvens, chuva, sol e lua removíveis com a presença de uma casa e uma
escola também removíveis, e uma menina ou menino que foram utilizados de
acordo com o gênero da criança a ser entrevistada e a pergunta a ser
realizada. Foram também disponibilizados outros bonecos, animais, bola,
produtos de higiene e sorvete, caso a criança entrevistada quisesse utilizar.
Através do flanelógrafo a criança conta uma história na terceira pessoa,
mas que descreve sua experiência; permite que ela dramatize, exponha idéias
difíceis de serem compreendidas e explicadas. Através desse material ela fala
livremente sobre outra pessoa, mas mostra os seus sentimentos e
representações sobre o que foi perguntado. É uma técnica de projeção, onde a
criança se espelha no personagem e conta a sua historinha; isto foi verbalizado
por várias crianças durante as entrevistas. O assunto foi apresentado em
etapas; a criança identificava o dia a dia em casa, dando conta da primeira
questão, depois identificava a escola, e falava sobre a segunda questão,
obtendo-se respostas satisfatórias. A terceira questão foi feita de maneira
direta, e foi observado um desvio nas respostas, apesar do roteiro de
entrevistas ter sido pré-testado, as crianças não conseguiram responder a essa
questão adequadamente, sendo desconsiderada da pesquisa.
As entrevistas foram realizadas pela pesquisadora, em uma sala destinada
para esse fim nas dependências da escola. Foram gravadas, transcritas e
analisadas pelo software Qualiquantisoft®, conforme já citado.
37
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Optou-se por apresentar os resultados quantitativos e qualitativos de forma
integrada por favorecerem os objetivos do trabalho apresentado.
4.1 ENTREVISTAS COM OS PAIS OU RESPONSÁVEIS
1ª. Pergunta - Como você soube que ele(a) tem asma?
A partir das falas dos pais e responsáveis obteve-se seis categorias de
Idéias Centrais apresentadas na Tabela 1 e na Figura 1, onde podem ser vistas
as distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
38
TABELA 1
Conhecimento dos pais/responsáveis sobre o diagnóstico da asma em seu filho
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Diagnóstico em consulta médica após crise respiratória
17
41,46
B - Diagnóstico no pronto socorro após crise respiratória
7
17,07
C - Diagnóstico durante internação por crise respiratória
14
34,15
D - Acredita ser de base familiar
3
7,32
E - Observação dos sintomas pela mãe
4
9,76
F - Sem resposta
1
2,44
TOTAIS
46
112,20
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de pais/responsáveis.
FIGURA 1
Conhecimento dos pais/responsáveis sobre o diagnóstico da asma em seu filho
*
39
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Diagnóstico em consulta médica após crise respiratória
DSC
Bom, eu fui em vários médicos e primeiro diagnosticaram como bronquite asmática.
Ele chiava muito, ficava cansado, desde novinho, desde quando ele nasceu, a gente
encostava o ouvido nele e ouvia, e aqui (na garganta) dele afundava; ficava muito
cansado. Também tinha a rinite, quando ele era menor que era frequente mesmo,
sempre com o narizinho entupido. deu uma crise nele de respirar, começou a
puxar de repente.
Então a gente procurou o pneumologista, que ele pegou e diagnosticou que era
bronquite. Também a pediatra, como ele ficava muito cansadinho, eu levei no
postinho e a pediatra fez uma série de exames e aí deu que era bronquite asmática.
Então eu soube assim, pela dificuldade dele tá respirando uma Asma, pelo cansaço
dele, por ele não conseguir respirar direito.
Idéia Central B - Diagnóstico no Pronto Socorro após crise respiratória
DSC
Com 8 meses, ele perdeu a respiração numa gripe que ele pegou. eu senti né,
nossa tá chiando demais, mas eu achava que era gripe e tal. Ele ficou sufocado,
ficou com a boquinha toda roxa, eu corri com ele pro pronto socorro, foi a
primeira crise nele. A bronquite dele é asmática, de pra eu não tive mais
sossego, sempre com crise asmática. O médico disse: procure um pneumologista, é
a ajuda que posso dar. Aí eu levei ele direto pro pronto socorro.
Então eu corria pro pronto socorro com ele, quando chegava no hospital, a gente
falava que tava atacada, e eles passavam a gente na frente porque era caso de
urgência.
Então, bem dizer foi assim, não foi através de médico, nem foi através de pediatra,
foi através de um encaminhamento para o hospital, foi numa das consultas que ele
passou no pronto socorro.
Idéia Central C - Diagnóstico durante internação por crise respiratória
DSC
Numa crise dele que ele foi para o hospital quase sem respirar, primeiro os médicos
falavam que ele tinha bronquite, aí quando ele teve a crise já era asma, por isso que
pra mim eu não sei se é a mesma coisa se primeiro tem um, é um passo, depois
vem a asma, ele ficou internado 18 dias no hospital e ai depois ficou uns dias
numa casa de apoio.
Depois da segunda pneumonia que ele teve, ele ficou internado no hospital,
falou que ele tinha broncopneumonia, e que ele tinha asma, aí virou asma né.
Idéia Central D - Acredita ser de base familiar
DSC
No princípio começou assim, isso vem de família, alguns tem rinite, eu também
tenho bronquite, o meu pai tem, dois irmãos meus tem, e esse meu sobrinho que é
afilhado também, todos têm bronquite, então é de família.
Ele é alérgico, e como eu fiz muitos tratamentos com alergologistas e
dermatologistas, e nos dois especialistas, todos eles falaram que o problema dele da
Asma é em decorrência do problema alérgico, quem tem alergia tem Asma também,
que ataca os pulmões, que uma bloqueada nos brônquios, nos alvéolos, e ele
sempre teve outros problemas alérgicos, sempre, e eu também, sempre fui
asmática, mas então, eu percebi pela experiência que eu tenho, que ele tem alergia,
e às vezes também faltava ar quando tava num ambiente fechado, com pó, também
quando veste roupa que fica dentro do armário com mofo, ele tem essas coisas
como eu tenho.
Idéia Central E - Observações dos sintomas pela mãe
40
DSC
A gente observa pelos acontecimentos, ele começou a ter Asma mais nas subidas,
ter mais dificuldades, ele ia ficando sem conseguir respirar direito, eu levei ele no
médico mas nenhum falou que ele tinha bronquite ou Asma mesmo.
Ele tá bem, aí começa os olhos lacrimejar e o nariz coçar e fica vermelho e, eu como
mãe acho que é uma alergia, e também parece que na minha casa é o lugar que
mais ele se sente mal, devido ao lugar onde nós moramos, o quarto tem muita
umidade, e devido a essa umidade começou a complicar a respiração dele.
A bronquite, a gente sabe desde pequeno, desde bebê que ele tem, eu levava ele
todo dia de manhãzinha e deixava na creche, acho que foi isso, essa friagem ele
começou a pegar a bronquite, mas que a bronquite dele é alérgica, assim de
cachorro, gato, sabe, assim pó, essas coisas, ele é alérgico a essas coisas.
Idéia Central F - Sem resposta
DSC
Não respondeu a questão.
O discurso mais significativo (categoria A: 41,46%) é o que evidencia, na
opinião dos entrevistados que o diagnóstico da asma foi realizado em consulta
médica após crise respiratória, por pediatra ou pneumologista. Alguns
comentários fazem referência à demora na confirmação do diagnóstico,
ocorrendo normalmente para isto várias consultas; isto se deve á necessidade
de se realizar diagnóstico diferencial para se obter a confirmação, sendo em
determinada idade bastante difícil e complexo.
O diagnóstico foi confirmado durante internação por crise respiratória
(categoria C: 34,15%). No discurso percebe-se que a falta de informação mais
clara para os pais e alguns profissionais de saúde em relação á doença,
provocaram um diagnóstico tardio, que poderia, eventualmente, ter evitado a
internação hospitalar. Em relação ao diagnóstico ser realizado no pronto
socorro (categoria B: 17,07%), observa-se no discurso, a gravidade do quadro
asmático, sua falta de controle e reforça que ou houve falta de conhecimento
dos pais a respeito da doença ou as informações anteriores dos médicos foram
insuficientes, com conseqüente retorno ao atendimento de emergência.
Nos discursos menos expressivos, onde as es observaram os sintomas
da asma (categoria E: 9,76%), o diagnóstico não foi confirmado pelo médico
apesar de consultado, porém a mãe informou o diagnóstico pelos sintomas do
filho e nos discursos onde o entrevistado acreditava ser de base familiar esta
41
enfermidade (categoria D: 7,32%), percebeu-se que a doença e as crises
faziam parte do histórico familiar, permitindo que não se dramatizasse o fato.
2ª. Pergunta Como ele(a) reagiu com esse diagnóstico de asma?
A partir das falas dos pais e responsáveis obteve-se sete categorias de
Idéias Centrais apresentadas na Tabela 2 e na Figura 2, onde podem ser vistas
as distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
TABELA 2
Reação da criança em relação ao diagnóstico
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Convive normalmente com o cotidiano da doença
13
32
B - Convive com a doença e toma providências
3
7
C - Convive normalmente mas...
7
17
D - Convive normalmente até...
3
7
E - Reação negativa
10
24
F - Reação foi dos pais
13
32
G - Não sabe / não respondeu
3
7
TOTAIS
52
127
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de pais/responsáveis.
*
42
FIGURA 2
Reação da criança em relação ao diagnóstico
32
7
17
7
24
32
7
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
Intensidade
A B C D E F G
Idéias Centrais
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Convive normalmente com o cotidiano da doença
DSC
Ele era pequeno, então ele reagiu normal, ele não fez muitas perguntas, não fez
diferença, ele conviveu assim, não teve nenhuma crise, assim nem de nervoso, nem
nada, ele é muito tranquilo, ele, se fala que tem que tratar, então vamos tratar, ele
colabora com tudo, o remédio e ele sarou e amanhã ele bom e é assim, não
pensa muito, ele foi aceitando e foi convivendo.
Idéia Central B - Convive com a doença e toma providências
DSC
Ele aprendeu crescendo com a bronquite, ele engatinhava e o inalador ficava
sempre pertinho, então eu pegava ele sentado com a mascara no narizinho, ele
ligava sozinho, até quando ele sentia falta de ar, ele mesmo aprendeu e fazia
inalação sozinho, eu não preciso me preocupar, quando ele cansado eu não
preciso falar, então ele aprendeu a conviver desde pequenininho com a inalação.
E ele falava que tava com Asma, porque às vezes a gente não percebe, ai eu dava a
bombinha e ele usava.
Idéia Central C - Convive normalmente mas...
DSC
43
Esse diagnóstico não teve nenhuma diferença, ele só reclamava que se ele jogasse
alguma bolinha ele tinha cansaço com mais facilidade, e se ele praticava algum
esporte mais pesado ele tinha que descansar, então a reclamação dele era essa,
não conseguia acompanhar aquilo que os coleguinhas dele acompanhavam,
infelizmente.
Idéia Central D - Convive normalmente até...
DSC
Ele não é menino de falar, então se alguma coisa tem e ele reclama, tá errado, nada
pra ele é ruim, mas agora se meio jururu, não quer ir pra escola, eu
procuro um médico. Então é normal, porque na realidade ele veio saber mais sobre
a doença foi quando ele teve o derrame pleural, porque aí ele fez a fisioterapia que o
médico pediu porque o pulmão dele tinha fechado, se contraído, e foi que ele
começou a vir a saber sobre as consequencias do problema, antes ele achava que
era uma gripe como outra criança e acabou, não chegava a entender nada disso, e
que não chegava a prejudicar nada nele não.
Idéia Central E - Reação negativa
DSC
Ele achava que ia parar de respirar, que não ia conseguir respirar e ficava
apavorado, chorava muito, pedia pra tirar o peito dele.
Ele fala que sempre cansado, com falta de ar, quer ficar na cama deitado,
então ele sempre reclamando disso, ele briga com a inalação, com o remédio, e
não quer, é teimoso, acaba cansando ele, e eu insistindo pra ele fazer, e eu falo que
eu vou levar ele mais no médico e ele agora fica cobrando, ele quer ir pra ver se tem
jeito, porque ele não aguenta mais.
A reação dele foi assim também de ficar mais agitado né, e na parte dos estudos ele
ficou mais esquecido.
Então ele falou: nossa mãe, eu sou uma criança doente, meus amiguinhos correm,
vão jogar bola, ninguém sente nada e eu tenho que parar prá respirar, isso é muito
chato, na escola me chamaram de doente porque eu tenho bronquite, me
puseram no gol porque eu não tinha condições de correr, nossa, você não sabe
quanto eu me sinto mal.
Então ele se sente assim bem triste, em relação aos amiguinhos, e quando ele vai
em algum lugar que tem uma criança que tem o mesmo problema, eu sinto que ele
fica aliviado, não é ele que tem isto, então ele vai no pronto socorro e fica
procurando alguém que tem o mesmo problema.
Olha, no começo foi difícil viu, ainda mais porque ele queria fazer coisas e ele tinha
que ficar mais em repouso dentro de casa, mas agora graças a Deus ele ta
acostumando né .
Idéia Central F - Reação foi dos pais
DSC
A gente ficou mais assustado do que ele, então não é uma coisa muito complicada,
mas também não é uma coisa muito fácil, e isso dói, porque eu não conseguia
ajudar e além da bronquite e da Asma, também tem rinite alérgica, então vinha tudo
junto.
Na época ele era muito bebê, então a reação foi esta, dos pais, e é cansativo, essa
bronquite interfere na vida dele e na nossa, eu sempre tentava olhar se ele tava
respirando direito, eu ficava apreensiva, com medo daqueles ataques que ele tinha,
que era demais, era frequente direto correr com ele pro médico e eu não parava no
trabalho, isso aí é que é o meu medo né.
Uma vez quase que eu perco ele, eu lembro quando dava a crise, e eu falava não
dá, eu tenho que levar ele agora a tarde no hospital antes de piorar, porque a noite a
gente não dorme e eu tinha que levar no colo até lá, porque ele não conseguia andar
e ele vomitava muito, agora eu tenho mais cautela, eu ficava agoniada, e a noite é o
pior, parece que tem um gato dentro dele, e ele fica respirando muito mal, ofegante,
ele não consegue respirar e eu fico morrendo de dó.
Idéia Central G - Não sabe / não respondeu
DSC
44
Eu não sei dizer muito bem, a mãe dele que leva ele no médico quando ele tem as
crises, a maioria das vezes tá sempre com ela, é difícil ele ter crise comigo, então eu
não sei dizer muito como ele reage.
Isso mesmo era bom a mãe dele falar né, que fica mais o dia a dia com ele, eu é
assim, o menino tá doente, pum... leva pro médico, toma remédio, dá injeção.
De acordo com a opinião dos entrevistados, a criança convive normalmente
com o cotidiano da doença (categoria A: 32%), aceita por ser a única
experiência conhecida desde pequeno, geralmente quando foi feito o
diagnóstico, e ainda não tomou consciência da doença e suas limitações.
Sendo na mesma proporção de opinião, a reação foi dos pais (categoria F:
32%), mostrando no discurso o impacto do diagnóstico feito para os pais sobre
o bebê, que se sentem assustados com o diagnóstico, com medo dos sintomas
da doença, com a gravidade da nova situação, mostrando uma ansiedade em
lidar com a doença, revelando medo da perda e sentimento de culpa e
impotência por ter um filho doente, sente compaixão pelo sofrimento do filho.
O discurso que evidencia uma reação negativa das crianças com relação
ao diagnóstico da asma (categoria E: 24%), segundo os entrevistados
apresenta uma criança que fica apavorada com os sintomas sufocantes da
asma, mostrando sentimento de tristeza, raiva por ser portador de uma doença
limitante, inferioridade em relação aos amigos que conseguem realizar
atividades que para ele são difíceis, causando frustração. Isso desaparece nas
situações onde ele encontra crianças com o mesmo problema, o que diminui
sua sensação de baixa auto-estima.
Na opinião dos entrevistados, o discurso onde a reação das crianças foi de
conviver normalmente com o diagnóstico mas... [presença de limitações]
(categoria C: 17%), mostra que as limitações de atividades físicas, com a
facilidade de cansaço em situações diárias, são importantes e debilitantes,
levando à reclamações e sentimento de inferioridade no relacionamento social.
Nos discursos onde a criança convive normalmente com a asma até... [ter
crise] (categoria D: 7%) e aquela que a criança além de conviver com a
doença, toma providências (categoria B: 7%), apresenta um grupo de opiniões
e situações mostrando uma relação mais natural da criança com a doença, e
45
suas consequências, que aceita a situação e suas limitações e onde parece
que a mãe o dramatiza muito a doença. Não houve uma superproteção da
criança, favorecendo seu fortalecimento e permitindo tomada de decisões em
determinadas situações, mesmo nas crises.
Quando os entrevistados foram os pais, que em geral adotam atitudes mais
práticas ou deixam para a mãe esta responsabilidade, não souberam ou não
responderam (categoria G: 7%), mas mostraram-se preocupados e disponíveis
para ajudar e participar.
3ª. Pergunta Como é o dia a dia dele(a) em casa de dia e de noite?
A partir das falas dos pais e responsáveis obteve-se quatro categorias de
Idéias Centrais apresentadas na Tabela 3 e na Figura 3, onde podem ser vistas
as distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
TABELA 3
O dia a dia da criança com asma
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Vive o cotidiano com ou sem crise
10
24,39
B - Vive o cotidiano mas ...
20
48,78
C - Vive o cotidiano até ...
11
26,83
D - Controle do meio pelos pais
16
39,02
TOTAIS
57
139,02
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de pais/responsáveis.
*
46
FIGURA 3
O dia a dia da criança com asma
24,39
48,78
26,83
39,02
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
Intensidade
A B C D
Idéias Centrais
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Vive o cotidiano com ou sem crises
DSC
O dia a dia dele é de uma criança normal, eu noto que se ele correr, rir, brincar
muito, tem crise de tosse, mesmo se ele tiver bem, eu percebo isso e também ele
não fica muito caidinho não, ele não se entrega, é mais forte.
De dia é assim , ele não se preocupa, faz as atividades que ele tem que fazer, as
brincadeiras que ele quer fazer, aí se ele cansa, ele pára e descansa.
É um dia normal, como de toda criança, faz as coisas dele, brinca, corre, mesmo
que fica todo roxo, se ele correr muito fica com a boca toda roxa, coisa de moleque
mesmo, ele é um menino tranquilo, sossegado, muito bonzinho, é um amor,
obediente, não é um menino que sai muito com os amigos.
O problema respiratório dele é muito grande durante a noite, ele coça muito o nariz,
espirra, têm um sono muito agitado.
Olha, quando ele entra em crise, é difícil até da gente saber, porque ele não se
abate muito, até com febre dificilmente ele deixa se abater e cai " to doente”.
Idéia Central B - Vive o cotidiano mas...
47
DSC
Quando ele em casa, brinca muito com papel, gosta muito de recortar, é bem
ativo, quando corre muito, ou sobe ou desce escada, ou sobe ou desce ladeira
na escola, é que ele fica muito cansado e tem Asma então fora isso, tudo tranquilo,
se ele anda muito ou se faz aquela coisa muito forçada que tem que puxar o ar,
aí ele já começa com aquela falta de ar.
Mas na hora de dormir fica aquele barulho, aquela boca aberta, as vezes até
incomoda, mas é uma criança ativa, é uma criança normal, tinha algumas
dificuldades, não era assim como as outras crianças que tinha mais pique, mais
força pra tudo, ele se cansava mais rápido, não parecia, mas no fundo eu acho que
estava dentro guardado no fundo, porque ele não tinha força suficiente para
acompanhar os outros da idade dele, mas ele sabia que tinha problema e
deixava ele quietinho no canto dele, e atrapalha porque as vezes ele quer brincar,
principalmente de correr, queimadinha, pega-pega.
Idéia Central C - Vive o cotidiano até...
DSC
Ele é uma criança normal, não chegou afetar nada a não ser quando dava as crises,
ele ficava cansado, recolhido, mas só naquele momento, assim que ele tomava
uma melhora já voltava normalmente.
À noite quando ele atacado ele não dorme, nem eu durmo, mas se ele bem,
então dorme normal, quando tem a falta de ar mesmo é que fica a noite toda
levantando da cama, que ele reclama muito da falta de ar, vai prá minha cama, vai
prá cama dele, aí eu faço inalação, em casa mesmo, aí já melhora um pouco.
Mas não é fácil não, a gente lidar com criança que tem esse problema, porque é
assim, ele sofre com isso, ele se acha uma criança diferente das outras.
Idéia Central D - Controle do meio pelos pais
DSC
Tenho que fazer as coisas para o meu filho, não é que eu tenho mania de limpeza,
tem que limpar, mas tem poeira na rua, ele já não aguenta muito, ele brinca, e aí ele
diz que cansa, eu tenho o maior cuidado com ele, quando sair do banho não toma
friagem, não tenho mais animal em casa, não tenho tapete, a casa eu tive que tirar
tudo, tapete, cortina, bicho de pelúcia, não deixar nada amontoado, tudo livre e a
casa é pequena, então é triste, a gente quer colocar uma cortina,um tapete e não
pode, produtos de limpeza também tem que usar sem cheiro, então não tem crise.
E tem que ser feito mesmo um tratamento, tem que ir em busca de um tratamento
como eu fui buscando, e ajudou muito mesmo, ele me orientou sempre manter a
casa limpa, passar pano e depois passar pano com álcool na casa e tirar aqueles
protetor de berço que acumula pó, cortina, bichinho de pelúcia, tudo que acumula
pó, manter a casa sempre com a janela aberta, sempre arejada e nada de talquinho,
perfume, e sempre procurar lavar a roupa com sabonete neutro prá não ter cheiro e
enxaguar bastante, normalmente a minha sala é bem arejada, a gente abre a janela,
ele não fica se sentindo sufocado, é uma sala que não tem tapete, só forro, a cortina
eu tirei, e a casa é bem simples, não tem quase nada de pano, porque eu sei que
pano causa muita asma, não pode ter nada de mofo, tem que ter o lugar aberto,
mais ar, assim prá respirar e é assim, eu fumo, antes eu fumava dentro de casa,
então eu percebi que atacava mais, então se você quiser a saúde do seu filho tem
que fazer isso.
O discurso mais significativo (categoria B: 48,78%), segundo os
entrevistados, evidencia que no dia a dia as crianças vivem normalmente as
situações do cotidiano mas, apresentam limitações quanto à pequenos
esforços em atividades diárias simples como subir escadas, ladeira,
repercutindo na sua desenvolvimento sócio-afetiva, com sintomas respiratórios
48
maiores no período noturno, e enfrentando o cotidiano apesar das dificuldades
em algumas situações.
Outro discurso bastante significativo (categoria D: 39,02%), mostra o
controle do meio realizado pelos pais, a preocupação e a responsabilidade
deles em colaborar para que, fatores externos desencadeantes das crises dos
filhos sejam minimizados com medidas de controle do ambiente onde vivem,
mostrando um cuidado possível de ser realizado com a criança e a doença,
deixando um sentimento de “missão cumprida”, ajudando e colaborando com o
tratamento do filho, o que permite diminuir o seu sentimento de culpa. Eles
cuidam efetivamente da criança.
Na opinião dos entrevistados, o discurso que descreve que a criança vive o
cotidiano até o desencadeamento das crises de asma (categoria C: 26,83%),
foi pouco mencionado, quando sabe-se que a interferência é grande. A
limitação imposta pelos sintomas diurnos e noturnos mostra o sofrimento da
criança, principalmente á noite, quando as crises são mais freqüentes,
deixando os pais, e principalmente a mãe, ansiosa, preocupada e vigilante,
mesmo quando a criança já adormeceu. Com isso, a mãe pode se tornar
superprotetora e ficar exausta pelas noites mal dormidas.
Menos freqüente, porém significativa, é a opinião dos entrevistados quanto
ao dia a dia das crianças porque vivem o cotidiano com e sem crise de asma
(categoria A: 24,39%). Nesse discurso observa-se que existe uma
“normalidade” na presença dos sintomas e das limitações no dia a dia da
criança, ela não se entrega, mostra-se forte, negando sua doença e a condição
de doente. Talvez as reações da criança no seu dia a dia, devam-se à postura
adotada pelos pais em relação à doença.
Não foi mensurada a categoria E, de providências relativas à doença nos
discursos dos pais uma vez que isso permeia todos os discursos anteriores,
sendo inevitável o seu cuidado, por ser sua responsabilidade.
49
4ª. Pergunta E como é o fato de ser uma criança asmática na escola?
A partir das falas dos pais e responsáveis obteve-se quatro categorias de
Idéias Centrais apresentadas na Tabela 4 e na Figura 4, onde podem ser vistas
as distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
TABELA 4
O dia a dia da criança na escola
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Rotina escolar alterada com e sem crise
13
31,71
B - Rotina escolar alterada quando tem a crise
16
39,02
C - Rotina familiar alterada
9
21,95
D - Não interfere na rotina escolar
12
29,27
TOTAIS
50
121,95
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de pais/responsáveis.
*
50
FIGURA 4
O dia a dia da criança na escola
31,71
39,02
21,95
29,27
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
Intensidade
A B C D
Idéias Centrais
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Rotina escolar alterada com e sem crise
DSC
Na escola no início eu avisei quando ele entrou, ele já falava o que ele podia e o que
ele não podia, então ele não brincava na terra, porque eu dizia prá ele que não
podia, se tivesse sol ou se tivesse chovendo.
Eu acho que altera as coisas na escola, sabe como é, lá tem as atividades, fica mais
cansado conseguindo fazer um pouco de educação física, porque antes ele não
conseguia fazer que dava tosse.
Às vezes a professora passa assim alguma lição daí eu percebo que ele tem
dificuldade.
E outra coisa é que também, ele falta muito, e atrapalha, tanto que ele tá no reforço,
então ficava mais pra trás do que as outras crianças.
Quando ele com a crise, não dava pra ir pra escola porque a febre é muito alta, a
falta de ar então, pior ainda, ele tinha um apito no peito.
As vezes na escola mesmo, se ele não terminou a lição e brigam com ele, ele
chora e vai pra casa chorando, e aquilo derrota ele.
Mas ele fala, procura um médico que tem que acertar o medicamento que você
uma bombada e eu já melhoro.
Então ele á uma criança diferente, mais responsável porque ele tem essas
preocupações desde pequenininho e hoje ele foi crescendo e tem essas
responsabilidades, mas devagar ele vai ficando mais soltinho.
Idéia Central B - Rotina escolar alterada quando tem crise
DSC
51
Na escola é normal, mas quando tinha crise ele faltava bastante na escola porque
ficava muito tempo no hospital, mas ele nunca deixou de ser um aluno precioso,
mesmo com as faltas, ia bem, assimilou, aprendeu bem.
Quando ele com crise não pode vim, eu não mando ele, eu tento arrumar um
atestado, porque ele cansa e qualquer coisinha vira febre.
Ele já teve uma crise aqui na escola e já chegou com a boquinha toda roxa em casa,
e o professor tem que perceber mais que o aluno fica assim cansado, percebe
que a criança não ta bem, e ele sabe que tem problema de asma.
E acaba sim prejudicando, porque quando tá com crise, acaba não estando presente
na escola, mais assim, a questão da lição, do comportamento dela, não tem
alteração, não muda e ela não queixa, dificilmente.
Idéia Central C - Rotina familiar alterada
DSC
Mas prá gente é difícil, atrapalha, eu perdi empregos por causa disso, das crises e o
pediatra dele falou: você escolhe, ou você fica com ele ou você vai perder ele. Então
é por isso que a gente tem essa série de cuidados prá não pegar a asma, porque se
pega viu, eu tenho que ficar com ele e não posso trabalhar ou então tenho que
pagar prá alguém ficar com ele porque não pode ir prá escola, fica passando mal,
com febre, aí me atrapalha muito e a ele também.
Então muda bastante a vida dele e às vezes até a minha mãe fala, deixa o menino
um pouco, mas eu não deixo porque depois vai entrar em crise e tem que correr pro
hospital, se bem que eu tenho inalador em casa, tem que ter né, mas quando é crise
forte eu tenho que levar pro hospital, não tem como, às vezes eu faço em casa
mesmo com um sorinho quando eu vejo que dá.
Você não pode fazer o que você gosta, você tem que fazer o que você pode, então
atrapalha porque você não pode fazer o que você quer, é o que você pode mesmo,
eu acho que interfere muito na vida.
Idéia Central D - Não interfere na rotina escolar
DSC
Na escola ele nunca teve crise, não teve problema nenhum, então não muda nada
também no dia dia da escola. Acho que não tem nada de diferente
É normal, quando eles pediram autorização prá fazer a Educação Física, eu levei na
pediatra que mandou uma carta que tava dizendo o que podia fazer, os exercícios
aqui direitinho, fraquinho e que pode levar a vida dele normal.
Ele é muito esforçado, e, trabalho ele não pra gente não, é estudioso mesmo,
mas é sapeca, então eu acho que é normal na escola, que nem em casa, não muda
nada.
De acordo com a opinião expressa pelos pais entrevistados, é mais
evidente o discurso onde a rotina escolar fica alterada na presença de crise de
asma (categoria B: 39,02%), justificando o absenteísmo nestas situações,
colocando a saúde da criança em primeiro plano, uma vez que pela gravidade
da crise, necessitará de cuidados domiciliares ou hospitalares, interferindo na
dinâmica diária escolar, familiar e da criança.
Outro discurso mostra que a rotina escolar fica alterada com e sem crise
(categoria A: 31,71%). Observa-se uma limitação maior nas atividades destas
crianças, que o orientadas, pelo excesso de preocupação da mãe, a não
realizar atividades que possam desencadear crises; a criança diante disso se
52
mostra, às vezes, revoltada com a condição de asmática, pois a relaciona com
limitação; alterações decorrentes do absenteísmo podem levar a desinteresse
pelo estudo e dificuldade na atenção durante as aulas, dificultando seu
aprendizado e progresso o que acaba por gerar a necessidade de reforço
escolar, com conseqüente prejuízo da sua auto-estima e desenvolvimento
afetivo-social.
Em uma porcentagem próxima, temos o discurso onde de acordo com os
pais entrevistados, consideravam que o fato de seu filho ser uma criança
asmática não interferia na rotina escolar (categoria D: 29,27%). Isso mostra um
quadro de controle da doença, pois foi relatado que apesar de ter diagnóstico
de asma grave, ou mesmo no caso de apresentar um quadro de asma leve, a
criança tem realizado todas as atividades, faz educação física, não é privada
pelo medo dos pais, conseguindo obter um desenvolvimento próprio para a
idade dela.
A referência de alteração na rotina familiar pelo fato de ter uma criança
asmática (categoria C: 21,95%), segundo a opinião dos pais entrevistados,
apareceu no discurso com um sentimento de medo da perda do filho, por causa
das crises respiratórias dele, pela gravidade do diagnóstico, a responsabilidade
do cuidado com a saúde da criança, a escolha de mudar planos profissionais,
muitas vezes dificuldade em manter o emprego, pois a criança precisa de
assistência e a mãe precisa estar presente.
4.2 ENTREVISTAS COM AS CRIANÇAS
Cabe lembrar que as entrevistas com as crianças foram realizadas com
uma técnica de projeção, utilizando-se o flanelógrafo, como descrito
anteriormente.
53
1ª. Pergunta Estamos vendo uma casa, e esse menino(a) mora nessa
casa. Faz de conta que você é esse menino(a). Como é a vida desse
menininho(a) que tem asma, de dia e de noite?
A partir das falas das crianças obteve-se cinco categorias de Idéias
Centrais apresentadas na Tabela 5 e na Figura 5, onde podem ser vistas as
distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
TABELA 5
O dia a dia da criança com asma
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Vive o cotidiano com e sem crise
14
31,11
B - Vive o cotidiano mas...
12
26,67
C - Vive o cotidiano até...
16
35,56
D - Controle do meio pelos pais e/ou pela própria criança
10
22,22
E - Providências relativas a doença
15
33,33
TOTAIS
67
148,89
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de crianças.
*
54
FIGURA 5
O dia a dia da criança com asma
31,11
26,67
35,56
22,22
33,33
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
Intensidade
A B C D E
Idéias Centrais
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Vive o cotidiano com e sem crises
DSC
Como eu? De dia eu acordo bem cedo, tomo café da manhã e depois eu arrumo o
material rapidinho, leio um livro antes de ir para escola, e vou pra escola. Quando eu
chego em casa, já faço minha lição e vou jantar, assisto um pouco de TV, escovo os
dentes e vou dormir.
À noite, às vezes, quando eu deito é muito ruim, eu não consigo respirar, tem que
ficar com a cama assim, com a cabeça prá fora pra poder respirar, depois eu viro
prá parede e durmo, é muito ruim dormir, eu durmo tarde demais por causa disso, e
eu coloco rinossoro no nariz, melhora e eu durmo.
Eu faço artes marciais, e as vezes eu peço pro professor se eu posso parar, ele
um tempo pra gente descansar, eu também faço natação e me ajuda, porque
abre os brônquios.
Idéia Central B - Vive o cotidiano mas...
DSC
Quando é de dia eu brincando com meu irmão, jogando futebol, se eu tô
cansado eu sento, porque ele sempre faz gol em mim, quando eu dou muita risada
também eu tusso e canso.
55
Ele não pode brincar com os colegas porque senão ele pode passar a asma prá
alguém. E ele, brinca sem ninguém, e com os pais dele, e ele não pode falar
muito perto das pessoas e nem abraçar ninguém, nem beijar nem nada.
Se tiver febre ele fica em casa triste, e se não tiver fica alegre brincando com os
amigos dele, de esconde-esconde, de pega-pega, sobe na arvore para se esconder,
e se chove, e ele brinca na chuva, aí ele fica doente, fica com falta de ar.
Ele vai brincando, e fica cansado, uma hora ela tem que parar pra ir em casa
fazer inalação. Tem uma rampa na casa dele que ele começa andar e fica
cansado, aí ele anda, e já fica cansado.
Idéia Central C - Vive o cotidiano até...
DSC
Eu chego, brinco com meus colegas que me chamam, depois que eu brinco, eu
chego e faço a lição de casa, tomo banho, janto, assisto um pouco de TV e vou
dormir. Quando ta frio, ataca de noite e eu fico com falta de ar, fico cansado
rápido, a gente fica dentro de casa assistindo televisão.
Quando eu to com asma eu não saio de casa, fico deitado todo o dia, não dá apetite
de comer porque eu fico com falta de ar e não consigo me levantar, no dia que eu
não to, eu saio, eu passeio.
A noite, tem que colocar um monte de travesseiro pra dormir bem, porque senão,
não consegue.
O dia desse menino, quando sai de casa, que tá com asma, não consegue jogar
bola, não consegue correr, não consegue fazer um monte de coisa, nem tomar
sorvete, que tem vontade e é muito ruim isso, e quando vai encontrar os amigos
dele, não pode porque com asma e se ele correr, cansa e fica com a respiração
muito ruim, pior do que ela já tava.
Idéia Central D - Controle do meio pelos pais e/ou pela própria criança
DSC
A casa dele é pequenininha demais, e parece que pra mim é um pouco abafado, eu
não gosto, então eu tenho que sair, ir na rua, é muito apertado, eu cheguei em casa
e tive que respirar com a boca e não com o nariz.
Sabe, na minha casa agora, mudou o sofá de lugar que tava perto da janela e tinha
muito pó, trocaram as colchas, lavamos os brinquedos de pelúcia, tudo que é de
pêlo lavaram com água morna, tiraram as teias de aranhas que ficavam em cima,
até em mim colocaram um pano no meu nariz pra eu não sentir nada
Eu tenho muita alergia a animais que tem pelos, vamos supor, gato, cachorro, ai eu
fico com tosse, coçando e espirrando, e a minha mãe fica triste porque eu não posso
correr e nem ter bichinho em casa, e eu também às vezes fico triste, sei lá, na
moda todo mundo ter um gatinho, um cachorrinho, e eu não tenho porque eu tenho
asma e é por isso que eu queria sarar.
Às vezes quando eu tomo sorvete, eu fico tossindo muito e chiando porque é gelado,
e refrigerante eu posso, mas só se for sem gelo, às vezes minha madrinha compra
refrigerante gelado e minha mãe põe no microondas pra mim. E também quando
está chovendo, ele não pode ficar na chuva, porque ele pega resfriado, e tem que
andar sempre de guarda chuva ou de carro pra não molhar ele, e no sol ele fica bem
melhor.
No outro dia, tava reformando a minha casa, e fica muito difícil pra mim, eu tive até
que dormir na cada da minha tia. E também, a coisa mais difícil de eu sobreviver em
casa é que meu pai fuma e ataca a asma.
Idéia Central E - Providências relativas à doença
DSC
Ele levanta de manhã, ai que dia lindo, cof cof cof, não to me sentindo bem. a
mãe vai tirar a febre, remedinho prá garganta se vermelha, remédio da
febre, e espera baixar, fica deitadinho descansando porque não pode ficar saindo
muito por causa do vento, que pode ficar mais doente, não pode fazer muito
exercício porque o peito pode ficar cheio, não pode correr muito porque o peito pode
ficar chiando.
Quando eu fico com asma eu falo pra minha mãe ai ela me leva no hospital, a
doutor vê o peito, o nariz, a boca, os olhinhos, o que ela tem, fala pra mãe,
sempre pede inalação, toma o remédio porque tá com febre, descansa, deita ,
depois faz mais inalação, depois vai lá pro doutor pra ver se tá bem, se o doutor falar
56
que não bem, pode ser que fica internado, ou pode ser que fique de
observação, se ele tiver bem, pode ir pra casa, mas tem que ficar 5 dias em casa,
caso piore tem que voltar, mas ele vai ta melhor porque obedeceu o medico, tudo o
que ele pediu e ficou melhor. Às vezes eu acordo de noite, eu começo a tossir
muito, aí a minha mãe me leva pro hospital, tem vez que eu fico internado e é ruim.
Quando eu com o peito cansado e a minha mãe não em casa, eu tenho que
ligar pra ela ou pra minha prá ela vim.
O discurso mais significativo é o que evidencia, na opinião das crianças
entrevistadas, que ela vive o cotidiano até ter crise respiratória (categoria C:
35,56%). Elas descrevem as atividades de vida diária simples e as alterações
da rotina quando apresentam os sintomas de asma, as suas limitações, suas
dificuldades e angústias principalmente à noite, período de maior freqüência
das crises.
Outro discurso significativo refere-se às providências relativas à doença
(categoria E: 33,33%). Observa-se não só a responsabilidade transferida a
essa criança quanto ao reconhecimento de situações nefastas para seu quadro
asmático, ao auto cuidado e atitudes em situações de perigo, como também se
ela costuma pedir ajuda não subestimando seus sintomas e como ela costuma
fazer isso. Percebe-se que elas conseguem lidar facilmente com situações de
“stress” que a doença provoca pelo quadro sufocante, mostrando que a
autorização, ou seja, o apoio dado pela família proporciona um
desenvolvimento psicoemocional positivo.
De acordo com as crianças entrevistadas, um discurso com porcentagem
próxima dos anteriores, diz que esse grupo vive o cotidiano com e sem crises
(categoria A: 31,11%), falaram da rotina diária, das interferências nas crises, as
limitações nas atividades esportivas, porém não dramatizavam muito,
enfatizando mais o período noturno como difícil e ruim.
Ainda com porcentagem próxima (categoria B: 26,67%), pouco mais de um
quarto, tem seu cotidiano prejudicado pela interferência de algumas situações,
como jogar futebol, subir rampa, rir muito, revelando um sentimento de tristeza
por estas limitações. Chama ainda atenção no discurso, a falta de informação
em relação à doença, mostrando uma crença ou fantasia de que a asma pode
ser contagiosa para as pessoas.
57
No discurso onde falam do controle do meio pelos pais e/ou pelas próprias
crianças (categoria D: 22,22%), relatam sensações físicas e emocionais
desagradáveis de um ambiente que não é propício ao alérgico, percebe-se um
descontentamento maior com o lar, além de algumas situações mais graves
como em relação à piora da asma pelo fumo dos pais em casa e outras
limitantes com uma seqüência de "não pode isso ou aquilo".
2ª. Pergunta Agora estamos vendo uma escola, e esse menino(a) estuda
nessa escola. Faz de conta que você é esse menino(a). Como é a vida desse
menininho(a) que tem asma, na escola?
A partir das falas das crianças obteve-se quatro categorias de Idéias
Centrais apresentadas na Tabela 6 e na Figura 6, onde podem ser vistas as
distribuições quantitativas de respostas. Na sequência, são apresentados os
Discursos do Sujeito Coletivo obtidos, que representam os resultados
qualitativos.
RESULTADOS QUANTITATIVOS
TABELA 6
O dia a dia da criança na escola
IDÉIAS CENTRAIS
Nº DE
RESPOSTAS
%
A - Rotina escolar alterada com e sem crise
17
37,78
B - Rotina escolar alterada quando tem crise
26
57,78
C - Rotina familiar alterada
6
13,33
D - Não interfere na rotina escolar
2
4,44
TOTAIS
51
113,33
* Possibilidade de mais de uma Idéia Central por indivíduo.
Calculado em relação ao total de crianças.
*
58
FIGURA 6
O dia a dia da criança na escola
37,78
57,78
13,33
4,44
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
Intensidade
A B C D
Idéias Centrais
RESULTADOS QUALITATIVOS
Idéia Central A - Rotina escolar alterada com e sem crises
DSC
Às vezes quando eu chego lá, pra subir a rampa da garagem, eu me canso muito, aí
vou pra sala de aula, bate o sinal e eu não sinto nada porque eu fiquei sentado, mas
fico tossindo na aula toda, e pra ir tomar água e ir ao banheiro, tem que descer a
escada bem devagar, porque senão cansa, e fica muito ruim, e pra ir pro pátio
também tem que descer muito devagar.
Na educação física ele faz aula, fica fazendo esporte e cansa, quando eu corro
muito fico cansado, mais tarde é que eu consigo melhorar, eu tomo água,
descanso um pouco, às vezes eu volto prá casa.
Na escola ele estuda e quer ficar na última carteira, bem longe de todo mundo,
senão ele passa a doença e é muito ruim prá ele isso.
Tudo isso eu falei do menino e só que tudo isso acontece comigo.
E você pode repetir de ano, se faltar muito. Ele falta quando tem febre e também
quando tem uma emergência, quando vai pro hospital, quando ta com crise, e
atrapalha muito porque fica com muita falta de ar, daí ele vai estudar, ele fica
sempre espirrando e ai a professora diz que tem que falar com o pai dele.
Idéia Central B - Rotina escolar alterada quando tem crise
DSC
Às vezes o dia dele é muito bom, quando não tem asma, porque quando tem asma,
aparece de repente, é muito ruim.
59
Ele não vai pra escola quando tem asma, é ruim porque atrapalha fazer a lição, ficar
com as pessoas, brincar com os amigos, não tem lanchinho na escola. Às vezes eu
venho pra escola com asma e eu fico com falta de ar, não pra prestar atenção na
aula, em quase nada, porque eu fico com vontade de ir embora logo, porque um
mal estar, e quando eu to ruim mesmo eu nem venho, a minha mãe me leva no
medico, e eu fico em casa e nem venho pra escola, e é ruim, eu perco bastante
matéria.
Quando não com asma ele joga bola na escola, faz lição, brinca no recreio, come
a comida da escola, brinca de pega-pega, de jogar bola na quadra, fica se
escondendo pra ninguém bater nele na brincadeira.
você chega na escola e fica com asma, tem que ligar pro seus pais vim te
buscar.
E no dia que ta com a crise, não da pra brincar porque fica cansado, tenho que ficar
parando, e eu fico demorando e todo mundo não gosta que eu fico no time. É
assim, eu brinco, mas ai quando tem corrida eles não querem que eu fico mais,
porque eu demoro muito e é muito ruim.
Idéia Central C - Rotina familiar alterada
DSC
Aí também a minha mãe falou que eu não posso mexer com produto de limpeza, por
causa que ataca minha rinite e minha Asma, e também se ele ficar perto de animais
ou qualquer coisa com pêlo.
Idéia Central D - Não interfere na rotina escolar
DSC
Ele vai na quadra e espera a professora dele chegar, estuda muito, a hora
do recreio e toma o lanche vai pra sala na aula de matemática aí ele vai embora.
eu to estudando e a professora falando pros alunos que vai ler uma
historia e todo mundo tem que ficar quietinho.
Aí tem dia que é a professora de artes, e a gente volta a estudar depois do recreio.
No discurso mais expressivo, as crianças entrevistadas, relatam que a
rotina escolar fica alterada quando elas têm crise (categoria B: 57,78%). Falam
sobre as atividades cotidianas simples na escola, seu universo social e que
com as crises ele é modificado. Não gostam de faltar à escola, relatam que isso
atrapalha no acompanhamento do conteúdo pedagógico, no seu convívio social
com os amigos, pois a criança é obrigada a ficar em casa para se submeter
aos cuidados necessários em momento de crise.
Outro discurso significativo, refere-se à rotina escolar alterada com e sem
crises (categoria A: 37,78%). As crianças falam das interferências da asma
mesmo sem a crise e que permeiam seu cotidiano escolar trazendo algumas
limitações, por exemplo: na entrada da escola que tem uma rampa,
provocando cansaço. Também aparece neste discurso o medo de transmitir a
asma aos colegas, justificando às vezes o seu isolamento. Ela evita situações
onde pode mostrar mais suas dificuldades, como rir muito, correr demais, entre
60
outras. Também não gosta de faltar na escola por causa das crises, tem medo
de ser reprovada e isso é mais um motivo para se sentir derrotada.
O discurso que mostra a rotina familiar alterada na opinião das crianças
entrevistadas (categoria C: 13,33%) refere-se aos cuidados orientados pela
mãe para evitar fatores desencadeantes.
Uma porcentagem pequena (categoria D: 4,44%), relata no discurso que
não existe interferência na rotina escolar apesar do diagnóstico devido às
manifestações mais leves da doença, pois a criança apenas fala de rotina
simples do dia, sem alterações nesta rotina.
4.3 COMPARAÇÃO PERGUNTA 1-CRIANÇA E 3-PAIS
1ª. Pergunta (crianças) Estamos vendo uma casa, e esse menino(a)
mora nessa casa. Faz de conta que você é esse menino(a). Como é a vida
desse menininho(a) que tem asma, de dia e de noite?
3ª. Pergunta (pais) Como é o dia a dia dele(a) em casa de dia e de noite?
61
FIGURA 7
Comparação O dia a dia da criança com asma
31,11
24,39
26,67
48,78
35,56
26,83
22,22
39,02
33,33
0,00
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
Intensidade
A B C D E
Idéias Centrais
CRIANÇA
PAIS
Ao comparar a pergunta realizada tanto para os pais quanto para as
crianças em relação ao cotidiano em casa de dia e de noite, verifica-se que
houve uma diferença nas opiniões nas categorias de maior significância. Para
os pais a categoria B, mostra que as crianças vivem seu dia a dia com
limitações constantes, enquanto que na fala mais significativa das crianças, a
categoria C, mostra que as limitações são mais evidentes nas crises agudas,
no período em geral, noturno. Isso se deve a percepções diferentes dos
entrevistados; os pais os vêem como cuidadores atentos permanentemente,
enquanto a criança está absorvida pelas experiências vividas interrompidas
pela crise, tendo a consciência de sua condição de portador de doença crônica
e de suas limitações. Em suma, os pais olham de uma certa distância, para
poder cuidar, enquanto a criança está imersa no seu próprio cotidiano.
Em seguida, categorias diferentes na sua ocorrência para pais e
crianças, que de alguma maneira o semelhantes se observa-se que irão
convergir buscando atitudes ativas de ambos diante das situações de riscos ou
para minimizá-las. A categoria D mostra o controle do meio por parte dos pais e
62
neste discurso existem atitudes positivas onde por meio de um cuidado
possível, os pais se posicionam de maneira efetiva diante da doença, isto é,
com atitudes simples e práticas os pais conseguem ajudar no controle da
doença dos filhos, gerando um bem estar para todos. O fortalecimento dos pais
facilitará o relacionamento com o filho doente. No discurso das crianças, a
categoria E, mostra que ela toma providências em relação à doença, se sente
mais segura para reconhecer os sintomas e tomar decisões, seja pequena, tal
como descansar após algum esforço ou maior, quando precisa pedir ajuda em
situações de maior risco. Isso só é conquistado se essa criança tem um
respaldo familiar que a autorize, isto é, a criança desenvolve o auto cuidado
quando os pais são cuidadores e de alguma maneira tomam providências
sempre que necessário.
Na terceira categoria mais frequente, apesar das diferenças, há
semelhanças nos discursos quanto ao sofrimento das crianças no período
noturno. As crises são vistas de maneira mais drástica pelos pais e não
dramatizadas pelas crianças. Situação inversa acontece na quarta comparação
das categorias.
Na categoria E, apareceram depoimentos que demonstram as providências
relativas à doença. Como esta idéia era compartilhada na sua totalidade nos
discursos dos pais, que como cuidadores automaticamente tomam as devidas
providências, não havendo necessidade, portanto, que essa categoria fosse
formulada para eles, diferente das crianças, onde essa idéia central apareceu
em uma boa porcentagem dos discursos (33,33%). Deste modo foi
acrescentada esta categoria para avaliação e discussão.
63
4.4 COMPARAÇÃO PERGUNTA 2-CRIANÇA E 4-PAIS
2ª. Pergunta (crianças) Agora estamos vendo uma escola, e esse
menino(a) estuda nessa escola. Faz de conta que você é esse menino(a).
Como é a vida desse menininho(a) que tem asma, na escola?
4ª. Pergunta (pais) E como é o fato de ser uma criança asmática na
escola?
FIGURA 8
Comparação O dia a dia da criança na escola
37,78
31,71
57,78
39,02
13,33
21,95
4,44
29,27
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
Intensidade
A B C D
Idéias Centrais
CRIANÇA
PAIS
64
Foi consenso tanto nos discursos mais significativos dos pais quanto das
crianças, na categoria B, que a rotina escolar é alterada na presença de crise
de asma. Falam dos problemas decorrentes do absenteísmo escolar, como
algo necessário pois a criança com crise de asma precisa de cuidados; isto
pressupõe alterações nas atividades comuns do dia a dia escolar tanto para as
crianças como para os pais, e isso é confirmado nos discursos de ambos.
Também estão de acordo na segunda categoria mais freqüente de idéias
centrais onde aparece que a rotina escolar fica alterada com e sem crise de
asma, na categoria A com interferência quase constante, no desenvolvimento
das atividades na escola, segundo a fala das crianças. Elas enfatizam as
influências no convívio social com os amigos que vivem este cotidiano. Há uma
preocupação maior com os cuidados em relação à saúde na fala dos pais, que
também referem a interferência na realização das atividades escolares
impostas.
A categoria D, a terceira categoria mais freqüente na opinião dos pais é a
de que não interferência na rotina escolar, ficando essa categoria em quarto
lugar na opinião das crianças, que não percebem qualquer limitação no dia
escolar, podendo estar relacionado com a situação de controle da doença ou o
diagnóstico de asma leve.
No discurso onde a rotina familiar é alterada, na categoria C, se comparado
com a opinião dos pais e das crianças, pode-se perceber que a criança não
tem consciência da alteração dessa dinâmica, enquanto os pais vivem essa
alteração de forma consciente; sabem que tem responsabilidade e isto se torna
complicado na medida em que precisam abrir mão de projetos da sua vida para
adaptar-se à rotina daquele momento em decorrência da doença do filho.
Para verificar a interferência da asma no cotidiano das crianças portadoras
desta patologia, foi necessário identificar a representação que as crianças e os
pais de asmáticos faziam sobre esta doença.
Para os pais existe a expectativa por um filho sadio e o contato com a nova
realidade de adaptar-se à rotina de ter uma criança portadora de doença
65
crônica, que exigirá cuidados, torna-se difícil, sendo um impacto o diagnóstico
feito; enquanto para a criança, este diagnóstico não tem influência, pois ela
ainda não tem consciência das repercussões da doença. Mesmo tendo contato
com os cuidados médicos, ela acredita na cura ou na minimização dos
sintomas.
Existe dificuldade no âmbito familiar em conceituar a asma, que é clara
quanto ao seu significado sufocante, relacionado com a dificuldade de respirar.
Tanto os pais quanto as crianças fizeram referência à asma nos discursos
como falta de ar, como um sufoco... Como causas prováveis para o
desencadeamento da doença, citam as gripes mal curadas, friagem ou
mudanças do clima, além de condições inadequadas de moradia. Quando se
comenta que a causa pode ser de ordem familiar, parece existir uma certa
desconfiança nessa informação, como se não acreditassem ser possível
transmitir uma doença ruim para o filho, porém em algumas falas percebe-se
que existe uma confirmação de pertencimento do filho à família, pelo fato de
várias pessoas terem o mesmo problema, é uma identidade familiar que deixa
muitas vezes mais confortável o aceite deste diagnóstico.
Na grande maioria dos discursos dos pais, a mãe é a figura que se mostra
mais apavorada e angustiada. É ela que assiste ao filho asmático e coloca-o
em geral no centro da sua vida, podendo provocar assim alterações
psicoemocionais e sociais. A asma é uma aflição para os pais, percebe-se uma
demora para que aconteça uma apropriação do diagnóstico do filho, que é
gradativa. Primeiro se aceita a ocorrência de outras doenças como uma
pneumonia, uma bronquite asmática e isso justifica a demora em aceitar o
diagnóstico da asma, que vem junto com o medo e o apavoramento, sendo
menos dramática quando um dos pais é portador desta patologia, como vimos
nos discursos, devido a representações que os pais fazem sobre a doença.
Percebe-se em algumas falas de pais uma possível negação mais do que
falta de informação, com depoimentos que expressam que a asma não é asma,
mencionam, por exemplo, outras terminologias como rinite, alergia, bronquite
ou bronquite asmática, justificando seu impacto.
66
Como foi demonstrado na pesquisa, é o médico que confirma o
diagnóstico, seja em consulta ambulatorial, quando os pais estão preparados
para aceitar o diagnóstico, as orientações e tratamento, ou em um segundo
momento, quando a criança necessita de internação, e os pais são forçados a
aceitar e conviver com a asma a partir deste episódio onde entram em contato
com a gravidade e limitações impostas pela asma. Em uma outra categoria que
usa freqüentemente os serviços de emergência em Pronto Socorro, estes ou
não aceitam a asma e seus cuidados, ou não estão devidamente informados,
deixando em geral sem controle a doença do filho. De alguma maneira não
existe uma parceria entre os envolvidos para o sucesso do tratamento.
De acordo com ZHANG et al. (2005), que investigou os conhecimentos de
pais de crianças asmáticas sobre a doença no momento da admissão a um
serviço especializado, realmente existe uma insuficiência de conhecimentos
sobre a natureza e prognóstico da asma, uso inadequado das medicações e
um descuido no controle do ambiente domiciliar. Em geral essas informações
são fornecidas à família pelo médico e essa comunicação nem sempre é
adequada para levar a conscientização da patologia.
Assim percebe-se que os profissionais de saúde também precisam estar
preparados para estabelecer uma comunicação efetiva tanto com os
portadores de asma quanto com seus familiares. Faz-se necessário também
uma atenção maior no desenvolvimento de ações educativas dos profissionais
de saúde para a promoção da saúde das crianças asmáticas e seus pais.
De acordo com a Carta de Ottawa divulgada em 1984,
Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde,
incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um
estado de completo bem estar físico, mental e social os indivíduos e grupos
devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar
favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso
para a vida, e não como objeto de viver. Nesse sentido, a saúde é um
conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as
capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade
exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na
direção de um bem estar global. (Ministério da Saúde, 2002, p.19).
67
Medidas adequadas de educação e promoção da saúde poderão permitir a
redução do número de crises a que as crianças estão sujeitas no seu cotidiano
bem como a superação da asma como doença crônica e limitante.
Algumas mães acreditam na remissão da asma pelo uso de simpatias, ou
seja, como um ritual para prevenir ou curar enfermidades (FERREIRA, 2009).
Sabe-se que muitas vezes o conhecimento científico se entrelaça com a
sabedoria popular. Segundo GORDON (1996) a partir do momento que um
especialista assume o tratamento, e o que a medicina convencional
proporciona não é, na opinião dos pais, suficiente, tem início uma procura por
complementar o tratamento por outros meios e práticas buscando a cura da
doença, que nem sempre a medicina consegue.
Quanto ao tratamento médico propriamente dito, percebe-se a grande
importância que é dada à nebulização ou inalação pelos pais como primeira
medida que está ao alcance de todos, tornando-se para eles muitas vezes o
mensurador da gravidade da crise asmática. A família se esforça para ter o
inalador em casa, a fim de proporcionar para o filho o atendimento primário.
Quando realizada e o resultado não é o que se espera, isso indica que a crise
está fora de controle e há necessidade de uma ajuda especializada.
Também é bastante presente o medo do uso da "bombinha", indicada pelo
médico, que traz um significado de que é muito grave o quadro asmático do
filho, por isso eles decidem que não há necessidade de utilizá-la, pois faz muito
mal para o coração: isto está enraizado na cultura do asmático. Sabe-se no
entanto, que os medicamentos inalatórios o os melhores para tratar a asma,
pois vão direto para os pulmões, porém mesmo após essa explicação para os
pais, o preconceito persiste.
A crise asmática é chamada geralmente nos discursos dos pais e das
crianças como "ataque", "está atacado", revelando a sensação de algo muito
negativo, sério e grave, colocando-os sempre em estado de alerta.
Os fatores desencadeantes são freqüentemente os vilões, e tentar
controlá-los, dá-lhes a sensação de poder controlar a crise asmática, com
68
atitudes ativas, o que traz um conforto para os cuidadores e portadores da
asma. Verifica-se nesse momento a fragilidade da criança portadora, que a
qualquer momento poderá ficar doente, e a representação da criança asmática
também é vista pela família como frágil. À medida em que ela cresce, fica mais
velha e resistente, torna-se mais forte, e as crises de asma diminuem, esse
discurso é bastante presente na fala dos pais, e também de algumas crianças.
Aparecem também claramente as interferências no cotidiano, sejam elas
constantes, ou surjam apenas nas crises porém, é fato que a asma provoca
mudanças na rotina das crianças e também dos pais.
As crianças enfatizam em seus depoimentos mais os momentos de crise,
que são mais evidentes, o sofrimento é maior; pois a criança está imersa nesse
cotidiano onde ela vive a crise de asma, que em geral ocorre à noite. A falta de
ar, as dificuldades e as angústias deixam a criança fragilizada, com medo de
novas crises. Mas, também aparece nos discursos, providências que as
crianças tomam em relação à doença, e esse fortalecimento, que a torna capaz
dessas iniciativas, se deve a uma provável maturidade emocional, que só se
tornou possível por ela não ter sido privada de experiências próprias para sua
idade. Sendo ela portadora de uma doença crônica como a asma, essa
privação é bastante comum, tornando-a comumente objeto de cuidados e de
superproteção pela família.
A criança fala com freqüência das suas dificuldades de relacionamento
social com os amigos, onde um auto-isolamento para se proteger e não
expor suas limitações, ou elas são isoladas pelos amigos em determinadas
situações em que as interferências da asma estão mais evidentes,
principalmente nas atividades físicas e recreativas, que nesta fase da vida são
bastante freqüentes, sendo o seu principal meio socializador, quando acontece
a criação de vínculos com os amigos e a construção de sua identidade.
Também aparece citado nos discursos, a impossibilidade da criança viver
situações agradáveis, realizar coisas que gosta, pois os pais querem protegê-
la. Com isto causam-lhe um sentimento de tristeza, uma vez que não pode rir
muito, correr muito, brincar muito, tomar sorvete, chuva, sol, enfim tudo o que
69
uma criança gosta de experimentar. Algumas crianças vivem o cotidiano sem
dar importância aos sintomas, ficam cansadas, roxas, e parece que querem
vencer a doença, ou subestimam a sua gravidade e muitas vezes ainda, não
estão devidamente informadas e/ou não possuem um controle adequado da
doença. Isso constitui um perigo, pois é necessário dar atenção aos sintomas.
Os pais falam das alterações no cotidiano do filho portador de asma de
uma forma constante, e sofrem com isso, pois presenciam sua angústia e
observam suas limitações em todos os momentos, eles estão sempre atentos
para proteger os filhos, tornam-se cuidadores. Sentem-se colaboradores
efetivos em relação ao filho doente, na medida em que conseguem realizar
ações ativas para o bem estar do filho, tais como controle e higiene do meio, o
que é possível de ser realizado e facilmente constatado o seu efeito, dando
uma sensação de conforto interno. Sabe-se porém, que não se consegue
afastar dessa maneira todos os fatores desencadeantes da asma. Deve-se
observar aqueles fatores que tornam as crianças mais susceptíveis à crise e
evitá-los.
Quanto à ampliação do espaço social da criança, a permanência delas em
creches e outras instituições e sua adaptação à convivência com outras
crianças, professores e cuidadores ocorre de forma prematura em virtude dos
compromissos de trabalho dos pais. As crianças são mais frágeis quando têm
pouca idade, estão mais expostas a fatores que podem desencadear
enfermidades como a asma, o que pode levar a um descompasso em seu
desenvolvimento psicossocial.
O relacionamento social com os amigos está baseado em geral em um
sentimento de inferioridade onde tanto a criança como seus amigos
consideram a asma como uma doença limitante, uma vez que apresenta
situações do cotidiano, constantes ou não, que revela fraqueza, em atividades
que exigem muito esforço físico como o futebol ou educação física, impedindo
com isso que os vínculos sociais sejam fortalecidos.
70
5. CONCLUSÃO
Os resultados da pesquisa mostraram claramente que a asma interfere no
cotidiano das crianças portadoras bem como dos seus pais, seja em casa, na
escola ou em outros espaços de convivência.
Estas interferências apresentam-se no dia a dia das crianças portadoras de
asma e dos pais de modo mais intenso ou mais leve, sendo física, emocional e
social. De acordo com o universo infantil em que vivem, as inter-relações mais
fortes acontecem na família e na escola, onde verifica-se a formação pessoal e
a sociabilidade da criança, com a adaptação da rotina dos pais à condição de
ter um filho asmático.
Na visão da criança portadora de asma a crise representa grande
sofrimento. Elas se sentem fragilizadas, principalmente pela característica
noturna dessas crises, as quais geram insegurança e angústia. As crianças
também associam o sofrimento às limitações sociais impostas pela doença.
Algumas se apropriam da condição de asmática e evidenciam maturidade
emocional suficiente para produzir um fortalecimento que lhe permite tomar
providências ao menor indício de sintomas e dessa forma impedem o
agravamento da crise. Por outro lado, outras crianças mostraram imaturidade
em relação à doença, não se apropriando da condição de portador e com isso
não conseguem determinar a asma dentro das suas potencialidades de risco, o
que acaba por gerar uma situação de perigo.
Os pais de crianças asmáticas compartilham com seus filhos a idéia de que
a asma é causa de sofrimento e em geral, adotam uma conduta protetora que é
exigida pela doença; porém, algumas vezes o excesso de proteção gera um
71
prejuízo ao desenvolvimento psicossocial da criança. A representação que os
pais fazem da doença, leva-os a dramatizar ou a conviver bem com o
diagnóstico da asma. Constatou-se uma relação positiva entre a vivência da
doença por parte de um ou dos dois pais, por serem portadores também, pois,
sentem-se mais capazes e tranquilos para informar e educar melhor seu filho.
Verificou-se também que crianças na idade escolar estudada, apresentam
uma remissão das crises de asma, havendo uma fase de transição entre a
ausência das crises com os sentimentos de alívio, felicidade e agradecimento,
enquanto permeia ainda, o medo do retorno do sofrimento causado pelas
crises e limitações da asma. Porém, aos poucos vão se sentindo mais
confiantes, uma vez que adquiriram conhecimentos básicos referentes à
patologia e aos procedimentos para seu controle.
Nesta fase da vida das crianças inicia-se o aumento das relações sociais, e
constata-se, na maioria das vezes uma normalização e incorporação da asma
na vida das crianças portadoras e dos seus pais, na medida em que eles se
sentem seguros e descobrem que é possível conviver bem com a asma se
todas as medidas de prevenção e promoção da saúde forem tomadas.
72
6. REFERÊNCIAS
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76
ANEXO 1 Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Para mães/ pais/ responsáveis e crianças
Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa: A INTERFERÊNCIA DA
ASMA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS.
Esta pesquisa tem o objetivo de verificar como a ASMA influencia o dia a dia das
crianças e, como tem sido sua vida com chiado e falta de ar. Para tanto, realizarei
perguntas claras e objetivas às crianças, mães/pais/responsáveis e professores. Toda
esta conversa será gravada para podermos aproveitar melhor o conteúdo.
A qualquer momento você pode pedir esclarecimentos sobre a pesquisa ou
desistir de participar, sem que tenha qualquer prejuízo; você pode contatar-me pelo
telefone (11)35412970 ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo - Av. Dr. Arnaldo 715 em São Paulo, telefone
(11)30617742.
Será garantido total sigilo e confidencialidade das informações coletadas e sobre
os participantes, não havendo qualquer divulgação dos nomes das pessoas, e dos
estabelecimentos envolvidos. Não haverá quaisquer despesas. Não será disponibilizada
nenhuma compensação financeira.
Sua participação é VOLUNTÁRIA. Caso não queira participar da entrevista ou não
queira responder algum item você tem plena liberdade.
Agradeço sua colaboração
____________________________________
Marisa Augusta Trinca- Pesquisadora
Li, entendi, tive oportunidade de esclarecer dúvidas, aceito participar e autorizo o menor
__________________________ a participar, se for por livre e espontânea vontade dele.
____________________________________
Colaborador
77
ANEXO 2 Imagens do flanelógrafo
Dados pessoais
Nome
Marisa Augusta Trinca
Nome em
citações
bibliográficas
TRINCA, Marisa Augusta
Sexo
Feminino
Endereço
profissional
Unidade de Reabilitação Global.
Av. Dr. Arnaldo 2088
Sumaré
01255-000 - Sao Paulo, SP - Brasil
Telefone: (11) 38721966
URL da Homepage: http://
Formação acadêmica/Titulação
2002 - 2002
Especialização em Fisioterapia Orto Traumatologia . (Carga Horária: 600h).
Universidade do Grande ABC, UNIABC, Brasil.
Título: Proposta de Tratamento Fisioterapêutico na Artroplastia Total do Joelho
(ATJ).
Orientador: Noeli Aparecida Gallinari.
1984 - 1988
Graduação em Fisioterapia .
Faculdade de Educação Física de Lins, FEFL*, Brasil.
Título: Fisioterapia no Hemifílico Adolescente.
Orientador: Gislene Fassina.
Formação complementar
2008 - 2008
13 curso do discurso do sujeito coletivo.
Instituto de Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo.
2002 - 2002
Curso Internacional de Hidroterapia Método Bad Rag. (Carga horária: 15h).
Peggy Schoedinger.
1999 - 1999
Reeducation Posturale Globale Rpg. (Carga horária: 240h).
Instituto Ph E Souchard de Reeducação Postural Global.
1999 - 1999
Cours Internationale de La Methode Iso Stretching.
Prof Bernard Redondo.
Atuação profissional
Unidade de Reabilitação Global, URG, Brasil.
Vínculo institucional
1994 - Atual
Vínculo: Presração de Serviços, Enquadramento Funcional: , Carga horária: 0
Atividades
1994 - Atual
Outras atividades técnico-científicas .
Atividade realizada
Atendimento Fisioterápico.
Marisa Augusta Trinca
possui graduação em Fisioterapia pela Faculdade de Educação Física de Lins (1988) e especialização em Fisioterapia Orto
Traumatologia pela Universidade do Grande ABC (2002) . Atualmente é Presração de Serviços da Unidade de Reabilitação
Global e Prestação de Serviços da Hospital Santa Isabel. Tem experiência na área de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
(Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes)
Última atualização do currículo em 12/02/2009
Endereço para acessar este CV:
http://lattes.cnpq.br/0713327602522943
Dados pessoais
Nome
Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira
Nome em
citações
bibliográficas
PEREIRA, I. M. T. B.
Sexo
Feminino
Endereço
profissional
Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Prática
de Saúde Pública.
Av.Dr Arnaldo 715
Cerqueira Cesar
01246904 - Sao Paulo, SP - Brasil
Telefone: (11) 30667717 Ramal: 7761
Formação acadêmica/Titulação
1979 - 1983
Doutorado em Saúde Pública (Conceito CAPES 5) .
Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Título: Educação em Saúde em Unidades Sanitárias do Município de São Paulo,
Ano de Obtenção: 1983.
Orientador: Ruth Sandoval Marcondes.
Palavras-chave: Educação em Saúde.
Grande área: Ciências da Saúde / Área: Saúde Coletiva / Subárea: Saúde Pública /
Especialidade: Saúde Escolar.
Grande área: Ciências da Saúde / Área: Saúde Coletiva / Subárea: Saúde Pública.
Setores de atividade: Educação; Saúde Humana.
1974 - 1977
Mestrado em Saúde Pública (Conceito CAPES 5) .
Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Título: O Educador de Saúde Pública em um Sistema de Educação, Ano de
Obtenção: 1977.
Orientador: Ruth Sandoval Marcondes.
Palavras-chave: Educação em Saúde.
Grande área: Ciências da Saúde / Área: Saúde Coletiva / Subárea: Saúde Pública /
Especialidade: Educação Em Saúde.
Setores de atividade: Educação; Saúde Humana.
1957 - 1960
Graduação em Educador Sanitário .
Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Atuação profissional
Universidade de São Paulo, USP, Brasil.
Vínculo institucional
1978 - Atual
Vínculo: Servidor Público, Enquadramento Funcional: Professor Doutor, Carga
horária: 24
Atividades
1998 - Atual
Serviços técnicos especializados , Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Prática de Saúde
Pública.
Serviço realizado
Validação de Instrumento para diagnóstico de comportamentos de risco em escolares.
1995 - Atual
Pesquisa e desenvolvimento .
Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira
Possui graduação em Educador Sanitário pela Universidade de São Paulo (1960), mestrado em Saúde blica pela
Universidade de São Paulo (1977) e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (1983). Atualmente é
professora doutora da Faculdade de Saúde Pública e professor doutor da Universidade de o Paulo. Tem experiência na
área de Saúde Coletiva, com ênfase em promoção da saúde, atuando principalmente nos seguintes temas: promoção da
saúde, escola promotora da saúde, educação em saúde e tabagismo.
(Texto informado pelo autor)
Última atualização do currículo em 19/11/2009
Endereço para acessar este CV:
http://lattes.cnpq.br/5048959810978564
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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