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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Departamento de Ciências Administrativas
Programa de Pós-Graduação em Administração - PROPAD
O MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
APRECIATIVA: fatores críticos à sua
implementação no ambiente organizacional
Andrezza Marianna Pinto de Oliveira
Recife, 2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A TESES E DISSERTAÇÕES
Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o
acesso a monografia do programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Federal de Pernambuco é definido em três graus:
- “Grau 1”: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);
- “Grau 2”: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a
consulta em ambientes de biblioteca com saída controlada;
- “Grau 3”: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,
se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou
custódia;
A classificação desta dissertação/tese se encontra, abaixo, definida por seu autor.
Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, a fim de que se preservem as
condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área da administração.
Título da Dissertação: O Método de Investigação Apreciativa: fatores críticos à sua
implementação no ambiente organizacional
Nome da Autora: Andrezza Marianna Pinto de Oliveira
Data da aprovação: 31 de maio de 2010.
Classificação, conforme especificação acima:
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Recife, 31 de maio de 2010
Andrezza Marianna Pinto de Oliveira
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Andrezza Marianna Pinto de Oliveira
O MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
APRECIATIVA: fatores críticos à sua
implementação no ambiente organizacional
Orientador: Prof. Dr. Marcos Gilson Gomes Feitosa
Dissertação apresentada como
requisito complementar para obtenção
do grau de Mestre em Administração,
área de concentração em Consultoria
Organizacional, do Programa de Pós-
Graduação em Administração da
Universidade Federal de Pernambuco.
Recife, 2010
Oliveira, Andrezza Marianna Pinto de
O método de investigação apreciativa : fatores
críticos à sua implementação no ambiente
organizacional / Andrezza Marianna Pinto de Oliveira.-
Recife : O Autor, 2010.
204 folhas : fig., tab.e quadro.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de
Pernambuco. CCSA. Administração, 2010.
Inclui bibliografia e apêndice.
1. Desenvolvimento organizacional. 2. Atitude
Mudança. 3. Serviços de consultoria. 4.
Organização. I. Título.
658.3 CDU (1997) UFPE
658.4 CDD (22.ed.) CSA2010 -
087
"Se um dia, homem feito e realizado, sentires que a
terra cede a teus pés, que tuas obras desmoronam, que
não ninguém à tua volta para te estender a mão,
esquece tua maturidade, passa pela tua mocidade, volta
à tua infância e balbucia, entre lágrimas e esperanças,
as últimas palavras que sempre restarão na alma:
minha mãe, meu pai."
(Rui Barbosa)
A meus pais, com todo o amor que houver
nesta vida!
Liberdade é pouco.
Liberdade é pouco.Liberdade é pouco.
Liberdade é pouco.
O que eu desejo ainda não tem nome”.
O que eu desejo ainda não tem nome”.O que eu desejo ainda não tem nome”.
O que eu desejo ainda não tem nome”.
Clarice Lispector
Agradecimentos
Agora é um dos muitos momentos da vida em que algo me inquieta: gostaria de ter
com as palavras uma intimidade tal que me permitisse expressar, através delas, todos os
sentimentos que habitam meu coração. Mas, como não se tem tudo o que se quer, vou tentar
(mesmo que desajeitadamente) dizer a quem hoje tenho gratidão.
Inicialmente, mesmo tentando fugir do trivial, agradeço a Deus (ou a qualquer
instância superior) pela oportunidade da vida. De todos os presentes, o melhor e mais
divertido. O mais cheio de surpresas. O mais colorido. O melhor de ser compartilhado. O
jamais esquecido. O mais gostoso. O mais desejado. Indubitavelmente, o mais aproveitado.
Por conseguinte, e não menos importantes, aos meus pais, Mário e Gorete, sem os
quais a existência perderia qualquer sentido. Não apenas àqueles que partilharam genes, e
puderam, também, dar-me a vida. Mas àqueles que, através de todos esses anos foram
exemplos vivos de todos os valores que hoje solidificam minha formação humana. Graças a
eles posso dizer, com plena convicção, que conheci e convivi com sentimentos arraigados ao
respeito, sinceridade, compromisso, amizade, lealdade, fidelidade e confiança.
A toda a minha família, que ao contrário de muitas, não se restringe ao núcleo familiar
de pais e irmãos. Aos tios e tias que sempre foram pais. Aos primos e primas que sempre
foram irmãos. Aos irmãos Renato, Marcella e Bruna –, que embora nem sempre cúmplices,
foram sempre presentes e fiéis. A todos eles que, por algumas ocasiões, respeitaram minha
ausência nos tantos momentos de descontração e infindáveis almoços de domingo.
Aos amigos de ontem, hoje e sempre. Àqueles que vieram da barriga. Aos que
encontrei em tenra idade. Àqueles que foram cúmplices desde a adolescência. Aos que
dividiram as experiências durante as intermináveis noites na faculdade. Aos que se
aproximaram a partir do inusitado ambiente virtual. Cada um com sua importância e, claro,
seu lugar cativo em minhas mais doces memórias.
Aos colegas da turma 14, pelos momentos compartilhados. As aulas mais divertidas.
Os trabalhos mais cansativos. As apresentações mais debatidas. Os almoços mais contentes.
Em especial, àqueles com os quais os laços de amizade foram mais estreitados André,
Brunna, Claudinete, Ionete, Marcílio, Mariana, Natasha, Polyana (minha leal parceira), Silvio.
Sem vocês os momentos propadianos teriam perdido todo o encanto. Agradeço por cada
telefonema, por cada fim-de-semana de estudo, por cada café, por cada torta, por cada artigo,
por cada hora da madrugada aproveitada sabiamente no MSN, por todas as viagens, por todas
as divagações, por todas as piadas, por todas as saídas, por todas as confraternizações, por
todos os bares, pelas (poucas!) farras. Enfim, por todos os momentos. Sem dúvidas, Recife
não seria a mesma sem vocês.
Ao professor Marcos Feitosa, por abrir as portas de sua sala para atender uma
desconhecida candidata à vaga no mestrado. Pela confiança em mim depositada, por acreditar
e apostar nos frutos que em alguns momentos me pareceram tão distantes. Hoje, depois de
alguns meses lecionando, talvez seja capaz de compreender o lugar que ele ocupou durante
essa experiência. Talvez, hoje, possa perceber a serenidade com que ele pôde nos acolher,
mesmo nos raros momentos de estresse e inquietação, conduzindo este trabalho com
seriedade, atenção e presteza, contribuindo para a minha maturidade e formação reflexiva.
Aos demais professores do Propad, pela presteza e cordialidade em compartilhar
conosco o conhecimento adquirido através de anos de dedicação, estudo e pesquisa.
Agradeço, ainda, por terem ratificado, em mim, o sentimento de que a ciência pode e deve ser
construída por todos e para todos, em função da construção de uma sociedade melhor e mais
justa. Que as verdades absolutas não existem e que devemos, sempre, ter a humildade e
hombridade de colocar a prova nossas idéias e pensamentos. E, não menos importante, um
agradecimento àqueles que me fizeram reiterar a perspectiva de crescimento profissional e
acadêmico associado aos sentimentos de liberdade, felicidade e encantamento perene.
Um agradecimento especial a todos que se dispuseram a colaborar com a minha
pesquisa, aos quais não poderia, agora, nominar, no intuito de preservação de suas
identidades. Entretanto, não menos importantes o foram. Obrigada por fazerem de suas vidas
e de suas atitudes, uma vivência apreciativa. Pela cordialidade com que me receberam em
suas empresas, organizações, endereços eletrônicos. Por cada idéia trocada. Por cada conversa
receptiva e produtiva. A cada um de vocês, meu agradecimento bastante especial.
Ao professor Antônio Carlos Valença, para o qual as palavras não seriam
ordenadamente suficientes para agradecer. Por toda gentileza, cordialidade, segurança,
serenidade, confiança, perseverança, presteza. Enfim, um enorme agradecimento por me ter
feito perceber o quão significante será em minha vida ter compreendido a vivência de uma
atitude apreciativa perante a vida, nosso maior bem.
Aos órgãos de fomento à pesquisa, que custearam minha pesquisa durante 1 ano e 6
meses, pela oportunidade. Aos funcionários do PROPAD, sempre disponíveis e cordiais. A
minha querida amiga Irani, pela simpatia e alegria com que sempre me recebeu. Enfim, a
todos aqueles que por essas e outras se mostraram merecedores de ocupar um lugar no meu
rol de melhores momentos!
Resumo
Os avanços tecnológicos, as expectativas dos consumidores e as realidades globais estão,
paulatinamente, transformando a maneira com que as organizações se relacionam interna e
externamente. Por conseguinte, os modelos de gestão, ultrapassados devido à sua rigidez,
estão sendo cada vez mais questionados e revistos (LOURES, 2008). Em contraponto à
maioria das abordagens de desenvolvimento organizacional centradas em problemas,
identificando-os e propondo soluções plausíveis para solucioná-los, a Investigação
Apreciativa, ao invés de procurar por problemas que devam ser solucionados, busca
identificar as qualidades únicas e as forças especiais desta organização, que servirão de ponto
de partida para a melhoria do desempenho das pessoas. Assim, o presente estudo realizar-se-á
na área de Desenvolvimento Organizacional tendo como propósito compreender quais os
fatores críticos à implementação da metodologia de Investigação Apreciativa (IA) no caso das
organizações em estudo. Para tanto, foram discutidos no arcabouço teórico: as origens da
metodologia da IA, seus pressupostos conceituais, princípios para a revolução positiva e as
principais condições para o sucesso da metodologia (CAMERSON, DUTTON, QUINN,
2003), (VALENÇA, 2007, 2009), (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, 2005, 2006),
(WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003), (COOPERRIDER; WHITNEY; STAVROS,
2009). Foi realizado um estudo qualitativo básico com pesquisa bibliográfica, documental e
de campo, aplicação de entrevistas semi-estruturadas e observação não-participante, tendo
análise por clientes e consultores pesquisados. Os resultados indicaram que aspectos críticos à
implementação do método no ambiente organizacional: a) patrocínio e engajamento da
liderança; b) preparação e amadurecimento do consultor; c) a existência de uma cultura
favorável à participação democrática; d) familiaridade com os conceitos propostos pelo
método; e) o engajamento, abertura e disposição das pessoas para a aprendizagem; f) o
reconhecimento e legitimação do grupo; g) a aceitação e apreciação também dos aspectos
negativos emergentes durante o processo; h) utilização de mídias alternativas; dentre outros.
Palavras-chave: Desenvolvimento Organizacional (DO). Gestão da Mudança. Consultoria
Organizacional. Investigação Apreciativa (IA).
Abstract
The technological advances, the customers’ expectations and the global realities are,
gradually, transforming the manner at which the companies perform relationship to each other
either internal or externally. Consequently, the management models, overpassed due to rigid
practices, are being even more questioned and revised (LOURES, 2008). The majority of the
organizational development approaches are problem-focused by identifying and proposing
plausible solutions to address the issue. In counterpart, there is the Appreciative Investigation
that instead of look for problems that need to be addressed, it strives to identify the unique
qualities and special strong points of the corporation, which will serve as a starting point to
improve the performance of the people. In this sense, this current study will be held at the
Organizational Development major, having the purpose to comprehend which are the critical
fators to the implementation of the Appreciative Investigation (IA) methodology in the case of
the organizations in study. To achieve such goal, a theoretical framework was studied: the
origins of the IA methodology, its conceptual premises, principles to the positive revolution
and the main conditions to the success of the methodology (CAMERSON, DUTTON,
QUINN, 2003), (VALENÇA, 2007, 2009), (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, 2005,
2006), (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003), (COOPERRIDER; WHITNEY;
STAVROS, 2009). It was developed a basic qualitative study with bibliographic, documental
and field research, application of semi-structured interviews and non-participant observation,
accomplishing the interviewed customers and consultants’ analyses. The results indicated
that some of the critical aspects to the implementation of the method in the organizational
environment are: a) partnership and leadership engagement; b) preparation and growth degree
of the consultant; c) existence of a culture pro the democratic participation; d) familiarity with
the concepts proposed in the method; e) engagement, open mind and will of the people to
learn; f) work group valorization and legitimating; g) the acceptance and appreciation of the
negative aspects that emerge during the process; h) utilization of alternative media, and so on.
Keywords: Organizational Development (DO). Change Management. Organizational
Consultancy. Appreciative Investigation (IA).
Lista de figuras
Figura 1 (2) - Gerenciando a Mudança: Inovação, Continuidade e Transição 22
Figura 2 (2) - Ciclo de 4-D 36
Figura 3 (2) - Ciclo de 4-D 37
Figura 4 (2) – Evolução das virtudes de um consultor 64
Figura 5 (2) – Fundamentos do Modelo Tridimensional de Intervenção – MTI 68
Figura 6 (2) – Modelo Tridimensional de Intervenção 70
Figura 7 (2) – Foco metodológico 1 71
Figura 8 (2) – Foco metodológico 2 72
Figura 9 (2) – Foco metodológico 3 72
Figura 10 (2) – Foco metodológico 4 73
Figura 11 (2) – Foco metodológico da intervenção 73
Figura 12 (2) – Natureza da performance 1 75
Figura 13 (2) – Natureza da performance 2 75
Figura 14 (2) – Natureza da performance 3 76
Figura 15 (2) – Natureza da performance 4 76
Figura 16 (2) – Natureza da performance da intervenção 77
Figura 17 (2) – Modelo ideal de relação consultor-cliente 82
Figura 18 (2) – Mapa de interdependências dos elementos constitutivos de uma intervenção
apreciativa 83
Figura 19 (3) – Circunscrição das categorias utilizadas na análise dos dados 95
Figura 20 (3) - Desenho metodológico do estudo 96
Lista de quadros
Quadro 1 (2) - Transição entre a solução de problemas e a Investigação Apreciativa 25
Quadro 2 (2) - Iniciativas de Investigação Apreciativa 26
Quadro 3 (2) - Funções e Responsabilidades da IA 51
Quadro 4 (2) – Relações ou opções do cliente 65
Quadro 5 (2) – Foco metodológico da intervenção 71
Quadro 6 (2) – Natureza da Performance 74
Quadro 7 (2) – Grau de Confiança e Autonomia 78
Quadro 8 (2) – Da relação de confiança e autonomia entre facilitador e aprendizes X a
disponibilidade e natureza do aprendiz 80
Quadro 9 (2) – Relações entre as posturas de consultores e clientes 82
Quadro 10 (4) – Espaço para ser reconhecido numa relação 174
Quadro 11 (4) – Espaço para ser ouvido 176
Quadro 12 (4) – Espaço para sonhar em conjunto 178
Quadro 13 (4) – Espaço para escolher contribuir 180
Quadro 14 (4) – Espaço para agir com apoio 181
Quadro 15 (4) – Espaço para ser positivo 182
Quadro 16 (4) – Conflitos e pensamentos ruminativos 184
Quadro 17 (4) – Tempo de vida útil do grupo de IA 186
Quadro 18 (4) – Utilização de mídias alternativas 188
Quadro 19 (4) – Preparação / formação do consultor 189
Quadro 20 (4) – Momento especial de genuína apreciação 190
Lista de tabelas
Tabela 1 (2) - O processo de IA para a Criação de Organizações Apreciativas 42
Tabela 2 (2) - O Ciclo de 4-D e a Reunião de Cúpula de IA 47
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 15
1.1
C
ONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO
.................................................... 15
1.2
P
ERGUNTA DE PESQUISA
................................................................................................. 18
1.3
O
BJETIVOS
...................................................................................................................... 19
1.3.1 Objetivo geral ......................................................................................................... 19
1.3.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 19
1.4
J
USTIFICATIVA E CONTRIBUIÇÃO DO ESTUDO
.................................................................. 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 21
2.1
A
S TEORIAS TRADICIONAIS DO GERENCIAMENTO DE MUDANÇAS
.................................... 21
2.2
A
O
RIGEM DO
M
ÉTODO DE
I
NVESTIGAÇÃO
A
PRECIATIVA
.............................................. 23
2.3
C
ONCEITO DE
IA ............................................................................................................. 26
2.3.1 O núcleo positivo .................................................................................................... 29
2.3.2 Imagens positivas ................................................................................................... 31
2.4
P
RESSUPOSTOS CONCEITUAIS
.......................................................................................... 34
2.5
O
CICLO DE
4-D .............................................................................................................. 35
2.5.1 Discovery ................................................................................................................ 37
2.5.2 Dream ..................................................................................................................... 39
2.5.3 Design - Projeto ...................................................................................................... 40
2.5.4 Destiny .................................................................................................................... 42
2.6
A
PLICAÇÃO DO CICLO DE
4-D ......................................................................................... 45
2.6.1 Investigação total do sistema .................................................................................. 45
2.6.2 Reunião da cúpula de IA ........................................................................................ 46
2.7
O
S ENVOLVIDOS NO PROCESSO E SUAS ATRIBUIÇÕES
...................................................... 47
2.7.1 Função da liderança ................................................................................................ 48
2.7.2 Função de um consultor de IA ................................................................................ 48
2.7.3 Função da equipe central ........................................................................................ 49
2.7.4 Função dos participantes ........................................................................................ 50
2.7.5 Representação do processo com todos os envolvidos e suas atribuições ............... 50
2.8
O
S PRINCÍPIOS
-
PARA A REVOLUÇÃO POSITIVA
............................................................... 51
2.8.1 Princípio construtivista ........................................................................................... 52
2.8.2 Princípio da simultaneidade.................................................................................... 53
2.8.3 Princípio poético ..................................................................................................... 54
2.8.4 Princípio antecipatório ............................................................................................ 55
2.8.5 Princípio positivo .................................................................................................... 55
2.9
C
ONDIÇÕES PARA O SUCESSO
.......................................................................................... 56
2.9.1 Liberdade para ser reconhecido em uma relação.................................................... 57
2.9.2 Liberdade para ser ouvido ...................................................................................... 58
2.9.3 Liberdade para sonhar em conjunto........................................................................ 59
2.9.4 Liberdade para escolher contribuir ......................................................................... 59
2.9.5 Liberdade para agir com apoio ............................................................................... 61
2.9.6 Liberdade para ser positivo..................................................................................... 61
2.10
R
ECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA CRIAÇÃO DO AMBIENTE IDEAL
................................ 62
2.11
B
ENEFÍCIOS EXCEPCIONAIS DO MÉTODO DE
IA ............................................................. 63
2.12
A
RELAÇÃO CONSULTOR
-
CLIENTE EM UMA PRÁTICA BEM SUCEDIDA
............................ 64
2.13
O
MODELO TRIDIMENSIONAL DE INTERVENÇÃO
............................................................ 67
2.13.1 Foco na metodologia ............................................................................................ 70
2.13.2 Foco na performance ............................................................................................ 74
2.13.3 Foco na confiabilidade e autonomia ..................................................................... 77
2.13.4 Inferências do bom êxito ...................................................................................... 79
3.1
D
EFINIÇÃO DE CONCEITOS BÁSICOS
................................................................................ 84
3.2
D
ESENHO METODOLÓGICO
.............................................................................................. 85
3.2.1 Delineamento da pesquisa – Fase 1 ........................................................................ 85
3.2.2 Delimitação do campo empírico – Fase 2 .............................................................. 89
3.2.3 Instrumento de coleta de dados – Fase 3 ................................................................ 92
3.2.4 Análise dos dados – Fase 4 ..................................................................................... 93
3.3
V
ALIDADE
....................................................................................................................... 97
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ..................................................... 99
4.1
E
SPAÇO PARA SER RECONHECIDO NUMA RELAÇÃO
......................................................... 99
4.1.1 O espaço para ser reconhecido numa relação sob a ótica do cliente ...................... 99
4.1.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser reconhecido ....................... 104
4.2
E
SPAÇO PARA SER OUVIDO
............................................................................................ 107
4.2.1 O espaço para ser ouvido sob a ótica do cliente ................................................... 108
4.2.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser ouvido ............................... 112
4.3
E
SPAÇO PARA SONHAR EM CONJUNTO
........................................................................... 115
4.3.1 O espaço para sonhar em conjunto sob a ótica do cliente .................................... 115
4.3.2 A percepção do consultor acerca do espaço para sonhar em conjunto ................. 118
4.4
E
SPAÇO PARA ESCOLHER CONTRIBUIR
.......................................................................... 122
4.4.1 O espaço para escolher contribuir sob a ótica do cliente ...................................... 122
4.4.2 A percepção do consultor acerca do espaço para escolher contribuir .................. 127
4.5
E
SPAÇO PARA AGIR COM APOIO
..................................................................................... 131
4.5.1 O espaço para agir com apoio sob a ótica do cliente ............................................ 131
4.5.2 A percepção do consultor acerca do espaço para agir com apoio ........................ 133
4.6
E
SPAÇO PARA SER POSITIVO
.......................................................................................... 134
4.6.1 O espaço para ser positivo sob a ótica do cliente ................................................. 134
4.6.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser positivo .............................. 142
4.7
C
ONFLITOS E PENSAMENTOS RUMINATIVOS
.................................................................. 145
4.7.1 Os conflitos e pensamentos ruminativos sob a ótica do cliente ........................... 146
4.7.2 A percepção do consultor acerca dos conflitos e pensamentos ruminativos ........ 151
4.8
T
EMPO DE VIDA ÚTIL DO GRUPO DE
IA .......................................................................... 154
4.8.1 O tempo de vida útil do grupo de IA sob a ótica do cliente ................................. 155
4.8.2 A percepção do consultor acerca do tempo de vida útil do grupo de IA .............. 156
4.9
U
TILIZAÇÃO DE MÍDIAS ALTERNATIVAS
........................................................................ 157
4.9.1 A utilização de mídias alternativas sob a ótica do cliente .................................... 158
4.9.2 A percepção do consultor acerca da utilização de mídias alternativas ................. 163
4.10
P
REPARAÇÃO
/
F
ORMAÇÃO DO CONSULTOR DE
IA ...................................................... 166
4.10.1 A formação do consultor de IA sob a ótica do cliente........................................ 166
4.10.2 A percepção do consultor acerca da formação do consultor de IA .................... 168
4.11
M
OMENTO ESPECIAL DE GENUÍNA APRECIAÇÃO
.......................................................... 169
4.11.1 O momento especial de genuína apreciação sob a ótica do cliente .................... 169
4.11.2 A percepção do consultor do momento especial de genuína apreciação ............ 171
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 196
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................ 200
APÊNDICE B – QUADRO UTILIZADO PARA A PREPARAÇÃO DO ROTEIRO DE
ENTREVISTA ....................................................................................................................... 202
15
1 Introdução
Esta primeira parte do projeto de pesquisa apresenta o tema a ser estudado, a definição
do problema de pesquisa, o delineamento dos objetivos geral e específicos, e, por fim, a
apresentação da justificativa e contribuição do estudo. Além disso, busca traçar um breve
contexto no qual a pesquisa será realizada e expõe as justificativas para desenvolvimento do
estudo, explicitando as contribuições que dele poderão advir.
1.1 Contextualização do tema e problematização
Os avanços tecnológicos, as expectativas dos consumidores e dos cidadãos, e as
realidades globais estão, paulatinamente, transformando a maneira com que as organizações
se relacionam interna e externamente. Por conseguinte, as abordagens acerca de questões
relacionadas à cultura organizacional e ao trabalho estão sofrendo mudanças muitas vezes
abruptas. E, concomitantemente, os modelos de gestão, ultrapassados devido à sua rigidez,
estão sendo cada vez mais questionados e revistos (LOURES, 2008).
No ‘caos’ da realidade atual, percebe-se que as empresas mais sensíveis, perceptivas e
preocupadas com a direção do mundo têm um questionamento sério com relação aos modelos
de poder institucional e pessoal, bem como aos conceitos de progresso e de liderança, de
modo que estão tentando ‘reinventar’ a forma pela qual fazem e conduzem seus negócios pelo
bem do sistema que sustenta todos. “Já não basta um simples ajuste à turbulência do mercado.
O furacão do caos político, econômico e social exige respostas e valores diferentes”
(LOURES, 2008, p. 93)
Sob o aspecto organizacional, Loures (2008) acrescenta que:
um grande desafio contemporâneo no mundo corporativo refere-se ao
estabelecimento de um eficaz e contínuo desenvolvimento de competências e
habilidades profissionais, muito além daquelas identificadas como essenciais
para a sobrevivência e desenvolvimento dos negócios correntes (LOURES,
2008, p. 90).
Nesse contexto, as empresas ao perceberem as dificuldades de conviver com a rápida
redução do prazo de validade do conhecimento, compreendem a necessidade de transferir seus
16
esforços isolados de treinamento em salas de aula para a construção contínua do
conhecimento, necessitando, para tal, passar por uma mudança significativa em seus valores,
crenças e pressupostos (LOURES, 2008; VALENÇA, 2007).
É através da perspectiva da existência de uma demanda latente pela geração de maior
competência nas empresas, maior competitividade e inserção em novos mercados, inclusive
externos, bem como pela formação de novos profissionais, mais eficientes, questionadores,
adaptativos - à toda gama de modificações do cenário atual -, e reflexivos - buscando refletir
sobre os problemas que acontecem na organização -, que as organizações precisam se
modificar, criando ambientes favoráveis ao seu próprio desenvolvimento, e ao das pessoas
que a compõem. Para tanto, apresenta-se como bastante relevante a compreensão de um novo
e revolucionário processo de investigação da realidade de maneira apreciativa.
A maioria das abordagens de desenvolvimento organizacional está centrada em
problemas, identificando-os e propondo soluções plausíveis para solucioná-los. A
Investigação Apreciativa, entretanto, acentua os pontos positivos da organização e das
pessoas. Ao invés de procurar por problemas que devam ser solucionados, busca identificar as
qualidades únicas e as forças especiais desta organização, que servirão de ponto de partida
para a melhoria do desempenho das pessoas. Em suma, o foco deixa de ser as dificuldades e
passa a ser os sucessos da organização (ROBBINS, 2005).
Acrescenta-se, ainda, que as abordagens solucionadoras de problemas requerem das
pessoas que voltem ao passado e examinem os erros cometidos, tendo como foco as falhas, o
que, raramente, promove a criação de novas perspectivas e/ou visões novas. Em vez de criar
um clima propício a um processo de mudança positiva, técnicas tradicionais de
desenvolvimento organizacional como a pesquisa-ação, levantamento de feedback ou
consultoria de projetos, por exemplo, acabam encontrando entre as pessoas culpados para os
erros cometidos, o que desencadeia um processo de defesa e bloqueio com relação à mudança.
Os defensores da IA argumentam que é muito mais válido que se aprimore aquilo que
a organização tem de melhor e aquilo que faz melhor, permitindo que ela mude atuando em
seus pontos fortes e em suas vantagens competitivas (ROBBINS, 2005). Trata-se de uma
proposta ousada e inovadora, que rompe com todos os paradigmas tradicionais de
planejamento estratégico, ao passo que busca resgatar os sucessos alcançados pelos
indivíduos e organizações, através da descoberta de suas melhores práticas e conquistas,
tornando as imagens de futuro mais abrangentes, motivadoras e inspiradoras (BARROS,
2004).
17
Cooperrider e Whitney (2006) enunciam este processo como o Método da
Investigação Apreciativa (IA), um “novo modelo de gestão de mudanças”, adaptado de forma
única aos valores, crenças e desafios enfrentados por gestores e líderes. Em suas palavras:
é um processo de mudanças gerenciais de larga escala que pode possibilitar
que o indivíduo envolva e inspire sua força de trabalho altamente
diversificada e dispersa; que envolva clientes e outros interessados no futuro
de seus negócios, que descubra e amplie os pontos fortes de seu negócio e
vantagens estratégicas e equilibre retornos financeiros com o fortalecimento
das contribuições societárias (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006, p.1).
Os benefícios dessa junção de um pensamento voltado aos próprios interesses com
uma preocupação de natureza mais coletiva podem ser apoiados ou até justificados pela
perspectiva da teoria de jogos, em particular, o conceito de equilíbrio de Nash. Isso é
especialmente verdadeiro em se tratando de economias capitalistas e mercados de livre
concorrência.
Barrett e Fry (2005) afirmam que a IA é um processo interativo e relacional que
convida as pessoas a se relacionarem entre si, aos pares, e, em seguida, em grupos, no intuito
de afirmar aquilo que mais valorizam no seu passado e o que almejam para o futuro, as
habilidades que o sistema de cooperação em que se encontram possuem, as imagens de um
futuro desejado, bem como as formas de alcançar essa situação desejada.
O método visa transformar as organizações através da descoberta e da valorização do
potencial das relações humanas. Consiste na vivacidade das organizações, dentro de uma
perspectiva baseada em fortalezas e pontos positivos, ou seja, no que há de melhor nas
pessoas, nos processos, estruturas e sistemas tecnológicos que dão suporte às organizações e
ao mundo ao redor delas (COOPERRIDER e WHITNEY, 2000).
Em sua essência, a Investigação Apreciativa propõe “uma revolução positiva na área
do conhecimento organizacional e da gestão de mudanças” (CAMERSON, DUTTON,
QUINN, 2003, p. 367), transformando a prática da mudança gerencial, sugere, de maneira
bastante incisiva, “que as organizações não sejam, em sua essência, problemas a serem
resolvidos, muito ao contrário disso” (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006, p. 3), são centros
de conexões vitais e potenciais doadores de vida.
Através de suposições intencionalmente positivas acerca das pessoas,
organizações e relacionamentos, a IA deixa para trás as abordagens ao
gerenciamento voltadas para o déficit e vitalmente transforma as formas de
abordar questões sobre o aperfeiçoamento organizacional (COOPERRIDER
et al, 2008, p.18).
18
Em intervenções eficazes dos processos de mudança ocorre o desenvolvimento
organizacional (DO) e, também, desenvolvimento pessoal para o indivíduo. Cooperrider et. al.
(2008) acrescenta que a IA é um processo de DO originado do pensamento construtivista
social, e suas aplicações à transformação gerencial e organizacional.
Podemos ter chegado ao fim da solução de problemas. A IA é uma
abordagem poderosa para a transformação como um modo de investigar
capaz de inspirar, mobilizar e apoiar a mudança do sistema humano. O
futuro do DO cabe, em vez disso, aos métodos que afirmam, envolvem e
aceleram a aprendizagem antecipatória abrangendo níveis cada vez mais
amplos da coletividade (COOPERRIDER et al, 2008, p.18).
De modo que, levando em consideração todos os argumentos anteriormente
levantados, este projeto objetiva estudar os fatores críticos da implementação do método de
Investigação Apreciativa em um ambiente organizacional específico.
Considerando que a Investigação Apreciativa é um método que permite a realização
do processo de construção coletiva em busca de um ideal comum, alguns questionamentos são
latentes e carecem de estudos mais aprofundados. Quais são, segundo estudos bibliográficos,
os ambientes mais favoráveis à vivência do Método de IA em uma organização? Quais dos
fatores característicos do caso em estudo se alinham com os fatores favoráveis à vivência do
método sob a perspectiva teórica? Como os fatores presentes na organização se configuram
como obstáculos ou facilitadores à implementação do Método de IA?
1.2 Pergunta de pesquisa
Baseado na premissa que o Método de IA não tem uma configuração estanque e,
portanto, as etapas do processo podem assumir diversas formas de expressão, acredita-se ser
conveniente e necessário delinear um cenário favorável à implementação do referido método.
De modo que o problema que se estabelece como pergunta de pesquisa, servindo de guia para
esse estudo é:
Quais os fatores críticos à implementação do Método de Investigação Apreciativa?
19
1.3 Objetivos
O presente estudo realizar-se-á na área de Desenvolvimento Organizacional, com foco
na gestão das mudanças, tendo, pois, como objetivos geral e específicos os seguintes
destaques:
1.3.1 Objetivo geral
Compreender quais os fatores críticos à implementação do Método de Investigação
Apreciativa no caso das organizações em estudo.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Identificar, através de um levantamento bibliográfico, quais são os ambientes
mais favoráveis à vivência do Método de IA em uma organização;
b) Avaliar que fatores favoráveis à vivência do método, segundo a literatura,
podem ser característicos dos casos em estudo;
c) Investigar empiricamente como os fatores presentes na organização se
configuram como obstáculos à implementação do Método de IA;
d) Investigar empiricamente como os fatores presentes na organização se
configuram como facilitadores à implementação do Método de IA.
1.4 Justificativa e contribuição do estudo
O sucesso da implementação do Método de IA em uma organização pode ocorrer de
muitas maneiras. Vislumbrando esta perspectiva, muitos podem ser os questionamentos
levantados como fatores característicos da organização estudada que se configuram
potencialmente como críticos ao sucesso da implementação deste método. A forma de atuação
do interveniente interfere no sucesso da intervenção? A reflexão sobre experiências anteriores
são consideradas para o processo? Quais situações são favoráveis e desfavoráveis para que a
implementação do referido método seja bem sucedida?
20
Acredita-se ser relevante um estudo como este dentro da área da consultoria
organizacional, fenômeno este que se torna cada vez mais recorrente no ambiente das
organizações (DONADONE, 2004) e tem sido pouco abordado na literatura acadêmica. De
modo que, o estudo poderá oferecer contribuição significativa à investigação da complexa
relação consultor-cliente, contribuindo para um mais amplo conhecimento do campo,
especialmente no tocante à implementação do Método de IA. Com isto, esta dissertação se
propõe a fornecer uma contribuição de base para estudos futuros, que possibilite um melhor
entendimento deste método.
Outro aspecto importante é que o Método da Investigação Apreciativa apresenta um
estudo, na área de administração, ainda bastante escasso em publicações, no âmbito
acadêmico, por ser um método pouco disseminado, sobretudo, no Brasil. Sendo assim, este
estudo enriquecerá os bancos de dados brasileiros como abordagem teórica sobre o tema,
apresentando-se como subsídio de pesquisa às organizações, consultores, professores,
estudiosos em geral, oferecendo, portanto, maiores detalhes e um entendimento mais
aprofundado sobre o método, e, depois de concluído, almeja identificar alguns dos principais
fatores críticos ao sucesso da implementação do Método de IA.
21
2 Referencial Teórico
Esta seção tem como objetivo apresentar a fundamentação teórica que auxiliará a
melhor compreensão do tema em estudo. Para tanto, busca-se na literatura relacionada, tanto
direta quanto indiretamente, o que diversos autores apontam sobre o tema proposto, e as suas
contribuições que ajudarão não a entendê-lo melhor, bem como a compreender as
possibilidades de resposta à pergunta de pesquisa desta dissertação. Para BARROS (2008,
p.4),
O referencial teórico é um conjunto de aspectos históricos, conceituais,
metodológicos e empíricos, organizados de maneira coerente e crítica a
respeito do atual estado relativo de um setor particular do conhecimento
científico, os quais são influenciados por fatores de natureza ideológica e
tem a função de sustentar o desenvolvimento de uma investigação.
Dessa forma, a seção apresenta a pesquisa bibliográfica realizada em profundidade e
sob diversos prismas, o que objetiva fundamentar e orientar o desenvolvimento da pesquisa de
campo, e, posteriormente, a análise dos dados e discussão dos resultados da pesquisa.
2.1 As teorias tradicionais do gerenciamento de mudanças
Como um método de análise organizacional, a IA difere da solução convencional de
problemas gerenciais, para estes, a premissa básica é a de que “a organização é um problema
a ser solucionado” (COOPERRIDER et. al., 2008, p. 21), para tanto, a tarefa de
aperfeiçoamento e melhoria da organização geralmente envolve a remoção de déficits através
da
(1) identificação dos problemas-chave ou deficiências,
(2) da análise das causas,
(3) da análise das soluções,
(4) do desenvolvimento de um plano de ação
Por outro lado, a suposição que sustenta a IA é que a organização é uma
“solução a ser adotada”, ao invés de um “problema a ser resolvido”
(COOPERRIDER et. al., 2008, p. 21).
22
Durante pesquisas realizadas por COLLINS e PORRAS (1994) e JONAS, FRY e
SRIVASTVA (1989), as organizações visionárias e suas lideranças m a capacidade de
aprender e de aplicar lições do melhor passado ao que chamaram de continuidade -, a
aflorar e desenvolver idéias de atos criativos novidades / inovação e a colocar em prática
as reais mudanças em sistemas e comportamentos para caminhar em direção ao estado
desejado – transição. “A importância e eficácia da IA se origina, em parte, de seu foco natural
em todos esses três fatores geradores” (COOPERRIDER et. al., 2008, p. 42).
Como um processo, o referido método é um instrumental na localização e
sustentabilidade de um equilíbrio saudável entre esses três fatores, capacidades, doadores de
vida à organização, conforme ilustrado na figura 1 (2) abaixo.
Figura 1 (2) - Gerenciando a Mudança: Inovação, Continuidade e Transição
Fonte: Cooperrider et. al. (2008, p. 45)
Conforme mencionado anteriormente, a IA tem foco nos três elementos geradores de
energia inovação, continuidade e transição -, todavia, desenvolve iniciativas particulares a
cada um deles, conforme (COOPERRIDER et. al., 2008):
a) Para atender à continuidade, o diálogo é construído ao redor de histórias
fundamentais ao sistema, dos momentos importantes e decisivos, das
CONTINUIDADE
INOVAÇÃO
TRANSIÇÃO
Gerenciamento de
Curiosidade
Sonho
Desafio do processo
Gerenciamento de
Roteiro comum
Feedback dos indicadores de
sucesso
Comemorando o progresso
Gerenciamento de
Valores centrais
O que fazemos melhor
Perturbação mínima
ORGANIZAÇÃO
SAUDÁVEL
23
conquistas mais relevantes, das melhores práticas. Em resumo, é a descoberta
das histórias da organização como uma possibilidade positiva.
b) Para responder à inovação, tanto o processo de IA, quanto o diálogo construído
por ele oferecem a oportunidade de oferecer inovações até então inesperadas, a
partir da criação de um espaço de verdadeira valorização do pensamento
inovador e da ação inovadora.
c) Por fim, para atender ao elemento transição, é também através do diálogo que
se revelam as formas sob as quais os novos ideais podem ser transformados em
mudanças concretas e perceptíveis, experimentadas por todos como um
movimento positivo em direção a um alvo de mudança com o mínimo de
perturbação, evitando ameaças à continuidade.
2.2 A Origem do Método de Investigação Apreciativa
O Método de Investigação Apreciativa (IA) foi desenvolvido na dissertação de tese de
doutoramento de David Cooperrider, intitulado Toward a Methodology for Understanding
and Enhancing Organizacional Inovation, defendida em 1986, na Case Western Reserve
University (CWRU), em Cleveland, EUA. Sob a supervisão do Prof. Suresh Srivastva, o
estudo estava voltado para o desenvolvimento de inovações organizacionais. Para ambos os
autores, “a humanidade estava nos limites ou nos extertores do uso do paradigma
problemático” (VALENÇA, 2007, p. 175).
Em sua essência, a Investigação Apreciativa propõe “uma revolução positiva na área
do conhecimento organizacional e da gestão de mudanças” (CAMERSON, DUTTON,
QUINN, 2003, p. 367).
Cooperrider e Whitney (2006) ressaltaram a importância de não perceber as
organizações como problemas a serem resolvidos, uma vez que toda organização surge como
solução às demandas sociais de sua época, sendo, pois, “centros de conexões vitais e
potenciais doadores de vida: relações, parcerias, alianças e redes intermináveis de
conhecimento e ação capazes de reunir o poder de combinações de forças” (COOPERRIDER
e WHITNEY, 2006, p. 3)
24
O método era, portanto, uma proposta técnica focada na oportunidade, em
contraposição à tendência generalizada de diagnosticar as organizações sob a perspectiva
deficitária de resolução de problemas (VALENÇA, 2007).
Todavia, os esforços concentrados em corrigir e solucionar problemas são, ainda,
bastante volumosos, e tomam muito tempo e energia das organizações. White (2006, p. 473)
acrescenta que “não podemos ignorar os problemas, precisamos apenas abordá-los pelo outro
lado”, ou seja, através de uma nova perspectiva de “abordagem positiva baseada nos pontos
fortes para o desenvolvimento e gestão de mudanças da organização” (COOPERRIDER e
WHITNEY, 2006, p. 3).
A nova proposta emergiu como um método projetivo e imagístico no qual a apreciar a
realidade de maneira efetiva era bastante importante, e, por que não dizer, produtivo. De fato,
dentro das organizações, pessoas almejam uma nova atitude, inspirações, mobilizações e
sustentação sistêmica nas equipes e nas ações do cotidiano (VALENÇA, 2007). Sendo, pois
um método de ‘oportunidades e aspirações’, respeitando os limites da racionalidade técnica e
não substantiva.
O Quadro 1 adiante ilustra a mudança de uma abordagem de solução de problemas
para a abordagem proposta pela IA, destacando-se como Cooperrider e Whitney (2006)
definem a mudança positiva:
Qualquer forma de mudança na organização, reforma ou planejamento que
se inicie com uma investigação compreensiva, análise e diálogo acerca do
núcleo positivo de uma organização que envolva interessados diversos, e
depois vincule esse conhecimento à agenda e às prioridades de mudança
estratégica da organização (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006, p. 13).
A proposta e intenção original de Cooperrider e Srivastva, focalizava-se na atenção e
prioridade dada, de imediato, à situação desejada (resgatada ou projetada), positiva e
animadora, e, posteriormente, no desenvolvimento efetivo de todo o processo criativo de
mudança, com base nas imagens favoráveis de futuro em outras palavras a situação
desejada (VALENÇA, 2007).
O autor acrescenta, ainda, que em documento original, David Cooperrider e Suresh
Srivastva afirmam que:
Na resolução de problema, assume-se que alguma coisa está quebrada,
fragmentada, sem totalidade, e que precisa ser consertada. Assim, a proposta
de resolução de problema é integrar, estabilizar e ajudar, com seu pleno
potencial, as funções do status quo (VALENÇA, 2007, p. 179).
25
Em suma, pode-se dizer que nas análises através da resolução de problemas, assume-
se que o algo a ser ‘consertado’ está simplesmente incompleto, subdesenvolvido, aquém do
potencial ou do desejando, precisando, portanto, de reparos.
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
INVESTIGAÇÃO APRECIATIVA
Necessidade de identificação de problema
Investigação e valoração do que
“há de melhor”
Análise das causas
Análise de possíveis soluções
Visualização de “o que poderia ser”
Planejamento de ações
(tratamento)
Diálogo sobre “o que deveria ser
Presunção básica: Uma organização é um
problema a ser resolvido
Presunção básica: Uma organização é um
mistério a ser aceito
Quadro 1 (2) - Transição entre a solução de problemas e a Investigação Apreciativa
Fonte: Adaptado de Cooperrider e Whitney (2006, p.14)
Cooperrider e Whitney (2000) complementam a proposição anterior afirmando que:
“na IA, a tarefa árdua de intervenção lugar ao ritmo veloz da imaginação
e da inovação, em vez da negação e da crítica dos diagnósticos em espiral.
Em seu lugar, há descoberta, sonho e estruturação” (COOPERRIDER e
WHITNEY, 2000, p. 5).
Deste modo, entende-se que a mudança positiva foi, também, idealizada com uma
gama de propósitos estratégicos, como, por exemplo, a construção de parcerias e alianças, a
proposição de transformações culturais nas organizações, o planejamento estratégico, a
melhoria da produtividade, qualidade e das finanças, bem como o melhoramento na retenção,
satisfação e ânimo dos funcionários (COOPERRIDER e WHITNEY, 2006).
Cooperrider et. al. (2008) ratifica a IA se configura como uma poderosa ferramenta,
num processo simples que pode envolver todos os indivíduos em uma organização, através de
uma investigação colaborativa e alinhamento entre os sistemas organizacionais e o núcleo
central que a compõe.
Para ilustrar esta realidade, o autor aponta, ainda, uma vasta gama de organizações que
se submeteram à intervenção do referido método, bem como alguns dos resultados mais
significativos para elas, conforme se pode analisar no quadro 2 a seguir:
26
Organização Iniciativa de IA / Prêmio
Avon - México
Tratar a questão da igualdade de sexos e um projeto piloto para a Avon
Global. Prêmio de Catalisador pelo Melhor Lugar no País para o Trabalho da
Mulher em 1997.
GTE
Comunicações
Prêmio de Melhor Projeto de Mudança Organizacional da Sociedade
Americana de Treinamento e Desenvolvimento, 1997.
Imagine Nagaland
(Índia)
Reunir diversos ministérios com os jovens para descobrir o futuro que desejam
criar. O UNICEF ajudou a orientar o projeto e uma grande produtora de filmes
criou um documentário mostrando a transição da desesperança e conflito para
uma nova visão e colaboração.
McDonald’s
Tornar-se o melhor gerador de empregos em cada comunidade ao redor do
mundo colocando as “Pessoas em Primeiro Lugar”.
NASA
Criar um plano estratégico para a Divisão de Recursos Humanos a fim de
alinhar-se com a visão mais ampla da NASA e para trabalhar na construção de
uma cultura mais inclusiva e participativa.
Nutrimental
Criar uma abordagem para a inovação de um sistema inteiro para o
planejamento estratégico e tomada de decisões para alcançar resultados
qualitativos e quantitativos como, por exemplo, um aumento de 600% em
lucros, bem como uma redução de 75% nos índices de absenteísmo. A
empresa utilizou o método de Reunião de Cúpula da IA para realizar o
planejamento estratégico nos últimos 11 anos.
Scandinavian
School System
Prêmio pela Conquista Educacional, 1998.
Quadro 2 (2) - Iniciativas de Investigação Apreciativa
Fonte: Adaptado de Cooperrider et. al. (2008, p. 6-9)
2.3 Conceito de IA
Para um melhor entendimento do método, convém buscar uma compreensão mais
aprofundada acerca da definição das palavras “Investigação” e “Apreciação”, nas próprias
palavras de David Cooperrider e Diana Whitney:
Investigar: a) ato de exploração e descoberta; b) elaborar perguntas: estar
aberto a ver novos potenciais e possibilidades; c) sinônimos: descobrir,
buscar, explorar sistematicamente, estudar.
Apreciar: a) valorar, o ato de reconhecer o melhor nas pessoas e no mundo
a nossa volta, afirmando as forças, sucessos e potenciais do passados e do
27
presente; perceber aquelas coisas que dão vida (saúde, vitalidade,
excelência) aos sistemas vivos; b) aumentar o valor, por exemplo: a
economia apreciou em valor; c) sinônimos: valor, estima, honra. (FRY;
BARRET, 2002, p. 5).
Valença (2009), a partir da Teoria da Investigação de John Dewey, acrescenta que:
A investigação é a transformação dirigida e controlada de uma situação
indeterminada em uma outra situação de tal modo determinada em suas
distinções e relações constituintes que converte os elementos da situação
original em um todo unificado (DEWEY, 1985, p. 171).
POGREBINSCHI (2006), baseado nas idéias de Dewey (1985), acrescenta que
durante o processo de investigação são sugeridas soluções possíveis pela determinação das
condições fáticas asseguradas pela observação. Ou seja, uma possível resolução se apresenta
sob a forma de idéia, de modo que os fatos que constituem o problema inicial da investigação
são instituídos pela observação.
Contudo, o método de Investigação Apreciativa (IA) tem sido definido sob uma ampla
diversidade de formas, embora haja um ponto em comum em todas essas definições: a de ser
uma abordagem de gestão de mudanças definitivamente contrária à resolução de problemas,
assumindo, assim, a idéia de construção social da realidade para o seu extremo positivo,
“adaptando de forma única aos valores, crenças e desafios de negócios que os gestores e
líderes enfrentam hoje” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 1).
A definição do Método de IA adotada como base pare este estudo é a de Cooperrider e
Whitney (2006) que propõe:
A Investigação Apreciativa é uma busca cooperativa, co-evolucionária pelo
melhor nas pessoas, suas organizações e pelo mundo que as rodeia. Ela
envolve a descoberta sistemática do que anima uma organização ou uma
comunidade quando ela é mais eficiente e mais capaz em termos
econômicos, ecológicos e humanos (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p.
10).
Num processo de mudanças gerenciais de larga escala que pode possibilitar o
envolvimento e inspiração da força de trabalho de uma organização, mesmo que esta seja
altamente diversificada e dispersa; a IA envolve clientes e outros interessados no futuro do
negócio, ao passo que descobre e maximiza pontos fortes e vantagens estratégicas. O
resultado são melhorias fantásticas baseadas em uma tripla fundamentação: pessoas, lucros e
o planeta.
A IA tem sido utilizada em prol de um significativo aprimoramento da participação do
funcionário, de sua ‘retenção’ na empresa, melhoria de ânimo, maximização da satisfação do
28
cliente, uma maior competitividade de preços, aumento de vendas e lucros, bem como acerca
da compreensão e da capacidade dos negócios de atender aos interesses da sociedade
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
A Investigação Apreciativa pode ser definida como uma abordagem
construcionista, baseada nas imagens partilhadas dos momentos altos e
gratificantes das pessoas, equipes e organização, voltadas para a eficácia das
ações e das relações, para a mudança estruturada e para o desenvolvimento
integrado. É uma forma de tornar melhores as pessoas, e as organizações,
com base no que elas têm de bom em todas as suas possibilidades e nas
práticas bem-sucedidas (VALENÇA, 2009, p. 97).
Em outras palavras, pode-se dizer que é a partir da rememoração das lembranças de
vida mais favoráveis ao indivíduo, aquelas que evocam sentimentos de sucesso e, portanto,
bem-estar, é que se inicia o processo de investigação da realidade de forma apreciativa e
valorosa, bem como a construção coletiva do futuro almejado pelo grupo.
A IA baseia-se na simples suposição de que toda organização possui algo que funciona
bem e essas forças podem ser o ponto de partida para criar a mudança positiva.
Convidar pessoas a participarem em diálogos e a compartilharem histórias
sobre suas conquistas passadas e presentes, bens, potenciais inexplorados,
inovações, pontos fortes, pensamentos elevados, oportunidades, benchmarks,
momentos altos, valores vividos, tradições, competências essências e
distintas, expressões e sabedoria, percepções sobre o espírito e a alma
corporativa mais profunda, visões valorizadas e futuros possíveis podem
identificar um “núcleo da mudança positiva”(COOPERRIDER et al, 2008,
p.19).
O foco do processo passa, portanto, da resolução coletiva de uma “situação-
problema”, para a construção de um “futuro desejado”, baseando-se naquilo que se tem,
essencialmente, de melhor, ou seja, em fortalezas e méritos concretos, individuais e coletivos.
“A vida, as relações e a organização passam a ser como um ‘mistério a ser compartilhado, e
não um problema a ser resolvido’” (VALENÇA, 2009, p. 98).
Deste modo, identificado o núcleo positivo, o mistério a ser partilhado, a IA vincula a
energia do núcleo positivo diretamente para qualquer objeto de mudança. Este vínculo gera
nas pessoas uma empolgação revigorante e o desejo de mover-se em direção ao sonho
compartilhado (COOPERRIDER et. al., 2008).
Perspectiva esta que corrobora com as proposições de Cooperrider e Whitney (2006),
nas quais a intervenção abre caminho para a investigação, imaginação e inovação. “Ao invés
da negação, crítica e diagnósticos redundantes, acontecem a descoberta, sonho e
planejamento” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 10).
29
Seguindo esta linha de raciocínio Loures (2008) destaca como significativo que:
A característica dessa abordagem está na sua intenção de aprender a partir
das experiências que deram certo e a partir delas, criar uma visão de futuro
baseada na energia positiva, na autoconfiança e na coragem, que emergem
quando da lembrança de tais experiências (LOURES, 2008, p. 100).
David Cooperrider (2001) pressupõe três âncoras para a base afirmativa no ambiente
organizacional:
1. As organizações são resultados da mente afirmativa dos indivíduos que compõem;
2. Quando confrontadas com dificuldades ou repetidos problemas, ao invés de
necessitarem de reforma ou resolução de problemas, faz-se necessária uma
reafirmação, que significa maior apreciação do sucesso da organização;
3. A principal vocação na era pós-burocrática é alimentar a apreciação do ambiente
de onde novas imagens irão surgir na mente da coletividade dinâmica.
Deste modo, todo o processo de IA é, pois, desenvolvido através de uma peculiar
maneira de se perguntar às pessoas o que elas desejam de melhor para o futuro, baseando-se
na bondade fundamental e intrínseca do indivíduo, situação ou organização, reforçando, por
conseguinte, a capacidade do sistema de colaboração e de mudança. “A Investigação
Apreciativa envolve a arte e a prática de fazer perguntas invariavelmente positivas que
fortaleçam a capacidade do sistema para assimilar, prever e ressaltar o potencial positivo”
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 10).
Entretanto, sob uma perspectiva distinta, Valença (2007; 2009), propõe que a IA é
uma técnica e não um método. Se fosse um método seria um bom caminho. Como é feito e
recomendado pelos autores originais, isto abre margens para (1) profecias auto-realizantes ou
auto-realizadoras, o que não é ciência, ou pior, para manipulação. Este procedimento provoca
(1) uma dicotomia da bondade x maldade (o time do bem), (2) é anti-sistêmico pois evita a
emergência ascendente, ou seja, tudo tem de estar no nível do instrumentalmente certo ou
confirmando os valores da organização, (3) é dogmático porque revela uma crença e (4) pobre
e limitada enquanto orientação normativa, porque o valor não é submetido a teste público.
2.3.1 O núcleo positivo
Uma vez iniciado o processo investigativo, faz-se necessário identificar um tópico,
assunto ou tema, que servide ponto de partida para todo o processo de investigação. “É o
aspecto estratégico mais importante dos processos de todo o Método de IA” (VALENÇA,
30
2007, p.202), e, selecioná-los, é a primeira oportunidade que os membros da organização têm
de estabelecer um curso estratégico do futuro almejado.
Os tópicos apreciativos são escolhidos e desenvolvidos, portanto, no interior das
organizações, podendo ser fruto de qualquer assunto que os indivíduos considerem como tema
‘que vida’ ao sistema organizacional. “Palavras como empoderamento, inovação, senso de
apropriação, comprometimento, integridade, consciência ecológica, e orgulho são sempre
escolhidas e articuladas como dignas de estudo” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, p. 9).
Cooperrider e Whitney (2006) propõem que a seleção de tópicos apreciativos obedece
a três princípios normativos:
1. Envolve a escolha de pessoas de todas as partes da organização;
2. Cresce em razão das entrevistas preliminares, na organização, em seu
melhor momento;
3. Desafia as pessoas a redefinirem as questões deficitárias em tópicos
afirmativos para a investigação. (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006,
p. 19).
Com o atual panorama de mudanças constantes e cada vez mais rápidas, compreender
de que recursos se compõe o núcleo positivo da vida organizacional é essencial, todavia, não é
uma tarefa simples. Através da proposta de IA, um aspecto que parece ser relevante é o de
que:
Os sistemas humanos cresceram na direção das perguntas que eles
formularam insistentemente, e essa pretensão é mais forte e sustentável
quando os métodos e fins de uma inquirição estão correlacionados
positivamente. A única ação mais importante que um grupo deve adotar para
liberar o espírito humano e construir conscientemente um futuro melhor é
tornar o núcleo positivo a prioridade mais explícita de todas
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 10).
Em outras palavras, é através da busca por um núcleo positivo que direcione todo o
processo investigativo, que a organização poderá fortalecer o conhecimento coletivo,
propiciando sinergia entre os elementos do grupo e, paulatinamente, conseguir construir
energia tornar-se mais predisposta e/ou flexível aos processos de mudança. “Chamamos isso
de mapeamento do núcleo positivo” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 11).
O núcleo ou cerne positivo revela, desde o início do Método de IA, sua fundamental
importância, destacando uma perspectiva de orientação espiritual e transcendente. “O Método
de IA estava lançado para descobrir, revelar, desvendar em detalhes e minúcias, estruturar,
suportar, expandir e implementar esse Núcleo Positivo” (VALENÇA, 2007, p. 204).
Loures (2008) destaca ainda que:
31
A característica dessa abordagem está na sua intenção de aprender a partir
das experiências que deram certo e a partir delas, criar uma visão de futuro
baseada na energia positiva, na autoconfiança e na coragem, que emergem
quando da lembranças de tais experiências (LOURES, 2008, p. 100).
Estava, portanto, içada a bandeira da diferença. De um lado, os métodos de
abordagens “problemáticas”, e de outro, o Método de IA “apreciativo porque focava ‘como
cerne ou Núcleo Positivo’, a ‘bondade essencial’ das pessoas, e, por conseguinte, das
organizações” (VALENÇA, 2007, p. 204).
Entretanto, vale ressaltar que houve, paulatinamente, um deslocamento do foco na
“bondade essencial”, para as “competências afirmativas” percebidas como os pontos fortes
de um negócio, que se constituem em vantagens competitivas no mercado (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2006). “Houve uma passagem de algo ontologicamente ligado à bondade
essencial para algo que é ‘situacionalmente’ bom, com as características, ‘valores, crenças e
desafios’ dos negócios modernos” (VALENÇA, 2007, p. 204).
2.3.2 Imagens positivas
Segundo (VALENÇA, 2007, p. 190) “se houve algo absolutamente inovador no
Método de IA, em meados da década de 80, foi o seu caráter precursor de pesquisar imagens
mentais no contexto das organizações e, em especial, no mundo dos negócios empresariais”.
Deste modo, a orientação adotada pelo referido método deixava de ter seu foco na
racionalidade técnica no ambiente organizacional, passando a considerar com maior ênfase
fatores como intuição e emoções positivas.
Cooperrider e Whitney (2006) destacam a importância dada às imagens quando
explicitam que:
Um aspecto que diferencia a Investigação Apreciativa das outras
metodologias visionárias ou de planejamento é que as imagens do futuro
emergem de exemplos sólidos do passado positivo da organização. As boas
histórias são usadas para gerar propostas de possibilidades que reúnam o
melhor do que a empresa é capaz com a aspiração coletiva do que poderia
ser (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 31).
Cooperrider (2000) destaca seis achados clássicos de pesquisas paralelas que são
favoráveis às imagens positivas:
32
a) Efeito Placebo: “resposta favorável na saúde do doente, a partir de sua
paisagem ou imagem mental visualização positiva de recuperação e de
apego à vida, projetada sobre um remédio fictício” (COOPERRIDER; 2000,
apud VALENÇA, 2007, p. 190). É o que acontece quando um paciente é
‘tratado’ com remédios sem nenhuma composição química condizente com a
patologia combatida, mas, em virtude de sua crença e confiança de cura, bem
como na projeção que tem de si como indivíduo novamente saudável,
apresenta melhoras semelhantes aos pacientes quimicamente tratados, ou seja,
a cura não partiu do medicamento, mas sim da projeção de imagens positivas
do paciente.
b) Efeito Pigmaleão: “refere-se a um fenômeno de influência sobre o estado
mental do outro” (COOPERRIDER; 2000, apud VALENÇA, 2007, p. 191).
Ocorre à medida que um indivíduo (A) faz um juízo de valor a respeito de um
outro indivíduo (B), e toma esta projeção de valor como a realidade, passando,
a partir deste momento, a agir com o indivíduo (B) baseado nesta projeção,
gerando, portanto, interferência nas suas ações ou desempenhos. Em outras
palavras, a partir do julgamento de valor de (A), as ações e desempenhos de
(B) podem ser maximizadas ou minizadas numa tentativa deste indivíduo (B)
de corresponder às projeções idealizadas por (A). “Aqui a força da imagem
positiva (ou negativa) é criada por terceiros e atua na ação ou desempenho
daqueles sobre as quais a imagem é projetada” (COOPERRIDER; 2000, apud
VALENÇA, 2007, p. 191).
c) Afeto positivo e prestimosidade aprendida: essencialmente, a pesquisa de
Cooperrider (2000) afirma que o uso de imagens positivas gera no indivíduo
emoções tão positivas, a ponto de despertar nele motivações intrínsecas,
tendendo a criar impulsos para ações positivas, que deixam de lado as
preocupações egóicas autocentradas e despertam a ação em prol do bem-estar
coletivo, aumentando sentimentos como cooperação e solidariedade. “A
imagem positiva integra cognição e afeto e é uma força catalisadora na
capacidade de emanar bons sentimentos e impulsionar boas ações”
(COOPERRIDER; 2000, apud VALENÇA, 2007, p. 191).
33
d) Imagem positiva e força cultural: estudos de Antropologia, História, Sociologia
e Psicologia convergem para a crença de que existe a influência direta do efeito
das imagens coletivas no futuro ou destino de um grupo de indivíduos. É esta
perspectiva que considera que a imagem que uma coletividade tem de si
mesma, seja ela positiva ou negativa, será decisivamente influente nas ações e
atitudes desta coletividade, de modo a corresponder às projeções coletivas
construídas. “Nenhum império se implanta e se destrói sem imagens correlatas
de sua ascensão ou declínio” (COOPERRIDER; 2000, apud VALENÇA, 2007,
p. 191).
e) Diálogo Interior: neste momento, recorre-se à construção e análises dos
diálogos que o indivíduo tem consigo mesmo, “noutras palavras, o que, para
que e como se estrutura a conversa do sujeito consigo mesmo”
(COOPERRIDER; 2000, apud VALENÇA, 2007, p. 191). Cooperrider (2000)
recorre aos estudos feitos por Robert Schwartz (1986) acerca dos sistemas de
conteúdo, função e estrutura dos diálogos internos, os quais classifica como
pertencentes a apenas dois grupos distintos: a) o de ecologia funcional ou
saudável, e b) o de ecologia disfuncional ou mórbido. “Existe sempre uma
predominância de diálogo positivo e saudável para as pessoas e grupos
considerados, socialmente, funcionais” (COOPERRIDER; 2000, apud
VALENÇA, 2007, p. 192), o que, de fato, pode ser correlacionado com o
Efeito Pigmalião supracitado, uma vez que ao receber o status de grupo
funcional ou saudável, legitimado pela coletividade, o grupo (ou indivíduo),
tende a corresponder às referidas projeções, tendo pensamentos, ações ou
atitudes condizentes com o status recebido, no caso, positivamente.
f) Evolução Consciente das Imagens Positivas: Valença (2007) diz que, em sua
tese original, David Cooperrider considera que as organizações, equipes ou
indivíduos,
são por natureza afirmativas e, portanto, respondem ao pensamento, à
linguagem e ao conhecimento positivos. As organizações são, deste modo,
heliotrópicas. Elas crescem em direção à luz de uma imagem positiva, de
caráter antecipatório (COOPERRIDER, 1986, apud VALENÇA, 2007, p.
197).
34
Considerando que o princípio heliotrópico – de que as organizações evoluem em
direção às imagens positivas - é válido, pode-se afirmar que “a competência afirmativa pode
ser aprendida, desenvolvida e refinada pela experiência prática, treinamento formal e
disciplina” (VALENÇA, 2007, p. 192). Deste modo, seria possível, através de um
monitoramento positivo por parte do próprio indivíduo -, acelerar o processo de
aprendizagem de uma atividade qualquer, de modo que suas próprias competências se
reestruturariam e reorganizariam concomitantemente. Todavia, é importante ressaltar que essa
pode não ser, necessariamente, uma atitude consciente do indivíduo, ou seja, ele pode apenas
estar correspondendo à sua ‘natureza afirmativa’, caso ela realmente exista, e, mesmo assim,
não ter tomado consciência disto.
2.4 Pressupostos conceituais
Baseado num conjunto de elementos e atributos a) investigação, aventura, diálogo,
arte; b) descoberta, inovação, resultado; c) atitude, visão; d) ação, movimento, mediação,
estratégia; e) princípios, valores; f) teoria, conhecimento, filosofia, e g) método, técnica -,
Valença (2007) defende que é possível produzir um resumo dos pressupostos de David
Cooperrider e seus associados referentes ao Método de IA. Assim, entende-se que a IA atende
aos seguintes pressupostos conceituais:
a) Ser uma investigação positiva da realidade e, portanto, prospectiva, visionária,
futurista, não retrospectiva, nem deficitária;
b) Ser um processo dinâmico, uma vez que a investigação e o processo de
mudança ocorrem concomitantemente, “na melhor tradição de conhecer
enquanto faz e fazer enquanto reflete e conhece” (VALENÇA, 2007, p. 186);
c) Apresentar-se, enquanto processo investigativo, sempre aberto às novas
possibilidades de expansão do escopo da pesquisa;
d) Propiciar e promover conexões de relacionamento, de modo que não se prenda
aos parâmetros exclusivamente técnicos e pragmáticos de uma tradição
científica mecânica;
e) Libertar o espírito humano para o sonho e a criação de um futuro almejado,
seguido da sobreposição de imagens mentais, individuais e coletivas, que
35
incitem as pessoas a colaborar mutuamente em prol de alcançar o objetivo em
comum, o futuro desejado;
f) Experimentar a democracia na prática de dar voz e vez a todos;
g) Permitir à coletividade a autoria e a propriedade de todos “os produtos,
processos, artefatos e sistemas, considerados como fruto de todos,
indistintamente” (VALENÇA, 2007, p. 187);
h) Ter como direcionamento central a mudança positiva.
Em consonância com os oito princípios identificados anteriormente, Valença (2007),
faz, ainda, referência às metáforas criadas por FRY e BARRET (2002) sobre o Método de IA
na intenção de descrever, na prática, a efetiva materialização deste conceito. Os referidos
autores concebem que o método deve ser entendido como:
a) Um tipo de conversação coreográfica;
b) Uma coleção de contos - histórias;
c) Um projeto aberto às improvisações;
d) Uma sincronia harmônica de emoções positivas;
e) Uma criação de conexões convergentes, ao invés de uma comunicação
hierarquizada;
f) Uma fonte de geração de ações que emergem dos planos analisados e
aprovados coletivamente;
g) Uma manifestação da crença de que o ser humano é essencialmente bom e,
incondicionalmente, percebe a humanidade de maneira positiva.
2.5 O ciclo de 4-D
Segundo Cooperrider e Whitney (2005), o Método de IA é um processo baseado no
discurso do sujeito e na narração de mudanças positivas. É um ciclo de atividades que se
inicia a partir do momento em que convoca todos os membros de um grupo e/ou organização
para dialogarem consigo mesmo e com os outros, tendo como foco aspectos positivos como
forças, recursos e capacidades.
Após o convite ao diálogo, através de uma série de atividades concentradas, motiva
estes sujeitos a sonharem com um amanhã ideal, visualizando possibilidades audaciosas e
36
auspiciosas. A partir daí, propõe-se que os sujeitos apresentem suas idealizações, aos pares, e
busquem gerar propostas que orientem um futuro conjunto de realização destes ideais. Por
fim, em equipes, o trabalho real de efetiva concretização do novo sonho e criações do futuro
será delineado.
A esse processo, Cooperrider e Whitney (2005), dão o nome de Ciclo de 4-D,
graficamente representado pela Figura 1 abaixo:
Figura 2 (2) - Ciclo de 4-D
Fonte: Unindus – PR
Muito embora não exista fórmula para a IA, os esforços conjuntos em prol de uma
mudança positiva, em grande maioria das organizações, fluem através do ciclo de 4-D.
Todavia, é importante ressaltar que não existe tempo padrão para o desenvolvimento do ciclo,
podendo este ser rápido e informal quanto uma conversa, ou lento e formal como os processos
em organizações que envolvem a participação de todos os grupos de interessados
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
Analogamente, o ciclo 4-D pode ser representado pela Figura 2, adiante, proposta,
primordialmente, por Cooperrider e Whitney (2005).
37
Figura 3 (2) - Ciclo de 4-D
Fonte: Adaptado de Cooperrider e Whitney (2006, p. 18)
O ponto de partida de qualquer processo de IA esno centro do ciclo 4-D. A escolha
de um tópico afirmativo é o aspecto estratégico mais importante de qualquer processo, pois se
configura como a “oportunidade para que os integrantes de uma organização estabeleçam um
curso estratégico para o futuro” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 19). Depois disso,
todos os tópicos farão parte da agenda’ da organização para o desenvolvimento da
aprendizagem, o compartilhamento do conhecimento e a ação propriamente dita.
2.5.1 Discovery
A fase de descoberta é o início da implementação do Método de IA em uma
organização, configurando-se como a busca de identificação de histórias positivas e uma
tentativa de espalhá-las por toda a organização (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003)
valendo ressaltar que, antes dessa fase, existe um ponto fundamental a ser delineado, que é o
cerne, núcleo ou tópico apreciativo, ao redor do qual todo o processo será desenvolvido.
Neste momento, tomam-se como foco coisas que dão vida e energia às pessoas, seus
trabalhos, e às organizações, assumindo, portanto, que as ‘forças de vida’ estão, de fato,
presentes em cada uma dessas situações. Todavia, geralmente, as pessoas cultivam o hábito de
SONHO
O que poderia ser
(O que o mundo
está solicitando)
Visualizando
Resultados
DESTINO
Como empoderar,
aprender e
ajustar/improvisar?
Sustentando
PLANEJAMENTO
O que deve ser o
ideal?
Construção em
Conjunto
DESCOBERTA
O que dá vida
(O melhor que há)
Avaliando
38
ignorar os resultados positivos, focando-se na análise dos obstáculos, resistência e déficits
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006; WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
A fase de descoberta desloca o equilíbrio da atenção organizacional daquilo que o
está funcionando como deveria, e propõe à imaginação de maneiras alternativas de realização
das mesmas atividades que possam, eventualmente, funcionar melhor no futuro.
“Em essência, mobiliza todo um sistema investigativo sobre o cerne positivo,
descobrindo o que de positivo, onde nasce a colaboração e a criatividade coletivas, tudo na
base de diálogo genuíno e inspirado” (VALENÇA, 2007, p. 211). As pessoas tendem a
revelar o que vida à sua organização, descobrindo virtudes pessoais e organizacionais, o
valor das pessoas e a forma como elas desejam melhorar a vitalidade social, econômica e
ambiental.
Para Whitney e Trosten-Bloom (2003), a descoberta realiza-se através de entrevistas
apreciativas, núcleo do Método de IA, e estão no ‘coração’ da fase de descoberta, todavia,
muitas vezes, podem ser tecidas, também, em fases posteriores do processo.
A principal tarefa da descoberta é revelar a capacidade positiva. A IA
convida ao diálogo e à aprendizagem por todo o sistema através de um
processo de entrevista apreciativa [...] No cerne da descoberta está a
entrevista apreciativa. A singularidade e o poder de uma entrevista de IA
brotam de seu foco fundamentalmente afirmativo. O que diferencia a IA
nesta fase é que todas as perguntas são positivas (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2006, p. 27).
Geralmente, as entrevistas apreciativas são realizadas como forma de entrevista mútua
entre os diversos grupos de interessados, as vezes realizadas através da dinâmica de grupos
focais, envolvendo muitos - se não todos - os membros de uma organização, e, muitas vezes,
inclui entrevistas com agentes externos como clientes, fornecedores e membros da
comunidade (WHITNEY’; TROSTEN-BLOOM, 2003). “Mobilizar o sistema inteiro através
do engajamento de todos os interessados na articulação de pontos fortes e melhores práticas,
identificando - o melhor do que tem sido e aquilo que é(COOPERRIDER; WHITNEY,
2006, p. 18).
As perguntas entrevista são criadas em torno de temas afirmativos, e, posteriormente,
uma entrevista-guia é criada, de modo que se englobe e levem em consideração fatores como:
a) as pessoas com os primórdios da organização; b) o que estas pessoas mais valorizam de si
mesmas, dos seus trabalhos e das organizações; c) as histórias apreciativas relatadas pelas
pessoas devem ser relacionadas aos tópicos a serem estudados; e d) suas esperanças e sonhos
para a organização e seu futuro (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
39
As pessoas que compõem o sistema organizacional submergem no mesmo a fim de
descobrir aquilo que fazem de melhor, analisando e mapeando seus próprios núcleos
positivos, investigando as causas fundamentais de seu sucesso. Ao passo que “se conectam e
constroem relações, a sabedoria organizacional se expande, o conhecimento útil e inovador é
compartilhado e a esperança cresce” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 28). Deste
modo, a IA oferece uma forma prática de estimular o desenvolvimento do espírito
investigativo e disseminá-lo por toda a organização.
2.5.2 Dream
A fase do sonho é um tempo para que os participantes se engajem com o propósito de
‘pensar grande’, ‘pensar fora da caixa’, e de ‘pensar fora dos limites’ do que existiu no
passado, descrevendo seus desejos e sonhos para o futuro do seu trabalho, suas relações de
trabalho, e sua organização (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
Em essência, essa fase cria uma límpida visão sobre os potenciais da
organização que passa a estar orientada para os grandes resultados. É uma
fase na qual as pessoas procuram criar visão de novas possibilidades, com
comprometimento em busca de um futuro desejado (VALENÇA, 2009, p.
100).
Neste momento, as histórias das entrevistas e as impressões são colocadas em uso
construtivo e coletivo, e as histórias, análises e mapas do cleo positivo servem como
recursos essenciais à visualização de futuro proposta pela IA. Podendo ser composta por 50
ou 1000 pessoas, esta etapa objetiva incentivar os participantes a considerar que sua
organização está sendo "convocada" a fazer algo novo, o que, de fato, interliga o trabalho de
todos os membros da organização para um propósito e visão únicos (COOPERRIDER e
WHITNEY, 2006; WHITNEY e TROSTEN-BLOOM, 2003).
A fase do sonho convoca todos a ouvirem, cuidadosamente, os momentos da
vida organizacional, no que ela tem de melhor, e a compartilhar imagens de
suas esperanças e sonhos para seu futuro coletivo. Conforme as
possibilidades para o futuro são articuladas e postas em prática, elas ganham
vida (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 29).
Para Whitney e Trosten-Bloom (2003), na dinâmica desta fase de aplicação do
método, trabalhando juntos em pequenos grupos de oito, os participantes partilham e discutem
os dados e relatos recolhidos entre pares na fase de descoberta, e, através de orientações
40
recebidas previamente, auto-gerenciam o processo de incentivar uns aos outros a ouvir
solidariamente o que os demais participantes têm a dizer, mesmo que tenha consigo pontos de
vista divergentes.
Este enfoque sobre relacionamento e diálogo constrói a segurança e a confiança entre
os membros do grupo, que, por sua vez, inspira diálogos animados, revigorantes,
participativos e altamente criativos. Em pouco tempo, diferentes grupos de pessoas começam
a convergir para focalizar-se nas coisas que os aproxima, ao invés de priorizar as coisas leva-
os às divergências e, por conseguinte, ao desmembramento do grupo.
O propósito da fase do sonho da IA é envolver o sistema inteiro para ir além
do estado das coisas para visualizar futuros valiosos e vitais. É um convite
para que as pessoas levantem seus olhos, exercitem sua imaginação e
discutam sobre como seria a aparência de sua organização caso esteja
integralmente alinhada em torno de seus pontos fortes e aspirações
(LUDEMA et al, 2003, apud COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 29).
Na maior parte das vezes, diálogos entre pequenos grupos são seguidos de uma alta
energia e de apresentações criativas para o grupo maior - o que, por sua vez, inspira ainda
mais facilidade e criatividade. Estas apresentações criativas podem ser realizadas de inúmeras
formas, como, por exemplo: peças teatrais, murais, canções, poemas e campanhas
publicitárias (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
2.5.3 Design - Projeto
Durante a fase do planejamento da IA, as pessoas são convocadas a desafiar seus
próprios status quo, bem como às suposições comuns que embasam o planejamento de sua
organização. Os membros e as partes interessadas (incluindo clientes e fornecedores)
trabalham no intuito de recriar “a arquitetura social” da organização, de modo que tudo sobre
a organização reflita sobre o seu passado e diga respeito a aspectos positivos e aos potenciais
mais elevados (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006; WHITNEY; TROSTEN-BLOOM,
2003).
As pessoas são encorajadas a querer saber além dos dados apresentados, isso
tudo através de uma pergunta que é essencial: “Como seria a aparência de
nossa organização caso fosse delineada de todas as formas possíveis a fim de
maximizar suas qualidades de núcleo positivo e de permitir a realização
acelerada de nossos sonhos?” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005, p. 29)
41
Whitney e Trosten-Bloom (2003) convergem no entendimento de que, considerando
que as fases da descoberta e do sonho geram e expandem as imagens da organização, as fases
do projeto e de destino necessitam que os participantes façam, efetivamente, suas escolhas
para o futuro da organização. Estes selecionam e extraem das entrevistas e dos sonhos os
elementos de maior impacto para o projeto, e, neste momento, a habilidade maior e mais
importante está em encontrar as melhores “proposições provocantes” (ou indicações de
projetos) que incorporam o núcleo positivo em processos, em sistemas, e em programas alto
impacto e eficiência. Valença (2007) acrescenta, ainda, que, em essência, o propósito desta
fase de projeto é criar as proposições provocantes ou provocadoras:
Em essência, cria proposições provocadoras sobre a organização ideal
segundo as quais o núcleo positivo está presente nas estratégias, nos
processos, nos sistemas, nas decisões e colaborações; na co-construção de
uma arquitetura organizacional que seja mais uma visão do que um arranjo
físico, devendo ser provocativa e inspiradora (COOPERRIDER; WHITNEY,
2006; apud VALENÇA, 2007, p. 212).
Recria-se a imagem da organização apresentada, agora, através de ilustrações claras,
encorajando a criação de figuras representativas de como as coisas serão quando o núcleo
positivo da organização estiver corajosa e efetivamente vivo e pulsante, em todas as suas
estratégias, processos, sistemas, decisões, e colaborações. Desta maneira, as indicações do
projeto reorientam ações diárias e criam as possibilidades futuras para a organização e seus
membros (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
Criar possíveis proposições para a organização ideal, articulando um
delineamento de organização em que as pessoas se sintam capazes de
participar e ampliar o núcleo positivo para concretizar o sonho recentemente
expressado (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 18).
“A Investigação Apreciativa conduz ao projeto de organizações apreciativas, capazes
de dar suporte a todos os stakeholders envolvidos na percepção de um fundamento triplo que
abrange: pessoas, lucros e planeta” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005, p. 30),
promovendo, ainda, o desenvolvimento do projeto, seu delineamento, em tempo real,
conforme ratificado pelo princípio da simultaneidade também proposto por Cooperrider e
Whitney (2006).
A transformação de organizações existentes em organizações apreciativas e a criação
de organizações inovadoras para atender às necessidades do século XXI seguem um caminho
bastante similar ao longo do Ciclo de 4-D, todavia, cada um dos ‘estágios’ requer um foco
42
ligeiramente diferenciado, conforme proposto por Cooperrider e Whitney (2005) e ilustrado
na Tabela 1 adiante.
Tabela 1 (2) - O processo de IA para a Criação de Organizações Apreciativas
TRANSFORMANDO ORGANIZAÇÕES
EXISTENTES
CRIANDO ORGANIZAÇÕES
APRECIATIVAS
DESCOBERTA
Investigação do núcleo positivo;
Alinhamento de forças para a vantagem
competitiva;
Compartilhando as melhores práticas
para elevar a eficácia e a eficiência.
Investigando a vocação e as capacidades
de criar uma nova organização;
Revelando múltiplos e diversos pontos
fortes do interessado;
Alinhando pontos fortes para o potencial
coletivo.
SONHO
Imagens de um mundo melhor;
Visão estratégica da organização a
serviço da sociedade.
Imagens de um mundo melhor;
Envolvendo grandes números de
interessados na criação de uma visão e
valores compartilhados e envolventes.
PROJETO
Articulando valores organizacionais;
Criando proposições provocativas e
organizando princípios.
Criar um propósito nítido e um grupo de
princípios organizadores;
Criar um documento contendo as
relações, funções e responsabilidades.
DESTINO
Agindo para realizar o sonho em
alinhamento com os princípios.
Viver o propósito, princípios e
documentar;
Inovação organizacional contínua em
alinhamento com a visão e os valores.
Fonte: Adaptado de Cooperrider e Whitney (2005, p. 30)
2.5.4 Destiny
Inicialmente, Cooperrider e Whitney (2006) esclarecem que o quarto D do ciclo foi, a
princípio, denominado de Delivery (resultado), e não destino, como é denominado atualmente.
A ênfase era dada ao planejamento da ação, ao desenvolvimento das estratégias de
implementação desse planejamento e o suporte aos desafios convencionais da viabilidade e
sustentação desse plano.
43
Entretanto, o termo “resultado” não expressava, suficientemente, toda a extensão desta
quarta fase e, ainda, impactava no engajamento das pessoas no processo de mudança e na
sustentação do mesmo em longo prazo, como se explica em:
O que descobrimos trabalhando com empresas como a GTE, Hunter Douglas
e a Nutrimental foi que o ímpeto por mudanças e a sustentação a longo prazo
aumentou quanto mais abandonávamos as idéias de resultado do
planejamento de ação, o monitoramento do progresso e a construção de
estratégias de implementação (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 37).
Durante “a fase do sonho se convoca todos a ouvirem cuidadosamente os momentos
da vida organizacional, no que ela tem de melhor e a compartilhar imagens de suas esperanças
e sonhos para o futuro coletivo” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 29), e, portanto,
constrói-se um ambiente inspirador e motivador favorável à mudança.
O planejamento das ações tendo sido, portanto, elaborado, o momento é de vivência
dos princípios e propósitos delineados durante todo o processo. É o momento de se colocar
em prática às inovações organizacionais, em alinhamento com a visão e os valores desejados,
de modo que, acrescenta-se:
Em essência, [a fase do destino] convida à ação inspirada pelos dias de
descoberta, sonho e planejamento. É a fase que fortalece a capacidade
afirmativa de todo o sistema, na qual as pessoas ficam guiadas pelas idéias
do “do que deve ser” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, apud
VALENÇA, 2009, p. 101).
Logo, o objetivo agora é ter como foco naquilo que deve ser feito, a ação propriamente
dita e o acompanhamento dessa ação afirmativa, em prol de “fortalecer a capacidade
afirmativa do sistema inteiro, possibilitando a ele construir esperança e sustentar a iniciativa
por mudanças positivas contínuas e pelo alto desempenho” (COOPERRIDER; WHITNEY,
2006, p. 18).
Whitney e Trosten-Bloom (2003) acrescentam que o alinhamento nas ações a serem
tomadas, geralmente, é elevado, em conseqüência da participação extensiva de um grande
número de pessoas nas fases de descoberta, sonho e planejamento. Sendo grande o número de
pessoas que participa das entrevistas e das reuniões de grandes grupos, é natural e esperável
que essas pessoas se tornem participantes críticos que auxiliam a tomada de decisão, de modo
que desenvolvam um sentimento de real pertença à organização, agora mais ‘próxima’ delas,
podendo, deste modo, ser grande contribuinte à realização do sonho de suas ações futuras,
tanto em âmbito pessoal, quanto organizacional.
44
Valença (2007) acrescenta, contudo, que quando se trata da fase de destino, a literatura
de IA tende a priorizar a descrição dos vários casos de “sucesso”, em detrimento dos
princípios etodos utilizados na implementação desta fase. Todavia, Diana Whitney e
Trosten-Bloom (2003), sob a perspectiva de “convite à ação inspirada nas fases de descoberta,
sonho e planejamento”, indicam seis grandes liberdades (explicitadas com maiores detalhes
adiante) que a ação inspirada, na fase de Destino, tem como características: a) a liberdade de
ser reconhecido numa relação; b) liberdade para ser ouvido; c) para sonhar em conjunto; d)
para escolher contribuir; e) para agir com apoio, e f) a liberdade para ser positivo.
Conforme indicado por Cooperrider e Whitney (2006, p. 37), faz-se necessário
desenvolver
Estruturas semelhantes a redes que liberam não apenas a pesquisa diária das
qualidades e elementos do núcleo positivo de uma organização, mas o
estabelecimento de uma zona de convergência para as pessoas conferirem
poder umas às outras para vincularem, cooperarem e criarem em conjunto
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 37).
Em suma, o importante não é apresentar às pessoas o resultado como um “produto
cuidadosamente empacotado e repensado” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 37), é,
algo muito mais além. A mudança organizacional precisa ser muito mais um movimento
inspirador e motivador das pessoas em prol da identificação delas mesmas como membros de
uma equipe, à qual podem ter a liberdade de se vincular, de cooperar, de criar e, até mesmo,
de se posicionar contrariamente, desde que seja de maneira construtiva e em prol do bem-estar
coletivo e, portanto, organizacional.
Em contrapartida, Valença (2007) faz uma colocação crítica sobre a composição desta
fase 4 do ciclo, considerando-a, ainda, um tanto incipiente, ou embrionária, uma vez que não
é, de fato, fruto do desenvolvimento de “pesquisas [científicas], construções teóricas e
exemplos vivos de transformação de prática em consultoria” (VALENÇA, 2007, p. 211),
como as fases 1 e 2 (Descoberta e Sonho), acrescentando-se que a fase 3 (Planejamento) está,
atualmente, também, já efetivamente experimentada. Para este autor, esta fase 4 (Destino):
Ainda se encontra em total fase de articulação teórica, inteiramente
dependente das construções e pesquisas de outras fontes de experiências e de
outras teorias, além das próprias experiências do Método da IA (VALENÇA,
2007, p. 211).
A palavra ‘destino’ é, segundo o autor, imprópria. O telos sistêmics não pode ser uma
redução pragmática. Da escolha pelo termo ‘diligência’, objetivando poder manter os 4 D´s
45
e garantir que quando se trata de prática humana, não é uma questão de destino mas de
diligência.
2.6 Aplicação do ciclo de 4-D
Segundo Cooperrider e Whitney (2006, p. 27) não existem dois processos de IA
idênticos, “cada um é criado para tratar de um desafio estratégico único enfrentado pela
organização ou indústria”. Cada um desses processos tem como propósito central aumentar a
participação dos colaboradores de uma organização, bem como, em muitos casos, dos demais
stakeholders da mesma.
Isso significa que o Ciclo dos 4-D, por sua vez, também pode assumir uma série de
formas distintas de expressão, desde entrevistas envolvendo e mobilizando os habitantes de
toda uma cidade, até intervenções pontuais com apenas cinco líderes organizacionais, com o
intuito de auxiliar o processo de tomada de decisão. Todavia, embora sejam feitas através de
diferentes formas, todas essas aplicações têm em comum a característica de liberar o poder da
investigação, a possibilidade de se construir relações e de promover a aprendizagem
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
Whitney e Trosten-Bloom (2003) delineiam diversas formas de engajamento utilizadas
por consultores para a aplicação do Método de IA, por todo o mundo, todavia, duas formas
são mais freqüentemente utilizadas e bem-sucedidas para a aplicação da IA: a investigação
total do sistema e a reunião de cúpula da IA (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006;
WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003), que serão aprofundadas mais adiante.
2.6.1 Investigação total do sistema
Whitney e Trosten-Bloom (2003) propõem que o Método de IA aplicado através de
uma Investigação Total do Sistema tem a característica marcante de que todos os stakeholders
da organização participam do processo: funcionários, clientes, vendedores e membros da
comunidade interessados.
O processo inicia-se na fase da descoberta, na qual todos os participantes são
entrevistados, podendo, também, entrevistar-se mutuamente. Em alguns casos, quando
46
existem muitos participantes, um percentual deles é entrevistado e, em seguida, treinado para
ser pesquisador e desempenhar voluntariamente este papel com os demais participantes do
processo.
Posteriormente, nas fases de sonho, planejamento e destino, pequenos grupos se
formam e as pessoas passam a compartilhar suas histórias e melhores práticas, exercitando a
capacidade de escuta aos outros membros do grupo.
O objetivo maior é conseguir visualizar um destino conjunto para estes grupos e
formar, a partir daí, criar novas equipes voluntárias de inovação que traçarão estratégias e
iniciativas de viabilidade prática, que reunirão suas descobertas e manterão reuniões
periódicas posteriores para o compartilhamento de histórias, inovações e melhores práticas em
seus locais de trabalho.
Cooperrider e Whitney (2006) ilustram a forma de utilização do método através de
uma investigação total do sistema através do caso do Serviço ao Cliente da British Airways,
na qual todos os 1200 funcionários da América do Norte tiveram a chance de ser
entrevistados. Equipes de inovação voluntárias foram montadas para disseminar as melhores
práticas, relacionadas a cada um dos quatro tópicos afirmativos do Ciclo de 4-D, ao longo de
toda a organização. Essa investigação do sistema inteiro teve como resultou em importantes
aperfeiçoamentos conforme a medição efetuada através da avaliação anual do funcionário.
2.6.2 Reunião da cúpula de IA
Whitney e Trosten-Bloom (2003) propõem que o Método de IA aplicado através de
uma Reunião de Cúpula é considerada uma das formas mais empolgantes de aplicação
utilizadas. É um processo de reunião de larga escala centralizado na descoberta e
desenvolvimento de um núcleo positivo para a organização, delineando, ainda, processos
estratégicos de negócios como marketing, atendimento, liderança, desenvolvimento de
recursos humanos, dentre outros.
Geralmente, dura em torno de quatro dias e também conta com uma participação
diversificada, englobando todos os interessados na organização, contemplando um público
compreendido entre 50 e 200 pessoas.
Valendo salientar, ainda, que a “Reunião de pula da IA é uma modalidade que
geralmente resulta em sucessos e na formação de vínculos de relação fortes que permitem a
inovação contínua e sustentável” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 40), e, mesmo não
47
sendo única e uniforme em todas as organizações nas quais foi aplicada, aquelas que
obtiveram sucesso possuem alguns aspectos em comum, conforme expresso na Tabela 2 a
seguir:
Tabela 2 (2) - O Ciclo de 4-D e a Reunião de Cúpula de IA
DIA FOCO DO CICLO DE 4-D PARTICIPANTES
Dia 1
Descoberta
Mobiliza a investigação sistêmica ou
sistemática no núcleo positivo
Envolve nas entrevistas
apreciativas
Reflete-se nos pontos altos das
entrevistas
Dia 2
Sonho
Visualiza os maiores potenciais da
organização para a influência positiva e
efeito sobre o mundo
Compartilha os sonhos reunidos
durante as entrevistas
Cria e apresenta relatos emocionais
Dia 3
Planejamento
Formula uma série de propostas
segundo as quais o núcleo positivo está
corajosamente vivo em todas as
estratégias, processos, sistemas,
decisões e colaborações
Esboça proposições provocativas
(delineia afirmações) incorporando
o núcleo positivo
Dia 4
Destino
Convida à ação, inspirada pelos dias de
descoberta, sonho e planejamento
Declara publicamente as ações
pretendidas e pede apoio
Os grupos auto-organizados
planejam os próximos passos
Fonte: Cooperrider e Whitney (2006, p. 41)
2.7 Os envolvidos no processo e suas atribuições
Um gerenciamento do processo de mudança organizacional bem-sucedido necessita de
bastante atenção, concentração e, principalmente, comprometimento e engajamento de um
grande grupo de pessoas. Experiências com a utilização do Método de IA demonstram que
“quanto mais positivo for o foco do esforço de mudança, mais forte será a atração para
participar e maior será a probabilidade das pessoas se envolverem e permanecerem
envolvidas” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 47).
Todavia, é importante ressaltar o papel de cada participante do processo no
desempenho da equipe, esclarecendo funções, responsabilidades e relações, ou seja,
possibilitando o surgimento de canais de participação e integração entre os membros do
grupo, encorajando a participação de todos os interessados, uma vez que todas as pessoas
envolvidas no processo exercem uma função na geração da mudança positiva.
48
2.7.1 Função da liderança
Os líderes organizacionais exercem um papel fundamental durante a implementação
do Método de IA, funcionam como promotores ou catalisadores da mudança positiva, e são os
responsáveis por plantar a semente da mudança nas pessoas que fazem parte da organização e
despertar nelas o desejo de mudar, transpondo obstáculos, quebrando barreiras e superando
rejeições.
Muito embora tenham um papel fundamental, os deres participam igualitariamente
nas mesas de discussão, sem exercer sobre os demais os poderes a eles atribuídos em função
do cargo que ocupam, sendo, pois, apenas mais uma das muitas vozes essenciais.
Em razão da oportunidade de escutar e ouvir as idéias criativas, esperanças e
sonhos de seus colegas e interessados na organização, os líderes reconhecem
que o seu trabalho é plantar a semente e fazer germinar o melhor nas pessoas
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 47).
Uma vez iniciado o processo de revolução positiva, o líder precisa se fazer sempre
presente, tendo a responsabilidade de guiar os participantes por uma trilha clara, aberta e
propícia à experimentação e à inovação, formulando perguntas positivas e poderosas, focadas
nos valores organizacionais.
“Através da modelagem da IA como uma prática de liderança relacional, os líderes
enviam uma mensagem clara e consistente: a mudança positiva é o caminho para o sucesso
por aqui” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 48).
Normalmente, é composta uma equipe de consultoria de liderança, contendo entre 3 e
6 participantes, a fim de suprir às necessidades de orientação e recursos durante o processo.
Esta equipe trabalha em contato direto com o consultor de IA e com a equipe central
responsável pelo planejamento em curso, delineamento e entrega do projeto de IA
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2005)
2.7.2 Função de um consultor de IA
Para Cooperrider e Whitney (2005; 2006), o consultor de IA pode dar suporte e apoio
o processo de implementação do método de quatro maneiras:
a) Através da introdução da IA na organização treinando pessoas que
desempenharão o papel de agentes internos de investigação, entrevistadores e
intermediadores de IA;
49
b) Formando o fluxo geral do projeto através da utilização do Ciclo de 4-D ao
passo que fornece orientações sobre quando e como se deve proceder para
envolver o maior número de participantes possível;
c) Facilitando as atividades da IA função esta desempenhada durante todo o
processo de implementação do método;
d) Através da busca contínua de diferentes e inovadoras formas de divulgar o
processo, incentivando os membros da organização a participarem dele e
aceitá-lo como parte integrante da organização.
Para ter êxito, um consultor de IA deve encarar as organizações como
sistemas socioespitiruais mistérios da criação a serem nutridos e
confirmados -, e não como operações mecânicas ou científicas com
problemas a serem solucionados (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p.
47).
É fundamental, portanto, para o bom desempenho do consultor de IA, desenvolver a
capacidade de trabalhar com a positividade e energia das pessoas, buscando descobrir o que
realmente importa e ‘dá vida’ à organização e aos seus integrantes, e o que de melhor existe
nas pessoas.
Feito isso, é mister canalizar energias e motivações individuais em prol do
engrandecimento coletivo, através das melhores técnicas de identificação e revelação de
potencialidades apreciativas.
2.7.3 Função da equipe central
Uma vez iniciado o processo de participação dos líderes em um processo de IA de
âmbito organizacional, uma equipe central deverá ser logo estruturada.
Esta equipe central é responsável por identificar pessoas-chave dentro da organização,
que funcionarão como disseminadores da cultura apreciativa, e, portanto, devem ser
representativas de uma diversidade de históricos, experiências funcionais e responsabilidades
organizacionais, de modo que todos os níveis hierárquicos da organização sejam
contemplados com a possibilidade de participar do processo.
Valendo ressaltar que é função desta equipe fazer com que a comunicação flua da
maneira mais eficiente possível. Segundo Cooperrider e Whitney (2006), a equipe central
planeja, delineia, prevê e monitora todo o processo de IA.
50
Ela é a responsável pela criação da arquitetura de comunicação, coordenação
da comunicação e pela certeza de que todos os integrantes da organização
estão bem informados sobre o processo e sobre suas oportunidades de
participar (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 50).
Esta equipe geralmente escolhe e trabalha conjuntamente com os gerentes
organizacionais, no intuito de identificar as pessoas convidadas a realizar as entrevistas
apreciativas, serem também entrevistadas, bem como participar de algumas reuniões.
2.7.4 Função dos participantes
Os participantes do processo de IA têm como função primordial aprender e serem
estudantes da vida organizacional, o que, segundo Cooperrider e Whitney (2006, p. 50),
“aguça a curiosidade e a aprendizagem em seu sentido mais pragmático”.
Os participantes da IA se surpreendem constantemente com a quantidade de
coisas que aprendem acerca de si mesmos bem como sobre os outros ao
longo do processo. A abertura à aprendizagem é sempre um resultado
estimulante e empolgante da IA (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p.
50).
Estes participantes têm a oportunidade ímpar de fazer parte de um processo de
aprendizagem individual e criação conjunta cooperativa, através de um convite à revolução
positiva, e tendo a possibilidade de encontrar outras pessoas que, assim como ele, estão
dispostas a observar à realidade por uma perspectiva mais positiva e apreciativa.
2.7.5 Representação do processo com todos os envolvidos e suas
atribuições
Uma vez apresentadas as principais esferas que compõem o processo de IA líderes,
consultores, equipe central e participantes, é conveniente esquematizar quais as funções e
atribuições de cada um deles ao longo do processo antes, durante e depois da
implementação do Método de IA, conforme pode ser observado na Quadro 3 a seguir:
51
ANTES DURANTE DEPOIS
Liderança
Aprende tudo;
Planta a semente de IA.
Defende a IA na
organização;
Participa como uma voz
igual, essencial.
Pergunta como
poderíamos aplicar a
abordagem da IA ao
caso?
Lidera pela afirmação.
Consultor de IA
Introduzem a IA na
organização;
Enfocam os casos de
negócios para a IA.
Treinam grupos sobre
IA;
Apóiam a equipe
central;
Intermediam o processo
de IA
Auxiliam a organização a
integrar a IA às práticas
diárias.
Equipe Central
Aprende tudo;
Escolhe os tópicos
afirmativos;
Cria o guia de
entrevistas;
Determina a estratégia
de entrevista;
Divulga as melhores
histórias.
Usa a IA como prática
diária.
Participantes
Aprendem tudo;
Realizam entrevistas e
são entrevistados;
Examinam as
entrevistas e
compartilham as
melhores práticas
Dedicam-se à
descoberta e ao diálogo;
Ousam sonhar;
Delineiam a
organização ideal
Integram a IA nos
processos e práticas
existentes;
Criam novos sistemas e
estruturas utilizando a IA;
Praticam a IA
diariamente.
Quadro 3 (2) - Funções e Responsabilidades da IA
Fonte: Adaptado de Cooperrider e Whitney (2006, p. 49)
2.8 Os princípios - para a revolução positiva
Desde os primórdios da formulação do Método de IA, foram elencados cinco
princípios e correntes doutrinárias de pensamento que o fundamentam construtivista, de
simultaneidade, poético, antecipatório e positivo –, guardando seu valor e importância, uma
vez que passaram pelo crivo de teste e validação através dos 23 anos de experiências práticas
de aplicação do método.
É a familiaridade com esses princípios que permiti adaptar a IA em prol do
atendimento de uma demanda bastante específica e desafiadora, propiciando, às organizações
e aos indivíduos, práticas inovadoras e auspiciosas de mudança (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2006; VALENÇA, 2007).
52
2.8.1 Princípio construtivista
Para Cooperrider e Whitney (2006), o princípio construtivista afirma que:
O conhecimento humano e o destino organizacional estão entrelaçados.
Estamos constantemente envolvidos com o entendimento e o conhecimento
das pessoas e do mundo que nos rodeia fazendo análise de planejamento
estratégico, exploração do ambiente, necessidade de análise, avaliações e
auditorias, pesquisas, grupos de enfoque, apreciação de desempenhos, e
assim por diante. Para serem eficazes, os executivos líderes de agentes de
mudança precisam ser adeptos da arte da compreensão, da leitura e
analisarem as organizações como se fossem construções vivas e humanas
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 51).
Segundo Gergen (1982; 1994 apud COOPERRIDER; WHITNEY, 2005), o
construtivismo é uma abordagem da ciência humana que muda o foco das relações do
individual para o coletivo, ou seja, reposiciona o sujeito, fazendo com que este deixe de ser o
centro ou o foco dos relacionamentos, tornando-o parte integrante de uma coletividade.
Uma vez colocado como uma parte de um todo, é fundamental que o sujeito
desenvolva o processo de comunicação com os outros membros do grupo e, assim,
paulatinamente, consiga construir uma linguagem e um discurso eficiente e eficaz, gerando, a
partir de um senso de realidade coletivo, seu próprio senso de realidade “de verdade, de
bondade e do possível” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 52).
Deste modo, as equipes e as organizações são percebidas como construções humanas,
as quais se constroem baseadas nas experiências prévias de cada indivíduo a ela pertencente.
Se a premissa de que é a partir do conhecimento individual do que de melhor na
organização, nas equipes e nas pessoas as quais delineiam o destino e futuro desejado-,
pode-se alcançar a apreciação de um futuro desejado, o segredo está na implementação de
práticas bem-sucedidas, na memória favorável e na visualização estratégica
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2009, p. 98).
É através do princípio construtivista, portanto, que o conhecimento socialmente
elaborado e o futuro das organizações estão entrelaçados e são indissociáveis –,
“especialmente pela força aglutinadora e construtora das perguntas apreciativas que são
colocadas para se compreender o fenômeno organizacional, numa combinação feliz entre
imaginação e racionalidade” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2007,
p. 188).
53
2.8.2 Princípio da simultaneidade
Para Cooperrider e Whitney (2005), o princípio da simultaneidade afirma que:
A investigação e a mudança não são momentos separados, e sim
simultâneos. Investigação é intervenção. As sementes da mudança as
coisas sobre as quais as pessoas pensam e falam, as coisas que as pessoas
descobrem e aprendem e as coisas que transformam o diálogo e inspiram
imagens do futuro estão implícitas nas primeiras perguntas que
formulamos. As perguntas que fazemos estabelecem o estágio para o que
encontramos, e o que descobrimos (os dados) torna-se o material lingüístico,
as histórias, a partir do que o futuro é vislumbrado e construído
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2005, p. 50).
Cooperrider e Whitney (2006) defendem a proposta que, ao passo que a comunicação
entre os indivíduos ocorre, as visões de mundo de cada um deles são alteradas, seja ele o
interlocutor ou o ouvinte da comunicação. Considerando como verdadeira a premissa de que
tanto a investigação, quanto o processo de mudança não são momentos estanques, e, mesmo
ocorrendo em separado, são concomitantes, então “o momento em que dirigimos a pergunta,
que início à investigação, damos início, de imediato, ao fenômeno da mudança”
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2007, p. 188).
No que tange o papel dos agentes de mudança, torna-se fundamental ressaltar a
importância da capacidade/habilidade de uma boa articulação de perguntas, uma vez que, é
através deste processo de comunicação, de pergunta/resposta que a visão de ambos os sujeitos
se modificará, positiva ou negativamente.
Tomando como base à implementação do Método de IA, indubitavelmente, a
formulação de ‘perguntas apreciativas’ terão significado incontestável. Idéia esta corroborada
com o proposto por Valença (2009) ao destacar que:
A pergunta apreciativa e a mudança desejada acontecem simultaneamente.
Quando se faz uma pergunta a alguém, a pessoa que recebe a pergunta sofre
uma alteração do seu estado emocional, com repercussões imediatas sobre
seu comportamento. Ai começa a mudar. A pergunta apreciativa favorece a
auto-estima da pessoa que ouve ou é entrevistada. As perguntas que fazemos
são parte do processo de mudança. Perguntar de modo apreciativo é
construir relações afetivas positivas, colaborativas, compartilhadas
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2009, p. 98).
Diante de tudo, é plausível considerar o real significado e impacto que as modificações
feitas no processo comunicativo, ou seja, na ‘prática lingüística’, poderão representar
profundas alterações, também, na prática social de um indivíduo em uma equipe, organização
ou sociedade (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; 2006).
54
2.8.3 Princípio poético
Para Cooperrider e Whitney (2005), o princípio poético é compreendido por:
A metáfora aqui é que as organizações humanas são muito mais parecidas
com um livro aberto do que, por exemplo, uma máquina. A história de uma
organização está constantemente sendo criada em co-autoria. Passado,
presente e futuro são fontes infinitas de aprendizagem, inspiração e
interpretação, assim como as infinitas possibilidades interpretativas contidas
em um poema ou texto literário. A implicação é que podemos estudar
praticamente qualquer tópico relacionado à experiência humana. Podemos
investigar a natureza da alienação ou alegria, entusiasmo ou desânimo,
eficiência ou excesso em qualquer organização humana (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2005, p. 51).
Conforme proposto pelo princípio construtivista supracitado, conhecimento é
socialmente elaborado e, portanto, co-construído, e as equipes e organizações são, do mesmo
modo, percebidas como construções e elaborações humanas, baseadas nas experiências
prévias de cada indivíduo a ela pertencente (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud
VALENÇA, 2007; 2009).
Todavia, mesmo sendo fruto de uma co-construção coletiva, as organizações não
ditam, necessariamente, a forma como os indivíduos deverão pensar ou agir, pelo contrário, o
pensar e agir são, por si só, artefatos sociais, produtos dos processos sociais e, portanto,
construídos, também, pelo próprio indivíduo. Devendo, este, ser senhor de suas próprias
vontades.
Assim como uma obra de arte pode ter inúmeras interpretações, as
organizações humanas podem sem vistas como livros abertos nos quais as
pessoas são co-autoras. Passado, presente e futuro percebidos ou imaginados
por cada uma destas pessoas podem ter inúmeras interpretações e, juntos,
podem constituir o que desejamos nas organizações (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2009, p. 98).
Cooperrider e Whitney (2006) propõem que a através da utilização do Método de IA e,
portanto, de uma atitude apreciativa perante a realidade, o indivíduo deve ter a certeza de que
não tem a obrigação de reproduzir, seguida e acriticamente, atitudes e comportamentos
socialmente previstos e disseminados.
É importante que tenha consciência de que posicionamento terá na vida, e possa optar
por apreciá-la por uma perspectiva apreciativa, pois, conforme ressaltado, “com entusiasmo,
haverão grandes ganhos obtidos através da associação entre os meios e os fins da
investigação” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005, p. 52).
55
2.8.4 Princípio antecipatório
Para Cooperrider e Whitney (2005), o princípio antecipatório afirma que:
São nossas imagens positivas do futuro que conduzem nossas ações
positivas. Essa é a base e o pressuposto cada vez mais energizante da
Investigação Apreciativa. Os infinitos recursos humanos que possuímos para
gerar uma mudança organizacional construtiva são nossa imaginação
coletiva e nosso discurso sobre o futuro (COOPERRIDER; WHITNEY,
2005, p. 52).
“As organizações, assim como as pessoas, caminham para o ponto onde se imaginam
querendo estar sonhos / imagens / planos / programas” (VALENÇA, 2009, p. 99), ou
qualquer que seja o nome que se queira dar a isso. O fato é que é a imagem que o indivíduo
tem de seu próprio futuro que orienta o seu comportamento presente, bem como, a imagem de
futuro ideal que a organização construirá, orientará seu comportamento – dos indivíduos que a
compõe -, no sentido de alcançar, ao máximo, a idealização almejada.“Os sistemas humanos
estão projetando incessantemente um horizonte de expectativas diante de si mesmos”
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 54), sendo, pois, a investigação adotada como forma
de (re)definição de uma realidade antecipatória a partir da criação coletiva de imagens
positivas -, um dos aspectos mais importantes de qualquer processo de mudança
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; 2006; VALENÇA, 2007; 2009).
O mais importante recurso que se tem para construir a mudança
organizacional é a imaginação coletiva e a prática consistente e solidária a
respeito do futuro. Um dos teoremas básicos da visão antecipada da vida
organizacional é que as imagens superpostas do futuro guiam, de fato, o
comportamento de cada pessoa, das equipes ou da organização como um
todo (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2009, p. 99).
Inúmeros estudos – efeitos do imaginário positivo, ascensão e queda de culturas,
relações entre otimismo e saúde, formas de aceleração da aprendizagem, análises acerca da
importância do diálogo positivo interior para o bem-estar pessoal e relacional, relações entre
os estados de humor positivos e a tomada eficiente de decisões, dentre outros têm suas
conclusões convergindo para algo que Aristóteles já propunha: “Uma imaginação vívida
compele a que o corpo inteiro a obedeça” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; 2006).
2.8.5 Princípio positivo
Para Cooperrider e Whitney (2005), o princípio positivo afirma que:
56
A construção e a sustentação do ímpeto para a mudança demanda enormes
porções de efeito positivo e de vínculo social coisas como a esperança, o
estímulo, a inspiração, o cuidado, a camaradagem, o sentimento de
propósito urgente e pura alegria em criar algo significativo juntos.
Descobrimos que quanto mais positiva for a pergunta que fizermos, mais
duradouro e bem-sucedido será o esforço da mudança. A principal atitude
que um agente de mudanças deve tomar e que fará a diferença é criar e fazer
perguntas positivas incondicionalmente (COOPERRIDER; WHITNEY,
2005, p. 52).
Em outras palavras, não apenas a construção de uma cultura favorável à mudança,
como também a sustentabilidade destas dinâmicas de mudança, requerem uma gama de
pensamentos positivos, tanto individuais quanto coletivos, e, por conseguinte, a
disponibilidade de engajamento social em prol do alcance do objetivo comum almejado.
A abordagem positiva tem o poder de agregar, de realimentar, de reenergizar
as pessoas e as relações. Quanto mais positivas as questões a serem feitas,
tanto mais efetivos serão o esforço e o comprometimento de todos com a
mudança (COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2009, p.
99).
É através do princípio positivo que se acredita que a mudança requer grande
quantidade de afeto positivo e de inter-relacionamento social, de atitudes focadas “na
esperança, na inspiração e na alegria simples de criação de uns com os outros
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, apud VALENÇA, 2007, p. 189).
2.9 Condições para o sucesso
Cooperrider e Whitney (2005) relatam que, nas últimas duas décadas, tem se
observado um número bastante elevado de organizações e comunidades de todo o mundo se
beneficiando através da utilização do Método de IA em busca de uma gestão da mudança
organizacional ou social.
Baseadas em uma série de indagações do tipo: a) por que as pessoas tão estimuladas e
participativas durante a utilização do método? b) por que a pronta participação implica a
resultados positivos como inovação, produtividade, satisfação e lucratividade? c) o que faz
com que as pessoas realizem o melhor de si mesmas no trabalho e nas suas próprias vidas? d)
que condições promovem a colaboração por todo o sistema mesmo através de grupos
extremamente diversificados? Whitney e Trosten-Bloom (2003) deram início a uma
57
pesquisa acurada para saber os porquês de todas essas indagações e, como resultado,
descobriram, prioritariamente que:
a Investigação Apreciativa funciona através da geração de seis condições
essenciais em uma organização que, uma vez reunidas, liberam ou revelam o
poder (potencial) pessoal e organizacional. Tendo experimentado essa
liberação e o efeito que ela exerce sobre suas vidas e o mundo à sua volta, as
pessoas ficam definitivamente transformadas (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2006, p. 58).
Whitney e Trosten-Bloom (2003) propõem que o poder pessoal e organizacional é
desencadeado a partir do momento em que certas condições essenciais estão presentes para os
indivíduos dentro das organizações, e, deste modo, enumeraram condições para a liberação de
energia por parte das pessoas. Seis liberdades foram, portanto, consideradas condições através
das quais a IA libera o poder e faz com que seja revelado o potencial de cada ser humano, o
que será convenientemente detalhado a seguir.
Qualquer uma dessas seis liberdades pode afetar, significativamente, a percepção que
cada sujeito tem de seu poder dentro de um contexto organizacional. Mas, como cada sujeito
tem suas particularidades, fez-se necessário delinear um método de implementação
multivariada que desse às pessoas a opção de experimentar várias liberdades, tendo, assim,
um maior potencial de impacto nas pessoas e nas organizações.
2.9.1 Liberdade para ser reconhecido em uma relação
Whitney e Trosten-Bloom (2003) defendem que o Método de IA propicia a criação de
um ambiente no qual as pessoas sentem-se livres para se relacionarem umas com as outras e,
nessa relação, serem reconhecidas. Neste momento, a identidade dos sujeitos se forma e
evolui nas relações, modificando-se, paulatinamente, até o momento em que atravessa as
‘fronteiras’ do poder e da autoridade. Pensamento este corroborado por Cooperrider e
Whitney (2006) quando dizem que:
a Investigação Apreciativa interrompe o ciclo de despersonalização que
mascara o sentimento de ser e pertencer das pessoas. Ela oferece aos
indivíduos a chance de conhecerem verdadeiramente um ao outro, sendo
ambos os indivíduos únicos e integrantes de uma rede de relacionamentos
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 58).
58
O senso de auto-relacionamento que os indivíduos desenvolvem durante o processo é,
também, uma identidade que prospera em comunicação com outras pessoas, fundamentais ao
funcionamento da mente humana, enriquecendo e sustentando suas realizações pessoais, e,
posteriormente, coletivas.
As pessoas passam a ser reconhecidas pelo que realmente são e não pelos cargos ou
funções que desempenham, e, quanto maior for o sentimento de pertença que o indivíduo tiver
com relação a um grupo, melhor vai ser seu relacionamento com os demais participantes do
mesmo, e mais plenamente este indivíduo irá trabalhar e contribuir para o sucesso de todos.
2.9.2 Liberdade para ser ouvido
A IA abre espaço, no ambiente organizacional, para que as pessoas além de
reconhecidas possam ser ouvidas, de modo que todos os participantes passam por um período
de adaptação à escuta, desenvolvendo o respeito por aquilo que o outro fala. Ser ouvido
implica que o outro (que ouve) escute com uma curiosidade sincera, empática e compadecida,
demandando uma abertura não apenas para o conhecimento, como para a aprendizagem e a
compreensão da história do outro (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003). Cooperrider e
Whitney complementam a idéia ressaltando que:
Através de entrevistas apreciativas face a face, as pessoas que poderiam se
sentir ignoradas ou sem voz são convidadas a apresentarem informações,
idéias e inovações que são em seguida postas em prática em toda a
organização. Durante o processo as pessoas sentem-se ouvidas, reconhecidas
e valorizadas [e isso dá vida ao grupo] (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006,
p. 58).
As pessoas que antes, por ventura, alimentassem um sentimento de não serem ouvidas,
de não terem voz, de não terem uma palavra a dizer, tendo passado pela experiência da
opressão por parte de outros colegas, ou da própria organização, passam, agora, a serem
ouvidas e têm voz audível e reconhecível, bem como tomam para si o status de pessoas com
credibilidade perante o grupo, e, portanto, fontes de criatividade, inovação e influência.
Os participantes encontram-se, agora, em um patamar de igualdade, o que favorece o
desenvolvimento da liberdade de ser e ter voz, onde o mais importante é conseguir abrir
canais de comunicação entre os membros da organização, nutrindo a experiência e o hábito de
saber ouvir e ser ouvido (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
59
2.9.3 Liberdade para sonhar em conjunto
Whitney e Trosten-Bloom (2003) destacam, também, que a IA oferece aos
participantes a oportunidade de serem livres e sonharem coletivamente, o que, de fato, está
alinhado com a demanda organizacional de ter ambientes seguros nos quais os colaboradores
possam sonhar e compartilhar sonhos através do diálogo, numa perspectiva de liderança
visionária que implica expandir os sonhos das pessoas em todos os níveis da organização
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
Outro aspecto também mencionado diz respeito à capacidade que os indivíduos
desenvolvem de colocar-se diante de um sonho, uma imagem ideal, ou um senso de
possibilidade e viabilidade que, por sua vez serão compartilhados com o grupo inteiro, o que
também pode ser associado aos traços de liderança transformacional (WHITNEY;
TROSTEN-BLOOM, 2003).
Quer sejam projetadas por uma pessoa, quer sejam propostas por uma organização, as
imagens são uma espécie de propriedade coletiva, uma vez que foram construídas e
elaboradas através de um diálogo comunitário, de conversas entre os membros do grupo, com
o intuito de enriquecer a organização por meio da realização dos sonhos projetados,
alcançando o maior sucesso para que tenha potencial e vitalidade.
Através de entrevistas face-a-face, histórias baseadas em síntese, e sonhando processos
coletivos, a IA estimula a imaginação das pessoas e abre os seus sonhos até a totalidade, fator
decisivo na mudança das pessoas tanto no trabalho quanto nas suas próprias vidas.
Esporadicamente, a IA convida as pessoas de todos os níveis da organização para
reviver o processo de sonhar, criando um impulso para fazer as coisas melhor, para realizar
sonhos, sejam eles grandes ou pequenos, pessoais ou organizacionais.
Ela foca sua atenção sobre os visionários - sobre o caminho adiante, ao invés de se
focar nos problemas do passado. E isso permite que as imagens de esperança, de potencial e
ser o melhor emirjam a superfície da vida organizacional (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM,
2003).
2.9.4 Liberdade para escolher contribuir
Dentro do ambiente de trabalho o indivíduo pode se deparar com duas situações
bastante distintas: de um lado um ambiente que o separe drasticamente daquilo que é
60
importante para ele, e de outro, um ambiente que ofereça a disponibilidade e seja o veículo
para que ele possa agir e realizar seus sonhos e desejos mais íntimos (COOPERRIDER;
WHITNEY, 2006).
A IA cria um ambiente onde as pessoas são livres para escolherem contribuir e esta
liberdade de escolha libera poder, mas, em contrapartida, necessita de comprometimento e
vontade de aprender por parte dos indivíduos, tornando-os criativos e determinados
(WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003), fazendo de tudo o que for necessário e aprendendo
coisas a fim de realizar as tarefas a que se propuseram.
Quando as pessoas estão corretamente alocadas em postos de trabalho, ou projetos,
que convirjam com suas habilidades e expectativas, com base em seus interesses e paixões, a
sua capacidade de aprender e de contribuir está, significativamente, reforçada. O âmbito, o
sucesso e a satisfação em contribuir estão diretamente relacionados com a liberdade de
escolherem a natureza e a extensão da contribuição.
Um fator que diferencia a IA de uma série de outras metodologias de mudança
organizacional é que - no seu melhor - as pessoas têm total liberdade para escolher como,
quando e em que medida elas desejam se engajar nos processos propostos pela organização.
Podem participar e fazer apenas enquanto estiverem curiosas, estimuladas, ou
inspiradas por uma tarefa, atividade, ou sonho. Por exemplo, muitas pessoas escolhem apenas
para participar nas entrevistas - e, ainda que mínima, esta participação tem o mesmo nível de
compromisso (geralmente não mais que 1 a 2 horas) e um efeito libertador sobre aqueles que
estão envolvidos (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
Como acontece freqüentemente em casos de mudança organizacional, pessoas que
estão mais empenhadas, entusiasmadas a falar, e que exercem mais esforço para mudar do que
outras. Acredita-se que estas pessoas se tornam os "líderes informais" do esforço para a
mudança. E, novamente, por isso a IA busca as pessoas e procura canalizar seus interesses e
paixões, em consonância com os valores da organização.
Depois que as pessoas tiveram sucesso com o trabalho que realmente importava para
elas, poderão perceber que foi válido estarem dispostos a mudar os seus hábitos antigos e
mudar para continuar produzindo. A "Liberdade de Escolha" se estende às pessoas e às suas
organizações, convida ambos a um compromisso mútuo de que ‘é real’ e que ‘ vida’
(WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
61
2.9.5 Liberdade para agir com apoio
A IA oferece um contexto favorável para que as pessoas possam ser livres para agir
com apoio, a arte essencial da interdependência positiva. Ao passo que as pessoas percebem
que um público considerável se importa com o papel que elas estão desempenhando, ficam
ansiosas para colaborar, sentem-se mais seguras para experimentar, inovar e aprender
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006), ou seja, o apoio da coletividade (sistema integrado)
estimula os indivíduos a assumirem desafios e colaboram com os objetivos propostos dando o
melhor de si mesmos, com contribuições profundas e lições, muitas vezes, surpreendentes.
Atuar com apoio é a essência dos atos de interdependência positiva. Ela exige a
compreensão dos sonhos da organização e a disposição de agir em seu serviço, bem como o
reconhecimento da desenvoltura dos outros. Para atuar com o apoio é preciso aprender a
trabalhar em uma teia de relações, que exige a compreensão do que a organização pretende
tornar-se, e um acesso aberto para avaliar recursos, capacidades e contribuições.
Nos primeiros 3 D's, as pessoas aprendem a descobrir, sonhar, e planejar a organização
em torno das coisas que dão vida ao sistema. No último "D" – destino, as pessoas são
chamadas a agir em nome das coisas que apaixonadamente inspira-as. Elas são chamadas a
atuar a serviço da organização, com o apoio de outras pessoas em todos os níveis da
organização.
Whitney e Trosten-Bloom (2003) destacam ainda que a capacidade de ação do serviço
da organização é, freqüentemente, limitada pela falta de apoio, reais ou percebidas. Com a IA,
as pessoas sentem a necessidade de apoiar umas às outras, desde a administração da
organização até todo o sistema. Torna-se divertido e motivador para as pessoas agir em seus
próprios interesses e paixões, sendo acompanhadas e apoiadas por pessoas de todos os níveis
da organização. Deste modo, tomar iniciativas é uma aventura e um risco para muitos,
todavia, fazê-lo com todo o conhecimento e o apoio de colegas da organização, cria um
caminho para a inovação, a aprendizagem e a autoconfiança.
2.9.6 Liberdade para ser positivo
Whitney e Trosten-Bloom (2003) destaca como a ultima das seis liberdades
propiciadas pela IA ao indivíduo, a abertura do caminho para as pessoas poderem ser
62
livremente positivas, o que não é comum nos ambientes organizacionais atualmente, onde
poucos são alegres, felizes ou positivos.
Cooperrider e Whitney (2006) acrescentam que cada vez mais as pessoas têm feito
referência à IA pela abertura dada aos indivíduos para se sentirem positivos e orgulhosos de
suas experiências de trabalho.
A Investigação Apreciativa é uma postura radical de partida, um convite para uma
revolução positiva da mudança.
2.10 Recomendações práticas para criação do ambiente
ideal
Após aproximadamente duas décadas de prática do Método de IA, as melhores
experiências tem levado muitos autores, dentre eles, Valença (2007; 2009), através de sua
atuação como consultor organizacional, a proposição de alguns procedimentos, “lições
aprendidas”, de relevante utilidade no processo de implementação do referido método
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2000, SCHILLER, 2002, MIR; CALÁS; SMIRCICH, 1988,
COOPERRIDER; SRIVASTVA, 2000; LUDEMA, 2002, apud VALENÇA, 2007):
a) Envolvimento de todo o sistema organizacional, desde o início do processo e
contando com o maior número de líderes possível;
b) Permissão de experimentação do método, de modo que seja possível lançar-se
à experiência, que se configura como mestra inspiradora;
c) Utilização de uma mídia alternativa vídeos, músicas, encenações teatrais
sempre que possível, pois, através delas, as forças do Método da IA se
revelarão;
d) Criação de desafios culturais congruentes com os resultados almejados, uma
vez que é prioridade de todos na organização verem um método capaz de
transformar positivamente a realidade;
e) Inclusão do impacto nas primeiras rodadas de conversação de modo que as
pessoas percebam e se convençam de como e porque o referido método é
viável;
63
f) Promoção da inspiração de uma ou mais equipes no sentido de ampliar as
experiências adquiridas com o Método de IA disseminando-as por todo o
sistema a que pertencem.
2.11 Benefícios excepcionais do método de IA
Conforme apresentado por Valença (2007; 2009), Cooperrider e Srivastva
descreveram, desde os primórdios da teoria do Método de IA, cinco “potências excepcionais”
de fundamentação sócio-construtivista para a compreensão da vida nas organizações:
a) Enquadramento Perceptivo e Contextual estabelecer para os participantes a
necessidade de percepção acurada, precisa e detalhada, do contexto ao redor
deles, de modo a levá-los a ver o mundo de uma maneira nunca vista
anteriormente;
b) Presunções de Lógica promovida no intuito de oferecer maior poder à teoria,
ao passo que elas dão forma às expectativas comuns de causalidade, seqüência
e importância relacional dos fenômenos dentro de uma seqüência teórica. “Ao
atribuir causalidade, as teorias têm o potencial de criar os mesmos fenômenos
que elas se propõem a explicar” (VALENÇA, 2009, p. 103);
c) Sistema de Valores é importante transmiti-lo, pois, além de propiciar uma
lógica abstrata, a essência da teoria social habita no oferecimento de força e
apelo, permitindo uma percepção direta e orientando comportamentos;
d) Linguagem – criada de acordo com cada grupo através de uma interação social
e utilizada como fonte de formação, não sendo, pois, meramente, um apêndice
de um método científico;
e) Visão das Potencialidades buscando estendê-las em prol de um benefício
social, uma vez que toda pesquisa ou investigação tem um compromisso ético
e uma preocupação com a reconstrução, melhoria e direcionamento da
sociedade.
64
2.12 A relação consultor-cliente em uma prática bem
sucedida
Conforme Valença (2007; 2009), Chris Argyris e Donald Schön (1970) propuseram,
com base em experimentações e atividades de consultoria organizacional, condições para uma
atuação ou intervenção de consultoria bem-sucedida.
Em seus estudos da Teoria da Ação alegaram três virtudes humanas básicas ou
primárias de um consultor: integridade, autoconfiança e coragem. Através da prática e do
exercício dessas virtudes, alcançariam as virtudes humanas intermediárias, instrumentais ou
intervenientes, que corresponderiam, portanto a: a) boa-fé sendo, pois, capaz de gerar no
grupo informações válidas e úteis ao desempenho da consultoria; b) lucidez e autonomia
com o intuito de fazer e permitir aos demais que façam escolhas informadas e livres, e c) ética
da responsabilidade ao comprometer-se com as conseqüências de suas escolhas, decisões e
ações (VALENÇA, 2007; 2009).
Após praticar e exercitar esses dois conjuntos de virtudes, as básicas e as
intervenientes, o consultor poderia chegar ao patamar de possuidor das virtudes maiores ou
finais: a) humildade ser competente e prudente, agindo de acordo com suas habilidades e
competências e não assumindo compromissos além de sua capacidade de desenvolvimento
dos mesmos; b) generosidade sendo capaz de ser útil e solidário para o maior número de
pessoas possível, e c) justiça oferecendo oportunidades igualitárias às pessoas de modo que
as conseqüências de suas ações atinjam o maior mero possível de pessoas (VALENÇA,
2007; 2009).
A evolução de virtudes propostas por Argyris e Schön (1970, apud VALENÇA, 2007;
2009), pode ser graficamente representada pela figura 4 a seguir:
Figura 4 (2) – Evolução das virtudes de um consultor
Fonte: Elaboração própria, baseado em Valença (2007)
65
Valença (2007) propõe, ainda que, além do exercício ininterrupto das virtudes acima
expostas, cabe àquele que almeja assumir o papel de consultor organizacional, enquanto
profissional pautado na boa- e na ética, conhecer na prática o modelo de atuação que
pretende desenvolver.
Para alguém se nomear consultor, se estabelecer e oferecer serviços de
consultoria, precisa ter, além dos três conjuntos de virtudes, duas grandes
responsabilidades diante de um cliente: a) saber, na prática, o que caracteriza
e como se opera um modelo de atuação ou intervenção competente, na
dimensão da arte; e b) saber e praticar as competências imprescindíveis que
constituem as atividades primordiais de um consultor, que foram
classificadas acima como virtudes instrumentais (VALENÇA, 2007, p.
467).
Para tanto, uma vez iniciado o exercício da consultoria, o consultor estará em contato
direto e constante com o cliente e, a partir daí, surgirá uma relação entre essas partes. Valença
(2007), pautado na descrição de Argyris e Schön (1970) de relações bem-sucedidas de
consultores e clientes, propõe um modelo genérico de intervenção que define as atitudes mais
significativas do cliente, como se pode ver no quadro 4, levando-se em consideração duas
variáveis de posicionamento do consultor: 1) a efetiva participação e contribuição da geração
de informação válida e útil; e 2) a utilização de testes públicos de validação e comprovação da
utilidade das informações geradas.
Geração unilateral do
consultor
- CONTROLADOR -
Geração bi ou multilateral do
consultor
- DEMOCRÁTICO -
Utilização de testes
públicos de validação e
senso de utilidade da
informação
Obediência informada
Acordo político válido
Não utilização de testes
públicos de validação e
senso de utilidade da
informação
Obediências cegas
Obediências benevolentes
Acordo heurístico supersticioso
Quadro 4 (2) – Relações ou opções do cliente
Fonte: Adaptado de Valença (2009, p. 134)
Em decorrência das relações entre as variáveis supracitadas, tem-se o desencadeamos
de quatro tipos de atitudes por parte do cliente, a saber:
a) Obediência informada o cliente assume uma postura de concordância a tudo aquilo que
o consultor propõe a partir da utilização dos testes públicos de validação das informações
coletadas, analisadas e construídas exclusivamente por ele. Quanto mais claras e
66
específicas as diretrizes traçadas pelo consultor, mais informados serão os clientes, que o
obedecerão. Haverá, contudo, a possibilidade que o consultor se equivoque, e imponha
“um critério ou argumento ilusório, seja por crença, por ideologia ou seja ainda por
expectativa exagerada com respeito ao futuro” (VALENÇA, 2007, p.469), colocando o
cliente em uma posição de risco, uma vez que este não exercita sua capacidade de
avaliação crítica.
b) Obediência benevolente nesse tipo de relação o consultor além de não utilizar testes
públicos de validação das informação que propõe, nega-se a de fato oferecer ou colocar a
teste ao cliente dados, observações, registros e análises críticas que construiu. Tomando
por base a boa-fé e confiança atribuída ao consultor, o cliente se abstém de sua
colaboração e co-responsabilidade no processo de construção das informações.
Obediência cega obediência por ignorância ou omissão por parte do cliente, apresenta
efeitos maléficos mais significativos que a atitude benevolente, caracterizando uma total
abdicação de autonomia e liberdade por parte do cliente, que, irresponsável, torna-se
vulnerável às atitudes do consultor.
Quando a ignorância [do cliente] soma-se com a má-fé [do consultor] o
resultado é dos piores. Nas intervenções equivocadas com um método
apreciativo, isso se caracteriza pela imposição de comandos mentais ou de
conduta do tipo: nesse ambiente “temos que ser apreciativos” ou “nossa
cultura é apreciativa”, controlando unilateralmente a voz dos outros através
de um discurso “positivo”, enquanto paira no ar um cheiro em um sabor de
moralidade dual e sutil, mas muito azeda e ácida, contra todos aqueles que
são críticos” ou “pouco apreciativos”, especialmente quando ficam
encobertos os privilégios, as contradições e os segredos velados no ambiente
[...] Ora, isso pode criar, sem intenções explícitas, um ambiente marcado
pela dominação do interveniente e/ou regulado por meras superstições,
independente da boa-fé do facilitador (VALENÇA, 2007, p. 469-70, grifo
nosso).
c) Acordo heurístico supersticioso neste momento identificam-se, claramente,
características dos sentimentos dogmáticos de aceitação e crença irrestrita no que se
prega. No caso, em função do desenvolvimento de um sentimento de necessidade de
aceitação no grupo, o que Valença (2007) denomina ‘grupismo’, o indivíduo passa,
acriticamente, a desenvolver atitudes reforçadas positivamente pelo grupo, de modo que
possa se sentir respeitado, reconhecido, acolhido e amado pelo mesmo.
Aqui não há mais oportunidade de exercer a serenidade e a lucidez, porque a
crença não é submetida ao teste público de sua base racional, e como criação
coletiva forte e estruturada, dificilmente será desconstruída, antes será
67
reforçada na instância normativa do dever ser (VALENÇA, 2007, p. 472,
grifo nosso).
d) Acordo político válido por fim, este último tipo de relação parece ser, de todos os
quatro posicionamentos abordados, o mais consciente, por parte do consultor e, também,
do cliente. A relação se estabelece através de um acordo democrático, igualitário e
cooperativo, nos quais as informações geradas são publicamente testadas e validadas
perante todo o grupo, que as qualifica como fidedignas e úteis, e todas as pessoas
assumem suas responsabilidades e o sua contribuição para o amadurecimento e
desenvolvimento do grupo.
Essa parece ser a melhor forma possível de se praticar qualquer método
apreciativo por algum pesquisador e consultor de modo a ele poder usar,
com toda dignidade e toda a pompa, as palavras “apreciação” e “gratidão”, e,
de fato, respeitar, antes de qualquer outra coisa, a realidade contraditória e
impermanente de seus clientes (VALENÇA, 2007, p. 473).
2.13 O modelo tridimensional de intervenção
Em uma perspectiva de Investigação Apreciativa não ortodoxa, Valença (2007) propõe
o desenvolvimento de um novo modelo de intervenção, pautado não apenas nos preceitos
defendidos pelos principais autores da IA, bem como associando teorias paralelas como a
Ciência da Ação, a Educação Reflexiva e a fundamentação budista.
Almejando oferecer contribuição complementar para qualquer método apreciativo, o
autor desenvolveu um modelo de intervenção composto por um conjunto de competências ou
habilidades necessárias ao interveniente (consultor), estando, pois, configuradas como
condições sine qua non ao sucesso da mesma, conforme se observa na figura 5 adiante.
É importante destacar, ainda, que o consultor é percebido não apenas como aquele que
conduz a intervenção, mas, como um ‘educador’ ou facilitador da aprendizagem do grupo, de
modo que se apresenta como variável implícita ao modelo proposto ‘a abertura e a
receptividade dos participantes para a aprendizagem’.
68
Figura 5 (2) – Fundamentos do Modelo Tridimensional de Intervenção - MTI
Fonte: Elaboração própria, baseado em Valença (2007;2009)
Os três eixos de competências do consultor/educador são, conforme Valença (2007):
a) Genuinidade, autenticidade e congruência apreciativas o consultor e educador de uma
metodologia pautada em preceitos apreciativos deve ser uma pessoa legitimamente
positiva, tendo a apreciação como um valor pessoal de vida que guie seu comportamento
cotidiano, em prol da construção de uma sociedade mais ‘lúcida, solidária e pacífica’; não
sendo possível apenas que ele ‘venda’ essa filosofia.
Ou seja, o consultor e educador deve ser um exemplo vivo de apreciação e
gratidão. Ele deve exprimir esta energia inconfundível de um ser
verdadeiramente apreciativo e grato por sua presença no mundo, na relação
com os outros, na construção de ambientes verdadeiramente democráticos e
justos [...] Ele deve praticar o que professa (VALENÇA, 2007, p. 474, grifo
nosso).
b) Experiência em consultoria e embasamento teórico outro fator de extrema relevância
diz respeito à maturidade do consultor na prática da consultoria organizacional que o
permita executar uma intervenção apreciativa seguro de suas convicções pessoais e
profissionais, sendo, assim, capaz de fazer uma associação pertinente entre teoria e
prática. Acrescenta-se, ainda, que o consultor deve ter um embasamento teórico holístico,
Genuinidade,
Autenticidade,
Congruência
Apreciativa
Experiência em
consultoria e
embasamento
teórico
Estilo aberto e
democrático de
geração da
informação
PRONTIDÃO
EM APRENDER
INTERVENÇÃO
APRECIATIVA
69
permeado por conhecimentos que vão desde os das teorias de aprendizagem, passando
pelas dinâmicas e relações grupais, teorias de investigação sistêmica e práticas reflexivas,
até as teorias psicológicas, em especial, as da Psicologia Cognitiva; de modo que sua
prática seja fundamentada em processos planejados e não ‘amadores, aleatórios ou
inconseqüentes’.
A princípio, consultor, educador e facilitador tenham uma boa experiência, o
que não se trata exclusivamente de muito “tempo de sala de aula” e, sim,
uma experiência avaliada no seu grau de perícia, no seu conhecimento
teórico e no equivalente rebatimento prático ou manejo de métodos e
técnicas, na capacidade de alegação própria das teorias e teses sobre essa
área (VALENÇA, 2007, p. 474, grifo nosso).
c) Estilo aberto e democrático de geração da informação o autor ratifica a proposta de
Argyris ao defender que o consultor apreciativo tem por condições primordiais: a) a
participação na construção de informações válidas e úteis pelo e para o grupo; b)
estimular o grupo a tomar suas próprias decisões de maneira consciente, bem como
aceitá-las; c) favorecer o comprometimento do grupo desde o momento da criação das
informações até o processo de implementação e das conseqüências das decisões tomadas.
Nada pode ser mais improdutivo para qualquer método apreciativo,
desconfigurando-o na essência, do que a imposição e a manipulação
dissimulada do consultor e educador [...] essas competências não se casam
com autoritarismo e, muito menos, com sedução, maneirismo, simpatia
gratuita, lisonja e mentiras. Ou seja, a manipulação é, em essência a
antiapreciação por sua base de desrespeito às pessoas (VALENÇA, 2007, p.
474, grifo nosso).
Os três eixos de competências do consultor/educador, em busca de uma melhor
compreensão do modelo, poderão estar correlacionados aos pares sugerindo como facetas de
análise às representadas graficamente na figura 6 abaixo:
70
Figura 6 (2) – Modelo Tridimensional de Intervenção
Fonte: Contribuição pessoal do autor
2.13.1 Foco na metodologia
Para Valença (2007), de acordo com o MTI, no mundo prático de intervenções de
consultoria organizacional é possível observar maneiras adequadas e inadequadas de se
praticar um método apreciativo.
Em decorrência da correlação entre os eixos a) Genuinidade, autenticidade e
congruência apreciativas e b) Experiência em consultoria e embasamento teórico no Método
de IA, poder-se-ão observar quatro tipos distintos de relações, conforme quadro 5 a seguir:
71
Autenticidade,
Genuinidade e
Congruência
Inautenticidade,
Impostura e
Incongruência
FACILITADOR
Experiência e
embasamento teórico no
Método de IA
Excelência
Maestria
Formalidade teórico-
metodológica
Inexperiência e falta de
embasamento teórico no
Método de IA
Improvisação
Aventura / aleatoriedade
teórico-metodológica
Quadro 5 (2) – Foco metodológico da intervenção
Fonte: Valença (2007, p. 477)
Conforme se pode observar, as quatro possibilidade de intervenções de IA alcançadas
por essa associação de fatores podem ser:
a) Excelência / Maestria que se apresenta como relação ‘ideal’ de intervenção, no qual
o facilitador tem experiência e know-how em consultoria organizacional, estando,
ainda, embasado teórico e metodologicamente no método de IA, bem como conduz de
maneira autêntica e genuína a implementação do referido método, sendo exemplo
claro e vivo de tudo aquilo que propõe à organização e aos colaboradores.
Penso que apenas o quadrante da maestria e excelência pode oferecer boas
perspectivas de sucesso e bons cenários de aprendizagem para qualquer
método apreciativo (VALENÇA, 2007, p. 478).
Figura 7 (2) – Foco metodológico 1
Fonte: Contribuição pessoal do autor
b) Improvisação
neste tipo de relação o consultor, embora seja autêntico e congruente
com os valores necessários à implementação e condução do processo, não está
72
devidamente apto a dirigir a intervenção uma vez que não possui embasamento
teórico, nem conhece todas as ferramentas e procedimentos propostos pelo método de
IA. Entretanto, Valença (2007, p. 477) defende que esta “é uma condição fácil de ser
superada, proporcionando-se treinamento técnico”.
Figura 8 (2) – Foco metodológico 2
Fonte: Contribuição pessoal do autor
c) Formalidade teórico-metodológica - o interveniente tem todo o domínio teórico-
metodológico necessário à implementação bem sucedida do referido método, tem
experiências anteriores em consultoria organizacional que facilitarão sua prática, e
sabe lidar com as ferramentas necessária, todavia, não consegue transmitir ao grupo de
trabalho autenticidade e genuinidade em suas ações, “por causa da incongruência de
seus valores de prática” Valença (2007, p. 477).
Figura 9 (2) – Foco metodológico 3
Fonte: Contribuição pessoal do autor
73
d) Aventura / Aleatoriedade teórico-metodológica este tipo de relação é aquela que
foge a todos os padrões aceitáveis e superáveis de intervenção. Nela o facilitador, além
de inexperiente e metodologicamente inapto, ainda se mostra incongruente com a
prática apreciativa.
Figura 10 (2) – Foco metodológico 4
Fonte: Contribuição pessoal do autor
Como proposição à intersecção entre esses dois eixos, apresenta-se a figura 11, na qual
são destacadas as quatro possibilidades de relação existentes.
Figura 11 (2) – Foco metodológico da intervenção
Fonte: Elaboração própria, baseado em Valença (2007;2009)
AVENTURA /
ALEATORIEDADE
TÉCNICO
METODOLÓGICA
Genuinidade,
Autenticidade,
Congruência
Apreciativa
Experiência em
consultoria e
embasamento
teórico
IMPROVISAÇÃO
FORMALIDADE
TÉCNICO
METODOLÓGICA
EXCELÊNCIA
MAESTRIA
74
2.13.2 Foco na performance
Para Valença (2007), de acordo com o MTI, em decorrência da relação entre os eixos
b) Experiência em consultoria e embasamento teórico no Método de IA e c) Estilo aberto e
democrático de geração de informações (representado a partir do uso de informações e testes
bilaterais consultor e cliente), propõe a observação de quatro tipos distintos de
performances, conforme quadro 6 a seguir:
Uso de informações e
testes bilaterais
Uso de informações e
testes unilaterais
FACILITADOR
Experiência e
embasamento teórico no
Método de IA
Parceria
Cooperação
Manipulação teórico-
metodológica
Inexperiência e falta de
embasamento teórico no
Método de IA
Ensaio / erro implícito e
negociado
Manipulação relacional
Quadro 6 (2) – Natureza da Performance
Fonte: Valença (2007, p. 478)
Conforme se pode observar no quadro 5 acima, os quatro tipos de natureza alcançadas
por essa associação de fatores podem ser:
a) Parceria / Cooperação que se apresenta como performance ‘ideal’ de intervenção na
qual se conta com um facilitador experiente e embasado teoricamente, faz uso de
testes públicos e coerentes para a geração de informações válidas, em uma situação de
equiparação entre ele e os demais membros do grupo no que diz respeito a cooperação,
comprometimento e responsabilidade pelos processos e resultados alcançados.
Penso que apenas o quadrante de Parceria/Cooperação pode oferecer boas
perspectivas de sucesso e bons cenários de aprendizagem para uso de algum
método apreciativo (VALENÇA, 2007, p. 479).
75
Figura 12 (2) – Natureza da performance 1
Fonte: Contribuição pessoal do autor
b) Ensaio / erro implícito e negociado neste tipo de performance são também utilizados
testes públicos e coerentes para a geração de informações, todavia, estas não podem se
configurar como necessariamente válidas, pois o facilitar do processo não possui
experiências e/ou embasamento teórico-metodológico e, mesmo assim, seguimento
ao processo de IA de uma maneira muito mais empírica e experimental, tendo apoio
dos aprendizes para alcançar resultados em forma de ensaio e erro negociado entre as
partes, que têm co-responsabilidade por eles.
Figura 13 (2) – Natureza da performance 2
Fonte: Contribuição pessoal do autor
c) Manipulação teórico-metodológica
através do uso de sua experiência e do seu
embasamento teórico-metodológico, o facilitador faz uso de informações com ou sem
76
a utilização de testes unilaterais, de modo que o desenvolvimento das mesmas pode
não público e/ou coerente, promovendo um clima de imposição e submissão.
Figura 14 (2) – Natureza da performance 3
Fonte: Contribuição pessoal do autor
d) Manipulação relacional neste tipo de performance prevalece o clima de imposição e
submissão, todavia a manipulação se dá a nível da própria relação entre as partes, uma
vez que o facilitador não tem a seu favor, como critério de diferenciação, nenhum tipo
de experiência e/ou embasamento teórico-metodológico e, mesmo assim, avança
impondo aos demais seus conhecimentos e suas intenções.
Figura 15 (2) – Natureza da performance 4
Fonte: Contribuição pessoal do autor
77
Em suma, como proposição à intersecção entre esses dois eixos, apresenta-se a figura
11, na qual são destacadas as quatro possibilidades de relação existentes.
Figura 16 (2) – Natureza da performance da intervenção
Fonte: Elaboração própria, baseado em Valença (2007;2009)
2.13.3 Foco na confiabilidade e autonomia
Valença (2007) defende, portanto, que a partir dos quadros 5 e 6 anteriores,
respectivamente, foco metodológico da intervenção e natureza da performance, é possível se
desenvolver um novo quadro 7, que trata da natureza e qualidade da confiança, ressaltando-se
o grau de autonomia que os clientes terão para a aprendizagem.
A partir do modelo proposto é possível identificar em que relações existem, quando
existe, uma relação de confiança, seja ela pessoal ou metodológica, e qual o impacto disso no
grau de autonomia que o aprendiz assume na relação.
MANIPULAÇÃO
RELACIONAL
Uso de
informações
bilaterais e
testes
Experiência em
consultoria e
embasamento
teórico
MANIPULAÇÃO
TÉCNICO-
METODOLÓGICA
ENSAIO E ERRO
EXPLÍCITO E
NEGOCIADO
PARCERIA
COOPERAÇÃO
78
Estilo de
Intervenção do
Facilitador
Confiança
Autonomia
Pessoal Metodológica
Genuinidade
Autenticidade e
Congruência do
Facilitador
Excelência /
Maestria
ALTA ALTA
Plena harmonia
Reciprocidade
Cooperação
Improvisação ALTA BAIXA Dependência pessoal
Formalidade
técnico-
metodológica
BAIXA ALTA
Dependência
processual
Aventura /
aleatoriedade
técnico-
metodológica
BAIXA BAIXA
Desarmonia
Desconfiança
Natureza da
Performance
Confiança
Autonomia
Pessoal Metodológica
Características
do manejo
técnico-
metodológico
Parceria
Cooperação
ALTA ALTA
Plena harmonia
Reciprocidade
Cooperação
Ensaio / erro
explícito e
negociado
ALTA BAIXA Dependência pessoal
Manipulação
técnico-
metodológica
BAIXA ALTA
Dependência
processual
Manipulação
relacional
BAIXA BAIXA
Desarmonia
Desconfiança
Quadro 7 (2) – Grau de Confiança e Autonomia
Fonte: Valença (2009, p. 145)
Para tanto, apresentam-se como significativas as relações em destaque no quadro 7
acima, nas quais, através de um estilo de intervenção desempenhado por meio da
‘excelência/maestria’ e/ou de natureza de performance de ‘parceria e cooperação’, foi
possível identificar um alto grau de confiança, tanto pessoal quanto metodológica, o que
implicou uma aprendizagem pautada na plena harmonia, reciprocidade e cooperação’,
configurando-se, assim, o modelo ideal de intervenção de consultoria.
79
2.13.4 Inferências do bom êxito
O MTI tem ainda uma “única competência como condição ou variável implícita por
parte do aprendiz (VALENÇA, 2007, p. 473), a abertura e a receptividade para a
aprendizagem, de modo que o cliente, em um processo de consultoria, deverá assumir como
condição sine qua non um significativo grau de prontidão para aprender.
Assim, ao quadro 7 supracitado, associa-se a existência ou não da condição de
abertura e receptividade à aprendizagem, de modo que, como resultado, no quadro 8 a seguir,
serão delimitados os tipos de aprendizagem resultante das autonomias exercidas pelo cliente e
das posturas assumidas pelo consultor.
80
Estilo de Intervenção
do Facilitador
Confiança
Autonomia
Aprendizes abertos e
motivados para o uso do
Método de IA
Aprendizes resistentes ao
uso do Método de IA
Pessoal Metodológica
Genuinidade
Autenticidade e
Congruência do
Facilitador
Excelência /
Maestria
ALTA ALTA
Plena harmonia
Reciprocidade
Cooperação
Aprendizagem adulta
bilateral e cooperativa
Aprendizagem parcial
dependente de reforço da
auto-estima
Improvisação ALTA BAIXA Dependência pessoal
Aprendizagem parcial com
testes nos resultados
Aprendizagem parcial
resistência metodológica
Formalidade técnico-
metodológica
BAIXA ALTA Dependência processual
Aprendizagem com testes na
relação
Aprendizagem parcial com
resistência relacional e
metodológica
Aventura /
aleatoriedade técnico-
metodológica
BAIXA BAIXA
Desarmonia
Desconfiança
Aprendizagem parcial ou
interrompida pelo confronto
pessoal ou metodológico
Interrupção da aprendizagem
pelo conforto pessoal e
metodológico
Natureza da
Performance
Confiança
Autonomia
Aprendizes abertos e
motivados para o uso do
Método de IA
Aprendizes resistentes ao
uso do Método de IA
Pessoal Metodológica
Características do
manejo técnico-
metodológico
Parceria
Cooperação
ALTA ALTA
Plena harmonia
Reciprocidade
Cooperação
Aprendizagem adulta
bilateral e cooperativa
Aprendizagem parcial
dependente de reforço da
auto-estima
Ensaio / erro explícito e
negociado
ALTA BAIXA Dependência pessoal
Aprendizagem parcial com
testes nos resultados
Aprendizagem parcial
resistência metodológica
Manipulação técnico-
metodológica
BAIXA ALTA Dependência processual
Aprendizagem com testes na
relação
Aprendizagem parcial com
resistência relacional e
metodológica
Manipulação relacional BAIXA BAIXA
Desarmonia
Desconfiança
Aprendizagem parcial ou
interrompida pelo confronto
pessoal ou metodológico
Interrupção da aprendizagem
pelo conforto pessoal e
metodológico
Quadro 8 (2) – Da relação de confiança e autonomia entre facilitador e aprendizes X a disponibilidade e natureza do aprendiz
Fonte: Adaptado de Valença (2009, p. 148-149)
81
Conforme observado em destaque no quadro 8 anteriormente, foi ratificado que a
abertura e a receptividade para a aprendizagem num significativo grau de prontidão para
aprender por parte do cliente é a condição ideal de consultoria, pois, apenas através dela foi
possível alcançar uma aprendizagem adulta, bilateral e cooperativa, por meio, ainda, de um
estilo de intervenção desempenhado através da ‘excelência/maestria’ e/ou de natureza de
performance de ‘parceria e cooperação’.
Várias outras alternativas apresentam probabilidade de aprendizagem parcial
ou apresentam risco de ocorrência de aprendizagem organizacional
imprópria ou improdutiva, no dizer de Chris Argyris e Donald Schön,
quando os aprendizes se deslocam na direção não-intencionada antes de
iniciar o processo de intervenção (VALENÇA, 2007, p. 482).
Deste modo, pode-se expressar, através de um modelo de representação gráfica, que,
quando se tem desempenhos ideais em cada um dos eixos propostos, e, associado a isso, uma
abertura e a receptividade para a aprendizagem, apresenta-se como resultado da intersecção e,
portanto, da intervenção da consultoria de IA, os fatores destacados na figura 17 abaixo.
Figura 17 (2) – Modelo ideal de relação consultor-cliente
Fonte: Contribuição pessoal do autor
82
Contudo, na realidade prática, não é necessariamente possível alcançar níveis ideais de
desempenho de todos os eixos acima proposto, de modo que, é possível ressaltar, ainda,
alguns tipos de relação infelizmente usuais nas prestações de serviços de consultoria. No
quadro 9 adiante, tem-se a relação existente entre as posturas dos consultores e as dos clientes
no momento da intervenção.
POSTURA DO CONSULTOR
1- Falta de Experiência e
Embasamento Teórico
2 – Inautenticidade, Falta de
Genuinidade da intenção e
Incongruência da Prática
3 – Geração e uso Bilateral
(Democrática) das informações
1 – Experiência e Embasamento
Teórico
2- Autenticidade, Genuinidade
da Intenção e Congruência da
Prática
3 – Geração e uso Bilateral
(Democrática) das Informações
POSTURA DO CLIENTE
ABERTURA,
MOTIVAÇÃO E
PRONTIDÃO DO
CLIENTE PARA
APRENDER
Tendência de risco.
Alternativas: (1) Investigação
matura do cliente e\ou (2)
Suspensão da
relação\Atividade.
Tendência Alvissareira:
experiência promissora,
eficaz e transformadora.
FECHAMENTO,
DESESTÍMULO
E FALTA DE
PRONTIDÃO DO
CLIENTE PARA
APRENDER
Tendências de altíssimo risco.
Alternativas: (1) Confrontos
incontroláveis e\ou
Imprevisibilidade das
conseqüências
desestruturadoras.
Tendências de alto risco.
Alternativas:(1) Facilitador
favorece investigação sobre
condições internas e externas
de trabalho e\ou (2) Suspensão
da relação\Atividade.
Quadro 9 (2) – Relações entre as posturas de consultores e clientes
Fonte: Contribuição pessoal do autor
A partir de então, conclui-se que é através do desempenho dos três pilares (pelo
consultor) e da prontidão para aprender (do cliente), que a relação de consultoria poderá ser
tida como saudável e positiva, rendendo bons e duradouros frutos para ambas as partes.
Por fim, em termos práticos, Valença (2010) propõe um ousado e complexo
mapeamento sistêmico de interdependências dos elementos constitutivos de uma intervenção
apreciativa, no qual se apresentam todos os tipos de relações anteriormente explicadas, bem
como as possíveis conexões entre elas., conforme representado na figura 18 adiante.
83
Condições/Aspirações
Imprescindíveis no Facilitador e
no Cliente
1. Abertura para aprender
2. Prontidão para aprender
Biografia e Compencias do
Facilitador
Condições de Falseabilidade do
Experimento/Processo Educativo
Experiente e
Conhecedor da Teoria
etodo
Genno na
Apreciação
Democrático no
Processos
sim
o
sim.
o.
.sim
.não
sim..
não..
..sim
..não
Manejo Bilateral
das Informações
Testes Públicos abertos
para validação das
informações
Obediência Cega
Acordo Supersticioso
Obediência Informada
Acordo Político
Válido
Posição do Aprendiz
Posição do Facilitador/ Foco
metodológico/Atividades Primordiais: (1)
gerar informação válida e útil, (2)
favorecer escolhas livres e informadas,
(3) favorecer o comprometimento interno
com as decisões e a prática.
Excelência/maestria
Formalidade
técnico-metodológica
Improvisação
Aventura
técnico-metodológica
Parceria/cooperação
Ensaio e erro
explícito negociado
Manipulação
técnico-metodológica
Manipulação relacional
.sim.
.não.
,sim
,não
sim,
não,
Natureza da
Performance
Confiança pessoal e metodológica
alta, harmonia, reciprocidade,
cooperação e aprendizagem de ciclo
duplo
Confiaa pessoal alta, confiança
metodológica baixa, dependência,
aprendizagem de ciclo único
Confiaa pessoal baixa, confiança
metodológica alta, dependência
processual, aprendizagem de ciclo
único
Confiança pessoal e
metodológica baixa,
desconfiança, aprendizagem de
ciclo único.
,sim,
,não,
.,sim
,.não
Construção/Consequência nos
relacionamentos, na eficácia
metodológica, na atmosfera e cultura, no
grau de comprometimento e no sistema
de aprendizagem
Probabilidade e dimensões do bom êxito: 1- lucidez nas
escolhas, 2-gestão democrática, 3- autonomia das partes, 4-
envolvimento e comprometimento, 5 - níveis de
aprendizagem.
Legenda: (1) setas azuis largas: bom êxito,
(2) setas azuis finas: êxito parcial ou
desvirtuado, (3)- setas pontilhadas:
insucesso.
MAPA DE INTERDEPENDÊNCIAS DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DE UMA INTERVENÇÃO APRECIATIVA.
Figura 18 (2) – Mapa de interdependências dos elementos constitutivos de uma intervenção apreciativa
Fonte: Valença (2010)
84
3 Procedimentos metodológicos
O presente capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados ao longo do
estudo. Adotaram-se, primordialmente, como fundamentos metodológicos os conceitos
propostos por Merriam (2008).
Inicialmente, foi definida uma breve apresentação da definição dos conceitos básicos
utilizados a fim de clarificar sob qual perspectiva teórica se observará o fenômeno estudado.
Posteriormente, apresenta-se o delineamento da pesquisa na qual se fundamenta a escolha da
abordagem qualitativa básica, bem como se indica os critérios e a justificativa para a seleção
dos respondentes. Explicita-se como foi realizada a coleta de dados quais os instrumentos
utilizados e o porquê da escolha de cada um deles -, e quais foram os métodos para a
apresentação e análise dos mesmos.
3.1 Definição de conceitos básicos
Nesta seção são apresentadas algumas definições de conceitos considerados
fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa:
a) Pesquisa qualitativa: é mais que um conjunto particular de técnicas
relacionadas à compreensão de um dado contexto de forma ampla e profunda,
estando implícita no modo de encarar o fenômeno social investigado, ajudando
a entender e explicar o significado do mesmo, com o mínimo de afastamento
possível da situação natural (adaptado de MERRIAM, 1998; MORGAN;
SMIRCICH, 1980).
b) Pesquisa qualitativa básica: Inserido na metodologia qualitativa, o estudo é
compreendido como “básico ou genérico” por apresentar quatro características-
chave: a) a intenção de compreensão do significado que os participantes
atribuem a um determinado fenômeno; b) o pesquisador é o principal
instrumento de coleta e análise de dados; c) a condução da pesquisa é
85
essencialmente indutiva; d) os resultados da pesquisa são um mix de descrição
e análise (MERRIAM, 1998).
c) Construção de Categorias: processo de codificação dos dados coletados, e
agrupamento dos mesmos para a construção de padrões que representam as
categorias de codificação, através de um processo largamente intuitivo e
sistemático, que depende da orientação e do conhecimento do pesquisador
(adaptado de BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 221; MERRIAM, 1998, p. 179).
d) Investigação Apreciativa: A Investigação Apreciativa é uma busca cooperativa,
co-evolucionária pelo melhor nas pessoas, suas organizações e pelo mundo que
as rodeia. Ela envolve a descoberta sistemática do que anima uma organização
ou uma comunidade quando ela é mais eficiente e mais capaz em termos
econômicos, ecológicos e humanos (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p.
10).
3.2 Desenho metodológico
Para alcançar os objetivos gerais e específicos deste estudo, foi delineado, pelo
pesquisador, o desenho metodológico abaixo descrito, estruturado em quatro fases distintas
que possuem uma seqüência flexível, cujo contato, quando necessário, de ser retomado, até
que se atingisse uma saturação de dados satisfatória para a análise dos mesmos.
3.2.1 Delineamento da pesquisa – Fase 1
Para Merriam (1998) uma consideração fundamental num projeto de pesquisa é a
orientação filosófica do autor. Em outras palavras, é mister para o pesquisador se questionar
acerca do que acredita sobre a natureza da realidade, sobre o conhecimento e sobre a
produção do conhecimento.
Morgan e Smircich (1980) propõem que os métodos de pesquisa nas ciências sociais
devem estar diretamente ligados aos pressupostos da natureza humana, epistema e
86
ontologicamente. Para isto, os autores sugerem um continuum sobre os pressupostos da
ontologia e da natureza humana que vão desde o extremo subjetivista até o objetivista.
Segundo Merriam (1998), o pressuposto filosófico básico da pesquisa qualitativa está
fundamentado na visão de que a realidade é construída pelos indivíduos por meio da interação
e situada dentro dos mundos sociais destes indivíduos.
Strauss e Corbin (1998) acrescentam, ainda, que as pesquisas qualitativas podem ser
utilizadas no intuito de entender o significado ou a natureza das experiências das pessoas para
se obterem detalhes obscuros sobre fenômenos, como sentimentos, processos de pensamento
e emoções, que dificilmente seriam compreendidos com a utilização de meios mais
convencionais de pesquisa.
O pesquisador qualitativo está, portanto, interessado em compreender o significado
que as pessoas têm construído, e este significado está envolvido nas experiências das pessoas,
e a compreensão do fenômeno deve revelar a perspectivas do participante, não do pesquisador
(MERRIAM, 1998). Sendo assim, esta pesquisa segue esta orientação ao observar o
fenômeno apenas segundo a construção dos sujeitos pesquisados, almejando desconsiderar em
sua análise os vieses do pesquisador.
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2004, p. 21).
Vale ressaltar que a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos
estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados; parte de questões ou
focos de interesses amplos, que se vão definindo a medida que o estudo é desenvolvido.
Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos
interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada,
procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos,
ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p. 21).
Para tanto, a pesquisa qualitativa ainda engloba várias orientações, das quais Merriam
(1998) destaca cinco: pesquisa qualitativa sica, estudo de caso, estudo etnográfica,
fenomenologia e grounded theory.
Convém, assim, definir sob que tipos de classificações este estudo poderá ser
abordado. Para tanto, destacam-se como significativos os seguintes posicionamentos:
87
a) Pesquisa qualitativa: no presente estudo, o pressuposto adotado é de que a
realidade é socialmente construída, estando mais próximo, portanto, de uma
visão subjetivista, segundo a qual o mundo social é um processo contínuo
criado nos encontros da vida cotidiana por intermédio da linguagem, rótulos,
arquétipos, ações e rotinas que constituem um modo de ser no mundo. Dado o
contexto e os objetivos desta pesquisa, as orientações do estudo qualitativo
foram as que mais se adaptaram à busca das respostas das perguntas
construídas, pois a realidade é muito mais complexa do que se pode imaginar,
fazendo-se necessário compreender o fenômeno, também, a partir da
perspectiva dos respondentes. Procurou-se decifrar como os indivíduos
perceberam e compreenderam o objeto de estudo a partir de suas próprias
referências.
b) Pesquisa qualitativa básica: inserido na metodologia qualitativa, este estudo é
compreendido como “básico ou genérico” por apresentar quatro características-
chave, segundo destaca Merriam (1998) a seguir:
1) O pesquisador está interessado em compreender quais os significados
que os participantes atribuem ao fenômeno ou situação que está sendo
estudada;
2) Busca-se compreender os significados que as pessoas constroem sobre as
experiências vividas, tendo o pesquisador como principal instrumento de
coleta e análise de dados. Para coletar os dados são feitas entrevistas,
realizadas observações ou analisados documentos;
3) O processo de condução da pesquisa é essencialmente indutivo, isto é, o
pesquisador coleta e organiza os dados com o objetivo de construir
conceitos, pressuposições ou teorias, ao invés de, dedutivamente, derivar
hipóteses a serem testadas. A análise indutiva dos dados leva a identificação
de padrões recorrentes, temas comuns e categorias;
4) Os resultados da pesquisa são um mix de descrição e análise uma
análise que usa conceitos do referencial teórico que estruturou o estudo. A
análise geralmente resulta na identificação de padrões recorrentes (na forma
de categorias, fatores, variáveis, tema) [...] (MERRIAM, 1998, p.11, grifo
nosso).
c) Pesquisa indutiva: o presente estudo não se propôs a testar ou experimentar
teorias já existentes. Ao contrário disso, objetivou acumular um grande número
de circunstâncias específicas, porém semelhantes, acerca da implementação da
Investigação Apreciativa no ambiente organizacional, produzindo novas
explicações acerca do fenômeno, e dos fatores críticos a sua existência
eficiente. Conforme propõe Gibbs (2009):
88
Grande parte da pesquisa qualitativa tenta explicitamente gerar novas teorias
e novas explicações. Nesse sentido, a lógica subjacentes a ela é o Indutiva.
Em vez de começar com algumas teorias e conceitos que devem ser testados
ou examinados, essa pesquisa privilegia uma abordagem na qual eles são
desenvolvidos junto com a coleta de dados, para produzir e justificar novas
generalizações e, assim, criar novos conhecimentos e visões. (GIBBS, 2009,
p.20, grifo nosso).
d) Pesquisa descritiva exploratória: o estudo classifica-se como descritivo, pois
objetivou descrever características de uma determinada população ou
fenômeno, bem como, estabelecer relações entre as fatores significativos ao
caso em estudo, tendo utilizado uma coleta de dados padronizada através de
entrevistas semi-estruturadas, posteriormente apresentadas. Andrade (2002)
destaca que a pesquisa descritiva preocupa-se em observar fatos, registrá-los,
analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sem a interferência ou manipulação
do pesquisador.
Pôde-se, também, classificar o estudo como uma pesquisa exploratória, uma
vez que consiste no aprofundamento de conceitos preliminares sobre a
Investigação Apreciativa, contribuindo para o esclarecimento de questões
superficialmente abordadas sobre a mesma.
e) Pesquisa de campo: a pesquisa foi desenvolvida por meio da observação das
atividades do grupo estudado, e de entrevistas com informantes para captar
suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Os indivíduos
escolhidos como respondentes do estudo foram aqueles que participaram de
algum processo de Investigação Apreciativa, através de critérios pré-
estabelecidos e posteriormente explicitados.
Tipicamente o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é
necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de
estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. (GIL,
p.53)
Destacando-se que, segundo Rodrigues (2007, p.44) “a pesquisa ex-post-facto
pertence à categoria das pesquisa de campo”, este estudo, uma vez que se
propôs a compreender um fenômeno consumado, e, portanto, sem quaisquer
possibilidade de interferência ou manipulação do mesmo, por parte do
pesquisador, que esmerou-se apenas em compreendê-las, bem como seus
89
impactos para o fenômeno, o estudo pode ser, também, classificado como ex-
post-facto.
Apesar das semelhanças com a pesquisa experimental, o delineamento ex-
post-facto não garante que suas contribuições relativas a relações do tipo
causa-efeito sejam totalmente seguras. O que geralmente se obtém nesta
modalidade de delineamento é a constatação da existência de relação
variáveis. Por isso é que essa pesquisa muitas vezes é denominada
correlacional (GIL, p.50).
f) Pesquisa bibliográfica: A pesquisa iniciou-se, portanto, por uma fase de
pesquisa e revisão bibliográfica, através de livros e periódicos sobre IA e
conteúdos afins, conforme descrito detalhadamente no referencial teórico, que
pudessem trazer informações relevantes para o estudo. Conforme afirma
Triviños (1987), durante a pesquisa qualitativa, novas teorias podem ser
incorporadas ao arcabouço teórico base do estudo, para que o fenômeno seja
interpretado com maior detalhamento, e sob vários prismas, ao passo que os
dados são coletados, pois não há hipóteses a serem confirmadas no campo.
g) Pesquisa documental: além da revisão de literatura, foram utilizados como
fonte de pesquisa documentos das organizações pesquisadas, como relatórios
de intervenções anteriores, comunicações internas, websites, bem como
publicações dos relatos das experiências de IA.
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A
diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a
pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos
diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se
de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda
podem ser reelaborados de acordo com os objetos de pesquisa (GIL, p. 45)
3.2.2 Delimitação do campo empírico – Fase 2
Após apresentado o problema de pesquisa e registrada a opção pelo desenvolvimento
de um estudo qualitativo básico, passou-se, então, à seleção da unidade de análise, a amostra
(MERRIAM, 1998). Por meio da definição da unidade de análise, o pesquisador procurou
esclarecer como irá buscar as informações que respondem aos objetivos do seu estudo.
90
As amostras podem ser pessoas individuais, famílias, organizações, culturas,
episódios, atividades, entre outros (PATTON, 2002). Nesse sentido, o estudo aqui
apresentado buscou definir dois níveis de amostra: a decisão pela organização e a escolha
pelos indivíduos capazes de fornecer as informações que são necessárias à consecução dos
objetivos propostos.
Segundo Merriam (1998), a definição da amostra deve ser feita a partir de critérios
previamente estabelecidos. Para tanto, os critérios para a seleção da organização investigada
foram: (a) ter passado pelo processo de utilização do Método de IA; (b) apresentar indícios de
sucesso na implementação da referida estrutura; (c) ser uma organização acessível à pesquisa.
Atendendo aos referidos critérios, fez-e a opção de pesquisa em duas organizações:
uma Organização Não-Governamental, doravante denominada, APOIAR (nome fictício), e
uma organização pública, doravante denominada INOVAR, (nome fictício). Os nomes das
referidas instituições serão mantidas em sigilo, conforme solicitação, como forma de
preservar dados e informações fornecidas pelas mesmas.
A APOIAR foi fundada em 1994 por um empresário suíço para promover o
desenvolvimento sustentável por meio de alianças entre empresas privadas bem-sucedidas e
responsáveis, e as organizações filantrópicas que fomentam a liderança e a criatividade,
atuando em toda a América Latina. Fundamenta-se nos valores da plena realização do ser
humano num contexto de harmonia individual, social e ambiental, como foco principal do
desenvolvimento sustentável; na dignidade humana expressa no exercício da democracia, na
igualdade de oportunidades, na liberdade com responsabilidade, na honestidade e na
solidariedade; na modéstia que deve conduzir nossas ações, consagrando as contribuições de
outros no processo de construção coletiva de um mundo melhor para todos e cada um, e na
criação contínua que favoreça a eficácia, a eficiência e a produtividade de nossas ações.
A INOVAR é um órgão público constituinte de um núcleo central do sistema de
planejamento, controle, orientação e execução da política fiscal, tributária, financeira,
orçamentária e de compras de uma unidade federativa. Tendo, pois, como atribuições: analisar
e avaliar permanentemente a situação econômica e financeira da unidade; dirigir e executar a
política de administração tributária, fiscal, econômica, orçamentária e financeira da mesma;
elaborar estudos e pesquisas para prevenção da receita, bem como adotar as providências
executivas para a obtenção de recursos financeiros de origem tributária e outros; oferecer
orientação e definir o relacionamento com os contribuintes; bem com o exercer outras
atividades correlatas com as suas atribuições.
91
Em relação à seleção dos entrevistados, Merriam (1998) descreve dois tipos de
amostragem a probabilística e a não probabilística. A primeira é conhecida como
amostragem aleatória, na qual o intuito do pesquisador é a generalização dos resultados de seu
estudo sobre a população da qual tal amostra foi extraída. A segunda é conhecida como
amostragem não probabilística intencional. Ela permite a escolha de fontes ricas de
informação que ajudam a compreender o fenômeno pesquisado (MERRIAM, 1998), e não
tem por objetivo a generalização dos resultados.
Para tanto, como a generalização dos resultados, em termos estatísticos, não é objetivo
da pesquisa qualitativa, a amostragem do tipo probabilística não é essencial nem explicável
nesse tipo de pesquisa. Logo, a escolha justificável neste estudo foi a amostragem não
probabilística intencional, é baseada “no pressuposto de que o investigador quer descobrir,
entender e obter insights e, assim, deve selecionar um campo de onde mais possa ser
aprendido” (MERRIAM, 1998, p.62).
Diante disso, o universo da pesquisa de campo foram colaboradores das organizações
em estudo, privilegiando-se três critérios: a) a escolha de indivíduos que tenham efetivamente
participado do processo de implementação do Método de IA; b) a escolha dos profissionais de
todos os níveis hierárquicos da organização; c) o terceiro critério foi de acessibilidade
O primeiro critério foi importante uma vez que se justifica pela intenção de incluir na
pesquisa os indivíduos que participaram do desenvolvimento da implementação Método de
IA, podendo, pois, identificar os fatores que se apresentaram como favoráveis ou não a
eficiência do processo.
Com relação ao segundo critério de escolha níveis hierárquicos foi considerado
importante pelo fato de que se almejava realizar o estudo de caso que contemplasse a
organização de maneira ampla, cuja análise perpassasse todos os níveis hierárquicos da
mesma, levando-se em consideração a hipótese que o Método de IA atua em todos os setores
da empresa e é desenvolvido e acompanhado por um grupo de colaboradores de todos os
níveis operacionais da mesma.
Por fim, por terceiro, foram escolhidos para fazerem parte do rol de entrevistados
aqueles sujeitos sociais aos quais o pesquisador terá acesso direto, de modo que se possa
garantir o acesso e disponibilidade de informações, o tempo para a realização das entrevistas,
o fornecimento de documentos e a autorização para realização da observação, aspectos
fundamentais num estudo qualitativo.
92
3.2.3 Instrumento de coleta de dados – Fase 3
Após definir o problema da pesquisa, o investigador deve identificar que informação é
relevante para responder ao problema e qual a melhor forma de obtê-la (MERRIAM, 1998).
Para a finalidade deste estudo, os dados foram coletados de forma a atender aos
objetivos da pesquisa qualitativa, não pretendendo estabelecer generalizações estatísticas por
meio de amostras probabilísticas (MERRIAM, 1998).
Entende-se por dados àqueles fragmentos de informações encontrados no ambiente.
Em se tratando de dados de caráter qualitativo, acredita-se que eles consistam na própria fala
das pessoas sobre suas experiências, sentimentos, opiniões e conhecimentos. Para Merriam
(1998), essas informações podem ser coletadas por meio de entrevistas, observação e análise
de documentos.
Patton (2002) ratifica que os dados qualitativos consistem, basicamente, em citações,
observações e excertos de documentos. Além disso, devem ser ricamente descritivos em suas
análises, capturando e comunicando a experiência do pesquisado sobre o mundo, tal qual ele o
percebe.
Todavia, não se pode afirmar, a priori, qual dessas fontes, isoladamente, é a mais
importante. Neste sentido, Yin (2001) ressalta que um dos princípios para a coleta de dados
em estudos de caso é utilizar-se de várias fontes de evidência a fim de promover a sua
triangulação.
Portanto, como a combinação das fontes de coleta de dados é recomendada como
forma de aproximar o máximo possível o pesquisador da realidade, mediante a riqueza de
informações compartilhadas, nesta pesquisa, será utilizado três técnicas para a coleta de
dados.
A coleta de dados ocorreu primordialmente por meio da realização de entrevistas, que
pode ser entendida como “um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma
delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o
entrevistado” (HAGUETTE, 2002).
As entrevistas realizadas foram semi-estruturadas, implicando na existência de um
roteiro (Apêndice A) constando de uma lista de pontos ou tópicos previamente estabelecidos
de acordo com a problemática central (HAGUETTE, 2002). O uso deste tipo de entrevistas
permitiu um mix de questões relativamente estruturadas, possibilitando ao entrevistador
ultrapassar os limites das questões definidas no roteiro para buscar novas informações que
emirjam ao longo das entrevistas (MERRIAM, 1998).
93
A segunda técnica empregada foi a análise de documentos da própria organização em
estudo, bem como documentos secundários e materiais bibliográficos, como recomendando
por Merriam (1998, p.113), ao passo que propõe que “os documentos são importantes fontes
de coleta de dados nas pesquisas qualitativas, e compreendem materiais físicos, visuais e
escritos sobre o estudo”. Sendo, ainda, importante ressaltar a relevância da coleta de dados
através de documentos como um complemento do entendimento decorrente das entrevistas e
da observação.
Por fim, acrescenta-se aos instrumentos de coleta de dados supracitados a realização
da observação não-participante do pesquisador. Valendo ressaltar a necessidade de o
pesquisador ser um observador cuidadoso, pois, como instrumento de coleta de dados, a
observação não deve ser realizada de forma casual (MERRIAM, 1998).
3.2.4 Análise dos dados – Fase 4
A etapa de análise dos dados consistiu no processo de dar sentido ao que foi coletado.
Esse foi um processo complexo, que envolveu tarefas de dedução e interpretação dos dados, à
procura de significados, entendimentos ou insights que constituíam os achados do estudo
(MERRIAM, 1998).
A fase de análise dos dados representou o processo de busca e de organização
sistemática do que foi coletado por meio de entrevistas, documentos e notas de campo. A
organização sistemática dos mesmos levou à divisão em unidades manipuláveis, ou
categorias, realizando-se sínteses, em prol de encontrar padrões e aspectos importantes que
precisavam ser evidenciados no estudo.
Na pesquisa qualitativa, a análise dos dados ocorreu concomitantemente à etapa de
coleta dos mesmos. Para Merriam (1998) separar estas duas etapas coleta e análise dos
dados na pesquisa qualitativa é um equívoco. Além disso, a análise na pesquisa qualitativa
busca transformar os dados em achados, não existindo, uma fórmula para esta transformação
(PATTON, 2002).
Uma etapa importante na fase de análise de dados foi o desenvolvimento de uma lista
de categorias de codificação, o que aconteceu logo após o pesquisador ter recolhido os dados
e se preparado para organizá-los através da utilização de um roteiro de categorização de dados
(Apêndice B).
94
Alguns direcionamentos que puderam guiar esta atividade. Segundo Patton (2002),
apesar das diferentes maneiras em que os dados podem ser analisados e apresentados, um
ponto em comum na análise qualitativa é o desafio de dar sentido a um grande volume de
dados. Isto envolve, segundo o autor, é fundamental “reduzir um volume de informações
brutas, peneirar os dados que têm significado, identificar padrões significativos e construir
uma estrutura para comunicar a essência que os dados revelam” (PATTON, 2002, p. 234).
Para que fossem identificados estes padrões, utilizou-se, neste estudo, o método de
comparação constante que, segundo Merriam (1998), consiste em comparar continuamente os
incidentes, ou seja, o conteúdo de dados que emerge da coleta. Inicia-se por um incidente
percebido pelo pesquisador nos dados coletados por meio das entrevistas, notas de campo ou
documentos comparando-o com outro incidente no mesmo conjunto de dados (MERRIAM,
1998).
A elaboração das categorias foi realizada por meio de uma construção indutiva (a
partir dos achados empíricos) e de constantes comparações. Segundo Merriam (1998), estas
comparações devem capturar os padrões recorrentes e que acontecem com preponderância até
a saturação das categorias. Esta idéia foi corroborada por Strauss; Corbin (1998) ao propor
que as comparações constantes devem conduzir à formação de categorias que são os conceitos
derivados dos dados e sustentados pelos fenômenos.
Deste modo, apresentam-se, através da figura 19 adiante, as 11 (onze) categorias de
dados utilizadas neste estudo, destacando-se como relevantes a fonte de onde surgiram, se da
pesquisa bibliográfica ou documental, bem como os números das respectivas questões
referentes a cada uma das categorias propostas para análise.
Como fruto de uma pesquisa realizada bibliograficamente, emergiram as 6 (seis)
primeiras categorias representadas na figura 19: a) espaço para ser reconhecido numa relação;
b) espaço para ser ouvido; c) espaço para sonhar em conjunto; d) espaço para escolher
contribuir; e) espaço para agir com apoio; e f) espaço para ser positivo, que correspondem às
25 primeiras questões utilizadas no roteiro de entrevista semi-estruturado (Apêndice A).
Como fruto de uma pesquisa realizada documentalmente, emergiram as 5 (cinco)
últimas categorias representadas na figura 19: a) conflitos e pensamentos ruminativos; b)
tempo de vida útil do grupo de IA; c) utilização de mídias alternativas; d) preparação e
formação do consultor de IA, e e) momento de genuína apreciação, que correspondem às 13
últimas questões utilizadas no roteiro de entrevista semi-estruturado (Apêndice A).
95
Durante a análise dos dados, contudo, as questões adiante destacadas em vermelho, de
números 11, 12 e 13 foram realocadas na categoria 7 (conflitos e pensamentos ruminativos), e
as questões 30 e 31, na categoria 9 (utilização de mídias alternativas).
Figura 19 (3) – Circunscrição das categorias utilizadas na análise dos dados
Fonte: Adaptado de Silva (2010)
Para uma melhor visualização do processo de pesquisa, apresenta-se como
representação gráfica e a síntese dos procedimentos metodológicos utilizados no estudo o
seguinte desenho metodológico, apresentado na figura 20 a seguir:
10
Compreender quais os
fatores críticos à
implementação da
metodologia de
Investigação
Apreciativa no caso das
organizações em estudo.
Conflitos e
pensamentos
ruminativos
Espaço para
ser positivo
Espaço para
escolher
contribuir
Espaço para
agir com apoio
Tempo de vida
útil do grupo
de IA
Utilização de
mídias
alternativas
Preparação /
Formação do
Consultor de IA
Momento de
genuína
apreciação
Espaço para
sonhar em
conjunto
Espaço para ser
reconhecido numa
relação
Espaço para ser
ouvido
PESQUISA
DOCUMENTAL
PESQUISA
BIBLIOGRÁFICA
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
19
15
16
17
18
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
96
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o
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Delimitação do Campo Empírico
Organizações acessíveis e bem sucedidas na utilizado da IA
Respondentes: Amostragem não-probabilística
Acesso às unidades de alise
Definição final dos roteiros de entrevista semi-estruturadas
Definição dos documentos a analisar (Pesquisa Documental)
Alisepreliminar dos dados e ajuste do instrumento
Elaboração eteste do instrumento de coleta de dados
Entrevistas
Clientes
Levantamento
Documentos
Apresentação e Análise dos dados
Discussão dos resultados
Considerações finais
Transcrição das entrevistas
Categorização dos dados
coletados
Categorização dos dados
coletados
Pesquisa Indutiva
Pesquisa de Campo Ex post facto
Pesquisa QualitativaBásica
Pesquisa Qualitativa
Pesquisa Bibliogfica
Pesquisa Descritiva Exploratória
Pesquisa Documental
Entrevistas
Consultores
Figura 20 (3) - Desenho metodológico do estudo
Fonte: Elaboração própria
97
3.3 Validade
No desenvolvimento de pesquisas é preciso que o pesquisador atente para a validade
do estudo que realiza, ressaltando-se que a confiança no resultado das pesquisas qualitativas
representa um elemento essencial para o progresso das ciências sociais.
Para Merriam (1998) para obter efeitos práticos ou na teoria da educação, os estudos
qualitativos devem ser rigorosamente conduzidos, o que implica a consideração de questões
éticas ao longo do desenvolvimento da pesquisa.
Nas pesquisas qualitativas, em particular, alguns autores sugerem formas de se
maximizar a validade dos estudos. Yin (2001) defende três princípios: a manutenção do
encadeamento de evidências como forma que o leitor perceba como cada evidência conduziu
o pesquisador à conclusão do estudo, a variabilidade de fontes de evidência e sua
triangulação; e a criação de um banco de dados a fim de organizar e documentar os dados
encontrados.
Merriam (1998) acrescenta que um pesquisador pode utilizar seis estratégias básicas a
fim de garantir validade interna de sua pesquisa: a) Triangulação – através de múltiplos
investigadores, fontes de dados ou métodos; b) Checagem com membros levando
interpretações iniciais de volta para os entrevistados para a avaliação de se os resultados são
plausíveis; c) Observações prolongadas: no local da pesquisa ou várias sobre o mesmo
fenômeno; d) Avaliação dos pares: comentários dos colegas sobre os achados emergentes; e)
Modos de pesquisa participativa ou colaborativa: envolvendo participantes em todas as fases
da pesquisa; f) Vieses do pesquisador: clarificando seus pressupostos, sua visão de mundo e
orientação teórica no início do estudo.
Diante disso, no presente estudo foram utilizadas algumas destas estratégias a fim de
aumentar a validade do mesmo.
A primeira delas foi a utilização da triangulação (o uso de diferentes instrumentos de
coleta de dados), realizado através da utilização das entrevistas semi-estruturadas, realizadas
tanto presencialmente, quanto via web (através da utilização do software SKYPE), dos
documentos e da observação relevantes à implementação do estudo.
A segunda, o cuidado em manter o encadeamento das evidências. Através da criação
de blocos de notas (através da utilização do software WORD Office 2007), referentes aos
achados percebidos durante as coletas de dados, bem como os insights surgidos durante a
transcrição, tabulação e análise dos mesmos.
98
Em terceiro lugar, foi realizada a avaliação dos pares através de encontros periódicos
com um grupo de estudos formado por dois mestrandos e dois doutorandos, objetivando não
apenas validar os achados encontrados, como, também, encontrar novas articulações ainda
não percebidas pelo pesquisador.
Por fim, prezou-se pelo esclarecimento dos vieses do pesquisador no início da
pesquisa, adotando-se uma postura subjetivista no qual a realidade é socialmente construída,
podendo ser analisada a partir da percepção dos indivíduos que dela fazem parte, o que foi
detalhadamente explicado no início deste capítulo de procedimentos metodológicos.
99
4 Apresentação e análise dos resultados
Nesta seção será realizada a apresentação dos resultados da pesquisa de campo em que
explicitada a percepção de clientes e dos consultores acerca da melhores práticas de
implementação do método de Investigação Apreciativa no ambiente organizacional, bem
como os fatores críticos a este processo.
4.1 Espaço para ser reconhecido numa relação
Whitney e Trosten-Bloom (2003) defendem que o método de IA propicia a criação de
um ambiente no qual as pessoas sentem-se livres para se relacionarem umas com as outras e,
nessa relação, serem reconhecidas. Neste momento, a identidade dos sujeitos se forma e
evolui nas relações, modificando-se, paulatinamente, até o momento em que atravessa as
‘fronteiras’ do poder e da autoridade.
4.1.1 O espaço para ser reconhecido numa relação sob a ótica do
cliente
No que diz respeito à possibilidade de que as pessoas cheguem ao programa de
Investigação Apreciativa dispostas a participar, sob a ótica dos clientes, demonstra
ambigüidades. Para algumas pessoas já existe uma predisposição natural do indivíduo a
resistir àquela situação nova, com a qual não tem, ainda, familiaridade, o que, com o tempo e
a participação no processo, ipaulatinamente ser diminuído, de modo que as pessoas falarão
com maior segurança de que terão suas opiniões escutadas, embora não necessariamente
aceitas. Conforme se pode explicitar pelos depoimentos a seguir.
(...) Não, eu diria que não. Não, pelo seguinte, porque, (...) a gente tem que
vencer uma resistência muito grande a princípio, e (...) a própria cultura da
organização não deixa as pessoas muito a vontade. Leva um tempinho pra se
instalar esse ambiente. Na verdade, uma coisa que eu me recordo, que no
nosso último encontro, muitas pessoas fizeram essa mesma referência. [...]
100
No primeiro momento, todo mundo muito tímido, todo mundo muito
preocupado, todo sem saber onde é que estava pisando, e, assim por diante.
Então, eu acho que, DE INÍCIO, não, não existe esse ambiente (Cliente A,
grifo nosso)
Eu acho que com o tempo as pessoas vão, vão.. vão se abrindo mais, né. [...]
Mas, é.. eu posso lhe dizer que eu sentia que a técnica ela fluía muito fácil, o
método em si, né. Por, principalmente, abordar questões muito positivas. É
muito baseada em questões positivas. (Cliente D, grifo nosso)
Todavia, algumas outras pessoas entendem que, embora se trate de uma situação nova,
a geração de um ‘clima’ propício à colaboração das mesmas seria significativo, ou, até
mesmo, suficiente, para desencadear esta participação efetiva. Destacando-se a associação
desta perspectiva, à predisposição natural que algumas equipes de trabalho podem ter, de
‘vivenciar’ o método de IA, em virtude da natureza do trabalho que desenvolvem em suas
próprias práticas profissionais.
Sim, eu acho que a técnica, pelo menos na experiência que eu vivenciei, ela
favoreceu.. favoreceu muito isso né? A que as pessoas se sintam a vontade
[para de expressarem o que elas realmente pensam para todo o grupo]. [...]
Então, assim, as pessoas se sentiram a vontade. Com certeza! (Cliente D,
grifo nosso)
No caso específico que eu vivenciei havia uma dose de predisposição de
abertura muito grande . Por ser uma empresa de consultoria.. e que
trabalhava com o método de aprendizagem organizacional.. esse tipo de
coisa? (Cliente D, grifo nosso)
Este ‘clima’ pode ser entendido como fruto de uma articulação das técnicas utilizadas
pelo próprio método, como, por exemplo, a utilização de memórias e recordações felizes em
prol da idealização de imagens positivas, e, portanto, de um ambiente permeado por
sentimentos naturalmente bons e produtivos, o que pode ser explicitado a partir da premissa
apresentada pelo cliente D de que “a técnica ela fluía muito fácil, o método em si, né. Por,
principalmente, abordar questões muito positivas. É muito baseada em questões positivas”.
A abordagem da Investigação Apreciativa é muito inteligente, pois a
entrevista apreciativa, que é um dos principais elementos do processo, inicia
investigando o que a pessoa tem de melhor, suas histórias e isto gera um
clima positivo e de confiança. (Cliente B)
Concepção esta compartilhada pelo Cliente A, ao considerar o fator ‘tempo de
participação no processocomo relativo ao desenvolvimento da confiança que as pessoas têm
no mesmo, e no grupo em si, compreendendo que, de fato, terão espaço para expressarem o
que realmente pensam “[já no final da intervenção] as pessoas estavam à vontade. As pessoas
101
estavam falando, as pessoas estavam se colocando, as pessoas estavam perguntando,
questionando, investigando”. (Cliente A, grifo nosso)
Com relação à possibilidade de criação ou desenvolvimento de um ambiente propício
à implementação do método em questão, existe uma concordância no que se refere à
imprescindibilidade da participação da alta administração das organizações, bem como do
patrocínio da liderança durante o processo.
Eu acho que o mais primordial dos fatores é o patrocínio da liderança. O
líder que esteja fazendo parte do grupo, investindo naquilo, participando
daquilo. Ele vai criar um, ele vai criar uma cultura de participação maior.
(...) Se o líder se defende, praticamente o resultado vai sem mãos. Eu acho
que esse é o fator primordial. (Cliente A, grifo nosso).
Para mim, um dos fatores mais significativos na construção de um ambiente
aberto à participação das pessoas é a confiança da alta administração no
processo. (Cliente B, grifo nosso).
Aspectos ainda relevantes e apontados como significativos à construção de um
ambiente propício à participação das pessoas no processo e ao reconhecimento das mesmas
nessa relação foram a possibilidade de mudança de cultura dentro da organização, o tempo de
convivência do grupo e a formação do consultor.
A possibilidade de uma mudança cultural poderá ser compreendida através da
“disponibilidade dessa mesma liderança pra investir numa mudança de cultura” (Cliente A),
pois a “própria cultura da organização não deixa as pessoas muito a vontade. Leva um
tempinho pra se instalar esse ambiente” (Cliente A), de modo que “mecanismos de motivação
que estimulassem a participação de forma voluntária” (Cliente B) fossem criados e, que, para
isso, seria conveniente criar grupos cada vez mais heterogêneos.
Uma vez que as pessoas compreendem que a cultura vigente no ambiente
organizacional não promove, ou até mesmo não possibilita a colocação de novos pontos-de-
vista, dificilmente estarão dispostas a expor o que pensam para o restante do grupo, alegando
ser uma “exposição desnecessária e improdutiva” (Cliente E), que a organização não se
dispõe a modificar traços culturais já arraigados às suas origens.
Todavia, a possibilidade de exposição de idéias, durante o processo de investigação
apreciativa da realidade, parece ser aumentada ao passo que as pessoas já têm algum
tipo/tempo de convivência anterior à formação do grupo de IA. Nos grupos em que havia um
tempo relativo de convivência, no mínimo 5 (cinco) anos, as pessoas, embora tenham passado
por algum tipo de resistência, mostraram-se dispostas a participar do programa com maior
102
aprofundamento do que as pessoas que não tinham nenhum tipo de relacionamento prévio
entre si.
Sim.. é.. com certeza o grau de confiança que as pessoas já tinham entre si
significativo na construção de um ambiente favorável à participação das
pessoas]. Isso.. com certeza é muito influente. [...] [o tempo de equipe] as
pessoas tinham de familiaridade com a equipe, esse é um fator relevante.
(Cliente D, grifo nosso).
O grupo é um grupo que trabalha muitos anos junto, uns 20 anos (...)
algumas dessas pessoas estão ai 20 anos, mas eu diria que a média deste
grupo que participou era de, pelo menos, 10 anos de casa. Então, o grupo
que se conhece, que trabalha junto, parará, parará... então isso ajuda a brotar
naturalmente (Cliente A, grifo nosso).
Por fim, apresenta-se como aspecto diretamente proporcional à participação efetiva
das pessoas e abertura as mesmas ao processo, a formação e preparação do consultor
(interveniente) de IA. Assim, quanto mais preparado e capacitado for o consultor, mais
familiaridade ele terá com o método e todas as suas ferramentas, e maior será a predisposição
das pessoas em contribuir. De alguma forma, o consultor é tido como parâmetro de atuação
perante o grupo, ou seja, suas atitudes, quando positivas, são favoravelmente percebidas e
‘copiadas’ pelos demais participantes do grupo, similarmente ao que se pode observar
mediante o comportamento dos líderes organizacionais, formais e informais.
Mas, não tem como eu falar sobre a técnica especificamente, sem falar
também do ambiente e do próprio interveniente, né? Então, a gente tava
numa empresa que primeiro a equipe se conhecia a um bom tempo. E,
segundo, o interveniente era bem, era bem experiente, né? Um cara muito
preparado né? Então, é.. assim.. as pessoas se sentiram a vontade, com
certeza! (Cliente D, grifo nosso).
Porque, inclusive, tem uma coisa engraçada, eu acho que quem contribuiu
muito pra isso [o desempenho e reconhecimento das pessoas no grupo] foi a
própria figura do consultor, [...] era reconhecida por todos os participantes,
ou, pelo menos, por uma boa parte dos participantes como uma pessoa
evoluída, uma pessoa avançada, uma pessoa espiritualizada. E isso tinha uma
marca. (Cliente A, grifo nosso).
No que se refere aos fatores dificultadores / dificultantes ao desenvolvimento de um
ambiente no qual as pessoas tenham espaço para serem reconhecidas, é apontado como de
bastante relevância a resistência dos agentes participantes, sejam eles dirigentes
organizacionais, sejam os demais membros colaboradores.
Inicialmente, vale ressaltar que duas posturas foram adotadas, pelas organizações
abordadas no estudo. Existiram organizações que utilizaram o método de IA durante a
realização de atividades de trabalho das equipes, como, por exemplo, durante um projeto de
103
planejamento estratégico da organização, e existiram outras que tomaram como base a política
de participação voluntária no processo. Para este segundo grupo de organizações, a
voluntariedade de participação das pessoas foi considerado como um fator de dificuldade
encontrado, pois as pessoas, algumas vezes, ‘não levaram o projeto a sério’ (cliente C).
As pessoas resistem muito e como não é obrigatório, 'vai quem quer', a
pessoa achava que é uma perda de tempo, né. Então, esse é um fator
realmente significativo pra atrapalhar: a resistência das pessoas. (Cliente A,
grifo nosso).
Eu não vivenciei isso, né. Isso eu o vivenciei. Mas, mas que pode haver
fator que pode dificultar, sim. Se as pessoas estão com um ambiente muito
tenso, ou, ou um grau de dificuldade, de desconfiança, né. As pessoas.. acho
que isso dificulta. Mas eu não vivenciei isso, nesse caso. Nessa intervenção
não houve. (Cliente D, grifo nosso).
Posteriormente, destaca-se o impacto da utilização deste método em equipes de
trabalho técnicas, cujo raciocínio é predominantemente lógico-matemático, e as atividades de
trabalho são técnicas e racionais, o que, pode ser considerado como fonte de desestímulo e
resistência das pessoas destas equipes de trabalho em participar da IA. “As pessoas não estão
habituadas a compreender porque fazem isso ou aquilo, apenas fazem e agem. [...] não se tem
interesse de saber porquês” (Cliente C, grifo nosso).
Primeiro por que nós somos uma [equipe] extremamente técnica, ou seja, as
pessoas são acostumadas a pensar muito racionalmente, 2+2 = 4, a raiz
quadrada é um e vai por ai afora. Então, é, quando você diz assim, 'vamos
parar e vamos pensar na ação nossa enquanto seres humanos, enquanto
agentes de uma, de uma relação' isso complica, tanto é que o nosso programa
começou com 68 pessoas e terminou com 40... menos até de 40. (Cliente A,
grifo nosso)
Entretanto, muito embora a resistência tenha se mostrado presente, uma
consonância no que diz respeito à possibilidade de criação de um ambiente propício a
participação das pessoas e a criação de um espaço em que estas possam ser reconhecidas
durante à relação entre as partes, “esse ambiente ele vai se construindo com o próprio método,
com a própria aplicação do método”, (Cliente A), “pois a metodologia consegue estabelecer
uma conexão entre os aspectos pessoais do indivíduo e seu papel na empresa” (Cliente B), ou
seja, existem impactos relevantes da resistência das pessoas em virtude do tipo de trabalho
que desenvolvem, todavia, esse fator não é determinante no sucesso deste método, apenas
significante.
Outro aspectos apontado como relativos às dificuldades de desenvolvimento de um
ambiente aberto à participação das pessoas, no qual houvesse liberdade para ser reconhecido
104
na relação, foi a presença de um “ambiente de trabalho tenso” (Cliente D) e “pouco amistoso”
(Cliente C).
4.1.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser
reconhecido
No que diz respeito à existência de um ambiente no qual as pessoas tenham, de fato,
liberdade e espaço para se manifestarem abertamente, os consultores entrevistados não estão
em consenso absoluto, apontando como relevante para a consolidação deste ambiente um
somatório de aspectos tais quais: a) a natureza do ambiente – se propícia à confiança e
transparência das pessoas -, b) a geração de informações de maneira clara e compartilhada
com todos os colaboradores, favorecendo a disseminação de informações válidas e úteis das
quais as pessoas precisem para que possam analisar criticamente a escolha de contribuir com
o processo ou não, sem a interferência de terceiros. Idéia esta corroborada por Argyris (1970),
“Intervir é entrar num sistema de relações em andamento, aproximar-se de pessoas, grupos e
intentos com o propósito de ajudá-los [...]. O interveniente não pode ajudar quem não quer ser
ajudado” (ARGYRIS, 1970 apud VALENÇA, 2009, p. 55); c) o desenvolvimento de uma
atitude genuinamente apreciativa pautada nos valores éticos e morais dos indivíduos, bem
como em sua co-responsabilidade perante à sociedade -, e d) o domínio do método de IA.
O processo de IA favorece, porém as condições prévias ao processo têm um
peso relevante. Se o ambiente atual é de desconfiança e de agendas ocultas
indiscutíveis, não como expressar o que se pensa (CONSULTOR C, grifo
nosso).
Com IA as pessoas se sentem seguras para expressarem seus sentimentos,
pois o foco do trabalho é no melhor que já aconteceu em sues passados e por
isso as pessoas não somente se sentem mais seguras pra se expressarem mas
também interessadas em ouvirem as fortalezas e as experiências bem
sucedidas de outros participantes (CONSULTOR B, grifo nosso).
[...] defendo um modelo tridimensional para a boa performance na
intervenção com o método da investigação apreciativa. Quando (a)
geração da informação, (b) atitude genuinamente apreciativa e (c) domínio
artístico dos requisitos do método (CONSULTOR A).
Se, para alguns, apenas as ferramentas de rememoração de eventos passados felizes e
bem sucedidos são suficientes para despertar nas pessoas o sentimento de confiança no grupo,
fazendo com que se coloquem diante dele de maneira desnuda e sincera, para outros, contudo,
105
alguns aspectos mais intrínsecos à subjetividade do sujeito necessitam ser levados em conta,
de modo que, não desmerecem a preparação para a aplicação do método, tampouco suas
ferramentas e pressupostos, todavia, despertam o interesse no ‘amadurecimento apreciativo’
pelo qual as pessoas necessitariam ter passado, para poderem chegar, de fato, abertas para
participar livremente, bem como o grupo, para recebê-las com abertura similar, precisaria,
também, encontrar-se amadurecido.
Para tanto, existe concordância de que não são todos os casos em que as pessoas se
dispõem a participar abertamente desde o momento que chegam ao grupo, e que mesmo as
pessoas que não chegam dispostas a participar abertamente podem, com o passar do tempo,
engajar-se no processo. Para o consultor B, as pessoas, tanto as positivas quanto as negativas,
têm a predisposição natural de contribuir, todavia, estas tendem a demorar um pouco mais no
engajamento com o método do que aquelas, porém, todos tendem a colaborar sempre.
Não necessariamente [as pessoas chegam dispostas a participar
abertamente], depende muito da própria pessoa, as vezes as pessoas são
positivas por natureza, em um copo de água cheio até a metade, essas
pessoas tendem a ver o lado meio cheio. Por outro lado, existem pessoas
também que são naturalmente mais negativas com a vida, isso depende
muito de como um ver o mundo e atua em seu viver. Assim, algumas
pessoas entram abertamente e outras demoram mais a se engajarem no
processo (Consultor B, grifo nosso).
Deve-se levar em consideração, também, segundo o consultor C, que a forma como as
pessoas se posicionarão, dependerá direta ou indiretamente da forma como a IA for aplicada
na organização, de modo que, se preparadas e sensibilizadas anteriormente, as pessoas
tenderão a colaborar mais, corroborando a idéia de ‘amadurecimento apreciativo’ proposta
pelo consultor A anteriormente. E, ainda, que a prévia “preparação do ambiente”
(CONSULTOR C) será uma forma fundamental de comunicar aos participantes do processo
qual o real posicionamento dos líderes organizacionais e da alta administração acerca do
tipo de postura requerida e aceita no processo, ou seja, as pessoas se portarão do modo como
acharem que serão ‘bem vistas’ pelos dirigentes organizacionais, não tendo, pois, o interesse
de ir de encontro ao que esperam.
O processo de IA pode ser aplicado de diferentes formas, uma delas é
preparar o ambiente com antecedência. Se os patrocinadores dão sinais fortes
de que querem a participação e que as pessoas serão ouvidas, vistas e
consideradas, uma grande chance de “abertura”. Se IA for uma mudança
brusca na cultura os participantes naturalmente vão chegar cautelosos
(CONSULTOR C).
106
Todavia, o consultor A acredita que independente da ‘natureza’ das pessoas, ou seja,
quer sejam positivas, quer sejam negativas, elas sempre chegam ao processo arraigadas às
suas impressões e concepções anteriores, provocando reações defensivas diante da realidade,
e, ainda, percebendo esta realidade de um modo que se possam ratificar suas concepções
prévias, nas mais diversas proporções. Muito embora, esteja de acordo com o consultor B, ao
afirmar que, uma vez percebido o sucesso do método, as pessoas tendem a se tornar mais
abertas e, portanto, mais participativas. E quando o ambiente é convenientemente preparado e
construído para receber abertamente às pessoas, e estas superam as fases iniciais de
desconfiança e insegurança, efetivamente se deixando participar do processo, tendem a se
sentir bem, adquirem autenticidade no que fazem e dizem e, portanto, assumem uma postura
mais eficaz em múltiplas dimensões.
Mas as pessoas vêm com suas defensas, ignorâncias, percepções seletivas e
atitudes convencionais. Com o sucesso incremental do método, as pessoas
tendem a se tornar mais abertas e transparentes. [...] então o ambiente é
construído de tal modo que as pessoas (1) se sintam bem, (2) tenham
autenticidade na expressão e (3) sejam mais eficazes em múltiplas
dimensões (Consultor A, grifo nosso).
No que tange à preparação do ambiente de implementação do método favorável a
abertura e posicionamento sincero das pessoas, todos os entrevistados estão em consonância
ao defender que aspectos como o comprometimento interno das pessoas e dos líderes
organizacionais, a construção partilhada do processo e a disseminação das informações de
maneira válida e útil, e a autonomia das pessoas durante todo o processo, quer seja para se
posicionar criticamente, quer seja para optar não participar, devem ser respeitadas e são
aspectos bastante importantes.
Como dito antes, os patrocinadores, por exemplo a alta direção, precisam
estar comprometidos com o processo, alo [elo] de comprometimento interno,
precisam acreditar e demonstrar isso. Outro ponto é o cuidado prévio em
explicar como será o processo, qual o propósito e qual a importância da
participação de todos. Isto se chama geração e informação válida (ver
Intervention theory and method, Argyris, 1970). Deixar as pessoas livres
para escolherem participar do processo ou não, isso se chama favorecer a
escolha Livre (Idem) e por fim promover o comprometimento interno
(idem). Estas são as condições primárias de intervenção e também as
variáveis governantes do modelo II de teoria de ação (ver Theory in practice,
Argyris and Schön, 1874) (CONSULTOR C, grifo nosso).
No que se refere aos fatores que obstaculam o desenvolvimento de um ambiente no
qual as pessoas tenham espaço para serem reconhecidas, é apontado pelo consultor A que o
aspecto mais nocivo à formação deste ambiente é a condução do processo por “facilitadores
107
despreparados, inautênticos, inexperientes ou mal intencionados” (CONSULTOR A), o que,
sem sombra de dúvidas, faria do processo um “jogo do faz de conta, ou [de] falta de
sinceridade” (CONSULTOR B), no qual as pessoas provavelmente não poderiam se
posicionar abertamente, uma vez que os próprios intervenientes poderiam não estar se
portando de forma semelhante, que não tinham preparação e experiência compatíveis com
as necessidades emergentes durante a intervenção. Fazendo-se, pois, necessário, que tanto o
facilitador, quanto a própria organização, tenham uma clareza no que diz respeito aos
propósitos da referida intervenção, de modo que esta possa ser planejada e conduzida
pautadas em tais propósitos.
Quando os lideres ou pessoas que estão contratando o processo não tem
clareza de onde querem chegar, a definição clara de propósito é um passo
importante para facilitar o desenvolvimento (CONSULTOR B).
Ressalta-se, também, que prismas inerentes a própria cultura da organização deverão
ser considerados, ou seja, aquelas nas quais se preza pela participação das pessoas e liberdade
de expressão das mesmas, tenderão a desenvolver ambientes apreciativos com maior
facilidade do que as organizações em que predominam atitudes autocráticas e severas entre as
pessoas.
Diversos fatores contribuem para um ambiente não apreciativo, se qualquer
um deles for marcadamente um fator relevante da cultura da organização a
dificuldade está instalada. Exemplos, organização muito hierárquica,
comando e controle, erro zero (CONSULTOR C, grifo nosso).
4.2 Espaço para ser ouvido
A Investigação Apreciativa propõe a abertura de um espaço no ambiente
organizacional no qual as pessoas além de reconhecidas possam ser verdadeiramente ouvidas,
de modo que, na prática, todos os participantes adaptam-se, paulatinamente, à escuta,
desenvolvendo o respeito por aquilo que o outro fala, através de sentimentos como atenção e
empatia pelos próximos.
Ser ouvido implica que o outro (que ouve) escute com uma curiosidade sincera,
empática e compadecida, demandando uma abertura não apenas para o conhecimento, como
para a aprendizagem e a compreensão da história do outro (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM,
2003).
108
4.2.1 O espaço para ser ouvido sob a ótica do cliente
Em se tratando de clientes, existe uma concordância total sobre a importância das
pessoas saberem e confiarem que, de fato, serão escutadas atentamente, - conforme destaca o
cliente B “considero super importante, desde que as vozes sejam ouvidas” -, terão espaço para
se manifestar, com a convicção de que, não necessariamente todos estarão de acordo com os
pontos-de-vista que o indivíduo tem, mas que este terá a possibilidade de comunicar
abertamente a todos aquilo que pensa, e que estes outros, por sua vez, poderão e saberão
escutá-los com atenção.
Na realidade, os dados coletados, também em sua totalidade, apontam para a crença de
que, sem este sentimento de confiança e empatia pelo grupo, as pessoas dificilmente se
manifestariam, “Olha, eu diria que se não houver esse espaço, não é possível utilizar a
metodologia da Investigação Apreciativa. (...) É fundamental” (Cliente A).
[...] Bem, isso é muito importante para que eu me sinta a vontade para
participar, com certeza. Basicamente isso. [...] Eu digo assim, sabendo que
as pessoas me darão espaço para que eu me manifeste, quer dizer, eu, eu me
predisporei mais a falar, né. uma segurança maior.. eu acho isso
importante. (Cliente D, grifo nosso)
Um outro aspecto relevante apontado foi o de que as pessoas têm, naturalmente, uma
resistência inicial a se “mostrarem abertamente” (Cliente A) para o grupo, seja por
insegurança, por medo do que as pessoas vão pensar, por receio de retaliação por parte do
grupo, timidez, ou, até, pela possibilidade de, posteriormente, não poder ser parte integrante
do mesmo.
[...] porque as pessoas não se manifestam, muitas vezes, e ai eu não estou
falando, especificamente, da investigação apreciativa, mas de qualquer
prática, de qualquer técnica, as pessoas não se manifestam por medo do
ridículo, por medo de dizer besteira, por medo da rejeição, por medo do
catástrofe [...] (Cliente B, grifo nosso)
Agora, não sei como isso pode, digamos assim, afetar pessoas que
eventualmente sejam tímidas, ou que não gostam de falar. Porque tem, né.
Pessoas... as vezes você vai numa empresa que a metodologia esteja sendo
aplicada pela primeira vez, ou, a empresa que não, que não tenha costume de
fazer um trabalho desse tipo.. num primeiro momento, eu acho que as
pessoas podem não se sentir a vontade, pela falta de costume mesmo.
(Cliente D, grifo nosso)
Estes fatores, poderão, ainda estar associados à não-familiaridade com o método de
IA, podendo ser minimizados através de “um processo de sensibilização
que explique às
109
pessoas ‘o que é isso?’, ‘o que propõe esse método? [...] acredito que, dessa forma, as
pessoas poderão se dispor mais e melhor”(Cliente C, grifo nosso).
A possibilidade de se manifestar abertamente, ou promover ambientes favoráveis a
essa ‘liberdade’, tende a ser uma das grandes necessidades das pessoas, durante o processo,
principalmente em suas fases iniciais, favorecendo a que tenham voz ativa, abrindo canais de
comunicação entre os participantes do grupo, e, concomitantemente, nutrindo o hábito de
saber ouvir e ser ouvido. Valendo ressaltar, ainda, que este processo apresenta-se como parte
do ‘aprendizado’ gerado na organização, de modo que, através de intervenções de tempo mais
duradouras, poderá ser incutido na própria cultura da organização.
Se a gente não cria os espaços, na cabeça das pessoas de que elas podem
dizer besteira, de que elas podem errar, de que elas podem... e que este é que
o caminho do aprendizado, aquilo não acontece. É um bloqueio total, na
realidade. (Cliente A, grifo nosso).
Um outro aspecto levantado pela pesquisa diz respeito à possibilidade de que grupos
mais intimamente relacionados, ou com maiores períodos de tempo de convivência, tendem a
desenvolver o sentimento de empatia pelo próximo naturalmente, e, estimulados pela prática
da IA, mais rapidamente que grupos recentes ou com pouca familiaridade entre os membros.
Eu acho que [os sentimentos de atenção e empatia pelo que os outros falam]
até podem surgir naturalmente, inclusive porque o grupo é um grupo que
trabalha muitos anos junto, uns 20 anos (...) algumas dessas pessoas
estão ai 20 anos, mas eu diria que a média deste grupo que participou era
de, pelo menos, 10 anos de casa. Então, o grupo que se conhece, que trabalha
junto... então isso ajuda a brotar naturalmente, agora, quando você estimula a
prática, e ai Valença é bom nisso, então aquilo surge naturalmente, é, perdão
(ATO FALHO) aquilo surge mais facilmente. (Cliente A, grifo nosso).
O que, de fato, apresenta-se como antagônica à perspectiva apontada pelo cliente B, ao
acreditar no “estímulo a organização de grupos heterogêneos” compostos por pessoas não
apenas de setores diferentes da organização, como também de diferentes níveis hierárquicos -,
como um dos fatores significativos na construção’ de um ambiente aberto à participação das
pessoas e, portanto, favorável ao desenvolvimento de sentimentos como empatia e atenção
sincera pelo próximo.
Se o protocolo de investigação apreciativa foi bem preparado, acho que estes
sentimentos surgem naturalmente. Outro fator importante para que isto
ocorra é a realização de entrevista com pessoas que não convivem juntos
normalmente. (Cliente B, grifo nosso).
110
Para Rogers (1959), o estado de empatia, ou de entendimento empático, consiste em
perceber corretamente o marco de referência interno do outro com todos os seus significados
e componentes emocionais, como se o indivíduo fosse, de fato, a outra pessoa. A empatia
implica, por exemplo, sentir a dor ou o prazer do outro como ele o sente e perceber suas
causas como ele a percebe, sem, contudo, esquecer-se que se trata da dor ou do prazer do
outro.
A percepção de que as estratégias utilizadas pela IA, denominadas acima pelo cliente
B de “protocolo de investigação apreciativa”, são relevantes e bastante significativas para o
sucesso de implementação da mesma é corroborada pelo cliente D, dando ênfase, ainda, as
ferramentas escolhidas durante os trabalhos propostos ao grupo, deixando de lado tradicionais
ferramentas pragmáticas, avaliativas e críticas como, por exemplo, a análise de SWOT, e se
adotando, em lugar delas, novas ferramentas mais subjetivas, que estimulem as pessoas a
pensar, muitas vezes, em atividades e experiências de vida não associadas diretamente às
questões do trabalho em sim, mas a vida pessoal do colaborador. Tratar de assuntos
intrinsecamente positivos despertar nas pessoas a ‘predisposição’ a colaborar, não precisando
podar comentários e/ou pensamentos com relação a empresa, nem se defender, uma vez que
se tratam apenas de pontos positivos.
E.. eu diria assim, que, embora eu tenha visto outras aplicações de IA
especificamente, mas eu diria que a IA favorece que as pessoas já participem
mesmo né. Porque há um tipo de coisa que elas.. que é, digamos, demandado
para as pessoas falarem.. geralmente não são coisas que levem a.. as pessoas
se sentirem ameaçadas. Geralmente, se fala de coisas boas na investigação
apreciativa né? Como é 'apreciativa', né, então as coisas fluem com mais
facilidade do que se você for fazer uma análise SWOT, por exemplo, né.
Fraquezas.. forças.. esse tipo de coisa.. que ai pode, pode, rebater mais pra
aspectos negativos da empresa.. e as pessoas falarem muito por alto das
coisas, né. Ficam sendo defensivas em alguns casos.. (Cliente D, grifo
nosso).
A maioria dos entrevistados concorda que o sentimento de empatia pelos demais
membros do grupo pode surgir naturalmente através da implementação do método de IA,
todavia, salienta-se que, muitos consideram ainda ser possível estimular o desenvolvimento
deste sentimento, através de vários mecanismos como “treinar as pessoas a ouvir
empaticamente” (Cliente D), a “preparação do consultor” (Cliente C), a “a experiência como
consultor” (Cliente D) organizacional (não, necessariamente, consultor de IA), a exposição de
um cronograma real e claro de atividades a serem desempenhadas pelo grupo (Cliente D), a
conscientização da participação de cada membro no trabalho do grupo (Cliente C), ou seja,
fazer com que as pessoas “se sintam parte do processo” (Cliente D), dentre outros.
111
Bem, eu acho que primeiro é preciso que haja, umaaaa.. exposição dos
objetivos do que está sendo feito, né. E, também, algumas regras, de como o
ambiente deveria operar para que as pessoas possam, de vez em quando, ser
chamada atenção, no sentido 'olha, precisamos ter mais atenção, vamos
voltar as nossas regras operativas, digamos assim, para que o trabalho possa
fluir bem', e então 'vamos dar atenção ao colega', 'vamos participar mais'.
Coisas desse tipo né? Estabelecer objetivos e algumas regras, eu acho que
isso é uma forma de estimular as pessoas. (Cliente D, grifo nosso)
Ainda no que se refere ao espaço que as pessoas terão para serem ouvidas, é relevante
mencionar a possibilidade que essas mesmas pessoas têm de não desenvolver o sentimento de
empatia pelo próximo, e, conseqüentemente, de optarem por não colaborar com o
desenvolvimento do método, e não participarem dos processos de investigação apreciativa.
A gente discutiu muito isso, porque (...) a gente até discutiu, será que se
agente diz assim 'olha, a participação nesse troço é obrigatória', (...) pessoas
vão participar? Vão. Porque é obrigado. Mas, provavelmente, vão mais
atrapalhar do que realmente participar. Então, se a gente impõe uma coisa
goela abaixo, isso é uma coisa que o próprio processo nos ensinou, qualquer
coisa que você imponha goela abaixo, ela pode funcionar, ou não. Mas,
aquilo que você debate, discute e constrói com o grupo, provavelmente, vai
funcionar. Então, o tem jeito, você tem que incluir as pessoas, na
participação. (Cliente A, grifo nosso).
Aponta-se para a possibilidade de que as pessoas optem por não participar em virtude
de não terem desenvolvido um sentimento de ‘pertença’ ao grupo. Uma vez que não se
sentem parte integrante de um grupo, não se sentem a vontade para se colocar abertamente
perante este grupo e, assim, não são capazes de desenvolver o sentimento de empatia pelo que
os outros membros dos grupos pensam e/ou sentem.
O sentimento de pertença ao grupo seria muito significativo, mas eu acho
que tem uma coisa anterior ao sentimento de pertença [...] Mas eu diria
assim, é o sentimento de ter ajudado a construir algo. Ai, 'eu ajudei a
construir esse algo, e me sinto pertencente a esse algo'. [...] Talvez, uma co-
responsabilidade. Eu acho que tem essa coisa que vem antes ao sentimento
de pertença. (Cliente A, grifo nosso).
Faz-se necessário despertar nas pessoas o sentimento de co-responsabilidade e co-
participação em tudo aquilo que se ‘constrói’ no ambiente em que se aplica ao método de IA,
para que, assim, estas pessoas possam desenvolver o sentimento de empatia pelos outros e
consigam genuinamente participar.
A construção de ambientes predominantemente positivos para o desenvolvimento e
aplicação do mesmo, foi apontado pelos entrevistados, como um fator imprescindível como
forma de ‘despertar’ nas pessoas sentimentos de atenção sincera ao que os outros falam e de
112
empatia, sendo, ainda, atribuída à figura do consultor, como uma habilidade intrínseca ao seu
papel no grupo.
Acho que a participação não pode ser forçada, contudo o aculturamento das
pessoas na metodologia e/ou exemplos com imagens positivas de eventos
ocorridos em outras organizações podem estimular a participação. (Cliente
B, grifo nosso)
Então, esse sentimento, só essa, essa, essa exposição, esse preparo para
essa conversa, já criava um sentimento de empatia. Ai, ele chegava e dizia:
'se a gente fosse aqui fazer aquela coisa de 'vamos ver os pontos negativos',
vamos ver os pontos.. a gente fica mergulhado no negativo, enquanto que a
prática da apreciação, faz você mergulhar no positivo. E isso já se é uma
empatia, acho que isso é uma habilidade dele, do consultor né? (Cliente A,
grifo nosso)
4.2.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser ouvido
No papel de consultores, todos entendem que é uma competência deles próprios,
intervenientes, estarem preparados a facilitar a abertura do espaço para que as pessoas se
manifestem livremente, de modo que todo o grupo facilitador e participantes tenha a
disponibilidade de ouvir o próximo e serem ouvidos por ele, o que deve ser levado em conta
desde o processo de planejamento da intervenção.
Havendo, ainda, a possibilidade deste, enquanto facilitador do processo, intervir caso o
grupo se mostre pouco propenso à abertura ou, até mesmo, defensivo e reacionário. De modo
que, acredita-se fazer parte do feeling do consultor identificar se o grupo será permissivo a
participação das pessoas e, além disso, se está disposto a ouvi-las com atenção e respeito pelo
que estão dispostas a dizer.
Esta é uma competência que o facilitador precisa saber testar. O facilitador
pode esperar abertura, mas deve estar preparado, caso a situação não seja de
abertura, mas, pelo contrário, seja defensivo. Logo, sua tarefa é trabalhar
esta condição ou situação (CONSULTOR A, grifo nosso).
Quem o consultor ou os participantes? Independente a construção do espaço
é compartilhado, o consultor precisa saber fazer as perguntas certas, assim
momento em que é contratado, se inicia a construção do espaço
(CONSULTOR B, grifo nosso).
Quanto à convicção de que as pessoas darão atenção ao que o próprio interveniente
pretende expressar ao grupo, acrescenta-se que existe uma grande possibilidade de
dissimulação dos valores propostos pelo método, caso este interveniente não tenha autonomia
113
de expressar-se livremente, estando, pois, a favor do que ‘pensa’ a organização. Assim, todo o
processo será, em algum momento, percebido por todos como manipulativo e dissimulado e,
provavelmente, as pessoas terão uma reação bastante negativa ao mesmo, uma vez que a
própria instância condutora do processo encontra-se corrompida, os demais participantes não
se sentirão a vontade nem atraídos a participar.
Se o consultor não puder se manifestar ele estará a serviço da direção e não
da organização e isto quebra uma das condições estruturantes da
intervenção: o consultor não pode entrar em um jogo e manipulação. Até
mesmo porque no fim as pessoas percebem e desacreditam no processo e a
abertura e participação viram um jogo de faz conta (CONSULTOR C).
O estado de empatia ou entendimento empático, anteriormente mencionado, no qual as
pessoas são capazes de perceber corretamente as emoções do outro como delas próprias, e a
atenção pelo que estes outros falam foram entendidos por todos os entrevistados de maneiras
distintas.
Enquanto o consultor B acredita que este sentimento surge naturalmente ao passo que
o pico afirmativo delineado no início da intervenção (etapa de planejamento) foi coerente e
está alinhado com as pessoas e suas subjetividades, o consultor A defende que estes não
surgem naturalmente necessitando ser “estimulados, favorecidos e estruturados”
(CONSULTOR A) o que fica a cargo do interveniente conduzir através de sua própria postura
diante do grupo, corroborando a concepção dos clientes de que o consultor tem suas atitudes
compreendidas como parâmetros para as atuações dos demais membros.
Precisam ser estimulados, favorecidos, estruturados. Esta é uma das
competências esperadas do facilitador. Como se deve fazer isto? Primeiro
dando exemplo real, com sua teoria-em-uso de autonomia, transparência,
depositação verbal e auto-teste e teste público de suas teses. Se o facilitador
ensina pelo exemplo estas competências, com certeza, de modo incremental
isto se expande em todo o ambiente (CONSULTOR A).
Um processo de IA bem feito leva entre 3 e 6 meses de planejamento, tudo
depene do tópico afirmativo, quando o tópico afirmativo esta alinhado com
as pessoas, a empatia, apreciação e escuta profunda, acontecem naturalmente
(CONSULTOR B).
Diametralmente oposta a concepção de existência de um sentimento empático entre as
pessoas, surja ele naturalmente ou não, o consultor C discorda da existência propriamente dita
deste sentimento, ao passo que não acredita que o ser humano seja de fato capaz de colocar-se
no lugar de um outro, e, conseqüentemente, de sentir suas dores e angústias. Entretanto,
defende que existe sim a possibilidade do sujeito escutar o outro e compreender aquilo que ele
114
diz, a partir do ponto de vista dele, e não apenas adotar o posicionamento de confirmação
daquilo que se pensava anteriormente através da fala deste outro.
Para tanto, uma vez que não é um tipo de escuta freqüentemente utilizado nas
organizações, o mesmo consultor C defende ainda que esta forma de compreensão do que se
ouve poderá ser estimulada através das ferramentas utilizadas durante o método de IA, de
modo que as pessoas se habituem a ter respeito por aquilo que ouvem, sem criar conceitos
prévios disto, buscando, apenas, ratificá-los ou retificá-los através do outro.
Acho empatia um termo equivocado, ninguém pode ser colocar no lugar do
outro, somos seres autopoieticos e biológicos-culturais (ver Habitar
Humano, Maturana e Dávila, 2008), nosso sistema nervoso é fechado e
portanto não podemos nunca nos colocar em lugar que não seja o nosso
próprio lugar. Não podemos fazer isso nem fisicamente, pois se ocuparmos o
lugar do outro ela não estará mais lá! Acredito sim que existem dois
modos de escuta: escuta no modo I (escutar para confirmar minhas certezas)
e escuta no modo II (escutar para entender a partir de onde o outro fala o que
o fala). Este tipo de escuta é estimulado, mas o estímulo não tem muita
ressonância uma vez que não faz parte da experiência corriqueira dos
participantes (na maioria dos casos), portanto a forma como as perguntas da
entrevista e dos diálogos em grupo devem ser montadas de forma a estimular
este tipo de comportamento. O protocolo de entrevista e o desenho da
intervenção são fatores determinantes para o sucesso do processo
(CONSULTOR C).
Através do desenvolvimento de uma escuta sincera e atenciosa pelo que os demais
membros do grupo estão dispostos a expressar, tem-se como objetivo a participação real das
pessoas no método, contudo, teoricamente, é facultado às pessoas o direito de não-participar
do processo. Lembrando, ainda, que o interveniente tem a possibilidade de intervir no caso
das pessoas não estarem se sentindo partes do grupo e, deste modo, não se sentirem motivadas
à participar.
A maioria dos entrevistados compreendem esse não engajamento como um
mecanismo natural de defesa do ser humano, que tende a reagir negativamente a qualquer tipo
de modificação de rotinas pré-estabelecidas e executadas há algum tempo. “O facilitador deve
trabalhar esta questão transferencial ou de defesa” (CONSULTOR A), buscando, muitas
vezes, levar o grupo a um estado de reflexão acerca do posicionamento contrário à mudança,
procurando sensibilizar as pessoas sobre a importância dessas modificações e os impactos
positivos que poderão ser observados dentro do próprio grupo. Observa-se uma recorrência
de imitação ou espelhamento” no comportamento de outros membros do grupo e, também,
no do interveniente, de modo que as pessoas tendem a repetir os comportamentos aceitos e
115
legitimados pelo grupo colaborando com ele, ou, em casos extremos, afastando-se de vez do
processo.
Isto é assim em qualquer processo, porém quem não adere no primeiro
momento começa a ver uma mudança para melhor nos outros e no ambiente
de forma que sua posição acaba gerando um desconforto que normalmente
leva a adesão, por constatar que a coisa é par valer, ou acaba preferindo sair
da organização para continuar a manter seu ambiente como sempre foi
(CONSULTOR C).
Apenas o consultor B afirmar nunca ter passado por nenhum tipo de intervenção no
qual as pessoas tenham apresentado algum tipo de sentimento de “não engajamento” com o
grupo, tendo optado por afastar-se do programa de IA.
4.3 Espaço para sonhar em conjunto
Whitney e Trosten-Bloom (2003) destacam que a IA oferece aos participantes a
oportunidade de serem livres para sonharem individualmente, mas, acreditam estimular as
pessoas a sonharem, também, coletivamente, o que, de fato, está alinhado com a demanda
organizacional de ter ambientes seguros nos quais os colaboradores possam sonhar e
compartilhar sonhos através do diálogo, expandindo os sonhos das pessoas em todos os níveis
da organização (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
4.3.1 O espaço para sonhar em conjunto sob a ótica do cliente
Muito embora, dentro das próprias organizações, não exista, ainda, a real percepção de
que esse alinhamento entre objetivos pessoais e organizacionais seja algo efetivamente
possível, as pessoas entendem que é necessário, mas não conseguem perceber como algo real,
prático, apenas “do universo teórico” (Cliente C). “É muito difícil, né? Eu acho que isso é
uma coisa muito difícil. Em comportamento organizacional tem esse conceito, que você deve
conhecer, que é o FIT, o ajuste, entre a pessoa e a organização” (Cliente A). Em suma, é de
opinião de todos os entrevistados que não se pode precisar quando e até que ponto os
objetivos individuais ou pessoais estão realmente alinhados com os objetivos e propósitos da
organização, ficando, esse alinhamento, ainda bastante impreciso e subjetivo, para todos.
116
Mas é difícil dizer num caso geral, né. As pessoas podem divergir, né, dos
objetivos organizacionais. Então.. como uma pergunta assim 'geral', é
difícil.. é.. é.. pode haver casos em que os objetivos não são alinhados
mesmo.. não tem, não tem como ter uma regra que diga que serão alinhados.
Eu acho assim. (Cliente D, grifo nosso)
E, além disso, destaca-se que em algumas equipes de trabalho, as pessoas não têm
disponibilidade para fazer além do que está pré-estabelecido pelas funções que exercem, não
se dispondo a dialogar, por exemplo, a respeito de seus objetivos e projetos pessoais, de modo
que é difícil para a organização trabalhar em busca de um alinhamento de objetivos, uma vez
que uma das partes é desconhecida, fica difícil demais tentar ‘sonhar em conjunto’ se nós
não soubermos o que as pessoas sonham sozinhas [...] pra mim, é praticamente impossível”
(Cliente C).
Aqui na prefeitura, inclusive porque nós somos, digamos, um grupo muito
seleto de servidores [...] nós temos uma espécie de Ilha de Excelência,
pessoas extremamente competentes, a maior parte são concursados,
auditores, passaram por concursos muito difíceis, muito pesados. E esse
pessoal, as vezes, vem com um propósito muito claro, na cabeça, eles
querem fazer o serviço deles, eles querem receber o salário no final do mês,
e encerrado o assunto. Tem um grupo muuuito mais reduzido que está
interessado em realmente dar uma contribuição além, da sua real obrigação,
que está interessado em realmente fazer daquilo um propósito maior, né?
(Cliente B, grifo nosso)
Todavia, em uma perspectiva que contradiz as idéias anteriormente levantadas,
acredita-se que esse ‘alinhamento’ é de responsabilidade da própria organização
entendendo-se organização como as equipes de alta cúpula da mesma –, e não de seus
colaboradores (dos demais níveis hierárquicos), tanto na intenção, quanto no planejamento e
na implementação de políticas organizacionais que viabilizem a integração desses objetivos
organizacionais e pessoais, sendo possível, ainda, que esta participe como financiadora de
projetos pessoais que estejam alinhados com suas próprias necessidades.
Na minha opinião a Investigação Apreciativa por si provoca uma
mudança pessoal que pode ser aplicada em qualquer dimensão da vida,
contudo se houver uma intenção real de alinhamento, a organização pode
alocar um orçamento para atender algumas expectativas dos funcionários na
empresa que se transforme em benefícios pessoais. (Cliente A, grifo nosso)
Aponta-se para a relevância, ainda, que tem o fato das “pessoas participarem
ativamente de projetos organizacionais como o planejamento estratégico, por exemplo”
(Cliente C), estarem cada vez mais propensas a terem seus objetivos alinhados aos das
organizações. Uma vez que o indivíduo sente-se parte integrante da organização, e
117
desenvolve, co-participativamente, estratégias para essa mesma, haverá uma probabilidade
maior que este se sinta, também, responsável pelo sucesso das estratégias, alinhando-se, deste
modo, com os propósitos que ele próprio ajudou a delinear.
Olhe.. é.. essa é uma questão bem difícil, né. De uma maneira geral, eu acho
que as pessoas que tavam participando ali, tavam com um objetivos bastante
alinhados, né. Porque.. já se vinha trabalhando em grupos.. e.. fazendo
planejamentos, tal. Embora não necessariamente com o método da
Investigação Apreciativa. Mas as pessoas tinham já um alinhamento com os
objetivos organizacionais. (Cliente D, grifo nosso)
Uma outra alternativa ao não engajamento efetivo das pessoas nos processos de
alinhamento de objetivos, apontada por dois respondentes, foi a de tentar criar missões
organizacionais compostas de missões departamentais, que, por sua vez, serão criadas a partir
das missões individuais dos membros das equipes de trabalho, “buscando, assim, despertar
nas pessoas um sentimento de pertença e responsabilidade compartilhada pelos objetivos da
organização como um todo” (Cliente D). Idéia esta corroborada pelo Cliente B, ao destacar a
importância da participação das pessoas no planejamento estratégico da organização.
É.. então, uma das coisas que a gente tenta fazer, tenta usar aqui, para fazer
com que haja esse ajuste maior entre objetivos pessoais e os objetivos
coletivos, é a participação efetiva no plano estratégico. Então, qual é a
missão dessa organização? Na medida em que todo mundo participa daquilo,
e ai quanto mais gente, melhor, participa. Aquilo vai dando aquele
sentimento de pertença não é? (...) Uma outra coisa que a gente tentou fazer,
não conseguiu ainda, mas que a gente acha que pode dar efeito é você depois
de fazer a missão da organização, fazer a missão das diversas unidades que a
compõem, pra dar um alinhamento mais específico ali naquele caso. Eu não
imagino outra forma. Estabelecer quais são as nossas missões, e tentar fazer
com que as pessoas se sintam parte daquilo, não é? (Cliente B, grifo nosso).
Em se tratando de possibilidades de ajuste e alinhamento entre valores pessoais e
organizacionais, houve discordância no que diz respeito à possibilidade de se sonhar em
conjunto, uma vez que esses valores podem ser contraditórios ou antagônicos entre si.
Enquanto um respondente acredita que “Sonhar não tem limites. [...] Portanto, acho
que quando os objetivos são comuns, os valores pessoais e coletivos não interferem nos
sonhos” (Cliente A), ao passo que justifica seu ponto-de-vista através de um exemplo prático
de implementação do método:
Sonhar não tem limites, pois eu tive uma experiência na criação de um
Circulo em Curitiba da URI “United Religion Initiative”, na qual aplicamos
o processo da investigação apreciativa com muito sucesso. A URI é a união
de pessoas de várias etnias com um objetivo comum. (Cliente A, grifo
nosso).
118
A idéia de que os valores pessoais não são, necessariamente, determinantes sob a
possibilidade de um desenvolvimento de um objetivo único, comum a indivíduos e
organizações, mas podem ser significativos na construção do mesmo, pode ser corroborada
através do que propõe o Cliente D:
Acredito que, na realidade, é possível despertar nas pessoas o sentimento de
colaboração com o grupo e de real participação no mesmo, e, assim, fazer
com que os valores do grupo possam ser assimilados’ pelo indivíduo, como
também, que os valores do indivíduo, possam ser importantes e
significativos durante a construção dos valores organizacionais. Deste modo,
este indivíduo conseguirá se sentir parte do grupo efetivamente. (Cliente D,
grifo nosso).
Em contra-partida, o Cliente B, ao relatar as experiências vividas com sua própria
equipe de trabalho, durante a implementação do método de IA, destaca que não acredita ser
possível esse alinhamento de valores, caso não haja consonância entre o que as partes
almejam, e os frutos dessa interação serão apenas muitos conflitos entre os membros do
grupo, despertando sentimentos de resistência e não colaboração com o processo apreciativo.
Eu não acredito não. Sinceramente, eu não acredito. Se não houver esse
ajuste, se não houver essa congruência, o que vai haver é muito conflito.
Muita confusão. As pessoas vão se defender. As pessoas vão, vão, vão se
proteger, digamos assim, e a gente não avança. (Cliente B, grifo nosso).
Outro aspecto também mencionado diz respeito à capacidade que os indivíduos
desenvolvem de se colocar diante de um sonho, uma imagem ideal, criada pela organização,
ou um senso de possibilidade e viabilidade que, por sua vez serão compartilhados com o
grupo inteiro (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
Através de entrevistas face-a-face, histórias baseadas em síntese, e sonhando processos
coletivos, a IA estimula a imaginação das pessoas e abre os seus sonhos até a totalidade, fator
decisivo na mudança das pessoas tanto no trabalho quanto nas suas próprias vidas, “a
investigação apreciativa não muda sua identidade, mais sim o modo como enxergamos o
mundo” (Cliente A).
4.3.2 A percepção do consultor acerca do espaço para sonhar em
conjunto
119
O método de IA pressupõe a possibilidade que os participantes do processo tenham
seus objetivos alinhados às demandas da organização, de modo que seja possível que se sonhe
coletivamente, ao passo que os sonhos e desejos individuais são expandidos para a esfera
organizacional.
Todavia, apenas um dos consultores entrevistados, consultor B, acredita haver a
possibilidade de que este ‘alinhamento’ seja efetivamente realizado através de um processo de
planejamento efetivo, e de exaustivas pesquisas acerca do dinâmica da organização, do que
elas de fato desejam (na figura da alta administração), e do que os demais membros do grupo
esperam também desta relação, promovendo a aproximação dessas expectativas.
Durante o processo de planejamento é preciso fazer estudos, entrevistas com
pessoas dos diferentes níveis da organização com o objetivo de fazer os
alinhamentos necessários, o entendimento da dinâmica organizacional deve
estar muito claro antes da primeira intervenção (CONSULTOR B).
Muito embora, em consonância a percepção dos clientes entrevistados de que dentro
das próprias organizações, não existe, ainda, a concepção de que o alinhamento entre
objetivos pessoais e organizacionais é algo efetivamente possível, os consultores A e C
concordam entre si sobre a única condição em que se é possível alinhar estes objetivos: o caso
em que os objetivos pessoais são similares aos objetivos da organização. Caso contrário, as
pessoas reafirmam seus posicionamentos pessoais e não se engajam em processos
organizacionais.
Isto é um mito da teoria administrativa. As pessoas têm seus objetivos,
apenas seus objetivos. Se por ventura seus objetivos passam pelos objetivos
da organização ótimo. Se não passam, elas não os executam (CONSULTOR
A).
Apresenta-se como utópica a idéia que as pessoas deixarão pra trás seus objetivos
pessoais em detrimento de objetivos da organização, uma vez que estes sejam antagônicos
entre si. Na prática, o que se percebe é que o termo “alinhamento” é utilizado mais no intuito
de denominar uma concordância e aceitação por parte do individuo daquilo que a
organização, na realidade, sua alta administração, propõe do que necessariamente um comum
acordo entre as partes, no qual são negociadas as expectativas de cada uma dessas partes até
se chegar a um denominador comum, e, portanto, um alinhamento. O que existe, assim, é um
enquadramento dos objetivos pessoais de acordo com os organizacionais, de modo que,
conforme explicitado pelos entrevistados, não se configura como uma relação de equilíbrio
e/ou igualdade entre as partes, podendo até se realizar, mas não apresentando resultados
120
concretos e duradouros, bem como tendo impacto significativo na produtividade e motivação
das pessoas.
Essa é uma das tarefas mais difíceis. O termo alinhamento muitas vezes é
usado para passar a seguinte mensagem: Ou você faz o queremos ou está
desalinhado. Pensando bem alinhamento significa um ajustamento onde
ambos se movem de onde estão para um terceiro lugar onde os objetivos são
mais próximos. A organização é feita por seus integrantes, ela não tem
objetivos nem desejos. Seus dirigentes podem ter isso. Enfim considerando
os objetivos para o qual a organização (seus membros se propõem) o que
acontece é que alguns não dão a mínima para isso e estão apenas usufruindo
dos recursos com outros interesses, esses casos não tem muita longevidade e
não podemos obrigar ninguém a fazer o que o quer. “sempre fazemos o
que queremos” (Maturana e Dávila, 2008) (CONSULTOR C, grifo nosso).
Existe, ainda, uma preocupação que vai além do alinhamento de objetivos, que diz
respeito à similaridade entre os valores que as pessoas têm e àqueles que as organizações
primam.
Inicialmente, apresenta-se a distinção entre aquilo que a organização proclama como
valores e os valores que de fato predominam no ambiente organizacional. Os proclamados
foram minuciosamente elaborados e representam os desejos de um ideal que a organização
almeja e pretende alcançar, são valores que representam relações interpessoais perfeitas e
idealizadas, devendo ser disseminados como parâmetro de comportamento a ser seguido por
todos. Entretanto, na prática, os valores vivenciados podem não ser exatamente os mesmos
que foram idealizados anteriormente, pois as relações idealizadas, muitas vezes não levam em
conta às subjetividades dos sujeitos e os impactos do relacionamento entre todas essas
subjetividades em um universo comum que é o ambiente organizacional.
Os sonhos são testados na prática [...] Se os sonhos são viáveis, se as pessoas
têm de fato interesse em praticá-los, então funcionam. O que está no papel
são apenas desejos..... (CONSULTOR A, grifo nosso).
Desde modo, existe concordância por parte da maioria dos entrevistados de que é
possível que as pessoas sonhem coletivamente, se, e somente se, existir similaridade entre
essas pessoas e os valores que têm. Caso contrário, o sonho coletivo não existirá. Cada pessoa
estará, prioritariamente, a favor da realização dos seus próprios sonhos e pautada em seus
valores, não se engajando efetivamente nos sonhos e valores da organização.
Os valores sempre são pessoais. O que chamamos de coletivos são aqueles
compartilhados por muitos na organização e nem precisa ser a maioria. Não
me refiro aqui àqueles valores pregados na parede, pois esses são justamente
os que faltam se existissem ninguém notaria. Os valores praticados, os que
realmente existem no agir das pessoas o como nossa digestão, não
121
distinguimos. Só distinguimos quando a digestão não funciona bem. Os
valores escolhidos para irem para a parede são como indigestões. Logo o
sonho coletivo é o que pode ser feito por um conjunto de pessoas que no
fundo têm valores relativamente próximos, pois se fossem muito diferentes a
pessoas já teria saído da organização (CONSULTOR C).
Não havendo aproximação entre os valores, e, mesmo assim, sendo necessária a
convivência, destaca-se a grande possibilidade de criação de “um ambiente de cinismo,
ocultação, engodo e auto-engodo” (CONSULTOR A), no qual as pessoas apenas
representaram papéis sociais destituídos de significados para elas próprias, não mostrando de
maneira sincera o que de fato pensam, nem, conseqüentemente, sendo capazes de aceitar os
pontos-de-vista alheios.
Vale considerar, ainda, que um dos entrevistados acredita existir a possibilidade de o
indivíduo, mesmo não estando em consonância com os valores da organização, não se
dissociar da mesma e dos processos por ela propostos. Entretanto, para isso, faz-se necessário
que haja algum tipo de negociação entre as partes, indivíduo e organização, para que esta
relação possa se desenvolver de maneira transparente e saudável, sendo, pois, aceita e
produtiva para ambas as partes, sem que nenhuma delas, na maioria das vezes o indivíduo,
precise sublimar seus valores e aceitar os do outro como seus. O que, na realidade, pode ser
considerado um tipo de alinhamento entre objetivos, anteriormente discutido.
É sempre assim, nossas convicções são nossas, o que é um acordo de
como vamos coordenar nossas ações de modo que as convicções de cada um
fiquem dentro de um escopo aceitável (CONSULTOR C).
Todavia, é importante considerar, ainda, a perspectiva de um dos entrevistados ao
acreditar que mais importante que a congruência entre os valores das pessoas e da
organização será a possibilidade de construção coletiva de uma realidade ideal. Para o
consultor B o sentimento de ‘apego’ a valores individuais acontece quando as pessoas não
amadureceram o suficiente como grupos, continuando, ainda, sob uma perspectiva
individualista.
A congruência é necessária quando as pessoas querem cobrar algo da
organização, nesse caso as pessoas estão para construírem juntas, a
congruência não e tão importante quanto a construção coletiva de um sonho
compartilhado fundamentada em um propósito maior. As pessoas deixam de
ser individualistas e deixam de pensarem somente em si mesmas e passam a
enxergar o todo maior, passam a se perceber como elemento fundamental
desse todo (CONSULTOR B).
122
Através do desenvolvimento do método e do exercício da escuta profunda e empática,
as pessoas necessariamente deixam para trás suas certezas e convicções individuais. Ao passo
que conseguem perceber o todo, o grupo, os sonhos por ele construídos passam a ser mais
significativos do que aquilo que se sonhava anteriormente, de maneira individual. Posição
esta contrária a dos demais entrevistados, anteriormente mencionados.
Quando nós trabalhamos com um grupo pedimos para eles escutarem de
forma profunda, ouvir o outro com empatia, com o coração, do ponto de
vista do outro e não do seu. Ou seja, abrir mão das suas crenças e certezas,
quando existe certezas e convicções individuais o existe escuta profunda
(CONSULTOR B).
4.4 Espaço para escolher contribuir
A IA propõe a criação de um ambiente onde as pessoas são livres para escolher
contribuir, ou não, pressupondo-se uma conseqüente liberação do poder, mas, em
contrapartida, necessita de comprometimento e vontade de aprender por parte dos indivíduos,
tornando-os criativos e determinados (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
4.4.1 O espaço para escolher contribuir sob a ótica do cliente
Após analisadas as situações em estudo, foi possível concluir que houve sim
predominância de liberdade dada às pessoas para escolherem participar ou não do processo de
investigação, “Exatamente, foi livre iniciativa [das pessoas em participar]. Agora, ficou
restrito à alta administração” (Cliente B).
Todavia, conforme destaca o cliente D, uma vez que o método seja utilizado em
situações de atividades rotineiras da organização, ou seja, em tarefas atribuídas às funções a
que as pessoas pertencem, a possibilidade de escolher não-colaborar, de fato, não vai existir.
As pessoas simplesmente não poderão se recusar a participar de tarefas relativas às suas
atribuições organizacionais. A participação torna-se, deste modo, involuntária, muito embora,
o indivíduo possa, ainda, escolher inconscientemente não contribuir com o processo, sendo
pouco produtivo e colaborativo, mesmo oficialmente participando do mesmo.
Não necessariamente [as pessoas têm a livre iniciativa de participar de um
processo de IA], ? Porque.. é.. digamos assim.. o contexto era uma.. um
123
seminário, né, de planejamento. Então, era uma tarefa a ser feita, né. O
método da IA, no caso, ali, era... digamos assim, um método a mais. [...]
Para o planejamento.. é.. era obrigatório porque, vamos dizer assim, o
planejamento era obrigação de todos, digamos assim, né. Da forma como era
feito lá, nessa época. Então, não se pode dizer que foi uma questão de
engajamento.. voluntário, não é.. Assim, o planejamento era uma tarefa a
fazer, então.. tinha que se fazer (risos) (Cliente D, grifo nosso).
É possível destacar ainda que, na situação A, embora se tenha dito que houve
liberdade por escolher participar, o processo de escolha não ocorre sem interferências da
organização que, durante a mesma, promove encontros, ‘eventos apreciativos’ (Cliente A), no
intuito de sensibilizar as pessoas e motivá-las a participar do processo, o que não foi
explicitado como estratégia na situação B.
Sim, na nossa organização nós temos uma equipe central que é responsável
para organizar os eventos apreciativos e manter a cultura apreciativa viva na
empresa. Esta equipe tem como direção incluir todo o sistema representado
relativo ao tema central do encontro (Cliente A, grifo nosso).
Deste modo, a percepção do cliente na situação A é a de que, embora as pessoas sejam
livres para optar participar do processo, é direito da organização criar condições para que ela
não opte por ‘não-participar’. Dentre essas condições é possível destacar como relevantes a
criação de uma cultura apreciativa, a “manutenção dessa cultura viva na organização” (Cliente
A), o esclarecimento de como funciona todo o processo de IA e a criação umclima
colaborativo” (Cliente B), ou seja, fazer com que as pessoas se sintam imersas em um
ambiente genuinamente positivo, promovido através, por exemplo, das exposições no início
de cada intervenção “da coisa mais interessante, mais bonita, mais legal, mais gostosa, que
aconteceu com cada um dos integrantes nos últimos 30 dias” (Cliente B).
Faz-se necessário destacar a relevância apontada por alguns dos entrevistados acerca
do impacto que tem a criação de um “clima colaborativo” (Cliente B), através do “trabalho
associado às lembranças lúdicas do indivíduo, despertando nas pessoas sentimentos de
felicidade ‘pura’ experimentados, talvez, na época da infância” (Cliente C). Uma vez
despertando nas pessoas lembranças de momentos felizes e prazerosos vividos anteriormente,
acredita-se diminuir, significativamente, as reações defensivas de participação no processo, ao
passo que as pessoas se sentem a vontade no grupo e, até, acolhidas por ele, através de um
processo gradativo de sensibilização, tanto dos indivíduos, isoladamente, como do grupo
como um todo. De modo que, aponta-se como importante, neste momento, que as pessoas não
se sintam “obrigadas a contribuir, mas sim convidadas a isso” (Cliente C).
124
É... as características foram justamente as pessoas falarem.. acho que
começou numa primeira etapa.. as pessoas falando se re.. se re..
relembrando, digamos assim, dos melhores momentos profissionais que
viveram na empresa, né. Essa foi uma das etapas.. e.. isso foi uma das coisas
que, por exemplo, estimulou as pessoas a se tornarem menos defensivas
para o processo.. e ... digamos assim, vencer barreiras que houvessem.. eu
acho que as pessoas foram, é, compartilhando essas experiências umas com
as outras, né, e.. em muitos casos.. é um processo de sensibilização foi
bemmm.. e era uma coisa, assim, que ia acontecendo bem naturalmente.
Eram as experiências das pessoas, não era um processo, digamos assim, em
que as pessoas iriam fazer alguma tarefa artificializada de.. sei lá.. 'vamos
dar as mãos aqui'.. (rs).. 'formamos uma corrente'.. não.. as pessoas tavam ali
falando de suas experiências, então isso acontecia naturalmente. Em muitos
casos, isso era comum entre alguns membros da equipe, né, que viveram
experiências semelhantes. E, alguns casos, era uma surpresa você conhecer
um pouco a experiência do outro.. então, isso era bem legal (Cliente D, grifo
nosso).
Dentre alguns aspectos apontados participação das pessoas pôde, portanto, ser
estimulada através da disponibilidade real de ouvi-las, bem como através da permissão para
que se manifestem naturalmente, “O estímulo começa com a vontade real de ouvir as pessoas.
Depois, como a própria abordagem foca nos aspectos positivos, isto cria um estímulo natural”
(Cliente A), em outras palavras, através dos demais aspectos relativos à própria intervenção,
conforme ratifica o clientes B:
Sinceramente, eu não vejo outra forma, se o, fazendo. Porque não é um
tipo de coisa que uma palestra, por exemplo.. uma palestra pode falar que
aquilo ali existe, mas não vai dar a dimensão do que, de fato, aquilo é. Eu
acho que fazendo. A melhor forma de estimular mesmo é fazer.. e deixar que
as pessoas vão percebendo (Cliente B, grifo nosso).
Todavia, é importante considerar, ainda, como aspecto relevante ao estímulo e
engajamento das pessoas no processo de IA, a dificuldade que as organizações têm de
diferenciar ‘estímulo’ de ‘condição imposta’. Na realidade, existe uma concepção implícita,
por parte dos respondentes, que proporcionar meios ou condições para a participação das
pessoas seja o mesmo que estimular esta participação, quando na realidade, uma vez que as
pessoas, teoricamente, tenham a liberdade para escolher participar ou não, não existiriam
mecanismos, portanto, de condicionamento à participação. Conforme idéia destacada pelo
cliente B abaixo:
A gente tem uma dificuldade aqui, nós somos servidores públicos, e o
servidor público, diferentemente da área privada [...] na área privada o chefe
diz 'vamos ter uma reunião de investigação apreciativa sob a coordenação do
Dr. Fulano [consultor], vai todo mundo
. Porque, se não gostar daquilo, ele
vai ter que dar um jeito de gostar e vai participar assim mesmo, né? Na área
pública é mais complicado, BEM mais complicado. Então, uma forma que a
125
gente possa fazer para estimular as pessoas a participar, foi isso que você
perguntou? (Cliente B, grifo nosso).
- Sim.. estimular o engajamento.. a participação.. (pesquisador)
- Pois é. Sinceramente, eu não vejo outra forma, se não, fazendo. (Cliente B,
grifo nosso).
Um fator que, teoricamente, diferencia a IA de uma série de outras metodologias de
mudança organizacional é que - no seu melhor - as pessoas têm total liberdade para escolher
como, quando e em que medida elas desejam se engajar nos processos propostos pela
organização. Podem participar e fazer apenas enquanto estiverem curiosas, estimuladas, ou
inspiradas por uma tarefa, atividade, ou sonho.
Aponta-se para a crença de que, sem a livre iniciativa de participação das pessoas,
seria possível sim dar prosseguimento à implementação de uma investigação apreciativa da
situação, e, até, por conseguinte, criar um ambiente favorável à aprendizagem. Esta realidade
foi apontada nas situações em que o processo de IA foi realizado em organizações através da
execução de tarefas rotineiras, nas quais as pessoas não poderiam ter livre iniciativa de
participação.
Não se faz necessário, portanto, na percepção de alguns respondentes que as pessoas
estejam comprometidas com o processo e demonstrem vontade e disposição em aprender,
neste aspecto, o tempo é apontado como fator influenciador diretamente proporcional à
efetiva participação, ou seja, quanto mais tempo se passar de intervenção, mais as pessoas se
mostrarão envolvidas e engajadas no processo, mesmo que não o iniciem dispostas a
participar.
Olhe, possível é [dar continuidade à implementação sem o
comprometimento e a vontade de aprender das pessoas], tanto que a gente
deu continuidade, né? Mas a nossa esperança era que, mesmo aquelas
pessoas que não participassem, fossem de alguma forma, contaminadas pela
cultura que estava se criando. Pelo pensamento que estava emergindo
naquele momento. O que, de alguma forma, aconteceu. Então, é possível
sim. Embora seria mais fácil se todos estivessem envolvidos (Cliente B,
grifo nosso).
O cliente A vai um pouco mais além ao afirmar que é possível, mesmo sem o
comprometimento e a vontade de aprender das pessoas, se “criar e desenvolver um ambiente
de aprendizado e comprometimento” (Cliente A), durante o processo de investigação da
realidade de forma apreciativa. Idéia esta corroborada pelo cliente D ao afirmar que embora
não seja cil dar seguimento ao processo sem a participação e o engajamento de todos, a
própria da natureza do método, apreciativo, facilitaria a situação.
126
Ai é fícil, né. Ai eu não digo nem que é a Investigação Apreciativa no
caso.. é qualquer outro método, qualquer outra tarefa, né. Eu acho que até a
Investigação Apreciativa é uma das mais simples de se levar adiante pela
natureza, digamos assim.. é.. já apreciativa do processo.. que leva a.. a
analisar muito mais as forças, os pontos fortes.. (Cliente D, grifo nosso).
Um fator emergente durante os diálogos foi a possibilidade de (im)produtividade deste
método ao se trabalhar com equipes habituadas aos treinamentos técnicos e práticos, todavia,
não houve concordância dos entrevistados nesse aspecto. O cliente A acredita que é possível
sim trabalhar com qualquer tipo de equipe, e que todas elas respondem aos métodos utilizados
durante a IA.
“Acho que não [há dificuldade na participação de equipes habituadas a
treinamentos técnicos e práticos], pois o processo é muito divertido e,
dependendo de como for organizado, as pessoas conseguem se divertir
trabalhando” (Cliente A, grifo nosso).
Em contrapartida, o cliente B aponta para uma ‘enorme’ dificuldade em se trabalhar
com pessoas com esse perfil de trabalho, não apenas pelo estereótipo que se criou das mesmas
por parte de terceiros, mas pelas atitudes que estas próprias incorporaram em suas práticas,
mesmo que não haja consciência desta estereotipação.
Hunrum, com toda certeza [há dificuldade na participação de equipes
habituadas a treinamentos técnicos e práticos]. Aquilo que a gente falava
agora a pouco, nós somos um grupo cujo trabalho é essencialmente e
eminentemente técnico, e, inclusive até diria, as pessoas têm uma visão a
um pouco distorcidas de nós, do tipo, 'ah, [no departamento em que essas
pessoas trabalham] as pessoas são muito frias, porque trabalham com
números'. Opa! Alto lá! Nós somos gente, né? E, esse tipo de trabalho até
nos faz perceber uma dimensão humana que.. completamente escapa do
trabalho. Então, essa dificuldade foi muito, muito, presente. As pessoas estão
acostumadas a objetividade, a questões racionais (Cliente B, grifo nosso).
Percebe-se, ainda, por parte dessas equipes de trabalho técnico um grau significativo
de descrença no que diz respeito a dinâmicas ou atividades mais subjetivas que objetivas, o
que se pode considerar um mecanismo de defesa destas equipes frente o novo e a
(im)possibilidade de lidar bem com o mesmo. Ao passo que precisam deixar suas zonas de
conforto e experimentar situações com as quais não estão habituadas, as pessoas adotam uma
postura reativa de não-participação no processo ou mesmo de demonstrar insegurança com
relação à fidedignidade do método.
Ah.. eu acho que não
[existe dificuldade de participação de equipes
habituadas a treinamentos técnicos]. (...) E.. a.. eu não vejo assim não. (...)
Não vejo assim não. Assim, é você está dizendo assim 'uma pessoa que
trabalha com o método de planejamento, digamos assim, mais tradicional'..
127
'vamos fazer uma análise de SWOT'.. 'vamos fazer um diagrama de força
aqui da empresa'.. uma coisa menos orgânica, mais técnica, digamos assim.
não é. (...) É (...) pode ser que.. bem.. eu não vivenciei isso né.. difícil dizer..
mas.. tem pessoas que têm uma característica de querer trabalhar de uma
forma extremamente técnica não é? Já.. vi ambientes assim, que as
pessoas tendem a olha com DESCRENÇA movimentos que não sejam muito
técnicos (Cliente D, grifo nosso).
4.4.2 A percepção do consultor acerca do espaço para escolher
contribuir
Embora se pressuponha uma liberação do poder por parte da organização ao facultar
ao indivíduo a escolha de participação ou não no processo, na prática existe uma concordância
generalizada, por parte dos consultores de que a realização da IA e a participação das pessoas
no mesmo ficam a cargo da legitimação da alta administração. Posicionamento este que pode
estar associado à cultura pouco democrática e, por que não dizer, pseudo-democrática -, que
pode predominar no ambiente organizacional.
Na prática, cabe a decisão da alta administração. Em princípio, todos
deveriam praticar este direito. Mas tudo parte da legitimidade concedida pela
alta administração (CONSULTOR A).
Dependerá dos responsáveis pelo processo, o ideal é que seja um processo
voluntário, mas para fazer isso é preciso fazer um excelente divulgação do
processo dentro da organização antes de pedir para as pessoas voluntariarem
(CONSULTOR B).
O processo tem um custo e normalmente depende da aprovação da direção.
Eu vejo muito como um processo que deve partir da alta direção, mas pode
ser conduzido por pequenos grupos de forma informal desde que alguém
conheça e facilite o processo. Isso tem mais a ver com a organização do que
com o próprio processo de IA (CONSULTOR C).
Condição outra à realização de um processo de IA fidedigno seria o comprometimento
e a vontade de aprender das pessoas envolvidas no processo. Sob este aspecto, os consultores
A e B estão de acordo ao afirmar categoricamente que, sem esta condição, a IA não poderia
ser levada adiante, “Não. Isto é uma condição tida por “garantida” (taken for granted). Se não
houver esta condição nada funciona”. (CONSULTOR A).
Ratificado o proposto pelo Modelo Tridimensional de Intervenção (VALENÇA, 2007)
de que a abertura e a receptividade para a aprendizagem num significativo grau de prontidão
para aprender por parte do cliente é a condição ideal de consultoria, pois, apenas através dela
128
foi possível alcançar uma aprendizagem adulta, bilateral e cooperativa, por meio, ainda, de
um estilo de intervenção desempenhado através da ‘excelência/maestria’ e/ou de natureza de
performance de ‘parceria e cooperação’.
Várias outras alternativas apresentam probabilidade de aprendizagem parcial
ou apresentam risco de ocorrência de aprendizagem organizacional
imprópria ou improdutiva, no dizer de Chris Argyris e Donald Schön,
quando os aprendizes se deslocam na direção não-intencionada antes de
iniciar o processo de intervenção (VALENÇA, 2007, p. 482).
O consultor C acrescenta ainda que durante sua experiência de trabalho com a IA já
presenciou casos em que o processo foi continuado mesmo sem o comprometimento e a
vontade explícita das pessoas de aprender, “possível é e acontece, porém sem
comprometimento os resultados não são significativos. Acaba virando um processo de
planejamento e execução comum” (CONSULTOR C). Todavia, ressalta que isso fez com que
o processo tenha se afastado dos preceitos da investigação de maneira apreciativa, sendo
percebido como um processo de planejamento tradicional.
Assim, é possível considerar que existe uma totalidade de opiniões no sentido de que
sem o comprometimento e vontade de aprender das pessoas não é possível dar
prosseguimento ao método de IA propriamente dito.
Em se tratando da liberdade para escolher colaborar ou não com a IA, por parte dos
consultores existe concordância de opiniões ao afirmar que tal postura de livre arbítrio das
pessoas “depende da organização. A recomendação é deixar a escolha livre” (CONSULTOR
C), entretanto, na prática não é exatamente isso que é percebido.
Isso [a liberdade de (não)colaborar] se revela na teoria-em-uso. Dificilmente
as pessoas vão expressar isto. Em seus discursos (teoria proclamada) as
pessoas são sempre maravilhosas, produtivas, progressistas, colaborativas,
democráticas, eficazes, etc. A prática, na observação direta dos padrões
comportamentais, pode então emergir a teoria-em-uso, aquela que de fato
conta.... (CONSULTOR A).
Muito embora não seja possível identificar aspectos relativos a não liberdade das
pessoas na teoria proclamada no ambiente organizacional, na teoria-em-uso é possível
destacar indícios de que as pessoas não gozam de tal liberdade, uma vez, por exemplo, que a
participação no processo está condicionada ao tipo de intervenção que a organização opta por
desenvolver, ou, ainda, a medida que embora não tenham os mesmos objetivos que a
organização, as pessoas necessitam se enquadrar naquilo que ela têm como propósito. A
justificativa para essa liberdade ‘parcial’ está na veiculação da mesma à produtividade
129
coletiva. Mais uma vez se propõe que o sujeito seja capaz de ‘abrir mão’ de sua perspectiva
individual em função de uma colaboração coletiva.
O processo da IA é um processo de colaboração, de troca, se inicia com
entrevistas em pares, depois passa para o compartilhamento em pequenos
grupos, então fica difícil essa “liberdade para colaborar”, não se trata de um
processo individual mas coletivo. [...] Se você está querendo saber se a
liberdade individual é menos importante do que a colaboração, a resposta é
SIM. Trata-se de uma metodologia que parte do pressuposto que o
conhecimento esta no relacionamento e não no individuo (CONSULTOR B).
que as pessoas necessitam participar da IA, e que o comprometimento e vontade de
aprender das mesmas é significativo no desenvolvimento do método, estimular a participação
e o engajamento das mesmas parece ser uma alternativa válida e utilizada. Para o Consultor B
“a própria metodologia, o ciclo dos 4 Ds (Descoberta, sonho (dream), desenho e destino) se
encarrega disso”, não havendo, portanto, necessidade de se criar algum tipo de mecanismo
outro de engajamento para esses participantes.
Contudo, o Consultor C acredita que duas formas de incentivo poderão ser utilizadas
“o exemplo e um sistema de recompensa que premie comportamentos de abertura e
participação”. O ‘exemplo’ foi anteriormente mencionado, tanto por consultores quanto por
clientes, ao expressarem ser fundamental o patrocínio e participação da liderança que será
compreendida pelos demais membros do grupo como um exemplo a ser seguido, um
‘parâmetro de comportamento idealizado’. Não menos importante é a sugestão de utilização
de um “sistema de recompensas que premie comportamentos de abertura e participação”,
valendo salientar que essa recompensa não é, necessariamente, financeira. Foi destacado pelo
Cliente B que, durante a intervenção de que ele fez parte, a recompensa pela participação foi
através do reconhecimento das pessoas e da atribuição de status similar ao do reconhecimento
pelo excelente desempenho do interveniente.
Aqui, o processo foi conduzido por Fulano [o nome do consultor foi omitido
para que se pudesse preservar sua identidade] . Fulano é uma figura que era
reconhecida por todos os participantes, ou, pelo menos, por uma boa parte
dos participantes como uma pessoa evoluída, uma pessoa avançada, uma
pessoa espiritualizada. E isso tinha uma marca. E as pessoas que no trabalho
de alguma maneira se destacavam, não é.. naquele trabalho, eram como se
fossem assim 'olha, esse aqui é um Fulaninho’.. uma pessoa evoluída
também, uma pessoa que estava caminhando naquela direção. Eu acho que
isso teve efeito, as pessoas se sentiam, talvez, felizes com isso.. (Cliente B,
grifo nosso).
Quando questionados acerca da possibilidade de trabalho e da eficiência da IA com
equipes de trabalho habituadas com atividades técnicas e práticas e, portanto, treinamentos de
130
igual natureza, existe concordância por parte de dois dos três consultores entrevistados de que
estas pessoas são capazes de se ‘adaptar’ a essa nova realidade metodológica e participar do
processo de maneira produtiva, contudo um deles destaca uma reação inicial
tendenciosamente negativa e de estranheza à mudança, mas com a constatação de resultados
práticos se engajam no processo. De modo que, baseado nessa última opinião apresentada a
participação das pessoas se daria não ao passo em que confiam no todo, mas, sim, a
medida que este se apresenta similar ou ‘familiar’ aos métodos técnicos anteriormente
utilizados, apresentando resultados ‘práticos’.
A contrário, as pessoas estão cansadas de se sentarem diante de um
“especialista” que fala. A nossa experiência tem mostrado que as pessoas
trazem de dentro para fora o seu melhor quando tem a oportunidade de
conversarem sobre o sucesso do seu passado e sonharem um futuro
promissor (CONSULTOR B).
uma estranheza no início, mas as pessoas vão se acostumando com o
passar do tempo e com a constatação de que tudo culmina para um resultado
prático muito expressivo (CONSULTOR C, grifo nosso).
Todavia, para o Consultor A, as dificuldades de implementação da IA em ambientes
nos quais as pessoas estão habituadas a treinamentos técnicos são bastante acentuadas, uma
vez que não é suficiente, para ele, que as pessoas sejam ‘treinadas’ em um processo e passem
a executá-lo com maestria posteriormente, mas que, de fato, reflitam e incutam essa mudança
de valores, através de um processo educativo de desenvolvimento pessoal, o que é muito
diferente da realidade com que estão habituadas essas pessoas. Ressaltando-se, novamente, a
relação existente entre a disponibilidade que as pessoas apresentam em aprender e em
construir conhecimento, e o patrocínio e a genuína participação da alta administração da
organização no processo. De modo que esses fatores anteriormente mencionados apresentam-
se como condições à implementação da IA.
As dificuldades são imensas. Muitas. E complexas. É um processo ao
mesmo tempo educativo, político e de desenvolvimento pessoal. O
desenvolvimento da organização é um epifenômeno, uma conseqüência
destas outras dimensões. Se as pessoas não querem aprender ou se a
organização (diga-se a coalizão política) não favorece, as dificuldades de
participação são quase insuperáveis (CONSULTOR A, grifo nosso).
131
4.5 Espaço para agir com apoio
A IA oferece um contexto favorável para que as pessoas possam ser livres para agir
com apoio, a arte essencial da interdependência positiva. Ao passo que as pessoas percebem
que um público considerável se importa com o papel que elas estão desempenhando, ficam
ansiosas para colaborar, sentem-se mais seguras para experimentar, inovar e aprender
(COOPERRIDER e WHITNEY, 2006), ou seja, o apoio da coletividade (sistema integrado)
estimula os indivíduos a assumirem desafios e colaboram com os objetivos propostos dando o
melhor de si mesmos, com contribuições profundas e lições, muitas vezes, surpreendentes.
4.5.1 O espaço para agir com apoio sob a ótica do cliente
Um importante aspecto identificado durante as entrevistas foi o de que muitos partem
do pressuposto que as pessoas são “naturalmente boas” (Cliente C), e que para perceber o
potencial que elas têm e para “que as pessoas dêem o melhor de si, é preciso confiar nelas e
apoiá-las... ai, é questão de tempo elas colaborarem” (Cliente C). De modo que, o papel da
administração e, até, dos líderes organizacionais, ou líderes do processo de IA
especificamente, está em estimular a participação das pessoas através de um processo de
reconhecimento e reforço positivo ao que elas fazem durante as intervenções.
É emocionante, todos se sentem orgulhosos com o reconhecimento e suas
contribuições no processo. Nós nos espantamos com os resultados obtidos
nos mais diversos níveis. Se você der chance, as pessoas m as soluções.
(Cliente A, grifo nosso).
Percebe-se que, uma vez reconhecidas, as pessoas tendem a responder com uma maior
produtividade e engajamento, sentem-se mais motivadas a participar, e ‘guardam’ aquela
experiência em suas memórias por um tempo significativamente maior do que quando não são
reconhecidas, o que aponta para a possibilidade de que a recompensa emocional está
diretamente relacionada à satisfação das pessoas com o trabalho e a efetiva participação no
mesmo, não apenas no processo específico em que foram ‘reconhecidas’, mas, muitas vezes,
criando entre o sujeito e a organização, um clima de companheirismo e lealdade que se
perpetua pelas demais relações posteriores. Conforme se pode perceber através do discurso do
Cliente D adiante:
132
- (...) Normalmente, a reação [ das pessoas ao serem reconhecidas ] é muito
boa, né? É... há um sentimento coletivo de apreciação, digamos assim, então,
a reação das pessoas tende a ser muito boa. [...] eu digo que o seminário foi
um EXCELENTE momento, né. Tanto é que, assim, faz um tempo , mas
eu me lembro com alguma clareza... tem, assim, uns 8 anos que isso
aconteceu (rs). (Cliente D, grifo nosso).
- Mas foi então uma coisa marcante.. no caso.. (Pesquisador).
- Foi bastante marcante.. e eu o deixei de viver momento marcantes lá..
porque era uma empresa, com certeza.. assim.. de trabalhos muito
interessantes.. vivi experiências MUITÍSSIMO interessantes.. Não diria que
essa foi a.. necessariamente a mais marcante não.. mas foi uma excelente
experiência (Cliente D, grifo nosso).
Ainda se tratando da liberdade atribuída ao sujeito de agir com apoio perante o grupo,
e tendo a recíproca como verdadeira, um interessante aspecto foi ressaltado por alguns dos
entrevistados. Para eles, o papel do interveniente é de fundamental importância para que as
pessoas se sintam livres para colaborar, e possam, também, serem reconhecidas pelo papel
que desempenham diante do grupo.
O interveniente assume, assim, um papel de parâmetro para os demais membros do
grupo, ao passo que estes almejam atingir o desempenho não apenas esperado pelo
interveniente, bem como pelo próprio desempenho do mesmo, seja através de posturas
pessoais, de valores percebidos, da forma como esta pessoa se porta perante o grupo, dentre
outros.
De modo que, percebeu-se a formação com uma “marca” (Cliente B) com
características pessoais do interveniente, que servia como modelo de atuação para os demais
membros, que sentiam-se felizes a medida que se aproximavam deste modelo, sendo, pois,
reconhecidos pelos demais membros do grupo e tendo validadas suas atuações.
Eu acho que esse sentimento é muito presente naquelas pessoas que se
destacam, né? Porque, inclusive, tem uma coisa engraçada, eu acho que
quem contribuiu muito pra isso foi a própria figura do consultor, no nosso
caso, aqui, o processo foi conduzido por Fulano [o nome do consultor foi
omitido para que se pudesse preservar sua identidade] . Fulano é uma figura
que era reconhecida por todos os participantes, ou, pelo menos, por uma boa
parte dos participantes como uma pessoa evoluída, uma pessoa avançada,
uma pessoa espiritualizada. E isso tinha uma marca. E as pessoas que no
trabalho de alguma maneira se destacavam, não é.. naquele trabalho, eram
como se fossem assim 'olha, esse aqui é um Fulaninho’.. uma pessoa
evoluída também, uma pessoa que estava caminhando naquela direção. Eu
acho que isso teve efeito, as pessoas se sentiam, talvez, felizes com isso..
(Cliente B, grifo nosso).
133
Havendo, ainda, uma associação entre o papel de ‘parâmetro’ do consultor
interveniente para o grupo e o do líder organizacional, de quem se espera, não apenas um
patrocínio declarado de apoio ao processo, bem como uma participação efetiva no mesmo.
(...) Eu acho que o mais primordial dos fatores é o patrocínio da liderança.
O líder que esteja fazendo parte do grupo, investindo naquilo, participando
daquilo. Ele vai criar um, ele vai criar uma cultura de participação maior.
(...) Se o líder se defende, praticamente o resultado vai sem mãos. Eu acho
que esse é o fator primordial (Cliente B).
Existe, deste modo, a crença de que sem a disponibilidade deliberada e efetiva
participação da liderança, dificilmente se cria uma “cultura favorável ao engajamento das
pessoas” (Cliente C), apontando para a idéia de que as pessoas respondem positiva ou
negativamente muito mais de acordo com o exemplo aos quais estão submetidas, do que
apenas pelo discurso apresentado, estando este, muitas vezes, dissociado da efetivação prática.
Uma vez que o líder assume uma postura defensiva perante o desenvolvimento de
qualquer trabalho, as pessoas ficam menos estimuladas e o trabalho, quando realizado, perde
sua identidade, como se fosse “um trabalho de autoria de ninguém” (Cliente C), ou “sem
mãos” (Cliente B), pois é atribuído ao líder o papel de “cabeça do grupo” (Cliente C) e, uma
vez que este não se envolve, o resultado de toda intervenção se torna acéfalo.
4.5.2 A percepção do consultor acerca do espaço para agir com
apoio
A partir da coleta de dados realizada com os consultores organizacionais, foi possível
delinear como cenário da IA, no que diz respeito ao espaço que as pessoas têm para agir com
apoio, um ambiente no qual existe relevância da imagem social que cada indivíduo tem
perante o grupo, na efetiva participação das pessoas no processo.
Ou seja, saber que têm uma imagem social positiva e validada pelo grupo, leva as
pessoas a se sentirem parte do processo e terem suas participações reconhecidas, e, ainda, que
esse reconhecimento ou legitimação do grupo faz com que atuem de maneira cada vez
mais positiva, alimentando um ciclo virtuoso de reconhecimento, participação ativa e
reconhecimento.
Como em qualquer ambiente social, se destacam nas dimensões (1) cnica,
(2) política e (3) de imagem social (CONSULTOR A, grifo nosso).
134
Nós fizemos um estudo que nos mostrou que elas se sentem parte de um
todo maior, se sentem confiantes de que as suas contribuições são
importantes para sua organização (CONSULTOR B, grifo nosso).
Acho que esse é um ciclo de reforço virtuoso: quanto mais reconhecimento,
melhor atuação e mais reconhecimento (CONSULTOR C, grifo nosso).
4.6 Espaço para ser positivo
Whitney e Trosten-Bloom (2003) destacam como a última das seis liberdades
propiciadas pela IA ao indivíduo, a abertura do caminho para as pessoas poderem ser
livremente positivas, o que não é comum nos ambientes organizacionais atualmente, onde
poucos são alegres, felizes ou positivos.
Cooperrider e Whitney (2006) acrescentam que cada vez mais as pessoas têm feito
referência à IA pela abertura dada aos indivíduos para se sentirem positivos e orgulhosos de
suas experiências de trabalho.
4.6.1 O espaço para ser positivo sob a ótica do cliente
Para que os indivíduos sejam capazes de agir livremente de maneira positiva,
inicialmente, foi necessário que fossem convidados a uma “revolução positiva da mudança”,
revolução esta compreendida como “uma nova forma de ver e perceber o mundo... eu acho
que de uma posição mais positiva... eu diria até que mais otimista sobre a vida” (Cliente C).
Para alguns dos entrevistados, o convite representou mudanças significativas na forma
como passaram a perceber as organizações em que trabalham, os processos e projetos
desenvolvidos, e conseguiram, além disso, transpor os limites da organização e deixar com
que essa nova postura seja aplicada, também, às suas vidas pessoais. Deste modo, fortes
indícios que a ‘revolução positiva da mudança’, quando positivamente percebida pelos
indivíduos, tenham como impacto uma mudança de valores não apenas profissionais, bem
como dos valores pessoais dos mesmos, como, por exemplo, o posicionamento otimista que
assumem diante da vida ao se permitirem, novamente, “como na época em que éramos
crianças... sonhar... e o sonho não tem limites, ?” (Cliente C). Este sentimento de otimismo
135
diante da vida foi também apontado como resultado do processo de IA pelo cliente A ao
afirmar que:
Foi fantástico, mudou minha vida. Eu recebi um estímulo muito forte que
refletiu em grandes evoluções na minha vida pessoal, profissional e
acadêmica. [...] Consegui realizar coisas que eu nem tinha sonhado antes.
(Cliente A, grifo nosso).
Um convite a mim, diretamente feito pra isso, me deixaria primeiro muito
feliz. Porque, taí uma metodologia em que eu acredito. Sou suspeito pra
falar, eu acho até que é bom dizer isso pra você. [...] tinha contato [acerca
de 11 anos] .. conhecia bem, tinha estudado, tinha lido, já tinha
trabalhado.. já tinha, enfim, pra mim não era novidade. (Cliente B, grifo
nosso).
Associada a esta postura de ‘encantamento’ com o método poderá se acrescentar a
possibilidade que alguns dos entrevistados tiveram de ter acesso aos conceitos que compõem
este método, suas bases teóricas e filosóficas, as principais ferramentas utilizadas, bem como
todos os seus propósitos. Existe a possibilidade de que a ‘familiaridade’ com a Investigação
Apreciativa seja um tipo de catalizador ao processo de sensibilização, adesão e disseminação
da mesma, atuando como fator facilitador e acelerador do processo.
É simplesmente maravilhoso o que aconteceu comigo. Sou um estimulador
na disseminação desta metodologia, que ao meu ver, trata-se de uma
filosofia de vida. (Cliente A, grifo nosso).
[...] um convite a mim, diretamente feito pra isso [a revolução positiva da
mudança], me deixaria primeiro muito feliz. Porque, taí uma metodologia
em que eu acredito. [...] E, acredito tanto nessa metodologia, que, quando
nós fundamos aqui o nosso núcleo [...], que hoje eu tenho a honra de dirigir,
o modus operandi escolhido foi a investigação reflexiva. Dentro dela, a
investigação apreciativa. Ou seja, é algo em que eu acredito muito, então
qualquer convite nessa direção me deixa maravilhado. (Cliente A, grifo
nosso).
Todavia, esta ‘familiaridade’ não se apresenta como fator determinante nem à adesão
ao método, como tampouco à disseminação dos valores concernentes à mesma. Foi apontado
por um dos respondentes que, embora houvesse tido contato com a IA, o sentimento de
curiosidade, associado aos inúmeros questionamentos a respeito da implementação da mesma,
e dos “resultados mensuráveis... palpáveis” (Cliente C) pouco perceptíveis pela maioria das
pessoas, gerou em alguns dos membros do grupo uma postura de “descrédito, acho que...
talvez... acho que uma descrença mesmo” (Cliente C) perante o método. Conforme ratifica o
Cliente D:
Veja.. nesse sentido, é.. eu posso dizer, assim, meu sentimento na época era
de curiosidade.. tá. Em relação a ser convidado para participar usando o
136
método, tal, de Investigação Apreciativa.. que, na época, era uma novidade
pra gente né? E .. não deixo de dizer pra você que a gente tinha também..
alguns.. alguns preconceitos, digamos assim.. em relação a Investigação
Apreciativa, porque [...] essa história de você viver a.. a.. o aspectos
positivo, as vezes, dava aquela desconfiança assim... (Cliente D, grifo
nosso).
Observa-se, portanto, que, “deixar-se levar pelos sentimentos que se prega nas
reuniões... pelo clima proposto pelas pessoas que conhecem o método.. não é sempre a
coisa mais simples do mundo não” (Cliente C), algumas pessoas adotam uma postura de
desconfiança diante do método, possivelmente associada a possibilidade de não-colaborar ou
não-participar, que deixou de ser levada em consideração ao passo que se utilizou da mesma
como ferramenta de alguma tarefa atribuída pela própria organização, onde de fato todos
deveriam participar.
Quando o motivadas, mas necessariamente precisaram contribuir com o
desenvolvimento do que foi proposto pela organização, houve em algumas pessoas, a
percepção de que seus atos, bem como o de outros colegas, beiravam a encenação de uma
“situação ideal.. aquilo exatamente o que a empresa espera da gente” (Cliente C), estando,
pois, estas pessoas adotando uma postura de atores perante o grupo, ou seja, não se mostrando
como necessariamente o são, nem aquilo que de fato pensar e sentem, mas sim representando
os papéis que se espera delas, deliberada e dissimuladamente, ao que o Cliente D abaixo
denomina de “cinismo” em:
'ih, será que isso não é um.. movimento que vai cair num certo cinismo..
num certo momento'.. porque todas as empresas têm problemas.. né. Então,
'eu vou ficar aqui no .. na diplomacia.. falando das coisas boas.. e a gente
não vai tratar (rs) a unha encravada, digamos assim'.. então.. isso.. onde vai
aparecer o problema. (Cliente D, grifo nosso).
A abertura do caminho para que as pessoas possam ser livremente positivas não é
comum nos ambientes organizacionais atualmente, onde não existe predominância de
ambientes alegres, felizes ou positivos. Existe, ainda, a possibilidade oposta daquela desejada
pela Investigação Apreciativa, que é a de encontrar ambientes naturalmente negativos.
Nestes ambientes, onde predominam a negatividade e a desconfiança entre os
membros do grupo e entre eles e a organização –, nos quais as pessoas estão habituadas a
agir de acordo com padrões, mesmo que não estejam de acordo com eles, apenas por serem
atribuições de seus cargos, uma significativa relação entre os papéis desempenhados e os
sentimentos de dissimulação e cinismo das pessoas, que sublimam o que de fato sentem, em
função do roteiro de atuação que se espera delas.
137
Todavia, nem todas as atitudes podem ser inteiramente dominadas pelo indivíduo de
maneira consciente e intencional e, muitas vezes, necessidade de retornar às zonas de
conforto que se encontravam antes no caso, quando utilizavam as ferramentas de análise
estratégica da situação através do levantamento de pontos positivos e negativos da
organização, suas ameaças e oportunidades –.
É.. veja, então.. é.. nesse sentido [de lidar com ambientes naturalmente negativos],
eu acho que a investigação apreciativa, ela ajuda a você estabelecer um ambiente
positivo, né. Na medida que ela foca.. é.. essa questão de apreciação dos pontos
fortes e tal.. então, eu acho que isso até ajuda a depois você tratar os problemas (rs)..
de alguma forma ajuda. Eu acho que ajuda... (Cliente D, grifo nosso).
Entretanto, aponta-se como forte a tendência de que, mesmo ao se deparar com
ambientes naturalmente negativos, a postura das equipes de IA sejam a de insistir e investir na
implementação do referido método, uma vez que existe a possibilidade de que as pessoas se
sintam “tocadas pelo clima positivo” (Cliente C) desenvolvida durante as primeiras etapas da
mesma, nas quais as pessoas são convidadas a rememorar eventos de felicidade significativa e
de realização pessoal, não necessariamente em se tratando de experiências profissionais, é
significativa.
(...) A gente lidou muito com isso [ambientes naturalmente negativos], né? Aqui,
inclusive. Porque no meio do processo, nós tínhamos momentos, por exemplo, de
movimentos grevistas, como acontecendo inclusive agora. Ai é uma confusão,
porque o trabalho fica atrapalhado, as pessoas não vão, ou vão, mas ficam
deliberadamente atrapalhando, ou seja, o ambiente tipicamente negativo. Como é
que a gente lida com isso? Eu acho que a melhor forma de lidar é continuar
investigando, é continuar dando espaço as pessoas falarem, é continuar respeitando a
opinião... o sentimento das pessoas.. [...] Manter a cultura apreciativa.. independente
do tipo de ambiente.. (Cliente B, grifo nosso).
Em outras palavras, faz-se necessário, independente do ambiente em que se
implementa a Investigação Apreciativa, criar e cultivar, constantemente, uma cultura
apreciativa’ de respeito ao que as pessoas têm a dizer, de compreensão às suas reais
necessidades, da disposição que têm de participar, do quão estão dispostas a trabalhar e
sonhar em conjunto, etc. Ou seja, o tipo de ambiente, naturalmente positivo ou negativo, pode
não ser determinante na postura que os intervenientes terão perante o grupo, muito embora se
reconheça que trabalhar nesses ambientes é bastante desafiador e, na maioria das vezes, o
tempo que as pessoas levam para apresentar resultados é consideravelmente maior do que em
ambientes propícios à positividade, ou, até mesmo, em ambientes neutros, nem positivos, nem
negativos.
138
Acho muito desafiador, contudo tenho muita esperança de mudança. Tive
um desafio pessoal com uma pessoa na família que depois de 10 anos
trabalhando para a mudança de comportamento, consegui obter resultados
significativos. Acho que não podemos desistir (Cliente A, grifo nosso).
Além de ser bastante “desafiador” (Cliente D) trabalhar em ambientes naturalmente
negativos, é de opinião unânime dos entrevistados que a participação das pessoas nestes
ambientes é “muito reduzida.. as pessoas se defendem muito sabe? Tudo é um motivo pra
desconfiança, pra não estar motivado a produzir” (Cliente C).
As pessoas imersas em ambientes predominantemente negativos tendem a desenvolver
um mecanismo de defesa de auto-proteção perante o grupo que, agora, configura-se como
ameaça a permanência ou legitimação das mesmas no grupo. De modo que, enquanto
defensivos, estes indivíduos têm a tendência maior de representar papéis dentro da
organização do que de expressar o que de fato pensam e sentem, já que não se sentem seguros
em fazê-lo:
Eu convivi em ambientes bastante negativos, então, (...) ééé.. a
participação é limitada, né. As pessoas falam, sempre 'pisando em ovos', ,
como se diz.. é.. expõem seus pontos de vista, mas, sempre de uma forma
muito diplomática.. é.. cautelosa.. arrodeando muito. Nunca.. nunca pondo
os 'pingos nos is', então.. é difícil, é difícil você ter uma participação ampla,
né. E quando não, muitas pessoas ficam absolutamente retraídas mesmo, né.
(Cliente D, grifo nosso).
Adotando uma postura “diplomática e cautelosa” (Cliente D), as pessoas agem de
maneira superficial respondendo apenas às expectativas que todos têm de sua postura na
organização, não conseguem, na maioria das vezes, ser sinceras e objetivas, e têm um
comportamento carregado de “insinuações, que não podem dizer o que pensam.. mas não
tem como evitar sentir essas coisas, né?(Cliente C), ou seja, a linguagem oral pode até ser
trabalhada de maneira consciente, todavia, sublimar os comportamentos durante todo o
tempo, evitando que as linguagens não-verbais não emirjam genuinamente torna-se não
apenas mais difícil, como, também, requer um desprendimento muito maior de energia por
parte do sujeito.
Existe, ainda, um aspecto bastante relevante apontado pelo estudo que diz respeito à
contaminação do comportamento grupal, em função da influência exercida pelo
comportamento de um indivíduo, ou subgrupo. Entretanto, este comportamento assemelha-se
ao do papel de motivador do líder através do exemplo que este ao grupo. Da mesma forma
que o comportamento do líder, enquanto participante ativo e patrocinador do processo motiva
o engajamento e a colaboração dos demais membros, a existência de pessoas com
139
pensamentos negativos, ou sub-grupos naturalmente negativos, pode desencadear nos demais
membros algum tipo de insegurança com relação a veracidade das informações ou a boa-fé do
grupo, fazendo com que eles reproduzam comportamentos também tendenciosos à
negatividade.
Bastante mais dificultada [a participação das pessoas em ambientes
naturalmente negativos], porque, inclusive, tem o seguinte, até as pessoas
que.. até estão participando do processo, e gostam, e querem, e investem
nisso ficam de alguma maneira contaminadas pelo grupo negativo que.. tem
uma força. Ai fica mais difícil, né? Sempre (Cliente B, grifo nosso).
Eu, eu me lembro de ter participado de vários trabalhos de planejamento, e
tal, em, em uma empresa que havia um clima de desconfiança ENORME e
rivalidades entre os grupos, e tal, e, mesmo assim, essas pessoas, quando iam
justamente falar dos pontos fortes, e tal, elas tinham uma certa facilidade.
Mas difícil era falar das coisas negativas de uma forma mais aberta. (Cliente
D, grifo nosso).
Mas, apesar de todas as implicações do desenvolvimento do método de IA em um
ambiente naturalmente negativo, existe, ainda, a crença, ou talvez a “esperança” (Cliente C),
de que esta possa ser realizada com sucesso que as pessoas poderão se sensibilizar pelo
próprio método, e, assim, sentir-se mais motivadas a participar efetivamente.
Normalmente é baixa [a participação das pessoas em ambientes naturalmente
negativos], porém a medida que vão descobrindo o poder da metodologia,
percebo um maior interesse (Cliente A, grifo nosso).
Eu acho possível [que as pessoas participem mesmo imersas em ambiente
negativos], porque o método ele facilita as pessoas se desarmarem um
pouco.. em função do tratamento das (rs) das questões positivas mesmo. É
difícil você ter um ambiente tão negativo que as pessoas não possam,
digamos assim, narrar situações em que coisas boas aconteceram né?
(Cliente D, grifo nosso).
Ressalta-se, neste aspecto ainda, a importância do papel do interveniente, ou da equipe
condutora, na sensibilização das pessoas e no feeling da condução do processo, identificando
as pessoas-chave, ou lideranças informais, do grupo que ajudaram a “tocar as pessoas”
(Cliente C), os demais membros, fazendo com que estes deixassem o local de desconfiança
deliberada para, pelo menos, o de disponibilidade em conhecer a nova abordagem proposta.
(...) É difícil.. eu acho que é difícil.. Eu acho que elas precisam, assim,
precisam ter um.. uma sensibilidade muito grande, e ai, de repente, o grupo
que conduziu o processo precisa ter também uma sensibilidade muito grande
pra saber como é que vai, digamos assim, tocar aquelas pessoas, sensibilizar
aquelas pessoas. Mas acho que é difícil (Cliente B, grifo nosso).
140
Diante de uma nova abordagem apresentada, as pessoas nem sempre reagem com total
aceitação, pelo contrário, acredita-se que, geralmente, têm como reação primeira a negação e
relutam a deixar posições já ocupadas e consolidadas pelas experiências anteriores, em função
de um ‘novo’ desconhecido e, portanto, arriscado.
(...) Olha (..) se esse novo vai implicar em.. algum tipo de novidade, algum
tipo de mudança na forma dessas pessoas agirem, não tenha dúvidas que a
primeira e mais, e mais imediata reação é a de negação. Acho que isso
equivale um pouco à morte. (Cliente B, grifo nosso).
(...) Bem, ai.. [a reação das pessoas ao se depararem com o ‘novo’] depende..
acho que depende muito do ambiente, da empresa, do.. de uma maneira
geral, novidades podem trazer resistência, né. (Cliente D, grifo nosso).
Leva-se a crer que o tempo de contato com determinada situação é diretamente
proporcional à possibilidade de negação à idéia de mudança nesta situação, ou seja, quanto
mais tempo o indivíduo estiver habituado a desempenhar uma atividade ou tarefa, mais
reativo ele será perante a modificação destes padrões anteriores, o que se configura como um
mecanismo de defesa natural, podendo representar, ainda, uma perda de poder dentro do
ambiente organizacional.
Então, as pessoas se defendem muito com relação a isso.. porque significa
dizer que elas vão deixar de fazer o que elas estão acostumadas a fazer. 'Eu
faço assim há 10 anos, 20 anos, 30 anos.. porque é que eu vou mudar
agora?'. Consciente ou inconscientemente, isso pode estar associado à perda
de poder, então, as pessoas reagem. (Cliente B, grifo nosso).
Chocante assim.. não necessariamente chocante, mas que leva as pessoas a..
a uma desconfiança.. toda vez que se vai começar um trabalho, não
necessariamente nem novo, mas você vai, vem, chama um consultor.. pra
iniciar um trabalho, e tal.. as pessoas sempre né.. 'Ih.. vai começar tudo de
novo!'.. diferente da rotina, digamos assim, as pessoas muitas vezes vem..
'ihhh, já vi esse filme'.. 'já vi esse pessoal aqui'.. aquele tipo de desconfiança
que consultor, de uma maneira geral, enfrenta em muitos (rsrs) e muitos
lugares. (Cliente D, grifo nosso).
Destacando-se, ainda, que, muitas vezes, a postura que a própria organização assume
diante das situações de mudança, ou o tipo de empresa ou trabalho que ela desempenha,
podem gerar, nas pessoas, sentimentos menos defensivos e mais motivadores e desafiadores e,
portanto, favoráveis a implementação da mudança.
Mas.. dependendo da empresa, o novo pode ser algo estimulante, né. Então,..
numa empresa de consultoria, que trabalhava bastante com essas questões de
abertura, de.. [...] o novo não era uma coisa chocante
como outros lugares
que eu tenho convivido, né. (Cliente D, grifo nosso).
141
Entretanto, é possível vislumbrar que, mesmo após um processo inicial de rejeição à
mudança, caracterizado por uma queda brusca e significativa da produtividade talvez pela
perda de motivação das pessoas em trabalhar –, posteriormente à essa fase, identifica-se um
nível bastante acentuado de produção, ao passo que as pessoas aceitam a mudança e
conseguem associar-se a ela.
É um mecanismo natural.. de defesa, naturalíssimo, né? A primeira reação é
defesa. E ai, a gente sabe que as tecnologias de mudança de cultura, elas
levam a uma queda, de produtividade.. momentânea.. pra depois ter um
avanço muito maior. (Cliente B, grifo nosso).
Quando questionados a respeito da reação das pessoas ao se depararem com o ‘novo’,
conforme descrito anteriormente, todos os entrevistados fizeram menção às reações negativas
adotadas pelas pessoas com quem convivem e/ou trabalham. Porém, quando o foco da
pergunta deixou de ser o outro indivíduo, e passou a ser o próprio respondente, o tipo de
reação ao se deparar com a novidade, a mudança, foi algo diferente do “mecanismo de
defesa”.
Alguns se consideram “uma pessoa muito aberta para coisas novas. Normalmente
minha reação é de curiosidade e vontade de aprender” (Cliente A), mesmo que isso signifique
uma quebra de paradigmas e uma modificação nas rotinas de trabalho com as quais estão
habituadas a desenvolver.
Outros partem do pressuposto que pode haver sim um momento defensivo e de
desconfiança perante a mudança, todavia, em função de experiências profissionais anteriores,
e, talvez, de experiências de vida mesmo, conseguem vislumbrar nuances positivos da
mudança com maior rapidez e facilidade que os demais indivíduos, que apenas reagem
negativamente.
[...] tudo o que eu dizer aqui é muito discurso, né.. (rsrs).. é assim.. eu
passei por um bocado de experiência, interessante, né. Na própria formação
que eu tive.. eu diria que eu sou menos defensivo que.. eu me percebo assim,
né.. menos defensivo do que a maioria.. mas.. não deixa de ter momentos de
que eu diga assim.. 'Ihhh.. isso ai, isso ai agora não (rs)"... olhar, olhar
com desconfiança também algumas coisas.. mas, de uma maneira geral, eu
me engajo, viu? nas coisas.. eu, em geral, participo. Em geral.. não me
lembro de nenhuma experiência que eu me recusei a participar.. NENHUMA
MESMO (Cliente D, grifo nosso).
Ou estão mais preparados para lidar com os momentos de mudança e instabilidade
com maior segurança que os demais uma vez que têm mais mecanismos de compreensão e
domínio dos processos de mudanças em função dos cargos que ocupam, ou das experiências
142
que vivenciaram –, ou não conseguem se perceber como pessoas reativas e defensivas
como os demais, desenvolvendo um outro tipo de mecanismo de defesa, a negação.
(...) Eu acho que eu talvez reaja de uma maneira parecida.. talvez a minha
primeira tendência seja a desconfiada. Mas, --- a todos esses processos pelos
quais eu passei, inclusive esse, aqui [na organização em que trabalho], pra
mim talvez, hoje, seja mais fácil.. entender que o novo sempre vem.. como
diria Belchior naquela famosa música dos anos 70.. O novo sempre vem.. e,
o que é interessante é o seguinte.. é que a gente possa tomar as rédeas desse
novo e conduzir a mudança.. em vez de ser levado por ela.. hoje, pra mim é
mais fácil perceber isso.. muito mais fácil.. muito mais fácil.. (Cliente B,
grifo nosso).
4.6.2 A percepção do consultor acerca do espaço para ser positivo
Para que fosse possível a abertura do caminho no qual as pessoas pudessem ser
livremente positivas, sentindo-se orgulhosas de suas experiências de trabalho, inicialmente,
foi necessário, convidá-los a uma “revolução positiva da mudança”, compreendida por dois
dos três entrevistados como uma modificação de modelo mental para cada indivíduo
impactando, posteriormente, em uma mudança de posturas coletiva.
Para os consultores B e C, existe concordância no que diz respeito ao tipo de mudança
a qual se espera com o método de IA. Nesse processo as pessoas ‘desconstruíram’ o modelo
mental de desenvolvimento organizacional baseado na solução dos problemas, no qual sempre
existiam padrões a serem seguidos e àqueles ou aquilo que não se enquadrasse nesses padrões
era classificado como problemático e deveria ser minuciosamente classificado e avaliado pela
organização, que proporia reparos ou soluções para o erro; e ‘construíram’ um novo modelo
mental no qual se deve analisar apenas pontos positivos das pessoas e do ambiente e,
reforçando esses aspectos, o grupo inteiro secapaz de vislumbrar imagens mentais futuras
de uma realidade almejada por todos, ou seja, “uma organização saudável” (Consultor C).
Desafiar o status quo do que modelo mental da resolução de problemas. De
serem criativas no processo de disseminação do afeto positivo, que desafiem
seus próprios padrões dos diálogos internos o que nega a capacidade das
pessoas para um que valoriza o potencial de todos (CONSULTOR B, grifo
nosso).
Diria de outra forma “processo de mudança positiva revolucionário”.
Revolucionário, porque é uma mudança grande para muitas organizações
cujo modelo mental é de resolução de problemas; processo porque não
ocorre do dia para a noite; mudança positiva porque as pessoas deixam de
serem vistas como culpadas ou causa do problema para serem parte da
143
solução. Em resumo significa um convite a abrir mão das certezas e se
propor a construir coletivamente uma organização saudável, que têm o ser
humano como o centro que vida à organização, o que parece meio óbvio
depois de dito (CONSULTOR C, grifo nosso).
Contudo, o consultor A defende que “não creio em revolução positiva da mudança.
Isto é auto-propaganda dos autores da IA”. Para este consultor não seria possível se trabalhar
um processo de consultoria genuíno, pautado na sinceridade e honestidade, desconsiderando-
se em absoluto aspectos negativos ou, melhor dizendo, traumáticos do ambiente
organizacional. Faz-se necessário que o consultor tenha a maturidade e o feeling de saber
aceitar e lidar também com aspectos não-positivos e não-ideais.
Sobre esse posicionamento, o consultor B em questão coloca-se contrariamente ao
afirmar que não é papel do consultor lidar com ambientes e/ou aspectos negativos, e mais, que
cabe a ele não se deixar ‘contaminar’ pelo ambiente, mantendo-se numa postura apreciativa e
positiva diante da realidade organizacional encontrada, cabendo ao próprio método a
modificação do ambiente, ou seja, a transposição da negatividade para a positividade. Em
outras palavras, “A própria IA se encarrega de fazer o “shift” mas é fundamental que o
consultor não entre no processo negativo, ele(a) precisa se manter apreciativo”
(CONSULTOR B).
A crença de que a natureza do ambiente, positiva ou negativa, pode ser modificada é
ratificada pelo Consultor C afirmar que “a negatividade ou a positividade, são ambas
construções humanas, logo se foi construído pode ser desconstruído”. Deste modo, é papel
das pessoas, únicas responsáveis pela construção e consolidação do ambiente negativo,
modificarem a natureza deste ambiente através de uma escolha e contribuição no processo de
mudança, o que não fica a cargo, portanto, apenas do próprio método, conforme propôs o
Consultor B.
Ressalta-se novamente a importância do patrocínio da liderança nas intervenções em
ambientes do tipo, mesmo que esse patrocínio possa significar a perda do status quo do der,
em detrimento de uma participação efetiva de sua equipe na IA, o que não é entendido como
uma “decisão fácil de ser tomada” (CONSULTOR C), nem representa o sucesso da
implementação do mesmo.
Em um ambiente onde a negatividade está instalada, é muito difícil se
instalar um processo de IA. Se ainda assim alguém com força (patrocinador)
desejar usar IA, terá que estar disposto a abrir mão da direção, pois parte da
negatividade pode ser influência dele. Esta decisão normalmente é muito
difícil. Se ainda assim esta decisão for tomada, o processo pode ser um
fracasso. Não acho que IA é a única “ferramenta” de intervenção a ser usada,
144
quando a única ferramenta que temos é um martelo, todo problema vira um
prego e não é bem assim. Coloquei ferramenta entre aspas porque IA é mais
que isso é uma metodologia de intervenção (CONSULTOR C).
Entretanto, embora reconheça que as pessoas são as responsáveis pelas mudanças no
ambiente organizacional, o Consultor C destaca a dificuldade de implementação do método de
IA em ambientes predominantemente negativos, no qual as pessoas estão habituadas a agir de
maneira reacionária, e, em sua maioria das vezes, de maneira também negativa, de modo que
o método de IA e o posicionamento reacionário parecem não coabitar pacificamente uma
mesma realidade organizacional. O que está em consonância com o posicionamento adotado
pelo Consultor A no qual as pessoas não podem estar posicionadas contrariamente a
implementação do método, e até podem, mas sem essa abertura e engajamento delas no
processo, o máximo que se alcançará será um processo de aprendizagem parcial e unilateral,
pouco representativo perante o que propõe a IA.
Ao contrário do que pensam os consultores A e C, de que existe dificuldades de
implementação em ambientes negativos, o consultor B acredita ser apenas uma questão de
tempo e de confiança no processo e nas pessoas para que todos participem do processo e a IA
possa ser implementada na organização. “Leva mais tempo mas quando eles escutam dos seus
colegas as primeiras historias positivas, eles entram no processo” (CONSULTOR B).
Nesse aspecto, de que, paulatinamente, as pessoas vão sendo ‘tocadas’ e conseguem
participar do programa existe unicidade de opiniões, conforme pode ser visto pela expressão
do consultor B acima e pelo posicionamento do consultor C “resposta é sempre sim! Possível
é, mas o que acredito ser mais interessante é se essas pessoas são capazes de influenciar
outras. Ainda assim acho que sim, mas esse é o tipo de coisa que não como estimar”
(CONSULTOR C, grifo nosso). Entretanto, o consultor A sugere condições para que a
participação das pessoas em ambientes negativos seja possível, “caso o processo seja
progressivamente bem sucedido, seja transparente, seja transformador, seja revelador, seja
uma oportunidade verdadeira de crescimento para as pessoas (CONSULTOR A). Deste
modo, existe a possibilidade de que as pessoas consigam influenciar o comportamento das
outras, através de um processo de sensibilização das mesmas e do convencimento de que o
resultado do método será uma oportunidade de melhoria e aperfeiçoamento pessoal, o que,
contudo, é muito pouco mensurável e bastante difícil de estimar em que grau’ impactam nas
pessoas, que esse impacto está intimamente relacionado às suas subjetividades, sendo,
portanto, ímpares.
145
Assim, é compreensível e aceitável que a percepção das pessoas ao ‘novo’ à
‘novidade, à ‘mudança’ -, é, da mesma forma, bastante particular e único. As reações
imediatas podem ser as mais variadas possíveis, variando desde o ceticismo e a ironia até a o
encantamento e a esperança, “há muitas reações, para citar algumas, estranheza, ceticismo,
ironia, admiração, curiosidade, encantamento, esperança, etc.” (CONSULTOR C). Contudo,
ao passo que experimentam a mudança e a percebem como representativa de uma melhoria de
condições, a tendência é a de que se transformem em direção à aproximação com as
mudanças, de modo a procurar um novo ‘ponto de equilíbrio’ emocional favorável, uma ‘zona
de conforto’ para o indivíduo e para a organização. “Como Argyris e Schon dizem: (1) ficam
surpresas, (2) experimentam lentamente, (3) vão percebendo “sucesso psicológico”, (4) se
transformam” (CONSULTOR A).
Partindo do pressuposto que a mudança associada ao método de IA será sempre boa e
trará um bem à organização, o consultor B acredita que apenas as reações de surpresa positiva
serão observadas durante o processo. “Surpresa positiva, quando o novo é bom e faz bem, traz
dedicação e compromisso” (CONSULTOR B). Entretanto, muito embora este possa ser o
sentimento e o ponto de vista por parte dos consultores, que, de fato, necessitam ter confiança
e crença na força e positividade do método, não se pode garantir que o mesmo sentimento será
partilhado por todas as pessoas dentro do ambiente organizacional.
4.7 Conflitos e pensamentos ruminativos
Através da busca por um núcleo positivo que direcione todo o processo investigativo,
que a organização poderá fortalecer o conhecimento coletivo, propiciando sinergia entre os
elementos do grupo e, paulatinamente, conseguir construir energia tornar-se mais predisposta
e/ou flexível aos processos de mudança. Todavia, em alguns grupos, sentimentos negativos
podem se sobrepor à capacidade do indivíduo de vislumbrar núcleos positivos, fazendo-os
alimentar um ciclo vicioso de pensamentos que serão sempre ruminados, mas poucas vezes
‘deglutido’ e digerido.
146
4.7.1 Os conflitos e pensamentos ruminativos sob a ótica do
cliente
Durante o processo de Investigação Apreciativa nas organizações analisadas, foi
possível constatar que, na maioria delas “participaram sim todos os níveis hierárquicos da
empresa” (Cliente C), o que indica uma preocupação, por parte dos intervenientes, com a
busca pelo engajamento de pessoas dos mais diversos setores da organização, dando a
possibilidade de uma troca de informações mais rica, uma vez que os pontos-de-vista tendem
a ser diferentes de acordo com as experiências de cada um desses níveis.
Participaram os diretores da empresa, consultores e funcionários, digamos
assim, das áreas da empresa mesmo.. Todos os níveis participaram, com
certeza.. acho que só quem não participou o vigia! (rs). (Cliente D, grifo
nosso).
“Todos os níveis [participaram da IA], inclusive no primeiro encontro tiveram a
participação dos sócios e seus familiares” (Cliente A). Ao passo que os sócios podem
participar do programa de IA, e, mais ainda, têm a possibilidade de engajar seus familiares em
atividades que fazem parte do seu universo profissional, a tendência é que tanto o índice de
participação desses colaboradores seja maior, como se diminui a chance de que o indivíduo
não se engaje no processo, que terá o apoio não apenas no ambiente da organização, mas,
também, incentivadores e patrocinadores no ambiente familiar.
Todavia, é possível perceber que existem organizações nas quais apenas a cúpula
administrativa participou do projeto, muito embora, tenha sido apontado que, dentro desta
cúpula, exista algum grau de hierarquia, subdividindo-a em três escalões distintos, todos
contidos em um mesmo nível hierárquico, o estratégico ou institucional.
Olhe.. a hierarquia mais elevada. O pessoal do nível hierárquico mais
elevado, ou seja, do secretário adiretores de divisão, que seriam o que.. o
primeiro, segundo e terceiro escalão, da [organização]. Isso. E mais alguns
assessores estratégicos, que não exatamente diretor de alguma coisa, mas
que eram figuras-chave. (Cliente B, grifo nosso).
Em sua maioria, participaram do processo indivíduos de todos os níveis hierárquicos
da empresa, compondo, assim, equipes de trabalho bastante heterogêneas. A relação de
convivência entre as pessoas dos diversos níveis hierárquicos foi percebida como “fácil”
(Cliente D) e “bastante amistosa” (Cliente C).
Todavia, alguns fatores podem ser considerados significativos nesta ‘facilidade’ de
convivência entre estes grupos. O primeiro fator apontado foi a “própria natureza da
147
empresa”, por se tratar de uma organização cujos trabalhos estão pautados no estudo da
aprendizagem organizacional, e haver um histórico anterior de participação de todos os níveis
hierárquicos em atividades administrativas da empresa.
Bem.. eu percebo como, como uma convivência fácil lá, né? Mas.. isso já.. já
era favorecido pela própria natureza da empresa.. Como era uma empresa
que trabalhava com aprendizagem organizacional.. várias vezes os níveis
mais operacionais, assim, eles participavam com alguma freqüência de
algumas reuniões, né. Então, não era uma coisa absolutamente nova, aquela
intervenção. (Cliente D, grifo nosso).
Em seguida, pode-se destacar que o quanto maior for o período de tempo que as
pessoas trabalham juntas, melhor será a convivência das mesmas em um trabalho em grupo,
mesmo que heterogêneo, como foi a intervenção de IA, pois antes da convivência nesta
intervenção em particular já havia, entre o grupo, relações anteriores de amizade, coleguismo,
respeito, enfim, familiaridade entre as pessoas. Os problemas de hierarquia existiam desde
antes da intervenção, todavia, conforme destacado posteriormente, as pessoas que passavam
por esses problemas, não se engajaram no processo, de modo que não foi possível perceber o
fenômeno já na IA.
Não, nesse sentido nunca houve problema não. Inclusive pelo seguinte,
porque a maior parte dos participantes, são colegas, são pessoas que
trabalham juntas muito tempo. A gente não tem aqui, nunca teve, pelo
menos, na época, não tinha, problemas de hierarquia muito severos. As
pessoas que até causam algum problema deste tipo, nunca participaram (rs)
dos eventos, né, do trabalho. Foram convidados.. mas não se engajaram..
(Cliente B, grifo nosso).
Aponta-se, assim, para a hipótese de que pessoas propensas às dificuldades de
relacionamento ou de engajamento em grupos heterogêneos no caso em questão, por
pessoas de um mesmo nível hierárquico, porém de três escalões distintos –, quando
convidadas a participar de um projeto de IA, tendem a optar por não participar.
Por fim, percebe-se que a criação de uma cultura organizacional no qual as pessoas
são consideradas umas pelas outras pelo que elas de fato são, e não pelos cargos e/ou funções
que ocupam na organização, facilita o trabalho em equipes heterogêneas, pois predomina o
respeito pelo próximo e pela contribuição que o mesmo pode dar à organização, ressaltando,
ainda, que todos teriam a felicidade como objetivo maior e comum a todos.
Os sentimentos são os mais nobres possíveis, pois apesar de níveis
hierárquicos e/ou sociais diferentes, todos buscam a felicidade. Pessoas são
pessoas. Além disto, na nossa empresa nós sempre respeitamos nossos
148
colegas e abrimos espaços para este tipo de convivência. (Cliente A, grifo
nosso).
Muito embora as relações entre as equipes de trabalho heterogêneas tenha se mostrado
tranqüilas e amistosas, foram sim percebidos sentimentos de bloqueio ou inibição por parte
das pessoas, em grande maioria dos casos estudados. Com exceção do Cliente D, que afirma
não haver percebido qualquer tipo de inibição ou bloqueio, entretanto, não pode, com isso,
precisar se de fato houve ou não este tipo de sentimento. “Não, eu não percebi não. Difícil
dizer que não houve algum nível, mas eu não percebi. Havia uma.. uma convivência muito
'fácil'.. muito, muito boa na empresa..” (Cliente D).
Os sentimentos de subordinação parecem não ter sido completamente esquecidos
durante o processo, o que fez com que algumas pessoas se inibissem ao expor o que de fato
pensavam, bem como os comportamentos relativos às posições ocupadas e os papéis sociais
representados dentro do ambiente organizacional, que acabaram por tolher e inibir algumas
manifestações mais efusivas de participação, pelo menos, nos momentos iniciais do programa.
Em algumas situações sim, contudo com o desenvolver dos trabalhos,
aqueles mais inibidos começaram a se soltar na medida em que observavam
um colega humilde se manifestando sem nenhuma conseqüência negativa
(Cliente A, grifo nosso).
Mais uma vez o fator ‘tempo’ aparece como facilitador da convivência entre as
pessoas do grupo, o que aponta para a possibilidade de que o tempo de convivência esteja
intimamente relacionado ao período de tempo que as pessoas em questão necessitaram para de
fato se sentirem a vontade com os demais colegas do grupo, bem como com o método. O que,
segundo o Cliente B, girou em torno de 40% do tempo total de intervenção (que durou por
volta de 2,5 anos), o que sugere, aproximadamente, um ano de convivência.
Sim. Eu não vou dizer que não pode perceber [bloqueio ou inibição],
percebe sim. Até que porque, é aquela coisa, o sujeito pode ser meu colega
de trabalho, mas naquele momento ali, ele é meu chefe, e diante do meu
chefe, a gente sempre fica um pouco, né, tolhido, de alguma maneira. Então
eu acho que houve sim algum tolhimento.. no começo. Depois aquilo foi
ficando mais tranqüilo. [...] Olha eu diria que ela [a inibição] ficou mais
presente decorridos 40% do tempo total.. 1/3 e mais alguma coisa, aquilo
começou a ficar mais, mais fluido. (Cliente B, grifo nosso).
O método de Investigação Apreciativa defende o processo de mudança organizacional
através de uma observação e análise da realidade de uma maneira apreciativa, e, portanto
propõe ressaltar apenas aspectos positivos da organização. Apenas um dos entrevistados
aponta que, de fato, o foco do processo girou em torno dos pontos positivos das equipes e da
149
organização, de modo que pontos críticos não foram contemplados, pelo menos, não nesta
intervenção especificamente, o que pode sugerir que, em outras intervenções ocorridas, estes
pontos negativos possam ter surgido.
(...) Não nessa ocasião. Não nessa ocasião. Eu acho que nessa vez, foi
seguido bem o método mesmo.. (rs).. então, a investigação apreciativa ela
não.. por natureza, não é, não era.. digamos assim.. em termos de, pelo
menos, de nevrálgicos.. do ponto de vista de problemas. né.. e esse era muito
mais.. é.. se dizer assim 'pontos críticos do ponto de vista positivo, sim'.. mas
do ponto de vista negativo, eu diria que não nessa vez (Cliente D)
Outra situação apontada sugere que pontos nevrálgicos acerca da própria da
organização emergem sim durante o processo de investigação, todavia, o objetivo era, através
deles, vislumbrar novas oportunidades a serem exploradas e idealizar a forma como
conquistar estas situações idealizadas, superando estes pontos críticos.
Com a abordagem da investigação apreciativa, tratamos destes pontos
[pontos críticos ou nevrálgicos] como oportunidades a serem exploradas.
Isto faz com que as pessoas enxerguem estes pontos como desafios factíveis
a serem superados. Dependendo da forma de organizar, criamos motivação
para o desenvolvimento destas questões (Cliente A)
Em um extremo oposto ao colocado pelo Cliente D, que não percebeu o surgimento de
nenhum aspecto crítico negativo durante a intervenção de que participou, o Cliente B não
apenas afirma categoricamente que estes pontos nevrálgicos surgiram durante a intervenção,
como sugere que as pessoas no grupo não conseguiram se haver com esses aspectos críticos,
optando por não analisá-los de imediato. De modo que, existe a possibilidade de que, com o
tempo, a maturidade como grupo tenha sido alcançada e as pessoas tenham conseguido
confiar no próprio grupo e nos demais membros, tentando, assim, retomar os pontos
anteriormente negados.
[Quando se ponta em pontos nevrálgicos da vida organizacional] Dói né?
(risos).. Dói.. Dói, incomoda, mexe.. e.. se a coisa for realmente um tabu.. o
grupo pode.. inconscientemente, optar-se também por desistir de mexer
naquilo, naquele momento. Eu vi acontecer isso.. isso foi uma coisa que a
gente não mexe agora, faz de conta que não viu.. olha pro outro lado .. e ..
fica pra um outro momento.. em que talvez o grupo esteja mais maduro para
enfrentar aquilo, né? (Cliente B, grifo nosso)
Então esses momentos [críticos / nevrálgicos] poderão não ser analisados no
momento em que eles surgem, talvez, mas eles retomariam mais adiante,
quando o grupo estiver mais maduro, né? Eu vi acontecer isso (Cliente C,
grifo nosso).
150
A experiência de retomada desses pontos críticos foi positiva. Foi.. foi..
poderia ter sido analisado logo naquele primeiro momento.. mas, se não foi,
porque talvez o grupo não tivesse realmente maturidade suficiente para
encarar, foi avaliado num segundo momento e foi positivo.. (Cliente B)
Vale ressaltar, ainda, que a postura do consultor e da própria liderança durante o
surgimento desses encontros com aspectos críticos foi tido como de fundamental importância
para a aceitação do grupo da necessidade de análise e elaboração dos mesmos. Era a partir da
postura destes dois agentes que a apreciação desses fatores poderia ser efetivamente realizada.
E.. mas sempre que a gente mexe num ponto nevrálgico, aquilo incomoda..
aquilo desgasta.. depende muito da habilidade do consultor, e do patrocínio
da liderança, de novo, de dizer 'não, é um tabu, é.. mas vamos enfrentá-lo,
vamos mexer.. vamos resolver isso ai'.. (Cliente B, grifo nosso)
Ao se deparar com pontos críticos da vida organizacional, alguns grupos de pessoas
bloquearam a evolução do grupo, em função de pensamentos individuais em desacordo com
os objetivos da organização.
Não, assim, nessa ocasião não relato nenhuma coisa né. Mas eu diria que a
investigação apreciativa ela, ela.. ela tende a ser, vamos dizer assim, (...) é
mais difícil você ter pessoas, vamos dizer assim, bloqueando a evolução do
trabalho, pela natureza mais positiva do trabalho. A não ser que possa,
também, despertar um outro lado "aqui a gente vai ficar falando de coisa
boa, né?".. "mas e dos problemas.. né.. a gente não vai falar?!"..(rsrs) pode
ter alguém assim também. O que eu acho até saudável, viu? (Cliente D, grifo
nosso)
Mesmo relatando não ter percebido conflitos e pensamentos individuais que
bloqueassem a evolução grupal, o Cliente D propõe que o surgimento de pontos negativos
pode ser percebido como benéfico e saudável ao processo de investigação apreciativa. Para
lidar com grupos de pessoas submersas nesses conflitos interiores, apontam-se aspectos
mencionados anteriormente como o desenvolvimento paulatino e constante de um ambiente
onde predominasse a confiança, para que as pessoas se sintam acolhidas e motivadas a
colaborar, no qual a percepção dos problemas e pontos negativos sob uma ótica apreciativa
transformando-os em oportunidades.
Bem, ai, ai, seria necessário, acho que desenvolver um ambiente de
confiança em que as pessoas pudessem, digamos assim, até mesmo, dentro
daquela linha que eu falei anteriormente, ter uma visão apreciativa sobre os
problemas, ou seja, tratar os problemas.. é.. sem uma.. uma mobilização
emocional, digamos assim, negativa demais. ou, de uma forma que as
pessoas.. que fosse psicologicamente gostoso
né.. pra você tratar problemas,
é.. problemas mesmo de uma forma que não seja psicologicamente
proveitosa, é preciso ter pessoas muito experientes conduzindo o grupo.. é
151
preciso.. é.. ter um ambiente construído, não é. Não acredito que isso é uma
reunião que se faça. (...) É um trabalho de algum tempo, né. (Cliente D, grifo
nosso)
Para lidar com as pessoas que passam por conflitos e sentem-se incapazes ou
bloqueadas para participar do processo, destaca-se a importância do papel do líder durante
todo o desenvolvimento do trabalho.
Olha.. eu acho que sempre tem.. um ou outro maluco.. eu fazia muito esse
papel.. que ousa mais.. e ai esse que ousa mais, vai, digamos assim, servindo
de exemplo.. para os demais. Sempre tem um mais maluco, que, né.. que
avança mais um pouco.. sempre tem um mais ousado que.. quebra um pouco
o padrão.. e a medida que as pessoas vão vendo aquilo, elas vão.. vão
acompanhando um pouco mais aquilo ali.. então tem que ter um doido que..
que quebre.. na minha posiç.. na minha visão esse, esse papel é do líder.
Então, assim, Fulano [consultor] sempre usou muito essa tecnologia, 'vamos
colocar o líder na ponta da história'.. e, quando o líder realmente entrava pra
quebrar, as coisas fluíam mais facilmente. [...] Mas.. mesmo o nosso líder.. o
líder MESMO.. não é.. na época.. quando ele se defendia (..) a coisa não
fluía tão bem. E era.. pra mim.. era muito evidente quando isso acontecia..
[...] É.. é.. eu diria que o líder ele seria um espelho de comportamento para o
grupo eu acho que a verdade é essa mesmo.. um espelho.. ele é quem definia,
digamos assim, o comportamento do grupo. O comportamento dele se
multiplicava.. (Cliente B, grifo nosso)
O líder deverá ser um membro efetivo do grupo, sendo, pois, apontado como o
“espelho de comportamento” (Cliente B) do mesmo. Em outras palavras, através da
colaboração e empenho do líder, paulatinamente as pessoas se sentirão seguras e dispostas a
trabalhar em prol dos objetivos grupais, diminuindo-se as resistências e os conflitos pessoais.
4.7.2 A percepção do consultor acerca dos conflitos e
pensamentos ruminativos
Durante o processo de Investigação Apreciativa, sob a ótica dos consultores, foi
possível constatar que “idealmente todos os níveis são representados nos encontros”
(CONSULTOR B), conforme apontado pela maioria dos clientes entrevistados, ratificando a
preocupação sugerida pela busca do engajamento de pessoas dos mais diversos setores da
organização, dando a possibilidade de uma troca de informações mais rica, uma vez que os
pontos-de-vista tendem a ser diferentes de acordo com as experiências de cada um desses
níveis, mesmo que em um número absoluto reduzido em algumas fases do método, todavia,
todos os níveis sendo representados, e a comunicação com os demais membros fluindo de
152
maneira satisfatória, o que indica uma intenção de disseminação da nova cultura proposta e
seus respectivos valores.
Todos os stakeholders devem participar: do acionista ao porteiro, os clientes,
a comunidade, parceiros e fornecedores. O que acontece é que em algumas
etapas, final do Design e o Discovery, o grupo pode ser menor, incluindo
apenas alguns representantes escolhidos democraticamente, porém a
comunicação deve se manter para todos (CONSULTOR C, grifo nosso).
Sendo, ainda, fundamental contar com a aprovação e comprometimento de todos os
níveis hierárquicos envolvidos no processo, de modo que esta se apresenta como uma das
condições de sucesso para o mesmo, conforme propõe o consultor A, “é absolutamente
recomendável que as diversas “coalizões políticas” envolvidas diretamente com a situação
participem. Sem aprovação e comprometimento político nada acontece” (CONSULTOR A,
grifo nosso).
Não obstante, mesmo tendo como condição a participação de todas as “coalizões
políticas”, é destacado por um dos entrevistados que nem sempre as pessoas estarão à vontade
na convivência com pessoas de níveis hierárquicos diferentes do que faz parte, havendo
posturas favoráveis à relação proposta e, também, as desfavoráveis, contrárias e, até, aquelas
que ‘boicotam’ qualquer tipo de iniciativa das pessoas, que essas são consideradas como
pouco sinceras e muito artificiais.
Lembro de alguns depoimentos positivos que ressaltam a oportunidade de
expressar suas opiniões e idéias, de se sentirem valorizados, etc. mas,
também já ouvi céticos , que fazem piadas, dizem que o processo é para
melhorar o clima como outros anteriores, etc (CONSULTOR C, grifo
nosso).
Existem indícios de que o posicionamento das pessoas nessa convivência está
intimamente relacionado à política e à cultura que prevalece no ambiente organizacional “isto
depende muito da cultura da organização. Se houver qualquer inclinação democrática fica
mais fácil. Se é uma cultura autoritária ou centralizadora, as dificuldades são enormes”
(CONSULTOR A).
“Algumas [pessoas] ficam meio desconfiadas e sem saber exatamente no que vai
resultar o trabalho. Partes destas vão se “desarmando” e outras se mantêm na defensiva.
(CONSULTOR C). Outrossim, aponta-se, pela maioria dos entrevistados, a presença de um
sentimento de inibição ou bloqueio das pessoas por estarem se relacionando ao mesmo tempo
com seus superiores e subordinados, mantendo-se defensivos por algum tempo, ou ainda,
durante todo o processo. “O método facilita muito a abertura. Mas não se pode garantir”
153
(CONSULTOR A) que as pessoas se apresentarão ao processo de maneira aberta e dispostas a
participar.
Apenas um dos consultores entrevistados considera que as pessoas não dão a mínima
importância para a heterogeneidade durante da IA, partindo do pressuposto que, enquanto
indivíduos, os níveis hierárquicos de que fazem parte sempre serão deixados em segundo
plano, e que todos participarão do processo, mesmo que passem por um período inicial de
resistência à fase de descoberta o que parece ser atribuído ao grau de negatividade
aumentado da pessoa –, esse sentimento não será determinante, nem tampouco significativo
no processo de reflexão que desenvolverão, motivando-os nas demais fases do método.
Quando se inicia um processo como esse os cargos e hierarquias são
colocados de lado, o encontro passa a ser de seres humanos que buscam
resgatar dos seus passados a energia que poderá movê-los em direção ao
futuro que desejam [...] as vezes uma simples resistência a fase da
descoberta, quando os participantes refletem sobre o melhor do seu passado,
mas isso dependendo do grau de negatividade da pessoa (CONSULTOR B,
grifo nosso).
Na medida em que é considerado pela maioria dos consultores um sentimento de
bloqueio ou inibição das pessoas, durante a convivência heterogênea, faz-se necessário
compreender que posicionamentos adotam, enquanto consultores, em momentos nos quais os
sentimentos negativos das pessoas geram conflitos entre elas podendo, em casos extremos,
bloquear a evolução da elaboração apreciativa de todo o grupo e, assim, comprometendo o
sucesso do método.
Existe a concordância por parte de todos que é fundamental lidar com grupos nos
quais existam conflitos que bloqueiem a evolução, todavia, cada um deles adota uma
perspectiva distinta do tipo de intervenção mais indicada. Para o consultor C, através de
ferramentas de simulação de atividades, os grupos podem se familiarizar às situações e se
disporem a vivenciá-las na prática posteriormente, utilizando-se, ainda, sistemas de
recompensas às participações das pessoas. O que na realidade pode não ser significativo para
o processo, uma vez que o bloqueio já se configura como realidade do grupo, se poderia
simular a situação se ela fosse uma hipótese, e não a realidade.
Esses requerem um pouco mais de atenção. Laboratórios e participação em
situações sem risco podem ser uma forma de fazer com que as pessoas se
exponham mais e experimentem algo diferente. Se em situações artificiais e
sem risco elas sentirem que ser apreciativo é melhor, uma chance de
queiram arriscar no ambiente de trabalho. Lembrando que deve haver um
sistema de recompensa que estimule esse tipo de comportamento
(CONSULTOR C).
154
Por sua vez, o consulto B acredita que “esses são os grupos que mais precisam desse
tipo de intervenção, os conflitos podem ser resolvidos de forma pacífica com o uso da IA
(CONSULTOR B) e que o próprio processo se encarrega de criar um clima positivo e pacífico
propício a dar conta dessa demanda. E, além disso, defende que os pontos críticos, negativos e
nevrálgicos das relações organizações não devem fazer parte do método de IA, de modo que é
de responsabilidade dele não permitir que esses sentimentos emirjam durante a
implementação. Caso o planejamento tenha sido falho e esses pontos sejam levantados, a
postura do consultor deve ser a de não intervir na elaboração dos mesmos.
Nada... se isso ocorrer [o aparecimento de pontos nevrálgicos], deve-se
deixar acontecer. Mas isso irá acontecer se o processo de planejamento
não for bem feito, como mencionei antes se o Tópico Afirmativo não estiver
consistente com a necessidade da organização. O mesmo deve ser muito bem
identificado. A apresentação de alguns conceitos da IA também ajudam no
dialogo (CONSULTOR B).
Diametralmente oposta a essa postura acima exposta está o consultor A ao acreditar
que posicionar-se unicamente de maneira positiva é algo utópico e não faz parte da realidade
das pessoas. Para ele, assumir uma postura genuinamente positiva diante das organizações, e
da vida, é ser capaz de apreciar e encontrar os aspectos positivos contidos nos conflitos,
problemas e questionamentos das pessoas, em suma, propõe que o ‘real’ é aceitar as pessoas
em sua totalidade, sempre carregada de aspectos tanto positivos quanto negativos, e ser
humilde e capaz de apreciá-las mesmo com as disparidades e dialéticas que possuem, “Ou se
crê ou não se Crê que a verdade liberta. Se há crença a apreciação. Se não esta crença há
cinismo e manipulação” (CONSULTOR A).
Esta é grande idiotice dos que crêem que fazendo “perguntas
incondicionalmente apreciativas” vão transformar o mundo, sobretudo o
mundo das organizações. Esta é uma situação ridiculamente manipulativa.
será uma intervenção verdadeiramente apreciativa se houver espaço para
críticas, ressentimentos, murmúrios, dúvidas, paradoxos, conflitos. Lidar
com estas situações com integridade e abertura é a melhor maneira de ser
apreciativo (CONSULTOR A).
4.8 Tempo de vida útil do grupo de IA
155
4.8.1 O tempo de vida útil do grupo de IA sob a ótica do cliente
O grupo de IA foi estabelecido nos primeiros momentos da implementação do método
no ambiente organizacional, permanecendo em atividade plena até o final do processo. Sob a
ótica dos clientes entrevistados, foram unanimes ao defender que este grupo não teria,
necessariamente, uma vida útil pré-estabelecida, ou seja, mesmo transposto um período longo
de tempo, o grupo não se tornaria improdutivo.
Mais que uma ferramenta de trabalho para a organização, a IA pôde ser comparada a
um processo psicanalítico no qual o próprio grupo imerge e, paulatinamente, descobre-se,
conhece-se, evolui, progride, analisa-se, questiona-se, reflete sobre si e sobre sua relação com
o outro, consegue posicionar-se de acordo com sua identidade. E, assim como a psicanálise,
será um processo em ininterrupta e gradual evolução, mas, não necessariamente, conclusiva e
pragmática.
Não.. eu acho que isso é um pouco como a psicanálise, não tem fim, não é?
Você está sempre se investigando, ali.. O nosso grupo se extinguiu, digamos
assim, por.. porque o projeto tinha um tempo para acabar (rs).. mas as
pessoas sempre sentem, até hoje sentem falta.. o grupo acabou no final de
2008. Então tem um ano e alguma coisa.. um ano e três meses que o grupo
deixou de existir. [...] o pessoal entendeu que .. que tinha continuar o
trabalho.. que tínhamos que continuar nos investigando, e refletindo.. então
eu não diria que tenha necessariamente que haver um.. um prazo final, um
tempo útil de vida, não.. Eu acho que isso não tem fim (Cliente B, grifo
nosso).
Deste modo, é coerente afirmar que a IA é, também, uma nova filosofia de vida, que
transpõe a vida organizacional e começa a ser aos poucos incutida nos valores que cada
sujeito tem como prioritários em sua vida. “Acho que não, pois se consideramos que a
Investigação Apreciativa é também uma filosofia, você pode vivê-la eternamente” (Cliente A,
grifo nosso).
Pode-se acreditar, portanto, que um dos frutos de um processo de IA para a
organização é a criação de uma cultura apreciativa partilhada não somente dentro deste
ambiente, mas incutida nos valores de todos os colaboradores. Todavia, a consolidação desta
cultura demanda bastante tempo, esforço, persistência e colaboração do grupo, estando,
talvez, condicionada à maturidade do mesmo no processo de investigação.
Uma vez consolidada, a cultura seria forte o suficiente para suportar as oscilações
ocorridas durante as evoluções dos grupos, não havendo, pois, a possibilidade de que os
156
indivíduos retomassem suas zonas de conforto por falta de estabilidade do que o grupo propõe
e oferece.
A cultura apreciativa, pra permanecer.. ai eu acho que o projeto, pelo menos
no nosso caso, precisava ter sido mais longo.. porque, também, tem um
detalhe, como é uma coisa nova, e a gente está migrando para essa nova
cultura, se houver qualquer desconforto, se houver qualquer dúvida, se
houver qualquer coisa que.. que me tire um pouco do eixo.. é muito
confortável pra mim, rapidamente, retornar ao ponto original. que eu
conheço.. é o que as pessoas conhecem.. então, no nosso caso, pra gente
criar realmente uma cultura que ficasse.. permanentemente transmutada.. a
gente precisaria de mais tempo pra fazer essa investigação.. pra continuar
esse trabalho de investigação.. mas.. eu acho que.. a gente, no nosso caso
aqui.. a gente deixou uma FORTE semente.. que seria, então.. na realidade..
a gente até continuou (Cliente B, grifo nosso)
Não foi possível, contudo, precisar o tempo necessário para que a cultura apreciativa
se consolidasse no imaginário das pessoas. Para o cliente B, participante de um processo de
IA com duração de dois anos e meio, o tempo estimado para esta consolidação gira em torno
de cinco anos. O que sugere que na organização a que pertence o cliente A esta cultura não só
tenha se consolidado, como seja percebida pelos colaboradores como uma filosofia,
transcorridos treze anos do início da experiência.
4.8.2 A percepção do consultor acerca do tempo de vida útil do
grupo de IA
Em se tratando da existência de um tempo pré-estabelecido para a ‘vida útilde um
grupo de IA, entendendo-se por útil todo momento em que o desenvolvimento do grupo
contínua a crescer mesmo que em menores proporções do que em fases anteriores do método,
todos os consultores crêem que a IA não tem um final determinado e alcançado “é melhor
pensar em IA como um processo contínuo” (CONSULTOR C), a todo tempo será sempre
benéfico para a organização, e para os indivíduos, que todos percebam a realidade de maneira
apreciativa.
A IA só tem inicio não tem fim. Quando as pessoas absorvem a metodologia
os princípios passam a fazer parte da vida delas, nos dizemos que elas “se
tornam IA como pessoasquer dizer aplicam em todas as esferas das suas
vidas (CONSULTOR B).
157
Havendo, ainda a sugestão de que, com o passar do tempo e a maturidade na
apreciação, as pessoas tendem a absorvem as proposições da IA como valores pessoais,
incutindo-os em suas próprias atitudes, passando a praticá-la de maneira natural, e não mais
artificial e/ou estimulada, e é isso que, segundo o consultor A, caracteriza o sucesso do
método, de modo que desempenhos técnicos não são o principal foco.
No meu caso, tenho trabalho por 18 a 36 meses. E o sucesso para mim quer
dizer: as pessoas passam todo este tempo aprendendo a conversar e conviver
apreciativamente. Não tenho compromisso, a priori, com desempenho
técnico. Não trabalho para submeter-me a estes parâmetros (CONSULTOR
A).
Deste modo, não se tem registro, por parte dos consultores, de nenhum parâmetro de
tempo mínimo ou máximo de persistência na implementação do método quando não se
observa resposta satisfatória por parte da organização. Há predominância na opinião que a
decisão do tempo não está a cargo do interveniente, muito embora ele seja a pessoa mais
indicada para perceber o feeling do processo, as melhores práticas a serem utilizadas e o
momento de o fazer.
O consultor A defende dar seguimento ao processo até “o tempo que o cliente admitir
continuar investigando e apreciando conversar e refletir. Isto não es no controle do
facilitador”. Entretanto, persiste a dúvida se o consultor se refere ao ‘cliente’ como sendo o
público total da empresa ou o ‘cliente patrocinador’, a alta cúpula da empresa.
Deste modo, não é possível afirmar, mas apenas supor, que existe concordância entre
os consultores A e C, uma vez que este considera a percepção do patrocinador “opino apenas
que isso é uma questão de sensibilidade do interveniente e dos patrocinadores”
(CONSULTOR C) como sendo relevante durante a decisão de manutenção ou não do
patrocínio.
O consultor B foi evasivo em sua resposta, não podendo, por isso, ser considerado em
termos de análise. “Depende do que se esta tentando fazer” (CONSULTOR B).
4.9 Utilização de mídias alternativas
158
4.9.1 A utilização de mídias alternativas sob a ótica do cliente
Uma outra realidade encontrada diz respeito a limitação de tempo que as equipes de
trabalho apresentam em seus cotidianos, de modo que o tempo desprendido para o processo
de IA não é, necessariamente, “uma coisa muito fácil de se ter.. todos têm muitas atividades e
pouco tempo pra isso.. é um pouco complicado arrumar a agenda” (Cliente C).
Para que o processo transcorra conforme o planejado, faz-se necessário não apenas
que as equipes de trabalho se empenhem e estejam comprometidas, mas, também, que suas
agendas permitam o fluxo de trabalho periódico da IA e, para tal, os clientes consideram,
novamente, imprescindível o apoio e patrocínio da alta administração da organização, atuante,
nesse momento, como mediadora e negociadora do tempo de trabalho das equipes destinado
parcialmente ao projeto.
Todavia, foi possível constatar que os encontros do referido do grupo, muitas vezes,
não aconteceram nos dias de trabalho normais, ou seja, sendo transpostos para finais de
semana, o que pode representar um tipo de alternativa para a indisponibilidade das pessoas
durante os dias úteis da semana.
Olhe.. é.. eu acho que, primeiro, é preciso ter apoio da alta administração,
digamos assim, pra poder priorizar um certo tempo. Porque se você não tiver
algum tempo, não tem como fazer o trabalho, né. A primeira coisa é ter um
nível de prioridade estabelecido CLARO.. porque se isso não tiver, eu acho
que as coisas começam a não andar direito.. a outra.. a outra forma é, é..
digamos assim, .. trabalhar PERIODICAMENTE né.. sei lá.. uma vez por
mês e evoluir.. isso depende da, da.. da dinâmica que vai sendo necessária
em cada grupo, eu não sei.. nesse caso que eu trabalhei, inclusive, a gente
ficou um fim-de-semana, né.. Assim, a gente ficou.. num digo o domingo
todo.. mas.. ou o sábado todo, com certeza.. e não sei se.. a manhã do
domingo.. uma coisa assim.. (Cliente B, grifo nosso).
Alternativa outra encontrada para driblar a falta de tempo das equipes para dedicarem-
se às realizações dos seminários propriamente ditos, geralmente se retirando do ambiente
organizacional e imergindo no processo apreciativo, foi a realização de atividades de fixação
do conteúdo e desenvolvimento paulatino da capacidade apreciativa, nos períodos entre os
seminários. Entretanto, conforme destacado posteriormente, esta alternativa, embora aceita
pelo grupo, não foi efetivamente desenvolvida por ele, o que, de certa forma, compromete o
desenvolvimento do todo. O processo educativo do grupo demanda, também, tempo e
necessidade de reconhecimento da importância de realização destas atividades.
Olha.. esse [a limitação de tempo das equipes de trabalho] realmente é um
problema, né? Porque se, por exemplo, um consultor passa aspas "um dever
de casa", as pessoas simplesmente não fazem o dever de casa. "Olha, durante
159
o mês vocês se reúnem em grupo, vocês fazem tal e tal tarefa, e quando
voltar aqui, a gente vai discutir".. as pessoas não fazem. Pelo menos aqui,
não fizeram, não funcionou essa tecnologia.. Mas, eu ainda acho que essa
seja a melhor tecnologia, de você criar um mecanismo qualquer que faça
com que as pessoas, mesmo no seu dia-a-dia, lembrem daquilo, pensem
naquilo. Comecem a adotar essa forma de pensar como uma segunda
natureza.. mas isso leva tempo né? Mas eu ainda acho que é isso.. trabalhos,
nem que sejam uma coisa muito simples, muito rápida, uma coisa muito,
muito leve.. mas que, ao longo do intervalo entre uma intervenção e outra,
entre um encontro e outro, as pessoas pensem um pouco naquilo, lembrem
um pouco daquilo.. ai já ajuda mais a fixar (Cliente B).
Apenas um dos entrevistados está em desacordo aos demais, ao considerar que as
limitações de tempo das equipes não prejudicam sua dedicação ao processo de IA, uma vez
que a próprio método prevê o desenvolvimento de habilidades colaborativas das pessoas,
dando, também, condições para que produzam mais e tenham, portanto, tempo livre para se
dedicar a IA. Contudo, neste estudo, não foi possível perceber se este estágio colaborativo
eficaz” foi alcançado de imediato, ou demandou algum tempo específico para ser alcançado.
Acho que a dedicação das pessoas em projetos ligados a investigação
apreciativa desenvolve novas habilidades e cria condições para que as
pessoas produzam mais em suas atividades do dia a dia, bem como façam
escolhas mais acertadas a cerca do que é mais prioritário. Desta forma,
acredito que a limitação do tempo das equipes não prejudica sua dedicação
neste novo esforço (Cliente A, grifo nosso).
É de comum acordo de todos os entrevistados que a escolha de atividades, ferramentas
utilizadas durante o processo e a priorização de tarefas, em função da implementação da IA
no ambiente organizacional não é de responsabilidade apenas dos indivíduos, ou, tampouco,
do próprio grupo de IA, mas sim dos líderes organizacionais e da alta administração da
organização, responsável por criar não apenas os períodos de tempo demandados para os
encontros, mas também, uma flexibilização de tarefas que permita ao indivíduo ‘evoluir’ nos
períodos compreendidos entre os seminários. Faz-se necessário que o discurso não seja vazio
de conteúdo, “da boca pra fora.. é o faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” (Cliente
C), e esteja pautado na prática dessa alta administração durante todo o processo.
Acho que primeiro a questão, como eu falei, da priorização.. se o trabalho
não tiver uma. uma.. importância localizada.. localizada eu digo assim, bem
identificada.. pra quem tá patrocinando isso, eu acho que a intervenção
precisa de ter patrocínio.. né.. patrocínio da alta administração. Então, essa é
uma questão bem CHAVE, eu acho. Quando isso acontece, o tempo.. o
tempo será arranjado. Quando isso não acontece.. quando tem esse discurso
'não temos tempo, não temos tempo, não temos tempo NUNCA'.. é porque..
aquilo não tá sendo é.. priorizado.. tá sendo discurso.. aquilo tá, sendo ali
160
um.. uma retórica.. 'tão fazendo aqui algum tipo de trabalho, investagação e
tal'.. mas não está sendo, na prática, priorizado.. (Cliente C, grifo nosso).
Um dos artifícios encontrados foi também diminuir o tempo de duração dos encontros,
mesmo que aumentando o número de encontros, facilitando a participação do maior número
de pessoas nos mesmos.
É sempre muito difícil, né? Inclusive, assim, porque como o nosso grupo ele
é todo formado por gestores, de diversos níveis hierárquicos, né? Mas por
gestores.. é sempre um pessoal mais solicitado.. é sempre um pessoal mais
ocupado, com menos tempo, etc. Então, é muito difícil exigir da gente um
grau muito elevado de controle de tempo, de planejamento, de cronograma..
Um trabalho do cão né? E, mesmo assim, a gente ia, por exemplo, sempre
procuramos fazer fora do espaço [da organização] os trabalhos, pra evitar
aquela coisa de que você aqui, mas [o superior] chama porque tem uma
coisa pra assinar, ai o assessor vem porque quer discutir não sei o que com
você "é rapidinho", né? E ai, bagunça completamente. A gente sempre
procurava sair. E não era fácil, por exemplo, você tirar 68, ou mesmo 40,
gerentes de uma unidade como é [o departamento estudado] de uma vez só,
pra passar dois dias fora, ou passar um dia fora. Então é muito difícil,
agora.. se a gente até reduz o tempo do encontro, ainda que aumente, ao
longo do tempo, o número de encontros.. é uma forma.. então.. eu não
preciso passar o dia todo, mas se eu passar uma manhã.. dá pra fazer alguma
coisa, passar uma tarde né? A gente usava mecanismos assim. (Cliente B,
grifo nosso).
Durante a implementação da IA, alguns ferramentas de mídia alternativas como
utilização de vídeos, dinâmicas de grupos, dramatizações, encenações teatrais, dentre outras,
foram utilizadas nas organizações em estudo. Todos os entrevistados consideram a utilização
destas mídias como importantes para o sucesso da implementação, contudo nenhum deles
sentiu-se a vontade de mensurar o impacto que este fenômeno de fato teve para a evolução do
grupo.
Eu não conseguiria te dar um número exato, né, pra mensurar esse impacto.
Mas .. por exemplo, no caso do cinema, que é uma mídia de um apelo muito
forte, de uma linguagem muito marcante, acho que foi extremamente
importante, pra nós, muito importante.. se não fossem os filmes que a gente
via, e a partir daqueles filmes faziamos os trabalhos de investigação (...)
acho que o grupo não teria sido tão impactado como foi. Eles foram um
ponto essencial (Cliente B).
A utilização de vídeos e sessões de cinema foi apontada pelo Cliente B como
essenciais para ‘nortear’ o trabalho desenvolvido pelo grupo, que tomava as experiências
percebidas nos filmes como parâmetro para as análises da realidade da própria organização.
De certa forma, a percepção de uma realidade, mesmo que virtual, direciona o indivíduo para
161
o caminho proposto, de modo que, é ainda válido pela possibilidade de se dimensionar uma
realidade possível, conforme a apresentada nos filmes.
Foi um processo mais rápido.. acho que nós fizemos.. acho que nós
chegamos a fazer uma coisa que tinha a ver com desenhos né.. (rs).. a gente
fazia uns desenhos, e, em cima dos desenhos, a gente falava algumas coisas,
né. Era uma espécie de quebra geeelo.. num sei.. num sei como dizer isso..
mas.. não foi utilizado assim, dramatizações.. que eu me lembre. [...] Sim..
sim.. ela ajudou na desenvoltura e na participação das pessoas porque tornou
mais leve, tornou engraçado né.. isso foi, foi interessante.. (Cliente D)
A utilização de recursos de representação gráfica do conteúdo desenvolvido pelos
grupos, através de desenhos, foi percebida pelo Cliente D como bastante significativa no
momento de sensibilizar as pessoas e deixá-las à vontade para participar do processo,
“quebrando o gelo mesmo.. todos se sentiam crianças de novo..” (Cliente C), percepção esta
que se remete, novamente, à perspectiva lúdica desenvolvida durante a prática da IA, na
tentativa de resgatar nas pessoas os sentimentos mais genuínos possíveis, possibilitando,
ainda, que o indivíduo, assim como quando criança, permita-se aprender a partir da
experimentação dessas novas experiências, como imagina, indiretamente, o cliente A ao
afirmar que embora “não conseguiria mensurar, contudo acredito que estas mídias facilitam o
aprendizado, assim como estudado no que se refere ao processo de aprendizado” (Cliente
A).
Muito embora todos tenham reconhecido a importância da utilização dessas mídias
alternativas, é de comum acordo de todos, também, que a utilização das mesmas causa algum
tipo de inibição e/ou bloqueio nas pessoas, principalmente se esta não é uma prática
condizente com a cultura vivida nos ambientes organizacionais, fugindo, assim, totalmente do
estilo de trabalho com o qual as pessoas já se encontram familiarizadas.
Mas é possível que pessoas se sintam [inibidas].. com dramatizações.. ou que
tenham que fazer uma música.. cantar alguma coisa.. é possível que as
pessoas se sintam sim.. principalmente se não um.. é.. um costume disso
né? Eu posso supor que isso vai acontecer.. (Cliente D, grifo nosso)
No início sim, porém depois as pessoas se soltam. Isto é como se nós
voltássemos as épocas de criança. Não sei qual é a melhor forma de
exemplificar, contudo nos eventos que tivemos aqui na [organização],
percebi isto. Tinham muitas pessoas que no dia a dia pareciam tímidas e que
quando foram convidados a representar, tiveram uma atuação excepcional,
simplesmente se transformaram (Cliente A, grifo nosso).
É importante, ainda, mencionar que, embora se sintam inibidas, as pessoas podem,
mesmo assim, dispor-se a participar do processo de investigação apreciativa através da
162
utilização destas mídias alternativas, todavia, muitos aspectos levam a crer que, para isso, faz-
se necessário que as pessoas se sintam a vontade e que possam tomar outros indivíduos como
parâmetro de atuação no grupo. Esta pessoa poderá emergir naturalmente do grupo, durante a
intervenção, podendo ser qualquer membro, ou, pode ser indicada e estimulada pelo
interveniente, neste caso, devendo ser, por exemplo, um líder organizacional (alta
administração), desde que este se disponha a desempenhar este papel.
As dramatizações, por exemplo, o eram coisas simples para as pessoas,
né. As pessoas se sentiam extremamente.. por exemplo.. é, laboratório tipo
'aquário'. Você conhece o conceito né? Três falando, três ao redor ali, ou
quatro olhando, observado.. complicado! aqui, conversando com você,
interagindo, a princípio, normalmente, mas eu sei que tem pessoas me
olhando (...) certamente não é fácil, é um fator.. é um fator dificultador né.
Eu me recordo que, durante todos os trabalhos, houve eu acho que duas
dramatizações ... dramatizações mesmo. Uma, fui eu que fiz. (...) Porque as
pessoas não se sentem tão à vontade, e ai, eu porque fiz, sou despachado,
sou o doido, aquele que quebra os padrões, aquela coisa toda.. aquele que ter
coragem de fazer isso! (Cliente B, grifo nosso)
Ainda no que se confere à utilização de mídias, foi tido como prática comum a todas
as intervenções estudadas a gravação visual dos encontros, como forma de registro das
dinâmicas utilizadas, da evolução do grupo e da produtividade do mesmo, servindo, ainda,
como fonte de análises posteriores para o interveniente, e, também, o próprio grupo de IA.
Para um dos entrevistados, houve impacto negativo da utilização deste recurso visual
ao passo que as pessoas se sentiram incomodadas e “intimidadas” (Cliente C) com a gravação
dos encontros, não agindo naturalmente na presença do mesmo. Entretanto, o próprio cliente
reconhece como necessária a utilização do recurso, pois, sem ele, o registro de toda a
implementação acabaria por se tornar superficial e distante da realidade encontrada.
Bem, em alguns momentos agente fazia os trabalhos, e filmava as interações,
pra depois fazer a verificação, e isso era um fator, também, de restrição. [...]
é.. eu não tinha pensado assim, mas é.. é um impacto negativo [para a
organização] sim, porque, se não houvesse aquilo, teria sido mais fácil para
as pessoas interagirem naturalmente. Por outro lado, se não tivesse, não
teria um registro, muito a gente não teria como avaliar depois, né. Então, é
uma .. é uma coisa complicada.. que complica por um lado.. e facilita por
outro..
Os demais clientes ouvidos não considera ter havido impacto negativo sobre a
utilização do recurso de gravação de deo durante as atividades, ressaltando a possibilidade
de que, para o cliente D, essa inibição das pessoas não tenha sido percebida uma vez que a
própria cultura da organização já favorecia e utilizada o referido recurso antes, o que é
corroborado pela percepção de que “eu acho que sendo a primeira vez que a pessoa esteja
163
exposta a gravação, fica inibida mesmo.. mas, depois.. nem lembra que a câmera está ali”
(Cliente C).
Ah.. gravação eu acho que sim.. eu acho que em alguns momentos foi
gravado um vídeo.. isso era freqüente lá.. [...] Não [houve impacto
negativo].. assim.. porque ai, assim.. nós tínhamos um costume.. ai, não
posso dizer que isso foi porque a.. a investigação apreciativa não causou esse
impacto.. na verdade é porque essa prática existia.. havia o hábito.. mas
provavelmente causaria algum impacto se fosse.. pela primeira vez.. (Cliente
D, grifo nosso)
Um dos produtos apontado pelo Cliente A, para a gravação dos encontros foi a edição
dos mesmo e produção de vídeos institucionais com o intuito de mostrar aos posteriores
membros do grupo como foi possível alcançar os resultados almejados, motivando-os a
trabalhar em função de seus próprios sonhos.
Sim, nós fizemos vários vídeos dos nossos encontros. Inclusive temos alguns
encontros editados em 10 minutos de evento. Este recurso auxilia na
motivação das pessoas para a participação em novos eventos, ajuda a treinar
no conceito da investigação apreciativa e permite lembrarmos-nos dos
nossos principais desejos e sonhos (Cliente A).
4.9.2 A percepção do consultor acerca da utilização de mídias
alternativas
As limitações de tempo das equipes de trabalho foram percebidas por todos os
entrevistados, e foram unânimes ao afirmar que a disponibilidade das equipes para a
participação no programa fica a cargo dos próprios clientes “Encarar IA como parte prioritária
do trabalho. Falta de tempo é uma questão de priorização” (CONSULTOR C).
Como na vida, pode-se fazer ou não se pode fazer. No meu caso pessoal,
sempre negocio um horizonte desejável, mas não fico controlando
unilateralmente isto. Na verdade, tenho convicção de que é o cliente quem
controla (CONSULTOR A).
Com isso, é possível inferir que a disponibilidade das equipes para a participação no
programa pode estar intimamente relacionada a real intenção que têm de se engajar no
trabalho proposto. As pessoas só desprenderão tempo de suas agendas de trabalho para
participar do método de IA se estiverem realmente dispostas a participar do mesmo, do
contrário, poderão utilizar suas limitações de tempo como subterfúgios para sua não-
participação.
164
Como forma de tentar minimizar os prejuízos causados pela limitação de tempo, os
consultores apontam como importante a construção de uma ‘agenda de intervenção’,
elaborada pelo interveniente e baseada tanto na necessidade de tempo do método (em padrões
desejáveis) e a disponibilidade de tempo das equipes, de tal modo que o processo seja
combinado e negociável, pelas partes.
O consultor deve sempre fazer uma agenda considerando possíveis
mudanças no tempo das atividades. Então deve ser considerado antes do
evento [...] Explicamos as regras dos grupos auto-gerenciados e pedimos que
elejam um gestor do tempo em cada mesa (CONSULTOR B).
Porém, mesmo havendo o processo de negociação do tempo com as equipes, não é
sempre possível trabalhar com a utilização de mídias alternativas durante o processo, como
dinâmicas, encenações teatrais, cinemas, etc. Alguns clientes mostram-se mais ‘receptivos’ do
que outros acerca da utilização destes recursos e, segundo o consultor A, o papel do
interveniente é informar às pessoas os benefícios de uso destes, tentando encorajá-las na
experimentação.
Informando, instruindo, negociando com os clientes. Pessoalmente, negocio
um ou dois dias por mês para isto. Toda a teoria deve ser passada de forma
laboratorial. Uns clientes aceitam, outros não (CONSULTOR A, grifo
nosso).
No que se refere ao impacto da utilização das mídias alternativas para o sucesso da IA,
existe unicidade de opiniões ao destacar que não é possível mensurar este impacto, “as
avaliações são subjetivas. Argyris e Schon dizem que isto se manifesta mais na atmosfera, no
clima, na natureza estrutural das relações. As pessoas antes “sentem” do que “medem” estas
condições” (CONSULTOR A, grifo nosso), todavia, existe predominância de opiniões acerca
dos benefícios de utilização das mesmas. Para o consultor C, recursos de mídia alternativa
despertam nas pessoas um processo de identificação e desejos de mudança, de modo que
favorecem o engajamento das mesmas e, portanto, o sucesso do método.
Estes recursos normalmente disparam nas pessoas processos de identificação
e desejo de mudança, é impossível mensurar isto e não conheço se
pesquisa à respeito. Porém isso faz parte de gerar um ambiente favorável.
Meu sentimento é que melhora a predisposição das pessoas para o processo
(CONSULTOR C).
Existe concordância por parte do consultor B acerca dos benefícios destes recursos
que, uma vez recebidos positivamente pelas pessoas, tendem a provocar a desinibição das
mesmas e uma provável participação mais efetiva no processo. Contudo, recomenda cautela
165
pois o resultado pode ser oposto, causando mais inibição nas pessoas. Um fator de
identificação do tipo de reação desencadeada nas pessoas pode ser a cultura predominante no
ambiente organizacional, ou seja, em ambientes democráticos, provavelmente, as pessoas
tenderão a aceitar mais facilmente as mídias alternativas, tornando-se paulatinamente menos
inibidas e mais produtivas através delas.
Trata-se de um excelente quebra-gelo para aqueles que gostam desse tipo de
processo, algumas pessoas podem participar mais e outras podem se sentir
mais inibidas ainda, então é preciso ser cauteloso(a) com o seu uso, precisa
conhecer bem o cliente, seu negocio, sua cultura, para tomar esse tipo de
decisão (CONSULTOR B).
Para os consultores A e B, existe a possibilidade real de que a utilização dessas mídias
alternativas cause inibição nas pessoas, o que vai estar relacionado a fatores como: “a cultura
da organização e das pessoas que estão responsáveis pelo processo dentro da organização.
Depende também do perfil do consultor, alguns consultores utilizam e outro não”
(CONSULTOR B). Todavia, o consultor A ressalta que mesmo inicialmente inibidas, com o
passar do tempo, as pessoas se habituam, podendo, até, passar a gostar do processo de
utilização das mesmas. “Mas elas se acostumam. Por exemplo, pessoalmente eu filmo muitas
situações de laboratório. No início tem muitas reações. Depois as pessoas se acostumam e
passam a gostar do processo” (CONSULTOR A).
Foi apontado pelo consultor C a possibilidade que a adesão à utilização das mídias
alternativas pode ser um fator determinante na descoberta de familiaridades entre as pessoas,
ou seja, aquelas que as recebem de maneira positiva tendem a se unir com maior facilidade,
bem como as que recebem de maneira negativa, conforme destacado no exemplo abaixo:
para citar um caso interessante, em um summit passamos um vídeo de
fotografo americano e uma pessoa da platéia disse que deveríamos buscar
casos brasileiros. Alguns aderiram e outros ressaltaram que o objetivo era
despertar nossos sentires íntimos e que nisso somos todos iguais
independentemente de nacionalidade, crenças, etc. A fala dos que aderiram à
critica, caíram no silêncio e a fala positiva foi aplaudida por uma grande
maioria. Isso mostra que o efeito desejado foi alcançado (CONSULTOR C).
Os registros visuais das intervenções foram utilizados por todos os consultores. Os
consultores A e C afirmam utilizar registros áudios-visuais em suas intervenções, o que é
acordado com os clientes antecipadamente. A tendência é a de que quanto maior for o porte
da intervenção e, conseqüentemente, o número de participantes, mais facilmente será aceita a
utilização do registro visual, o que pode ser compreendido como uma falta de segurança das
pessoas em serem observadas em suas atitudes e, talvez, julgadas posteriormente.
166
Depende do objetivo. Grandes summits, onde uma participação pública,
como por exemplo o Global Fórum América Latina, normalmente gravamos
para ter um registro histórico do evento. em intervenções em empresas é
algo a ser combinado. Normalmente gravo em áudio as apresentações em
plenária para o caso de perda de registros das contribuições (CONSULTOR
C).
Algumas pessoas, contudo, reagem de maneira negativa à utilização de registros
visuais, mas, com o passar do tempo também se familiarizam com esta tecnologia, nem a
percebendo como parte do cenário.
Como disse, gravo em áudio e vídeo muitas de minhas intervenções. Reagem
a princípio negativamente, mas tendem a se acostumar. Com 7 a 9 meses de
trabalho as máquinas fazem parte do cenário..... (CONSULTOR A).
Nos primeiros momentos inibe um pouco, mas logo são esquecidos. Claro
que as câmeras são colocadas á distância e não filmagens de conversas
mais íntimas, digo nas entrevistas em pares ou em trabalhos nas mesas.
Somente as devoluções em plenária (CONSULTOR C).
O consultor B diz utilizar como registro e gravação visual um modelo de construção
de idéias desenvolvidas, a “Facilitação Gráfica”, e a reação das pessoas à utilização da mesma
é sempre positiva pois “as pessoas percebem de imediato que não se trata de metodologias
tradicionais de resolução de problemas” (CONSULTOR B).
4.10 Preparação / Formação do consultor de IA
4.10.1 A formação do consultor de IA sob a ótica do cliente
Em vários momentos durante as coletas de dados, foi ressaltada a importância da
preparação do interveniente para o sucesso de desenvolvimento do método de Investigação
Apreciativa. Dentre os aspectos que compõem esta preparação, foi apontado que este
consultor deve ter habilidades de relacionamento interpessoal, uma vez que irá conduzir o
processo com um grupo cada vez mais heterogêneo de indivíduos, um treinamento técnico e
conceitual no próprio método, tendo participado de pelo menos um evento apreciativo bem
sucedido, bem como do projeto do mesmo, anteriormente na condição de participante efetivo.
167
Bem eu acho que ele tem que ser preparado para lidar com o comportamento
das pessoas né.. então.. é.. ele tem que ser preparado para lidar com o
comportamento humano. Com certeza (Cliente D).
Acho que um treinamento conceitual é fundamental; Participação em pelo
menos um evento apreciativo; Participação em pelo menos de um projeto de
investigação apreciativa; E muita leitura (Cliente A).
Ao contrário de consultores de outros tipos de metodologia, o consultor de IA
necessita, conforme os cliente B e C, “passar para os membros do grupo algo muito mais
subjetivo do que técnicas e procedimentos” (Cliente C), mais do que um responsável pela
disseminação de técnicas e práticas, o consultor de IA parece ser um “educador” (Cliente B)
capaz de se relacionar bem com as pessoas, compreender suas potencialidades e limitações,
respeitando seus limites e trabalhando em prol de minimizar suas resistências. Além de
realmente acreditar no potencial delas em aprender e progredir.
(...) é diferente um consultor desse tipo (...) de um consultor digamos mais
tradicional para a área de gestão. Por exemplo, um consultor em
planejamento estratégico, um consultor em re-desenhamento de processos, é
diferente de um consultor nessa área.. o consultor nessa área ele é muito
mais um educador, propriamente dito, que um consultor. Eu vejo assim. (...)
e um educador (...) primeiro tem que gostar muito de gente (...) segundo, ele
tem que acreditar que as pessoas podem mudar(...) terceiro, ele tem que
acreditar que aquelas, aquela tecnologia que ele usa pra metodologia que ele
usa, pode ser o caminho para fazer as pessoas mudarem (...) e, quarto, ele
tem que muito pronto pra enfrentar as resistências (rs), pra enfrentar os
obstáculos, pra ter um jogo de cintura muito maior do que um outro tipo
de consultor, e assim por diante. Então, eu acho que além de uma preparação
técnica, óbvia (...), essas questões são significativas (Cliente B, grifo nosso).
A formação do consultor de IA, portanto, deve ser o mais holística possível,
contemplando habilidades técnicas, psicológicas, espirituais e, acima de tudo, humanísticas. O
educador perspicaz que percebe as demandas de seus colegas e consegue-os fazer encontrar
seus próprios caminhos, propiciando benefícios duradouros não apenas para estes indivíduos,
bem como para toda a organização a médio e longo prazos.
Psicológica, espiritual, humanística, eu diria. Eu acho que um consultor
nessa área ele tem que ser um humanista. Ele tem que entender que o homem
é o centro de tudo (rs), o homem é o centro da própria mudança, do próprio
aprendizado, né. Ele tem que, muito mais adotar a postura e a atitude de um
educador, e um educador é aquela coisa que se diz.. hoje em dia,
diferentemente de algumas décadas, talvez atrás, ou até mesmo alguns anos
atrás, o educador, uns anos atrás era alguém que sabia todas as respostas.
Pergunta e ele sabe te dizer. Hoje em dia, não, o educador, como o líder
moderno, não é mais alguém que sabe as respostas, ele sabe quais as
perguntas! Mais importante, isso sim! Então, essa postura, eu acho que o
educador tem que ter.. e o consultor nessa área também precisa ter.
168
4.10.2 A percepção do consultor acerca da formação do consultor
de IA
Uma vez questionados acerca de suas próprias formações, enquanto consultores de IA,
acerca de qual a preparação mínima necessária para a condução bem-sucedida de uma
intervenção, os consultores entrevistados não estiveram plenamente de acordo.
Para o consultor B, é suficiente para a atuação bem-sucedida uma formação técnica no
método e aquisição da “Certificação Internacional na Investigação Apreciativa”
(CONSULTOR B), que capacita profissionais a aplicar a metodologia Investigação
Apreciativa em processos de planejamento e desenvolvimento organizacional, contando com
a chancela da Case Western Reserve University CWRU - uma das principais escolas de
administração do mundo, fundada em 1826 e situada em Cleveland - EUA.
Não obstante, o consultor C sugere que, além da formação técnica, que é
imprescindível, seria significativo para o sucesso da intervenção a experiência de ter passado
pelo processo anteriormente (como não-consultor e participante), além da familiaridade com
as ciências do comportamento e de dinâmicas grupais, e, não menos importante, a crença que
este deve ter no referido método, como filosofia e não como técnica.
O consultor de IA deve ter ele próprio passado por essa mudança
revolucionária. Deve fazer porque acredita e não como uma técnica. Além
disso uma boa formação em consultoria ajuda muito para saber como lidar
com grupos, grandes públicos, etc. A experiência de vida conta muito
também (CONSULTOR C).
O posicionamento adotado pelo consultor A assemelha-se bastante ao descrito pelo
consultor C, de modo que defende como condições sine qua non a formação do consultor de
IA a legitimidade das atitudes do indivíduo – em consonância com os preceitos apreciativos -,
uma formação teórica sólida e experiências práticas no fenômeno da consultoria em IA
através de um embasamento teórico holístico – conforme o proposto pelo consultor C acima -,
e, por fim, o posicionamento democrático e aberto a participação das pessoas no processo de
geração das informações durante a intervenção, não manipulando ou direcionando a
construção de informações que não sejam válidas e úteis para o grupo, ou seja, as informações
não apenas devem ser construídas por e de conhecimento de todos, bem como possam ser
publicamente validadas e reconhecidas.
169
4.11 Momento especial de genuína apreciação
4.11.1 O momento especial de genuína apreciação sob a ótica do
cliente
O momento mais esperado durante todas as intervenções de IA foi o momento em que
as pessoas genuinamente fossem capazes de apreciar a realidade ao seu redor, percebendo os
pontos positivos que tinham, bem com as organizações, e, também, as oportunidades e
potencialidades ainda não exploradas.
Eu diria que a Investigação Apreciativa pode criar um ambiente interno
favorável para que esse ciclo venha a acontecer.. interno que eu digo, na
própria alma da pessoa. É, quando a gente começa a perceber a possibilidade
de que, focando o positivo em vez do negativo, focando a solução em vez do
problema, focando o que a gente quer em vez do que a gente o quer, a
gente começa a ter resultados mais eficazes (Cliente B).
Foi de comum acordo de todos os entrevistados que o método de investigação
apreciativa alimenta nas pessoas um ciclo virtuoso, no qual as virtudes propostas, quando
incutidas pelas pessoas, passam a fazer parte de suas vidas e, concomitantemente, constitui
parte da vida organizacional também, “com certeza, pois a abordagem por si é muito
estimulante, o evento é muito agradável e os resultados geralmente são fantásticos” (Cliente
A).
(...) eu acho que sim [um ciclo virtuoso é desenvolvido].. eu acho que, que a
investigação apreciativa pode ser.. BEM USADA sim.. é.. pra gerar um ciclo
de.. um ciclo de coisas boas.. eu não, eu Não digo assim.. não tenho
experiência suficiente.. até seria interessante vivenciar.. ou, ou mesmo como
consultor.. ter presenciado.. uma aplicação do método num ambiente,
digamos assim, éé'.. mais difícil, né. Como não era o caso.. então isso não
dava pra mensurar.. mas eu gostaria até a título de curiosidade, de vivenciar..
é.. isso num ambiente mais, mais problemático, mais negativo, pra até ver..
ver como a investigação apreciativa se sairia a longo prazo, digamos assim..
Ai. eu, eu.. eu tenho ressalvas com relação a essa resposta.. de que "cria um
ciclo virtuoso'.. eu acho que cria MAS é.. essa questão de você não tratar
nunca os problemas.. É UM PROBLEMA... (rsrs) [...] Ainda fica sempre
aquele questionamento.. 'quando ele vai aparecer?!' .. (rs).. é porque, assim,
isso pode descambar pra uma, pra um cinismo né.. um tratamento cínico das
questões da organização né.. é como se tivesse uma regra.. 'perai.. aqui eu
não posso falar.." (rs) "pois é negativa né" ... "não posso depreciar nada"..
(Cliente D, grifo nosso).
170
Entretanto, existem, ainda, por parte dos clientes, desconfianças com relação a alguns
valores propostos pela IA. Conforme explicitado durante as entrevistas, as pessoas até se
dispõem a participar do processo, todavia, o fato de não se sentirem seguras o suficiente as faz
desconfiar que o método apresenta-se de maneira muito utópica e idealista, de modo que as
pessoas não podem falar o que realmente pensam. Supõe-se, também, que este sentimento de
insegurança possa ser superado ao passo que a proposta se mantém fidedigna aos seus
preceitos por um período de tempo considerável para as pessoas envolvidas no mesmo.
Por parte da alta administração, o que se percebe é que, muitas vezes, o propósito de
utilização da IA, pode não ser a mudança de paradigmas e valores, mas, sim, um aumento de
produtividade e de resultados, o que de fato seria significativo. Se o uso do método implica
numa melhoria de resultados, será aceita pela alta administração. O que se mostra como
antagônica a perspectiva de que é fundamental para o sucesso da mesma o investimento e a
participação desta alta administração.
E ai, eu falando de uma pragmática. (..) Uma coisa da sala dos
empresários.. os empresários não, eles adoram uma coisa chamada
resultado. Eles [os empresários] não estão preocupados se você acendeu
uma vela pra Deus, pro diabo. Não importa. O que ele quer resultado. E
quando eles percebem, quando, de um modo geral, se percebe que aquilo
traz resultados, ele adora. Vopode usar essa idéia, no criar essa idéia pra
dizer 'quando as pessoas percebem que a Investigação Apreciativa traz
resultados (rs) eficazes, que é mais do que pensamento positivo, que é mais
do que você fazer o jogo do contente da Polyana', é muito mais do que isso,
elas podem criar esse ambiente na própria alma capaz a gerar essa mudança,
gerar esse ciclo de [virtudes] que você fala (Cliente B, grifo nosso).
Por fim, quando questionados a respeito da possibilidade de criação de um ambiente
organizacional com condições ideais favoráveis ao sucesso do método, foram apontados como
condições excelentes, conforme mencionado anteriormente. Por parte dos indivíduos a
participação voluntária, com disponibilidade de participação nas atividades propostas, abertas
ao aprendizado proposto. Por parte da organização o patrocínio da liderança e participação da
mesma em todo o processo de IA, a escolha de um ambiente físico condizente com a proposta
de idealização e sonho, bem como a contração de um consultor experiente e preparado para
conduzir o processo.
(...) Participação total do grupo, voluntária, (...) disponibilidade desse grupo
para essa participação, atitude de, de, de aprendizagem, abertura, pra isso,
(...) é, isso eu o paraíso, né, que eu estou dizendo (risos). E, assim, um
ambiente adequado
, eu acho que o ambiente ajuda muito. Quando a gente
fazia os nossos encontros, por exemplo, a gente sempre ia pra um hotel na
praia, pra um hotel no campo, dependendo da época do ano, etc. E isso
171
ajudava muito. Um lugar legal, gostoso, que vo se sinta, também,
estimulado também pelo ambiente. Eu acho que esse é um fator secundário,
porém, importante. Eu acho que é isso. O que o um paraíso. O melhor
do mundo. O melhor dos cenários (Cliente B, grifo nosso).
Apoio.. né. da alta administração.. Participação da alta administração.. no
processo.. dando exemplo né? dando exemplo.. consultor experiente com..
né.. com boa formação.. acho que essas são as circunstâncias ideais..
principais.. tá.. eee.. assim.. você pode dizer assim.. pessoas.. (rs) se é pra
falar de ideal.. pode dizer que pessoas abertas, né, a participação e tal.
Mas ai eu acho que isso ai já é ideal demais (Cliente D, grifo nosso).
Mesmo sendo apontadas condições ideais para um ambiente no qual a IA possa ser
desenvolvida, para o Cliente A, em quaisquer que sejam as circunstâncias, o método poderá
ser aplicada, com grandes chances de sucesso, até mesmo em ambiente não organizacionais, o
que sugere que a proposta de IA vai muito mais além do que analisar técnicas e ferramentas
da administração de empresas, adentrando no imaginário dos sujeitos e despertando neles os
benefícios de adotar uma postura apreciativa diante da realidade, qualquer que seja ela.
Acho que em qualquer circunstância você pode aplicar a investigação
apreciativa com sucesso, pois conheço uma colega de empresa que aplicou
para um grupo de pessoas com algum parente que tinham uma doença rara.
A partir do uso da investigação apreciativa neste grupo, um novo nível de
esperança surgiu e novas soluções foram encontradas (Cliente A, grifo
nosso).
4.11.2 A percepção do consultor do momento especial de genuína
apreciação
Por fim, quando questionados acerca da possibilidade que a participação em
programas de IA alimente nas pessoas um ciclo de virtudes, houve predominância na
concordância com a afirmação proposta.
Tanto o consultor A, quanto o consultor C, acreditam que esta participação alimenta
nas pessoas um ciclo virtuoso que transpõe o ambiente organizacional, sendo bastante
relevante no processo de crescimento e evolução pessoal do sujeito. Conforme apontado
anteriormente, os valores propostos pela IA, quando bem assimilados pelas pessoas, com o
tempo, começam a fazer parte de suas rotinas e, por conseguinte, de suas vidas pessoais e, não
apenas profissionais.
Sim, porém ciclos virtuosos não existem isolados, pois se assim fosse o
crescimento não encontraria limites, e tudo tem limites. Fica claro que em
172
determinados momentos, especialmente quando a organização atinge um
grau de excelência em que os participantes partem em busca de novos
conhecimentos e formas de se relacionar que vão além da IA. O
autoconhecimento, a espiritualidade, etc. (CONSULTOR C).
Destaca-se, nesse posicionamento, a similaridade com a condição de genuinidade,
autenticidade e congruência com a filosofia apreciativa necessária ao consultor de IA. Para
que ele possa conduzir uma intervenção de maneira ‘sincera’, faz-se necessário não apenas
que creia no método, mas que o vivencie em sua própria vida, servindo, assim, de parâmetro
aos demais participantes do processo.
No meu caso, creio nisto como creio no mistério da vida. Faço de minha
vida esta missão. Não vou para a organização, senão para ajudar as pessoas a
crescerem. Não tenho outro compromisso. Creio nisto firmemente
(CONSULTOR A).
A opinião expressa pelo consultor B não poderá ser considerada, uma vez que o
mesmo respondeu à questão sobre a alimentação de um ‘ciclo vicioso’ e não ‘ciclo virtuoso’.
Depende do que você chama de ciclo vicioso, o ciclo vicioso, na minha
opinião é maléfico para a saúde das pessoas e da organização, por outro lado
se as pessoas começam a buscar o lado positivo nas coisas poderíamos que é
um processo de aprendizagem de ciclo duplo positivo, o que ira obrigar as
pessoas a não somente reclamarem e encontrarem culpados das coisas que
não são como gostariam. As próprias pessoas começam a se cobrar mas o
que existe de positivo nesse processo? O pressuposto da IA é o de que se um
sistema existe existem coisas boas, se as pessoas ficam em um sistema é
porque de alguma forma essas pessoas se beneficiam de algo que em
algumas situações elas mesmas não compreendem (CONSULTOR B).
O consultor A acredita não haver ambiente ideal para a implementação da IA, todavia
aponta como condições tanto as competências necessárias ao consultor (anteriormente
descritas), como a abertura e disponibilidade das pessoas em participar e aprender com o
método, toda a intervenção pautada em uma relação de acordo político válido entre as partes.
O consultor B concorda com a afirmação de não existência de um ambiente ideal e
acrescenta exemplos bastante diversificados de utilização do método.
Não existem circunstancias certas ou ideais, esse processo foi aplicado
com grupos de professores doutores e com pessoas que não sabiam como
escrever, dependerá somente da criatividade do consultor para criar o ideal
dentro do que já existe (CONSULTOR B).
Existe concordância também por parte do consultor C sobre a inexistência de um
ambiente ideal, todavia, fundamentado em dados de intervenções anteriores, supõe que o
173
método poderá ser melhor utilizado e receber mais adesão das pessoas em situação de crises
financeiras graves, que poderão ocasionar o desaparecimento total da organização.
A IA é um processo que normalmente se busca quando as opções
“convencionais” não estão surtindo o efeito desejado. Muitas organizações
buscam IA como um processo de salvação” quer seja de uma crise
financeira, quer seja de uma estagnação, ou mesmo de uma melhoria no
clima organizacional, já outras estão muito bem e não sabem como passar de
boa para excelente. Enfim não existe uma circunstância certa ou ideal, mas
em geral as que estão em crise têm uma adesão melhor, uma vez que se não
der certo pode se o fim da organização. As boas, por sua vez se não der
certo, tudo bem já são boas mesmo (CONSULTOR C).
Seria, assim, plausível inferir que a possibilidade de ‘morte’ da organização, ou de um
momento drástico na vida do indivíduo, seria um fator motivador a participação no referido
método, fazendo com que reveja seus posicionamentos e consiga perceber os preceitos
apreciativos com maior facilidade. Resta saber se por mero desespero ou se pelo
convencimento e engajamento voluntário e genuíno.
174
5 Discussão dos resultados
O presente capítulo tem como propósito estabelecer um diálogo entre os achados do
campo e a literatura especializada, revelando a contribuição dada pelo autor com os estudos
sobre o tema de forma a ampliar, reforçar ou se opor às publicações existentes (MERRIAM,
1998).
Neste momento, são discutidas as análises das informações coletadas à luz das teorias
apresentadas na revisão de literatura e direcionadas para este estudo, de modo a responder aos
objetivos propostos, resgatando-se o objetivo geral que é compreender quais os fatores
críticos à implementação do Método de Investigação Apreciativa no caso das organizações
em estudo.
Buscou-se, nesta fase, organizar os achados seguindo a perspectiva de categorias
emergentes nas coletas de dados apresentada no capítulo 4, através de um contraponto das
perspectivas de consultores e clientes a cerca das mesmas, o que será explicitado nos quadros
de 9 a 20 adiante.
O quadro 10 abaixo apresenta os posicionamentos adotados por consultores e clientes
acerca do espaço que se tem para ser reconhecido em uma relação de IA.
Espaço para ser reconhecido numa relação
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Identificar se é
possível que as
pessoas encontrem
um ambiente
realmente aberto
para que possam
expressar suas
opiniões.
A possibilidade de que
encontrem um ambiente aberto
para expressarem suas opiniões
está veiculada a características
como:
A cultura predominante no
ambiente organizacional (se
favorável)
O patrocínio e efetiva
participação da liderança
A preparação do consultor para
lidar com as ferramentas que o
método proporciona.
Vale acrescentar que existe
uma espécie de “bloqueio” inicial
das pessoas em se mostrarem
abertas, o que pode ser
O ambiente poderá ser aberto
à participação das pessoas, desde
que algumas condições sejam
consideradas:
A natureza do ambiente e a
cultura predominante;
A possibilidade de construção
compartilhada das informações;
A autonomia de posicionamento
crítico das pessoas com relação
aos ‘produtos’ da intervenção;
O comprometimento interno da
liderança;
O domínio metodológico do
interveniente;
O ‘amadurecimento apreciativo’
175
minimizado pelo tempo de
convivência que tiveram
anteriormente (já como colegas
de trabalho), a cultura favorável à
abertura e o tempo de duração da
experiência.
do consultor.
Quadro 10 (4) – Espaço para ser reconhecido numa relação
Fonte: Elaboração própria
Através do quadro 10 foi possível perceber que a cultura da organização foi apontada
por ambas as partes como significativa, favorecendo a implementação do método, bem como
o comprometimento interno das pessoas e da própria administração, a preparação técnica e
metodológica do interveniente, assim como seu amadurecimento apreciativo. Todavia, a
existência de um ambiente aberto à participação das pessoas está condicionada aos fatores
acima mencionados.
Os autores defendem que o Método de IA propicia a criação de um ambiente no qual
as pessoas sentem-se livres para se relacionarem umas com as outras e, nessa relação, serem
reconhecidas. Neste momento, a identidade dos sujeitos se forma e evolui nas relações,
modificando-se, paulatinamente, até o momento em que atravessa as ‘fronteiras’ do poder e
da autoridade (WHITNEY;TROSTEN-BLOOM, 2003, COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
A utilização de uma Reunião de Cúpula da IA é um processo de reunião de larga
escala centralizado na descoberta e desenvolvimento de um núcleo positivo para a
organização, delineando, ainda, processos estratégicos de negócios de toda a organização
(WHITNEY;TROSTEN-BLOOM, 2003, COOPERRIDER; WHITNEY, 2006), o que poderá
ser compreendido como uma cultura favorável à participação das pessoas e, portanto, à
implementação do método.
Ratificam-se, ainda, os pressupostos teóricos de que os líderes organizacionais
exercem um papel fundamental durante a implementação do Método de IA, funcionando
como promotores ou catalisadores da mudança positiva, sendo, pois, os responsáveis por
plantar a semente da mudança nas pessoas que fazem parte da organização, despertando nelas
o desejo de mudar, transpondo obstáculos, quebrando barreiras e superando rejeições
COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; 2006),
Conforme Valença (2007; 2009) a percepção de amadurecimento apreciativo e
preparação do consultor é válida e imprescindível para o processo, exercitando as virtudes da
humildade, generosidade e justiça durante o desempenho de sua atividade, tendo, ainda
capacidade técnica e metodológica para tal, bem como experiência prática em consultoria de
IA.
176
No que se refere ao espaço para ser ouvido em uma relação, pode-se compreender,
através do quadro 11, que tanto consultores quanto clientes percebem como um mecanismo
natural do indivíduo a não participação imediata no processo de mudança, e, conforme os
autores, defendem que as pessoas relacionam-se umas com as outras e, paulatinamente, são
reconhecidas (WHITNEY;TROSTEN-BLOOM, 2003, COOPERRIDER; WHITNEY, 2006),
ao passo que a familiaridade com o método favorece o engajamento das pessoas.
Espaço para ser ouvido
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Que tipos de
sentimentos serão
significativos no
momento em que
o indivíduo se
sentir, de fato, a
vontade para
falar, tendo a
convicção que será
ouvido.
Resistência à convivência nova
é inicial e natural;
Ter a segurança que as pessoas
darão atenção ao que falam (não
se faz necessário haver
concordância);
Ambiente predominantemente
positivo favorece o
posicionamento aberto das
pessoas;
A familiaridade com o método
de IA favorece a abertura;
A empatia surge naturalmente,
mas algumas ferramentas da IA
podem servir de catalisador ao
processo;
O tempo de convivência e a
confiança no grupo é
fundamental e sugere que estes
grupos mais integrados possam
desenvolver empatia mais
facilmente;
Faz-se necessário despertar nas
pessoas o sentimento de co-
responsabilidade e co-
participação;
Se não se sentem ‘partes’ do
grupo, as pessoas tendem a optar
por não participar
O não-engajamento é um
mecanismo natural de defesa do
ser humano, que tende a reagir
negativamente a qualquer tipo
de modificação de rotinas pré-
estabelecidas e executadas há
algum tempo;
É competência do interveniente
facilitar a abertura do espaço às
pessoas;
Um posicionamento não-
democrático do consultor
bloqueia a evolução do grupo;
A relação autêntica entre o
consultor e o grupo, e entre ele e
a liderança da organização;
A empatia no grupo não surgirá
naturalmente, sendo, pois,
competência do interveniente
estimulá-la;
O consultor tem seu
comportamento ‘copiado’ pelo
grupo.
Quadro 11 (4) – Espaço para ser ouvido
Fonte: Elaboração própria
Não existe consenso a respeito do surgimento da empatia, todavia, convergência no
sentido de este sentimento poderá ser estimulado através de fatores como o tempo de
convivência do grupo e um posicionamento aberto e democrático do consultor. O que ratifica
a proposta do Modelo Tridimensional de Intervenção (Valença 2007; 2009) no qual uma dos
177
eixos de sustentação da intervenção de IA são a genuinidade, autenticidade e congruência
apreciativas do consultor que precisa, além de vender a ideologia do método, crer em seus
propósitos e vivenciá-los na prática.
O sentimento de co-responsabilidade e co-participação é apontado por clientes como a
forma de fazer com que as pessoas optem por participar, corroborando o Princípio
Construtivista proposto por Cooperrider e Whitney (2005; 2006) no qual as pessoas
considerarão a produção coletiva, sentindo-se parte integrante deste coletivo e, assim, também
responsável por ele.
Uma vez colocado como uma parte de um todo, é fundamental que o sujeito
desenvolva o processo de comunicação com os outros membros do grupo e, assim,
paulatinamente, consiga construir uma linguagem e um discurso eficiente e eficaz, gerando, a
partir de um senso de realidade coletivo, seu próprio senso de realidade “de verdade, de
bondade e do possível” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 52).
Entretanto, como delineado no quadro 12 adiante, não foi possível identificar, nos
discursos de consultores e clientes, a possibilidade de ‘alinhamento’ dos objetivos individuais
aos organizacionais. Parece claro que os objetivos organizacionais são delineados pela
organização, e as pessoas, por sua vez, delineiam seus próprios objetivos, optando por estes,
em detrimento daqueles, caso seja necessário. O que contraria a proposta de que a IA oferece
aos participantes a oportunidade de serem livres e sonharem coletivamente, o que, de fato,
estaria alinhado com a demanda organizacional de ter ambientes seguros nos quais os
colaboradores possam sonhar e compartilhar sonhos através do diálogo, numa perspectiva de
liderança visionária que implica expandir os sonhos das pessoas em todos os veis da
organização (WHITNEY;TROSTEN-BLOOM, 2003, COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
A busca pelo enquadramento entre os valores individuais e coletivos, quando não
orientados de maneira genuína, tende a ser percebida como manipulativa e dominadora por
parte do consultor ou da organização, que aparenta desconsiderar os propósitos individuais,
quando divergentes dos organizacionais, contrariando o Princípio Poético adotado pela IA
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006) que defendem que, mesmo sendo fruto de uma co-
construção coletiva, as organizações não ditam, necessariamente, a forma como os indivíduos
deverão pensar ou agir, pelo contrário, o pensar e agir são, por si só, artefatos sociais,
produtos dos processos sociais e, portanto, construídos, também, pelo próprio indivíduo.
Devendo, este, ser senhor de suas próprias vontades (VALENÇA 2007; 2009).
178
Espaço para sonhar em conjunto
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Qual a
prevalência:
objetivos
individuais ou
organizacionais?
Não conseguem perceber o
alinhamento dos objetivos
pessoais com os organizacionais
como algo prático e real, mas,
em tese, fica sob
responsabilidade da alta
administração;
Pessoas que participam
ativamente do delineamento dos
planos organizacionais tendem a
se aproximar dos objetivos da
mesma;
Não existe consenso acerca da
possibilidade de se sonhar em
conjunto mesmo com
discordância entre os valores de
organização e individuo;
Há predominância na percepção
de que os indivíduos tendem a
optar por seus objetivos pessoais
em detrimento dos
organizacionais, caso sejam
distintos entre si;
O ajuste (enquadramento) dos
objetivos individuais aos
organizacionais pode ser
percebido como manipulativo
e/ou dominador, implicando um
ambiente onde predomina o
cinismo e o engodo;
Os valores que a organização
proclama nem sempre são os
mesmos que pratica;
É possível que as pessoas
sonhem coletivamente, se, e
somente se, existir similaridade
entre essas pessoas e os valores
que têm.
Caso contrário, optarão por seus
valores e sonhos individuais.
Quadro 12 (4) – Espaço para sonhar em conjunto
Fonte: Elaboração própria
A necessidade de proclamação e vivência de valores similares foi proposta, também,
pelo Modelo Tridimensional de Intervenção (VALENÇA, 2007; 2009), através da atitude
autêntica e congruente necessárias aos intervenientes do método, e, por que não, extensivo aos
líderes organizacionais. Proclamar um valor ideal e praticar outro é percebido por todos como
cinismo, falta de compromisso e dissimulação, sendo, pois, um fator significativo no não-
engajamento das pessoas no método, uma vez que não se estabelece uma relação de confiança
clara e verdadeira.
Em se tratando da liberdade para colaborar ou não com a IA, existe considerável
discrepância entre o que se encontra na teoria e nas realidades práticas estudadas.
Teoricamente, a IA cria um ambiente onde as pessoas são livres para escolherem
contribuir e esta liberdade de escolha libera poder, mas, em contrapartida, necessita de
comprometimento e vontade de aprender por parte dos indivíduos, tornando-os criativos e
determinados (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003), fazendo de tudo o que for necessário
e aprendendo coisas a fim de realizar as tarefas a que se propuseram.
179
Na prática, o que se percebe é que, embora alguns clientes destaquem ter recebido a
liberdade de escolherem participar, foi possível perceber que a organização se utiliza de
estímulo e condições impostas para ‘despertar’ o desejo de participar nas pessoas, esta última
apresentando-se diametralmente oposta à condição de "Liberdade de Escolha" que se estende
às pessoas e às suas organizações, convidando ambos a um compromisso mútuo de que ‘é
real’ e que ‘dá vida’ (WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003).
Deste modo, compreende-se, em termos de análise que, consultores e clientes,
concordam que a alta administração da empresa tem autonomia para legitimar a participação
das pessoas no processo, ou seja, nas organizações em que predomina uma cultura
democrática, as pessoas tendem a receber maior liberdade de escolha do que nas organizações
não-democráticas, nas quais esse direito é vetado.
O argumento apresentado por Whitney e Trosten-Bloom (2003) de que - um fator que
diferencia a IA de uma série de outras metodologias de mudança organizacional é que - no
seu melhor - as pessoas têm total liberdade para escolher como, quando e em que medida elas
desejam se engajar nos processos propostos pela organização. Podem participar e fazer apenas
enquanto estiverem curiosas, estimuladas, ou inspiradas por uma tarefa, atividade, ou sonho
(WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003) pode ser retificado a partir de sua associação ao
conceito de cultura predominante no ambiente organizacional, conforme descrito acima.
A idéia de que a construção de um clima apreciativo, positivo e colaborativo pode ser
estimulante para as pessoas, tocando-as e as fazendo participar com maior empenho do
método é tida como válida e verdadeira. Todavia, associado ao clima proposto, aponta-se
como significante a disponibilidade que as pessoas que participam da IA terão de realmente
aprender, estando abertas e comprometidas com o mesmo, o que ratifica a proposta de
Valença (2007; 2009) de que é a condição sine qua non de realização do método que as
pessoas estejam dispostas, abertas e comprometidas com a aprendizagem, destacando-se
como resultado dele uma aprendizagem adulta, bilateral e cooperativa entre as partes
envolvidas.
Muito embora seja preciso destacar que não houve convergência com relação a esta
condição ao sucesso por parte dos clientes entrevistados para eles, é possível (e foi
observado) o prosseguimento das intervenções mesmo sem o comprometimento e
engajamento das pessoas, todavia, não foi possível mensurar que tipo de aprendizagem
resultou do referido processo, de modo que o argumento proposto por Valença (2007; 2009)
acima descrito não se invalida.
180
Espaço para escolher contribuir
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Compreender se
as pessoas têm DE
FATO a liberdade
de PODER
OPTAR por
participar da IA
ou não.
Relatasse a liberdade de escolha
na participação do processo;
A alta administração cria
condições para despertar nas
pessoas o desejo de participar
(estímulo x condição imposta);
O ‘clima colaborativo’ tende a
diminuir as resistências das
pessoas em participar;
A livre iniciativa é condição sine
qua non para a realização de um
processo de IA;
As pessoas podem não estar
dispostas e comprometidas com
o processo e mesmo assim
participarem (interferência do
tempo);
A percepção da disponibilidade
real de escuta tende a estimular
a participação das pessoas.
A realização da IA e a
participação das pessoas no
mesmo ficam a cargo da
legitimação da alta
administração;
O livre arbítrio dado aos
indivíduos fica a critério da
organização;
Na teoria em uso, percebem-se
indícios de que as pessoas não
gozam dessa liberdade;
Influência da cultura da
organização;
A disposição para aprender e o
comprometimento das pessoas é
uma condição para o sucesso do
método;
O ‘exemplo’ e as ‘recompensas’
são artifícios utilizados para
estimular o engajamento das
pessoas;
Quadro 13 (4) – Espaço para escolher contribuir
Fonte: Elaboração própria
No quadro 14 adiante, destacam-se as perspectivas levantadas pelos entrevistados
acerca do espaço que se tem na IA para agir com apoio ao grupo e ao método. Existe
consonância entre as partes ao levantarem como significativos à disponibilidade das pessoas
em participar o sentimento de reconhecimento de suas participações pelo grupo, que, com
isso, acabou por legitimar a contribuição dada por cada pessoa, fazendo dela uma parte
integrante e importante do grupo. Assim, as pessoas se sentiram pertencentes ao grupo,
satisfazendo-se em participar e desenvolvendo laços fraternos com ele e com a organização
propriamente dita que excedem a experiência de implementação do método apenas, sendo,
pois, continuada nas demais relações posteriores entre indivíduo e organização.
De modo que foi possível destacar congruência entre a percepção dos entrevistados e a
teoria de que a IA se propõe a oferecer um contexto favorável à liberdade para agir com
apoio, a arte essencial da interdependência positiva. Ao passo que as pessoas percebem que
um público considerável se importa com o papel que elas estão desempenhando, ficam
ansiosas para colaborar, sentem-se mais seguras para experimentar, inovar e aprender
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006), ou seja, o apoio da coletividade (sistema integrado)
181
estimula os indivíduos a assumirem desafios e colaboram com os objetivos propostos dando o
melhor de si mesmos, com contribuições profundas e lições, muitas vezes, surpreendentes.
Espaço para agir com apoio
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Qual o impacto do
reconhecimento
no desempenho
dos
colaboradores?
Há possibilidade de que a
recompensa emocional esteja
diretamente relacionada à
satisfação das pessoas com o
trabalho e a efetiva participação
no mesmo;
O reconhecimento gera laços de
companheirismo entre o
indivíduo e a ‘organização’, e
não apenas no processo em si;
O desempenho, posturas
pessoais, e valores percebidos
do consultor e dos líderes são
parâmetros de desempenho para
o grupo;
Sem a disponibilidade
deliberada e efetiva participação
da liderança, dificilmente se cria
uma “cultura favorável ao
engajamento das pessoas”.
Saber que têm uma imagem
social positiva e validada pelo
grupo, leva as pessoas a se
sentirem parte do processo e
terem suas participações
reconhecidas;
Esse reconhecimento – ou
legitimação do grupo – faz com
que atuem de maneira cada vez
mais positiva, alimentando um
ciclo virtuoso de
reconhecimento, participação
ativa e reconhecimento.
Quadro 14 (4) – Espaço para agir com apoio
Fonte: Elaboração própria
No quadro 14 acima é possível realçar, ainda, a visão levantada por clientes de que
sem a disponibilidade deliberada e explícita da liderança em efetivamente participar do
método, a criação de uma cultura favorável ao engajamento e à participação dificilmente se
instaura na organização. Estando, pois, de acordo com o proposto por Valença (2007; 2009)
de uma das condições ao sucesso da implementação de um método apreciativo como sendo o
estilo aberto e democrático de geração da informação, adotado tanto pelo interveniente,
quanto pelos líderes organizacionais.
Nada pode ser mais improdutivo para qualquer método apreciativo,
desconfigurando-o na essência, do que a imposição e a manipulação
dissimulada do consultor e educador [...] essas competências não se casam
com autoritarismo e, muito menos, com sedução, maneirismo, simpatia
gratuita, lisonja e mentiras. Ou seja, a manipulação é, em essência a
antiapreciação por sua base de desrespeito às pessoas (VALENÇA, 2007, p.
474, grifo nosso).
182
Espaço para ser positivo
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Como as pessoas
se comportam em
ambientes
naturalmente
positivos e nos
negativos?
Qual a
importância desta
“natureza” do
ambiente para o
sucesso da IA?
A ‘revolução positiva da
mudança’ implica uma mudança
de valores profissionais e
pessoais;
A ‘familiaridade’ com a IA é um
catalizador ao processo de
sensibilização, adesão e
disseminação da mesma, mas
não se apresenta como fator
determinante;
A não existência do livre arbítrio
desperta sentimentos de
desconfiança e descrédito;
Quando precisam colaborar, mas
não se sentem parte, as pessoas
assumem papéis sociais e atuam
‘como se espera delas’
(sentimentos de dissimulação e
cinismo);
Mesmo em ambientes negativos
faz-se necessário insistir e
investir, para que as pessoas
possam ser “tocadas pelo clima
positivo”;
As pessoas imersas em
ambientes negativos tendem a
desenvolver auto-proteção
perante o grupo (ameaça a
permanência ou legitimação);
A existência de pessoas com
pensamentos negativos pode
‘contaminar’ o grupo;
O tempo de contato com
determinada situação é
diretamente proporcional à
possibilidade de negação à idéia
de mudança nesta situação;
A postura da organização diante
das situações de mudança pode
gerar sentimentos menos
defensivos e mais motivadores e
desafiadores.
A ‘revolução positiva da
mudança’ é percebida como
uma modificação de modelo
mental, da solução de problemas
para a análise e reforço de
aspectos positivos do ambiente;
A natureza do ambiente, positiva
ou negativa, pode ser
modificada e é papel das
pessoas, consultor e clientes,
fazerem isso através da escolha
e contribuição no processo de
mudança, o que não fica a cargo,
portanto, apenas do próprio
método;
Há dificuldade de aplicação do
método e participação em
ambientes negativos;
Percebe-se que, paulatinamente,
as pessoas podem ser ‘tocadas’
pelo clima criado com a IA e
participarem com maior
genuinidade;
O comportamento das pessoas
influencia e é influenciado pelo
comportamento das outras;
As reações imediatas ao ‘novo’
podem ser as mais variadas
possíveis, desde o ceticismo e a
ironia até a o encantamento e a
esperança;
Ao passo que percebem os
benefícios do método, as
pessoas tendem a aceitar as
mudanças com menos rejeição e
participar com maior
sinceridade.
Quadro 15 (4) – Espaço para ser positivo
Fonte: Elaboração própria
Em sua essência, a Investigação Apreciativa propõe “uma revolução positiva na área
do conhecimento organizacional e da gestão de mudanças” (CAMERSON, DUTTON,
QUINN, 2003, p. 367), transformando a prática da mudança gerencial, sugere, de maneira
183
bastante incisiva, “que as organizações não sejam, em sua essência, problemas a serem
resolvidos, muito ao contrário disso” (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006, p. 3), são centros
de conexões vitais e potenciais doadores de vida.
De acordo com o anteriormente exposto no quadro 15, é possível afirmar concordância
entres os entrevistados de que a ‘revolução positiva da mudança’ é a modificação de modelos
mentais que antes estavam programados para perceber problemas e agora conseguem
vislumbrar potencialidades (consultores) e que esta alteração de postura implica uma mudança
em valores não apenas profissionais como também pessoais dos indivíduos (clientes).
Uma vez iniciado o processo de revolução positiva, o líder precisa se fazer sempre
presente, tendo a responsabilidade de guiar os participantes por uma trilha clara, aberta e
propícia à experimentação e à inovação, formulando perguntas positivas e poderosas, focadas
nos valores organizacionais (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006).
Alguns outros aspectos se apresentaram como significativos no processo de revolução
positiva da mudança, pelos entrevistados: a natureza do ambiente - naturalmente negativo -
não é determinante na participação e no engajamento das pessoas com o método, existe sim
uma dificuldade de se trabalhar nesses ambientes, pois elas se mostram mais reativas e
reacionárias para com o grupo, mas ainda assim, são passíveis de participação em algumas
situação, não se podendo precisar que fator determina essa participação. Todavia, infere-se
que a familiaridade com o método e suas ferramentas poderá ser um catalizador do processo
de aceitação e adesão à IA.
Quando percebem que prevalece uma postura pouco clara da organização ou quando
são destituídas do livre-arbítrio, prevalece um sentimento de desconfiança por parte das
pessoas, que tendem a desempenhar papéis sociais ‘ocos’ apenas para responder às
necessidades e imposições da organização. Neste caso, o que se cria é um ambiente de
cinismo e dissimulação de ambas as partes, sendo pois, um ambiente pouco favorável ao
sucesso de implementação da IA.
Embora tendam a ter variadas reações às mudanças, foi levantada a possibilidade que,
embora não aceitem a mudança de imediato, as pessoas são capazes de se adaptar a ela,
quando, de fato, acreditam e vislumbram possibilidades de melhorias. Para tanto, destaca-se
como relevante à aceitação da mudança a postura adotada pela organização frente a mesma,
sendo o tempo, também, influente neste processo.
184
Conflitos e Pensamentos Ruminativos
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Qual o impacto
dos conflitos de
pensamento no
desenvolvimento
da IA em uma
equipe.
Houve participação de todos os
níveis hierárquicos da empresa;
Nas equipes de trabalho bastante
heterogêneas, a relação de
convivência entre as pessoas dos
diversos níveis hierárquicos foi
percebida como “fácil” e
“bastante amistosa”;
A natureza da empresa – cultura
– quando democrática, facilitou
a relação entre as pessoas de
diferentes níveis;
As relações de convivência
anteriores à experiência foram
significativas no
desenvolvimento eficiente das
relações;
As pessoas com dificuldades de
relacionamento interpessoal com
suas equipes tendem a não se
engajar na IA;
Foram percebidos sentimentos
de bloqueio e inibição em
função da convivência com
outros níveis hierárquicos;
O tempo foi significativo na
possibilidade de construção da
confiança no grupo;
Os pontos nevrálgicos da
organização emergiram durante
a IA, mas nem todos os grupos
foram capazes de lidar com eles;
A postura do consultor e da
liderança durante o surgimento
de aspectos críticos foi
fundamental para a aceitação do
grupo da necessidade de análise
e elaboração dos mesmos;
Idealmente existe participação
de todos os níveis hierárquicos
da empresa;
Fundamental contar com a
aprovação e comprometimento
de todos os níveis hierárquicos
envolvidos no processo
Nem sempre as pessoas estarão
à vontade na convivência com
pessoas de níveis hierárquicos;
A natureza da empresa – cultura
– quando democrática, facilitou
a relação entre as pessoas de
diferentes níveis;
Existe um sentimento de
inibição ou bloqueio das pessoas
por estarem se relacionando ao
mesmo tempo com seus
superiores e subordinados,
mantendo-se defensivos por
algum tempo, ou ainda, durante
todo o processo;
É fundamental lidar com grupos
nos quais existam conflitos que
bloqueiem a evolução;
Não existe consenso acerca da
forma ideal de acolhimento dos
pontos nevrálgicos da
organização.
Quadro 16 (4) – Conflitos e pensamentos ruminativos
Fonte: Elaboração própria
Em consonância com o proposto por Cooperrider e Whitney (2000; 2006),
participaram do processo pessoas de todos os níveis hierárquicos das organizações. Muito
embora exista a percepção, por parte dos clientes, de que a convivência em equipes marcadas
pela heterogeneidade hierárquica foi ‘fácil’ e ‘bastante amistosa’ – e que isso dependeu
fundamentalmente da cultura dominante na organização -, a idéia também apresentada pelos
185
mesmos que existe inibição e bloqueio por parte dessas mesmas pessoas, diminui
sensivelmente a relevância do argumento anterior, de modo que, adota-se como de
concordância por parte dos entrevistados que existem dificuldades de relacionamento entre as
pessoas de diferentes veis hierárquicos ao se relacionarem com os demais coletas de outros
níveis, sentimentos estes minimizados com o tempo de convivência com o grupo, a
familiaridade com o método e cultura favorável da organização.
As pessoas passam a ser reconhecidas pelo que realmente são e não pelos cargos ou
funções que desempenham, e, quanto maior for o sentimento de pertença que o indivíduo tiver
com relação a um grupo, melhor vai ser seu relacionamento com os demais participantes do
mesmo, e mais plenamente este indivíduo irá trabalhar e contribuir para o sucesso de todos
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006), ou seja, a idéia inicial de que as pessoas se
‘desprendem’ dos cargos que ocupam ao passo que estão participando da IA é utópica, uma
vez que elas continuam representando os papéis sociais atribuídos aos seus respectivos cargos,
entretanto, a segunda idéia de que o relacionamento do indivíduo com o grupo é diretamente
proporcional ao sentimento de pertença a ele foi corroborada pela opinião dos entrevistados.
No que diz respeito à emersão de fatores críticos da vida organizacional, foi possível
perceber que é inevitável que ela aconteça e estará a favor do amadurecimento do grupo no
processo de investigação. Contudo, nem todos os grupos apresentaram maturidade suficiente
para a discussão e elaboração destes fatores, nem todos os consultores ratificaram estar
preparados para lidar com a situação.
O surgimento de fatores negativos e nevrálgicos da vida organizacional está em
desacordo com o que propõe o método de IA, a partir do qual o delineamento de um tópico
apreciativo preciso e coerente, pautado na resposta de perguntas eminentemente positivas
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; 2006; WHITNEY; TROSTEN-BLOOM, 2003),
configurando-se como a busca de identificação de histórias positivas e uma tentativa de
espalhá-las por toda a organização valendo ressaltar que, antes dessa fase, existe um ponto
fundamental a ser delineado, que é o cerne, núcleo ou tópico apreciativo, ao redor do qual
todo o processo será desenvolvido.
Contudo, a possibilidade de surgimento de pontos negativos durante a implementação
da IA foi levantada por Valença (2007; 2009), ressaltando-se que a postura genuína do
interveniente em situações como esta devem se pautar no acolhimento destes fatores, mesmo
que negativos, e de um estímulo à apreciação dos mesmos, reconhecendo-os como partes
integrantes da realidade organizacional.
186
Um aspecto mencionado anteriormente diz respeito à relação existente entre o
tempo de utilização do referido método e os resultados por ele alcançados. Como se pode
observar no quadro 17 abaixo, e nos conceitos teóricos anteriormente destacados, a IA não
apresentou um tempo de existência pré-determinado no ambiente organizacional, o que pode
sustentar a hipótese de que não se chega a uma saturação de resultados, ou seja, os benefícios
de utilização do mesmo serão sempre crescentes. Mais que isso, é possível inferir a
possibilidade que a medida que faz parte da cultura da organização, existe a tendência natural
de inserção à cultura pessoal do indivíduo.
Tempo de vida útil do grupo de IA
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Compreender se
existe um período
de vida útil para
um processo de
intervenção de IA.
Alcança-se a
saturação?!
O grupo de IA não teria,
necessariamente, uma vida útil
pré-estabelecida;
Uma nova filosofia de vida, que
transpõe a vida organizacional e
começa a ser aos poucos
incutida nos valores que cada
sujeito tem como prioritários em
sua vida;
A consolidação da cultura
apreciativa demanda tempo,
esforço, persistência e
colaboração do grupo, estando,
talvez, condicionada à
maturidade do mesmo no
processo de investigação;
Uma vez consolidada, a cultura
seria forte o suficiente para
suportar as oscilações ocorridas
durante as evoluções dos grupos,
não havendo, pois, a
possibilidade de que os
indivíduos retomassem suas
zonas de conforto por falta de
estabilidade do que o grupo
propõe e oferece;
Não foi possível precisar o
tempo necessário para que a
cultura apreciativa se
consolidasse no imaginário das
pessoas.
A IA não tem um final
determinado e alcançado, é um
processo contínuo;
Com o passar do tempo e a
maturidade na apreciação, as
pessoas tendem a absorvem as
proposições da IA como valores
pessoais, incutindo-os em suas
próprias atitudes, passando a
praticá-la de maneira natural, e
não mais artificial e/ou
estimulada;
A decisão do tempo de
intervenção é da alta
administração e não do
consultor.
Quadro 17 (4) – Tempo de vida útil do grupo de IA
Fonte: Elaboração própria
187
Todavia vale ressaltar que a consolidação da cultura apreciativa, quer seja a nível
organizacional, quer seja a nível individual, demanda tempo e disponibilidade genuína por
parte das pessoas, com atitudes pautadas no esforço, na persistência, compreensão,
colaboração, aceitação e apreciação, o que parece estar em acordo com o proposto por
Valença (2007; 2009).
Uma vez consolidada como cultura e legitimada pelo grupo, a mesma dará respaldo e
segurança aos indivíduos para a aceitação das mudanças propostas inicialmente, não sendo
mais necessário, deste modo, retornar a posicionamentos contrários à modificação do status
quo já instituído e validado anteriormente.
Um outro aspecto apresentado como categoria de estudo diz respeito à utilização de
mídias alternativas como as dramatizações, as encenações teatrais, os jogos lúdicos, dentre
outros. O método de IA teve o caráter precursor de pesquisar imagens mentais no contexto
das organizações e, em especial, no mundo dos negócios empresariais. Deste modo, a
orientação adotada pelo referido método deixava de ter seu foco na racionalidade técnica no
ambiente organizacional, passando a considerar com maior ênfase fatores como intuição e
emoções positivas (COOPERRIDER; WHITNEY, 2005; VALENÇA, 2007).
Embora seja retratado pelos entrevistados algum tipo de inibição pela utilização desse
tipo de mídias, houve concordância no que diz respeito ao desaparecimento desta inibição ao
passo que as pessoas se familiarizam com o método e com o grupo. A partir de então, essas
mídias facilitam o relacionamento dentro do grupo, fazendo com que as pessoas se mostrem
mais verdadeiramente e participem com maior profundidade, ao serem reconhecidas pelo
grupo dessa forma. Este comportamento pode estar associado ao efeito placebo
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006; VALENÇA, 2007) proposto que faz com que as
pessoas respondam positivamente as suas participações, ao passo que são reconhecidas e
legitimadas como bons colaboradores.
O efeito pigmaleão no qual um fenômeno de influência sobre o estado mental do outro
(COOPERRIDER; WHITNEY, 2006; VALENÇA, 2007) foi também corroborado ao passo
que a as pessoas afirmaram se espelhar no comportamento do interveniente e da liderança
para o delineamento de seus próprios comportamentos. “Aqui a força da imagem positiva (ou
negativa) é criada por terceiros e atua na ação ou desempenho daqueles sobre as quais a
imagem é projetada” (VALENÇA, 2007, p. 191).
Esses e outros aspectos relativos à utilização de mídias alternativas poderão ser
encontrados no quadro 18 adiante.
188
Utilização de mídias alternativas
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
A utilização de
mídias
alternativas
podem ser fatores
facilitadores da
intervenção de IA.
Imprescindível o apoio e
patrocínio da alta administração
da organização, atuante, nesse
momento, como mediadora e
negociadora do tempo de
trabalho das equipes destinado
parcialmente ao projeto;
A participação efetiva e legítima
dos líderes organizacionais é
fundamental na disponibilidade
de tempo desprendida pelos
demais membros;
A utilização destas mídias é
importante para o sucesso da
implementação, contudo não se
pode mensurar o impacto que
este fenômeno de fato teve para
a evolução do grupo;
As mídias ajudam a quebrar o
gelo das equipes, remetem a
sentimentos lúdicos e norteiam
alguns progressos do grupo;
A utilização das mesmas causa
algum tipo de inibição e/ou
bloqueio nas pessoas,
principalmente se esta não é
uma prática condizente com a
cultura vivida nos ambientes
organizacionais;
A utilização de recurso de
gravação de vídeo foi utilizada
sem apresentar impactos
negativos para o
desenvolvimento do trabalho.
A disponibilidade das equipes
para a participação no programa
fica a cargo dos próprios clientes
e não do consultor;
A disponibilidade das equipes
para a participação no programa
pode estar intimamente
relacionada a real intenção que
têm de se engajar no trabalho
proposto;
Aponta-se para a construção de
uma ‘agenda de intervenção’,
elaborada pelo interveniente e
baseada tanto na necessidade de
tempo do método (em padrões
desejáveis) e a disponibilidade
de tempo das equipes;
A utilização destas mídias é
importante para o sucesso da
implementação, contudo não se
pode mensurar o impacto que
este fenômeno de fato teve para
a evolução do grupo;
Alguns fatores podem ser
significativos no que diz
respeito à inibição das pessoas
pelo uso dessas mídias: a cultura
da organização, a postura do
consultor, a postura da
liderança, etc.;
A utilização de recurso de
gravação de vídeo foi utilizada
sem apresentar impactos
negativos para o
desenvolvimento do trabalho.
Quadro 18 (4) – Utilização de mídias alternativas
Fonte: Elaboração própria
A imagem positiva e força cultural é a perspectiva que considera que a imagem que
uma coletividade tem de si mesma, seja ela positiva ou negativa, será decisivamente influente
nas ações e atitudes desta coletividade, de modo a corresponder às projeções coletivas
construídas (COOPERRIDER; WHITNEY, 2006; VALENÇA, 2007) e foi sancionada pelas
opiniões dos entrevistados ao afirmarem que uma disponibilidade (de tempo e qualquer outra)
dos líderes em participar do método influencia consideravelmente na disponibilidade que os
demais membros terão em colaborar com o processo e se engajar nele.
189
A utilização das mídias alternativas apresenta, conforme Cooperrider e Whitney
(2005), através do princípio antecipatório que são as imagens positivas do futuro que
conduzem às ações positivas. O fato é que é a imagem que o indivíduo tem de seu próprio
futuro que orienta o seu comportamento presente, bem como, a imagem de futuro ideal que a
organização construirá, orientará seu comportamento dos indivíduos que a compõe -, no
sentido de alcançar, ao máximo, a idealização almejada (VALENÇA, 2009).
Por conseguinte, existe ainda a categoria que analisou o tipo formação e preparação
necessária ao interveniente de IA, de modo que este fosse capaz de conduzir o processo de
maneira produtiva para a organização e para os participantes. A condensação das opiniões
expressas encontra-se descrita no quadro 19 abaixo.
Preparação / formação do consultor
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
Existe uma
formação teórico-
metodológica,
psicológica e/ou
espiritual do
consultor ideal?
O consultor deve ter habilidades
de relacionamento interpessoal,
treinamento técnico e conceitual
no próprio método, tendo
participado de pelo menos um
evento apreciativo bem
sucedido;
Realmente acreditar no potencial
das pessoas em aprender e
progredir;
A formação do consultor de IA,
portanto, deve ser o mais
holística possível, contemplando
habilidades técnicas,
psicológicas, espirituais e, acima
de tudo, humanísticas.
Possuir a Certificação
Internacional na Investigação
Apreciativa;
A experiência de ter passado
pelo processo anteriormente;
Familiaridade com as ciências
do comportamento e de
dinâmicas grupais;
A crença que deve ter no
referido método, como filosofia
e não como técnica;
O posicionamento democrático e
aberto a participação das
pessoas no processo de geração
das informações durante a
intervenção, não manipulando
ou direcionando a construção de
informações que não sejam
válidas e úteis para o grupo.
Quadro 19 (4) – Preparação / formação do consultor
Fonte: Elaboração própria
Existe uma consonância por parte dos entrevistados acerca do tipo de preparação que
um consultor de IA precisa ter, ressaltando-se que essas opiniões foram consideradas, em
alguns momentos, complementares entre si, de modo que foi preferível agrupá-las em alguns
momentos da análise. Para tanto, é de posicionamento dos mesmos que apenas a formação
técnica e metodológica do interveniente não será suficiente para a condução de um processo
de investigação deste nero, sendo, ainda, importante e imprescindível, o que corrobora os
190
conceitos apresentados por Valença (2007; 2009) ao trazer a formação técnico-metodológica e
a experiência do consultor como um dos três eixos que dão sustentação ao processo de IA, de
acordo com o Modelo Tridimensional de Intervenção.
Habilidades de relacionamento interpessoal e o conhecimento das ciências humanas
também foi requerido como importante à formação do interveniente, de modo que este seja
capaz de conduzir o processo sem se sobrepor aos demais, nem agir de maneira repressora e
manipulativa, e, para isso, Valença (2007; 2009) destaca como importante, e segundo eixo do
MTI acima mencionado, o posicionamento democrático e aberto a participação das pessoas no
processo de geração das informações durante a intervenção, não manipulando ou
direcionando a construção de informações que não sejam válidas e úteis para o grupo.
É importante destacar, ainda, que o consultor é percebido não apenas como aquele que
conduz a intervenção, mas, como um ‘educador’ ou facilitador da aprendizagem do grupo, de
modo que se apresenta como variável implícita ao modelo proposto ‘a abertura e a
receptividade dos participantes para a aprendizagem’. Espera-se do interveniente que ele
realmente acredite no potencial das pessoas em aprender e progredir e, assim, conduza a
implementação do método.
Por fim, apresenta-se a categoria intitulada ‘momento especial de genuína apreciação’.
Conforme dados coletados e analisados, foi possível perceber que persiste a perspectiva de
descrédito por parte de alguns clientes que consideram o método utópico e idealista da forma
como proposto uma vez que as pessoas poderão falar o que de fato pensam, se, e somente
se, forem aspectos positivos da organização.
Momento especial de genuína apreciação
Propósito das
Perguntas
Clientes Consultores
É possível criar
um AMBIENTE
IDEAL para a
IA?
O método de IA alimenta nas
pessoas um ciclo virtuoso, no
qual as virtudes propostas,
quando incutidas, passam a fazer
parte de suas vidas e,
concomitantemente, constitui
parte da vida organizacional;
Ainda persiste o fato das pessoas
não se sentirem seguras o
suficiente, fazendo-as desconfiar
que o método apresenta-se de
maneira muito utópica e
idealista, de modo que as
pessoas não podem falar o que
realmente pensam;
A participação na IA alimenta
nas pessoas um ciclo virtuoso
que transpõe o ambiente
organizacional, sendo bastante
relevante no processo de
crescimento e evolução pessoal
do sujeito;
Para que se possa conduzir uma
intervenção de maneira
‘sincera’, faz-se necessário não
apenas que o consultor creia no
método, mas que o vivencie em
sua própria vida, servindo,
assim, de parâmetro aos demais
participantes do processo.
191
Condições ideais de intervenção,
por parte dos indivíduos, a
participação voluntária, com
disponibilidade de participação
nas atividades propostas, abertas
ao aprendizado proposto.
Por parte da organização o
patrocínio da liderança e
participação da mesma em todo
o processo de IA, a escolha de
um ambiente físico condizente
com a proposta de idealização e
sonho, bem como a contração de
um consultor experiente e
preparado para conduzir o
processo.
A abertura e disponibilidade das
pessoas em participar e aprender
com o método, toda a
intervenção pautada em uma
relação de acordo político válido
entre as partes.
Quadro 20 (4) – Momento especial de genuína apreciação
Fonte: Elaboração própria
192
6 Considerações finais
Em um cenário onde os avanços tecnológicos, as expectativas dos consumidores e dos
cidadãos e as realidades globais estão, paulatinamente, transformando a maneira com que as
organizações se relacionam interna e externamente, faz-se necessário um redimensionamento
também das estratégias de desenvolvimento organizacionais utilizadas para redefinir os
padrões organizacionais doravante requeridos.
Por conseguinte, as abordagens relacionadas à cultura organizacional e ao trabalho
estão sofrendo mudanças muitas vezes abruptas. E, concomitantemente, os modelos de
gestão, ultrapassados devido à sua rigidez, estão sendo cada vez mais questionados e revistos
(LOURES, 2008).
O grande desafio contemporâneo no mundo corporativo diz respeito ao
estabelecimento de um desenvolvimento eficaz e contínuo de competências e habilidades
profissionais que vão além da sobrevivência organizacional e têm como resposta à
turbulência, novos valores culturais e humanísticos, reformulando drasticamente a forma
como as organizações se posicionam diante da construção de suas visões de futuro, bem como
do dimensionamento de suas estratégias.
A perspectiva de existência de uma demanda latente pela geração de maior
competência às organizações, maior competitividade e inserção em novos mercados, bem
como pela formação de novos profissionais, mais eficientes, questionadores, adaptativos - à
toda gama de modificações do cenário atual -, e reflexivos - buscando refletir sobre os
problemas que acontecem na organização -, requer das organizações modificações que criem
ambientes favoráveis ao seu próprio desenvolvimento, e ao das pessoas que a compõem. Para
tanto, como alternativa de ferramenta de desenvolvimento organizacional e de gerenciamento
de mudanças, apresentou-se o Método de Investigação Apreciativa, proposto como um novo e
revolucionário processo de investigação da realidade de maneira apreciativa.
O objetivo deste trabalho foi compreender quais os fatores críticos à implementação
do Método de Investigação Apreciativa no caso das organizações em estudo. Para isso, foi
realizado um estudo qualitativo básico com pesquisa bibliográfica, documental e de campo,
através da aplicação de entrevistas semi-estruturadas e observação não-participante, tendo
análise por clientes e consultores pesquisados.
193
Com base nos dados coletados por meio de observações, documentos, entrevistas, no
referencial teórico e nos resultados apresentados e analisados no capítulo anterior, procurou-
se responder à pergunta de pesquisa do estudo: Quais os fatores críticos à implementação
do Método de Investigação Apreciativa?
Assim, é possível defender que alguns fatores são favoráveis à implementação bem-
sucedida da IA em ambientes organizacionais, contudo não se pode assegurar que a existência
dos mesmos seja determinante no sucesso do referido método.
O patrocínio e engajamento da liderança apresentaram-se como de fundamental
importância para o sucesso do método, uma vez que é através deste engajamento que os
líderes organizacionais poderão vivenciar o método, motivando os demais membros da
organização a fazerem o mesmo, ou seja, promovendo uma aproximação entre as dimensões
proclamadas e em-uso da teoria de ação vigente no ambiente organizacional.
A teoria proclamada - aquela que as pessoas “alegam seguir” e a teoria-em-uso
aquela que pode ser inferida das ações ou dos comportamentos deliberados, em-uso, que
podem ser acionados e usados numa determinada situação, precisam estar atreladas a
realidade da IA, pois, sem essa aproximação, as pessoas se mostraram pouco propensas a
participar genuinamente do processo.
Outro aspecto também de significante relevância foi o desenvolvimento de uma
cultura organizacional favorável à apreciação. Pode-se inferir que a inexistência de uma
cultura democrática e participativa, na qual seja possível a construção bilateral e cooperativa
da informação, pode ser obstáculo intransponível para a genuína apreciação. As pessoas não
se mostraram dispostas a colaborar e desenvolver uma apreciação por realidades arraigadas a
processos pouco ou pseudo-democráticos, conforme acrescenta Valença (2009, p. 69) “um
discurso, em si mesmo, é apenas um discurso, mesmo que intitulado de apreciativo. A prática
apreciativa é outra história. Trata-se de outra dimensão”: a dimensão de genuína apreciação.
Para tanto, apresenta-se como fundamental a preparação e amadurecimento do
consultor, interveniente do processo de IA no ambiente organizacional. É preciso que este
profissional esteja preparado técnico-metodologicamente e apreciativamente para conduzir
um processo dentro de padrões ideais. Sem uma dessas dimensões, fica caracterizado como
improdutivo o processo de intervenção, gerando resultados pouco significativos ou, até,
equivocados para a organização e às pessoas envolvidas, conforme proposto pelo Modelo
Tridimensional de Intervenção anteriormente detalhado.
A familiaridade com os conceitos propostos pela IA
por parte dos indivíduos que
compõem a organização apresentou-se como relevante ao processo de engajamento dos
194
mesmos no método, de sorte que as pessoas tendem a participar com maior motivação e
colaboração a partir do momento em que têm consciência do processo como um todo e da real
importância de suas participações, bem como de suas contribuições para a construção dos
resultados alcançados, o que se pôde promover através de um processo de sensibilização das
pessoas e de apresentação de todo o método: seus objetivos, ferramentas, processos e
resultados almejados.
O engajamento, abertura e disposição das pessoas para a aprendizagem e construção
coletiva do conhecimento organizacional foi descoberto como de condição sine qua non para
o sucesso da IA, conforme propunha o Modelo Tridimensional de Intervenção
anteriormente detalhado. Sem a disposição das pessoas para o engajamento no processo, a
apreciação não poderá alcançar níveis genuínos, de modo que a aprendizagem dos indivíduos
não conseguirá se realizar de maneira eficiente, não sendo, portanto, adulta, bilateral e/ou
cooperativa.
Durante o desenvolvimento do processo de IA, o reconhecimento e legitimação do
grupo da participação das pessoas se mostraram bastante significativo, sendo, assim,
considerado fator favorável ao sucesso do mesmo. As pessoas parecem se importar muito com
a legitimação conferida pelo grupo participantes, líderes e intervenientes de suas
contribuições para com os resultados finais da intervenção.
Outro aspecto também bastante recorrente diz respeito ao tempo decorrido da referida
experiência, ou seja, nos momentos do início da intervenção as pessoas não se mostraram
receptivas incondicionais ao método, e, portanto, pouco produtivas. Todavia, com o passar do
tempo, e através da construção e desenvolvimento da confiança dentro e pelo grupo, passaram
a colaborar com o mesmo, alcançando níveis significativos de produtividade, o que pode ser
indício para o delineamento de um tempo mínimo necessário para que o processo de
investigação da realidade de maneira apreciativa seja efetivo, contudo, não foi objetivo deste
estudo delinear o referido tempo.
Ainda relacionado ao critério de tempo, foi apontada como significativa a utilização de
mídias alternativas como ferramentas de intervenção. A eficiência das mesmas parece ter
aumentado de maneira similar a destacada anteriormente, ou seja, a medida que o tempo de
intervenção avança, a familiaridade com o método aumenta e a confiança com o grupo se
estabelece.
Por fim, e, talvez, mais significante apresenta-se a necessidade de aceitação e
apreciação dos aspectos negativos emergentes durante o processo. Este aspecto não foi
abordado e/ou aceito pelos autores da IA, uma vez que propõem e fundamentam sua teoria no
195
acolhimento e desenvolvimento de aspectos positivos vislumbrados pelas pessoas. Todavia,
defende-se o pressuposto que as pessoas, em suas essências, são constituídas dialeticamente e,
portanto, arraigadas por prismas positivos e negativos de visão. Aceitar que as pessoas têm
prismas negativos não quer dizer se basear neles para a apreciação da realidade, é apenas não
desconsiderá-los enquanto partes integrantes e constituintes.
Quando sentimos que nossa vida é boa e autêntica, não precisamos nos iludir
nem iludir as outras pessoas. Conseguimos ver nossas falhas sem nos sentir
culpados ou incapazes, ao mesmo tempo que conseguimos perceber nosso
potencial para entender a bondade dos outros. Podemos dizer a verdade sem
rodeios e ser absolutamente abertos, porém simultaneamente firmes. A
essência da condição guerreira, ou essência da coragem humana, é a recusa a
desistir de algo ou alguém (TRUNGPA, 2000 apud VALENÇA, 2009, p.
55).
A apreciação está além de uma mera descoberta acadêmica, ou de um método de
intervenção, é uma atitude autenticamente amorosa de aceitação da realidade e das pessoas
como elas de fato o são, cheias de disparidades, divergências, dialéticas e incongruências,
mas, ainda assim, ímpar, frutífera, potencialmente bela e inesquecível. O dom gratuito da
vida.
“Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...”
(Gonzaguinha)
196
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YIN, R. K. E. Estudo de Caso: planejamento e método. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
200
APÊNDICE A – Instrumento de coleta de dados
PESQUISA DO GRUPO DE ESTUDOS EM CONHECIMENTO E
CONSULTORIA ORGANIZACIONAL – ECCO – UFPE
MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Prezado (a) senhor (a),
Solicito que contextualize nossa conversa se reportando aos momentos de aplicação do
Método da Investigação Apreciativa, em todas as suas etapas (descoberta, sonho, desenho e
destino), realizada nos encontros da atividade de consultoria entre a Sr(a) CONSULTOR e a
ORGANIZAÇÃO, com a intenção de abordarmos a questão da construção de um ambiente
favorável à implementação da metodologia de Investigação Apreciativa.
Sua participação será muito importante para a realização do nosso trabalho.
1. O(a) Sr(a) acredita que, durante o processo de IA, existe um ambiente no qual as pessoas se
sintam a vontade para expressar o que realmente pensam?
2. O(a) Sr(a) acredita que, no início do processo de IA, as pessoas já chegam dispostas a
participar ‘abertamente’ do processo? Ou acontece com o tempo?
3. Que fatores poderiam ser significativos na ‘construção’ deste ambiente (aberto a participação
das pessoas)?
4. Algum fator poderia dificultar o desenvolvimento deste ambiente?
5. Qual o grau de importância para o(a) Sr(a) saber que as pessoas darão espaço para que se
manifeste?
6. Sentimentos como empatia e atenção ao que os outros falam emergem naturalmente durante o
processo ou precisam ser estimulados/despertados? Como?
7. O que fazer se as pessoas não se sentirem parte do processo e, assim, recusarem-se a
participar?
8. Como alinhar objetivos individuais com os objetivos organizacionais?
9. Como sonhar coletivamente, mesmo não havendo congruência entre valores pessoais e
coletivos?
10. É possível para o indivíduo manter suas convicções individuais (identidade) sem se dissociar
da organização e do processo de IA?
11. Que níveis hierárquicos participam da IA?
12. Quais os sentimentos entre as pessoas dos diferentes níveis hierárquicos em função da
convivência com os demais colegas dos diferentes níveis?
13. Percebe-se algum sentimento de bloqueio ou inibição nas pessoas?
14. As pessoas têm a livre iniciativa em participar de um processo de IA, ou essa decisão cabe à
alta administração das organizações?
201
15. É possível dar seguimento ao processo sem o comprometimento e a vontade de aprender das
pessoas envolvidas?
16. Existe a liberdade para escolher não colaborar?
17. Como estimular a participação e engajamento das pessoas?
18. Na sua opinião, existe alguma dificuldade de participação, uma vez que muitas pessoas estão
habituadas a treinamentos práticos e técnicos?
19. Qual a reação das pessoas quando são ‘reconhecidas’ pelos seus desempenho e atuação no
grupo?
20. O que significa ser convidado a um processo de revolução positiva da mudança?
21. Como lidar com ambientes ‘naturalmente’ negativos?
22. Como é a participação das pessoas nesse tipo de ambiente?
23. É possível que as pessoas imersas em ambientes naturalmente negativos se disponham a
participar do processo de IA?
24. Qual a sua reação ao se depararem com “o novo”?
25. O que acontece no momento em que se toca em pontos nevrálgicos (críticos / epicentros) da
vida organizacional?
26. Como lidar com grupos de pessoas nas quais os conflitos e pensamentos individuais
bloqueiam a “evolução” da elaboração apreciativa?
27. O(a) Sr(a) saberia dizer se existe um tempo de vida para um grupo de IA?
28. Como lidar com a limitação de tempo das equipes de trabalho?
29. Como trabalhar com atividades que demandam tempo (dinâmicas / dramatizações) e a
escassez de tempo das equipes?
30. No processo de IA, são utilizadas mídias alternativas como vídeos, músicas, dramatizações,
entre outras. É possível mensurar o impacto de utilização destas mídias na desenvoltura e
participação das pessoas no processo?
31. O(a) Sr(a) considera que exista inibição das pessoas pela utilização destas mídias alternativas?
Justifique / exemplifique.
32. Durante as intervenções, foi utilizado algum tipo de registro visual / gravação dos encontros?
33. Quais os impactos de utilização desses recursos?
34. Que tipo de preparação o(a) Sr(a) acredita ser fundamental para o consultor de IA?
35. Para o(a) Sr(a) é possível que a participação em programas de Investigação Apreciativa
alimente um ciclo virtuoso (de virtudes) nas pessoas?
36. É possível elencar circunstâncias certas ou ideais para a implementação eficiente da IA?
Desde já, agradeço a sua enorme colaboração em se dispor a participar da pesquisa,
colocando-me à sua disposição para maiores esclarecimentos acerca da mesma e da temática
em estudo.
Atenciosamente,
Andrezza Marianna Pinto de Oliveira
Mestrado em Administração - PROPAD
Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
202
APÊNDICE B – Quadro utilizado para a preparação do roteiro de entrevista
Objetivo específico:
c) Investigar empiricamente como os fatores presentes na organização se configuram como obstáculos à implementação do Método de IA;
d) Investigar empiricamente como os fatores presentes na organização se configuram como facilitadores à implementação do Método de IA.
Tema Perguntas específicas PRÓPOSITO DA PERGUNTA
A. Espaço para ser
reconhecido numa
relação
1. O(a) Sr(a) acredita que, durante o processo de IA, existe um ambiente no qual as
pessoas se sintam a vontade para expressar o que realmente pensam?
2. O(a) Sr(a) acredita que, no início do processo de IA, as pessoas já chegam
dispostas a participar ‘abertamente’ do processo?
3. Que fatores poderiam ser significativos na ‘construção’ deste ambiente (aberto a
participação das pessoas)?
4. Algum fator poderia dificultar o desenvolvimento deste ambiente?
Identificar se é possível que as pessoas
encontrem um ambiente realmente aberto
para que possam expressar suas opiniões.
B. Espaço para ser
ouvido
5. Qual o grau de importância para o(a) Sr(a) saber que as pessoas darão espaço para
que você se manifeste?
6. Sentimentos como empatia e atenção ao que os outros falam emergem
naturalmente durante o processo ou precisam ser estimulados/despertados? Como?
7. O que fazer se as pessoas não se sentirem parte do processo e, assim, recusarem-se
a participar?
Que tipos de sentimentos serão
significativos no momento em que o
indivíduo se sentir, de fato, a vontade
para falar, tendo a convicção que será
ouvido.
C. Espaço para
sonhar em
conjunto
8. Como alinhar objetivos organizacionais com os objetivos individuais?
9. Como sonhar coletivamente, mesmo não havendo congruência entre valores
pessoais e coletivos?
10. É possível para o indivíduo manter suas convicções individuais (identidade) sem
se dissociar da organização e do processo de IA?
Qual a prevalência: objetivos
individuais ou organizacionais?
203
11. Que níveis hierárquicos participam da IA?
12. Quais os sentimentos entre as pessoas dos diferentes veis hierárquicos em
função da convivência com os demais colegas dos diferentes níveis?
13. Percebe-se algum sentimento de bloqueio ou inibição nas pessoas?
D. Espaço para
escolher contribuir
14. As pessoas têm a livre iniciativa em participar de um processo de IA, ou essa
decisão cabe à alta administração das organizações?
15. É possível dar seguimento ao processo sem o comprometimento e a vontade de
aprender das pessoas envolvidas?
16. Existe a liberdade para escolher não colaborar?
17. Como lidar com isso?
18. Como estimular a participação e engajamento das pessoas?
19. Na sua opinião, existe alguma dificuldade de participação, uma vez que muitas
pessoas estão habituadas a treinamentos práticos e técnicos?
Compreender se as pessoas têm DE
FATO a liberdade de PODER OPTAR
por participar da IA ou não.
E. Espaço para
agir com apoio
20. Qual a reação das pessoas quando são reconhecidaspelos seus desempenho e
atuação no grupo?
Qual o impacto do reconhecimento no
desempenho dos colaboradores?
F. Espaço para ser
positivo
21. O que significa convidar as pessoas a um processo de revolução positiva da
mudança?
22. Como lidar com ambientes ‘naturalmente’ negativos?
23. Como é a participação das pessoas nesse tipo de ambiente?
24. É possível que as pessoas imersas em ambientes naturalmente negativos se
disponham a participar do processo de IA?
25. Qual a reação das pessoas ao se depararem com “o novo”?
Como as pessoas se comportam em
ambientes naturalmente positivos e
nos negativos.
Qual a importância desta “natureza”do
ambiente para o sucesso da IA.
G. Conflitos e
pensamentos
ruminativos
26. E o que dizer da possibilidade de lidar com grupos de pessoas nas quais os
conflitos e pensamentos individuais bloqueiam a “evolução” da elaboração
apreciativa?
Qual o impacto dos conflitos de
pensamento no desenvolvimento da IA
em uma equipe.
204
27. O que acontece no momento em que se toca em pontos nevrálgicos (críticos /
epicentros) da vida organizacional?
H. Tempo de vida
útil do grupo de IA
28. É possível precisar qual o tempo de vida útil de um grupo de IA quando
produtivo?
29. Caso não se desenvolve conforme planejado, existe um período mínimo/máximo
de tempo que se deve persistir com a experiência?
30. Como lidar com a limitação de tempo das equipes de trabalho?
31. Como trabalhar com atividades que demandam tempo (dinâmicas / dramatizações)
e a escassez de tempo das equipes?
Compreender se existe um período de
vida útil para um processo de
intervenção de IA.
Alcança-se a saturação?!
I. Utilização de
uma mídia
alternativa –
vídeos, músicas,
encenações teatrais
32. No processo de IA, são utilizadas mídias alternativas como vídeos, músicas,
dramatizações, entre outras. É possível mensurar o impacto de utilização destas
mídias na desenvoltura e participação das pessoas no processo?
33. O(a) Sr(a) considera que exista inibição das pessoas pela utilização destas mídias
alternativas? Justifique / exemplifique.
34. Durante as intervenções, o(a) Sr(a) costuma utilizar algum tipo de registro visual /
gravação dos encontro?
35. Quais os impactos de utilização desses recursos?
A utilização de mídias alternativas
podem ser fatores facilitadores da
intervenção de IA.
J. Preparação /
Formação do
Consultor
36. Que tipo de preparação o(a) Sr(a) acredita ser fundamental para o consultor de IA?
Formação teórico-metodológica,
psicológica e/ou espiritual do
consultor
K. Momento
especial
Genuína
Apreciação
37. Para o(a) Sr(a) é possível que a participação em programas de Investigação
Apreciativa alimente um ciclo virtuoso nas pessoas?
38. É possível elencar circunstâncias certas ou ideais para a implementação eficiente
da IA?
É possível criar um AMBIENTE
IDEAL para a IA?
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