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bebidas fermentadas. A carne de porco
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é repulsiva não apenas aos árabes, mas
também aos judeus. Em ambas o seu consumo é considerado pecado. Entretanto, há
estudos em Portugal, mais precisamente no Centro Arqueológico de Mértola, que tem
por objetivo estudar os povos árabes que entraram na Espanha e em Portugal a partir do
século V, reconstruindo e revelando sua estrutura alimentar. Os estudiosos envolvidos,
entre estes consideram o seguinte:
(...) antropólogos recolheram material das latrinas e fossas de Mértola e
descobriram que nas ocasiões especiais, as pessoas comiam até se fartar.
Eram carnes assadas e cozidas, de ovelha, cabra, coelho, cervo e aves,
ocasionalmente de boi, javali e porco, pois o capítulo do Alcorão que vetava
o consumo de suínos nunca chegou a ser cumprido ao pé da letra.
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Os ensinamentos do Alcorão revelam ainda que, no momento do abatimento, o
animal deve ser direcionado à Meca
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e morto pelas mãos de um homem fiel a Deus,
seja ele, muçulmano, judeu ou cristão. Mas segundo o livro sagrado, se deste alimento
proibido depender sua vida, o crédulo poderá comer e não será castigado.
Existe, também, para os muçulmanos o jejum do mês do Ramadã, momento de
abstinência, no qual o crente deve comer e beber quando o sol se põe até o amanhecer.
Durante o dia deve se resguardar em orações até o pôr–do–sol. Não é permitido nem
mesmo tomar água ou fumar. Só estão liberados do jejum, crianças, mulheres grávidas
ou que estão amamentando, parturientes, doentes ou aqueles que se encontram em
viagens. No caso destes últimos, o jejum deve ser feito posterior à viagem, coincidindo
com a quantidade de dias que estiver viajando.
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A carniça, ou carne putrefata, e o sangue, como gêneros alimentícios, devem causar repulsa a qualquer
pessoa de gosto refinado. Assim deveria ser também com a carne de suíno, já que este vive de dejetos.
Mesmo que os suínos fossem artificialmente alimentados com comida saudável, as abjeções
permaneceriam, porque são animais imundos sob outros aspectos; a carne de suíno possui mais gordura
do que o necessário para a fortificação dos músculos; é mais propensa a causar enfermidades do que outra
espécie de carne; apresenta, por exemplo, a triquinose, caracterizada por vermes da finura de um fio de
cabelo, nos tecidos musculares. Quanto aos alimentos dedicados aos ídolos ou falsos deuses, é
obviamente inadmissível que os monoteístas se dêem a eles. (2ª surata, versículo 173. Nota explicativa
71.)
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LOPES, J. A. Dias. A rainha que virou pizza: crônicas em torno da história da comida no mundo. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. pp.71-72.
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Cidade sagrada para os muçulmanos.