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Considerações Finais
desenvolvimento. Se por um lado a literatura reforça a importância da interação no
desenvolvimento inicial, ela foi pouco estudada em trabalhos anteriores, ou avaliada a partir
de inventários que listam os comportamentos maternos, mas poucas referências fazem às
respostas e iniciativas das crianças durante o episódio. A possibilidade de gravar um episódio
curto, e posterior análise com um protocolo com categorias definidas, o NUDIF, produziu
uma riqueza de dados sobre o papel da mãe, mas especialmente sobre o papel ativo da criança
na interação e no seu próprio desenvolvimento. Constatou-se que o episódio interativo não foi
determinado apenas pelos comportamentos maternos, sofreu a influência de múltiplas
variáveis, inclusive da ação da criança, com possibilidade de amenizar os efeitos de uma
situação de pouca estimulação. Esse fato remete à noção de resiliência e reforça a necessidade
de pesquisas sobre variáveis, tanto individuais quanto contextuais, que propiciem o aumento
da capacidade de resiliência e, como consequência, reduzam a vulnerabilidade.
Em relação à amostra, o desejo inicial desta pesquisa era avaliar todas as crianças de
um ano, de duas unidades, no período de um ano. Entretanto, devido à mobilidade das
famílias, várias crianças não foram localizadas. Por outro lado, o nível de recusa foi alto,
principalmente porque as mães alegavam que não podiam perder tempo e precisavam cumprir
seus afazeres domésticos. São vários os estudos mostrando que, apesar do SUS explicitar,
como um de seus pressupostos, a necessidade de ações preventivas, as mães, quase que
exclusivamente, procuram os serviços de saúde quando seus filhos estão doentes, por não
acreditar que crianças saudáveis precisam de acompanhamento ou pela dificuldade de agendar
consultas (VITOLO, GAMA & CAMPAGNOLO, 2010). Assim, das 149 crianças que
preenchiam aos critérios de inclusão, só se avaliaram 65. Pode-se, inclusive, hipotetizar, que
algumas dessas mães já estavam preocupadas com o desenvolvimento da criança e tinham
interesse na avaliação, aumentando a probabilidade de mães com crianças de risco
comparecerem na unidade, no horário agendado pela pesquisadora. Em estudos posteriores, o
agendamento da avaliação do desenvolvimento deveria ocorrer no mesmo período da consulta
pediátrica agendada, ou o pesquisador poderia acompanhar o agente nas visitas domiciliares.
Em relação à alta porcentagem de crianças em risco, além dos fatores já levantados, é
preciso considerar, que se tratou de um estudo transversal, com testagem única, para uma
população difícil de avaliar, sujeita à interferência de vários fatores como inibição frente a
estranhos, pouca familiaridade com o material, cansaço e irritabilidade, que, possivelmente,
resultaram em alguns casos de falsos positivos. Sugere-se que, em trabalhos futuros, se
recorra a um delineamento longitudinal, com mais de uma avaliação, procedimento que
permite o controle e identificação de algumas dessas variáveis, mas que principalmente