Metodologia, Objetivos e Hipóteses
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agremiações e associações, se organiza e se distende, se espalha e se
capilariza pelo corpo social, influenciando a produção de seus agentes,
encerrados num cenário claustrofóbico.
2. construção de realidades: a concretude do ser da linguagem gera
positividades, bem como (re)construções identitárias.
O caráter cerceador do arquipélago carcerário, responsável por gerar
exclusões, supressões, negatividades, comporta igualmente efeitos de caráter
prático, como a diminuição das punições físicas nos moldes executados pelos
sistemas monárquicos, a partir do final do século XVII e durante o século XIX
(FOUCAULT, 1987) ou a conformação, no decorrer do século XX, de um tipo
de ocupação urbana sustentada pela dicotomia entre lugares e não-lugares
(AUGÉ, 2007 e BAUMAN, 2001). Daí surgem mecanismos de ação, posturas,
maneiras de ser e de atuar. Em uma palavra: positividades.
A produção dos agentes sociais se pautará pelos limites inscritos na
economia das punições. Seja para submetê-los, revertê-los, contorná-los ou
corroborá-los, o referencial permanece. O processo de construção cultural é
simultaneamente exercício de poder e de criação de sentidos. Entendido como
uma estratégia, o poder não pertencerá a sujeitos, não trocará de mãos, não é
um objeto não possa ser escondido ou acumulado, mas sempre negociado,
manipulado, remodelado, reconstruído.
Foram utilizados os fundamentos do método arqueológico/genealógico
de Foucault, (FOUCAULT, 1979, p. 172) a partir da qual os saberes locais,
desqualificados, poderão ser reativados.
Segundo o crítico Thierry Groensteen (2000), existem quatro limitações
simbólicas aos quadrinhos: o fato de ser uma arte híbrida, de ambições
narrativas limitadas, ligada à infância e às artes visuais lúdicas, como a
caricatura. Essas “limitações” contribuíram para uma crítica à condensação
estética dos quadrinhos, que os distanciava do ideal de linguagem pura. Como
conseqüência, os quadrinhos foram durante longo tempo identificados como
um tipo menos sério de produção visual, o que torna possível categorizá-los
como saberes “desqualificados”.
Essa forma de descrição não foi vista, entretanto, como a priori teórico,
nem como categoria fechada de reconhecimento do objeto, mas apenas como
um ponto de partida, a partir do qual questionamentos foram propostos. Faz-se