Sendo esta uma obra naturalista, é muito importante atentarmos para o que disse Zola
(1995, p. 12, 99) sobre o pilar do romance naturalista, o retrato da realidade e o senso do real
do seu autor:
Um de nossos romancistas naturalista quer escrever um romance acerca do
mundo dos teatros. Ele parte dessa ideia geral sem ter ainda um fato nem
uma personagem. Seu primeiro cuidado será reunir em notas tudo o que
puder saber a respeito desse mundo que pretende retratar. Conheceu tal
autor, assistiu a tal cena. [...] Eis aí documentos, os melhores, aqueles que
amadurecem nele. Em seguida, sairá a campo, ouvirá os homens mais bem
informados sobre a matéria, colecionará as expressões, as histórias, as
descrições. Não é tudo: irá, depois, aos documentos escritos, lendo tudo o
que lhe pode ser útil. Enfim, visitará os locais, viverá alguns dias num teatro
para conhecer seus mínimos recantos, passará suas noites num camarim de
atriz, impregnar-se-á o máximo possível do ar ambiente. E, uma vez
completados os documentos, seu romance, como já o disse, se estabelecerá
por si mesmo. [...] O romancista terá apenas que distribuir logicamente os
fatos. [...]De tudo o que tiver apreendido resultará a ponta do drama, a
história que ele necessita para montar o arcabouço de seus capítulos. [...] O
interesse já não se encontra na estranheza dessa história; ao contrário, quanto
mais banal e geral ela for, mais típica se tornará. Fazer mover personagens
reais num meio, dar ao leitor um fragmento da vida humana, aí se encontra
todo o romance naturalista. [...] Visto que a imaginação já não é a qualidade
mestra do romancista, o que, então, a substitui? É preciso sempre uma
qualidade mestra. Hoje, a qualidade mestra do romancista é o senso do real.
E é a isso que eu gostaria de chegar. O senso do real é sentir a natureza e
representá-la tal como ela é.
Com essa brilhante explanação de Zola (1995), perecebemos o cárater documentário
do romance naturalista. O autor recolhe toda documentação, analisa e começa a sua tarefa:
escrever. Ele usa a sua criatividade e vai alinhavando, construindo assim, o seu texto, tal qual
todo e qualquer escritor. Ele não se envolve na ação, apenas descreve com precisão e maestria
o que foi averiguado na sua vasta documentação sobre o tema tratado, não opina, deixa que
seu leitor veja o que quer ver e pense o que quer pensar, pois ao não deixar-se envolver, o
romancista não perde seu senso do real, que segundo Zola (1995) é a qualidade mestra do
romancista naturalista. Para ele, o real é sentir a natureza e representá-la como é. Para
Adonias Filho (1969), da mesma forma que para Zola (1995), o escritor naturalista interpreta
e representa a realidade, sem contudo, influenciá-la. Os documentos apenas são levados pelo
romance, enquanto este é mais abrangente, tendo em vista que através dele retrata-se a
oralidade, os contos populares, os acontecimentos, costumes, entre outros, referindo-se a uma
classe, categoria ou um povo.
Ainda segundo Zola (1995), os personagens naturalistas são como marionetes nas
mãos do romancista, analisados à luz do meio em que estão inseridos, pouco importando sua