Ainda é prematuro dizer se a economia empreendedora continuará a
ser predominantemente um fenômeno americano, ou se ela surgirá
em outros países desenvolvidos. [...] Se, como é bem provável que
sim, a demografia foi um fator na emergência da economia
empreendedora nos Estados Unidos, poderíamos ter um
desenvolvimento similar na Europa por volta de 1990 ou 1995.
Porém, isto é especulação. Até agora (1985), a economia
empreendedora é puramente um fenômeno americano (DRUCKER,
1985, p.10).
Prenúncio do sistema que se envereda por todas as esferas da vida humana,
em pouco mais de três décadas o empreendedorismo não tardou a se transformar
em estratégia do capitalismo, em sua fase neoliberal, para a conformação humana
às condições de adaptabilidade à dinâmica do modo de produção.
Da mesma forma que o conceito e a localização espacial, faz-se de
fundamental importância endereçar teoricamente o empreendedorismo, pois isso
permite conhecer sua matriz mais representativa. Drucker (1985) localiza esta matriz
em Joseph Schumpeter, pois este abordou o empreendedor e o seu impacto sobre a
economia:
Todo economista sabe que o empreendedor é importante e provoca
impacto. Entretanto, para os economistas, o “empreender” é um
evento “meta-econômico”, algo que influencia profundamente, e,
deveras, molda a economia, sem fazer parte dela. E, assim também
é a tecnologia para os economistas. Economistas, em outras
palavras, não têm nenhuma outra explicação para explicar por que o
espírito empreendedor emerge, como aconteceu no final do século
XIX, e parece estar emergindo hoje, e nem por que ele se limita a um
determinado país, ou uma cultura. Realmente, os eventos que
explicam porque o empreendimento se torna eficaz, provavelmente,
não são, em si, eventos econômicos. As causas, possivelmente,
estariam nas mudanças em valores, percepção, atitudes, talvez
mudanças demográficas, em instituições (tais como a criação de
bancos empreendedores na Alemanha e nos Estados Unidos por
volta de 1870), e, talvez, em mudanças na educação (DRUCKER,
1985, p. 19).
Se não são eventos econômicos, em si, e, possivelmente, estão vinculados a
“valores, percepções, atitudes”, como pondera Drucker (1985, p. 19), ganha força a
ideia de que se pode, através de instrumentos diversos, especialmente via
educação, transformar uma sociedade, grupo ou pessoa em potenciais
empreendedores, para, a partir da mudança do “espírito empreendedor” de várias
células, construir um organismo social empreendedor; esta é uma das premissas
dos liberais. Enfim, a partir da mudança “ideal”, transformar a realidade material. O