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Sílvia Asam da Fonseca
A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno:
um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional
(1938-1977)
Tese de Doutoramento apresentado ao
programa Educação: História, Política,
Sociedade sob orientação do Prof. Dr.
Kazumi Munakata.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
São Paulo, Abril de 2010
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Sílvia Asam da Fonseca
A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno:
um projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional
(1938-1977)
Banca Examinadora
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Agradecimentos
Sempre que pego uma tese ou um livro para ler, corro para a parte de
agradecimentos. Embora possa parecer piegas ou muito pouco original, todos os
agradecimentos contém em si um pouco das agruras e dificuldades de se escrever uma
tese de doutorado. estão, a família, os professores, o pessoal de arquivo e
facilitadores da pesquisa, amigos e agências de financiamento. Para todos, o processo é
mais ou menos o mesmo. As contribuições das mais variadas ordens aparecem com
palavras mais ou menos emocionadas, conforme o temperamento do autor. Em todos, a
constatação que embora o nome da autoria esteja claramente identificado, nenhuma tese
é obra de um único autor. A figura do orientador, do grupo de pesquisa, dos professores
da banca e dos colegas de doutorado são, sem dúvida, construtoras de uma lógica que
situa o texto em um determinado campo, em uma temática específica, etc...
Como qualquer outro trabalho, este também não é obra de um único autor,
embora eu assuma integral e verdadeiramente, todos os erros e problemas que esta tese
possa apresentar.
Assim, começo meus agradecimentos pela minha orientadora, que no mestrado
foi a última a aparecer. A professora Maria Rita de Almeida Toledo (Maíta) querida em
todos os aspectos, conseguiu verdadeiramente “orientar” e transformar uma massa
disforme de dados em um texto de qualificação e, posteriormente, em uma tese. UFA!!!
À banca de qualificação que, também desde o mestrado sonhava ter, as
contribuições preciosas.
O professor Kazumi Munakata, que me agüentou nas tantas disciplinas de livro,
historia do livro e historia editorial. Algumas feitas como aluna matriculada, outras
como ouvinte. Em todos os momentos, encontrei um ser humano atento e um mestre
preparado para o diálogo cuidadoso e para a ampliação de horizontes.
A professora Marta Chagas Carvalho, que me acompanha desde o mestrado e
cuja experiência e perguntas desconcertantes ajudam a abrir horizontes.
A professora Heloisa Faria Cruz que, acolheu minhas dúvidas em sua AP e
ajudou a construir um mapa de navegação.
Ao professor Nelson Schapposchnik cujos questionamentos no grupo da
ANPUH, COLE e no LIHED tanto me ajudaram com a construção da interface entre
história e educação.
Não posso esquecer o meu grupo de estudos com a professora Cleide do Amaral
Terzi que incentivaram e participaram das dúvidas e dificuldades. Em todos os
momentos, o grupo foi um porto seguro em que construí alguns conceitos e idéias. As
perguntas dos colegas que desconheciam minha pesquisa foram importantes para que eu
voltasse ao problema da educação.
As meninas do arquivo da IBEP Tânia, Sandra e Ivy. Em especial a Tânia que
me recebeu com carinho e disposição e, criou condições para que eu pudesse pesquisar
no precioso arquivo.
A Sandra, guardiã das chaves, cuja disposição permitiu a consulta da Biblioteca
de edições da Companhia Editora Nacional.
Aos colegas de doutorado Cássio e Juliana que partilharam comigo as
descobertas e discussões sobre o arquivo da Companhia Editora Nacional. Eles foram
interlocutores sempre. Nas frustrações e descobertas, nas apreensões e trocas de
informação.
Sem contar a Betinha, mais do que secretária, uma figura importante que
forneceu as condições burocráticas para a pesquisa.
Ao povo brasileiro (dedicatória copiada de uma amiga) que através das duas
agências de financiamento de pesquisa (Capes e CNPq) tornaram possível a dedicação
de 4 anos à pesquisa.
Obviamente, tenho que agradecer à minha família que aguentou com certo
estoicismo minha chatice doutoranda. Em especial, o Cesar que organizou o índice e a
tradução dos textos. O Marcus que, dentro do possível, cuidou da minha querida
Catarina.
À Catarina por trazer tanta alegria a todos nós.
Na verdade, sinto que não vou conseguir em momento algum dar conta de todos
os agradecimentos necessários e, por isso, paro por aqui.
A correção de “americano” por “norte-americano” é um modismo dos hispano-
americanos irritados porque os Estados Unidos são Estados Unidos da América. Nós
brasileiros não temos a mesma susceptibilidade. Somos brasileiros, argentinos,
venezuelanos, chilenos e os americanos são americanos.
AT t1966.05.19 pasta/marcador IV 46
Eu, brasileira “irritada”, utilizei o termo estadounidense.
Resumo
Fonseca, Sílvia Asam. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um
projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-
1977)
Este trabalho estuda a história da coleção “Biblioteca do Espírito Moderno”
editada pela Companhia Editora Nacional. Em suas quatro séries (Filosofia,
Ciências, História e Biografia e Literatura), a coleção buscava compor uma
biblioteca de civilização e cultura para o leitor médio brasileiro.
Organizada em dois momentos pelo educador Anísio Teixeira, essa coleção
foi um dos sucessos não didáticos da Companhia Editora Nacional e teve
longevidade bastante grande.
A tese investiga os tipos de escolha editorial, a interlocução dos títulos
traduzidos com outras coleções presentes tanto no mercado nacional quanto
nos mercados inglês, francês e estadounidense.
Utilizando a correspondência internacional do arquivo histórico da editora, a
pesquisa revelou uma série de condicionantes na negociação dos títulos e,
também, o processo de seleção dos títulos de um ponto de vista focado no
cotidiano da editora (e não apenas do editor), com os obstáculos que o
compõem: problemas de câmbio, prazos, seleção de tradutores, negociação
com autores, editoras e agentes literários, prestação de contas e pagamentos de
direitos autorais, seleção de gráficas e custos de produção e distribuição.
Palavras-chave: Biblioteca do Espírito Moderno, Companhia Editora
Nacional, história das edições, história da leitura, história cultural.
Abstract
Fonseca, Sílvia Asam. A coleção Bibliotheca do Espírito Moderno: um
projeto para alimentar espíritos da Companhia Editora Nacional (1938-
1977)
This work studies the history of the colection "Biblioteca do Espirito
Moderno"(Modern Spirit Library) edited by Companhia Editora Nacional. It
had four series (Philosophy, Sciences, History and Biography and Literature),
and tried to put together a Library of civilization and culture aimed at the
average Brazilian Reader
.
It was organized in two diferent times by the educator Anísio Teixera, this
colection was one of the great non-didactical successes of "Companhia
Editora Nacional" and had a fairly long longevity"
The thesis investigates both editorial choices and the comparison between
titles brought to Brazil by Companhia Editora Nacional and other colections
;present both in the national Market and in the English, French and US
markets.
Making use of international correspondency from the Historical archive of the
publisher, the research revealed a series of conditions in the tittles negotiation
as well as the titles’ selection process from a viewpoint focused on the
everyday choices of the publishing house (not onlyof the editor), with all its
hurdles: Exchange rate problems, deadlines, translator selection, negotiation
with authors, publishers and literary agents, copyrights, graphic selections and
Production and distribution costs
.
Keywords:Biblioteca do Espirito Moderno (Modern Spirit Library),
Companhia Editora Nacional, History of publishing, History of Reading,
Cultural History
ÍNDICE- CAPÍTULOS
Página
Introdução
1
Capítulo 2
A periodização da coleção O primeiro
Período (1939-1943)
73
Capítulo 3
O 2º. Período (1944-1953): Interregno
162
Capítulo 4
O 3º. Período (1954 a 1973): Os novos
lançamentos e o início do desmonte da
coleção
220
Capítulo 5
Rumo ao final da coleção–– Os anos
1970
271
Considerações Finais
317
Bibliografia
324
Anexos
332
Indice de Tabelas
Tabela 1
Títulos publicados por série
Tabela 2
Biblioteca do Espírito Moderno -
Total de Títulos e volumes publicados por série
48
Tabela 3
Títulos publicados –
Filosofia – 1º. Período
89
Tabela 4
Reedições – Filosofia – 1º. Período
Tabela 5
Biblioteca do Espírito Moderno –
Títulos – Ciências – 1º. Período
103
Tabela 6
Títulos da coleção Iniciação Científica (1939/1943)
Tabela 7
Biblioteca do Espírito Moderno Reedições –
Ciências – 1º. Período
107
Tabela 8
Biblioteca do Espírito Moderno
Detalhamento reedições –
Ciências – 1º. Período
107
Tabela 9
Títulos – Historia e Biografia – 1º. Período
Tabela 10
Biblioteca do Espírito Moderno –
1as. Edições –
série de Literatura no 1º. Período
118
Tabela 11
Biblioteca do Espírito Moderno - Reedições do 1º.
Período – série Literatura
136
Tabela 12
Biblioteca do Espírito Moderno
Principais tradutores – 4a. série
142
Tabela 13
Maiores primeiras tiragens (1º. Período)
Tabela 14
Maiores tiragens totais da Biblioteca do Espírito
Moderno
156
Tabela 15
Biblioteca do Espírito Moderno
Preço dos livros – 1º. Período
160
Tabela 16
Biblioteca do Espírito Moderno
Relação títulos novos/reedições – 2º. Período
162
Tabela 17
Número de matrículas –
ensino secundário e superior
166
Tabela 18
Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – Filosofia – 2º. Período
178
Tabela 19
Biblioteca do Espírito Moderno
Titulação dos autores da 2ª. série – Ciências.
182
Tabela 20
Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos novos – Ciências – 2º. Período
183
Tabela 21
Coleção Iniciação Científica (1943-1953)
Títulos Novos
183
Tabela 22
Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – série de Ciências – 2º. Período
185
Tabela 23
Biblioteca do Espírito Moderno
Titulos novos no 2o. período:
série História e Biografia
186
Tabela 24
Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – 2º. Período: História e Biografias
203
Tabela 25
Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos novos – Literatura – 2º. Período
206
Tabela 26
Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – Literatura – 2º. Período
211
Tabela 27
Expansão das matrículas nos ensinos secundário e
superior
232
Tabela 28
Biblioteca do Espírito Moderno Lançamentos –
Filosofia – (1954-1974)
233
Tabela 29
Biblioteca do Espírito Moderno
= série 1ª. = Filosofia
Marcas de Anísio Teixeira
241
Tabela 30
Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões/reedições –
Filosofia – 3º. Período -
243
Tabela 31
Biblioteca do Espírito Moderno Lançamentos –
Ciências – 3º. Período
246
Tabela 32
Lançamentos da série Iniciação Científica (1953-
1977)
253
Tabela 33
Biblioteca do Espírito Moderno
série 2ª. = Ciências Marcas de Anísio Teixeira
255
Tabela 34
Reedições – série de Ciências – 3º. Período
Tabela 35
Biblioteca do Espírito Moderno Lançamentos –
Historia e Biografias – 3º. Período
257
Tabela 36
Biblioteca do Espírito Moderno
= série 3ª. = Historia e Biografia
Marcas de Anísio Teixeira
261
Tabela 37
Reimpressões/reedições – Historia e Biografia – 3º.
Período
262
Tabela 38
Lançamentos – Literatura – 3º. Período
Tabela 39
Sugestões de reedição – Anísio Teixeira
Tabela 40
Reedições – Literatura (1954-1966) –
Tabela 41
Reedições – Literatura (1967-1977)
269
Tabela 42
Reedições – Literatura (1978-1987) –
Tabela 43
Biblioteca do Espírito Moderno Últimos
Lançamentos - década de 1970
281
Tabela 44
Biblioteca do Espírito Moderno Reimpressões –
filosofia (1970-1980)
281
Tabela 45
Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões – História e Biografia (1970-1980)
283
Tabela 46
Biblioteca do Espírito Moderno Reimpressões –
Literatura (1970-1980)
283
Tabela 47
Títulos da Biblioteca do Espírito Moderno
distribuídos a jornalistas
(1976-1977)
297
Tabela 48
Inventário da Biblioteca do Espírito Moderno
(1984)
312
Tabela 49
Biblioteca do Espírito Moderno Reedições após
1977
314
Índice de Gráficos
Gráfico 1
A Bibliotheca do Espírito Moderno
Total de títulos por série
47
Gráfico 2
Biblioteca do Espírito Moderno
Lançamentos e reimpressões
65
Gráfico 3
Biblioteca do Espírito Títulos Novos: Série/Ano
65
Gráfico 4
Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo – 3ª Série/coleção
66
Gráfico 5
Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo: Reimpressões coleção/4ª. série
66
Gráfico 6
Biblioteca do Espírito Moderno Comparativo:
Reimpressões coleção/3ª. série
67
Gráfico 7
Biblioteca do Espírito Moderno Tiragem por série
68
Gráfico 8
Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões Comparação das séries
69
Gráfico 9
Biblioteca do Espírito Moderno
Comparação Reipressões por sèrie
69
Gráfico 10
Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos Novos da coleção
70
Gráfico 11
Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo lançamentos e reimpressões
71
Gráfico 12
Biblioteca do Espírito Moderno - Principais
tradutores do 1º. Período
144
Gráfico 13
Obras Registradas na Biblioteca Nacional
165
Índice de Imagens
Figura 1
esboço do Arquivo CEN/IBEP
22
Figura 2
exemplo de caderno com cópia de fichas
de edição
23
Figura 3
Exemplo de ficha de produção. 25
Figura 4
Foto: Os livros da série de Literatura na
biblioteca do Arquivo Histórico da
Companhia Editora Nacional.
50
Figura 5
Capa da 3ª. série da BEM
51
Figura 6
4ª. capa e lombada de 1942
52
Figura 7
A Vida de Disraeli de autoria de André
Maurois. Capa da 1ª. edição – 1933 –
anterior a Espírito Moderno.
54
Figura 8
capa da primeira edição da revista Klaxon
54
Figura 9
Capa de Walter Levy para o mesmo livro.
Repare-se a assinatura do autor no lado
inferior esquerdo da capa.
55
Figura 10
Foto do catálogo de 1943 com foto “a bico
de pena”, busto e recente do autor Will
Durant.
57
Figura 11
- Foto do catálogo de 1939
58
Figura 12
Capa do catálogo da Biblioteca do
Espírito Moderno
59
Figura 13
Propaganda da Biblioteca do Espírito
Moderno
74
Figura 14
Capa da série de filosofia com destaque
para o tradutor
90
Figura 15
capa da série de Filosofia com o
característico tom azul
91
Figura16
Capa da série de Ciências com o
característico tom verde
97
Figura 17
Livro da 2ª. série da Biblioteca do Espírito
Moderno com destaque para o tradutor
97
Figura 18
capas de Madame Curie
111
Figura 19
“prova” de propaganda do livro de André
Maurois – História dos Estados Unidos.
112
Figura 20
4ª. capa do livro Nossa Herança Oriental.
116
Figura 21
volume da 3ª. série com a cor vermelha,
tradicional da série
117
Figura 22
jaqueta de O Livro da Jângal.
119
Figura 23
Folder: Propaganda Momento em Pequim
127
Figura 25
Prova de diagramação feita pela gráfica
para o flyer de Por quem os sinos dobram.
133
Figura 26
cartazes do filme Rebecca. 135
Figura 27
Foto de prova de gráfica da propaganda de
Hemingway e Roberts.
140
Figura 28
Propaganda de Filho Nativo – prova
gráfica
141
Figura 29
Foto de prova da propaganda de
lançamento do livro História do Futuro
153
Figura 30
Propaganda do lançamento de livro,
encontrada dentro do 2º. volume da obra A
Segunda Guerra Mundial de Churchill
187
Figura 31
quarta capa de livro da Espírito Moderno
com propaganda de O Nazareno
190
Figura 32
propagandas recebidas dos Estados
Unidos para a promoção de O Apostolo
192
Figura 33
Flyer de O Apostolo 193
Figura 34
propaganda de lançamento do título
Beethoven
197
Figura 35
4ª. capa e folder do lançamento de César e
Cristo
200
Figura 36
Propaganda da biblioteca do Espirito
Moderno com “coupon”
205
Figura 37
Flyer de Tambores da Alvorada com a
indicação de livro do mês
210
Figura 38
Capa de Walter Lévy para Filosofia da
Vida, com destaque para o nome do
tradutor
214
Figura 39
Capa de Walter Lévy para A Ciência da
Natureza Humana, sem o nome do
tradutor
215
Figura 40
Anúncio da Biblioteca do Espírito
Moderno com “Novos Títulos” e “Nova
Apresentação”
216
Figura 41
Versão em preto e branco do mesmo
anúncio
217
Figura 42
Propaganda da GE
218
Figura 43
Propaganda anunciando a orientação de
Anísio Teixeira para a Biblioteca do
Espírito Moderno
221
Figura 44
Folder de lançamento da Obra de
H.G.Wells pela CODIL
227
Figura 45
Detalhe da parte interna do folder das
obras de Wells
228
Figura 46
Continuação da parte interna do folder
com breve resumo das três obras
principais e foto do autor.
229
Figura 47
Índice das obras de Wells lançadas pela
230
CODIL, com detalhamento dos capítulos
de cada obra
Figura 48
Apresentação das três obras fundamentais
de Wells na coleção Biblioteca do Espírito
Moderno
231
Figura 49
Propaganda de historia da Filosofia
Ocidental
235
Figura 50
Capa de Frank Schaeffer para
Desenvolvimento e Cultura
240
Figura 51
capa de Lípio Pérsio para Lógica da vida
250
Figura 52
Foto de O Profeta com capa de Walter
Lévy
258
Figura 53
259
Figura 54
Foto de História da Igreja Católica capa
de Walter Lévy
260
Figura 55
Capa da edição da Biblioteca do Espírito
Moderno para o livro de D.H. Lawrence
264
Figura 56
Capa de Eugênio Hirsch para o livro de
D.H. Lawrence, editado pela Civilização
Brasileira
265
Figura 57
Livro 1984, capa de Walter Lévy
266
Figura 58
Capa de 1984 do livro 1984
267
Figura 59
Etiqueta de livro da Espírito Moderno
com o Gênero UN (universitário).
278
Figura 60
Capa de Maria Helena R. Miritello para A
Natureza e o Destino do Homem
282
Figura 61
capa de Sementes para a Civilização
292
Figura 62
Imagem da ficha catalográfica de
Sementes para a civilização, com o título
Biblioteca do Espírito Moderno e o nome
da Ed. Da Universidade de São Paulo
como co-editora
294
Figura 63
trecho do mapa de sugestões dos livros da
Biblioteca do Espírito Moderno.
Pasta Política Editorial
301
1
Introdução
Essa tese tem seu início nas pesquisas para a produção da minha dissertação de
mestrado. Preocupada com a expansão do ensino secundário em São Paulo e sua relação
com a qualidade do ensino no período de 1946 a 1961, identifiquei um problema que à
época não pude desenvolver.
A expansão do número de matrículas e a conseqüente expansão do público
leitor criaram, ainda na década de 1930, a possibilidade de um mercado editorial que
absorvesse livros de “cultura geral” e a necessidade de livros que atendessem à
crescente população universitária.
Pode-se imaginar que, embora ainda pequeno, um mercado potencialmente
grande para os livros destinados ao leitor do ensino pós-médio
1
O período marcado pela crise de 1929 e pela revolução de 1930 no Brasil foi,
também, um momento de mudança nos padrões de consumo e de leitura. Dentre outras
coisas, a urbanização, a melhoria nas condições de produção do livro e o conseqüente
barateamento do objeto-livro, tornaram possível a ampliação da chamada leitura de
lazer.
e aos universitários
estivesse se desenvolvendo. Dessa maneira, ganhou maior interesse a investigação
sobre uma coleção de livros cujo público alvo fosse esse “novo” leitor: egressos do
ensino médio e, eventualmente, o público universitário.
Não é coincidência que, no Brasil, é na década de 1930 que se organizam
várias coleções para os mais diversos públicos e com os mais diversos formatos. Essas
coleções guardaram algumas semelhanças entre si, vários autores em comum e, o que
garantia essa semelhança, um público alvo semelhante.
A importância dessas obras publicadas no período e das coleções destinadas a
esse “leitor médio” que começava a aparecer (e comprar livros) não pode ser
menosprezada. Ainda no início dos anos 1960, portanto quase trinta anos depois e
lançados, alguns títulos publicados nessas coleções eram indicados e distribuídos como
prêmio nos concursos da revista da CADES (Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão
do Ensino Secundário), denominada Escola Secundária. Esses títulos pertencentes a
uma variedade de coleções, dentre elas a Biblioteca do Espírito Moderno, eram
1
Não é demais lembrar que o termo ensino médio correspondeu, ao longo do tempo, no Brasil a várias
conformações. Grosso modo, o ensino médio englobaria o ensino secundário (ginásio e colégio) e o
ensino técnico. Portanto, a população egressa do ensino médio corresponderia a um universo bastante
heterogeneo.
2
considerados bons prêmios de incentivo aos professores que participassem dos
concursos promovidos pela revista. Ainda mais, alguns títulos são citados nos artigos da
revista como bibliografia de apoio aos docentes (e discentes).
Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França, essa
literatura voltada para o “leitor comum”, para utilizar a terminologia da época, viveu
uma grande expansão no período entre as duas guerras que inclui as décadas de 1920 e
1930.
Essas coleções criadas após a chamada revolução paper back
2
Apesar das diferentes metodologias, terminologias e objetos, KAESTLE e
RADWAY (2009), FOUCHÉ (1991), HUTNER(2009), RADWAY (1997), FEATHER
(1988) e McKIBBIN (2008) são unânimes em apontar para uma literatura cada vez mais
segmentada, aos olhos do editor. Tipificadas essas obras impressas tinham como
público alvo um leitor imaginário que, segundo RADWAY(1997), mais do que um
caráter econômico possui um caráter cultural
não eram
explicitamente baratas. As tiragens e a seleção de títulos compuseram os principais
fatores de barateamento dos livros vendidos em coleção cujo destino poderia ser a
estante da sala ou a biblioteca. A parte os livros de literatura de lazer, vários autores
identificaram um projeto de “ilustração” do público recém alfabetizado e conquistado.
3
Ainda segundo RADWAY (1997), essa visão simplista era fundamental para a
seleção de títulos e para determinar as adaptações necessárias para as obras publicadas
pelo Clube do Livro de Nova York.
. Segundo a autora, nos Estados Unidos, o
termo middlebrow aparece para se referir aqueles leitores que, não sendo mais iniciantes
no hábito de leitura, tornaram-se leitores assíduos e que, ao mesmo tempo, se
distanciam da cultura highbrow (ou de elite). Para ela, esse termo aparece nos
documentos do Book of the Month Club de Nova York com um caráter pejorativo e,
também, inscrevendo o editor em uma missão “civilizadora”: aproximar o leitor da
cultura letrada.
Segundo McKIBBIN(2008), na Inglaterra, essa cultura do Clube do Livro
construiu um discurso que, longe de ser civilizador” no sentido de aproximar o leitor
2
Esse termo se refere aos livros impressos a partir de meados do século XIX cujas capas eram de papel
(reforçado) e não de couro ou outro material mais nobre. Acompanhando essa mudança de capa, os
formatos e o tipo de papel mais barato utilizados nos livros paperback tornaram esse tipo de impresso
bem mais acessível e, já na virada do século XX eram bastante populares.
3
RADWAY identifica as mudanças econômicas dos Estados Unidos como um fator importante para
tipificar cultural e não economicamente o leitor. A rapidez com que alguns acumulavam riqueza e com
que essa riqueza mudava de mãos no país durante a primeira metade do século XX não permitiria a
divisão em classes sociais par identificar público-alvo dos livros editados no país.
3
comum da “literatura de qualidade”, construiu a crença de que o leitor comum não
poderia ler com prazer e compreensão alguns dos principais expoentes da literatura de
língua inglesa; notadamente, autores como William Faulkner e James Joyce eram
considerados difíceis e inatingíveis para o “leitor comum”. Dessa forma, esse discurso
reforçou o caráter distintivo da cultura “aristocrática” inglesa. O aristocrata pode
consumir a cultura mais fácil, de lazer, e efetivamente o faz. Entretanto, o público com
escolaridade menor está afastado de certas leituras, consolidando a idéia de uma leitura
para públicos “mais qualificados”, significando com isso uma segmentação do mercado
editorial e uma distinção cultural mais próxima da “interdição” de certos autores para
certos públicos. Ocorrendo, portanto, um caráter inverso do encontrado nos Estados
Unidos, onde havia uma missão civilizadora. Na Inglaterra, ao contrário, o clube do
livro torna-se, segundo McKIBBIN (2008), um construtor de diferenças.
Para esse público, as editoras reservaram uma série de autores literários com
méritos, alguns até ganhadores de prêmios Nobel, mas considerados relativamente mais
fáceis. Entram nessa categoria Ernest Hemingway e Sinclair Lewis, ambos
estadounidenses. Essa escolha não se faz de forma aleatória.
Para McKIBBIN(2008), a língua inglesa americanizada é, na Inglaterra, tão
distintiva da origem sócio-economica do leitor quanto as boas maneiras, o código de
vestuário e outros detalhes da vida cotidiana. A questão que se coloca para ele é sobre a
importância e os critérios dos editores responsáveis por esta seleção. De um lado, a
americanização da língua e, de outro, o caráter de classes do público leitor transformam
o estudo da história da edição de livros de literatura em uma história de caráter
marcadamente classista porque é dessa forma que, McKIBBIN entende a sociedade
inglesa.
É importante salientar que para todos os autores em pauta, embora o termo
tenha uma característica que remeta à classe sócio-economica do leitor, nenhum deles
considera a questão desse ponto de vista exclusivamente. Para RADWAY (1997),
uma construção de um leitor ideal que se faz entre as cartas recebidas pelo clube do
livro e as representações que os editores fazem desse mesmo leitor. Na verdade, para
ela, a própria leitura das cartas dos leitores/consumidores dos produtos Clube do Livro
se faz pelo viés do editor e acaba sendo utilizada para justificar escolhas do conselho
editorial.
A distância entre Inglaterra e Estados Unidos com relação aos usos do termo
middlebrow é grande. RADWAY e KAESTLE (2009) e RADWAY(1997) indicam o
4
termo middlebrow associado às camadas médias da população que não freqüentaram a
universidade. Esse termo aparece na documentação utilizada por eles em suas pesquisas.
Uma documentação apoiada em pareceres de editores sobre as possibilidades ou não de
edição dos livros e, também, nas atas das reuniões semanais. Entretanto,
RADWAY(1997) aponta para o aumento das matrículas nas universidades
acompanhado pela expansão do público do Clube do Livro que oferecia, ao lado de
livros de culinária e jardinagem, textos literários e obras como Atlas e Dicionários a
preços muito mais acessíveis e, na segunda metade do século XX, o Clube do Livro
tem entre seus membros alunos universitários à procura de lazer e opções baratas de
livros de consulta e clássicos da literatura.
McKIBBIN (2008) indica uma apropriação do termo middlebrow pela elite
aristocrática inglesa como uma forma de distinguir a cultura aristocrática, da cultura
burguesa ilustrada (highbrow), da cultura média (middlebrow) e da cultura de massas ou
popular (lowbrow). Para a elite aristocrática, associa-se um padrão de formação e leitura
voltados para os valores construídos pela aristocracia inglesa dos séculos XVIII e XIX.
McKIBBIN identifica, ainda, a importação dos termos à formação de grupos sociais
anteriormente muito pequenos no seio da sociedade inglesa. Para esse autor, o caráter de
distinção social da leitura implica uma concepção aristocrática da cultura divulgada
pelos expoentes da cultura aristocrática e a americanização significaria, em última
instância, uma democratização dos valores que, segundo o autor, a sociedade
aristocrática inglesa lutava (em vão) para evitar.
Ainda segundo McKIBBIN (2008), essa americanização acompanha, também,
uma maior circulação das obras inglesas nos Estados Unidos e, também, uma
valorização da cultura acadêmica, gestada nas universidades pelos filhos de uma
burguesia que, proveniente de todos os lugares do Império Britânico, via o estudo como
importante instrumento de consolidação da posição social.
McKIBBIN (2008) estruturou seus estudos preocupado com a relação
classes/culturas (no plural) que, a seu ver, caracteriza a sociedade inglesa. FEATHER
(1988) preocupado com a história da indústria editorial inglesa, observa o mesmo
fenômeno de um ponto de vista bem diferente.
Para ele, a incorporação da indústria gráfica em uma lógica capitalista exigiu o
reconhecimento do mercado e a obrigatoriedade de uma economia em escala crescente.
Dessa forma, os títulos começam a ser impressos de acordo com uma expectativa de
venda. Para fazer essa estimativa, os editores encontram uma série de estratégias. Uma
5
delas é organizar listas de Best Sellers que ajudam a projetar as edições futuras, bem
como selecionar temáticas e autores. Outra estratégia foi observar o mercado editorial
dos Estados Unidos que, por volta dos anos 1920 começava a ampliar sua importância
para a sociedade inglesa.
FEATHER (1988) salienta ainda a diferença entre os clubes do livro dos
Estados Unidos e da Inglaterra. Enquanto nos Estados Unidos, o clube do livro
desempenha o papel de editor de títulos (já editados em outras casas editoriais), na
Inglaterra, o clube do livro age como distribuidor de livros impressos por outras
editoras. Dessa forma, diferenças significativas quanto ao tipo de seleção feito por
um ou pelo outro. Incluindo-se aí, a questão da integralidade do texto.
Como editor, o clube do livro nos Estados Unidos se reserva o direito de
“adaptar” certas obras para atender ao mercado pretendido. Já o clube do livro na
Inglaterra não tem essa autonomia; a decisão do editor refere-se apenas à escolha das
co-edições.
Comentando o clube do livro do Brasil, MILTON (1999) analisa o tipo de
tradução feita para atender a idéia que os editores possuíam de seus leitores. MILTON
busca em seu trabalho de livre-docência compreender o processo de tradução e
adaptação de vários tipos de textos. Para isso, dentre os muitos títulos, ele analisa as
formas de tradução e/ou adaptação dos títulos publicados em vários locais: livros de
banca de jornal, coleções baratas e livros editados pelo clube do livro brasileiro.
Utilizando-se das reflexões sobre traduções e adaptações, MILTON (1999)
comenta as intervenções dos editores nas coleções populares como Sabrina e Julia,
analisando as diretrizes oferecidas aos tradutores e adaptadores das obras
4
,
MILTON(1999:61) informa:
Monteiro também insiste que as séries de romance da Nova Cultural,
Sabrina e Julia, não utilizem gírias ou linguagem de baixo calão, e que todo tipo
de imagem grotesca seja retirado ou alterado.A linguagem clara e correta
distingue a literatura romântica de qualquer tipo de literatura pornográfica, e
deve acrescentar à atmosfera de um mundo atraente que a maioria dos leitores
escaparia durante a leitura do romance. Palavrões no original inglês são
suavizados; interjeições virão “Droga”” e “son-of-a-bitch” torna-se
“desgraçado”. “Penis” é eufemisticamente descrito como “sua região íntima”. E,
como visto acima, qualquer idéia de vulgaridade em termos de vestuário é
modificada.
4
Citando entrevista de Henrique Monteiro, antigo editor chefe da editora Nova Cultural.
6
O romance também contém um elemento educacional. Embora as
mulheres leitoras (e também um grande número de homens leitores) fossem
provenientes de várias classes sociais, um grande número de leitores possuía
poucas habilidades de leitura. Dessa forma, o texto deveria ser limpo e simples,
mas deveria, também, ser escrito em Português correto e, tais textos poderiam
ajudar a melhorar as habilidades de leitura.
5
Nesse trecho específico, referindo-se, às coleções da década de 1970 e 1980, o
editor enuncia sua função cultural de melhorar as habilidades de leitura do leitor com
dificuldades, justificando assim as interferências no texto, por si só, considerados muito
ruins.
6
Ele identifica também diferentes traduções para diferentes públicos. Para
exemplificar, As viagens de Gulliver título cujas várias traduções e adaptações
apareceram em diferentes edições conforme o público leitor pretendido (leitores de
literatura, assinantes de clubes do livro, leitores de livros baratos e crianças)
7
Na verdade, a questão da tradução é bem complexa e, no entender de MILTON
(1999), sofre com algumas interferências tanto do público a que se destina, mas,
também, do momento em que são feitas. Seu exemplo é o clube do livro durante os anos
de 1968-1972 em que algumas traduções conseguiram escapar da censura por estarem
em um lugar considerado favorável ao governo. Em seu trabalho, ele identifica algumas
obras com mensagens “socialistas” que escaparam dos cortes e intervenções apenas com
uma tradução “cuidadosa” e por estarem no lugar em que estavam: o clube do livro,
considerado um lugar conservador para publicações. Essa observação valoriza o papel
do editor.
.
(MILTON 1999:51)
5
Monteiro also insisted that the romance series of Nova Cultutal, Sabrina and Julia, did not use slang or
sub-standard language, and that any kind of grotesque images were taken out or altered. Correct and clear
language would distinguish romantic literature from any kind of pornographic literature, and add to the
atmosphere of the attractive world to which most readers would escape to when reading romances. Swear
words in the English original were softened: interjections became “Droga!”, and “son of a bitch” became
“desgraçado”. “Penis would be euphemized to something like “sua região mais íntima”. And, as seen
above, any idea of vulgarity in terms of dress was modified.
The romances also contained an educational element. Although female (and also a large number of male)
readers came from various social classes, a large number of readers had poor reading skills. Thus the text
should be clear and simple, but it should also be in correct Portuguese, and such texts might help to
improve reading skills.(MILTON, 1999:63)
6
As coleções comentadas (Julia e Sabrina) tinham seus textos originários, basicamente dos livros
publicados pela Mills & Boon e, ainda segundo Monteiro, eram de péssima qualidade.
7
Especificamente sobre o texto Viagens de Gulliver, há um trabalho de analise das adaptações do texto
original para o Brasil de autoria de VIEIRA (2004).
7
A universalização da escolaridade, a urbanização e todos os processos
elencados são característicos e também levam a um aumento do público leitor com
peculiaridades bem diferentes do leitor do século XIX. CHARTIER & HEBRARD
(1991) analisam os efeitos da expansão da quantidade de material impresso e do
aumento da leitura “livre” associando esse processo a uma crescente preocupação,
principalmente da Igreja, com as leituras “ruins” (”mauvaises lectures”) que devem ser
censuradas e com a necessidade de criar livros bons. Eles identificam uma distância
entre a leitura escolar (regrada, dirigida e controlada) e a leitura livre. A partir dessa
constatação, os setores mais conservadores da sociedade preocupam-se, também, com o
regramento da leitura, em especial nos lugares em que é livre. A Biblioteca, vista como
lugar de leitura, exigia uma intervenção de “apoio” ao leitor inexperiente e a figura do
Bibliotecário aparece em alguns textos do período como um “higienista da leitura”. De
maneira mais ou menos análoga, o editor e a coleção por ele organizada cumpririam a
função de “educar” o público e poupar ao leitor neófito o trabalho de selecionar aquilo
que merece ser lido. (OLIVEIRO, 1999)
Ocorre que, com maior ou menor grau de critério, uma coleção é sempre uma
estratégia comercial e, portanto, os mecanismos de escolha escapam em parte aos
projetos idealizados por seus organizadores.
O que está subjacente a essa expansão do público leitor e ao aparecimento de
uma leitura desregrada e fora dos bancos escolares é a presença, ou não, de um projeto
de ilustração do leitor comum. A seguir as discussões dos estadounidenses, o projeto
civilizador é inequívoco, segundo RADWAY. Se analisarmos do ponto de vista da
Inglaterra, o embate é muito mais complexo uma vez que a aristocracia nobiliárquica
luta para manter a distinção e não a civilização dos grupos recém construídos.
Para a França, o processo de “higienização da leitura” aparece, mas também o
projeto educativo do editor de coleções (OLIVEIRO,1999). Para o Brasil, o recurso a
coleções é constante, a partir da década de 1930 e, em especial, na Companhia Editora
Nacional. De fato, um projeto de civilização do leitor por meio de uma legitimação
da leitura “escolhida” pelo editor, editor esse que é, sempre, uma autoridade intelectual.
Partindo-se do princípio de que as condições sócio-econômicas e culturais
brasileiras tornavam possível a formação de um público que, completado o ensino
médio, poderia ler livros de interesse/cultura geral e que havia no Brasil, à época, várias
editoras adotaram a estratégias de coleções, cujos perfis de seleção de leitura eram
semelhantes, voltadas para o mesmo público. Nem todas convidaram educadores de
8
renome para dirigi-las como no caso da Espírito Moderno da Companhia Editora
nacional. Seu diretor, pelo menos durante sua fundação, foi Anísio Teixeira – renomado
educador, cuja polêmica em torno de seu nome se fez com a Reforma do Ensino do
Distrito Federal (1931-1935). Quais seriam as especificidades de uma coleção
organizada por uma figura como Anísio Teixeira? Como as escolhas de Anísio e de
Monteiro Lobato (seu principal tradutor, da fase inicial) poderiam traduzir um projeto
de ilustração do leitor?
Essa questão levou a outras que, a partir de em CHARTIER (1988) e
CARVALHO e TOLEDO (2004) orientou o trabalho de pesquisa: Qual foi, então, a
organização do programa de leitura e formação do leitor médio proposto por Anísio
Teixeira na Biblioteca do Espírito Moderno? Como esse projeto de formação conciliou
as necessidades de formação e as exigências de uma editora comercial? Quais as
representações do leitor inscritas na materialidade da coleção? Esse programa de
formação seria complementar ou concorrente à escola? Como compreender a
representação que os editores deveriam ter do público leitor? Seria essa representação
semelhante nos vários países em que essas obras circularam?
Para esse trabalho, procurei investigar a história da coleção “Bibliotheca do
Espírito Moderno”
8
Ao fazer estas questões, outras apareceram.
da Companhia Editora Nacional. Para tanto busquei compreender a
materialidade daquela coleção e os circuitos que levaram certos títulos e não outros, à
edição e circulação dentro da coleção.
Que tipo de leitor os editores da coleção tinham como alvo? Em que medida a
formação do cidadão e do ser humano proposta pela coleção coincidiam ou
acrescentavam valores à formação do jovem universitário ou do professor secundário?
Que tipo de formação seria a desejável para o público leitor da coleção? Que
mecanismos tornaram possível a utilização dessa coleção de “cultura geral” por um
público que, inicialmente, não era o seu intento, formado por professores secundários e
alunos universitários? Quais foram as estratégias de edição, seleção de textos e de
divulgação que tornaram possível esse deslocamento?
8
A Biblioteca “Espírito Moderno” teve seu primeiro volume da 1ª. série publicado em 1936 (História da
Filosofia de Will Durant com 12 reedições) e seu último novo título publicado em 1977 (Sementes de
Civilização de Charles B. Heiser Jr.) e a sua última reedição em 1982 (História da Filosofia Ocidental de
Bertrand Russell).
9
TOLEDO (2001) analisando os estudos sobre livros e leitura no Brasil,
comenta:
Há muitas lacunas que ainda não puderam ser superadas como, por
exemplo, a de uma história material dos livros que estabeleça as relações entre
os formatos e os gêneros de livros e os lugares de sua circulação; as inovações
e os conflitos que estas podem ter criado no mundo editorial; as estratégias e
as práticas específicas dos diferentes editores nos diferentes períodos, na
disputa do mercado editorial; as editoras de outras regiões do Brasil, não
consideradas por Hallewell e suas dinâmicas específicas de funcionamento etc.
Uma outra dificuldade para o historiador do livro e das edições é o aceso aos
arquivos das editoras, nem sempre abertos a todos que se interessem por
pesquisar essa história. (TOLEDO,2001:7-8)
Estudo feito quase uma década, sua tese de doutorado abriu caminho para
várias outras pesquisas que tivessem como base o estudo de uma coleção, em particular
as da Companhia Editora Nacional.
No caso da Companhia Editora Nacional, inicialmente, tive acesso a grande
parte dos arquivos da empresa e a sua biblioteca histórica. O acesso às informações e
arquivos foi facilitado e favorecido por um momento em que os arquivos estavam em
sua maioria higienizados e com uma organização prévia estabelecida, esse trabalho
no arquivo foi feito sob a coordenação da profa. Dra. Maria Rita de Almeida Toledo.
9
Quando eu estava no meio da pesquisa, o acesso aos mesmos arquivos foi
fechado e, apenas no final de 2009 e início de 2010 parte desse material foi destinado à
Unifesp, mas está em processo de mudança e, portanto, todos os arquivos fechados.
A
dificuldade veio, então, do excesso de documentos, nem todos catalogados e
organizados.
Assim, minha pesquisa centrou-se em parte desse arquivo. A correspondência
internacional, as fichas de edição, as fichas de produção, os catálogos e a pouca
documentação remanescente do DEPED - Departamento Editorial, tais como pareceres
de tradução e de escolha de títulos, majoritariamente da década de 1970.
A pesquisa de mestrado de BEDA (1987) sobre o proprietário da Nacional:
Octalles Marcondes Ferreira, a tese de minha orientadora, Professora Maria Rita de
Almeida Toledo (TOLEDO, 2001) e a dissertação de mestrado de LEAL (2003) sobre a
coleção Iniciação Científica facilitaram o levantamento e a organização dos dados.
Junte-se a esse material, a dissertação de mestrado de LANG sobre a Biblioteca das
9
cf. - Anexo 1 – Estrutura do arquivo histórico da Companhia Editora Nacional e TOLEDO (2009)
10
Moças e a tese de doutorado de ALMEIDA FILHO (2008) sobre Theobaldo de Miranda
Santos e sua coleção na Companhia Editora Nacional.
Outro trabalho também desenvolvido no mesmo arquivo é o de MASCULO
(2008) sobre a coleção Sergio Buarque de Holanda. Em sua tese de doutorado,
MASCULO adentra os meandros das discussões referentes a um livro didático que,
inovador, foi uma aposta do departamento editorial na seção didáticos em um momento
de mudanças do mercado editorial.
Todos esses trabalhos participam de um mesmo objetivo: mapear os diferentes
tipos de documentação encontrados no arquivo histórico da Companhia Editora
Nacional. Na realidade, para melhor compreender o significado da editora e da
estratégia de organizar coleções, analisar as várias coleções que compõem o leque
editorial da CEN ao longo de várias cadas é, também, compreender a representação
que os editores fizeram dos leitores pretendidos por cada uma das séries e coleções e,
também, analisar como, diante do que é possível obter no mercado, coordenaram as
escolhas e recusas de cada um dos editores.
Essa talvez tenha sido a tarefa mais complicada. A partir de uma lista de títulos
oferecidos, quais seriam os critérios de escolha de cada editor? Como estabelecer quais
títulos negociar e quais abrir mão? Como lidar com a concorrência das outras coleções
de outras editoras?
BEDA (1987), ao propor uma análise da atuação editorial de Octalles
Marcondes Ferreira, acaba fazendo uma história da própria editora que com ele se
confunde. Ao fazer esse primeiro movimento de mapear as principais coleções e
temáticas relativas à Companhia Editora Nacional (CEN), de certa forma, BEDA
compra as palavras de Lobato de que “Octalles foi minha maior invenção” e, por esse
pressuposto, escapam lhe das mãos detalhes relevantes da história da editora. Trabalho
parcialmente apoiado em história oral, a pesquisa de BEDA(1987) tentou analisar o
homem e sua relação com Lobato e outros e, em seu trabalho, o leque editorial da
Companhia é analisado de um ponto de vista do editor-proprietário e de forma global.
Ao analisar a saída de Lobato da Companhia Editora Nacional (CEN),
BEDA(1987) se utilizou fundamentalmente da correspondência de Lobato, de sua
biografia feita por um biógrafo-amigo Edgard Cavalheiro e do relato de Nelson Palma
Travassos, também amigo e autor de livro de memórias sobre Lobato (Minhas
11
memórias dos Lobatos). Pouco ou nada se ouviu do significado desse rompimento para
a editora e seu proprietário/editor Octalles
10
Como o foco do meu trabalho é a história da coleção “Bibliotheca do Espírito
Moderno
.
11
Quanto ao trabalho com coleções, em si, a base de onde tirei muito da
metodologia e das estratégias de construção de gráfico é a tese de TOLEDO (2001) que,
analisando uma coleção com autoria bem definida em seus dois momentos e voltada
especificamente para o temário da educação (Atualidades Pedagógicas) suscitou uma
série de questões que deveriam ser pesquisadas. Para começo, o que seria uma coleção
com um organizador/editor renomado? Qual o efeito dessa figura nas estratégias de
compra e negociação de títulos. Qual o limite da atuação do editor?
da Companhia Editora Nacional, os personagens que aparecem na
pesquisa ganham ou perdem relevância conforme sua atuação e importância para a
coleção e não especificamente para a editora..
Essas questões aparecem, em seu trabalho, voltadas para os dois períodos
distintos em que a coleção Atualidades Pedagógicas se divide, conforme o organizador
responsável: Fernando de Azevedo ou Damasco Penna. Com essa periodização, retirada
da materialidade da coleção (capas, prefácios, títulos, apresentações) ela identificou
uma mudança na seleção dos títulos. A escolha dos títulos traduzia, dentre outras coisas,
uma concepção de educação e dos saberes necessários para se tornar um educador.
Na realidade, porque trabalhou com a materialidade da coleção e dos livros,
TOLEDO (2001) pode distinguir os dois períodos que suportam seu trabalho. Essa
metodologia foi a mesma que utilizei para compreender meu objeto de pesquisa com
uma diferença. Enquanto a coleção Atualidades Pedagógicas possuía claramente dois
editores devidamente envolvidos na sua produção, para a Biblioteca do Espírito
Moderno essa análise foi um pouco mais complicada. Entretanto, também para ela, a
divisão dos períodos se faz de forma interna ao objeto e não segue, necessariamente, a
periodização da História do Brasil.
10
Apenas para a Biblioteca do Espírito Moderno, a saída de Lobato significou a perda de seu mais
importante tradutor e, também, a saída de dois dos poucos títulos nacionais (Hans Staden e Urupês). Sem
contar a perda de um de seus mais importantes editores Arthur Neves que, junto com Lobato saiu para
fundar a Editora Brasiliense.
11
A Biblioteca “Espírito Moderno” teve seu primeiro volume da 1ª. série publicado em 1936
(História da Filosofia de Will Durant com 12 reedições) e seu último novo título publicado em 1977
(Sementes de Civilização de Charles B. Heiser Jr.) e a sua última reedição em 1982 (História da Filosofia
Ocidental de Bertrand Russell). Quanto à coleção “Iniciação Científica” teve apenas 16 volumes
publicados.
12
Para a Biblioteca do Espírito Moderno, a questão do conjunto de saberes
também esteve presente desde sua gestação. O público, entretanto, era muito diferente
daquele almejado pela Atualidades Pedagógicas. Quem seriam os leitores e qual a
penetração de cada um dos títulos na sociedade brasileira? Quais os mecanismos
presentes na escolha de cada um dos elementos que compuseram a “marca” Biblioteca
do Espírito Moderno? Como a presença de duas figuras importantes na cena cultural
brasileira, Monteiro Lobato e Anísio Teixeira influenciaram e participaram dessa
escolha? Teria essa coleção um projeto cultural?
Na verdade, como demonstrado por OLIVERO (1999) e TOLEDO (2001), a
coleção se apresenta como uma estratégia editorial que configura o livro a
características específicas. Além disso, uma coleção é uma opção econômica.
... vemos que, ao adaptar o texto a uma determinada coleção com o
seu projeto gráfico específico, ou melhor, fixo, o processo de edição caminha
mais rápido, uma vez que, regra geral, não é necessário contar com o serviço
de um diagramador, de um capista, etc. [...] Em resumo, com um projeto
gráfico já planejado, o tempo gasto no processo de edição é reduzido quase
para a metade, o que, de certo modo, barateia também o custo da produção.
(GUINSBURG, 1997, p.53-54)
TOLEDO (2001), em seu trabalho sobre a coleção Atualidades Pedagógicas da
Companhia Editora Nacional, indicou a necessidade de pesquisas sobre as demais
coleções do mesmo projeto editorial. Dentre essas coleções: duas voltadas para o
público universitário e, conseqüentemente, para os futuros docentes da escola
secundária: Biblioteca do “Espírito Moderno”
12
, dividida em 4 séries
13
, e a Coleção
“Iniciação Científica”, analisada por parte da Biblioteca Pedagógica Brasileira
14
Segundo TOLEDO (2001):
.
Posteriormente, surge a Biblioteca Universitária, também voltada para o público
universitário e dividida em várias séries.
12
“visa coordenar para o público leitor brasileiro, dentre as obras consagradas pela aceitação
pública, aquelas que mais diretamente buscam condensar, esclarecer e popularizar a herança cultural da
espécie” - APUD: TOLEDO, (2001) p.51.
13
As quatro séries são: Filosofia; Ciências; História e Biografia; Literatura. Ao longo do tempo,
sem mudar a nomeação da série (1ª., 2ª. 3ª. e 4ª.), a série de História e Biografia apareceu em segundo
lugar na enumeração para evitar a repetição do “e”. (Filosofia, Ciências, História e Biografia e Literatura)
14
Segundo TOLEDO (2001) fazem parte da Biblioteca Pedagógica Brasileira as coleções:
Literatura Infantil, Livros Didáticos, Atualidades Pedagógicas, Iniciação Científica e Brasiliana.
13
A especialização do livro, do perfil do leitor, permite à editora uma
organização interna também especializada, coordenada pelo editor geral. Cada
coleção, que corresponde a um tipo de leitor, ganha um diretor que,
especializado no assunto, pode acompanhar atentamente os movimentos do
mercado, selecionar os manuscritos adequados e perceber, pelo conhecimento
das práticas culturais em torno dos leitores visados, as novas possibilidades de
expansão do livro naquela determinada fatia do mercado.
O editor geral, ao delegar a administração das coleções aos diretores
especializados, garante a pesquisa de manuscritos adequados ao público
visado, repondo permanentemente a imagem da coleção junto a este; permite a
homogeneização dos textos pelo editor responsável, repondo a identidade da
coleção a cada novo título, garante que as formas materiais da coleção sejam
condizentes com os usos aos quais a coleção está destinada e controla os
lugares de difusão do livro e seus impactos. (TOLEDO (2001:51)
Prosseguindo em sua análise sobre as coleções, TOLEDO (2001) explica a
íntima relação existente entre os organizadores de cada uma das coleções e o
credenciamento da mesma junto ao público leitor. Ao mesmo tempo em que seus
projetos serviam de plataforma para divulgar as idéias de seus grupos específicos,
inclusive com o lançamento de livros de autores consagrados ao lado de autores ainda
iniciantes.
Por ser um tipo muito particular de edição, uma coleção implica em algumas
considerações diferenciadas. O tipo de texto selecionado, a diagramação, a escolha do
tipo gráfico, a linguagem e, no caso da Biblioteca do Espírito Moderno, da tradução.
Nesse sentido, “a representação que os editores fazem do leitor conforma, então, as
mudanças e adequações inseridas nos livros” (TOLEDO, 2001: 2). Essa conformação
abrange, também, a escolha de textos e autores.
SORÁ (1998), comentando os estudos de editoras e editores no Brasil, identifica
uma certa “fama” que algumas editoras adquirem que, mesmo quando os dados a
desmentem, ela não se desfaz. Tal é o caso da Livraria José Olympio que ficou marcada
por ser uma editora voltada para a produção literária nacional mesmo quando 55% das
obras por ela publicadas era compostas de traduções; o mesmo acontecendo com a
Livraria e editora Globo que foi estigmatizada como editora de traduções, apesar dos
esforços de Érico Veríssimo de publicar autores brasileiros; ele próprio autor e editor,
foi o responsável pelo lançamento de Mario Quintana no mundo literário.
Para os livros didáticos, SORÁ (1998) identifica duas editoras: a Melhoramentos
para os livros infantis e a Companhia Editora Nacional para os didáticos do secundário
14
e universitários. Não é demais reafirmar que este é o estigma” que ficou marcado nos
literatos e agentes para as editoras e tal não corresponde, necessariamente, à realidade
15
Acontece, segundo SORÁ (1998), que a contribuição que cada uma ofereceu no
“campo” em que ficou “especializada” foi tão marcante que, mesmo com um naipe
editorial diferenciado, as editoras se caracterizam pela contribuição (e pela memória que
constroem) e não pelos dados.
Trabalhando com o vastíssimo arquivo da José Olympio, com HALLEWELL
(2005), as memórias de Érico Veríssimo sobre seu trabalho na livraria e editora Globo
(Um certo Henrique Bertaso), a documentação da José Olympio, os ABL (Anuário
Brasileiro do Livro) e entrevistas com alguns personagens que participaram do processo
de construção da José Olympio, SORÁ (1988) utiliza as discussões referentes à
estratégia de construir coleções apenas como forma de iluminar o foco de seu trabalho;
a história da Livraria José Olympio Editora. Nessa história da editora, o centro das
preocupações de SORÁ (1988) são as relações pessoais, a sociabilidade dos principais
personagens e as relações entre autores e editores que ganham extrema relevância no
caso da José Olympio, inclusive por conta das relações extremamente pessoais
desenvolvidas por seu proprietário com políticos, escritores e ilustradores.
Ao mesmo tempo, esses problemas são condicionados e condicionam a seleção
de fontes capazes de responder a determinadas questões implícitas quando na escolha do
objeto de pesquisa.
FRANZINI (2006), em seu doutorado, pesquisa uma coleção publicada pela
José Olympio Editora, a “Documentos Brasileiros”. Sua preocupação com a mesma é a
transformação da historiografia nacional, e para conseguir desenvolver seu tema, viu-se
obrigado a analisar as escolhas de cada um dos editores da coleção por ele pesquisada.
Como o autor está focado na coleção concorrente, faz uma rápida avaliação dos
autores da coleção Brasiliana da Companhia Editora Nacional para descartá-la com
“demasiado paulista”. 16
15
Embora marcada como editora de livros didáticos, a Cia. Editora Nacional foi, talvez a primeira editora
a construir uma estratégia de inserção nos mercados internacionais, notadamente nos de língua
portuguesa. Para tanto, a empresa precisou construir um leque editorial que fosse além dos livros
didáticos cuja produção teria um caráter mais local, voltado a atender tanto a legislação quanto os
interesses dos colégios que os adotariam. Por esse motivo, houve um grande investimento em livros de
Literatura e livros de formação mais geral (tais como os da Biblioteca do Espírito Moderno).
16
O texto do autor é: “Ainda assim, mesmo tomada sob a perspectiva do conjunto das brasilianas
da época, a série da José Olympio se distingue das demais por duas características cruciais para os
propósitos deste trabalho: a primeira diz respeito a seu caráter “nacional”, uma vez que contemplava tanto
representantes do campo intelectual do eixo Rio de Janeiro-São Paulo quanto do nordeste, enquanto suas
congêneres voltavam-se mais para a produção de seus locais de origem (São Paulo, no caso da Nacional e
15
Entretanto, no caso das coleções mais prestigiadas, uma disputa ferrenha
pelos melhores títulos. Isto porque foram concebidas e circularam em uma época de
grande crescimento da indústria livreira e gráfica17 bem como as estratégias dos
Estados Unidos para negociar seus títulos, até mesmo em uma coleção sobre temas
brasileiros.18
Outro autor que trabalha com estratégia de seleção de títulos, porém com outro
foco é John Milton (1999). Como sua atenção é para as traduções e adaptações feitas
pelo Clube do Livro no Brasil, MILTON se obrigado a comentar as escolhas dos
editores tanto sobre os títulos quanto sobre a censura a passagens e autores. Seu trabalho
é, em parte, tributário da discussão de RADWAY (1997) sobre o Book of the month
club de Nova York. Nessa pesquisa, a autora utiliza o conceito de “middlebrow19
Meu trabalho buscou compreender os mecanismos de seleção dos títulos e as
estratégias de circulação dessas obras voltadas para o leitor “médio”. Como a Biblioteca
do Espírito Moderno está, em grande parte, associada à figura de Anísio Teixeira que,
efetivamente, possuía um projeto de ilustração do leitor e idéias muito claras sobre o
tipo de obras que mereciam ser traduzidas, o trabalho acabou organizando-se a partir da
negociação dos títulos impressos.
” para
comentar a cultura típica de uma classe social em ascensão porém sem as ferramentas
mentais capazes de apreciarem a alta cultura mas pressionada para discutir tais temas.
Essa classe, segundo a autora, é o foco do Clube do Livro do Mês nova iorquino que,
aproveitando-se dos serviços postais e da melhoria das condições de transporte no país,
expandem suas ações para todo os Estados Unidos.
Para analisar as questões relativas ao leitor médio, os pressupostos de
RADWAY(1994) e RADWAY & KAESTLE (2009) foram excelentes contrapontos
para pensar a influência estadounidense de Anísio Teixeira. Compreender que havia
efetivamente um projeto de civilização” do leitor neófito por parte de alguns
educadores dos Estados Unidos e da importância da representação que os editores das
coleções possuíam do seu público, estruturou a análise das seleções feitas. Por outro
da Martins, Rio de Janeiro, no caso da Schmidt); a segunda é o prestígio que adquiriu junto aos círculos
letrados da época, que fazem dela “o local de máxima consagração para os autores de acordo com Heloisa
Pontes.” (FRANZINI, 2006:14)
17
A carência de títulos verdadeiramente interessantes em alguns períodos, notadamente na década de
1940, tornou possível a encomenda de temas e títulos.
18
Tal é o caso de “Do Escambo à Escravidão”, publicado na Brasiliana mas negociado em um pacote de
compra de direitos com a intervenção da AMCHAM (American Chamber for development of commerce).
19
Uma tradução desse termo que utilizarei é “meia cultura”. Essa escolha se deve ao fato do termo
aparecer nas propagandas da coleção Biblioteca do Espírito Moderno.
16
lado, não como negar que o conceito de representação de CHARTIER colaborou
para pensar na influência que os editores teriam não apena na seleção dos textos mas,
também, na organização formal dos títulos selecionados.20
O trabalho de MILTON alertou para as várias formas de compreender a
tradução de um texto e, também, as rias formas de se compreender a inserção dessa
tradução no contexto da produção do livro. A Biblioteca do Espírito Moderno se
construiu fundamentalmente de traduções e pensar sobre elas de um ponto de vista
empresarial foi muito importante. Acontece que uma diferença na maneira de se
pensar na tradução. BENJAMIN analisa a questão de um ponto de vista mais voltado
para a tarefa impossível do tradutor de traduzir não o texto mas a cultura em que o texto
se insere. Para MILTON que observa a tradução do ponto de vista editorial, a tradução é
uma questão de adaptação do texto, do vocabulário e do estilo ao público leitor.
O acervo histórico da Companhia Editora Nacional e a formação de
leitores “médios”
Ainda nas minhas pesquisas de mestrado, como já comentado, encontrei a
Revista Escola Secundária21
Uma das atividades da CADES era organizar e promover cursos de preparação
para os professores “leigos” do ensino secundário. Ou seja, aqueles professores que
provenientes de outras profissões e que embora possuíssem curso superior, não haviam
cursado Licenciatura nas disciplinas que ministravam.
, órgão editado pela CADES (Campanha de
Aperfeiçoamento e Desenvolvimento do Ensino Secundário), pertencente ao Ministério
da Educação.
Para esses professores, o Ministério da Educação oferecia a possibilidade de
fazer um exame que o habilitasse ao magistério. Nesses cursos, a revista Escola
Secundária era distribuída.
Fazia parte da atuação da CADES, distribuir “kits” para os professores e
escolas que participavam dos concursos por ela promovidos. Eram “kits” de laboratório
ou de livros. Nesses “kits” de livros, encontrei alguns títulos que não eram didáticos e
20
Notas de rodapé, notas dos tradutores, seleção e alteração de termos e exclusão de trechos são alguns
dos expedientes utilizados para adaptar um texto a seu público.
21
Cf. FONSECA (2004)
17
nem voltados para o público escolar de qualquer nível. Eram leituras para o “público em
geral”, muitos dos quais da coleção Biblioteca do Espírito Moderno da Companhia
Editora Nacional.
O caminho percorrido por essas obras começou a intrigar. Quem eram os
leitores originais desses livros? Quais os processos que colocaram esses títulos em uma
realidade escolar?
Á época, minha pesquisa levou-me para outro caminho e a Revista Escola
Secundária acabou ficando em segundo plano.
Meu foco era analisar a “qualidade de ensino” e a expansão da escola
secundária na memória dos professores que lecionaram nesse grau de ensino,
anteriormente à LDB.
Defendido o mestrado, continuei participando do grupo de pesquisas da PUC-
SP, coordenado pelas professoras Marta Maria Chagas Carvalho e Maria Rita de
Almeida Toledo. Ainda interessada na expansão do ensino secundário e no impacto que
esse crescimento significava tanto para a escola quanto para o mercado de livros e
impressos em geral, reencontrei a Biblioteca do Espírito Moderno e, nesse grupo, a
Companhia Editora Nacional reaparece.
Nesse meio tempo, minha orientadora, prof. Dra. Maria Rita de Almeida
Toledo foi convidada a organizar o arquivo histórico da IBEP/CEN22
Essa documentação era bastante variada. De um lado, a Biblioteca do Espírito
Moderno estava quase completa (faltavam 5 livros); de outro, um imenso acervo de
fichas de edição, mapa de edição, fichas de produção e, a correspondência internacional
da CEN, devidamente higienizada e parcialmente organizada.
. Organizando o
arquivo, a professora Maria Rita apresentou-me a documentação que poderia
possibilitar a pesquisa sobre a Biblioteca do Espírito Moderno.
O próximo passo foi vasculhar as revistas das Faculdades da Universidade de
São Paulo à procura de indicações dessas obras encontradas na revista Escola
Secundária. Nesse processo, identifiquei que, apesar da Biblioteca do Espírito Moderno
ter sido montada e pensada para o leitor “médio”, vários de seus títulos apareciam em
resenhas de revistas dos departamentos universitários e, para minha surpresa e
ingenuidade, alguns títulos em co-edição com a Editora da Universidade de São Paulo.
22
IBEP – Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas. CEN – Companhia Editora Nacional
18
Dessa maneira, articulada a um grupo de pesquisa e próxima a um arquivo
riquíssimo e com uma documentação ainda inexplorada, começou meu projeto de
doutorado. Esse projeto desenvolveu-se em paralelo ao de outros colegas que
compuseram um novo grupo de pesquisa cujo objetivo maior era explorar e desvendar
as estratégias de edição e circulação dos títulos e coleções da CEN. Dirigido pela
professora Maria Rita, cujo trabalho sobre a coleção Atualidades Pedagógicas da CEN
serviu de ponto de partida, esse grupo produziu algumas teses e dissertações que muito
auxiliaram no desenvolvimento do meu trabalho23
As questões que se apresentavam, apoiadas em CHARTIER (1988) e em
CARVALHO E TOLEDO (2004), estavam articuladas em torno de algumas perguntas
sobre a representação que o editor deixava transparecer do seu “leitor médio”. Que
valores, que temáticas, que questões eram importantes? Como os tulos foram
selecionados e negociados e quais as estratégias escolhidas para colocar o texto em
circulação? Como o sucesso e o fracasso de alguns títulos pode ser avaliado pelos
editores? Que mecanismos foram utilizados para anunciar os títulos e para vendê-los?
.
A partir de CHARTIER (1988) foi possível identificar algumas das
“representações” que os editores possuíam do leitor, sempre levando em conta que
forjadas por interesses de grupo e, também, pelo momento em que os agentes viviam.
As representações do mundo social assim construídas, embora
aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são
sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí,
para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos
com a posição de quem os utiliza. (CHARTIER, 1988:17)
A partir da pesquisa de documentação, sua leitura e análise de dados, esse
projeto de doutorado inscreveu-se no projeto de pesquisa financiado pelo CNPQ
intitulado: “Livros para professores: levantamento e análise de dados para o
mapeamento de sua produção e circulação (1850-1950)” e liderado pela Profa. Dra.
Marta Chagas Carvalho e pela Profa. Dra. Maria Rita de Almeida Toledo do qual fiz
parte.
Justificado como se segue:
Estudos sobre impressos de destinação pedagógica e seus usos
escolares vêm-se constituindo em importante campo de investigação
23
Refiro-me aos trabalhos já citados de LEAL, LANG, ALMEIDA FILHO e MASCULO.
19
historiográfica. Pondo ênfase nos suportes materiais da produção, circulação e
apropriação dos saberes pedagógicos, a maior parte desses estudos adota, no
entanto, uma concepção estrita de materialidade, deixando de analisar a
configuração material do impresso como forma produtora de sentido. Nas
pesquisas já realizadas no âmbito de Projeto Livros e revistas para
professores: a caixa de utensílios, o Tratado e a Biblioteca, que vem sendo
desenvolvido pela Coordenadora, com bolsa de Produtividade de Pesquisa do
CNPq, foi possível identificar e caracterizar três modalidades de configuração
material do impresso. A partir delas foi possível construir três modelos de
relação entre pedagogia e usos do impresso: “Caixa de utensílios”, “Tratado
de Pedagogia” e “Biblioteca para professores”. Valendo-se desses três
modelos como recursos de descrição, caracterização e comparação de
materiais impressos destinados ao uso de professores, o projeto propõe-se a
levantar um corpus de livros de pedagogia em circulação em São Paulo, no
período 1850-1950, analisando-os como dispositivos que compendiam os
saberes tidos como necessários à prática docente. Concentra-se, assim, na
análise de três questões: a) a da relação entre pedagogia entendida como arte
de ensinar e o modelo que propõe o impresso como Caixa de Utensílios; b) a
da relação entre a chamada pedagogia da escola nova e as estratégias
editoriais de constituição de Bibliotecas para Professores; c) e a da relação
entre teoria e prática, posta em cena no Tratado de Pedagogia, modelo que se
propõe como totalização do campo dos saberes pedagógicos, entendidos estes
como saberes derivados de conhecimentos científicos. Propondo-se a
investigar a abrangência e os limites desses modelos e considerando-os como
estratégias concorrentes de regulação das práticas escolares e de constituição e
organização do campo dos saberes pedagógicos representados como
necessários à prática docente, esse projeto propõe-se também a levantar dados
para o mapeamento da produção e circulação desses impressos. Com esses
objetivos, o projeto propõe-se a construir Bancos de Dados sobre livros e
coleções de Pedagogia, no período 1850-1950. (CARVALHO E TOLEDO,
2004)
Seguindo este raciocínio, não basta apenas descrever a materialidade da
coleção, é fundamental reconhecer no impresso sua configuração “produtora de
sentido”, observando as relações acima apontadas no campo do Ensino Secundário e das
faculdades de licenciatura. Essa relação entre conhecimentos pedagógicos, conteúdos
disciplinares e práticas docentes podem enriquecer a reflexão sobre a coleção.
Além disso, como ressalta CARVALHO E TOLEDO (2004), os conceitos de
estratégia e apropriação ganham centralidade nos procedimentos de construção do
questionário investigativo.
O projeto inscreve-se no território conceitual traçado pelas proposições
historiográficas de Roger Chartier (1987;1994;1996) e de Michel de Certeau (1994;
1990). Nesse território, são centrais os conceitos de materialidade do impresso;
estratégia e apropriação. Levar em conta a materialidade do impresso é atentar para os
dispositivos textuais e tipográficos de produção de sentido, analisando a configuração
20
material do livro como forma produtora de sentido. O conceito de estratégia, tomado a
Certeau, remete a práticas cujo exercício pressupõe um lugar de poder, pondo em
evidência dispositivos de imposição e normatização referidos a lugares de poder
determinados. Analisados como produtos de práticas de apropriação, os materiais
impressos remetem a práticas de transformação de matérias sociais específicas, postas
em circulação. Enquanto prática de transformação, a apropriação supõe a situação
particular de uso dos materiais impressos, em que agentes dotados de competências
específicas produzem com ele um novo objeto cultural, segundo procedimentos técnicos
e regras de uma finalidade condicionada por uma posição. A tríade conceitual aludida
permite pensar a questão da produção e da circulação do impresso em uma dupla chave:
a das estratégias de sua produção e difusão e a das práticas de sua apropriação segundo
regras não previstas no contexto de sua produção. Pode-se, assim, examinar o impresso
pondo em relevo, por exemplo, as estratégias de uma casa de edição, examinando fontes
como catálogos de editoras, propagandas, etc. De uma outra perspectiva, pode-se
examinar o mesmo impresso, dando destaque a outro tipo de documentação como, por
exemplo, Relatórios de Inspetores ou recomendações e críticas bibliográficas de revistas
especializadas, de modo a dar conta dos modos como um mesmo impresso é lido,
recomendado ou censurado em diferentes situações de uso.
Um outro aspecto importante no desenrolar do trabalho foi a idéia de
circulação dos textos impressos. Por se tratar de uma coleção predominantemente
constituída de traduções, a Biblioteca do Espírito Moderno acabou por inscrever-se no
cenário internacional, ao lado de outras coleções brasileiras do período, num processo
de busca por autores e títulos mais ou menos comuns a vários países. Essa inscrição
levou-me a entrar em duas questões: o mundo dos Best Sellers e das negociações de
títulos que, por conseqüência, leva a questão da circulação de idéias e representações
via impresso e da apropriação local de cada um dos títulos negociados e a questão da
tradução que, vinculou-se à questão da representação a partir do momento em que um
certo tipo de tradução implica em uma representação do leitor.
Para acompanhar uma coleção com duração tão extensa quanto a Biblioteca do
Espírito Moderno (1938-1980) foi necessário o acompanhamento dos vários momentos
do movimento editorial e, o que foi central em minha pesquisa, as mudanças e
transformações ocorridas no seio da própria coleção que, em última análise, respondiam
a duas lógicas complementares: o mercado editorial (títulos oferecidos, preços,
negociações e traduções) extremamente vinculado aos aspectos econômicos mais
básicos (preço do dólar, burocracia e política de comércio internacional) e as
transformações no perfil do leitor pretendido e representado (intervieram nesse aspecto
a escolarização e a urbanização como fatores preponderantes mas, também, as
mudanças culturais por que passou o país e o mundo).
21
Durante o exame de qualificação duas sugestões da banca foram fundamentais
para a construção do trabalho. A professora Marta Carvalho argumentou que explorar a
figura do educador Anísio Teixeira, organizador da coleção, e seu projeto de educação e
civilização do brasileiro, para além do campo estrito da educação, enriqueceria o
significado da coleção e da escolha de alguns títulos. Com esse pensamento, encontrei o
curso por ele ministrado denominado Educação e o Espírito Moderno, anterior à
coleção, mas cujos objetivos demonstravam preocupações recorrentes. Esse olhar para
Anísio Teixeira tornou possível pensar a aproximação entre os projetos de ilustração do
leitor comum proposto tanto por Anísio quanto pelos editores analisados por RADWAY
(1997).
O professor Kazumi Munakata sugeriu que minha análise explorasse a vida dos
títulos e das coleções para além da Companhia Editora Nacional. Seguindo esta
sugestão, analisei os títulos da concorrência no Brasil e, a história de alguns títulos no
panorama internacional. Identifiquei, com isso, uma verdadeira internacionalização dos
títulos, com uma concorrência mais ou menos acirrada pelos melhores títulos. Ao
mesmo tempo, analisar as coleções que se organizaram após a década de 1960, ofereceu
uma dimensão interessante para compreender o desmonte da Biblioteca do Espírito
Moderno.
Esses dois aspectos acabaram ganhando centralidade na compreensão das
interfaces da coleção com o seu editor e, também, com o público leitor.
A organização do arquivo histórico da CEN
A lógica da organização do arquivo histórico da Companhia Editora Nacional
construiu-se a partir de duas necessidades. De um lado, a necessidade legal de manter os
arquivos relativos a direitos autorais e trabalhistas; de outro, o arquivo histórico
revitalizado, higienizado e dividido em pastas e armários cuja lógica segue o esquema:
22
Esboço do arquivo CEN/IBEP
Geral
Editorial
Comercial
Jurídico
Editores
Financeiro
Instituições
(CBL, INEP, INL,
MEC, SNEL,outros)
Produção Autores Outras editoras Leitores
propaganda filiais distribuição
Figura 1 – esboço do Arquivo CEN/IBEP
Conforme observamos, uma lógica na estruturação dos documentos
decorrentes do lugar de produção. A maior parte da documentação por mim analisada
localiza-se em três departamentos: Comercial, editorial e outras instituições. Ao longo
dos quase 50 anos da coleção, a característica e mesmo a existência de cada um dos
documentos variou enormemente. Assim, ao longo de toda a história da coleção a única
documentação constante para todos os anos e todos os livros foi a ficha de edição.
Documentação transcrita a posteriori em relação à década de 1940, baseada em outras
fichas e, também, no grande mapa de edição da Companhia. Livro em que todas as
publicações ganham um número e são acompanhadas desde o momento em que entram
em produção.
23
Figura 2 - exemplo de caderno com cópia de fichas de edição (Repare-se que
há uma sombra do verso da ficha e anotações à lápis).
24
Observando-se uma dessas fichas de edição é possível identificar o número de
exemplares, o número de edições, o preço e a gráfica que o imprimiu. O preço da
gráfica, em especial, no começo da coleção é bastante visível mas, à medida que o
tempo passa, (e a inflação aumenta), o preço da gráfica ou desaparece ou fica bem
rasurado com dois ou três preços diferentes para a mesma edição. Analisando as
planilhas da coleção Biblioteca do Espírito Moderno, foi possível identificar os maiores
sucessos, os investimentos mais importantes e a migração de títulos de uma coleção
para a outra.
Esses dados em si não significam muito mas, ao obter a listagem de todos os
títulos publicados, o ano de publicação e o número de reedições, pude comparar com as
listas de Best Sellers nos Estados Unidos e na Inglaterra, bem como analisar o tempo
transcorrido entre a edição no país de origem e no Brasil. Também nessas fichas, pude
obter o preço de custo e o preço de venda dos títulos que, comparados com os dados do
Censo e com outras fontes, tornou possível avaliar o que significava no orçamento de
um trabalhador a compra de um título de coleção e o investimento que tal aquisição
significava.
Quanto às fichas de produção, as mesmas foram, provavelmente, compostas
para acompanhamento de pagamento de direitos autorais e, também, de contratos. Elas
fornecem informações como: tipo de contrato, agente literário, endereço do agente,
condições de contrato, preço pago em moeda estrangeira e nacional e forma de
pagamento (cheque, depósito ou outra forma). Nem todos os títulos da coleção possuem
essa ficha. São apenas 42 fichas de 35 títulos, dos quais um não foi editado e outro tem
o registro de edição mas não foi encontrado. Há, ainda, um título que pertence à
Biblioteca Universitária que foi alocado junto com a Biblioteca do Espírito Moderno (A
Filosofia de Leibniz de Bertrand Russell) e dois títulos repetidos porque mudaram de
nome na edição brasileira: On Education de Bertrand Russell que foi publicado como
Da Educação e, depois, como Educação e vida perfeita e o título de Arnold Toynbee
Civilization on Trial que foi publicado sozinho como Civilização posta à prova e,
depois, como parte do título Estudos de História Contemporânea.
25
Figura 3 – Exemplo de ficha de produção.
Apesar do número relativamente pequeno dessas fichas, elas tornaram possível
acompanhar alguns dos registros das negociações encontradas na correspondência
internacional com agentes e editores. Elas indicam, inclusive, a forma de pagamento,
algumas vezes feito por algum portador, geralmente Thomaz Aquino de Queiroz24
Quanto ao material produzido pelo departamento editorial, encontram-se ainda
uma série de correspondências com agentes literários, casas editoras e autores. Essa
correspondência está dividida por Editora e/ou agente literário. É a documentação mais
numerosa e extensa. A primeira carta encontrada é de 1932 e trata da edição do livro de
André Maurois na série Vidas Célebres. Quanto ao conteúdo dessas cartas, quase
ou o
Banco utilizado para o pagamento. Essas poucas fichas de produção ofereceram alguns
indícios da forma como a prestação de contas era feita ao agente literário e/ou editora
estrangeira.
24
Thomaz Aquino de Queiroz foi funcionário de carreira na Companhia Editora Nacional e chegou ao
cargo de chefe do departamento editorial da Companhia, durante a década de 1960. sua correspondência
com Anísio Teixeira é bastante extensa e demonstra sua participação no cotidiano da escolha de obras e
tradutores para empresa.ele foi, também, diretor do SNEL (sindicato nacional dos Editores de livros) e,
saiu da CEN para fundar sua própria editora. TAQueiroz.
26
sempre uma negociação com agentes e casas editoras oferecendo títulos ou o
departamento editorial indicando seu interesse em publicar algum título em especial25
Esse arquivo foi preciosíssimo porque ajudou a responder algumas perguntas
sobre a representação que o editor possuía de seu leitor. Ocorre que o editor não podia
perder tempo e dinheiro com títulos que não compusessem o interesse da empresa.
Dessa forma, o editor apresentava seu leque editorial aos agentes literários. Isso feito, os
editores estrangeiros remetiam material sobre os livros lançados por eles e que
poderiam, eventualmente, interessar ao editor nacional. Tanto os títulos recusados
quanto os negociados oferecem um indício do que o editor pensava de seu público.
Vários títulos foram recusados por serem considerados “demasiado locais”, ou seja, cuja
redação ou tema interessava apenas à população do local em que foi produzido.
.
Seguem-se a esses primeiros contatos, uma correspondência que, via de regra,
estabelece os títulos de interesse, o custo de cada um, as negociações, acertos de contas,
contratos e informações gerais.
As razões porque um título foi ou não publicado aparecem ainda em outros
termos. O preço dos royalties e as condições de pagamento também influenciaram nas
escolhas e, esse fato, respondeu a outras questões relativas à representação que o editor
possuía de seu público, ou melhor, ao conhecimento do poder aquisitivo do público
comprador dos títulos. (Royalties muito altos se justificariam em caso de grandes
edições.)
ainda uma outra questão referente às condições de circulação dos tulos
que fica evidente no trabalho com essas fontes. De um lado, a proeminência francesa
estava, no momento do lançamento da Biblioteca do Espírito Moderno, em vias de ser
substituída pela preeminência inglesa mas, quanto aos tulos em inglês, tanto Inglaterra
quanto Estados Unidos disputavam mercado. A correspondência internacional tornou
possível identificar os artifícios que tanto o governo inglês (através do British Council)
quanto o dos Estados Unidos (através da Inter America Affairs) utilizaram na disputa
pela proeminência cultural no país.
À medida que nos aproximamos da segunda metade da década de 1960,
aparecem documentos relacionados a pareceres sobre obras e traduções e, também, as
correspondências com outras editoras nacionais para discutir co-edições e/ou cessão de
25
A organização dessa correspondência era pelo nome da casa editora e não por coleção. Todos os títulos
escritos no original e a maior parte das cartas em cópia carbonada, quando enviada pela CEN, e no
original quando recebida do exterior. Muitas negociações foram feitas em bloco e não título a título.
27
direitos. Fazem parte dessa correspondência, as editoras EDICEL e a Clube do Livro
que negociam reeditar ou co-editar alguns títulos de sucesso. Outra forma de co-edição
é com as editoras universitárias, notadamente Universidade de São Paulo e
Universidade de Brasília.
Outros títulos recebem pareceres sobre reedição ou negociação com outras
editoras. A Record adquire os direitos de tradução dos livros de Will Durant em 1972
após um parecer bem pouco favorável em relação à tradução da obra enquanto a Zahar
adquire os direitos de tradução da obra de Bertrand Russell. Ocorre que essa
documentação não está completa, porque a lógica da produção do documento se
articulou à necessidade do momento em que foi produzido. Alguns títulos não foram
reeditados, não tiveram proposta de compra e, terminaram ignorados enquanto outros
ganharam relevância por motivos bastante diferentes. Uma proposta de compra, um
processo contra outra editora, uma sugestão interna de reedição ou, ainda, um pedido de
prestação de contas e/ou cobrança de royalties da editora original.
Assim, para alguns títulos ou autores, uma documentação que permite
acompanhar a vida da obra na editora e para outros há a obscuridade.
Em alguns casos, essas documentação está organizada em Dossiês (ou
Dossier26
É nesse tipo de Dossiê que se encontram os memorandos internos e, em uma
pasta especial, denominada Política Editorial (1976-1979), encontramos os esforços de
reestruturação do leque editorial da empresa após a crise que sucedeu a morte de
Octalles Marcondes Ferreira. Dentre elas, a pasta denominada Operação Garimpo que,
praticamente, registra o final da coleção.
) que são a reunião de toda a documentação pertinente e necessária para uma
tomada de decisão; seja se a obra será ou não reeditada, se há ou não dívida pendente ou
se deve ser vendida a outra editora. Nesses casos, os Dossiês são bastante completos e
todos datam da década de 1970.
Do departamento comercial, a documentação encontrada está quase toda sem
data e, pode apenas ser estimada pelo lançamento do título ou pelas capas que aparecem
nas propagandas.
Fazem parte dessa documentação os catálogos, folhetos e press releases.
Encontrei também alguns esboços de textos que, depois foram publicados nas orelhas de
livros ou quarta-capas.
26
O termo aparece de forma mais ou menos indiscriminada na documentação.
28
ainda uma documentação que data dos anos 1970 em que os livros
distribuídos são cuidadosamente controlados. E, em 1980, quando o IBEP adquire a
CEN, um minucioso controle do estoque e dos direitos de edição da Nacional. É
nesse controle que pode ser avaliado o número de livros editados e não vendidos no
período anterior.
Finalmente, a correspondência e as publicações do SNEL (Sindicato Nacional
dos Editores e Livreiros) e o BBB (Boletim Bibliográfico Brasileiro) que informam
sobre a relação da Editora com os sindicatos e com o mercado de maneira geral.
Para compreender o processo de seleção de títulos e sua lógica no momento em
que foram publicados, encontrei uma documentação preciosa em BURT (2004) que, ao
construir uma cronologia da literatura estadounidense, viu-se obrigado a publicar as
listas anuais das obras mais vendidas segundo os relatórios anuais da revista Publisher´s
Weekly. Esse periódico que circulava no Brasil, tem ao menos quatro leitores
identificados: Henrique Bertaso e Érico Veríssimo que atesta essa leitura em suas
memórias do amigo Um certo Henrique Bertaso e Ênio Silveira27
A Biblioteca Histórica da Companhia Editora Nacional foi outra grande fonte
de pesquisa. Praticamente todos os volumes publicados pela Biblioteca do Espírito
Moderno lá se encontrava. As sobrecapas, capas originais e os textos das orelhas e do
interior da sobrecapa muito ajudaram a compreender o destinatário ideal daquela
coleção. A apresentação das obras da coleção para o próprio público leitor da coleção
cria uma cumplicidade que transparece em termos e formas muito particulares.
e Thomaz Aquino de
Queiroz que em correspondência a algumas editoras identificam seu interesse em
determinada obra a partir da leitura da Publisher´s Weekly. Para os mercados inglês e
francês, outros títulos serviram de apoio mas nada tão completo quanto as listas anuais
publicadas por BURT (2004).
Analisando a coleção como um todo, foi possível obter os textos de
apresentação dos títulos, dos autores e dos futuros lançamentos. Com esse material, a
relevância de alguns temas pode ser analisada e a pergunta sobre quem eram os leitores
dessa coleção, ficou um pouco mais próxima. Os termos utilizados, os desenhos
apresentados e os valores divulgados nessas propagandas que se destinavam ao leitor da
coleção porque se encontravam no livro propriamente dito foram indícios do tipo de
leitor que o editor procurava encontrar.
27
Anísio Teixeira escreve carta a Enio Silveira agradecendo o envio da edição comemorativa de 70 anos
da Publisher´s Weekly .
29
Essa tese está estruturada da seguinte forma:
No primeiro capítulo, analiso brevemente a história da Companhia Editora
Nacional, tendo como foco central a Biblioteca do Espírito Moderno. Em seguida, a
partir das fichas de edição, foi possível compreender o movimento de edição,
acompanhar os títulos de maior investimento, a própria economia interna da coleção.
Com base nos gráficos produzidos a partir da documentação, proponho uma
periodização da coleção que, são a base dos capítulos seguintes.
O capítulo 2 corresponde ao primeiro período que é, em muitos aspectos, o
mais significativo para a compreensão da história da coleção. Nele as escolhas iniciais
de Anísio Teixeira se evidenciam e, também, a composição do leque editorial que
sustentará a coleção por muitas décadas.
Para esse e todos os demais capítulos, utilizo o esquema de DARNTON sobre a
circulação do impresso que orienta a estrutura narrativa.
O capítulo 3 tenta dar conta do que significa para uma coleção a ausência de
um organizador específico. Ele trata do período em que a ausência de Anísio Teixeira e
a fase de reorganização da Editora Nacional criaram algumas dificuldades para a própria
coleção.
A volta de Anísio Teixeira à organização da coleção marca o capítulo 4.
Entretanto, os interesses desse grande educador se modificaram. A coleção encontra
novo rumo. As mortes de Anísio Teixeira e de Octalles Marcondes Ferreira encerram
esse período.
O capítulo 4 é melancólico porque acompanha a destruição de uma obra. A
Companhia Editora Nacional administrada pelo BNDES perde a liderança nacional,
assiste a uma série de burocratas tomando decisões equivocadas. Para a Biblioteca do
Espírito Moderno, uma somatória de fatores contribuiu para o seu final. Mudança de
público, problemas com as traduções, temáticas desatualizadas, concorrência com as
coleções vendidas em bancas e por reembolso postal e, também, com os novos formatos
das coleções para estudantes tanto do 2º. Grau quanto universitários.
Entretanto, alguns títulos publicados pela BEM continuaram e continuam
impressos e vendidos. Em novos formatos, novas coleções e mesmo em novas mídias.
30
Capítulo 1 – Apresentação da Companhia Editora Nacional e da Biblioteca do
Espírito Moderno
Uma breve retomada da história inicial da Companhia Editora Nacional
O objetivo desse item não é refazer a história da editora mas, situar o leitor na
longa história da Companhia Editora Nacional e seus editores. Como o objeto de estudo
deste trabalho é a Biblioteca do Espírito Moderno, pretendo analisar aqui a história da
editora de um ponto de vista bem particular, guardando a perspectiva da “espírito
moderno” como foco central.
Dessa forma, as coleções, os editores e as negociações que, de uma forma ou
de outra, influenciaram a seleção do leque editorial aparecem em primeiro plano, à
medida que possibilitam compreender o contexto em que se construiu a coleção. Alguns
personagens ganham relevância enquanto outros, de igual importância permanecem na
sombra. Desse modo, figuras relevantes como Fernando Azevedo, Américo Jacobina
Lacombe e Florestan Fernandes permanecem na obscuridade enquanto alguns quase
anônimos ganham relevância no relato.
Para montar esse quadro cronológico, utilizei a bibliografia produzida sobre
as personagens e a própria editora mas, também, as cartas e documentos encontrados no
arquivo histórico. São eles que me indicaram que personagens evidenciar.
O ponto de partida é a história da Nacional contada por Monteiro Lobato após
a falência da Monteiro Lobato e Companhia. Nesse momento mítico-fundador, Lobato
relata a seu amigo Godofredo Rangel a experiência de recomeçar, em carta datada de 7
de agosto de 1925:
Havendo liquidação, lançaremos sem demora a Companhia Editora
Nacional, pequenininha, com o capital de 50 contos em dinheiro e 2.000 em
experiência – e em poucos anos ficaremos ainda maiores que o arranha-ceu
que desabou. Perder uma batalha não é perder a guerra – eu já te disse isso. Na
nova sociedade ficamos só nós dois – eu e o Otales. Com ela provaremos ao
país que somos de sete fôlegos. O que nos fez mal foi a montagem daquela
enorme oficina. A nova empresa será só editora – imprimirá em oficinas
alheias. A indústria editora é uma e a impressora é outra. E como nada faremos
a credito (que por felicidade não teremos,) a nova arvore crescerá com solidez
de granito, à prova de secas, terremotos e vulcões. Escreva. Como a
experiência foi dura, doravante admitiremos a hipótese de tudo – até de
31
terremoto em São Paulo. Seja lá como for, a dupla Lobato-Otales insiste,
teima, pula e não larga a trincheira. Podes continuar a traduzir os contos
shakespireanos. Não pares, como nós aqui, mesmo debaixo dos escombros não
paramos. (LOBATO, 1946b:279)
Esse trecho resume bem a situação de gestação da nova companhia editora.
BEDA (1987:170) qualifica-o de “Certidão de Nascimento” da editora. De um lado, o
enorme número de sócios, necessários para financiar o parque industrial com máquinas
impressoras caras e de excelente qualidade, foi substituído por uma empresa apenas
editora e a impressão em oficinas alheias.
BIGNOTTO explica com clareza o processo de falência da Lobato que marca
o nascimento da nova editora. Durante esse processo, a maior parte dos títulos foi
arrematada pela nova Companhia Editora Nacional e, sem dúvida, as obras de Lobato
garantiriam a sobrevivência da nova companhia editora.
o maquinário da falida Monteiro Lobato e Cia deu origem a duas gráficas
independentes: A São Paulo Editora e a Revista dos Tribunais. Ao longo de toda a
história da Biblioteca do Espírito Moderno, ambas respondem por mais de três quartos
dos volumes impressos.
BEDA descreve esse processo:
Entretanto, um dos motivos que levara os diretores da companhia
falida a montar aquele enorme parque gráfico era a idéia de que não adianta
apenas ter boas máquinas, e não ter técnicos impressores à altura de operá-las
com eficiência. E nisso, a grande oficina da empresa extinta atingira o ideal –
possuía as melhores máquinas e os melhores técnicos. E uma vez que, devido
à falência, não era possível nem conveniente conservá-los, Octalles engendrou
um plano, que afinal deu certo: procurou interessar Natal Daiuto, seu principal
gerente e grande editorador, em adquirir a maior parte e o melhor que pudesse
da massa falida, em máquinas gráficas, e montar a sua própria empresa,
passando, então, à condição de impressor independente, com a vantagem de já
poder contar, de início, com as encomendas da própria C.E.N. que nascia
promissora. Para Octalles, havia a grande vantagem de poder contar com
serviços gráficos do mesmo nível de qualidade que já caracterizara as edições
anteriores. (BEDA, 1987:239-240)
Nascia, assim, a parceria constante entre a Companhia Editora Nacional e a
São Paulo Editora. Quando analisamos as fichas de edição dos livros da Biblioteca do
Espírito Moderno, a predominância de duas gráficas é completa: São Paulo Editora (que
editou cerca de 335.000 volumes apenas na Biblioteca do Espírito Moderno) e a Gráfica
32
Revista dos Tribunais (que editou cerca de 467.000 volumes apenas na Biblioteca do
Espírito Moderno).
Sobre a Gráfica Revista dos Tribunais, quem relata é o próprio Nelson Palma
Travassos, seu proprietário:
Graças, porém, a essa debilidade interesseira do egoísmo, agindo
como agi
28
, contribuí enormemente para que a cultura brasileira não se
estagnasse com a dificuldade de edição e impressão de livros. Durante perto de
vinte e cinco anos, a começar pela década de 1940, foi a empresa Gráfica da
Revista dos Tribunais, com a organização industrial e inovações técnicas que
lhe emprestamos e a abundância de maquinário que reunimos, a maior ou
senão a única tipografia aparelhada para a produção em massa de livros,
imprimindo sozinha, acredito, perto de 60% de todas as edições nacionais,
trabalhando com três turmas de operários, vinte e quatro horas por dia.
Permitiu ela como condição essencial de progresso a fundação e a
consolidação de uma infinidade de novas casas editoras e a impressão de
vultosas obras até então impossíveis de serem editadas no Brasil.
(TRAVASSOS, 1978:43)
Dessa maneira, ambas as gráficas sustentaram a produção da Biblioteca do
Espírito Moderno. Ao contrário do que informa BEDA (1987) e o próprio
TRAVASSOS (1978), a Gráfica Revista dos Tribunais ocupou um papel ligeiramente
maior na produção dos volumes da coleção. Ambas, contribuíram com pouco mais de
37% dos volumes publicados pela Biblioteca do Espírito Moderna em toda sua história,
concentrando-se nos anos 1940 em que praticamente toda a coleção foi impressa em
uma das duas gráficas.
Enquanto Hans Staden Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil era
publicado, a companhia se estruturava, ainda segundo BEDA, com a compra dos
antigos estoques e títulos da falida Monteiro Lobato e Cia, o que se consolidou em
1926.
Pouco tempo depois, Monteiro Lobato é nomeado adido cultural do governo
brasileiro nos Estados Unidos. Octalles permanece sozinho na administração da
empresa. Quando, em 1929, Lobato perde seu dinheiro na crise da bolsa, vende seus
direitos autorais para a CEN e, em seguida, destituído do cargo nos Estados Unidos
retorna ao Brasil, sua atividade de tradutor se intensifica.
28
O autor se refere à compra de enorme quantidade de papel no período anterior à guerra na expectativa
de ganhar com a inflação do preço do mesmo; o que efetivamente se consolidou.
33
Em 1932, Octalles adquiriu a Civilização Brasileira que cumpriu papel
importante na expansão da Editora Nacional. A sede da Editora civilização Brasileira
situava-se no Rio de Janeiro, à época, capital federal e, também, centro da vida
intelectual do país. Rapidamente, a nova editora tornou-se a distribuidora da CEN na
cidade e assumiu parte dos títulos da CEN.
Em 1939, é lançada a Biblioteca do Espírito Moderno, como parte de um
projeto editorial maior de incluir os livros não-didáticos em coleções, nos moldes das
coleções existentes Terramarear, Paratodos, Biblioteca das Moças, Vidas célebres
29
Assim, as séries da BPB, planejadas para cobrir desde a formação do
professor, passando pela criança e pelo aluno e, finalmente, atingindo os brasileiros que
desejassem pensar sobre o Brasil
,
e, o modelo mais acabado dessa estratégia, a Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB),
que, dividida em séries, buscava atingir diversos públicos sob uma mesma rubrica e um
mesmo organizador constituído em autoridade intelectual.
30
TOLEDO (2001:51) informa que, em 1939, “o fundo de edições se encontra
praticamente inteiro organizado em coleções”, cada uma para um público. É nesse
contexto que surge a Biblioteca do Espírito Moderno, dividida em quatro séries
(Filosofia, Ciências, História/Biografia e Literatura).
.
A expansão da Nacional vai se consolidando e, em 1940, adquire a Editora
Norte-Sul detentora de vários títulos de Winston Churchill e de Ernest Hemingway,
posteriormente publicados, em sua maioria, na Biblioteca do Espírito Moderno.
Em 1943, Lobato e o editor chefe da CEN, Arthur Neves, saem da empresa
para fundar a editora Brasiliense. Por difícil que tenha sido, essa situação abriu espaço
para outro grande editor: Ênio Silveira que até 1964 foi editor da CEN e da Civilização
Brasileira quando por questões políticas pessoais, Ênio Silveira saiu da Companhia
Editora Nacional e, praticamente abandonou seu trabalho no SNEL (Sindicato Nacional
dos Editores e Livreiros).
O trabalho de substituir Enio Silveira é entregue a cargo de Thomaz Aquino de
Queiroz que permanece na empresa até sair para fundar sua própria editora a T A
Queiroz.
29
Vários dos títulos iniciais da Biblioteca do Espírito Moderno vieram de outras coleções e de
publicações avulsas.
30
As series componentes da BPB são: Literatura Infantil, Livros Didáticos, Atualidades Pedagógicas,
Iniciação Científica e Brasiliana. A cada uma delas corresponde um público alvo ou uma utilização
específica.Cf. (TOLEDO,2001:50-51)
34
Em 1973, a morte de Octalles Marcondes Ferreira implica em grande mudança
para a CEN que, após quase ser vendida para a José Olympio Editora, termina
juntamente com a JOE administrada pelo BNDES o que, em termos práticos significou
o aumento do pessoal, da burocracia administrativa, a perda do primeiro lugar entre as
editoras nacionais e, inclusive, prejuízo contábil.
Marcos de um projeto de formação do leitor: “Bibliotheca do Espírito Moderno”
E então sonhei com aquele velho sonho da coleção de
livros fundamentais. Com uma modificação. A toleima
brasileira, que só “reflete” telegramas e brochuras, está a pensar
que só há, no mundo, os hospitais alemães e italianos e o
sanatório russo para cura da humanidade Ora é necessário
mostrar-lhes que gente em 4/5 da terra e gente saníssima
em uns países anglo-saxônicos e nórdicos. E que essa gente é sã
porque se nutre bem. E que a nutrição intelectual é tão precisa
quanto a material. Quando não nutrição intelectual é
indispensável logo depois dietas especiais e temos Itália e
Alemanha e Rússia... Ora, a nutrição de hoje é o pensamento
elaborado à vista do avanço das ciências e da democracia... A
coleção seria pois de alimentos dessa espécie. Coleção de
civilização contemporânea. Para dizer os corolários da ciência e
da democracia. (Anísio Teixeira)
31
Esse texto é parte de uma carta escrita por Anísio Teixeira para Monteiro
Lobato datada de 21 de janeiro de 1936. Nela encontramos alguns dos pressupostos que,
pouco tempo depois, nortearam as escolhas iniciais da coleção Bibliotheca do Espírito
Moderno”. Uma coleção que nutrisse o público brasileiro e evitasse sua aproximação
tanto do nazi-fascismo (Itália e Alemanha) quanto do comunismo (sanatório russo).
Ao mesmo tempo, aparece a idéia de construir no povo brasileiro um “Espírito
Moderno” que ajudasse o Brasil a sair do ‘atraso’ em que se encontrava. O caminho
seria alimentar o brasileiro com um projeto de nutrição que contemplasse o “avanço das
ciências e da democracia”.
31
VIANNA & FRAIZ (1986, P.73) Também disponível no CPDOC/FGV - AT c 1928.06.22 – 20A
35
A idéia de associar educação, ciência e democracia é bastante cara a Anísio
Teixeira que, dois anos antes, publicara Em marcha para a democracia – à margem dos
Estados Unidos.
Nessa obra, em clara homenagem ao livro de Licínio Cardoso (À margem da
história da República), Anísio Teixeira aproveita a filosofia da educação de Dewey para
comentar a importância da cultura para além da elite governante e relacionar educação a
consolidação das instituições democráticas. Afinal, pondera ele, como um povo pode
tomar as decisões importantes que a participação democrática exige se não apresentar
condições de reflexão e conhecimento? Dessa forma, educar é muito mais do que
alfabetizar, é criar um tecido social (expressão anisiana mas grifo meu) que envolva
tanto a elite quanto as camadas médias em um projeto de consolidação das instituições
democráticas.
Nesse sentido, construir uma ponte entre a elite e o resto do país, em processo
de escolarização significa ampliar a consolidação do processo democrático tão precário
em nosso país. O caminho para essa coesão social passa, em parte, pela formação de
uma camada média ilustrada e permeável, capaz de consolidar a nação moderna e
civilizada, almejada por Anísio.
Seguindo essa lógica, a coleção deveria dar conta de vários pontos necessários
para a “nutrição” intelectual do povo brasileiro. Qual seria a temática capaz de “ajudar o
Brasil a superar o sanatório russo e os hospitais italianos e alemães? O próprio Anísio
encaminha uma proposta. De um lado, seriam títulos de origem anglo-saxônica, em sua
maioria; de outro, as temáticas deveriam versar sobre ciência e democracia.
TOLEDO (2001), comentando a importância e o lugar de poder conferidos ao
cargo de diretor da coleção, cita carta de Afrânio Peixoto a Anísio Teixeira em que a
36
idéia de uma coleção de “culturafoi discutida e que, dada a proximidade de datas 21 e
23 de janeiro, referem-se à mesma coleção:
(...) tomei da pena para lhe dizer, quanto à coleção de “Cultura”, sim,
três mil vezes sim! Com você tudo. Que belo escolher e divulgar... Quisera,
por exemplo, fazer uma edição do “Discurso do método”, anotada... arte de
pensar ou arrumar o pensamento... pré-lógica, lógica, super-lógica, tudo! E em
língua que fosse tão simples e pura que não desdourasse a Descartes... (...) que
coleção de cultura faremos! É preciso, porém, desconfiar de F.A. e por logo
Lobato de nosso lado, colaborando ele. Que com livros definitivos se poderia
traduzir... prefácio de cultura, introdução a Educação, credenciais do espírito
humano... Muito bonito... Falaremos muito disso. A bola de neve terá
avalanche. (...) (Carta de A. Peixoto a A. Teixeira de 23 de janeiro de 1936 –
CPDOC AT. 32.00.00 Apud: TOLEDO:2001: 56)
O projeto da coleção, como era de se esperar, foi levado a termo pela
Companhia Editora Nacional
32
. Construiu-se, então, uma coleção dividida em quatro
grupos temáticos Filosofia, Ciências, História e Biografia e, finalmente, Literatura que
constituiriam quatro séries distintas (inclusive com numeração própria) e destinadas a
“compreender e acompanhar o longo esforço do pensamento humano para embelezar,
enriquecer e dirigir a vida” segundo apresentação da série no catálogo. Elas teriam uma
organização capaz de articular autores e títulos que fornecessem ao público leitor as
bases para se compreender o mundo em que se vive e, é claro, o “espírito moderno”.
Quanto à seleção dos autores e temáticas, a coleção começa a se estruturar com alguns
dos textos prediletos da dupla Lobato-Teixeira e com títulos publicados de forma
avulsa e/ou em outras coleções da mesma editora.
A coleção do F.A
33
32
A Companhia Editora Nacional pertencia à época, majoritariamente, a Octales Marcondes Ferreira e
Monteiro Lobato fundador da mesma, já não mais era sócio da mesma. (cf. Koshiyama, Beda, Bignotto,
Toledo).
. (Fernando de Azevedo) é muito
interessante, mas meio doméstica, sem horizonte internacional.
Seria necessário uma coleção em que pedagogia fosse um
capítulo e não um título. Pedagogia é bobagem se não for toda a
cultura humana. Há mais pedagogia em Wells do que em todos
os professores do mundo. Falei com Afrânio que está de
acordo. E tenho alguns outros trabalhadores intelectuais para a
tarefa. Resta saber se você aceitaria dirigi-la conosco. Sem você
não me atrevo. Você será o julgamento, a segurança, a razão...
33
A coleção do F.A. é a Biblioteca Pedagógica Brasileira.
37
Conto com você. (Carta de Anísio Teixeira a Monteiro Lobato
datada de 21 de janeiro de 1936
34
)
Percebe-se a idéia de localizar o tema da pedagogia em questões mais amplas e
que pudessem consolidar o “espírito moderno” encontrado nas anotações de aula do
Instituto de Educação.
Nesse contexto de expansão do mercado leitor e do aumento das tiragens e dos
títulos publicados como um todo e, de um projeto civilizador desse novo leitor, se
afirma a Bibliotheca do Espírito Moderno. Biblioteca criada com uma série de títulos,
em grande parte, originários dos Estados Unidos e Inglaterra mas, ainda, com a presença
de alguns títulos franceses, em especial de André Maurois, Charles Seignobos e Jacques
Maritain. Essa biblioteca contou com pouquíssimos títulos nacionais mas com
traduções, no dizer da casa editora, de excelente qualidade.
Monteiro Lobato em carta a Godofredo Rangel, datada de 24 de agosto de 1943
constata essa mudança do francês para o inglês:
Lembra-se de como enxertavamos francês na nossa correspondencia?
Mudamos até de lingua, parece incrivel! Hoje andamos a “morar” na lingua
inglesa, que naquele tempo bem pouco sabiamos.
35
Aliás, essa questão do aumento das obras traduzidas é, também, uma novidade.
Muitos textos que, anteriormente, eram simplesmente comercializados em sua língua
original, com a expansão do público leitor passaram a ter que ser traduzidos.
No caso da Bibliotheca do Espírito Moderno, a influência estadounidense se
consolida como parte desse movimento de aumento da influência anglo-saxônica mas,
também, pela própria escolha do organizador da coleção: Anísio Teixeira que morara e
estudara nos Estados Unidos e cuja admiração pela cultura democrática do país está
34
Arquivo Anísio Teixeira do CPDOC/FGV AT c 1928.06.22 – 20A.
35
LOBATO (1946:350)
38
explícita em suas obras da cada de 1920 (Aspectos americanos de educação,
Anotações de viagem aos Estados Unidos em 1927) e Em marcha para a democracia –à
margem dos Estados Unidos, este último publicado em 1934.
Não é possível ignorar o significado da escolha do nome Biblioteca do Espírito
Moderno para coleção organizada por Anísio Teixeira. VIDAL (2005:9) relata que
em 1934, quando no Instituto de Educação, o termo “educação e espírito moderno”
encimava uma lista de dez temas do curso oferecido por Anísio Teixeira na Escola de
Professores.
A composição do curso era a seguinte:
A Educação e o Espírito Moderno
1 – Natureza-Homem – Sciencia
2 – Homem e sociedade.
3 – Experiência e Aprendizagem
4 – Necessidades e Aspirações humanas – sua realização e seus limites.
5 – Experiência, vida e educação – educação como reconstrução da
experiência.
6 – O processo educativo e sua direção.
7 – Os objectivos da educação e as matérias de ensino.
8 – O programa escolar: sua organização e sua execução.
9 – a ordem escolar: (disciplina e liberdade)
10 – A escola e a reconstrução da vida humana.
(apud:VIDAL 2005:9-10
36
)
Repare-se que os quatro primeiros itens do curso demonstram a preocupação de
relacionar a educação ao mundo moderno, às ciências e a compreensão da sociedade. Já
os itens 5 e 10 retomam as bases filosóficas da educação. O termo “experiência”
presente no item 5, relaciona educação e o mundo vivido, experimentado. Os itens 6 a 9
marcam a experiência cotidiana do trabalho educativo e preparam para a reflexão do
item 10. De que adianta escola se não for para reconstruir a vida humana em bases
melhores?
36
Disponível no CPDOC/FGV
39
Ainda segundo VIDAL (2005), que trabalhou com as memórias de ex-alunas do
Instituto, o curso se apoiava em traduções que, em muitos momentos, circulavam sob a
forma de texto mimeografado e alguns livros traduzidos e publicados nas coleções para
formação de professores. A autora cita, explicitamente, a Bibliotheca de Educação
organizada por Lourenço Filho na editora Melhoramentos e a Coleção Atualidades
Pedagógicas editada pela Companhia Editora Nacional que começou a ser publicada em
1931 e que possuía entre seus primeiros títulos a obra de Anísio Teixeira Educação
Progressiva obra que, segundo VIDAL (2005), guarda intima relação com o curso A
Educação e o Espírito Moderno ministrado pelo autor no Instituto de Educação.
37
Conseguir tradutores e revisores, em especial do inglês, para esse mercado em
permanente expansão foi uma tarefa, inicialmente, entregue aos principais literatos
brasileiros que faziam da tradução um meio de subsistência. Essa é outra situação de
mudança. Os intelectuais que, desde Machado de Assis, pretendiam viver de sua escrita
e o de empregos públicos e heranças de família, precisavam de meios para pagar seu
sustento e sua escrita. Artigos em jornal, crônicas e traduções eram opções.
Em 1938, são editados os primeiros títulos com o emblema e o nome
Bibliotheca do Espirito Moderno escritos na capa, na lombada e na página de rosto e,
a partir de 1939, são comercializados em duas versões: capa dura com couro vermelho e
letras douradas ou brochura. Para a versão de capa dura, havia uma jaqueta (ou
sobrecapa) que correspondia à capa do volume em brochura.
A coleção sobreviveu com títulos novos e reimpressões até 1984. Data do
último volume encontrado com a referência Biblioteca do Espírito Moderno, embora a
referência à Biblioteca do Espírito Moderno tenha permanecido em algumas fichas de
reedição até o ano de 1987.
37
Cf. TOLEDO (2001) e VIDAL (2005: 11)
40
Na realidade, uma coleção como a Espírito Moderno não se inicia no ano em
que o primeiro volume é comercializado. Sua história tem um período de gestação, que
inclui desenho das séries, elaboração da capa e seleção dos primeiros e estratégicos
títulos. Com base nesta perspectiva, a carta de 1936 pode ser considerada um
documento preparatório para a sua formação.
Para começar, a redação de um texto de abertura que aparecesse tanto nos
catálogos e propagandas da coleção quanto nas quartas capas da mesma, juntamente
com os títulos selecionados para a “Biblioteca de civilização e cultura” que se propunha
a ser a coleção. Nesse texto, salientava-se tanto o sentido do título Espírito Moderno
quanto os objetivos da mesma.
O NOSSO TEMPO marcado pelo singular tumulto mental que lhe
acentua o carater de transição e mudança, é por isso mesmo um dos mais
assinalados períodos de reconstrução intelectual e moral da história. Apesar da
falta de perspectiva em que nos achamos para julgar das suas grandes
realizações científicas, literárias e artísticas, algumas das obras modernas vêm
obtendo do publico consagrações que importam na imortalidade. A inaudita
difusão cultural do mundo de hoje permite desses milagres que os antigos não
conheciam.
A BIBLIOTECA DO ESPIRITO MODERNO visa coordenar para o
leitor brasileiro, dentre as obras consagradas pela aceitação publica, aquelas que
mais diretamente buscam condensar, esclarecer e popularizar a herança cultural
da espécie, tornando-a realmente e sem perda de nenhum dos finos e raros
valores que sempre a caracterizaram quando não passava de legado atribuído a
privilegiados eruditos, a herança comum e por todos partilhada. Além disso,
incluirá a biblioteca documentos biograficos que nos familiarizem com os
grandes homens e as grandes mulheres que souberam fazer de suas vidas um
espetaculo de beleza ou de altura e, por esse modo, contribuiram para tornar a
vida mais significativa e a civilização humana mais digna.
A COMPANHIA EDITORA NACIONAL, tomando a si a grande
responsabilidade de editar a BIBLIOTHECA DO ESPIRITO MODERNO, foi
buscar, para orienta-la e dirigi-la o grande educador brasileiro ANISIO
TEIXEIRA, espirito dos mais illustres da nossa epoca e tão justamente talhado
para assumir a direcção de uma biblioteca de tamanha finalidade.
Biblioteca de civilização e cultura, os leitores terão em seus volumes o
mais rico documentario com que se poderá tentar compreender e acompanhar o
longo esforço do pensamento humano para embelezar, enriquecer e dirigir a
vida.
(texto que aparece nos catálogos da Bibliotheca do Espirito Moderno, em algumas 2as.
Orelhas e em algumas 4as. Capas)
41
Este texto tem importância “crucial” para a construção da identidade da
coleção porque em todos os catálogos específicos, em alguns catálogos gerais da
Companhia Editora Nacional, em várias orelhas e quartas capas, é encontrado como
elemento identificador da coleção.
O mesmo texto perdurou com alguns cortes e pequenas variações até a
remodelação da Bibliotheca do Espírito Moderno, que nas lombadas aparece com a
abreviatura BEM
38
Percebe-se a preocupação inicial de salientar os avanços e tumultos do tempo
vivido. Nunca é demais lembrar, estavam os editores escrevendo em 1938 para o
surgimento da coleção no ano de 1939. Ao mesmo tempo em que acentua o caráter de
“transição e mudança”, o texto reforça os avanços do pensamento humano, suas
“realizações científicas, literárias e artísticas” e a inaudita “difusão cultural”.
até, pelo menos a década de 1950.
Seu objetivo, analisado em seguida, é “coordenar para o leitor brasileiro” as
obras necessárias para que esses conhecimentos possam ser compreendidos e
aproveitados e a maneira de fazer com que o “leitor brasileiro” possa usufruir dessa
condição é “condensar, esclarecer e popularizar a herança cultural da espécie”,
apresentando as vidas de pessoas que possam ser consideradas, de alguma maneira,
dignas de nota, “que souberam fazer de suas vidas um espetaculo de beleza ou de altura
e, por esse modo, contribuiram para tornar a vida mais significativa e a civilização
humana mais digna”. Note-se que um reforço na presença de mulheres que
contribuíram para o engrandecimento da humanidade.
A presença de mulheres leitoras está relacionada a uma mudança na própria
sociedade brasileira. Ao mesmo tempo que a expansão tanto do ensino primário quanto
do ensino secundário feminino ampliava a participação das mulheres no mercado de
38
A associação da abreviatura da coleção Bibliotheca do Espírito Moderno com a sigla BEM não pode ser
considerada “acaso”. O apelo à palavra “BEM” é evidente e nas lombadas dos títulos da coleção, o
símbolo ressalta as três letras.
42
trabalho, as agências de propaganda e a imprensa em geral havia detectado a
importância da mulher consumidora de revistas e livros. RAMOS (1985:34-35)
identifica uma série de propagandas voltadas para esse público, acompanhando o
aumento da circulação de revistas como a Frou-Frou e, também, no final de 1928, a
revista Cruzeiro.
O terceiro parágrafo, finalmente, apresenta o organizador da coleção: Anísio
Teixeira. O educador brasileiro que revelou-se capaz de atender a essa difícil tarefa de
selecionar para o leitor brasileiro as obras relevantes e capazes de ajudá-lo a
“compreender e acompanhar o longo esforço do pensamento humano para embelezar,
enriquecer e dirigir a vida.”
O quarto parágrafo apresenta os objetivos da coleção. Formar uma biblioteca
de “civilização e culturaque ajude a “compreender e acompanhar o longo esforço do
pensamento humano para embelezar, enriquecer e dirigir a vida”. Percebe-se que o
objetivo fundamental não é detalhar, explicitar ou explorar os detalhes da civilização e
cultura mas ajudar o leitor a compreender um processo longo e de amplo espectro. O
que se pode esperar, então, dessa coleção?
39
A questão que se põe, então é sobre os temas e biografias selecionados pelo
“grande educador”. Obviamente, alguns autores aparecem recorrentemente na
correspondência entre Lobato e Anísio Teixeira e, mais tarde, na década de 1960, na
correspondência trocada entre Anísio Teixeira e Tomás Aquino de Queiroz, então editor
chefe da Companhia Editora Nacional
40
Ao longo de sua existência, a biblioteca publicou um total de 2.246.377
exemplares e 163 títulos distribuídos de forma desigual tanto nas quatro séries quanto
.
39
OLIVEIRO (1999) associa a presença de um projeto de civilização e cultura ao termo “biblioteca” para
denominar uma coleção.
40
Alguns autores da BEM comentados: H.G. Wells, Will Durant, Kipling, e Russell.
43
entre os volumes dentro da série. Por um período bastante longo. Desde 1938 a 1984, os
títulos com o emblema da coleção aparecem e são reeditados.
A situação do mercado editorial mundial no período entre - guerras
Esse tema se justifica a partir da premissa de que o mercado editorial mundial
passou por uma série de mudanças no período imediatamente posterior a I Guerra
Mundial. Essas mudanças afetaram de uma forma ou de outra todos os países do
Ocidente, incluindo-se o Brasil. O processo de destruição de uma geração européia, a
primazia dos Estados Unidos, o avanço das mais variadas tecnologias de produção,
enfim, um mundo novo que se desenhava tiveram, necessariamente, seu reflexo na
indústria editorial e de entretenimento. Reflexos esses que, resultaram em um novo
público, novas temáticas e, também, uma maior circulação de títulos e idéias.
A julgar pela opinião de Daniel Burt (BURT, 2004:3) o final da primeira guerra
mundial exigiu tamanha mudança nos parâmetros anteriormente utilizados para
organizar e compreender a condição humana que, nos Estados Unidos, foi em parte
causador de uma explosão de criatividade na literatura do país, marcada por “Willa
Cather, Scott Fitzgerald, Edna St. Vincent Millay, Robert Frost, Ernest Hemingway,
T.S. Eliot, Ezra Pound and William Faulkner”. Ainda segundo BURT (2004), pela
primeira vez na história, autores estadounidenses desempenharam papéis relevantes na
direção de uma literatura mundial. Esse aumento da importância literária dos Estados
Unidos se faz mais claramente com o primeiro prêmio Nobel de literatura concedido a
um autor estadounidense: Sinclair Lewis em 1930.
Essa explosão criativa marca, também, o aumento das vendagens de títulos
estadounidenses na Inglaterra, um crescente número de traduções das obras para outras
línguas e o aumento das tiragens dos bestsellers como um todo.
41
41
Essa tendência também é comentada por McKibbin (2008) que analisando a relação complexa entre
cultura e classes na Inglaterra identifica uma americanização da cultura britânica a partir de 1918. Para o
autor, essa americanização tem dentre seus fatores intervenientes, o aumento da importância econômica
dos Estados Unidos mas, também, o aumento da relevância da classe média britânica que busca novos
padrões de consumo de cultura, de valores e uma ruptura com a cultura aristocrática tradicional da
Inglaterra. Para esse autor, o aumento da escolarização foi determinante para o mudança nos hábitos de
leitura britânicos e, para a ascensão cultural dos Estados Unidos na Grã-Bretanha como um todo. No
raciocínio do autor, a cultura demasiado aristocrática da Inglaterra não conseguia atender aos anseios e
valores da classe média em ascensão. Daí uma ligeira mudança de significado nas expressões highbrow,
middlebrow e lowbrow. Ainda segundo McKibbin (2008) o desprezo da cultura aristocrática inglesa pelos
44
Em sua cronologia, BURT (2004) identifica um processo que, espelhado,
encontramos no Brasil. O aumento das traduções dos títulos em inglês e, especialmente
dos Estados Unidos, para outras línguas, dentre elas, o português. É BURT(2004) ainda
quem aponta sem se aprofundar, para a expansão das agências literárias e das
negociações de direitos de tradução dos textos dos autores dos Estados Unidos. Segundo
o autor, esse processo tornou mais fácil sobreviver de literatura nos Estados Unidos e
foi um bom combustível para a massificação da leitura.
Para o autor, o processo de ampliação do público leitor, apoiado na revolução do
paperback
42
não se separa da profissionalização dos escritores que podem produzir mais
títulos por se dedicarem apenas à atividade de autoria. Outro aspecto que contribuiu
para essa expansão do mercado editorial foi a ampliação do público letrado, a melhoria
nas condições de produção dos livros que se tornam ainda mais baratos e, é claro, a
crescente melhoria das comunicações
43
A expansão do mercado editorial, ainda segundo BURT (2004) foi bastante
desigual. Os livros de ficção cresceram de forma tão mais marcante que quaisquer
outros livros no período que a revista dos editores Publisher’s weekly viu-se forçada a
mudar a sua lista de Best Sellers, publicada semanalmente e consolidada ao final de
cada ano. Nessa lista, a categoria não-ficção foi destacada da categoria ficção pois não
era possível identificar livros de não ficção nas listas.
.
44
Outro aspecto salientado por BURT (2004) é que, apesar do evidente
crescimento dos títulos escritos por autores estadounidenses, a presença de autores
ingleses ainda é bastante marcante. Basta uma breve consulta nos títulos dos maiores
best-sellers nos Estados Unidos durante as décadas de 1920 e 1930 para identificar que
vários títulos e autores do período, não são autóctones e a influência da Inglaterra nos
Estados Unidos ainda é bem grande.
valores estadounidenses se revelou na transformação do termo highbrow não para se referir a uma cultura
de elite (caso dos Estados Unidos) mas para se referir a uma cultura “acadêmica”, vinculada à classe
média alta que conseguia alcançar o ensino superior mas que não possuía a origem social aristocrática.
McKibbin identifica uma variedade enorme de preconceitos e uma segmentação aparente (mas não real)
na circulação de textos. Essa segmentação aparece no discurso mas não nos hábitos de consumo,
fortalecendo as idéias de CHARTIER sobre a circulação de textos e sua relação com os suportes que os
dão a ler.
42
Livros de formato pequeno, baratos e com capas simples “de papel”, daí o “paperback”.
43
Apenas como contraponto, em entrevista a SORÁ, a escritora Raquel de Queiroz comenta que, no
Brasil, apenas Jorge Amado vivia de direitos autorais (na década de 1930). Cf: SORÁ (1998:194)
44
Nos anos 1960, nova mudança na lista da revista. Aparece a categoria “auto ajuda”, destacada da
categoria não ficção.
45
Desses títulos best sellers, vários conheceram seu lançamento no Brasil em
meados da cada de 1930. Tal é o caso de alguns títulos publicados pela Companhia
Editora Nacional
45
. Dentre eles, a título de exemplo, A Ponte de San Luiz Rey. Este foi o
livro de ficção mais vendido nos Estados Unidos em 1928 e ganhou o prêmio Pulitzer
do mesmo ano mas só foi traduzido para o Português em 1935
46
Outro exemplo do processo é o tulo Lágrimas de Homem, na lista de
bestsellers dos Estados Unidos por dois anos consecutivos, em 1926 e 1927 e traduzido
para o Português em 1941. Este tulo, do autor inglês Warwick Deeping, foi publicado
em 1925 na Inglaterra o que evidencia outro aspecto que essa mesma lista traz: a
presença de livros ingleses circulando nos Estados Unidos e a importância do inglês no
Brasil ampliando o comércio com ambos os países.
.
Esse mesmo argumento é válido para as obras de não ficção do mesmo período.
O interessante é que BURT aponta para uma certa internacionalização dos títulos. Da
mesma forma que os textos estadounidenses passaram a circular mais na Europa, muitas
obras européias aparecem na lista de best sellers da Publisher’s Weekly que, refletindo o
novo momento editorial do país, passa a publicar essa lista dividida em dois assuntos:
ficção e não-ficção. Essa lista de best sellers, provavelmente orientou as negociações
internacionais de vários títulos em inglês no Brasil.
Essa internacionalização apontada por BURT (2004) e McKIBBIN (2008) é, no
entanto, um movimento de expansão dos títulos escritos e negociados em inglês que
reflete o aumento da importância dessa língua no contexto mundial do entreguerras. O
inglês ao longo do século XX assiste a um grande aumento do número de estrangeiros
falantes e, como salientado por FOUCHÉ (1991), um aumento das traduções de títulos
neste idioma para o francês
47
O primeiro prêmio Nobel concedido a um estadounidense também acelerou a
tradução de obras do inglês para outras línguas. Sinclair Lewis laureado em 1930
validou a idéia de que a literatura produzida nos Estados Unidos possuía valor e merecia
ser lida e traduzida. A década de 1930, realmente marcou a expansão da literatura dos
e outras línguas, dentre elas o Português.
45
Essa mesma afirmação pode ser ampliada para a Editora Globo e para a José Olympio. Provavelmente
para várias outras.
46
O contrato foi assinado em 1934.
47
FOUCHÉ (1991) indica um aumento das traduções do inglês mas, ao mesmo tempo, acentua a grande
expansão do mercado editorial francês no período. Esse aumento das traduções pode ser função de uma
expansão maior de leitores do que de títulos novos, conforme aponta BURT (2004) mas, também, uma
maior internacionalização do mercado de direitos autorais, barateando o custo do livro traduzido
(FOUCHÉ, 1991).
46
Estados Unidos no mundo. Seguiram-se a Lewis, Eugene O´Neill (1936) e Pearl Buck
(1938) apenas na década de 1930.
48
Dessa forma, o contexto internacional valoriza uma coleção cuja maior parte dos
títulos são traduzidos do inglês.
A coleção, as séries e sua lógica interna
A construção das tabelas deste capítulo foi feita a partir das fichas de edição da
Biblioteca do Espírito Moderno, cotejadas com os mapas de edição da Companhia
Editora Nacional.
Conforme a tabela 1 demonstra, os primeiros títulos impressos com a distintiva
marca da Biblioteca do Espírito Moderno aparecem em 1938 enquanto a última
reimpressão que manteve o título Biblioteca do Espírito Moderno ocorreu em 1984.
Alguns de seus títulos, notadamente da série de Literatura continuaram sendo
reimpressos em outras coleções, em títulos avulsos ou em edições comemorativas. Mas,
nesses casos, sem o símbolo da Biblioteca do Espírito Moderno.
Tabela 1 – Títulos publicados por série
49
Série
Total de títulos
Primeira
publicação
Último título
publicado
Última
reimpressão
com o título da
série
Filosofia
(1ª. série)
33
1938
1963
1982
Ciências
(2ª. série)
30
1939
1977
1977
História e
Biografia
(3ª. série)
73
1938
1977
1983
Literatura
(4ª. série)
27
1940
1974
1984
48
Basta levar em consideração que entre 1930 e 1943 apenas 9 prêmios foram concedidos. Destes, 4
entregues a escritores de língua inglesa..em 1932, John Galsworthy da Inglaterra recebeu a honraria.
49
A tabela foi construída apenas com os títulos localizados e identificados com o símbolo da
Biblioteca do Espírito Moderno. Em 1936, por exemplo, há nas fichas de edição, a publicação de duas
obras de Will Durant mas as mesmas embora localizadas, não possuem indicação de pertencimento à
biblioteca, o que leva à confirmação de que as fichas foram feitas a posteriori.
47
Ao analisarmos o número de títulos em cada uma das séries, encontramos
“História e Biografia” como a mais longa das quatro séries, mesmo se pensarmos em
duas subséries uma com temas de História e outra para títulos específicos de Biografia,
ainda assim é a série com maior número de títulos. Apresentando ao público leitor um
total de 73 títulos. Enquanto a série de Literatura é a mais curta, com apenas 27 obras.
Gráfico 1 – A Bibliotheca do Espírito Moderno
Total de títulos por série
no quesito tiragem total das obras, a 4ª. série é o maior sucesso da coleção
com títulos que, até hoje, continuam sendo periodicamente reeditados (steady sellers
50
).
Entretanto, ao analisarmos o número de exemplares publicados, a situação privilegiada
da 4ª. série reaparece.
50
O termo steady seller é utilizado para os livros que, mesmo não sendo verdadeiros campeões de
vendagem durante o lançamento, tem suas edições sucessivamente esgotadas e vendagens constantes ao
longo de um grande período de tempo. Um ótimo exemplo desse tipo de livro é Rebecca de Daphne Du
Maurier que foi lançado com boa vendagem, em seguida reimpresso várias vezes, ganhou novo fôlego
com a filmagem da estoria, manteve a boa vendagem e encontrou novo sucesso com a novela da rede
Globo A Sucessora.
33
30
73
27
163
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1a. Série -
Filosofia
2a. Série -
ciências
3a. Série -
História e
Biografia
4a. Série -
Literatura
Total de
títulos da
coleção
48
Tabela 2 – Biblioteca do Espírito Moderno
Total de Títulos e volumes publicados por série
Série
Total de títulos
51
Total de volumes
Média de volumes
por títulos
Filosofia
(1ª. série) 33 442.502 13.410
Ciências
(2ª. série) 30 158.538 5.285
História e Biografia
(3ª. série) 73 815.156 11.167
Literatura
(4ª. série) 27 830.181 30.748
Total das séries
163
2.246.377
52
13.782
Pode-se observar na tabela 2 que a média simples entre total de volumes e total
de tulos na série de literatura é mais do que o dobro da média da coleção. Se, por
exemplo, retirarmos a . série da tabela, encontramos a média de títulos em
inexpressivos 10.000 exemplares (conforme a média feita, encontram-se os valores
9.954 ou 10.413 volumes).
Ao longo do tempo, como era de se esperar, a coleção viveu períodos de
grande investimento e outros em que sobreviveu dos títulos publicados. Quanto às
séries, seu destino bastante diverso acompanha, em certo sentido, algumas das escolhas
da editora e vive o dilema de outras coleções constituídas por séries variadas, algumas
das séries tem maior tiragem, maior número de títulos ou maior respeitabilidade, como
no caso de outras coleções da própria Companhia Editora Nacional, a Biblioteca
Pedagógica Brasileira e a Biblioteca Universitária.
51
Refere-se a títulos efetivamente publicados.
52
Em sua dissertação de mestrado, BEDA (1987) apresenta números ligeiramente diferentes.
Provavelmente, porque consultou as fichas de edição e produção e não os livros em si. Contei como parte
da Biblioteca do Espírito Moderno apenas as edições que faziam referência à mesma.
49
Entretanto, não é possível desvincular a publicação de certos títulos em uma
série com pequena tiragem e vendagem mínima e a legitimação da própria coleção junto
ao público leitor. Também, os editores/organizadores não estão isentos de suas
preferências pessoais e de escolhas que não são o sucesso previsto. A série de Ciências,
por exemplo, conta com poucos títulos, tiragens muito pequenas mas autores que
credenciam a coleção como um todo. De forma análoga, o mesmo se pode afirmar em
relação aos títulos de Filosofia e de História/Biografia. Ao lado dos sucessos de
vendagem, encontram-se apostas fracassadas e alguns títulos valorizados por seus
autores.
A materialidade da coleção: elementos distintivos
O layout da capa e da lombada da edição brochura (e da jaqueta da edição capa
dura) são de autoria de Otto Bendix, e são distintivos de uma época. Ao centro, um
retângulo, cuja cor, grosso modo acompanha a série. Azul para Filosofia, Verde para
Ciências, Vermelho para História e Biografia; laranja para Literatura
53
53
Essa regra vale para os primeiros livros da série, com exceção do livro de Eva Curie Marie Curie que,
conforme a edição possui o retângulo da capa em verde ou vermelho.
, emoldurado por
volutas floreadas ao estilo “francês” em dourado sob fundo bege. Pela ordem, aparecem
o nome do autor, o título da obra, o tradutor em destaque e, ao do retângulo, o nome
Companhia Editora Nacional e, abaixo, São Paulo. A lombada mantém a mesma cor
bege do fundo e guarda a cor do retângulo para duas faixas. A superior com os nomes
do autor, da obra e da Companhia Editora Nacional. A faixa inferior, o título Biblioteca
do Espírito Moderno, a série e o volume. Durante os primeiros anos, a quarta capa se
manteve a mesma com o índice das obras da coleção. Para as jaquetas ou edições com
orelhas, a primeira aba trazia breve comentário sobre a obra e/ou biografia do autor e a
50
segunda aba apresentava outro título da série com breve resenha ou a apresentação da
coleção com o texto definidor da mesma.
Figura 4 –
Foto: Os livros da série de Literatura na biblioteca do Arquivo Histórico da
Companhia Editora Nacional. Detalhe para as várias edições dos mesmos títulos
etiquetadas com o número da obra no mapa de produção da editora.
51
Figura 5 - Foto: Capa da 3ª. série da BEM. Detalhe para o nome do tradutor.
52
Figura 6 - Foto: 4ª. capa e lombada de 1942.
53
Conforme mencionado, o estilo da coleção é, em certa medida, uma
“regressão ao padrão” que todas as coleções do período vivenciam. Após as capas
“modernistas” (CARDOSO, 2005), coloridas e exageradas descritas por Lobato em A
Barca de Gleyre, encontramos, na Biblioteca do Espírito Moderno, um estilo francês,
característico do final do século XIX e início do XX (HALLEWELL). Acontece que, o
sentido de construir coleções para um leitor médio ou “comum”, alterou a importância
dada ao próprio livro que passa a ser desenhado para aparecer em uma estante,
preferencialmente, com destaque.
Ao analisarmos as capas dos títulos anteriormente publicados como títulos avulsos e a
capa da Espírito Moderno, esse caráter fica evidente.
54
Figura 7 - Foto: A Vida de Disraeli de autoria de André Maurois. Capa da 1ª. edição –
1933 – anterior a Espírito Moderno.
Figura 8 - Foto: capa da primeira edição da revista Klaxon.
55
Figura 9 - Foto: Capa de Walter Levy para o mesmo livro. Repare-se a assinatura do
autor no lado inferior esquerdo da capa. Os números a mão em vermelho referem-se ao
número do livro na editora e o preço do mesmo.
Quanto ao formato, os volumes oscilaram em torno de 14 cm x 21cm em sua
maior parte, em especial no início da coleção, o papel escolhido foi Buffon de 1ª.
Durante o período de 1944 e 1945, em decorrência da crise de abastecimento
desencadeada pelo conflito mundial, o papel mudou para Buffon de 2ª. ou . O que, no
dizer de Nelson Palma Travassos não era exatamente papel posto que não possuía
elasticidade, apresentava sérios problemas de absorção da tinta, danificava os tipos e
quebrava quando colocado em rotativas (TRAVASSOS, 1974 e 1978).
na década de 1960, os novos títulos e reimpressões foram compostos em
papel off-set, mais adequado aos modernos maquinários da época (RIBEIRO, 2003) e
garantiam uma qualidade de impressão melhor e mais barata.
Quanto às ilustrações, as fotografias eram impressas em papel especial,
brilhante mas sempre em preto e branco e quando as páginas de texto dos livros
apresentavam ilustrações, as mesmas eram desenhadas a bico de pena e sempre
monocromáticas. Ao contrário da coleção “Tapete Mágico” da editora Globo e
56
concorrente direta da Biblioteca do Espírito Moderno, não havia uma propaganda
explícita sobre as imagens encontradas nos volumes, ao menos não no período inicial.
Todos os livros da série apresentam índice no começo. Não um número de
páginas médio. Os livros oscilaram muito nesse item. Há, sim, um número de páginas
máximo, além do qual haveria a divisão em dois ou três volumes. Quanto às notas de
rodapé, sempre poucas, optou-se por um critério de mínima citação. Algumas notas
esclarecedoras sobre condições locais ou pessoas menos conhecidas e a retirada de notas
mais acadêmicas ou que interrompessem o fluxo da leitura.
54
.
A apresentação da série e dos títulos nos catálogos e folhetos:
Seguindo uma tradição mais ou menos estabelecida na época de seu
lançamento, a Biblioteca do Espírito Moderno surgiu juntamente com o texto de
apresentação, comentado, e o catálogo. Sobre o catálogo, é importante lembrar sua
relevância no mercado editorial brasileiro que, em grande parte, vivia do reembolso
postal e dos correios.
Mais do que uma listagem de autores e obras (presente no interior de todas as
jaquetas dos livros de capa dura), o catálogo deve apresentar a coleção como um todo. É
uma peça de divulgação e propaganda. Segundo SORÁ, “é um documento de identidade
dos editores” (1998, p.214). Pelo menos três outros trabalhos se utilizaram, ao menos
em parte, dos catálogos da CEN: BEDA (1987), TOLEDO (2001) e LEAL (2003). Cada
um com objetivos e focos diversos, e todos, como SORÁ, identificando os catálogos
como fonte privilegiada.
Assim, não é demais comentar o formato e a organização dos catálogos da
Biblioteca do Espírito Moderno. Os catálogos de 1939 e de 1945 tem o mesmo tamanho
e seguem a ordem das séries. Filosofia, Ciências, História e biografia e Literatura. Em
nenhum catálogo, os títulos foram apresentados fora das séries.
55
54
Esse fato é verificado tanto pelas traduções “lobateanas” quanto pela comparação entre alguns títulos
da coleção e sua posterior tradução em outra coleção. Caso específico de Bertrand Russell que,
retraduzido pela Zahar já na década de 1970, ganhou inúmeras notas de rodapé, mais adequadas para o
público a que se destinava: estudantes e professores universitários..
No entanto, o catálogo
de 1939 apresenta os títulos em ordem numérica enquanto o de 1941 os apresenta em
ordem alfabética.
55
Já nas propagandas de revista e folders, os títulos “de trabalho” são apresentados misturados,
independentemente da série a que pertencem.
57
Mais completo, o catálogo de 1945 apresenta alguns títulos com a foto do
autor, notadamente os maiores investimentos da editora: Will Durant, André Maurois,
Eva Curie. Em ambos os catálogos, a marca dos bons livros e a observação sobre as
“boas e as más traduções aparecem na 4ª. capa.
56
Figura 10 - Foto do catálogo de 1943 com foto “a bico de pena”, busto e recente do
autor Will Durant.
56
Encontrei correspondência da CEN com a editora de Durant e com a de Maurois em que a
especificicação para a foto do catálogo aparecem. Preferencialmente desenho a “bico de pena”, recente e
apenas o busto.
58
Figura 11 - Foto do catálogo de 1939.
59
Figura 12 – Capa do catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno
Na página 1, o catálogo apresenta a coleção com uma breve redução do texto
sobre o “Nosso tempo” que aparece na orelha dos livros. A descrição dos títulos da 1ª.
série (Filosofia) já começa na folha 3 e, conforme o catálogo, em uma ordem diferente.
Para o catálogo de 1943, a ordem numérica da série foi escolhida. Os títulos
aparecem em primeiro lugar, seguidos pelo autor do livro e, em seguida, em itálico o
nome do (s) tradutor(es). No parágrafo seguinte, centralizado o volume e a série.
Em outro parágrafo, breve texto que é um extrato da apresentação do livro,
publicada na 1ª. orelha da edição brochurada ou na . orelha da jaqueta da edição
encadernada (cartonada). Esse mesmo texto será utilizado, em grande parte, para as
resenhas enviadas a Revista do Brasil.
60
Em outra linha, impresso com tipos menores, alinhado a esquerda e em itálico
o preço da edição em brochura. Ao final de cada série no rodapé da página aparece a
informação: Nota: volume encadernado mais Cr$ 6,00.
Em média, nesse catálogo o preço dos livros oscilou em torno de Cr$ 12,00. O
mais barato foi de Cr$ 10,00 e o mais caro Cr$ 28,00 (História da Civilização de Will
Durant), também o mais volumoso com 590 páginas.
Já para o catálogo de 1945, a ordem alfabética dentro das séries foi a escolhida,
inclusive com a indicação de obras ainda no prelo. Para esse catálogo, uma
majoração dos preços médios, oscilando em torno de Cr$ 35,00.
Em todos os catálogos, duas ou três páginas apresentam a obra de Will Durant
lançada no período. Para o de 1939, a apresentação é Nossa Herança Oriental e o plano
geral de História da Civilização. Para o catálogo de 1943, a apresentação de Nossa
Herança Oriental é complementada com Nossa Herança Ocidental e, com especial
atenção para o volume César e Cristo.
Esse grande destaque, em ambos os catálogos, para a obra de Will Durant
História da Civilização, comentado nas três últimas páginas do catálogo de 1943 e, no
catálogo seguinte de 1945, após o texto introdutório da Biblioteca do Espírito Moderno,
em duas páginas com destaque para o lançamento do volume César e Cristo e
retomando o projeto da coleção
57
A apresentação de HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO começa apresentando
outra obra do mesmo autor e da coleção.
reforça a importância do autor para o projeto editorial.
Há cerca de vinte anos, muito antes de publicar sua esplêndida
HISTÓRIA DA FILOSOFIA, Will Durant concebera o plano de escrever uma
história do século XIX. Começou, nessa época, a trabalhar no projeto, mas
logo verificou que a evolução histórica e social daquele século só poderia ser
exposta e compreendida quando analisada em relação aos acontecimentos
anteriores, que deitavam raízes nas mais diversas e remotas quadras da
História. Assim, suas pesquisas levaram-no gradualmente a ampliar o projeto
inicial e a formar o plano de uma história de toda a civilização, antiga e
moderna, ocidental e oriental, em cinco partes independentes:
Segue-se a essa apresentação, a apresentação do plano da obra que ainda não
está completamente escrita. Nesse catálogo, apenas estão publicados Nossa Herança
Oriental e Nossa Herança Clássica. Ainda com a observação de que para garantir
57
Ao longo da história da coleção, todos os nove volumes dessa obra foram lançados pela
Biblioteca do Espírito Moderno.
61
possíveis falhas especialistas foram consultados das “Universidades de Harvard, Museu
de Belas Artes de Boston, Universidade de Washington e outros. ”
58
Aqueles que tiveram ocasião de ler “A NOSSA HERANÇA
ORIENTAL” em manuscrito, compararam esse trabalho e mais a serie da qual
é parte, à grande obra dos enciclopedistas franceses do século XVIII. O certo é
que a HISTORIA DA CIVILIZAÇÃO, que se destina a ser a obra-prima de
WILL DURANT e na qual ele terá que trabalhar muito nos próximos anos,
constitue a mais brilhante e audaciosa tentativa feita por um único cérebro no
sentido de interpretar, num todo, a longa e tumultuosa história da humanidade.
Os dois volumes de “NOSSA HERANÇA ORIENTAL”, que ora
apresentamos aos leitores da “BIBLIOTECA DO ESPIRITO MODERNO”,
em magnífica tradução de Monteiro Lobato,s ervem, pois, de introdução a um
dos mais importantes planos literários dos nossos tempos. (Catálogo da
BIBLIOTHECA DO ESPIRITO MODERNO – pp. 35).
No catálogo seguinte (1945), novamente Will Durant aparece em destaque,
desta vez com o lançamento de CESAR E CRISTO, segundo tomo do volume NOSSA
HERANÇA CLÁSSICA e com uma conclusão que retoma o projeto da coleção.
Will Durant devotou uma vida inteira à sua HISTÓRIA DA
CIVILIZAÇÃO, da qual “César e Cristo” é a terceira parte. Seu estilo foi
comparado do de Gibbon e Carlyle, ambos da idade de ouro da literatura
histórica! Em excelente tradução de Monteiro Lobato, apresentaremos dentro
em breve aos leitores da Biblioteca do Espírito Moderno, essa . parte da
História da Civilização de Durant, em dois tomos. À exemplo dos volumes
anteriores, essa terceira parte é primorosamente ilustrada.
Repare-se o “primorosamente ilustrada” não significa ilustrações coloridas mas
um grande número de imagens em preto e branco impressas em papel especial. Fotos,
desenhos, mapas e quadros ilustrativos compõem os volumes da coleção dentro da
coleção.
O primeiro grande veículo de propaganda da coleção foram os catálogos. Tanto
os de caráter geral quanto os específicos da BEM. É nesses catálogos, juntamente com
o vendedor/distribuidor que o livreiro entra em contato com os lançamentos e o público
58
O texto exato é: “Embora tenham sofrido cuidosos confrontos e exhaustivas verificações todos
os fatos apontados em “NOSSA HERANÇA ORIENTAL”, WILL DURANT, para se garantir ainda mais
contra possíveis falhas e omissões, resolveu submeter copias dos manuscritos à apreciação de diversos
especialistas, inclusive à do Prof. Harry Wolfson de Harvard; Dr. Ananda Coomarasvamy, do Museu de
Belas Artes de Boston; Prof. H.R. Gowen, da universidade de Washington, e outros.” (Catálogo
Biblioteca do Espírito Moderno1943. pp. 35-36)
62
a que se destinam cada livro. Mais do que simples listagem das obras, os catálogos são
enviados pelo correio para alimentar o reembolso postal, distribuídos para vendedores
autônomos e livreiros. A presença de um catálogo específico para a Biblioteca do
Espírito Moderno por si só indica a importância e o investimento feito nessa coleção.
Nos dizeres de Jorge Zahar em 1956
59
o vendedor de livros não pode evidentemente carregar todas as amostras
de sua mercadoria, isto é, não pode levar consigo todos os livros que vai vender
e que tem de mostrar ao interessado, seja este um livreiro ou simples particular.
O volume a transportar ficaria enorme. Por isso, o vendedor transporta apenas as
capas ou, de preferência, as sobrecapas dos livros, que mesmo em boa
quantidade podem caber numa pasta. Mas a capa, pelo simples título da obra,
não dá nunca uma idéia exata do conteúdo do livro. Que faz, então, o vendedor
para facilitar sua tarefa? Ele se dá ao trabalho de copiar o índice de cada um dos
livros, que vai colar na parte interna das respectivas capas, que leva para
demonstração. Está, então, habilitado a mostrar a obra em toda sua extensão.
Contudo, não é essa uma apresentação ideal, e o trabalho que teve, por outro
lado, foi cansativo e incompleto.
:
O ideal, portanto, para o sr. Zahar, é que na dobra (ou “orelha”) da
sobrecapa, ou da capa quando esta for brochura, o editor faça imprimir, em vez
do costumeiro elogio do autor, o índice da obra, ou, uma última hipótese, um
resumo com as mesmas características. As vantagens dessa iniciativa poderiam
ser assim resumidas:
1) facilita a exposição do vendedor, que trabalha apenas com o elemento
capa e não com o texto do livro;
2) fornece imediatamente ao comprador uma visão ampla do conteúdo do
livro;
3) torna mais fácil a classificação da obra pelos bibliotecários (ver a
propósito, o BBB
60
A reprodução do índice, como agora é explanado, não se refere
precisamente ao livro de ficção. Mas já a uma boa parte dos livros de consulta,
pode ser aplicado o sistema, que é efetivamente de execução simples e não
implica em maior despesa para o editor.
no. 6 vol III, no qual sugerimos a utilização da orelha para o
seguinte: nome completo do autor, local e data de seu nascimento e uma ligeira
apreciação sobre a obra).
Além do catálogo, também o livro é veículo de propaganda tanto da coleção
quanto de lançamentos da editora. Nesse caso, a Biblioteca do Espírito Moderno era a
privilegiada. A quarta capa funcionava, via de regra, como um espaço de divulgação dos
lançamentos, da coleção ou de outros títulos da mesma editora relacionados ao tema ou
de mesmo autor. Assim, pro exemplo, nos livros de Bertrand Russell surge, na quarta
59
Boletim Bibliográfico Brasileiro - Maio-junho 1956 Editorial A Capa e o
Livro.
60
BBB – Boletim Bibliográfico Brasileiro.
63
capa, um inventário das demais obras do mesmo autor na série, o mesmo valendo para
Durant, Wells, Ernest Hemingway e, mais tarde, Bertrand Russell.
Quanto à apresentação do título, o texto da 1ª. orelha que, via de regra, aparece
resumido na apresentação do livro no catálogo, ressalta a importância do tema para a
atualidade. Esse pequeno texto serve de base para todas as demais propagandas mas não
encontrei indícios da autoria dos mesmos. Ênio Silveira em depoimento para a série
Editando o Editor narra que foi encarregado de escrever o texto de apresentação de
Fernando de Azevedo mas, fora essa indicação, não encontrei outras.
61
Na realidade, é possível identificar os maiores investimentos de divulgação da
coleção e da editora pela freqüência com que certos autores e temas aparecem nas
quartas capas dos livros da coleção.
Alguns indicadores da periodização da coleção
Conforme já demonstrado por TOLEDO (2001:72), uma coleção bem sucedida
se faz tanto pela escolha de novos títulos e sua capacidade de renovação conforme as
mudanças decorrentes do público leitor e do contexto em que se insere mas, também, da
manutenção de alguns títulos que sempre reeditados garantem a construção e
sobrevivência de um “fundo editorial”.
Entre o início da coleção (1939) e 1946, os títulos novos são em grande
número, culminando com o lançamento total de 18 títulos em 1942. Além desse grande
número de novos títulos, a coleção contou, ainda com alguns livros remanejados de
outras coleções ou, anteriormente publicados como títulos avulsos e que foram
“relançados” na coleção. A data de 1942 é especialmente significativa porque marca a
saída de Anísio Teixeira da organização da Biblioteca do Espírito Moderno. Nos anos
61
O episódio narrado em ALMEIDA (2003:24-25) “Uma das primeiras tarefas que tive na
Companhia Editora Nacional foi escrever uma orelha para o livro de Fernando de Azevedo, mestre ilustre
e, para mim, figura do olimpo da cultura brasileira. Sentia-me intimidado. Como é que um garoto
absolutamente cretino ia escrever um texto de apresentação para um livro do Fernando de Azevedo?
Como já tivesse certa intimidade, coleguismo, com o Fernado, que trabalhava na Editora Nacional,
dirigindo duas coleção, fui a ele.
- Dr. Fernando, estou vivendo uma situação bastante aflitiva: preciso escrever um texto sobre o
senhor, sobre o seu livro, e poderia fazê-lo, mas tenho receio de dizer muita besteira. O senhor pode me
auxiliar?
- Pois não, meu filho, pois não. Tome nota aí.
Então botou aquele pince-nez que ele usava e disse:
- Figura genial da sociologia nacional...
E assim fui indo nesses elogios, merecidos, porém um pouco grotescos para a situação de auto-
elogio; foi feita a orelha e ele ficou muito satisfeito.”
64
que se seguiram, os títulos publicados são, em grande parte, mas não totalmente,
aqueles que começaram a ser negociados durante a coordenação de Anísio Teixeira.
Algumas dificuldades externas também implicaram numa queda dos
lançamentos. Dentre elas, a entrada do Brasil na Guerra e a dificuldade de se negociar
novos títulos e de obter papel para a impressão.
Nelson Palma Travassos, então proprietário da gráfica Revista dos Tribunais,
indica a qualidade do papel e da tinta como fatores de encarecimento do custo
tipográfico. Segundo Travassos, papéis e tintas inferiores estragavam mais rapidamente
os tipos e, o que era igualmente sério, obrigavam os tipógrafos a pararem muitas vezes
seu trabalho para limparem os tipos e/ou trocarem-nos
62
Um segundo momento de crescimento ocorre em meados da década de 1950,
mais precisamente a partir de 1954 que coincide com o reaparecimento da figura de
Anísio Teixeira na coordenação da mesma. A saída de Anísio, em1969, sela uma nova
crise para a Biblioteca do Espírito Moderno que, com grandes dificuldades, muitas
reimpressões e pouquíssimos lançamentos, sobrevive até 1984.
.
Pode-se, assim, imaginar dois períodos de maior investimento em novos títulos
1939 a 1942 e 1954 a 1966 separados por um interregno (1942 e 1954) em que a
coleção sobreviveu, em sua maior parte de títulos anteriormente negociados e
reimpressões para, finalmente, enfrentar sua fase final que se inicia após o lançamento
de seis obras entre 1966 e 1967.
63
Por mais distante que sejam os números das várias séries, todas acompanham,
grosso modo, os mesmos movimentos gerais da coleção. Entretanto, a 3ª. série (História
e Biografia) por ser a de maior número de títulos é, também, a que imprime o ritmo de
produção da coleção, conforme o gráfico:
Esse período de crise acompanha a estatização e
venda da Companhia Editora Nacional, após a morte de Octalles Marcondes Ferreira.
62
Cf. TRAVASSOS (1974: p.187)
63
Os títulos lançados em 1966 foram: Castro Alves – Poesias Completas, organizado por Jamil
Haddad, O Diário de Giovanni Papini, , O Coração e o Espírito de Guy Endore, População, Evolução e
Controle de Natalidade de Garrett Hardin, em 1967, publicou-se Estudos de História Contemporânea de
Arnold Toynbee e, negociado em 1966 mas publicado em 1969, A natureza e o Destino do Homem de
Garrett Hardin.
65
Gráfico 2 – Biblioteca do Espírito Moderno
Lançamentos e reimpressões
0
5
10
15
20
25
30
1930 1940 1950 1960 1970 1980
ano
mero de títulos
títulos novos Reimpressões novos na coleção total
No caso da Biblioteca do Espírito Moderno, a espinha dorsal da coleção é a
terceira série. Observa-se, no gráfico 3, a sua importância no movimento de edições da
BEM. Todos os momentos de grande número de novos lançamentos e investimentos
dentro da coleção são sustentados por um aumento dos títulos da série de História e
Biografia e, também, por uma ampliação das reedições/reimpressões da série.
Gráfico 3: Biblioteca do Espírito
Títulos Novos: Série/Ano
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
Ano
número de títulos
1a. Série 2a. Série 3a. Série 4a. Série total da coleção
66
Gráfico 4 - Biblioteca do Esrito Moderno
Comparativo - 3a. rie/colão
0
5
10
15
20
25
30
1938
1941
1944
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
novos reimpressão total da 3a. Série Total da coleção
Analogamente, por ser a série com maior tiragem, a 4ª. série (Literatura),
juntamente com a 3ª. (História e Biografia), são aquelas que dão o ritmo das
reimpressões na coleção, conforme se depreende do gráfico 5
Gráfico 5 – Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo: Reimpressões coleção/4ª. série
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
4a. Série total na coleção
67
Comparando-se com o gráfico relativo às reimpressões na 3ª. série de História
e Biografia, identificamos que os descompassos entre as reimpressões da 4ª. série e a
coleção podem ser expressivamente conectados às reimpressões encontradas na 3ª.
série.
Gráfico 6 – Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo: Reimpressões coleção/3ª. série
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
3a. Série total na coleção
Quanto às duas primeiras séries, uma das questões a resolver é sobre o objetivo
das mesmas. Afinal, comparando-se as séries de Filosofia e Ciências com as de
História/Biografia e Literatura, percebe-se que as duas últimas sustentam a coleção.
68
Gráfico 7: Biblioteca do Espírito Moderno
Tiragem por série
Comparando-se o número de títulos e a tiragem total por série, percebe-se uma
discrepância entre elas. Se, de um lado, a proximidade no número de títulos das séries
de Filosofia, Ciências e Literatura reforça o investimento em novos títulos da série de
História e Biografia, percebe-se também a distância entre as tiragens da série de
Literatura e das demais. Notadamente a 2ª. série que teve pouquíssimas reedições e cuja
maior tiragem foi de apenas 7020 exemplares de um único título sem reedição: Mágica
em Garrafas.
Biblioteca do Espírito Moderno - tiragem por série
442.502
158.538
741.467
830.181
2.172.688
1a. Série
2a. Série
3a. Série
4a. Série
total da
coleção
69
Gráfico 8: Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões - comparação das ries
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1938
1941
1944
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
ano
mero de títulos
1a. Série 2a. Série 3a. Série 4a. Série total na coleção
Gráfico 9: Biblioteca do Espírito Moderno
Comparação reimpressões por série
14
5
31
17
67
33
30
73
27
163
0 50 100 150 200
1a. Série - Filosofia
2a. Série - ciências
3a. Série - História e Biografia
4a. Série - Literatura
títulos total da coleção
total de títulos na série
títulos com reimpressão
70
Observe-se que a longevidade da coleção como um todo, não significou um
grande sucesso editorial da maioria dos títulos. Com exceção da série de Literatura,
todas as demais séries têm menos de 50% dos seus títulos reeditados.
Gráfico 10: Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos Novos da coleção
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1a. Série 2a. Série 3a. Série
4a. Série total da coleção
Retomando o mesmo gráfico 2 com outra apresentação, evidencia-se a importância do
ano de 1956 (já comentada) e a ausência total de lançamentos, reimpressões e
remanejamento na década de 1970 até os últimos 5 lançamentos no ano de 1977.
71
Gráfico 11: Biblioteca do Espírito Moderno
Comparativo lançamentos e
reimpressões
0
5
10
15
20
25
30
1938
1940
1942
1944
1946
1948
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
novo reimpressão livros remanejados total
Com base nesse regime de produção, identificam-se dois momentos
especialmente importantes. Ambos coincidentes com a presença de Anísio Teixeira na
organização. O período inicial que vai desde 1939 até 1946 e 1954 a 1960. Nesses
períodos, o número de títulos novos é alto e o de reimpressões também.
ainda um outro pico mas de reimpressões que vai de 1965 a 1969 e que
continuam até 1984 mas nenhum novo lançamento ocorreu.
Por este motivo, pode-se dividir a coleção em quatro períodos:
1939-1943 sob a direção de Anísio Teixeira até, pelo menos 1943. Vale
lembrar que alguns títulos negociados antes de 1945 são publicados em 1946.
1943 a 1953 sem a presença de Anísio Teixeira. Caracterizado por uma
redução do número de lançamentos mas grande número de reimpressões. As capas vão
aos poucos perdendo sua identidade mas ganham o design de Walter Lévy, dentre
outros.
1954 a 1973 com um aumento do número de lançamentos e a presença de
Anísio Teixeira, ao menos em algumas das propagandas. Esse período correspondente a
uma fase cuja principal característica é um número razoável de lançamentos e
reimpressões, sobretudo no ano de 1956. Há, ainda, a consolidação da mudança nas
capas dos livros, marcadas pela presença de Walter Lévy. Esse período marcado pela
72
presença de Anísio Teixeira se encerra com duas mortes: a do educador Anísio Teixeira
em 1971 e a de Octalles Marcondes Teixeira em 1973.
1974 a 1984 - Essa fase final correspondente à década de 1970 se caracteriza
por relativamente poucos lançamentos mas uma série de reimpressões cujo objetivo era,
na realidade, aproveitar o capital editorial da empresa. Ao final do período,
pouquíssimos lançamentos, poucas reimpressões e o canto do cisne de 8 reimpressões e
um lançamento no ano de 1977. Nos anos que se seguiram a 1977, nenhum lançamento.
As fichas de reedição ainda apresentam, por vezes, o título Biblioteca do Espírito
Moderno mas, se há o título nos volumes, este vem sem destaque na ficha
bibliográfica/catalográfica e o logo da BEM desaparece completamente das lombadas.
73
Capítulo 2 - A periodização da coleção
O primeiro Período (1939-1943)
Nesse capítulo e nos que se seguem, aprofundo a análise interna dos períodos
estabelecidos anteriormente, buscando relacioná-los a realidade externa à editora; seja
em relação à concorrência, seja em relação às condições materiais e intelectuais de sua
produção e circulação.
A estrutura desse capítulo se inspira no circuito de DARNTON (1990:113):
Para manter sua tarefa dentro de proporções exeqüíveis, os
historiadores do livro geralmente recortam um segmento do circuito de
comunicações e analisam-no segundo os procedimentos de uma única
disciplina – a impressão, por exemplo, que estudam através da bibliografia
analítica. Mas as partes não adquirem seu significado completo enquanto não
são relacionadas com o todo, e, se a história do livro não pretende se
fragmentar em especializações esotéricas isoladas entre si por técnicas
misteriosas e incompreensões mútuas, parece necessário alguma visão
holística do livro como meio de comunicação. O modelo mostrado na figura 1
apresenta uma maneira de visualizar o processo completo de comunicação.
Com pequenas adaptações, ele se aplicaria a todos os períodos da história do
livro impresso... ”(DARNTON, 1990:112-114)
Entretanto, é necessário mencionar as ressalvas de KAESTLE e RADWAY
(2009: 18-19) de que a expressão gráfica do circuito de produção da cultura impressa
tende a simplificá-lo e a privilegiar a relação autor-editor quando a realidade do século
XX apresenta as editoras e o circuito editorial muitas vezes com mais força do que o
autor do texto em si.
Para cada período, uma introdução que contextualiza a cultura editorial e os
problemas enfrentados naquele momento, seguidas por uma análise das características
gerais da coleção e das séries individualmente.
Segue-se a essa caracterização a compreensão da seleção temática no período
em que se deu a escolha e publicação do título. Seguidas das condições materiais de
produção e dos problemas relativos a distribuição dos títulos. A economia interna da
coleção é sempre o foco principal em qualquer subitem.
74
Figura 13 - Propaganda da Biblioteca do Espírito Moderno
O primeiro período – (1939-1943)
75
- Não li ainda as memórias da Emília. E, por mais que o sertão me
ensine o gosto das privações e das restrições, com essa ainda não me habituei.
Há pouco, pedi ao Otales novamente para mandar-ma. Mas tenho um correio
tão acidentado que muita cousa se perde. Ah! Compreende-se a alegria que
lhe dão esses livros: Andamos, hoje, em uma dessas épocas em que só o
trabalhar para o futuro nos pode consolar. Deve ter sido em momento como o
nosso de hoje que aqueles homens melhores da idade média se meteram a
fundar conventos, mas, pelo menos, escrevamos para as crianças. È uma
forma de retiro, uma forma de refúgio, e retiro e refúgio em que somos úteis...
Uma das minhas grandes humilhações está em não me ser possível o
mesmo. Meti-me em traduções. Mas, nem isso. O meu portuguezinho é uma
gaiola de passarinho para o grande inglês livre e ágil dos meus autores.
Terminei o Wells – o Outline – e a impressão que tive ao terminar, foi a de ter
roubado o leitor. Aquele livro iria ser traduzido por Você. Não calcula o
arrependimento de não o ter deixado em suas mãos!... Ás vezes, sonho que
você o poderia corrigir. Mas corrigir é pior do que traduzir... e o livro é uma
tal visão global do mundo, uma tão estimulante apresentação do drama
humano, que só você, entre nós, a deveria reapresentar, em português, aos
nossos brasileiros. Não, traduzir é tão arte quanto escrever, e só escritores o
devem fazer. E eu, positivamente, não sou escritor... Já não animarei tanto o
nosso Otales a me entregar obras desse feitio. Vou resumir-me a traduções em
que o lado técnico prepondere e, assim, eu me sinta justificado...’ (AT
c1928.06.22 marcador 41-A)
A carta que inaugura esse período foi escrita no sertão da Bahia por Anísio
Teixeira a Lobato. VIANNA & FRAIZ (1986) indicam a data de 1936 mas,
provavelmente, o início de 1937 é uma data mais adequada. Anísio faz menção a uma
forma de trabalhar com o futuro (escrevendo para crianças) e reforça a dificuldade da
época em que viviam. Ao mesmo tempo, reforça a importância das traduções de obras
que ofereçam uma visão global do mundo
Difícil não relacionar esse período às condições políticas brasileiras e
internacionais. No mundo, o conflito na Europa causava o êxodo de autores franceses
para os Estados Unidos e Canadá e, como era de se esperar, certa desorganização nas
casas editoras francesas.
Por outro lado, a preocupação com a expansão alemã na América ocasionou
uma política externa estadounidense de ampliação da participação não econômica
como cultural na América Latina e, portanto, no Brasil.
de um ponto de vista nacional, essa situação internacional coincide com um
aumento das ações do Estado Brasileiro em todos os níveis da vida nacional. No caso da
indústria livreira, alguns aspectos precisam ser explorados.
76
Inegável, a importância do ministro Gustavo Capanema no Ministério da
Educação e Saúde e, depois, Ministério da Educação e Cultura
64
Para o tema em pauta, a formação do Instituto Nacional do Livro, em 1937, é
importante.
se faz sentir na
produção e compra de livros didáticos e na organização de bibliotecas em todo o
território nacional.
Estavam previstas como suas atribuições a edição de obras literárias
julgadas de interesse para a formação cultural da população, a elaboração de
uma enciclopédia e um dicionário nacionais e, finalmente, a expansão, por
todo o território nacional, do número de bibliotecas públicas.
65
A partir dessa proposta de expandir as bibliotecas públicas, SORÁ (1998)
identifica no Anuário Brasileiro do Livro e no próprio Instituto Nacional do Livro (INL)
uma discussão importante para o ano de 1938-1939 que se reflete diretamente na
compreensão do mercado editorial destinado ao leitor médio. Trata-se da organização de
uma lista de indicação de livros elementares para as bibliotecas públicas. Segundo o
autor, essa lista seria a base para a organização de bibliotecas básicas distribuídas pelo
país. Ora, tanto o Anuário Brasileiro do Livro, quanto às publicações do Instituto
Nacional do Livro, são porta-vozes de órgãos de classe, conclui-se que a escolha dos
títulos que constassem nas listas indicativas e que seriam adquiridos com dinheiro
público é um indício de que esse grupo estaria, naquele momento, percebendo um
movimento para além do livro didático e dos livros “caros” para a elite intelectualizada.
Por serem destinados a bibliotecas públicas, tais livros não seriam apenas
utilizados por estudantes, mas, e acima de tudo, seriam um ponto de incentivo à leitura
para a população que havia completado o secundário e se via carente de meios de
continuar sua educação formal.
Essa lista merece um olhar mais atento:
“Lista dos livros da Biblioteca Brasileira (1938-1939) INL
História de Cristo – Papini; Christus, história das religiões – José
Huby (4 vols); ABC da Psicologia – Armand Cuvillier; História da Filosofia
William James Durant; Manual de Filosofia – D. Ludgero Jaspers O.S.B.;
Princípios elementares de direito público – Cid Peixoto; Raízes do Brasil
Sérgio Buarque de Holanda; Sobrados e Mucambos – Gilberto Freyre;
64
Cf. SCHWARTZMAN et alli (2000); GOMES (2000) e BOMENY (org.) (2001).
65
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos37-45/ev_ecp_inl.htm capturado em 31/07/2009.
77
Princípios de sociologia – Fernando Azevedo; Curso de apologética cristã
Pe. W. Devivier, S.J.; Lições de português – Souza da Silveira; Pequeno
dicionário brasileiro da língua portuguesa – H Lima e G. Barroso; Aprende tu
mesmo a redigir – Estevão Cruz; Trechos seletos – Souza da Silveira; Biologia
geral – Melo Leitão; Pequena história da ciência – F. Sherwood Taylor;
coleção ‘a Ciência da vida’ (9 vols) de H G Wells, Huxley e Wells;
Compêndio de higiene – J.P. Fontenelle; Como devemos viver – Fischer e
Emerson; Guia prático do pequeno lavrador – Dr. Nilo Cairo; O novo guia
das mães – Dr. Bela Schick; Três Titãs – Emil Ludwig; As artes – Van Loon;
Noções de História das Literaturas – Manuel Bandeira; Pequena história da
música – Mario de Andrade; Dom Casmurro – Machado de Assis; O romance
Brasileiro – Olivio Montenegro; Pequena história da literatura brasileira
Ronald de Carvalho; O guarani – José de Alencar; O mundo em que vivemos
Van Loon; História Universal (3 vols.) HGWells; Corografia do Brasil para o
curso comercial – A. de Azevedo; História do Brasil – (curso superior ) João
Ribeiro; América - Van Loon; Napoleão – E. Ludwig; Bibliografia das
bibliografias brasileiras Simão dos Reis; Instruções para a organização
das bibliotecas municipais – INL; Instruções para uso da ficha impressa com
coleção de fichas – INL. (Ribeiro 1943:49 Apud: SORÁ.1998)
O mesmo autor analisa, ainda, um campo de disputa que envolve o Ministério,
o Instituto Nacional do Livro e os editores para a seleção desta ou daquela obra. Repare-
se no grande número de traduções e nas vezes em que aparecem os mesmos autores.
H.G.Wells, Van Loon e Emil Ludwig, em uma lista relativamente pequena, é
sintomática a sua presença. Hoje pouco conhecidos, foram autores que na época em que
foram inicialmente publicados faziam muito sucesso com um tipo específico de público
e um texto formatado “para entreter e ilustrar”. Não eram livros escritos com pretensões
elitistas. Pelo contrário, em sua maioria são bons “produtos”, vendáveis e com apelo
para um espectro mais amplo de leitores. Sua proposta é ampliar os horizontes do leitor
comum com títulos que cobrem um amplo espectro dentro do assunto selecionado. Seja
a biografia de Napoleão, seja a História Universal ou, ainda, uma análise sobre a
América.
66
Analisando-se essas indicações do INL, encontramos um determinado tipo de
leitura que está associado a um certo tipo de leitor “ideal”. Apenas dois autores da
literatura brasileira selecionados: José de Alencar e Machado de Assis, acrescido de um
título genérico como “trechos selecionados” e os demais volumes de introdução a temas
66
Publicada na coleção Tapete Mágico, o livro América , por exemplo, foi assim descrito no catálogo da
coleção; A formação histórica da América, interpretada de maneira inteiramente nova, no fundo e na
forma. Uma crônica inigualável das origens dos Estados-Unidos, das façanhas dos rudes pioneiros que
desbravaram o Novo Mundo, das lutas pela independência, dos esforços para preservar a unidade e a
felicidade dos americanos e dos acontecimentos modernos que levaram a grande nação norte-americana
à sua posição de primeito destaque no globo. Grande parte da imprensa ianque considera este livro “o
maior já escrito por H. Van Loon”.
78
considerados importantes (literatura, Filosofia, direito público, português, biologia,
história da ciência, ciências, história universal, história do Brasil, Corografia/Geografia,
História da América e biografias que enriqueçam a vida do cidadão brasileiro). Junte-se
a essa rol, três títulos cujo destino é a leitura do bibliotecário e sua referência na
organização do acervo.
De um total de 32 títulos, dois dos quais do próprio INL, 20 são de autores
brasileiros e 12 de autores traduzidos. Compreender as razões que levam à escolha de
alguns dos títulos traduzidos implica compreender, em parte, que o INL é um órgão de
classe e que essas indicações têm um sentido de disputa inegável.
Não é demais retomar o sentido destas indicações para compreender um dos
aspectos determinantes na formação de coleções para o público leitor. Nas palavras de
SORÁ (1998):
Através das ações do INL se acentuou a disputa entre aqueles agentes
interessados em definir o que deve ser lido para conhecer o Brasil, título de um
livro de Sodré da época. Assim, o estado passou a representar uma importante
fonte de recursos em disputa entre as editoras comerciais. A distribuição
obrigatória destes títulos às bibliotecas, idealmente assegurava uma compra
inicial de 1800 exemplares. Por reflexo, os autores e obras escolhidos contavam
com uma sanção oficial de universalização e sanção de autênticos representantes
de um pensamento nacional, ou obras já universalizadas de autores estrangeiros.
Ter um Ludwig, Van Loon ou Wells no catálogo representava uma fonte de
importantes livros editoriais. (SORÁ, 1998:267)
Repare-se que a data de início da coleção Biblioteca do Espírito Moderno
coincide com a presença dessas indicações do INL e que alguns dos títulos são da
coleção. Ao mesmo tempo, outros títulos desses mesmos autores também foram
publicados tanto na Biblioteca do Espírito Moderno quanto nas coleções
concorrentes.
67
Dos livros citados, pertencem ao catálogo da BEM
68
História de Cristo – Papini;
:
História da Filosofia – William James Durant
Noções de História das Literaturas – Manuel Bandeira
História Universal (3 vols.) H G Wells
67
HUTNER (2009) analisando o mercado estado-unidense de livros nesse mesmo período identifica os
mesmos autores e os mesmos títulos como “exemplares” de uma leitura de amplo espectro que pretendia
dar conta de assuntos mais ou menos amplos com pequenas introduções a temáticas “modernas” e a
descobertas recentes.
68
Para um levantamento completo das coleções e editoras dos títulos citados, consulte o anexo.
79
Pertencem à coleção Tapete Mágico, da editora Globo:
As artes – Van Loon
O mundo em que vivemos – Van Loon;
América - Van Loon
A coleção ‘A Ciência da vida’, em nove volumes, de H G Wells, Huxley e
Wells (G.P.), foi publicada pela editora José Olympio que também contribuiu com dois
títulos da coleção Documentos Brasileiros”: Raízes do Brasil Sérgio Buarque de
Holanda e Sobrados e Mucambos – Gilberto Freyre.
A questão central é que, no período, surgem várias coleções com os mesmos
autores e/ou com temáticas e perfis semelhantes. Com maior ou menor sucesso, todas as
coleções comentadas estão focadas no mesmo tipo de leitor, ou seja, o leitor médio.
Recém adquirido o hábito da leitura e o poder aquisitivo para a sustentação desse
hábito, o leitor médio busca ilustração sem muita profundidade. Essa lista é, portanto,
uma solução de compromisso entre as várias editoras que, em princípio, poderiam cada
uma individualmente cobrir todas as propostas de leitura encontradas.
Quanto aos autores escolhidos, não é necessariamente o maior expoente do
ramo, mas alguém com um mínimo de credenciamento. A forma como se credencia um
autor para esse tipo de coleção é um tanto diversa quando comparada à seleção de
autores de livros didáticos (preferencialmente professores dos melhores colégios e
faculdades) e de livros para o ensino superior (professores credenciados pelas “melhores
universidades”). Para uma coleção destinada ao público médio, o credenciamento se faz
de várias formas: o autor pode ter grande número de títulos publicados e, portanto,
faz parte dos autores consagrados” pelo público, também pode ser o ganhador de
algum tipo de prêmio (Nobel, Pulitzer), pode ter algum tipo de inserção no mundo
acadêmico (professores universitários) ou, ainda, ser jornalista ou colaborador dos
grandes jornais dos Estados Unidos e Europa.
Dessa maneira, a lista do INL busca autores com algum tipo de respeitabilidade
dentro do assunto escolhido, mas foi construída com os títulos traduzidos e
publicados (ou em processo de publicação) no Brasil.
Há, portanto, uma dupla chave na indicação. O autor publicado é uma aposta
da editora e está, de um jeito ou de outro, credenciado pelo editor que o escolheu
segundo critérios próprios a cada edição e coleção. Seja pelo sucesso editorial, seja pelo
80
renome do autor em questão, cada título foi escolhido na editora por critérios próprios e,
na lista do INL, por critérios que envolvem a disputa entre as concorrentes.
Por exemplo, o credenciamento de um autor como Emil Ludwig vem de seu
próprio nome e do sucesso alcançado pelas muitas biografias por ele publicadas. Autor
best seller das biografias romanceadas, Ludwig tem obras publicadas em várias editoras
Globo, José Olympio e pela CEN/Espírito Moderno e pertence ao movimento que
GALVÃO (2006:114) denomina “surto de biografismo”, em que três autores se
destacam: Stefan Zweig, Emil Ludwig e Hendrik Van Loon. No caso do título
escolhido, a editora Globo o publicara em 1935, e, em 1938, estava em sua 4ª.
Edição. Também foi publicado pela CODIL e Círculo do Livro até, pelo menos, a
década de 1970 e, em Portugal, pela Livros do Brasil. Portanto, uma sobrevida bastante
grande.
As três editoras concorrem para organizar e publicar as biografias romanceadas
que compõem o surto a que se refere Galvão. A José Olympio abre uma coleção
dedicada às biografias e auto-biografias romanceadas denominada coleção O Romance
da Vida que concorre diretamente com as biografias da 3ª. série da Biblioteca do
Espírito Moderno que, por sua vez, incorpora uma coleção anterior Vidas célebres.
Para Van Loon, o credenciamento veio de duas maneiras: de um lado, autor de
vários livros de divulgação no campo da História, escreveu História da Humanidade,
livro voltado para o público infantil e de grande sucesso nos Estados Unidos da década
de 1920; por outro lado, foi professor em Cornell e Harvard. A Biblioteca do Espírito
Moderno publicou um de seus grandes sucessos: A História da Bíblia e uma obra
menor denominada Tolerância; enquanto a editora Globo conseguiu torná-lo um dos
esteios da coleção Tapete Mágico.
André Maurois, por exemplo, publicou a maior parte de sua obra na
Companhia Editora Nacional. Inicialmente, seus títulos estavam agrupados na pequena
coleção Vidas Célebres; posteriormente, teve suas biografias remanejadas para a .
série da Biblioteca do Espírito Moderno, juntamente com alguns novos títulos, mas, tal
fato não o impediu de publicar algumas de suas obras pela Editora Globo, um de seus
principais títulos na Globo foi o romance Os Silêncios do Coronel Bramble, publicado
na coleção Nobel.
H. G. Wells, autor muito elogiado pela dupla Monteiro Lobato-Anísio Teixeira,
tem uma de suas obras mais importantes - que consta na lista do INL (A Ciência da
Vida) - publicada pela Livraria José Olympio Editora. Essa obra ganhou especial
81
projeção quando, após a II Guerra Mundial, um de seus autores, Julian Huxley tornou-
se diretor da recém fundada UNESCO. Outros títulos de Wells, como Sem olhos em
Gaza, foram publicados pela Editora Globo e, mais tarde, pela Civilização Brasileira.
Voltando à lista, repare-se no bloco composto pelos títulos: Compêndio de
higiene J.P. Fontenelle
69
; Como devemos viver Fischer e Emerson
70
; Guia prático
do pequeno lavrador Dr. Nilo Cairo
71
; O novo guia das mães Dr. Bela Schick
72
Outros blocos temáticos aparecem. De um lado, três títulos com temática
religiosa (História de Cristo, História das religiões e Curso de apologética cristã) e, de
outro, a escrita da língua portuguesa (Lições de português e Trechos seletos Souza da
Silveira; Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa H Lima e G. Barroso;
Aprende tu mesmo a redigir – Estevão Cruz)
.
Guardando-se as devidas ressalvas, a importância do tema higienismo e saúde se
sobressai (são quatro títulos em um total de 32).
Analisando-se essa lista e, em especial os títulos traduzidos, encontra-se
indícios de um movimento editorial internacional que coincide com a publicação dos
mesmos tulos e temáticas em várias línguas e, via de regra, organizados por coleções.
Esse movimento apoiado nos grandes avanços da tecnologia de comunicação e de
produção gráfica voltava-se para um “novo” público, recém saído das escolas de nível
médio e que possuía uma “cultura média”, termo retirado da apresentação de um dos
livros da Biblioteca do Espírito Moderno
73
69
J.P. Fontenelle, médico, ex-diretor de Saúde Pública do Distrito Federal, inspetor sanitário do DNSP,
docente da Hygiene da Escola Normal do Distrito Federal, Vice-presidente da Sociedade
Brasileira de
Higiene, membro da LBHM (Liga Brasileira de Higiene Mental), presidente da Secção
de Higiene da ABE (MENDONÇA, 2006). No livro em questão, há uma preocupação
em falar com todo tipo de público. Isso porque há uma diferenciação entre a medicina e
o higienismo. Esta última, de caráter preventivo, deveria ser divulgada em todos os
círculos.
.
70
Essa obra, publicada pela Companhia Editora Nacional, possuía o subtítulos: Guia para se gozar saúde
baseado na Ciência Moderna e foi publicada em 1942.
71
Médico brasileiro, um dos divulgadores da Homeopatia no país (segundo orelha do livro). Essa obra é
de 1923 e não encontrei reedições da mesma.
72
Pediatra naturalizado estadounidense, o Dr. Bela Schick tornou-se mundialmente famoso pela griação
de um teste para verificar a infecção por difteria. Na esteira desse sucesso, publicou o Novo Guia das
Mães
73
Jorge Americano utiliza o termo “meia instrução” para comentar o tipógrafo que se considera
intelectual: “olha o caso daquele tipógrafo. Era o melhor empregado da tipografia. Mas sempre que havia
greve, ia-se ver, era ele quem imprimia e espelhava os boletins. É a tal “meia instrução”. Um tipógrafo
considera-se intelectual.” (Apud: CRUZ, 2000:165) Mas, na Biblioteca do Espírito Moderno, o termo
“cultura média” não tem esse caráter depreciativo e aparece nos textos de apresentação de títulos e na
própria propaganda da coleção.
82
Para RADWAY(1997), que analisa as escolhas dos editores do Clube do Livro
do Mês, o importante para o editor que tentava atingir esse público não era oferecer a
obra-prima completa, era garantir que, terminada a leitura do livro, o leitor pudesse
conhecer a história, alguma coisa do estilo do autor e poder conversar sobre o tema em
uma reunião social. Mais do que um estudo histórico ou literário, “o que o leitor médio
precisava era conhecer as emoções e dilemas que os personagens viveram”. A lista do
INL é um exemplo desse esforço de educação em pontos importantes (saúde e língua
pátria) e, também, uma breve ilustração sobre os temas da atualidade.
BERTHO (1991:13) indica o aparecimento da concorrência, na França, em
termos de edição de livros de maneira mais acirrada desde o final do culo XIX, a
autora pondera sobre uma série de fatores que tornaram o negócio do livro diferente do
quadro dos séculos XVIII e XIX. Dentre os fatores listados, estão o aumento do tempo
disponível para a leitura, a expansão do número de leitores, inclusive com a
incorporação do público feminino (é na cada de 1930 que surgem, na França, as
primeiras revistas femininas, dentre elas, Marie Claire), a melhoria nas condições de
vida, a urbanização acelerada que implicou na modificação das formas de lazer
tradicional e, de outro lado, o surgimento e ampliação de outros meios de comunicação
de massa (jornais, rádio, cinema). Para a autora, longe de serem concorrentes, estes
meios são incentivadores de leitura e veículos de informação sobre novos livros. O
resultado é, ainda segundo BERTHO, um aumento das tiragens dos livros, a ampliação
das editoras e edições populares, dos jornais e das coleções que “organizam”
determinados temas para o público “comum”. KAESTLE e RADWAY (2009)
identificam o mesmo movimento nos Estados Unidos. Com diferenças na abordagem,
ambas as pesquisas listam os mesmos fatores intervenientes no movimento de formação
de um mercado editorial quantitativamente diferente do anterior. A saber: melhoria das
condições de produção e circulação dos livros, a “revolução paperback”, a urbanização
e o aumento da alfabetização (em especial feminina) associada à maior tempo de lazer.
Guardadas as devidas proporções, e um pouco mais adiante no século XX, os
mesmos fatores são possíveis de serem identificados no Brasil. A ampliação do ensino
secundário, a urbanização, os meios de comunicação de massa e a melhoria do serviço
postal foram determinantes para a mudança do público leitor. De uma elite ilustrada,
consumidora de livros mais caros, importados ou impressos fora do Brasil o foco se
amplia para incorporar um público diverso que entrara em contato com a cultura
impressa por meio de circuitos alternativos e para quem os livros até então em
83
circulação eram por demais inacessíveis. É esse público leitor que alimenta o “boom”
editorial constatado por (HALLEWELL, 2005:492).
CRUZ (2000) encontrou em suas pesquisas uma grande variedade de
publicações que ampliaram socialmente os circuitos de difusão da cultura letrada.
Centrada no início do século XX, a autora identifica, nos anos 1910, o
questionamento da cultura letrada tradicional pela propaganda. Portanto quase 30 anos
antes do processo narrado por HALLEWELL para os livros.
O desenvolvimento da propaganda passa a se constituir em uma das
principais forças de questionamento da cultura letrada tradicional. Como
aponta Willie Bolle (1991, pp.143), através da propaganda o olhar livresco da
cultura letrada cruza com o olhar formado na escola da rua. Então embrionária
e experimental, a nascente indústria publicitária configura-se como uma
poderosa alavanca no processo de popularização da imprensa no período.
(CRUZ, 2000:157)
O primeiro período da Biblioteca do Espírito Moderno é caracterizado,
portanto, por um contexto editorial específico: a ação do estado, a consolidação de
alguns órgãos de classe, o papel do editor de coleções bem marcado, a revolução do
paperback que obrigou os editores de livros não didáticos a reorganizar os objetivos e o
público alvo de cada um dos seus títulos
74
e, acima de tudo, uma ampliação do público
leitor de obras gerais.
75
Há, ainda, uma crescente circulação de títulos para o público
médio ou recém-alfabetizado. A Thinkers Library, as coleções da Penguin Books, o
Clube do livro do Mês de Nova York. Compare-se o trecho da carta que inicia o
capítulo 2 ao texto comentado anteriormente correspondente a apresentação da
coleção nos catálogos
76
74
KAESTLE e RADWAY (2009:64) indicam, nos Estados Unidos, um fato emblemático para o mercado
editorial. Em 1913, a Suprema Corte, de forma unânime, julgou e condenou por unanimidade, o sistema
de fixação de preços das grandes editoras como monopólio e prejudicial ao livre comércio. O argumento
para essa condenação foi a Lei Antitrust, criada para combater o abuso de poder econômico das grandes
empresas. Esse fato indicou, segundo os autores, a entrada da indústria editorial em um novo patamar.
75
HALLEWEL (2005:377) sugere que a Biblioteca do Espírito Moderno desde seu lançamento estava
voltada para um duplo público: universitário e ao leitor geral. As razões de HALLEWELL não podem ser
ignoradas: a fundação da Universidade de São Paulo em 1934 e o aumento do público estudantil de nível
superior. Entretanto, não trabalho essa hipótese porque não encontrei até, pelo menos a década de 1960,
nenhum indício de preocupação com esse público universitário, pelo contrário.
76
Apenas para facilitar a leitura, copio novamente o texto chave em questão. “O NOSSO TEMPO,
marcado pelo singular tumulto mental que lhe acentua o carater de transição e mudança, é por isso mesmo
um dos mais assinalados períodos de reconstrução intelectual e moral da historia. Apesar da falta de
perspectiva em que nos achamos para julgar das suas grandes realizações científicas, literárias e artísticas,
algumas das obras modernas m obtendo do publico consagrações que importam na imortalidade. A
inaudita difusão cultural do mundo de hoje permite desses milagres que os antigos não conheciam.
84
Com uma única variação (a retirada do parágrafo sobre Anísio Teixeira), essa
apresentação da coleção aparecerá em catálogos gerais da editora, nos catálogos
específicos da Biblioteca do Espirito Moderno e nas 4ª.s capas de livros em que a
coleção é apresentada.
Dentre todos os momentos vividos pela Biblioteca do Espírito Moderno, este
é, como se poderia imaginar, o de maior coerência e investimento. Tanto em títulos
quanto em divulgação.
A presença de Anísio Teixeira e Monteiro Lobato (até 1942) aliada aos
investimentos relativos ao lançamento e consolidação da Biblioteca do Espírito
Moderno tornam esse período bem coerente. As séries têm uma organicidade única,
com o predomínio de visões gerais e resumidas dos temas selecionados.
77
Na realidade, todas as coleções concorrentes do período encontram-se em
maior ou menor grau em sintonia com os lançamentos e coleções publicadas nos
Estados Unidos, Inglaterra e França. São títulos em que a presença de alguns termos
como grandes nomes, grandes expedições, são recorrentes.
Ou seja, são
livros compostos por temáticas abrangentes e variadas, oferecendo sempre uma visão
geral e, enquadram-se no movimento geral das editoras que propuseram a formação de
coleções para o grande público no período.
HUTNER (2009) comentando sobre a formação do gosto literário nos Estados
Unidos durante os anos de 1930, identifica nos editores em geral a presença de uma
preocupação em formar o bom gosto e a boa informação para o público médio. Segundo
A BIBLIOTECA DO ESPIRITO MODERNO visa coordenar para o leitor brasileiro, dentre as
obras consagradas pela aceitação publica, aquelas que mais diretamente buscam condensar, esclarecer e
popularizar a herança cultural da especie, tornando-a realmente e sem perda de nenhum dos finos e raros
valores que sempre a caracterizaram quando não passava de legado atribuido a privilegiados eruditos, a
herança comum e por todos partilhada. Além disso, incluirá a biblioteca documentos biograficos que nos
familiarizem com os grandes homens e as grandes mulheres que souberam fazer de suas vidas um
espetaculo de beleza ou de altura e, por esse modo, contribuiram para tornar a vida mais significativa e a
civilização humana mais digna.
A COMPANHIA EDITORA NACIONAL, tomando a si a grande responsabilidade de editar a
BIBLIOTHECA DO ESPIRITO MODERNO, foi buscar, para orienta-la e dirigi-la o grande educador
brasileiro ANISIO TEIXEIRA, espirito dos mais illustres da nossa epoca e tão justamente talhado para
assumir a direcção de uma biblioteca de tamanha finalidade.
Biblioteca de civilização e cultura, os leitores terão em seus volumes o mais rico documentario
com que se poderá tentar compreender e acompanhar o longo esforço do pensamento humano para
embelezar, enriquecer e dirigir a vida.”
77
Se houvesse uma classificação Dewey para o período e, em algumas bibliotecas é esse o caso,
estas obras estariam nas categorias mais abrangentes de cada classe e ficariam próximos da categoria
principal e dos itens “Fatos Gerais” ou “Miscelânea (Miscellaneous)”. Isso significa que quando estão
categorizados em bibliotecas que utilizam o sistema DEWEY, as obras de Filosofia estão no item: 100, as
de Ciências na categoria 500, as de História na 900 e as de Literatura na 800. Cada uma delas se
aproximando das categorias mais gerais de cada classe.(cf: http://www.oclc.org)
85
o autor, o argumento era que melhor um gosto bem formado (ou talvez, seria melhor
conformado) do que o mal gosto não formado. Assim, esses títulos oferecem uma
história linear dos acontecimentos e de grande “espectro”, tais como Outline of History,
História da filosofia e Os grandes pensadores, fazem parte de um movimento bastante
amplo que acompanha a ampliação da escolaridade e o aumento do tempo de leitura,
bem como a uma certa estandartização” da cultura média via expansão dos meios de
comunicação e entretenimento (jornais, revistas, cinema, rádio e, obviamente, livros). É
sintomático que os títulos citados pelo autor tenham todos sido publicados na
Biblioteca do Espírito Moderno. Todos os títulos comentados por HUTNER (2009)
foram best sellers nos Estados Unidos: Outline of History foi o título de não ficção mais
vendido em 1921 e 1922 e quinto lugar no ano de 1923. mais tarde no ano de 1930, o
título reaparece entre os best sellers durante o ano de 1930 em oitavo lugar. Já História
da Filosofia teve um percurso semelhante, em 1926 surge em oitavo lugar, e novamente
em 1930 (sétimo lugar). Filosofia de Vida aparece na lista de best sellers em 1929
(décimo lugar).
78
Ao mesmo tempo, o autor identifica nas propagandas um texto muito diferente
do encontrado na documentação dos editores. Segundo HUTNER (2009), a publicidade
atenta para o fato de que o leitor deste ou daquele livro poderia manter uma conversação
de nível em qualquer festa ou encontro social, o que incluía impressionar o chefe, os
clientes e os vizinhos!
No Brasil, e em especial na Biblioteca do Espírito Moderno, encontra-se a
mesma tendência com uma diferença marcante. Enquanto, ainda segundo HUTNER
(2009) e KAESTLE e RADWAY (2009), nos Estados Unidos os títulos são
basicamente impressos em paperback e vendidos a um custo muito baixo; no Brasil, os
títulos são oferecidos em capa dura com letras douradas e um formato que torna
possível apresentá-los na estante, indicando um público alvo ligeiramente diferente.
78
Dados da Publisher´s Weekly (Apud: BURT, 2004:354-355 e 395).
86
As séries no 1º. Período - Filosofia
Na rie de Filosofia os três primeiros títulos publicados são de Will Durant
(História da Filosofia, Filosofia de Vida e Os grandes pensadores) todos em tradução
de Monteiro Lobato. São títulos que oferecem visões gerais de aspectos filosóficos.
Pode-se afirmar que esses títulos tem por objetivo cumprir a proposta da coleção
de “condensar, esclarecer e popularizar a herança cultural da espécie”. Os termos são
realmente adequados. Para a História da Filosofia, o texto garante que o leitor tenha
conhecimentos básicos das principais doutrinas e escolas filosóficas escapando dos
“catálogos secos e ressequidos”
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA com que Will Durant enriqueceu a
literatura da humanidade não é um catálogo seco e árido de sistemas filosóficos,
nem uma série estarrecida de estudos panegíricos das obras e figuras dos
filósofos. É antes uma deliciosa aventura de pensamento, uma jornada pelo
mundo admirável das idéias, parando ao pé de cada um dos grandes gênios da
humanidade para ouvi-los nos segredos de suas vidas e de suas aspirações mais
profundas, sem falsa veneração nem falso respeito, mas com simpatia e
compreensão e suave humorismo. (texto de apresentação de História da
Filosofia nos catálogos da Bibliotheca do Espírito Moderno)
Ressalte-se o termo “aventura” e humorismo” que classificam a leitura como
interessante porque aventurosa, leve porque possui um certo humorismo e, ao mesmo
tempo, ilustrativa porque oferece uma jornada pelo mundo admirável das idéias.
Para a Filosofia de Vida, o tema são as questões contemporâneas ou, na
expressão do catálogo:
Se fosse possível escrever de novo, para o nosso tempo, os Diálogos
de Platão, esta obra seria a FILOSOFIA DA VIDA, de Will Durant. Neste
livro, com efeito, Will Durant que é, como Platão, uma rara combinação de
filósofo e de artista, convida-nos a passar uma temporada nos domínios da
filosofia. Não é mais uma excursão pelo passado como na História da
Filosofia. É uma viagem pelo presente, pelo nosso atormentado e bravio
presente. Não há problema que não seja examinado nesse livro. (Texto do 1º.
catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno.)
87
Da mesma forma, o volume Filosofia de Vida oferece uma atualização dos
diálogos de Platão feita por Durant que “artista e filósofo como Platão” escreveu “uma
viagem pelo presente, pelo nosso atormentado e bravio presente. Não problema que
não seja examinado nesse livro.”
Os termos para os demais livros ampliam a questão da mentalidade/espírito, sua
formação e a necessidade de compreensão do tempo presente. Para a Formação da
Mentalidade
79
, a mente humana é explicada como uma “criação natural, laboriosa,
penosa, dolorosa e que prossegue em seu desenvolvimento”. E a linguagem do texto
descrita como “clara e ao alcance de todos”. Enquanto o livro é considerado
“fundamental do pensamento moderno”.
A FORMAÇÃO DA MENTALIDADE
COM extrema clareza e linguagem ao alcance de todos,
Robinson demonstra como se formou o espirito ou a mentalidade do
homem, e como evoluiu à força de experiências e erros no decurso da
História. Não foi um presente recebido dos céus – foi uma criação
natural, laboriosa, penosa, dolorosa e que prossegue em seu
desenvolvimento. O autor conseguiu realizar o sonho de todos os
grandes cientistas: criar um dos livros fundamentais do pensamento
moderno.
A mentalidade descrita como uma conquista do homem, natural e laboriosa,
apresentada em termos científicos e claramente não religiosos, aparentemente contrasta
com a escolha de um título como Humanismo Integral que vem publicado com o NIHIL
OBSTAT da arquidiocese parisiense. Mas, apenas aparentemente. Se olharmos a
apresentação do texto, os méritos do livro estão apresentados no “espírito de liberdade
que inspira”, “no primado da pessoa” e no “esforço moderno de construir uma
civilização em que os direitos do homem” fiquem protegidos da “prepotência do
Estado”
HUMANISMO INTEGRAL
A importância do pensamento maritaineano é hoje reconhecida
universalmente, por crentes e incréus. O espirito de liberdade que
inspira a sua filosofia, repondo nas suas verdadeiras bases o primado
da pessoa humana dentro da ordem cristã, articula a sua obra com todo
79
Em 1923, este livro figurou em quarto lugar na lista de best sellers categoria não-ficção nos Estados
Unidos. Dados da Publisher´s Weekly (Apud: BURT, 2004:354-355).
88
o grande esforço moderno de construir uma civilização em que os
direitos do homem fiquem, para sempre, a coberto dos assaltos,
disfarçados ou claros da prepotência do Estado. Nesse sentido, Jacques
Maritain apresenta uma autêntica visão liberal da ordem cristã.
O espírito moderno é liberal e a ordem cristã também pode ser. O tema da
religião é cuidadosamente evitado com a apresentação de Jacques Maritain não como
um teólogo mas como um filósofo importante para “crentes e incréus” porque repõe a
pessoa humana e seus direitos em primeiro plano quando no mundo moderno tais
direitos ficam escondidos pela “prepotência do Estado”.
A questão da liberdade reaparece em dois outros textos: A Filosofia de William
James e, sobretudo, no texto de Stuart Mill Sobre a liberdade que “desenvolve o
princípio de que o indivíduo deve ser livre, tanto da coação física sob a forma de
penalidades legais, quanto da coerção moral da opinião pública, em tudo que não cause
dano a outrem.” O catálogo arremata a valorização da liberdade, de novo, com uma
referência ao tempo em que se vive. “Estamos num desses períodos em que o interesse
pelo problema da liberdade atinge imenso grau de acuidade.”
O ensaio SOBRE A LIBERDADE, do grande filósofo inglês
Stuart Mill, é considerada a mais duradoura de suas obras. Desenvolve
o princípio de que o indivíduo deve ser livre, tanto da coação física sob
a forma de penalidades legais, quanto da coerção moral da opinião
pública, em tudo que não cause dano a outrem. Estamos num desses
períodos em que o interesse pelo problema da liberdade atinge imenso
grau de acuidade. O livro de Stuart Mill é um dos mais brilhantes
estudos sobre o assunto.
Retome-se a questão da Educação e vida perfeita, bem como os demais títulos
e compare-se com o projeto de 1934 sobre Educação e Espírito Moderno. Os pontos de
coincidência entre os cinco primeiros itens80
80
Repito os itens para comodidade de leitura, apenas:
e os temas da série de Filosofia passam
pela formação da mentalidade, desenvolvimento do conceito de liberdade, exploração
1 – Natureza-Homem – Sciencia
2 – Homem e sociedade.
3 – Experiência e Aprendizagem
4 – Necessidades e Aspirações humanas – sua realização e seus limites.
5 – Experiência, vida e educação – educação como reconstrução da experiência.
89
das idéias de William James e o texto de Russell apenas como um capítulo (ou um
volume) das discussões filosóficas.
EDUCAÇÃO E VIDA PERFEITA
As teorias educacionais de Bertrand Russell têm exercido
marcada influência na formação intelectual de um grande número de
jovens pedagogos ingleses e americanos. Filósofo despido de
sectarismo e alheio a dogmas e preconceitos, Bertrand Russell sabe
analisar todos os aspectos do problema educacional, sem se afastar, por
um só momento, da esfera mais ampla do pensamento científico. Daí o
valor de sua obra e a força de persuasão das doutrinas nela defendidas.
Observe-se a tabela com os títulos publicados na 1ª. série no 1º. Período:
Tabela 3
Títulos publicados – Filosofia – 1º. período
No. Título Autor Tradutor Tiragem
inicial
Ano de
edição
1
História da Filosofia
Will Durant
Monteiro Lobato
e Godofredo
Rangel
5046
1938
2
Filosofia da vida
Will Durant
Monteiro Lobato
5004
1938
3
Os grandes pensadores
Will Durant
Monteiro Lobato
7005
1939
4 A formação da mentalidade James
Robinson
Monteiro Lobato 5752 1940
5
Humanismo integral
Jacques
Maritain
Afrânio Coutinho
2060
1941
6 Educação e vida perfeita Bertrand
Russell
Monteiro Lobato 3013 1941
7
Sobre a liberdade
John Stuart Mill
Monteiro Lobato
3873
1942
8
A filosofia de William James
William James
Antonio Ruas
3034
1943
9
Espanha - Uma filosofia de
sua história
Fidelino de
Figueiredo
3004
1943
E compare-se com as reimpressões/reedições da série no período:
90
Tabela 4
Reedições – Filosofia – 1º. período
Título
Autor
1938
1939
1940
1941
1942
1943
Total
História da Filosofia Will Durant
5046
4961
5014
15.021
Filosofia da vida
Will Durant
5004
5011
5002
5000
20.027
Humanismo integral
Jacques
Maritain
2033
2060
4.093
Ressaltar a importância de Will Durant no período e na série é necessário. E,
também, a ausência de reedições de títulos com tiragens iniciais tão pequenas. O papel
de sustentação da série no período é, mesmo, de Durant. Basta analisar a única reedição
da série no período de outro autor (Jacques Maritain) somada à tiragem inicial não é
suficiente para contar a tiragem inicial de qualquer das obras de Durant. Além disso, a
única obra sua que não teve reedição no período foi a que teve a maior tiragem inicial.
Figura 14 - Capa da série de filosofia com destaque para o tradutor
91
Figura 15 - Foto: capa da série de Filosofia com o característico tom azul.
Repare-se o destaque para a tradução.
Conforme apontado, esses tulos foram sucessos de vendagem durante a
década de 1920 e no ano de 1930. É, portanto, uma aposta certeira decorrente tanto do
fato de os títulos terem sido publicados como avulsos quanto pelo sucesso de vendas
nos Estados Unidos. Sucesso esse que é ainda maior, se considerarmos que Durant não
é um autor estadounidense
81
Dessa lista, outro título aparece na lista de best-sellers da Publisher´s Weekly:
A formação da mentalidade de James Robinson (5º lugar categoria Não ficcção em
1922). Essa lista de Best Sellers ajuda, também, a compreender o tipo de seleção feita.
Em parte, são textos relativamente antigos, sucesso no público americano durante a
década de 1920 e, pode-se ponderar, apresentados à editora pela dupla Lobato- Teixeira
que, conheceram essas obras durante suas estadias nos Estados Unidos.
..
81
Dados da Publisher´s Weekly (Apud: BURT, 2004:354-355).
92
As séries no 1º. Período - Ciências
Quanto aos títulos da 2ª. Série (Ciências), a preocupação com aspectos gerais
que possam condensar e esclarecer o leitor reaparece. Ao todo são lançados neste breve
período 14 títulos. Os dois primeiros textos de divulgação científica são assinados por
cientistas de renome: A Evolução da Física (Albert Einstein e Leopold Infeld) e A
Ciência da Natureza Humana (Alfred Adler). O primeiro, texto de divulgação científica
que se propõe a discutir a formação do sistema Newtoniano e seus impasses que
levaram à teoria da relatividade e dos quanta e o segundo preocupado com o
desenvolvimento da nova ciência da psicologia. Ambos os títulos eram de propriedade
da Companhia Editora Nacional que comprara seus direitos outright anteriormente.
Percebe-se a preocupação em trazer nomes consagrados (Albert Einstein e
Alfred Adler) em obras para o “grande público” ou melhor, para um público não
especialista mas “bom leitor”, como o define Einstein:
Durante a feitura do livro, longos debates tivemos a propósito das
características do leitor idealizado, ponto que muito nos preocupou.
Imaginamos um leitor de grandes qualidades, mas por completo
desconhecedor da física e das matemáticas; interessado, entretanto, em idéias
físicas e filosóficas – e muito admiramos a paciência desse leitor nas
passagens menos interessantes e mais penosas. Imaginamos um leitor que sabe
que para entender qualquer pagina do livro tem de ler cuidadosamente as
precedentes. Um leitor que sabe que um livro de ciência, embora popular, não
pode ser lido como se lêem os romances. (prefácio de A Evolução da Física.
Volume I da 2ª. série)
Esse mesmo livro é apresentado no catálogo da coleção como destinado ao
leigo que procura uma exposição simplificada de um tema importante para o “dia de
hoje”:
Não é freqüente que o “leigo” tem ensejo de ler a exposição dum
alto conhecimento científico, elaborada pelo cérebro que o concebeu. Nesta
obra, que é o feliz resultado da colaboração do autor da teoria da relatividade
com um dos seus companheiros de pesquisas, o leitor encontrará uma
simplificada, mas autorizada exposição do desenvolvimento das idéias da
ciência física desde os começos até o dia de hoje.
93
O mesmo tipo de argumentação - um especialista capaz de traduzir os avanços
e pontos mais vitais de sua ciência para os homens comuns - reaparece na apresentação
de A Ciência da Natureza Humana:
São poucas as pessoas capazes de ler e compreender a primeira
obra de Adler: “Studie über die Minderwertigkeit Von Organem”. No
decurso dos quinze anos que se seguiram á publicação deste livro, Alfred
Adler e seus discípulos e colaboradores fizeram, entretanto, incessantes
investigações sobre os fatos sugeridos no mesmo, resultando daí ser hoje a
Psicologia Individual uma ciência independente, um método
psicoterapêutico, um sistema de caraterologia e, ao mesmo tempo, uma
“Weltanschauung” e um método de interpretar a natureza e a conduta
humanas. Apesar das dificuldades das fontes, a técnica do conhecimento do
procedimento humano, que é o fruto daqueles quinze anos de constantes
investigações e estudos, encontra-se hoje ao alcance de qualquer adulto
inteligente.
Reparem-se as duas utilizações do alemão. A primeira é uma citação do título
original e a segunda, é um conceito (Weltanschauung – visão de mundo) que manteve o
termo alemão, em lugar da tradução. Essa estratégia torna o texto mais erudito porque
exige a cumplicidade do leitor na decodificação do termo.
Uma pesquisa e uma nova ciência que poucos podem ler os textos originais,
centrais mas, com o título apresentado na Biblioteca do Espírito moderno, esse saber
está ao alcance dos adultos inteligentes. As pessoas normais, distantes do heróico
cientista, são as que mais podem se beneficiar da leitura do texto:
Será porém, para os adultos de inteligência normal (grifo meu) que
“A Ciência da Natureza Humana” apresentará o interesse mais vivo.
Infelizmente, o preceito de Sócrates “conhece-te a ti mesmo” não foi
acompanhado dos esclarecimentos sobre o modo de se conseguir esse
conhecimento. Somente séculos depois da morte do ateniense e que um
profundo pensador, um grande medico e maior ainda conhecedor da alma
humana, reúne os frutos de sua experiência e publica um manual e um guia
para esse conhecimento de nossos iguais e de nós mesmos. É este manual
que apresentamos aqui.
O leitor da Biblioteca do Espírito Moderno sabe que Sócrates é ateniense,
ouviu falar na obra de Adler (citada em alemão) e está disposto a ler um “manual de
conhecimento do homem”.
Mas, não é possível construir um catálogo de Ciências como o proposto pela
série apenas com grandes nomes da ciência; é necessário alternar cientistas com autores
94
especialistas na divulgação científica. Jornalistas das páginas de ciências dos grandes
jornais e revistas anglo-saxônicos, em sua maioria, mas não exclusivamente, dos
Estados Unidos.
MORA (2003) discute a dificuldade de obter bons divulgadores de ciências,
autores capazes de transformar uma ciência cada dia mais complexa e abstrata em algo
compreensível para o não-especialista. É nesse contexto que os jornalistas que no início
do século cobriam também as descobertas científicas começam a se especializar em
ciências.
É com essa lógica que o livro Grandes Homens da Ciência é apresentado ao
leitor:
A esteira luminosa que, através dos grandes homens da ciência, o
pensamento humano desdobra ao longo da História, reflete-se
harmoniosamente neste livro. Lúcido meio termo entre os compêndios
ressequidos e os tratados inacessíveis, todo leitor de meia cultura apreciará
esta obra, com as suas vinte e oito biografias-miniaturas, quentes de vida,
atraentes como narrativas que, por serem o fundo eterno das verdades no meio
do atropelo das contingências em que foram conquistadas. (Texto que se
repete nos catálogos e ampliado na 1ª. orelha do livro)
O desafio, portanto, é evitar os “compêndios ressequidos” e agradar o leitor de
“meia cultura”
82
A continuação do texto que apresenta Grandes Homens da Ciência no catálogo
e que é publicada na orelha do livro merece uma leitura:
, informando-o sobre os “fenômenos da vida” ou o “universo
misterioso”, sobre a “aurora da humanidade” ou sobre os “médicos anônimos” que
trabalham em laboratórios.
Conjugando sempre a obra com a vida de cada grande etapa do
pensamento científico, as páginas que se vão ler são todas edificantes, na sua
comovida objetividade, na profunda espiritualidade, na profunda
espiritualidade com que se contrapõem aos preconceitos transitórios de todas
as idades, percorrendo a epopéia do Saber em luta com o Desconhecido, o
Inacessível e o Proibido aos saltos da livre crítica e aos sobressaltos do
dogma, até atingir à nossa atualidade científica, centralizada por Einstein,
que paira acima do proibido, determina as lindes do inacessível, como se,
para êle e a sua época, o desconhecido coincidisse com os próprios limites
do Universo.
Fechando este livro de Grove Wilson pode o leitor, ante as
vociferações político-sociais da atualidade, refugiando na Ciência, sentir a
verdade consoladora desta frase de Anatole France em Vers les temps
82
Repare-se que o termo “meia cultura” não contem nada de pejorativo.
95
meilleurs: “lentamente porém sempre, a humanidade realiza o ideal dos
sábios...”
A questão é conjugar ciência e vida, o lado humano e heróico das descobertas e
o caminho da humanidade que ”lentamente” realiza o ideal dos sábios. Os homens de
ciências apresentados no livro são:
Tales. Pitágoras. Anaxágoras. Demócrito. Hipócrates. Aristóteles.
Arquimedes. Galeno. Roger Bacon. Coster e Gutenberg. Copérnico.
Paracelso.Tycho Brahe. William Harvey. Johann Kepler. Galileu Galilei.Isaac
Newton. Laplace. Lavoisier. Lamarck. Faraday. Pasteur.Darwin. Hertz.
Langley. Einstein.
Percebe-se uma similaridade com os Grandes pensadores da Filosofia de Will
Durant.
Confucio. Platão. Aristoteles. Tomás de Aquino. Copernico. Bacon.
Newton. Voltaire. Kant. Darwin. Homero. Daví. Euripedes. Lucrecio. Dante.
Shakespeare. Keats. Shelley. Whitman. Flaubert. Anatole France. John C.
Powys. Spengler. Keyserling. Bertrand Russel
Pequenas biografias, que enfocam a articulação entre descoberta científica e a
vida de cada um dos biografados, dirigidas ao leitor de “média cultura”. Reforçando a
apresentação da coleção de uma biblioteca de “civilização e cultura” cujos objetivos
eram: apresentar ao homem contemporâneo, “as obras consagradas pela aceitação
publica, aquelas que mais diretamente buscam condensar, esclarecer e popularizar a
herança cultural da especie, tornando-a realmente e sem perda de nenhum dos finos e
raros valores que sempre a caracterizaram quando não passava de legado atribuido a
privilegiados eruditos, a herança comum e por todos partilhada.”.
Retomo o trecho acima para evidenciar a opção por obras gerais e grandes
nomes, grandes temas, grandes avanços da ciência, história geral das descobertas, das
expedições, da medicina e assim por diante.
Essa proposta evidencia-se com a conclusão do texto de apresentação do livro
de Julian Huxley, Os Fenômenos da Vida
JULIAN HUXLEY, nos dezoito ensaios que formam este volume, não tem
outra preocupação senão a de divulgar, numa linguagem fácil e atraente, ao
alcance do leitor de cultura média, toda essa enorme soma de conhecimentos
96
que, através de pacientes pesquisas, os cientistas conseguiram acumular sobre
os mais intrincados mistérios da vida e da natureza.
Ao concluirmos a leitura desse livro, somos levados a pensar que todo o
conhecimento científico tem uma relação mais ou menos próxima com a vida
que vamos vivendo como seres humanos... e que estudar os fenômenos da vida
de uma Rã, de um Girino, de um Amoceto, de um Verme ou de um Ascidio é,
de algum modo, estudar a nossa própria vida... (Texto do catálogo e 1ª. orelha
do livro – grifos meus)
Esse mesmo trecho apresenta o livro no catálogo especial da Biblioteca do
Espírito Moderno. O termo grifado “leitor de cultura média” reaparece aqui e, de novo,
com um sentido de valor. Para o leitor da Biblioteca do Espírito Moderno, não é
demérito ignorar alguns temas; o demérito é não pensar e não tentar se informar sobre
os fenômenos da vida.
Há uma tênue linha entre o Leitor Médio dos textos e uma relativa ilustração.
Observe-se a apresentação do texto de Charles Key que foi publicado na 1ª.
orelha do livro As Grandes expedições Científicas do séc. XX e na 2ª. orelha de Os
Grandes Homens da Ciência:
Que le monde est petit! Que le monde est petit! – diria
continuamente Émile Zola, extravasando a sua desilusão ante a maldade e a
pequenez humanas.
Diremos nós, contudo, ao virar as últimas páginas deste livro:
Como é grande o mundo, como é grande o mundo! Grande, porque já tão
velho e ainda com tanta coisa por conhecer. Grande, pelo vulto das figuras
que se afoitam em melhor devassá-lo e compreendê-lo.
De Fawcet a Rondon e a Scott, de Rawling a Smith e a Byrd
83
Charles E. Key, resumindo-lhes os feitos, mal teve tempo para
exaltar-lhes os lances mais heróicos , mas do seu livro – que pode e deve
estar em todas as mãos, em todas as bibliotecas – desprendem-se altas lições
de coragem, civismo e ilimitado amor à ciência. E com seu livro
desbravaremos as selvas da Amazônia e os desertos do Tibete e da Ásia;
conquistaremos o Pólo Norte e visitaremos os caçadores de cabeças da Nova
Guiné; palmilharemos a Austrália ainda selvagem e enfrentaremos as
borrascas de neve do Pólo Sul; guiados por KEY galgaremos o teto do
mundo e, dos cumes do monte Kamet e do Everest, teremos estendido diante
, está
aqui reunida toda uma brilhante galeria desses palmilhadores do deserto,
desses ascencionistas dos pincaros mais elevados, arrostadores do “inferno
verde” nas florestas e da “morte branca” nos pólos, desses valorosos
precursores dos astronautas que hoje, no auge do século da ciência, cruzam o
cosmos em busca de novos mundos, prestes a inaugurar uma nova era de
novas e mais espetaculares conquistas.
83
É o mesmo Almirante Byrd autor de Sozinho publicado na 2ª série volume 15.
97
dos nossos olhos todo o vasto panorama deste imenso planeta conquistado
com suor e lágrimas.
Figura16 - Capa da série de Ciências com o característico tom verde.
Figura 17 - Livro da 2ª. série da Biblioteca do Espírito Moderno com destaque para o
tradutor
98
Uma citação em francês de um autor renomado e a valorização dos feitos
heróicos, e a alusão a uma “nova era”. E o recurso aos lances heróicos dos explorados
que “por amor à ciência” ampliaram o vasto panorama deste imenso planeta. É, de
novo, a face humana da ciência e o épico, emocionante que é valorizado.
Não menos explícita é a resenha que apareceu na Revista do Brasil por ocasião
do lançamento do volume 4 (Grandes Expedições Científicas).
A historia dos grandes feitos scientificos de nosso seculo – eis o
bello thema que forneceu a Charles E. Key material abundante para um
livro admiravel. Procurando focalizar, em linguagem clara e simples,
sem nenhuma emphase nem declamação edificante os feitos heroicos de
tantos desbravadores da terra. Charles Key emprehendeu, por sua vez,
um trabalho a varios titulos notavel de “descobrimento”.
Graças a esse esforço sobremodo louvavel, é-nos possivel ler,
já hoje em versão brasileira, devida à penna illustre de Gastão Cruls, um
livro util, agradavel e instructivo – As Grandes Expedições Scientificas
no Seculo XX.
Toda uma galeria de heroes está nas paginas de Charles Key e a
sua narrativa facil e correntia nos deixa uma impressão das mais fortes
sobre o lento desenvolvimento da conquista da terra pelo homem.
O livro presente, em boa hora incluido na excellente collecção
de vulgarização cultural que é a Bibliotheca do Espirito Moderno,
contém os seguintes capítulos, abundantemente illustrados: 1.
Explorações na Amazonia; 2. Através dos desertos do Thibet e da Asia;
3. A conquista do Polo Norte; 4. Entre os caçadores de cabeças da Nova
Guiné; 5. No coração da Australia; 6. No pais das borrascas de neve; 7.
O tecto do mundo; 8. Novas luzes sobre o continente negro; 9. O
alpinismo e a aventura na Africa; 10. A conquista do Polo Sul; 11. As
duas passagens do Noroeste e do Nordeste; 12. Aventuras no extremo-
norte da America; 13. O cume do globo. (Revista do Brasil - ano III
agosto 1940 – seção Livros p.68)
A linguagem clara e simples reaparece aliada a uma “narrativa fácil e
correntia”. Ao passo que a coleção é descrita como “excelente coleção de vulgarização
cultural.” Repare-se que o termo vulgarização não é, de forma alguma, depreciativo mas
elogioso.
A sequencia de lançamentos do período ainda tem três temas relativos a
medicina (Médicos anônimos sobre a medicina de laboratório, o romance das
vitaminas e mágica em garrafas sobre a história dos medicamentos). Para esses temas
médicos, a tônica dos textos se mantém a mesma.
A Mágica em Garrafas de agradar seus leitores devido ao humor e leveza
dos relatos:
99
Há uma grande diferença entre os medicamentos usados hoje e
aqueles empregados no século passado. Antigamente os chás, as cocções e
outras tisanas estranhas e de horrível paladar formavam a base de toda a
terapêutica. Essas drogas manipuladas na cozinha da casa do doente ou no
tosco laboratório da botica da cidade, eram geralmente de efeito lento e
problemático. Hoje tudo mudou. Uma criança doente engole uma pilulazinha
de formula complicada e duas horas depois salta da cama já “pronta para
outra.” Mas a diferença entre as modernas pílulas e as horríveis tisanas
ingeridas por nossos avós não reside apenas na sua composição. O que há é
diferença de pensamento, de filosofia, na luta contra a morte.
E toda essa enorme revolução operada no campo dos
medicamentos foi feita por homens que lutaram pesquisaram e erraram até
alcançar os picos do triunfo. Homens que realmente trabalharam para
descobrir a aspirina e a tintura de iodo e o veronal e a vitamina B 1. O
numero dos modernos heróis da ciência é extenso e a historia das suas
pesquisas é mais emocionante que um romance de aventuras. Em MAGICA
EM GARRAFAS, Milton Silverman conta-nos com leveza e “humour” a
história de Suertuerner e a morfina, Pelletier e a quinina, Withering e a
digitalis, Koller e a cocaína, De Lister e Ehrlich (A 205), de Kolbe e a
aspirina, Fischer, Von Mering e os barbitúricos, Eijkman e as vitaminas,
Brown-Sequard e os hormônios, Domagk e a sulfanilamida. Seu grande livro
é a glorificação de todos esses homens que forjaram, nos laboratórios, as
armas modernas utilizadas na luta contra a morte.
Os fatos heróicos dos homens que alcançaram os “pícaros do triunfo”; os
heróis modernos da ciência são glorificados no livro. Suas aventuras são “mais
emocionantes que um romance de aventuras”. O passado são os remédios caseiros, as
cocções, as tisanas e as receitas dos laboratórios da botica da cidade. O presente, o
espírito moderno está nas pílulas que constituem armas modernas na luta contra a
doença porque a ciência moderna tem outra filosofia contra a morte.
Para os Médicos Anônimos, sua tarefa é considerada “grandiosa” em uma
narrativa cheia de “surpresas, atrativos e ensinamentos”.
POUCA gente calcula a grandiosidade da tarefa realizada pelos
patologistas nos últimos vinte e cinco anos, e, no entanto, nenhum cirurgião
competente ordenará uma cloroformização ou empunhará seu bisturi antes
que o patologista esteja preparado para lhe dizer: “ Estes são os fatos. Aqui
está o mal. Opere.”
Através da leitura de MÉDICOS ANÔNIMOS ficamos
conhecendo, sob todos os aspectos, a empolgante história da patologia.
Como um cicerone amável, o Dr. German, nos introduz num laboratório
onde uma plêiade de cientistas realizam infindáveis análises e pacientes
exames. Para o leigo, é esta uma excursão cheia de surpresas, atrativos e
ensinamentos. William McKee German deve, pois, ser recebido como um
Heródoto da História da luta contra a morte. (texto de apresentação do livro
na 1ª. Orelha)
100
Mas é em O Romance das Vitaminas que a “leveza do texto” explicita melhor o
leitor (e não leitora) que se almeja.
Sem dúvida, as vitaminas estão no auge da glória – a tal ponto
que, um após outro, vimos aparecer o “creme dentifrício vitaminoso”, a
“água dentifrícia vitaminosa” e o “leite de beleza vitamínico”. Por isso não
ficaremos nada surpreendidos ao descobrirmos amanhã, no armazém da
esquina, a “graxa vitamínica”, nem nos mostraremos espantados se, depois
de amanhã a nossa esposa nos comunicar que está pronta a renunciar a um
lindo chapéu em troca de uma “geladeira supervitaminosa”, do ultimo
modelo recém-chegado dos Estados Unidos... (texto de apresentação do livro
na 1ª. Orelha)
Repare-se que o leitor é casado e tem uma esposa que troca o lindo chapéu por
uma geladeira! Tamanho o auge da glória em que se encontram as vitaminas... O tom
jocoso da apresentação deve espelhar o texto leve do livro.
A epidemia de vitaminas é um fato a que a gente não pode fechar
os olhos. Então que os tenhamos bem abertos. E aproveitemos a ocasião para
examinar as vitaminas bem de perto. Vale a pena saber, por exemplo, o
modo curioso como todas elas foram descobertas. Ainda mais interessante
será, talvez, conhecermos as funestas conseqüências que pode motivar a falta
de vitamina em nossa alimentação quotidiana. Este livro não tem outro alvo
senão o de vos apresentar, na intimidade, as vitaminas das quais tanto se fala
apesar de serem tão pouco conhecidas. Procuramos servir-vos esta iguaria
científica do modo mais simples possível, evitando que indigestas fórmulas
químicas viessem prejudicar a vossa digestão. Seguimos rigorosamente tal
diretriz na obra toda, expondo-vos uma doutrina bastante complicada em
frases fáceis, num estilo despretensioso. (texto de apresentação do livro na
1ª. Orelha)
Uma iguaria sem as fórmulas indigestas que pode ajudar a compreender o
surgimento de tantos novos produtos, com um estilo despretensioso.
Nem de textos leves se organiza a série de Ciências. O leitor de espírito
moderno também precisa refletir sobre os avanços da Ciência para poder se posicionar
em relação à vida de uma maneira geral. Filosoficamente, esse leitor precisa de
reflexões sérias que o ajudem a tomar decisões que não são apenas do cotidiano (O
101
Homem e seu Universo) mas, também, sociológicas e políticas.(Na aurora da
humanidade e Construção do mundo).
John Langdon Davies o autor de O Homem e seu Universo era um jornalista
sul-africano que, correspondente de guerra, cobriu a Guerra Civil Espanhola e fundou
um grupo de ajuda para encontrar pais adotivos para as crianças refugiadas de guerra.
Seu livro, escrito ainda em 1930, estava em evidência devido à comenda do Império
Britânico que ele recebeu por sua atuação humanitária na Guerra Espanhola. Embora
seu texto não trate explicitamente dessa guerra, sua presença nos jornais pode ter
ajudado a negociação do texto. Apresentado como uma “filosofia honesta e razoável”.
PARA o homem moderno talvez não exista necessidade mais
premente do que a formação de uma filosofia honesta e razoável, que lhe
permita interpretar e encontrar solução para todos os problemas com que se
defronta no terra a terra da vida quotidiana. Neste livro, John Langdon-Davies
indica com precisão o roteiro que devemos seguir e os obstáculos que somos
obrigados a transpor para chegarmos até essa filosofia e podermos lançar nela
raízes profundas.
a historia da evolução humana é uma “novela maravilhosa”, cheia de
mistérios ainda não descobertos. O estudo do aparecimento da espécie humana é
apresentada mais como uma questão arqueológica do que propriamente antropológica.
Como o homem primitivo sobreviveu e como, no curso das idades, se
tornou o ser que conhecemos, constitue a novella mais maravilhosa escripta na
Historia do mundo. Neste volume, de pouco mais de duzentas paginas,
Dorothy Davidson focaliza um dos primeiros capítulos dessa longa e
movimentada novella – o capitulo que explica como a vida evoluiu dos
primeiros invertebrados do mar até aos peixes, os amphibios, os repteis, os
mammiferos e, por fim, até ao próprio homem, e como este, atravez de luctas e
soffrimentos, chegou ao fim da Idade da pedra lascada. Como somente nos
últimos cento e cincoenta annos é que o homem começou a laboriosa, seria e
continuada decifração das primeiras paginas de sua historia, não admira que o
capitulo referente áquella lenta evolução nem sempre seja claro, que apresenta
lacunas, que sejam dadas differentes interpretações a varias de suas partes e
que hajam mesmo trechos que não possam absolutamente ser entendidos. Se
considerarmos todas essas difficuldades, seremos forçados a reconhecer que
Dorothy Davidson relizou, neste ensaio que hoje offerecemos aos leitores da
Bibliotheca do Espírito Moderno, um verdadeiro milagre de synthese e
clareza. O seu livro, que é tão emocionante e cheio de imprevistos como um
romance policial, lança uma luz nova sobre muitas paginas da pré-historia e
mostra que, com todo seu romance, sua belleza e seus inúmeros problemas
psychogicos, a archeologia está longe de ser a sciencia poeirenta e secca que
os leigos imaginam.
102
Dentre todos os títulos da série de Ciências, apena um único título,
efetivamente, se aproxima das ciências humanas. É A Construção do Mundo, de H.G.
Wells, que nas propagandas é apresentado como um curso de “Bom Senso e Sabedoria
para enfrentar a tremenda catástrofe com que nos defrontamos”:
Na obra tremendamente construtiva de H.G. Wells, nenhuma
avulta tanto como “The Work, Wealth and Happiness of Mankind” que agora
aparece sob o título A CONSTRUÇÃO DO MUNDO.- O que esse livro de
Wells representa é toda uma ciência nova, ou uma síntese de todas as
ciências enfocadas para a sociologia prática. Wells não é um acadêmico. Não
faz ciência pela ciência, como certos artistas fazem arte pela arte. – Sua
grande ambição é contribuir com um corpo de noções certas no máximo
possível, científicas no mais alto grau, para que com base nela os políticos e
estadistas possam dirigir os povos menos empiricamente e menos às cegas
do que até aqui.
Neste seu novo livro, Wells aborda os problemas do trabalho, da
riqueza e da felicidade da humanidade. O grande historiador transforma-se
em sociólogo profundo, para descrever e analisar o enorme esforço que o
homem vem dispendendo no sentido de tornar a vida mais bela e digna de
ser vivida. Como um professor amigo, ele nos aponta erros e indica
caminhos. A Construção do Mundo é um livro que calará fundo no espírito
dos homens do século XX. Ninguém poderá deixar de tomar conhecimento
de uma obra que responde a esta pergunta angustiante: quais são as causas
que levaram o mundo à tremenda catástrofe com que nos defrontamos?
Um curso de Bom Senso e Sabedoria.
Publicado em meio a II Guerra Mundial, o livro de Wells é, também, descrito
como um livro de “sociologia prática” com reflexos na vida política:
Porque o que o livro de Wells representa é toda uma ciência nova
ou uma síntese de todas as ciências enfocadas para a sociologia prática.
Wells não é um acadêmico. Não faz ciência pela ciência, como certos artistas
fazem arte pela arte. – Sua grande ambição é contribuir com um corpo de
noções certas no máximo possível, científicas no mais alto grau, para que
com base nela os políticos e estadistas possam dirigir os povos menos
empiricamente e menos às cegas do que até aqui.
Dessa forma, os leitores da série de Ciências estão interessados no lado heróico
da ciência, nas suas maiores descobertas, na filosofia prática que decorre de uma nova
103
visão do Universo mas, sob a forma de textos leves e interessante, acessíveis ao leitor
médio, não especialista na área em questão. Fazem parte das preocupações da série:
Medicina, explorações, psicologia, arqueologia, física, química, biologia e sociologia.
Mas esse leitor não constitui um público muito grande. Curioso para saber o que será
descoberto, os desafios do tempo em que vive, esse leitor busca o lado humano em cada
conhecimento científico.
Observem-se as tiragens dos títulos publicados no período:
Tabela 5 – Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos – Ciências – 1º. período
No.
Autor
Titulo original
1ª. Ed.
Tiragem
1
Albert Einstein e
Leopold Infeld
Evolução da Física
1939
3004
2
Alfred Adler
A Ciência da Natureza
Humana
1939
3128
3
Grove Wilson
Os Grandes Homens da
Ciência
1940
5035
4
Charles Key
As Grandes expedições
Científicas do séc. XX
1940
5071
5
James Jeans
O Universo Misterioso
1941
3000
6
John Langdon-
Davies
O Homem e seu Universo
1941
3000
7
Julian Huxley
Os Fenômenos da Vida
1941
3136
8
Dorothy Davison
Na aurora da Humanidade
1941
3032
9
William McKee
German
Médicos Anônimos
1942
4002
10
C.C. Furnas
Os Próximos 100 anos
1942
4006
11
Estevan
Fazekas
O Romance das Vitaminas
1942
5000
12
H.G.Wells
A construção do mundo
1943
6512
13
Milton Silverman
Mágica em Garrafas
1943
7024
MORA (2003), analisando o surgimento de uma literatura de divulgação
científica, salienta que o período da virada do século XIX para o XX trouxe grandes
mudanças na forma como o conhecimento impactava a vida das sociedades.
A ciência e a tecnologia, ao introduzirem mudanças drásticas nas
condições de vida, despertaram o interesse geral. A física, em lugar de resolver
104
os “últimos problemas em um universo mecânico, abriu uma caixa de
surpresas, contendo novas visões de mundo. MORA (2003:25)
A complexidade e variedade das descobertas de toda espécie exigem textos de
“vulgarização”, utilizado em outros momentos em contraponto a “divulgação”. Não
uma linha estrita de diferenciação entre os termos. Entretanto, apesar de aparecerem
sem grandes distinções nos catálogos da época, divulgação científica e iniciação
científica tem locais diversos no leque editorial da Companhia Editora Nacional.
No mesmo período de duração da série de ciências da Biblioteca do Espírito
Moderno, outra coleção: a Biblioteca Pedagógica Brasileira, dentro da Editora
Nacional, publicava a série Iniciação Científica, que durou de 1931 a 1981 e, em sua
primeira fase, foi coordenada por Fernando de Azevedo:
Em relação aos títulos publicados pela Iniciação Científica, durante o primeiro
período da série de Ciências, analise-se o período de 1939 a 1941 que corresponde à
fase inicial da Biblioteca do Espírito Moderno.
Tabela 6
Títulos da coleção Iniciação Científica (1939/1943)
Dicionário de Etnologia e sociologia
Herbert Baldus/ Emilio
Willems
1939
Pesquisa e exploração de petróleo
S. Froes Abreu
1939
Sociologia Educacional
Fernando de Azevedo
1940
A Vida na selva
Candido de Melo Leitão
1940
Democracia Econômica
Valdiki Moura
1942
Dos cinco títulos publicados, todos são nacionais. Quanto às temáticas, um
dicionário e nenhum tema genérico e/ou panorâmico. uma caracterização bastante
diversa tanto no foco da coleção quanto do público leitor.
Percebe-se a distância das temáticas, da origem dos tulos e dos campos de
interesse. Para a série Iniciação Científica, temas de utilização e formação do futuro
estudioso e pesquisador, provavelmente aluno do curso superior.
LEAL (2003:157), analisando o aparelho crítico da coleção Iniciação
Científica, encontra dispositivos de regramento de leitura e evidências que demonstram
que os títulos dessa coleção poderiam ser modificados para atender os objetivos da
105
Coleção Iniciação Científica concebida como uma série cuja finalidade era divulgar
conteúdos sobre a ciência para um público de não especialistas.”
Compare-se com a idéia de “divulgar sem vulgarizar” presente também na
Biblioteca do Espírito Moderno.
Não é freqüente que o “leigo” tem ensejo de ler a exposição dum
alto conhecimento científico, elaborada pelo cérebro que o concebeu. Nesta
obra, que é o feliz resultado da colaboração do autor da teoria da relatividade
com um dos seus companheiros de pesquisas, o leitor encontrará uma
simplificada, mas autorizada exposição do desenvolvimento das idéias da
ciência física desde os começos até o dia de hoje. (Apresentação do livro A
Evolução da Física no catálogo da Bibliotheca do Espírito Moderno de 1943 e
repetido nas propagandas do título)
Ao mesmo tempo, TOLEDO (2001), explicando o contexto em que se forma a
Biblioteca Pedagógica Brasileira e a posição do editor (e do papel de Lobato), identifica
uma
certa inversão da posição do editor que, no lugar de esperar a
demanda dos leitores para publicar textos e autores já famosos, com venda
garantida, passa a definir o gosto dos leitores, impondo, através de diferentes
estratégias, os textos que lhe parece serem adequados. TOLEDO (2001:26)
Esse projeto de “formação” do leitor desenvolvido pelo editor, no caso da
Biblioteca do Espírito Moderno, é, também, conformado pelas ofertas do mercado
editorial internacional. Aproveita-se das possibilidades negociadas internacionalmente e
potencializa-as incluindo-as em uma coleção renomada. Em um processo descrito por
TOLEDO (2001):
Logo a noção da relação popularidade do nome do autor/sucesso do
livro é transferida para a relação nome do responsável pela coleção; sucesso
da coleção. A popularização do nome do organizador da coleção funciona
como propaganda e autorização dos textos publicados.
A organização de Fernando de Azevedo (BPB) e Anísio Teixeira (BEM)
valorizam a “Marca dos bons livros” com indicações seguras para leitores específicos.
No caso, o público das séries de Ciências e da Iniciação Científica.
Ressalte-se que uma visão de educação e de pedagogia permeando as
reflexões sobre a nova coleção. Não sentido em uma coleção apenas pedagógica. A
106
pedagogia como um capítulo dentre vários outros é um dos motes da coleção. É
necessário aproximar o leitor comum da “cultura humana”.
Na verdade, segundo MORA (2003:25), novos modelos de divulgação
científica se estruturando no início do século XX e se estendendo até mais ou menos o
evento Sputnik
84
. Para ela, o impacto das novidades científicas foi tão grande que
“naquela época, a divulgação era feita por cientistas e os jornalistas limitavam-se a
difundir amplamente, à sua maneira, as descobertas.” Esse quadro começa,
paulatinamente a se alterar. Conforme as ciências se tornam mais abstratas, caras e
técnicas e os grandes inovadores não podem mais ser nomeados, os jornalistas de
ciências e alguns poucos cientistas/divulgadores (como George Gamow
85
Em outro texto, TOLEDO (2007) aprofunda a análise da disputa entre dois
organizadores de coleção Damasco Penna e Anísio Teixeira. Em seu estudo, a presença
de modelos concorrentes de coleção dentro de uma mesma editora ficou evidenciado.
No caso dela, as coleções eram a Atualidades Pedagógicas, de Penna, e a coleção
Cultura, Sociedade e Educação, de Anísio Teixeira.
) se
constituem em um novo estilo de divulgação de ciências. Modelo inovador, a utilização
de jornalistas como divulgadores dos avanços da ciência conviveu na BEM com os
textos de cientistas famosos.
Essa possibilidade de haver modelos concorrentes para a série de Ciências
dentro da própria editora resultou no questionamento sobre o tipo de leitor almejado e
sobre as representações conflitantes sobre leitores e leituras.
Tanto a BPB
86
Apesar de algumas semelhanças e concorrências, as temáticas que permearam
as escolhas em cada uma das coleções é bastante diferente. Temas como grandes
época organizada por Fernando Azevedo), quanto a BEM
(organizada por Anísio Teixeira), construíram em suas propagandas a idéia de
“formação do brasileiro”. Entretanto, o foco dessa formação é que se desloca. Na
Iniciação científica, a ênfase é, segundo LEAL (2003), vulgarização e a iniciação
daqueles que iniciam seus estudos na área (das ciências). Na BEM, a questão é
divulgar sem vulgarizar. A interlocução de uma com a outra é bem evidente.
84
O chamado “efeito Sputnik” refere-se ao impacto do lançamento do primeiro satélite artificial,
conquista alcançada pela União Soviética, em meio à guerra fria. Esse fato ocasionou nos Estados Unidos
e, por tabela, em várias sociedades ocidentais, um profundo repensar sobre a posição das ciências nos
currículos escolares e na formação das elites.
85
Físico renomado, Gamow foi best seller mundial com uma série de ciências para crianças (Mr.
Topkins) e alguns títulos de divulgação para adultos, dentre eles Um, Dois, Três, Infinito... e Biografia da
Terra (ambos publicados pela Ed. Globo na Coleção Tapete Mágico)
86
Biblioteca Pedagógica Brasileira
107
expedições, grandes cientistas, de cunho mais generalista, aliados a questões de
medicina, astronomia, física apresentadas como uma “evolução”, um “avanço” rumo à
modernidade e, no último período, questões relativas a robótica, geografia, agronomia e
economia foram os assuntos predominantes da 2ª. série. Na Iniciação Científica, o
predomínio de temas de psicologia e linhas teóricas de ciências sociais, segundo LEAL,
por não haver concorrentes na casa.
Quanto às tiragens, a rie de Ciências apresenta números bastante modestos
mas não muito diferentes dos números encontrados por LECOQ (1991: 332-341) para
as séries de divulgação científicas na França no mesmo período e, também, não tão
diferentes das tiragens encontradas na Inglaterra para o mesmo tipo de título.
É interessante notar que, essa coincidência se faz em torno de números
próximos a 4.000 exemplares por edição. Entretanto, a velocidade de reedições nesses
países é maior. Para os títulos da 2ª. Série, foram reeditados apenas 4 títulos, sendo que
no 1º. Período, apenas os dois primeiros. Ressalte-se que os números das reedições são
pequenos para o padrão da Biblioteca do Espírito Moderno como um todo.
Tabela 7- Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – Ciências – 1º. período
No. Título Autor Ano(s) de edição
Tiragem
Total
1 A Evolução da Física
Albert
Einstein e
Leopold
Infeld
26.8.39/1941/1943 5998
2
A Ciência da Natureza
Humana
Alfred Adler 15.6.1939/1940/1945/1957/1960/1967 19177
3
Os Grandes Homens da
Ciência
Grove Wilson 27.5.1940/1945/1958/1963 18097
4
As Grandes expedições
Científicas do séc. XX
Charles Key 10.4.1940/1959/1963 12110
Tabela 8 – Biblioteca do Espírito Moderno
Detalhamento reedições – Ciências – 1º. Período
No. Título Autor Ano
Tiragem
Ano
Tiragem
Total
(no
período)
1 A Evolução da Física
Albert Einstein e
Leopold Infeld
1941 1005 1943 1989 5998
2
A Ciência da Natureza
Humana
Alfred Adler 1940 2002 5130
108
Os títulos do período, embora bem articulados, não tiveram grandes tiragens e
as reedições do período atingiram cifras muito pequenas (a maior reedição obteve uma
tiragem de apenas 2002 exemplares). Ambos os títulos reeditados no período
pertenciam à Companhia Editora Nacional e sua reedição não implicaria em pagamento
de mais royalties.
As séries no 1º. Período – História e Biografia
Se o investimento na 2ª. série foi modesto, o mesmo não pode ser afirmado
para os títulos da 3ª. Série, que no período publica 32 títulos diferentes. É um grande
investimento.
Tabela 9
Títulos – Historia e Biografia – 1º. período
N.
Titulo
Autor
Ano
1
Madame Curie*
Eva Curie
1938
2
História Sincera da França
Charles Seignobos
1938
3
A vida de Disraeli (3ª. Ed.)*
André Maurois
1939
4
História Universal (em 3 tomos): Ed. Ilustrada*
H.G. Wells
Tomo 1 - Dos começos da vida na terra até o Fim do
Império de Alexandre, o Grande
H.G. Wells 1939
4-A
Tomo 2 - Da Ascensão e queda do Império Romano
até o Renascimento da Civilização Ocidental
H.G. Wells
1939
4-B
Tomo 3 - A Era das grandes potências
H.G. Wells
1939
5 História do Futuro* H.G. Wells 1939
6
Ensaios Históricos (1º. volume)
Lord Macaulay
1940
6-A
Ensaios Históricos (2º. volume)
Lord Macaulay
1940
7
Pequena Historia das Américas
Afranio Peixoto
1940
8 Memórias de um Negro (Autobiografia)* Booker T. Washington 1940
9 A História da Bíblia - Narrada e desenhada pelo Autor
- Edição ilustrada
Hendrick Willem Van Loon 1940
10 A Epopéia Americana* James Truslow Adams 1940
11
O Destino da Espécie Humana - Quadro do que lhe
está acontecendo e das imediatas possibilidades que
o defrontam
H.G. Wells
1941
12
História da Alemanha
Charles Bonnefon
1941
109
13
História de Cristo*
Giovanni Papini
1941
14
A Vida de Shelley*
André Maurois
1941
15
Lyautey
André Maurois
1941
16
Grandes Homens Contemporaneos
Winston Churchill
1941
17
A vida de Rui Barbosa
Luis Viana Filho
1943
18
Os Estados Unidos de Ontem e de Hoje
Roy Nichols, William C.
Bagley e Charles A. Beard
1941
19
Um Espirito que se achou a si mesmo
Clifford W. Beers
1942
20
A Evolução de um Cientista
Leopold Infeld
1942
21
Lincoln
Nathaniel Wright
Stephenson
1942
22 As Grandes Cartas da História - Desde a antigüidade
até os nossos dias
Wallace Brokway e Bart
Keith Winer - M. Lincoln
Schuster
1942
22 A As Grandes Cartas da História - Desde a antigüidade
até os nossos dias - 2º. Volume
M. Lincoln Schuster 1949
23
Nietzsche
Crane Brinton
1942
24
Somente nesse dia
Pierre Van Paassen
1942
25 Beaumarchais - O Aventureiro do Século da mulher Paul Frischauer 1942
26
Historia dos Estados Unidos
Firmin Roz
1942
27
Maquinas da Democracia - As invenções e sua
influencia Nos Estados Unidos
Roger Huklingame
1942
28
Historia da Civilização = Nossa Herança Oriental (2
tomos)
Will Durant
1942
Historia da Civilização - Nossa herança clássica (2
tomos)
Will Durant
1943
29 Tolerancia Hendrick Willem Van Loon 1942
30
Memórias
André Maurois
1943
31 A Vida de Thomas Jefferson Francis Hirst 1943
32
A vida íntima de Napoleão
Arthur Lévy
1943
* Títulos que constam na lista de Best-sellers da Publisher´s Weekly.
Enquanto na primeira e na segunda séries, as biografias dos grandes pensadores
e dos grandes cientistas aparecem de forma condensada, relacionada aos “grandes
feitos”, na terceira série, as biografias, autobiografias e memórias aparecem, via de
regra, romanceadas. Identificamos, de imediato no catálogo, as seguintes biografias:
Madame Curie, Disraeli, Cristo, Shelley, Lyautey, “Grandes contemporâneos”, Rui
Barbosa, Lincoln, Nietzsche, Beaumarchais, Jefferson e Napoleão.
Merecem autobiografias Rodker Washington, Clifford Beers
87
87
Tanto Washington quanto Beers são autores cuja temática está intimamente ligada à experiência de ser
negro (esse o termo utilizado nas propagandas) em uma sociedade branca, no caso os Estados Unidos.
, Leopoldo
Infeld e André Maurois. Apresentadas sempre de forma que a aventura e o heroísmo
110
sejam centrais. A superação de muitas e variadas adversidades, o enfrentamento de
situações difíceis e o caminho para a saída das dificuldades são temas constantes.
O catálogo da coleção, por exemplo, apresenta o livro sobre Madame Curie
como:
O romance da vida da eminente cientista polonesa tem sido um dos
grandes sucessos de livraria. Quem poderá deixar de emocionar-se ao ler a
história dessa semi-santa, que começou se escravizando a um trabalho
subalterno afim de que sua irmã pudesse estudar medicina? – Que, mais
tarde, se refugiou em Paris para conquistar a cultura científica que a Rússia
lhe negara na Polônia oprimida? – E, que, na Sorbonne, conquistou as mais
altas classificações?
Com surpreendente sinceridade sua filha conta essa fase terrível de
preparação. E conta, depois, a historia do casamento de Marie Curie, um
casamento perfeito e sem igual no mundo.
Os termos são preciosos: uma “semi-santa” que teve um “casamento perfeito e
sem igual no mundo”. Para as descobertas científicas e o prêmio Nobel (recebido à
época do lançamento do livro), a qualificação se resume a um simples “as mais altas
classificações”. É mais importante o casamento perfeito, a luta contra a opressão do que,
efetivamente, as conquistas científicas.
Esse foi o único título da série de História e Biografia, encontrado com a cor
verde, da série de Ciências.
111
Figura 18 - Foto: capas de Madame Curie
Ao contrário das séries anteriores, alguns títulos tem, claramente, autores
religiosos (cristãos).
Quanto a parte de História, encontramos França, América, Bíblia, Alemanha e
Estados Unidos com um número significativo de títulos (Epopéia Americana, Estados
Unidos de Ontem e Hoje, História dos Estados Unidos e Máquinas de Democracia) que
somam-se aos títulos de personagens da história do país (Lincoln, Jefferson, e duas
autobiografias).
112
Figura 19 - Foto: prova” de propaganda do livro de André Maurois História
dos Estados Unidos.
Junte-se a esse repertório, os títulos de História geral (História Universal,
História do Futuro, Ensaios Históricos, o Destino da espécie humana, grandes cartas
da História e História da Civilização). Não é difícil identificar a importância dos
Estados Unidos para a coleção. Da mesma forma, as obras de História possuem em
comum uma preocupação com a narrativa linear e a crença na evolução humana. Essa é
113
uma característica identificada por HUTNER (2009) para os anos 1920 nos Estados
Unidos.
Se os anos 20 foram caracterizados por livros de bolso (de caráter)
intelectual e narrativas como Story of Mankind (1922) de Hendrik Van Loom
Outline of History (1925) de H. G. Wells e Story of Philosophy (1926) de Will
Durant, os quais tentavam tornar a história compreensível através de uma
narrativa linear, a literatura histórica dos anos 30 tentava ativamente se
concentrar no poder formador do passado ou escapar o momento presente/de
então. Talvez o exemplo de história contemporanea mais celebrado da década
tenha sido Only Yesterday de Frederick Lewis, o qual instantaneamente
caracterizou a década anterior como gloriosa porém passada – muito recente
também- tanto como o presente (que passará)
88
O autor comentava uma realidade que, para os Estados Unidos, era bastante
pesada: a “Grande Depressão” e o impacto dessa realidade no contexto da produção dos
livros de grande tiragem. Para o autor, uma história linear e “gloriosa” em que o homem
desempenha seu papel rumo ao progresso simplesmente perdera qualquer sentido para o
leitor médio estadounidense durante a crise econômica que evidenciou a fragilidade do
American Way of Life.
Entretanto, é essa literatura que chega ao Brasil e à Biblioteca do Espírito
Moderno. São títulos que, nos Estados Unidos, viviam queda de circulação e estavam
relativamente mais baratos. Portanto, nesse 1o. período, os livros que estão fazendo
sucesso na Biblioteca do Espírito Moderno são da década de 1920.
Em que pese esse fato, percebe-se um projeto de “ilustração” do perplexo leitor
comum que precisa entender um mundo sempre mais complexo e os avanços e as
maravilhas da ciência e do mundo em que vive. Não é uma simples coleção de
“introdução” aos novos saberes e a nova realidade. É um “mapeamento” do mundo em
que vivemos. O sentido para se conhecer a história de um país ou de um personagem é
facilitar a compreensão do mundo. Diante dos enormes avanços e das grandes
descobertas, o leitor não especialista em determinado campo pode, lendo os títulos da
Biblioteca do Espírito Moderno, entender o significado da nova realidade que se lhe é
apresentada.
88
In addition, if the ‘20s were characterized by intellectual handbooks and narratives like Hendrik Van
Loom’s Story of Mankind (1922), H. G. Wells’s Outline of History (1925) and Will Durant’s Story of
Philosophy (1926), which endeavored to make history comprehensible through linear narration, ‘30s
history writing tried actively either to concentrate on the shaping power of the past or to escape the
current moment. Perhaps the decade’s most celebrated example of contemporary history was Frederick
Lewis Allen’s Only Yesterday, which instantly characterized the preceding decade as glorious yet past –
and very recently too – as well as to the present. (HUTNER, 2009:162)
114
RADWAY (1999) identifica uma preocupação recorrente dos editores no Book
of the Month club que é a de estabelecer um projeto de instrução e cultura para as
publicações; e tanto ela quanto HUTNER (2009) salientaram a presença de um
preconceito do editor e da propaganda em relação a esse leitor, teoricamente
desqualificado, e um esforço dos editores que tentavam evitar o termo “médio” na
apresentação das obras e da coleção. Nessas apresentações, ainda segundo os autores
citados, o que se encontra é uma valorização da qualidade das obras para o fim a que se
deseja; ou seja, ilustrar e ajudar o leitor a compreender os avanços culturais e científicos
do tempo em que vivem.
Esse preconceito não aparece explícito na propaganda da Biblioteca do
Espírito Moderno. A análise das apresentações das obras, também na . série,
identificam um leitor que, embora desconheça ou conheça pouco o assunto em pauta, é
capaz de ler e compreender o significado do texto que se apresenta
89
Com relação aos aspectos gerais, a coerência das séries no 1º. período reforça
as características exploradas. Algumas das tendências identificadas nas séries
anteriores se tornam evidentes aqui e merecem pelo menos um breve comentário.
.
O livro sobre Madame Curie foi traduzido como best seller internacional
90
As obras de Maurois, sempre com boas vendagens, eram sucessos
“garantidos”
,
decorrente dos dois prêmios Nobel da biografada e das discussões suscitadas a respeito
de suas pesquisas. Mas, mesmo assim, a apresentação “heróica” se mantém.
91
Na realidade, as obras de Maurois mereciam, inclusive, uma negociação
anterior ao lançamento da obra no original. Em carta datada de 11 de junho de 1942, o
editor Arthur Neves escreve a Maurois informando que estava interessado na publicação
pois, faziam parte de uma coleção anterior da própria Companhia Editora
Nacional: Vidas Célebres”. Dois autores tem apenas um título publicado porque os
demais títulos foram perdidos na negociação para outras editoras. Van Loon,
comentado, publicou sua obra na já comentada coleção Tapete Mágico da editora
Globo e foi best seller. Charles Seignobos foi para a Livraria José Olympio que, mais
ágil, adquiriu os direitos de tradução antes que a Companhia Editora Nacional
demonstrasse interesse pelas demais obras.
89
Retome-se, por exemplo, a apresentação de Os Fenômenos da Vida de Julian Huxley. Não é um leitor
conhecedor do assunto mas capaz de compreender o conteúdo apresentado.
90
Terceiro lugar na lista de Best Sellers da Publisher’s Weekly em 1938 na categoria de não ficção
91
Na mesma listagem da Publisher’s Weekly, Maurois figura em primeiro lugar com Disraeli em 1928,
quarto e quinto lugares com Ariel, ou A Vida de Shelley nos anos de 1924 2 1925.
115
da autobiografia do autor que estava em processo de elaboração. O argumento para
garantir o direito de tradução veio com a justificativa do sucesso das obras de Maurois
publicadas e pela inclusão das mesmas na Biblioteca do Espírito Moderno, que
publicava autores importantes como: Jack London, Kipling, H.G.Wells, Eva Curie,
Hemingway, Will Durant, Van Loon, Jacques Maritain, Charles Seignobos e muitos
outros.
92
H.G. Wells é um dos autores prediletos de Anísio Teixeira e de Monteiro
Lobato (que o traduziram).
sonhei aqui com o Otales – o grande – humilde – educador nacional –
o sonho de ir trabalhar com você. Primeiro trabalho: A História de Hoje.
Encontrei no Wells todo o material: Work, Wealth and Happiness of
Mankind
93
. Quando poderemos fazer isto? (Teixeira in:VIANNA & FRAIZ,
op.cit. p.72)
Em carta citada e destinada a Monteiro Lobato e datada de 21 de janeiro de
1936, Anísio retoma a discussão:
coleção de civilização contemporânea. Para dizer os corolários da
ciência e da democracia. Começar por Wells e pelos geniais “exorcistas”
contemporâneos e, de vez em quando, para mostrar a continuidade com a
floresta do pensamento humano, um jequitibá secular – Montaigne, Platão etc.
Que acha você? Uma coleção para um regime de supernutrição do Brasil. Não
será de nutrição que realmente o país precisa? E não está isso 200% de acordo
com a política da Companhia? Nutrição dirigida, em vez de economia dirigida.
Porque para essa parece que ainda não chegou a hora...
[...]Seria necessário uma coleção em que pedagogia fosse um capítulo
e não um título. Pedagogia é bobagem se não for toda a cultura humana. Há
mais pedagogia em Wells do que em todos os professores do mundo.
(CPDOC/FGV - AT c 1928.06.22 – 20A)
Some-se a isso que Outline of History, traduzido como História Universal,
figurou entre os best-sellers dos Estados Unidos em 1921 e 1922 em primeiro lugar, em
1923 no quinto lugar e em 1930, já em nova edição, no oitavo lugar.
92
O texto da carta é: As you certanily remember, some years ago our firm had the honor to publish with
great success, the Brazilian translation of three famous works of yours: - LA VIE DE DISRAELI, LA
VIE DE SHELLEY and LYAUTEY. These biographies were published, with due diligence, in our
Biblioteca do Espirito Moderno
, collection which enrolls about 100 titles by other celebrated writers –
Jack London, Rudyard Kipling, H. G. Wells, Eve Curie, Ernest Hemingway, Will Durant, Van Loon,
Jacques Maritain, Charles Seignobos and many others. (Pasta correspondência internacional – dossier
Maurois).
93
Esse título foi publicado com o nome de A Construção do Mundo e tradução de Monteiro Lobato na 2ª.
série em 1943.
116
Sobre Will Durant, um dos verdadeiros steady sellers da coleção, sua obra
História da Civilização foi sendo publicada pela BEM na 3ª. série sempre à medida que
os livros eram escritos, independente de qualquer editor que tivesse assumido a coleção.
Posteriormente, vendida para a Editora Record, foi novamente traduzida e continuou
reimpressa sucessivas vezes.
Figura 20 - 4ª. capa do livro Nossa Herança Oriental, repetida em vários outros títulos.
O texto é idêntico ao do catálogo já comentado.
117
Figura 21 - Foto de volume da 3ª. série com a cor vermelha, tradicional da
série.
As séries no 1º. Período - Literatura
Para a série de Literatura, do total de 17 títulos publicados no período, dois não
são romances: Noções de História da Literatura de Manuel Bandeira e História da
Literatura Mundial de John Macy. Percebe-se o caráter amplo e introdutório das obras
sem, no entanto, pretenderem ser manuais para o ensino de História.
94
Observe-se os
títulos publicados na série de Literatura da Biblioteca do Espírito Moderno nessa fase
inicial.
94
Posteriormente, em 1977, cogitou-se reimprimir a ambos os títulos para um público
universitário mas a idéia não foi adiante.
118
Tabela 10 – Biblioteca do Espírito Moderno
1as. Edições da série de Literatura no 1º. período
no. Título Autor 1a. Ed.
1
O livro da jângal
Rudyard Kipling
1941
2
Rebecca
Daphne du Maurier
1940
3
Noções de História da
literatura
Manuel Bandeira 1940
4 Meu filho, meu filho! Howard Spring 1940
5
História da Literatura Mundial
John Macy
1940
6 Filho Nativo Richard Wright 1941
7 Lágrimas de Homem Warwick Deeping 1941
8
Lobo do Mar
Jack London
1941
9
Momento em Pequim
Lin Yutang
1941
10 Por quem os sinos dobram Ernest Hemingway 1941
11 Kim Rudyard Kipling 1941
12
Adeus às armas
Ernest Hemingway
1942
13
Uma folha na tempestade
Lin Yutang
1942
14 Onde estão os sonhos? Howard Spring 1942
15 Piloto de guerra Antoine de Saint-Exupéry 1943
16 Noites sem lua John Steinbeck 1943
17
Cara ou Coroa
Kenneth Roberts
1943
A presença de títulos publicados anteriormente de forma avulsa, reforça a
idéia de organizar coleções como uma forma de melhorar as estratégias de venda de
títulos. Ao escolher títulos de boa vendagem, consolidados, juntamente com novidades,
o sucesso da série fica garantido.
O primeiro título é O livro da jângal de Rudyard Kipling, juntamente com KIM,
do mesmo autor, tiveram seus direitos comprados no início da década de trinta e
haviam sido editados em 1935 como títulos avulsos.
Sobre esses livros, em 1941, ano da publicação de ambos na BEM, Monteiro
Lobato assim se expressa em carta a Godofredo Rangel de 17 de setembro de 1941:
Tenho agora diante de mim uma obra sobre Lincoln
95
e ontem acabei a
revisão do meu Kim. Leia-o Rangel. Depois do Livro da Jângal, é a melhor
obra de Kipling. A primeira tradução do KIM lançada pela Editora era uma
neblina. A gente lia e entendia vagamente. Otales encomendou-me outra. E
meu último trabalho – ou “trabalheira” – foi retraduzir uma tradução do
tremendo For Whom the Bell Tolls de Hemingway. (LOBATO, 1948b:334)
96
95
Lobato refere-se a Lincoln de Nathaniel Stephenson, publicado na 3ª. série em 1942.
96
VIEIRA (2004:121) cita carta de LOBATO datada de abril de 1942 a Garay e escrita durante sua
detenção em que ele alude às traduções e cita Kim especificamente.
“Aproveito o tempo traduzindo o Kim de Kipling e essa estadia na Índia me faz esquecer de maneira mais
completa a prisão. Pena é que o excesso de visitas me tome tanto tempo. Como vai a tradução de
119
Vale destacar nesta carta a presença atuante de Lobato no trabalho de tradução
ou retradução dos títulos da Biblioteca do Espírito Moderno. O mesmo Kipling é assim
comentado por Lobato em carta ao mesmo Godofredo Rangel datada de 1934 durante os
trabalhos de tradução de O Livro da Jângal:
Gosto imenso de traduzir certos autores. É uma viagem por um
estilo. E traduzir Kipling, então? Que esporte! Que alpinismo! Que
delícia remodelar uma obra d’arte em outra língua (LOBATO,1948b;
327)
Figura 22 – jaqueta de O Livro da Jângal
Essa valorização do título que fora publicado em 1935 reaparece no texto de
apresentação da obra no catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno.
No Livro da Jângal Rudyard Kipling alcança o apogeu da sua
criação artística; porque se nas outras obras seu tema é o inglês em
expansão pelo mundo a formar o Império, no Livro da Jângal o
grande artista paira mais alto – tornando-se cósmico. O grande quadro
é a natureza da Índia, com uma derivação para os gelos polares
Reinações?” Nas fichas de edição e no livro da Biblioteca do Espírito Moderno, encontrei a data de
publicação de 1941.
120
quando descreve o drama da Foca Branca e dos Inoitos perdidos no
glacial.
Um crítico aproximou o Livro da Jângal à Ilíada de Homero.
Outro o tem como a obra mais alta do século. Um ponto é líquido: não
há quem leia estes contos de Kipling e não os conserve na memória
em lugar perfeitamente à parte. Em nenhuma literatura nada há que se
lhes assemelhe.
Do mesmo autor, na mesma coleção, no mesmo ano e, também publicado
anteriormente pela Companhia Editora Nacional (série Obras Primas Universaes em
tradução de Baptista Pereira) KIM é apresentado, no catálogo da editora de 1935 como:
História de um menino abandonado que acompanha um homem
piedoso na sua peregrinação ao rio sagrado dos Brahamas. Obra notavel
onde em cada pagina exhala o espirito da India mysteriosa. Considerada
como a melhor obra de Kipling.
Já no catálogo da Espírito Moderno, a apresentação se faz de outra maneira:
Em poucas literaturas haverá obras mais interessantes que
essa história do menino Kim, um garoto de Lahore, de raça inglesa,
mas profundamente integrado no mundo indiano, o qual um dia
encontra um venerabilíssimo lama azul do Tibé, com ele faz a mais
cômica associação e, juntos, percorrem a Índia em procura dum
milagroso rio. Toda a paisagem física e humana da misteriosa Índia
desdobra-se durante as aventuras daquele velho semi-doido, associado
ao travesso botão humano. E entremeio vamos assistindo aos
malabarismos e truques e prodigiosos passes do Inteligence Service
britânico no oriente, que na Índia, assumem o sereno aspecto de
“estudos etnológicos”.
Ressalte-se a presença das descrições da “paisagem física e humana” da Índia e
a convivência da cultura inglesa com a cultura indiana. A metáfora menino (inglês) e
velho (indiano) não é explorada mas o termo comum e freqüente nas apresentações é o
mesmo “misterioso”.
Os textos de apresentação dos dois títulos de história da literatura evidenciam a
preocupação da Biblioteca do Espírito Moderno:
121
NOÇÕES DE HISTÓRIA DAS LITERATURAS
MANUEL BANDEIRA oferece-nos neste livro um
vigoroso e movimentado panorama da literatura ocidental. É livro para
o estudante e para o leigo, desejoso de ter uma visão de conjunto a que
não falte a precisão erudita, indispensável para o exato senso da cor e
do espírito de cada literatura.
A segurança e a vastidão do saber, a beleza e doçura do
estilo e a lucidez e riqueza de imaginação tornaram este livro não o
compendio que Manuel Bandeira idealizou, mas o luminoso e
admirável itinerário para uma excursão às mais ricas províncias de
pensamento ocidental.
Compare-se com os “compêndios ressequidos” contra os quais a BEM oferecia
Will Durant. Em lugar dos compêndios, um livro “vigoroso”, “movimentado”, “erudito”
mas com “beleza, estilo e riqueza de imaginação”. O livro de Manuel Bandeira é
complementado pelo de John Macy, História da Literatura Mundial que:
NÃO é uma história da literatura ao modo clássico; nada
tem de enfadonho; nada de sistematização excessiva. E por isso
alcançou grande divulgação pelo mundo. O autor percorre o vasto
mundo literário como de aeroplano, detendo-se apenas nos picos
culminantes e mostrando as linhas gerais do conjunto. Consegue assim
dar ao leitor uma preciosíssima vista panorâmica, estabelecendo o fio
de continuidade do pensamento humano expresso literariamente. A
Grécia de Homero, a Roma de Tácito e Petrônio, a decadência
medieval, os trovadores, “Minnesingers”, Dante, Petrarca, todos os
grandes da Renascença, em todos os países, os poetas da Inglaterra e
França desde Chaucer até Rimbaud; os famosos romancistas, desde
Fielding até Anatole; os ensaístas; os filósofos dotados de qualidades
literárias são passados em revista sem pedantismo nem massudismo.
Além de não ser pedante nem massudo e enfadonho, o livro de Macy oferece a
contraparte dos Grandes Pensadores de Durant e d’Os Grandes Homens da Ciência.
Partindo da Grécia ao século XX, os escritores pertencem ao “fio de continuidade do
pensamento humano expresso literariamente”. A literatura da Grécia e de Roma foi
seguida pela Idade Média decadente dando lugar aos “grandes da Renascença”, as
literaturas nacionais, incluindo ensaístas e filósofos “dotados de qualidades literárias”
122
Publicado nos Estados Unidos em 1932, ano da morte do autor, esse livro de
Macy foi negociado outright quando já não encontrava muito espaço no mercado
estadounidense.
97
Para Rebecca
98
, volume 2 da série, o catálogo e a orelha do livro assim o
qualificam:
REBECCA empolga pela atmosfera de expectativa
brilhantemente engendrada. É uma novela infinitamente comovente,
profunda no estudo dos pensamentos e reações da mente humana.
Seria impossível por, em breves palavras, uma idéia do
livro. O leitor tem que sentir a atmosfera de desastre iminente, a
deliciosa história de amor com suas emoções acentuadas pelo drama,
pelos imprevistos, pelos momentos magníficos de melodrama.
É dessas histórias que fazem muito leitor passar a noite em
claro. E vale a pena perder-se o sono por essa causa!
Lançado praticamente ao mesmo tempo que o filme de Alfred Hitchcock, o
livro REBECCA teve apenas no ano de 1940, três edições que totalizaram 35.000
volumes. Na quarta capa do livro e em propagandas avulsas, aparece uma pequena
propaganda do filme acima do texto de apresentação do livro.
LAURANCE OLIVIER e JOAN FONTAINE são os
principais intérpretes de REBECCA – a Mulher Inesquecível – Film
da SELZNICK INTERNACIONAL, distribuído pela UNITED
ARTISTS
O leitor de espírito moderno confere o texto do livro e a adaptação
cinematográfica. Com essa lógica, vários títulos da série de Literatura foram comprados
e editados para se beneficiar do lançamento de filmes pela indústria de Hollywood;
alguns apenas se beneficiaram dos lançamentos cinematográficos a posteriori. Mas não
é possível negar a importância do cinema para a série de literatura.
Essa aproximação livro/adaptação cinematográfica é identificada tanto por
McKIBBIN (2008) quanto FEATHER (2006), ambos observam uma relação do livro
97
Para mais informações sobre esse autor e o panorama da literatura nos Estados Unidos, consulte-se
BURT (2004:329)
98
Em 1938 e 1939,o livro esteve, respectivamente em quarto e terceiro lugar na Publisher’s Weekly
(BURT, 2004:394-395)
123
para o leitor médio” e a expansão dos cinemas e da indústria cinematográfica, tanto
nos Estados Unidos quanto na Inglaterra.
O interessante é que ambos utilizam o mesmo exemplo que é Rebecca de
Daphne Du Maurier. A trajetória desse livro se fez paripassu com a carreira do filme
dirigido por Alfred Hitchcock. Best seller nos anos de 1938 e 1939, o livro teve sua
história adaptada para o cinema em 1940. Este foi o primeiro filme estadounidense do
inglês Hitchcock já famoso à época e contou com atores ingleses em seus principais
papéis: Laurence Olivier em seu principal papel masculino, Joan Fontaine e Judith
Anderson como as principais personagens femininas. Era, portanto, um filme baseado
em obra de autora inglesa, dirigido por cineasta inglês e com atores ingleses nos
principais papéis. Embora tenha sido filmado nos Estados Unidos. Essa obra esteve
entre os filmes mais vistos da Inglaterra durante toda a década de 1940
99
e foi a
responsável por manter o sucesso de vendas do livro em ambos os lados do Atlântico
100
.
McKIBBIN (2008:441) salienta ainda que, por mais que os principais sucessos do
cinema na década de 1940 na Inglaterra fossem de alguma forma relacionados ao
universo cultural inglês; a maior parte dos filmes em cartaz era dos Estados Unidos,
especificamente de Hollywood, apesar do sistema de cotas
101
Entretanto, ainda segundo McKIBBIN (2008:441-442) analisando-se uma série
de filmes mais assistidos publicada pelo Daily Mail
. Em parte, esse fato
deveu-se aos devastadores ataques sofridos por Londres durante a II Guerra e, também,
ao enorme esforço de guerra que monopolizou grande parte dos esforços ingleses no
período. A indústria cinematográfica inglesa durante a guerra ocupou-se de filmes
promocionais.
102
99
Perdendo para E o vento levou... e O Grande Ditador. McKIBBIN (2008:441).
e uma pesquisa sobre os hábitos e
preferências do público inglês de cinema feita pelo mesmo jornal com aqueles que
efetivamente iam ao cinema indicou uma preferência por filmes ingleses ou adaptados
de títulos de autores ingleses. Em sua pesquisa, MACKIBBIN (2008:442-443)
identificou também um avanço na quantidade de filmes estadounidenses nas telas
inglesas mais em função da quantidade dos filmes produzidos em Hollywood do que
pela preferência do espectador. Com o aumento da freqüência do público nos cinemas, a
produção inglesa não era capaz de produzir títulos suficientes para entreter um público
100
O indício mais marcante é a capa da edição em paperback que reproduzia o cartaz inglês do filme.
101
Havia uma lei inglesa que determinava um número mínimo de dias de exibição obrigatória de obras
inglesas nos cinemas e teatros.
102
O autor acompanhou no jornal a publicação dos campeões de bilheteria de 1939 a 1950.
124
que passa a ver no cinema uma das maiores opções de lazer. O reverso da moeda é que
muitos títulos ingleses são adaptados ao cinema para atender a grande demanda por
novos títulos no mercado cinematográfico.
Em sua análise, o autor comenta que o fenômeno “cinema” na Inglaterra dos
anos 1940 está associado a um aumento do lazer e da necessidade de “ocupar” o
interesse dos espectadores sempre com novidades. Portanto, com o poder da indústria
filmográfica de Hollywood a capacidade de produção de novos filmes acaba
conquistando grande audiência.
Resumindo, não era mais possível pensar os best sellers de ficção sem refletir
sobre o impacto da indústria cinematográfica sobre o “público médio”. Longe de
apresentar-se como concorrente, o cinema tornou-se aliado da indústria editorial.
103
Na França, a relação entre cinema e aumento da circulação de certos títulos
(notadamente traduções de língua inglesa) também aparece no estudo de BERTHO
(1991).
A indústria de entretenimento teve papel preponderante em várias escolhas e,
também em algumas renúncias editoriais. A recusa de tradução do livro Wild Geese
Calling (Vidas sem rumo), por exemplo, evidencia a estratégia de lançamento de obras
associadas ao lançamento de filmes.
(...) WILD GEESE CALLING - Recebemos hoje a sua carta de 26 do
corrente, informando que também já providenciaram a remessa do contrato
referente a WILD GEESE CALLING. Infelizmente, por motivos que
passamos a expor, não poderemos firmar esse contrato. Somos forçados a
isso porque o filme baseado nesse romance será lançado aqui no Brasil no
dia 15 de janeiro e não em meados do ano, como esperavamos. Desse
modo, não teremos oportunidade de fazer uma propaganda conjugada com
os exibidores do filme, o que corta todas as probabilidades de êxito da
edição. O fato é que lançar o livro muitos mezes depois do aparecimento
do filme contraria inteiramente os nossos planos. Estivemos hoje com os
diretores da Fox Film tentando obter um adiamento da exibição, mas os
nossos esforços foram infrutiferos. Como VV.SS. compreenderão, só
mesmo motivos dessa ordem poderiam nos levar a tomar a presente
atitude. Esperamos que Vv. Ss. compreendam esses motivos e anulem a
nossa proposta. Como não desejamos que Vv. Ss. percam inteiramente o
trabalho acarretado pela remessa do saque de US$ 150, estamos dispostos
a fazer o pagamento da referida importância, que poderá ser creditada em
nossa conta, para cobertura de uma futura compra de direitos autorais.
Esperamos que Vv. Ss. nos escrevam sobre o assunto. (Carta à Editorial
Autorjus, datada de 30 de dezembro de 1941 e assinada por A. Neves. –
Pasta Correspondência Internacional “A”)
103
A Companhia Editora Nacional publicou Rebecca como volume 2 da Biblioteca do Espírito Moderno
em 1940 e, em 1941 já vendera 35.000 em três edições.
125
Nesse caso, o risco da operação se completar é tão sério que a editora se
compromete a fazer um pagamento “compensatório” configurado como adiantamento
para “uma futura compra de direitos autorais”.
Na continuação da leitura dessa série de cartas, percebe-se que a oferta não é
tão generosa. Isso porque o interesse em uma outra obra da mesma agência literária
ainda não publicada se negociava. É o livro de Lin Yutang “A Leaf in the Storm
publicado posteriormente sob o título Uma Folha na Tempestade na 4ª. série da coleção
e um grande best seller. Esse um dos maiores sucessos da coleção, no período, obteve
um total de 23.000 exemplares editados e vendidos apenas entre os anos de 1940. Na
realidade, sua primeira edição de 10.000 exemplares esgotou-se em menos de um ano e
já no ano seguinte, nova edição de 5.000 exemplares.
Justificada, portanto, a preocupação da Companhia Editora Nacional em
garantir acordos preferenciais com a Editorial Autorjus, representante de Lin Yutang na
América do Sul.
Lin Yutang publicara outro título na série Momento em Pekim,
extremamente bem sucedido e, um pouco mais valorizado porque o autor era amigo de
outra autora de sucesso Pearl Buck que lhe abriu algumas oportunidades. Entretanto,
seu sucesso se consolidou diante de um estilo de escrita que a propaganda assim
qualificava:
LIN YUTANG. Não foi escrito em chinês mas em inglês. Isto é
significativo. Quer dizer que, apesar de ser chinês bem chinês e ser, ele
mesmo uma das personagens sobre quem escreve, LIN YUTANG pode ainda
colocar-se acima disso. Antes de ser chinês, o autor é um ser humano que faz
uso de uma língua que não a sua. ENTRETANTO, em nenhuma de suas
obras LIN YUTANG aparece tão integralmente chinês como em MOMENTO
EM PEKIM. Usa a técnica oriental e não ocidental. O livro parece uma
tradução, mas ainda assim é profundamente novo e original. Essencialmente
chineses são também sua perspectiva ampla, a riqueza de detalhes e
humorismo e a tragédia, a analise poderosa das relações humanas e a
percepção dos caracteres dos caracteres individuais. E sua habilidade em
marcar contrastes entre o grande e o pequeno compreendendo-os a ambos, é
chinesa até a medula.
MAS o modo de ver as coisas é moderno, agudo, compreensivo,
crítico e justo, bem à maneira de LIN YUTANG. Foi assim que ele pode
escrever o grande romance da vida chinesa de hoje.
126
Apoiado no grande sucesso do título nos Estados Unidos, o livro já foi lançado
no Brasil com grande propaganda. Folder com imagens, três cores e textos escolhidos.
Durante todos estes anos em que se operaram as maiores
transformações que o mundo conheceu, ainda não havia sido escrito um
romance que retratasse tão bem a significação integral do drama que é vivido
pela China e pelos chineses. Parecia impossível, refletindo bem, que tal
romance pudesse ser escrito por um só homem. Teria, em primeiro lugar, de
ser um romance de costumes, pois a mudança se deu principalmente nos
costumes – na mais alta acepção do termo. Aliás, essa mudança não afetou
tanto os camponeses como a classe mais difícil de ser descrita: a burguesia,
que inclue a burocracia e a “inteligentzia”, jovens e velhos, cujas vidas e
pensamentos foram moldados por uma longa tradição. O romance deveria
retratar a quebra da tradição e o efeito dessa quebra sobre a burguesia. Nesse
sentido deveria ser um documento social, em que a historia de hoje seria o
drama e a gente de hoje, os fios de uma grande tela.
Poder-se-ia esperar que fosse escrito em chinês; que fosse obra de
um chinês era indubitável, pois se tornava necessário o conhecimento direto
da raça. Mas ainda não aparecera o autor, talvez porque nenhum escritor
chinês conseguira afastar-se suficientemente do meio ambiente para poder vê-
los com mais clareza. Agora, finalmente, esse romance foi escrito e pela única
pessoa capaz de fazê-lo: LIN YUTANG.
O romance de 850 ginas obteve 7 edições no total e 37.500 exemplares
publicados desde seu lançamento em 1941 até 1967.
127
Figura 23 - Folder: Propaganda Momento em Pequim – atenção à jaqueta especial,
diferente da capa típica da série.
Neste período, apenas um outro autor obteve igual atenção com propaganda
especial e folder ilustrado. Ernest Hemingway.
Autor cuja obra, adaptada para o cinema, foi objeto de negociação feroz, Ernest
Hemingway os direitos de tradução e publicação de sua obra negociados de maneira
bastante dura. Em parte, porque seu agente literário, e advogado, valorizou cada um dos
128
prêmios obtidos pelo autor. No caso em questão, o agente literário Maurice Speiser de
Nova York trava duras negociações com a Companhia Editora Nacional. De um lado, o
aumento de preços devido à perda do mercado europeu e, de outro, a editora utilizando
a guerra justamente para melhorar os termos das negociações de tulos. Arthur Neves,
responsável pela negociação, tenta comprar os direitos outright
104
Em correspondência a Maurice Speiser, agente literário de Ernest Hemingway,
datada de 1941, Arthur Neves, então responsável pelas negociações de copyrights,
caracteriza o mercado para tal livro.
das obras que,
evidentemente, Maurice Speiser não pretende negociar. Em seguida, a questão é sobre
os termos de pagamento adiantado, que Neves não pretende fazer.
105
Após informar a remessa dos 6 exemplares de
Por quem os sinos dobram? confirma a edição do texto, e explica:
O preço de catálogo desse livro é 18$000 (dezoito mil réis – dinheiro
brasileiro) o que significa mais ou menos 90 cents (dinheiro americano).
Agora vocês podem ver por que razão os editores brasileiros não podem pagar
direitos de tradução, adiantamentos e royalties muito altos. O fato é que nosso
público leitor não tem grande poder aquisitivo e somos obrigados a oferecer
nossa publicação por preços muito baixos. Adeus às Armas por exemplo, é um
livro que poderia ser vendido no Brasil por 12$000 (em torno de 60 cents).
Nós esperamos que vocês considerem esses fatos e recebam com boa vontade
nossa contra-oferta. Nós precisamos reforçar que insistimos em fazer um
acordo com base na compra outright apenas para evitar o trabalho que
certamente teremos para prestar contas e remeter os royalties que, no final das
contas, vão atingir mais ou menos o mesmo valor.
106
(Carta de Arthur Neves,
01/12/1941 – Pasta Maurice Speiser – Correspondência Internacional )
A resposta veio sem demora:
104
Direitos outright é uma expressão que significa a compra definitiva de uma obra. Em outras
palavras, o autor ou seu representante recebem um valor bastante alto e cedem vitaliciamente os direitos
de tradução da obra. Essa forma de compra foi utilizada no período entre guerras e durante a II Guerra
Mundial e, se por um lado, sustentou alguns autores; por outro, revelou-se um excelente negócio para a
editora que conseguiria bons livros em ótimas condições, desde que o título realmente vendesse.
105
Não é demais lembrar que a publicação de For whom the Bell tolls nos Estados Unidos ocorreu em
1940. Portanto, a negociação ocorreu juntamente com o lançamento do livro no original.
106
The list price of this book is 18$000 (eighteen mil réis – Brazilian money), that is to say about
90 cents (american money). Now you are able to see the reason why the Brazilian publishers cannot pay
for translation rights advances and royalties too high. The fact is that our reading public has not a great
aquisitive power and we are obliged to offer our edition for a price very low. A farewell to arms for
instance, is a book that only could be sold here in Brazil for 12$000 (about 60 cents). We hope you shall
consider these facts and receive with good will our following counter-offer. We must insist that we are
insisting to make an agreement based on outright purchase only to avoid the troubles we certainly would
have to make the accounting and remittance of royalties that, after all, would reach about the same
amount we intend to pay at once.
129
Obrigado por sua gentil oferta de 13 de outubro. Eu sinto não
poder aceitar sua oferta de compra outright dos direitos para o
Português de FAREWELL TO ARMS. Nós só permitimos direitos de
publicação em língua estrangeira em termos de royalty, reservando
todos os outros direitos ao autor, inclusive 50% por seriação em jornais
e revistas. Vocês também receberiam igualmente 50% por tais
royalties.
Ficaríamos felizes em aceirar $500 como pagamento de
royalties; 10% nas primeiras 10.000 cópias vendidas e 12% em todas as
vendas acima de 10.000, que é um pouco abaixo do que você tem por
FOR WHOM THE BELL TOLLS. Como esse assunto não foi
negociado pelo International Literary Bureau, vocês não têm que pagar-
lhes comissão, mas todos os royalties serão pagos diretamente para
mim. Estou certo que vocês acharão, como é nossa experiência em
outras línguas, que FAREWELL TO ARMS terá uma boa vendagem.
Se estiver satisfatório, eu preparo os contratos e envio-os para vocês.
(Carta a A. Neves datada de 21 de outubro de 1941 e assinada por
Maurice Speiser. Pasta Dossier Hemingway)
Enquanto isso, a propaganda para Por quem os sinos dobram? era enorme. O
texto da orelha do livro coincide com o da propaganda avulsa e, também, do catálogo.
Este romance começa a intrigar-nos pelo título na tradução brasileira,
POR QUEM OS SINOS DOBRAM. que exquisita cousa é essa?
Simplesmente um verso de John Donne, ultramístico poeta inglês do século
17. Poeta dos legítimos, dos que falam sibilinamente e deixam ao leitor o
trabalho de interpretação do que querem dizer. A idéia dessa poesia de Donne
é que cada homem é parte do grande Todo, e tudo quanto afeta o grande
Todo, afeta igualmente as pequeninas partes. E, por conseqüência, never send
to know FOR WHOM THE BELL TOLLS, it tools for thee. Nunca trate de
saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti. O sino dobra porque
houve pequenina lesão no todo, mas como o que afeta o Todo afeta todas as
suas partes, não procures saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti,
leitor.
Publicado em inglês após Adeus às Armas, na Biblioteca do Espírito Moderno
a ordem de publicação se viu alterada pela própria exigência do mercado, com o
lançamento do filme e da campanha publicitária. É dessa forma que Por quem os sinos
dobram aparece nos folders:
POR QUEM OS SINOS DOBRAM é uma historia da hora que
passa, destes tumultuosos dias que desnorteiam os mais fortes espíritos.
Desde a publicação de “ADEUS AS ARMAS”. Ernest Hemingway,
considerado, por alguns, o maior escritor norte-americano deste século,
130
não escrevia páginas tão belas, embora nesse período tenha produzido
certa de dez obras.
A ação da novela transcorre na Espanha, na Espanha da guerra
civil, durante o cerco de Madrid. Mas o sentido profundamente humano do
livro é imenso demais para ficar preso entre predeterminados limites.
Transborda das trincheiras republicanas, atravessa os campos de Madrid,
invade o mundo... Na verdade, “Os sinos dobram pela humanidade toda”...
Estamos numa pequena cidade de Castela. Robert Jordan, um
norte-americano, acaba de alistar-se na Brigada Internacional e aguarda
ordens. E enquanto espera o momento de entrar em ação medita sobre os
acontecimentos e sobre o futuro, sobre a vida e a morte. Esses são temas
que permitem a Hemingway páginas de extraordinária beleza literária,
como sucedeu em “Adeus às Armas”.
Finalmente, Jordan recebe uma missão: fazer voar pelos ares uma
ponte que para as duas fações em luta representa um ponto estratégico.
Essa tarefa deverá ser realizada em poucas horas, pois o perigo é iminente;
e é justamente nesse curto espaço de tempo que transcorre, num ritmo
enlouquecedor, a maravilhosa novela.
O enredo é apenas esse. Mas quanta vida e emoção, quanto
desespero e ódio Hemingway põe nas sequencias que narram a aventura de
Robert Jordan! A coleção de tipos essencialmente ibéricos com que o
nosso herói depara no transcorrer da sua aventura faz a gente pensar,
paradoxalmente, nas rapsódias de Manuel de Falla e Granados. Em
primeiro lugar, Maria a jovem cigana que parece ser uma Catherine ( a
heroína de “Adeus às Armas”) renovada, mas com a mesma ou talvez
maior capacidade de amar e de se sacrificar pelo amante. Em segundo,
Anselmo, o velho camponês silencioso e altivo, típico representante do
espanhol valente e terrivelmente honesto. Em terceiro, todo aquele mundo
de pequenos aventureiros, contrabandistas, caçadores, rebeldes e
governistas empenhados numa das mais terríveis guerras civis de que se
tem memória. Por cima de todos eles, porem avulta a figura da velha
cigana Pilar, silhueta angulosa fugida dos “Caprichos” de Goya, que, com
suas maldições contra o guerreiro destruidor, parece personificar a alma
imortal da velha Espanha, heróica e universal, cujo destino foi sempre o da
criação e nunca o do extermínio.
Após percorrer todos os labirintos da alma espanhola, chegamos
com Jordan ao termo da sua missão. Ele consegue destruir a ponte, mas é
ferido mortalmente na explosão. Para morrer, refugia-se num bosque. Está
tudo tão calmo! As árvores são tão verdes, e, lá em cima, o céu tão azul,
com algumas nuvens brancas... E assim termina este livro destinado a fazer
muita gente meditar sobre a estranha sorte que pesa sobre a humanidade
contemporânea.
Como índice do êxito deste livro, basta salientar que a primeira
edição foi de 210.000 exemplares. Antes que transcorresse uma semana
foram impressos mais 50.000. E três dias depois a PARAMOUNT adquiria
os direitos cinematográficos do livro pelo fabuloso preço de 2.850 contos!
Presentemente o livro está com cerca de um MILHÃO de exemplares!
131
Na página final do folder, uma chamada sintomática:
Quais serão os principais intérpretes do filme “POR QUEM OS
SINOS DOBRAM”
Este é o problema que os fans cinematográficos têm tentado solver
para a Paramount que iniciará brevemente a filmagem dessa grande novela
de Hemingway. A prova de que Hemingway deixou muita gente pensando
em seu romance é evidenciada pelo grande interesse que os leitores
tomaram na indicação do “cast” do filme.
Gary Cooper e Ingrid Bergman foram indicados por Hemingway
para os papéis de Jordan e Maria. Milhares de leitores que escreveram à
Paramount concordaram com Hemingway. Muitos outros escreveram
indicando Ray Milland e Paulette Godard, Betty Field e William Holden
para esses dois simpáticos papéis. Para o papel de Pablo, Akim Tamiroff
foi o artista mais sugerido.
Quais os artistas que os leitores brasileiros escolheriam para esses
principais papéis?
Cartas a PARAMOUNT FILMS S/A – RUA DO TRIUNFO 147.
Á lápis (a cima do texto 50.000 – destes)
107
A perspectiva de lançamento dos filmes baseados na obra de Hemingway altera
um pouco a negociação.
O pessoal da Paramount aqui disse-nos que será filmado ADEUS ÀS
ARMAS assim que a guerra acabar e que eles esperam fazer um grande
sucesso por conta de uma pesada campanha de propaganda aqui.
O filme POR QUEM OS SINOS DOBRAM já está passando em
nossos cinemas e nossa pequena edição especial do livro está vendendo
bastante bem. No final do ano, esperamos enviar-lhes um ajuste de
contas.108 (Carta de Jerônimo Rocha a Maurice Speiser s.d.)
107
O filme foi efetivamente lançado em 1943 com Gary Cooper, Ingrid Bergman e Akim Tamiroff nos
papéis principais.
108
Paramount people here told us they are going to run the film FAREWELL TO ARMS as soon as the
war is over, and they hope to make a real success out of it as they are going to do a heavy advertising
campaign around it. We shall take advantage of that to sell the remainer of our edition and have no doubt
we shall do it as it is a very fine novel indeed, worthy of its author.
The film FOR WHOM THE BELL TOLLS is already running in our cinemas and our small
special edition of the book is selling fairly well. By the end of the year we shall send you our account on
sales made.
132
Figura 24 – Folder da campanha de lançamento do livro Por quem os sinos dobram
A edição especial é em brochura com a capa igual à do cartaz do filme e
propaganda da Biblioteca do Espírito Moderno na quarta capa. Aliás, a tradução do
título do filme em português é a mesma do livro (feita por Lobato) e publicado pela
Companhia Editora Nacional anteriormente ao lançamento da obra hollywoodiana.
109
O livro ganhou, ainda um marcador de páginas, impresso com o mesmo
desenho do folder.
109
Em 1940, a Companhia Editora Nacional comprou a Editora Norte-Sul que era a detentora dos direitos
de três livros de Hemingway: Adeus às Armas, Por quem os sinos dobram e O velho e o mar. Esse último
foi publicado pela Civilização Brasileira, também pertencente a Companhia Editora Nacional. Quanto aos
detalhes da compra, não encontrei documentação específica, apenas explicações a Maurice Speiser
relativas à obra de Hemingway e ao Consulado Britânico devido à obra de Winston Churchill cujos
direitos foram adquiridos juntamente com a compra da editora, especificamente, a obra Minha Mocidade
que fora publicada em 1930 com prefácio de Carlos Lacerda pela Editora Norte-Sul..
133
Figura 25 - Prova de diagramação feita pela gráfica para o flyer de Por quem
os sinos dobram.
Nos catálogos, o texto de apresentação de Por quem os sinos dobram?
permanece o mesmo:
134
POR QUEM OS SINOS DOBRAM
O drama que Hemingway descreve é pungentíssimo- é um
drama de guerra civil, a mais horrorosa de todas. Quereis ver a
crueldade humana em seu fastigio? – Estudai as guerras entre irmãos.
Não há quem leia este livro e não guarde na memória para
sempre, a descrição dos crimes praticados pelas hordas nazi-fascistas
contra o glorioso povo espanhol.
E todas as demais cenas do livro são igualmente traçadas de
maneira a se tornarem inesquecíveis. Hemingway produziu um livro
que ocupará lugar à parte na literatura moderna.
Entretanto, o material de propaganda sobre a obra de Hemingway no cinema,
os cartazes, folders e flyers é imenso.
ADEUS ÀS ARMAS
ADEUS ÀS ARMAS talvez seja a melhor novela até hoje
produzida por um escritor americano. É um livro magnificamente
perfeito. Não conhecemos nada tão romântico e comovedor como o
diálogo final em que Catherine diz um tristíssimo adeus a seu amante.
Desse diálogo ressumam impetuosos, os sentimentos mais belos do
coração humano.
Adeus às Armas é uma história de amor e guerra. De um
amor tão ardente e infeliz como o de Romeu e Julieta, de uma guerra
deshumana e odiosa como todas as guerras.
135
Figura 26 - Foto:cartazes do filme Rebecca.
Outros títulos da série de Literatura eventualmente se tornaram sucessos
cinematográficos e, em todos, os livros ganharam uma edição especial que referenciava
o filme. Mas, em nenhum dos outros casos, o sucesso e a propaganda foram tão grandes
quanto nas obras de Hemingway.
110
Meu filho, meu filho! foi às telas de cinema em 1940, mesmo ano em que foi
publicado na Biblioteca do Espírito Moderno, mas as tiragens e reedições foram um
pouco mais modestas. A primeira edição de 1940 de 10.000 exemplares esgotou-se
rapidamente e, ainda em 1940, mais 5.000 exemplares. Nos anos que se seguiram, 1941
(3000) e 1942 (2.900) mais duas edições modestas, conforme a tabela:
110
Muito tempo depois, O Livro da Jângal foi desmembrado e MOWGLI ganhou uma edição especial
devido ao lançamento do desenho animado da Disney (1969 no Brasil, 1967 nos Estados Unidos)
136
Tabela 11 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições do 1º. Período – série Literatura
vol Título Autor 1940 1941 1942 1943
1
O livro da jângal
Rudyard Kipling
5.000
2 Rebecca
Daphne Du
Maurier
35.178 2.060 3.020
3
Noções de História
da literatura
Manuel
Bandeira
5.211 4.052
4
Meu filho, meu filho!
Howard Spring
15.050
3.002
2.982
5
História da Literatura
Mundial
John Macy 5.211 4.052
6 Filho Nativo Richard Wright 5.000
8 Lobo do Mar Jack London 4.000
9
Momento em
Pequim
Lin Yutang 7.208 4.030
10
Por quem os sinos
dobram
Ernest
Hemingway
20.166 5.020
11 Kim Rudyard Kipling 5.000
12 Adeus às armas
Ernest
Hemingway
10.000
13
Uma folha na
tempestade
Lin Yutang 10.045 5.004
16 Noites sem lua John Steinbeck 5.022
O que essa tabela, em que apenas as reedições aparecem, evidencia é o sucesso
da série. Ou seja, todos os títulos da série no curto espaço de tempo entre o início das
publicações de Literatura e o final do 1º. Período obtiveram pelo menos uma reedição.
Na apresentação dos tulos no catálogo, o esforço é para demonstrar ações
verdadeiras, heroísmo. O herói de Lobo do Mar, por exemplo é descrito como um herói
tremendo e lógico. E Jack London como o autor que não utiliza “frouxa pena de pato”.
Impossível herói mais tremendo e mais daruinescamente
(sic) lógico do que Lobo Larsen – O Lobo do Mar. Conserva-se o
mesmo até o fim. Nas discussões em vida, sempre negou com
argumentos tão tremendos quanto ele, a imortalidade da alma, e, no
fim da vida, quando, cego e tomado de paralisia cerebral só resta da
sua monstruosa inteligência um tenuíssimo fio, sua última palavra
ainda é uma afirmação dos velhos princípios.
Poucos romances haverá mais fortes, mais vívidos com a
arte da descrição mais nítida em seus contornos. Não há nevoeiros,
não há nada de vago em Jack London. Não escreve com frouxa pena
de pato, sim com buril de aço vanádio.(texto do catálogo e repetido na
orelha do livro)
137
Ou ainda, um herói de um povo “livre e corajoso” como o de John Steinbeck
(Noites sem lua)
111
NENHUM dos outros livros de John Steinbeck está, como
este, tão ligado ao nosso tempo e fala tão eloqüentemente ao coração
dos homens de hoje. Seus personagens são homens e mulheres
semelhantes a nós, e seu herói, o prefeito Orden, permanecerá com
George e Lennie, Tom Joad e Jody Tifflin entre os caracteres imortais
da ficção.
.
A ação do livro desenrola-se num país conquistado em
qualquer tempo e em qualquer parte do mundo. Mas embora os
acontecimentos descritos sejam muito semelhantes aos que agitam os
nossos dias, servem apenas de veiculo ao tema que o autor desenvolve
– que um povo livre e corajoso não pode ser conquistado.
Na apresentação do título, a referência a dois outros livros do mesmo autor
que, mais famosos, nem eram editados pela Companhia Editora Nacional
112
Em outros dois títulos, o herói é um pai em sua difícil relação com o filho.
. Entretanto,
em nenhum deles, o tema é tão ligado “ao nosso tempo”, ou seja, 1943 quando foi
publicado na Brasil.
Meu filho, Meu filho! foi apresentado para o leitor da série de Literatura como
um drama entre pai e filho mimado:
MEU FILHO! MEU FILHO!
O drama é velho como o mundo – a incompreensão, a
incompatibilidade entre um filho muito mimado e um pai, que por
excesso de amor, não lhe torceu as orelhas na idade própria. O mesmo
caso bíblico do rei Davi com seu amado filho Absalão. Davi estragou-
o por força de mimos e o resultado foi vê-lo chefiar uma revolução
que visava depô-lo do trono.
Diz a Bíblia: “O rei ficou muito abalado, e enquanto
atravessava a sala situada do outro lado da entrada pos-se a chorar; e,
andando, dizia assim: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho
Absalão! Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho,
meu filho”. Foi desta repetição final dos lamentos de Davi que Spring
tirou o título de seu romance – e muito acertadamente.
111
Em 1942, o livro foi o segundo mais vendido na lista de bestsellers da Publisher’s Weekly (BURT,
2004:441).
112
O livro Vinhas da Ira dos personagens Tom Joad e Jody Tifflin foi lançado no Brasil pela editora
Globo (1940) e o livro De Ratos e Homens dos personagens Lennie e George foi publicado em 1940
também pela editora Globo (coleção NOBEL). Esse texto parece confirmar a hipótese de McKibbin que
alguns livros e autores eram considerados difíceis pelos editores (do clube do livro de Londres) voltados
para o “público médio” (middlebrow).(McKIBBIN, 2008:479)
138
Publicado em 1938 nos Estados Unidos quando esteve em terceiro lugar na
lista de Best Sellers (BURT, 2004:394), o título faz referência ao livro de William
Faulkner Absalom! Absalom! publicado em 1936 e que utiliza o mesmo episódio bíblico
como mote.
Outro título em que o herói é apresentado como um pai dedicado é Lágrimas
de Homem, apresentado nas orelhas da coleção como “profundamente humano e, por
isso mesmo, profundamente comovente”:
LAGRIMAS DE HOMEM
Nas páginas deste livro profundamente humano, e, por isso
mesmo, profundamente comovedor, Deeping focaliza com maestria e
precisão notáveis, a vida de um homem que enfrenta todos os
obstáculos, e faz todos os sacrifícios, para dar ao filho a felicidade que
ele próprio nunca alcançara. A história de Sorrell, o personagem
central do romance, é a história da dedicação paterna: dessa dedicação
sem limites, espontânea e calorosa, que é sem dúvida o mais sublime
dos nossos instintos.
Lágrimas de Homem é, enfim, um desses livros que
despertam em nós um conjunto de emoções puras e suaves e que nos
faz confiar ainda nas virtudes do coração humano.
McKIBBIN (2008) analisa o que ele denomina de “três tipos predominantes de
literatura” para o leitor médio na Inglaterra dos anos 1920: literatura de conflito,
literatura de modernidade e romance sexual. Para analisar a literatura de conflito, um
dos textos comentados por ele é Sorrel and son, traduzido para o português como
Lágrimas de Homem. Para o autor, esse texto ilustra bem um tipo de conflito de classes
com praticamente “todos os preconceitos ingleses da época”.
Lágrimas de Homem tem tudo: praticamente não há um
preconceito inglês para o qual (ele) não apele. (...) O livro é
profundamente misógino. As mulheres são perigosas, não confiáveis,
um peso para um homem na sua jornada; embora a misoginia não
pareça ter preocupado o grande público de leitoras de Deeping –
mesmo que elas tenham notado, a lição de Lágrimas de Homem é
139
simples: a classe média é moral e intelectualmente melhor que a classe
trabalhadora, e por esse motivo vencerá. (McKIBBIN, 2008:482)
113
De qualquer maneira, nesses títulos, o herói e não a heroína é o foco. Seja por
sua difícil relação com os filhos caso de Meu filho, Meu filho! e Lágrimas de Homem,
seja pela luta contra a pobreza (Onde estão nossos sonhos?
114
) e a herança escravista
(Filho Nativo
115
) ou, ainda, lutando por seu país (Piloto de Guerra
116
É um herói que, por mais trágicas as situações, é capaz de enfrentá-las com
“fé” e “virtudes”. Para o leitor (e talvez para a leitora ausente) da série Literatura, não
há dúvidas sobre os valores humanos dignos de serem defendidos.
e Noites sem lua).
Embora Kenneth Robert, autor de Cara ou coroa e de Bandeirantes do Norte,
tenha sido criticado tanto pelo New Yorker quanto pelo The Nation por sua dificuldade
de construir boas personagens femininas (HUTNER, 2009: 167-169 e BURT,
2004:445), há um grande investimento em seus dois títulos. A propaganda de seus livros
vem juntamente com Ernest Hemingway, um dos carros chefes da série no período.
Intitulada “Três obras primas”, a propaganda ilustrou as quarta-capas de vários
títulos da Biblioteca do Espírito Moderno. Aproximando, Robert de Hemingway, o
texto ilustra bem a importância estratégica do formato “coleção” onde o autor ou título
mais importante é utilizado para impulsionar a venda de outro título menos significativo
do ponto de vista comercial.
113
Sorrel and Son has everything; there was scarcely na English prejudice to which it did not appeal (…)
The book is also profoundly misogynist. Women are dangerous, untrustworthy, a burden to a man on
life´s journey; though the misogyny did not seem to worry Deeping’s huge female readership – even if
they noticed it Sorrel and son had a simple lesson: the middle classes were morally and intellectually
better than the working classes, and that is why they would win.
114
ONDE ESTÃO NOSSOS SONHOS?
NESTE seu novo romance, o grande novelista inglês nos apresenta a história de Harner Shawcross, o
humilde filho dos cortiços de Manchester, que conseguiu, através de renhidas pugnas políticas, não
recer o título de Visconde de Handforth, como tornar-se ministro do governo de Sua Majestade.
Hamer nascera para mandar: a magia de sua voz era como um toque de clarim a convocar os homens para
uma nova cruzada; nascera para ser amado: as mulheres sentiam-se irresistivelmente atraídas pela
fascinação de sua presença.
Por trás da vida de Hamer vemos o desenrolar de uma das mais interessantes fases da história da
Inglaterra, como o desenvolvimento do partido trabalhista, a campanha pelo voto feminino, a primeira
Guerra Mundial, etc.
ONDE ESTÃO OS NOSSOS SONHOS? É obra prima de um romancista de gênio.
115 FILHO NATIVO é uma história trágica e brutal, mas profundamente humana, de um “negro ruim”
que tenta encobrir seu complexo de inferioridade com atos agressivos contra a sociedade em que vive.
A leitura de Filho Nativo está vedada a pessoas de espírito morbidamente sensível. Porque não há coração
humano que não sinta abalar-se com o drama de Bigger Thomas, o personagem central desta
impressionante novela de Richard Wright.
116 Em 1942, o livro figurou em oitavo lugar na categoria não-ficção da Publisher’s Weekly.
140
Figura 27 - Foto de prova de gráfica da propaganda de Hemingway e Roberts.
141
Figura 28 - Propaganda de Filho Nativo – prova gráfica.
Quanto à tradução das obras de ficção, apenas duas não tem a presença de
Monteiro Lobato como tradutor (ou co-tradutor). São Onde estão nossos sonhos?
traduzida por Godofredo Rangel e Cara ou Coroa de Kenneth Roberts, traduzida por
Gulnara Lobato de Morais Pereira.
142
Tabela 12 – Biblioteca do Espírito Moderno
Principais tradutores – 4a. série
no.
Título
Autor
Tradutor
1
O livro da jângal
Rudyard Kipling
Monteiro Lobato e J.
Almansur Haddad
2
Rebecca
Daphne du Maurier
Monteiro Lobato e Ligia
Junqueira Smith
3
Noções de História da literatura
Manuel Bandeira
4
Meu filho, meu filho!
Howard Spring
Monteiro Lobato e Ligia
Junqueira Smith
5
História da Literatura Mundial
John Macy
Monteiro Lobato
6
Filho Nativo
Richard Wright
Monteiro Lobato
7
Lágrimas de Homem
Warwick Deeping
Monteiro Lobato
8
Lobo do Mar
Jack London
Monteiro Lobato
9
Momento em Pequim
Lin Yutang
Monteiro Lobato
10
Por quem os sinos dobram
Ernest Hemingway
Monteiro Lobato
11
Kim
Rudyard Kipling
Monteiro Lobato
12
Adeus às armas
Ernest Hemingway
Monteiro Lobato
13
Uma folha na tempestade
Lin Yutang
Ruth Lobato e Monteiro
Lobato
14
Onde estão os sonhos?
Howard Spring
Godofredo Rangel e Jamil
Almansur Haddad
15
Piloto de guerra
Antoine de Saint-Exupéry
Monteiro Lobato
16
Noites sem lua
John Steinbeck
Monteiro Lobato
17
Cara ou Coroa
Kenneth Roberts
Gulnara Lobato de Morais
Pereira
É Lobato mais uma vez quem oferece algumas pistas para compreender sua
preeminência. Alguns títulos foram retraduzidos por ele. É o caso de Kim e Por quem os
sinos dobram?
A s traduções e os tradutores
SORÁ (1998) cita carta de Érico Veríssimo a José Olympio, datada de 22 de
abril de 1937, em que o autor/editor gaúcho se posiciona em relação ao mercado
editorial no Brasil:
Em primeiro lugar quero felicitá-lo pela vitória de suas edições pelo
progresso de sua casa e pelo muito que tem feito pela literatura nacional. (E
quem lê este intróito imagina logo que passo a fazer o tradicional pedido. Nada
disso. É uma carta desinteressada esta.) (...) Quero com estas linhas deixar
claro o seguinte: V. Pode contar Comigo para o que quiser. Não haverá
incompatibilidades. A editora Globo trabalha especialmente no campo das
traduções e não pretende (ao menos enquanto eu trabalhar na seção editora)
invadir a seara alheia. Henrique Bertaso, um admirador seu, tem o mesmo
143
pensamento. É por todos estes motivos que lhe ofereço os nossos préstimos e
lhe deixo mais uma vez a expressão da minha estima muito sincera. (Apud:
SORÁ; 1998: 209)
É neste mesmo trabalho que o pesquisador indica uma “classe de relação pouco
estudada na história do livro”, os autores/tradutores. Analisando o caso de Rachel de
Queiroz que, autora da Livraria José Olympio, era tradutora da casa. Esse trabalho de
tradução contribuía para seu sustento em um momento em que há, ainda segundo
SORÁ, uma inflexão naquela editora: o aumento substancial do número de traduções e
obras estrangeiras publicadas.
Esse fenômeno “pouco estudado” também aparece no rol de tradutores da
Companhia Editora Nacional e, o que é nosso foco aqui, na Biblioteca do Espírito
Moderno.
Retomando o depoimento de Rachel de Queiroz:
Você sabe que ninguém vive de livros, no seu país e no meu. Jorge
amado só. Nunca vi ele trabalhando. Então meu trabalho era de tradutora. Eu
trabalhava todo dia sentada na máquina de escrever até duas horas da tarde.
Fazia vinte ou trinta páginas por dia. Então eu tinha um acordo com eles que
três livros eu fazia à escolha deles, mas dois eram livros que eu gostava e que
eu amava (...) cada um indicava livros para tradução. (SORÁ, 1998:194)
A primeira fase da Biblioteca do Espírito Moderno foi traduzida quase que
inteiramente por autores e intelectuais ligados à casa e ao círculo lobatiano. Percebe-se a
importância de Godofredo Rangel e Anísio Teixeira e, acima de todos, Monteiro
Lobato. Ora tradutor, ora revisor, ora co-tradutor, Monteiro Lobato traduzia. Alguns
livros a sua escolha, outros nem tanto...
144
Gráfico 12 – Biblioteca do Espírito Moderno
Principais tradutores do 1º. período
Tradutores - 1o. período
36%
6%
6%
5%
4%
4%
39%
Monteiro Lobato
Leonidas Gontijo de
Carvalho
Anísio Teixeira
Godofredo Rangel
Manuel Bandeira
Gulnara Lobato de
Morais Pereira
Outros
TRAVASSOS e o próprio LOBATO dão conta da importância da tradução
para a saúde financeira de Lobato, segundo relatos, tratado como autor e não como
tradutor pela Companhia Editora Nacional.
As dificuldades Burocráticas:
Não é possível desvincular o período de lançamento da coleção da situação em
que o Brasil se encontrava. Mil novecentos e trinta e nove é um momento em que o
governo varguista está ampliando seu controle sobre a sociedade e a economia, opondo-
se a política econômica mais liberal do período anterior. É um momento de
reorganização da economia posterior aos críticos anos de 1930 em que a depressão
enfraquecera a oligarquia cafeeira e havia grandes problemas de escassez de divisas.
Aliado a II guerra Mundial que se iniciava e, com isso, o mercado europeu tanto para
compra de produtos quanto para venda estava, temporariamente, restrito.
Por outro lado, os Estados Unidos também, em parte, em função do conflito
que se expandia na Europa e, em parte, como forma de superação da crise econômica da
década de 1930, ampliava seus esforços para entrada no mercado brasileiro.
145
Do ponto de vista das editoras nacionais, um dos principais problemas foi o
controle dos meios de pagamento no exterior.
Nesse período, uma série de cartas muito preocupadas com a burocracia
relacionada à remessa de dinheiro para o exterior. Em carta datada provavelmente de
1940, O.F. Rocha descreve o complicado processo para a aquisição dos direitos de
tradução da obra de Julian Huxley:
Estamos dispostos a pagar a quantia de £20 (vinte libras) pelos
direitos de tradução para a língua portuguesa de uma edição de 2.000 copias de
ENSAIOS DE CIÊNCIA POPULAR do dr. Julian Huxley, na nossa série
Bibliotheca do Espirito Moderno. Mas para conseguirmos atender suas
exigências, por favor ajam conforme as instruções abaixo.
Como o governo brasileiro controla inteiramente a compra de moedas
estrangeiras e apenas permite o pagamento com a apresentação de faturas, será
necessário que vocês preencham alguns requisitos. Façam uma nota no valor
de £20, afirmando que o valor se deve ao cumprimento dos termos do acordo
de tradução para o Português do livro do Dr. Huxley. Em seguida, peçam ao
consulado brasileiro em Londres que chancelem a nota original, declarando
para fins de fiscalização bancária que o valor cobrado é devido a copyright e
que é legal e devido. A essa nota anexem o acordo pro-forma não é
necessário assinatura – e enviem todos os documentos direto para nós.
Uma vez de posse desses documentos, nós exigiremos da Comissão
de controle bancário, que é controlada pelo banco oficial Banco do Brasil
permissão para emitir uma Ordem de Pagamento em seu favor através de
qualquer banco que tenha agência em Londres.
Por favor, perdoe-nos pelos transtornos que estamos causando, mas é
o único procedimento que podemos seguir para conseguir enviar com sucesso
e segurança o dinheiro. Para referências quanto aos procedimentos,
nomeamos: George A. Harrap & Co. Ltd., Herbert Jenkins Ltd. & Methuen &
Co. Ltd. all London.” (Arquivo CEN Correspondência Internacional. Pasta
outros)
117
117
We are willing to pay you the amount of £20 (twenty pounds) for translation rights in Portuguese
language for an edition of 2.000 copies of Dr. Julian Huxley’s: “ESSAYS IN POPULAR SCIENCE”, on
our serial “Bibliotheca do Espirito Moderno” (Modern Spirit Library). But in order to meet your
demands, please act and follow the instructions below. As the Brazilian government controls entirely the
purchase of foreign currency and only allowing payment against presentation invoices, it will be
necessary for you to fulfill these requirements: Draw out a comercial of £20, stating that the amount due
is to cover the terms of agreement to translate into Portuguese Dr. Huxley’s book. Then request the
Brazilian Consulate in London to stamp the original of this invoice, declaring for Banking Fiscalization
purposes that the amount charged is due to copyright and is a legal and lawful charge. To this invoice
attach a pro-forma agreement – no signature need – then mail all documents direct to us.
Once in possession of these documents we shall request from the Banking control committee,
which is held by the official bank Banco do Brasil permission to issue an Order of Payment in your
favor thru, any Bank having connections in London.
Please do pardon us for the troubles you are going to give you, but is the only routine we can
follow successfully to make you safe remittance. For references, as we went through same procedures, we
name: George A. Harrap & Co. Ltd., Herbert Jenkins Ltd. & Methuen & Co. Ltd. all London.” (Arquivo
CEN – Correspondência Internacional. Pasta outros)
146
Percebe-se de maneira bastante clara as dificuldades impostas para qualquer
pagamento no exterior. Essa dificuldade é ressaltada quando os mesmos editores de
Huxley impõem um preço ligeiramente maior para outras obras alegando a dificuldade e
o custo burocrático.
Por outro lado, a invasão da França dificultou enormemente a negociação de
títulos franceses. Muitos autores foram obrigados a mudar de país, migrando para o
Canadá (André Maurois) e Estados Unidos. Ao mesmo tempo, que desde a formação do
Estado Novo brasileiro, as contas externas eram rigidamente controladas para evitar
evasão de divisas, bastante escassas. Assim, o controle sobre remessas de dinheiro para
o exterior se fazia nas palavras de Ênio Silveira, “propositadamente difíceis.”
A partir de setembro de 1939, o bloqueio naval inglês interrompeu
quase todo o suprimento de livros provenientes dos territórios alemão, e em
menos de um ano a França estava entre eles – ainda a principal fonte de livros
em língua estrangeira para o Brasil. Disso resultou não tanto a redução do
consumo de livros estrangeiros – as importações em 1942, foram virtualmente
iguais, em peso às de 1936 – como a mudança de sua proveniência, da Europa
para o Novo Mundo. Os livros em inglês chegavam cada vez mais dos Estados
Unidos (43% de todas as importações de livros em 1943). (HALLEWELL,
2005: 490)
Não é possível ignorar o impacto da Guerra e do final dela na coleção. De um
lado, fica evidente a dificuldade encontrada nos contatos com a França e, mesmo, com a
Inglaterra, muito envolvida no esforço de guerra. O aumento da presença
estadounidense tem, portanto, mais de um aspecto a ser considerado.
Por outro lado, uma certa “obsolescência” de alguns títulos publicados no
período anterior ao conflito. Como publicar uma História da Alemanha, escrita por um
francês e que se encerra com o final da I guerra mundial?
Dessa forma, alguns títulos ficaram rapidamente fora do catálogo ou,
simplesmente, não foram reeditados.. Caso de História da Alemanha de Charles
Bonnefon enquanto outros temas apareceram com muito mais força.
HALLEWELL indica ainda outro aspecto.
A guerra, é evidente, deslocou a atenção do público de sua
preocupação com os acontecimentos nacionais, que caracterizara os anos 30.
147
as dificuldades de transporte marítimo estimularam José Olympio e as demais
editoras a publicar versões em português de obras que, em condições normais,
teriam sido importadas em suas edições originais européias ou norte-
americanas. Ao mesmo tempo, a grande obra literária da década anterior
começara a refluir, em grande medida devido à crescente esterilidade da vida
cultural da nação sob o Estado Novo, que então atravessava seu mais violento
período de repressão (1939-1942).” (HALLEWELL, 2005:460)
Segundo HALLEWELL, o final da guerra ampliou rapidamente as importações
da França:
Contudo o inglês ainda não era muito conhecido no Brasil. Com o
restabelecimento das importações oriundas da França após a guerra, sua
expansão foi rápida, de sorte que, em 1953, já haviam empurrado as
importações americanas para o segundo lugar. [...] A rápida inversão da
situação se deveu, em grande parte, ao início da “revolução do paperback”.”
Foi um reflexo igualmente de uma mudança de padrão de consumo, que se
desviou da literatura para os livros técnicos, uma mudança, aliás, impulsionada
muito mais pela ação governamental do que pela escolha do consumidor.
(HALLEWELL, 1982, p.404 – capítulo José de Barros Martins)
Ressalte-se que essa importação se deu, fundamentalmente, com livros e não
com contratos de tradução. Quanto ao mercado de tradução francês, não encontrei
indicações específicas que justificassem a mesma afirmação. Ao menos não no caso da
Companhia Editora Nacional.
Ao mesmo tempo, o aumento do preço do papel e as dificuldades de alguns
autores e editoras estrangeiros tornam as negociações, se bem feitas, proveitosas mas, a
preocupação com royalties se torna bem mais explícita, por parte das agências
internacionais.
Sobre esse comentário, ainda em 1944, Nelson Palma Travassos revela, com
ironia, outro aspecto da questão:
quatro anos as nossas tipografias não podem adquirir máquinas
novas e isso porque o único país que nos poderia fornecê-las, os Estados
Unidos da América do Norte, parece que prefere mandar para os livros
impressos, a permitir que em nosso país se desenvolvam as artes gráficas. Não
nos querem fornecer prelos por não terem transportes. Podem porém nos
fornecer os livros já impressos! Entretanto, esses livros ocuparão muito maior
espaço nos vapores do que os caixotes das máquinas que nos fossem
remetidas! É estranho! E mais estranho ainda, quando refletimos no seguinte:
Quando podíamos comprar máquinas gráficas na Europa, nunca se lembraram
os americanos do norte de nos virem vender livros aqui. E isso porque? A
resposta é simples e qualquer tipógrafo sabe dá-la: As máquinas gráficas
148
européias custavam menos de um terço que as americanas, e no passo que a
industria tipográfica nacional caminhava seríamos nós, uma vez resolvido o
famigerado caso do papel, capazes de vender “pocket books” nos Estados
Unidos. (TRAVASSOS, Nelson Palma Nos bastidores da literatura. pp.
189-190)
É ainda Nelson Palma Travassos quem, no mesmo artigo do jornal O Estado de
São Paulo, publicado em Nos Bastidores da Literatura, analisa a situação.
para obter o volume assim tão barato que é necessário fazer?
1º. – Ter uma tiragem alta – de 200.000 exemplares para cima.
2º. Ser impresso em máquinas rotativas, que usam papel em bobina,
mais barato que o papel em resma. Estas máquinas imprimem 15.000 folhas
por hora, folhas que já saem dobradas.
3º. O papel para ser usado nas rotativas precisa ser de boa qualidade,
bem resistente, pois as rotativas trabalham esticando o papel de um cilindro
para outro. Precisa também custar pouco, pois nas produções em série a
matéria prima é tudo e a mão de obra quase nula. (TRAVASSOS, N. P. op.cit.
p. 185.
Nessa discussão, nem Travassos nem Hallewell mencionam a ação da
AMCHAM (American Chamber of Commerce) que propõe facilitar a compra de
edições de autores estadounidenses e/ou vinculados a editoras dos Estados Unidos,
comprometendo-se a comprar exemplares e oferecendo algumas facilidades na
negociação dos direitos de publicação. Ao mesmo tempo, alguns autores de sucesso
mudam de casas editoras como é o caso de André Maurois que, com a invasão da
França, passa a editar seus livros pelo Canadá, com representação em Nova York
Didier Publishers e, em seguida, Union Associated Publishers.
Enquanto o conflito destrói a Europa, os Estados Unidos aproveitam para
negociar seus títulos e os de autores que lá se refugiaram, não como editoras individuais
mas mediante um esforço das agências de desenvolvimento do comércio. É o caso da
Inter American Affairs, órgão vinculado à Câmara Americana de Comércio.
A presença da Inter-American Affairs
TOTA (2000) afirma que o avanço das forças alemãs na Europa, em especial, a
invasão da França, colocou os Estados Unidos em situação em que era necessário sair
da posição de isolacionismo e neutralismo que havia marcado sua política externa.
149
É TOTA quem narra a preeminência de Nelson Rockfeller na história da
fundação do “Office of the Coordinator of Inter-American Affairs”:
O mais ágil e dinâmico dos grupos não oficiais que propunham uma
urgente aproximação com a América Latina era o liderado pelo
multimilionário e republicano Nelson Rockfeller, que havia doado 25 mil
dólares para a campanha do Partido Democrata. Os republicanos ficaram
enfraquecidos sem o apoio de nomes como Rockfeller e Roosevelt foi reeleito
com 54% dos votos. (TOTA, 2000:43-44)
Criado como moeda de troca nas eleições norte-americanas, o Inter-american
affairs atenderia, então, aos interesses dos empresários estadounidenses em relação aos
países latino-americanos, sobretudo aos aliados de Rockfeller.
Do ponto de vista da política internacional, essa atitude favorecia a idéia de
diminuir os mercados alemães e do EIXO, em geral, e fortalecer a posição das empresas
dos Estados Unidos.
Em 18 de Outubro de 1941, Robert Spiers Benjamin, secretário executivo da
“Inter-American Affairs”, na divisão de publicações, escreve carta a Octalles
Marcondes Ferreira. Nesta carta, uma lista de 11 tulos tem a sua publicação/tradução
para o português negociadas com base de compra de 1000 a 5000 cópias, conforme o
título e um desconto de 40% sobre o preço do varejo.
Dentre esta lista, um título foi publicado na coleção Brasiliana
118
e seis foram
lançados pela Bibliotheca do Espírito Moderno (Lincoln, Vida e Obra de Thomas
Jefferson, as Bases Científicas da Evolução, A Sabedoria do Corpo, Médicos Anônimos
e Máquinas de Democracia). Dos quatro títulos restantes, apenas um acabou sendo
publicado em outra coleção, com o título A Natureza do Processo e a Evolução do
Direito. Quanto às obras remanescentes, é provável que seu destino fosse a publicação
na mesma Biblioteca do Espírito Moderno (The biological basis of evolution, March
of the iron men do mesmo autor de Máquinas de democracia e Essentials of nutrition)
119
Portanto, não é demais pensar que parte dos critérios de escolha tenham
recaído sobre os títulos da Biblioteca do Espírito Moderno que ofereciam algum
.
118
É o caso de Do Escambo à Escravidão.
119
Um outro título cuja negociação completa não foi encontrada mas aparece em referências à presença
da InterAmerican Affairs na correspondência com o agente literário é Sozinho. Não foi negociado no
mesmo bloco mas contou com pelo menos o apoio da agência.
150
incentivo e, em parte, pode explicar a predominância de textos estadounidenses entre os
livros com tiragens menores e/ou apenas uma edição.
Dessa carta, e a julgar pela lista de títulos que são de várias casas editoras,
pressupõe-se que houve uma reunião em que a Companhia Editora Nacional indicou
alguns títulos de origem estadounidense em que estivesse interessada. De onde surgiram
esses nomes, não identifiquei, mas, encontrei uma série de referências à Publishers
Weekly e à New York Review of Books nas cartas que solicitavam cotação para a
tradução de um ou outro título. As negociações de títulos deveriam ser feitas
diretamente com as editoras mas, com a garantia de compra dos exemplares pela Inter
American Affairs.
Desses títulos, todos, de alguma forma, organizam as questões relacionadas à
plataforma do Bureau. Ressalto aqui o livro Máquinas de Democracia publicado na 3ª.
Série da BEM. Com a mesma intencionalidade dos demais títulos publicados, o livro se
preocupa em analisar as invenções tecnológicas que favoreceram a construção
democrática nos Estados Unidos e sua consolidação.
As máquinas analisadas são:
Estradas de ferro, automóveis e meios de locomoção,
Meios de comunicação como telégrafo e telefone, imprensa e rádio
Arame farpado,
Água encanada e limpa,
Luz e energia,
Fotografia,
Todas as invenções que tornaram a comunicação entre os vários estados da
federação possível em qualquer nível (comercial, pessoal e cultural).
Publicado, esse livro foi apresentado como:
Eis uma nova versão da história dos Estados Unidos. Burlingame
revolucionou a velha técnica dos historiógrafos. Para ele, as guerras, a
política, os problemas econômicos são efeitos e não causas. As causas
devem ser procuradas nessas profundas forças dinâmicas que, movendo-se
ao longo dos trilhos e rodovias, através do ar ou de fios telegráficos,
atuando sem cessar através de maquinas e técnicas novas, conseguem
unificar e consolidar uma nação. Talvez seja em conseqüência dessas
forças e do uso que delas fizeram os americanos que os Estados Unidos se
tornaram uma das mais poderosas e adiantadas nações da terra.
151
Pouco depois, ainda via Inter-American Affairs, a Companhia Editora Nacional
adquiriu os direitos de tradução de Sozinho
120
Não como ignorar, também, as escolhas pessoais de Anísio Teixeira,
organizador da coleção, e Monteiro Lobato, mais do que um simples tradutor. Em carta
datada de 1937, dois anos antes da publicação de H.G.Wells na BEM, Anísio Teixeira
assim se manifesta:
, publicado na 2ª. Série, com o apelo de
ser o relato da viagem do Almirante Richard Byrd ao Pólo Sul. Dessa relação de títulos,
apenas Lincoln teve uma reedição. Todos os demais tiveram uma única edição.
vivo entre Dewey, Russell, Wells e Lobato. (vivo com eles mergulhado
no futuro. Muitos têm saudades do passado; nós (...) temos saudades do futuro.
É uma sensação esquisita e muito mais eufórica. O the shape of things to
come, de Wells, é um dos meus manuais, a continuação do outline, com o
mesmo método, a mesma exatidão penetrante, até o ano 2106. Não sei se você
o leu. Não é mais Utopia, é o real Outline of the future. Tive ganas de
traduzi-lo. E ainda o farei de tal modo o livro “resultou”... Nada conheço de
mais convincente, de mais persuasivo, de mais fulminante contra as
estupidezas atuais e de mais inspirador de grandes esperanças para o futuro. E
a mais original das exposições do verdadeiro Estado moderno, o Estado
educativo... pergunte por mim ao Otales se o posso traduzir. É edição
Macmillan. Tem 430 páginas, largamente entrelinhadas. É uma penetrante
análise das nossas mais agudas necessidades atuais. A história de 1914 a 2106.
Nunca se sonhou com tão espantoso realismo. Depois, hoje já não se tem outra
cousa a fazer senão escrever para crianças ou escrever sobre o futuro, o que é
apenas um outro modo de escrever para as crianças... (Teixeira in: VIANNA
& FRAIZ, op.cit. pp. 81-82)
O livro Outline of History, (em 3 volumes) foi traduzido por Anísio Teixeira e
publicado com o título História Universal. Quanto ao Outline of Future, terminou
traduzido por Monteiro Lobato com o título História do Futuro, ambos foram
publicados em 1939, na 3ª. série. Embora do mesmo autor, as obras tiveram destinos
bem diversos. A História Universal teve um total de 70.000 volumes vendidos em 6
edições (a última em 1970).
Quanto ao História do Futuro, no texto da propaganda de seu lançamento,
H.G. Wells é apresentado como uma universidade:
H.G. Wells já não é mais um homem, é toda uma universidade e a mais
moderna, a mais eficiente de todas. Se as universidades do tipo comum
chegam a ter até duas dezenas de milhares de alunos, como a de Colúmbia, a
Universidade Wellsiana tem-nos aos milhões e em todos os países.
120
O título foi o nono mais vendido nos Estados Unidos em 1938, categoria não-ficção. (BURT,
2004:395)
152
Foram impressas 10.000 cópias mas apenas uma única edição. Pode-se
especular os motivos pelo próprio texto da propaganda:
Em setembro de 1933 data da 1a. edição de HISTÓRIA DO
FUTURO, Wells previu a catástrofe que enluta hoje a Europa, com notável
aproximação de data. Que virá depois?
153
Figura 29 - Foto de prova da propaganda de lançamento do livro História do Futuro.
Repare-se no canto inferior esquerdo os títulos anunciados:
154
Will Durant – OS GRANDES PENSADORES Tradução de Monteiro Lobato –
Brochura 12$
Lord Macaulay – ENSAIOS HISTÓRICOS (1º. Volume) Tradução de Antonio Ruas –
Brochura 12$.
H.G. Wells – HISTORIA UNIVERSAL (Em 3 volumes) (2ª. edição revista do 3º.
Volume) Tradução de Anísio Teixeira – 3 volumes em brochura 45$.
NO PRELO
Lord Macaulay – ENSAIOS HISTÓRICOS (2º. Volume) Tradução de Antonio Ruas –
Brochura 12$.
J.H. Robinson – A EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA Tradução de Monteiro
Lobato.
121
Bertrand Russell - A FORMAÇÃO DO HOMEM Tradução de Monteiro Lobato
122
Em seguida, o texto que aparecerá tanto na orelha quanto no catálogo da
Biblioteca do Espírito Moderno:
A vida de hoje é uma corrida entre a catástrofe e a educação: essa idéia
central de Wells recebe nesta obra o completo desenvolvimento. E o surto da
guerra na Europa, que ele previu para 1940 e descreve, torna a História do
Futuro o livro de maior atualidade de quantos foram publicados nos últimos
anos. Impossível admitir-se que um homem moderno e de inteligência não o leia
– e não o medite muito a sério.
Compare-se esse trecho com a apresentação de outro título, da . série, de
previsões para o futuro:
QUE maravilhas produzirá a ciência nos próximos cem anos? Eis a
pergunta que nos acode ao cérebro sempre que chega até nós a notícia de uma
grande descoberta científica ou de uma engenhosa invenção. Inúmeros escritores
têm tentado dar resposta a essa interrogação, mas nenhum deles conseguiu, até
hoje, descrever o panorama do futuro de maneira a contentar a imaginação do
menos imaginativo homem do nosso século. E isso porque a ciência moderna
caminha tão rapidamente, que nem mesmo a fantasia de um novelista consegue
acompanhar sua marcha ou prever seu futuro. Os progressos da ciência são tão
rápidos, que os mais ousados sonhos de Júlio Verne foram concretizados em
menos de um século, e as audaciosas profecias de Wells, feitas ontem,
contemporâneas do dio e do avião, vão sendo realizadas diante dos olhos do
próprio profeta. (apresentação do livro Os Próximos Cem Anos de C.C. Furns)
O texto que apresenta o título em pauta, faz referência a outro autor da coleção
como profeta que assiste as próprias profecias. O livro de “maior atualidade” em 1933
já era considerado antigo em 1942 quando Os Próximos 100 Anos foi lançado.
121
Publicado com o título A formação da mentalidade em 1940.
122
A única obra de Russell traduzida por Monteiro Lobato na coleção é Educação e Vida Perfeita,
publicada em 1941.
155
Após o conflito mundial, como era de se esperar, a obra de Wells perde
rapidamente sua atualidade. No 2o. período, são lançados os vários volumes da obra de
Winston Churchill sobre a II Guerra Mundial (não mais “européia” como na propaganda
de História do Futuro), consideradas e relatadas de forma pessoal como “memórias”.
O movimento de edição e o ritmo da produção
Quanto às primeiras tiragens e subseqüentes reedições, pode-se identificar
alguns grandes investimentos. Poucos são os títulos com tiragem superior a 7.000
exemplares, na 1ª. edição.
Tabela 13 – Maiores primeiras tiragens (1º. Período)
Volume/série
Título
Autor
Ano
Tiragem
3/1ª.
Grandes Pensadores
Will Durant
1939
7.000
13/2ª.
Mágica em Garrafas
Milton Silverman
1943
7024
4/3ª.
História Universal (3
tomos)
H.G.Wells
1939
10.000
5/3ª.
História do Futuro
H.G. Wells
1939
10.000
9/3ª.
História da Bíblia
Hendrick Van Loon
1940
7.101
24/3a.
Somente nesse dia
Pierre Van Paassen
1942
7.500
30/3a.
Memórias
André Maurois
1943
10.122
2/4a.
Rebecca
Daphne du Maurier
1940
20.030
4/4a.
Meu filho, meu filho!
Howard Spring
1940
10.010
9/4ª.
Momento em
Pequim
123
Lin Yutang
1941
7.208
10/4ª.
Por quem os sinos
dobram?
Ernest Hemingway
1941
20.166
12/4ª.
Adeus às Armas
Ernest Hemingway
1942
10.000
13/4ª.
Uma folha na
tempestade
124
Lin Yutang
1942
10.000
Repare-se que o quadro se refere apenas às primeiras edições, alguns títulos
revelaram-se excelentes vendagens ao longo do tempo. A primeira observação desse
quadro é a diferença entre as tiragens “vencedoras” da 4ª. série e a exiguidade de
123
Em carta enviada a Lin Yutang já na década de 1960, a CEN indica o pagamento de royalties de
US$ 200,00 em 10 de dezembro de 1940 referente à edição de 3.000 cópias para Momento em Pequim
entretanto na ficha de edição são 7.000 para venda e 208 para divulgação! Não encontrei o contrato que
poderia elucidar a questão.
124
O mesmo aconteceu com este livro. Royalties relativos a 3.000 cópias (US$ 200,00) mas ficha
de edição com 10.000 cópias.
156
tiragens altas nas demais séries. A biografia de Madame Curie, por exemplo, conseguiu
12 edições entre o início e o final da coleção e um total de 49.277 exemplares vendidos.
Tabela 14 – Maiores tiragens totais da Biblioteca do Espírito Moderno
Série
Título
Autor
Tradutor
Tiragem
total
Edições
1a. série
Filosofia da vida
Will Durant
Monteiro Lobato
87.538
14
História da Filosofia Will Durant Monteiro Lobato e
Godofredo Rangel
69.836 12
2ª. série
A Ciência da Natureza
Humana
Alfred Adler
Godofredo Rangel
e Anísio Teixeira
19.177
6
Os Grandes Homens
da Ciência
Grove Wilson
Edgard Süssekind
de Mendonça
18.097
4
3ª. série
História do Brasil
Vicente Tapajós
não há
102.064
15
História Universal (em 3
tomos): Ed. Ilustrada
H.G. Wells
Anísio Teixeira
125
120.115
Madame Curie
Eva Curie
Monteiro Lobato
49.277
10
4ª. série 1984 George Orwell Wilson Velloso 262.644 27
Por quem os sinos
dobram
Ernest
Hemingway
Monteiro Lobato
190.167
21
A partir dessa tabela, pode-se analisar as maiores tiragens totais de toda a vida
da coleção. Dentre todos os títulos listados, apenas dois (Historia do Brasil e 1984) não
são desse primeiro período.
Quanto ao número de exemplares distribuídos, mesmo analisando apenas os
dois maiores títulos de cada coleção, pode-se avaliar a importância da série de Literatura
para a “saúde econômica” da coleção. Os títulos da série de Ciências justificando o
credenciamento da coleção em suas maiores tiragens aproximam-se das primeiras
maiores tiragens de outras séries. Rebecca e Por quem os sinos dobram? tiveram
primeiras edições maiores do que a tiragem total dos dois títulos mais vendidos da 2ª.
série.
Uma breve leitura dos autores que aparecem como maiores investimentos
editoriais é possível a partir das quartas capas e das propagandas em destaque. Os livros
de Will Durant, já comentados, além das páginas especiais nos catálogos, também
125
O livro de H.G.Wells publicado em três tomos, teve 7 edições do tomo I, 6 edições do tomo II e 5
edições do tomo III. Quanto ao número 120.115, refere-se à soma de todos os tomos. Mesmo se
analisarmos apenas a tiragem total das 7 edições do tomo I, o total de exemplares publicados é de 70.311.
157
ganham destaques nas quartas capas e, também encontrei provas gráficas e de edição de
propagandas da obra e pedidos de fotografias e/ou desenhos do autor para composição
de material de divulgação.
Com o título sugestivo de “O maior trabalho literário destes últimos tempos” e
as várias páginas nos catálogos da “espírito moderno” resumidas, a peça apresenta o
quadro geral da obra com suas cinco partes e o destaque para as obras publicadas:
NOSSA HERANÇA ORIENTAL, NOSSA HERANÇA OCIDENTAL e CESAR E
CRISTO.
Os quadros relativos às séries nesse primeiro momento indicam a importância
do trabalho de tradução para Monteiro Lobato (seu sustento em momentos de
dificuldade) e a presença dos amigos e do círculo de colaboradores da editora.
A concorrência com outras editoras se acirrava. A José Olympio Editora
lançara a coleção Fogos Cruzados, e a série O Romance da Vida enquanto a Editora
Globo lançara duas coleções: Tapete Mágico (englobando temas de ciências e história
onde foram publicadas as obras de um autor de sucesso como Hendrik Van Loon) e a
coleção Nobel de Literatura. Todas as coleções com títulos próximos e, vários autores
em comum. Van Loon, conforme comentado é uma das derrotas do departamento
editorial que, publicou na Biblioteca do Espírito Moderno apenas um livro menor e
não conseguiu tirar as suas obras mais importantes da Editora Globo. A livraria Martins
Editora também se engajara na publicação de coleções para o mesmo público; dentre
elas, A Marcha do Espírito.
Por outro lado, identificamos várias ações de procura de títulosvendidos. As
Éditions Rieder recusam a publicação de livro de Charles Seignobos denominado
Histoire comparée des peuples de l´Europe que deveria ser publicada na BEM ao lado
da História Sincera da França do mesmo autor. A justificativa foi: título comprado
por outra editora; embora o agente literário não informe, foi a José Olympio Editora
quem o arrematou e publicou.
Ainda em outra carta, respondendo ao anúncio da Editorial Autorjus, de
Buenos Aires
126
126
Há uma certa disputa entre os agentes literários brasileiros e argentinos com relação à
representação de autores norte-americanos (em especial nos Estados Unidos mas, também, no Canadá).
No geral, são dois procedimentos. A) negociação direta com a agência literária geralmente em Nova
York. B) escolha de um agente literário local que cobrisse Brasil e Argentina. No caso em questão, a
Editorial Autorjus, empresa argentina, negociava diretamente com as editoras brasileira e, a partir de
,
que teria um agente no Brasil (Agência D. Carlota no Rio de Janeiro),
a luta por tratamento “especial” se evidenciou:
158
SEU AGENTE Ficamos cientes de que o seu representante neste país
é D. Carlota, Agencia literária, (...). Julgamos, contudo, que será interessante
mantermos sempre com Vv.Ss. um contacto direto pois isso assegurará maior
rapidez em nossos negócios. Além disso, esperamos que Vv. Ss. orientem D.
Carlota no sentido de nos dar sempre opções em primeira mão. (cópia carbonada
de carta sem data, provavelmente de 1942, assinada por A. Neves)
Ponto essencial em uma biblioteca de títulos estrangeiros é a tradução que,
nesse período, ficou em sua maioria a cargo de Monteiro Lobato e Godofredo Rangel.
Ao lado deste, alguns intelectuais que, no período, tiveram sua experiência na tradução
de títulos.
São eles: Anísio Teixeira, Gastão Cruls
127
A figura que aparece, então, assumindo a coordenação interna dos títulos
traduzidos é Arthur Neves que já trabalhava com as negociações das obras selecionadas.
Tanto Arthur Neves quanto Ênio Silveira assinam as cartas e contratos com as editoras e
agentes estrangeiros.
, Gustavo Barroso, Manuel Bandeira
(autor de um tulo da coleção), Afrânio Coutinho (autor de um título da coleção),
Carlos Lacerda, Edgard Süssekind de Mendonça e Graciliano Ramos. A maioria,
autores publicados pela Companhia Editora Nacional.
As gráficas e os custos de produção
Conforme já indicado por BEDA, há um predomínio de duas gráficas nas
opções de tipografia para os livros da Biblioteca do Espirito Moderno: A Revista dos
Tribunais e a São Paulo Editora.
Segundo as fichas de edição, nenhum dos títulos lançados no período foi
impresso por outra gráfica que não as duas preferenciais: Revista dos Tribunais e São
Paulo Editora. Tanto em volumes quanto em títulos a Gráfica da Revista dos Tribunais
corresponde a praticamente 75% do movimento da Biblioteca do Espirito Moderno
enquanto a São Paulo Editora parece apenas complementar a primeira.
1942, começa a ter uma representação no Brasil. Agência Literária Dona Carlota. Ocorre que com este
procedimento, aumentam os níveis de intermediação entre o autor e a casa matriz e a editora brasileira, no
caso a Companhia Editora Nacional.
127
No livro de tradução de Gastão Cruls, há uma página com as obras lançadas pelo autor na
editora e, também, as obras por ele traduzidas. Esse fato, demonstra a importância de certos tradutores
para a Companhia Editora Nacional, afinal é “A marca dos bons livros” (e das boas traduções).
159
Não há fichas de produção no período, restaram as fichas de edição e os mapas
mas não o processo de elaboração de orçamentos com as gráficas e a negociação de
prazos, assim, não é possível confirmar a hipótese acima.
O custo de produção propriamente dito não parece ter sido um fator
significativo para a decisão sobre uma ou outra. Isto porque para títulos com tiragem e
número de páginas semelhantes, os preços são semelhantes.
O tipo de papel
Quanto ao material utilizado, nessa fase inicial, a escolha foi papel Buffon de
1ª. ou 2ª. o que equivale a dizer que é um papel “muito leve, fofo e áspero, não
acetinado, sendo pouco ou nada calandrado, conservando assim o seu acabamento
áspero e desigual, usado particularmente na impressão de livros. Do francês bouffant,
“fofo”, é comum entre nós chamar-se buffon.” (RIBEIRO, 2003: p.19) Esse tipo de
material não permite ilustrações com retículas muito finas, apenas desenhos. Assim,
para as imagens escolheu-se o papel acetinado.
Retome-se o comentário de Nelson Travassos sobre a qualidade e o custo do
papel no período para se identificar o grau de investimento na coleção.
Para os tipos, escolheu-se o “tipo comum” ou romano redondo de 9 pts. Padrão
à época para romances e livros em geral. Esse padrão segue as normas preconizadas por
TSCHICHOLD, com margens de 2,0 (esquerda), 1,5 (direita), 2,5 (superior) e 2,0
(inferior).
Para termos uma comparação, o mesmo tipo de papel, tamanho e mancha
foram encontrados nas coleções concorrentes tanto da Editora Globo quanto da José
Olympio. É, portanto, um modelo de livro destinado ao grande público. Acabamento
esmerado mas não especial e distintivo.
Quanto ao custo, o preço do papel foi o obstáculo maior. Mas, ao analisarmos o
preço da gráfica e o preço de capa, identificamos alguns títulos do período em que o
custo da impressão foi igual ou, até mesmo superior, ao custo de venda.
É o caso de Sobre a liberdade da primeira rie e de três títulos da 2a. série
(Grandes homens da ciência, grandes expedições científicas e O homem e seu
universo). Para todos os demais, a diferença entre o preço tipografia e o preço de capa
foi superior.
160
O preço dos livros
Esse momento da Biblioteca do Espírito Moderno precisa ser compreendido
diante de algumas mudanças no contexto socioeconômico do país. Dentre eles, muito se
escreveu sobre o preço menor do livro e a diminuição dos custos de impressão e
distribuição. De fato, segundo o IBGE que recolheu alguns indicativos anteriores ao
censo, há algumas mudanças no quadro populacional brasileiro que ajudam a entender o
fenômeno.
A urbanização que se concretizava paulatina mas decisivamente desde o início
da República, é acelerada pela política de desenvolvimento de Getúlio Vargas. Esses
livros podem se beneficiar do serviço de correio de forma mais constante e, em muitos
casos, particular.
Ao invés de vender ou deixar em consignação com o livreiro ou qualquer outro
lojista das pequenas cidades, a estratégia muda. E, para isso, é fundamental a melhoria
nos serviços postais.
128
Para que essas vendas se tornem possíveis, é importante que o preço do livro
somado ao preço do frete seja compatível com o poder aquisitivo do comprador. Há,
também, um barateamento no serviço postal que, para livros e catálogos, estrutura uma
série de tarifas diferenciadas.
No primeiro catálogo da Biblioteca do Espírito Moderno, datado de 1943, o
preço dos livros oscilou em torno de Cr$ 16,35. Para o custo de gráfica, há uma
dificuldade no período que é a mudança monetária que alterou em 1942 a moeda
brasileira de Mil-réis para cruzeiros. As tabelas encontradas estavam todas sem unidade
e, no caso dos livros do catálogo, estavam todos em cruzeiros mesmo que tivessem sido
produzidos em mil-réis.
Tabela 15 – Biblioteca do Espírito Moderno
Preço dos livros – 1º. Período
1a. Série
2a. Série
3a. Série
4a. Série
Coleção
Media 16,50
14,55
18,48
15,88
16,35
Max 25,00
20
60
25,00
32,50
Min.
12,00
12
10
12,00
11,50
128
Há na correspondência do período, tanto de Monteiro Lobato quanto de Anísio Teixeira, uma
constante reclamação em relação à demora e ineficiência dos correios mas, com todas as restrições, os
correios começam a tornar-se um grande aliado no serviço de venda de livros.
161
Como base de comparação vale informar que em 1943 o salário médio de um
brasileiro, segundo o Anuário Estatístico, era de Cr$ 319,00. A saca de 60 kg de arroz
agulhinha beneficiado custava Cr$144,23. Em São Paulo, o salário médio era de Cr$
354,00. Portanto os livros da Biblioteca do Espírito Moderno em brochura custavam
4,7% do orçamento do trabalhador médio paulistano e 5,12% do salário de um
trabalhador brasileiro médio. A versão encadernada custava mais Cr$ 6,00 portanto
metade do preço dos livros mais baratos da série e representavam um investimento
bastante alto.
Para o período posterior, as versões em capa dura, encadernadas, começam a
perder espaço para as brochuras com capas de brochura que substituem o modelo
tradicional desenhado por Otto Bendix no início da história da coleção. Essas novas
capas são bem cuidadas e ficaram a cargo de artistas plásticos que se especializam no
design gráfico e, em especial, de capas.
Em 31 de dezembro de 1941, Anísio Teixeira escreve carta a Lobato
explicando as razões para seu desligamento:
Deve ter notado que a minha visita foi uma visita para concluir um
desligamento que se vinha fazendo a despeito de minha vontade, pela força das
circunstâncias e pelo propósito obscuro que nasce dentro de nós de obedecer
ás contingências.
Quando saltei na Bahia, senti que você e o Otales e o Fernando
estavam muito mais distantes de mim do que antes. Não sei participar sem
tomar responsabilidade. E o fato de não poder mais tomá-la, perante vocês,
lançou-me num constrangimento que explica o meu silêncio. (VIANNA &
FRAIZ, 1986, p.89)
Até o início de 1943, os títulos contratados em 1941 e anteriores, portanto, ao
desligamento de Anísio Teixeira continuam sendo publicados mas a saída dele
prenuncia um período em que algumas séries sentiram a queda e, no caso da série de
Filosofia, o abandono de novos tulos. Bertrand Russell, de quem Anísio era grande
admirador, só voltará a ser editado quando da volta do educador à coordenação da série.
162
Capítulo 3 –
O 2º. Período (1944-1953): Interregno
O pesadelo hitleriano começa a desvanecer-se. E toda a humanidade
entra, começa a entrar, na fase de recuperação, com todo o seu imenso impeto
de perpétua juventude... Você me disse, certa vez, a título de consolo: só uma
cousa não é possível à humanidade: suicidar-se. Como é verdade! Como ela se
recupera depressa, como esquece depressa e como não aprende! A sua tragédia
e a sua felicidade estão nisto: não há sofrimento que a faça sucumbir, mas não
há também sofrimento que a faça aprender...Sofremos e aprendemos,
individualmente. Ainda não conseguimos sofrer e aprender coletivamente
. A
memória é um bem – ou um mal – individual. E não se aprende sem memória...
Ou será tudo isto apenas impaciência de velho impertinente em que me vou
transformando? (At c1928.06.22 - 29)
A marca desse período é o aumento no número de reimpressões que supera os
títulos novos. De um lado, temos 32 tulos novos que somam 40 volumes
129
; no
mesmo período o número total de 46 reedições (que são, a bem da verdade,
reimpressões porque nenhuma alteração significativa de texto foi feita). Quando
analisamos as séries, o mesmo padrão aparece. História/Biografia com maior número
tanto de lançamentos quanto de reedições e Literatura com poucos títulos novos mas
muitas reedições.
Tabela 16 – Biblioteca do Espírito Moderno
Relação títulos novos/reedições – 2º. Período
130
Série
Títulos novos
Reedições
Filosofia
0
10
Ciências
6
2
Historia/Biografia
21
21
Literatura
6
13
129
Winston Churchill publica A II Guerra Mundial em 5 volumes e 8 tomos, Historia da Medicina
de Arturo Castiglione saiu em 2 volumes e Durant publica mais um volume de sua série História da
Civilização (Cesar e Cristo).
130
Para esse quadro, considerei os remanejamentos como títulos novos. Pois o objetivo é a seleção
de títulos e composição da coleção Biblioteca do Espírito Moderno.
163
Comparando-se com a primeira fase da coleção, verifica-se que, em um
período muito maior, os lançamentos foram menos numerosos. Essa tendência é
tributária, em parte, às características distintas de um período de manutenção da coleção
e do momento de lançamento da coleção que mobilizou tanto lançamentos de novos
títulos quanto remanejamentos para consolidar o nome Biblioteca do Espírito Moderno.
É de se esperar que, no momento do início da coleção, os investimentos institucionais
sejam maiores.
O aumento das reedições é um processo, até certo ponto, previsível porque
indica a entrada em regime da coleção e, também as boas vendagens da Biblioteca do
Espírito Moderno. A coleção teve seus tulos iniciais esgotados e as reimpressões são
um indicador do seu sucesso.
Esse sucesso é, por um lado, decorrência das escolhas editoriais mas, um
componente externo que merece atenção: o período da II Guerra Mundial é marcado,
em vários países, inclusive no Brasil, pelo aumento das vendas de livros não-didáticos
e, consequentemente, pelo aumento do número de editoras e títulos em circulação.
Compreender esse aumento, exige um certo cuidado. Se, por um lado, esse
fenômeno aparece na Inglaterra (UNWIN, 1960:260-261 e FEATHER, 1988:194-197),
na França (FOUCHÉ, 1991:237-239), nos Estados Unidos (RADWAY,1997:308-309),
e, também, no Brasil. As condições de produção em cada um desses países são bastante
diversas.
FEATHER (1988) comentando Stanley Unwin afirma que a guerra foi boa para
os editores; a demanda cresceu e quase qualquer livro teria sucesso porque a demanda
era bem maior que a oferta. Na realidade, a narrativa do editor Stanley Unwin é bastante
sedutora e marca os trabalhos sobre a história das editoras na Inglaterra.
HUTNER (2009) analisa o mercado de livros nos Estados Unidos no mesmo
período e identifica uma oferta de novos títulos menor do que a procura. Esse processo,
segundo o autor, decorre da baixa produção dos principais autores de literatura no
cenário de Guerra. Autores prolíficos como Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway não
publicaram um único titulo novo durante todo o conflito mundial.
Para a Inglaterra, o caráter difícil desse aumento de demanda foi a falta de
material e de trabalhadores (envolvidos no esforço de guerra). Tanto FEATHER (1988)
quanto FOUCHÉ (1991) indicam uma realidade contraditória em vários aspectos. De
um lado, a expansão da leitura nos anos de guerra pode significar a diminuição de outras
formas de lazer e um certo “escapismo”. Entretanto, ambos apontam as dificuldades no
164
caso da fabricação material do livro. Papel escasso e de péssima qualidade,
racionamento de energia, falta de mão de obra (envolvida no esforço de guerra),
dificuldade de comunicação e distribuição e, no caso da França, também a censura.
Mas, esses autores escrevem sobre uma realidade européia.
RADWAY (1997), que escreve sobre os Estados Unidos, indica apenas um
crescimento mas não se preocupa em entender esse processo. Em parte porque a história
do Clube do Livro, estudado por ela, é uma história de crescimento constante e
ininterrupta. De fato, o Clube do Livro aumenta constantemente suas vendas e o período
de Guerra apenas reforça esse processo constante de crescimento.
HUTNER (2009) analisando a mesma discussão, afirma que o aumento na
industria editorial foi muito mais quantitativo (número de exemplares por tiragem) do
que qualitativo (maior opção de títulos) e que, esse aumento quantitativo se fez com
base em um cuidado editorial mínimo (papel de pior qualidade e menor cuidado na
edição dos livros).
No Brasil, HALLEWELL(2005:490-494) comenta o mesmo processo.
Expansão da leitura aliada a dificuldades materiais no período de Guerra. Dentre outros,
um dos aspectos salientados pelo autor é a importância da conjuntura política
(valorização do mil-réis que em 1942 se tornara cruzeiro). Por outro lado, as
dificuldades de importação e no próprio comércio exterior em si, incentivam a produção
local, ocasionando esse “boom editorial” do período.
Uma vez terminada a guerra, qualquer que seja o país, a realidade se altera.
uma concorrência acirrada, devido à grande proliferação de indústrias gráficas e editoras
organizadas durante o súbito período de expansão.
Nas palavras de HALLEWELL:
Havia por certo, dentro do setor, manifestações de temor quanto ao
perigo de uma superprodução. Daniel, irmão de José Olympio, mostrou-se
especialmente preocupado com o baixo padrão de muitos dos novos editores,
sob todos os aspectos do negócio, desde a qualidade do texto (em particular de
sua tradução) ao projeto gráfico, impressão, comercialização e distribuição.
Terminado o boom do período da guerra, sobreveio o castigo. (...) a maioria
das novas firmas lutou ao final da década de 1940. No entanto, a limpeza
final foi realmente drástica; em 1953, o Brasil viu-se com menos editoras do
que em 1936. (HALLEWELL 2005:494)
165
Esse quadro descrito por ele coincide com o interregno na história da
Biblioteca do Espírito Moderno. De fato, o ano de 1953 indica o final de um período
de lançamentos esparsos e um novo fôlego da coleção.
Por outro lado, não é demais ressaltar que o número de editoras diminui mas
não o número de livros e títulos impressos, que aumentam.
Gráfico 13
Obras registradas na Biblioteca Nacional
0
100
200
300
400
500
600
1935 1940 1945 1950 1955 1960
ano
obras
Extraído de IBGE: http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/cultura.shtm
131
O gráfico demonstra o processo descrito. O período entre 1936 e 1940 atesta
uma queda no número de exemplares depositados na Biblioteca Nacional para, em
seguida, encontrarmos um aumento expressivo nos anos que se seguem e, novamente
uma queda nos anos de 1948 a 1951. Para o ano de 1952, não dados nos Anuários
Estatísticos do IBGE, de onde foram tirados os dados que alimentam o gráfico
132
131
Quando comecei esse trabalho, os dados não estavam disponíveis on line. O sítio citado
corresponde ao portal para a consulta dos mesmos anuários que foram escaneados e, portanto, são
idênticos aos dados recolhidos em papel.
.
132
Talvez essa falta de dados explique o expressivo número de obras registradas na Biblioteca
Nacional em 1953 (acumulando dois anos de produção).
166
No Brasil, a situação é agravada pela política econômica dos governos que se
estabeleceram após a queda do Estado Novo. Rapidamente, a indústria gráfica e
editorial começa a sentir os problemas. Ainda segundo HALLEWELL, no imediato
pós-guerra, o mercado passa por mudanças e a indústria editorial tem que enfrentar o
avanço das editoras estrangeiras que passam a vender não apenas os títulos mas o livro
impresso no exterior, aproveitando-se de um parque industrial ocioso.
Ainda em relação a esse panorama internacional, o preço do livro e as
restrições econômicas nacionais começam a desvelar um período de crise relativa. O
governo do general Dutra rapidamente gasta as reservas acumuladas no período de
guerra e, em 1947, reintroduz o controle cambial que, se por um lado, dificultava os
pagamentos de royalties e adiantamentos para as agências literárias; por outro, ampliava
o espaço das obras traduzidas, que custariam mais barato do que as importadas.
Quanto à situação interna, esse período assiste à expansão do ensino secundário
e do superior que ampliam as bases de matrículas e o número de brasileiros
escolarizados e, portanto, o mercado potencial para livros.
A população escolar acompanhando a urbanização crescente se ampliara. E,
nos níveis secundário e superior, mais do que dobrara no curto espaço que esse período
abrange. Uma população com mais escolaridade, mais urbana e com mais tempo livre.
Como era de se esperar, o negócio do livro didático ganha preeminência e a leitura de
lazer e/ou ilustrativa como os títulos da Biblioteca do Espírito Moderno acompanham a
tendência.
Tabela 17
Número de matrículas – ensino secundário e superior
Nível de Ensino
1943
1952
Secundário
211.246
460.210
Superior
23.786
48.266
Total de matriculados
3.888.890
6.742.379
Extraído de IBGE: http://www.ibge.gov.br/seculoxx/arquivos_pdf/cultura.shtm
133
133
Quando comecei esse trabalho, os dados não estavam disponíveis on line. O sítio citado
corresponde ao portal para a consulta dos mesmos anuários que foram escaneados e, portanto, são
idêntidos aos dados recolhidos em papel.
167
Em março de 1951, a revista Conjuntura Econômica publica um artigo
denominado “Movimento Editorial”. Nesse artigo, a revista analisa os dados relativos a
três anos de publicações brasileiras: 1939, 1945 e 1949. Os dados obtidos pela revista
são provenientes do Anuário Brasileiro de Literatura (ano 1940), dos fichários do INL,
da Biblioteca Nacional, complementados pelos Serviços de Estatística da Educação e
Saúde (sobre propriedade intelectual) e pela hemeroteca do Instituto de Administração
da Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo onde havia um serviço de
acompanhamento dos lançamentos de publicações em todo o país via recortes de jornal.
Nesse texto, a revista identifica algumas tendências na evolução de
lançamentos. Um aspecto salientado pela revista é o crescimento das “Obras Gerais e
diversos” que figurariam na Classificação Decimal Dewey como almanaques,
dicionários, guias, etc. Salientando, entretanto que, “todos os que se apresentaram de
difícil catalogação” figuraram nesse título.
Os analistas da Conjuntura Econômica identificam um panorama estacionário
entre 1945/1949 com ligeiro decréscimo nos lançamentos para os anos de 1948 a 1950.
Um simples golpe de vista nos sugere que a média de lançamentos de
títulos novos ou reeditados se manteve praticamente estacionaria no
qüinqüênio 1945/1949. Mas, ao contrário do que se pode julgar de início, o
penúltimo ano acusa decréscimo em relação a 1948, esboçando uma tendência
que se definiu melhor no ano recém findo [1950]. Com efeito, a julgar pelo
Registro de Direitos Autorais, e sem esquecer os cortes sobrevindos no poder
aquisitivo da população, é provável tenha havido uma sensível baixa de
lançamentos talvez da ordem de 10%, com o que concordam alguns editores
consultados particularmente. No entanto, por mais incertos que possam ser os
dados de 1939, o número de obras editadas aumentou, pelo menos cerca de 2,5
vezes desde esse ano até 1949.
134
(p.38-39)
Esse mesmo estudo aponta ainda para alguns fenômenos de caráter mais geral.
Para a revista,
as traduções registradas pela Biblioteca Nacional em 1945 (267
obras), subiram a 12% do total, e apenas a 6,5% em 1949. Note-se que a
tradução é, entre nós, de capital importância e faz jus a um estudo
circunstanciado, em que se determine sua projeção real no ambiente cultural
brasileiro. Por ora, observando os números que estas percentagens traduzem,
limitar-nos-emos a salientar serem eles bem inferiores ao que se poderia
desejar.” (p. 39)
134
É importante notar que nos registros de propriedade da Biblioteca Nacional, são computados tanto
lançamentos quanto reedições e reimpressões.
168
Essa situação de crise ao final dos anos 1940 é confirmada pela revista,
salientando ainda dois outros fatores que “agravam” a crise:
O preço de capa que encareceu muito. Segundo a revista:
O livro encareceu muito. Em 1945, apenas 18% dos tulos
custavam mais de Cr$ 20,00, enquanto, em 1949, a mesma proporção foi de
40%; A brochura do tipo mais barato teve o seu preço aumentado, em média,
cerca de duas vezes e meia. O encarecimento se fez sentir ainda mais no ano
transato. (p. 40)
135
Esse constatação é complementada pela identificação da situação difícil que
ficam as editoras que não possuem gráficas.
em 1945, o custo das edições estava em alta. Com exceção das
empresas maiores, que possuem tipografia ou participam dos capitais de
tipografias particulares, a indústria editorial, que é mais uma organização
comercial que propriamente industrial, não possui, em geral, maquinaria
própria, o que a impede de controlar totalmente o preço de custo do livro.
Não lhe é fácil dirigir o movimento industrial das edições e a remuneração
do capital fica quase inteiramente ao sabor da velocidade de venda das obras
editadas. Quando estas demoram a esgotar-se – um ciclo de 3,5 a 4 anos, nos
casos julgados compensadores - , a base econômica dos lançamentos é
insatisfatória e ressente-se muito dos efeitos inflacionários. (p. 40)
Essa análise da conjuntura editorial é complementada pela constatação de que
o preço do papel e dos serviços subiram muito e pela queixa relativamente simplista dos
editores sobre o cenário complexo em que vivem.
Os editores queixam-se da fraca receptividade do leitor, a um tempo
cultural e econômico. Acusam os poderes públicos de incompreensão diante
do seu esforço. O problema editorial, porém, é muito mais complexo, e situa-
se no terreno comum de superestrutura, para o qual só serão de fato válidas
as soluções de conjunto. No estado atual das coisas, o editor sente-se tentado
a desviar seus capitais para investimentos mais lucrativos, ou explorar, dia a
dia, os êxitos fáceis que a publicidade conquista ao gosto, pouco exigente de
certas camadas da população, abandonadas a si próprias. É isto o que, com
raras mas honrosas exceções, ele vem fazendo ultimamente, não se devendo
queixar, portanto, da fraca receptividade do público às suas edições vulgares,
mal revistas, mal apresentadas ou mal traduzidas. O insucesso do editor,
constitui, em suma, a incapacidade de completar a margem de lucro que seus
capitais lhe poderiam eventualmente proporcionar, se empregados noutros
ramos de especulação. (p. 40-41)
135
Esses valores correspondem ao preço em brochura dos livros da Biblioteca do Espírito Moderno para o
ano de 1943 conforme analisado no 1º. Período.
169
Em outras palavras, falta de lucratividade no ramo editorial no período mas,
além do aumento dos custos, da inflação e das políticas econômicas, o editor como
empresário é também responsabilizado pela qualidade do que vende e pelo preço que
cobra. A fraca receptividade do público deve-se, em parte, à qualidade do produto
oferecido por um preço cada vez maior.
Em termos de política econômica e cambial, encontramos um período
verdadeiramente preso ao que SKIDMORE(1982) denominou “ziguezague econômico”
que, em termos políticos cobre o final do Estado Novo, o governo Dutra e o 2º. Governo
Vargas. A característica marcante desse “ziguezague” é o controle de câmbio e de troca
de moedas. Durante o Estado Novo, criou-se verdadeira burocracia para controlar a
saída de moeda do país e diminuir ao máximo a perda de dólares. Após o final da
Guerra e a ascensão de Dutra, o país estava com suas reservas cambiais em níveis
confortáveis. Esse é, ainda segundo SKIDMORE (1982), um dos motivos para,
sobretudo nos primeiros dois anos, uma política econômica de grande liberdade de
comércio e de câmbio para, novamente, ao final do governo Dutra, com as reservas
cambiais esgotadas, ampliar-se novamente o controle do câmbio, controle esse que se
estendeu pelo 2º. Governo de Getúlio Vargas.
Do ponto de vista de uma coleção cuja maior parte dos tulos é traduzida,
essas oscilações afetam diretamente as escolhas editoriais.
É previsível que as obras cujos direitos tivessem sido comprados outright
tenham preferência no momento de se decidir sobre reimpressões. Esse é o caso das
duas únicas reedições da série de Ciências e, também, de um dos títulos com maior
número de edições da série de História (Madame Curie)
136
. Os títulos brasileiros
reaparecem, ainda em minoria. Embora em mero ligeiramente maior; de 4 títulos
novos no 1º. Período, os títulos sobem para cinco nesse período, se analisarmos o
número de anos englobados por cada um dos momentos, verificamos que, na realidade,
a relação títulos brasileiros/ano diminui.
136
O caso de Madame Curie é curioso. Embora os direitos não tenham sido adquiridos outright,
foram adquiridos por um período bastante extenso de tempo, até 1960 e primazia em caso de qualquer
interesse de outra editora. Por outro lado, os termos do contrato garantiam o pagamento de royalties mas
não o adiantamento de praxe no caso das reedições.
170
Os deslocamentos na escolha de repertórios: a nova conjuntura editorial
Mas, para analisarmos com propriedade a presença brasileira na coleção
durante o 2º. Período, o importante é a relação títulos novos/títulos brasileiros.
Enquanto na sua fase inicial, o número de títulos lançados ou realocados na coleção
correspondeu a 72 para apenas 4 para esse segundo momento, são 33 títulos novos e 5
de autores brasileiros.
Para um universo menor, a participação dos autores brasileiros em exemplares
aumenta, em especial se contarmos as reedições de História do Brasil de Vicente
Tapajós e Noções de História da Literatura de Manuel Bandeira.
Essa situação internacional e nacional apontava para uma situação mais
difícil do que a encontrada no primeiro período.
A esse panorama complexo, some-se a saída de Anísio Teixeira da organização
da coleção (e da Companhia Editora Nacional), a fundação da Editora do Brasil por seis
professores pertencentes ao antigo quadro de colaboradores da editora e, finalmente, a
saída de Arthur Neves e Monteiro Lobato para fundarem a Editora Brasiliense.
HALLEWEL (2005) e BEDA (1987) minimizam esse fato informando que a
Companhia Editora Nacional continuou crescendo e que os livros didáticos estavam em
franca expansão em função da expansão dos ensinos secundário e superior.
A saída de Arthur Neves e dos outros funcionários que constituíram a
Editora do Brasil, e a perda dos direitos de edição de Lobato, apesar de sua
gravidade, não foi de modo algum um golpe traumatizante: o crescimento da
empresa continuou até meados da década de 1950, quando sua produção
atingiu o pico entre cinco e sete milhões de exemplares por ano.
(HALLEWELL, 2005:372).
Talvez essa afirmação seja verdadeira para a editora como um todo mas, para a
Biblioteca do Espírito Moderno, não é o caso. A perda de seu maior tradutor e,
praticamente ao mesmo tempo, a saída de seu organizador, deixou problemas.
Na correspondência do período, alguns nomes assinam pelo departamento
editorial. Dentre eles, Jerônimo Rocha
137
e Rubens de Barros Lima
138
137
Segundo BEDA (1987;265) era primo-irmão de Octalles e chefiava a Seção de Vendas e
Propaganda, responsável pela confecção de catálogos e textos de apresentação dos livros.
. O primeiro da
seção de Propaganda e Vendas e o segundo encarregado da produção não eram
138
Era filho de uma prima-irmã da esposa de Octalles e amigo de infância de Cléo (filha de
Octalles), ocupou a vaga de encarregado da Produção da Editora em 1943/1944.
171
especialistas na função. Embora por algum tempo assinassem as cartas do departamento
editorial. No período anterior, praticamente todas as cartas do Departamento Editorial
foram assinadas por Arthur Neves. Esse acúmulo de funções indica uma reorganização
das funções para cobrir as ausências.
Entretanto, a saída de Arthur Neves abriu espaço para um novo chefe do
departamento editorial: Enio Silveira. Sua entrada na direção editorial marca essa
transição. É a época em que são publicados alguns dos títulos negociados por ele nos
Estados Unidos.
139
TRAVASSOS (1978), proprietário da Gráfica Revista do Tribunal narra o
acontecido:
O meu amigo Octalles viria a precisar, dentro em pouco, de um
secretário editorial com a vaga que se abriria com a saída de Artur Neves, por
mim ali colocado, que pensava fundar a “Brasiliense”.
Levei Ênio para a Editora Nacional chamando a atenção de Octalles
para as grandes possibilidades jacentes daquele mocinho. E assim nasceu o
futuro diretor da “Editora Civilização Brasileira” (TRAVASSOS,1978:48)
Essa narrativa é retomada tanto em BEDA (1987:257) quanto em
HALLEWELL, sem grandes mudanças. De fato, HALLEWELL parece se apoiar nos
relatos de TRAVASSOS:
... ele deveu seu ingresso na atividade editorial à saída de Arthur
Neves da C.E.N. Munido de uma apresentação de Monteiro Lobato, o jovem
fora procurar emprego na Revista dos Tribunais. Travassos teve boa impressão
dele, mas, como não dispusesse de nenhum cargo adequado para oferecer-lhe,
sugeriu a Octalles que o aproveitasse como possível substituto de Neves.
(HALLEWELL, 2005: 370-371)
A busca por novos títulos, a tentativa de conseguir novos contatos com casas
editoras marcam a correspondência internacional no período. Assinadas, a partir de
1946, em sua maioria por Enio Silveira. Nesse momento, as cartas que no período
anterior apareciam em versão inglesa e em português, praticamente aparecem apenas em
inglês e, é possível aventar a hipótese que eram escritas em inglês pelo próprio Ênio
Silveira.
139
Enio Silveira fez um estágio na famosa casa editora de Nova York de Alfred Knopf e, nesse
período, conheceu alguns dos autores que a CEN e, mais tarde, a Civilização Brasileira publicaram.
Dentre eles, Richard Wright, autor de Filho Nativo (cf. ALMEIDA, 2002:38) publicado na 4ª. série.
172
Ao mesmo tempo, alguns títulos que vinham sendo negociados antes da saída
dos editores da primeira fase, em especial os títulos da correspondência com a Inter
American Affairs, continuam a ser lançados.
A saída de Monteiro Lobato também abriu espaço para um outro tipo de
trabalho de tradução. São os tradutores especialistas em tradução. Não são literatos
traduzindo textos para sobreviver, conforme lembra Raquel de Queiroz em texto
citado. Eles continuam sendo contratados por tarefas e são, mais ou menos, fixos mas
esse período ficou marcado pela consolidação da presença de “tradutores profissionais”
como Brenno Silveira, Leônidas Gontijo
140
A ênfase nas boas traduções continua mas a forma da tradução mudou. Em
lugar do literato, o profissional “revisto” pelo especialista.
e Antônio Ruas. Para esses casos, os títulos
mais importantes ou específicos são revisados por professores universitários como
forma de credenciamento.
Brenno Silveira em seu livro A arte de traduzir de 1954, editado pela
Companhia Melhoramentos, comenta as traduções da CEN, em sua maioria, mas não
exclusivamente, obras de Lobato e identifica um sem-número de problemas.
Firmin Roz, ilustre membro do Instituto de França, publicou, em
1930, uma História dos Estados Unidos. O trabalho foi muito bem recebido
pela crítica norte-americana, que, não obstante, nele apontou alguns senões.
Em 1942, a referida obra apareceu em edição brasileira. Na tradução,
persistem os referidos senões, como, naturalmente, era de esperar. Se o
tradutor, porém, fosse mais versado em história americana, eles não lhe teriam
passado despercebidos. (...) o que poderia ter feito – o que os tradutores
esclarecidos em geral fazem seria colocar uma nota (footnote) ao da
página, chamando a atenção do leitor para o episódio conhecido, na história
americana, como “Boston Tea Party. (SILVEIRA, 2004, p.45)
O tradutor em questão era Luis Vianna Filho
141
140
Muito tempo depois, na década de 1960, Anísio Teixeira escreve uma carta ao então editor da CEN,
Thomaz Aquino de Queiróz explicando sua preferência por Leônidas Gontijo na tradução de certos textos
e de Brenno Silveira para outros, em referência à tradução de A Longa Revolução de Raymond Williams.
. Uma das características da
BEM era evitar ao máximo notas de tradução, notas de rodapé e demais vestígios que
truncassem de alguma forma o texto. Percebe-se, portanto, que a crítica é feita de um
ponto de vista unicamente de tradução, “desconhecendo” as orientações da própria
coleção.
141
Luis Vianna Filho foi político importante na Bahia, chegou a governador, ocupou cadeira na Câmara
dos Deputados Federal e fazia parte do círculo de amizades pessoais de Anísio Teixeira. Ele é, também,
autor de um título na coleção: A vida de Rui Barbosa.
173
Mas, Monteiro Lobato é o alvo principal:
Em caso de inadiável necessidade, um bom tradutor poderia traduzir
dez, doze ou, mesmo, quinze páginas por dia. Poderia, talvez, terminar a
tradução de um livro num terço do tempo que em geral gasta na execução de
trabalho semelhante. Mas isso apenas um livro. Se tivesse de traduzir, como os
tradutores profissionais em geral fazem, livro após livro, isso não seria
possível. (SILVEIRA, op.cit.; p. 120)
Comparem-se as memórias de Nelson Palma Travassos sobre o processo de
tradução de Lobato.
As traduções feitas por Monteiro Lobato foram realmente de sua
autoria? Esta pergunta me tem sido dirigida uma infinidade de vezes, por gente
que sabia sermos o impressor das obras do autor de Urupês. (...)
Com referência a Monteiro Lobato a pergunta ainda tem uma certa
procedência, porque se ele escreveu pouco para os adultos e muito para as
crianças, traduziu colossalmente. E assim agiu por ser escritor profissional,
que viveu exclusivamente de sua pena. (...) Ora, traduzir é mais cil do que
produzir. E ele tinha o dom de saber traduzir bem. Sem contar que o seu
renome valorizava as traduções. Escrevendo exclusivamente para a
Companhia Editora Nacional era justo que a ele fosse entregue a maioria das
traduções da casa, que assim ajudava ao seu autor principal a viver
folgadamente à custa do seu trabalho intelectual.
Ironicamente, Brenno Silveira fez sua primeira co-tradução na Biblioteca do
Espírito Moderno em 1948, a obra de Winston Churchill A Segunda Guerra Mundial,
juntamente com Enio Silveira e Leônidas Gontijo. Sua primeira obra solo foi em 1954,
Ensaios Impopulares de Bertrand Russell. Em suas primeiras traduções na BEM as
notas do tradutor estão ausentes.
No mesmo ano, publicava A Arte de Traduzir pela Melhoramentos. É nesse
livro, ainda, que o tradutor volta à carga contra o tipo de tradução de Monteiro Lobato.
Comentando a tradução de As aventuras de Huckleberry Finn, no Brasil, feita por
Lobato, Brenno Silveira prefere elogiar a tradução portuguesa do mesmo livro,
desqualificando en passant a tradução brasileira.
Um dos livros mais criticados por Silveira é The Epic of America de James
Truslow Adams, publicado na 3ª. série da BEM com o título A Epopéia Americana. O
tradutor foi, obviamente, Monteiro Lobato. trechos do original, da tradução
brasileira e a tradução que o autor faria. Seguidos do seguinte comentário:
174
Outra coisas, ainda, devo reconhecer: que certas traduções são
melhores do que os originais. Mas o são fiéis. Quase não dão ao leitor idéia
da forma ou do estilo de seus autores.
Sei, por longa experiência, que discutir este assunto é perigoso. Antes
de escrever este livro, sempre evitei falar a respeito de traduções e tradutores,
após convencer-me de que quase toda a gente mesmo quem jamais traduziu
uma linha sequer tem idéias irremovíveis, definitivas, sobre como devem
agir os tradutores.”(p.121)
Mas, este é apenas o começo:
Muita gente crê, erroneamente, que uma boa tradução poderá ser
feita por um bom escritor. Claro que um bom escritor que possuísse as demais
qualidades que se exigem de um tradutor poderia, ocasionalmente3, traduzir
determinada obra melhor do que aquele que fosse apenas bom tradutor, sem
ser bom escritor. Mas, de modo geral, isso não acontece. (p. 122)
Ou, em outras palavras, o tradutor de Epic of America
142
x O autor disse mais do que foi traduzido.
, pode ser um bom
escritor mas não é um bom tradutor. Seus maiores pecados são:
x Encontra-se, nesse trecho, quase tudo que o autor escreveu.
Mas não se encontra nem de leve, o “próprio autor”. (p. 122)
Sem ficar explícito, a década de 1950 é cenário de novos paradigmas de
tradução que, também, corresponde à profissionalização do ofício. Ainda em número
muito reduzido, os tradutores eram escassos e pouco profissionais.
143
Ao mesmo tempo em que essa “profissionalização” gerou um debate sobre a
melhor forma de traduzir, os contratos de tradução começam a apresentar mudanças.
Nos contratos assinados no primeiro período aparecia a garantia de um “bom
tradutor”, juntamente com uma cláusula de fidelidade ao texto original.
Entretanto, o
início da profissionalização do tradutor traz em si o debate sobre o que seria uma
“tradução profissional”, sobre os diferentes tipos de tradução e, também, sobre a melhor
forma de traduzir aspectos de culturas locais.
No contrato padrão:
142
O título é sempre citado em inglês, posto que Silveira não concorda com o título brasileiro da
obra (A Epopéia Americana).
143
Em 1974, portanto 30 anos depois, o SNEL publicou resultado de enquete feita entre os editores
brasileiros, incluindo-se, para controle, pesquisa na Biblioteca Nacional. Naquele ano, havia 73 tradutores
para um total de 1313 títulos traduzidos no período. Sem contar outros trabalhos desenvolvidos por
tradutores, tais como contratos, manuais, artigos de revistas e jornais, por exemplo, pode-se imaginar a
dificuldade de se obter profissionais. Em certo sentido, isso pode explicar a presença de literatos e outros
intelectuais na tradução dos títulos da BEM.
175
A tradução da obra ora negociada deve ser feita de forma fiel e
precisa, e abreviações ou alterações devem ser feitas apenas com o
consentimento escrito do proprietário.
144
Ou uma versão similar a esta:
A tradução dessa obra para a língua _____________ deve ser feita de
forma fiel e precisa. Abreviações ou alterações no texto podem ser feitas
apenas com o consentimento escrito do proprietário.
145
A lacuna deste contrato padrão era preenchida com a língua de tradução. No
caso, Português. Esse tipo de contrato padronizado, escrito em inglês, aparece em
documentos até a cada de 1960 porém, aos poucos, vai sendo substituído por um
outro contrato que, além dessa cláusula, inclui uma outra que sujeita a revisão de
tradução caso haja dúvidas sobre sua qualidade.
146
É importante relacionar aqui a “entrada em regime” da coleção com a
necessidade de conseguir bons tradutores em um prazo aceitável. Afinal, a maioria dos
contratos impunha um prazo máximo (geralmente um ano) para o lançamento da
tradução. Caso contrário, haveria multas e/ou perda dos direitos para o Português. O
número de tradutores aumentara mas não o suficiente para atender ao mercado de
edições traduzidas.
Outro aspecto que diferencia essa fase da anterior é a forma como a guerra e,
mais tarde, o início do pós-guerra afeta as negociações de títulos. Os direitos para
divulgação das obras em Portugal sofrem alguns questionamentos. Sobretudo quanto à
divulgação e distribuição dos textos. Em pelo menos dois casos, a CEN abriu mão dos
direitos para Portugal, ao menos temporariamente, devido à dificuldade de transporte
imposta pela guerra.
O caso da venda para Portugal da obra “Adeus às Armas” é exemplar:
Em março de 1944, Jeronimo Rocha escreve carta a Maurice Speiser, agente
literário de Hemingway para prestar contas referentes aos royalties das obras de autor
publicadas pela CEN. Para a obra Adeus às Armas, não royalties a ser pago porque a
144
The translation of the sold work shall be made faithfully and accuratelly and abbreviations or
alterations shall only be made in the text thereof with the written consent of the Proprietor.
145
The translation of this work into the ____________ language shall be made faithfully and accuratelly.
Abbreviations or alterations shall only be made in the text thereof with the written consent of the
Proprietor.
146
Cf. É curioso que os termos dos contratos de tradução continuam praticamente os mesmos, segundo
PELEGRIN (2002; p.66).
176
edição de 1942 ainda não havia sido vendida e o adiantamento pago pelo título ainda era
maior do que o valor dos royalties devidos.
147
FAREWELL TO ARMS Sentimos informar que ao contrário do
que esperávamos, baseados no sucesso de Por quem os sinos dobram?, esse
livro é um fracasso aqui. Metade de sua primeira edição datada de Fevereiro
de 1942, ainda não foi vendida. O adiantamento de royalty em relação à venda
total da edição que foi pago ainda é superior à quantia devida, portanto não
lhes devemos nada em relação a esse livro. (carta a Maurice Speiser de março
de 1944)
A mesma idéia é reforçada em carta de 20 de julho do mesmo ano, com carta
cujo texto é praticamente o mesmo da citada.
Em 24 de Outubro, ainda de 1944, Maurice Speiser escreve para a CEN sobre a
divulgação da obra em Portugal.
Recebi um pedido de uma casa editora em Lisboa para os direitos em
Portugal de FAREWELL TO ARMS.
Quando informei o representante deles de que havia um acordo com
vocês para tais direitos, eles fizeram uma queixa de que não havia cópias de tal
obra que pudessem ser obtidas em Portugal e nem em suas possessões.
Escrevo para você porque preciso saber a razão desse fato. Em sua última carta
sobre o livro, você escreveu como se segue:
(segue citação da carta de março/julho de 1944).
Ficaria chocado se a falta de transporte ou algum problema
substancial fosse o responsável pelo fracasso que você reclama.
Será que não poderia ser arrumada alguma forma desse livro aparecer
em Portugal e suas possessões para que tanto você quanto o autor pudessem
obter lucros?
148
A resposta, escrita no dia 02 de novembro e apenas um dia após o recebimento
da carta foi taxativa.
Desde o início da guerra, fomos forçados a interromper nossas
remessas de livros para Portugal, que costumávamos fazer em escala bastante
aceitável. Mesmo agora, que o transporte marítimo está normal, os embarques
estão sujeitos a muitas formalidades, tornando difícil e caro a remessa de
147
FAREWELL TO ARMS – We are sorry to tell you that against our hopes based on the success of “For
whom the Bell Tolls”, this book was a failure here. Half of its first edition printed in February 1942 is still
to be sold. The royalties advancement we paid is still superior to the royalties on the total sales made until
now, so we owe you nothing else on this book.(carta a Maurice Speiser de março/junho de 1944
148
I had a request from a publishing house in Lisbon for the Portugal rights to FAREWELL TO ARMS.
When I notified their representative that I had an agreement with you for these rights they made
complaint that no copies of said work are obtainable in Portugal or in any of the Portugal possessions. I
am writing to you to discover the reason for this. In your last letter to me concerning the book you wrote
as follows:
It would strike me that possibly lack of transportation or some other substantial reason would
account for the failure you complain of.
Could it not be arranged that this book appear in Portugal and its possessions so that it may be of
a profitable nature both to yourself and to the writer.
177
livros, a não ser que sejam em quantidades grandes. Recentemente o
proprietário de uma grande livraria portuguesa esteve no Brasil, onde comprou
muitos milhares de livros de todas as nossas casas editoras, especialmente de
nós. Dentre esses livros, havia duzentas cópias de Adeus às Armas que
rumaram para lá. Devido às circunstâncias presentes, não vemos inconveniente
que você ofereça a esse editor mencionado na sua carta os direitos de edição
que não vai interferir com a nossa.
149
.
O outro caso, mais ou menos com o mesmo desfecho se refere aos livros de
André Maurois que têm seus direitos de tradução para Portugal e colônias
desmembrados do contrato da CEN na mesma época (final de 1944 e início de 1945).
Também a qualidade do papel é afetada pelo conflito. As obras são impressas
de 1945 até 1947 em papel Buffon de 2ª. Anteriormente, Buffon de 1ª. Na prática, o
papel é menos branco, menos resistente e deixa mais resíduo nos tipos, de forma que
além da apresentação menos esmerada, também as gráficas sofrem com o maior
desgaste das máquinas e tipos (cf. TRAVASSOS:1974, p.186 e seguintes). Nas
prateleiras da Biblioteca da CEN, a diferença é visível pelo estado mais deteriorado e
amarelado dos volumes do período.
A presença dos Estados Unidos que se anunciava na 1ª. fase é consolidada.
Em 1941, a Inter-american affairs, conforme comentado, iniciara os contatos para
facilitar a publicação de títulos americanos. Muitos deles, negociados no período de
1943 em diante; alguns foram publicados nesse 2º. Período.
149
Since the outbreak of the war, we have been forced to interrupt our remittances of books to
Portugal, that we used to do in a fairly great scale. Even now, that sea transportation is almost normal,
shipment are subject to many formalities, rendering it too difficult and expensive the remittance of books
unless it be in great quantities. Recently the owner of a great Portuguese book-shop has been in Brazil
where he bought several thousands volumes from all our publishing houses, specially from us. Among
them were two hundred copies of FAREWELL TO ARMS which will so be soon considering the present
circunstances, we see no inconvenience in allowing you to grant to the publishers you refer to in your
letter the rights to print their own edition, which would in no way interfere with ours
178
As séries e seus repertórios no segundo período
De todas as séries, a de Filosofia é a que mais sofre a ausência de novos títulos.
Seu autor-base Will Durant é reeditado durante todo o período mas o único lançamento
de Durant não é mais nesta série. É o volume 3 da série de História da Civilização.
Tabela 18 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – Filosofia – 2º. período
vol
Título
Autor
Total
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1
História da
Filosofia
Will Durant
69836
5000
5024
4014
2.
Filosofia da
vida
Will Durant
87538 5000 4978 4036
3
Os grandes
pensadores
Will Durant
35204
4014
4.
A formação
da
mentalidade
James
Robinson
15477
5545
5.
Humanismo
integral
Jacques
Maritain
10124 3000
6
Educação e
vida perfeita
Bertrand
Russell
19129
3116
Comparando-se a quantidade de volumes produzidos de cada uma das obras ao
longo de toda a coleção, evidencia-se a importância da obra de Durant que, desde o
primeiro período, garantia o sucesso desta série. Observe-se que, a obra de Jacques
Maritain teve seus direitos integrais adquiridos em 1940 por US$ 50,00 e sua reedição
ficou bastante acessível.
Quando analisamos o total de volumes em cada reedição, identificamos a
pequena participação desse período no volume total de livros vendidos de cada obra de
Durant. Isso se deve ao estrondoso sucesso de seu autor no 1º. Período e aos esforços
relativos à obra de Durant estarem concentrados na série de História e Biografia onde
publica História da Civilização. Por outro lado, os títulos de Robinson e Maritain,
correspondem a mais ou menos um terço do total de livros vendidos na história da
coleção.
179
A 2ª. série: Ciências
No caso da série de ciências, o único autor inglês é James Jeans, credenciado
pela sua presença na Universidade de Princeton dos Estados Unidos, atestando em certa
medida, a eficiência da política da Inter-American Affairs no caso específico dessa série
de pequenas tiragens. De fato, os dois primeiros tulos publicados na série no período
são negociados via Inter-American Affairs ainda no período anterior.
Quanto aos títulos e temáticas, verificamos que, após o abandono da série de
Filosofia, a série de Ciências sofreu ligeira modificação nas temáticas publicadas. De
um lado, as grandes expedições aparecem com a narrativa de viagem do almirante
Richard Byrd
150
que narra sua viagem pelo oceano no título Sozinho.
SOZINHO
Um livro em que o sofrimento, a ameaça de morte e o isolamento,
estão presentes em cada página... Pelo contrário, é uma história em que todas
as qualidades peculiares ao homem – coragem, tenacidade, capacidade de
sofrimento – estão voltadas para fins humanos e nobres. É a história da famosa
expedição ao Pólo sul, levada a efeito sob o comando do Almirante Byrd, em
1934. SOZINHO foi aclamado pela crítica norte-americana, um dos melhores
livros do nosso tempo.
Ainda marcado pelo período anterior, Sozinho mantem a idéia do homem
heróico com capacidades especiais: “coragem, tenacidade, capacidade de sofrimento.”
E, talvez o mais importante, fins nobres.
151
o Bases Científicas da Evolução aborda o tema do darwinismo e da seleção
natural. De forma a oferecer ao leitor uma avaliação das várias teorias que circulam em
torno da teoria da evolução.
Não obstante ouvirmos falar em “teoria da evolução”, a verdade é
que há uma variedade de teorias da evolução. Muitas são vagas e especulativas
e baseiam-se, não raro, em suposições de ordem metafísica. “É chegado o
momento, - afirma o Dr. Morgan, - de abandonarmos todas essas altissonantes
teorias e substituirmo-las por uma baseada em princípios puramente
científicos’. É o que ele se propõe realizar neste seu livro, que inclue, além
disso, um estudo sobre toda a literatura recente em trono da hereditariedade
dos caracteres adquiridos, da origem das espécies, etc.
150
Esse título foi nono lugar na lista de best sellers da Publisher’s Week no ano de 1938.
151
Os fins nobres a que se refere o texto são a exploração Antártica.
180
O avanço da ciência “apesar dos períodos mais negros” aparece no tulo A
Ciência Avança...:
A revelação que se tem processado nestes últimos dez anos chega a
limites quase que impossíveis de se analisar sem espanto. Haja vista a
desintegração da energia atômica, o radar, o estudo dos raios cósmicos, a
teoria dos quanta, etc. Grandes nomes têm surgido no campo científico,
abrindo com seus trabalhos novas e imensas possibilidades de progresso para
a humanidade. Einstein, banido da Alemanha nazista pelo “desmerecedor”
fato de ser um judeu, procurou refúgio nos Estados Unidos. Usando
magnífica aparelhagem que lhe proporcionou a Universidade de Princeton,
continuou ele com suas pesquisas, chegando depois de anos de trabalho
constante ao controle da energia atomica. Cientistas como ele e como os que
o auxiliaram tiveram sempre em mente a utilização futura dessa tremenda
energia no beneficio daquilo que se chamava em tempos remotos de
“civilização”. Infelizmente o elemento mesquinho que em certos espiritos
interpretou erradamente essa notável descoberta. Resultado: surgiu a
primeira bomba atomica. E depois dessas outras bombas atomicas... O
mundo de hoje vive com o terror constante que lhe causa essa poderosa arma
de destruição. poderemos honestamente considerar que a ciência está
marchando? A resposta, indiscutivelmente, tem que ser afirmativa. O que
há de negativo é o espírito daqueles mesmos indivíduos mesquinhos. Ciência
não é arma de conquista. Ciência é arma de progresso. Os homens precisam
ser modificados. Ou então a ciência avançará a tal ponto que os homens
todos serão destruídos por ela. (apresentação e orelha do livro A Ciência
Avança... nos livros da coleção)
Não basta mais comentar a física atômica sem refletir sobre os efeitos da
bomba atômica sobre a “civilização”, apresentada no texto entre aspas.
Do autor, sua biografia publicada com foto e destaque, a coleção assim o
apresenta:
ROGERS D. RUSK
Rogers D. Rusk, além de ser professor de física por profissão e
dedicação, é também um pesquisador curioso de tudo o que vem
acontecendo no campo científico. A influência do pai é um dos fatores
que o levaram a se interessar também pela divulgação literária desse
assunto. Nesse setor é que se encontra esse livro que agora damos ao
público leitor do Brasil. Tem, portanto, um duplo valor: primeiro, por ser
escrito por um homem de ciência; segundo, porque é muito bem escrito,
numa linguagem simples, atraente e agradável. Precisamos muitíssimo
de livros como este. O século XX é essencialmente o século da Ciência.
Rogers D. Rusk, no entanto, não se entrega inteiramente ao uni-
direcionalismo americano. É também pintor, tendo alcançado grande
sucesso como artista, realizando periodicamente diversas exposições nos
181
Estados Unidos. Outro livro de interesse é o seu “Atoms, Men and
Stars”, seguindo a mesma linha de construção deste A Ciência
Avança...”. (Texto da 4ª. capa do livro A ciência avança...)
A retomada do título na apresentação do autor se faz pela “linguagem simples,
atraente e agradável” e como “divulgação literária desse assunto” (os avanços
científicos do século XX). Ao final, uma chamada para outro título do autor com o
nome ainda em inglês. Havia nas cartas de negociação desse título a intenção de
publicá-lo mas o acordo não se efetivou. Talvez o plano de continuidade na coleção
esbarrasse nas baixas vendagens dos títulos.
O título seguinte a Sozinho, foi publicado apenas em 1946, portanto dois anos
após o lançamento do texto do almirante Byrd. O nome da obra já fala por si: A
Sabedoria do Corpo de autoria de Walter Cannon
152
A Física, ainda é um tema importante na coleção (2 títulos dos 6 lançados).
James Jeans é o autor de Através do Espaço e do Tempo. Professor em Cambridge e
autor de outro título sobre cosmologia na série (Universo Misterioso) foi considerado
um dos grandes cosmólogos ingleses de seu tempo.
, Seu livro foi publicado nos
Estados Unidos em 1932, portanto relativamente antigo para o período em que foi
publicado no Brasil (1946).
Em termos de escolha dos autores, com exceção do almirante Byrd e Rachel
Carson (então em início de carreira mas posteriormente famosa), os demais tem sua
origem no mundo acadêmico.
152
professor emérito da Harvard Medical School e presidente da Sociedade Americana de Fisiologia
182
Tabela 19 – Biblioteca do Espírito Moderno
Titulação dos autores da 2ª. série – Ciências.
No.
título
Autor
Credenciamento
14
As bases
científicas da
evolução
Thomas Hunt
Morgan
Professor em Columbia e no Instituto de
Tecnologia da Califórnia.
Prêmio Nobel de Fisiologia em 1933.
15
Sozinho
Alm. Richard Byrd
Vice-almirante da Marinha dos Estados
Unidos.
16
A Sabedoria do
corpo
Walter Cannon
Diretor da Escola de Medicina de Harvard
17
A ciência avança
Rogers D. Rusk
Físico – professor universitário (Mount
Holyoke College) e autor de livros didáticos
universitários de Física.
18
Através do
Espaço e do
tempo
(sir) James Jeans
Cosmólogo Inglês, professor no Trinity
College e, depois, em Princeton.
153
19
O Mar que nos
cerca
Rachel Carson
Bióloga do departamento de pesca do
Governo americano.
154
Nomes relativamente esquecidos hoje (ou totalmente), eram autores
consagrados em sua maioria e seus títulos, com exceção de dois, haviam sido
publicados em inglês na década de 1930. Eram, portanto, títulos já relativamente antigos
e cujos preços estavam mais baixos. A origem dos títulos também merece uma
consideração à parte. Todos foram negociados com casas editoras dos Estados Unidos,
notadamente G.P. Putnam’s e Alfred Knopf. Mesmo o título de James Jeans que era
inglês e publicado pela Cambridge University Press foi negociado via Nova York.
153
Apenas como curiosidade, além de ter feito duas descobertas especialmente importantes para a
cosmologia, lei de Raleigh-Jeans e estabelecer o “comprimento de Jeans’, seu nome foi dado a uma
cratera na Lua e a outra em Marte.
154
Esse primeiro livro de Rachel Carson, publicado em 1951 nos Estados Unidos, inaugurou uma
carreira de conservacionista da autora que ficou famosa em 1962 com outro livro Silent Spring que
denuncia a ação dos pesticidas agrícolas na água dos riachos. Ela é considerada uma das fundadoras dos
movimentos conservacionistas no mundo.
183
Tabela 20 – Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos novos – Ciências – 2º. Período
No. Título Autor Ano pub. Nos Estados
Unidos
Ano tiragem
14
As bases Científicas da
Evolução
Thomas Hunt
Morgan
1933
1944
4015
15
Sozinho
Almte. Richard
Byrd
1938
1944
5000
16
A Sabedoria do Corpo
Walter B.
Cannon
1932
1946
4000
17 A Ciência Avança… Rogers D. Rusk 1943 1947 4019
18
Através do Espaço e do
tempo
James Jeans
1934
1948
4019
19
O Mar que nos cerca
Rachel L. Carson
1951
1953
4000
Observe-se a tabela, o título traduzido de menor distância entre o ano de
publicação nos Estados Unidos e o ano de publicação no Brasil é o de Rachel Carson O
mar que nos cerca.
Além da “idade” da maioria dos títulos, as tiragens pequenas são uma marca
distintiva da série. De fato, essa marca da série se mantém até nas reedições oferecidas
ao público. No artigo da revista Conjuntura Econômica comentado, a questão da
Vulgarização Científica é analisada:
As edições de Ciências Exatas e de Vulgarização Científica são de
insignificantes proporções. Atestam bem a nossa dependência de originais
estrangeiros importados (ao alcance somente de uma minoria de estudiosos),
por meio dos quais se procura compensar a insuficiente disseminação do
conhecimento científico.
Essa realidade se reflete também na coleção Iniciação Científica.
Tabela 21 - Coleção Iniciação Científica (1943-1953)
Títulos Novos
número Título Autor 1ª. Ed.
22
O que devemos conhecer de economia política
Luis Sousa Gomes
1944
23
O método Rorschach
Cicero Christiano de Sousa
1953
24
O mecanismo do espírito
André Cresson
1953
Tabela construída a partir de LEAL (2003)
184
Apenas três novos lançamentos: um de economia política e dois de psicologia.
Não há títulos de ciências exatas e as distâncias entre a série de Ciências e a de
Iniciação Científica se tornam ainda mais marcantes. Dois títulos brasileiros e um
francês contra seis tulos em inglês. Enquanto a preocupação de “vulgarização”
científica é evidente na Biblioteca do Espírito Moderno, na Iniciação Científica a
preocupação com a formação do jovem cientista, estudante universitário reaparece. O
texto sobre economia política de Luis Sousa Gomes foi posteriormente publicado pela
Editora Civilização Brasileira, durante a década de 1960, e mais tarde, em 1972
publicado pela FGV. Quanto ao título O método Rorschach
155
Não há, nesse período, semelhança entre os assuntos publicados em ambas as
coleções. Entretanto, ao analisarmos as reedições, um dos poucos títulos reeditados é A
Ciência da Natureza Humana de Alfred Adler sobre o início dos estudos em psicologia.
Quanto às demais reedições, são os “grandes”, homens da ciência e expedições,
confirmando o foco da série na divulgação/vulgarização científica. À época, os dois
termos são encontrados de maneira bem pouco distinta e “vulgarização” não tem
qualquer caráter desmerecedor. O termo é utilizado para dar conta de um problema: a
sofisticação e crescente dificuldade de aproximar as novas descobertas científicas e seus
principais debates do leitor comum (MORA).
, constitui um livro de
introdução do método ao “iniciante em psicologia”, André Cresson publica o seu
Mecanismo do Espírito em 1950 pela Armand Colin e, logo depois, a tradução para o
português é negociada.
Analisando-se as pouquíssimas reedições da série, verifica-se que os títulos
privilegiados são aqueles que mantêm certo heroísmo pessoal (volumes três e quatro) ou
o único título que se refere à psicologia e que é direcionado especialmente ao leitor
comum.
155
Posteriormente, esse mesmo título foi publicado na Biblioteca de Psicologia e Psicanálise da
TAQueiroz Editor em co-edição com a Editora da Universidade de São Paulo.
185
Tabela 22 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – série de Ciências – 2º. período
volume série Título Autor total 1945
2 2a. A Ciência da Natureza Humana Alfred Adler 19177 3020
3 2a. Os Grandes Homens da Ciência Grove Wilson 18097 5000
4 2a. As Grandes expedições Científicas do séc. XX Charles Key 12110
A 3ª. série: Historia e Biografia
A série de História e Biografia, além de mais longa foi a que sofreu mais
alterações. De um lado, o aumento do número de temáticas religiosas. De um total de 25
títulos, encontramos Will Durant com o terceiro volume da série História da Civilização
com o sugestivo título César e Cristo e, 5 títulos explicitamente ligados a temas
religiosos
156
Também a História do Brasil, que não teve nenhum título na primeira fase,
aparece agora com dois títulos. O primeiro de Afrânio Peixoto e o segundo de Vicente
Tapajós, este último um dos maiores steady sellers da coleção com um total de 15
edições entre 1944 e 1969 e média de 5.000 exemplares de tiragem. O mesmo Vicente
Tapajós assina, ainda, outro título na mesma coleção História da América, sem tanto
sucesso. O quadro dos colaboradores brasileiros da coleção no período se completa
apenas com Luís Amaral (A América antes dos europeus) e duas obras de Monteiro
Lobato, Hans Staden e, na 4a. série, a única edição de Urupês na BEM
. Dentre esses títulos, apenas dois autores: Giovanni Papini e Sholem Asch.
157
.
156
O Nazareno, O Apóstolo, A Vida de Santo Agostinho, Maria e O profeta (negociado mas não
publicado no período)
157
Quanto a essas duas obras de Monteiro Lobato na coleção, ambas foram publicadas após a saída
do autor da CEN em 1945 e 1944, respectivamente. Não encontrei qualquer documentação sobre ambas
além do livro (assinalado com o ano mas sem referência à edição e/ou reimpressão) e a ficha de produção
com o número de exemplares e o custo da gráfica.
186
Tabela 23 – Biblioteca do Espírito Moderno
Titulos novos no 2o. período: série História e Biografia
no. Título Autor
1a.
Ed.
28-C Historia da Civilização - Cesar e Cristo Will Durant 1946
33 História do Poderio Marítimo
W.D. Stevens e A.
Westcott
1944
34 Historia do Brasil Afranio Peixoto 1944
35 O Nazareno Sholem Asch 1944
36 O Apóstolo Sholem Asch 1945
37 Beethoven Emil Ludwig 1945
38 Talleyrand Duff Cooper 1945
39 Hans Staden - Suas viagens e cativeiro
ordenado Monteiro
Lobato
1945
40 História dos Estados Unidos André Maurois 1946
41 História do Brasil Vicente Tapajós 1944
42 A Vida de Santo Agostinho Giovanni Papini 1946
43 As Américas antes dos europeus Luis Amaral 1946
44 Zola e seu tempo Mathew Josephson 1947
45 Historia da Medicina - 2 volumes Arturo Castiglioni 1947
46 Os cossacos - História de um Povo Guerreiro Maurice Hindua 1947
47
Victor Hugo - Uma biografia Realística do Grande
Romântico
Mathew Josephson 1947
48 A segunda Guerra Mundial Winston Churchill 1948
48-A A segunda Guerra Mundial 2o. Volume Winston Churchill 1949
48 B e
C
A segunda Guerra Mundial 3o. Volume (2 tomos) Winston Churchill 1950
48 D e
E
A segunda Guerra Mundial 4o. Volume (2 tomos) Winston Churchill 1951
48 F e
G
A segunda Guerra Mundial 5o. Volume (2 tomos) Winston Churchill 1952
49 Historia das Doutrinas Econômicas Eric Roll 1948
50 História da França André Maurois 1950
51
158
52 Maria Sholem Asch 1951
53 A civilização posta à prova Arnold Toynbee 1953
158
O título O Profeta de Sholem Asch correspondente ao número 51 foi lançado em 1958.
Portanto, fora do período. Entretanto, sua negociação ocorreu juntamente com as demais obras do autor
publicadas na coleção.
187
A vasta obra de Winston Churchill vinha sendo negociada e publicada desde o
período anterior, na realidade desde 1939
159
, assim como o livro de Will Durant, que é
continuação de uma série que somente se encerrará com o falecimento do autor.
Figura 30 - Propaganda do lançamento de livro, encontrada dentro do 2º. volume da
obra A Segunda Guerra Mundial de Churchill
159
Um dos ativos da Editora Norte-Sul comprada pela Companhia Editora Nacional em 1940 é o
contrato de tradução de Minha Mocidade de Winston Churchill e abriu espaço para negociação de outras
obras do mesmo autor. Sobre Churchill, a negociação foi feita em português pelo consulado britânico e os
direitos foram pagos em moeda nacional, facilitando enormemente a sua publicação.
188
A apresentação da obra de Churchill não deixa dúvidas do impacto que a II Guerra
Mundial causou.
As memórias de guerra do famoso estadista britânico, do homem que
deu ânimo à luta de vida ou de morte contra o terror nazista são agora pela
primeira vez completas, dadas ao conhecimento público. Obra de indiscutível
importância pelo que possue de sensacional, pelos segredos que desvenda, pela
documentação que fornece, não pode, de modo algum, faltar em sua biblioteca.
Alguns trechos publicados na imprensa mundial aumentaram de muito o
prestígio de que ela vem cercada.
O Nazareno e o Apóstolo, bem como Maria são negociados praticamente da
mesma forma. Sholem Asch é um autor extremamente controverso, especialmente por
ser judeu escrevendo sobre temas católicos ou, pelo menos, cristãos. Os livros do
período fazem grande alarde sobre a sua figura e o fato em questão. Sobre esse autor,
vale lembrar seu caráter polêmico. Judeu, nascido na Polônia, foi o único escritor
incluído na lista do New York Times dos 10 mais importantes judeus do mundo
contemporâneo, publicada em 1939.
No mesmo ano, coincidindo com o início da guerra e a ascensão de Hitler,
Asch publicou O Nazareno (1944 na edição da BEM) novela sobre a vida de Jesus
Cristo. Esse fato foi encarado por parte da comunidade judaica como uma “traição”.
Exilado nos Estados Unidos, Asch ainda publicou outros livros sobre figuras do
cristianismo dos quais a BEM traduziu, O apóstolo (1951), O Profeta (1954), Maria
(1957) e Moisés (1958). Essas obras foram todas lançadas com press release especial,
citações dos jornais e revistas dos Estados Unidos e material de propaganda adaptado do
que foi enviado pela casa editora nos EUA.
Nas quartas capas, O Nazareno aparece com desenho do autor e a chamada:
Só uma obra-prima provocaria estes comentários:
Estes breves trechos o-nos apenas idéias do entusiasmo com
que a imprensa norte-americana recebeu a brilhante história de Sholem
Asch, em torno da vida de Cristo O NAZARENO que agora
apresentamos em português, em belíssima tradução de Monteiro Lobato.
Considero O NAZARENO uma obra de arte universal. The New
Yorker
189
Uma obra mestra de talento... um triunfo criador. Um romance de
cidades, ao mesmo tempo que de homens, de religiões e culturas, ao mesmo
tempo que de caracteres e, entretanto, cheio de interesse humano; repleto
de começo a fim de conflitos individuais, de misérias e de sofrimentos.
N.Y. Herald Tribune
Um grande livro, cheio de grandes momentos. Além da riqueza
do fundo histórico... da vivacidade da narrativa... de intenso realismo dos
personagens, o livro é de profunda significação.
Saturday Review of Literatures.
O NAZARENO é sem dúvida uma obra prima, um grande
trabalho de arte, um supremo feito de audácia intelectual.
Uma soberba realização... os retratos de mulheres,
particularmente da mãe de Jesus e de Maria Madalena, são comoventemente
humanos.
The Atlantic.
Um dos livros realmente grandes de nosso tempo. Nenhum outro
livro em torno do Mestre (com exceção do Testamento) se lhe compara na
beleza da narrativa, na altitude que atinge de amor, de ardor e de desespero,
e nas cenas memoráveis que descreve.
N.Y. Daily Mirror.
Esses comentários foram traduzidos do press release enviado pela G. P.
Putnam’s Sons, agência literária responsável pela comercialização e tradução dos
títulos. Acompanha o material enviado pela agência, uma carta ao comércio livreiro, An
Open Letter to the Booktrade, informando que não haverá edição em paper back por um
período de 5 anos após o lançamento da versão em capa dura.
190
Figura 31 – quarta capa de livro da Espírito Moderno com propaganda de O Nazareno
O Apóstolo foi lançado logo em seguida vem com o mesmo tipo de publicidade
e informação. O texto da propaganda para editores e livreiros merece ser transcrito:
THE APOSTOLE, um romance baseado na vida de São Paulo, será
publicada em 17 de Setembro. No momento estamos no processo de
manufaturar 110.000 copias desse livro. Indicações preliminares apontam
para um total de vendas antes da publicação entre 66.000 e 76.000 Copias.
Elas serão apoiadas pela mais pesada campanha de anúncios e promoção
desde que eu me liguei a “house of Putman”.
No começo da primavera de 1939, eu previ a venda de 250.000
copias de THE NAZARENE. Dois meses depois eu aumentei a minha
previsão para meio milhão de copias em um período de cinco anos. Após
três anos e nove meses, o total de vendas de THE NAZARENE, por todas as
fontes, é aproximadamente 90% da previsão de meio milhão de vendas, e
sua venda continuará durante a próxima geração.
Ninguém discorda da qualidade do potencial de vendas de THE
APOSTOLE. O livro inteiro reagiu com o maior entusiasmo possível e seu
sucesso embasbacante, já é aceito como fato confirmado.
191
Com toda a enfase que possua, eu lhe apresento THE APOSTLE
como o lógico e digno sucessor para THE NAZARENE e um dos grandes
livros de nosso tempo. Tanto para o autor quanto para o editor, gostaria de
expressar meu apreço pelo esforço que está sendo feito, e continuarei a
vender ambos os livros.
Sinceramente
Nelville Mi
160
160
THE APOSTOLE, a novel based on the life of St. Paul, will be published on September, 17th.
At this moment, we have in course of manufacture 110.000 copies of this book. Preseat indications are
that the sale before publication will total between 66.000 and 76.000 copies. It will be backed by the
heaviest advertising and promotion campaign since I have been connected with the House of Putnam.
Early in the spring of 1939, I predicted a sale of 250.000 copies of THE NAZARENE. Two
months later I increased this prediction to a half million copies within a fixe year period. After three years
and nine months, the total sale of THE NAZARENE, through all sources, is approximately 90% of the
half a million sale forecast and its sale will continue through coming generation.
There has been no dissenting voice as to the quality of the sales potentiality of THE
APOSTOLE. The entire book trade has reacted with the greatest possible enthusiasm and its
overwhelming success is already accepted as an accomplished fact.
With all the emphasis I possess, I give you THE APOSTLE as the logical and worthy successor
to THE NAZARENE and one of the great books of our time. For both author and publisher I want to
express appreciation to the trade for the effort it is making and will continue to make to sell both books.
Sincerely,
Nelville Mi____
192
Figura 32 - propagandas recebidas dos Estados Unidos para a promoção de O Apostolo
193
Figura 33 – Flyer de O Apostolo
O termo romance baseado (a novel based) causa estranheza. Afinal, a série em
que foi publicado é de História e Biografia e não de romances. Entretanto, é exatamente
essa a categoria em que o livro melhor se encaixa. Novela/romance histórico ou relato
romanceado. O mesmo pode ser afirmado para outros títulos na mesma série. Todos os
de Asch.
194
A apresentação de O APOSTOLO segue o mesmo tipo de estratégia da obra
inicial. Citações dos principais jornais dos Estados Unidos e folhetos em separado, além
de chamadas nas quartas capas dos livros da coleção.
Eis as qualidades que os críticos descobriram neste soberbo
romance
“Um romance monumental, em que cada página resplandece de
gênio... sua magnificência deixa-nos mudos...” Philadelphia Record
“Erudição profunda, humildade, reverência... A história caminha
com rapidez para a tragédia suprema”. Chicago News
“Um livro de força tão imensa... que cada página constitue uma
experiência profunda e comovente”. Boston Herald
“Uma das grandes histórias do drama humano, escrita de maneira
magnífica e apaixonada”. Pittsburgh Press
“Repleto de movimento, tanto no plano físico como no mundo da
mente e do espírito”. New York Herald tribune.
O APOSTOLO
Romance em torno da vida de São Paulo
De SHOLEM ASCH
(autor de O NAZARENO)
Seleção de Abril da Sociedade Livro do Mês
Vol. Em brochura
Cr$ 35,00.
Quanto à obra em si, é apresentada como:
Baseado na vida do Apóstolo São Paulo, este livro desdobra ante o
leitor um panorama fascinante do mundo mediterrâneo durante seis décadas
que se seguiram à crucificação de Cristo um mundo fértil, impiedoso,
cruel, magnificente. Com tal trabalho, um dos maiores romancistas vivos
termina uma história iniciada há trinta anos, em seu coração e em sua mente,
cuja primeira parte foi narrada em O Nazareno “um romance monumental,
em que cada página resplandece denio... sua magnificência deixa-nos
mudos...”
Sholem Asch é aqui definido como um dos maiores romancistas vivos. O texto
se encerra com a mesma citação do Philadelphia Record.
Para a Vida de Santo Agostinho de Giovani Papini, a apresentação utiliza outro
tipo de recursos. Papini é um intelectual polêmico, e publicou a maior parte de sua obra
195
pela Editora Globo. Conquistar algumas obras para a BEM foi um acréscimo importante
para a coleção.
Na evolução da obra de Papini devemos diferenciar duas fases
distintas, pois os livros publicados em cada uma delas poderiam ter sido
escritos por duas pessoas inteiramente diversas. Na primeira egoísmo,
ódio, e um valoroso trabalho de purificação da literatura italiana, libertando-
a de muita insensatez e fornecendo as bases para uma nova cultura. Na
segunda, ele tem sido acusado frequentemente pelos críticos de esbanjador
histérico de inteligência. Felizmente para nós, leitores brasileiros, a Vida de
Santo Agostinho é obra desta segunda fase. Nota-se em toda ela um brilho
sempre constante e invulgar de cultura dinâmica, de análise e interpretação
da vida daquele que foi o Príncipe da Igreja Católica.
Na verdade, as idéias e teorias de Santo Agostinho, bispo de Hippo,
alimentadas na doutrina filosófica de Platão e de seus seguidores,
revolucionaram a concepção religiosa da Idade Média. A antítese entre
Platão e Aristóteles deu origem a duas escolas: a voluntarista ou agostiniana,
e a intelectualista, de Santo Tomás de Aquino. Os líderes da Reforma, muito
mais tarde, elevaram Santo Agostinho à posição de mentor de suas doutrinas
no que se referia à predestinação e à irresponsabilidade da graça divina. Esta
obra de Papini nos claramente o retrato fiel daquele que é considerado o
teórico de todas as Igrejas. (2ª. orelha do livro)
Esse texto de apresentação faz referência ao passado do autor que ficou
conhecido no período anterior à escrita dessa obra
161
Resta, então, perguntar o que se entende por Biografia e História nessa coleção
e o que se pode afirmar sobre a série de Literatura em relação ao tema. Compreender
essa distinção ajuda a compreender ambas as séries.
e de A Historia de Cristo como um
autor que era fervoroso militante anti-cristão. Após a Grande Guerra, tornou-se
fervoroso católico e, as obras publicadas na Biblioteca do Espírito Moderno são desse
período. Aos poucos, Papini aproximou-se do fascismo e, no momento em que A vida
de Santo Agostinho é publicada, o Brasil voltava de sua campanha na Itália contra
Benito Mussolini.
As demais biografias publicadas na coleção durante o 2º. Período, foram:
Beethoven (de Emil Ludwig), Talleyrand (de Duff Cooper), Hans Staden (adaptada por
Monteiro Lobato), Zola e Victor Hugo (ambos de Mathew Josephson) e Maria (de
Sholem Asch).
161
A vida de Santo Agostinho é publicada em italiano em 1929. apenas para informação, A historia
de Cristo é de 1921.
196
É possível dividi-las em hagiografias (O Nazareno, O Apóstolo, Vida de Santo
Agostinho, o Profeta e Maria) e biografias/autobiografias. Nessa última categoria,
encontram-se Beethoven, Talleyrand, Zola e seu tempo e Victor Hugo Uma biografia
realística do grande romântico). Quanto a Hans Staden, sua classificação na coleção é
tarefa difícil. Nenhum documento sobre sua inclusão na coleção foi encontrado, dentre
tantas reedições, apenas uma na Biblioteca do Espírito Moderno, no momento em
que Monteiro Lobato saíra da Companhia Editora Nacional.
Sobre Beethoven, Emil Ludwig já escrevera anteriormente a obra Três Titãs
que constava da lista do INL e foi apresentada nas propagandas como:
O gênio da musica visto por um grande biógrafo!
Beethoven
Por Emil Ludvig
Tradução de Vinicius de Morais
CR$ 25,00
Seleção de FEVEREIRO da SOCIEDADE LIVRO DO MES
Dois traços fundamentais caracterizam a vida e a obra de
Beethoven: liberdade e solidão. Para alcançar a primeira, teve de ser
revolucionário; para não perecer na segunda, teve de amar...
BEETHOVEN, de Ludwig, é a mais recente e a mais fiel e
compreensiva das biografias do grande Mestre. Escrita após rigoroso
trabalho de pesquisas, ele projeta nova luz sobre muitos pontos
controvertidos da sua vida.
197
Figura 34 - Foto: propaganda de lançamento do título Beethoven
Aparentemente o texto do livro é obra de pesquisa sobre a vida do músico mas,
ao analisarmos o texto da orelha do livro, encontramos uma sutil diferença:
A tragédia de Ludwig van Beethoven em sido estudada por grandes
biógrafos. Coube, porém, a Emil Ludwig apresentar-nos o que se pode ser
considerado sem dúvida o mais verdadeiro e compreensivo retrato do
homem que ele chama "o mais moderno de todos os artistas”.
198
Esta biografia difere da que Ludwig publicou em 1930 em “Três
Titãs”, que ele próprio considera muito romântica. Nesta nova versão,
Ludwig em Beethoven ‘um conquistador por natureza que, não podendo
reinar sobre nosso pequeno mundo, subjugou o grande mundo do
sentimento’.
A surdez que o impedia de ouvir a música ou os aplausos
provocados por suas sinfonias e sonatas era somente a expressão física de
uma tragédia íntima no complexo caráter de Beethoven, o mais solitário dos
homens. É o desenvolvimento dessa tragédia e a vitória final do artista que
ocuparam Ludwig nesta última e mais grandiosa de suas biografias. (texto da
orelha do livro Beethoven)
Não é um estudo, é um retrato, a biografia apresentada como tragédia, não é
romântica (portanto, é melhor que a do concorrente e mais completa) porque apresenta
Beethoven com um retrato “verdadeiro e compreensivo”.
Para os dois textos de Mathew Josephson a apresentação menciona “páginas
ardentes”, minuciosa precisão e análise penetrante.
Matthew Josephson apresenta-nos as biografias dos expoentes
máximos da literatura francesa contemporânea: Victor Hugo e Émile Zola.
Zola e seu tempo convoca-nos, em ginas ardentes, de minuciosa precisão,
os principais episódios da carreira desse notável escritor que tanta celeuma
provocou. Em Victor Hugo, traça com grande realismo e compreensão
humana, a biografia realista do grande romântico. É a análise penetrante de
um titan literário, que, como panfletário político, teatrólogo e romancista,
dominou sua época, inflamou os corações dos homens e das mulheres.
O leitor das biografias está interessado em saber a verdade obtida através de
pesquisas (sempre exaustivas e minuciosas) mas, também, procura um pouco de paixão
e relatos inflamados.
Ressalte-se, ainda a importância do século XIX para as personagens
biografadas fora da hagiografia cristã. Beethoven, Talleyrand, Zola e Hugo viveram ao
menos parte de suas vidas no século XIX europeu.
para os textos de história, a grande importância da obra de Churchill com
oito tomos e cinco volumes, aliada ao lançamento de um volume de Durant e duas obras
de André Maurois marcam os títulos não biográficos.
Seguindo a gica de propagandas em folhetos avulsos e quartas capas da
própria coleção, alguns títulos tem maior investimento que outros. É o caso, como era
de se esperar, dos três autores citados. Durant por sua evidente importância para a
coleção como um todo. César e Cristo aparece ocupando três páginas do único catálogo
199
específico publicado no período. O texto, como normalmente, reaparece nas orelhas dos
livros e, também, em algumas quarta capas.
Com estes volumes, Will Durant entrega ao blico a terceira
parte de sua monumental HISTORIA DA CIVILIZAÇÃO a história de
Cesar e Cristo! Em setecentas ginas, sublimes e luminosas, do novo livro
de Durant, cuja amplitude de escopo, audaciosa e inteligente generalização,
recordam os grandes mestres da História, poderemos medir o presente em
função do passado! Teremos uma visão total do povo, sua vida política,
religiosa, moral, econômica, científica, literária e artística em suas
manifestações simultâneas. Ante nossos olhos; desenrolar-se-á a flamejante
cavalgada da antiguidade e, pelas tochas das legiões romanas seremos
capazes de compreender a significação das notícias de hoje sobre a
reconstrução da Itália. Veremos o crescimento de Roma de cidade de
encruzilhada à líder do Mundo seus esforços para manter dois séculos de
segurança, que foram, para os continentes então sob seu domínio, primeiro
um benefício que depois se transformou em tirania. Veremos em perfeita
ordem a Pax Romanasurgindo do mar de barbarismo que a cercava; sua
decadência e colapso final na escuridão e no caos. Veremos Cesar e Cristo
face a face na corte de Pilatos. Maravilhados, verificaremos a ascendência
gradual dos cristãos, humilhados e ofendidos, que através do terror e das
perseguições; tornaram-se primeiro aliados, depois chefes e finalmente
heróis do maior império da História! Encontraremos Cesar na travessia do
Rubicon e na conquista da Gália. Ouviremos Catão clamando no senado pela
destruição de Cartago. Conheceremos o esplendor das bacanais que ainda
influenciam e tornam rubras certas páginas da História. Veremos
conquistadores alimentando as feras do anfiteatro com reis bárbaros.
Repare-se que os termos são “veremos “encontraremos”, “ouviremos” e
“conheceremos”. Verbos no plural e que induzem o leitor a participar da narrativa, ver e
ouvir para poder compreender um dado do presente: “as notícias de hoje sobre a
reconstrução da Itália”. “Hoje” é 1946. Entender o presente exige um conhecimento do
passado. O apelo à emoção não se apenas nos verbos associados aos sentidos.
também apelo ao caráter humano da narrativa histórica:
Cortesãs e reis filósofos, déspotas e sábios, enchendo esses
capítulos tumultuosos. Os amores dos homens misturando-se às diretrizes
governamentais. Encontraremos interessantes paralelos, entre essa era
fabulosa e o nosso tempo! Veremos Antonio e Cleópatra trocarem um
mundo pelo amor! Sentiremos o calor das grandes labaredas que devoraram
Roma, enquanto Nero dedilhava sua lira legendária. Os pequenos fatos – que
são tremendos associados às grandes forças do mundo, formando a
incomparável estrutura da História. Finalmente veremos a grandeza passada
de Roma – a cidade eterna, construída por Cesar e Cristo!
200
Figura 35 - 4ª. capa e folder do lançamento de César e Cristo
Mesmo nos títulos que não são autobiográficos, o apelo a amores e fatos
heróicos que ajudam a compreender os fatos políticos, a construção e destruição de um
império. “Antonio e Cleópatra trocando o mundo pelo amor!” lado a lado com a
formação do império e as guerras púnicas. Uma “Pax Romana” que se sobressae ao
“mar de barbarismo”. Um conceito de civilização que é herdeiro do império de César e
da Igreja de Cristo. Em um total de 700 ginas apresentadas como “sublimes e
luminosas”. O leitor do volume conhecerá desde os pequenos e tremendos fatos até as
questões estruturais do Império.
Algo semelhante aparece no primeiro título publicado pela série no período e
fruto da negociação com a InterAmerican Affairs. É História do Poderio Marítimo.
Desde os primórdios da navegação, a bem dizer iniciada pelos
fenícios, até os dias de hoje, HISTORIA DO PODERIO MARITIMO
201
observa os fatos que lhe são relativos, partindo mesmo de sua pré-história,
isto é, de quando a flutuação foi um fenômeno verificado.
A posição das potências que atualmente conservam-se em projeção
nesse particular, é estudada com rigor e demonstrada com carinho. A
influência que o controle dos mares exerce sobre a vida das nações mereceu
especial atenção do autor, tornando-se um dos pontos mais interessantes do
livro, considerado um dos melhores trabalhos sobre o assunto até hoje
publicados. (Texto do catálogo)
Compreender as potências do momento é importante e merece atenção. Da
mesma forma, o livro apresenta a vida das nações associada ao controle dos mares. Para
a orelha do livro, a apresentação do tema se faz de outra forma:
Principiando com os mais antigos registros dos feitos marítimos
dos fenícios e atenienses os autores traçam a historia de navios, armadas,
marinhas mercantes até o presente – Definitivo sobre a evolução da arte de
navegar, este livro recentemente revisto é tão completo na descrição dos
primitivos trirremes como na de um dos modernos e complexos engenhos
de guerra. O panorama assim apresentado é um dos mais românticos e
significativos nos anais da história humana. De certo modo, este livro, é a
própria história da civilização do ponto de vista do poder marítimo, e
mostra claramente a estreita interdependência do poder de uma nação
como o controle dos mares.
Ao lado da parte meramente informativa, de seus gráficos e do
estudo das principais batalhas navais da historia este livro tem um escopo
mais amplo que será logo reconhecido por todos quantos se interessam
pelo mar e apreciam um novo ponto de vista da historia do mundo.
A parte de continuar reforçando a idéia de independência nacional e poderio
marítimo, o relato desse “panorama” é “dos mais românticos e significativos dos anais
da História humana. Mesmo a história das armas de guerra marítimas merece um relato
“romântico”. Além disso, o livro traduz a história da civilização sob o ponto de vista do
título, com um “escopo mais amplo” e oferece um “novo ponto de vista da historia do
mundo.”
O passo seguinte é a apresentação da credencial de seus autores que são
desconhecidos para o público da Biblioteca do Espírito Moderno.
Um dos autores faz parte, atualmente da academia Naval dos
Estados Unidos; o outro ocupou até a pouco tempo um lugar
correspondente. Seu trabalho recebeu a aprovação oficial tanto das
autoridades da Academia como do Departamento naval. Foi adotado pelo
Corpo Acadêmico da Academia Naval para uso no curso de História.
202
Com 96 diagramas, mapas e ilustrações.
A informação sobre diagramas, mapas e ilustrações reaparece, tornando-se uma
das marcas distintivas desse período.
O mesmo tipo de “animismo” da marinha e das nações, reaparece na
apresentação de História dos Estados Unidos de André Maurois:
Esta história abrange o período que vai de 1829 a 1940, e é o retrato
fiel e honesto da grande Nação irmã do Norte. As tintas usadas neste retrato
primam pelo seu colorido social, político e econômico. Tem-se a impressão
de estar lendo a biografia de um ser humano como qualquer outro. Porque
uma Nação é também dirigida por certos princípios fundamentais, às vezes
certos, ás vezes errados, passíveis de análise com o correr do tempo. O
notável historiador francês não teve receio de ir às primícias da vida dos
Estados Unidos. E a obra não ficou por isso nem um pouco cansativa. É para
ser lida mesmo com um romance, tão agradável é o modo de exposição de
Maurois. (volume com 540 páginas: Cr$ 45,00.)
A “nação irmã do Norte” é retratada por meio de uma biografia e a obra não é
cansativa porque foi escrita como o “romance” da história dos Estados Unidos.
As memórias de guerra do famoso estadista britânico, do homem
que deu ânimo à luta de vida ou de morte contra o terror nazista, são agora
pela primeira vez completas, dadas ao conhecimento público. Obra de
indiscutível importância pelo que possue de sensacional, pelos segredos que
desvenda, pela documentação que fornece, não pode, de modo algum, faltar
em sua biblioteca. Alguns trechos publicados na imprensa mundial
aumentaram de muito o prestígio de que ela vem cercada.
Se analisarmos os historiadores importantes da série, encontramos Charles
Seignobos, com um livro e Arnold Toynbee com A Civilização Posta à Prova. As obras
históricas são de autoria de ensaístas como André Maurois, políticos como Winston
Churchill, jornalistas e outros.
Um autor que consiga aliar saber científico e/ou especializado a texto
interessante é bastante importante como se pode perceber pela apresentação de História
da medicina:
Este trabalho do prof. Arturo Castiglioni, desde seu aparecimento
em 1927, vem sendo considerado como a obra mais completa jamais
203
publicada sobre o assunto. Trabalhosamente elaborada, fruto de pesquisa
constante, de comprovação histórica e científica, da coordenação dos dados,
é também um fator de orgulho para a cultura de nossa época. O estilo vivo e
agradável do Prof. Castiglioni torna essa obra interessante não a
especialistas na matéria como a doutores em medicina. Leigos se deliciarão
enriquecendo seus espíritos com a leitura de “História da Medicina”. Um
povo de espírito tão curioso como é o nosso, encontrará evidentemente não
matéria educacional e prática neste livro como muito de recreativo
também. As inúmeras ilustrações dão ainda mais riqueza documentária ao
texto deste excelente trabalho.
(2 volumes, em papel ilustração)
Note-se que o texto foi escrito em 1927, está, portanto, à época de sua
publicação, relativamente superado com uma série de novas descobertas e invenções
que alteraram os processos de diagnóstico e de tratamento. Esse não parece ser um
problema pois a obra é apresentada com a data de publicação e com uma indicação de
dois públicos: o leigo interessado e o especialista na matéria. Em ambos os casos, a
atração é “o estilo vivo e agradável’ e, também as ilustrações que enriquecem o
excelente trabalho.
Sobre as ilustrações, tanto a série de Ciências quanto a de História encontram
uma nova ênfase na qualidade e na quantidade das ilustrações
162
.
Tabela 24 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – 2º. Período: série História e Biografias
vol
Título
Autor
Total (na
coleção)
tiragem
(ano)
1
Madame Curie
Eva Curie
49277
10000
(1944)
3045
(1949)
3015
(1952)
3
A vida de Disraeli
André Maurois
17212
4035
(1945)
4-a
Historia Universal -
tomo 1
H.G. Wells
38138
8000
(1944)
4-b
Historia Universal -
tomo 2
H.G. Wells
27123
8042
(1945)
9
Historia da Bíblia
H. Van Loon
7101
4050
(1945)
13
História de Cristo
Giovanni Papini
22000
5000
(1945)
3000
(1952)
14
A Vida de Shelley
André Maurois
11000
5000
(1944)
18
Os Estados Unidos de
Ontem e de hoje
R. Nichols, W. C.
Bagley e C. A.
Beard
5978
2962
(1944)
19
Um Espirito que se
Clifford W. Beers
18067
3002
162
A coleção Tapete Mágico, já comentada, desde seu lançamento fazia grande alarde sobre as
ilustrações.
204
achou a si mesmo (1945)
21
Lincoln
Nathaniel Wright
Stephenson
7121
3109
(1945)
22
As Grandes Cartas da
História - Desde a
antigüidade até os
nossos dias
Wallace Brokway
e Bart Keith
Winer - M.
Lincoln Schuster
7097
3097
(1946)
28
a-b
Historia da Civilização
- Nossa Herança
Oriental (2 tomos)
Will Durant
32700
5000
(1944)
35
O Nazareno
Sholem Asch
11500
4000
(1949)
41
História do Brasil
Vicente Tapajós
102064
4016
(1946)
4385
(1947)
5182
(1950)
5618
(1952)
5928
(1953)
Observando-se a tabela de reedições, encontramos os títulos que realmente
sustentam a coleção. Durant, Curie, Maurois, Wells, Van Loon, Asch, Papini e, numa
coleção de traduções, uma “surpresa”: Vicente Tapajós e sua História do Brasil que, na
história da coleção vendeu 102.064 e revelou-se o campeão de reedições do período e
na série.
Sobre esse título é importante lembrar que outro de caráter amplo sobre a
História do Brasil, de autoria de Afrânio Peixoto, cuja edição de 1944 é a primeira na
coleção mas a . edição do título. Ambas as obras são de caráter geral mas Vicente
Tapajós, talvez por ser autor de livros didáticos, teve um sucesso bem maior.
Um último comentário sobre as reedições é a possibilidade de dividir os títulos
em algumas categorias: dos 12 títulos reeditados, três estão associados explicitamente a
referências religiosas (História da Bíblia, História de Cristo, O Nazareno), quatro são
biografias (Madame Curie, Disraeli, Shelley e Lincoln), e cinco apresentam o caráter
universalista e generalizante anunciado nos catálogos e propagandas. Ressalte-se ainda
que dois títulos envolvem a História dos Estados Unidos e um deles foi negociado com
o apoio da Inter American Affairs.
Titulos novos no 2o. período: série Literatura
A série de Literatura, provavelmente por seu sucesso, ganha um folder de
propaganda específico, aumentando o desmembramento e a distância entre cada uma
das séries. Na propaganda da série de Literatura, uma mulher de vestido, salto alto,
cabelos arrumados e colar, senta-se de maneira bem pouco formal mas
205
confortavelmente em uma poltrona e lê. Com o texto “Grandes romances selecionados
entre os melhores da literatura mundial contemporânea”.
O termo contemporânea é importante pois no mesmo período pelo menos duas
editoras publicavam romances “clássicos” em coleções: a editora Globo e a José
Olympio. Os romances “clássicos” tem a grande vantagem de estarem em domínio
público e serem mais baratos para publicação mas os títulos da Biblioteca do Espírito
Moderno encontram amparo no cinema
Figura 36 – Propaganda da biblioteca do Espirito Moderno com “coupon”
206
Repare-se o “coupon” de solicitação do “Catálogo Geral da Biblioteca do
Espírito Moderno”. Ao lado do recorte, a imagem de um livro da coleção com a
característica filigrana na lombada e na capa. A julgar pelas obras e pela lombada dos
livros, a propaganda é de 1945. Esse folheto é uma “prova em estéreo” de propaganda
que deveria ser veiculada na mídia impressa.
Essa destinação ao mesmo tempo ideal e específica da Biblioteca e de cada
uma das séries indica o início da desarticulação dos títulos, e não implicam na falta de
vendas e/ou de sucesso dos títulos.
Na verdade, a impressão que se tem é que a falta de um editor especificamente
responsável realmente influencia na escolha e na articulação dos títulos, escolhidos
segundo a oferta e as possibilidades oferecidas pelas casas editoras internacionais e
agentes literários mas não uma correspondência que indique busca específica por
títulos e autores diferentes dos publicados. Exceção feita aos romances que virariam
filme.
Tabela 25 – Biblioteca do Espírito Moderno
Títulos novos – Literatura – 2º. período
Vol. Título Autor
Ano
(1a. Ed.)
Tiragem
inicial
18
Urupês, outros
contos e coisas
Monteiro Lobato 1944 5.105
19
Bandeirantes do
Norte
Kenneth Roberts 1945 4973
20
Bem
Aventurados os
Humildes
Zofia Kossak 1945 5002
21
A Ponte de São
Luiz Rei
Thornton Wilder 1946 4006
22
Tambores da
Alvorada
Philip van Doren
Stern
1946 5005
23
O Motim
Herman Wouk
1953
4000
De um total de 6 títulos, dois foram remanejados de outras coleções. Urupês
um dos primeiros títulos publicados pela Companhia Editora Nacional e de autoria de
Monteiro Lobato e A Ponte de São Luiz Rei, anteriormente publicado pela coleção
Paratodos.
Bandeirantes do Norte foi publicado após outro título do autor Cara ou Coroa.
Ambos foram negociados de forma conjunta e, o fraco desempenho do título anterior
não impediu a coleção de incluir também esse novo tulo com grande propaganda,
inclusive nos mesmos folhetos de Hemingway.
207
Aliás, Hemingway é, sem dúvida, um dos grandes chamarizes para os demais
títulos da coleção. Além de Tambores da Alvorada, também Bandeirantes do Norte foi
apresentado em uma mesma propaganda que Hemingway.
Com o título 3 obras primas, um novo folheto apresenta Por quem os sinos
dobram?, Adeus às Armas e Bandeirantes do Norte. Um desenho do busto de ambos os
autores aparece nas laterais do folheto que, foi também impresso nas quartas capas de
outros títulos da série.
O autor é o maior romancista norte-americano atual, do gênero
histórico. Seus livros primam pela distinção literária, precisão histórica e
“humour”. Bandeirantes do Norte revive os agitados dias de lutas ferozes
entre franceses e índios, entre corsários americanos e a armada inglesa, e gira
em torno de uma gigantesca e quase lendária figura colonial americana o
fantástico Major Rogers, o mais temido inimigo dos índios.
Romances históricos são, também, os livros de Hemingway, no entender da
coleção:
Por quem os sinos dobram
Ernest Hemingway
Um livro que jamais será esquecido. Uma das histórias mais belas,
tocantes e reais da literatura contemporânea. Um livro absorvente, uma
história de guerra de imensa significação, um amor ternamente arrebatador
quando exaltado. A ação transcorre na Espanha. Mas o sentido
profundamente humano do livro é grande demais para ficar preso entre
estreitos limites. Transborda das trincheiras republicanas, atravessa os
campos de Madrid, invade o mundo, pois, na verdade, “os sinos dobram pela
humanidade inteira.”
Volume em brochura.... Cr$ 25,00.
Um romance que transborda da Guerra Civil Espanhola e invade o mundo,
seguido de:
Adeus às armas
Ernest Hemingway
Adeus às Armas é considerado “o mais perfeito romance de guerra
norte-americano” e obteve recentemente o segundo lugar num concurso
realizado pela Saturday Review of Literature sobre o melhor romance escrito
nos vinte anos do período “entre-guerras”. O livro tem como cenário o front
italiano da guerra de 14. Hemingway lutou então como soldado do exército
italiano, tendo recebido várias condecorações de valor militar.
Volume em brochura..... Cr$ 12,00.
208
“O mais perfeito romance de guerra norte-americano, a guerra de 1914 como
cenário. São, portanto, três títulos cujo cenário é uma guerra. Nesses títulos, ainda
heroísmo e dilemas morais. Ingredientes para uma boa vendagem.
Outro título publicado no período Bem-Aventurados os Humildes de Zofia
Kossak traz a vida de São Francisco de Assis em forma de romance.
Após a apresentação do enredo que envolve a vida de São Francisco mas
também a Cruzada das Crianças, a apresentação do título na orelha do livro é
esclarecedora:
Embora ‘BEM-AVENTURADOS OS HUMILDES” seja uma
novela sobre a vida de São Francisco, ela é quase toda, um emocionante
romance histórico. São Francisco é apresentado não como uma figura
abstraída do espaço e do tempo, mas como um ser profundamente humano,
vivendo e lutando naquela época de grande agitação.
Outros romances de época seguem-se ao lançamento de Bem-aventurados os
humildes. São A Ponte de São Luiz Rei de Thornton Wilder, Tambores da Alvorada de
Philip Van Doren Stern e O Motim de Herman Wouk.
TAMBORES DA ALVORADA é um marco na re-descoberta
literária da América; um romance dominado pelo mais alto sentimento da
liberdade americana, abrindo diante do leitor o panorama multicolor de sua
vida nacional nos dias tumultuosos do movimento anti-escravagista. Como
fundo desta história dramática, acompanha-se a vida solidificada em várias
caracterizações, embora não chegue o autor de modo algum ao
sensacionalismo barato. TAMBORES DA ALVORADA combina, graças à
energia creativa do autor e à veracidade de historiador, uma ação rápida com
o intenso romance que se estabelece entre Jonas Bradford e Lucia, sua
namorada de infância; vemos também as peripécias por que passou, quando
excitado por uma bela mulher do sul, que o deixa completamente alucinado,
e por quem ele se bate em duelo. Ainda não acabam suas complicações
amorosas. Apaixona-se depois por Felicidade, que inescrupulosamente o
seduz.
Mas a ficção é mais fina do que a de um livro romântico. Os
personagens se destacam firmes, maduros, definidos, iluminando o conteúdo
todo da historia. A sucessão dos acontecimentos que têm por fim a libertação
dos escravos, prende o leitor no tumulto da luta contra o escravo fugitivo
Antonio Burns, contra cuja volta à escravidão toda Boston se levanta para
protestar; na grandeza trágica dos planos de João Brown para o ataque a
Herper´s Ferry; na agonia dos longos meses de bombardeio de Charleston;
no sofrimento épico dos soldados da União na prisão de Andersonville, onde
209
a loucura, a tortura e o terror pairavam no ar: no movimento subterrâneo,
prendendo-nos por suas emoções constantes; no trabalho da corajosa minoria
de americanos que arriscou sua vida para libertar companheiros e homens de
cor.
Tratando com material inédito e sensacional, solidamente
documentado por anos e anos de pesquiza, TAMBORES DA ALVORADA
tem seu tema central na tremenda fase da batalha infindável entre as forças
reacionárias e as do progresso, que, de um modo ou de outro, não se acabou
nos dias de hoje. Tendo como cenário da novela uma Nação abalada pelas
discussões internas, a história dos amores, das esperanças e das ambições de
uma figura corajosa dessa época, é eterna em suas repercussões. Tudo é tão
atual como se se desenrolasse em nossos dias. É romance histórico dos de
mais alto escopo, porque os tambores que soaram para comemorar o fim da
escravidão numa clara manhã em 1865 estão soando novamente para avisar
outra batalha contra a escravidão do homem pelo homem.
Texto do flyer
Um romance dominado pelo mais alto sentimento de liberdade,
abrindo diante do leitor o panorama multicor da vida americana nos dias
tumultuosos do movimento anti-escravagista. Tendo como cenário uma
Nação abalada pelas discussões internas, a história dos amores, das
esperanças e das ambições de uma figura corajosa da época, é eterna em suas
repercussões. Tudo é tão atual como em nossos dias. Um romance histórico
dos de mais alto escopo porque os tambores que soaram para comemorar o
fim da escravidão na clara manhã de 1865 soam novamente anunciando
outra batalha contra a escravidão do homem pelo homem.
Seleção de maio da Sociedade “Livro do Mês” Ltda.
Volume em brochura Cr$ 40,00.
210
Figura 37 - Flyer de Tambores da Alvorada com a indicação de livro do mês.
211
Observando-se a tabela de reedições da série de Literatura, é possível perceber
o quanto as obras de sucesso na história da série são pouco editadas. Com exceção de
três títulos Momento em Pequim, Por quem os sinos dobram? e Uma folha na
tempestade que tiveram cada um duas reedições no período, o quadro das demais obras
é relativamente pequeno. Em especial, se compararmos o número de obras impressas no
período e na história do título na coleção.
Tabela 26 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições – Literatura – 2º. período
Vol.
Título
Autor
Total
1944
1945
1946
1947
1949
1
O livro da jângal
Rudyard Kipling
26306
5020
2
Rebecca
Daphne du Maurier
78041
5020
3
Noções de História da
literatura
Manuel Bandeira
23363
5000
4
Meu filho, meu filho!
Howard Spring
28994
3960
5
História da Literatura
Mundial
John Macy
13363
4100
6
Filho Nativo
Richard Wright
12000
3000
9
Momento em Pequim
Lin Yutang
37348
5000
4050
10
Por quem os sinos
dobram?
Ernest Hemingway
121718
12966
13
Uma folha na
tempestade
Lin Yutang
43619
5040
3035
16
Noites sem lua
John Steinbeck
10067
5045
18
Urupês, outros contos
e coisas
Monteiro Lobato
9216
4111
Há, para o final do período, um movimento de mudança que se instala a
partir de dois eventos: a chegada de Enio Silveira para a chefia do departamento
editorial e a mudança das capas. Ambos os acontecimentos acontecem praticamente ao
mesmo tempo.
212
As capas da década de 1950
Para a mudança de capas, foi escolhido como artista principal: Walter Lévy.
Suas capas imprimem nova identidade a coleção que perde a homogeneidade mas ganha
em apelo. Quanto às lombadas, preservam o tulo da coleção, a rie, o número do
volume na série e o logotipo “BEM”. Mais coloridas e explícitas quanto ao conteúdo do
livro apresentado, as capas são, praticamente todas, compostas por algum elemento
figurativo associado a cores mais fortes.
Sobre as capas e sobrecapas, TSICHOLD (2007:197-201), escrevendo em
1946, analisa sua associação à propaganda e à proteção do livro em si que merece a
maior deferência. Em sua análise, o autor tipifica a sobrecapa
163
Para a sobrecapa,
como algo que não faz
parte do livro e que não merece atenção do bibliófilo. Mesmo assim, o famoso editor
não se furtou a tipificar a sobrecapa e a capa.
Além do nome do autor e do título, a frente da sobrecapa quase
sempre contém o nome da editora e algum texto publicitário. Com
freqüência encontramos esses componentes literários embutidos num
desenho ou pintura nauseante, que às vezes se derrama pela lombada e chega
ao verso da sobrecapa. Presumivelmente o artista atua sob a impressão de
que o livreiro apresenta o volume aberto e virado de costas na vitrine; mas
poucos livreiros tiram proveito dessa oportunidade.
As orelhas da sobrecapa devem ser tão largas quanto possível. Em
geral a primeira orelha contém um texto que descreve sucintamente o
conteúdo do livro, ou então o editor faz uso dela e também da segunda
orelha para anunciar outros livros. [...] que o comprador aprecia as
informações sobre outros livros do mesmo editor, não é necessário ter
escrúpulos de cobrir as orelhas, o verso e possivelmente toda a parte interna
da sobrecapa, quase sempre deixada em branco, com anúncios de livros e
notícias do editor. Outra questão é saber se a tiragem garante a despesa.
Freqüentemente é mais razoável imprimir em papel fino uma lista completa
de títulos disponíveis e enfiá-la entre as páginas do livro. (TSICHOLD,
2007:199)
As observações do famoso editor parecem ilustrar exemplarmente a trajetória
dos livros da BEM. Inicialmente, as sobrecapas ocupam um papel extremamente
relevante para a identidade da coleção. Repetindo a capa em brochura (e, com isso,
diminuindo o investimento na sua impressão) e protegendo a capa dura. A lógica da
163
O termo sobrecapa utilizado por TSICHOLD (2007) é bastante comum embora encontra-se também o
temro jaqueta.
213
organização dos textos é a mesma: primeira orelha com apresentação da obra e/ou do
autor, segunda orelha com apresentação de outra obra da coleção e interior da sobrecapa
com a listagem dos títulos publicados na Biblioteca do Espírito Moderno. Quanto á
quarta capa, um anúncio de alguns dos maiores investimentos da coleção e/ou
apresentação da própria coleção. Esse modelo com sobrecapa filigranada
correspondente a capa em brochura desaparece juntamente com a mudança das capas. O
maior investimento nas cores e desenho de capas, incluindo-se aí o desaparecimento das
capas duras e a consolidação das orelhas nas capas, agora em brochura, fortalecem a
importância do capista. O design gráfico que Monteiro Lobato tanto propagandeara nas
suas primeiras obras e das quais a Companhia Editora Nacional se orgulhara no início
de sua história, cedera, na época do lançamento da coleção ao chamado “modelo
francês” para, nesse período abrir espaço para as capas de Walter Lévy.
Observe-se a capa de Filosofia de Vida de autoria de Walter Lévy. O colorido
estilizado e a assinatura característica do autor, esses elementos trouxeram uma nova
identidade à coleção.
214
Figura 38 - Capa de Walter Lévy para Filosofia da Vida, com destaque para o nome do
tradutor
215
Figura 39 - Capa de Walter Lévy para A Ciência da Natureza Humana, sem o
nome do tradutor.
A volta de Anísio Teixeira para a editora e uma nova decisão editorial de
ampliar os títulos da coleção são alguns dos indicadores de que novo período se
aproxima.
Em 1954, novo anúncio indica a nova fase da coleção:
216
Figura 40 Anúncio da Biblioteca do Espírito Moderno com “Novos Títulos” e
Nova Apresentação.
217
Figura 41 - Versão em preto e branco do mesmo anúncio.
Todas as capas dos títulos da propaganda são de autoria de Walter Levy. O texto
“Novos títulos! Nova apresentação” vem acompanhado de uma explicação que, de certa
forma, repõe a proposta inicial da coleção:
“O mais rico documentário com que se poderá acompanhar o longo esforço do
pensamento humano para poder compreender e dirigir a vida”.
Repare-se a figura do leitor lendo um título em capa dura, ainda com
encadernação monocromática e textos em dourado. Quanto aos títulos anunciados,
como era de se esperar, nenhum da 1ª. série (que ficou sem lançamentos no período),
dois da série de Literatura, um de cada uma das séries restantes (ciências e
História/biografia).
É interessante notar que a ênfase na evolução humana” e no compreender o
mundo permanece. Um dos motes centrais da coleção ao longo de toda a sua existência.
Compare-se os leitores da Espírito Moderno com o leitor do anúncio da GE publicado
em O Cruzeiro na mesma época.
218
Figura 42 - Propaganda da GE
Paletó e gravata, sorriso no rosto e ausência de sofá ou poltrona. Observe-se em
menor escala a senhora, provavelmente mãe, em uma poltrona semelhante à do anúncio
da Biblioteca do Espírito Moderno mas, desta vez, com uma criança em seu colo e
ambas lêem um livro. O papel da luz elétrica como fator de conforto e estímulo à leitura
de lazer e entretenimento. O leitor e seu jornal ou a leitora e seu livro são uma realidade
dos lares que possuem luz elétrica e, portanto, podem adquirir o hábito de ler à noite.
164
164 Apenas para ressaltar a importância da leitura e sua naturalização nos lares, é interessante ressaltar
que o texto do anúncio indica a necessidade de “BOA LUZ” mas nem se preocupa em mencionar a leitura
posto que três dos quatro membros da família estão envolvidos em uma atividade de leitura. O texto é o
seguinte:
Encante seu lar com eletricidade
Seus olhos necessitam de Boa Luz
A sua vida é o seu tesouro mais preciso. Não se descuide. Proteja-a usando luz abundante e apropriada a
todas as suas ocupações.
Há anos que a General Eletric vem dedicando seus recursos científicos e técnicos pata criar novos tipos de
lâmpadas que proporcionam luz adequada em quantidade suficiente às diferentes necessidades visuais.
Instale as lâmpadas fluorescentes G.E. em seu lar e desfrute mais luz suave e abundante, relativamente
fria – e que mais se aproxima do tipo de luz artificial mais apropriado à vista.
Visite a General Eletric ou qualquer de seus revendedores e peça informações sobre o tipo de lâmpada
fluorescente mais indicado a seu caso.
219
A volta de Anísio Teixeira traz consigo uma retomada do projeto editorial,
ausente nos anúncios do 2º. Período, apoiado nesse novo fôlego do aumento do público
leitor.
220
Capítulo 4
O 3º. Período (1954 a 1973): Os novos lançamentos e o início do desmonte
da coleção
Em termos históricos, esse é um período muito diversificado e de grandes
modificações. No nível internacional, guerra fria e corrida armamentista, homem na lua,
descolonização da África e da Ásia, guerra do Vietnã, revolução cubana, movimentos
sociais variadíssimos são apenas alguns aspectos de um período que assistiu o que a
Revista VEJA em 1973 considerou “A Década que modificou o mundo”
165
Sobre o momento brasileiro, a continuação da política monetária do período
anterior já comentada foi interrompida pela crise decorrente da renúncia de Jânio
Quadros e todo o movimento que culminou no golpe de 1964.
.
Qualquer que seja o enfoque observado, seja para qualquer uma das quatro
séries da Biblioteca do Espírito Moderno, seja para a própria história da Companhia
Editora Nacional, a riqueza e complexidade do período se mantém.
165
Título de um livro em capa dura publicado pela revista cujo tema era a Década de 1960 como um
momento emblemático que consolidou tendências em todos os níveis (econômicos, sociais, políticos, etc.)
221
Figura 43 - Propaganda anunciando a orientação de Anísio Teixeira para a Biblioteca
do Espírito Moderno
Para a Biblioteca do Espírito Moderno, a volta de Anísio Teixeira é
auspiciosa. Em 1954, aparece a primeira propaganda com o seu nome na organização da
coleção. Quanto aos títulos estampados no cartaz, apresentam-se: O Motim (Herman
Wouk), O Livro da ngal (Kipling), História da França (Maurois), História da
América (Vicente Tapajós), História dos Estados Unidos (André Maurois), História da
Igreja Católica (Philip Hughes), Noções de História da Literatura (em 2 volumes), Nos
domínios da Ciência (Waldemar Kaempffert), Mágica em Garrafas (Milton Silverman),
A Sabedoria do Corpo (Walter Cannon), A Ciência Avança (Rogers Rusk), A
222
Maturidade Mental (H.A. Overstreet), Vida de Santo Agostinho (Giovanni Papini),
Beaumarchais (Paul Frischauer), O apóstolo (Sholem Asch) e Moisés (Sholem Asch).
Os termos do anúncio valorizam a relação custo-benefício da Biblioteca do
Espírito Moderno e o texto que anuncia a coleção é bem explícito:
“Enriqueça a sua Biblioteca! Valorize o seu dinheiro adquirindo esta
coleção de obras de caráter permanente.”
Repare-se no termo “caráter permanente”. A idéia que começava a ser gestada
para a BEM era de transformar-se em obras essenciais que todos os leitores deveriam ler
e possuir. Mais tarde. Em 1966, Anísio denominaria esse projeto de “Os 100 Grandes
Livros do Século”
166
A seguir, o título Biblioteca do Espírito Moderno escrito em verde encima
uma pequena apresentação:
.
“Ciência e ficção, história, filosofia e biografias eis o que esta esplendida
série lhes apresenta em 16 obras definitivas, elegantemente encadernadas em superior
percalina.
17 volumes fartamente ilustrados, formato 14,5 x 21 cm. 7.586 páginas.”
Esse anúncio traz em si uma série de indícios que ajudam a compreender as
mudanças ocorridas na coleção. A apresentação de apenas 16 obras (em 17 volumes)
das várias séries indica um abandono do conceito de Biblioteca anterior.
Se nos períodos anteriores encontra-se a preocupação com a numeração e série
na lombada e capas uniformes, articulada a uma estratégia de catálogos completos com
pequenos resumos dos textos das orelhas, este anúncio aponta para uma nova estratégia:
o abandono dos catálogos completos em favor da promoção de alguns títulos em folders
ou propagandas de gina inteira. A Biblioteca continua como referência de um
determinado padrão de leitura, mas a coleção completa não é mais fundamental.
Essa tendência é reforçada pelas novas capas, variadas e coloridas, em sua
maioria de autoria do artista plástico Walter Levy.
166
Neste pequeno parágrafo de uma longa carta, Octalles Marcondes Ferreira comenta uma sugestão de
Anísio para a transformação da biblioteca: “Biblioteca do Espírito Moderno
“Os Cem Grandes Livros
do Século”: também idéia ótima e podemos partir para a realização.” (AT t 1966.05.19 doc I-17)
223
Outro aspecto anteriormente pouco explorado é a ênfase na “farta ilustração”
que não era destacada nos catálogos. Muito embora, a quantidade de ilustrações para os
volumes não se tenha alterado.
Juntamente com as ilustrações, encontram-se informações relativas ao formato,
material de capa e número de páginas total. É, portanto, uma diferença bem grande na
forma como a coleção é apresentada para o público. Mantém, entretanto, o pequeno
texto de apresentação do título, em alguns casos, exatamente o mesmo dos catálogos
anteriores.
Finalmente, embaixo, à direita, em letras bem maiores que todo o resto do
anúncio, a informação “Organizada pelo grande educador Anísio Teixeira”.
E esse é o grande diferencial do período. A volta de um organizador, mais
credenciado do que antes em função de ter ocupado um posto na UNESCO.
O outro anúncio da Biblioteca do Espírito Moderno do mesmo ano de 1954
apresenta apenas 4 títulos: O mar que nos cerca, A civilização posta à prova, 1984 e O
Motim
167
. Todos os títulos têm suas capas (de Walter Lévy) estampadas e a
apresentação:
“Os grandes livros da literatura mundial em cuidadosas traduções.”
“O mais rico documentário com que se poderá acompanhar o longo
esforço do pensamento humano para poder compreender e dirigir a vida.”
Os termos retomam as questões fundamentais do primeiro período: o cuidado
com as traduções, a importância de compreender o “longo esforço humano”.
Finalmente, o anúncio informa a mudança na Biblioteca do Espírito Moderno:
“Novos títulos!
Nova Apresentação!”
Em todas as livrarias
Em outras palavras: a coleção mudou, mas o objetivo é o mesmo desde o
início. A figura do leitor sorrindo e segurando um livro é interessante porque o livro que
ele segura tem uma capa do período anterior.
167
Publicado em 1951, o livro de Wouk (The Caine Mutiny, ganhou um prêmio Pulitzer e ocupou o
segundo lugar na lista de Best Sellers do ano de 1952 da Publisher’s weekly. Posteriormente adaptado
para o teatro e em 1954, mesmo ano da edição brasileira, o livro foi adaptado para o cinema com
Humphrey Bogart no papel principal.
224
uma característica marcante neste momento que é a perda gradativa da
identidade da coleção, apesar dos esforços e dos inúmeros lançamentos. Acompanhar
esse período da história da Biblioteca do Espírito Moderno é acompanhar uma
tentativa de revivê-la e, depois, a tentativa de aproveitar os melhores títulos da coleção
em outras coleções e/ou com outras estratégias de venda.
O terceiro período, como o anúncio não deixa dúvidas, foi marcado pela
presença de Anísio Teixeira que retornou à organização da coleção. Esse retorno é
apresentado com grande destaque, ainda maior do que no momento de lançamento da
coleção. È uma estrela apoiando a coleção, o que significa investimento econômico.
Essa nova fase se faz acompanhar de um novo fôlego da coleção porque ganha vários
títulos novos em todas as séries. Dessa maneira, novos títulos e novo organizador, é
visível a tentativa de fortalecer uma das coleções mais prestigiadas da casa.
Anísio não assina nenhum dos documentos internos da editora, mas mantém
ativa correspondência com a mesma até o final trágico de sua vida em 1971. Essa
correspondência com a Editora Nacional e, também com seus editores e responsáveis,
tanto com Thomaz Aquino de Queiroz quanto com Octalles Marcondes Ferreira, está
disponibilizada pelo Centro de documentação da Fundação Getúlio Vargas no Rio de
Janeiro.
A segunda figura importante do período é, sem dúvida, Ênio Silveira á época
ele desempenhava, ao mesmo tempo, a função de editor chefe da Editora Civilização
Brasileira e, da Companhia Editora Nacional. Se o educador Anísio Teixeira é a figura
de destaque nas propagandas, o dia a dia das edições e negociações de títulos foi levada
a cabo por Ênio Silveira até sua saída definitiva da Companhia Editora Nacional em
1967.
Ênio Silveira era genro de Octalles e além de suas funções na CEN e na
Civilização, foi figura importantíssima na organização e consolidação do SNEL
(Sindicato Nacional dos Editores de Livros). De fato, enquanto era presidente lutou
uma séries de batalhas que consolidaram o mercado livreiro. Dentre elas, a luta por uma
legislação menos burocrática e a desoneração das tarifas postais para livros e catálogos.
É de sua autoria, ainda, uma série de artigos sobre o relacionamento
ligeiramente conflituoso entre editores e donos de livrarias e, também, a luta contra os
livros impressos em português nos Estados Unidos.
225
Percebe-se pelos problemas por ele atacados que sua preocupação como
profissional do livro não era pequena e é de se esperar que suas práticas comerciais
efetivamente transpareçam na negociação de livros.
De fato, a correspondência de Ênio com as editoras e agências literárias
internacionais foi pautada pela luta constante com relação aos direitos de tradução dos
títulos para o Português. Para ele, o fundamental seria consolidar a presença da CEN
nos outros mercados de língua portuguesa, notadamente Portugal e colônias. Dessa
forma, a prática estratégica de Ênio Silveira deu continuidade a um plano ainda tímido
surgido no período do pós-guerra de venda e distribuição dos títulos em Portugal.
Fruto dessa política, os livros da Biblioteca do Espírito Moderno e de outras
coleções da CEN, notadamente a Brasiliana, podem ser encontrados em bibliotecas
portuguesas com uma relativa facilidade.
Mas, a mudança nas capas são apenas os sinais aparentes das mudanças que
incluem: novo cenário técnico, editorial e mercadológico; mudanças políticas
dramáticas e pessoais na vida do editor (viuvez e perseguição política), que motivaram a
saída de Ênio Silveira.
Sua presença na editoria da coleção caracterizou-se por constantes consultas à
publicação Publisher’s Weekly fato que aparece na correspondência do editor com as
casas editoriais dos Estados Unidos, sua atuação marcante no Sindicato Nacional dos
Editores de Livros e, também, pela editoria conjunta das duas casas: Companhia Editora
Nacional e Civilização Brasileira.
168
A questão das capas é, em parte, resposta a um problema real. O formato da
coleção desenhado por Otto Bendix ainda na década de 1930 estava obsoleto
169
A Livraria José Olympio e a Civilização Brasileira, bem como a Globo, que
publicavam suas coleções com capas no mesmo estilo da Espírito Moderno (letras
douradas e alguma filigrana sobre capa dura colorida) já haviam passado a utilizar capas
que mais do que garantirem a identidade da editora e da coleção, pudessem atrair um
, as
coleções concorrentes de qualquer uma das séries investiram em capas coloridas,
ilustradas e “modernas” (para usar a expressão de Ênio Silveira).
168
Há uma carta de Anísio Teixeira agradecendo Ênio Silveira pela revista Publisher’s Weekly recebida
juntamente com a publicação 70 years of Best Sellers, edição comemorativa dos 70 anos de publicação da
lista de mais vendidos nos Estados Unidos. (cf. BURT, 2004)
169
Não é demais lembrar que, mesmo para o período em que apareceu a coleção (final da década de
1930), as capas já apresentavam um desenho conservador que, em termos de design, poderiam ser
considerados um “retrocesso” mas que, dada a representação do público consumidor desse tipo de coleção
se justificava.
226
público leitor mais variado. A presença de ilustradores consagrados na concorrência
precisava ser compensada. Foi, então que o artista plástico Walter Lévy, à época muito
jovem, começou seu trabalho como capista na CEN e, em especial, na BEM. Esse fato
garantiu certa identidade à coleção, embora ele não tenha sido o único capista, deu o
tom da coleção e todas as capas importantes são dele. o que permite afirmar que seu
desenho se constituiu em uma marca distintiva da coleção.
Características Gerais do Terceiro período
O próprio crescimento e, também, a idade da coleção começam a oferecer
alternativas de lucro e parcerias. Contrariamente ao que decidira nos anos 1940,
Octalles Marcondes Ferreira, finalmente organiza uma empresa em separado para a
venda de coleções a prestação.
170
Essa empresa, denominada CODIL, foi anunciada no
Boletim Bibliográfico Brasileiro da seguinte forma:
Já está em pleno funcionamento a “Codil” – Companhia Distribuidora
de Livros à Rua da Consolação, 77 – 1º. Andar, em São Paulo. A empresa
fundada por Octalles Marcondes Ferreira, Nelson Palma Travassos, Caio
Marcondes Ferreira e Edgard Cavalheiro, com o capital de Cr$ 4.000.000,00,
tem por escopo a distribuição de livros e, também, a edição de obras de larga
projeção, para serem vendidas em blocos, em prestações. Além de Monteiro
Lobato – vida e Obra, História de Crimes e Criminosos (antologia de contos)
e de 4 livros inéditos de Machado de Assis, que editou, há em preparo:
Panorama da Poesia Brasileira, Panorama da Poesia Universal e Dicionário
de Literatura Brasileira.
BBB – no. 2 - vol. IV março/abril 1956.
Seção Livros & Livreiros.
A empresa formada deveria aproveitar-se das obras já contratadas e publicadas
pela Editora Nacional. Quanto ao objetivo de tal empresa: vender livros em coleções e a
crédito, aparecia quase como uma questão de sobrevivência e, no mesmo período, foi a
estratégia adotada por várias outras editoras, notadamente a José Olympio com as obras
completas de Dostoyevski. Essas co-edições são marcadas pelo ‘desmembramento’ de
alguns títulos que, pertencentes a Biblioteca do Espírito Moderno foram reimpressos em
outra situação. É nesse período também que aparecem algumas cessões de direitos para
o Círculo do Livro.
170
Segundo HALLEWELL, este teria sido um dos fatores que animou a saída de Arthur Neves e
Monteiro Lobato da CEN ainda nos anos 1940.
227
Sobre o Clube do Livro no Brasil, é interessante notar as palavras de Enio
Silveira sobre o tema:
Em se tratando do processo de fabricação do livro, é uma loucura o
que acontece, em termos estruturais, no Círculo do Livro, é uma fábrica de
fazer livro. Geralmente, o Círculo do Livro pega livros que já foram editados,
testados antes pelas outras editoras, dá uma nova apresentação gráfica e vende
para o grande público. Tanto é que poderia ter sido, eu esperava que tivesse
sido, um grande sucesso o Círculo do Livro no Brasil. Não é tão grande assim.
Veja o seguinte, o Círculo do Livro é ligado ( o nosso aqui, brasileiro) a um
dos maiores clubes do livro, que é o alemão, o número um do mundo. Na
Alemanha ou nos EUA, se um editor, como eu, lança um livro (três livros, dez
livros) e o Círculo do Livro de lá – que tem de quinhentos e um milhão de
sócios – negocia com esse editor o book, esse editor tem a tiragem corrente de
cinco mil exemplares e há mais um milhão de exemplares para o Círculo do
Livro. Aqui no Brasil, o editor lança cinco mil e o Clube do Livro lança cinco
mil, então não adiantou nada, é a mesma coisa, não funcionou. A meu ver, em
termos multiplicadores não funcionou. (FERREIRA:2003, 144)
Ou seja, na opinião do editor Ênio Silveira, os ganhos com esse tipo de co-
edição são pouco significativos. Entretanto, vale notar que, para os títulos da Biblioteca
do Espírito Moderno, essa estratégia de co-edição garantiu a sobrevida de alguns títulos
e, também, a viabilidade de alguns outros.
H.G.Wells, por exemplo, ganha uma coleção de “obras completas” editada pela
CODIL, aproveitando muitos dos títulos da BEM mas, também, conseguindo
autorização para publicar os títulos pertencentes e editados pela Editora Globo.
Figura 44 - Foto do Folder de lançamento da Obra de H.G.Wells pela CODIL.
228
Figura 45 - Detalhe da parte interna do folder das obras de Wells. Repare-se os volumes
encadernados e um exemplo do tipo de ilustração utilizada.
229
Figura 46 - Continuação da parte interna do folder com breve resumo das três obras
principais e foto do autor. Embaixo, no centro, o nome, endereço e símbolo da CODIL.
230
Figura 47 - Índice das obras de Wells lançadas pela CODIL, com detalhamento dos
capítulos de cada obra.
231
Figura 48 - Apresentação das três obras fundamentais de Wells na coleção Biblioteca do
Espírito Moderno.
No texto de apresentação, algumas idéias retomadas da Biblioteca do Espírito
Moderno:
... representam a grande contribuição com que o maravilhoso espírito de H.G.
Wells enriqueceu o pensamento moderno. [...]
O homem moderno era um herdeiro milionário, perdido e confuso no meio do
espantoso amontoado de sua herança. Wells pôs ordem e clareza nesse mundo de
riquezas tumultuárias e malbaratadas, facilitando o gôzo dessa imensa fortuna e a
utilização de suas possibilidades para novos empreendimentos e novas perspectivas. – A
Companhia Distribuidora de Livros, em edição especial da Companhia Editora
Nacional, apresenta agora ao público brasileiro, pela primeira vez, essa extraordinária
232
obra de Wells, reunida em coleção, ricamente encadernada em percalina especial, com
douração em ouro legítimo.
Esse é um movimento mais ou menos constante nas correspondências do
período. Pedidos de autorização para impressão e cessão de autorizações para outras
editoras.
Quanto à crise econômica iniciada no 2º. Período, esta se mantém até, pelo
menos, 1970. É, portanto, um cenário economicamente difícil. Porém, ao mesmo tempo
em que a crise é séria, a população letrada e as matrículas em todos os níveis de ensino
se ampliam e, com elas, as oportunidades de vender livros.
Segundo os anuários estatísticos do IBGE, as matrículas no ensino secundário,
em 1938, totalizavam 134.734; enquanto para o ensino superior, havia um total de
22.300 matriculados; para o ano de 1954, as matrículas haviam saltado para 459.489
no ensino secundário e 64.695 para o ensino superior. Não foi apenas o número de
matrículas que se ampliou, mas a porcentagem de matriculados neste grau de ensino em
relação à população.
Tabela 27
Expansão das matrículas nos ensinos secundário e superior
1938
1954
Diferença
absoluta
População
40.289.000
57.226.000
16.937.000
Matriculas no ensino
secundário
134.734 459.489 324.755
Matriculas no ensino
superior
22.300
64.645
42.345
% pop no ens sup e
sec.
0,389769
0,915902
Fonte: Anuários estatísticos do IBGE.
Esse público aumentou à razão de 22.943,75 matriculados ao ano. É um
público leitor crescente que pode, em certo sentido, diminuir os efeitos da crise
econômica no setor. Esses dados são amostras de um processo que se completa com o
aumento do número de alfabetizados em relação à população.
Para o argumento que atrela os dados da escolaridade ao do mercado do livro,
seria esperado que houvesse um aumento nas vendas de livros e, também, nas tiragens.
233
Para a Biblioteca do Espírito Moderno, este não é o caso. As tiragens se mantêm mais
ou menos na média dos 5.000 exemplares com algumas exceções na série de Literatura.
As séries da Biblioteca do Espírito Moderno no período
Para essa análise das séries, inclui os pouquíssimos lançamentos ocorridos após
1966.
A 1ª. série: Filosofia
Para a série de Filosofia, o período é especialmente importante. A total
ausência de lançamentos do período anterior é compensada com o grande número de
títulos novos no período porque é nesse momento que as obras de Bertrand Russell são
publicadas na . Série da BEM, com exceção de uma A Filosofia de Leibniz, que foi
alocada na Biblioteca Universitária. Com tiragens relativamente pequenas, essas obras
contaram, com capas de Walter Levy e destaque tanto com propaganda nas quartas.
capas de outros títulos de outras séries quanto com press release. Todos os títulos de
Russell publicados contam com um catálogo das demais obras do autor na 4ª. capa e a
segunda orelha com uma foto
171
. Dos títulos de Russell, um deles, História da Filosofia
Ocidental, contém alterações no layout básico. Para esse título, a biografia do autor
aparece na quarta capa e as duas orelhas do volume são preenchidas por uma
apresentação da obra de autoria de Victor Knoll.
Tabela 28: Biblioteca do Espírito Moderno
Lançamentos – Filosofia – (1954-1974)
10
Ensaios impopulares
Bertrand Russell
1954
11
Delineamentos de filosofia
Bertrand Russell
1954
12
A ciência e a sociedade
Bertrand Russell
1955
13
Caminhos para a liberdade
Bertrand Russell
1955
14
A Maturidade mental
H.L. Overstreet
1955
15
O casamento e a moral
Bertrand Russell
1955
16
Ensaios céticos
Bertrand Russell
1955
17
A conquista da felicidade
Bertrand Russell
1955
18
A autoridade e o indivíduo
Bertrand Russell
1956
171
É a mesma dos títulos originais e que, até hoje, ilustra a página do autor no site da organização do
Prêmio Nobel.
234
19
A perspectiva científica
Bertrand Russell
1956
20
A sociedade humana na ética e na
política
Bertrand Russell
1956
21
O conhecimento humano - 2 vols.
Bertrand Russell
1959
22
Misticismo e lógica
Bertrand Russell
1957
23
História da Filosofia Ocidental - 3
vols
Bertrand Russell
1957
24
Análise do espírito
Bertrand Russell
1958
25
A era da inflação
Jacques Rueff
1966
26
Educação e ordem social
Bertrand Russell
1956
27
O poder, uma nova análise social
Bertrand Russell
1957
28
O elogio do lazer
Bertrand Russell
1957
29
Retratos de memória e outros
ensaios
Bertrand Russell
1958
30
Princípios da reconstrução social
Bertrand Russell
1958
31 Liberdade e organização Bertrand Russell 1959
32
Meu pensamento filosófico
Bertrand Russell
1960
33
Desenvolvimento e cultura - O
problema do estetismo no Brasil
Mario Vieira de Melo
1963
Observando-se a tabela, não é difícil compreender a importância da obra de
Russell. Apresentada com toda a publicidade que o autor, no entender da editora,
merecia. Sua importância é tão grande que, antes de comentar as negociações de seus
livros, analiso os únicos três livros que não são de sua autoria na coleção.
235
Figura 49 – Propaganda de historia da Filosofia Ocidental
O livro A Maturidade Mental, quando foi publicado já era sucesso nos Estados
Unidos, havia estado em oitavo lugar na lista de mais vendidos da Publisher´s Weekly
no ano de 1950. Harry Allen Overstreet é psicólogo e seu texto é assim apresentado na
1ª. edição:
Harry A. Overstreet que agora pela primeira vez, aparece em língua
portuguesa, tem a seu crédito um punhado de livros que lhe deram e com
justa razão renome mundial no terreno da moderna psicologia e de sua
aplicação imediata à vida hodierna.
É um psicólogo com renome mundial, com “um punhado de livros” e seu texto
traz os conhecimentos do especialista aplicado à vida hodierna (e não moderna). A
categorização do autor aparece ligada a sua importância no campo em que se encontra e
aos seus livros publicados. A importância desse título é, antes de tudo, por ser o
primeiro em língua portuguesa do autor. Continuando, a apresentação do texto reforça a
experiência de Overstreet e valoriza a importância do livro para aqueles que vivem no
mundo moderno.
236
Como psicólogo de larga experiência, Overstreet sabe que somos, uns
mais e outros um pouco menos, mas quase todos sem exceção e em escala
crescente, uns desajustados neste mundo moderno em que os acontecimentos se
precipitam como os ponteiros de um relógio louco. Por isso mesmo, nunca nos
fez tamanha falta uma nova e mais ampla visão das coisas – uma visão de
adultos, que se distingue essencialmente da visão infantil pela percepção da
pluralidade dos aspectos da vida e pela faculdade de abranger o conjunto dos
problemas, sua interdependência e de medir as conseqüências dos fatos. Em
outras palavras – recorrendo à terminologia de Overstreet – precisamos alcançar
a plena maturidade mental. “Os males da vida humana não nascem de causas
intrínsecas que estejam dentro do próprio indivíduo, mas da falta de
desenvolvimento psíquico para fazer frente às situações que a vida nos cria. É
nosso dever alcançarmos esse desenvolvimento e essa maturidade”...
Merece nota a percepção de “mundo de adultos” e a importância de
desenvolvimento psíquico para evitar os “males da vida humana” que não são
decorrentes de “causas intrínsecas”.
O próprio H. A. Overstreet esclarece que o objetivo do seu livro é a
criação e formação dessa nova visão mediante um conhecimento mais profundo
e proveniente principalmente da psicologia e da psiquiatria e dos centros de
maturidade mental, emocional e social do homem. Esse novo conhecimento, ao
penetrar em nossa consciência, permitir-nos-á compreender as causas
determinantes de nossos fracassos e as forças destruidoras que nos dominam,
enquanto nos dará, ao mesmo tempo, a chave para um possível avanço para fora
do caos, - e uma grande esperança.
Isto quer dizer que, embora baseado na crua realidade. Overstreet não é
um pessimista. Tampouco nos incita a um otimismo leviano. Mas no próprio
título deste belo livro – A Maturidade Mental – o leitor inteligente descobrirá de
imediato o apelo másculo de uma profunda e importante mensagem.
Já foi observado que o século passado teve grandes homens e pequenos
problemas, ao passo que a nossa época tem enormes problemas e pequenos
homens. Em outros termos, a nossa maturidade mental não está à altura das
tarefas, dia a dia mais exigentes que a História nos vem impondo. O remédio é,
pois, adquirirmos essa maturidade mental. E neste sentido, o presente livro de
H.A. Overstreet é um orientador de visão ampla e segura.
Finalmente, o “apelo másculo” que o leitor inteligente descobrirá na leitura do
“belo livro”. Sem nenhuma preocupação com a leitora que, provavelmente confortável
em sua poltrona, os títulos da série de Literatura. Para encerrar a apresentação com
uma frase lapidar sobre os homens pequenos e os problemas enormes que a História
nos vem impondo”.
O texto de Jacques Rueff ,sobre a era da inflação, é apresentado pelo
economista Eugenio Gudin, na orelha do livro, valorizado por seu caráter de defesa do
237
padrão-ouro. É uma tomada de posição sobre as questões da economia mundial e
condena o abandono do padrão como um dos fatores causadores de inflação e da Grande
Depressão de 1929-1933.
Quanto ao autor, é apresentado como:
Dentre os economistas de renome internacional que se têm dedicado ao
estudo dos fenômenos monetários, nenhum mais destacado do que Jacques
Rueff, não só pela substância de suas doutrinas como pelo brilho de sua
exposição. Além da bagagem teórica de que dispõe, Rueff teve uma larga
experiência monetária, através do exercício por muitos anos de suas importantes
funções no Banco de França.
Quanto às idéias ligadas ao autor, assim se expressa o autor da apresentação:
Força é dizer que as doutrina do Padrão-ouro de Rueff não tem
encontrado uma aceitação universal, sobretudo nos Estados Unidos e na
Inglaterra. Encontra-se hoje toda uma gama de tendências monetárias desde a do
Padrão-ouro de Rueff até, no outro extremo, o regime do “bancor”, nova moeda
internacional em boa parte fiduciária, proposta pelo economista belgo-americano
Robert Triffin, que se inspira no Plano Keynes de 1944. Uma série de objeções
das mais ponderáveis são levantadas contra a valorização do ouro e aumento de
seu preço. Há mesmo eminentes economistas americanos que mencionam a
hipótese de a economia americana, se a isso forçada fosse, entregar todo o seu
ouro aos credores europeus e continuar a viver (viveria muito bem, dizem eles)
com seus dólares fiduciários.
Já as razões para se ler o livro são apresentadas como:
Este livro é sedutor, tanto pelo interesse dos assuntos que ventila como
pela vivacidade do estilo e brilho da exposição. Os economistas o lerão com
especial interesse mas os leigos também encontrarão em suas páginas muita
doutrina acessível, exposta com grande clareza e indiscutível autoridade.
Percebe-se que os termos para apresentação do texto, do autor e do leitor
mudaram relativamente aos períodos anteriores. De um lado, é um livro que pode
interessar tanto ao público “médio” quanto ao especialista, posto que escrito por um
especialista.
Sua defesa do padrão-ouro ao texto um caráter relativamente conservador,
em especial quando parte dos estudos e prêmios de economia do período foram
concedidos a economistas que, de alguma forma, romperam com o padrão-ouro. Em
238
1960, por exemplo, a Ordem dos Economistas do Brasil, laureou Raul Prebisch por sua
teoria da dependência. Em 1961, o laureado foi Celso Furtado, cujo trabalho no CEPAL
(Comissão Econômica para América Latina e o Caribe) ao lado de Raul Prebisch
fortaleceu a teoria
Esse título foi negociado com bastante antecedência, aparece no índice da série
juntamente com os lançamentos do ano dos anos 1956 a 1958. Inicialmente, imaginei
um erro de digitação na ficha, dado o número do volume e a comparação com as datas
de publicação. Mas, encontrei as cartas da negociação que apontam para o ano de 1954.
O título original foi publicado em 1951 na França. Os motivos do atraso não encontrei,
nem o contrato de tradução que, via de regra, estipula um prazo máximo para a tradução
(geralmente 12 ou 18 meses).
E, apenas como contraponto, sabe-se que, em 1956, a Editora Civilização
Brasileira, sob o comando de Ênio Silveira, publicou Subdesenvolvimento e Estagnação
da América Latina do economista Celso Furtado na coleção Nossa América. Parece,
portanto, que a representação dos públicos de cada uma das coleções e editoras é bem
distinto. Para um, o premiado Celso Furtado e suas discussões sobre a estrutura do
subdesenvolvimento; para outro, a retomada do padrão-ouro.
O último livro da série é Desenvolvimento e Cultura – o problema do estetismo
no Brasil de Mario Vieira de Mello. Apresentado por Francisco Luiz de Almeida Salles
época diretor da Cinemateca Brasileira), o texto discute a importância da herança
cultural para a formação da cultura brasileira e, nos dizeres de Almeida Salles:
Não hesitaríamos em reconhecer neste livro, no plano de uma visão
do Brasil como complexo cultural, a mesma gravidade e profundidade de
análise de Os Sertões de Euclides da CUNHA como compreensão do nosso
complexo físico e sociológico.
E, mais adiante,
Não pensaríamos até hoje, após 3 séculos e meio de existência
colonial e de um século e meio de existência independente, um ‘mea culpa’
explicativo, em que o crescimento do corpo nacional fosse tão rigorosamente
descrito em função não apenas de sua fenomenologia interna mas de sua
comparação com o mundo e com os povos e as culturas que o determinaram e
influenciaram. É a primeira ampla visão do problema da cultura brasileira
relacionada com as idéias européias que exerceram influência na nossa
formação. Mas essas idéias são analisadas em profundidade no contexto da
cultura européia e postas em confronto com o conjunto da coleção do
pensamento ocidental.
239
E, para atrair o leitor da coleção, Almeida Salles sente que é necessário
explicar o título e o subtítulo:
O desenvolvimento do Brasil que o autor distingue da idéia de
desenvolvimento adotada no Brasil por um grupo de intelectuais, não poderá
ser feito independentemente das exigências da nossa cultura (o que explica o
título do livro) e esta não poderá se afirmar sem rever as suas próprias bases,
tomando consciência da cultura européia como um todo rico e complexa. A
chave de sua argumentação é o confronto entre o princípio ético e o princípio
estético e à luz desse poderoso instrumento de análise o sentido estetizante da
nossa cultura fica claramente evidenciado (o que esclarece o subtítulo da
obra).
A apresentação dos títulos nas orelhas e quarta capas são assinadas por figuras
importantes do cenário cultural e o apelo continua, em termos diferentes, aos livros que
ajudam a compreender os avanços da vida moderna, o mundo em que se vive e, com
leitura fácil.
240
Figura 50 - Capa de Frank Schaeffer para Desenvolvimento e Cultura
Em períodos anteriores encontramos alguns textos de apresentação assinados
mas, neste período essas assinaturas tem um caráter mais constante. No caso de Jacques
Rueff, o texto de Eugenio Gudin foi publicado na seção resenhas da revista da
Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Quanto aos
livros do primeiro período reimpressos/reeditados nesse momento, encontramos,
novamente a obra de Will Durant percorrendo toda a história da coleção, sem mudanças
no texto e sempre constante.
241
Em 19 de julho de 1966, Anísio Teixeira, organizador da coleção, recebe uma
carta de Octalles Marcondes Ferreira
172
solicitando uma seleção de títulos para reedição.
Os títulos são exclusivamente da Biblioteca do Espírito Moderno.
Junto uma lista completa dos livros que até agora publicamos na
Biblioteca do Espírito Moderno. Os que estão assinalados com uma cruz,
temos em estoque, o que é muito pouco – e os demais estão esgotados.
Gostaria de ouvir sua opinião a respeito desses livros esgotados, isto
é, quais são os que você recomendaria reeditar. Naturalmente que sem os
livros à mão será difícil sua opinião, a não ser que você os tenha em sua
biblioteca, mas caso seja preciso, poderei retirar aqui da biblioteca da Editora
um exemplar de cada, para seu exame e em seguida você no-los devolveria,
depois de dada sua opinião. (AT t1966.05.19 I-4)
Seguem-se quatro listas, uma para cada rie em que Anísio escreveu à mão
“reedições de +” e, ao lado de alguns títulos um sinal + ou dois (++).
Tabela – 29
Biblioteca do Espírito Moderno = série 1ª. = Filosofia
Marcas de Anísio Teixeira
X1 História da Filosofia Will Durant ++
X2 Filosofia da vida Will Durant ++
X3
Os grandes pensadores
Will Durant +
X4 A formação da mentalidade James Robinson ++
X5 Humanismo integral Jacques Maritain +
6 Educação e vida perfeita Bertrand Russell +
7
Sobre a liberdade
John Stuart Mill ++
8 A filosofia de William James William James ++
9 Espanha - Uma filosofia de sua história Fidelino de Figueiredo
10 Ensaios impopulares Bertrand Russell +
11
Delineamentos de filosofia
Bertrand Russell ++
12 A ciência e a sociedade Bertrand Russell +
13 Caminhos para a liberdade Bertrand Russell +
14 A Maturidade mental H.L. Overstreet
15
O casamento e a moral
Bertrand Russell +
16 ensaios céticos Bertrand Russell +
17 A conquista da felicidade Bertrand Russell +
18 A autoridade e o indivíduo Bertrand Russell +
19
A perspectiva científica
Bertrand Russell ++
20 a sociedade humana na ética e na política Bertrand Russell +
21 O conhecimento humano - 2 vols. Bertrand Russell ++
172
O fato de ser Octalles Marcondes Ferreira quem assina a carta é, em si , um sinal da importância da
Biblioteca do Espírito Moderno, mesmo passado tanto tempo de seu lançamento. BEDA informa que esta
era uma de suas coleções prediletas.
242
22
Misticismo e lógica
Bertrand Russell +
23 História da Filosofia Ocidental - 3 vols Bertrand Russell ++
24 Análise do espírito Bertrand Russell +
X25
A era da inflação
Jacques Rueff ++
26
Educação e ordem social
Bertrand Russell +
27 O poder, uma nova análise social Bertrand Russell +
28 O elogio do lazer Bertrand Russell +
X29 Retratos de memória e outros ensaios Bertrand Russell +
X30
Princípios da reconstrução social
Bertrand Russell +
31 Liberdade e organização Bertrand Russell +
32 Meu pensamento filosófico Bertrand Russell ++
33
Desenvolvimento e cultura - O problema do
estetismo no Brasil
Mario Vieira de Melo
No dia 18 de julho, nova carta de Octalles informando estar “no aguardo da
lista dos livros da “Biblioteca do Espírito Moderno” que Anísio aconselhasse editar. No
mesmo documento, escrito à mão no canto superior direito com a características letra de
Anísio Teixeira encontra-se:
Resp. 22/7/66
1 – lista s/ B.E.M.
2 Relações de livros reedições necessárias
e convenientes. (AT
t1966.05.19 I-5)
É, portanto, uma lista interessante para compreender os projetos que se
desenhavam para a coleção. Comparando-se a lista de obras a serem reeditadas
sugeridas por AT para a série de Filosofia e para as demais, não deixa dúvida da
importância por ele atribuída à série. Apenas três livros não mereceram sua sinalização.
O caráter de sustentação da coleção que os textos de Durant adquirem no 1º.
período e que se manteve no segundo, persiste no terceiro período
173
Outro aspecto que a lista identifica é a importância crucial que Anísio Teixeira
dedicava a Bertrand Russell. Todas as obras assinaladas, algumas com dois sinais.
Dentre os títulos reeditados no período, nem todos tiveram a sinalização de Anísio
Teixeira. A Maturidade Mental, por exemplo, é um título que foi reeditado por ser
sucesso de público, independente da opinião dos editores.
. Percebe-se que
todos os títulos de Durant na lista estão praticamente esgotados.
De todas as quatro listas, esta é aquela em que Anísio Teixeira mais assinalou
títulos, praticamente todos, demonstrando o significado da mesma para o educador.
173
Em 1972, a obra de Durant foi vendida para a Editora Record que continuou publicando-a.
243
Tabela 30 Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões/reedições – Filosofia – 3º. Período
Título
Autor
História da Filosofia
Will Durant
1956
1959
1962
1966
Filosofia da vida Will Durant
1955
1956
1959
1961
1965
1970
Os grandes pensadores Will Durant
1954
1959
1961
1965
1970
A formação da mentalidade
James
Robinson
1957
Humanismo integral
Jacques
Maritain
1966
Educação e vida perfeita Bertrand Russell
1969
1977
Ensaios impopulares
Bertrand Russell
1956
Delineamentos de filosofia Bertrand Russell
1956
A Maturidade mental H.L. Overstreet
1960
1967
1978
O casamento e a moral Bertrand Russell
1956
1966
1977
Ensaios céticos
Bertrand Russell
1957
A conquista da felicidade Bertrand Russell
1966
1977
A perspectiva científica Bertrand Russell
1962
1969
1977
História da Filosofia Ocidental - 3 vols Bertrand Russell
1968
1977
1982
a obra de Russell, foi negociada com a editora George Allen & Unwin título
a título, e lançada mais ou menos ao mesmo tempo. Aproveitando-se da preeminência
do autor no período, que fora agraciado com o prêmio Nobel de Literatura, em 1950.
Seu maior sucesso, na coleção, foi, sem dúvida, História Da Filosofia Ocidental,
publicado em 1957 e com quatro reedições. Na orelha da 1ª. edição, o título é
apresentado de forma a fortalecer a importância do autor, a linguagem simples.
HISTORIA DA FILOSOFIA OCIDENTAL
Bertrand Russell considerado um dos fundadores do
Positivismo Lógico, publicou em 1910, em associação com Whitehead, o
primeiro volume de Principia Mathematica, obra que firmou seu nome
no cenário do pensamento contemporâneo. Introduction to Mathematical
Philosophy e An Inquiry into Meaning and Truth foram também
contribuições decisivas de BERTRAND RUSSELL à teoria da
Matemática e à Lógica Simbólica; no setor dos trabalhos de caráter
histórico cumpre salientar a sua monografia sobre Leibniz.
Entretanto, a bibliografia de BERTRAND RUSSELL conta não
apenas com textos de interesse teórico permanente, mas também com
uma grande produção de livros sobre educação, sociologia e política.
Estas são obras nas quais BERTRAND RUSSELL questiona a vida
política e avalia as instituições e os costumes da sociedade ocidental.
BERTRAND RUSSELL procurou aliar, nesta área de preocupação, a sua
participação decisiva enquanto homem à análise clara e vazada em
linguagem simples enquanto autor. por ocasião da Primeira guerra
Mundial BERTRAND RUSSELL participou de um movimento pacifista,
atitude aliás constante em sua vida, que assume de maneira
244
desassombrada. Ainda hoje, com 95 anos de idade e detentor de
extraordinária lucidez, BERTRAND RUSSELL permanece ativo na
liderança de lutas de caráter social e político.
174
Em seguida, apresenta a leitura do texto como uma leitura feita “a partir do
presente”, e caracteriza o texto: “não é um estudo da sucessão ou do encadeamento dos
sistemas filosóficos, mas a análise interna de cada um deles. A exposição do itinerário
da Filosofia desde os pré-socráticos até os nossos dias apenas tem sentido quando feita
por um filósofo”, “vinculando cada filósofo ao seu meio e à sua época”.
Compare-se esse texto aos textos que apresentam os primeiros livros da
coleção. Encontram-se em ambos o esforço para “compreender” os avanços e
progressos do gênero humano, a valorização do estilo não ortodoxo, acadêmico e a
distância da mera apresentação, mas sua vinculação à realidade “moderna”; seja ela a
realidade de 1939 ou a de 1967 quando este texto foi escrito.
na segunda edição, o texto foi apresentado nas orelhas do livro por Victor
Knoll, professor da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo.
A História da Filosofia Ocidental publicada pela primeira vez
em 1946, é antes de tudo a visão peculiar de BERTRAND RUSSELL
não apenas da história da filosofia, seja como sucessão, seja como
encadeamento de sistemas, mas sobretudo da própria Filosofia. Trata-se
de uma história da filosofia de um filósofo e por isso comprometida com
as sua posições. Aliás, pode-se dizer que a história da filosofia não é o
estudo da sucessão ou do encadeamento dos sistemas filosóficos, mas a
análise interna de cada um deles. A exposição do itinerário da Filosofia
desde os pré-socráticos até os nossos dias apenas tem sentido quando
feita por um filósofo; então, a história da filosofia converte-se em
Filosofia.
A História da Filosofia Ocidental foi escrita do ponto de vista
do presente e para justificar a elaboração filosófica do próprio
BERTRAND RUSSELL. De fato, em sua obra encontramos as sendas e
as grandes vias que conduzem ao seu trabalho filosófico. Pode-se, assim,
tomar o pulso da trajetória percorrida por BERTRAND RUSSELL em
sua formação e o lastro histórico que apóia os seus textos.
A diretriz expositiva que BERTRAND RUSSELL imprimiu à
sua A História da Filosofia Ocidental foi a de procurar surpreender e
apresentar cada filósofo vinculado ao seu meio e à sua época pois os
filósofos e suas obras são produtos das circunstâncias sociais e políticas e
das instituições de uma época, e, ao mesmo tempo, são determinantes da
política e das instituições de épocas posteriores. Assim, BERTRAND
RUSSELL procurou conjugar à história da filosofia a história das
174
Encontrei o rascunho desse texto corrigido, comentado, com determinação de formatos e a indicação
do trecho que deveria servir como propaganda em outros meios.
245
sociedades. Esta orientação da à A História da Filosofia Ocidental
BERTRAND RUSSELL a expõe no prefácio, onde afirma: Desde os
tempos remotos, a filosofia não foi apenas tema das escolas ou uma
discussão entre as pessoas cultas; formou parte integrante da vida da
comunidade e assim procurei expô-la.
Victor Knoll
Texto encontrado nas duas orelhas do livro.
Na apresentação do título, Knoll ressalta a importância acadêmica de Russell,
reforçada na biografia do autor que aparece na quarta capa das edições
175
Quando chegamos à 3ª. edição, encontramos novo texto de valorização do
autor, citando a apresentação de Vitor Knoll para a edição anterior e reforçando a
admiração de Albert Einstein pela obra.
.
HISTORIA DA FILOSOFIA OCIDENTAL (A History of
Western Philosophy) é uma das grandes obras de Bertrand Russell.
Trata-se, no dizer de Victor Knoll, “de uma história da filosofia de um
filósofo e, por isso, comprometida com as suas posições (...) A exposição
do itinerário da Filosofia desde os pré-socráticos até os nossos dias
apenas tem sentido quando feita por um filósofo; então, a história da
filosofia converte-se em Filosofia.”
Segundo o Autor, a filosofia, desde tempos remotos, não tem
sido apenas um tema das escolas ou uma discussão entre um punhado de
homens cultos. Tem constituído uma parte integral da vida da
comunidade, e foi como tal que procurei encará-la.” (...) “Há muitas
histórias da filosofia, mas nenhuma delas, que eu saiba, tem a mesma
finalidade da minha. Os filósofos são, ao mesmo tempo, causa e efeito:
efeito de suas circunstâncias sociais e políticas e instituições de sua
época; causa (quando afortunados) de crenças que modelam a política e
as instituições de épocas posteriores.”
Este livro foi publicado pela primeira vez em 1946. Alcançou
êxito considerável. Isso foi logo depois da Segunda Grande Guerra, e é
interessante que se registre o que ocorreu antes da publicação: a
travessia do Atlântico no primeiro semestre de 1944 era um negócio
complicado. (...) Quanto a mim, fui despachado num gigantesco comboio
que avançava majestosamente à velocidade de uma bicicleta, escoltado
por corvetas e aviões. Levava comigo o manuscrito da HISTORIA DA
FILOSOFIA OCIDENTAL que os infelizes censores tiveram de ler
palavra por palavra, tementes de que a minha prosa pudesse conter
alguma informação útil ao inimigo. Por fim, mostraram-se satisfeitos,
concluindo que os conhecimentos de filosofia não podiam ter qualquer
préstimo para os alemães e, muito gentilmente, garantiram-me ter
175
Exceção feita à co-edição com a UnB que manteve o formato da coleção em que foi publicada pela
Universidade.
246
apreciado imenso a leitura do meu livro, o que, confesso, achei difícil de
acreditar.”
Foi com a seguinte declaração que o cientista Albert Einstein
recebeu o livro de Russell: A HISTORIA DA FILOSOFIA de Bertrand
Russell é um livro precioso. Não sei o que deva ser mais admirado: se o
delicioso frescor e originalidade ou a sensibilidade da simpatia com
tempos distantes e mentalidades remotas por parte desse grande
pensador. Considero uma felicidade que a nossa geração tão ressequida e
também tão brutal possa destacar um homem de tal saber, honradez e
coragem, e, ao mesmo tempo, tão cheio de humor. É uma obra
pedagógica no mais alto grau, que se coloca acima de partidos e
opiniões.”
Por tudo o que foi dito – e ainda muito poderia ser acrescentado
a reedição desta obra é um acontecimento, tanto quanto o foi na
ocasião de sua publicação. Presença obrigatória em todas as estantes.
uma certa retomada da proposta inicial da Biblioteca do Espírito Moderno,
mas guardada a distância de seu momento inicial, essa retomada se faz por outros
autores, problemas e enfoques.
Texto que remetam ao tempo presente mesmo quando tratam de tempos
passados, análise da história humana para compreender o homem do momento vivido,
texto simples e agradável mas com acréscimo de conhecimentos e reflexões.
Essa tendência é encontrada também na série de Ciências.
A 2ª. série: Ciências
De todas as séries da coleção, a série de Ciências foi a que manteve as tiragens
mais fracas desde o seu lançamento até a fase final da história da Biblioteca do
Espírito Moderno. Entretanto, assim como nas demais séries, contrasta o número de
lançamentos no período quando comparado aos lançamentos do período anterior.
Conforme a tabela:
Tabela 31- Biblioteca do Espírito Moderno
Lançamentos – Ciências – 3º. Período
Numero
Titulo
Autor
Ano da edição
19 O Mar que nos cerca
176
Rachel L. Carson 1953
20
Nos Domínios da Ciência
Waldemar Kaempffert
1954
21
A eletrônica ao alcance de
todos
Monroe Upton
1958
22
A Era dos Autômatos
P. E. Cleator
1960
176
Por dois anos na lista de Best sellers do Publisher´s Weekly, em 1951 (sexto lugar) e em 1952 (quarto
lugar) e ganhador do prêmio Pulitzer de 1952.
247
23
Previsão para o amanhã
George Thomson
24
O que é psicanálise?
Ernest Jones
25
Economia numa única lição
Henry Hazlitt
1966
26
Lógica da Vida
Albert Ducrocq
1958
27
Natureza e o Destino do
Homem
Garrett Hardin
1969
28
Para que serve a ciência?
Bernard Dixon
1976
29
População, evolução e
controle da Natalidade
Garrett Hardin
1967
30
Sementes para a civilização
Charles B. Heiser
1977
Entre 1953 e 1977, foram anunciados 21 títulos mas publicados apenas 18. (Os
livros A eletrônica ao alcance de todos, Previsão para o amanhã e O que é psicanálise?
foram negociados mas não foram produzidos).
O terceiro período da série de Ciências é inaugurado com um texto da
ambientalista Rachel Carson. Á época da publicação de O mar que nos cerca no Brasil,
seu livro possuía uma carreira de sucesso nos Estados Unidos e na Inglaterra
177
.
Assim, O mar que nos cerca, chegou credenciado pela fama da autora e foi o único
título da série que teve reedição (1956). Sua apresentação ao leitor brasileiro não deixa
dúvidas sobre o conteúdo da obra de Carson:
O homem, por intermédio de suas invenções, descobriu a terra,
navegou os mares, ganhou o espaço. O homem, por intermédio de suas
invenções, conquistou continentes, dominou seus semelhantes na face da
terra, na face do mar e entre as nuvens. Em tudo isso, em todas essas
descobertas e vitórias, o objetivo é a terra, a posse da terra.
No entanto, como iremos ler nesta obra de Rachel L. Carson, é
exatamente o mar – a água – o elemento preponderante neste nosso planeta
de 5ª. Classe.
É “o mar que nos cerca”, o mar que nos alimenta, é o mar, em
suma, que nos permite viver. Figura central de nossa existência, embora
nem sempre nos apercebamos disso, o mar é aqui analisado sob todos os
aspectos. E de tal forma, que se torna a personagem principal de um
“romance científico”. Apaixonamo-nos por ele, trememos ante suas iras,
passamos a respeitá-lo e a compreender suas reações.
Rachel L. Carson, que possui nos Estados Unidos merecido
renome científico, acrescentou mais um grande sucesso à sua carreira. Este
livro foi um “best seller” nos Estados Unidos, na França, na Itália, em
177
Em 1962, Rachel Carson publicou seu livro mais famoso e, também, seu mais bem sucedido: Silent
Spring, uma denúncia dos usos de pesticidas no campo e do impacto desses dejetos químicos no homem e
na natureza. O texto considerado fundador de uma nova consciência ecológica é um marco na denúncia
do caráter poluidor da indústria química, em especial na produção de agrotóxicos (termo cunhado por
ela). Essa obra motivou o primeiro comitê investigativo de a primeira lei anti-pesticida dos Estados
Unidos, sancionada por John Kennedy em 1962. Curiosamente, a obra mais famosa da autora permaneceu
sem tradução no Brasil e circulou em nosso país em uma edição portuguesa.
248
todos os países onde foi editado. E tudo indica que também o será no
Brasil, país que possui uma das maiores costas marítimas do mundo.
Alguns itens merecem consideração, o termo “romance científico” guarda certa
semelhança com o “romance histórico”, o “romance das vitaminas” e outros títulos
concorrentes em que o importante é oferecer o conhecimento de forma leve, voltada
para o lazer, a leitura de um romance.
A 2ª. série vê uma ligeira mudança nos enfoques de temas, mas, os objetivos da
coleção continuam sendo reforçados. Assim, por exemplo, o livro Nos domínios da
Ciência apresenta o conhecimento científico ligado ao progresso da Humanidade e á sua
destruição.
É inegável que um dos elementos preponderantes na História da
Civilização, durante o século passado e o nosso tem sido o conhecimento
científico. Dele se servindo para o progresso da Humanidade e,
paradoxalmente, para sua destruição, o homem tem realizado verdadeiros
milagres e grandes tragédias.
O binômio progresso/tragédia continua, mas a proposta do livro não é se
posicionar em relação ao aspecto moral da questão, mas “informar”. Da mesma forma
que nos títulos iniciais, os capítulos independentes trazem “temas apaixonantes” que
facilitam a leitura:
Este sensacional livro de Waldemar Kaempffert, redator da seção de
ciência do “New York Times”, não pretende discutir esse aspecto moral da
questão. Tem o objetivo, no entanto, de informar, mostrando o que foi
atingido, o que está sendo tentado e, por fim, aquilo que ainda se procura
resolver. Os capítulos, totalmente independentes um do outro tratam de temas
apaixonantes como estes: “Bombas Atômicas”, “A Construção de um Satélite
Artificial no Espaço”, “A Energia Atômica como substituto dos combustíveis
Atuais”, “O problema da SORTE como Fator Determinante da Vida Diária,
“A Energia Solar, etc...etc.
Finalmente, o apelo ao leitor sobre a importância da ciência nas conversas e
reuniões sociais.
É importante chamar a atenção do leitor em potencial para a
circunstância de que o autor não se situa entre os fantasistas, que consideram a
conquista da lua questão praticamente solucionada, nem entre os tratadistas
que assustam os leigos com as dificuldades próprias a seus setores de
especialização. A obra de Kaempffert é clara, precisa, de leitura extremamente
agradável.
249
Nos dias em que vivemos, o capítulo das descobertas científicas é
tópico obrigatório em todas as reuniões. Este livro fornecerá argumentos para
debate, informará aqueles que desejam noções gerais e despertará a
curiosidade de muitos para leituras subseqüentes, no mesmo campo.
Esse título, juntamente com Previsão para o amanhã, organizam um tipo de
divulgação científica em que a preocupação não é iniciar o leitor em algum tema
específico, mas levantar “temas” de reflexão e de conversas sociais.
Ainda nessa discussão da ciência como tema de reflexão para a vida moderna,
o título Para que serve a ciência? aparece ligado a uma nova preocupação do período: o
público universitário. Da mesma forma que na série de Filosofia, uma preocupação
em escolher títulos que, ao mesmo tempo, encontrem leitores ilustrados, mas leigos, e
estudantes do curso superior.
Há ainda duas temáticas que aparecem de maneira mais forte em uma série tão
pequena de livros.
A primeira delas é a cibernética, a coleção incluiu dois títulos de autores
importantes. De um lado, a Era dos Autômatos discute a questão da cibernética e o
aparecimento da inteligência artificial. Livro publicado em 1955, chega ao Brasil apenas
em 1960. Seu autor, P. E. Cleator era escritor de sucesso, especializado em divulgação,
escreveu uma série de livros introdutórios a arqueologia, à linguagem e à cibernética.
A segunda obra relativa a cibernética é A Lógica da Vida, de autoria de Albert
Ducrocq. Apresentado como:
Albert Ducrocq não é somente o construtor das tartarugas e raposas
electrônicas; sabe colocar a serviço de sua reflexão filosófica um talento de
escritor, que torna apaixonante a leitura de seus livros”. Revela, assim, ao
grande público, as surpresas inauditas que esconde aos olhos do leigo esta
estranha palavra com a qual se batizou uma ciência não menos estranha:
Cibernética.
O livro, em si, é apresentado como:
- O que é a vida? - como apareceu ela sobre a Terra, dando
nascimento a espécies cada vez mais aperfeiçoadas? Estas perguntas que
dominam a ciência e a filosofia recebem hoje uma resposta suplantando a
biologia, a física afirma estar em condições de resolver o problema graças à
“cibernética”. Albert Ducrocq, que em França é “o homem da cibernética”,
demonstra a lógica da história da vida desde suas origens. Assinala primeiro,
250
em conjunto com as transformações de nosso planeta, os diversos estágios das
aparições novas da vida, há um milhão de anos. Depois, procura destacar o
esquema do ser vivo e o processo de seu desenvolvimento. Mostra como, a
partir do gene, - produto dos aminoácidos – partículas sempre mais perfeitas
alcançam organizações cada vez mais complexas: células, plantas, animais,
homens, segundo uma lógica evidente, cujo mecanismo Ducrocq demonstra a
cada etapa. Esta prodigiosa biocibernética, se é verdade que conduz
surpreendentemente a conclusões finalistas, não altera menos todas as nossas
concepções filosóficas habituais.
Essa visão otimista da física e da compreensão da “lógica da vida” adequa-se
aos objetivos da série: Refletir sobre a vida em seus múltiplos aspectos.
Figura 51 – capa de Lípio Pérsio para Lógica da vida
Entretanto, um conjunto constituído pelos últimos livros publicados que
oferecem uma outra visão da ciência. Refiro-me aos dois títulos de Garrett Hardin, A
Natureza e o destino do homem e População, evolução e controle da natalidade,
publicados respectivamente em 1969 e 1967 e aos três outros títulos (Economia numa
única lição, Para que serve a ciência? e Sementes para a civilização).
251
Nas duas obras de Hardin, a preocupação é com a explosão demográfica, o
consumo dos recursos naturais e a necessidade de controle da natalidade para se obter
um desenvolvimento adequado. O autor, biólogo de profissão, escreve um texto cujas
fronteiras esbarram tanto na geografia quanto na economia e nos problemas relativos ao
desenvolvimento/subdesenvolvimento. Não é demais pensar na data da publicação de
cada um dos textos (1967 e 1969).
Em 1966, era publicado o primeiro número da revista Realidade, a revista
Manchete e O Cruzeiro juntas vendiam mais de 1 milhão de exemplares semanais e os
temas de ciências predominantes nessas revistas, de acordo com ANDRADE e
CARDOSO (2001), eram a física e a conquista do espaço e assuntos relacionados, bem
como os avanços da medicina.
Como enfrentar a concorrência do novo “fotojornalismo”, construtor de
cientistas-heróis? Ou, conforme MORA (2003) identifica, dois processos
concomitantes na literatura de divulgação científica na 2ª. metade do século XX.
Falando em termos bem gerais, a autora analisa o aparecimento de um verdadeiro
jornalismo científico que vai além da “cobertura” sobre alguma descoberta de ciências
mas o aparecimento de jornalistas (portanto escritores mais do que cientistas)
especializados em acompanhar e traduzir os avanços da ciência para o público. Para
esse grupo, o texto está, em geral, ligado a algum periódico e, portanto, deve ser curto e
leve; informativo e sedutor
178
Acontece que, no mesmo momento, as editoras universitárias começam a se
organizar em bases mais profissionais e, com isso, provocam uma alteração no mercado
de livros de divulgação. Elas acenam com um blico crescente, conhecido mas em
franca expansão: os estudantes universitários. É importante ressaltar que os últimos
. Segundo MORA, o lançamento do Sputnik e a corrida
espacial são os fatos marcantes embora não causadores ou definidores do processo.
um aumento do interesse do público nos assuntos de engenharia espacial e física nuclear
(o que justificaria a expressiva concentração dessas matérias nas revistas semanais) mas,
também, um impulso no sentido de produzir textos em que a divulgação da ciência
seja uma “tarefa eminentemente inventiva, que recria o conhecimento científico, para
formar e ampliar a cultura científica do público”. (MORA, 2003:37)
178
Essa presença de jornalistas/autores na série de Ciências é uma constante ao longo da história da
coleção. Como já apontado, há uma alternância entre jornalistas e cientistas no quadro de autores da série.
Entretanto, o que MORA salienta é que esse processo já existente desde o começo do século XX ganhou
novos contornos nas décadas de 1950 e 1960.
252
quatro títulos da série de Ciências foram publicados com a parceria da editora da
Universidade de São Paulo.
O mundo preparava-se para ver o homem pisar na lua e, enquanto isso, a
Biblioteca do Espírito Moderno publicava temas de economia, geografia/biologia em
que a questão central é a evolução do homem, a fome e a explosão demográfica.
Dessa maneira, a 1ª. orelha de A natureza e o destino do homem, cuja temática
é o evolucionismo, apresenta a questão de maneira consumada:
Demonstra que, depois de um século de relutância emocional em
aceitar a verdade, fatos biológicos surgiram e abriram o caminho para que o
homem compreendesse inteiramente as regras que controlam todas as
espécies de vida e até mesmo conhecesse racionalmente como seu próprio
destino pode ser parcialmente determinado.
E, mais adiante, apresenta ao “leitor leigo” as implicações sociais dos temas
científicos.
O professor Hardin leva o leitor leigo ao mundo fascinante da
pesquisa e da especulação nas fronteiras da biologia moderna, possivelmente
a mais fascinante de todas as ciências de hoje. E dessa vantajosa posição
explora cruciais problemas sociais, políticos e éticos em termos do que agora
se sabe a respeito da evolução e da hereditariedade. Temos neste livro o
ponto de vista de um biólogo sobre radiação atômica, desigualdade política,
competição econômica, hereditariedade deficiente, teorias de governo
mundial, eugenia e esterilidade humanas, entre outras questões fundamentais
cujas respostas podem ser procuradas na própria natureza.
Controversas, muitas vezes surpreendentes as idéias de Garrett
Hardin expostas com grande clareza, constituem uma das mais estimulantes
exposições divulgadas para ajudar-nos a enfrentar problemas humanos de
progresso e sobrevivência. O autor coloca em moderna perspectiva, em
termos vivos e dramáticos, o maior debate científico de nossos tempos e suas
implicações com as nossas e as futuras gerações.
Essa apresentação faz uma ligação para outro livro do autor a ser lançado na
série:
Do mesmo autor esta editora publicará brevemente um outro trabalho
de grande interesse e oportunidade: população, evolução e controle da
natalidade, uma excelente coletânea de leituras reunindo destacadas figuras
de todos os tempos inclusive Darwin, Malthus, Tertuliano, Thomas More,
Lutero – num amplo e pertinente debate sobre o problema.
(orelha do livro de mesmo nome)
253
A mesma diversidade temática, comentada em outros livros da série, aparece
aqui com: “o ponto de vista de um biólogo sobre radiação atômica, desigualdade
política, competição econômica, hereditariedade deficiente, teorias de governo mundial,
eugenia e esterilidade humanas, entre outras questões fundamentais cujas respostas
podem ser procuradas na própria natureza”. Os dilemas em relação à ciência,
encontravam-se distantes do otimismo do 1º. Período. Os termos “vivos e dramáticos”
do debate científico começam a afetar a maneira como o “espírito moderno” se
relaciona com o saber.
Esse processo de perda da “ingenuidade científica”
179
Ambos os títulos foram alvo de indecisão quanto à série em que deveriam
aparecer. Nas fichas de livro novo, estão classificados na Biblioteca Universitária e,
acabaram publicados na 2ª. série da Biblioteca do Espírito Moderno.
, iniciado no 2º. período
da coleção, é reforçado nesta fase final com os últimos dois títulos publicados: Para que
serve a ciência? tulo de caráter filosófico sobre a utilidade da ciência e Sementes para
a civilização, sobre a importância da agricultura para o desenvolvimento da sociedade
humana complexa e a importância de desenvolvimento técnico para evitar a fome e a
desigualdade.
Portanto, a série de Ciências tem, nesse período, duas coleções próximas e
concorrentes na própria Companhia Editora Nacional. A Biblioteca Universitária e a
coleção Iniciação Científica, comentada, cuja história é paralela á história da série de
Ciências.
Desde seu último lançamento em 1944, a Iniciação Científica ficara, assim como
outras coleções, abandonada e assistiu a uma nova série de lançamentos a partir de
1953.
Tabela 32
Lançamentos da série Iniciação Científica (1953-1977)
23
O método Rorschach
Cicero Christiano de Sousa
1953
24 O mecanismo do espirtio André Cresson 1953
25
Psicologia animal
Paul Guillaume
1954
26
Vocabulário geológico
Josué Mendes Camargo / V.
Leinz
1959
179
Esse termo, tomei emprestado de MORA que explica que, após a II Guerra Mundial, as expectativas
de progresso da ciência associado a um progresso na qualidade de vida das pessoas são alteradas pelo
clima de Guerra Fria que coloca em questão o caráter perigoso do conhecimento científico.
254
27
Iniciação a economia
Djacir Menezes
1965
28
Introdução a sociologia
Armand Cuvillier
1966
29
Psicologia social
Jean Stoetzel
1967
30
Guia para determinação de minerais
Viktor Leinz/ J. E. Souza
Campos
1968
31
Pequeno vocabulário de linguistica
moderna
Francisco da Silva Borba
1971
32
33
Glossário geológico
Viktor Leinz/ O. H. Leonards
1971
34
Pequena história da psicologia
Michael Wertheimer
1973
35
Diário de minha análise com
Sigmund Freud
Smiley Blanton
1975
36
Psicologia da anormalidade
Barclay Martin
1977
37
Piaget
Georges Lerbet
1976
38
Introdução a psicossociologia
Jean Maisonneuse
1977
Observe-se a diferença na quantidade de títulos publicadas na série de Ciências e
na Iniciação Científica. Ambas, mantiveram-se, de alguma forma, ligadas a suas
vocações iniciais. Distinguindo a idéia de Iniciação Científica (para o estudante que se
tornará cientistas e/ou especialista) da idéia de divulgação científica (para o público
leigo), literatura de lazer e informação para o não-especialista.
As mesmas tendências, comentadas no 1º. Período, ainda são perceptíveis:
na IC vê-se um maior número de autores brasileiros, presença de temas ligados a
psicologia, e a temáticas específicas do campo acadêmico, em especial a geologia, com
os Vocabulário e glossário geológicos e Guia de determinação de minerais.
Completando o quadro da série no período, encontramos um livro de Iniciação à
Economia. Há, nesse caso, uma preocupação com o campo do saber e o curso que
poderá utilizar o texto. As obras da série de Ciências da BEM, mesmo as co-editadas
pela Universidade de São Paulo, são de caráter mais interdisciplinar e/ou genérico.
Quanto às reedições da série de Ciências, a lista de indicações para a 2ª. série
feita por Anísio na carta já citada é relativamente longa:
255
Tabela 33
Biblioteca do Espírito Moderno = série 2ª. = Ciências
Marcas de Anísio Teixeira
No.
título
autor
1
A Evolução da Física
Albert Einstein e Leopold
Infeld ++
2
A Ciência da Natureza Humana
Alfred Adler ++
x3 Os Grandes Homens da Ciência Grove Wilson +
x4
As Grandes expedições
Científicas do séc. XX
Charles Key +
5
O Universo Misterioso
James Jeans ++
6
O Homem e seu Universo
John Langdon-Davies
7
Os Fenômenos da Vida
Julian Huxley ++
8
Na aurora da Humanidade
Dorothy Davison
9
Médicos Anônimos
William McKee German
10
Os Próximos 100 anos
C.C. Furnas
11
O Romance das Vitaminas
Estevan Fazekas
12 A construção do mundo H.G.Wells ++
13
Mágica em Garrafas
Milton Silverman
14
As bases Científicas da Evolução
Thomas Hunt Morgan
15
Sozinho
Almte. Richard Byrd
16
A Sabedoria do Corpo
Walter B. Cannon
17
A Ciência Avança…
Rogers D. Rusk
18
Através do Espaço e do tempo
James Jeans +
19
O Mar que nos cerca
Rachel L. Carson
20
Nos Domínios da Ciência
Waldemar Kaempffert
21
A eletrônica ao alcance de todos
Monroe Upton
x22
A Era dos Autômatos
P. E. Cleator +
23
Previsão para o amanhã
George Thomson
24 O que é psicanálise? Ernest Jones
25
26
Lógica da Vida
Albert Ducrocq
Ao passo que o quadro de reedições ficou bastante reduzido e das indicações
de Anísio, apenas uma virou reedição (A Ciência da Natureza Humana) e,
provavelmente porque a Companhia Editora Nacional era detentora dos direitos
outright:
256
Tabela 34
Reedições – série de Ciências – 3º. período
título Autor total 1956 1957 1958 1959 1960 1963 1967
2
A Ciência da Natureza
Humana
Alfred Adler 19177 4008 3010 4009
3
Os Grandes Homens
da Ciência
Grove Wilson 18097 4037 4025
4
As Grandes
expedições Científicas
do séc. XX
Charles Key 12110 3004 4035
19 O Mar que nos Cerca
Rachel
Carson
8030 4030
Restava à 2ª. rie um caminho tortuoso, a busca por parcerias através das co-
edições, em especial com a Editora da Universidade de São Paulo cujo presidente da
comissão editorial de 1964 a 1985 era Mário Guimarães Ferri. MARTINS FILHO &
ROLLEMBERG (2001:39) identificam a política de Ferri como uma política de co-
edições que, ajudou a divulgar o nome da editora mas não imprimiu personalidade
editorial à EDUSP.
Entretanto, do ponto de vista da CEN, esta era uma excelente oportunidade de
reduzir os custos de produção e melhorar a distribuição de obras por ela produzidas. É
com essa brecha que algumas obras da Biblioteca do Espírito Moderno foram editadas.
São títulos que poderiam ter sido alocadas na coleção Biblioteca Universitária, pois
interessariam a um público diferente: estudantes das universidades e público em
geral. Este foi o modelo para a edição dos últimos quatro volumes da série (A Natureza
e o Destino do Homem, Para que serve a Ciência?, População, evolução e controle da
Natalidade e Sementes para a Civilização). Todos os títulos saíram sob a forma de co-
edição com a Editora da Universidade de São Paulo.
A 3ª. série: história e biografia
Quanto à terceira série, o leque editorial é bastante diverso e, em grande parte,
continuam algumas tendências do período anterior. As obras de Sholem Asch
continuam sendo publicadas na série, bem como André Maurois. As temáticas cristãs
reaparecem, mas não tão marcantes como no período anterior. Apenas as obras de
257
Asch (O profeta, Maria e Moisés), uma obra de Papini (Diário) onde o autor narra sua
conversão ao catolicismo e, História da Igreja Católica.
Arnold Toynbee aparece com dois títulos A civilização posta à prova e O
mundo e o Ocidente que foram reeditados em um único título Estudos de História
Contemporânea.
Quanto à presença de autores brasileiros, a série “ganha’ um título originário
da Biblioteca Brasiliana (Mauá), publicado em 1933, que obteve 3 reedições na
Brasiliana e, ganha vida nova em 1958 em uma outra coleção. Completam o quadro de
autores brasileiros: Vicente Tapajós, Delgado de Carvalho, José Maria Bello e o
português, radicado no Brasil, Fidelino de Figueiredo.
De um total de 23 títulos, 6 títulos de autores brasileiros.
Tabela 35 – Biblioteca do Espírito Moderno
Lançamentos – Historia e Biografias – 3º. Período
numero
titulo
autor
ano
51
O profeta
Sholem Asch
1958
52
Maria
Sholem Asch
1951
53
A civilização posta à prova
Arnold Toynbee
1953
54 História da Igreja Católica Philip Hughes 1954
55
Lenine
David Shud
1954
56
Lincoln, esse desconhecido
Dale Carnegie
1954
57
História da América
Vicente Tapajós
1954
58
Moisés
Sholem Asch
1955
59
O Mundo e o Ocidente
Arnold Toynbee
1955
60
Lelia ou a vida de George Sand
André Maurois
1956
61
Julius Caesar
Alfred Duggan
1958
62
O rei de Paris (mudou para
Alexandre Dumas)
Guy Endore
1959
63 Vida e época de Nero Carlo M. Franzero 1958
64
Mauá
Alberto de Farias
1958
65
Historia Diplomática do Brasil
Delgado de Carvalho
1960
66
O Mundo além do Horizonte
Joaquim C. Leithauser
1959
67
História da República
José Maria Bello
1959
68
Vida e época de Cleopatra
Carlo M. Franzero
1960
69
O Coração e o Espírito
Guy Endore
1966
70
Estudos de História
Contemporânea
Arnold Toynbee
1967
71
O Diário
Giovanni Papini
1966
72 História Literária de Portugal Fidelino de Figueiredo 1966
73
Retrato de Eça de Queirós
José Maria Bello
1977
258
Figura 52 - Foto de O Profeta com capa de Walter Lévy
259
Figura 53 – Capa de Lenine
260
Figura 54 - Foto de História da Igreja Católica capa de Walter Lévy
HISTORIA DA IGREJA CATÓLICA
Não há História mais empolgante do que a da Igreja Católica. Isto
é verdadeiro a tal ponto, que já se contam, às dezenas, grandes sucessos
literários, teatrais e cinematográficos focalizando um ou outro aspecto
inspirador da mesma.
Este livro de Philip Hughes, figura exponencial do catolicismo
inglês, constitui exatamente o relato objetivo e documentado dos grandes
feitos, dos grandes problemas e das grandes vitórias da Igreja Católica
apostólica Romana. Sem qualquer caráter polêmico ou proselitista, o autor
nos fornece, para cada época, um retrato amplo das condições sociais então
261
vigorantes, de forma a que se possa analisar o papel preponderante exercido
pela religião da História da Humanidade.
O 7º. Capítulo, “A Revolta dos Protestantes”, é dos mais
interessantes, pois que fornecerá a muitos dos leitores a resposta a perguntas
que, até hoje, por falta de oportunidade, ficaram sem resposta. O capítulo
final, focalizando a época contemporânea, é extremamente oportuno, porque
nos mostra qual foi a atuação da Igreja diante do fascismo e do nazismo, no
setor político, e das novas tendências culturais e artísticas, surgidas em
decorrência desses dois sistemas de extrema direita.
O livro é escrito num estilo altamente agradável e constitui, por
isso, um painel interessante e altamente humano, em que sobressaem, em
cores mais vivas, as figuras dos grandes heróis e dos grandes inimigos da
Igreja.
Leitura indispensável a todo católico, não deixa de ser, também,
obra de referência muito útil a todos aqueles que, não sendo religiosos ou,
então, não sendo católicos, se intressam pelos estudos dessa matéria que são
neste livro, como já dissemos acima, objetivos e destituídos de qualquer
espírito de proselitismo.
(texto das 2 orelhas)
Analisando-se o quadro de reimpressões no período, é possível identificar o
momento pouco interessante, em termos editoriais, que a série, enfrenta. Na
comentada lista de Anísio Teixeira, a série de História e Biografia apresenta
relativamente poucos títulos sugeridos:
Tabela 36
Biblioteca do Espírito Moderno = série 3ª. = Historia e Biografia
Marcas de Anísio Teixeira
no.
título
autor
1
Madame Curie
Eva Curie +
2
História Sincera da França
Charles Seignobos ++
4
História Universal (em 3 tomos): Ed.
Ilustrada
H.G. Wells ++
5
História do Futuro
H.G. Wells ++
6
Ensaios Históricos (1o. volume)
Lord Macaulay ++
11
O Destino da Espécie Humana
H.G. Wells ++
14
A Vida de Shelley
André Maurois +
17
A vida de Rui Barbosa
Luis Viana Filho +
21
Lincoln
Nathaniel Wright Stephenson +
23
Nietzsche
Crane Brinton +
28
Historia da Civilização - diversos volumes
Will Durant ?-++FALTA 1a. - 3a. e 5a. Partes
29
Tolerancia
Hendrick Willem Van Loon +
31
A Vida de Thomas Jefferson
Francis Hirst ++
262
39
Hans Staden - Suas viagens e cativeiro
Monteiro Lobato ++
43
As Américas antes dos europeus
Luis Amaral +
48
A segunda Guerra Mundial
Winston Churchill +
51
O profeta
Sholem Asch +
52
Maria
Sholem Asch +
53
A civilização posta à prova
Arnold Toynbee ++
59
O Mundo e o Ocidente
Arnold Toynbee ++
64
Mauá
Alberto de Farias +(brasiliana)
67
História da República
José Maria Bello +
70
Estudos de História Contemporânea
Arnold Toynbee ++
Tabela 37
Reimpressões/reedições – Historia e Biografia – 3º. Período
título autor
Madame Curie
Eva Curie
A vida de Disraeli (3a. Ed.) André Maurois 1957
História Universal tomo 1 - Dos
começos da vida na terra até o
Fim do Império de Alexandre,
o Grande
H.G. Wells 1955 1968 1970
História Universal tomo 2 - Da
Ascensão e queda do Império
Romano até o Renascimento
da Civilização Ocidental
1968 1970
História de Cristo Giovanni Papini 1956 1960
A Vida de Shelley André Maurois 1957
A vida de Rui Barbosa
Luis Viana Filho
1960
Um Espirito que se achou a si
mesmo
Clifford W. Beers
1958 1967
Historia da Civilização = Nossa
Herança Oriental
Will Durant 1957
Historia da Civilização - Nossa
herança clássica
1955 1954
Historia da Civilização - César
e Cristo (2 vols)
1957
Historia da Civilização - A era
da fé
1958
História do Poderio Marítimo
W.D. Stevens e
A. westcott 1958
O Apóstolo
Sholem Asch
Beethoven
Emil Ludwig
História do Brasil Vicente Tapajós 1956 1957 1958
A Vida de Santo Agostinho Giovanni Papini 1954 1960
Zola e seu tempo
Mathew
Josephson 1958
A segunda Guerra Mundial
Winston
Churchill
1954
Maria Sholem Asch 1957
Lincoln, esse desconhecido Dale Carnegie 1966 1977
263
História da América 1958 1960
Moisés Sholem Asch 1958
História da República
José Maria Bello
1969
1973
Estudos de História
Contemporânea
Arnold Toynbee 1976
Dentre o enorme número de títulos lançados, muito poucos são reeditados e as
tiragens se mantem na média de 5.000 exemplares. Merece especial atenção o fato de os
dois títulos com maior número de reedições serem os relativos a temas de História do
Brasil: História do Brasil de Vicente Tapajós e História da República de José Maria
Bello. Parte desse sucesso se refere ao uso “escolar” das obras.
Outros ainda, como Madame Curie, tiveram sua reedição cogitadas mas não
autorizada e acabaram sendo negociados com outras editoras.
Esse quadro de poucas edições, é completado pela série de Literatura, outrora a
grande estrela de vendas da editora.
A 4ª. série: Literatura
Uma simples observação no quadro de lançamentos da série de Literatura
possibilita compreender a situação de relativo abandono da coleção:
Tabela 38
Lançamentos – Literatura – 3º. Período
no.
titulo
autor
ano
23
O Motim
Herman Wouk
1953
24 1984 George Orwell 1954
25
Castro Alves - poesias completas
Castro Alves
1966
26
A hora Final
Nevil Shute
1974
27
O amante de Lady Chatterley
D. H. Lawrence
1974
Um reduzido número de títulos lançados com uma distãncia bastante grande
entre eles. Dois títulos em 1953/54, doze anos depois um novo título, mais doze anos
para dois novos lançamentos. Mais do que isso, os últimos três títulos são apenas novos
na coleção mas não são inéditos.
264
Quanto aos títulos, Castro Alves poesias completas é o remanejamento de
um título da série Livros do Brasil; O livro O amante de Lady Chatterley havia sido
publicado como livro avulso tanto pela Civilização Brasileira, quanto pela própria
Nacional
180
.
Figura 55 - Capa da edição da Biblioteca do Espírito Moderno para o livro de
D.H. Lawrence.
180
A capa do texto avulso foi feita por Eugênio Hirsch e se distancia bastante da capa do texto publicado
na coleção, de autoria de Silvia Maria Mesquita. Ainda pela Companhia Editora Nacional, o título foi
publicado com a mesma capa até, pelo menos, 1980 quando se encerra a série de fichas de edição.
265
Figura 56 - Capa de Eugênio Hirsch para o livro de D.H. Lawrence, editado pela
Civilização Brasileira.
O título O Motim foi lançado aproveitando-se do projeto de transformação do
enredo em filme pela indústria de Hollywood. A capa, entretanto, não faz referência ao
filme porque o livro foi lançado antes do filme.
O grande fato da série é, mesmo, o livro 1984. Sua carreira na editora, desde
1954 até 1989, atingiu um total de 27 edições com 262.264 volumes impressos. A
apresentação da obra em sua primeira edição mal pode adivinhar o sucesso e a
repercussão do título:
1984
Este é um livro impressionante. Ao terminar sua leitura, fica em
cada um de nós, latente, uma sensação estranha. É como se despertássemos de
um pesadelo... e o pesadelo continuasse, em pleno dia...
O retrato que George Orwell nos fornece do que seria a vida no
mundo, em particular na Inglaterra, no ano de 1983, dolorosamente claros os
pontos de contacto com a vida que levamos hoje, neste ano da graça (ou da
266
desgraça) de 1953. Em 1984 o mundo não conhece mais o que seja
democracia: governos totalitários o controlam, de uma forma total, e ultra
eficiente. Sistemas inteiros foram criados para controlar não somente as
atividades, mas os próprios pensamentos dos seres humanos. Não mais
cultura, a não ser aquela desejada e imposta pelo Estado. o se conhece mais
o amor: entre um homem e uma mulhes somente se processam relações
determinadas e controladas pelo Estado. É o Estado total, de uma forma total.
Em meio a esta atmosfera sinistra, fantástica mas possível, a pena
magistral de Georg Orwell nos particulariza as angústias de um homem
Winston – no qual ainda restam vestígios de uma tendência ou, melhor dito, de
uma aspiração democrática. E é através desse homem, de sua consciência, de
suas reações emotivas que todos nós recebemos a descrição minuciosa de um
quadro político realmente possível se não tomarmos, em tempo as
providências necessárias a revitalização da democracia.
“1984” é um romance. Um romance que se dirige aos leitores que
tem olhos para ler e para entender.
(texto da orelha de 1984).
Figura 57 - Livro 1984, capa de Walter Lévy.
267
Figura 58 - Capa de 1984 do livro 1984.
Na mesma lista de Anísio sobre reimpressões, verificamos as preferências de
Anísio são obras relativamente antigas. Com exceção de 1984, lançado em 1954, e
escrito em1949 e Noites sem lua, escrito em 1942.
268
Tabela 39
Sugestões de reedição – Anísio Teixeira
no.
título
autor
1
O livro da jangal
Rudyard Kipling ++
2
Rebecca
Daphne du Maurier
3
Noções de História da literatura
Manuel Bandeira
4
Meu filho, meu filho! +
(sem autor na lista)
5
História da Literatura Mundial
John Macy
6
Filho Nativo
Richard Wright
7
Lágrimas de Homem
Warwick Deeping
8
Lobo do Mar
Jack London +
9
Momento em Pequim
Lin Yutang
10
Por quem os sinos dobram
Ernest Hemingway ++
11 Kim Rudyard Kipling ++
12
Adeus às armas
Ernest Hemingway +
13
Uma folha na tempestade
Lin Yutang
14
Onde estão os sonhos?
Howard Spring
15
Piloto de guerra
Antoine de Saint-Exupéry +
16
Noites sem lua
John Steinbeck +
17
Cara ou Coroa
Kenneth Roberts
18
Urupês, outros contos e coisas
Monteiro Lobato ++
19
Bandeirantes do Norte
Kenneth Roberts
20
Bem Aventurados os Humildes
Zofia Kossak
21
A Ponte de São Luiz Rei
Thornton Wilder ++
22
Tambores da Alvorada
Philip van Doren Stern
23 O Motim Herman Wouk
24
1984
George Orwell ++
25
Castro Alves - poesias completas
Castro Alves
um intervalo de tempo que corresponde ao período de 1966 até 1974 em
que nenhum título novo foi publicado para chegar-se ao ocaso da coleção com a
publicação dos três últimos lançamentos da BEM: O amante de Lady Chatterley
(1974)
181
Da mesma forma, se analisarmos o quadro de reimpressões na 4ª. série, o
desenho é de reedições relativamente pequenas, a única exceção, novamente, é 1984.
Para os demais títulos reeditados, a média de exemplares por reedição relativamente alta
nos períodos anteriores, cai para apenas 5.000.
, Desenvolvimento e Cultura e Sementes de Civilização (ambos de 1977).
Embora o título Biblioteca do Espírito Moderno ainda apareça até 1980, as sucessivas
reimpressões guardam apenas na folha de rosto a lembrança da série e da coleção.
181
Esse título em remanejamento, já fora editado pela CEN como livro avulso e pela Civilização
Brasileira. É uma obra traduzida do original de 1924.
269
Tabela 40
Reedições – Literatura (1954-1966)
1954
1956
1957
1958
1961
1964
1965
1966
O livro da jangal Rudyard Kipling 4132 4044 4056
Rebecca Daphne du Maurier 4067 5000 5025
Noções de História da
literatura
Manuel Bandeira 5000
Meu filho, meu filho! Howard Spring 4000
Filho Nativo Richard Wright 5000
Momento em Pequim Lin Yutang 4016 5045
Por quem os sinos
dobram
Ernest Hemingway 5005 4958 4019 5016 5005 4019
Kim Rudyard Kipling 4000 9000 8000
Adeus às armas Ernest Hemingway 5000 5000 8000 4000 5000
Uma folha na
tempestade
Lin Yutang 4095 6400 6000
1984 George Orwell 4007 10000 4008
Tabela 41
Reedições – Literatura (1967-1977)
1967
1969
1970
1971
1973
1974
1975
1976
1977
O livro da jangal
Rudyard
Kipling
4054
Rebecca
Daphne du
Maurier
7035
Momento em
Pequim
Lin Yutang
8000
Por quem os sinos
dobram
Ernest
Hemingway
5000
5066
5000
4000
5050
Kim
Rudyard
Kipling
Adeus às armas
Ernest
Hemingway
5000
4000
4000
5000
Uma folha na
tempestade
Lin Yutang
4000
1984
George Orwell
4026
4055
6138
8166
10176
10482
10056
O amante de Lady
Chatterley
D. H.
Lawrence
5000
5000
270
Tabela 42
Reedições – Literatura (1978-1987)
1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987
Rebecca
Daphne du
Maurier
7000 4580 1037 3133
Por quem os sinos
dobram
Ernest
Hemingway
5035 5000 5000 4840 5228 5264
Adeus às armas
Ernest
Hemingway
12000 5000
A Ponte de São
Luiz Rei
Thornton
Wilder
5217
1984
George
Orwell
15000 15000 15000 10025 10321 63190 38837 5249 4894
O amante de Lady
Chatterley
D. H.
Lawrence
5100
Esse envelhecimento da coleção e, também as tiragens relativamente pequenas
são sinais de esvaziamento do interesse nessa série.
É justo afirmar que a gradual saída de Ênio Silveira
182
e as mortes de Anísio
Teixeira (1971) e Octalles Marcondes Ferreira (1973) encerraram o período de
investimento na coleção que sobreviveu pela escolha de títulos anteriormente
publicados. Como é o caso de O Amante de Lady Chatterley
183
. O título mais novo
reeditado é 1984 que se aproveitou da efeméride da chegada do ano 1984 para ampliar
suas vendas.
182
Que saiu definitivamente da Nacional em 1966 mas continuou distribuindo os títulos da CEN no Rio
de Janeiro por mais tempo.
183
Não é demais lembrar que o original em inglês foi publicado na íntegra em 1929 e já havia sido
impresso tanto pela Civilização quanto como livro avulso.
271
Capítulo 5 – Rumo ao final da coleção – Os anos 1970
A coleção e a Biblioteca do Leitor Moderno
À medida que o tempo foi passando, a Biblioteca do Espírito Moderno
começou a dar sinais de que não atendia ao público originariamente almejado para
ela. Mudaram os tempos, os editores, os títulos de sucesso e, também, e principalmente,
os leitores e as condições de circulação dos textos.
Dentro do próprio grupo editorial, a coleção encontra concorrência. Cada uma
das séries teve que enfrentar os desafios dos novos tempos e, como era de se esperar, o
caso exemplar de abandono da Biblioteca do Espírito Moderno acontece com a série de
Literatura, justamente por ser a série de maior sucesso.
Durante o período em que Ênio Silveira ainda era editor chefe das duas casas
Civilização Brasileira e Companhia Editora Nacional. Ele lançou, pela Civilização
Brasileira, uma nova coleção denominada Biblioteca do Leitor Moderno, que
apresentou dois títulos em comum com a quarta série da Biblioteca do Espírito
Moderno: Adeus às Armas e O Amante de Lady Chatterley. O livro de Hemingway foi
publicado primeiramente na BEM e o livro de Lawrence foi publicado primeiro como
avulso e, em seguida, pela Civilização Brasileira com capa de Eugenio Hirsch e,
somente então, na BEM.
Esse intercâmbio de títulos entre as duas editoras não era incomum. Quando a
editora Norte-sul (1940) foi comprada e, com ela, os direitos de publicação de várias
obras de Ernest Hemingway, um dos títulos desse autor foi publicado pela Civilização
Brasileira (O Velho e o Mar) enquanto Adeus às Armas e Por quem os sinos dobram?
foram editados na Biblioteca do Espírito Moderno.
Não encontrei nenhum documento em que essa negociação específica
ocorresse. Um indício é o fato de, à época em que foram publicadas, essas obras da
Espírito Moderno estavam em processo de negociação para serem filmadas pelos
grandes estúdios de Hollywood. Esse pode ser um dos fatores, mas não
documentação que indique a preferência por uma ou outra, ou que justificasse a escolha.
Até mesmo a prestação de contas de direitos autorais da obra de Hemingway é feita na
mesma correspondência. Assim, não há, exatamente, uma concorrência entre ambas as
editoras, pelo menos não até a separação total que acontece em 1964, com a saída de
Ênio Silveira do cargo de editor chefe da Companhia Editora Nacional.
272
Acontece que o leque editorial da Biblioteca do Leitor Moderno inclui uma
gama bem mais variada de autores que abrangem autores como Aldous Huxley
184
É, portanto, uma coleção de Literatura que inclui autores clássicos e best
sellers que foi um grande sucesso. Ao mesmo tempo, a 4ª série da Biblioteca do Espírito
Moderno, durante toda década de 1960, lançou apenas um novo título que era, na
verdade, um remanejamento. Refiro-me a reedição de 4000 exemplares do livro Castro
Alves poesias completas, volume 25. Obra de domínio público que havia tido três
edições pela coleção Livros do Brasil (1952, 1955 e 1959)
, Leon
Tolstoi, Graham Greene, Manuel Puig, Jorge Assis, Manuel Scorza, Morris West e
Gibran Khalil Gibran. Portanto, uma coleção bem eclética e diversa da séria de
Literatura da Biblioteca do Espírito Moderno. A Biblioteca do Leitor Moderno tem seu
primeiro volume publicado, provavelmente, em 1961 sobre a vida na China (A comédia
Humana de W. Saroyan) e, em 1969, atinge o volume número 100 (Contos de Herman
Hesse). O volume número 6 dessa coleção é O Advogado do Diabo que, segundo
HALLEWELL,(2005:539) vendeu um “livro por minuto no curso de um semestre”.
Enquanto isso, a concorrência amplia sua participação no setor de coleções de
literatura. Várias editoras lançam muitos títulos e novas coleções ao mesmo tempo. É o
caso das coleções Fogos cruzados, da Livraria José Olympio, Prêmio Nobel de
Literatura, publicada pela Delta e, de outra coleção com o mesmo nome que foi
publicada pela Opera Mundi, e, também, a antiga coleção Nobel da editora Globo,
dentre várias outras. Processo que pode ser estendido para as demais séries. Esse quadro
dinâmico do mercado editorial de romances e Best Sellers contrasta com a pouca
atividade da BEM.
Não é possível, portanto, atribuir às dificuldades da crise econômica, da
inflação ou do controle de câmbio o pouco investimento feito na Coleção, por mais que
essas dificuldades fossem reais. Nesse sentido, HALLEWELL (2005:553) analisa a
década de 1960 como extremamente complicada para o setor livreiro; em parte devido
ao “caos econômico” e inflação combatida com recessão.
Ocorre que para o Brasil, a década de 1960 assistiu a um constante aumento do
público leitor e, embora os custos gráficos tivessem aumentado (HALLEWELL
(2005:553) em torno de 50%, a solução para outras editoras e para a própria nacional foi
184
Uma das obras de Huxley publicada foi Sem olhos em Gaza, anteriormente publicada pela Editora
Globo e, mais tarde, publicada pelo Círculo do Livro e, novamente, pela Editora Globo.
273
o aumento das tiragens. Esse processo não se refletiu na Biblioteca do Espírito
Moderno.
De fato, a afirmação de HALLEWELL é confirmada pelas fichas de edição dos
livros da Biblioteca que, em alguns casos, tiveram seu custo aumentado antes mesmo da
publicação, dificultando uma política de preços e negociações estáveis.
Outro processo comentado por HALLEWELL e, também, por BUFREM
(2001) é o recurso a co-edição para diminuir os custos do livro não atendido pelos
programas de aquisição de livro didático. Ocorre que do ponto de vista estratégico,
publicar livros de coleção em co-edição é conflitante. Ou a coleção mantem o formato e
estrutura de distribuição ou, o que aconteceu com a Biblioteca do Espírito Moderno, a
coleção se descaracteriza.
A fase final da coleção (1975 a 1984)
Os dois fatos mais importantes e que determinam, até certo ponto, o destino da
Biblioteca do Espírito Moderno foram duas mortes: Anísio Teixeira, em 1971 e
Octales Marcondes Ferreira em 1973.
Anísio era o nome expoente que, desde meados dos anos 1950 apresentava a
coleção. À época de sua morte, Anísio estava em processo de afastamento da BEM.
Nas correspondências, os tulos da BEM são muito pouco citados e, pode-se concluir,
esse afastamento implicara numa redução do número de lançamentos e um certo
abandono até mesmo nas reedições. Entretanto, a questão sobre os motivos desse
abandono são mais profundas.
O aumento da população universitária e dos formandos nos vários cursos de
nível superior, criou, na década de 1960, mas, sobretudo na década de 1970, um
grande mercado para livros de outro tipo.
A ampliação desse mercado gerou algumas situações bastante interessantes. De
um lado, uma coleção denominada Biblioteca Universitária com nove séries planejadas
e cujo público explícito está no próprio nome. De outro, a Biblioteca do Espírito
Moderno que com seu leque editorial poderia abrir possibilidades de novos usos para os
mesmos textos.
Parte dessa mudança e do abandono da Biblioteca do Espírito Moderno pode ser
atribuída às mudanças na direção da editora. Com a morte de Octalles, a tentativa
frustrada de venda da empresa para a José Olympio editora até a intervenção do
274
BNDES, a política editorial ficou bastante comprometida. Prazos para decisão e
tradução de textos foram perdidos, aumenta enormemente o número de funcionários e a
correspondência não mantém um ou dois nomes responsáveis pela assinatura das
cartas
185
Para cada novo título negociado, abre-se um DOSSIER que é uma pasta com
cópias de todos os documentos pertinentes àquele texto e ao processo de publicação. Os
pareceres incluem tradução, mercado possível, custos de produção, cartas com os
agentes literários e com outras editoras interessadas.
e pelo contato com as editoras.
Dessa maneira, o funcionário que precisasse teria acesso a toda documentação
pertinente. A estrutura enxuta que contava com um ou dois responsáveis foi ampliada.
Somente para os títulos da Espírito Moderno, as cartas são assinadas por pelo menos
seis pessoas (Ézio Tavola, Damasco Penna, Carlos Rizzi, Paulo Machado, Mitsue
Morissawa, Malu Bortoletto).
Segue-se uma multidão de cópias dos documentos. Cartas com mesmo
destinatário e vários títulos são retiradas da pasta da editora/agente literário e copiadas
nas pastas por títulos. Há, portanto, forte burocratização das relações de produção da
empresa.
O desmonte das coleções do período anterior também acontece com base em
políticas editoriais cujo objetivo fundamental é reforçar o caráter de editora voltada para
o público escolar.
A política editorial da EDUSP e a coleção “Biblioteca do Espírito Moderno”
O aumento das matrículas no nível superior, a ampliação dos cursos oferecidos e
as novas condições do ensino no país, operaram uma alteração que não pode ser
ignorada. Livros outrora destinados a um público pós-secundário, naquele instante se
tornavam livros “universitários”.
Embora a CEN tivesse em seu catálogo uma coleção específica para o público
universitário (Biblioteca Universitária), alguns livros da coleção BEM acabaram tendo
suas estratégias de distribuição e venda direcionadas ao público universitário.
Além de uma obra em co-edição com a UnB (História da Filosofia Ocidental de
Bertrand Russell) e uma co-edição com a EDUSP (Sementes de Civilização), ficou claro
185
O último nome a assinar praticamente sozinho as correspondências internacionais da CEN foi Thomaz
Aquino de Queiroz, que saiu da Nacional para fundar sua própria empresa a TAQueiroz editora.
275
para os editores da CEN que a BEM teria alguns livros capazes de serem vendidos para
o público universitário que havia se modificado.
A partir de meados de 1960, quando a crise econômica se amplia e os custos da
produção aumentam, as coleções e séries da Companhia Editora Nacional começam a
ser pensadas e negociadas em co-edições,. Analisando-se as fichas dos livros não
voltados para o ensino primário e médio, o número de co-edições é bastante alto.
Pela política editorial da EDUSP, desde 11 de maio de 1970, uma reunião do
conselho editorial havia explicitamente definido que o objetivo da Editora Universitária
seria publicar livros de interesse que não tivessem ainda sido editados e que cobrissem
as áreas que apresentassem maior necessidade de textos, segundo avaliação do comitê
editorial. Essa decisão reforça um processo que já era mais ou menos constante que é a
parceria entre a EDUSP e a Companhia Editora Nacional (dentre outras).
O resultado é que a maior parte dos textos de não-ficção voltados para um
público leitor “médio” acabaram sendo financiados por esse regime de produção em
parceria com as editoras universitárias. No caso da Biblioteca do Espírito Moderno, a
série de Ciências teve suas últimas obras editadas em co-edição ou com o selo de
aprovação da USP
186
Entretanto, em reunião de 12 de março de 1971, definiu-se a possibilidade de
aprovar livros que poderiam conter o selo de aprovação da USP e, também, seriam
vendidos nas livrarias da EDUSP. Nesse caso, a EDUSP compraria os volumes com
30% de desconto e venderia com 10% de desconto sobre o preço de capa, a diferença
reforçando o caixa da editora e remunerando o “selo” de aprovação da Universidade de
São Paulo.
.
2 - Os livros que forem aprovados pela Comissão Editorial, mas
forem editados pela firma proponente, sem participação financeira da
EUSP, poderão levar referência à aprovação da comissão Editorial. Se a
Editora particular decidir fazer esta referência, deverá colocar uma página,
como no caso anterior, referente à Editora da Universidade de São Paulo,
apenas substituindo os dizeres: “Obra publicada com a colaboração da
Universidade de São Paulo”, por Obra publicada com a aprovação da
Comissão Editorial da Universidade de São Paulo”.
3 - Nesse caso, a Editora da obra mandará à comissão Editorial, no
mínimo 30 exemplares; a Comissão Editorial fará a distribuição dos mesmos
remetendo à primeira uma relação e informando se haveria conveniência, caso
186
Para as demais séries, apenas a obra de Russell História da Filosofia Ocidental foi co-editada
com a UnB e só. Indicando que havia um público potencial para os títulos lançados e re-lançados.
276
possível em remeter exemplares constantes de uma lista que a EUSP preparará
em cada caso.
4 Os livros editados com aprovação da EUSP mas sem
colaboração, poderão ser recebidos em consignação, para venda na Cidade
Universitária. Nesse caso, haverá para a EUSP 30% de desconto, mas ela
venderá tais livros com 10% apenas. Os 20% restantes reforçarão o orçamento
da EUSP que poderá editar, assim, maior número de obras. (Carta assinada
por Mário Guimarães Ferri Presidente da Comissão Editorial encontrada nos
arquivos da CEN pasta correspondência “editoras universitárias”)
Essa tendência a co-edições dos livros com tiragens menores que se desenhava
ganha fôlego extra com as mudanças na política editorial das Editoras Universitárias.
MARTINS FILHO E ROLLEMBERG (2001) são explícitos:
Não resta dúvida de que o sistema de co-edições ajudou em muito a
firmar o nome da Edusp no meio acadêmico e editorial. Era o que se devia
fazer em uma fase inicial para, logo a seguir, traçar seu próprio rumo e voar
por conta própria. Mas isso acabou não acontecendo. [...]
Se, por um lado, o sistema de co-edição trazia vantagens ao
funcionamento da Edusp, como afirmava sua direção, por outro criou e
sedimentou desvios e obstáculos que permaneceram presentes em sua estrutura
até o final dos anos 1980. E tudo devido a uma premissa equivocada. Esse
sistema poderia parecer o melhor dos mundos para os dirigentes da editora, já
que possibilitaria a ela a publicação incessante de títulos e mais títulos, sempre
em parceria com editoras privadas de renome. A troca parecia justa, mas não
era. O sistema de co-edição de fato permitiu a publicação de cerca de dois mil
títulos ao longo de quase trinta anos – um número realmente expressivo -, mas
acabou por colocar a descoberto seu calcanhar-de-aquiles, sobretudo, a
inexistência de um acervo próprio, a ausência completa de contratos de
direitos autorais e as falhas de distribuição e comercialização. (MARINS
FILHO & ROLLEMBERG:2001,29)
O outro lado da moeda é perceptível na correspondência da Companhia Editora
Nacional. Os livros de menor tiragem passam a ser negociados e as decisões tomadas
em função da possibilidade, ou não, de co-edição. Para uma editora como a CEN, o
regime de co-edição era um jogo sem perdas. De um lado, o custo da produção estaria
coberto pelas compras da da co-edição; de outro, a venda dos títulos fora dos campi da
USP ficava para a CEN que se aproveitava de seu esquema normal de distribuição
(catálogos, livrarias, mala direta, representantes, filiais, etc.)
Em ofício datado de 17 de agosto de 1977, a EDUSP envia à Companhia Editora
Nacional a circular 004/77 informando a suplementação de verbas e pedindo títulos para
publicação:
277
Senhor Editor,
Tendo esta Editora recebido suplementação de seu orçamento, tem
necessidade de adotar certas providências urgentes, para o que solicita sua
colaboração, indicando:
1- que obras deverão sair ainda este ano;
2- que obras deverão sair até fevereiro de 1978;
3- que obras foram eventualmente, recusadas por falta de recursos
orçamentários embora o parecer fosse favorável?
Solicito sua resposta urgente a fim de poder determinar a emissão dos
empenhos o quanto antes.
Atenciosamente,
Mario Guimarães Ferri
E, à mão, encontram-se quatro títulos:
População, espécie e evolução – agosto
Sementes da (sic) civilização – setembro
187
Introdução à Psicosociologia – outubro
Psicopedagogia dos adultos – setembro
187
Ao longo da série de correspondências e documentos relativos a esse livro, surge uma discussão
sobre a melhor tradução para o título que acabou sendo publicado como Sementes para a civilização.
Segundo pareceres interno e da EDUSP, a tradução original do título Sementes da civilização seria
inadequado.
278
Figura 59 - Etiqueta de livro da Espírito Moderno com o Gênero UN (universitário).
Os dois primeiros títulos são da coleção Biblioteca do Espírito Moderno,
Introdução à Psicosociologia, pertence à coleção Iniciação Científica e o último é o
volume 127 da coleção Atualidades Pedagógicas. Todos foram, posteriormente
publicados em co-edição. Levando os livros da Biblioteca do Espírito Moderno a uma
situação diferente. Originariamente, a coleção deveria ser voltada para um público
médio e mais geral; entretanto, com essa co-edição, parte deles ganhou co-edição com a
Universidade e passou a circular em outro circuito mas, não faziam parte da coleção
específica para o setor (Biblioteca Universitária) que era organizada por Florestan
Fernandes e Antonio Brito da Cunha.
279
Na própria editora, o status dos livros citados para co-edição é difícil de ser
determinado. fichas de edição, de produção e pareceres em que os mesmos livros
estão alocados na Biblioteca Universitária e na Biblioteca do Espírito Moderno. Como é
o caso de Sementes para a civilização que na ficha de produção aparece ligado à
Biblioteca Universitária e na ficha de edição, aparece na Biblioteca do Espírito
Moderno. Ao final, o volume sai como tulo da . série da BEM, mas as capas não
indicam esse pertencimento. Apenas a ficha catalográfica indica a coleção, a série e o
volume da Biblioteca do Espírito Moderno a que pertence o título.
Alguns livros, mesmo não sendo co-edição da EDUSP, conseguiram um outro
estatuto. O de aprovados pela editora.
Em relatório sobre a política editorial 1978/1979, no que se refere ao curso de
Letras, após uma rie de títulos específicos, constantes das bibliotecas universitária e
Pedagógica Brasileira, o parecerista conclui:
Talvez fosse o caso de se pensar na reedição do História da
Literatura Mundial de John Macy, do qual publicamos cinco edições
(a última é de 1967). Antes, saber se não haveriam(sic) originais revistos.
Cobrar do prof. Antonio Candido, a antologia que estava
preparando sobre Introdução ao estudo da literatura: textos importantes
de teóricos e críticos contemporâneos, constituindo-se em útil guia para o
leitor compreender a literatura. (Pasta Política editorial)
É nessa circunstância que alguns livros da BEM são reeditados.
Todos com a mesma tradução, o mesmo miolo e papel off-set. As capas se
mantiveram, mas uma nova gina com o selo de aprovação da EDUSP aparece em
alguns volumes.
Vale retomar que houve ainda um título publicado em co-edição com a UnB na
coleção Pensamento Científico é História da Filosofia Ocidental de Bertrand Russell.
A coleção universitária da UnB era apresentada da seguinte maneira:
Reunindo trabalhos de referência e reflexões críticas sobre o papel da
ciência e dos cientistas, a Coleção Pensamento Científico focaliza temas de
natureza tão abrangente quanto a indagação humana acerca do Universo.
Problemas que motivam o debate científico, expostos por autores de
reconhecido valor, são apresentados em esmeradas edições (grifo meu). Foram
objeto de especial cuidado a qualidade e relevância das obras incluídas na
Coleção, assim como o padrão das traduções e a clareza da linguagem
utilizada.
280
A coleção Pensamento Científico constitui-se, assim, em importante
fonte de consulta e em fascinante leitura para todos os que dedicam atenção às
questões e perspectivas com que se defronta a ciência contemporânea.
Esse texto aparece em espaço que seria de tamanho equivalente à 1ª. orelha do
livro no interior da capa, uma vez que o mesmo não tem orelhas. Para o espaço
equivalente à segunda orelha, aparecem os demais títulos da coleção, inaugurada por
Conjecturas e Refutações de Karl Popper.
Quanto às esmeradas edições”, citadas no texto, do ponto de visita da
materialidade do livro, pouco se fez: papel off set, mesmo miolo da edição da Biblioteca
do Espírito Moderno, sem jaqueta (sobrecapa) e sem orelhas. Apenas a capa ilustrada
com o fundo preto, desenho vermelho no centro e o logo da Universidade e da coleção
no da página. Na terceira página, aparecem as indicações da Biblioteca do Espírito
Moderno, após as indicações do conselho editorial da editora da UnB, seguidos pela
página de rosto
A proeminência da Editora da Universidade de Brasília é marcante, a escolha do
tamanho dos tipos da página e a preeminência do título da coleção “Pensamento
Científico”. Quanto à indicação da BEM, esta aparece apenas na mesma página da ficha
catalográfica.
Comparando-se as tiragens das duas edições, a edição de 1977 obteve 3012
volumes enquanto a co-edição teve apenas 2000, verifica-se a importância dessa
parceria para uma nova edição da obra.
Para a análise das capas das duas edições do mesmo livro, uma de 1977 (CEN) e
outra de 1982 (CEN/UnB), vale lembrar que essa mudança que visava atualizar a
coleção, em certo sentido, acabou descaracterizando-a.
Como já comentado, até a década de 1950, a BEM manteve seu padrão de capas:
capa dura preto e dourado ou vermelho e dourado com jaqueta no “estilo francês”. A
partir de 1952, o principal capista e responsável pela identidade da coleção é Walter
Lévy. Ao longo da década de 1960, as capas perdem essa identidade. Ao mesmo tempo,
o nome dos tradutores perde relevância nas informações presentes na capa.
A morte das duas figuras mais importantes da BEM (Anísio Teixeira e Octalles
Marcondes Ferreira) consolida um panorama de abandono da idéia de coleção embora
os títulos com boas vendagens continuassem sendo publicados.
Ocorre que sucessos de outrora perderam seu apelo e a coleção foi muito pouco
renovada. Basta analisar os novos títulos lançados pela BEM durante a década de 1970.
281
Tabela 43 – Biblioteca do Espírito Moderno
Últimos Lançamentos - década de 1970.
Série
Vol.
Título
Autor
Ano
Tiragem
2
30
Sementes para a civilização
Charles Heiser
1977
5144
3
73
Retrato de Eça de Queirós
José Maria Bello
1977
3070
4
26
A Hora final
Nevil Shute
1974
4032
4
27
O amante de Lady Chatterley
D. H. Lawrence
1974
5000
Observe-se que dos quatro únicos novos títulos da coleção, apenas um Sementes para
a civilização é inédito no Brasil. Todos os demais haviam sido publicados por outras
editoras.
Quanto ao quadro de reimpressões para a década de 1970, encontramos:
Tabela 44 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões – filosofia (1970-1980)
Título
Autor
Filosofia da vida
Will Durant
1970
Os grandes pensadores Will Durant 1970
Educação e vida perfeita Bertrand Russell 1977
A Maturidade mental
H.L. Overstreet
1978
O casamento e a moral Bertrand Russell 1977
A conquista da felicidade Bertrand Russell 1977
A perspectiva científica Bertrand Russell 1977
História da Filosofia Ocidental - 3 vols
Bertrand Russell
1977
Nenhuma novidade do quadro dos títulos cuja vendagem ainda se sustentava. Will
Durant e Bertrand Russell, identificando algumas das melhores escolhas editoriais já feitas
(Anísio Teixeira, ainda no primeiro período).
282
Figura 60 – Capa de Maria Helena R. Miritello para A Natureza e o Destino do Homem
Quanto à segunda série, nenhuma reedição e para o vastíssimo número de volumes da
série de História e Biografia, apenas quatro títulos mereceram reedição.
283
Tabela 45 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões – História e Biografia (1970-1980)
Título Autor
História Universal - tomo 1 H.G. Wells 1970
História Universal - tomo 1 H.G. Wells 1970
Lincoln, esse desconhecido Dale Carnegie 1977
História da República José Maria Bello 1973 1976
Estudos de História Contemporânea Arnold Toynbee 1976
Para a série de Literatura, o quadro de reimpressões confirma o que vinha
acontecendo: dois autores Hemingway e Orwell sustentam a série. Quanto ao livro Rebecca,
sua presença na lista de reimpressões, deve-se a um fato novo para a série: as novelas
apoiadas em livros (no caso, o livro A Sucessora de Carolina Nabuco que serviu de base e
inspiração para Rebecca). Também O amante de Lady Chatterley teve um impulso em 1977
devido ao lançamento de obra cinematográfica baseada no livro.
Tabela 46 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reimpressões – Literatura (1970-1980)
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980
Rebecca
Daphne du
Maurier
7035 7000
Por quem
os sinos
dobram
Ernest
Hemingway
5080 5000 4000 5050 5035 5000 5000
Kim
Rudyard
Kipling
4000
Adeus às
armas
Ernest
Hemingway
4000 4000 5000 12000
1984
George
Orwell
4026 4055 10134 6138 8166 10176 10482 10056 15000 15000 15000
O amante
de Lady
Chatterley
D. H.
Lawrence
5000 5000 5100
A década de 1970 surge com uma variedade de capistas que rompem de vez com o
padrão de coleção. No caso da capa de História da Filosofia Ocidental, a capa é de autoria de
Haniel que utiliza cores vivas e tipos grandes em preto. Praticamente metade da capa é
ocupada pelas informações título e autor. Já a capa da co-edição é marcada pelo estilo
284
uniforme da Biblioteca do Pensamento Científico, ou seja, fundo preto com reprodução de
uma gravura em vermelho e branco, título e autor na parte superior do livro e, abaixo da
gravura, a indicação das editoras, com ênfase na Editora Universidade de Brasília.
Em, 1978, portanto um ano após o lançamento da edição da CEN de História da
Filosofia Ocidental, um levantamento feito pelo departamento editorial sobre a estratégia
editorial da companhia e, sintomaticamente, neste documento as coleções estão pulverizadas
em segmentos.
Ensino de 1º. Grau, 2º. Grau, superior, paradidáticos, ensino técnico e leitura
complementar. Não há nesse documento divisão por coleções e nem, tampouco, um item
sobre “leitura para o público não escolar”. Consolidando uma política que se modificara, de
fato.
Dos livros indicados para possíveis edições e reedições no documento do DEPED
(Departamento Editorial) para 1977/1978, a BEM está presente ao lado da Biblioteca
Universitária com os títulos, na ordem em que aparecem no documento:
x Para que serve a ciência? De Bernard Dixon,
x Filosofia de vida e Os grandes pensadores da série de Filosofia e
História da civilização da série de História e Biografia, todos de autoria de Will
Durant,
x A natureza e o destino do homem de Garrett Hardin,
x Ensaios Céticos, Nosso conhecimento do mundo exterior, História da
Filosofia Ocidental (em 3 volumes), Princípios de Reconstrução social e Retratos de
Memória, O casamento e a moral e A conquista da felicidade juntamente com a
Filosofia de Leibniz (Biblioteca Universitária) de Bertrand Russell.
x História da República de José Maria Bello.
x Lincoln, esse desconhecido de Dale Carnegie. (Dale Carnegie é um
best seller da área de “desenvolvimento pessoal” com livros de auto-ajuda
188
x Madame Curie de autoria de Eva Curie em sua 11ª. edição,
. Por ser
best-seller, conseguiu a publicação na BEM de sua obra menos conhecida sobre
Lincoln, que ficou com duas biografias na terceira série)
188
As obras de Carnegie na editora são: Como fazer amigos e influenciar pessoas, Como evitar
preocupações e começar a viver, Maturidade: Segredo da Eterna Juventude, Como desfrutar sua vida e
seu trabalho. O termo auto-ajuda aparece na correspondência de T Aquino Queiroz e, também, nas
memórias de Nelson Palma Travassos. Não é, entretanto, uma classificação da época em que o título foi
lançado. À época, era denominada “desenvolvimento pessoal”. O livro como fazer amigos e influenciar
pessoas ainda é vendido hoje, está na estante ‘AUTO-AJUDA” das livrarias e está na 49ª. Edição.
285
x Dois livros de Guy Endore (Alexandre Dumas e O coração e o
espírito),
x Vida de Disraeli e Vida de Shelley de André Maurois,
x Diário de Giovanni Papini e
x História Universal de H.G. Wells.
É importante notar que as obras foram criteriosamente selecionadas. Apesar de haver
várias obras de alguns autores, poucas foram escolhidas. Muitas obras esgotadas e antigos
sucessos de vendas ficaram fora da lista. As razões podem ser consideradas no próprio
documento. Livros que possam ser adequados ao uso do ensino superior em franca expansão.
Outros livros como aconteceram antes perderam seu interesse diante das mudanças
tanto de público quanto de cenário mundial e nacional.
Os livros de H G Wells que não aparecem na lista (História do Futuro e O destino da
espécie humana) tratavam de um futuro que já não existia mais e valeriam apenas como
curiosidade.
A História da França no século XIX perdera o interesse para o grande público diante
dos novos temas e problemas. Como garantir o interesse em alguns personagens que nem
mesmo eram lembrados como Lyautey?
Outro aspecto bastante relevante para essas seleções é que as biografias romanceadas
das quais as coleções para o público médio, dentre elas a Espírito Moderno, se beneficiou
perderam seu apelo e público.
É razoável imaginar que o mundo que o público que leu as obras em questão tenha se
modificado radicalmente. Quanto às obras de Literatura, encontramos:
x Por quem os sinos dobram de Hemingway,
x Kim e o Livro da Jângal de Kipling,
x Lágrimas de Homem de Warwick Deeping,
x Castro Alves – poesia completa organizado por Jamil Haddad,
x O Amante de Lady Chaterley de D.H. Lawrence,
x 1984 de George Orwell,
x A Hora Final de Nevil Shute ,
x Filho Nativo de Richar Wright e
x Momento em Pequim de Lin Yutang
286
Todos os títulos compartilham o mesmo espaço na discussão de estratégias que os
livros Polyanna e Pollyana Moça de Eleanor Porter. Títulos que podem ser utilizados na
escola.
Nesse documento, as obras da BEM encontram-se espalhadas em categorias distintas.
Leitura complementar para Rebecca, Livro da Jângal, 1984 e ensino superior para obras de
Bertrand Russell (originariamente escritas para um público médio), Sementes de civilização,
Lógica da vida e as duas obras de G. Hardin: Natureza e o Destino do Homem e População,
evolução e controle da Natalidade.
No caso dos títulos inseridos na categoria “leitura complementar”, a escolarização dos
textos é completada com a presença de encartes de leitura. (Livro da Jângal, Rebecca e
1984). Um outro livro, População, evolução e controle da natalidadefoi encontrado com
o carimbo de “exemplar do professor, não pode ser vendido”.
Não é possível afirmar se foi apenas um acidente, um teste do carimbo ou se uma
política específica da empresa. Mas, é certo que embora o controle da distribuição para os
críticos e jornalistas, à época, fosse bastante cerrado; o mesmo procedimento não se aplicava
à distribuição para professores. Pelo contrário, o que encontrei nas correspondências,
sobretudo de autores nacionais, foram cartas informando ao autor (ou seus herdeiros) que um
determinado número de volumes foi separado para distribuição e, portanto, não caberia
direitos autorais para tais títulos.
Essas condições de acordo, na qual um número de volumes é destinado à distribuição
e sob os quais não incidem direitos autorias é exclusivamente para os poucos títulos
nacionais. Para os demais, não havia esses termos no contrato de tradução.
Os seis últimos tulos publicados pela BEM na segunda série foram alterados para
livros de interesse universitário. Caracterizando um desaparecimento da coleção na política
editorial de 1978.
Aliás, o ano de 1978 é marcado pelo desaparecimento do símbolo da Biblioteca do
Espírito Moderno e a realocação de seus títulos em outras coleções ou como títulos avulsos.
Como era de se esperar, dos títulos publicados ao longo de toda a história da BEM,
apenas aqueles com vendagem garantida se mantiverem no catálogo. Compreender o porque
dessa vendagem constante é um pouco mais complexo.
De um lado, o interesse em filmagens e adaptações tanto para o cinema quanto
para a televisão (caso de Rebecca que ganhou relevância com a novela A sucessora da Rede
Globo de Televisão).
287
Muitos títulos por questões de tradução foram vendidos a outras editoras ou apenas
abandonados. Não foram mais reimpressos e nem negociados. A Editora Record que
comprou uma série de títulos da Biblioteca do Espírito Moderno não manteve a tradução
original de Lobato e nem a de Leônidas Gontijo. Para História da Civilização de Will
Durant, a Record adquiriu apenas os direitos de tradução, apesar dos esforços do
departamento comercial de vender também a tradução. Um novo tradutor foi contrato e a
obra foi relançada. Nem mesmo houve referência às edições da Nacional.
A obra de Bertrand Russell, vendida para a Zahar Editores também foi
completamente traduzida do inglês e entrou em um novo leque editorial. No caso de Russell,
pelo menos um título Delineamentos de Filosofia, ganhou um tulo mais “moderno”:
Fundamentos de Filosofia.
A preocupação que a Companhia Editora Nacional expressa com esse novo mercado
de alunos do ensino superior e o investimento nas co-edições, sobretudo com a Editora da
Universidade de São Paulo, trouxeram à tona algumas questões que, anteriormente,
haviam causado problemas na editora: a principal delas se refere à tradução. Para conseguir a
aprovação da editora, a tradução precisava ser avaliada e, nem sempre, as traduções mais
antigas poderiam sair-se bem nesses pareceres..
Novamente, a coleção se refém das traduções. Aquelas encomendadas no início da
sua história, a cargo de literatos mas, principalmente de Monteiro Lobato e Godofredo
Rangel, precisavam ser reformuladas.
A “marca dos bons livros” e “das boas traduções” se obrigada a submeter as
traduções de suas obras aos pareceristas externos, muitos indicados pela própria
Universidade de São Paulo; e, se quisesse participar de parcerias com a EDUSP (Editora da
Universidade de São Paulo), seria prudente encomendar traduções ao corpo de profissionais
mais sintonizados com a política de tradução da EDUSP.
Junte-se a isso, a necessidade de transformar livros para o público em geral em livros
para o estudante em formação. Esse procedimento exige uma nova forma de apresentação
dos textos (notas de rodapé, notas de tradutores e, também, comentários dos especialistas).
Dessa forma, as matrizes utilizadas por tantos anos não eram mais adequadas e precisariam
ser refeitas, aumentando o custo de produção da maioria dos títulos.
Reeditar, portanto, começa a ficar cada vez mais problemático.
Sementes para civilização; um caso emblemático.
288
Esse foi o título do último livro novo publicado pela Biblioteca do Espírito
Moderno. Inicialmente, o livro foi pensado como parte da Biblioteca Universitária e,
em sua primeira ficha de produção é com essa rubrica que começa a ser trabalhada. Em
parte, sua alocação na Biblioteca Universitária pode ser pensada como uma estratégia de
obter a esperada co-edição com a EDUSP.
Toda a documentação referente ao livro está organizada em uma pasta
denominada “Dossier”. Esse procedimento é comum para o período. A cada nova
reedição ou título novo, abria-se uma nova pasta que reuniria cópia de toda a história do
título na editora. Contratos de direitos autorais, prestação de contas, cópia das fichas de
edição e pareceres.
A história desse livro começa, na editora Nacional,
189
com duas cartas
assinadas no mesmo dia (26 de setembro de 1974). A primeira é uma cópia de
correspondência da Companhia Melhoramentos para o departamento editorial de W.H.
Freeman and Company, datada de 26 de setembro de 1974.
Ao final do ano passado, trocamos correspondência referente a esse
título
190
Enquanto isso, enviamos nossa cópia de leitura para apreciação na
Companhia Editora Nacional (Rua dos Gusmões, 639 01212 São Paulo, SP,
c/o Mr. Thomaz de Aquino Queirós), acreditando que o livro seria mais
adequado à linha de publicação deles e que eles seriam a companhia ideal para
a edição em língua portuguesa.
.
Imaginamos que vocês foram contactados por eles em relação a
este assunto e gostaríamos de mencionar que não temos qualquer objeção a
que a Companhia Editora Nacional assuma os direitos de tradução para a
língua inglesa.
191
189
Há na pasta, cópias das correspondências trocadas entre a Melhoramentos e a Freeman, datadas de
1973
190
O autor se refere a Seed to Civilization
191
Re: Seed to Civilization
Dear Mr. Kudlacik
Towards the end of last year we have exchanged correspondence concerning this title.
Meanwhile we have submitted the book for appreciation and sent our reading copy to Companhia Editora
Nacional (Rua dos Gusmões, 639 – 01212 São Paulo, SP, c/o Mr. Thomaz de Aquino Queirós), believing
the book would be more suitable for their line of publications and they would be the right company for a
Portuguese language edition.
We suppose they have already contacted you in this matter and we would like to mention that we have no
objections at all that Companhia Editora Nacional take over the rights for a Portuguese language
translation. Pasta Dossier Heiser)
289
No mesmo dia, uma carta assinada por Thomaz Aquino de Queiroz
192
pede
uma resposta a carta de 26 de abril sobre o mesmo livro, reforçando o interesse no título
e, os termos para compra de direitos de tradução oferecidos à Cia. Melhoramentos e,
aproveitando a oportunidade, pedindo os filmes das ilustrações.
193
O documento seguinte é uma ficha, denominada no próprio documento de
Dossiê de LIVRO NOVO, em que a obra aparece alocada na 3ª. série da Biblioteca
Universitária. Nela constam as condições de contrato, título em Português e nome do
autor.
O departamento editorial, item 1 da ficha, analisa as possibilidades de venda da
obra e justifica sua escolha:
a) caracterização do mercado: Livro que abrange de maneira geral as
áreas de agricultura, história, alimentação, domesticação, botânica, economia,
nutrição. Mais especificamente, interessará alunos de botânica, agronomia,
biologia (à caneta) e ecologia (disciplina obrigatória nos currículos de
Engenharia, a partir de jan./77). Leitura paradidática nos cursos de economia,
antropologia, geografia.
b) Exame dos originais: Escrito por um biólogo (botânico)
194
c) Cronograma proposto para a edição: O livro já está totalmente
traduzido revisto, e estamos de posse dos filmes das ilustrações. Creio que
seria possível estabelecer-se um prazo de 6 a 8 meses, contados a partir da
entrega dos originais à produção.
que
conseguiu produzir texto agradável e por vezes divertido, com certa leveza
literária. Leitura repousante e saborosa (para não fugir ao trocadilho fácil...),
bem de acordo com uma “história a alimentação mundial”. Recomendamos a
leitura do prefácio (anexo nete dossiê), excelente amostra do estilo do autor e
“trailer” eficaz da obra.
Assinada Paulo Machado (11/06/1976)
192
Essa a grafia correta para o nome do diretor do departamento editorial e não a encontrada na carta da
Cia. Melhoramentos.
193
We have Just realised, going through our files, that we did not receive to date your reply to our letter
of April concerning the title Seed to Civilization
by Charles B. Heiser, Jr.
Either your reply or our inquiry somehow got lost in the mail.
We have then expressed our interest in the Portuguese language rights on this work, which was being
considered by Companhia Melhoramentos de São Paulo. Their decision was not favorable – so they told
us – and we decided to explore the possibility of a Brazilian edition. Inasmuch we are agreeable to the
terms you suggestes to Melhoramentos, advance of U$ 300.00 against royalties of 7.5% up to 5,000 and
10% thereafter, you may send the contract for signature.
May we take this opportunity to inquire you about the illustrations: would you be willing to lend us the
positive films of all half-tones or have duplicates made for us?
We thank you in advance for your kind cooperation.
194
Escrito a caneta acima do texto datilografado.
290
Alguns elementos desse Dossiê podem oferecer pistas para compreender as
razões que levaram esse livro para a BEM. As características mais marcantes do texto
são: “leveza literária” e “leitura repousante e saborosa”.
Um outro fator que aparece favorável à publicação da obra está no Memorando
Interno do Gerente Editorial (Paulo Machado) para o Diretor Presidente (Ézio Távora),
datado de 25/11/1976. Esse documento datilografado e assinado por Paulo Machado
está comentado a caneta por Ézio Távora e demonstra alguns argumentos que pesaram
na escolha desse título.
Trato esses dois casos em conjunto porque são assuntos afins e uma
das obras poderá substituir a outra. (Há um comentário a caneta. Que dois
casos? Vou tentar descobrir...)
Recusadas pela EUSP e pela FENAME as propostas de co-edição
para “Botânica Econômica”, sugiro que desistamos desse título e façamos
“Semente de Civilização” –em co-edição (há proposta tramitando na EDUSP,
mas não levo fé; e a enviada à FENAME já foi rejeitada) ou por nossa conta,
para suprirmos a área.
O principal ponto favorável, a meu ver, é o seguinte: enquanto
“Botânica Econômica” restringe-se às culturas brasileiras atuais, “Semente de
Civilização” é uma botânica econômica mundial, com enfoque histórico e
antropológico. Ou seja: o segundo título é sem dúvida mais abrangente e mais
“comercial” que o primeiro, o qual, cá entre nós, contava contexto fraco (o
forte eram ilustrações, seja admitido a bem da verdade).
Assim sugiro e peço que autorize iniciarmos os trabalhos de
composição da obra “Semente de civilização”, independentemente da
manifestação da EDUSP (nossa proposta está lá há mais de um mês).
Era o que havia a informar. Grato.
Após a assinatura e um pós-escrito, à caneta, aparece o seguinte texto:
Paulo Machado,
Atendi à sua recomendação. Li o prefácio. Realmente muito
interessante. Porém o texto tem trechos de arrepiar
! E você diz que está
revisto,
pronto para composição! Putisgrila! Jamais concordaria (a não ser qdo
não veja, confiando em meus gerentes) em publicar uma tradução mal cuidada,
principalmente de livro sério. Vamos ver o que v. pode fazer...(datado
26/XI/76)
Deve-se salientar da leitura do memorando os termos e a ironia do Diretor
Presidente, consciente de sua autoridade, aparentemente incontestável, e a preocupação
mais uma vez com a tradução. Negado o título brasileiro, a tradução se afigura como
uma opção viável e mais adequada porque mais ampla.
291
Pouco tempo depois, a EDUSP aprova o regime de co-edição com parecer não
assinado, provavelmente de Orestes Scavone, professor de Recursos Econômicos
Vegetais do Instituto de Biologia da Universidade de São Paulo:
Trata-se de livro verdadeiramente fascinante sobre a origem e a
história das plantas cultivadas e dos animais domésticos.
Heiser é uma das pessoas mais qualificadas para escrever um livro
dessa natureza pois é especialista de renome mundial. O livro é muito bem
planejado, escrito em estilo claro e de maneira agradável de se ler.
O conhecimento do assunto tratado é básico em todos os cursos de
Agronomia, de Zootecnia, de Genética e de Melhoramento. Além dessas áreas,
onde o livro deverá ser indicado aos alunos, poderá, com grande proveito, ser
também utilizado em cursos sobre Botânica Econômica, Zoologia,
Antropologia e Ecologia.
Trata-se, assim, de um livro que além de excelente virá trazer
benefícios a um grande número de estudantes fornecendo informações básicas
sobre assunto da mais extrema importância, a alimentação do homem.
Aconselho a coedição com grande entusiasmo.
Em 17 de dezembro de 1976, a ficha de produção apresenta o texto, de novo à
caneta, assinado pelo Diretor Presidente:
Aprovo a edição de 5.000 exs (4750+250).
Providências urgentes:
1 – regularização do contrato com o editor estrangeiro.
2 – revisão da tradução (copy-desk) com prazo limitado
, o mais curto
possível (se necessário, contratar externamente – com o Almir, p. ex.)
Abaixo de 5.000 exs está escrito em vermelho, “rever orçamento”. Em 15 de
fevereiro, uma fatura liquidada referente à revisão de 294 páginas de Sementes Para
Civilização (mudou de Sementes de Civilização para Sementes para civilização), a
revisora Lenah Isidoria Passos, não consta dos créditos do livro, cuja tradução ficou a
cargo de Sylvia Uliana e a revisão do próprio Paulo Machado.
292
Figura 61 - Foto da capa de Sementes para a Civilização
293
Figura 62- Imagem da ficha catalográfica de Sementes para a civilização, com o
título Biblioteca do Espírito Moderno e o nome da Ed. Da Universidade de São Paulo como
co-editora
Mais uma vez: O problema das traduções
“A tradução francesa lembra as do Lobato: ótimas para a leitura mas,
nem sempre
perfeitamente fiéis.” (Carta de Anísio Teixeira pata Thomaz Aquino
de Queiroz datada: Rio, 6 de julho de 1970
195
).
Esse pequeno trecho da carta de Anísio Teixeira a Tomaz Aquino de Queiroz a
respeito da tradução de “A Galáxia de Gutemberg” é emblemática do dilema enfrentado
pela CEN no período. Alguns de seus maiores sucessos ao longo dos anos (stead
sellers) tiveram suas traduções confiadas a Monteiro Lobato ou a intelectuais com o
mesmo tipo de enfoque para a tradução. O resultado é que muitas estavam sendo
questionadas quanto a sua qualidade.
195
CPDOC/FGV ATc1966.05.19
294
Desde a saída de Lobato, as traduções das obras editadas pela Companhia
Editora Nacional estavam a cargo de tradutores profissionais “revistos” por especialistas
quando era o caso. As traduções passaram, ainda, a merecer mais cuidado quando era o
caso de co-edição com editoras universitárias. A Editora da Universidade de São Paulo,
por exemplo, esclarece em sua correspondência com as editoras que, boas traduções são
critério importante de inclusão ou exclusão de obra para co-edição.
Nesse caso, Anísio está preocupado com a necessidade de não cotejar a tradução
brasileira com a tradução francesa de um original inglês. Reforçando sua preocupação
com as traduções, essa mesma carta questiona Aquino sobre os custos de tradução e de
datilografia dos textos e sua viabilidade comercial.
Um outro aspecto desse problema é que a tradução corria por parte da editora
interessada, que pagaria o parecer independente (geralmente de professor da
Universidade) e, se fosse o caso, arcaria com os custos de nova tradução e/ou de
revisão. Dentro da casa, o problema era discutido tanto em memorandos internos quanto
em cartas como a referida acima
196
O ano de 1977 pode ser considerado decisivo para compreender o final da
Biblioteca do Espírito Moderno e sua relação com a questão das traduções.
.
É importante lembrar que, a editora estava sob a gestão do BNDE.
Começam a aparecer os relatórios de Mitsue Morissawa
197
Em Memorando interno destinado “ao Prof. J.B. Damasco Penna”, datado de
28/3/1977 sobre o livro Por quem os sinos dobram?
de Ernest Hemingway, Mitsue
assim avalia a tradução de Lobato:
sobre as traduções
executadas nos clássicos da primeira fase da coleção. São, de novo, aqueles traduzidos,
principalmente por Monteiro Lobato.
A tradução do título acima, como já é de seu conhecimento, deixou
muito a desejar. É de se crer num subjetivismo acima do regular por parte do
tradutor. Muitos trechos, de grande valor literário, foram omitidos, o que é
imperdoável em qualquer tradução. Os episódios de amor entre Jordan e Maria
(personagens centrais da obra) foram simplesmente cortados, pese a sua
grandiosa expressão poética, sua essencialidade e inerência ao conteúdo.
196
Conforme já comentado no 2º. Período, o livro de Brenno Silveira A Arte de Traduzir é um manual
sobre as regras da arte da boa tradução e, sintomaticamente, critica as traduções de Monteiro Lobato
como sendo a maneira “antiga” de traduzir. Esse título apenas enuncia uma preocupação constante da
editora sobre a tradução.
197
Mitsue Morissawa aparece como parecerista de traduções e como integrante do departamento editorial.
Quanto a sua entrada na empresa, apenas encontro documentos por ela assinados a partir de 1974. Tudo
indica que ela era uma das mais próximas colaboradoras de Ézio Távora dos Santos que foi diretor do
departamento editorial e, mais tarde, presidente executivo da Nacional.
295
Algumas expressões espanholas de carga emotiva comum ao sangre cali do
povo, foram traduzidas
! Embora o autor tivesse tido o cuidado de mantê-las
sempre em sua forma espanhola, e traduzidas em português “abreviado”.
Poder-se-ia fazer uma edição nova, restituindo os trechos cortados,
utilizando-se a edição portuguesa da Coleção “Dois Mundos”, com adaptação da
tradução de Monteiro Lobato por Alfredo Margarido, um tanto mais fiel ao
original americano. Contudo, seria de todo conveniente fazer-se um cotejo, bem
como uma “readaptação” para o português do Brasil.
Com relação ao trabalho de revisão executado, isso em 1941, deixa ele
também muito a desejar. Não se teve o cuidado de pesquisar absolutamente
nada. Não se uniformizou nomes próprios e/ou a toponímia. Não existe critério
algum quanto à grafia de nomes espanhóis, se aportuguesada ou não, pois o que
se vê é alguma coisa feita mais ou menos à revelia. Truncamentos, saltos,
inversão de linhas, erros de concordância, falta de acentuação em palavras
espanholas, são alguns dos erros mais comuns.
Segue-se a esse comentário um levantamento página a página de todos os
“erros” da tradução de Lobato e da revisão feita em 1941. É importante notar que essa
avaliação é relativa a uma das obras de maior vendagem e constância de reedições da
CEN, com um total de 100.000 exemplares em 1976.
De um lado, a preocupação dos editores com a qualidade da tradução feita para
apresentar a obra a co-edição; de outro, alguns pareceres em que a co-edição está
condicionada a uma revisão da tradução, considerada inadequada e, de outro ainda, a
simples mudança de vocabulário ocorrida no Brasil do século XX, tornam esse
problema central em uma coleção que se construiu com traduções.
Durante esse período praticamente todas as obras candidatas a reimpressão
acabaram passando por um parecer semelhante. O custo dessa reavaliação das traduções
foi a venda de parte dos títulos para outras editoras que contrataram outras traduções.
Como, comentado, as obras de Will Durant que foram vendidas para a Record e
retraduzidas.
Os pareceres de autoria de Mitsue Morissawa, dirigidos a J.B. Damasco Penna,e
a Ézio Távora dos Santos, referentes a qualidade das traduções e citados tem sua
importância ampliada e o debate sobre a pertinência ou não de investimento em novas
traduções de títulos não escolares aumenta. Pelo menos um título, mesmo com parecer
desfavorável, o citado “Por quem os sinos dobram”, teve sua reedição aprovada mas
com nova tradução encomendada. Para este título, a decisão foi fácil, posto que
permaneceu desde o seu lançamento na lista de livros reeditados com uma média de
5.000 volumes vendidos a cada três anos.
296
Para os livros com tiragem e vendagem menores, a decisão foi um pouco mais difícil.
Em carta a Ézio Távora dos Santos datada 29 de março de 1977, o mesmo Damasco Penna
assim comenta o relatório recebido:
Perdoe, por favor, a apoquentação. É que acabo de receber do Serviço de
Revisão minucioso relatório a respeito da nova edição do livro de Hemingway, Por
quem os sinos dobram. Como verá, o texto vem sendo muito deficiente. Mas,
precisamos do livro, como ainda pouco me disse o Sr. Diretor Financeiro. A
reedição foi autorizada pela Presidência em 21 do corrente, segundo verá pela cópia
xerográfica. Mas, convirá deixar as coisas como estão, nesta próxima edição e
preparar tudo, com vagar, para edição mais cuidada, de futuro? Pois, para ficar
perfeito, o livro deverá ser praticamente retraduzido.
À lápis, no mesmo documento encontro o bilhete sem assinatura (provavelmente
escrito por Ézio Távora):
Prof. Penna,
Muito bom o trabalho da Mitsue. Vamos proceder da seguinte forma:
na reedição aprovada publicamos o livro como ele se
encontra;
iniciar, imediatamente, a revisão da tradução para que tenhamos
o texto pronto quando da ulterior reedição.
31/05/1977
Resumindo, enquanto o livro vende pode-se pensar em manter a tradução, desde
que a mesma não prejudique seu desempenho comercial. A tradução é ruim, o livro é bom,
vale à pena pagar nova tradução. Caso as vendas não compensem, a decisão é vender os
títulos menos adequados.
O controle da distribuição de livros a críticos literários
A história da coleção não pode ficar imune à própria história da editora. Após a
morte de Anísio Teixeira em 1971 e, em seguida, de Octalles Marcondes Ferreira, a
saída de alguns quadros importantes da editora, dentre eles, Thomaz Aquino Queiroz.
A questão sobre o que fazer com a editora acaba levando à administração do
BNDE. Esse é um momento muito complicado. Marcado pelo excesso de controle tanto
de cartas quanto de contratos, mas também pela rígida escrituração dos livros de
propaganda.
297
O ano de 1976 inaugura um tipo de registro que não encontrei nos anos
anteriores. São fichas de distribuição de livros para críticos literários. Essas fichas
trazem o nome do crítico, endereço, jornal e/ou revista em que escreve e livros enviados
com data, nota, título e autor. Também se foram enviados os livros, capas, press release
e/ou foto do autor. Os autores e fichas encontrados são para jornalistas em algumas
capitais apenas: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador,
Florianópolis, Goiânia e Fortaleza.
Nem todos receberam livros ou material da Biblioteca do Espírito Moderno de
24 jornalistas, 7 não receberam material da coleção. Todos os demais receberam pelo
menos um título ou capa e material de divulgação. Essas fichas marcam, ainda, os
resultados dessa estratégia de divulgação e cortam das remessas os críticos que não
publicaram material sobre os livros publicados pela Companhia Editora Nacional.
Anexa a essas fichas, uma série de correspondências desses críticos,
solicitando livros, em geral títulos da Biblioteca Brasiliana e alguns da Biblioteca do
Espírito Moderno.
Com esse material, é possível identificar os títulos da Biblioteca do Espírito
Moderno mais trabalhados no período de 1976 e 1977, pelo número de títulos enviados:
Tabela 47
Títulos da Biblioteca do Espírito Moderno distribuídos a jornalistas
(1976-1977)
Título
Autor
Número de volumes e
releases
Para que serve a ciência?
Dixon
8
1984
Orwell
8
O Casamento e a Moral
Russell
7
A conquista da Felicidade
Russell
7
O Amante de Lady Chatterley
Lawrence
6
Estudos de História contemporânea
Toynbee
6
Rebecca
Du Maurrier
5
História da República
Bello
5
Lincoln, esse desconhecido
Carnegie
4
História da Filosofia Ocidental
(apenas 1 tomo e press release)
Russell
4
Populações, espécies e evolução
Hardin
4
História das doutrinas econômicas
Roll
4
Retrato de Eça de Queirós
Vianna Filho
2
Sementes de Civilização
Heiser
1
Por quem os sinos dobram
Hemingway
1
298
Das cartas encontradas que pediam livros á Companhia Editora Nacional,
encontrei um total de 22 críticos/jornalistas; destes, apenas 8 pediram títulos da Espírito
Moderno e somente 2 foram atendidos.
O número de volumes e press release enviados também varia muito conforme
o crítico.
Paulo Medeiros de Albuquerque (Luta democrática/RJ) e Mauro Almeida
(Jornal de Minas/BH/MG) receberam cada um 9 títulos da Biblioteca do Espírito
Moderno mais alguns outros títulos das demais coleções. Ambos receberam apenas
livros e nenhum press release. Outros, sobre tudo de cidades menores e jornalistas com
menor inserção, recebem apenas os press release e, por vezes, a jaqueta do livro.
O pequeno número de cartas com pedidos encontradas e o diminuto número de
jornalistas que tiveram seus pedidos de livros controlados não indica que apenas esses
livros fossem distribuídos. Nas fichas de produção, encontro uma média de 250
exemplares para divulgação em uma tiragem de, em média, 5.000 livros.
Pode-se supor que alguns livros já estavam com seu destino acertado e,
portanto, não haveria processo de decisão sobre o que e para quem mandar. A própria
constituição do acervo não autoriza qualquer interpretação mais profunda dos dados. De
concreto, essas cartas indicam a preocupação em controlar a distribuição dos livros para
evitar o desperdício e, também, alguns livros que foram mais trabalhados do ponto de
vista comercial: Para que serve a ciência? e 1984.
Um outro aspecto que merece atenção é uma carta endereçada à viúva de José
Maria Bello que informava o aumento do número de títulos para divulgação sobre os
quais não haveria pagamento de direitos autorais.
Nessa carta, datada de 1980, além do pedido de assinatura do “de acordo”, fica
informado que: “aproveitando o início do ano letivo (
grifo meu), serão destinados mais
250 volumes de História da República para divulgação.”
Alguns títulos da coleção começavam a entrar na sazonalidade do livro
didático.
A Operação Garimpo: o golpe de misericórdia
No mesmo ano em que o último lançamento da Biblioteca do Espírito Moderno
era feito, surge um Dossier (411/77) denominado “Operação Garimpo”. Essa pasta é
299
composta de uma série de correspondências internas entre os departamentos editorial,
comercial e presidência da empresa. Nessas cartas, o objetivo principal é discutir sobre
a conveniência ou não de reimprimir ou reeditar os títulos do catálogo da Companhia
Editora Nacional.
A carta inaugural dessa série de documentos atenta para o descaso que o
departamento editorial da CEN teve com relação a seus “antigos sucessos”. Visando
“explorar as potencialidades dos títulos esgotados”, lançou-se uma operação para
levantar possíveis relançamentos.
O exemplo utilizado no memorando interno que iniciou a operação é um livro da
BEM denominado: A Maturidade Mentalde Overstreet. Esse livro, citado na carta,
havia tido três edições a aquele momento (em 1955, 1960 e 1967), cada uma com
4000 exemplares. Em meio a esse processo de discussão inaugurado pela Operação
Garimpo, o mesmo título foi publicado mais uma vez em 1978 com 5000 exemplares.
Nessa última edição desse título, ainda consta o pertencimento à Biblioteca do Espírito
Moderno que, como veremos estava em fase de desmembramento mas resistiria ainda
algum tempo.
Memorando Interno Dossier 411/77
Data 13/7/77
Operação Garimpo
Ao Gerente Rizzi
198
Muitos de nós temos estado preocupados em explorar as
potencialidades ainda existentes em muitos títulos antigos da CEN
de há muito esgotados.
Cheguei a produzir um Memo, há tempos instituindo o que
denominei “Projeto Tarzan”, cujo propósito era estudar a
possibilidade de reedição de livros de aventuras, potencialmente
em edições econômicas, com distribuição especial etc. Mas não se
fazem mais Tarzans como antigamente... o meu tropeçou e faleceu
anonimamente em alguns dos buracos dos nossos “caminhos
incompetentes”. A um tempo, declaro morto e renascido aquele
profeta.
Conforme conversamos a propósito da descoberta do “A
Maturidade Mental” de Overstreet, que um vizinho do Rio teve que
provar-me
que era editado por nós, e que constatamos contar com
excelente histórico de vendas até que se esgotou e ninguém falou
sobre o mesmo – peço-lhe um levantamento geral nas áreas III e IV
198
Segundo os memorandos internos da CEN, Carlos Rizzi trabalhou no departamento editorial e, nesse
momento, era o gerente do departamento comercial.
300
para descobrir outros títulos que porventura se encontrem em
situação semelhante.
Tal levantamento já deveria vir acompanhado de programa
preliminar de reedição. Poderemos ter casos – como o do livro
citado – que poderão ser tratados individualmente, enquanto que
outros – como os visados pelo “Projeto Tarzan” – poderão requerer
tratamento coletivo.
Ass; Ilegível
A parte prática da operação coube a duas pessoas: Mitsue Morissawa (da
“Oficina editorial”), a mesma funcionária encarregada por J. B. Damasco Penna de
analisar a qualidade das traduções, notadamente da Biblioteca do Espírito Moderno e
Ézio Távola (diretor do departamento editorial). O levantamento feito pela funcionária
passava em seguida pelo crivo do diretor.
Em Memorando interno de 29/08/78 de Mitsue para Dr. Ezio, a mesma presta
contas do levantamento executado:
Dr. Ezio,
vai, para seu exame, o resultado do levantamento feito
nas coleções Terramarear, Paratodos, Paratodos Policial, Negra e
Espírito Moderno (seção História e Biografia).
Chegando à 2ª. fase, e pretendendo conhecer a situação
editorial das 51 obras selecionadas, foi que me dei conta da
incipiência dos nossos arquivos no que tange à documentação.
Poucas foram, dentre as obras contratáveis (ou que teriam que ser
contratadas) as que contavam com documentos que comprovassem
a origem. E, na medida em que a pesquisa de origem é trabalhosa,
prolongada e dependente de confirmação no Exterior, fui premida a
me calcar fundamentalmente nas obras de domínio público ou
naquelas poucas que forneciam pistas. Por outro lado, ouve-se dizer
que alguns dentre os escolhidos na 2ª. fase teriam sido reeditados
em outras editoras, trocados apenas os títulos. Assim, identifiquei,
com o cuidado possível, as 21 obras a constarem da . fase, e das
quais tiraremos as reedições iniciais.
Por outro lado, vendo a coisa do ponto de vista comercial,
obtive, a título de exemplo, o preço nas livrarias das Aventuras de
Huck, de Mark Twain, editado pela Brasiliense. O preço de capa
atual é de cr$70,00. Passei o nosso exemplar ao DEPRO,
solicitando orçamento, com o propósito de comparação, e segundo
os seguintes padrões: formato 14 x 21, corpo 10/10, brochura
aparada, capa a 4 cores, plastificada. A preços de hoje o livro, com
tiragem de 5.000 exemplares, teria um preço de capa de cr$ 185,00.
Para se chegar ao preço da Brasiliense, teríamos quase que triplicar
a tiragem. O HUCK é apenas um exemplo, na medida em que está
fora de cogitação.
301
Peço-lhe considerar a lista da . fase, escolhendo entre as
21 obras aquelas que poderão ter iniciados os trabalhos de edição.
Ass: Mitsue
Ressalte-se que o levantamento é feito a partir de coleções existentes há muito
no catálogo da editora. Apesar do Memorando falar apenas na 3ª. série da Biblioteca do
Espírito Moderno, a responsável ainda levantou três títulos da série de Literatura (4ª.
série) O filho nativo, O livro da Jângal e A Ponte de San Luis-Rey.
Como resultado desse memorando, surgiu uma listagem que, ao lado do título e
autor, levantava as edições e tiragens anteriores ao momento vivido. Com 21 títulos,
apenas 5, os de número 17 a 21, pertencem à BEM, conforme se segue:
Figura 63 - trecho do mapa de sugestões dos livros da Biblioteca do Espírito Moderno.
Pasta Política Editorial
Os livros e comentários listados são:
17 - Richard Wright – O filho nativo –“ Figura entre os melhores do Autor.
Livro que trata do problema racial do negro.”
18 – Sholem Asch – O Nazareno – “O relativo sucesso desta e demais obras do
Autor, vem da peculiaridade com a qual mostra a vida de Cristo, da Virgem
Maria, Moisés e os Apóstolos. Havendo interesse da Edicel, poderíamos ter
parte da tiragem vendida antecipadamente.”
19 – Rudyard Kipling *
199
199
O asterisco ao lado do autor referencia um breve recorde de jornal sobre a obra de Kipling.
- O Livro da Jângal – “Livro que está em
consideração no DEPED e que merece ser reeditado sem maiores considerações,
302
enquadrado entre os paradidáticos. Estudar o possível desmembramento: Jacala
e Mowgli.’
20 – Giovanni Papini – História de Cristo – “Livro de interesse perene, de autor
mundialmente conhecido e que teve edições em todas as línguas.”
21 – Thornton Wilder – A ponte de San Luis-Rey – “Livro famoso, de Autor
famoso, que deu origem a um filme bastante alardeado. Boa qualidade.”
Dessa lista, apenas a Ponte de San Luis-Rey foi reeditado em 1983, ainda com o
título Biblioteca do Espírito Moderno na página de indicação bibliográfica. Quanto ao
Livro da Jângal, também reeditado fora da coleção, com caderno de leitura, vendido
como paradidático e desmembrado conforme sugestão apontada.
Livro que está em consideração no DEPED
200
e que merece ser reeditado
sem maiores considerações, enquadrado entre os paradidáticos. Estudar o
possível desmembramento: Jacala e Mowgli.
Para os títulos da . série os escolhidos como potencialmente interessantes,
todos tem alguma vinculação com temas religiosos. São os títulos:
a) A VIDA DE SANTO AGOSTINHO de Giovanni Papini
b) O NAZARENO de Sholem Asch
c) O APÓSTOLO de Sholem Asch
d) MARIA de Sholem Asch
Em parte, essa seleção é explicada pelo interesse da EDICEL na publicação dos
títulos em co-edição (comprando parte dos exemplares) e, em parte, pelo que José
Roberto Breves, do departamento comercial define como “obras cujo potencial de
mercado ainda é satisfatório” e Livros procurados atualmente, conforme informações
de nosso vendedor pracista. uma certa expectativa pela sua reedição” conforme
memorando interno de 18/12/1978.
Na verdade, o que estava em jogo era a própria estratégia de manter as
tradicionais coleções. Desde os anos de 1950, as capas diferenciadas haviam diminuído
a identidade dos livros da coleção que, primeiramente, mantiveram o símbolo BEM na
lombada e, já na década de 1960 o perderam.
A fundação da CODIL, comentada, que republicou todos os títulos de
H.G.Wells como “Obras Completas” e vendeu-as pelo crediário e a co-edição de títulos
200
Departamento Editorial.
303
com a EDUSP praticamente descaracterizaram algumas das reimpressões, inclusive,
como visto, com capas de outra coleção como no caso de Bertrand Russel e a co-edição
pela UnB.
Restava como dispositivo de identificação o catálogo, a ficha bibliográfica, a
propaganda e o prestígio da Biblioteca. É nesse contexto que sua reestruturação começa
a ser pensada.
A cargo dessa análise, Mitsue assim analisa o “problema” da reedição de títulos
há muito esgotados:
Não vejo a iniciativa apenas do ponto de vista editorial, sinto a
dificuldade de colocar livros como os garimpados no mercado, sem um
planejamento global. Esse planejamento levaria em conta uma série de
subprojetos de divulgação imprescindíveis, onde se incluiria um antecipado: o
de organização do cadastro de clientes do Reembolso Postal (RP).
Não deixa de ser interessante salientar que o Reembolso Postal é uma estratégia
antiga de divulgação e distribuição dos produtos da Companhia Editora Nacional. O
cadastro a que Mitsue faz alusão havia sido construído, dentre outros, por meio de
cupons de propaganda.
No mesmo parecer, a análise com relação às obras e ao leitor são:
As obras analisadas e selecionadas pelo João Camilo são, na
maioria, destinadas a um mercado atomizado, que a rede distribuidora não
alcança. É o mercado de ficção, digamos, popular, de obras de fácil consumo
intelectual. Um mercado que está, freqüentemente, isolado, distanciado do
produto e, mesmo, da informação do produto. Falo da professora, do
dentista, do advogado, do adolescente, do funcionário da administração, do
padre das longínquas paragens do Brasil, onde não há sequer uma livraria.
Assim, argumentava ela, os cadastros de leitor existentes na editora poderiam
ser aproveitados, juntamente com uma requalificação do público leitor a partir de
preferências. Na verdade, em seu entender, o programa de reedições teria sentido
mediante um esforço de “reconquista” do leitor “atomizado” nas longínquas paragens
do Brasil. Repare-se os exemplos de leitores além do adolescente, os profissionais
fora do ensino superior que ainda teriam interesse em leituras semelhantes às da
Biblioteca do Espírito Moderno.
Retome-se as palavras de Monteiro Lobato tantas vezes citadas sobre o correio e
o reembolso postal, tanto tempo escritas e encontramos tanto tempo depois a mesma
estratégia básica.
304
Para além do cadastramento, o projeto é mais ambicioso, conforme instrução de
Ezio Távola a Mitsue:
Sem dúvida deveremos apelar ao máximo para o sistema de
mala direta, com aprimoramento dos cadastros, etc. Mas nunca poderíamos
basear aí nossas esperanças de sucesso do empreendimento. Discuta o
assunto longamente com o Breve e o Carlinhos, p. ex. Quanto a conselheiros
“externos”, recomendo que ouça o dono da Livraria Triângulo (o Carlinhos
acertaria o encontro), que desde há muito tempo ficou de vir conversar
conosco para apresentar sugestões nessa linha de “garimpo”.
Com os elementos adicionais que colheríamos aí, creio
poderíamos dar logo a partida ao programa que sugere, e que me pareceu
bastante sensato.
(20.06.79 Ezio)
A idéia é construir um plano-piloto que indicaria a possibilidade de novos
lançamentos e as novas etapas do projeto.
Dentre os títulos garimpados, devemos escolher, primeiro,
aqueles que fariam parte de um plano-piloto, onde estariam incluídos os
vários subprojetos (divulgação, comercialização, controle do comportamento
de vendas passo a passo, fichas de abordagem, etc.).
É com base nessa perspectiva de um novo plano-piloto que os títulos são
“garimpados” nas coleções. O desafio é a diversidade de títulos e públicos a que se
destinam os livros do projeto:
Na fase I da Operação Garimpo foram consideradas 4
Coleções: Paratodos, Terramarear, Moças e Espírito Moderno, além de
títulos avulsos. Para comporem o plano-piloto, escolheríamos 4 obras por
coleção, uma vez que lidaríamos com mercados distintos, perfis
diferenciados sócio-cultural-economicamente.
Segundo o catálogo da Editora e o livro comemorativo dos 80 anos da
Companhia Editora Nacional Homens e Livros, a Coleção Paratodos era composta de
romances traduzidos, históricos, policiais e indicado para um público mais amplo, seja
pela diversidade seja pelas temáticas.
A coleção Terramarear era composta por livros de aventura tais como Tarzan e
Mowgli (desmembrado do Livro da Jângal mas com o mesmo texto e tradução).
A Biblioteca das Moças apresentada pelos editores às agências literárias e
editoras estrangeiras de quem compravam os títulos como “love story” de baixo custo e
preço final. No entender da parecerista, o público permaneceria mas:
305
Cabe registrar a inconveniência de manter o título Biblioteca
das Moças, porque, primeiro, moça é palavra demodê, e, segundo, pela
tendência das obras da coleção para um público especial, de aspirações
segundo um modo de produção ainda subsistente em muitas regiões do País.
Suponho que livros que falem de mal e bem, de pobre e rico, de condes,
príncipes e princesas, pertencem a um universo distinto, onde a linguagem
dos mídia (?) tem pouca ou nenhuma penetração.
E, continuando seu parecer:
Para a produção dos livros deve-se levar em conta preços de
capa razoáveis, tendo em vista o mercado a que se destina a maioria dos
títulos. Os preços apresentados nos orçamentos preliminares de 29.11.78
estão muito elevados a meu ver, mesmo considerando a possibilidade de
desconto no Reembolso.
Não se deve considerar uma tiragem única para todas as
reedições, como a proposta de 3.000. Há muito (sic) títulos que comportam
5.000 ou até 10.000 (como Moby Dick, O príncipe e o pobre, Caninos
brancos, O livro da Jângal, para os quais conviria elaborar as fichas de
abordagem).
A condição para uma tiragem maior era, como previsível, a utilização nas
escolas e a adaptação a um novo público. Não mais o adulto que leria como lazer mas o
aluno que leria por obrigação.
Entretanto, a questão permanecia, como reconquistar esse público perdido pelo
país, em localidades sem livraria?
A proposta de Ezio Távola em resposta, datada de 20/06/79, ao memorando
interno vem sob a forma de pergunta:
Com exceção talvez da Biblioteca do Espírito Moderno, penso
que deveríamos considerar a extinção das demais, ou seja, o lançamento de
uma única nova coleção, ou mesmo o lançamento de todos os livros como
avulsos, sem referência a coleção. Afinal, qual a importância marcante da
coleção?
Complementada pela sugestão:
Complementando os comentários de ontem: não se poderia
pensar em fundir aquelas 3 coleções em uma nova: Coleção Lazer?
Precisamos examinar mesmo com muito cuidado os velhos
títulos, para não publicar coisas ultrapassadas ou superadas, em todos os
sentidos. Por exemplo: o tratamento que antigamente se dava aos negros
africanos e aos árabes nos livros de aventura; a visão limitada de sérios
problemas da atualidade (seria o caso da poluição com “O mar que nos
cerca”? Mero palpite, pois não me lembro de que trata o livro). (Memorando
interno datado: Rio, 04.09.79)
306
Entretanto, no entender de ambos, de nada adiantaria o esforço editorial se uma
campanha comercial agressiva não suportasse o projeto:
Iniciado o processo de produção da obra, a Divisão de
Divulgação deverá projetar anúncios levando ao conhecimento dos leitores
as reedições no prelo. Isso poderá ser feito em cartas simples e dirigidas
conforme características do leitor. Por exemplo, para aqueles que costumam
pedir romances amenos, o anúncio das obras da Biblioteca das Moças (com
outro nome, relembro). Quando os livros já estiverem no mercado, faremos
folhetos por Coleção e os enviaremos com Carta-resposta Comercial.
Sistema antigo, porém melhor sistematizado, que honrará o leitor isolado e
esquecido.
É fundamental que os livros saiam mais ou menos na mesma
época, de forma a viabilizar o anúncio por Coleção, e o acompanhamento
uniforme do comportamento das vendas no período de 6 meses a um ano.
(memorando interno ass: Mitsue)
Tal idéia é completada por outro memorando (datado 04/09/79)
Mitsue
Trabalho muito bem conduzido! Preocupa-me “capricharmos”
no Editorial enquanto o comercial continua “paradão”; V. tem tido algum
contato a respeito com o Breves ou o Márcio? Ou será que lançaremos a
nova coleção para ficarmos na exclusiva dependência dos esforços do
Carlinhos?...
Quanto à estrutura da coleção, parece-me recomendável dar-lhe
um mínimo de arrumação, dada a diversidade de temas que abrigará. Por
outro lado, “coleção” parece pouco adequado, pois sugere a necessidade, ou
conveniência de aquisição de todos os títulos. Que tal Biblioteca Lazer? Nela
teríamos diferentes séries como por exemplo:
Série 1 – Aventura
Série 2 – Mistério
Série 3 – Rosa (Poliana e que tais)
Essa arrumação é comunicada ao diretor por memorando interno:
Memorando Interno data: 2.10.79 (manuscrito)
Nesse documento, é necessário ressaltar que o responsável pelo
departamento editorial faz uma distinção entre coleção e biblioteca. A coleção exigiria
os números marcados e uma “compra” quase obrigatória, já a biblioteca seria mais livre.
A aquisição dos títulos se daria apenas com relação ao interesse do cliente. Em sua
opinião, a estratégia da coleção não caberia nesse tipo de livro e de leitura e, se fosse o
caso, a melhor opção seria uma biblioteca sem títulos numerados, oferecendo maior
liberdade ao consumidor.
307
Convém, ainda, lembrar que os títulos cogitados para tal biblioteca teriam
vários públicos possíveis.
Sobre a Biblioteca Lazer, em outro memorando interno, a mesma Mitsue
assim se pronuncia:
Entre os projetos da Editora para o próximo ano está o da
“Biblioteca Lazer”, incluindo diversos tipos de obras de ficção tal Biblioteca
será dividida em seções ou séries onde serão encaixados além obras de
características semelhantes. Os livros componentes da primeira leva de três
serão: Mowgli, o menino-lobo de R. Kipling, Moby Dick de H. Melville e
Caninos Brancos, de Jack London. Está para ser decidido se Mowgli sai ou
não da Espírito Moderno.
Estamos solicitando ao DEPRO um projeto de capa para os
livros da “biblioteca” e a forma de diferenciação por série. Deixamos tal
idealização por conta exclusiva do Setor de Arte que deverá dar andamento
ao projeto (riscado) possível.
O formato pensado é 14 x 21 cm.
Por outro lado, a composição e programação visual deverão ter
sempre um mesmo padrão.
Ass: Mitsue
Repare-se que nesse texto, Mitsue se refere a Mowgli e não mais a “Livro da
Jângal”.
A resposta recebida foi por meio de Ezio Távola:
Resposta: datada de 05.10.79 (manuscrita)
Garimpo/Lazer
Mitsue,
Lamento os problemas pessoais que v. esteve enfrentando.
Vou procurar arrumar um pouco as idéias com respeito às
questões que levantou.
Divisão da coleção (?) em séries (?)
Estamos todos de acordo quanto à sua conveniência, e também
conscientes de que jamais conseguiremos qualquer divisão perfeita com
fronteiras bastante nítidas.
Teriam que ser uns poucos grandes grupos, convenientemente
denominados. Quantos? que denominações? Não sei, mas a melhor maneira
de resolver o problema é começar esboçando alguma coisa, pois a partir daí
tem-se base concreta para a discussão. Peço-lhe que tente isto, inclusive
colhendo sugestões. Por ora, estou “sêco” de idéias.
Biblioteca do Espírito Moderno
Pelo que v. diz, essa coleção não tem a unidade que eu julgava
tivesse. Estou pronto, pois, a considerar a idéia de incorporar títulos seus à
nova coleção.
201
201
Não encontrei o comentário sobre a Biblioteca do Espírito Moderno na pasta. É possível que o
mesmo tenha sido feito oralmente porque os memorandos estão numerados e não identifiquei falta de
nenhum.
308
3. Padronização da coleção
Para a decisão, seria de todo recomendável tivéssemos um
“boneco” com as características sugeridas.
Tendo a discordar de v. com respeito às capas. Poderão ter uns
poucos elementos comuns (título da coleção, logotipo etc, e mesmo o estilo),
mas a forma deve ser livre para ganhar-se em movimentação, fugir-se à
rotina, e evitar o inconveniente da impressão de que o comprador não deve
comprar um único exemplar da coleção, por parecer-lhe que ficaria na falta
dos outros (daí não me agradar, inclusive, a denominação coleção).
De novo, o problema da coleção “obrigatória” e da uniformização do
público reaparece.
4. Utilização como para-didáticos
Creio estar havendo certo exagero de nossa parte, ao pretender
trabalhar praticamente todos os títulos infanto-juvenis como para-didáticos.
Entendo que muitos (sic) poucos se prestam a isto.
Preço de venda e tiragem
Aumentar a tiragem com o objetivo principal de reduzir o custo
da produção, sem levar em conta, em primeiro lugar, as perspectivas
razoáveis de vendas, significaria enganar a nós mesmos, e incorrendo em
maiores custos para nos ludibriarmos...
Concordo em que precisamos de preços competitivos, e
acredito que devemos lográ-los incorrendo em riscos: por exemplo,
computando apenas uma fração do curso fixo inicial de produção; na
expectativa de que futuras edições venham nos ressarcir desses custos e,
finalmente, proporcionar-nos resultados concretos. Isto é precisamente o que
se obtem quando se aumenta a tiragem para obter preços inferiores, com as
agravantes de que, neste caso: a) aumentam-se os investimentos
notadamente em papel e serviços; b) aumentam-se os custos de estocagem e
assemelhados; c) aumentam-se os riscos, pois no caso de insucesso os
investimentos adicionais (letra a) também não serão recuperados.
Enfim: cada caso terá de ser objeto de estudo especial, não
havendo dúvida de que teremos que aplicar política especial de preços.
Ainda com respeito à tiragem, e à vista da ótima estatística de
venda que v. apresenta, observo que apenas 8 títulos, dentre os nossos
campeões de vendagem, justificam tiragem de 10.000 ou mais exemplares.
Se analisarmos a tiragem dos títulos didáticos em comparação aos títulos
da Biblioteca do Espírito Moderno, podemos perceber a falta de interesse comercial que
tais títulos ofereceriam. A Operação Garimpo visava apenas aproveitar o que
estivesse disponível com um mínimo de investimentos. Não hipótese de compra de
novos títulos não-didáticos.
Programação da coleção
309
Temos que dar os “toques finais” com respeito à forma da
coleção. Quanto ao formato, por exemplo, sendo o caso de reedições que
dispensem recomposição, poderíamos sacrificar a uniformidade do formato,
por ora, por razões de economica e rapidez. Gradualmente iríamos ajustando
todos.
A programação que V. apresenta parece-me OK, ficando
apenas em dúvida quanto a problemas que poderemos ter por incluir na
primeira leva um título que depende de contratação (Kipling).
Na mesma linha da observação inicial, recomendo que o
programa da coleção inclua os títulos atuais, vivos, que a ela serão
incorporados, pois isto nos dará melhor visão de conjunto e permitirá aquele
trabalho de uniformização “lenta e gradual”.
Chegamos à reta final!
Ezio
A preocupação com o mínimo de investimentos aparece aqui na forma de
uma única recontratação (Kipling) mas cuja tradução (adaptada) de Monteiro Lobato se
manteve. Para essa operação, em especial, a estratégia comercial deveria ser vincular o
lucro à segunda edição e não à primeira, posto que o mercado se revela muito
competitivo.
Parece-me evidente
que não poderemos adotar o método
tradicional de fixação do preço de capa
. Haveremos que vincular o lucro, no
mínimo, à segunda edição – salvo casos especiais -, pois caso contrário não
teremos qualquer possibilidade de êxito, pois estaremos disputando um
mercado competitivo (creio que a Francisco Alves está investindo agora,
pesadamente, no relançamento de Edgard Wallace) e buscando criar
novos
mercados, o que será impossível sem o fator preço.
Não obstante, temos o dever de nos cercarmos do máximo
possível de segurança, cuidando, em especial, dos seguintes aspectos:
1) seleção de títulos extremamente cuidadosa
: Autores e títulos
“charmosos” podem estar violentamente fora da atualidade
; não
evidentemente com respeito à época em que se desenrola a estória, mas
quanto ao enfoque dos caracteres, visão politico-social do contexto etc;
2) Vigoroso trabalho criativo do DECOM, que deverá montar
estrutura adequada de promoção e vendas ANTES que os livros comecem a
ser publicados : A lerdeza é uma das maiores tragédias da Nacional; a
velocidade de giro do nosso capital faz da tartaruga em comparação, campeã
de sprint; uma das razões está aí: o comercial só toma conhecimento de um
lançamento nas áreas III e IV após a publicação, e só então poderá começar a
pensar em vender o livro;
3) Segurança de retorno do capital investido
: Embora se possa
“jogar para a frente” o lucro, deveremos ter razoável segurança de que
seremos adequadamente reembolsados pelos custos diretos e indiretos dos
lançamentos; matéria pois, a ser discutida em detalhe com o Diretor
Financeiro.
310
Com base em sua lista de 21 obras da 3ª. fase, eu selecionaria
inicialmente, “pelo faro”, as 11 seguintes:
Nos.
2 – Mark Twain, “ O príncipe e o pobre”
3 – Jack London, “Caninos brancos.
4 – “ “ , “ O grito da selva”
10 – R. M. Ballantyne, “A ilha de coral”
12 – Hermann Melville, “Moby Dick”
14 – E. Salgari, “Song-Kay, o pirata”
16 – Howard Fast, “Fronteira de Fogo”
17 – R. Wright, “O filho nativo”* (Ao pé da página está: * Não
temos em estoque?)
18 – Sholem Asch, “O Nazareno”
20 – G. Papini, “História de Cristo”
19 – R. Kipling, “O livro da Jângal”
Creio que nossa estratégia
deveria considerar, dentre outros, os
seguintes pontos:
Programação dos lançamentos em grupos de 3 obras
“equilibradas” como possível (ou seja, de preferência de autores e temas
diferentes).
Pelo menos enquanto não nos assegurarmos do êxito da
Biblioteca Lazer programaríamos o andamento da publicação dos sucessivos
grupos de forma a podermos parar, em determinado momento, com o
mínimo de investimentos nas obras ainda não publicadas.
3) A seleção das obras que comporiam o 1º. e o 2º. grupos teria
de ser particularmente cuidadosa, por motivos óbvios; teriam de ser obras de
franca aceitação e, se possível
, sem problemas de contratação (DP);
4) Continuo achando difícil encaixar a “Espírito Moderno” na
nova Biblioteca; isto porém não constituiria problema: simplesmente
faríamos paralelamente, as edições na “EM”, e talvez alguns
“enquadramentos” nela, como talvez a “História de Cristo” de Papini;
5) Parece desnecessário acentuar a importância do orçamento
prévio no procedimento da seleção efetiva das obras a reeditar.
Marchemos!
Ezio
Esse projeto, aparentemente, não ganhou força e, a comparar-se com as coleções
concorrentes tanto nas décadas de 1930 e 1940 quanto na década de 1950, a estratégia
editorial mudou. É MELO (2006:95) quem explica a diferença na estratégia por meio de
uma análise do design das coleções de meados dos anos 1960 em comparação às
coleções dos anos anteriores.
A Debates estabelece uma série de parâmetros novos para o projeto de
coleções em relação ao que vinha sendo produzido no país até então. Na balança
das variantes invariantes Moysés (Baumsteins) jogou todo o peso nas
311
invariantes. Como resultado, sai valorizada a coleção em detrimento da
particularidade de cada volume. Ao mesmo tempo, ele podia se dar a esse luxo.
Em sua maioria, os textos era tão fundamentais em suas áreas de conhecimento
que podiam prescindir de particularização. E, depois de 30 ou 40 volumes
publicados, o sucesso foi tão grande que o esquema se inverteu: se um volume
fosse publicado pela Debates, isso atestava ser ele fundamental em sua área de
conhecimento.
Á primeira vista, as coleções continuam como opção estratégica nos projetos
editoriais mas, os formatos e o público-alvo mudaram muito. A BEM, em seu primeiro
período, tivera capas homogêneas com cores distintas apenas na série. Entretanto, esse
formato não era nem original e nem contemporâneo. Ele se inspirara nos livros
“clássicos” do final do século XIX e, em certo sentido, era um retrocesso no design de
capas.
a coleção Debates, mudara as invariâncias e variâncias no que MELO (2006)
denomina de projeto modernista. Ocorre que o projeto único da coleção debates e, mais
tarde da estudos. Ancorada na importância das obras, a coleção conseguiu consolidar
um espaço especial na estante tanto do leitor quanto das livrarias, tornando o livro da
Debates distinto.
O resultado é que, ao entrarmos numa livraria, ou na biblioteca da casa
de alguém, os livros da Debates eram – e ainda são - reconhecidos num relance,
mesmo se for um único volume guardado numa prateleira cheia de outros livros.
Dado o seu caráter de coleção, o mais freqüente era eles serem guardados
agrupados, o que torna sua presença visual ainda mais marcante. Limpeza,
precisão, legibilidade, clareza, código. Sistema. O ideário modernista chega aos
livros em 1968 e dá uma das melhores respostas ao desafio de projetar uma
coleção na história do design brasileiro.
Paradidáticos, universitários ou simples best-sellers. Esse o destino dos livros da
BEM. Enquanto isso, surgiam as coleções Primeiros passos, Encanto radical, Tudo é
História da Editora Brasiliense além das já citadas Estudos e Debates da Editora
Perspectiva. Ambas dentre outras, visando o público estudantil e universitário, em
expansão e carente de literatura.
Parte do público antigo da BEM mudara. Seus filhos e netos freqüentavam o
crescente ensino superior e necessitavam outro tipo de leitura. Quanto a outra parte,
encontrava nas bancas de jornais e nas compras a prestação as facilidades necessárias
para seu consumo.
Também para essas obras, o formato das coleções precisou ser alterado.
312
Quando a Companhia Editora Nacional foi vendida para o IBEP, a Biblioteca
Lazer não havia saído do papel, e dos títulos garimpados na Biblioteca do Espírito
Moderno, apenas Mowgli, Maturidade Mental e Rebecca foram relançados. Ao lado de
alguns livros de reimpressões mais ou menos constantes todos da série de Literatura:
Por quem os sinos dobram?, Adeus às Armas
202
No inventário feito para verificação dos estoques em 1980, dentre todos os
títulos publicados da Biblioteca do Espírito Moderno, havia na CEN:
, 1984 (com ficha de leitura) e O
Amante de Lady Chatterley. Acrescidos da co-edição CEN/UnB de História da
Filosofia Ocidental.
Tabela 48– Inventário da Biblioteca do Espírito Moderno (1984)
Autor
Título
Estoque
(em
livros)
Última edição
Roll
História das Doutrinas
Econômicas
837
1948
Papini
Diário
258
1966
Curie
Madame Curie
4020
1976
Deeping
Lágrimas de Homem
0
1941
Haddad
Castro Alves, poesia completa
0
1966
Hemingway
Adeus às armas
2819
1978
Hemingway
Por quem os sinos dobram
4339
1979/1980
Keepling (sic)
Kim
39
1972
Keepling (sic)
O livro da Jângal
00
1969
Lawrence
O amante de Lady Chatterley
4791
1980
Macy
História da literatura mundial
2217
1946
Orwell
1984
8637
1979/1980
Shute
Hora final
2382
1974
Wright
O filho nativo
00
1966
Yutang
Momento em Pequim
967
1967
Maurier
Rebecca
3511
1979
Durant
Filosofia da vida
1.308
1970
Durant
Os grandes pensadores
00
1968
Mello
Desenvolvimento e cultura
00
1963
Overstreet
A maturidade mental
3506
1978
Robinson
Formação da mentalidade
00
1957
Ruef
A era da inflação
07
1966
Russell
Da educação
2508
1977
Russell
Ensaios céticos
73
1957
Russell
Ensaios impopulares
00
1956
Russell
História da filosofia ocidental
1283
1977
Russell
Princípios de reconstrução social
334
1958
202
Esses dois títulos de Hemingway continuaram como parte dos interesses da IBEP, que comprou
a CEN. Em 1988, segundo cartas trocadas entre Ana Cândida Costa a partir de dezembro de 1987 ,surgem
novas reedições das obras. (Pasta Alfred Rice e Pasta Dossier Hemingway)
313
Russell
Retratos de memória
759
1958
Russell
O casamento e a moral
1533
1977
Russell
A conquista da felicidade
610
1977
Russell
A perspectiva científica
1388
1977
Maritain
Humanismo integral
00
1966
Adler
A ciência da natureza humana
01
1967
Cleator
A era dos autômatos
191
1960
Hardin
A natureza e o destino do homem
1863
1969
Hardin
População, evolução e controle da
natalidade
1497
1969
Hazlitt
Economia numa única lição
164
1967
Dixon
Para que serve a Ciência?
1460
1976
Heiser
Sementes para a civilização
3093
1977
Asch
O apóstolo
00
1959
Beers
Um espírito que se achou a si
mesmo
1317
1967
Bello
História da República
1833
1976
Bello
Retrato de Eça de Queirós
2493
1977
Carnegie
Lincoln, esse desconhecido
4083
1977
Durant
História da civilização - I
00
1954
Durant
Idem – II
00
1957
Durant
Idem – III
00
1958
Durant
Idem – IV
00
1957
Durant
Idem – V
00
1959
Durant
Idem – VI
00
1964
Durant
Idem VII
00
1967
Durant
Idem VIII
00
1968
Endore
Alexandre dumas
449
1959
Endore
Coração e o espírito
1309
1966
Josephson
Zola e seu tempo
00
1958
Ludwig
Beethoven
00
1960
Maurois
Vida de Disraeli
00
1957
Maurois
Vida de Shelley
00
1957
Toynbee
Estudos de história contemporânea
2786
1976
Wells
História universal – 3 vols
00
1970
Tabela construída com os títulos na ordem em que aparecem no inventário, suprimidos os títulos
que não pertencem à BEM.
314
De todos estes, apenas 5 tiveram reedição ainda na mesma empresa (CEN/IBEP)
Tabela 49 – Biblioteca do Espírito Moderno
Reedições após 1977.
Hemingway
Adeus às armas
2819
1978
1985
Hemingway
Por quem os sinos
dobram
4339
1979/1980
1982/1983/1984
Orwell
1984
8637
1979/1980
1981/1982/1983
(3edições)/1984(3Ed)/
1985/1986/1987
Russell
História da filosofia
ocidental
1283
1977
1982
Bello
História da República
1833
1976
1983
Tabela construída com os títulos na ordem em que aparecem no inventário, suprimidos os títulos
que não pertencem à BEM e aqueles que não tiveram reedição.
Pelas poucas obras que tiveram reedições após esse período, percebe-se o final
da coleção. Os títulos de Bertrand Russell foram vendidos à Zahar, Durant foi
negociado com a Record. Quanto às reedições que permaneceram com o selo
Companhia Editora Nacional ou ganharam o selo IBEP, para todas desaparece o título
BEM.
Em 2002, surgem reedições de A Ponte de San Luiz Rey, e uma edição de O Mar
que nos cerca em co-edição com o MEC no projeto Escola de Cara Nova. Os poucos
títulos sobreviventes não estão mais organizados na estratégia de coleção como as da
Biblioteca do Espírito Moderno. E nesses livros, nenhuma indicação de edições e/ou
reimpressões anteriores.
O surgimento de novas coleções: a obsolescência de um modelo
Diante desses momentos finais da Biblioteca do Espírito Moderno, cumpre agora
fazer um pequeno balanço de alguns fatores que contribuíram para o seu final.
Obviamente, vários aspectos desse balanço foram explorados ao longo do
texto. A tradução “lobateana”, seguida pelo ônus de traduções e revisões de títulos
antigos e cujos termos e temas, por vezes estavam ultrapassados. Apenas para
exemplificar, tanto Russell quanto Durant foram retraduzidos nas editoras que os
adquiriram.
315
Em 1966, a Livraria José Olympio iniciou a publicação da coleção Biblioteca
Life. Essa coleção estava dividida em três séries: Biblioteca da Natureza, Biblioteca
Científica e Biblioteca da História Universal.
Para todas as séries, o projeto editorial se assemelha. Um autor renomado e “os
redatores dos Livros TIME-LIFE, anonimamente indicados e um ‘EDITOR
CONSULTIVO”.
Cada livro seguia o mesmo modelo. Um artigo de mais ou menos 10 páginas
com tipos ligeiramente maiores, no formato 21 x 28, seguido por um ensaio
ilustrado”. Todos os títulos apresentavam capa dura, com ilustrações coloridas que
também se apresentavam na contracapa, na lombada o título em letras douradas e o
símbolo característico da LIFE e da Livraria José Olympio.
Essa coleção trazia consigo algumas inovações importantes para o “leitor
comum”. Era uma obra que serviria, também, de consulta escolar, seu texto facilitado e
as muitas ilustrações tornavam-no de leitura bastante fácil, quase enciclopédica.
Ao mesmo tempo, era uma coleção capaz de enfrentar a nova realidade de livros
vendidos em fascículos e em bancas de jornal, cujas características mais marcantes
foram as fartas ilustrações que se aproveitavam de uma boa qualidade gráfica e os textos
fragmentados para poderem caber no espaço de fascículos. encadernados apenas no
final do processo.Ainda mantém uma “idéia” de coleção mas que se forma não por
títulos mas por fascículos. Parte da coleção era vendida em boxes de quatro títulos a
prestação.
Como poderia Will Durant e sua Renascença em dois alentados volumes
concorrer com os livros do grupo TIME-LIFE? Ás ilustrações em preto e branco e o
texto conservador contrapostos a um texto facilitado e com ilustrações coloridas em
profusão. Ou, em sua versão mais popular, às enciclopédias e livros ilustrados vendidos
em banca?
Some-se a isso, a mudança do leitor pós-secundário que, se tornara com a
expansão do ensino superior, aluno universitário e, para esse público, um outro tipo de
literatura aparecia.
Os anos 1960, em especial 1968 e todas as mudanças culturais do mundo
repercutiram no Brasil com o que Heloísa Buarque denomina “desbunde”.
A atividade de outras editoras, em especial as coleções publicadas pelas Editoras
Brasiliense, Contexto e Perspectiva com novos formatos e novas temáticas, juntamente
com as mudanças na qualidade dos papéis, do parque industrial e da situação político-
316
educacional, inviabilizaram uma coleção para o grande público pós–ginasial, logo
transformado em ensino de 1º. Grau. O destino de alguns dos livros que sobreviveram,
ao menos um pouco mais, à coleção pode ser um exemplo desse complexo enredo. Parte
transformados em leitura para-didática, desmembrados e com cadernos de leitura, outros
ganharam o público universitário enquanto outros ainda foram vendidos e retraduzidos,
reinventados em outros contextos.
Resta ainda, uma constatação. Para qualquer uma das séries, manter o “espírito
moderno” implicava mudar temáticas, alterar linguagens, rever traduções, adequar às
novas regras ortográficas e, por fim, adquirir novos títulos e aceitar uma previsível
obsolescência da maioria dos títulos já editados.
O próprio título da coleção “Espírito Moderno” tal qual a Biblioteca das Moças,
antes dele, perdeu a significação e o apelo.
Em seu lugar, uma série de títulos com temáticas e linguagens mais adequadas
ao novo momento que surgia: Coleção Primeiros Passos, Encanto Radical, Tudo é
História para o público mais jovem e, também, as coleções debates e ensaios da Editora
Perspectiva.
Seria possível montar uma Biblioteca do Espírito Pós-Moderno?
Nas palavras de Ênio Silveira:
Acabaram-se as coleções, eu vou para um futuro reestruturar algumas
dessas coisas. A gente tinha uma coleção de teatro, tudo isso acabou com o
tempo, com estas mudanças todas que houve, estas transformações, a
descontinuidade. Os nossos administradores não interferem na parte de
conteúdo, que nunca foi censurado; eu disse e é verdade. Eles, entretanto,
arquitetam a máquina de vendas, talvez até melhor do que eu, porque como já
disse, entre o feijão e o sonho, sempre tendi mais para o sonho do que para o
feijão. Eles são pessoas muito mais terra a terra... (FERREIRA, 2002:131)
317
Considerações Finais
Na correspondência internacional dos arquivos da Companhia Editora
Nacional, há um “modelo de carta” de apresentação da editora a novos agentes, editoras
e instituições que definia o leque editorial das obras traduzidas. Assinado por vários
diretores do departamento editorial e comercial da empresa, o texto foi encontrado em
cartas do ano de 1941 (correspondência a editorial Autorjus assinada por A. Neves) até
a saída de Thomaz Aquino de Queiroz da Companhia em 1975.
Genero de livros que nos interessam:
Afim de evitar que VV.SS. nos enviem livros que não se enquadram
em nossas coleções, passamos a explicar quais são os tipos de livros uqe nos
interessam presentemente: FICÇÃO – Apenas best-sellers do valor de
REBECCA, NATIVE SON, FOR WHOM THE BELL TOLLS, etc. Damos
preferencia a novelas que estão sendo filmadas. Temos também muito
interesse na publicação de livros para moças – “love stories”, pois possuímos
uma coleção desse genero com mais de 100 obras publicadas. É claro que não
poderemos pagar por uma love story o mesmo que costumamos oferecer por
um best-seller, uma vez que essa especie de literatura é aqui vendida por um
preço muito baixo (5$000 o volume), isto é, por menos de 1 peso argentino.
Preferimos sempre uma compra outright quando se trata de “love stories”.
NÃO-FICÇÃO – Apenas as grandes obras de divulgação científica, histórica
ou filosófica, como as de Wells, Will Durant, Huxley, etc. Também as
biografias merecem a nossa atenção. GÊNEROS QUE PRESENTEMENTE
NÃO NOS INTERESSAM – Livros policiais (mistery), livros para crianças,
puericultura, medicina, advocacia, etc. Cremos que com estas indicações
VV.Ss. evitarão muito trabalho inutil quando tiverem que nos enviar amostras
de livros.
Ass. Arthur Neves (Carta para editorial Autorjus – 24 de novembro
de 1941.)
203
Percebe-se uma descrição bem concisa do leque editorial da empresa, para
além dos livros didáticos. Identifica-se, também, a Biblioteca do Espírito Moderno,
recém lançada na forma de alguns tulos caracterizados como best sellers e alguns
autores que se constituíram em âncoras da coleção.
Thomaz Aquino de Queiroz em carta a Pierre Nathan-Fernand Nathan éditeur,
já na década de 1960 (provavelmente 1966) mantem ainda uma apresentação bem
sucinta do leque editorial da CEN, onde a Biblioteca do Espírito Moderno aparece
nomeada.
203
Algumas correspondências, encontrei na versão em inglês e em português, outras apenas em inglês ou
apenas em português. Sempre que ambas as versões estão disponíveis, citei a versão em Português.
318
você pergunta sobre nossa casa: somos uma editora educacional
desde 1926. Nosso catálogo inclui livros didáticos para o primário, secundário,
curso normal e universidade. Atualmente, produzimos cerca de 200 títulos por
ano e nossas principais séries são: “Biblioteca Universitária” (filosofia,
Ciências Sociais, Ciências Puras, Ciências Aplicadas, Linguística e Literatura
e Geografia) com mais ou menos 70 títulos publicados; “Brasiliana”
(Estudos Brasileiros) com cerca de 370 títulos; “Atualidades Pedagógicas
(Educação em geral),100; “Iniciação Científica” (Textos introdutórios de
Ciências), 30; “Coleção Cultura, sociedade, educação” (Educação e Ciências
Sociais, 2º; “Biblioteca do Espírito Moderno” (obras de filosofia, ciências,
história e literatura destinadas ao leitor comum), 150: e várias séries populares
para o público jovem, com mais ou menos 300 títulos publicados. Nosso
principal programa editorial, entretanto, concentra-se nos livros didáticos de
nível secundário.
204
Pode ser difícil qualificar o “leitor comum” mas, certamente, este era o alvo da
Biblioteca do Espírito Moderno. Quanto de civilização e cultura era distribuiu? Quais
foram os caminhos e descaminhos que garantiram alongevidade da coleção?
Procurei neste trabalho desvendar alguns desses processos. Talvez o mais
surpreendente foi encontrar um movimento internacional que garante que o “leitor
comum” na década de 1940 lia alguns títulos comuns com outros leitores comuns de
outros países. Essa internacionalização dos títulos tornou possível uma coleção como a
Biblioteca do Espírito Moderno.
Alguns títulos da Biblioteca do Espírito Moderno estão na memória de muitos
ainda hoje. Mas, para a maioria, Lin Yutang, Hendrik Van Loon, Emil Ludwig, Will
Durant, sem falar nos autores da série de Ciências, são completamente desconhecidos.
Venderam muitos exemplares, tiveram carreiras de sucesso mas, terminaram relegados
ao esquecimento. Outros, guardam um interesse relativo, como Bertrand Russell.
Poucos, ainda podem ser lidos e encontrados em edições recentes.
A Biblioteca do Espírito Moderno seguiu o rumo de quase todas as coleções: a
obsolescência. Em todos esses anos, provavelmente, serviu para a formação de muitos e
foi valorizada mas caiu em desuso.
204
"you asked about our house: We are educational publishers since 1926. Our catalogue includes
textbooks for elementary and secondary schools, teacher colleges and universities. We are producing
nowadays circa 200 titles per year and our main series are: “Biblioteca Universitária” (Philosophy, Social
Sciences, Pure Sciences, Applies Sciences, Linguistics and litterature, and Geography), with about 70
titles already published; “Brasiliana” (Brazilian Studies), with about 370 titles; “Atualidades
Pedagógicas” (Education in general), 100; “Iniciação Científica” (Introductory science texts), 30;
“Coleção Cultura, sociedade, educação” (Education and social sciences), 20; “Biblioteca do Espírito
Moderno” (works on philosophy, science, history and literature designed for the common reader), 150;
and a number of popular series for young people, with about 300 titles already published. Our main
publishing program, however, refers to secondary level textbooks.”
319
A cada uma das séries, um destino, ao mesmo tempo semelhante e diferente.
Semelhante porque o envelhecimento igualou a todos e diferente porque os usos
possíveis dos livros se modificaram. Aqueles que não puderam ser escolarizados
tiveram vida mais curta. Isso explica a vida mais longa do único livro da série de
História e Biografia que teve uso para além da leitura de lazer: História da República de
José Maria Bello.
Apoiada em dois autores, a série de Filosofia teve sua sobrevida dependente do
interesse por eles despertados. Russell que era moda nos anos 1960, tornou-se objeto de
curiosidade nos anos que se seguiram. Seus únicos dois livros em circulação hoje são os
mais específicos e acadêmicos (Principio Mathematica e A Filosofia de Leibniz).
Para a série de Ciências, como todas as demais coleções de divulgação
científica, a obsolescência previsível precisa ser compensada com novos investimentos,
que não foram feitos. Essas séries terminam substituídas por fascículos ou livros de
outros formatos mais baratos.
Quanto à rie de Literatura, Hemingway e Orwell ainda conseguiram manter
um relativo interesse, para os demais títulos, o esquecimento. Fruto, talvez, do que
HUTNER (2009) e McKIBBIN (2008) denominaram de literatura sexista e dos novos
tempos de Best Sellers.
A história da Biblioteca do Espírito Moderno acompanha um processo de
expansão do leitor “médio” que, por sua vez, acompanha o processo de urbanização e
expansão da escola e da escolaridade.
Iniciada às vésperas da II Guerra Mundial, a Biblioteca acompanhou o medo da
Guerra Fria, o desenvolvimento científico da . metade do século XX, passou pelo
Estado Novo, pelo período de redemocratização e enfrentou a Ditadura Militar que se
sucedeu ao Golpe de 1964.
A pesquisa sobre a constituição da coleção identificou um projeto editorial
bastante claro, sobretudo durante a fase em que Anísio Teixeira foi seu organizador.
Fazem parte desse projeto uma idéia de formação geral do cidadão comum para que ele
construa valores, compreenda o mundo em que se encontra e, também, seja capaz de se
posicionar nele.
Em seu primeiro momento, a BEM não ficou imune às preferências literárias
tanto de Anísio (Durant e Wells) quanto de Monteiro Lobato, seu principal tradutor
(Kipling, Wells e Maurois).
320
Com a saída de ambos, e de Arthur Neves, a coleção perde o seu norte até que
Ênio Silveira assume a direção editorial da Companhia como um todo. Nesse instante, a
BEM sente um golpe. Acontece que o foco de atenção de Silveira estava voltado para a
Civilização Brasileira. A constituição do fundo editorial da Civilização, em parte,
esvazia a BEM, a constituição da Biblioteca do Leitor Moderno é um indício. Mas,
também, indica que o leitor médio e moderno que a BEM almejava, mudava
rapidamente. Seus temas e problemas eram outros.
A volta de Anísio Teixeira altera ligeiramente o panorama de abandono em que
se encontrava a coleção mas, por pouco tempo. Outros interesses e atividades de Anísio
distanciam o organizador de sua coleção. O mais concreto resultado da ação de Teixeira
na BEM é, sem dúvida, a obra de Bertrand Russell. Publicada com atenção e cuidado.
Duas mortes praticamente encerram o projeto editorial antes do final da coleção.
Anísio Teixeira em 1971 e Octalles Marcondes Ferreira em 1973 levam a Editora
Nacional a uma crise que envolve a tentativa de venda da editora e a intervenção do
BNDES. Nesse período, o aumento do número de funcionários e as mudanças
administrativas abandonam a estratégia de editar coleções e a coerência do leque
editorial. Livros universitários negociados mas, possivelmente, relegados pelos
organizadores da Biblioteca Universitária, são impressos sob o selo “Espírito
Moderno”, co-edição universitárias e mudança de público completam a desorganização
que a Operação Garimpo põe a descoberto.
Mas esse é apenas um olhar para o problema. A questão dupla
linguagem/tradução transformaram os títulos mais importantes e vendáveis da história
da coleção em material obsoleto. Portanto, passível de ser vendido; como aconteceu
com a maior parte do fundo editorial.
As traduções “lobateanas” deram lugar na empresa e na sociedade a uma nova
forma de tradução desenvolvidas por profissionais e “mais fiéis” ao texto original. Os
próprios contratos de tradução mudam ao longo do tempo. O sistema de co-edição com
as universidades deu origem, ainda, a uma série de pareceres que obrigaram a editora a
contratar bons tradutores, tornando o processo progressivamente mais caro.
Um outro aspecto que não pode ser ignorado é a inserção da Companhia Editora
Nacional no âmbito internacional desde, pelo menos, o início dos anos 1940. A
fundação de uma filial em Portugal, a luta pelos direitos autorais em língua portuguesa
para todo o mundo lusófono e, também, a luta contra as impressões feitas nos Estados
Unidos em português. São indício desse movimento, as disputas em torno dos livros de
321
Hemingway, a presença de livros da editora Nacional em bibliotecas portuguesas e,
também, as veementes cartas trocadas entre Ênio Silveira e os agentes literários.
Ainda um sintoma da inserção do Brasil no mercado internacional de livros foi o
acompanhamento da publicação dos livros com uma defasagem cada vez menor em
relação ao centro produtor. Basicamente, os títulos que circulavam tanto no Brasil
quanto na Argentina, quanto na Inglaterra e na França são os mesmos.
Essa internacionalização se fez, em grande parte, motivada pelo aumento do
consumo de livros e a conseqüente demanda por mais títulos em menos tempo.
Somando-se a isso, um eficiente circuito de distribuição dos catálogos e títulos que, em
caso de livros muito esperados, começavam a ser traduzidos a partir das provas de
impressão do tulo original e não do volume impresso. Essa ansiedade acontece, no
Brasil, também porque a disputa entre as editoras é bastante grande.
Nesse quadro de acirrada competição, a Nacional possuía duas vantagens
estratégicas. Ser a maior editora nacional e ter filiais fora do país, o que ampliava a
possibilidade de circulação do impresso.
Basicamente, por ser tão grande, a CEN exigia muitas vezes vantagens como
não tratar com o agente literário designado mas com a editora matriz.
Um trunfo que fortaleceu sobremaneira a Companhia Editora Nacional é que ela
acompanhava o mercado editorial internacional atentamente. Enviava editores para as
feiras internacionais, assinava a revista Publisher´s Weekly e recebia regularmente
catálogos das principais editoras. Por ter esse acompanhamento tão próximo, seus
editores puderam antecipar-se ao lançamento de alguns best sellers (caso do livro de Lin
Yutang, Uma folha na tempestade) e Memórias de André Maurois que foi negociado
antes mesmo de ser escrito.
Apesar das várias crises econômicas, o mercado para livros destinados ao grande
público e ao leitor “médio” não parou de crescer. Devido ao aumento da escolarização
mas, também, pela melhoria nas condições de circulação da população e, com ela, dos
impressos. O reembolso postal elogiado por Lobato, continuou uma das formas mais
rentáveis de venda de livros, até mesmo para editoras como a Nacional cujos esforços
não se apoiavam essencialmente nisso. Ainda na década de 1990, alguns títulos da
extinta Biblioteca do Espírito Moderno continuavam sendo vendidas por outras editoras
pelo correio.
322
De fato, o reembolso postal era tão importante que o SNEL quando dirigido por
Ênio Silveira fez uma campanha junto ao governo para minorar as tarifas referentes a
transporte de livros e catálogos.
No primeiro período, acompanhamos um Anísio Teixeira entusiasmado com as
possibilidades de educar o cidadão brasileiro. Coleções e bibliotecas seriam um
excelente caminho para que o leitor com pouca experiência de leitura na família e pouco
tempo nos bancos escolares pudesse se posicionar diante dos problemas do mundo. Na
verdade, há um projeto civilizador, em que a leitura de títulos escolhidos poderia
melhorar a relação desse leitor com o mundo. Para tanto, esse leitor é, antes de tudo,
uma pessoa que investe no seu saber. Vimos, também, que apesar da apresentação da
coleção utilizar o termo “leitores e leitoras”, o leitor era, fundamentalmente do sexo
masculino. A apresentação dos textos nas orelhas e catálogos são eloquentes. Aos
poucos, as mulheres começam a aparecer e ganham relevância.
O pós-guerra, a morte de Lobato e o afastamento de Anísio, trouxeram certa
desorganização para a coleção. A coerência existente anteriormente começa por se
perder. Ênio Silveira se na difícil tarefa de negociar os títulos de uma coleção que
não foi idealizada por ele e, segundo seu próprio depoimento, não era sua. Ainda assim,
alguns poucos títulos de sucesso garantem a sobrevivência da coleção.
A entrada de tradutores profissionais é um fato importante e, os títulos da
Biblioteca passam a ter dois tipos de tradução bem diversos. Aquelas “melhoradas pelo
Lobato” e as dos novos tradutores, formados nas escolas superiores e mais fiéis ao
texto. Segundo Brenno Silveira, um dos representantes dessa geração, um tradutor não é
um literato e não pode consertar o texto original.
A volta de Anísio Teixeira apresenta um novo fôlego para a coleção. Mas o
Anísio que retornou não é mais o mesmo. Mais velho e experiente, seu interesse pela
coleção se expressa fundamentalmente na publicação de grande parte da obra de
Russell. A BEM começava a entrar em uma encruzilhada. A série de Ciências, eterno
fracasso, praticamente abandonada, a série de História e Biografia continuava refém das
obras de Will Durant e das obras de cunho mais religioso como Sholem Asch e Papini.
Enquanto a série de Literatura manteve seu retrospecto: poucos e bem sucedidos
lançamentos (O Motim e 1984).
As capas que abandonam o tradicional (antigo) estilo francês ganham desenhos
de Walter Lévy que consegue imprimir identidade as mesmas. Ainda que sem
elementos distintivos específicos. O nome e o símbolo BEM, assim como a série e o
323
volume se mantiveram nas lombadas e o nome do tradutor, praticamente desaparece
diante do título e do nome do autor.
Sintoma do abandono da coleção é o número muito pequeno de títulos lançados
pela BEM e que apareceram nas listas de Best-sellers internacionais (Publisher´s
Weekly).
A concorrência também se alterou. Voltada para o público universitário, as
coleções Debates e Estudos ampliam enormemente o número de temáticas propostas em
coleções. A Brasiliense lança uma gama de coleções de baixo custo, com poucas
páginas e com temas bem contemporâneos. Estas são utilizadas por leitores do 2º. Grau
e dos primeiros anos da universidade (em crescente ampliação). São as coleções
“Encanto Radical”, “Tudo é História”, Primeiros Passos”, além de outras concorrentes.
Para o antigo publico, as coleções de capa dura aparecem em dois novos
formatos. A Biblioteca Life/José Olympio fartamente ilustrada, colorida e de formato
maior, vendida a prestação em grupo de quatro livros e as enciclopédias da Editora
Abril, vendidas em fascículos e posteriormente encadernadas.
Tanto a Life quanto os fascículos da Abril atestam um novo parque gráfico
brasileiro, mais moderno e cheio de recursos e um novo mercado mais dinâmico e
amplo do que o “leitor moderno” da coleção da Nacional.
Ao final de tudo, é mais fácil criar outra coleção e abandonar a antiga do que
tentar reformulá-la. A operação Garimpo atestou a impossibilidade de se reformar
eternamente o mesmo leque editorial.
324
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Educação, nos bastidores da Companhia Editora Nacional (década de 1960)” –
Anais eletrônicos do XVI Congresso de Leitura do Brasil.
TOLEDO, Maria Rita de Almeida (2009) – “Memória Editorial, arquivo empresarial e
formação da cultura: a organização do Acervo Histórico da Companhia Editora
Nacional” II LIHED – II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial.
http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/segundoseminario/index.php/resumos/91-
de-j-a-m?lang=pt (capturado em: 12/06/2009)
TORRESINI, Elisabeth Rochadel (1999) – Editora Globo: Uma Aventura Editorial nos
Anos 30 e 40. São Paulo: Edusp/Com-Arte; Porto Alegre:Editora da
Universidade/UFRGS (memória Editorial, 1)
TOTA, Antonio Pedro (2000) – O Imperialismo Sedutor – A Americanização do Brasil
na época da Segunda Guerra. São Paulo: companhia das Letras.
TRAVASSOS, Nelson Palma (1974) Os Bastidores da Literatura São Paulo: Clube do
Livro/Catavento Editora.
________________________– (1974) Minhas Memórias dos Monteiros Lobatos São
Paulo: Clube do Livro/Catavento Editora.
________________________ - (1978) Livro sobre livros. São Paulo: Hucitec.
________________________(1978) Livro sobre Livros. São Paulo:Hucitec.
TSCHICHOLD, Jan (2007) – A Forma do Livro – ensaios sobre Tipografia e Estética
do Livro. Cotia:Ateliê Editorial
UNWIN, Stanley (1960) – The Truth about a Publisher London: George Allen and
Unwin
___________________ - (s.d.) O que é uma editora – Rio de Janeiro: Record. Col.
Compêndio de Cultura Atual.
VERISSIMO, Erico (1984) – Um Certo Henrique Bertaso – Artigos Diversos Porto
Alegre: editora Globo.
VIANA FILHO, Luiz.1990. – Anísio Teixeira: A Polêmica da Educação Rio de Janeiro:
Nova Fronteira.
VIANNA, Aurélio e FRAIZ, Priscila (1986) – Conversa entre amigos –
Correspondência escolhida entre Anísio Teixeira e Monteiro Lobato – Salvador:
Fundação Cultural do Estado da Bahia; Rio de Janeiro, Fundação Getúlio
Vargas/CPDOC.
VIDAL, Diana G.(org.) 2000. Na batalha da educação: correspondência entre Anísio
Teixeira e Fernando de Azevedo (1929-1971). Bragança Paulista: EDUSF.
VIDAL, Diana (2005) “Anísito Teixeira, professor de professoras: um estudo sobre
modelos de professor e práticas docentes (Rio de Janeiro, 1932-1935) IN: Revista
Diálogo Educacional, v.5,n.14, p.13-34, jan/abri 2005.
VIEIRA, Adriana Silene (2004) – Viagens de Gulliver ao Brasil (Estudo das
adaptações de Gulliver’s Travels
por Carlos Jansen e por Monteiro Lobato). Tese
apresentada ao curso de Teoria e História Literária do IEL/UNICAMP.
332
ANEXO 1
Página de rosto do livro Madame Curie, com indicação da Biblioteca do Espírito
Moderno, série e volume.
333
ANEXO 2
Propaganda do livro Rebecca com foto dos atores principais do filme de mesmo nome.
334
ANEXO 3
Folheto com propaganda da Espírito Moderno
335
ANEXO 4
Propaganda em forma de folheto da Espírito Moderno com um título que não foi
publicado pela coleção.
336
ANEXO 5
Panfleto de propaganda com foto da coleção.
337
ANEXO 6 – coleção Tapete Mágico
Autor título
Bruce Bliven
Os homens que constroem o futuro
Karl von Frisch
Nós e a Vida
George Gamow Biografia da terra
George Gamow Nascimento e Morte do Sol
Mark Graubard O Homem, escravo e senhor
Williams Haynes
Os Milagres da Química
Paul Karlson A conquista dos Ares
Paul de Kuif O combate pela vida
Paul de Kuif
A luta contra a morte
Paul de Kuif
Os Vencedores da Fome
Ernest Newman
História das Grandes óperas e de seus
compositores
Marie Beynon Ray
Médicos do espírito
Juri Semjonov
Os Tesouros da Terra
Martin Stevers a Inteligência Através dos Séculos
Henry Thomas Maravilhas do conhecimento Humano
Ernest R. Trattner Arquitetos de idéias
Wilhelm Treue
A conquista da Terra
Upton & Borowski O Livro das Grandes sinfonias
H. Van Loon América
H. Van Loon
As Artes
H. Van Loon
História da Humanidade
H. Van Loon A História do Oceano Pacífico
H. Van Loon Navios
H. Van Loon
O Mundo em que vivemos
H. Van Loon
vidas Ilustres
Érico Verissimo Viagem à aurora do Mundo
338
ANEXO 7 - Autores Brasileiros na BEM
Autores brasileiros título
Ano de
public.
série
tiragem
inicial
reimpr
essões
tiragem total
Fidelino de
Figueiredo
Espanha - Uma filosofia
de sua história
11.11.43 1a. 3004 3004
Mario Vieira de Melo
Desenvolvimento e
cultura - O problema do
estetismo no Brasil
28.09.63 1a. 2512 2512
Afranio Peixoto
Pequena Historia das
Américas
26.06.40/22.
07.43
3a. 3124 1 6256
Luis Viana Filho A vida de Rui Barbosa 1943/1960 3a. 3126 1 6158
Afranio Peixoto Historia do Brasil
21.11.44 -
2a. Ed
3a. 5002 5002
Vicente Tapajós História do Brasil
1944/ 1946/
1947/ 1950/
1952/ 1953/
1956/ 1957/
1958/1960/
1963/1965/
1967/1967/
1969
3a. 3556 14 102064
Luis Amaral
As Américas antes dos
europeus
01.12.1946 3a. 3009 3009
Vicente Tapajós História da América
1959/1964/1
969/1973/19
76/1983
3a. 4013 3 19136
Alberto de Farias
Mauá
28.07.58
3a.
3006
Delgado de
Carvalho
Historia Diplomática do
Brasil
26.04.60 3a. 3024
José Maria Bello História da República
25.04.59/
18.02.65/
25.11.69/
08.06.73/
22.12.76/
13.04.83
3a. 4013 5 23151
Fidelino de
Figueiredo
História Literária de
Portugal
26.10.66
(3a. Ed.)
3a. 4000 4000
José Maria Bello
Retrato de Eça de
Queirós
1977 3a. 3070 3070
Manuel Bandeira
Noções de História da
literatura
1940/1942/1
946/1954
(2volumes)
4a. 5211 3 23363
Monteiro Lobato
Urupês, outros contos e
coisas
1944/1945 4a. 5105 1 9216
Castro Alves
Castro Alves - poesias
completas
1966 4a. 3000 3000
339
ANEXO 8 – Títulos com apenas uma edição - comparativo
tulos com apenas 1 edição por série
19%
23%
49%
9%
1a.série
2a.série
3a.série
4a.série
Comparativo títulos com 1 edição x total
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1a.série 2a.série 3a.série 4a.série total
títulos com apenas 1 edição
total de títulos
340
Anexo 9 – Maiores primeiras tiragens
vol.
série
título
autor
tiragem
ano
5
3a.
História do Futuro
H.G. Wells
10146
1939
30
3a.
Memórias
André Maurois
10122
1943
28D
3a.
Historia da Civilização - A
Renascença (2 vols)
Will Durant
10.000
1957
28E
3a.
Historia da Civilização - A
Reforma (2 vols)
Will Durant
9000
1959
26
1a.
Educação e ordem social
Bertrand Russell
8011
1956
20
1a.
a sociedade humana na
ética e na política
Bertrand Russell
8000
1956
24
3a.
Somente nesse dia
Pierre Van Paassen
7500
1942
22
1a.
Misticismo e lógica
Bertrand Russell
7053
1957
28
1a.
O elogio do lazer
Bertrand Russell
7050
1957
29
1a.
Retratos de memória e
outros ensaios
Bertrand Russell
7049
1958
30 1a.
Princípios da
reconstrução social Bertrand Russell 7029 1958
13
2a.
Mágica em Garrafas
Milton Silverman
7024
1943
48A
3a.
A segunda Guerra
Mundial 2o. Volume
Winston Churchill
7015
1949
27
1a.
O poder, uma nova
análise social
Bertrand Russell
7006
1957
12
2a.
A construção do mundo
H.G.Wells
6512
1943
63
3a.
Vida e época de Nero
Carlo M. Franzero
5540
1958
30
2a.
Sementes para a
civilização
Charles B. Heiser
5144
1977
22
2a.
A Era dos Autômatos
P. E. Cleator
5080
1960
21
1a.
O conhecim
ento humano
- 2 vols.
Bertrand Russell
5062
1959
4B 3a.
tomo 3 -
A Era das
grandes potências H.G. Wells 5050 1939
25
2a.
Economia numa única
lição
Henry Hazlitt
5050
1966
68
3a.
Vida e época de
Cleopatra
Carlo M. Franzero
5049
1960
15 4a. Piloto de guerra
Antoine de Saint-
Exupéry 5034 1943
31
3a.
A Vida de Thomas
Jefferson
Francis Hirst
5032
1943
32
3a.
A vida íntima de
Napoleão
Arthur Lévy
5032
1943
10
3a.
A Epopéia Americana
James Truslow
Adams
5030
1940
14
4a.
Onde estão os sonhos?
Howard Spring
5030
1942
66
3a.
O Mundo além do
Horizonte
Joaquim C.
Leithauser
5030
1959
38
3a.
Talleyrand
Duff Cooper
5029
1945
24
1a.
Análise do espírito
Bertrand Russell
5027
1958
60
3a.
Lelia ou a vida de George
Sand
André Maurois
5025
1956
26
2a.
Lógica da Vida
Albert Ducrocq
5025
1958
341
Anexo 10 – Distribuição da produção - Filosofia
ano
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
total de novos
1
1
2
1
2
7
total de reimpressões
2
2
1
5
1
2
13
total de remanejamentos
2
2
Total geral 3 3 2 3 3 0 5 1 0 2 0 0 22
ano
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
total de novos
2
6
4
4
3
2
1
22
total de reimpressões
2
1
1
6
2
2
1
1
2
18
total de remanejamentos
0
Total geral 2 0 0 3 7 10 6 3 4 2 1 2 40
ano
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
total de novos
1
1
2
total de reimpressões
2
4
1
2
2
1
12
total de remanejamentos
0
Total geral 1 0 2 5 1 2 2 1 0 0 0 0 14
ano
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1982
total de novos
0
total de reimpressões
5
1
1
7
total de remanejamentos
0
Total geral 0 0 5 1 0 0 0 1 7
total de novos
31
total de reimpressões
50
total de remanejamentos 2
Total geral
83
342
ANEXO 11 - DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO - CIÊNCIAS
ano
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
total de novos
2
2
4
3
1
2
1
1
1
17
total de reimpressões
1
1
1
2
5
total de remanejamentos
Total geral
2
3
5
3
2
2
2
1
1
1
0
0
22
ano
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
total de novos
1
1
2
1
5
total de reimpressões
1
1
1
1
1
5
total de remanejamentos
Total geral
1
1
0
1
1
3
1
2
0
0
10
ano
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
total de novos
1
1
2
total de reimpressões
2
1
3
total de remanejamentos
Total geral
2
0
0
1
1
0
1
0
0
0
0
0
5
ano
1975
1976
1977
1978
1979
1980
total de novos
1
1
2
total de reimpressões
total de remanejamentos
Total geral
0
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
total de novos
26
total de reimpressões
13
total de remanejamentos
Total geral
39
343
ANEXO 12 – Distribuição da produção – História e Biografia
ano
1938
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
total de novos
2
5
6
6
10
5
3
4
5
5
2
2
2
57
total de reimpressões
1
2
2
2
2
5
9
2
1
3
1
30
total de
remanejamentos
1
1
1
1
1
5
Total geral
2
6
9
9
13
7
9
14
7
6
2
5
3
92
ano
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
total de novos
2
1
1
4
3
1
1
4
4
2
23
total de reimpressões
3
1
4
3
2
6
8
1
6
34
total de
remanejamentos
0
Total geral
2
4
2
8
6
3
7
12
5
8
0
0
57
ano
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
total de novos
1
3
2
6
total de reimpressões
1
2
1
3
2
2
2
1
14
total de
remanejamentos
0
Total geral
1
1
2
4
5
2
2
2
0
0
1
0
20
ano
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1983
total de novos
1
1
total de reimpressões
2
1
1
4
total de
remanejamentos
0
Total geral
2
2
0
0
0
0
0
1
0
0
0
5
total de novos
57
23
6
1
87
total de reimpressões
30
34
14
4
82
total de
remanejamentos
5
0
0
0
5
Total geral
92
57
20
5
174
344
ANEXO 13 – Distribuição da produção – Literatura
ano
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
total de novos
4
5
3
3
3
1
total de reimpressões
3
2
6
1
4
2
5
1
1
total de
remanejamentos
2
1
1
Total geral
0
7
9
9
4
5
5
7
0
1
1
0
ano
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
total de novos
1
1
total de reimpressões
7
5
2
3
4
total de
remanejamentos
Total geral
ano
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
total de novos
1
total de reimpressões
2
3
7
4
2
2
1
4
2
2
total de
remanejamentos
1
Total geral
ano
1975
1976
1977
1978
1979
1980
total de novos
total de reimpressões
2
2
4
4
3
3
total de
remanejamentos
Total geral
total de novos
22
total de reimpressões
93
total de
remanejamentos
5
Total geral
119
345
ANEXO 14 – DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO - BEM
ano
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
total de novos
8
10
17
13
8
6
4
6
6
3
2
2
total de reimpressões
1
5
5
11
4
5
16
8
1
2
3
1
total de
remanejamentos
2
3
1
2
1
Total geral
11
15
25
25
12
13
21
14
7
5
5
3
ano
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
total de novos
2
1
2
5
9
5
5
9
5
4
total de reimpressões
2
3
1
9
4
10
10
9
4
8
2
2
total de
remanejamentos
Total geral
4
4
3
14
13
15
15
18
9
12
2
2
ano
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
total de novos
1
1
4
2
1
total de reimpressões
3
1
4
7
6
4
5
3
1
total de
remanejamentos
1
Total geral
4
2
4
12
8
4
6
3
0
0
1
0
ano
1975
1976
1977
1978
1979
1980
total de novos
1
2
total de reimpressões
2
1
1
1
total de
remanejamentos
Total geral
0
3
3
1
1
0
total de novos
144
total de reimpressões
165
total de
remanejamentos
10
Total geral
319
346
Anexo 15 - Tabela:
participação dos títulos da BEM nas edições da CEN – 2º. Período
Ano
Total de títulos publicados
Títulos da BEM
1943
40
15
1944
36
12
1945
37
10
1946
49
8
1947
37
4
1948
34
5
1949
23
3
1950
16
1
1951
23
2
1952
23
3
1953
15
2
347
Anexo 16 – Índice da série de Filosofia/BEM
No.
título
autor
1 História da Filosofia Will Durant
2 Filosofia da vida Will Durant
3 Os grandes pensadores Will Durant
4 A formação da mentalidade James Robinson
5 Humanismo integral Jacques Maritain
6 Educação e vida perfeita Bertrand Russell
7 Sobre a liberdade John Stuart Mill
8 A filosofia de William James William James
9 Espanha - Uma filosofia de sua história Fidelino de Figueiredo
10 Ensaios impopulares Bertrand Russell
11 Delineamentos de filosofia Bertrand Russell
12 A ciência e a sociedade Bertrand Russell
13 Caminhos para a liberdade Bertrand Russell
14 A Maturidade mental H.L. Overstreet
15 O casamento e a moral Bertrand Russell
16 Ensaios céticos Bertrand Russell
17 A conquista da felicidade Bertrand Russell
18 A autoridade e o indivíduo Bertrand Russell
19 A perspectiva científica Bertrand Russell
20
a sociedade humana na ética e na
política
Bertrand Russell
21 O conhecimento humano - 2 vols. Bertrand Russell
22 Misticismo e lógica Bertrand Russell
23 História da Filosofia Ocidental - 3 vols Bertrand Russell
24 Análise do espírito Bertrand Russell
25 A era da inflação Jacques Rueff
26 Educação e ordem social Bertrand Russell
27 O poder, uma nova análise social Bertrand Russell
28 O elogio do lazer Bertrand Russell
29 Retratos de memória e outros ensaios Bertrand Russell
30 Princípios da reconstrução social Bertrand Russell
31 Liberdade e organização Bertrand Russell
32 Meu pensamento filosófico Bertrand Russell
33
Desenvolvimento e cultura - O problema
do estetismo no Brasil
Mario Vieira de Melo
348
Anexo 17 – índice da série de Ciências/BEM
No. título autor
1 A Evolução da Física Albert Einstein e Leopold Infeld
2 A Ciência da Natureza Humana Alfred Adler
3 Os Grandes Homens da Ciência Grove Wilson
4
As Grandes expedições Científicas
do séc. XX
Charles Key
5
O Universo Misterioso
James Jeans
6
O Homem e seu Universo
John Langdon-Davies
7 Os Fenômenos da Vida Julian Huxley
8 Na aurora da Humanidade Dorothy Davison
9 Médicos Anônimos William McKee German
10
Os Próximos 100 anos
C.C. Furnas
11 O Romance das Vitaminas Estevan Fazekas
12 A construção do mundo H.G.Wells
13 Mágica em Garrafas Milton Silverman
14 As bases Científicas da Evolução Thomas Hunt Morgan
15 Sozinho Almte. Richard Byrd
16
A Sabedoria do Corpo
Walter B. Cannon
17 A Ciência Avança… Rogers D. Rusk
18 Através do Espaço e do tempo James Jeans
19 O Mar que nos cerca Rachel L. Carson
20
Nos Domínios da Ciência
Waldemar Kaempffert
21 A eletrônica ao alcance de todos Monroe Upton
22 A Era dos Autômatos P. E. Cleator
23 Previsão para o amanhã George Thomson
24 O que é psicanálise? Ernest Jones
25 Economia numa única lição Henry Hazlitt
26 Lógica da Vida Albert Ducrocq
27 Natureza e o Destino do Homem Garrett Hardin
28 Para que serve a ciência? Bernard Dixon
29
População, evolução e controle da
Natalidade
Garrett Hardin
30 Sementes para a civilização Charles B. Heiser
349
Anexo 18 – Índice da série de história e biografia
no.
título
autor
1
Madame Curie
Eva Curie
2
História Sincera da França
Charles Seignobos
3
A vida de Disraeli (3a. Ed.)
André Maurois
4
História Universal (em 3 tomos): Ed. Ilustrada
H.G. Wells
tomo 1 - Dos começos da vida na terra até o Fim do
Império de Alexandre, o Grande
H.G. Wells
4-A
tomo 2 - Da Ascensão e queda do Império Romano
até o Renascimento da Civilização Ocidental H.G. Wells
4-B
tomo 3 - A Era das grandes potências
H.G. Wells
5
História do Futuro
H.G. Wells
6 Ensaios Históricos (1o. volume) Lord Macaulay
6-A
Ensaios Históricos (2o. volume)
Lord Macaulay
7
Pequena Historia das Américas
Afranio Peixoto
8
Memórias de um Negro (Autobiografia)
Rodker T.
Washington
9
A História da Bíblia - Narrada e desenhada
peloAutor - Edição ilustrada
Hendrick Willem
Van Loon
10
A Epopéia Americana
James Truslow
Adams
11
O Destino da Espécie Humana - Quadro do que lhe
está acontecendo e das imediatas possibilidades
que o defrontam H.G. Wells
12
História da Alemanha
Charles Bonnefon
13
História de Cristo
Giovanni Papini
14
A Vida de Shelley
André Maurois
15
Lyautey
André Maurois
16
Grandes Homens Contemporaneos
Winston Churchill
17
A vida de Rui Barbosa
Luis Viana Filho
18
Os Estados Unidos de Ontem e de Hoje
Roy Nichols,
William C. Bagley e
Charles A. Beard
19
Um Espirito que se achou a si mesmo
Clifford W. Beers
20
A Evolução de um Cientista
Leopold Infeld
21
Lincoln
Nathaniel Wright
Stephenson
350
22
As Grandes Cartas da História - Desde a
antigüidade até os nossos dias
Wallace Brokway e
Bart Keith Winer -
M. Lincoln
Schuster
22 A
As Grandes Cartas da História - Desde a
antigüidade até os nossos dias - 2o. Volume
M. Lincoln
Schuster
23
Nietzsche
Crane Brinton
24
Somente nesse dia
Pierre Van
Paassen
25
Beaumarchais - O Aventureiro do Século da mulher
Paul Frischauer
26
Historia dos Estados Unidos
Firmin Roz
27
Maquinas da Democracia - As invenções e sua
influencia Nos Estados Unidos
Roger Huklingame
28
Historia da Civilização = Nossa Herança Oriental
Will Durant
Historia da Civilização - Nossa herança clássica
Will Durant
Historia da Civilização - César e Cristo (2 vols)
Will Durant
Historia da Civilização - A era da fé
Will Durant
Historia da Civilização - A Renascença (2 vols)
Will Durant
Historia da Civilização - A Reforma (2 vols)
Will Durant
Historia da Civilização - Começa a Idade da Razão
(2vols)
Will Durant
Historia da Civilização - A era de Luís XIV (3vols)
Will Durant
Historia da Civilização - A era de Voltaire
Will Durant
29
Tolerancia
Hendrick Willem
Van Loon
30
Memórias
André Maurois
31
A Vida de Thomas Jefferson
Francis Hirst
32
A vida íntima de Napoleão
Arthur Lévy
33
História do Poderio Marítimo
W.D. Stevens e A.
westcott
34
Historia do Brasil
Afranio Peixoto
35
O Nazareno
Sholem Asch
36
O Apóstolo
Sholem Asch
37
Beethoven
Emil Ludwig
38
Talleyrand
Duff Cooper
39 Hans Staden - Suas viagens e cativeiro
ordenado Monteiro
Lobato
40
História dos Estados Unidos
André Maurois
41
História do Brasil
Vicente Tapajós
42
A Vida de Santo Agostinho
Giovanni Papini
43
As Américas antes dos europeus
Luis Amaral
44
Zola e seu tempo
Mathew Josephson
351
45
Historia da Medicina - 2 volumes
Arturo Castiglioni
45 A
Historia da Medicina - 2 volumes
Arturo Castiglioni
46
Os cossacos - História de um Povo Guerreiro
Maurice Hindua
47
Victor Hugo - Uma biografia Realística do Grande
Romântico
Mathew Josephson
48
A segunda Guerra Mundial
Winston Churchill
48-A
A segunda Guerra Mundial 2o. Volume
Winston Churchill
48 B e
C
A segunda Guerra Mundial 3o. Volume (2 tomos)
Winston Churchill
48 D e
E
A segunda Guerra Mundial 4o. Volume (2 tomos)
Winston Churchill
48 F e
G
A segunda Guerra Mundial 5o. Volume (2 tomos)
Winston Churchill
49
Historia das Doutrinas Econômicas
Eric Roll
50
História da França
André Maurois
51
O profeta
Sholem Asch
52
Maria
Sholem Asch
53
A civilização posta à prova
Arnold Toynbee
54
História da Igreja Católica
Philip Hughes
55
Lenine
David Shud
56
Lincoln, esse desconhecido
Dale Carnegie
57
História da América
Vicente Tapajós
58
Moisés
Sholem Asch
59
O Mundo e o Ocidente
Arnold Toynbee
60
Lelia ou a vida de George Sand
André Maurois
61
Julius Caesar
Alfred Duggan
62
O rei de Paris (mudou para Alexandre Dumas)
Guy Endore
63
Vida e época de Nero
Carlo M. Franzero
64
Mauá
Alberto de Farias
65
Historia Diplomática do Brasil
Delgado de
Carvalho
66
O Mundo além do Horizonte
Joaquim C.
Leithauser
67
História da República
José Maria Bello
68
Vida e época de Cleopatra
Carlo M. Franzero
69
O Coração e o Espírito
Guy Endore
70
Estudos de História Contemporânea
Arnold Toynbee
71
O Diário
Giovanni Papini
72
História Literária de Portugal
Fidelino de
Figueiredo
73
Retrato de Eça de Queirós
José Maria Bello
352
Anexo 19 – Índice da série de Literatura/BEM
no.
título
autor
1
O livro da jangal
Rudyard Kipling
2
Rebecca
Daphne du Maurier
3 Noções de História da literatura Manuel Bandeira
4
Meu filho, meu filho!
Howard Spring
5 História da Literatura Mundial John Macy
6
Filho Nativo
Richard Wright
7 Lágrimas de Homem Warwick Deeping
8
Lobo do Mar
Jack London
9
Momento em Pequim
Lin Yutang
10
Por quem os sinos dobram
Ernest Hemingway
11
Kim
Rudyard Kipling
12
Adeus às armas
Ernest Hemingway
13
Uma folha na tempestade
Lin Yutang
14 Onde estão os sonhos? Howard Spring
15
Piloto de guerra
Antoine de Saint-Exupéry
16 Noites sem lua John Steinbeck
17
Cara ou Coroa
Kenneth Roberts
18
Urupês, outros contos e coisas
Monteiro Lobato
19
Bandeirantes do Norte
Kenneth Roberts
20
Bem Aventurados os Humildes
Zofia Kossak
21
A Ponte de São Luiz Rei
Thornton Wilder
22
Tambores da Alvorada
Philip van Doren Stern
23
O Motim
Herman Wouk
24
1984
George Orwell
25 Castro Alves – poesias completas Jamil Almansur (org.)
26
A hora Final
Nevil Shute
27
O amante de Lady Chatterley
D. H. Lawrence
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