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cortinas e correntes de luz exibindo cores fascinantes
que aparecem especialmente no céu do Hemisfério
Norte. Quando os raios cósmicos
interagem com o
campo magn
ético terrestre, algumas partículas são
capturadas e seguem o curso das linhas do campo
magn
ético em direção à ionosfera (conjunto das
camadas atmosféricas que estão acima de 80 km da
superfície da Terra). Ao encontrarem os gases da
ionosfera, essas partículas brilham, produzindo esse
fenômeno fantástico conhecido por Aurora Boreal. A
variedade de cores que aparecem deve-se aos
diferentes gases existentes na ionosfera.
Embora saibamos explicar os efeitos dos raios
c
ósmicos solares sobre a atmosfera terrestre, pouco
se conhece sobre a origem dos raios cósmicos mais
energéticos vindos de distâncias cosmológicas. Sua
energia característica está acima de 10
19
eV,
chegando a 10
20
eV. Para que o leitor possa ter uma
id
éia de quão energéticos são os raios cósmicos,
convém lembrar que o acelerador de partículas mais
potente que o ser humano já construiu consegue
chegar a energias da ordem de 10
12
eV, isto é, os
raios cósmicos são cem milhões de vezes mais
energéticos.
Os raios c
ósmicos são, então, partículas
extremamente energéticas que penetram a atmosfera.
Sabemos também que tanto núcleons (prótons e
nêutrons constituintes do núcleo atômico) como
n
úcleos perdem suas energias depois de percorrerem
cerca de 100 Mpc (megaparsecs), interagindo com a
Radia
ção Cósmica de Fundo em microondas. Por sua
vez, essas part
ículas podem alcançar velocidades
enormes, pois elas s
ão aceleradas por campos
magnéticos aprisionados em nuvens magnetizadas
em movimento pela galáxia ou, ainda, pelas correntes
de campos magnéticos provocados pela explosão de
uma supernova. Qual será então o mecanismo natural
que permite que essas partículas tão pequenas
atinjam energias tão grandes?
Descobertos em 1912 por Victor Hess (1883-1964),
por interm
édio de detectores colocados em um balão
a 5000 m de altitude, os raios cósmicos, chamados
inicialmente de “radiação penetrante”, se tornaram
um dos grandes mistérios a serem resolvidos no
século XX. Em 1938, o físico francês Pierre Auger
(1899-1993), posicionando seus detectores na região
dos Alpes, percebeu que dois deles, distantes entre si
poucos metros, detectaram sinais que chegavam ao
mesmo tempo, caracterizando o que hoje chamamos
de
“chuveiros atmosféricos extensos”, com energia
da ordem de 10
15
eV. Em 1962, cinqüenta anos
depois da primeira observação, John Linsley (1925-
2002) e colaboradores descobriram em Rancho
Volcano, Novo M
éxico, EUA, o primeiro raio
c
ósmico com a intrigante energia de 10
20
eV.
Para resolver esse antigo mist
ério, mais de 250
cientistas de mais de quinze países juntaram seus
conhecimentos e seus esforços para construir um
observatório que tentará explicar de que forma a
Natureza permite a existência de partículas tão
energéticas. Esse observatório, conhecido por
Observatório de Raios Cósmicos Pierre Auger, está
sendo construído perto da cidade de Malargue, ao pé
das montanhas andinas da província de Mendonza
Argentina, onde as condições climáticas e a ausência
de poluição favorecem as observações.
Fig.2: Esquema do Observatório Pierre Auger
Verdadeiros mensageiros do cosmo, quanto mais
energéticos os raios cósmicos, mais raros eles são –
se a energia incidente for de 10
19
partícula por quilômetro quadrado atinge a Terra por
ano. Se a energia for dez vezes maior, ou seja, 10
20
eV, apenas uma por quilômetro quadrado chega ao
nosso solo por século. Assim, para poder captar o
maior número de raios cósmicos
cientistas planejaram construir 1600 detectores em
uma área de 3000 km².
Fig.3: Raios Cósmicos
É como se preparassem
espacial através da qual será possível descortinar,
com lentes amplificadoras, essas partícul
pequeninas que viajam o cosmo
violentamente na atmosfera terrestre.
Quando um raio cósmico primário penetra na
atmosfera, ele colide tão violentamente com
partículas existentes na atmosfera que se observa um