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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Maria Cristina Guapindaia Carvalho
A experiência do cuidar:
o (des) amparo do cuidador familiar
MESTRADO EM GERONTOLOGIA SOCIAL
SÃO PAULO
2010
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1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Maria Cristina Guapindaia Carvalho
A experiência do cuidar:
o (des) amparo do cuidador familiar
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Gerontologia Social, sob a orientação da
Profa. Dra. Ruth Gelehrter da Costa Lopes.
MESTRADO EM GERONTOLOGIA SOCIAL
SÃO PAULO
2010
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2
Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
3
Dedico este trabalho:
Aos meus pais, Carlos Moacyr Guapindaia e Dirce Jucá de
Guapindaia, que me deram a vida e formaram meu caráter e
personalidade. Principalmente pelo amor, carinho, confiança
e paciência.
Ao meu marido, Octaviano, meu único e verdadeiro amor.
Aos meus filhos queridos, Caio e Rafael, por fazerem minha
vida ter um sentido.
Aos meus tios Rubens e Oneide Lima, exemplos de
envelhecimento bem-sucedido.
À memória da minha avó, Poranga Cruz Jucá, pioneira na
educação e exemplo de vida para todos nós.
4
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Ruth G. Lopes da Costa, não pela orientação, mas também
pela paciência e confiança no meu trabalho.
Ao Prof. Dr. Matheus Papaléo Netto, pelo grande incentivo e valiosas
contribuições a este trabalho.
Ao Prof. Dr. Fábio T. Kitadai, pela compreensão e incentivo.
À Dra. Renata Freitas Salles, pelo apoio, amizade e valiosas contribuições.
À Profa. Beltrina, pelas excelentes contribuições na banca de qualificação.
Ao Bernardo Santos, pela análise estatística.
À minha grande e querida amiga Sueli E. Jardim, companheira dessa
jornada.
Às minhas amigas Cecília, Ana, Joyce e Roberta, pela amizade, afeto e
alegrias compartilhadas.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela bolsa concedida.
Aos cuidadores e idosos com demência, por terem possibilitado a
concretização deste trabalho.
5
RESUMO
CARVALHO, M. C. G. A experiência do cuidado: o (des) amparo do cuidador
familiar. Dissertação (Mestrado em Gerontologia Social), Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo, 2010.
Este estudo tem como objetivo caracterizar os cuidadores familiares de idosos com
dependência, bem como identificar a presença de estresse, sobrecarga e/ou
sintomas psiquiátricos menores nesses indivíduos. Além disso, analisa-se a relação
do estresse e do sofrimento mental com variáveis sociodemográficas e fatores
relacionados à tarefa de cuidar. Trata-se de um estudo transversal e prospectivo,
realizado no período de julho a dezembro de 2009, sendo avaliados 69 cuidadores
de idosos dependentes atendidos na Clínica de Geriatria do Hospital do Servidor
Público Municipal. Por meio de uma entrevista estruturada, aplicou-se um
questionário de caracterização do cuidador e do paciente, a escala de estresse de
Zarit, a escala SRQ-20 de sofrimento mental e a escala de depressão Hamilton-21.
Os resultados evidenciaram que os cuidadores investigados, quando da realização
da pesquisa, tinham em média 58,72 anos de idade, sendo 89,86% mulheres,
52,17% filhas e 36,23% esposas. Cuidavam do familiar em média 4 anos e seis
meses. Verificou-se que 85% não contavam com nenhum suporte social e 75,36%
não recebiam nenhuma ajuda dos outros familiares. Em relação ao nível de
estresse, 44,93% dos cuidadores apresentaram níveis moderados e 34,78%, níveis
de moderado a severo. No que diz respeito à presença de sintomas psiquiátricos
menores, 68,12% apresentaram sofrimento mental e todos pontuaram como
depressão leve na escala Hamilton-21. Sobre a utilização de medicamentos, 34,78%
relataram usar antidepressivos e 7,25%, ansiolíticos. Quanto às variáveis
associadas ao estresse, constatou-se que a dependência do paciente, seu
comportamento perseverativo e o uso de antidepressivos pelo cuidador aumentavam
a estimativa de estresse. Também se verificou que, quando a relação prévia entre
cuidador e idoso dependente era considerada boa, o nível de estresse se mostrava
menor, e, se a relação prévia era considerada ruim, o estresse aumentava. Com
relação ao sofrimento mental, quando o fator dependência era entendido como
incômodo maior, a chance de o cuidador apresentar sintomas psiquiátricos menores
era nove vezes maior. Os dados mostram a grande demanda na atividade de cuidar,
a sobrecarga inerente a essa tarefa e o estresse que acarreta, com consequências
para a saúde mental do cuidador e a qualidade do cuidado prestado.
Palavras-chave: idoso, cuidador, demência, estresse, sintomas psiquiátricos.
6
ABSTRACT
CARVALHO, M. C. G. The experience of care: the (un)support of the family
caregiver. Dissertation (Masters in Social Gerontology), Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo, 2010.
This study aims to characterize the family caregivers of dependent elder people, and
to identify the presence of stress, strain and / or minor psychiatric symptoms in these
individuals. Additionally, the study examines the relationship between stress and
mental distress with social-demographic factors related to the caring activity. This is a
cross-sectional and prospective study conducted from July to December 2009, which
evaluated 69 caregivers of dependent elder people treated at the Clinic of Geriatrics,
Hospital do Servidor Publico Municipal (Municipal Hospital of Civil Servants). By
means of structured interview, we applied a questionnaire to characterize the
caregivers and the patients, the Zarit stress scale, the SRQ-20 mental distress scale
and the Hamilton-21 Depression Scale. The results showed that the investigated
caregivers, during the research, were in average 58.72 years old, with 89.86% of
them being women, 52.17% being daughters and 36.23% being wives. They were
taking care of the patient for 4 years and six months, in average. It was found that
85% of them haven’t any social support and 75.36% of them did not receive any help
whatsoever from other family members. Regarding to the level of stress, 44.93% of
the caregivers presented a moderated level and 34.78% presented levels varying
from moderate to severe. Regarding the presence of minor psychiatric symptoms,
68.12% presented mental disorders and all of them were classified as bearers of mild
depression, in the Hamilton-21 scale. Regarding to the use of drugs, 34.78%
reported the use of antidepressants and 7.25% reported the use of anxiolytics.
Regarding to the variables associated to stress, it was found that the dependence of
the patient, his/her persistent behavior and the use of antidepressants by the
caregiver increased the estimation of stress. It also was found that when the prior
relationship between caregiver and the dependent elder person was considered as
good, the stress levels were lower, and if the previous relationship was considered
poor, the stress increased. With respect to mental suffering, when the dependency
factor was perceived as a major disturbance, the chances of presentation of minor
psychiatric symptoms by the caregiver were nine times higher. The data show the
great demand in the caring activities, the overhead inherent to this task and the
stress that it can cause, with consequences for the mental health of the caregiver
and the quality of care provided.
Keywords: elderly, caregiver, dementia, stress, psychiatric symptoms.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
CAPÍTULO I - ENVELHECIMENTO, DEPENDÊNCIA E DEMÊNCIA...................
..
..16
1.1 ENVELHECIMENTO E DEPENDÊNCIA.........................................................16
1.2 ENVELHECIMENTO E DEMÊNCIA................................................................19
1.3 DOENÇA DE ALZHEIMER (DA)....................................................................
.
.22
1.4 FASES DA DOENÇA DE ALZHEIMER........................................................
...
.26
1.5 FATORES DE RISCO PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER.........................
..
.29
1.6 SINTOMAS PSICOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS NA DEMÊNCIA....
..
.30
CAPÍTULO II - PRESTAR CUIDADOS: OS CUIDADORES FAMILIARES
DE IDOSOS....................................................................................
.
...32
2.1 CUIDADORES: QUEM SÃO E O QUE FAZEM?.......................................
.
.....32
2.2 REDES DE SUPORTE SOCIAL......................................................................39
2.3 SOBRECARGA E ESTRESSE........................................................................42
2.4 ESTRESSE E VIOLÊNCIA..............................................................................46
CAPÍTULO III - ESTUDO EMPÍRICO........................................................................48
3.1 OBJETIVOS.....................................................................................................48
3.2 LOCAL E CENÁRIO DA PESQUISA...............................................................48
3.3 BREVE HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA CLÍNICA
GERONTO-GERIÁTRICA............................................................................
.
...49
3.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................................52
3.5 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS..............................................54
3.6 ANÁLISE DOS DADOS...................................................................................56
3.7 QUESTÕES DE ÉTICA.................................................................................
..
.57
8
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........
.
......58
4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS......................................................
..
..58
4.2 ANÁLISE INFERENCIAL.................................................................................68
4.3 DISCUSSÃO....................................................................................................71
4.4 CONCLUSÕES................................................................................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................84
ANEXOS...............................................................................................................
..
....97
9
LISTA DE ABREVIATURAS
ABVDs Atividades Básicas de Vida Diária
AIVDs Atividades Instrumentais de Vida Diária
ABRAZ Associação Brasileira de Alzheimer e Doenças Similares
AVE Acidente Vascular Encefálico
APOE Apolipoproteina
DA Doença de Alzheimer
DSM- IV Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais
HSPM Hospital do Servidor Público Municipal
PAS Plano de Assitência à Saúde
PNSI Programa Nacional da Saúde do Idoso
PSF Programa de Saúde da Família
SCPD Sintomas comportamentais e psicológicos na demência
SUS Sistema Único de Saúde
UBS Unidade Básica de Saúde
10
LISTA DE TABELAS E QUADRO
Tabela 1 - Prevalência Estimada da Demência segundo a faixa etária.....................20
Tabela 2 - Prevalência da DA nas diversas faixas etárias no Brasil......................
..
...21
Tabela 3 - Classificação dos cuidadores de pacientes com demência......................34
Tabela 4 - Medidas descritivas dos idosos.............................................................
..
..58
Tabela 5 - Procedência dos idosos............................................................................89
Tabela 6 - Diagnóstico dos idosos.............................................................................59
Tabela 7 - Medidas descritivas dos cuidadores.........................................................60
Tabela 8 - Gênero e grau de parentesco dos cuidadores..........................................60
Tabela 9 - Estado civil dos cuidadores.......................................................................61
Tabela 10 - Renda dos cuidadores.........................................................................
.
...61
Tabela 11 - Medicamentos utilizados pelos cuidadores.............................................62
Tabela 12 - Ocupação do cuidadores....................................................................
.
....62
Tabela 13 - Tempo diário dedicado à tarefa de cuidar...............................................63
Tabela 14 - Contribuição familiar ao cuidador............................................................63
Tabela 15 - Atividades realizadas pelo cuidador........................................................64
Tabela 16 - Tipo de suporte social recebido..........................................................
..
...64
Tabela 17 - Lazer do cuidador..................................................................................
.
.65
Tabela 18 - Tipo de orientação do cuidador.............................................................
.
.65
Tabela 19 - Comportamento do idoso que mais incomoda o cuidador......................66
Tabela 20 - Ajuda que o cuidador gostaria de receber..............................................66
Tabela 21 - Relação anterior do cuidador com o idoso..........................................
.
...67
Tabela 22 - Estresse do cuidador (Zarit)....................................................................68
Tabela 23 - Sofrimento mental (SRQ-20) do cuidador...............................................68
Tabela 24 - Grau de depressão (Ham-21) do cuidador..........................................
.
...68
Tabela 25 - Estimativas para o modelo para estresse do cuidador...........................69
Tabela 26 - Estimativas do modelo para sofrimento mental do cuidador..................70
Quadro 1 - Critérios Diagnósticos de Demência do tipo Alzheimer
(segundo o DSM-IV)................................................................................24
11
INTRODUÇÃO
O estudo que ora apresentamos corresponde a uma necessidade advinda
da minha prática profissional como psicóloga na área da saúde, membro da equipe
interdisciplinar do Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Municipal de
São Paulo.
Participo desta equipe desde novembro de 2003, lidando diariamente com
cuidadores familiares de idosos tanto no ambulatório como na enfermaria do HSPM,
compartilhando suas experiências, expectativas e dúvidas, vivenciando questões
relativas ao envelhecimento com dependência e refletindo acerca de como essa
situação repercute no seio das famílias.
O convívio com esses cuidadores, a escuta de suas dificuldades cotidianas,
o sofrimento dos familiares ao receberem o diagnóstico de demência, bem como o
impacto dessa notícia nos arranjos familiares despertaram meu interesse em
pesquisar esse tema e, assim, tentar uma articulação entre conhecimentos
gerontológicos e possíveis intervenções psicológicas mais efetivas aos idosos.
Cuidar de um idoso dependente representa um dos maiores desafios para
as famílias e sociedades atuais. Como resultado do aumento da esperança de vida,
apesar de inúmeras pessoas envelhecerem mantendo sua autonomia e
independência, cada vez mais pessoas atingem faixas etárias em que o declínio
físico e mental e as incapacidades têm mais probabilidade de acontecer. Uma das
consequências desse processo é a limitação progressiva das capacidades do
indivíduo para realizar, de modo autônomo e independente, as suas atividades de
vida diária, entrando em cena a figura do cuidador (PAPALÉO NETTO, KLEIN,
2007).
Assim como o processo de envelhecimento acontece de maneira diversa em
cada país, pois depende de fatores culturais, econômicos e sociais, que influenciam
como cada sociedade vai responder e se organizar para responder a essa demanda,
o cuidado ao idoso dependente é uma questão debatida de forma diferente em
diversos países, levando em conta as particularidades de cada lugar. Observamos
países onde o suporte é predominantemente das famílias; em outros, os encargos
são de responsabilidade do governo. Em países desenvolvidos como a Inglaterra, a
12
França e outros, os gastos sociais envolvem tanto a saúde como o apoio direto ao
idoso e/ou às famílias. Em alguns países as responsabilidades são ainda divididas
entre os setores público e privado (BATISTA et. al., 2008).
No Brasil, o cuidado formal organizado e eficiente para idosos dependentes
praticamente nunca existiu. Um estudo sobre o suporte domiciliar aos adultos com
perda da independência, realizado de 1991 a 1995 no município de São Paulo com
famílias de baixa renda, refere que mais de 90% das famílias não recebem ajuda de
serviços, organizações ou grupos voluntários nem de agências particulares, mas
cerca de 30% delas confirmaram que se pudessem receber esse tipo de auxílio
ficariam satisfeitas (KARSCH, 1998).
É fato que o cuidado do idoso dependente sempre coube à família brasileira
e que estruturas intermediárias de cuidado entre a família e a instituição de longa
permanência para idosos praticamente não existem. Estruturas de suporte como
centros-dia, hospitais-dia, visitas regulares de enfermeiros, embora previstas em lei,
como na Política Nacional da Saúde do Idoso (BRASIL, 03/12/1999), ainda não
estão disponíveis para a grande maioria da população idosa brasileira. Os idosos
com doenças crônicas e dependentes e seus cuidadores familiares apenas
recentemente têm sido visitados pelo sistema de saúde, por intermédio do Programa
Saúde da Família (PSF); mesmo assim, algumas regiões são contempladas com
esse atendimento. O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não garante esse
cuidado domiciliário de longa permanência (GIACOMINI et. al., 2005).
É preciso lembrar que a demência, por ser uma doença degenerativa e
progressiva, tem evolução lenta e acarreta perda da capacidade funcional e do
autocuidado do indivíduo, podendo demandar dez ou doze anos de cuidado. À
medida que aumenta a dependência, aumenta também a complexidade do cuidado,
muitas vezes requerendo atenção 24 horas por dia.
Tradicionalmente, o cuidado prestado ao idoso com algum grau de
dependência é realizado dentro de casa, por algum familiar que, na maioria das
vezes, não tem informação nem treinamento para exercer essa função. O estudo
feito por Marcon et. al. (2002) mostra que muitas famílias enfrentam dificuldades na
tarefa de cuidar por desconhecerem os cuidados domiciliares, gerando inúmeras
incertezas, como sobre o uso correto da medicação, entre outras.
13
O cuidar de um familiar demenciado gera impacto na dinâmica , na
economia familiar e na saúde física e mental dos cuidadores familiares. Por isso, os
cuidadores familiares são muitas vezes apelidados de “pacientes ocultos”, que
também necessitam de cuidados tanto quanto seu familiar demenciado (ZARIT,
ORR, ZARIT , 1985).
Em nossa experiência profissional, foi possível observar que algumas
famílias que vivem a situação de cuidar de um idoso com demência, mesmo com
pouca ou nenhuma preparação para assumir esse papel, conseguem não só lidar
adequadamente como também se adaptar às crescentes dificuldades que o cuidar
de um idoso demenciado causa à rotina familiar. em outras famílias aparecem
relatos de relacionamentos difíceis e conflituosos no passado que se atualizam no
momento de cuidar, chegando algumas vezes até situações-limite de maus-tratos ou
negligência.
Pode-se perceber, então, que as relações familiares anteriores à doença
influenciam sobremaneira a relação de cuidado. A função de cuidador familiar
provoca um sofrimento extra, uma situação de conflito que cada família enfrentará
com a estrutura que conseguiu construir ao longo dos anos de convivência
(GOLDFARB, LOPES, 2006). Esse é um momento difícil por exigir da família todos
os seus recursos afetivos, econômicos e organizacionais a serviço dessa nova
realidade.
Dado o caráter solitário de quem presta cuidado, especialmente se recebe
pouca ajuda da família, vizinhos, igreja e sistemas de saúde, é comum o
aparecimento de sentimentos como desespero, cansaço, ansiedade e angústia, o
que afeta a saúde do cuidador, compromete a qualidade do cuidado oferecido ao
portador de demência e, às vezes, é causa de institucionalização do familiar com
demência (FERRETTI, 2004).
Além da institucionalização, trabalhando em uma enfermaria de Geriatria, é
possível observar repetidas reinternações de pacientes com demência. Muitas
famílias apresentam dificuldades no processo de cuidar, em decorrência da falta de
conhecimento, que também compromete a qualidade do cuidado, além de contribuir
para o estresse do cuidador, ocasionando frequentes reinternações hospitalares.
Essas reinternações contribuem para o aumento da média de permanência
14
hospitalar, com consequente aumento dos custos hospitalares e desgaste físico e
emocional do doente e de seu familiar (MARCON et. al., 2002; ARTIFON, 2009).
Concordo com Caldas (1995) quando diz que a sobrecarga física, emocional
e socioeconômica do cuidador de um familiar é imensa. E não se deve esperar que
os cuidados sejam entendidos e executados corretamente sem que os responsáveis
pelo paciente sejam orientados ou recebam algum tipo de suporte social ou do
governo.
É verdade que as políticas de proteção social ao idoso ainda se apresentam
muito restritas tanto na oferta de serviços e programas de Saúde Pública como na
amplitude da sua intervenção. O Estado se mostra um parceiro pontual, com
responsabilidade reduzida, que atribui à família a responsabilidade maior dos
cuidados desenvolvidos em casa ao idoso dependente. Falta uma política mais
veemente e eficaz no que se refere aos papéis atribuídos às famílias e aos apoios
cujo oferecimento cabe à rede pública de serviços (KARSCH, 2003).
A frase “um paciente com demência equivale a dois necessitando de
cuidados” descreve a drástica diminuição da qualidade de vida do paciente e
consequente redução na qualidade de vida do cuidador (WETTSTEIN, 1997). Nesse
contexto, parece ser importante o desenvolvimento de pesquisas que abordem
esses e outros aspectos sobre a relação entre paciente e cuidador, na tentativa de
encontrar elementos que facilitem o relacionamento entre ambos, dada a alta
complexidade de fatores que cercam essa situação tão peculiar, a de cuidar do outro
que é acometido por alguma doença degenerativa e incapacitante.
Assim, este estudo tem como finalidade descrever o perfil dos cuidadores
familiares de idosos do Serviço de Geronto-Geriatria do HSPM, bem como
identificar, relacionar e compreender fatores que se associam com a sobrecarga, o
estresse e a saúde mental desses indivíduos, para que estratégias de intervenções
terapêuticas mais efetivas sejam criadas.
Desse modo, para a realização deste trabalho, delineou-se um estudo
descritivo e transversal com os seguintes objetivos:
15
Descrever o perfil dos cuidadores familiares do Serviço de Geriatria do HSPM;
Identificar o estresse e a sobrecarga dos cuidadores de idosos;
ldentificar a presença de sintomas psiquiátricos nos cuidadores de idosos;
Identificar fatores (sexo, idade, estado civil, relação de parentesco, tempo como
cuidador, número de horas destinadas à tarefa de cuidar, grau de dependência do
doente, ter ajuda para cuidar, comportamentos do doente que mais incomodam,
consumo de psicofármacos, ter algum tipo de lazer) que influenciem a sobrecarga
ou estresse e a saúde mental dos cuidadores.
O trabalho encontra-se estruturado em quatro partes. Na primeira parte faz-
se uma contextualização do tema, abordando as seguintes questões:
envelhecimento e dependência, envelhecimento e demência, definição de demência
e da doença de Alzheimer e fatores de risco. Na segunda parte tratam-se aspectos
relacionados à questão do cuidado e aos cuidadores informais, estresse do cuidador
e fatores associados. Na terceira parte aborda-se o estudo empírico, em que são
clarificados os objetivos propostos e as questões metodológicas, local e cenário da
pesquisa, objetivos, instrumento de coleta de dados, análise de dados e questões de
ética. Na quarta parte são apresentados e analisados os resultados, bem como as
principais conclusões alcançadas e as considerações finais.
16
CAPÍTULO I - ENVELHECIMENTO, DEPENDÊNCIA E DEMÊNCIA
1.1 ENVELHECIMENTO E DEPENDÊNCIA
O processo de envelhecimento biológico refere-se às transformações físicas
que reduzem a eficiência dos sistemas orgânicos e funcionais do organismo,
traduzindo-se numa diminuição progressiva da capacidade de manutenção do
equilíbrio homeostático que, em condições normais, não será suficiente para
produzir distúrbios funcionais. Quando o declínio é muito significativo, ocorre uma
importante redução da reserva funcional, tornando o idoso mais vulnerável ao
surgimento de doenças crônicas, que podem levar a alterações na capacidade
funcional, ameaçando a sua autonomia e independência (PAPALÉO NETTO,
PONTE, 2000).
Birren e Zarit (1985) definem o envelhecimento biológico, a senescência,
como “o processo de mudança no organismo, que com o tempo diminui a
probabilidade de sobrevivência e reduz a capacidade biológica de auto-regulação,
reparação e adaptação às exigências ambientais”. Portanto, senescência não é
sinônimo de doença, mas sim um processo normal de deterioração biológica geral
que aumenta a vulnerabilidade do indivíduo à doença e à morte, que se
caracteriza pela redução da reserva fisiológica dos órgãos e sistemas, o que implica
diminuição da capacidade de adaptação do organismo às alterações do meio
ambiente.
A maioria das pessoas idosas é funcional e não apresenta limitações para a
realização das atividades de vida diária. Porém, investigações têm demonstrado a
estreita relação entre dependência e idade, ou seja, a porcentagem de indivíduos
que apresentam limitações na capacidade funcional aumenta entre as populações
com idades mais avançadas, principalmente depois dos 75 ou 80 anos (SOUSA,
FIGUEIREDO, 2003).
À medida que se envelhece, a impossibilidade de realizar de forma
independente algumas atividades do cotidiano acontece devido a dois motivos que
não se excluem: a dependência pode ser originada por uma ou mais doenças
crônicas; ou pode ser o reflexo de uma perda geral das funções fisiológicas
17
atribuível ao processo global de senescência (MANTON et. al., 1997, apud MARIN,
CASANOVAS, 2001). No primeiro caso, situam-se aqueles indivíduos cuja
incapacidade funcional deriva de processos crônicos fortemente associados à idade:
doenças cardiovasculares, tumores malignos, demências, doenças do aparelho
músculo-esquelético (artrite, osteoporose) e respiratório. A segunda razão relaciona-
se com a perda da vitalidade que a maioria dos organismos experimenta com a
idade.
Segundo Paschoal (2007), as pessoas vão desenvolvendo suas
capacidades até os 20 ou 30 anos, quando se atinge um ápice. A partir daí, com o
passar dos anos, o desempenho funcional dos indivíduos vai se deteriorando pouco
a pouco, motivado pelo processo de envelhecimento. O ritmo do declínio funcional,
mais lento ou mais rápido, depende de uma rie de fatores: da constituição
genética, dos hábitos e estilos de vida, do meio ambiente, do contexto
socioeconômico e cultural. Incidentes críticos, como doenças e acidentes, colocam o
indivíduo numa inclinação mais profunda de sua curva funcional. Num determinado
nível situa-se o limiar da incapacidade. Acima do limiar, as pessoas vivem de forma
independente. Abaixo dele estão as pessoas incapazes, dependentes. Ainda de
acordo com Paschoal (2007), as pessoas podem adiantar ou atrasar a chegada ao
limiar. Quando se atrasa, a morte pode chegar antes que a incapacidade.
Envelhecer sem incapacidade é fator indispensável para a manutenção de boa
qualidade de vida.
Autonomia, independência e incapacidade são conceitos distintos. Baltes e
Sivelberg (1995) definem a autonomia como a capacidade do indivíduo de manter o
seu poder de decisão, ao passo que a dependência significa um estado em que a
pessoa é incapaz de existir de maneira satisfatória sem ajuda de outrem. Assim, a
autonomia refere-se à capacidade de decisão, comando, faculdade de governar a si
próprio e de se reger por leis próprias. Evans (apud PASCHOAL, 2007) afirma que
para um idoso a autonomia é mais útil que a independência como objetivo, pois é
possível ter autonomia mesmo sendo dependente. Por exemplo, um indivíduo com
fratura de fêmur que ficou limitado a uma cadeira de rodas poderá exercer
plenamente a sua autonomia, apesar de não ser totalmente independente.
De uma forma geral, a dependência traduz-se na necessidade de apoio para
a realização de atividades da vida diária.
18
Paschoal (2007) chama atenção para a presença da dependência ao longo
de toda a vida, não sendo atributo da velhice. Pode ocorrer em qualquer etapa da
vida, como desde o nascimento, ou ser desencadeada por uma doença ou uma
situação (por exemplo, a dependência pode aparecer em situações de viuvez ou
divórcio).
A dependência tem sido avaliada pelo método de avaliação funcional,
bastante conhecido na prática geriátrica. A funcionalidade tem sido definida como a
capacidade de um indivíduo se adaptar aos problemas e exigências do cotidiano e é
avaliada com base na capacidade e autonomia de execução das atividades de vida
diária (CALDAS, 2003). Estas se dividem em: a) atividades de vida diária - alimentar-
se, vestir-se, controlar os esfíncteres, banhar-se, locomover-se; b) atividades
instrumentais de vida diária, indicativas da capacidade para levar uma vida
independente na comunidade, cumprindo tarefas como fazer compras, usar o
telefone, manusear dinheiro, realizar tarefas domésticas, tomar a medicação sem
ajuda, entre outras, e c) atividades avançadas da vida diária - atos mais complexos
como dirigir carro, atividades de lazer, exercícios físicos, trabalho, etc.
Assim, conforme indicam os trabalhos de Katz et. al. (1963) e de Lawton e
Brody (1969), no momento de se determinar se uma pessoa é ou não dependente,
cumpre considerar se ela necessita de ajuda para realizar dois grupos distintos de
atividades: as atividades básicas de vida diária (ABVDs) e as atividades
instrumentais de vida diária (AIVDs). Para isso, utilizam-se escalas para mensurar o
grau de dependência em índices mensuráveis.
De um modo geral, a dependência é classificada em três níveis: parcial,
moderada e grave. O idoso com dependência parcial necessita apenas de
supervisão ou vigilância. o idoso com dependência moderada necessita não
de supervisão, como também de apoio de terceiros para algumas atividades
específicas. Finalmente, o idoso com dependência grave necessita de ajuda
permanente, pois possui graves restrições.
É preciso ressaltar que há muitas pessoas envelhecendo com saúde e bem-
estar; porém, aquelas que envelhecem com doenças crônico-degenerativas e
que necessitam de cuidados.
19
Por fim, cabe destacar que nosso interesse nesta pesquisa está voltado,
primordialmente, para aqueles indivíduos que, ao envelhecer, necessitam de
cuidados especiais, dada a perda de independência e, muitas vezes, da sua
autonomia.
1.2 ENVELHECIMENTO E DEMÊNCIA
Embora a maioria das pessoas envelheça com autonomia e independência,
como já citado anteriormente, também é verdade que, com avançar dos anos,
aumentam o número de idosos doentes e a frequência de doenças que os
acometem, acarretando aumento da mortalidade nas fases mais avançadas da vida
(PAPALÉO NETTO, KLEIN, 2007).
Entre todas as doenças que acometem os idosos, a demência, em suas
diversas formas, tem papel importante, não pela frequência com que ocorre, mas
principalmente por ter uma ação particularmente devastadora não apenas sobre o
doente, mas também sobre o cuidador e a família, com inúmeras repercussões na
sociedade (PAPALÉO NETTO, KLEIN, 2007).
A demência tem efeitos complexos no paciente e seus familiares: priva a
pessoa da memória, da capacidade de raciocínio, da personalidade, da autonomia, e
os familiares assistem à deterioração cognitiva, emocional e física do familiar
doente. Isso por si é emocionalmente desgastante, mas, além disso, ocasiona
alterações nos estilos de vida dos familiares, à medida que precisam assumir cada
vez mais responsabilidades que o doente já não consegue mais exercer.
Quando é feito um diagnóstico de demência, a dinâmica da família sofre
alterações. Os familiares se veem obrigados a contratar uma pessoa para cuidar do
seu ente querido, ou um parente tem de abandonar seus afazeres domésticos para
se dedicar a ele, talvez, em tempo integral, se o quadro for grave.
A Doença de Alzheimer - DA tem custos econômicos que não resultam
exclusivamente do tratamento médico da doença, mas especialmente das
consequências dela, que tornam o doente incapaz de cuidar de si mesmo e
dependente do apoio de outros. Em consequência dessa situação, aumentam os
20
gastos das famílias, da sociedade e do Estado. Além dos custos diretos, como
consultas médicas, medicações, exames diagnósticos, entre outros, existem custos
difíceis de mensurar, como aqueles relacionados ao trabalho desenvolvido pelos
cuidadores, à perda de produtividade do doente e do familiar responsável por ele e o
aumento da procura dos serviços de saúde por parte dos cuidadores (GARRET,
2005).
Pode-se afirmar que a demência é, sobretudo, uma doença do
envelhecimento, na medida em que se verifica um aumento acentuado da sua
prevalência nos grupos mais idosos. Em outras palavras, quanto mais idade tem um
indivíduo com queixa de esquecimento, maior é a probabilidade de ele ter um
quadro demencial (NUNES, 2005).
A prevalência da demência aumenta com a idade, praticamente dobrando a
cada período de cinco anos. Estudos mostram que a prevalência nos indivíduos com
60 anos de idade é de 0,7%, passando para 38,6% após 30 anos (JORM,
KORETEN, HENDERSON, 1987).
Tabela 1 - Prevalência Estimada da Demência segundo a faixa etária
Idade (anos) Prevalência Estimada (%)
60-64 0,7
65-69 1,4
70-74 2,8
75-79 5,6
80-84 10,5
85-89 20,8
90-95 38,6
Fonte: JORM, KORETEN, HENDERSON, 1987.
A prevalência média da demência em indivíduos com mais de 65 anos de
idade é de 6,2% na América do Norte, 7,1% na América do Sul e 9,0% na Europa
21
(LOPES, BOTTINO, HOTOTIAN, 2006). No Brasil, o percentual aproxima-se muito
daqueles verificados nos países ocidentais.
Após os 65 anos, a prevalência da DA, a exemplo do que ocorre com a
demência em geral, praticamente dobra a cada cinco anos, conforme revelam os
dados expostos na tabela a seguir:
Tabela 2 - Prevalência da DA nas diversas faixas etárias no Brasil
Idade Prevalência de DA
65-69 0,3%
70-74 2,1%
75-79 5,6%
80-84 11,5%
85 e mais 30,6%
Fonte: HERRERA et. al., 2002.
Segundo Machado (2006), a DA é considerada a forma mais comum de
demência nos países ocidentais. Estima-se que o número de indivíduos acometidos
supere 15 milhões em todo o mundo, e sua prevalência vem aumentando nas
diversas faixas etárias. Nos Estados Unidos, a DA é a quarta causa de óbito mais
frequente em pessoas entre 75 e 84 anos de idade e a terceira maior causa de
incapacidade e mortalidade.
No Brasil, estima-se que cerca de 500 mil pessoas sejam portadoras de
demência, o que ocasiona um impacto em nossa sociedade no que se refere aos
custos diretos envolvidos no cuidado com os doentes. Nos Estados Unidos, as
despesas chegam a 30 bilhões de dólares por ano, sem levar em conta os gastos
indiretos, que incluem o tempo gasto por cuidadores, a diminuição da produtividade
e o impacto negativo na saúde do cuidador em virtude do cuidado integral ao familiar
doente. Todos esses fatores inscrevem a demência como um inegável problema de
saúde pública (MACHADO , 2006).
22
A demência é uma síndrome clínica caracterizada pelo declínio cognitivo,
com caráter permanente e progressivo ou transitório, causada por múltiplas
etiologias, acarretando repercussões sociais e ocupacionais ao paciente. A
demência geralmente se manifesta por déficit de memória e de outras funções
cognitivas, como linguagem, orientação espacial ou temporal, julgamento e
pensamento abstratos (PAPALÉO NETTO, KLEIN, 2007).
Para serem definidas como demência, essas alterações devem ser
persistentes no tempo e revestir-se de gravidade suficiente de forma a interferir na
funcionalidade do sujeito. Englobam doenças degenerativas do sistema nervoso
central, como a doença de Alzheimer (DA), lesões vasculares e infecciosas. O
diagnóstico precoce pode, em alguns casos, reverter o processo ou, em outros,
amenizar suas consequências (HOTOTIAN, BOTTINO, AZEVEDO, 2006).
Cabe salientar que demência e deterioração não são denominações
sinônimas. Toda demência implica uma deterioração das funções cognitivas, porém
nem toda deterioração cognitiva é, em si, uma demência.
A demência do tipo Alzheimer corresponde a 60-70% dos casos de
demência (CUMMINGS, COLE, 2002). Por isso falaremos a partir daqui mais
especificamente sobre a doença de Alzheimer.
1.3 DOENÇA DE ALZHEIMER (DA)
A DA vem sendo estudada desde 1906, quando o neuropsiquiatra alemão
Alois Alzheimer descreveu o caso de uma paciente de 51 anos (Augustine) que se
apresentava com delírios de ciúme e declínio cognitivo até a morte, configurando um
quadro demencial. Após investigação anatomopatológica, o neuropsiquiatra
descobriu determinadas características histopatológicas (placas senis e corpúsculos
neurofibrilares), que passaram a ser os marcadores da doença (CAIXETA, 2004).
As placas senis constituem lesões extracelulares, enquanto os novelos ou
emaranhados neurofibrilares são lesões intraneuronais. A gênese das placas senis
está relacionada à clivagem anormal da proteína beta amiloide (constituinte normal
da membrana celular dos neurônios), e os emaranhados neurofibrilares relacionam-
23
se à fosforilação anormal da proteína tau (proteína constituinte do citoesqueleto
neuronal) (CAIXETA, 2004).
O diagnóstico da DA é feito quando se verifica um quadro clínico
caracterizado por declínio cognitivo global, sem distúrbio de consciência, de início
geralmente insidioso e progressivo, que interfere nas atividades da vida diária do
paciente (HOTOTIAN, BOTTINO, AZEVEDO, 2006). Para se afirmar que o paciente
é portador de DA, faz-se necessário primeiro eliminar outras perturbações, como as
do sistema nervoso, que também podem provocar déficit cognitivo progressivo; as
afecções sistêmicas, que podem alterar o funcionamento intelectual; e o consumo de
determinadas substâncias, tais como álcool ou medicamentos. Também a confusão
mental e as perturbações psiquiátricas devem ser descartadas (ASSOCIAÇÃO
NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 1995).
Para o diagnóstico etiológico de demência o solicitados exames
complementares: hemograma, glicemia, bioquímica do soro, testes de função renal,
tireoidiana e hepática, pesquisa de quadro infeccioso crônico (por exemplo,
tuberculose, neurolues, Aids, etc.), de déficits de vitamina B12 e folatos, tomografia
computadorizada de crânio e, quando necessário, punção liquórica. O diagnóstico
da Doença de Alzheimer é feito por exclusão, ou seja, quando todos esses exames
apresentam resultados normais, faz-se o diagnóstico de DA (VENTURA, BOTTINO,
2007).
É importante ressaltar que existem critérios bem estabelecidos para o
diagnóstico de demência, entre eles os definidos pela Associação Americana de
Psiquiatria, no Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais - DSM-IV.
O quadro 1 apresenta o conceito de demência proposto pela Associação
Americana de Psiquiatria (DSM-IV):
24
Quadro 1 - Critérios Diagnósticos de Demência do tipo Alzheimer (segundo o DSM-IV)
A. Desenvolvimento de múltiplos déficits cognitivos manifestados tanto por (1)
como por (2):
(1) comprometimento da memória (capacidade prejudicada de aprender
novas informações ou recordar informações anteriormente aprendidas)
(2) uma ou mais das seguintes perturbações cognitivas:
(a) afasia (perturbação da linguagem);
(b) apraxia (capacidade prejudicada de executar atividades motoras,
apesar do funcionamento motor intacto);
(c) agnosia (incapacidade de reconhecer ou identificar objetos, apesar de
um funcionamento sensorial intacto);
(d) perturbação do funcionamento executivo (isto é, planejamento,
organização, sequenciamento, abstração).
B. Os déficits cognitivos nos Critérios A1 e A2 causam, cada qual, prejuízo
significativo no funcionamento social ou ocupacional e representam um
declínio significativo em relação a um nível anteriormente superior de
funcionamento.
C. O curso caracteriza-se por um início gradual e um declínio cognitivo contínuo.
D. Os déficits cognitivos dos critérios A1 e A2 não se devem a qualquer dos
seguintes fatores:
1. outras condições do sistema nervoso central que causam déficits
progressivos na memória e cognição;
2. condições sistêmicas que comprovadamente causam demência;
3. condições induzidas por substâncias.
(e) Os déficits não ocorrem apenas em associação com delirium.
(f) Os déficits não podem ser explicados por outros transtornos
psiquiátricos.
Fonte: ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 1995.
25
A análise mais detalhada dos critérios de diagnóstico estabelecidos pelo
DSM-IV (ASSOCIAÇÃO NORTE-AMERICANA DE PSIQUIATRIA, 1995) mostra que:
A característica fundamental da demência é o desenvolvimento de déficits
cognitivos múltiplos, incluindo diminuição da memória e, pelo menos, uma das
seguintes perturbações cognitivas: afasia, apraxia, agnosia ou perturbação na
capacidade executiva. Os ficits devem ser suficientemente graves, a ponto de
provocarem uma diminuição do funcionamento social ou ocupacional. O diagnóstico
não deve ser feito quando os déficits cognitivos ocorrem exclusivamente durante a
evolução de um delirium.
As perturbações da memória constituem um sintoma precoce; os indivíduos veem
sua capacidade de aprender coisas novas diminuída. Perdem objetos como carteira
ou chaves, esquecem de desligar eletrodomésticos e perdem-se em locais não
familiares. Nas fases mais avançadas, a diminuição da memória é tão grave que os
doentes se esquecem dos familiares.
Os déficits na linguagem manifestam-se na dificuldade de nomear pessoas ou
objetos. O discurso pode se tornar vago ou vazio. A compreensão da linguagem
escrita e falada pode estar comprometida.
Os sujeitos com demência podem apresentar uma dificuldade na capacidade de
execução de tarefas motoras simples, apesar de a parte funcional permanecer
intacta. Como exemplo podemos citar dificuldades em cozinhar ou vestir-se.
Também podem apresentar agnosia, traduzida pela dificuldade de reconhecer ou
identificar objetos.
As dificuldades na função executiva são comuns nas síndromes demenciais. A
função executiva compreende a capacidade de abstração, planejamento,
sequenciamento e monitorização de ações complexas. A diminuição dessa função
manifesta-se na dificuldade do indivíduo ao lidar com tarefas novas, evitando
situações que necessitem de processamento de informações novas e complexas.
Os portadores de demência podem ficar desorientados no espaço e no tempo,
apresentando dificuldades no discernimento. É frequente não terem percepção dos
seus próprios déficits, podendo assumir riscos em atividades que não podem mais
26
exercer. Por vezes, demonstram comportamentos desinibidos ou inapropriados,
revelando indiferença em relação às regras sociais convencionais.
É frequente a presença de sintomas de ansiedade, depressão e alterações no
padrão do sono. Alterações na personalidade, apatia, irritabilidade ou agressividade
costumam fazer parte do quadro. Também surgem ideias delirantes e alucinações
visuais.
1.4 FASES DA DOENÇA DE ALZHEIMER
Como a DA caracteriza-se por uma deterioração progressiva, a evolução do
quadro clínico pode ser dividida em três fases (MACHADO, 2006): fase inicial ou
leve, fase intermediária e fase grave.
Na fase inicial ou leve aparecem os primeiros sinais da doença, geralmente
déficits de memória, ocorrendo maior dificuldade para o doente recordar
acontecimentos recentes, apesar de ser capaz de descrever detalhadamente
eventos passados. Torna-se difícil evocar os pormenores dos acontecimentos, tais
como data e local, podendo o indivíduo com ajuda reconstruir determinado episódio,
mas com insegurança. Em determinadas ocasiões, não é capaz de recordar nenhum
aspecto de um acontecimento recente.
Os episódios de desorientação não são raros nessa fase inicial.
Primeiramente, o sujeito perde-se na rua em locais pouco conhecidos ou que
sofreram modificações recentes. Posteriormente, essa desorientação acontece
também em locais conhecidos, como na rua onde mora e na sua própria casa.
A linguagem vai paulatinamente sofrendo alterações; surgem dificuldades de
nomeação ou anomia. O discurso do sujeito perde fluência, torna-se impreciso e o
pensamento é cada vez menos concreto. A capacidade de resolução de problemas
é afetada, aparecendo dificuldades para realizar cálculos, lidar com o dinheiro e
tomar decisões.
Lentamente vão surgindo alterações da personalidade, com mais
egocentrismo, desinibição e embotamento do sentido ético. O indivíduo pode perder
a compostura habitual e, por exemplo, tecer comentários inapropriados. Na maioria
27
dos casos, variações de humor também se fazem presentes nessa fase; o indivíduo
pode demonstrar ansiedade e insegurança e apresentar sintomas depressivos. São
frequentes a apatia e o desinteresse por atividades que anteriormente eram
exercidas com prazer.
Na segunda fase da doença, chamada fase intermediária, que dura de três a
cinco anos, ocorre perda cada vez mais acentuada da memória, além de alterações
visuais e espaciais mais bruscas e agravamento dos demais sintomas
mencionados. Aparecem sintomas focais, como apraxia, agnosia e anomia. A
capacidade de realizar cálculos, de fazer julgamentos e de planejar também está
prejudicada. A autonomia do indivíduo diminui, o que acentua sua dependência e
necessidade de supervisão.
O sujeito apresenta maior desorientação temporal e espacial, tendo
dificuldade de dizer onde se encontra, qual o dia do mês e o dia da semana. Passa a
necessitar de ajuda para escolher a roupa mais apropriada para a estação ou a
ocasião.
As dificuldades referidas vão interferindo na vida social do doente,
aparecendo ainda despreocupação com a higiene pessoal e a arrumação da casa.
Em geral, não necessita de auxílio para alimentar-se, mas, frequentemente, precisa
de supervisão ou auxílio para usar o banheiro.
Na terceira fase ou fase grave, o sujeito não consegue mais reter
acontecimentos recentes ou fatos que ocorrem ao seu redor. É incapaz de contar
sua história perfeitamente. Ocasionalmente, esquece o nome do cônjuge ou do
cuidador.
Apresenta distúrbios do ciclo sono-vigília, trocando o dia pela noite. Ocorrem
episódios de incontinência urinária e fecal. Além disso, aparecem alterações
significativas de personalidade, incluindo alucinações, compulsões e movimentos
repetitivos. As alucinações e as distorções perceptivas são frequentes. O indivíduo
intrusos ou familiares falecidos, não reconhece sua imagem no espelho, não
reconhece sua própria casa.
Portanto, é nessa fase que surgem fenômenos delirantes. Os temas mais
comuns consistem na ideia de ser roubado, de que o cônjuge é infiel e de que as
pessoas com quem vive estão planejando algo contra ele. Posteriormente, as
28
alterações cognitivas vão se acentuando e acabam por conduzir à perda da
autonomia.
O doente, então, apresenta dificuldade de interpretar informações sensoriais,
não sendo capaz de reconhecer rostos, objetos, lugares, ficando num mundo mais
estranho e confuso. A linguagem se restringe a poucas palavras e o sujeito perde
gradualmente a capacidade de falar. A agitação lugar à inércia. O doente entra
em mutismo total e raramente reconhece seus familiares. Perde a postura ereta e
fica confinado ao leito. Problemas de saúde como constipação, infecções
respiratórias e úlceras de pressão surgem ou agravam-se.
Apesar das diferentes apresentações da demência e das particularidades de
cada caso, Reisberg et. al. (1982) empreenderam o estadiamento das perdas
funcionais da DA, dividindo a evolução dessas perdas em sete estágios:
Estágio 1 - Normalidade, sem queixas relativas à memória.
Estágio 2 - Queixas subjetivas; o indivíduo refere pequenos esquecimentos, sem
interferência na atividade profissional ou social.
Estágio 3 - Ligeiro déficit de memória, com repercussões no desempenho social
e familiar. O indivíduo esquece o nome de pessoas próximas, tem dificuldade de
reter informações e pode perder-se em locais pouco familiares. A depressão é
frequente nessa fase, assim como a negação dos problemas; o doente procura
justificar e minimizar os lapsos. Em média, esse estágio tem duração de sete anos.
Estágio 4 - Demência ligeira ou inicial. O indivíduo apresenta dificuldades
evidentes na nomeação, no reconhecimento de pessoas e na orientação temporal.
Surgem dificuldades nas atividades instrumentais, tais como cuidar da casa e pagar
as contas. A negação do problema torna-se mais acentuada. O doente apresenta-se
geralmente apático. A duração dessa fase é de aproximadamente dois anos.
Estágio 5 - Demência moderada. O doente apresenta a capacidade de decisão
comprometida e revela dificuldade para recordar alguns aspectos importantes da
sua vida, como o nome dos netos ou filhos. Parece não haver por parte do doente
consciência dos déficits. Esse estágio pode durar um ano e meio.
29
Estágio 6 - Demência grave. Nessa fase o doente necessita de ajuda nas
atividades da vida diária, como a higiene e o vestir-se, e a incontinência pode surgir.
É nessa fase que os sintomas comportamentais se manifestam mais. A duração é
em média de dois a três anos.
Estágio 7 - Demência muito grave. O doente perde gradualmente a capacidade
de falar e deixa de sorrir. Perde progressivamente também a capacidade de
deambular, até atingir uma situação de total dependência. Essa fase pode durar de
três a sete anos.
1.5 FATORES DE RISCO PARA A DOENÇA DE ALZHEIMER
Embora o Alzheimer possa afetar qualquer indivíduo, estudos recentes
procuram eventuais fatores envolvidos no desenvolvimento da doença. Segundo
Caixeta (2004), os principais fatores de risco associados à DA e outras demências
são:
A) Idade - A demência pode ocorrer em qualquer idade, mas é raro surgir antes dos
60 anos. Acomete, aproximadamente, 1% das pessoas com idade entre 65 e 69
anos e 24% das pessoas com 85 anos ou mais. Alguns autores acreditam que, se
todos nós vivêssemos tempo suficiente, todos apresentaríamos Doença de
Alzheimer, como um desdobramento natural do processo de envelhecimento.
B) Gênero - A maioria das investigações não revela diferenças significativas entre
homens e mulheres no que diz respeito à prevalência total da doença. Todavia,
alguns estudos demonstram que as mulheres têm mais probabilidade de sofrer de
DA, que sua esperança de vida é mais longa. Por sua vez, os homens
apresentam maiores taxas de demência vascular.
C) História familiar e fatores genéticos - Em geral, quando a demência ocorre antes
dos 60 anos, pode-se pensar em uma doença hereditária (portadores do alelo E4E4
apresentam maior risco de desenvolver a doença, principalmente a forma pré-senil).
Porém, o papel dos fatores genéticos no desenvolvimento tardio de uma demência
(isto é, depois dos 60 anos) ainda não é claro. Os parentes em primeiro grau (filhos,
30
irmãos ou irmãs) de uma pessoa com DA, por exemplo, têm de três a quatro vezes
mais chances de desenvolver a doença que as pessoas sem parentes afetados pelo
Alzheimer. Por outro lado, estudos realizados sobre o gene apolipoproteína E
(APOE) revelam tratar-se de um potente fator de risco para o desenvolvimento futuro
de DA.
D) Escolaridade baixa - Indivíduos com escolaridade baixa teriam menor reserva
cerebral, isto é, menor quantidade de sinapses, por exercerem menos atividades
intelectuais. Estudos indicam que a demência, em particular a DA, é menos comum
em pessoas com níveis educacionais mais elevados.
E) Acidente Vascular Encefálico (AVE) e doenças vasculares - A demência
desenvolve-se em aproximadamente um terço das pessoas que sobrevivem por pelo
menos três meses após o AVE. Quem sofre de doenças que afetam a circulação,
como hipertensão e diabetes, tem risco superior de desenvolver demência.
F) Traumatismos cranianos
G) Síndrome de Down
Apesar da recente evolução na identificação dos possíveis fatores de risco
da demência, existe ainda um longo caminho a ser trilhado. Também se está a
investigar o papel de outros fatores menos conhecidos ou ainda não estabelecidos,
como a dieta, exercícios físicos e exposições ao meio ambiente.
1.6 SINTOMAS PSICOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS NA DEMÊNCIA
As alterações psicológicas o cognitivas, os chamados sintomas
comportamentais e psiquiátricos da demência, merecem especial atenção pelo
enorme impacto que têm nos cuidadores (VEGA et. al., 2006). Tais transtornos
foram agrupados, em 1996, sob a definição “sintomas comportamentais e
psicológicos da demência” (SCPD). Os principais são: delírios, alucinações,
agitação, resistência aos cuidados, depressão, apatia, perambulação, desinibição,
psicose e ansiedade. Os principais comportamentos que se apresentam na
31
demência são: apatia (72%), agitação (60%), ansiedade (48%), irritabilidade (42%),
disforia e alteração motora (38%).
Quando os transtornos de comportamento não são tratados, resultam em
sofrimento, institucionalização precoce, mais custo e perda de qualidade de vida
para pacientes, familiares e cuidadores (BOTTINO et. al., 2002).
Alguns aspectos importantes merecem ser destacados no que se refere a
tais alterações (CAIXETA, 2004):
1) Diferentes alterações de comportamento podem emergir e desaparecer em
diferentes estágios da demência. Por exemplo, sabe-se que os sintomas
depressivos e psicóticos costumam surgir nos estágios iniciais ou intermediários da
demência, mas desaparecem nos estágios mais avançados, enquanto o mutismo
acinético e a agressividade aparecem nos estágios mais terminais. A tendência a
andar a esmo (perambulação) e a desinibição sexual podem surgir em qualquer fase
da demência, porém, em geral, estão ausentes nos estágios mais avançados.
2) Algumas formas de demência associam-se mais frequentemente a alterações de
comportamento que outras. Assim, tais alterações são muito comuns e mais
frequentes na demência fronto-temporal, na doença por corpos de Lewy, em alguns
subtipos de Alzheimer, na demência vascular com comprometimento mais posterior
e na afasia progressiva primária.
32
CAPÍTULO II - PRESTAR CUIDADOS: OS CUIDADORES
FAMILIARES DE IDOSOS
2.1 CUIDADORES: QUEM SÃO E O QUE FAZEM?
Diz a lenda que,
Um dia, quando Cuidado pensativamente atravessava um rio,
ela resolveu apanhar um pouco de barro e começar a moldar
um ser que, ao final apresentou a forma humana. Enquanto
olhava para sua obra e avaliava o que tinha feito, Júpiter se
aproximou. Cuidado pediu então a ele, para dar o espírito da
vida para aquele ser, no que Júpiter prontamente atendeu.
Cuidado, satisfeita, quis dar um nome aquele ser, mas Júpiter,
orgulhoso, disse que o seu nome é que deveria ser dado a ele.
Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam, Terra surge e lembra
que é ela quem deveria dar seu nome àquele ser, que ele
tinha sido feito da matéria de seu próprio corpo - o barro.
Finalmente, para resolver a questão os três aceitaram Saturno
como juiz. Saturno decidiu, em seu senso de justiça, que
Júpiter, quem deu o espírito ao ser, receberia de volta sua alma
depois da morte; Terra, como havia dado sua própria
substância para o corpo dele, o receberia de volta quando
morresse. Mas, ainda disse Saturno, ”já que Cuidado
antecedeu a Júpiter e a Terra e lhe deu a forma humana, que
ela lhe assistência: que o acompanhe, conserve sua vida e
lhe o apoio enquanto ele viver. Quanto ao nome, ele será
chamado Homo (o nome em latim para homem), que ele foi
feito do húmus da terra”. (Mito do Cuidado, apud BOFF, 2008)
Cuidar é uma prática milenar, universal e de todos os tempos. É
indispensável à vida do indivíduo e à própria manutenção de toda a sociedade,
permitindo sua continuidade. Muito antes da sua teorização, o cuidado foi explicado
pela mitologia grega, mais especificamente pelo escritor romano Higino, autor da
fábula “Mito do Cuidado”, que revela a gênese e constituição do ser humano pelo
Cuidado (BOFF, 2008).
Para Collière (1989), cuidar é um ato de vida e, como tal, sua história
relaciona-se com o início da humanidade, podendo assumir duas formas ou
significados: o cuidado do homem consigo mesmo e o cuidado com o outro.
Portanto, define-se o cuidado como um ato individual que se presta a si próprio
quando se tem autonomia, mas também como um ato de reciprocidade que se
33
presta a toda pessoa que, temporária ou definitivamente, necessite de ajuda para a
satisfação das suas necessidades vitais.
Orem (1993) define “cuidados” como ações cotidianas que cada indivíduo
realiza para si mesmo ou para os outros, com a finalidade de assegurar um
funcionamento satisfatório da atividade humana, apesar da situação de saúde que
enfrentam. Encarar os cuidados como atividades cotidianas, íntimas e pessoais, ou
seja, ações de autocuidado que cada pessoa realiza autonomamente, desde as
primeiras etapas da vida, com o objetivo de manter o bem-estar, a saúde ou, por
outro lado, empreendidas para propiciar a adaptação de outrem às limitações
impostas pela doença faz com que a ajuda na realização dessas atividades seja
entendida com mais naturalidade quando provém de alguém próximo.
Quando a situação de uma pessoa sofre alterações e o seu padrão de
funcionamento normal se encontra alterado circunstância mais comum entre os
idosos –, resultando na incapacidade para o autocuidado, surge a necessidade de
apoio e ajuda por parte de alguém próximo: familiar, amigo ou vizinho (MENDES,
2005b). No momento em que a doença se instala no seio da família, todos os seus
membros são afetados pelo problema, porém, em geral, apenas um deles assume o
papel de cuidador e a responsabilidade de manter a assistência emocional, física,
médica e, por vezes, financeira do doente. “É esse indivíduo que é conhecido como
cuidador primário” (MEDEIROS, FERRAZ, QUARESMA, 1998, p.189).
Chama-se de cuidador principal ou cuidador primário o familiar que fica
responsável pela quase totalidade dos encargos do idoso dependente e a quem
estão reservados os trabalhos de rotina, em contraposição ao cuidador secundário,
que não tem responsabilidade total (NERI, 2000).
O cuidador primário se dedica aos trabalhos do dia a dia, como cuidar da
casa, hospedagem, proporcionar cuidados pessoais como banho, alimentação,
medicação. os cuidadores secundários podem até realizar as mesmas tarefas
dos cuidadores primários, mas o que os distingue destes é o fato de não terem o
mesmo nível de responsabilidade e de decisão. Geralmente, atuam de forma pontual
em algumas tarefas de cuidados básicos e em deslocamentos e transferências; dão
ajuda doméstica e, eventualmente, se revezam com o cuidador primário (NERI,
SOMMERHALDER, 2002).
34
Utiliza-se ainda a denominação “cuidador formal” (principal ou secundário)
para designar o profissional que é contratado para a prestação de cuidados; e a
denominação “cuidador informal” para o familiar, amigo, vizinho ou voluntário que
presta cuidados de forma não remunerada (GARRIDO, TAMAI, 2006).
Tabela 3 - Classificação dos cuidadores de pacientes com demência
Classificação
Descrição
Primários
Prestam cuidados diretos ao paciente, assumindo a
responsabilidade pelos cuidados fundamentais de que ele
necessita.
Secundários
Prestam auxílios eventuais ou cuidados menos importantes entre
todos os requeridos.
Formais
Aqueles que têm uma formação específica para os cuidados que
prestam, sendo remunerados para tanto.
Informais
Aqueles que passam a cuidar e aprendem, na prática (tentativa e
erro), a melhor forma de auxiliar o paciente, não sendo remunerado
para isso.
Fonte: GARRIDO, TAMAI, 2006.
Os cuidados prestados referem-se às atividades da vida diária, às atividades
instrumentais e à assistência psicológica e afetiva, sendo que os cuidados
relacionados com as atividades da vida diária correspondem à maioria do trabalho
do cuidador.
Neri (2000) considera que os cuidados prestados pelos cuidadores informais
a indivíduos com perda de autonomia se enquadram em quatro domínios:
1) Prestar suporte nas atividades instrumentais da vida diária, como cuidar da casa,
preparar as refeições, ir às compras, pagar contas, entre outras;
2) Proporcionar assistência nas dificuldades funcionais de autocuidado, como dar
banho, vestir, alimentar, posicionar e deambular;
35
3) Apoiar emocionalmente o doente, fazer companhia e conversar;
4) Lidar com as pressões resultantes da tarefa de prestar cuidados.
Estudos gerontológicos mostram que, na maioria dos países ocidentais,
quem desempenha as tarefas de cuidar em família é geralmente a mulher, que
prestar cuidado (aos filhos, à casa, ao cônjuge, aos doentes e aos idosos) é
tradicionalmente uma atribuição feminina (ROSSI, ROSSI, apud NERI,
SOMMERHALDER, 2002; MENDES,1998; NERI, 2000).
Com relação ao perfil dos cuidadores no Brasil, merece destaque a pesquisa
desenvolvida por Karsch (1998) no município de São Paulo, cujo objetivo foi
conhecer as características de 102 cuidadores de pacientes que sofreram o primeiro
episódio de acidente vascular encefálico (AVE) e retornaram às suas casas
apresentando um quadro de dependência. O estudo constatou que 87% dos
cuidadores da amostra eram mulheres, sendo que 80,1% eram esposas ou filhas,
enquanto apenas 16,9% eram noras, irmãs, cunhadas ou sobrinhas das pessoas
acometidas pelo AVE.
Esses dados revelam que a questão do cuidar é eminentemente feminina,
mas também que os cuidadores são quase sempre parentes dos doentes. A
pesquisa verificou ainda que, na grande maioria dos casos investigados, o cuidado
era exercido por uma única pessoa, pois mais de 67% dos cuidadores não contavam
com ajuda para desempenhar suas tarefas.
Quanto à faixa etária dos cuidadores, 59% dos pesquisados tinham mais de
50 anos e 41% tinham mais de 60 anos. Os dados também mostraram que 39,3%
dos cuidadores tinham entre 60 e 80 anos, revelando que eram idosos cuidando de
idosos. Destes cuidadores idosos, 40,7% tinham dores lombares, 39% sofriam de
depressão, 37,3% apresentavam hipertensão arterial e 37,3% tinham artrite e
reumatismo.
Mendes (2005a), Silveira, Caldas e Carneiro (2006) apontam que, em geral,
a decisão de assumir os cuidados é consciente. Seus estudos revelam que, embora
a designação do cuidador seja informal, ela é decorrente de uma dinâmica. O
processo parece obedecer a certas regras refletidas em quatro fatores: a)
parentesco, com frequência maior para os cônjuges, antecedendo sempre a
36
presença de algum filho; b) gênero, com predominância da mulher; c) proximidade
física, considerando quem vive com a pessoa que requer cuidado; e d) proximidade
afetiva, destacando-se a relação conjugal e a relação entre pais e filhos. Os
cônjuges geralmente cuidam por obrigação, em decorrência do acordo de
casamento, e os filhos, pelo lugar que ocupam na família.
Portanto, os motivos implicados na questão de assumir a tarefa de prestação
de cuidados a um idoso que requer ajuda dependem de inúmeros fatores. Além
disso, é um domínio fortemente marcado pelas tradições, pelos padrões e pelas
normas sociais vigentes em cada cultura, bem como pela história de vida de cada
indivíduo.
A assunção da tarefa de prestar cuidado está relacionada, na maioria das
vezes, com sentimentos de solidariedade ou obrigação para com os pais,
companheiro ou outro membro da família, e ainda com o desejo de retribuir os
cuidados recebidos na infância, o desejo de receber o mesmo cuidado no futuro ou
até mesmo a ausência de alternativas (PEDRO, MARCON, 2007). Assim, o cuidado
pode ser visto como uma obrigação ou um dever moral, mas também como
manifestação de afeto e gratidão, uma forma de retribuição do cuidado recebido ao
longo da vida (SOUZA et. al., 2006).
A preocupação de não recorrer à institucionalização é constante entre os
familiares, pois existe uma opinião depreciativa sobre as instituições de longa
permanência. Normalmente, a institucionalização surge para o cuidador como a
derradeira escolha, quando todas as outras alternativas falharam. Enquanto as
casas de repouso suscitam imagens de abandono e incapacidade familiar, a
prestação de cuidados no domicílio favorece a integração social, possibilitando a
permanência num ambiente familiar e confortável, no qual a pessoa dependente
poderá, dentro de suas limitações, maximizar o controle sobre a sua vida (STONE,
2001).
Baseados nos depoimentos de cuidadores principais, VELASQUEZ et. al.
(1998) caracterizam o assumir os cuidados a idosos como fruto de uma escolha ou
de uma delegação a uma única pessoa da família. No momento de definir quem
assumirá os cuidados, ocorrem dois movimentos concomitantes, um de
envolvimento e outro de não envolvimento com o cuidado, dependendo da
proximidade física e afetiva em relação à pessoa que requer atenção especial. As
37
pessoas que assumem a prestação informal de cuidados o fazem por meio de um
processo de “slipping into it” escorregar para dentro. Esse processo é
acompanhado por outro, o de “slipping out of it” escorregar para fora. Ao mesmo
tempo em que uma pessoa assume a responsabilidade da prestação de cuidados,
outra (ou outras) a descarta, e quanto mais o cuidador se envolve, mais os não
cuidadores se afastam, levando a supor que, uma vez assumido, o cuidado é
intransferível. O cuidador surge, então, na relação dialética com o não cuidador. O
posicionamento dos não cuidadores de não desejarem ou não estarem aptos a
assumir esse papel empurra o cuidador primário para o cuidado.
Outros fatores envolvidos na questão de assumir a prestação de cuidados
são morar na mesma casa, ter condições financeiras e dispor de tempo, laços
afetivos, a personalidade do cuidador, sua história de relacionamento com a pessoa
dependente e sua capacidade de doação (NERI, SOMMERHALDER, 2002).
Mendes (1998) aponta que o processo de construção da identidade do
cuidador -se a partir do enfrentamento da rotina de cuidados e da reflexão
desencadeada por esse enfrentamento. O dia a dia é o espaço do imediato, no qual
os cuidadores devem atuar por meio do saber prático. A todo momento, essa
relação coloca em xeque a competência do cuidador para lidar com as mudanças de
humor e de comportamento apresentadas pelo idoso. De forma intuitiva e
autodidata, ele tem de desenvolver uma série de aptidões e conhecimentos sobre a
doença e sobre as tarefas de cuidar.
Segundo Luzardo e Waldman (2004), o cuidador começa a aprender a
cuidar em casa do seu familiar doente conforme as necessidades vão surgindo. O
cuidado desenvolvido no domicílio constitui-se em um aprendizado solitário para o
cuidador, que, entre erros e acertos, vai desenvolvendo estratégias para superar
desafios.
A relação entre o cuidador e o idoso dependente passa por várias fases ao
longo do tempo. A incapacidade do idoso pode se instalar de maneira gradual,
quando é consequência de uma doença degenerativa e progressiva, ou pode
aparecer de forma súbita, quando advém de eventos agudos, como AVE ou
traumatismos. Os diversos momentos da doença, as relações familiares, a
disponibilidade de recursos pessoais e externos em diferentes momentos e
situações fazem o sentimento de sobrecarga se modificar com o passar do tempo,
38
alternando momentos de crise e de equilíbrio (STEPHENS, FRANKS, TOWNSEND,
1994).
Lawton et. al. (2000) acreditam que as avaliações do cuidado e, portanto,
seu impacto sobre a vida do cuidador mudam ao longo do processo. Segundo os
autores, se produz um efeito de adaptação. Assim, o senso de ônus e o estresse
são altos no início, mas depois diminuem, à medida que o cuidador torna-se mais
competente para cuidar. Todavia, existem outros estudos que mostram o contrário,
verificando percentagens significativas de cuidadores com níveis elevados de
sobrecarga e que desempenham a função muitos anos (TOWNSEND, WHITE,
STEPHENS, 2000).
Guimarães e Partezani Rodrigues (1999) referem que cuidadores que se
sentem presos ao doente de que cuidam e que, de igual forma, a sua vida vai
terminando simultaneamente à degradação da vida do doente. No estudo que
realizaram destaca-se o relato de um cuidador que expressa: ”Para viver para eles,
nós temos que matar a nossa vida...“
É preciso destacar que, ao se assumir a tarefa de cuidar de alguém com
certo grau de dependência, surge a necessidade de reorganizar a vida profissional e
familiar, haja vista que o responsável pelos cuidados passa a ter menos tempo para
si e para os outros, vendo-se privado do seu descanso, das atividades sociais e de
lazer.
É comum ouvir no Grupo de Apoio ao Cuidador que coordenamos
depoimentos sobre as mudanças que os cuidadores experimentam nas suas vidas e
que dão origem a toda uma gama de insatisfações O estado de dependência e as
solicitações do doente podem absorver todo o tempo do cuidador, diminuindo os
seus contatos sociais e podendo conduzi-lo ao isolamento, já que limitam sua
atividade social e, assim, levam-no a perder oportunidades de encontrar apoio.
Cuidador não tem férias, não tem tempo disponível para si mesmo, para passear ou
se divertir. Aliás, quando o faz, surgem muitas vezes sentimentos de culpa
associados à ideia de deixar o idoso relegado ao abandono. Em situações extremas,
isolam-se até dos outros familiares, passando seu convívio a ficar restrito à pessoa
cuidada.
39
Segundo Teixeira (1998), alguns cuidadores monopolizam o doente, ou seja,
não aceitam a ajuda de ninguém ou, quando aceitam, fazem inúmeras ressalvas.
Deixam de viver a própria vida para se dedicar exclusivamente à prática de cuidar.
Esse tipo de comportamento traz repercussões importantes para a vida do cuidador
e da sua família. Não é infrequente se colocarem como mártires ou heróis,
agarrados ao papel sem o qual não mais se reconhecem; porém, ficam exaustos e
estressados, sem conseguir delegar responsabilidades ou funções. Mesmo quando
insistentemente advertidos pela equipe interdisciplinar que os auxilia, não
conseguem se desvencilhar do papel nem aceitar sugestões ou alternativas,
vivenciando uma relação simbiótica e disfuncional com o idoso dependente.
2.2 REDES DE SUPORTE SOCIAL
O apoio social formal é de extrema importância para a qualidade do cuidado
e para a vida dos cuidadores. Caldas (2000), referindo-se a essa questão, observa
que, quando os cuidadores contam com uma estrutura de apoio institucional,
estratégico e material, conseguem manter a tarefa de prestar cuidados e
permanecer inseridos socialmente, sem imobilizar-se pela sobrecarga determinada
pela difícil e estafante atenção ao doente dependente.
Com relação às políticas públicas de saúde, apenas recentemente emergiu a
preocupação do Estado em relação aos idosos e seus cuidadores familiares. A lei
nº.8842, de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 04/01/1994), que dispõe sobre a Política
Nacional do Idoso, é considerada marco inicial nas formulações das estratégias e
ações sociais, legais e de saúde para o amparo ao idoso.
A Política Nacional de Saúde dispõe, mediante a portaria nº.1.395/99,
diretrizes essenciais para o desenvolvimento da PNSI (Política Nacional de Saúde
do Idoso), tendo como propósitos:
1) Promoção do envelhecimento saudável
2) Manutenção da capacidade funcional
3) Assistência às necessidades de saúde do idoso
40
4) Reabilitação da capacidade funcional comprometida
5) Capacitação de recursos humanos especializados
6) Apoio ao desenvolvimento de cuidados informais
7) Apoio a estudos e pesquisas
Para o apoio ao desenvolvimento de cuidados informais, essa portaria
esclarece que:
Para o desempenho dos cuidados a um idoso dependente, as
pessoas envolvidas deverão receber dos profissionais de
saúde os esclarecimentos e as orientações necessárias,
inclusive em relação à doença crônico-degenerativa com a qual
está eventualmente lidando, bem como informações sobre
como acompanhar o tratamento prescrito.
Essas pessoas deverão, também, receber atenção médica
pessoal, considerando que a tarefa de cuidar de um adulto
dependente é desgastante e implica riscos à saúde do
cuidador. Por conseguinte, a função de prevenir perdas e
agravos à saúde abrangerá, igualmente, a pessoa do cuidador.
(BRASIL, 03/12/1999, p.18)
Por sua vez, a Portaria Ministerial n°. 280, de 7 de abril de 1999, do Ministro
José Serra, no seu art. 1: “Torna obrigatório nos hospitais públicos, contratados ou
conveniados com o Sistema Único de Saúde - SUS, a viabilização de meios que
permitam a presença do acompanhante de parentes maiores de 60 anos de idade,
quando internados.” E na portaria n°. 5.153, de 7 de abril de 1999, o Ministério da
Previdência e Assistência Social e o Ministério da Saúde resolvem:
Art. 1. Instituir o Programa de Cuidadores de Idosos a ser
coordenado por Comissão Interministerial, com o objetivo de
criar alternativas que proporcionem aos idosos melhores
condições de vida, atender integralmente ao idoso e sua
família, reduzir o percentual de idosos institucionalizados e
habilitar recursos humanos para cuidar do idoso.
De acordo com Caldas (2003), embora a Política Nacional do Idoso
(BRASIL, 04/01/1994) e a Política Nacional da Saúde do Idoso (BRASIL,
41
03/12/1999) apontem a família como responsável pelo atendimento às necessidades
do idoso, até agora o delineamento de um sistema de apoio às famílias e a definição
das responsabilidades dos cuidadores formais e informais, na prática, não
aconteceram. Por conseguinte, os sistemas de saúde público e privado não estão
preparados para atender à demanda de idosos e seus cuidadores, nem existem
redes de apoio às necessidades de assistência dos idosos dependentes com ou
sem família.
A esse respeito Papaléo Netto, Luders e Klein (2007), comentam:
Não é justo que os familiares e o cuidador tenham, na grande
maioria das vezes, que arcar com o ônus físico, emocional e
financeiro de um processo que seguramente é extremamente
desgastante, enquanto entidades governamentais deixem de
atuar, esquivando-se do problema como se não fosse questão
de saúde pública no país.
Os serviços comunitários mais referidos na literatura internacional são os
que permitem aos cuidadores familiares tirar folgas temporárias ou se alternar com
outras pessoas na tarefa de cuidar, principalmente quando o doente exige dedicação
em tempo integral. Outras pessoas podem conduzir o idoso ao médico, ao
recebimento da aposentadoria ou a outro local desejado.
Outras alternativas seriam instituições sociais especializadas em oferecer
apoio formal, de natureza instrumental, cognitiva e emocional, aos cuidadores e
suas famílias por meio de centros-dia, assistência domiciliar, hospitais de curta
permanência, fornecendo cuidadores para revezamento de tarefas, como citado
anteriormente, e grupos de apoio emocional. No Brasil, infelizmente, as ofertas de
serviços formais o caras e destinadas a poucos, e o setor público ainda não
conta dessa demanda (NERI, SOMMERHALDER, 2002).
Os grupos informais e não-governamentais de apoio aos cuidadores e suas
famílias são alternativas viáveis para esse problema. Visam a dar informações
técnicas e orientações práticas em domicílio e também promovem trocas de
experiências. A Associação Brasileira de Alzheimer e Idosos de Alta Dependência
(ABRAZ) é um excelente exemplo de apoio formal e tem sedes em vários estados.
42
Diante desse cenário, verifica-se que a questão do envelhecimento com
dependência traz desafios a serem enfrentados por toda a sociedade, pois o impacto
na saúde do idoso traz reflexos para a família. Nessa perspectiva, é imprescindível a
discussão e implementação de mecanismos que facilitem os cuidados no domicílio,
como ações educativas com profissionais de saúde preparados e treinados para
oferecer suporte técnico, ações de acompanhamento e orientação aos cuidadores
familiares, bem como o aumento dos programas públicos de assistência ao idoso no
contexto da família.
2.3 SOBRECARGA E ESTRESSE
Embora muitos cuidadores informais considerem a tarefa de prestar
cuidados a um familiar idoso como algo emocionalmente gratificante, cuidar de
alguém com algum grau de doença crônica acarreta consequências negativas. A
sobrecarga do cuidador familiar tem sido alvo de inúmeros estudos que demonstram
o impacto dessa atividade contínua e repetitiva realizada no domicílio.
De acordo com Bochi (2004), a partir da década de 90, inúmeros estudos
foram realizados no Brasil com relação à sobrecarga física e psicológica do
cuidador. A sobrecarga física é decorrente do grau de dependência do doente; e a
psicológica, do estresse, da ansiedade em relação ao futuro e da restrição da
perspectiva de vida.
Esses estudos demonstram os efeitos negativos da prestação de cuidados
sobre a saúde mental e física dos cuidadores familiares. Entre tais efeitos,
destacam-se: um maior número de doenças psiquiátricas, utilização de drogas
psicotrópicas, doenças somáticas, percepção pior da saúde, estresse pessoal e
familiar, isolamento social, sentimento de que as obrigações a cumprir são pesadas
e geradoras de tensão, entre outros. Também são atribuídos à tarefa de cuidar
sintomas depressivos e de ansiedade. (NERI, SOMMERHALDER, 2002)
Na maior parte da literatura gerontológica, utiliza-se o termo “sobrecarga”
(burden) para designar os efeitos negativos da tarefa de cuidar sobre o cuidador.
Braithwaite (2000) define a sobrecarga do cuidador informal como uma perturbação
que resulta do fato de lidar com a dependência física e a incapacidade mental do
43
indivíduo a quem presta cuidados, correspondendo, dessa forma, à percepção
subjetiva que o cuidador tem das ameaças às suas necessidades fisiológicas,
sociais e psicológicas.
George e Gwyther (1986) definem o estresse do cuidador como “problemas
físicos, psicológicos ou emocionais, sociais e econômicos que podem ser
vivenciados pelos cuidadores de indivíduos dependentes”. Os fatores geradores de
estresse no cuidador podem ser divididos em primários e secundários: os primários
incluem características como alterações comportamentais, decréscimo das funções
cognitivas e nas atividades de vida diária; enquanto os secundários dizem respeito
às interferências negativas sofridas pelo cuidador na sua vida profissional, social e
familiar (ZARIT, REEVER, BACH- PETERSON, 1980).
O modelo multivariado de Zarit (1980) considera que os comprometimentos
físicos, cognitivos e afetivos do idoso dão origem a um conjunto de estressores que
exercem pressões específicas sobre a vida do cuidador. Os estressores relacionam-
se aos sintomas do idoso ou às mudanças na vida do cuidador. O modelo avalia a
situação como suportável e administrável ou não. Os mediadores seriam as
habilidades para cuidar ou os recursos com os quais o cuidador pode contar e que
influenciam na avaliação do ônus. A avaliação pode resultar em percepção de
sentimentos positivos, negativos ou ambos. O resultado depende da forma como o
cuidador encara a tarefa de cuidar, além de inúmeros fatores, como, por exemplo, a
doença do idoso, as relações familiares atuais, as circunstâncias envolvidas no
cuidado, disponibilidade de recursos financeiros e a história anterior de
relacionamento entre o idoso e o cuidador. Esses são alguns fatores determinantes
da avaliação que o cuidador faz da sua experiência de cuidar.
Portanto, proporcionar cuidados durante um longo período de tempo pode
ser física e emocionalmente desgastante e repercutir na saúde física e emocional
dos cuidadores. Todavia, é difícil apurar se um problema de saúde resulta da
situação de prestar cuidados; porém, sabe-se que raramente tal tarefa tem efeitos
positivos sobre a saúde.
Frequentemente, os cuidadores relatam cansaço físico e sensação de
deterioração da saúde a partir do início da tarefa de cuidar. Estudos têm mostrado
que o sistema imunológico dos cuidadores é mais fraco que o dos não cuidadores
(KIECOLT-GLASER et. al., 1987), bem como que os primeiros possuem mais
44
doenças crônicas e uma pior saúde global (HALEY et. al., 1987; HALEY, BROWN,
LEVINE, 1987).
Quando se trata de investigar o impacto da prestação de cuidados sobre a
saúde do cuidador com mais idade, é preciso agregar à reflexão as modificações
inerentes ao processo de envelhecimento, como a diminuição da força muscular. Por
isso, tais cuidadores estão mais expostos a problemas de saúde que os mais novos.
Brodaty (1998) afirma que os cuidadores de pacientes com demência têm
apresentado elevadas taxas de depressão e ansiedade em comparação à população
em geral, variando entre 14 e 47%. Graessel (1998), por sua vez, investigou a
diferença do estresse psicológico entre cuidadores de pacientes com e sem
demência e concluiu que os primeiros apresentam maiores níveis de estresse.
Investigadores têm apontado as alterações comportamentais desses pacientes
como um forte fator causador de estresse e depressão em cuidadores.
No que diz respeito à influência do estresse na saúde física dos cuidadores,
cabe destacar o estudo de Garrido e Almeida (1999), que realizaram um
levantamento sobre a sobrecarga dos cuidadores de pacientes com demência.
Desse modo, concluíram que distúrbios de comportamento em pacientes com
demência têm impacto negativo na saúde emocional dos cuidadores, deixando-os
mais vulneráveis a quadros depressivos e ansiosos, e também na sua saúde física.
Ainda constataram que os níveis de depressão que se desenvolvem no cuidador em
um momento inicial se mantém estáveis, havendo decréscimo dos níveis de
sobrecarga com o passar do tempo. As limitações sociais e afetivas do cuidador e a
gravidade do seu impacto também tendem a diminuir ao longo do tempo.
se sabe que a assunção da responsabilidade de prestar cuidados a um
familiar idoso portador de alguma doença crônica e incapacitante repercute no
relacionamento familiar e social. Nesse sentido, não é raro que a relação cuidador-
idoso seja influenciada pelas relações estabelecidas entre ambos antes da doença.
Segundo Mendes (1998), a relação de dependência que se estabelece implica uma
nova percepção de si próprio e do outro, aliás, de todos os indivíduos da família,
principalmente a díade cuidador e idoso.
Na nossa experiência com cuidadores é frequente observarmos que o ato de
cuidar muitas vezes é uma tentativa de reparar ou amenizar culpas que
45
permeavam a relação cuidador-familiar. Em outras palavras, quando o cônjuge, o pai
ou a mãe adoece, cuidar pode ser uma forma de expiação por desavenças ocorridas
anteriormente.
Ficar dependente para realizar atividades rotineiras do dia a dia, inclusive as
que envolvem higiene pessoal, representa para o idoso estar à mercê de outro para
suas necessidades mais básicas. Para o cuidador, implica ter alguém totalmente
dependente sob seus cuidados. Isso acarreta mudanças nas relações de poder
entre eles, com inúmeras repercussões, principalmente se o cuidador for, por
exemplo, uma esposa que no passado esteve sujeita à autoridade do marido ou um
filho ou filha que sofreu agressões na infância.
Os doentes apresentam um comportamento instável e imprevisível. O
processo de deterioração cognitiva resultante de uma demência transforma-os em
verdadeiros desconhecidos, e a evolução da doença torna-os mais dependentes. É
preciso lembrar que cuidar de um doente implica uma relação, e não apenas a
execução de determinadas tarefas.
O luto e as perdas constituem questões centrais no cuidado de doentes
portadores de Alzheimer. Muitos cuidadores vivenciam o luto desde o diagnóstico.
Outros consideram que, em face do processo de deterioração, seu familiar vai
morrendo em vida. Estudos realizados com o objetivo de analisar o sofrimento de
perda e o luto antes e depois da morte do doente revelaram que os cuidadores
consideram que seus familiares têm múltiplas e sucessivas mortes.
Segundo Goldfarb e Lopes (2006), os familiares de pessoas demenciadas
vivenciam um primeiro luto devido à morte social e psicológica do doente, ou seja, o
indivíduo deixa de ser um agente social e de estar inserido no mundo das trocas
simbólicas, não sendo mais reconhecido como sujeito na maioria das vezes.
Vivenciam ainda um segundo luto quando da morte biológica.
Boss (1998) chama de “perda ambígua” aquela que acontece quando o
membro da família está fisicamente presente, mas psicologicamente ausente, como
no caso da demência. Segundo Teixeira (1998), alguns familiares se referem a tal
perda relatando que a convivência com um paciente demenciado é uma presença
marcada por uma ausência.
46
2.4 ESTRESSE E VIOLÊNCIA
Não raro, na nossa prática clínica presenciamos um verdadeiro colapso na
relação entre o cuidador e o idoso, podendo gerar situações de abuso e maus-tratos
que vão desde a negligência, violência física e agressões verbais até o uso indevido
dos bens do idoso.
A violência intrafamiliar, que frequentemente envolve o idoso fragilizado e
dependente, segundo consta em documento do Ministério da Saúde (BRASIL,
2002), “é um problema social de grande dimensão, que afeta toda sociedade,
atingindo, de forma continuada, especialmente crianças, adolescentes, idosos e
portadores de deficiência física”, repercutindo de forma significativa na vida e na
saúde das pessoas nela envolvidas e se configurando como problema de saúde
pública.
No Brasil, pouco se tem investigado e discutido sobre a violência, a
negligência, o abuso e os maus-tratos. Não estatísticas quanto aos agredidos e
agressores, tampouco quanto às prováveis causas desse fenômeno. Trata-se de
uma temática complexa, de difícil estudo e identificação, sobretudo quando envolve
idosos, haja vista que estes geralmente não denunciam abusos, situações de
menosprezo, abandono ou desatenção, por medo de serem punidos e perderem o
acolhimento de seus cuidadores, que às vezes são, ao mesmo tempo, os próprios
agressores. outros não fazem as denúncias por vergonha. ainda aqueles que
sofrem maus-tratos velados e não se dão conta de que estão sendo vítimas de
violência (MINAYO, SOUZA, 2008).
Segundo Souza et. al. (2006), as relações de poder e autoridade
estabelecidas na família em decorrência da co-dependência do binômio cuidador/
idoso são fatores de riscos reais e potenciais de violência intrafamiliar. O
autoritarismo está na raiz de toda violência, podendo ocasionar desde
manifestações grosseiras e explícitas até simbólicas e dissimuladas, como, por
exemplo, a indisposição ao diálogo.
As especificidades do relacionamento que se estabelece entre idoso e
cuidador e o contexto socioeconômico e cultural em que ambos se inserem
constituem elementos centrais para a determinação da qualidade da tarefa de
47
cuidar. Relações familiares nas quais inexiste afeto, sentimento que geralmente une
pais e filhos, cônjuges e outros membros familiares, seja porque não foram
construídos vínculos, seja nos casos em que essa relação nunca existiu (como filhos
criados em outras famílias, filhos abandonados, sobrinhos distantes, etc.), podem
contribuir para que surjam situações de negligência ou maus-tratos. Em suma, a
qualidade da tarefa de cuidar é influenciada pela qualidade da relação que existia
entre cuidador e idoso antes do surgimento da doença ou dependência.
Em geral, quanto maior o nível de dependência do idoso, mais elevados são
os níveis de estresse do cuidador, níveis esses que se relacionam ainda com formas
inadequadas de enfrentamento. A incapacidade do idoso provoca um desequilíbrio,
ao qual a família tende a responder empregando seus recursos materiais,
psicológicos e sociais (NERI, 2000).
Ainda segundo Neri (2000), existem tarefas e modalidades de cuidado que
demandam do cuidador esforços de diferentes ordens. Para cada modalidade de
tarefa executada pelo cuidador uma demanda e, consequentemente, uma
percepção de ônus ou sobrecarga, que pode ser intensificada pelo exercício
concomitante de papéis familiares e profissionais. Assim, muitas vezes, as
demandas de cuidado ultrapassam os limites do esforço físico e psicossocial quando
a família e o indivíduo não conseguem encontrar alternativas viáveis, ou quando as
habilidades e os recursos pessoais e familiares são insuficientes para o manejo da
situação. Nesse contexto, forte tendência de desorganização, o que traz
consequências negativas para o cuidador, o idoso e a família.
Destarte, pode-se dizer que a questão da violência contra o idoso está
relacionada com a história familiar, a dependência (idoso fragilizado e agressor
dependente da vítima), a incapacidade funcional com alto grau de dependência,
estresse do cuidador, isolamento social, problemas na área da saúde mental,
presença de alcoolista na família, entre outros fatores de riscos para maus-tratos
(MACHADO, QUEIROZ, 2002).
48
CAPÍTULO III - ESTUDO EMPÍRICO
3.1 OBJETIVOS
Objetivo Geral
- Descrever e caracterizar os cuidadores informais de idosos dependentes do
ambulatório de Geronto-Geriatria do HSPM.
Objetivos Específicos
- Identificar o estresse e a sobrecarga dos cuidadores de idosos.
- Identificar a presença de sintomas psiquiátricos nos cuidadores de idosos.
- Identificar fatores (sexo, idade, estado civil, relação de parentesco, tempo como
cuidador, número de horas destinadas à tarefa de cuidar, grau de dependência do
doente, ajuda para cuidar, comportamentos do doente que mais incomodam,
consumo de psicofármacos, ausência de lazer) que influenciem o estresse e a saúde
mental dos cuidadores.
3.2 LOCAL E CENÁRIO DA PESQUISA
Este estudo parte de uma abordagem quanti-qualitativa, privilegiando o
ponto de vista compreensivo e interpretativo dos fenômenos sociais, a partir dos
atores concretos nos contextos em que desenvolvem sua ação.
Segundo Minayo (1994, p.17):
Toda pesquisa surge dentro de algum contexto histórico-social,
e pretende investigar algum aspecto da realidade. [...] a
pesquisa é a atividade básica da Ciência na sua indagação e
construção da realidade [...]. É a pesquisa que alimenta a
atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo.
Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula
pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente
49
um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um
problema da vida prática [...]. As questões da investigação
estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias
socialmente condicionadas. São frutos de determinada
inserção no real, nele encontrando suas razões e seus
objetivos.
Partindo desse referencial teórico, considero pertinente descrever,
resumidamente, o processo de criação da Clínica de Geronto-Geriatria do Hospital
do Servidor Público Municipal de São Paulo, cenário da minha prática profissional e
palco das minhas inquietações sobre o tema, marco do atendimento aos idosos em
São Paulo e pólo formador de profissionais geriatras e gerontólogos.
3.3 BREVE HISTÓRICO DA CRIAÇÃO DA CLÍNICA GERONTO-GERIÁTRICA
Em 11 de junho de 1991, o Conselho Técnico Administrativo Municipal
aprovou a proposta elaborada por um grupo de trabalho sob a coordenação do
médico Sérgio Márcio Pacheco Paschoal do chamado Programa de Atenção à
Saúde do Idoso, criado pela Portaria nº.
1974/90, de 29 de novembro de 1990. A
partir daquele momento, a proposta do referido grupo passou a ser também a
proposta da Secretaria Municipal da Saúde. Sua implantação e implementação
ficaram a cargo do Centro de Orientação à Saúde (COAS), mais especificamente de
sua Assessoria do Idoso.
Esse grupo de trabalho, tendo entre seus membros a assistente social Rosa
de Lourdes Azevedo Santos e o dico Matheus Papaléo Netto, além de outros
profissionais, realizou reuniões em todas as UBS e os Hospitais Municipais, inclusive
no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. O objetivo era detectar
problemas e, diante destes, estudar propostas de implantação de um Programa de
Atenção à Saúde do Idoso nesses locais de atendimento à população.
Os princípios básicos que norteavam o Programa estabeleciam que a
Atenção à Saúde ao Idoso:
50
1) deve ser organizada como parte integrante da Atenção à Saúde da população
geral;
2) deve ter como base um trabalho interprofissional;
3) deve dar ênfase aos aspectos de prevenção;
4) deve adotar critérios globais que levem em consideração o idoso como um ser
integral;
5) deve se desenvolver com a estreita participação dos usuários;
6) deve criar um mecanismo de avaliação contínua que permita aos responsáveis
introduzir as mudanças necessárias.
Todavia, esse Programa, ao contrário do que se previa, não foi implantado
em todas as UBS e hospitais do município de São Paulo, devido à implantação do
PAS pelo Prefeito Paulo Maluf. Somente foi inserido no Hospital do Servidor Público
Municipal - HSPM, pela Prefeita Luiza Erundina de Souza. Assim, em 14 de outubro
de 1991, foi criado no HSPM um serviço para o atendimento de idosos, serviço esse
que, posteriormente, receberia a denominação “Clínica Geronto-Geriátrica”.
A designação “Programa de Atenção à Saúde do Idoso” mostrava, àquela
época, a intenção de implantar um tipo de atendimento à saúde da pessoa idosa não
exclusivamente dico, mas principalmente interdisciplinar. Esse modelo de
assistência à saúde seguia padrões que já existiam em todo o mundo.
Depois de várias dificuldades enfrentadas dentro do próprio hospital e da
luta dos médicos Francisco Brito e Matheus Papaléo Netto, em fevereiro de 2002, foi
inaugurada a enfermaria de Geriatria do Hospital do Servidor Público Municipal, com
23 leitos, quatro deles destinados a pacientes em cuidados paliativos, todos
projetados com design e adaptações específicas para idosos com idade acima de 65
anos.
Tanto a enfermaria como o ambulatório de Geronto-Geriatria possuem
equipe composta não apenas por geriatras, mas também por profissionais das áreas
de Serviço Social, Enfermagem, Fonoaudiologia, Psicologia e Fisioterapia. O
objetivo é assistir o idoso em seus aspectos biopsicossociais, bem como atendê-lo
em sua complexidade e especificidade.
51
Desde a sua fundação, a premissa da equipe é atender o idoso de forma
integral e desenvolver ações socioeducativas para idosos e familiares, além de
oferecer prática de ensino, efetivando a formação e a capacitação nas áreas de
Geriatria e Gerontologia. Dentro dessa premissa, foi criado, em 2003, o Projeto
“Ger‛art - Arteterapia para idosos”, que utiliza recursos artísticos como ferramenta
terapêutica no tratamento de idosos com transtornos cognitivos, sintomas
depressivos e demência em fase inicial. Atualmente, as sessões de Arteterapia
acontecem semanalmente, sob a coordenação de uma fonoaudióloga e uma
psicóloga.
Em 2005, no HSPM, foi criado o Grupo de Apoio ao Cuidador Familiar de
Pacientes com Alzheimer, grupo de suporte psicológico aberto e coordenado por
uma psicóloga, uma fonoaudióloga e uma assistente social, com frequência mensal.
Os principais objetivos do grupo são dar apoio emocional aos familiares de
portadores de Alzheimer, favorecer a expressão de sentimentos, a aceitação da
irreversibilidade da doença, promover estratégias de enfrentamento, disseminar
informações sobre a doença entre os familiares, bem como incentivar o autocuidado.
Buscando melhorar o atendimento prestado, a equipe interdisciplinar da
Clínica Geronto-Geriátrica do HSPM criou, em 2007, um Ambulatório Didático
destinado ao atendimento das desordens comportamentais associadas a demências
e transtornos psiquiátricos mais comumente encontrados no envelhecimento. A
proposta é oferecer um atendimento interdisciplinar que contemple desde o
diagnóstico até os tratamentos farmacológico e não farmacológico de reabilitação,
com arteterapia, psicoterapia, avaliação e reabilitação neuropsicológica, oficina de
memória, Grupo de Apoio ao Cuidador Familiar de pacientes com demência e,
quando necessárias, reuniões familiares para minimização de conflitos que
porventura estejam interferindo no tratamento de saúde do idoso.
Pensando na capacitação profissional nas áreas de Gerontologia e Geriatria,
a Clínica oferece, desde 1990, o Curso de Extensão Universitária Prof. Dr. Matheus
Papaléo Netto. Ao longo do ano, são abordados diversos temas tanto da área da
Gerontologia como da Geriatria, tais como: Cuidados Paliativos,
Interprofissionalidade, Síndromes Demenciais, Qualidade de Vida na Terceira Idade,
entre outros.
52
Também desenvolve pesquisas relativas ao serviço, produzindo
conhecimento científico, bem como livros que, organizados pelo Dr. Matheus
Papaléo Netto, se tornaram referência na área. Várias dissertações foram
produzidas na Clínica, entre elas: “Fonoaudiologia e arteterapia: o resgate do
interlocutor idoso”; “Associação da demência com intolerância à glicose e diabetes
mellitus em função da presença ou não da resistência insulínica e marcadores
inflamatórios em idosos”. Em fase de conclusão, podemos citar: “Maus Tratos contra
a pessoa idosa:.da suspeita à notificação: um desafio para os profissionais do
Hospital do Servidor Público Municipal” e A Experiência do cuidar: o (des)amparo
do cuidador familiar”.
3.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O homem sempre procurou conhecer o mundo em que vive, desenvolvendo
ao longo dos tempos métodos mais ou menos elaborados para possibilitar a
compreensão da natureza e do comportamento das pessoas (SANTOS, 2005).
Nessa perspectiva, tendo por objetivo ampliar a compreensão do fenômeno aqui
pesquisado, partirei da escuta daquele que tomou para si ou se viu obrigado a
assumir a tarefa de cuidar de alguém que, por motivo de doença, não consegue
mais dar conta do seu dia a dia.
Partindo dessa escuta e do estudo das relações que se estabelecem entre
cuidadores e familiares dependentes, bem como dos fatores que interferem
positivamente ou negativamente nessa dinâmica, a pesquisa visa a propor
intervenções mais efetivas e que contribuam para a melhoria não do cuidado
prestado, mas também da qualidade de vida de ambos.
A abordagem quanti-qualitativa mostrou-se mais adequada ao
desenvolvimento deste trabalho, pois permite extrair o máximo de informações sobre
a realidade pesquisada. Segundo Minayo (1994), ”o conjunto de dados quantitativos
não se opõem um ao outro, ao contrário, se complementam, pois a realidade
abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.
53
A pesquisa foi desenvolvida no Serviço de Geronto-Geriatria do Hospital do
Servidor blico Municipal de o Paulo, com cuidadores familiares de idosos com
algum grau de dependência ou que necessitam de supervisão nas suas
necessidades básicas diárias ou instrumentais.
Realizou-se um estudo transversal, na medida em que fornece informações
acerca de determinada situação num dado momento, e prospectivo, no período de
julho a dezembro de 2009. Foram avaliados 69 cuidadores familiares de idosos
dependentes atendidos no ambulatório ou na enfermaria da Clínica Geronto-
Geriátrica do HSPM, ou ainda no âmbito da Assistência Domiciliar do mesmo
hospital.
Não foi definida a priori a porcentagem de sujeitos dos sexos feminino e
masculino que participariam da pesquisa, uma vez que é muito mais comum
encontrarem-se mulheres cuidadoras que homens, o que leva à presença de um
número maior de sujeitos do sexo feminino na amostra.
Tendo em vista a natureza dos fenômenos estudados, a amostragem foi tipo
proposital e não probabilística. Segundo Maroco (2003), ”neste tipo de amostra os
elementos são selecionados por conveniência”. Como critério de inclusão na
amostra, o cuidador deveria ser informal ou seja, deveria ser familiar do
dependente e não receber remuneração , permanecer a maior parte do tempo com
o idoso e exercer esse papel há mais de três meses.
Os cuidadores selecionados têm idade superior a 18 anos e, como
referido, não recebem remuneração para exercer a tarefa. São responsáveis por
cuidar de pacientes do Serviço de Geronto-Geriatria do HSPM, de ambos os sexos,
portadores de doenças que comprometem sua independência a ponto de
necessitarem de um cuidador para realizarem suas atividades básicas ou
instrumentais do dia a dia.
54
3.5 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS
A) Questionário de caracterização do cuidador e do paciente (Anexo B)
Para a coleta de dados foi elaborado um questionário, aplicado aos
cuidadores, visando a coletar dados sociodemográficos pertinentes a estes e aos
idosos. Esse instrumento permitiu conhecer os cuidadores dos idosos nos seguintes
aspectos: sexo, idade, estado civil, escolaridade, renda familiar, grau de parentesco
em relação à pessoa cuidada, quantos residem na casa, conhecimento sobre a
doença, tempo de cuidado, horas dedicadas ao cuidar, atividades realizadas, tipo de
apoio recebido, se tem algum tipo de lazer, alteração de comportamento do paciente
que mais incomoda, número de medicações utilizadas e uso de antidepressivos ou
ansiolíticos. Permitiu ainda conhecer os idosos nos seguintes aspectos: diagnóstico
e idade, procedência, grau de dependência e situação ocupacional.
B) Escala de Katz - Atividades Básicas de Vida Diária - ABVDs (Anexo C)
Os pacientes auxiliados pelos cuidadores pesquisados foram submetidos a
avaliação mediante a aplicação da escala de Katz, que consta de seis itens que
medem o desempenho do indivíduo nas atividades de autocuidado, os quais
obedecem a uma hierarquia de complexidade, da seguinte forma: alimentação,
controle de esfíncteres, transferência, higiene pessoal, capacidade para vestir-se e
tomar banho. O escore é obtido de acordo com o desempenho do indivíduo, com no
máximo 6 pontos para o indivíduo independente, e zero para dependência total
(KATZ, 1963). Contudo, a seleção do cuidador para a pesquisa se deu
independentemente da pontuação alcançada pelo idoso, desde que este
necessitasse de supervisão nas suas atividades instrumentais.
C) Escala de Lawton - Atividades Instrumentais de Vida Diária - AIVDs (Anexo D)
Os idosos foram analisados ainda mediante a Escala de Lawton, concebida
para avaliar as atividades que fazem parte do dia a dia de pessoas que vivem em
uma sociedade moderna, como usar o telefone, preparar refeições, fazer compras,
arrumar a casa, fazer pequenos trabalhos manuais, lavar ou passar roupas,
55
controlar o dinheiro, tomar medicações, caminhar ou utilizar meios de transporte.
Essas nove atividades são subdividas em três condições, de acordo com a maior ou
menor capacidade do doente para executá-las. Recebe três pontos quando realiza a
atividade sem ajuda, 2 quando precisa de ajuda parcial e 1 quando não consegue
executar a atividade. Escore máximo de 27 pontos, que significa totalmente
independente (LAWTON, BRODY, 1969).
D) Escala de estresse de cuidador - Inventário de Sobrecarga de Zarit (Anexo E)
Consta de 22 questões, que foram dirigidas aos cuidadores pesquisados,
pontuadas de 0 a 4, de acordo com a presença e intensidade da afirmativa. Essa
escala compreende uma lista de asserções que refletem como as pessoas, algumas
vezes, podem se sentir quando cuidam de outra pessoa. Indica com que frequência
o cuidador sente o que está sendo perguntado (nunca, raramente, algumas vezes,
frequentemente ou sempre), não existindo respostas erradas. A pontuação obtida
varia de 0 a 88, sendo considerada sobrecarga severa para pontuações de 61 a 88,
moderada a severa para 41 a 60, leve a moderada entre 21 e 40 e sobrecarga
mínima para pontuações abaixo de 21 (TAUB, 2002; SCAZUFCA, 2002).
E) Escala SRQ-20 - Self Report Questionnaire (Anexo F)
Ainda para avaliar a sobrecarga dos cuidadores pesquisados, mais
especificamente a presença de distúrbios psiquiátricos, foi utilizada a Escala SRQ-
20, composta por 20 itens para rastreamento de transtornos mentais o psicóticos.
As respostas são do tipo sim/não. Cada resposta afirmativa vale 1 ponto, sendo o
escore final o somatório desses valores. Os escores obtidos estão relacionados com
a probabilidade da presença de transtorno não psicótico, variando de 0 (nenhuma
probabilidade) a 20 (extrema probabilidade). O ponto de corte é 7, que indica a
presença de sofrimento mental ou distúrbio psiquiátrico menor (GONÇALVES,
STEIN, KAPCZINSKI, 2008).
56
F) Escala de Depressão Hamiltom-21 (Anexo G)
A escala possui 21 itens. São avaliados de acordo com a intensidade e
frequência dentro de um período determinado de dias. O autor da escala não
fornece ponto de corte para escore total, no entanto, de acordo com Endicott et. al.
(1981), o consenso psiquiátrico indica que acima de 25 pontos significa depressão
grave, de 18 a 24 depressão moderada e de 7 a 17 depressão leve.
3.6 ANÁLISE DOS DADOS
Com o objetivo de traçar um perfil dos idosos e cuidadores incluídos neste
estudo, utilizou-se a estatística descritiva, e os dados alcançados foram analisados
mediante o Microsoft Excel 2003. Foram calculadas as frequências das variáveis
qualitativas demográficas dos pacientes, diagnósticos, grau de dependência e
variáveis referentes aos cuidadores. A análise incluiu ainda a elaboração de
resumos estatísticos das variáveis quantitativas referentes aos cuidadores e
pacientes.
Procurou-se compreender a influência das características sociodemográficas
e dos fatores relacionados à prestação de cuidados e sua relação com o estresse, a
presença de sintomas psiquiátricos e a depressão nos cuidadores.
Em suma, os recursos utilizados foram:
Programas computacionais
R (versão 9.0)
Mini Tab (versão 15.1.0.0).
MS Excel 2003
MS Word 2003
57
Estatísticas
Análise descritiva unidimensional
Análise de Regressão
Regressão Logística
3.7 QUESTÕES DE ÉTICA
Todas as exigências do Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital do Servidor
Público Municipal e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da
PUC-SP foram cumpridas, de acordo com a resolução nº. 196 do Comitê Nacional
de Ensino e Pesquisa - CONEP, Processo nº. 125.
Os cuidadores pesquisados assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (Anexo A), autorizando a utilização dos dados coletados na pesquisa.
58
CAPÍTULO IV - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Participaram deste estudo, conforme mencionado anteriormente, 69
cuidadores principais de pacientes idosos com algum grau de dependência e que
exigiam supervisão ou cuidados básicos. Desses pacientes, 43 (62,31%) eram do
sexo feminino e 26 (37,68%) do sexo masculino. A média de idade dos pacientes
encontrada foi de 78,78 anos, variando entre 63 e 92 anos. O grau de dependência
nas ABVDs teve média de 3,52, e nas AIVDs, de 11,04 pontos, significando que os
pacientes eram parcialmente dependentes (tabela 4).
Em relação à procedência dos idosos, 54 (78,26%) eram pacientes do
ambulatório, 12 (17,39%) da enfermaria e 3 (4,35%) faziam parte da Assistência
Domiciliar do HSPM (tabela 5).
Quanto ao diagnóstico de base, 60 (86,85%) pacientes eram portadores de
algum tipo de síndrome demencial, 4 (5,79%) tinham o diagnóstico de AVC, 2
pacientes (2,90%) tinham doença de Parkinson e 3 (4,35%), outros diagnósticos
(tabela 6).
Tabela 4 - Medidas descritivas dos idosos
Variável Média
Desvio-
padrão
Erro-
padrão
Idade 78,78 6,35 0,76
ABVDs 3,52 2,11 0,25
AIVDs 11,04 3,79 0,46
59
Tabela 5 - Procedência dos idosos
Procedência Contagem
Porcentagem (%)
Ambulatório 54 78, 26
Enfermaria 12 17, 39
Assistência Domiciliar
3 4, 35
Total 69
Tabela 6 - Diagnóstico dos idosos
Diagnóstico Contagem
Porcentagem (%)
Demência 60 86,95
AVC 4 5,79
Parkinson 2 2,90
Outros 3 4,35
Total 69
Com relação aos cuidadores entrevistados, a idade média encontrada foi de
58,72 anos, mas com uma grande variância, pois parte da amostra era de filhos e
outra de cônjuges. Quanto à escolaridade, a média de estudo encontrada foi de 9,15
anos, o que equivale ao ensino fundamental completo. Sobre o número de pessoas
que moravam na mesma casa, a média foi de 3,78 pessoas por residência. No que
se refere ao uso de medicamentos, os cuidadores utilizavam em média 2,25
remédios (tabela 7).
60
Tabela 7 - Medidas descritivas dos cuidadores
Variável Média
Desvio-padrão
Erro-padrão
Idade (anos) 58,72 11,34 1,37
Escolaridade (anos) 9,15 3,73 0,45
Qtd. moradores 3,78 1,36 0,16
Qtd. medicamentos 2,25 1,63 0,20
Tempo de cuidado (meses)
54,17 21,45 2,58
Horas no serviço (N = 13) 7,23 1,30 0,36
Qtd. atividades 4,39 1,94 0,23
Da amostra selecionada, 62 (89,86%) cuidadores eram do gênero feminino e
apenas 7 (10,14%) eram do gênero masculino. Com relação ao grau de parentesco,
constatou-se que filhas (N=36, 52,17%) e esposas (N-25, 36,23%) eram maioria
entre os cuidadores (tabela 8).
Conforme demonstrado na tabela 9, em relação ao estado conjugal, 55
(79,71%) cuidadores declararam-se casados, 6 (8,70%) solteiros, 2 (2,90%)
separados e 6 (8,70%) viúvos.
Tabela 8 - Gênero e grau de parentesco dos cuidadores
Variável N %
Feminino 62 89,86%
Gênero
Masculino 7 10,14%
Esposa 25 36,23%
Esposo 5 7,24%
Filha 36 52,17%
Filho 2 2.89%
Grau de
Parentesco
Nora 1 1,44%
61
Tabela 9 - Estado civil dos cuidadores
Estado Civil Contagem Porcentagem (%)
Casado 55 79,71
Solteiro 6 8,70
Viúvo 6 8,70
Separado 2 2,90
Total 69
Com relação à renda familiar, dos 69 cuidadores entrevistados, 39 (56,52%)
declararam ter renda mensal de 0 a 3 salários mínimos, 21 (30%43) de 3 a 5 e
apenas 9 (13,04%) relataram ter renda maior que cinco salários mínimos (tabela 10).
Tabela 10 - Renda dos cuidadores
Renda Contagem
Porcentagem (%)
De 0 a 3 SM 39 56,52
De 3 a 5 SM 21 30,43
Mais de 5 SM 9 13,04
Total 69
Como referido, os cuidadores utilizavam em média 2,25 remédios (tabela
7), sendo que 24 (34%) faziam uso de antidepressivos e 5 (7,25%) utilizavam
ansiolíticos (tabela 11)
62
Tabela 11 - Medicamentos utilizados pelos cuidadores
Sim Não
Droga
Contagem
Porcent. (%)
Contagem
Porcent. (%)
Antidepressivo
24 34,78 45 65,22
Ansiolítico 5 7,25 64 92,75
Quanto ao tempo diário destinado à prática de cuidar, 13 (18,84%)
entrevistados afirmaram que passavam cerca de 7 horas se dedicando aos seus
dependentes (tabela 7), que foi o tempo médio encontrado nessa variável. Além
disso, 22 (40%) cuidadores declararam-se aposentados, 19 (34,55%) eram donas de
casa e 7 (12,73%) haviam deixado de trabalhar para cuidar do seu familiar (tabela
12).
Tabela 12 - Ocupação do cuidadores
Ocupação Contagem Porcentagem (%)
Trabalha fora 13 18,84
Deixou de trabalhar para ser cuidador 8 11,59
Desempregado 2 2,89
Aposentado 22 31,88
Auxílio-doença 1 1,44
Pensionista 3 4.34
Do lar 19 27,53
Outros 1 1,44
Total 69
Quando solicitados a responder quanto tempo dedicavam-se à tarefa de
cuidar, os cuidadores afirmaram estar nessa função em média há 54,17 meses (4
anos e seis meses), conforme demonstra a tabela 7. No que diz respeito ao tempo
63
diário dedicado ao cuidado do idoso, constatou-se que 86,95% ficavam mais de 5
horas por dia com o paciente e 11,59% ficavam de 3 a 5 horas (tabela 13).
Tabela 13 - Tempo diário dedicado à tarefa de cuidar
Tempo em horas
Contagem
Porcentagem (%)
De 3 a 5 horas 8 11,59
Mais de 5 horas 60 86,95
Total 69
Sobre receberem ou não auxílio de outras pessoas para a realização dos
cuidados, 52 (75,36%) cuidadores disseram não receber nenhuma contribuição
familiar; apenas 8 (11,59%) afirmaram possuir cuidador contratado, 6 (8,70%)
contavam com revezamento de familiares e 2 (2,90%) tinham ajuda financeira
(tabela 14).
Quanto ao número de atividades realizadas, os entrevistados realizavam em
média 4,39 atividades (tabela 7). A distribuição dessas atividades está exemplificada
na tabela 15.
Tabela 14 - Contribuição familiar ao cuidador
Contribuição Contagem
Porcentagem (%)
Nenhuma ajuda 52 75,36
Financeira 2 2,90
Revezamento 6 8,70
Cuidador pago 8 11,59
Outra 1 1,45
Total 69
64
Tabela 15 - Atividades realizadas pelo cuidador
Sim % Não %
Banho 47 69,12 21 30,88
Alimentação 21 30,88 47 69,12
Transferência 22 32,35 46 67,65
Higienização 43 63,24 25 36,76
Deambulação 17 25,00 51 75,00
Levar ao médico 68 100,0 0 0,00
Cuidar da casa 64 94,12 4 5,88
Vestir 21 30,88 47 69,12
Em relação ao suporte social recebido pelas famílias, 59 (85%) cuidadores
não contavam com nenhum tipo de assistência domiciliar; somente 8 (11,59%)
afirmaram receber essa ajuda do hospital e 2 (2,90%) recebiam visita do PSF (tabela
16).
Tabela 16 - Tipo de suporte social recebido
Assistência Domicilar
Contagem
Porcentagem (%)
Nenhuma 59 85,51
SAD 8 11,59
PSF 2 2,90
Total 69
Quanto ao lazer dos cuidadores, 41 (59,42%) responderam não ter lazer e
28 (40%58) declararam que sim, praticam atividades de entretenimento (tabela 17).
65
Tabela 17 - Lazer do cuidador
Lazer Contagem
Porcentagem (%)
Sim 28 40,58
Não 41 59,42
Total 69
No que se refere ao conhecimento sobre o cuidar, 56 (81,16%) cuidadores
afirmaram ter recebido orientações de médicos, 45 (65,22%) nos grupos de
cuidadores, 41 (59,42) em livros ou folhetos e 12 (17,39) responderam que não
haviam recebido nenhuma orientação (tabela 18).
Tabela 18 - Tipo de orientação do cuidador
Orientação Contagem
Porcentagem (%)
Nenhuma 12 17,39
De médicos 56 81,16
Grupo de Cuidadores
45 65,22
Folheto/ livro 41 59,42
Mídia 8 11,59
Os cuidadores foram questionados ainda sobre quais alterações de
comportamento ou características dos idosos mais os incomodavam. Assim, 51
(73,91%) apontaram a teimosia (resistência aos cuidados), 45 (65,22%) citaram a
dependência do paciente, 42 (60,87%) mencionaram a perseverarão e 24 (34,78%)
destacaram a agitação como seu pior incômodo (tabela 19).
66
Tabela 19 - Comportamento do idoso que mais incomoda o cuidador
Incômodo Contagem
Porcentagem (%)
Nada 7 10,14
Perseveração
1
42 60,87
Teimosia
2
51 73,91
Dependência 45 65,22
Agressividade 20 28,99
Agitação 24 34,78
Perambulação
3
8 11,59
Não ficar sozinho 9 13,04
Outros 2 2,90
Em relação ao tipo de ajuda que gostariam de receber, 44 (63,77%)
responderam que um cuidador contratado ajudaria no dia a dia, 32 (46,38%) citaram
o revezamento de familiares, 13 (18,84%) afirmaram que nenhuma ajuda seria
necessária e apenas 5 (7,25%) cuidadores declararam a institucionalização do
familiar doente como opção (tabela 20).
Tabela 20 - Ajuda que o cuidador gostaria de receber
O que ajudaria Contagem
Porcentagem (%)
Nada 13 18,84
Revezamento 32 46,38
Cuidador contratado 44 63,77
Institucionalização 5 7,25
1
Perseveração - perguntas repetitivas.
2
Teimosia - resistência aos cuidados, como, por exemplo, a recusa em tomar banho.
3
Perambulação - andar a esmo.
67
No que tange ao relacionamento prévio entre cuidadores e pacientes, 31
(44,93%) classificaram como boa sua relação antes da dependência, 24 (34,78%)
como razoável e 10 (14,49%) como péssima (tabela 21).
Tabela 21 - Relação anterior do cuidador com o idoso
Relação prévia Contagem
Porcentagem (%)
Péssima 10 14,49
Razoável 24 34,78
Boa 31 44,93
Ótima 4 5,8
Total 69
Quando aplicado o instrumento de avaliação de estresse, 31 (44,93%)
cuidadores apresentaram sobrecarga moderada, 24 (34,78%) sobrecarga moderada
a severa e 14 (20,29%) pontuaram como estresse leve (tabela 22).
Conforme descrito na tabela 23, em relação à presença de distúrbios
psiquiátricos menores, pesquisada por intermédio da aplicação da escala SRQ-20,
47 (68,12%) cuidadores apresentaram algum grau de sofrimento mental, mas 22
(31,88%), em contrapartida, mostraram não ter nenhum tipo de alteração
psiquiátrica.
Da amostra selecionada, todos pontuaram como leve na escala de
Depressão Hamilton-21 (tabela 24).
68
Tabela 22 - Estresse do cuidador (Zarit)
Estresse Contagem
Porcentagem (%)
Leve 14 20,29
Moderado 31 44,93
Moderado a severo 24 34,78
Total 69
Tabela 23 - Sofrimento mental (SRQ-20) do cuidador
Sofrimento mental Contagem
Porcentagem
(%)
Com 47 68,12
Sem 22 31,88
Total 69
Tabela 24 - Grau de depressão (Ham-21) do cuidador
Depressão Contagem
Média Porcentagem (%)
Leve 69 8,17 100,0
Total 69
4.2 ANÁLISE INFERENCIAL
As análises inferenciais expostas neste subcapítulo foram realizadas com
base em modelos lineares.
4
Com a finalidade de explicar o nível de estresse do cuidador pelas demais
variáveis estudadas, usou-se um modelo de regressão normal linear com
parametrização de casela de referência para identificar quais variáveis foram
4
Detalhes das técnicas podem ser encontrados em: NETTER et. al., 2004.
69
significativas. Importante destacar que a variável relativa ao tempo diário dedicado
aos cuidados com o paciente gerava um efeito espúrio no modelo, pois ela
praticamente não variava e, portanto, foi excluída das análises.
Inicialmente, a seleção das variáveis foi feita pelo método stepwise e pelo
Critério de Informação de Akaike, devido à grande quantidade de variáveis. No
modelo resultante, foram eliminadas as variáveis com nível descritivo maior que 5%.
Sendo assim, o modelo final com 95% de confiança tem as estimativas na tabela 25.
Tabela 25 - Estimativas para o modelo para estresse do cuidador
Estimativa
Erro padrão
Nível descritivo
Intercepto 30,81 3,96 9,73E-11
Dependência 9,60 2,72 7,93E-4
Perseveração 8,46 3,91 3,43E-2
Relação prévia
Razoável -8,62 3,86 2,93E-2
Boa -12,66 3,79 1,42E-3
Ótima -5,32 6,29 4,01E-1
Antidepressivo 9,23 2,63 8,31E-4
Como o modelo tem parametrização de casela de referência, então o
intercepto aqui representa o estresse médio de um cuidador que (1) apresenta
relação prévia com seu familiar dependente “péssima”, (2) não assinalou a
dependência e a perseveração como incômodos e (3) não utiliza antidepressivo.
Para se saber o estresse médio de um indivíduo com as mesmas características
(relação prévia péssima), mas que se incomoda com a dependência do idoso, então
se deve somar o intercepto com a estimativa correspondente ao fator “dependência”.
Uma análise mais cuidadosa da tabela mostra que, excetuando-se o fator
“relação prévia”, todas as estimativas foram positivas. Isso indica que a presença
dessas características (dependência, perseveração e uso de antidepressivo)
70
aumenta o estresse, como esperado. Em contrapartida, quando a relação anterior
entre cuidador e idoso aparece como “boa” ou “razoável”, o estresse é menor.
Quanto ao fato de a relação prévia “ótima” não ter tido estimativa de
estresse menor que as demais alternativas (boa, razoável), pode ser explicado pelo
número menor de indivíduos nessa categoria, denotando a grande variância de
respostas nessa variável, o que gera um erro padrão maior. Isso faz com que o
estimador para esse fator (relação prévia ótima) não seja muito preciso. Em uma
amostra mais balanceada (mesmo número de sujeitos com relação prévia razoável,
boa ou ótima, por exemplo), a estimativa de estresse certamente seria menor para
os cuidadores com relação prévia ótima que para aqueles com relação prévia boa.
Para a modelagem da presença de sofrimento mental, foi usado um modelo
de regressão logística com a mesma parametrização de casela de referência e com
o mesmo método de seleção de variáveis. A diferença desse modelo em relação ao
anterior é que, em vez da modelagem do SRQ-20, buscava-se identificar quais
variáveis influenciam na probabilidade de o cuidador apresentar sofrimento mental.
A interpretação das estimativas é ligeiramente diferente. Neste caso, a exponencial
do intercepto (chance = 0,375, probabilidade = 0,272) é a chance
5
de um cuidador
que não se incomoda com um idoso dependente. A exponencial do fator
“dependência” (apresentada na coluna “razão de chances”) é por quanto fica
multiplicada a chance de o cuidador apresentar sofrimento mental caso um desses
efeitos esteja presente. Nesse caso, se o fator “dependência” estiver presente, a
chance de o cuidador apresentar sofrimento mental é nove vezes maior.
Tabela 26 - Estimativas do modelo para sofrimento mental do cuidador
Estimativa Erro Padrão
Razão de
chances
Nível
descritivo
Intercepto -0,5108 0,4216 2,26E-1
Dependência 2,2025 0,589 9,05 1,85E-4
5
,
1
,
1
ο
ο
ο
+
=Ρ
Ρ
Ρ
=
em que O é a chance de um evento e P, sua probabilidade.
71
4.3 DISCUSSÃO
A amostra do presente estudo foi composta por cuidadores de pacientes
muito idosos, com média de 78,78 anos de idade; a maioria (86,95%) possuía
diagnóstico de síndrome demencial e era do gênero feminino (62,31%). Esse dado
sobre a prevalência do gênero feminino na população idosa está de acordo com
outras pesquisas nacionais, como os estudos de Bressan (2005), Lopes e Bottino
(2002) e Garrido e Almeida (1999).
Lopes e Bottino (2002) analisaram 38 artigos publicados em periódicos
nacionais e internacionais, no período de 1994 a 2000, constatando predomínio do
sexo feminino (75%) nos casos pesquisados. Garrido e Almeida (1999) também
avaliaram as publicações internacionais sobre o tema, no período de 1990 a 1998,
encontrando dia de idade igual a 76,06 anos, sendo que 60% dos idosos
correspondiam ao sexo feminino.
Os dados encontrados nesta pesquisa sobre o perfil dos cuidadores
familiares entrevistados revelam que a amostra também foi predominantemente
constituída por mulheres (89,86%), coincidindo com a literatura nacional e
internacional a respeito do gênero preponderante entre aqueles que exercem essa
função (MINCHILO, 2000; KARSCH, 2003; NERI, SOMMERHALDER, 2002; LOPEZ,
ARRIETA, CRESPO, 2005).
Esses estudos mostram que o papel de cuidador é primordialmente
feminino. Indicam, assim, que a prestação de cuidados ao longo do ciclo vital é
considerada função da mulher, a quem cabe a responsabilidade de cuidar das
crianças, dos velhos e dos doentes. Isso traduz um processo de divisão sexual dos
papéis ao longo do tempo que está enraizado em nossa cultura e é transmitido de
geração a geração (COLLIÈRE, 2003). Na maioria das sociedades, a tarefa de
cuidar é atribuída à mulher, que primeiro cuida dos filhos, depois do marido e,
posteriormente, dos velhos e doentes (BATISTA et. al., 1998). Em suma, há uma
identificação do feminino com o ato de cuidar (COLLIÈRE, 1989).
Mendes (2005a) assinala ainda que os cuidados no domicílio se
caracterizam como atividade familiar e feminina, atividade essa que as mulheres
assumem naturalmente juntamente com outras tarefas, como satisfazer
necessidades de alimentação, proteção, cuidado e educação. Contudo, afirma que
72
esse universo feminino se modifica conforme as mudanças que se dão no seio da
família.
A tarefa de cuidar de algum familiar doente desenvolvida no ambiente
doméstico e privado vem sofrendo constantes modificações de acordo com as
particularidades econômicas e sociais de cada sociedade. Em época anterior, a
mulher ficava em casa, cuidando dos filhos e das tarefas domésticas, enquanto o
homem saía para ganhar o sustento do lar. Com o aumento do número de mulheres
no campo de trabalho, esses costumes vêm sendo alterados, sem que se altere, no
entanto, o fato de que se espera da mulher essa função (QUEIROZ, 2000).
A atual geração de mulheres integra desde cedo o mercado de trabalho e
estrutura sua vida em torno de seu futuro profissional. Muitas delas sustentam
sozinhas suas famílias e, sem nenhum apoio social ou governamental, ainda têm de
dar conta de cuidar de algum familiar doente. Em alguns países, como nos Estados
Unidos, políticas que apoiam essas mulheres no caso de terem de cuidar de
algum parente idoso dependente. Desse modo, podem ter reduzida a sua jornada de
trabalho e receber uma ajuda em dinheiro para suprir os gastos com a assistência
prestada ao idoso, como destacam Lechener e Leal (1999, apud KARSCH, 2003).
Sobre a média de idade dos cuidadores participantes da presente
investigação 58,72 anos –, cabe notar que está em consonância com as idades
encontradas no estudo de Karsch (2003), sendo que, como se referiu
anteriormente, 59% dos cuidadores tinham mais de 50 anos, 41% tinham mais de 60
anos, 39,3% dos cuidadores pesquisados tinham idade entre 60 e 80 anos, e 62,5%
deles cuidavam de pacientes da mesma faixa etária que a sua. Esses dados
revelam que pessoas idosas estão cuidando de idosos dependentes, o que
compromete não a qualidade do cuidado oferecido, como também a saúde física
do cuidador. A idade dos cuidadores é influenciada pela idade da pessoa que
necessita de cuidados; assim, em geral, quanto mais velha for a pessoa
dependente, mais velho será o cuidador.
No que diz respeito ao grau de parentesco dos cuidadores, verificou-se o
predomínio das filhas, seguidas pelas esposas; apenas 5 cuidadores eram maridos
e 2 eram filhos. Esses resultados coincidem com os encontrados por Minchilo
(2000) e Saad (1999). Tais dados podem estar relacionados com o fato de o
Alzheimer ser uma doença cuja prevalência aumenta exponencialmente com a
idade, conforme mencionado anteriormente. Destarte, os descendentes diretos são
73
os que se veem com maior dever de cuidar, devido à obrigação social de amparar os
pais na velhice em forma de retribuição parental pelo fato de terem sido cuidados
por eles na infância. As filhas mulheres aparecem como cuidadoras preferenciais,
tendo em vista a proximidade afetiva com o idoso e o papel culturalmente atribuído à
mulher (NERI, SOMMERHALDER, 2002).
Nas famílias compostas por filhos e filhas, geralmente são as mulheres que
assumem o cuidado e as tarefas relacionadas ao domínio do lar. De modo geral, os
filhos homens dão ajuda material, participam das atividades externas, como cuidar
dos interesses econômicos dos pais idosos, e colaboram em tarefas de ajuda
instrumental que implicam deslocá-los para outros ambientes, tornando-se
cuidadores secundários (NERI, SOMMERHALDER, 2002).
A média de escolaridade dos cuidadores foi de 9,15 anos, o que
corresponde ao ensino fundamental, demonstrando a baixa escolaridade da
amostra. Com relação à renda familiar, 56,52% declararam receber até 3 salários
mínimos, revelando a situação de vulnerabilidade econômica e social das famílias,
principalmente pela impossibilidade de contratar ajuda de um cuidador profissional,
como será discutido posteriormente. Os custos com a manutenção da casa,
cuidador contratado, transporte, medicação, alimentação, enfim, o custo da
demência dificulta ainda mais a situação das famílias de baixa renda.
Dados relevantes foram encontrados na avaliação funcional dos idosos. A
maioria deles teve média de 3,52 na escala das ABVDs, o que indica dependência
importante no seu dia a dia, demandando um cuidar ininterrupto e, portanto, exigindo
maior dedicação e supervisão por parte do cuidador, o que gera um aumento em
sua sobrecarga e estresse (NERI, 2000; ALVAREZ, 2001; LOPEZ, ARRIETA,
CRESPO, 2005).
O tempo diário dedicado aos idosos dependentes verificado foi de mais de 5
horas, sendo que a maioria relatou cuidar 24 horas por dia, argumentando que,
muitas vezes, mesmo durante o sono, precisam ficar vigilantes. Dados semelhantes
foram encontrados por Ory et. al. (1999).
Como a maioria dos cuidadores investigados neste estudo auxiliava idosos
portadores de demência, patologia que causa grande dependência e de curso lento
e progressivo, podemos considerar que tais dados relativos ao tempo diário de
cuidado se devem ao fato de o idoso demenciado demandar mais cuidados que o
não demenciado, que seus cuidadores precisam assumir não os cuidados
74
físicos, mas também as funções sociais desses pacientes, devido à perda de
autonomia que a doença ocasiona. Por outro lado, cumpre observar que alguns
cuidadores consideraram o período destinado a cuidar, o tempo despendido na
supervisão do doente, o que explica a asserção recorrente de que o cuidado é
prestado 24 horas por dia; enquanto outros apenas contabilizaram o tempo
necessário para a prestação de cuidados diretos (LOPEZ, 2004).
Também se verificou que os cuidadores pesquisados dedicavam-se à tarefa
de cuidar em média 4 anos e meio. Isso é compreensível no contexto de uma
doença degenerativa. Nesse sentido, Mendonça, Martinez e Rodrigues (2000)
observaram que a duração do desempenho do papel de cuidador variou entre 1 e 10
anos em sua pesquisa.
Deve-se lembrar que a prestação de cuidado ao idoso dependente é uma
tarefa de longa duração. Jani-le Bris (1994) constatou que 40% a 50% das pessoas
que prestam cuidados atuam nessa função mais de cinco anos. No Canadá, por
exemplo, a média de anos dedicada à prestação de cuidados é de 7,7 anos; no
entanto, cerca de 20% dos cuidadores informais exercem as tarefas da função
mais de 10 anos (CHAPPEL, LITKENHAUS, 1995).
Analisando-se o suporte informal oferecido aos cuidadores, verifica-se que a
maior parte deles exercia em média 4,39 funções sem ajuda da família. Da nossa
amostra pesquisada, 75,36% responderam que não recebiam nenhum tipo de ajuda
formal nem informal, o que demonstra o total estado de desamparo em que se
encontravam esses cuidadores. Além disso, mais de 80% dos pacientes não
contavam com nenhum atendimento domiciliar, seja do hospital, seja do PSF, seja
de outras organizações de saúde.
Esses dados coincidem com os verificados no estudo de Lopez, Arrieta e
Crespo (2005), em que 54,1% dos cuidadores relataram não receber ajuda nas
atividades de cuidados básicos da vida diária. Essa realidade está vinculada à pouca
cobertura do sistema formal, às alterações estruturais das famílias, com núcleos
familiares cada vez mais restritos, à distância entre as residências dos familiares,
principalmente em grandes centros urbanos, às mudanças da vida em sociedade e à
fragilidade dos laços de solidariedade.
Nardi e Oliveira (2008, p.49) destacam que ”o apoio social ao idoso e seu
cuidador tem como objetivo principal diminuir os aspectos negativos provocados
pela tarefa de cuidar, contribuir para a melhoria da saúde do cuidador e refletir
75
positivamente na qualidade de cuidados prestados”. Os autores classificam o apoio
social em duas categorias: o informal e o formal. O apoio informal é representado
pelas relações que são estabelecidas entre os familiares, amigos, vizinhos, parentes
próximos e grupos comunitários; e o formal é representado especificamente pelos
serviços de saúde.
Em relação a esse aspecto, Leuschner (2005) considera que o apoio social
formal às famílias de idosos com demência é deficiente, estando em geral limitado a
iniciativas isoladas, não integradas e raramente articuladas. As principais ajudas
destinadas aos cuidadores são oriundas do sistema informal, ou seja, da rede de
familiares, amigos e vizinhos.
A presença de uma rede de suporte social com o auxílio de outros membros
da família, amigos e profissionais da saúde se constitui em uma importante
estratégia de diminuição da sobrecarga (BANDEIRA, BARROSO, 2005; NAKATANI
et. al., 2003). O cuidado ao familiar doente deve envolver toda a família, para
permitir uma distribuição de tarefas e evitar o desgaste do cuidador principal. Porém,
na maioria das vezes, apenas uma ou duas pessoas acabam assumindo essa
tarefa.
Além das responsabilidades na casa e no trabalho, o familiar ainda assume
uma nova função, que exige um novo aprendizado e desafios inerentes ao papel de
cuidador. O cuidado exercido no âmbito da família é geralmente uma atividade
solitária, tanto no sentido de que o cuidador realiza as tarefas sozinho, como se
considerando que encontra pouco apoio social entre as pessoas que estão vivendo
ou já viveram a mesma situação (PAVARINI, NERI, 2000). Silveira, Calda e Carneiro
(2006), em estudo realizado com cuidadores de doentes dependentes, descrevem
queixas relativas ao afastamento e à pouca participação de outros parentes no
cuidado, o que muitas vezes resulta em desavenças e conflitos familiares, isolando
ainda mais o cuidador.
Quanto ao conhecimento sobre a doença, a maioria dos cuidadores informou
ter recebido orientação de médicos sobre como cuidar do seu familiar, e 65,22%
participaram alguma vez do Grupo de Cuidador. Araújo et. al. (2004) relatam que, à
medida que o cuidador conhece mais sobre a doença, ele presta cuidado com mais
qualidade. Os autores ainda referem que o conhecimento sobre a evolução da
doença e o agravamento dos sintomas diminui o conflito e o desgaste da família. E,
quanto menos conhecimento se tem sobre a magnitude das repercussões
76
provocadas pela doença, mais sentimentos de culpa, angústia e confusão são
relatados pelos cuidadores (LUZARDO, WALDMAN, 2004).
O grau de dependência dos doentes parece influenciar na sobrecarga e no
estresse do cuidador. Alguns estudos mostram que a capacidade funcional dos
doentes para realizar as atividades da vida diária correlaciona-se com a sua
sobrecarga (GARRE-OLMO et. al., 2000; SANTOS, 2004). Esses dados conferem
com o resultado do presente estudo, no qual 65,22% dos cuidadores citaram a
dependência como o fator que mais o incomodavam na tarefa de cuidar.
As investigações têm demonstrado que sentimentos de sobrecarga ou
estresse no cuidador familiar são influenciados também pelo tipo de doença ou grau
de incapacidade da pessoa idosa. No presente estudo, a dependência do idoso nas
atividades de vida diária parece exercer uma influência preponderante sobre a
clausura do papel e a sobrecarga do cuidador. As correlações indicam que, quanto
maior é o grau de dependência do idoso nas atividades de vida diária, maior é a
sobrecarga (estresse) do papel, aumentando em 9 vezes a chance de o cuidador
apresentar sofrimento mental.
Da mesma forma, as variáveis “perseveração(comportamentos repetitivos)
e “uso de antidepressivos” mostraram correlação com o estresse, ou seja, a
presença dessas características aumenta a estimativa de estresse. Percebe-se,
então, que as exigências impostas pela incapacidade física do idoso e as alterações
de comportamento provocadas pela demência exigem não apenas respostas
comportamentais, mas também de natureza cognitiva e emocional, manifestando
sua influência no aspecto emocional do cuidador.
Estudos revelam que a história pessoal, geracional e de parentesco que
envolve os cuidadores e os idosos também são determinantes nas relações
estabelecidas na situação de cuidar e ser cuidado. Em outras palavras, a relação
entre cuidador e idoso dependente é fortemente influenciada pela história e vivência
comum das duas pessoas (infância ou vida conjugal). Bons e maus relacionamentos
prévios entre cônjuges ou entre pais e filhos determinam, respectivamente, a
diminuição ou o aumento do estresse e da sobrecarga do cuidador (MENDES,
1998). Sommerhalder e Neri (2002) também afirmam que o relacionamento prévio
entre o idoso e o cuidador influencia a sobrecarga deste, justificando que idosos que
tiveram bom relacionamento no passado com seus atuais cuidadores suscitam
sentimentos positivos.
77
Em consonância com tais pressupostos, constatamos em nossa pesquisa
que quando a relação prévia entre cuidador e idoso dependente foi classificada
como boa, a estimativa de estresse se mostrou menor. E, de maneira oposta,
quando a relação prévia era considerada ruim, a estimativa do estresse aumentava.
Como referido anteriormente, não raro, ocorre uma ruptura na relação
cuidador-familiar, aumentando o estresse e fatores pré-mórbidos de personalidade
que podem gerar situações de maus-tratos e negligência, acarretando desde
violência física, negligência e agressões verbais a abuso financeiro
(MACLENNAN, 1998). Segundo Coyne, Reichman e Berbig (1993), o risco de abuso
é elevado quando as vítimas têm maior grau de dependência e os cuidadores estão
há mais tempo na função e se dedicam a ela muitas horas por dia.
Cumpre reiterar que proporcionar cuidados durante um longo período de
tempo pode ser física e emocionalmente desgastante e interferir na saúde e no bem-
estar do cuidador. A própria característica da doença, ou seja, presença de
alterações cognitivas e comportamentais e, em estágios mais avançados, alterações
do funcionamento motor e sensorial, contribui para o estresse do cuidador, ainda
mais associada ao cuidado ininterrupto e à pouca disponibilidade de suporte formal
e informal.
Estudos mostram ainda o alto grau de depressão nos cuidadores. Medeiros,
Ferraz e Quaresma (1998), Brodaty (1998), Evans, Bishop e Ousley (1992),
Cerqueira e Oliveira (2002) e Garrido e Almeida (1999) citam a maior vulnerabilidade
dos cuidadores à depressão, à ansiedade e a outros quadros psiquiátricos, além de
serem mais afetados em sua saúde física que os não cuidadores.
A depressão e a ansiedade parecem ser problemas comuns entre essas
pessoas. Vários estudos revelaram a presença de sintomas depressivos (tristeza,
desespero, frustração) em familiares cuidadores, podendo ser associados à
progressiva deterioração do estado de saúde do idoso, à ausência de tempo livre e
de apoio e a conflitos familiares associados (DURA, KIECOLT-CLASER,
STUKENBERG, 1991; GARRIDO, ALMEIDA, 1999). Em comparação à população
em geral, apresentam níveis superiores de ansiedade e depressão, consomem mais
psicofármacos e têm uma pior percepção da sua saúde (GARRE-OLMO et. al.,
2000).
Esses indicativos corroboram os resultados encontrados neste trabalho, em
que 44,93% dos cuidadores apresentaram estresse moderado e 34,78%, estresse
78
de moderado a severo. Com relação à presença de distúrbios psiquiátricos menores,
68,12% apresentaram algum grau de sofrimento mental e 100% apresentaram
escores de depressão leve. É preciso lembrar que a escala de Hamilton não faz
diagnóstico de depressão, porém uma análise qualitativa demonstrou a presença de
sintomatologia depressiva ou depressão menor nos cuidadores.
Importante ressaltar que, em relação ao uso de medicamentos pelos
cuidadores, 34,78% relataram utilizar antidepressivos e 7,25%, ansiolíticos. A
literatura referente à prestação de cuidado informal tem ressaltado a complexidade,
especificidade e diversidade dessa experiência.
A falta de tempo foi uma queixa importante. A maioria declarou não ter
nenhum tipo de lazer, o que coincide com indicações da literatura. Os cuidadores
pesquisados no estudo de Sommerhalder e Neri (2002), por exemplo, relataram que
não tinham tempo para o lazer, a família e os amigos. Outros estudos também
mostram que a falta de tempo e a diminuição da vida social são fatores que afetam a
vida particular dos cuidadores, que deixam de cuidar de si mesmos para cuidar de
seus familiares dependentes (TOSELAND, ROSSITER, 1989; KRAMER, 1997).
Quando indagados sobre o que os ajudaria nos cuidados, a maioria
mencionou a contratação de um cuidador formal ou o revezamento de familiares,
que, então, se mostraram como soluções preferidas. Apesar das dificuldades
inerentes à tarefa e à falta de suporte social, poucos cuidadores assinalaram a
institucionalização do seu familiar como possibilidade. Esse dado pode ser explicado
levando-se em conta que na nossa cultura é dever da família cuidar de seus idosos,
sendo que uma opinião depreciativa sobre as casas de repouso. Geralmente, a
institucionalização aparece para o cuidador como a última opção, quando todas as
outras falharam (FERRETTI, 2004). Todavia, cabe considerar que os entrevistados
podem ter ficado inibidos de assinalar essa opção, já que a institucionalização
sugere abandono e negligência familiar.
Segundo Jani-le Bris (1994, p.69), mesmo na Europa, existe uma imagem
depreciadora das casas de repouso:
É verdadeiramente raro que a institucionalização seja encarada
como um projeto de vida; raramente escolhida, mas aceite
como único recurso, e é frequentemente o último elo de um
encadeamento de fracassos sociais. Curiosamente mesmo
quando a qualidade do estabelecimento é fonte de um bem-
estar geral, a aversão persiste. Existe toda uma pressão social
79
que influencia negativamente a opção pela institucionalização,
e existe ainda o sentimento individual de reciprocidade e
solidariedade com o membro familiar. A maioria das pessoas
acredita que a atenção, carinho e dedicação recebidos pelos
pais na infância sejam retribuídos quando os pais envelhecem,
adoecem ou ficam doentes.
Em contrapartida, há estudos que citam os aspectos positivos da situação de
cuidar (KRAMER, 1997; STEPHENS, FRANKS, TOWSEND, 1994; FARRAN et. al.,
1998). Nesses estudos, os cuidadores relataram consequências positivas geradas
pela tarefa de cuidar em termos de: oportunidade de crescimento pessoal,
retribuição pelo cuidado recebido no passado pelo idoso, construção de um
significado existencial atrelado à tarefa que estão desempenhando, valorização
social pelo fato de cumprirem esse papel. Percepções essas que demonstram que a
experiência de cuidar não é homogênea, podendo o cuidador experimentar
sentimentos positivos e negativos em relação à sua tarefa.
Porém, a maior parte dos estudos concentra-se nos efeitos negativos dessa
atividade, e a realização desta pesquisa permitiu confirmar que os cuidadores
informais de doentes dependentes sofrem repercussões importantes em todas as
esferas da sua vida em decorrência do processo de cuidar. Por conseguinte, tais
repercussões frequentemente implicam sobrecarga física e estresse emocional,
comprometendo a saúde mental dos cuidadores.
4.4 CONCLUSÕES
O presente estudo teve com objetivo descrever o perfil sociodemográfico dos
cuidadores familiares de idosos dependentes.
A análise do contexto da prestação de cuidados e das características do
cuidador informal é fundamental para a compreensão da sobrecarga e estresse e
dos motivos pelos quais essa situação causa impactos negativos no bem-estar do
cuidador, o que pode comprometer a qualidade da assistência prestada ao idoso
dependente e prejudicar a saúde mental dos mesmos
80
Procuramos também investigar os níveis de estresse e sofrimento mental,
bem como a presença de distúrbios psiquiátricos menores nos cuidadores e as
variáveis que influenciam a sua saúde mental.
Em face da investigação efetuada e dos resultados obtidos, é possível
chegar às seguintes conclusões:
- Os pacientes auxiliados pelos cuidadores que constituíram a amostra são, na
grande maioria, mulheres portadoras de demência, com dependência parcial e com
média de idade de 78,78 anos.
- Os cuidadores familiares são essencialmente mulheres (filhas ou esposas), com
média de idade de 58,72 anos. A maioria é casada e possui renda de a3 salários
mínimos.
- Despendem, em média, mais de cinco horas por dia para cuidar e atuavam nessa
função há 4 anos e seis meses.
- 34,78% dos cuidadores entrevistados utilizam antidepressivos e 7,25% utilizam
ansiolíticos.
- Em relação ao suporte social, 85,51% não contam com assistência domiciliar ou
PSF; só 11,59% contam com ajuda de cuidador contratado.
- A maioria recebeu orientação sobre como cuidar do seu familiar de médicos e
frequentando o Grupo de Cuidador.
- No que tange ao relacionamento prévio entre cuidadores e pacientes, a maioria
classificou como boa a relação antes da dependência.
- No que diz respeito ao estresse do cuidador, 44,93% apresentaram sobrecarga
moderada e 34,78%, estresse de moderado a severo.
- 68,12% apresentaram sofrimento mental e a maioria, sintomatologia depressiva.
- As manifestações da doença do idoso referidas como mais perturbadoras o as
alterações comportamentais, como resistência aos cuidados (teimosia), e a
perseveração.
- O grau de dependência do doente, a relação prévia ruim, a utilização de
antidepressivos e o comportamento perseverativo do doente aumentam as
estimativas de estresse para o cuidador. a relação prévia boa acarreta estresse
menor.
- A dependência do paciente também aumenta exponencialmente, em 9 vezes, a
estimativa do sofrimento mental.
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conquista da longevidade é um dos maiores feitos da humanidade, porém
o envelhecimento da população constitui também um motivo de preocupação, por
aumentar de maneira significativa o risco da doença crônica e, com ela, a
dependência funcional.
O envelhecimento populacional estimado para as próximas décadas trará
importantes desafios para as famílias e a sociedade em geral. A transição
demográfica no Brasil traz para a mesa dos debates o aumento exponencial do
número de idosos dependentes com baixo nível socioeconômico, usuários de uma
grande parcela dos recursos da saúde destinada ao financiamento de leitos de longa
dependência (KARSCH, 2003).
A família tem sido considerada a principal fonte de apoio ao idoso em
situação de dependência (BAUM, PAGE, 1991). No entanto, em face das
modificações que estão acontecendo nas famílias, com número reduzido de filhos e
alguns optando por não ter nenhum, como fica a disponibilidade familiar? Quem
passará a cuidar dos idosos dependentes? Com as transformações que estão
ocorrendo nas estruturas familiares aumento das famílias monoparentais, redução
do número de filhos, crescente participação da mulher no mercado de trabalho –,
emergem novos desafios relativos à questão do cuidado de idosos pelas famílias.
Levando em conta, por exemplo, a verticalização das estruturas familiares,
dando origem a uma nova forma de relacionamento, a “intimidade à distância”
(BIRREN, 1998, apud KARSCH, 2003), em que as pessoas se telefonam, usam e-
mails e internet, como fica esse contexto quando algum familiar fica doente e passa
a demandar cuidados?
Tendo em vista a realidade brasileira na situação de prestar cuidados a
idosos dependentes, é possível concluir que aqueles que convivem com
incapacidades sofrem com a falta de suporte social. Eles e suas famílias merecem
mais atenção, tanto das autoridades públicas como dos profissionais de saúde. Esse
é outro motivo pelo qual o cuidador familiar deve ser valorizado, pois tem um
importante papel social. Ele não atende a uma demanda objetiva e imediata dos
idosos, cumprindo normas sociais de retribuição, como também oferece solução
para um problema que é de toda a sociedade (YUASO, 2002). Os cuidadores são
ainda responsáveis por diminuir os gastos do sistema público, visto que pacientes
82
que estariam institucionalizados permanecem no domicílio quando dispõem de
alguém que os auxilie.
Após anos atuando nessa área, vemos como a doença crônica desestrutura
e desestabiliza a família, impondo uma série de adaptações e sobrecargas na vida
pessoal do cuidador, tanto no aspecto biológico e social como no psicológico, o que
implica a urgente necessidade do aumento da assistência e do suporte à família
cuidadora, bem como o seu acesso a programas de saúde. É preciso, em vez de
vitimizar ou problematizar a figura do cuidador, oferecer-lhe suporte social formal e
informal, haja vista a complexidade da sua atividade.
A tarefa de cuidar tem impacto na vida pessoal e familiar do cuidador, com
repercussões para o idoso dependente e as outras instituições sociais. Segundo
Neri e Sommerhalder (2002), na ausência de apoios informais e formais, o cuidador
sofre porque fica mais “exposto a doenças, à depressão e a estados emocionais
negativos”. Sofre a família por causa das restrições materiais e econômicas e dos
conflitos. Sofre o idoso porque fica mais sujeito a cuidados inadequados e
insuficientes e, no limite, a abandono e maus-tratos.
É extremamente importante o desenvolvimento de estudos que possibilitem
entender fatores envolvidos na complexa tarefa de prestação de cuidados e
identificar situações-limite para os cuidadores, como alto grau de estresse, para que
ações mais efetivas sejam planejadas em termos de abordagens mais completas. O
conhecimento dos vários fatores intervenientes permitirá uma abordagem mais
efetiva no tratamento do problema, desenvolvendo um campo de intervenções
preventivas e de propostas individualizadas.
É preciso criar um modelo de intervenção interdiscilpinar que coloque o
cuidador e o doente dependente como centro de ações que incluam todos os níveis
de cuidados. É preciso ainda dar ênfase a abordagens que incluam ações nas áreas
social, psicológica e médica, com medidas que visem à diminuição do impacto
negativo do ato de cuidar na vida dos cuidadores, contribuindo para manter o
paciente crônico fora dos hospitais e instituições.
Como exemplos de ações podemos citar reuniões familiares mediadas por
equipe interdisciplinar com o objetivo de que haja redistribuição das tarefas pelos
outros membros da família; encaminhamento do cuidador para Grupos de
Cuidadores; atendimento psiquiátrico e psicológico; e, quando necessário,
encaminhamento para órgãos de proteção ao idoso, como Promotoria do Idoso,
83
visando a evitar situações de maus-tratos ou negligência e salvaguardando também
a pessoa do cuidador.
Grupos de Apoio constituem um importante recurso de ajuda ao cuidador, na
medida em que permitem a troca de experiências e sentimentos. Também são
fontes importantes de informações e podem suscitar estratégias mais eficientes de
enfrentamento de estresse, bem como comportamentos mais funcionais e
adaptativos ao problema.
Poder-se-ia ainda promover a inclusão das famílias em atendimentos
domiciliares, oferecer cuidadores para pausas e revezamento no cuidado, criar
Centros-dia, lançar linhas telefônicas de apoio 24 horas por dia e até mesmo
remunerar o cuidador familiar mediante, por exemplo, uma “bolsa-cuidador”, de
modo a possibilitar a permanência do familiar dependente por mais tempo em
cuidado domiciliar, evitando institucionalizações e, com isso, mantendo o idoso em
seu próprio domicílio, rodeado de familiares, onde poderá, dentro de suas limitações,
maximizar sua autonomia.
Por essas razões, a conservação da saúde dos cuidadores familiares
informais é importante para a sociedade como um todo. Atenção e apoio a essas
pessoas são fundamentais para a qualidade do serviço prestado aos idosos, para a
saúde dos próprios cuidadores e para a sociedade como um todo.
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97
ANEXOS
ANEXO A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, Maria a Cristina Guapindaia Carvalho, psicóloga da Clínica de Geronto-Geriátrica do Hospital do
Servidor Público Municipal, convido o Sr(a). a participar de um estudo para avaliar o perfil dos
familiares que exercem a função de cuidadores familiares de pacientes portadores de Demência e
avaliação do estresse dessa tarefa sobre seu respectivo bem- estar, bem como as relações que se
estabelecem entre cuidadores e seus familiares doentes.
A coleta de dados se dará através de uma única entrevista realizada na Clínica de Geronto-Geriátrica
do HSPM, previamente agendada por telefone com data e horário determinados.
Serão aplicados dois questionários e algumas perguntas sobre seu dia a dia com seu familiar. Essas
perguntas serão gravadas e seus dados mantidos sob sigilo absoluto garantindo a privacidade de
informações.
Este estudo trará benefício pessoal ao Sr (a), na medida em que será utilizado para acrescentar
conhecimento científico, beneficiando a população em geral.
O Sr (a) terá acesso, a qualquer tempo aos dados obtidos nesse estudo, podendo a qualquer
momento, serem consultados ou eliminados da pesquisa caso haja desistência de sua participação
da pesquisa, sem prejudicar seu acompanhamento médico na clínica.
Eu, Maria Cristina Guapindaia Carvalho, pesquisadora responsável pelo estudo, garanto ao Sr (a), o
direito a qualquer pergunta ou esclarecimento mais específicos. Reafirmo que o Sr (a) tem a
liberdade de abandonar a pesquisa a qualquer momento sem que lhe traga nenhum prejuízo, assim
com garanto sigilo e privacidade das informações, sendo revelados dados impessoais como idade e
sexo.
Eu, ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Portadora do RG ----------------------------------------------------------, fui informado(a) dos objetivos acima
de maneira clara e detalhado, recebi informações sobre cada procedimento no qual estarei
envolvido(a). Todas as minhas vidas foram esclarecidas e sei que novos esclarecimentos poderão
ser feitos a qualquer momento. Além disso, novas informações obtidas durante meu estudo serão
fornecidas a minha pessoa e terei liberdade de retirar o meu consentimento da participação da
pesquisa.
Declaro que recebi cópia do presente consentimento.
A pesquisadora responsável certificou-me que as informações por mim fornecidas são confidenciais.
Caso houver novas perguntas sobre este estudo, posso contatar a pesquisadora responsável na
Clínica de Geronto-Geriátrica do HSPM, através do telefone: 3208 2211, ramal 263, ou celular da
pesquisadora: 7338 3632
São Paulo, de de 20 .
Assinatura do participante da pesquisa -----------------------------------------------------------------------------
Assinatura da pesquisadora Responsável -----------------------------------------
98
ANEXO B
ENTREVISTA COM OS CUIDADORES - DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
1. Nome Paciente
2. RH
3. idade Paciente anos
4. Procedência
1 ambulatório
2 Enfermaria
3 Assistência Domiciliar
5. Diagnóstico Principal
1 Demência
2 AVC
3 Parkinson
4 Outro
6. ABVDs (Grau de dependência) /6
7. AIVDs /27
8. Nome do Cuidador:
/ Sexo
9. Idade cuidador: anos
99
10. Estado Civil
1 casado
2 solteiro
3 viúvo
4 separado
5 outro
11. Escolaridade: anos
12. Parentesco
1 esposo(a)
2 Filho(a)
3 Genro/Nora
4 sobrinhos
5 outro
13. Renda
1 de 0 a 3 salários mínimos
2 de 3 a 5 salários
3 > 5 salários
14. Reside № de pessoas
1 (com uma pessoa)
2 (2 a 4 pessoas)
3 (4 a 8 pessoas)
4 (> 8 pessoas)
15. Medicações do cuidador: № de remédios que toma:
15.1 Antidepressivo Sim Não
15.2 Ansiolítico Sim Não
15.3 Neurolépticos Sim Não
100
16. Há quanto tempo é cuidador? № de anos
17. Trabalha fora? Sim Não
17.1 Tempo que fica fora em horas
17.2 Se não trabalha
1. Deixou de trabalhar para ser cuidador
2. Está desempregado
3. Aposentado
4. Auxílio doença
5. Pensionista
6. Do lar
7. Outro
18. Família recebe ajuda? Sim Não
19. Se recebe, qual?
1 financeira
2 revezamento irmãos/ filhos
3 Cuidador pago
4 outra
20. Recebe atendimento domiciliar? Sim Não
20.1. Especifique
1 serviço público
2 entidades religiosas
3 Prof. Autônomos
4 Entid. Filantrópicas
5 Outra
101
20.2 Frequência dessa ajuda
1(diária)
2 (uma vez /semana)
3 (quinzenal)
21. Quantas horas por dia vc cuida do seu familiar?
1 - até 3h/d
2 - 3 a 5h/d
3 - mais que 5h/d
22. Você tem lazer? Sim Não
23. Recebeu orientação sobre como cuidar? Sim Não
Se sim, especifique:
23.1 De médicos
23.2 Grupo de cuidador
23.3 folhetos/ livros
23.4 Mídia/ internet
23.5 outra
24. Tem alguma alteração de comportamento que te incomoda
? Sim Não
Se sim, especifique:
24.1 Perseveração
24.2 Teimosia
24.3 Dependência
24.4 Agressividade
24.5 Agitação
24.6 Perambulação
24.7 Outro comportamento
102
25. Tem algo que o ajudaria nos cuidados? Sim Não
Se sim, especifique
25.1 Revezamento irmãos/ filhos
25.2 cuidador contratado
25.3 Institucionalização
25.4 Ter mais informação
25.5 Outro
26. Qualidade da relação prévia à doença:
1 péssima
2 razoável
3 boa
4 ótima
27. Atividade realizada pelo cuidador:
Banho 1
Alimentação 2
Transferência 3
Higiene fraldas 4
Deambulação 5
Levar ao médico 6
Cuidar da casa 7
Outra 8
103
ANEXO C
ESCALA DE ATIVIDADES BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA (ABVDs)
Atividade Independente Sim Não
1.Banho
Não recebe ajuda
ou somente para
alguma parte do
corpo
2.Vestir -se
Pega as roupas e se
veste sem qualquer
ajuda, exceto para
amarrar sapatos
3.Higiene Pessoal
Vai ao banheiro, usa
o banheiro, veste-se
e retorna sem
alguma ajuda
4.Transferência
Consegue deitar na
cama, sentar na
cadeira e levantar
sem ajuda
5.Continência
Controla
completamente
urina e fezes
6.Alimentação
Come sem ajuda
(exceto para cortar
carne ou passar
manteiga no pão)
Total de 6 pontos de resposta – Independência para ABVDS
Total de 4 pontos – Dependência parcial
Total de 2 pontos – Dependência importante
Adaptado de Katz, 1963.
104
ANEXO D
ESCALA DE ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DE VIDA DIÁRIA (AIVDs)
1. O Sr (a) consegue usar o
telefone?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
2. O Sr (a) consegue ir a
lugares distantes, usando
algum transporte, sem
necessidade de planejamento
especial?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
3. O Sr (a) consegue fazer
compras?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
4. O Sr (a) consegue
preparar sua própria
refeição?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
5. O Sr (a) consegue arrumar
a casa?
Sem ajuda
Com ajuda
Não consegue
3
2
1
6. O Sr (a) consegue fazer os
trabalhos manuais, como
pequenos reparos?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
7. O Sr (a) consegue lavar ou
passar roupa?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
8. O Sr (a) consegue tomar
seus remédios na dose certa
e horário correto?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
9. O Sr (a) consegue cuidar
de suas finanças?
Sem ajuda
Com ajuda parcial
Não consegue
3
2
1
A pontuação máxima é de 27 pontos. As questões 4 a 7 podem ter variação
conforme o sexo, podendo ser adaptadas para atividades como subir escadas ou
cuidar do jardim
Adaptado de Lawton, 1969.
105
ANEXO E
106
ANEXO F
SRQ 20 -SELF REPORT QUESTIONNAIRE
Teste que avalia o sofrimento mental. Por favor, leia estas instruções antes de
preencher as questões abaixo. É muito importante que todos que estão
preenchendo o questionário sigam as mesmas instruções.
Instruções
Estas questões são relacionadas a certas dores e problemas que podem ter lhe
incomodado nos últimos 30 dias. Se você acha que a questão se aplica a você e
você teve o problema descrito nos últimos 30 dias responda SIM. Por outro lado, se
a questão não se aplica a você e você não teve o problema nos últimos 30 dias,
responda NÃO.
OBS: Lembre-se que o diagnóstico definitivo pode ser fornecido por um
profissional.
PERGUNTAS e RESPOSTAS
1-Você tem dores de cabeça freqüente?
SIM NÃO
2-Tem falta de apetite?
SIM NÃO
3-Dorme mal?
SIM NÃO
4-Assusta-se com facilidade?
SIM NÃO
5-Tem tremores nas mãos? SIM NÃO
6-Sente-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a)?
SIM NÃO
7-Tem má digestão?
SIM NÃO
8-Tem dificuldades de pensar com clareza?
SIM NÃO
9-Tem se sentido triste ultimamente?
SIM NÃO
10-Tem chorado mais do que costume?
SIM NÃO
107
11-Encontra dificuldades para realizar com satisfação
Suas atividades diárias?
SIM NÃO
12-Tem dificuldades para tomar decisões?
SIM NÃO
13-Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, lhe causa-sofrimento?)
SIM NÃO
14-É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida?
SIM NÃO
15-Tem perdido o interesse pelas coisas? SIM NÃO
16-Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo?
SIM NÃO
17-Tem tido idéia de acabar com a vida?
SIM NÃO
18-Sente-se cansado (a) o tempo todo?
SIM NÃO
19-Você se cansa com facilidade?
SIM NÃO
20-Têm sensações desagradáveis no estomago?
SIM NÃO
RESULTADO
Se o resultado for > 7 (maior ou igual a sete respostas SIM) está comprovado
sofrimento mental
108
ANEXO G
ESCALA DE DEPRESSÃO HAMILTON-20
Todos os itens devem ser preenchidos. Assinalar o número apropriado.
1. HUMOR DEPRIMIDO (Tristeza, desesperança, desamparo, inutilidade)
0. Ausente
1.Sentimentos relatados apenas ao ser inquirido.
2.Sentimentos relatados espontaneamente com palavras.
3.Comunica os sentimentos não com palavras, isto é, com a expressão facial, a
postura, a voz e a tendência ao choro.
4. Sentimentos deduzidos da comunicação verbal e não-verbal do paciente.
2. SENTIMENTOS DE CULPA
0. Ausente
1. Auto-recriminação; sente que decepcionou os outros
2. Ideias de culpa ou ruminação sobre erros passados ou más ações
3. A doença actual é um castigo
4. Ouve vozes de acusação ou denúncia e/ou tem alucinações visuais ameaçadoras
3. SUICÍDIO
0. Ausente
1. Sente que a vida não vale a pena
2. Desejaria estar morto ou pensa na probabilidade de sua própria morte
3. Ideias ou gestos suicidas
4.Tentativa de suicídio (qualquer tentativa séria, marcar 4)
109
4. INSÔNIA INICIAL
0. Sem dificuldades para conciliar o sono
1. Queixa-se de dificuldade ocasional para conciliar o sono, isto é, mais de meia
hora
2. Queixa-se de dificuldade para conciliar o sono todas as noites
5. INSÔNIA INTERMEDIÁRIA
0. Sem dificuldades
1. O paciente se queixa de inquietude e perturbação durante a noite
2. Acorda à noite - qualquer saída da cama marcar 2 (exceto p/ urinar)
6. INSÔNIA TARDIA
0. Sem dificuldades
1. Acorda de madrugada, mas volta a dormir
2. Incapaz de voltar a conciliar o sono se deixar a cama
7. TRABALHO E ACTIVIDADES
0. Sem dificuldades.
1. Pensamento e sentimentos de incapacidade, fadiga ou fraqueza relacionada a
actividades, trabalho ou passatempos.
2. Perda de interesse por actividades (passatempos ou trabalho) quer directamente
relatada pelo paciente, quer indirectamente por desatenção, indecisão e vacilação
(sente que precisa esforçar-se para o trabalho ou actividade).
3. Diminuição do tempo gasto em actividades ou queda de produtividade. No
hospital, marcar 3 se o paciente não passar ao menos 3 horas por dia em
actividades externas (trabalho hospitalar ou passatempo).
4. Parou de trabalhar devido à doença actual. No hospital, marcar 4 se o paciente
não se ocupar com outras actividades, além de pequenas tarefas do leito, ou for
incapaz de realizá-las sem ajuda.
110
8. RETARDO (lentidão de ideias e fala; dificuldade de concentração; atividade
motora diminuída)
0. Pensamento e fala normais
1. Leve retardo à entrevista
2. Retardo óbvio à entrevista
3. Entrevista difícil
4. Estupor completo
9. AGITAÇÃO
0. Nenhuma
1. Inquietude
2. Brinca com as mãos, com os cabelos,etc.
3. Mexe-se, não consegue sentar quieto
4. Torce as mãos, rói as unhas, puxa os cabelos, morde os lábios
10. ANSIEDADE PSÍQUICA
0. Sem dificuldade
1. Tensão e irritabilidade subjectivas
2. Preocupação com trivialidades
3. Atitude apreensiva aparente no rosto ou na fala
4. Medos expressos sem serem inquiridos
11. ANSIEDADE SOMÁTICA
Concomitantes fisiológicos de ansiedade, tais como:
Gastrointestinais: boca seca, flatulência, indigestão, diarreia, cólicas, erecção;
Cardiovasculares: palpitações, cefaleia;
111
Respiratórios: hiperventilação, suspiros; Frequência urinária; Suores
0. Ausente
1. Leve
2. Moderada
3. Grave
4. Incapacitante
12. SINTOMAS SOMÁTICOS GASTRINTESTINAIS
0. Nenhum
1. Perda de apetite, mas alimenta-se voluntariamente. Sensações de peso no
abdômen.
2. Dificuldade de comer se não insistirem. Solicita ou exige laxativos ou medicações
para os intestinos ou para sintomas digestivos.
13. SINTOMAS SOMÁTICOS EM GERAL
0. Nenhum
1. Peso nos membros, nas costas ou na cabeça. Dores nas costas, cefaleia,
mialgias. Perda de energia e cansaço.
2. Qualquer sintoma bem caracterizado e nítido, marcar 2.
14. SINTOMAS GENITAIS
Sintomas como: perda da libido, distúrbios menstruais
0. Ausentes
1. Leves
2. Intensos
112
15. HIPOCONDRIA
0. Ausente
1. Auto-observação aumentada (com relação ao corpo)
2. Preocupação com a saúde
3. Queixas frequentes, pedidos de ajuda, etc.
4. Ideias delirantes hipocondríacas
16. PERDA DE PESO (Marcar A ou B)
A - Quando avaliada pela história clínica
0. Sem perda de peso
1. Provável perda de peso associada à moléstia actual
2. Perda de peso definida (de acordo com o paciente)
3. Não avaliada
B - Avaliada semanalmente pelo psiquiatra responsável, quando são medidas
alterações reais de peso
0. Menos de 0,5 Kg de perda por semana
1. Mais de 0,5 Kg de perda por semana
2. Mais de 1 Kg de perda por semana
3. Não avaliada
17. CONSCIÊNCIA
0. Reconhece que está deprimido e doente
1. Reconhece a doença mas atribui-lhe a causa à alimentação, ao clima, ao
excesso de trabalho, a vírus, à necessidade de repouso, etc.
2. Nega estar doente
113
18. VARIAÇÃO DIURNA
A - Observar se os sintomas são piores pela manhã ou à tarde. Caso NÃO haja
variação, marcar "nenhuma".
0. Nenhuma
1. Pior de manhã
2. Pior à tarde
B - Quando presente, marcar a gravidade da variação. Marcar "nenhuma" caso NÃO
haja variação.
0. Nenhuma
1. Leve
2. Grave
NOTA: Caso haja variação diurna, a contagem referente à sua gravidade (1 ou 2
pontos no item 18B) é que deve ser incluída na contagem final. O item 18 A não
deve ser computado.
19. DESPERSONALIZAÇÃO E PERDA DE NOÇÃO DE REALIDADE
Tais como: sensações de irrealidade, ideias niilistas
0. Ausente
1. Leve
2. Moderadas
3. Graves
4. Incapacitantes
20. SINTOMAS PARANÓIDES
0. Nenhum
1. Desconfiança
2. Ideias de referência
3. Delírio de referência e perseguição
114
21. SINTOMAS OBSESSIVOS E COMPULSIVOS
0. Nenhum
1. Leves
2. Graves
SOMAR OS PONTOS OBTIDOS EM TODOS OS ÍTENS (EXCETO 18 A)
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