de soldados inimigos para interrogatório. Mas essas eram ações que obtinham pequeno
grau de sucesso, especialmente no inverno, onde as operações de combate diminuíam
sensivelmente. Segundo César C. Maximiano apenas vinte e cinco soldados inimigos
foram capturados em janeiro de 1945, quando houve a total paralisia do front
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Algumas patrulhas de combate tinham a perigosa missão de fustigar as linhas
inimigas, para avaliar a disposição destas e seus recursos. Eram missões de extremo
perigo, mas que podiam resultar em informações importantes. Observemos a narrativa
do Sgt. Munguba numa de suas patrulhas para averiguar uma posição inimiga na “terra
de ninguém”, durante o inverno italiano:
Certo dia, pegaram um partigiani, um italiano, que sabia da existência, em
determinado local, de um grupo de alemães; recebemos ordens de trocar fogo
com eles, de qualquer maneira, provocar o bicho na sua toca. [...]Lá, não
existia ponte; era um rio que apresentava a superfície congelada; a gente
passava por cima daquela camada de gelo, em seguida enfrentava a neve quase
na cintura, sobe morro, desce morro, até chegar ao local previsto.
Aproximamo-nos, cercamos a casa... isso demorou horas, com um frio danado;
(preciso entrar na casa, cabe a mim fazê-lo, como especialista nessas coisas).
Inicialmente pensei que houvesse alguma coisa estranha, segurei a porta, abri,
nada...então, ótimo! Entrei com a metralhadora e notei um casal com duas
filhas, bem à frente, perto da mesa. Apontei a metralhadora para eles e disse:
“Onde é que está o alemão?” Ele respondeu: “Aqui não tem alemão.” Mandei
os soldados entrarem, a gente rodeou..., “nós não estamos aqui para prejudicar
ninguém, não queremos ferir ninguém, agora quero saber onde é que está o
alemão.” Aí, o dono da casa repetiu: “Não tem alemão”(em italiano); “tem, nós
recebemos informação de que tem alemão.” E acrescentei: “Então, faça o
seguinte: vamos correr os quatro [tudo isso?] andares da casa.” Aí, o bicho
frouxo que só ele mesmo mandou-me subir com a mulher; eu e os dois
soldados subimos, vasculhamos a casa, não encontramos realmente alemão.
Cheguei junto ao velho, novamente, e falei: “Onde é que está o alemão?”, ele
repetiu: “Não tem alemão”; aí, desembainhei a faca, pois a gente andava com
uma faca de trincheira, encostei-a no braço dele e disse: “Onde está o alemão?”
e ele, outra vez: “Não tem alemão”. Nisso, eu o furei! Quando ele viu o sangue
correr, disse mais uma vez: “Não tem alemão”; eu retruquei: “Tem não?”;
peguei a faca, botei no peito dele, em cima do coração e ameacei: “Se você não
disser, eu o mato; não dou tiro, senão o alemão ouve e descobre; mas eu o mato
aqui e agora”; e, quando apertei um pouco, ele viu que eu estava falando sério
e disse: subito. Subito quer dizer “perto”; então chamei: “Vamos comigo.” O
velho veio até a porta e saímos andando, nos aproximamos de uma
determinada posição, uma elevação e um pequeno canal lá em baixo; ao olhar,
vi uma árvore – disso nunca me esqueço – ao lado da árvore, um toco. Quando
a gente chegou e olhou, o coitado do italiano viu aquilo e deu um berro:
“sentinela tedesca”, “sentinela alemã”. Ao dizer isso, o toco – que era um
vigilante, um vigia que eu pensava ser um toco – virou-se para mim, eu estava
atrás dele. Acho que essa foi a minha salvação. Ele virou-se para mim e deu
um grito – não sei alemão – esse grito era raus! raus!, mais ou menos foi esse o
som que ele emitiu. Mas foi um grito bem forte; dizem que é “fora daí” num
tom bem agressivo. Empunho a metralhadora, aponto para ele (estava perto,
talvez uns 15 metros); quando puxo o gatilho, não funciona; pronto, a
metralhadora não funcionou; peguei uma granada de mão; quando fui botar o
dedo no aro para tirar o grampo, não entrava, porque a luva era grossa. Repare,
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MAXIMIANO. op.cit. pp. 283