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só na docência mesmo, fiz essa opção, e o que pesou foi o fato de ser mulher, estar
casada, querer ter família, ter tempo, e também fazer alguma coisa que eu gostasse.
Eu cheguei a ficar sete anos na indústria, entre o curso técnico e a engenharia. (P10).
Com relação à trajetória pré-profissional dos professores e suas influências na escolha
pelo ingresso no magistério, Tardif (2002, p. 75) identificou em suas pesquisas a “origem
infantil da paixão pelo ofício de professor”, e a origem familiar da escolha da carreira, em
sujeitos que provinham de famílias de professores ou para os quais a profissão é valorizada no
seu meio social. Esse autor citando Lortie (1975) associa o fato aos efeitos de socialização por
antecipação, no ofício de professor, induzidos pela observação do habitus familiar ou de um
dos pais concentrado em tarefas ligadas ao ensino.
As influências de professores significativos aparecem também relacionadas às
habilidades pessoais, como gostar de estudar, gostar de Física, gostar de Matemática, como
mostram os relatos:
Eu sempre gostei muito de matemática e sempre gostei de estudar, desde o curso
técnico. Tive excelentes professores de matemática, que dominavam bem o
conteúdo. Quando fiz a graduação eu já trabalhava na área técnica, numa empresa de
engenharia, mas eu gostava muito desse ambiente aqui de universidade, então,
quando estava mais no final do curso, eu me candidatei a uma vaga de monitoria e
deixei o meu emprego para ser monitora. A partir dessa experiência eu tive a certeza
que eu queria era ser professora. (P1).
Eu escolhi bem a profissão e desde o ensino médio eu fui incentivado para o
magistério pelos meus professores por sem bom orador. Eles sempre me chamavam
para falar para a turma e eu gostava daquilo. Aqui na engenharia eu participei
bastante da vida acadêmica, fui monitor em algumas disciplinas. Quando eu estava
me formando em engenharia, eu fiz estágio e trabalhei na indústria. Não gostei
daquele ambiente, das relações entre as pessoas, da competição e de trabalhar sob
pressão. Eu não gosto de trabalhar sob pressão. Então terminei a graduação e fui
direto para o mestrado. Eu queria um tipo de atividade onde eu me sentisse melhor,
e eu percebi que como professor eu teria mais tempo para estudar, preparar minhas
aulas com antecedência, ler, me atualizar, consultar livros. Para mim é uma
atividade intelectual, por ser na área de engenharia, muito rica e muito dentro do
meu temperamento, de preparar melhor o trabalho, estar com documentação,
referências, bem fundamentado, sabe, esse tipo de coisa. (P2).
Na graduação eu participei de muitas atividades acadêmicas, a monitoria, estágios, e
nessa vivência eu fui percebendo que em termos de ambiente de trabalho a escola
era a melhor opção. Eu percebi que tinha mais afinidade era com a docência.
Cheguei a trabalhar um ano e meio numa empresa, na área de projetos, mas era
muita pressão e depois foi ficando meio rotina. Então eu vi que o que eu mais
gostaria era atuar na docência. Terminei a graduação e fui logo fazer mestrado e ao
final do mestrado eu ingressei no magistério. Acho que aqui na Universidade a gente
tem cobrança também, é claro, mas a gente tem um pouco mais de autonomia, de
flexibilidade. (P8).
No ensino médio eu tive um professor de fisica fantástico, uma referência
interessante. Ele sabia muito de física e tinha uma boa didática. Criava situações,
construía uns equipamentos para as aulas de laboratório e eu me interessei demais
por física e queria ser professor de física, mas meu pai queria que eu fosse