RESUMO
CIPRIANO, Fabiana Gonçalves. Relação entre distúrbio de voz e trabalho em um
grupo de Agentes Comunitários de Saúde do município de São Paulo. [Dissertação
de Mestrado]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.
INTRODUÇÃO: O adoecimento vocal tem levado diversas categorias profissionais a
situações de afastamento e incapacidade para o trabalho, o que implica em custos
financeiros, pessoais e sociais. Os trabalhadores destacados para esta pesquisa foram os
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), uma vez que sua atividade laboral apresenta
particularidades que os tornam mais suscetíveis ao comprometimento do bem-estar vocal.
Parte-se da hipótese de que há associação entre o desenvolvimento do distúrbio de voz,
no ACS, e as adversidades presentes no ambiente e na organização do seu trabalho.
OBJETIVO: Analisar a relação entre distúrbio de voz e trabalho, em um grupo de ACS.
MÉTODOS: Participaram desta pesquisa 65 ACS atuantes na região Leste do município
de São Paulo. Como instrumento para a coleta de dados, elegeu-se a adaptação do
questionário Condições de Produção Vocal – Professor (CPV-P), que contou com 40
questões, divididas em quatro partes, a saber: Identificação da Unidade Básica de Saúde
(questões 1 a 4); Identificação do Entrevistado (questões 5 a 9); Situação Funcional
(questões 10 a 38) e Aspectos Vocais (questões 39 e 40). Os resultados foram
duplamente digitados, e submetidos à análise estatística (teste paramétrico Qui-quadrado)
para verificar: a frequência autorreferida de distúrbio de voz, no presente e/ou no
passado; a frequência de sintomas vocais atuais; a associação entre os três sintomas
vocais atuais mais citados e os aspectos do ambiente e da organização do trabalho.
Foram considerados significativos os valores de p com nível ≤ 5% (0,050). O programa
estatístico utilizado foi o Stata 8.0. RESULTADOS: Dos 65 (100%) ACS pesquisados, 37
(56,9%) autorreferiram apresentar, no presente e/ou no passado, distúrbio de voz. Os
sintomas vocais atuais mais citados foram: garganta seca (40 – 61,5%), cansaço ao falar
(35 – 53,9%) e ardor na garganta (33 – 50,8%). Houve associação significativa entre:
levar trabalho para casa, roubo de objetos pessoais, intervenção da polícia, violência
contra os funcionários e o sintoma vocal garganta seca (p=0,012, p=0,021, p=0,027 e
p=0,033, respectivamente); não ter tempo para desenvolver todas as atividades, levar
trabalho para casa, dificuldade para sair do trabalho, móveis inadequados, esforço físico
intenso, roubo de material da UBS, manifestação de racismo e o sintoma vocal cansaço
ao falar (p=0,023, p=0,043, p=0,019, p=0,040 e p=0,023, respectivamente); poeira,
insatisfação no trabalho, estresse no trabalho, depredações, problemas com drogas e o
sintoma vocal ardor na garganta (p=0,001, p=0,014, p=0,018, p=0,018 e p=0,011,
respectivamente). CONCLUSÕES: Com base nos resultados obtidos, a hipótese inicial de
associação entre o desenvolvimento do distúrbio de voz entre os pesquisados e as
adversidades presentes no ambiente e na organização do seu trabalho foi confirmada.
Assim, acredita-se que estes achados possam contribuir para que o fonoaudiólogo amplie
o seu conhecimento acerca do processo de trabalho dos ACS, além de fornecer subsídios
importantes para o planejamento de ações voltadas ao bem-estar vocal desta população.
Palavras-chave: Distúrbios da Voz; Fatores de Risco; Saúde do Trabalhador; Programa
Saúde da Família.