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Mestrado em Educação – Campus Centro I
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1
ADRIANA TOMAZ
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DISCENTES DO CURSO DE
PEDAGOGIA A RESPEITO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE
ALUNOS
Dissertação apresentada à Universidade
Estácio de como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em
Educação.
Orientadora Profª. Dr. Rita de
Cássia Pereira Lima.
Rio de Janeiro
Janeiro/ 2010
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2
ADRIANA TOMAZ
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DISCENTES DO CURSO DE
PEDAGOGIA A RESPEITO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE
ALUNOS
Dissertação apresentada à Universidade
Estácio de como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Educação.
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Profª. Drª. Rita de Cássia Pereira Lima
Universidade Estácio de Sá
_________________________________________
Profª. Drª. Helenice Maia Gonçalves
Universidade Estácio de Sá
__________________________________________
Profª. Drª. Ligia Gomes Elliot
Fundação Cesgranrio
3
Em primeiro lugar dedico este trabalho
àquele a quem eu considero o maior sábio
de todos os tempos: Jesus Cristo.
Posteriormente a todos que, direta ou
indiretamente, serviram como modelo de
pesquisadores e profissionais nos quais
eu tive a oportunidade de compartilhar em
minha vida profissional, e que, portanto,
colaboraram para a realização desta
pesquisa.
Quero fazer um agradecimento muito
especial ao meu esposo, Marco Aurélio
Tomaz, que de maneira espontânea
supriu minha ausência na formação dos
nossos filhos João Pedro e Marco durante
o meu período de intensa dedicação
acadêmica.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, que esteve comigo durante a realização deste trabalho, ajudando-me a
vencer obstáculos e me guiando pelo caminho em que devia seguir.
Em especial à minha orientadora, professora doutora Rita de Cássia Pereira Lima,
por me aceitar como orientanda e me apresentar Moscovici. Aprendi muito com sua
simplicidade e conhecimento.
À professora doutora Helenice Maia, que, com o seu jeitinho especial, sempre
contribuía de maneira substancial com suas colocações, mesmo nos momentos de
descontração.
À professora doutora Ligia Elliot, por sua generosidade em fazer parte da banca.
À doutora Claudia Cristina pelo acolhimento durante a pesquisa de campo na
universidade pesquisada.
À professora doutora Alda Judith Alves-Mazzotti, por ampliar meu horizonte
intelectual e me fazer navegar por mares desconhecidos.
Ao doutor Tarso Mazzotti, que, de maneira tão solícita fez algumas intervenções
fundamentais.
À mestra Márcia Gentile, pela disponibilidade em ajudar nos momentos mais críticos.
Às secretárias do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Estácio de e a todos os sujeitos da pesquisa, sem os quais não seria possível
encontrar os resultados obtidos.
À Euricélia, Carla Motta, Dulce Alba e Lilian Guimarães, pelos incentivos e
contribuições, mesmo quando não havia suficiente intimidade.
Ao meu esposo Marco, que sempre me apoiou com incentivos e contribuições.
Aos meus filhos, Marco [12], que me acompanhou durante a minha pesquisa de
campo, e João Pedro [5], por ter suportado minhas ausências.
5
Depois de algum tempo você [...]
Aprende que tempo é algo que não pode voltar para trás,
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma,
Ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte,
E que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que a vida realmente tem valor. E que você tem valor diante da vida.
E você finalmente aprende que nossas dúvidas são traidoras
E nos faz perder o bem que poderíamos conquistar,
Se não fosse o medo de tentar...
William Shakespeare
6
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo investigar as representações sociais de discentes
do curso de Pedagogia a respeito da avaliação da aprendizagem dos alunos dos
anos iniciais do ensino fundamental. Baseou-se em estudos sobre avaliação da
aprendizagem escolar e fundamentou-se na teoria moscoviciana das representações
sociais. A pesquisa, de abordagem qualitativa, foi realizada com doze alunas do
último ano. Primeiramente as participantes preencheram um formulário para
caracterização de perfil sócio-profissional. Em seguida optou-se pela técnica do
Grupo Focal (GF), adequada porque possibilita a obtenção de dados qualitativos
sobre opiniões, atitudes e valores relacionados a um tema específico. Foram
formados o GF1, com sete alunas atuantes em sala de aula, e o GF2, com cinco
que atuavam somente por meio dos estágios. O material foi submetido à análise de
conteúdo temática e os resultados analisados à luz da teoria moscoviciana das
representações sociais, com opção pela abordagem processual. No GF1, o núcleo
figurativo da representação mostra a Postura do Avaliador” (avaliação do
comportamento, do saber prático, pautada nas exigências da família e baseada no
afeto) e no GF2 o “Rótulo (bagagem que o aluno traz consigo: avaliação do
comportamento, do saber prático, que pode se traduzir em etiqueta de mercadoria).
Entre as alunas que compõem o grupo de docentes sem prática em avaliação
aparece a dissociação do conceito "avaliação" em injusto e justo, a avaliação
tradicional sendo considerada injusta e a progressiva justa. Para as que já atuam em
sala de aula ficou explícito que os aspectos qualitativos são ancorados no afeto.
Neste caso menção ao tulo, cujo sentido revela que os alunos que não obtêm
sucesso com as notas são rotulados e tendem a fracassar. Por isso, ao avaliá-los,
as participantes consideram que é preciso valorizar a bagagem que eles têm e
também levar em conta suas carências pessoais. Nos dois grupos o que prevalece é
a valorização do afeto sendo menos considerado o conhecimento adquirido pelos
alunos. Com base nesses resultados propõe-se que a dicotomia avaliação
qualitativa versus avaliação quantitativa seja mais discutida na formação, sobretudo
porque a prática da avaliação escolar é contínua, passando por avaliações de
grande escala, pouco esclarecida para os participantes dos dois GF. O estudo
sugere também a inserção de uma disciplina específica sobre avaliação na grade
curricular do curso. Em seu conjunto, o trabalho incita reflexões sobre o lugar da
avaliação no currículo de Pedagogia, ampliando-se para a formação docente de
maneira mais ampla.
Palavras-chave: avaliação da aprendizagem do aluno; representação social;
Pedagogia.
7
ABSTRACT
The qualitative aspects are rooted in affection. In this case there is mention of the
label, whose sense shows that students who are unsuccessful with grades are
labeled and tend to fail. Accordingly, to evaluate them the participants regard
necessary to valorize the failing students’ own experience and also take into
consideration thei This work aims to investigate the social representations of
students of the course of pedagogy regarding the evaluation of students from the first
segment of elementary school. The bases of work were some studies on evaluation
of school education and the Moscovician theory of social representations. The
research, of qualitative approach, was conducted with twelve last-year students. First
the participants were asked to fill out a form for characterization of a social and
professional profile. Then we opted for the technique of focal group (GF), regarded
appropriate for allowing the obtaining of qualitative data on opinions, attitudes and
values related to a specific theme. Two groups were formed: the FG1, with seven
students with experience in work in classroom, and FG2, with five students under
internships. The material was submitted to thematic analysis of content and the
results were analyzed in the light of the Moscovician theory of social representations,
with an option for procedural approach. In the FG1 the figurative nucleus of the
representation shows the "Posture of the Evaluator" (evaluation of behavior and
practical knowledge, based on the demands of family and on affection). The FG2
shows the "label" (student’s own experience: evaluation of behavior, of practical
knowledge, which can be translated into label of goods). Among the students who
comprise the group of teachers with no practice in evaluation, the concept evaluation
is split into fair and unfair, being fair related to the progressive evaluation and unfair
to traditional one. For those with experience in classroom there is no room to doubts
that r personal needs. In both groups the appreciation of affection prevails against
the knowledge itself acquired by students. Based on these results it is proposed that
the dichotomy qualitative versus quantitative evaluation be discussed during the
period of formation, especially because the educational evaluation is constant –
sometimes a large-scale assessments –, and scarcely known to the participants of
the two FG. The study also suggests the inclusion of a specific subject on evaluation
in the transcript of the course. Taken together, the work encourages reflection on the
place of evaluation in the transcript of the pedagogy course, more broadly extensive
to the formation of teacher.
Keywords: Evaluation of student learning, Social Representation; Pedagogy.
8
LISTA DE TABELAS, QUADROS E ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 Estrutura Curricular do Curso de Pedagogia dos sujeitos da pesquisa,
p. 40
Quadro 2 Avaliação da aprendizagem do aluno na visão das pedagogas do
último período - Dissociação da noção "avaliação" em injusta e justa segundo
Chaim Perelman, p. 83
Tabela 1 Grupo Focal 1: Alunos do último período do Curso de Pedagogia sem
experiência no Magistério, p. 46
Tabela 2 Grupo Focal 2: Alunos do último período do Curso de Pedagogia com
experiência no Magistério, p. 47
Tabela 3 Análise Temática: Definição de Avaliação Avaliação do aluno (N=
Ocorrências) Grupo 1, p. 50
Tabela 4 Análise Temática: Avaliação da aprendizagem (N = Ocorrências) Grupo
1, p. 52
Tabela 5 – Análise Temática: Tipos de Avaliação (N= Ocorrências) Grupo Focal 1, p.
59
Tabela 6 Análise Temática: Definição de Avaliação Avaliação do aluno (N=
Ocorrências) Grupo 2, p. 67
Tabela 7 – Análise Temática: Tipos de avaliação (N= Ocorrências) Grupo 2, p. 70
Tabela 8 – Análise Temática: Formação (N= Ocorrências) Grupo 2, p. 73
Figura 1 Núcleo ou Esquema Figurativo da Representação Social das futuras
pedagogas sobre avaliação (Grupo Focal 1), p. 82
Figura 2 Núcleo figurativo da representação social das alunas sobre avaliação da
aprendizagem (Grupo Focal 2), p. 84
9
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPES: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior
Cf.:Conferir
DC: Diretrizes Curriculares
E.F.I: Ensino Fundamental I
E.F.II: Ensino Fundamental II
E.M.: Ensino Médio
E.M.Inc.: Ensino Médio Incompleto
E.S.: Ensino Superior
E.S.Inc.: Ensino Superior Incompleto
Educ.Inf.: Educação Infantil
ENC: Exame Nacional de Cursos
ENEM: Exame Nacional de Ensino Médio
GF: Grupo Focal
IDEB: Índice de desenvolvimento da Educação Básica
INEP: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
LDB: Lei de Diretrizes e Bases
M.: Moderadora
MEC: Ministério da Educação
OCDE: Organização para cooperação e o Desenvolvimento Econômico
ONGS: Organizações não Governamentais
PDE: Plano de desenvolvimento da Educação
PISA: Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
S.: Sujeito
S.E.: Sem escolaridade
SAEB: Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico
SME: Secretaria Municipal de Educação
TRS: Teoria das Representações Sociais
UNESCO: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................. 12
1
SITUANDO A AVALIAÇÃO..........................................................
19
1.1
A AVALIAÇÃO NO BRASIL.......................................................... 22
1.2
AVALIAÇÃO: UM ATO DE AMOR?.............................................. 27
2
APRESENTANDO A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS........................................................................................
30
3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................... 37
3.1
O CONTATO COM OS SUJEITOS............................................... 38
3.2
ANÁLISE DE DADOS................................................................... 38
3.3
O CAMPO DA PESQUISA............................................................ 39
4
A OPÇÃO PELO GRUPO FOCAL............................................... 43
4.1
A COMPOSIÇÃO DO GRUPO......................................................
44
4.2
A PARTE TÉCNICA DA FORMAÇÃO DO GRUPO...................... 45
5
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DISCENTES DE
PEDAGOGIA SOBRE AVALIAÇÃO: RESULTADOS
OBTIDOS...................................................................................... 49
5.1
RELATO DO GRUPO 1 ............................................................... 49
5.1.1
Análise Temática: Definição de Avaliação – Avaliação do
aluno............................................................................................. 50
5.1.2
Análise Temática: Avaliação da aprendizagem.......................
52
5.1.3
Análise Temática: Tipos de Avaliação .................................... 59
5.2
RELATO DO GRUPO 2................................................................ 67
11
5.2.1
Análise Temática: Definição de Avaliação ...............................
67
5.2.2
Análise Temática: Tipos de avaliação (N= Ocorrências)
Grupo 2.........................................................................................
70
5.2.3
Análise Temática: Formação (N= Ocorrências) Grupo 2.........
73
5.3
POSSÍVEIS PISTAS DA ARTICULAÇÃO DOS DOIS GRUPOS..
79
6
APROXIMAÇÕES DOS PROCESSOS DE OBJETIVAÇÃO E
ANCORAGEM...............................................................................
82
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................
89
APÊNDICES................................................................................. 97
ANEXOS....................................................................................... 101
12
INTRODUÇÃO
A avaliação pode ser vista como uma permanente reflexão sobre as
atividades humanas e, por conseguinte, constitui-se como um processo intencional e
interdisciplinar. Avaliar pode mesmo ser pensado como sinônimo de reflexão
(GADOTTI, 1987). Todo o fazer pode ser objeto do pensar; assim, qualquer
atividade pode ser avaliada, por outro lado, refletir sobre a avaliação, sendo ela
mesma um processo de reflexão, é uma postura política. A avaliação pode ser um
exercício autoritário do poder de julgar ou, ao contrário, pode constituir-se como um
projeto processo em que o próprio avaliador procura e sofre uma mudança
qualitativa (GADOTTI, 1995). A avaliação, como prática social dentro do contexto
pedagógico, na maioria das vezes, é discutida em termos do “como” avaliar e pouco
se discute do “por quê” e “quem” avaliar.
VIANNA (2002) destaca a avaliação formativa sendo uma avaliação
continuada do processo de aquisição de conhecimento que acontece no dia-a-dia,
envolvendo a interação constante entre professor e aluno, para que o desempenho
escolar seja orientado no sentido da realização de objetivos claros e sequenciados.
A avaliação é um processo que aplicamos em nosso cotidiano. Na escola, a
avaliação da aprendizagem dos alunos tem sido objeto de preocupações, reflexões
e questionamentos. O termo avaliação apresenta inúmeras definições. Ristoff
(2002) fez nos últimos 30 anos um levantamento de definições de avaliação e
percebeu alteração de acordo com o momento histórico em que se ia constituindo.
Os chineses praticavam uma seleção de indivíduos para a guarda dos
mandarins. Os gregos utilizavam a avaliação com caráter público, para selecionar
os indivíduos para o serviço público ateniense. Com a institucionalização da
educação, a educação formal e as escolas, a partir do culo XIII, a avaliação
começa a ser mais estruturada e constante, assumindo um caráter público. Para
tanto, precisava ter objetividade e transparência, passando a ser feita através de
testes escritos. Na Idade Média as avaliações eram feitas somente de forma oral.
A noção de seleção e de organização social foi se fortalecendo,
principalmente na França. A proliferação de exames no campo da avaliação
alcançou tal importância que se criou uma área de estudos: a docimologia
1
. A
1
Estudos que reafirmam uma concepção racionalista e empirista de avaliação. Os estudos
docimológicos são em geral associados ao paradigma da razão (VIAL, 2001, p.41)
13
expressão avaliação educacional aparece pela primeira vez com Tyler em 1939,
com a proposta de cumprir os objetivos com base na concepção positivista da
época. Tyler buscou conceituar a avaliação como uma prática que propunha
diagnosticar como estava a aprendizagem dos alunos, visando tornar eficaz esta
aprendizagem.
No século XX, no Brasil, observa-se que diversas concepções de avaliação
surgiram associadas a iniciativas governamentais. Em 1938 é criado o Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos e Pesquisas Educacionais (INEP), quando
começa a ser desenvolvida no país a idéia da avaliação sob a ótica da medida
educacional, com destaque para testes com finalidade de medir as capacidades
individuais dos alunos (LIMA, 1997).
Com este enfoque, percebe-se que nossa forma de avaliação foi influenciada
por pressupostos norte-americanos, na sua estrutura de testes e também na
ampliação da variedade de instrumentos e procedimentos preconizados por Tyler
(1979) para colher evidências sobre o rendimento dos alunos. Esta proposta passou
a ser difundida no Brasil, principalmente, a partir da década de 40 do século
passado e está arraigada até hoje na forma de procedimentos avaliativos. Pode-se
considerar um avanço no contexto da avaliação escolar o uso de procedimentos
mais abrangentes e, para contextualizar esse avanço, houve a mudança dos termos
“provas” e “exames” para “avaliação”.
A escola pública trabalhava com conceitos segundo o Decreto 30426 que
substituíam números, que no fim do ano letivo de 2007 foram convertidos em notas.
Em outras palavras, podemos dizer que os conceitos só serviam para escamotear as
notas. A escola poderia continuar avaliando através dos conceitos na medida em
que eles fossem utilizados e interpretados.(LUCKESI, 1995, pág. 78). As notas
foram inseridas para revelar a qualidade do ensino.
Em 1988, a avaliação passa a ser novamente objeto de atenção quando a
nova Constituição aborda o tema no artigo 206, ao se referir à “garantia de padrão
de qualidade” como um dos princípios básicos de ensino no país (BRASIL, 1988).
Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (BRASIL, 1996)
a avaliação aparece associada à verificação do conhecimento escolar. Esta lei
propõe “que os docentes zelem pela aprendizagem dos alunos e estabeleçam
estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento” (Artigo 13, III e IV).
Entre as regras comuns para educação básica, a lei diz que a verificação do
14
rendimento escolar deverá observar a avaliação contínua e cumulativa do
desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos, além de maior valorização dos resultados ao longo do período “sobre
os de eventuais provas finais” (Artigo 24, V). A LDB determina também que as
escolas façam uma recuperação durante todo ano letivo. (BRASIL, 1996).
O contexto descrito mostra que as discussões sobre avaliação escolar no país
parecem enfatizar ora a “medida”, ora uma abordagem mais qualitativa que envolve
o acompanhamento do aluno em sua aprendizagem. Um debate constante entre
diversos autores que abordam o tema Cool, Barberá e Onrubial (1999), Gaddoti
(1997), Guba e Lincoln (1981), Hadji (2001), Hoffman (1997), Luckesi (1995), Tyler
(1979) refere-se à dicotomia entre processo de aprendizagem e avaliação da
aprendizagem. A avaliação, tal como concebida na maioria das escolas brasileiras,
tem se constituído no principal mecanismo de sustentação da lógica de organização
do trabalho escolar e, portanto, legitimador do insucesso dos alunos na escola.
Medeiros (1983, p.6) afirma que “os resultados da medida são números
impessoais (...) que não envolvem a apreciação de justiça, moral ou importância (...)
o resultado da avaliação implica apreciações pessoais que dependem da escala
de valores de cada pessoa”. Portanto, avaliar não se resume à mecânica do
conceito formal e estatístico; não é somente atribuir notas, para que o aluno possa
avançar ou ser retido. A avaliação da aprendizagem deve possibilitar a tomada de
decisão e a melhoria da qualidade do ensino, informando as ações em
desenvolvimento e a necessidade de regulações constantes.
Ainda neste tema, Sousa (1993, p.45) nos convida a caminhar para a
“superação dos delineamentos norte-americanos que vêm direcionando os estudos
avaliativos, que não tenha como referência apenas as questões cnicas da
avaliação, mas que se volte para a reflexão da intencionalidade subjacente ao
processo pedagógico”.
Nos últimos anos, observamos que autores como Luckesi (1995) e Hoffmann
(1997) vêm defendendo um redirecionamento de uma proposta de avaliação da
aprendizagem que se volte para reflexão e a valorização do processo do
conhecimento, com ênfase também na avaliação qualitativa.
Hoffmann (1997) e Luckesi (1995) defendem uma posição dialógica e
mediadora da avaliação, direcionada para o processo. Para Hoffmann (1997, p.42),
a avaliação da aprendizagem “deverá encaminhar-se a um processo dialógico e
15
cooperativo através do qual educando e educadores aprendem sobre si mesmos no
ato próprio da avaliação”. Para a autora, na proposta de avaliação mediadora o
processo é de crescimento e evolução do conhecimento do aluno. A nota é subjetiva
e sem significado real.
Não como negar que essas discussões sobre avaliação envolvem a
formação docente. Os indicadores de qualidade de formação não podem ser
estabelecidos intuitivamente, mas sim a partir do conhecimento amplo e exaustivo
das atividades de formação de professores, do seu funcionamento e dos seus
resultados. Neste sentido, a avaliação deve cumprir a função de identificar que
modelos e estratégias de ensino causam maior impacto nos diferentes níveis a
estudar: intervenientes, metodologias, instituições. A avaliação também deveria ser
entendida na sua perspectiva formativa, respondendo à necessidade de melhorar os
programas e atividades de formação durante o seu próprio processo de realização.
A avaliação torna-se assim necessária como elemento de feedback para o sistema
de formação, segundo (SOUSA,1993).
De acordo com Worthen et al (2004), a avaliação também responde à
necessidade que a Administração Educativa tem, tal como as diferentes instâncias
que desenvolvem a política de formação, de analisar os programas de formação em
função do custo benéfico que obtém. Quando se fala de custos, não se refere
exclusivamente a custos econômicos. Existem outros custos que devem ser levados
em conta: pessoais, tempo, esforço, espaços, etc.
Mendes (2006), em sua pesquisa de doutorado: “Formação de professores e
avaliação educacional: o que aprendem os estudantes das licenciaturas durante sua
formação”, procurou identificar, compreender e explicitar as conexões entre o fazer
cotidiano do trabalho pedagógico, no que se refere à avaliação, e o processo de
formação de professores, a partir de sua realidade político-social, histórica e
educacional. A análise dos dados evidenciou que as aprendizagens dos estudantes
estão circunscritas a uma perspectiva técnica de avaliação, centrada em
instrumentos como provas, trabalhos e seminários, o que revela uma concepção de
avaliação como mera verificação da aprendizagem. A dimensão sociológica da
avaliação o está presente nas respostas dos estudantes e coordenadores dos
cursos, de modo que a maioria dos futuros professores deixa de discutir as ltiplas
funções que pode assumir a avaliação como mecanismo de controle e de exclusão.
16
Os dados também revelaram que a perspectiva crítica de avaliação aparece
raramente nas discussões e nas práticas dos cursos e das disciplinas.
Pensar a temática avaliação no âmbito da formação de professores pode ser
uma das alternativas, na área da Educação, para se obter a esperada qualidade da
escola brasileira. Portanto, pode-se destacar a importância de se discutir avaliação
nos cursos de formação de professores, especialmente na Pedagogia. As novas
Diretrizes Curriculares (DC) para o curso de Pedagogia (BRASIL, 2005) também
fazem menção ao tema ao proporem:
[...] formação inicial para o exercício da docência na educação infantil
e nos anos iniciais do ensino fundamental; aos cursos de ensino
médio de modalidade normal e em cursos de educação profissional;
na área de serviços de apoio escolar; em outras áreas nas quais
sejam previstos conhecimentos pedagógicos. A formação assim
definida abrangerá integradamente a docência, a participação da
gestão e a avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, a
elaboração, e a execução, o acompanhamento de programas e as
atividades educativas [...] (BRASIL, 2005, p.6).
Na maioria dos currículos deste curso está previsto o ensino da avaliação, em
geral enfatizando atender as demandas atuais da escola. Percebemos, neste
contexto, uma maior aceitação da avaliação da aprendizagem na perspectiva
dialógica e mediadora (HOFFMAN, 1997; LUCKESI, 1995), direcionada para o
processo de ensino e aprendizagem. Supomos que esta tendência pode acentuar
controvérsias em torno da formação oferecida pelo curso de Pedagogia, o que
merece mais pesquisas sobre o tema.
Acredita-se que compreender as representações sociais de estudantes de
Pedagogia sobre avaliação da aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental
poderia contribui para as reflexões que vêm sendo propostas pela área. Nesse
sentido, a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici (1961) é
considerada pertinente para estudar o tema. De acordo com o autor, “a
representação social pode ser compreendida como uma modalidade de
conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos” (MOSCOVICI, 1978).
É importante também ressaltar que esta teoria vem sendo cada vez mais
utilizada no campo da Educação. Como afirma Madeira (2001, p.123):
17
A consideração das representações sociais vem se revelando e as
publicações e pesquisas recentes o demonstram, como um caminho
promissor para análise de questões educacionais, já tão debatidas às
vezes e, no entanto com respostas às vezes insuficientes ou
insatisfatórias. Isto porque o estudo da representação social permite
ao pesquisador aproximar-se do objeto-definido, considerando-o no
próprio dinamismo que o gera, articulando dimensões e níveis
tradicionalmente tomados de forma isolada ou dicotômica.
(MADEIRA, 2001, p.123)
Ainda no âmbito desta opção teórico-metodológica seria conveniente
mencionar que no Banco de Teses de Dissertações da CAPES foram encontradas
duas dissertações sobre representações sociais de professores a respeito de
avaliação, porém não especificamente com estudantes de Pedagogia: “Avaliação
escolar, ameaça ou proteção? Esboço de análise psicossocial” (ALVES, 2008) e
“Representações Sociais de professores de ensino fundamental sobre avaliação”
(SILVA; LIMA, 2007).
Assim justifica-se investigar as representações sociais que futuros pedagogos
constroem sobre avaliação da aprendizagem dos alunos. Reconhece-se a
importância deste tema na formação destes alunos, principalmente no que se refere
aos do último período, tanto aqueles que atuam em escolas e conseqüentemente
possuem uma prática de avaliação, quanto os que ainda estão se formando para
atuar como futuros avaliadores.
Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo geral investigar as
representações sociais dos discentes do último período do curso de Pedagogia
sobre avaliação da aprendizagem de alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental. Como objetivos específicos foram propostos:
Investigar se diferenças nas representações sociais sobre avaliação
entre alunos que já atuam como professores e aqueles que ainda atuarão;
Investigar se, para os alunos, o curso contribuiu para que eles possam
avaliar os alunos e o que faltaria nesta formação;
Verificar, nas ementas das disciplinas relacionadas à avaliação escolar,
quais são os autores estudados no curso de Pedagogia.
Este estudo sobre as representações sociais de discentes sobre avaliação
poderá contribuir para a formação dos futuros professores e sua atuação em sala de
aula diante do ato de avaliar, que sairão habilitados para atuar como profissionais
18
de educação. Para os docentes que estão atuando, é uma oportunidade de refletir
sobre suas práticas avaliativas, geralmente associadas a certas tendências
pedagógicas.
Investigar as representações sociais construídas por alunos do último período
da graduação em Pedagogia sobre avaliação possibilitará perceber suas
experiências, atitudes, crenças, pensamentos, tal como são expressas por eles
mesmos, o que poderá contribuir para refletirmos sobre o objeto pesquisado
“avaliação da aprendizagem dos alunos nos anos iniciais”.
19
1 SITUANDO A AVALIAÇÃO
No Brasil, as discussões sobre avaliação aplicada à educação surgiram
principalmente com Tyler (1979), assim considerado como o pai da avaliação
educacional.
Segundo Guba e Lincoln (apud SIMÕES, 2000) a evolução do conceito de
avaliação pode ser descrita em quatro gerações. A primeira: como medida, que deu
origem à docimologia (estudos científicos dos procedimentos de exame e avaliação),
com o objetivo de aperfeiçoar os exames.
A segunda: é uma avaliação descritiva,
(buscando identificar as necessidades educacionais e posteriormente elaborar a
avaliação visando um aperfeiçoamento do processo educativo).
A terceira: é
centrada em um processo de juízo. O avaliador que é considerado um especialista
faz avaliação de forma correta e confiável, mas os critérios não são estabelecidos.
A
quarta: coloca que a avaliação é uma atividade subjetiva, que não é somente medir
e atribuir um valor, por conta da sua complexidade envolvendo problemas técnicos e
éticos. As três primeiras concepções de avaliação encontram-se no paradigma
Positivista e a quarta no paradigma Construtivista.
Reforçando esta ideia, Hadji (1994, p. 185) afirma que podemos avaliar
segundo três perspectivas:
Confrontar, relacionar: confrontar dados de fato (uma realidade) e
dados que são da ordem do ideal, do dever-ser (um projeto, uma
intenção); relacionar um referido com um referente. Apreciar, julgar:
apreciar uma realidade à luz de uma intenção ou de um projeto;
apreciar o ser à luz de um dever-ser; dizer o valor de uma realidade
em referência a uma exigência particular. Produzir informação
esclarecedora: recolher e comunicar informação útil para (...);
esforçar-nos para saber onde estamos para melhor nos
encaminharmos para onde queremos ir.
De acordo com Sousa (1993)
A avaliação escolar é, antes de tudo, um processo que tem como
objetivo permitir ao professor e à escola acompanhar o desempenho
do aluno e como tal, não deve ser pontual, eventual e realizada
somente no final de um período escolar. Como processo, ela deve
permitir acompanhar o aluno no seu cotidiano na escola,
identificando seus progressos e retrocessos, suas dificuldades e
facilidades.
20
Nesta perspectiva a avaliação o norte para a prática do professor,
redirecionar o trabalho pedagógico. A avaliação é diagnóstica: dos processos de
aprendizagem que o aluno está percorrendo; dos procedimentos e estratégias
apresentadas pelos professores; e dos resultados que estão sendo obtidos pelo
aluno em classe e na escola.
No âmbito escolar a avaliação é uma prática fundamental, porém muito ainda
que se discutir sobre qual seria a melhor forma de avaliação da aprendizagem.
Ainda em concordância com o pensamento de Sousa (1993), citamos a
pesquisadora Villas Boas (2004) que afirma que citamos a pesquisadora Villas Boas
(2004), que afirma ser uma das funções da avaliação é promover a aprendizagem
dos alunos, devendo ser praticada de maneira interativa pela comunidade escolar.
Avaliação escolar é um processo pelo qual se analisa o trabalho pedagógico
desenvolvido por toda a escola, a atuação de todos os que estão nele envolvidos e
as aprendizagens de alunos e educadores. (VILLAS BOAS, 2004).
A avaliação tornou-se assim pluralista em suas concepções, todos e
enfoques. Os objetivos, os métodos qualitativos passaram a ser incorporado à teoria
e à prática da avaliação, por meio de MacDonald, Guba, Parlett e Hamilton, Weiss e
Rein. “Com o tempo, os métodos qualitativos e quantitativos acabaram sendo
aceitos” (COOK; REICHARDT, 1995, p.26).
A avaliação é, portanto, heterogênea e não se limita ao âmbito da escola, da
sala de aula. Na verdade alcança a política e a economia em diversas culturas, com
plasticidade dentro de cada momento histórico. Faz-se então necessário estar
atento às avaliações em larga escala. Ao se fazer a análise de grandes avaliações
internacionais é preciso saber se identidades sociais, econômicas e culturais
entre as partes comparadas. É também pertinente considerar comparações feitas
entre as avaliações realizadas em diferentes países atendendo à diversidade social,
econômica e cultural. A vinculação desses impactos na educação e na avaliação às
condições do capitalismo criadas nos anos de 1990 pode ser entendida recorrendo-
se a Barbier (1993). Para o autor, uma complexa interação entre o campo da
produção dos meios de existência e o plano social, e entre o campo do trabalho ou
da produção de bens e serviços e o plano profissional, com reflexos no campo da
formação.
Segundo Roggero (2002), hoje é possível definir três grandes modelos de
avaliação: o inglês, o francês e o finlandês. Na Inglaterra, o Ministério da Educação
21
e do Emprego criou dois organismos encarregados de instaurar a avaliação: o
Office for Standards in Education, que tem a função de terceirizar e controlar a
inspeção dos estabelecimentos; e o Qualifications and Valuation Authority, que
elabora os programas nacionais e se encarrega da avaliação da aprendizagem dos
alunos e dos resultados nos exames e avaliações específicas em massa. Isso
ocorre para se esclarecer as escolhas dos pais e a ação educativa das
coletividades locais.
A Finlândia instaurou, a partir dos anos 90 do século passado, um sistema
de avaliação que dá importância à auto-avaliação e à multiplicidade dos níveis de
avaliação da escola. Desde 1993, o Conselho Nacional da Educação, Asetus
opetuskall-tuksesta, desenvolve a auto-avaliação dos estabelecimentos escolares
propondo uma reflexão de acordo com suas especificidades, que vão desde suas
responsabilidades financeiras até resultados escolares e culturais obtidos. No
objetivo essencial daquele Conselho uma referência significativa à igualdade
entre cidadãos, que se pode entender como um empenho para a redução das
desigualdades sociais no acesso ao saber.
Em 2006, a Finlândia alcançou o primeiro lugar no exame trienal PISA
(Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) da OECD (Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O estudo destaca as capacidades
de um conjunto de estudantes do ensino secundário com 15 anos de idade. Em
segundo lugar ficou Hong Kong (China) e em terceiro lugar o Canadá. Ao comentar
o exame “PISA”, o secretário-geral da OECD, Angel Gurría, afirmou que esta é uma
“ferramenta de auxílio para os governos quanto à escolha de políticas educacionais
e que o PISA é uma forma de apurar se os sistemas educacionais estão preparando
os jovens para um mundo de amanhã. Acima de tudo mostra aos países onde estão
suas forças e fraquezas”.
Na França, a avaliação do sistema educativo é feita pelo Ministério da
Educação Nacional que tem como objetivos: inspeções e administração da
educação nacional que assegura a avaliação profissional dos professores e das
formações, e também avalia os estabelecimentos escolares e funcionamento
administrativo do Ministério. A partir dos anos 70 com o papel da OCDE
2
no
2
Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
22
desenvolvimento da avaliação, essa Organização elaborou indicadores
3
internacionais para comparar o desempenho dos países que são membros. Desde
1988, cinco eixos foram definidos como prioritários: os resultados dos alunos; fluxo
dos alunos no sistema; os estabelecimentos e seus entorno; os custos do ensino e
as expectativas e atitudes em relação à educação.
Embora o enfoque dessa pesquisa seja como as discentes do último período
de Pedagogia representam a avaliação dos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental, é preciso abordar o que a avaliação internacional vem revelando
sobre o problema educacional brasileiro. Apesar da OCDE ter decidido avaliar
alunos de 15 anos, por ser nesta idade que grande parte deveria estar concluindo a
Educação obrigatória, cabe ressaltar que também necessidade de pensarmos
em uma visão de avaliação que desde o ano possa revelar os conhecimentos
adquiridos pelos alunos nos anos iniciais.
Em seguida abordaremos mais especificamente como tem sido proposta a
avaliação no Brasil a partir de sua origem e a avaliação como está sendo
contemplada hoje.
1.1 A AVALIAÇÃO NO BRASIL
No Brasil, a história da avaliação se inicia com a ão dos jesuítas. Ao
chegarem ao Brasil em 1549, fundam em Salvador a primeira escola elementar
brasileira e passam a aplicar o mesmo modelo de educação da Europa. As escolas
jesuíticas eram regulamentadas pelo Ratio atque Institutio Studiorum, documento
escrito por Inácio de Loiola, contendo as regras de funcionamento da administração
escolar que envolvia as formas de avaliação, assim como o comportamento de
alunos e de professores. Também previa o ensino da retórica, das humanidades e
da gramática inferior, dia e superior, devendo ser o ensino ministrado em latim.
Este modelo de educação funcionou no Brasil durante 210 anos, até a expulsão dos
jesuítas pelo Marquês de Pombal, pois ao governo interessava tornar laico o ensino,
a serviço dos interesses políticos da Coroa Portuguesa. Em 1938 é criado o Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), onde é desenvolvida a idéia da avaliação
3
Esses indicadores constam na obra Regards sur I`´Educacion, Lês indicateurs de IOCDE/
OCDE,1993
23
sob a ótica da medida educacional, com destaque para testes com a finalidade de
medir as capacidades individuais dos alunos (SOUZA, 1997).
A partir de 1945, tem início, na sociedade brasileira, um período de conflitos
sociais e educacionais que se prolongariam até os anos 60, com a população
questionando a estrutura social existente. Destacamos alguns autores brasileiros
que discutem avaliação, tais como André (1978), Saul (1999), e Franco (1979)
buscando uma abordagem qualitativa, e Vianna (1973) buscando uma abordagem
qualitativa — quantitativa.
Até o final da cada de 70 predominava a avaliação quantitativa
4
, embora
estivesse em vigor a introdução de conceitos letras que substituíam números,
desde 1973, em substituição às notas, por meio do parecer 1350, do Conselho
Federal de Educação (Parecer do RJ, 1973). A avaliação qualitativa começa a ser
discutida academicamente com Demo (1978), em uma prática de avaliação
emancipadora, onde se valorizam os critérios de representatividade, de
planejamento participativo e capacidade crítica. Em 1988, a avaliação passa a ser
novamente objeto de atenção, quando a nova Constituição aborda a questão da
avaliação no artigo 206, a “garantia de padrão de qualidade”, como um dos
princípios básicos de ensino no Brasil. Após quase 20 anos, o tema avaliação volta
a ser enfocado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96,
associada à verificação do conhecimento escolar.
Em 1996, a avaliação é mencionada na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB (BRASIL, 1996), também conhecida como Lei Darcy
Ribeiro que, propõe que os docentes zelem pela aprendizagem dos alunos e
estabeleça estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento (Artigo
13, III e IV).
Este contexto mostra o interesse que a avaliação escolar desperta no país,
tanto no plano educacional quanto político, o que pode ser visto nos trabalhos de
vários autores que abordam o tema, como: Bloom (1983), Depresbíteris (1989),
Ferreira (2004), Haydt (1995), Hoffmann (1997), Luckesi (1995), Rogers (1985),
Saul (1988), Sousa (1993), Tyler (1979).
4
Abordagem focada em resultados precisos, mediante aplicações de testes e provas, onde são
tiradas médias.
24
Desde a sistematização do processo de avaliação, as alterações na sua
dinâmica têm sido lentas apesar de diferentes propostas de incentivo do Ministério
da Educação. Perrenoud (2001) ênfase às diferentes competências dos alunos.
Segundo o autor, a avaliação da aprendizagem não se esgota em si mesma.
Avaliamos para intervir, para agir e corrigir os rumos de nosso trabalho. Essa idéia
nos aproxima do conceito de avaliação formativa. Para Perrenoud:
É formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se
desenvolver, ou melhor, que participa da regulação das
aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto
educativo. (2000, p.103)
Hoffmann (1997) vem se empenhando através de seus escritos no
redirecionamento de uma proposta de avaliação da aprendizagem que se volte para
a reflexão e a valorização do processo do conhecimento, com ênfase também na
avaliação qualitativa. Sabemos que há divergências nas diferentes concepções de
avaliação e que é necessário um consenso para que a avaliação possa
efetivamente cumprir o seu papel e servir como instrumento de verificação do
desempenho do aluno, do seu rendimento escolar.
Sousa (1991) explica que a avaliação educacional tem seu campo de
atuação delimitado pelo processo de planejamento, com a função principal de
melhorar as decisões sobre esse planejamento. Esses aspectos deveriam ser
considerados na avaliação do rendimento escolar, cuja função deveria estar dirigida
para o aperfeiçoamento das decisões referentes aos processos de ensino e de
aprendizagem. A autora considera a avaliação uma prática valiosa, quando utilizada
com o objetivo de fazer compreender o processo de aprendizagem adotado pelo
aluno.
Segundo Saul (1988), na escola a avaliação tem caráter público apontando
para diferentes vertentes tais como: o aproveitamento do aluno, o plano escolar, o
currículo, o desempenho do processo. Para a autora “a avaliação apresenta-se
como atividade associada à experiência cotidiana do ser humano. Freqüentemente
nos deparamos analisando e julgando a nossa atuação e a dos nossos
semelhantes. São avaliações assistemáticas” (ap. cit, p.25).
Luckesi (1995) apresenta uma conceituação que sustenta as idéias de Saul.
O autor busca uma construção teórica para expor o que denomina de “avaliação
25
diagnóstica”. Para ele, a avaliação é um juízo de qualidades sobre dados relevantes
que tem como objetivo uma tomada de decisão, defendendo
Uma avaliação que deverá ser assumida como estágio de
aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar
decisões suficientes e satisfatórias para que ele possa avançar no
seu processo de aprendizagem. Deste modo, a avaliação não seria
somente um instrumento para a aprovação ou reprovação dos
alunos, mas sim um instrumento de diagnóstico de sua atuação,
tendo em vista a definição de encaminhamento adequado para sua
aprendizagem (LUCKESI, 1995, p.52).
Depois de uma leitura atenta de alguns dos principais autores que se referem
à ineficácia da avaliação, ou da má avaliação, fica a impressão de que falta, ao lado
das denúncias, uma proposta concreta de superação.
Segundo Freitas (2002, p.7) “as políticas públicas estão colocando o campo
da avaliação em outro patamar. No Brasil, este campo tem sido construído em boa
parte de maneira informal e apenas mais recentemente procura instituir-se”. No final
da década de 70 do século passado, este campo de pesquisa sofreu objeções pelo
fato de seu conteúdo descrever a avaliação como classificatória e excludente
símbolo de exclusão e instrumento excessivamente técnico. Vianna (1960 1990)
iniciou uma pesquisa que afirmava ser escassa no Brasil a atividade de avaliação
educacional. De acordo com o autor (2002), esta evolução está em relação com a
eficiência de professores, currículos, programas e sistemas, e possibilita a
identificação de diferentes tendências, sobretudo quanto ao desempenho
educacional.
Ao longo dos anos 90 foi impulsionada pelo Ministério da Educação ao longo
conjuntamente com o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Básico SAEB
(1990), Exame Nacional de Cursos (ENC) “Provão” (1996e Exame Nacional de
Ensino Médio – ENEM (1998).No contexto brasileiro a avaliação educacional tem se
baseado no rendimento escolar, apesar de haver coleta simultânea de dados
ligados ao ensino, ao professor e à escola. Percebe-se uma preocupação centrada
no medir a escola. O aluno fornece uma informação que seincorporada à medida
da escola do sistema.
O cidadão tem o direito de conhecer as estruturas públicas e privadas, de
acompanhar o seu desempenho, denunciando a qualidade das avaliações, para
que se verifique se as medidas que vêm sendo tomadas estão atendendo às
26
necessidades. Sabe-se que a verticalidade e a falta de conhecimento das
demandas por parte de quem elabora os instrumentos de avaliação podem trazer
riscos para os resultados apresentados. Ao se transitar ainda que brevemente pela
história da avaliação no Brasil percebe-se diferentes discursos, com objetivos
persuasivos considerando o lugar preferível de cada orador. O que ocorre é um
apontar para diferentes ângulos da avaliação no país.
É na escola que as práticas avaliativas afloram. diferentes processos que
são vinculados ao comportamento do indivíduo no aspecto disciplinar, nas atitudes
e nos valores expressos pelos alunos. Segundo Giroux (1997, p. 66): “mais do que
a avaliação acadêmica realizada em sala de aula, avalia-se a adaptação social e as
qualidades pessoais específicas do aluno”.
Às vezes, a escola acaba valorizando a avaliação mais como prática que
auxilia no controle de disciplina dos alunos do que pela verificação do conhecimento
adquirido, ou como forma de rever suas práticas pedagógicas inseridas no projeto
político pedagógico. Às vezes avalia até as famílias de acordo com o
comportamento apresentado pelo filho na escola. São alguns pontos do cotidiano
escolar centrados em valores e atitudes. No Brasil, as últimas décadas de 1980 e
1990 foram marcadas por reformas políticas e hoje temos uma meta nacional a ser
alcançada até 2021, buscando-se que os anos iniciais do Ensino Fundamental
tenham nível de qualidade e rendimento (taxa de aprovação) na mesma média dos
países desenvolvidos.
O Plano de Desenvolvimento da Educação estabelece, como meta,
que em 2021 o Ideb do Brasil seja 6,0 média que corresponde a
um sistema educacional de qualidade comparável a dos países
desenvolvidos. A definição de um Ideb nacional igual a 6,0 teve
como referência a qualidade dos sistemas em países da OCDE. A
lógica é a de que para que o Brasil chegue à média 6,0 em 2021
cada sistema deve evoluir segundo pontos de partida distintos, e
com esforço maior daqueles que partem em pior situação, com um
objetivo implícito de redução da desigualdade educacional. A
definição de um Ideb nacional igual a 6,0 foi possível graças a
uma técnica de compatibilização entre a distribuição das
proficiências observadas no Pisa (Programme for Internacional
Student Valuation) e no Saeb.
A avaliação internacional revela que atraso escolar é o maior problema
educacional do Brasil. Neste contexto macrossocial destacamos como foco de
investigação “o como” avaliar a aprendizagem do aluno nos anos iniciais, pois esta
27
avaliação é exigida externamente e está presente no discurso dos professores e na
formação dos discentes de Pedagogia.
No que se refere aos futuros professores, importa indagar acerca do nível de
clareza que possuem sobre propostas públicas de avaliação, tais como Prova Brasil
e SAEB, ENC, ENEM. Que crítica possuem sobre a pluralidade conceitual das ações
ou que critérios adotam na elaboração de provas? Como alunos, devem demonstrar
que possuem as competências e habilidades. Já como professores, o êxito na
prática docente será assegurado pela competência, tais como o classificadas pela
UNESCO
5
preciso especificar a referência a Unesco tem muitas e coloca-la
nas Referências Bibliográficas): saber (conhecimentos); saber fazer (habilidades e
aptidões); saber estar (atitudes, valores, interesses e traços de personalidade);
querer fazer (dispor de meios e recursos).
1.2 AVALIAÇÃO: UM ATO DE AMOR?
De um modo especial nos cursos de Pedagogia é importante que a
avaliação seja proposta com técnica e critério, de modo que o aluno seja avaliado
sem o risco de mascaramento daquilo que na verdade não pôde compreender.
Avaliar é o ato de diagnosticar uma experiência, tendo em vista reorientá-la para
produzir o melhor resultado possível. Portanto, é diagnóstica e inclusiva e para tanto
precisamos de instrumentos de avaliação tais como: testes, provas, relatórios e
outros.
Perrenoud (1990), sociólogo do trabalho envolvido com avaliações no âmbito
do MEC brasileiro, entende que avaliação codificada, isto é, formal, pública, oficial,
que segue os códigos de quem promove, “é um instrumento de seleção, de
regulação, de prognóstico, de certificação e de controle” (apud BONNIOL,VIAL,
2001, p.159). Adverte-nos que ensinar avaliação não é ensinar a ensinar; é preciso
dar certa atenção ao ato de aprender a avaliar com todos os seus conflitos. Pois
mesmo os especialistas da temática ainda não têm clareza e consenso quanto ao
tema. Os pedagogos recebem em geral o aparato crítico sobre a temática. A
questão é saber de que maneira têm se apropriado dos conhecimentos teóricos
5
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
28
transmitidos pelos docentes. O que os alunos do curso de Pedagogia conhecem
sobre o como avaliar a aprendizagem dos alunos ?
Diante dessas indagações, torna-se relevante estudar a representação social
de licenciandos,sobretudo nos cursos de Pedagogia. Chamamos atenção para o
fato que o tema avaliação escolar pode ter sido construído socialmente. Portanto,
está vinculado às condições históricas, sociais, afetivas, econômicas e ideológicas
dos que a invocam e aplicam, associando-se aos valores sociais estabelecidos
pelos que exercem sua prática, pois professores e alunos trazem consigo uma rede
de significados construídos ao longo de suas vidas. Cada professor pode contribuir
para que ocorra a mudança de uma representação sobre avaliação e por isto é
importante que o aluno de Pedagogia, futuro docente, possa avaliar sua prática e
reelaborar sua ação pedagógica sem temor da avaliação do seu trabalho.
Mazzotti (2008, p.14) adverte acerca das metáforas e slogans
6
que
coordenam as doutrinas pedagógicas. slogans bem freqüentes na área da
Educação tais como: “Aprender-aprender”. “É no caminhar que se faz o caminho”.
Segundo o autor, os professores precisam de técnica. Ele se opõe aos preceitos
idealistas ou românticos. Para ele “a arte é ensinável, mas da habilidade e destreza
de cada um resultam variações significativas”.
Faz-se necessário que o professor tenha clareza nos seus objetivos para
cada ano letivo. Para tanto deve estabelecer metas em curto prazo, diário, semanal
ou mensal. A avaliação serve como verificação se os objetivos foram alcançados,
ou não. É necessário método variado para ensinar o mesmo conteúdo, pois cabe ao
professor um maior domínio de um conhecimento específico. Como afirma Mazzotti
(2008, p.29), não , portanto, lugar para a dialética, pois pode haver dialética
quando as pessoas envolvidas possuem conhecimento profundo do mesmo
assunto: “A relação dos processos de ensino e de aprendizagem é desigual, quem
sabe ensina aos que não sabem”.
Aquele que não sabe, precisa aprender: Aprender a argumentar, a criticar, a
debater o que lhe é apresentado por meio das comunicações. Destaca-se aqui a
importância do professor formador nos cursos de Pedagogia: o que estaria sendo
transmitido aos discentes? A avaliação que privilegia o aprendizado do aluno ou
6
São fórmulas da “retóricaabreviada. Para Reboul (1984, p.97), o slogan é uma forma chocante,
autodissimuladora, anônima, polêmica, sumária e muito curta para o que se quer dizer. Polissêmica e
sendo polissêmica, cada qual a entende como quiser, fechada, não há como contradizer um
slogan,apenas expor seus múltiplos significados.
29
aquela que valoriza mais a dimensão afetiva? Como conciliar as duas? Com um
discurso exacerbado da Pedagogia do amor, os alunos do curso de Pedagogia
podem distorcer o que efetivamente é falado pelos teóricos a respeito de uma
avaliação de processo, contínua como cita Freire, (1998)
A avaliação causa ansiedade para quem está sendo avaliado e seus
malefícios têm sido largamente comentados. Porém, não é o caso de ser abolida,
afinal, temos de nos submeter a ela em vários processos seletivos ao longo da vida
profissional. O mais conveniente seria pensar na maneira de usá-la: qual a sua
importância no processo avaliativo? Por que usá-la? Com que objetivos? Quando
usá-la? Como articular seus resultados aos de outros procedimentos?
Neste sentido torna-se relevante estudar as representações sociais de
discentes de Pedagogia sobre a avaliação, visto que a formação é um momento
fundamental para que reflexões teóricas estejam associadas à prática diante dos
desafios no que diz respeito à avaliação da aprendizagem de alunos dos anos
iniciais do ensino fundamental.
30
2 APRESENTANDO A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS (TRS)
A noção de “Representação Social“ foi proposta por Serge Moscovici em
1961 para designar o tipo de fenômeno a que sua interpretação teórica se aplicava.
Atualmente esta noção é utilizada de forma mais ampla, por diferentes áreas como
as da saúde e da educação. Ao se falar em representação pode-se ter uma visão
polissêmica dependendo do autor que a utiliza e do sujeito e objeto da
representação. Devido a esta polissemia Moscovici prefere utilizar o termo “noção”
e não “conceito” de representação social.
Em relação à origem da TRS, é importante mencionar o sociólogo francês
Emile Durkheim, ao tomar como objeto de investigação as práticas religiosas. Em
1912, quando publica “As formas elementares da vida religiosa”; Durkheim foi o
primeiro a propor o conceito de representações coletivas. Para esse autor as
representações coletivas seriam formas de criação social que se opõe à
representação individual; o sociólogo toma como objeto de investigação as práticas
religiosas das tribos das sociedades primitivas australianas. Ao desenvolver a tese
de que a natureza fundamental do homem reside na religião, o autor observa que
as representações coletivas são capazes de assegurar e perpetuar os laços,
através das gerações. As representações são coletivas porque exercem uma
coerção sobre cada indivíduo, e os membros pensam de forma homogênea, ou
seja, as estruturas e representações coletivas se impõem sobre os indivíduos por
serem produto da vida em comum.
Embora tenha produzido uma noção marcante, a representação coletiva
não desapareceu por completo graças à iniciativa de uma escola de historiadores
que conservou traços em suas pesquisas sobre mentalidades (DUBY, 1961).
No início dos anos 60, no culo XX, Moscovici (1961) retoma o conceito de
representação coletiva elaborado por Durkheim e propõe a Teoria das
Representações Sociais, demonstrando que na representação coletiva o indivíduo
não tem papel ativo, visto que age passivamente de acordo com as regras da
sociedade em que vive. Como é impossível explicar fatos sociais olhando apenas
para o indivíduo, também não é possível olhar somente para sociedade, pois o
indivíduo sofre a pressão das representações dominantes na sociedade e é nesse
meio que pensa ou exprime seus sentimentos. A TRS foi criada a partir das
inquietações de Moscovici, ao perceber que uma visão puramente sociológica não
31
dava mais conta de uma sociedade civilizada e tão flexível, bem diferente da
civilização primitiva, que apresentava segmentos mais similares e homogêneos,
estudada por Durkheim.
As representações sociais têm o propósito de estudar os comportamentos e
as relações sociais sem deformá-las ou simplificá-las e atingiu resultados originais
com a contribuição de Abric (1976), Codol (1969) e Flament (1967). Assim foi
possível estudar a difusão dos saberes, a relação pensamento /comunicação e a
gênese do senso comum.
Segundo Moscovici, a TRS centraliza-se na relação indivíduo-grupo e possui
um aspecto psicossocial. Na obra que inaugurou a teoria, intitulada La
psychanalise, son image, son public, publicada na França em 1961, o autor
apresenta resultados acerca de representações que existiam sobre a psicanálise
entre os franceses. Neste trabalho o autor desejou com sua teoria perceber como
os indivíduos absorviam o saber científico em relação à psicanálise, transformando-
o em conhecimento do senso comum.
De acordo com suas observações, as comunicações referentes ao tema
eram compartilhadas e circulavam por várias partes da comunidade entre amadores
e cientistas. Para Moscovici (1978):
Entre as categorias utilizadas na descrição das qualidades ou na
explicação das intenções ou motivos de uma pessoa ou de um
Grupo, as categorias derivadas da Psicanálise desempenham, sem
dúvida um papel importante. Elas compõem o âmago dessas teorias
implícitas, dessas teorias profanas”. Da personalidade de que
somos portadores e que, à luz de numerosas pesquisas determinam
as impressões que formamos de outrem, de suas atitudes no trato
social (p.18).
Desta forma, Moscovici (2005) se propõe a estudar o senso comum e seu
papel quanto à construção da realidade social. Nesse sentido, a partir da
necessidade de rever o papel do senso comum, da comunicação entre as pessoas,
surgem as representações sociais.
O autor reconhece que, entre outros teóricos (Durkheim e vy-Bruhl, por
exemplo), teve contribuições de Piaget, Vygotsky e Freud em sua teoria. A
contribuição de Piaget adveio com o estudo da Epistemologia Genética, na busca
da representação do mundo da criança, no que tange à elaboração dos aspectos
lógicos: (i) interação entre criança e objeto; (ii) Modo de assimilação e acomodação
32
do objeto com ampliação de estruturas mentais. Quando Piaget e Vygotsky
iniciaram suas primeiras pesquisas, a ideia de representações coletivas ou sociais
já perpassava toda a Europa. A Piaget coube definir o pensamento pré-lógico e pré-
operacional; a Vygotsky, definir o pensamento, a importância da zona proximal no
desenvolvimento humano.
Outras contribuições para o estudo do papel do senso comum na construção
da realidade social Moscovici encontra nos estudos de Freud. Partindo de uma
observação da paralisia histérica e do tratamento psíquico, o psicanalista observa
que a verdadeira paralisia segue vias da autonomia científica e histérica, de base
popular. Desse modo, Freud ressalta a força das representações. São também
pertinentes as teorias de Freud sobre a sexualidade infantil (FREUD, 1908)
Os estudos de Moscovici foram cultivados por Jodelet, uma de suas
discípulas e colaboradoras, também considerada uma referência no Brasil. Para a
autora:
A representação social é uma forma de conhecimento socialmente
elaborado e partilhado, com um objetivo prático, e que contribui para
construção de uma realidade comum a um conjunto social.
Igualmente designada como o saber do senso comum ou ainda
saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada
entre outras do conhecimento científico. Entretanto é tida como um
objeto de estudo tão legítimo quanto este devido a sua importância
na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos
cognitivos e das interações sociais. (JODELET, 1989)
Moscovici (1978), ao propor a Teoria das Representações Sociais (TRS),
enfatizou as diferenças entre os modelos científicos e os não científicos. Ressaltou
como pode haver a possibilidade de deslocamento de sentido de um modelo ao
outro. Para o autor, é nesse deslocamento que as representações sociais aparecem
como “saber ingênuo” ou “saber do senso comum”, em oposição ao saber
produzido pela ciência, sendo tão relevante para a realidade social quanto o saber
científico. É através da necessidade de rever o papel do senso comum em relação
às teorias científicas que Moscovici ressalta que é a partir do que pertence a todos,
das conversas entre as pessoas, da comunicação entre elas sobre um mesmo
objeto que surgem as representações sociais: ”É por isso que quando se estuda o
senso comum, o conhecimento popular, nós estamos estudando algo que liga a
33
sociedade, ou indivíduos, à sua cultura, sua linguagem, ao seu mundo familiar”
(MOSCOVICI, 2005, p.322).
Quando Moscovici (1978, p. 24) afirma que existe a “formação de outro” tipo
de conhecimento adaptado a outras necessidades, obedecendo outros critérios,
num contexto social preciso”, observa-se que este saber organizado, por ser
dinâmico e estar sempre em construção, orienta os indivíduos em suas relações, ao
mesmo tempo em que filtra novidades, informações e experiências que chegam,
reconstituindo-as enquanto um saber próprio do indivíduo em seu senso de
pertença e em seus referentes (MADEIRA, 2003).
Uma das características da teoria moscoviciana é a de que as
representações sociais têm potencial transformador, na medida em que o sujeito, ao
representar um objeto, pode construir e reconstruir a realidade em que vive, assim
como se constituir nela. As representações sociais são construídas em um espaço
de intersubjetividades em que é possível observar confrontos e convergências de
idéias, noções, crenças, imagens. De acordo com Jodelet (2001),
As representações sociais devem ser estudadas articulando-se
elementos afetivos, mentais e sociais e integrando ao lado da
cognição, da linguagem e da comunicação a consideração das
relações sociais que afetam as representações e à realidade
material, social e ideativa sobre a qual elas têm de intervir (p. 26).
Moscovici (1978) e Jodelet (2001) se referem aos processos de formação
das representações sociais: a objetivação e a ancoragem. Ambos permitem
conhecer como as representações são construídas pelos sujeitos e grupos,
mostrando como as pessoas pensam de uma maneira e não de outra,
principalmente em função de seu contexto sociocultural.
O processo de objetivação transforma elementos conceituais em figuras ou
imagens (MOSCOVICI, 1978), ou seja, visa a “transformar algo abstrato em algo
quase concreto, transferir o que está na mente em algo que exista no mundo físico”
(MOSCOVICI, 2005, p. 61). A ancoragem, que se articula à objetivação, diz respeito
à inserção do objeto representado no universo simbólico e significante das pessoas.
Trata-se de uma modalidade de pensamento caracterizada pela memória. A
predominância de posições estabelecidas opera mecanismos gerais como
classificação, categorização, rotulação, denominação e procedimentos de
explicação que obedecem a uma lógica específica (JODELET, 1996).
34
A estrutura da representação tem duas faces, que são denominadas de:
figurativa e simbólica, ilustrando os processos de objetivação e ancoragem. O
resultado dessa organização é o chamado núcleo ou esquema figurativo.
Segundo Moscovici (2005), não representações sociais sem linguagem,
do mesmo modo que sem elas não sociedade. Para o autor o lugar do
lingUístico na análise das representações sociais não pode ser evitado, pois as
palavras não são a tradução direta das idéias, do mesmo modo que os discursos
não são nunca as reflexões imediatas das posições sociais” (p.219). E ainda de
acordo com Moscovici,
Representar alguma coisa (...) não é (...) simplesmente duplicá-la,
repeti-la ou reproduzi-la, é reconstruí-la, recortá-la, modificar-lhe o
texto (...) [As representações] são obra nossa, tiveram um começo e
terão um fim, sua existência no exterior leva a marca de uma
passagem pelo psiquismo pessoal e pelo social. (1978, p.56).
Desta forma constatamos então que somos nós que criamos, construímos e
damos significados às representações. De acordo com Placco (2005), os processos
de objetivação e ancoragem permeiam estas marcas a que Moscovici se refere
passando pelo individual e pelo coletivo.
Atualmente, interesse nos estudos referentes à linguagem e sua
importância para o estudo das representações sociais, pois parece ser algo
necessário para se aprofundar. O foco das representações, segundo Moscovici,
está na gênese do senso comum e na importância da comunicação. A propósito
disso, apontam-se as reflexões trazidas por Mazzotti (1998) em seu artigo
Investigando os núcleos figurativos como metáforas. O autor sustenta que núcleos
figurativos das representações sociais podem ser identificados como resultantes de
metaforizações, ou seja, se encontrarmos a metáfora, de acordo com os
procedimentos usuais da retórica, encontraremos o núcleo figurativo da
representação social. É uma metodologia que permite comparar as metáforas que
circulam tanto nas comunicações científicas, como não científicas, com vistas a
determinar os processos de distorção, desfalque e suplementação de elementos da
representação, característicos da objetivação e da ancoragem (JODELET, 1989).
As representações sociais têm, portanto, na linguagem um importante
instrumento, visto que esta exerce papel fundamental na interlocução e nas
relações entre sujeitos e grupos.
35
Para Abric (1976), um objeto não existe por si mesmo, mas sempre em
relação a um sujeito. A representação reestrutura assim a realidade podendo ser
vista como uma visão funcional do mundo que permite ao indivíduo dar sentido à
sua conduta e compreender a realidade. Ainda de acordo com (ABRIC, 1998b, p.
45), as representações devem ser vistas “como uma condição das práticas e as
práticas como um agente de transformação das representações”.
Nesse sentido, Campos (2003) afirma que as representações, ao serem
entendidas como conjuntos “estruturados, organizados e hierarquizados”, indicam
que o construídas sob a influência do contexto discursivo e do contexto social
sendo, portanto, consideradas como uma construção sócio-cognitiva.
Jodelet (2001, p.27) afirma que uma representação social é uma forma de
saber prático que liga alguém (o sujeito/grupo) a alguma coisa (objeto). De acordo
com Sá, Couto e Müler (1993) no campo de pesquisas em representações sociais é
importante que o pesquisador saiba quais são os aspectos do fenômeno que têm
sido explorados e quais o os fenômenos específicos que têm sido focalizados,
para que a pesquisa seja viável.
É dentro desses princípios epistemológicos que Jodelet (1986, p.172-3, p.27)
que a autora apresenta sua pesquisa a respeito da loucura e da representação dos
doentes mentais, explicitando uma escolha temática que se justifica pela relevância
social e acadêmica. A autora defende a noção básica de que uma representação
social é uma forma de saber prático que liga um sujeito a um objeto, através de
questionamentos como: o que sabem? Como sabem? Sobre o que se sabe e com
que efeito? Além disso, duas outras vertentes de relevância social e acadêmica são
destacadas por ela: a fabricação de um conhecimento popular e a difusão dos
conhecimentos científicos ou populares.
A pesquisa nesta área deve, portanto, abordar a relação entre o pensamento
natural e o científico, a transformação de um saber em outro, ou a própria relação
entre a representação e o objeto representado. Em pesquisas focadas na
Educação, os temas mais recorrentes têm sido sobre a formação docente,
identidade do professor, questões relacionadas ao fracasso escolar. As
contribuições da Teoria das Representações Sociais para Educação decorrem de
dois fatos: o desenvolvimento e solidificação dessa teoria como aporte teórico-
metodológico e a crise dos paradigmas científicos. Neste contexto, a TRS traz às
pesquisas educacionais novas possibilidades de análise e interpretação das suas
36
problemáticas considerando as questões que permeiam a sociedade
contemporânea.
Neste trabalho buscamos indícios de representações sobre o objeto “a
avaliação da aprendizagem dos alunos” entre alunos do último período de
Pedagogia, olhando para a importância do ato de avaliar e suas implicações. Nesta
relação entre sujeito e objeto podem ser observados elementos da teoria
moscoviciana, por exemplo, as representações sociais como processos simbólicos
produzidos socialmente em encontros que ocorrem no espaço escolar, nas salas de
aula da graduação, onde a temática sobre avaliação é freqüentemente abordada.
Neste mesmo sentido, Moscovici (1978) afirma que as representações sociais estão
nos cafés, nas ruas, nas instituições sociais e em muitos outros espaços. Elas se
constituem por meio de conversações, argumentações sobre algo, e este algo se
estabelece no grupo social.
As representações sociais, portanto, são expressões de comportamentos de
indivíduos no contexto social do qual fazem parte, sendo que estes
comportamentos as instituem e são instituídos por elas. Assim entendemos, como
Madeira (2001, p. 126), que na relação com o outro o sujeito constrói o seu sentido
com o objeto, da mesma forma que é construído por ele. A autora ainda diz que “a
aplicação das representações sociais no campo da educação permite tomar objetos
de pesquisa no dinamismo que os constitui e lhes forma”. Estes objetos são
constituídos de diferentes sentidos, mas não isolados. São ligados e integram o
objetivo e o subjetivo.
É nesta perspectiva que os licenciandos do último período do curso de
Pedagogia podem construir representações sociais sobre avaliação da
aprendizagem dos alunos. Este é o objeto desse trabalho, um objeto que deve fazer
sentido para o grupo, visto que o tema avaliação pode causar impacto para a classe
do professores, já que faz parte do universo da educação e do cotidiano escolar. É,
por conseguinte, relevante que seja estudado.
Acreditamos assim que as representações sociais de alunos do curso de
Pedagogia a respeito da avaliação da aprendizagem serão de grande valia para
uma reflexão da prática de como avaliar e sobre a formação docente no curso de
Pedagogia quanto à responsabilidade do ato de avaliar.
37
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa assumiu uma abordagem qualitativa, considerando a aproximação
que se estabelece com o seu objeto, para melhor compreensão das representações
sociais de discentes do último período do curso de Pedagogia sobre avaliação da
aprendizagem dos alunos. Tendo em vista os sujeitos e o objeto de representação,
apresentamos como idéia inicial pesquisar duas categorias de participantes, uma
com alunos já atuantes em sala de aula outra com formandos não atuantes.
Partimos do princípio que eles estão terminando a graduação e deveriam
estar preparados para executar, como docentes, a avaliação da aprendizagem
escolar de seus futuros alunos. Entendemos assim que o estudo se traduz em
investigações de natureza qualitativa por apresentar maior flexibilidade e permitir
análise de dados subjetivos por meio da escuta dos participantes. Além disso, a
pesquisa qualitativa possibilita “buscar uma melhor compreensão do sentido da
comunicação entre os seres humanos” (LOPES, 2004, p.13).
Segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2006, p.162), “a análise e a
interpretação dos dados vão sendo feitas de forma interativa com a coleta,
acompanhando todo o processo de investigação”, pois para os pesquisadores
qualitativos, a apreensão do significado, pela interpretação dos fenômenos
observados, é a preocupação essencial.
A pesquisa foi realizada na cidade do Rio de Janeiro em uma universidade
privada que propõe formação mais ampla no curso de Pedagogia, o formando
somente professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com os
objetivos estabelecidos para o curso de Pedagogia nesta instituição, o aluno poderá
agir em diversas organizações escolares: instituições educacionais de diferentes
níveis e modalidades de ensino, como escolas de educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio; organizações não-escolares: em espaços educativos
de instituições empresariais e de organismos públicos ou privados, e em
organizações do terceiro setor (ONG e demais organizações da sociedade civil), em
especial, nos setores ligados às atividades de planejamento, coordenação, avaliação
e gestão de projetos educacionais.
38
3.1 O CONTATO COM OS SUJEITOS
Os sujeitos da pesquisa, conforme mencionado, foram alunos do último
período do curso de Pedagogia (com e sem formação no magistério) de uma
universidade privada da zona oeste do Rio de Janeiro. Foi escolhida esta fase do
curso devido à possibilidade dos alunos concluintes terem tido mais informações
sobre avaliação em relação aos períodos anteriores.
No encontro com os sujeitos foi solicitado, primeiramente, o preenchimento de
um formulário para caracterização sócio-profissional que incluiu questões como
sexo, idade, se já leciona ou não, tempo que leciona. Com base nas respostas foram
formados grupos focais com o cuidado de separar os alunos que atuam como
professores e os que não atuam. O local de encontro foi a própria universidade em
horário previamente combinado com os sujeitos da pesquisa.
3.2 ANÁLISE DE DADOS
A análise de dados, segundo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2006, p.170),
“se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões,
categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado”.
Para análise dos grupos focais foi utilizado o procedimento de Análise de
Conteúdo conforme sugere Bardin (2002), complementado pelo apoio do software
QSR (Qualitative Software Research) NVivo 2007, que se constitui em uma das mais
recentes versões de programas voltados para a análise qualitativa de dados
podendo ser também utilizado em pesquisas quantitativas. É importante ressaltar
que o software foi de grande valia na operacionalização para as categorizações.
Com base nessas técnicas foram identificados os temas considerados mais
significativos para compreender as representações sociais dos discentes sobre
avaliação da aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Após a definição dos temas foram inseridas, categorias e contabilizadas as
freqüências. Para cada tema foram construídas tabelas que sintetizaram a análise
do conteúdo, permitindo analisar semelhanças e similitudes entre os grupos.
39
3.3 O CAMPO DA PESQUISA
A pesquisa foi desenvolvida em uma universidade privada localizada na zona
oeste da cidade do Rio de Janeiro. Na instituição, o curso de Pedagogia é oferecido
somente no turno da noite, sendo o último período composto por alunos que cursam
matérias diversificadas. Portanto, para coletar os dados, dispúnhamos de dois
dias semanais e em um dos dias o grupo do último período tinha aula de avaliação
institucional no horário das 21 horas até às 23 horas. A universidade foi escolhida
por contemplar em sua grade curricular uma formação para o profissional da
educação, não somente para docente no curso de Pedagogia. Em sua estrutura
física possui quatro laboratórios de informática com computadores em rede e
softwares atualizados. Os laboratórios estão projetados para atender as
especificidades de cada curso e possuem itens de conforto como ar condicionado,
mobiliário e equipamentos para o uso de cada especialidade. A infra-estrutura da
unidade oferece vantagens a seus alunos para que a prática acadêmica seja
realizada plenamente.
No campo investigamos que, ao concluírem o curso, os discentes que tiveram
o ingresso em Pedagogia após 2006 (ano da promulgação das Diretrizes
Curriculares) têm licenciatura plena em Pedagogia Podem atuar em qualquer área
que exija a docência (docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental, da
Educação Infantil, das disciplinas pedagógicas no Ensino Médio (Ensino sico) -
curso de formação de professores, gestão, supervisão, orientação - em espaços
escolares e não escolares).
Ao terem habilitação para atuarem em um vasto campo, as implicações das
disciplinas trabalhadas e o tempo proposto é um dado para reflexão na formação
dos discentes diante do ato de avaliar. A seguir, poderemos observar a grade
curricular do curso dos participantes da pesquisa: (Quadro 1)
40
Quadro 1: Estrutura Curricular do Curso de Pedagogia dos sujeitos da pesquisa.
UNIVERSIDADE A
1º período 2º período 3º período 4º período 5º período 6º período 7º período
Aspectos
Antropológicos
e Sociologia da
educação
Pesquisa e
Prática em
Educação I
Políticas
Públicas e
Organização
da Educação
Básica
Ação docente
na educação
infantil/ creche
Arte e educ.
Administração
e gestão
escolar
Empreendedorismo
História da
Educação I
História da
Educação
Brasileira
Didática I
Conteúdo e
metodologia
do ensino da
língua
portuguesa
Planejamento
Educacional
Ed. Especial
Avaliação
Institucional
Língua
Portuguesa
Hist Política da
Educação Infantil
Pesquisa e
prática em
Educação II
Pesquisa e
prática em
educação III
Pesquisa e
prática em
educação IV
Pesquisa e
prática em
educação V
Pesquisa e prática
em educação VI
Psicologia da
Educação
Filosofia da
Educação II
Conteúdo e
metodol. do
ensino de
Mat.
Processos de
aprendizagem
da leit. e
escrita
Corpo e
movimento
Pedagogia
nas
instituições
Não-escolares
Coordenação/
supervisão
Pedagógica
Filosofia da
Educação I
Sociologia da
Educação
Conteúdo e
Metodologia
do ensino de
Geo/ Hist.
Didática II
Didática da
Ed.
Profissional
Orientação
Educacional
Ed. Tecnologia da
informação e
comunicação
Psicologia do
desenvolvimento
da aprendizagem
Pedagogia
da Educação
Infantil
Estágio
Supervis. I
EI / EFI
Estágio.
Supervisão II
disc./ped./e
ed. prof.
Estágio
Superv. III
GEST. PR ED.
ESC/EMP
Economia da
educação
Informática
Aplicada à
Educação
Conteúdo e
metodologia
do ensino de
ciências
Currículo
Teoria e
prática
Educação de
Jovens/
adultos
Psicologia
Institucional
A sua estrutura curricular é composta de disciplinas referentes aos
Fundamentos da Educação relacionadas às teorias de outras áreas do
conhecimento (Antropologia, Sociologia, Psicologia, Filosofia, História, Língua
Portuguesa) todas voltadas para o aspecto da educação. Para atender a Lei das
Diretrizes Curriculares (BRASIL, 1996) observamos disciplinas referentes aos
Fundamentos da Prática da Educação, Administração Escolar, Educação Infantil,
41
Práticas Docentes nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Formação para
Gestão, como também Gestão nas Organizações Não-Escolares. E por fim, Gestão
Empresarial: Informática Aplicada a Educação e Empreendedorismo.
Podemos observar que no seu currículo do curso de Pedagogia a
universidade procurou atender o que foi colocado pelas novas Diretrizes
Curriculares, incluindo formação voltada para a Pedagogia Empresarial, Gestores,
Coordenadores e Supervisores dentre outros, ou seja, esta universidade construiu
um currículo amplo.
Uma análise do conteúdo programático do curso de Pedagogia da instituição
pesquisada revela que pouco se tem enfatizado o tema “avaliação da aprendizagem
dos alunos no currículo. As disciplinas que compõem a grade curricular são:
antropologia, sociologia, psicologia, filosofia, história, língua portuguesa, didática,
administração escolar, educação infantil, práticas docentes nas séries iniciais do
Ensino Fundamental; formação para gestão, gestão nas organizações não
escolares, gestão empresarial, informática aplicada a educação e
empreendedorismo. Uma análise das ementas e bibliografia mostrou que, embora o
ensino sobre avaliação se concentre especialmente na disciplina de didática e na
avaliação institucional, o ensino sobre avaliação se dispersa durante a formação.
Regulamentado pelo do Decreto-Lei 1190/1939 (BRASIL, 1939), o curso de
pedagogia apresenta historicamente uma estrutura curricular com três núcleos:
Estudos Básicos; Estudos de Aprofundamento e ou Diversificação da Formação e
Estudos Integradores que proporcionam enriquecimento curricular. O decreto o
definia como lugar de formação de bacharéis (técnicos em educação) e licenciandos
em Pedagogia. Com a lei da Reforma Universitária . 5540, de 1968 (BRASIL,
1968), o curso passou a oferecer as três habilitações: supervisão, orientação,
administração e inspeção educacional. Com as Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Curso de Pedagogia, aprovadas pela Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006,
do Conselho Nacional de Educação (BRASIL, 2006), a organização curricular
passou a ser definida pelos princípios da docência como base da formação,
flexibilização do currículo e organização dos conteúdos por meio de diversas formas
didáticas. (RIVAS, 2009).
O currículo constitui, portanto, um significativo instrumento utilizado por
diferentes sociedades “tanto para desenvolver os processos de conservação,
transformação e renovação dos conhecimentos historicamente acumulados como
42
para socializar as crianças e os jovens segundo valores tidos como desejáveis”
(MOREIRA, 1997, p.11).
Em termos atuais, em um curso de pedagogia que inclui docência é
fundamental a compreensão de atividades pedagógicas inerentes a processos de
ensino e aprendizagem. Faz-se necessário assim um currículo que contemple, em
uma ou mais disciplinas, o aprendizado dos discentes sobre como avaliar a
aprendizagem de alunos do Ensino Fundamental, com consistência teórica e
diversidade de conhecimentos e de práticas que devem articular-se ao longo do
curso.
Nesse contexto, acreditamos que o curso de pedagogia deveria conter uma
proposta curricular que valorizasse discussões sobre a temática da avaliação, quer
fosse diagnóstica, pontual, de caráter qualitativo ou quantitativo. Questões como as
seguintes podem ser pertinentes: como os discentes situam a avaliação no
currículo? Como compreendem essa tarefa exercida pelos professores do Ensino
Fundamental? Como vêem a relação teoria e prática no ato de avaliar? Ressalta-se
aqui a ausência de ênfase sobre a temática na base curricular, conforme ficou
expresso pelas representações sociais das alunas.
43
4 A OPÇÃO PELO GRUPO FOCAL
Os métodos e técnicas para coleta dos dados de uma pesquisa em
representação social vão depender da vertente adotada pelo pesquisador, sem
deixar que sigam a matriz teórica proposta por Moscovici (1978).
A este respeito Sá (1998) afirma que,
A rigor, é difícil especificar quais são os métodos mais bem
autorizados por cada uma das diferentes perspectivas
complementares à grande teoria. Se quiséssemos insistir numa
apresentação esquemática e simplificada da questão diríamos o
seguinte: à perspectiva de Jodelet correspondem aos métodos
qualitativos; à perspectiva de Doise, o tratamento estatístico
correlaciona; à de Abric, o método experimental. (p.18)
Diante da afirmação feita por (1998), optou-se trabalhar com grupo focal
para coletar dos dados e analisá-los por meio da cnica de análise do conteúdo
proposta por Bardin (1977). Trabalharmos com esta metodologia pelo fato da
mesma favorecer a expressão de um grupo de pessoas que compartilha idéias
sobre um determinado tema, ou objeto de representação, desta forma indo ao
encontro da Teoria das Representações Sociais.
A técnica de grupo focal mostrou ser a mais ser adequada e pertinente, visto
que discussões coletivas permitem que o grupo expresse representações a respeito
da avaliação da aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental. Segundo Rizzini
et al. (1999, p.67), o grupo focal “possibilita a obtenção de dados qualitativos sobre
opiniões, atitudes e valores relacionados a um tema específico”. De acordo com
Gatti (2005), trata-se de uma técnica de discussão não diretiva em Grupo, que reúne
pessoas com algumas características e experiências comuns, possibilitando a
discussão de um tema de interesse.
Ainda conforme afirma Gatti (2005), dentro das abordagens qualitativas em
pesquisa social, vem sendo cada vez mais utilizada a entrevista de Grupo, que se
baseia em interações entre os sujeitos participantes, permitindo produzir dados que
dificilmente seriam obtidos de outra forma. Nessas entrevistas, busca-se obter
informações de como as pessoas pensam e se sentem em relação aos temas
pesquisados durante um debate.
44
Iniciamos com o encaminhamento do Projeto para o Comitê de Ética , onde o
mesmo foi aprovado, com o número CAAE – 3604.0.000.308-09, Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa CONEP. O trabalho de campo foi realizado mediante o
termo de consentimento livre e esclarecido
7
.
4.1 A COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS
Conforme mencionado, os grupos foram escolhidos com o critério de
alunos com experiência, por conta da formação que possuíam com o Curso de
Formação de Professores (curso normal equivalente ao ensino médio) e alunos que
ainda não possuíam experiência. Entre as características homogêneas dos
participantes estava o interesse em discutir os temas sobre “avaliação” e “formação”.
Foram convidados a participar da pesquisa 16 alunos do sétimo período. Dos
alunos que preencheram o questionário, comprometendo-se a participar do GF na
data combinada, compareceram sete no Grupo Focal 1 e cinco no Grupo Focal 2,
sendo os mesmos substituídos por outros alunos que não haviam preenchido o
questionário, mas tiveram a oportunidade de preencher o questionário na hora e
participar como sujeitos da pesquisa. De acordo com Gatti (2005), os grupos não
podem ser nem muito grandes e nem muito pequenos, considerando-se de seis a
doze pessoas um número satisfatório. Segundo a mesma autora, não se recomenda
dar aos participantes informações detalhadas sobre o objeto da pesquisa.
Desta forma os grupos foram formados mediante as respostas a um
questionário de caracterização, em aula de Avaliação Institucional cedida por uma
professora. Embora cuidados tenham sido tomados, tais como crachá de
identificação com número, nome e preenchimento da autorização de consentimento,
é fundamental que o pesquisador esteja preparado para os imprevistos. No dia da
aplicação do GF algumas pessoas que se comprometeram em participar não
compareceram e alguns voluntários aderiram a ideia. Desta forma alguns crachás
foram construídos na hora, e os mesmos responderam o questionário, assim como
as autorizações, o que não alterou no resultado que emergiu no grupo.
7
Cf. Apêndice A.
45
4.2 A PARTE TÉCNICA DA FORMAÇÃO DO GRUPO
O local dos encontros foi a própria Universidade, onde fomos bem recebidos
pela coordenação do curso que providenciou uma sala ao lado da sala de aula em
que os alunos estudavam, o que facilitou bastante a organização. A coordenadora
do curso de Pedagogia apresentou a pesquisadora para a professora e solicitou um
espaço para que a pesquisa pudesse acontecer.
Sabemos que esse momento da pesquisa é muito importante e que o
ambiente, o tempo destinado aos encontros e o local podem influenciar nos
resultados. A oportunidade dos alunos poderem discutir o tema em um horário
destinado para o mesmo foi de grande valia, pois sabiam que o que estava sendo
ministrado durante a aula seria reposto em outro momento.
A técnica do GF conta com a presença de um moderador, no caso a própria
pesquisadora. Como aponta Gatti (2005), fazer a discussão fluir entre os
participantes é a função do moderador. A moderadora contou com o apoio de uma
observadora que registrou o dito e o não dito de acordo com os gestos, risos, e
outras comunicações e ainda contou com apoio, para gravação em áudio, de dois
gravadores, caso houvesse falha em um deles. No Grupo 2, a pesquisadora teve a
colaboração de uma pessoa para a gravação, sendo ela mesma a moderadora e
observadora.
Os grupos aconteceram em salas de aula, com privacidade, tendo cada
encontro a duração de aproximadamente 1 hora e 20 minutos. A moderadora
recebeu os participantes na sala e logo em seguida fez os encaminhamentos
necessários quanto ao tema. Esclareceu que todos poderiam expor suas ideias da
forma que julgassem melhor. Foi explicado que, para organizar a discussão, seria
seguido um roteiro que não era um questionário, mas uma forma de encaminhar os
diálogos. Falamos dos registros que seriam feitos e o sigilo do mesmo quanto à
identidade de cada participante. Após a apresentação da moderadora, observadora
e quem estava gravando, reforçamos a importância da presença e da colaboração
de todos os presentes.
As tabelas a seguir o de caracterização dos participantes da pesquisa,
feitas com informações obtidas por meio de questionários.
46
Tabela 1: Grupo Focal 1 – Alunos do último período do Curso de Pedagogia sem
experiência no Magistério
Sujeitos 7 Sujeitos
Idade
De 2
0 a 25: 2 De 26 a 35: 3
De 36 a 45: 2
Sexo Feminino: 7 Masculino: 0
Experiência Profissional Sim: 0 Não: 7
Leciona Sim: 0 Não: 7
Tempo de magistério -
Estado civil Casados: 6 Viúvos: 1
Escolaridade da Mãe
E.F.I: 2 E.F.II: 2
E.M.: 1 E.M.Inc.: 0 E.S.Inc.: 1
E.S.: 0 S.E.: 1
Escolaridade do Pai
E.F.I: 2 E.F.II: 0
E.M.: 3 E.M.Inc.: 0 E.S.Inc.: 0
E.S.: 1 S.E.: 1
Contribuição financeira da
família
Sim: 0 Não: 6
Não/ Bolsista: 1
Possui computador com
internet
Sim: 6 Não: 1
Renda mensal familiar
Até 3 salários: 2 3 a 10 salários: 2
11 a 20 salários: 1 Não sabe: 2
Conforme indica a Tabela 1, dos sete participantes todas são do sexo
feminino, duas com idade entre 20-25 anos, três entre 26-35, duas entre 36- 45 e
47
uma que não respondeu ao questionário. Neste grupo não pessoas com
experiência em sala de aula. Seis casadas e uma viúva.
Quanto à escolaridade do pai, dois tem Ensino Fundamental I, nenhum possui
Ensino Fundamental II, três têm Ensino Médio incompleto, um Ensino Médio
completo e um Superior completo. Verificando a escolaridade das mães, uma tem
Ensino Fundamental I, duas com Ensino Fundamental II, nenhuma com o Ensino
Médio, e uma ,Ensino Superior incompleto.
A renda mensal da família de dois participantes fica entre 3-10 salários. Duas
tem como rendimento entre até 3 salários, enquanto uma pessoa recebe o
equivalente 11 a 20 salários e outra não sabia. Apenas uma era ajudada
financeiramente para pagar a faculdade e outra era bolsista. E por fim a maioria tem
computador em casa.
Tabela 2: Grupo Focal 2 – Alunos do último período do Curso de Pedagogia com
experiência no Magistério
Participantes 5 participantes
Idade
De 20 a 25: 3 De 26 a 35: 1
De 36 a 45: 01
Sexo Feminino: 5 Masculino: 0
Experiência Profissional Sim: 5 Não: 0
Leciona em E.F.I: 2 Educ. Inf. e E.F.I: 3
Tempo de magistério De 1 a 5: 5
Estado civil Casados: 3 Solteiro:2
Escolaridade da Mãe E.F.I: 2 E.M.: 2 E.S.:1
Escolaridade do Pai E.M.Inc.:3 E.M.: 2
Contribuição financeira da
família
Sim: 3 Não:2
48
Possui computador com
internet
Sim: 4 Não: 1
Renda mensal familiar 3 a 10 salários: 3 Não sabe: 2
Conforme indica a tabela 3, das cinco participantes todas são do sexo
feminino, três com idade entre 20-25 anos, uma com idade entre 26-35 e uma de 36
-45. Neste grupo todas possuem experiência em sala de aula. Quanto ao estado
civil, temos três casadas e duas solteiras. Quanto à escolaridade do pai, três têm
Ensino Médio incompleto e dois possuem Ensino Médio completo. Verificando a
escolaridade das mães, duas têm Ensino Fundamental incompleto, duas com Ensino
Médio completo e uma com Ensino Superior completo.
A renda mensal da família de três participantes fica entre 3-10 salários. E
duas declararam que não sabiam. Das cinco participantes três recebiam ajuda
financeira da família e apenas uma não possuíam computador com internet em
casa.
A seguir serão discutidos os dados obtidos nas discussões dos dois Grupos
Focais com a caracterização descrita.
49
5 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DISCENTES DE PEDAGOGIA SOBRE
AVALIAÇÃO: RESULTADOS OBTIDOS
5.1 RELATO DO GRUPO 1
O Grupo Focal 1 é caracterizado por alunas que estão no último período do
curso de Pedagogia que não possuem experiência no magistério.A a conversa foi
conduzida sem interferências, as poucas colocações feitas pela moderadora do
grupo focal foi para facilitar as trocas e manter o foco nas questões relacionadas à
avaliação.
As questões utilizadas foram as mesmas para ambos os grupos. A questão
inicial do trabalho procurou abrir a discussão: O que é avaliação para vocês? Como
vocês definem avaliação, qual a sua concepção de avaliação? O Grupo Focal 1
iniciou a partir de um silêncio significativo, após o lançamento da pergunta. Como o
grupo não iniciava a discussão foi necessária a intervenção da moderadora, dizendo
que ali não havia certo ou errado, que elas poderiam ficar a vontade para responder
“o que lhes viesse na cabeça”.
Esta primeira questão do roteiro buscou propiciar que o grupo colocasse sua
opinião. Após a escuta das diferentes falas, a moderadora propõe a segunda
questão do roteiro, com objetivo de iniciar o aprofundamento da discussão: Mais
especificamente, avaliação da aprendizagem dos alunos dos primeiros anos do
Ensino Fundamental?”.
Os resultados da discussão do Grupo 1 serão ilustrados a seguir por meio das
tabelas 3, 4 e 5, que mostram a análise de conteúdo temática de três temas que
devem ser considerados de forma articulada: “Definição de Avaliação – Avaliação do
aluno”, “Avaliação da Aprendizagem” e “Tipos de Avaliação”.
50
5.1.1 Tabela 3 Análise Temática: Definição de Avaliação Avaliação do aluno
(N= Ocorrências) Grupo 1
Conforme indica a Tabela 1 do (Grupo Focal 1), no tema “Definição de
avaliação”, as categorias definidas foram: Avaliação permanente; Avaliação dica;
Julgamento Social; Injustiça.
Categorias Exemplos N
Permanente
S 3: “é uma avaliação diária entendeu, eu acho que a visão
está mudada em relação prova: é aquela nota e ponto final
[...]”
S1: “Eu concordo, eu, eu, assim, a avaliação realmente
sempre existiu [...]”
6
Médica
S 1: “olha, o processo de avaliação a gente passa desde
criança, não é, a mãe avalia o seu filho, a criança já é
avaliada desde.. até o nascer ... ela é avaliada pelo
médico, ... ou seja, esse processo de avaliação é a vida
toda... que o sujeito tem. A criança é avaliada pelo pediatra
depois a mãe passa a avaliá-lo, se está desenvolvendo
bem.... o pediatra tem todo um acompanhamento... faz uma
avaliação de mês a mês, não é , e quando entra na escola já
começa a ser avaliado de uma outra forma [...]”
2
Julgamento
Social
S 1: “[...] quando entra na escola (a criança) começa a ser
avaliado de uma outra forma, entendeu, vai pro processo,
vai pro jardim, vai pro ginásio, não é termina seu ensino
médio, entra na faculdade também... é avaliado, ou seja, o
processo de avaliação... durante o seu trabalho, o funcionário
é avaliado a todo o momento, pra ver o que está acumulado,
se está desenvolvendo ou se travando em alguma coisa,
pra ver se precisa ser mudado de alguma forma, ou seja, o
sujeito é avaliado desde do nascer até a morte... é um
processo, né [...]”
5
Injustiça
S 4: “[...] é.... tem casos (na avaliação) que é muito injusto, as
vezes que você ta num dia que você não ta legal, mas se
você entendeu você vai saber passar aquilo perfeitamente,
mas se te pega num dia que você é decoreba chegou na
hora te der um branco você não consegue fazer, não
consegue se desenvolver.”
3
51
Após a pergunta lançada pela moderadora, timidamente os sujeitos vão se
colocando e ao definirem “avaliação”, surge a idéia de algo permanente, que faz
parte da trajetória humana, que sempre existiu que é continua. Nos discursos
apareceram as definições tais como: avaliação médica, a avaliação do pediatra
mostra o marco inicial de avaliação, pois é a partir da fala do pediatra que a mãe
pode levar o seu filho para casa, onde ela avalia seu desenvolvimento. Familiares
querem testes e provas porque precisam de um papel , um registro de que foi
avaliado para que a mesma não seja feita de forma aleatória e subjetiva. Aqui
aparece o porquê da comparação da avaliação médica, já que o pediatra entrega um
laudo por escrito.
Ao conversarem sobre avaliação contínua demonstram ter vidas, embora
saibam que seria um momento de tentativa de o aluno aprender em um tempo
maior, o que seria mais justo, mas não sabem como avaliar dessa forma.
No que se refere ao julgamento social, a avaliação está presente na
aparência, na hora de conseguir um emprego, forma de expressão, a cobrança
social, principalmente da família no que se refere à aprendizagem do aluno. Os
familiares querem testes e provas porque precisam de um papel, um registro do que
foi avaliado para que a mesma o seja feita de forma aleatória e subjetiva. Aqui
aparece o porquê da comparação da avaliação médica, já que o pediatra entrega um
laudo por escrito.
S 4: [...] igual você estava falando, é negócio de avaliação que os
pais cobram aquilo concreto ali pra mostrar e tal... Você tirou zero,
seu filho tirou 10, isso está na sociedade, está enraizado na
sociedade... Entender, a mudança tem que começar de dentro da
sociedade entendeu, por exemplo, o próprio desenvolvimento dos
filhos, mas é difícil um leigo em educação aceitar isso e ver isso... as
mudanças [...]
A discussão da obrigatoriedade dos testes e provas, do aluno ter que colocar no
papel o que sabe, de serem avaliados somente os aspectos cognitivos por
meio desses instrumentos é visto pelo grupo como algo injusto. O que
aparece de forma latente são as dificuldades enfrentadas pelo grupo de
Pedagogia perante as avaliações escritas. Elas relatam um sentimento
próprio em que se sentem injustiçadas por um sistema, onde não tiveram
oportunidade de estudos que lhes dessem condições até de escolherem
outra faculdade. Uma pesquisa recente feita no curso de Pedagogia
52
apresentou como resultado que as notas mais baixas no ENEM eram de
estudantes que seriam os futuros professores da escola básica.
5.1.2 Tabela 4 Análise Temática: Avaliação da aprendizagem (N =
Ocorrências) Grupo 1
A seguir apresentaremos a Tabela 2, referente ao tema “Avaliação da
Aprendizagem” com as categorias: Mudança, Rótulo, Dificuldades e Prática x
Teoria, Formação e Comportamento do Aluno.
Categorias Exemplos N
Mudança
S 5 : “[...] eu acho que a mudança está sendo essa, é a
avaliação diária contínua da pessoa... estar levando sempre
pro aluno em sala de aula.”
S 7: “Na verdade eu acho que nada disso mudou não...”
4
Rótulo
S 2: “É, coloca um rótulo, que é um aluno que não quer
aprender... eu tenho um sobrinho que eu não sei o que é
ele é inteligente mas ele tem um problema de
concentração, minha irmã tirou ele de um colégio público,
ele estuda num colégio particular sendo que ele tá com
notas baixas e quer dizer eu to vendo que não tem um
interesse também da escola [...]”
3
53
Categorias Exemplos N
Dificuldades
S 3: “Assim, ... mas se eu tivesse um aluno, e eu sei que o
aluno tem uma dificuldade de ... pessoas que tem
dificuldade....é uma pressão, não é , faz a prova, tem que
tirar tanto, não é , tem pessoas que não sabem lidar com
isso, entendeu, então você , usar outros métodos, outros
recursos, um trabalho [...]”
22
Prática X Teoria
S 1: “Isso na prática mesmo que a gente vai
descobrindo... só na prática... em sala de aula... primeiro tem
ali as regrinhas das escolas, não é, tem que ir por ali e na
prática você vai desenvolvendo isso o que você tem pra
aprender ali na prática [...]”
S 6: “Porque aqui você aprende uma coisa, os professores...
o certo é assim, e assim está, quando vai para o estágio
chega lá, a realidade é outra você se depara com outra
coisa, com outra situação ... que não é tão bonito, [...] você
termina o curso cheia de planos, ah, eu vou sair daqui eu
quero praticar tudo q eu aprendi aqui na faculdade, mas
quando você chega lá [...] é outra realidade [...] aí você
pensa assim: meu Deus mas eu aprendi isso... você
quando vai fazer aquele relatório, o relatório mesmo de
estágio você fica assim... você tem que colocar ali o que
você presenciou ... então essa realidade que gente assim
que é outra...”
3
Formação
S 2: “Pra preparar uma prova... é... eu me sinto preparada,
assim, na escola, o conteúdo é esse, eu vou estudar, tem
conteúdo, vamos pesquisar, nós fizemos PPE, a gente sabe
pesquisar [...] sabe onde buscar, qual vai ser o conteúdo que
a gente vai ter que ensinar e preparar uma prova de acordo
com a escola, enfim, eu me sinto preparada sim.”
S 2: Eu acho que no momento eu não estaria assim
preparada porque a única experiência que tenho de escola é
o estágio então eu acho muito complicado a avaliação
porque às vezes você na sala de aula o aluno que não
tem um bom desempenho, mas você não sabe o que está
por detrás disso as vezes pode ser uma relação com os pais
[...]”
3
Comportamento
do aluno
S 5: “Que eles (os professores) levam muito pro lado pessoal
também (hora de avaliar), né, aquilo que o aluno representa
em sala de aula [...]”
2
54
Dentro do tema “avaliação da aprendizagem”, a maioria dos sujeitos relatou
que está havendo uma mudança na forma de avaliar a aprendizagem dos alunos,
mas nem todos concordaram, acham que avaliação permanece da mesma forma de
anos atrás “[...] na verdade eu acho que nada disso mudou”. Quem concorda que
mudou enfatiza que hoje a avaliação é feita diariamente em sala de aula, não
somente por meio de testes e provas, mas pouco relata sobre como avaliar esse
aluno de forma global. relatos de sujeitos completamente contra provas e
trabalhos, mas ainda não sabem qual seria a forma ideal para se avaliar. A prova
aparece como sinônimo de pressão, algo injusto, por conta das questões de
“decoreba”. O grupo revelou a importância do coordenador e do supervisor da
escola trabalharem junto com os professores no sentido de conscientizarem a
família que não devemos avaliar mais desta forma, somente com provas e teste.
Como subcategoria apareceu a palavra rótulo com diferentes sentidos. Em um
primeiro momento o grupo fala da criança que não aprende e que fica com o rótulo de
incompetente, que não quer aprender. Às vezes a criança tem um problema de
concentração ou outro tipo de problema, e no entanto não um autêntico interesse
da escola. Daí decorre certo desânimo.
Em outro momento o termo aplicou-se mesmo ao professor recém-formado e
cheio de ideias novas. Ao entrar no mercado de trabalho, é rotulado como aquele
que tudo deseja mudar por impulso, e isso pode ocasionar certo desânimo. A
seguinte sequência de fala revela como o rótulo atribuído no momento da avaliação:
M: E vocês, alunos de Pedagogia, no último período, e o que
vocês aprenderam de como avaliar esses alunos? De que forma
a graduação ajudou vocês nesse sentido? S 2: Tem aluno que de
repente que não é bom em uma determinada matéria e às vezes
mesmo na reunião de professores ai a pessoa fala, ah aquele aluno
não há interesse [...] de repente o aluno tem uma dificuldade em uma
determinada matéria e já... como eu posso dizer? [...] É ele coloca
uma imagem naquele aluno, coloca um rótulo. S 2 : A gente não
avalia só conteúdo, mas também não avalia o aluno rotulando ele [...]
Ao aparecer a categoria dificuldade, surge outra vez a condenação para os
instrumentos como prova, teste, nota, como algo injusto para quem tem dificuldades
e quem não as têm. O grupo expressa sua dificuldade para avaliar os alunos
atendendo às diferentes demandas e reclama da falta de tempo, “que na prática é
tudo muito corrido para avaliar como gostariam”:
55
S 3: Se eu tivesse um aluno, e eu sei que o aluno tem uma
dificuldade de [...] pessoas que tem dificuldade [...]é uma pressão,
né, faz a prova, tem que tirar tanto, né, tem pessoas que não sabem
lidar com isso, entendeu, então você, usar outros métodos, outros
recursos, um trabalho [...].
S 2: [...] De repente o aluno tem uma dificuldade em uma
determinada matéria e já... como eu posso dizer? [...] É ele coloca
uma imagem naquele aluno, coloca um.
M: Rótulo.
S 3 . É, coloca um tulo, que é um aluno que não quer aprender...
eu tenho um sobrinho que eu não sei o que que é ele, é inteligente
mas ele tem um problema de concentração, minha irmã tirou, ele de
um colégio publico, ele estuda num colégio particular sendo que ele
tá com notas baixas e quer dizer eu to vendo que não tem um
interesse também da escola, entendeu, eu to até ajudando ele,
estudando com ele mas também eu vejo que os professores não
fazem nada para ajudar.
S 2: Eles não estão preparados ate mesmo para enxergar essa
dificuldade do aluno [...]. [...] Às vezes você na sala de aula o
aluno que não tem um bom desempenho, mas você não sabe o que
está por detrás disso as vezes pode ser uma relação com os pais,
por exemplo o caso do meu sobrinho mesmo, quando os pais se
separaram ,depois que os pais se separaram o desempenho dele
caiu.
S 3: Eu não me sentia preparada por causa disso, a professora
dentro de sala de aula ela tem um olhar focado, tem um olhar
diferenciado daquela pessoa que escomeçando agora a lecionar,
entendeu, então eu acho que essa é a dificuldade de você aplicar
uma matéria dentro da sala de aula e que aquela criança tem um
certo problema, qual seria o problema, qual seria a melhor situação
de você chegar perto daquela criança e desenvolver o trabalho,
entendeu, então é isso olhar, eu não tenho esse olhar, de chegar e
ver que aquela criança tem um problema e o que eu poderia fazer
para resolver o problema daquela criança.
Observando os discursos, parece-nos que os professores não fazem nada
para ajudar o aluno com dificuldades e que não estão preparados para lidar com tais
situações. Como fazer uma avaliação para atender esses alunos? Junto com estas
falas surge a dicotomia da teoria e da prática. As alunas não se sentem preparadas
para avaliar e dizem que na prática é que verão como vão fazer de acordo com a
regra de cada instituição, “pegar todo conteúdo que tem que ser dado e avaliar por
ali”. Podemos perceber que embora haja um apontar de mudança na avaliação, que
a progressiva é melhor do que avaliação tradicional, as alunas não possuem
56
embasamento para realizarem tal avaliação, ficando a mesma em um discurso
esvaziado, sem fundamentação teórica. Elas concordam que avaliar é muito difícil,
porque a família cobra da escola e do professor o rendimento do aluno.Esta
sequência mostra a relação prática versus teoria expressa pelas alunas:
M: como vocês fariam essa avaliação, se lhes dessem essa
autonomia toda, como vocês fariam?
S 1: Isso na prática mesmo que a gente vai descobrindo... na
prática [...] primeiro tem ali as regrinhas da escolas, né, tem que ir
por ali e na prática você vai desenvolvendo isso o que você tem pra
aprender ali na prática, eu acho difícil, eu acho muito difícil, saber
falar assim, não, eu tô pronta pra avaliar mesmo entendeu, e ver ali é
na prática, ou seja, é pegar as regrinhas da escola, estudar aquilo
ali, pegar todo o conteúdo que tem que ser dados, entendeu e ver,
fazer a avaliação por ali [...].
S 2: Eu acho que no momento eu não estaria assim preparada
porque a única experiência que tenho de escola é o estágio então eu
acho muito complicado a às vezes você vê na sala de aula o aluno
que não tem um bom desempenho, mas você não sabe o que está
por detrás disso.
S 6: Porque aqui você aprende uma coisa, os professores [...] o certo
é assim, e assim aí tá, quando vai ,no estágio chega lá, a realidade é
outra você se depara com outra coisa, com outra situação [...] que
não é tão bonito, como a número S2 falou, você termina o curso
cheia de planos, ah, eu vou sair daqui eu quero praticar tudo q eu
aprendi aqui na faculdade, mas quando você chega você se
depara frente a frente é outra realidade [...] a minha proposta seria
essa, observar cada aluno, ver no que ele tem dificuldade, pensar,
fazer ele pensar, aplicar atividades pra que ele consiga vencer as
dificuldades dele, entendeu, mas assim é o que eu penso, [...] né,
mas na prática [...] não é assim, é tudo muito rápido, é muito aluno,
você [...] tempo de corrigir, de dar certo, errado, meio,
entendeu? [...] sei lá, se eu agüentaria, porque estudei esse tempo
todo desde que eu sou adolescente, eu tenho uma visão, eu acredito
na educação, que a educação é capaz de mudar assim a realidade
de uma pessoa e eu não vou, tipo, me submeter ao sistema claro
que há muitas coisas eu vou ter que me submeter mas não em tudo,
me submeter ao sistema que não adianta eu vou ser mais uma e
nada vai mudar [...].
Ao falarem da sua formação destacaram o momento do estágio e o quanto as
funções de estagiárias são desviadas Elas acabam perdendo a oportunidade de
realmente aprender. Uma das alunas fala da importância de se ter o estágio, pois “é
ele que ajuda a se deparar com a realidade”. Nos aspectos desfavoráveis, a mesma
usa como argumento a realidade diferente do que é exposto teoricamente na
57
faculdade. Ao desempenhar outras funções, não vivenciaram momentos de
avaliação nos anos inicias, somente na Educação Infantil. O grupo relata que a
experiência somente com o estágio não é o suficiente. È interessante ressaltar que
os sujeitos relacionam sua formação falando somente do estágio, sem citar suas
aulas ou alguns teóricos. Neste tema podemos observar os seguintes diálogos:
S2: Pra preparar uma prova [...] é [...] eu me sinto preparada, assim,
na escola, o conteúdo é esse, eu vou estudar, tem conteúdo, vamos
pesquisar, nós fizemos PPE, a gente sabe pesquisar [...] PPE:
Práticas de pesquisa - pesquisas práticas [...] sabe onde buscar, qual
vai ser o conteúdo que a gente vai ter que ensinar e preparar uma
prova de acordo com a escola, enfim, eu me sinto preparada sim. S8:
Eu acho que no momento eu não estaria assim preparada porque a
única experiência que tenho de escola é o estágio então eu acho
muito complicado.
S 3: Eu fiz o estágio 1 que educação infantil, né, e C.A., então a
maneira deles avaliarem é brincando, assim a escola que eu fiz
estágio é uma escola maravilhosa, assim, modelo, acho que
existe ela assim (risos). S 3: Eu vou ser assim bem sincera, no meu
estágio 1 eu assim não consegui, eu não sei se alguém conseguiu
assim perceber essa avaliação, eu não, então, mas é difícil por quê?
Porque quando você chega ali como estagiaria é o que? É banheiro,
é pra ajudar a escovar dentinho, é pra trocar fralda, [...] essa é a
realidade você não fica ali 24 horas, o dia inteiro ou 4, e, 6 horas
direto ali com o professor, a escola às vezes não permite que você
participe com uma reunião com os pais então como é que você [...].
S 6: [...] você tem que falar: “Eu não estou aqui pra isso, eu to aqui
pra somar, pra aprender” [...].
S 3: No estágio nas series iniciais foi numa escola particular que pra
mim deixou a desejar não em relação aos professores mas em
relação a direção da escola, um tanto desorganizada,entendeu.’
Na categoria “comportamento do aluno”, em um dos estágios, um sujeito
relatou como a avaliação às vezes aparece vinculada ao comportamento do aluno:
“É bagunceiro merece a nota 5, aquele é quietinho, então merece 7”, sem considerar
se o aluno aprendeu ou não, sem critérios previamente estabelecidos, como aparece
na seqüência:
S 1 : Por exemplo, no jardim 2, jardim 3, é cobrado no concreto os
pais queriam ver o papel, entendeu, e também a coordenadora tinha
que está mostrando isso, não e no estágio 3 eu fiz numa escola
pública eu passei de COCs na escola que foi as reuniões com os
professores, ensino fundamental e ensino médio, que eu participei
de COCs e foi realmente como que ela falou, os aluno, ah, esse
58
freqüente, esse aqui não, esse aqui muito trabalho, entendeu,
mas não falou assim da desenvoltura dele em relação ao conteúdo
[...].
S 2: Uma coisa q eu achei interessante que eu tive aula hoje de
manhã [...] é a respeito da avaliação da imagem do aluno [...].
S 5: No Conselho de Classe, quando eu fiz o estágio 1, e assim,
eles tinham o planejamento e tal e na hora do conselho de classe
elas falavam: Fulano de tal, nesse conteúdo aqui alcançou mais ou
menos [...] ah, um 5,0, a outra falava ah não esse aqui não
sei não é muito bagunceiro e não sei o que não participava da
resposta do quadro, não trouxe o caderno de casa pronto, ah, muito
ruim, esse aqui [...] acho que uns 6,0 está bom pra ele, então, assim,
quer dizer, não levava muito em consideração se o aluno aprendeu
se não aprendeu [...].
M: O que você pode perceber dessa avaliação?
S 5: Que eles levam muito pro lado pessoal também, não é, aquilo
que o aluno representa em sala de aula [...].
Nas falas dos sujeitos, embora se acredite em uma avaliação progressiva
onde o aluno deve ser visto de forma, contínua, global, etc., percebe-se a dificuldade
de se trabalhar por esse caminho devido às questões subjetivas. Reconhecem a
exigência de uma avaliação formal por parte dos pais e da escola. Ficou nítido para
no grupo que as representações nas quais está apoiada giram em torno de mudança
na forma de avaliar, que proporcione aprendizagem sem uma avaliação tradicional.
Podemos perceber que a mudança vem carregada de sentimentos pessoais.
Como afirma Freitas (2002a): “Na área da educação há uma resistência em tudo que
se diz quantitativo. Usar número é ser positivista”. Neste mesmo sentido, para
Sobrinho (2003, p.15), “A avaliação é pluri-referencial. Então, é complexa,
polissêmica, tem múltiplas e heterogêneas referências”.
Ainda segundo Freitas (2002b), no Brasil o campo da avaliação tem sido
construído em boa parte de maneira informal e apenas mais recentemente procura
instituir-se. Como símbolo de exclusão e com forte ênfase tecnológica, a avaliação
ficou fora dos debates educacionais até os anos 90 do século passado. O advento
das técnicas qualitativas de pesquisa e avaliação contribuiu fortemente para que as
técnicas quantitativas ocupassem lugar tanto na pesquisa como nas formas de
avaliação. Cabe ressaltar que nos anos 90 a temática avaliação foi impulsionada
pelo Ministério da Educação por meio do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Básico (SAEB). É importante retomarmos esse diálogo sobre a avaliação no campo
59
da educação, seja em sala de aula ou no âmbito das instituições. Precisamos
indagar sobre suas possibilidades e limites. Como afirma Vianna (2002):
Podemos, a partir de tendências atuais [...] que em nível de escola e
mesmo de sistema de ensino, a avaliação se concentrará no uso de
instrumentos de medida especialmente para tomada de decisões
administrativas, É possível que com o treinamento de avaliadores,
formas alternativas venham surgir (avaliação individualizada,
qualitativa), em médio prazo, especialmente se instituições
especializadas se dedicarem à pesquisa e à avaliação.
5.1.3 Tabela 5 Análise Temática: Tipos de Avaliação (N= Ocorrências) Grupo
Focal 1
A próxima Tabela refere-se ao tema “Tipos de Avaliação” e tem como
categorias: Teóricos, Público e Privado, Mundo do trabalho, Tradicional X
Progressiva.
Tabela 3: Análise Temática: Tipos de Avaliação ( N= Ocorrências) Grupo Focal 1
Categorias Exemplos N
Teóricos
S 3: “Ah, o Paulo Freire, Piaget, Vygotsky muito, ah, pra
avaliação: Paulo Freire com certeza. Piaget, Vygostky, também,
mas pra Educação Infantil e Paulo Freire na Educação de Jovens
e Adultos principalmente, não é.”
S 3: “Não, é... Piaget quando ele divide em fases da
aprendizagem fica mais fácil realmente para nós professores
organizarmos uma aula, um plano de aula, um projeto uma vez
que a gente sabe o que a criança é capaz de assimilar naquele
período, entendeu, como funciona o organismo dela assim pra
assimilar de até onde a gente pode ir uma ideia de até onde a
gente pode ir exatamente, pra gente não preparar, uma criança
de 5 anos a gente preparar pro vestibular, entendeu, não, porque
se deixar é assim mesmo.”
2
Público e
Privado
S 2: “Eu percebi coisas contrárias, eu fiz estágio numa escola
particular, onde a professora tinha uma autonomia, a diretora não
entendia nada porque não era da área, não, sério, a professora
nem sabia o plano de aula, plano de curso, então, se não fosse, a
professora era maravilhosa, se não fosse a professora os alunos
3
60
Categorias Exemplos N
estariam perdidos, e fiz estágio 2 e 3 numa escola pública onde
parece que os professores davam aulas por obrigação, seguia
aquela coisa, sabe, independente se o aluno tava aprendendo se
não tava aprendendo então foi uma grande diferença, na escola
pública, na escola particular... e a teoria também é bem diferente
da prática.”
Mundo do
trabalho
S 3: “[...] futuramente quando ele for para o mercado de trabalho,
não é avaliar, ó ele preparado... que hoje a ideia que se tem
de avaliação, de escola, de educação é educar para passar no
vestibular, e na verdade o que eu aprendi na escola é educação
pra vida, pra você lidar com os grupos, no trabalho, enfim, então
eu vejo assim o professor deve criar situações [...]”
5
Tradicional x
Progressiva
S 3: “[...] às vezes a pessoa tem a dificuldade mesmo de colocar
no papel mas tem que ter avaliação mas não colocar na época
mesmo, que anos atrás se fazia o ginásio, o colegial era avaliado
somente ali naquele papel hoje é que realmente mudou um
pouco, não é [...]”
S 3 “esse processo de avaliação é mais individual, não é , é mais
aquele modelo ...é mais individual, o professor busca, pelo menos
é o que eu penso, ... ele não tem prática nenhuma, nunca entrei
numa sala de aula pra dar aula... então eu acredito que eles
procuram observar o aluno individualmente, avaliar
individualmente.”
S 4: “[...] o professor em sala de aula tem que avaliar o
desempenho do aluno, então quer dizer no dia a dia ela vai
avaliando essa pessoa entendeu, e não naquele momento de
prova.”
S 4: “tem que trazer os pais para dentro da escola, pra começar
abrir que existe uma outra forma de avaliar não é só ali no
contrato não, entendeu, saber o que o aluno decorar pra fazer
uma prova cara, tem pessoas que decoram numa boa, bom pra
decorar mas, pergunta se aprendeu aquilo ali.”
24
Ao perguntarmos sobre os teóricos que usariam ou não em sua prática
cotidiana no que diz respeito à avaliação da aprendizagem do aluno, a maioria das
alunas citam autores como: Freire, Piaget e Vygostky sem detalhar a teoria,
relacionando-os com sua vivência profissional. O sujeito que tenta relacionar as
fases destacadas pela epistemologia de Piaget tem dificuldade para relacionar o que
Piaget propõe com sua teoria e o tema avaliação. Ao observar a bibliografia
61
estudada no curso de Pedagogia nesta instituição, tínhamos como expectativa de
respostas que os sujeitos fossem citar os teóricos “estudados” tais como: Celso dos
Santos Vasconcellos em seu livro “Avaliação da Aprendizagem práticas de
mudança: por uma práxis transformadora”, Perrenoud; Libâneo; Franco; e autores
citados em bibliografia complementar tais como: Luckesi em “Avaliação da
aprendizagem escolar”, referência bibliográfica sugerida na disciplina de em Didática
II
8
.
Cabe ressaltar que no último período em que se encontram as alunas, ainda
irão estudar na Disciplina: Avaliação Institucional, os autores Sobrinho; Demo e o
Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior no Brasil/ MEC. Embora a
universidade tenha como proposta apresentar autores com uma visão progressiva
de avaliação, como Demo, Luckesi e Perrenoud, pouco se aprendeu a respeito
dessa tão esperada mudança de avaliação, o que realmente esses autores
defendem e como a avaliação segundo essa concepção é aplicada.
Percebemos as duas concepções de avaliação, a tradicional e a progressiva.
Se o lugar do preferível é uma avaliação progressiva, pouco se sabe sobre os
autores e suas concepções. A seguir observaremos as falas acerca das abordagens
teóricas:
S4: Ah, o Paulo Freire, Piaget, Vygotsky muito, ah, pra avaliação:
Paulo Freire com certeza. Piaget, Vygostky, também, mas pra
Educação Infantil e Paulo Freire na Educação de Jovens e Adultos
principalmente, né. M: E alguém sabe dizer qual a contribuição
deles? S4: Não, é... Piaget quando ele divide em fases da
aprendizagem fica mais fácil realmente para nos professores
organizarmos uma aula, um plano de aula, um projeto uma vez que a
gente sabe o que a criança é capaz de assimilar naquele período,
entendeu, como funciona o organismo dela assim pra assimilar de
ate onde a gente pode ir da uma ideia de ate onde a gente pode ir
exatamente, pra gente não preparar, uma criança de 5 anos a gente
preparar pro vestibular, entendeu, não, porque se deixar é assim
mesmo [...].
Durante a pesquisa foi abordada a questão da diferença entre a escola
pública e privada. Tais diferenças podem ser observadas na discussão que se
segue:
8
Ver página 44.
62
S 2: Percebi coisas contrárias, eu fiz estágio numa escola particular,
onde a professora tinha uma autonomia, a diretora não entendia
nada porque não era da área, não, sério, a diretora nem sabia o
plano de aula, plano de curso, então, se não fosse a professora que
era maravilhosa, se não fosse a professora os alunos estariam
perdidos, e fiz estágio 2 e 3 numa escola pública onde parece que os
professores davam aulas por obrigação, seguia aquela coisa, sabe,
independente se o aluno tava aprendendo se não tava aprendendo
então foi uma grande diferença, na escola pública, na escola
particular [...].
S 6: [...] Mas quando você chega você se depara frente a frente é
outra realidade um exemplozinho assim básico, olha, tomada, não
pode ter tomado aqui, não é, na parte [...] você chega na escola
você tomada, você armário com quina com porta que não
fecha então assim, você pensa assim: meu Deus mas eu aprendi
isso... aí você quando vai fazer aquele relatório, o relatório mesmo de
estágio você fica assim... Você tem que colocar ali o que você
presenciou [...] então essa realidade que gente vê assim que é outra
[...] (Público) .1 : Para professora e não se ele se desenvolveu se
aprendeu, não está preocupado muito com isso não, não sei se nas
outras escolas a realidade é diferente, mas na que eu fiz estágio é
assim, foi assim [...] (Privado).
S 3: Olha, os meus 3 estágios eu fiz em 3 escolas diferentes [...] o
primeiro em Educação Infantil numa escola que é filantrópica,
Educação Infantil, e lá, mesmo sendo a escola que era [...] Educação
Infantil filantrópica, eu vi um tratamento tanto com as crianças, as
professoras em relação a ensinar eu vi coisas maravilhosas,
entendeu, [...] mas assim as tarefas, resultados holísticos, mesmo
sendo a escola filantrópica [...] o trabalho é muito bom [...] no estágio
nas séries iniciais foi numa escola particular que pra mim deixou a
desejar não em relação aos professores, mas em relação a direção
da escola, um tanto desorganizada,entendeu e não foi feita nenhum
tipo de avaliação, como prova, dentro da escola e agora o estágio 2,
também foi feito numa escola particular.
S6 : [...] Eu fiz numa escola pública eu passei de COCs na escola
que foi as reuniões com os professores, ensino fundamental e ensino
médio, que eu participei de COCs e foi realmente como que ela falou,
os aluno, ah, esse freqüente, esse aqui não, esse aqui muito
trabalho, entendeu, mas não falou assim da desenvoltura dele em
relação ao conteúdo [...].
O grupo conversa sobre a forma de avaliar nas escolas públicas e privadas,
mostrando que na escola particular o professor também é avaliado mediante o
resultado das avaliações que são feitas com seus alunos. Fica nítida a crítica que
um dos sujeitos faz à professora que não observou que sua aluna sabia ler. Foi
um momento de descontração no grupo em relação a tal episódio que ocorreu em
um CIEP, mostrando como os professores avaliavam em um conselho de classe,
63
sem nenhum rigor, critério de avaliação, mas de forma subjetiva e inapropriada.
também uma crítica para escola privada pela falta de preparo da direção para
conduzir a escola.
Ao discutirmos o objeto da pesquisa “o que é avaliação”, muitos abordaram a
questão do mercado de trabalho, como podemos ver a seguir:
S 3: ela falou sobre a questão de ser avaliado no trabalho também,
eu trabalho na empresa do meu tio e a gente trabalha numa
autopeças e pra fazer a ficha geralmente a gente tem que tirar foto
do local [...] então os representantes vão a empresa [...] perguntam:
“quantos funcionários tem?” quer dizer é uma avaliação, não é , tira
foto, o local é alugado.... pra depois tá havendo uma aprovação
[...]depois da aparência eu acho que é como você se expressa
também, conta bastante [...] acho que o tempo todo a gente está [...]
(sendo avaliado).
Na categoria “Tradicional versus Progressiva”, podemos observar as
seguintes falas das alunas:
S 3: “O que é o vento? É o ar em movimento”, mãe, pode me
tomar... minha mãe “o que é o ar em movimento?” né, para eu
ficar esperta, pra eu ficar ligada, “o que é o ar em movimento?” “é o
vento” então ta esperta, ta pronta pra fazer a prova, isso era a
prova, a avaliação (um questionário, não é) e hoje realmente
avaliação é assim tem um contexto, enfim a gente parte da nossa
realidade assim, de uma maneira que a gente vai entender o que ta
acontecendo [...].
S 6: Então, assim, o que eu pude observar é essa questão mesmo
da minha época também era demais era tudo decoreba, era ditado,
assim, gente eu tinha assim pavor de tabuada, aquilo ali pra mim era
se, [...] e assim eu tinha obrigação de saber o que era aquilo ali de
trás pra frente de frente pra trás, então assim, hoje você ver essa
mudança.
S3: Esse processo de avaliação é mais individual, né, é mais aquele
modelo [...] é mais individual, o professor busca, pelo menos é o que
eu penso, [...] ele não tem prática nenhuma, nunca entrei numa sala
de aula pra dar aula [...] então eu acredito que eles procuram
observar o aluno individualmente, avaliar individualmente [...]. [...] Eu
ficava tão nervosa, não dormia a noite, sabe, quando sabia que tinha
prova, sabe, se eu não tivesse os meus pais, nunca eles iam deixar
eu sair da escola, mas por mim, eu ficava com tanto medo q eu ate
toparia sair [...] entendeu, tentei avisar [...] então, eu acho que, eu [...]
a professora tem que ta observando isso e vendo outros métodos,
outros recursos para avaliar, entendeu.
64
S5 : Na escola da minha tia, a avaliação é teste, prova, muita nota
qualitativa [...]
M: O que é nota qualitativa?
S5: É quem presta atenção na aula, é quem faz o dever de casa [...]
é uma forma que sai a nota final, é a avaliação [...].
S7: Na verdade eu acho que a prova é dada ao aluno como método
de avaliação porque é mais fácil, porque é muito mais difícil você
abordar o aluno individualmente né, então te jogam uma prova.
S5: Tem que ser um método composto por vários itens não só o
desempenho do conteúdo.
S2: Contínua, mas, como a 3 falou, de acordo com a individualidade
e necessidades de cada aluno.
Fica marcante na discussão do grupo a preferência por uma avaliação
progressiva, mas através dos relatos percebemos que os sujeitos não sabem
colocar em prática esta concepção de avaliação e fazem uma crítica severa à
concepção tradicional, baseada somente em suas vivências na infância e relata
fatos subjetivos, como, por exemplo, avaliar de forma positiva quem presta atenção
nas aulas.
De acordo com Sousa (1998), os autores da área educacional contribuíram,
buscando novos caminhos para o processo avaliativo. Torna-se nítido que existe, no
campo educacional uma preocupação com a avaliação escolar. De acordo com a
autora, apesar das possibilidades da avaliação assumir uma direção classificatória e
seletiva, alguns avaliadores brasileiros buscaram construir uma nova teoria de
avaliação para produzir mudanças, para superar práticas no cotidiano escolar.
Podemos citar alguns exemplos de trabalhos de Hoffman (1997), Vasconcelos
(1993), Lüdke (1992), Pena-Firme (1994), Sousa (1991).
Firme (1994) classifica a avaliação em quatro gerações: Mensuração,
(avaliação igual à medida); a segunda onde o currículo precisava ser revisto; a
terceira em que deverá ser julgado se o aluno aprendeu ou não Juízo de valor. A
quarta, em que a avaliação tem como principal propósito dar sustentação, intervir
durante todo o processo.
Segundo Gatti (2002, p.13), “avaliação educacional é avaliação educacional”,
Porém, avaliação em escolas, ou salas de aula, com projetos socioeducacionais,
explicitados ou não, mas diferentes, com alunos em condições socioeconômicas
65
diferentes, com professores com suas características, seu envolvimento
diferenciado, esta avaliação é distinta, mesmo partilhando a mesma política geral do
país. Ao nos apropriarmos da citação de Gatti (2001) percebemos que não podemos
opor avaliação Progressiva X Tradicional de forma simplificadora, uma boa e outra
ruim, certa e errada. Não podemos reduzir as possibilidades de compreensão e
aprofundamento, observando a heterogeneidade do campo da avaliação
educacional, com seus diferentes objetos e objetivo.
O grupo ressalta que a avaliação é contínua e que houve uma mudança na
forma de avaliar. Ao analisarmos as falas dos sujeitos do Grupo focal 1, foi
apresentado o que eles pensam sobre a avaliação da aprendizagem dos alunos no
ensino fundamental. Se este grupo que é caracterizado por sujeitos que não
possuem experiência, o que sabem sobre como avaliar está baseado em suas
leituras, sua vida acadêmica, o que foi transmitido por seus professores. Lembramos
que os termos quantitativo e qualitativo constam na Lei 5692/71 (BRASIL, 1971),
pela qual ficou determinado que a avaliação escolar os aspectos qualitativos
estariam circunscritos ao que poderia ser considerado como afetivo e os aspectos
quantitativos, as questões de conteúdo focadas na cognição, estariam associados a
provas e testes. Neste caso, o aspecto qualitativo pode ser interpretado de maneira
equivocada pelos docentes ao focarem a avaliação no indivíduo como um todo
(dificuldades emocionais, comportamento, dificuldades sociais, dificuldade de
aprendizagem), na afetividade e não levando em questões cognitivas.
Podemos observar que existem indícios de que em suas “representações
sociais ou em seu senso comum” (JODELET, 1989), os aspectos qualitativos
estariam circunscritos ao que poderia ser considerado como afetivo e os aspectos
quantitativos, as questões de conteúdo focadas na cognição, estariam associados a
provas e testes.
A avaliação tradicional é apresentada como algo injusto, como pressão, a
prova, uma nota, ao que o aluno decorou para responder. Ao ressaltarem a questão
da avaliação como algo injusto parece que estão falando das suas próprias vidas,
pois elas trabalham o dia todo, pagam uma faculdade, estão ali das 19 às 23 horas,
de segunda a sexta-feira, com sacrifício e ainda tem professor que nota baixa.
Isso não é justo, pois muitas são as dificuldades. As alunas colocam a avaliação
progressiva como mais justa, o professor em sala de aula tem que avaliar o
66
desempenho do aluno no dia-a dia, mas relatam que não sabem como fazer dessa
forma.
As práticas avaliativas referentes à aprendizagem dos alunos no ensino
fundamental são orientadas por questões sociais, históricas e políticas, articuladas
às informações, experiências e vivências dos sujeitos mediante suas interações
sociais. Tudo isso pode reforçar ou não a constituição de representações sociais de
avaliação da aprendizagem do aluno. Nota-se que, tradicionalmente, a sociedade e
a própria cultura escolar esperam estas classificações, ao buscarem hierarquizações
que apontem excelências quanto ao domínio de conhecimentos, o que reforça o
ideal de sujeito competente (PERRENOUD, 1999). De acordo com Freitas (2002, p.
7):
As políticas públicas estão colocando o campo da avaliação em outro
patamar. A emergência do Estado avaliador produziu uma demanda
por conhecimento em várias áreas e setores da sociedade como
apoio para tomada de decisão e transparência de ações e
resultados.
Segundo (LÜDKE, 2002, p.95-96), em paralelo ao descuido de nossos
acadêmicos com “os jeitos de fazer” avaliação, se situa uma outra questão pouco
cuidada pela universidade. Trata-se da velha e clássica questão da formação de
professores: a formação para o exercício da avaliação escolar.
Percebemos que há uma lacuna na formação, pois ao serem abordadas
durante o GF1 sobre os autores da área de avaliação que estudaram durante o
curso de Pedagogia, as alunas pareceram não ter aprendido — ou já esqueceram os
que foram citados na Estrutura Curricular do curso de Pedagogia: Perrenoud (2001);
Demo (2004); Luckesi (1995); Franco (2001), entre outros. Ao serem interrogadas
com a pergunta: “Quais foram os autores que estudaram no curso, que consideram
mais importantes para o aprendizado sobre avaliação? O grupo ficou calado.
Alguns sujeitos citaram autores tais como: Freire, Piaget, Vygotsky; que embora
sejam pessoas importantes para educação, o são autores que possuem como
referencial de seus estudos a temática da avaliação. Ao serem questionadas de qual
seria a contribuição desses autores, somente um sujeito falou sobre Piaget, de
maneira insuficiente sem fazer relação com a avaliação.
Segundo a fala de Sandra Jovchelovitch, em uma palestra realizada na UFRJ
em 2009 no Rio de Janeiro, todo saber é feito de representação, busca representar
67
algo e que envolve ao mesmo tempo uma dimensão cognitiva; relações
intersubjetivas que é social e uma dimensão subjetiva que é particular. É neste
contexto que pretendemos compreender as representações sociais das participantes
sobre avaliação da aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
5.2 RELATO DO GRUPO 2
O que caracteriza o Grupo Focal 2 são as alunas do último período do curso
de Pedagogia que possuem experiência no magistério. Este grupo menciona que
mudanças no currículo, nos livros didáticos e na formação continuada dos
professores contribuíram para uma mudança na concepção de avaliação, mas
também afirmam que as mudanças são lentas e que ainda o que vigora é a
concepção de avaliação tradicional.
Neste Grupo os temas inferidos na análise de conteúdo foram: “Definição de
avaliação avaliação do aluno”, “Tipos de Avaliação” e “Formação”. Assim como foi
feito para o Grupo 1, a seguir serão apresentadas as tabelas referentes a cada um
dos temas, com suas categorias, exemplos e número de ocorrências de cada uma.
5.2.1 Tabela 6 Análise Temática: Definição de Avaliação Avaliação do aluno
(N= Ocorrências) Grupo 2
Conforme indica a tabela 4 (Grupo 2 ), no tema “Definição de avaliação” as
principais categorias inferidas foram: Avaliação da aprendizagem do aluno,
Comportamento; Conteúdo; Mudança; Interferência Familiar.
68
Categorias Exemplos N
Avaliação da
aprendizagem do
aluno
S3: Eu acho que avaliação dentro da escola, ela nada mais é
do que você avaliar o aluno quanto à capacidade de
absorver a informação, o aprendizado e o quanto esse aluno
ele se relaciona, como ele se desenvolve, no sentido amplo,
tanto na questão do conhecimento quanto a questão de
comportamento [...].
S6: Bom, é o que eu falei no começo, né, que é
diagnosticar primeiro o aluno, saber o que ele traz de
bagagem da vida dele lá fora, o que ele já traz pra a sala de
aula [...].
2
Comportamento
S3: eu acho que o comportamento, a atitude, o que o aluno
traz dele, ou de casa, do exterior, ele... deveria está dentro
dessa avaliação até pra você embasar porque aquilo, aquela
dificuldade, você percebe usando esse tipo de estratégia, por
isso eu acho que é incompleta. Eu acho que é muito mais do
que simplesmente ver a nota, que saber fazer 2+2 [...]Eu
faço avaliação da seguinte maneira, primeiro eu faço análise,
eu presto atenção em tudo do aluno, em qual situação está,
o comportamento, se o aluno participa, se ele demonstra
interesse, se ele tenta realizar as atividades, isso tudo pra
mim já consta avaliação [...].
4
Conteúdo
S6: [...] a criança chega com uma novidade falando de uma
coisa que não tem nada a ver que podia ser aproveitado, mas
por não estar no conteúdo, por não estar naquele
planejamento, não é aproveitado, é, eu fiz estágio num lugar
que eu acho que foi privilegiado porque assim, eles
trabalhavam muito que a criança trazia de fora, muita
bagagem deles, e como eu disse no começo, a criança tem
que ser primeiro diagnosticado o que a criança sabe,
depois e assim, somar tudo, não no papel, não numa
prova, mas como aquela criança é em tudo, no geral, no
grupo, com o professor, sobre afetividade, como é, como não
é, como ela assim, lhe dá na sala de aula como um todo.
1
69
Categorias Exemplos N
Mudança
S5: É... na época que os meus filhos eram pequenos, eu
tenho 2 filhos adolescentes, ainda tinha esta questão de,
como é que eu vou explicar... daquela cobrança de cópia,
alfabetização, era o C.A, agora é ano, é cópia, é vogal a,
e, i, o, u, as consoantes, que a gente viu o ba, be, bi, bo
bão...Os livros já não são mais assim, na década de 90 eram
assim, hoje em dia a maioria, ainda tem, mas são poucos,
então a coisa está mudando mas também precisa investir
na formação continuada, tem professores que ainda não teve
essa oportunidade de ter o acesso a essa informação... a
essa mudança [...].
S6: Não estão com a cabeça aberta para essas mudanças, ao
é , tem gente que vem da faculdade cheios de sonhos bate
num professor, num lugar que o professor totalmente fechado
e hoje em dia, avaliação antigamente, entrou agora esse
sociointeracionista, né, essa coisa de troca com o outro, de
interagir, então eu acho assim que a avaliação ela tinha que
buscar, é... não é mais aquela coisa, a criança só é avaliada
com prova, entendeu, buscar, é... Avaliar o que o aluno já traz
na bagagem, o que levou de bagagem daquela turma,
daquela série, e não só o que ele aprendeu de provas, não
precisa necessariamente avaliar só o que ele escreveu e sim
um conjunto.
2
70
Categorias Exemplos N
Interferência
Familiar
S 7: Eu acho que avaliação tem aquela questão dos pais,
porque assim às vezes o professor faz aquela avaliação bem
crítica, uma avaliação bem real e cai naquilo, ah, será que os
pais vão gostar do que falando do filho dele, se isso é
compatível realmente com o que acontece?
S5: [...] onde eu trabalho, a gente procura colocar o máximo
do que acontece que a gente não está explicitando tanto,
porque é uma coisa mais coletiva e é isso que acontece,
vamos dizer assim, de negativo entre aspas, nós
chamamos os pais individualmente pra está conversando,
porque até a gente precisa saber se tem algo além daquele
comportamento em sala de aula, porque que a criança está
trazendo aquilo, aquela falta de socialização, a questão (não
entendi) e até que tem um tipo de terapia por fora, até com
os terapeutas a gente faz, a gente conversa.
S5: [...] eles (os alunos) chegam numa fase que aí já começa
aquela preocupação com o vestibular, a cobrança da família,
a cobrança da escola, a cobrança da sociedade... então esse
olhar individual deveria ir até a 3ª série do Ensino Médio.
S3: [...] e quando tem algum problema, algum déficit de
atenção eu chamo o pai, alerto ou então eu falo com o
professor, pois como eu não sou professora da escola eu
tenho que passar para o professor, então passo para o
professor, e faço uma avaliação tradicional porque os pais
exigem se eu não fizer uma avaliação, uma prova, um teste,
os pais cobram então eu tenho que fazer, eu procuro sempre
fazer dessa maneira [...].
6
Com referência à análise das falas, pode-se afirmar que são subjetivas no
que diz respeito à categoria comportamento. A metáfora da bagagem que apareceu
na categoria mudança está vinculada ao afeto, à valorização do que não é possível
medir ou mensurar, e àquilo que o aluno experimenta mas não consegue
demonstrar no ato da avaliação
5.2.2 Tabela 7 – Análise Temática: Tipos de avaliação (N= Ocorrências) Grupo 2
71
A seguir apresentaremos a Tabela 5, referente ao tema: Tipos de Avaliação,
com as categorias: Tradicional versus Progressiva, Educação Infantil e Ensino
Fundamental, Afetividade, Avaliação de Rede.
Categorias Exemplos N
Tradicional X
Progressiva
S3: Avaliação nas escolas? Que eu vejo, não é , não tem
avaliação de como a gente tá aprendendo agora [...].
S6: Pelo que eu entendi, a aluna 3 quis dizer que assim, que
é avaliado o conteúdo, o aprendizado, o que aprendeu
ou não, não o que aquela criança levou de bagagem daquela
matéria, daquela... não do aprendizado, a, b, c, d, o
alfabeto, coisas assim de conteúdo, mas sim um
aprendizado num todo, pra vida [...].
S3: De primeira parte, focando, não é, eu, pelo menos no que
eu observo na escola, foi o que eu disse, muito pouco se olha
o aluno é mais questão de conta, e ver se o conteúdo foi
passado, não necessariamente transmitido assim, que ele
tenha aprendido, mas desde que ele faça a provinha e saiba,
está ótimo, o que acontece na sala de aula em si é pouco
avaliado.
S7: [...] os professores se preocupam muito com a nota, tem
muito aquele foco na média do aluno e acabam esquecendo
esquecem de interagir mesmo com o aluno, às vezes eles
entram mal dão falam um bom dia, um boa tarde, da sua
aula e vai embora, parece muito que aquelas crianças já
estão a nível universitário [...].
S6: Acho que depende da avaliação de cada lugar que a
gente vai trabalhar [...].
10
72
Categorias Exemplos N
Educação
Infantil e Ensino
Fundamental
S6 : [...] Eu acho que... na Educação Infantil, acho que tem
que está disfarçada naquilo que acontece que às vezes, por
exemplo, na escola que eu trabalho, eu escrevo a avaliação,
mas sempre tem que passar pela coordenação primeiro, pra
ver se os termos estão adequados, pra ver se eu não estou
falando tanto a verdade, porque... a verdade se não está
atingindo os pais, se os pais vão gostar do que eu escrevi, se
não vão, então assim, Educação Infantil, você meio que tem
que da uma disfarçada no que realmente acontece, às vezes é
mais no termo de comportamento do que aprendizado.
S5: [...] É, mas, na Educação Infantil, existe essa questão da
avaliação individual, não é, que a gente observa muito o social
da criança, não tem tanta essa questão ligada a conteúdo, é
mais a socialização, comportamento, atenção, enfim, a
questão do relatório [...].
S3: [...] que o que acontece na Educação Infantil devia ser até
o 9º ano você avaliar o aluno, como ele se socializa, como ele
se comporta, quais são as dificuldades, se tem dificuldades
com a comunicação, tem dificuldade com algum tipo de
linguagem, o aluno consegue se relacionar em grupo, isso é
um foco de grande problema no Ensino Fundamental [...].
S7: Eu acho que no Ensino Fundamental muitos professores
têm aquela velha história, né, ah eu tô lá, vou lançar o
conteúdo, o aluno aprende se quiser, se tiver interessado, vou
fazer a minha parte, então assim o professor fala sobre o
conteúdo, o aluno aprende se quiser, se ele tiver interessado
ele vai perguntar se não tiver também depois ele corre atrás,
ele faz uma recuperação e pronto [...].
8
Afetividade
S7: [...]já tão nas salas anotando tudo e esquecem do
principal, que são crianças e que precisam de até mesmo de
atenção, porque geralmente eles falam que dependendo da
escola, as turmas são muito grandes, as salas são muito
cheias, e o professor esquece de prestar atenção em cada
aluno em particular e tá interessado só na disciplina, ah tem
muito conteúdo, muito conteúdo, eu preciso lançar tudo e
esquece do foco que são as crianças, o aprendizado, como é
que está sendo desenvolvido.
S6: [...] pelo que ele, como foi colocado, se ele está passando
por algum problema em casa, no que pode afetar, acho que a
parte da afetividade, o aluno, ele aprende mais quando ele
gosta de quem o ensina, então ele tem aquela interação com o
professor, ele vai ter mais gosto, vai querer aprender mais, eu
acho que isso tudo interfere sim na avaliação.
2
73
Categorias Exemplos N
Avaliação de
Rede
S5: No caso da Provinha Brasil? É, é uma coisa, que eu,
particularmente, eu não concordo muito, porque inclusive
numa disciplina que nós tivemos, o aluno naquele momento
ele pode apresentar um nervosismo, uma tensão e aquilo
ali, o papel não vai está avaliando ele, de repente uma
criança interessada, uma criança esforçada, uma criança que
apresenta um comportamento, o papel, essa provinha, a
minha opinião pessoal, eu acho que isso não medindo
conhecimento, eu não digo nem conhecimento eu digo
potencial.
S5 : [...] por isso tanto da provinha Brasil, o ENEM, o próprio
vestibular, então assim está avaliando o aluno, e o decorrer do
período dele escolar, não conta? Sabe, então eu acho que é a
questão cultural mesmo do papel, de ser avaliado no papel.
2
5.2.3 Tabela 8 – Análise Temática: Formação (N= Ocorrências) Grupo 2
A Tabela 6 refere-se ao tema “Formação” e tem como categorias inferidas:
Docente, Teoria e Prática, Referenciais Teóricos, que mostraremos a seguir.
74
Categorias Exemplos N
Docente
S3: [...] Mais do que você simplesmente aprender a avaliar
você aprende a ver os resultados da avaliação, que é muito
importante, porque você saber avaliar, saber fazer um
questionário, no caso dos questionários, você faz os
questionários, olhar pras respostas, não sabe o que vai ser
dado ali não tem significado, então muito mais do que você
saber avaliar é você saber lidar com os resultados dessa
avaliação [...] a faculdade não vai te ensinar a montar uma
prova ,mas ela vai te ensinar a como você deve fazer
aquela pergunta, como você deve avaliar o aluno, não é
simplesmente: “Quem descobriu o Brasil?”, entendeu, a
pergunta objetiva, eu acho que o olhar que a faculdade
mostrou pra gente... é que existem outras maneiras de
avaliar, então você pode em vez de ter um papel
simplesmente com o nome do cara que descobriu o Brasil,
você pode questionar como é que foi o processo [...].
S7: Eu acho que o problema não é se eu me sinto
preparada para avaliar, mas se a escola que eu vou atuar
está preparada para a avaliação da nossa formação, porque
é uma avaliação mais diferenciada do que... Quer dizer que
essas pessoas que já estão formadas dez anos, por
exemplo, de repente, a formação que nós tivemos é
diferente, o nosso olhar é diferente, será que aquela escola
vai aceitar o nosso tipo de avaliação?
8
75
Categorias Exemplos N
Teoria e Prática
S6: E muitas vezes porque a gente nem sempre é o que
deveria... De a prática andar com a teoria, mas a gente
sabe que não vai ser assim, igual a gente aprende coisas
aqui na faculdade que a gente no estágio que é o que
Wallon falou, Piaget falou, mas na verdade não é o que é
colocado em muitos lugares, a gente sabe que a teoria e
prática deveriam andar juntas mas nem sempre é o que
acontece fora, então essa parte de avaliação, eu quando
entrei, é..., Eu achava que avaliar era só uma prova, eu não
sabia que tinham todas essas formas de avaliar, que tinha
que saber o que o aluno traz, uma bagagem, o que ele já
sabe... é... Nada disso, pra mim era dar uma prova e se
a criança naquele dia ali estudou... ela não ia ser avaliada
num todo, no que ela vem nos 365 dias de aula mas sim
nos dias de prova... Seria avaliado na prova e não assim
num todo.
S2: [...] preparada (para avaliar) a gente está, a gente
estudou 3 anos e meio, a gente tem o conteúdo, a parte
teórica, mas vai depender da Instituição que a gente vai
estar atuando, vai depender de como a Instituição vai
aceitar, se ela vai estar aberta pra nossa avaliação, nosso
modo de avaliar, a gente não sabe, a gente vai estar numa
Instituição mais tradicional, mais fechada, não é aquilo, tem
que ter isso, e vai ser assim, se vai está julgando a
prova, para os pais ou se a gente tem a liberdade pra
avaliar como a gente aprendeu.
4
Referenciais
Teóricos
S6: [...] é o que Wallon falou, Piaget falou [...]. 1
Para exemplificar a categoria “Docente” segue abaixo um trecho do debate.
S5: Uma questão que eu acho muito importante também é a própria
formação continuada do professor, porque nós aqui, eu considero
que nós somos privilegiados porque a gente pegou o currículo
novo, um novo olhar, uma nova Pedagogia, uma nova didática, nós
vamos terminar o curso já com essa visão da individualidade do
aluno, respeitando isso. S7: Eu acho assim: o normal. Formação em
nível médio que é dado o básico do básico. Eu, particularmente, não
me lembro de ter visto nada sobre avaliação. Normal é um curso
voltado para a Educação Infantil que se [...] que se fala um pouco
como lidar com as crianças na sala, mas com uma forma mais
rústica, mas aqui na graduação, eu acho que me deu muito mais
embasamento teórico, foi além do que eu esperava, assim, mais
76
além do que eu realmente sabia, eu realmente aprendi muito mais
coisas aqui do que no normal, no normal é uma coisa muito básica,
muito pincelada. S3: Eu não tenho formação normal então eu entrei
aqui [...] tudo que tem aqui dentro da faculdade pra mim é novo, tudo
que eu aprendi aqui dentro pra mim foi [...] muito [...] porque eu não
tinha nada [...].
Acerca da categoria “Teoria e Prática” podemos destacar os seguintes
pronunciamentos:
S6: E muitas vezes porque a gente nem sempre é o que deveria... da
prática andar com a teoria, mas a gente sabe que não vai ser assim,
igual a gente aprende coisas aqui na faculdade que a gente no
estágio [...] que é o que Wallon falou, Piaget falou, mas na verdade
não é o que é colocado em muitos lugares, a gente sabe que a teoria
e prática deveriam andar juntas mas nem sempre é o que acontece
fora, então essa parte de avaliação, eu quando entrei, é [...], eu
achava que avaliar era só uma prova, eu não sabia que tinham todas
essas formas de avaliar, que tinha que saber o que o aluno traz, uma
bagagem, o que ele sabe [...] é [...] nada disso, pra mim era só dar
uma prova e se a criança naquele dia ali estudou [...] ela não ia ser
avaliada num todo, no que ela vem nos 365 dias de aula mas sim
nos dias de prova [...] seria avaliado na prova e não assim num
todo. M: Pra finalizar, como vocês se sentem quanto avaliar a
aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental? S6: Acho que depende da avaliação de cada lugar
que a gente vai trabalhar [...]. S5: Então eu acho que muitas escolas
deveriam também está reciclando seus professores porque eu acho
que isso é um problema, o professor acha que está fazendo o certo,
mas na verdade é passado, está defasado, então as escolas, o
Município, o Estado, o Governo Federal deveriam investir nisso em
cursos de formação continuada pro professor estar se atualizando
pro professor está acompanhando o que está acontecendo agora
para haver uma mudança ate no currículo nessa avaliação pra fazer
de uma forma geral, a tendência é mudar, mudou não é como
no meu tempo, por exemplo, já não é como há dez anos atrás [...].
Acerca dos referenciais teóricos, se destacaram as seguintes falas:
S6: [...] igual a gente aprende coisas aqui na faculdade que a gente
vê no estágio que é o que Wallon falou, Piaget falou, mas na verdade
não é o que é colocado em muitos lugares. S2: Se a gente
preparada [...] preparada a gente está, a gente estudou 3 anos e
meio, a gente tem o conteúdo, a parte teórica, mas vai depender da
Instituição que a gente vai estar atuando, vai depender de como a
Instituição vai aceitar, se ela vai estar aberta pra nossa avaliação,
nosso modo de avaliar, a gente não sabe, a gente vai estar numa
Instituição mais tradicional, mais fechada, não é aquilo, tem que ter
isso, e vai ser assim, se vai está julgando só a prova, para os pais ou
se a gente tem a liberdade pra avaliar como a gente aprendeu [...].
77
Em relação aos teóricos citados pelas alunas, tanto do Grupo 1, como do
Grupo 2, podemos perceber a falta de conhecimento em relação ao tema avaliação.
Por exemplo, Wallon é autor da teoria psicogenética e interacionista do
desenvolvimento, ou seja, “a integração organismo-meio e a integração dos
conjuntos funcionais; emoções, sentimentos e paixão; o papel da afetividade nos
diferentes estágios”. (WALLON, 1995). A psicologia genética é um estudo focado
nas origens, na gênese dos processos psíquicos. Conforme Galvão (2004), Wallon
propõe o estudo integrado do desenvolvimento afetividade, motricidade,
inteligência — como campos funcionais entre os quais se distribui a atividade infantil.
O homem é um ser “geneticamente social”. É a psicogênese da pessoa completa.
Ao estudar a criança contextualizada nas relações com o meio, avaliando a
dinâmica de determinações recíprocas, Wallon ressalta que é necessário recorrer a
outros campos do conhecimento, como a neurologia, a psicopatologia, a
antropologia e a psicologia infantil para compreender o desenvolvimento infantil à luz
da psicogenética. O autor se refere ao conjunto cognitivo que são funções voltadas
para a conquista e manutenção do conhecimento, por meio de imagens, noções,
idéias e representações. É o que permite registrar e rever o passado, avaliar e situar
o presente e projetar o futuro.
Jean Piaget, formado em Biologia, interessou-se por pesquisar sobre o
desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. A teoria de Piaget, portanto,
tenta nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o
nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o
estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos.
É claro que esses autores são importantes para o educador perceber como a
criança se apropria do conhecimento, como ocorre a aprendizagem, mas seu
enfoque não es na avaliação. Mesmo sendo citados pelas alunas, não houve
desenvoltura para fazer uma relação deles com o tema avaliação. Conforme já
mencionado, ao analisar a bibliografia do curso de Pedagogia sobre autores citados
como referencia no que diz respeito à avaliação, percebemos que nenhum foi
evocado pelo grupo. Em seus discursos o grupo enfatiza que o que é estudado na
faculdade de acordo com os autores não é colocado em prática no cotidiano escolar.
O que pensam os sujeitos do Grupo Focal 2 ? certa angústia associada à
aplicação de provas e testes e à atribuição de notas ou conceitos que são rejeitadas
78
pelos docentes na graduação de Pedagogia deste grupo. Para eles, segundo os
docentes a avaliação deve ser diagnóstica, formativa e somatória. Pelo que foi
possível observar no Grupo 2, a avaliação da aprendizagem dos alunos, presente na
escola, ainda é um tema que suscita dificuldades para se trabalhar com muitos
alunos em turma.
Assim, estes sujeitos, que no dinamismo das relações sociais, elaboram e
partilham representações sociais, ao atualizarem a história e a cultura, vão se
definindo em seus espaços sociais (MADEIRA, 2001). Como afirma Moscovici (1978,
p.49) ,
Desta maneira, o sentido atribuído à avaliação da aprendizagem do aluno é
uma construção que se faz nas relações, no local de trabalho, no cotidiano escolar,
uma vez que as atitudes avaliativas empregadas por professores são
compartilhadas no grupo de professores e decorrem de uma dimensão cio-
histórica. O professor, ao passar grande parte do seu tempo na escola, na sala de
aula, pode reconstruir concepções, práticas e saberes, relacionados à cultura e aos
valores do contexto no qual está inserido, mesmo que a sua experiência vicária se
no espaço da subjetividade gerando uma compreensão compartilhada do objeto
avaliação.
O objeto avaliação é construído coletivamente através de um processo
cognitivo e simbólico que se efetiva nas relações sociais. Ao considerar o contexto, a
história e a cultura que caracteriza o grupo social, Madeira (2001) examina as
representações sociais a partir do processo pelo qual o sujeito atribui sentido a um
dado objeto, através das suas experiências e relações. Criamos assim
representações sociais para, como nos aponta Moscovici (2005), tornar familiar algo
não-familiar. O não-familiar é revelador, torna explícito.
Assim, na sociedade estão presentes dois universos de pensamento: o
universo retificado e o universo consensual. Moscovici (2005) nos ensina que no
primeiro circulam as ciências. Nos universos consensuais estão presentes as
práticas interativas do dia-a-dia, que produzem as representações sociais, o senso
comum. Este grupo, ao abordar o objeto avaliação da aprendizagem do aluno nos
dá pistas que sua concepção é de uma avaliação progressiva.
A metáfora que fica em evidência é a bagagem: é importante que o professor
aproveite o que o aluno traz de bagagem, o que o aluno tem de bagagem, embora
não fique exposto de maneira teórica o que seja a bagagem no sentido de uma
79
avaliação diagnóstica. Fica implícito que essa “bagagem” são os saberes da prática
que os alunos possuem e que não são valorizados pelos professores na hora de
uma avaliação. Como a avaliação poderia dar conta de tanta subjetividade? Como
medir o que cada aluno possui de saberes da prática? Para avaliar precisamos de
critérios. As alunas relatam que o importante é avaliar o aluno como um todo. Ao dar
ênfase à avaliação como um todo, é reforçada a avaliação baseada no afeto, no
vínculo que o professor estabelece com o aluno.
O grupo aponta a avaliação progressiva como o ideal de avaliação, mas
repete a avaliação tradicional, porque é o que a sociedade impõe. A universidade
ensina uma coisa, mas a instituição onde elas trabalham não está aberta para essa
nova concepção de avaliação. A escola não está preparada para a avaliação que foi
ensinada na universidade.
Ao serem questionadas sobre como o curso influenciou na formação sobre
avaliação, sentem-se preparadas porque estudaram três anos e meio. O grupo
relata que recebeu embasamento teórico e que aprendeu muito sobre como
perceber a aprendizagem do aluno e sobre como avaliar. Afirmam não saberem
construir um instrumento para avaliar, mas aprenderam a ter um “olhar” sobre a
avaliação da aprendizagem do aluno.
5.3 POSSÍVEIS PISTAS PARA ARTICULAÇÃO DOS DOIS GRUPOS
Ambos os grupos reconhecem o quanto é difícil avaliar a aprendizagem do
aluno. O Grupo 1 não se sente preparado, embora esteja terminando o curso de
Pedagogia, e mencionam suas queixas em relação aos estágios, falta de
oportunidade para aprender, desvio de funções. O Grupo 2 se sente mais
preparado, mas as alunas não conseguem colocar em prática a concepção de
avaliação que acreditam como ideal, “progressiva”, porque estão submetidas ao que
a instituição determina.
Em ambos os grupos, diante do objeto “avaliação”, foi adotada a abordagem
processual das representações sociais para a análise dos resultados, ou seja, a
busca de seus processos formadores: a objetivação e a ancoragem.
Nos dois grupos a avaliação qualitativa se aproxima de uma dimensão mais
afetiva e a quantitativa está mais próxima das questões de conteúdo, focadas na
80
cognição e associadas a provas e testes. No Grupo Focal 2, o Rótulo vem
acompanhada da “bagagem” a metáfora identificada como sendo o item mais
importante a ser considerado na avaliação da aprendizagem do aluno. Levantamos
como hipótese que com os “modismos” na área da Educação a palavra “bagagem”
está relacionada ao que as docentes ouviram sobre o que Vygotsky apresenta como
fundamental para construção de novas aprendizagens. Podemos perceber que as
alunas se apropriaram da teoria de maneira superficial, pois ao serem interrogadas
no GF 2 sobre os autores que elas estudaram no curso que focavam no tema
avaliação, as mesmas não citam nenhum autor estudado no curso de acordo com a
grade curricular. Elas citam os autores: Piaget, Wallon e Vygotsky.
Sabemos que Piaget ênfase na epistemologia genética, Vygotsky na
importância do social para aprendizagem ao focar na zona proximal e Wallon no que
diz respeito à afetividade e desenvolvimento da criança. No Grupo Focal 2, temos
sujeitos com formação no curso normal que classificaram o mesmo como fraco,
onde não foi visto nada sobre avaliação. Quem não tinha a formação do curso
Normal relata que tudo o que aprendeu foi no curso de Pedagogia: “é tudo novo”,
dizem que aprenderam muito, pois mais do que aprender a avaliar elas descobriram
como perceber os resultados da avaliação e como proceder diante dos mesmos.
Na discussão, as futuras pedagogas afirmam que não aprenderam a preparar
um instrumento de avaliação — um teste, uma prova, porém aprenderam mais sobre
o “olhar”, observar o aluno de um modo geral do que colocar no papel: o importante
é avaliar o aluno como um todo, no geral, comportamento, conteúdo, uma avaliação
global. Percebemos uma avaliação centrada mais no afeto, favorecendo ao aluno
uma nota melhor em virtude das suas necessidades e dificuldades. A metáfora da
“bagagem” prioriza a vida prática do aluno e não é associada ao que o aluno
possui de conhecimento, buscando-se uma avaliação diagnóstica, como mostra a
fala de S 6: “O que ele traz de bagagem da vida de fora”, mais na vida prática do
aluno. Neste caso, a avaliação parece estar mais baseada na relação afetiva entre
professor e aluno, negligenciando-se o que o estudante aprendeu do ponto de vista
cognitivo. O rótulo fica como a etiqueta, ou seja, quanto vale aquele aluno, de
acordo com a sua nota.
Os grupos apontam que os aspectos qualitativos estão no âmbito do afetivo, e
que a avaliação em uma concepção progressista, é mais justa, na medida em que
avalia o aluno no “geral”. A prática reforça a questão do afeto, da carência, que
81
também aparece como resultado de pesquisa de Alves-Mazzotti (2008). Ao estudar
as representações do trabalho do professor das séries iniciais a autora encontrou o
núcleo “dedicação” associada à afetividade e à maternidade. Alves-Mazzotti (2008,
p. 531) afirma que:
Ao acentuar a dedicação, as professoras distorcem a idéia do que é
ser professor e, em muitos casos, suprimem o que seria o cerne de
seu papel profissional, ou seja, o de agente favorecedor da
construção do conhecimento pelo aluno; mas, em contrapartida, o
suplementam, ao assumir o papel de mãe.
Neste estudo encontrou-se algo similar quanto às representações sociais das
alunas sobre avaliação, reforçando o que foi mencionado no Capítulo 1 deste
trabalho em relação à avaliação como ato de amor. Ou seja, para avaliar o aluno é
mais valorizada a afetividade, o que também desperta no (a) professor (a) o
sentimento de maternidade.
82
6 APROXIMAÇÕES DOS PROCESSOS DE OBJETIVAÇÃO E ANCORAGEM
Ao examinarmos as análises propiciadas pelo material encontramos o Núcleo
ou Esquema Figurativo das representações sociais sobre avaliação expressas pelas
alunas de Pedagogia dos dois grupos focais, que podemos observar a seguir.
Figura 1: Núcleo ou Esquema Figurativo da Representação Social das futuras
pedagogas sobre avaliação (Grupo Focal 1)
Professoras e alunas apresentam uma dissociação de noção de acordo com :
o termo I: avaliação tradicional (injusta) e que o termo II: avaliação progressista
(justa). As professoras ancoram no afeto e as alunas na metáfora do rótulo
Ao percebermos o quadro abaixo é possível visualizar o lugar do preferível
em relação ao objeto avaliação. Professoras e alunas apresentam uma dissociação
de noção de acordo com: o termo I: avaliação tradicional (injusta) e que o termo II:
avaliação progressista (justa). As professoras ancoram no afeto e as alunas na
palavra “rótulo”.
83
Quadro 2: Avaliação da aprendizagem do aluno na visão das pedagogas do último
período - Dissociação da noção "avaliação" em injusta e justa segundo Chaim
Perelman
Diante dos resultados apresentados formulamos algumas indagações: caso na
grade curricular a temática avaliação fosse mais aprofundada na formação, teríamos
outros indícios na representação social das alunas do último ano? Qual é o lugar da
84
avaliação no currículo da Pedagogia? Não falo das avaliações de Políticas Públicas
como SAEB, ENAD, INEP e outras, mas da avaliação da aprendizagem do aluno no
contexto da sala de aula que não pode estar desvinculado das avaliações de rede.
Segundo (LÜDKE, 2002, p.95-96), em paralelo ao descuido de nossos
acadêmicos com “os jeitos de fazer” avaliação, se situa uma outra questão pouco
cuidada pela universidade. Trata-se da velha e clássica questão da formação de
professores: a formação para o exercício da avaliação escolar.
Percebemos que há uma lacuna na formação, pois ao serem abordadas
durante o GF1 sobre os autores da área de avaliação que estudaram durante o
curso de Pedagogia, as alunas pareceram não ter aprendido — ou já esqueceram os
que foram citados na Estrutura Curricular do curso de Pedagogia: Perrenoud (2001);
Demo (2004); Luckesi (1995); Franco (2001), entre outros.
Os processos formadores da representação, objetivação e ancoragem, ao se
articularem entre si em um processo dialético permitem observar um núcleo
figurativo. O núcleo figurativo que emergiu no grupo focal 1 foi a postura do
avaliador. Este foi o sentido dado pelos sujeitos ao objeto avaliação, ou seja, a
representação da avaliação está objetivada na postura do avaliador. Nesta postura o
abstrato tornou-se concreto, o que estava na mente foi transferido em algo palpável,
que existe no mundo físico (MOSCOVICI, 2003). Para as docentes de Pedagogia o
sujeito avaliador, para avaliar, ancora-se no afeto, na justiça, no saber prático, no
comportamento do aluno.
No grupo focal 2, a ênfase está na palavra rótulo:
Figura 2: Núcleo figurativo da representação social das alunas sobre avaliação da
aprendizagem (Grupo Focal 2)
85
O sentido atribuído ao rótulo refere-se ao fato que, ao ser avaliado, o aluno é
rotulado como bom ou ruim, como se fosse uma mercadoria. O termo bagagem, que
aparece com frequência, traz uma representação física daquilo que os alunos
trazem consigo de conhecimentos práticos e que a escola formal não valoriza.
Percebe-se que as alunas não possuem completa orientação, que se referem a
diferentes concepções de avaliação, tanto tradicionais quanto progressivas. Chegam
a reconhecer a importância dos saberes de vida prática de alunos do ensino
fundamental, mas não se sentem preparadas para lhes avaliar a aprendizagem.
Os elementos de objetivação e ancoragem estão presentes nos discursos das
futuras docentes como esse tipo de avaliação que valoriza o “qualitativo” e não
somente o quantitativo (números, notas e testes), pois aqueles são considerados
mais justos e enraizados em suas experiências vicárias. Houve assim uma distorção
do termo qualitativo conforme já fora registrado.
Como a ancoragem é uma rede de significados em torno do objeto
(JODELET, 1993), percebemos que as futuras docentes, com prática ou o,
estão influenciadas pela cultura escolar por suas experiências anteriores de
avaliação, ditas tradicionais e apontadas por elas como negativas e classificatórias.
Como se constata nas conversas entre docentes e os que ainda estão fazendo
estágios valorização das dificuldades e subestimação do potencial de
aprendizagem dos alunos. As alunas entrevistadas ancoram-se também em
86
discursos de autores de referência na área da educação, mas que efetivamente não
privilegiam estudos sobre avaliação, em especial uma avaliação que contemple a
realidade da sala da maioria das escolas brasileiras.
um discurso de uma avaliação mais justa, democrática, de ênfase na
aprendizagem do aluno de forma global. O que lhes é transmitido na universidade é
aceito sem que se saiba colocar em prática. Portanto, relatam que ao estarem
atuando vão “dançar conforme a música” e que avaliarão de acordo com as
exigências das famílias e das instituições. Esses são os indícios das representações
sociais apresentados pelos grupos focais acerca da temática avaliação da
aprendizagem nos anos iniciais do ensino fundamental.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao considerarmos o objetivo do nosso trabalho “Investigar as representações
sociais que os alunos do último período do curso de Pedagogia constroem sobre a
avaliação da aprendizagem dos alunos”, os resultados mostraram que o núcleo
figurativo das representações sociais das alunas sobre “avaliação” no Grupo 1 ficou
associado à palavra “avaliador” e no Grupo Focal 2 a “Rótulo”. Nos dois casos a
avaliação é pautada no comportamento do aluno em sala de aula revelando falta de
compreensão de uma avaliação qualitativa com critérios que revelem o saber
acadêmico do aluno, aproveitando o que ele possui em termos de estruturas
cognitivas.
Com base nas representações expressas pelas participantes, reforça-se a
necessidade de se discutir a dicotomia qualitativa versus quantitativo nos cursos de
formação e também o que hoje temos como resultado da experiência de avaliação
progressiva. Esta última, ao ser praticada como avaliação qualitativa, sem o devido
conhecimento, gera promoções de alunos que não sabem fazer as operações
matemáticas básicas, ler, escrever e interpretar, mas que “avançam” para anos
posteriores com lacunas que não são resgatadas por avaliações diagnósticas.
Pelo que se observou, na Universidade pesquisada um modelo de
currículo para profissionais aptos a desenvolverem atividades no magistério da
Educação Infantil, gestões, e a avaliar projetos educacionais. Isto se configura em
um complicador, em virtude da ausência de foco específico na grade curricular, ou
mesmo de tempo hábil para os aprofundamentos necessários. Assim ocorrem
lacunas quanto a ensinar como avaliar alunos do Ensino Fundamental
.
Consideramos que os docentes no curso de Pedagogia deveriam privilegiar
outros autores tais como: Ludke (2002), Freitas (2002), Sousa (2002), Gatti (2002),
ou seja, autores que apontem para uma avaliação que contemple os resultados das
aprendizagens dos alunos mediante os diferentes instrumentos que atendam as
especificidades das nossas escolas com critérios estabelecidos.
Outro aspecto a considerar é o papel esperado do professor. Vimos, nos GF1
e GF2, que o professor deveria ter informações múltiplas, mas mesmo com tantas
informações na sua formação, ele o se apropria de como deveria para atuar em
sala de aula, particularmente no que se refere à avaliação dos alunos.
88
Este papel do professor muitas vezes vem acompanhado das palavras
missão e dom de ensinar. Ao refletirmos sobre os resultados da pesquisa sobre
representações de identidade profissional de professoras de a série de escolas
públicas do Rio de Janeiro, de Alves-Mazzotti (2007), podemos indagar que se o
missionário é uma pessoa boa e “quem ama educa”, ele deveria apontar os erros
relacionados ao aprendizado. Nesta concepção parece não haver espaço para uma
avaliação que aponte os erros, como proposta de retomar o aprendizado com
diferentes estratégias didáticas, mas de “mais uma chance”, para “aquele coitado
que o aprendeu”. Isso com amor e dedicação é possível. Afinal temos que olhar o
“todo”, segundo os sujeitos da pesquisa.
Esperamos que este panorama descoberto, ainda que de forma inacabada,
procure ajudar na formação docente e consequentemente na forma de avaliar a
aprendizagem do aluno dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Que seja
relevante para um repensar do que hoje estamos tendo como avaliação em nossas
escolas e do que as políticas públicas esperam em relação aos resultados. É
importante olhar para os anos iniciais, respeitando a faixa etária, mas sem perder de
vista o prolongamento da educação básica, necessário para que o aluno possa ser
avaliado em qualquer momento, e que os resultados dessa avaliação possam
apontar para reflexão de novos investimentos em sua aprendizagem. Seja pela
formação continuada do professor, apoio dos diferentes órgãos ligados à educação
e incentivo a novas pesquisas para maiores investigações.
É na interação simultânea que vamos recriando as nossas ideias,
pensamento, uma representação social. Se as práticas educativas geram uma
cultura alicerçada em costumes, crenças, valores e atitudes, é neste contexto que
devemos compreender como as representações sobre a avaliação da aprendizagem
do aluno são construídas pelas futuras pedagogas. Este trabalho procurou trazer
contribuições para o tema, na expectativa de que novos estudos possam ser
realizados com base em seus resultados.
89
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Paulo: Editora Gente, 2004.
97
APÊNDICE A
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você foi selecionado (a) e está sendo convidado (a) para participar da pesquisa
intitulada: Representação Social de alunos do último período do curso de Pedagogia
sobre a avaliação da aprendizagem dos alunos do ensino fundamental, que tem como
objetivo: identificar a representação social dos futuros professores sobre avaliação.
Este é um estudo baseado em uma abordagem qualitativa, utilizando como método
_______________________________.
A pesquisa terá duração de ____ ano, com o término previsto para ______. Suas
respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento
será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Quando for necessário exemplificar
determinada situação, sua privacidade será assegurada uma vez que seu nome será
substituído de forma aleatória. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa
e os resultados divulgados em eventos e/ ou revistas científicas.
Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode recusar-se a
responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu consentimento. Sua
recusa não trará seus dados, como também na que trabalha.
Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas e serem
realizadas sob forma de grupo focal. O mesmo será gravado em áudio para posterior
transcrição e fotografado.
Você não terá custos ou quaisquer compensações financeiras. Não haverá
riscos de qualquer natureza relacionada a sua participação. O benefício relacionado à sua
participação será de aumentar o conhecimento cientifico para a área da Educação.
Sujeito da pesquisa: _________________________________________________________
Cel.: _______________________ E-mail: ____________________________
Comitê de Ética em Pesquisa
Rio de Janeiro, ____ de ________________ de 2009.
Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e estou de acordo
em participar do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento,
sem sofrer qualquer punição ou constrangimento.
Sujeito da Pesquisa: _________________________________________________________
Assinatura
______________________
Orientador
______________________
Orientando
98
APÊNDICE B
ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL
Questões:
1) O que é avaliação para vocês?
2) Mas especificamente avaliação da aprendizagem dos alunos do Ensino Fundamental?
3) O que vocês aprenderam sobre como avaliar os alunos do 1º ao 5º ano?
4) Qual foi a influência do curso de Pedagogia quanto ao aprimoramento dos estudos
referentes a avaliação?
5) Como vocês se sentem quanto a avaliar a aprendizagem dos alunos dos anos iniciais do
Ensino Fundamental? Como vocês fariam essa avaliação?
99
APÊNDICE C
QUESTÕES ATRIBUÍDAS ÀS ALUNAS NO QUESTIONÁRIO
Caro(a) aluno(a): __________________________________________ Nº:______
Este questionário faz parte de uma pesquisa sobre avaliação da aprendizagem do aluno.
Suas respostas são importantes para que possamos ter um panorama realista sobre esse
tema. Obrigada pela sua colaboração!
1) Idade: 20 a 25 ( ) 26 a 35 ( ) 36 a 45 ( ) 46 a 55 ( ) mais de 56 anos ( )
2) Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
3) Você tem experiência profissional como professor (a)? (A) sim (B) não
4) Nível escolar em que leciona:
( ) Ensino Fundamental – ( ) 1ª a 4ª série ( ) 5ª a 8ª série Ed. Infantil ( )
( ) Normal Médio ( ) outros : __________________________
( ) Normal superior
5) Tempo de atuação no magistério:
1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) 11 a 15 anos ( ) 15 a 20 anos ( ) 21 a 25 anos ( )
Mais de 25 anos: _______ anos
6) Você se considera:
(A) branco (B) pardo (C) negro (D) amarelo (E) indígena
7) Seu estado civil é:
(A) solteiro (a) (D) separado (desquitado, divorciado)
(B) viúvo (a) (E) outro. Qual? _________________________
(C) casado (a) ou união estável
8) Escolaridade da Mãe:
(A) Nunca freqüentou a escola (F) Superior completo
(B) E. Fundamental (1º grau) até a 4ª série (G) Superior incompleto.
(C) E. Fundamental (1º grau) até a 8ª série (H) Outra. Qual?
(D) Ensino Médio (2º grau) completo ( I ) Não sei.
(E) Ensino Médio (2º grau) incompleto
9) Escolaridade do Pai:
(A) Nunca freqüentou a escola (F) Superior completo
(B) E. Fundamental (1º grau) até a 4ª série (G) Superior incompleto.
100
(C) E. Fundamental (1º grau) até a 8ª série (H) Outra. Qual?
(D) Ensino Médio (2º grau) completo ( I ) Não sei.
(E) Ensino Médio (2º grau) incompleto
10) Sua família contribui financeiramente para sua manutenção?
(A) Sim (B) Não
11) Qual a renda mensal de sua família? Para este cálculo considere a soma dos ganhos de
todos os membros de sua família que trabalham e contribuem para a renda familiar,
(inclusive o seu).
(A) Até 3 salários mínimos (D) De 21 a 30 salários mínimos
(B) De 3 a 10 salários mínimos (E) Mais de 30 salários mínimos
(C) De 11 a 20 salários mínimos (F) Não sei
12) Em sua casa, você tem computador conectado à Internet? (A) Sim (B) Não
101
ANEXO UM
Candidatos a professores só acertaram 20% do Enem
Escrito por Dérik Ramos/ Maciel Pereira
Sábado, 26 de setembro de 2009.
Quem pretende ser professor no Brasil tirou nota abaixo de 20 no Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem), considerando a escala de 0 a 100. É o que revela um estudo do
Ministério da Educação, que traçou o perfil dos potenciais candidatos ao magistério.
A pesquisa foi feita a partir dos dados disponíveis no questionário socioeconômico
anexo à prova, que incluiu a pergunta "Que profissão escolheu?". No Enem, realizado em
2007, os estudantes com os piores resultados têm probabilidade quase três vezes maior de
escolherem a carreira de professor do que os que obtiveram as melhores notas.
A pesquisa também apontou que o perfil do jovem entre 17 e 20 anos que pretende
ser professor: a maioria são mulheres. Esses candidatos possuem renda familiar de até dois
salários mínimos e têm mãe que nunca estudou.
Segundo a pesquisa desenvolvida pela Diretoria de Estudos Educacionais do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), não é possível saber se, de
fato, o candidato entrou em um curso de formação de professores. Mas ressalta: a resposta
do questionário um importante indicativo de sua intenção e permite uma análise do perfil
dos alunos atraídos para o magistério no país, incluindo a nota que eles obtêm no exame".
É necessário ressaltar que, entre os jovens que fizeram a prova em 2007, 25% ainda o
haviam escolhido a profissão que pretendiam seguir e, por isso, foram excluídos da
pesquisa.
Preocupação·para o secretário estadual de Educação, Haroldo Corrêa Rocha, os dados
divulgados pelo Ministério da Educação são preocupantes, que a qualidade do ensino
está diretamente ligada à boa formação do professor.
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