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unesp
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Faculdade de Ciências e Letras
Campus de Araraquara - SP
LEANDRO NEVES VALETA
REPRESENTAÇÃO CORPORAL DE JOVENS EM
LIBERDADE ASSISTIDA NA CIDADE DE
ARARAQUARA – SP
A
RARAQUARA
SP
2010
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L
EANDRO NEVES VALETA
REPRESENTAÇÃO CORPORAL DE JOVENS EM
LIBERDADE ASSISTIDA NA CIDADE DE
ARARAQUARA – SP
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós Graduação em
Educação Escolar da Faculdade de
Ciências e Letras – Unesp/Araraquara,
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Educação Escolar.
Linha de pesquisa: Política e Gestão
Educacional
Orientadora: Prof. Dra. Ângela Viana
Machado Fernandes
A
RARAQUARA
SP
2010
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3
Valeta, Leandro Neves
Representação corporal de jovens em liberdade assistida na cidade
de Araraquara - SP / Leandro Neves Valeta – 2010
200 f. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Educação Escolar) – Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de
Araraquara.
ORIENTADORA
:
ÂNGELA VIANA MACHADO FERNANDES
l. Disciplina dos corpos. 2. Representação corporal.
3. Fundação Casa (Rede Salesianos). 4. Liberdade assistida. I. Título.
4
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EANDRO
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EVES
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ALETA
Representação Corporal de Jovens em Liberdade Assistida na Cidade de
Araraquara – SP
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós Graduação em
Educação Escolar da Faculdade de
Ciências e Letras UNESP/Araraquara,
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Educação Escolar.
Linha de pesquisa: Política e Gestão
Educacional
Orientador: Prof. Dra. Ângela Viana
Machado Fernandes
Data da aprovação: 17/08/2010
M
EMBROS COMPONENTES DA
B
ANCA
E
XAMINADORA
:
Presidente e Orientador:
Prof.ª Dr.ª Ângela Viana Machado Fernandes
Universidade Estadual Paulista - UNESP/Araraquara
Membro Titular:
Prof.° Dr.° Murilo José D’Almeida Machado
Universidade Paulista - UNIP/Araraquara
Membro Titular:
Prof.° Dr.° Edson do Carmo Inforsato
Universidade Estadual Paulista - UNESP/Araraquara
Local: Universidade Estadual Paulista
Faculdade de Ciências e Letras
UNESP – Campus de Araraquara SP
5
Aos meus pais e irmãos pela confiança, amor e
apoio incondicional, e à memória do meu avô
Euclides Rodrigues Neves “Moreno”.
6
AGRADECIMENTOS
A Prof.ª Dr.ª Ângela Viana Machado Fernandes, pela orientação e por acreditar
em mim e neste trabalho. Obrigado pela confiança, paciência, atenção e rigor
dispensado, imprescindíveis para a realização desta pesquisa.
A Prof.ª Dr.ªDulce Consuelo Andreatta Whitaker e ao Prof.° Dr.° Paulo Rennes
Marçal Ribeiro, pela atenciosa leitura e valiosas considerações e sugestões
feitas no Exame de Qualificação.
A Prof.ª Dr.ª Maria Cristina de Senzi Zancul, pelo apoio incondicional a este
trabalho e pelas valiosas considerações e conselhos. Muito obrigado por tudo.
Aos meus pais Lemersi Alcides Valeta e Elvira Neves Valeta, pela formação,
caráter, respeito, confiança e amor que sempre dedicaram a mim
incondicionalmente.
A Mariana Zancul, pelo carinho e respeito nestes anos de convivência e por
acreditar em mim sempre. Muito obrigado Preta.
Aos meus amigos da Clínica Corpore, pela confiança e apoio neste projeto.
As professoras da UNIESP-Taquaritinga, pela convivência, histórias de vida,
carinho e respeito.
Aos queridos amigos Thais, Rodrigo, Marô e Maicolino, pelo suporte e apoio
nestes anos de Mestrado. Valeu parceiros, até o fim.
A Etiene pelo carinho, respeito e compreensão sempre. Obrigado Ti.
As amigas Camila Massaro e Viviane Barbosa, pela atenção a mim dispensada
e pelos livros emprestados. Muito obrigado.
7
A Antônia, pela preocupação, carinho e por cuidar de mim nestes anos de
vivência em Araraquara.
A todos os jovens que aceitaram participar desta pesquisa e pelas entrevistas
concedidas, sem as quais, este trabalho não seria possível.
Aos coordenadores e funcionários da Rede Salesianos de Ação Social
(Liberdade Assistida) de Araraquara, pela confiança e ajuda na fase das
entrevistas.
Aos funcionários da seção de Pós-graduação da FCL-Araraquara, pelas
informações e esclarecimentos prestados.
As bibliotecárias da FCL, pelo auxílio na normatização do trabalho.
A Prof.ª Maria Boschi Ribeiro, pela atenciosa revisão gramatical.
A Deus, por estar sempre ao meu lado nesta jornada. Obrigado Senhor.
8
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo identificar a representação corporal de jovens
infratores da cidade de Araraquara que se encontram em liberdade assistida, e
entender qual sua relação com o mundo, discutindo o papel da disciplina
Educação Física no contexto da construção da imagem corporal. Para a
realização desta pesquisa foi escolhida a Rede Salesianos de Araraquara L.A.
(Liberdade Assistida), por ser considerada modelo de atendimento ao jovem em
conflito com a Lei. O Salesianos reúne condições necessárias para a realização
da investigação proposta: jovens em conflito com a lei e em liberdade assistida.
Entendendo a Rede Salesianos L.A. Araraquara como uma instituição social,
fizemos uma discussão a respeito da representação corporal desses jovens
abordando a especificidade da formação social e seus desdobramentos no que
diz respeito às possibilidades da juventude no cenário atual. Analisamos essa
representação a partir dos escritos de Michel Foucault (1987) sobre o poder e a
disciplina dos corpos e a identidade e sentimento de pertencimento segundo
Zigmunt Bauman (2004). A análise das representações sociais foi pautada por
entrevistas compreensivas realizadas com cinco jovens internos de 14 a 17,
que cometeram algum delito entre os anos de 2008 e 2009. A pesquisa
apresentou uma discussão satisfatória para os nossos interesses nos limites do
tempo de mestrado. Focalizou as representações corporais desses jovens,
tendo em vista as inquietações em relação ao papel da escola e da educação
física na vida dos mesmos, atreladas às questões da juventude e às instituições
de controle social. A análise da representação corporal de jovens em liberdade
assistida é o primeiro passo para entendermos como estes jovens lidam com
seus corpos e como estão inseridos na sociedade em que vivem, isto é, o
trajeto desta pesquisa, contemplou estudos e olhares sobre a visão de corporal
desses jovens e suas relações com o mundo que os cerca.
Palavras-chave: Disciplina dos Corpos. Representação Corporal. Fundação
CASA (Rede Salesianos L.A.). Liberdade Assistida e Jovem em Conflito com a
Lei.
9
ABSTRACT
This study aimed to identify the body representation of young offenders who are
under counseling and assisted probation orders in the city of Araraquara, as well
as to understand their relation with the world by discussing the role of Physical
Education in connection with the construction of body image. For this research
we chose Rede Salesianos de Araraquara L.A. (Assisted Probation), since it is
considered a model in which young people are required to behave in an
acceptable manner while being offered appropriate opportunities to manage
their conflict with the law and social reintegration. The Salesianos gather up
necessary conditions for carrying out the proposed research: youth in conflict
with the law and probation. Considering Salesianos in the city of Araraquara a
social institution, we analyzed the body representation of young people
addressing the particularity of social formation and its consequences concerning
the possibilities of youth people in the current scenario. We analyzed this
representation from the view of Michel Foucault (1987), regarding the power and
discipline of bodies and the identity and sense of belonging, according to
Zigmunt Bauman (2004). The analysis of social representations was guided by
comprehensive interviews with five young interns aging from 14-17 years old,
who have committed any offense between the years 2008 and 2009. This
research presented a satisfactory discussion on our interests in the limits of a
Masters work. We focused on body representations of these youngsters, paying
attention to the role of the school and the Physical Education in their lives, tied
to youth issues and institutions of social control. The analysis of bodily
representation of youngsters under probation is the first step for understanding
how these people deal with their bodies and how they fit into society they live in.
The path of this research included studies and perspectives about the body
image these young people have and their relation
with the surrounding world.
Key-words: Body Discipline. Body Representation. CASA Foundation (Rede
Salesianos L.A.). Probation. Young People in Conflict with the Law
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 01 Desenho da Imagem Corporal (Jovem03) p. 79
FIGURA 02 Desenho da Imagem Corporal (Jovem02) p. 81
FIGURA 03 Desenho da Imagem Corporal (Jovem04) p. 83
FIGURA 04 Desenho da Imagem Corporal (Jovem05) p. 85
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA...................................................................12
1 IMAGEM CORPORAL E CULTO AO CORPO: a influência da mídia na
sociedade de consumo...................................................................................25
1.1 Cultura de Massa, Consumo e Juventude...................................................32
2 JOVENS DO SÉCULO XXI............................................................................42
2.1 Jovens, Instituições, Estigmas e Atos Infracionais......................................47
3 O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA DIALÉTICA DOS CORPOS...........55
4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS....................................................................64
4.1 Sobre Educação, Escola e Educação Física...............................................69
4.2 Sobre a visão da Imagem Perfeita...............................................................73
4.3 Sobre a religiosidade interferindo no corpo como algo imutável.................76
4.4 Conhecimento sobre os malefícios causados pela ingestão de substâncias
para melhorar a imagem corporal.....................................................................77
4.5 Observações Pessoais............................................................................79
4.6 Sobre a Autoimagem Corporal................................................................82
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................91
REFERÊNCIAS.................................................................................................98
ANEXOS..........................................................................................................105
12
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Esta dissertação tem como objetivo captar a representação corporal de
jovens infratores da cidade de Araraquara, que se encontram em liberdade
assistida, discutindo o papel da disciplina Educação Física no contexto da
construção da imagem corporal.
A pesquisa elege a representação corporal¹ e a percepção da imagem
corporal dos jovens como uma das questões relevantes da sociedade atual
presente na escola e em outros espaços de convivência.
O interesse pelo tema estudado surgiu após 10 anos de trabalho dentro
da área da Educação Física e na área da Saúde, a partir de inquietações sobre
formas de experiências corporais e manifestações de jovens dentro e fora das
aulas de Educação Física, e em observações cotidianas, que revelam a
exagerada importância da imagem corporal na sociedade atual.
Atuando como professor de Educação Física no ensino fundamental e
médio, pude perceber que os jovens representam seu corpo a partir de várias
informações recebidas e sofrem influência do que é veiculado pela mídia em
relação à imagem. Diante disso, é importante destacar o papel da escola e da
disciplina Educação Física na construção de conhecimentos e na formação de
atitudes que reflitam hábitos saudáveis.
___________________
¹ O conceito de representação corporal tem sido descrito como a capacidade de representação
mental do próprio corpo, sendo que esta imagem envolve aspectos relacionados à estrutura
(como tamanho, dimensões) e à aparência (forma, aspecto), entre vários outros componentes
psicológicos e físicos (BALONNE, 2005).
13
No início de 2008, entrei no grupo de estudos JUPPE (Educação,
Juventude e Políticas Públicas) UNESP - Araraquara-SP, coordenado pela
Prof.ª Dr.ª Ângela Viana Machado Fernandes e pela Prof.ª Dr.ª Dulce Consuelo
Andreatta Whitaker, que estuda questões sobre juventude, políticas públicas e
educação. A discussão de temas envolvendo jovens infratores, cultura corporal²
e disciplina dos corpos nas reuniões e leituras do grupo ampliou minha visão e
trouxe novos questionamentos: Como jovens em conflito com a lei percebem
seu corpo? Qual a interpretação desses jovens sobre a escola e a disciplina
Educação Física? A situação em que vivem os faz mais vulneráveis a
influências da mídia?
A inserção dos estudos referentes à juventude, jovens em conflito com a
Lei, imagem corporal e educação, completou a reflexão e serviu de base para a
delimitação do objeto a ser investigado, bem como dos objetivos do estudo.
Após várias reuniões com o grupo e com a Orientadora, levantou-se a
possibilidade de fazer uma investigação para compreender as representações
corporais de jovens que já cometeram algum delito, e que passaram pela
experiência de institucionalização, no intuito de observar se a concepção que
eles têm do corpo tem relação com suas vivências.
Desse modo, o tema central deste trabalho é, a representação que o
jovem infrator tem de seu corpo.
_________________
² O conceito de cultura proposto neste trabalho afirma que para entender o que é cultura, e como
ela influencia as ações de um determinado grupo, é preciso identificar e perceber como as
pessoas são, como se relacionam, como agem e interagem, é, portanto, ir além do visível, é
mergulhar, de fato, no significado das ações desenvolvidas pelos indivíduos em suas sociedades.
( GEERTZ ,1989 ). O significado atribuído à cultura corporal por Geertz (1989) subsídios para
as discussões sobre as formas de manifestações culturais que estão relacionadas ao “corpo”.
Formas que são absorvidas ativamente, recebendo um sentido, um significado no próprio
processo de recepção e, portanto, vão adotando significados diferentes em sociedades distintas.
O comportamento das pessoas também é “condicionado”, em grande parte, pelas regras sociais
estabelecidas culturalmente.
14
Em trabalho realizado com jovens de periferia urbana sobre a presença
da escola na constituição das identidades juvenis, Correa (2008) afirma que o
corpo é uma experiência pessoal singular e profunda e foi convertido num
espaço de crescente intervenção social em termos de modelação e
configuração da experiência corporal.
Nessa visão, a aparência corporal torna-se o centro da identidade, a
marca corporal pode ser tomada como uma busca de autenticidade, de uma
localização real na sociedade e uma tentativa de recuperar o corpo como
sujeito de sensação e de experiência.
Na medida em que conforma uma aparência, o aspecto físico do corpo
traz as marcas de um processo no qual se entrecruzam fatores sociais
profundos como origem, trajetória de classe e suas derivações, dentre as
múltiplas eventualidades derivadas da posição que o jovem ocupa no amplo
espectro da diferenciação social (CORREA, 2008).
Diante disso, analisamos quais reflexos as experiências vivenciadas por
jovens em conflito com a lei podem ter deixado na percepção que eles têm de
seus corpos.
A pesquisa foi realizada na cidade de Araraquara, situada no centro do
Estado de São Paulo, a 270 km da capital, e com uma população de 195.815
habitantes, de acordo com o Censo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (2007).
O trabalho foi desenvolvido na Rede Salesianos de Araraquara. Essa
rede teve origem em 1883 com as Inspetorias Salesianas, abrangendo todo
território nacional com a fundação da Casa Salesiana de Niterói, e em 1885
com a fundação do Liceu Coração de Jesus, em São Paulo. Desde então, as
15
comunidades se multiplicaram e diversos grupos tornaram-se novas
Inspetorias. No momento são seis unidades no Brasil, com suas sedes em Belo
Horizonte - MG, Campo Grande-MS, Manaus-AM, Porto Alegre-RS, Recife-PE
e São Paulo-SP.
A Inspetoria Salesiana de São Paulo, também denominada Inspetoria
Nossa Senhora Auxiliadora, foi fundada em 1896, e denomina-se inspetoria, por
ser coordenada por religiosos salesianos e estar organizada em comunidades
educativo-pastorais. Sua sede é no Largo Coração de Jesus, nos Campos
Elíseos, em São Paulo - SP. Atualmente a Inspetoria de o Paulo é formada
por 166 Salesianos, que administram um total de 94 frentes de trabalho
formadas por escolas, o Centro Universitário Unisal, obras sociais e paróquias.
O Salesianos da cidade de Araraquara desenvolve programas
socioeducativos para atender crianças e adolescentes de baixa renda,
baseando-se nos princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA-
1990).
O atendimento em meio aberto denominado liberdade assistida se
na forma de medida socioeducativa e é onde o ECA propicia aos jovens que
infringiram a lei a possibilidade de readaptação social, ao afastá-los do Código
Penal e adotar uma liberdade vigiada, longe das prisões de adultos e
criminosos comuns (Moreira, 1997). Assim, a Liberdade Assistida é uma
medida socioeducativa, prevista nos artigos 112, 118 e 119 do ECA (1990), que
tem como objetivo reintegrar à sociedade os jovens que transgrediram a lei.
De acordo com Martins et al (2005), a Liberdade Assistida é uma
importante alternativa de ressocialização do jovem que cometeu ato infracional.
16
O Salesianos atende atualmente 97 jovens que cometeram algum ato
infracional, sendo a maioria meninos. Os programas incluem a complementação
escolar, atendimentos individuais e em grupo, e a iniciação profissional, em
áreas como panificação, com duração de 72 horas. Oficinas de esportes, hip-
hop e cidadania também são oferecidas aos jovens uma vez por semana, com
duração de duas horas. Para isso a instituição conta com uma equipe de
trabalho multiprofissional que atua junto aos atendidos e suas respectivas
famílias.
O tempo mínimo de permanência dos jovens que cometeram algum
delito é de seis meses, mas a maioria permanece no Salesianos por um período
médio de um ano e meio. Esse tempo maior é devido principalmente à
desistência do jovem ou à reincidência do ato infracional, o que os leva a
retornarem à instituição.
O Salesianos de Araraquara foi escolhido para a realização da pesquisa,
por reunir as condições necessárias para a condução da investigação proposta,
isto é, atender jovens em conflito com a lei e em liberdade assistida.
A análise do modelo de representação corporal foi pautada em
entrevistas compreensivas realizadas com 5 jovens de 14 a 17 anos que
cometeram ato infracional.
O número de jovens foi selecionado em função de considerarmos que ele
seria satisfatório para uma discussão consistente nos limites do tempo de
mestrado. Nesse sentido optamos por focalizar a pesquisa nas representações
corporais de jovens, buscando identificar as inquietações em relação ao papel
da escola e da educação física na vida dos mesmos, atreladas às questões da
juventude e às instituições de controle social.
17
As atividades realizadas nesta pesquisa incluíram coletas de dados por
meio de entrevistas e análise das informações obtidas.
A revio bibliográfica concentrou-se na busca de informações a respeito de
temas relacionados à representação corporal de jovens, à imagem corporal e culto
ao corpo, à disciplina dos corpos na sociedade contemponea, estigmas e atos
Infracionais, à diatica do corpo e às práticas pedagógicas do professor de
educação física, com o objetivo de traçar um referencial teórico para o trabalho e
obter subdios para a análise das informações coletadas.
Foram pesquisados acervos das bibliotecas da Faculdade de Cncias e
Letras da UNESP de Araraquara e da USP de Ribeirão Preto, para a obtenção de
artigos, livros, dissertações e teses. Tamm foram utilizados bancos de teses e
dissertações na Capes, além dos sistemas de bibliotecas eletrônicas para busca
de artigos, como Scielo e Bireme.
A seguir estão abordados todos os procedimentos metodológicos utilizados
na aplicão da pesquisa, as definições do local de estudo e do instrumento de
coleta de dados.
Para a construção das questões preliminares, foram tomadas como base
questões já aplicadas em pesquisas de mestrado e doutorado da área de
educação por autores que trabalham temas similares (IANUSKIEWTZ, 2007;
MASSARO, 2008).
Ao pensarmos em como realizar a pesquisa, percebemos que a
aplicação de um questionário fechado não atenderia ao nosso objetivo, qual
seja o de captar a representação corporal de jovens em liberdade assistida e
sua relação com questões atuais.
18
Assim, planejamos a realização de entrevistas abertas, com roteiro semi-
estruturado, que possibilitem certa flexibilidade em seu desenvolvimento.
A escolha da entrevista segundo Zago (2003), se justifica pela:
[...] necessidade decorrente da problemática do estudo, pois é
esta que nos leva a fazer determinadas interrogações sobre o
social e a buscar as estratégias apropriadas para respondê-las.
Definimos então a natureza da entrevista e a maneira como ela
será conduzida para melhor se ajustar às nossas preocupações
(p. 294).
Nesse sentido, optamos por elaborar um roteiro de entrevista que
perpassasse por diversas temáticas, nas quais poderiam estar presentes
elementos da percepção corporal dos jovens entrevistados, e que permitisse
identificar aspectos da visão deles sobre a escola e a Educação Física nesse
contexto.
Por meio da entrevista compreensiva, procura-se abranger o objetivo
estabelecido na pesquisa.
A entrevista configurou-se como a principal fonte de coleta de dados
sobre a representação corporal de jovens em liberdade assistida da cidade de
Araraquara, uma vez que a instituição a ser analisada (Rede Salesianos de
Araraquara) caracteriza-se como uma instituição de atendimento meio aberto, e
não permite fácil acesso aos jovens atendidos.
Deste modo, por meio das entrevistas, compreenderemos mais a fundo
nosso objeto de estudo.
As entrevistas podem ser classificadas, de acordo com forma
denominada por Zago (2003), como entrevista compreensiva, que este
formato permite:
[...] a construção da problemática de estudo durante o seu
desenvolvimento e nas suas diferentes etapas. Em razão disso,
a entrevista compreensiva não tem uma estrutura rígida, isto é,
19
as questões previamente definidas podem sofrer alterações
conforme o direcionamento que se quer dar à investigação
(ZAGO, 2003, p. 295).
Nas entrevistas não totalmente estruturadas, cria-se uma relação de
interação entre o pesquisador e o entrevistado, pois como:
[...] “não imposição de uma ordem rígida de questões, o
entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas
informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira
razão da entrevista” (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 33-34).
Para este tipo de coleta de dados, não podemos deixar de apontar que o
número de entrevistas não corresponde à representatividade em termos de
pesquisa quantitativa. Na modalidade proposta para o presente trabalho, a
pesquisa se de natureza qualitativa, em que o importante é assegurar as
informações obtidas.
Lüdke e André (1986) destacam que uma entrevista bem feita, possibilita
o tratamento de questões de natureza pessoal e íntima, bem como a
abordagem de assuntos que envolvam escolhas individuais, que é o caso desta
pesquisa.
Como a entrevista envolve uma relação social, o encontro com um
interlocutor “de fora” do universo social do entrevistado, representa, em vários
casos, a oportunidade de este ser ouvido e poder falar de questões sociais que
lhe concernem diretamente. (ZAGO, 2003, p. 301).
Contudo, para que o processo da entrevista transcorra de forma a
contemplar os elementos buscados pelo pesquisador, Zago (2003) e Ludke e
André (1986) sugerem que o esclarecimento em relação aos objetivos da
pesquisa é fundamental e deve ser feito no momento inicial do contato. Além
disso, a garantia do anonimato, tanto do entrevistado quanto das informações
obtidas, é essencial.
20
As entrevistas foram gravadas em áudio com a devida autorização dos
entrevistados e após sua realização foi feita a transcrição das falas com base
no proposto por Whitaker et al. (2002). Segundo os autores uma questão
essencial na transcrição é o respeito à fala dos entrevistados. Sobre este ponto,
tecem uma crítica àqueles que, ao transcreverem falas de membros das
camadas populares “[...], sob pretexto de respeitar-lhe a cultura, cometem
barbaridades do ponto de vista ortográfico, confundindo ortografia com fonética”
(WHITAKER et al., 2002, p. 116).
Neste sentido, manteremos, nas transcrições, somente os erros de
concordância e de regência verbais, sendo respeitada a ortografia de acordo
com Whitaker et al. (2002):
[...] “respeitar o entrevistado implica, portanto, reproduzir
apenas os erros de sintaxe, isto é, as formas peculiares de
articulação do discurso. Escrever corretamente o léxico (sem
erros ortográficos) é fundamental para reforçar esse respeito”
(
p. 117).
A partir destas sugestões, foi mantida a pronúncia somente das gírias de
uso comum pelos sujeitos que participam desse estudo, sendo elas colocadas
entre aspas e em itálico; os gestos realizados durante as entrevistas serão
apontados em parênteses, assim como as intervenções do pesquisador.
Embora o texto ao qual nos referimos discorra a respeito da fala do
homem rural, entende-se que as sugestões dos autores se adequam às
entrevistas, principalmente às dos jovens, repletas de gírias e dificuldades de
expressão.
As questões que correspondem ao roteiro das entrevistas foram
aplicadas na qualidade de pré-teste com estudantes em uma escola de Ensino
Médio da Rede Estadual, na cidade de Araraquara, visando à aferição de
eventuais falhas e necessidades de alterações. Para a realização do pré-teste
21
foram sorteados 5 alunos da 2
o
ano do Ensino Médio. Com base nas
informações obtidas, foram feitas modificações e adaptações, entendidas como
necessárias para melhorar a qualidade dos dados obtidos e alcançar os
objetivos do trabalho.
Antes do início das entrevistas, a diretora responsável pelo Salesianos
de Araraquara foi contatada, com o objetivo de explicar os motivos da
investigação e solicitar autorização para o desenvolvimento do trabalho. Na
oportunidade, foi entregue uma carta explicativa com os termos da pesquisa,
cujo modelo está apresentado em anexo (Anexo 04).
Este projeto também foi aprovado pelo CEP (Comitê de Ética e
Pesquisa) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara UNESP -
SP, para as entrevistas com os jovens infratores (Anexo 03).
Depois de concedida a autorização do CEP e da direção do Salesianos,
foram escolhidos os jovens em conflito com a lei e que estão em liberdade
assistida para participarem da investigação.
Antes da aplicação das entrevistas, todos os participantes receberam
informações sobre os objetivos do trabalho e sobre a sua participação no estudo.
Os jovens foram esclarecidos, inclusive, sobre a garantia de anonimato, sobre a
possibilidade de recusarem-se a participar e de não autorizarem a gravão das
entrevistas, de não responderem às questões que não quisessem e sobre a
inexisncia de respostas certas ou erradas.
O tratamento a partir do modelo prisional, caso da Fundação CASA,
torna mais difícil a aceitação na sociedade, facilitando a reincidência e a
perpetuação da estigmatização desses jovens.
22
Cerca de 80% dos jovens que frequentam o Salesianos passaram pela
Fundação CASA. Os outros são membros de comunidades carentes e
participam das oficinas oferecidas pelo estabelecimento.
Para Massaro (2008), a Fundação Casa, entendida como uma instituição
educacional que serve aos interesses da manutenção do “status quo”, parece
permear questões voltadas para a juventude e controle social. Nesse sentido, a
autora mostra a existência do encarceramento de jovens, principalmente
aqueles pertencentes às camadas mais desprovidas da população, aos quais é
negado o acesso aos bens historicamente acumulados pela humanidade, bem
como os direitos sicos de cidadania. Criada em 1973, em plena Ditadura
Militar, a instituição carrega ainda hoje, as características repressivas a partir
das quais foi fundamentada e socialmente aceita. A questão da educação e
inserção dos jovens que o internados, a fim de que sejam “reeducados” e
“reinseridos”, nos deixa a aparente ideia de que muitas das condições que
levam diversos jovens a cometerem atos infracionais, bem como a educação a
eles oferecida na escola e fora dela, o fazem parte da sociedade em que
vivemos (MASSARO, 2008).
Não se pode esquecer que a juventude é um momento de tensão e
conflito, no qual se consolidam valores e perspectivas a serem seguidos e
conquistados na vida adulta. Tratar os jovens como “desvios sociais”, bem
como tentar adaptá-los e conformá-los com o mundo em que vivemos, é negar
a estes jovens a possibilidade de transformação de sua realidade.
Para esse estudo foram selecionados alguns temas, dentre os quais as
investigações de caráter ideológico sobre percepção corporal e a influência do
consumo imposto pela mídia na sociedade.
23
Sobre a influência do consumo imposto pela mídia no modo de produção
capitalista em que vivemos, há uma necessidade quase vital de desenvolver a
ética do consumo como forma de escoar a produção industrial. Os gastos feitos
para “cultuar o corpo” atravessam todos os setores, classes sociais e faixas
etárias, apoiando-se no discurso da estética e da preocupação com a ideologia
da saúde.
O jovem, por estar em processo de formação e em busca de conquistas,
possui desejos e inquietações característicos da idade, e muitos podem estar
vulneráveis aos anseios da mídia, aos modismos e comportamentos da classe
dominante.
Nem todos os jovens têm condições financeiras e culturais para usufruir
dos produtos dessa sociedade de consumo. No entanto, todos eles trazem de
seu ambiente cultural, um conjunto de regras, valores, crenças, modelos de
condutas, sentimentos e desejos que estão apoiados em redes muito
complexas de significados.
Os modelos corporais impostos pela mídia e sociedade e suas
influências e consequências sobre os jovens serão objetos de estudo deste
trabalho. A análise da representação corporal dos jovens com ênfase nos
aspectos sociais é um dos caminhos para entender o funcionamento da nossa
sociedade.
A partir do objeto proposto, esta dissertação foi dividida em 3 capítulos.
No primeiro capítulo falaremos sobre a imagem corporal e o culto ao corpo.
Discorremos sobre a influência da mídia na sociedade de consumo, abordando
temas como cultura de massa, consumo e juventude. no segundo capítulo,
faremos uma análise sobre os jovens do século XXI, na qual temas como
24
juventude, instituições educativas, estigmas e atos Infracionais serão
abordados, assim como a questão da identidade e o sentimento de
pertencimento proposto Zigmunt Bauman (2001). E por fim, no terceiro
capítulo, falaremos sobre o papel da educação física na dialética dos corpos e a
importância do trabalho pedagógico em suas aulas.
25
1. IMAGEM CORPORAL E CULTO AO CORPO: a influência da mídia
na sociedade de consumo
A imagem corporal é um importante componente do mecanismo de
identidade pessoal. De acordo com Gardner (1996), esta imagem é a figura
mental que temos das medidas, dos contornos e da forma de nosso corpo, e
dos sentimentos referentes a essas características. O componente subjetivo da
imagem corporal se refere à satisfação de uma pessoa com seu tamanho
corporal ou partes específicas de seu corpo.
Segundo Balonne (2005), a imagem corporal tem sido descrita como a
capacidade de representação mental do próprio corpo, sendo que esta imagem
envolve aspectos relacionados à estrutura (como tamanho, dimensões) e à
aparência (forma, aspecto), entre vários outros componentes psicológicos e
físicos. Esta autopercepção corporal é influenciada por fatores ambientais,
incluindo normas ideias e valores da cultura dominante (BARROS & NAHRA,
1999).
Segundo Braggion & Matsudo (2000) a imagem corporal se forma a partir
da infância e, aos dois anos, a maioria das crianças possui uma
autopercepção e pode reconhecer a imagem do seu corpo refletida no espelho.
Gradualmente, o corpo vai sendo incorporado à sua identidade e, aos poucos,
as crianças começam a pensar sobre como os outros veem a sua aparência.
Quando chegam à idade pré-escolar, as crianças ficam expostas à forma pela
qual a sociedade reage a diferentes características físicas. A imagem corporal
vai, cada vez mais, tomando forma, na medida em que as crianças aprendem o
que é valorizado pelo adulto como atraente e não atraente.
26
Em meio às transformações hormonais, funcionais, afetivas e sociais, as
alterações corporais adquirem importância fundamental para o jovem. É através
de seu corpo que ele pode melhor perceber e tentar externalizar as alterações
que está vivendo. Porém, verifica-se que a imagem corporal frequentemente
não corresponde à imagem real. Parece existir uma imagem corporal idealizada
e que se confronta com a imagem corporal vivida, distorcendo a realidade
objetiva (CASTILHO, 2001).
As transformações corporais constituem uma das questões primordiais
da juventude. Os constantes ajustamentos que os jovens realizam para tentar
harmonizar o que o, o que gostariam de ser e o que aparentam ser para os
outros, obriga-os a realizar um difícil, mas necessário, processo de elaboração.
O grau de normalidade de um jovem pode ser avaliado - entre outros elementos
- através de sua relação com seu corpo (OLIVEIRA, 2000).
No entanto, é preciso prestar atenção para o fato de que existem
múltiplos fatores que influenciam a construção da imagem corporal pelos
jovens. Discorrendo sobre a situação juvenil, Correa (2008) analisa a questão
das identidades corporais, alertando que:
O corpo, tomado como território de inscrição das diferenças
sociais, é a manifestação mais evidente e também a mais
enganosa dos fenômenos sociais vinculados à juventude” (p.
92).
A autora se refere ao fato de o corpo, num sentido amplo, ser “um
portador de sentido que mediatiza as relações sociais”. E acrescenta que o
processo de produção da imagem do jovem não reflete da mesma forma todos
os grupos sociais.
27
Nem todos os jovens são juvenis porque nem todos se
assemelham aos modelos propiciados pelos meios de
comunicação e pelo mercado de consumo. Há boas razões
para afirmar que nem todos os jovens possuem o “corpo
legítimo, o look juvenil”: primeiro, porque este look juvenil é
patrimônio dos jovens de certos segmentos sociais que têm
acesso a consumos valorizados e custosos no terreno da
vestimenta e dos códigos do corpo dos quais se fala. Segundo,
porque, na medida em que conforma uma aparência, o aspecto
físico do corpo traz as marcas de um processo no qual se
entrecruzam fatores sociais profundos como a origem, a
trajetória de classe e suas derivações, dentre as múltiplas
eventualidades derivadas da posição que o jovem ocupa no
amplo espectro da diferenciação social (CORREA, 2008, p.94).
Ter uma aparência física considerada atraente pela sociedade não
significa ter uma autoimagem corporal positiva. As mulheres são, em geral,
mais propensas a ter uma imagem corporal negativa, porém, os homens
também sofrem com essa questão. Conforme relatado na literatura, o
investimento que um indivíduo faz em sua aparência é proporcional à
vulnerabilidade de uma imagem corporal negativa e aos incômodos a ela
relacionados, não podendo esquecer que a formação da imagem corporal e o
modo como o indivíduo se relaciona com ela estão diretamente ligados aos
padrões de beleza impostos pela sociedade (FIATES & SALLES, 2001).
Para compreender melhor o processo de representação corporal dos
jovens hoje, é preciso fazer uma relação entre mídia e sociedade, isto é, fazer
uma mediação entre a sociedade (as tendências, valores, padrões relativos ao
corpo) e as necessidades mercadológicas do produto, ou, em outras palavras,
entre a lógica dos usos e a lógica da indústria cultural (CASTRO 2003).
Para Morin (1969), por mais diferentes que sejam os conteúdos culturais,
há sempre concentração da indústria cultural. A imprensa, o rádio, a televisão, o
cinema entre outras, são indústrias ultraligeiras, isto é, ligeiras pelo aparelho
produtor e ultraligeiras pela mercadoria produzida, e no momento do consumo,
28
tornam-se implacáveis, uma vez que o consumo está introjetado no ser humano
como necessário.
Assim, ao explorar tendências de comportamento, a indústria cultural não
deixa de lado a parcela dos cuidados com o corpo. Revistas de
comportamentos, jornais e propagandas de televisão são claros exemplos da
influência da mídia no o consumo de produtos destinados a várias parcelas da
população, entre elas a dos jovens.
A noção de estilo de vida, no âmbito da cultura de consumo
contemporânea leva a discussão sobre estética para o campo da vida cotidiana.
Esta cultura de consumo pode ser vista, na verdade não como cultura,
mas como ideologia. Para Whitaker (2003):
O conceito de ideologia era exatamente o contrário do conceito
de cultura. O conceito de cultura era para compreender outros
povos, outras sociedades e o conceito de ideologia era para
desmistificar, desmascarar, denunciar, desvelar a própria
sociedade ocidental. O conceito de ideologia era aplicável à
sociedade capitalista e não havia nele nenhuma boa vontade
para com aqueles que tinham que ser desmascarados, assim,
a classe dominante impunha uma visão de mundo sobre os
dominados que a incorporavam (pág.16).
Para a autora, a ideologia não faz parte da cultura, pois este é um
aspecto da sociedade que implica integração, enquanto ideologia é um aspecto
da sociedade que implica dominação e desintegração.
para Chauí (1984), um dos traços fundamentais da ideologia consiste,
justamente, em tomar as ideias como independentes da realidade histórica e
social, de modo a fazer com que expliquem aquela realidade, quando na
verdade é essa realidade que torna compreensíveis as ideias elaboradas.
A autora afirma também que a ideologia é um conjunto lógico,
sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou
29
regras de conduta que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que
devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem
valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como
devem fazer. Para Chauí (1984), a ideologia é um corpo representativo de
normas, regras e preconceitos, e tem como função dar à sociedade a
explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais sem jamais
atribuí-las a diferenças de classes.
A ideologia resulta da prática social, nasce da atividade social dos
homens no momento em que estes representam para si mesmos essa
atividade. Consiste precisamente na transformação das ideias da classe
dominante em ideias dominantes para a sociedade como um todo, de modo que
a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também o
faça no plano espiritual (ideias) (CHAUI, 1984).
Após essas reflexões sobre o conceito de ideologia que podem contribuir
para o melhor entendimento deste trabalho, voltamos nosso olhar para a esfera
de consumo.
Para Roland Barthes (1980) existe um duplo aspecto no consumo:
satisfazer as necessidades materiais e carregar estruturas e símbolos sociais e
culturais, aspectos que o autor considera inseparáveis. Neste sentido, a atual
tendência de cultuar o corpo pode ser entendida como a forma de estar na
moda, que ganha a cada dia mais adeptos, e cria subgrupos que se diferenciam
um dos outros pelo tipo de modalidade de esporte praticada, pela roupa, pelo
estilo de música que se ouve, pelos locais que frequentam, pelo tipo de
programa de televisão a que assistem ou pela leitura que fazem (CASTRO
2003).
30
Para Bourdieu (1988), a linguagem corporal é marcadora de distinção
social. O consumo alimentar, cultural e a forma de apresentação (consumo de
vestuário, artigos de beleza, higiene e cuidados com a manipulação do corpo)
seriam as três mais importantes formas de distinguir-se.
para Ortiz (1996), a esfera de consumo orienta de modo decisivo as
práticas cotidianas no mundo contemporâneo:
Como as religiões, o consumo constitui um universo de
significação capaz de modelar as práticas cotidianas. Nele os
indivíduos se reconhecem uns aos outros, constroem suas
identidades, imagens trocadas e reconfirmadas pela interação
social. É através do consumo que os indivíduos vão construir
seus estilos de vida na contemporaneidade (p.98).
A mídia e a indústria da beleza são aspectos estruturantes da prática do
culto ao corpo. A primeira, por mediar a temática, mantendo-a sempre presente
na vida cotidiana, ditando e incorporando tendências. A segunda, por garantir a
materialidade da tendência de comportamento, que como todo traço
comportamental ou simbólico, nos dias atuais, poderá existir se contar com
um universo de objetos e produtos consumíveis e de desejo (CASTRO, 2003).
Podemos citar dois aspectos sociológicos presentes em nossa sociedade
de consumo como relevantes para este estudo: gênero (pois vamos tratar
somente de meninos) e geração (pela faixa etária escolhida de 14 a17 anos),
pelos quais os jovens definem suas performances individuais e criam um
sentimento de pertencimento a um grupo social. A classe social definida pelo
nível socioeconômico de certo modo determina a escolaridade e o capital
cultural
3
dos indivíduos.
Como a moda, o culto ao corpo promove e impõe um conjunto de regras
e condutas sociais para garantir o consumo. Assim, tomamos como hipótese
que a influência da mídia e o consumo podem contribuir de forma significativa
31
tanto para a tomada de decisão, como para impedir a tomada de decisão por
parte dos jovens.
________________
3-
Para Bourdieu, a noção de capital cultural surge da necessidade de se compreender as
desigualdades de desempenho escolar dos indivíduos oriundos de diferentes grupos sociais. Sua
sociologia da educação se caracteriza notadamente, pela diminuição do peso do fator econômico,
em comparação ao peso do fator cultural, na explicação das desigualdades escolares. No seu
entendimento, o capital cultural pode existir sob três formas: no estado incorporado, no estado
objetivado e no estado institucionalizado. No estado incorporado, dá-se sob a forma de
disposições duráveis do organismo, tendo como principais elementos constitutivos os gostos, o
domínio maior ou menor da língua culta e as informações sobre o mundo escolar.
No estado objetivado, o capital cultural existe sob a forma de bens culturais, tais como
esculturas, pinturas, livros, etc. Para possuir os bens econômicos na sua materialidade é
necessário ter simplesmente capital econômico, o que se evidencia na compra de livros, por
exemplo. Todavia, para apropriar-se simbolicamente destes bens é necessário possuir os
instrumentos desta apropriação e os códigos necessários para decifrá-los, ou seja, é necessário
possuir capital cultural no estado incorporado. No estado institucionalizado, o capital cultural
materializa-se por meio dos diplomas escolares (BOURDIEU, 2001).
32
1.1 Cultura de Massa, Consumo e Juventude
A cultura de massa está diretamente ligada aos valores de consumo em
nossa sociedade, valores esses que vêm sendo inseridos no mercado desde o
início do século XX.
No fim do século XIX e início do século XX, a moda se instala, e com ela
todo o processo de produção, inclusive a produção industrial. Passa a se
materializar uma nova e poderosa forma de poder, ao aprofundar a valorização
da ordem das aparências e a estética da sedução (SALES, 2007).
Lipovetsky (1989) qualifica esse momento de deflagração de certa
estandardização da moda como a “era da aparência democrática”, isto é, com
o apoio dos meios de comunicação de massa, a saber: a dinâmica dos estilos
de vida, os valores modernos e também a diminuição das grandes diferenças
no modo de se vestir das classes, baseados, todavia, em um ideal estético
ancorado em valores individualistas/democráticos, em particular o da
autonomia das pessoas.
Somente após a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o direito à moda
passa a ser usufruído como uma legitimidade de massa. O desejo de
visibilidade e pertencimento suscitado pela moda foi instigado e alargado pela
nova representação social desde o século VXIII e se aprofunda no século
XIX (LIPOVETSKY, 1989). Passa-se, assim, a dar uma significação às coisas
terrestres, mais uma reabilitação dos desejos humanos, em geral, e a ter uma
concepção menos elevada e rigorosa do belo, com prevalência das coisas úteis
e dos refinamentos temporais. Segundo Sales (2007), deseja-se agora um
novo tipo de ascensão, de caráter mundano, mas com máximo de brilho e
33
demarcação do vulgar, revelando uma estetização crescente das aparências. A
moda provoca desejos de originalidade e de conformismo, vontade de ser
diferente e igual ao mesmo tempo: de estar na moda.
A partir de 1950, -se um salto no referido processo de democratização
das aparências, quando se expande a confecção industrial: a fabricação do
vestuário de massa. Neste período o jovem contava com o cinema, o rock, as
roupas, entre outros, como um signo de diferenciação. Criavam modos de
expressão com a corporalidade e a sensualidade projetada pelo rock n roll, a
rebeldia da delinquência juvenil, e uma insatisfação com o sistema “adulto”
(GROSSMAN, 1998).
O visual jovem torna-se o novo ideal da sociedade e a subcultura
4
juvenil
e da estética jovem, aliada a uma nova relação com o corpo, inaugura um novo
tipo de olhar sobre a juventude. Ela parece adquirir ingredientes da rebeldia
real e idealizada sobreinvestida de representações defensivas e conservadoras
(SALES, 2007).
Já nos anos 60 segundo Grossman (1998), um grupo de jovens de
classe média passou a negar todas as manifestações visíveis da sociedade,
usando o poder da flor (flower-power).
______________
4
Subcultura jovem pode ser definida como um grupo ou segmento do grupo social (jovens),
caracterizado por uma combinação de situações sociais diversas, cujo padrão de comportamento
é suficientemente uniforme para distinguir esse grupo como uma subdivisão, dentro de uma
cultura mais geral, influenciada pela ideologia dominante (IANUSKIEWTZ, 2008).
34
Esse movimento transformaria um grupo da juventude em um novo foco
de contestação radical, sendo que, aos poucos, os meios de comunicação
começariam a veicular um novo termo: contracultura, caracterizado por sinais
evidentes de aparência como cabelos compridos, jeans rasgados, roupas
coloridas, além de misticismo, de um determinado tipo de música e drogas
(GROSSMAN, 1998).
nos anos 70, surge na Inglaterra o movimento Punk, que contesta a
ordem social vigente com um visual que fugia dos padrões que a sociedade
impunha através do modismo, mostrando sua revolta como o corte de cabelo à
moicano (ou cabelos espetados) coloridos, roupas velhas surradas (em
oposição ao consumismo), jaquetas arrebitadas com frases de indignação às
injustiças do Estado repressor e atitude subversiva (PIRES, 2001).
Nessa década, a Inglaterra vivia uma recessão com alto índice de
desemprego, sem espaço para garotos de subúrbios ingleses, excluídos do
sistema, tornando-se o ambiente ideal para trazer à tona um novo modelo de
expressão juvenil.
Para Sousa (1999), o movimento Punk surgiu como uma subcultura que
se contrapunha à sociedade, com sua exploração visual e sua irreverência aos
valores e padrões sociais impostos. Este movimento anunciava o “fim”, a morte,
o desespero e o ódio, pois se usavam os “restos da sociedade industrial”. É
claro que muitas nuances, mas os anos 60 são radicalmente diferentes das
décadas de 70 e 80 que se seguiram.
No Brasil, o movimento Punk foi tardio e restrito a alguns núcleos
suburbanos das grandes cidades, com suas bandas de rock fora do circuito de
divulgação da mídia, tomando o incidental por essencial, e transformando numa
35
doutrina uma fonte explosiva de energia sem regras e sem limites (SOUZA,
1999).
na década de 80 e 90, a busca pela diferenciação leva a formação de
vários estilos de vida e tendências como new wave, rappers, grungers,
clubbers, hip-hop, etc. Esses estilos juvenis marcados pelas roupas, músicas,
vocabulário próprio e ambiente em que circulam, formam identidades móveis,
constantemente remodeladas (HALL, 1987). Adicionado a isso, jovens da
classe social estudada nesta pesquisa vêem no hip-hop uma forma de
manifestação.
Assim, a questão da juventude e sua imagem corporal estiveram sempre
atreladas ao momento histórico e às consequências advindas da
contemporaneidade. Segundo Brandão e Duarte (1990) do ponto de vista
social:
O jovem é um ser em desenvolvimento e em constante conflito,
pois encontra-se numa fase natural de transição entre a
infância e a vida adulta. Dessa forma o jovem é considerado
“maduro” quando bem adaptado à estrutura da sociedade, ou
seja, quando se torna um cidadão obediente às normas e aos
valores do sistema social em que vive (p.7).
Segundo Correa (2008), a juventude apresenta-se como um fenômeno
da modernidade, isto é, um fenômeno das ideologias ocidentais, das
sociedades estatais e industrializadas. Os jovens, mais que qualquer outro
grupo social, exprimem e testemunham a mudança, a ruptura intergeracional
sem precedentes que leva à reorganização dos modelos de socialização e à
reestruturação espaçotemporal.
As inúmeras experiências vividas pelos jovens fazem com que estes
tenham diferenciações entre si, isto é, gostos e estilos próprios, buscando
36
quase sempre quebras de paradigmas a fim de construir um mundo que
corresponda às suas expectativas.
O movimento juvenil que está sendo delineado neste início do século XXI
é direcionado para identidades abertas, contraditórias, fragmentadas e
negociadas (HALL, 2001, p.46). Com isso, o volume de informação e exposição
dos jovens à mídia internet, televisão, revistas, rádio, etc. passou a ser
cada vez maior.
Para Mandel e Harvey (1998), as novas formas de produção e
reprodução do capitalismo, com suas características de rapidez, ritmo
incessante de novidades e apelo à visibilidade seduzem especialmente os
jovens.
De acordo com Sales (2007), o anseio de conquistar visibilidade no
espaço público aprofunda-se no início do século XX, primeiro com a grande
imprensa e o fotojornalismo, e posteriormente em plena era da indústria
cultural, com a presença da televisão aparelho por excelência de veiculação
de imagens, cuja presença nos domicílios democratiza o direito de olhar e a
expectativa de ser visto.
Segundo Lipovetsky (1989):
“Já não uma moda, modas”, inspiradas por novos
valores como a juventude e culto o corpo, pois, cada vez mais,
o aparecer se torna uma referência de identidade, perspectiva
existencial e postura contestatória (p.47).
A moda, como epifenômeno da indústria de consumo, está ligada às
dificuldades de “adaptaçãodos indivíduos à sociedade. É importante lembrar,
que, para além da dimensão da classe social, está o pertencimento a grupos,
isto é, o consumo por adesão, reconhecimento e esforço de uma determinada
identidade e práticas sociais afins (COELHO, 1999).
37
Participar de certo padrão de consumo, no caso das classes
trabalhadoras e em particular dos jovens, cria a ilusão de poder e ser mais.
Diante de impedimentos financeiros decorrentes de uma determinada inserção
social no mundo do trabalho e no universo consumista, o acesso a certos bens
para alguns torna-se, às vezes, algo proibitivo para o mundo no qual está
inserido (SEGALIN, 2008).
O consumo é, na maior parte das vezes, febril e não racional, de acordo
com a lógica supérflua, fútil e descartável do capitalismo, ligada a várias
dimensões psicológicas e imagens, isto é, o vale tudo da ética de consumo
revela a crueldade como um dos principais artifícios contemporâneos. Se você
não pode adquirir (consumir) e exibir, “não é/vale nada” (LIPOVETSKY, 1989).
Com isso, a atenção dada à imagem corporal nos dias contemporâneos,
é sem dúvida, norteada pela sedução que, guiada pela estética, cria um clima
idealizado indiferente ao princípio de realidade. Os corpos são apreciados como
“imagem de consumo” segundo a lógica do consumismo visual, e a exaltação
dos corpos desenhados e esculpidos pela mídia e sociedade de consumo leva
principalmente os jovens a dar exacerbada importância à aparência e ao culto
ao corpo.
Esta exagerada importância dada à aparência corporal leva os jovens a
querer ter um corpo esbelto, forte e magro, que hoje significa sinal de poder e
status em nossa sociedade. Na maioria das vezes, são os jovens que sofrem
com esta imposição, e fazem qualquer coisa para poder ter prestígio e se
sentirem belos dentro se seu grupo social.
Para Louro (2000), a representação de modelos corporais vem
interpelando especialmente os jovens, que agregam a seus corpos marcas as
38
quais funcionam como códigos identitários e permitem reconhecer seu
pertencimento a um determinado grupo cultural.
Assim, membros de um mesmo grupo devem, como qualquer outro
grupo cultural, compartilhar os mesmos códigos, falar a mesma linguagem e
buscar a mesma aparência corporal.
Segundo Porto (2002) a aparência trata de imagens que chegam como
imperativos de ideais a serem seguidos, que se transformam em modelos de
identificação, constituintes da identidade fabricada pela propaganda, pelo
esporte, onde o corpo equivale ao espetáculo.
O corpo também é capital. Tem valor de troca ou, como bem, adquire
um status. Esse status é adquirido a partir de símbolos que um belo corpo
carrega consigo. Esses signos, condensados na figura do belo corpo, traduzem
os valores do tipo de cultura da sociedade de consumo que vivemos.
Para Novaes e Vilhena (2006):
O status do corpo é adquirido através de sua jovialidade
(eternização da juventude), de sua beleza (cria-se uma nova
categoria de exclusão a feiúra), da aparência de felicidade
(estando aí incluída a imagem de sucesso - aqueles que deram
certo são os que portam todos os traços até então citados), de
seu poder de atração sexual (só à juventude atribui-se este
poder sendo a mídia o principal agente disseminador desse
discurso) e finalmente, do quão longevo parece ser: a tentativa
desenfreada em retardar os efeitos do envelhecimento
medicina/tecnologia aliadas no combate à morte.
Porém, esse status corporal ou aspecto físico tão cobiçado entre os
jovens não está ao alcance de todos. Para Correa (2008):
O aspecto físico do corpo traz as marcas de um processo no
qual se entrecruzam fatores sociais profundos como a origem,
a trajetória de classe e suas derivações, dentre as múltiplas
eventualidades derivadas da posição que o jovem ocupa no
amplo espectro da diferenciação social.
39
Esta mesma diferenciação social, traz marcas desde o processo de
gestação, durante e após o parto e durante o desenvolvimento inicial do corpo
como aponta Medina (1987). A partir daí o cultural começa a conspirar contra o
biológico, no sentido do corpo ser apropriado pela cultura e se tornar cada vez
mais um suporte de signos sociais, modelado como projeção do social.
Os jovens buscam um padrão corporal baseado no aspecto físico de ser
atraente, saudável e belo para seu grupo, fato no qual a ideologia de consumo
está explícita. Aqueles que conseguem atingir esses padrões impostos pela
sociedade, se tornam referência em sua tribo
5
, e com isso se destacam.
A discussão sobre padrão corporal nos remete à ideia do culto ao corpo
através da disciplina, na qual o corpo não é tratado como sinal de beleza, e sim
tratado como trabalho, como tortura e encarceramento. Esses aspectos que
enfeiam o corpo fizeram parte das experiências vividas pelos jovens que
participaram dessa pesquisa.
O culto ao corpo e a disciplina corporal são destacados por Foucault
(2004), em trabalho que descreve a descoberta do corpo como objeto e alvo de
poder do início do século XVII ao século XX.
Segundo Foucault (2004) no século XX, o adestramento corporal é
uma redução materialista da alma e uma teoria geral do adestramento, no
centro dos quais reina a noção de “docilidade” que une ao corpo analisável, o
corpo manipulável. Para esse autor é cil um corpo que pode ser submetido,
que pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.
_______________
5
O conceito de tribo usado nesta pesquisa tem relação com as redes sociais que constituem o
mundo dos jovens. O individualismo é substituído pela necessidade de identificação com um
grupo, aspecto reforçado pela mídia. Não se trata de uma nova cultura, e sim, o surgimento de
grupos, através dos quais os jovens se posicionam socialmente (MAFFESOLI,2000).
40
Na busca do “corpo ideal”, os caminhos traçados por aqueles que
desejam este objetivo, podem ser levados às ultimas consequências,
perpetuando a reificação, ou seja, o corpo tratado como coisa. Quanto mais ele
é exercitado, visto e desejado, mais descartável é como matéria manipulável, e
quanto mais separado da instância não corporal, mais tratado como objeto ele
se torna (FOCAULT, 2004).
Não dúvida, nas tendências sociais contemporâneas, do potencial
destrutivo que a imagem exerce nas relações patogênicas com o próprio corpo -
relações estas, onde o domínio sobre o corpo não é isento de tributos, que são
pagos, em grande parte, com a própria felicidade (VAZ, 2002).
A questão da boa aparência tem se tornado um emblema significativo na
sociedade atual, e os indivíduos que não a têm, são vítimas preferenciais dos
que perseguem os modelos idealizados de corpo. Em tempos contemporâneos,
em que a visibilidade do corpo é a própria presença da alma, essas questões
atingem proporções dramáticas (VAZ, 2004).
A diversidade entre a imagem corporal idealizada e a real, muitas vezes
leva o jovem ao sofrimento e à imposição de disciplinas que podem resultar em
prejuízos para a saúde física e mental.
Esta imposição disciplinar é abordada por Focault em “Vigiar e Punir”
(1996), cuja idéia central, gira ao redor de uma alma em julgamento e da
punição como algo que se tornou “incorpóreo”, demonstrando que o corpo,
mesmo ausente, habita o âmago do olhar penal.
Com as modificações dos castigos e a adoção de um novo estilo
punitivo, desaparecem os suplícios da dor. Põe-se fim à arte de fazer sofrer em
público, ou seja, a punição deixa de ser uma contemplação. O corpo do
41
condenado sai de cena e outros valores e regras são expressos como forma de
dar prosseguimento à repressão penal, como as instituições penais (SALES,
2007).
Segundo Focault (1996), os dispositivos disciplinares nomeados
“micropoderes”— representam a face escura desse processo.
E se (...) o regime representativo permite que direta ou
indiretamente, com ou sem revezamento, a vontade de todos
forme a instância fundamental da soberania, as disciplinas dão,
na base, garantia da submissão das forças e dos corpos. As
disciplinas reais e corporais constituíram o subsolo das
liberdades formais e jurídicas (p. 195).
A disciplina contribui para fabricar indivíduos e para marcá-los como
objetos de poder, e direciona seu olhar principalmente sobre alguns tipos
sociais, como os delinquentes. Com isso o poder vai investir nesse tipo de
figurante social, no sentido de marcar exclusões e realçar o valor da norma.
Para Sales (2007), os intitulados “normais”:
Tem o papel de espalhar o medo do contágio moral e da
decadência social de uma vida de crimes e fora da lei. Os
chamados normais”, por sua vez, indóceis e recalcitrantes,
seja sob o domínio de instituições encarregadas de corrigi-los
seja na precária condição de liberdade de que dispõem, devem
ser permanentemente vigiados, carregando consigo a
inquietude de se sentirem observados (p.38).
A questão da disciplina corporal abordada por Focault, pode ser
perfeitamente aplicada a padrões idealizados de corpos nos dias de hoje,
principalmente a grupos sociais marcados pela exclusão, como a dos jovens
participantes desta pesquisa.
Mas quem são estes jovens marcados pela discriminação e exclusão
social? É o que será discutido no próximo capítulo.
42
2 JOVENS DO SÉCULO XXI
A juventude é o período de transição entre a infância e a vida adulta,
marcada pelas intensas mudanças corporais da puberdade e pelos impulsos do
desenvolvimento emocional, mental e social (EISENSTEIN et al., 2000).
Segundo critérios propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
cronologicamente, a adolescência é o período da vida que vai dos 10 anos aos
19 anos, 11 meses e 29 dias (CARVALHO et al., 2001).
segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) LEI 8.069,
de 13 de julho de 1990, a adolescência vai dos 12 anos aos 18 anos de vida.
Apesar da OMS e do ECA usarem o termo adolescência em suas
definições, optamos por usar o conceito de juventude, pois este se mostra mais
adequado aos interesses desta pesquisa, isto é, a adolescência seria o período
da puberdade, da maturação fisiológica, e a juventude seria o período mais
fortemente relacionado à maturação da personalidade.
Para Correa (2008) juventude é uma progressão no ciclo da vida
humana, caracterizado por intensas mudanças físicas e psíquicas. Mas, as
controvérsias se instalam mesmo quando se trata de definir a idade
correspondente a esta fase da vida.
No entanto, esses limites de idade não são fixos. Para os que não têm
direito à infância, a juventude começa mais cedo, isto é, qualquer que seja a
faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem juventudes desiguais.
(NOVAES, 2006).
Pensar na juventude brasileira é discorrer sobre processos resultantes de
uma conjugação específica entre herança histórica e padrões societários
43
vigentes. Nesta visão, entre os jovens de hoje, os mais pobres são os mais
atingidos pelos processos de desqualificação geradores de desigualdades
sociais (NOVAES, 2006).
Atualmente, a desigualdade mais evidente entre jovens brasileiros
remete à classe social. Ter uma boa aparência é requisito fundamental para a
conquista de um novo emprego, o que atinge principalmente jovens pobres
negros e negras, isto é, ser pobre, mulher e negra ou pobre, homem, branco faz
diferença nas possibilidades de viver a juventude.
Ao preconceito e à discriminação de classe e etnia adicionam-se o
preconceito e a discriminação por endereço. O local da moradia é outro critério
de diferenciação principalmente para o jovem que vive em grandes cidades.
Para gerações anteriores, esse critério era apenas uma expressão da
estratificação social, um indicador de renda ou de pertencimento de classe.
Hoje morar em determinados lugares, traz consigo o estigma das áreas urbanas
subjugadas pela violência e tráfico de drogas, as chamadas favelas, periferias
ou comunidades (NOVAES, 2006).
Segundo o Instituto Viva Rio: Uma política de prevenção e alternativas ao
envolvimento de jovens na violência urbana no Brasil (2005), mais de 34
milhões de jovens brasileiros entre 15 e 24 anos, sendo que, a grande maioria
destes jovens busca na instituição escolar uma forma de melhorar de vida.
A escola para estes jovens, é uma das instituições mais confiáveis, e
estar fora dela prematuramente é quase sempre uma marca de exclusão social.
Porém, muitos estudantes têm a consciência de que a escolarização é um
ponto importante para a aquisição de emprego, mas não o garante (NOVAES,
2006).
44
As expectativas de mobilidade social interferem nas possibilidades do
jovem projetar o futuro, como o desemprego e a violência, que são dois dos
maiores problemas enfrentados por esses jovens.
Esta visão de estagnação, de representação social dominante, e a
violência simbólica exercida sobre alunos de classes populares são bem
definidas por Bourdieu (1979), que, através do uso da noção de violência
simbólica, tenta desvendar o mecanismo que faz com que os indivíduos vejam
como naturais as representações ou as ideias sociais dominantes.
A violência simbólica é desenvolvida pelas instituições e pelos agentes
que as animam e que sobre ela apoiam o exercício da autoridade. Bourdieu
(1979) considera que a transmissão da cultura escolar (conteúdos, programas,
métodos de trabalho e de avaliação, relações pedagógicas, práticas
linguísticas), própria à classe dominante, revela uma violência simbólica
exercida pela escola sobre os alunos carentes.
A partir de um conceito de que a dominação que recobre formas variadas
de relações de poder, chamada de "chave mestra", focaliza a forma, a mais
insidiosa, exercida pela violência simbólica, Bourdieu (1988) releva que:
O sucesso escolar é condicionado à origem social dos alunos
e, assim, torna-se o primeiro a revelar os mecanismos
cognitivos ligados às condições sociais (p.73).
O termo violência simbólica aparece como eficaz para explicar a adesão
dos dominados: dominação imposta pela aceitação das regras, das sanções, a
incapacidade de conhecer as regras de direito ou morais, as práticas
linguísticas e outras.
Assim, Bourdieu (1979) elabora um sistema teórico que não cessará de
desenvolver:
45
As condições de participação social baseiam-se na herança
social. O acúmulo de bens simbólicos e outros estão inscritos
nas estruturas do pensamento (mas também no corpo) e são
constitutivos do habitus através do qual os indivíduos elaboram
suas trajetórias e asseguram a reprodução social. Esta não
pode se realizar sem a ação sutil dos agentes e das instituições,
preservando as funções sociais pela violência simbólica
exercida sobre os indivíduos e com a adesão deles (p.87).
Através de uma crítica social ao gosto estético, Bourdieu (1979) afirma
que a arte popular não consegue aceder a nenhuma legitimidade estética, mas
ela serve de "referência negativa" à arte superior ou consagrada.
Os julgamentos de gostos, de preferências não são o reflexo da estrutura
social, mas um meio de afirmar ou de conformar uma vinculação social baseada
na distinção de duas ideias centrais e originais. De um lado, as relações de
poder como categoria de dominação e, de outro, o entrecruzamento das
relações de poder com as várias formas de ações organizadas favorecem a
capacidade dos indivíduos para elaborar estratégias que, todavia, não
ultrapassam as relações de desigualdades sociais (VASCONCELOS, 2002).
A partir do que foi visto neste capítulo, evidenciamos um complexo
problema de ordem social, que necessita ser pesquisado, demandando uma
análise crítica e estrutural da sociedade em seus aspectos sociais, econômicos
e normativos, correlacionando-os à realidade juvenil, sobretudo daqueles
autores de infração.
Ressalta-se ainda que, em nossa sociedade marcada por desigualdades
sociais exorbitantes e assombrada pelos crescentes índices de violência e
criminalidade, torna-se urgente a investigação acerca do jovem infrator,
objetivando propor medidas que contribuam para a resolução do problema,
impedindo a continuidade da infração e/ou recrutamento dos jovens para a
criminalidade.
46
Estas relações de desigualdades sociais e jovens em conflito com a lei
serão abordadas no tópico a seguir.
47
2.1 Jovens, Instituições, Estigmas e Atos Infracionais
A maioria das crianças e jovens infratores no Brasil são provenientes de
famílias carentes, onde muitos são vítimas de violência doméstica e exploração
(MASSARO, 2008).
O olhar sobre o jovem pobre
6
na sociedade brasileira, em particular
sobre os autores de ato infracional, exibe a cisão entre direitos e violência. Os
jovens pobres são duplamente desprezados: ora pelo acesso a uma condição
de cidadania escassa, ora pela associação indiscriminada entre juventude e
criminalidade, configurando-se como uma forma de cidadania denegada
(SALES, 2007).
Antigas instituições como a Fundação Casa, são responsáveis tanto
pelas crianças e jovens abandonados como pelos órfãos de rua, mostrando um
aspecto assistencialista. Essas instituições pouco a pouco se mostraram
ineficientes e incapazes de atingir os objetivos propostos de ressocialização do
jovem infrator na sociedade em que vive.
As unidades da Fundação CASA cresceram e se estabeleceram com
estrutura e forma de atendimento parecido com as dos complexos
penitenciários, reafirmando a ineficácia deste modelo para a resolução do
problema dos jovens infratores, pois estas unidades deveriam ter um caráter
educativo.
_______________
6
O conceito de pobreza o é o foco deste trabalho, o que justifica sua exclusão do corpo desta
pesquisa. O que não nos impede de explicitar o porquê da utilização da expressão jovens pobres.
Segundo Simmel (1998), pobre é aquela pessoa que possui meios (recursos) insuficientes para
atender às suas finalidades isto é, o indivíduo desprovidos de meios para suprir suas
necessidades que a natureza impõe (alimentação, vestimenta, habitação) e aquelas necessidades
típicas de cada classe social. Para o autor, a pobreza o é só material, mas é também psicológica
e decorre do meio social.
48
Para Silva (1997), a reincidência entre os jovens que cumpriram medida
de internação na FEBEM é “[...] a forma mais clara de entender o quanto essas
pessoas se tornaram dependentes da vida institucional e o quanto os seus
destinos estão definitivamente traçados pelos órgãos de segurança do Estado”.
O autor aponta que:
“Os efeitos mais duradouros do processo de institucionalização
são os danos causados à constituição da identidade, a
afirmação do ‘estigma’, a incorporação do sentimento de
inferioridade e a redução significativa da auto-estima” (Silva, p
137).
Utilizamos o conceito de estigma empregado por Erving Goffman (1978)
definido como “a situação do indivíduo que está inabilitado para a aceitação
social plena”. O estigma compreende desde os sinais corporais como marcas
ou defeitos físicos até a forma preconceituosa de tratar qualquer desvio. Esta
última forma, bem presente em nossa sociedade, aparece principalmente
quando os atributos de determinado indivíduo são demasiadamente
depreciativos em relação à nossa pré-concepção sobre eles, o que ocorre com
os ex-internos da Fundação CASA.
Uma das perspectivas do estigma é a criação do indivíduo
desacreditável, ou seja, a produção de “marcas” que não são conhecidas nem
imediatamente perceptíveis, mas podem causar discriminação assim que
descobertas. É o caso dos jovens que cumprem medida de internação na
Fundação CASA e que, quando saem, assim que são identificados como “ex-
internos” sofrem diversos preconceitos na escola, no bairro, nos locais públicos,
na hora de conseguir um emprego, dentre outras situações (MASSARO, 2008).
49
Além das consequências que essas formas de discriminação trazem aos
internos, temos também a estigmatização, principalmente ao retornarem ao
convívio social, e que levarão para o resto de suas vidas.
Segundo Goffman (1978) a sociedade “[...] estabelece os meios de
categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e
naturais para os membros de cada uma dessas categorias”. Os indivíduos
considerados normais seriam aqueles que o se afastam negativamente das
expectativas socialmente impostas.
Essa tensão entre o normal e o desvio fica clara nos momentos em que
os estigmatizados e os considerados normais se encontram num mesmo local,
participam de uma mesma conversa. Nesses casos, na tentativa de não passar
por “desviante”, o estigmatizado pode se antecipar, respondendo através de
uma postura defensiva ou às vezes ofensiva (agressão).
A trajetória do estigmatizado culmina em ajustamentos pessoais. Esse
percurso ocorre em duas etapas: a pessoa estigmatizada aprende e incorpora o
ponto de vista dos “normais” e percebe que possui um estigma particular e as
consequências de possuí-lo. Isso ocorre segundo Massaro (2008), por exemplo,
na experiência da internação, que por muitos é considerada como um momento
de crise em que, segundo os funcionários da Instituição, o sujeito pode refletir
sobre si mesmo e sua vida, buscando compreender e direcionar sua atividade
para aquilo que realmente quer para sua vida ulterior.
Nos muitos casos em que a estigmatização dos indivíduos está
associada com sua admissão a uma instituição de custódia,
como uma prisão [...] a maior parte do que ela aprende sobre
seu estigma ser-lhe-á transmitido durante o prolongado contato
íntimo com aqueles que irão transformar-se em seus
companheiros de infortúnio. (GOFFMAN, 1978, p. 46).
50
Devido à manipulação social do estigma criam-se estereótipos em
relação à normalidade na sociedade, cujo propósito é o controle social e a
descoberta do estigma para a vida do possuidor:
[...] “prejudica não a situação social corrente, mas ainda as
relações sociais estabelecidas; não apenas a imagem corrente
que as outras pessoas têm dele mas também a que terão no
futuro; não as aparências, mas ainda a reputação”.
(GOFFMAN, 1978).
Nessas ocasiões o esforço para esconder ou consertar o estigma se
torna parte da identidade pessoal.
Em relação aos desvios Goffman (1978) alerta para aquelas formas em
que a conduta desviante expressa a recusa voluntária e aberta ao lugar social
que lhes é destinado. Neste sentido, não devemos conceber os desvios como
anormalidade e sim nos atentar ao fato de que muitas vezes eles são respostas
às condições de vida que algumas pessoas – ou grupos – não aceitam para si.
Aqueles que são reconhecidos pelo estigma veem, muitas vezes, suas
qualidades serem ignoradas. No caso do jovem infrator, sempre será
“desacreditável” como alguém que conseguirá prover sua vida por meios
socialmente aceitos: ele sempre será um “ex-interno”. Alguns autores
(EDMUNDO, 1987; VOLPI, 2005) apontam que, em relação à denominação dos
jovens que cometem ato infracional, ou mesmo dos adultos detidos por crimes
que cometeram, ainda prevalecem as formas estigmatizantes, tanto nos meios
de comunicação quanto na opinião pública, e também entre aqueles que
trabalham nas instituições de privação de liberdade.
Além da estigmatização, estes jovens internados também se deparam,
no interior da instituição, com torturas, castigos e maus tratos que precisam
enfrentar, pois, embora tenham sido abolidos das leis e regulamentos, nunca
51
deixaram de fazer parte do cotidiano das instituições que abrigam jovens em
conflito com a lei (RIZZINI, 2004).
Do lado de dentro do muro, a vida é organizada, repartida e controlada
racionalmente, nem um minuto é ocioso, pois o que se procura:
[...] não é tanto o sujeito de direito, que se encontra preso nos
interesses fundamentais do pacto social: é o sujeito obediente,
o indivíduo sujeito a hábitos, regras, ordens, uma autoridade
que se exerce continuamente sobre ele e em torno dele e que
ele deve deixar funcionar automaticamente em torno dele.
(FOUCAULT, 1987, p. 106).
O controle corporal e o aspecto da vida institucional racionalmente
organizada a fim de manter os internos ocupados todo o tempo, através de um
rigoroso esquema de disciplina, é algo que ocorre também na Fundação CASA
de Araraquara (MASSARO, 2008).
O corpo como objeto e alvo de poder é utilizado em algumas esferas
sociais que exigem disciplina e controle, como por exemplo, as instituições
totais, lugares estes que os jovens pesquisados vivenciaram. Um corpo é
dócil quando pode ser utilizado, aperfeiçoado e transformado para as
necessidades sociais vigentes, a partir de uma coerção sem folga. Segundo
Carlos JoMartins: A vida dos corpos e das populações como objeto de uma
biopolítica na obra de Michel Foucault (2006, p. 184) a tecnologia política do
corpo “[...] é difusa, não está localizada, nem se exerce em uma única
instituição e aparelho estatal. No entanto, é por eles utilizada e valorizada”.
Para que este sistema funcione, o controle rígido da atividade cotidiana
de cada internado é fundamental: a regulamentação de horários, a elaboração
temporal do ato que faz a correlação entre corpo e gestos, a articulação corpo-
objeto, a utilização exaustiva do tempo no interior dessas instituições prisionais,
entre outros mecanismos. Um dos elementos principais neste modelo é o
52
exercício, pois é a partir de sua prática que se impõem aos apenados atividades
que o concomitantemente repetitivas e diferentes. Na Fundação CASA de
Araraquara, tais atividades ocorrem diariamente tanto com os exercícios físicos
e esportivos chamados de “tempo livre” – quanto com a realização de oficinas
pedagógicas, culturais e profissionalizantes (MASSARO, 2008).
No interior dessas instituições, “[...] a ordem o tem que ser explicada,
nem mesmo formulada; é necessário e suficiente que provoque o
comportamento desejado” (FOUCAULT, 1987, p.215). A função desse poder
disciplinar é adestrar os corpos no intuito de se apropriar de forma total de sua
utilidade, e seu sucesso depende da vigilância hierárquica (através da
arquitetura) e da normalização (através dos privilégios), que assumem um duplo
papel: marcar os desvios e hierarquias, mas também castigar e recompensar.
Tal forma de adestramento se completa com os exames ou relatórios de
conduta e comportamento dos apenados que se consolidam como um poder
organizado de grande eficácia. Para Alvarez (2006, p.50) o exame é
caracterizado como “[...] uma técnica de controle normalizante que permite
qualificar, classificar e punir ininterruptamente os indivíduos que são alvos do
poder disciplinar”. Este modelo é aplicado na Fundação CASA, na qual, o
relatório de cada interno é essencial para o acompanhamento da medida
socioeducativa e para o resultado positivo do tratamento oferecido, além de
ser levado em conta também para a distribuição das recompensas e privilégios.
A produção dos corpos dóceis a partir da disciplina pode se
concretizar com a normalização. Segundo Foucault (2004), a norma:
[...] não se define absolutamente como uma lei natural, mas
pelo papel de exigência e de coerção que ela é capaz de
exercer em relação aos domínios a que se aplica (FOUCAULT,
2004, p. 32).
53
[...] é um elemento a partir do qual certo exercício de poder se
acha fundado e legitimado (FOUCAULT, 2004, p. 32).
Assim, o poder disciplinar exercido sobre os jovens em conflito com a lei,
causa danos à constituição de sua identidade, afirmando a presença de
estigmas.
Para Bauman (2001), na obra Identidade, existe uma extensa discussão
sobre possíveis “identidades”, sentimentos de pertencimento a determinadas
comunidades e círculos culturais. O autor defende a ideia de que o
pertencimento ou a identidade, nesses casos, não são definitivos nem tão
sólidos assim, mas negociáveis e revogáveis; tudo depende das decisões que o
indivíduo toma, do caminho que percorre e da maneira como age.
Dentro desse ambiente de pertencimento identidade —, poucos de
nós, ou quase ninguém, está exposto a apenas uma comunidade de ideias e
princípios de cada vez.
É importante pensar naqueles que modificam sua identidade de acordo
com a própria vontade, escolhendo-as diante de amplas possibilidades,
contrariamente àqueles que não têm direito a se manifestar e se encontram
oprimidos por identidades impostas pelos outros, identidades de que eles
próprios se ressentem, mas não têm permissão para abandonar (CASCAPERA,
2007).
Bauman (2005) definiu a identidade como a rejeição daquilo que os
outros desejam que você seja. Se você foi destinado à subclasse (abandonou a
escola, é viciado, mendigo, marginalizado pela sociedade, etc.) qualquer outra
identidade que você venha a ambicionar lhe é negada a priori. O significado de
identidade da subclasse é ausência de identidade.
54
Quando se trata de pertencer a uma classe é necessário provar por atos
que se pertence a ela pela vida inteira e não somente mostrar uma certidão de
nascimento, isto é, passa-se da fase “sólida” da modernidade para a fase fluída.
E os “fluidos” são assim chamados porque não conseguem manter a forma por
muito tempo e, a menos que sejam derramados num recipiente apertado,
continuam mudando de forma sob a influência amesmo das menores forças.
Num ambiente fluido, não como saber se o que nos espera é uma enchente
ou uma seca. Não se pode mais esperar que as estruturas durem por muito
tempo (CASCAPERA, 2007).
Com isso surge o homem líquido-moderno, aquele que vive sem vínculos
de relacionamentos, de compromissos, aquele que não está seguro quanto ao
tipo de relacionamento que deseja ter. A modernidade líquida projeta um
mundo em que tudo é ilusório, onde a angústia, a dor e a insegurança causadas
pela “vida em sociedade” exigem uma análise paciente e contínua da realidade
e do modo como os indivíduos são nela “inseridos” (BAUMAN, 2004).
No próximo capítulo serão abordados o papel da educação física na vida
dos jovens e a dialética dos corpos nas aulas de Educação Física, durante as
quais a questão da identidade também está presente.
55
3 O PAPEL DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA DIALÉTICA DOS CORPOS
O professor de Educação Física se vê, na maioria das vezes, envolvido
com temas relacionados a técnicas corporais e à cultura do corpo nos mais
variados ambientes, como as academias de ginásticas, os clubes, a
universidade e, principalmente, a escola. Para além de uma atuação
essencialmente técnica, o professor de Educação Física é um educador, na
medida em que desempenha um papel formativo e contribui, em sua prática
pedagógica, para a formação de valores socioculturais, subjetivos e políticos de
seus alunos (LUDORF, 2008).
Devido à natureza pedagógica de sua intervenção, são fundamentais as
investigações de como os professores de Educação Física lidam, em suas
aulas, com as disciplinas e práticas corporais, dentre as quais, a valorização da
dimensão estética, que vem ganhando expressão cada vez maior na sociedade
atual.
Analisar e entender o cotidiano das aulas de educação física e como os
professores lidam com seus alunos é de suma importância para a compreensão
do processo ensino-aprendizagem e da dialética dos corpos
7
. Vale destacar
que o processo de formação do professor de Educação Física é uma das
instâncias mais favoráveis para a discussão e assimilação dos diferentes
significados envolvidos na construção do corpo, especialmente por constituir um
dos pilares para a formação de planos de pensamento, análise e tomada de
posição profissional, tornado-se de suma importância a discussão e o
questionamento da prática dos professores que trabalham nesse específico
ambiente (LUDORF, 2008).
56
Segundo Goldenberg (2006), o corpo adquire tal centralidade na cultura
brasileira que se torna um verdadeiro capital. Além das implicações culturais, o
fenômeno da excessiva preocupação com a aparência do corpo pode envolver
importantes aspectos éticos e de saúde, com os quais, muitas vezes, o
professor de Educação Física deverá lidar. Torna-se fundamental, portanto,
discutir até que ponto tais questões estão sendo trabalhadas nas aulas de
Educação Física.
Considerando que hoje a sociedade tem valorizado as temáticas
relacionadas ao corpo, faz-se necessária uma reflexão sobre as práticas
pedagógicas do professor de educação física em relação à dialética do corpo.
A exacerbada importância atribuída às práticas da atividade física nos
dias atuais pode levar o professor de educação física a trabalhar somente
aspectos que desenvolvam força, agilidade, velocidade, e outras capacidades
físicas.
O corpo, como ferramenta desse processo, passa a seguir normas de
disciplinamento, o apenas autoimpostas, mas também impostas pela
sociedade e por diversas instituições contemporâneas, tais como: imprensa,
televisão, academias de ginástica, escolas, clínicas estéticas, dentre outras
(LUDORF, 2008).
Esse culto à obediência corporal é destacado por Foucault (2004), em
trabalho que descreve a descoberta do corpo como objeto e alvo de poder.
_______________
7 O conceito de Dialética do Corpos está baseada em tudo que está em movimento, porque existe
uma força gravitacional responsável pela atração e repulsão dos corpos, os quais se atraem ou se
repelem e, por isto, nunca deixam de estar em movimento. Portanto, é perguntar-se sempre
quais os atritos que ocorreram para produzir aquele objeto que estudamos e estamos tentando
conhecer. Dessa maneira dialética dos corpos é capacitar-se a entender a realidade a ponto de
poder capturar e dominar os principais diálogos corporais (ARAUJO, 2010).
57
Segundo La Mettrie (1845) apud Foucault (2004), o adestramento
corporal é uma redução materialista da alma e uma teoria geral do
adestramento, no centro do qual reina a noção de “docilidade” que une ao corpo
analisável o corpo manipulável. É dócil um corpo que pode ser submetido, que
pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado.
Esta docilização dos corpos pode ser vista nos jovens que participaram
desta pesquisa. O interesse do Estado em manter a ordem e a disciplina social,
faz com que a disciplina corporal seja vista como uma forma de controle, isto é,
o corpo pode ser manipulado de forma a seguir um padrão imposto pela
sociedade.
na prática da atividade física o corpo é o instrumento técnico
fundamental e deve dominar a natureza para controlar seus movimentos. Da
mesma forma, o indivíduo deve ser a expressão da natureza dominada, fato
que pode ser identificado nas estruturas das aulas de educação física.
Tal repercussão não passa despercebida nos diferentes ambientes em
que a Educação Física é trabalhada, levando principalmente crianças e jovens
a terem contato precocemente com distúrbios dietéticos e/ou uma preocupação
exacerbada com (a forma) do corpo.
Para Soares (2001):
“O corpo como primeiro plano de visibilidade humana, como
lugar privilegiado das marcas da cultura [...], tem sido pouco
considerado no campo da educação e, mais especificamente,
no campo da educação física. Nesta, os estudos em torno do
corpo são também incipientes”
(
p.5).
Porém, existe uma lacuna relativa às evidências empíricas sobre como
os professores têm lidado com esta tendência corporal contemporânea nas
aulas de educação física. Copollilo (2002) aborda a leitura que professores de
Educação Física fazem acerca das concepções de corpo em suas aulas e como
58
a mídia influencia nesse processo. Embora tais iniciativas sejam importantes,
a necessidade de se analisar essa temática também no processo das
práticas pedagógicas do professor de educação física, que servirão de base
para a incorporação das novas gerações profissionais.
Para Ludorf (2008), a insuficiência de fontes que mostrem como
questões ligadas a valores estéticos têm sido abordadas nas aulas e na
formação de professores de Educação Física é um elemento preocupante,
especialmente em um cenário onde prevalece um poderoso discurso da mídia,
que, em última instância, influencia comportamentos e, obviamente, os corpos
dos próprios professores de Educação Física e os daqueles com os quais
interagem.
O corpo talvez seja um dos vetores de construção de identidade no
mundo contemporâneo. Para Vaz (2002), seria bom que se pensasse o papel
dos ambientes educacionais em meio à diversidade de técnicas necessárias
para o assessoramento e criação/desenvolvimento de identidades corporais.
Esse é um ponto-chave para que se debata, nos ambientes educacionais, o
papel da Educação Física, bem como algumas possíveis orientações para a
formação de educadores (VAZ, 2002, p. 92).
Neste sentido, é importante que o professor esteja preparado para lidar
criticamente com as novas demandas corporais, ou antes, que reflita sobre o
impacto das mesmas no processo de sua formação e na formação de seus
alunos, para que possa exercer plenamente sua função de educador.
A educação, em suas mais diferentes manifestações, em si contribui
para inscrever significados e valores no corpo. Ao lidar com o ser humano e o
corpo em constante construção e interação com o contexto social, a Educação
59
Física não pode deixar de ser entendida como uma prática educativa, ou ainda,
como prática social, que se ocupa do educar por meio do movimento. Nessa
perspectiva, espera-se da Educação Física, a tarefa de “esculpir” o corpo, para
além do sentido puramente estético ou literal da palavra, mas em um sentido
amplo de formação humana (LUDORF, 2008).
Deve-se então privilegiar o equilíbrio e a articulação entre o saber dos
professores e as realidades específicas de seu trabalho cotidiano (Tardif, 2002).
Segundo Tardif (2002), o saber docente é plural e profundamente social,
uma vez que, além de estar ancorado na individualidade, é sempre ligado ao
trabalho, ao ensino, à instituição e à sociedade, na qual a formação profissional
constitui uma sólida instância de composição de saberes, onde as questões
socioculturais devem ser amplamente debatidas.
Para Pimenta e Anastasiou (2002):
O desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de
propostas educacionais que valorizam a sua formação não mais
baseada na racionalidade técnica, que os considera meros
executores de decisões alheias, mas em uma perspectiva que
reconhece sua capacidade de decidir. Ao confrontar suas ações
cotidianas com as produções teóricas, é necessário rever as
práticas e as teorias que as informam, pesquisar a prática e
produzir novos conhecimentos para a teoria e para a prática de
ensinar. Assim, as transformações das práticas docentes se
efetivarão se o professor ampliar sua consciência sobre a
própria prática [...] o que pressupõe os conhecimentos teóricos
e críticos da realidade (p. 13).
os ambientes escolares se caracterizam por uma rie de
peculiaridades que é preciso levar em conta na hora de pensar as
competências básicas dos professores para mover-se dentro deles (GIMENO,
2000).
Nas aulas de educação física, em especial, se produzem muitas coisas,
ao mesmo tempo em que se sucedem rapidamente várias situações que se
60
desenrolam de modo imprevisível. Por isso muitas das decisões que o
professor tem de tomar aparecem como instantâneas e intuitivas, tornando
difícil buscar padrões para racionalizar a prática educativa enquanto esta se
realiza.
Segundo Gimeno (2000), existem esquemas práticos que se aplicam, às
vezes, de forma muito semelhante em diferentes áreas ou disciplinas do
currículo e, outras vezes, se especializam em algumas delas, onde a prática do
ensino é estável ao longo do tempo, isto é, os conteúdos podem mudar, mas se
mantém a estrutura da prática dentro da qual eles são aprendidos.
Apesar de a educação física possuir um padrão esquemático similar a
outras disciplinas escolares, como um plano de aula ou um planejamento
pedagógico, por exemplo, ela se diferencia principalmente pelo objeto do qual
trata, pelo espaço físico utilizado em aula e pela prática. Vale ressaltar que a
educação física no ambiente escolar é quase sempre vista como uma disciplina
desprezada e renegada que sofre discriminação pelos próprios professores de
outras disciplinas, isto é, o professor de educação física é visto, na maioria das
vezes, como um recreador, e não como um educador.
As áreas ou disciplinas não variam apenas porque tratam objetos
distintos, mas também pelas atividades mais apropriadas para tratá-los. Para
Gimeno (2000), a organização escolar tradicional mantém isolados entre si os
ambientes de aula dentro da escola, como blocos separados. Praticamente
no campo do brinquedo e de recreio o isolamento se rompe.
Está ai uma das principais características das práticas da educação física
a possibilidade de conhecer os alunos fora do ambiente de sala de aula, isto
é, poder trabalhar com eles, por exemplo, as habilidades motoras (correr, pular,
61
saltar, etc.) e as capacidades físicas (agilidade, velocidade, força, etc.) de
maneira integral, aspecto que nenhuma disciplina é capaz de trabalhar tão
profundamente.
Assim, as atividades definem o tipo de prática que se realiza e o o
esqueleto que pode nos servir pra compreender melhor como funciona a
prática. As tarefas são, de fato, recursos utilizados pelos professores para
planejar a prática, e no caso da Educação Física elas são bem características
(GIMENO, 2000).
Outro ponto importante em que a educação física difere de outras
disciplinas é o sistema de avaliação. Para Gimeno (2000):
A avaliação não é uma simples exigência de comprovação de
como funciona o processo de ensino-aprendizagem, mas
cumpre um papel nas relações pessoais dos professores e
alunos e um papel dentro da instituição escolar e na sociedade
que, em certos casos, o professor sabe utilizar para manter um
determinado controle pessoal sobre a conduta dos alunos
(p.236).
No que se refere à Educação Física segundo os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN, 1997), alguns dos critérios de avaliação são: enfrentar
desafios corporais em diferentes contextos como circuitos, jogos e brincadeiras,
adotando uma atitude cooperativa; participar das atividades respeitando as
regras e a organização; interagir com colegas sem estigmatizar ou discriminar
por razões físicas, sociais, culturais ou de gênero; estabelecer algumas
relações entre a prática de atividades corporais e a melhora da saúde individual
e coletiva e entendimento e realização de atividades propostas pelo professor
respeitando o desenvolvimento motor de cada criança.
62
As discussões ligadas ao corpo na contemporaneidade são
contempladas em algumas disciplinas, mas estão presentes principalmente nas
práticas de professores de Educação Física.
Os referenciais teóricos para embasar tais práticas, possuem como eixo
comum a importância das práticas educativas nas aulas de educação física e as
formas pelas quais o professor pode trabalhar a questão corporal com seus
alunos.
A presença de abordagens críticas relativas à excessiva valorização de
dimensões como aparência e forma do corpo, ou de modelos de corpo, e
discussões sobre eventuais relações desse contexto com o trabalho do
professor de Educação Física representam um aspecto significativo na
formação de professores de Educação Física, porém, é importante ressaltar,
que muitas vezes isso não acontece.
Os discursos ligados à fabricação e modelagem de corpos, amplamente
divulgados por meio da mídia, vêm influenciando o comportamento de crianças,
jovens e adultos, com os quais o professor de Educação Física interage em sua
prática, nos diferentes ambientes.
Nesse sentido, é relevante que o professor de Educação Física esteja
preparado para lidar criticamente com as novas demandas corporais, ou antes,
que reflita sobre o impacto das mesmas no processo de sua formação e na
formação de seus alunos. O papel do profissional/professor de Educação Física
não se restringe a organizar e fundamentar os conteúdos das práticas
corporais, criar e desenvolver estratégias de ensino e ministrar aulas, muito
menos ensinar técnicas específicas ou de controle de peso, mas, acima de
tudo, seu papel é educar, principalmente pela proximidade com os alunos.
63
Vale a pena o constante repensar das práticas pedagógicas dos
professores de Educação Física, uma vez que cabe ao professor,
invariavelmente, refletir e discutir sobre suas estratégias de atuação na
formação corporal de seus alunos.
Para alguns jovens, a escola constitui um espaço significativo para a
construção de sua identidade. Ao analisar os significados da experiência
escolar para os jovens da periferia urbana de uma cidade grande do Estado de
São Paulo, Correa (2008) destaca:
Por mais que estejam convictos dos problemas estruturais da
escola, os jovens pesquisados têm a escolarização como meta,
necessidade ou simplesmente como desejo a ser realizado
(p.269).
Assim, o trabalho pedagógico nas aulas de Educação Física, deve ser
enriquecido com discussões sobre os mecanismos que impõem significados
ideológicos às práticas corporais. A intervenção crítica do professor é de suma
importância para desmistificar as relações sociais que se sustentam por detrás
da ideologia de idolatria do corpo perfeito.
64
4. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Para conseguirmos compreender a
representação corporal dos jovens
em liberdade assistida, entendemos ser necessário ouvir os jovens em conflito
com a lei que participaram desta pesquisa. Para que tal objetivo fosse viável, a
realização de entrevistas se tornou elemento fundamental para os objetivos
deste trabalho.
Ao pensarmos em como realizar as entrevistas, percebemos que a
aplicação de um questionário não corresponderia a nossos objetivos de captar
a representação corporal desses jovens, pois a realização de entrevistas que
possibilitassem uma flexibilidade em seu desenvolvimento era condição
essencial para nosso trabalho.
Optamos então por entrevistas individuais com 5 jovens do sexo
masculino de 14 a 17 anos que cometeram ato infracional. Concordamos com
Terragni (2005, p.195) “[...] que a escolha de entrevista individual é um modo
particular de olhar a realidade”.
Ao optar pelas entrevistas individuais, procurei demarcar os processos
de individualização que efetivam como cada jovem constrói sua trajetória e
experiências de vida. Meu objetivo era que, ao narrarem suas experiências e
vivências corporais, os jovens narrassem a si mesmos: quem são, onde vivem,
com quem vivem, o que fazem e quais as suas expectativas em relação à sua
aparência e ao seu corpo.
para compreender suas vivências escolares e a influência da
Educação Física e da mídia na formação da sua percepção corporal, foi
perguntado aos jovens se eles estudam e onde estudam, em que ano escolar
estão, se gostam da escola e por que, do que mais gostam e do que menos
65
gostam na escola, se a mídia influencia padrões de estética para os jovens, se
eles praticam alguma atividade física e qual, se fazem ou fizeram Educação
Física na Escola e se gostam ou gostavam do Professor de Educação Física.
Alguns outros pontos também foram questionados e serviram de base
para a formação de um quadro geral do perfil dos jovens entrevistados como:
se eles gostam do próprio corpo, se fariam alguma modificação corporal para
ficarem mais belos e se sabem dos riscos e efeitos do uso de medicamentos
para melhorar a imagem corporal.
Assim, foi elaborado um roteiro de entrevista com temas nos quais estão
presentes elementos da percepção corporal dos jovens entrevistados e que
permitem identificar alguns aspectos da visão deles sobre a escola e a
Educação Física, sobre a imagem perfeita, sobre a religiosidade interferindo no
corpo como algo imutável, sobre a virilidade masculina e a questão da
autoimagem destes jovens através de desenhos.
Concordamos com Zago (2003, p. 289) que a prática da pesquisa para
analisar realidades concretas deve se voltar “[...] para dimensões mais restritas
da realidade social”, e por isso esse grupo específico de jovens foi escolhido.
A escolha da entrevista como principal fonte de coleta de dados sobre a
representação corporal desses jovens é bem justificada, pois o Salesianos de
Araraquara, por se caracterizar como uma instituição meio aberta, não permite
fácil acesso às propostas da pesquisa. Desta maneira, a entrevista com os
jovens em conflito com a lei foi a opção escolhida para compreender mais a
fundo nosso objeto de estudo.
Para esse tipo de coleta de dados o número de entrevistas realizadas
nesta pesquisa (5 entrevistas) corresponde à representatividade em termos de
66
pesquisa qualitativa. Para este trabalho, o importante foi assegurar a
profundidade das informações coletadas, permitindo uma maior flexibilidade de
respostas dos jovens entrevistados. Além disso, Zago (2003) aponta para a
necessidade de elaboração de um questionário para registrar os dados dos
jovens estudados, assim como a utilização de um gravador de voz no momento
de cada entrevista.
Como a entrevista se desenvolve em uma relação social
“O encontro com um interlocutor exterior ao universo social do
entrevistado representa, em vários casos, a oportunidade de
este ser ouvido e poder falar de questões sociais que lhe
concernem diretamente”. (ZAGO, 2003, p. 301).
Contudo, para que o processo das entrevistas transcorresse de forma a
abranger os elementos buscados pelo pesquisador, o esclarecimento em
relação aos objetivos da pesquisa e a garantia do anonimato foram feitos no
momento inicial do contato com os jovens.
A partir das sugestões acima, passamos a descrever os roteiros da
pesquisa e a questionar alguns pontos que foram observados durante as
entrevistas com os jovens em conflito com a lei.
As entrevistas formam agendadas com prévia antecedência pela Diretora
do Salesianos de Araraquara, definindo o dia, a hora e o local de cada
entrevista. Optamos pela realização das entrevistas logo após o almoço, pois os
jovens almoçam na instituição, facilitando assim a abordagem, uma vez que
eles estavam em um momento de descontração e relaxamento. O Local
escolhido foi a Biblioteca da instituição, que reunia as condições ideais para a
realização das entrevistas, isto é, uma sala fechada, bem confortável, com
mesas e cadeiras, e que nos permitiu total sigilo e discrição com os jovens.
67
Assim, eles se sentiram confortáveis em falar sobre suas experiências e
responder as questões propostas pelo pesquisador.
No s de maio de 2009 foi feita a primeira entrevista experimental no
Salesianos com intuito de criar familiaridade com os jovens da instituição. Para
esse tipo de pesquisa, é de fundamental importância que o pesquisador esteja
bem integrado ao grupo para não causar desconfianças e inseguranças por
parte dos jovens.
Vale a pena ressaltar que a participação nas entrevistas não era
obrigatória, isto é, só participaria das entrevistas os jovens que quisessem
participar.
Antes de cada entrevista, a Diretora da Rede Salesianos se
responsabilizava em fazer uma primeira aproximação com os jovens,
convidando-os para participar de uma pesquisa sobre a percepção corporal,
esclarecendo que essa seria feita por um aluno da Unesp. Indicava que os
detalhes do trabalho e da participação deles seriam explicados pelo
pesquisador e que as dúvidas que eles tivessem seriam por ele esclarecidas. A
Diretora ainda adiantava que era um convite e que, se depois de conhecerem a
pesquisa não quisessem participar, não haveria problema.
O processo das apresentações e as entrevistas foram realizados entre os
meses de maio a outubro de 2009.
Com os jovens abordados e que aceitaram participar da pesquisa,
realizamos a apresentação e a entrevista sem grandes problemas. Durante a
apresentação, contamos um pouco sobre a trajetória do pesquisador e do
projeto de pesquisa e conversamos sem gravação sobre a trajetória deles.
Foi feito o convite para a participação, mostrando o gravador de voz onde
68
registraríamos as falas e ressaltando o absoluto sigilo em relação à identidade
dos participantes, bem como ao acesso à íntegra das entrevistas, sendo
garantida, por meio de uma autorização, a utilização das falas na pesquisa.
Na data marcada para a entrevista, os jovens assinaram o termo de
autorização (Anexo 05) e responderam a um breve questionário relacionado à
escolaridade, renda familiar e idade para facilitar a fluência da entrevista no
formato proposto.
Antes da primeira entrevista, elaboramos o roteiro a ser seguido, com
base nas leituras e inquietações sobre a temática da percepção corporal.
Em linhas gerais, as entrevistas transcorreram muito bem. Contudo,
algumas dificuldades merecem destaque. A primeira é que, mesmo com a
explicação de que a entrevista funcionaria como uma conversa, em alguns
momentos presentes em outras entrevistas –, a desconfiança por parte dos
jovens em relação à gravação de suas falas se fez presente. Um segundo ponto
se refere à comunicação entre o pesquisador e os jovens. Por problemas de
linguagem, em muitas ocasiões os jovens não compreendiam a discussão que
lhes era proposta. As gírias são muito frequentes em seu vocabulário. A terceira
dificuldade foi em relação ao autodesenho. Quando foi pedido, no final de cada
entrevista, que eles se autodesenhassem, houve certa relutância em se
desenhar, pois achavam esse processo muito infantil e sentiam um pouco de
vergonha. Mas depois, com o transcorrer da entrevista e com os jovens mais
relaxados e adaptados ao ambiente e ao pesquisador, o processo do
autodesenho transcorreu de forma tranquila. Dos cinco jovens que foram
entrevistados, somente um se recusou a se autodesenhar. A idade do jovem 1
69
era de 17 anos, do jovem 2 de 16 anos, do jovem 3 de 17 anos, do jovem 4 de
15 anos e do jovem 5 de 16 anos.
Segundo o questionário preenchido no dia de suas entrevistas, a idade
dos jovens quando cumpriram medida no Salesianos variou entre 14 e 17 anos.
A escolarização variou entre o ano do ensino fundamental e o primeiro do
ensino médio, sendo que apenas um deles continua frequentando a escola
(supletivo). Dos cinco entrevistados dois moram com a mãe e o padrasto, outro
com a mãe, irmã, irmão, avó, avô, tio e tia, outro com pai, avô, tios e primos e o
último com a sogra, mulher e filha.
Após a realização de cada uma das entrevistas fizemos a transcrição das
falas com base no proposto por Whitaker et al. (2002, p.80) como relatado
nesta pesquisa.
A partir destas sugestões, mantivemos fiel a pronúncia somente das
gírias, que foram colocadas entre aspas e em itálico.
Passamos agora para a análise de alguns tópicos relevantes desta
pesquisa que serão de suma importância para a compreensão de como esses
jovens representam sua imagem corporal.
4.1 Sobre Educação, Escola e Educação Física.
Para os jovens entrevistados nesta pesquisa, a escola, e em especial a
educação física que é objeto de análise deste trabalho, constitui um espaço
significativo para a construção de sua identidade. Ao analisar os resultados da
experiência escolar para eles, percebemos que alguns acham que a escola é
chata e não oferece estímulos aos estudantes.
70
Pesquisador: Você gosta ou gostava da escola?
Jovem1: Gostava mais ou menos mano. A escola era chata e tipo assim, nós íamos
na escola para bagunçar e para zoar. Agente não ligava muito para o estudo, nem eu nem
meus amigos.
Jovem2: Gostar eu não gostava não. Não curtia ficar sentado esperando o tempo
passar e escrevendo. Parece que tinha formiga na carteira da sala de aula e não via a hora de
sair de lá. A gente nasceu para ser livre e a professora me prendia e me punha de castigo.
Podemos perceber que em algumas falas, que os jovens veem a escola
com um lugar importuno e de castigo. Porém, para alguns entrevistados, a
escola representa um lugar de aprendizado e de possibilidade de melhorar de
vida através do estudo.
Jovem3: Até que gosto da escola, mas depende da matéria. Tenho que trabalhar
também, então fica meio puxado (difícil) para mim, mas vou terminar.
Jovem4: Gosto da escola e de estudar. Não sou bom em todas as matérias, mas a
que estou indo bem. Quero terminar os meus estudos.
Jovem5: Sinto muita saudade da escola, dos amigos e das aulas de educação física.
Era muito bom mano.
A lembrança positiva da escola também está explícita nas falas dos
jovens. A saudade do ambiente escolar, dos amigos de sala e principalmente
das aulas de educação física se fez presente nas entrevistas.
Por mais que estejam convictos de suas limitações alguns dos jovens
pesquisados têm a escolarização como meta, necessidade ou simplesmente
como desejo a ser realizado.
Os jovens, especialmente os de classes sociais mais populares,
experimentam, nas condições estruturais da vida juvenil, as alternativas de uma
escolarização que lhes é incontestavelmente necessária e ilusória. (MELUCCI,
2001).
Contudo, tomando como base Correa (2008, p.208) pela sua capacidade
de desafiar a lógica do sistema:
71
Os jovens fundam modos singulares de individualização,
estratégias de apropriação e resistência que se expressam em
suas experiências escolares e de vida.
quando questionados sobre de que mais gostam ou gostavam na
escola e de que menos gostam ou gostavam na escola temos alguns relatos.
Jovem1: A matéria que eu mais gostava era matemática e educação física. Eu era bom
de esporte e de fazer contas. Os professores eram dá hora (legais).
Eu gostava de ficar trocando idéia (conversando) com os amigos na escola. E o que eu
menos gostava era português porque era muito ruim. Não sei escrever e ler direito (leio
devagar) e o pessoal ficava zoando (tirando sarro) de mim.
Jovem2: Eu não gostava de nada não, porque eu quase nunca entrava na sala de aula.
Na primeira aula eu já saia fora com mais dois parceiros. Às vezes eu curtia sair fora sozinho
pra pensar na vida e fumar um (baseado).
A matéria que eu menos gostava era português, pois eu não entendia nada que a
professora explicava e ela era muito chata. Gostava um pouco de matemática. Sou bom em
contas.
Jovem3: Eu não gostava de matemática, pois nunca fui bom em contas, e a matéria
que eu mais gostava era portuguesa, pois gosto de ler.
Jovem4: O que eu mais gosto é português, história, geografia e artes. E o que eu
menos gosto é matemática e inglês.
Jovem5: Eu gosto de matemática, pois sou bom em fazer contas, e a matéria que eu
menos gosto é português, pois não sei falar e nem escrever direito.
Podemos perceber que dois jovens relatam que gostam da disciplina
matemática, pois são bons em contas, porém outros dois afirmam que não
gostam da disciplina língua portuguesa, pois não sabem ler ou escrever direito,
caracterizando certo tipo de exclusão social. O problema da escrita e da fala foi
um dos pontos críticos que os jovens relataram nas entrevistas. Percebe-se que
os jovens entrevistados não gostam da disciplina língua portuguesa não pelo
que ela representa, mas sim, pelo simples fato de não conseguirem
acompanhar o ritmo de aprendizado dos outros alunos, gerando assim,
insatisfação e desinteresse pelo ambiente escolar.
72
Quando indagados sobre se eles gostam ou gostavam da disciplina
Educação Física na escola e do professor, temos um parecer muito positivo
sobre este tópico.
Jovem1: Gostava pra caramba (muito) do professor. Eram dois professores um
homem e uma mulher. O professor era ponta firme (responsável), trocava idéia (conversava)
com a gente, treinava o time para campeonatos e sempre me chamava pelo nome. A professora
treinava as minas. Eu era muito bom no atletismo. Corria pra caramba mano, eu e uns amigos
meu.
Teve um dia que o professor até me deu um bute usado (tênis) para eu correr. Minha
mãe não tinha dinheiro para comprar um bute (tênis) novo.
Era muito legal mano, eu jogava no meu horário e no horário dos outros quando tinha
vaga. A galera ficava tudo ali na quadra zoando (bagunçando).
Jovem2: Sinto falta da Educação Física. Quando eu estudava era legal porque a física
era de sexta feira e dava uns 3 times de futebol.
É o professor que eu mais gostava na escola. Não ia à aula, mas não faltava na
educação física.
Vou falar pra você, matava as primeiras aulas de outras matérias e quando era o
horário da física eu pulava o muro da escola só pra jogar bola com a galera, era muito bom.
Os meninos jogavam bola e as meninas vôlei. Às vezes tinha te queimada com a galera
toda, era da hora mano.
O professor se dava bem com a galera, ele era de boa. Não tinha problema com nenhum
aluno, sabia lidar com os outros.
Percebemos em suas falas, mais uma vez o tom saudoso e carinhoso
com que os jovens se referem ao professor de educação física e às aulas. A
parte social que a educação física propõe em suas aulas parece despertar certo
interesse por partes dos jovens. Talvez por ser uma disciplina que enfatiza
principalmente a prática e por estar em outro ambiente diferente da sala de
aula, gera um despertar muito grande por parte dos alunos. Aqui vale uma
afirmação pessoal minha: na maioria das vezes os piores alunos em sala de
aula são os melhores na educação física, tanto em relação à frequência como
em relação ao interesse.
Outro ponto importante a ser destacado nas falas é quando o professor
de educação física chama o jovem pelo nome. Com isso ele se torna um aluno,
uma pessoa e não somente um número e nada mais. O jovem passa a ter uma
identidade e se sente parte integrante do círculo social escolar.
73
A visão que esses jovens possuem sobre a educação física nos mostra o
quanto é importante essa disciplina para a construção da identidade deles.
Vejamos, também, outros depoimentos sobre a prática de exercícios
físicos realizados pelos jovens entrevistados.
Pesquisador: Você pratica alguma atividade física? Qual?
Jovem1: Agora eu corro um pouco e puxo ferro de leve. De vez em quando eu jogo
bola com meus amigos, mas sou muito ruim e me colocam no gol. “O que eu mais gosto de
fazer é correr, pois me sinto livre mano”.
Jovem5: Sim, quando tempo gosto de jogar um basquete com meus amigos. fui
bom nesse negócio, agora só brinco.
A fala de uns dos entrevistados mostra exatamente o sentimento que a
atividade física causa nestes jovens. Quando ele corre, ele se sente livre, e só a
educação física como disciplina escolar pode proporcionar tal sensação a esses
jovens em conflito com a lei.
A sensação de liberdade descrita pelo jovem quando ele corre mostra
que a educação física, como ferramenta pedagógica, pode ser um valioso
instrumento de inclusão social e de melhora da perspectiva de vida para estes
jovens infratores.
4.2 Sobre a visão da Imagem Perfeita
Alguns relatos demonstram a visão que os jovens têm sobre um padrão
corporal ideal para homens e mulheres. Vejamos alguns depoimentos.
Pesquisador: Para você o que é um padrão corporal (como deve ser)
ideal para homens e mulheres?
Jovem1: Sei mano, acho que para mim a mina (menina) tem que ser magrinha sem
aquela barriga de gordura. Acho feio mina com barriga pulando para fora da calça. os
homens têm que ser forte e ter uma aparência legal. Não pode ser muito magro e nem muito
forte senão fica feio de mais mano.
74
Jovem2: Sei mano, acho que os manos (meninos) têm que ser altos e mais inchados
(forte) do que eu. as minas tem que ter um corpo da hora, magrinha, baixinha e morena que
nem a Juliana Paes.
Jovem3: Sei mano, a mina tem que ser inteligente. Tem que ser bonita por fora e
por dentro, mas tem que ser mesmo é bonita por dentro. A mina tem que ser gente boa.
Ela tem que ser humilde, ajudar os outros e não se envolver com drogas como eu. Por
fora tem que ser magrinha e morena.
Jovem4: Tem que ter “bunda” grande e peito grande se for mulher. Já os homens têm
que estar bem vestido, de cabelo cortado e barba bem feita. Tem que ser forte.
Jovem5: Sei mano, tem que ser igual minha mulher. Morena e baixinha. Têm que
ser trabalhadeira e cuidar da menina (filha). Já os homens como disse tem que ser forte para
se garantir.
Parte dos jovens acha que as mulheres têm que ser magras e sem
barriga. Apesar de alguns falarem que a menina tem que ser humilde,
trabalhadora e “bonita por dentro”, logo em seguida entram em contradição ao
relatarem que elas tem que ser magrinhas e morenas. Essas descrições
mostram que também para esses jovens estão em evidência os padrões de
beleza impostos pela sociedade, ou seja, a mulher magra e bonita é valorizada
em seu círculo social. Além disso, parece estar explícito em suas falas que,
quando relatam que a mulher tem que ser trabalhadora e humilde, nos remetem
à visão da mãe ou alguém da família que possui este perfil.
Já para o padrão corporal masculino, todos os entrevistados afirmam que
os homens têm que ser fortes, nos remetendo a Michel Focault (2004) na
explanação sobre a docilização dos corpos. Os meninos, na visão dos jovens
em conflito com a lei, têm que ter certo status, sendo a força o que impera e
prevalece.
A questão da força pode ser interpretada como uma virilidade masculina
presente em quase todos os discursos. Ser forte para esses jovens é mais do
que simplesmente ter um corpo malhado, é uma questão de sobrevivência, pois
no círculo social em que vivem e de acordo com suas experiências vividas,
75
especialmente em regimes fechados pelos quais passaram, ser forte e viril é
requisito essencial. Vale a pena ressaltar que um dos entrevistados foi preso
por briga e agressão para com outros jovens.
Alguns destes jovens relataram nas entrevistas que já passaram por
agressões físicas e psicológicas, levando em seus corpos, sob a forma de
cicatrizes ou tatuagens, o testemunho e a lembranças da dor, humilhação e
punições sofridas.
O problema é que para estes jovens infratores, o tratamento repressivo
que tiveram faz com que eles se representem como pessoas às quais a
sociedade o valoriza, levando-os a um sentimento de baixa estima e
descriminação.
Assim, socialmente na cultura de massa para os jovens a visão da
imagem perfeita está nos padrões impostos pela sociedade, principalmente
quando se trata da aparência corporal feminina, isto é, ser magra, bonita, e
apresentar um estereótipo igual ao das mulheres da televisão é sinônimo de
beleza. em relação à imagem corporal masculina o que vale é ser viril e
forte, visão que se fez presente em todos os relatos. Ser forte para estes
jovens, tanto física como psicologicamente, é um fator fundamental para se
imporem em relação aos outros jovens.
Embora nesta pesquisa eles tenham se mostrado tanto no desenho
como nas falas algumas controvérsias. A escolha do padrão feminino não
necessariamente o fator altura é determinante, o que nos leva a levantar outra
hipótese, de que eles terão um maior poder sobre elas se forem magrinhas,
baixas e trabalhadoras.
76
4.3 Sobre a religiosidade interferindo no corpo como algo imutável
Em muitos dos relatos observados nas entrevistas com os jovens em
conflito com a lei, no que se refere à visão que eles têm em relação a sua
imagem corporal, prevalece quase sempre o discurso da existência de Deus em
suas falas.
Quando questionados sobre como se sentem em relação a seu corpo e
se gostam de seu corpo, podemos observar a presença de Deus como algo
imutável, isto é, se o jovem nasceu assim é porque Deus quis. Vejamos
algumas falas.
Jovem1:
Gosto muito do meu corpo, me sinto muito bem, porque Deus fez assim e é
assim que eu quero ser. Sou magrelo, mas sou forte. briguei algumas vezes e nunca apanhei
mano.
Jovem3:
Me sinto bem. Faço bastante exercício jogando bola. Gosto do meu corpo do
jeito que ele está. Se Deus quis assim, ta bom.
Para esses jovens o corpo que possuem é algo pré-determinado por
Deus. Parece existir, em suas falas, um aspecto oculto que nos remete a uma
ligeira insatisfação corporal, mas eles o podem ou não têm condições de
melhorar sua imagem corporal.
Outro aspecto observado nas entrevistas, ainda referente à questão de
Deus na sua composição corporal, é a resposta de um dos jovens quando lhe
foi perguntado se modificaria seu corpo e qual parte dele (segmento corporal).
Jovem2:
Vou falar pra você que até modificaria sim, mas não dá. Não gosto do meu
nariz, mas não tenho grana (dinheiro) para operar. Nem sei como é que faz mano, mas se Deus
quis assim, fazer o que.
Podemos perceber em sua fala, que este jovem usa Deus para justificar
algo que é imutável em relação a sua aparência corporal, porém, vemos que na
verdade o que impera é a questão financeira.
77
Segundo Santos (1987):
O consumo instala sua fé por meio de objetos, aqueles que em
nosso cotidiano nos cercam na rua, no lugar e trabalho, no lar
e na escola, quer pela sua presença imediata, quer pela
promessa ou esperança e obtê-los (p. 34).
Para alguns, o fator limitante para a mudança do segmento corporal que
os incomoda não é que Deus quis assim, e sim o fator econômico. Vale a pena
ressaltar que a necessidade ou a vontade de mudança em seu aspecto físico,
está relacionada a padrões de beleza impostos pela sociedade.
4.4 Conhecimento sobre os malefícios causados pela ingestão de
substâncias para melhorar a imagem corporal
Percebemos, nas entrevistas, que os jovens possuem um bom nível de
entendimento sobre o uso de medicamentos para melhorar sua aparência.
Para Carreira Filho (2005), os jovens, mesmo sabendo dos riscos para a
saúde, se deixam influenciar pela pressão social e fazem de tudo para moldar o
corpo, até recorrer ao uso de anabolizantes.
Vejamos algumas dessas falas quando aos jovens é perguntado se eles
usariam ou não algum tipo de substância química para melhorar sua imagem
corporal
Jovem1:
Eu não mano não curto essas fitas ai. Não usaria porque eu não gosto e
porque também é muito caro. Acho que se o cara quer ficar fortão é ele puxar ferro todo dia
e comer bem. Não pode comer muita porcaria como salgadinho e refrigerante senão dá barriga.
Jovem2:
Eu não mano não curto essas fitas. Nunca tomei, uma porque não tenho
dinheiro, outra porque eu só curto maconha de droga.
Jovem3:
Eu não tenho coragem. Tem um amigo meu que toma e me ofereceu, mas
eu não quis saber desta fita ai. Gosto de puxar ferro e jogar bola. Depois você para de tomar e
perde toda a força que ganhou.
78
Jovem4:
E não. Não gosto destas fitas. Se eu fosse magrelo eu tomaria para ficar
mais forte, mas só puxando ferro já esta muito bom.
Podemos apontar algumas contradições nas falas dos jovens
entrevistados. Ao mesmo tempo em que dizem que não usariam nenhum tipo
de substância química para mudar seu corpo, entram em contradição ao
relatarem que não usariam porque não tem dinheiro. A questão parece ser que
alguns jovens até poderiam usar algum tipo de substância, mas o fator limitante
mais uma vez é o financeiro.
Outro ponto que merece destaque é sobre o nível de informação que
esses jovens possuem a respeito deste tema. Alguns possuem informações
básicas sobre alimentação saudável como não abusar de doces, refrigerantes e
salgadinhos para não engordarem.
Temáticas relacionadas a bons hábitos alimentares e à prática regular de
atividade física para a manutenção da saúde e da qualidade de vida são tópicos
trabalhados nas aulas de educação física. A visão que estes jovens possuem a
respeito do tema superou as nossas expectativas, pois apesar de não
possuírem uma formação escolar completa, tendem a ter uma visão não tão
distorcida da realidade, e sabem através de seus conhecimentos o que é certo
e errado em relação a hábitos alimentares.
E quando questionados sobre os riscos e efeitos colaterais do uso de
medicamentos pra melhorar a imagem corporal as respostas foram bastante
pertinentes.
Jovem1:
Os riscos eu não sei não mano, mas sei que se o cara tomar bomba ele fica
broxa e pode até morrer. Teve até um maluco ai que tomou bomba para cavalo e o coração dele
explodiu (ataque cardíaco). Acho que o mano era lutador.
Jovem2:
Conheço alguns que tomaram Massa (suplementação alimentar). O cara
fica inchado e puxa mais peso. Teve aquela modelo que morreu por não comer direito.
79
Jovem3
:
Sei dos riscos, mas não gosto destas coisas não. Quer ficar forte faz
exercício normal, não precisa tomar nada.
Jovem4:
Sei. Tipo se você toma e faz não dá nada, mas se você parar da um monte de
problema. Fica ruim do fígado e coração. O coração bate mais forte e pode morrer. O cara
pode ficar brocha (impotente)
Jovem5:
Sei sim, mas não gosto destas coisas não. Quero ficar forte puxando ferro e
não tomando veneno. Diz que o cara fica até broxa.
Podemos perceber que todos os jovens afirmam dizer que sabem dos
riscos do uso de medicamentos para melhorar a aparência. Possuem
conhecimentos básicos sobre suplementação alimentar e sobre o os benefícios
da atividade física.
Já em relação aos efeitos colaterais alguns demonstraram uma excelente
visão sobre a problemática. Problemas cardíacos, situações de anorexia,
disfunções hepáticas, arritmias cardíacas e problemas de impotência sexual
foram alguns dos efeitos colaterais citados pelos jovens.
4.5 Observações Pessoais
Jovem 01
Observações do Entrevistador:
Neste dia o jovem estava um pouco desconfiado sobre o conteúdo da
entrevista, isto é, sua desconfiança estava em saber o que eu queria saber
dele, mas após a explicação do objetivo da pesquisa, ele se sentiu mais à
vontade para falar.
Ele trajava tênis, bermuda grande e sempre caindo (quase todos usam
as bermudas caindo), camiseta e boné (quase todos usam bonés).
80
Possui uma tatuagem no braço esquerdo, meio artesanal (cor
esverdeada) feita por um amigo (inicias de um nome).
Pouco antes da entrevista, o jovem e seus amigos ouviam música estilo
RAP e pagode com caráter religioso. Falavam de minas (meninas), festas e
música.
Jovem02
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista o jovem estava visivelmente drogado (maconha).
Estava meio letárgico e com os olhos bem vermelhos. Vestia calça jeans, tênis
e camiseta da Banda Planet Hemp.
Usava uma mochila nas costas e o boné estava na mão. O jovem foi bem
espontâneo nas respostas, e relatou que não consegue largar do vício da
maconha, apesar de já ter tentado.
Jovem03
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista este jovem estava também visivelmente drogado
(maconha). Estava letárgico, falava alto e usava óculos escuros para esconder
seus olhos.
Estava de chinelo, bermuda, camiseta e boné, vestimenta características
da maioria dos jovens da instituição.
81
Respondeu as perguntas com naturalidade e não se intimidou em relatar
suas experiências com as drogas.
Jovem04
Observações do Entrevistador:
O adolescente entrevistado aparentava estar bem calmo, tinha boa
expressão verbal e foi bem lúcido em suas respostas.
Aparentou ser um pouco introvertido na maneira de falar e de olhar, e
estava vestindo bermuda, camiseta de futebol, boné e tênis de futebol de salão.
Segundo seu relato adora jogar futebol.
Jovem 05
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista este jovem estava de boné, calça e tênis de cano
alto típico de jogador de basquete.
Pareceu-me um jovem centrado e que possui algumas
responsabilidades de adultos como trabalhar e sustentar sua filha e mulher.
Respondeu as perguntas com naturalidade, mas sempre com um ar de
desconfiança.
82
4.6 Sobre a Autoimagem Corporal
Percebemos em nossa pesquisa que seria de grande valia a
representação corporal desses jovens através do conceito de autoimagem
corporal.
Para Thompson (1996), o conceito de imagem corporal envolve três
componentes. Um componente perceptivo, que se relaciona com a precisão da
percepção da própria aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho
corporal e do peso, um componente subjetivo, que envolve aspectos como
satisfação com a aparência, o nível de preocupação e ansiedade a ela
associada e um componente comportamental, que focaliza as situações
evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência
corporal.
Para o autor, o conceito de autoimagem está relacionado à estima
corporal, isto é, o quanto o jovem gosta ou não de seu corpo de forma global, o
que pode incluir outros aspectos além do peso e da forma do corpo, como, por
exemplo, cabelos, cor dos olhos ou rosto. Dependendo do grau, essa
insatisfação pode afetar aspectos da vida do jovem no que diz respeito ao seu
comportamento e a autoestima.
A interpretação dos desenhos dos jovens pode contribuir como meio
simbólico de comunicação, de expressão de conteúdos psíquicos inconscientes
e de características psicológicas de personalidade, cognitivas, afetivas,
comportamentais e corporais.
83
Vejamos alguns desenhos:
FIGURA 01: Desenho da Imagem Corporal (Jovem3)
Podemos perceber neste autodesenho que as feições do jovem não
estão claras. As mãos estão no bolso, podendo demonstrar um sinal de
respeito.
sobre as cores, este jovem usou cores fortes e vibrantes em tons de
roxo e amarelo. A cor preta também está presente no contorno do corpo e no
cabelo. Percebemos ainda que o jovem está de boné, bermuda e chinelo de
dedo, caracterizando sua vestimenta no dia da entrevista, fato observado
também em outros jovens que estavam no local no dia da entrevista.
84
Para Derdyk (1990)
O desenho do corpo, nada mais é que a expressão gráfica de
toda a experiência corporal vivenciada pelo jovem, através dos
receptores de informações como a visão, o tato, e o sentido
cinestésico, que os integram na análise, na ntese e no
processamento ocorridos no cérebro (p. 119).
Quando o jovem apresenta desenhos da figura humana empobrecidos no
esquema e imagem corporal como o apresentado pelo jovem 03, pode-se ter,
segundo o autor, também uma escrita pobre. Isso porque a primeira mensagem
transmitida é a do corpo, e se essa não está elaborada e estruturada, as
demais consequentemente poderão estar comprometidas.
Fato verdadeiro, pois se analisarmos as entrevistas realizadas nesta
pesquisa, alguns jovens relatam suas dificuldades de ler e escrever.
Já para Fonseca (1992), o desenho do corpo nada mais é que:
A expressão gráfica de toda a experiência corporal vivenciada
pelo jovem, através dos receptores de informações como a
visão, o tato, e o sentido cinestésico, que as integram na
análise, na síntese e no processamento ocorridos no cérebro
(p.196).
Para o autor, o desenho do corpo não substitui a multiplicidade de dados
afetivos, emocionais e cognitivos inseridos na noção do corpo, e nem pode
espelhar o potencial intelectual de um jovem, isto é, trata-se de uma valiosa
ferramenta que deve ser perspectivada com outros dados.
Vejamos outro autodesenho de um dos jovens entrevistados:
85
FIGURA 02: Desenho da Imagem corporal (Jovem2)
Neste autodesenho podemos perceber algumas características
marcantes.
Primeiramente, percebemos que a representação corporal deste jovem
está bem maior do que a de outros jovens entrevistados. Isto provavelmente se
86
deve ao fato de que ele possui uma autoestima maior em relação ao seu corpo
em comparação aos outros jovens, pois percebi nas entrevistas que o jovem 02
é um tipo líder entre eles.
Outro aspecto que deve ser acentuado é a presença dos olhos
vermelhos no desenho. Este jovem, assim como outros que participaram da
entrevista, faz uso regular da maconha, e neste dia ele alegou que estava
drogado.
Novamente podemos perceber o uso de cores fortes em seu desenho,
assim como a presença de um cigarro atrás da orelha e de uma cicatriz no
braço direito causada por briga de faca segundo o jovem infrator. Camisa
amarela, calça preta e tênis eram a vestimenta deste jovem no dia da
entrevista.
Quando um jovem desenha, coloca no traçado toda uma ideia, um
desejo, uma aprendizagem, e por isso o entrevistador deve ter uma análise
muito cautelosa e observadora da mensagem gráfica transmitida.
Segundo Loureiro (2005), os pontos significativos do desenho da figura
humana são a noção espacial gráfica, a qualidade, a proporcionalidade e o
contexto do desenho. Para o autor, através do desenho da figura humana é
possível analisar alguns aspectos psicomotores importantes como a tonicidade
(como o traçado se apresenta no papel – forte ou fraco), equilibração (a postura
do jovem durante a atividade; a própria figura representada no desenho
inclinado ou apresentado em linha reta), esquema e imagem corporal
(representação do corpo de uma pessoa, omissão ou apresentação das partes
do corpo), lateralidade (mãos, pés e olho), orientação espacial (tamanho da
figura humana e utilização do espaço no papel).
87
Passamos para mais uma avaliação de desenho da imagem corporal.
FIGURA 03: Desenho da Imagem Corporal (Jovem 04)
Neste autodesenho, o jovem 04 descreveu exatamente sua vestimenta
no dia da entrevista, tanto no que diz respeito tanto às cores, como aos
detalhes da roupa.
Podemos perceber, através de seu desenho, que o jovem usava calças
baixas, cinto, camiseta cavada e boné. Novamente o tamanho de seu desenho
é representado em uma proporção reduzida em relação à dos outros jovens.
Este jovem tem algumas características peculiares em relação aos
outros. Além de ser muito introvertido, é o único que continua estudando. Sua
aparência é similar ao do desenho, isto é, possui uma baixa estatura, com o
88
rosto arredondado e cabelo raspado. Segundo relatado em sua entrevista,
possui um bom relacionamento familiar e seu autodesenho demonstra certo ar
de felicidade.
No seu desenho, suas mãos não estão no bolso, demonstrando uma
tranquilidade ao desenhar, que é bem peculiar deste jovem.
Vale a pena relembrar, que somente 4 dos 5 jovens entrevistados
aceitaram se autodesenhar.
Por último, temos a representação corporal através do autodesenho do
jovem 05, que assim como o jovem 02 se impõe em relação aos outros através
da força física, isto é, este jovem possui uma estatura muito elevada, e segundo
seus relatos já jogou basquete por algum tempo.
A presença física como discutido, é algo de grande valor para esses
jovens em conflito com a lei, fato demonstrado por este no seu autodesenho. É
válido pontuar que este jovem foi detido por lesão corporal, isto é, segundo seu
relato, ele participou de diversas brigas, e agora é uma pessoa mais calma e
tranquila.
É importante destacar, que ele possui mulher e filha. Trabalha como
padeiro num mercado da cidade de Araraquara, profissão para a qual fez o
curso de panificação no Salesianos. Podemos perceber em suas falas que
possui deveres e obrigações de um adulto, e que existe certo tom de
responsabilidade e preocupação com a família.
Vejamos seu autodesenho:
89
FIGURA 04: Desenho da Imagem Corporal (Jovem05)
Neste desenho o jovem 05 está de calça jeans preta, com uma camiseta
azul marinho e um tênis de cano alto laranja e branco, característico de
jogadores de basquete.
90
Seu cabelo é loiro e espetado, características dos jovens de hoje. Ainda
podemos perceber em seu desenho certo ar de felicidade, apesar de seus
braços estarem para trás do corpo, demonstrando um ar introspectivo. Fato
verdadeiro, pois apesar de sua altura, este jovem nas entrevistas demostrou-se
um pouco introvertido.
91
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações contidas nesta pesquisa nos possibilitaram apresentar
algumas considerações a respeito do tema estudado e dos objetivos propostos.
Esta dissertação teve como objetivo captar a representação corporal de
jovens infratores da cidade de Araraquara, que se encontram em liberdade
assistida, discutindo o papel da disciplina Educação Física no contexto da
construção da imagem corporal.
Nossa intenção com este trabalho foi compreender as representações
corporais desses jovens que passaram pela experiência de institucionalização,
no intuito de observar se a concepção que eles têm do corpo tem relação com
suas vivências, buscando identificar o papel da escola e da educação física em
suas vidas, atreladas às questões da juventude e às instituições de controle
social.
Desse modo, acredito ser relevante o estudo da percepção da imagem
corporal destes jovens, pois, como professor de educação física, pude vivenciá-
la no dia a dia dos jovens dentro da escola, mais especificamente nas aulas de
educação física, e em outros espaços de convivência, como na Rede
Salesianos de Araraquara.
Percebemos, com esta pesquisa, que a aparência corporal para os
jovens se tornou objeto de identidade. A marca corporal trazida de suas
experiências e vivências corporais, reflete uma busca de visibilidade e de uma
localização real na sociedade em que vivem.
A representação corporal está traduzida na sua aparência, no seu
aspecto físico e no seu linguajar, em que se entrecruzam fatores sociais
marcantes como origem, trajetória de classe e suas derivações, dentre outras
92
eventualidades advindas da posição que ele ocupa no amplo campo da
diferenciação social.
Na pesquisa, podemos perceber que as experiências corporais
vivenciadas por jovens em conflito com a lei deixaram marcas na percepção
que eles têm de seus corpos. O tratamento de estigma aferido a eles pelo fato
de terem cometido ato infracional, os faz sentirem-se pertencentes a uma
classe de excluídos pela sociedade, o que gera neles um sentimento de
ausência de identidade.
Nas entrevistas podemos perceber que a autoestima desses jovens é
baixa, e sua perspectiva de vida não foge muito da realidade em que vivem.
Para alguns, trabalhar é o que importa, como observado no relato de um dos
jovens pesquisados, que convive com várias pessoas da mesma família
morando na mesma casa, o que gera uma despesa econômica alta, mas para
outros, terminar os estudos é fundamental para uma perspectiva de vida
melhor.
Outro ponto que merece algumas considerações é a influência do
consumo imposto pela mídia aos jovens, os quais, por estarem em processo de
formação e em busca de conquistas, possuem desejos e inquietações
característicos da sua idade.
Além disso, estão vulneráveis aos anseios da mídia, aos modismos e
comportamentos da classe dominante, porém nem todos têm condições
financeiras para usufruir dos produtos da sociedade de consumo em que vivem.
Podemos perceber esta vulnerabilidade no relato de um dos jovens, que
afirmou que, se não tem dinheiro para comprar, ele rouba.
93
Em relação às suas contravenções penais, dos 5 jovens entrevistados, 2
foram presos por roubo, 2 por tráfico de drogas e 1 por lesão corporal. A grande
maioria dos jovens que frequentam o Salesianos de Araraquara foi detido por
uma dessas contravenções.
em relação ao seu cotidiano dentro do Salesianos, agiam de forma
normal, isto é, como qualquer outro jovem da sua idade. Falavam de meninas e
festas, ouviam música como o Rap (Ritmo e Poesia), um estilo musical com
letras de expressão, de futebol e pagode com caráter religioso.
Percebi que para alguns jovens a religião está bem presente, seja nas
suas falas ou no seu cotidiano, e para outros, nem tanto. Outro fato a ser
descrito é que os jovens mais velhos e mais fortes aparentam ter certo status
em relação aos outros, impondo respeito pela sua força física aliada a sua
experiência e vivência dentro da Instituição.
Podemos perceber que a atenção dada à imagem corporal é vivenciada
no seu cotidiano, e é, sem dúvida, norteada pela força física.
Convém lembrarmos que para a grande maioria dos jovens da nossa
sociedade, os corpos são vistos como “imagem de consumo”, e a exaltação dos
corpos desenhados e esculpidos pela mídia leva os jovens a darem importância
demasiada à aparência.
Este valor dado à aparência corporal leva muitos jovens a quererem ter
um corpo esbelto, forte e magro, que significa, hoje em dia, sinal de poder e
status em nossa sociedade e, na maioria das vezes, são os jovens que sofrem
com esta imposição, e fazem qualquer coisa para poder ter prestígio e se
sentirem belos dentro de seu grupo social.
94
Alguns fatores sociais, influências socioculturais, pressões da mídia e a
busca incessante por um padrão de corpo ideal associado às realizações e à
expectativa de felicidade, estão entre as causas das alterações da percepção
da imagem corporal que podem gerar insatisfações nesses jovens. A
diversidade entre a imagem corporal idealizada e a real muitas vezes leva o
jovem ao sofrimento e à imposição de disciplinas que podem resultar em
prejuízos para a saúde física e mental, como a anorexia
8
e a vigorexia
9
.
Em nossa pesquisa, tentamos analisar e compreender melhor quem são
estes 5 jovens do Salesianos que já vivem a discriminação e a exclusão social.
Vale destacar que a juventude é uma progressão no ciclo da vida
humana, caracterizada por intensas mudanças físicas e psíquicas, porém
algumas controvérsias aparecem quando se trata de definir a idade
correspondente a esta fase da vida. Para os que não têm direito à infância,
como alguns dos jovens entrevistados, a juventude começa mais cedo, isto é,
qualquer que seja a faixa etária estabelecida, jovens com idades iguais vivem
juventudes desiguais.
_______________
8
- Anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por limitação de ingestão de
alimentos, devido à obsessão pela magreza e o medo mórbido de ganhar peso. Normalmente o
jovem anoréxico mantem o peso corporal abaixo de um nível normal mínimo para sua idade e
altura (ABREU, 2004).
9-
Vigorexia ou Transtorno Dismórfico Muscular é um transtorno emocional caracterizado por
uma preocupação exacerbada em cultuar o corpo. Atinge em sua maioria homens entre 18 e 35
anos, os quais dedicam demasiado tempo (entre 3 a 4 horas diárias) à atividade de modelação
física, resultando em prejuízo físico e emocional (ABREU,2004).
95
O local de nosso estudo, o Salesianos de Araraquara, oferece oficinas de
panificação, de artes, de música e de esporte para os jovens. Apesar de serem
grandes os esforços para atendê-los, parece que as oficinas não são
condizentes com a realidade imposta pela sociedade a esses jovens. O
importante seria oferecer cursos que valorizassem a formação profissional
como informática, reforço escolar, oficinas para ler e escrever, entre outras,
aspectos estes observados no período de entrevistas.
Tentar adaptá-los e conformá-los com o mundo em que vivemos sem dar
a eles plenas condições de se integrarem a esta nova ordem social é negar-
lhes a possibilidade de transformação de sua realidade preocupação
presente em alguns diálogos contidos neste trabalho. Interpretando as falas dos
jovens entrevistados, percebi que a transformação social, poderia ter respaldo
na instituição escolar se o ambiente escolar não fosse considerado chato e
desmotivante pelos mesmos. Outros, porém, têm uma visão de escola
amparada em confiança, e estar fora dela prematuramente é quase sempre
visto como uma marca de exclusão social.
É nesse sentido que as práticas pedagógicas voltadas para a educação
física dentro da escola podem ser usadas como ferramenta social,
estabelecendo uma relação de ajuda para motivá-los.
Nas entrevistas, a educação física foi relatada como uma das poucas
disciplinas boas dentro da escola. Alguns dos entrevistados demonstraram em
suas falas certo saudosismo, condizente com a época em que estudavam e que
tinham educação física na escola.
A relação professor aluno nas aulas se de forma direta, isto é, a
relação de proximidade com o jovem, faz da educação física uma disciplina
96
bem aceita pela juventude. Uma das principais virtudes da educação física é
poder conhecê-los fora do ambiente de sala de aula, isto é, poder trabalhá-los,
por exemplo, nas habilidades motoras (correr, pular, saltar, etc.) e nas
capacidades físicas (agilidade, velocidade, força, etc.) de maneira integral,
aspecto que nenhuma disciplina é capaz de trabalhar tão profundamente.
Convém destacar que, dentro da instituição escolar, um dos poucos
momentos que o jovem tem para descarregar suas energias é a aula de
educação física. No geral, os piores alunos dentro da sala de aula, seja em
relação a disciplina ou a notas escolares, são os melhores dentro da educação
física no quesito assiduidade, participação e interesse.
Por isso, temas referentes à aparência corporal, podem ser trabalhados
nas aulas como tentativa de levar aos alunos outras informações, além das
tradicionais dentro da disciplina Educação Física, como regras, esportes e
jogos.
Nesse contexto, é importante que o professor esteja preparado para lidar
criticamente com as novas demandas corporais, ou antes, que reflita sobre o
impacto das mesmas no processo de sua formação e na formação de seus
alunos.
O ato de educar através da prática corporal, em suas mais diferentes
manifestações, em si já contribui para inscrever significados e valores no corpo.
Ao lidar com o jovem e seu corpo em constante transformação, construção e
interação com o contexto social, a educação física não pode deixar de ser
entendida como uma prática educativa, ou ainda, como prática social, que se
ocupa do educar por meio do movimento.
97
Com isso, espera-se da Educação Física a tarefa de “esculpir” o corpo,
para além do sentido puramente estético da palavra, mas, em um sentido mais
amplo, de formação humana e social.
Vale destacar que nas aulas de educação física valores como respeito,
amizade, cooperação, companheirismo, entre outros, são trabalhados, assim
como são feitas abordagens críticas relativas à excessiva valorização de
dimensões como aparência e forma do corpo e violência.
É dever do professor de educação física refletir e discutir suas
estratégias de atuação na formação corporal de seus alunos.
Para finalizar, seria de grande importância a inclusão da educação física
na vida dos jovens em conflito com a lei, para uma tentativa de construção de
sua imagem corporal de forma mais clara e segura, estabelecendo um diálogo
com discussões sobre os mecanismos que impõem significados ideológicos às
práticas corporais.
A análise da representação corporal de jovens em liberdade assistida é o
primeiro passo para entendermos como esses jovens lidam com seus corpos e
como estão inseridos na sociedade em que vivem, isto é, o trajeto deste
trabalho, contemplou alguns estudos e olhares sobre a visão corporal destes
jovens e suas relações com o mundo que os cerca.
Deparamo-nos, aqui, ao final desse trabalho, com o sentimento de que
muito pode ser feito em prol do jovem infrator. Esta pesquisa não pode ser
considerada um trabalho fechado, de conclusões assertivas, mas um caminho,
uma direção que nos chama a continuar a trilhar o árduo e difícil caminho de
educar.
98
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105
ANEXOS
ANEXO 01
DECLARAÇÃO
Eu, Leandro Neves Valeta, pesquisador responsável pelo
Projeto de Pesquisa Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara SP declaro que
todas as informações ao sujeito da pesquisa serão fornecidas por mim
no momento da obtenção do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
____________________________
Assinatura
106
ANEXO 02
TERMO
DE
COMPROMISSO
DO
PESQUISADOR
RESPONSÁVEL
CONSELHO
NACIONAL
DE
SAÚDE
RESOLUÇÃO Nº 196 DE 10 DE OUTUBRO DE 1996
Eu, Leandro Neves Valeta, pesquisador responsável pelo
Projeto de Pesquisa Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara SP declaro que
serei responsável em cumprir os termos da Resolução 196 de 10 de
outubro de 1996 (diretrizes e normas regulamentadoras de Pesquisas
Envolvendo Seres Humanos).
_______________________________
Assinatura
107
ANEXO 03
Protocolo CEP/FCF/CAr nº 21/2009
Interessado: LEANDRO NEVES VALETA
Supervisor: Profa. Dra. Ângela Viana Machado Fernandes
Projeto: Representação Corporal de Jovens em Liberdade
Assistida na Cidade de Araraquara-SP
Parecer nº 02/2010 – Comitê de Ética em Pesquisa
O projeto “Representação Corporal de Jovens em Liberdade
Assistida da Cidade de Araraquara-SP”, encontra-se adequado em
conformidade com as orientações constantes da Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde/MS, após passar por adequações
pelo pesquisador.
Por essa razão, o Comitê de Ética em Pesquisa desta
Faculdade, considerou o referido projeto estruturado dentro de
padrões éticos manifestando-se FAVORAVELMENTE à sua
execução.
O relatório final do projeto de pesquisa deverá ser entregue
em setembro de 2010, no qual deverá constar o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido dos sujeitos da pesquisa.
Araraquara, 10 de fevereiro de 2010.
.
108
ANEXO 04
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A PESQUISA:
“Representação Corporal de Jovens em Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara
SP”
Eu, ___________________________________Coordenadora da Rede Salesianos -
Programa de Medidas Sócio-Educativas (L.A) , localizado na Rua Castro Alves, 326714801-
450 Araraquara SP - Tel. (16) 3331-4002, livremente permito entrevistas com os
adolescentes desta instituição para pesquisa “Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP” sob responsabilidade de Leandro Neves
Valeta, Mestrando da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara UNESP, orientado da
Prof. Drª.Angela Viana Machado Fernandes.
Objetivo da Pesquisa: Analisar a percepção da imagem corporal de adolescentes
Participação: Responder às perguntas do pesquisador.
Risco: Não haverá riscos para a integridade física, mental do adolescente.
Benefícios: As informações obtidas nesta pesquisa poderão ser úteis cientificamente.
Privacidade: Os dados individualizados serão confidenciais. Os resultados coletivos serão
divulgados nos meios científicos e posteriormente, apresentados a Rede Salesianos de
Araraquara.
Contato com os pesquisadores: Haverá acesso a telefone para esclarecimento de dúvidas ou
reclamações
Desistência: O aluno poderá desistir de sua participação, sem qualquer conseqüência.
_______________________________
Assinatura
109
ANEXO 05
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A PARTICIPAÇÃO DA
PESQUISA: Representação Corporal de Jovens em Liberdade Assistida da Cidade de
Araraquara – SP”
Eu,______________________________________________________ autorizo a
utilização da entrevista que concedi na pesquisa denominada Representação Corporal de
Jovens em Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara SP, realizada pelo pesquisador
Leandro Neves Valeta, aluno do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP/Araraquara.
Garantia de Esclarecimentos: Terei total direito de esclarecimento sobre a pesquisa antes e
durante o curso das entrevistas e sobre a metodologia aplicada.
Possibilidade de Recusa: Terei total liberdade de não fazer as entrevistas e retirar meu
consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma e sem prejuízo ao meu
cuidado.
Desistência: Poderei desistir da participação da pesquisa, sem qualquer conseqüência.
Objetivo da Pesquisa: Analisar a percepção da imagem corporal de adolescentes
Participação: Responder às perguntas do pesquisador.
Risco: Não haverá riscos para a integridade física, mental do adolescente.
Benefícios: As informações obtidas nesta pesquisa poderão ser úteis cientificamente.
Privacidade: Os dados individualizados serão confidenciais. Os resultados coletivos serão
divulgados nos meios científicos e posteriormente, apresentados a Rede Salesianos de
Araraquara.
. Estou ciente de que em hipótese alguma será revelada a minha identidade.
Sem mais, _______________________________.
Araraquara, ____ de____________ de 2009.
110
ANEXO 06
Roteiro avaliativo aplicado aos adolescentes entrevistados
Pesquisa: “Representação Corporal de Jovens em Liberdade Assistida da Cidade
de Araraquara – SP”
Entrevista número
Data
Horário
Nome Nome que gostaria de usar
Idade
Escolaridade Continua freqüentando
Bairro onde mora
Internação: entrada ___/____/______ saída ___/____/_______
Idade de quando entrou no SALESIANO
Medida anterior/Qual/Quando
Renda familiar
Trabalha/em que
Quem mora na sua casa
Anotações: qual foi o seu delito?
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Em que série você está?
Você gosta da escola, por quê?
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
111
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não, por
quê?
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
Você pratica Educação Física na escola?
Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
112
ANEXO 07
Transcrição da Entrevista: Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP
Entrevista: Jovem 01
Data: 03/07/2009
Horário: 13h30min
Nome: ------ Nome que gostaria de usar: Baiano
Idade: 17 anos
Escolaridade: até o 1º colegial Continua freqüentando: não
Bairro onde mora: Parque São Paulo
Internação: entrada: 2007 saída: 30/10/2009
Idade de quando entrou no SALESIANO: 16 anos
Medida anterior/Qual/Quando: sim/2007/ “Muda garoto” - Quitandinha: quebra
de medida.
Renda familiar: 1salario mínimo
Trabalha/em que: não
Quem mora na sua casa: mãe e padrasto
Anotações: qual foi o seu delito?
B.O. 55: roubo (furto).
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Agora não. Tô procurando né mano, mas, ta difícil.
Em que série você está?
Estudei até o colegial no colégio “Dorival Alves” na Vila Xavier. Depois parei porque não
tinha mais vontade de ir a escola e comecei a fazer outras fitas (usar drogas, beber, fumar).
Você gosta da escola, por quê?
É, gostava mais ou menos mano. Por que tipo assim, nós íamos na escola só para bagunçar,
só para zoar. A gente não ligava muito para o estudo, nem eu nem meus amigos.
113
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
A matéria que eu mais gostava era matemática e educação física. Eu era bom de esporte e de
fazer contas. Os professores eram dá hora. Eu gostava de ficar trocando idéia com os amigos na
escola.
E o que eu menos gostava era português porque era muito ruim. Não sei escrever e ler direito
(leio devagar) e o pessoal ficava zoando de mim.
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
Gosto muito do meu corpo, me sinto muito bem, porque Deus fez assim e é assim que eu quero
ser. Sou magrelo, mas sou forte. Já briguei algumas vezes e nunca apanhei mano.
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
Em relação a minha aparência me sinto bem mano. com saúde em cima. Se tivesse grana
compraria uns panos (roupas) novos, uma beca (vestimenta geral) nova e um tênis hora. Ai
sim as minas iam pagar pau para mim.
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não, por
quê?
Não modificaria nada mano, porque me sinto bem assim e não ia me sentir bem se eu mudasse
alguma parte do meu corpo. Acho que eu não preciso disso mano.
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
Acho que sim mano, sempre aparece propaganda na televisão para você comprar alguma coisa.
Aparece também aquele bagulho de academia para mulher ficar mais magra e bonita. As minas
têm que ser magrinha sem barriga, e os manos tem que ser fortão, senão você não fica bem na
fita.
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Acredito sim mano. Eu mesmo procuro me cuidar. Faço umas flexões de braço (marinheiro) dou
uma corrida de vez em quando para não ficar gordo e ficar tudo em cima.
114
Eu e meu tio construímos uma barra para fazer flexão no quintal de casa com uns pedaços de
madeira. Fizemos também uns pesos com lata de tinta e concreto, ficou da hora.
Tem um amigo meu que puxa ferro todo dia para ficar fortão. A mina dele gosta de cara forte.
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
Sei mano, acho que para mim a mina tem que ser magrinha sem aquela barriga de gordura.
Acho feio mina com barriga pulando para fora da calça. os homens têm que ser forte e ter
uma aparência legal. Não pode ser muito magro e nem muito forte senão fica feio de mais
mano.
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Gostava muito das aulas de educação física. O professor era ponta firma. Levava a gente para
competir contra outras escolas.
Eu era muito bom no atletismo. Corria pra caramba mano, eu e uns amigos meu.
Acho que a educação física devia tratar mais sobre assuntos do corpo como anabolizantes e
drogas. Não tive nada de conhecimento sobre meu corpo nas aulas, só esporte.
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
Agora eu corro um pouco e puxo ferro de leve. De vez em quando eu jogo bola com meus
amigos, mas sou muito ruim e só me colocam no gol.
O que eu mais gosto de fazer é correr, pois me sinto livre mano.
Você pratica Educação Física na escola?
Agora não mais, pois não estou estudando.
Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
Gostava pra caramba. Eram dois professores um homem e uma mulher. O professor era ponta
firme, trocava idéia com a gente, treinava o time para campeonatos e sempre me chamava pelo
nome. A professora treinava as minas.
Teve um dia que o professor até me deu um bute usado (tênis) para eu correr. Minha mãe não
tinha dinheiro para comprar um bute (tênis) novo.
115
Sinto muita saudade da escola, dos amigos e das aulas de educação física. Era muito bom
mano.
Era muito legal mano, eu jogava no meu horário e no horário dos outros quando tinha vaga. A
galera ficava tudo ali na quadra zoando.
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Os riscos eu não sei não mano, mas sei que se o cara tomar bomba ele fica broxa e pode até
morrer.
Teve até um maluco ai que tomou bomba para cavalo e o coração dele explodiu (ataque
cardíaco). Acho que o mano era lutador.
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
Eu não mano não curto essas fitas ai. Não usaria porque eu não gosto e porque também é muito
caro.
Acho que se o cara quer ficar fortão é só ele puxar ferro todo dia e comer bem. Não pode comer
muita porcaria como salgadinho e refrigerante senão dá barriga.
Observações do Entrevistador:
Neste dia o adolescente estava um pouco desconfiado sobre o conteúdo da entrevista,
isto é, o que eu queria saber dele, mas após a explicação do objetivo da pesquisa, ele se
sentiu mais a vontade para falar.
O adolescente trajava tênis, bermuda grande e sempre caindo (quase todos usam as
bermudas caindo), camiseta e boné (quase todos usam bonés).
Possui uma tatuagem no braço esquerdo, meio artesanal (cor esverdeada) feita por um
amigo (inicias de eu nome).
Pouco antes da entrevista, o adolescente e seus amigos ouviam música: RAP e pagode
com caráter religioso.
Falavam de minas (meninas), festas e música.
116
Transcrição da Entrevista: Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP
Entrevista: Jovem 02
Data: 09/10/2009
Horário: 13:30 hs
Nome: ------ Nome que gostaria de usar: Fernandinho
Idade: 16 anos
Escolaridade: até a 8ª série (9º ano) Victor Lacorte
Continua freqüentando: não
Bairro onde mora: Vila Xavier
Internação: entrada: 2008 saída:
Idade de quando entrou no SALESIANO: 14 anos
Medida anterior/Qual/Quando:
Renda familiar: 2 salario mínimo
Trabalha/em que: não
Quem mora na sua casa: mãe, avó, irmã, irmão e tio.
Anotações: qual foi o seu delito?
B.O. 157: assalto a mão armada.
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Agora não.
Em Que série você está?
Estudei até a 8ª série.
Você gosta da escola, por quê?
É, gosta eu não gostava não, não curtia ficar sentado esperando o tempo passar e ficar
escrevendo. Parecia que tinha um monte de formiga na cadeira e não via a hora de sair de lá. A
gente nasceu pra ser livre e a professora me prendia.
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
Eu não gostava de nada não, porque eu quase nunca entrava na sala de aula. Na primeira aula
eu saia fora com mais dois parceiros. Às vezes eu curtia sair fora sozinho pra pensar na vida
e fumar um (baseado).
117
Não gostava principalmente de português, pois eu não entendia nada que a professora explicava
e ela era muito chata.
Gostava um pouco de matemática. Sou bom em contas.
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
Gosto sim, to tranqüilo. A parte que eu mais gosto são das pernas, pois eu curto andar de BiKe
(bicicleta). Toda vez que eu fugia da aula eu ia dar um role de bike por ai, por isso tenho as
pernas fortes.
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
Me sinto de boa, curto meu visu (visual).
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não, por
quê?
Vou falar pra você que até modificaria sim, mas não dá.
Não gosto do meu nariz, mas não tenho grana (dinheiro) para operar. Nem sei como é que faz
mano, mas se Deus quis assim, fazer o que.
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
Acho que sim, mas cada um sabe da sua vida. Eu não compraria um boné só porque o mané da
novela está usando, mas sei de amigos meus que se ligam nesta fita de comprar o que está na
moda.
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Acredito que sim, hoje em dia a galera está mais preocupada com o corpo, pois ninguém quer
ficar gordinho, principalmente as minas. Minha mina vive de regime, mas não sei se adianta.
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
Sei mano, acho que os homens têm que ser altos e mais inchados (forte) do que eu. as
minas tem que ter um corpo da hora, magrinha, baixinha e morena que nem a Juliana Paes.
118
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Acho que sim. O professor poderia falar sobre bomba (anabolizantes) e sobre drogas às vezes
nas aulas. Depois que eu viciei em maconha eu não consigo mais parar, tentei uns par de
vezes, mas não dá.
O professor poderia parar uns vinte minutos e explicar para galera coisa sobre alimentação e
sobre musculação.
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
Agora eu só pedalo. Ando o dia inteiro, as vezes vamos até a cachoeira eu e meus amigos
De vez e m quando jogo bola com os camaradas.
Você pratica Educação Física na escola?
Agora não mais, pois não estou estudando, mas sinto falta.
Mas quando eu estudava era legal porque a física era de sexta feira e dava uns 3 times de
futebol.
Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
Gostava pra caramba. É o professor que eu mais gostava na escola. Não ia à aula, mas não
faltava na educação física.
Vou falar pra você, matava as primeiras aulas de outras matérias e quando era o horário da
física eu pulava o muro da escola só pra jogar bola com a galera, era muito bom.
Os meninos jogavam bola e as meninas vôlei. Às vezes tinha te queimada com a galera toda, era
da hora mano.
O professor se dava bem com a galera, ele era de boa. Não tinha problema com nenhum aluno,
sabia lidar com os outros.
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Conheço alguns que tomaram Massa (suplementação alimentar). O cara fica inchado e puxa
mais peso.
Teve aquela modelo que morreu por não comer direito.
119
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
Eu não mano não curto essas fitas ai. Nunca tomei, uma porque não tenho dinheiro, outra
porque eu só curto maconha de droga.
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista o adolescente estava visivelmente drogado (maconha). Estava meio
letárgico e com os olhos bem vermelhos.
Vestia calça jeans, tênis e camiseta da Banda Planet Hemp. Usava uma mochila nas
costas e o boné estava na mão.
O adolescente foi bem espontâneo nas respostas.
120
Transcrição da Entrevista: Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP
Entrevista: Jovem 03
Data: 19/10/2009
Horário: 13:50hs
Nome: ------ Nome que gostaria de usar: Maurinho
Idade: 17 anos
Escolaridade: parou na 8ª série
Continua freqüentando: não
Bairro onde mora: Parque Alvorada
Internação: entrada: novembro de 2008 saída:
Idade de quando entrou no SALESIANO: 15 anos
Medida anterior/Qual/Quando:
Renda familiar: 1 salário mínimo
Trabalha/em que: não
Quem mora na sua casa: pai e madrasta, avó, tios e primas.
Anotações: B.O. artigo 12. Qual foi o seu delito?
Porte e uso de drogas.
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Estava estudando, mas agora não.
Em que série você está?
Estudei até a 8ª série.
Você gosta da escola, por quê?
É, mais ou menos mano depende da matéria.
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
Eu não gostava de matemática, pois nunca fui bom em contas, e a matéria que eu mais gostava
era portuguesa, pois gosto de ler.
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
121
Agora me sinto bem. Quando eu era mais gordinho eu na gostava muito, pois a galera sempre
zoava e colocava apelido (gordinho, rolha de poço, jarrão). Até hoje tem uns amigos que me
conheciam quando eu era mais gordo que falam: “o gordinho vem aqui”.
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
Não estou nada satisfeito. Gostaria de comprar mais roupa mano, pois tenho pouca roupa, mas
não tenho grana. Até roubei um boné de um moleque que eu queria muito.
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não, por
quê?
Acho que não. Talvez ser um pouquinho mais alto, pois sou muito baixinho.
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
Acho que não. Mostras roupas bonitas, mas tenho vontade de comprar aquilo que eu gosto.
(boné, camiseta e bermuda). Gostaria de ter um Nike (marca de tênis) mas é muito caro.
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Acredito que sim, pois eu sou preocupado com meu corpo. Não quero ser mais gordinho. Depois
que eu cresci deixei de ser gordinho.
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
Sei mano, tem que ser inteligente. Tem que ser bonita por fora e por dentro, mas tem que ser
mesmo é bonita por dentro. A mina tem que ser gente boa.
Ela tem que ser humilde, ajudar os outros e não se envolver com drogas como eu.
Por fora tem que ser magrinha e morena.
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Acho que sim.
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
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Agora eu só jogo bola com a molecada no final de semana lá no bairro.
Você pratica Educação Física na escola?
Agora não mais, pois não estou estudando.
Mas quando eu estudava era legal porque a gente só jogava bola.
Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
Gostava. A professora era “sapatona”, mas era gente boa.
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Sei dos riscos, mas não gosto destas coisas não. Quer ficar forte faz exercício normal, não
precisa tomar nada.
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
Eu não tenho coragem. Tem um amigo meu que toma e me ofereceu, mas eu não quis saber
desta fita ai. Gosto de puxar ferro e jogar bola.
Depois você para de tomar e perde toda a força que ganhou.
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista o adolescente estava visivelmente drogado (maconha). Estava meio
letárgico e com os olhos bem vermelhos.
Estava de chinelo, bermuda, camiseta e boné.
Respondeu as perguntas com naturalidade.
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Transcrição da Entrevista: Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP
Entrevista: Jovem 04
Data: 22/10/2009
Horário: 12:40hs
Nome: ------
Nome que gostaria de usar: Coca-cola
Idade: 15
Escolaridade: 8ª serie (9º ano)
Continua freqüentando: sim
Bairro onde mora: Vila Xavier
Internação: entrada: agosto de 2009
Idade de quando entrou no SALESIANO: 14 anos
Medida anterior/Qual/Quando:
Renda familiar: não
Trabalha/em que: não
Quem mora na sua casa: mãe, avó, padrasto, irmão e irmã.
Anotações: Qual foi o seu delito?
Porte e uso de drogas
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Sim. No Colégio Dorival.
Em que série você está?
Estou n a 8ª série.
Você gosta da escola, por quê?
Gosto da escola e estudar. Não sou bom em todas as matérias, mas até que estou indo bem.
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
O que eu mais gosto é português, história, geografia e artes. E o que eu menos gosto é
matemática e inglês.
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
Me sinto bem. Faço bastante exercício jogando bola.
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Gosto do meu corpo do jeito que ele está. Se Deus quis assim, ta bom.
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
Estou satisfeito, ta legal, mas para melhorar. Tem vez que eu coloco uma blusa e não fica
legal em mim, mas não tenho dinheiro para comprar outra.
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não, por
quê?
Modificaria meu nariz e minha boca. Tenho a boca e o nariz muito grande.
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
Acredito que sim. Gosto de ficar bonito igual aos caras da Tv. Se eu tivesse dinheiro seria igual
a eles.
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Acredito que sim, porque eu e meus amigos gostaríamos de ser mais fortes. As minas (meninas)
gostam de caras fortes e não magrelos ou gordos.
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
Tem que ter bunda grande e peito grande se for mulher. Já os homens tem que estar bem
vestido, de cabelo cortado e barba bem feita. Tem que ser forte.
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Acho que sim. Ter aulas de musculação e abdominal. Falar de treinamento para ficar mais
forte.
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
Pratico. Gosto de jogar bola com meus amigos.
Você pratica Educação Física na escola?
Sim. Gosto de alongamento e futebol. Os meninos jogam futebol e as meninas jogam vôlei.
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Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
Gosto. Ele se da bem com os meninos e as meninas.
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Sei. Tipo se você toma e faz não dá nada, mas se você parar da um monte de problema.
Fica ruim do fígado e coração.
O coração bate mais forte e pode morrer. O cara pode ficar brocha (impotente)
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
E não. Não gosto destas fitas.
Se eu fosse magrelo eu tomaria para ficar mais forte, mas só puxando ferro já esta muito bom.
Observações do Entrevistador:
O adolescente entrevistado aparenta ser bem calmo
Tem boa expressão verbal e foi bem lúcido nas respostas.
Parece ser um pouco introvertido.
Estava vestindo bermuda, camiseta de futebol, boné e tênis de futebol de salão.
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Transcrição da Entrevista: Representação Corporal de Jovens em
Liberdade Assistida da Cidade de Araraquara – SP
Entrevista: Jovem 05
Data: 22/10/2009
Horário: 15:00hs
Nome: ----- Nome que gostaria de usar: Pezão
Idade: 16 anos
Escolaridade: supletivo - 8ª série
Continua freqüentando: sim
Bairro onde mora: Santana
Internação: entrada: novembro de 2008 saída:
Idade de quando entrou no SALESIANO: 15 anos
Medida anterior/Qual/Quando:
Renda familiar: RS500, 00 reais.
Trabalha/em que: sim /Padeiro
Quem mora na sua casa: mãe, mulher e filha.
Anotações: B.O.: agressão física
ROTEIRO PARA ENTREVISTAS
1. Você estuda? Onde?
Estou fazendo supletivo mano. Quero terminar a escola logo.
Em que série você está?
To na 8ª série.
Você gosta da escola, por quê?
Até que gosto, mas tenho que trampar (trabalhar) junto, então fica meio puxado. (difícil).
O que você mais gosta da escola e o que você menos gosta?
Eu gosto de matemática, pois sou bom em fazer contas, e a matéria que eu menos gosto é
português, pois não sei falar e nem escrever direito.
2. Em relação ao seu corpo como você está (como você se sente)?Você gosta do
seu corpo?
Agora to meio frangão (fraco). Quando eu tinha tempo e fazia academia eu era mais tora
(forte). Gosto do meu corpo, pois sou um cara grande (1,90metros).
127
3. Em relação a sua aparência geral como você está (se sente)?
To satisfeito. Se tivesse grana compraria umas roupas novas e tal para andar melhor.
4. Se fosse possível você modificaria seu corpo? Se SIM, Qual parte? Se não,
por quê?
Acho que sim. Não gosto muito do meu (número 48) pois é difícil e caro comprar sapato ou
tênis.
5. Você acredita que a dia (televisão, revista) tem influência na imagem que
você tem de seu corpo? Se SIM, como?
Acho que sim. A gente tem que ser forte e sem barriga e as minas (meninas) tem que ser
magrelas. Alem disso a TV só mostra gente bonita usando roupa cara e tal mano.
6. Você acredita que os jovens estão preocupados com a imagem que tem do seu
corpo? Se SIM, por quê?
Acredito sim, pois eu sou preocupado com meu corpo, apesar de não ter tempo para treinar. A
molecada quer ficar forte, pois a ninas gostam de cara fortinho.
Para você o que é um padrão corporal ideal para homem e para mulher? (Como
deve ser).
Sei mano, tem que ser igual minha mulher. Morena e baixinha. Têm que ser trabalhadeira e
cuidar da menina (filha). Já os homens como já disse tem que ser forte para se garantir.
7. Você acha que a disciplina Educação Física, na escola, deve propor temas que
promovam o conhecimento sobre as questões da imagem corporal (imagem do
próprio corpo) na sociedade atual? Se SIM, como?
Acho que sim. Minha professora me explicou umas coisas sobre “bomba” (anabolizantes), mas
não mecho com estas coisas.
Você pratica atividade física? Qual? O que você mais gosta?
Sim, quando tempo gosto de jogar um basquete com meus amigos. fui bom nesse negócio,
agora só brinco.
Você pratica Educação Física na escola?
Agora não mais, pois não dá tempo, tenho que trabalhar.
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Você gosta do professor de Educação Física da sua escola?
Gosto. A professora é gente boa. Mas não tem sica para o supletivo. Alguns moleques jogam
bola junto com outras turmas quando dá.
8. Você sabe dos riscos e efeitos do uso de medicamentos para melhorar a
imagem corporal (imagem do próprio corpo)? Quais?
Sei sim, mas não gosto destas coisas não. Quero ficar forte puxando ferro e não tomando
veneno. Diz que o cara fica até broxa.
Você usaria medicamentos para melhorar sua imagem (seu corpo)? Por quê?
Não. Tem uns malucos amigos meus que tomam “bomba”, mas eu não curto. Depois se você
para de tomar fica fraco novamente. Acho que não vale a pena.
Observações do Entrevistador:
No dia da entrevista o adolescente estava de boné, calça e tênis de cano alto típico de
jogador de basquete.
Pareceu-me um jovem centrado e que já possui algumas responsabilidades de adultos
como trabalhar e sustentar sua filha e mulher.
Respondeu as perguntas com naturalidade, mas sempre com um ar de desconfiança.