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Universidade de São Paulo
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Centro de Energia Nuclear na Agricultura
Agrotóxicos na imprensa: análise de algumas revistas e jornais brasileiros
Maria Elizabete Barretto de Menezes Lopes
Tese apresentada para obtenção do título
de Doutor em Ecologia Aplicada
Piracicaba
2010
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Maria Elizabete Barretto de Menezes Lopes
Engenheiro Agrônomo
Agrotóxicos na imprensa: análise de algumas revistas e jornais brasileiros
Orientador:
Prof. Dr. ANTÔNIO RIBEIRO DE ALMEIDA
JÚNIOR
Tese apresentada para obtenção do título de Doutor
em Ecologia Aplicada
Piracicaba
2010
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Dados
Internacionais de Catalogação na Publicação
DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP
Lopes, Maria Elizabete Barretto de Menezes
Agrotóxicos na imprensa: análise de algumas revistas e jornais brasileiros /
Maria Elizabete Barretto de Menezes Lopes. - - Piracicaba, 2010.
295 p. : il.
Tese (Doutorado) - - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Centro de
Energia Nuclear na Agricultura, 2010.
1. Agrotóxicos 2. Comunicação 3. Ecologia 4. Jornalismo 5. Meios de
comunicação I. Título
CDD 632.95
L864a
“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte – O autor”
3
Às minhas filhas Elizabeth,
Cristina e Eliana dedico.
4
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha existência e pela sua grandiosidade depositadas em mim em forma
de coragem.
A meus pais (in memorian) pelo exemplo de vida e amor incondicional.
À minha família, pelo apoio e compreensão nesse processo.
Ao meu orientador Prof. Antônio Ribeiro de Almeida Júnior, pela confiança e orientação
segura e serena, fundamentais para a realização dessa pesquisa.
Aos Profs. Adalmir Leonídio, Adilson Dias Paschoal, Ilza Maria Tourino Girardi, Janet
Sternberg, Belarmino César Guimarães da Costa, Thales Haddad Novaes de Andrade,
César Koppe Grisolia e Sebastião Pinheiro, pelas valiosas contribuições que
oportunizaram a evolução deste trabalho.
Ao Prof. Sílvio Sandoval Zocchi, pelas reflexões que me proporcionou a realização das
análises estatísticas.
À coordenação do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ecologia Aplicada
(PPGI - EA) e a todos os docentes e funcionários do Pavilhão de Ciências Humanas.
Aos bibliotecários e funcionários da Biblioteca Central da ESALQ, pela carinhosa
solicitude, especialmente à Lurdes F. Gandra pela generosa colaboração neste estudo.
Aos funcionários do Serviço de Pós-Graduação pela constante amabilidade.
A Ana Luísa Ferreira de Melo e Juliana Gonçalez Gragnani pelo auxílio oportuno.
A Fernanda, Sara, Jaime, Cecília (Ciça) e Camila, pelo companheirismo.
A Patrícia, por compartilhar comigo “o meu doutorado”, pelas constantes orações e
desvelada amizade.
A Susy e Leila, bem como a todos os colegas e amigos que nesta ausência de citação,
são lembrados pelo eterno apoio.
6
7
A Terra, agora está poluída. E nós sofremos os efeitos de sua devastação, pois
tudo que fazemos se reflete na Terra, e tudo que se passa na Terra se reflete em nós.
Como dizia Gandhi, a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade
dos consumistas‟”.
Frei Betto
8
9
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................ 15
ABSTRACT ............................................................................................................ 17
LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... 19
LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 21
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 25
1.1 Importância do problema ......................................................................................... 26
1.2 Objetivo geral ............................................................................................................ 29
1.3 Objetivos específicos ............................................................................................... 29
1.4 Hipóteses ................................................................................................................... 30
2 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................. 31
2.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................................ 31
2.1.1 Problemática do uso dos agrotóxicos .................................................................. 31
2.1.1.1 Definição de Agrotóxico e sinonímia ................................................................ 31
2.1.1.2 Considerações gerais ........................................................................................ 33
2.1.1.3 Impacto dos agrotóxicos na saúde humana .................................................... 38
2.1.1.3.1 Intoxicações por exposição e por ingestão .................................................. 38
2.1.1.3.2 Doenças crônicas e malformações ............................................................... 48
2.1.1.4 Impacto dos agrotóxicos nos ambientes físico e biológico ............................ 53
2.1.1.5 Sistemas de informação sobre as intoxicações causadas pelos agrotóxicos
existentes no Brasil ......................................................................................................... 57
2.1.1.6 Alternativas ao uso de agrotóxicos ................................................................... 60
2.1.1.6.1 Agricultura orgânica ........................................................................................ 60
2.1.1.6.2 Agricultura familiar - Soberania alimentar..................................................... 64
2.1.1.7 Considerações sobre as Revoluções Verde e Biotecnológica ...................... 68
10
2.2 Meios de comunicação ............................................................................................. 75
2.2.1 Meios de comunicação de massa ........................................................................ 75
2.2.1.1 Notícias ................................................................................................................ 78
2.2.1.2 Distorção sistemática da notícia fundamentada em critérios jornalísticos
empresariais .................................................................................................................... 81
2.2.2 Bases teóricas que contribuem para o entendimento da consciência pública 85
2.2.2.1 Cultivando crenças irreais ................................................................................. 86
2.2.2.2 Importância do agenda-setting para os meios de comunicação de massa.. 89
2.2.2.3 Enquadrando as mensagens ............................................................................ 97
2.2.2.4 Distorções das informações - Modelo de propaganda ................................. 100
2.2.2.5 Manufaturando o consenso ............................................................................. 101
2.2.2.6 Mídia como modeladora da linguagem .......................................................... 102
2.2.2.7 Persuasão das publicidades e propagandas e o consumismo .................... 103
2.2.3 Fontes de informação das notícias .................................................................... 107
2.2.4 Veículos impressos e outras mídias .................................................................. 110
2.3 Material e métodos ......................................................................................... 119
2.3.1 Síntese do perfil dos veículos de comunicação analisados ......................... 120
2.3.1.1 Revista “Globo Rural” ............................................................................... 120
2.3.1.2 Revista “Veja” ........................................................................................... 120
2.3.1.3 Revista “Caros Amigos” ............................................................................ 121
2.3.1.4 Revista “A Granja” .................................................................................... 121
2.3.1.5 Revista “Balde Branco” .................................................................................... 123
2.3.1.6 “Suplemento Agrícola” do Jornal “O Estado de S. Paulo” ......................... 123
2.3.1.7 “Agrofolha” do jornal “Folha de São Paulo” e jornal “Folha de S. Paulo” .. 124
2.3.1.8 “Jornal de Piracicaba” ............................................................................... 124
2.3.2 Análise de conteúdo .................................................................................... 125
2.3.2.1Categorização ............................................................................................ 125
2.3.2.1.1 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos ........................................... 126
11
2.3.2.1.1.1Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos ............................... 126
2.3.2.1.1.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis aos agrotóxicos ......................... 126
2.3.2.1.1.3 Matérias jornalísticas factuais ............................................................ 126
2.3.2.1.1.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa ........... 126
2.3.2.1.2 Anúncios comerciais de agrotóxicos ..................................................... 127
2.3.2.1.3 Matérias jornalísticas sobre outros assuntos agropecuários ................. 127
2.3.2.1.4 Anúncios sobre outros produtos agropecuários .................................... 127
2.3.3 Gênero das matérias jornalísticas presentes nos veículos impressos ........ 127
2.3.3.1 Cartas ....................................................................................................... 127
2.3.3.2 Notas ........................................................................................................ 127
2.3.3.3 Notícias .................................................................................................... 128
2.3.3.4 Reportagens ............................................................................................. 128
2.3.3.5 Reportagens de capa ............................................................................... 128
2.3.3.6 Informe Publicitário SEBRAE ................................................................... 129
2.3.4 Mapeamento das fontes de informação das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos ........................................................................................................... 129
2.3.5 Recursos comunicativos utilizados pela mídia impressa ............................. 129
2.3.6 Análises de discurso ................................................................................... 130
2.4 Resultados e Discussão ................................................................................. 130
2.4.1 Materiais amostrados .................................................................................. 130
2.4.2 Análise de conteúdo .................................................................................... 131
2.4.2.1 Categorização .......................................................................................... 132
2.4.2.1.1 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos ........................................... 132
2.4.2.1.1.1 Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos .............................. 137
2.4.2.1.1.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis à utilização dos agrotóxicos ...... 139
2.4.2.1.1.3 Matérias jornalísticas factuais ............................................................ 140
2.4.2.1.1.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa ........... 141
2.4.2.1.2 Anúncios comerciais de agrotóxicos ........................................................... 148
2.4.2.1.3 Matérias jornalísticas sobre outros assuntos agropecuários ................. 156
2.4.2.1.4 Anúncios sobre outros produtos agropecuários .................................... 157
2.4.3 Gêneros das matérias jornalísticas presentes nos veículos impressos ...... 159
12
2.4.3.1 Cartas ....................................................................................................... 161
2.4.3.2 Notas ........................................................................................................ 172
2.4.3.3 Notícias .............................................................................................................. 178
2.4.3.4 Reportagens...................................................................................................... 180
2.4.3.5 Reportagens de capa ................................................................................ 183
2.4.3.6 Informe Publicitário SEBRAE .................................................................... 186
2.4.4 Mapeamento das fontes de informação das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos ........................................................................................................... 189
2.4.4.1 Amostragem selecionada ......................................................................... 189
2.4.4.2 Análise das fontes de informação ............................................................. 189
2.4.4.2.1 Fontes de informação do governo ......................................................... 194
2.4.4.2.2 Fontes de informação de especialistas de instituições de pesquisa ...... 210
2.4.4.2.3 Fontes de informação de especialistas de universidades ...................... 217
2.4.4.2.4 Fontes de informação de especialistas de empresas ............................ 218
2.4.4.2.5 Fontes de informação de empresas fabricantes de agrotóxicos ............ 228
2.4.4.2.6 Fontes de informação de produtores rurais ........................................... 232
2.4.5 Recursos comunicativos utilizados pela mídia impressa ............................. 232
2.4.5.1 Fotos ......................................................................................................... 234
2.4.5.2 Ilustrações ................................................................................................ 239
2.4.5.3 Infográficos ............................................................................................... 241
2.4.5.4 Mapas ....................................................................................................... 242
2.4.5.5 Figuras ............................................................................................................... 243
2.4.6 Análises de discurso .................................................................................... 244
2.4.6.1 Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos ......................................... 245
2.4.6.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis aos agrotóxicos ............................... 250
2.4.6.3 Matérias jornalísticas factuais ................................................................... 253
2.4.6.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa .................... 255
2.4.6.5 Publicidades de agrotóxicos ............................................................................ 261
2.4.6.5.1 Dow AgroSciences - “Globo Rural”, janeiro de 2007 ................................. 261
2.4.6.5.2 Bayer CropScience - “Globo Rural”, novembro de 2007 ........................ 263
13
2.4.6.5.3 Basf - The Chemical Company - “Globo Rural”, julho de 2007 .............. 265
2.4.6.6 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos .............................................. 266
2.4.6.6.1 O revolucionário e o reacionário - revista Veja, janeiro de 2008 ........... 266
2.4.6.6.2 Ecologia: prática agrícola reduz a emissão de 29 milhões a 40 milhões de
toneladas de CO
2
por ano - “Globo Rural”, julho de 2007 .................................... 269
2.4.6.6.3 Orgânicos na mira: produtos sem agrotóxicos no mercado - “Globo Rural”,
maio de 2007 ........................................................................................................ 270
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 273
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 282
14
15
RESUMO
Agrotóxicos na imprensa: análise de algumas revistas e jornais brasileiros
O presente estudo tem por objetivo verificar a representação dos agrotóxicos nas
mensagens contidas em alguns jornais e revistas da imprensa brasileira. Para tanto,
realizaram-se análises de conteúdo e de discurso das matérias jornalísticas de uma
amostra constituída de nove veículos, compreendendo tanto os de informação geral
como os especializados na área agropecuária. A presença de anúncios sobre os
agrotóxicos nas revistas especializadas “Globo Rural”, “A Granja” e “Balde Branco”
possibilitou a classificação das mensagens em quatro categorias: matérias jornalísticas
sobre os agrotóxicos, publicidades sobre os mesmos, matérias jornalísticas sobre
outros assuntos agropecuários e anúncios sobre outros produtos agropecuários. Da
categoria matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos estabeleceram-se outras quatro,
ordenando-se em matérias favoráveis e desfavoráveis a esses compostos, factuais e
relacionadas às técnicas de produção alternativa, completando-se oito categorias. Nos
demais veículos constantes deste estudo, por não apresentarem anúncios comerciais
de agrotóxicos, analisaram-se somente as matérias jornalísticas sobre esses produtos,
bem como as suas subdivisões. Avaliaram-se, ainda, os gêneros dessas matérias,
classificando-as em cartas, notas, notícias, reportagens, Informes Publicitários SEBRAE
e reportagens de capa, sendo mensurados de acordo com as técnicas de análises de
conteúdo. Investigaram-se também as fontes de informação das matérias jornalísticas
sobre os agrotóxicos bem como os recursos comunicativos utilizados pela mídia
impressa, com a finalidade de atrair os leitores a essa temática. Observou-se
predominância das matérias de incentivo ao consumo dos agrotóxicos, à exceção dos
Informativos Publicitários SEBRAE, publicados pela revista Globo Rural”. Estes
salientaram as matérias relacionadas às técnicas alternativas, principalmente as que
abordaram a produção orgânica de alimentos. As mensagens que versaram sobre os
agrotóxicos foram mais frequentes nos veículos agropecuários, os quais definiram a
agenda dos jornais e revistas de informação geral. As fontes de informações
governamentais, das instituições de pesquisa e universidades públicas demonstraram a
sua participação nas políticas que favorecem o uso e a permanência das corporações
desses produtos no Brasil. No corpus desse estudo, constituído de 20.723 páginas,
constatou-se apenas um relato que denunciou a internação por intoxicação provocada
por agrotóxicos de pelo menos seis trabalhadores rurais. A representação dos
agrotóxicos no universo amostrado o aludiu a algum movimento social ou grupos de
combate a esses compostos.
Palavras-chave: Agrotóxicos; Ambiente; Mídia; Comunicação; Jornalismo
16
17
ABSTRACT
Pesticides in the press: analysis of some Brazilian magazines and newspapers
The objective of this study was to verify the representation of pesticides in
materials contained in some newspapers and magazines in the Brazilian press. Thus the
content and discourse of journalistic materials in a sample consisting of nine vehicles,
including those of general information and those specialized in animal husbandry, was
analyzed. The presence of announcements concerning pesticides in the specialized
magazines “Globo Rural”, “A Granja” and “Balde Branco” allowed for classification of the
materials into four categories: journalistic materials about pesticides, publicity about the
same, journalistic materials about other agricultural subjects and announcements about
other agricultural products. In the category “journalistic materials about pesticides”, a
further four categories were established, ranking them as articles favorable and
unfavorable with respect to these compounds, factual articles and those related to
techniques for alternative productions, giving a total of eight categories. Since the other
vehicles included in this study did not present commercial announcements for
pesticides, in these cases only journalistic materials concerning these products and their
subdivisions were analyzed. The types of article were also evaluated, classifying them
as letters, notes, news, news reports, publicity information from SEBRAE and headline
reports, being measured according to content analysis techniques. The sources of
information of the journalistic materials about pesticides were also investigated, and also
the communication resources used by the press, with the objective of attracting readers
to the subject matter. A predominance of materials aimed at encouraging the use of
pesticides was observed, with the exception of the publicity information from SEBRAE
published by the magazine “Globo Rural”. These articles emphasized materials
concerning alternative techniques, mainly those about the organic production of food.
Articles concerning pesticides were more frequent in agricultural vehicles, which defined
the agenda of the newspapers and magazines of general information. The governmental
sources of information from the research institutes and public universities showed that
they participated in policies favoring the use and permanence of these product
corporations in Brazil. In the corpus of this study, consisting of 20,723 pages, only one
report appeared denouncing the hospitalization of at least six rural workers due to
poisoning caused by pesticides. The representation of pesticides in the universe
sampled did not mention any social movements or groups aimed at combating these
compounds.
Keywords: Pesticides; Environment; Media; Communication; Journalism
18
19
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Ilustração informativa da revista A Granja...............................
Figura 2 -
Espaços destinados às matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos .............................................................................
Figura 3
Espaços destinados aos anúncios sobre os agrotóxicos nos
veículos amostrados................................................................
Figura 4
Espaços destinados ao total de matérias jornalísticas e de
anúncios sobre os agrotóxicos nos jornais e revistas
analisados................................................................................
Figura 5 -
Espaços destinados a outros assuntos agropecuários nas
revistas especializadas............................................................
Figura 6 -
Espaços destinados aos anúncios sobre outros produtos
agropecuários nas revistas especializadas.............................
Figura 7 -
Cerejas ameaçadas.................................................................
Figura 8 -
Seção Cartas do Suplemento Agrícola do jornal O Estado de
S. Paulo...................................................................................
Figura 9 -
Agricultura ecológica atrai mercado........................................
Figura 10 -
Agrotóxico desenvolvido pela Bayer CropScience ................
Figura 11 -
Folhas secas - Mal de Sigatoka..............................................
Figura 12 -
Amostras de leite em tubos de ensaio....................................
Figura 13 -
Ilustração da Norma Regulamentadora NR 31........................
Figura 14 -
A era do milho mais rentável...................................................
Figura 15 -
Hormônio transgênico BSTr....................................................
Figura 16 -
Ferrugem asiática na soja......................................................
Figura 17 -
Incentivo do controle da doença com fungicidas.....................
Figura 18 -
Defensivos legais para “minor crops”......................................
Figura 19 -
Agrotóxicos são usados como armas no controle da lagarta..
Figura 20 -
Trabalhador pulverizando agrotóxico sem o uso de EPI.........
Figura 21 -
Trabalhador de Pilar do Sul mostra as mãos sem luvas.........
Figura 22 -
Choque no combate à plantas daninhas.................................
20
Figura 23 -
Lavoura mapeada via satélite..................................................
Figura 24 -
Cobertura do solo com filmes plásticos. cnica da
solarização do solo..................................................................
Figura 25 -
Produção orgânica de morangos.............................................
Figura 26 -
Pulverização de uma calda natural..........................................
Figura 27 -
Publicidade da Dow AgroSciences..........................................
Figura 28 -
Publicidade da Bayer CropScience.........................................
Figura 29 -
Publicidade da Basf.................................................................
Figura 30 -
O revolucionário e o reacionário.............................................
21
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Número de edições e período em meses dos veículos de
comunicação analisados no presente estudo...............................
132
Tabela 2 -
Distribuição por ano das edições das revistas A Granja, Balde
Branco e Globo Rural durante o período que transcorreu a
pesquisa.......................................................................................
132
Tabela 3 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
sobre agrotóxicos nos jornais e revistas analisados....................
133
Tabela 4 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
favoráveis ao consumo dos agrotóxicos nos veículos e períodos
estudados.....................................................................................
138
Tabela 5 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
desfavoráveis à utilização dos agrotóxicos nos veículos e
períodos estudados......................................................................
139
Tabela 6 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
factuais relacionadas aos agrotóxicos nos veículos e períodos
estudados.....................................................................................
140
Tabela 7 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
sobre técnicas de produção alternativa nos veículos e períodos
estudados.....................................................................................
141
Tabela 8 -
Médias dos espaços ocupados com anúncios sobre os
agrotóxicos nos veículos e períodos estudados...........................
148
Tabela 9 -
Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista Globo Rural...
150
Tabela 10 -
Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista A Granja........
151
Tabela 11 -
Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista Balde Branco
152
Tabela 12 -
Anúncio institucional da empresa Monsanto publicado na
revista Veja...................................................................................
153
22
Tabela 13
Médias dos espaços ocupados pelo total de matérias
jornalísticas e anúncios publicitários sobre os agrotóxicos nos
veículos e períodos estudados.....................................................
Tabela 14 -
Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas
sobre outros assuntos agropecuários nos veículos e períodos
estudados.....................................................................................
Tabela 15 -
Médias dos espaços ocupados com anúncios sobre outros
produtos agropecuários nos veículos e períodos estudados.......
Tabela 16 -
Gêneros das matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
presentes nos jornais e revistas analisados.................................
Tabela 17 -
Distribuição do número de cartas nas categorias relacionadas
aos agrotóxicos e os espaços ocupados nos veículos de
comunicação analisados..............................................................
Tabela 18 -
Mensuração da área da página dos jornais e revistas
amostrados...................................................................................
Tabela 19 -
Distribuição do número de notas nas categorias relacionadas
aos agrotóxicos e os espaços ocupados nos veículos de
comunicação analisados..............................................................
Tabela 20 -
Distribuição do número de notícias nas categorias relacionadas
aos agrotóxicos e os espaços ocupados nos veículos de
comunicação analisados
Tabela 21 -
Distribuição do número de reportagens nas categorias
relacionadas aos agrotóxicos e os espaços ocupados nos
veículos de comunicação analisados...........................................
Tabela 22 -
Distribuição do numero de reportagens de capa nas categorias
relacionadas aos agrotóxicos e os espaços ocupados nos
veículos de comunicação analisados...........................................
Tabela 23 -
Distribuição do número de Informes Publicitários SEBRAE nas
categorias relacionadas aos agrotóxicos e os espaços em
páginas ocupados na revista “Globo Rural...................................
23
Tabela 24 -
Número de páginas analisadas nos veículos de comunicação
amostrados...................................................................................
186
Tabela 25 -
Fontes de informação presentes nas matérias jornalísticas que
abordaram os agrotóxicos em alguns jornais e revistas
brasileiros.....................................................................................
191
Tabela 26 -
Recursos comunicativos relativos aos agrotóxicos utilizados
pelos veículos impressos amostrados..........................................
232
24
25
1 INTRODUÇÃO
A iniciativa do presente estudo se deve à realização de diversos experimentos
sobre aplicações de fungicidas, para o controle de doenças em diferentes culturas com
importância econômica, desenvolvidos pela autora. Observavam-se frequentes visitas
de representantes das corporações de agrotóxicos no local de trabalho, um instituto de
pesquisa da Secretaria de Agricultura do Estado de S. Paulo, para a solicitação de
Laudos Técnicos de Eficiência e Praticabilidade Agronômica de determinados produtos
químicos. A finalidade era verificar o comportamento desses compostos em tratamento
de sementes, ou a eficiência de uma determinada dose, bem como a frequência de
aplicações para fins de registrar novos princípios ativos no Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento - MAPA. Percebia-se que os pesquisadores eram
constantemente instados a realizar esses experimentos e em momento algum se
questionava sobre os problemas advindos da utilização desses agrotóxicos. Assuntos
como intoxicações humanas, contaminações ambientais e resíduos em alimentos
causados por esses produtos não estão em evidência na mídia de massa e seria
arriscado atribuir-lhes a responsabilidade das doenças crônicas devido à dificuldade
para se estabelecer nexos causais, ao contrário do que ocorre em relação às
intoxicações agudas, as quais possibilitam relacioná-los.
No entanto, o “especialista” que trabalha em Regime de Tempo Integral (RTI)
não se dá conta desses prejuízos, uma vez que o seu tempo é dedicado às suas
pesquisas, pouco lhe restando às leituras que não estão associadas aos seus estudos.
Ademais, é importante que ele seja receptivo às orientações da instituição de pesquisa
ou da universidade para a qual trabalha, como, por exemplo, seguir o pensamento
comum de que os agrotóxicos promovem apenas benefícios a uma lavoura e desprezar
aquele sobre os efeitos nocivos à saúde humana e ao ambiente. De acordo com
Chomsky (2003), “a classe especializada é treinada para trabalhar a serviço dos seus
mestres, os donos da sociedade” (CHOMSKY, 2003, p. 24), os que lhe pagam os
salários para o qual ela foi contratada. Assim, o pesquisador deve pensar somente no
que lhe é permitido e os assuntos relacionados aos danos causados pelos agrotóxicos
não estão entre as suas prioridades.
26
Contudo, essas instituições, blicas e privadas, permitem
que empresas multinacionais contratem seus pesquisadores e docentes para a
execução de “pesquisas” de seu interesse, em troca de elevadas somas sob a
denominação de financiamentos ou fontes de recursos para a criação de laboratórios ou
compra de equipamentos. Na verdade, cientistas renomados recebem altas comissões
para relatarem os efeitos de seus experimentos com produtos químicos ou outras
drogas. Rampton e Stauber (2001) afirmam que os pesquisadores envolvidos com tais
estudos podem distorcer os resultados aparentemente científicos, tornando-os úteis aos
interesses empresariais e estatais, configurando conflito de interesses. De acordo com
Almeida Júnior e Sakaguti Júnior (2005), uma forma eficiente de entender o
comportamento das fontes de informações é questionar sobre as origens dos recursos
para as pesquisas e para a manutenção dos laboratórios.
Muitas organizações e programas internacionais e nacionais, associados à
saúde, por exemplo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a Organização Pan -
Americana da Saúde - OPAS, o Programa Internacional de Segurança Química - IPCS,
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, do Ministério da Saúde - MS,
entre outros, dispõem de dados numéricos sobre envenenamentos, hospitalizações e
óbitos causados por agrotóxicos no Brasil, os quais são escassamente disponibilizados
à população pela mídia de massa.
Embora na literatura do país muitos trabalhos relatem sobre os riscos dos efeitos
nocivos dos agrotóxicos, observa-se a ausência de investigações referentes à cobertura
da mídia, à exceção de alguns estudos, como o de Barzotto (1992), que analisou
discursivamente as propagandas de agrotóxicos e o de Pereira (2002), que salientou as
intoxicações por agrotóxicos nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e o
papel das ONGs e dos movimentos sociais nesse sentido.
1.1 Importância do problema
Estudos relacionados aos impactos do uso dos agrotóxicos revelam que os
trabalhadores rurais podem sofrer intoxicações agudas, mesmo quando utilizam o
Equipamento de Proteção Individual - EPI, indicando que sua segurança é relativa.
Além de esses equipamentos serem desconfortáveis e difíceis de ser usados em climas
27
quentes, o sistema de troca dos filtros das máscaras pelas indústrias é outro agente
complicador que leva ao incremento dos casos de envenenamentos. Em algumas
aplicações, notadamente através de pulverizadores costais, ocorre absorção desses
produtos pela pele, sobretudo quando as roupas do trabalhador ficam encharcadas.
Nesses casos, ampliam-se os riscos de contaminação, principalmente quando tais
vestimentas são lavadas junto às da família, que, por sua vez, se contaminam. Outra
séria implicação que eleva os índices das intoxicações diz respeito às pulverizações
aéreas, proibidas na União Européia, mas ainda permitidas no Brasil, com a única
exigência de que seja estabelecida uma distância de 500 metros das comunidades e
250 metros dos mananciais de água. Acrescentam-se ainda, a exposição combinada ou
sequencial às várias substâncias químicas, com diferentes formulações, que podem
resultar em níveis severos de envenenamentos e poluição ambiental.
Não menos grave é a situação que atinge os consumidores, especialmente
depois que o Brasil passou a ocupar, a partir de 2008, o primeiro lugar no ranking de
maior usuário de agrotóxicos do mundo. A elevação nos índices de doenças crônicas é
evidenciada através do surgimento de diversos tipos de cânceres, neuropatias,
alterações endócrinas, desordens sanguíneas, malformações fetais, diabetes,
problemas reprodutivos, distúrbios respiratórios, moléstias imunológicas, Mal de
Parkinson, alergias, entre outros. O incremento dessas enfermidades alerta para uma
reavaliação dos conceitos de Limite Máximo de Resíduo permitido de agrotóxicos -
LMR
1
ou Tolerância e Dose ou Ingestão Diária Aceitável - IDA
2
. Estes conceitos
pressupõem que certa quantidade de cada um dos produtos químicos presentes em
alimentos pode ser absorvida diariamente, pelo organismo, sem causar danos
1
Define-se Limite Máximo de Resíduo - LMR como a quantidade máxima de resíduo de agrotóxico
oficialmente aceita no alimento, em decorrência da aplicação adequada numa forma específica desde a
sua produção até o consumo. É expressa em partes (peso) de agrotóxico ou seus resíduos por milhão de
partes de alimento - em peso - ppm ou mg/kg de alimento. Sinonímia: tolerância.
2
IDA - Ingestão Diária Aceitável ou Dose Diária Aceitável de um produto químico é a estimativa da
quantidade de uma substância em um alimento e/ou bebida-água, expressa sobre uma base de peso
corpóreo, que se ingerida diariamente durante toda a vida, parece não oferecer risco apreciável à saúde
do consumidor, à luz dos conhecimentos atuais. É usualmente expressa em miligramas e/ou micrograma
da substância por quilograma de peso corpóreo (padrão humano adulto).
28
irreversíveis à saúde. No entanto, seus estudos são efetuados em animais e
diferenças de sensibilidade em seres humanos. Além disso, é importante esclarecer
que uma das maiores dificuldades para o consumidor é o desconhecimento do que está
ingerindo, ou seja, nos rótulos dos produtos alimentícios não informações sobre a
existência de resíduos de agrotóxicos.
O uso abusivo desses compostos está relacionado ao modelo de produção
agrícola convencional, no qual grandes extensões de terra são cultivadas com as
monoculturas, que necessitam dos agrotóxicos para os seus agronegócios. O aumento
desses insumos está ainda diretamente associado ao incremento de variedades
transgênicas, desenvolvidas especialmente para ser mais resistentes a essas
aplicações, o que favorece sobremaneira o mercado de agrotóxicos e os de sementes
geneticamente modificadas - GM.
Assim, cabe ao poder público a responsabilidade de minimizar os impactos
causados pelos agrotóxicos, incentivando modelos agrícolas como a agricultura familiar
e os agroecológicos, que são socialmente bem estruturados e objetivam a soberania
alimentar e a qualidade de vida.
Diante de um tema extremamente importante à saúde humana e ao ambiente e
da indisponibilidade dessas informações nos veículos de comunicação de massa,
optou-se em pesquisar as mensagens veiculadas em alguns veículos impressos
nacionais.
Para tanto, selecionaram-se revistas e jornais de informação geral como as
revistas “Veja” e “Caros Amigos” e os jornais “Folha de São Paulo” e o “Jornal de
Piracicaba” e os seguintes veículos especializados na área agropecuária: as revistas
“Globo Rural”, “A Granja” e “Balde Branco”, o “Suplemento Agrícola” e o caderno
“Agrofolha”, dos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S. Paulo”, respectivamente.
Considerou-se para a revista Caros Amigos” o período de 12 meses, correspondendo
ao ano de 2007; para o “Suplemento Agrícola” e para a “Agrofolha”, 13 meses,
transcorridos entre julho de 2007 a julho de 2008; para o “Jornal de Piracicaba” e a
“Folha de S. Paulo”, o mês de janeiro de 2008; para a revista “Veja”, utilizaram-se os
períodos referentes ao ano de 2007 e de janeiro a julho de 2008, totalizando 19 meses.
As revistas “A Granja”, “Balde Brancoe “Globo Rural” foram analisadas durante 20, 27
29
e 25 meses, respectivamente, em períodos que iniciaram em 2005, para as duas
primeiras e em 2006, para a “Globo Rural”, a meados de 2008 para esses três
veículos segmentados.
1.2 Objetivo geral
Considerando-se a importância social dos agrotóxicos essa pesquisa visa
compreender como estes são representados pela imprensa brasileira.
1.3 Objetivos específicos
1-Traçar sinteticamente o perfil dos veículos de comunicação de massa
selecionados;
2- Quantificar, através da análise de conteúdo, a presença das matérias
jornalísticas relacionadas aos agrotóxicos verificando as propostas de estímulo e de
contenção ao consumo;
3- Analisar os gêneros dessas matérias presentes nos jornais e revistas, como
cartas, notas, notícias, reportagens, Informes Publicitários SEBRAE
3
e reportagens de
capa;
4- Investigar as fontes de informações utilizadas pelos repórteres, tais como
governo, especialistas de instituições de pesquisa e de universidades públicas e
privadas, empresas fabricantes de agrotóxicos, entre outras;
5- Avaliar os recursos comunicativos como fotos, ilustrações, infográficos,
figuras e mapas utilizados pela mídia impressa, como estratégias para atrair os leitores
ao assunto;
6- Utilizando-se das técnicas de análises de discurso descrever alguns casos
exemplares sobre as mensagens que abordam os agrotóxicos presentes, tanto nos
anúncios publicitários como nas matérias jornalísticas.
3
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, através do Informe
Publicitário dos seus empreendimentos, publicado pela revista Globo Rural oferece incentivos aos
agronegócios relacionados à agricultura familiar e aos modelos agroecológiocos, além da prestação de
seus serviços à sociedade.
30
1.4 Hipóteses
Considerando-se que os veículos impressos selecionados nesse estudo, à
exceção da revista Caros Amigos, confirmam a orientação para os lucros, característica
das empresas privadas, supõe-se que as mensagens jornalísticas sobre os agrotóxicos
sofram processos de distorção, conforme o modelo de propaganda de Herman e
Chomsky (2003). Desse modo, condizem com os interesses existentes nos processos
de produção mercantil da nossa sociedade, não informando com transparência e até
mesmo sonegando informações sobre seus efeitos prejudiciais, comprometendo o
entendimento real dessas questões.
Gerbner et al. (2002) afirmam que diante da exposição sistemática a
determinados temas as pessoas se distanciam da realidade e passam a acreditar no
que ouvem e veem nos meios de comunicação eletrônicos e leem nos impressos. A
informação é parcial e distorcida.
Supõe-se, portanto, que as fontes de informação utilizadas pelos repórteres
estejam em concordância com a postura neoliberal dos veículos impressos amostrados.
Nesse mesmo sentido, espera-se que os recursos comunicativos dessas
publicações suscitem a curiosidade dos leitores, assim como o enaltecimento das suas
qualidades, presentes nos anúncios publicitários, tende a obscurecer a realidade de
seus efeitos prejudiciais.
Em síntese, as hipóteses deste trabalho são: a) predominam as matérias
jornalísticas que incentivam o consumo dos agrotóxicos; b) ocorrem processos de
distorção dessas mensagens; c) os veículos impressos selecionam fontes de
informações de acordo com os seus interesses políticos e ideológicos; d) os recursos
comunicativos que abordam os agrotóxicos despertam o interesse do leitor para essa
temática; e) os anúncios publicitários são propensos a exaltar as benesses de tais
produtos; f) existem diferenças importantes nas linhas editoriais nos meios de
comunicação analisados.
31
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Revisão Bibliográfica
As contaminações por agrotóxicos estão entre os principais problemas
ambientais da atualidade, por agredirem a saúde humana e por degradarem e poluírem
o ambiente. O uso e o abuso desses insumos transformam-se em ameaça quando
elevam os índices de intoxicações agudas e favorecem o desenvolvimento de várias
doenças crônicas provocadas pelas exposições prolongadas. Os resíduos desses
produtos em alimentos também expõem a população a uma constante situação de
ameaça devido tanto à desinformação sobre os perigos reais a que está submetida pela
ingestão de doses diárias, como à ineficácia das políticas públicas de proteção ao
consumidor. Ainda uma lacuna quanto à orientação sobre os riscos de
envenenamento resultantes do manuseio e das aplicações de agrotóxicos pelo
trabalhador rural e pelas pessoas expostas indiretamente nas lavouras, bem como
aquelas envolvidas no controle de vetores das endemias, na área de saúde pública.
2.1.1 Problemática do uso dos agrotóxicos
2.1.1.1 Definição de Agrotóxico e sinonímia
Os veículos impressos, assim como os eletrônicos, utilizam preferencialmente a
expressão “defensivos agrícolas” ao se referirem a intoxicações humanas e
contaminações de águas e de alimentos, por exemplo, por questões de marketing
ambiental. Também são referenciados de maneira secundária como praguicidas,
pesticidas, biocidas, agrotóxicos, entre outros.
Paschoal (1979c) comenta que o termo praguicida significa produto que mata
pragas” (PASCHOAL, 1979c, p. 34). Essa designação pode ser usada tanto para os
diversos tipos de insetos como para ácaros, carrapatos, moluscos, ratos etc. No
entanto, sob essa definição
[...] apenas as substâncias químicas capazes de matar pragas são
consideradas praguicidas, sendo excluídas as substâncias atraentes,
repelentes, esterilizantes e outras que igualmente contribuem para controlar
pragas (PASCHOAL, 1979c, p. 34).
32
Mariconi (1971) confere “o nome de praguicida ou defensivo, a toda substância
química empregada para combater uma praga ou doença das plantas. O termo
pesticida não deve ser empregado” (MARICONI, 1971, p. 101).
Segundo o autor os praguicidas
[...] classificam-se em: inseticidas, acaricidas, sarnicidas, carrapaticidas,
moluscocidas, raticidas, nematicidas, fungicidas, herbicidas etc.; destinam-se,
respectivamente, a combater insetos, ácaros, agentes da sarna, carrapatos,
moluscos, ratos, nematóides, fungos e ervas daninhas. Para alguns, os
fungicidas e herbicidas não podem ser tidos como praguicidas (MARICONI,
1971, p. 101).
O pesquisador não recomenda o uso da palavra pesticida, mas não explica as
suas razões.
Para Paschoal (1979c), pesticida não é um termo adequado para traduzir
pesticide, palavra inglesa que significa “o que mata peste”
[...] e peste, segundo os dicionários da língua portuguesa, é “qualquer
doença epidêmica grave, de grande mobilidade e mortalidade”. Portanto peste
tem o sentido mais de uma doença do que de uma praga, o que torna o
anglicismo errôneo para o significado que se deseja exprimir (PASCHOAL,
1979c, p. 34).
Outra sinonímia, a denominação biocida, que significa “matar a vida”, é mais
“realística, embora desinteressante para os homens de negócio” (PASCHOAL, 1979c,
p. 34).
O termo defensivo, de acordo com o cientista, também apresenta as suas
incoerências. Ele explica que
A palavra defensivo, usada com sentido mais amplo para incluir não
apenas pragas mas também agentes patológicos, é outra incoerência, uma vez
que [...] muitos desses agentes químicos, entre os quais o grupo todo dos
clorados persistentes, são na realidade causadores de maiores e mais graves
ataques de pragas, pelos desequilíbrios biológicos que produzem; como então
chamar de defensivo algo que também pode agir no sentido de agravar a
situação da agricultura e diminuir os lucros dos agricultores? O termo defensivo
(defensa + ivo) significa próprio para defesa”, mas não indica de que ou de
quem; se é defensivo agrícola, então a defesa é a dos produtos agrícolas, o que
ecologicamente é uma utopia [...] se é a defesa do homem contra as pragas, o
sentido é também ambíguo, uma vez que o homem nos dias presentes não
mais se põe em sentido de defesa, mas sim de ataque maciço contra as pragas,
que são frutos da sua própria inventividade. Quando pensamos em termos da
natureza, tais produtos não podem ser encarados como instrumentos de
33
defesa, mas sim de destruição e perturbação do equilíbrio da biosfera
(PASCHOAL, 1979c, p. 34-35).
O autor sugere o termo agrotóxico antecipando-se à Lei Federal dos Agrotóxicos
n
0
7.802/89 e promulgada em 1990, conforme o seu relato
Uma sugestão é o termo agrotóxicos, que tem sentido geral para incluir
todos os produtos químicos usados nos agroecossistemas para combater
pragas e doenças. O termo é uma contribuição útil, já que a ciência que estuda
esses produtos chama-se toxicologia (PASCHOAL, 1979c, p. 35).
Após a aprovação da Lei n
0
7.802/89, o termo agrotóxico tornou-se oficial no
país.
Conforme Machado (2008) consideram-se agrotóxicos e afins:
a) Os produtos e os agentes de processo físicos, químicos ou
biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e
beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas
nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes
urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora
ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados
nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes,
dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento. (MACHADO, 2008, p.
595).
Assim, conforme esse autor
Deixou-se, finalmente, o uso do termo “defensivo agrícola”, que
distorcia o conceito e cuja denominação fugia da linha da terminologia
internacional, que é pesticida ou praguicida”. Ainda que o Brasil não tenha
inserido na nomenclatura oficial o termo pesticida”, a acolhida do termo
“agrotóxico” coloca em relevo a presença de produto perigoso (MACHADO,
2008, p. 595).
2.1.1.2 Considerações gerais
Entre as importantes considerações relativas aos agrotóxicos, as aplicações
simultâneas de vários produtos no processo produtivo da agricultura brasileira
necessitam ser repensadas. Os estudos para determinar a quantidade de resíduos em
um alimento são realizados para cada composto químico, separadamente em certa
lavoura. No entanto, associações constituídas de fungicidas, inseticidas e herbicidas,
por exemplo, são empregadas em um mesmo ciclo da cultura, de modo que seus
34
resíduos podem potencializar os problemas de contaminação ao consumidor final. Esse
uso irresponsável invalida os modelos protecionistas dos agrotóxicos, como o LMR e
IDA, criados pelas organizações internacionais sob pressão das indústrias de
agrotóxicos
Conforme será discutido adiante, o intenso uso de agrotóxicos, no país, se torna
ainda mais insensato quando culturas, com suporte fitossanitário
4
insuficiente, recebem
aplicações de produtos que foram registrados para outras, cujos estudos de resíduos
foram realizados. Tal utilização é considerada indevida porque os produtores rurais
necessitam da prescrição dos agrônomos, os quais, por sua vez, alteram os receituários
para atender essa solicitação. E assim, agrotóxicos são recomendados para uma
determinada cultura que não possui pesquisa quanto ao grupo químico, concentração
do princípio ativo e dose de utilização, por exemplo. Desse modo, e na maior parte das
vezes, o uso desses compostos por área é excessivo e são constantes as
contaminações com agrotóxicos em gêneros alimentícios destinados ao consumo.
Acrescentam-se, ainda, a comercialização ilegal e a negligência das fronteiras,
principalmente da América do Sul, que permitem o contrabando fácil, elevando-se ainda
mais os casos de envenenamentos e de doenças crônicas no Brasil.
O Brasil é um dos cinco maiores usuários de agrotóxicos do mundo e em 2008
classificou-se no ranking de maior consumidor
5
, ocupando o lugar dos EUA. As
previsões para 2009 indicam um aumento no consumo e a manutenção negativa dessa
liderança. Entretanto, o nosso país ainda não possui uma política oficial de comércio
desses produtos, a não ser o receituário agronômico, concebido inicialmente como um
simples mecanismo de controle de vendas, com a finalidade de nortear os trabalhos dos
profissionais do setor agrícola e de ambientalistas.
Alves Filho (2002) ressalta a importância do receituário agronômico.
Dentre os vários mecanismos sugeridos à época, para se tentar
minimizar o processo de disseminação indiscriminada dos agrotóxicos, a
proposta de implantação do sistema de receituário agronômico mereceu a
atenção especial da comunidade agronômica. A idéia baseava-se na
4
Suporte fitossanitário refere-se aos agrotóxicos registrados para uma determinada cultura.
5
O Brasil assumiu em 2008 o posto de maior consumidor de agrotóxicos em todo o mundo. Disponível
em: http://aldoadv.wordpress.com/2009/05/09. Acesso em: 09 maio 2009.
35
implementação de uma sistemática que possibilitasse a presença da perícia
técnica a intermediar o acesso do usuário final à tecnologia de risco,
representada pelos produtos químicos (ALVES FILHO, 2002, p. 175).
No entanto, as reações das corporações e das indústrias de agrotóxicos foram
fortemente contrárias a essas tentativas iniciais de sua implantação e no decorrer das
discussões para operacionalizar tal mecanismo surgiram muitas dificuldades.
A situação constatada é de que, o obstante se tenha o receituário
agronômico implantado, por imposição legal, a prática de sua implantação e
operacionalização não se mostra efetiva. Tal inocuidade modifica o
comportamento dos atores envolvidos na questão dos agrotóxicos, de forma a
praticamente reverter o quadro de opiniões [...] muitos dos que lutaram pela
implantação do receituário agronômico, ao início de sua adoção, hoje se
mostram pelo menos céticos quanto ao seu efetivo papel (ALVES FILHO, 2002,
p. 176).
A sua função está, portanto, distante da sua proposta inicial, e na atual forma
como esse instrumento vem sendo utilizado não oferece controle das vendas. Este é
mais um dos motivos do uso exagerado e indevido dos agrotóxicos que, aliado à
desinformação de seus perigos reais, leva a muitos casos de envenenamento, muitos
dos quais apresentam danos irreversíveis.
A falta desse controle é agravada quando produtos proibidos como os compostos
à base de arsênico, mercuriais e alguns organoclorados, entre outros, banidos
algum tempo tanto no nosso como em muitos outros países, são introduzidos
ilegalmente no mercado, piorando ainda mais esse quadro crítico. Um caso exemplar foi
a tentativa de entrada no país dos agrotóxicos Mospilan, Acetamiprid, Trimethyl, Ally,
Priori, Regente, Fipronil, Cruiser, Cloril, Bim, Evoke, Clorimuron, Thiosam 70, Folicyur -
nomes específicos e genéricos, que foram apreendidos pela Polícia Federal
6
. Tais
produtos não portavam qualquer registro junto aos órgãos federais competentes, uma
condição obrigatória, de acordo com o artigo 3
0
da Lei dos Agrotóxicos 7.802/89 e,
portanto, de importação proibida. Originados do Paraguai, esses insumos agrícolas são
de toxicidade desconhecida, representando potencial risco à saúde pública e ao
ambiente.
6
Veneno à nossa mesa. Polícia federal realiza operação de repressão ao contrabando de agrotóxicos
ilegais. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2009/10/03. Acesso em: 03 out. 2009.
36
Apesar da existência da Lei dos Agrotóxicos, as falhas no controle desses
produtos são verificadas através de várias intervenções. Por exemplo, a ANVISA
7
interditou a fabricação e apreendeu mais de 150 mil litros do agrotóxico adulterado
Priori Xtra (azostrobina + ciproconazole) pertencente à empresa Syngenta. Os lotes
eram produzidos com uma pré-mistura à base de ciproconazole sem registro.
Conforme Machado (2008)
O Decreto 4.074/2002 estabelece o registro como condição da
produção, manipulação, importação, exportação, comercialização e utilização
dos agrotóxicos, seus componentes e afins no território nacional (MACHADO,
2008, p. 599).
A operação da ANVISA
8
vedou ainda a produção de cinco agrotóxicos da
empresa Iharabras S.A Indústria Química, integrante de um conglomerado japonês. A
ação constatou que os agrotóxicos Cercobin 700 WP, Cercobin 500 SC, Cerconil SC,
Tidy 700 WP e Nominee 400 eram produzidos com falsificação na fórmula.
Em razão dos esforços de alguns pesquisadores visando demonstrar os efeitos
prejudiciais dos agrotóxicos à saúde humana e ao ambiente, a ANVISA
9
suspendeu a
importação e o registro de novos produtos à base de Endosulfan, um inseticida
organoclorado, para tratamento nas culturas de algodão, cacau, café, cana-de-açúcar e
soja. Preocupada com os níveis de contaminação em nosso país, sua proibição se
estendeu também para o inseticida/acaricida, Acefato, com limite de uso até 31 de
outubro de 2013, apenas para algodão e soja. Além disso, a sua Ingestão Diária
Aceitável - IDA - foi reduzida, passando de 0,03 mg/Kg de peso corpóreo para 0,0008
mg/Kg. A normativa também se refere à proibição do uso de aplicações manuais ou por
meio de pulverizadores costais desses produtos, por serem de alta periculosidade.
Apesar destas graves restrições, as duas substâncias tiveram permissão de uso por um
período de 60 dias, durante o qual a ANVISA aceitou contribuições para as consultas
públicas abertas para uma revisão dos dados toxicológicos.
Grisolia (2005) explica que o Acefato é um inseticida organofosforado
7
Agrotóxicos: ANVISA apreende mais de 150 mil litros na Syngenta. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/10/27. Acesso em: 27 out. 2009.
8
ANVISA apreende 950 mil litros de agrotóxicos adulterados. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/08/18 Acesso em: 13 set. 2009.
9
ANVISA proíbe uso de agrotóxicos que contenham endosulfan e acefato. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/09/08. Acesso em: 08 set. 2009.
37
[...] amplamente utilizado na horticultura, na manutenção de jardins e
em diferentes culturas comerciais. Atua fosforilando e inibindo fortemente a
acetilcolinesterase. No entendimento da toxicologia do acefato, deve-se levar
em consideração o fato de que durante seu processo de degradação nos
insetos há conversão para metamidofós [...] (GRISOLIA, 2005, p. 197).
Com relação aos organoclorados, sabe-se que no Brasil, o DDT foi retirado do
mercado em duas etapas. Primeiramente, foi proibida a sua utilização na agricultura,
através da Portaria 329, de 02 de setembro de 1985 (BRASIL - ANVISA, 1985). A partir
de 1998, restringiu-se a sua utilização em campanhas de saúde pública.
A referida portaria proíbe
[...] em todo território nacional, a comercialização, o uso e a distribuição
dos produtos agrotóxicos organoclorados, destinados à agropecuária, dentre
outros: ALDRIN, BHC, CANFENOCLORADO (TOXAFENO), DDT,
DODECACLORO, ENDRIN, HEPTACLORO, LINDANI, ENDOSULFAN,
METOXICLORO, NOMACLORO, PENTACLOROFENOL, DICOFOL E
CLOROBENZILATO (BRASIL - ANVISA, 1985).
Segundo Machado (2008),
[...] a própria portaria abriu exceções à proibição mencionada. Durante a
tramitação do projeto de Lei sobre Agrotóxicos no Congresso Ncional houve a
tentativa de se abolir os organolorados do país. Entretanto, optou-se por uma
reavaliação desses produtos (MACHADO, 2008, p. 610).
Peres e Moreira (2007) relatam que
Apesar de proibidos mais de vinte anos, alguns agentes
organoclorados, como o DDT, ainda são utilizados na agricultura, inclusive na
região serrana do Estado do Rio de Janeiro, frutos de contrabando e comércio
ilegal (PERES; MOREIRA, 2007, p. 615).
Em comunicação recente
10
, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a
Lei n
o
11.936/09, que proíbe a fabricação, a importação, a exportação, a manutenção
em estoque, a comercialização e o uso de diclorofeniltricloetano - DDT-, no Brasil.
A ANVISA e a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde
manifestaram-se favoravelmente a esta Lei, devido ao DDT ser um agrotóxico
10
Lei proíbe agrotóxico DDT em todo o pais. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2009/05/21.
Acesso em: 21 maio 2009.
38
altamente persistente no ambiente e na cadeia alimentar, além de possuir
característricas carcinogências e de alteração endócrina.
Grisolia (2005) esclarece que
está bem documentado o efeito lesivo do DDT sobre a produção de
ovos em diferentes espécies de aves, por interferência com os hormônios
estrogênicos. No homem, tem-se tornado cada vez mais evidente a associação
entre a exposição ao DDT e o câncer de mama (GRISOLIA, 2005, p. 242).
Segundo a Lei n
o
11.936/09, todos os estoques de DDT deverão ser incinerados
em um prazo de 90 dias. Além disso, o governo deve realizar, em dois anos, estudo de
avaliação do impacto ambiental e sanitário, para controle dos efeitos causados pelo
DDT. A nova medida objetiva acabar com os produtos estocados de forma obsoleta e
tornará definitiva a proibição deste perigoso agrotóxico para todo e qualquer uso no
país.
2.1.1.3 Impacto dos agrotóxicos na saúde humana
2.1.1.3.1 Intoxicações por exposição e por ingestão
Grisolia (2005) observa que as intoxicações agudas causadas pelos inseticidas
organofosforados provocam paradas respiratórias, com risco de fatalidade. Aquelas que
não resultam em óbitos ocasionam “neuropatias com seqüelas de recuperação lenta e
incompleta” (Grisolia, 2005, p. 195).
Embora os números exatos de morbidade
11
e mortalidade não possam ser
determinados, há alguns anos foi estimado em três milhões de pessoas afetadas,
resultando em mais de 200.000 mortes anuais no mundo (WHO, 1990).
A Agência FAPESP (2006) divulgou os resultados de pesquisa realizada pelo
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas - SINITOX, coordenado pelo
Centro de Informação Científica e Tecnológica - CICT - que integra a Fundação Instituto
Osvaldo Cruz - FIOCRUZ -, no período compreendido entre 1993 e 2003. No Brasil, de
acordo com a citada pesquisa, o envenenamento por agrotóxicos em 1993 apresentou
seis mil ocorrências, sendo 161 os casos fatais. Em 2003, houve 14 mil eventos e 238
mortes. Segundo a FIOCRUZ (2007), os 404 óbitos registrados em 2004 referiram-se
11
Refere-se às intoxicações devido às exposições prolongadas que resultam em doenças/sintomas que
se manifestam a longo-prazo.
39
aos principais agentes tóxicos, sendo 38,4% deles ocasionados por agrotóxicos de uso
agrícola. Em 2005, os óbitos elevaram-se para 456. No total, agrotóxicos de uso
agrícola foram responsáveis por 5.577 notificações e pelo maior índice de mortalidade -
33% das mortes registradas (AGÊNCIA FAPESP, 2007).
É provável que esses números estejam subestimando as intoxicações ocorridas,
que os casos registrados geralmente referem-se às intoxicações agudas, com
sintomas imediatos, enquanto as intoxicações crônicas manifestam-se a longo-prazo e
podem não ser notificadas.
Segundo estimativas do Ministério da Saúde (MS) ocorrem anualmente no Brasil
mais de 400.000 contaminações de pessoas por agrotóxicos. Esse número é o
resultado das notificações - aproximadamente 8.000 em 2002 -, multiplicadas por 50, o
fator de correção usado pelo MS para dimensionar todos os casos não relatados
(PERES et al., 2005).
Na matéria jornalística: “Agrotóxicos têm alta letalidade”, Lovati (2007) cita as
abordagens da pesquisadora Rosani Bochner relativas aos episódios de intoxicação
que ocorrem no Brasil. A especialista relata que os registros realizados pelo SINITOX
não retratam a realidade, devido não somente à insuficiência do número de centros
informativos de intoxicações, mas também por serem as notificações espontâneas e
nem sempre efetuadas. Segundo Lovati (2007), Rosani Bochner comenta sobre a
letalidade dos quatro tipos de agrotóxicos. Os de uso agrícola são os mais agressivos,
provocando a morte em 2,8% dos casos; os de uso doméstico causam 0,44% de
vítimas; os produtos veterinários e os raticidas ocasionam a morte em 0,9% e 1,5% dos
eventos, respectivamente. Tais agrotóxicos apresentam diferenças em seus perfis de
intoxicação. Os de uso agrícola são responsáveis por 7,1% das ocorrências, as quais
se devem, principalmente a tentativas de suicídio. As vítimas, em grande parte, são
homens, com idades entre 20 a 39 anos, que trabalham na zona rural. os de uso
doméstico, que compreendem 3,4% dos episódios, atingem acidentalmente mais as
mulheres e crianças de um a quatro anos, na zona urbana. Os produtos veterinários
são os menos expressivos - 1,2% -, a maior parte das vítimas pertence ao sexo
masculino e as ocorrências são acidentais, na zona rural. Os raticidas, por sua vez,
estão em segundo lugar no ranking entre os agrotóxicos de maior periculosidade,
40
abarcando 5,5% das intoxicações. Suas principais vítimas são crianças de um a quatro
anos, em eventos acidentais, e jovens entre 15 e 19 anos, em tentativas de suicídios,
onde o meio urbano registra a maior freqüência (LOVATI, 2007, p. 46-47).
Segundo Silva et al. (2005) “todo agrotóxico é classificado pelo menos quanto a
três aspectos, ou seja: quanto aos tipos de organismos que controlam, quanto à
toxicidade da(s) substância(s) e quanto ao grupo químico ao qual pertencem” (SILVA et
al., 2005, p. 9). Conhecer a classificação toxicológica dos agrotóxicos é um fator que
deve ser considerado, uma vez que ela provê informações sobre o potencial tóxico do
produto, ainda que parcialmente, que as condições de uso, entre outros aspectos,
podem modificar a toxicidade de cada um deles.
Além disso, para Garcia, Bussacos e Fischer (2005), a classificação toxicológica
no Brasil
[...] tem servido basicamente apenas para definir a comunicação de
riscos na rotulagem. Tendo em vista que o emprego de agrotóxicos deveria
se dar sob condições bastante controladas, especialmente os de maior
periculosidade, é preciso dar o devido valor à finalidade precípua da
classificação toxicológica. Isso significa permitir a definição legal das
implicações de ordem técnica, administrativa e econômica correspondentes a
cada Classe Toxicológica (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005, p. 834).
A crítica desses pesquisadores se refere à banalidade desta classificação, uma
vez que ela não influencia nas restrições de uso dos agrotóxicos de maior
periculosidade, conforme recomendado por algumas organizações internacionais, como
a Organização Mundial de Saúde - OMS -, a Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura - FAO - e a Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos - EPA.
Garcia, Bussacos e Fischer (2005) fazem a seguinte reflexão:
[...] Afinal, de que serve classificar toxicologicamente os agrotóxicos se
isso não implica qualquer tipo de controle? Que diferença faz um produto ser
Classe I ou Classe IV se eles podem ser recomendados, comercializados e
utilizados da mesma forma e para qualquer usuário? Não se leva em
consideração que os produtos mais perigosos requerem mais conhecimento e
capacidade técnica além de melhor estrutura tecnológica para seu emprego.
Classificar um agrotóxico segundo sua periculosidade possibilita uma rotulagem
adequada, com informações necessárias para alertar o usuário sobre os riscos
na sua utilização e os meios para controlá-los. Mas também deveria servir como
parâmetro para a definição de medidas de controle e de gerenciamento de
riscos (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005, p. 838).
41
Esses pesquisadores recomendam restringir a comercialização dos agrotóxicos
mais perigosos, controlar o seu uso, bem como definir taxas e preços. No entanto,
essas medidas não vêm sendo adotadas, o que contribui para o incremento das
intoxicações no Brasil.
Conforme relatam Silva et al. (2005), as principais exposições aos agrotóxicos
ocorrem nos seguintes setores: agropecuário, saúde pública, empresas
desinsetizadoras, transporte, comercialização e produção desses produtos. Além da
exposição ocupacional dos agricultores, a contaminação alimentar e ambiental coloca
outros grupos em situação de risco de intoxicação. Salientam-se as famílias dos
trabalhadores, a população circunvizinha a uma unidade produtiva e o público em geral,
que se alimenta do que é produzido no campo (SILVA et al., 2005, p. 7).
De acordo com o Programa Internacional de Segurança Química - IPCS -,
aproximadamente um milhão de pessoas suicidaram-se no ano de 2000 e
possivelmente um quarto dessas mortes procedeu da ingestão de produtos químicos.
Nos países do Sul, os agrotóxicos são frequentemente usados com essa finalidade
(WHO, 2010).
Falk et al. (1995) apontam a problemática de suicídios como particularmente
séria em Venâncio Aires, RS, um município eminentemente agrícola, cuja economia
provém, basicamente, de dois produtos: fumo (tabaco) e erva-mate.
A cultura do fumo é produzida artesanalmente, em pequenas propriedades
familiares, porém, em uma condição onde o trabalho vale muito pouco mas o produto é
bastante valorizado. Os agricultores e suas famílias são submetidos ao pacote
tecnológico da obrigatoriedade do crédito, dos insumos - fertilizantes e agrotóxicos -,
dos interesses comerciais e manipulações, atrelando-os a uma total dependência das
multinacionais (FALK et al., 1995, p. 245).
Os autores explicam que:
[...] a cultura do fumo repete-se, como num ritual, ano após ano. No
mês de abril, usam fertilizantes (não isentos de toxicidade), em preparação ao
plantio. Nos meses de maio e junho, inicia-se o preparo da sementeira com o
uso de Brometo de Metila para a esterilização do solo [...] Usa-se, também, um
42
herbicida, um inseticida e aplica-se fungicidas (de contato ou sistêmico)
12
, de
cinco a seis vezes (FALK et al., 1995, p. 245).
Segundo informações fornecidas por Pinheiro (1995), o Brometo de Metila foi
banido da agricultura do mundo por destruir a camada de Ozônio.
Grisolia (2005) também ressalta as contribuições negativas do uso deste
fumigante para as condições climáticas globais e relata que
O fato de ser um gás incolor e inodoro e um veneno letal provoca sérias
conseqüências adversas ao homem, dentre elas o desenvolvimento de
cataratas e suspeita de melanoma. Não existe antídoto conhecido para
reversão dos casos de intoxicações (GRISOLIA, 2005, p. 290).
Falk et al. (1995) revelam que as aplicações de agrotóxicos no fumo continuam
até o final do ciclo da cultura e conforme as condições climáticas, o usados até 100
quilogramas de venenos por hectare de tabaco. Além disso, a colheita é efetuada
massivamente através de mão-de-obra infantil, o que obrigou a mudança no calendário
escolar da região produtora do fumo. Completando as posturas degradantes de
exploração, escravidão e criminal, os recursos das primeiras vendas do tabaco são
prioritariamente para os bancos credores (FALK et al., 1995, p. 245)
Embora algumas hipóteses sejam apontadas como possíveis causas da
existência de problemas de saúde mental e de suicídios em Venâncio Aires, um
consenso que esse fenômeno predomina na área rural devido à utilização dos
agrotóxicos organofosforados na fumicultura.
Um fator que se apresenta concretamente, dentre os demais, é o uso
de agrotóxicos organofosforados no cultivo do tabaco. Aplicado, via de regra,
em quantidades excessivas e sem equipamento de proteção individual, os
resíduos são absorvidos através da respiração, pele, cabelos, sendo conhecido
o fato desses agrotóxicos poderem causar síndromes cerebrais orgânicas ou
doenças mentais de origem não psicológica” (FALK et al., 1995, p. 248).
Conforme relatam os autores, o uso de agrotóxicos internacionalmente proibidos
é responsável pelos numerosos casos epidemiológicos de intoxicações e mortes de
agricultores e de suas famílias na cultura do fumo, tanto no município de Venâncio Aires
12
Produtos sistêmicos são aqueles que possuem capacidade de penetrar e de se translocar no interior da
planta através das seivas bruta e elaborada.
43
e região, como em outros estados brasileiros, como em Alagoas, na cidade de
Arapiraca, e na Bahia, no município de Governador Mangabeira.
Além das sequelas provocadas pelo uso desses produtos, os fumicultores das
regiões produtoras têm, ainda, que conviver com certas situações impostas por tais
indústrias. Um caso exemplar é o experimento com uma variedade transgênica de
tabaco, que foi proibido pelo Congresso dos EUA por ferir critérios éticos devido à
manipulação da nicotina. O governo americano move ação contra esta empresa por
utilizar o tabaco produzido nesta variedade contendo o dobro de nicotina para a
fabricação de cigarros (FALK et al., 1995, p. 248).
Esse exemplo é mais um caso de exploração social e criminal dos países do
Norte em relação aos periféricos.
Como pontuam Falk et al. 1995)
Além de viciante, a nicotina penetra pelos cabelos e pele atuando como
imunodepressora sobre o organismo de quem a manuseia. Nesta realidade de
servidão, agricultores e natureza o cobaias de mais um experimento sem
ética ou moral que nenhum país com governo sério autorizaria (FALK et al.,
1995, p. 249).
Cabe salientar que as indústrias do fumo dominam todas as técnicas para a
produção de tabaco, inclusive as relacionadas à agroecologia, bem como o plantio de
fumo sem agrotóxicos. Entretanto, estas técnicas não são permitidas, pois romperiam
com a dependência dos agricultores dos pesados empréstimos bancários impostos
pelas transnacionais (FALK et al., 1995, p. 249).
Arguido a respeito da atual situação da fumicultura nos municípios
supramencionados, o pesquisador Sebastião Pinheiro esclarece que
Não houve melhoras substanciais ou mudanças; tudo continua como
antes, apesar de um grupo de médicos ter gasto uma fortuna em uma pesquisa
financiada pelo CNPq e não ter chegado a conclusão. As intoxicações
continuam ocorrendo porque as empresas lucram com as vendas
(PINHEIRO)
13
.
13
PINHEIRO, S. Mensagem recebida por m[email protected].br em 22 nov 2009.
44
O suicídio também foi tema de um estudo desenvolvido por Pires, Caldas e
Recena (2005b) objetivando avaliar a sua prevalência e as reações provocadas pelas
exposições aos agrotóxicos de uso agrícola no Estado de Mato Grosso do Sul, no
período compreendido entre janeiro de 1992 a dezembro de 2002. Os resultados
mostraram que a microrregião de Dourados é uma das mais críticas, indicando uma
relação direta entre a exposição dos trabalhadores rurais aos agrotóxicos e a sua
ingestão intencional.
Em outro trabalho, esses autores relataram que entre os inseticidas responsáveis
pelas intoxicações destacaram-se os organofosforados e os carbamatos, nas
proporções de 34,3% e 26,0%, respectivamente. Em terceiro lugar no ranking de
periculosidade salientaram-se os piretróides, com riscos avaliados em 6,8%. Os
organofosforados foram os mais utilizados nas tentativas de suicídio, respondendo pelo
maior número de óbitos. Entre esses produtos, os ingredientes ativos monocrotofós e
metamidofós representaram, em média, 46,0% e 29,0% das intoxicações e tentativas
de suicídio, respectivamente (PIRES; CALDAS; RECENA, 2005a, p. 808).
Os organofosforados também foram incluídos no estudo realizado por Araújo et
al. (2007) visando conhecer os aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais da
exposição múltipla a diferentes agrotóxicos. A metodologia consistiu de entrevistas
realizadas em uma amostra constituída de 102 pequenos agricultores de ambos os
sexos. Os autores verificaram que o uso simultâneo de associações de produtos
pertencentes aos grupos dos organofosforados, piretróides, herbicidas e fungicidas
revelou-se uma prática comum no cultivo das hortaliças na comunidade rural do
Córrego de São Lourenço, em Nova Friburgo, RJ.
Os pesquisadores envolvidos nessa pesquisa mostraram que
Os agricultores aplicavam pesticidas na mediana, duas vezes por
semana sendo três horas por cada aplicação; em alguns casos, houve relato de
até 24 horas semanal de contato direto com agrotóxicos. Os intervalos de
reaplicação não eram respeitados quando do surgimento de sintomas agudos
ou subagudos de intoxicação por determinada substância. Em geral, as
aplicações eram feitas semanalmente, para a maioria dos cultivos, na forma de
coquetel com dois até quatro princípios ativos. Este ciclo favorece a ocorrência
de sobre-exposição e os efeitos dela decorrentes, especialmente no que diz
respeito à classe dos organofosforados (ARAÚJO et al., 2007, p. 25).
45
Os resultados dos exames toxicológicos revelaram intoxicações agudas leves a
moderadas causadas por tais inseticidas, cuja sintomatologia foi descrita pelos
agricultores ou observada durante o exame clínico. Ainda, diagnosticaram-se quadros
de neuropatia tardia, síndrome neurocomportamental e distúrbios neuropsiquiátricos
associados ao uso crônico de agrotóxicos (ARAÚJO et al., 2007, p. 2).
Os cientistas ressaltaram que as intoxicações dos agricultores rurais, na maioria
das vezes, não o notificadas, o que dificulta a proposta de soluções para reduzir ou
erradicar as contaminações no campo. Além disso, o uso intensivo de agrotóxicos para
a produção de frutas e hortaliças coloca em risco a saúde dos consumidores, devido à
permanência de seus resíduos. Concluem que deve ser prioritária a produção de
alimentos saudáveis, através da adoção de práticas de proteção ao ambiente e de
sustentabilidade, bem como de incentivo à agricultura orgânica. Tal postura
fundamenta-se na libertação em relação aos agrotóxicos objetivando mudar este
quadro de envenenamentos no país (ARAÚJO et al., 2007, p. 25).
Estudos desenvolvidos por Delgado e Paumgartten (2004), no município de Paty
do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro, mostraram que grande parte da população
trabalha na área rural, em regiões produtoras de tomate e outras olerícolas, onde os
agrotóxicos ocupam lugar de destaque no controle de doenças e pragas. Integrando um
estudo mais amplo sobre as consequências do uso desses produtos à saúde, 55
agricultores foram entrevistados quanto aos aspectos referentes à sua utilização,
equipamentos de proteção e medidas de higiene, ocorrência de intoxicações, destino
das embalagens vazias, assim como as orientações cnicas recebidas pelos
aplicadores.
Os pesquisadores evidenciaram que
Particularmente preocupante é o uso freqüente dos inseticidas
organofosforados metamidofós e vamidotion (classes toxicológicas I e II), que
estes compostos são bem absorvidos por via dérmica, e 92% dos lavradores
relataram que não usam qualquer tipo de equipamento de proteção individual
quando preparam e aplicam pesticidas (DELGADO; PAUMGARTTEN, 2004, p.
12).
Segundo os autores, os inseticidas organofosforados, extremamente tóxicos,
pertencentes à classe toxicológica I, foram identificados pelos agricultores em mais da
46
metade dos episódios, em situações específicas, quando “passavam mal” (DELGADO;
PAUMGARTTEN, 2004, p. 13).
Castro (2006) comenta sobre a possibilidade dos efeitos interativos dos
compostos químicos serem sinérgicos
14
, cuja toxicidade pode ser causada até mesmo
quando suas concentrações individuais estão abaixo dos valores considerados
prejudiciais aos organismos. Apesar do conhecimento do fenômeno das interações
químicas, os estudos que privilegiam a observação dos efeitos decorrentes da
exposição a duas ou mais substâncias carecem de mais informações.
Um grande desafio nas pesquisas dos efeitos potenciais de tais misturas é o
desenvolvimento de modelos toxicocinéticos, em especial em recém-nascidos, uma vez
que suas vias metabólicas não estão totalmente desenvolvidas. Assim, crianças de a
dois anos de idade são particularmente vulneráveis aos inseticidas organofosforados
(CASTRO, 2006, p. 3).
Desta forma, não é difícil supor que possam ocorrer, por exemplo,
prejuízos devido a fatores de risco durante o desenvolvimento do organismo,
seja por exposição direta seja através da exposição materna a vários produtos
simultaneamente (CASTRO, 2006, p. 3).
A exposição simultânea ou sequencial a vários produtos com diferentes
formulações e em diferentes magnitudes pode, segundo a pesquisadora, dificultar a
análise dos riscos de danos à saúde. Assim, Castro (2006) sugere que para uma
avaliação criteriosa sobre a toxicidade de misturas constituídas de produtos químicos
de impacto à saúde pública são necessários testes toxicológicos in vitro e in vivo.
A autora sugere ainda que
Uma abordagem adequada seria testar os componentes da mistura e
suas proporções relativas de forma a refletir aquelas observadas em amostras
ambientais. Caso não seja possível, uma outra abordagem seria a avaliação
dos componentes nos níveis máximos ambientalmente permitidos pela
legislação (CASTRO, 2006, p. 3).
De acordo com Silva et al. (2005), a maior parte dos estudos envolvendo os
agrotóxicos não considera as possíveis interações que
14
Denomina-se sinergismo àquelas misturas constituídas por dois ou mais elementos ou princípios
ativos, passíveis de causarem efeitos maiores do que os apresentados pela somatória de cada um deles,
individualmente.
47
[...] os diversos compostos químicos podem estabelecer entre si e
sistemas biológicos orgânicos, sendo que essa interação pode até mesmo
modificar o comportamento tóxico de um determinado produto, acarretando
efeitos diversos sobre a saúde do grupo de trabalhadores expostos (SILVA et
al., 2005, p. 10).
Os autores mostram que a exposição combinada a várias substâncias químicas
pode causar três tipos de efeitos na saúde humana: independentes, sinérgicos - aditivos
ou potencializados - e antagônicos.
Apesar de ainda pouco estudada, alguns trabalhos demonstram que a
resposta do organismo humano diante das exposições laborais combinadas
pode ser influenciada por algumas características pessoais, tais como
tabagismo, alcoolismo e o estado nutricional (SILVA et al., 2005, p. 10).
Além disso, eles concordam que as substâncias químicas acrescidas de
temperaturas elevadas e esforço laboral são relevantes para a ocorrência de
intoxicações.
O uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil, assim como em outros países
periféricos, resulta em níveis severos de poluição ambiental e intoxicações humanas,
uma vez que grande parte dos trabalhadores rurais desconhece os riscos a que se
expõem e negligenciam as Normas Regulamentadoras - NR 31, principalmente os itens
referentes aos agrotóxicos - NR 31.8 -, sobre as exigências de segurança no trabalho.
De acordo com Peres, Moreira e Cláudio (2007), pesquisas desenvolvidas sobre
essa temática registram índices de intoxicação que variam de 3% a 23% nas
populações estudadas.
Se aplicarmos o menor percentual encontrado (3%) ao número de
trabalhadores rurais registrados no país - aproximadamente 18 milhões, dados
de 1996 - o número aproximado de indivíduos contaminados por agrotóxicos no
desenvolvimento de atividades de trabalho no país seria de 540.000
trabalhadores ano, com 4.000 mortes (PERES; MOREIRA; CLAUDIO, 2007, p.
4).
Segundo esses pesquisadores, as inter-relações que atuam como fatores
determinantes no incremento ou na redução de tais impactos são descritos a seguir: 1)
o baixo índice de escolaridade; 2) a falta de uma política de
acompanhamento/aconselhamento técnico mais eficiente; 3) as práticas exploratórias
48
de propaganda e venda por parte das indústrias produtoras e centros distribuidores de
agrotóxicos; 4) o desconhecimento de técnicas alternativas e eficientes de cultivo; 5) a
utilização/exposição continuada aos agrotóxicos; 6) o teor eminentemente cnico do
material informativo disponível às populações rurais; 7) ausência de iniciativas
governamentais eficientes para prover assistência técnica continuada aos trabalhadores
rurais e 8) a falta de estratégias governamentais eficientes para o controle da venda de
agrotóxicos.
2.1.1.3.2 Doenças crônicas e malformações
Com relação aos riscos à saúde humana devidos à ingestão de resíduos de
agrotóxicos em alimentos, Caldas e Souza (2000) esclarecem que
O estudo de avaliação de risco crônico da ingestão de pesticidas é o
processo no qual a exposição humana a um dado composto por meio de dieta é
comparada a um parâmetro toxicologicamente seguro (CALDAS; SOUZA, 2000,
p. 530).
Os autores explicam que segundo informações da Associação Nacional de
Defesa Vegetal - ANDEF - “a legislação brasileira não prevê estudos de avaliação de
risco no processo de registro. Também é desconhecido no Brasil o risco para a saúde
com a ingestão de pesticidas por meio de dieta” (CALDAS; SOUZA, 2000, p. 530).
No entanto, Santos et al. (2006) preocupados com os resíduos de agrotóxicos
em gêneros alimentícios, realizaram análises em queijos dos tipos “colonial” e
“industrializado” produzidos no Estado do Rio Grande do Sul, objetivando verificar os
níveis de inseticidas organoclorados. Embora proibidos no Brasil, esses compostos
ainda são encontrados no ambiente devido à sua elevada persistência. Os autores
concluíram que poucas amostras estavam acima dos LMR permitidos pela legislação.
Embora a conscientização sobre a presença de tais resíduos em alimentos seja
ainda incipiente, a sociedade vem, atualmente, manifestando certa preocupação por
conta de algumas informações disponíveis na mídia. O estado de alerta não é sem
motivo, uma vez que o seu consumo em doses elevadas pode provocar intoxicação
aguda e sua ingestão diária, em pequenas doses, por longos períodos, pode predispor
o indivíduo ao desenvolvimento de doenças crônicas.
49
Em resposta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA -, do
Ministério da Saúde - MS -, iniciou em 2001 um projeto visando verificar a sua presença
em alimentos. O Projeto foi consolidado no Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos - PARA -, em 2003, objetivando o seu monitoramento. Os
estudos realizados em 6.123 amostras de frutas e hortaliças “in natura”, analisadas no
período compreendido entre os anos de 2001 a 2006, mostraram que o morango e a
alface foram as culturas com os maiores índices de irregularidades. O relatório conclui
que esses altos níveis de resíduos encontrados não se devem à forma de aplicação do
produto na cultura, mas ao uso indiscriminado de agrotóxicos não autorizados (BRASIL
- MS, PARA, 2007).
O fato de o Brasil ter sido classificado como maior consumidor de agrotóxicos em
2008 demonstra o poder das corporações sobre as atuações governamentais. As
consequências nos seres humanos relacionadas às intoxicações agudas e várias
doenças crônicas mostram a gravidade desta situação. Os diversos cânceres assumem
especial relevância no Brasil, principalmente pelo quadro relatado em 2008, que
resultou em 546.009 internações hospitalares custeadas pelo Sistema Único de Saúde -
SUS. Além disso, no período compreendido entre 2002 e 2006, as neoplasias figuraram
entre as cinco principais causas de óbitos ocorridas no país, sendo a maior em
mulheres entre 30 e 49 anos e a segunda de pessoas com mais de 50 anos de idade.
Os números mais elevados de óbitos por neoplasias contemplam os Estados do RS,
SC, PR, SP e DF (HESS, 2009).
A autora explica que no meio científico, incrementam-se os estudos que
evidenciam a contaminação ambiental devido a produtos químicos perigosos no
desencadeamento de enfermidades, os quais possibilitaram estabelecer nexos causais,
relacionando-se algumas delas: alterações endócrinas (OLIVEIRA-FILHO, E. C;
GRISOLIA, C. K.; PAUMGARTTEN, J. R., 2009 e ROBIN, 2008, p.100-103), desordens
sanguíneas (LANDGREN et al., 2009), problemas reprodutivos (ROBIN, 2008, p. 100-
103 e OLIVEIRA-FILHO, E.C; GRISOLIA, C.K.; PAUMGARTTEN, J.R., 2009),
neuropatias, distúrbios respiratórios, gastrointestinais e endócrinos (FARIA, 2009),
malformações fetais (ROBIN, 2008, p.100-103), Mal de Parkinson (RITZ et al., 2009) e
câncer no pâncreas (ANDREOTTI et al., 2008).
50
De acordo com Cortez (2009b), o Mal de Parkinson é a segunda moléstia
neurodegenerativa mais freqüente, atrás apenas da Doença de Alzheimer. Pesquisas
recentes identificam fatores de risco, principalmente a associação entre o ambiente e a
suscetibilidade genética. Outros estudos verificaram que a exposição aos agrotóxicos
aumentava o risco de seu desenvolvimento.
Em outro relato de Cortez (2009c), pesquisadores descrevem a associação de
dois herbicidas no incremento do risco de câncer de pâncreas, tanto dos aplicadores
como dos cônjuges. Esse estudo é o primeiro a associar um tipo específico de câncer
aos herbicidas Pendimethalin e EPTC, embora ainda não tenham identificado o „gatilho‟
que inicia o processo de desenvolvimento desta enfermidade.
A associação entre os riscos de Mal de Parkinson e elevados níveis de
agrotóxicos no sangue de indivíduos foi estudada por Richardson et al. (2009). Os
pesquisadores avaliaram 16 inseticidas organoclorados, entre os quais o DDT. Os
resultados sugerem que β-hexaclorociclohexano - β-HCH está associado com a
diagnose da Doença de Parkinson. Embora o estudo aponte uma relação direta entre
este último agrotóxico e a moléstia, os pesquisadores acreditam que outros produtos
podem estar envolvidos.
Pignati (2010b) integra à lista das enfermidades supramencionadas as
depressões, surdez e degenerações neurológicas provocadas principalmente por
agrotóxicos. Tais doenças são difíceis de ser diagnosticadas e o negligenciadas
pelos serviços de saúde do país, citando, entre outros, o Sistema Único de Saúde -
SUS -, Serviços Especializados em Engenharia de Segurança em Medicina doTrabalho
- SESMT‟s - e Perícias, por não confirmarem as suas causas (PIGNATI, 2010b, p. 2).
Outra pesquisa de Pignati
15
verificou índices de abortos e formação de fetos
quatro vezes maiores que a média do Estado do Mato Grosso, cujos municípios são
produtores de soja e usam intensivamente os agrotóxicos.
Segundo Hess (2009), estudos relacionados à área da saúde humana mostram
que alguns produtos ainda de uso permitido no Brasil como os inseticidas Endosulfan e
Paration Metílico, além dos herbicidas Atrazina e Linurom, bem como o fungicida
Vinclozolin apresentam atividades carcinogênicas.
15
Agrotóxicos no seu estômago. Artigo de João Pedro Stédile. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/09/25. Acesso em: 25 set. 2009.
51
Os relatos sobre as doenças causadas pela exposição de seres humanos às
contaminações presentes nas adjacências da fábrica de agrotóxicos que pertenceram
às empresas Shell, Cyanamid e Basf
16
, na cada de 1970, foram divulgados há pouco
tempo. Conforme observado pelo Centro de Referência Regional em Saúde do
Trabalhador - CEREST -, de Campinas, 58,8% dos 17 casos de neoplasia tiveram
diagnósticos de malignidade, destacando-se os cânceres de próstata e os de tireóide,
bem como um caso de síndrome mielodisplásica em exames efetuados em uma
amostra constituída por 69 ex-trabalhadores. Quanto às enfermidades endócrinas,
67,9% foram dislipedimias somadas às doenças da glândula tireóide. Das 34 moléstias
circulatórias, 21 referiram-se às hipertensivas; das pertinentes ao trato digestivo
salientaram-se as do fígado, as diverticulares do cólon e uma metaplasia intestinal em
esôfago. Em 30 episódios houve predominância de Lesões por Esforços Repetitivos
(LER), enquanto que 56 ex-trabalhadores apresentaram problemas graves no aparelho
gênito-urinário, com afecções da próstata, alterações de fertilidade e impotência sexual.
Por conta desses diagnósticos a juíza da 2
a
Vara do Trabalho decretou o isolamento da
área e favoreceu a população que residia no local na época da ocorrência destas
contaminações, com exames laboratoriais e tratamento médico pagos pela Shell. No
entanto, essa matéria jornalística não aludiu aos princípios ativos bem como aos
produtos comerciais responsáveis pelas contaminações. É muito provavel tratar-se,
dentre outros, de organoclorados, uma vez que esse desastre ambiental data do final
dos anos 70, quando seu uso ainda era permitido no país. As empresas ainda deverão
cuidar de seus trabalhadores e das crianças nascidas após a exposição de seus pais
aos contaminantes.
Na realização dos trabalhos desenvolvidos por Gilles-Eric Séralini
17
foi mostrado
o efeito letal do glifosato, princípio ativo do produto formulado Roundup em células
humanas, embriões, placentas e cordão umbilical. Este produto, usado em soja
transgênica, ambos fabricados pela empresa Monsanto, apresentou uma relação direta
16
Justiça obriga Shell e Basf a pagar plano de saúde. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/01/16. Acesso em: 16 jan.2009.
17
Glifosato estimula a morte das células de embriões humanos. Entrevista com Gilles Eric Seralini
referência européia no estudo de agrotóxicos. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2009/06/25.
Acesso em: 25 jun. 2009.
52
com as malformações do esqueleto, abortos, problemas hormonais, genitais ou de
reprodução, além de cânceres diversos.
No entanto, segundo Robin (2008) desinteresse do governo para a realização
de pesquisas de reavaliação científica sobre a toxicidade dos produtos químicos.
Observa, no entanto, que sob o ponto de vista da saúde pública uma real urgência,
uma vez que se encontram no genoma dos fetos humanos várias substâncias xicas,
como, por exemplo, os hidrocarbonetos e as dioxinas (ROBIN, 2008, p. 102).
A autora declara que Gilles-Eric Séralini e colaboradores trabalharam com
células de rins de embriões cultivados em laboratórios objetivando verificar o efeito
tóxico do Roundup. Os resultados foram surpreendentes. As lulas morriam por
asfixia, mesmo usando doses inferiores àquelas utilizadas na agricultura. Em
concentrações mais diluídas, os efeitos foram demonstrados através do bloqueio da
produção de hormônios sexuais, responsáveis pela formação do esqueleto ou da
formação do seu futuro sistema de reprodução. A pesquisa mostrou que o Roundup,
além de exterminador de embriões, é também um perturbador endócrino (ROBIN, 2008,
p. 101-102).
Nas abordagens da autora, em que relata as comparações dos efeitos de
Roundup com os do glifosato efetuadas por Gilles-Eric Séralini e sua equipe,
constataram-se efeitos mais tóxicos para o Roundup, embora os testes para a
homologação do seu registro tenham sido realizados somente com o seu princípio ativo,
isto é, o glifosato.
Segundo Aranda (2009), Séralini reafirma o poder econômico das empresas
agroquímicas e lembra que as oito maiores corporações farmacêuticas correspondem
às de agrotóxicos e de transgênicos, entre as quais a Monsanto, que ocupa lugar
preponderante. Esclarece a necessidade da realização de testes com animais de
laboratório, durante dois anos, seguindo as normas preconizadas para os
medicamentos na Europa. Tais testes têm custos elevados e são efetuados apenas
pelas empresas, de comum acordo com o governo. No entanto, estes estudos deveriam
envolver as universidades públicas e seus resultados terem ampla divulgação para a
população.
53
Embora as pesquisas de Séralini, conforme Aranda (2009), demonstrem que
esses contaminantes presentes no ambiente contribuem para desencadear muitas
doenças e reduzir drasticamente a biodiversidade, entre outros efeitos, o lobby das
empresas é dominante e informações contraditórias são publicadas nos meios de
comunicação, desinformando o público e influenciando os governos.
Essas afirmações relativas à toxicidade dos principais contaminadores entram
em sintonia com as denúncias de centenas de organizações sociais, urbanas e rurais, e
de movimentos internacionais como o da Via Campesina, constituído por agricultores,
índios, trabalhadores rurais sem terra, entre outros movimentos, exigentes em
alimentos saudáveis e de qualidade de vida.
2.1.1.4 Impacto dos agrotóxicos nos ambientes físico e biológico
Corroborando com os efeitos nocivos à fauna relativos aos organoclorados, a
pesquisa “Ocorrência de compostos organoclorados (pesticidas e PCB) em mamíferos
marinhos da costa de São Paulo, Brasil e da Ilha Rei George (Antártica), Cortez
(2009d) descreve claramente que:
[...] os compostos organoclorados causam grande impacto na natureza
devido a três características básicas: persistência ambiental, bioacumulação e
alta toxicidade. Os mamíferos marinhos estão entre os organismos mais
vulneráveis à toxicidade crônica desses contaminantes porque, além de
concentrá-los em grande quantidade, a fêmea transfere parte de sua carga aos
filhotes durante a gestação e a lactação (CORTEZ, 2009d).
Um novo estudo, segundo o autor, informa que os poluentes orgânicos
persistentes - POPs - são identificados em fetos e placentas, mesmo após cinco anos
de seu total banimento na América do Norte.
Relatos de que os agrotóxicos e outros compostos químicos afetam biomas
muito distantes dos locais onde foram lançados é o tema de um estudo
18
desenvolvido
por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande, FURG. Essa pesquisa
constatou serem os elefantes marinhos que vivem na Antártica contaminados por
compostos químicos usados em países do hemisfério Sul os quais, por sua vez, os
18
Agrotóxicos absorvidos por elefantes marinhos da Antártica. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/04/16. Acesso em: 16 abr. 2009.
54
transmitem aos seus filhotes durante a gestação e a lactação. A exposição continuada
a esses produtos pode provocar diminuição da capacidade reprodutiva e deficiência
imunológica nesses animais, o que levaria à redução de sua população. Muitos dos
componentes encontrados são derivados dos inseticidas organoclorados, compostos de
uso doméstico e agrícola que foram banidos em diversos países, inclusive no Brasil.
No entanto, ainda são admitidos em campanhas de saúde pública, em caso sanitário
emergencial.
Segundo Peres e Moreira (2007) os inseticidas organoclorados “podem persistir
nos organismos e no ambiente por mais de trinta anos” (PERES; MOREIRA, 2007, p.
615).
De acordo com Grisolia (2005), os POPs são produtos e sub produtos da
atividade industrial, que se acumulam nos tecidos gordurosos dos indivíduos e devido à
sua elevada persistência no ambiente, podem ser encontrados após décadas de sua
liberação em diferentes regiões do planeta. A sua dispersão global é muito grande e
permite a sua migração das regiões quentes para as frias.
Paschoal (1978c) e (1979c) relata que os produtos clorados persistentes, como o
DDT e afins
[...] entram nas teias alimentares, acumulam-se e concentram-se a cada
nível trófico e, assim, atingem níveis fatais, principalmente para vertebrados
predadores, inclusive o homem. Os sistemas biológicos, ao contrário dos
sistemas físicos, tendem a concentrar produtos tóxicos persistentes
encontrados nos ambientes onde vivem, através de um mecanismo conhecido
por magnificação biológica. Assim é que, peixes, anfíbios, pteis, aves e
mamíferos que são predadores finais nas teias alimentares, podem apresentar
concentrações de DDT ou de outros tóxicos, de cerca de 10, 100, 1.000 ou
mesmo milhões de vezes maiores do que aquela das águas onde vivem ou
frequentam (PASCHOAL, 1978c, p. 5; 1979c, p. 4).
Paschoal (1979c) também explica que os organoclorados, entre eles o DDT e os
seus metabólitos, DDE e DDD, são os mais persistentes, ou seja, a
[...] magnificação biológica desses produtos nas cadeias alimentares,
quer aquáticas, quer terrestres, ocorre comumente na natureza, sendo a
principal maneira de contaminação para níveis tróficos mais elevados, inclusive
para o homem. Evidências indicam que dieldrin, heptacloro, clordane e toxafeno
também se magnificam nas cadeias alimentares (PASCHOAL, 1979c, p. 40).
55
Ao longo dos anos de uso continuado e intensificado de produtos químicos,
evidenciou-se uma realidade em que
Muitas espécies, principalmente de mamíferos, de aves e de peixes,
foram extintas e hoje centenas de outras acham-se em processo acelerado de
extinção, contribuindo significativamente para isso os agrotóxicos. Aqui mesmo
no Brasil, a “febre da soja” tem sido responsável por aplicações maciças de
biocidas, que ameaçam a existência de muitas espécies de vertebrados da
nossa fauna (PASCHOAL, 1978b, p. 5).
Paschoal (1979c) mostra que:
A morte de peixes, aves e mamíferos certamente ocasiona redução nas
populações desses vertebrados. Mas os efeitos subletais dos praguicidas
orgânicos parecem impor consequências mais drásticas na densidade
populacional, envolvendo redução do vigor, modificação do comportamento,
atraso no crescimento e diminuição da capacidade reprodutiva [...] Os
organoclorados têm sido responsabilizados pelo declínio de muitas espécies de
aves em todo o mundo, principalmente aquáticas e de rapina, por interferência
com os processos reprodutivos (PASCHOAL, 1979c, p. 52).
Conforme Grisolia (2005), as principais doenças causadas pelos POPs nos seres
vivos incluem:
Câncer e tumores em múltiplos órgãos; desordens reprodutivas;
distúrbios neurológicos; disfunções no sistema imune; interferência no
desenvolvimento de órgãos e sistemas; efeitos adversos sobre as adrenais, o
fígado e os rins; doenças cardíacas; doenças cérebro-vasculares;
malformações congênitas; alterações comportamentais como fadiga,
depressão, distúrbios de personalidade, tremores e convulsões; doenças
respiratórias; alterações endócrinas pela desregulação hormonal (GRISOLIA,
2005, p. 275-276).
O pesquisador informa que de acordo com a Agenda 21 e a Declaração da ECO-
Rio 92, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA - estabeleceu
uma convenção para controlar e eliminar progressivamente os POPs. Entre sua ações,
organizou uma lista contendo os 12 POPs de maior poder de contaminação e que são
lesivos ao homem e ao ambiente, na qual incluem-se nove agrotóxicos, dois
subprodutos de organoclorados e um produto químico industrial, (GRISOLIA, 2005, p.
276-277).
56
Os critérios para a incorporação de novos produtos nessa lista devem ser
baseados no princípio da precaução, segundo o qual medidas antecipatórias são
utilizadas mesmo quando a relação causa-efeito não esteja completamente
estabelecida. Ou seja, “havendo evidências do perigo ambiental e do perigo ao homem,
mesmo na ausência da certeza científica, adota-se o princípio” (GRISOLIA, 2005, p.
280).
Grisolia (2005) relata que os agrotóxicos incluídos na listagem dos POPs são:
DDT, Aldrin, Dieldrin, Endrin, Clordano, Heptacloro, Hexaclorobenzeno, Mirex e
Toxafeno; seus subprodutos químicos compreendem as Dioxinas e Furanos e o
produto industrial Bifenis Policlorados - PCBs (GRISOLIA, 2005, p. 276-277).
O autor revela que a lista inicial dos POPs continha quarenta produtos, mas que
a pressão da indústria reduziu-a para 12. Os produtos retirados eram, em sua maior
parte, agrotóxicos com forte ação ambiental, que não são produzidos pelos países
periféricos e conclui que o intenso lobby das grandes companhias químicas sobre as
delegações signatárias que compõe [m] o Tratado dos POPs surtiu seus efeitos”
(GRISOLIA, 2005, p. 281).
Segundo o cientista, os interesses comerciais dominam sobre a saúde humana.
O Brasil, que é signatário das Convenções Climáticas e da
Biodiversidade, que adotam esse princípio [da precaução] mostra o quanto o
poder da indústria influencia o governo. Os argumentos dos Estados Unidos, na
realidade, tentam remover obstáculos na Organização Internacional do
Comércio (OIC), no momento em que os governos dos países do Terceiro
Mundo juntam esforços para proteger seus povos e seus ambientes de práticas
agrícolas economicistas (GRISOLIA, 2005, p. 281).
Conforme Robin (2008), os Bifenis Policlorados - PCBs
[...] contaminaram o planeta inteiro, do Ártico à Antártida, e uma
exposição regular pode levar ao surgimento de cânceres, especialmente do
fígado, do pâncreas, dos intestinos, do seio, dos pulmões e do cérebro, à
doenças cardiovasculares, à hipertensão, ao diabetes, à redução das defesas
imunológicas, a disfunções da tireóide e dos hormonios sexuais, a problemas
de reprodução, assim como doenças neurológicas graves, pois certos PCBs
pertencem à família das dioxinas ( ROBIN, 2008, p. 43).
57
Robin (2008) também revela que os poderes públicos não encorajam os
laboratórios a realizar estudos que estabeleçam associações de causa e efeito (ROBIN,
2008, p. 103).
2.1.1.5 Sistemas de informação sobre as intoxicações causadas pelos agrotóxicos
existentes no Brasil
No Brasil, conforme Pignati (2010b), as informações relativas à morbidade e
mortalidade que abordam as intoxicações agudas e as crônicas causadas pelos
agrotóxicos aparecem registradas em pelo menos cinco Sistemas de Informação sobre
Saúde. No entanto, não uma forma comunicativa entre os mesmos, o que prejudica
o conhecimento da realidade da saúde pública e as abordagens políticas na tentativa de
melhorar essas questões. Tais sistemas versam sobre os seguintes serviços: Sistema
de Internação Hospitalar - SIH -, responsável pelos registros dos casos que necessitam
de internação hospitalar; SINITOX, envolvido com os registros de intoxicações que
passam pelos 35 Centros de Controle de Intoxicações existentes no país; Sistema de
Informações de Agravos de Notificação - SINAN -, que registra as diagnoses na rede
ambulatorial do Sistema Único de Saúde - SUS; Sistema de Informações de
Mortalidade - SIM -, a partir do qual é possível obter informações sobre óbitos
originados das intoxicações por agrotóxicos; Sistema de Comunicação de Acidente de
Trabalho - CAT -, que notifica o Instituto Nacional de Seguridade Nacional - INSS -
sobre as intoxicações dos trabalhadores devidamente registrados na Previdência
Social.
Todavia, o sistema de notificação em várias estruturas oficiais pode dificultar uma
efetiva vigilância sanitária dos indivíduos expostos de algum modo aos agrotóxicos.
Neste sentido, conforme Faria, Fassa e Facchini (2007) “sugere-se buscar uma
integração dos bancos de dados visando melhorar a vigilância e substituir as ações de
proteção às populações expostas aos agrotóxicos” (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007,
p. 16).
58
Pignati (2010b) relata que
O Ministério da Saúde está organizando uma notificação obrigatória
(única) de doenças relacionadas ao trabalho, independente do vínculo
empregatício do trabalhador, via SUS, aprovada pela Portaria MS n
0
777/2004
19
(PIGNATI, 2010b, p. 3).
A referida Portaria, publicada em 28 de abril de 2004
20
, torna obrigatória apenas
uma única notificação a fim de registrar as doenças associadas ao trabalho, as quais
são efetuadas através do SUS. Algumas enfermidades consideradas por esta Portaria
compreendem os cânceres, os efeitos prejudiciais à saúde provocados pela exposição
aos agrotóxicos, os transtornos mentais, entre outros, como agravos de saúde
passíveis de atendimentos. Esta medida objetiva ainda a realização dos procedimentos
a partir do primeiro atendimento até a notificação, além de recomendações e
parâmetros para seu diagnóstico, tratamento e prevenção.
Pignati (2010b) relata que as informações referentes às intoxicações agudas e
crônicas, em consequência do uso de agrotóxicos no país permitem classificar os
trabalhadores rurais como as primeiras vítimas, seguindo-se, em ordem decrescente,
suas famílias e a população local como segundas e terceiras vítimas, respectivamente
(PIGNATI, 2010b, p. 3).
Outro dado que indica o quanto o Brasil é desprovido de proteção e controle dos
agrotóxicos, de acordo com Pignati (2010b), versa sobre a sua comercialização no país,
cuja fonte é proveniente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa
Agrícola - SINDAG. Entretanto, dificuldade de acesso às informações das vendas
anuais, embora a Lei dos Agrotóxicos, n
0
7.802/89 exija pareceres elaborados pelos
formuladores e importadores das quantidades e qualidades vendidas e seu posterior
envio ao MAPA a cada seis meses. Esse fato obriga as revendedoras a prover as
segundas vias dos Receituários Agronômicos às Secretarias de Agricultura Estaduais
(PIGNATI, 2010b, p. 3).
19
Protocolos de Atenção à Saúde do Trabalhador. Disponível em:
http://portl.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=24565. Acesso em: 06 mar.
2010.
20
Legislação: Portaria 777/2004. Disponível em:
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/GM/GM-777.htm.
Acesso em: 06 mar. 2010.
59
Segundo o Censo Agropecuário, realizado em 2006 e divulgado no mês de
outubro de 2009, houve pelo menos 25.008 casos de intoxicação, índice 300% superior
aos oficiais. O SINITOX registrou, em 2006, apenas 6.297 intoxicações e em 2007
houve 6.260 notificações e 209 mortes causadas por agrotóxicos.
O consumo destes produtos cresceu 255% desde 2002 e os casos captados pelo
Censo relatam apenas as intoxicações agudas, quando o agricultor chega ao hospital
com vômitos, diarréias e tonturas. Informações provenientes do Censo Agropecuário
relatam que “os dados oficiais brasileiros não retratam a realidade do país. São
insuficientes, parciais, fragmentados, desarticulados e dispersos em várias fontes”
21
.
Segundo dados do IBGE, referentes ao Censo Agropecuário de 2006, na maior
parte das propriedades, o responsável pelas orientações das aplicações de agrotóxicos
possui apenas o ensino fundamental incompleto ou é analfabeto, o que potencializa os
riscos de intoxicação.
Para usar os agrotóxicos o produtor tem que ler a bula com as
orientações de uso. Se ele tem baixo nível de escolaridade, às vezes nenhuma
escolaridade, isso vai dificultar bastante a utilização conforme o fabricante
determina o que aumenta muito o potencial de intoxicação
22
.
De acordo com Rigotto (2009), a grande maioria dos produtores rurais é
analfabeta ou sabe ler e escrever mas não freqüentou a escola (39%), ou não possui o
ensino fundamental completo (43%). Tais informações totalizam mais de 80% de
produtores rurais com níveis inferiores de escolaridade. No entanto, a baixa
escolaridade não significa pouco conhecimento, que o saber popular é extenso e
fecundo no meio rural. Mas, em relação aos agrotóxicos, os trabalhadores sentem-se
inseguros, pois se trata de uma problemática criada pela civilização ocidental urbano-
industrial.
Conforme Faria; Fassa e Facchini (2007), o nível de escolaridade indica a
condição social do indivíduo, que, por sua vez, provê acesso a uma melhor situação de
saúde protegendo-o, dessa forma, dos riscos de intoxicações causados pelos
agrotóxicos.
21
Censo agropecuário constatou 25 mil casos de intoxicação de agricultores. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/10/26. Acesso em: 26 out. 2009.
22
Censo agropecuário 2006: quase 80% de proprietários rurais usam agrotóxicos. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/10/01. Acesso em: 01 out. 2009.
60
Leitão (2009b) relata que o uso de agrotóxicos nas propriedades rurais
brasileiras é mais comum em unidades dirigidas pelos proprietários, nas quais a
utilização do pulverizador costal é o equipamento com maior potencial de risco. Em
mais da metade dessas áreas os responsáveis pelas aplicações de agrotóxicos não
receberam orientação técnica do governo, cooperativas ou da iniciativa privada.
Receber orientação técnica é fundamental não apenas para reduzir o uso desses
produtos, mas principalmente para diminuir os impactos à saúde e ao ambiente. Tal
orientação pode incentivar os produtores a adotarem técnicas alternativas, como, por
exemplo, a agricultura orgânica.
2.1.1.6 Alternativas ao uso de agrotóxicos
2.1.1.6.1 Agricultura orgânica
Nos últimos tempos, vários agricultores começaram a pensar em um modo de
produzir alimentos e de criar animais sem prejudicar a saúde e o ambiente. Para tanto,
resgataram “princípios e técnicas antigas, aliadas às inovações tecnológicas de baixo
impacto ambiental e aos valores éticos e filosóficos” (FONSECA; CARRANO, 2006, p.
5).
Agricultores e técnicos começaram então a produzir alimentos sem a
utilização de insumos sintéticos e de agrotóxicos, respeitando o princípio da
biodiversidade, buscando sempre utilizar os resíduos orgânicos da propriedade
rural ou da sua localidade (restos de cultura, esterco de animais, palhadas,
sobras de produção, entre outros) e resíduos agroindustriais (FONSECA;
CARRANO, 2006, p. 5).
Assim, em busca de melhor qualidade de vida os consumidores começaram a se
preocupar com a forma da produção dos alimentos, com a proteção do ambiente e com
os direitos dos agricultores e trabalhadores rurais, sempre pensando em uma
alimentação saudável (FONSECA; CARRANO, 2006).
Conforme os autores, a prática da agricultura orgânica tem por finalidade a
conservação do ambiente, a saúde dos trabalhadores, bem como dos consumidores e a
oferta de produtos e serviços a preço justo.
61
A agricultura orgânica é definida como o manejo agropecuário, florestal
e do extrativismo que se utiliza da água limpa, dispensa o uso de adubos
químicos, agrotóxicos ou de medicamentos veterinários de natureza sintética.
Ela busca desenvolver um sistema ecologicamente equilibrado, socialmente
justo e economicamente viável (FONSECA; CARRANO, 2006, p. 7).
De acordo com Paschoal (1994) a agricultura orgânica
[...] é freqüentemente entendida como a agricultura que não faz uso de
produtos químicos. Também há a falsa crença de que ela representa retrocesso
à práticas antieconômicas de décadas passadas e à produção de subsistência
de pequena escala, usando métodos agronômicos superados. A realidade,
porém, é outra. Embora os agricultores não convencionais não usem
agrotóxicos sintéticos, fertilizantes solúveis, hormônios, sulfas, aditivos e outros
produtos químicos, e utilizem várias práticas que foram eficientes no passado, o
conceito é muito mais amplo do que isso. Os métodos alternativos de
agricultura são métodos modernos, desenvolvidos em sofisticado e complexo
sistema de técnicas agronômicas, cujo objetivo principal não é a exploração
econômica imediatista e inconsequente, mas sim, a exploração econômica por
longo prazo, mantendo o agroecossistema estável e auto-sustentável. Leis e
princípios ecológicos e de conservação de recursos naturais são, assim, parte
integrante destes métodos. As questões são prioritárias, procurando-se
preservar métodos agrícolas tradicionais apropriados, ou aperfeiçoá-los
(PASCHOAL, 1994, p. 28).
Para Tarcísio Pinheiro
23
, a abordagem dos agrotóxicos não é eminentemente
médica, mas relaciona-se com os economistas, sociólogos, engenheiros agrônomos e
profissionais da terra, no sentido de buscar soluções, através de alternativas de
produção sem a sua utilização. Assim, a adoção de modelos agroecológicos, como o da
agricultura orgânica, por exemplo, poderá abastecer os mercados sem riscos de
contaminação. Esse é o grande desafio a ser vencido.
Reveilleau (2009) comenta que para garantir um produto orgânico é necessário
verificar todo o sistema de produção. Ou seja, valorizar as espécies de animais e
plantas, proteger o solo de degradações para manter a sua fertilidade e, não cultivar
espécies transgênicas, a fim de não colocar em risco a diversidade de variedades
existentes na natureza. Ainda, a produção deve ser isenta de fertilizantes sintéticos
solúveis, agrotóxicos e outras substâncias venenosas para o ser humano. “O alimento
23
Entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos On-Line. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/06/12. Acesso em: 12 jun. 2009.
62
orgânico não é modismo, mas uma necessidade, para alcançarmos o equilíbrio
ambiental, [e] proporcionar a sadia qualidade de vida [...]” (REVEILLEAU, 2009).
Leitão (2009a) informa que a agricultura orgânica ainda é pouco adotada nas
propriedades rurais do país. Apenas 1,8% do total de produtores brasileiros a utilizam.
No mercado nacional essa técnica está presente de forma mais intensa no segmento da
horticultura/floricultura, que inclui a produção de frutas, verduras e legumes, voltada à
exportação. A maior parte desses agricultores não participa de qualquer organização
social, mas entre os que têm acesso a esse tipo de vínculo, 36,6% estão inseridos em
associações, sindicatos e outras entidades. Esse cenário indica um resultado relevante
ante os organizados em cooperativas, os quais representam apenas 5,9% dos
trabalhadores dedicados à agricultura orgânica.
Pesquisas efetuadas com leite produzido organicamente confirmaram seu
potencial como matéria prima para leites fermentados probióticos. Devido ao seu menor
teor de ácidos graxos saturados e maiores de ácidos graxos poliinsaturados e
monoinsaturados, são considerados benéficos à saúde. Tal fato se deve,
principalmente, à condição de manejo dos animais utilizados na produção. O gado
leiteiro não é confinado e recebe somente alimentação orgânica, em especial material
fresco verde, como grama e frutas. Os animais também não recebem nenhum tipo de
insumo artificial e de antibióticos”
24
.
De modo geral, o agricultor orgânico é esclarecido. Os problemas relativos às
pragas e doenças que aparecem no campo podem ser controlados com os produtos
alternativos, que são “ferramenta para uma agricultura ecológica, não poluente,
produtora de alimentos sadios” (FERNANDES; LEITE; MOREIRA, 2006, p.1).
Conforme as autoras, tais produtos são
[...] preparados a partir de substâncias não prejudiciais à saúde humana
e ao meio ambiente. Pertencem a esse grupo as formulações que têm como
características principais a baixa ou nenhuma toxicidade ao homem e à
natureza, a eficiência no combate aos artrópodos e microrganismos nocivos, o
não-favorecimento à ocorrência de formas de resistência desses fitoparasitas, a
disponibilidade e o custo reduzido [...] (FERNANDES; LEITE; MOREIRA, 2006,
p. 7).
24
Leite orgânico traz mais benefícios a leites fermentados probióticos. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/09/09. Acesso em: 09 set.2009.
63
Paschoal (1994) explica que
O manejo natural de pragas e patógenos em agricultura orgânica é
preventivo, ao invés de curativo. Por isso, o entendimento do agroecossistema
como um todo é fundamental para a proposição de práticas controladoras
eficientes. O que se busca, fundamentalmente, é um equilíbrio no solo e acima
dele, de maneira que as culturas resistam bem aos ataques das espécies
daninhas. Os mecanismos variam desde a escolha de espécies e variedades,
até o manejo correto do solo, com adubações equilibradas, e o uso de rotações
e consorciações de culturas, e de plantas atraentes e repelentes. Pragas e
patógenos são vistos como indicadores úteis de práticas agronômicas erradas
(PASCHOAL, 1994, p. 69).
Ou seja, o autor alerta para a realização de práticas agrícolas equilibradas, que
proveem condições para a manutenção dos microrganismos no solo para o controle
natural da lavoura. No entanto, no período de conversão da propriedade à agricultura
orgânica e no caso de eventuais infestações de pragas e doenças, o uso de produtos
alternativos é permitido.
Contudo, outras condições, como as citadas por Paschoal (1994), são
necessárias.
Nos modelos de agricultura orgânica não apenas a preocupação de
produzir economicamente, conservando os recursos naturais, mas também de
melhorar o padrão de vida dos produtores rurais, empregadores e empregados,
principalmente desses últimos. Por isso, deve haver, nas propriedades
orgânicas certificadas, condições salariais satisfatórias, bem como condições
boas de trabalho, alimentação e moradia para trabalhadores fixos e (ou)
temporários. O mesmo raciocínio aplica-se aos empregados de firmas
industriais e comerciais (PASCHOAL, 1994, p. 153).
Desse modo, fica claro que as relações de trabalho nessas propriedades
agrícolas são exigentes em contratos sociais que oferecem garantia do emprego e a
segurança do agricultor.
Possivelmente sejam esses os motivos para os produtos orgânicos terem preços
elevados nas feiras e nos supermercados. Além dos custos com os encargos sociais
dos trabalhadores, ainda o processo de certificação e de autorização do uso de um
selo oficial como instrumento para assegurar a proteção aos consumidores.
Acrescenta-se, ainda, o uso de mais mão-de-obra do que na produção convencional.
Esses custos adicionais com a certificação e a necessidade de maior número de
64
trabalhadores somam, no mínimo, 30% a mais. Mas, o que também pode explicar essa
diferença é a questão da oferta e da procura, pois a demanda por alimentos orgânicos
supera a oferta.
Os consumidores, porém, acreditam que apesar de esses produtos serem mais
cotados no mercado a compra compensa, porque o valor agregado se deve à sua
melhor qualidade.
Mas, com exceção disso, [o gasto com orgânicos] não é elevado. No
início, o custo pode ser um pouco mais elevado [com a certificação e a mão-de-
obra], mas a partir do momento em que a propriedade começa a funcionar num
sistema orgânico de produção, esses custos tendem a se igualar aos da
produção convencional.
25
A produção orgânica também favorece a agricultura e pecuária familiar, fixando
o trabalhador rural na terra.
2.1.1.6.2 Agricultura familiar - Soberania alimentar
A agricultura familiar segue os critérios definidos pela Lei n
0
11.326 que trata da
sua política nacional e empreendimentos familiares rurais.
De acordo com essa Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar
rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos
seguintes requisitos:
Não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos
fiscais; utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas
atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; tenha
renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento; dirija seu
estabelecimento ou empreendimento com sua família
26
.
Tais critérios são mais restritivos do que os estudados por outras entidades como
a FAO, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA e as
universidades brasileiras.
25
Produtos orgânicos: custos explicam diferenças de preços nas feiras e nos supermercados. Disponível
em: http://www.ecodebate.com.br/2010/01/04. Acesso em: 04 jan. 2010.
26
Lei 11.326 de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da
Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Disponível em:
http://www.legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/Viw_dentifiacao/lei11.326-2006. Acesso em: 12
dez.2009.
65
De acordo com o Censo Agropecuário 2006, a agricultura familiar emprega 75%
da mão-de-obra no campo e é responsável pela segurança alimentar dos brasileiros,
produzindo 70% do feijão, 87% da mandioca e 58% do leite consumidos no país.
Apesar de ocupar apenas um quarto da área, responde por 38,0% do valor da
produção ou R$ 54,4 bilhões desse total. O valor bruto da produção é R$ 677,00 por
hectare/ano.
Mesmo em uma área cultivada menor, a pequena propriedade tem condições de
gerar os produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros.
Isso mostra a representatividade, o peso deste setor para a formação
da nossa economia e da produção primária no País. Com isso, a agricultura
familiar demonstra capacidade em gerar renda, em aproveitar bem o espaço
físico e contribuir para a produção agrícola brasileira
27
Outro resultado positivo apontado pelo Censo Agropecuário 2006 é o número de
trabalhadores locados em estabelecimentos da agricultura familiar, perfazendo o total
de 12,3 milhões. Ou seja, de cada dez agricultores no meio rural, sete pertencem à
agricultura familiar, que emprega 15,3 pessoas em uma área de 100 hectares.
Ao longo de várias décadas, incutiu-se no imaginário da sociedade brasileira o
falso antagonismo entre o uso da terra para a produção de alimentos e a preservação
ambiental. No entanto,
A produção de alimentos no Brasil está fortemente alicerçada nos
agricultores camponeses e familiares, quilombolas, comunidades tradicionais,
extrativistas e assentados da reforma agrária. E justamente sob o manejo
destes povos do campo e da floresta que estão as principais áreas conservadas
da biodiversidade florestal brasileira
28
.
Esse antagonismo está fundamentado nos interesses do agronegócio, nos
ambiciosos e audaciosos projetos dos latifundiários e grileiros, que usam
extensivamente as áreas agrárias com elevado consumo de fertilizantes químico-
industriais e agrotóxicos e principalmente na expansão ilegal da propriedade. Além
27
Censo agropecuário 2006: agricultura familiar produz mais em menor área. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/10/01.Acesso em: 01 out.2009.
28
Legislação ambiental brasileira é compatível com a agricultura familiar camponesa. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/05/06. Acesso em: 06 set. 2009.
66
disso, ensejando a lucratividade, a produção para exportação visa as commodities
rurais, que devastam os biomas, e buscam institucionalizar a grilagem através de
medidas provisórias, deixando de lado a produção que abastece a mesa do brasileiro.
Robin (2008) cita Luis Castellán sobre a possibilidade de a soja transgênica
coexistir com as culturas de subsistência.
É impossível, principalmente em zonas como esta, onde os pequenos
produtores foram cercados por grandes extensões de OGM. Se algo como isso
aqui se reproduzir, não sei quantos pequenos produtores ficarão em suas
terras. O problema é, também, a finalidade desse modelo de produção: aqueles
que produzem soja transgênica têm apenas objetivo comercial; eles não moram
nesses locais e, então, não sofrem os efeitos colaterais, enquanto nós, que
produzimos para viver, prestamos atenção ao meio ambiente e à qualidade da
produção. Porque consumimos a soja ou a vendemos nos mercados. Essa
tecnologia transgênica não está a servo do camponês, mas de um
empreendimento econômico cujos promotores estão prontos para tudo a fim de
enriquecer (ROBIN, 2008. p. 283).
A agricultura camponesa privilegia a produção na forma de policulturas, mais
adequada ao ambiente, e usa técnicas agroecológicas, sem agrotóxicos.
O jornal Brasil de Fato (2008) aponta o sistema de policultura como uma garantia
para a recuperação e a preservação de matas, florestas, água e terra.
O camponês é naturalmente policultor porque precisa estar em
atividade o ano todo. Ele tem uma produção principal, por exemplo, que é o
leite; mas para manter a vaca, precisa produzir o milho. E para o próprio
camponês se manter, produz o feijão (VIANA, 2008c, p. 3).
Ressalta-se que
A maior parte dos produtos da mesa do brasileiro (a cesta básica) vem
da produção camponesa. Mas é o agronegócio que sai privilegiado pelas
políticas públicas e financiamentos promovidos pelo Estado. Essa contradição
representa uma ameaça à soberania alimentar e, segundo especialistas, está
no centro da atual crise dos preços dos alimentos - a deterioração da agricultura
camponesa (VIANA, 2008b, p. 3).
O conceito de soberania alimentar surgiu pela primeira vez através da Via
Campesina, em 1996, segundo o qual
[...] a soberania alimentar é o direito dos povos e das pessoas de
decidirem sobre sua própria política agrícola e alimentar; de proteger e regular a
67
produção agrícola doméstica e o comércio com o objetivo de desenvolvimento
sustentável; de determinar o quanto querem ser auto-suficientes
29
No Brasil, o agronegócio
[...] controla 70% dos territórios produtivos, 90% dos recursos públicos
para financiamento e produz somente 50%. o campesinato controla somente
30% dos territórios produtivos, apenas 10% dos recursos públicos de crédito e
produz 50% dos alimentos (VIANA, 2008b, p. 3).
Ou seja, “o agronegócio possui um grande financiamento, mas o responde
proporcionalmente pela quantidade de produção” (VIANA, 2008b, p. 3).
No entanto, os modelos de financiamento público criados pelo governo federal
não dialogam com a lógica sustentável da produção camponesa.
Embora o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(Pronaf) seja um financiamento que pode ser aberto para várias culturas, o
agricultor precisa escolher uma única. Por isso, uma indução do sistema
público de crédito e de pesquisa para a monocultura, o que é um grande erro
(VIANA, 2008c, p. 3).
O modelo camponês pode ser ainda mais apropriado para a conservação e
preservação das florestas.
O que se deveria fazer na Amazônia é montar sistemas industriais de
pequeno e médio porte para industrializar aquilo que a Mata Amazônica dá; o
cupuaçú, o açaí, a seringueira, o dendê, o buriti, os produtos que já estão no pé,
que estão incorporados na floresta (VIANA, 2008c, p. 3).
O modelo camponês segue as normas da reforma agrária proposta pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, ou seja
[...] o que nós propomos é uma reforma agrária que chamamos popular
[...] Nessa reforma não basta distribuir terra, como na reforma capitalista. É
necessário também desenvolver agroindústrias na forma cooperativa, criar
pequenas agroindústrias nos assentamentos. Assim, o agricultor sai mais rápido
da pobreza, porque daí ele não vai produzir matéria prima, mas também se
apropriar do valor agregado dos produtos e gerar emprego no meio rural
30
.
29
A agricultura local pode livrar o mundo da crise. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/04/27. Acesso em: 27 abr. 2009.
30
STÉDILE, J. P. Líder do MST diz que a melhor solução para o Senado é a extinção. Disponível em:
http://noticias.uol.con.br/politica/2009/08/15/ult5773u2074.jhtm. Acesso em: 11 dez. 2009.
68
Por esse motivo, Stédile
31
defende a agricultura familiar, bem como a reforma
agrária e os modelos agrícolas agroecológicos, uma vez que se trata de uma forma de
produção sustentável e socialmente mais justa.
2.1.1.7 Considerações sobre as Revoluções Verde e Biotecnológica
O debate relacionado aos agrotóxicos e seus reflexos na saúde humana e no
ambiente tem sido conduzido desde o começo da Revolução Verde, há
aproximadamente 60 anos, através do estabelecimento de regras visando garantir a
proteção das diferentes formas de vida.
No entanto, as informações sobre esses produtos disponíveis ao trabalhador
rural são, ainda, dependentes de alguns interesses, principalmente os de ordem
econômica. Assim, o homem do campo é compelido a aceitá-los, devido à falta de
conhecimentos e imposições do sistema.
Peres e Moreira (2007) afirmam que
.
O discurso ora vigente no campo (e presente em cartilhas, cartazes,
folders e toda sorte de material disponível para o trabalhador rural) enfatiza a
necessidade do uso de agrotóxicos como único meio de acabar com a fome do
mundo (PERES; MOREIRA, 2007, p. 617).
Mooney (1987) também comenta sobre os transtormos da Revolução Verde. Sob
o pretexto de acabar com a fome no mundo, as fundações Rockefeller, Ford e Kellogg,
com o suporte financeiro do Banco Mundial e da ONU, iniciaram a agricultura dita
moderna, nas décadas de 40 e 50, com as variedades selecionadas de milho, trigo e
arroz, instalando-se, assim, a Revolução Verde.
Apesar de ter contribuído para o aumento da produção de alimentos a
tecnologia revolucionária da Revolução Verde resultou em sérios problemas
para a humanidade, como a substiuição dos cultivares tradicionais e de seus
ancestrais silvestres nos Centros de Origem por variedades geneticamente
31
Agrotóxicos no seu estômago. Artigo de João Pedro Stédile. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/09/25. Acesso em 25 set. 2009.
69
uniformes, reduzindo, dessa maneira, as fontes básicas para futuros
melhoramentos, além de tornarem os agricultores dependentes de cultivares
excessivamente caros e exigentes de insumos. Possibilitou, também, notável
desenvolvimento das companhias de fertilizantes minerais e de agrotóxicos,
transformadas rapidamente em multinacionais milionárias, graças à
característica peculiar das variedades modernas: a de produzirem mais do
que as tradicionais em função de pesadas doses de adubos inorgânicos e de
herbicidas e outros agrotóxicos, direta ou indiretamente dependentes do
petróleo (MOONEY, 1987, XXIV).
Entretanto, ocorreram muitas consequências negativas advindas da utilização
da agricultura industrial, entre as quais citam-se, entre outras tantas, as pesadas
importações de insumos, tais como agrotóxicos, fertilizantes químicos solúveis,
implementos e máquinas agrícolas, equipamentos de irrigação e sementes dos países
centrais; técnicas que favorecem as monoculturas, refletindo no desaparecimento das
práticas de consorciações de plantas; perda da sanidade e valor nutritivo devido aos
resíduos químicos; êxodo rural, e o consequente processo de urbanização, aliado à
miséria e à violência das grandes cidades (MOONEY, 1987, p. XXIV).
De acordo com Paschoal (1983b)
A agricultura industrial, rotulada de “moderna” e “avançada” pelos seus
adeptos mais entusiastas, fundamentalmente econômica e imediatista nos seus
propósitos mais íntimos - a proteção das plantas cultivadas, contra a ação das
pragas, patógenos e ervas invasoras - tem falhado constantemente, não
permitindo haver os retornos esperados, por causa do não entendimento da
agricultura na sua essência mais óbvia, ou seja, da agricultura como um
intricado processo biológico, ditado pela natureza e não como um mero
processo físico e químico, ditado pela vontade humana (PASCHOAL, 1983b, p.
18).
O pesquisador explica que as cnicas que utilizam agrotóxicos e fertilizantes
químicos solúveis que favorecem as variedades mais produtivas, geneticamente
uniformes e as monoculturas são mais suscetíveis às doenças, pragas e ervas
invasoras.
Paschoal (1983a) evidencia as três causas das falhas do controle químico de
pragas das plantas cultivadas, a saber: ecológicas, econômicas e sociais.
Relativizando apenas as ecológicas, Paschoal (1978a) considera importante
comparar os efeitos provocados pelos agrotóxicos nos países tropicais e naqueles de
clima temperado para um melhor entendimento dos fatores bióticos envolvidos nas
interações entre os diversos níveis tróficos da cadeia alimentar.
70
Como importadores de tecnologia de países desenvolvidos temperados,
caímos no erro gravíssimo de ignorar a verdade ecológica de que nos
ecossistemas tropicais a diversisdade de espécies e, consequentemente, as
interações entre os vários níveis tróficos das teias alimentares, é muito maior do
que nos ecossistemas de clima temperado. Isso sugere maior importância dos
fatores bióticos naturais (competidores, inimigos naturais e patógenos) na
estabilidade das populações das espécies animais e vegetais (PASCHOAL,
1978a, p. 5).
Sobre essa temática, Paschoal (1983a) relata que nos agroecossistemas
tropicais
[...] a constância climática e a grande diversidade de organismos
determinam a maior estabilidade desses sistemas, com os seus numerosos
predadores e parasitos sincronizados não com o ambiente físico, mas sim, e
principalmente, com o ambiente biológico, ou seja, com as inúmeras espécies
fitófagas de que se nutrem. Nos trópicos, erupções de pragas são
extremamente raras, o que demonstra a grande eficiência dos inimigos naturais
e competidortes na estabilização das populações das pragas durante o ano
todo. Em tais sistemas o uso de agrotóxicos é muito mais prejudicial do que
benéfico, pelos desequilíbrios que geram (PASCHOAL, 1983a, p. 31).
Nos trópicos, segundo o autor, ocorrem problemas de pragas quando há
interferências humanas nos agroecossistemas.
Isso acontece devido a importações acidentais de espécies fitófagas
exóticas sem os seus inimigos; pela destruição dos inimigos naturais das
espécies indígenas, pelo uso de agrotóxicos; e pelas modificações do ambiente
onde vivem as plantas e das características intrínsecas das próprias plantas, de
modo a favorecer as espécies fitófagas e ou desfavorecer os seus inimigos
naturais e competidores, através de práticas agrícolas desaconselháveis para
os trópicos, como monoculturas, variedades mais produtivas, adubação
inorgânica, etc. (PASCHOAL, 1983a, p. 31-32).
Segundo Girardi (2000)
O uso dos insumos ditos modernos (adubação solúvel e agrotóxicos) e
dos tratos culturais apregoados pela moderna agricultura, amplamente
difundidos através da Revolução Verde, tornam a planta sensível à ão dos
insetos e microrganismos. Entretanto, em nome desta agricultura, que nunca
procura verificar as causas dos problemas, mas combater os sintomas, as
aplicações de agrotóxicos tornaram-se cada vez mais volumosas. A medida, por
outro lado, aumenta a resistência de tais organismos aos próprios agrotóxicos
fazendo com que ocorra um ciclo vicioso. Da mesma forma, a simplificação dos
ecossistemas, em consequência das monoculturas, praticamente elimina as
plantas nativas (consideradas ervas daninhas pelo paradigma da moderna
agricultura) que constituem o alimento preferencial dos insetos, levando-os a
procurar as culturas semeadas. Tais monoculturas, em oposição à
71
diversificação, tornam a agricultura uma atividade de alto risco, pois quando
ocorre algum problema, toda a lavoura pode ser atingida, implicando em danos
econômicos para os agricultores, que precisam recorrer a novos empréstimos
bancários. Na impossibilidade de pagar o banco, perdem as terras, que
estavam hipotecadas. E assim, milhares de pessoas deixam o campo
(GIRARDI, 2000, p. 42).
Conforme Paschoal (1983a), a literatura entomológica registrou, de 1958 a 1976,
o surgimento de 400 novas pragas, numa proporção de 22 novas espécies por ano.
É bem provável que grande parte destas 400 novas espécies de pragas
tenha sido desencadeada pelos agrotóxicos, principalmente por causa do uso
generalizado de clorados persistentes nas lavouras brasileiras, nas décadas de
60 e 70 (PASCHOAL, 1983a, p. 33).
Robin (2008) comenta que a revolução agrícola “mais tarde seria classificada de
verde porque, supostamentente, frearia a expansão da revolução vermelha nos
países subdesenvolvidos‟” (ROBIN, 2008, p. 319).
Segundo Vicente
32
, a revolução verde, iniciada nos anos 1960 e acentuada na
década de 1990, tem tornado o trabalhador rural menos importante. Com o avanço da
transgenia e dos agrotóxicos, os trabalhadores rurais são expulsos de seus territórios
para engrossar as zonas de pobreza das grandes cidades. Os que permanecem no
campo sofrem os riscos de se envolverem com as aplicações de agrotóxicos e/ou com
as pulverizações aéreas em suas moradias e imediações. Seus efeitos geram
problemas de sáude agudos e crônicos que, em muitos casos, são sentidos depois de
anos de exposição. Os casos de câncer crescentes em todas as comunidades rurais e
nas periferias das cidades, as gravidezes interrompidas e os nascimentos de crianças
com má formação são as formas mais brutais em que esse genocídio do agronegócio
se expressa. Esse fato também ocorre com as famílias que vivem nas periferias das
cidades, no entorno das zonas onde essas monoculturas se impuseram.
O autor salienta que a promessa das duas revoluções verdes - a dos anos 1960,
com o desenvolvimento das monoculturas, e a dos anos 1990, com o advento dos
transgênicos -, de resolver o problema da fome no mundo -, não foi cumprida.
32
Revolução verde: uma promessa fracassada. Entrevista especial com Carlos Vicente. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/07/15. Acesso em: 15 jul. 2009.
72
Assim, a única perspectiva possível visando reverter esse processo é
desmantelar o poder que as corporações adquiriram para recuperar o controle dos
povos sobre a agricultura e a alimentação. Todavia, enquanto os governos continuarem
sendo reféns do poder corporatrivo tal objetivo permanece inatingível. Nesse sentido, a
Soberania Alimentar, proposta pela Via Campesina, através do crescimento de seus
tecidos de resistência, bem como de locais de denúncia podem transformar essa
realidade e promover mudanças radicais centradas no bem comum.
Girardi (2000) explica que
A Revolução Verde Verde ou Revolução Duplamente Verde é também
chamada de Revolução Biotecnológica ou de Biorrevolução que através de um
discurso sobre sustentabilidade, a partir da ótica ecotecnocrática, propõe
tecnologias para corrigir a natureza. Como é um discurso muito bem articulado,
ilude e acaba convencendo os menos atentos a estas questões, que a
transgenia, é uma tecnologia fundamental para aumentar a produtividade
agrícola e também para produzir alimentos mais nutritivos. Assim, fica resolvido
o problema dos dois tipos de fome: a fome por falta de alimentos suficientes
para toda a população do planeta e a fome por deficiência de algum tipo de
nutriente. Além disso, as culturas transgênicas, segundo o discurso, vão reduzir
o uso de agrotóxicos e os custos para o produtor. O que os fatos demonstram é
que tal afirmativa não é verdadeira. O caso Roundup Ready, produzido pela
Monsanto, é bem ilustrativo, pois sua venda ocorre “casada” com o herbicida
que recebe o mesmo nome (GIRARDI, 2000, p. 68-69).
Robin (2008), citando Vandana Shiva, apresenta as diferenças entre as duas
revoluções.
A primeira revolução verde foi dirigida pelo setor público: as agências
governamentais controlavam a pesquisa e o desenvolvimento agrícolas. A
segunda revolução verde é dirigida pela Monsanto. A outra diferença é que a
primeira [...] tinha, certamente, o objetivo oculto de vender mais produtos
químicos e mais máquinas agrícolas, mas sua motivação principal era, ainda
assim, fornecer mais alimento e garantir a segurança alimentar [...] A segunda
[...] não tem nada a ver com segurança alimentar. Seu único objetivo é
aumentar os lucros da Monsanto, que conseguiu impor sua lei em quase todo o
mundo (ROBIN, 2008, p. 321-322).
A autora revela que a lei da Monsanto é a lei das patentes, que envolve “o direito
de propriedade sobre os grãos geneticamente modificados [...] (ROBIN, 2008, p. 322).
73
A empresa, então, “podecobrar os royalties” (ROBIN, 2008, p. 322) criando, desse
modo, a dependência do agricultor em relação às sementes transgênicas.
Ou seja, essa dependência relacionada às empresas não se restringe somente
às sementes e às lavouras, mas também, segundo Peres e Moreira (2007) extende-se
aos agrotóxicos e à biotecnologia. Os agricultores o induzidos a aceitar estes
produtos, em razão dos discursos muito bem elaborados das corporações.
Esse fato foi comprovado para os produtos fitossanitários, através dos
questionamentos efetuados nas entrevistas, em que
[...] todos os trabalhadores [...] relataram não haver alternativa viável ao
uso de agrotóxico. Tal fato - impreciso e inverídico - acaba por legitimar a
aceitação de práticas perigosas de controle de pragas, por meio do uso de
agrotóxicos, expondo um enorme contingente de trabalhadores rurais brasileiros
a uma gama de riscos à sua saúde, muitos dos quais desconhecidos, ao
momento (PERES; MOREIRA, 2007, p. 618).
Girardi (2000) comenta
[...] que nos anos 80, o ideal de sustentabilidade estava difundido em
diversos países, tendo sido reafirmado com a publicação, em 1987, do Relatório
Brundtland. Neste documento, os especialistas, que estudaram por quatro anos
as interações entre ambiente e desenvolvimento, concluíram que a
sustentabilidade seria a possível solução dos problemas encontrados
(GIRARDI, 2000, p. 63-64).
Neste sentido, as corporações multinacionais se apropriaram do discurso
relacionado a uma agricultura sustentável, que possibilita alcançar uma produtividade
máxima, porém, com mínimos efeitos adversos para o ambiente; e incorporaram em
suas técnicas além dos agrotóxicos, a biotecnologia, criando os OGM, supostamente
inócuos ao ambiente, com o único objetivo de lucrar.
Segundo Robin (2008), “o único objetivo da segunda revolução verde é aumentar
os lucros da Monsanto” (ROBIN, 2008, p. 319).
Santayana (2009) relata o seguinte:
[...] o que assusta, nestas experiências, é o fato de que elas se fazem,
sobretudo por empresas capitalistas, com objetivos apenas de altos lucros. Não
nelas nenhum objetivo altruísta, como o de matar a fome do mundo. A
indústria química se desenvolveu, no século 19, a partir da Bayer, fundada em
1863 [...] Sua pretensão sempre foi a de se tornar um sucedâneo lucrativo da
natureza. Talvez não haja ambição de poder maior do que o da bioquímica
aplicada, porque ela o disputa com as leis do universo. O que aterroriza no
74
desempenho da indústria bioquímica é a sua associação ao poder político [...]
Sua principal concorrente é a Monsanto, cuja história não é muito diferente [...]
Entre outros crimes de que foi cúmplice, a Monsanto produziu o agente laranja
(composto de dois herbicidas, o 2,4 D e o 2,4,5-T), cujos efeitos sobre os seres
humanos no Vietnã perduram até hoje, com o nascimento de crianças com os
órgãos genitais no rosto, sem pernas, sem olhos. Tanto a Bayer, quanto a
Monsanto - e empresas menores - o cultivo dos transgênicos tem um
objetivo, o de produzir grandes lucros, com as sementes e os agrotóxicos. A
experiência demonstra que, a cada geração de cultivares transgênicos, cresce o
volume do herbicida aplicado na terra, para obter o mesmo resultado
(SANTAYANA, 2009).
Conforme Robin (2008), nos anos da Revolução Verde, quase a totalidade das
sementes era controlada pelos agricultores ou instituições públicas.
Hoje, 82% do mercado comercial de sementes estão sob propriedade
intelectual, e dez empresas controlam 67% desse campo. Essas grandes
sementeiras (Monsanto, Syngenta, DuPont, Bayer, etc.) são, em sua maioria,
propriedade de fabricantes de agrotóxicos, área em que as dez maiores
empresas controlam 89% do mercado global. Que, por sua vez, estão
representadas entre as dez maiores empresas em farmacêutica veterinária, que
controlam 63% desse campo. O paradigma mais significativo dessa “involução
verde” são os transgênicos, sementes patenteadas viciadas nos produtos
químicos das empresas, promovidas como panacéia para resolver os atuais
problemas de fome que o próprio modelo criou. Outro ingrediente do mesmo
modelo, agora impulsionado com maior força, é a altíssima requisição de
fertilizantes que, por seu nome, parece menos nocivo do que o resto dos
agrotóxicos. Mas o uso de fertilizantes industriais, em vez do equilíbrio de
nutrientes naturais dos modelos anteriores de agricultura, também gera adição
e dependência e está nas mãos de um fechado oligopólio transnacional. Tal
como o petróleo, baseia-se no uso de produtos finitos e não renováveis [...]
33
.
As soluções reais existem e são opostas: soberania alimentar, como propõe a
Via Campesina, a partir de economias agrícolas descentralizadas, diversas, livres de
patentes, baseadas no conhecimento das culturas milenares, que provaram sua
capacidade de alimentar sustentavelmente a humanidade. E incentivar os modelos
agrícolas, como a agricultura familiar e os agroecológicos que produzem alimentos
saudáveis, livres de resíduos tóxicos, que respeitam o ambiente e são socialmente bem
estruturados.
33
Aqueles que querem comer o mundo: as corporações. Disponível em:
www.ecodebate.com.br/2009/01/12. Acesso em: 12 jan. 2009.
75
2.2 Meios de comunicação
2.2.1 Meios de comunicação de massa
Escrever sobre a comunicação na sociedade contemporânea é um desafio pois é
de conhecimento público que quem controla os meios de comunicação de massa,
segundo os critérios mercantis, são grupos elitizados que não influenciam a
formação de opinião como também desempenham um importante papel na vida social,
política, ideológica e cultural dos indivíduos.
Herbert Schiller (1976) alerta sobre a influência e a importância das
comunicações em uma sociedade complexa, em que
O acesso especial à informação tem sido reconhecido com justeza
como uma passagem para o poder. O controle das comunicações é geralmente
o passo principal na aquisição da autoridade política. Situado ao centro da
organização moderna, o complexo informacional distribui mensagens de uma
maneira que eslonge de ser aleatória. Ao mesmo tempo, o volume, a forma e
a velocidade com que os atuais sistemas eletrônicos transmitem informações
estratégicas [...] criaram um fator qualitativamente novo nas relações humanas
e grupais. As telecomunicações são hoje a força mais dinâmica a afetar não
somente as bases ideológicas como também as bases materiais da sociedade
(SCHILLER, 1976, p. 44).
No cerne da ordem organizacional da sociedade em transição, as comunicações
passam, também, por uma profunda reestruturação, ao mesmo tempo em que
promovem mudanças na comunidade em geral, em virtude de sua capacidade
informacional.
Para Ramos (1995), o conteúdo das mensagens da mídia de massa é refletido e
analisado dentro dos diferentes grupos sociais, advindo daí a adoção de opiniões e
atitudes. Portanto, tais informações não devem ser pensadas como pouco influentes na
incorporação de valores e comportamentos. Ao contrário, os meios de comunicação são
“instituições com muito prestígio na sociedade, superando com grande vantagem as
instituições fundamentais da República, dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
e das organizações da sociedade civil” (RAMOS, 1995, p. 23-24).
Nesse sentido, Guareschi (1991) mostra que não é exagero dizer que a
comunicação constrói a realidade, isto é, todas as mensagens transmitidas pelos meios
eletrônicos e impressos são representações da realidade. Assim, pode-se afirmar que
76
Se é a comunicação que constrói a realidade, quem detém a construção dessa
realidade detém também o poder sobre a existência das coisas, sobre a difusão das
idéias, sobre a criação da opinião pública” (GUARESCHI, 1991, p. 14-15).
Talvez, segundo o autor, a importância fundamental dos meios de comunicação
seja mais claramente percebida no campo da cultura, através de filmes, vídeos,
documentários, novelas, propagandas, entre outros, onde movimentos culturais acenam
modos de se alimentar, vestir, falar, se relacionar, se divertir, etc. Esse pano de fundo
cultural permanece e se fixa na mente e nos corações das pessoas que vêem esses
produtos da comunidade; e isso as leva a fixar ou transformar determinada cultura”
(GUARESCHI, 1991, p. 16).
O desejo de lucrar e o uso dos meios de comunicação para apoiar as
propagandas e/ou publicidades objetivando a venda de determinados produtos é
ilustrada na literatura como, por exemplo, no caso da multinacional Nestlé, criadora do
leite “que substitui o leite materno”. No passado, uma campanha semelhante sobre leite
em pó da Nestlé levou a morte de bebês e causou a suspensão da campanha. Ou seja,
as mensagens visando a formação de opinião são controladas pelo caráter empresarial
daqueles que centralizam o poder (GUARESCHI, 1991, p. 17).
Sobre as influências das propagandas e das publicidades no campo jornalístico
Bourdieu (1997) escreve que
O campo jornalístico impõe sobre os diferentes campos de produção
cultural um conjunto de efeitos que estão ligados, em sua forma e sua eficácia,
à sua estrutura própria, isto é, à distribuição dos diferentes jornais e jornalistas
segundo sua autonomia com relação às forças externas, as do mercado dos
leitores e as do mercado dos anunciantes (BOURDIEU, 1997, p. 102).
Isso equivale a dizer que o grau de autonomia de um jornal, de uma revista, rádio
ou televisão é medido conforme suas receitas relativas às propagandas e publicidades,
bem como pelo grau de concentração dos anunciantes.
Para Traquina (2001), a solução para os males do jornalismo e da democracia é
o Jornalismo Público, também conhecido como Jornalismo Cívico ou Jornalismo
Comunitário. Massierer (2007) mostra essa preocupação em sua pesquisa relacionada
à qualidade das matérias jornalísticas e explica que o Jornalismo Cívico, proposto por
77
Traquina e Mesquita, reivindica a substituição de natureza fragmentária das práticas
tradicionais por uma nova atitude, fundamentada em uma atenção especial concedida a
cada tema.
Conforme Traquina (2001)
Da crítica incessante e implacável dos mídia, com particular ênfase na
análise da cobertura noticiosa dos processos eleitorais, emergiu nos Estados
Unidos, nos fins dos anos 80, um movimento importante e polêmico que
defende um “novo jornalismo” [...] (TRAQUINA, 2001, p. 171).
Nas palavras de Massierer (2007) “torna-se relevante questionar sobre a
possibilidade de aliar os ideais de um jornalismo sistêmico, comprometido com a ética e
centrado na visão holística dos fatos, com o sistema vigente de construção de notícias”
(MASSIERER, 2007, p. 45).
Traquina (2001) revela que, na perspectiva de alguns jornalistas, a relação entre
democracia e jornalismo é simbiótica. Como defensor de uma democracia participativa,
o jornalismo cívico envolve mudanças significativas do público, cuja atitude prioriza
estabelecer uma comunicação ativa com os jornalistas.
Deluiz (1995) aponta as contribuições de Habermas para o entendimento da
democracia substantiva, associando-a à comunicação livre de coações, bem como à
participação dos cidadãos nos processos de formação da vontade política; e à
compreensão da democracia formal ou incompleta, em que a cidadania não se realiza
devido à marginalização de grande parte da população. A perspectiva de que todos os
membros da sociedade possuem condições potenciais de dialogar e participar de uma
esfera pública na qual as discussões se voltariam aos interesses presentes na
sociedade constitui o componente democrático de sua teoria. Assim, a proposta
democrática de Habermas vem ao encontro do Jornalismo Cívico, que compreende
uma “nova maneira de olhar a profissão” (MASSIERER, 2007, p. 46), em que a
preocupação com a justiça social e o respeito à vida são condições essenciais do
jornalismo.
78
2.2.1.1 Notícias
Nos meios de comunicação, a notícia é o relato de um acontecimento de caráter
imediato e salientado como importante para uma audiência.
Cabral (1996) a conceitua como:
[...] relato jornalístico de acontecimentos tidos como relevantes para a
compreensão do cotidiano - é propriamente uma forma narrativa, ou seja, um
modo específico de se contar uma história, Os norte-americanos costumam
designá-la como news story, sem fazer distinção entre notícia breve e
reportagem (CABRAL, 1996, p.132).
No entanto, a notícia diferencia-se da reportagem, esta tem alguns temas que
necessitam de profissionais qualificados para a sua investigação e redação. Nesses
casos, dependerá do interesse desses veículos em contratar um especialista, uma vez
que as reportagens são mais exigentes de conhecimentos específicos. Porém, a
contratação desses profissionais ultrapassa as perspectivas das empresas de
comunicação, uma vez que seus interesses visam somente os lucros.
Com relação às matérias jornalísticas ambientais Massierer (2007) exemplifica:
O fato dos jornais não terem mais repórteres especializados na
cobertura de meio ambiente faz com que aqueles que se dedicam a pautas
relacionadas ao tema, muitas vezes necessitam de mais tempo para a apuração
das informações tendo em vista que alguns assuntos ligados à área são de
difícil compreensão e muitos dados demoram a ser localizados (MASSIERER,
2007, p. 166).
A autora escreve que:
As notícias de meio ambiente são, em geral, retiradas de seu contexto,
e perdem a totalidade da explicação científica, restando uma relação de causa e
efeito simplista, que leva as pessoas a conclusões erradas, evitando que
identifiquem o problema como sendo ambiental (MASSIERER, 2007, p. 44).
Desse modo, tais notícias deixam de ser publicadas como reportagem, por conta
de os jornalistas não conseguirem elaborar adequadamente as informações e descrever
a totalidade de sua importância, devido à deficiência de especialização. Prefere-se,
então, publicá-las com menores conteúdos informativos e visuais.
79
Massierer (2007) revela ainda que as notícias também “se constituem como parte
essencial de um processo mais amplo que é o de tomada de decisão e de
conscientização das pessoas para a preservação do meio ambiente” (MASSIERER,
2007, p. 46).
Para Cabral (1996), as notícias são narradas como fatos e problemas sociais,
sendo revelados alguns detalhes relevantes de forma a tranquilizar a consciência dos
indivíduos. As condições precárias de vida no espaço urbano, entre outros aspectos
que geram insegurança, requerem certas técnicas jornalísticas a fim de não abordarem
as questões de forma negativa ou duvidosa (CABRAL, 1996, p. 133). Por exemplo,
escrever que os agrotóxicos fazem mal à saúde é cientificamente mais adequado do
que dizer que não existem provas de seus efeitos nocivos.
Marcondes Filho (1989), por sua vez, trata esse mote denominando-o de dialética
da atemorização e da tranquilização que compõe o fato noticioso.
A notícia, tal qual se apresenta para o receptor, como forma “quebrada‟
de realidade, como pedaço do real, de onde se abstrai somente o fato
específico que a originou, e como disposição múltipla e diversificada no jornal,
na televisão, no rádio, no cinema, atua no receptor participando de um jogo
psíquico, em que num momento ela desencadeia processos de preocupação e,
noutro, de alívio e descontração (MARCONDES FILHO, 1989, p. 14).
Esse tratamento das notícias dado pelos meios de comunicação incentiva
constantemente a passividade e a apatia dos receptores, orientando-os a aceitarem e a
se submeterem aos supostos fatos noticiosos. Esta política de produção de notícias
tem, assim, o caráter de cultivar a passividade” (MARCONDES FILHO, 1989, p. 15).
Para Cabral (1996), a empresa jornalística conduz a notícia pela lógica comercial,
razão pela qual é compreendida como “aquilo que os jornalistas acham que interessa
aos leitores e, portanto, notícia é aquilo que interessa aos jornalistas” (CABRAL, 1996,
p. 133). Pode-se complementar a afirmação de Cabral acrescentando que notícia é
aquilo que interessa aos donos dos veículos e à produção de lucros. Uma notícia deve
ser, portanto, todo acontecimento que desperta o interesse do público.
Massierer (2007) incrementa que “notícia é todo fato que possa despertar o
interesse dos leitores de um jornal. Ademais, outras características que interferem
no momento de definir se um fato é noticiável ou não” (MASSIERER, 2007, p. 147).
80
Wolf (2003) aponta que
A definição e a escolha do que é noticiável - com respeito ao que, por
sua vez, não faz notícia - são sempre orientadas pragmaticamente, isto é, em
primeiro lugar, para a “condição factível” do produto informativo a ser realizado
em tempos e com recursos limitados (WOLF, 2003, p. 197).
O importante é que um fato a ser noticiado deve ter repercussão para uma ampla
camada da população, de forma a atender a critérios de noticiabilidade para que a
notícia possa ser publicada nos diferentes meios de comunicação. Estes critérios estão
intimamente associados às rotineiras práticas de produção.
Wolf (2003) observa que os limites rígidos da duração dos noticiários nos
telejornais, nos rádios, bem como dos espaços nos meios impressos, distinguem-se
pela fragmentação e dificultam o aprofundamento e o entendimento de muitos aspectos
significativos dos acontecimentos publicados como notícias. “Desse modo, a
noticiabilidade se constitui um elemento da distorção involuntária da cobertura
informativa dos meios de comunicação de massa” (WOLF, 2003, p. 199).
Deformação nos conteúdos informativos, não imputável a violações da
autonomia profissional, mas sim ao modo em que é organizada,
institucionalizada e desempenhada a profissão de jornalista. Em outras palavras
[...] os estudos recentes sobre a produção de notícias comparam a imagem da
realidade social, fornecida pela mídia, com a organização e a produção rotineira
dos aparatos jornalísticos (WOLF, 2003, p. 188).
Um dos componentes da noticiabilidade definido por Wolf (2003) refere-se aos
valores/notícia, os quais são, também, critérios de relevância que funcionam como
guias, sugerindo os temas a serem enfatizados, quais devem ser omitidos e as
prioridades do veículo.
O autor pondera a seleção de notícias a ser destacada nos noticiários dos meios
de comunicação.
Obviamente, os jornalistas não podem decidir a cada vez, desde o
princípio, como selecionar os fatos que aparecerão sob as vestes de notícia:
isso tornaria o seu trabalho impraticável. A exigência primária é, portanto, a de
fazer dessa incumbência uma rotina, a fim de torná-la passível de ser cumprida
e administrada. Os valores/notícia servem justamente para isso (WOLF, 2003,
p. 203).
81
Em suas palavras, os valores/notícia envolvem os critérios substantivos das
notícias e de seu conteúdo, da disponibilidade do material e dos critérios associados ao
produto, ao público e à concorrência (WOLF, 2003, p. 207).
Recortando somente os critérios substantivos, observa-se que estes se articulam
em dois fatores: a importância e o interesse da notícia.
Enquanto as notícias consideradas importantes são, num certo sentido,
selecionadas “obrigatoriamente”, o elemento do interesse lugar a uma
avaliação mais heterogênea, mais aberta às opiniões subjetivas, menos
vinculadora para todos. O interesse da história está diretamente ligado às
imagens que os jornalistas fazem do público e também ao valor/notícia que
Golding-Elliott definem como “capacidade de entretenimento” (WOLF, 2003, p.
213).
É necessário, portanto, atrair a atenção dos receptores através de publicações
relativas ao interesse humano que possuem a capacidade de entretenimento, ou seja, a
notícia deve ser devidamente
Salientada ou acentuada em relação, por exemplo, aos valores/notícias
relativos à concorrência (exclusividade de uma entrevista, um furo de
reportagem, material filmado que seja particularmente significativo etc.), ou em
relação àqueles concernentes ao produto e às suas características técnicas.
Existe, portanto, uma variabilidade interna ao valor/notícia “importância”,
correlacionada a outros fatores de noticiabilidade (WOLF, 2003, p. 213).
2.2.1.2 Distorção sistemática da notícia fundamentada em critérios jornalísticos
empresariais
As notícias também podem ser selecionadas sob o ponto de vista mercantil,
embora essa característica não a defina como pura mercadoria ou como resultado da
manipulação de profissionais, como observa Cabral (1996):
Na realidade, ela resulta de um conjunto de regras de produção, um
código que, embora criado e modificado por jornalistas, é capaz de submeter
por imperativo técnico os criadores. O código é fundamental para que o
produto-notícia seja globalmente legitimado como forma de conhecimento do
tempo presente, do cotidiano. O código é na verdade uma tecnologia intelectual,
de bases transpessoais, que garante à notícia o controle de uma certa
temporalidade e a torna distinta de outros gêneros informativos. Para que o fato
se transforme em notícia, é preciso que tenha sido recentemente apurado,
82
imediatamente publicado e distribuído à sociedade global (CABRAL, 1996, p.
136).
Marcondes Filho (1989), de modo semelhante, mostra que uma informação pura
e simples não é mercadoria.
Para tanto é preciso que ela seja transformada em notícia. [...] O jornal,
então cria, a partir da matéria-prima informação, a mercadoria notícia, expondo-
a à venda (por meio da manchete) de forma atraente. Sem esses artifícios a
mercadoria não vende, seu valor de troca não se realiza (MARCONDES FILHO,
1989, p. 25).
Debord (1997) aponta o valor de troca implicado ao valor de uso.
O valor de troca pôde se formar como agente do valor de uso, mas
as armas de sua vitória criaram condições de sua dominação autônoma. Ao
mobilizar todo uso humano e ao assumir o monopólio de sua satisfação, ele
conseguiu dirigir o uso. O processo de troca identificou-se com os usos
possíveis, os sujeitou. O valor de troca, condottiere do valor de uso, acaba
guerreando por conta própria (DEBORD, 1997, p. 33).
Nas palavras de Debord (1997), os valores de troca e de uso estão entremeados,
implicados, significando que, no caso das notícias, o valor de troca se justifica pelo valor
de uso.
Marcondes Filho (1989) demonstra que tanto nas sociedades estruturadas sob
as bases de exploração do lucro e do trabalho assalariado, como naquelas dos países
socialistas, os jornais são manipulativos. O que é alterado, em cada um deles, é o tipo
de manipulação.
Os destaques que se vêem nas manchetes do Neues Deutschland, da
Alemanha Oriental, são também sensacionais em sentido amplo e
necessariamente manipulativos [...] Libertar-se da forma capitalista de fazer
jornal o significa fazer jornalismo objetivo e imparcial. Este não existe;
significa, isto sim, valorizar diferentemente e segundo outros critérios a
divulgação de notícias. A mudança da forma capitalista de fazer jornalismo está
mais no tratamento da matéria. No enfoque, na valorização dos componentes
da notícias, na perspectiva subjetiva de aproveitamento do fato, que conduz à
identificação com o leitor e à quebra de relação coisificada entre produtor e
receptor de notícias, em suma, à produção de vínculos solidários. Essa forma
de jornalismo apóia-se, assim, na forma essencialmente diferente de
manipulação, valorizada em propostas opostas às de orientação burguesa,
comum aos diretores e proprietários de jornal (MARCONDES FILHO, 1989, p.
33).
83
O jornalismo voltado à lógica de mercado trabalha no sentido de encarar a
notícia como uma mercadoria a ser comercializada, como outras existentes na
sociedade. Aqui, justifica-se o marketing jornalístico com a finalidade de garantir o
“gosto do público”
descoberto por meio de um instrumental técnico sofisticado e de
especialistas em pesquisas de opinião [...] O marketing investe nessa pesquisa
e na atividade publicitária, visando, como não poderia deixar de ser, uma maior
possibilidade de venda. Como empresa, a indústria jornalística não poderia
almejar outra meta senão a de aumentar seus lucros [...] porque a imprensa é
veículo formador de opinião e de comportamentos: a longo prazo, os jornais -
todos - , por defenderem interesses particularistas e setorizados, influem em
realidade na orientação política da sociedade; não são, de forma alguma,
neutros (MARCONDES FILHO, 1989, p. 35).
.
O caráter “empresarial dessas organizações [Folha de S. Paulo] e a preocupação
com o mercado passaram a ser o elemento mais importante na determinação da lógica
de confecção de suas mensagens” (TASCHNER, 1992, p. 20), tornando uma
obrigatoriedade aos jornalistas vender as notícias. Portanto, elas devem agradar ao
público.
Atingir o “gosto do público” significa, segundo Marcondes Filho (1989), tratar a
notícia antes desta chegar ao receptor. Essa operação é denominada “manipulação”
jornalística (MARCONDES FILHO, 1989, p. 39).
Sobre esse assunto, o pesquisador caracteriza três formas de falsealmento ou
encobrimento das notícias como pensamento censurado, a saber: 1) a visão
fragmentada e personalizada dos processos sociais; 2) o uso da técnica e da linguística
e 3) a sonegação das informações “ indesejáveis”.
A fragmentação da realidade caracteriza-se em sumarizar as notícias, de tal
forma que elas perdem a sua lógica, tornando-se incompreensíveis para a maior parte
do público.
Tal fragmentação (que é a forma geral de disposição do mundo na
perspectiva burguesa) produz igualmente mentalidades fragmentadas, diluidas,
difusas, que vêem o contexto social, a realidade, sem nenhum nexo, sem
nenhum fio ordenador. Para a mentalidade fragmentada, a fragmentação
noticiosa cai como uma luva (MARCONDES FILHO, 1989, p. 40-41).
84
Essa técnica é uma “estratégia mercadológica”, visto que, dividindo as notícias,
a expectativa é vender mais”; porém, torna as informações confusas e difusas para a
audiência, que se vê impedida de formular uma opinião consistente sobre o assunto.
A personificação da notícia está relacionada a um personagem associado à
história, a um fato em si, o qual tanto pode ser enaltecido como humilhado e
desprezado pela sociedade, de tal modo que ele, o indivíduo, passa a ser o centro das
notícias e não o fato em si, a história propriamente dita. Tal técnica é encontrada nos
diferentes veículos de comunicação, às vezes como parte do conteúdo de uma fonte
informativa e/ou de uma reportagem. À exemplo da fragmentação de informações, a
personificação dos processos sociais objetiva simplificar os acontecimentos,
desinformando a sociedade sobre temas que poderiam originar uma reflexão pertinente
e necessária de uma realidade. Esse tipo de personificação foi evidenciada por Ramos
(1995), em seu estudo sobre a cobertura midiática da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92 (RAMOS, 1995).
Manipulações de notícias também podem ser encontradas nas formas
linguísticas no processo da transmissão noticiosa. Formulações como “fontes bem-
informadas” e “porta-voz oficial”, por exemplo, ensejam estabelecer imagens de
neutralidade, seriedade e indiscutíbilidade, com o mesmo tom das comunicações
governamentais, para que tenham maior aceitação do público.
A utilização de gráficos, tabelas e de termos técnicos de difícil compreensão
também são manipuladores na medida em que encobrem as mensagens e dificultam o
seu entendimento.
Costa (2002) compartilha das idéias de Marcondes Filho (1989), ao relatar que
A transformação de notícias em mercadorias, a sua espetacularização
como componente atrativo para ampliar seus públicos sua segmentação e
especialização (com a criação de cadernos e publicações dirigidas a públicos
determinados), a velocidade e efemeridade dos assuntos pautados não pode
ser, em seu conjunto, apreendidos exclusivamente no enunciado das
reportagens, das técnicas narrativas, na expressividade do enfoque jornalísitico
(COSTA, 2002, p. 136).
Ou seja, as mensagens fragmentadas e descontínuas que caracterizam o fluxo
de informações e de produção de mercadorias interferem na compreensão e na
representação dos fatos noticiosos.
85
Valendo-se deste elenco de possibilidades de deturpação das notícias,
Marcondes Filho (1989) explica que sua ocorrência é uma especificidade do jornalismo
das mídias, do espaço e tempo que controlam; portanto, são consideradas práticas
de rotina da produção de notícias. Tais práticas estão associadas aos critérios de
noticiabilidade e valores/notícia definidos por Wolf (2003) e não se confundem com as
distorções provocadas pelos cinco filtros propostos por Herman e Chomsky (2003).
Fazer jornalismo, segundo Marcondes Filho (1989), é estabelecer uma outra
realidade, diferente e algumas vezes, oposta aos acontecimentos da sociedade.
O mundo que o jornalismo recria é, portanto, um outro mundo, com
outros fatos e outra atribuição de importância, que já não tem muito a ver com a
realidade. É um mundo forçado, cristalização ideológica da realidade que seus
produtores almejam e situam como ótima (MARCONDES FILHO, 1989, p. 51).
2.2.2 Bases teóricas que contribuem para o entendimento da consciência pública
Com a finalidade de avaliar as mensagens sobre os agrotóxicos, presentes nas
revistas e jornais que constituíram a amostra desta pesquisa, investiga-se os seguintes
autores que abordam a construção e divulgação de informações nos processos de
comunicação: Teoria do cultivo (GERBNER et al., 2002); Agenda-setting (MCCOMBS,
2009); Teoria do framing ou enquadramento (ENTMAN, 1993); Modelo de propaganda
(HERMAN; CHOMSKY, 2003); Fabricação de consenso (CHOMSKY, 2003); As
publicidades e propagandas (LEISS; KLINE; JHALLY, 1997, VESTERGAARD;
SCHRΦDER, 1996, WILLIAMSON, 1978 e ELLUL, 1968); A mídia como modeladora da
linguagem (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993).
Os meios de comunicação são instrumentos extremamente importantes na
formação da consciência da população. rios autores referem-se ao poder dos
veículos de massa na condução da opinião pública, entre os quais, Girardi (1988), em
seu trabalho sobre a ideologia da modernização agrícola.
Diversas formulações e teorias relacionadas à mídia têm sido desenvolvidas,
objetivando verificar de que maneira as informações são transmitidas e quais as suas
influências. Em Public Opinion, de 1922, Walter Lippmann concluiu que o mundo real e
o apresentado pela mídia podem ser e frequentemente são diferentes.
86
As pessoas agem não baseadas no que realmente está se passando ou
que tenha ocorrido, mas naquilo que imaginam seja a situação real conseguida
de descrições fornecidas pela imprensa (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p.
279).
A teoria de Lippmann, portanto, se baseia em uma imprensa que cria ilusões que
irão determinar nossas atitudes. “Sua importância é ser uma das primeiríssimas
afirmações do papel das comunicações de massa na construção de significados que
formam a base para a ação humana” (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 280). A
propagação de tal crença configura-se coerente com o que ocorre na imprensa nos dias
atuais.
2.2.2.1 Cultivando crenças irreais
A formulação denominada Cultivo Mediático, de autoria de George Gerbner e
colaboradores, “surgiu da preocupação nacional com os efeitos da violência que
caracterizou os anos 60 e 70” (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 282). Sua
hipótese central, conforme estes autores, é a de que determinadas informações
apresentadas pela mídia influenciam as atitudes ao formar as crenças das pessoas.
Cardoso Filho (2007) explica que a Hipótese do Cultivo Mediático, também
conhecida como Teoria do Cultivo, Teoria da Cultivação ou Teoria do Efeito Cultivado
foi desenvolvida a partir de um projeto de pesquisa denominado Cultural Indicators, em
1967. A sua proposta, na época, visava
Compreender as conseqüências do crescimento dos indivíduos num
ambiente cultural centrado na televisão, através da análise das notícias e dos
conteúdos violentos veiculados pelo meio. Mais tarde, o projeto se expandiu e
passou a investigar os efeitos de qualquer conteúdo televisivo (CARDOSO
FILHO, 2007, p. 3).
Desse modo, Gerbner et al. (2002) objetivaram verificar os efeitos de longo prazo
dos programas transmitidos pela TV em jovens que cresceram sob esses impactos.
Assim, preliminarmente, pode-se afirmar que “cultivo é um contínuo e dinâmico
processo de interação entre mensagens, audiências e contextos” (GERBNER et al.,
2002, p. 49).
Cardoso Filho (2007) relata que o termo cultivo
87
É empregado, normalmente, para se referir aos cuidados com
plantações - cultivo de hortaliças - ou terrenos, mas também está intimamente
relacionado ao termo cultura. Na realidade, ambos são sinônimos - sendo
possível se referir à cultura de hortaliças - o que permite aproximar a hipótese
do Cultivo Mediático a uma espécie de hipótese da Cultura Mediática.
Estabelecer a relação entre esses termos é importante porque no período em
que a hipótese se desenvolveu, final da década de 60, a TV representava com
força [a] visão predominante do mundo através da sua capacidade de
enculturação. Esse conceito, formulado pela antropologia, se refere ao processo
de assimilação de valores, imagens e julgamentos que permitem aos indivíduos
a socialização (CARDOSO FILHO, 2007, p. 4).
Assim, quando Gerbner afirma que a TV cultiva determinados efeitos nos
espectadores, o autor está chamando a atenção para o
Processo dinâmico e contínuo característico de todas as práticas de
enculturação. Ele procura demonstrar que sua hipótese está preocupada com
os efeitos a longo prazo e o com os efeitos imediatos dos media, o que
distingue essa construção teórica das perspectivas que pensam a ação dos
meios como causadores de efeitos diretos para uma outra que os entende como
alteradores da estrutura cognitiva e de socialização das pessoas (CARDOSO
FILHO, 2007, p. 4).
Partindo do princípio de que a TV tem um papel central no âmbito dos meios de
comunicação de massa, os criadores da hipótese do cultivo afirmam que “a TV é um
sistema centralizado de narrativa. Seus dramas, comerciais, notícias e outros
programas levam um sistema relativamente coerente de mensagens para o interior de
cada casa” (GERBNER et al., 2002, p. 44).
Argúi-se, no entanto, se as suas influências são mais determinantes nas pessoas
que apresentam menor intelectualidade, bem como condições sociais e econômicas
inferiores e se, em decorrência desses fatores, há possibilidade de distorções sobre o
conhecimento do mundo real.
Gerbner e Gross (2001) redarguem que
[...] as fontes alternativas de informação, como educação e leitura de
jornais, [...] embora [...] tenham alguma influência, assistir muito a televisão
ainda mostrava um efeito significativo. Por exemplo, enquanto os entrevistados
adultos que tinham alguma educação universitária eram menos influenciados
pela televisão que aqueles que nunca tinham ido à faculdade, os
telespectadores de ambas as categorias ainda mostravam a influência da
televisão. Obtivemos resultados similares, quando comparamos leitores
regulares de jornais com leitores ocasionais ou com não leitores (GERBNER;
GROSS, 2001, p. 16)
88
Embora Gerbner e Gross (2001) afirmem que a TV mostra efeitos significativos
nas audiências, a escolha desse meio como objeto de tais estudos se deve à sua
acessibilidade e a conteúdos mais disponíveis, razões pelas quais a televisão é mais
utilizada que as demais mídias para esclarecer dúvidas e entender o mundo.
Cardoso Filho (2007) aponta que
Essa percepção moldada pelo conteúdo televisivo incide sobre o
julgamento do espectador assíduo, que tenderá a responder a questões
relativas àquele conteúdo com uma “resposta de televisão”, mesmo que as
estatísticas sobre o assunto, na realidade, sejam diferentes. Tal hipótese aponta
para um efeito poderoso dos media na sociedade e toma como ponto pacífico o
fato dos indivíduos não conseguirem distinguir entre os conteúdos televisivos e
os problemas reais, apostando na confusão dos espectadores assíduos no que
diz respeito a esses assuntos (CARDOSO FILHO, 2007, p. 5).
O pesquisador sugere que a Hipótese do Cultivo Mediático seja estudada para
identificar como os efeitos de nível perceptivo são capazes de mudar atitudes e
comportamentos que afetarão o “mundo real”. Os estudos de Gerbner et al. (2002)
distinguem dois níveis de efeitos:
Os efeitos em primeira ordem, que atuam no âmbito perceptivo e
cognitivo, cultivando um “julgamento televisivo” no espectador assíduo, e os
efeitos em segunda ordem, que atuam no âmbito das atitudes e comportamento
desse espectador - podendo levá-lo a adotar medidas condizentes com o
proposto pelo texto mestre
34
televisivo (CARDOSO FILHO, 2007, p. 7).
Gerbner foi o pesquisador que mais estudou o conteúdo televisivo violento
quantitativamente, mas os aspectos qualitativos da abordagem dessa violência são
igualmente importantes e deveriam ser contemplados.
Ressalta-se que os programas violentos da TV não tornam as pessoas, per si,
violentas, mas o mundo lhes é apresentado diferentemente do que realmente é.
Para De Fleur e Ball-Rokeach (1993)
A análise da cultivação é um esforço promissor para ir atrás da
veterana questão de como conseguimos conhecimentos e como estes servem
de guia para nossa conduta. Auspiciosamente, tais avaliações das crenças das
pessoas ajudarão a revelar como a realidade mediata influencia nossos
34
Gerbner et al. (2001) apontam o texto mestre como o foco da análise do processo de cultivo.
89
significados para o mundo objetivo (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 283-
284).
2.2.2.2 Importância do agenda-setting para os meios de comunicação de massa
As interferências no curto-prazo também foram consideradas por McCombs
(2009), um dos primeiros pesquisadores a realizar pesquisas acerca da hipótese do
agenda-setting. Seus trabalhos envolvem tanto os estudos de análise e detecção das
funções dos veículos como os efeitos causados sobre a audiência, os quais se
destacam na disseminação das informações no mundo contemporâneo.
De Fleur e Ball-Rokeach (1993) mencionam que esta hipótese foi formulada a
partir do final de década de 1960 por Maxwell McCombs e Donald L. Shaw, tornando-
se, posteriormente, de grande importância para os estudos de campanhas políticas.
Conforme Hohlfeldt (1997), alguns resultados oriundos dessa pesquisa não
foram conclusivos, de forma que, em 1972, por ocasião de outra campanha eleitoral, os
pesquisadores se preocuparam com um novo trabalho concentrando-se em aspectos
não verificados em análises anteriores. Desses questionamentos surgiram respostas
mostrando influências recíprocas entre a agenda da mídia e a do público. Ainda,
observou-se um interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, de modo que
“estabelece-se, desta maneira, uma espécie de suíte
35
sui generis, em que um tipo de
mídia vai agendando o outro” (HOHLFELDT, 1997, p. 46-48).
Tal fato foi demonstrado na pesquisa elaborada por Massierer (2007), em várias
oportunidades durante a cobertura sobre a mortandade de peixes no Rio dos Sinos, em
dois jornais de Porto Alegre - RS, à medida que novos eventos foram surgindo no
cenário ambiental. Em razão da repercussão na imprensa e de sérias consequências
sociais a decisão de ambos os jornais - Zero Hora e Correio do Povo foi
[...] continuar suitando o assunto, também porque todas as empresas de
rádio e televisão continuaram veiculando a matéria do desastre ambiental no
35
Suíte de uma matéria jornalística refere-se a um dos desdobramentos da tematização. No decorrer das
publicações podem ocorrer múltiplos desdobramentos de uma dada informação, de maneira a manter a
atenção do receptor naquele assunto (HOHLFELDT, 1997, p. 50).
90
Rio dos Sinos, „inclusive a Folha de São Paulo‟, como salientou o editor de geral
à pesquisadora (MASSIERER, 2007, p. 176).
McCombs (2009) relata que as principais linhas de influência do Agenda-Setting
foram delineadas por Walter Lippmann, em seu clássico Public Opinion, no capítulo
intitulado “The World Outside and the Pictures in our Heads” - “O Mundo do Lado de
Fora e as Imagens em Nossas Cabeças”, onde ele mostra que as notícias da mídia são
uma fonte primária daquelas imagens sobre um mundo maior de questões públicas, um
mundo que, para a maioria dos cidadãos, está “fora do alcance, longe da vista, longe da
mente”.
O que nós conhecemos sobre o mundo é grandemente baseado no que
a mídia decide nos contar. Mais especificamente, o resultado dessa visão
mediatista do mundo é que as prioridades da mídia influenciam fortemente as
prioridades do público. Elementos proeminentes da agenda da mídia se tornam
proeminentes na mente do público (MCCOMBS, 2009, p. 2).
Wolf (2003) apresenta o agenda-setting como um conjunto integrado de
assuntos e estratégias de pesquisa, [...]” (WOLF, 2003, p. 144), cuja homogeneidade
encontra-se mais no enunciado geral da hipótese do que nas verificações empíricas,
devido principalmente a uma metodologia desuniforme que se emprega para a sua
realização.
A hipótese do agenda-setting no estado atual é, portanto, mais um
núcleo de ocasiões e conhecimentos parciais, suscetível de ser ulteriormente
articulado e integrado numa teoria geral sobre a medição simbólica e sobre os
efeitos de realidade, praticados pela mídia, do que um paradigma de pesquisa
definido e estável (WOLF, 2003, p. 144).
Nas suas palavras
A hipótese salienta a variedade existente entre a quantidade de
informações, conhecimentos e interpretações da realidade social, apreendidas
pelos meios de comunicação de massa, e as experiências de “primeira mão”,
pessoal e diretamente vividas pelos indivíduos (WOLF, 2003, p. 145.
Outras informações condizentes com as de McCombs (2009) salientam a
crescente dependência cognitiva da mídia, ou seja, um impacto direto - ainda que não
91
imediato - sobre os receptores, segundo dois níveis: a) “a ordem do dia” das temáticas
e problemas constantes na agenda da mídia; b) a hierarquia de importância e de
prioridade desses elementos na “ordem do dia” (WOLF, 2003, p. 145-146).
Desse modo, no curto-prazo, os acontecimentos proeminentes salientados como
importantes pela mídia passam a ser os temas ressaltados pelos indivíduos. Em outras
palavras, as notícias provenientes dos veículos de comunicação podem estabelecer a
agenda da população sobre determinados assuntos, em torno dos quais a opinião
pública se forma. Tal agenda é resultado de inúmeras decisões obtidas de diferentes
jornalistas e seus supervisores.
McCombs (2009) mostra que
A agenda pública - o foco da atenção pública - é comumente avaliada
pelas pesquisas de opinião pública que existem longo tempo. “Qual é o
problema mais importante enfrentado hoje neste país?” Comparações da
agenda da mídia nas semanas que precedem essas pesquisas de opinião,
mensurando a agenda blica produzem significantes evidências do papel do
agenda-setting das notícias da mídia (MCCOMBS, 2009, p. 2).
Para Traquina (2001),
O objetivo de muitos estudos que seguiram à publicação que deu
origem ao conceito de agendamento foi precisamente testar a hipótese teórica
avançada por McCombs e Shaw, ou seja, uma relação causal entre a agenda
jornalística e a agenda pública. Apesar de existir alguma discrepância nos
resultados dos dados empíricos, a pesquisa, em geral, aponta para uma
associação positiva entre as duas agendas (TRAQUINA, 2001, p. 34).
Hohlfeldt (1997) aponta os pressupostos da hipótese do agendamento, citando
como principais os seguintes: a) o fluxo contínuo de informação que guardamos em
nossa memória, mesmo de maneira imperceptível, consciente ou inconscientemente; b)
a mídia influencia o receptor, em períodos de tempo necessário para a concretização
dos efeitos de uma dada publicidade ou de uma temática e c) os meios de
comunicação, embora não imponham o que pensar sobre um tópico, influenciam, no
médio e longo prazos, o que pensar e falar. Assim, a agenda da mídia termina por se
constituir também na agenda individual e mesmo na agenda social (HOHLFELDT, 1997,
p. 144).
92
Colling (2001) apresenta três orientações de estudos sobre o agendamento, a
saber: a) pesquisas relacionadas à agenda pública, que trata dos efeitos que os meios
de comunicação exercem nas percepções da opinião da população, nas diversas
questões sociais; b) o estabelecimento da agenda política, conhecida como policy
agenda-setting, que trabalha a forma como os meios de comunicação condicionam as
percepções dos próprios representantes políticos e c) a construção da agenda,
denominada agenda building, que corresponde às análises sobre o processo de
construção da agenda oferecida pelos veículos midiáticos (COLLING, 2001, p. 94).
McCombs (2009) denomina de objeto as questões públicas tratadas pela mídia e
explica que
Os objetos são as coisas sobre as quais a atenção da mídia e do
público são pensados. Por sua vez, cada um desses objetos tem numerosos
atributos, aquelas características e traços que descrevem o objeto. Para cada
um deles também uma agenda de atributos porque quando a mídia e o
público pensam e falam sobre um objeto, alguns atributos são enfatizados,
outros recebem menos atenção e muitos o recebem qualquer atenção. Esta
agenda de atributos é outro aspecto do papel do agenda-setting nas notícias da
mídia (MCCOMBS, 2009, p. 5).
Convém salientar que a frase de Walter Lippman “as imagens em nossas
cabeças” mostra como o agendamento de questões ou de objetos apresentados pelas
notícias da mídia influencia a nossa percepção do mundo (MCCOMBS, 2009, p. 6).
Este último autor também relata essa contribuição para a agenda de atributos.
A agenda de atributos apresentada para cada uma destas questões,
figuras públicas ou outros objetos influenciam literalmente as imagens que
mantemos em nossas mentes. Imagens de candidatos políticos mantidas pelo
público e outras figuras públicas são os exemplos mais óbvios de agenda-
setting de atributos pelas notícias da mídia (MCCOMBS, 2009, p. 6).
Tal agenda interfere nas percepções relacionadas às questões ambientais. De
acordo com McCombs (2009), houve uma elevada correspondência entre um destes
questionamentos nos jornais japoneses e a maneira como os habitantes de Tókio
pensaram sobre oito de seus aspectos (MCCOMBS, 2009, p. 7).
Mccombs (2009) aponta que a base psicológica para a formação de opinião é a
seletiva atenção do público, que confia na saliência de objetos e de atributos da
93
agenda. Atentos à importância das notícias apresentadas por veículos de grande
circulação, alguns acadêmicos interferem nos debates apresentados por estes veículos,
tentando talvez interferir na agenda de discussões públicas. Por exemplo, a matéria
jornalística “Os agrotóxicos e a crise ambiental”, publicada no Suplemento Cultural do
jornal O Estado de S. Paulo, refere-se aos efeitos colaterais dos produtos químicos
usados no controle de pragas, os quais geram graves desequilíbrios na natureza
colocando em perigo a vida dos animais úteis e do próprio homem. Nesta publicação,
Paschoal (1978a) relata que, “a cada ano centenas de pessoas morrem intoxicadas por
agrotóxicos, quer no seu manuseio, quer pela ingestão de alimentos contaminados
acidentalmente” (PASCHOAL, 1978a, p. 10-11).
Foi interessante verificar que desde 29 de janeiro de 1978, data desta
publicação, o Prof. Paschoal vem contribuindo com seus conhecimentos sobre os
danos que esses produtos causam à saúde humana, a fauna e ao ambiente tentando
introduzir na agenda pública tal assunto.
No texto abaixo, ele propõe o termo agrotóxico para se referir aos agentes
tóxicos usados na agricultura. Segundo o seu relato:
“Agrotóxico” é um novo termo que venho propondo para substituir as já
difundidas mas errôneas e irrealísticas terminologias pesticida”, “praguicida” e
“defensivo”. [...] A palavra “agrotóxico” não apresenta os inconvenientes das
outras terminologias. Pode ser usada em sentido geral para incluir todos os
produtos químicos (inseticidas, acaricidas, herbicidas,fungicidas, etc.)
empregados nos agroecossistemas. Evidencia a exata natureza desses
produtos (tóxicos), o local do uso (agroecossistemas), além de identificar a
ciência que estuda os seus efeitos (Toxicologia e Toxicologia Ambiental)
(PASCHOAL, 1978a, p 10).
Assim, o Prof. Adilson Paschoal tornou-se o “Pai do termo „Agrotóxico‟”, cuja
proposição, descrita também em seu livro “Pragas, praguicidas e a crise ambiental:
problemas e soluções” (PASCHOAL, 1979c, p. 35), é mais apropriada, visto aludir à
ciência que estuda esses produtos tóxicos.
Além do artigo supracitado, o pesquisador redigiu outros, contribuindo com
informações importantíssimas e proporcionando conhecimentos sobre o tema à
população, além de enriquecer culturalmente os leitores de um dos maiores jornais de
circulação nacional. Entre eles, “Os agrotóxicos e as pragas nos trópicos”, publicado no
94
Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo, enfatizou que “nos
agroecossistemas dos trópicos, os inimigos naturais são os mais importantes agentes
reguladores das populações de pragas, e os inseticidas e outros agrotóxicos, os mais
importantes agentes de desequilíbrio biológico” (PASCHOAL, 1979b, p. 4).
Em outro artigo, intitulado “Conceito de controle”, publicado no Suplemento
Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo, explica que “o uso inadequado dos agrotóxicos
levou a um novo conceito de controle de pragas”.
O controle de pragas é matéria amplamente ecológica. Seus princípios
são o de evitar danos econômicos causados pelas pragas e o de impedir efeitos
colaterais dos produtos químicos, minimizados pelo uso mais racional [...] O
ecologista percebe que o sistema somente funcionará se a reduzida
diversidade puder ser mantida em nível tal que uma teia alimentar de
predadores, parasitos, patógenos e competidores possa coexistir com as
pragas durante toda a fase da cultura e, assim, seja possível mantê-las sob
controle natural por longo período de tempo (PASCHOAL, 1979a, p. 6).
Relativizando tais contribuições, verifica-se que as agendas de questões e de
atributos publicadas pela mídia de massa influenciaram “as imagens em nossas
mentes”, esclarecendo conceitos e formando a opinião pública sobre os agrotóxicos,
tendo sido implantado, na época, o Receituário Agronômico. Anos mais tarde, em 1989,
graças aos trabalhos e à persistência de alguns ambientalistas, foi instituída a Lei dos
Agrotóxicos. Assim, supõe-se que um agendamento muito distorcido é possível se
os técnicos e os acadêmicos da área não tiverem um posicionamento questionador.
Chomsky chama este fenômeno de “ignorância proposital”.
McCombs (2009) explica que a opinião pública também pode ser influenciada
pelo tom das notícias presentes nos veículos de comunicação de massa (MCCOMBS,
2009, p. 14).
Em outras abordagens teóricas, o tom das notícias também é considerado objeto
de análise. Por exemplo, há relatos de McLuhan (2007) sobre a importância do tom ao
se referir a um relatório sobre a África - Communication in Africa, comentando acerca
de um africano
Que sofria um bocado para ouvir, todas as noites, o noticiário da BBC -
embora não entendesse nada do que se falava. Mas estar em presença
daqueles sons, às 7 horas da noite, diariamente, era importante para ele. Sua
95
atitude para com a fala era igual à nossa diante da melodia: a entonação
ressonante já é bastante significativa (MCLUHAN, 2007, p. 35).
Para o nativo africano, ouvir o noticiário em outro idioma era importante, mesmo
não conseguindo compreendê-lo. O tom da mensagem era suficiente para as suas
percepções comunicativas.
O autor observa que, em certas circunstâncias, são necessárias mudanças de
tom e de atitude, de forma a harmonizar o convívio social.
Na esfera puramente pessoal e privada, muitas vezes nos lembramos
de como mudanças de tom e atitude são requeridas em diferentes estações e
ocasiões, a fim de manter a situação sob controle. Os clubmen ingleses, a bem
do companheirismo e da amabilidade, muito excluíram de sua conversação
certos tópicos particularmente quentes, tais como religião e política, no âmbito
de seus clubes altamente “participacionais” (MCLUHAN, 2007, p. 45).
Assim, os efeitos do tom em manchetes de jornais e revistas que relatam os
efeitos dos agrotóxicos são passíveis de interferir nas percepções do público, que
acaba formando imagens distorcidas em suas mentes. Como veremos no decorrer
dessa pesquisa, a cobertura midiática geralmente ressalta os efeitos benéficos e
raramente os maléficos.
Porém, não é o caso de outra matéria jornalística publicada por Paschoal
(1979d), no Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo, intitulada “Uso
prejudicial dos agrotóxicos” explicando que
As perdas de 20% a 30% na produção, que se acredita poder ocorrer
caso todos os inseticidas, fungicidas e outros tóxicos sejam abolidos, apenas
refletem o fato de que somente esses produtos têm sido usados no combate às
pragas e doenças. Com pouquíssimas exceções, as pesquisas no campo do
fitossanitarismo, voltadas para outros mecanismos de controle de pragas, foram
tremendamente reduzidas e desacreditadas com o aparecimento no mercado
dos “infalíveis” produtos sintéticos (PASCHOAL, 1979d, p.7).
O tom da mensagem relatada por Paschoal, assim como outras publicações
relacionadas (GIRARDI, 2000, p. 45-46), implicou em alterações no comportamento das
pessoas em relação aos danos à saúde humana e ao ambiente, provocados pelos
agrotóxicos.
Tais mudanças são mostradas por Girardi (2000):
96
Na medida em que as conseqüências negativas da Revolução Verde
adquiriam visibilidade, foram surgindo em diversas partes do mundo
movimentos alertando para os danos provocados pelo uso das tecnologias ditas
modernas. Congressos, seminários, publicações e denúncias na imprensa
foram unindo cientistas, ecologistas, profissionais liberais - especialmente
agrônomos -, donas-de-casa, estudantes, entre outros, que começaram a
participar de um número crescente de atividades conjuntas e a contribuir para a
formação de uma consciência de cidadania e a exigir soluções das autoridades
governamentais (GIRARDI, 2000, p. 47).
No Brasil, as reações ao modelo agrícola da Revolução Verde foram sentidas
nos campos produtivo, acadêmico e político. A autora aponta os projetos desenvolvidos
no campo produtivo:
A Estância Demétria, em Botucatu (SP), seguindo o modelo
biodinâmico; a Cooperativa Ecológica Coolméia, em Porto Alegre; e a
Coonatura no Rio de Janeiro. Surgidas nos anos 70, seus frutos têm-se
multiplicado até hoje. No Rio Grande do Sul, por exemplo, um número
crescente de associações de agricultores ecologistas comercializam seus
produtos através da Coolméia, cujos trabalhos de associativismo e metodologia
de construção das feiras ecológicas têm atraído agricultores, consumidores e
técnicos do próprio Rio Grande do Sul, de outros estados e até de outros países
(GIRARDI, 2000, p. 61).
E ressaltando uma obra relacionada à política e educação, Girardi comenta que
o “Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?”, do ambientalista José Lutzenberger,
[...[ tece fortes críticas ao industrialismo, ao modelo agrícola e propõe
uma agricultura mais ecológica. Seu trabalho que se situa num campo mais
político e educativo marcou profundamente os rumos do ambientalismo no Rio
Grande do Sul. Fundador da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente
Natural, organização não-governamental que ainda hoje tem atuação política
respeitável, contribuiu com a congregação e formação de muitos ecologistas,
que exercem atividades nos mais diferentes setores da sociedade (GIRARDI,
2000, p. 61-62).
As consequências das publicações, alertando sobre os danos causados pelo
uso dos agrotóxicos à saúde e ao ambiente, na formação da opinião pública, foram
comprovadas por Girardi (2000), através do seguinte relato:
No campo político, no que concerne especificamente à legislação, cabe
registrar que a primeira regulamentação para tentar reduzir o uso agrícola dos
agrotóxicos foi implementada em 1977 no Rio Grande do Sul. A Assembléia
Legislativa do mesmo Estado aprova, em 1982, a primeira lei estadual de
97
agrotóxicos no País. Os dois momentos foram o resultado da pressão da
comunidade sob a liderança da Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul.
Anos mais tarde, em 1989, o Congresso Nacional aprovou uma legislação de
agrotóxicos, que mesmo sendo um marco político importante nunca foi
totalmente respeitada (GIRARDI, 2000, p. 62).
Essas opiniões foram tão fortemente disseminadas que em 1989,
Surge em São Paulo a Associação de Agricultura Orgânica formada por
pesquisadores e agricultores orgânicos, que inauguraram em 1991 a primeira
Feira do Produtor Orgânico do Estado, no Parque Fernando Costa. Com o
tempo tais experiências foram se espalhando pelo território nacional (GIRARDI,
2000, p. 63).
Conclui-se, portanto, que o agenda-setting é um fator importante no processo de
influência dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública, uma
vez que as pessoas julgam a saliência de um tema de acordo com a relevância das
mensagens veiculadas pela mídia. É a saliência na agenda que diz para o público sobre
quais tópicos deve pensar. Portanto, dependendo da mídia, sofremos mediações, não
em curto, mas no médio e longo-prazos, cujo processo promove a inclusão de certos
temas na agenda pública.
Ressalta-se que um ponto comum dos estudos efetuados por vários
pesquisadores de agenda-setting
36
é que em um dado momento, ou dentro de um
período de tempo, diferentes meios de comunicação colocam uma saliência similar num
conjunto de assuntos. Por exemplo, um mesmo tema jornalístico é tratado em dois ou
mais veículos de comunicação, de modo a destacar a sua importância.
2.2.2.3 Enquadrando as mensagens
Estudos recentes abordando o agenda-setting vêm concluindo que os meios de
comunicação não indicam apenas sobre quais assuntos devemos pensar mas também,
como pensá-los. Colling (2001) relata que essas percepções foram possíveis através do
conceito do framing ou enquadramento, cujos estudos são os principais herdeiros da
teoria do agendamento.
36
Disponível em: http://www.midiab.com.br/pdfs/3Agenda-Setting.pdf Acesso em: 12/12/2008
98
Robert Entman (1993) é considerado atualmente o pesquisador que mais estuda
o campo do framing. Ele sustenta que qualquer que seja o seu uso específico, o
conceito de
Enquadramento, consistentemente, oferece um caminho para o
entendimento do poder dos textos midiáticos. Análises de frames elucidam a
forma exata que a influência sobre a consciência humana é exercida por uma
transferência (ou comunicação) da informação proveniente de um local - como
um discurso, enunciado, noticiário, novela -, para aquela consciência (ENTMAN,
1993, p. 51-52).
De acordo com o autor, o enquadramento basicamente envolve
Seleção e ênfase. Enquadrar é selecionar alguns aspectos de uma
realidade percebida e torná-los mais salientes no texto comunicativo de tal
modo a promover a definição de um problema particular de interpretação
causal, avaliação moral e/ou recomendação de tratamento para o item descrito
(ENTMAN, 1993, p. 52).
Para Gutmann (2006), a idéia de framing ou enquadramento se relaciona aos
ângulos das questões pautadas pela mídia. O termo framing designa a “moldura” em
que um determinado tema é pautado e posteriormente processado e discutido na esfera
pública. Cabe esclarecer que duas formas diferentes de utilização desta metáfora: o
framing da mídia, que se refere ao modo como certos temas o enfocados pelos
veículos de comunicação e o framing da audiência, que é relativo ao modo como o
público vai enquadrar alguns assuntos a partir do que é oferecido pelo meio.
Entman (1993) explica que certas situações políticas podem ser definidas
utilizando-se frames que
Definem problemas - determinam o que um agente causal está fazendo
com que custos e benefícios, geralmente medidos em termos de valores
culturais comuns; diagnosticam causas - identificam as forças criadoras do
problema; faz julgamentos morais - avalia os agentes causais e seus efeitos; e
sugere remediações - oferece e justifica tratamentos para os problemas e prevê
seus prováveis efeitos (ENTMAN, 1993, p. 52).
O autor defende que um “ângulo” dado a um tema ilumina algumas informações,
tornando-as mais salientes e significantes para uma audiência, ou seja, enquadra as
notícias ressaltando certos aspectos, enquanto reduz outros. O frame, portanto,
determina o que é mais noticiável às pessoas, ou como elas entendem e se lembram de
um problema, bem como avaliam e escolhem o seu modo de agir.
99
Uma compreensão de frames ajuda a esclarecer controvérsias
empíricas e normativas, principalmente porque o conceito de enquadramento
direciona nossa atenção para os detalhes do poder de um texto comunicativo. O
exemplo de comunicação de massa explorado aqui sugere como um
entendimento comum pode ajudar a constituir enquadramento como um
paradigma de pesquisa. Um paradigma de pesquisa é definido como uma teoria
geral que informa [...] sobre operação e resultados de um determinado sistema
particular de pensamento e ação. O paradigma de enquadramento poderá ser
aplicado com benefícios similares para o estudo da opinião pública e
comportamento eleitoral em ciência política; para estudos cognitivos em
psicologia social; ou para pesquisa sobre classe, gênero, raça em estudos
culturais e da sociologia, para citar alguns (ENTMAN, 1993, p. 55-56).
Colling (2001) e Gutmann (2006) citam Entman em relação à forma que uma
dada matéria jornalística pode ser enquadrada. Este último apresenta cinco elementos
que podem ser evidenciados nas palavras-chave, metáforas, conceitos, símbolos e
imagens. Assim, fotografias presentes nos textos narrativos podem sugerir o que não
está explícito nas redações.
O que Entman (1993) procura demonstrar com a teoria do framing é como as
pessoas percebem as questões importantes. Como por exemplo, determinadas
temáticas são consideradas pelos frames, que definem o que é omitido, bem como o
que deve ser incluído e como tais omissões dos problemas potenciais, das explicações,
avaliações e recomendações podem ser tão críticas quanto as inclusões nas
orientações da audiência.
Colling (2001) observa que para Entman, é possível através do framing
Verificar quem tem o poder no texto comunicativo porque conseguimos
chegar nas origens da mensagem, na verdadeira autoria da informação. Esse
poder é o de como pensar o mundo e o framing passa a ser uma ferramenta
empregada por aqueles que têm poder para transmitir o seu jeito de pensar
para os demais. O framing, de um modo geral, é como temos que pensar os
temas já estabelecidos pela agenda (COLLING, 2001, p. 95).
Segundo o autor, antes de Entman, o framing foi analisado por Erving Goffman
de outra maneira. Enquanto o primeiro estuda o enquadramento realizado pelos meios
de comunicação, Goffmann pensa o framing segundo a audiência. Ou seja, como os
membros de um público localizam, percebem e identificam as informações sobre uma
temática e as reordenam em suas mentes, de tal modo que reflitam o seu próprio ponto
de vista. Assim, para explicar certas questões transmitidas pelas mídias, os indivíduos
100
subtraem as notícias que lhes interessam, ou seja, formam um “quadro interpretativo” e
estabelecem as suas próprias opiniões (COLLING, 2001, p. 96).
Infere-se, portanto, que tanto os framings da mídia como da audiência destacam
elementos nos textos jornalísticos que contribuem para a formação da consciência
pública, na medida em que os temas salientados pelos meios de comunicação são os
que permanecem na mente dos indivíduos.
2.2.2.4 Distorções das informações - Modelo de propaganda
Outra teoria que se destaca quanto à influência das mensagens presentes nos
veículos de comunicação de massa assegurando a parcialidade das notícias é o
“modelo de propaganda”, de Herman e Chomsky (2003). Os autores explicam que as
notícias, antes de alcançarem o grande público, sofrem intervenções de sucessivos
filtros, cujo resultado é um conteúdo distorcido, mas aprovado, tanto pelos proprietários
dos veículos de comunicação como pelos grupos privados, pelo governo e de comum
acordo com os interesses publicitários e propagandísticos.
Esses filtros são descritos como:
a) o porte, a concentração da propriedade, a fortuna dos proprietários e
a orientação para o lucro das empresas que dominam a mídia de massa; b) a
publicidade como principal fonte de recursos da mídia de massa; c) a
dependência da mídia de informações fornecidas pelo governo, por empresas e
por “especialistas” financiados e aprovados por essas fontes primárias e
agentes do poder; d) a bateria de reações negativas como forma de disciplinar a
mídia; e) postura de mercado neoliberal (HERMAN; CHOMSKY, 2003, p. 62).
O Modelo de Propaganda pode determinar dois modos de distorção de
mensagens: a supressão de informação e o exagero dos problemas. Os autores
observam que quando surgem situações que desfavorecem os países inimigos dos
EUA, os veículos de comunicação exageram os fatos e empreendem extensas
campanhas de propaganda visando desmoralizá-los. Ao contrário, quando
acontecimentos muito semelhantes ocorrem em países amigos, a mídia suprime
informações mostrando interesses especiais e benignidade.
Traquina (2005) explica que para Herman e Chomsky as ligações entre a mídia, o
mundo dos negócios e o governo apresentam influências ideológicas sutis e que os
conglomerados midiáticos dominam o fluxo e o valor das notícias para o público.
101
Ademais, as empresas o fortemente dependentes de publicidades para se manterem
(TRAQUINA, 2005, p. 166).
Para Herman e Chomsky tudo gira em torno de interesses, que os
acontecimentos jornalísticos podem servir às relações públicas ou às exigências
ideológicas de um grupo de poder.
Para Traquina (2005),
Estes temas ou acontecimentos são então vistos como „grandes
estórias‟ e podem ajudar a mobilizar a opinião pública numa direção específica.
Em todos estes casos a cobertura dos media ou a publicidade salienta e
mobiliza o apoio público para ações da política internacional ou nacional
(TRAQUINA, 2005, p. 166).
Traquina (2005) coloca uma séria crítica à teoria de Herman e Chomsky (2003),
afirmando que esta “o campo jornalístico [como] uma arena fechada” (TRAQUINA,
2005, p. 167), onde os jornalistas, ou se propõem a colaborar com a mídia noticiosa, ou
“são totalmente submissos aos desígnios dos interesses dos proprietários” (TRAQUINA,
2005, p. 167).
Mas, apesar das depreciações deste autor relativas ao modelo de propaganda
de Herman e Chomsky, esta teoria é muito bem fundamentada e permitiu a verificação,
na pesquisa de Corrêa (2007), da parcialidade das informações e a manutenção das
posições das classes elitizadas, conforme a proposta dos autores.
Para Guareschi (1999), as distorções de notícias tornaram-se práticas regulares
quando se referem às informações internacionais. Elas representam não
necessariamente uma falsa apresentação dos acontecimentos, mas uma seleção
arbitrária e facciosa da realidade, e essas distorções podem ser demonstradas através
dos seguintes exemplos: ênfase exagerada de fatos sem sua real importância; uma
informação tendenciosa de interesse do sistema ou das empresas transnacionais e
distorção por pré-condicionamento dos acontecimentos (GUARESCHI, 1999, p. 63-64).
2.2.2.5 Manufaturando o consenso
No livro “O controle da mídia: os espetaculares feitos da propaganda” Chomsky
(2003), propõe que a democracia liberal fundamenta-se na “fabricação do consenso”,
102
ou seja, na arte de se fazer uma publicidade ou uma propaganda relacionada a temas
de destaque de forma a dominar a população - “o rebanho assustado”
37
- para que esta
não perturbe os “donos da sociedade”. Desse modo, obtém-se a concordância da
maioria da população mesmo quando os seus interesses são contrários àqueles
propostos pelo consenso a ser manufaturado.
A mídia, as escolas e a cultura popular têm de ser divididas. [...] O resto
do rebanho tem que ser apenas distraído. Dirigir sua atenção para alguma outra
coisa. Mantê-lo longe dos problemas. Certificar-se de que se mantenha no
máximo como expectador da ação, ocasionalmente emprestando seu apoio a
um ou outro líder real, que pode ser selecionado entre membros da classe
especializada (CHOMSKY, 2003, p. 17-18)
Assim, informações sobre determinados assuntos presentes nos meios de
comunicação de massa podem constituir verdadeiras propagandas e publicidades que
“fabricam o consenso” da maior parte do público.
2.2.2.6 Mídia como modeladora da linguagem
À medida que as comunicações em massa adquirem maiores proporções, pode-
se antecipar que terão influências crescentes em nosso vocabulário. A formulação A
função da mídia como modeladora da linguagemfoi inicialmente proposta por Melvin
De Fleur e Timothy Plax, que evidenciaram como os veículos vêm acrescentando novas
palavras e significados, disseminando os termos existentes, substituindo os antigos por
novos e oficializando convenções de significados para a linguagem (DE FLEUR; BALL-
ROKEACH, 1993, p. 287). Por exemplo, a palavra “defensivo agrícola”, por ser
amplamente utilizada pela mídia, passou a ser aceita pelas massas. Os veículos de
comunicação incorporaram em seu significado a defesa contra o ataque de insetos,
patógenos e ervas invasoras, quando na realidade é uma agressão à saúde pública e
ao ambiente. Trata-se, portanto, de uma distorção conceitual do termo agrotóxico, de
forma a incutir na mente dos cidadãos uma palavra que promove um suposto sentido de
segurança e proteção, entre outras benesses, contribuindo para a sua sedimentação e
popularização na sociedade.
37
“Rebanho assustado” é a designação dada por Lippmann aos “outros, os que estão fora do grupo, a
grande maioria da população” - a todos os outros” (CHOMSKY, 2003, p. 16).
103
Nas palavras de De Fleur e Ball-Rokeach (1993),
As funções da mídia na modificação do comportamento de suas
audiências são, em longo prazo, sutis e acumulativas. Ademais, os veículos
estão de tal forma entrelaçados com todas as outras formas de comunicação de
nossa sociedade que seus efeitos são quase impossíveis de isolar e examinar
de per si” (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 289).
2.2.2.7 Persuasão das publicidades e propagandas e o consumismo
Neste item é apresentado o modo como os anúncios publicitários possuem
geralmente a função de influenciar os consumidores a adquirir produtos. Nos meios
impressos, os métodos de persuasão utilizados diferem de outras mídias, mas o sentido
geral da publicidade pode ser considerado o mesmo.
Leiss; Kline e Jhally (1997) relatam que as publicidades ocupam um importante
papel em nossas vidas.
Nas sociedades modernas, as publicidades representam “uma forma
privilegiada de discurso” [...] Um século atrás, na América do Norte e na Europa
Ocidental as formas privilegiadas de discurso que entraram em contato nas
vidas das pessoas foram sermões de igrejas, discursos políticos e as palavras e
preceitos das pessoas mais velhas das famílias. Tais influências permanecem
conosco, mas sua proeminência nos assuntos diários e a força retórica e
autoridade moral que elas carregam estão menores agora; entre as sociedade
industriais, apenas parte de uma significativa população dos Estados Unidos
mantém a paixão pela retórica religiosa (LEISS; KLINE; JHALLY, 1997, p.1).
Os autores explicam que o espaço deixado por estas influências tem sido
preenchido pelos discursos sobre objetos, ou seja, os veículos de comunicação
inserem-nos nas publicidades com o propósito de exercer algum tipo de domínio sobre
o público. Assim, “uma parcela significativa da população conversa e age acerca dos
objetos (bons consumidores) e sobre o que eles podem fazer ou deveriam significar
para nós” (LEISS; KLINE; JHALLY, 1997, p.1).
Vestergaard e SchrΦder (1996) apontam que as publicidades são revestidas
esteticamente a fim de se adequarem ao gosto do consumidor, de acordo com o
seguinte relato:
A publicidade contribui para que os produtos pareçam esteticamente o
mais agradáveis [agradável] possível como também o anúncio se converte
numa realização estética [...] essa estetização da mensagem significa que os
104
anúncios podem ser analisados por meio de técnicas geralmente aplicadas às
artes verbais e visuais (VESTERGAARD; SCHRΦDER, 1996, p. 7).
Nesse modo de valoração estética, um produto é consumido por alguém porque
ela acredita que esse artigo lhe trará felicidade.
A propaganda, então, trata primeiro de fazer a estética da mercadoria,
transformando-a num desejável distintivo para o consumidor, que espera obter
um certo êxito particular. Depois, quando o distintivo for transferido ao
consumidor por meio da aquisição da mercadoria, procura-se fazer a estética do
consumidor, cuja ostentação de bens fascinantes se supõe atrair os sentidos e
os desejos dos outros, tal como a mercadoria é produzida para atrair os
sentidos e os desejos do consumidor, graças à imagem criada pela propaganda
(VESTERGAARD; SCHRΦDER, 1996, p. 173).
“Fazer a estética”, conforme escrevem os autores, significa “agradar por meio de
impressões sensoriais”, mas
Quando dizemos que determinado anúncio faz a estética da
mercadoria, temos outra idéia em mente: queremos dizer também que ele
confere uma ideologiaao produto, ao situá-lo num contexto ideológico que se
lhe transmite por contato (por exemplo, a família feliz, a tecnologia onipresente,
a Natureza). Desse modo, faz-se com que a mercadoria apele para os valores
conscientes ou subconscientes do consumidor (VESTERGAARD; SCHRΦDER,
1996, p. 173).
Ao tratar da associação de tais valores sentimentais às mercadorias, Williamson
(1978) demonstra que a publicidade encadeia “coisas provavelmente inatingíveis com
as que são atingíveis e, assim, nos restitui a certeza de que as primeiras estão ao
nosso alcance” (WILLIAMSON, 1978, p. 31).
Leiss; Kline e Jhally (1997) explicam que
Muitos economistas discutem que as publicidades distorcem a
adequada e uniforme distribuição da informação que o mercado necessita para
assegurar que os consumidores estão sendo apropriadamente informados
acerca dos novos produtos enquanto se tornam disponíveis, para que possam
fazer escolhas e expressar suas preferências [...] Isso, provavelmente terá
efeitos econômicos deturpados. Além do mais, [...] até que as publicidades
sejam definitivamente exibidas para atingir benefícios econômicos deveriam ser
consideradas como desperdício e prática ineficiente de negócios (LEISS;
KLINE; JHALLY, 1997, p.17).
105
Embora na literatura existam muitos relatos a respeito dos retornos financeiros
advindos das publicidades não um consenso sobre esse ponto de vista. Alguns
autores enfocam a importância do seu papel social e econômico nas sociedades
modernas.
No entanto, a publicidade é severamente atacada por políticos, que vêem nas
promessas enganosas de prazer o significado pelos quais grupos constituídos de
pessoas trabalhadoras, potencialmente revolucionárias, são comprados pelo sistema.
Os autores mostram que
A principal função cultural da publicidade não é vender benesses
particulares, mas persuadir-nos de que somente consumindo podemos
encontrar satisfação e felicidade. [...] A publicidade “representa” nossas
experiências, mas de uma maneira distorcida e artificial. Suas imagens
substituem a realidade (LEISS; KLINE; JHALLY, 1997, p. 29-30).
Desse modo, o consumidor compra, influenciado pelas enganosas associações
apresentadas pelas publicidades, sem saber o que está consumindo.
Leiss; Kline e Jhally (1997) destacam que muitos críticos sustentam que a
publicidade existe primariamente para criar demanda entre os consumidores. No
entanto, tais autores afirmam que o ponto central da publicidade não é criar demanda,
mas controlar as culturas. Para os publicitários, as pessoas possuem certos desejos e
necessidades, sendo perfeitamente capazes de encontrar o que querem. Tudo o que é
requerido para o eficiente funcionamento de uma economia de mercado é que os
consumidores, ao visitarem estabelecimentos varejistas ou examinarem as descrições
das etiquetas de produtos sejam informados que certos itens os satisfarão.
Assim,
A publicidade cria demanda, a qual não existiria na sua ausência,
manipulando impulsos emocionais das pessoas. As publicidades são
responsáveis por manipular as pessoas sutilmente intercalando realidade com a
fantasia e criando um magic show que torna difícil dizer o que é realmente
necessário ou onde está a linha entre o comportamento razoável e a
descuidada indulgência (LEISS; KLINE; JHALLY, 1997, p. 32).
Judith Williamson (1978) explica as distorções na estrutura de classes sociais
devido às publicidades.
106
Em nossa sociedade, enquanto as reais distinções entre pessoas são
criadas por seus papéis no processo de produção, como os trabalhadores, é o
produto de seu próprio trabalho que é usado nas falsas categorias invocadas
pela publicidade obscurecendo a real estrutura da sociedade pela substituição
das classes com a distinção feita pelo consumo de produtos. Assim, ao invés
das pessoas serem identificadas pelo o que produzem são identificadas pelo o
que consomem (WILLIAMSON, 1978, p. 13).
Ellul (1968), abordando os aspectos manipulativos da propaganda, relata a
ocorrência de
Supressão do espírito crítico, essa incapacidade de discernir o
verdadeiro do falso, o individual do coletivo, o homem no inimigo, a ação do
discurso, a realidade da estatística etc. é um dos produtos mais evidentes
desse poder técnico: a inteligência humana não pode resistir à manipulação do
subconsciente (ELLUL, 1968, p. 377).
Segundo o autor, na ausência do espírito crítico, cria-se um domínio sagrado,
uma zona tabu no coração de cada indivíduo, por não poder discutir, julgar e apreciar
as questões, por conta dos reflexos condicionados estabelecidos pelas técnicas da
propaganda ou publicidade.
Em suma, os três fatos indicados (supressão do espírito crítico,
formação da boa consciência social, criação de uma zona sagrada) são facetas
de um mesmo fenômeno, que é a primeira conseqüência, a mais evidente,
dessa aplicação das técnicas psicanalíticas de massa. Sem dúvida, isso
confirma o movimento muitas vezes analisado pelos sociólogos do nosso
tempo, da criação das massas (ELLUL, 1968, p. 379).
Jacques Ellul (1968) apresenta ainda uma segunda conseqüência resultante das
manipulações provocadas pelas propagandas que “é a criação de uma espécie de
disponibilidade das massas” (ELLUL, 1968, p. 379). Nesse sentido, o autor cita
Monnerot, que afirma que a propaganda
[...] tem por fim fazer nascer e cultivar nas massas predisposições e
uma facilidade especial para fazer o que seria, em determinado momento,
estrategicamente oportuno que fizessem. Como a conjuntura política se
modifica, é preciso, às vezes, criar predisposições sucessivas (ELLUL, 1968, p.
379).
Através das cnicas publicitárias o indivíduo é esvaziado de suas tendências
próprias, tornando-se, na realidade, disponível em relação a todas as solicitações.
107
Assim, a propaganda tem muito menos necessidade de ser
fundamentada, de ser racional, de ser poderosa: deve produzir indivíduos
particularmente sugestionáveis, que se põem em movimento por pouca coisa.
Devemos então, distinguir duas espécies de propaganda: a de profundidade,
que é permanente e deve ser constantemente reforçada, que tem por fim por as
massas em disponibilidade, e a que tende a determinar uma ação precisa,
menos intensa, temporária, às vezes contraditória (pois às vezes são
necessários movimentos contraditórios das massas) e que opera uma simples
pressão (ELLUL, 1968, p. 379-380).
Infere-se, portanto, que as publicidades e as propagandas, por fabricarem a
cultura e interferirem na socialização dos indivíduos, incitam o consumo da
superfluidade, cuja aquisição lhes promete bens salutares. A isso, Vestegaard e
SchrΦder (1996) comentam que Haug considera “corrupção ou distorção dos valores
de uso” (VESTEGAARD; SCHRΦDER, 1996, p. 8).
2.2.3 Fontes de informação das notícias
A investigação das fontes utilizadas pelos repórteres é ferramenta de grande
utilidade nos processos de interpretação das mensagens, uma vez que permite saber
como os atores sociais se relacionam com as abordagens de uma temática, bem como
indicam as suas contribuições nos textos jornalísticos dos meios de comunicação de
massa. Permite também examinar os critérios de seleção das fontes utilizadas pelos
jornalistas. Esta seleção não é inocente e pode refletir interesses das empresas de
comunicação e de seus clientes.
Mauro Wolf (2003) qualifica as fontes distintamente em duas partes: a primeira é
relativa às fontes verdadeiras e a segunda contempla as agências de informação.
“Embora muitas vezes estas últimas sejam consideradas fontes para todos os efeitos”
(WOLF, 2003, p. 233). Essa distinção é legítima porque as agências são consideradas
empresas especializadas no fornecimento de informações.
Outras apreciações sobre as fontes se relacionam à sua confiabilidade. “Se a
fidedignidade da história não puder ser atestada com rapidez, o jornalista tenta basear-
se na credibilidade da fonte, na sua honestidade” (WOLF, 2003, p. 237). Assim, muitos
jornalistas e veículos preferem referenciar-se a fontes oficiais, valendo-se, entre outras,
das instituições governamentais que possuem poder e autoridade para informar.
108
Costa (2005) relata que as fontes de informação utilizadas pelos repórteres, às
quais compete contribuir de modo complementar na elaboração das notícias, podem
estar presentes “nos aparelhos do Estado, nas agências de comunicação ou
assessorias de imprensa, nas corporações, nas empresas, nas universidades, nos
partidos, nos sindicatos, nas ONGs e instituições em geral” (COSTA, 2005, p. 15).
O autor explica que as fontes de informações podem ser utilizadas para
manipular as mídias. Assim,
[...] o público encontrou uma maneira de participar, e as diferentes
fontes encontraram maneiras mais eficientes de manipular a mídia. Até explicar
que determinada informação não tem credibilidade, muitas vezes já se criou
uma versão transmutada em fato definitivo e inabalável. As facilidades de
comunicação tornam mais complicado o jogo da credibilidade [...] (COSTA,
2005, p. 16).
O relato de Costa (2005) mostra que, muitas vezes, as fontes podem distorcer
uma informação ao relatar uma história, divulgar o nome de uma instituição, realizar a
publicidade de um produto, de um local ou de uma empresa, com as prováveis
intenções, entre outras, de difundir alguma informação, vender a sua imagem e tornar-
se conhecida visando angariar adeptos e lucros e, desse modo, manipular a mídia.
Em sua pesquisa, Fontes (2009) analisa as duas formas básicas em que as
fontes e os meios de comunicação podem interagir. Assim, as fontes
[...] podem, tanto ser procuradas pelos jornalistas, com a finalidade de
fornecer informações ou expressar opinião, quanto recorrer à jornalistas e
veículos de comunicação, no intuito de divulgar informações e opiniões de
forma interessada. Esta segunda forma se expressa, essencialmente, através
da atuação de diferentes formas de comunicação institucional, tais como
assessoria de imprensa e porta-vozes. E, de certo modo, refere-se a um
processo recente e crescente de profissionalização das fontes de informação
(FONTES, 2009, p. 68).
No entanto, conforme menciona, a delimitação entre a ocorrência de uma e outra
forma não é evidente nos textos jornalísticos. Neste processo, não ficam explícitos os
potenciais conflitos de interesses.
Mauro (2005) relata que para a elaboração do conteúdo das mensagens de
certos gêneros jornalísticos, bem como em editoriais, a necessidade de se obter
109
informações sobre o tema a ser desenvolvido pelo redator. No trabalho intitulado
“Mensagens sobre a natureza: um estudo de duas revistas de turismo”, a autora
verificou como principais fontes as operadoras e agências de viagens, hotéis e
pousadas, empresas de aviação, redes de cartões de créditos e prefeituras dos
municípios da Chapada Diamantina (MAURO, 2005, p. 76).
Corrêa (2007), por sua vez, aponta a predominância das fontes governamentais
em informações relacionadas aos acontecimentos factuais das publicações das
matérias ambientais de um telejornal de alcance regional. Entretanto, esclarece que é
importante também verificar a realidade dos acontecimentos (CORRÊA, 2007).
Nesse sentido, Massierer (2007) explica que “mesmo depositando confiança nas
fontes, a identificação correta dos fatos a serem noticiados exige muita atenção dos
profissionais para que não se tornem vítimas de artimanhas políticas” (MASSIERER,
2007, p. 161-162).
Por isso, escreve que a procura pelas fontes não é um processo casual, embora
também não seja arbitrário.
O repórter, ao apurar uma informação, busca sua fonte dentre várias
opções, baseado em alguns critérios mais ou menos definidos pela prática
jornalística. Não se pode negar que um jogo de forças entre fontes,
especialmente aquelas institucionalizadas ou com interesses que vão além da
notícia, e os jornalistas. Nesse processo um precisa do outro: o repórter
necessita das informações para apurar sua notícia (e quanto mais exclusivas,
melhor) e a fonte, em muitos casos, tem interesse em ter seu nome relacionado
ao fato ou até mesmo em que determinado tipo de informação seja divulgado.
Uma forma de os jornalistas escaparem a esse interesse das fontes oficiais é
por meio do contato com especialista da área (MASSIERER, 2007, p. 191).
Herman e Chomsky (2003) avaliam a “cooptação dos especialistas” pelo
governo, que os inclui na folha de pagamento como consultores, financiando suas
pesquisas bem como organizando o think tank, de forma a assegurar a disseminação
de suas mensagens. Desse modo, “a dominação das fontes oficiais é enfraquecida pela
existência de fontes extra-oficiais altamente respeitáveis que fornecem visões
dissidentes com grande autoridade” (HERMAN; CHOMSKY, 2003, p. 82).
Esses especialistas são cooptados como consultores de revistas e jornais, tanto
os de informação geral como os segmentados em áreas específicas, principalmente na
seção “cartas”, para responderem às dúvidas dos leitores.
110
No entanto, em algumas ocasiões, tais especialistas não têm disponibilidade de
tempo para declarações ou depoimentos, ou não desejam se comprometer com certas
informações, de forma que as fontes governamentais são, na maior parte das vezes, as
mais consultadas.
Massierer (2007), em seu estudo abordando o jornalismo ambiental em dois
jornais do município de Porto Alegre - RS, confirmou a informação oficial como uma das
principais fontes (MASSIERER, 2007, p. 194). Resultados semelhantes foram
econtrados nas pesquisas relatadas por Fontes (2009) e por Ramos (1995), que
observaram a preponderância da categoria “governo”. Pereira (2002) também verificou
a hegemonia dessas fontes nas matérias publicadas pelos jornais O Estado de S. Paulo
e Folha de S. Paulo, em seu estudo sobre as intoxicações provocadas pelos
agrotóxicos no debate público socioambiental.
2.2.4 Veículos impressos e outras mídias
Os veículos impressos são caracterizados pelo aspecto visual das notícias,
iniciando pelos destaques dos assuntos a serem debatidos nas capas de revistas e nas
primeiras páginas dos jornais, algumas manchetes coloridas que despertam a
curiosidade das pessoas e o desejo de consumir.
Um dos elementos que salientam a importância destes meios é a fixidez das
mensagens, que permite uma leitura crítica possibilitando, por exemplo, a distinção
entre o gênero notícia, que possui caráter breve e imediato, e a reportagem, que
interessa mais aos jornais e revistas, na medida em que enseja uma discussão mais
aprofundada de uma informação, o que exigirá conhecimentos mais específicos do
jornalista que redige a matéria.
A palavra impressa demanda maior responsabilidade das pessoas que assinam
as matérias, sendo, portanto, mais confiável que os meios eletrônicos, cujos assuntos
são tratados superficial e instantaneamente, isto é, dizem respeito à imediatez da
comunicação.
Cabral (1996) destaca que as notícias eletrônicas demandam menor tempo para
a sua elaboração, devido não somente às facilidades da evolução tecnológica, o que
diminui o esforço do produtor, mas também à superficialidade das informações.
111
[A evolução técnológica] promove forte integração entre jornalismo e
telecomunicações. Multiplicam-se os satélites de recepção direta de tevê;
empresas jornalísticas de países de Primeiro Mundo enviam por satélites os
fac-símiles de suas edições diárias para outros países; fax, modem no
computador e correio eletrônico tornam-se cada vez mais frequentes nas
redações (CABRAL, 1996, p. 146).
Ou seja, as mensagens são tão curtas, fragmentadas e difusas que confundem
os ouvintes e telespectadores, que não conseguem entender a totalidade das questões
colocadas (MARCONDES FILHO, 1989, p. 40-41), necessitando, algumas vezes,
buscá-las em outros veículos de comunicação.
Costa (2002) aponta que a situação é mais agravante quando, em função do
tempo/espaço industrial de produção e difusão de mercadorias simbólicas, a seguinte
fórmula se concretiza: apresentar o máximo de informações num tempo menor de
exposição” (COSTA, 2002, p. 137).
Embora os meios eletrônicos atinjam a maior parte da população, os meios
impressos constituídos de jornais e revistas alcançam também ampla divulgação. Eles
funcionam como agentes multiplicadores em consultórios médicos e odontológicos, bem
como em escritórios públicos e privados. Sua disseminação não está restrita à área
técnica científica e tecnológica, de âmbito limitado. Abrangem, portanto, um público que
poderia se informar com maior eficiência e profundidade, não fossem os
obscurecimentos, as manipulações e distorções próprias dos meios de comunicação de
massa.
Cabral (1996) destaca que não alterações consistentes no modo de se fazer
jornalismo, indiferente do veículo em questão, o somente um interesse industrial para
vender mais e tornar os meios de comunicação mais competitivos no mercado. No
caso específico do radio, o autor explica que
Não se nenhuma radical mudança “epistemológica”, tão-só uma
consequência da lógica industrial do jornalismo: diante do maior poder da
radiodifusão no que diz respeito à velocidade de comunicação do fato - que
acrescenta à simultaneidade os fatores de instantaneidade e globalidade - , o
texto jornalístico simplesmente busca novos caminhos (CABRAL, 1996, p. 147).
O autor analisa a baixa credibilidade dos meios eletrônicos, principalmente por
causa da televisão.
112
A influência da comunicação eletrônica pode exercer-se, porém, de
outras maneiras. De fato, a sua hegemonia no que diz respeito à imediatez da
comunicação concorre para aumentar as diferenças (as quais está atenta a
indústria) entre o que se chamaria “informação de significação” (imprensa
escrita) e “informação de expressão (imprensa audiovisual). Nesta última - em
que reina a televisão - , são frágeis as fronteiras entre realidade e ficção, as
imgens tendem a ser mais verossímeis do que verdadeiras (CABRAL, 1996, p.
147).
Alguns jornais e revistas, na pretensão de competir com a televisão, mostram
notícias curtas, geralmente superficiais, com ilustrações em cores e estilo redacional
semelhante à informação de expressão (CABRAL, 1996, p. 147).
Para o autor, ilustrar uma matéria jornalística com uma imagem fotográfica
significa imobilizar a experiência do leitor, sendo esta “uma das razões da perfeita
adequação da fotografia ao jornal [...] A afinidade da foto com a notícia está nesse
reforçamento do movimento aparente do real” (CABRAL, 1996, p. 137).
Segundo Costa (2002), a publicação de fotografias nos veículos impressos pode
favorecer uma interpretação que não condiz com a realidade.
Nos veículos impressos, por exemplo, a definição dos destaques da
primeira gina, a utilização de fotos reproduzidas de agências internacionais e
a supressão de determinadas informações possibilitam forjar interpretação da
realidade (COSTA, 2002, p. 136).
Assim, segundo o autor, as fotografias utilizadas pela mídia impressa podem
caracterizar distorções das mensagens segundo a forma como elas o colocadas no
texto jornalístico.
Cabral (1996) explica que as imagens que compõem as notícias objetivam
colaborar para o entendimento dos textos, buscando novos caminhos para reduzir as
diferenças entre a imprensa escrita e a audiovisual.
A pressão das novas tecnologias informativas obriga o jornalismo
impresso, [...] a transformar os seus textos, inclusive a notícia, que passa a
comportar diagramas, recapitulações, quadros e a chamada infografia (a própria
imagem torna-se informativa). [...] ou seja, a noticia em que o fato básico faz-se
acompanhar de outros complementares, capazes de ampliar o seu raio
informativo (CABRAL, 1996, p. 146).
A inserção de aspectos gráficos como fotografias, infográficos, figuras e mapas,
por exemplo, complementam as informações, tornando-as mais compreensíveis aos
113
leitores. Tal fato é ressaltado por Massierer (2007), que salienta a presença de uma
editoria de arte para produzir infográficos de alta qualidade estética no jornal Zero Hora
de Porto Alegre, RS (MASSIERER, 2007, p. 58).
Para alguns veículos estes aspectos são considerados muito importantes na
manufatura diária das matérias jornalísticas e
É objetivo do veículo obter um efeito visual capaz de atrair a
atenção do leitor. Assim, a capacidade do evento em gerar boas imagens
também pode ser apontada como um valor/notícia importante, ou que pode
influenciar a definição do espaço destinado à matéria, se terá a publicação de
uma foto ou se a página será colorida (MASSIERER, 2007, p. 58).
Assim, de acordo com Costa (2002) e Massierer (2007) a publicação de alguns
aspectos gráficos nos veículos impressos pode implicar na presença de distorções,
consequência das rotinas de produção de notícias e, portanto são consideradas
voluntárias, embora sejam ainda responsáveis pelas involuntárias.
Ambas as distorções são verdadeiras e ocorrem normalmente nos textos
jornalísticos publicados pelos veículos de comunicação impressos, porém, em muitas
circunstâncias, elas se conflitam. Todavia, esclarece-se que os limites inflexíveis de
espaço nos jornais e revistas e a duração dos noticiários nos meios eletrônicos
determinam os cortes dos noticiários, de forma que são considerados próprios dos
critérios de elaboração e edição de notícias. Ao contrário, a distorção dos fatos
fundamentais da mídia são intencionais, os que podem ser controlados, como as
abordagens referentes ao modelo de propaganda de Herman e Chomsky (2003). Estas
são determinadas pelas posturas elitizadas, relativas aos grupos de poder, que impõem
sua forma de pensar e de agir de acordo com os seus interesses econômicos,
ideológicos, políticos e sociais.
O motivo de comentar aqui a respeito de ambas as distorções
supramencionadas, se deve ao fato de mostrarem elementos importantes para as
análises realizadas nesse estudo.
É interessante abordar ainda as fragmentações das notícias pelos veículos
objetivando diminuir tempo e espaço de exposição das matérias, a fim de apresentarem
uma maior quantidade de informações. Tais fragmentações, muitas vezes, distorcem o
sentido das frases gerando desentendimentos e confusão nos leitores, ouvintes e
114
telespectadores. Estas, porém, são consideradas distorções o propositais
(MARCONDES FILHO, 1989), determinadas pelo caráter mercantil das empresas de
comunicação que visam apenas os lucros e, portanto, não devem ser equivocadas.
Retornando os elementos gráficos visuais, Silva e Oliveira (2008) observam que
é importante “reconhecer na fotografia a presença de uma narrativa própria - visual e
simbólica - que é capaz de agregar e ampliar os sentidos e interpretações conferidos à
realidade pesquisada” (SILVA; OLIVEIRA, 2008, p. 383).
Para as autoras, as
[...] duas perspectivas para o uso da fotografia nas Ciências Sociais:
enquanto instrumento de pesquisa equivalente ao gravador e ao caderno de
campo; e enquanto meio capaz de constituir uma narrativa própria, comparável,
mas diferenciada da narrativa textual (SILVA; OLIVEIRA, 2008, p. 398).
Ou seja, a realização de uma análise de discurso, a partir de elementos
simbólicos presentes na fotografia, permite desconstruir e reconstruir a mensagem.
Assim, a presença de imagens nos textos jornalísticos impressos dos meios de
comunicação de massa induz o leitor a refletir sobre o seu significado, bem como o que
tais imagens ensejam transmitir.
Além da inclusão dos recursos visuais visando ampliar o poder competitivo dos
jornais e revistas frente ao consumo de notícias provenientes dos meios eletrônicos,
também a incorporação nos textos impressos de antigas formas narrativas tem por
finalidade diminuir o agravamento da diferença entre os meios de comunicação
audiovisuais e os tipográficos.
Com relação a essa diferença, Cabral (1996) explica que,
No passado (décadas de 20 e 30), quando surgiu a revista tipo
magazine como modelo de um novo produto jornalístico (uma provável reação
da imprensa escrita à concorrência do rádio), retornaram ao texto antigas
formas narrativas. [...] Desde os anos 60, nos Estados Unidos, o chamado New
Journalism [...] enfatizou essa tendência narrativa, apelando para a técnica
(literária) dos diálogos e da descrição minuciosa de cenas do cotidiano
(CABRAL, 1996, p. 147).
Os textos impressos salientam ainda a presença dos gêneros das matérias
jornalísticas, diferentemente das publicações dos veículos audiovisuais. Assim, em uma
115
revista ou jornal podem surgir notícias na forma de cartas, notas, reportagens,
reportagens de capa, por exemplo, que informam um tema que se quer destacar.
Complementando os esclarecimentos a respeito dos gêneros, das notícias e
reportagens das matérias jornalísticas, supramencionados no item referente às notícias,
Massierer (2007) revela que as notas são utilizadas apenas para preencher espaços
nos jornais, conforme o seguinte relato: “a chefe de reportagem perguntou para o editor
se ele precisava de notas e ele respondeu que „não, nós estamos apertados hoje‟”
(MASSIERER, 2007, p. 110).
As reportagens de capa e/ou de primeira página são decididas conforme o
impacto que aquela notícia poderá causar ao público. De acordo com Massierer (2007),
tal possibilidade é verificada em reuniões de pauta através da proposição dos temas
que se destacaram incluindo, em algumas delas, a publicação na primeira página
(MASSIERER, 2007, p. 124).
Segundo Cabral (1996)
O anúncio marca, portanto, a especificidade da notícia diante de outras
formas do texto jornalístico, como o editorial, o artigo, a crônica, a reportagem, a
entrevista, a nota. O que se anuncia? O fato básico dentro de uma pletora de
fatos suscetível de constituir um acontecimento noticiável. Lead - palavra que
significa conduzir”, guiar” - é o nome dado pelo jornalismo norte-americano a
esse privilegiamento do fato básico, que busca responder às perguntas tidas
como essenciais (quem, o que, como, quando, onde e por quê). Ele resume a
ação noticiosa, identificando pessoas, lugares e eventos, além de enfatizar os
aspectos considerados básicos do acontecimento (CABRAL, 1996, p. 142).
Assim, as notícias nos meios impressos podem ser transmitidas ao público
através de diferentes gêneros jornalísticos, tanto nas revistas e nos jornais de
informação geral, como nos segmentados. No rádio, na TV e na Internet os gêneros são
diferentes.
Os meios impressos foram ainda escolhidos por Girardi (1988), em seu estudo
sobre a ideologia de modernização agrícola, para o qual utilizou como fonte de dados
Jornais e revistas de conteúdo agropecuário de importância no cenário
nacional e vinculados a empresas jornalísticas, a empresa privada ligada à
agropecuária, à cooperativas agrícolas, à órgão governamental e à associação
de produtores (GIRARDI, 1988, p. 75).
116
Seu trabalho envolveu a classificação das matérias jornalísticas em categorias
verificando se seu posicionamento era favorável ou desfavorável ao uso dos insumos
modernos e de máquinas agrícolas.
Enquanto Pereira (2002) trabalhou com material impresso
Dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo no período 1996-
2000, escolhidos por conta das seguintes razões: são dois dos quatro jornais
mais importantes do Brasil, tanto pela tiragem, como pelo prestígio que ambos
possuem junto ao Estado, à sociedade civil e ao setor privado; a grande
imprensa da capital paulista exerce forte influência sobre a opinião pública
nacional, como sobre as pautas da imprensa radiofônica e televisiva; os
arquivos dos dois jornais estão disponíveis na internet; o do Estado por consulta
livre e o da Folha permitido com a assinatura do UOL (Universo On Line),
provedor de acesso à rede mundial de computadores ligado ao grupo Folha
(PEREIRA, 2002, p. 118-119).
O autor organizou as matérias em grupos temáticos para identificar aquelas
relacionadas aos agrotóxicos e seus impactos na saúde humana.
Fontes (2009) elegeu o jornal Folha de S. Paulo, dada a sua importância entre
os veículos impressos, com a finalidade de analisar criticamente as mensagens sobre
Gestão Ambiental correntes nessa mídia.
Cabe explicar que a mídia impressa especializada possui algumas características
que diferem dos veículos de informação geral. Por exemplo, o conteúdo das matérias
jornalísticas dos periódicos agropecuários está relacionado com as suas publicações
temáticas, o que não acontece com os veículos de informação geral, nos quais
assuntos diversificados são debatidos numa mesma edição. Outra diferença diz
respeito às publicidades. Quando publicadas nos veículos agropecuários, são mais
valorizadas pelo fato de suas matérias jornalísticas destacarem os seus conteúdos.
Formas diferentes de comunicação possuem significados distintos e possibilitam
outros tipos de relações com as pessoas. Por exemplo, McLuhan (2007), comparando o
livro e o jornal, escreve que psicologicamente, o livro impresso, como extensão da
faculdade visual, intensificou a perspectiva e o ponto de vista fixo” (MCLUHAN, 2007, p.
197). Enquanto que, o jornal é uma forma confessional de grupo que induz à
participação comunitária” (MCLUHAN, 2007, p. 231).
117
Ainda segundo o autor, uma notícia pode ter uma “coloração” que reforça o
interesse do leitor. Mas é a exposição comunitária diária de múltiplos itens em
justaposição que confere ao jornal a sua complexa dimensão de interesse humano”
(MCLUHAN, 2007, p. 231).
Já, no jornalismo on line a audiência torna-se fonte emissora, com propriedade
para estabelecer quais as informações que deseja obter, bem como o tempo da sua
leitura.
Na Internet, [...] o antigo “público-receptor” constitui-se agora como
fonte emissora, devido às possibilidades técnicas de que se investe todo e
qualquer indivíduo munido de computador, moldem e linha telefônica. Por um
lado, os blogs ou fontes alternativas de natureza individual implicam uma
intervenção pessoal nos discursos socialmente circulantes (ainda que, em
princípio, limitados ao espaço das redes cibernéticas) e acabam influenciando a
pauta jornalística profissional. [...] Em outras palavras, é o leitor quem termina
dizendo o que é notícia. Isto implica dizer que estão mudando os critérios da
pontuação rítmica (CABRAL, 2005 p. 11).
Diante dos motivos expostos e do poder hegemônico das novas mídias
eletrônicas observa-se ainda assim um papel importante dos meios impressos, razão
pela qual foram selecionados como fontes de dados desta pesquisa. No entanto, não foi
seu objetivo realizar análises comparativas entre eles, mesmo porque, McLuhan (2007)
ressalta elementos importantíssimos em seu livro intitulado “Os meios de comunicação
como extensões do homem”, no qual alude às mudanças tecnológicas que ocorreram
ao longo do tempo até a Era Eletrônica, em que nos encontramos.
McLuhan (2007) utiliza os critérios quentes ou frios para diferenciar os meios de
comunicação, alguns dos quais são descritos a seguir:
um princípio básico pelo qual se pode distinguir um meio quente,
como o rádio, de um meio frio, como o telefone, ou um meio quente como o
cinema, de um meio frio como a televisão. Um meio quente é aquele que
prolonga um único de nossos sentidos e em “alta definição”. Alta definição se
refere a um estado de alta saturação de dados. Visualmente, uma fotografia se
distingue pela “alta saturação”. uma caricatura ou um desenho animado são
de “baixa definição”, pois fornecem pouca informação visual. O telefone é um
meio frio, ou de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida uma magra
quantidade de informação. A fala é um meio frio de baixa definição, porque
muito pouco é fornecido e muita coisa deve ser preenchida pelo ouvinte. De
outro lado os meios quentes não deixam muita coisa a ser preenchida ou
completada pela audiência. Segue-se naturalmente que um meio quente, como
118
o rádio, e um meio frio, como o telefone, têm efeitos bem diferentes sobre seus
usuários (MCLUHAN, 2007 p. 38).
O autor relata que a palavra impressa é um meio quente porque dotada de uma
alta definição e especialização; contém muitas informações para salientar ao público,
redundando em menor participação em relação a um meio frio. Quanto mais quente o
meio, menor a participação das pessoas.
Uma conferência envolve menos [participação] que um seminário, e um
livro menos que um diálogo. Com a imprensa, muitas formas anteriores foram
excluídas da vida e da arte, enquanto outras ganharam uma nova intensidade.
Mas o nosso próprio tempo está cheio de exemplos do princípio segundo o qual
a forma quente exclui e a forma fria inclui (MCLUHAN, 2007 p. 39).
Assim, também o papel que é utilizado para um sem-fim, “é um meio quente, que
serve para unificar os espaços horizontalmente, seja nos impérios do entretenimento,
seja nos impérios políticos” (MCLUHAN, 2007, p. 39).
O autor cita que a luz elétrica é a informação pura, um meio sem mensagem, a
não ser quando verbaliza um anúncio ou nome, característica de todos os veículos,
significando que
O “conteúdo” de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou
veículo. O conteúdo da escrita é a fala, assim como a palavra escrita é o
conteúdo da imprensa e a palavra impressa é o conteúdo do telégrafo. Se
alguém perguntar, “Qual é o conteúdo da fala?”, necessário se torna dizer: “É
um processo de pensamento, real, não verbal em si mesmo” (MCLUHAN, 2007,
p. 22).
Seguindo a linha de pensamento de McLuhan (2007), pode-se dizer que os
agrotóxicos, são meios ou veículos que introduzem “mensagens” numa cultura, com
sérias implicações psicológicas e sociais, ampliando e acelerando processos
existentes. Tais informações, emitidas pelas corporações que produzem esses
produtos, induzem a agricultura da Revolução Verde, “aditivada” com agroquímicos,
através do pensamento de que o agronegócio e os agrotóxicos são necessários para
alimentar as pessoas. Como resultado dessas mensagens, os indivíduos olham a
natureza como inimiga, que pode ser poluída e contaminada pela intensa utilização
desses insumos agrícolas.
119
Pois a “mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de
escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas
humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou
caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções
humanas anteriores, criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente
novos. Isto se deu independentemente do fato de a ferrovia estar operando
numa região tropical ou setentrional, sem nenhuma relação com o frete ou
conteúdo do veículo ferroviário (MCLUHAN, 2007, p. 22).
Assim, considerando que “o meio é a mensagem”, a introdução dos agrotóxicos
numa sociedade altera os padrões sociais de organização, pois
Uma sociedade configurada segundo o apoio que lhe fornecem alguns
poucos bens tende a aceitá-los como liames ou elos sociais, tal como a
metrópole em relação à imprensa. O algodão e o petróleo, como o rádio e a
televisão, tornam-se “tributos fixos” para a vida psíquica da comunidade. É este
fato que, permeando uma sociedade, lhe confere aquele peculiar sabor cultural.
Cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por
todos os seus sentidos (MCLUHAN, 2007, p. 37).
Segundo as palavras de McLuhan (2007), que afirma que os meios são
extensões do homem, os agrotóxicos, como meios, também o são. Portanto,
constituem-se em tributos fixos sobre as nossas energias pessoais e psicológicas, os
quais, influenciando o inconsciente, nos tornam inconscientemente escravos da
contaminação.
Desse modo, e partindo do princípio de que o efeito de um meio se torna mais
forte e intenso justamente porque o seu conteúdo é outro meio, infere-se que o efeito de
um anúncio comercial de agrotóxicos é outro meio, porque ao alterar o psíquico dos
indivíduos, induz a sua compra, bem como o seu uso, sem se dar conta que danifica a
saúde, degrada e polui o ambiente. Assim, tais publicidades atingem todos os homens,
mesmo o “letrado que, aos tropeções no mundo dos anúncios, garganteia:
Pessoalmente, não dou atenção a anúncios” (MACLUHAN, 2007, p. 34).
2.3 Material e todos
Selecionou-se para esse estudo algumas revistas e jornais especializados na
área agropecuária, bem como de informação geral, de importância no cenário nacional
e vinculados a empresas privadas.
120
2.3.1 Síntese do perfil dos veículos de comunicação analisados
À exceção da revista Caros Amigos, verificou-se que o conjunto dos veículos
analisados neste estudo é orientado para a lucratividade.
As revistas e jornais amostrados na presente pesquisa são descritos a seguir:
2.3.1.1 Revista Globo Rural
A revista Globo Rural
38
é uma publicação mensal da Editora Globo, originada a
partir do programa Globo Rural, da TV Globo, e sua primeira edição circulou em outubro
de 1985. A sua proposta é fornecer ao leitor uma visão do mercado agropecuário. Além
de informar, prestar serviços e oferecer entretenimento, divulga tecnologias, sistemas
de produção e técnicas de plantio com o objetivo de melhorar a produtividade nas
lavouras. A revista é aberta às empresas anunciantes, inclusive de agrotóxicos. A sua
tiragem oscila em torno de 110 mil exemplares mensais e a circulação é nacional. A
revista é confeccionada em um padrão de 114 páginas, medindo cada uma 26,5 cm por
20,0 cm, resultando em 530,0 cm
2
.
2.3.1.2 Revista Veja
A revista Veja
39
é editada semanalmente pelo Grupo Abril e sua circulação
iniciou-se em 1968. Ela aborda temas do cotidiano da sociedade brasileira; algumas
vezes, do mundo como política, economia, cultura, comportamento e guerras, bem
como conflitos e negociações diplomáticas. Seus textos o elaborados em sua maior
parte por jornalistas; porém, nem todas as seções são assinadas. Trata também de
temas relacionados à tecnologia, ecologia e religião com certa regularidade. Possui
seções fixas sobre cinema, literatura, música e guias práticos sobre assuntos diversos.
Com uma tiragem superior a um milhão de exemplares por semana, a Veja é a revista
de maior circulação no Brasil e a quarta maior revista semanal do mundo. É
confeccionada em tamanho padrão mensurada em 26,5 cm por 20,0 cm perfazendo
530,0 cm
2
e seu número de páginas varia conforme os assuntos discorridos na semana.
38
Informações obtidas através do Instituto Verificador de Circulação / SP- IVC. Informações obtidas via e-
mail. Disponível em: <info.ivcsp@ivc.org.br . Site: http://www.ivc.org.br
39
Informações obtidas no Instituto Verificador de Circulação/SP- IVC através de e-mail. Disponível em:
<[email protected]. Site: http://www.ivc.org.br
121
2.3.1.3 Revista Caros Amigos
A revista Caros Amigos
40
chegou às bancas em abril de 1997 e a edição de
estréia vendeu 20.800 exemplares. Desde a sua origem, a revista funciona com base
na crença e militância de diversos colaboradores mensais. Ela é uma renovação
criativa, inovadora e recontextualizada das experiências e propostas consagradas na
década de 70.
Sem poder contar com os anunciantes e a propaganda que pouco se interessam
em investir em uma revista de “esquerda”, “Caros Amigos” tem buscado sua
sustentação e garantia de vida por meio do contato e do diálogo direto com seus
leitores. As publicidades que faz são quase sempre de prefeituras e órgãos públicos.
Com uma tiragem que varia de 40.000 a 50.000 exemplares mensais, é
confeccionada em um padrão de 46 páginas em formato tablóide, medindo cada uma
27,0 cm por 33,0 cm totalizando 891,0 cm
2
, maior do que o tamanho convencional
utilizado pelas revistas.
2.3.1.4 Revista A Granja
A revista A Granja
41
é a mais antiga do Brasil. Fundada em 1945, tem 65 anos
de ininterrupta existência. É publicada mensalmente pela Editora Centaurus e possui
como proposta informar os leitores das novas tecnologias. O público alvo concentra-se
nas Regiões Sul e Sudeste, apresentando 35,50% e 28,10% de leitores,
respectivamente. A maior parte - 84,90% dedicam-se à agricultura e/ou pecuária e
15,10% são profissionais interessados no agronegócio. Entre os seus anúncios
constam os de agrotóxicos.
As páginas são dimensionadas com 20,50 cm e 27,30 cm, compreendendo 560
cm
2
e o seu número varia conforme a edição da revista. A tiragem é de 60 mil
exemplares por mês e a circulação é nacional. A Figura 1 mostra a ilustração dessa
revista.
.
40
Disponível em: http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/cd4/alternatva/f_pereira_filho.doc
41
Revista A Granja. Mensagem informativa recebida por m[email protected]p.br em: 26 abr. 2009.
122
Figura 1 - Ilustração informativa da revista A Granja
123
2.3.1.5 Revista Balde Branco
A revista Balde Branco
42
é uma publicação mensal editada pela Cooperativa
Central de Laticínios do Estado de São Paulo. Apresenta em seu perfil editorial seções
fixas tais como editoriais, cartas, entrevistas, economia, mercado & negócios, raças &
leite, gestão & negócios, entre outras. Suas publicidades compreendem os agrotóxicos
de uso agrícola e os de uso veterinário.
Os leitores mais comuns são os produtores associados da própria cooperativa,
assinantes, dirigentes e técnicos de empresas. A tiragem é de 16.000 exemplares
mensais, distribuída geograficamente em sua maior parte - 69,4%, - na Região Sudeste.
As Regiões Sul e Centro Oeste apresentam menor número de leitores, 12,22% e
11,96%, e nas Regiões Norte e Nordeste a circulação é de 6,0% e 0,42%,
respectivamente.
As páginas apresentam o formato de 27,50 cm de comprimento e 20,0 cm de
largura, perfazendo 550,0 cm
2
. Em suas edições o número de páginas não é fixo.
2.3.1.6 Suplemento Agrícola do Jornal O Estado de S. Paulo
O jornal O Estado de S. Paulo
43
foi fundado em quatro de janeiro de 1875,
baseando-se nos ideais de um grupo de republicanos. No início, tinha quatro ginas e
uma tiragem de 2025 exemplares. A partir de 1970 disputou o mercado com o novo
padrão de jornalismo representado pela Folha de S. Paulo, passando a seguir por
uma reformulação gráfica que redundou, em 1991, na adoção de cores no jornal e
edições diárias.
Em seu suplemento agrícola, cujo primeiro número circulou em seis de janeiro de
1955, apresenta de 16 a 24 páginas, conforme o espaço ocupado pelas matérias
jornalísticas. A área de cada uma é de 768,5 cm
2
e caracteriza-se por ser um encarte
em formato tablóide. É publicado semanalmente às quartas-feiras e apresenta diversas
42
Disponível em: www,baldebranco.com.br. Acesso em: 15 jan. 2009.
43
Informações obtidas no Instituto Verificador de Circulação/SP - IVC. Disponível em:
<[email protected].br. Acesso em: 25 mar. 2009. site: http://www.ivc.org.br e Revista ADUSP n. 42, p.
23. jan. 2008.
124
seções relacionadas às novas tecnologias do universo agropecuário. Na primeira
página aparecem uma ou duas fotos coloridas, com chamadas para os destaques da
edição.
A tiragem deste jornal é de 230 mil exemplares diários e ocupa o sexto lugar no
ranking de maior circulação no Brasil e o terceiro na cidade de São Paulo.
2.3.1.7 Agrofolha do jornal Folha de São Paulo e jornal Folha de S. Paulo
A Folha de São Paulo
44
surgiu em 19 de fevereiro de 1921 com o nome original
de Folha da Noite. Ao contrário do jornal O Estado de S. Paulo, a Folha apoiou o
golpe de 1964 e a ditadura militar implantada, praticamente até o governo do presidente
General Ernesto Geisel. A partir do momento que altera a sua linha editorial consegue
reverter a sua imagem representada por sua colaboração com o regime militar e passa
a se identificar com a classe média intelectualizada paulistana, garantindo-lhe o
primeiro lugar em tiragem e em circulação com 311 mil exemplares diários no país.
Entre seus cadernos apresenta a Folha Dinheiro, na qual está anexada, em
apenas uma página, a Agrofolha, impressa às terças-feiras e mensurada em 1.708,0
cm
2
. As questões publicadas relacionam-se principalmente aos agronegócios nacionais.
2.3.1.8 Jornal de Piracicaba
Criado em 1900, o Jornal de Piracicaba
45
atua como líder de vendas em
Piracicaba e região, ocupando lugar de destaque no segmento dos veículos impressos.
Apresenta uma tiragem de 20 mil exemplares nos dias úteis e de 24 mil aos domingos e
sua circulação é regional.
44
Informações obtidas no Instituto Verificador de Circulação/SP-IVC. Disponível em:
<[email protected].br. Acesso em 25 mar. 2009. http://www.ivc.org.br e Revista ADUSP n. 42, p. 17, jan.
2008.
45
Disponível em: http://www.apj.inf.br/jornalpiracicaba.php; informações obtidas no Instituto Verificador de
Circulação /SP- IVC. Disponível em: <info.ivcs[email protected]. Acesso em: 25 mar. 2009.
125
O jornal é dividido em seções denominadas cadernos, nos quais diariamente são
publicadas notícias sobre a cidade, esportes e economia. Suas páginas m uma área
avaliada em 1.811,3 cm
2
.
2.3.2 Análise de conteúdo
Para a realização da análise de conteúdo, conforme Vala (1987), as matérias
jornalísticas dos veículos de comunicação que constituíram a amostra do presente
estudo foram primeiramente ordenadas em categorias definidas como:
[...] um certo número de sinais da linguagem que representam uma
variável na teoria do analista. Nesse sentido, uma categoria é habitualmente
composta por um termo-chave que indica a significação central do conceito
que se quer apreender, e de outros indicadores que descrevem o campo
semântico do conceito. Assim, a inclusão de um segmento de texto numa
categoria pressupõe a detecção dos indicadores relativos a essa categoria
(Hogenraad, 1984 apud VALA, 1987, p. 110).
2.3.2.1 Categorização
A categorização consistiu na classificação e reagrupamento das matérias dos
jornais e revistas amostrados nesse estudo em categorias temáticas. Nas revistas
Globo Rural, A Granja e Balde Branco essas matérias jornalísticas foram dispostas
em quatro categorias, segundo o formulário de codificação adaptado para esta
pesquisa, a saber: matérias sobre os agrotóxicos, anúncios comerciais sobre os
mesmos, matérias sobre outros assuntos agropecuários e anúncios sobre outros
produtos agropecuários Da categoria matérias sobre os agrotóxicos, abaixo
especificada, estabeleceu-se outras quatro, segundo os critérios de estímulo ou de
contenção ao consumo, ordenando-as em matérias favoráveis e desfavoráveis aos
agrotóxicos, factuais e as referentes às cnicas de produção alternativa, completando-
se oito categorias. Nos demais veículos constantes deste estudo, por não apresentarem
publicidades de agrotóxicos, analisou-se somente as matérias jornalísticas sobre esses
produtos, bem como as suas subdivisões. A publicidade presente na revista “Veja”
mostrada na Tabela 12 é institucional, não alude, portanto, a um produto específico,
razão pela qual se considerou, para essa revista, apenas a categoria matérias sobre os
agrotóxicos.
126
Após a classificação, mensurou-se os espaços ocupados pelas mensagens
provenientes de cada categoria temática instituída, as quais são descritas a seguir.
2.3.2.1.1 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
Constituiu-se daquelas nas quais apareciam palavras alusivas ao tema
agrotóxico como: herbicidas, fungicidas, inseticidas, venenos, remédios, produtos
químicos, controle químico, antibióticos, insumos agrícolas, defensivos, defensivos
agrícolas, pesticidas, produção orgânica, produtos orgânicos sem agrotóxicos,
agrotóxicos.
2.3.2.1.1.1 Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos
Considerou-se as que apresentaram mensagens que estimulavam o consumo de
agrotóxicos. Para que uma mensagem fosse considerada de incentivo a esses produtos
ela deveria conter subestimativas de riscos para a saúde humana e para o ambiente,
durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura, armazenamento e comercialização,
além de garantias de ausência de resíduos nos alimentos. Teria ainda que apresentar
informações sobre os benefícios das aplicações desses produtos, obtidos através do
controle de doenças, de pragas e de plantas invasoras nos campos de produção, bem
como os devidos retornos econômicos advindos desta prática agrícola.
2.3.2.1.1.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis aos agrotóxicos
Selecionou-se as que mostraram os efeitos prejudiciais à saúde humana, como
os sintomas oriundos das intoxicações agudas e crônicas devido às aplicações e aos
manuseio de produtos químicos. Considerou-se também nessa categoria os danos ao
ambiente como, por exemplo, as contaminações de águas superficiais e subterrâneas.
2.3.2.1.1.3 Matérias jornalísticas factuais
Escolheu-se as matérias que se limitaram a relatar fatos ocorridos, sem se
ocupar em defender ou em atacar o uso de agrotóxicos. Elas transmitiram uma
mensagem de neutralidade.
2.3.2.1.1.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa
Foram selecionadas aquelas que apresentaram técnicas que dispensam o uso
de agroquímicos, isto é, agrotóxicos e fertilizantes químicos solúveis. A Agroecologia é
127
a ciência representativa desses novos conhecimentos. A Agricultura Orgânica, a
Natural, a Biodinâmica, a Permacultura, a Biológica e outras são suas aplicações
práticas.
2.3.2.1.2 Anúncios comerciais de agrotóxicos
Considerou-se as publicidades de agrotóxicos. Estas publicidades apareceram
somente nas revistas especializadas na área agropecuária.
2.3.2.1.3 Matérias jornalísticas sobre outros assuntos agropecuários
Selecionou-se as publicações das revistas especializadas que não fizeram parte
da categoria matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos.
2.3.2.1.4 Anúncios sobre outros produtos agropecuários
Inseriu-se todos os anúncios de produtos e empresas, à exceção daqueles que
constaram nas publicidades de agrotóxicos.
Estas categorias serão exemplificadas, analisadas e discutidas por ocasião da
apresentação dos resultados.
2.3.3 Gênero das matérias jornalísticas presentes nos veículos impressos
As mensagens sobre os agrotóxicos dos jornais e revistas amostrados nesta
pesquisa foram analisadas quanto ao gênero. Procedeu-se a contagem de cada gênero
e as suas respectivas análises de conteúdo. Os seguintes gêneros são descritos a
seguir.
2.3.3.1 Cartas
Denominou-se cartas aquelas nas quais o leitor solicita alguma informação ao
veículo de comunicação. Os especialistas, oriundos de instituições de pesquisa, de
universidades, ONGs, entre outras entidades são convidados a desempenhar o papel
de consultores respondentes.
2.3.3.2 Notas
Chamou-se notas as informações fornecidas aos leitores sobre algum evento,
publicação ou programação presentes nos veículos amostrados.
128
2.3.3.3 Notícias
Considerou-se como notícias as mensagens breves, que transmitiram as
informações do momento atual.
Para Marcondes Filho (1989), as notícias transmitidas pelos jornais e revistas
são mercadorias colocadas à venda pelos grupos empresariais, por autoridades
governamentais, pelas organizações não governamentais, garantindo-lhes formas de
poder social, político e financeiro.
Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os
seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso a informação sofre
um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização,
padronização, simplificação e negação do subjetivismo. Além do mais, ela é um
meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de
poder político (MARCONDES FILHO, 1989, p., 13).
Pereira (2002), no entanto, simplifica explicando que a notícia é o resultado de
construção social, onde diferentes atores, entre os quais a própria mídia, interagem
entre si em um processo de mútuas influências (PEREIRA, 2002, p. 121).
Observa-se que ambos os autores supracitados não se atêm apenas às
mensagens do presente. As notícias para eles são as respostas dos processos sociais
ocorrentes do mundo atual.
2.3.3.4 Reportagens
As reportagens, embora consideradas notícias, dizem respeito às comunicações
mais consistentes, que abrangem um histórico de uma dada situação ou região, tendo
como referência o presente, mas abordando o passado e os aspectos referentes ao
futuro.
2.3.3.5 Reportagens de capa
Designou-se reportagens de capa as matérias que ocuparam a capa e/ou a
primeira página de uma dada revista ou jornal do presente estudo. As suas mensagens
foram consideradas relevantes pelo veículo amostrado e mereceram lugar de destaque
no corpo dos veículos impressos.
129
2.3.3.6 Informe Publicitário SEBRAE
As informações procedentes do SEBRAE estão relacionadas ao
empreendedorismo rural, às cooperativas e às novas legislações, além dos
agronegócios. As matérias informativas são publicadas pela revista Globo Rural, um
dos negócios das Organizações Globo, que chega ao século XXI como um dos maiores
grupos empresariais privados do país (BIONDI; CHARÃO, 2008, p. 12-13)
46
, além de
serem detentores da maior audiência das redes de televisão em 2006 (BIONDI;
CHARÃO, 2008, p. 10-11)
47
.
2.3.4 Mapeamento das fontes de informação das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos
De modo geral, considera-se fonte qualquer pessoa, entidade ou documento que
forneça informações ao jornalista para a elaboração de uma dada matéria.
Neste trabalho, concebe-se como fontes as informações ou opiniões concedidas
por cidadãos, instituições - públicas e privadas, empresas nacionais e internacionais,
entre outras, de cada jornal e revista analisado, por meio das quais os jornalistas
relataram as matérias publicadas.
O procedimento metodológico consistiu na realização de uma leitura analítica
minuciosa das matérias jornalísticas dos veículos de comunicação que compuseram a
amostra. É importante ressaltar que se considera apenas uma vez as fontes de
informação que se repetiram ao longo de uma mesma matéria.
2.3.5 Recursos comunicativos utilizados pela mídia impressa
Objetivando analisar os recursos comunicativos da mídia para atrair os leitores
contou-se a quantidade total de fotos, ilustrações, infográficos, mapas e figuras
presentes em todas as matérias jornalísticas que abordaram os agrotóxicos, publicados
em cada veículo de comunicação estudado nesta pesquisa. Esse procedimento
considerou todos os recursos constantes em uma mesma mensagem.
46
Organizações Globo. Revista Adusp, n. 42, p.12-13, jan. 2008.
47
Vide a Tabela 2, intitulada Audiência nacional das redes de TV em 2006, que se encontra na Revista
Adusp, n. 42, p. 10-11. Jan. 2008, na matéria: “O Mapa das mídias”.
130
2.3.6 Análises de discurso
Escolheu-se as matérias jornalísticas representativas do tema em estudo dos
jornais e revistas amostrados, as quais foram analisadas discursivamente, de acordo
com as categorias temáticas instituídas, ou seja: favoráveis e desfavoráveis aos
agrotóxicos, factuais e as relacionadas às técnicas de produção alternativa. Devido ao
seu elevado número, algumas análises não foram muito elaboradas, porém, apontaram
elementos qualitativos importantes para o objeto de estudo.
Os discursos
48
foram descritos, conforme a proposta de Orlandi (2007, p. 59), a
fim de se construir um dispositivo interpretativo, colocando o dito em relação ao não
dito, o que o sujeito diz em um lugar com o que é dito em outro.
Procedeu-se o estudo dos textos procurando perceber naquilo que o sujeito diz,
aquilo que ele não diz, mas que constituiu igualmente os sentidos de suas palavras.
Assim, construiu-se o dispositivo analítico que permitiu trabalhar nos limites da
interpretação, penetrando mais profundamente na transparência da linguagem. De
posse desse dispositivo, de-se empreender a análise, cujo processo iniciou-se pelo
estabelecimento do corpus. Este se constituiu de matérias jornalísticas e de anúncios
comerciais de agrotóxicos, os quais foram selecionados por manifestar um discurso que
melhor expressou o tema em estudo. A análise propriamente dita foi efetuada segundo
Manhães (2006), através da desconstrução do texto em discursos cuja técnica “permitiu
a localização dos elementos ilocutórios e a percepção de que interpretá-los é decisivo
para a compreensão da ação social e simlica em curso” (MANHÃES, 2006, p. 314).
2.4 Resultados e Discussão
2.4.1 Materiais amostrados
Com a finalidade de incrementar a compreensão dos perfis dos jornais e revistas
que compuseram a amostra desta pesquisa são apresentados na Tabela 1 o número de
edições e o período em meses.
48
Há várias vertentes sobre a análise de discurso, entre as quais citam-se: Martins (2004); Manhães
(2006); Resende & Ramalho 2006); Orlandi (2007).
131
Tabela 1 - Número de edições e período em meses dos veículos de comunicação analisados no
presente estudo
Veículos de Comunicação
N˚ de edições
Período em
meses
Suplemento Agrícola
57
13
Revista Veja
86
19
Jornal de Piracicaba*
26
01
Agrofolha
57
13
Globo Rural
25
25
A Granja
20
20
Balde Branco
27
27
Caros Amigos
12
12
Folha de São Paulo
31
01
*O Jornal de Piracicaba não circulou nos dias 02; 07; 14; 21 e 28 do mês de janeiro de 2008.
Na Tabela 2 está a distribuição por ano das revistas especializadas na área
agropecuária.
Tabela 2 - Distribuição por ano das edições das revistas A Granja, Balde Branco e Globo Rural durante
o período que transcorreu a pesquisa
Revistas
2005
2006
2007
2008
Total
A Granja
2
5
11
2
20
Balde Branco
6
9
7
5
27
Globo Rural
6
12
7
25
Nas Tabelas a seguir estão os resultados das análises de conteúdo efetuadas
nos nove veículos de comunicação de massa que compuseram a amostra deste estudo.
2.4.2 Análise de conteúdo
Os aspectos quantitativos realizados por meio das análises de conteúdo
permitiram desenhar o perfil dos veículos estudados, além de comparar os espaços
destinados por cada um deles às categorias instituídas; forneceu ainda subsídios às
técnicas de análises de discurso.
132
2.4.2.1 Categorização
As categorias temáticas adotadas para essa pesquisa possibilitaram
compreender a massa de dados e sua diversidade. Assim, o corpus constituído de
20.723 páginas, agrupado em oito categorias, conferiu organização às mensagens
jornalísticas.
2.4.2.1.1 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
Os números em porcentagens presentes nas Tabelas representam as médias
dos espaços ocupados pelas mensagens que abordaram os agrotóxicos publicadas nos
jornais e revistas.
Tabela 3 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas sobre agrotóxicos nos jornais e
revistas analisados
Médias (%) de Matérias
sobre os Agrotóxicos
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
7,8%
10,5%
3,7%
2,1%
6,0%
Balde Branco
2,3%
1,1%
4,1%
2,1%
2,4%
Globo Rural
5,5%
3,5%
8,2%
5,7%
Agrofolha
1,7%
17,6%
9,7%
Suplemento Agrícola
5,2%
6,5%
5,8%
Caros Amigos
0,0%
0,0%
Veja
0,0%
0,4%
0,2%
Folha de São Paulo
0,2%
0,2%
Jornal de Piracicaba
0,1%
0,1%
Total geral
3,4%
Conforme pode ser observado na Tabela 3, foi possível estabelecer uma análise
comparativa entre as três revistas especializadas na área agropecuária, verificando-se
performances semelhantes entre A Granja e Globo Rural, distintamente da revista
Balde Branco. Este fato pode ser explicado devido às diferenças das posturas
adotadas e dos interesses das duas primeiras em relação à Balde Branco, refletindo
nos números de exemplares mensais. As revistas A Granja e Globo Rural abordam
assuntos relacionados ao Brasil agropecuário, abrangendo um mercado amplo, o que
repercutiu em um maior número de matérias e nas tiragens de 60 mil e 110 mil
exemplares mensais, respectivamente. A especificidade da revista Balde Branco, que
133
é voltada a criadores animais, restringe suas publicações praticamente aos produtores
associados da própria cooperativa que edita a revista, traduzindo-se na tiragem de 16
mil exemplares por mês.
Na comparação entre os dois jornais especializados, verifica-se 9,7% dos
espaços do caderno Agrofolha e 5,8% do “Suplemento Agrícola destinados às
mensagens sobre agrotóxicos. Essa diferença no porcentual de matérias jornalísticas
pode ser atribuída ao número de ginas nos exemplares avaliados. Na “Agrofolha”
foram editados semanalmente 57 números, totalizando 57 páginas. No “Suplemento
Agrícola” as 57 edições corresponderam a 1060 ginas, elevando-se, provavelmente
por esse motivo, os percentuais de espaços publicados na “Agrofolha”.
A média dos dados referentes ao grupo constituído dos cinco veículos
segmentados na área agropecuária, representado pelas revistas A Granja, Balde
Branco e Globo Rural”, além do “Suplemento Agrícola” e “Agrofolha” ocuparam 5,9%
do espaço com matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos, enquanto nos jornais e
revistas de informação geral este índice foi de apenas 0,12%. Estes resultados mostram
que as publicações especializadas salientaram o tema sobre os agrotóxicos definindo,
desse modo, a agenda dos veículos de informação geral. Observou-se, portanto, um
interagendamento entre os diferentes tipos de mídia, em que um veículo agenda outro
(HOHLFELDT, 1997, p. 47-48).
Na presente pesquisa, os maiores percentuais de tais matérias foram
apresentados pela Agrofolha - 9,7%, seguida pela A Granja - 6,0%, pelo
Suplemento Agrícola- 5,8% e pela “Globo Rural” - 5,7%.
Com relação à revista Veja, que teve como contraponto a Caros Amigos,
observou-se valores nulos de mensagens que abordaram os agrotóxicos em 2007, em
ambas. Em 2008, a Veja exibiu 0,4% de publicações, o que representou 0,2% do seu
espaço no período correspondente à análise.
Pelo fato de as edições da revista Veja no ano de 2007 não terem publicado
matérias que abordassem os efeitos nocivos dos agrotóxicos, isso prejudicou a
proposta inicial da pesquisa de realizar a sua análise de conteúdo. Este estudo
constatou, portanto, ausência de informação sobre esta temática; assunto de maior
gravidade, que deveria estar em destaque, ocupando espaços importantes.
134
Herman e Chomsky (2003) esclarecem que
Os anunciantes desejarão, de forma mais genérica, evitar programas
com sérias complexidades e controvérsias perturbadoras que possam
prejudicar o “espírito de compra”. Eles procuram programas que representem
entretenimento leve e assim, se encaixem no espírito do objetivo principal do
patrocínio de programas - a disseminação de uma mensagem de vendas
(HERMAN; CHOMSKY, 2003, p.76).
Desse modo, ao invés de divulgar matérias jornalísticas que possam precipitar
controvérsias sobre os agrotóxicos e que gerem um clima de instabilidade para as
corporações desses produtos, bem como para a elite proprietária desse veículo de
comunicação, tais anunciantes preferem investir em temas suaves, que distraiam o
público leitor.
Como ocorre com muitos veículos de comunicação, a revista Veja está
totalmente inserida no mercado e similarmente aos outros, sofre os apelos de
acionistas, diretores e banqueiros de modo a direcionar suas matérias visando a ordem
dos lucros.
Em suma, as empresas de mídia dominantes são negócios muito
grandes; são controladas por pessoas ricas ou por administradores que estão
sujeitos a fortes restrições por parte dos proprietários e das forças orientadas
para o lucro e pelo mercado; estão intimamente interrelacionadas [inter-
relacionadas], e têm interesses comuns com outras importantes corporações,
com bancos e com o governo (HERMAN; CHOMSKY, 2003 p.72).
Assim, mensagens que tratam dos riscos prejudiciais dos agrotóxicos são
evitadas ou suprimidas de acordo com os interesses dos grupos que concentram o
poder e que dominam a mídia de massa, sendo esse o primeiro filtro do modelo de
propaganda.
Portanto, não seria vantajoso para a Veja publicar tais matérias, pois poderia
perder anunciantes, o que viria a diminuir os seus lucros. Do mesmo modo, as
empresas que investem em publicidades poderiam sofrer prejuízos financeiros. A elite
proprietária desse veículo certamente não concordaria com esse tema e dificultaria
essas publicações e usaria todos os meios possíveis para interferir. As fontes de
informações governamentais, corporativas, entre outras, também não desejariam que
essas mensagens viessem a público e diante dessa possibilidade a revista se arriscaria
135
a perder parcerias. Haveria ainda a possibilidade de ocorrer reações negativas tanto do
Estado como das corporações frente às informações sobre os efeitos maléficos dos
agrotóxicos. A Veja poderia ser alvo de censuras, o que não seria vantajoso já que é a
primeira
49
no ranking das revistas de maior circulação no Brasil (BIONDI; CHARÃO,
2008, p. 10-11), pelo caráter de suas publicações relacionadas à seriedade, veracidade
e credibilidade. Embora apresente em suas matérias uma despreocupação em
solidificar as informações que transmite, não deixa de ser um veículo de comunicação
bastante acessível. E para complementar esses argumentos, os quais passam pelos
cinco filtros do Modelo de Propaganda de Herman e Chomsky (2003), a postura de
mercado neoliberal da revista Veja não sustentaria as publicações de matérias
alusivas aos danos por agrotóxicos.
A revista Caros Amigos, nas 12 edições analisadas durante o ano de 2007,
também não abordou a problemática dos agrotóxicos. Distintamente da Veja, é mais
independente tanto de acordos com patrocinadores para as suas publicações quanto de
critérios mercadológicos predominantes na grande mídia e, portanto, estaria apta a
comunicar os efeitos prejudiciais dos agrotóxicos à sociedade. No entanto, não o fez.
A explicação mais plausível é que talvez ignore a necessidade de transmitir
essas mensagens. Pode ser também que sua política implique em desprezo pelas
questões ambientais, consideradas secundárias. Não se conclui que ela esteja
comprometida com os processos de informação frequentes das grandes empresas de
comunicação. Assim, muito provavelmente a supressão dessas notícias não se deve
aos fatores apontados pelo Modelo de Propaganda, como será visto a seguir.
No caso do primeiro filtro, a “orientação para o lucro das empresas que dominam
a mídia de massa”, que se relaciona com a concentração da propriedade e fortuna dos
proprietários, tem como meta primária a lucratividade. A Caros Amigos, ao contrário
das revistas que visam a rentabilidade se dedica à temerária empreitada de sustentar
uma publicação independente e crítica do status quo, em um ambiente de comunicação
contrário a tal tipo de jornalismo. Portanto, a sonegação das mensagens dos efeitos
prejudiciais dos agrotóxicos não passa por esse filtro.
49
O Mapa das Mídias, Revista Adusp, n. 42, p. 10 - 11. Jan. 2008.
136
As poucas publicidades desse veículo demonstram a sua independência de
patrocinadores para as suas publicações. A Caros Amigos apresenta anúncios que
geralmente são de Prefeituras e órgãos do Estado.
A obtenção de informações provenientes de fontes governamentais, de
empresas e de especialistas de instituições públicas e privadas também não são
motivos para suprimir informações sobre prejuízos causados pelos agrotóxicos. Há
jornalistas que redigem as matérias e que são bem conceituados. Essa mídia procura
enfocar os intelectuais nacionais e os assuntos políticos importantes com o objetivo de
informar e de constituir formadores de opinião que possam subsidiar as discussões na
elaboração de normas ou leis que auxiliem o país em alguma medida. Caso os
agrotóxicos fossem contemplados a revista contribuiria para a elaboração de políticas
públicas.
O quarto filtro “A bateria de reações negativas como forma de disciplinar a mídia”
também não deve ser a causa dessas distorções. A “Caros Amigos” denuncia as
hipocrisias da sociedade e de instituições e, portanto, não teria porque temer um
possível ataque, caso publicasse matérias relacionadas aos agrotóxicos.
Finalmente, no quinto filtro “postura de mercado neoliberal” esse veículo não
legitima tal sistema. Para a “Caros Amigos” os anúncios visando os lucros de mercado
são desimportantes.
Contrariamente ao exposto acima, a revista Caros Amigos
50
publicou uma
entrevista com Marie-Monique Robin, autora do livro “O mundo segundo a Monsanto”
(Robin, 2008), em que a investigadora das atuações da referida multinacional desvela
os escândalos da maior produtora de sementes transgênicas do mundo. A matéria
jornalística alerta ainda sobre os riscos de uma epidemia de câncer causada pelo uso
abusivo de agrotóxicos em lavouras cultivadas com variedades GM, o que demonstra
preocupação com a saúde humana e com o ambiente, consideradas inicialmente
secundárias por esse veículo.
Em outra publicação da “Caros Amigos”
51
, a reportagem O veneno no pão nosso
de cada dia” revela que uma das dificuldades para sistematizar as denúncias
relacionadas à intoxicação por agrotóxicos se deve aos médicos. Esses profissionais
50
Caros Amigos, ano 13, n. 145, abr. 2009, p. 36-38.
51
Caros Amigos, ano 13, n. 153, dez. 2009, p. 26-30.
137
não escondem os exames laboratoriais dos trabalhadores como também cedem às
pressões dos proprietários de empresas do setor de citricultura. Esse aspecto é
esclarecido por Merlino (2009) quanto aos prejuízos dos agricultores e consumidores.
Para estes os riscos de intoxicação aguda são raros, uma vez que não exposição
direta; porém, os efeitos crônicos são similares aos dos aplicadores, uma vez que é
efetuado o contato com uma ampla gama de princípios ativos, razão pela qual se
incrementam as doenças crônicas, as alergias e as enfermidades imunológicas no
mundo.
Cabe explicar que ambas as publicações não correspondem ao período de
cobertura desta pesquisa, porém, foram salientadas pela sua contribuição com as
políticas contrárias ao consumo desses produtos.
A revista “Veja”, ao contrário, publicou a matéria “Uma nova revolução verde”
52
,
na qual elege a engenharia genética como a salvação para o futuro da alimentação no
planeta. Segundo a revista, nos próximos quarenta anos a população mundial crescerá
35,0% e superará nove bilhões de pessoas, bem como a produção de alimentos deverá
ser ampliada em 70,0%. Assim como a Revolução Verde dos anos 60 que liderada pelo
cientista americano Norman Borlaug incrementou a produtividade agrícola, as
tecnologias de ponta, entre as quais as variedades GM, devem segundo a “Veja” suprir
o aumento da demanda mundial de alimentos.
Ressalta-se que embora as questões ambientais para a “Caros Amigos” não
tenham sido consideradas relevantes, suas últimas publicações mostram o seu
posicionamento desfavorável às questões dos agrotóxicos, diferentemente dos demais
veículos analisados. Tal fato comprova que essa revista contradiz os meios de
comunicação segundo a ordem dos lucros. Por outro lado, a recente comunicação da
revista “Veja” evidencia a sua postura neoliberal.
2.4.2.1.1.1 Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos
Na Tabela 4 são apresentadas as médias, em porcentagens, dos espaços
ocupados com as informações referentes às matérias jornalísticas que incentivam o
consumo de agrotóxicos, publicadas nos jornais e revistas amostrados.
52
Revista Veja, edição 2.143, ano 42, n. 50, 16 dez. 2009, p. 142-143.
138
Tabela 4 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas favoráveis ao consumo dos
agrotóxicos nos veículos e períodos estudados
Médias (%) de Matérias
Favoráveis aos
Agrotóxicos
Anos
Veículos de
comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
100,0%
92,8%
100,0%
100,0%
98,2%
Balde Branco
38,6%
96,2%
92,2%
100,0%
81,7%
Globo Rural
48,4%
41,0%
53,9%
47,8%
Suplemento Agrofolha
0,0%
70,1%
35,1%
Suplemento Agrícola
60,1%
51,4%
55,7%
Caros Amigos
0,0%
0,0%
Veja
0,0%
50,0%
50,0%
Folha de São Paulo
100,0%
100,0%
Jornal de Piracicaba
33,3%
33,3%
Total geral
55,7%
Os veículos especializados representados pela “A Granja”, “Balde Branco,
“Globo Rural”, “Agrofolha” e “Suplemento Agrícola” apresentaram 98,2%; 81,7%; 47,8%;
35,1% e 55,7%, respectivamente, com as matérias jornalísticas que abordaram
favoravelmente os agrotóxicos. A “Veja” publicou 50,0% e os jornais “Folha de S. Paulo”
e o “Jornal de Piracicaba” ocuparam 100,0% e 33,3%, respectivamente de seus
espaços.
Tais questões publicadas pelos cinco jornais e revistas agropecuários
representaram 63,7%, enquanto nos informativos de informação geral o percentual
médio apresentou 45,8%.
À exceção da revista Caros Amigos, que não publicou qualquer mensagem
sobre o assunto durante o ano de 2007, os demais veículos pesquisados divulgaram
matérias favoráveis aos agrotóxicos. Observou-se porcentagens elevadas em todos
eles, sendo o exemplo mais impactante o do jornal Folha de S. Paulo”, avaliado
durante o mês de janeiro de 2008, em que a totalidade - 100,0% das matérias
encontradas, estimulavam o uso dos agrotóxicos.
Considerando o universo dos jornais e revistas analisados verificou-se que
55,7% de todas as matérias jornalísticas publicadas sobre os agrotóxicos incentivaram
139
o seu consumo, demonstrando que grande parte, senão todos os segmentos da
sociedade, estão em consonância.
2.4.2.1.1.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis à utilização dos agrotóxicos
As matérias jornalísticas que abordaram as propostas de contenção ao consumo
dos agrotóxicos são visualizadas na Tabela 5.
Tabela 5 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas desfavoráveis à utilização dos
agrotóxicos nos veículos e períodos estudados
Médias (%) Matérias
Desfavoráveis aos
Agrotóxicos
Anos
Veículos de
comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Balde Branco
25,0%
0,0%
0,0%
0,0%
6,3%
Globo Rural
4,8%
2,4%
3,5%
3,6%
Agrofolha
0,0%
18,8%
9,4%
Suplemento Agrícola
8,4%
6,3%
7,3%
Caros Amigos
0,0%
0,0%
Veja
0,0%
0,0%
0,0%
Folha de São Paulo
0,0%
0,0%
Jornal de Piracicaba
0,0%
0,0%
Total geral
3,0%
Do total das matérias jornalísticas analisadas na Agrofolha, 9,4% referiram-se
às mensagens sobre as medidas de contenção ao consumo de agrotóxicos, enquanto
que no “Suplemento Agrícola tais mensagens representaram 7,3%. As revistas A
Granja e Veja e os jornais Folha de S. Paulo e o Jornal de Piracicaba não
publicaram nessa categoria. Entretanto, as seis edições da revista “Balde Branco”,
referentes ao ano de 2005, apresentaram 25,0% de seu espaço com mensagens
desfavoráveis aos agrotóxicos. Entre elas, a matéria “Resíduos e antibióticos: como
evitar, ocupou três páginas de um exemplar. A imprensa especializada constituída pelo
conjunto dos cinco veículos acima mencionados ocupou 5,3% do seu espaço,
distintamente dos meios de informação geral que não apresentaram mensagens nessa
categoria. O percentual médio dessas publicações em todos os veículos avaliados foi
140
3,0%, valor considerável, levando-se em conta que essa temática é pouco transparente
nas mídias impressas, incorrendo-se em informações muitas vezes obscuras.
Pereira (2002), analisando os jornais Folha de S. Paulo e “O Estado de S.
Paulo, no período entre os anos de 1996-2000, verificou que o volume de informações
sobre os agrotóxicos foi superior no primeiro veículo. As matérias abordadas
denunciaram diversas irregularidades como
[...] o quadro alarmante de intoxicações de agricultores rurais no país,
com reportagens de campo em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), no Vale do São
Francisco, do [o] afrouxamento na classificação toxicológica dos pesticidas e da
[a] relação entre exposição a pesticidas organofosforados e a prática de suicídio
em regiões fumageiras de Alagoas e do Rio Grande do Sul (PEREIRA, 2002, p.
123).
No presente estudo duas publicações da Agrofolha aludiram às fiscalizações do
Ministério Público do Trabalho - MPT, tendo uma delas denunciado a internação por
intoxicação de pelo menos seis trabalhadores rurais.
2.4.2.1.1.3 Matérias jornalísticas factuais
Na Tabela 6 observam-se as matérias jornalísticas isentas de opinião em relação
aos agrotóxicos nos veículos impressos desta pesquisa.
Tabela 6 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas factuais relacionadas aos
agrotóxicos nos veículos e períodos estudados
Médias (%) de Matérias
Factuais
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
Balde Branco
13,9%
0,0%
0,0%
0,0%
3,5%
Globo Rural
24,1%
17,8%
25,8%
22,6%
Agrofolha
100,0%
11,1%
55,6%
Suplemento Agrícola
9,7%
17,5%
13,6%
Caros Amigos
0,0%
0,0%
Veja
0,0%
16,7%
16,7%
Folha de São Paulo
0,0%
0,0%
Jornal de Piracicaba
0,0%
0,0%
Total geral
12,5%
A análise dos dados permitiu verificar que à exceção das revistas “A Granja” e
“Caros Amigos”, que não publicaram qualquer informação factual relativa aos
agrotóxicos, os jornais e revistas agropecuários ocuparam vários espaços. A
141
“Agrofolha”, por exemplo, se destacou com 55,6% de publicações factuais, enquanto a
“Veja” ocupou 16,7% de seu espaço. O percentual médio dessas matérias jornalísticas
foi 12,5%, aproximadamente quatro vezes maior do que as relativas às mensagens
sobre as propostas de contenção ao consumo.
As informações desprovidas de opinião, relacionadas aos agrotóxicos no grupo
dos veículos agropecuários, ocupou 19,0% dos seus espaços e no de informação geral,
apenas 4,2%. Tais resultados mostram que essa temática adquire relevância quando
tratado pelos meios especializados.
Esses resultados confirmam os obtidos por Girardi (1988) em análise de uma
amostra constituída de nove periódicos agropecuários, na qual verificou 16,6%
mensagens favoráveis aos insumos e máquinas agrícolas; 3,2% posicionamentos
desfavoráveis e 80,1% restantes não mencionavam qualquer aspecto estudado
(GIRARDI, 1988, p. 94-96).
2.4.2.1.1.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa
Visualizam-se na Tabela 7 os resultados das médias referentes às matérias que
versaram sobre as técnicas de produção alternativa.
Tabela 7 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas sobre técnicas de produção
alternativa nos veículos e períodos estudados
Médias (%) de Matérias
sobre Técnicas Alternativas
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
0,0%
7,2%
0,0%
0,0%
1,8%
Balde Branco
22,5%
3,8%
7,8%
0,0%
8,5%
Globo Rural
22,7%
38,7%
16,8%
26,1%
Agrofolha
0,0%
0,0%
0,0%
Suplemento Agrícola
21,8%
24,8%
23,3%
Caros Amigos
0,0%
0,0%
Veja
0,0%
33,3%
33,3%
Folha de São Paulo
0,0%
0,0%
Jornal de Piracicaba
66,7%
66,7%
Total geral
17,8%
Os veículos de informação geral representados pelo Jornal de Piracicaba e
revista Veja publicaram 66,7% e 33,3% informações que abordaram temas
ambientalmente corretos, respectivamente. Os jornais e revistas especializados como a
142
Globo Rural, “Suplemento Agrícola”, “Balde Branco” e “A Granja” divulgaram,
respectivamente, 26,1%; 23,3%; 8,5%, e 1,8% de matérias relacionadas aos alimentos
alternativos e/ou orgânicos. A Agrofolha e o jornal Folha de S. Paulo não difundiram
mensagens nessa categoria. No total foram 17,8% publicações sobre técnicas
agroecológicas nos veículos pesquisados.
Esclarece-se que a porcentagem de 33,3% exibida pela revista Veja no ano de
2008 refere-se à publicação da matéria “Uma avaliação dos alimentos verdes”
53
, cujo
conteúdo descreve a composição da crescente prateleira de produtos “verdes” nos
supermercados.
É importante comentar a postura dessa revista relacionada aos alimentos
saudáveis. Percebe-se que a Veja está preocupada em transmitir uma imagem
favorável à natureza, evocando um marketing ambiental verde, desejando agradar a
sua legião de leitores. No entanto, ela é qualificada como exemplar de empresa
midiática neoliberal.
Nos cinco veículos agropecuários amostrados as mensagens sobre as técnicas
de produção alternativa ocuparam 11,9% do seu espaço, enquanto que nos de
informação geral esse percentual foi de 25,0%. Verificou-se o interagendamento entre
os veículos, em que os últimos agendaram os tópicos para os especializados
(HOHLFELDT, 1997, p. 47-48).
O Jornal de Piracicaba preocupou-se em divulgar feiras de produtos orgânicos
com o propósito de apresentar o trabalho de pequenos produtores rurais, buscando
viabilizar a sua produção e a sua comercialização.
Khatounian (2001) relata que no país a produção orgânica iniciou-se por volta da
década de 1970.
No Brasil, a década de 1970 foi o período áureo da expansão no uso de
agrotóxicos, vinculada ao crédito rural dos governos militares. Nessa época, as
poucas vozes que se levantaram contra o padrão agroquímico provinham do
meio agronômico e eram fortemente hostilizadas e ridicularizadas. Dentre essas
várias vozes, destacaram-se pela sua exposição pública e pelo seu alcance as
de José Lutzemberger, Ana Maria Primavesi e Adilson Paschoal. Mais tarde, o
tempo viria mostrar que, no essencial, o que essas vozes planteavam seria o
caminho das décadas seguintes (KHATOUNIAN, 2001, p. 32).
53
Revista Veja, v. 2.069, ano 41, n. 28, 16 jul. 2008, p. 154-155.
143
O autor explica que nos anos 1980 e especialmente nos 1990 houve o
crescimento do número de produtores e a produção se expandiu em quantidade,
diversidade e qualidade.
vinte anos, o mercado se restringia a umas poucas feiras de
produtores e à venda de cestões semanais diretamente ao consumidor.
Atualmente, estas feiras estão presentes em praticamente todas as capitais do
Centro-Sul do país. As feiras se enquadram perfeitamente na filosofia do
movimento orgânico, que preconiza a comercialização direta do agricultor ao
consumidor, de modo a: (1) estabelecer uma relação personalizada e de
cooperação entre o produtor e o consumidor e (2) possibilitar maiores ganhos
aos agricultores e menores preços aos consumidores (KHATOUNIAN, 2001, p.
32).
Paschoal (1994) apresenta suas considerações sobre a agricultura orgânica no
Brasil.
Malgrado toda a movimentação havida, e apesar do esforço de muitos
idealistas, a agricultura orgânica ainda não conseguiu se consolidar no Brasil. A
razão parece apontar para uma causa bastante provável, a de que muito pouco
de prático se fez no sentido de se mostrar o que é de fato a agricultura
orgânica, quais os seus propósitos, métodos e técnicas, e quais as
possibilidades para o país. Da mesma forma, o comércio de alimentos
orgânicos ainda não se organizou, embora seja grande, entre nós, a procura por
alimentos livres de resíduos químicos (PASCHOAL, 1994, p. 1-2).
O relato desses autores mostra que a luta pela libertação do uso dos agrotóxicos
na agricultura tem sido grande. No entanto, os subsídios fornecidos pelo governo ou
pela iniciativa privada, visando a implantação de modelos de produção agroecológicos,
não se equipara aos recursos concedidos às multinacionais de agrotóxicos para a sua
permanência no país.
Observa-se que o Jornal de Piracicaba deseja mostrar à população a sua
contribuição para a mudança de paradigma da agricultura convencional através de
informações que abordam o trabalho unificado de grupos da agricultura orgânica e a
formação de uma associação com a finalidade de abrir mercado e ganhar espaço entre
os consumidores. A preocupação destes pequenos produtores, entre tantas outras, é
divulgar um produto cultivado sem o uso de fertilizantes químicos solúveis e
agrotóxicos, que observa o respeito ao ambiente e à preservação dos recursos naturais.
Notam-se, através da publicação de matérias sobre métodos alternativos de
alimentos, esforços no sentido de estimular o consumo e o seu estabelecimento no
país. No entanto, observa-se, ao mesmo tempo, a supressão de muitas informações
144
sobre os danos dos agrotóxicos na produção de notícias constantes nos veículos
amostrados no presente estudo, tais como: hospitalizações devidas às intoxicações
agudas, ocorrências de mortalidade, relação entre suicídios e a ingestão de
agrotóxicos, doenças crônicas como os diversos nceres, riscos e danos ambientais,
desastres ecológicos, utilização de agrotóxicos proibidos ou não autorizados na
agricultura, irregularidades nas aplicações, denúncias sobre resíduos em alimentos,
fraudes nas certificações de produtos produzidos organicamente, dumping ecológico
54
,
alterações legislativas na classificação toxicológica dos agrotóxicos, entre outras,
demonstrando uma forma de distorção. A sonegação de mensagens nos remete ao
modelo de propaganda de Herman e Chomsky (2003), que explicam como os cinco
filtros podem interferir nas publicações dos meios de comunicação de massa.
Paschoal (1994) refere-se à agricultura orgânica como uma proposta para
corrigir os erros e as distorções da agricultura industrial(PASCHOAL, 1994, p. 16), em
que a utilização de fertilizantes inorgânicos, agrotóxicos, irrigação e mecanização,
conforme apregoados pela Revolução verde, são utilizados para garantir uma elevada
produtividade.
As variedades de alta produtividade são também usadas nos modelos
orgânicos, porém nunca em sistemas monoculturais extensivos. Consorciadas,
de tal forma a que uma se beneficie da presença da outra, essas variedades
podem render muito mais por unidade de área e tempo, diversificando os
sistemas, o que leva não à estabilidade ecológica, como também às
estabilidades econômica e social. Em sistemas de rotação de culturas,
atentando-se sempre para a sequência de plantas de famílias não relacionadas
e para os efeitos de substâncias alelopáticas
55
, reduz-se a incidência de pragas,
doenças e plantas invasoras, e ativa-se a macro e microvidas do solo, tão
necessárias para o bom desempenho das culturas. Usando-se variedades e
raças locais, mais bem adaptadas e rústicas, consegue-se diminuir a
necessidade de medidas corretivas, para assegurar a produção agrícola
(PASCHOAL, 1994, p. 16-17).
54
Dumping ecológico refere-se à “compra” pelos países do Hemisfério Sul de lixo tóxico produzido pelos
países centrais para gerar divisas externas (SANTOS, 2003, p. 435).
55
Alelopatia pode ser definida como um conjunto de efeitos diretos ou indiretos, benéficos ou prejudiciais,
de uma planta sobre outra através da produção de compostos químicos que são liberados no ambiente.
De forma mais abrangente, o conceito se refere às interações que ocorrem entre as plantas e também
entre essas e os microrganismos (RODRIGUES; RODRIGUES, 1999, p. 95).
145
O autor alerta para a quantidade de insumos que o trabalhador tem de usar na
agricultura convencional, tornando-se como que um instrumento nas mãos das
empresas transnacionais,
[...] uma vez que de 40 a 80 por cento do que gasta para produzir não é
lucro para si, sua família ou seu país, mas sim para os gigantescos
conglomerados multinacionais das companhias de insumos, de petróleo e de
financiamento bancário (PASCHOAL, 1994, p. 14).
O problema da agricultura industrial se agrava ainda mais quando se utiliza as
monoculturas, de alta produtividade em áreas extensas, onde as frequentes aplicações
de agrotóxicos matam não somente os inimigos naturais das pragas, os patógenos e as
ervas invasoras mas também outros numerosos organismos úteis.
As monoculturas, por serem sistemas ecológicos muito simplificados,
são bastante instáveis, favorecendo o estabelecimento, a multiplicação e a
propagação de pragas, doenças e ervas invasoras. [...] O sistema de
monoculturas leva os solos a perderem rapidamente a fertilidade, por facilitar o
processo de erosão, por reduzir a atividade biológica e por esgotar a reserva de
alguns nutrientes (PASCHOAL, 1994, p. 11-12).
O autor sugere a utilização de policulturas,
[...] já que o sistemas diversificados, com maior número de espécies
e com interações mais numerosas nas cadeias biológicas, o que lhes garantem
maior estabilidade, criando condições desfavoráveis às espécies daninhas, mas
favoráveis aos seus inimigos naturais que, assim, passam a controlá-las
satisfatoriamente (PASCHOAL, 1994, p. 12).
De acordo com Alves Filho (1999), entre as diversas tarefas que compõem o
processo produtivo agrícola e que podem trazer sérios riscos à saúde do trabalhador
destacam-se as atividades de manejo de pragas e doenças, especialmente nos
trabalhos da agricultura convencional em que, na maior parte das vezes,
[...] o uso indiscriminado de agrotóxicos é a estratégia mais difundida,
não obstante sua eficácia limitada e as graves conseqüências de sua prática.
Os preceitos estabelecidos pela engenharia de segurança do trabalho apontam
para a necessidade prioritária em se buscar a eliminação dos riscos na fonte ou
nos processos onde esses são gerados. Dessa forma, o redirecionamento das
pesquisas e das atividades de extensão voltadas a técnicas de manejo de
pragas e doenças sem o uso de produtos químicos garante a melhoria dos
ambientes e das condições de trabalho no campo, eliminando-se um importante
fator de risco sob o ponto de vista ocupacional e também ambiental (ALVES
FILHO, 1999, p. 190).
146
Para Paschoal (1994), os sistemas orgânicos não desequilibram as populações
dos organismos que nelas ocorrem pelo fato de não usarem agrotóxicos, ficando
[...] as espécies potencialmente daninhas sob controle natural,
biológico. Irrigação e mecanização são controladas e diminuídas, uma vez que
solos com teores adequados de matéria orgânica são capazes de reter mais
água e de facilitar o trabalho das máquinas, por serem mais friáveis
(PASCHOAL, 1994, p. 17).
Segundo o autor,
[...] a agricultura orgânica é, pois a solução lógica para as eras atual e
futura. O motivo de suas técnicas não terem sido ainda adotadas amplamente,
explica-se pelo desconhecimento das suas insuperáveis vantagens, que
agora começam a ser divulgadas. [...] a produtividade da agricultura orgânica é
tão alta ou até mais alta do que a da agricultura convencional [...]. A eficiência
energética, que hoje se considera fator mais importante do que produtividade, é
sempre maior nos sistemas orgânicos do que nos convencionais, o que significa
que o produtor orgânico é capaz de produzir alimentos, tanto quanto ou mais do
que o convencional, a custos muito baixos (PASCHOAL, 1994, p. 19).
Para esse pesquisador, os preços mais elevados dos alimentos orgânicos
ocorrem “porque a demanda por esses produtos tem sido maior do que a oferta, como
também porque a qualidade dos alimentos produzidos organicamente é superior em
termos nutricionais (PASCHOAL, 1994, p. 19).
Cabe ressaltar aqui um aspecto relatado por Pinheiro
56
de que o crescimento da
agricultura alternativa e sua consolidação deslocaram para o segundo plano as
questões dos agrotóxicos. Em outras palavras, os agrotóxicos no Brasil não estão
sendo mais criticados, como foram na década de 70 por alguns ambientalistas, entre os
quais, segundo Paschoal (1994), destacaram-se:
[...] o Dr. José Lutzenberger (1976), da Agapan, o Prof. Pinheiro
Machado, da Universidade Federal de Porto Alegre, a Profa. Ana Maria
Primavesi (1985), da Universidade Federal de Santa Maria, e o Prof. Adilson D.
Paschoal (1977, 1979), da Universidade de São Paulo, lançam as bases de
uma nova agricultura, de base ecológica, para o país (PASCHOAL, 1994, p.
25).
56
PINHEIRO, S. Agrotóxicos e o livre comércio. Disponível em: juquira@gmail.coml Acesso em: 03
maio 2010. 1v.
147
Mas, de acordo com esse cientista, as corporações de agrotóxicos criticam a
agricultura orgânica com a finalidade de desinteressar os agricultores que almejam
iniciar um negócio com os orgânicos.
A tendenciosa propaganda das companhias multinacionais de insumos
químicos contra a agricultura orgânica, acusando-a de ser “de fundo de quintal”,
contribui muito para exacerbar as dúvidas dos produtores e para desacreditar o
modelo, em seus interesses (PASCHOAL, 1994, p. 2).
Além de aumentar as dúvidas e desacreditar o modelo da agricultura orgânica,
tais corporações realçam as qualidades aparentemente “positivas” de seus próprios
produtos, bem como as dos fertilizantes inorgânicos, os quais galgam posições
proeminentes nos processos produtivos nacionais. Por esses motivos, muitos
agricultores crêem que os agrotóxicos são a única opção de controle das lavouras, fato
que denuncia o poder dessas indústrias impossibilitando, muitas vezes, os debates e
movimentos sociais em prol das políticas públicas para banir os agrotóxicos no país.
No entanto, a luta continua, mesmo que silenciosamente, através de
Associações de Agricultura Orgânica, de Ciclos de Palestras e de Encontros, da criação
de espaços para a realização de feiras do Produtor Orgânico, no sentido de consolidar
esse movimento brasileiro com a finalidade de propagar e de mostrar a melhor maneira
de se alimentar com produtos sem resíduos tóxicos e alcançar a plenitude da saúde.
No gráfico abaixo está o conjunto das quatro categorias temáticas instituídas, ou
seja, favorável, desfavorável, factuais e as relacionadas às técnicas alternativas a partir
das subdivisões das matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos nos veículos
amostrados, conforme mostram os resultados presentes nas Tabelas 4, 5, 6 e 7.
148
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
A Granja Balde
Branco
Globo Rural Agrofolha Suplemento
Agrícola
Caros
Amigos
Veja Folha de
o Paulo
Jornal de
Piracicaba
Favoráveis Desfavoráveis Factuais cnicas Alternativas
Figura 2 - Espaços destinados às matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
2.4.2.1.2 Anúncios comerciais de agrotóxicos
A Tabela 8 e a Figura 3 apresentam os resultados das análises de conteúdo
relacionados aos anúncios de agrotóxicos publicados nas revistas A Granja, Balde
Branco e Globo Rural.
Tabela 8 - Médias dos espaços ocupados com anúncios sobre os agrotóxicos nos veículos e períodos
estudados
Médias (%) de Anúncios de
Agrotóxicos
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
2,0%
1,4%
1,3%
0,0%
1,2%
Balde Branco
3,2%
1,31
1,9%
3,2%
2,4%
Globo Rural
1,0%
1,6%
3,3%
2,0%
Agrofolha
0,00%
0,00%
0%
Suplemento Agrícola
0,00%
0,00%
0%
Caros Amigos
0,00%
-
0%
Veja
0,00%
0,1%
0,1%
Folha de São Paulo
0,00%
0%
Jornal de Piracicaba
0,00%
0%
Total geral
0,6%
149
Figura 3 - Espaços destinados aos anúncios sobre os agrotóxicos nos veículos amostrados
Observa-se comportamentos semelhantes para as três revistas especializadas
quanto aos anúncios de agrotóxicos, as quais publicaram 2,4%, 2,0% e 1,2% para
Balde Branco, Globo Rural e A Granja, respectivamente. A média dos três veículos
analisados mostrou o percentual de 1,8%, enquanto que para os de informação geral foi
de 0,02%. O percentual médio total resultou em 0,6% de anúncios comerciais de
agrotóxicos.
As publicidades de agrotóxicos apresentados por essas três revistas evidenciam
a dependência de recursos financeiros das corporações de agrotóxicos para parte da
sua manutenção, o que pode indicar conflito de interesses pela classe hegemônica
(RAMPTON; STAUBER, 2001, p. 199). Por esse motivo, os meios de comunicação que
publicam tais anúncios se veem na obrigatoriedade de propalar algumas matérias
relevantes à população, entre as quais citam-se para elucidar, as relacionadas às
técnicas alternativas. Desse modo, acreditam que podem se eximir de divulgar outros
temas que merecem relevância, como por exemplo, as informações que denunciam as
alterações nos organismos provocados pelas morbidades causadas pelos agrotóxicos
dentre as quais o Mal de Parkinson e os diversos cânceres, o que denotaria uma
importante contribuição à sociedade. O “Suplemento Agrícola” e o caderno “Agrofolha”,
150
bem como os veículos informativos gerais não anunciaram os agrotóxicos, a não ser a
revista “Veja”, que publicou uma mensagem institucional da empresa Monsanto que
possibilitou registrar um valor percentual de 0,1% no ano de 2008. Os anúncios sobre
esses produtos químicos não encontram público adequado na revista “Veja”.
O fato de as corporações de agrotóxicos não se interessarem em anunciar seus
produtos nas mídias não especializadas pode ser devido à ausência de um público
receptivo à disseminação de uma mensagem de vendas.
Observa-se que nas sociedades contemporâneas os agrotóxicos se tornaram
parte da cultura e das vidas das pessoas ligadas à agropecuária, pela forma como se
manifestam no cotidiano dos jornais e revistas especializados impressos do presente
estudo, como pode ser observado pelo número de anúncios publicados nas Tabelas 9,
10, 11 e 12.
Nas Tabelas abaixo estão as empresas anunciantes de agrotóxicos, bem como
os anúncios publicados em cada revista que possibilitaram a categorização.
Tabela 9 - Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista “Globo Rural”
(Continua)
Corporações
Anúncios
Total de páginas
Bayer CropScience
Publicidade de café
1,0
Basf
OperaAgCelence
1,0
Basf
AgCelence
3,0
Dow AgroScience
hara
Jaguar
1,0
Dow AgroScience
Tracer
2,0
DuPont
Aproach Prima
4,0
DuPont
Lannate
5,0
DuPont
9
Accent
6,0
DuPont
Sistema A proach
4,0
DuPont
Classic
4,0
Dupont
Avaunt
0,0
FMC
Produtos para a agricultura
1,0
FMC
Mustang
0,5
Ihara
Tiger 100
1,0
Ihara
Flumizin 500
4,0
Ihara
Flumizin 500 e Radiant 100
1,0
151
Tabela 9 - Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista “Globo Rural”
(Conclusão)
Ihara
Sumilex
1,0
Ihara
Cercobin
1,0
Ihara
Prod, horticultura fruticultura
fruticulturafruticulturaa
agricultura
1,0
Ihara
Produtos para o café
1,0
Ihara
Produtos para a soja
1,0
Monsanto
RoundupUltra
4,0
Syngenta
Cruiser
2,0
Syngenta
Curyon
1,0
Syngenta
Priori Xtra
1,0
Total 8
25
51,5
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre
fevereiro de 2006 a julho de 2008.
A revista Globo Rural disponibilizou 51,5 páginas aos 25 anúncios de
agrotóxicos, provenientes de oito empresas, representando em média 2,1 páginas com
anúncios em cada edição.
As publicidades se referiram aos agrotóxicos de uso agrícola das empresas
Bayer CropScience, Basf, Dow AgroSciences, Du Pont, FMC, Ihara, Monsanto e
Syngenta, as quais contribuíram com parte dos subsídios para a manutenção da revista
“Globo Rural”.
Tabela 10 - Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista “A Granja”
Corporações
Anúncios
Total de páginas
Arysta LifeScience
Produtos para a soja
1,0
Basf
AgCelence
1,0
Cheminova
Impact Duo
1,5
Cheminova
Warrant
1,0
Cheminova
Produtos para o café
0,5
Cheminova
Publicidade
0,5
Dow AgroSciences
Systhane CE
1,0
Dow AgroSciences
Tracer
1,0
Hokko
Eminent
1,0
Syngenta
Priori Xtra
4,0
Syngenta
Cruiser
1,0
Syngenta
Maxin
Maxin
3,0
Syngenta
Curyon
1,0
Total 6
13
17,5
Período analisado da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro
de 2005 a fevereiro de 2008.
152
As seis indústrias de agrotóxicos ocuparam 17,5 páginas com 13 anúncios
comerciais, representando em média, 1,4 páginas com publicidades em cada edição.
Tabela 11 - Empresas que anunciaram agrotóxicos na revista “Balde Branco
Corporações
Anúncios
Total de páginas
Bayer CropScience
Produtos Veterinários
3,0
Bayer CropScience
Kinetomax
2,0
Clarion
Vivatet LA
0,1
De Laval
Publicidade
9,4
Dow AgroSciences
Prod. para Pastagens
1,0
Farmavet
Estrogin
3,5
Intervet
Mastiget
Mastijet Forte
4,5
Intervet
Panacur
0,4
Intervet
Cobactan
0,4
Intervet
Publicidade
1,0
Laboratório Prado
Pradoverme
0,3
Laboratório Prado
Masti Control
0,3
Makroquímica
Krona Casco
0,3
Novartis
Agrovet
2,0
Pfizer
Produtos Veterinários
2,0
Pfizer
Spectramast
2,0
Pfizer
Dectomax
1,0
Pfizer
Teat Seal
2,0
Santa Elena
Brincos Inseticidas
1,0
Schering Plougt
Boostin
1,3
Schering Plougt
Cepravin
1,3
Vallée
Brincos Neocidol B40
1,0
Vansil
Produtos Antibióticos
3,6
Vila Real Saúde Animal
Neomastic
3,1
Vila Real Saúde Animal
Promastic
2,1
Vitafort
Mastiplus BR
1,0
Total 16
27
49,6
Período analisado da revista “Balde Branco”: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de
2005 a julho de 2008.
A revista Balde Branco concedeu 49,6 páginas de seu espaço aos 27 anúncios
de agrotóxicos oriundos de 16 empresas. Cada edição anunciou, em média 1,7
páginas.
153
Tabela 12 - Anúncio institucional da empresa Monsanto publicado na revista Veja
Corporação
Anúncios
Total de páginas
Monsanto
Prêmio Agroambiental
4,00
Total 1
Anúncio institucional
4,00
Período analisado da revista “Veja”: 19 meses - 86 edições - compreendido entre janeiro a
dezembro de 2007 e de janeiro a julho de 2008.
A revista Veja apresentou um anúncio referente ao prêmio concedido pela
empresa Monsanto “Prêmio Agroambiental Monsanto”.
A Tabela 13 e a Figura 4 mostram os valores totais das matérias jornalísticas e
de anúncios que abordaram os agrotóxicos.
Tabela 13 - Médias dos espaços ocupados pelo total de matérias jornalísticas e anúncios publicitários
sobre os agrotóxicos nos veículos e períodos estudados
Médias (%) do Total de
Matérias e de anúncios sobre
Agrotóxicos
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
9,6%
11,9%
5,0%
2,1%
7,1%
Balde Branco
5,2%
2,4%
6,0%
5,4%
4,7%
Globo Rural
6,5%
5,4%
11,4%
7,8%
Agrofolha
1,7%
17,6%
9,7%
Suplemento Agrícola
5,2%
6,5%
5,8%
Caros Amigos
0,0%
-
0,0%
Veja
0,0%
0,5%
0,3%
Folha de São Paulo
0,2%
0,2%
Jornal de Piracicaba
0,1%
0,1%
Total geral
4,0%
154
Figura 4 - Espaços destinados ao total de matérias jornalísticas e de anúncios sobre os
agrotóxicos nos jornais e revistas analisados
A revista A Granja em 2005 apresentou 9,6% do seu espaço com matérias
jornalísticas, bem como de anúncios que abordaram os agrotóxicos. Embora contando
com apenas duas edições, o volume de notícias sobre o tema chamou a atenção
inclusive pelo seu conteúdo. Uma das matérias publicadas se referiu à “Tecnologia de
aplicação de defensivos agrícolas”, que ocupou cinco páginas, demonstrando a
importância dada por essa revista ao assunto. Em 2006 esse percentual elevou-se para
11,9%. Entre as suas publicações, a matéria “Tecnologia em gotas” relacionada às
pulverizações sobre os agrotóxicos ocupou aproximadamente seis páginas. Nos anos
de 2007 e 2008 os espaços ocupados foram menores; no entanto, versaram sobre o
mesmo mote. Em 2007, a matéria “Efeito fisiológico de estrobilurinas”, que ocupou duas
páginas, apresentou um novo grupo de fungicidas com ação sobre vários patógenos
que causam doenças nas lavouras, além de promover efeitos fisiológicos que elevam o
rendimento das culturas. O mesmo ocorreu no ano seguinte como através de uma
publicação, que ocupou duas páginas, denominada “Lavouras protegidas como
missão”, relatada pela Associação Nacional de Defesa Vegetal - ANDEF, entidade que
congrega as principais empresas de agrotóxicos do país. Os espaços ocupados pela
155
revista “A Granja” resultaram em 7,1%, bem como os assuntos abordados sugerem a
sua ênfase às mensagens que incentivam o consumo de agrotóxicos.
A revista Balde Branco utilizou quase cinco páginas do seu espaço. Dentre
suas mensagens, a intitulada ”Mau uso de vermicidas gera resistência dos parasitas”,
divulgada em 2006, é uma das que incentivaram o consumo dos agrotóxicos de uso
veterinário. Suas publicações resultaram em 4,7%, computando as matérias
jornalísticas que abordam os agrotóxicos e os seus anúncios publicitários.
Entre as três revistas especializadas na área agropecuária, a Globo Rural
mostrou a maior média - 7,8%, avaliando tanto as matérias sobre os agrotóxicos como
as publicidades. Uma das suas publicações, que ocupou 21,0% do espaço de uma
página, diz respeito à transgenia, na matéria “O transgênico é nosso” relata a pesquisa
da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em parceria com a empresa alemã
Basf.
Observou-se, portanto, que essas revistas mostraram índices representativos de
matérias jornalísticas e de anúncios sobre os agrotóxicos aos seus leitores, constituídos
de produtores rurais, agricultores, técnicos agrícolas, engenheiros agrônomos,
zootecnistas, além de outros profissionais que se dedicam à agricultura e/ou à pecuária.
A pesquisa nos demais veículos escolhidos se restringiu apenas à categoria
matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos, explicitada no item 2.3.2.1, referente à
categorização. Devido à ausência de anúncios publicitários sobre os agrotóxicos, os
seus resultados são os mesmos da Tabela 3, ou seja, 9,7%; 5,8%; 0,2% e 0,1%,
respectivamente para a “Agrofolha”, “Suplemento Agrícola”, “Folha de S. Paulo” e
“Jornal de Piracicaba”. No caso da revista “Veja”, o anúncio institucional da Monsanto
alterou a sua média, que passou de 0,2%, conforme a Tabela 3, para 0,3%
considerando-se o total de matérias jornalísticas e publicidades acerca dos agrotóxicos.
O mesmo ocorreu com a média geral, que foi alterada para 4,0%. Cabe ressaltar ainda
que as revistas e jornais de informação geral do presente estudo, citando a Veja e os
jornais Folha de S. Paulo e o Jornal de Piracicaba, além da revista Caros Amigos
foram pouco representativos em relação às matérias que abordaram os agrotóxicos,
como mostram a Tabela 13 e a Figura 4. Esses resultados concordam com Chomsky
(2003), ao comentar que numa democracia liberal o público deve ser barrado da
156
administração de seus interesses e os meios de informação devem ser mantidos
estreita e rigidamente sob controle (CHOMSKY, 2003, p. 9).
Portanto, manter o público desinformado é interessante para os proprietários dos
veículos de comunicação de massa, para o Estado e para as corporações, inclusive
para as indústrias de agrotóxicos e para os grandes usuários. Além disso, é bastante
oportuno aos especialistas, os que “analisam, executam, tomam decisões e conduzem
as coisas no sistema político, econômico e ideológico” (CHOMSKY, 2003, p. 16) que o
“rebanho assustado” desconheça as políticas incentivadoras aos agrotóxicos. Ainda, é
interessante para o Estado que esse “rebanho” desconheça a sua força e a capacidade
de se organizar em movimentos sociais contra os venenos em nosso país.
2.4.2.1.3 Matérias jornalísticas sobre outros assuntos agropecuários
As matérias jornalísticas sobre outros assuntos agropecuários podem ser
observadas na Tabela 14 e Figura 5.
Tabela 14 - Médias dos espaços ocupados pelas matérias jornalísticas sobre outros assuntos
agropecuários nos veículos e períodos estudados
Médias (%) de Matérias sobre
outros assuntos agropecuários
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
63,0%
63,4%
67,6%
70,6%
66,2%
Balde Branco
66,8%
71,3%
59,5%
60,7%
64,6%
Globo Rural
72,1%
74,1%
71,0%
72,4%
Agrofolha
-
-
-
Suplemento Agrícola
-
-
-
Caros Amigos
-
-
-
Veja
-
-
-
Folha de São Paulo
-
-
Jornal de Piracicaba
-
-
Total geral
22,6%
157
Figura 5 - Espaços destinados a outros assuntos agropecuários nas revistas especializadas
As revistas com enfoque agropecuário apresentaram elevadas
porcentagens de matérias sobre outros assuntos. A revista “Globo Rural”, por
exemplo, apresenta seções cujas temáticas como Campo Aberto, Produtos &
Mercados, Crônicas, Vida na Fazenda, entre outras são comentadas como
propostas de entretenimento aos leitores. Nos demais veículos desta pesquisa, a
ausência de publicidades sobre os agrotóxicos impossibilitou a classificação das
matérias jornalísticas em quatro categorias, conforme explicitado no item 2.3.2.1
referente à categorização, razão pela qual não exibem valores na Tabela 14.
2.4.2.1.4 Anúncios sobre outros produtos agropecuários
Na Tabela 15 e na Figura 6 estão os resultados das análises de conteúdo
relacionados aos anúncios sobre outros produtos nas três revistas especializadas na
área agropecuária.
158
Tabela 15 - Médias dos espaços ocupados com anúncios sobre outros produtos agropecuários
nos veículos e períodos estudados
Médias (%) Matérias sobre
outros anúncios agropecuários
Anos
Veículos de comunicação
2005
2006
2007
2008
Total geral
A Granja
27,4%
24,7%
27,4%
27,3%
26,7%
Balde Branco
28,0%
26,3%
34,5%
34,0%
30,7%
Globo Rural
21,4%
20,5%
17,6%
19,8%
Agrofolha
-
-
-
Suplemento Agrícola
-
-
-
Caros Amigos
-
-
-
Veja
-
-
-
Folha de São Paulo
-
-
Jornal de Piracicaba
-
-
Total geral
8,6%
Figura 6 - Espaços destinados aos anúncios sobre outros produtos agropecuários nas revistas
especializadas
Os maiores espaços foram ocupados com as publicidades agropecuárias nas
revistas “Balde Branco”, seguida de a “A Granja” e da “Globo Rural”. Nestas, aparecem
anúncios sobre caminhonetes, maquinários de bombas de água, chamadas para
leilões, comerciais de cooperativas, de automóveis, de tratores e caminhões, de bancos
e classificados. A ausência de percentuais nos demais veículos da Tabela 15
demonstra a sua não avaliação, conforme explicado no item anterior.
Herman e Chomsky (2003) relatam que a mídia bem-sucedida de hoje está
totalmente sintonizada com a importância crucial da qualidade de seu público”
(HERMAN; CHOMSKY, 2003, p. 74).
159
Fica evidente, desse modo, que as empresas que anunciaram os seus produtos
nas três revistas mencionadas estavam interessadas em atrair leitores com poder de
compra, conforme expõem Herman e Chomsky (2003).
Em resumo, a mídia de massa es interessada em atrair uma
audiência com poder de compra, e não a audiência por si só; é a audiência com
alto poder aquisitivo que atrai o interesse do anunciante de hoje, assim como no
século XIX. A idéia de que a corrida por grandes públicos torna a mídia de
massa “democrática” sofre de fraqueza inicial de que seu análogo político é um
sistema de votação ponderado pela renda! (HERMAN; CHOMSKY, 2003, p. 75).
Quanto aos anúncios publicitários, Herman e Chomsky (2003) relatam que
O poder dos anunciantes sobre a programação da televisão deriva do
simples fato de que eles compram e pagam pelos programas - são os
“patronos” que fornecem o subsídio à mídia. Como tal, a mídia compete por seu
patronato, desenvolvendo equipes especializadas para seduzir anunciantes e
tendo necessariamente que explicar como seus programas atendem às suas
necessidades. As opções desses patrocinadores afetam diretamente o
desempenho da mídia, e eles se tornaram o que William Evan denomina
“organizações normativas de referência”, a cujas exigências e requisitos a mídia
tem que se acomodar se quiser ter sucesso (HERMAN; CHOMSKY, 2003,
p.75).
Esses autores apontam ainda, os possíveis acordos efetuados entre a
programação e os recursos fornecidos para as publicidades e propagandas nos
veículos de comunicação.
É interessante salientar que as regras e normas vigentes para os anúncios nas
mídias eletrônicas muitas vezes se estendem aos veículos impressos. Os
patrocinadores de programas e anúncios sabem o que e como exigir dos meios de
comunicação, sejam eles quais forem.
2.4.3 Gêneros das matérias jornalísticas presentes nos veículos impressos
A análise das matérias jornalísticas nos jornais e revistas selecionados nesta
pesquisa constatou a presença de cartas, notas, notícias, reportagens, reportagens de
capa e Informe Publicitário SEBRAE, conforme exibe a Tabela 16.
160
Tabela 16 - neros das matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos presentes nos jornais e revistas
analisados
Veículos de Comunicação
Gênero das
matérias
Agrofolha
a
A
Granja
b
Balde
Branco
c
Caros
Amigos
d
Globo
Rural
e
Jornal de
Piracicaba
f
Supl.
Agrícola
g
Veja
h
Total
Valores
totais
Cartas
0
9
1
0
80
0
31
0
121
Notas
0
36
59
0
8
0
17
0
120
Notícias
4
4
0
0
7
3
51
1
70
Reportagens
7
9
14
0
19
0
11
4
64
Reportagens
de capa
0
3
0
0
1
0
11
0
15
Informe
Sebrae
0
0
0
0
19
0
0
0
19
Valores
médios
Cartas
0,00
0,45
0,04
0,00
3,20
0,00
0,54
0,00
4,23
Notas
0,00
1,80
2,19
0,00
0,32
0,00
0,30
0,00
4,61
Notícias
0,07
0,20
0,00
0,00
0,28
0,12
0,89
0,01
1,57
Reportagens
0,12
0,45
0,52
0,00
0,76
0,00
0,19
0,05
2,09
Reportagens
de capa
0,00
0,15
0,00
0,00
0,04
0,00
0,19
0,00
0,38
Informe
Sebrae
0,00
0,00
0,00
0,00
0,76
0,00
0,00
0,00
0,76
Percentuais
totais
Cartas
0,00%
7,44%
0,83%
0,00%
66,11%
0,00%
25,62%
0,00%
100,0%
Notas
0,00%
30,00%
49,17%
0,00%
6,67%
0,00%
14,17%
0,00%
100,0%
Notícias
5,71%
5,71%
0,00%
0,00%
10,00%
4,29%
72,86%
1,43%
100,0%
Reportagens
10,94%
14,06%
21,88%
0,00%
29,69%
0,00%
17,19%
6,25%
100,0%
Reportagens
de capa
0,00%
20,00%
0,00%
0,00%
6,67%
0,00%
73,34%
0,00%
100,0%
Informe
Sebrae
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
100,0%
0,00%
0,00%
0,00%
100,0%
a
Período analisado da “Agrofolha”: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de 2008.
b
Período analisado da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005 a fevereiro
de 2008.
c
Período analisado da revista “Balde Branco”: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de 2005 a julho de
2008.
d
Período analisado da revista “Caros Amigos”: 12 meses - 12 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de
2007.
e
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de 2006 a julho
de 2008.
f
Período analisado do “Jornal de Piracicaba”: 01 mês - 26 edições - durante o mês de janeiro de 2007.
g
Período analisado do “Suplemento Agrícola”: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de
2008.
h
Período analisado da revista “Veja”: 19 meses - 86 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de 2007 e de
janeiro a julho de 2008.
161
Cabe salientar que o jornal Folha de São Paulo, analisado durante o mês de
janeiro de 2008, publicou somente reportagens na Agrofolha, razão pela qual foi
considerada para fins de avaliação conforme mostra a Tabela 16.
2.4.3.1 Cartas
Ressalta-se ainda que a Globo Rural, através dos especialistas convidados
como respondentes às consultas dos leitores, apenas responde aos seus
questionamentos, como mostrado na Figura 7, “Cerejas ameaçadas”. A classificação da
seção “cartas”, usada no presente estudo foi usada por causa da denominação dada
pela própria revista.
Observa-se que a Globo Rural, o “Suplemento Agrícola, A Granja e Balde
Branco apresentaram 80; 31; 9 e 1 cartas dos leitores, correspondendo a 3,2; 0,54;
0,45 e 0,04 carta por edição, respectivamente, conforme a Tabela 16. Em tais veículos
impressos, o destaque para as cartas parece mostrar o seu interesse em sanar as
dúvidas dos leitores, principalmente com relação ao uso de agrotóxicos para o controle
de doenças, pragas, e/ou plantas daninhas nas lavouras. No entanto, conforme o relato
de uma resposta tendenciosa do especialista referindo-se aos benefícios desses
compostos e ao mesmo tempo sutil ao informar como procurar o controle químico,
demonstra o seu não comprometimento. Por exemplo, na carta publicada na revista
Globo Rural
57
apresentada na Figura 7, “Cerejas ameaçadas”, recomenda-se o uso de
substâncias químicas no combate à ferrugem das cerejas.
57
Revista Globo Rural, ano 23, n. 271, maio 2008, p. 28.
162
Figura 7 - Cerejas ameaçadas
Matéria publicada na revista Globo Rural, maio de 2008, p. 28
Entretanto, no final de sua resposta ao consulente, o pesquisador Edvan Alves
Chagas complementa que “a principal recomendação é consultar um engenheiro
agrônomo para melhor orientação” (TOLEDO, 2008, p. 28). É pertinente questionar se
esta orientação foi feita pela necessidade do receituário agronômico em disponibilizar
os agrotóxicos para compra ou evidencia uma preocupação com a saúde humana e o
ambiente? Ao impingir a responsabilidade ao outro, o especialista não se compromete
163
publicamente com os possíveis efeitos nocivos que as aplicações químicas possam
causar. Assim, a sua imagem de um profissional sério e responsável não é ameaçada.
Alves Filho (2002) relata que o receituário agronômico concebido como um
instrumento de fiscalização e de defesa sanitária vegetal se reduziu aos aspectos
burocráticos, perdendo o sentido inicial de contribuir efetivamente para o controle do
uso indiscriminado dos agrotóxicos.
Para os representantes da indústria de agrotóxicos a questão agora era
apoiar o fornecimento do receituário agronômico na compra de defensivos,
algo bastante distante da idéia inicial concebida para o sistema, que estava
embasado em doutrina metodológica de manejo de pragas e prevendo,
inclusive, o estímulo para a aplicação de outras técnicas de menor impacto,
visando à eliminação do uso de agrotóxicos (ALVES FILHO, 2002, p. 133).
Pinheiro (2010) explica que a medida, inicialmente proposta para impedir a livre
comercialização de agrotóxicos e consequentemente a ocorrência de elevados índices
de intoxicação e casos fatais, foi a criação de um receituário agronômico. No entanto
[...] os maiores inimigos do processo foram as autoridades
comprometidas dos Ministérios da Agricultura e Saúde [...] O governo do
General Garrastazu permitia aumentar a concentração dos inseticidas
fosforados instáveis, formulados em em 33% para garantir sua
armazenagem em más condições e isto provocava um incremento nas
intoxicações e envenenamento ambiental de forma criminosa (PINHEIRO,
2010).
Ele elucida a intervenção das multinacionais nesse processo:
Iniciaram-se treinamento para capacitação de engenheiros agrônomos
e estudantes para a aplicação do Receituário Agronômico na prescrição
profissional. Apesar das pressões da GIFAP/BR
58
e autoridades federais, os
diretores do Banco do Brasil, ao observar os seus bons resultados, aprovaram a
idéia e formalizaram sua necessidade para a liberação de crédito [...] em todo o
território brasileiro. Sendo o controle do Banco do Brasil efetivo e prático, as
multinacionais determinaram ao Ministério da Agricultura que intervisse
[interviesse] obrigando o uso de Receituário Agronômico apenas e somente
para os venenos de Classe I e II e para completar a corrupção a Divisão de
Agrotóxicos do Ministério da Saúde mudou toda a classificação toxicológica
58
GIFAP/BR - Grouppement International Fabriqués des Pesticides - Grupo Internacional de Fábricas de
Pesticidas no Brasil. Em função da Lei Nacional de Agrotóxicos, promulgada em 1990, modificou o seu
nome para Associação Nacional de Defesa Vegetal - ANDEF, pois o termo Defensivo Agrícola não
apresentava amparo legal.
164
existente e a grande maioria dos produtos imediatamente passaram as [às]
Classes Toxicológicas III e IV, tornando-os livres da prescrição e controle
(PINHEIRO, 2010).
Alves Filho (2002) esclarece que o receituário agronômico, atualmente
identificado como um instrumento inócuo de controle de vendas, está bem distante dos
princípios iniciais que inspiraram sua implantação.
Nos atuais moldes em que vem sendo praticado, o receituário
agronômico somente pode interessar aos setores de produção e
comercialização dos agrotóxicos, tendo em vista que sua manutenção
representa na prática a abolição dos sistemas de controle (ALVES FILHO,
2002, p. 177).
Frente a essas condições e diante do elevado número de respostas favoráveis
aos agrotóxicos presentes nas cartas publicadas pela revista Globo Rural, decidiu-se
enviar uma correspondência ao Diretor de Redação da Globo Rural, no final de maio
de 2009, sugerindo a inclusão de consultores especializados na área de agricultura
orgânica objetivando incentivar os leitores a uma prática agrícola saudável e ao mesmo
tempo sustentável.
No entanto, a análise do exemplar de agosto de 2009 não apresentou
preocupações concernentes a tal abordagem. Ao contrário, a resposta a uma carta
elaborada por uma equipe de consultores enfocou o controle químico de formigas,
conforme a matéria jornalística “Formigas cortadeiras gostam de roseiras”, publicada na
revista Globo Rural
59
, de acordo com o seguinte relato: “Para o combate das formigas
use formicidas específicos em forma de iscas atrativas. No mercado disponíveis as
versões granuladas, mais fáceis de as formigas carregarem para dentro do ninho [...]
(TOLEDO, 2009, p. 32). Redações alusivas à produção orgânica de alimentos não
foram contempladas na seção cartas deste exemplar, o que evidenciou desinteresse
pelo assunto e a importância das políticas pró-agrotóxicos dessa revista e de seus
consultores. No mês de junho de 2009, pensou-se em mudança de paradigma diante da
temática voltada à “A Revolução dos orgânicos”. Porém, na seção “Globo Rural
Responde” a publicação “Figo sem agrotóxicos”
60
mostrou a resposta do especialista ao
59
Revista Globo Rural, ano 24, n. 286, ago. 2009, p. 32.
60
Revista Globo Rural, ano 24, n. 284, jun.2009, p. 32.
165
estímulo à produção de figos sem produtos tóxicos, mas não se referia à agricultura
orgânica.
Na edição de maio, anterior à correspondência enviada à Redação Globo
Rural”, a matéria jornalística “Cupim de montículo”
61
evidenciou claramente a postura
favorável aos agrotóxicos de um docente da Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”. Em sua resposta, indicou o controle químico de cupinzeiros como a única
alternativa possível para eliminar casas que crescem no solo. Assim, mesmo sendo
anterior a tal solicitação, essa edição não mostrava interesse em convidar especialistas
em cnicas de produção orgânica de alimentos para responder as cartas da seção
“Globo Rural Responde”. Outras edições dessa revista, a partir do envio da
comunicação mencionada, não foram verificadas devido às falhas na coleção.
A revista “Globo Rural” publica a seção cartas, denominada pela revista “Globo
Rural Responde”, cujo propósito aparente seria colaborar com os leitores. No entanto,
as correspondências são usadas como pretextos para responder favoravelmente aos
agrotóxicos, uma vez que, como está mostrado na Figura 7, nem sempre, publicam as
suas redações e sim as respostas de um especialista. Ao contrário, a seção “cartas” do
“Suplemento Agrícola” do jornal O Estado de S. Paulo, que ocupa sempre a página dois
deste caderno, divulga na íntegra os questionamentos dos leitores. Como exemplo, a
matéria “Bananeira não consegue frutificar”
62
, Figura 8, mostra ausência de informação
relacionada às técnicas de manejo do bananal.
A recomendação do especialista respondente é
[...] entrar com controle químico com a aplicação de agroquímicos
específicos para o controle da sigatoka, Neste caso, a leitora deve consultar um
agrônomo para orientá-la sobre os procedimentos adequados de aplicação
(BANANEIRA, 2007, p. 2).
61
Revista Globo Rural, ano 24, n. 285, maio 2009, p. 30.
62
Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo, ano 52, n. 2.719, 19 dez. 2007, p. 2.
166
Figura 8 - Seção Cartas
Suplemento Agrícola do Jornal O Estado de S. Paulo 19 dez. 2007, p. 2
Ilustração: Acosta
Mais uma vez é ressaltada a obrigatoriedade do receituário agronômico para o
acesso a tais produtos químicos, como se ele significasse controle oficial, de forma a
não envenenar homens e animais e não contaminar o ambiente. No entanto, essa
preocupação é fraca em nosso país e a prescrição nada mais é do que um papel,
preenchido ou em branco, dependente apenas da assinatura de um agrônomo que
possui seu número no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia - CREA, não
restringindo o fornecimento de agrotóxicos. Ao contrário, as cooperativas e as
revendedoras colaboram, deixando-o assinado no balcão de atendimento, de modo a
facilitar a aquisição de tais produtos.
Apesar de os agrotóxicos serem maléficos à saúde humana e ao ambiente são
considerados importantes à sociedade. Não é sem motivo, uma vez que geram
empregos, formais e informais, e segundo Santos (2003), se constituem em relevantes
167
fontes de recursos aos países do Hemisfério Sul, na medida em que saldam parte da
dívida externa através da compra de lixo tóxico produzido nos países centrais.
Tal relato se insere no contexto de outra forma de globalização, denominada pelo
autor de globalismo localizado, segundo o qual
[...] consiste no impacto específico de práticas e imperativos
transnacionais nas condições locais, as quais são, por essa via,
desestruturadas e reestruturadas de modo a responder a esses imperativos
transnacionais. Tais globalismos localizados incluem: enclaves de comércio
livre ou zonas francas; desmatamento e destruição maciça dos recursos
naturais para pagamento da dívida externa; tesouros históricos, lugares ou
cerimônias religiosos, artesanato e vida selvagem postos à disposição da
indústria global do turismo; dumping ecológico (“compra” pelos países do
Terceiro Mundo de lixo xico produzido nos países capitalistas centrais para
gerar divisas externas); conversão da agricultura de subsistência em agricultura
para exportação como parte do “ajuste estrutural”; alterações legislativas e
políticas impostas pelos países centrais ou pelas agências multilaterais que elas
controlam; uso de mão-de-obra local por parte de empresas multinacionais sem
qualquer respeito por parâmetros mínimos de trabalho (labor standards)
(SANTOS, 2003, p. 435).
Pode-se inferir, portanto, que os agrotóxicos estão incorporados no mercado, ou
melhor, legitimados e a sua utilização é uma exigência imposta pelo modelo de
produção em nosso país. Poucos questionam os seus efeitos prejudiciais à saúde
pública e ao ambiente.
A Tabela 17 apresenta os aspectos quantitativos das cartas que abordam os
agrotóxicos. Os números entre parênteses exibidos nas Tabelas relativas aos gêneros
representam seus percentuais calculados.
168
Tabela 17 - Distribuição do número de cartas nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os
espaços ocupados nos veículos de comunicação analisados
Veículos de
comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Valores totais e
percentuais
Globo Rural
a
66 (82,50%)
4 (5,00%)
9 (11,25%)
1 (1,25 %)
80 (100,00%)
Supl.Agrícola
b
28 (90,32%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
3 (9,68%)
31 (100,00%)
A Granja
c
9 (100,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
9 (100,00%)
Balde Branco
d
1 (100,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (100,00%)
Total (%)
104 (85,95%)
4 (3,31%)
9 (7,44%)
4 (3,31%)
121 (100,00%)
Valores médios e
percentuais
Globo Rural
a
2,64 (82,50%)
0,16 (5,00%)
0,36 (11,25%)
0,04 (1,25%)
3,20 (100,00%)
Supl. Agrícola
b
0,49 (90,32%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,05 (9,68%)
0,54 (100,00%)
A Granja
c
0,45 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,45 (100,00%)
Balde Branco
d
0,04 100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (100,00%)
Total (%)
3,62 (85,52%)
0,16 (3,78%)
0,36 (8,51%)
0,09 (2,19%)
4,23 (100,00%)
Espaços totais e
percentuais
Globo Rural
a
24,14 (83,88%)
1,22 (4,24%)
3,18 (11,05%)
0,24 (0,83%)
28,78 (100,00%)
Supl. Agrícola
b
29,43 (98,20%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,0%)
0,54 (1,80%)
29,97 (100,00%)
A Granja
c
3,45 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
3,45 (100,00%)
Balde Branco
d
0,34 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,34 (100,00%)
Total (%)
57,36 (91,72%)
1,22 (1,95%)
3,18 (5,08%)
0,78 (1,25%)
62,54 (100,00%)
Espaços médios e
percentuais
Globo Rural
a
0,97(83,88%)
0,05 (4,24%)
0,13 (11,05%)
0,01 (0,83%)
1,15 (100,00%)
Supl. Agrícola
b
0,52 (98,20%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,01 (1,80%)
0,53 (100,00%)
A Granja
c
0,17(100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,17 (100,00%)
Balde Branco
d
0,01(100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0.01 (100,00%)
Total (%)
1,67 (89,52%)
0,05 (2,62%)
0,13 (6,83%)
0,02 (1,02%)
1,86 (100,00%)
a
Período analisado da revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro
de 2006 a julho de 2008.
b
Período analisado do “Suplemento Agrícola”: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de
2007 a julho de 2008.
c
Período analisado da revista da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre
fevereiro de 2005 a fevereiro de 2008.
d
Período analisado na revista “Balde Branco”: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de
2005 a julho de2008.
169
A maior parte das cartas da Globo Rural, conforme a Tabela 17, referiu-se às
matérias favoráveis ao consumo dos agrotóxicos, as quais representaram 66 das 80
publicadas, enquanto as de contenção a esse uso, as factuais e as que se referiram às
técnicas de produção alternativa apresentaram quatro, nove e uma carta,
respectivamente. No “Suplemento Agrícola elas representaram 28 de um total de 31 e
as que compreenderam as mensagens sobre as técnicas alternativas estavam
presentes em apenas três. As nove cartas publicadas em A Granja foram de incentivo
ao consumo de agrotóxicos e a única divulgada na revista Balde Branco também
estimulava o seu uso. Estes números revelam um critério muito consistente de seleção
de cartas, demonstrando que a revista escolhe aquelas cujo propósito é incitar o
controle químico através da utilização de agrotóxicos, propagando ainda mais uma
prática ofensiva à saúde pública e ao ambiente.
Com relação aos valores médios e percentuais de cartas, a “Globo Rural”
apresentou o maior índice nas 25 edições avaliadas. Ou seja, 2,64 cartas de incentivo
ao uso de agrotóxicos, em comparação ao “Suplemento Agrícola”, “A Granja‟ e “Balde
Branco”, que apresentaram 0,49; 0,45 e 0,04 cartas, respectivamente, em cada edição
analisada. No entanto, verificaram-se níveis superiores para o “Suplemento Agrícola”
quanto aos percentuais totais e médios, que indicaram 90,32% nas 57 edições, em
relação ao percentual de 82,50% apresentado pela revista “Globo Rural”.
Esses resultados permitem pensar esses meios de comunicação de massa
impressos como transmissores de suas próprias opiniões através das cartas dos
leitores, selecionadas propositalmente com a finalidade de não permitir reflexões sobre
esse assunto. As correspondências incentivam a utilização de agrotóxicos, conforme a
postura neoliberal e o pensamento hegemônico das empresas privadas. Cultivam
filosofias em favor deles, para não perderem um mercado estabelecido, grande e
poderoso, “de mais de nove bilhões de dólares” (PINHEIRO, 2010), que oferece
vantagens de lucros certos sem questionamentos.
Observou-se sonegação de informações sobre os compostos químicos, de
acordo com o “Modelo de Propaganda” proposto por Herman e Chomsky (2003),
segundo o qual as matérias que transmitem mensagens que abordam as intoxicações
humanas, contaminações ambientais e resíduos em alimentos traduzem-se em
170
imagens negativas para a população. Assim, esses veículos impressos suprimem-nas
tanto por prevenção a um possível descontentamento como também para não
comprometer o seu sucesso e sua rentabilidade.
As matérias favoráveis aos agrotóxicos, que totalizaram 104 cartas, representam
as informações transmitidas pela mídia impressa brasileira amostrada na presente
pesquisa. A estratégia utilizada consistiu em incutir no pensamento dos leitores que
esses compostos não causam malefícios à saúde pública e ao ambiente, principalmente
por serem recomendados por especialistas de instituições de pesquisa e universidades
públicas e privadas. Assim, a população os consome, sem restrições e medo, tanto pela
ausência de informações como pelas distorções que lhes são devidas. Conceitos assim
transmitidos são cultivados na mente das pessoas conforme a teoria do cultivo
(GERBNER et al., 2002).
Os espaços totais ocupados com a publicação das cartas mostram que a revista
Globo Rural e o “Suplemento Agrícola utilizaram uma quantidade de páginas
semelhante no período estudado, ou seja, 28,78 e 29,97, respectivamente. No entanto,
esses valores se modificam quando se considera, por exemplo, os seus percentuais na
categoria matérias favoráveis aos agrotóxicos avaliadas em 83,88% e 98,20% para
Globo Rural e Suplemento Agrícola, respectivamente. Considerando o número de
edições, bem como o tamanho das páginas desses veículos, verifica-se que as cartas
na revista Globo Rural ocuparam em média 1,15 páginas por edição, cada uma delas
em tamanho padrão de 530,00 cm
2
e no “Suplemento Agrícola 0,53 páginas por
exemplar, em formato tablóide de 768,50 cm
2
. Desse modo, as mensagens que
abordam os agrotóxicos na revista “Globo Rural” ocuparam área consideravelmente
maior - 609,50 cm
2
em relação
ao “Suplemento Agrícola” - 407,30 cm
2
.
Na Tabela 18 estão as medições efetuadas nas páginas dos veículos
estudados.
171
Tabela 18- Mensuração da área da página dos jornais e revistas amostrados
Veículos
Tamanho da página (cm
2
)
Agrofolha
1708,0
A Granja
560,0
Balde Branco
550,0
Caros Amigos
891,0
Globo Rural
530,0
Jornal de Piracicaba
1811,3
Suplemento Agrícola
768,5
Veja
530,0
As cartas relacionadas ao estímulo do consumo de agrotóxicos ocuparam 57,36
páginas com, conforme exibido nos espaços totais da Tabela 17. As matérias
jornalísticas de contenção ao uso, as factuais e as que enfatizaram as técnicas de
produção alternativa apresentaram espaços menores, tais como 1,22; 3,18 e 0,78
páginas, respectivamente. Esses resultados confirmam o apoio aos agrotóxicos para os
agronegócios, conforme relata Pinheiro (2010).
Um novo presidente foi eleito e reeleito com uma visão neoliberal. Entre
nós a agricultura mudou de nome e passou a chamar-se de agronegócios e os
agrotóxicos passaram a ter um novo enfoque na imprensa, mantendo seu
“status” anterior e proteção cartorial das autoridades, que fingiam aplicar a
legislação, enquanto a GIFAP/BR grita aos quatro cantos do mundo que s
possuímos a “melhor legislação do mundo” (possivelmente se referia a sua não
aplicação) (PINHEIRO, 2010).
Embora o “Suplemento Agrícola não apresentasse como uma das fontes de
recursos empresas anunciantes do ramo de agrotóxicos como por exemplo é a
proposta da revista “Globo Rural”, e portanto não se comprometeria com as
corporações multinacionais caso publicasse matérias denunciando os danos causados
por estes produtos, também não o fez. Assim, não houve reflexões sobre os
indesejáveis venenos impostos por estas empresas à saúde humana e ao ambiente nos
veículos analisados nesse estudo. Ao contrário, as cartas de incentivo ao consumo de
agrotóxicos refletiram o modelo da Revolução Verde dos anos 60, em culturas
economicamente rentáveis dos agronegócios.
Das 121 cartas contendo matérias sobre agrotóxicos apenas quatro, conforme
mostrado na Tabela 17, referiram-se às técnicas alternativas. A adoção de práticas
172
agrícolas agroecológicas, sem a utilização de produtos químicos visa contribuir na
redução de impactos ambientais.
2.4.3.2 Notas
Os resultados das análises de conteúdo efetuadas para as notas são
apresentados na Tabela 19.
a
Período analisado da revista “Balde Branco”: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de 2005 a julho de
2008
b
Período analisado da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005 a fevereiro
de 2008
c
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de 2006 a julho
de 2008
d
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de 2006 a julho
de 2008
Tabela 19 -Distribuição do número de notas nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os espaços
ocupados nos veículos de comunicação analisados
Veículos de comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Valores totais e
percentuais
Balde Branco
a
52 (88,14%)
1 (1,69%)
3 (5,08%)
3 (5,08%)
59 (100,00%)
A Granja
b
36 (100,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
36 (100,00%)
Supl. Agrícola
c
9 (52,94%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
8 (47,06%)
17 (100,00%)
Globo Rural
d
4 (50,00%)
1 (12,50%)
3 (37,50%)
0 (0,00%)
8 (100,00%)
Total (%)
101 (84,17%)
2 (1,67%)
6 (5,00%)
11 (9,17%)
120 (100,00%)
Valores médios e
percentuais
Balde Branco
a
1,93 (88,14%)
0,04 (1,69%)
0,11 (5,08%)
0,11 (5,08%)
2,19 (100,00%)
A Granja
b
1,80 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
1,80 (100,00%)
Supl. Agrícola
c
0,16 (52,94%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,14
(47,06%)
0,30 (100,00%)
Globo Rural
d
0,16 (50,00%)
0,04 (12,50%)
0,12 (37,50%)
0,00 (0,00%)
0,32 (100,00%)
Total (%)
4,04 (87,84%)
0,08 (1,67%)
0,23 (5,02%)
0,25 (5,46%)
4,60 (100,00%)
Espaços totais e
percentuais
Balde Branco
a
6,65 (86,25%)
0,16 (2,08%)
0,50 (6,49%)
0,40 (5,19%)
7,71 (100,00%)
A Granja
b
6,46 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
6,46 (100,00%)
Supl. Agrícola
c
0,54 (55,67%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,43
(44,33%)
0,97 (100,00%)
Globo Rural
d
0,88 (41,71%)
0,02 (14,22%)
0,0,06
(44,08%)
0,02 (0,00%)
2,11 (100,00%)
Total (%)
14,53 (84,23%)
0,46 (2,67%)
1,43 (8,29%)
0,83 (4,81%)
17,25 (100,00%)
Espaços médios e
percentuais
Balde Branco
a
0,25 (86,25%)
0,01 (2,08%)
0,01 (5,19%)
0,29 (100,00%)
A Granja
b
0,32 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,32 (100,00%)
Supl. Agrícola
c
0,01 (55,67%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,0%)
0,00 (0,00%)
0,01
(44,33%)
0,02 (100,00%)
Globo Rural
d
0,04 (41,71%)
0,01 (14,22%)
0,04(44,08%)
0,00 (0,00%)
0,08 (100,00%)
Totais (%)
0,61 (86,48%
0,02 (2,52%)
0,06 (7,85%)
0,02 (3,15%)
0,71 (100,00%)
173
Os valores totais da Tabela 19 mostram que as revistas “Balde Branco” e a “A
Granja”, bem como o “Suplemento Agrícola” e a “Globo Rural” publicaram,
respectivamente, 52; 36, nove e quatro notas favoráveis ao consumo de agrotóxicos,
que totalizaram 101 informações. O elevado número dessas notas enseja um
questionamento. As notas não deveriam ter apenas a função de informar os leitores
sobre algum evento, publicação ou programação? No entanto, esse gênero jornalístico
segue a proposta da Revolução Verde traduzida, hoje, no incentivo aos agronegócios,
relacionada às grandes monoculturas de soja e cana-de-açúcar por exemplo, que
exigem aplicações tecnificadas maciças de agrotóxicos em áreas extensas. Isso pode
ser observado nas notas publicadas nos veículos amostrados, a serem mencionadas a
seguir. Agronegócios, agribusiness e agrotóxicos, todos com o mesmo prefixo. Será
alguma coincidência ou de fato significam que os agrotóxicos são usados nos
agronegócios, os agribusiness, para aumentar o lucro das empresas multinacionais com
graves prejuízos à saúde da população? O “rebanho assustado acredita que nada
pode fazer, a não ser sentar-se na frente da televisão para não pensar e não se
organizar em movimentos porque provavelmente seria enxotado para não atrapalhar o
sistema já definido da nossa democracia.
Chomsky (2003) explica essa lógica.
uma lógica por detrás disso. até mesmo uma espécie de princípio
moral atuando [...] Portanto, seria imoral e inconveniente lhe permitir fazer isso.
Temos que domar o “rebanho assustado”, não permitir que ataque, pisoteie e
destrua coisas (CHOMSKY, 2003, p. 17).
Massierer (2007) comenta que as notas são utilizadas para preencher espaços
nos jornais. No entanto, nas análises realizadas nos veículos segmentados verificou-se,
na maior parte das vezes, que elas incentivaram o consumo de agrotóxicos.
Os espaços totais ocupados com as notas contendo mensagens de estímulo aos
agrotóxicos foram superiores nas revistas Balde Branco e A Granja, que ocuparam
6,65 e 6,46 páginas, respectivamente, em relação ao “Suplemento Agrícola” e “Globo
Rural”. As duas primeiras não mostraram diferenças representativas, a não ser quando
se consideram o número de edições e o tamanho de suas páginas, que mostraram os
espaços médios de 0,25 e 0,32 páginas por edição, em tamanho padrão de 550 cm
2
e
174
560 cm
2
, respectivamente, conforme indicado na Tabela 19. Tais mensurações
resultaram nos espaços de 137,50 cm
2
e 179,20 cm
2
, respectivamente. Apenas as
revistas Balde Branco e Globo Rural publicaram notas com mensagens de
contenção ao uso de agrotóxicos e factuais. Além da revista Balde Branco, o
“Suplemento Agrícola também abordou as técnicas de produção alternativa. As
mensagens que estimularam o consumo de compostos químicos ocuparam 14,53
páginas em relação ao seu espaço total, representado por 17,25 páginas.
Na revista Balde Branco
63
, as duas notas publicadas são avisos à população. A
matéria “Novo herbicida para cana”, lançado pela FMC Agricultural Products, por
exemplo é uma mensagem que anuncia um agrotóxico que controla a corda-de-viola,
uma planta invasora que atinge os canaviais. Nesse mesmo exemplar, “Uma dose para
a tristeza parasitária” também faz a publicidade de um produto da Vitatet LA, com
oxitetraciclina, para combater os agentes causadores de tristeza parasitária bovina,
babesiose e anaplasmose. Esta última nota contém informações muito favoráveis aos
agrotóxicos de uso veterinário, mostrando-os como oportunidades para superar
obstáculos à produção.
A Granja
64
também publicou notas objetivando anunciar comercialmente os
agrotóxicos. Exemplificando, a “Nova campanha para o Opera da Basf”, relata o
lançamento de “O Mundo de Opera”, que enfoca as principais vantagens desse
agrotóxico, líder de mercado na cultura da soja desde seu lançamento em 2002, por
pertencer ao grupo de fungicidas que possuem efeitos fisiológicos. Nesse exemplar, a
nota “Lançado prêmio Arysta de distribuição” alude a uma campanha de incentivo dessa
empresa de “defensivos agrícolas”, que propõe beneficiar exclusivamente as revendas
e cooperativas que comercializam seus produtos. O termo “defensivo agrícola”, usado
como sinônimo de agrotóxico, possibilita questionar se faz referência aos aspectos de
defesa, de alguém ou para alguém. Por exemplo: defesa das corporações e de seus
interesses ou do agricultor ou produtor rural. Defesa é um termo de uso militar. Defesa
implica guerra. Guerra contra quem? As pragas e as doenças? Contra a natureza?
Contra a queda dos lucros dos fabricantes, provavelmente. Acredita-se que esta palavra
foi usada como publicidade objetivando promover a empresa Arysta de acordo com as
63
Revista Balde Branco, ano 40, n. 490, ago. 2005, p. 20 e 17.
64
Revista A Granja, ano 63, n. 704, ago. 2007, p. 65.
175
exigências ambientais, supostamente para demonstrar preocupação em não agredir o
homem e a natureza.
Outras duas notas relevantes contendo mensagens de incentivo aos agrotóxicos
foram ainda publicadas na revista A Granja
65
. A primeira, “Monsanto e Dow
Agrosciences lançam milho inédito”, anuncia um acordo entre ambas visando o
lançamento do SmartStax, a primeira semente de milho transgênica com uma
combinação de oito genes a ser comercializada no mundo para proteção contra os
insetos e as ervas daninhas. A outra nota, “Arysta e IAC inspecionam pulverizadores”,
refere-se à união da empresa de agrotóxicos Arysta e o Instituto Agronômico de
Campinas, IAC - Apta com a finalidade de inspecionar os equipamentos de aplicação de
agrotóxicos e treinar produtores. Através da utilização de um “Tech Móvel”, um veículo
equipado com os recursos necessários para dar apoio ao homem do campo, a parceria
oferece assistência sobre o uso correto e seguro desses produtos químicos. Essa
atividade faz parte do Programa Aplique Bem da Arysta em ação conjunta com o IAC,
revelando uma estratégia de marketing visando melhorar a divulgação, o uso e a
aceitação desses produtos químicos.
No “Suplemento Agrícola
66
, as notas o destacadas no alto da página, com o
nome escrito em branco e o fundo de cor preta. As duas notas divulgadas também
estão relacionadas às propostas de estímulo aos agrotóxicos, como podem ser
observadas nas seguintes mensagens. A primeira, intitulada “Grupo anuncia fábrica de
defensivos no Brasil, comenta que a DVA, da Alemanha, investirá US$100 milhões até
2014 destinados à construção do centro de tecnologia, produção e distribuição de
“defensivos agrícolas”. Em seguida, instalará a fábrica de formulação e síntese de
moléculas para a produção de diferentes produtos. A outra nota, “Arysta lança herbicida
para pastagens”, trata de um novo produto para o mercado brasileiro, o Arena, que de
acordo com a publicação oferece rentabilidade e sustentabilidade ao produtor. A sua
análise permite arguir como um agrotóxico que degrada e polui o ambiente pode
proporcionar sustentabilidade ao produtor rural. Provavelmente o discurso destina-se
aos seus interesses financeiros porque a sustentabilidade tem como meta prover o
melhor para as pessoas e para o ambiente, tanto agora quanto para o futuro indefinido.
65
Revista A Granja, ano 63, n. 706, out. 2007, p.74.
66
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.743, 4 jun. 2008, p. 11.
176
Observa-se como a mídia impressa promove as notas relacionadas aos
agrotóxicos demonstrando claramente sua intenção de incentivar o seu consumo pelos
leitores. Ao lê-las, e diante de tal destaque, eles poderão pensar que se trata de
produtos inócuos, os quais podem ser usados sem receio nas suas diferentes
utilidades. No entanto, tais gêneros são pequenos anúncios comerciais ou publicidades
de agrotóxicos disfarçados de avisos, lançamentos de produtos e de eventos.
Das oito notas publicadas na revista Globo Rural quatro delas continham
mensagens de incentivo ao uso de agrotóxicos. “Genéricos em campo
67
, por exemplo,
comenta sobre os agrotóxicos genéricos, que são de baixo custo e portanto mais
acessíveis às camadas de menor poder aquisitivo, mostrando uma postura claramente
favorável ao consumo quando o produto apresenta vantagens no preço.
Publicada no Box Legislação da “Globo Rural”
68
, “Publicidade no campo”,
também é uma mensagem de estímulo aos agrotóxicos da Associação Brasileira de
Marketing Rural & Agronegócio - ABMR&A. Essa entidade realizou um evento com a
finalidade de informar sobre a legislação publicitária específica para “defensivos
agrícolas” e divulgar conhecimentos sobre como trabalhar com marketing direcionado
ao campo. Assim como o “Suplemento Agrícola”, a revista “Globo Rural”, também utiliza
estratégias de linguagem ao usar a palavra “defensivo agrícola” em vez do termo
“agrotóxico”, conforme a formulação A função da mídia como modeladora da
linguagem (DE FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993).
“Água limpa de volta”, matéria da Globo Rural
69
, é uma das três publicações
isentas de opinião sobre os agrotóxicos. Ela se relaciona à empresa Natureza Ativa,
que desenvolveu um aparelho para destruir os resíduos de pesticidas na água por meio
da radiação ultravioleta. Se os resíduos de agrotóxicos fossem moléculas úteis e
saudáveis a sua destruição seria impraticável.
Na seção Campo Aberto a nota desfavorável aos agrotóxicos, Saúde em
debate”, publicada pela “Globo Rural”
70
, relata que a OMS estima que ocorrem no Brasil
690 mil casos de envenenamentos por agrotóxicos por ano, mas os dados oficiais não
67
Revista Globo Rural, ano 21, n. 251, set. 2006, p. 24.
68
Revista Globo Rural, ano 23, n. 271, maio, 2008, p. 3.
69
Revista Globo Rural, ano 23, n. 273, jul. 2008, p. 18.
70
Revista Globo Rural, ano 21, n. 247, maio 2006, p. 26.
177
apontam mais do que oito mil episódios. Técnicos e pesquisadores afirmam que o uso
indiscriminado de agrotóxicos está associado a sintomas como dores de cabeça,
convulsões e deficiência de aprendizado na população local. Os especialistas salientam
que o comércio sem critério dos produtos e o sistema de rotulagem confuso agravam a
situação.
Pinheiro (2010) comenta que:
Na Noruega uma preocupação das professoras com a diferença no
aprendizado de crianças urbanas e rurais levou a um levantamento
epidemiológico profundo chegando a conclusão que os inseticidas fosforados
bloqueavam o fluxo de Cálcio no cérebro (hipotálamo) inibindo a memória
límbica das crianças e dificultando o aprendizado (PINHEIRO, 2010).
Os resultados discutidos até aqui permitem as seguintes reflexões: de que
maneira a mídia pode influenciar o comportamento, o desenvolvimento de hábitos e
atitudes e mesmo a compreensão da realidade? Quais as políticas, a ideologia e o que
os veículos de comunicação pretendem através da publicação das notas? Preencher
apenas espaços dos jornais de informação geral? E nos especializados? Nas cartas,
por exemplo, por ocasião da sua seleção, manifestam-se as opiniões dos jornais e
revistas através dos próprios leitores. Nessa pesquisa, verificou-se que as notas
também expressam a orientação aos lucros das empresas de comunicação. Por esse
motivo, não se questionou sobre um assunto tão grave como as contaminações
provocadas pelos agrotóxicos, mesmo na matéria “Saúde em Debate”, publicada na
revista Globo Rural supramencionada.
Percebe-se também nas notas a cultivação da supremacia dos benefícios dos
agrotóxicos (GERBNER et al., 2002).
A supressão dessas informações evidenciadas nas notas publicadas nas revistas
Balde Branco, A Granja, Globo Rural e no “Suplemento Agrícola também pode ser
explicada devido aos filtros presentes na mídia, que distorcem as suas mensagens
(HERMAN; CHOMSKY, 2003).
178
2.4.3.3 Notícias
Na Tabela 20 observam-se os valores totais, médios e seus percentuais, bem
como os espaços dos jornais e revistas ocupados com a temática sobre os agrotóxicos.
Tabela 20 - Distribuição do número de notícias nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os espaços
ocupados nos veículos de comunicação analisados (Continua)
Veículos de
comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Valores totais e
percentuais
Agrofolha
a
3 (75,00%)
1 (25,00%)
0 (0,00%
0 (0,00%)
4 (100,00%)
A Granja
b
4 (100,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
4 (100,00%)
Balde Branco
c
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00)
0 (0,00%)
Caros Amigos
d
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
Globo Rural
e
3 (42,86%)
0 (0,00%)
1 (14,29%)
3 (42,86%)
7 (100,00%)
Jor. Piracicaba
f
1 (50,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (50,00%)
2 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
32 (62,75%)
4 (7,84%)
3 (5,88%)
12 (23,53%)
51 (100,00%)
Veja
h
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (100,00%)
1 (100,00%)
Total (%)
43 (62,32%)
5 (7,25%)
4 (5,80%)
17 (24,64%)
69 (100,00%)
Valores médios
e percentuais
Agrofolha
a
0,05 (75,00%)
0,02 (25,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,07 (100,00%)
A Granja
b
0,20(100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,20 (100,00%)
Balde Branco
c
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
e
0,12 (42,86%)
0,00 (0,00%)
0,04 (14,29%)
0,12 (42,86%)
0,28 (100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0,04 (50,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (50,00%)
0,08 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
0,56 (62,75%)
0,07 (7,84%)
0,05 (5,88%)
0,21 (23,53)%)
0,89 (100,00%)
Veja
h
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,01 (100,00%)
0,01 (100,00%)
Total (%)
0,97 (63,42%)
0,09 (5,72%)
0,09 (6,04%
0,38 (24,82%)
1,53 (100,00%)
179
Tabela 20 - Distribuição do número de notícias nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os espaços
ocupados nos veículos de comunicação analisados (Conclusão)
Espaços totais
e percentuais
Agrofolha
a
0,63 (78,75%)
0,17 (21,25%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,80 (100,00%)
A Granja
b
3,71 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
3,71 (100,00%)
Balde Branco
c
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
e
2,57 (37,41%)
0,00 (0,00%)
0,30 (4,37%)
4,00 (58,22)
6,87(100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0,26 (56,52%)
0,00 (0,00%
0,00 (0,00%)
0,20 (43,48)
0,46 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
19,19 (64,72%)
2,07 (6,98%)
1,66 (5,60%)
6,73 (22,70%)
29,65(100,00%)
Veja
h
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
2,00 (100,00%)
2,00 (100,00%)
Total (%)
26,36 (60,61%)
2,24 (5,15%)
1,96 (4,51%)
12,93 (29,73%)
43,49 100,00%)
Espaços
médios e
percentuais
Agrofolha
a
0,01 (78,75%)
0,003 (21,25%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,01 (100,00%)
A Granja
b
0,19 (100,00%)
0,00 (0,0%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,19 (100,00%)
Balde Branco
c
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
0,10 (37,41%)
0,00 (0,00%)
0,01 (4,37%)
0,16 (58,22)
0,27(100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0,01 (57,45%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,01 (42,55%)
0,02 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
0,34 (64,72%)
0,04 (6,98%)
0,03 (5,60%)
0,12 (22,70%)
0,52(100,00%)
Veja
h
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,02 (100,00%)
0,02 (100,00%)
Total (%)
0,65 (62,72%)
0,04 (3,82%)
0,04 (3,99%)
0,31 (29,97%)
1,04 (100,00%)
a
Período analisado da Agrofolha: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de
2008.
b
Período analisado da revista A Granja: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005
a fevereiro de 2008.
c
Período analisado da revista Balde Branco: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de 2005
a julho de 2008.
d
Período analisado da revista Caros Amigos: 12 meses - 12 edições - compreendido entre janeiro a
dezembro de 2007.
e
Período analisado na revista Globo Rural: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de
2006 a julho de 2008.
f
Período analisado do Jornal de Piracicaba: 01 mês - 26 edições - durante o mês de janeiro de 2007.
g
Período analisado do Suplemento Agrícola: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007
a julho de 2008.
h
Período analisado da revista Veja: 19 meses - 86 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de
2007 e de janeiro a julho de 2008.
180
Os valores totais constantes da Tabela 20 revelam que o “Suplemento Agrícola
publicou 32 notícias de estímulo ao consumo dos agrotóxicos e 12 sobre técnicas de
produção alternativa, além de quatro e três sobre contenção ao uso e factuais,
respectivamente, totalizando 51 mensagens. Esse veículo também destinou o maior
espaço total em todas as categorias, ou seja, 29,65 páginas das quais 6,73 são
dedicadas às técnicas de produção alternativa. Como exemplo, a matéria “Um projeto
para área de manancial” publicada no “Suplemento Agrícola”
71
trata de parceria entre
várias entidades visando estimular cultivos sem agrotóxicos no entorno da Bacia de
Guarapiranga. Esse projeto visa converter propriedades convencionais em orgânicas
com o objetivo de melhorar as condições de vida dos agricultores, reduzindo os custos
de produção e agregando valor ao produto final. Além disso, a adoção de práticas
agrícolas sem o uso de agrotóxicos também deve atenuar o impacto ambiental na
região. No total, os jornais e revistas escolhidos divulgaram 69 notícias, das quais 43
são favoráveis a esses produtos. Essas informações ocuparam 26,36 páginas das
43,49 publicadas.
O “Suplemento Agrícola” e a Agrofolha propagaram matérias de contenção ao
uso dos agrotóxicos. A notícia “Blitz do Trabalho apura infrações em cultivos de feijão e
limão em SP”, publicada no caderno “Agrofolha”, é comentada nesse estudo. Embora
tal mensagem tenha denunciado o descumprimento das Normas Regulamentadoras -
NR 31.8, o veículo em questão não promoveu continuidade ao debate público sobre o
uso indiscriminado desses produtos, o que caracterizou sonegação de informações
(HERMAN; CHOMSKY 2003).
2.4.3.4 Reportagens
As análises quantitativas que versam sobre as reportagens de agrotóxicos são
apresentadas na Tabela 21.
71
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.732, 19 mar. 2008, p. 15.
181
Tabela 21 - Distribuição do número de reportagens nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os
espaços ocupados nos veículos de comunicação analisados (Continua)
Veículos de comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Valores totais e
percentuais
Agrofolha
a
5 (71,43%)
1 (14,29%)
1 (14,29%)
0 (0,00%)
7 (100,00%)
A Granja
b
8 (88,89%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (11,11%)
9 (100,00%)
Balde Branco
c
11 (78,57%)
1 (7,14%)
0 (0,00%)
2 (14,29%)
14 (100,00%)
Caros Amigos
d
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
Globo Rural
e
7 (36,84%)
0 (0,00%)
6 (31,58%)
6 (31,58%)
19 (100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (100,00%)
1(100,00%)
Supl. Agrícola
g
6 (54,55%)
0 (0,00%)
1 (9,09%)
4 (36,36%)
11(100,00%)
Veja
h
2 (50,00%)
1 (25,00%)
1 (25,00%)
0 (0,00%)
4 (100,00%)
Total (%)
39 (60,00%)
3 (4,62%)
9 (13,85%)
14 (21,54%)
65 (100,00%)
Valores médios e
percentuais
Agrofolha
a
0,09 (71,43%)
0,02 (14,29%)
0,02 (14,29%)
0,00 (0,00%)
0,12 (100,00%)
A Granja
b
0,40 (88,89%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,05 (11,11%)
0,45 (100,00%)
Balde Branco
c
0,41 (78,57%)
0,04 (7,14%)
0,00 (0,00%)
0,07 (14,29%)
0,52 (100,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
e
0,28 (36,84%)
0,00 (0,00%)
0,24 (31,58%)
0,24 (31,58%)
0,76 (100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (100,00%)
0,04 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
0,11 (54,55%)
0,00 (0,00%)
0,02 (9,09%)
0,07 (36,36%)
0,19 (100,00%)
Veja
h
0,02 (50,00%)
0,01 (25,00%)
0,01 (25,00%)
0,00 (0,00%)
0,05 (100,00%)
Totais (%)
1,30 (61,22%)
0,07 (3,11‟%)
0,29 (13,47%)
0,47 (22,20%)
2,13 (100,00%)
Espaços totais
e percentuais
Agrofolha
a
3,66 (71,62%)
0,69 (13,50%)
0,76 (14,87%)
0,00 (0,00%)
5,11 (100,00%)
A Granja
b
39,16
(90,73%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
4,00 (9.27%)
43,16 (100,00%)
Balde Branco
c
43,22
(80,45%)
3,00 (5,58%)
0,00 (0,00%)
7,50 (13,96%)
53,72 (100,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00(0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
e
37,00
(43,53%)
0,00 (0,00%)
26,00
(30,59%)
22,00 (25,88%)
85,00(100,00%)
Jornal de Piracicaba
f
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,41 (100,00%)
0,41 (100,00%)
Supl. Agrícola
g
11,00
(52,38%)
0,00 (0,00%)
2,00 (9,52%)
8,00 (38,10%)
21,00 (100,00%)
Veja
h
5,38 (40,21%)
6,00 (44,84%)
2,00 (14,95%)
0,00 (0,00%)
13,38 (100,0%)
Total (%)
139,42
(62,86%)
9,69 (4,37%)
30,76
(13,87%)
41,91 (18,90%)
211,78
(100,00%)
182
Tabela 21 - Distribuição do número de reportagens nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e os
espaços ocupados nos veículos de comunicação analisados (Conclusão)
Veículos de comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Espaços médios e
percentuais
Agrofolha
a
0,06 (71,62%)
14 0,01 (13,50%)
0,01 (14,87%)
0,00 (0,00%)
0,09 (100,00%)
A Granja
b
1,96 (90,73%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,20 (9,27%)
2,16 (100,00%)
Balde Branco
c
1,60 (80,45,%)
0,11 (5,58%)
0,00 (0,00%)
0,28 (13,97%)
1,99 (100,00%)
Caros Amigos
d
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
Globo Rural
e
1,48 (43,53%)
0,00 (0,00%)
1,04 (30,59%)
0,88 (25,88%)
3,40 (100,00%)
Jor. Piracicaba
f
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,02 (100,00%)
0,02 (100,00%
Supl. Agrícola
g
0,19 (52,38%)
0,00 (0,00%)
0,02 (9,52%)
0,14 (38,10%)
0,37 (100,00%)
Veja
h
0,06 (40,21%)
0,07 (44,84%)
0,02 (14,95%)
0,00 (0,00%)
0,16 (100,0%)
Total (%)
5,36 (65,54%)
0,19 (2,36%)
1,11 (13,60%)
1,51 (18,51%)
8,18 (100,00%)
a
Período analisado da Agrofolha: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de 2008.
b
Período analisado da revista A Granja: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005 a fevereiro
de 2008.
c
Período analisado da revista Balde Branco: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de 2005 a julho de
2008.
d
Período analisado da revista Caros Amigos: 12 meses - 12 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de
2007.
e
Período analisado na revista Globo Rural: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de 2006 a julho
de 2008.
f
Período analisado do Jornal de Piracicaba: mês - 26 edições - durante o mês de janeiro de 2007,
g
Período analisado do Suplemento Agrícola: 13meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de
2008.
h
Período analisado da revista Veja: 19 meses - 86 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de 2007 e de
janeiro a julho de 2008.
Os valores totais revelam que as reportagens que estimulam o consumo dos
agrotóxicos foram transmitidas por seis veículos de comunicação analisados,
totalizando 39 matérias jornalísticas, as quais ocuparam 139,42 páginas. Ou seja, um
valor que representa mais da metade dos espaços totais destinados a essa temática.
Enquanto as categorias desfavoráveis, factuais e técnicas de produção alternativa
exibiram os seguintes valores totais: três, nove e 14 reportagens sobre essa temática,
respectivamente. Uma reportagem desfavorável aos agrotóxicos foi publicada pela
“Agrofolha”, do jornal “Folha de S. Paulo”, intitulada “Produtores de tomate são
autuados em SP”, na qual denuncia a ocorrência de intoxicações por agrotóxicos de
183
alguns trabalhadores rurais. Ressalta-se que cada jornal e revista analisado nesse
estudo apresenta um tamanho diferente de página, segundo as mensurações
destacadas na Tabela 18. Assim, os espaços totais ocupados com as mensagens de
estímulo ao consumo de agrotóxicos no caderno “Agrofolha” e no “Suplemento
Agrícola”, por exemplo, que exibiram 3,66 e 11,00 páginas respectivamente, são
subestimados, uma vez que suas páginas são maiores que o padrão das revistas, isto
é, tamanhos que variam de 530 a 560,0 cm
2
.
Outra questão a se considerar é a publicação de elevado volume de reportagens
que incentivam o consumo de agrotóxicos. Tal fato pode ser explicado devido à
predominância de empresas privadas presentes em setores dos meios de comunicação
de massa.
As abordagens referentes aos espaços totais relacionados às técnicas de
produção alternativa ocuparam 41,91 páginas, que correspondem à média de 1,51
reportagens por edição.
Pinheiro (2010) faz uma crítica pertinente
Os agrotóxicos mudaram a fisionomia da agricultura mundial, com
desastres de impactos sócio-culturais. Por isso, a agricultura contra os
agrotóxicos era chamada de alternativa” enquanto as autoridades os
chamavam de “defensivos agrícolas” ou “remédios das plantas” para fascinação
e consumismo. Neste universo, os agrotóxicos adquirem forma inconsciente e
virtual, passam a ser sujeito (público) das políticas nacionais (de interesse
privado). Ser crítico a eles é subversão e até antipatriótico ou traição
(PINHEIRO, 2010).
2.4.3.5 Reportagens de capa
As mensurações das análises de conteúdo efetuadas para as reportagens de capa
sobre os agrotóxicos são apresentadas na Tabela 22.
184
a
Período analisado da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005
a fevereiro de 2008.
b
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de
2006 a julho de 2008.
c
Período analisado do “Suplemento Agrícola”: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007
a julho de 2008.
Conforme mostram os valores totais e percentuais o “Suplemento Agrícola
publicou seis reportagens de capa favoráveis aos agrotóxicos, além de uma e quatro
factuais e sobre técnicas alternativas, correspondendo aos valores médios de 0,10; 0,02
Tabela 22- Distribuição do numero de reportagens de capa nas categorias relacionadas aos agrotóxicos e
os espaços ocupados nos veículos de comunicação analisados
Veículos de
comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas
alternativas
Total (%)
Valores totais e percentuais
A Granja
a
3 (100,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
3 (100,00%)
Globo Rural
b
0 (0,00%)
0 (0,00%)
1 (100,00%)
0 (0,00%)
1 (100,00%)
Suplemento Agrícola
c
6 (54,55%)
0 (0,00%)
1 (9,09%)
4 (36,36%)
11 (100,00%)
Total (%)
9 (60,00%)
0 (0,00%)
2 (13,33%)
4 (26,67%)
15 (100,00%)
Valores médios e percentuais
A Granja
a
0,15 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,15(100,00%)
Globo Rural
b
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,04(100,00%)
Suplemento Agrícola
c
0,11 (54,55%)
0,00 (0,00%)
0,02 (9,09%)
0,07(36,36%)
0,19 100,00%)
Total (%)
0,26 (66,65%)
0,00 (0,00%)
0,06 (15,03%)
0,07 (18,32%)
0,38 (100,00%)
Espaços totais e percentuais
A Granja
a
3,00 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
3,00 (100,00%)
Globo Rural
b
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
1 (100,00%)
0,00 (0,00%)
1,00 (100,00%)
Suplemento Agrícola
c
3,90 (60,94%)
0,00 (0,00%)
0,50 (7,81%)
2,00 (31,25%)
6,40 (100,00%)
Total (%)
6,90 (66,35%)
0,00 (0,00%)
1,50 (14,42%)
2,00 (19,23%)
10,40(100,00%)
Espaços médios e percentuais
A Granja
a
0,15 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00(0,00%)
0,15 (100,00%)
Globo Rural
b
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (100,00%)
0,00 (0,00%)
0,04 (100,00%)
Suplemento Agrícola
c
0,07 (60,94%)
0,00 (0,00%)
0,01 (7,81%)
0,04 (31,25%)
0,11 (100,00%)
Total (%)
0,22 (72,26%)
0,00 (0,00%)
0,05 (16,13%)
0,04 (11,61%)
0,30 (100,00%)
185
e 0,07, respectivamente. Os três veículos agropecuários publicaram 15 reportagens de
capa, das quais nove são de estímulo ao consumo desses produtos. Os espaços totais
revelam que o “Suplemento Agrícola” ocupou 6,40 páginas sobre essa temática,
computando todas as categorias. As reportagens de capa favoráveis aos agrotóxicos
nos três veículos segmentados ocuparam 6,90 páginas. No entanto, as mensagens
desfavoráveis aos agrotóxicos não foram contempladas, provavelmente por conta de o
leitor atentar à importância do assunto, o que possibilitaria interferências e prejuízos aos
agronegócios, uma vez que os agrotóxicos são tidos como
[...] imprescindíveis por serem economicamente muito lucrativos [...] o
valores superiores a 300 bilhões de dólares/ano englobando as áreas, militar,
saúde e agricultura industriais. As pragas e pestes, de flagelo divino aos nossos
dias, são transtornos para a humanidade, mas o instrumento mais eficiente para
o seu controle: os agrotóxicos evoluíram industrialmente sem ter nascido para
sua aplicação à agricultura ou sanitarismo [...] Desta forma, se constituem em
dogma, ideologia, doutrina e tecnociência, construindo sua igreja e ordem, por
meio dos governos, universidades, institutos tecnológicos, organismos
multilaterais (FAO, OMS, Codex Alimentarius, e outros) com suas políticas e
campanhas oficiais (PINHEIRO, 2010).
A maior parte das reportagens de capa do “Suplemento Agrícola incentivou o
consumo de agrotóxicos. Um caso exemplar é a reportagem Setor de frutas quer seu
PAC”
72
, que alude a um documento entregue ao Ministério da Agricultura - MAPA,
contendo uma série de propostas para estimular o crescimento da fruticultura brasileira.
Entre as principais questões debatidas está a certificação, uma das exigências dos
padrões internacionais de qualidade dos produtos, da manutenção do equilíbrio
ambiental, bem como da responsabilidade social. As propostas contemplam como
prioridade a reestruturação dos serviços de defesa fitossanitária com recursos
financeiros públicos e apoio privado, especialmente a definição do registro de
defensivos agrícolas por grupo de culturas. Ou seja, um discurso similar à abordagem
das “Minor crops”, de apoio aos agrotóxicos pelo governo brasileiro e com a parceria da
iniciativa privada objetivando angariar recursos para os registros de produtos visando às
frutas de exportação.
72
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.722, 9 jan. 2008, p. 8.
186
2.4.3.6 Informe Publicitário SEBRAE
Os resultados da análise quantitativa efetuada para os Informes Publicitários
SEBRAE são apresentados na Tabela 23.
Tabela 23 - Distribuição do número de Informes Publicitários SEBRAE nas categorias relacionadas aos
agrotóxicos e os espaços em páginas ocupados na revista “Globo Rural”
Veículo de
comunicação
Favoráveis
Desfavoráveis
Factuais
Técnicas.
alternativas
Total
Valores
totais
Globo Rural
2 (10,53%)
0 (0,00%)
1 (5,26%)
16 (84,21%)
19 (100,00%)
Espaços
totais
Globo Rural
0,40 (2,19%)
0,00 (0,00%)
1,00 (5,46%)
16,90 (92,35%)
18,30
(100,00%)
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de
2006 a julho de 2008.
Na Tabela 24 encontram-se o total de páginas dos jornais e revistas analisados.
Tabela 24 - Número de páginas analisadas nos veículos de comunicação escolhidos
Veículos de comunicação
Total de páginas
“Agrofolha”
57
“A Granja”
1.472
“Balde Branco”
2.190
“Caros Amigos”
552
“Globo Rural”
2.850
“Jornal de Piracicaba”
864
“Suplemento Agrícola”
1.060
“Veja”
11.678
Total 20.723
Os valores totais apontam 19 Informativos Publicitários SEBRAE publicados pela
revista Globo Rural, dos quais 16 referiram-se às técnicas alternativas. As mensagens
favoráveis aos agrotóxicos representaram 10,53% do universo amostrado. O espaço
total ocupado por tais publicações representaram 18,30 páginas.
187
O SEBRAE oferece incentivos aos negócios relacionados à agricultura familiar,
um empreendimento de grande importância para o desenvolvimento do país, cuja
proposta é antagônica ao do agronegócio.
Conforme publicação do jornal Brasil de Fato
73
, apenas o modelo de produção
que prioriza as pequenas e médias propriedades, a agricultura camponesa, bem como
a agricultura familiar e que utiliza técnicas agroecológicas pode produzir alimentos de
qualidade, mais baratos e sem agrotóxicos, que o nocivos à saúde, com a finalidade
de garantir a soberania alimentar. A diversidade e o respeito ao meio ambiente são
diferenciais nesse modelo de produção, em relação ao agronegócio, quando se trata de
produzir alimentos mais baratos e saudáveis.
Os alimentos que o povo brasileiro come na cidade estão cada vez mais
contaminados por venenos [...] No modelo de produção do agronegócio, os
fazendeiros substituem a mão-de-obra pelo agrotóxico em suas lavouras de
monocultivos. Esses venenos destroem a terra, contaminam a água e provocam
doenças para os consumidores. os ricos se protegem: comem apenas
produtos orgânicos, cada vez mais caros nos supermercados (VIANA, 2008a, p.
1).
Os alimentos orgânicos também estão sendo enfatizados como um novo nicho
de mercado, um segmento do agronegócio que não compete com a agricultura
convencional; porém, exigem certificação para tornarem-se mais valiosos, um grande
negócio orgânico.
Na matéria descrita a seguir comprova-se como os alimentos orgânicos estão a
cada dia se tornando oportunidades de grandes negócios, semelhante aos realizados
pelos agronegócios. A matéria “Negócios com orgânicos”, publicada pelo Informe
Publicitário SEBRAE
74
, aborda um encontro entre 26 cooperativas e associações de
produtores à BioFach América Latina, a feira internacional de alimentos produzidos sem
agrotóxicos. O evento contou com uma rodada de negócios reunindo em torno de 12
empresas compradoras com a finalidade de fechar transações comerciais. Foi uma
mostra do trabalho que envolveu 2.700 famílias de todas as regiões do Brasil.
73
Jornal Brasil de Fato, ano 6, n.275, jun. 2008, Edição Especial - Via Campesina. O jornal é de
circulação nacional.
74
Revista Globo Rural, ano 23, n. 264, out. 2007, p. 86.
188
Outro informativo desse exemplar, “Acre ganhará horticultura” é um projeto que
objetiva diminuir a importação de legumes e hortaliças em alguns municípios do Acre
através do cultivo de alimentos orgânicos, bem como da expansão dos plantios
convencionais. Também vão receber capacitação em gestão de negócios e assistência
técnica continuada.
Relato sobre a produção camponesa revela que
A produção em pequenas e médias propriedades redistribui a
população no espaço geográfico e reduz a concentração nas grandes cidades.
o agronegócio emprega menos e cria os chamados desertos verdes”, os
vazios da monocultura, onde apenas uma espécie é cultivada em grandes
extensões de terra acabando com a diversidade e empobrecendo o solo
(VIANA, 2008d, p. 3).
O SEBRAE aposta e investe na agroecologia, uma filosofia de agricultura que
possibilita uma maior diversificação de alimentos, ricos e nutritivos, que beneficiam a
saúde humana e o ambiente.
Gliessman (2005) explica que
A agroecologia proporciona o conhecimento e a metodologia
necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente
consistente, altamente produtiva e economicamente viável. Ela abre as portas
para novos paradigmas da agricultura, em parte porque corta pela raiz a
distinção entre a produção de conhecimento e sua aplicação. Valoriza o
conhecimento local e empírico dos agricultores, a socialização desse
conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade
(GLIESSMAN, 2005, p. 54).
GLIESSMAN (2005) relata que essa nova abordagem da agricultura e do
desenvolvimento agrícola, construída sobre aspectos de conservação de recursos da
agricultura tradicional local, explora tanto o conhecimento como os métodos ecológicos
modernos. Essa versão está voltada à ciência da agroecologia, que é definida como a
aplicação de conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de
agroecossistemas sustentáveis.
Embora a abordagem ecológica comece focalizando componentes
particulares de um sistema de cultivo e a ecologia de estratégias alternativas de
manejo, ela estabelece, no processo, a base para muito mais. Aplicada mais
amplamente, pode nos ajudar a examinar o desenvolvimento histórico das
189
atividades agrícolas em uma região e a determinar a base para selecionar
praticas mais sustentáveis adaptadas àquela região. Também pode averiguar
as causas de problemas que resultaram de práticas insustentáveis. De forma
mais ampla ainda, ajuda-nos a explorar a base teórica para desenvolver
modelos que podem facilitar o desenho, teste e avaliação de agroecossistemas
sustentáveis. Em última instância, o conhecimento ecológico da
sustentabilidade dos agroecossistemas deve dar nova forma à perspectiva que
a humanidade tem da produção vegetal e animal, a fim de que seja alcançada,
em nível mundial, a produção sustentável de alimentos (GLIESSMAN, 2005, p.
54).
Assim, segundo Paschoal (1994), não é de se estranhar que
[...] o modelo de agricultura industrial, que pretendia resolver o
problema da baixa produtividade da nossa agricultura, pela maior utilização de
insumos modernos, e a política agrícola voltada para as monoculturas de
exportação e de produção de energia, tenha conduzido a agricultura brasileira à
caótica e desalentadora situação em que se encontra presentemente
(PASCHOAL, 1994, p. 15).
2.4.4 Mapeamento das fontes de informação das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos
2.4.4.1 Amostragem selecionada
Para verificar as fontes de informação utilizadas pelos repórteres selecionaram-
se ao acaso algumas edições das revistas Globo Rural, A Granja, Balde Branco e
do Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo resultando em subamostras
com as seguintes proporções: 24%, 35%, 30% e 24,6%, respectivamente, do universo
amostrado. O suplemento Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, o Jornal de
Piracicaba e a revista Veja, por apresentarem poucas matérias relacionadas aos
agrotóxicos, foram analisados em sua totalidade. A revista Caros Amigos não
apresentou mensagens sobre essa temática, razão pela qual não foi avaliada.
2.4.4.2 Análise das fontes de informação
Na referida análise anotou-se cada fonte de informação primária encontrada, tais
como: governo e especialistas tanto de instituições de pesquisa como de universidades
públicas e privadas, de ONGs, empresas fabricantes de agrotóxicos, entre outras, que
contribuíram para uma melhor compreensão dos textos. É interessante ressaltar que
foram desconsideradas as informações que se repetiram ao longo de uma mesma
190
matéria. Após enumerar as fontes realizaram-se as análises de algumas matérias
jornalísticas, as consideradas mais enfáticas por esta pesquisa, de modo que as
abordagens relacionadas aos agrotóxicos fossem avaliadas quantitativa e
qualitativamente.
Pereira (2002) mostra a importância do mapeamento.
O mapeamento de fontes das matérias jornalísticas é ferramenta útil na
observação de como os diferentes atores sociais relacionam-se com a temática
dos agrotóxicos. Considerando que a mídia é uma das dimensões mais
importantes do debate público contemporâneo, os atores sociais influenciam por
diversas vias o trabalho do jornalista, o que reflete nas reportagens publicadas
pela imprensa. Mais ainda, os atores sociais buscam influenciar o debate
público, por meio da mídia, e ganhar respaldo junto à opinião pública para
pressionar os tomadores de decisão no campo político e enfrentar problemas e
implementar políticas públicas (PEREIRA, 2002, p. 131).
Na Tabela 25 estão as fontes de informações das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos na amostra selecionada.
Tabela 25- Fontes de informação presentes nas matérias jornalísticas que abordaram os agrotóxicos em alguns jornais e revistas brasileiros
(continua)
Fontes de informação de alguns
veículos de comunicação
Globo Rural
A
Granja
Balde
Branco
Agrofolha
Supl.
Agrícola
Revista
Veja
Jornal
Piracicaba
Caros Amigos
Total
Agricultores
2
-
-
1
-
-
-
-
3
Ambientalistas
-
-
-
1
-
-
-
-
1
Associações em geral
-
-
-
14
4
2
-
-
20
Associações de agrotóxicos
-
2
-
-
-
-
-
-
2
Associações de produtores orgânicos
1
-
-
-
-
-
-
-
1
Consultorias
-
-
-
9
-
-
-
-
9
Empresas fabricantes de agrotóxicos
1
8
6
4
-
-
-
-
19
Empresas privadas
6
1
-
6
2
1
1
-
17
Especialistas de empresas
6
6
11
2
7
-
-
-
32
Especialistas de instituição de
pesquisa
23
11
3
2
20
-
-
-
59
Especialistas de ONG
1
-
-
-
-
1
-
-
2
Especialistas de universidade
4
2
2
-
2
3
-
-
13
Especialistas do exterior
-
-
-
4
-
-
-
-
4
Governo
4
1
-
14
3
4
3
-
29
Grupos de defesa do consumidor
-
-
-
1
-
-
-
-
1
ISAAA - Serviço Inter. Aquisição
Aplicações em Agrobiotecnologia
para Agricultura
-
-
-
1
-
-
-
-
1
Moradora local
-
-
-
-
-
-
1
-
1
Órgãos de certificação
7
-
-
-
-
-
-
-
7
Produtores rurais
16
2
1
4
10
-
6
-
39
Proprietário rural
-
-
-
1
-
-
-
-
1
SEBRAE
7
-
-
-
-
-
-
-
7
191
Tabela 25 - Fontes de informação presentes nas matérias jornalísticas que abordaram os agrotóxicos em alguns jornais e revistas brasileiros
(conclusão)
Fontes de informação de alguns
veículos de comunicação
Globo Rural
A
Granja
Balde
Branco
Agrofolha
Supl.
Agrícola
Revista
Veja
Jornal
Piracicaba
Caros Amigos
Total
Sindicato Nacional de Indústria de
Produtos para Defesa Agrícola
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Sindicatos e Cooperativas
1
-
-
3
-
-
-
-
4
SNA -Sociedade Nacional de
Agricultura
-
-
-
-
1
-
-
-
1
TOTAL
79
34
23
67
49
11
11
0
274
192
193
O grupo especialistas de instituição de pesquisa se fez presente através de 59
fontes de informação constituindo-se do maior índice do mapeamento, manifestando-se
23, 11, três, duas e 20 vezes nas matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos constantes
nos seguintes veículos impressos: Globo Rural, A Granja, Balde Branco”,
“Agrofolha” e “Suplemento Agrícola”, dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo, respectivamente.
É interessante ressaltar que essas fontes se pronunciaram nas revistas Globo
Rural, Balde Branco e A Granja, bem como no “Suplemento Agrícola por ocasião
das análises realizadas quanto ao gênero das matérias jornalísticas sobre os
agrotóxicos. Na seção cartas, principalmente nas oportunidades em que os
especialistas de instituições de pesquisa se apresentaram como respondentes das
consultas dos leitores.
As fontes provenientes dos grupos produtores rurais, especialistas de empresas,
governo e associações em geral se expressaram em 39, 32, 29 e 20 ocasiões,
respectivamente. As fontes oficiais foram ouvidas em 14 oportunidades na Agrofolha,
que se destacou dos demais veículos amostrados. À exceção das revistas Caros
Amigos e Balde Branco, que não consultaram as fontes governamentais relacionadas
aos agrotóxicos, essas fontes se manifestaram também na Globo Rural, A Granja,
“Suplemento Agrícola, Veja, e Jornal de Piracicaba, com valores numéricos
inferiores à Agrofolha.
As empresas fabricantes de agrotóxicos se exprimiram em 19 situações, sendo
oito na revista A Granja, seis na Balde Branco, quatro na Agrofolha e uma na
revista Globo Rural.
Obteve-se o número total de 274 fontes consultadas ao longo do período
pesquisado nos jornais e revistas que compuseram o corpus desse estudo. Na maior
parte das matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos as fontes informativas foram
utilizadas pelos repórteres e se constituíram de grande importância para a qualidade
daquela mensagem. Algumas vezes, elas se pronunciaram de forma a esclarecer uma
dada informação.
Wolf (2003) afirma que as fontes incrementam a qualidade da informação.
194
As fontes são um fator determinante para a qualidade da informação
produzida pelos meios de comunicação de massa: no entanto, elas continuam
imprecisas na mitologia profissional, que tende, por sua vez, a enfatizar o papel
ativo do jornalista, prejudicando a contribuição das fontes, essencial em muitos
aspectos (WOLF, 2003, p. 233).
Pereira (2002) considera que as fontes de informações são necessárias na
consecução de matérias a serem elaboradas pelos jornalistas.
As fontes de informação são matéria-prima estratégica e básica no
trabalho do jornalista. E problemas marcados pela quase inexistência de
políticas públicas de controle e prevenção de produtos perigosos, como os
pesticidas, requerem a presença ativa da mídia [...] na investigação de
denúncias e na proposição de políticas e alternativas mais sustentáveis
(PEREIRA, 2002, p. 122).
As fontes de informações consultadas pelos repórteres de forma a complementar
as matérias que versaram sobre os agrotóxicos são analisadas a seguir.
2.4.4.2.1 Fontes de informação do governo
Às informações provenientes do grupo governo foram incorporadas diversas
fontes. Por exemplo, na Agrofolha do jornal Folha de São Paulo a matéria jornalística
contrária aos agrotóxicos “Produtores de tomate são autuados em SP”
75
apresenta
quatro delas. O Procurador do Trabalho, João Batista Martins César informou:
Encontramos adolescentes aplicando agrotóxicos na plantação, o que é
proibido por lei. O menor pode ser aprendiz, em alguns ambientes de trabalho,
mas nunca estar exposto à ambientes insalubres. Ao menos seis trabalhadores
foram internados por intoxicações de agrotóxicos nos últimos meses
(FERNANDES, 2008b, p. B10).
Um integrante da equipe de fiscalização, José Celso de Vieira Soares, Auditor
do Trabalho, comenta que os trabalhadores estão usando um verdadeiro coquetel de
inseticidas e fungicidas que podem reagir quimicamente e causar danos sérios à saúde
e ao ambiente (FERNANDES, 2008b, p. B10).
Um dos agrotóxicos usados antes do plantio, segundo informações dos
agricultores aos fiscais do Trabalho, é o Furadan - inseticida de grau tóxico elevado
usado para combater pragas -, além de outros como Astro, Meotrim, Tecto, Akito,
75
Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, ano 88, n. 28.839, 18 mar. 2008, p. B10.
195
Sportak, Lorsban e Pirate. Segundo Viera Soares esses produtos estão sendo usados
sem equipamentos de proteção individual” (FERNANDES, 2008b, p. B10).
O Fiscal do Trabalho Mário Tanaka diz: não adianta dar macacão sem explicar
que ele tem uma vida útil, não deve ser lavado com sabão e tem de ser descartado
diante das normas de segurança (FERNANDES, 2008b, p. B10).
Na região de Itapeva trabalham aproximadamente 20 mil pessoas nas lavouras
de tomate, segundo estimativa da Secretaria de Agricultura Municipal. Conforme relata
Cassiano Toffoli, Secretário da Agricultura Municipal, a maior parte da mão-de-obra é
formada pela agricultura familiar” (FERNANDES, 2008b, p. B10).
Os trabalhadores colocam os filhos para ajudar no orçamento da família, porém,
de acordo com Cassiano Toffoli, “precisa haver um treinamento intenso sobre saúde e
segurança do trabalhador rural. E os cursos precisam ser realizados pelas empresas
que vendem os produtos(FERNANDES, 2008b, p. B10).
A matéria jornalística publicada no caderno “Agrofolha” relata que as
fiscalizações da Delegacia Regional do Trabalho - DRT e do MPT de S. Paulo
ocorreram devido a denúncias efetuadas por trabalhadores rurais relacionadas às
condições precárias e irregulares nas propriedades nas quais eles exerciam as suas
atividades. Pelo que se observa no relato do jornalista e das fontes de informações que
complementaram essa matéria, o trabalho era exploratório, principalmente pelo caráter
da inobservância da NR 31
76
sobre as normas regulamentadoras de segurança, que
estabelecem regras para as pulverizações. O seu não cumprimento referiu-se aos
seguintes itens: 1) proibição da manipulação de quaisquer agrotóxicos por menores de
dezoito anos; 2) inobservância do empregador rural quanto ao fornecimento de
instruções suficientes, equipamentos de proteção individual e vestimentas adequadas
devido aos riscos a que estão submetidos os trabalhadores que manipulam agrotóxicos,
bem como aos que desenvolvem qualquer atividade em áreas de exposição direta ou
indireta a esses produtos; 3) proibição de manipulação de quaisquer agrotóxicos nos
ambientes de trabalho, em desacordo com a receita e as indicações do rótulo e bula
previstos pela legislação vigente.
76
Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária silvicultura,
exploração florestal e aqüicultura. Disponível em:
http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr31.htm. Acesso em: 16 jan. 2010.
196
Nessa matéria jornalística ainda informações de fontes provenientes de
consultorias, as quais proveem assistência empresarial aos produtores de tomate na
região de Itapeva. Uma delas, a do contador Diego Geraldo Zuconi, relata a intenção de
três sitiantes em contratar uma empresa visando assessorá-los sobre normas de saúde
e segurança do trabalhador. “As autuações vão fazer com que eles regularizem suas
falhas. estamos providenciando uma assessoria adequada” (FERNANDES, 2008b,
p. B10).
Em outra matéria “Blitz do trabalho apura infrações em cultivos de feijão e limão
em SP”, publicada pela Agrofolha
77
, a informação do governo foi personificada por
dois Procuradores do Trabalho. Um deles, João Batista Martins César, informou que os
produtores irão pagar indenização simbólica de R$10 mil e que “as fiscalizações vão
continuar e migrar a cada safra” (FERNANDES, 2008a, p. B8). Após a fiscalização do
MPT, os produtores de feijão de Pilar do Sul - SP, assinaram Termos de Ajustamento
de Conduta - TACs. Ou seja, a obrigatoriedade de incluir o treinamento tanto para o uso
de equipamentos, manipulação de produtos químicos e armazenamento adequado
desse material como para fornecer abrigos apropriados, água potável e instalações
sanitárias próximas aos locais de trabalho, conforme determina a NR 31. Na região de
Mogi Mirim, o Procurador do Trabalho Dimas Moreira da Silva também encontrou
menores de idade trabalhando, bem como funcionários sem registro em uma
agroindústria embaladora de limão e em fazendas da região. Ele informou que além do
excesso de jornada, os menores carregavam peso, o que a lei não permite. Também
encontramos diferença na pesagem dos chamados bags, que são as bolsas que
carregam (FERNANDES, 2008a, p. B8).
Nota-se que o governo está agindo através de fiscalização, autuação e multas,
mas no que se refere aos agrotóxicos não informações sobre resoluções ou
proibições quanto às pulverizações combinadas de vários produtos que não foram
avaliadas para o seu uso em misturas. Além da obrigatoriedade da NR 31 não constam
acordos visando estabelecer políticas públicas de impedimento a essa utilização, a
qual resulta, quase sempre, em níveis severos de envenenamentos e poluição
ambiental.
77
Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, ano 88, n. 28.951, 8 jul. 2008, p. B8.
197
Segundo Pereira (2002), as fontes governamentais são neutras diante da
problemática dos agrotóxicos.
As fontes governamentais não se posicionam ou anunciam medidas,
como a realização de inquéritos epidemiológicos, que raramente são efetivadas.
[...] as fontes ligadas às empresas costumam apontar o mau uso dos
equipamentos de proteção e o descaso com as indicações das bulas dos
pesticidas como causas da intoxicação ou negar que seus produtos geram
quadros depressivos motivadores de suicídio (PEREIRA, 2002, p., 132).
O autor observou em suas pesquisas que as fontes governamentais do jornal
Folha de S. Paulo contribuíram com o noticiário sobre os agrotóxicos e seus impactos
como principal mote dos textos selecionados, no período de 1996-2000. O peso dessas
fontes foi ainda maior no jornal O Estado de S. Paulo, quando os agrotóxicos e saúde
apareceram como tema mais importante das matérias jornalísticas (PEREIRA, 2002, p.
132).
Ao contrário, no presente estudo, as mensagens que abordaram os agrotóxicos
foram, em sua maior parte, favoráveis ao seu consumo.
Em uma publicação da Agrofolha
78
, “Ministro reconhece plantio ilegal de milho
transgênico”, quatro fontes de informação governamental foram consultadas pelos
repórteres. A primeira refere-se ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende,
que segundo o jornal afirma “isso está acontecendo principalmente no Sul e no Centro -
Oeste, onde já existem plantações com sementes contrabandeadas” (SALOMON, 2008,
p. B12). O ministro é um dos principais defensores do aval imediato à comercialização
de duas variedades de milho transgênico produzidas pelas empresas Bayer e
Monsanto. Principal aliado do ministro da Ciência e Tecnologia no debate sobre os
transgênicos é o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que confirma: não
obstante toda a fiscalização acontece o contrabando” (SALOMON, 2008, p. B12) e
defendeu a rápida liberação das duas variedades de milho dizendo: é melhor legalizar
dentro de regras claras, que sermos levados de roldão” (SALOMON, 2008, p. B12).
Contrapondo-se, assinaram recursos o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e a ANVISA. Ambos alegam o risco de
contaminação de culturas convencionais, a falta de regras suficientes de monitoramento
78
Agrofolha do jornal Folha de São Paulo, ano 87, n. 28.790, 29 jan. 2008, p. B12.
198
do plantio, transporte e armazenagem, além da insuficiência de dados sobre efeitos na
alimentação humana e animal. O parecer do ministro da Agricultura insistirá que custos
mais elevados das sementes geneticamente modificadas - os produtores devem pagar
royalties às multinacionais proprietárias das patentes -, são compensados pelas
reduções de gastos com a compra de agrotóxicos e de perdas por pragas.
Tal fato é esclarecido por Robin (2008), ao se referir ao pagamento de royalties
às patentes de sementes GM.
Se ela [Monsanto] controlar as sementes, controlará os alimentos; ela
sabe disso, é sua estratégia. É mais poderosa que as bombas, é mais poderosa
que as armas, é o melhor jeito de controlar as populações do mundo (ROBIN,
2008, p. 322).
Robin (2008) também alerta sobre o cultivo das lavouras transgênicas aumentar
a dependência dos agricultores em relação aos herbicidas (ROBIN, 2008, p. 233).
Mas o principal argumento dos defensores dos transgênicos é que variedades
semelhantes às em análise pelo conselho são comercializadas sem problemas
uma década nos Estados Unidos e Argentina, entre outros países.
Porém, a autora cita o estudo do agrônomo Roger Elmore realizado nos EUA,
que alerta sobre os menores rendimentos da soja transgênica em relação às variedades
convencionais (ROBIN, 2008, p. 237).
O que não foi dito, o que ficou escondido ou camuflado no discurso do ministro
da Agricultura publicado pela Agrofolha é que a variedade de milho da Bayer, tolerante
ao herbicida Roundup, poderá receber maiores quantidades desse agrotóxico do que as
culturas convencionais. Segundo informações relacionadas à soja transgênica Roundup
Ready - RR
79
, a variedade de milho da Bayer também é resistente a um herbicida e
similarmente cria problemas ambientais e agronômicos. O IBAMA ainda aponta que
caso a liberação comercial do milho transgênico ocorra, a contaminação das variedades
crioulas, orgânicas e ecológicas sobrevirá, inevitavelmente.
A soja RR, desenvolvida pela multinacional Monsanto, tolerante ao herbicida
Roundup, que tem como ingrediente ativo o glifosato, permite que as quantidades
aplicadas no campo aumentem consideravelmente as concentrações de seus resíduos
79
Liberação do milho transgênico deixa clara irresponsabilidade do governo. Disponível em:
http://blog.controversia.com.br/2008/02/15/liberacao-do-milho-transgenico-deixa-clara-irresponsabilidade-
do-governo. Acesso em: 25 nov. 2008.
199
em alimentos, colocando em risco a saúde da população, além de contaminar o
ambiente. Diante desse fato, a ANVISA elevou em 100 vezes os valores do LMR,
conforme a Portaria 764, de 24 de setembro de 1998
80
nos alimentos ou matéria-
prima alimentar à base de soja. Esses valores passaram de 0,2 partes por milhão - ppm
para 20,0 ppm, constituindo-se em ameaça gravíssima aos consumidores. Para a soja
convencional o LMR foi fixado em 0,2 mg/kg ou ppm.
Outra resolução, a RE nº 33 de 16 de fevereiro de 2004
81
, altera o LMR permitido
de glifosato na soja GM para 10,0 mg/kg.
O resultado de todos os atos normativos citados foi o aumento, em cinquenta
vezes, do LMR permitido nos produtos oriundos da soja GM. Uma alteração de tal
magnitude deveria ser acompanhada de forte embasamento cnico que o justificasse,
fato não demonstrado nos relatos verificados.
Quais as razões para a ANVISA aumentar em cinquenta vezes o LMR permitido
de glifosato em alimentos ou matérias-primas dos produtos originados da soja
transgênica? Existe correlação entre a concentração permitida e a quantidade de
glifosato que aumentou no campo?
Marie-Monique Robin, jornalista francesa denuncia com documentos inéditos a
“impunidade diabólica” da empresa Monsanto, em livro recém lançado “Le Monde Selon
Monsanto - O Mundo segundo a Monsanto”
82
. Nele, a jornalista acusa a Monsanto de
vender sementes GM que não demonstraram sua inocuidade, além da obrigatoriedade
de serem tratadas com agrotóxicos da mesma empresa, igualmente tóxicos em um ciclo
monopolístico.
Quais as vantagens que os ministros da Ciência e Tecnologia e da Agricultura
aguardam ao defenderem as sementes transgênicas?
A literatura indica que as pessoas que ocupam cargos nas empresas
multinacionais muitas vezes virão a ocupar excelentes postos no Estado, segundo o
modelo da porta-giratória. Pinheiro et al. (1993) relatam que a situação da indústria de
80
Comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável: projeto de decreto legislativo n 499, de
2003. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/322640.pdf:/. Acesso em 01 mar. 2010.
81
Comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável: projeto de decreto legislativo n 499, de
2003. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/322640.pdf. Acesso em:01 mar. 2010.
82
O mundo segundo a Monsanto, artigo de Ivo Lesbaupin. Disponível em:
http://www.ecodebate.com.br/2009/01/19. Acesso em 19/01/2009.
200
agrotóxicos era o desesperadora no final de 1983, devido aos últimos acontecimentos
- legislações estaduais, municipais, escândalos - que
Não restou ao General Figueiredo outra alternativa a não ser tirar de
seu berço estratégico um velho assecla, colocando-o como Ministro da
Agricultura. Entretanto, este não ia ser seu primeiro trabalho para as indústrias
de agrotóxicos (PINHEIRO et al., 1993, p. 77-78).
Além de Ministro da Agricultura, Nestor Jost, o escolhido pelo General
Figueiredo, desempenhava também o papel de Presidente do Conselho de
Administração da Bayer (PINHEIRO et al., 1993, p. 79).
Esse fato comprova que em muitas situações, os governos são cúmplices das
multinacionais de agrotóxicos. Não somente, mas também das indústrias de
biotecnologia, como escreve Pinheiro (2010).
A indústria química continua forte e com muita saúde, mas troca sua
fábrica, que deixa os países industrializados e se transporta para China,
Indonésia, Brasil, México e Argentina, com forte influência e apoio dos
claudicantes Estados Nacionais. Isto ocorre, pois ela também vai se transformar
em sua matriz tecnológica, que deixa a química e passa às biotecnologias
(PINHEIRO, 2010).
Observa-se total descaso das autoridades públicas nessas questões e por esse
motivo, os venenos aqui no Brasil e no mundo ainda mantêm o seu espaço.
Nos últimos trinta anos o surgimento crescente do “fator ambiental”
criou muitos problemas para as empresas, sendo o principal deles, a
consciência cidadã para as questões do meio ambiente e da natureza. As
poucas empresas de agrotóxicos passam a se fusionar para entrar na disputa
pelo mercado das biotecnologias (PINHEIRO, 2010).
Atualmente, a empresa norte-americana Monsanto lidera o mercado mundial de
Organismos Geneticamente Modificados - OGMs, seguida da Syngenta - Suíça e da
DuPont-Pioneer - EUA. A pesquisa de biotecnologia para aplicação na agricultura está
concentrada na iniciativa privada, sendo que a Monsanto, DuPont-Pioneer, Bayer-
Aventis e Dow Chemical respondem por quase 60% dos experimentos
83
.
83
Transgênicos: nova geração do milho. Disponível em: http://www.agroanalysis.
com.br/index,php?area=conteudo&mai_id=366& from=mercado... Acesso em: 25 nov. 2008.
201
Na revista Globo Rural
84
, o governo se personificou na secretária do Meio
Ambiente e Agricultura Municipal como fonte de informação na matéria jornalística
“Produção rima com preservação”, que evidencia a problemática ambiental no
município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. No início de 1980, os colonos - em
sua maior parte gaúchos e paranaenses - ouviam algumas recomendações do INCRA -
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
Abram os lotes ou perderão a terra; construam suas casas perto de
uma nascente para facilitar o abastecimento de água; desmatem a beira dos
rios e córregos para evitar a malária; mantenham 20% da mata nativa, para ficar
de acordo com o Código Florestal (OLIVEIRA, 2008, p.54-55).
Dos anos 90 para cá tudo mudou. A reserva legal passou para 35%. As beiras de
rios e córregos jamais deveriam ter sido desmatadas. A atividade agrícola ou pecuária
deveria ser mantida a uma distância de 100 metros das nascentes, sendo que nesta
faixa a vegetação nativa teria de ser integralmente preservada.
Muitos deles estão no rol dos que hoje têm “passivo ambiental”, ou seja, estão
em dívida com o meio ambiente e, por tal razão, sujeitos às penas da lei. Mas um
projeto que visa atender as questões do ambiente, do trabalho e de manejo de
agrotóxicos em todas as propriedades rurais do município está sendo compartilhado por
empresas como a Sadia, Syngenta e Fiagril, pelo sindicato rural do município, pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pelo Ministério Público, pela ONG TNC - The
Nature Conservancy, além do próprio prefeito. De acordo com a informação fornecida
pela secretária de Meio Ambiente e Agricultura do município, Luciane Copetti, “Lucas
vive um novo ciclo econômico, de verticalização da produção” (OLIVEIRA, 2008, p. 56).
A preocupação emergencial é recuperar as Áreas de Preservação Permanente - APPs,
que somam 23,1 mil hectares, dos quais 1,5 mil estão degradados, porém, outras
questões, como lixo doméstico rural e aviação agrícola estão na pauta. Segundo
informa a secretária de Meio Ambiente, nosso papel não é multar, punir. Queremos
fazer algo que dê resultado, e não apenas o auto de infração” (OLIVEIRA, 2008, p. 59).
O relato aqui colocado permite arguir: o ambiente será mesmo preservado, se a
equipe executora desse projeto utilizar corretamente os “defensivos agrícolas”? Fizeram
84
Revista Globo Rural, ano 23, n. 268, fev. 2008, p. 54-59.
202
um acordo com os agrônomos das revendas de agrotóxicos, que “irão ajudar no
trabalho de esclarecimento”. A Fundação Rio Verde também desenvolverá um “manual
de defensivos agrícolas” para ser distribuído ao agricultor. A empresa fabricante de
agrotóxicos Syngenta está estabelecida para “contribuir” com o projeto.
pretensões de continuarem com os trabalhos de aviação agrícola “despejando mais
agrotóxicos na natureza”. Isso significa que as políticas de incentivo aos agrotóxicos
serão bem-vindas, tanto pelos componentes do projeto como pelos moradores locais. E
os envenenamentos e as hospitalizações? Os agrotóxicos não rimam com preservação
e nem com conservação do ambiente.
De acordo com Pignati (2010a), acidentes causados por pulverizações aéreas
são recorrentes em Lucas do Rio Verde - MT e em dezenas de cidades desse estado,
[...] onde se planta sem se respeitar os limites mínimos de distância das
residências, rios e lagoas, das APAs (Áreas de Preservação Ambiental), das
florestas, de animais. Então é um acidente ocupacional e ambiental
(Pignati,
2010a)
85
.
O autor explica que precisamos de
[...] outro modelo agrícola. Como a agroecologia ou os orgânicos ou
outro modelo que baixe o nível de poluição e elimine os resíduos de agrotóxicos
nos alimentos. [...] Os agrotóxicos destroem a vida humana, animal e vegetal.
[...] O maior produtor de úcar e álcool orgânico está no interior de São Paulo,
Sertãozinho. A Usina NATIVA, que é a maior exportadora de açúcar e álcool
orgânico do mundo. A usina tem 14 mil hectares e não usa uma gota de
agrotóxicos e fertilizantes químicos. Ele começou há 20 anos selecionando
sementes que não precisam de venenos. E a produtividade da cana é 23%
acima da normal, vide a revista Negócios (agosto de 2009, Editora
Épocanegócios, páginas 86-101, no artigo: “Natureza Inovadora”). Então a
agroecologia não é para pequenos e fundo de quintal. Ela pode ser
implantada para a produção em larga escala e sem largo prejuízo para
população e ambiente (PIGNATI, 2010a).
Estudos desenvolvidos pela Universidade de Cornell, nos Estados Unidos,
segundo a revista Globo Rural”
86
, sustentam que o método orgânico produz
quantidades de milho e soja iguais ao método convencional, mas de maneira mais
85
Abre o olho, companheiro! Mato Grosso é campeão nacional em „abuso‟ de venenos agrícolas e de
agravos à saúde relacionados ao agronegócio. Disponível em:
http://paginadoenock.com.br/home/post/4735. Acesso em: 6 fev. 2010.
86
Revista Globo Rural, ano 22, n. 259, maio, 2007, p. 74.
203
eficiente, ou seja, usando 30% menos de energia fóssil, menor quantidade de água e
sem a utilização de agrotóxicos. Embora se diga que os orgânicos estariam restritos a
um nicho de mercado, pois seriam incapazes de substituir os alimentos produzidos
conforme a agricultura industrial, o diretor comercial do grupo Native, que há uma
década trabalha no segmento de orgânicos, acredita que essa percepção está
mudando devido ao novo posicionamento das grandes corporações atentas à
sustentabilidade de seus negócios. Aliás, segundo os moldes atuais, todas as técnicas
devem convergir para o conceito de sustentabilidade. Isso quer dizer que daqui para
frente teremos de promover o desenvolvimento da agricultura sem causar danos ao
ambiente.
Outra fonte de informação governamental foi apresentada pelo Ministro da
Agricultura, Reinhold Stephanes, na matéria “Insumos disparam”, publicada na revista
Globo Rural
87
a respeito dos altos preços de fertilizantes e de defensivos. Segundo
esse ministro, a alta de fertilizantes e defensivos é o ponto de estrangulamento da
agricultura no país. Nessa matéria ele demonstra claramente a sua postura pró-
agrotóxicos.
O governo também se manifestou através do Coordenador de Agrotóxicos e
Afins do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, Luis Rangel. A
questão agora é com dois agrotóxicos genéricos, que chegam às lavouras. A previsão é
que tenham o preço reduzido entre 20% e 30%, em relação aos “de marca”. Segundo
Luis Rangel, os aspectos de segurança e qualidade foram rigorosamente avaliados
(BEZERRA; TOLEDO, 2006, p. 24). Até o final do ano, o governo deve aprovar mais
quatro registros de produtos para fabricação de genéricos. A matéria foi publicada na
revista Globo Rural
88
.
Quanto à política governamental, que incentiva e facilita o uso de agrotóxicos
nas lavouras, reduzindo até seus preços, corrompendo-se em busca de vantagens,
Pinheiro (2010) relata que
87
Revista Globo Rural, ano 23, n. 272, jun. 2008, p. 40.
88
Revista Globo Rural, ano 21, n. 251, set., 2006, p. 24.
204
O Dogma do Livre Comércio impede que os governos periféricos
intervenham para disciplinar as questões dos venenos ou criar custos, impondo
vontades privativas até nas propagandas e publicidades dos produtos, ou passa
a fazer o contrário: um exemplo claro é o Brasil, onde o governo é clarividente,
e a maior questão atual é: liberação dos agrotóxicos internacionais, retirando os
ministérios da Saúde e Meio Ambiente de suas decisões (Lei 7802/89). A
justificativa do governo é baixar os custos de produção para commodities e
matérias-primas nacionais terem maior competitividade no mercado mundial. O
governo “ingênuo” procura atender o “consumidor” com políticas públicas de
interesse privado e não os cidadãos em relação absoluta (PINHEIRO, 2010).
A Granja
89
utilizou o governador Alckmin como sua fonte em um evento de
inauguração de uma escola profissionalizante e de um Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento da Jacto, fabricante de pulverizadores. De acordo com A Granja o
Governador afirmou: Daqui sairão bons profissionais para fabricar bons produtos”
(RADICIONE, 2005, p. 68). Esta frase de Alckmin demonstra sua postura favorável aos
agrotóxicos.
Na matéria jornalística da revista Veja
90
“Os culpados não são as vítimas”, a
fonte consultada é o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que nega a ameaça de
epidemia da febre amarela e pede que a população não procure os postos de
vacinação. Porém, a revista culpa a negligência do governo nas ações de controle da
dengue, a qual deveria ter sido atacada maciçamente com inseticidas; outras doenças
como a malária, leishmaniose visceral, hanseníase e doença de chagas também não
foram eficientemente controladas. De acordo com a “Veja”, os brasileiros têm razão
para desconfiar de que a febre amarela não esteja sob controle.
Em outra edição, a revista Veja
91
publica “Sem jeitinho”, na qual a fonte do
governo consultada é o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Ele reconhece que
vários frigoríficos brasileiros estavam exportando gado não certificado, não
correspondendo às exigências européias. Nos últimos anos o Brasil se adequou às
regras internacionais diminuindo os níveis de agrotóxicos de uso veterinário,
relativizando somente esse fator com a finalidade de garantir a exportação dos produtos
nacionais.
89
Revista A Granja, ano 61, n. 674, fev. 2005, p. 68.
90
Revista Veja, v. 2.044, ano 41, n. 3, 23 jan. 2008, p. 72-73.
91
Revista Veja, v. 2.050, ano 41, n. 9, 05 mar. 2008, p. 56-59.
205
Na matéria jornalística “Oceano de Plástico”, publicada na revista Veja
92
, a
fonte do governo comenta que segundo informações do Programa Ambiental das
Nações Unidas, existem 18.400 Km
2
ocupados com fragmentos de plástico na
superfície dos oceanos. Isso significa que a substância responde por 70% da
poluição marinha causada por resíduos sólidos. Os agrotóxicos, metais pesados,
fertilizantes agrícolas, entre outros constam como os mais expressivos poluentes.
A revista Veja
93
publicou “O revolucionário e o reacionário”, cuja fonte de
informação do governo estrangeiro foi personificada pelo ministro da Agricultura da
França, Michel Barnier, que diante da insistência de ambientalistas opostos à
transgenia na agricultura, respondeu: “em uma democracia como a nossa existem
outras maneiras de ser ouvido, de tomar parte no debate e de convencer” (O
REVOLUCIONÁRIO, 2008, p. 74-75). Segundo esta última revista, o governo da França
não questiona as incoerências da Revolução Verde, assim como as dos agronegócios,
principalmente quando os assuntos debatidos são os OGMs.
As informações fornecidas pelas fontes governamentais, em todas as matérias
referentes aos agrotóxicos publicadas pela revista Veja, não manifestaram críticas. Ao
contrário, na publicação “O revolucionário e o reacionário”, por exemplo, o governo se
posicionou favoravelmente a esses compostos.
O “Suplemento Agrícola
94
também destacou a informação fornecida pelo
governo na matéria jornalística “Defensivos legais para „minor crops‟”. A orientação do
Ministério da Agricultura, segundo o coordenador geral de Agrotóxicos e Afins do
Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas, Luis Eduardo Pacifini Rangel, é “o
desenvolvimento de estudos confirmatórios e de monitoramento para validação das
ações legalizantes” (YONEYA, 2008, p. 13). A idéia é criar uma norma específica
conjunta entre MAPA, ANVISA e IBAMA para a inclusão de culturas marginalizadas em
termos de suporte fitossanitário, demonstrando o apoio à permanência dos venenos no
país.
Outra fonte de informação governamental é a do coordenador do Programa de
Análise de Resíduos da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de S.
92
Revista Veja, v. 2.050, ano 41, n. 9, 05 mar. 2008, p. 92 97.
93
Revista Veja, v. 2.042, ano 41, n. 1, 09 jan. 2008, p. 74-75.
94
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.743, 21 maio, 2008, p. 13.
206
Paulo - CEAGESP, Ossir Goreinstein, publicada no “Suplemento Agrícola
95
na matéria
“Vegetais estão mais saudáveis”. Ele destaca que “cada produto tem um índice máximo
de tolerância
96
(SOUZA, 2007b, p. 4) e que, recentemente, a ANVISA reduziu as
tolerâncias a níveis muito baixos. A diferença entre a tolerância e o que excedeu o
limite foi insignificante; não prejudica a saúde nem a qualidade dos produtos. Com base
nas análises, podemos dizer que não há uso indiscriminado de pesticida (SOUZA,
2007b, p. 4).
Porém, em uma pesquisa intitulada “Avaliação de risco crônico da ingestão de
resíduos de pesticidas na dieta brasileira”, Caldas e Souza (2000) verificaram que
Dos 23 compostos que apresentaram potencial de risco, 16 são
inseticidas organofosforados. Os organofosforados inibem a ão da
acetilcolinesterase, enzima responsável pela inativação do neurotransmissor
acetilcolina, e a exposição crônica a esses compostos tem sido relacionada com
câncer, efeitos teratogênicos, toxicidade reprodutiva, deficiência cognitiva e
alterações comportamentais e funcionais (CALDAS; SOUZA, 2000, p. 535).
Assim, pode-se concluir que o relato de Souza (2007), publicado no “Suplemento
Agrícola camuflou os potenciais problemas causados pelos agrotóxicos.
Em nosso país, estudos comprobatórios sobre o desenvolvimento de câncer
proveniente da ingestão de alimentos vêm possibilitando estabelecer algumas relações
de causa e efeito, razão pela qual Caldas e Souza (2000) alertam que
É essencial que os órgãos de saúde competentes implementem ações
para diminuir ao máximo o nível de exposição da população aos pesticidas e
eliminar o potencial de risco crônico que possa existir devido ao consumo de
alimentos tratados (CALDAS; SOUZA, 2000, p. 535-536).
Através dessas matérias, os veículos de comunicação tentam “fabricar consenso
utilizando-se de propagandas do governo conforme as afirmações supramencionadas
(SOUZA, 2007b, p. 4). Chomsky (2003) explica o poder da propaganda na mídia de
massa.
É claro que existe uma questão por detrás disso [...] E este é o ponto
principal da boa propaganda. Seu valor crucial é desviar a atenção da questão
principal [...] É sobre ela que você não pode falar. Portanto você mantém as
95
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.706, 19 set. 2007, p. 4.
96
O significado de tolerância é o mesmo do LMR, já conceituado nessa pesquisa.
207
pessoas ocupadas [...]. É muito eficiente. Funciona até nossos dias. Certamente
é tudo muito bem pensado. As pessoas da indústria de relações públicas não
estão nisso por diversão. Elas estão trabalhando. Estão tentando incutir os
valores corretos [...] [os cidadãos] Devem ficar sentados sozinhos diante da
televisão, tendo suas cabeças marteladas pela mensagem que diz que os
únicos valores da vida o possuir cada vez mais bens de consumo ou viver
como aquela família de classe média alta a que você está assistindo e cultuar
valores virtuosos como harmonia e americanismo. E isso é tudo na vida [...] E
como não lhe é permitido nenhum tipo de organização - e isto é absolutamente
crucial - você nunca terá uma maneira de saber se está realmente louco. Você
então aceita, porque é a única coisa a fazer (CHOMSKY, 2003, p. 24).
Diante do exposto pode-se afirmar que a convivência com os venenos se tornou
uma necessidade e ninguém discute porque pensam que não há o que fazer.
Rangel (2004) relata que a teoria do cultivo de Gerbner analisa as formas pelas
quais as pessoas constroem uma visão de mundo a partir de informações adquiridas
pelos meios de comunicação(RANGEL, 2004, p. 60). Assim, o conteúdo das matérias
presentes em jornais e revistas pode causar a impressão de que a utilização de
agrotóxicos é inofensiva à saúde humana e ao ambiente.
Cardoso Filho (2007) explica que
A formulação básica da hipótese do Cultivo Mediático é que os
expectadores assíduos de TV tendem a perceber a realidade de acordo com o
que é veiculado pelo meio, não se tratando da noção de “janela para o mundo” -
como considerou Walter Lippman ao estudar os efeitos dos media, no capítulo
de abertura de Public Opinion (1922) - mas a noção de um mundo em si
mesmo, um ambiente simbólico dominante (CARDOSO FILHO, 2007, p. 5).
Traduzindo esta hipótese para a mídia impressa os leitores são levados a
perceber a realidade de acordo com o que é veiculado pelo meio de comunicação de
massa, seja ele rádio, TV, Internet, revista ou jornal. É bastante razoável pensar que
não fortes divergências nos conteúdos das diferentes mídias em relação aos
agrotóxicos.
O Jornal de Piracicaba
97
, na matéria “Agentes de controle de vetores aplicam
inseticida”, tem como fonte do governo originada do Centro de Controle de Zoonoses,
da Secretaria Municipal da Saúde de Piracicaba. O objetivo é eliminar o mosquito
Aedes aegypti, transmissor da dengue, em imóveis de dois bairros. Um dos integrantes
da equipe de pulverização, o agente de controle de vetor Matheus José Maria, disse
97
Jornal de Piracicaba, ano 108, n. 37.539, 8 jan.2008, p. A-6.
208
que a aplicação do inseticida é feita nos quintais das residências e o interior é
pulverizado a partir das janelas” (AGENTES, 2008, p. A-6).
Antes da aplicação do inseticida, os agentes de controle de vetor
informam os moradores da rua sobre a pulverização e solicitam que deixem o
imóvel, cubram alimentos e utensílios domésticos e retirem os animais das
casas para a ação dos técnicos (AGENTES, 2008, p. A-6).
Embora pulverizações com agrotóxicos tenham sido recomendadas para
combater o inseto adulto, que ameaça epidemicamente a população (em 2007 foram
confirmados 3.264 casos de dengue no município), não informações no Jornal de
Piracicaba sobre o nome do princípio ativo utilizado, bem como sua classificação
toxicológica. De acordo com o encarregado da equipe de controle de vetores da referida
doença, André Luis Rossetto, a larva é combatida com o larvicida e com a eliminação
do criadouro para o Aedes, reforçando que o ideal “é o mosquito não fazer a postura
dos ovos” (AGENTES, 2008, p. A-6).
No entanto, foi solicitado ao Centro de Controle de Zoonoses
98
o nome do grupo
químico do inseticida utilizado nas pulverizações. André Luis Rossetto informou ser um
organofosforado e os produtos comerciais, bem como as formulações, são as
seguintes: Malation - líquido; Senitrothion - Pó Molhável ou Concentrado Emulsionável e
o larvicida Temefós - granulado.
De acordo com o responsável pela equipe de pulverização são quatro os grupos
químicos básicos usados nas aplicações para o controle de vetores da dengue:
carbamatos, organoclorados, organofosforados e piretróides. Esses agrotóxicos são
determinados pelo MS e se alternam quando ocorre o surgimento de resistência a
algum deles, cuja verificação é efetuada através do grau de toxicidade denominada
Dose Letal - DL 50
99
.
Segundo Rossetto, todas as unidades da área de saúde pública como por
exemplo o Centro de Controle de Envenenamentos da Unicamp recebe informação
tanto sobre o agrotóxico quanto sobre a metodologia de aplicação utilizados nas
pulverizações com a finalidade de se prevenirem de algum caso de intoxicação e
98
ROSSETTO, A. L., 2009. (Informação verbal).
99
DL 50 é a Dose Letal de um produto comercial com capacidade para matar 50% de uma determinada
população.
209
atendimento emergencial. Do mesmo modo, os veículos de comunicação do município
e da região são instruídos; porém, os jornais não publicam e consequentemente a
população desconhece os riscos de intoxicação. Compreende-se que a mídia é omissa
e não se interessa em transmitir tais mensagens, provavelmente por pressões das
multinacionais e a conivência de sindicatos, ANVISA, universidades e sobretudo, pela
importância do agronegócio da cultura da cana-de-açúcar inserida no contexto da
cidade. Devido principalmente a esse último fator, as empresas desses compostos
químicos se empenham em manter bons relacionamentos com os proprietários dos
veículos de comunicação e com a sociedade piracicabana.
Grisolia (2005) faz considerações importantes sobre o Malation.
Esse organofosforado tem sido muito utilizado em campanhas de saúde
pública, no controle de vetores de determinadas epidemias, especialmente
contra a malária em diferentes países do mundo. Assim, o risco ambiental
desse produto está diretamente associado ao grau de exposição. Os estudos de
mutagenicidade têm obtido resultados contrastantes, em que alguns sistemas-
teste apresentam resultados positivos e em outros negativos (GRISOLIA, 2005,
p. 204-205).
De acordo com as informações fornecidas pelo Centro de Controle de Zoonoses
as aplicações com inseticidas somente são realizadas quando há comprovação de
transmissão da doença. E os riscos de intoxicação são nulos, uma vez que os agentes
de controle recebem treinamento especializado e as técnicas usadas nas pulverizações
são seguras.
Conclui-se, portanto, que os efeitos nocivos causados pelos agrotóxicos são
mascarados e banalizados. Não controle da química utilizada e dos perigos reais de
intoxicação. O responsável da equipe de controle de vetores da dengue, André Luis
Rossetto, demonstra a sua preocupação.
Ao invés das empresas multinacionais investirem em publicidades de
estímulo ao consumo de agrotóxicos como, por exemplo, inseticida amigo da
saúde, deveriam, ao contrário, enfocar a educação da população, instruindo-a
sobre questões preventivas e eliminatórias dos criadores do mosquito da
dengue.
100
100
ROSSETTO, A. L., 2009. (Informação verbal).
210
Em outra matéria jornalística publicada no Jornal de Piracicaba
101
, “Feira de
orgânicos será terça-feira”, a fonte consultada foi a Secretaria Municipal de Agricultura e
Abastecimento - SEMA. Segundo o chefe da divisão de operações de mercados,
Francisco Ernesto Guastalli, serão realizadas oficinas de reciclagem com garrafas PET
e papel. A secretaria também fará palestras sobre agricultura orgânica e meio
ambiente (FEIRA, 2008, p. A-8).
2.4.4.2.2 Fontes de informação de especialistas de instituições de pesquisa
Nas fontes de informação oriundas de especialistas de instituão de pesquisa a
revista Globo Rural e o “Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo
destacaram várias delas, conforme mostrado na Tabela 25. A Globo Rural
102
, na
matéria jornalística “Limoeiro triste”, publicou o questionamento de um consulente
referindo-se às folhas tortas e enrugadas do seu pé de limão. A resposta de um
pesquisador do Centro Sylvio Moreira
103
, Fernando Alves de Azevedo, é favorável ao
uso dos agrotóxicos. Seu controle é bastante simples, com a aplicação de inseticidas,
que podem ser adquiridos em revendas de defensivos, com a recomendação de um
engenheiro agrônomo (BEZERRA; TOLEDO, 2007a, p.31).
A insistência em utilizar a palavra “defensivo” pelos pesquisadores do IAC
demonstra acordos entre esses profissionais, governo e multinacionais.
É interessante abordar aqui uma matéria jornalística sobre os agrotóxicos,
publicada no Jornal de Piracicaba
104
sob o título “Pesquisador defende uso de
fungicidas”. Embora não corresponda à amostragem utilizada neste estudo é bastante
útil para elucidar o papel desempenhado por pesquisadores de renomadas instituições
de pesquisa do nosso país na divulgação do uso desses produtos químicos. A matéria
refere-se à análise de um pesquisador científico do Instituto Biológico, José Ricardo
Domingues, sobre o uso de agrotóxicos em vegetais saudáveis que despertam o desejo
de ser consumidos.
101
Jornal de Piracicaba, 6 jan. 2008, p. A-8.
102
Revista Globo Rural, ano 52, n. 263, set. 2007, p.31.
103
O Centro Sylvio Moreira faz parte do Instituto Agronômico de Campinas - IAC - Agência Paulista de
Tecnologia para os Agronegócios - Apta.
104
Jornal de Piracicaba, ano 108, n. 37.678, 18 jun. 2008. Caderno Economia, p. 3.
211
No entanto, ele salienta que os meios de comunicação mostram, com frequência,
denúncias envolvendo alimentos contaminados ou com quantidades excessivas de
resíduos de agrotóxicos em hortaliças, “quebrando o encanto que havia e substituindo
por uma desconfiança que acaba por afastar o consumidor dos produtos denunciados”
(GAIAD, 2008, p. 3), instalando-se um clima de terror que leva tempo para ser diluído.
“Uma vez que os agrotóxicos trazem tantos problemas, não seria possível produzir
frutas, legumes e verduras sem a sua utilização?”, questiona o pesquisador, e em
seguida responde: no que diz respeito ao controle químico de doenças, por enquanto,
não” (GAIAD, 2008, p. 3).
O especialista explica que inúmeras doenças fúngicas ainda apresentam
potencial para provocar severos prejuízos, que não ocorrem graças à utilização de
fungicidas, lembrando que a própria FAO, órgão das Nações Unidas para a agricultura
e alimentação, considera que tais produtos são insumos fundamentais para a produção
mundial de alimentos.
É inegável que, ao longo de sua história, os fungicidas evoluíram
substancialmente em vários aspectos, existindo na área de tecnologia de
aplicação uma tendência de redução do volume de calda pulverizada por
hectare, trazendo benefícios ao agricultor pela redução de custos e do
desperdício e ao ambiente pela diminuição da deriva (GAIAD, 2008, p. 3).
Vários aspectos foram enfatizados por Domingues, entre os quais a Lei dos
Agrotóxicos, a qual regulamentou e organizou todos os setores envolvidos.
Tudo isso ocorreu, logicamente, graças a uma maior conscientização da
sociedade para os perigos envolvidos na utilização desses produtos,
aumentando a pressão sobre as empresas por investimentos na obtenção de
fungicidas menos tóxicos (GAIAD, 2008, p. 3).
Outra questão abordada foi a dose de aplicação que, de 600g/ha a 1.700 g/ha de
ingrediente ativo, gradativamente vem sendo reduzida atingindo, para alguns produtos
mais modernos, valores entre 80g/ha a 120g/ha do produto comercial.
No entanto, ele lamenta que apesar da pressão da sociedade e de todo
investimento feito pelas empresas, aproximadamente 32% dos fungicidas registrados
junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, pertencem à
212
classe toxicológica I e II - extremamente e altamente tóxicos, respectivamente, e
apenas 27% se incluem na classe IV - pouco tóxicos.
O pesquisador enfatiza que os problemas atribuídos aos agrotóxicos devem-se
ao seu uso indiscriminado, que podem promover a seleção de pragas e fungos
resistentes, colocando em risco a eficiência deste método de controle.
Tais problemas têm sido utilizados como argumentos por profissionais
que acreditam na chamada agricultura alternativa, a qual surgiu em resposta à
Revolução verde, pacote tecnológico que se propunha a resolver o problema da
fome no mundo e que atingiu o seu apogeu na década de 70 (GAIAD, 2008, p.
3).
Segundo o especialista, mesmo nesses sistemas de cultivo, considerados eco-
compatíveis, problemas com doenças fúngicas,causados por desequilíbrios temporários
podem ocorrer. Nesses casos, intervenções com produtos de baixa toxicidade e de
baixo risco ao ambiente como os chamados defensivos alternativos e naturais devem
ser disponibilizados.
As críticas a esses sistemas se baseiam, conforme Domingues, em sua
inviabilidade em culturas de grande escala, em sua baixa eficiência e na aceitação do
uso de produtos à base de cobre, conhecidos por sua ação inespecífica sobre os
organismos alvos e os não-alvos.
Diante de tudo o que foi discutido, fica claro que não existe uma solução
única e mágica para os problemas derivados do uso de fungicidas em
horticultura e, para que se resolva um problema dessa magnitude, é preciso que
haja um envolvimento de todos os segmentos da sociedade (GAIAD, 2008, p.
3).
É evidente o discurso pró-agrotóxicos deste pesquisador científico, representante
de uma instituição de pesquisa do Estado de S. Paulo, o Instituto Biológico, cujos
trabalhos científicos são internacionalmente conhecidos e amplamente divulgados.
Entre as suas muitas atribuições, a Defesa Sanitária Vegetal consta como uma das
principais, onde o controle químico através da utilização de agrotóxicos assume, ainda
hoje, uma grande importância, fato demonstrado neste discurso publicado no Jornal
de Piracicaba, contribuindo ainda mais amplamente para a permanência das indústrias
de agrotóxicos no país.
213
Outro artigo publicado no Jornal de Piracicaba
105
“Liminar tem como base
estudo feito no Cena”, refere-se à tese de doutorado desenvolvida pelo médico
veterinário Sady Valdes, a qual originou uma liminar judicial federal. Tal liminar
determina que não sejam utilizados produtos químicos, principalmente agrotóxicos, num
raio de dois quilômetros ao redor do Parque Nacional das Emas.
O estudo constou da coleta de material regurgitado das aves e posterior análise
em laboratório, as quais mostraram que das 155 amostras, 119 apresentaram
contaminação. As análises estatísticas confirmaram que a maior parte da população
dessas aves no local avaliado estava afetada por produtos químicos.
Como essas aves se alimentam de insetos, a maior probabilidade é que
tenham sido contaminadas por terem comido insetos que fugiram da aplicação
de agrotóxicos nas regiões mais próximas do parque (VICTÓRIA, 2008, p. 6).
Outro fator preocupante para o pesquisador é que o bacurau de rabo branco, um
dos mais afetados, está em risco de extinção.
Essa ameaça de contaminação pelos agrotóxicos é maior na região do
cerrado brasileiro, porque nas culturas de soja e de algodão, típicas da região, o
uso de agrotóxicos é intenso. A soja existe muito tempo e agora o
algodão vem tomando cada vez mais espaço (VICTÓRIA, 2008, p. 6).
O especialista ressalta que seu trabalho não permite chegar à conclusão sobre a
ocorrência de intoxicação das aves. Também esclarece que não é “contra” os
agrotóxicos.
As pessoas às vezes gostam de fazer essa leitura apressada, mas não
é assim. Os agrotóxicos são fundamentais para manter o volume de alimentos
que o mundo precisa. O problema não é o agrotóxico, mas a forma como ele é
usado, na maioria das vezes de maneira irregular e sem controle. É preciso
haver uma zona de amortecimento e foi isso que aconteceu quando a juíza
goiana determinou esse raio de dois quilômetros de utilização (VICTÓRIA,
2008, p. 6).
Rampton e Stauber (2001) relatam que os cientistas que recebem recursos para
o desenvolvimento de suas pesquisas com produtos químicos, farmacêuticos ou outras
drogas, muitas vezes são induzidos a distorcer os seus resultados, os quais podem
beneficiar os interesses empresariais e estatais caracterizando o conflito de interesses.
105
Jornal de Piracicaba, ano 108, n. 37.715, 31 jul. 2008, caderno Cidades, p. 6.
214
Almeida Júnior e Sakaguti Júnior (2005) esclarecem que para os jornalistas
interessados em obter informações idôneas, uma forma eficiente de selecionar as
fontes é questionar sobre as origens dos recursos para as pesquisas e para a
manutenção dos laboratórios.
Na revista Globo Rural
106
, a matéria “Tiriricas Teimosas” também incentivou o
consumo de agrotóxicos. O consulente questiona se há algum “remédio” para eliminar a
tiririca.
O pesquisador do Instituto Biológico de S. Paulo informa que
[...] uma boa opção é o controle químico com o uso do herbicida
halosulfuron (marca comercial Sempra) [...] Consulte um engenheiro agrônomo
para obter informações sobre a dose correta e orientações quanto ao manuseio
do herbicida com segurança (BEZERRA; TOLEDO, 2007c, p. 31).
O Instituto Biológico, através das suas atribuições legais, possibilita que o
pesquisador científico recomende o controle químico sem se preocupar em explicar os
danos dos agrotóxicos à saúde humana e ao ambiente. Além disso, o especialista não
apresentou outras opções de controle como, por exemplo, através da capina manual.
Uma alternativa seria a utilização de um equipamento como o “Eletroherb”, por
exemplo, que em vez de pulverizar a lavoura com o herbicida faz descargas elétricas no
solo, promovendo a erradicação das plantas daninhas.
Martins et al. (1999) trabalharam com algumas culturas potencialmente
alelopáticas no desenvolvimento da tiririca, em áreas irrigadas de Ribeirão Preto (solo
argiloso) e Pindorama (solo arenoso), no período de dezembro de 1998 a junho de
1999. Os resultados mostraram que em Ribeirão Preto, de maneira geral, observou-se
redução do número de tiriricas pelas espécies alelopáticas, sendo as leguminosas mais
eficientes. Em Pindorama, onde o solo é arenoso, a infestação inicial foi muito superior
em relação ao município supracitado, havendo relevante redução no número dessa
invasora nos primeiros dois meses em todos os tratamentos, à exceção do girassol.
Obtiveram-se correlações positivas e significativas em ambos os municípios, entre a
tiririca e as espécies potencialmente alelopáticas, indicando possibilidades de controle.
106
Revista Globo Rural, ano 22, n. 261, jul. 2007, 31.
215
No Suplemento Agrícola do jornal o Estado de S. Paulo
107
, na matéria “Mal das
laranjeiras é leprose dos citros”, a fonte que informou o repórter é fitopatologista da
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Francisco Ferraz Laranjeira. Como
tratamento, ele indica que
[...] não adianta fazer a poda sem a aplicação do acaricida, pois os
ácaros que estão na planta tornarão a inocular o vírus”, [...]. Da mesma forma,
não resolve apenas aplicar o acaricida, pois outros ácaros que sejam levados
pelo vento para as plantas adquirirão o vírus das plantas que não foram
podadas, [...] No futuro, inspeções rotineiras ajudariam a detectar o problema no
início, facilitando o controle, (MAL, 2007, p. 2).
De acordo com Feichtenberger et al. (1997), a leprose do citros é causada por
um vírus, porém, na natureza, a disseminação da doença aparentemente se faz
somente em presença de árvores afetadas e ácaros. Seu controle é baseado no uso de
acaricidas para reduzir ao mínimo a população de ácaros. Pode-se combinar também a
eliminação das fontes de inóculo com a poda das partes afetadas das plantas. O
especialista da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical forneceu essa explicação ao
consulente e indicou o uso de acaricidas, demonstrando que os agrotóxicos estão
impregnados em nossa cultura. Seguiu-se a sua recomendação de um produto químico
específico, cuja prescrição deve ser feita por um engenheiro agrônomo. Demonstra-se,
assim, que o controle químico com acaricidas tem sido a principal arma para manter a
densidade populacional do ácaro da leprose em níveis abaixo do dano econômico.
Contudo, outras práticas de controle vêm sendo empregadas, sendo uma delas o
uso da calda sulfocálcica, um agrotóxico alternativo que apresenta menor impacto sobre
o sistema cítrico, como mostra a seguinte pesquisa desenvolvida por Alves e
colaboradores.
Estudando os efeitos da calda sulfocálcica no controle do ácaro da leprose, Alves
et al. (1999) verificaram que a sua aplicação direta sobre os ácaros causou mortalidade
de 100% em todas as concentrações testadas. Os autores concluíram que sua
atividade acaricida e persistência no ambiente proporcionam o controle satisfatório do
ácaro até 25 dias.
107
Suplemento Agrícola, Ano 52, n. 2.695, 04 jul. 2007, p. 2.
216
Na revista A Granja
108
, a fonte que informou o repórter na matéria “Insetos no
arroz” é o especialista Jaime Vargas, do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), que
respondeu ao consulente sobre como evitar infestações de insetos como o percevejo-
do-colmo na lavoura do arroz: no controle químico, devem ser empregados produtos
registrados. Os produtores podem também, procurar os técnicos do Irga nos Núcleos de
Assistência Técnica de cada município” (MITTMANN, 2007b, p. 11).
O pesquisador indica o controle químico, uma vez que a ocorrência do
percevejo-do-colmo pode causar perdas entre 5% e 70% na área atingida. Ele não
alude ao uso de variedades de arroz resistentes ao inseto, nem sobre outros métodos
de controle que poderiam diminuir os prejuízos. Esse fato evidencia o incentivo ao uso
de agrotóxicos tanto pelos técnicos como pela instituição Rio Grandense do Arroz
(Irga).
A fonte consultada da revista Balde Branco
109
na matéria “Infestação de
carrapatos” é proveniente de dois pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, John
Furlong e Márcia Prata, que divulgam o controle estratégico como forma ideal de
combater os carrapatos.
O controle se baseia no uso correto de produtos químicos aliados à
natureza, atacando os parasitas na época em que eles se encontram mais
frágeis. No entanto, é preciso ter a certeza do carrapaticida que trará os
melhores resultados, que os carrapatos podem desenvolver resistência aos
produtos (RENTERO, 2007a, p. 7).
Os especialistas fornecem ainda instruções e prazo para entregar os resultados,
caso os produtores queiram realizar o teste de eficácia dos carrapaticidas.
É interessante ressaltar que os agrotóxicos de uso veterinário foram retirados do
projeto da Lei dos Agrotóxicos 7.802/89 apenas por questões políticas, como relata
Pereira (2002).
Pressões e contrapressões marcaram o processo de elaboração da lei
dos agrotóxicos pela comissão federal que contava com a participação de
representantes do governo, da indústria, dos cientistas e das entidades civis.
Como lembra o geneticista Flávio Lewgoy, que foi membro da comissão, um
acordo com o representante das empresas de medicamentos veterinários foi
108
Revista A Granja, ano 63, n.
699, mar. 2007, p.11.
109
Revista Balde Branco, ano 43, n. 518, dez. 2007, p. 7.
217
fundamental para o fechamento de acordo em torno da aprovação do texto do
projeto de lei. Os produtos veterinários foram retirados do projeto e foi
assegurado o apoio do setor ao texto da lei. Aprovada pelo Congresso
Nacional, o projeto foi sancionado pelo presidente José Sarney, em 11 de Julho
de 1989 (PEREIRA, 2002, p. 80).
2.4.4.2.3 Fontes de informação de especialistas de universidades
Com relação às fontes de informação provenientes de especialistas de
universidades, cita-se alguns casos. No “Suplemento Agrícola
110
, o leitor questiona o
controle de formigas cortadeiras em ornamentais. A sugestão do Professor Dr. Otávio
José Nakano, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, consiste em encher
os ninhos subterrâneos com a mistura de água e detergente, matando-as por
afogamento.
Na revista Globo Rural
111
, um consulente solicita informações sobre o controle
de formigueiros na matéria “O Ataque das formigas”. A docente da Universidade
Federal de Viçosa - MG, informa:
[...] se os dez formigueiros de sua propriedade forem grandes, com
tamanho acima de cinco metros quadrados de terra solta, e de saúvas (formigas
cortadeiras cabeçudas), trate-os com uma isca granulada qualquer, disponível
no mercado, à base de sulfluramida. Leia o rótulo do pacote e siga as
instruções [...]. O produto pode ser comprado em lojas agropecuárias, onde
geralmente existe um engenheiro agrônomo que auxilia sobre outras dúvidas e
aplicação do produto (BEZERRA; TOLEDO, 2007b, p 25).
Na revista A Granja
112
, o leitor requisita informações sobre a melhor forma de
combate à broca da cana-de-açúcar. O especialista da Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar, Prof. Newton Macedo, salienta que o importante é o agricultor realizar
um bom monitoramento da lavoura e utilizar o controle químico com o produto certo, no
momento adequado. Ele lembra que também existem pesquisas de manipulação
genética para o desenvolvimento de variedades resistentes à broca.
Existe um produto certo? Qual é a sua representação? É aquele determinado
pelo vendedor, o empregado das empresas de agrotóxicos ou de cooperativas,
“mandado” das multinacionais, o que manipula o receituário agronômico e vende o
110
Suplemento Agrícola, ano 52, n.
2.745, 18 jun. 2008, p. 2.
111
Revista Globo Rural, ano 22, n.
258, abr. 2007, p. 25.
112
Revista A Granja, ano 63, n. 702, jun. 2007, p. 12.
218
produto como tecnologia de “última geração”, “menos tóxico”, “baixa dosagem” e mais
caro? O especialista vai além e diz em sua resposta ao consulente que existem
pesquisas de manipulação genética para o desenvolvimento de variedades resistentes
à broca. Ou seja, ele está recomendando plantas transgênicas, com todas as suas
implicações, dúvidas e inseguranças (ROBIN, 2008, p. 233; 237; 322).
2.4.4.2.4 Fontes de informação de especialistas de empresas
Outras fontes consultadas pelos repórteres referem-se aos especialistas de
empresas. Quais as suas vozes e o que elas querem dizer?
Na revista Balde Branco
113
elas foram ouvidas 11 vezes. De acordo com o
especialista Bernard Gozlan, da Empresa Phytosynthese, na matéria “Parceria une M.
Cassab e Phytosynthese”, esta aliança, “permite trazer aos criadores brasileiros novas
alternativas aos antibióticos usados como promotores de crescimento, aprovadas e
utilizadas na Europa” (RENTERO, 2006, p. 21). Ele acrescenta que a relação
custo/benefício é competitiva com produtos químicos sintéticos e que os resultados são
similares. A pesquisa de novos produtos da empresa tem como base 350 espécies
vegetais como o ginseng, neem, boldo, alcachofra, maracujá e eucalipto. Entre os
produtos à venda no Brasil dois deles se destacam: Biostar Tonic, um aditivo que
melhora o crescimento e o desempenho zootécnico dos animais, por intermédio do
estímulo do apetite e redução do estresse e o Eimericox, suplemento fornecido junto à
ração, auxiliando no controle de problemas relacionados à coccidiose e melhorando a
conversão alimentar.
Embora a revista Balde Branco expresse, em suas matérias, uma postura
fortemente associada ao incentivo aos agrotóxicos, observou-se através dessa fonte de
informação uma mudança de paradigma em relação ao conceito alimentar, uma nova
orientação aos produtos alternativos.
Na matéria jornalística “Mastite clínica em quatro respostas”, publicada na revista
Balde Branco
114
, o médico veterinário Breno Silva (2008) aborda algumas dúvidas
mais frequentes sobre a forma clínica da doença. A mastite clínica é a enfermidade que
mais traz prejuízos à atividade leiteira. As perdas ocorrem devido a vários fatores, entre
113
Revista Balde Branco, ano 42, n. 506, dez. 2006, p. 6.
114
Revista Balde Branco, ano 43, n. 521, mar. 2008, p. 50.
219
os quais, a redução da produção e aumento do descarte de leite, das despesas com a
mão-de-obra, com medicamentos e com o veterinário. De acordo com o especialista,
O que ocorre na maioria dos casos de mastite clínica é que a bactéria
que causou a reação inflamatória e o caso clínico já foi combatida pelas defesas
naturais do animal. Neste caso, em aproximadamente 30% dos casos,
tratamentos com antibióticos não são de nenhuma utilidade, visto que a bactéria
já foi eliminada pelo próprio animal (SILVA, 2008, p. 50-51).
A forte pressão das publicidades das indústrias de agrotóxicos pode ter a sua
parcela de responsabilidade em prosseguir o tratamento com os antibióticos. Elas nos
obrigam a aceitar os agrotóxicos e ingeri-los todos os dias, muitas vezes em doses
superiores aos LMRs permitidos pela legislação, enganados pelas publicidades e pelas
empresas, assim como por tais conceitos dissimulados em usos seguros. Não existe
uso seguro quando se trata de agrotóxicos.
No entanto, ninguém avisa. Tudo é escondido, conforme relata Debord, (1997).
Ao mesmo tempo, toda a realidade individual tornou-se social, diretamente dependente
da força social, moldada por ela. lhe é permitido aparecer naquilo que ela não é
(DEBORD, 1997, p. 18).
Aqui é interessante refletir sobre a legislação que altera a classificação
toxicológica dos agrotóxicos.
A Portaria número 03 do Ministério da Saúde, de 16 de janeiro de 1992,
ratifica os termos de um ato publicado no Diário Oficial da União em 13/12/91,
denominada “Diretrizes e orientações referentes à autorização de registros,
renovação de registros e uso de agrotóxicos e afins (FALK et al., 1995, p. 246).
Benatto (1995) denunciou a ilegalidade deste ato administrativo por não ter o
nome ou a chancela de seus autores e por não ser este o sentido do documento
aprovado.
Falk et al. (1995) esclarecem que essa Portaria é referente à mudança na
classificação toxicológica dos agrotóxicos.
Desse modo,
Os produtos que eram registrados, de acordo com a classificação
original, como Classe Toxicológica I - EXTREMAMENTE XICO (Faixa
vermelha e caveira) e Classe Toxicológica II - ALTAMENTE XICO (Faixa
220
amarela e caveira), passaram à classe Toxicológica III - MEDIANAMENTE
TÓXICO (Faixa azul) e Classe Toxicológica IV - POUCO TÓXICO (Faixa verde),
deixando de constar a caveira e a identificação costumeira sobre o perigo que
representa tais produtos (FALK et al., 1995, p. 246).
Com a alteração normativa, em média 6% dos agrotóxicos do país
permaneceram nas classes I e II, sendo que 94% passaram para as classe III e IV
(Medianamente e Pouco Tóxico). Antes, pela Lei 7.802/89, em média 85% dos
agrotóxicos do país pertenciam às classes I e II (Extremamente e Altamente Tóxico),
12% à classe III e 3% à classe IV. A portaria n
0
3 não só minimizou as classes
toxicológicas dos produtos como também possibilitou o aumento de concentração de
ingrediente ativo de muitos agrotóxicos (FALK et al., 1995, p. 246).
Pereira (2002) revela que
O governo federal transferiu 70 a 80% dos agrotóxicos das faixas de
maior perigo (vermelha e amarela) para as de menor risco (azul e verde) e que
houve cinco reclassificações toxicológicas entre 1978 e 1992 (PEREIRA 2002,
p. 137).
Pinheiro (2010) explica que os produtos que eram das classes I e II
representavam mais de 90% das intoxicações. Esta alteração no Brasil foi feita no
governo Collor, de forma escondida, iludindo a cidadania.
A mudança na classificação toxicológica foi a grande responsável pelo
recrudescimento da epidemia de intoxicações ocorridas em todos os países
pobres. Methamidophos, Parathion, Paraquat e outros passaram a ser vendidos
com baixo preço e as mortes e intoxicações cresceram vertiginosamente na
América Central, Caribe e América do Sul, embora os especialistas dos
organismos multilaterais viessem para contornar e amenizar as estatísticas
diante de governos subalternos (PINHEIRO, 2010).
Falk et al. (1995) salientam a importância das cores das faixas, as quais
comumente são identificadas pelos agricultores. A alteração dessas cores, bem como o
aumento dos ingredientes ativos, elevou o número de intoxicações por agrotóxicos no
município de Venâncio Aires, RS, região produtora de fumo. Entretanto, essas
intoxicações muitas vezes não chegam a ser diagnosticadas por profissionais da saúde
como consequência de uso desses produtos (FALK et al., 1995, p. 247).
221
Ressalta-se que ainda hoje, os fumicultores mais idosos, que falam a maior parte
do tempo em alemão, apresentam dificuldades com a língua portuguesa. Muitos
também são analfabetos, além de não terem desenvolvido o hábito de leitura dos
rótulos ou dos receituários agronômicos. Assim, os produtos são reconhecidos pelas
embalagens e pelas “cores” de suas tarjas de advertência.
Nessa matéria jornalística sobre a mastite imperou uma política de lucratividade
das empresas fabricantes de agrotóxicos. A maior preocupação, todavia é, segundo o
especialista, a saúde do animal e a consequente produção de leite, mesmo que isso
acarrete em maiores quantidades de resíduos de antibióticos no leite e o sacrifício da
população. Mas isso, Silva (2008) não relatou.
Debord (1997) salienta que
A sociedade que se baseia na indústria moderna não é fortuita ou
superficialmente espetacular, ela é fundamentalmente espetaculoísta. No
espetáculo, imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenrolar é
tudo. O espetáculo o deseja chegar a nada que não seja ele mesmo, [...] O
espetáculo domina os homens vivos quando a economia os dominou
totalmente. Ele nada mais é que a economia desenvolvendo-se por si mesma. É
o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos produtores
(DEBORD, 1997, p. 17-18).
As imagens dos agrotóxicos não refletem a realidade. Suas publicidades e
propagandas são dominadas pela economia, cujo interesse é o mercado.
De acordo com a informação do especialista Gabriel Sandoval, na matéria
jornalística “Novidade contra as moscas-dos-chifres”, publicada na revista Balde
Branco
115
, o brinco mosquicida possui ação repelente em uma nova formulação e pino
fixador, além de um dispositivo de segurança para garantir a fixação do brinco na orelha
do animal durante os cinco meses recomendados de utilização do produto. Em todos os
testes, segundo o fabricante, o produto apresentou uma eficácia superior a 90%. De
acordo com o médico veterinário “A própria movimentação de cabeça do animal faz
com que o produto se espalhe na região parasitada, sem deixar nenhum resíduo no
leite ou na carne” (RENTERO, 2007b, p. 22). O produto tem diazinon como princípio
ativo.
115
Revista Balde Branco, ano 43, n.
518, dez. 2007, p. 22.
222
O relato do pesquisador, de que o produto se espalha e os resíduos no leite ou
na carne não permanecem, nada mais é que uma propaganda em favor do ingrediente
ativo diazinon, usado nos brincos mosquicidas do animal. O princípio dessa propaganda
é “fabricar consenso” (CHOMSKY, 2003, p. 14).
Na revista A Granja
116
, na matéria “Faltam defensivos de qualidade”, o agrônomo
da Cooperativa Agropecuária de Holambra, Fernando Mascaro, comenta sobre a falta
de opções de agrotóxicos para o controle de doenças e pragas do pêssego. Ele informa
que os existentes são antigos e pouco eficientes e a maior parte das pragas e dos
patógenos, causadores de doenças, já desenvolveram resistência a esses produtos.
Dependemos do Ministério da Agricultura e, principalmente, da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), para que se regulamente a lei do
Minor Crops (pequenas culturas), a fim de que possamos ter novos produtos
para pequenas culturas (MITTMANN, 2007a, p. 36).
Outra informação nessa matéria refere-se ao controle do tripes, um inseto
sugador que fica na superfície da fruta da qual se alimenta. Segundo o especialista
Fernando Mascaro, não produto registrado no Ministério da Agricultura para o seu
controle. A porcentagem de danos por essa praga chega a 30% e o maior entrave é
que estamos trabalhando na ilegalidade. uma falta de segurança tanto para quem
produz quanto para quem consome” (MITTMANN, 2007a, p. 36). A informação
jornalística mostra claramente que a cultura do ssego utiliza agrotóxicos o
autorizados para o controle de pragas e doenças. Isso significa que a Cooperativa
Agropecuária de Holambra não terá respaldo, caso ocorram casos de intoxicação
causados pelo manuseio desses produtos, bem como pelas aplicações nos campos de
produção. Trata-se, portanto, de uma irregularidade. Daí a insistência para que se
regulamente a lei do “Minor Crops”.
A Instrução Normativa n
0
20 do MAPA, do IBAMA e da ANVISA, de 27 de abril de
2006, levada na ocasião à Consulta Pública, apresenta as seguintes propostas:
estabelecer critérios e procedimentos a serem adotados para definir os LMRs para as
culturas com suporte fitossanitário insuficiente e para a sua inclusão na monografia dos
agrotóxicos registrados para uso agrícola. É importante ressaltar que apenas as
116
Revista A Granja, ano 63, n. 708, dez. 2007, p. 36.
223
grandes culturas, denominadas representativas, são consideradas no estabelecimento
dos LMRs.
Essa Norma relata que
[...] representativas são as culturas eleitas dentro de um grupo de
culturas em função de sua importância econômica, área de cultivo, consumo
humano, disponibilidade de agrotóxicos registrados ou similaridade de
problemas fitossanitários, a partir da qual os LMR‟s podem ser extrapolados
temporariamente para as demais integrantes do grupo.
117
Assim, esses grupos definem o LMR para uma cultura não representativa.
[...] o mesmo agrotóxico aplicado no tomate, considerada uma cultura
representativa, também seria aplicado em pimentão, berinjela, jiló, pimenta e
chuchu, não representativas, até a realização dos estudos para determinar os
LMRs, explica Wagner Bettiol, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.
118
Ou seja, os LMRs determinados para a cultura do tomate podem não ser iguais
às aparentadas, por serem outras as suas características. De modo semelhante, os
critérios de aplicação dos agrotóxicos adotados para as representativas não devem ser
copiados para as minor crops, para as quais não foram realizadas avaliações
apropriadas, incorrendo em riscos de elevar sobremaneira as intoxicações. Por esses
motivos, a Instrução Normativa n
0
20 não deve, de forma alguma, ser aplicada para as
condições propostas.
Quanto aos modelos de proteção aos agrotóxicos - LMR e IDA, criados pelos
organismos multilaterais, FAO, OMS, Codex Alimentarius e outros, Pinheiro (2010)
ressalta que
[...] garantiam que pequenas doses, resíduos ou metabólitos eram
inócuos. Hoje, sabe-se que isto não é verdadeiro, nem seguro. Mesmo em
quantidades ínfimas a grande maioria dos agrotóxicos tem efeito de alteração
no equilíbrio hormonal, denominado de disrupção endócrina, (PINHEIRO,
2010).
O autor relata que existem esses riscos e que eles
117
Consulta Pública nº 20, de 27 de abril de 2006. Disponível em:
http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/CP/CP%5B16068-1-0%5D.PDF. Acesso em: 19 jan. 2010.
118
Especialistas definem uso de agrotóxicos em culturas secundárias. Disponível em:
http://www.agrosoft.org.br/agropag/100301.htm. Acesso em: 19 jan. 2010.
224
[...] vieram à público após a Conferência Reservada de Weybridge na
Inglaterra, acontecida quando ocorriam os debates da Rodada Uruguai, para a
instauração da nova ordem, onde os interesses das transnacionais estão acima
dos governos (PINHEIRO, 2010).
Assim,
A determinação de disrupção endócrina exige estudos caríssimos, com
um número superior a mil e duzentas cobaias por experimento simples. O
resultado disto é que nenhum país hoje exige as pesquisas e experimentos
sobre disrupção endócrina e o tema é praticamente desconhecido, ignorando o
“Princípio da Precaução”, da Agenda 21 (PINHEIRO, 2010).
Grisolia (2005) explica que os desreguladores endócrinos ou hormonais podem
[...] atuar das seguintes formas: mimetizando o próprio hormônio, ou
seja, interagindo com o receptor específico para desencadear as alterações que
seriam por ele provocadas naquela célula-alvo; bloqueando a ação do hormônio
ao ocupar os receptores e assim impedir que a função hormonal seja exercida;
alterando o metabolismo, isto é, a sua síntese e a degradação fisiológica
natural. Tais substâncias são geralmente lipofílicas e acumulam-se nas
gorduras, fazendo que tenhamos uma contaminação persistente (GRISOLIA,
2005, p. 101).
O autor relata o surgimento de vários efeitos adversos associados às disfunções
endócrinas, entre os quais o ressaltados: câncer de mama, endometriose, câncer de
próstata e testículo, redução da fertilidade, alterações na tireóide e na pituitária,
imunossupressão e efeitos neurológicos associados às disfunções endócrinas”
(GRISOLIA, 2005, p. 101).
As agências governamentais de proteção ambiental de diferentes
países já começaram a desenvolver programas para a identificação dos
compostos químicos ambientais que tenham a propriedade de interferir na
produção, na liberação, no transporte, no metabolismo, no modo de ação ou na
eliminação dos hormônios naturais responsáveis pela homeostase e pela
regulação dos processos de desenvolvimento (GRISOLIA, 2005, p. 102).
Afora a revista A Granja, essa informação foi salientada no “Suplemento
Agrícola
119
, mostrando a atuação do governo junto às multinacionais para custear parte
dos registros das “Minor Crops”.
119
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.741, 21 maio, 2008, p. 13.
225
Assim, além de o governo ser receptivo às decisões das indústrias de venenos
estabelecidas no país, ainda financia, parcialmente ou na totalidade, os registros dos
seus produtos.
Observou-se o interagendamento entre ambos os veículos, conforme
(HOHLFELDT, 1997, p. 46-48) e uma espécie de suíte (MASSIERER, 2007, p. 176).
Ambas as publicações o passíveis de contribuir para a formação da opinião pública
incentivando o uso dos agrotóxicos. Tais relatos corroboram com a teoria do cultivo
(GERBNER, et al., 2002).
Segundo Chomsky (2003),
As pessoas capazes de fabricar consenso são aquelas que têm
recursos e poder para fazer isso - a comunidade dos empresários - e é para ela
que você trabalha [...] a mídia é um monopólio corporativo. Todos os veículos
de comunicação têm o mesmo ponto de vista (CHOMSKY, 2003, p. 26).
Na verdade, acredita-se que a mídia nunca questionou, ou não foi arguida se o
seu silêncio sobre os envenenamentos causados pelos agrotóxicos contribuiu para um
maior número de vítimas. “Tudo isso nos dá uma idéia de como um sistema de
fabricação de consenso operando a plena carga funciona” (CHOMSKY, 2003, p. 44).
Assim, a propaganda não desvela a realidade dos fatos. Ela, na verdade, é feita
para que ninguém se conscientize do assunto.
Na matéria “A invasão das lérneas”, publicada pela revista “Globo Rural”
120
, o
biólogo Jorge Menezes, da Associação Brasileira dos Criadores de Organismos
Aquáticos - Abracoa, entre outras recomendações indica compostos organofosforados -
“defensivos agrícolas” para o controle de lérneas em tanques de alevinos de surubins.
Conclui-se, portanto, que as empresas privadas, através de especialistas
estimulam o consumo dos agrotóxicos. Ninguém questiona a seriedade da situação
relacionada à saúde em nosso país. As indústrias vendem e lucram cada vez mais,
elevando-se o número de intoxicações.
Pinheiro (2010) explica que
A expansão do comércio e uso de venenos agrícolas era assustador em
direção à África com repercussões catastróficas [...]. A repercussão destas
120
Revista Globo Rural, ano 23, n. 273, jul. 2008, p. 32.
226
intoxicações repetiu o que aconteceu nos países da América nos últimos
quarenta anos e por uma postura ética e cidadã não deveria repetir-se na
África, mas as empresas transnacionais de agrotóxicos ganham com esta
realidade e os organismos multilaterais cumprem apenas fazer de conta que
não é sua responsabilidade estes escândalos (PINHEIRO, 2010).
Estudos realizados pela ANVISA mostraram que 12% das intoxicações por
agrotóxicos ocorriam durante a colheita das hortaliças no município de Cantagalo, RJ.
Logo após a publicação destes resultados as indústrias lançaram a campanha para a
tríplice lavagem das embalagens vazias de venenos com dinheiro público, com a
finalidade de melhorar a imagem de seus produtos, porém, sem a preocupação com o
uso dos agrotóxicos em si, com a saúde dos trabalhadores rurais, que se expõem
aplicando os venenos nos campos, bem como as suas famílias. A explicação para a
realização dessa campanha publicitária é um mercado de mais de nove bilhões de
dólares, tanto para os agrotóxicos de uso agrícola como para os produtos veterinários e
os sanitários. Cabe salientar que uma grande parte da compra de tais compostos foi
efetuada pelo governo (PINHEIRO, 2010).
No “Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo
121
, na matéria
jornalística “Morango: safra abundante e saudável”, o especialista Sérgio Homma, do
centro de pesquisa da empresa Korin, em Atibaia - SP, dedicada a uma agricultura sem
agrotóxicos, comenta sobre a produtividade de morangos orgânicos. Se tudo correr
bem vamos chegar a 700 gramas/pé, com padrão para venda in natura [...]. sete
anos, a média de produtividade era de 300 gramas/pé” (SOUZA, 2007a, p. 10). O
coordenador geral do centro de pesquisas, Fernando Souza, diz, entretanto, que a
construção de um solo saudável leva tempo e que “o produto tem de ser bonito e
saboroso, senão o consumidor não compra. E também produtivo, senão o produtor o
sobrevive” (SOUZA, 2007a, p. 10).
Meneghini et al. (1999) desenvolveram uma pesquisa objetivando compreender a
perspectiva da sociologia ambiental, ou seja, como se constitui a rede de atores sociais
em torno dos produtos orgânicos orientada principalmente aos produtores, empresários
e consumidores, além da Associação de Produtores Ecológicos da Encosta da Serra
Geral - AGRECO -, que coordena os produtores. Os resultados mostraram 130 famílias
produtoras, uma cadeia de supermercados pioneira no comércio de orgânicos e um
121
Suplemento Agrícola, ano 52, n.
2.705, 12 set. 2007, p. 10.
227
público consumidor que busca consumos sadios e de qualidade (MENEGHINI et al.,
1999, p. 361-362).
Os autores observaram um rico processo social, a saber:
Organização dos produtores; sua diversificação produtiva; possibilidade
de diminuição do êxodo rural; viabilidade de envolvimento de novos produtores
vizinhos; influência sobre outros supermercados locais (MENEGHINI et al.,
1999, p. 362).
Os supermercados ganham uma imagem “alternativa” e “saudável” pelos
consumidores e os produtos orgânicos sem agrotóxicos ficam em consignação, com
baixos custos adicionais em marketing e na estruturação da venda (MENEGHINI et al.,
1999, p. 362).
Os pesquisadores relatam a seletividade dos consumidores pois 74% deles têm
terceiro grau completo e 75% possuem uma renda acima de 15 salários mínimos.
Destes, 51% iniciaram o consumo de produtos orgânicos apenas quando foram
apresentados pelo supermercado e mais de 50% confiam na forma que os produtos são
produzidos (MENEGHINI et al., 1999, p. 362).
Objetivando incentivar o uso dos produtos orgânicos o MAPA elaborou uma
cartilha denominada “Produtos Orgânicos - O Olho do Consumidor” (BRASIL - MAPA,
2009), com ilustração do cartunista Ziraldo, a ser distribuída em todos os estados
brasileiros, além de disponibilizá-la em seu site.
Porém, consta através de uma mensagem divulgada pela Internet
122
que a
Câmara Temática de Insumos Agropecuários exigiu a suspensão dos 620 mil
exemplares produzidos. Sua finalidade era suprimir a informação que “o agricultor
orgânico não cultiva transgênicos porque não quer colocar em risco a diversidade de
variedades que existem na natureza” (BRASIL - MAPA, 2009, p. 7).
Diante da notícia de que a Justiça teria concedido uma liminar em favor da
Monsanto, a cartilha de fato saiu do site do MAPA e muitas mensagens relatando o fato
anexavam um exemplar desse material em PDF, incitando sua distribuição.
122
Informações obtidas via e-mail: Disponível em: exalunoscpda-bounces@listas2.rits.org.br. Acesso em
out. 2009.
228
Mas, logo após supõe-se que a própria Monsanto tenha publicado uma nota
esclarecendo que essa informação não procede, que desconhece sua origem e ainda
reafirma o respeito pela liberdade de opinião, expressão e escolha do mercado,
instituições e empresas pela utilização de culturas convencionais, geneticamente
modificadas ou orgânicas. Depois dessa explicação pela referida empresa a cartilha
voltou ao site do MAPA.
Acredita-se ter havido algum movimento político, contrário à distribuição da
cartilha, mas desconhece-se como surgiu a falsa notícia sobre a liminar da Monsanto. O
fato de a notícia logo ter “virado verdade” e rodado diversas listas de e-mails mostra
que ninguém estranhou o procedimento dessa empresa. Quem assistiu o
documentário O Mundo Segundo a Monsantoou leu o livro de Marie-Monique Robin,
com o mesmo título, tem ainda mais motivos para crer nessa informação.
Através de contato com a Central de Relacionamento do MAPA, em 31 de julho
de 2009, solicitando o envio de exemplares impressos da cartilha, a resposta foi a que
segue:
“Informamos que o MAPA terá disponibilidade de envio a partir do dia 3 de
agosto de 2009. Caso queira, pedimos que procure a Superintendência Federal de
Agricultura do seu estado para verificar a possibilidade de atendimento”.
Cumpre informar que a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” está de
posse de exemplares dessa cartilha, a qual vem distribuindo aos docentes,
funcionários, bem como ao corpo discente, representado por graduandos e pós-
graduandos dessa instituição.
Para conferir o seu conteúdo acesse o seguinte portal disponibilizado na
internet
123
.
2.4.4.2.5 Fontes de informação de empresas fabricantes de agrotóxicos
A revista A Granja se destacou no uso de fontes de empresas fabricantes de
agrotóxicos fornecendo informações provenientes de oito fontes, conforme pode ser
observado na Tabela 25.
Citando um caso exemplar publicado em A Granja
124
, a matéria jornalística
“Bayer CropScience lança PINBa para o segmento HORTIFRUTI” promete revolucionar
123
Disponível em: http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf. Acesso em: 06 fev. 2010.
229
os mercados de frutas e hortaliças. O PINBa - Prevenção Integrada Bayer é um
conceito inovador desenvolvido pela empresa para o controle preventivo de doenças e
pragas nas lavouras. O programa atenderá 14 culturas do segmento de hortifruti.
Quando doenças e pragas são constatadas nas lavouras, o produtor
pode ter certeza que terá algum tipo de prejuízo. A melhor forma de evitar as
perdas causadas por infestações é se antecipar a elas. É isso que o PINBa faz:
oferece todo o apoio necessário para que o agricultor não deixe sua lavoura ser
comprometida e, conseqüentemente, produza frutas e hortaliças no padrão de
qualidade exigido pelo mercado (RADICIONE, 2006, p. 64)
Analisando-se todas as matérias que apresentaram fontes de informações das
empresas fabricantes de agrotóxicos publicadas pela revista A Granja, observou-se
uma política altamente favorável ao consumo de agrotóxicos segundo os relatores dos
respectivos assuntos.
Para o Presidente da Arysta LifeScience, Flávio Prezzi, em entrevista concedida
à revista “A Granja”
125
“O agronegócio precisa de agilidade”,
O Brasil necessita ser ágil na concessão de registros de produtos e na
obtenção de tecnologias; no desenvolvimento de infra-estrutura de estradas,
transporte e portos; na definição de políticas agrícolas e, principalmente, na
implementação de soluções definitivas que ajudarão os produtores brasileiros,
como por exemplo, o Fundo de Recebíveis do Agronegócio (FRA), que vem se
arrastando por anos. A ampliação e agilidade no diálogo com as autoridades e
com as diferentes representações da cadeia produtiva e exportadora agrícola
são o único caminho (MITTMANN, 2008, p. 66).
Contrariando todas as previsões, segundo Flávio Prezzi, o mercado agrícola, no
Brasil, entrou em um novo ciclo de crescimento, parte do qual foi gerado pelos novos
investimentos em soja e cana-de-açúcar para a produção de etanol, provocado pelo
efeito dominó criado pelo projeto americano. O crescimento da área de cana espremeu
alguns outros cultivos, principalmente no Estado de S. Paulo. Estes e outros fatores
elevaram os preços de quase todas as commodities.
Percebe-se no discurso do presidente da Arysta que entre os muitos interesses
das empresas, um deles é elevar os preços das commodities, visando suprir a perda
124
Revista A Granja, ano 62, n. 689, maio, 2006, p. 64.
125
Revista A Granja, ano 64, n. 710, fev. 2008, p. 66.
230
dos lucros quando sobrevier a queda dos agrotóxicos, razão pela qual essas
corporações reagem pressionando o governo do nosso país.
Com relação às empresas, Pinheiro (2010) escreve:
A maior preocupação do lobby das empresas, representadas pela
GIFAP em nível internacional, é impedir que sua derrota seja rápida com
maiores impactos sobre o comércio de seus agrotóxicos. Suas projeções são
feitas em cada estado nacional extraindo as resultantes sociais para aplicá-las
nas gestões de diferentes circunstâncias e no interesse das empresas
(PINHEIRO, 2010).
O relato do presidente da Arysta evidencia o tipo de pressão das empresas
fabricantes de agrotóxicos sobre o governo brasileiro, visando estimular as políticas dos
agronegócios, a mesma dos agrotóxicos. A soja e a cana-de-açúcar são monoculturas
de exportação, altamente dependentes dos agribusiness.
As empresas multinacionais vão tomando conta do país, seus funcionários
passam a ocupar cargos governamentais, determinam normas e leis e arecebem
auxílios para o registro de seus produtos. Desse modo, essas indústrias se
desenvolvem no Brasil à medida que seus produtos são aceitos e consumidos pela
população.
Pinheiro (2010) explica que
Nos últimos setenta anos, a principal indústria foi a química derivada do
petróleo, onde o desenvolvimento farmacêutico, bélico e agropecuário são uma
mesma coisa. Por isso, o dogma econômico se consolidou com subsídios de
dinheiro público das nações pobres para indústrias multinacionais, de forma
direta ou por meio de créditos com quotas pagas com quantidades de
agrotóxicos recebidos (PINHEIRO, 2010).
Na revista Balde Branco
126
, as fontes de empresas fabricantes de agrotóxicos de
uso veterinário como a Pfizer se manifestaram por exemplo, através da matéria “Apoio
à pesquisa universitária”. A temática era integrar empresa e universidade e para tanto, a
Divisão de Saúde Animal da Pfizer vem mantendo um programa de bolsas dirigido a
estudantes de medicina veterinária das principais universidades do País. “O programa
permite que estudantes de graduação com aptidão para pesquisa trabalhem com
126
Revista Balde Branco, ano 40, n. 490, ago. 2005, p. 20.
231
professores universitários em projetos de aplicação imediata” (RENTERO, 2005, p. 20),
relata o professor Roberto Guedes, da Escola de Medicina Veterinária da Universidade
Federal de Minas Gerais. Para isso, cada universitário recebe uma bolsa de R$260,00
por mês, de março a dezembro.
Bolsas de pesquisa provenientes de empresas de agrotóxicos são bastante
comuns e frequentes em faculdades de agronomia do país. Em algumas escolas
grupos denominados “Núcleos de experimentação agrícola”, em que os alunos passam
por uma triagem para posterior seleção. Provavelmente são os mais aptos a
desenvolver atividades nas empresas para testes de doses e frequências de aplicação
de agrotóxico, os conhecidos experimentos de “Eficiência e praticabilidade agronômica”
de um determinado produto químico, a ser avaliado pelo MAPA, para fins de registro.
Ao concluírem o curso de graduação já estão preparados para exercer suas funções de
“experimentadores de agrotóxicos” em alguma instituição ou órgão de pesquisa ou
universidade, ou para ocupar um cargo em pesquisa e desenvolvimento de uma
corporação multinacional. Mais tarde, serão indicados para uma bolsa de nível de
mestrado ou doutorado, até mesmo no exterior, conforme relata Pinheiro (2010).
Nas últimas quatro décadas a maioria das bolsas de estudo outorgadas
pelos governos nos cursos de ciências rurais incluindo pós-graduação
(mestrado e doutorado) foi no interesse das empresas comerciantes de
agrotóxicos. Isto criou a elite dogmática de conhecimento científico obtuso nas
universidades, Embrapa e Órgãos Públicos que serve de “cães de guarda” às
empresas e seus negócios. Tivemos até um plano M. E. T. A. S. (Monsanto,
Embrapa, Trevo, Agroceres e Semeato) que cativava professores e alunos nas
universidades com dinheiro público preparando terreno para a invasão das
sementes transgênicas, plantio direto e cadeia fechada de agronegócios
(PINHEIRO, 2010).
O relato referente à matéria jornalística supramencionada explica a razão pela
qual os profissionais especializados na área agropecuária respondem as cartas dos
leitores estimulando o uso dos agrotóxicos.
Na Agrofolha
127
, empresas fabricantes de agrotóxicos divulgam seus produtos
na matéria “Crise alimentar turbina transgênicos”, que aborda uma nova geração de
safras GM, a qual se concentrará em fatores abióticos, tais como seca e inundações,
calor e frio, salinidade e acidez. A empresa Bayer Crop Science planeja lançar
127
Agrofolha do jornal Folha de São Paulo, ano 88, n. 28.958, 15 jul. 2008, p. B10.
232
variedades de milho resistentes a enchentes entre 2012 e 2015. A Syngenta objetiva
produzir uma variedade de milho superior ao comum nos anos de seca mas, de acordo
com Chris Zinselmeyer, diretor de pesquisa, “sem prejudicar o rendimento nos anos em
que a água for abundante” (CRISE, 2008, p. B10). Enquanto isso, a Monsanto trabalha
para adicionar genes que aumentem a eficiência do nitrogênio na planta. Nenhuma
dessas empresas se pronunciou sobre os agrotóxicos.
Mas, provavelmente essa nova geração biotecnológica associada a fatores
abióticos requeira o controle químico, do mesmo modo que as plantas convencionais ou
as primeiras transgênicas. No entanto, o governo é favorável à transgenia, protegendo-
a, mesmo sabendo que necessitam de quantidades e doses maiores de agrotóxicos
justamente em plantas tolerantes a eles.
2.4.4.2.6 Fontes de informação de produtores rurais
À exceção das revistas Veja e Caros Amigos, que não consultaram fontes
provenientes de produtores rurais, os demais veículos emitiram suas opiniões através
de 39 informações. O Jornal de Piracicaba
128
, por exemplo, na matéria “Produtores se
organizam para ganhar espaço”, apresentou seis fontes informativas aludindo à
estratégia utilizada por pequenos produtores rurais para definirem e implantarem ações
com o propósito de divulgar a agricultura orgânica.
2.4.5 Recursos comunicativos utilizados pela mídia impressa
Os resultados das avaliações referentes aos recursos visuais utilizados no
corpus desta pesquisa são apresentados na Tabela 26, na qual a presença de fotos,
ilustrações, infográficos, mapas e figuras. Esses recursos exemplificam, analisam,
ilustram, fornecem novos dados, sintetizam informações; enfim, tentam tornar o texto
mais atrativo para os leitores.
128
Jornal de Piracicaba, 9 jan. 2008, p. B-3
Tabela 26 - Recursos comunicativos relativos aos agrotóxicos utilizados pelos veículos impressos amostrados
Recursos comunica
tivos/ veículos de
comunicação
Supl.
Agrícola
a
Veja
b
Jornal de
Piracicaba
Agrofolha
d
Globo
Rural
A Granja
f
Balde
Branco
g
Caros
Amigos
h
Total (%)
Valores totais e percentuais
foto
87 (15,79%)
20 (3,63%)
3 (0,54%)
13 (2,36%)
261
(47,37)%)
109 (19,78%)
58 (10,53%)
0 (0,00%)
551 (100,00%)
ilustração
44 (38,94%)
11 (9,73%)
0 (0,00%)
3 (2,65%)
26
(23,01%)
7 (6,19%)
22 (19,47%)
0 (0,00%)
113 (100,00%)
infográfico
0 (0,00%)
1 (8,33%)
0 (0,00%)
3 (25,00%)
5 (41,67%)
1(8,33%)
2 (16,67%)
0 (0,00%)
12 (100,00%)
mapa
2 (20,00%)
2 (20,00%)
0 0,00%)
1 (10,00%)
5 (50,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (100,00%)
figura
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
0 (0,00%)
2 (50,00%)
2
(50,00%)
0
(0,00%)
4(100,00%)
Total (%)
133 (19,28%)
34 (4,93%)
3 (0,43%)
20 (2,90%)
297
(43,04%)
119 (17,25%)
84 (12,17%)
0 (0,00%)
690 (100,00%)
Valores médios e percentuais
Foto
1,53 (7,60%)
0,23 (1,14%)
0,11 (0,55%)
0,23 (1,14%)
10,44
(51,84%)
5,45
(27,06%)
2,15
10,67%)
0,00(0,00%)
20,14
(100,00%)
ilustração
0,77
(24,44%)
0,13 (4,13%)
0,00 (0,00%)
0,05 (1,59%)
1,04
(33,02%)
0,35
(11,12%)
0,81
(25,71%)
0,00 (0,00%)
3,15 (100,00%)
infográfico
0,00
(0,00%)
0,01 (2,63%)
0,00 (0,00%)
0,05 (13,16%)
0,20
(52,63%)
0,05
(13,16%)
0,07
(18,42%)
0,00 (0,00%)
0,38 (100,00%)
mapa
0,03
(11,11%)
0,02 (7,41%)
0,00 (0,00%)
0,02 (7,41%)
0,20
(74,07%)
0,00 (0,00%)
0,00
(0,00%)
0,00 (0,00%
0,27 (100,0%)
figura
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00 (0,00%)
0,00
(0,00%)
0,10
(58,82%)
0,07
(41,18%)
0,00 (0,00%)
0,17 (100,00%)
Total
2,33
(9,66%)
0,39
(1,62%)
0,11
(0,46%)
0,35
(1,45%)
11,88
(49,27)
5,95
(24,68%
3,10
(12,86)
0,00
(0,00%)
24,11
(100,00%)
a
Período analisado do “Suplemento Agrícola”: 13meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de 2008.
b
Período analisado da revista “Veja”: 19 meses - 86 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de 2007 e de janeiro a julho de 2008.
c
Período analisado do “Jornal de Piracicaba”: 01mês - 26 edições - durante o mês de janeiro de 2007,
d
Período analisado da “Agrofolha”: 13 meses - 57 edições - compreendido entre julho de 2007 a julho de 2008.
e
Período analisado na revista “Globo Rural”: 25 meses - 25 edições - compreendido entre fevereiro de 2006 a julho de 2008
f
Período analisado da revista “A Granja”: 20 meses - 20 edições - compreendido entre fevereiro de 2005 a fevereiro de 2008.
g
Período analisado da revista “Balde Branco”: 27 meses - 27 edições - compreendido entre julho de 2005 a julho de 2008.
h
Período analisado da revista “Caros Amigos”: 12 meses - 12 edições - compreendido entre janeiro a dezembro de 2007.
233
234
2.4.5.1 Fotos
A Globo Rural apresentou 261 fotos e A Granja 109, enquanto Balde
Branco, Veja, o “Suplemento Agrícola e a Agrofolha, bem como o Jornal de
Piracicaba utilizaram 58; 20; 87; 13 e 3 fotos, respectivamente, em todas as edições
dos exemplares amostrados. Tais valores corresponderam às médias de 10,44; 5,45;
2,15; 0,23; 1,53; 0,23 e 0,11, respectivamente. Obteve-se o número total de 551 fotos.
A revista “Globo Rural”
129
é a que faz uso mais frequente de recursos visuais em
suas matérias. A Figura 9, por exemplo, se refere à matéria jornalística sobre os
agrotóxicos relacionada ao gênero Informe Publicitário SEBRAE.
Figura 9 - Agricultura ecológica atrai mercado
Matéria publicada na revista Globo Rural, março de 2008
Foto: Pedro Jorge/Esplar
Com o título “Distribuir renda é inovar”, a matéria jornalística mostra foto de um
casal de agricultores de um assentamento em Canindê - CE, que participa da primeira
etapa da rede solidária de confecções distribuída em cinco estados. O assunto enfoca
129
Revista Globo Rural, ano 23, n. 269, mar. 2008, p. 84-85.
235
as Cooperativas da marca de roupas Justa Trama, que conquistam mercado com a
produção ecológica de algodão e o pagamento justo aos trabalhadores. Fotos
despertam interesse pelo assunto, são auto-explicativas, auxiliam o leitor na
compreensão dos textos jornalísticos e são muito utilizadas pelos meios de
comunicação impressos com várias finalidades. Entre estas, a de transmitir uma
imagem de neutralidade da matéria, a de induzir a compra tanto da revista como do
produto anunciado e consequentemente elevar os lucros. Esses subsídios confirmam a
utilização de imagens fotográficas visando enfatizar uma notícia, conforme os cinco
elementos apresentados por Entman, nos relatos de Colling (2001) e Gutman (2006).
McLuhan (2007) afirma que “o que caracteriza de maneira peculiar a fotografia é
o lado de ela apresentar momentos isolados no tempo” (MCLUHAN, 2007, p. 214).
A revista A Granja
130
também salientou esse recurso comunicativo e como
exemplo, exibe a Figura 10, alusiva à matéria jornalística “Inseticida - Acaricida para o
controle da mosca-branca”. A foto mostra quatro moscas-brancas, em tamanho
aumentado, dispostas sobre um tecido verde, provavelmente de uma folha da qual se
nutrem. A possibilidade de sua morte através da alta eficiência do controle químico com
o produto Oberon é sugerida pela Bayer CropScience, conforme o relato do seu modo
de ação. Esse texto ocupou 25,0% de uma página, cuja análise permitiu a verificação
do incentivo ao consumo de agrotóxicos.
Silva e Oliveira (2008) se referem à realização de análises de discursos a partir
de elementos simbólicos presentes nas fotografias (SILVA; OLIVEIRA, 2008, p. 398).
Para McLuhan (2007), “com a fotografia, os homens descobriram como fazer
reportagem visual sem sintaxe” (MCLUHAN, 2007, p. 216).
130
Revista A Granja, ano 62, n. 690, jul. 2006, p. 60.
236
Figura 10 - Agrotóxico desenvolvido pela Bayer CropScience
Matéria publicada na revista A Granja, junho de 2006, p. 60
Foto: A Granja
Embora A Granja se assemelhe muito à Globo Rural e também faça uso
amplo dos recursos visuais no sentido de despertar a atenção dos leitores não tem o
destaque desta última. Por exemplo, na seção “Aqui está a solução”, faz alusão às
cartas dos leitores solicitando informações de pesquisadores e docentes de instituições
de pesquisa e de universidades convidados pela revista como consultores. Neste caso,
além do menor número de cartas e de fotos, nem todas são ilustradas como a seção
que corresponde a essa na revista Globo Rural, designada “Globo Rural responde”.
Outra particularidade da revista “A Granja” denomina -se “Novidades no mercado”, que
apresenta novas tecnologias como roçadeiras, pulverizadores, máquinas colhedoras,
entre outras. A seção “Ponto de vista” geralmente apresenta entrevistas de pessoas
que se destacam no mundo empresarial como a do Presidente da Agripec em
“Moléculas promissoras”, referindo-se às novas moléculas de fungicidas e inseticidas.
Outra abordagem refere-se a notas, que como nos demais veículos que as publicam
informam sobre os eventos, anunciam publicidades, entre os quais os agrotóxicos e
eventualmente podem ser utilizadas para preencher espaços da revista (MASSIERER,
2008, p. 110). A seção “Primeira mão” anuncia o que acontece no mundo da economia
relacionada à agricultura. As reportagens de capa, assim como as matérias
jornalísticas, ressaltam importantes mensagens desse veículo impresso que 65 anos
se mantém no mercado de mídia especializada na área agropecuária. Embora o seu
237
conteúdo seja tanto quanto ou mais informativo do que o da Globo Rural, não o são
suas ilustrações e nem a sua tiragem, a qual edita mensalmente 60.000 mil exemplares
em relação às 110.000 da Globo Rural. Talvez por conta da inserção desta última
numa organização que ocupa o primeiro lugar no ranking do poder midiático do país,
cujos negócios têm um faturamento avaliado em R$ 6,8 bilhões - receita bruta da
Globopar, holding do grupo em 2006 (BIONDI; CHARÃO, 2008, p. 12), seus incentivos
financeiros mais abundantes colaboram para o incremento dos recursos visuais de
forma a se destacar.
Exemplificando o recurso fotos da mídia impressa no “Suplemento Agrícola
131
, a
matéria “Controle da Sigatoka aumenta a produção” mostra uma foto que está presente
na Figura 11.
Figura 11 - Folhas secas - Mal de Sigatoka
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 15 de agosto de 2007, p. 10
Foto: Sérgio Castro
131
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.701, 15 ago. 2007, p. 10.
238
Bananicultores do Vale do Ribeira que detêm 80,0% da produção paulista, estão
controlando a Sigatoka Negra com técnicas de manejo e boas práticas culturais. Tais
técnicas reduziram o mero de aplicações de fungicidas e muitos agricultores tiveram
aumento de produtividade. Segundo o agrônomo da Defesa Agropecuária da Secretaria
de Agricultura, Gilmar Gilberto Alves, “o tratamento químico representa até 50,0% do
custo, [e] a economia é imensa” (TOMAZELA, 2007, p, 10). O técnico lembra “a
necessidade de alternar o princípio ativo utilizado para evitar que o fungo crie
resistência” (TOMAZELLA, 2007, p.10). Observa-se nessa mensagem uma
preocupação em diminuir os gastos com os agrotóxicos, não por causarem danos à
saúde humana e ao ambiente mas devido às despesas extras que o mercado da
banana teria dificuldade em retornar.
Na revista Balde Branco
132
o exemplo de fotografia está relacionado à matéria
”Resíduos e antibióticos: como evitar”, Figura 12, que comenta sobre a
impraticabilidade de limite zero de resíduos de antibióticos no leite, com a ressalva
sobre aqueles produtos químicos que não são permitidos, como por exemplo o
cloranfenicol.
Figura 12 - Amostras de leite em tubos de ensaio
Matéria publicada na revista Balde Branco, agosto de 2005. Edição Especial,
p. 32-34 Foto: arquivo Balde Branco
132
Revista Balde Branco, ano 40, n. 489A. Edição Especial, ago. 2005, p. 32-34.
239
Para o leite o LMR de antibióticos é igual a 1/10 do LMR da carne, pois se
considera que o leite é um alimento fundamental para crianças e idosos, que são mais
sensíveis aos efeitos negativos dos resíduos. Cabe questionar se a população está
ingerindo resíduos no leite acima dos limites permitidos. Desconhece-se se a Instrução
Normativa n
0
51
133
, que propõe o teste do leite para todos os produtores, uma vez ao
mês, para detecção de resíduos de antibióticos, está sendo fielmente cumprida.
2.4.5.2 Ilustrações
Outro recurso comunicativo utilizado pelos jornais e revistas impressos o as
ilustrações representadas por desenhos ou imagens de qualquer natureza que
ornamentam ou elucidam as matérias selecionadas sobre os agrotóxicos. A Tabela 26
mostra os seguintes valores totais: o “Suplemento Agrícola usou 44 ilustrações em
várias matérias, enquanto as revistas Globo Rural, Balde Branco, “Veja”, “A Granja”
e a “Agrofolha” apresentaram 26; 22; 11; sete e três, representando as seguintes
médias: 0,77; 1,04; 0,81; 0,13; 0,35 e 0,05 ilustrações, respectivamente. No total foram
113 matérias ilustradas nos veículos analisados. O “Suplemento Agrícola exibiu o
maior número de ilustrações e ressaltou várias mensagens sugestivas. Por exemplo, na
matéria jornalística “Uso de defensivo segue várias normas”, publicada no Suplemento
Agrícola
134
, observa-se a ilustração de uma pessoa usando o EPI, exigência obrigatória
dentro da Norma Regulamentadora NR 31, conforme a Figura 13.
133
Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade, Qualidade, Coleta e Transporte de leite. Disponível
em: http://www.baldebranco.com.br/estatistica.htm. Acesso em: 20 jan. 2010.
134
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.712, 31 out. 2007, p. 12.
240
Figura 13 - Ilustração da Norma Regulamentadora NR 31
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 31 de outubro de 2007, p. 12
Ilustração Marcos Müller
A NR 31.8 dedica 19 subitens abordando a utilização e manipulação de
agrotóxicos, entre os quais a proibição do uso de produtos que não estejam registrados
e autorizados pela ANVISA, bem como a definição do perfil dos trabalhadores
241
autorizados a exercer essa atividade. A NR 31 está em vigor desde 04 de março de
2005, porém, observa-se o descumprimento de suas normas, as quais foram
salientadas em duas matérias do caderno Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo,
publicadas durante o período de cobertura desta pesquisa.
A partir do momento que o Estado institui uma Norma Regulamentadora deve
observá-la periodicamente, tendo em mente não somente as questões de saúde pública
mas também os aspectos democráticos da nossa sociedade, em que o indivíduo deve
exigir condições adequadas de saúde e bem-estar em seu ambiente de trabalho.
Porém, os trabalhadores rurais o recebem tais orientações. Chomsky (2003) afirma
que numa democracia liberal os meios de comunicação se restringem a uma pequena
comunidade e que manter o público desinformado é interessante também aos
proprietários rurais que necessitam lucrar, sendo uma das formas a exploração de seus
empregados. O alerta de Chomsky (2003) vem ao encontro do relato de Falk et al.,
(1995) ao se referirem à exploração dos agricultores na cultura do fumo em Venâncio
Aires, RS.
Conclui-se, portanto, que as ilustrações são táticas de comunicação usadas pela
mídia impressa para ressaltar uma mensagem importante no sentido de auxiliar no seu
entendimento, além de realçar a página com cores suaves, agradando o leitor.
2.4.5.3 Infográficos
Os infográficos também são utilizados pelos veículos impressos como recursos
comunicativos. Eles são gráficos informativos, geralmente em formato de coluna ou de
torta, com dados numéricos que auxiliam na exploração das mensagens. Na Tabela 26
observa-se que a revista “Globo Rural” apresenta cinco infográficos dos 12 publicados,
representando 0,20 por edição, a maior quantidade dentre os veículos analisados.
Como exemplo, a matéria “A era do milho”
135
exibiu o infográfico “Lavoura robusta” que
versa sobre a Evolução da safra de verão do milho. Ao lado do gráfico, no canto
superior direito um mapa contendo as regiões do Brasil representando a colheita
dessa cultura, no período 2007/2008. A Figura 14 mostra ambos os recursos, que se
referem à transgenia, uma tecnologia que, segundo a revista proporciona um melhor
desenvolvimento à cultura.
135
Revista Globo Rural, ano 23, n. 270, abr. 2008, p. 67.
242
Figura 14 - A era do milho mais rentável
Matéria publicada na revista Globo Rural, abril de 2008, p. 67
Texto: Luciana Franco
2.4.5.4 Mapas
Mapas são as representações dos locais que se quer visualizar. Conforme se
observa na Tabela 26, os veículos analisados nesta pesquisa apresentaram 10 mapas.
A “Globo Rural” publicou o maior número, seguida do “Suplemento Agrícola”, da revista
“Veja” e da “Agrofolha”, representando os seguintes valores totais: 5; 2; 2 e 1 mapas,
respectivamente.
243
2.4.5.5 Figuras
Outro recurso utilizado pelos veículos de comunicação impressos são as Figuras.
Elas são imagens por meio de desenhos ou gravuras. As revistas “A Granja” e “Balde
Branco” publicaram cada uma duas figuras.
A revista Balde Branco
136
mostra a Figura 15 referente à matéria
“Somatotropina é aumento da eficiência produtiva”.
Figura 15- Hormônio transgênico - BSTr
Matéria publicada na revista Balde Branco, dezembro de 2007, p. 67
Também conhecida por BSTr, a somatotropina é uma biotecnologia que tem por
finalidade promover o aumento da produção de leite. A matéria jornalística descreve
que a ingestão da BSTr oferece segurança à saúde pública e ao bem-estar animal. De
acordo com a médica veterinária da Universidade de Minas Gerais - UFMG, Betânia
Glória Campos, inúmeros trabalhos de pesquisadores comprovaram que o leite e
também a carne, provenientes de animais tratados com BSTr, são seguros para o
consumo humano. Esses dados de segurança foram amplamente contestados pela
literatura internacional. Por este motivo, Canadá e União Européia proibiram o uso
deste hormônio em seus territórios.
136
Revista Balde Branco, ano 43, n. 518, dez. 2007, p. 67.
244
Segundo Robin (2008)
[...] nos fins dos anos 1970, pesquisadores financiados pela Monsanto
conseguiram isolar o gene que produz o hormônio. Por meio de manipulação,
introduziram esse gene em uma bactéria Escherichia coli (ou “colibacilo”,
bactéria comum que povoa a flora intestinal dos mamíferos, incluída a do
homem), permitindo assim sua fabricação em grande escala. Esse hormônio
transgênico foi batizado pela Monsanto como Somatotropina Bovina
recombinante (rBST), ou Hormônio do Crescimento Bovino recombinante
(rBGH). Desde o começo dos anos 1980, a empresa organiza testes em
pequenas fazendas experimentais de sua propriedade ou em colaboração com
universidades como as de Vermont ou de Cornell (ROBIN, 2008, p, 109).
Essa autora, citando Richard Burrouhs, relata que as vacas que são tratadas
com esse hormônio desenvolvem a mastite, uma doença que causa inflamações das
mamas. Essa enfermidade demanda a utilização de antibióticos pelo animal, tornando-
se um problema para o consumidor devido aos seus resíduos que permanecem no leite.
[...] o hormônio transgênico subverte o ciclo natural da vaca [...] O rBGH
permite manter artificialmente a fabricação do leite além do ciclo natural. Por
isso o hormônio pode representar problemas de reprodução para a vaca e,
portanto, provocar um prejuízo financeiro para o criador (ROBIN, 2008, p. 109).
Verificou-se o total de 690 recursos comunicativos no corpus deste estudo, o que
demonstrou a sua utilização pela imprensa para atrair os leitores à temática sobre os
agrotóxicos.
2.4.6 Análises de discurso
Da subdivisão da categoria temática matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
estabeleceram-se outras quatro, as quais são descritas a seguir, e foram
exemplificadas e analisadas discursivamente quanto ao seu conteúdo objetivando-se
melhor compreensão.
245
2.4.6.1 Matérias jornalísticas favoráveis aos agrotóxicos
Considera-se favoráveis as matérias que apresentaram mensagens de estímulo
ao uso de agrotóxicos. Um caso exemplar é a matéria “Contra-ataque ao INIMIGO
número 1”, publicada pela revista A Granja
137
, a qual ocupou três páginas. A Figura 16
mostra na primeira página um pesquisador observando uma planta de soja.
A reportagem relata que a doença denominada ferrugem asiática é a mais
temível na cultura da soja e afirma que o controle químico é o mais eficiente e
econômico, desde que as aplicações com fungicidas sejam realizadas a partir do
momento da constatação da ferrugem na lavoura, ou seja, na sua fase inicial. Segundo
o texto, o inimigo é poderoso e deve ser combatido de igual para igual, significando que
devem ser utilizados produtos químicos potentes no contra-ataque.
137
Revista A Granja, ano 61, n. 674, fev. 2005, p. 6-8.
246
Figura 16 - Ferrugem asiática na soja
Matéria publicada na revista A Granja, fevereiro de 2005, p. 6 - 8
Foto: Marian Trigueiros - Embrapa Soja
Outra publicação nessa categoria é a matéria “Uva da pinta seca”, oriunda da
seção Globo Rural Responde, da revista Globo Rural
138
mostrada na Figura 17. Em
sua resposta, o especialista estimula a utilização de agrotóxicos em um parreiral e
recomenda que na época da brotação a doença denominada antracnose pode ser
controlada com os fungicidas dithianon 1,25 grama e tiofanato metílico 0,7 a 1,0 grama
por litro. A revista destinou-lhe 35,0% do espaço de uma página.
138
Revista Globo Rural, ano 22, n. 256, fev. 2007, p. 28.
247
Figura 17- Incentivo do controle da doença com fungicidas
Matéria publicada na revista Globo Rural, fevereiro de 2007, p. 28
No “Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo
139
, a matéria
”Defensivos legais para „minor crops‟”, Figura 18, ocupou o espaço de uma página com
mensagens favoráveis aos agrotóxicos. A reportagem relata a intenção do MAPA em
custear parte do registro desses compostos para as culturas denominadas menores,
139
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.741, 21 maio, 2008, p. 13.
248
por não despertar o interesse das empresas fabricantes devido os altos custos dos
testes de avaliação. A falta de produtos químicos registrados afeta as cadeias de
negócios de frutas, hortaliças, legumes, flores e plantas ornamentais, além de
forrageiras, podendo impedir as exportações.
Figura 18 - Defensivos legais para minor crops
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 21 de maio de 2008, p. 13
Foto: Vivi Zanatta
Outra matéria que incentivou o consumo de tais produtos foi publicada na revista
Balde Branco
140
com o título “Milho: as armas contra a Lagarta-do-cartucho”, Figura
19, que discorre sobre as várias opções de controle da praga e a variedade de produtos
químicos disponíveis. Os especialistas também revelam a resistência prometida pelo
milho transgênico. Entre os agrotóxicos recomenda-se o inseticida cloropirifós, um
organofosforado que deve ser usado no sulco de plantio quando se comprova a
presença de lagartas maiores do que 1,5 cm. Essa aplicação deve ser feita com bicos
140
Revista Balde Branco, ano 43, n. 524, jun. 2008, p. 66-68.
249
de pulverização específicos, antes de a semente ser coberta com terra. Uma alternativa
é o tratamento de sementes através da utilização de inseticidas e fungicidas visando
proteger as plantas nessa fase inicial, quando predominam as lagartas menores. Essa
matéria jornalística ocupou 2,64 páginas.
Figura 19 - Agrotóxicos são usados como armas no controle da lagarta
Matéria publicada na revista Balde Branco, junho de 2008, p. 66
Foto: Rehagro - Recursos Humanos para o Agronegócio
Grisolia (2005) relata que o cloropirifós
[...] apresenta um potencial para mutagenicidade
141
que deve ser
considerado com bastante relevância quanto à periculosidade relativa à
exposição humana. No meio ambiente, essa classe de produtos, apesar de
bastante tóxico às mais diferentes espécies de organismos, poderá não exercer
tais efeitos, pois sua persistência é relativamente curta e seus produtos de
degradação são menos tóxicos. Portanto, o alvo principal de periculosidade em
nível de mutagenicidade seria a população humana, especialmente grupos de
141
Mutagenicidade refere-se à modificação no gene do indivíduo. Denomina-se mutação genotípica.
142
Carcinogenicidade relaciona-se a carcinoma, significativo de tumor maligno constituído de células
epiteliais. É relativo a câncer.
143
Teratogenicidade diz respeito às malformações embrionárias ou fetais que ocorrem durante o
desenvolvimento gestacional. Essas malformações podem ser adquiridas devido à agentes externos,
físicos ou químicos e são transmitidas às próximas gerações uma vez que permanecem no DNA do
indivíduo.
250
risco como os aplicadores. Com relação aos aspectos de carcinogenicidade
142
e
teratogenicidade
143
, considera-se que não existem dados suficientes para que
se possa fazer uma avaliação mais consistente (GRISOLIA 2005, p. 204).
Apesar do alerta de Grisolia, nas matérias apresentadas observaram-se
recomendações condizentes com as proposições de incentivo ao consumo dos
agrotóxicos.
2.4.6.2 Matérias jornalísticas desfavoráveis aos agrotóxicos
Selecionou-se as mensagens que enfatizaram os efeitos prejudiciais à saúde
humana e ao ambiente. A Agrofolha publicou duas matérias relacionadas à blitz do
MPT. Em uma delas, a reportagem Produtores de tomate são autuados em SP
144
ocupou 69,0% do espaço de uma página, na qual se relata que os produtores
assinaram TACs e se comprometeram a regularizar a situação de todos os
trabalhadores. Os fiscais encontraram adolescentes aplicando agrotóxicos na
plantação, que é proibido por lei e verificaram que pelo menos seis trabalhadores foram
internados por intoxicação nos últimos meses. Eles também constataram que os
produtores não fornecem equipamentos de segurança adequados para as aplicações
de agrotóxicos - máscara com filtro, luvas, chapéu e macacão impermeável, como pode
ser observado na Figura 20.
144
Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, ano 88, n. 28.839, 18 mar. 2008, p. B10.
251
Figura 20 - Trabalhador pulverizando agrotóxicos sem o uso de EPI
Matéria publicada na Agrofolha, 18 de março de 2008, p. B10
Foto: Raimundo Pacco/Folha Imagem
A fiscalização identificou ainda que os trabalhadores misturam agrotóxicos,
reutilizam e descartam as embalagens de maneira incorreta e até lavam roupas
contaminadas em córregos e riachos da região.
A outra matéria da “Agrofolha”
145
refere-se à notícia intitulada Blitz do Trabalho
apura infrações em cultivos de feijão e limão em SP”, que é mostrada na Figura 21. A
publicação refere-se às fiscalizações do MPT e aos TACs aplicados aos produtores
145
Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, ano 88, n. 28.951, 8 jul. 2008, p. B8.
252
irregulares. Em blitz efetuada anteriormente, auditores e fiscais do Trabalho, além de
policiais ambientais, encontraram 19 menores trabalhando em lavouras de feijão na
região de Sorocaba - um deles com apenas 11 anos. Os proprietários rurais se
comprometeram a não empregar menores, a registrar os trabalhadores e a fornecer
EPIs para as aplicações de agrotóxicos nas lavouras. A Agrofolha destinou 17,0% do
espaço de uma página a essa matéria jornalística.
Figura 21 - Trabalhador de Pilar do Sul mostra as mãos sem luvas
Matéria publicada na Agrofolha, 8 de julho de 2008, p. B8
Foto: Folha de S. Paulo
As mensagens contidas nos textos jornalísticos ressaltam o uso do EPI como
solução para os problemas dos aplicadores de agrotóxicos no campo, pois,
aparentemente, poderia evitar as intoxicações se esse fosse o único entrave. No
entanto, são diversas as causas dos acidentes que podem ocorrer desde a preparação
do produto - considerada uma das fases mais perigosas quando geralmente não se usa
o EPI - até após as aplicações. Por exemplo, alguns erroneamente acreditam ser mais
importante usar apenas a máscara e desprezam a informação de que a penetração da
substância tóxica pela pele é a mais problemática. Outro fator que favorece
sobremaneira o aumento dos índices de intoxicação é a permanência de qualquer
253
pessoa em áreas a serem tratadas durante as pulverizações reas. A matéria
jornalística “Uso de defensivo segue várias normas”, publicada no “Suplemento
Agrícola”
146
, alerta sobre essa recomendação. A Confederação Nacional da Agricultura
e Pecuária - CNA - indica para estes casos o uso de métodos mais seguros como a
utilização de GPS. Acrescendo a todas essas considerações, ressalta-se o desconforto
e a inadequação do uso de EPI em climas quentes, tornando-os demasiadamente
desagradáveis.
2.4.6.3 Matérias jornalísticas factuais
Denominou-se matérias factuais as mensagens que se limitaram a relatar fatos
ocorridos, sem se preocupar em defender ou atacar o uso de agrotóxicos. Duas
publicações foram salientadas no “Suplemento Agrícola”. O texto jornalístico Choque
no combate a plantas daninhas”, publicada no “Suplemento Agrícola
147
, descreve um
equipamento munido com descargas elétricas que atinge o sistema radicular e erradica
plantas daninhas da lavoura. O sistema consiste em uma barra metálica que aplica o
choque, substituindo os bicos de aplicação do herbicida. No entanto, devido ao alto
investimento, tal equipamento é indicado para lavouras acima de 300 hectares. Essa
matéria ocupou 38,0% do espaço de uma página que se encontra ilustrada na Figura
22.
146
Suplemento Agrícola do Jornal O Estado de S. Paulo, ano 52, n. 2.712, 31 out. 2007, p. 12.
147
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.727, 13 fev. 2008, p.15.
254
Figura 22 - Choque no combate a plantas daninhas
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 13 de fevereiro de 2008, p. 15
Foto: Suplemento Agrícola
Em outro exemplo, o “Suplemento Agrícola
148
descreve a reportagem “Lavoura
mapeada via satélite”, representada na Figura 23, que apresenta uma das tecnologias
que compõem a agricultura de precisão. Ela vem sendo cada vez mais empregada,
principalmente por proprietários de áreas muito extensas. As propriedades são
rastreadas e os pontos são identificados por GPS, o que permite a correção de falhas
operacionais, doenças, pragas e problemas de fertilidade no solo. A matéria jornalística
ocupou 2,57 páginas do seu espaço, incluindo a reportagem de capa.
148
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.743, 04 jun. 2008, p. 8.
255
Figura 23 - Lavoura mapeada via satélite
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 04 jun.2008, p. 8
Foto: Evilázio Alves
2.4.6.4 Matérias jornalísticas sobre técnicas de produção alternativa
As mensagens sobre as técnicas de produção alternativa são as que dispensam
o uso de agroquímicos, isto é, agrotóxicos e fertilizantes químicos solúveis.
Para que a produção agrícola seja sustentável torna-se necessária a adoção de
práticas conservacionistas e de manejo do solo com a finalidade de recuperar e/ou
manter a sua fertilidade. Nesse contexto, a prática de adubação verde tem sido
preconizada por tratar-se de tecnologia eficiente e de baixo custo, motivo pelo qual
todos os modelos agroecológicos a adotam.
O conhecimento de que muitas espécies de adubo verde possuem potencial
alelopático possibilita a sua utilização, visando reduzir a população de plantas invasoras
bem como controlar doenças radiculares e as provocadas por nematóides. Trabalhos
recentes abordaram as perspectivas de obtenção e utilização de toxinas, fungicidas e
herbicidas naturais isolados de plantas com propriedades alelopáticas, dispensando os
agrotóxicos sintéticos (RODRIGUES; RODRIGUES, 1999, p. 101).
256
Exemplos de matérias jornalísticas relacionadas às mensagens sobre a
agroecologia são dados a seguir.
O “Suplemento Agrícola”
149
publica “Calor elimina pragas do solo”, que descreve
os benefícios da técnica de solarização realizada através da colocação de um filme
plástico transparente sobre a terra, que eleva a temperatura, controlando fitopatógenos
presentes no solo e ervas daninhas, além de recuperar áreas degradadas. A matéria
jornalística que ocupou uma página desta edição relata que essa técnica agroecológica,
diferentemente do brometo de metila (gás altamente tóxico, de uso proibido), não
promove o vácuo biológico no solo, ou seja, a solarização colabora para a permanência
dos microrganismos no local. A técnica é mostrada na Figura 24.
Figura 24 - Cobertura do solo com filmes plásticos. Técnica da solarização do solo
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 9 de janeiro de 2008, p. 4
Fotos: Instituto Biológico de S. Paulo
Grisolia (2005) menciona os efeitos deste agrotóxico - CH
3
Br-Br Me na camada
de ozônio:
149
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.722, 9 jan. 2008, p. 4.
257
O brometo de metila afeta a camada de ozônio com aproximadamente
quarenta vezes mais intensidade que os gases CFC (clorofluorcabonos). A
maior evidência dos efeitos do Br Me sobre a camada de ozônio é a sua maior
abundância no Hemisfério Norte que no Sul, comprovando sua origem
antropogênica por fumigações e exaustão dos veículos a motor. A América do
Norte e a Europa consomem 90% do Br Me produzido. Este está listado no
protocolo de Montreal entre as substâncias que devem ser banidas por
destruírem a camada de ozônio (GRISOLIA, 2005, p. 289-290).
O relato abaixo de Grisolia apontava a necessidade de uma técnica
agroecológica em substituição ao brometo de metila. Entre essas cnicas alternativas
cita-se a solarização do solo.
À medida que se acumularam evidências sobre o risco ambiental do
brometo de metila, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Unep) reuniu um comitê para buscar novas opções técnicas ao uso desse
fumigante na agricultura e em outras atividades correlatas. Ao considerar que o
Brasil é signatário do protocolo de Montreal e que o brometo de metila é
utilizado na agricultura brasileira, principalmente para a desinfecção de solos, é
nossa responsabilidade incentivar a pesquisa para a busca de alternativas
igualmente eficazes, bem como tomar todas as iniciativas cabíveis
tecnicamente para restringir o seu uso (GRISOLIA, 2005, p. 293).
Pinheiro (2010) esclarece que
No Brasil e em outros países da América Latina usou-se o longo
período para começar sua eliminação, para aumentar as compras estatais.
Assim tivemos em estados brasileiros que nunca haviam utilizado o Brometo de
metila, gigantescos depósitos e as estatísticas saltaram, garantindo uma
sobrevida a estes produtos até a entrada em vigor do Protocolo de Montreal
(PINHEIRO, 2010).
Outro caso exemplar refere-se à publicação pelo “Suplemento Agrícola”
150
da
matéria jornalística “Morango: Safra abundante e saudável”, mostrada na Figura 25, que
lhe destinou 2,57 páginas de seu espaço, computando a reportagem de capa. Esse
texto comenta sobre a qualidade dos morangos e compara a produção orgânica com a
tradicional. A cultura do morango é uma das mais suscetíveis a pragas e doenças e no
cultivo convencional o uso de agrotóxicos costuma ser intenso. Além disso, os
morangos orgânicos carregam a fama de serem pouco vistosos e produtivos; no
entanto, a cada ano seus produtores estão acertando o manejo e melhorando a
150
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.705, 12 set. 2007, p. 10.
258
qualidade dos frutos. Prova disso é uma produtividade de 800 gramas a um quilo por
planta, o equivalente ao morango produzido com o uso de agrotóxicos.
O foco do trabalho visando tais melhorias é o preparo do solo. Uma das ações
com os melhores resultados é o uso de uma mistura de microrganismos que enriquece
e desintoxica a terra. A idéia daquele morango feio e pouco produtivo não é mais
realidade, mesmo porque, o mercado não o aceita.
Figura 25 - Produção orgânica de morangos
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 12 de setembro de 2007, p. 10
Foto: Felipe Araújo
259
Figura 26- Pulverização de uma calda natural
Matéria publicada no Suplemento Agrícola, 26 de setembro de 2007, p. 3
Foto: Clayton de Souza
O “Suplemento Agrícola”
151
publicou “Insumos orgânicos: à espera da lei”,
conforme mostra a Figura 26. O relato jornalístico retrata a dificuldade para se obter o
registro de insumos orgânicos no MAPA, tornando inviável a produção de extratos
vegetais, caldas, fertilizantes e condicionadores de solo, organismos vivos e material
propagativo. Esse processo é lento e dispendioso, uma vez que segue os critérios dos
agrotóxicos sintéticos. Os especialistas comentam que os custos o elevados por
conta dos testes toxicológicos que nem sempre são apropriados. O “Suplemento
Agrícola destinou a essa matéria 67,0% de uma página.
Ambrosano (2009)
152
esclarece que os produtos naturais devem ser manipulados
com cautela e em baixas dosagens pois podem ser fitotóxicos, além de apresentar
toxicidade em altas concentrações, razão pela qual sua DL50 é alta. Possuem ação
acumulativa, sendo necessário o uso de EPI, principalmente para proteção dos olhos.
151
Suplemento Agrícola, ano 52, n. 2.707, 26 set. 2007, p. 3.
152
Ambrosano, E. J. , 2009. (Comunicação pessoal).
260
No entanto, conforme relata esse pesquisador, o princípio não é simplesmente
substituir os insumos, ou seja, utilizar agrotóxicos naturais em vez dos sintéticos mas
sim, mudar o desenho da agricultura. Tal alteração compreende converter o modelo de
produção fundada no uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos para uma agricultura
agroecológica, em que a monocultura é retirada para introduzir os policultivos
objetivando-se manter o equilíbrio natural e a sustentabilidade do sistema.
Os agrotóxicos, devido à sua ação biocida, o potencialmente danosos para
todos os organismos vivos, variando a sua toxicidade de acordo com a classe
toxicológica na qual está inserido. Mesmo em baixas dosagens - quanto maior a
capacidade tóxica menor a DL50 -, durante períodos prolongados podem afetar a saúde
humana. Tais efeitos são demonstrados através do surgimento de doenças crônicas,
mal definidas, às vezes extremamente graves, quando não ocasionam a morte do
indivíduo rapidamente quando exposto às concentrações elevadas.
Luna et al. (2009) explicam que a presença de agrotóxicos no ambiente pode
comprometer os organismos de diversas maneiras, entre as quais salienta-se a
expectativa de vida, o crescimento, a fisiologia e reprodução. Pode também interferir na
disponibilidade de alimentos, de habitats, assim como na biodiversidade, incluindo os
inimigos naturais dos agentes causais de doenças e pragas. Ainda, tais organismos
podem desenvolver resistência para alguns tipos de produtos, requerendo doses mais
elevadas para serem eficazes.
Portanto, o uso de agrotóxicos para o controle fitossanitário de pragas, doenças
e plantas invasoras prejudica o ambiente, bem como a saúde dos trabalhadores rurais e
consumidores, além de contribuir para o aumento do custo de produção. São essas as
razões pelas quais se verificam em todo o país uma crescente busca e utilização de
agrotóxicos alternativos.
261
2.4.6.5 Publicidades de agrotóxicos
2.4.6.5.1 Dow AgroSciences - Globo Rural, janeiro de 2007
A Dow AgroSciences anuncia o inseticida Tracer, do Grupo químico
NATURALYTE
153
para o controle de insetos na cultura do algodão com o seguinte
discurso: “Você não percebe uma praga. A natureza não percebe que você
usou”.“Tanta tecnologia pra isso: pra passar desapercebido”.
Essas duas orações sugerem cuidados com a natureza, mas na verdade, estão
poluindo e degradando o ambiente e danificando a saúde da população com um
produto não sistêmico, de origem biológica e do grupo químico das espinosinas
154
. Sua
classificação toxicológica é III - medianamente tóxico e seu potencial de periculosidade
ambiental é III - Perigoso ao meio ambiente.
Referindo-se às duas primeiras frases desse texto: “Você não percebe uma
praga. A natureza não percebe que você usou”, a publicidade alude ao princípio ativo
Spinosad
155
, constituído pela Spinosina A + Spinosina D, compostos metabólitos
resultantes do processo de fermentação aeróbica de um actinomiceto, uma bactéria
filamentosa denominada Saccharopolysora spinosa, de ocorrência natural no solo.
Informações apoiadas em uma publicidade do inseticida formulado denominado
“Conserve” - 120 SC Domestic - Naturalyte Insect Control,
156
que contém Spinosad em
sua composição, mostram que as aplicações com este produto no controle de pragas
em diversas culturas como maçã, citros, ameixa, brócolis e outras espécies deste
gênero inativam as propriedades dos insetos-alvos algumas horas após o tratamento e,
conforme a publicidade, não ocasionando impactos predatórios significativos aos
benéficos. Contudo, verificaram-se aspectos altamente tóxicos para moluscos e
153
Na Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico - FISPQ, apresentada pela empresa Dow
AgroSciences, o inseticida Tracer pertence ao Grupo químico Naturalyte. No entanto, o ingrediente ativo
é o Spinosad, constituído pela Spinosin A + Spinosin D. Esta informação reproduz a publicidade da
empresa Dow AgroSciences. Naturalyte não é um grupo químico, mas uma classificação publicitária.
Disponível em: http://www.dowagro.com/br/fichas/index.htm. Acesso em 23 abr. 2008.
154
No Manual do produto o Tracer está inserido no Grupo químico das Espinosinas. Disponível em:
http://www.dowagro.com. Acesso em: 25 abr. 2008.
155
Material Fact Sheets - Spinosad. Disponível em:
http://www.nysaes.cornell.edu/pp/resourceguide/pdf/mfs13.pdf. Acesso em: 04 mar. 2010.
156
Conserve- 120 SC Domestic -Naturalyte Insect Control é um inseticida que contém o princípio ativo
Spinosad usado para o controle de insetos em citros, plantas ornamentais e algumas outras culturas.
Disponível em: http://pr-rp.pmra-arla.gc.ca/PR_SOL/pr_web.ve1?p_ukid=9481. Acesso em: 06 fev. 2010.
262
abelhas, embora o seja levemente para pássaros, moderada para peixes e leve a
moderada para invertebrados aquáticos. Assim, de acordo com o marketing, trata-se de
um produto biológico e natural de forma que “Você não percebe uma praga”. “A
natureza não percebe que você usou”. A publicidade, oportunamente, se apropria da
palavra NATURALYTE, escrita na cor verde, característica de produtos ecológicos,
presente em um selo bem à mostra na Figura 27, para atrair os consumidores ao
inseticida Tracer, pretensamente natural.
A segunda oração “Tanta tecnologia pra isso: pra passar desapercebido”, nos
remete às modernas tecnologias de aplicação de produtos xicos, visando a
sustentabilidade do Planeta, usando um discurso que tenta conciliar a preservação da
natureza e o uso dos agrotóxicos que degradam e poluem o meio ambiente.
Transformado pela publicidade em um produto aparentemente inofensivo
referente ao selo do anúncio comercial do Tracer, “NATURALYTE” representa a sua
origem biológica e natural. No entanto, é venenoso pois atua no sistema nervoso do
inseto, paralisando-o e matando-o rapidamente. Conforme a Ficha de Informações de
Segurança de Produto Químico - FISPQ, seus dois ingredientes ativos, a Spinosina A e
a Spinosina D, apresentam perigo, motivo para a sua classificação toxicológica ser
medianamente tóxica. Porém, a sua publicidade procura colocá-la conforme as
exigências ambientais do momento, promovendo a empresa que o produz, não
interferindo na ordem neoliberal vigente no país. Além disso, este produto não
apresenta baixa toxicidade, uma vez que é altamente tóxico às abelhas e ostras, além
de o ser também a outros moluscos. Portanto, seu anúncio é contraditório e
equivocado. O discurso exagera as benesses, mostrando um aspecto que não condiz
com a realidade, com a finalidade de fomentar a sua utilização.
263
Figura 27 - Publicidade da Dow AgroScience
A Figura 27 apresenta o desenho de uma planta de algodão em forma de uma
cercadura em torno da embalagem do Tracer, supostamente invisível atrás da planta,
apenas com o nome do produto de cor marrom esmaecido. Talvez o anúncio queira
confundi-lo na natureza, demonstrando ser tão natural que mal aparece, para ninguém
“perceber que você usou” e “pra passar desapercebido”.
2.4.6.5.2 Bayer CropScience - Globo Rural, novembro de 2007
A publicidade não apresenta um produto específico, mas sim uma plantação e
uma safra de café em sacas e em cada uma delas está escrito “CAFÉ”, aparentando
produto para exportação, conforme a Figura 28. O selo de certificação no final da
página refere-se às práticas tidas como responsáveis para o cafezal - UTZ - Certified
Good Inside, significativo de exigências ambientais. O seu discurso refere-se ao “Vigor
e proteção para o seu cafezal”. Vigor nos remete ao belo, à força e à saúde. Plantas
que são tratadas com produtos xicos e que recebem várias pulverizações em doses
264
elevadas não são vigorosas, saudáveis e bonitas, são fundamentalmente
contaminadas. O vigor fica por conta das empresas, que quanto mais vendem, mais
lucram e se tornam mais vigorosas no sentido de “poderosas”. A proteção que os
agrotóxicos proporcionam ao cafezal referindo-se ao controle de pragas, de doenças e
de plantas daninhas conduz a uma boa colheita. Mas não mostra os custos financeiros
e os danos à saúde do agricultor e de sua família pela ausência de segurança durante
essas pulverizações.
O destaque de uma etiqueta “Muito mais café”, pendurada por um fio, no alto da
publicidade, apresenta a dimensão da pilha de sacas de café sugerindo uma grande
produção, muito acima da esperada, bem como as folhas e grãos, ao fundo, em
tamanho aumentado, insinuando um café vigoroso. A etiqueta revela também que a
principal preocupação é econômica e não ambiental.
Figura 28- Publicidade da Bayer CropScience
265
2.4.6.5.3 Basf - The Chemical Company - “Globo Rural”, julho de 2007
Essa empresa anunciou o AgCelence como mostrado na Figura 29, que significa
a junção das palavras Agricultura e Excelência referente à uma nova linha mundial,
criada para identificar os agrotóxicos que proporcionam efeitos fisiológicos benéficos
às plantas nas lavouras. De acordo com a publicidade, seus produtos propiciam
rendimento extra e maximizam o lucro do produtor. A publicidade usou o seguinte
discurso: “É a satisfação com os resultados das colheitas”, “São plantas mais verdes e
saudáveis”, “Efeito fisiológico agora é AgCelence”, “É maior produtividade”, “É mais
rentabilidade”, “É o dinheiro que entra no seu bolso”.
“Plantas mais verdes e saudáveis” nos remetem a um discurso ambientalista. A
publicidade não descreve um produto propriamente dito e sim diversos agrotóxicos de
atividade fisiológica, cuja aplicação na agricultura é supostamente excelente,
caracterizando um marketing verde. Entretanto, esses benefícios são proporcionados
por fungicidas e inseticidas com propriedades para aniquilar fungos e insetos. A
publicidade, porém, não cita esse modo de ação. Efeitos fisiológicos podem enganar,
persuadir e manipular os agricultores que compram o agrotóxicos e a empresa lucra
mais. “É dinheiro que entra no seu bolso”.
266
Figura 29 - Publicidade da Basf
2.4.6.6 Matérias jornalísticas sobre os agrotóxicos
2.4.6.6.1 O revolucionário e o reacionário - revista Veja, janeiro de 2008
A revista Veja
157
aborda a matéria jornalística “O revolucionário e o reacionário”
na temática Ambiente, apresentando duas fotos visualizadas na Figura 30 que
representam, da esquerda para a direita, Norman Borlaug, o criador da “Revolução
Verde e José Bové, um ambientalista francês.
157
Revista Veja, v. 2.042, ano 41, n.1, 9 jan. 2008, p.74-75.
267
Figura 30 - O revolucionário e o reacionário
Matéria publicada na revista "Veja, 9 de janeiro de 2008, p. 74-75
Fontes das Fotos: Patrick Kovarik - Norman Borlaug e Bill Meeks - José Bové
O relato enfoca o ambientalista José Bové
158
, que se recusou a debater sobre o
uso de sementes transgênicas na França porque, de acordo com essa revista, não tem
argumentos.
Primeiro, as culturas geneticamente modificadas cobrem menos de 1%
da área plantada da França. Segundo, as sementes geneticamente
modificadas, além de mais produtivas e mais resistentes a pragas - o que
diminui o uso de defensivos agrícolas químicos -, são seguras para o consumo
humano. Para produzir com sementes convencionais a mesma quantidade de
comida conseguida com as geneticamente modificadas é preciso triplicar a área
plantada e quadruplicar o uso de defensivos agrícolas químicos. Bové e seus
seguidores fingem ignorar que a tecnologia agrícola que eles tanto combatem
158
José Bové, de 54 anos, é o líder dos ambientalistas da França, movimento também denominado de
“ativismo antiglobalização”. Segundo a Veja, este termo substituiu a militância esquerdista clássica
depois do desastre do socialismo na União Soviética e seus satélites. Os náufragos do comunismo se
agarraram com sofreguidão à bandeira do ambientalismo. Antes da dissolução do bloco soviético, o
ambientalismo não era considerado um assunto sério pelos militantes esquerdistas - até porque as
fábricas, os carros e as usinas atômicas da União Soviética e dos países sob seu domínio, em especial
da Alemanha Oriental, eram os que mais envenenavam o ar e os rios da Europa. [...] A questão ambiental
se tornou importante para os militantes depois que foi transformada em arma de propaganda contra o
capitalismo, contra os Estados Unidos e contra a globalização” (O REVOLUCIONÁRIO, 2008, p.74-75).
268
salvou da morte pela fome centenas de milhões de pessoas miseráveis do lado
pobre e ignorado do mundo (O REVOLUCIONÁRIO, 2008, p. 74-75).
A outra hipótese que explica a sua rejeição em contestar os transgênicos de
acordo com a Veja é que os ambientalistas, liderados por Bové, se preocupam apenas
com o seu conforto pessoal e com a manutenção do seu modo de vida. Para essa
revista, “os Bovés o querem um planeta mais limpo e sim ficar diante das câmeras
de televisão. Fizeram disso uma profissão lucrativa.
No entanto, para provar a sua insatisfação, Bové faz greve de fome contra o uso
dessas sementes em solo francês. Ele promete não comer mais nada enquanto o
governo da França não proibir as culturas geneticamente modificadas por um ano.
Diante desta atitude extremista, o ministro da Agricultura da França, Michel Barnier,
respondeu: em uma democracia como a nossa existem outras maneiras de ser ouvido,
de tomar parte no debate e de convencer” (O REVOLUCIONÁRIO, 2008, p. 74-75).
A Veja denomina esses ambientalistas de reacionários do século XXI quando
na realidade são revolucionários, porque contradizem o modelo de produção que visa
os lucros, a globalização e a Revolução Verde, criada por Norman Borlaug. Este foi um
dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento nos anos 60 de sementes de arroz,
milho e trigo de “alta produtividade” que supostamente aumentaria “vertiginosamente” a
sua produção. Esse veículo oculta a verdadeira ideologia da Revolução Verde - “o
pacote tecnológico”, as monoculturas altamente dependentes de insumos agrícolas, os
fertilizantes inorgânicos e os produtos químicos que poluem e trazem consigo o
envenenamento e a morte, além da dependência do crédito rural. A Veja enfoca a
pretensa redução do número de aplicações de defensivos como vantagem para o
plantio de lavouras transgênicas. O termo defensivo agrícola é usado por essa revista
com o significado de defensor contra as pragas e doenças que podem atacar as
culturas e com a finalidade de convencer os agricultores da importância do seu uso.
Essa revista parece desconhecer o termo agrotóxico. Quando interesse, a mídia
defende o seu uso, suprimindo informações sobre os seus danos à saúde humana e ao
ambiente, caso contrário, ataca-os quando então exageram seus efeitos prejudiciais
com vistas a desmoralizá-los completamente, conforme proposto pelo Modelo de
Propaganda (HERMAN; CHOMSKY 2003).
269
O oposto de Bové é Norman Borlaug, galardoado com o Prêmio Nobel da Paz
em 1970 em reconhecimento pela criação da Revolução Verde. Este pretensioso
cientista é o verdadeiro reacionário porque está em discordância com as questões pró-
ambiente aprovando o uso das sementes transgênicas e não aceitando, por exemplo, o
fato de elas provocarem a poluição genética gerando dúvidas e incertezas quanto à sua
utilização. A aplicação dessa biotecnologia na agricultura em nossa sociedade encarece
a produção de alimentos, o que favorece consideravelmente os processos de
mercantilização, dos quais Norman Borlaug é partidário.
As imagens captadas propositalmente pela revista “Veja” exibem o cientista
vestindo terno e gravata, demonstrando autoridade e preocupação em seu ambiente de
pesquisa. Enquanto que o ambientalista é mostrado descontraidamente na rua, tendo
em uma das mãos um charuto, que polui o ambiente e em outra um acendedor, tal qual
uma arma.
As palavras em destaque na foto estão invertidas, também premeditadamente
pela Veja. O revolucionário em questão é o ambientalista José Bové, enquanto o
reacionário Norman Borlaug é o “cientista” responsável pela introdução de sementes de
arroz, milho e trigo de alta produtividade” no Hemisfério Sul, o que originou a
“Revolução Verde”.
2.4.6.6.2 Ecologia: prática agrícola reduz a emissão de 29 milhões a 40 milhões de
toneladas de CO
2
por ano - “Globo Rural”, julho de 2007
A revista “Globo Rural”
159
publicou a matéria jornalística sobre o plantio direto,
uma forma de cultivo que é regida por princípios mais harmoniosos com o ambiente.
Entre os quais, o de não revolver a terra, fazer a rotação de culturas e a cobertura
permanente com palha para manter a umidade do solo. Esses princípios podem ser
usados em qualquer cultura ou local. A técnica pode aumentar a vida útil dos tratores e
diminuir o consumo de combustível.
A palavra agrotóxico não é citada em nenhum momento e foi interessante
verificar que um tema relevante à sociedade foi tão pouco explorado. O termo
defensivo agrícola foi usado no sentido de disfarçar o uso de produtos tóxicos que
agridem o homem e a natureza, em uma prática agrícola ecologicamente correta que
159
Revista Globo Rural, ano 22, n. 261, jul. 2007, p. 64-69.
270
não combina com a sua utilização. Com a aprovação da Lei Federal dos Agrotóxicos,
em 1989, estabeleceu-se definitivamente o termo agrotóxico.
O texto dessa matéria exalta as benesses dessa tecnologia, incita sua utilização
mas não questiona os novos desafios como as infestações de plantas daninhas e
fungos do solo que se tornaram resistentes aos “defensivos”, como é o caso do
amendoim bravo e Fusarium spp.
2.4.6.6.3 Orgânicos na mira: produtos sem agrotóxicos no mercado - “Globo
Rural”, maio de 2007
Alimentos produzidos organicamente não podem receber pulverizações com
agrotóxicos. O controle de pragas e doenças fica por conta dos inimigos naturais, da
revitalização do solo com microrganismos e da consorciação de várias culturas para
equilibrar o cultivo. Ainda, para garantir as vendas no mercado, é solicitada uma
certificação. A matéria foi relatada na revista “Globo Rural”
160
.
Paschoal (1994) explica que
Sob a denominação alimentos orgânicos, incluem-se todos os produtos
alimentícios (inclusive ervas medicinais) produzidos através de técnicas
orgânicas e sob normas da agricultura orgânica (=alternativa), sendo
processados, manufaturados, embalados, estocados e transportados sob
critérios específicos, de modo a preservar o máximo de seus valores
nutricionais e biológicos, não sendo permitido o uso de aditivos artificiais, nem
de agrotóxicos sintéticos, de fertilizantes minerais solúveis, de drogas
veterinárias convencionais e de irradiações ionizantes (PASCHOAL, 1994, p.
30).
O autor relata que definir agricultura orgânica não é tarefa das mais simples,
devido à complexidade das características envolvidas.
Em seu livro “Normas técnicas para a Agricultura Orgânica”, Paschoal (1990),
citado em Paschoal (1994), define agricultura orgânica como sendo
[...] um método de agricultura que visa o estabelecimento de sistemas
agrícolas ecologicamente equilibrados e estáveis, economicamente produtivos
em grande, média e pequena escalas, de elevada eficiência quanto à utilização
dos recursos naturais de produção e socialmente bem estruturados, que
resultem em alimentos saudáveis, de elevado valor nutritivo e livres de resíduos
tóxicos, e em outros produtos agrícolas de qualidade superior, produzidos em
160
Revista Globo Rural, ano 22, n. 259, maio 2007, 72-77.
271
total harmonia com a natureza e com as reais necessidades da humanidade
(PASCHOAL, 1994, p. 29-30 ).
O fato de a agricultura orgânica não permitir o uso de fertilizantes minerais
solúveis, agrotóxicos, reguladores de crescimento, entre outros elementos elaborados
sinteticamente, torna-os independentes de insumos agrícolas, que elevam os custos da
produção. Assim, seus produtos deveriam ter preços mais reduzidos tornando-os mais
acessíveis aos consumidores de menor poder aquisitivo. No entanto, observou-se no
decorrer desse estudo que algumas hortaliças como o tomate e o moranguinho, por
exemplo, bem como certas frutas tais como a banana prata, o mamão, a maçã, a
melancia, o melão e a laranja são vendidas por preços até cinco vezes mais caros. Isso
foi verificado tanto nas feiras do produtor orgânico como em lojas, varejões e
supermercados que os comercializam de forma que, ironicamente, se constituem parte
da alimentação apenas de uma elite. Essa constatação se opõe à de Paschoal (1994, p.
19), que relata que produtos orgânicos custam um pouco mais do que o convencional e
que os motivos se devem principalmente à sua demanda maior que a oferta.
Entretanto, acredita-se que os elevados preços dos seus produtos são
determinados também pelos varejões e supermercados. Por exemplo, o tomate
produzido segundo a agricultura convencional é vendido por um preço hipotético de R$
2,00 o quilo, enquanto que nos mercados orgânicos seu valor de venda é de R$ 8,00.
Mas se esse tomate não é produzido com tecnologia industrial, ou seja, é produzido
sem a utilização de insumos que encarecem a produção, por que são mais caros?
Segundo pesquisas realizadas por Ambrosano (2009)
161
, em supermercados que
comercializam os produtos orgânicos, os altos preços se devem não somente à
demanda ser maior que a oferta, o que está de acordo com Paschoal (1994, p. 19), mas
também por conta das preferências do público. Quando os preços estão baixos os
consumidores compram tais hortaliças, frutas e legumes em grandes quantidades,
deixando de ser economicamente interessante aos supermercados que necessitam da
presença desses produtos como forma de atrair clientes para a compra de outros
alimentos. Assim, os preços são colocados bem acima, com a finalidade de manter pelo
menos parte dos orgânicos nas prateleiras.
161
AMBROSANO, E. J. , 2009. (Informação pessoal).
272
273
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No corpus desta pesquisa constatou-se apenas um relato que denunciou a
intoxicação provocada por agrotóxicos de seis trabalhadores rurais, na reportagem
publicada na “Agrofolha”
162
, “Produtores de tomate são autuados em SP”. A ênfase
desse assunto, porém, concentrou-se na fiscalização do MPT de São Paulo em quatro
municípios pertencentes à região de Itapeva, uma das maiores produtoras de tomate do
Estado de São Paulo. As autuações resultaram em 87 infrações averiguadas em 13
propriedades rurais que abastecem as centrais de São Paulo e de Campinas e que
empregaram trabalhadores de forma precária e irregular. Matérias jornalísticas
revelando mortalidades e suicídios provocados pelo uso de agrotóxicos, bem como
casos de doenças crônicas como o câncer, Mal de Parkinson, diabetes, entre outras e
que pudessem induzir reflexões e propostas de solução para a problemática dos
agrotóxicos em nosso país não foram divulgadas. À exceção da revista Caros Amigos,
que não publicou qualquer informação sobre essa temática durante o período de
cobertura deste estudo, as publicações dos jornais e revistas analisados foram, de
modo geral, predominantemente constituídas de mensagens de incentivo ao consumo
desses produtos.
Alguns assuntos abordados nas matérias jornalísticas indicaram a conivência do
Estado com uma política favorável aos agrotóxicos. Esse fato foi observado
principalmente através dos relatos provenientes das fontes de informação
governamental, bem como das instituições de pesquisa e universidades públicas, que
mostraram compactuar com o pensamento neoliberal dos veículos de comunicação.
Como exemplo, numa matéria jornalística publicada no “Suplemento Agrícola” do jornal
O Estado de S. Paulo
163
“Defensivos legais para „minor crops‟”, o pesquisador científico
de uma instituição de pesquisa do Governo Federal - Embrapa Meio Ambiente, Wagner
Bettiol, opinou favoravelmente sobre os agrotóxicos, propondo, inclusive, subsídios à
permanência das multinacionais de agrotóxicos em nosso país.
Como o caqui, culturas como caju, mandioca, gengibre, kiwi,
macadâmia, hortaliças e muitas outras estão tendo prejuízos. Se o MAPA
162
Agrofolha do jornal Folha de S. Paulo, ano 88, n. 28.839, 18 mar. 2008, p. B10.
163
Suplemento Agrícola do jornal O Estado de S. Paulo, ano 52, n. 2.741, 21 maio, 2008, p. 13.
274
assumir parte das despesas de registro, o interesse das empresas aumentará
(YONEYA, 2008, p. 13).
A revista “A Granja”
164
divulgou esse assunto na matéria denominada “Faltam
defensivos de qualidade”, mencionada no item 2.4.4.2.4, que aborda as fontes de
informação de especialistas de empresas.
Observaram-se diferenças nas linhas editoriais desses veículos de comunicação.
Por exemplo, somente os jornais e revistas especializados na área agropecuária como
a revista “Globo Rural”, o “Suplemento Agrícola”, “A Granja” e “Balde Branco”
publicaram a seção “Cartas”. A publicação desse gênero jornalístico possibilitou que
essa imprensa comunicasse as suas próprias opiniões através dos leitores, ao
selecionarem as correspondências de interesse dos anunciantes de agrotóxicos,
estimulando o seu consumo. As cartas demonstraram que esses veículos são aliados
das indústrias fabricantes de agrotóxicos e de biotecnologias, do governo, das
empresas privadas e da elite da nossa sociedade confirmando, assim, o descaso das
autoridades com a saúde pública e o ambiente, razão pela qual os venenos no Brasil
ainda mantêm o seu espaço.
Outra diferença referente às linhas editoriais é a publicação do “Informe
Publicitário SEBRAE pela revista “Globo Rural”, voltado às tecnologias agroecológicas.
Com relação aos recursos comunicativos verificou-se sua ampla utilização pelos
jornais e revistas, além de reforçarem o discurso pró-agrotóxicos empregando
importantes estratégias para incrementar o interesse dos leitores pelo assunto, de
forma a tor-lo familiar e não ser questionado.
As abordagens relacionadas ao Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos - PARA, instituído com a finalidade de monitoramento
visando diminuir os elevados índices de intoxicações humanas e contaminações
ambientais no país, vem mostrando a sua não correspondência a real necessidade da
população por conta de importantes limitações. Primeiramente, porque trabalha com
uma amostragem pouco significativa, constituída apenas de nove culturas de frutas e
hortaliças in natura, não incluindo outros alimentos constantes do cardápio do
consumidor. Em segundo lugar, a falta de capacitação técnica e laboratorial para a
164
A Granja, ano 63, n. 708, dez. 2007, p. 36.
275
elaboração das análises na maioria dos estados brasileiros dificulta a sua realização e
propicia condições para a ocorrência de irregularidades. A terceira limitação refere-se à
dimensão territorial, aliada às grandes distâncias entre os pólos mais desenvolvidos e a
complexidade administrativa para captação de recursos. Esses últimos fatores
representam os principais entraves para a consolidação de uma rede nacional de
monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos.
A ANVISA é parte integrante do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária - SNVS
e juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, o Conselho Nacional de
Saúde - CNS, entre outros conselhos, Centros de Vigilâncias Sanitárias do Distrito
Federal e dos municípios - VISAs e Laboratórios Centrais de Saúde Pública - LACENs,
estão envolvidos nas ações de vigilância sanitária. Como participantes do PARA,
cumprem uma obrigatoriedade imposta pelo fato de serem uma representação do
Governo Federal, com responsabilidades e deveres frente a uma sociedade
contribuinte. No entanto, essa política não mostra combate aos agrotóxicos, ao
contrário, a confirma a sua importância no fornecimento de subsídios para a
reavaliação dos estudos de resíduos aportados à ANVISA para fins de registro.
Percebe-se que a política também é manipulada pelos centralizadores do poder e,
portanto, cumpre com o que é determinado. Prova disso é que só disponibilizam
informações através do site da ANVISA na Internet, ao invés da televisão e do rádio,
por exemplo, através dos quais a sociedade deveria ser informada, uma vez que o tema
é de interesse público.
Entretanto, após a divulgação da “Minuta de Nota Técnica dos resultados do
PARA” pelo site da Anvisa, em 10 de abril de 2008 (BRASIL- MS, PARA, 2007), a mídia
de massa se manifestou, principalmente através do jornal “Folha de São Paulo”
165
e do
“Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão“
166
sobre os crescentes níveis de
resíduos de agrotóxicos nas hortaliças avaliadas. As mensagens contidas na matéria
jornalística publicada no jornal Folha de São Paulo intitulada “Tomate, morango e
alface têm excesso de agrotóxicos” apresentam as irregularidades constatadas nas
amostras das nove culturas in naturaanalisadas em 15 Estados e no Distrito Federal.
165
Jornal Folha de São Paulo, 24 abr. 2008, caderno Cotidiano, p.C1.
166
Como livrar os alimentos dos agrotóxicos? Este vídeo foi visto em 24 abr. 2008.
Disponível em: http://vídeo.globo.com.
276
A reportagem trata também dos cuidados para minimizar os efeitos dos resíduos de
agrotóxicos em alimentos, das consequências do seu consumo para a saúde humana e
do uso dos inseticidas Monocrotofós em tomate e do Endosulfan em morango, não
autorizados para o seu uso.
Grisolia (2005) aponta a periculosidade do Monocrotofós em razão de sua
toxicidade aguda em mamíferos, a qual é caracterizada
[...] pela inibição da enzima colinesterase, provocando também
salivação, diarréia, hiperatividade, ataxia, lacrimação, tremores e convulsões.
Observações de intoxicações humanas revelam paralisia dos nervos cranianos
e fraqueza nos músculos toráxicos com dificuldade respiratória (GRISOLIA,
2005, p. 205).
Com relação ao Endosulfan, muitos estudos e documentos de fontes diferentes
apontam os riscos para a saúde humana e
[...] mostram que o endosulfan é um veneno altamente perigoso. Causa
intoxicação aguda e a morte, afetando vários órgãos e sistemas,
desencadeando distúrbios neurológicos, imunotoxicidade, toxicidade
reprodutiva, toxicidade hepática e cardíaca, desordens sanguíneas, depressão
respiratória, irritação na pele, além do fato de ser classificado também como
desregulador endócrino (QUIJANO, 2000, apud GRISOLIA, 2005, p. 257).
Oliveira Filho, Grisolia e Paumgartten (2009) verificaram em estudos de
multigerações em Biomphalaria tenagophila o agente causal da esquitossomose, que o
Endosulfan, em maiores concentrações, elevou a mortalidade e a ocorrência de
malformações, além de decrescer a deposição de ovos entre os embriões na geração
F1 (OLIVEIRA FILHO; GRISOLIA; PAUMGARTTEN, 2009, p. 398).
Aparentemente contrariando o Modelo de Propaganda de Herman e Chomsky
(2003), a publicação dos resultados do PARA pela mídia de massa mostra apenas a
apreensão do governo brasileiro com os gastos despendidos com a saúde dos
trabalhadores e da população em geral. Não demonstra uma verdadeira preocupação
concernente ao bem-estar público e à preservação do ambiente pelo uso dessas
277
substâncias tóxicas. Se houvesse, teriam providenciado estudos e elaborado políticas
apropriadas de controle.
Outro ponto relevante refere-se à negligência das fronteiras dos países da
América do Sul. Esse descuido vem permitindo o comércio ilegal de agrotóxicos
proibidos como os mercuriais, por exemplo, cujo uso foi impedido em pulverizações da
parte aérea na cultura do tomate. Sua permissão para tratamento de sementes em
algumas culturas, cujos fungos são de difícil controle, pode favorecer a sua utilização
indevida no combate de patógenos em outras.
167
No caso específico do heptacloro, proibido desde 03 de setembro de 1985,
Grisolia (2005) pontua que
Em razão do fato de ainda haver comércio desse produto no Brasil,
ocorre o desvio de uso do heptacloro para o tratamento de toletes de cana-de-
açúcar [...] O heptacloro é utilizado no Brasil por uma única empresa
formuladora, que importou grandes quantidades dos Estados Unidos. Esse é
mais um dos exemplos de agrotóxicos proibidos nos Estados Unidos que são
fabricados somente para exportação [...] Na realidade, o que o Brasil comprou
foi uma enorme quantidade de lixo químico (GRISOLIA 2005, p. 248).
Os resultados do PARA divulgados pelo site da ANVISA, em 15 de abril de 2009
(BRASIL - MS, PARA, 2008), indicam elevados índices de irregularidade devido,
principalmente, à utilização de princípios ativos não autorizados e agrotóxicos com
restrições quanto ao modo de aplicação. Foram realizadas 1.773 análises em 17
culturas, entre as quais o pimentão, que liderou o ranking apresentando
aproximadamente 65,0% de amostras insatisfatórias. Em tais análises detectaram a
presença de ingredientes ativos acima dos LMRs permitidos em culturas de batata,
feijão, laranja, maçã, mamão, morango, pimentão, tomate e uva. Constatou-se, ainda, o
uso de pulverizadores costais em aplicações com o inseticida metamidofós restringido
pela ANVISA em tomate de mesa, os quais continuam sendo utilizados indevidamente,
mesmo conhecendo-se os elevados riscos à saúde do aplicador.
167
NAKANO, O. J. , 2008. (Informação pessoal).
278
Desta forma, é de extrema importância que os órgãos responsáveis
pela saúde, trabalho, meio ambiente e agricultura estejam atentos às condições
de trabalho dos agricultores, principalmente daqueles com menos recursos
financeiros e menor nível de instrução. Eles são responsáveis por grande parte
da produção de frutas, legumes e verduras consumidos no país e geralmente,
estão mais expostos aos agrotóxicos e às intoxicações agudas e crônicas
(BRASIL- MS, PARA, 2008, p. 10).
Detectaram-se também resíduos de outros agrotóxicos proibidos no Brasil que
apresentam rias implicações para a saúde humana como os provenientes do grupo
dos inseticidas organoclorados, entre os quais o Endosulfan, em amostras de batata,
morango, pimentão e uva, bem como o Dicofol, em pimentão. A constatação do uso
dessas substâncias no monitoramento de 2008 e no de anos anteriores corroborou para
a decisão da ANVISA de incluir o Endosulfan na reavaliação proposta pela Resolução
da Diretoria Colegiada - RDC (BRASIL - MS, PARA, 2008, p. 10).
A ANVISA, nesta Nota Técnica, recomenda que
[...] os procedimentos de lavagem, retirada de cascas e folhas externas
de verdura podem contribuir para a redução daqueles resíduos de agrotóxicos
presentes apenas na superfície dos alimentos. Além disso, optar por consumir
alimentos da época ou produzidos por métodos de produção integrada, que a
princípio recebem uma carga menor de agrotóxicos, ou consumir alimentos
orgânicos que não utilizam agrotóxicos para serem produzidos também podem
reduzir a exposição (BRASIL - MS, PARA, 2008, p. 11).
De acordo com a manifestação da mídia de massa referente ao “Jornal Hoje”
168
,
na matéria jornalística “Pesquisa aponta irregularidades em produtos que usam mais
agrotóxicos no cultivo”, transmitida pela Rede Globo de Televisão, a nutricionista Carla
do Vale, aludindo às amostras com níveis irregulares de agrotóxicos, esclarece que
[...] isso não significa que não podemos ingerir estes alimentos, desde
que eles sejam bem lavados [...] as escovas com cerdas macias limpam melhor
frutas, legumes e verduras. Eles devem ser colocados de molho num litro de
água com oito gotas de detergente e depois numa solução de bicarbonato de
sódio e água (PESQUISA, 2009).
168
Pesquisa aponta irregularidades em produtos que usam mais agrotóxicos no cultivo. Disponível em:
http://g1.globo.com/jornalhoje/o,,Mul1086203-16022,00. htm. Este vídeo foi visto em 15 abr. 2009 na
edição do Jornal Hoje.
279
Informações divulgadas pelo jornal “Folha On-Line”
169
, na matéria “Pimentão
contém mais agrotóxicos, afirma ANVISA”, revelaram que outra problemática
envolvendo os agrotóxicos é o aumento das importações de substâncias proibidas em
alguns países. Um caso exemplar refere-se ao Metamidofós, não autorizado para o uso
na cultura do tomate. No entanto, os dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior
divulgaram que em 2008, por ocasião da proibição desse produto pela China, houve a
exportação para o Brasil de 4,2 mil toneladas; nos dois primeiros meses de 2009 o país
havia importado 4,4 mil toneladas do inseticida Metamidofós. Nessa matéria
jornalística o diretor da ANVISA, Agenor Álvares, aludiu à possibilidade de os
agricultores que manuseiam diretamente os agrotóxicos sofrerem doenças crônicas,
entre as quais o câncer. Ainda, o diretor executivo da ANDEF, José Otávio Machado
Mentem, também opinou afirmando que a indústria aumentará a assistência técnica aos
produtores.
Nota-se que as publicações dos resultados do PARA pela mídia de massa,
similarmente ao ano anterior, se manifestaram apenas nos dois primeiros dias, após
terem sido disponibilizadas pelo portal da ANVISA; porém, não se referiram a alguma
medida combativa contra os agrotóxicos. Observou-se despreocupação tanto por parte
desta agência governamental como da mídia em relação a esses venenos, como se
depreende das informações a seguir:
[...] o PARA, em 2008, veio confirmar que o uso de agrotóxicos não
autorizados e em menor proporção, a presença do LMR permitido, continuam
freqüentes, sugerindo que as Boas Práticas Agrícolas - BPAs o estão sendo
aplicadas pelos agricultores e que medidas mais eficientes devem ser
implementadas (BRASIL - MS, PARA, 2008, p. 10-11).
Quais medidas mais eficientes serão essas? O PARA não tem caráter de
fiscalização, apenas de orientação. Assim, recomendar alimentos da época ou de
acordo com os métodos de produção integrada ou os orgânicos pela ANVISA, por
exemplo, não significa que estão combatendo os agrotóxicos.
169
Pimentão contém mais agrotóxico, afirma ANVISA. Disponível em:
http://www.1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1604200901.htm. Acesso em: 16 abr. 2009.
280
Quanto às mensagens transmitidas pelos dois jornais on-line, Folha- Uol e Jornal
Hoje, observa-se nítida aceitação desses produtos em nossa alimentação, confirmando
que o uso de agrotóxicos é uma manifestação cultural da sociedade em que vivemos.
As autoridades representadas pelo diretor da ANVISA e pelo diretor executivo da
ANDEF demonstram que não desejam alterações no sistema. Com relação às
instruções fornecidas pela nutricionista Carla do Vale, no Jornal Hoje, percebe-se que
foi apenas um alerta à população para tentar reduzir, através de higienização, os níveis
de resíduos nos legumes, frutas e verduras.
Como ela diz:
Passando por todos estes passos, ainda pode ficar [algum resíduo].
Então, o que pode ajudar a diminuir é o [tipo do] alimento, aquele que pode ser
consumido sem casca e se ele é processado, se ele é cozido, que ai acaba
diminuindo bastante, ou da própria polpa ou da raiz deste alimento (PESQUISA,
2009).
Assim, a representação dos agrotóxicos nos veículos impressos pesquisados
não aludiu a algum movimento social ou grupos de combate aos agrotóxicos.
Constatação semelhante foi evidenciada por Pereira (2002), ao se referir ao
comentário de Letícia Rodrigues da Silva, membro do Grupo Interdisciplinar de
Pesquisa e Ação em Agricultura e Saúde - Gipas, RS e também gerente de
normatização da ANVISA, em relação aos movimentos sociais.
[...] o único movimento capaz de fazer mudar a problemática dos
agrotóxicos no país, assim como ocorre na União Européia é o de
consumidores [...] As maiores restrições que existem no mundo a respeito de
agrotóxicos se devem aos consumidores e não aos trabalhadores rurais
(PEREIRA, 2002, p. 187).
Medidas eliminatórias, que revolucionam conceitos, normas e modelos de
produção da agricultura existentes em nosso país, com a finalidade do banimento dos
agrotóxicos, não foram anunciadas. Contudo, a sociedade poderá cobrar dos governos
decisões e políticas públicas justas para o bem da população, desde que recebam
informações precisas que abordem o assunto pela mídia de massa.
281
As matérias jornalísticas analisadas neste estudo apresentaram algumas
informações importantes sobre a problemática dos agrotóxicos que devem ser
discutidas na e pela sociedade. Contudo, nenhuma delas promoveu a continuidade do
assunto. As grandes corporações dos venenos, os gigantes da mídia e o governo
demonstraram a sua união objetivando lucrar diante das facilidades do mercado. À
exceção da revista “Caros Amigos”, as revistas e jornais analisados agem de forma a
não permitir que as mensagens sobre as contaminações humanas e ambientais
provocadas pelos agrotóxicos sejam publicadas.
Todavia, estudos que abordam a problemática dos agrotóxicos poderão
contemplar, futuramente, outros veículos de comunicação de massa, tais como os
eletrônicos, exemplificados pelo rádio e televisão, além da Internet e compará-los, uma
vez que se distinguem em meios quentes e frios (MCLUHAN, (2007, p. 38-39).
A televisão, por ser um meio frio, evidencia maior participação pública e
possibilitará o alcance de resultados satisfatórios em relação a algum movimento social
emergente. Enquanto o rádio “afeta as pessoas, digamos, como que pessoalmente,
oferecendo um mundo de comunicação não expressa entre o escritor-locutor e o
ouvinte. Este é o aspecto mais imediato do rádio” (MCLUHAN, 2007, p. 336).
Por outro lado, “sem políticas públicas, estamos transpondo para o universo da
Internet o mesmo padrão de exclusão que encontramos em outras mídias brasileiras e,
por extensão, em todo o campo da cultura” (POMAR, 2008, p. 72). Tal fato permitirá
que relatos sobre os agrotóxicos sejam divulgados em sites, blogs, jornais alternativos,
dentre outros porque “as pessoas querem participar da feitura das notícias, querem
informações sob demanda direta delas próprias” (COSTA, 2005, p. 18).
Dessa forma, a intencionalidade de mostrar a realidade dos agrotóxicos à
sociedade poderá ser bem-sucedida, a qual possibilitará transformar o desenho da
agricultura convencional em um novo modelo livre dos produtos e de resíduos tóxicos
em alimentos em nosso país.
282
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