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A montagem destas cenas – primeiro, a conversa entre professor e aluno no clube de
tênis, onde o protagonista manifesta o seu interesse por ópera e em seguida é convidado para
o camarote dos Hewett; depois, a apresentação de La Traviata no Royal Opera House,
ocasião em que Chris conhece os pais e a irmã de Tom; e por último, o convite para a casa de
campo – demonstram a rápida aproximação entre o jovem professor de tênis e a elite
britânica. Na cena seguinte à apresentação da ópera La Traviata, Tom comenta a boa
impressão que Chris causou nos Hewett. Em seu escritório, composto por mobília antiga,
livros, pinturas a óleo, jornais, papéis, agendas, telefones e um computador, o jovem
milionário relata a Chris que Alec e Eleanor adoraram as flores enviadas pelo protagonista em
agradecimento ao convite para a ópera. No diálogo entre camaradas pelo telefone, Tom diz
que, apesar de ―desnecessário‖, Chris fez muito bem em enviar as flores: ―Meus pais adoram
esse tipo de coisa‖. Na cena fica evidente que Chris agradou a família e que é convidado para
o fim de semana na casa de campo por conta da boa impressão que os pais e a irmã de Tom
tiveram a respeito de Chris. A finesse do jovem tenista irlandês prossegue na cena seguinte
em que o protagonista joga com Tom na casa de campo em Hedley
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. Chris passou da quadra
de tênis do Queen’s, onde é professor, para a visita à casa de campo de um dos sócios do
clube. Durante o jogo no Englefield Estate
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, Tom desiste da partida de tênis e pede para que a
irmã o substitua:
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Os personagens de Match Point referem-se à casa de campo apresentada no filme como Hedley. A cidade
Hedley não existe, no entanto a casa de campo apresentada no filme é bastante conhecida: trata-se do Englefield
Estate, localizado no condado de Berkshire. O nome Englefield significa Englishmen’s (Battle) Field, ou seja,
campo de batalha dos ingleses. ―A casa de campo foi residência da família Englefield desde o reinado de Edgar,
o ―pacificador‖, no início do século IX. Embora Sir Francis Englefield tenha se esforçado para manter a casa,
depois de quase 800 anos de residência, a família foi forçada a deixar a propriedade, em 1550, devido à sua
crença no catolicismo. Eles, no entanto, permaneceram fiéis à sua antiga casa e continuaram a ser enterrados na
Capela de Englefield, até 1822. A casa passou pelas mãos de diversos não-residentes, depois da saída dos
Englefield, embora o conde e a condessa de Essex parecessem ter um interesse nela. Em 1635, o genro da
condessa, Marquês de Winchester, comprou a propriedade e foi em Englefield que ele se aposentou, após o seu
retorno do exílio durante o Commonwealth. Os descendentes do Marquês, os Powlets e os Wrights, continuaram
a viver na residência durante os séculos XVII e XVIII, até que a casa passou, por casamento, à família Benyon,
seus atuais proprietários.‖ Conforme verbete ―Englefield House‖ na Enciclopédia Britânica. Disponível em:
<http://www.britannia.com/history/chouses/berks/englefieldhse.html>. Acesso em: 13 jan, 2010.
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Em O campo e a cidade, Raymond Williams analisa, entre outros aspectos que serão retomados ao longo deste
trabalho, a importância da mansão senhorial: ―Neste ponto, contudo, normalmente constatamos que os
iniciadores dos melhoramentos, os comandantes das transformações, já chegaram há mais tempo e estabeleceram
raízes mais profundas – já realizaram uma divisão bem-sucedida em proveito próprio. A mansão senhorial [...]
foi uma das primeiras formas que esta solução temporária assumiu, e, no século XIX, ao mesmo tempo que os
novos senhores da produção capitalista construíam mansões novas, recuperava-se igual número de mansões
antigas, outrora dos antigos senhores – por vezes ancestrais dos novos – da velha ordem rural‖. Ver: Williams,
Raymond. O campo e a cidade: na história e na literatura / Raymond Williams; trad. Paulo Henriques Britto. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p 393.