A ASTÚCIA DA MÍMESIS E A (DES)QUALIFICAÇÃO DO HUMANO?
A Diluição das Fronteiras entre o Orgânico e o Mecânico
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AGRADECIMENTOS
Há alguns meses atrás, na confidencialidade entre amigos de longa data, vi-me
convencida de que - de fato – a elaboração de um trabalho acadêmico assemelha-se ao
processo de uma gestação, isso porque a imagem figurada tem suas razões de ser, posto que, a
exemplo duma criança, esse tipo de trabalho costuma ter um período para se desenvolver e vir ao mundo,
ou seja, libertar-se de seu autor/hospedeiro, sob o risco de fenecerem tanto o ser (ou escrito) em formação
quanto aquele que lhe fornece abrigo e proteção (o autor). Por um lado, na gestação, apego demasiado é um
perigo insuspeitado: o feto excessivamente vinculado ao útero fará resistência ao parto, o que pode significar
sua morte caso não seja pressionado a ganhar o mundo externo. O processo de escrita, por seu turno,
também guarda suas manhas e suas armadilhas, isto é, chega o tempo em que cumpre desatrelar-se do que
ganha forma em letra e papel, senão perecemos nós e igualmente o que rascunhamos. Normalmente, esse
desprendimento costuma trazer não somente alívio, como também dignidade pessoal, senso de uma
realização terminada, ainda que pretendêssemos estendê-la mais e mais. Sendo, correntemente, preciso
lembrar a importância de aceitar o ponto final, sem com isso extirpar integralmente o apelo às reticências.
Assim, quando me encontrava no ápice da paralisia da escrita, esse amigo histórico
confidenciou-me, ainda, que o elaborado processo de reencontro (parte integrante da
gestação) com as palavras, para ele, assemelhava-se, ainda, com o flerte de um rapaz
tímido, porque lento, desajeitado, meio sofrível, horas para concluir única frase. (Como se,
após uma tremenda luta interior, o garoto respirasse fundo, criasse o sangue-frio
necessário e, finalmente, convidasse a garota dos sonhos para dançar e passasse a música
inteira pisando nos pés dela.). Nesses momentos tateantes até a palavra “apropriada”
chega a nos abandonar e é preciso lançar mão de “uma qualquer” para por no lugar na
tentativa de não deixar escapar o substrato do pensamento. E para concluir sua reflexão
ele, ainda, me disse: “com isso sentimos que já existe um movimento, quebrou-se o ponto
de inércia, e essa constatação vale e pesa muito. Trata-se de um ganho que quase ninguém
mais perceberia, pois é sutil e discreto, mas, para quem está às voltas com esse tráfego das
idéias ao texto, da mente ao papel, cada parágrafo faz diferença e tira um peso incômodo.
Na verdade, eu acho que essa coragem para retomar um objetivo estancado ou adiado é
ponto obrigatório em qualquer procedimento para combate à obesidade: não a do corpo,
não a do tecido adiposo, mas a do espírito. Ao mesmo tempo, é possível 'quantificar' o
alívio: não será o trabalho dos seus sonhos; também não mais será o combustível dos seus
pesadelos”.
Naquele momento, percebi que decididamente tinha que sair da inércia. As
postergações sucessivas – em busca do melhor jeito de dizer - da conclusão deste trabalho
haviam se tornado uma interdição para o futuro. E eu precisava, urgentemente, reabrir o
tempo. Tomar as rédeas da minha própria vida. Então, o primeiro passo, nessa direção,
foi a constatação da necessidade de me despir das pretensões de fazer “O” trabalho para
fazer o meu trabalho. Posto que, como disse meu amigo, não poderia mais ver este
trabalho como um relicário, em que eu colocaria dentro as melhores coisas, acreditando
poder esperar 20 ou 40 anos, para um dia um estranho o descubrrisse e me colocasse
diante daquelas preciosidades. Diante disso, coloquei de lado o zelo excessivo (em querer
guardar tudo para mim) e o medo da exposição (em detrimento da constatação de ter
tudo à mão e não conseguir realizar), e aqui estou escrevendo essas palavras àquelas
pessoas, pelas alegrias, tristezas e orientações intelectuais, sem às quais este trabalho não
teria sido levado a termo.
Assim, gostaria de agradecer de todo o meu coração pelas contribuições
intelectuais, afetivas ou humanas: