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2. Descrição de pessoas da roça, as mais interessantes, que vinham à venda, em Cordisburgo;
3. Descrição de pescarias, a rede;
4. Jogos de baralho: o truque; a “pavuna”, no restaurante em Cordisburgo; a intervenção do
Vigário; a briga daquele Sr. Gastão, com o padre;
5. Chico Sanfona, sua família, coisas interessantes que lhe digam respeito;
6. O Renério, idem;
7. Aquelas grandes quantidades de peixes, de Pirapora (?): como o Sr. os comprava, como
vinham, etc.
8. Caixeiros-viajantes interessantes ou curiosos, alguns bons traços.
9. Coisas interessantes, biográficas ou outras, sobre pessoas como: tio Adonias; o Siô Tico e
Nhá Chica; o pai do Juca Saturnino; Siô Lê; Luiz Canabrava; aquele Sr. Nalesherbes, meio
esquisito, que passou por Codisburgo; etc.
10. Esta é com Mamãe: – A história daquele corpo de homem, mumificado, que se
desenterrou, em Jequitibá, e foi levado para a igreja.
11. Histórias de crimes, grandes brigas, raptos de moças, etc.
A lista é grande, mas o Sr. Não se assuste com ela. É apenas um punhado de sugestões. Mas não
deixe de ir mandando alguma coisa, aos poucos. (Como disse, os detalhes – sobre objetos, usos,
expressões curiosas na conversa, etc. – são sempre importantes. Tipos encontrados em viagens,
também, por exemplo.) Nomes curiosos, de lugares e de pessoas.
Apreciei, muitíssimo, as notas que o senhor me mandou, sobre os enterros na roça. Aliás, o senhor
não imagina como têm valor para mim essas informações. Pena é que o senhor não mande delas
freqüentemente. Estão todas colecionadas, com apontamentos e sublinhados os pontos mais
importantes, e, aos poucos, serão, todas elas, aproveitadas nos meus livros.
Principalmente, acho um interesse extraordinário nas que se referem aos COSTUMES e aos TIPOS
e indivíduos pitorescos ou bem marcados. Agora, depois dos “Enterros”, por que é que o senhor não
manda, por exemplo, os “Casamentos”, os “Batizados” ou “Casos de crimes” ou de “Demandas,
Questões, etc.”, do tempo em que o senhor foi Juiz-de-Paz? Seria ótimo. Também, descrições de
caçadas – incluindo as paisagens, etc. Outra coisa, que muito gostaria de ter, são as lembranças da
Venda, em Cordisburgo: qual a época do ano em que se vendia mais? quando era que os
lavradores dispunham de mais dinheiro, etc.? E a respeito dos caixeiros-viajantes, ou COMETAS...
Fico esperando que o senhor me mande mais. Bastam pequenos tópicos. Tudo é útil. Preciso de
explorar mais o senhor, que a mina é ótima. Desde já vou agradecendo, e muitíssimo.
Também fiquei contente por o senhor ter recebido os livros e estar gostando do “Corpo de Baile”.
Como o senhor não deixará de ter notado, ele está cheio de coisas que o senhor me forneceu
naquelas cartas e notas, extremamente valiosas para mim. Falando nisto, agora estou justamente
relendo as mesmas, e passando para um caderno, classificadas e em ordem, todas as informações,
para serem aproveitadas em futuros livros. É uma bela pilha de papel, sortida de vitaminas. Pena é
que o senhor não tenha mandado mais – principalmente não mandou aquelas da lista que preparei e
enviei, encomendando matéria. E ainda há tanta coisa, que eu gostaria tanto de saber! (...) E mais
uma porção de coisas, que, se fosse arrolar aqui, nem havia papel, nem tempo. É melhor ir pedindo
aos punhadinhos, a varejo, para ver se o senhor se anima a restabelecer o fornecimento... Como já
expliquei, não se trata de pequenas histórias ou casos, que dariam mais trabalho ao senhor, para
selecionar, recordar e fixar. O que utilizo são as indicações sobre tipos, costumes, descrições de
lugares, cenas; vestimentas, métodos de trabalho, palavras, termos e expressões curiosas ou
originais, etc. etc. O senhor manda? Obrigado.
Sempre com a maior alegria é que recebo os simpáticos cartões do Papai, ou cartas. Gosto muito do
jeito dele escrever, de dar notícias de todos. Fico pensando que a minha “bossa” de escritor eu
herdei dele, que maneja a pena com tanta personalidade, vivacidade e graça. Escreva-me, sempre,
que recebo com amor, e me faz bem. (Rosa, V. G., 1983, p.163-195)