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LETÍCIA TRIVELLATO GRESTA
Análise comparativa da eficácia do método
imuno-histoquímico (D2-40 e CD34) e da
coloração de rotina (HE) para detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea no
carcinoma gástrico:
correlação com outros indicadores prognósticos
Belo Horizonte
2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Medicina
Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal
Programa de Pós-Graduação em Patologia:
Mestrado Área de Concentração em Patologia Médica
Análise comparativa da eficácia do método
imuno-histoquímico (D2-40 e CD34) e da
coloração de rotina (HE) para detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea no
carcinoma gástrico:
correlação com outros indicadores prognósticos
Letícia Trivellato Gresta
Belo Horizonte
2010
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LETÍCIA TRIVELLATO GRESTA
Análise comparativa da eficácia do método
imuno-histoquímico (D2-40 e CD34) e da
coloração de rotina (HE) para detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea no
carcinoma gástrico:
correlação com outros indicadores prognósticos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Patologia da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em Medicina.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Patologia Médica
ORIENTADORA: Profa. Dra. Mônica Maria
Demas Álvares Cabral
Belo Horizonte
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
REITOR
Prof. Ronaldo Tadêu Pena
PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO
Profª. Elizabeth Ribeiro da Silva
PRÓ-REITOR DE PESQUISA
Prof. Carlos Alberto Pereira Tavares
DIRETOR DA FACULDADE DE MEDICINA
Prof. Francisco José Penna
CHEFE DO DEPARTAMENTO DE ANATOMIA PATOLÓGICA E MEDICINA
LEGAL
Profª. Paula Vieira Teixeira Vidigal
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA
Prof. Wagner Luiz Tafuri
SUBCOORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA
Prof. Geovanni Dantas Cassali
COLEGIADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA
Prof. Anílton César Vasconcelos
Prof. Edilberto Nogueira Mendes
Profª. Helenice Gobbi
Prof. Marcelo Vidigal Caliari
Enio Ferreira (Disc.Titular)
Izabela Amorim (Disc.Suplente)
À querida professora Ana Margarida,
com saudades...
AGRADECIMENTOS
Agradeço antes de tudo a Deus, por ter me dado saúde, força e proteção para
realizar os meus sonhos.
Aos meus pais, Remo Gresta e Maria Mazzarello, pela pessoa que sou e que ainda
quero ser, pelo carinho, pela educação e amizade. Agradeço por terem me ensinado
o valor do trabalho e a virtude da gratidão.
Ao meu Norte, Ismael, pelo amor possível e impossível, pela inspiração para
continuar acreditando e trilhando o caminho só nosso. A Agulha sempre aponta para
o Norte.
À vovó Dulce, por ter me ensinado que curiosidade e sabedoria são qualidades que
se complementam, e não podem ser afastadas.
Aos meus familiares queridos, pelos momentos de alegria e cumplicidade em família,
onde podemos ser simplesmente nós mesmos.
A todos os professores do Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de
Medicina da UFMG, pela oportunidade de aprender a minha profissão.
Ao Prof. Geovanni Dantas Cassali, Coordenador do Laboratório de Patologia
Comparada do ICB UFMG, por nos ter ajudado com tanta prontidão e
generosidade, cedendo os anticorpos utilizados neste trabalho.
À Profa. Lúcia Porto Fonseca de Castro do Laboratório de Imuno-histoquímica do
Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da UFMG, pelo
apoio incondicional, pela amizade e pela ajuda na realização de todas as reações
imuno-histoquímicas.
Às Técnicas em Patologia: Maria de Lourdes Gomes Evangelista, Margaret Gomes e
Luciana Daise da Silva, pelo apoio na realização da microtomia e colorações imuno-
histoquímicas.
Aos colegas patologistas do Laboratório Analys, pelo incentivo ao estudo e ao
constante aperfeiçoamento profissional.
Aos colegas da pós-graduação, colegas da Residência, funcionários e amigos do
Departamento de Anatomia Patológica pelos tantos anos de convivência e
experiências compartilhadas.
Aos alunos da graduação da Faculdade de Medicina, estagiários do Laboratório de
Anatomia Patológica do IML BH e do Laboratório Analys, muitos deles agora
colegas de profissão, com quem aprendi muito mais do que ensinei.
A todos os amigos que contribuíram e torceram para que este trabalho fosse
concluído.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Profa. Ana Margarida Miguel Ferreira Nogueira, pelo exemplo de profissional
dedicada ao ensino, à pesquisa e à assistência, com o mesmo entusiasmo e
competência. Agradeço por ter acreditado em mim desde a época da Residência
Médica e me dado a chance de aprender com uma mestra indescritível. Sou grata
pelos ensinamentos e pela amizade, espero ter conseguido concluir o nosso projeto
da maneira imaginada.
À Profa. Mônica Maria Demas Álvares Cabral, por ter me recebido de braços abertos
para a orientação, sem hesitar. Agradeço a amizade, a confiança, o respeito e a
cumplicidade que tivemos nesses dois anos de trabalho e que foi aumentando.
Obrigada pelas incontáveis horas dedicadas a esta conquista, que significa para
mim muito mais que um título.
“All I know is this: Once I was blind, and now I can see”
Evangélio segundo São João 9, 25.
RESUMO
INTRODUÇÃO: o carcinoma gástrico (CG) é a segunda maior causa de morte por
câncer em todo o mundo, sendo o estadiamento TNM o fator mais importante para o
prognóstico dos pacientes, especialmente a presença de metástases linfonodais. A
invasão vascular linfática (IVL) detectada no tumor primário se correlaciona com a
ocorrência de metástases linfonodais e é também considerada fator prognóstico
independente nos pacientes com CG. A avaliação da angioinvasão realizada apenas
pela coloração de rotina hematoxilina e eosina (HE) pode gerar tanto resultados
falso-positivos quanto falso-negativos. O D2-40 é um anticorpo monoclonal
específico para endotélio linfático, sendo assim útil para identificar IVL e, desta
forma, distinguir se a embolização tumoral se encontra em vasos sanguíneos ou
linfáticos. OBJETIVOS: nosso objetivo foi analisar comparativamente a detecção de
IVL e sanguínea (IVS), pela HE e pela imuno-histoquímica (IHQ) com marcação por
D2-40 e CD34 em uma série de CG e correlacioná-las com os demais fatores
prognósticos. MATERIAL E MÉTODOS: foi realizado estudo IHQ em cortes
seriados, utilizando os marcadores D2-40 (endotélio linfático) e CD34 (pan-
endotelial) em 95 casos consecutivos de CG para avaliar a presença de IVL e IVS.
Os resultados obtidos pela análise à IHQ foram comparados com a detecção de IVL
e IVS pela HE, e correlacionados com outros fatores prognósticos. Os dados clínico-
patológicos e a presença de IVL e IVS foram correlacionados com a ocorrência de
metástases linfonodais. RESULTADOS: a detecção de IVL foi consideravelmente
maior que a de IVS. Sessenta e um casos (64,2%) apresentaram IVL na avaliação
pela HE, que foi identificada em 66 (69,5%) pela IHQ. Dos 61 casos com IVL ao HE,
8 eram falso-positivos à IHQ. A IHQ detectou IVL em 13 casos que haviam sido
considerados negativos ao HE. A IVS foi evidenciada em 38 casos (40,0%) pela HE
e em apenas 24 (25,2%) pela IHQ. Foram identificados, pela análise à IHQ, 24
casos falso-positivos e 10 casos falso-negativos para IVS. A comparação entre a
detecção de IVL por ambos os métodos não mostrou diferença significativa. Houve
diferença estatisticamente significativa entre a detecção de IVS ao HE e à IHQ
(p=0,02). A concordância diagnóstica entre os métodos foi moderada para IVL
(Kappa=0,50) e baixa para IVS (Kappa=0,20). A correlação entre a presença de
metástases linfonodais e a presença de IVL e IVS foi estatisticamente significativa,
tanto na avaliação pela HE (p=0,001, p=0,013), quanto pela IHQ (p=0,001, p=0,019).
A presença de metástases linfonodais se correlacionou ainda com: a profundidade
de infiltração tumoral além da submucosa (CG avançado) (p=0,001), a classificação
histológica de Laurén quando comparados os tipos difuso e misto/não classificável
(p=0,017) e a invasão de órgãos por continuidade (esôfago e duodeno) (p=0,026).
Os fatores clínico-patológicos relacionados à presença de IVL foram: topografia do
tumor no terço distal do estômago (p=0,039), tipo macroscópico de Borrmann
(p=0,001), invasão de órgãos por continuidade (p=0,003) e profundidade tumoral
(p=0,001). Em contrapartida, a presença de IVS correlacionou-se apenas com a
profundidade tumoral (p=0,003). CONCLUSÃO: a presença de IVL e IVS está
relacionada à presença de metástases linfonodais no CG. A presença de IVL está
associada a outros fatores de pior prognóstico nos tumores, como estágio avançado
da neoplasia, invasão de órgãos por continuidade e o tipo misto/não classificável de
Laurén, refletindo provavelmente o seu potencial metastático e comportamento
agressivo. Nossos resultados mostram que a aplicação do método IHQ utilizando
esses dois marcadores combinados é superior na detecção de IVL e IVS no CG,
quando comparada à coloração de rotina pela HE, podendo ter grande aplicação na
prática médica.
Palavras-chave: Carcinoma gástrico, Estadiamento TNM, Metástases linfonodais,
Fatores prognósticos, Invasão vascular linfática, Invasão vascular sanguínea, Imuno-
histoquímica, CD34, D2-40.
ABSTRACT
BACKGROUND: Worldwide, gastric carcinoma (GC) is the second largest cause of
cancer-related death. The TNM staging system for GC is widely used and it provides
important prognostic information, especially with regards to the lymph node status.
The presence of lymphatic invasion (LVI) detected on the primary tumor is the
strongest risk factor for lymph node metastasis and is known as an independent
prognostic factor in patients with GC. Because the evaluation of LVI is subjective with
conventional Hematoxylin and Eosin (H&E) staining, it can lead to inaccurate false-
positive and false-negative results. D2-40 is a specific monoclonal antibody for the
lymphatic endothelium, being useful to identify LVI and distinguish lymphatic from
blood vessel invasion (BVI) by neoplastic cells. AIMS: The aim of this study is to
evaluate and compare LVI and BVI detected by H&E and immunohistochemistry
(IHC) in a series of GC, relating them to morphologic features of the primary tumor
and to the presence of lymph node metastasis. METHODS: IHC using D2-40
(lymphatic endothelial marker) and CD34 (pan-endothelial marker) was performed to
study LVI and BVI in surgical specimens of a consecutive series of 95 primary GC.
The results of the IHC study were compared with the detection of LVI and BVI by
H&E, and related to other prognostic factors. The morphologic features of tumors and
the presence of LVI and BVI were also related to the presence of lymph node
metastasis. RESULTS: The detection of LVI was considerably higher than BVI. Sixty-
one cases (64,2%) were positive for LVI when evaluated by H&E, whether 66
(69,5%) were detected by IHC. From the 61 cases with LVI by H&E, 8 were false-
positives by IHC. The IHC detected LVI in 13 cases that were negative by H&E. BVI
was identified in 38 cases (40,0%) by H&E and in just 24 (25,2%) by IHC. The IHC
study identified 24 cases of false-positives and 10 cases of false-negatives for BVI.
The comparison of LVI detected by both methods was not statistically significant.
There was a significant difference between BVI detected by H&E and IHC (p=0,02).
The average Kappa value determined for LVI was moderate (Kappa=0,50) and low
for BVI (Kappa=0,20). The correlation between lymph node metastasis and the
presence of LVI and BVI was statistically significant when evaluated by H&E
(p=0,001, p=0,013), and IHC (p=0,001, p=0,019). The presence of lymph node
metastasis was associated with the depth of tumor invasion when compared
advanced to early GC (p=0,001), mixed-type of Laurén’s classification when
compared to the diffuse-type (p=0,017) and organ invasion (esophagus and
duodenum) (p=0,026). The morphologic features associated with LVI were: location
of tumor at distal third of the stomach (p=0,039), Borrmann’s macroscopic type
(p=0,001), organ invasion (p=0,003) and depth of tumor invasion (p=0,001). The
presence of BVI is related only to the depth of tumor invasion (p=0,003).
CONCLUSION: LVI was more easily identified in the D2-40 immunostained sections
than in the H&E stained sections. The presence of LVI and BVI is associated with the
presence of lymph node metastasis. The presence of LVI is associated to others
morphological features of poor prognosis, as advanced stage of disease, mixed-type
of Laurén’s classification when compared to the diffuse-type and organ invasion
(esophagus and duodenum), probably reflecting a potential for lymphatic metastatic
spread and aggressive behavior. Our results show that the IHC method with these
two markers is superior to the conventional H&E staining for detecting LVI and BVI in
GC. Immunohistochemical identification of lymphatic and blood vessels in GC is
useful to increase the accuracy of diagnosing the presence lymph or blood vessel
invasion and to predict lymph node metastasis.
Key-words: Gastric carcinoma, TNM staging, Lymph node metastasis, Predictive
factor, Lymphatic invasion, Blood vessel invasion, Immunohistochemistry, CD34, D2-
40.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Características clínico-patológicas da amostra .................................
TABELA 2. Revisão histopatológica dos casos ...................................................
TABELA 3. Correlação entre a classificação histológica de Laurén e a
profundidade tumoral em 95 casos de carcinoma gástrico .................
TABELA 4. Avaliação da invasão vascular linfática pelos métodos de HE e
IHQ........................................................................................................
TABELA 5. Avaliação da invasão vascular sanguínea pelos métodos de HE e
IHQ .......................................................................................................
TABELA 6. Comparação entre a concordância diagnóstica na detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea pela HE e pela IHQ ................
TABELA 7. Correlação entre a detecção de invasão vascular linfática e
sanguínea pela HE e IHQ e a presença de metástases linfonodais ....
TABELA 8. Correlação entre os parâmetros clínico-patológicos e a presença
de metástases linfonodais ...................................................................
TABELA 9. Correlação entre os parâmetros clínico-patológicos e as presenças
de invasão vascular linfática e sanguínea pela IHQ ............................
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Classificação macroscópica do carcinoma gástrico precoce
segundo a Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva. Tipos:
protuso (polipóide), superficial (elevado, plano e deprimido) e
ulcerado (escavado) ............................................................................
FIGURA 2. Classificação macroscópica do carcinoma gástrico avançado
segundo Borrmann. Tipos: polipóide (vegetante), ulcerado expansivo
(fungado), úlcero-infiltrativo (ulcerado) e infiltrativo (difuso) ................
FIGURA 3. Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100 mil
homens, estimadas para o ano de 2010, segundo a Unidade da
Federação (neoplasia maligna do estômago) ......................................
FIGURA 4. Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100 mil
mulheres, estimadas para o ano de 2010, segundo a Unidade da
Federação (neoplasia maligna do estômago) ......................................
FIGURA 5. Densidade vascular linfática nas diferentes camadas da parede
gástrica normal. Média +DP de 30 pontos (por milímetro quadrado).
M: mucosa; MM: muscular da mucosa; SM: submucosa; MP:
muscular própria; SS: subserosa .........................................................
FIGURA 6. Diagrama esquemático ilustrando os possíveis fatores preditivos de
metástases linfonodais, no qual se destacam os linfáticos intra e
peritumorais e a linfangiogênese .........................................................
FIGURA 7. Mapa de Clivagem para o processamento das peças cirúrgicas de
carcinoma gástrico: amostragem para exame histológico ...................
FIGURA 8. Fotomicrografias dos cortes seriados de invasão vascular linfática e
sanguínea detectadas pela HE (seta) e IHQ. A: IVL HE (x400). B:
IVL marcação por CD34 (x400). C: IVL marcação por D2-40 (x400).
D: IVS HE (x100). E: IVS HE (x400). F: IVS marcação por CD34
(x400). G: IVS HE (x200). H: IVS marcação por CD34 (x200) I: IVS
marcação por D2-40 (x200) .................................................................
FIGURA 9. Comparação da eficácia entre HE e IHQ como métodos
diagnósticos na detecção de invasão vascular linfática em 95 casos
de CG ...................................................................................................
FIGURA 10. Comparação da eficácia entre HE e IHQ como métodos
diagnósticos na detecção de invasão vascular sanguínea em 95
casos de CG ........................................................................................
FIGURA 11. Fotomicrografias de cortes seriados de invasão vascular linfática
detectada apenas pela IHQ e de falsa invasão vascular
diagnosticada ao HE. A e B: IVL marcação por D2-40 (x400); C:
falsa IVL HE (x100); D: falsa IVL marcação por D2-40 (x100) ..........
63
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66
67
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1. Correlação entre faixa de idade dos pacientes e tipo de carcinoma
gástrico, segundo a classificação histológica de Laurén .....................
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1. Anticorpos utilizados no estudo imuno-histoquímico .......................
QUADRO 2. Resultados dos coeficientes de concordância de Kappa de acordo
com a classificação de Landis & Koch .................................................
61
53
55
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AJCC American Joint Committee on Cancer
APM Serviço de Anatomia Patológica do Hospital das Clínicas da UFMG
BVI blood vessel invasion
cagA Proteína produzida pelo H. pylori cytotoxin-associated gene A
CG Carcinoma gástrico
COEP Comitê de Ética em Pesquisa
COX-2 Enzima pró-inflamatória ciclooxigenase-2
DAB Diaminobenzidina
DMV Densidade microvascular
DVL Densidade vascular linfática
Dr. Doutor
Dra. Doutora
EDTA - Ethylenediamine tetraacetic acid, ou Ácido Etilenodiamino Tetra-Acético
GC gastric carcinoma
HC Hospital das Clínicas
HE Hematoxilina e eosina
H&E Hematoxylin and Eosin staining
IHC Immunohistochemistry
IHQ Imuno-histoquímica ou imuno-histoquímico
IL Interleucina
INCA Instituto Nacional de Câncer
iNOS Enzima pró-inflamatória óxido-nítrico sintetase
IVL Invasão vascular linfática por células neoplásicas
IVS Invasão vascular sanguínea por células neoplásicas
JGCA Japanese Gastric Cancer Association
LP-TGI Laboratório de Pesquisa em Patologia do Trato Gastrointestinal
LSAB - Labeled Streptavidin-Biotin, ou Estreptavidina-Biotina Peroxidase
LVI lymph vessel invasion
μm Micrômetros
M Avaliação clínica de metástases hematogênicas segundo o TNM
N Avaliação clínica de metástases linfonodais segundo o TNM
NC Não classificável segundo Lauren
OMS Organização Mundial de Saúde
P.A. Pureza Analítica
PBS Solução tampão salino-fosfatado
pM Avaliação patológica de metástases hematogênicas segundo o TNM
pN Avaliação patológica de metástases linfonodais segundo o TNM
pT Avaliação patológica da profundidade de invasão tumoral segundo o TNM
Prof. Professor
Profa. Professora
SBP Sociedade Brasileira de Patologia
SJED Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva
SOE Sem outra especificação
T Avaliação clínica da profundidade de invasão tumoral segundo o TNM
TNFα Fator de necrose tumoral-alfa
TNM Sistema de classificação de neoplasias para estadiamento
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UICC Union Internationale Contre le Cancer
VEGF Fator de crescimento derivado do endotélio vascular
VEGF-C Fator de crescimento C derivado do endotélio vascular
VEGFR-3 Receptor do Fator de crescimento C derivado do endotélio vascular
VPN Valor preditivo negativo
VPP Valor preditivo positivo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO …………………………………………………..............................
1.1 Justificativa ...................................................................................................
1.2 Objetivos .......................................................................................................
2 REVISÃO DA LITERATURA ……………………………………........................
2.1 Aspectos clínico-patológicos do carcinoma gástrico ..............................
2.1.1 Classificação histológica do carcinoma gástrico .........................................
2.1.2 Avaliação macroscópica do carcinoma gástrico ..........................................
2.1.3 Fatores epidemiológicos relacionados ao carcinoma gástrico ....................
2.1.4 Fatores etiológicos relacionados ao carcinoma gástrico .............................
2.1.5 Aspectos gerais relacionados à carcinogênese gástrica .............................
2.2 Aspectos prognósticos clássicos do carcinoma gástrico .......................
2.2.1 Tipo histológico e prognóstico do câncer gástrico .......................................
2.2.2 Importância do estadiamento anatomopatológico no carcinoma gástrico ...
2.2.3 O papel do rastreamento endoscópico no diagnóstico do carcinoma
gástrico .................................................................................................................
2.3 Neoformação vascular linfática e sanguínea na carcinogênese gástrica
2.3.1 Angiogênese e carcinogênese......................................................................
2.3.2 Linfangiogênese no carcinoma gástrico ......................................................
2.4 Novos parâmetros prognósticos na avaliação do carcinoma gástrico:
importância prognóstica da invasão vascular linfática e sanguínea ............
2.5 Métodos de avaliação de invasão vascular ................................................
2.5.1 Problemas na detecção de invasão vascular linfática e sanguínea pela
coloração de rotina por HE ...................................................................................
2.5.2 Perspectivas da aplicação do método imuno-histoquímico na detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea .................................................................
3 MATERIAIS E MÉTODOS …...................................……………........................
3.1 Seleção dos casos ........................................................................................
3.2 Estudo morfológico dos tumores primários ..............................................
22
22
24
25
25
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47
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50
52
3.3 Estudo imuno-histoquímico ........................................................................
3.4 Avaliação de invasão vascular ....................................................................
3.4.1 Avaliação de invasão vascular pela coloração de HE .................................
3.4.2 Avaliação de invasão vascular pela coloração de IHQ ................................
3.5 Análise estatística .........................................................................................
4 RESULTADOS ..................................................................................................
4.1 Características gerais da amostra ..............................................................
4.1.1 Características clínico-patológicas dos casos .............................................
4.1.2 Revisão histopatológica ...............................................................................
4.1.3 Correlação entre as variáveis clínico-patológicas idade e profundidade
tumoral com a classificação histológica de Laurén ...............................................
4.2 Avaliação de invasão vascular linfática e sanguínea ................................
4.2.1 Invasão vascular linfática e invasão vascular sanguínea ............................
4.2.2 Comparação da eficácia dos métodos de HE e IHQ na identificação de
invasão vascular ...................................................................................................
4.3 Correlação com metástases linfonodais e outras variáveis
prognósticas .......................................................................................................
4.3.1 Correlação entre invasão vascular e metástases linfonodais ......................
4.3.2 Valor preditivo da invasão vascular linfática e sanguínea para metástases
linfonodais .............................................................................................................
4.3.3 Correlação entre variáveis clínico-patológicas e metástases linfonodais ....
4.3.4 Correlação entre variáveis clínico-patológicas e invasão vascular linfática
e sanguínea detectadas pela IHQ ........................................................................
5 DISCUSSÃO ......................................................................................................
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................
PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................................................
REFERÊNCIAS ....................................................................................................
APÊNDICES .........................................................................................................
ANEXOS ...............................................................................................................
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54
54
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68
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69
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96
22
1 INTRODUÇÃO
1.1 Justificativa
A incidência do carcinoma gástrico (CG) exibe tendência global de declínio
nas últimas décadas. Entretanto, ainda figura como a quarta neoplasia mais
freqüente e a segunda maior causa de morte por câncer em todo o mundo. As
estimativas brasileiras produzidas pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) para
2010 não são diferentes. O número de casos novos de câncer de estômago
estimados no Brasil para o ano de 2010 foi de 13.820 para a população masculina e
7.680 para a feminina. Esses valores correspondem a um risco estimado de 14
casos novos a cada 100 mil homens e de 8 a cada 100 mil mulheres.
A razão mortalidade/incidência do CG é consideravelmente alta em todas as
partes do mundo, sendo a sobrevida relativa em cinco anos baixa, cerca de 20% na
maioria dos países em desenvolvimento. Apesar dos valores ainda elevados de
mortalidade, tendência de melhoria das taxas de sobrevida com os avanços da
endoscopia digestiva e conseqüente detecção de tumores cada vez mais precoces.
Entretanto, observações epidemiológicas realizadas no Brasil permitem afirmar que
essas tendências de melhoria o menos pronunciadas em nosso meio, onde os
diagnósticos são em geral tardios. Portanto, são justificados todos os esforços na
tentativa de aproximar o perfil brasileiro ao dos países mais desenvolvidos em
relação ao diagnóstico e tratamento desta neoplasia.
O prognóstico do CG baseia-se essencialmente no seu estadiamento em
relação à profundidade de invasão tumoral e à presença de metástases linfonodais.
Estas características, aliadas a outros aspectos patológicos, definem os rumos do
23
tratamento. Portanto, a abordagem cirúrgica com propósitos curativos, envolvendo
gastrectomia com linfadenectomia, é considerada a única intervenção capaz de
prolongar a sobrevida.
A presença de invasão vascular linfática (IVL) no tumor primário tem sido
considerada fator de risco independente para a ocorrência de metástases linfonodais
em diversos tipos de neoplasia. Embora tenha havido grande avanço no estudo dos
mecanismos que levam à progressão tumoral e à produção de metástases, as
pesquisas envolvendo invasão vascular e suas formas de detecção no CG se
baseiam, muitas vezes, em métodos fragmentados e incompletos, aliados à falta de
interpretação global dos resultados.
O presente estudo tem como propósito definir o valor da análise da IVL e da
invasão vascular sanguínea (IVS) pelo método imuno-histoquímico (IHQ) em uma
amostra abrangente de pacientes com CG e a sua possível aplicação nos
procedimentos propedêuticos de rotina.
Apesar da notável agressividade do CG em fases avançadas, devemos ter
em mente que minimizar a quantidade de procedimentos invasivos é essencial para
melhorar a qualidade de vida do paciente. Tratamentos menos radicais, como a
ressecção endoscópica sem esvaziamento linfonodal (mucosectomia ou dissecção
da submucosa), têm sido cada vez mais aplicados em casos altamente selecionados
de CG precoce. Para que se possa prescindir da linfadenectomia nesses casos, é
necessário excluir com absoluta segurança a presença de IVL ou IVS no tumor
primário.
Por todas essas razões, a avaliação adequada do potencial metastático da
neoplasia é um dos fatores mais importantes para o tratamento do câncer gástrico e
para a sobrevida dos pacientes.
24
1.2 Objetivos
Analisar comparativamente a eficácia na detecção de IVL e IVS pelo método
de coloração de rotina pela Hematoxilina e Eosina (HE) e após a marcação
IHQ em uma série de casos de CG;
Avaliar a presença de IVL e IVS e sua relação com a presença de metástases
linfonodais;
Correlacionar características clínico-patológicas dos pacientes com a
presença de IVL e IVS;
Correlacionar características clínico-patológicas dos pacientes com a
ocorrência de metástases linfonodais.
25
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Aspectos clínico-patológicos do carcinoma gástrico
O CG representa mais de 90% das neoplasias malignas do estômago e
compreende um grupo bastante heterogêneo de neoplasias do ponto de vista
morfológico (Coleman et al., 1993; Fenoglio-Preiser et al., 1996). Essa
heterogeneidade pode ser demonstrada pelos diversos sistemas de classificação
desenvolvidos para caracterizar o CG, que são baseados em diferentes abordagens:
tipo histológico, padrão macroscópico, topografia, padrão de crescimento, grau
histológico de diferenciação ou histogênese da neoplasia.
2.1.1 Classificação histológica do carcinoma gástrico
O CG é uma neoplasia maligna epitelial da mucosa strica, de origem
glandular (Aaltonen, Hamilton et al., 2000). É constituída, em sua maioria, por
estruturas tubulares, acinares e papilares, ou então consiste em complexa
combinação de células isoladas e pouco coesas, com estruturas glandulares,
trabeculares ou lidas. Diversos sistemas de classificação foram propostos para o
CG, porém os mais utilizados são as classificações histológicas da Organização
Mundial de Saúde (OMS) e de Laurén (Laurén, 1965; Aaltonen, Hamilton et al.,
2000). Ambos baseiam-se nos aspectos morfológicos característicos das biópsias e
peças cirúrgicas de CG, identificados apenas ao exame histopatológico.
Segundo Laurén, as neoplasias podem ser classificadas em dois tipos
principais: intestinal e difuso. O CG do tipo intestinal forma glândulas claramente
26
identificáveis, cuja diferenciação varia de pouco a bem diferenciadas. O tipo difuso
consiste na proliferação de células isoladas, com tendência a acúmulo de muco
intracelular, que infiltram a parede gástrica individualmente, sem formação glandular.
Tumores que contêm proporções variáveis destes tipos o chamados mistos, e
aqueles que não se encaixam em nenhuma categoria são os não-classificáveis (NC)
segundo Laurén.
A classificação de Laurén é amplamente utilizada, pois indica a história
natural do CG, mostrando associação epidemiológica com a faixa etária de
incidência e fatores prognósticos e etiopatogênicos (Laurén, 1965; Laurén, 1991).
A classificação da OMS baseia-se no padrão histológico arquitetural
predominante da neoplasia. Os principais tipos são: adenocarcinoma tubular,
papilar, mucinoso, adenocarcinoma sem outra especificação (SOE) e carcinoma de
células em anel de sinete (Aaltonen, Hamilton et al., 2000). Esta classificação é
basicamente descritiva, não refletindo o comportamento biológico da neoplasia
(Carneiro, 1997).
Outra classificação morfológica simples foi proposta por Ming, baseada no
padrão de crescimento da neoplasia (Ming, 1977). Ela divide o CG em dois tipos, de
acordo com a capacidade de infiltrar a parede gástrica. O tipo expansivo
corresponde a dois terços dos tumores, exibindo massas circunscritas de células
neoplásicas coesas, com bordas claramente demarcadas. Os tumores do tipo
infiltrativo são caracterizados pela infiltração difusa da parede por células
neoplásicas individuais, estando presente no terço restante das neoplasias
gástricas. A diferenciação entre os dois padrões de crescimento da neoplasia tem
relevância prognóstica, apresentando relação estatisticamente significativa com o
estadiamento TNM, segundo estudos prospectivos (Luebke et al., 2005).
27
2.1.2 Avaliação macroscópica do carcinoma gástrico
A avaliação macroscópica do CG consiste em determinar as dimensões do
tumor e outras características, que podem ter implicação no prognóstico dos
pacientes, destacando-se: a localização, o tipo de apresentação macroscópica e a
distância entre o tumor e as margens cirúrgicas (Lemes et al., 2003; Robert et al.,
2008).
A localização mais freqüente do CG é na pequena curvatura antral do terço
distal do estômago (Aaltonen, Hamilton et al., 2000). Entretanto, os tumores
localizados no terço proximal do estômago, particularmente as neoplasias da cárdia,
têm apresentado crescente incidência e prognóstico pior que os do terço distal ou
médio (Kim et al., 1998).
A classificação macroscópica do CG precoce é fortemente relacionada aos
critérios utilizados para a classificação endoscópica da Sociedade Japonesa de
Endoscopia Digestiva (SJED) (Japanese Gastric Cancer Association, 1998). Ela
apresenta três categorias distintas, que podem estar combinadas em alguns tumores
(FIG.1). O tipo I, chamado protuso, identifica tumores que formam proeminência na
mucosa gástrica, com morfologia polipóide. O tipo II, ou superficial, pode ser
subdividido em três variantes: superficialmente elevado (IIa), plano (IIb) ou deprimido
(IIc). Por fim, o tipo III é o ulcerado, similar à úlcera gástrica de origem péptica,
sendo o tipo macroscópico mais freqüente dentre os CG precoces (Moreaux,
Bougaran, 1993).
O CG avançado pode ser classificado em quatro padrões de apresentação
macroscópica (Borrmann, 1926). O tipo I, chamado polipóide ou vegetante, é
geralmente associado aos carcinomas bem diferenciados. O tipo II, denominado
28
ulcerado expansivo, mostra bordas elevadas com ulceração rasa central. O tipo III é
o úlcero-infiltrativo, enquanto o tipo IV mostra padrão infiltrativo difuso na parede
gástrica, denominado linite plástica (FIG.2).
FIGURA 1: Classificação macroscópica do carcinoma gástrico precoce
segundo a Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva.
Tipos: protuso (polipóide), superficial (elevado, plano e
deprimido) e ulcerado (escavado).
FONTE: Japanese Classification of Gastric Carcinoma (1998).
FIGURA 2: Classificação macroscópica do carcinoma gástrico avançado
segundo Borrmann. Tipos: polipóide (vegetante), ulcerado
expansivo (fungado), úlcero-infiltrativo (ulcerado) e infiltrativo
(difuso).
FONTE: Borrmann Classification of Advanced Gastric Cancer (1926).
29
2.1.3 Fatores epidemiológicos relacionados ao carcinoma gástrico
No mundo, as altas taxas de incidência do CG configuram-no como o quarto
tipo mais comum de neoplasia e, em termos de mortalidade, como a segunda causa
de óbitos por câncer (Hohenberger, Gretschel, 2003; Brenner et al., 2009). Em geral,
sua magnitude é de duas a três vezes maior nos países em desenvolvimento, sendo
maior no sexo masculino que no feminino (Aaltonen, Hamilton et al., 2000).
A distribuição geográfica mundial dessa doença exibe variações extremas,
com áreas de alto risco que incluem os países orientais da Ásia, como Japão, China
e Coréia; Europa Oriental; além de países da América Central e do Sul. A população
dos países do sudeste asiático, da África, América do Norte, Austrália e Nova
Zelândia é considerada de baixo risco para desenvolvimento do CG (Forman,
Burley, 2006). Nos últimos 50 anos, a incidência do CG vem sofrendo queda gradual
e contínua, devido particularmente a melhorias na dieta, como o aumento da
disponibilidade de frutas e vegetais e a diminuição no consumo de sal, aliada a sua
não utilização para a preservação dos alimentos (Aaltonen, Hamilton et al., 2000;
Correa, Piazuelo et al., 2006).
No Brasil, estudos epidemiológicos revelam que a distribuição estimada dos
casos novos de CG mostra-se também heterogênea entre os diferentes estados e
regiões do país (INCA, 2009). O ncer de estômago em homens é o segundo mais
freqüente nas regiões Norte e Nordeste, o terceiro na região Centro-Oeste e, nas
regiões Sul e Sudeste, o quarto (FIG.3). Em relação às mulheres, é o terceiro mais
freqüente na Região Norte, o quarto na Região Nordeste e, nas demais regiões, Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, é o quinto mais incidente (FIG.4).
30
FIGURA 3: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100
mil homens, estimadas para o ano de 2010, segundo a
Unidade da Federação (neoplasia maligna do estômago).
FONTE: Instituto Nacional de Câncer - INCA/MS, Brasil.
FIGURA 4: Representação espacial das taxas brutas de incidência por 100
mil mulheres, estimadas para o ano de 2010, segundo a
Unidade da Federação (neoplasia maligna do estômago).
FONTE: Instituto Nacional de Câncer - INCA/MS, Brasil.
O número de casos novos de câncer de estômago estimado para o Brasil no
ano de 2010 é de 13.820 para a população masculina e 7.680 para a feminina. Estes
valores correspondem a um risco estimado de 14 casos novos para cada 100 mil
homens e 8 para cada 100 mil mulheres (INCA, 2009).
A classificação histológica de Laurén guarda relação com a faixa etária de
incidência e com diversos aspectos epidemiológicos do CG, inclusive com a
31
distribuição geográfica na população mundial (Carneiro, 1997; Hohenberger,
Gretschel, 2003). O tipo intestinal predomina nas populações de alto risco para CG e
nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a redução da
prevalência desse tipo específico de CG foi a responsável pela queda das taxas de
mortalidade por essa neoplasia observada nas últimas cadas (Forman, Burley,
2006). Pacientes do sexo masculino são mais acometidos, numa média de idade em
torno dos 60 anos. O tipo difuso é relativamente mais freqüente nas populações de
baixo risco, acomete igualmente ambos os sexos, com idade média em torno dos 50
anos, apresentando pior prognóstico. Não houve modificação significativa em sua
prevalência nas últimas décadas (Laurén, Nevalainen, 1993).
A razão mortalidade/incidência do CG é consideravelmente alta em todas as
partes do mundo, sendo a sobrevida relativa em cinco anos baixa, cerca de 20% na
maioria dos países em desenvolvimento (Kamangar et al., 2006). Apesar dos valores
ainda elevados de mortalidade, tendência de melhoria das taxas de sobrevida
com os avanços da endoscopia digestiva e, conseqüentemente, na detecção de
tumores cada vez mais precoces (Forman, Burley, 2006).
2.1.4 Fatores etiológicos relacionados ao carcinoma gástrico
A origem do CG é multifatorial, atribuída predominantemente a fatores
ambientais, desenvolvendo-se a partir de interações complexas entre fatores
genéticos e modulação da reposta imunológica do hospedeiro, comumente após
longo período de gastrite atrófica (Hohenberger, Gretschel, 2003). Estudos
epidemiológicos em diferentes populações demonstram relação expressiva com a
dieta, especialmente em relação aos carcinomas de tipo intestinal. Entretanto a
32
associação mais importante se com a infecção por Helicobacter pylori, adquirida
comumente na infância (Correa, Piazuelo et al., 2006).
A forte associação entre a dieta rica em sal e o risco aumentado para CG e
suas condições e lesões precursoras está bem estabelecida desde as décadas de
1970 e 1980 (Correa, Haenszel et al., 1975; Joossens, Geboers, 1981). Os efeitos
da dieta excessivamente rica em sal estão associados a alterações inflamatórias e
reparativas, com conseqüente indução de atrofia na mucosa gástrica (Correa, 1992).
O sal em excesso pode também contribuir para aumentar a capacidade mutagênica
de alimentos ricos em nitrosaminas (Correa, Haenszel et al., 1975). Nitrosaminas
são compostos com potencial cancerígeno, provenientes da transformação de
nitratos e nitritos, presentes em alguns alimentos e na saliva, dentro do ambiente
gástrico (Joossens, Hill et al., 1996). Fatores de risco comuns a outros tumores,
como consumo de álcool, tabaco e exposição ocupacional a nitrosaminas e agentes
inorgânicos tem sido estudados em diversas populações, porém com resultados
inconsistentes em relação ao CG (Aaltonen, Hamilton et al., 2000).
O H. pylori é uma bactéria espiralada Gram-negativa com capacidade de
colonizar e de se estabelecer permanentemente no adverso meio-ambiente do
estômago humano, causando infecção crônica em grande parte da população
mundial (Marshall, Warren, 1984; Taylor, Blaser, 1991). Atualmente está bem
estabelecido que a infecção crônica da mucosa gástrica por H. pylori é o principal
fator causal de doenças como a gastrite crônica e a úlcera péptica, além de estar
implicada na patogênese da atrofia e da metaplasia intestinal, condições
consideradas de risco para o desenvolvimento do CG (Blaser, Chyou et al., 1995;
Correa, 1995; Warren, 2000).
33
Fatores de virulência próprios da bactéria, como a expressão do gene cagA
(cytotoxin-associated gene A), também interferem na relação parasito-hospedeiro,
estimulando a ativação do processo inflamatório no sentido da carcinogênese
(Queiroz et al., 1998; Cabral et al., 2007).
2.1.5 Aspectos gerais relacionados à carcinogênese gástrica
Dentre os diversos modelos propostos para a carcinogênese gástrica,
destaca-se o de Pelayo Correa (Correa, 1992). Neste modelo, o CG do tipo intestinal
surgiria a partir de uma sucessão de eventos que se iniciaria pela infecção crônica
da mucosa gástrica pelo Helicobacter pylori (Correa, Houghton, 2007). Este
processo engloba os seguintes eventos seqüenciais para o seu desenvolvimento:
gastrite crônica, atrofia multifocal, metaplasia intestinal e displasia de baixo e alto
graus (neoplasia intra-epitelial) (Correa, Piazuelo et al., 2006). Em contrapartida, o
CG tipo difuso de Laurén não mostra relação seqüencial tão significativa com os
fatores ambientais, estando predominantemente associado a fatores genéticos
(Ming, 1998; Tahara, 2004).
Nesta seqüência, o H. pylori atuaria em diversas etapas do processo da
carcinogênese gástrica, gerando estímulo contínuo à inflamação, à proliferação
celular e às alterações gênicas (Correa, Piazuelo, 2008). Entretanto, o mecanismo
de lesão inicial ao DNA das células da mucosa gástrica permanece ainda
desconhecido. A hipótese mais difundida atualmente na literatura atribui o início do
processo de carcinogênese ao estresse oxidativo induzido no epitélio gástrico pela
infecção crônica (Wilson, Crabtree, 2007). Essas alterações são iniciadas e
sustentadas pela infecção persistente por H. pylori. A erradicação da bactéria,
34
quando realizada precocemente, pode ser suficiente para interferir na cascata da
carcinogênese e prevenir o surgimento da neoplasia (Correa, Houghton, 2007).
O H. pylori apresenta entre suas amostras grande diversidade genética que
amplia suas possibilidades de adaptação ao hospedeiro (Jiang, Hiratsuka et al.,
1996). Na grande maioria da população infectada, prevalece o estado de equilíbrio
entre os fatores de agressão da bactéria e de defesa do hospedeiro (Blaser, Chyou
et al., 1995; Warren, 2000). As amostras de H. pylori que expressam o gene cagA
(cytotoxin-associated gene A) produzem a proteína cagA, altamente antigênica, que
estimula resposta inflamatória acentuada da mucosa. Essa proteína induz maior
produção e liberação de radicais livres de oxigênio e de enzimas p-inflamatórias
como cyclooxigenase-2 (COX-2) e óxido-trico sintetase (iNOS), do fator de necrose
tumoral-alfa (TNFα) e de interleucinas (IL) que atuam como potentes fatores
quimiotáticos e ativadores de macrófagos e neutrófilos (Wilson, Crabtree, 2007).
Além do mais, as amostras cagA-positivas são as mais comumente observadas no
CG (Blaser, Chyou et al., 1995; Queiroz et al., 1998).
Estudos sobre a infecção crônica da mucosa gástrica pelo H. pylori e sua
relação com a carcinogênese gástrica, conduzidos por nosso grupo de pesquisa,
confirmaram que a infecção por amostras cagA-positivas está associada às
condições pré-cancerosas, como atrofia e metaplasia intestinal (Cabral et al., 2006).
Estudos topográficos da mucosa gástrica realizados pelo mesmo grupo
demonstraram que a proliferação epitelial e a expressão de proteínas pró-
apoptóticas são significativamente mais intensas na pequena curvatura antral, onde
surge a maioria dos CG (Cabral et al., 2006; Cabral et al., 2007).
35
2.2 Aspectos prognósticos clássicos do carcinoma gástrico
2.2.1 Tipo histológico e prognóstico do câncer gástrico
Idealmente, um sistema de classificação histológica deve ser capaz de
identificar aqueles tipos tumorais que apresentam características consideradas úteis
na prevenção, no diagnóstico precoce e na terapêutica dos pacientes.
A classificação da OMS tem pouco valor prognóstico no CG e,
conseqüentemente, relativa relevância clínica, uma vez que não leva em
consideração dados epidemiológicos ou características histogenéticas da neoplasia
(Carneiro, 1997). A maior vantagem da classificação da OMS é o reconhecimento
dos padrões morfológicos que também são demonstrados em tumores de outras
localizações, como intestino delgado e grosso, produzindo uma única abordagem
histológica dos carcinomas do trato gastrointestinal.
A classificação histológica de Laurén, descrita em 1965, é a mais utilizada
para o diagnóstico do CG, e perdura até os dias de hoje, não só pelo seu significado
prognóstico quanto pelo seu valor na definição da escolha da abordagem cirúrgica a
ser realizada (Laurén, 1965; Laurén, 1991; Robert, et al., 2008). Geralmente, o CG
do tipo difuso apresenta prognóstico pior do que o tipo intestinal, requerendo
ressecções mais extensas e até gastrectomia total, uma vez que acarreta maior risco
de acometimento das margens cirúrgicas (Rodrigues et al., 2000). Portanto, as
margens de segurança ideais devem ser de 5,0 cm para os CG de tipo intestinal e
de 10,0 cm para o tipo difuso (Jentschura, Winkler et al., 1997). Além do mais, o CG
do tipo difuso é considerado o principal fator de risco para invasão duodenal nos
tumores localizados no terço distal do estômago (Nogueira et al., 2000).
36
O significado da classificação de Ming relaciona-se ao potencial invasivo do
CG (Ming, 1977). As células neoplásicas com crescimento do tipo expansivo
apresentam capacidade de penetração limitada na parede gástrica, o que se reflete
em prognóstico mais favorável e em melhores taxas de sobrevida do que as que se
verificam nas neoplasias com crescimento do tipo infiltrativo (Luebke et al., 2005).
De maneira geral, é possível traçar um paralelo entre a classificação de
Laurén e outras classificações morfológicas. A maioria dos tumores com padrão
expansivo apresenta características do tipo intestinal de Laurén, enquanto a maioria
dos infiltrativos corresponde ao tipo difuso (Cimerman et al, 1994.).
2.2.2 Importância do estadiamento anatomopatológico no carcinoma gástrico
A classificação TNM do American Joint Committee on Cancer/Union
Internationale Contre le Cancer (AJCC/UICC) é a mais utilizada para o estadiamento
dos pacientes com neoplasias de origem epitelial (Sobin, Wittekind et al., 2002;
Greene, American Joint Committee on Cancer. et al., 2002) (ANEXO A). Baseia-se
na avaliação clínica e patológica da profundidade da invasão tumoral (T), da
presença de metástases linfonodais (N) ou de metástases à distância (M) e é
considerada o fator prognóstico mais importante para o estadiamento do CG
(Aaltonen, Hamilton et al., 2000). O estudo anatomopatológico convencional dos
espécimes cirúrgicos de CG consiste basicamente na determinação dos parâmetros
T (pT) e N (pN) (Robert et al., 2008).
A profundidade de invasão tumoral é um dos principais parâmetros para a
avaliação prognóstica do CG e é ainda mais importante para o planejamento das
estratégias terapêuticas a serem adotadas (Hohenberger, Gretschel, 2003). A
37
Associação Japonesa para o Câncer Gástrico (Japanese Gastric Cancer Association
- JGCA) foi a primeira a definir como CG precoce (nível T1) a neoplasia restrita à
mucosa e à submucosa, independentemente da presença de acometimento
linfonodal (Japanese Gastric Cancer Association, 1998). A neoplasia que invade a
camada muscular própria da parede gástrica (nível T2), a serosa (nível T3), ou
estruturas adjacentes ao estômago (nível T4) é considerada avançada (Sobin,
Wittekind et al., 2002). Essa categorização permite a diferenciação mais precisa dos
casos que necessitam de tratamento cirúrgico radical, com gastrectomia e
linfadenectomia (CG avançado), daqueles que podem ser submetidos apenas ao
tratamento endoscópico com mucosectomia ou dissecção da submucosa (CG
precoce) (Nakajima, 2002; Shimada, 2004).
A sobrevida em cinco anos de pacientes com CG precoce pode ultrapassar a
taxa de 90%, quando o tratamento for adequado (Hohenberger, Gretschel, 2003).
Em contrapartida, em pacientes com neoplasias mais avançadas, estas taxas são
menores que 20% (Furukawa et al., 2002; Kodera et al., 2008).
O acometimento dos linfonodos regionais perigástricos é o fator prognóstico
mais importante do CG (Kim et al., 1998; Siewert et al., 1998; Yokota et al., 2004).
Embora métodos de imagem tenham sido testados para avaliação do acometimento
linfonodal no CG, o exame histopatológico dos linfonodos a partir da peça de
gastrectomia com linfadenectomia ainda é considerado o método mais confiável
para o estadiamento adequado (Mullaney et al., 2002; Hohenberger, Gretschel,
2003; Coburn, 2009).
A incidência geral de metástases linfonodais no CG precoce está entre 10% a
15%. Ela varia de 2,6% a 4,8% nas neoplasias restritas à mucosa e de 16,5% a
23,6% nas neoplasias que alcançam a submucosa (An, Baik et al., 2007). Nos CG
38
avançados, a presença de metástases linfonodais ocorre em até 44% dos tumores
no estágio T2 e até 64% no estágio T3 (Hohenberger, Gretschel, 2003).
Em relação ao CG precoce, quando são avaliados fatores morfológicos como
tamanho do tumor, grau histológico de diferenciação, ulceração e tipo de
crescimento, é possível selecionar aqueles que possuem baixo risco para
metástases linfonodais (Folli, Morgagni et al., 2001; An, Baik et al., 2007).
Estudos com grande número de casos de CG precoce no Japão, submetidos
a gastrectomia com linfadenectomia, revelaram que nenhum dos 1230 tumores
intramucosos e bem diferenciados com menos de 3,0 cm apresentava metástases
linfonodais ao exame anatomopatológico (Gotoda et al., 2000). Nestes casos
selecionados, consenso na literatura de que a gastrectomia com linfadenectomia
seria um tratamento desnecessariamente agressivo, estando indicada a ressecção
endoscópica. Entretanto, essa abordagem deve ser individual e altamente
selecionada em cada caso, com estadiamento local bem feito, uma vez que o risco
de se detectar metástases linfonodais nestas situações é pequeno, porém não
desprezível (2,5%) (Hohenberger, Gretschel, 2003).
Em relação ao pN, a edição mais atual do manual de estadiamento do
AJCC/UICC preconiza um mínimo de 15 linfonodos dissecados, que devem ser
analisados ao exame anatomopatológico para se obter o valor preditivo adequado
do status linfonodal (Greene, American Joint Committee on Cancer. et al., 2002). Se
um número insuficiente de linfonodos for obtido, existe a chance de o paciente ser
considerado inapropriadamente livre de metástases linfonodais (Uña, 2009). Este
paciente, portanto, seria classificado em um estágio mais baixo que o real (pN0) e
submetido à terapêutica inadequada, o que acarretaria em tempo de sobrevida
menor do que ocorreria caso fosse corretamente estadiado (Mullaney et al., 2002).
39
Apesar dos esforços conjuntos para prevenção, diagnóstico e tratamento do
CG, a maioria dos pacientes ainda é diagnosticada em estágios avançados,
geralmente com metástases linfonodais (De Gara, Hanson et al., 2003). Portanto, a
taxa de mortalidade do CG é consideravelmente alta em todas as partes do mundo,
sendo a sobrevida relativa em cinco anos baixa, girando em torno de 20% a 30%
(Kamangar et al., 2006).
2.2.3 O papel do rastreamento endoscópico no diagnóstico do carcinoma gástrico
Em geral, a falta de manifestações clínicas específicas nas fases iniciais da
neoplasia retarda o diagnóstico do CG. Conseqüentemente, 80% a 90% dos
pacientes em países ocidentais se apresentam para tratamento médico já com
tumores avançados, com baixas chances de cura (Aaltonen, Hamilton et al., 2000).
A endoscopia digestiva alta é o método de rastreamento mais eficaz para a detecção
do CG e de suas lesões precursoras (De Vries et al., 2007).
Em países orientais onde o CG é comum, como Japão e Coréia,
aproximadamente 80% das neoplasias detectadas em programas de rastreamento
endoscópico são precoces (Aaltonen, Hamilton et al., 2000). Enquanto no Japão a
proporção de casos de CG precoce corresponde a 40% do total diagnosticado, na
Europa equivale apenas a 15% (Hohenberger, Gretschel, 2003).
Na tentativa de minimizar a quantidade de procedimentos invasivos e
melhorar a qualidade de vida do paciente, o tratamento endoscópico tem sido cada
vez mais aplicado, especialmente nos países com altas taxas de diagnóstico
precoce (Ono, 2006; Yasuda, 2006). Entretanto, esses procedimentos não
possibilitam a avaliação anatomopatológica dos linfonodos perigástricos,
40
presumindo-se que sejam negativos nestes casos, o que, em última análise, resulta
em um estadiamento incompleto da neoplasia pelo sistema TNM.
Os critérios para a indicação do tratamento endoscópico do CG são bem
definidos e pouco flexíveis (Hyung, Cheong et al., 2004; An, Baik et al., 2007;
Hanaoka et al., 2009). As indicações propostas para a ressecção endoscópica são:
adenocarcinoma diferenciado, lesão menor que 2,0 cm, sem ulceração no tumor e
sem envolvimento de vasos linfáticos e sanguíneos, que metástases linfonodais
são raras em neoplasias com essas características (Ono, 2006; An, Baik et al.,
2007). Para que se possa prescindir da linfadenectomia nesses casos, é necessário
excluir com absoluta segurança a presença de IVL ou IVS no tumor primário ao
exame histopatológico (Hyung, Cheong et al., 2004).
41
2.3 Neoformação vascular linfática e sanguínea na carcinogênese gástrica
2.3.1 Angiogênese e carcinogênese
A formação de novos vasos sanguíneos, ou angiogênese, ocorre em diversos
processos fisiológicos e patológicos, sendo, no âmbito desses últimos, de
fundamental importância na progressão tumoral (Tonini, Rossi et al., 2003; Folkman,
2006). As células neoplásicas invadem os vasos neoformados e são transportadas a
outros sítios no organismo, podendo produzir metástases (Weidner, 2002). Portanto,
quanto maior a quantidade de vasos neoformados em determinada área, definida
como densidade microvascular sanguínea (DMV), maiores seriam as possibilidades
de invasão vascular e metastatização em alguns tipos de neoplasia (Weidner, 2000).
O desenvolvimento de novo vaso sangüíneo é um fenômeno complexo e resultado
de seqüência de eventos envolvendo fatores de crescimento produzidos por células
neoplásicas e intersticiais (Bussolino, Mantovani et al., 1997). Entretanto, os
mecanismos que controlam o início da angiogênese ainda não estão totalmente
elucidados (Gupta, Qin, 2003).
O início da angiogênese tumoral, denominado de angiogenic switch”,
representa o evento-chave no processo de carcinogênese, indicando o momento em
que o tumor inicia o recrutamento de seu suprimento sanguíneo próprio por meio do
desequilíbrio entre os fatores pró-angiogênicos e anti-angiogênicos (Bergers,
Benjamin, 2003; Ribatti, Nico et al., 2007). Diversas substâncias endógenas ou
produzidas pela própria neoplasia estão implicadas no controle da angiogênese,
direta ou indiretamente, estimulando ou inibindo o processo de neoformação
vascular (Nyberg, Xie et al., 2005; Neufeld, Kessler, 2006).
42
Estudos de caráter experimental revelam que a ativação do fenótipo
angiogênico ocorre nas fases mais precoces do desenvolvimento tumoral (Naumov,
Akslen et al., 2006; Naumov, Bender et al., 2006). A angiogênese precede e é
necessária para a progressão tumoral e o desenvolvimento de metástases (Weidner,
2004).
2.3.2 Linfangiogênese no carcinoma gástrico
A linfangiogênese é a formação de novos vasos linfáticos, sendo considerada
fator de risco para metástases linfonodais, uma vez que aumenta as chances de IVL
no CG (Kitadai et al., 2005).
Apesar de haver numerosos estudos sobre a angiogênese, são poucos
aqueles que avaliam a linfangiogênese como fator prognóstico nas neoplasias. Isso
se deve ao fato de que, até recentemente, não havia marcadores IHQ confiáveis ou
específicos para o endotélio linfático. A partir da maior disponibilidade destes
marcadores, o papel da linfangiogênese no desenvolvimento e na disseminação
tumoral tem sido melhor elucidado (Kato et al., 2006).
Paralelamente à DMV, a densidade vascular linfática (DVL) é fator
prognóstico no CG, correlacionando-se com a presença de metástases linfonodais e
com menor sobrevida dos pacientes (Nakamura et al., 2006). A DVL avaliada em
áreas peritumorais, mas não intratumorais, é fator de risco para metástases
linfonodais nos CG avançados (Gao et al., 2008).
Os vasos linfáticos geralmente permeiam o estroma tumoral para formar uma
rede de drenagem, sugerindo que os pequenos vasos de paredes delgadas
43
oferecem menor resistência e maior área de contato à penetração das células
neoplásicas no sistema linfático do que os vasos sanguíneos (Ji, 2006).
Os vasos linfáticos da mucosa gástrica normal estão presentes mais
profundamente na lâmina própria. A DVL encontrada na submucosa é bastante
similar à da mucosa e à da muscular própria (Sako et al., 2006). Em contraste, a
muscular da mucosa exibe DVL aproximadamente dez vezes maior que as demais
camadas da parede gástrica normal, como demonstrado na Figura 5 (Sako et al.,
2006).
FIGURA 5: Densidade Vascular Linfática nas diferentes camadas da parede
gástrica normal. Média +DP de 30 pontos (por milímetro
quadrado). M: mucosa; MM: muscular da mucosa; SM:
submucosa; MP: muscular própria; SS: subserosa.
FONTE: Sako A. et al. (2006).
Em conseqüência da distribuição dos linfáticos na parede gástrica, a presença
de IVL é mais freqüentemente observada na camada muscular da mucosa nos CG
precoces (Sako et al., 2006). Outros estudos encontraram a maior concentração de
IVL nas zonas periféricas do tumor ou peritumorais, porém também em regiões
44
adjacentes à muscular da mucosa, mesmo em CG avançados, que exibem invasão
mais profunda da parede gástrica (Yonemura et al., 2006; Gao et al., 2008). Essas
observações são especialmente importantes na avaliação do CG precoce, que
ultrapassa a camada muscular da mucosa e atinge a submucosa, submetido à
ressecção endoscópica.
Diversos fatores morfológicos e funcionais contribuem para o comportamento
biológico e o potencial metastático da neoplasia (FIG. 6). A disseminação tumoral
pelo sistema linfático parece depender da rede preexistente e também da
linfangiogênese mediada pelos fatores de crescimento derivados do endotélio
vascular (VEGF), dentro do tumor e na sua periferia (Ji, Kato, 2003; Ji, 2006;
Coşkun, Akyürek et al., 2009).
FIGURA 6: Diagrama esquemático ilustrando os possíveis fatores preditivos
de metástases linfonodais, no qual se destacam os linfáticos
intra e peritumorais e a linfangiogênese. ITLs: intratumoral
lymphatics; PTLs: peritumoral lymphatics.
FONTE: Rui-Cheng Ji (2006).
45
2.4 Novos parâmetros prognósticos na avaliação do carcinoma gástrico:
importância prognóstica da invasão vascular linfática e sanguínea
As pesquisas atuais sobre doenças neoplásicas se concentram em revelar
novos indicadores capazes de predizer o comportamento biológico dos tumores e o
prognóstico dos pacientes, ainda nas fases iniciais da doença.
Numerosos estudos relatam fatores de risco para metástases linfonodais no
CG precoce e avançado, incluindo tamanho e profundidade do tumor, padrão
macroscópico, tipo histológico, presença de ulceração, IVL e IVS (Maehara, Orita et
al., 1992; Folli, Morgagni et al., 2001; An, Baik et al., 2007; Kwee, Kwee, 2008;
Morita, Ishikawa et al., 2009).
A IVL é considerada fator preditivo da ocorrência de metástases linfonodais
em diversas neoplasias malignas, como o carcinoma mamário (Tezuka, Onoda et al.,
2007), carcinomas de lulas renais (Ishikawa, Aida et al., 2007), adenocarcinoma
colorretal (Ishii, Ota et al., 2009) e prostático (Roma, Magi-Galluzzi et al., 2006). A
IVL ou IVS pelas células tumorais é pré-requisito para a disseminação neoplásica via
redes linfática e sanguínea (Pantel, Brakenhoff, 2004). Estudos recentes mostram
que a avaliação da invasão vascular tumoral é essencial para o estadiamento do CG
e deve ser incluída no algoritmo terapêutico para seleção de tratamentos adjuvantes
mais seletivos (Li, Lu et al., 2008; Kim, Park et al., 2009).
A presença de IVL detectada no tumor primário se correlaciona com a
presença de metástases linfonodais e também é considerada fator prognóstico
independente nos pacientes com CG (Talamonti et al., 2003; Nakamura et al., 2006;
Sako et al., 2006). A presença de IVL também indica evolução desfavorável mesmo
nos pacientes livres de metástases linfonodais (pN0) em neoplasias como o câncer
46
de mama e o CG (Arnaout-Alkarain, Kahn et al., 2007; Lee, Wu et al., 2007;
Ichikawa, Kubota et al., 2009).
A avaliação de IVL e IVS se faz especialmente importante nos casos de CG
nos quais não como determinar a presença de metástases linfonodais (Nasu,
Nishina et al., 2006). Dados de estudos retrospectivos indicam que, no CG precoce,
a incidência de metástases linfonodais é notadamente mais elevada em casos
positivos para IVL do que nos casos negativos (Song, Park et al., 2004; Son, Song et
al., 2005; Ichikawa, Kubota et al., 2009).
A avaliação de IVL ou IVS no tumor primário ao exame histopatológico é um
dos parâmetros morfológicos mais significativos para o planejamento de abordagens
terapêuticas complementares, especialmente nos casos específicos de CG precoce
tratados por ressecção endoscópica (Gotoda et al., 2001; Li, Lu et al., 2008).
47
2.5 Métodos de avaliação de invasão vascular
A invasão vascular pelas células neoplásicas pode ser avaliada nas regiões
peritumorais e intratumorais do CG, utilizando-se coloração rotineira pela HE e
também a IHQ com marcadores que possuem diferente especificidade para os tipos
de endotélio sanguíneo e linfático. Os dois métodos revelam aplicação variável nas
pesquisas científicas, com resultados heterogêneos em relação à IVL e IVS no CG.
2.5.1 Problemas na detecção de invasão vascular linfática e sanguínea pela
coloração de rotina por HE
A pesquisa de IVS e IVL tumoral na prática da patologia cirúrgica tem sido
feita habitualmente pelo exame microscópico de cortes histológicos da lesão tumoral
corados pela coloração de rotina HE. Diversos estudos analisam a presença de IVS
e IVL como fator prognóstico no CG utilizando apenas esta coloração (Gotoda et al.,
2001; Talamonti et al., 2003; An, Baik et al., 2007; Li, Lu et al., 2008; Liu, Zhang et
al., 2008; Shen, Huang et al., 2009). Entretanto, a acuidade das informações obtidas
destas análises é bastante questionável, devido às dificuldades inerentes à sua
interpretação.
Geralmente, a IVL é identificada com base na histologia convencional com
coloração pela HE, e o seu diagnóstico feito pela presença de êmbolo tumoral dentro
de canais vasculares revestidos por camada única de células endoteliais, sem
conteúdo de hemácias (Yonemura et al., 2006). Entretanto, a obliteração completa
do lúmen vascular por lulas neoplásicas pode não ser visível ao HE e não ser
diagnosticada como IVL. Por outro lado, artefatos de retração devido à fixação do
48
tecido, que circundam agregados de células tumorais, podem ser inadvertidamente
considerados como IVL verdadeira.
O diagnóstico de invasão vascular feito ao HE revela falta de especificidade
em alguns aspectos, como na incapacidade de distinguir vasos linfáticos de vasos
sanguíneos corretamente (Sako et al., 2006; Van Den Eynden, Van Der Auwera et
al., 2006).
Estudos que abordam a variabilidade interobservador na avaliação de IVL e
IVS no câncer colorretal revelam baixa concordância entre os patologistas no
diagnóstico de IVL e IVS quando se utiliza o método de coloração de rotina pela HE
(Harris et al., 2008).
2.5.2 Perspectivas da aplicação do método imuno-histoquímico na detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea
Recentemente, registra-se na literatura grande progresso na aplicação dos
estudos de IHQ na análise de IVS e IVL, com o surgimento de novos marcadores
específicos para o endotélio linfático (Ji, 2006).
A invasão linfática pelas células neoplásicas avaliada apenas pela coloração
de rotina pode gerar tanto resultados falso-positivos quanto falso-negativos (Sako et
al., 2006; Yonemura et al., 2006). Em contrapartida, a maioria dos estudos que
avaliou a presença IVL e IVS no CG até então não utilizou marcação específica para
os vasos linfáticos, mas apenas marcadores pan-endoteliais, como CD31, CD34 ou
Fator VIII (Del Casar et al., 2008). Desta forma, não seria possível distinguir se a
embolização tumoral se encontra em vasos sanguíneos ou vasos linfáticos (Van Den
Eynden, Van Der Auwera et al., 2006).
49
O anticorpo monoclonal D2-40 foi reconhecido inicialmente como marcador de
um gene oncofetal presente nas células germinativas fetais (Marks, Sutherland et al.,
1999). Esse marcador é capaz de detectar especificamente o endotélio dos vasos
linfáticos (Kahn, Marks, 2002). Ou seja, a detecção pela IHQ com D2-40 é positiva
apenas nos vasos linfáticos e negativa nos vasos sanguíneos (Arigami et al., 2005).
Essa especificidade permite utilizá-lo em estudos de invasão vascular em diversas
neoplasias e distinguir IVL de IVS, com grande segurança (Van Den Eynden, Van
Der Auwera et al., 2006; Mohammed, Martin et al., 2007).
Entre os marcadores pan-endoteliais, o CD34 é amplamente utilizado em
diferentes estudos de angiogênese, sendo considerado atualmente o melhor
marcador vascular, quando comparado ao CD31 e ao Fator VIII (Elpek et al., 2000;
Tenderenda et al., 2001). No entanto, estudos para avaliar invasão vascular tumoral
utilizando apenas o CD34, em detrimento a outros marcadores, têm produzido
resultados inconsistentes e incompletos. A principal restrição à sua utilização como
marcador isolado é o fato dele não ser capaz de distinguir vasos sanguíneos de
linfáticos (Van Den Eynden, Van Der Auwera et al., 2006).
Quanto ao método de avaliação da invasão de vasos linfáticos e/ou
sanguíneos, a maioria dos autores relata maior detecção de êmbolos neoplásicos
quando o método IHQ foi utilizado (Arigami et al., 2005; Sako et al., 2006; Hanaoka,
Tanabe et al., 2009; Kim, Park et al., 2009; Morita, Ishikawa et al., 2009).
50
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Seleção dos casos
O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Protocolo 574/07 (APÊNDICE
A). Trata-se de estudo transversal de uma série de casos de CG primário, com
revisão histopatológica e estudo IHQ.
Foram selecionados 95 casos consecutivos de CG primário de pacientes
diagnosticados e tratados cirurgicamente no Hospital das Clínicas (HC) da UFMG
Belo Horizonte, no período de 2000 a 2006. Todos os pacientes foram submetidos a
gastrectomia total, subtotal ou parcial, e a linfadenectomia.
Os casos selecionados foram obtidos a partir da análise retrospectiva de um
total de 222 casos de CG do arquivo do Laboratório de Pesquisa em Patologia do
Trato Gastrointestinal (LP-TGI) do Serviço de Anatomia Patológica (APM) do HC-
UFMG. A seleção dos casos foi realizada inicialmente pela análise dos dados do
protocolo anatomopatológico do LP-TGI, que estão informatizados (ANEXO B). O
protocolo anatomopatológico foi criado com o objetivo de padronizar o estudo macro
e microscópico de todas as peças de gastrectomia realizadas em pacientes com
câncer gástrico (Lemes et al., 2003). O protocolo compreende a avaliação macro e
microscópica da neoplasia, incluindo: as medidas do tumor, o tipo macroscópico de
Borrmann (Borrmann, 1926), a localização, o tipo histológico segundo a classificação
de Laurén (Laurén, 1965) e da OMS (Aaltonen, Hamilton et al., 2000), o padrão de
crescimento descrito por Ming (Ming, 1977), a presença de IVL e IVS e estadiamento
51
anatomopatológico pelo TNM (Greene, American Joint Committee on Cancer. et al.,
2002).
Todas as amostras retiradas das peças de gastrectomia para o estudo
histopatológico, de acordo com o mapa de clivagem do protocolo do APM (FIG. 7),
haviam sido fixadas em formol P.A. a 10% e processadas rotineiramente no APM,
estando incluídas em blocos de parafina.
FIGURA 7: Mapa de Clivagem para o processamento das peças cirúrgicas
de carcinoma gástrico: amostragem para exame histológico.
FONTE: Lemes (2003).
Os critérios para a inclusão no estudo foram: informações clínicas suficientes
e amostras representativas do tumor disponíveis em blocos de parafina nos arquivos
do APM do HC-UFMG. Os casos analisados que não dispunham de informações no
protocolo anatomopatológico, de lâminas coradas em HE para a revisão
histopatológica ou dos blocos de parafina correspondentes foram excluídos do
estudo.
Alguns dados clínico-patológicos como gênero, idade dos pacientes ao
diagnóstico, topografia do tumor, classificação macroscópica e presença de
52
metástases à distância foram obtidos a partir do banco de dados e da revisão do
protocolo anatomopatológico.
3.2 Estudo morfológico dos tumores primários
Foi realizada revisão histopatológica das lâminas coradas em HE, com
amostras significativas da neoplasia provenientes dos blocos de parafina
disponíveis. As características gerais do tumor primário analisadas foram: a
classificação histológica do tumor segundo Laurén (Laurén, 1965), o padrão de
crescimento (Ming, 1977), o grau histológico de diferenciação, a classificação do tipo
histológico do tumor segundo a OMS (Aaltonen, Hamilton et al., 2000) e a
profundidade do tumor, segundo o sistema TNM (Greene, American Joint Committee
on Cancer. et al., 2002).
A revisão de todas as lâminas foi realizada por duas médicas patologistas
com experiência em patologia cirúrgica e do trato gastrointestinal (MMDAC e LTG),
simultaneamente em microscópio de dupla observação.
3.3 Estudo imuno-histoquímico
A seleção dos blocos para estudo IHQ foi feita após a revisão histopatológica
das lâminas coradas pela HE dos casos em estudo. Com base nessa revisão, foram
escolhidas aquelas lâminas representativas das áreas tumorais mais preservadas e
com a maior concentração de vasos. A partir dos blocos de parafina
correspondentes foram realizados cortes histológicos seriados (seqüenciais) de 4
μm de espessura que foram colocados sobre lâminas silanizadas. Os cortes
53
histológicos foram então desparafinizados e desidratados por tratamento em xilol e
álcool.
Foram utilizados anticorpos monoclonais D2-40 (marcador específico do
endotélio linfático) e CD34 (marcador pan-endotelial), detalhados no Quadro 1.
QUADRO 1: Anticorpos utilizados no estudo imuno-histoquímico.
A técnica IHQ utilizada foi da estreptavidina-biotina peroxidase (Dako
LSAB®+ System), de acordo com o método preconizado pelo Manual de Imuno-
histoquímica da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) (Alves, Bacchi et al., 1999).
Todas as lâminas foram submetidas ao pré-tratamento em solução tampão a
98°C em panela a vapor por 20 minutos, para recuperação antigênica. Foram
realizados bloqueios da peroxidase endógena e da proteína avidina, por 15 minutos
cada. Os anticorpos primários D2-40 e CD34 foram incubados por 30 minutos em
temperatura ambiente.
A revelação das lâminas foi feita pela diaminobenzidina (DAB). A coloração
de fundo foi feita com hematoxilina de Harris. Controles sabidamente positivos foram
incluídos em todas as reações. Controles negativos consistiram na substituição dos
anti-soros primários por imunoglobulinas de coelho ou cabra da mesma classe dos
anticorpos primários.
ANTICORPO
CLONE
TIPO
DILUIÇÃO
REATIVAÇÃO
ANTIGÊNICA
FABRICANTE
D2-40
D2-40
Monoclonal
1:30
Citrato (pH=6,0)
Dako, US
CD34
QBEND/10
Monoclonal
1:10
EDTA (pH=9,0)
Biogenex, US
54
3.4 Avaliação de invasão vascular
Em cada caso, foi analisado todo o corte histológico buscando ativamente a
identificação de IVL e IVS nas lâminas do tumor primário coradas em HE e pela IHQ.
Essa avaliação foi realizada nas áreas intratumorais e peritumorais utilizando o
aumento de 200x, com análise seqüencial das lâminas e simultânea por duas
médicas patologistas (MMDAC e LTG), em microscópio de dupla observação, sem
conhecimento prévio dos dados clínico-patológicos.
3.4.1 Avaliação de invasão vascular pela coloração de HE
A presença de IVS ou IVL foi considerada apenas quando um êmbolo de
células neoplásicas era visualizado claramente no interior de um lúmen vascular
revestido por endotélio evidente (Van Den Eynden, Van Der Auwera et al., 2006).
Não foram considerados como invasão de vasos os ninhos de células neoplásicas
com artefato de retração, sem endotélio evidente. A IVS foi definida pela presença
de êmbolos neoplásicos no lúmen vascular contendo hemácias, com ou sem
músculo liso ao redor do endotélio. Para a definição de IVL, os êmbolos neoplásicos
deveriam estar circundados por endotélio evidente, sem hemácias ou músculo liso.
3.4.2 Avaliação de invasão vascular pela coloração de IHQ
Em cada caso, foram examinadas as lâminas coradas pelos dois marcadores
imuno-histoquímicos (CD34 e D2-40), para avaliação da presença de IVL e IVS.
55
A IVS foi definida pela presença de êmbolos neoplásicos e hemácias no
lúmen vascular, com ou sem músculo liso ao redor do endotélio corado
positivamente para CD34. Para a definição de IVL, os êmbolos neoplásicos
deveriam ser circundados por endotélio corado positivamente pelo D2-40, sem
hemácias ou músculo liso.
3.5 Análise estatística
O banco de dados do estudo e todos os cálculos estatísticos foram realizados
utilizando o programa estatístico SPSS Statistics 17.0 (SPSS, Inc, Chicago, III). O
valor de p considerado estatisticamente significativo foi de <0,05. O teste de Mann-
Whitney U foi utilizado para correlacionar a variável quantitativa idade com as
variáveis categóricas (metástases linfonodais e invasão vascular).
O teste de McNemar foi usado para analisar a concordância entre os
diferentes métodos de avaliação de invasão vascular (HE e IHQ). O coeficiente de
Kappa de Cohen foi utilizado para verificar se essa concordância foi uma variação
puramente aleatória (Landis, Koch, 1977). O Quadro 2 revela os valores do
coeficiente de Kappa de acordo com a classificação de Landis & Koch.
Valor do coeficiente de Kappa
Classificação da concordância
segundo Landis & Koch
< 0,20
Pobre
0,21 a 0,40
Fraca
0,41 a 0,60
Moderada
0,61 a 0,80
Boa
> 0,80
Muito boa
QUADRO 2: Resultados dos coeficientes de concordância de Kappa de
acordo com a classificação de Landis & Koch.
FONTE: Landis & Koch (1977).
56
Para analisar a associação entre as variáveis categóricas (como a presença
de IVS ou IVL, presença de metástases, profundidade do tumor), o teste Qui-
quadrado foi aplicado.
57
4 RESULTADOS
4.1 Características gerais da amostra
4.1.1 Características clínico-patológicas dos casos
A maioria dos 95 pacientes foi submetida à gastrectomia subtotal (57
pacientes) e total (26 pacientes), enquanto apenas 12 pacientes à gastrectomia
parcial. A idade dos pacientes, por ocasião do diagnóstico da neoplasia, variou entre
36 e 93 anos, sendo a média de 65 anos e o desvio-padrão 14,6. A mediana foi igual
a 68 anos. Sessenta e dois pacientes (65,2%) eram do sexo masculino e 33 do sexo
feminino (34,7%).
Vinte e um casos representavam CG precoces (pT1) e 74 casos
correspondiam a CG avançados (pT2, pT3 e pT4). Quanto aos tumores avançados,
a maioria (51 casos) exibia invasão tumoral até a serosa (pT3).
A maioria dos tumores estava localizada na região do antro, no terço distal do
estômago (55 casos, 57,9%) e na pequena curvatura (54 casos, 56,8%). Em relação
às neoplasias avançadas, os tipos macroscópicos de Borrmann mais observados
foram II e III, com 30 e 27 casos, respectivamente. Os tipos IIb (5 casos) e III (5
casos) da SJED foram os mais freqüentes dentre os CG precoces.
O número de linfonodos dissecados em todos os casos variou de 2 a 63, com
uma média de 24 linfonodos por caso e um desvio-padrão de 12,1. Foram
detectadas metástases linfonodais em 61 pacientes (64,2%). Em seis casos, o
número de linfonodos obtidos foi menor que 15, portanto insuficiente para o
estadiamento linfonodal (pNx). Metástases à distância estavam presentes em 8
58
pacientes. Foi observada invasão por continuidade do duodeno em 23 pacientes, do
esôfago em 8 e de ambos em 3 pacientes. As características clínico-patológicas da
amostra estão representadas na Tabela 1.
TABELA 1: Características clínico-patológicas da amostra (N=95).
Dados Clínico-patológicos
N = 95 (%)
Gênero
masculino
62 (65,3)
feminino
33 (34,7)
Tipo de cirurgia
Gastrectomia parcial
12 (12,6)
Gastrectomia subtotal
57 (60,0)
Gastrectomia total
26 (27,4)
Topografia do tumor
Terço proximal
12 (12,6)
Terço médio
12 (12,6)
Terço distal
55 (57,9)
Terço proximal+médio
1 (1,1)
Terço médio+distal
6 (6,3)
Terço proximal+médio+distal
7 (7,4)
Junção esôfago-gástrica (JEG)
1 (1,1)
NA
1 (1,1)
Curvatura acometida
pequena curvatura
54 (56,8)
grande curvatura
10 (10,5)
pequena e grande
14 (14,7)
NA
17 (17,9)
Tipo macroscópico
SJED I
0
SJED IIa
2 (2,1)
SJED IIb
5 (5,3)
SJED IIc
2 (2,1)
SJED III
5 (5,3)
Borrmann I
7 (7,4)
Borrmann II
30 (31,6)
Borrmann III
27 (28,4)
Borrmann IV
12 (12,6)
NA
5 (5,3)
59
(Continuação)
Dados Clínico-patológicos
N = 95 (%)
Profundidade do tumor (pT)
pT1a
9 (9,5)
pT1b
12 (12,6)
pT2a
12 (12,6)
pT2b
8 (8,4)
pT3
51 (53,7)
pT4
3 (3,2)
Metástases linfonodais (pN)
pN0
28 (29,5)
pN1
36 (37,9)
pN2
13 (13,7)
pN3
12 (12,6)
pNx
6 (6,3)
Metástases à distância (pM)
pMx
87 (91,6)
pM1
8 (8,4)
Invasão de órgãos
Negativa
57 (60,0)
Duodeno
23 (24,2)
Esôfago
8 (8,4)
Esôfago + duodeno
3 (3,2)
Outros
4 (4,2)
NA: não avaliado
SJED: Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva
4.1.2 Revisão histopatológica
A revisão histopatológica dos 95 casos em estudo mostrou a seguinte
distribuição segundo a classificação de Laurén: 45 casos de CG do tipo intestinal
(47,4%), 25 do tipo difuso (26,3%) e 25 do tipo misto/NC (26,3%). O tipo histológico
da OMS mais freqüente foi o adenocarcinoma SOE (48 casos, 50,5%), seguido pelo
carcinoma de células em anel de sinete (22 casos, 23,2%), carcinoma indiferenciado
(9 casos, 9,5%) e pelos tipos tubular e papilífero (5 casos cada, 5,3%). A
classificação de Ming do padrão de crescimento foi equivalente entre os tipos
expansivo e infiltrativo, ambos contabilizando 40 casos (42,1%). As informações
obtidas na revisão histopatológica estão demonstradas na Tabela 2.
60
TABELA 2: Revisão histopatológica dos casos (N=95).
Dados Histopatológicos
N = 95 (%)
Tipo histológico de Laurén
intestinal
45 (47,4)
difuso
25 (26,3)
misto/NC
25 (26,3)
Tipo histológico da OMS
adenocarcinoma SOE
48 (50,5)
tubular
5 (5,3)
papilífero
5 (5,3)
mucinoso
4 (4,2)
células em anel de sinete
22 (23,2)
indiferenciado
9 (9,5)
outros
2 (2,2)
Padrão de crescimento (Ming)
expansivo
40 (42,1)
infiltrativo
40 (42,1)
NA
15 (15,8)
NA: não avaliado
NC: não classificável
SOE: sem outra especificação
4.1.3 Correlação entre as variáveis clínico-patológicas idade e profundidade tumoral
com a classificação histológica de Laurén
A análise das faixas etárias de acometimento do CG em nossa amostra,
segundo os tipos histológicos de Laurén, mostra que o CG tipo difuso ocorreu em
pacientes numa faixa etária mais jovem que os tipos intestinal e misto/NC. O teste
de Mann-Whitney U para a variável quantitativa demonstrou que houve diferença
estatisticamente significativa entre a idade dos pacientes com neoplasias do tipo
difuso em relação ao grupo do tipo intestinal (p=0,04). o houve relação
significativa entre o tipo misto/NC com os demais grupos. Os dados estão
demonstrados no Gráfico 1.
61
GRÁFICO 1: Correlação entre faixa de idade dos pacientes e tipos de
carcinoma gástrico, segundo a classificação histológica de
Laurén. dif: difuso; int: intestinal; misto/NC: misto/não
classificável.
Dentre os CG do tipo intestinal de Laurén, 11 eram precoces (24,4%) e 34
avançados (75,5%). Oito de 25 casos de CG do tipo difuso eram precoces (32,0%) e
os 17 restantes eram avançados (68,0%). Os CG do tipo misto/NC tinham apenas 2
representantes no grupo dos CG precoces (8,0%), enquanto 23 eram avançados
(92,0%). Houve relação estatisticamente significativa entre a profundidade de
invasão tumoral (CG precoce e avançado) com a classificação histológica de Laurén
para as neoplasias dos tipos difuso e misto/NC. Esses valores estão demonstrados
na Tabela 3.
P=0,04
62
TABELA 3: Correlação entre a classificação histológica de Laurén e a
profundidade tumoral em 95 casos de carcinoma gástrico
(N=95).
* diferença entre os valores estatisticamente significativa
4.2 Avaliação de invasão vascular linfática e sanguínea
4.2.1 Invasão vascular linfática e invasão vascular sanguínea
O endotélio dos vasos linfáticos foi delineado em marrom pelo
marcador D2-40 à coloração IHQ. A IVL foi claramente demonstrada à IHQ, em
comparação com a coloração por HE. O marcador CD34 foi positivo no endotélio de
vasos sanguíneos e linfáticos, colorindo o contorno dos vasos em marrom. A IVS foi
considerada quando a marcação IHQ era negativa para D2-40 e positiva para CD34,
aliada à presença de hemácias no lúmen vascular (FIG.8).
Classificação
histológica de Laurén
Profundidade de invasão do
carcinoma gástrico
Valor de p
Precoce (%)
Avançado (%)
Intestinal
11 (24)
34 (76)
0,108
Difuso
8 (32)
17 (68)
0,034*
Misto/NC
2 (8)
23 (92)
Total
21
74
63
FIGURA 8: Fotomicrografias dos cortes seriados de invasão vascular linfática e
sanguínea detectadas pela HE (seta) e IHQ. A: IVL HE (x400). B: IVL
marcação por CD34 (x400). C: IVL marcação por D2-40 (x400). D: IVS HE
(x100). E: IVS HE (x400). F: IVS marcação por CD34 (x400). G: IVS HE
(x200). H: IVS marcação por CD34 (x200) I: IVS marcação por D2-40
(x200).
D
E
F
A
C
B
G
H
I
64
A detecção de IVL foi consideravelmente maior que a de IVS. A presença de
IVL foi detectada em 61/95 casos (64,2%) pela HE e em 66/95 casos (69,5%) pela
IHQ, como demonstrado na Tabela 4. A IVS foi evidenciada em 38/95 casos (40,0%)
pela HE e pela IHQ em apenas 24 casos (25,2%), como visualizado na Tabela 5.
TABELA 4: Avaliação da invasão vascular linfática pelos métodos de HE e
IHQ (N=95).
IVL: invasão vascular linfática
HE: coloração de rotina HE
IHQ: método imuno-histoquímico
TABELA 5: Avaliação da invasão vascular sanguínea pelos métodos de HE
e IHQ (n=95).
* diferença entre os valores estatisticamente significativa
IVS: invasão vascular sanguínea
HE: coloração de rotina HE
IHQ: método imuno-histoquímico
IVL HE
Total
Negativo
Positivo
Valor de p
IVL IHQ
Negativo
21
8
29
Positivo
13
53
66
0,38
Total
34
61
95
IVS HE
Total
Negativo
Positivo
Valor de p
IVS IHQ
Negativo
47
24
71
Positivo
10
14
24
0,02*
Total
57
38
95
65
4.2.2 Comparação da eficácia dos métodos de HE e IHQ na identificação de invasão
vascular
A comparação entre a capacidade de detecção de invasão vascular pelos
métodos de coloração pela HE e pela IHQ mostrou algumas diferenças. Em relação
à IVL, não foi observada diferença estatisticamente significativa entre os valores
encontrados (p=0,38). A presença de IVS detectada pela IHQ foi significativamente
menor que ao HE (p=0,02). O coeficiente de Kappa para a concordância diagnóstica
entre ambos os métodos foi moderado para IVL (Kappa=0,50) e baixo para a IVS
(Kappa=0,20), conforme demonstrado na Tabela 6.
TABELA 6: Comparação entre a concordância diagnóstica na detecção de
invasão vascular linfática e sanguínea pela HE e pela IHQ
(N=95).
* diferença entre os valores foi estatisticamente significativa
IVL: invasão vascular linfática
IVS: invasão vascular sanguínea
HE: coloração de rotina HE
IHQ: método imuno-histoquímico
A análise da Figura 9 mostra comparativamente a detecção de IVL pela HE e
à IHQ. Dentre os 61 casos com IVL detectada ao HE, 8 casos (13,1%) não foram
confirmados à IHQ. Em contrapartida, observamos IVL à IHQ em 13 casos (38,2%
Avaliação ao HE
Avaliação à IHQ
Valor de p
Kappa
IVL
Positivo
61
66
0,38
0,50
Negativo
34
29
IVS
Positivo
38
26
0,02*
0,20
Negativo
57
69
66
dos casos negativos ao HE), que não haviam sido previamente detectados pela HE
ao exame histopatológico.
FIGURA 9: Comparação da eficácia entre HE e IHQ como métodos
diagnósticos na detecção de invasão vascular linfática pela em
95 casos de CG.
A Figura 10 representa a avaliação comparativa da detecção de IVS pelos
métodos HE e IHQ. Foram detectados 38 casos de IVS ao HE, dos quais 24 (63,1%)
não foram confirmados pela IHQ. Dentre os casos negativos ao HE, 10 casos de IVS
(17,5%) foram identificados à IHQ.
FIGURA 10: Comparação da eficácia entre HE e IHQ como métodos
diagnósticos na detecção de invasão vascular sanguínea pela
em 95 casos de CG.
IVL
Coloração de HE
(pacientes)
Coloração IHQ
(pacientes)
Negativos= 8
Positivos= 61
Positivos= 53
Negativos= 21
Negativos= 34
Positivos= 13
IVS
Coloração de HE
(pacientes)
Coloração IHQ
(pacientes)
Negativos= 24
Positivos= 38
Positivos= 14
Negativos= 47
Negativos= 57
Positivos= 10
67
Alguns exemplos de IVL não detectada ao exame histopatológico
convencional (HE) estão demonstrados na Figura 11, bem como um caso em que a
IVL detectada ao HE não foi confirmada pelo exame IHQ.
FIGURA 11: Fotomicrografias de cortes seriados de invasão vascular linfática detectada
apenas pela IHQ e de falsa invasão vascular diagnosticada ao HE. A e B:
IVL marcação por D2-40 (x400); C: falsa IVL HE (x100); D: falsa IVL
marcação por D2-40 (x100).
A
B
C
D
68
4.3 Correlação com metástases linfonodais e outras variáveis prognósticas
Em seis casos, a quantidade de linfonodos obtidos foi insuficiente para o
estadiamento linfonodal. Portanto, esses casos foram excluídos da análise de
correlação com outras variáveis, resultando numa amostra constituída por 89 casos.
4.3.1 Correlação entre invasão vascular e metástases linfonodais
A correlação entre a IVL e a presença de metástases foi estatisticamente
significativa, tanto na avaliação pelo método de rotina (HE), quanto pelo método IHQ
(p=0,001). A presença de IVS também se correlacionou positivamente com a
presença de metástases linfonodais quando avaliada pela HE (p=0,013) e pela IHQ
(p=0,019). Esses resultados estão dispostos na Tabela 7.
TABELA 7: Correlação entre a detecção de invasão vascular linfática e
sanguínea pela HE e IHQ e a presença de metástases
linfonodais (N=89).
* diferença entre os valores estatisticamente significativa
Invasão Vascular
Metástases linfonodais
Negativo
N (%)
Positivo
N (%)
Valor de P
IVL - HE
Negativa
23 (71,8)
9 (28,2)
Positiva
5 (8,8)
52 (91,2)
0,001*
IVL - IHQ
Negativa
20 (74,0)
7 (26,0)
Positiva
8 (13,0)
54 (87,0)
0,001*
IVS - HE
Negativa
22 (41,5)
31 (58,5)
Positiva
6 (16,6)
30 (83,4)
0,013*
IVS - IHQ
Negativa
25 (38,5)
40 (61,5)
Positiva
3 (12,5)
21 (87,5)
0,019*
69
4.3.2 Valor preditivo da invasão vascular linfática e sanguínea para metástases
linfonodais
Quando analisamos os dados de invasão vascular como fator preditivo para
metástases linfonodais, separadamente para HE e IHQ em uma tabela 2x2,
podemos obter informações de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo
(VPP) e valor preditivo negativo (VPN).
Em relação à IVL, os resultados acima foram bastante semelhantes entre os
métodos de HE e IHQ. A sensibilidade foi de 85,0% para a avaliação ao HE e de
88,0% para a IHQ. A especificidade foi de 82,0% quando avaliada ao HE e de 71,0%
à IHQ. O VPP foi de 91,0% ao HE e 87,0% à IHQ. O VPN foi de 72,0% ao HE e
74,0% à IHQ.
Em relação à IVS, os resultados obtidos também mostraram valores
semelhantes entre os métodos de HE e IHQ. Entretanto, a sensibilidade foi baixa
tanto para a avaliação ao HE quanto à IHQ (49,0% e 34,0%). A especificidade foi de
78,0% quando avaliada ao HE e de 89,0% à IHQ. O VPP foi de 83,0% ao HE e
87,0% à IHQ. O VPN foi também baixo em ambos, de 41,0% ao HE e 38,0% à IHQ.
4.3.3 Correlação entre variáveis clínico-patológicas e metástases linfonodais
O teste de Mann-Whitney U para variável quantitativa não demonstrou
correlação estatisticamente significativa entre a idade dos pacientes e a presença de
metástases linfonodais (p=0,94).
As neoplasias precoces exibiram menor número de metástases linfonodais,
quando comparadas às neoplasias avançadas: 11,2% contra 83,0% (p=0,001). De
70
acordo com a classificação histológica de Laurén, os tumores do tipo difuso
apresentaram menor proporção de acometimento linfonodal que os demais tipos:
52,0% contra 68,0% para os intestinais e 84,0% para os mistos/NC. Somente
quando excluímos os tumores do tipo intestinal desta análise, pudemos obter uma
relação significativa dos tumores difuso e misto/NC com a presença de metástases
linfonodais (p=0,017).
Houve diferença estatisticamente significativa entre os tumores com invasão
de órgãos por continuidade (esôfago e duodeno) e aqueles confinados ao estômago,
em relação à presença de metástases linfonodais (p=0,026).
Não observamos correlação entre presença de metástases linfonodais com as
seguintes características: idade, gênero dos pacientes, topografia do tumor,
curvatura acometida, tipo macroscópico de Borrmann ou da SJED e o padrão de
crescimento tumoral de Ming. Esses dados estão sumariados na Tabela 8.
TABELA 8: Correlação entre os parâmetros clínico-patológicos e a
presença de metástases linfonodais (N=89).
Dados Clínico-patológicos
Metástases linfonodais
Negativo
N (%)
Positivo
N (%)
Valor de P
Gênero
masculino
18 (31,5)
39 (68,5)
0,974
feminino
10 (31,2)
22 (68,8)
Topografia do tumor
Terço proximal
3 (25)
9 (75)
0,572
Terço médio
6 (50)
6 (50)
Terço distal
17 (34)
33 (66)
Terço médio+distal
1 (16,6)
5 (83,4)
Terço proximal+médio+distal
1 (14,2)
6 (85,8)
JEG
0
1
71
(Continuação)
* diferença entre os valores estatisticamente significativa
Dados Clínico-patológicos
Metástases linfonodais
Negativo
N (%)
Positivo
N (%)
Valor de P
Curvatura acometida
pequena curvatura
16 (30,7)
36 (59,3)
0,109
grande curvatura
4 (44,4)
5 (55,6)
pequena e grande
1 (8,3)
13 (91,7)
Tipo macroscópico (precoce)
SJED IIa
2 (100)
0
0,487
SJED IIb
5 (100)
0
SJED IIc
2 (100)
0
SJED III
3 (75,0)
1 (25,0)
Tipo macroscópico (avançado)
Borrmann I
3 (50,0)
3 (50,0)
0,08
Borrmann II
7 (24,0)
22 (76,0)
Borrmann III
4 (14,8)
23 (85,2)
Borrmann IV
0
10 (100)
Invasão de órgãos
Negativa
23 (45,0)
28 (55,0)
0,026*
Duodeno
4 (17,4)
19 (82,6)
Esôfago
1 (12,5)
7 (87,5)
Esôfago + duodeno
0
3 (100)
Outros
0
4 (100)
Profundidade do tumor
precoce
16 (88,2)
2 (11,2)
0,001*
avançado
12 (16,9)
59 (83,0)
Tipo histológico de Laurén
intestinal
13 (31,7)
28 (68,3)
0,06
difuso
11 (47,8)
12 (52,1)
0,017*
misto/NC
4 (16,0)
21 (84,0)
Padrão de crescimento (Ming)
expansivo
11 (30,0)
27 (70,0)
0,28
infiltrativo
7 (18,4)
31 (81,6)
72
4.3.4 Correlação entre variáveis clínico-patológicas e invasão vascular linfática e
sanguínea detectadas pela IHQ
O teste de Mann-Whitney U para a variável quantitativa idade demonstrou
correlação estatisticamente significativa com a presença de IVL detectada à IHQ
(p=0,05), porém não para a presença de IVS (p=0,46).
Quando analisamos a IVL detectada pelo exame IHQ, podemos identificar
relação estatisticamente significativa com a topografia no terço distal do estômago,
quando comparadas às demais localizações (p=0,039). Os tumores precoces
mostraram uma proporção de IVL significativamente menor que os tumores
avançados (p=0,001). As neoplasias avançadas com padrão macroscópico tipo I de
Borrmann apresentaram diferença significativa quando comparadas aos tumores
com os demais padrões, em relação à presença de IVL (p=0,001). Outra variável
significativa em relação à IVL foi a presença de invasão de órgãos por continuidade
(p=0,003).
Não foi observada correlação significativa entre a presença de IVL e as
seguintes variáveis: gênero, curvatura acometida, tipo macroscópico da SJED para
tumores precoces, tipo histológico de Laurén, padrão de crescimento de Ming e
metástases à distância.
Em relação à presença de IVS, a única variável estatisticamente significativa
foi a categorização da neoplasia em CG precoce ou avançado (p=0,003). Todas as
demais variáveis analisadas não mostraram correlação com a presença de IVS. Os
dados estão demonstrados na tabela 9.
73
TABELA 9: Correlação entre os parâmetros clínico-patológicos e as
presenças de invasão vascular linfática e sanguínea pela IHQ
(N=95).
Dados Clínico-patológicos
IVL IHQ
IVS IHQ
Negativo
N (%)
Positivo
N (%)
p
Negativo
N (%)
Positivo
N (%)
p
Gênero
masculino
20 (32,2)
42 (67,8)
0,615
45 (72,5)
17 (27,5)
0,507
feminino
9 (27,3)
24 (72,7)
26 (78,7)
7 (21,3)
NS
Topografia do tumor
Terço distal
15 (27,3)
40 (72,7)
0,039*
42 (76,3)
13 (23,7)
0,281
Demais localizações
14 (35)
26 (65)
29 (72,5)
11 (27,5)
Curvatura acometida
pequena curvatura
19 (35,2)
35 (64,8)
0,122
41 (76)
13 (24)
0,131
grande curvatura
3 (30)
7 (70)
8 (80)
2 (20)
pequena e grande
1 (7,2)
13 (92,8)
7 (50)
7 (50)
Tipo macroscópico (prec.)
SJED IIa
2 (100)
0
0,241
2 (100)
0
NA
SJED IIb
5 (100)
0
5 (100)
0
SJED IIc
2 (100)
0
2 (100)
0
SJED III
3 (60)
2 (40)
5 (100)
0
Tipo macroscópico (avanç)
Borrmann I
5 (71,4)
2 (28,6)
0,001*
7 (100)
0
0,24
Borrmann II
4 (13,3)
26 (86,7)
21 (70)
9 (30)
Borrmann III
5 (18,5)
22 (81,5)
17 (62,9)
10 (37,1)
Borrmann IV
0
12 (100)
7 (58,3)
5 (41,7)
Invasão de órgãos
Negativa
26 (45,6)
31 (54,4)
0,003*
46 (80,7)
11 (19,3)
0,297
Duodeno
1 (4,3)
22 (95,7)
15 (65,2)
8 (34,8)
Esôfago
1 (12,5)
7 (87,5)
6 (75)
2 (25)
Esôfago + duodeno
0
3 (100)
1 (33,3)
2 (66,7)
Outros
1 (25)
3 (75)
3 (75)
1 (25)
Profundidade do tumor
Precoce
17 (80,9)
4 (19,1)
0,001*
21 (100)
0
0,003*
Avançado
12 (16,2)
62 (83,8)
50 (67,5)
24 (32,5)
Tipo histológico de Laurén
intestinal
12 (26,6)
33 (73,3)
0,228
36 (80)
9 (20)
0,332
difuso
11 (44)
14 (56)
19 (76)
6 (24)
misto/NC
6 (24)
19 (76)
16 (64)
9 (36)
74
(Continuação)
* diferença entre os valores estatisticamente significativa
NA: não avaliado
Dados Clínico-patológicos
IVL IHQ
IVS IHQ
Negativo
Positivo
p
Negativo
Positivo
p
Padrão de cresc. (Ming)
expansivo
10 (25)
30 (75)
0,412
31 (77,5)
9 (22,5)
0,217
infiltrativo
7 (17,5)
33 (82,5)
26 (65)
14 (35)
Metástases à distância (pM)
pMx
26 (30)
61 (70)
0,654
65 (74,7)
22 (25,3)
0,986
pM1
3 (37,5)
5 (62,5)
6 (75)
2 (25)
75
5 DISCUSSÃO
Com o propósito de aprimorar a pesquisa de invasão vascular no CG,
usualmente feita com a coloração de rotina pela HE, e de distinguir IVL de IVS,
introduzimos o método IHQ utilizando a combinação de dois marcadores: um deles
específico para o endotélio de vasos linfáticos (D2-40) e outro pan-endotelial
(CD34). Além de permitir a comparação da eficácia na detecção de IVL e IVS, este
método também possibilitou a avaliação do valor preditivo da invasão vascular no
CG para a ocorrência de metástases linfonodais.
Neste trabalho, o grupo de 95 pacientes estudados refletiu o perfil geralmente
descrito na literatura para o CG quanto às seguintes características: a maioria dos
pacientes era do sexo masculino (65,3%), com média de idade de 65 anos,
topografia tumoral predominante no terço distal do estômago (57,9%) e tipo
histológico mais freqüente correspondendo ao tipo intestinal de Laurén (47,4%).
Ainda de acordo com séries de trabalhos publicados a respeito, a faixa etária
dos pacientes acometidos pelos tumores do tipo difuso de Laurén se mostrou
significativamente mais jovem do que aquela observada no tipo intestinal (p=0,04).
Essa característica peculiar das neoplasias do tipo difuso está bem estabelecida e
denota as diferenças de sua etiopatogenia, geralmente associada a fatores
genéticos, em relação às neoplasias do tipo intestinal, mais influenciadas por fatores
ambientais, tais como dieta e infecção por H. pylori. Via de regra, as doenças
associadas a alterações genéticas tendem a se manifestar mais precocemente do
que aquelas relacionadas a fatores ambientais. O grupo dos tumores do tipo
misto/NC de Laurén, não mostrou diferença significativa em relação à idade dos
pacientes. Esse achado pode estar ligado ao fato de que o tipo misto de Laurén
76
apresenta aspectos semelhantes ao CG de ambos os tipos intestinal e difuso
(Laurén, 1965).
Em nosso estudo, 53,7% dos casos de CG se encontravam no estágio pT3
de profundidade tumoral, corroborando os dados da literatura que indicam que a
maioria dos diagnósticos em nosso meio é feita tardiamente, já na fase avançada da
doença (Lemes et al., 2003). Destaca-se ainda que mais da metade dos pacientes
(64,2%) já apresentava metástases linfonodais no momento do diagnóstico.
A presença de IVL e IVS no CG tem sido demonstrada em diversos estudos,
os quais exibem grande variabilidade em sua detecção: entre 7,2% a 86% (Maehara,
Oshiro et al., 1995; Setälä, Kosma et al., 1996; Hyung, Cheong et al., 2004; Nasu,
Nishina et al., 2006; Kamata, Ishikawa et al., 2009; Morita, Ishikawa et al., 2009).
Essa ampla faixa de variação dos resultados pode ser explicada pela diferença entre
as populações estudadas e também pelos diferentes métodos utilizados por esses
autores para a avaliação da invasão vascular: coloração de HE ou IHQ com
marcadores endoteliais específicos. Três exemplos mais consistentes da
discrepância dos resultados em relação ao método utilizado são os trabalhos de
Arigami et al., Sako et al. e Yonemura et al. Todos eles relatam uma taxa mais
elevada de detecção de IVL à IHQ, quando comparada à coloração pela HE,
reforçando assim o seu papel na análise da invasão vascular no CG (Arigami et al.,
2005; Sako et al., 2006; Yonemura et al., 2006).
Ao compararmos a detecção de IVL em cortes seqüenciais pelos métodos
utilizados em nosso trabalho, verificamos que esta foi superior quando avaliada pela
IHQ. A presença de IVL foi detectada em 61 casos ao HE e em 66 casos pela IHQ.
Essa diferença não foi estatisticamente significativa ao Teste de McNemar (p=0,38).
Entretanto, quando avaliamos a tabela de qui-quadrado 2x2, podemos observar que,
77
apesar da IVL ao HE ter sido positiva em 61 casos, apenas 53 deles obtiveram
confirmação à IHQ. Os 8 casos restantes haviam sido classificados erroneamente
como positivos para IVL, sendo portanto considerados falso-positivos. Em
contrapartida, a análise ao HE falhou em identificar 13 casos de IVL, que foram
observados apenas ao estudo IHQ, interpretados como falso-negativos. Deste
modo, a análise do coeficiente de Kappa foi considerada apenas moderada
(Kappa=0,50), menos significativa do que se esperaria com um resultado bastante
semelhante em relação ao número de casos detectados.
A avaliação de IVL ao HE está sujeita a esses equívocos por não ser capaz
de distinguir artefatos de retração ao redor de glândulas, ou de agrupamentos de
células neoplásicas, de invasão vascular verdadeira. Em algumas ocasiões, os
êmbolos neoplásicos preenchem totalmente o lúmen vascular, impossibilitando a
sua identificação sem a marcação específica do endotélio linfático. Resultados falso-
positivos podem ocorrer ainda ao HE se a presença de IVS for interpretada
erroneamente como IVL. Essas discrepâncias foram também observadas em outras
séries de estudos sobre CG (Arigami et al., 2005; Sako et al., 2006; Yonemura et al.,
2006). Embora outros trabalhos também tenham utilizado o método IHQ para o
diagnóstico da invasão vascular, somente estes autores aferiram a eficácia deste
método para a detecção de IVL, quando comparada à coloração de rotina pela HE.
É interessante ressaltar que nosso estudo, além de comparar os dois métodos de
detecção de invasão vascular, utilizou cortes seriados e seqüenciais para a sua
avaliação.
A correlação entre a variável IVL com a presença de metástases foi
estatisticamente significativa, tanto na avaliação pelo método de rotina (HE), quanto
pelo método IHQ (p=0,001). Esse dado é corroborado pela literatura, que afirma ser
78
a IVL detectada no tumor primário um fenômeno essencial para a ocorrência de
metástases linfonodais (Pantel, Brakenhoff, 2004). Portanto, podemos inferir que a
presença de IVL é maior em paciente com metástases linfonodais do que naqueles
nos quais os linfonodos examinados foram negativos.
À análise pelo método de rotina, a IVS foi evidenciada em 38 casos, sendo
confirmada pela IHQ apenas em 14 casos. Podemos perceber que 24 casos
correspondem a falso-positivos para IVS ao HE. Em contrapartida, dos 57 casos
considerados negativos ao exame convencional pela HE, 10 falso-negativos foram
identificados como IVS à IHQ. Portanto, a detecção de IVS pela IHQ foi
significativamente menor que ao HE (p=0,02). Esse dado produziu um coeficiente de
concordância muito baixo (Kappa=0,20), devido à identificação de um grande
número de casos como falso-positivos. O resultados falso-positivos obtidos ao HE
podem ser atribuídos aos casos de IVL que foram interpretados inadvertidamente
como IVS, uma vez que esta coloração não possibilita distinção adequada entre
vasos linfáticos e sanguíneos em todos os casos (Van Den Eynden, Van Der Auwera
et al., 2006).
Nossos resultados mostram que a IVS avaliada por ambos os métodos se
correlacionou positivamente com a presença de metástases linfonodais,
diferentemente do que foi demonstrado por alguns autores, que o encontraram
associação significativa de IVS com a presença de metástases linfonodais (An, Baik
et al., 2007). É interessante assinalar que, embora esses autores tenham analisado
um grande número de casos, trata-se de estudo retrospectivo com revisão de dados
que incluiu apenas CG precoces, o que justifica a baixa ocorrência de metástases
linfonodais e de IVS.
79
A presença de metástases linfonodais é considerada o fator de maior
influência no prognóstico dos pacientes, estando relacionada à presença de invasão
vascular (Yokota, Ishiyama et al., 2004). Estudos retrospectivos sobre CG mostram
que a presença de IVL e IVS detectadas pelo método IHQ está relacionada à
recorrência da neoplasia em pacientes com e sem metástases linfonodais e também
está relacionada à menor sobrevida (Arigami et al., 2005; Nakamura et al., 2006;
Kim, Park et al., 2009).
Em nosso estudo, obtivemos correlação entre a presença de metástases
linfonodais e as demais características clínico-patológicas dos pacientes. Dentre os
fatores avaliados neste trabalho, a profundidade tumoral (quando comparado o CG
em seus estágios precoce e avançado), a classificação histológica de Laurén e a
invasão de órgãos por continuidade (esôfago e duodeno) foram as características
significativamente relacionadas à presença de metástases linfonodais.
A classificação histológica de Laurén tem significado prognóstico no CG,
sendo o tipo intestinal o que apresenta evolução mais favorável. Os relatos na
literatura indicam que os tipos difuso e misto/NC de Laurén são considerados de pior
prognóstico, quando comparados aos tumores do tipo intestinal (Zheng, Li et al.,
2008). As neoplasias do tipo difuso estão associadas a maior potencial infiltrativo na
parede gástrica e maior tendência à disseminação por metástases. Paradoxalmente,
os dados obtidos em nosso trabalho registram que os tumores do tipo difuso
apresentaram menor proporção de acometimento linfonodal que os demais tipos de
CG da classificação de Laurén. Quando foram excluídos os tumores do tipo
intestinal da análise, observamos que os tumores do tipo misto/NC mostraram um
número de metástases significativamente maior do que os difusos (p=0,017).
Entretanto, nossos resultados podem ter sofrido a interferência de um viés
80
relacionado à profundidade de invasão nas camadas da parede gástrica. Os tumores
do tipo difuso que eram também precoces correspondiam a 32% dos casos,
enquanto apenas 8% das neoplasias do tipo misto/NC eram precoces.
Diferentes estudos na literatura demonstraram correlação entre a presença de
invasão vascular e as características clínico-patológicas dos pacientes com CG,
também observadas neste trabalho. Os fatores clínico-patológicos relacionados à
presença de IVL foram: topografia do tumor no terço distal do estômago, tipos
macroscópicos II, III e IV de Borrmann, invasão de órgãos por continuidade e
profundidade tumoral. Em contrapartida, a presença de IVS correlacionou-se apenas
com a profundidade tumoral quando comparado o CG em seus estágios precoce e
avançado.
Neste estudo, as neoplasias precoces exibiram menor acometimento
linfonodal (p=0,001) e menos IVL (p=0,001) e IVS (p=0,007) detectadas pela IHQ,
quando comparadas às neoplasias avançadas. O conceito de CG precoce aplica-se
às neoplasias que exibem infiltração das camadas mais superficiais da parede
gástrica, ou seja, das camadas mucosa ou submucosa. É consenso que nos casos
de CG precoce, menor probabilidade de ocorrência de invasão neoplásica em
vasos sanguíneos e linfáticos. Entretanto, estudos sobre a densidade da rede
linfática na parede gástrica normal atestam que a concentração de vasos linfáticos é
consideravelmente maior na muscular da mucosa, camada que pode estar infiltrada
nas neoplasias chamadas precoces (Sako et al., 2006).
O risco de metástases linfonodais no CG precoce intramucoso é de apenas
3,2%, atingindo aproximadamente 19,2% quando invasão da submucosa (Kwee,
Kwee, 2008). Ao presente momento, não nenhuma modalidade de exame de
imagem capaz de avaliar corretamente a presença de metástases linfonodais no
81
CG. Devido a este fato, o estadiamento linfonodal do CG precoce ainda depende da
avaliação de algumas características tumorais específicas, que estão relacionadas à
maior ocorrência de metástases linfonodais, a saber: profundidade de infiltração do
tumor na parede gástrica, tamanho do tumor acima de 2,0 cm, classificação
histológica de Laurén e IVL. Destaca-se que, dentre estes fatores, a presença de
envolvimento linfático é o fator preditivo mais significativo para a ocorrência de
metástases linfonodais (An, Baik et al., 2007).
Segundo o consenso para tratamento (Treatment Guidelines) do CG da
JGCA, a ressecção endoscópica sem linfadenectomia se restringe aos casos de
carcinomas intramucosos bem diferenciados e que medem menos que 20 mm de
maior dimensão (Nakajima, 2002). A gastrectomia com linfadenectomia estaria
indicada nos carcinomas intramucosos pouco diferenciados, com dimensões
maiores que 20 mm ou em carcinomas invasores da submucosa. Entretanto, esses
critérios são bastante rígidos e podem resultar em certo número de cirurgias
desnecessárias.
Gotoda et al. propôs critérios expandidos, ou mais flexíveis, para o tratamento
endoscópico do CG precoce combinando as seguintes variáveis: tipo histológico,
invasão angiolinfática, ulceração e tamanho do tumor (Gotoda et al., 2000). Esse
trabalho possibilitou a ampliação do universo de pacientes com CG precoce que
potencialmente também poderiam ser elegíveis para ressecção endoscópica do
tumor, mesmo com invasão da submucosa.
Os achados da revisão sistemática de 45 trabalhos com metanálise dos
resultados, publicada por Kwee e Kwee em 2008, trazem a avaliação de diversas
variáveis associadas significativamente com a presença de metástases linfonodais
no CG precoce (Kwee, Kwee, 2008). Para o CG intramucoso foram observadas as
82
seguintes características relevantes: idade abaixo de 57 anos, localização tumoral
no terço médio do estômago, maiores dimensões tumorais, tipo macroscópico
deprimido da SJED, ulceração, tipo difuso de Laurén e presença de IVL. Quanto ao
CG submucoso as variáveis mais associadas a metástases linfonodais foram
pacientes do sexo feminino, localização tumoral no terço distal do estômago,
maiores dimensões tumorais, neoplasias pouco diferenciadas, profundidade da
invasão da submucosa, vascularização tumoral aumentada, IVL e IVS. A maioria
desses fatores considerados preditivos pode ser perfeitamente avaliável por meio de
exames propedêuticos no pré-operatório: endoscopia digestiva acompanhada de
biópsia e métodos de imagem, como tomografia computadorizada e ultrassom
endoscópico. Entretanto, a presença ou ausência de IVL e IVS pode ser avaliada
pelo estudo anatomopatológico, após a ressecção do tumor. A IVL foi o fator
preditivo mais significativo na análise univariada para CG precoce. Porém, o
consenso para o tratamento do CG da JGCA não se baseia na presença ou
ausência de IVL para a definição terapêutica (Nakajima, 2002), o que constitui, no
nosso entendimento, em uma importante falha na avaliação adequada do
prognóstico dos pacientes e, por conseguinte, do tratamento.
A IVL e IVS são parâmetros a serem analisados sistematicamente ao exame
histopatológico devido ao seu importante significado prognóstico e determinante na
escolha da terapêutica complementar pós-cirúrgica. Portanto, devem ser avaliados
pelos métodos mais sensíveis e específicos disponíveis e incorporados ao protocolo
do exame histopatológico de rotina.
83
6 CONCLUSÃO
Nossos resultados mostram que a aplicação do método IHQ utilizando os dois
marcadores combinados (CD34 e D2-40) é superior na detecção de IVL e
IVS, quando comparada à coloração de rotina pela HE, podendo ser de
grande valor na prática clínica, especialmente nos casos em que não é
possível determinar o estadiamento linfonodal, seja por número insuficiente
de linfonodos dissecados ou por não realização de linfadenctomia;
A presença de invasão vascular linfática e sanguínea, avaliada pela coloração
de HE e pela IHQ, está relacionada à presença de metástases linfonodais;
A presença de invasão vascular linfática está relacionada a outros fatores de
pior prognóstico no CG, como a localização do tumor no terço distal do
estômago, os tipos macroscópicos II, III e IV de Borrmann, a invasão de
órgãos por continuidade (esôfago e duodeno) e a profundidade de infiltração
tumoral além da submucosa (CG avançado), refletindo provavelmente o seu
potencial metastático e comportamento agressivo;
A profundidade de infiltração tumoral além da submucosa (CG avançado) foi a
única característica clínico-patológica correlacionada com a presença de
invasão vascular sanguínea;
A profundidade de infiltração tumoral além da submucosa (CG avançado), a
classificação histológica de Laurén (tipo misto/NC) e a invasão de órgãos por
continuidade (esôfago e duodeno) foram as características clínico-patológicas
correlacionadas à presença de metástases linfonodais.
84
PERSPECTIVAS FUTURAS:
Os resultados desta dissertação de mestrado levantaram outras questões a
serem respondidas no que diz respeito à vascularização da parede gástrica no CG.
Portanto, pretendemos dar seguimento a esta pesquisa em projeto de doutorado,
que tecomo objetivo estudar a angiogênese e a linfangiogênese em uma série de
carcinomas gástricos e correlacioná-las com características patológicas dos tumores
e sobrevida dos pacientes.
Para responder às perguntas formuladas, definimos os seguintes objetivos:
Avaliar a angiogênese por meio da marcação imuno-histoquímica pelo CD34
dos vasos sanguíneos e pelo CD105 (marcador específico de vasos
sanguíneos neoformados);
Avaliar a linfangiogênese por meio da marcação dos vasos linfáticos pela
imuno-histoquímica com D2-40 e VEGFR-3 (receptor do fator de crescimento
C derivado do endotélio vascular);
Determinar o valor da densidade microvascular de vasos sanguíneos (DMV) e
linfáticos (DVL) para cada um dos marcadores em estudo;
Correlacionar a DMV e a DVL com as características anatomopatológicas dos
tumores (subtipos histológicos, pT, pN e estadiamento) e com a sobrevida dos
pacientes;
Analisar comparativamente a DMV e a DVL com a detecção de IVS e IVL pelo
método imuno-histoquímico.
85
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2008.
94
APÊNDICE A Aprovação do trabalho pelo COEP UFMG.
O presente trabalho entitulado “Análise comparativa da eficácia do método imuno-
histoquímico (D2-40 e CD34) e coloração de rotina (HE) para detecção de invasão
vascular linfática e sanguínea no carcinoma gástrico: correlação com outros
indicadores prognósticos” faz parte do projeto mais amplo aprovado no parecer
acima Protocolo № 574/07.
95
APÊNDICE B Certificado de apresentação oral do trabalho no XXVII Congresso
Brasileiro de Patologia, em 29 de outubro de 2009, Búzios RJ, promovido pela
Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
96
ANEXO A Classificação TNM dos carcinomas do estômago.
FONTE: AALTONEN, L. A. et al. Pathology and genetics of tumours of the digestive
system. Lyon. Oxford: IARC Press; Oxford University Press distributor, 2000. (World
Health Organization classification of tumours.).
97
ANEXO B Protocolo de análises de peças cirúrgicas de carcinoma gástrico
utilizado no Laboratório de Patologia Gástrica APM
FONTE: LEMES, L. A. O. et al. Gastric carcinoma: analysis of 289 consecutive
gastrectomy specimens in Belo Horizonte, Brazil. Jornal Brasileiro de Patologia e
Medicina Laboratorial [S.I.], v. 39, n. 1, p. 9, 2003.
PÁGINA 1
98
ANEXO B Protocolo de análises de peças cirúrgicas de carcinoma gástrico
utilizado no Laboratório de Patologia Gástrica APM
FONTE: LEMES, L. A. O. et al. Gastric carcinoma: analysis of 289 consecutive
gastrectomy specimens in Belo Horizonte, Brazil. Jornal Brasileiro de Patologia e
Medicina Laboratorial [S.I.], v. 39, n. 1, p. 9, 2003.
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