MÍDIAS, LETRAMENTO E FORMAÇÃO
CONSTRUÇÃO DE SABERES SOBRE O DISCURSO JORNALÍSTICO NA ESCOLA
de práticas sociais para se lidar com ela”. Essas questões, a nosso ver, reiteram a importância de
um trabalho crítico, na formação do professor, voltado especificamente para a processualidade
midiática, que se desenvolve no espaço das “leituras sociais” feitas sobre produtos e processos
midiáticos. Braga (2006), salienta que
Consideramos, assim, como processos críticos, dentro do sistema de interação social
sobre a mídia, os que se voltam para os processos de produção midiática e seus produtos
em termos de um enfretamento tensional que, direta ou indiretamente, possa resultar em
crítica interpretativa, ou em controle de desvios e equívocos midiáticos, em
aperfeiçoamentos qualitativos, na defesa de valores sociais, em aprendizagem e em
socialização competentes, na fruição qualificada em termos de reflexivos ou estéticos,
em informação de retorno, redirecionadora dos produtos, em percepções qualificadas.
(BRAGA, 2006, p.46).
A processualidade interacional sobre a mídia e seus produtos é considerada “crítica”
quando esse tensionamento, de que trata o autor, gera conhecimento e dinâmicas de mudança
social por meio de um trabalho, como se viu, analítico-interpretativo. Leitura das mídias, como
lugar de negociação de sentidos, inclui a contextualização histórica, social, cultural de um povo.
Na percepção do autor, a escola atuaria como contraponto ao discurso cada vez mais homogêneo
produzido pelos monopólios midiáticos.
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Zanchetta Junior (2007),por exemplo, assim se posiciona “é preciso acelerar as propostas
de transformação dessas relações, tanto no plano político (fomentando-se regras para a reflexão
acerca da ação desses monopólios), como no plano didático-pedagógico”. A maior parte dos
consensos sócio-políticos, por exemplo, passa pela mídia.
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Daí a necessidade, reiteramos, de
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Zanchetta Junior (2007) lembra que “no Brasil, uma notícia divulgada nos informativos da Rede Globo de
Televisão e também em seus canais fechados, repercutida pelo jornal O Globo, pela revista Época e por emissoras
de rádio como CBN e Globo, todos organismos pertencentes à mesma organização, alcança um grau de legitimação
praticamente inatingível por quaisquer outras vias de organização e difusão coletiva de informação”.
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Dados sobre a constituição das mídias eletrônicas e impressas no Brasil devem ser considerados aqui a título de
ilustração. Segundo Melo e Tosta (2008), a rede de televisão no país é constituída por nove redes nacionais, o
sistema de TV aberta inclui 406 emissoras, sendo 386 privadas e 20 estatais, sintonizadas por 48 milhões de
domicílios. A Rede Globo catalisa 50% dos telespectadores. A outra metade da audiência é disputada por oito redes
concorrentes: SBT (19,4%), Bandeirantes (13,1%), Record (9%), Rede TV (2,3%), e outras (4,3%) (GRUPO DE
MÍDIA, 2008). “Se tomarmos como indicador a programação diária da hegemônica Rede Globo, veremos que o
bloco principal é ocupado pelas telenovelas (50%), shows musicais e humorísticos (19%), telejornais (17%), esportes
(8%) e filmes (6%).[...] O número de jornais totaliza 3.098, sendo diários apenas 535 – mesmo assim, concentrados
nas regiões mais desenvolvidas do País. No sudeste e sul, circulam 75,5% dos títulos.[...] Suas tiragens são pequenas,
se compararmos aos veículos congêneres em outros países. Estima-se uma tiragem diária de 8 milhões de exemplares
englobando todos os jornais do Brasil. Admitindo que cada exemplar é lido, em média, por três pessoas,
estimaríamos um público leitor na ordem de 24 milhões de pessoas. Para uma população de 190 milhões de
habitantes, constata-se que 2/3 continuam excluídos desse benefício.”(MELO; TOSTA, 2008, p.43-45).