mote, com prudência interrogativa que equipara comparatismo a
estudos culturais, há de encerrar a gestão catarinense desta
associação, a Revista Brasileira de Literatura Comparada reúne,
em seu número 4, variados materiais para esse debate. Em suas
diferenças e tensões, eles revelam que, como sabemos, nos
últimos cinquenta anos, o modelo dos estudos literários descansou
na oposição entre o cânone e seu outro, a cultura popular. O dictum
de um crítico de arte, Clement Greenberg, pode aliás sintetizá-lo:
vanguarda ou kitsch? Porém, as guerras teóricas dos anos 80
mudaram, radicalmente, o panorama. Com as abordagens
desconstrutivas e pós-estruturais, isto é, com o tópico da “morte da
literatura”, as oposições entre alta e baixa cultura, ruptura e
permanência, centro e periferia tornaram-se insustentáveis. As
guerras teóricas recentes mostram que, em última análise, a
literatura comparada é a teoria da guerra e que, ao mudar o
cenário e o objeto das lutas (não mais o indivíduo, não mais o
valor, não mais a disciplina, não mais a nação) o específico da
literatura comparada, nos dias de hoje, é sua passagem ao ato, sua
dissolução, sua transgressão, seu movimento ao exterior de si.
Não é fortuito que comparatismo e guerra se vejam assim
associados. A dimensão universal, central ao comparatismo, só se
consolida, de fato, manu militari, no início do século XX. Porém,
esse movimento de reorganização dos mapas geopolíticos e
acadêmicos trouxe consigo uma nova definição de objeto. A arte
passa a perseguir uma beleza de choque, convulsiva, que, não raro,
se apropria de elementos primitivos para aprofundar a percepção e
aguçar a sensibilidade. Uma vez alcançado, o conceito universal
muda consequentemente. A estética dada se assumirá como
detentora de muitas nacionalidades simultâneas ao passo que o
surrealismo associará suas intervenções ao universal
particularizado (o estalinismo) ou ao universal em
transformação constante (o trotskismo). Todavia, após as análises
frankfurtianas sobre a dialética da modernidade, compreende-se
melhor até mesmo aquilo que Adorno e Horkheimer teriam
dificuldade em aceitar, isto é, que um saber sem ilusão é uma
pura ilusão. Não existe mito puro, nos diz, aliás, Michel Serres, a
não ser o saber puro de todo mito. Fundem-se aí, em