também entendemos que há um vínculo
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entre vida e teoria políticas na época moderna,
especialmente no período em que Benjamin Constant escreve sua contribuição e participa
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ativamente da vida política
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.
Entretanto, nos primeiros momentos da Revolução Francesa, Constant não está em
Paris, mas na Inglaterra e Holanda, resolvendo problemas financeiros do pai e estudando na
atmosfera das Luzes. De 1783 a 1785 ele vive em Edimburgo, onde recebe forte influência
das Luzes Escocesas. De 1788 a 1794, vive em Brunswick, onde conhece Mme. de Staël
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,
freqüenta o Grupo de Coppet e viaja freqüentemente à Suíça e Holanda. Assiste à Revolução,
neste período, à distância. Só desembarca em Paris, junto com Mme de Staël, em maio de
1795
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, quando a Convenção Termidoriana chegava ao fim e se preparava uma nova
Constituição Republicana, que viria a inaugurar o sistema do Diretório. Oscilante em algum
momento, Constant chegou a esboçar uma defesa do jacobinismo, mas logo compreendeu,
sobretudo pelas relações com sua interlocutora, que o elogio à Revolução não precisa carregar
junto dele o Terror. É preciso salvar a Revolução
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pelo que ela tem de melhor: a República, o
sistema eletivo. Com esse tom moderado, o jovem Constant, aos 28 anos, decide-se pelo
engajamento político. Moderação e entusiasmo, necessidade de estabilidade em meio à
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Cf Pierre Manent que argumenta essa idéia na comparação com os antigos. A Grécia, afirma ele, foi o berço da
filosofia política, e foi a partir da experiência política que Platão e Aristóteles construíram suas teorias, ou seja,
as interpretações vieram depois da prática. Já no caso dos modernos, Manent fica "tentado" a afirmar que a teoria
liberal veio antes de sua prática – a experiência da Revolução Francesa – com Hobbes, e foi desenvolvida
durante esse processo, com Constant e Guizot, e aperfeiçoada por Tocqueville. Vale ressaltar que Constant é,
dentre esses autores estudados por Manent, o que mais se aproxima da experiência prática da Revolução.
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Benjamin Constant nasceu em 1767 em Lausanne, na Suiça. Era descendente das famílias francesas
protestantes que haviam se refugiado na Suiça por causa das perseguições religiosas. Isso fez com que sua
família lutasse para recuperar sua cidadania francesa. A preocupação de Constant era que não lhe concedessem a
possibilidade de participar da vida política na condição de estrangeiro. Costumava dizer que era mais francês do
que muitos franceses.
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EtienneHofmann sustenta que nos primeiros anos da Revolução Benjamin Constant não se interessa pelos
acontecimentos na França, diferente de Gustave Rudler, que já encontra um posicionamento político do autor
desde o início. Preferimos contornar o problema levando em consideração que seus escritos políticos começam
em 1796. Notamos que, se Constant não acompanhou com interesse os primeiros acontecimentos
revolucionários, foi logo em seguida que tomou conhecimento e passou a vivenciá-los, tomando posição política.
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Embora a relação entre Benjamin Constant e Mme. de Staël tenha sido muito intensa, tanto pessoalmente, pois
foram amantes e tiveram um filho, quanto politicamente (até escreveram alguns textos juntos), não trataremos
nessa dissertação dessa relação. Há aproximações e distanciamentos entre as duas teorias, que poderiam ser outro
objeto de estudo. Tampouco entramos nas questões pertinentes à influência que ela exerceu sobre ele; alguns
comentadores entendem que muito e outros que bem pouco.
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Precisamente no 6 Prairial do ano III, dia 25 de maio.
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“Quando o acordo entre as instituições e as idéias se vê destruído, as revoluções se tornam inevitáveis. Elas
tendem a estabelecer esse acordo. Não é sempre o objetivo dos revolucionários, mas é sempre a tendência das
revoluções”, escreve Constant em seu texto contra a Reação.