91
e musicólogo modernista Mário de Andrade
68
propôs o desenvolvimento de um projeto
nacional-erudito-popular para o país, de cunho nacionalista, usando a música folclórica como
condição indispensável para o ingresso e a permanência do artista na república musical.
A evolução do nacionalismo musical processa-se de forma linear, desde os
compositores coloniais que produzem na Metrópole, passando pela emoção
brasileira que já se manifesta no internacionalismo de Carlos Gomes e pela
busca incipiente de motivos brasileiros (Itiberê, Nazareth, Levy,
Nepomuceno), até chegar ao aproveitamento e pesquisa do folclore na
elaboração de uma música brasileira (Gallet e Mário de Andrade).
(FREITAG
69
, 1972, apud FUCCI AMATO, 2008, p. 3).
Heitor Villa Lobos contribuiu igualmente para o movimento nacionalista e sua relação
com o canto orfeônico, quando ocupou cargos públicos nos setores educacionais. A proposta
de Villa-Lobos “era a difusão das idéias nacionalistas por meio da educação musical, que
também formava os indivíduos cívica e moralmente, conjugando o belo (a estética) como o
bom (a moral e a ética)” (FUCCI AMATO, 2008, p. 4).
Com a ideia de reconstrução da nação pela educação, o escolanovismo concebeu que a
arte deveria ser retirada do pedestal em que se encontrava e colocada no centro da
comunidade. Na escola, o ensino de música deveria ser acessível a todos, contribuindo para a
formação integral do ser humano (FONTERRADA
70
, 2005, apud FUCCI AMATO, 2008, p.
5).
O estudo de Gilioli (2003) destaca os nomes de Lázaro e Fabiano Lozano e Honorato
Faustino como pioneiros do canto orfeônico
71
. A prática do canto orfeônico em Piracicaba foi,
sem dúvida, desenvolvida pela influência dos irmãos Lázaro
72
e Fabiano
73
Lozano, que
68
De acordo com Fucci Amato (2008, p. 3), Mário de Andrade foi amigo de Gustavo Capanema, ministro da
Educação e Saúde de Vargas, entre 1934 3 1945, e juntos realizaram vários projetos culturais.
69
FREITAG, L. V. O nacionalismo musical no Brasil (das origens até 1945). Tese (Doutorado), São Paulo,
USP, 1972.
70
FONTERRADA, M. De Tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
71
O canto orfeônico é uma modalidade de coral (geralmente executado sem acompanhamento de instrumentos),
destinados a amadores, cuja característica é ser uma prática musical de teor essencialmente pedagógico-escolar e
moral. Os orfeões foram importados do modelo europeu, nos aspectos de forma e organização, mas
desenvolveram conteúdos e características nacionais, apresentando conteúdo que refletisse a brasilidade, pois os
orfeões europeus tinham um repertório musical relacionado à identidade nacional de seus países (GILIOLI,
2003, p.33- 34).
72
Lázaro (1871-1951) foi maestro e professor na Escola Complementar de Piracicaba. Em 1921, foi nomeado
professor de Música na Escola Normal de São Paulo. Em meados da década de 1920, voltou para Tíjola (sua
cidade natal, na Espanha) e foi regente da Banda Municipal dessa cidade (GILIOLI, 2003, p. 102-104).
73
Fabiano (1884-1965) era espanhol naturalizado. Com treze anos, veio com a família para o Brasil, ingressando
na Escola Complementar de Piracicaba, onde se formou em 1903, com 19 anos. Também estudou Música no
Colégio Piracicabano, onde, mais tarde, foi diretor do Departamento de Música.