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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE FARMÁCIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS
MURILO LAMIM BELLO
DERIVADOS SINTÉTICOS DA CHALCONA INIBIDORES DO CRESCIMENTO DE
Leishmania braziliensis: MODELAGEM MOLECULAR PARA O ESTUDO DA
RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE (SAR) E AVALIAÇÃO TEÓRICA DO PERFIL
FÍSICO-QUÍMICO E TOXICOLÓGICO (IN SILICO)
Orientadores: Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues
Prof
a
. Dr
a
. Luiza Rosaria Sousa Dias
Rio de Janeiro
2010
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MURILO LAMIM BELLO
DERIVADOS SINTÉTICOS DA CHALCONA INIBIDORES DO CRESCIMENTO DE
Leishmania braziliensis: MODELAGEM MOLECULAR PARA O ESTUDO DA
RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE (SAR) E AVALIAÇÃO TEÓRICA DO PERFIL
FÍSICO-QUÍMICO E TOXICOLÓGICO (IN SILICO)
Orientadores: Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues
Prof
a
. Dr
a
. Luiza Rosaria Sousa Dias
Rio de Janeiro
2010
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências
Farmacêuticas.
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Ficha Catalográfica
Bello, Murilo Lamim.
Derivados sintéticos da chalcona inibidores do crescimento de
Leishmania braziliensis: Modelagem molecular para o estudo da relação
estrutura atividade (SAR) e avaliação teórica do perfil físico-químico e
toxicológico (in silico) / Murilo Lamim Bello. -- 2010.
XX, 88f.: il.
Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Farmácia, Rio de Janeiro, 2010.
Orientadores: Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues
Prof
a
. Dr
a
. Luiza Rosaria Sousa Dias
1. 1. Leishmania braziliensis. 2. Chalcona. 3. Modelagem molecular. 4.
Leishmanicida. 5. SAR. 6. In silico. 7. Regra de Lipinski. Teses. I.
Rodrigues, Carlos Rangel (Orient.) e Dias, Luiza Rosaria Sousa (Orient.). II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Farmácia. III. Título.
MURILO LAMIM BELLO
DERIVADOS SINTÉTICOS DA CHALCONA INIBIDORES DO CRESCIMENTO DE
Leishmania braziliensis: MODELAGEM MOLECULAR PARA O ESTUDO DA
RELAÇÃO ESTRUTURA-ATIVIDADE (SAR) E AVALIAÇÃO TEÓRICA DO PERFIL
FÍSICO-QUÍMICO E TOXICOLÓGICO (IN SILICO)
Aprovada em de de 2010
Prof. Dr. Carlos Rangel Rodrigues - Orientador
Faculdade de Farmácia - UFRJ
Prof
a
. Dr
a
. Luiza Rosaria Sousa Dias - Orientadora
Faculdade de Farmácia - UFF
Prof
a
. Dr
a
. Gisela Maria Dellamora Ortiz
Faculdade de Farmácia - UFRJ
Prof
a
. Dr
a
. Magaly Girão Albuquerque
Instituto de Química - UFRJ
Prof
a
. Dr
a
. Alice Maria Rolim Bernardino
Instituto de Química - UFF
Rio de Janeiro
2010
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Ciências Farmacêuticas, Faculdade de
Farmácia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências
Farmacêuticas.
Esta obra é dedicada aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores, Dr. Carlos Rangel Rodrigues e Dr
a
. Luiza Rosaria
Sousa Dias, por toda a atenção, tempo e esforços dedicados para a realização deste
trabalho.
Aos professores da banca de acompanhamento, Dr
a
. Gisela Maria Dellamora
Ortiz e Dr
a
. Monique Araújo de Brito, pelo cuidado e auxílio no desenvolvimento do
trabalho.
Aos professores da banca de avaliação por gentilmente aceitarem o convite
para participarem da etapa final deste trabalho.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Farmacêuticas, sempre dispostos a ajudar e orientar os alunos em suas dúvidas e
problemas.
Ao CNPq e à FAPERJ, pelo apoio financeiro que foi fundamental para a
realização deste trabalho.
Aos alunos do Laboratório ModMolQSAR-3D da Faculdade de Farmácia da
UFRJ pelo apoio.
À Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e à
própria UFRJ.
Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação que sempre estão
dispostos a auxiliar e ajudar.
A todos aqueles que de certa forma contribuíram para a construção deste
trabalho.
Aos meus pais, João Carlos Araújo Bello e Lúcia Soares Lamim Bello, pelo
apoio, paciência e compreensão.
“Eu estava sentado à mesa a escrever o meu compêndio, mas o trabalho não rendia; os meus
pensamentos estavam noutro sítio. Virei a cadeira para a lareira e comecei a dormitar. Outra
vez começaram os átomos às cambalhotas em frente dos meus olhos. Desta vez os grupos mais
pequenos mantinham-se modestamente à distância. A minha visão mental, aguçada por
repetidas visões desta espécie, podia distinguir agora estruturas maiores com variadas
conformações; longas filas, por vezes alinhadas e muito juntas; todas torcendo-se e voltando-se
em movimentos serpenteantes. Mas olha! O que é aquilo? Uma das serpentes tinha filado a
própria cauda e a forma que fazia rodopiava trocistamente diante dos meus olhos. Como se se
tivesse produzido um relâmpago, acordei... passei o resto da noite a verificar as consequências
da hipótese. Aprendamos a sonhar, senhores, pois então talvez nos apercebamos da verdade.”
Friedrich August Kekulé von Stradonitz, 1865
RESUMO
BELLO, Murilo Lamim. Derivados sintéticos da chalcona inibidores do
crescimento de Leishmania braziliensis: Modelagem molecular para o estudo
da relação estrutura-atividade (SAR) e avaliação teórica do perfil físico-químico
e toxicológico (in silico). Rio de Janeiro, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências
Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2010
A leishmaniose é uma doença infecciosa negligenciada causada por
diferentes espécies do parasita Leishmania e é um dos maiores problemas de saúde
pública de países em desenvolvimento. Apesar do progresso em conhecimentos
fundamentais sobre o parasita Leishmania, a atual terapia contra a leishmaniose
ainda é insatisfatória, devido à eficácia limitada, o tratamento prolongado, o custo
elevado e aos efeitos adversos indesejáveis. Assim, a pesquisa por novos
compostos protótipos de fármacos antileishmaniose permanece como um assunto
de importância atual. O objetivo deste trabalho foi estudar a relação estrutura
atividade (SAR) e o perfil físico-químico e toxicológico in silico de uma série de
dezenove derivados da 1,3-difenil-2-propen-1-ona (chalcona), utilizando ensaios
experimentais e metodologias de simulação computacional. Os resultados da
avaliação biológica demonstraram que quatorze derivados da chalcona avaliados,
apresentaram atividade antileishmania contra a forma promastigota de Leishmania
braziliensis. Cinco destes derivados (15g, 15h, 15i, 15j, 15k) apresentaram as
melhores atividades. Dentre estes, os derivados 15h (IC
50
= 2,70 M), 15i (IC
50
=
3,94 M) e 15j (IC
50
= 4,62 M) foram mais ativos do que a pentamidina (IC
50
= 6,0
M), fármaco utilizado como controle neste estudo. Estes estudos indicaram que
substituintes metóxila nas duas posições orto do anel fenila A estão vinculados com
melhores atividades antileishmania. No programa Osiris, os compostos com
melhores atividades antileishmania apresentaram valores de druglikeness e
drugscore superiores aos fármacos utilizados como controle (pentamidina e
anfotericina B). O derivado 15i não violou nenhum dos parâmetros da regra-dos-
cinco de Lipinski (lipofilicidade, peso molecular, números de grupos aceptores e
doadores de ligações de hidrogênio), apresentou perfis toxicológicos in vitro com
células VERO (CC
50
= 215, 57 M) e in silico favoráveis. O derivado 15i demonstrou
ser o protótipo de fármaco mais promissor da série estudada.
Palavras-chave: Leishmania braziliensis, Chalcona, Modelagem molecular.
ABSTRACT
BELLO, Murilo Lamim. Derivados sintéticos da chalcona inibidores do
crescimento de Leishmania braziliensis: Modelagem molecular para o estudo
da relação estrutura-atividade (SAR) e avaliação teórica do perfil físico-químico
e toxicológico (in silico). Rio de Janeiro, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências
Farmacêuticas) - Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2010
Leishmaniasis is a neglected infectious disease caused by different species of
parasites of the genus Leishmania spp. and is one of the largest problems of public
health of countries in development. In spite of the progress in fundamental
knowledge on the Leishmania parasite, current leishmaniasis therapy is still
unsatisfactory, due to limited effectiveness, long treatment, high cost and undesirable
adverse effects. Thus, the research of novel lead compounds for leishmaniasis
treatment remains a current subject. Our purpose was to determine antileishmanial
activity, structure-activity relationship (SAR), and in silico physical-chemistry and
toxicological profile of a series of nineteen 1,3-diphenyl-2-propen-1-one (chalcone)
derivatives using experimental assays and computer simulation methods. Results of
biological evaluation showed that fourteen chalcone derivatives presented some
antileishmanial activity against the promastigote form of Leishmania braziliensis. Five
of these derivatives (15g, 15h, 15i, 15j and 15k) presented the highest
antileishmanial activities. Among these, 15h (IC
50
= 2.70 M), 15i (IC
50
= 3.94 M)
and 15j (IC
50
= 4.62 M) were more active than pentamidine (IC
50
= 6.0 µM), a drug
used as a positive control in these study. Our studies indicated that methoxy
substituents at di-orto phenyl ring A position are related with higher antileishmanial
activity. With the Osiris
®
program, compounds with higher antileishmanial activity
presented better druglikeness and drugscore values than the drugs pentamidine and
amphotericin B, which are currently used in therapy and were evaluated in this work.
Derivative 15i fulfilled Lipinski’s rule of five (lipophilicity, molecular weight, number of
hydrogen bond acceptor and donor groups), and presented favorable in vitro, with
VERO cells (CC
50
= 215.57 µM), and in silico toxicological profiles. Thus, derivative
15i was shown to be an important drug candidate compound.
Keywords: Leishmania braziliensis. Chalcone. Molecular modeling.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Distribuição Mundial de Leishmaniose Cutânea 21
Figura 2 Distribuição Mundial de Leishmaniose Visceral 22
Figura 3 Diagrama de energia para o n-butano mostrando o mínimo
global e os mínimos locais de seus confôrmeros 35
Figura 4 Representação de uma molécula em mecânica molecular 37
Figura 5 Potencial eletrostático da molécula de benzeno e piridina 43
Figura 6 Benzeno visualizado sem aplicação da superfície de densidade
eletrônica e com superfície de densidade eletrônica 44
Figura 7 Superfície de densidade eletrônica total do benzeno 45
Figura 8 Superfície de van der Waals do benzeno 46
Figura 9 Osiris
®
Property Explore: Gráfico de Validação 48
Figura 10 Distribuição de druglikeness. Fármacos comerciais
versus substâncias químicas do catálogo Fluka 49
Figura 11 A superfície de van der Waals corresponde ao contorno da
superfície das esferas de van der Waals dos átomos 51
Figura 12 Estrutural geral dos derivados da chalcona (15a-s) 54
Figura 13 Interface gráfica do programa Spartan
®
57
Figura 14 Fluxograma da metodologia computacional utilizada
no estudo da relação estrutura-atividade (SAR) 58
Figura 15 Interface gráfica do programa Osiris
®
Property Explorer 60
Figura 16 Alinhamento e sobreposição das conformações de menor
energia de cada derivado da chalcona 64
Figura 17 Alinhamento e sobreposição das conformações mais estáveis
dos derivados metoxilados da chalcona 15b e 15g 65
Figura 18 Alinhamento e sobreposição das conformações mais estáveis
dos derivados metoxilados da chalcona 15c e 15h 66
Figura 19 Alinhamento e sobreposição das conformações mais estáveis
dos derivados metoxilados da chalcona 15d e 15j 67
Figura 20 Alinhamento e sobreposição das conformações mais estáveis
dos derivados metoxilados da chalcona 15h e 15s 68
Figura 21 Mapa de potencial eletrostático molecular dos derivados da
chalcona (15a-s) 72
Figura 22 Mapa de densidade HOMO dos derivados da
chalcona (15a-s) 73
Figura 23 Mapa de densidade LUMO dos derivados da
chalcona (15a-s) 75
Figura 24 Perfis Toxicológicos Teóricos dos derivados da chalcona
com atividade mais significativa (15g, 15h, 15i, 15j e 15k) 76
Figura 25 Druglikeness dos derivados da chalcona (15g, 15h, 15i, 15j e
15k) comparados com os fármacos comerciais 77
Figura 26 Drugscore dos derivados ativos 15g, 15h, 15i, 15j e 15k
da chalcona comparados com os fármacos comerciais 78
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Atividade antileishmania contra cepas promastigotas de L.
braziliensis (IC
50
) e toxicidade celular (CC
50
) dos derivados da
chalcona (15a-s) 62
Tabela 2 Comparação dos parâmetros teóricos (Volume, Área CPK,
E
HOMO
, E
LUMO
e momento Dipolo) dos derivados da chalcona
(15a-s) 71
Tabela 3 Valores de cLogP (lipofilicidade), HBA (aceptores de ligação de
hidrogênio), HBD (doadores de ligação de hidrogênio) e PM
(peso molecular) e dos derivados da chalcona (15a-s) 79
LISTA DE SIGLAS
ADMET Absorção, Distribuição, Metabolização, Excreção e Toxicologia
AIDS ndrome da Imuno Deficiência Adquirida (Acquired immnune
Deficiency Syndrome)
AM1 Modelo Austin 1 (Austin Model 1)
AMBER Modelo Assistido de Construção e Refinamento de Energia
(Assisted Model Building and Energy Refinament)
CC
50
Menor Concentração Capaz de Citotóxica de 50%
cLogP Logarítmo do Coeficiente de Partição Calculado (teórico)
CNDO Negligência Completa da Sobreposição Diferencial
(Complete Neglect of Differential Overlap)
CPK Corey-Pauling-Koton
Da Dalton
DNA Ácido Desoxirribonucleico (Deoxyribonucleic acid)
eV elétron Volt
HBA Aceptor de ligação de hidrogênio (Hydrogen bonding acceptor)
HBD Doador de ligação de hidrogênio (Hydrogen bonding donor)
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana (Human Immunodeficiency
Virus)
HOMO Orbital Molecular Ocupado de Mais Alta Energia (Highest
Occupied Molecular Orbital)
IC
50
Menor Concentração Capaz de Inibir 50% da Viabilidade Celular
INDO Negligência Intermediária da Sobreposição Diferencial
(Intermediate Neglect of Differencial Overlap)
LogS Solubilidade
LUMO Orbital Molecular Desocupado de Mais Baixa Energia (Lowest
Unoccupied Molecular Orbital)
MEP Potencial Eletrostático Molecular (Molecular Electrostatic
Potencial)
MINDO/3 Negligência Intermediária Modificada da Sobreposição
Diferencial, versão 3
MM1 Campo de Força Mecânica Molecular 1
MM2 Campo de Força Mecânica Molecular 2
MMFF Campo de Força Molecular da Merck (Merck Molecular Force
Field
MNDO Negligência Modificada da Sobreposição Diferencial (Modified
Neglect of Differential Overlap)
OMS Organização Mundial da Saúde
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PM Peso Molecular
PM3 Método Paramétrico 3 (Parametric Method 3)
PM5 Método Paramétrico 5 (Parametric Method 5)
PSA Área de Superfície polar (Polar Surface Area)
QSAR Relação quantitativa estrutura-atividade (Quantitative Structure
Activity Relationship)
RM1 Modelo Recife 1 (Recife Model 1)
RMN Ressonância Magnética Nuclear
RNA Ácido ribonucleico (Ribonucleic acid)
RTECS Registro de Efeitos Tóxicos de Substâncias Químicas (Registry
of Toxic Effects of Chemical Substances)
SAR Relação estrutura-atividade (Structure Activity Relationship)
SEP Superfície de Energia Potencial
STO-3G Orbitais Tipo Slater simulado por 3 Gaussianos (Slater-
Type-Orbitals simulated by 3 Gaussians) - Base quântica
ua Unidade atômica
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
WDI Índice de Fármacos Mundial (World Drugs Index)
MARCAS E PROPRIEDADES
marcas comerciais e suas respectivas propriedades citadas no texto do
trabalho. Abaixo estão os nomes das marcas que foram utilizadas no trabalho,
entretanto, a ausência de algum nome caracteriza apenas uma falha não intencional
pela qual nos desculpamos antecipadamente. As seguintes marcas comerciais são
propriedades de seus respectivos detentores:
Fluka
®
Marca registrada de Fluka Chemie AG
Glucantime
®
Marca registrada de Sanofi-Aventis, Inc.
Osiris
®
Marca registrada de Actelion Pharmaceuticals, Ltd
Pentostam
®
Marca registrada de GlaxoSmithKline, Inc.
Spartan
®
Marca registrada de Wavefunction, Inc
Windows
®
Marca registrada de Microsoft Corporation
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 19
1.1 DOENÇAS PARASITÁRIAS 19
1.2 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS 20
1.2.1 Leishmanioses 21
1.2.1.1 Fármacos para o tratamento da leishmaniose 23
1.2.1.2 Chalconas com atividade antileishmania 30
1.3 MODELAGEM MOLECULAR 33
1.3.1 Métodos de modelagem molecular: Mecânica molecular e quântica 34
1.3.1.1 Mecânica molecular 36
1.3.1.2 Mecânica quântica - Métodos ab initio 39
1.3.1.3 Métodos semi-empíricos 41
1.3.1.4 Representação dos resultados e aplicações 42
1.4 ESTUDO TEÓRICO DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E 45
DE TOXICIDADE IN SILICO
1.4.1 Regra de Lipinski 49
2 JUSTIFICATIVA 52
3 OBJETIVOS 54
3.1 OBJETIVOS GERAIS 54
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 54
4 MATERIAIS E MÉTODOS 56
4.1 SÍNTESE DOS DERIVADOS DA CHALCONA 56
4.2 METODOLOGIA DO ENSAIO BIOLÓGICO 56
4.3 METODOLOGIA COMPUTACIONAL 56
4.3.1 Estudo da relação estrutura-atividade 56
4.3.2 Estudo in silico das propriedades físico-químicas e de toxicidade 59
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 61
5.1 ANÁLISE DOS DADOS DE ATIVIDADE LEISHMANICIDA 61
DOS DERIVADOS DA CHALCONA
5.2 PROPRIEDADES ELETRÔNICAS 70
5.2.1 Cálculos de energia de HOMO (E
HOMO
), energia de LUMO(E
LUMO
) e 70
momento de dipolo dos derivados da chalcona
5.2.2 Mapas de potencial eletrostático molecular 71
5.2.3 Mapas de densidade HOMO e LUMO 72
5.2.3.1 Mapas de densidade HOMO 72
5.2.3.2 Mapas de densidade LUMO 74
5.3 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS 75
TOXICOLÓGICAS IN SILICO
5.3.1 Regra de Lipinski 78
6 CONCLUSÃO 80
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82
ANEXOS 89
19
1 INTRODUÇÃO
1.1 DOENÇAS PARASITÁRIAS
Protozoários são organismos unicelulares com um ciclo de vida complexo,
mostrando estados morfológicos distintos durante seu desenvolvimento em
hospedeiros vertebrados e invertebrados (SOUZA et al., 2004). Podem causar
doenças graves, que representam a maior causa de morbidade e mortalidade em
muitas áreas endêmicas (SOUZA et al., 2004; FEASEY et al., 2009). Entre os
protozoários membros da família Trypanosomatidae, estão algumas espécies
causadoras de doenças em humanos como a tripanossomíase africana (doença do
sono), doença de Chagas e leishmaniose, com enorme impacto na saúde global
(MALLARI et al., 2008; FEASEY et al., 2009; GIAROLLA et al., 2010). Essas
doenças constituem um grande problema de saúde pública que atualmente ameaça
principalmente populações de países em desenvolvimento (SOUZA et al., 2004;
SOUZA et al., 2009).
As doenças tropicais causadas por protozoários causam grande impacto para
a humanidade, com altas taxas de mortalidade e perdas econômicas dos países
envolvidos (FEASEY et al., 2009; GIAROLLA et al., 2010). Todos os anos, os
agentes etiológicos dessas doenças infectam milhões de pessoas e provocam uma
alta taxa de morte (REGUERA, TEKWANI, BALAÑA-FOUCE, 2005; FEASEY et al.,
2009). Estas doenças tropicais interferem no desenvolvimento dos países atingidos
de várias formas, como mortalidade prematura, custos médicos elevados e redução
da produtividade, contribuindo para o agravamento de problemas sociais
existentes em países em desenvolvimento (FEASEY et al., 2009). Os fatores que
contribuem para o aumento da incidência de doenças tropicais incluem o
aparecimento de parasitas resistentes aos fármacos, bem como vetores com
resistência aos inseticidas e populações endêmicas crescentes em países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento devido ao processo migratório (REGUERA,
TEKWANI, BALAÑA-FOUCE, 2005). As doenças tropicais podem atuar como
infecção oportunista em pacientes imunodeprimidos e aumentam a taxa de
mortalidade por AIDS (REGUERA, TEKWANI, BALAÑA-FOUCE, 2005; FEASEY et
al., 2009).
20
1.2 DOENÇAS NEGLIGENCIADAS
As doenças tropicais o conhecidas como doenças negligenciadas pois
acarretam graves problemas de saúde pública em países em desenvolvimento,
afetando mais de 1 bilhão de pessoas e causando a morte de cerca de 500 mil
pessoas a cada ano (CAVALLI & BOLOGNESI, 2009). Ainda assim, menos de 1%
dos mais de 1300 novos medicamentos desenvolvidos nos últimos 25 anos foram
destinados ao tratamento e combate dessas doenças. Este desequilíbrio evidencia a
crise em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) de medicamentos para as doenças
negligenciadas (TROUILLER et al., 2002; BHATTACHARYA, SALEM,
WERBOVETZ, 2002; FEASEY et al., 2009).
Os países em desenvolvimento representam 80% da população mundial e
respondem por apenas 20% do mercado de medicamentos. Para essas pessoas, o
desequilíbrio entre suas necessidades e a disponibilidade de medicamentos é fatal.
A doença do sono, por exemplo, apresenta 50 mil novos casos a cada ano e
ameaça outros 60 milhões no sub-Saara africano (MALLARI et al. 2008). Apesar
desses fatos, apouco tempo atrás, os pacientes tinham como única alternativa de
cura um tratamento com medicamentos à base de arsênico que, além de doloroso,
mata uma a cada 20 pessoas que se submetem a esse tratamento. A tuberculose,
considerada uma doença negligenciada, mata pelo menos 2 milhões de pessoas
todos os anos (SANTOS et al. 2009). Mesmo assim, o último tratamento inovador foi
desenvolvido há mais de 30 anos.
As doenças globais, como câncer, doenças cardiovasculares, doenças
mentais e distúrbios neurológicos representam a maior concentração de P&D da
indústria farmacêutica (TROUILLER et al., 2002). Essas doenças atingem
indiscriminadamente todas as pessoas em qualquer parte do mundo. Entretanto, os
novos fármacos lançados para combater essas doenças encontram um mercado
promissor nos países desenvolvidos (TROUILLER et al., 2002).
Dentro das doenças negligenciadas existem as extremamente
negligenciadas, como doença do sono, doença de Chagas e as leishmanioses que
afetam exclusivamente as populações dos países em desenvolvimento (GIAROLLA
et al., 2010). Como a maioria desses pacientes tem baixo poder aquisitivo, eles não
podem pagar o tratamento e, portanto, não representam um mercado atrativo e a
maioria fica excluída do escopo dos esforços de P&D da indústria farmacêutica e,
21
portanto, são excluídas do mercado farmacêutico (SINGH & SIVAKUMAR, 2004;
FEASEY et al., 2009).
1.2.1 Leishmanioses
As Leishmanioses são doenças infecciosas causadas por diferentes espécies
do parasita Leishmania e são um dos maiores problemas de saúde pública de
países em desenvolvimento, atingindo 350 milhões de pessoas ao redor do mundo
(SOUZA et al., 2009). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a
leishmaniose é uma doença tropical descontrolada, com altas taxas de morbidade e
mortalidade na África, Ásia e América (TROUILLER et al., 2002; SOUZA et al.,
2009).
As regiões destacadas em vermelho no mapa de distribuição mundial de
leishmaniose cutânea (Figura 1) são as áreas afetadas por essa forma de
manifestação clínica da leishmaniose. As áreas afetadas são principalmente de
países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como Índia, países da África, do
Oriente médio, da América Central e América do Sul. O Brasil tem a totalidade de
seu território afetado por essa manifestação clínica.
Figura 1 - Distribuição Mundial de Leishmaniose Cutânea. As regiões destacadas em vermelho são
as áreas afetadas por essa forma de manifestação clínica da leishmaniose
(Adaptado de http://www.who.int/leishmaniasis/leishmaniasis_maps).
22
A Figura 2 indica a distribuição mundial de Leishmaniose visceral. As regiões
destacadas em vermelho são as áreas afetadas por essa forma de manifestação
clínica da leishmaniose. Novamente as áreas afetadas são principalmente de países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento que se localizam na África, Índia, Oriente
médio, América Central e América do Sul. O Brasil tem grande parte de sua
população sob risco de adquirir essa forma de manifestação clínica.
Figura 2 - Distribuição Mundial de Leishmaniose Visceral. As regiões destacadas em vermelho são
as áreas afetadas por essa forma de manifestação clínica da leishmaniose
(Adaptado de http://www.who.int/leishmaniasis/leishmaniasis_maps).
Apesar do progresso em conhecimentos fundamentais sobre o parasita
Leishmania, a atual terapia contra a leishmaniose ainda é insatisfatória, devido à
limitada eficácia, ao tratamento prolongado, alto custo e efeitos secundários
indesejáveis (CHEN et al., 2001; CROFT & COOMBS, 2003; SINGH & SIVAKUMAR,
2004; RICHARD & WERBOVETZ, 2010).
A transmissão do parasita ocorre pela picada das fêmeas infectadas de
insetos dos gêneros Phlebotomus e Lutzomyia (VENDRAMETTO et al., 2010).
Existem cerca de 20 espécies e sub-espécies do parasita que são responsáveis
pelas diferentes manifestações clínicas da doença, que vão desde uma úlcera na
pele que cicatriza por si a uma doença grave, como a Leishmaniose visceral
(GIAROLLA et al., 2010; VENDRAMETTO et al., 2010).
23
O ciclo de vida do parasita compreende: a forma promastigota flagelada que
se encontra na mea do inseto flebotomíneo, vetor do parasita; e a forma
amastigota, presente nos hospedeiros mamíferos (SOUZA et al., 2009;
VENDRAMETTO et al., 2010). As formas amastigotas são parasitas intracelulares
obrigatórios de macrófagos, e raramente são encontradas em outros tipos de células
(LEOPOLDO et al., 2006). No macrófago, as formas amastigotas são encontradas
no fagolisossomo onde se multiplicam e crescem (SOUZA et al., 2009).
O surgimento de cepas dos parasitas resistentes aos medicamentos
atualmente empregados no tratamento, especialmente em pacientes HIV-
Leishmania co-infectados, também tem agravado o problema de saúde pública
(SINGH & SIVAKUMAR, 2004; FEASEY et al.; 2009). Assim, uma necessidade
urgente para o desenvolvimento de novos, eficientes e seguros fármacos para o
tratamento da Leishmaniose.
1.2.1.1 Fármacos para o tratamento da leishmaniose
Estudos demonstraram que 1393 novos rmacos receberam autorização
para comercialização entre 1975 e 1999 (TROUILLER et al., 2002). A distribuição
quantitativa desses fármacos é desigual para as diferentes classes terapêuticas,
concentrando-se sobre as necessidades dos países de renda elevada (TROUILLER
et al., 2002). Assim, existe uma grande deficiência de fármacos eficientes para o
tratamento de doenças parasitárias que ocorrem em países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento, como a leishmaniose (BHATTACHARYA; SALEM; WERBOVETZ,
2002; RICHARD & WERBOVETZ, 2010).
, aproximadamente, vinte e cinco compostos com efeitos antileishmania,
mas apenas alguns são classificados como fármacos leishmanicidas utilizados em
humanos e a maioria destes é administrada na forma parenteral (SINGH &
SIVAKUMAR, 2004).
Os fármacos utilizados na quimioterapia atual contra as leishmanioses são
tóxicos e causam muitos efeitos colaterais, como cardiotoxicidade e pancreatite
(CROFT & COOMBS, 2003; SINGH & SIVAKUMAR, 2004; SOUZA et al., 2009). O
tratamento de primeira escolha emprega compostos de antimônio pentavalente,
Sb(V), como antimoniato de meglumina (Glucantime
®
) (1) e estibogluconato de sódio
(Pentostam
®
) (2). Esses fármacos existem apenas na forma parenteral e geralmente
24
são usados sob supervisão médica durante vinte e oito dias (SOUZA et al., 2009). O
tratamento de segunda escolha emprega compostos como anfotericina B (3) e
pentamidina (4) (CROFT & COOMBS, 2003; SINGH & SIVAKUMAR, 2004; CROFT,
SUNDAR, FAIRLAMB, 2006; SOUZA et al., 2009).
A variação na resposta clínica aos antimoniais pentavalentes em
leishmanioses cutânea e visceral foi um problema persistente durante os últimos 50
anos (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). Fármacos antimoniais pentavalentes
m sido usados para o tratamento de leishmanioses cutânea e visceral mais de
seis décadas com pouca evidência de resistência. O surgimento de espécies de
Leishmania resistentes a antimoniais pentavalentes começou a ocorrer nos últimos
15 anos, tornando-se um grande problema clínico (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB,
2006).
O mecanismo de ação desses fármacos passou por muitos anos sem ser
conhecido e é aceito que os antimoniais pentavalentes são pró-fármacos, que
necessitam sofrer redução à forma trivalente para, então, exercerem seu efeito.
Sabe-se que eles inibem a biossíntese de macromoléculas nas formas amastigotas
do parasita por interferirem na glicólise e na β-oxidação dos ácidos graxos, além de
apresentarem ação sobre o metabolismo da tripanotiona (BERMAN et al., 1987).
O grande problema dessa terapia é a resistência adquirida. Acredita-se que
alguns mecanismos moleculares de resistência estejam relacionados à diminuição
da taxa de redução da forma pentavalente à forma trivalente do fármaco, como a
alteração da expressão da aquaglicoporina-1 (GOURBAL et al., 2004), responsável
pelo transporte do fármaco na forma trivalente para o interior do parasita, e um
aumento dos níveis de tripanotiona. Outro problema é a toxicidade dos fármacos,
com efeitos colaterais severos e, em alguns casos, podem causar pancreatite aguda,
problemas cardíacos como arritmias, além de oferecer risco de vida para pacientes
com idade abaixo de dois anos e acima de 45 anos que apresentem sinais
avançados da doença, desnutrição e complicações por leishmaniose visceral
(SEAMAN et al., 1996; MURRAY et al., 2005).
Os antimoniais pentavalentes estão disponíveis nas formas de antimoniato de
meglumina (1) e estibogluconato de sódio (2) (FRÉZARD et al., 2008), que podem
ser administrados por via intravenosa ou via intramuscular com igual eficácia
(MURRAY et al., 2005; CROFT; SUNDAR; FAIRLAMB, 2006).
25
Sb
+
O
O
OO
NH
H
H
OH
CH
3
H
OH
OH
NH
CH
3
H
H
OH
H
OH
H
Antimoniato de meglumina (Glucantime
®
) (1)
O
Sb
O
OH
O
Sb
O
O
OH
H
OH
H
H
OH
H
Na
+
O
2
C
-
H
H
OH
H
CO
2
-
Na
+
H
OH
O
O
-
Na
+
Estibogluconato de sódio (Pentostam
®
) (2)
A anfotericina B (3) é um antibiótico poliênico com atividade antifúngica,
descoberto em 1956, a partir de uma bactéria do gênero Streptomyces (SINGH &
SIVAKUMAR, 2004). Esta é outra opção no tratamento da leishmaniose visceral,
principalmente em pacientes que apresentaram resistência aos antimoniais. Este
antibiótico macrolídeo vem sendo usado contra leishmaniose mais de quatro
décadas (BRAJTBURG & BOLARD, 1996; CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006).
Acredita-se que a anfotericina B possa interagir com o esterol da membrana celular
e causar mudanças na permeabilidade, provocando disfunção celular e consequente
destruição e morte celular. É possível que fungos e Leishmania spp. sejam mais
susceptíveis à anfotericina B do que as células dos hospedeiros mamíferos
(BRAJTBURG & BOLARD, 1996). O maior potencial da anfotericina B em causar
danos em células de fungos e parasitas do que em células de mamíferos está
provavelmente relacionado ao tipo de esterol incorporado em suas membranas. O
ergosterol é encontrado em células de fungos e parasitas, enquanto que o colesterol
é encontrado nas células dos mamíferos (BRAJTBURG & BOLARD, 1996). Seu
mecanismo de ação se baseia na afinidade em se unir aos esteróis, principalmente
ao ergosterol (esterol encontrado em fungos e parasitas) inibindo seletivamente a
síntese da membrana do parasita, formando poros aquosos na membrana celular
26
por onde a célula perde íons, provocando morte celular (BRAJTBURG & BOLARD,
1996; SINGH & SIVAKUMAR, 2004). Apesar de eficaz no tratamento de pacientes
intolerantes aos antimoniais, apresenta um alto grau de toxicidade e efeitos
colaterais como hipocalemia, febre, nefrotoxicidade e reações anafiláticas. Além
disso, esse medicamento é caro e requer um regime de infusão lento em dias
alternados (BRAJTBURG & BOLARD, 1996). Uma alternativa para os efeitos
adversos da Anfotericina B é o uso em lipossomas, que é mais eficaz e menos
tóxica, mas por outro lado torna o tratamento bem mais caro (BRAJTBURG &
BOLARD, 1996).
O OH
O
O
O
OH
CH
3
OH
CH
3
CH
3
O OH OH
OH
OH OH
OH
O CH
3
NH
2
OH OH
Anfotericina B (3)
A pentamidina (4), uma diamidina aromática, tem sido utilizada como fármaco
de segunda escolha para o tratamento contra as leishmanioses visceral e cutânea
mais de quatro décadas (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). O mecanismo de
ação da pentamidina ainda não está claramente definido, mas possivelmente inclui a
inibição da biossíntese de poliaminas, afetando a membrana interna mitocondrial
(CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). Embora transportadores para a pentamidina
tenham sido caracterizados e podem desempenhar papel importante, outros
dados indicaram o acúmulo de pentamidina na mitocôndria de Leishmania como um
aspecto fundamental para a atividade deste fármaco (CROFT, SUNDAR,
FAIRLAMB, 2006). Diversos e severos efeitos adversos como hipoglicemia,
diabetes, nefrotoxicidade, taquicardia e dor no local da injeção estão relacionados ao
tratamento com pentamidina (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006).
27
O O
NH
2
NH NH
NH
2
Pentamidina (4)
A paromomicina (Aminosidina) (5) é um antibiótico aminoglicosídeo produzido
por Streptomyces spp., pouco usado para o tratamento de leishmaniose visceral, e
não é surpresa que existam poucos casos relatados de resistência a esse
medicamento para esta forma da doença. Entretanto, foi utilizada extensivamente
para o tratamento de leishmaniose cutânea, sendo relatados inúmeros casos de
resistência (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). Foi desenvolvido como
antibacteriano na década de 1960, apesar de conhecida sua ação leishmanicida. Os
casos de resistência aos aminoglicosídeos em bactérias são bem conhecidos e isso
se aplica, principalmente, ao tratamento da leishmaniose cutânea, em que pode
acarretar alguns casos de resistência, motivo pelo qual não é usado como fármaco
de primeira escolha no tratamento dessa doença (MAAROUF et al., 1997; CROFT,
SUNDAR, FAIRLAMB, 2006).
Nas bactérias, os aminoglicosídeos inibem a síntese de proteínas por meio de
ligação ao rRNA (RNA ribossômico) na subunidade 30S do ribossomo. Não há
descrição similar sobre o mecanismo de ação da paromomicina em Leishmania spp.
A disfunção do ribossomo mitocondrial e despolarização da membrana
mitocondrial são os mecanismos de ação sugeridos para a paramomicina em
Leishmania spp (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). Seu mecanismo de ação
baseia-se na alteração da síntese de proteínas, além de interferir na atividade
mitocondrial e dificultar a captação de precursores de macromoléculas pelo parasita,
prejudicando assim, o seu crescimento. O aumento da proporção de lipídios polares
na membrana provoca uma diminuição da fluidez que altera a permeabilidade da
membrana (MAAROUF et al., 1997).
28
O
O
OH
OH O
O
OH
NH
2
NH
2
OH
OH
NH
2
O
O
OH
OH
OH
NH
2
NH
2
Paromomicina (5)
Os azóis, como cetoconazol (6), fluconazol (7) e itraconazol (8) são outra
classe de fármacos utilizada no tratamento de infecções fúngicas, que também é
utilizada no tratamento das leishmanioses e apresenta como vantagem, em relação
a outros rmacos leishmanicidas, o mecanismo de ação conhecido (CROFT &
COOMBS, 2003; CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006).
A rota biossintética do ergosterol, o principal esterol nos fungos, e também na
Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi, é um alvo para os principais rmacos
antifúngicos. O fato dos azóis inibirem a enzima do citocromo P450 esterol 14α-
demetilase gerou grande interesse em utilizá-los como fármacos leishmanicidas
(CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006). Os azóis apresentam a característica de
causar danos na rota biossintética do ergosterol e, com isso, impedir a formação da
membrana celular do parasita, além de outras funções metabólicas que acarretam
na morte do parasita (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006).
A resistência a essa classe de rmacos ainda não foi muito estudada em
Leishmania, porém foi verificada em Trypanossoma cruzi. Em fungos, existem
casos de resistência no meio clínico e acredita-se que aconteça devido ao aumento
no efluxo do fármaco mediado por transportadores (CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB,
2006).
29
NN
O
CH
3
O
O
O
H
N
Cl Cl
N
Cetoconazol (6)
OH
F
N
N
N
N
N
N
F
Fluconazol (7)
NN O
O
O
H
N
Cl Cl
N
N
N
N
N
CH
3
CH
3
O
Itraconazol (8)
Diferentes rmacos como a sitamaquina (9) e a miltefosina (10) estão sendo
testados para o tratamento das leishmanioses. A miltefosina (hexadecilfosfocolina),
originalmente desenvolvido como um fármaco antineoplásico, foi usado na Índia,
Colômbia e Alemanha para o tratamento de leishmanioses cutânea e visceral. Os
principais efeitos colaterais foram noticiados, incluindo náusea, vômitos e
teratogenicidade (CROFT & COOMBS, 2003; CROFT, SUNDAR, FAIRLAMB, 2006;
PÉREZ-VICTORIA et al., 2006; SOUZA et al., 2009) e atualmente, encontra-se em
30
fase de ensaios clínicos em outros países, como Brasil e Guatemala (SOUZA et al.,
2009).
N
CH
3
O
CH
3
NH
N
CH
3
CH
3
Sitamaquina (9)
P
O
CH
3
O
N
+
O
O
-
CH
3
CH
3
CH
3
14
Miltefosina (10)
1.2.1.2 Chalconas com atividade antileishmania
Os flavonóides (11) representam uma classe de substâncias de origem
natural, que apresenta como estrutura base a 1,3-diarilpropano, podendo assumir
diferentes arranjos cíclicos e acíclicos, conforme a variação do nível de oxidação
(CABRERA et al., 2007; ÁVILA et al., 2008). Os flavonóides são metabólitos
secundários presentes em muitas plantas e que são componentes da dieta humana.
As chalconas (12) são intermediários na biossíntese de flavonóides, sendo
facilmente encontradas em plantas rasteiras e arbóreas (CHIARADIA et al., 2008).
As chalconas o flavonóides de cadeia aberta, onde os dois anéis aromáticos são
unidos por um sistema ceto-α,β-insaturado, sendo 1,3-difenil-2-propen-1-ona a
estrutura básica (ÁVILA et al., 2008). O equilíbrio entre a os isômeros de cadeia
31
aberta (12) e cíclica (11) é uma etapa fundamental na rota biossintética (ÁVILA et al.,
2008).
O
O
O
OH
2-fenil-1-benzopiran-4-ona (2E)-1-(2-hidroxifenil)-3-fenilprop-2-en-1-ona
Flavonóide (11) Chalcona (12)
De acordo com a natureza dos substituintes, podemos classificar as
interações estruturais das chalconas quanto aos efeitos estéricos, causados por
substituintes volumosos, e também aos efeitos eletrônicos decorrentes da diferença
de eletronegatividade entre átomos ou grupos substituintes, bem como a presença
de sítios ácido/base de Lewis, possibilitando a formação de ligações de hidrogênio
e/ou complexos intra e intermoleculares (CESARIN-SOBRINHO, NETTO-
FERREIRA, BRAZ-FILHO, 2001).
Diversas chalconas naturais e sintéticas apresentam uma vasta gama de
perfis farmacológicos, como atividade antiinflamatória (HSIEH et al., 1998),
tripanomicida (LUNARDI et al., 2003), antibacteriana (NIELSEN et al., 2004; BOECK
et al., 2006), antiviral (UCHIUMI et al., 2003; WU et al., 2003), antitumoral
(CABRERA et al., 2007), antimalárica (GO et al., 2004) e antileishmania (MENG et
al., 2004; BOECK et al., 2006; PIÑERO et al., 2006; SALEM & WERBOVETZ, 2006;
ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008).
Na última década, as chalconas surgiram como uma nova classe de
substâncias antileishmania (BOECK et al., 2006). Entre as chalconas antileishmania
mais estudadas está a licochalcona A (13), isolada da planta chinesa Glycyrrhiza
spp., que inibe a enzima fumarato redutase do parasita (CHEN et al., 1993; ZHAI et
al., 1995; CHEN et al., 2001; BOECK et al., 2006). Entretanto, a licochalcona A e
alguns derivados sintéticos também afetam as células humanas, inibindo a
32
proliferação de linfócitos e produção de citocinas (ZHAI et al., 1995; BOECK et al.,
2006).
O
OH
OH
CH
3
CH
3
CH
2
O
CH
3
(2E)-3-[4-(hidroxi-2-metóxi-5-(2-metilbut-3-en-2-il)fenil]-1-(4-hidroxifenil)prop-2-en-1-ona
Licochalcona A (13) (CHEN et al., 1993)
Recentemente, uma série de derivados 4-metóxichalcona-3-sulfonamida foi
relatada com atividade leishmanicida (ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008).
Esses derivados da chalcona possuem como principal grupo substituinte a
sulfonamida e o derivado 14 apresentou atividade antileishmania significativa
(ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008).
Andrighetti-Fröhner e colaboradores (ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008)
utilizaram a modelagem molecular como ferramenta para os estudos
estereoeletrônicos desses derivados, fundamentais para a avaliação da relação
estrutura-atividade. Esta série de derivados foi sintetizada e avaliada pelo grupo do
Dr. Ricardo José Nunes, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contra a
forma promastigota do parasita Leishmania braziliensis (ANDRIGHETTI-FRÖHNER
et al., 2008; SOUZA et al., 2009). Esse estudo demonstrou a importância do núcleo
estrutural da chalcona como grupo farmacofórico.
33
S
NH
O
O
O
O
CH
3
Derivado 4-metóxichalcona-3-sulfonamida mais ativo (IC
50
= 3,5 µM) (14)
1.3 MODELAGEM MOLECULAR
Por décadas, os métodos empregados na descoberta de substâncias
protótipos permaneceram sem muitas transformações, isto é, basicamente as
substâncias bioativas eram originadas de produtos naturais ou por síntese.
Entretanto, novos compostos protótipos foram obtidos devido aos avanços na
tecnologia e compreensão dos processos bioquímicos (KUBINYI, 1995).
Modificações estruturais em moléculas descobertas casualmente, seguidas
de avaliação farmacológica, por tentativa e erro, foram por muito tempo estratégias
empregadas com o objetivo de obter substâncias com melhor perfil de atividade, isto
é, maior potência, maior seletividade, melhor biodisponibilidade, maior tempo de
meia-vida, menor toxicidade e menos efeitos colaterais (KUBINYI, 1995; GERSHELL
& ATKINS, 2003).
Atualmente, entretanto, a preocupação por parte dos pesquisadores em
buscar novos compostos bioativos transforma drasticamente o paradigma da
descoberta de novos fármacos. Novas cnicas e estratégias estão sendo utilizadas,
como química combinatorial, cristalografia de proteínas, técnicas multidimensionais
de Ressonância Magnética Nuclear (RMN), Relação Estrutura Atividade Quantitativa
(QSAR) e QSAR-3D e outras inúmeras técnicas de modelagem molecular e
planejamento assistido por simulação computacional, constituindo-se em
ferramentas úteis para o planejamento de novos fármacos (KUBINYI, 1995;
KARELSON & LOBANOV, 1996; LENGAUER & RAREY, 1996; RODRIGUES, 2001;
GERSHELL & ATKINS, 2003; JORDAN & ROUGHLEY, 2009).
34
A modelagem molecular consiste em um conjunto de ferramentas para a
construção, edição e visualização, análise e armazenamento de sistemas
moleculares. Estas ferramentas podem ser aplicadas em estratégias de modelagem
direta e indireta de novos fármacos. Na primeira aproximação, faz-se o ajuste do
fármaco a uma estrutura de receptor conhecida, por exemplo, por meio de dados de
difração de raios-X ou RMN. Na segunda, faz-se a análise comparativa das
estruturas de compostos ativos e inativos, utilizando-se o conceito de
complementaridade para o desenvolvimento de um modelo topográfico hipotético do
sítio receptor, denominado modelo farmacofórico (COHEN et al., 1990; BARREIRO
et al., 1997; RODRIGUES, 2001; CARVALHO et al., 2003).
1.3.1 Métodos de modelagem molecular: Mecânica molecular e quântica
A posição absoluta dos átomos numa molécula, e da própria molécula como
um todo, não é fixa no espaço e a localização de substituintes conectados a ligações
simples pode variar ao longo do tempo. Assim, cada molécula contendo uma ou
mais ligações simples existe em diferentes conformações. A composição quantitativa
e qualitativa desta variedade está permanentemente alterando-se, onde as
conformações de menor energia (mais estáveis) o encontradas em maior
proporção. A transformação de uma conformação para outra está primariamente
relacionada às mudanças nos ângulos de torsão de ligações simples (LEACH, 2001;
RODRIGUES, 2001; HÖLTJE et al., 2003).
As mudanças na conformação molecular podem ser consideradas como
movimentos sobre uma superfície multidimensional que descreve a relação entre a
energia potencial e a geometria da molécula. Cada ponto sobre a superfície de
energia potencial representa a energia potencial de uma única conformação.
Conformações estáveis de uma molécula correspondem a mínimos locais sobre esta
superfície de energia, onde a conformação de menor energia corresponde ao
mínimo global (Figura 3) (LEACH, 2001; HÖLTJE et al., 2003).
35
Figura 3 - Diagrama de energia potencial para o n-butano em função da rotação da ligação C
3
-C
4
mostrando o mínimo global (θ=180°) e os mínimos locais (θ=60° e θ=300°) de seus confôrmeros
(Adaptado de HEHRE, 2003).
Independentemente do método de minimização de energia usado, não
como garantir que o mínimo encontrado seja o mínimo absoluto (mínimo global) da
superfície de energia potencial (SEP). Normalmente, muitos mínimos locais estão
presentes e é comum que a aplicação de algum algoritmo de minimização de
energia acabe conduzindo a um deles, dependendo da proximidade da geometria
inicial do sistema. Em princípio, o mínimo absoluto pode ser encontrado por
análise conformacional sistemática do sistema molecular (LEACH, 2001; HÖLTJE et
al., 2003).
A análise conformacional sistemática consiste em varrer cada ângulo de
torção da estrutura independentemente, conhecida como pesquisa de grade, mas a
aplicação deste procedimento é limitada. O número de conformações a serem
analisadas equivale a (360°/ )
n
, onde é o incremento em graus usado no processo
de varredura do ângulo de torção e n é o número de ligações avaliadas. Quanto
menor for o incremento , maior será a quantidade de conformações geradas, mas,
36
na prática, apenas algumas conformações são importantes. O valor ótimo de
incremento para a pesquisa conformacional sistemática é normalmente de 30 graus.
Isso significa que em uma rotação completa de 360º, 12 conformações serão
obtidas. Entretanto, o número de ligações rotáveis avaliadas (n) pode aumentar o
número de conformações à enésima potência (HÖLTJE et al., 2003).
A atividade biológica de uma molécula é dependente, em geral, de uma única
conformação dentre todas as conformações de baixa energia. A pesquisa pela
conformação bioativa é um dos objetivos principais em química medicinal. Somente
a conformação bioativa pode ligar-se em um ambiente macromolecular específico no
sítio ativo do receptor da proteína (HÖLTJE et al., 2003).
A simulação computacional usa modelos numéricos para explorar as
estruturas e propriedades de moléculas individuais (SHRIVER et al., 2008). Os
métodos usados vão desde os métodos rigorosos e, portanto, computacionalmente
mais demorados, conhecidos como métodos ab initio, baseados na solução
numérica da equação de Schrödinger do sistema, até os mais rápidos, como os
métodos semi-empíricos e mecânica molecular (SHRIVER et al., 2008).
1.3.1.1 Mecânica molecular
Um estudo de modelagem molecular pode ser iniciado gerando a estrutura
molecular no computador, definindo as posições dos átomos no espaço a partir de
um conjunto de coordenadas cartesianas. Uma construção adequada e confiável da
geometria inicial determina a qualidade de toda a investigação subsequente.
Normalmente, utiliza-se o todo computacional de mecânica molecular para
otimização da geometria das estruturas moleculares geradas, a fim de se encontrar
o estado de energia mínima individual (HÖLTJE et al., 2003).
Diferentemente da abordagem utilizada pela mecânica quântica, os elétrons e
o núcleo dos átomos não são explicitamente incluídos nos cálculos. A mecânica
molecular considera a composição atômica da molécula como uma coleção de
massas interagindo entre si por forças harmônicas. Como resultado desta
simplificação, a mecânica molecular é um método computacional relativamente
pido, que pode ser empregado no cálculo de estruturas moleculares pequenas e
até de sistemas oligomoleculares (LEACH, 2001; HÖLTJE et al., 2003).
37
Na mecânica molecular, os átomos são considerados como esferas de
diferentes tamanhos (tipos de átomos) unidos por molas de comprimento variável
(ligações) (Figura 4). A energia total da molécula (E
tot
) é minimizada com relação às
coordenadas atômicas, considerando os seguintes termos de energia: comprimento
de ligação (E
s
), ângulo de ligação (E
b
), ângulo de torsão (E
t
), van der Waals (E
vdw
) e
eletrostática (E
elec
), segundo a Equação 1 (LEACH, 2001; HÖLTJE et al., 2003).
E
tot
= E
s
+ E
b
+ E
t
+ E
vdw
+ E
elec
+ Equação 1
Figura 4 - Representação de uma molécula em mecânica molecular. As esferas representam átomos
e as molas representam as ligações entre eles (Adaptado de RODRIGUES, 2001).
A mecânica molecular realiza cálculos da energia estérica total da molécula
em termos de desvio do estado fundamental “não tensionado”, do comprimento de
ligação, dos ângulos de ligação e de torsão e das interações não ligantes. A coleção
destes valores de referência, juntamente com as constantes de força e a equação de
energia é conhecida como campo de força (force field) (HÖLTJE et al., 2003).
A idéia básica da mecânica molecular é que as ligações possuem
comprimentos de ligação e ângulos de ligação “naturais”. Os valores no equilíbrio
dos ângulos de ligação e dos comprimentos de ligação e as constantes de força
correspondentes utilizadas nas funções de energia potencial são definidos no campo
de força e formam os parâmetros do campo de força. Cada desvio dos valores
padrões resultará num incremento da energia total da molécula. Assim a energia
total é uma medida da tensão intramolecular relativa, correlacionada a uma molécula
hipotética com geometria ideal (HÖLTJE et al., 2003).
O objetivo de um bom campo de força é descrever, tanto quanto possível,
diferentes classes de moléculas com razoável precisão. A confiabilidade nos
38
cálculos de mecânica molecular é dependente de funções de energia potencial e da
qualidade dos parâmetros incorporados a estas funções. Assim, é fácil compreender
porque cálculos de alta qualidade não podem ser realizados se parâmetros
geométricos importantes o negligenciados. Para evitar esta situação, um campo
de força adequado a uma investigação em particular deve ser cuidadosamente
selecionado (HÖLTJE et al., 2003).
Com estes princípios em mente, podem-se examinar alguns dos campos de
força comumente presentes em programas de modelagem computacional. Dentre
estes, Dreiding é um campo de força parametrizado para estudar moléculas
formadas por átomos comuns na química medicinal como H, C, N, O, P, S, F, Cl, Br
e I, que, em termos de expressão padrão, seria descrito pela Equação 1
(HINCHLIFFE, 2006).
Em sua revisão de 1976, Norman Allinger essencialmente definiu o que
chamamos de campo de força MM1 (Molecular Mechanics Force Field 1), que
considera apenas os parâmetros para hidrocarbonetos, ignorando o termo de
Coulomb (energia eletrostática) e usando um potencial de Lennard-Jones (energia
de van der Waals) de exponencial seis. Essa abordagem encontrava problemas com
os hidrocarbonetos cíclicos tensionados como, por exemplo, o ciclobutano
(HINCHLIFFE, 2006).
Em 1977, Allinger introduziu o campo de força MM2 (Molecular Mechanics
Force Field 2), que aprimorou os termos do campo de força para hidrocarbonetos. O
campo MM2 difere do MM1, basicamente, no termo do ângulo de diedro
(HINCHLIFFE, 2006).
O campo de força AMBER (Assisted Model Building and Energy Refinement)
é parametrizado para simulação de aminoácidos e proteínas. Os ângulos e
comprimentos de ligações utilizados em sua parametrização foram obtidos
experimentalmente de dados de micro-ondas, difração de nêutrons e estudos de
química quântica acurados. Os parâmetros foram então refinados com estudos de
mecânica molecular sobre sistemas moleculares como tetrahidrofurano,
deoxiadenosina, dimetilfosfato entre outros (HINCHLIFFE, 2006).
O campo de força MMFF (Merck Molecular Force Field) foi desenvolvido
dentro da empresa farmacêutica Merck com o objetivo de direcioná-lo para estudos
de sistemas orgânicos e biopolímeros. A parametrização do MMFF94 foi baseada
em dados experimentais e em cálculos quânticos acurados realizados em
39
computadores. Este campo de força é capaz de gerar informações quantitativas
sobre conformações e geometrias moleculares (HEHRE, 2003; HALGREN, 1996).
1.3.1.2 Mecânica quântica - Métodos ab initio
No final do século XVII, Isaac Newton formulou as leis do movimento de
objetos macroscópicos, chamadas de mecânica clássica (ANDREI et al., 2003). No
início do século passado, os cientistas perceberam que a mecânica clássica não
descrevia adequadamente o comportamento de partículas muito pequenas, como os
elétrons e os núcleos dos átomos e moléculas (ANDREI et al., 2003). O
comportamento de tais partículas é descrito por um conjunto de leis chamadas de
mecânica quântica (ANDREI et al., 2003).
O método ab initio é a principal abordagem para resolver a equação de
Schrödinger para moléculas poliatômicas de muitos elétrons (SHRIVER et al., 2008).
Ab initio significa, estritamente, início ou princípios fundamentais, implicando que os
cálculos que utilizam esta abordagem requerem como parâmetros constantes físicas
fundamentais. Esta abordagem é intrinsecamente mais rebuscada do que o
procedimento semi-empírico, contudo exige maior tempo computacional (SHRIVER
et al., 2008). O tipo mais comum de cálculo ab initio é baseado no método de
Hartree-Fock, no qual uma aproximação primária é aplicada às repulsões elétron-
elétron, sem desprezar ou aproximar qualquer dos termos ou integrais empregados
no operador Hamiltoniano (SHRIVER et al., 2008).
Uma alternativa ao método ab initio é a Teoria Funcional da Densidade
(Density Functional Theory - DFT), onde a energia total é expressa em termos da
densidade eletrônica total, ρ = ІψІ
2
, em vez da função de onda ψ. A vantagem da
abordagem DFT é o menor custo computacional, exigindo menos tempo de
computador, e, em alguns casos, particularmente para complexos de metal, tem uma
melhor concordância com os resultados experimentais do que os obtidos por outros
procedimentos (SHRIVER et al., 2008).
Esses métodos utilizam conjuntos de bases quânticas (basis set) nos
cálculos. Uma base quântica mínima conteria exatamente o número de funções
necessárias para acomodar todos os orbitais preenchidos de um átomo, mas, na
prática, uma base quântica mínima inclui todos os orbitais atômicos em uma
camada. Por exemplo, uma única função do tipo 1s seria necessária para os átomos
40
de hidrogênio e de hélio, mas para os elementos do lítio ao neônio, seriam utilizadas
funções 1s, 2s e 2p. As bases quânticas STO-3G, STO-4G, entre outras (em geral
STO-nG) são todas bases quânticas mínimas (LEACH, 2001).
As bases quânticas mínimas são conhecidas por apresentarem diversas
deficiências. Um problema em particular ocorre com compostos contendo átomos do
final do período da tabela periódica, como por exemplo, o oxigênio ou o flúor. Estes
átomos são descritos utilizando-se o mesmo número de funções de base usado para
os átomos do início do período da tabela periódica, apesar de possuírem mais
elétrons. O simples aumento do número de funções de base não necessariamente
solucionaria o problema ou aprimoraria o modelo. A solução mais comum deste
problema é a introdução de uma base quântica com funções de polarização, que
possuem um número quântico angular mais elevado, correspondendo ao uso do
orbital p para o átomo de hidrogênio e do orbital d para os demais elementos
(LEACH, 2001).
O uso de bases quânticas contendo funções de polarização é indicado por um
asterisco (*). Assim, 6-31G* refere-se a base quântica 6-31G com funções de
polarização para átomos pesados (isto é, não hidrogênio). Dois asteriscos (e.g., 6-
31G**) indicam a aplicação de funções de polarização (isto é, orbital p) para os
átomos de hidrogênio e hélio. A base quântica 6-31G** é particularmente útil onde
ocorrem ligações de hidrogênio (LEACH, 2001).
Estas bases quânticas são suficientes para a maioria dos cálculos. Entretanto,
para alguns cálculos de nível mais elevado, deve-se considerar a utilização de uma
base quântica que efetivamente habilite o limite a ser alcançado. Por outro lado, o
custo computacional inerente a estas bases quânticas deve ser avaliado, de modo a
ter-se uma relação custo/benefício favorável (LEACH, 2001).
Devido ao elevado custo computacional dos métodos ab initio mais
sofisticados, um recurso comumente empregado é o de se aperfeiçoar a geometria
com um conjunto de bases mais simples e, então, executar o cálculo em um único
ponto (Single Point Calculation), como um método mais completo sobre a geometria
resultante (LEACH, 2001).
41
1.3.1.3 Métodos semi-empíricos
A maior parte do tempo necessário para efetuar um cálculo ab initio utilizando
o método Hartree-Fock é, invariavelmente, despendida na computação das integrais.
Nos métodos semi-empíricos, as integrais que ocorrem na solução formal da
equação de Schrödinger são igualadas a parâmetros que são escolhidos para que
os resultados produzam uma melhor concordância com quantidades experimentais
tais como entalpias de formação (SHRIVER et al., 2008). O modo mais simples de
reduzir o esforço computacional seria ignorar ou aproximar algumas destas integrais.
Os métodos semi-empíricos realizam este processo, pois apenas consideram os
elétrons da camada de valência em seus cálculos. A razão desta aproximação é que
são os elétrons da camada de valência que se encontram envolvidos numa ligação
química e outros fenômenos que se deseja investigar (LEACH, 2001).
Os cálculos por métodos semi-empíricos são feitos da mesma maneira geral
que os cálculos Hartree-Fock, mas dentro deste contexto algumas informações, tais
como integrais representando a interação entre dois elétrons, são aproximadas por
dados empíricos ou simplesmente ignoradas (SHRIVER et al., 2008). Para
compensar o efeito destas aproximações, parâmetros representando outras integrais
são ajustados de forma a produzir a melhor concordância com os dados
experimentais (SHRIVER et al., 2008). Os cálculos semi-empíricos têm tido sucesso
na química orgânica, mas também têm sido desenvolvidos para a descrição da
química inorgânica (SHRIVER et al., 2008).
O primeiro método a utilizar essa aproximação foi o CNDO (Complete Neglect
of Differential Overlap ou Negligência Completa da Sobreposição Diferencial), onde
orbitais atômicos são considerados esfericamente simétricos na avaliação das
integrais de repulsão eletrônica. A direcionalidade dos orbitais p era considerada
apenas nas integrais de ressonância de um elétron. O estágio seguinte foi o método
INDO (Intermediate Neglect of Differencial Overlap ou Negligência Intermediária da
Sobreposição Diferencial), que incluía as integrais de repulsão de um centro entre
orbitais atômicos do mesmo átomo. O todo NDDO (Neglect of Diatomic
Differential Overlap ou Negligência da Sobreposição Diferencial Diatômica) foi o
primeiro a incluir a direcionalidade dos orbitais atômicos durante o cálculo das
integrais de repulsão (LEACH, 2001).
42
Com o objetivo de tornar mais acessíveis os cálculos semi-empíricos de
orbitais moleculares foi desenvolvido o método MNDO (Modified Neglect of
Differential Overlap ou Negligência Modificada da Sobreposição Diferencial) a partir
da aproximação NDDO, onde está presente o efeito da direcionalidade dos termos
de repulsão elétron-elétron. Os métodos AM1 (Austin Model 1 ou Modelo Austin 1) e
PM3 (Parametric Method 3 ou Método Paramétrico 3) foram desenvolvidos para a
obtenção de aproximações mais precisas. Ambos os métodos incorporam
aproximações muito semelhantes, mas diferem nas suas parametrizações (DEWAR
et al., 1985). O aprimoramento da parametrização resultou no modelo PM5
(Parametric Method 5 ou Método Paramétrico 5), que possui cerca de 40% de
redução nos erros médios comparados aos outros métodos semi-empíricos (ROCHA
et al, 2006).
Recentemente, o todo AM1 foi objeto de uma re-parametrização para os
átomos de H, C, N, O, P, S, F, Cl, Br e I, resultando no método RM1 (Recife Model
1). Para entalpia de formação, momento de dipolo, potencial de ionização e distância
interatômica, os erros médios foram menores do que os gerados pelos métodos
AM1, PM3 e PM5 nas 1736 moléculas estudadas. Apenas o ângulo de ligação
calculado por RM1 obteve resultados com erro dio levemente maior do que o
obtido por AM1, mas, ainda, inferior ao erro médio nos valores obtidos por PM3 e
PM5 (ROCHA et al, 2006).
1.3.1.4 Representação dos resultados e aplicações
Técnicas gráficas são usadas para apresentar uma variedade de resultados
computacionais como uma ajuda na interpretação e ao desenvolvimento no modo de
visualização das propriedades moleculares (SHRIVER et al., 2008). A simulação das
características eletrônicas geradas pelos lculos quanto-mecânicos pode ser
visualizada por determinadas ferramentas que auxiliam na interpretação dos dados.
Entre esses estão o mapa de potencial eletrostático molecular, mapas de densidade
HOMO (Highest Occupied Molecular Orbital ou Orbital Molecular de mais Alta
Energia Ocupado) e LUMO (Lowest Unoccupied Molecular Orbital ou Orbital
Molecular de mais Baixa Energia Desocupado).
O mapa de potencial eletrostático molecular é uma abordagem importante
com o intuito de compreender a contribuição eletrostática em determinadas
43
subunidades ou em átomos específicos do composto analisado, visto que os
parâmetros eletrônicos são um dos principais fatores que governam a interação
fármaco-receptor.
O potencial eletrostático
p
) é definido como a energia de interação de uma
molécula com um átomo de prova com carga unitária positiva (Figura 5). O potencial
eletrostático representa um balanço entre as interações de repulsão, envolvendo os
núcleos dos átomos carregados positivamente, e as interações de atração,
envolvendo os elétrons carregados negativamente (HEHRE, 2003). As regiões de
uma molécula em que o potencial eletrostático é negativo delineiam os locais que
sofrem ataque eletrofílico, por exemplo, como pode ser observado acima e abaixo do
plano do anel da molécula do benzeno e na região em que se localiza o átomo de
nitrogênio na molécula da piridina (Figura 5). Apesar da semelhança entre as
moléculas de benzeno e piridina, a superfície de potencial eletrostático revela que
esta similaridade não é aplicável frente a um ataque eletrofílico.
Figura 5 - Potencial eletrostático das molécula de benzeno (A) e piridina (B).
A superfície de potencial eletrostático não leva em consideração a energia de
redistribuição eletrônica (a energia de “polarização”). Isto conduz a falhas no modelo,
o que é solucionado considerando-se explicitamente a energia de polarização na
equação de obtenção do potencial eletrostático. O potencial de polarização fornece
a energia originada pela reorganização eletrônica da molécula como resultado da
interação do átomo de prova com carga positiva com a molécula (HEHRE, 2003).
Um terceiro descritor, o potencial de ionização local, indica a facilidade relativa com
que um elétron pode ser removido (ionização) de qualquer ponto na molécula.
44
Estes descritores podem ser expressos como funções de coordenadas
tridimensionais (x,y,z). Um modo de visualizá-los numa tela de vídeo ou página de
papel bidimensional é definir um valor de superfície constante também conhecido
por superfície de densidade eletrônica constante ou isosuperfície (Equação 2)
(HEHRE, 2003).
ƒ(x, y, z) = C Equação 2
Na equação 2, o valor da constante (C) pode ser escolhido para refletir uma
propriedade física específica, por exemplo, o “tamanho” de uma molécula no caso da
superfície de densidade eletrônica. Assim, uma superfície de densidade eletrônica
com C = 0,1 eV/ua
3
fornece praticamente a mesma informação obtida com o
desenho bidimensional da molécula (Figura 6).
Figura 6 - Molécula do benzeno visualizada sem aplicação da superfície de densidade eletrônica
(esquerda); com superfície de densidade eletrônica e valor isosuperfície (C) de 0,1 eV/ua
3
(centro) e
0,001 eV/ua
3
(direita).
Uma informação (propriedade) pode ser adicionada a qualquer isosuperfície
utilizando-se cores para representar valores da propriedade. Cores num extremo do
espectro visível representam valores menores da propriedade e cores no outro
extremo, valores maiores da propriedade mapeada sobre a superfície (HEHRE,
2003). Por exemplo, o valor do potencial eletrostático mapeado sobre uma superfície
de densidade eletrônica constante pode ser empregado para distinguir regiões ricas
e deficientes em elétrons, mostrada em cores diferentes. Em geral, no caso do mapa
de potencial eletrostático, iniciando pela cor vermelha (alta densidade eletrônica) e
passando por várias nuances ao azul (baixa densidade eletrônica). Assim, cores
45
próximas ao vermelho indicam altos valores de potencial negativo, enquanto cores
próximas do azul representam altos valores de potencial positivo (cores laranja,
amarela e verde representam valores de potencial intermediário) (Figura 7).
O mapa de potencial eletrostático nos fornece o potencial em regiões de uma
superfície particular, comumente uma superfície de densidade eletrônica
correspondente ao tamanho da molécula. A construção do mapa de potencial
eletrostático envolve: a) a construção da superfície de densidade eletrônica da
molécula; b) a construção da superfície de potencial eletrostático; c) a aplicação de
cores à superfície obtida para designar valores de potencial (Figura 7).
Figura 7 - Superfície de densidade eletrônica total do benzeno (A); superfície de potencial
eletrostático do benzeno (B) e mapa de potencial eletrostático do benzeno (C).
Os mapas de densidade eletrônica HOMO e LUMO, codificados sobre uma
superfície de van der Waals (Figura 8), o descritores quanto-mecânicos muito
utilizados (KARELSON & LOBANOV, 1996; BUYUKUSLU et al., 2010). De acordo
com a teoria dos orbitais moleculares, a formação de um estado de transição é
devida à interação dos orbitais de fronteira (HOMO e LUMO) das espécies reagentes
(ANSLYN & DOUGHERTY, 2004). HOMO, o orbital mais externo contendo elétrons,
tende a doar esses elétrons. LUMO é o orbital mais interno capaz de aceitar elétrons
(BUYUKUSLU et al., 2010).
A energia de HOMO está diretamente relacionada ao potencial de ionização e
caracteriza a susceptibilidade da molécula em doar elétrons conforme ocorre em um
ataque nucleofílico. A energia do LUMO está diretamente relacionada com a
afinidade por elétrons e caracteriza a susceptibilidade da estrutura em sofrer um
ataque nucleofílico. A diferença entre as energias HOMO e LUMO (HOMO-LUMO) é
um importante indicador de estabilidade da molécula e é conhecida como energia
gap (BUYUKUSLU et al., 2010). Em geral, a reatividade química aumenta quando a
46
energia LUMO diminui e energia HOMO aumenta (ANSLYN & DOUGHERTY, 2004;
BUYUKUSLU et al., 2010).
Figura 8 - Superfície de van der Waals do benzeno (A); mapa de HOMO do benzeno (B) e mapa de
LUMO do benzeno (C).
1.4 ESTUDO TEÓRICO DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS E DE
TOXICIDADE IN SILICO (ADMET - Absorção, Distribuição, Metabolização,
Eliminação e Toxicidade)
O estudo inicial das propriedades físico-químicas teóricas in silico de
compostos candidatos a fármacos é uma abordagem atualmente muito utilizada para
predizer dados relacionados ao ADMET (Absorção, Distribuição, Metabolização,
Excreção e Toxicologia), também chamada de ADME/Tox, cujo objetivo é limitar o
gasto desnecessário em ensaios biológicos de compostos com alta probabilidade de
problemas farmacocinéticos futuros, economizando tempo e investimento
(HODGSON, 2001; LIPINSKI et al., 2001; VAN DE WATERBEEMD & GIFFORD,
2003; LIPINSKI, 2004; RAWLINS, 2004; KHAN & SYLTE, 2007).
A confiabilidade nestes modelos teóricos é dependente de informações
(banco de dados) que estão sendo gradualmente liberadas pelas indústrias
farmacêuticas. Estes modelos também são submetidos a testes de validação, em
que o objetivo é determinar o grau de confiança nos mesmos (STOUCH et al, 2003;
TETKO, 2008).
Os dados físico-químicos teóricos relacionados ao comportamento
farmacocinético teórico dos compostos estudados são, geralmente, obtidos in silico
por meio de programas como Osiris
®
Property Explorer (Actelion Pharmaceuticals).
47
Podem ser obtidos dados relacionados ao risco de toxicidade (mutagênico,
tumorogênico, irritante e efeitos no sistema reprodutor), druglikeness (semelhança
com fármacos) e drugscore (índice de aproximação para se tornar um potencial
candidato a rmaco). Este último combina valores obtidos de druglikeness, cLogP
(lipofilicidade), logS (solubilidade), peso molecular e riscos de toxicidade em um
único valor de modo a avaliar se o composto tem potencial para se tornar um
fármaco (http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/).
Os resultados obtidos (Figura 9) apresentaram um bom grau de
confiabilidade. Observa-se, por exemplo, que nos valores obtidos para o risco
mutagênico, apenas 14% das substâncias químicas tóxicas avaliadas foram
erroneamente atribuídas como de risco baixo, enquanto 86% tiveram atribuição entre
alto e médio risco e, portanto, de acordo com os dados experimentais.
O processo de validação utilizou apenas fármacos disponíveis
comercialmente, com apenas 12% de resultados discrepantes distribuídos por alto e
médio risco; enquanto a maioria dos fármacos foi corretamente identificada (88%)
como não possuindo efeitos tóxicos (http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/).
O algoritmo de avaliação de semelhança a fármacos (druglikeness) foi
desenvolvido internamente na Actelion Pharmaceuticals Ltd. A lista de fragmentos foi
criada a partir de um banco de dados de 3300 fármacos comerciais (fragmentos
druglike) assim como 15000 substâncias químicas comercialmente disponíveis no
catálogo Fluka
®
(fragmentos não semelhantes a fármacos) formando uma lista
completa com todos os fragmentos disponíveis. A geração dos fragmentos ocorre a
partir da quebra das ligações simples. O valor de druglikeness é, então, calculado de
acordo com valores dos fragmentos que estão presentes na molécula em estudo
(http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/).
Todos os fragmentos com uma frequência global foram agrupados a fim de se
remover aqueles altamente redundantes. Para os demais fragmentos, o potencial de
druglikeness foi determinado como o logaritmo do quociente da frequência nos
fármacos comerciais versus as substâncias químicas do catálogo Fluka (Figura 10).
Neste gráfico 80% dos fármacos apresentam um valor de druglikeness positivo,
enquanto que as substâncias químicas do catálogo da Fluka apresentaram um valor
negativo (http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/druglikeness).
48
Os dados assim obtidos com o programa Osiris
®
Property Explorer podem ser
utilizados como parâmetros na avaliação físico-química e toxicológica com boa
confiabilidade (COSTA et al, 2006).
Figura 9 - Osiris
®
Property Explore: Gráfico de Validação. Resultado percentual da validação com
substâncias químicas com efeitos tóxicos (A) e utilizando-se fármacos em comercialização (B)
(Adaptado de http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/).
49
Figura 10 - Distribuição de druglikeness. Fármacos comerciais (em vermelho) versus substâncias
químicas do catálogo Fluka (em azul) (Adaptado de http://www.organic-chemistry.org/prog/peo/).
1.4.1 Regra de Lipinski
A alta biodisponibilidade de fármacos administrados por via oral é,
frequentemente, uma consideração importante no desenvolvimento de moléculas
bioativas como agentes terapêuticos. Assim, associou-se que um candidato a
fármaco deve atender a quatro parâmetros globalmente associados com a
biodisponibilidade: o peso molecular, o cLog P (lipofilicidade), o número de doadores
de ligação de hidrogênio e o número de receptores de ligação de hidrogênio. Essa
condição ficou conhecida como Regra dos cinco, porque para cada um dos quatro
parâmetros os valores encontrados eram próximos a cinco ou eram múltiplos de
cinco (LIPINSKI, 2004).
A Regra dos cinco de Lipinski utilizou um conjunto de substâncias extraído do
WDI (World Drugs Index Índice de Fármacos Mundial), um banco de dados
computadorizado contendo mais de 50.000 substâncias. Esta regra (LIPINSKI,
2004) estabelece que uma absorção ou permeação reduzida será mais comum
quando:
mais de 5 doadores de ligação de hidrogênio (expresso pela soma de OH e
NH na molécula);
50
O peso molecular é maior que 500;
O cLogP (lipofilicidade) é maior que 5;
mais de 10 aceptores de ligação de hidrogênio (expresso pela soma de
átomos de N e O);
Fármacos derivados de produtos naturais, possuidores de estruturas
macromoleculares, são exceções à Regra dos cinco, pois outros mecanismos estão
envolvidos na absorção destes. Uma possível explicação para estas substâncias que
violam a Regra dos cinco seria que membros destas classes terapêuticas
apresentam características estruturais que permitem ao fármaco atuar como
substrato para transportadores biológicos (HOPKINS & GROOM, 2002; LIPINSKI,
2004).
Uma extensão à Regra dos cinco foi obtida após o estudo de uma série de
compostos que foram ensaiados em ratos. Nesse trabalho, compostos com o
número de ligações rotáveis menor que dez e área de superfície polar (PSA) menor
ou igual a 140 Ǻ
2
(ou a soma do número de aceptores mais doadores de ligação de
hidrogênio menor que 12) apresentaram uma maior probabilidade de boa
biodisponibilidade oral. Também foi observado que uma reduzida área de superfície
polar (PSA) correlaciona melhor com o aumento da velocidade de permeação do
que a lipofilicidade (cLogP), e um aumento no número de ligações rotáveis possui
um efeito deletério na velocidade de permeação (VEBER et al., 2002; KELLER,
PICHOTA, YIN, 2006).
Diversas superfícies podem ser calculadas para uma molécula (Figura 11).
Dentre elas, temos a área de superfície polar (PSA - Polar Surface Area), definida
como a soma das áreas de superfície de van der Waals dos átomos polares
(oxigênio e nitrogênio). Uma superfície polar menor que 90 Ǻ
2
é referenciada como o
limite aproximado para que a molécula ultrapasse a barreira hemato-encefálica
(WERMUTH, 2003).
51
Figura 11 - A superfície de van der Waals corresponde ao contorno da superfície das esferas de van
der Waals dos átomos. A superfície molecular é gerada rolando-se uma esfera de prova (geralmente
de raio 1.4 Å, representando a molécula de água) sobre a superfície de van der Waals. O centro da
esfera de prova traça a superfície acessível ao solvente (Adaptado de LEACH, 2001).
Superfície de van der Waals
Superfície de contato
Esfera de prova
Superfície molecular
Superfície acessível ao solvente
Espaço “morto”
(inacessível ao
solvente
52
2 JUSTIFICATIVA
As doenças tropicais negligenciadas são um dos maiores problemas de saúde
pública em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, levando ao óbito cerca
de 14 milhões de pessoas a cada ano.
A leishmaniose faz parte desse grupo de doenças, representando uma grande
parcela dos problemas de saúde pública mundial, atingindo atualmente 350 milhões
de pessoas ao redor do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a
leishmaniose é uma doença tropical descontrolada com altas taxas de morbidade e
mortalidade na África, Ásia e América.
Ainda assim, menos de 1% dos mais de 1300 novos medicamentos
desenvolvidos nos últimos 25 anos foram destinados ao tratamento de doenças
listadas como negligenciadas. Este dado contrasta com o investimento das
industrias farmacêuticas em pesquisa de medicamentos para as chamadas doenças
globais, evidenciando um desequilíbrio no destino dos recursos para o setor, o que
enfatiza uma crise em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) de medicamentos para o
tratamento de doenças que afetam grande parte da população mundial com menor
poder aquisitivo.
Apesar de progressos importantes e dos conhecimentos fundamentais sobre
o parasita Leishmania, a atual terapia para leishmaniose ainda é insatisfatória,
devido a fatores, como: limitada eficácia, efeitos adversos indesejáveis, longo prazo
e alto custo do tratamento.
O desenvolvimento de resistência aos medicamentos pelos agentes
patogênicos, especialmente em pacientes HIV-Leishmania co-infectados, também
tem agravado o problema. Assim, uma necessidade urgente para o
desenvolvimento de novos fármacos, com reconhecida eficiência e segurança para
utilização no tratamento da leishmaniose.
Na busca de novos compostos com potencial atividade leishmanicida, que
possam ser considerados protótipos a fármacos para o tratamento da leishmaniose,
uma nova série de derivados da chalcona foi sintetizada sem o grupo funcional
sulfonamida e seu perfil de atividade antileishmania foi avaliado, com o intuito de
compará-la com o composto protótipo 14 da série de derivados 4-metóxichalcona-3-
sulfonamida estudados por Andrighetti-Fröhner e colaboradores (ANDRIGHETTI-
FRÖHNER et al., 2008).
53
Acredita-se que este trabalho possa gerar informações estruturais e
eletrônicas importantes sobre as chalconas e grupos funcionais inseridos a essa
molécula, para o desenvolvimento de futuros novos protótipos a rmacos
leishmanicidas, os quais poderão apresentar um melhor perfil de atividade em menor
tempo de tratamento e menos efeitos adversos em relação às terapias existentes.
54
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVOS GERAIS
O objetivo principal deste trabalho foi o estudo da relação estrutura-atividade
(structure activity relationship - SAR) e do perfil toxicológico in silico, utilizando
metodologias de simulação computacional, de novos compostos derivados da
chalcona (Figura 12) modificados estruturalmente em relação às posições R
1
, R
2
, R
3
,
R
4
, R
5
, X, Y, W e Z (15a-s) que demonstraram atividade leishmanicida.
O X
Y
WZ
R
5
R
4
R
3
R
2
R
1
A
B
Figura 12 Estrutura geral dos derivados da chalcona (15a-s)
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Obter parâmetros estruturais e estereoeletrônicos, tais como, determinação
da conformação de menor energia, mapas de potencial eletrostático molecular,
coeficientes e energias de HOMO e LUMO, momento de dipolo que possam ser
correlacionados com a atividade leishmanicida da série de derivados da chalcona
(15a-s).
Avaliar a importância dos grupos substituintes e o efeito no perfil de atividade
leishmanicida da série de derivados da chalcona (15a-s) em comparação ao
derivado 4-metóxichalcona-3-benzilsulfonamida (14) estudado por Andrighetti-
Fröhner e colaboradores (ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008).
Realizar predição teórica do perfil toxicológico dos derivados (15a-s),
analisando parâmetros de toxicidade (mutagenicidade, tumorogenicidade e efeitos
irritantes) e propriedades físico-químicas baseadas na Regra dos cinco de Lipinski
55
como peso molecular, lipofilicidade e grupos doadores e receptores de ligação de
hidrogênio, que são importantes na seleção de novos compostos bioativos
candidatos a fármacos.
Avaliar os parâmetros drugscore e druglikeness, visando à indicação dos
compostos da série de derivados da chalcona (15a-s) com características mais
favoráveis a protótipos de fármaco.
56
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 SÍNTESE DOS DERIVADOS DA CHALCONA
A nova série de derivados da chalcona (15a-s) foi sintetizada pela equipe do
Dr. Ricardo José Nunes do Departamento de Química da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC).
Os antibióticos de uso clínico pentamidina e anfotericina B foram utilizados
em condições idênticas das utilizadas com os derivados da chalcona (15a-s), como
controles positivos ao longo deste estudo, visto que as formas promastigotas dos
parasitas são sensíveis a estes dois fármacos.
4.2 METODOLOGIA DO ENSAIO BIOLÓGICO
Os testes de atividade biológica dos derivados da chalcona (15a-s) foram
realizados com a forma promastigota de Leishmania braziliensis e os testes de
citotoxicidade foram feitos com células VERO. Estes estudos foram realizados pela
equipe do Dr. Mário Steindel do Departamento de Microbiologia e Parasitologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A avaliação da atividade biológica dos derivados da chalcona (15a-s) permitiu
determinar a menor concentração capaz de inibir 50% do crescimento do parasita
(IC
50
) e a citotoxicidade foi avaliada como a menor concentração capaz de inibir 50%
do crescimento celular (CC
50
).
4.3 METODOLOGIA COMPUTACIONAL
4.3.1 Estudo da relação estrutura-atividade
Para o estudo da relação estrutura-atividade (SAR), utilizou-se cnicas de
modelagem molecular com o intuito de obter parâmetros estruturais e
estereoletrônicos, tais como, mapas de potencial eletrostático molecular, densidades
e energias de HOMO e LUMO, lipofilicidade (cLogP), momento de dipolo e outras
propriedades físico-químicas que possam estar relacionados com a atividade
biológica dos compostos analisados.
57
As estruturas dos compostos foram desenhadas e otimizadas, usando o
campo de força MMFF94 (mecânica molecular), disponível no programa Spartan’08
®
(Wavefunction Inc., em ambiente Windows
®
) disponibilizados no Laboratório
ModMolQSAR-3D da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). A Figura 13 ilustra a interface gráfica do programa Spartan’08
®
.
Figura 13 - Interface gráfica do programa Spartan’08
®
, demonstrando a tela de visualização das
estruturas, a janela de construção dos compostos (direita) e as ferramentas de manuseio das
estruturas (acima).
Todas as estruturas foram calculadas, simulando no vácuo, na forma neutra e
sem qualquer restrição geométrica. A análise conformacional foi efetuada usando o
campo de força MMFF94 (Mecânica Molecular). O equilíbrio geométrico e o
refinamento das estruturas foram efetuados usando o método semi-empírico RM1. O
confôrmero de menor energia foi submetido ao cálculo de ponto único (single point
calculation) usando o método DFT-B3LYP (Mecânica Quântica), com a base 6-31G*.
A seguir, foram obtidos os valores de momento de dipolo, mapa de potencial
eletrostático molecular (MEP), mapa de densidade eletrônica HOMO, mapa de
densidade eletrônica LUMO, distribuição dos orbitais HOMO e LUMO e lipofilicidade.
Os valores de lipofilicidade (cLogP) foram obtidos pelo modelo de Crippen,
58
disponível no pacote do Spartan’08
®
. O fluxograma apresentado na Figura 14 ilustra
a metodologia aplicada nesse estudo.
Os dados físico-químicos e toxicológicos in silico foram obtidos utilizando-se o
programa Osiris
®
Property Explorer da Actelion Pharmaceuticals Ltda.
Metodologia
Mecânica
Molecular
Toxicologia
(in silico)
Físico-química
(in silico)
DrugscoreDruglikeness
Regra dos 5
(Lipinski)
Desenho e
Otimização
3D
Single Point
Calculation
Base quântica
6-31G*
Efeitos
Tumorogênicos
Efeitos
Mutagênicos
Efeitos
Sistema
Reprodutor
Efeitos
Irritantes
SAR
Propriedades
eletrônicas
(MEP, HOMO,
LUMO, Dipolo)
Ensaios
in vitro
Mecânica
Quântica
Conformação
de menor
energia
Density
Functional
Theory
Análise
Conformacional
Figura 14 - Fluxograma da metodologia computacional utilizada no estudo da relação estrutura-
atividade (SAR).
59
4.3.2 Estudo in silico das propriedades físico-químicas e de toxicidade
O estudo físico-químico teórico in silico é uma abordagem atualmente muito
utilizada no estudo inicial das propriedades farmacocinéticas, cujo objetivo é limitar o
gasto desnecessário em ensaios biológicos de compostos com alta probabilidade de
problemas farmacocinéticos futuros, economizando tempo e investimento. A
confiabilidade nestes modelos teóricos é dependente de informações (banco de
dados) que estão sendo gradualmente liberados pelas indústrias farmacêuticas.
Estes modelos também são submetidos a testes de validação, em que o objetivo é
determinar o grau de confiança nos mesmos.
Os dados físico-químicos teóricos relacionados ao comportamento
farmacocinético teórico dos compostos estudados foram obtidos in silico através do
programa Osiris
®
Property Explorer da Actelion Pharmaceuticals. Foram obtidos
dados relacionados ao risco de toxicidade (mutagênico, tumorogênico, irritante e
efeitos no sistema reprodutor), druglikeness (semelhança com rmacos) e
drugscore (índice de aproximação para se tornar um potencial candidato armaco).
Este último combina os valores obtidos de druglikeness, cLogP (lipofilicidade), logS
(solubilidade), peso molecular e riscos de toxicidade em um único valor de modo a
avaliar se o composto tem potencial para se tornar um fármaco (Figura 15).
O risco de toxicidade é baseado no banco de dados de um conjunto de
substâncias químicas que possuem comprovadamente efeito tóxico (Registry of
Toxic Effects of Chemical Substances - RTECS) e validado com um banco de dados
contendo um conjunto de fármacos comercialmente disponíveis e largamente usado
no mercado. Os resultados obtidos apresentaram um bom grau de confiabilidade. No
processo de validação utilizou-se apenas fármacos disponíveis comercialmente com
apenas 12% de resultados discrepantes distribuídos por alto e médio risco; enquanto
a maioria dos fármacos foi corretamente identificada (88%) como não possuindo
efeitos tóxicos. O algoritmo de avaliação de semelhança a fármacos (druglikeness) é
calculado partindo-se de uma lista de fragmentos, criada a partir de um banco de
dados de 3300 fármacos comerciais (fragmentos druglike) assim como 15000
substâncias químicas comercialmente disponíveis no catálogo Fluka
®
(fragmentos
não-druglike).
60
Figura 15 - Interface gráfica do programa Osiris
®
Property Explorer com os respectivos perfis
toxicológicos (em vermelho), propriedades físico-químicas (em verde), Druglikeness e Drugscore (em
azul).
As substâncias foram avaliadas quanto aos parâmetros globalmente
associados com a solubilidade e permeabilidade: o peso molecular, o cLogP
(lipofilicidade), o número de doadores de ligação de hidrogênio (HBD) e o número de
receptores de ligação de hidrogênio (HBA), conforme a Regra dos cinco (LIPINSKI,
2004).
61
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 ANÁLISE DOS DADOS DE ATIVIDADE LEISHMANICIDA DOS DERIVADOS DA
CHALCONA
Uma rie de derivados da chalcona (15a-s) foi modificada estruturalmente
em relação aos derivados dos 4-metóxichalcona-3-sulfonamida estudados por
Andrighetti-Fröhner e colaboradores com o intuito de observar o efeito no perfil de
atividade leishmanicida (ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008). Estes compostos
foram sintetizados pela equipe do Dr. Ricardo Jo Nunes e avaliados quanto à
atividade leishmanicida pela equipe do Dr. Mário Steindel, ambos da UFSC.
Esta série de derivados (15a-s) possui substituintes metoxila em diferentes
posições do anel A (R
1
-R
5
) e substituintes diversos no anel B (X, Y, W e Z) da
chalcona, conferindo diferentes características estereoeletrônicas (Tabela 1). Uma
das modificações estruturais foi a inserção de ao menos um substituinte orto (R
1
e/ou R
5
) no anel aromático A (ligado diretamente à função carbonila). Isso impõe
uma rigidez estrutural e, portanto, diminui o grau de liberdade conformacional do
anel fenila.
S
NH
O
O
O
O
CH
3
O X
Y
WZ
R
5
R
4
R
3
R
2
R
1
A
B
4-metóxichalcona-3-sulfonamida (14) derivados metóxi-chalcona (15)
Esta série totaliza 19 compostos (15a-s), dos quais cinco derivados (15a-e)
são tri-substituídos pelo grupo metoxila nas posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
)
do anel A, 13 derivados (15f-r) são tri-substituídos pelo grupo metoxila nas posições
di-orto (R
1
e R
5
) e para (R
3
) do anel A e um derivado (15s) é substituído pelo grupo
metoxila nas posições orto (R
1
) e para (R
3
) e pelo grupo hidroxila na posição orto
(R
5
) no anel A.
62
Tabela 1 - Atividade antileishmania contra cepas promastigotas de L. braziliensis (IC
50
, µM) e
toxicidade celular (CC
50
, µM) dos derivados da chalcona (15a-s).
O X
Y
WZ
R
5
R
4
R
3
R
2
R
1
A
B
Nd = Não determinado, por não apresentar atividade significativa na concentração de 100 µM.
* = Anel aromático B trocado pelo grupo funcional naftila.
** = Grupo funcional metilenodióxi como substituinte nas posições Y e W do anel aromático B.
- = Não realizado.
Esta série de derivados (15a-s) foi avaliada quanto ao seu perfil de atividade
antileishmania contra cepas promastigotas de Leishmania braziliensis (Tabela 1). Os
derivados 15a-e apresentam três substituintes metoxila no anel aromático A, tendo
como característica estrutural importante apenas uma mono-substituição na posição
orto, ao contrário da maioria dos derivados que o di-orto substituídos. Observa-se
nesse grupo de derivados (15a-e) que a substituição no anel B por um átomo de
R
1
R
2
R
3
R
4
R
5
X
Y
W
Z
IC
50
CC
50
15a
H
OCH
3
OCH
3
H
OCH
3
H
H
H
H
12,88
391,61
15b
H
OCH
3
OCH
3
H
OCH
3
H
H
Cl
H
29,69
278,61
15c
H
OCH
3
OCH
3
H
OCH
3
H
Cl
H
H
15,42
381,67
15d
H
OCH
3
OCH
3
H
OCH
3
H
Cl
Cl
H
147,86
905
15e
H
OCH
3
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
H
14,01
295,36
15f
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
H
OCH
3
H
Nd
Nd
15g
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
H
Cl
H
8,22
147,11
15h
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
Cl
H
H
2,70
9,25
15i
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
Cl
H
H
H
3,94
215,57
15j
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
Cl
Cl
H
4,62
109,27
15k
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
Cl
H
H
Cl
7,44
134,52
15l
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
NO
2
H
H
20,06
83,86
15m
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
NO
2
H
H
H
29,77
3350,22
15n
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
H
NO
2
H
11,75
123,90
15o
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
2-C
10
H
8
*
Nd
Nd
15p
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
1-C
10
H
8
*
Nd
Nd
15q
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
Y-OCH
2
O-W**
H
Nd
>1000
15r
OCH
3
H
OCH
3
H
OCH
3
H
H
N(CH
3
)
2
H
Nd
Nd
15s
OCH
3
H
OCH
3
H
OH
H
Cl
H
H
194,14
340,88
Pentamidina
6,0
-
Anfotericina B
0,30
-
63
cloro na posição para (15b) ou meta (15c) do anel B ou por um grupo metoxila na
posição meta (15e) não altera significativamente o perfil de atividade em relação ao
derivado não substituído (15a). Entretanto, a inserção de dois átomos de cloro (nas
posições meta e para, 15d) reduziu cerca de 12 vezes a atividade. Os derivados que
também possuem três grupos metoxila, mas que são di-orto substituídos,
apresentaram melhor perfil de atividade (15g-n). Cinco destes derivados (15g, 15h,
15i, 15j e 15k) apresentaram valores de IC
50
menores do que 10µM. Dentre estes,
os derivados 15h (IC
50
= 2,70 µM), 15i (IC
50
= 3,94 µM) e 15j (IC
50
= 4,62 µM) foram
mais ativos do que a pentamidina (IC
50
= 6,0 µM), fármaco de referência utilizado
como um dos controles neste estudo.
Os derivados 15b, 15c, 15g, 15h, 15i e 15j, que possuem o átomo de Cl
como substituinte no anel fenila B, apresentaram atividade contra Leishmania
braziliensis e isso sugere que as propriedades químicas deste halogênio são
importantes, visto que os halogênios são lipofílicos e podem facilitar a permeação
dos derivados através da membrana celular até o sítio de ação.
Boeck e colaboradores (2006) estudaram uma série de derivados da chalcona
(16) com diferentes substituintes nos anéis A e B. Entre esses derivados, os
compostos 16a, 16b, 16c e 16d apresentaram significante atividade contra a forma
promastigota de Leishmania amazonensis (BOECK et al., 2006). Esses compostos
possuem semelhança estrutural com o derivado 15s estudado neste trabalho. O
composto 15s (IC
50
= 194,14 µM), avaliado contra Leishmania braziliensis,
apresenta os mesmos substituintes e nas mesmas posições do anel A que os
compostos 16a (IC
50
= >100 µM), 16b (IC
50
= 5,1 µM), 16c (IC
50
= 59,8 µM) e 16d
(IC
50
= 0,8 µM), e todos apresentam átomos de halogênios no anel B, mas em
posições diferentes (BOECK et al., 2006). O derivado 15s possui o átomo de cloro
na posição meta do anel B, enquanto o composto 16a apresenta o átomo de cloro
em para e 16b em orto. O átomo de cloro em orto no composto 16b aumentou
significativamente a atividade leishmanicida quando comparado aos compostos 16a
e 15s. Os compostos 16c e 16d apresentam na posição para do anel B os átomos
de bromo e flúor, respectivamente. O composto 16d demonstrou o melhor perfil
antileishmania da série 16, indicando a importância dos halogênios e suas
propriedades, como lipofilicidade e eletronegatividade, além de substituintes nas
posições orto no anel A.
64
O X
Y
OH
O
O
CH
3
CH
3
A
B
Derivados (16) da chalcona com atividade leishmanicida estudados por Boeck e
colaboradores (2006)
A Figura 16 demonstra o alinhamento e sobreposição das conformações de
menor energia de cada derivado da chalcona estudado (15a-s). O equilíbrio de
geometria foi simulado no vácuo, sendo os mínimos globais das conformações
encontradas influenciados apenas pelas características e propriedades químicas de
seus substituintes. Os mínimos globais encontrados para cada uma das estruturas
dos derivados nessas condições de avaliação, podem ser outros em diferentes
ambientes, como no cristal da substância pura ou em solução aquosa.
Figura 16 Alinhamento e Sobreposição das conformações de menor energia de todos os derivados
da chalcona (15a-s).
16a: X=H, Y=Cl
16b: X=Cl, Y=H
16c: X=H, Y=Br
16d: X=H, Y=F
65
Os halogênios podem contribuir positivamente para a atividade antileishmania
como discutido anteriormente e a posição que o grupo metoxila ocupa no anel
aromático A tem interferência para a atividade. A comparação entre os derivados
mono (15b) e di-orto (15g) metoxilado no anel A e com o átomo de Cl na posição
para do anel B revela que ambos apresentaram um perfil leishmanicida. No derivado
15b o grupo metoxila está nas posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
) no derivado
15g, nas posições di-orto (R
1
e R
5
) e para (R
3
) (Figura 17). A mudança do
substituinte metoxila da posição meta (R
2
) para a posição orto (R
1
) provocou um
aumento de 3,6 vezes na atividade (15g, IC
50
= 8,22µM) quando comparado com o
derivado 15b (IC
50
= 29,69µM). A troca de posições do grupo metóxi do anel
aromático A gerou uma diferença conformacional na estrutura entre ambos os
derivados, inferindo-se que o confôrmero do derivado 15g seja mais favorável para
interagir com o sítio ativo.
Figura 17 Alinhamento e Sobreposição das conformações mais estáveis dos derivados metoxilados
15b (IC
50
= 29,69µM) e 15g (IC
50
= 8,22µM) (verde). No derivado 15b, o grupo metoxila está nas
posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
) e no derivado 15g, as posições di-orto (R
1
e R
5
) e para (R
3
).
66
A mesma análise foi feita para os derivados mono (15c) e di-orto (15h)
metoxilados no anel A e com o átomo de Cl na posição meta do anel B, onde ambos
apresentaram atividade leishmanicida, porém o derivado 15h (IC
50
= 2,70 µM) foi 7
vezes mais ativo do que 15c (IC
50
= 15,42 µM). Essa diferença na atividade dos
derivados pode ser atribuída à mudança de posição do substituinte metoxila no anel
aromático A, migrando da posição meta (R
2
), no derivado 15c, para a posição orto
(R
1
), no derivado 15h. Isto sugere que a presença de dois substituintes orto impõe
uma maior rigidez estrutural, e dessa maneira, leva à uma conformação que pode ter
uma melhor interação com o receptor (Figura 18).
Figura 18 - Alinhamento e Sobreposição das conformações mais estáveis dos derivados metoxilados
15c (IC
50
= 15,42 µM) e 15h (IC
50
= 2,70 µM) (verde). No derivado 15c, o grupo metoxila está nas
posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
) e no derivado 15h, nas posições di-orto (R
1
e R
5
) e para
(R
3
).
Os derivados 15d e 15j são dissubstituídos por átomos de Cl nas posições
meta e para do anel B. Assim como os dois pares de compostos discutidos
anteriormente, a diferença entre esses dois derivados é a posição dos substituintes
metoxila no anel aromático A. No derivado 15d, os substituintes metoxila estão nas
posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
) e no derivado 15j, nas posições di-orto (R
1
,
67
R
5
) e para (R
3
) (Figura 19). Com a mudança do substituinte metoxila da posição
meta (R
2
) para a posição orto (R
1
), o derivado 15j (IC
50
= 4,62 µM) foi cerca de 32
vezes mais ativo do que o derivado 15d (IC
50
= 147,86 µM). A troca de posição do
grupo metoxila para orto impõe uma maior rigidez estrutural impondo características
estéricas diferentes, o que pode ter conferido um melhor encaixe estereoeletrônico
do derivado 15j com o alvo celular.
Figura 19 Alinhamento e Sobreposição das conformações mais estáveis dos derivados metoxilados
15d (IC
50
= 147,86 µM) e 15j (IC
50
= 4,62 µM) (verde). No derivado 15d, o grupo metoxila está nas
posições orto (R
5
), meta (R
2
) e para (R
3
) e no derivado 15j, nas posições orto (R
1
e R
5
) e para (R
3
).
O grupo nitro, com forte caráter retirador de elétrons por efeito indutivo e de
ressonância, manteve a atividade antileishmania característica dos derivados di-orto
metoxilados 15l, 15m e 15n. A substituição do anel fenila B pelos anéis 2-naftila e 1-
naftila (15o e 15p) e metileno-dióxi-fenila (15q) aboliu a atividade. O derivado 15r
também teve sua atividade leishmanicida anulada com a substituição na posição
para do anel fenila B por uma amina secundária. A substituição do grupamento
metoxila (-OCH
3
) por hidroxila (-OH) no anel A, reduziu a atividade antileishmania
(15s, -OH em R
5
) (Tabela 1). Observa-se no derivado 15s a presença de uma
68
ligação de hidrogênio intramolecular, de distância 1,76 Å, entre o hidrogênio da
hidroxila e o oxigênio da carbonila (Figura 20).
Figura 20 - Alinhamento e Sobreposição das conformações mais estáveis do derivado metoxilado
15h (IC
50
= 2,70 µM) (verde) e 15s (IC
50
= 194,14 µM). No derivado 15h, o grupo metoxila está nas
posições orto (R
1
e R
5
) e para (R
3
) e no derivado 15s, a diferença é a hidroxila em orto.
A análise dos resultados de citotoxicidade revelou que o derivado 15i (IC
50
=
3,94 µM) parece ser o mais promissor da série, pois demonstrou menor
citotoxicidade (CC
50
= 215,57 µM) do que os derivados 15h (CC
50
= 9,25 µM) e 15j
(CC
50
= 109,17 µM).
A comparação do composto 4-metóxichalcona-3-benzilsulfonamida (14), que
apresenta significante atividade antileishmania (IC
50
= 3,5 µM) (ANDRIGHETTI-
FRÖHNER et al., 2008), com o derivado 15i (IC
50
= 3,94 µM) demonstra que os
derivados possuem atividades semelhantes mesmo tendo grupos funcionais
diferentes. O derivado 15i possui substituintes metoxila no anel aromático A. O
composto 4-metóxichalcona-3-benzilsulfonamida (14) não possui substituintes no
anel A, sendo o grupo sulfonamida ligado ao anel B. Observa-se, assim, que
substituintes ligados aos anéis A e B da chalcona parecem influenciar e ser
importantes para a atividade antileishmania. A inserção de grupos com
69
características lipofílicas, aparentemente, aumenta a atividade contra formas
promastigotas de Leishmania braziliensis. Andrighetti-Fröhner e colaboradores
(2008) demonstraram a importância do grupo benzila ligado à sulfonamida do
composto 14, principalmente devido à inserção de um grupo metileno (-CH
2
-)
espaçador entre o grupo amina e o anel fenila que, possivelmente, permite
interações hidrofóbicas com o sítio receptor. O caráter lipofílico do grupo benzila do
composto 14 e do átomo de cloro no derivado 15i, acompanhado de uma atividade
leishmanicida significativa desses compostos, sugere a lipofilicidade como uma
propriedade importante para a atividade contra a forma promastigota, observada
comparando ambos os compostos. Ainda assim, o núcleo estrutural da chalcona
permanece como principal grupo farmacofórico, pois apesar de importante, o grupo
sulfonamida não é essencial para a atividade antileishmania. Isso é observado na
significante atividade do derivado 15i que é substituído por metoxila no anel A e
cloro no anel B.
S
NH
O
O
O
O
CH
3
Derivado 4-metóxichalcona-3-sulfonamida mais ativo (IC
50
= 3,5 µM) (14)
A elucidação do mecanismo de ação pelo qual a atividade antileishmania da
chalcona ocorre seimportante na investigação de um fármaco com este núcleo
estrutural. Devido à semelhança estrutural, pela presença de grupos substituintes
nos anéis A e B, entre a série de derivados da chalcona estudada nesse trabalho
(15a-s) e a licochalcona A, informações sobre o mecanismo de ação da licochalcona
A serão relevantes também para o entendimento do mecanismo de ação da série de
derivados da chalcona (15a-s).
Zhai e colaboradores (1995) estudaram a atividade antileishmania da
licochalcona A (13) na forma promastigota da Leishmania major e L. donovani e
observaram que a licochalcona A altera a estrutura e a função da mitocôndria da
70
forma promastigota do parasita Leishmania. Chen e colaboradores. (2001)
investigaram alvos específicos da licochalcona A na mitocôndria de formas
promastigotas da Leishmania e indicaram que a enzima fumarato redutase do
parasita pode ser um alvo específico para a ação das chalconas. Apesar desses
estudos, o mecanismo completo para a atividade da chalcona ainda não está
elucidado.
5.2 PROPRIEDADES ELETRÔNICAS
5.2.1 Cálculos de energia de HOMO (E
homo
), energia de LUMO (E
lumo
), momento
de dipolo e cLogP dos derivados da chalcona
Realizou-se um estudo dos principais parâmetros teóricos para os derivados
metóxi da chalcona que pudessem ser correlacionados com a atividade biológica.
Calculou-se as energias de HOMO e LUMO (E
homo
e E
lumo
), cLogP e momento de
dipolo de todos os derivados.
Os dados obtidos para as energias de HOMO, LUMO e momento de dipolo,
não forneceram, aparentemente, nenhuma correlação entre esses parâmetros e a
atividade leishmanicida observada para esses derivados (Tabela 2).
71
Tabela 2 - Comparação dos parâmetros teóricos (Volume, Área CPK, E
homo
, E
lumo
e momento de
dipolo) dos derivados da chalcona (15a-s).
5.2.2 Mapas de potencial eletrostático molecular
Os mapas de potencial eletrostático molecular dos derivados metoxilados
15a-s da chalcona (Figura 21) mostram que a densidade eletrônica está
concentrada sobre o grupo carbonila. também uma densidade intermediária de
nuvem eletrônica sobre os dois anéis fenila (A e B) da estrutura base da chalcona
dos derivados. A presença dos substituintes metoxila em di-orto no anel A aumenta
a densidade eletrônica próximo ao grupo carbonila, e pode ser uma característica
eletrônica importante para aumentar o seu perfil de interação com o receptor.
Volume (Å
3
)
Área CPK
(Å
2
)
E
homo
(eV)
E
lumo
(eV)
Dipolo
(debye)
IC
50
15a
317,3
339,9
-5,43
-1,61
2,64
12,88
15b
330,8
355,2
-5,51
-1,78
2,96
29,69
15c
330,8
355,2
-5,50
-1,80
2,10
15,42
15d
344,5
370,2
-5,56
-1,93
3,07
147,86
15e
344,4
369,6
-5,39
-1,57
3,27
14,01
15f
344,7
371,1
-5,68
-1,41
1,85
Nd
15g
331,1
356,8
-5,91
-1,75
3,61
8,22
15h
331,0
356,7
-5,91
-1,78
2,23
2,70
15i
331,1
355,6
-5,87
-1,54
2,49
3,94
15j
344,7
371,8
-5,98
-1,92
3,59
4,62
15k
344,6
370,1
-5,90
-1,60
3,28
7,44
15l
339,5
367,4
-6,01
-2,54
3,66
20,06
15m
339,6
368,6
-5,90
-2,16
2,62
29,77
15n
339,6
367,8
-6,09
-2,70
6,76
11,75
15o
367,2
386,0
-5,62
-1,50
3,63
Nd
15p
368,5
387,9
-5,63
-1,71
2,87
Nd
15q
341,8
365,2
-5,53
-1,50
2,96
Nd
15r
367,1
393,2
-5,11
-1,25
3,52
Nd
15s
309,8
331,4
-5,91
-2,00
1,98
194,14
72
Figura 21 - Mapa de potencial eletrostático molecular dos derivados da chalcona (15a-s) sobre uma
isosurperfície de 0.002 eV/ua
3
.
5.2.3 Mapas de densidade HOMO e LUMO
5.2.3.1 Mapas de densidade HOMO
O mapa de densidade eletrônica HOMO codificado sobre uma superfície de
van der Waals, variando de vermelho (baixa densidade de HOMO) à azul (alta
densidade de HOMO), dos derivados da chalcona (15a-s) pode ser observado na
Figura 22.
Na análise da densidade eletrônica HOMO observa-se que todos os
derivados da chalcona estudados (15a-s) apresentam a maior concentração de
densidade eletrônica HOMO localizada sobre o anel fenila A ou em B, sendo a
densidade mais localizada sobre os anéis A ou B de acordo com as características
dos grupos substituintes. Entretanto, nos derivados que apresentaram as melhores
atividades (15g, 15h, 15i, 15j e 15k) a densidade eletrônica HOMO está localizada
sobre o anel fenila A, ligado diretamente à função carbonila. Nos derivados 15o,
73
15p, 15q e 15r que não apresentaram atividade leishmanicida, a densidade
eletrônica HOMO está localizada sobre o anel fenila B, distante da função carbonila.
O derivado 4-metóxichalcona-3-benzilsulfonamida (IC
50
= 3,5 µM) (14)
(ANDRIGHETTI-FRÖHNER et al., 2008) apresenta a densidade HOMO sobre a
função carbonila da chalcona. O derivado 15i (IC
50
= 3,94 µM) tem a densidade
HOMO sobre a função carbonila e anel fenila A. A função carbonila parece ter
importante contribuição eletrônica para a atividade leishmanicida de ambos os
derivados de chalcona estudados.
O mapa de HOMO mostra que a densidade dos derivados 15h (IC
50
= 2,70
µM) e 15i (IC
50
= 3,94 µM) está localizada sobre as mesmas subunidades de ambos
os compostos, sendo a pequena diferença de atividade antileishmania devida,
possivelmente, ao efeito orto do átomo de Cl do composto 15i.
Figura 22 - Mapa de densidade HOMO dos derivados 15a-s da chalcona codificado sobre uma
isosurperfície de 0,002 eV/ua
3
.
74
5.2.3.2 Mapas de densidade LUMO
A avaliação da densidade eletrônica de LUMO, codificada sobre uma
isosuperfície de 0,002 eV/ua
3
,
revelou diferentes intensidades de LUMO (cor azul)
localizada sobre a região do carbono da carbonila dos derivados 15a-s (Figura 23).
As regiões em azul caracterizam baixos valores de densidade eletrônica (baixa
densidade eletrônica de LUMO) e em vermelho sinalizam áreas onde os orbitais
LUMO não estão totalmente desocupados de elétrons (densidade eletrônica de
LUMO).
Nos derivados que possuem o grupo nitro (-NO
2
) como substituinte no anel B,
15l (Y= -NO
2
), 15m (X= -NO
2
) e 15n (W= -NO
2
), a densidade eletrônica LUMO que
normalmente é baixa sobre o átomo de carbono da carbonila nos outros derivados,
se tornou dispersa sobre o anel aromático A e átomo de carbono da carbonila,
devido à influência do caráter retirador de elétrons desse grupo funcional. Esta
observação indica que a baixa densidade eletrônica LUMO sobre o carbono da
carbonila dos derivados mais ativos, pode o ser o principal determinante para a
interação entre a molécula e o sítio receptor, que os derivados 15l, 15m e 15n
apresentaram alguma atividade leishmanicida.
Os derivados 15o, 15p e 15q não apresentaram atividade leishmanicida.
Aparentemente, a presença de grupos volumosos pode causar rigidez estrutural no
anel B e pode influenciar negativamente a característica desses derivados.
75
Figura 23 - Mapa de densidade LUMO dos derivados 15a-s da chalcona codificado sobre uma
isosuperfície de 0,002 eV/ua
3
.
5.3 ANÁLISE DAS PROPRIEDADES SICO-QUÍMICAS E TOXICOLÓGICAS IN
SILICO
A avaliação toxicológica teórica (in silico) dos derivados da chalcona que
demonstraram os melhores perfis de atividade leishmanicida (15g, 15h, 15i, 15j e
15k) foi efetuada utilizando-se o programa Osiris
®
Property Explorer. Os resultados
obtidos da análise mostram que os riscos toxicológicos, teóricos, para estes
derivados o baixos, quanto aos parâmetros de irritação, tumorogênico, efeito
reprodutivo e mutagênico, sendo comparáveis aos fármacos pentamidina e
anfotericina B, comercialmente disponíveis e em uso atualmente. O derivado 15g foi
o único que apresentou um risco toxicológico teórico médio para o parâmetro
mutagenicidade (Figura 24).
Os baixos efeitos adversos atribuídos aos derivados, em especial quanto aos
quatro parâmetros avaliados, não eliminam a possibilidade de apresentarem efeitos
toxicológicos desfavoráveis, mas indicam a probabilidade de um bom desempenho
no aspecto avaliado. A avaliação toxicológica in silico não exclui a necessidade de
76
realização de testes toxicológicos tradicionais, entretanto orienta sobre quais
substâncias em estudo é válido prosseguir com análises toxicológicas experimentais.
Figura 24 - Perfis Toxicológicos Teóricos dos derivados da chalcona com atividade mais significativa
(15g, 15h, 15i, 15j e 15k) obtidos com o programa Osiris
®
Property Explorer.
Os testes toxicológicos in vitro com células VERO dos derivados da chalcona
(Tabela 1) demonstraram que as doses que inibiram 50% do crescimento dessas
células eram muito maiores do que aquelas que inibiram 50% do crescimento de
Leishmania braziliensis, indicando boa seletividade para inibição do parasita.
O derivado 15i, um dos mais potentes da série, inibiu o crescimento de 50%
de Leishmania braziliensis na concentração de 3,94 µM e promoveu a inibição do
crescimento de 50% de células VERO na concentração de 215,57 µM (Tabela 1). Na
avaliação do risco toxicológico in silico, este derivado também apresentou baixa
toxicidade para os parâmetros avaliados (Figura 24), indicando ser este um
promissor derivado de chalcona.
A avaliação de druglikeness revela a capacidade de um determinado
composto apresentar características estruturais similares à maioria dos fármacos
disponíveis no mercado, permitindo teoricamente apontar compostos semelhantes
aos fármacos.
77
Os derivados da chalcona que apresentaram as atividades leishmanicidas
mais significativas (15g, 15h, 15i, 15j e 15k), tiveram seus valores de druglikeness
avaliados. Os valores de druglikeness computados e atribuídos pelo programa
Osiris
©
aos derivados 15g, 15h, 15i, 15j e 15k foram comparados com os valores da
pentamidina e anfotericina B comercialmente disponíveis no mercado (Figura 25).
Os valores teóricos de druglikeness desses derivados foram superiores aos
fármacos pentamidina e anfotericina B, utilizados como controles positivos nas
análises e que estão atualmente no mercado farmacêutico.
Figura 25 - Druglikeness dos derivados da chalcona (15g, 15h, 15i, 15j e 15k) comparados com os
fármacos comerciais pentamidina e anfotericina B.
O estudo de drugscore, isto é, a soma de todas as características avaliadas
para o candidato a fármaco (cLogP, solubilidade, toxicologia teórica, druglikeness e
peso molecular) pelo sistema Osiris
©
, fornece um parâmetro que permite avaliar o
quanto uma determinada substância poderá ser habilitada como um futuro fármaco.
Segundo os critérios estabelecidos, quanto mais próximo de 1 (um), maior é a
probabilidade teórica de sucesso. Os derivados da chalcona (15g, 15h, 15i, 15j e
15k) apresentaram valores de drugscore melhores do que aqueles mostrados pelos
fármacos em comercialização pentamidina e anfotericina B (Figura 26).
Druglikeness
78
Figura 26 - Drugscore dos derivados ativos 15g, 15h, 15i, 15j e 15k da chalcona comparados com os
fármacos comerciais pentamidina e anfotericina B atualmente em uso.
5.3.1 Regra de Lipinski
Um fármaco para ter boa absorção oral deve satisfazer, teoricamente, a
Regra dos Cinco de Lipinski (LIPINSKI, 2004). Neste sentido, os derivados da
chalcona avaliados que apresentaram atividade antileishmania mais significativa
contra Leishmania braziliensis (15g, 15h, 15i, 15j e 15k) atendem à Regra dos Cinco
de Lipinski (Tabela 3).
Podemos observar que para os derivados 15h e 15i, que apresentaram
significativa atividade leishmanicida e valores de drugscore (protótipo a rmaco)
mais elevados, interessantemente os valores de lipofilicidade e peso molecular são
os mesmos, 3,93 e 332,78 Da, respectivamente (Tabela 3). Ambos os derivados
possuem o átomo de Cl como substituinte no anel aromático B, porém em diferentes
posições (Tabela 1).
Drugscore
79
Tabela 3 - Valores de cLogP (lipofilicidade), HBA (aceptores de ligação de hidrogênio), HBD
(doadores de ligação de hidrogênio), PM (peso molecular) dos derivados da chalcona (15a-s).
O baixo perfil toxicológico in silico (Figura 24), perfil satisfatório para uma boa
biodisponibilidade e valores mais elevados do que os fármacos pentamidina e
anfotericina B nas avaliações teóricas druglikeness e drugscore (Figuras 25 e 26),
corroboram para apresentar o derivado 15i (IC
50
= 3,94 µM e CC
50
= 215,57 µM)
como o mais promissor candidato a fármaco da série de derivados metoxilados da
chalcona avaliada contra Leishmania braziliensis.
cLogP
HBA
HBD
PM (Da)
15a
3,37
4,0
0,0
298.3
15b
3,93
4,0
0,0
332.7
15c
3,93
4,0
0,0
332.7
15d
4,49
4,0
0,0
367.2
15e
3,25
5,0
0,0
328.3
15f
3,25
5,0
0,0
328.3
15g
3,93
4,0
0,0
332.7
15h
3,93
4,0
0,0
332.7
15i
3,93
4,0
0,0
332.7
15j
4,49
4,0
0,0
367.2
15k
4,49
4,0
0,0
367.2
15l
3,41
7,0
0,0
343.3
15m
3,41
7,0
0,0
343.3
15n
3,41
7,0
0,0
343.3
15o
4,37
4,0
0,0
348,3
15p
4,37
4,0
0,0
348.3
15q
3,15
6,0
0,0
342.3
15r
3,66
5,0
0,0
341.4
15s
3,67
4,0
1,0
318.7
80
6 CONCLUSÕES
A atividade leishmanicida, contra Leishmania braziliensis, da série de
derivados metoxilados da chalcona avaliada (15a-s) em comparação ao composto 4-
metóxichalcona-3-benzilsulfonamida (14), anteriormente estudado, demonstra que
diferentes substituintes no anel A e no anel B influenciam a atividade leishmanicida.
Observa-se com estudo da nova série que o grupo sulfonamida não é essencial para
a atividade leshmanicida.
No anel A a presença do grupamento metoxila (-OCH
3
) parece ser importante
para a atividade, pois a substituição pelo grupo hidroxila (-OH) resultou na redução
da atividade (derivado 15s). Os grupos metoxila inseridos nas posições di-orto (R
1
e
R
5
) e para (R
3
) favoreceram a atividade, pois os derivados que foram mais ativos
possuem o grupo metoxila nestas posições (15g, 15h, 15i, 15j e 15k). A mudança de
posição de um dos substituintes metoxila no anel A, da posição orto (R
1
) para a
posição meta (R
2
), resultou na redução da atividade contra Leishmania braziliensis
(15a-e).
No anel Ba presença do átomo de Cl favoreceu a atividade leishmanicida,
como evidenciado com os derivados que demonstraram os melhores perfis de
atividade da série (15g, 15h, 15i, 15j e 15k).
Os derivados que apresentaram as melhores atividades leishmanicidas (15g,
15h, 15i, 15j e 15k) possuem a densidade eletrônica de HOMO sobre o anel A,
ligado à função carbonila e os derivados sem atividade apresentaram a densidade
sobre o anel B, mais distante da função carbonila (15o, 15p, 15q e 15r) (Figura 21),
cuja contribuição eletrônica aparentemente desempenha importante papel.
Dentre os derivados da série estudada (15a-s), o derivado 15i demonstrou ser
o candidato protótipo a fármaco mais promissor, pois apresentou resultados
significativos em todas as análises estruturais empregadas. Esse derivado inibiu
50% do crescimento de Leishmania braziliensis com a concentração de 3,94 µM,
apresentou perfil toxicológico favorável tanto in silico como in vitro com células
VERO (CC50 = 215,57 µM), além de índices físico-químicos teóricos de druglikeness
e drugscore superiores aos fármacos pentamidina e anfotericina B. O derivado 15i
também apresentou uma maior probabilidade de boa biodisponibilidade oral, pois
não violou nenhum dos parâmetros da regra dos cinco de Lipinski. Assim, o derivado
81
metoxilado da chalcona 15i é um composto leishmanicida protótipo candidato a
estudos posteriores.
82
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