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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
RELAÇÃO ENTRE PARÂMETROS DE RADIAÇÃO SOLAR E
ESPÉCIES HERBÁCEO-SUBARBUSTIVAS DE CERRADO
SENTIDO RESTRITO NO JARDIM BOTÂNICO DE BRASÍLIA
Aluna: Emilia Pinto Braga
Orientador: John Du Vall Hay
Brasília, DF
Ago/2010
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
graduação em Ecologia como parte dos requisitos
para a obtenção do título de mestre em Ecologia da
Universidade de Brasília (UnB).
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EMILIA PINTO BRAGA
RELAÇÃO ENTRE PARÂMETROS DE RADIAÇÃO SOLAR E
ESPÉCIES HERBÁCEO-SUBARBUSTIVAS DE CERRADO
SENTIDO RESTRITO NO JARDIM BOTÂNICO DE BRASÍLIA
Banca Examinadora:
Professor Dr. John Du Vall Hay
Departamento de Ecologia/UnB
Orientador
Professora Dra. Beatriz Schwantes Marimon
Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT
Examinador Externo
Professor Dr. Raimundo Paulo Barros Henriques
Departamento de Ecologia/UnB
Examinador Interno
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
(Buzz Lightyear)
Aos meus irmãos Michele e Júlio,
com muito amor,
dedico.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por mostrar-me o caminho da ciência da vida, manter-
me firme nos propósitos que traçamos juntos e por resguardar minha integridade física e
mental (ou o que restou delas), e aos meus mentores que sempre me acompanham e me
desviam dos maus caminhos.
Agradeço ao professor John Du Vall Hay, pela confiança, apoio e orientação no meu
ímpeto de encarar sem medo (ou com um pouquinho, sim) as temidas herbáceas do
Cerrado. Não foi fácil, mas ninguém disse que seria. Muito obrigada, e que agora
venham os maléficos pinheiros invasores!
Ao CNPq, pela bolsa concedida; à Universidade de Brasília, pelo apoio financeiro e
pela concessão da moradia; ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia, pela
oportunidade do curso; pelos grandes e queridos professores que, dentro e fora de sala,
me ensinaram a observar, pensar e questionar como gente grande.
Aos membros da banca, professora Bia Marimon, que conheci em uma ocasião especial
de muita vivência e aprendizado, e professor Raimundinho, que assistiu de camarote
muitos dos momentos sofridos de campo e percebeu o quanto (em kg) essa pesquisa me
consumiu. Muito obrigada pelas suas contribuições.
Agradeço também aos funcionários do Jardim Botânico de Brasília que me ajudaram

   das amostras coletadas e determinando (Mariana, Dina, Nuno e
João). Foram dias muito felizes enquanto estive no Herbário, culpa de vocês.
Aos que caminharam ao meu lado por esses dois anos, convivendo, compartilhando e
ensinando que amigos estão aqui para todas as horas, para sorrir e para discutir listas de
exercícios de estatística nas madrugadas e finais de semana: Babi, Ísis, Fabricius, trio
ternura (Mariiiiiiiiiiina, Cecília e Camila), Xexa (Xuxu), Clarisse, Samuel Seriemo,
Raymundo (jerimunzinho-de-leite), Angel e especialmente ao tio Fred, pelas boas
conversas sobre delineamento experimental e análises. Com vocês aprendi que, quando
a coisa apertar, é só chamar o John e pedir 
Aos amigos que estiveram sempre presentes, Morgana, Sérgio, e agora Bruno.
Um agradecimento especial ao meu braço-de-ferro, ombro amigo, conselheiro,
estagiário, consultor, revisor, tradutor, técnico, e, principalmente, amigo Adriano. o
míi!
Ao meu amigo e amor, Vinícius, que me acompanha mais de um ano na minha
peleja; por me compreender na maioria das vezes, por me ouvir, por me falar, por querer
aprender sobre os bichinhos e sobre as plantinhas, por me ensinar a ser mais leve, por rir
de minhas bobagens, por me fazer rir também. E por me ensinar que duas pessoas
podem estar unidas sem, obrigatoriamente, estarem juntas. Vida longa e próspera para
nosso amor, nhóm!
Aos colegas virtuais (do Twitter, principalmente) que, por tantas vezes, fizeram
companhia nas madrugadas, contribuindo para a procrastinação do mundo, à perda
coletiva de tempo e ao compartilhamento de links inúteis. Obrigada, SEUS LINDOS!
Agradeço especialmente aos meus tios Sérgio e Lígia, e ao meu avô Ralph e sua esposa,
D. Ritinha, por auxiliarem minha permanência nessa cidade fantástica e onerosa.
E por último, e muito mais importante, agradeço ao apoio dos meus pais, dos meus
irmãos, o amor dos meus sobrinhos e a saudade de todos da minha família.
A todos, meus sinceros agradecimentos.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA
3 HIPÓTESE
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Área de estudo
4.2 Amostragem da vegetação
4.3 Análise fitossociológica
4.4 Fotografias hemisféricas
4.5 Análises dos dados
4.5.1 Diversidade
4.5.2 Classificação por agrupamentos
4.5.3 Correlação entre espécies e parâmetros ambientais
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Composição florística e análise fitossociológica
5.2 Classificação por agrupamentos
5.3 Variação biótica pela incidência de luz
6 CONCLUSÃO
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ii
RESUMO
As savanas ocorrem na faixa tropical entre 20° de latitude norte e sul, cobrindo
cerca de 20% da superfície terrestre. Consistem de um ambiente onde há co-dominância
entre cobertura herbácea e lenhosa, onde a proporção entre esses componentes pode
variar grandemente. Os determinantes primários das fisionomias são a umidade e os
nutrientes disponíveis para as plantas, e atuam como determinantes secundários o fogo,
a herbivoria e o manejo da paisagem. A radiação solar é um fator secundário na
determinação de espécies herbáceo-subarbustivas, e são escassos os estudos que a
contemplam como fator regulador na ocorrência e dominância de espécies. É sabido que
a presença de arbustos e arvoretas pode alterar a fenologia, composição, distribuição
espacial, alocação de biomassa e a produtividade do componente herbáceo. O objetivo
desta pesquisa foi verificar se diferença na estrutura e composição do estrato
herbáceo-subarbustivo de Cerrado sentido restrito entre dois períodos distintos de
regime hídrico, e se a radiação direta e indireta contribui para essa variação. A pesquisa
foi realizada em cerrado sentido restrito de interflúvio na Estação Ecológica do Jardim
Botânico de Brasília. Foram instaladas 25 linhas de 5 metros de comprimento, e o
método de inclusão foi o de interceptação na linha. As análises fitossociológicas foram
realizadas com as frequências e coberturas lineares de cada espécie em junho e
novembro de 2009. As variáveis de radiação (radiação direta - DSF, indireta - ISF,
global - GSF e índice de área foliar - LAI) foram obtidas através de fotografias
hemisféricas. Com as variáveis, foi realizada uma análise de componentes principais
(PCA) e, com os coeficientes do eixo 1, realizadas regressões com as dominâncias de
cada espécie por linha e por período. Foram registradas 82 espécies, pertencentes a 31
famílias. O hábito mais frequente foi o herbáceo (58%), seguido de subartusto (37%) e
lianas (5%). As famílias dominantes foram Poaceae, Myrtaceae, Fabaceae, Rutaceae e
Burseraceae. A diversidade registrad  equabilidade J=0,70 nos dois
períodos. Apesar da retração, expansão e substituição de espécies entre os períodos de
observação, não houve diferença significativa entre os períodos. Já as variáveis de
radiação apresentaram diferença significativa entre os períodos, com aumento do LAI e
diminuição de DSF, ISF e GSF. Os maiores valores, em módulo, da PCA foram de LAI
e DSF. As regressões entre o eixo 1 da PCA e as dominâncias das espécies mostraram
que 28 espécies estiveram de alguma forma relacionadas às variáveis de radiação
estudadas. A radiação solar atua, em cerrado sentido restrito, como um determinante
secundário na ocorrência e dominância de algumas espécies de herbáceas e subarbustos,
porém com poder de explicação geralmente baixo, evidenciando haverem,
conjuntamente, outras variáveis ambientais influenciando.
Palavras-chave: Jardim Botânico de Brasília; savana; determinantes secundários;
camada rasteira; ecofisiologia; correlação.
iii
ABSTRACT
Savannas are terrestrial tropical ecosystems that occur between latitudes 20
North and South, covering approximately 20% of the land area. They consist of a co-
dominance of woody and herbaceous cover and the proportion of these components can
vary over a large scale. The primary determinants of the physiognomies are humidity
and available nutrients for the plants while fire, herbivory and management of the
landscape act as secondary determinants. Solar radiation is a secondary factor in the
determination of the herbaceous-subshrub species component and there are few studies
that contemplate this factor in the regulation of the occurrence and dominance of
species It is well known that the presence of shrubs and small trees may alter the
phenology, composition, spatial distribution, biomass allocation and productivity of the
herbaceous layer. The objective of this study was to verify if there was a difference in
the structure and composition of the herbaceous-subshrub component in a cerrado sensu
stricto in two distinct hydrological periods and if direct and indirect solar radiation
contributed to this difference. This study was done in a Cerrado sensu stricto in the
interfluvial region of the Ecological Station of the Botanic Garden of Brasilia. Twenty-
five lines, each five meters long, were established and data were collected using the line
intercept method in June and November 2009. Phytosociology analyses were done
using data on frequency and linear coverage of each species encountered at each
sampling date. The solar radiation variables (direct site factor DSF, indirect site factor
ISF, global site factor GSF and leaf area index LAI) were obtained with
hemispherical photographs. A principal component analysis (PCA) was done using
these variables and a regression analysis was done for each sampling period using the
coefficients from axis 1 as the independent variable and the dominance of each species
as the dependent variable. A total of 82 species in 31 families were recorded along the
lines. The most frequent habit was herbaceous (58%) followed by subshrub (37%) and
lianas (5%). The dominant families were Poaceae, Myrtaceae, Fabaceae, Rutaceae and
Burseraceae. The diversidade (H´ = 3.05) and equitability (J = 0.70) were constant for
both collection dates. Inspite of the retraction, expansion and substitution of species
between the periods, no significant difference was observed. However, the variables
associated with solar radiation did have significant differences, with an increase in LAI
and decrease in DSF, ISF and GSF in November. The highest values in the PCA were
for LAI and DSF. The regressions indicated that 28 species had a significant
relationship with the measured variables. Solar radiation acts, in cerrado sensu stricto,
as a secondary determinant in the occurrence and dominance of some herbaceous and
subshrub species, however with a low predictive value, suggesting the concurrent
influence of other variables.
Key-words: Brasilia Botanical Garden, savanna, secondary determinants, herbaceous
layer, solar radiation.
iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Classificação das savanas de acordo com a relação de umidade (PAM)
e de nutrientes (PAN) disponíveis para as plantas. O Cerrado é caracterizado
como uma savana úmida, com poucos nutrientes no solo (Fonte: Frost et al.,
1986).
Figura 2. Distribuição do bioma Cerrado no Brasil. A maior área hachurada
representa a área core, e as pequenas manchas o disjunções e encraves (Fonte:
Mistry, J. 2000).
Figura 3. Desenho esquemático da Reserva da Biosfera do Cerrado, que inclui o
Jardim Botânico de Brasília como zona núcleo. Foi o primeiro Ato de
reconhecimento internacional da importância do Cerrado Brasileiro, reforçado
pela Lei Distrital 742 de 28/07/94 (Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos SEMARH/DF).
Figura 4. Distribuição espacial das linhas no Cerrado sentido restrito de
interflúvio da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF (Fonte:
Google Maps, modificado).
Figura 5. Representação da amostragem na linha: (UA) unidade de área de 1 m;
(a) comprimento da porção da linha interceptada pela projeção perpendicular da
folhagem de um indivíduo herbáceo. (Adaptado de Meirelles et al., 2002, p.63).
Figura 6. Valores de cobertura relativa de ervas, subarbustos e lianas de cerrado
sentido restrito nos meses de junho e novembro do ano de 2009, na Estação
Ecológica do Jardim Botânico de Brasília.
Figura 7. Valores de cobertura e frequência relativas médias (%) obtidas no ano
de 2009, para as oito famílias mais abundantes da flora herbáceo-subarbustiva do
cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília,
DF.
Figura 8. Cobertura Relativa das cinco famílias mais representativas da flora
herbáceo-subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do
Jardim Botânico de Brasília, DF, nos períodos de junho e novembro de 2009.
Figura 9. Frequência Relativa das cinco famílias mais representativas da flora
herbáceo-subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do
Jardim Botânico de Brasília, DF, nos períodos de junho e novembro de 2009.
Figura 10. Valores de cobertura e frequência relativas médias (%) obtidas no
ano de 2009, para as dez espécies mais abundantes da flora herbáceo-
subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim
Botânico de Brasília, DF. Nomes completos das espécies estão listados na Tabela
1.
Figura 11. Curva espécie-área das espécies herbáceo-subarbustivas
inventariadas em cerrado sentido-restrito no Jardim Botânico de Brasília, DF. A
área hachurada representa o erro padrão da média dos valores observados,
calculados por aleatorização dos dados originais.
v
Figura 12. Dendrograma de similaridade das 25 linhas de amostragem de
vegetação herbáceo-subarbustiva de cerrado sentido restrito na Estação
Ecológica do Jardim Botânico de Brasília. A linha pontilhada equivale a 50% das
informações de riqueza e abundância, e forma três grupos-comunidades,
circulados diferentemente.
Figura 13. Representação dos três grupos-comunidades formados a partir da
análise aglomerativa de similaridade florística das 25 linhas instaladas em
cerrado sentido restrito no Jardim Botânico de Brasília, no ano de 2009.
Figura 14. Dendrograma gerado por TWINSPAN mostrando a classificação
hierárquica das 25 linhas de amostragem depois de dois níveis de divisão. Em
cima das caixas está o número de linhas classificadas em cada grupo, e cada
divisão realizada está com seu valor latente (eigenvalue) relativo.
Figura 15. Representação dos grupos gerados por TWINSPAN. Os grupos
resultantes mostram um gradiente de vegetação que vai do circulado em linha
contínua para o pontilhado. Os grupos resultantes estão no dendrograma de
TWINSPAN na figura 14.
Figura 16. Dendrograma de similaridade baseado na presença ou ausência de
espécies relacionadas nos inventários realizados em três fitofisionomias (Campo
Limpo CL; Campo Sujo CS e Cerrado sentido restrito CE). As espécies das
três fitofisionomias encontram-se na mesma Área de Preservação Ambiental. Os
dados dos anos de 2000 são referentes à Munhoz & Felfili (2006), de 2007 são
referentes à Amaral (2008), e 2009 é referente ao presente estudo.
Figura 17. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de
Componentes Principais (PCA) e as 25 linhas de amostragem de cerrado sentido
restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF para o período
de junho/2009. Valores altos de coeficientes do eixo 1 indicam sítios com
maiores índices de área foliar (LAI) e menores valores de radiação solar direta
(DSF).
Figura 18. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de
Componentes Principais (PCA) e as 25 linhas de amostragem de cerrado sentido
restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF para o período
de novembro/2009. Valores altos de coeficientes do eixo 1 indicam sítios com
maiores índices de área foliar (LAI) e menores valores de radiação solar direta
(DSF).
Figura 19. Correlação entre os coeficientes do eixo 1 da Análise de
Componentes Principais (PCA) e a dominância de três espécies ocorrentes no
cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, no
período de junho de 2009. Cada gráfico tem discriminado a espécie referente, seu
coeficiente de determinação (r²) e o valor de p.
Figura 20. Correlação entre os coeficientes do eixo 1 da Análise de
Componentes Principais (PCA) e a dominância de três espécies ocorrentes no
cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, no
período de novembro de 2009. Cada gráfico tem discriminado a espécie
referente, seu coeficiente de determinação (r²) e o valor de p.
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Frequência relativa (FR) e cobertura relativa (CR) (%) das espécies da
flora herbáceo-subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do
Jardim Botânico de Brasília, DF, em dois diferentes períodos de regimes pluviais
no ano de 2009. Para o hábito das espécies, S = subarbusto, E = erva e L = liana.
Foram destacados em negrito os dez maiores valores de frequência relativa e
cobertura relativa em ambos os períodos.
Tabela 2. Média e desvio padrão de radiação luminosa indireta (ISF - Indirect
Site Factor), radiação direta (DSF - Direct Site Factor), radiação global (GSF -
Global Site Factor) e índice de área foliar (LAI - Leaf Area Index) de cada linha
instalada no cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de
Brasília no mês de junho de 2009.
Tabela 3. Média e desvio padrão de radiação luminosa indireta (ISF - Indirect
Site Factor), radiação direta (DSF - Direct Site Factor), radiação global (GSF -
Global Site Factor) e índice de área foliar (LAI - Leaf Area Index) de cada linha
instalada no cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de
Brasília no mês de novembro de 2009.
Tabela 4. Coeficientes de correlação (Tau), coeficientes de determinação (r²) e
valores p encontrados para cada correlação entre dominância de uma espécie e os
coeficientes do eixo 1 da PCA realizada com os parâmetros de radiação. De
acordo com o coeficiente de correlação, as espécies foram classificadas como
    ou plantas      
listadas apresentam hábito herbáceo-subarbustivo e ocorreram na Estação
Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF, em junho e novembro de 2009.
*=p<0,10 e **=p<0,05.
7
1 INTRODUÇÃO
As savanas ocorrem na faixa tropical entre 20° de latitude norte e sul, cobrindo
cerca de 20% da superfície terrestre, compreendendo porções dos continentes africano e
asiático, parte da Austrália, América do Sul e América Central (Cole, 1986).
Ecologicamente, o termo é utilizado para descrever um continuum de tipos de
vegetação tropical e subtropical em que há co-dominância entre uma cobertura de
gramíneas e uma variedade de arbustos e pequenas árvores (Eiten, 1972; Frost et al.,
1986). No entanto, a proporção entre árvores e gramíneas pode variar grandemente entre
os tipos de savana. No Brasil, Ribeiro & Walter (1998) descrevem as paisagens do
Cerrado como campestres, savânicas e florestais, dependendo da ocorrência e densidade
do estrato arbóreo.
Estas savanas compartilham características estruturais e funcionais comuns que
as distinguem como um tipo peculiar de vegetação. As características edáficas são
importantes, principalmente a disponibilidade de umidade (PAM Plant Avaliable
Moisture) e de nutrientes no solo (PAN Plant Avaliable Nutrients) (Frost et al., 1986)
(Fig. 1). Fogo, herbivoria e o manejo da paisagem atuam em diferentes papéis em cada
região e são, por conseguinte, considerados como determinantes secundários (Medina,
1987). As diferenças entre estrutura da vegetação e a composição florística variam de
acordo com os continentes onde estas são encontradas (Eiten, 1972).
8
Figura 1. Classificação das savanas de acordo com a relação de umidade (PAM) e de
nutrientes (PAN) disponíveis para as plantas. O Cerrado é caracterizado como uma
savana úmida, com poucos nutrientes no solo (Fonte: Frost et al., 1986).
O Cerrado é uma formação savânica, e é a segunda maior formação
vegetacional do Brasil, cobrindo originalmente cerca de 23% do território nacional
(Furley & Ratter, 1988), com área núcleo (core) que cobre o Planalto Central,
estendendo-se até o Piauí e Maranhão. Também ocorre em forma de disjunções nas
regiões Norte e Nordeste e nos estados de São Paulo e Paraná (Eiten, 1972) (Fig. 2).
Figura 2. Distribuição do bioma Cerrado no Brasil. A maior área hachurada representa
a área core, e as pequenas manchas são disjunções e encraves (Fonte: Mistry, J. 2000).
9
Devido à grande extensão territorial, o Cerrado está exposto a variações
climáticas diversas, desde precipitação média anual de menos de 800 mm, no Nordeste
do Brasil, a mais de 2.000 mm no extremo Noroeste do Brasil, e temperaturas médias
anuais entre 20º e 25º C (Coutinho, 1978; Furley & Ratter, 1988). Essas variações
climáticas associadas aos fatores edáficos e à ação do fogo (Eiten, 1972; Coutinho,
1978), topografia e drenagem (Furley & Ratter, 1988) são refletidas na grande variação
fisionômica do Cerrado.
Essa variação ambiental resulta em fisionomias denominadas de campo limpo,
campo sujo, cerrado sentido restrito (cerrado stricto sensu) até cerradão, além da
ocorrência de veredas e matas de galeria nas áreas mais úmidas (Eiten, 1972; 1978).
Dentre essas fitofisionomias, o cerrado sentido restrito ocupa cerca de 50% do bioma,
sendo composto por um estrato herbáceo dominante e um estrato de árvores e arbustos
(lenhoso) que variam de 10 a 60% de cobertura (Eiten, 1978; Dias, 1994).
Alguns estudos acerca do balanço entre os estratos herbáceo e lenhoso em
diferentes savanas no mundo consideram um desequilíbrio entre eles, e que estes
coexistem mantidos por distúrbios ocasionais (Scholes & Walker, 1993; Skarpe, 1991;
1992). Dessa forma, se estivesse livre de distúrbios, o estrato lenhoso tornar-se-ia
dominante (Moreira, 1992). No entanto, a dominância do estrato lenhoso está limitada
pela capacidade de recursos-suporte do local (Archer et al., 1988; San Jose et al., 1991).
A relação entre o componente arbustivo-herbáceo e o componente arbóreo do
Cerrado brasileiro é de 3:1 (Mendonça et al., 1998), podendo variar ainda de 4:1 nas
formações savânicas até 1:1 nas formações florestais (Felfili et al., 2001), denotando a
importância do estrato herbáceo na formação vegetacional predominante no Centro-
Oeste (Felfili, 2002).
10
As fitofisionomias dos campos, cerrados e matas coincidem com as diferenças
na umidade dos solos (Cole, 1986; Eiten, 1991; Haridasan, 1991; Ribeiro & Walter,
1998). Onde há grande disponibilidade de água superficial, a predominância é de
espécies herbáceas com raízes superficiais, formando os campos limpos úmidos; quando
o lençol freático é mais profundo, o estrato arbóreo compensa o déficit hídrico com
raízes mais profundas (Goldstein & Sarmiento, 1987). Assim, o equilíbrio dinâmico
entre os estratos lenhoso e herbáceo é apontado como consequência das diferentes
camadas subterrâneas do solo em que cada um acessa a água (Skarpe, 1991).
existem catalogadas mais de 12 mil espécies vegetais do Cerrado
(Mendonça et al., 2008). Os fatores bióticos e abióticos que atuam direta ou
indiretamente na chegada, estabelecimento e proliferação das espécies proporcionam
um alto valor de riqueza e, importante ressaltar, uma alta proporção de endemismos,
podendo chegar a mais de 40% da flora (Klink & Machado, 2005). Para o estrato
herbáceo-subarbustivo, estimativas sugerem um número de espécies entre 4700 e 7000
(Ratter et al., 1997; Mendonça et al., 1998, 2008; Castro et al., 1999; Walter, 2006).
Se por um lado a flora arbustivo-arbórea do Cerrado é relativamente bem
estudada, por outro, o reduzido número de levantamentos da flora herbáceo-
subarbustiva restringe seu conhecimento a poucas localidades (Ratter et al., 1997;
Castro et al., 1999; Munhoz & Felfili, 2006, 2008). Diante da escassez de estudos para
esse componente florístico, os dados são pouco conclusivos (Ratter et al., 1997;
Castro et al., 1999; Filgueiras, 2002). Adicionalmente, estudos sobre o componente
herbáceo-subarbustivo indicam a ocorrência de grandes mudanças na sua composição
entre diferentes regiões, demonstrando tratar-se de uma flora sensível a variações de
clima, solo, e intensidade de queimadas, entre outros fatores (Mantovani & Martins,
1993; Filgueiras, 2002; Rebellato & Cunha, 2005).
11
Em áreas de campo limpo úmido no Distrito Federal e em Goiás, Munhoz &
Felfili (2008) encontraram grande heterogeneidade florística, determinada
especialmente pelas variações de umidade do solo expressas pelas variações nas
condições físicas e texturais. A flutuação da umidade, dos teores de matéria orgânica, e
das porcentagens de argila e areia foram preponderantes na distribuição das espécies.
Nas duas áreas de campo limpo úmido a riqueza de espécies foi maior na comunidade
melhor drenada indicando a existência de uma flora composta por um menor número de
espécies com adaptações as condições extremas nos ambientes úmidos.
em campo sujo, Munhoz & Felfili (2006) encontraram uma grande riqueza
florística e perceberam uma grande similaridade florística entre as linhas, resultante,
segundo as autoras, à homogeneidade do solo, onde esta similaridade variou pouco no
período de um ano, e o período de estiagem não restringiu o aumento de cobertura de
algumas espécies e o aparecimento de outras. Porém a composição florística entre o
campo sujo do referido estudo é bastante diferente quando comparada aos estudos de
Mantovani & Martins (1993) em São Paulo e de Meirelles et al. (2002) no Maranhão
com cerrado sentido restrito e de Tannus & Assis (2004) em campo sujo, provavelmente
devido às diferenças ambientais e também a fatores bióticos que determinam a
distribuição das espécies.
Um dos fatores abióticos que não recebe atenção por ser um fator secundário
na ocorrência e distribuição das espécies herbáceo-subarbustivas em savanas é a
radiação solar. A presença dos arbustos e arvoretas na paisagem pode alterar a
fenologia, composição, distribuição espacial, alocação de biomassa e a produtividade do
componente herbáceo (Scholes & Archer, 1997). O estabelecimento, aumento da
cobertura e densidade dos arbustos causam alterações no solo e o sombreamento das
ervas, resultando no declínio da produtividade das mesmas (Scholes & Archer, 1997).
12
Lenhosas e herbáceas competem por luz, nutrientes e água, mas árvores podem também
incrementar a fertilidade no solo e a disponibilidade de água (Ludwig et al., 2001). Em
áreas de Cerrado, não há, entre árvores, a competição por luz, porém ainda não se sabe
se, como e quanto a dominância de uma espécie de herbácea ou subarbusto está
relacionada à radiação solar.
A flora nativa do Cerrado está sendo destruída muito rapidamente desde que a
região central do Brasil foi alvo da expansão econômica nos anos 70, sendo que mais de
40% da região do Cerrado foi substituída principalmente por pastagens e
monoculturas de soja, arroz, milho e eucalipto, além da grande produção de carvão
vegetal para fins diversos, sem qualquer cuidado que assegure a sustentabilidade da
produção (Dias, 1990).
A despeito de uma larga extensão da região e riqueza da biota, apenas uma
pequena percentagem do bioma é preservado, sendo que muitas destas poucas áreas de
preservação são mal-localizadas ou possuem um tamanho insuficiente para proteger a
biodiversidade (Dias, 1990). Para tanto, faz-se necessário o conhecimento da dinâmica e
da relação entre os diferentes estratos vegetais e suas relações com os fatores ambientais
nas diferentes fitofisionomias ocorrentes no Cerrado brasileiro, pois somente um
sistema bem planejado de unidades de conservação poderá proteger a variedade de
paisagens e a herança genética do Cerrado brasileiro (Felfili & Silva Júnior, 1993).
13
2 JUSTIFICATIVA
A partir do conhecimento científico gerado sobre uma paisagem poderão ser
desenvolvidos procedimentos adequados para a preservação e uso sustentável de seus
recursos biológicos, pois, com os resultados obtidos em diferentes escalas espaciais,
podem-se detectar padrões e compreender fatores determinantes da composição,
estrutura e funcionamento dos diversos ecossistemas da Terra.
Raros são os estudos acerca da relação dos componentes herbáceo e lenhoso
nas savanas, e, particularmente no Cerrado, esses estudos e suas relações com fatores
ambientais praticamente inexistem. Estudos por longo prazo podem fornecer, com mais
acerto, os ciclos da dinâmica populacional e da comunidade, tendo potencialmente
grande valor, pois estes podem proporcionar comparações interessantes em uma mesma
área, sob diversas situações e distúrbios, assim como em áreas similares, sob condições
diferentes (Townsend et al., 2006).
Além da necessidade primária do conhecimento científico acerca da vegetação
nativa do Centro-Oeste, a compreensão da dinâmica do estrato herbáceo-subarbutivo e
sua interação com o estrato arbustivo-arbóreo facilitarão o entendimento da sucessão
ecológica do cerrado sentido restrito, podendo, então, servir como instrumento para
recuperação de áreas degradadas.
O objetivo desta pesquisa foi verificar as diferenças na estrutura e composição
do estrato herbáceo-subarbustivo de Cerrado sentido restrito em dois períodos distintos
de regime hídrico, e se a radiação direta e indireta contribui para essa variação.
14
3 HIPÓTESE
A hipótese global dessa pesquisa é que a sazonalidade, a incidência direta e
indireta dos raios solares e o índice de área foliar atuam diretamente na variação da
estrutura da comunidade herbáceo-subarbustiva de cerrado sentido restrito.
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Área de estudo
O Jardim Botânico de Brasília (JBB), juntamente com a Reserva Ecológica
(RECOR) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fazenda Água
Limpa (FAL) somam área de aproximadamente 10 mil hectares (ha) na porção sudeste
de Brasília, e fazem parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Gama-Cabeça-de-
Veado. A APA Gama-Cabeça-de-Veado juntamente com o Parque Nacional de Brasília
(PNB) e a Estação Ecológica de Águas Emendadas (EEAA) compõem a área núcleo da
Reserva da Biosfera do Cerrado (Fig. 3), protegendo cerca de 46% de vegetação nativa
remanescente do Distrito Federal (DF) (UNESCO, 1998).
O JBB situa-
altitude, sendo importante área de preservação no DF, pois abriga extensões
consideráveis de muitas das fitofisionomias do Cerrado. Possui área de
aproximadamente 5000 ha, onde destes, 526 ha são destinados à visitação, e tiveram
parte da sua composição florística e estrutural estudadas (Azevedo et al., 1990) e os
outros quase 4500 ha formam a Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília
(EEJBB), área de estudo da presente pesquisa.
15
Figura 3. Desenho esquemático da Reserva da Biosfera do Cerrado, que inclui o Jardim
Botânico de Brasília como zona núcleo. Foi o primeiro Ato de reconhecimento
internacional da importância do Cerrado Brasileiro, reforçado pela Lei Distrital 742
de 28/07/94 (Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SEMARH/DF).
O cerrado sentido restrito no JBB ocorre em sua área central, onde a
declividade do terreno não ultrapassa os 5% e a vertente está na direção do córrego
Cabeça-de-Veado (Azevedo et al., 1990). O solo predominante é Latossolo Vermelho-
Escuro, um tipo de solo profundo, bem drenado, constituído de horizonte A moderado e
proeminente, horizonte B latossólico, com textura de média a muito argilosa,
apresentando baixa fertilidade, baixa percentagem de saturação de bases e baixa
capacidade de troca catiônica, conferindo-lhe caráter distrófico fortemente ácido, com
alta concentração de alumínio nos horizontes superficiais (Embrapa, 1999). O relevo
varia de plano a suave ondulado, com declives predominantes variando de 1 a 4%
(Cavedon & Sommer, 1990).
De acordo com a classificação de Köppen, o clima da região é do tipo Aw ou
tropical chuvoso, com invernos secos e verões chuvosos (Bucci, 1997). Segundo o
16
autor, a precipitação média anual no JBB e EEJBB é de 1526 mm*ano
-1
, onde a estação
seca ocorre no período de maio a setembro e a chuvosa no período de outubro a abril,
época que ocorre 80 a 90% da precipitação anual.
A temperatura média varia de 18° a 20°C, sendo os meses de setembro e
outubro os mais quentes, com variações de 20° a 22°C, onde, julho é o mês mais frio,
com temperatura média entre 16° e 18°C e em setembro registram-se as mais baixas
taxas de umidade com valores próximos a 20%, enquanto que na estação chuvosa a
umidade do ar é mais alta, entre 70-85% (Adámoli et al., 1985). Essas condições
atmosféricas resultam em potencial de evapotranspiração elevado (1700-1800 mm*ano
-
1
), o que acarreta em déficit hídrico (Eiten, 1984).
4.2 Amostragem da vegetação
Foram instaladas 25 linhas de 5m de comprimento cada, totalizando 125 m de
área amostrada (Fig. 4). Cada linha foi definida e subdividida metro a metro com
varetas de ferro de 40 centímetros (cm) de altura, totalizando cinco unidades amostrais
(UA) por linha. As linhas 1 a 10 foram instaladas dentro de parcelas permanentes de
20x50m, e as restantes foram posicionadas aleatoriamente, distando entre si em pelo
menos 30m. Estas linhas tiveram direções aleatórias, foram piqueteadas e
georreferenciadas com Sistema de Posicionamento Global (GPS Global Positioning
System), marcadas permanentemente de modo a serem localizadas para futuros estudos
de dinâmica.
17
Figura 4. Distribuição espacial das linhas no Cerrado sentido restrito de interflúvio da
Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF (Fonte: Google Maps,
modificado).
O método adotado foi o de interceptação na linha (Canfield, 1941; 1950) como
utilizado por Munhoz & Felfili (2006). O método consiste em traçar linhas sobre a
vegetação a ser amostrada e anotar o comprimento que a linha é interceptada por uma
espécie, que, dividido pelo comprimento total das espécies inventariadas sob a linha,
estima a proporção da área coberta por aquela espécie. A metodologia de interceptação
na linha foi adotada, pois, dentre os métodos mais utilizados para análises
fitossociológicas das sinúsias herbácea e subarbustiva, esta se apresenta como uma
opção viável na obtenção da diversidade, frequência e cobertura das espécies do estrato
herbáceo de cerrado em diferentes fitofisionomias (Meirelles et al., 2002; Munhoz &
Felfili, 2006).
18
Com o auxílio de uma vareta de um metro, demarcada com uma fita métrica,
colocada sobre cada UA, foi feita a visualização da projeção horizontal da linha na qual
foram considerados todos os indivíduos com hábito herbáceo ou subarbustivo (Fig. 5).
Figura 5. Representação da amostragem na linha: (UA) unidade de área de 1 m; (a)
comprimento da porção da linha interceptada pela projeção perpendicular da folhagem
de um indivíduo herbáceo. (Adaptado de Meirelles et al., 2002, p.63).
Consideraram-se herbáceas as plantas não-lenhosas, prostradas ou eretas, e
subarbustivas as plantas eretas, cujos ramos são parcialmente lignificados (Guedes-
Bruni et al., 2002). Ao longo das linhas, espécimes foram coletados e prensados para
identificação.
4.3 Análise fitossociológica
Foram registradas a ocorrência e a projeção horizontal de cada espécie, isto é, o
comprimento que cada espécie ocupou por UA ao longo das linhas amostradas. A soma
da projeção horizontal de cada espécie em todas as UA corresponde ao valor de
cobertura absoluta da mesma. A cobertura relativa foi determinada dividindo a
cobertura absoluta de cada espécie pela soma da cobertura absoluta de todas
multiplicadas por 100, demonstrada abaixo:




19
CRi cobertura linear relativa da espécie i
CAi cobertura linear absoluta da espécie i
CA cobertura absoluta de todas as espécies
O registro de ocorrência de cada espécie nas UA foi utilizado para calcular a
frequência das mesmas na área. A frequência de uma espécie é a probabilidade de
encontrarem-se indivíduos dessa espécie na UA (Kershaw, 1973):



FAi frequência absoluta da espécie i
Ji nº de UA em que aparece a espécie i
N nº total de UA




FRi frequência relativa da espécie i
FA frequência absoluta de todas as espécies
Os inventários foram realizados no início do período de estiagem, entre os
meses de junho e julho e no início do período chuvoso, entre os meses de novembro e
dezembro de 2009. As espécies foram identificadas por meio de literatura, consulta a
especialistas e comparação com exsicatas do Herbário Ezequias Paulo Heringer (HEPH)
e Herbário da Universidade de Brasília (UB). Os indivíduos tiveram coletadas partes
reprodutivas ou, na ausência destas, partes vegetativas para identificação. As espécies
20
foram classificadas em famílias de acordo com o sistema do Angiosperm Phylogeny
Group III (APG III, 2009). A partir de todo o material identificado, foi então elaborada
uma listagem de todas as famílias, gêneros e espécies inventariadas. Os nomes dos
autores das famílias e espécies foram co    
(http://www.tropicos.org).
4.4 Fotografias hemisféricas
Em cada linha foram tomadas duas fotografias hemisféricas em cada período
de amostragem, a 2 e 4 metros do ponto inicial e a 50 cm do solo. As fotografias foram
obtidas por câmera fotográfica digital Nikon, modelo CoolPix 5400, acoplada a uma
lente olho de peixe FCE9. A lente foi nivelada com nível de bolha e a câmera foi
posicionada com um marco de referência voltado para o norte, detectado através de
bússola acoplada à lente.
Para analisar as fotos utilizou-se o HemiView Canopy Analysis Software,
versão 2.1, calibrado para a altitude e as coordenadas UTM da Estação Ecológica.
Dos parâmetros calculados pelo software, foram analisados os seguintes:
radiação luminosa global transmitida através do dossel (Global Site Factor), radiação
indireta ou difusa (Indirect Site Factor), radiação direta (Direct Site Factor) e índice de
área foliar (Leaf Area Index).
21
4.5 Análises dos dados
4.5.1 Diversidade
Para o estrato herbáceo-subarbustivo foi realizada uma adaptação do índice de
diversidade de espécies de Shannon & Wiener, utilizando-se, ao invés do número de
indivíduos, os valores de cobertura dos períodos de amostragem.
  
 índice de diversidade de Shannon-Wiener
ln logaritmo neperiano (base e)
CobRi cobertura linear relativa de cada uma das espécies (i) presentes na linha/100
Esse índice é baseado na teoria de informação, onde se assume que a
diversidade ou informação em um sistema natural pode ser medida de um modo similar
à informação contida em um código ou mensagem. O índice de Shannon-Wiener
considera a abundância proporcional de espécies em uma amostra e, para o seu cálculo
em geral, utiliza-se a proporção de indivíduos por espécie (Magurran, 1988). A
abundância pode ser avaliada pelo número de indivíduos e por outras medidas de
ocupação do espaço pelas plantas como a frequência e a cobertura (Kent & Coker,
1992). Neste caso, onde a definição de indivíduo é difícil para o estrato herbáceo
subarbustivo, pois rebrotos radiculares (rametes) de um mesmo indivíduo são comuns,
será usada a proporção de cobertura de espécie como uma medida de abundância.
Para verificar a suficiência da amostragem em relação à riqueza de espécies foi
construída uma curva espécie-área através da permutação dos dados originais. A
22
estimativa da riqueza de espécies foi feita por permutação dos dados com estimador
não-paramétrico Jackknife.
4.5.2 Classificação por agrupamentos
A similaridade entre linhas de amostragens para o estrato herbáceo-
subarbustivo foi avaliada através da classificação aglomerativa pelo método da
variância mínima (Método de Ward). O método de Ward tem por objetivo minimizar o
quadrado da distância euclidiana às médias dos conglomerados. A distância euclidiana é
a raiz quadrada da soma dos quadrados das diferenças de valores para cada variável. Os
grupos formados em cada passo são resultantes de grupo solução com a menor soma de
quadrados (Everitt & Dunn, 1991 apud Fechine & Galvíncio, 2008). Essa técnica inclui
as parcelas ou linhas de amostragem mais semelhantes em subgrupos, com base na
distância euclidiana de cada observação.
Também foi realizada uma classificação pelo método TWINSPAN (Two-Way
Indicator Species Analisys) (Hill, 1979). Esse método constrói uma tabela dicotômica
de espécies preferenciais, classificando os dados e colocando pontos de amostragem
mais similares juntos. Esse método pode ajudar a compreender padrões de distribuição
das espécies que possam estar associados a fatores ambientais (Kent & Coker, 1992).
As interpretações das análises de agrupamento se baseiam na ideia de que a
similaridade florística entre duas áreas deve expressar a sua afinidade ecológica
(Jongman et al., 1987).
23
4.5.3 Correlação entre espécies e parâmetros ambientais
Os parâmetros luminosos obtidos com o processamento das fotografias
hemisféricas foram utilizados para separar as linhas através de uma Análise de
Componentes Principais (PCA Principal Component Analysis). A PCA constrói, com
base na matriz de covariância dos dados originais, eixos de ordenação otimizados de
forma a maximizar a variação dos dados no mínimo de eixos possível, onde o eixo
abrangerá a maior variação dos dados, e os eixos subsequentes explicarão a variação
residual. O resultado da PCA é uma sequência de eixos diminuindo em importância
(Gauch Jr, 1982). Após separar os sítios de acordo com os autovalores obtidos na PCA,
foram feitas regressões lineares entre a dominância de cada espécie e o eixo de
ordenação da PCA, que é o eixo que explica a maior parte da variação dos dados. Essa
regressão teve a finalidade de verificar a existência de espécies preferenciais de sombra
ou sol, e espécies não-preferenciais.
Todas as análises foram feitas utilizando os softwares PC-ORD versão 4.14 e
R, versão 2.10.1 (The R Project [http://www.r-project.org/]).
24
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Composição florística e análise fitossociológica
Em área de cerrado sentido restrito foram coletadas 82 espécies de ervas e
subarbustos. Destas, 76 foram identificadas até espécie, quatro até gênero e duas até
família (Tab. 1). Foram listados 69 gêneros, 58 deles (84%) com apenas uma espécie e
31 famílias, 15 (48,4%) com apenas uma espécie representante. Outros levantamentos
florísticos realizados no Planalto Central encontraram valores de riqueza de herbáceas e
subarbustos variando entre 197 e 265 (Munhoz & Felfili, 2006; 2008; Amaral, 2008).
Em São Paulo, Batalha & Mantovani (2001) obtiveram valores entre 66 e 194 em
diferentes fisionomias de cerrado, e Rossato et al. (2008) registraram 301 espécies de
fanerógamas não-arbóreas em diferentes fisionomias, onde, destas, 100 eram ervas,
subarbustos ou lianas de cerrado.
A riqueza de espécies observada no presente estudo é relativamente baixa
quando comparada a outros estudos florísticos envolvendo herbáceas e subarbustos de
Cerrado. Isso aconteceu devido às diferentes metodologias aplicadas, onde um
inventário abrangerá o máximo de espécies presentes em uma área, enquanto o estudo
fitossociológico está restrito apenas aos pontos de coleta de dados.
O hábito mais freqüente entre as espécies coletadas foi o herbáceo, com 45
espécies (58% do total de espécies), seguido de subarbusto com 30 espécies (37%).
Também foram inventariadas quatro espécies de lianas (5%). Entre os períodos, houve
diminuição da cobertura relativa de ervas e lianas, e aumento da CR de subarbustos
(Fig. 6), o que pode ser explicado com o fenecimento de partes aéreas de herbáceas com
a estiagem.
25
Tabela 1. Frequência relativa (FR) e cobertura relativa (CR) (%) das espécies da flora herbáceo-subarbustiva do cerrado sentido restrito da
Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF, em dois diferentes períodos de regimes pluviais no ano de 2009. Para o hábito das
espécies, S = subarbusto, E = erva e L = liana. Foram destacados em negrito os dez maiores valores de frequência relativa e cobertura relativa em
ambos os períodos.
junho
novembro
Família
Espécie
Hábito
CR
FR
CR
FR
Acanthaceae Juss.
Justicia sarothroides Lindau
S
0,089
0,394
0,055
0,628
Ruellia incompta Lindau
E
0,806
1,183
1,260
1,464
Amaranthaceae Juss.
Pfaffia lanata Gibert
E
0,378
2,367
0,302
2,510
Alstroemeriaceae Dumort.
Alstroemeria gardneri Baker
E
-
-
0,082
0,209
Apocynaceaee Juss.
Barjonia erecta (Vell.) K. Schum.
E
0,161
0,394
0,018
0,209
Ditassa obcordata Mart.
L
0,021
0,197
-
-
Arecaceae Bercht. & J. Presl
Syagrus petraea (Mart.) Becc.
S
0,711
0,394
0,574
0,418
Asteraceae Bercht. & J. Presl
Aspilia foliacea Baker
E
0,170
0,592
0,024
0,209
Baccharis salzmannii DC.
E
0,057
0,197
0,207
0,628
Chaptalia integerrima (Vell.) Burkart
E
-
-
0,058
0,209
26
Vernonia bardanoides Less.
S
0,054
0,394
0,159
0,628
Vernonia holosericea Mart.
S
0,027
0,197
0,076
0,209
Bignoniaceae Juss.
Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld & J.F. Souza
S
0,220
0,986
0,320
0,837
Jacaranda ulei Bureau & K. Schum.
S
0,265
0,789
0,351
1,046
Bromeliaceae Juss.
Dyckia brasiliana L.B. Sm.
E
0,440
0,197
0,363
0,209
Burseraceae Kunth
Protium ovatum Engl.
S
4,131
3,945
4,207
3,975
Convolvulaceae Juss.
Ipomoea coccinea L.
L
0,054
0,197
-
-
Cyperaceae Juss.
Bulbostylis junciformis (Kunth) C.B. Clarke
E
0,235
0,789
0,143
0,628
Rhynchospora consanguinea (Kunth) Boeck.
E
1,109
2,367
1,775
2,929
Euphorbiaceae Juss.
Chamaesyce caecorum (Mart. ex Boiss.) Croizat
E
0,045
0,394
0,140
1,464
Croton antisyphiliticus Mart.
S
1,074
3,748
1,980
4,393
Croton goyazensis Müll. Arg.
S
1,445
3,353
1,235
2,929
Dalechampia caperonioides Baill.
E
0,732
1,775
0,403
1,464
Manihot gracilis Pohl
E
-
-
0,241
0,628
27
Fabaceae Lindl.
Calliandra dysantha Benth.
S
1,517
2,170
1,281
2,301
Centrosema bracteosum Benth.
E
-
-
0,418
0,628
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip
E
2,311
1,972
3,047
2,092
Chamaecrista lundii (Benth.) H.S. Irwin & Barneby
E
0,161
0,394
0,314
0,628
Crotalaria flavicoma Benth.
E
0,024
0,197
0,061
0,209
Desmodium platycarpum Benth.
E
0,030
0,197
0,058
0,209
Eriosema rigidum Benth.
E
0,577
2,367
0,458
2,092
Galactia heringeri Burkart
E
0,181
0,592
0,268
0,837
Lupinus velutinus Benth.
E
0,131
0,197
-
-
Mimosa nuda Benth.
S
-
-
0,119
0,209
Mimosa pseudoradula Glaz. ex Barneby
S
0,196
1,183
0,259
0,628
Periandra mediterranea (Vell.) Taub.
S
-
-
0,116
0,209
Senna rugosa (G. Don) H.S. Irwin & Barneby
S
1,112
1,381
0,711
0,628
Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw.
E
0,265
0,197
0,302
0,209
Iridaceae Juss.
Sisyrinchium vaginatum Spreng.
E
0,190
0,789
0,235
0,837
Lamiaceae Martinov
Hypenia macrantha (A. St.-Hil. ex Benth.) Harley
E
0,071
0,197
0,189
0,628
28
Hyptis lythroides Pohl ex Benth.
E
1,469
1,972
1,443
1,255
Hyptis saxatilis A. St.-Hil. ex Benth.
E
1,502
1,578
1,797
1,674
Lauraceae Juss.
Cassytha filiformis L.
L
1,487
1,775
0,348
0,628
Lythraceae J. St.-Hil.
Diplusodon oblongus Pohl
S
1,112
2,367
1,138
2,092
Malpighiaceae Juss.
Byrsonima rigida A. Juss.
S
1,023
3,550
1,046
2,929
Peixotoa goiana C.E. Anderson
S
2,132
1,972
2,035
1,883
Malvaceae Juss.
Pavonia rosa-campestris A. St.-Hil.
E
0,854
2,959
0,641
2,929
Byttneria scalpellata Pohl
E
0,149
0,592
0,189
0,418
Menispermaceae Juss.
Cissampelos ovalifolia DC.
E
0,006
0,197
-
-
Myrtaceae Juss.
Psidium sp. L.
S
0,071
0,197
-
-
Campomanesia pubescens (DC.) O. Berg
S
2,626
2,959
3,639
3,347
Eugenia calycina Cambess.
S
1,077
1,183
1,132
1,674
Eugenia punicifolia (Kunth) DC.
S
0,107
0,394
0,064
0,418
Myrcia linearifolia Cambess.
S
3,295
4,339
3,447
4,812
29
Myrcia sp. DC. ex Guill.
S
0,048
0,197
0,034
0,209
Myrciaria sp. O. Berg
0,975
2,564
1,300
2,929
Oxalidaceae R. Br.
Oxalis cordata A. St.-Hil.
E
0,030
0,394
0,021
0,209
Oxalis suborbiculata Lourteig
S
0,187
0,986
0,262
1,464
Poaceae Barnhart
Agenium villosum (Nees) Pilg.
E
1,734
0,394
1,501
0,418
Aristida recurvata Kunth
E
0,714
0,394
0,207
0,209
Aristida setifolia Kunth
E
2,427
3,156
1,327
1,464
Axonopus barbiger (Kunth) Hitchc.
E
1,389
1,381
1,351
1,464
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase
E
24,166
4,931
23,401
5,230
Ichnanthus camporum Swallen
E
0,913
1,381
1,504
1,464
Ichnanthus inconstans (Trin. ex Nees) Döll
E
0,030
0,197
-
-
indet 1
E
2,584
1,183
2,090
1,046
indet 2
E
0,393
0,789
0,244
0,418
Mesosetum loliiforme (Hochst. ex Steud.) Chase
E
0,636
0,592
0,464
0,209
Paspalum sp L.
E
0,937
0,986
0,031
0,209
Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston
E
0,512
0,789
0,305
0,209
30
Trachypogon spicatus (L. f.) Kuntze
E
19,675
4,734
20,067
5,230
Rubiaceae Juss.
Borreria capitata (Ruiz & Pav.) DC.
E
0,080
0,592
0,116
0,628
Borreria lutescens DC.
E
0,506
1,381
0,256
1,674
Sabicea brasiliensis Wernham
S
0,036
0,197
0,034
0,209
Rutaceae Juss.
Esenbeckia pumila Pohl
S
4,812
4,536
5,082
4,812
Spiranthera odoratissima A. St.-Hil.
S
0,470
1,381
0,705
1,674
Salicaceae Mirb.
Casearia altiplanensis Sleumer
S
0,297
1,183
0,220
1,255
Sapindaceae Juss.
Serjania mansiana Mart.
L
-
-
0,082
0,209
Smilacaceae Vent.
Smilax goyazana A. DC.
S
0,167
1,183
0,287
1,255
Turneraceae Kunth ex DC.
Piriqueta sidifolia (A. St.-Hil. & A. Juss. & Cambess.) Urb.
E
0,158
0,986
0,140
0,837
Verbenaceae J. St.-Hil.
Stachytarpheta chamissonis Walp.
E
0,051
0,197
0,031
0,209
31 famílias
82 espécies
31
Figura 6. Valores de cobertura relativa de ervas, subarbustos e lianas de cerrado
sentido restrito nos meses de junho e novembro do ano de 2009, na Estação Ecológica
do Jardim Botânico de Brasília.
As famílias com maior número de espécies foram Fabaceae (14), Poaceae (13),
Myrtaceae (7), Asteraceae (5) Euphorbiaceae (5). Juntas, essas famílias englobam
53,6% do total de espécies coletadas. Fabaceae, Asteraceae, Poaceae e Myrtaceae
também foram as famílias mais numerosas em levantamentos florísticos feitos em
outras fisionomias de cerrado (Batalha & Mantovani, 2001; Munhoz & Felfili, 2006,
Munhoz & Felfili, 2008; Amaral, 2008; Rossato et al. 2008). Estas família são,
juntamente com Orchidaceae, Rubiaceae, Melastomataceae e Lythraceae, as mais
representadas no Cerrado (Mendonça et al., 1998).
Em relação à cobertura relativa, as maiores porcentagens foram Poaceae,
Myrtaceae, Fabaceae, Rutaceae e Burseraceae (Fig. 7). A família Poaceae apresentou
cobertura relativa (CR) maior que sua frequência relativa (FR); isso acontece por causa
da forma em que os indivíduos se apresentam entouceirados, ocupando áreas bem
maiores que outras herbáceas. As famílias Convolvulaceae e Menispermaceae estiveram
32
presentes somente no inventário de junho; Alstroemeriaceae e Sapindaceae somente
foram registradas em novembro. Essas quatro famílias tiveram apenas uma espécie
representante cada.
Figura 7. Valores de cobertura e frequência relativas médias (%) obtidas no ano de
2009, para as oito famílias mais abundantes da flora herbáceo-subarbustiva do cerrado
sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF.
Das cinco famílias mais representativas em cobertura relativa (CR) e em
frequência relativa (FR), somente Poaceae diminuiu de valores em novembro, enquanto
Myrtaceae, Fabaceae, Rutaceae, Euphorbiaceae e Burseraceae aumentaram seus valores
de CR e FR (Fig. 8 e 9).
Figura 8. Cobertura Relativa das cinco famílias mais representativas da flora herbáceo-
subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de
Brasília, DF, nos períodos de junho e novembro de 2009.
54.3
8.9
7.0
5.5
4.2
3.6
3.2
3.1
19.2
12.6
10.9
6.2
4.0
10.1
3.7
5.2
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Poaceae
Myrtaceae
Fabaceae
Rutaceae
Burseraceae
Euphorbiaceae
Lamiaceae
Malpighiaceae
CR (%)
FR (%)
54.3
8.9
7.0
5.5
4.2
3.6
3.2
3.1
19.2
12.6
10.9
6.2
4.0
10.1
3.7
5.2
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
CR (%)
FR (%)
56.1
8.2
6.5
5.3
4.1
52.5
9.6
7.4
5.8
4.2
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Poaceae Myrtaceae Fabaceae Rutaceae Burseraceae
CR (%)
Junho/09
Novembro/09
33
Figura 9. Frequência Relativa das cinco famílias mais representativas da flora
herbáceo-subarbustiva do cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim
Botânico de Brasília, DF, nos períodos de junho e novembro de 2009.
Nenhum gênero participou com mais que duas espécies no inventário: 11
apresentaram duas espécies cada e 58 apresentaram somente uma espécie. Os gêneros
que possuíram duas espécies na listagem final foram Aristida, Borreria, Chamaecrista,
Croton, Eugenia, Hyptis, Ichnanthus, Mimosa, Myrcia, Oxalis e Vernonia. Em campo
sujo protegido do fogo, esses gêneros também apresentaram-se numerosos. Isso reflete a
heterogeneidade de espécies existentes na camada rasteira e, a despeito de tão poucas
pesquisas, ressalta a necessidade desta ser mais estudada.
As dez espécies com maior cobertura relativa (CR) representaram 68,2% da
cobertura total; quatro destas espécies (Aristita setifolia, Poaceae-indet.1, Trachypogon
spicatus e Echinolaena inflexa) pertencem à família Poaceae, e juntas representaram
47,9% da CR total, destacando-se E. inflexa e T. spicatus como as espécies mais
representativas. As dez espécies com maior frequência relativa (FR) compreenderam
39,2% da frequência relativa total nos dois períodos (Fig.10).
54.3
8.9
7.0
5.5
4.2
3.6
3.2
3.1
19.2
12.6
10.9
6.2
4.0
10.1
3.7
5.2
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Poaceae
Myrtaceae
Fabaceae
Rutaceae
Burseraceae
Euphorbiaceae
Lamiaceae
Malpighiaceae
CR (%)
FR (%)
20.9
11.8
10.8
9.3
5.9
17.6
13.4
10.9
10.9
6.5
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
Poaceae Myrtaceae Fabaceae Euphorbiaceae Rutaceae
FR (%)
Junho/09
Novembro/09
34
Figura 10. Valores de cobertura e frequência relativas médias (%) obtidas no ano de
2009, para as dez espécies mais abundantes da flora herbáceo-subarbustiva do cerrado
sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF. Nomes
completos das espécies estão listados na Tabela 1.
Algumas espécies registradas no presente estudo também ocorrem em outras
áreas na região Centro-Oeste e são consideradas de ampla distribuição geográfica, são
elas: Axonopus barbiger, Croton antisyphiliticus, Croton goyazensis, Echinolaena
inflexa, Ichnantus camporum, Myrcia linearifolia e Oxalis suborbiculata (Munhoz &
Proença, 1998; Batalha, 2001; Filgueiras, 2002; Munhoz & Felfili, 2006; Amaral,
2008). O fato de menos de 10% das espécies inventariadas serem de ampla distribuição
no Cerrado mais uma vez ressalta a necessidade de aumentarem os esforços para
ampliar o conhecimento acerca do estrato herbáceo e subarbustivo.
Na presente pesquisa, algumas espécies fizeram-se presentes em apenas um
dos dois períodos de amostragem. Em junho foram seis as espécies: Ditassa obcordata,
Ipomoea coccinea, Lupinus velutinus, Cissampelos ovalifolia, Psidium sp. e Ichnanthus
inconstans; em novembro, sete: Alstroemeria gardneri, Chaptalia integerrima, Manihot
gracilis, Centrosema bracteosum, Mimosa nuda, Periandra mediterranea e Serjania
mansiana.
0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0
E inflexa
T. spicatus
E. pumila
P. ovatum
M. linearifolia
C. pubescens
Poaceae ind1
A. setifolia
C. desvauxii
P. goiana
FR (%)
CR (%)
35
Munhoz & Felfili (2006), pesquisando em campo sujo, observaram que
algumas espécies de ervas e subarbustos foram registradas apenas no período de julho, e
também outras espécies apresentavam aumento nas taxas de cobertura e concluíram que,
apesar da severidade do período, seco e frio, o brotamento, estabelecimento e
crescimento vegetal podem acontecer. Extrapolando para o cerrado sentido restrito, a
presença de algumas espécies nesse período e não ocorrência em novembro ou
ocorrência em novembro e não ocorrência em junho pode, então, ser resultado de seu
ciclo reprodutivo, onde estas espécies alternam entre dispersão de diásporos e
estabelecimento de indivíduos.
Estudos florísticos que contemplam o estrato herbáceo-subarbustivo de
Cerrado comumente indicam variações florísticas ao longo do ano, por influência de
intensidade e frequência de distúrbios, sazonalidade climática e, principalmente, fatores
intrínsecos às espécies (Mantovani & Martins, 1993; Batalha & Mantovani, 2001;
Guimarães et al., 2002; Munhoz & Felfili, 2006; Amaral, 2008).
Mesmo com a substituição de algumas espécies, os índices de diversidade de
Shannon-Wiener  3,04 nats*cobertura
-1
) e a equabilidade de Piellou (J=0,70) foram
iguais para ambos os períodos. Outros estudos com esforços amostrais diferentes
ma área de campo sujo pós-queima, onde um
incremento na concentração dos nutrientes superficiais (Miranda et al. 2002),
apresentou valores  3 e 3,2 (Munhoz & Felfili, 2006). Essa mesma área de
campo sujo, após sete anos sem queima, teve os valores do índice de diversidade
diminuídos, encontrando-se entre 2,47 e 2,75 (Amaral, 2008). Meirelles et al. (2002)
obtiveram índices entre 2,78 e 3,01 em áreas de cerrado no sul do Maranhão.
No presente levantamento, não houve diferença significativa entre as
coberturas das espécies nos dois períodos (t
81
=0.0026, p=0,99). Provavelmente, assim
36
como em áreas mais abertas, o cerrado sentido restrito apresente uma variação
significativa se observado em um intervalo maior de tempo (Amaral, 2008), devido à
dinâmica natural de ocupação e extinção local de espécies de uma comunidade.
A curva espécie-área das 82 espécies coletadas nas 25 linhas foi construída
pela permutação dos dados originais, obtendo-se então uma curva média de espécies, e
seu respectivo erro padrão. O número de 25 linhas não foi suficiente para atingir o platô,
onde seria alcançado o número máximo de espécies, mas a curva se apresenta de tal
forma que a adição de novas espécies já se faz pequena (Fig. 11).
Figura 11. Curva espécie-área das espécies herbáceo-subarbustivas inventariadas em
cerrado sentido-restrito no Jardim Botânico de Brasília, DF. A área hachurada
representa o erro padrão da média dos valores observados, calculados por aleatorização
dos dados originais.
As riquezas estimadas por aleatorização foram de 100 espécies com Jackknife
1 e 112 espécies com Jackkife 2. Logo, comparado aos estimadores Jack1 e Jack2,
foram inventariados 82% e 73,2% das espécies esperadas, respectivamente. O número
de espécies com apenas uma ocorrência foi igual a 19, e seis com apenas duas
ocorrências em 25 unidades de área.
37
5.2 Classificação por agrupamentos
A análise de agrupamento resultou no dendrograma da Figura 12. Como não
houve diferença significativa entre as coberturas das espécies entre os períodos, a
análise de agrupamento foi feita com as médias das coberturas relativas dos dois
períodos; espécies com frequência menor que quatro foram excluídas desta análise. O
grau de encadeamento foi de 4,4%, ou seja, a adição para formação de cada grupo maior
é quase de 5% do grupo menor.
Figura 12. Dendrograma de similaridade das 25 linhas de amostragem de vegetação
herbáceo-subarbustiva de cerrado sentido restrito na Estação Ecológica do Jardim
Botânico de Brasília. A linha pontilhada equivale a 50% das informações de riqueza e
abundância, e forma três grupos-comunidades, circulados em cores diferentes.
Os valores de similaridade, por vezes alto entre sítios não-vizinhos e baixo
entre sítios mais próximos, mostram nessa classificação uma variação tal qual uma
colcha de retalhos da sinúsia herbáceo-subarbustiva de cerrado (Fig. 13). Comunidades
38
vegetais tendem a ser mais semelhantes entre si conforme estejam mais próximas e o
método de agrupamento de Ward resultou em comunidades aleatórias, sem nenhum
padrão, o que não acontece em um ambiente natural.
Figura 13. Representação dos três grupos-comunidades formados a partir da análise
aglomerativa de similaridade florística das 25 linhas instaladas em cerrado sentido
restrito no Jardim Botânico de Brasília, no ano de 2009.
Um agrupamento por TWINSPAN (Two-Way Indicator Species Analisys) foi
realizado para encontrar grupos de amostra semelhantes e espécies indicadoras destas
comunidades. Como não houve diferença entre as coberturas das espécies entre os
períodos de levantamento, esse agrupamento foi realizado com os valores médios de
coberturas. Espécies com frequências inferiores a quatro foram retiradas da análise. O
agrupamento está apresentado em forma de dendrograma (Fig. 14).
39
Figura 14. Dendrograma gerado por TWINSPAN mostrando a classificação
hierárquica das 25 linhas de amostragem depois de dois níveis de divisão. Em cima das
caixas está o número de linhas classificadas em cada grupo, e cada divisão realizada
está com seu valor latente (eigenvalue) relativo.
A primeira divisão no dendrograma separou grupos de sítios que se
encontravam mais distantes da cabeceira de um riacho (grupo 2, à esquerda) dos outros
sítios (grupo 3, à direita). O grupo 2 apresentou duas espécies indicadoras: Calliandra
dysantha e Protium ovatum; o grupo 3 apresentou Chamaecrista desvauxii e Oxalis
suborbiculata como indicadoras. A divisão do grupo 2 separou apenas a Linha 21 das
demais, apresentando Borreria lutescens como espécie indicadora desta linha. A divisão
do grupo 3 resultou em dois grupos que estão separados também no espaço, de forma
que um grupo encontra-se na transição entre o mais distante do rio e o mais próximo.
Houve uma espécie preferencial (Poaceae, indet.1), que encontra-se presente no grupo
de transição. Os agrupamentos resultantes da análise foram percebidos como um
gradiente de espécies ao longo do espaço (Fig. 15).
40
Figura 15. Representação dos grupos gerados por TWINSPAN. Os grupos resultantes
mostram um gradiente de vegetação que vai do circulado em linha contínua para o
pontilhado. Os grupos resultantes estão no dendrograma de TWINSPAN na figura 14.
As espécies indicadoras do grupo 2 estiveram ausentes em levantamentos
feitos em área de campo sujo, e as do grupo 3, Chamaecrista desvauxii esteve ausente e
Oxalis suborbiculata presente (Munhoz & Felfili, 2006; Amaral, 2008). A análise de
agrupamento por TWINSPAN classificou melhor os grupos-comunidades, de forma a
facilitar a busca das variáveis ambientais que possam estar influenciando a distribuição
das espécies. As áreas mais próximas ao rio, circuladas com pontilhado na Figura 16
(exceto a L22), possuem mais espécies em comum com campo sujo do que as áreas
mais distantes, circuladas com linha contínua, o que pode indicar um gradiente cerrado
sentido restrito-campo sujo com a proximidade do lençol freático.
Considerando-se a vegetação herbácea-subarbustiva de um cerrado sentido
restrito, diagramas de similaridade entre áreas, quando se consideram somente os dados
qualitativos e quantitativos, podem resultar em uma visão confusa da realidade de uma
41
área natural. Análises de agrupamento que identificam comunidades por presença,
ausência, dominância e frequência resultam em um diagrama mais fiel à realidade dos
ambientes naturais.
Compilando a lista de espécies do presente estudo com outros realizados na
mesma Área de Proteção Ambiental (Munhoz & Felfili, 2006; Amaral, 2008),
observou-se que há ocorrência de espécies preferenciais nos sítios e que, de modo geral,
podem caracterizá-lo (Fig. 16). A área de campo sujo, amostrada em 2000 por Munhoz
& Felfili (2006) e reamostrada por Amaral (2008), mesmo com grande variação
florística por influência do fogo ocorrido em 1999, apresentou, consigo mesma, maior
similaridade do que com qualquer outra área, e apresentou cerca de 55% de similaridade
florística com o cerrado sentido restrito da presente pesquisa (Fig. 16).
Figura 16. Dendrograma de similaridade baseado na presença ou ausência de espécies
relacionadas nos inventários realizados em três fitofisionomias (Campo Limpo CL;
Campo Sujo CS e Cerrado sentido restrito CE). As espécies das três fitofisionomias
encontram-se na mesma Área de Preservação Ambiental. Os dados dos anos de 2000
são referentes à Munhoz & Felfili (2006), de 2007 são referentes à Amaral (2008), e
2009 é referente ao presente estudo.
Essa compilação de espécies identificadas nas pesquisas em campo limpo
úmido, campo sujo e cerrado sentido restrito resultou em uma lista de 254 espécies,
onde 31 tiveram ocorrência apenas em campo limpo, 53 em campo sujo e 45 foram
exclusivas em cerrado sentido restrito. Apenas quatro espécies foram comuns a todos os
42
levantamentos, são elas: Aristida setifolia, Aspilia foliacea, Croton antisyphiliticus e
Echinolaena inflexa.
Felfili et al. (1998) declaram que vegetações de cerrado apresentam elevada
similaridade florística, se estiverem sob mesma condições de solos, umidade e relevo. A
área pesquisada possui as mesmas condições de relevo e precipitação, porém não foram
feitas análises edáficas. Algumas linhas que eram próximas entre si apresentaram
comunidades diferenciadas, portanto devem existir pequenas diferenças nas variáveis do
solo que interferem na ocorrência e ocupação de espécies herbáceas e subarbustivas na
área.
5.3 Variação biótica pela incidência de luz
As análises feitas a partir das fotografias hemisféricas resultaram em duas
tabelas com os valores de média e desvio padrão dos parâmetros analisados: radiação
luminosa indireta (ISF - Indirect Site Factor); radiação direta (DSF - Direct Site
Factor); radiação global (GSF - Global Site Factor) e índice de área foliar (LAI - Leaf
Area Index) (Tab. 2 e 3).
Houve diferença significativa entre os quatro parâmetros analisados entre os
períodos: ISF (t
24
=7,5177, p=9,32*10
-8
), DSF (t
24
=4,1042, p=4,05*10
-5
), GSF
(t
24
=4,3681, p=2,07*10
-4
) e LAI (t
24
=-6,982, p=3,21*10
-7

43
Tabela 2. Média e desvio padrão de radiação luminosa indireta (ISF - Indirect Site
Factor), radiação direta (DSF - Direct Site Factor), radiação global (GSF - Global Site
Factor) e índice de área foliar (LAI - Leaf Area Index) de cada linha instalada no
cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília no mês de
junho de 2009.
Linha
ISF
DSF
GSF
LAI
1
0,758
±0,077
0,790
±0,173
0,787
±0,163
0,329
±0,091
2
0,814
±0,057
0,925
±0,050
0,914
±0,039
0,269
±0,040
3
0,701
±0,136
0,810
±0,179
0,799
±0,175
0,440
±0,170
4
0,589
±0,062
0,689
±0,112
0,679
±0,107
0,688
±0,151
5
0,734
±0,061
0,920
±0,022
0,901
±0,026
0,405
±0,037
6
0,575
±0,006
0,638
±0,029
0,631
±0,025
0,574
±0,001
7
0,540
±0,046
0,572
±0,047
0,569
±0,047
0,670
±0,048
8
0,551
±0,004
0,638
±0,035
0,629
±0,031
0,633
±0,016
9
0,564
±0,037
0,552
±0,015
0,553
±0,018
0,689
±0,088
10
0,546
±0,057
0,607
±0,219
0,601
±0,202
0,691
±0,001
11
0,708
±0,018
0,745
±0,060
0,741
±0,056
0,405
±0,022
12
0,718
±0,076
0,833
±0,132
0,821
±0,126
0,423
±0,073
13
0,851
±0,010
0,886
±0,020
0,883
±0,019
0,268
±0,005
14
0,767
±0,131
0,788
±0,241
0,786
±0,230
0,334
±0,110
15
0,709
±0,040
0,767
±0,001
0,761
±0,004
0,417
±0,050
16
0,932
±0,016
0,975
±0,001
0,971
±0,002
0,177
±0,016
17
0,915
±0,030
0,952
±0,023
0,949
±0,023
0,173
±0,018
18
0,701
±0,187
0,702
±0,275
0,701
±0,266
0,448
±0,239
19
0,862
±0,006
0,921
±0,001
0,914
±0,000
0,252
±0,023
20
0,678
±0,141
0,730
±0,250
0,724
±0,238
0,502
±0,185
21
0,771
±0,011
0,856
±0,008
0,847
±0,006
0,375
±0,014
22
0,562
±0,101
0,652
±0,074
0,643
±0,077
0,647
±0,166
23
0,511
±0,080
0,544
±0,151
0,541
±0,144
0,708
±0,101
24
0,698
±0,086
0,839
±0,069
0,824
±0,070
0,461
±0,149
25
0,752
±0,008
0,749
±0,002
0,749
±0,003
0,354
±0,013
44
Tabela 3. Média e desvio padrão de radiação luminosa indireta (ISF - Indirect Site
Factor), radiação direta (DSF - Direct Site Factor), radiação global (GSF - Global Site
Factor) e índice de área foliar (LAI - Leaf Area Index) de cada linha instalada no
cerrado sentido restrito da Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília no mês de
novembro de 2009.
Linha
ISF
DSF
GSF
LAI
1
0,656
±0,110
0,652
±0,180
0,653
±0,173
0,535
±0,116
2
0,784
±0,051
0,891
±0,016
0,880
±0,021
0,374
±0,062
3
0,631
±0,139
0,758
±0,202
0,744
±0,195
0,628
±0,221
4
0,461
±0,147
0,558
±0,234
0,547
±0,225
1,211
±0,501
5
0,645
±0,008
0,807
±0,011
0,791
±0,009
0,604
±0,035
6
0,463
±0,053
0,489
±0,080
0,487
±0,077
0,811
±0,127
7
0,512
±0,023
0,525
±0,049
0,524
±0,047
0,784
±0,037
8
0,463
±0,006
0,560
±0,034
0,550
±0,030
1,155
±0,233
9
0,483
±0,091
0,432
±0,076
0,437
±0,077
0,942
±0,169
10
0,339
±0,001
0,381
±0,121
0,376
±0,108
1,417
±0,466
11
0,599
±0,003
0,666
±0,052
0,659
±0,047
0,628
±0,015
12
0,649
±0,086
0,705
±0,107
0,699
±0,105
0,594
±0,100
13
0,798
±0,008
0,868
±0,026
0,860
±0,024
0,390
±0,004
14
0,686
±0,013
0,710
±0,024
0,708
±0,021
0,518
±0,026
15
0,609
±0,066
0,731
±0,046
0,718
±0,035
0,629
±0,105
16
0,900
±0,037
0,959
±0,028
0,953
±0,028
0,227
±0,036
17
0,878
±0,040
0,936
±0,037
0,930
±0,038
0,261
±0,051
18
0,723
±0,112
0,886
±0,046
0,869
±0,052
0,522
±0,193
19
0,816
±0,030
0,893
±0,016
0,885
±0,018
0,350
±0,069
20
0,657
±0,095
0,737
±0,156
0,729
±0,150
0,620
±0,190
21
0,642
±0,114
0,696
±0,185
0,690
±0,178
0,651
±0,163
22
0,522
±0,127
0,627
±0,120
0,616
±0,120
0,842
±0,276
23
0,474
±0,054
0,543
±0,067
0,536
±0,066
0,904
±0,018
24
0,673
±0,041
0,795
±0,037
0,783
±0,037
0,600
±0,071
25
0,631
±0,019
0,677
±0,042
0,672
±0,035
0,579
±0,029
45
Os parâmetros radiação direta (DSF), radiação global (GSF) e de radiação
luminosa indireta (ISF) apresentaram valores menores em novembro quando
comparados aos valores de junho. O índice de área foliar (LAI) apresentou aumento dos
valores em todos os 25 sítios entre junho e novembro. O aumento do LAI pode ser
justificado com o brotamento de folhas novas de espécies arbustivo-arbóreas de cerrado,
que ocorrem mais intensamente em setembro e outubro (Lenza & Klink, 2006),
refletindo no aumento das copas em novembro. Com o aumento do índice de área foliar,
a passagem da radiação diminuiu, o que refletiu na diminuição dos três parâmetros de
radiação solar.
Com as variáveis de radiação luminosa, foi realizada uma Análise de
Componentes Principais (PCA Principal Component Analysis) unindo todas as
variáveis obtidas para todos os sítios, separadamente por período.
A primeira análise PCA, relativa ao período de junho de 2009, explicou 96,1%
da variação dos dados no eixo 1 (vetor latente: 0,6111 LAI - 0,4656 DSF - 0,4632 GSF
- 0,4419 ISF). Isso significa que coeficientes de valores maiores classificam áreas com
maiores valores de LAI e menores valores de DSF, GSF e ISF, e o oposto é verdadeiro;
o eixo 2 explicou 3,5% (vetor latente: - 0,6076 LAI - 0,5702 DSF - 0,4838 GSF +
0,2677 ISF). Juntos, os dois eixos explicaram 99.6% da variação total. Como os
coeficientes com maiores valores em módulo foram LAI e DSF, estes foram
representados na figura para caracterizar a classificação (Fig. 17).
46
Figura 17. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes
Principais (PCA) e as 25 linhas de amostragem de cerrado sentido restrito da Estação
Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF para o período de junho/2009. Valores
altos de coeficientes do eixo 1 indicam sítios com maiores índices de área foliar (LAI)
e menores valores de radiação solar direta (DSF).
A segunda análise, do período de novembro de 2009, teve explicada 94,8% da
variação dos dados no eixo 1 (vetor latente: 0,7441 LAI - 0,3977 DSF - 0,3946 GSF -
0,3639 ISF). Assim como na primeira PCA, os coeficientes de valores maiores
classificam áreas com maiores valores de LAI e menores valores de DSF, GSF e ISF; o
eixo 2 explicou 4,8% da variação total dos dados (vetor latente: - 0,6375 LAI - 0,5578
DSF - 0,5134 GSF - 0,1372 ISF). Juntos, os dois eixos explicaram 99.6% da variação
total. Como os coeficientes com maiores valores em módulo foram LAI e DSF, estes
foram representados na figura para caracterizar a classificação (Fig. 18).
47
Figura 18. Representação gráfica dos dois primeiros eixos da Análise de Componentes
Principais (PCA) e as 25 linhas de amostragem de cerrado sentido restrito da Estação
Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF para o período de novembro/2009.
Valores altos de coeficientes do eixo 1 indicam sítios com maiores índices de área foliar
(LAI) e menores valores de radiação solar direta (DSF).
O primeiro eixo da PCA explicou a maior parte da variação dos dados, logo
teve seus coeficientes tomados para a construção de regressões com cada espécie, por
período, de modo a constatar se houve ou não correlação entre o eixo 1 e a dominância
daquela espécie. Foi realizada uma regressão não-paramétrica para cada espécie em
cada período, e os valores dos coeficientes de correlação (Tau), coeficientes de
determinação (r²) e valores p estão relacionados na Tabela 4.
A maioria das espécies não apresentou correlação com o eixo 1 da PCA, mas
28 espécies (34%) apresentaram correlação positiva ou negativa com os coeficientes da
PCA em um ou nos dois períodos de mensuração. As espécies com correlação positiva
foram entendidas como tolerantes ao sombreamento, e foram classificadas na Tabela 4
 , e as espécies que tiveram correlação negativa com o eixo 1 da PCA

Algumas das espécies que tiveram maiores frequências de ocorrência e que
estiveram correlacionadas com o eixo 1 da PCA foram Chamaecrista desvauxii,
Echinolaena inflexa, Hyptis saxatilis, Rhynchospora consanguinea e Ruellia incompta
(Fig. 19 e 20).
48
Tabela 4. Coeficientes de correlação (Tau), coeficientes de determinação (r²) e valores p encontrados para cada correlação entre dominância de
uma espécie e os coeficientes do eixo 1 da PCA realizada com os parâmetros de radiação. De acordo com o coeficiente de correlação, as espécies
       ou         -
subarbustivo e ocorreram na Estação Ecológica do Jardim Botânico de Brasília, DF, em junho e novembro de 2009. *=p<0,10 e **=p<0,05.
Junho
Novembro
Família
Espécie
Ambiente
Tau
p
Tau
p
Acanthaceae Juss.
Justicia sarothroides Lindau
-
-0,126
0,376
0,009
0,035
0,808
0,000
Ruellia incompta Lindau
Sol
-0,235
0,100*
0,228
-0,195
0,171
0,147
Amaranthaceae Juss.
Pfaffia lanata Gibert
Sombra
0,059
0,679
0,004
0,328
0,021**
0,066
Alstroemeriaceae Dumort.
Alstroemeria gardneri Baker
-
-
-
-
0,165
0,248
0,032
Apocynaceaee Juss.
Barjonia erecta (Vell.) K. Schum.
-
0,227
0,111
0,060
0,165
0,248
0,032
Ditassa obcordata Mart.
-
0,118
0,409
0,036
-
-
-
Arecaceae Bercht. & J. Presl
Syagrus petraea (Mart.) Becc.
-
0,042
0,768
0,007
0,143
0,316
0,016
Asteraceae Bercht. & J. Presl
Aspilia foliacea Baker
Sol
0,243
0,088*
0,121
-0,141
0,322
0,006
Baccharis salzmannii DC.
-
0,071
0,620
0,002
0,049
0,733
0,005
Chaptalia integerrima (Vell.) Burkart
-
-
-
-
0,047
0,741
0,001
Vernonia bardanoides Less.
Sombra
0,194
0,175
0,022
0,299
0,036**
0,018
Vernonia holosericea Mart.
Sombra
0,259
0,069*
0,093
0,212
0,137
0,064
49
Bignoniaceae Juss.
Anemopaegma arvense (Vell.) Stellfeld & J.F. Souza
-
0,094
0,510
0,000
0,049
0,733
0,001
Jacaranda ulei Bureau & K. Schum.
-
-0,061
0,670
0,009
0,028
0,846
0,082
Bromeliaceae Juss.
Dyckia brasiliana L.B. Sm.
Sombra
0,141
0,322
0,041
0,259
0,069*
0,099
Burseraceae Kunth
Protium ovatum Engl.
-
-0,231
0,105
0,048
-0,219
0,124
0,040
Convolvulaceae Juss.
Ipomoea coccinea L.
-
0,024
0,869
0,001
-
-
-
Cyperaceae Juss.
Bulbostylis junciformis (Kunth) C.B. Clarke
-
0,219
0,125
0,068
0,229
0,108
0,096
Rhynchospora consanguinea (Kunth) Boeck.
Sombra
-0,015
0,914
0,018
0,307
0,031**
0,009
Euphorbiaceae Juss.
Chamaesyce caecorum (Mart. ex Boiss.) Croizat
Sol
-0,216
0,131
0,040
-0,385
0,007**
0,048
Croton antisyphiliticus Mart.
-
0,059
0,681
0,024
0,193
0,176
0,031
Croton goyazensis Müll. Arg.
-
-0,074
0,606
0,012
-0,226
0,113
0,114
Dalechampia caperonioides Baill.
-
-0,034
0,809
0,014
-0,081
0,571
0,013
Manihot gracilis Pohl
-
-
-
-
0,215
0,131
0,053
Fabaceae Lindl.
Calliandra dysantha Benth.
-
-0,056
0,695
0,012
0,020
0,889
0,000
Centrosema bracteosum Benth.
-
-
-
-
-0,132
0,355
0,017
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip
Sol
-0,216
0,131
0,195
-0,385
0,007**
0,235
Chamaecrista lundii (Benth.) H.S. Irwin & Barneby
Sol
-0,244
0,087*
0,026
-0,188
0,189
0,518
Crotalaria flavicoma Benth.
-
-0,094
0,509
0,010
-0,141
0,322
0,006
Desmodium platycarpum Benth.
-
0,118
0,409
0,036
0,165
0,248
0,032
Eriosema rigidum Benth.
-
-0,211
0,139
0,000
0,054
0,705
0,037
Galactia heringeri Burkart
Sombra
0,322
0,024**
0,120
0,049
0,733
0,014
50
Lupinus velutinus Benth.
-
0,071
0,620
0,002
-
-
-
Mimosa nuda Benth.
-
-
-
-
0,047
0,741
0,001
Mimosa pseudoradula Glaz. ex Barneby
-
-0,210
0,141
0,039
-0,063
0,661
0,032
Periandra mediterranea (Vell.) Taub.
-
-
-
-
-0,141
0,322
0,006
Senna rugosa (G. Don) H.S. Irwin & Barneby
Sombra
0,376
0,008**
0,189
0,257
0,072*
0,058
Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw.
-
0,024
0,869
0,001
0,047
0,741
0,001
Iridaceae Juss.
Sisyrinchium vaginatum Spreng.
-
-0,055
0,700
0,000
-0,067
0,637
0,001
Lamiaceae Martinov
Hypenia macrantha (A. St.-Hil. ex Benth.) Harley
Sol
-0,259
0,069*
0,116
-0,243
0,088*
0,080
Hyptis lythroides Pohl ex Benth.
-
0,008
0,954
0,029
-0,107
0,454
0,022
Hyptis saxatilis A. St.-Hil. ex Benth.
Sol
-0,430
0,003**
0,208
-0,388
0,007**
0,151
Lauraceae Juss.
Cassytha filiformis L.
Sol
-0,052
0,717
0,023
-0,257
0,072*
0,074
Lythraceae J. St.-Hil.
Diplusodon oblongus Pohl
Sol
-0,208
0,146
0,116
-0,244
0,087*
0,080
Malpighiaceae Juss.
Byrsonima rigida A. Juss.
-
0,232
0,103
0,132
0,152
0,285
0,022
Peixotoa goiana C.E. Anderson
-
0,070
0,622
0,001
0,189
0,185
0,012
Malvaceae Juss.
Pavonia rosa-campestris A. St.-Hil.
-
0,156
0,274
0,056
0,115
0,421
0,105
Byttneria scalpellata Pohl
-
-0,035
0,808
0,008
0,042
0,768
0,020
Menispermaceae Juss.
Cissampelos ovalifolia DC.
-
0,118
0,409
0,036
-
-
-
Myrtaceae Juss.
Psidium sp. L.
-
-0,118
0,409
0,010
-
-
-
51
Campomanesia pubescens (DC.) O. Berg
-
-0,087
0,542
0,138
-0,068
0,636
0,117
Eugenia calycina Cambess.
Sol
-0,092
0,520
0,064
-0,249
0,081*
0,109
Eugenia punicifolia (Kunth) DC.
-
-0,025
0,859
0,005
-0,076
0,595
0,003
Myrcia linearifolia Cambess.
-
-0,041
0,776
0,007
-0,087
0,541
0,015
Myrcia sp. DC. ex Guill.
-
-0,141
0,322
0,016
0,071
0,620
0,000
Myrciaria sp. O. Berg
-
-0,042
0,770
0,001
0,085
0,551
0,001
Oxalidaceae R. Br.
Oxalis cordata A. St.-Hil.
Sombra
0,211
0,140
0,077
0,259
0,069*
0,099
Oxalis suborbiculata Lourteig
-
-0,033
0,817
0,057
-0,010
0,946
0,008
Poaceae Barnhart
Agenium villosum (Nees) Pilg.
-
-0,177
0,215
0,037
-0,160
0,262
0,022
Aristida recurvata Kunth
Sombra
0,008
0,953
0,000
0,259
0,069*
0,099
Aristida setifolia Kunth
Sol
0,004
0,980
0,001
-0,239
0,094*
0,048
Axonopus barbiger (Kunth) Hitchc.
-
0,115
0,422
0,023
0,120
0,401
0,007
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase
Sombra
0,258
0,071*
0,116
0,027
0,851
0,015
Ichnanthus camporum Swallen
Sol
-0,248
0,082*
0,057
-0,119
0,404
0,000
Ichnanthus inconstans (Trin. ex Nees) Döll
-
-0,071
0,620
0,005
-
-
-
indet 1
-
0,127
0,373
0,000
0,198
0,165
0,102
indet 2
-
-0,134
0,348
0,061
-0,093
0,516
0,009
Mesosetum loliiforme (Hochst. ex Steud.) Chase
Sombra
0,243
0,088*
0,036
-0,071
0,620
0,002
Paspalum sp L.
-
-0,022
0,877
0,010
-0,189
0,186
0,049
Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston
-
0,085
0,551
0,023
0,094
0,509
0,000
Trachypogon spicatus (L. f.) Kuntze
-
0,121
0,397
0,033
-0,118
0,410
0,004
Rubiaceae Juss.
Borreria capitata (Ruiz & Pav.) DC.
Sol
-0,410
0,004**
0,249
-0,243
0,088*
0,027
Borreria lutescens DC.
-
0,014
0,920
0,001
-0,203
0,154
0,106
52
Sabicea brasiliensis Wernham
-
0,118
0,409
0,036
0,165
0,248
0,032
Rutaceae Juss.
Esenbeckia pumila Pohl
-
-0,227
0,111
0,022
-0,218
0,127
0,085
Spiranthera odoratissima A. St.-Hil.
-
0,096
0,503
0,021
0,045
0,752
0,000
Salicaceae Mirb.
Casearia altiplanensis Sleumer
Sombra
-0,041
0,775
0,012
0,276
0,054*
0,025
Sapindaceae Juss.
Serjania mansiana Mart.
Sol
-
-
-
-0,283
0,048**
0,121
Smilacaceae Vent.
Smilax goyazana A. DC.
Sol
0,071
0,617
0,007
-0,300
0,036**
0,058
Turneraceae Kunth ex DC.
Piriqueta sidifolia (A. St.-Hil. & A. Juss. & Cambess.) Urb.
-
-0,055
0,700
0,002
0,049
0,733
0,001
Verbenaceae J. St.-Hil.
Stachytarpheta chamissonis Walp.
Sombra
0,236
0,099*
0,085
0,141
0,322
0,020
53
Figura 19. Correlação entre os
coeficientes do eixo 1 da Análise de
Componentes Principais (PCA) e a
dominância de três espécies ocorrentes
no cerrado sentido restrito da Estação
Ecológica do Jardim Botânico de
Brasília, no período de junho de 2009.
Cada gráfico tem discriminado a espécie
referente, seu coeficiente de
determinação (r²) e o valor de p.
Figura 20. Correlação entre os
coeficientes do eixo 1 da Análise de
Componentes Principais (PCA) e a
dominância de três espécies ocorrentes
no cerrado sentido restrito da Estação
Ecológica do Jardim Botânico de
Brasília, no período de novembro de
2009. Cada gráfico tem discriminado a
espécie referente, seu coeficiente de
determinação (r²) e o valor de p.
54
Rhynchospora consanguinea apresentou uma correlação positiva, porém baixa,
com os coeficientes da PCA. Essa espécie também esteve presente em área de campo
sujo perturbado (Munhoz & Felfili, 2006) e protegido (Amaral, 2008), o que leva a crer
que outros fatores ambientais, não somente o sombreamento, possam influenciar a
ocorrência dessa espécie em áreas mais abertas. O contrário acontece com Ruellia
incompta, que apresentou correlação negativa com o eixo 1 da PCA, comportando-se
como espécie preferencial de áreas mais abertas, sendo corroborada pela ocorrência nas
áreas de campo sujo (Munhoz & Felfili, 2006; Amaral, 2008).
Echinolaena inflexa é uma espécie de Poaceae de ampla distribuição
geográfica, que está presente em diferentes fisionomias de cerrado no Planalto Central
(Munhoz & Felfili, 2006; Amaral, 2008) e em São Paulo (Tannus & Assis, 2004).
Mesmo essa espécie tendo ocorrido abundantemente em todas as linhas avaliadas no
presente estudo, existe uma tendência por áreas com menor incidência solar (Fig. 21, no
alto à esquerda). Isso é justificado pela fisiologia da espécie que, apesar de ser uma
gramínea, possui rota fotossintética C3, sendo classificada por Klink & Joly (1989)
como uma espécie preferencial de ambientes sombreados.
Infelizmente faltam estudos ecofisiológicos de espécies herbáceas e
subarbustivas do Cerrado que permitam uma discussão mais aprofundada sobre a
suarelação com as variáveis medidas nesta pesquisa.
Um experimento de sombreamento em uma savana no leste da África indicou
que a luz pode ser um fator limitante durante a estação chuvosa, quando água e
nutrientes são disponíveis. Já no período seco, quando a água é escassa, o efeito do
sombreamento sobre a produção de plantas foi positivo. Ludwig et al. (2001), então,
concluíram que o aumento ou diminuição da produção herbácea presente embaixo de
copas depende de como os efeitos positivos (aumento de fertilidade do solo) e negativos
55
(sombreamento e menor disponibilidade de água no solo) interagem, e como essas
interações podem alterar significativamente entre as estações seca e úmida.
6 CONCLUSÃO
Foram observadas expansão, retração e substituição de espécies da flora
herbáceo-subarbustiva de cerrado sentido restrito, mas esta variação, de modo geral, não
foi significativa dentro do período de sete meses. Porém, neste mesmo período, houve
aumento significativo do índice de área foliar (LAI) que, por sua vez, influenciou na
diminuição significativa dos índices de radiação direta (DSF), radiação indireta (ISF) e
radiação global (GSF).
Apesar de não ser uma variável primária para determinação de uma vegetação,
a radiação solar atua, nas camadas rasteiras, como determinante secundário da
ocorrência e dominância de algumas espécies, tendo correlações positivas ou negativas.
Algumas espécies desenvolvem-se melhor em áreas com maior incidência solar,
enquanto outras ocupam preferencialmente ambientes sombreados. Mesmo estando
significativamente correlacionados, o poder de explicação da ocorrência da espécie
sendo determinado pela radiação de modo geral é baixo, evidenciando haverem,
conjuntamente, outras variáveis influenciando.
56
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que a composição do solo mais superficial possua variáveis que
possam ajudar a complementar a compreensão da ocupação das espécies de Cerrado
sentido restrito em áreas mais sombreadas ou mais abertas.
Como as linhas instaladas foram instaladas e georreferenciadas, propõe-se que
sejam feitos, também, monitoramentos periódicos a fim de compreender a dinâmica das
espécies herbáceo-subarbustivas em cerrado sentido restrito.
57
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