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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO E ESTUDOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS
ANÁLISE DO ARRANJO ESPACIAL E
DETERMINAÇÃO DA ESTRUTURA DE FOCOS DA
RESINOSE DO COQUEIRO (Cocos nucifera L.)
NA
REGIÃO DE NEÓPOLIS, SERGIPE.
RANGEL DÓREA DE MEDEIROS
2010
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ii
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO E ESTUDOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS
RANGEL DÓREA DE MEDEIROS
ANÁLISE DO ARRANJO ESPACIAL E DETERMINAÇÃO DA
ESTRUTURA DE FOCOS DA RESINOSE COQUEIRO (Cocos
nucifera L.) NA REGIÃO DE NEÓPOLIS, SERGIPE.
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Sergipe, como parte das
exigências do Curso de Mestrado em
Agroecossistemas, área de concentração
Sustentabilidade em Agroecossistemas, para
obtenção do título de “Mestre”.
Orientador
Prof. Dr. João Basílio Mesquita
SÃO CRISTÓVÃO
SERGIPE - BRASIL
2010
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iii
iv
Dedico esta
Dissertação a Deus e a
tudo o que ele
representa.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, por permitir a realização deste trabalho de forma a auxiliar na superação dos
desafios encontrados.
Ao meu orientador, Prof. Dr. João Basílio Mesquita, pela orientação e pelos
ensinamentos a mim transmitidos.
À pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Dra. Viviane Talamini, pelo apoio e
orientação que muito me valeu no momento em que precisei.
Ao pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Dr. Adriano Márcio Freire Silva pela
disponibilidade e conhecimentos sobre estatística a mim transmitidos.
À pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Dra. Joana Maria Santos Ferreira
pelo auxilio nos dados de pesquisa.
Aos meus pais, Raimundo José de Medeiros e Lúcia Gonçalves Dórea, por todo apoio,
carinho e respeito a mim dedicados durante essa e todas as minhas batalhas em busca de
conquistar novos horizontes.
À minha querida namorada Erika Chagas, pelo apoio, compreensão, amor, carinho, e
paciência nas horas difíceis e principalmente pelos brilhantes momentos vivenciados
juntos.
Aos grandes amigos, Zeca por proporcionar momentos de descontração, pela sua
atenção, seus conselhos e companheirismo. Jemerson, pela grande ajuda na contagem
das famigeradas plantas com sintomas de resinose.
À Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
concessão da bolsa de estudos.
A todos que de alguma forma contribuíram para a concretização deste trabalho.
vi
SUMÁRIO
Página
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................
vii
LISTA DE TABELAS ...............................................................................................
viii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS .........................................
ix
RESUMO ...................................................................................................................
x
ABSTRACT ..............................................................................................................
xi
1. INTRODUÇÃO GERAL .......................................................................................
1
2. REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................
3
2.1. A cultura do coqueiro .........................................................................................
3
2.2. Resinose do estipe (Ceratocystis paradoxa) ....................................
...................
7
2.3. Arranjo espacial de plantas doentes ....................................................................
10
2.4. Análise da estrutura de focos ..............................................................................
13
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................
16
CAPÍTULO I ANÁLISE DA ESTRUTURA DE FOCOS E ARRANJO
ESPACIAL DA RESINOSE DO COQUEIRO (Cocos nucifera L.) NA REGIÃO
DE NEÓPOLIS, SERGIPE .......................................................................................
22
Resumo ......................................................................................................................
22
Abstract ......................................................................................................................
23
1. Introdução .....................................................
.........................................................
24
2. Material e Métodos ..............................................................
..................................
26
3. Resultados e Discussão ..........................................................................................
29
4. Conclusões .............................................................................................................
36
5. Referências Bibliográficas .....................................................................................
37
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................
40
vii
LISTA DE FIGURAS
REFERENCIAL TEÓRICO
Figura 1
Exsudação de resina marrom-avermelhada escura de rachaduras no
estipe, causadas por Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau, em coqueiro
(Cocos nucifera L) na região de Neópolis/SE ...........................................................
9
Figura 2
Lesões internas causadas pelo Ceratocystis paradoxa (De Seynes)
Moreau, em coqueiro (Cocos nucifera L) na região de Neópolis/SE ........................
9
CAPÍTULO I – ANÁLISE DA ESTRUTURA DE FOCOS E ARRANJO
ESPACIAL DA RESINOSE DO COQUEIRO (Cocos nucifera L.) NA
REGIÃO DE NEÓPOLIS, SERGIPE.
Figura 1 Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe
na região de Neópolis, Sergipe (Parcela A) ...............................................................
30
Figura 2 Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe
na região de Neópolis, Sergipe (Parcela B) ...............................................................
30
Figura 3 Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe
na região de Neópolis, Sergipe (Parcela C) ...............................................................
31
viii
LISTA DE TABELAS
REFERENCIAL TEÓRICO
Tabela
1
Produção (t) e área colhida (ha) dos principais países produtores de
coco do mundo; FAO (2009) .....................................................................................
5
Tabela 2
Produção (t) e área colhida (ha) e produtividade (frutos/ha) dos
principais estados produtores de coco do Brasil; IBGE (2008) .................................
6
CAPÍTULO I – ANÁLISE DA ESTRUTURA DE FOCOS E ARRANJO
ESPACIAL DA RESINOSE DO COQUEIRO (Cocos nucifera L.) NA
REGIÃO DE NEÓPOLIS, SERGIPE.
Tabela 1
Arranjo espacial da resinose do coqueiro na região de Neópolis/SE,
analisado pelas técnicas de “ordinary runs”, ajuste à distribuição discreta de
freqüência (distribuição de Poisson) e autocorrelação espacial .................................
32
Tabela 2
Análise da estrutura de focos, número máximo de linhas por foco (lF);
número máximo de colunas por foco (lC); mero de plantas por foco (NPF);
índice de forma de foco (IFF); índice de compactação de foco (ICF); e
porcentagem de plantas doentes (PPD) .....................................................................
34
ix
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
Ceplac
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
Embrapa
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FAO
Food and Agriculture Organization (Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e Alimentação).
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
x
RESUMO
MEDEIROS, Rangel Dórea de. Análise do arranjo espacial e determinação da
estrutura de focos da resinose coqueiro (Cocos nucifera L.) na região de Neópolis,
Sergipe. UFS, 2010. 40p. (Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas).
O coqueiro (Cocos nucifera L.) é a palmácea mais cultivada em todo o mundo. A
resinose do estipe, causada pelo fungo Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau, tem
causado perdas significativas na produção em diversos estados do Brasil, entre eles
Sergipe. Sua etiologia e mecanismos de transmissão são pouco conhecidos e, estudos
epidemiológicos, ainda não foram realizados. Objetivou-se analisar o arranjo espacial da
doença no campo, com o intuito de caracterizar a disseminação da resinose, além do
emprego da técnica de análise da estrutura de focos para caracterização da doença. O
arranjo espacial da doença foi investigado em 3 parcelas de plantio, cada um contendo
1.500 plantas/área utilizou-se análises de mapeamento e “ordinary runs”, posteriormente
as parcelas foram subdivididas em quadriláteros de 15 plantas para o cálculo de ajuste à
distribuição discreta de freqüência e autocorrrelação espacial. Em todos os setores ficou
evidenciada a presença de agregação de plantas doentes, indicando haver um padrão
predominante de arranjo espacial agregado da doença no campo. Na análise da estrutura
de focos, constatou-se um total de 13 focos, com média de 27,5 plantas/focos e com
tendência (maior número de plantas sintomáticas) de crescerem na direção das linhas de
plantios, tendo disposição de forma elíptica. A partir da análise dos dados, houve
indicações que possivelmente a resinose tem como via de transmissão a dispersão
natural do inóculo e práticas culturais. São necessários a realização de estudos
adicionais sobre a dispersão do inóculo para o melhor entendimento da dinâmica da
doença e o estabelecimento de medidas de controle adequadas.
Palavras-chave: Ceratocystis paradoxa, Cocos nucifera L., epidemiologia.
1
1
Comitê Orientador: João Basílio Mesquita – UFS (Orientador), Pedro Roberto Almeida
Viégas – UFS, Viviane Talamini – Embrapa.
xi
ABSTRACT
MEDEIROS, Rangel Dórea de. Analysis of spatial arrangement and foci structure of
the stem bleeding in coconuts palm (Cocos nucifera L.) in the region of Neópolis,
Sergipe. UFS, 2010. 40p. (Dissertation, Master Program in Agroecosystems).
The coconut palm (Cocos nucifera L.) is the most palmae cultivated throughout the
world. The stem bleeding, caused by the fungus Ceratocystis paradoxa (De Seynes)
Moreau, has caused significant losses in production in several states of Brazil, including
Sergipe. Etiology and transmission mechanisms are largely unknown and
epidemiological studies have not yet been realized. This study aimed to analyze the
spatial arrangement of disease in the field, in order to characterize the spread of stem
bleeding, besides the use of the technique for analyzing the structure of foci for
characterization. The spatial pattern of disease was investigated in three planting areas,
each containing 1500 plants / area, divided into quadrats of 15 plants, using the
mapping analysis, ordinary runs, a slight adjustment to the distribution of frequency and
spatial autocorrrelation. In all areas it was evident the presence of aggregation of
diseased plants, indicating a predominant pattern of spatial arrangement of disease in
the field. In analyzing the structure of foci, it was found a total of 13 foci, with an
average of 27.5 plants / focus and tendency (higher number of symptomatic plants) to
grow in the direction of the lines of plantation, with provision so elliptical. From the
data analysis, there were indications that possibly the stem bleeding route of
transmission has the natural dispersal of inoculum and cultural practices. Are required
to carry out additional studies on the dispersal of inoculum for a better understanding of
disease dynamics and the establishment of appropriate control measures.
Keywords: Ceratocystis paradoxa, Cocos nucifera L., epidemiology.
2
2
Guidance Committee: João Basílio Mesquita UFS (Orientador), Pedro Roberto
Almeida Viégas – UFS, Viviane Talamini - Embrapa
1
1 - INTRODUÇÃO GERAL
O coqueiro (Cocos nucifera L.) é uma planta de importância tanto econômica
quanto social em vários países. No mercado internacional, os derivados do coco que
apresentam maior valor econômico são a copra e o óleo. No Brasil, os principais
produtos industriais são o leite de coco e o coco ralado, além de subprodutos como o
óleo e a torta de coco, oriundos do processamento do coco seco. o coco verde se
destaca para a produção de água, a qual consumida in natura ou envasada. Grande parte
da produção é destinada à fabricação de alimentos industrializados.
É uma palmácea bastante cultivada na faixa litorânea do Nordeste, com destaque
para Bahia e Sergipe. O coqueiro anão é a variedade mais empregada para consumo in
natura e agroindustrial da água de coco, com características sensoriais de sabor muito
superior, principalmente sobre o sabor da água de coco do coqueiro gigante. São
largamente cultivados em solos de fertilidade baixa, sobretudo Neossolos
Quartzarênicos, o que acarreta uma produtividade insatisfatória. Algumas áreas dispõem
de insumos como fertilizantes, irrigação e atingem um patamar de produção bem mais
elevado. No entanto, são comumente alvo do ataque de diversas pragas e doenças o que
acaba por reduzir drasticamente sua produção, trazendo prejuízos incalculáveis aos
agricultores que exploram essa cultura.
Em Sergipe destaca-se a produção de coco do Platô de Neópolis, no projeto de
fruticultura irrigada do Baixo São Francisco. Atualmente, esse setor passa por
dificuldades devido a ocorrência do fungo Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau,
agente etiológico da resinose do estipe, que tem ocasionado grande prejuízo para os
produtores da área. Em 2004, em uma propriedade comercial no município de Neópolis,
foram observados alguns coqueiros apresentando sintomas de uma doença ainda não
registrada no Brasil. O estipe infectado apresentava rachaduras que exudavam um
líquido marrom-avermelhado. As plantas apresentavam crescimento foliar reduzido,
diminuição drástica na produção e em alguns casos quatro meses após o aparecimento
dos primeiros sintomas ocorria a morte das plantas, caracterizando o ataque do
Ceratocystis paradoxa.
2
O patógeno causador da resinose do estipe do coqueiro pode sobreviver por
longos períodos no solo, sua ação se reflete no bloqueio dos vasos condutores.
Sobrevive nos restos de cultura em decomposição e pode causar infecção através de
ferimentos e das fissuras naturais de crescimento do tronco. Existem indícios de sua
disseminação através de insetos, do solo contaminado, e das ferramentas usadas na
colheita ou na erradicação das plantas doentes e mortas. A ocorrência da resinose em
palmeiras tem sido atribuída à presença de fatores estressantes tais como: chuvas
severas seguidas de períodos prolongados de estresse hídrico, excesso de salinidade,
desequilíbrio nutricional, além da ocorrência de outras doenças ou pragas que fragilizam
as plantas e agravam a ação do fungo.
O objetivo deste trabalho foi analisar o arranjo espacial e a dinâmica e estruturas
de focos da resinose do estipe, a fim de gerar hipóteses sobre características de
dispersão do fungo, que serão úteis para as futuras tomadas de decisão no manejo da
doença.
3
2 - REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 – A cultura do coqueiro
A cultura do coqueiro (Cocos nucifera L.) é importante na geração de renda, na
alimentação e na produção de mais de cem produtos, em cerca de 80 países localizados
na zona intertropical do globo terrestre. Constitui-se a mais importante das culturas
perenes, capaz de gerar um sistema auto-sustentável de exploração, como se pode
observar em vários países do continente asiático, onde é importante fonte geradora de
divisas e também principal fonte de proteína e calorias para a população (CUENCA,
1998). Segundo Mirisola Filho (2002), o coqueiro tem uma distribuição pantropical,
sendo cultivado, entre as latitudes 20°N e 20°S. Dada a grande importância que a
cultura tem nos países tropicais, faltam pesquisas fundamentais sobre o manejo e
práticas culturais para melhorar o desenvolvimento e aproveitamento dos subprodutos
derivados da cultura.
O coqueiro é a mais importante das palmeiras cultivadas do mundo, é
mencionada na antiga arte e literatura (MIRISOLA FILHO, 2002). Originário do
sudeste da Ásia o coqueiro foi introduzido no Brasil através da Bahia, de onde se
disseminou pelo litoral nordestino que é responsável pela grande parte da produção
nacional. De acordo com Rosa Júnior (2000) há uma série de utilidades para esta
cultura. Entre elas, a produção de água, extração do leite de coco, produção de carvão,
alimentação animal, utilização na indústria têxtil, extração de óleo e artesanato.
A cultura do coqueiro no Brasil é responsável pela geração de aproximadamente
500.000 empregos diretos e indiretos, ocupando uma área em torno de 281.000 ha,
distribuídos em cerca de 220.000 propriedades, 85% das quais com menos de 10 ha. A
maior parte desta área encontra-se ocupada com coqueiros da variedade gigante e com
híbridos segregantes, distribuída ao longo do litoral do Nordeste e utilizando-se de
sistemas de produção semi-extrativistas, o que justifica a atual baixa produtividade,
estimada em 30 frutos/planta/ano (FONTES et al., 2003).
O coqueiro tem a seguinte classificação taxonômica, de acordo com Joly (2002):
Divisão: Angiospermae; Classe: Monocotyledonea; Ordem: Principes; Família: Palmae
4
(= Arecaceae); Subfamília: Cocoidae; Gênero: Cocos; Espécie: Cocos nucifera L.;
Nome vulgar: Coqueiro, coco-da-baía. Segundo Cambui (2007), o gênero Cocos é
constituído apenas pela espécie Cocos nucifera L. Esta espécie por sua vez, é composta
por duas variedades principais do ponto de vista agronômico e econômico, a Typica
(coqueiro gigante) e a Nana (coqueiro anão). Esta última divide-se em três
subvariedades: verde, vermelha e amarela. Com cruzamentos entre as variedades Nana e
Typica, obtém-se o coqueiro híbrido, de grande demanda no mercado internacional.
O coqueiro possui um sistema radicular fasciculado; caule do tipo estipe, não
ramificado e bastante resistente; folhas do tipo penadas; inflorescências paniculadas,
axilares e protegidas por brácteas; fruto do tipo drupa. Desenvolve-se bem em climas
quentes com temperaturas na faixa dos 27°C, índice pluviométrico em torno de 1.500
mm anuais (PASSOS, 1998).
É uma planta que deve ser cultivada preferencialmente em solos com uma boa
drenagem que não apresentem impedimentos que dificultem o crescimento do sistema
radicular. Sua adaptação aos Neossolos Quartzarênicos do Litoral Nordestino está quase
geralmente associada à presença de lençol freático pouco profundo, compensando sua
baixa capacidade de retenção de água. No caso dos solos dos Tabuleiros Costeiros do
Nordeste, que apresentam baixos teores de matéria orgânica e de nutrientes, baixa
capacidade de retenção de água e lençol freático muito profundo, se faz necessário o
fornecimento regular de água e nutrientes a fim de que seja possível sua exploração
econômica nesse ecossistema. (PASSOS, 2002).
Nas últimas décadas, o cultivo mundial do coqueiro registrou acréscimo, tanto na
produção, quanto na área colhida. Em 1995 a produção mundial foi de 48,9 milhões de
toneladas, numa área colhida de 10,6 milhões de hectares, enquanto que, no ano de 2004
a produção foi aproximadamente de 53,5 milhões de toneladas em uma área colhida de
10,7 milhões de ha, representando um incremento de 9,4% na produção e de apenas
cerca de 1,0 % na área colhida. (BENASSI, 2006).
Podemos observar na Tabela 1 os principais países produtores de coco e suas
respectivas áreas colhidas no ano de 2009. A Indonésia é o maior produtor mundial,
seguido por Filipinas e Índia. O Brasil é o quarto maior produtor mundial com uma
5
produção superior a 2 milhões de toneladas, em uma área colhida de 267.449 mil ha
(FAO, 2009).
Tabela 1. Produção (t) e área colhida (ha) dos principais países produtores de coco
(Cocos nucifera L.) do mundo.
País Produção (t) Área colhida (ha)
Indonésia 19.500.000 2.950.000
Filipinas 15.319.500 3.379.740
Índia 10.894.000 1.940.000
Brasil 2.759.044 267.449
Sri Lanka 2.200.000 394.840
Tailândia 1.721.640 255.697
México 1.246.400 178.500
Vietnã 1.086.000 138.300
Papua Nova Guiné 677.000 203.000
Malásia 555.120 174.000
Outros 17.275.939 1.326.546
Mundo 61.094.243 11.208.072
Fonte: FAO (2009)
O mercado de coco no Brasil está dividido em segmentos de características
peculiares. O agroindustrial que o transforma, principalmente, em leite de coco e coco
ralado para utilização culinária, e o in natura destinado à produção de água-de-coco.
Para o atendimento destas duas finalidades, são utilizadas variedades específicas. O
coco gigante destinado, principalmente, à agroindústria, o coco anão de uso exclusivo
para obtenção de água e os híbridos de finalidade múltipla.
No Brasil a produção de coco seco, concentra-se na região litorânea do Nordeste,
cultivado de forma extensiva e/ou semi-extensiva, sendo o fruto comercializado in
natura ou vendido para indústrias de alimentos que produzem o leite de coco e/ou coco
ralado como principais produtos (CUENCA, 2002). Os principais estados produtores
atualmente são Bahia e Sergipe, respondendo por 28,3% e 19,0% da produção nacional
respectivamente (Tabela 2).
6
Tabela 2. Produção, área colhida (ha) e produtividade (frutos/ha) dos principais estados
produtores de coco (Cocos nucifera L.) do Brasil.
Estado Produção
(1000 frutos)
Área colhida
(ha)
Produtividade
(frutos/ha)
Bahia 609.623 80.903 7.535
Sergipe 281.355 41.894 6.715
Ceará 253.972 42.040 6.041
Pará 253.597 25.791 9.832
Pernambuco 142.462 14.496 9.827
Espírito Santo 164.520 11.186 14.707
Rio de Janeiro 81.093 4.984 16.270
Paraíba 64.486 11.894 5.421
Rio Grande do Norte 60.814 21.772 2.793
Alagoas 54.600 13.000 4.200
Outros 182.800 19.056 9.592
Brasil 2.149.322 287.016 7.488
Fonte: IBGE (2008)
O aumento significativo da demanda por água de coco gerou uma rápida
expansão do plantio com coqueiros da variedade anão. Estes plantios encontram-se
localizados em pólos de irrigação entre as regiões Sudeste, Norte, Centro-Oeste, Semi-
Árido do Nordeste. Sendo a produção voltada para atender o mercado de frutos verdes
in natura para consumo da água de coco. A região Sudeste, principalmente os Estados
do Espírito Santo e Rio de Janeiro, apresenta vantagens de localização em relação à
região Nordeste, quando se considera as questões relacionadas com proximidade do
mercado consumidor, possibilitando assim a oferta do produto a preços mais baixos
(CUENCA, 2002).
A incidência de pragas e doenças nos coqueirais do Brasil constitui um problema
limitante a cultura do coqueiro, respondendo de maneira significativa, pelo
depauperamento geral dos plantios e também pela baixa produtividade registrada nas
zonas mais representativas e tradicionais de cultivo (FERREIRA et al., 1998). A
ocorrência de patógenos em todas as regiões produtoras, e em intensidade variável, são
responsáveis pela redução geral de 50% do potencial produtivo da cocoicultura
(COSTA et al., 2002).
Associado a fatores naturais da planta, os surtos de doenças são também
favorecidos pela ocorrência dos fatores ambientais favoráveis, pela utilização de tratos
7
culturais inadequados, e pela utilização indiscriminada de um grande número de
defensivos agrícolas no combate às pragas (FERREIRA et al., 2002).
Segundo Mirisola Filho (2002) a cocoicultura brasileira, salvo algumas áreas de
produção, caracteriza-se pelo baixo nível técnico dos cultivos. Isso conduz ao fato de
que, em geral coqueirais mal cuidados são automaticamente afetados com grande
intensidade por problemas fitossanitários, dentre os quais se destacam as doenças. Estas,
por sua vez, contribuem decisivamente para a baixa produtividade e qualidade dos
frutos que são produzidos. Podemos destacar com principais doenças que afetam os
coqueirais brasileiros a Queima-das-folhas (Botryosphaeria cocogena
Subileau); Lixa-
pequena (Phyllachora torrendiella
(Batista) Subileau) e Lixa-grande (Sphaerodothis
acrocomiae
(Montagne) von Arx & Muller); Anel vermelho (Bursaphelenchus
cocophilus (Cobb) Baujard); Murcha de Phytomonas (Phytomonas sp.);
Helmintosporiose (Drechslera incurvata); Podridão úmida (Phytophthora palmivora);
e a Resinose do estipe (Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau).
2.2 – Resinose do estipe (Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau)
A resinose do estipe é uma doença do coqueiro causada pelo fungo Ceratocystis
paradoxa (De Seynes) Moreau. A ocorrência deste fungo e a manifestação como doença
foi registrada em 2004 no Brasil e, desde então, tem se disseminado gradualmente,
aumentando o número de coqueiros infectados e de focos nas propriedades a cada ano
(MOURA et al., 2007).
O Ceratocystis parodoxa é classificado por Goes (1997) como um fungo
ascomiceto, da ordem Microascales, família Ophiostomataceae. Corresponde, na fase
anamórfica, ao Thielaviopsis paradoxa (De Seynes) Hoehn. T. paradoxa, além de
possuir grande numero de plantas hospedeiras, também vive saproficamente, sem
apresentar grandes dificuldades de sobrevivência de um ano para outro.
Michereff (2008) descreveu a biologia do Ceratocystis parodoxa da seguinte
forma: ascas clavadas, 25 x 10 µm, localizadas irregularmente no interior de peritécios
do corpo esférico, 200-350 µm de diâmetro, imersos no tecido, gregários ou isolados; da
coloração parda a escura; estiolados e com um longo rostro, por onde os ascósporos,
8
com 7-10 µm de comprimento por 25 µm de largura, vão sendo liberados a medida em
que vão sendo formados nas ascas, formando na extremidade do rostro uma massa
hialina ou rosada com uma substância gelatinosa.
o Thielaviopsis paradoxa forma dois tipos de conídios: os microconídios, são
conídios pequenos 10-15 x 3,5-5 µm, hialinos, inicialmente formados em cadeias e que,
depois de liberados, escurecem, assumindo uma forma elíptica perfeita; o produzidos
no interior de conidióforos em forma de clava, eretos, hialinos, longos e afilados. Os
macroconídios formam-se em cadeia, onde são formados e assumem a forma elíptica, de
tamanho 3 a 4 vezes maior que o microconídio, sendo formados no interior de
conidióforos curtos. Formam clamidósporos de paredes espessas (MICHEREFF, 2008).
Ferreira et al. (2007) relataram as seguintes características do patógeno: é um
fungo que sobrevive no solo e causa infecção vascular em plantas; pode ser disseminado
pelo homem ou pela natureza; tem varias palmeiras como hospedeiro; além das
palmeiras causa infecção em bananeira, abacaxizeiro e cana-de-açúcar; na forma de
clamidósporos pode sobreviver por longos períodos no solo, sobretudo em resíduos
vegetais; se desenvolve em ambientes úmidos e secos; no início da infecção desenvolve-
se na região mais superficial da estipe, provocando uma lesão externa que progride de
dentro para fora dos tecidos.
De acordo com Alfieri Júnior (1967) e Nelson (2005), a resinose é caracterizada
pela exsudação de uma resina marrom-avermelhado escuro das rachaduras que surgem
no estipe das plantas (Figura 1). Abaixo das lesões, o tecido torna-se amarelado e
finalmente preto em estágios avançados (Figura 2). Redução na freqüência de emissão
de folhas e no tamanho das mais novas; afinamento do tronco na região próxima à copa;
folhas amarelo-pardacentas frágeis e sujeitas à quebra; cachos e inflorescências
enegrecidos e frutos amarronzados (SILVA et al., 2007).
9
Figura 1. Exsudação de resina marrom-avermelhada escura de rachaduras no estipe,
causadas por Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau, em coqueiro
(Cocos nucifera L) na região de Neópolis/SE.
Figura 2. Lesões internas causadas pelo Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau,
em coqueiro (Cocos nucifera L) na região de Neópolis/SE.
De acordo com Moura et al. (2007) e Ferreira et al. (2007) no estado de Sergipe,
a disseminação da doença aparenta ocorrer freqüentemente através do Rhynchophorus
10
palmarum, no sul da Bahia constata-se com maior freqüência o curculionídeo
Rhinostomus barbirostris associado a casos de resinose.
2.3 – Arranjo espacial de plantas doentes.
Patógenos de plantas possuem diferentes agentes de dispersão como o vento, a
água, vetores, material vegetal contaminado, ou o homem com suas ferramentas e suas
máquinas. O padrão espacial de uma doença depende não da forma de dispersão do
patógeno, como também da arquitetura das plantas hospedeiras e do arranjo destas no
campo. A análise do padrão de distribuição de uma doença possibilita o
desenvolvimento de hipóteses biológicas e ambientais plausíveis, associando essa
distribuição com a presença de propágulos do patógeno ou microclima favorável. Essa
análise é necessária no desenvolvimento de modelos e simulações, além de ser útil para
a montagem de experimentos e programas amostrais para estudos epidemiológicos e de
manejo da doença (SPÓSITO, 2003).
A partir da década de 80, a análise espacial de epidemias ganhou ímpeto. A
melhor compreensão do arranjo espacial de propágulos/plantas doentes é crucial para
planejamento de amostragens, tamanho de amostras, formas de caminhamento, tipo e
formas da unidade de amostragem e para auxílio no planejamento de experimentos,
tamanho, forma e orientação de parcelas (CAMPBELL E BENSON, 1994).
O arranjo espacial de plantas doentes pode mudar ao longo da epidemia.
Considerando-se epidemias como o aumento da intensidade de doenças em tempo e
espaço, é importante associar a dinâmica espacial aos estudos temporais, bem como
enfatizar o arranjo espacial ao planejar ensaios de campo. Dentre os estudos necessários
para a compreensão e manejo de patossistemas, destaca-se a análise da estrutura
espacial de epidemias. Várias técnicas podem ser utilizadas para caracterizar o arranjo
espacial de plantas doentes, dependendo do tipo de dado coletado e do conhecimento
sobre o local onde as observações foram realizadas (MAFFIA E MIZUBUTI, 2005).
O padrão espacial da doença é reflexo do processo de dispersão do inóculo do
patógeno. O padrão espacial aleatório relaciona-se geralmente a patógenos dispersados
pelo vento, podendo atingir longas distâncias em curto período de tempo, enquanto
11
patógenos veiculados por respingos de chuva dispersam-se lentamente ao redor dos
focos primários. Na natureza, no entanto, raramente é tão simples e a maioria dos
patógenos e doenças possui mais de um mecanismo de dispersão (BERGAMIN FILHO
et al., 2002).
O arranjo espacial de indivíduos numa população de propágulos ou plantas
doentes pode ser de três tipos: regular (arranjo uniforme de indivíduos), ao acaso
(dispersão ao acaso ou independente de indivíduos) ou agregado (dispersão agrupada de
indivíduos). Normalmente, os estudos epidemiológicos procuram definir se o arranjo
espacial está ao acaso ou agregado. Para realizar a análise espacial, as variáveis
aleatórias usadas são contagens de propágulos, infecções ou órgãos doentes, enquanto
as unidades de amostragens são quadriláteros ou plantas inteiras. Há vários métodos
para estudar o arranjo espacial de propágulos/plantas doentes no campo. a) na posição
de plantas doentes ou sadias dentro de linhas de plantio (“runs”), b) em contagens em
parcelas ou quadriláteros (mapeamento, ajuste de distribuições discretas de freqüência e
grau de autocorrelação espacial entre quadriláteros) (CAMPBELL E MADDEN, 1990).
Segundo Madden et al. (1982), várias técnicas têm sido utilizadas para analisar e
caracterizar o arranjo espacial de plantas doentes. Entre elas, a análise de “ordinary
runs”, que se baseia em no uso de dados binários de incidência da doença
(ausência/presença), sendo o método preferido por epidemiologistas para estudar a
presença ou não de agregação de indivíduos doentes dentro e entre linhas em uma
população de plantas.
Assume-se que o ‘status’ de uma planta pode ser caracterizado apenas como
sadio ou doente; severidade de doença não pode ser considerada neste contexto. Se as
categorias binárias forem designadas por 0 (sadia) e 1 (doente), o padrão da doença na
linha é dado por determinada seqüência de 0 e 1. No teste ‘run’, o número de ‘runs’ é
considerado como um critério de padrão aleatório. Um ‘run’ é definido como uma
seqüência de um ou mais símbolos idênticos, os quais são seguidos ou precedidos por
um símbolo diferente ou por símbolo nenhum (no começo ou fim de uma linha). A
sequência de 10 plantas a seguir possui seis ‘runs’: 0 0 1 1 0 1 0 1 1 1. Se uma doença
está se disseminando de planta para planta, a doença deve possuir um padrão agregado,
o que leva a poucos ‘runs’. Por outro lado, se plantas doentes estiverem distribuídas ao
acaso na linha, o número de ‘runs’ deve ser grande (BERGAMIM FILHO et al., 2007).
12
Ainda de acordo com o autor supracitado, para analisar o padrão espacial da
doença em parcelas ou campos experimentais, uma moldura pode ser colocada sobre a
parcela de tal forma a dividi-la em ‘quadrats’. ‘Quadrats’ são definidos como uma
unidade de amostragem e têm usualmente a forma retangular, com dimensões a critério
do pesquisador. Em cada ‘quadrat’, o número de pontos (ou plantas doentes) é
determinado e uma distribuição de frequência é construída. A distribuição de
frequência, obviamente, dependerá do número de ‘quadrats’ ou do tamanho do
‘quadrat’. Como o tamanho ideal do ‘quadrat’ para cada situação não é conhecido,
recomenda-se a análise utilizando-se diferentes tamanhos. O ajuste de distribuições
discretas de probabilidade é amplamente usado para indicar o arranjo espacial de plantas
doentes.
A análise do arranjo espacial de plantas doentes pode fornecer informações sobre
a fonte e dispersão de inóculo. Para parcelas ou quadriláteros, o tipo mais simples de
análise é o mapeamento, o qual deveria ser o primeiro elemento de qualquer análise de
arranjo espacial (MAFFIA E MIZUBUTI, 2005). O mapeamento (bi ou tridimensional)
é uma técnica útil na visualização e discernimento de possíveis relações entre dados e
variáveis, tais como fatores edáficos, hídricos e, também, fontes de inóculo. Neste
último caso, atenção especial é dada àquelas fontes localizadas fora da área avaliada,
que podem ajudar a melhor compreender o patossistema. Em adição ao mapeamento,
áreas ou linhas isópatas podem ser construídas, por meio de ‘softwares’ apropriados,
evidenciando locais de mesmo nível de doença (BERGAMIM FILHO et al., 2007).
As funções de probabilidade mais usadas são a de Poisson e binomial negativa.
Normalmente, se a contagem de plantas doentes está distribuída espacialmente ao acaso,
é representada pelo ajuste da distribuição de Poisson e, se agregada, como a binomial
negativa. Porém, podem ocorrer situações em que nenhuma das distribuições estatísticas
comumente usadas ajustam-se aos dados ou em que duas ou mais distribuições ajustam-
se igualmente bem (MAFFIA E MIZUBUTI, 2005).
Segundo Bergamim Filho et al. (2007), a distribuição de Poisson pode ser
aplicada para dados binários com a freqüência de doença menor que 20%. Além das
distribuições binomial e de Poisson, ambas específicas para padrões espaciais ao acaso,
outras distribuições estatísticas podem ser ajustadas às freqüências observadas no caso
de ocorrer agregação. Há um alto grau de similaridade quando se compara a distribuição
13
binomial com a distribuição de Poisson, ambas descrevem situação de aleatoriedade.
Uma diferença entre as duas distribuições é que para a binomial o número máximo de
pontos num ‘quadrat’ é restrito, para a distribuição de Poisson, ao contrário,
probabilidades positivas podem ser calculadas mesmo para valores mais altos.
Os índices de agregação e o ajuste das distribuições de freqüência são relevantes
apenas para dados discretos e não consideram a localização dos indivíduos. Atualmente,
tem-se utilizado a análise de autocorrelação espacial, que pode ser usada para dados
discretos e contínuos e na qual a relação espacial entre os pontos entre os quadriláteros é
preservada (CAMPBELL E BENSON, 1994).
Segundo Lima (2005), a análise de autocorrelação espacial é uma das técnicas
mais utilizadas devido à precisão e versatilidade, pois pode ser utilizada para o caso de
dados contínuos, como a área foliar afetada por uma doença (severidade) e discretos,
como contagens de plantas doentes em quadriláteros ou dados binários, em que cada
planta é classificada como doente ou sadia.
De acordo com Campbell e Benson (1994), a autocorrelação espacial é definida
como a propriedade que variáveis aleatórias m de tomadas duas a duas, em sítios
separados por certa distância, serem mais (autocorrelação positiva) ou menos
(autocorrelação negativa) similares que o esperado para pares de observações associadas
ao acaso. Esta técnica é utilizada para caracterizar a dependência espacial da intensidade
de uma doença, considerando diferentes distâncias e padrões de proximidade das plantas
ou das unidades amostrais. Considerando que arranjos em espaço sugerem o conceito de
distância, análises baseadas em distância, como autocorrelação espacial, têm sido
utilizadas como instrumentos descritivos, analíticos e comparativos (NELSON, 1995).
2.4 – Análise da estrutura de focos.
Os estudos epidemiológicos de doenças visam a busca de padrões. O padrão
espacial da doença, ou seja, a distribuição de plantas doentes umas em relação às outras,
fornece dados que podem ser utilizados para auxiliar o esclarecimento da etiologia da
doença e do papel de possíveis vetores ou de outros agentes, como o vento e a chuva, na
sua disseminação (LARANJEIRA et al., 1998).
14
As doenças de causa biótica, especialmente em hospedeiros perenes, exibem
padrões definidos de aparecimento e de crescimento de focos. Em geral, nestes casos, há
agregação de plantas doentes a partir de incidências relativamente elevadas (JESUS
JUNIOR E BASSANEZI, 2004).
A análise da estrutura de focos foi desenvolvida com o objetivo de superar as
imprecisões estatísticas advindas da Análise Bidimensional de Classes de Distância,
utilizada para caracterizar espacialmente as epidemias cujas avaliações são baseadas na
incidência. Por este método simples e de fácil uso, é possível determinar um número
razoável de descritores da epidemia, tais como o número de focos de plantas doentes,
sua forma, o número médio de plantas por foco e sua compacidade em função da
incidência da doença. Além da sua simplicidade e rapidez de execução, a análise da
estrutura de focos pode complementar as informações oriundas de outras técnicas de
análise espacial (NELSON, 1996).
As variáveis obtidas com a análise da estrutura de focos podem ser utilizadas
para testes de hipóteses ou empregadas em conjunto a outras técnicas, para melhor
entender o patossistema, fato que é de extrema importância no caso de doenças de
etiologia desconhecida. A análise do padrão espacial da doença pode fornecer
informação vital sobre a dispersão dos patógenos e pode ser também a chave sobre seus
mecanismos de sobrevivência. A análise de distância de classe bidimensional é uma
maneira menos complexa de análise. Um foco de doença é um ponto de concentração
localizada de plantas doentes ou lesões discretas, podendo ser uma fonte primária de
infecção ou coincidir com uma área originalmente favorável ao estabelecimento da
doença e tendendo a influenciar o padrão posterior da doença (NUNES et al., 2001).
Similarmente, um grupo de doença pode ser definido como um número de
plantas doentes agrupadas. Deste modo, os dois termos são sinônimos quando usados
em relação a epidemias de doenças de plantas. De qualquer modo, uma distinção
importante é feita entre estes dois termos: um foco da doença pode consistir de uma
planta doente e considera-se um grupo doente quando este contém mais do que uma
planta doente. O conceito pode ser aplicado para definir um foco da doença para dados
binários. O conceito estabelece um critério de distância-proximidade espacial para
plantas doentes dentro de um foco de doença ou grupo (um critério de proximidade
15
imediato). Uma planta doente que está adjacente à outra planta doente são consideradas
partes do mesmo foco da doença (NELSON, 1996).
Dentro deste conceito, variáveis relacionadas podem ser definidas e seus valores
calculados para intensificar o entendimento da dinâmica espacial. Assim, “número” de
focos (N) é definido como o número total de focos de doença na matriz. “Tamanho” do
foco (NPF) é definido como o número de plantas doentes em um foco da doença (cada
planta reunindo o critério de proximidade imediato). “Dimensão” do foco é definida
como a distância máxima entre “linha” (nl) e “coluna” (nc) estendida pelo foco. Um
“índice de compactação do foco” (ICF) pode ser usado como uma indicação da
compactação da organização do foco (NUNES et al., 2001)
O índice calculado: ICF = NPF / (nl x nc) é emprestado aqui da análise da
distância entre classes espaço-temporal, na qual o valor para ICF foi usado para
caracterizar a compactação do grupo central. Ainda para avaliar a forma dos focos, tem-
se o “índice de forma de foco” (IFF): IFF = nl/nc (LARANJEIRA et al., 1998).
Desta forma, o método proposto por Nelson (1996), apresenta duas premissas.
Primeiro, é assumido que dados primários (presença/ausência) são relevantes
simplificações do sistema. Distâncias entre linhas e entre plantas dentro de linhas são
assumidas como constantes, embora não necessariamente iguais.
16
3 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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citricarpa) e quantificação dos danos causados à cultura dos citros. (Tese de
Doutorado). Piracicaba. Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz". 2003. 112 p.
22
CAPÍTULO I
MEDEIROS, Rangel Dórea de. Análise da estrutura de focos e arranjo espacial da
resinose do coqueiro (Cocos nucifera L.) na região de Neópolis, Sergipe. UFS, 2010.
40p. (Dissertação, Mestrado em Agroecossistemas)
Resumo
A resinose do estipe causada pelo Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau, tem sido
observada em determinadas áreas de produção de coco da região de Neópolis no estado
de Sergipe. Em virtude do desconhecimento sobre a epidemiologia dessa doença foi
efetuada sua análise com ênfase nos aspectos espaciais. Objetivou-se estudar a dispersão
espacial da resinose do coqueiro, por meio de arranjos espaciais e da análise da
estruturas de focos da doença. Os dados foram coletados no ano de 2005, onde as
plantas infectadas não haviam sido submetidas a nenhum tipo de tratamento. Foram
utilizadas três áreas distintas, cada uma com total de 1500 plantas, divididas em
quadriláteros de 15 plantas. Na análise da estrutura de focos, constatou-se um total de
13 focos, com média de 27,5 plantas/focos e com tendência desses focos (maior número
de plantas sintomáticas) de crescerem na direção das linhas de plantios, tendo
disposição de forma alongada. Pela análise de sequências ordinárias runs, teste de
Poisson e autocorrelação espacial verificou-se que o padrão espacial predominante foi o
arranjo agregado de plantas doentes. Tal fato indica que a resinose tem possivelmente,
como principal via de transmissão a dispersão natural do inóculo e algumas práticas
culturais, como o uso de ferramentas infestadas utilizadas durante a colheita.
Palavras-chave: epidemiologia, coqueiro, Ceratocystis paradoxa.
23
MEDEIROS, Rangel Dórea de. Analysis of the foci structure and spatial
arrangement of the stem bleeding in coconuts palm (Cocos nucifera L.) in the
region of Neópolis, Sergipe. São Cristóvão: UFS, 2010. 40p. (Dissertation, Master
Program in Agroecosystems)
Abstract
The stem bleeding caused by Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau, has
been observed in certain areas of production of coconut in the region of Neópolis in the
state of Sergipe. A lack of knowledge about the epidemiology of this disease has been
performed their analysis with emphasis on space. The objective was to study the spatial
dispersion of the stem bleeding of coconuts palm through spatial arrangements and the
analysis of the dynamics and structures of disease. Data were collected in 2005, where
the infected plants had not undergone any treatment. We used three distinct areas, each
with a total of 1500 plants, divided into quadrats of 15 plants. In analyzing the structure
of foci, it was found a total of 13 foci, with an average of 27.5 plants/foci. The foci
(higher number of symptomatic plants) were distributed following the plant rows with
elliptical shape. By analysis of runs, Poisson test and spatial autocorrelation was found
that the spatial pattern was the predominant arrangement aggregate of diseased plants.
This fact indicates that the stem bleeding is possibly the main transmission route for the
dispersal of inoculum and some cultural practices such as use of contaminated tools
used during harvesting.
Keywords: epidemiology, coconut palm, Ceratocystis paradoxa
24
1. Introdução
O coqueiro (Cocos nucifera L.) é expressivamente cultivado na região Nordeste,
onde os estados da Bahia e Sergipe foram responsáveis no ano de 2008 por cerca de
41,3% da produção nacional (IBGE, 2010). A cocoicultura no estado de Sergipe é bem
desenvolvida, concentrada principalmente na região dos Tabuleiros Costeiros. Sergipe é
o segundo maior produtor nacional, com produção em 2008, segundo o IBGE, de
281.355.000 frutos, compondo 13,0% da produção nacional e 19,0% da produção
nordestina.
Segundo Warwick et al. (2002), são reconhecidas no mundo vários patógenos
atacando o coqueiro, dos quais alguns ocorrem nas condições brasileiras e variam de
importância de uma região para outra. Entre elas a resinose do estipe causada pelo
fungo Ceratocystis paradoxa (De Seynes) Moreau. A ocorrência deste fungo e a
manifestação como doença foi registrada em 2004 no Brasil e desde então, tem se
disseminado gradualmente aumentando o número de coqueiros infectados e de focos
nas propriedades a cada ano (MOURA et al. 2007). Os sintomas desta doença são:
manchas escuras e exsudação marrom-avermelhada ou cor de ferrugem a partir de
pontos diferentes do estipe; as folhas das plantas infectadas têm seu crescimento
reduzido e uma necrose gradual progressiva da parte inferior das folhas em direção à
nervura central; dentro do estipe os tecidos lesionados tornam-se marrom-amarelado a
preto; eventualmente, as plantas afetadas morrem (WARWICK E PASSOS, 2009).
Para a compreensão e manejo de patossistemas como o da resinose, faz-se
necessários estudos como da análise do arranjo espacial de epidemias. Os aspectos
espaciais das epidemias, apesar de importantes, são geralmente menos óbvios que a
dinâmica temporal e por isso menos investigados. A análise do arranjo espacial de
plantas doentes possibilita um maior entendimento dos aspectos relacionados ao padrão
do inóculo inicial, os mecanismos de dispersão do patógeno, e os efeitos de práticas
biológicas e culturais, além do efeito de fatores ambientais na infecção e na dispersão de
patógenos e doenças (XIAO E SUBBARAO, 1997).
25
Segundo Bergamin Filho et al. (2007) o padrão espacial de uma doença na linha
de plantio ou na parcela pode ser ao acaso ou agregado. Padrão ao acaso em doenças
cujos patógenos são veiculados pelo ar significa que a probabilidade de um esporo cair
sobre uma planta hospedeira é igual para todas as plantas hospedeiras. A ocorrência da
doença não é influenciada pela distância até a fonte de inóculo, está intimamente
relacionado a iguais oportunidades de infecção. No entanto, em condições naturais, o
patógeno se dispersa apenas a curtas distâncias (respingos de chuva), a probabilidade de
uma planta ser infectada é maior para aquelas plantas situadas próximas à fonte de
inóculo. Neste caso, o padrão espacial da doença não será ao acaso e, sim, agregado,
com focos visíveis ao redor das fontes primárias de inóculo. Agregação é apenas um dos
possíveis desvios para o padrão espacial ao acaso ou aleatório. O outro desvio é a
regularidade ou uniformidade.
Para caracterização do arranjo espacial de plantas doentes podem ser utilizadas
várias técnicas, a depender do tipo de dado coletado e do conhecimento sobre o local
onde foram realizadas as observações. vários métodos para estudar o arranjo
espacial de propágulos/plantas doentes no campo. a) posição de plantas doentes ou
sadias dentro de linhas de plantio (“runs”); b) em contagens em parcelas ou
quadriláteros: mapeamento; ajuste de distribuições discretas de freqüência; e grau de
autocorrelação espacial entre quadriláteros (CAMPBELL E MADDEN, 1990). O
conhecimento sobre o arranjo espacial de plantas doentes no campo pode auxiliar na
modelagem e simulação de epidemias, bem como no desenvolvimento de planos de
amostragem em estudos epidemiológicos e de manejo da doença (CAMPBELL E
BENSON, 1994).
Para Gottwald et al. (1997), o padrão espacial da doença, ou seja, a distribuição
de plantas doentes umas em relação às outras, fornece dados que podem ser utilizados
para auxiliar o esclarecimento da etiologia da doença e do papel de possíveis vetores ou
de outros agentes, como o vento e a chuva, na sua disseminação. As doenças de causa
biótica, especialmente em hospedeiros perenes, exibem padrões definidos de
aparecimento e de crescimento de focos, nestes casos, há agregação de plantas doentes a
partir de incidências relativamente elevadas (LARANJEIRA et al, 1998).
A análise da estrutura de focos foi desenvolvida com o objetivo de superar as
imprecisões estatísticas advindas da Análise Bidimensional de Classes de Distância,
26
utilizada para caracterizar espacialmente as epidemias cujas avaliações são baseadas na
incidência. Por este método simples e de fácil uso, é possível determinar um número
razoável de descritores da epidemia, tais como o número de focos de plantas doentes,
sua forma, o número médio de plantas por foco e sua compacidade em função da
incidência da doença. Além da sua simplicidade e rapidez de execução, a análise da
estrutura de focos pode complementar as informações oriundas de outras técnicas de
análise espacial (NELSON, 1996).
Apesar de sua atual importância, até o momento inexistem estudos sobre o
arranjo espacial da resinose do coqueiro. Diante do exposto, objetivou-se, neste
trabalho, realizar estudos epidemiológicos de dispersão espacial da doença por meio de
arranjos espaciais e da análise da estruturas de focos da doença. Essas análises
possibilitarão conhecer e entender melhor tal patossistema, gerar hipóteses sobre os
processos ecológicos como reprodução, dispersão, sobrevivência, fornecer informação
quantitativa sobre a dinâmica populacional do patógeno, além de ser útil para as
tomadas de decisão para o manejo do patossistema considerado.
2. Material e Métodos
2.1 Caracterização da área de estudo
O estudo foi realizado na Empresa Agrícola H. Dantas Coco Verde de Sergipe
localizada no lote 24, latitude 10°17'S, longitude 36°35'W e altitude de 120 m. A cultura
do coco anão verde (Cocos nucifera L. var. Nana) é plantada num espaçamento 7,5 m x
7,5 m, em arranjo triangular eqüilátero, totalizando 205 plantas por hectare. O pomar é
divido em setores e são submetidos aos mesmos tratos culturais, foi implantado em
1996 e conta atualmente com um total de 30.310 plantas, destas 25.811 em produção
e 4.499 sem produzir. A média de produção antes do ataque da resinose era de cerca de
2.930,270 frutos/ano. Hoje, após o ataque do patógeno são contabilizados em média
2.794,790 frutos/ano.
27
A temperatura e a umidade relativa do ar anual média são de 25°C e 76,8%,
respectivamente, enquanto o total pluviométrico anual médio é de 1100 mm, como
podemos observar no quadro abaixo. O solo da área é classificado como Argissolo
Amarelo, com textura franco-arenosa no geral. O solo, no entanto não apresenta
homogeneidade, locais com textura mais arenosa e outros com textura mais argilosa.
A irrigação é feita através de micro aspersores, no total de dois micros por planta, com
espaçamento triangular 7,5 x 3,75 metros, cada aspersor tem raio de alcance de 2,5 m².
É fornecida uma lâmina d'água diária de aproximadamente 3,07mm, de acordo com
leitura do tensiômetro de campo e tanque Classe A.
Os dados foram coletados no ano de 2005, quando ainda não havia sido feito
nenhum tipo de tratamento para doença na área. Foram utilizadas 3 parcelas (A, B, e C)
de produção de coqueiros anão-verde (Cocos nucifera L. var. Nana) previamente
caracterizadas e localizadas em propriedade comercial no município de Neópolis, na
região norte do estado de Sergipe. Cada parcela contém 50 linhas com 30 plantas em
espaçamento 7,5 m x 7,5 m, em arranjo triangular eqüilátero, totalizando 1.500 plantas.
Inicialmente foi determinada a incidência de resinose em cada parcela, pelo número de
plantas com sintomas da doença em relação ao total de plantas avaliadas.
2.2 Arranjo espacial da doença
O arranjo espacial foi verificado a partir do mapeamento das plantas com e sem
sintomas da resinose do estipe
em cada um dos três setores. O arranjo espacial das
plantas doentes em cada área experimental foi determinado por meio de três níveis
hierárquicos: entre plantas individuais adjacentes, e dentro de quadriláteros e entre
quadriláteros.
Para determinação do arranjo espacial, as seguintes técnicas de análise foram
aplicadas aos dados:
2.2.1 “Ordinary runs”
28
A análise de "ordinary runs" foi realizada com o auxílio do programa GWBASIC
(CAMPBELL E MADDEN, 1990; JEGER, 1990), sendo examinada a existência de
agregação entre plantas doentes imediatamente adjacentes dentro e entre linhas
combinadas. Um “run” (U) é descrito como a sucessão de uma ou mais plantas doentes
ou assintomáticas. O número esperado de “runs” E(U) sob a hipótese nula de
aleatoriedade é dado por E(U) = 1 + [2m (N-m)/N], onde m é o número de plantas
sintomáticas e N é o número total de plantas por linhas combinadas. O desvio padrão de
U, sob a hipótese de nulidade, é dado por S(U)={[(2m(N-m))(2m(Nm)-N)]/(N2(N-1)}
0,5
.
Um teste normal padrão Z, onde Z(U)=[U-E(U)]/S(U)], foi utilizado para determinar a
significância da agregação de plantas doentes, sendo que valores de Z menores que -
1,64 (P=0,05) indicam rejeição à hipótese de nulidade (arranjo aleatório), em favor da
hipótese alternativa (arranjo agregado).
2.2.2 Ajuste de distribuições discretas de frequência
Para examinar a presença de agregação dentro de quadriláteros, os dados de
incidência da doença de cada área experimental foram fracionados em quadriláteros de
quinze plantas e analisados quanto ao ajuste à distribuição discreta de frequência de
Poisson, por meio do programa GWBASIC (CAMPBELL E MADDEN, 1990; JEGER,
1990). A distribuição de Poisson representa a probabilidade de que certos números de
eventos ocorram num dado período de tempo, caso a taxa média de ocorrência seja
conhecida e caso cada evento seja independente do tempo decorrido desde o último
evento (MADDEN E HUGHES, 1995). Foram obtidos os índices de distribuição de
frequência e comparados ao valor de Qui-quadrado (determinado pelo próprio
programa), onde, C<Qui: arranjo aleatório; C>Qui: arranjo agregado.
2.2.3 Autocorrelação espacial
A força da agregação de plantas doentes entre quadriláteros foram examinadas
pela análise de autocorrelação espacial, utilizando-se o programa LCOR2
(GOTTWALD et al., 1992). A localização espacial [x,y] de cada quadrilátero e a
respectiva incidência de doença, considerando quadriláteros com quinze plantas, foram
29
utilizadas como dado de entrada para a análise de autocorrelação espacial em cada área
avaliada. O programa calculou os padrões de proximidade de posições lag
positivamente correlacionados (SL+); o tamanho de “cluster” principal de SL+, obtido
pelo número de SL+ contíguos à posição lag [0,0] que forma um grupo discreto; a força
de agregação, medida em relação ao número de SL+ em “cluster” principal pelo número
total de SL+.
2.3 Análise da Estrutura de Focos
A Análise da Estrutura de Focos, foi feita usando a metodologia empregada por
Nelson (1996) e Laranjeira et al. (1998), considerou-se que somente as plantas com
sintomas de resinose imediatamente adjacentes no padrão de proximidade vertical,
horizontal ou diagonal pertenciam ao mesmo foco. Os focos unitários são aqueles
compostos por apenas uma única planta afetada. Em todas as avaliações determinou-se
o número de focos (NF), o número de plantas em cada foco (NPF) e o número máximo
de linhas (lF) e colunas (lC) ocupadas por cada foco. A partir dessas informações,
também se calculou, conforme Nelson (1996) e Laranjeira et al. (1998), o número de
plantas por foco (NPF); o índice de forma de focos (IFF, onde IFF = (lF/lC)/NF e o
índice de compactação de focos (ICF, onde ICF = NPF/lC*lF/NF. Valores de IFF iguais
a 1,0 indicam focos isodiamétricos, valores maiores que 1,0 indicam focos com maior
comprimento na direção entre as linhas de plantio, e valores menores que 1,0 indicam
focos com maior comprimento na direção da linha de plantio. Valores de ICF próximos
a 1,0 indicam focos mais compactos, isto é, maior agregação e proximidade entre todas
as plantas pertencentes ao foco (NELSON, 1996).
3. Resultados e discussão
3.1 Arranjo espacial
O mapeamento da incidência forneceu uma visualização da situação presente nas
parcelas estudadas (Figuras 1, 2 e 3). Nas parcelas A, B, e C, houve indícios de
agregação de plantas doentes. Em alguns focos, os arranjos são menos evidentes, a
30
técnica de mapeamento deve ser considerada apenas como auxiliar, devido à
subjetividade da interpretação, necessitando de análise por técnicas como a
autocorrelação espacial.
Figura 1. Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe na
região de Neópolis, Sergipe (Parcela A).
Figura 2. Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe na
região de Neópolis, Sergipe (Parcela B).
o
planta sadia
x
planta doente
o
planta sadia
x
planta doente
31
Figura 3. Mapeamento dos focos de plantas com sintomas de resinose do estipe na
região de Neópolis, Sergipe (Parcela C).
Após o mapeamento, o primeiro nível de hierarquia espacial foi examinado pela
análise de “ordinary runs”, o arranjo de plantas doentes imediatamente adjacentes. De
acordo com análise de ordinary runs”, apenas as parcelas A e B apresentaram valores
significativos de Z (P=0,05), demonstrando a existência de agregação de plantas
doentes. A parcela C evidenciou arranjo espacial aleatório (Tabela 1). Segundo Andrade
e Michereff (2000), “ordinary runs” é unidimensional e apenas examina a estrutura dos
dados dentro e entre linhas, enquanto o ajuste à distribuição de Poisson e a
autocorrelação espacial, além de verificarem a estrutura dos dados dentro e entre linhas,
examinam também na diagonal. Portanto, a ausência de agregação da doença entre
plantas imediatamente adjacentes verificada no setor C, pelo método de “ordinary runs”,
não é indicativo da ausência de processos espaciais que podem ser detectados apenas
por análises baseadas em distância.
o
planta sadia
x
planta doente
32
Tabela 1 - Arranjo espacial da resinose do coqueiro na região de Neópolis/SE,
analisado pelas técnicas de “ordinary runs”, ajuste à distribuição discreta de
freqüência (distribuição de Poisson) e autocorrelação espacial.
Setores Incidência
a
(%)
“Ordinary
runs”
b
Distribuição de
Poisson
c
Autocorrelação espacial
U Z(U) C
Qui-
quadrado
“Lags”
significantes
d
“Cluster”
Principal
e
Força de
Agregação
f
SL+ SL-
A 13,8 119 -25,90 842,96 80,30 5 0 4 0,8
B 7,40 110 -17,14 711,52 22,92 2 0 2 1
C 2,67 76 -1,18 707,15 16,56 1 0 1 1
a
Porcentagem de plantas com sintomas em relação ao total de 1.500 plantas em cada área.
b
”Runs” observados (U) e distribuição normal padrão de “runs” [Z(U)]. Valores de Z < -1,64 a P=0,05 indicam rejeição de H0:
arranjo aleatório, em favor de H1: arranjo agregado de plantas doentes.
c
Distribuição de Poisson, onde, C<Qui: arranjo aleatório; C>Qui: arranjo agregado.
d
Número de [x,y] “lags” significativamente maiores (SL+) ou menores (SL-).
e
Número de SL+ contíguos à posição “lag” [0,0] que forma um grupo discreto.
f
Número de SL+ no “cluster” principal dividido pelo número total de SL+.
O segundo nível de hierarquia foi analisado o ajuste à distribuição discreta de
freqüência de Poisson, onde na comparação do valor de C com Qui-quadrado,
fornecidos pelo próprio programa (para as parcelas A, B, e C, respectivamente: 80,30;
22,92; e 16,56). Em todas as parcelas foram obtidos valores superiores ao Qui-
quadrado, caracterizando um arranjo agregado (Tabela 1).
O terceiro nível de hierarquia espacial investigado foi o arranjo de plantas
doentes entre quadriláteros, pela análise de autocorrelação espacial. As plantas com
resinose apresentaram dentro das linhas um arranjo agregado (>50%) em todas as
situações (Tabela 1), em vista da presença de “clusters” centrais e de lags positivos
(SL+) significantes (P=0,05). A predominância da agregação de plantas doentes dentro
das linhas, como evidenciada pela análise de autocorrelação espacial em relação à
resinose, é mais um forte indício da disseminação planta-a-planta do inóculo
(GOTTWALD et al., 1996).
Considerando as técnicas de análise estudadas, verificou-se que em todos os
testes as parcelas A e B apresentaram o arranjo agregado de plantas doentes, por outro
lado, a aleatoriedade foi verificada no setor C, sendo observada discordância para esta
parcela na análise dos “ordinary runs”. Quando apenas os resultados do teste de Poisson
e da análise de autocorrelação espacial foram considerados, verificou-se maior
coerência entre estas duas técnicas, demonstrando o arranjo espacial agregado para
todos os setores.
33
Silva et al. (2001) em seu trabalho com o vira-cabeça do fumo, concluiu que os
arranjos espaciais de plantas doentes são influenciados pela interação de vários fatores,
incluindo o ambiente e possíveis vetores. Embora descrições estatísticas não propiciem,
por si próprias, uma explanação dos mecanismos responsáveis pelos arranjos espaciais,
arranjos agregados de plantas doentes sugerem que houve disseminação planta a planta
ou que o inóculo estava espacialmente agregado, enquanto arranjos aleatórios indicam
que o patógeno não foi disperso ao longo da linha, ou que se foi disperso ao longo da
linha, não induziu sintomas de maneira agregada. Quanto à disseminação, arranjos
agregados são mais caracteristicamente associados com fontes de inóculo próximas, ou
mesmo, dentro de populações do hospedeiro, enquanto arranjos aleatórios geralmente
resultam do inoculo chegando a uma população de plantas de uma fonte distante ou de
material de plantio infestado.
O conjunto dos resultados apontam que a epidemia da resinose do estipe do
coqueiro está relacionada com um certo grau de agregação de plantas doentes, como
observado em outros patossistemas envolvendo fitopatógenos habitantes do solo
(SILVA et al., 2001; AZEVEDO et al., 2002). Os resultados indicam que o inóculo de
Ceratocystis paradoxa dentro das áreas de plantio está disperso em reboleiras, uma vez
que predominância de plantas doentes arranjadas agregadamente (CAMPBELL E
BENSON, 1994). Nestas áreas, a incidência da doença foi determinada pela produção
de inóculo dentro do campo de cultivo, contribuindo para isto a alta capacidade de
sobrevivência de Ceratocystis paradoxa no solo, aliado ao fato de ser uma área de
produção antiga, com cerca de 13 anos e a permanência de restos culturais na área.
Segundo Andrade et al., (2000), a sobrevivência dos propágulos do fungo no
solo e nos tecidos do hospedeiro, aliada à manutenção de restos culturais no campo,
podem contribuir para o arranjo agregado de plantas doentes. Além disso, a dispersão
natural do inóculo e algumas práticas culturais podem estar envolvidas na definição do
arranjo espacial da doença no campo.
34
3.2 Análise da Estrutura de Focos
3.2.1 Número e tamanho de focos
Foram considerados como foco plantas com sintoma da resinose do estipe
imediatamente adjacente em padrão de proximidade vertical, horizontal ou diagonal.
Tais critérios são adotados por diversos pesquisadores, nos mais diferentes
patossistemas (JESUS JUNIOR E BASSANEZI, 2004; LARANJEIRA et al., 1998;
NELSON, 1996). Foram mapeadas em cada parcela (A, B, C) 1500 plantas, das quais
207, 111 e 40 plantas estavam doentes, respectivamente, com resinose. Para cada
parcela estudada, o número de focos foi de: Parcela A: 4 focos; Parcela B: 6 focos; e
Parcela C: 3 focos, com uma média de 51,7; 18,5; e 13,3 plantas por focos,
respectivamente, sendo no máximo, 153 plantas e, no mínimo, 1 planta por foco (Tabela
2). Com relação a focos unitários verificou-se duas ocorrências.
Tabela 2. Análise da estrutura de focos, número máximo de linhas por foco (lF);
número máximo de colunas por foco (lC); número de plantas por foco (NPF);
índice de forma de foco (IFF); índice de compactação de foco (ICF); e
porcentagem de plantas doentes (PPD).
Parcelas
Focos lF
lC
NPF
IFF
ICF
PPD
A I 13 40 153 0,32 0,29 10,26
A II 1 1 1 1,00 1,00 0,06
A III 6 9 13 0,66 0,24 0,86
A IV 8 13 40 0,61 0,38 2,66
B I 2 3 3 0,66 0,50 0,20
B II 8 15 38 0,53 0,31 2,53
B III 1 1 1 1,00 1,00 0,06
B IV 10 19 54 0,52 0,28 3,60
B V 2 3 3 0,66 0,50 0,20
B VI 3 9 12 0,33 0,44 0,80
C I 6 13 28 0,46 0,35 1,86
C II 6 5 9 1,20 0,30 0,60
C III 3 3 3 1,00 0,33 0,20
Índice de forma de foco (IFF=IF/IC), onde IF=nº de linhas e IC=nº de colunas.
Índice de compactação de foco (ICF = (NPF)/(IC*IF), onde NPF= nº de pls/foco.
Porcentagem de plantas doente (PPD) em relação ao total de plantas de cada parcela.
Ferreira et al. (2009), em estudos da análise da dinâmica e estrutura de focos da
mancha manteigosa do cafeeiro, verificaram um número alto de focos unitários (cerca
35
de 52%), o mesmo comportamento foi observado por Jesus Junior e Bassanezi (2004)
para morte súbita em citros. Tal fato indica que, em geral, o início dessas epidemias se
por meio de plantas isoladas, reafirmando que, neste patossistemas a principal via de
transmissão da doença é a semente ou mudas infectadas.
3.2.2 Formato e compacidade dos focos
Nesse tipo de análise, segundo Jesus Junior e Bassanezi (2004), a interpretação
da forma e da compacidade dos focos deve ser cuidadosa, principalmente em situações
com incidências elevadas (maior que 35%). Porém neste trabalho, a incidência
observada foi de: Parcela A: 13,8%; B: 7,40%; C: 2,67% (Tabela 1), não ultrapassando
o valor de referência. Segundo os mesmos autores, conforme os índices de incidência
aumentam, essa começa a interferir nos resultados do IFF (Índice de forma de foco) e do
ICF (Índice de compactação de foco). Normalmente, quando a incidência de plantas
doentes é alta, é comum que um foco ocupe todas as linhas ou plantas de uma linha do
talhão e que o seu crescimento ocorra em uma direção por falta de mais linhas ou
plantas. Esse tipo de interferência devido à forma do talhão também havia sido
reportado por Laranjeira et al. (1998), estudando a Clorose Variegada de Citros (CVC).
Neste trabalho, pôde-se verificar uma tendência de agrupamento das plantas mais
freqüentes nas linhas do que nas colunas, pelos valores observados entre o número de
plantas doentes na maior linha (lF) com o número de plantas doentes na maior coluna
(lC) (Tabela 2).
De acordo com os valores do ICF (Índice de compactação de foco), observa-se
que focos que apresentam uma menor compactação, sugerem que a disseminação da
doença não ocorre necessariamente de forma continua e homogênea ao redor de uma
primeira planta afetada. Valores de ICF, próximos a 1,0 indicam focos mais compactos
isto é maior agregação e proximidade entre todas as plantas pertencentes ao foco. No
presente trabalho verificou-se (Tabela 2) focos com média de 27,5 plantas/foco sendo
esses de forma elíptica, e uma predominância dos focos de crescerem mais na direção
das linhas de plantio (IFF < 1) e valores de ICF próximos a 1, caracterizando baixa
agregação dos focos. Excetuando-se os focos unitários presentes nos setores A e B e um
dos focos do Setor C que foram considerados isodiamétricos (IFF = 1). Ainda no Setor
36
C observamos um foco com características distintas (IFF > 1), com maior crescimento
entre as linhas de plantio.
Para a grande maioria das doenças causadas por fungos, o padrão espacial de
plantas doentes é governado pelas características intrínsecas ao patógeno e por suas
relações com o meio ambiente. Assim podem exibir um padrão espacial moderadamente
agregado em virtude do balanço entre disseminação pelo vento (longa, média e curta
distâncias) e disseminação pela chuva (curta e média distâncias).
De acordo com a análise dos dados, a dispersão natural do inóculo e algumas
práticas culturais, como o uso de ferramentas infestadas utilizadas durante a colheita,
podem estar envolvidas na definição do arranjo espacial da doença no campo.
4. Conclusões
O padrão predominante da resinose do estipe no coqueiro para a região de
Neópolis/SE foi de arranjo espacial agregado.
Os focos de resinose, em sua maioria, demonstraram a tendência de crescer na
direção das linhas de plantio, apresentando baixos índices de compactação.
37
5. Referências bibliográficas
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40
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A predominância da agregação de plantas doentes dentro das linhas, como
evidenciada pela análise de autocorrelação espacial em resinose é mais um forte indício
da disseminação planta-a-planta do inóculo. uma grande similaridade dos resultados
obtidos entre as análises de “ordinary runs” e autocorrelação espacial. Os “ordinary
runs” têm limitações devido a ser unidimensional, detectar a agregação da doença
somente entre plantas imediatamente adjacentes e não permitir a verificação de
processos espaciais, que podem somente ser detectados por análises baseadas em
distância. Além disso, a análise de “ordinary runs” e o ajuste à distribuição discreta de
freqüência indicam apenas a presença ou ausência de agregação, sem fornecer
informações sobre o tamanho, proximidade, efeitos ou direção da agregação das plantas
doentes, o que é obtido pela análise de autocorrelação espacial.
Como a dispersão é resultante das características reprodutivas, dispersivas e
interativas de um patógeno, enquanto o arranjo de unidades básicas reflete a
heterogeneidade das condições do campo e as fontes de inóculo, estudos adicionais
sobre a dispersão do inóculo de Ceratocystis paradoxa necessitam ser realizados nas
condições da região de Neópolis/SE para o melhor entendimento da dinâmica da doença
e o estabelecimento de medidas de controle adequadas.
Os resultados deste estudo indicaram haver um padrão predominante de arranjo
da doença no campo, constituindo os primeiros dados sobre o arranjo espacial da
resinose do estipe em coqueiro a nível nacional e, provavelmente, a nível mundial, uma
vez que não foram constatados estudos dessa natureza na bibliografia consultada.
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