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Magnani(2003). Nesse livro, Magnani trabalha com o conceito de “pedaço” como parte
de uma família de categorias terminológicas
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que inclui ainda “mancha”, “circuito”,
“trajeto” e “pórtico” (MAGNANI:2002). O objeto da pesquisa em questão era
principalmente o lazer na periferia de São Paulo, com foco no circo como forma de
expressão da cultura popular atraente no contexto dos bairros de periferia. A entrada e
circulação dos circos pelos bairros envolvia um contexto de negociação e
movimentação entre diferentes redes de relações, que tinham uma determinada ordem e
estavam sujeitos a um determinado controle social baseado na oposição
“vizinhança/fora da vizinhança". O pedaço era um espaço “intermediário entre o
privado e o público onde se desenvolve uma sociabilidade básica mais ampla que a dos
laços familiares” (MAGNANI, 1998, pp. 116).
Inicialmente, podemos encontrar dificuldades em definir qual seria o “pedaço”
do Dendê na Ilha do Governador. Seria o Grêmio Recreativo e Escola de Samba
Acadêmicos do Dendê da Ilha do Governador, do morro do Dendê ou da Ilha do
Governador? Para tanto, vamos procurar definir a Ilha do Governador e as
representações coletivas a ela associadas.
Apesar de todo o orgulho dos seus moradores, que se definem como “insulanos”,
a Ilha do Governador deixou de ser um bairro há muito tempo, para ser mais exato,
desde 1981, quando o decreto do prefeito Julio Coutinho dividiu a Ilha em seus atuais
dezessete bairros
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. Até a década de 1960, por ter apenas uma saída, a região era pouco
povoada e vista como balneário para as camadas médias cariocas (IPANEMA:1991).
Atualmente, a Ilha do Governador é densamente povoada
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·. Boa parte do acelerado
desenvolvimento se deu a partir da inauguração da chamada Ponte Velha do Galeão, em
1949, que a ligou ao continente. Logo depois da inauguração, instalações militares
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Agregando mais conceitos à referida “família terminologia” pelo próprio Magnani temos a
categoria “mancha” descrevendo “áreas contíguas do espaço urbano que marcam seus limites e viabilizam
uma atividade ou prática predominante”; temos também os “trajetos” descritos como “fluxos recorrentes
no espaço mais abrangente da cidade e no interior das manchas urbanas”; finalmente temos os “pórticos”
que segundo o autor são “espaços, marcos e vazios na paisagem urbana que configuram passagens”
(Magnani, De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana, 2002)
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Os bairros atuais da Ilha do Governador são Bancários, Cocotá, Cacuia, Dendê, Freguesia,
Galeão, Jardim Carioca, Jardim Guanabara, Guarabu, Moneró, Pitangueiras, Portuguesa, Praia da
Bandeira, Ribeira, Tauá, Tubiacanga, Zumbi.
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Aproximadamente 250 mil habitantes em 33,53 quilômetros quadrados. Ver “Censo
Demográfico 2000”