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UNIVERSIDADE FEDERERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA:
CIÊNCIAS EM GASTROENTEROLOGIA
ANÁLISE MOLECULAR DO GENE DA LACTASE-
FLORIZINA HIDROLASE EM INDIVÍDUOS
TOLERANTES E INTOLERANTES À LACTOSE
ANDRÉA CRISTINA DA SILVA BULHÕES
Porto Alegre, março de 2006.
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UNIVERSIDADE FEDERERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA:
CIÊNCIAS EM GASTROENTEROLOGIA
ANÁLISE MOLECULAR DO GENE DA LACTASE-FLORIZINA
HIDROLASE EM INDIVÍDUOS TOLERANTES E
INTOLERANTES À LACTOSE
ANDRÉA CRISTINA DA SILVA BULHÕES
Orientadora: Profa. Dra. Themis Reverbel da Silveira
A apresentação desta dissertação é exigência do
Programa de Pós-Graduação em Medicina: Gastroenterologia,
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para obtenção
do título de Mestre.
Porto Alegre, março de 2006.
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Para Eduardo e Rodrigo,
com todo o meu amor.
AGRADECIMENTOS
A todos os que, de alguma forma, colaboraram para a realização deste trabalho e em
especial:
- À minha orientadora, Profa. Dra. Themis Reverbel da Silveira, pelo carinho,
amizade e conhecimentos transmitidos durante a execução desta pesquisa.
- Ás professoras colaboradoras: Dra Helena Sueno Goldani e Dra Ursula Matte,
pelos ensinamentos e contribuição em todas as etapas desta pesquisa.
- Ao CNPq e ao Fundo de Incentivo à Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto
Alegre, pelo apoio financeiro.
- À amiga bióloga Fernanda Santos de Oliveira, pelo afeto, disponibilidade e auxílio
profissional no trabalho de laboratório.
- À Profa Ceres de Oliveira, pela assessoria na análise estatística.
- Ao acadêmico Rafael Mazzuca, pela ajuda na realização de todas as etapas deste
trabalho.
- À amiga Dra. Sandra Vieira, pelo afeto e incentivo profissional.
- À amiga enfermeira Bianca Vasconcellos Moura Bagnati, pela ajuda e
disponibilidade nas coletas de sangue.
- À colega e amiga Alessandra Pizzato, pelo carinho e incentivo inicial.
5
- Aos meus pais, Otávio (in memorian) e Vilma, pelo amor e apoio constante.
- Ao meu marido, Eduardo, pelo amor, compreensão, apoio e inesgotável paciência.
- Ao meu filho, Rodrigo, a razão do meu viver.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................16
1.1 –
DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE LACTOSE: ASPECTOS FISIOPATOLÓGICOS.........16
1.2 MÁ ABSORÇÃO DE LACTOSE, INTOLERÂNCIA À LACTOSE E HIPOLACTASIA .....19
1.3 CAUSAS DE HIPOLACTASIA ...............................................................................21
1.3.1 – Deficiência Congênita de Lactase............................................................21
1.3.2 – Deficiência Secundária de Lactose ..........................................................21
1.3.3 – Hipolactasia Primária do Tipo Adulto.....................................................23
1.4 MÉTODOS DIAGNÓSTICOS.................................................................................25
1.5 INFLUÊNCIA DA ETNIA NA HIPOLACTASIA PRIMÁRIA DO TIPO ADULTO............34
1.6 HIPÓTESES FORMULADAS PARA EXPLICAR A DIFERENÇA DA PREVALÊNCIA
MUNDIAL DE HIPOLACTASIA .................................................................................................38
1.7 POLIMORFISMOS ASSOCIADOS COM A HIPOLACTASIA DO TIPO ADULTO............39
2 – JUSTIFICATIVA............................................................................................45
3 – OBJETIVOS....................................................................................................46
3.1- OBJETIVO GERAL................................................................................................46
3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS.....................................................................................46
7
4- CASUÍSTICA E MÉTODOS................................................................................47
4.1- DELINEAMENTO..................................................................................................47
4.2- POPULAÇÃO EM ESTUDO ....................................................................................47
4.3- AMOSTRA E AMOSTRAGEM ................................................................................48
4.4- VARIÁVEIS ESTUDADAS .....................................................................................50
4.5- TÉCNICA DO TESTE DE HIDROGÊNIO EXPIRADO .................................................52
4.6- TÉCNICA DA REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE (PCR).................................55
4.7-
LOGÍSTICA ..........................................................................................................56
4.8-
ANÁLISE ESTATÍSTICA........................................................................................58
4.9- CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ....................................................................................59
5- RESULTADOS.......................................................................................................61
5.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA ......................................................................61
5.2 RESULTADOS DO TESTE DO HIDROGÊNIO EXPIRADO.........................................64
5.3 RESULTADOS DO TESTE MOLECULAR PARA AS MUTAÇÕES C/T E G/A.............68
5.4 CONCORDÂNCIA ENTRE TESTES MOLECULAR, H
2
EXPIRADO E SINTOMAS .......71
6 – DISCUSSÃO .........................................................................................................74
6.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ESTUDO .............................................................74
6.2 A PREVALÊNCIA DE HIPOLACTASIA PRIMÁRIA DO TIPO ADULTO AVALIADA
ATRAVÉS DO
TESTE DO HIDROGÊNIO EXPIRADO ...................................................................75
6.3
ANÁLISE MOLECULAR ......................................................................................80
7 – CONCLUSÕES.....................................................................................................84
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................86
ANEXOS......................................................................................................................95
8
ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .............................96
ANEXO 2 - RELAÇÃO DE GENÓTIPOS, FENÓTIPOS, RESULTADOS DO TESTE H2 E A
PRESENÇA DE SINTOMAS DOS
20 INDIVÍDUOS DO ESTUDO .....................................................98
ANEXO 3 - NÍVEIS DE HIDROGÊNIO EXPIRADO NOS 9 INDIVÍDUOS COM TESTES
POSITIVOS
............................................................................................................................100
ANEXO 4 - NÍVEIS DE HIDROGÊNIO EXPIRADO NOS 11 INDIVÍDUOS COM TESTES
NEGATIVOS
..........................................................................................................................101
ANEXO 5 - MOLECULAR ANALYSIS OF LACTASE-HLORIZIN HYDROLASE GENE IN
BRAZILIAN SELF-REPORTED MILK TOLERANT AND INTOLERANT INDIVIDUALS ....................102
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Recipiente utilizado para coleta das amostras de ar expirado .................................53
Figura 2 - Comparação entre os níveis de H
2
expirado entre os grupos dos absorvedores e não
absorvedores.....................................................................................................................66
Figura 3 - Nível de hidrogênio expirado (em ppm) na amostra ...............................................67
Figura 4 - Os produtos digeridos do PCR foram amplificados em gel de agarose a 2,5%.
Linhas 1 e 9 mostram produtos de PCR não digeridos. Linhas 2 e 6 mostram indivíduos
homozigotos para os genótipos de não-persistência de lactase CC
13910
e GG
22018;
4 e 8
homozigotos para os genótipos de persistência de lactase TT
13910
e AA
22018
; 3 e 7
indivíduos heterozigotos para o genótipo de persistência de lactase CT
13910
e GA
22018
. O
marcador de DNA com 50 pb está demonstrado na linha 5.............................................70
Figura 5 - Representação esquemática dos resultados encontrados. ........................................73
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 - Características gerais dos indivíduos estudados......................................................62
Tabela 2 - Sintomas apresentados pelos indivíduos auto-referidos intolerantes à lactose
durante o teste do H
2
.........................................................................................................63
Tabela 3 - Avaliação do teste de H
2
expirado...........................................................................65
Tabela 4 - Distribuição dos genótipos na amostra....................................................................69
Tabela 5 - Concordância entre a análise molecular e os testes do hidrogênio e sintomas .......72
Quadro 1 - Principais causas de deficiência secundária de lactase ..........................................22
Quadro 2 - Métodos para o diagnóstico de má absorção de lactose.........................................26
Quadro 3 - Prevalência de má absorção de lactose do adulto no Brasil de acordo com as raças
e as regiões estudadas.......................................................................................................37
11
Quadro 4 - Freqüência do fenótipo de hipolactasia em indivíduos finlandeses e não
finlandeses ........................................................................................................................43
RESUMO
Objetivo: Verificar a relação entre a presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018
no gene da lactase-florizina hidrolase e a absorção de lactose em indivíduos residentes no
município de Porto Alegre.
Casuística e Métodos: Foi realizado um estudo transversal que incluiu 20 indivíduos
adultos, sadios, com idade superior a 18 anos, procedentes do município de Porto Alegre. Os
participantes foram classificados segundo o relato da quantidade de leite consumida,
habitualmente, por dia e quanto à presença ou ausência de sintomas relacionados à ingestão de
leite. A má absorção de lactose foi diagnosticada através do teste de hidrogênio expirado após
a ingestão de 50 g de lactose diluída em solução aquosa a 20%. O teste teve duração de 3
horas e foi considerado positivo quando o aumento foi superior a 20 partes por milhão na
concentração de H
2
em relação ao nível basal. Os voluntários também foram classificados
como indivíduos com lactase persistente e lactase não persistente através da análise molecular
dos dois polimorfismos (C/T-13910 e G/A-22018) responsáveis pela persistência ou não da
Lactase Florizina Hidrolase no adulto pelo método da Reação em Cadeia da Polimerase
(PCR).
13
Resultados: Foram estudados 20 indivíduos com média de idade de 32,7 ± 7,3 anos.
9/20 sujeitos apresentaram o genótipo CCGG – não persistência de lactase em concordância
com o teste do hidrogênio expirado positivo. 11/20 indivíduos apresentaram o teste H
2
expirado negativo, sendo que 10/20 apresentaram genótipos de persistência de lactase (1/20
CTAA, 3/20 TTAA e 6/20 CTGA) e 1 sujeito com o genótipo de não persistência de lactase
(CCGG). Obteve-se um coeficiente de concordância kappa = - 0,9 entre os testes, molecular e
de H
2
expirado com p < 0,001.
Conclusões: Os resultados do trabalho permitem concluir que a análise dos
polimorfismos C/T-13910 e G/A-22018 no gene da Lactase Florizina Hidrolase podem ser
considerados um bom indicador para o diagnóstico de má absorção de lactose, visto que é um
método bastante sensível e específico com ótima concordância com o teste de hidrogênio
expirado.
ABSTRACT
Objective: to verify the relation between the presence of mutations C/T–13910 and
G/A–22018 in the gene of lactase-phlorizin hydrolase and the absorption of lactose in
individuals who live in the city of Porto Alegre.
Methods: It consists of a transversal study which included 20 healthy adult
individuals over eighteen years old, from the city of Porto Alegre. The participants were
classified according to reports on the quantity of milk they habitually consumed per day and
in regard to the presence or absence of symptoms related to lactose intolerance. Lactose
malabsorption was diagnosed through the hydrogen breath test after the ingestion of 50g of
lactose diluted in watery solution. The test lasted 3 hours and it was considered positive when
the increase was higher than 20 parts per million on concentration of H
2
in relation to the
basal level. The volunteers were also classified as individuals with persistent and non-
persistent lactase through the analysis of the presence of both polyformisms (C/T–13910 and
G/A–22018), which are responsible for the persistence or not of Lactase Phlorizin Hydrolase
in adults. The analysis was made through the Polymerase Chain Reaction method (PCR).
15
Results: Twenty individuals were studied with mean age of 32.7 ± 7.3 years. 9/20
subjects presented with the CCGG genotype – non-persistence of lactase accordingly to the
positive hydrogen breath test (HBT). 11/20 individuals presented with negative HBT, whereas
10/20 presented with genotypes of lactase persistence (1/20 CTAA, 3/20 TTAA e 6/20
CTGA) and one subject with genotype of non-persistence of lactase (CCGG). An agreement
coefficient kappa = - 0.9 was obtained between the molecular and the hydrogen breath
test
with p < 0,001.
Conclusions: This project results make it possible to conclude that the analysis of the
polyformisms C/T–13910 and G/A–22018 in the gene of Lactase Phlorizin Hydrolase can be
considered a good indicator for the diagnosis for lactose malabsorption, since it is a very
sensible and specific method, as it was demonstrated in recent studies. It also has an excellent
agreement with the expired hydrogen.
INTRODUÇÃO
1.1 – Digestão e Absorção de Lactose: aspectos fisiopatológicos
A lactose (beta-galactosil-1-4-glicose) é um dissacarídeo que consiste em uma
molécula de betagalactosidade aderida à glicose por uma ligação beta-1 4. É conhecida
como o “açúcar do leite” e é produzida pela glândula mamária da maioria dos mamíferos
(CHAMPE & HARLEY, 1997).
A lactose é sintetizada nas células epiteliais das glândulas mamárias mediante uma
reação que depende de duas proteínas, a alfa-lactoalbumina e a enzima N-acetil-galactosil-
transferase. Sua concentração no leite varia segundo a espécie, sendo de cerca de 7% no leite
humano e de cerca de 5% no leite de vaca. O conteúdo de lactose do leite nas várias espécies
é proporcional à atividade da alfa-lactoalbumina (NAIM et al., 1987).
Durante o processo de digestão, a lactose é hidrolisada no intestino delgado em
monossacarídeos: glicose e galactose. Esses produtos serão absorvidos através de transporte
ativo dependente de sódio (ALLIET et al., 1989). A hidrólise da lactose é feita por uma
17
betagalactosidase, conhecida como lactase; sua forma precursora é sintetizada pelo enterócito
como uma proteína de alto peso molecular (215 kD) e após várias etapas de glicosilação e
clivagem, a proteína precursora é transportada para a membrana microvilositária, na sua
forma madura: lactase-florizina hidrolase, uma molécula com atividade hidrolítica e peso
molecular de 130-160 kD (LEIS et al., 1997; WALKER-SMITH, 1997). A lactase só se
encontra na extremidade da vilosidade, sendo, portanto, muito vulnerável a lesões da mucosa
(HEITLINGER & LEBENTHAL, 1988).
Nos seres humanos, a atividade da lactase é detectada por volta do terceiro mês de
gestação, mas com valores muito baixos, só aumentando a partir da 26ª semana. Na 34ª
semana atinge 30% dos valores do recém-nascido, aumenta rapidamente entre a 36ª e 38ª
semanas, e ao termo os seus valores equivalem aos de uma criança de um ano de idade
(MOBASSALECH et al., 2003).
A lactase está presente em toda a extensão do intestino delgado, embora seus níveis
sejam mais altos no jejuno proximal e mais baixos no duodeno e íleo distal. Mesmo em
indivíduos aparentemente saudáveis, a atividade da lactase costuma ser a menor de todas as
dissacaridases (AURICCHIO & TRONCONE, 2000).
A presença de lactose não hidrolisada no lúmen intestinal cria um gradiente osmótico
em decorrência do qual há secreção de água e sódio no intestino delgado, com aceleração
secundária do trânsito intestinal (CHRISTL et al., 1992). No intestino grosso, o açúcar será
fermentado pela ação de bactérias anaeróbias, produzindo ácidos orgânicos de cadeia curta,
principalmente ácido acético, propiônico e butírico, além de liberar gases como hidrogênio,
dióxido de carbono, nitrogênio e metano. A maior parte dos gases produzidos será eliminada
como flatos, mas uma proporção será absorvida e eliminada pelos pulmões (KOETSE et al.,
18
2000). Os ácidos graxos de cadeia curta, em sua maioria, são absorvidos pelo cólon e
metabolizados. O cólon tem capacidade para reabsorver água, eletrólitos e gases. Esse
mecanismo de compensação colônica é, provavelmente, o fator mais importante na
determinação dos sintomas e qualquer dano à mucosa pode limitar o mecanismo de
compensação. Se a capacidade do cólon de absorver os ácidos de cadeia curta for excedida, há
acidificação do meio, aumentando a carga osmolar e das contrações peristálticas do músculo
circular do cólon. Os gases formados distendem as alças intestinais e conseqüentemente o
abdômen, provocando desconforto, cólicas, meteorismo, flatulência e fezes espumantes. Neste
caso, a diarréia é do tipo fermentativa com fezes aquosas, espumantes e ácidas (O’CONNOR
et al., 1999).
A hidrólise e a absorção de lactose são determinadas por vários fatores além da relação
entre a atividade da lactase e a quantidade de lactose ingerida. O tipo de dieta deve ser
considerado. Os produtos lácteos que possuem pouca lactose em sua composição são os que
foram submetidos à fermentação por bactérias ou por fungos. No iogurte, 70% da lactose são
fermentados em um dia e 90% em dois dias, sendo assim, quanto mais velho o iogurte, menos
lactose ele possui e mais ácido é o sabor. No caso dos queijos, a fermentação da lactose por
microorganismos produz ácidos, o que favorece a coagulação da proteína do leite, a caseína, e
com o tempo há redução na quantidade de lactose (VESA et al., 1996).
O papel do esvaziamento gástrico na absorção de lactose também pode ser
evidenciado como um fator determinante, visto que mesmo indivíduos com níveis normais de
lactase, mas que possuem um esvaziamento gástrico aumentado, podem apresentar sinais e
sintomas decorrentes de má absorção por não haver tempo suficiente de contato entre o
carboidrato e a lactase presente na mucosa intestinal (AROLA & TAMM, 1994).
19
Além do esvaziamento gástrico, o tempo de trânsito intestinal influencia as taxas de
absorção. A aceleração do trânsito no intestino delgado pode dificultar a hidrólise e,
conseqüentemente, diminuir a absorção de lactose.
A capacidade de fermentação pela microflora intestinal e os mecanismos de
compensação colônica já comentados também devem ser considerados quando analisamos o
metabolismo da lactose (AROLA & TAMM, 1994).
As diferenças na tolerância à lactose com a manifestação de sintomas mais graves ou
mais amenos em relação à quantidade de leite ingerido por indivíduos com hipolactasia
podem ser explicadas pelos fatores acima comentados.
1.2 – Má Absorção de Lactose, Intolerância à Lactose e Hipolactasia
Os termos má absorção de lactose, intolerância à lactose e hipolactasia eram, muitas
vezes, utilizados erroneamente como sinônimos. A sinonímia entre estas definições existia
porque o diagnóstico da deficiência da enzima lactase era feito comumente por teste de
sobrecarga com lactose, e não diretamente, por determinação da atividade enzimática na
mucosa intestinal (AURICCHIO & TRONCONE, 2000).
A má absorção de lactose é a situação na qual ocorre uma falha nos mecanismos de
digestão e absorção da lactose, podendo ser evidenciado através de exames laboratoriais, nem
sempre estando associada com manifestações de sintomas clínicos. É a expressão clínica e
20
laboratorial da deficiência enzimática (WALKER-SMITH, 1997; AURICCHIO &
TRONCONE, 2000).
Intolerância ao dissacarídeo é definida como a síndrome clínica provocada pela
ingestão do mesmo. Assim, intolerância à lactose ou intolerância ao leite devem ser usados
somente para indicar os sintomas e sinais gastrointestinais após a ingestão de,
respectivamente, lactose e leite (WALKER-SMITH, 1997).
A deficiência de dissacaridase é caracterizada pela diminuição ou ausência da enzima
na membrana microvilosa no enterócito. Essa denominação deve ser usada somente quando a
atividade enzimática está diminuída. Geralmente causa a má absorção do dissacarídeo
correspondente e conseqüentemente os sintomas de intolerância a este dissacarídeo. No caso
da lactase, os termos hipolactasia e alactasia significam, respectivamente, deficiência e
ausência de lactase. O diagnóstico da hipolactasia é feito através de biópsia no intestino
delgado proximal com medida da atividade da lactase (SAHI, 1994a; WALKER-SMITH,
1997).
21
1.3 – Causas de Hipolactasia
1.3.1 – Deficiência Congênita de Lactase
A deficiência congênita de lactase é extremamente rara. Cerca de 40 casos foram
relatados na literatura (AURICCHIO & TRONCONE, 2000). A doença foi descrita
detalhadamente por SALVILAHTI et al. (1983) em estudo que incluiu 16 pacientes na
Finlândia, que foram submetidos à biópsia jejunal para determinação da atividade da lactase.
O quadro clínico se caracteriza por uma diarréia grave, que começa nas primeiras
horas ou dias de vida, assim que o recém-nascido recebe leite materno ou alguma fórmula
contendo lactose. As fezes são ácidas, com grande quantidade de lactose. Vômitos não são
comuns e o apetite inicialmente é mantido. A maior gravidade da diarréia determina uma
perda significativa de nutrientes, levando a retardo de crescimento, desidratação e acidose.
1.3.2 – Deficiência Secundária de Lactose
Esta situação ocorre devido a lesões na mucosa do intestino delgado. Várias doenças
podem causar deficiência secundária de lactose (quadro 1). A localização das dissacaridases
na membrana microvilosa das células epiteliais do intestino delgado faz com que essas
22
enzimas sejam afetadas por qualquer doença que danifique a membrana ou interfira com o
metabolismo dos enterócitos. Por ser a mais superficial das dissacaridases, a lactase é a que
mais precoce e freqüentemente se altera (LÓPEZ et al., 1996; MATTHEWS et al., 2005).
Quadro 1 - Principais causas de deficiência secundária de lactase
Fonte: VILLAKO & MAROOS, 1994; AURICCHIO & PITCHUMONI,
1994.
Causas de deficiência secundária de lactase
Gastroenterite aguda e síndrome pós-enterite
Alergia à proteína do leite de vaca
Doença Celíaca
Giardíase
Desnutrição protéico-calórica
Síndromes de imunodeficiência
Ressecção extensa do intestino delgado
Fibrose cística
Doença inflamatória intestinal
Enteropatia associada à infecção pelo HIV
23
1.3.3 – Hipolactasia Primária do Tipo Adulto
Na grande maioria da população mundial, durante a infância e adolescência, o nível de
lactase cai para 5% a 10% em relação ao nível encontrado ao nascimento. Este fenômeno,
denominado hipolactasia primária do tipo adulto, é a forma mais comum de deficiência de
dissacaridase determinada geneticamente.
O declínio nos níveis de lactase não é influenciado pela presença ou ausência de
lactose na dieta. A atividade da lactase não é, portanto, induzida pela lactose ou por qualquer
outro substrato presente na dieta (SAHI, 1994b). No entanto, nos indivíduos hipolactásicos
que consomem lactose regularmente, pode haver uma diminuição da sintomatologia
relacionada à má absorção desse dissacarídeo (JONHSON et al., 1993b). Alguns autores
argumentam que a melhora ocorre devido ao aumento nos mecanismos de compensação
colônica e adaptação da flora intestinal (HERTZLER & SAVAIANO, 1996; WALKER-
SMITH & MURCH, 1999). GILAT et al. (1972) demonstraram esse fato estudando 10
indivíduos adultos com teste de tolerância à lactose positivo e hipolactasia confirmada por
biópsia jejunal. Esses indivíduos foram orientados a ingerir leite em quantidades crescentes
até alcançarem, pelo menos, 1 litro por dia. No término do período de observação, que foi de
6 a 14 meses, os exames foram repetidos. Não houve modificação nos resultados da medida
da lactase na biópsia, e somente um teste de tolerância foi negativo. Apesar de não ter havido
indução enzimática, os participantes do estudo apresentaram uma melhora gradual dos
sintomas de diarréia, flatulência e dor abdominal. Por outro lado, BRIET et al. (1997), em
ensaio clínico duplo-cego, demonstraram que a melhora da sintomatologia, com uso
continuado de lactose por determinado período, em indivíduos com intolerância a esse
24
carboidrato, pode ser devido a um efeito placebo. Os indivíduos que participaram do estudo,
todos com má absorção e intolerância à lactose, foram randomizados para receber lactose ou
sacarose por um período de duas semanas, juntamente com dieta isenta de lactose. No início e
término do estudo, foram realizados o teste do hidrogênio expirado e a avaliação da
sintomatologia após 50 g de lactose diluída em 250 ml de água. Além disso, foram coletadas
amostras de fezes para medida de pH e atividade da betagalactosidase fecal. No início do
estudo não houve diferença entre os grupos em relação aos parâmetros descritos. Em duas
semanas, quando a avaliação foi repetida após a sobrecarga de lactose, o grupo que recebeu
esse carboidrato apresentou aumento na betagalactosidase fecal e redução no pH e na
excreção de hidrogênio. Houve também melhora significativa de todos os sinais e sintomas
considerados. A melhora desse parâmetro, no entanto, foi semelhante nos dois grupos, o que
demonstra que o efeito ocorreu independentemente da adaptação metabólica da flora colônica,
que só foi observada no grupo que recebeu lactose.
A betagalactosidase, presente em indivíduos com hipolactasia primária do tipo adulto
parece ser idêntica à enzima presente em adultos com níveis altos de atividade da lactase. Este
fato é compatível com a hipótese de que a persistência de lactose na vida adulta se deve à
síntese continuada da enzima do recém-nascido, a qual geralmente diminui nos primeiros anos
de vida (AURICCHIO & TRONCONE, 2000).
A idade do início do declínio da atividade da lactase tem variações significativas em
diferentes grupos étnicos. Como o declínio é progressivo durante a infância e adolescência, a
prevalência de má absorção de lactose vai aumentando de acordo com a faixa etária
considerada (LEIS et al., 1997). O diagnóstico de má absorção de lactose também é
25
influenciado pela variação nas doses e formas de administração da lactose (GALVÃO et al.,
1995).
O quadro clínico associado com a hipolactasia primária do tipo adulto pode variar
desde uma simples sensação de desconforto abdominal até sua forma máxima de expressão,
como náuseas, vômitos, flatulência, distensão abdominal, cólicas e diarréia. Vale a pena
ressaltar que a intensidade dos sintomas nem sempre está correlacionada com o grau de
deficiência enzimática, nem mesmo com a quantidade do carboidrato ingerido (FAGUNDES
NETO, 1991). Muitos indivíduos com hipolactasia primária do tipo adulto toleram a ingestão
de leite e derivados em quantidades moderadas sem o desenvolvimento de sintomatologia
significativa (JONHSON et al., 1993a; SUAREZ et al., 1995; VESA et al., 1996).
1.4 – Métodos Diagnósticos
Existem vários métodos para o diagnóstico de má absorção de lactose (quadro 2), cada
um com suas particularidades, havendo autores que consideram não existir um padrão-ouro, o
que dificulta a avaliação da validade dos testes (BRUMMER et al., 1993).
26
Quadro 2 - Métodos para o diagnóstico de má absorção de lactose
Fonte: BRUMMER et al., 1993.
Teste do pH fecal e pesquisa de substâncias redutoras nas fezes
Os testes fecais são exames não invasivos, relativamente sensíveis e utilizados para
triagem. O emprego do clinitest para pesquisa de substâncias redutoras nas fezes foi
desenvolvido por KERRY & ANDERSON (1964) e tem sido muito utilizado desde então. A
presença de excesso de substâncias redutoras (mais de 0,5%) é a maneira mais simples de se
diagnosticar má absorção de açúcares. A técnica da coleta é muito importante, pois as fezes
devem ser analisadas frescas ou armazenadas no congelador até análise (HEITLINGER &
LEBENTHAL, 1998). Este exame é considerado muito bom para crianças pequenas, mas para
Métodos de Diagnóstico
Teste do pH fecal
Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes
Teste de tolerância à lactose
Teste de tolerância à lactose com etanol
Teste respiratório com
14
C-lactose
Teste respiratório com
13
C-lactose
Teste do hidrogênio expirado
Biópsia intestinal e medida da atividade da lactase
27
adultos podem ocorrer resultados falso-negativos se a flora do cólon consumir o açúcar
(TARLOW & THOM, 1974).
Em condições normais, o pH fecal mostra valores em torno de 7. Para que haja
redução do mesmo é necessário que a flora do cólon seja capaz de fermentar um substrato
transformando-o em ácidos. O pH menor ou igual a 5, após a ingestão de lactose, fornece
diagnóstico indireto de má absorção de lactose. Apesar de o pH fecal ser um indicador de má
absorção de lactose mais sensível em crianças, também pode ter validade no adulto, quando
ácido. Entretanto, se após a ingestão do açúcar o pH for normal, não se pode excluir má
absorção do mesmo, principalmente se o indivíduo foi submetido a antibioticoterapia anterior,
ou se a pesquisa não foi feita com fezes frescas, pois os ácidos podem volatilizar-se
(TARLOW & THOM, 1974).
Teste de tolerância à lactose
A curva glicêmica após a ingestão de lactose apresenta resultados que informam
melhor a respeito da absorção global de lactose em comparação com os testes citados
anteriormente e, é amplamente utilizado para o diagnóstico de má absorção de lactose em
adultos (BULLER et al., 1991). A glicemia é dosada no sangue venoso em jejum e a cada 30
minutos, até duas horas, após a sobrecarga de 50g de lactose diluída em solução aquosa
(NEWCOMER & Mc GILL., 1966a).
A interpretação da curva glicêmica é baseada na diferença entre a glicemia do jejum e
seu pico máximo. Se for menor que 20 mg/dl, a curva glicêmica é chamada plana e significa
28
má absorção de lactose (PEREIRA et al., 1982); aumento da glicemia igual ou superior a 20
mg/dl em relação ao jejum é considerado um resultado normal pela maioria dos autores
(ALLIET et al., 1989; BULLER et al., 1991; BRUMER et al., 1993). Sintomas como diarréia
e dor abdominal após a administração da sobrecarga de lactose indicam intolerância a esse
carboidrato. O exame é simples, mas sua sensibilidade e especificidade são questionáveis
devido a variações nas taxas de esvaziamento gástrico a ao metabolismo da glicose
(BRUMMER et al., 1993). Resultados discutíveis podem acontecer em várias situações, tais
como má absorção primária ou secundária de monossacarídeos, esvaziamento gástrico
demorado, síndrome da alça cega e diarréia (PEREIRA et al., 1982).
Teste de tolerância à lactose com etanol
Este teste consiste na concentração de galactose no sangue após uma sobrecarga de
lactose. É realizada apenas uma coleta de sangue após 40 minutos da ingestão de lactose. A
galactose também pode ser medida na urina. No entanto, deve-se administrar etanol (150
mg/kg) para inibir o rápido metabolismo hepático da galactose, o que limita a utilização deste
teste (AROLA et al., 1988).
29
Teste respiratório com
14
C-lactose
O teste envolve a administração de lactose marcada com
14
C e reflete a atividade da
lactase e a subseqüente absorção e metabolismo da glicose. A lactase presente no intestino age
sobre o substrato
14
C-lactose, com a liberação de
14
CO
2
. A porcentagem de
14
CO
2
excretada
na primeira hora após a administração de
14
C-lactose discrimina os absorvedores dos não-
absorvedores de lactose (HIELE et al., 1988). Porém, enzimas bacterianas podem converter
14
C-lactose em
14
CO
2
. Neste caso, quando a lactose não absorvida chegar ao cólon, haverá
produção de
14
CO
2,
ocasionando falsos resultados. Além disso, distúrbios do metabolismo da
glicose também podem interferir no resultado do exame (AROLA, 1994).
Esta técnica envolve exposição a uma substância radioativa e não é mais
recomendada, uma vez que existem outros métodos diagnósticos mais seguros (AROLA,
1994).
Teste respiratório com
13
C-lactose
O exame é semelhante ao teste com
14
C-lactose, tendo como vantagem a utilização de
um isótopo não radioativo do carbono (
13
C). A excreção cumulativa do
13
CO
2
quatro horas
após a ingestão de
13
C-lactose é medida através de espectrometria e é utilizada para o
diagnóstico da má absorção de lactose (STELLAARD & GEYPENS, 1998).
KOETSE et al. (2000) em um estudo comparativo entre os testes respiratórios com
este marcador (
13
C-lactose) e o hidrogênio expirado, usando a medida de atividade da lactase
como padrão áureo para diagnosticar má absorção deste dissacarídeo, verificaram resultados
30
discrepantes em 36% dos casos entre os testes respiratórios. A variação na produção colônica
de CO
2
com o uso do marcador
13
C-lactose pode ter sido uma das causas de diagnósticos
inadequados de má absorção de lactose. Outros fatores, além da digestão e absorção dos
nutrientes, podem influenciar este exame, devendo-se ter cautela na interpretação dos
resultados. Além disso, a necessidade de equipamentos de alto custo torna sua aplicação
clínica limitada (VONK et al., 1998).
Teste do hidrogênio expirado
Atualmente, na clínica, o teste do hidrogênio expirado tem sido considerado como
padrão áureo para diagnóstico de má absorção de lactose. O exame é baseado na determinação
da concentração de hidrogênio em amostras de ar expirado após a administração de lactose
(CASELLAS & MALAGELADA, 2003).
O teste do hidrogênio expirado é considerado um teste de fácil aplicabilidade e não
invasivo. Baseia-se na fermentação bacteriana do açúcar não absorvido pelo intestino delgado,
levando ao aparecimento de ácidos orgânicos e gases, como o hidrogênio. A elevação deste
último no ar expirado indica a má absorção do carboidrato (BALLABRIGA et al., 1998).
As células dos mamíferos não produzem hidrogênio no seu metabolismo, logo 100%
da produção deste gás são devidos à utilização de substratos fermentáveis por bactérias
intestinais, sendo em torno de 10% a 21% do H
2
produzido excretado pelos pulmões. Para
essa produção é necessária à presença de grande quantidade de bactérias, e normalmente isso
31
ocorre no cólon ou, excepcionalmente no intestino delgado, quando ocorre supercrescimento
bacteriano (AROLA et al., 1988).
Há relação direta entre a produção intestinal de H
2
e sua excreção pulmonar, podendo
a medida de concentração do H
2
expirado ser realizada como indicadora da produção de H
2
no
intestino. Em adultos, o pico da concentração de H
2
expirado ocorre em 120 minutos após a
ingestão do carboidrato. Valores altos de H
2
expirado, duas horas após a ingestão de lactose
são compatíveis com o diagnóstico de má absorção de lactose (DAVIDSON & BUTLER,
2000).
A primeira coleta de ar expirado, em adultos, deve ser em jejum de 8 a 12 horas. Após
a administração de lactose, são feitas coletas em intervalos de 30 a 60 minutos por 2 a 6 horas.
A má absorção de lactose é diagnosticada quando ocorre um aumento igual ou superior a 20
partes por milhão (ppm) acima do nível basal (ROMAGNUOLO et al., 2002).
A quantidade de carboidrato utilizada em adultos não é padronizada
(ROMAGNUOLO et al., 2002). Em estudos recentes a dose de lactose utilizada é de 50g de
lactose, quantidade de carboidrato equivalente a 1 litro de leite, diluída em água (BÜNING et
al., 2005; HÖGENAUER et al., 2005). Estudos anteriores, comparando o teste do hidrogênio
expirado com biópsia intestinal, considerado o padrão áureo para diagnóstico de má absorção
de lactose, utilizaram uma sobrecarga de 50g de lactose diluída em solução aquosa e
verificaram uma variação na sensibilidade de 69% a 100% e especificidade de 96% a 100%
no teste de hidrogênio expirado (AROLA et al., 1988; NEWCOMER et al., 1975). O teste de
hidrogênio expirado pode detectar até 2g de lactose não absorvida (LEIS et al., 1997).
32
As amostras de ar expirado devem ser armazenadas em locais apropriados até que
sejam analisadas para que não haja alterações na concentração de hidrogênio. Para um
período maior de armazenamento ou mesmo, a necessidade de transportar as amostras de ar
alveolar, devem ser utilizados recipientes de plástico laminado específicos, nos quais as
amostras podem permanecer por até três semanas (AROLA, 1994).
A determinação da concentração de hidrogênio nas amostras de ar expirado é realizada
por cromatografia gasosa (HAMMER et al., 1996). Os critérios para interpretação do teste do
hidrogênio expirado no diagnóstico de má absorção de lactose podem variar segundo os
diferentes autores. O exame, porém, está sempre baseado na comparação do valor basal de
hidrogênio expirado, geralmente obtido da amostra em jejum, com os valores subseqüentes à
administração de lactose (PERMAN et al., 1984). Em alguns casos, os níveis de hidrogênio
em jejum estão aumentados, o que pode significar supercrescimento bacteriano, estase
intestinal, refeição muito rica em carboidrato na noite anterior ou jejum inadequado
(STROCCHI et al., 1988; RIORDAN et al., 2000).
Resultados falsamente negativos ocorrem quando a flora bacteriana do cólon não é
produtora de hidrogênio, quando a microbiota intestinal está reduzida por uso de alguns
antibióticos, ou por limpeza do cólon com o uso de enemas e laxativos ou por pH ácido do
cólon, quando a flora bacteriana intestinal consome o hidrogênio, esvaziamento gástrico
diminuído por refeição rica em gorduras, trânsito intestinal aumentado por diarréia e
alterações no padrão ventilatório por taquipnéia (SEVÁ-PEREIRA et al., 1999).
Resultados falsamente positivos ocorrem quando há um aumento na população
bacteriana produtora de hidrogênio do cólon podendo causar pico precoce 20 a 30 minutos
após a ingestão do carboidrato, alteração na motilidade do tubo digestivo com aumento do
33
trânsito intestinal no intestino delgado e maior o tempo de estase dos conteúdos alimentares
no cólon (pacientes com gastrectomias ou uso de medicações procinéticas), alteração no
padrão ventilatório (pacientes com hipoventilação) e fumantes, visto que a fumaça do cigarro
contém hidrogênio (SEVÁ-PEREIRA et al., 1999; FLATZ et al., 1984).
Biópsia intestinal e medida da atividade da lactase
A biópsia intestinal propicia a dosagem bioquímica da atividade da enzima ou a
dosagem semiquantitativa através da histoquímica na mucosa intestinal. Os dois métodos
foram padronizados por Dahlqvist em 1970 (SEVÁ-PEREIRA, 1982). Este método
proporciona uma medida direta da atividade da lactase no intestino delgado. É, no entanto, um
exame invasivo e necessita exposição à radiação (NEWCOMER & MC GILL, 1966a).
Geralmente são obtidas biópsias da mucosa, no ligamento de Treitz, por instrumentos
posicionados com controle fluoroscópico. Nos últimos anos, a biópsia jejunal tem sido
substituída pela duodenal, obtida por endoscopia (GUPTA et al., 1999; AURICCHIO &
TRONCONE, 2000).
As atividades da lactase e da sucrase são determinadas de acordo com o método de
Dahlqvist e expressas em unidades por grama de tecido homogeneizado ou por grama de
proteína. Embora não exista consenso sobre a definição de hipolactasia, atividade da lactase
abaixo de 2 U/g de mucosa ou de 5 U/g de proteína é considerada hipolactasia pela maioria
dos autores (NEWCOMER & MC GILL, 1966b; BRUMMER et al., 1993). Mais
recentemente, um nível de 8-13 U/g de proteína tem sido proposto como diagnóstico
34
(WELSH et al., 1978; HIELE et al., 1988). A relação lactase/sucrase inferior a 0,3 também é
indicativa de hipolactasia (BRUMMER et al., 1993).
Apesar da vantagem de ser um método direto, este exame pode apresentar falhas no
diagnóstico de má absorção de lactose, uma vez que a atividade da lactase pode ser variável
nas diferentes porções do intestino delgado (SEVÁ-PEREIRA et al., 1999). Além disso, a má
absorção de lactose pode ocorrer por outros fatores que não a deficiência enzimática, como é
o caso de uma aceleração do trânsito no intestino delgado. Outro fator a ser considerado é que
na biópsia intestinal não podemos identificar a presença de sintomas após a ingestão de
lactose durante o procedimento, dificultando assim, o diagnóstico de intolerância à lactose
(HÖGENAUER et al., 2005).
1.5 – Influência da Etnia na Hipolactasia Primária do Tipo Adulto
Os indivíduos podem ser divididos em três grupos quanto à prevalência de má
absorção de lactose no adulto: o grupo de alta prevalência (60 a 100%), que corresponde aos
maus absorvedores; o grupo de baixa prevalência (0 a 30%), que corresponde aos
absorvedores; e o grupo de prevalência intermediária (30 a 60%). Esta distribuição foi
realizada através de uma revisão da prevalência de má absorção de lactose do adulto em
muitas populações e somente foram reunidos os dados a respeito de indivíduos saudáveis, sem
doenças, sem desnutrição e com mucosa intestinal normal à histologia, portanto, sem causas
35
de deficiência secundária de lactase (SEVÁ-PEREIRA et al., 1982; FLATZ, 1987; FLATZ at
al., 2000).
De acordo com SAHI. (1994b) a hipolactasia primária do tipo adulto afeta 75% da
população mundial com grandes diferenças regionais em um mesmo país e prevalências
epidemiológicas discrepantes em diferentes países e continentes. Em alguns países asiáticos a
prevalência de hipolactasia chega a 100% na população, enquanto que no norte da Europa a
prevalência é de apenas 2%. Na Alemanha foi observado uma prevalência de hipolactasia do
tipo adulto de 15% e de 25% nos Estados Unidos da América (SAHI, 1994b).
A má absorção de lactose é o fenótipo predominante nas populações nativas da
Austrália, Oceania, leste e sudeste da Ásia, África tropical e Américas. Existem dois grupos
populacionais distintos nos quais os indivíduos mantêm a atividade da lactase na vida adulta:
habitantes dos países do norte e região central da Europa e povos nômades das zonas áridas
do norte da África e Arábia (AURICCHIO & TRONCONE, 2000). A miscigenação entre
populações com alta e baixa freqüência de má absorção de lactose, faz com que haja locais
com freqüências intermediárias dos dois fenótipos.
Em geral, os povos com alta prevalência de má absorção de lactose do adulto são os
que têm tradição agrícola e caçadora, que nunca beberam leite, ou que passaram a ingeri-lo há
poucos milhares de anos. São os esquimós, índios das Américas, a maioria dos africanos, dos
povos do Oriente Médio e da Ásia e, seus descendentes. Neste grupo também estão incluídos
grande parte dos judeus e dos árabes que ingerem leite desde a antigüidade, mas em forma de
produtos lácteos fermentados, e, portanto, pobres em lactose. A baixa prevalência ocorre
naqueles que têm tradição pastoril, e têm consumido leite e produtos ricos em lactose por
longo período, que viveram este tempo sob pressões dietéticas, e também seus descendentes.
36
São alguns africanos de origem hamita, europeus do Norte e Centro e alguns indianos e
árabes. Os grupos com prevalência intermediária são aqueles mestiços dos anteriores:
africanos mestiços de bantos e hamitas, mestiços de europeus com orientais e com índios
(BEIGUELMAN, SEVÁ-PEREIRA & SPARVOLI, 1992; HOLDEN & MACE, 1997;
FLATZ at al., 2000; HOLLOX et al., 2001).
Existem poucos estudos realizados no Brasil para identificar a prevalência de
hipolactasia do tipo adulto e os métodos de diagnóstico de má absorção de lactose utilizados
foram diferentes, o que torna difícil chegar a um consenso sobre a real prevalência. Estima-se
que na população brasileira, a freqüência de hipolactasia primária do tipo adulto é
aproximadamente 50% nos caucasóides, 85% nos negróides e 100% nos orientais. Estes
dados variam de acordo com a região estudada e com o grau de miscigenação. Estudos
realizados em brasileiros adultos sadios e sem deficiência secundária de lactase, nascidos em
três regiões do Brasil (Sudeste, Sul e Nordeste) demonstraram os resultados descritos no
quadro 3. No Nordeste, onde a miscigenação é muito intensa, os indivíduos são considerados
triíbridos (negróides x portugueses x índios), no Sul há pequena mistura racial (influência
italiana, portuguesa, germânica) e no Sudeste, a mistura racial é média. (SEVÁ-PEREIRA &
BEIGUELMAN, 1982; SPARVOLI, 1990).
37
Quadro 3 - Prevalência de má absorção de lactose do adulto no Brasil de acordo com as raças
e as regiões estudadas
Região Sudeste Sul Nordeste
Raça (%) (%) (%)
Caucasóides 45 46
Negróides 85 73
Mongolóides 100
Triíbridos 76
Fonte: SEVÁ-PEREIRA & BEIGUELMAN, 1982; SPARVOLI, 1990.
Estudo recente realizado em São Paulo, com 115 indivíduos adultos com suspeita de
má absorção de lactose foram submetidos à endoscopia e, a análise inunohistoquímica
demonstrou uma prevalência de 60,8% de hipolactasia do tipo adulto, sendo 53,2% nos
indivíduos brancos e 91,3% nos sujeitos não-brancos (ESCOBOZA et al., 2004).
GARRIDO et al. (1976) em estudo envolvendo 30 pacientes submetidos à cirurgia por
úlcera duodenal em São Paulo, verificou a atividade de dissacaridases (maltase, sacarase e
lactase), obtendo uma prevalência de má absorção de lactase de 73,3% no grupo estudado.
Outros estudos realizados no Brasil, em populações pediátricas, utilizando método indireto
para diagnosticar má absorção de lactose (teste do hidrogênio expirado), obtiveram
prevalências diferentes entre os estados. REIS et al. (1999) em estudo feito em São Paulo com
83 crianças e adolescentes com idade entre 7 a 15 anos, obteve uma prevalência de 22,9% de
má absorção de lactose. FIGUEIREDO et al. (2000) em Minas Gerais estudou 435 crianças e
38
adolescentes na mesma faixa etária do estudo anterior, obteve uma prevalência de 49,2% de
má absorção. PRETTO et al. (2002) em Porto Alegre, estudou 225 escolares entre 8 e 18 anos
de idade e verificou uma prevalência de 8,4% de má absorção de lactose, sendo 15,5% em
indivíduos de cor não-branca e 5,2% em crianças e adolescentes de cor branca.
1.6 – Hipóteses Formuladas para Explicar a Diferença da Prevalência Mundial
de Hipolactasia
A teoria denominada histórico-cultural postula que a domesticação de animais leiteiros
no período neolítico, há cerca de 9000 anos atrás, resultou em uma vantagem seletiva dos
indivíduos que podiam satisfazer uma proporção maior de suas necessidades nutricionais,
principalmente protéicas, pela disponibilidade de leite como fonte alimentar. Para estas
comunidades pastoris, principalmente do Norte e Nordeste da Europa, onde havia escassez de
alimentos diversificados e temperaturas extremamente baixas, a inclusão do leite na ração
alimentar, propiciaria a estes povos primitivos uma maior resistência. A conseqüente
modificação no contexto alimentar destas populações, teria exercido uma pressão seletiva
para aquisição e propagação de uma mutação dominante, responsável pela persistência da
atividade da lactase na vida adulta. Os indivíduos com essa mutação seriam beneficiados
nutricionalmente pelo consumo de leite, sem apresentar sintomatologia relacionada com a má
absorção de lactose. Se tal fato conferisse vantagens para a sobrevivência desses indivíduos, a
proporção dos genótipos relacionados com a persistência de lactase tenderia a aumentar
nessas populações (FLATZ at al., 2000). De fato, estudos demonstraram que áreas com
39
tradição na criação de gado e consumo de leite apresentam taxas menores de hipolactasia
(KRETCHMER et al., 1971). Para explicar a baixa prevalência de hipolactasia no norte da
Europa, surgiu outra hipótese, baseada no efeito da lactose sobre a absorção intestinal de
cálcio. Nessa região, a prevalência de deformidades ósseas, raquitismo e osteomalácia era
bastante alta em razão da pouca irradiação solar. Considerando que a lactose aumenta a
absorção de cálcio, os indivíduos com persistência da lactase apresentariam menor incidência
de complicações ósseas e maior sobrevida, havendo assim, uma seleção natural favorecendo
esse fenótipo (FLATZ at al., 2000).
1.7 – Polimorfismos associados com a Hipolactasia do tipo Adulto
A enzima intestinal lactase ou lactase florizina hidrolase (LPH) é codificada pelo gene
LCT localizado no cromossomo 2 (AROLA & TAMM, 1994). Sua persistência na vida adulta
tem herança autossômica dominante, enquanto que a hipolactasia é herdada de forma
autossômica recessiva (SAHI, 1974; SAHI & LAUNIALA, 1977; LISKER,1996). Os
indivíduos homo ou heterozigotos para o alelo dominante são os absorvedores de lactose, e os
não-absorvedores são homozigotos para o alelo autossômico recessivo.
Por muitos anos, foi sugerido que um polimorfismo genético no gene LCT fosse
responsável pela determinação dos níveis altos da enzima na vida adulta e, conseqüentemente,
tolerância à lactose (HARVEY et al., 1998). Mutação é qualquer alteração do DNA,
independente do seu efeito no fenótipo, enquanto que polimorfismo é o nome dado a
40
variações que apresentam uma freqüência de pelo menos 95% na população. Polimorfismos
em nucleotídeos únicos (SNPs), são mutações de pontos na seqüência do genoma onde uma
fração da população possui um nucleotídeo, enquanto outra grande fração possui outro
nucleotídeo (STONEKING et al., 2004). No caso da lactose, uma mutação com alta
freqüência em algumas populações, portanto um polimorfismo, seria responsável pelos
diferentes fenótipos: absorvedores e não absorvedores de lactose.
MAIURI et al. (1991) demonstraram, através da utilização de anticorpos monoclonais
que em indivíduos com persistência de níveis altos de atividade de lactase na vida adulta, a
enzima se distribuiu uniformemente em todos os enterócitos das vilosidades. Por outro lado,
em indivíduos com hipolactasia primária do tipo adulto, ocorrem duas situações: em alguns
indivíduos a lactase não foi detectada, enquanto em outros se demonstrou um padrão tipo
mosaico, com alguns enterócitos expressando lactase, circundados por áreas em que não havia
evidências da presença da enzima.
Em estudo posterior, MAIURI et al. (1994) compararam a distribuição do RNA
mensageiro (RNAm), da lactase e da atividade dessa enzima em tecidos obtidos de indivíduos
com persistência da atividade da lactase e com hipolactasia. Nos indivíduos com persistência
da atividade enzimática, o RNAm foi detectado uniformemente no citoplasma de todos os
enterócitos dos vilos estudados. A presença da enzima e sua atividade também foram
demonstradas na membrana da borda em escova desses indivíduos. Nos com hipolactasia,
foram encontrados vários tipos de enterócitos em um mesmo vilo: enterócitos sem RNAm;
com RNAm e sem lactase; com RNAm e lactase mas sem atividade hidrolítica e com RNAm,
lactase e atividade hidrolítica. Como os diferentes fenótipos podem ser encontrados na mesma
vilosidade, os autores concluíram que o controle da expressão da lactase nos enterócitos é
41
complexo e ocorre através de vários mecanismos. A existência de diferenças entre as células
de um mesmo vilo de um indivíduo sugere que a expressão da lactase pode estar
comprometida em vários estágios. A mutação dominante que leva à persistência da lactase em
adultos, por algum mecanismo altera essa heterogeneidade. Muitos polimorfismos de
nucleotídeos (SNPs) tem sido descritos no gene da LCT em diferentes regiões (HOLLOX et
al., 2001; SWALLOW, 2003).
Em um estudo recente foram descritos 2 polimorfismos (SNPs) fortemente associados
com a hipolactasia primária do tipo adulto. Um nucleotídeo C na posição -13910 (C
-13910
) no
gene da LCT é 100% associado com a não persistência da lactase e um nucleotídeo G na
posição - 22018 (G
-22018
) é associada em mais de 95% com a não persistência da enzima em
adultos finlandeses. As variantes T-13910 e A-22018 estão associadas com a persistência da
enzima lactase em adultos (ENATTAH et al., 2002). Os autores realizaram um estudo em 9
famílias finlandesas (n = 236) usando 7 marcadores em uma região de 200 kb. O marcador
D2S2196 definiu uma região crítica de 47 kb, localizada na região 5’ do gene da lactase
(LCT). O único gene nesta região é o MCM6, um fator de replicação celular. Não foram
observadas variações na região codificante deste gene. Utilizando 43 SNPs os autores
identificaram duas mutações com co-segregação completa nas famílias: C/T-13910 e G/A-
22018. Todos os indivíduos não persistentes de lactase eram homozigotos CC/GG. As
alterações C/T-13910 e G/A-22018 estão localizadas nos introns 13 e 9 do gene MCM6,
respectivamente, e os números correspondem à distância do códon de iniciação do gene da
lactase. Portanto, estas alterações estão na região promotora do gene LCT, ou seja, a região
que controla a expressão enzimática.
42
Em estudo posterior, ENATTAH et al. (2002) analisaram a presença dessas alterações
em 196 DNAs de biópsias de intestino, assim distribuídas com os respectivos resultados: 59
indivíduos sem atividade de LPH (53 sujeitos com genótipo CC/GG e 6 com o genótipo
CC/GA) e 137 indivíduos com atividade de LPH (74 sujeitos com o genótipo TT/AA e 63
CT/GA). Analisaram ainda a freqüência dos genótipos em 40 indivíduos não finlandeses sem
atividade de LPH, sendo 23 coreanos, 9 italianos e 8 alemães. Todos foram homozigotos
CC/GG, exceto um italiano que era CC/GA. Finalmente, compararam as freqüências destas
mutações em 938 finlandeses e 205 não finlandeses, sendo que os valores encontrados eram
todos compatíveis com os dados epidemiológicos de persistência e não persistência de LPH
nas populações estudadas. Os resultados obtidos no estudo estão descritos no quadro 4. Desta
forma, demonstraram a associação das mutações C/T-13910 e G/A-22018, especialmente a
primeira, com a persistência da atividade da lactase (LPH) na vida adulta.
43
Quadro 4 - Freqüência do fenótipo de hipolactasia em indivíduos finlandeses e não
finlandeses
Nacionalidade Genótipo Fenótipo n (%)
Finlandesa CC não persistência de
lactase
169 (18)
Francesa CC não persistência de
lactase
17 (41,2)
Norte-americanos CC não persistência de
lactase
92 (7,6)
Afro-americanos CC não persistência de
lactase
96 (79,2)
Fonte: ENATTAH et al. (2002)
KUOKKANEN et al. (2003) analisaram 52 pacientes com sintomas gastrointestinais
associados à má absorção de lactose. Os pacientes foram submetidos a duas biópsias
duodenais por endoscopia, evidenciando vilosidades normais, logo descartando deficiência
secundária de lactase. Mediram os níveis de atividade de lactase e sucrase e, também
analisaram o DNA de sangue periférico para a determinação das mutações. Os resultados
obtidos demonstraram que os indivíduos com o genótipo CC/GG não apresentaram atividade
de LPH e os indivíduos com os genótipos CT/GA e TT/AA apresentaram atividade
44
enzimática normal. Nos indivíduos heterozigotos C/T, os autores utilizaram outros
marcadores na região codificante do gene, que 92% dos RNAm correspondiam ao alelo T.
Dessa forma, demonstraram que o polimorfismo está associado diretamente ao controle da
expressão gênica da enzima.
OLDS & SIBLEY. (2004) investigaram o mecanismo pelo qual ocorre o controle da
expressão gênica em uma linhagem de enterócitos (células Caco-2) e verificaram que o
promotor T é mais expresso que o promotor C, mas que não há diferença entre as variantes G
e A. Observaram maior interação do promotor T com fatores de transcrição, mas não com o
elemento AP2 que havia sido anteriormente sugerido como responsável por esta regulação
(TROELSEN, 2005).
POULTER et al. (2003) em estudo recente, analisaram 47 indivíduos, sendo 36
sujeitos com persistência de LPH e todos eles apresentaram o alelo T, o qual estava ausente
nos 11 indivíduos sem a persistência da lactase. Entretanto, argumentaram que o genótipo CT
não explica toda a variação na expressão da enzima LPH, especialmente porque os sujeitos
heterozigotos não apresentam níveis intermediários na atividade enzimática, como seria o
esperado. Estes estudos sugerem que a detecção direta das mutações C/T-13910 e G/A-22018
poderia ser usada como método diagnóstico de intolerância à lactose, por métodos baseados
em PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).
2 – JUSTIFICATIVA
Os métodos convencionais de avaliação de má absorção e intolerância à lactose
disponíveis (teste de tolerância à lactose e teste de hidrogênio expirado) são eficazes, no
entanto, podem causar desconforto para os pacientes, tais como: vômitos, distensão
abdominal, cólica e diarréia grave. Neste sentido, o estudo da determinação do mecanismo
molecular associado à má absorção de lactose pode auxiliar na ampliação de um método
diagnóstico preciso e que ocasiona menor desconforto para os pacientes.
Este estudo pretende avaliar as mutações no gene da lactase-florizina hidrolase (LPH)
em indivíduos adultos procedentes de Porto Alegre que se auto-referem como tolerantes ou
intolerantes à lactose através do teste de hidrogênio expirado e técnica de PCR. Este estudo
não é um estudo de base populacional, mas sim, uma análise entre a presença de mutações no
gene da LPH e o teste de hidrogênio expirado.
3 – OBJETIVOS
3.1- Objetivo Geral
Verificar a relação entre a presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018 no gene da
lactase-florizina hidrolase e a absorção de lactose em uma amostra de indivíduos residentes no
município de Porto Alegre auto-referidos como tolerantes ou intolerantes à lactose.
3.2- Objetivos Específicos
9 avaliar a absorção de lactose através do teste do hidrogênio expirado;
9 padronizar a técnica de PCR para verificação das mutações do gene da lactase;
9 estudar a concordância entre os dois métodos.
4- CASUÍSTICA E MÉTODOS
4.1- Delineamento
Trata-se de um estudo diagnóstico quase experimental que tem como desfecho a
presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018 no gene da Lactase-Florizina Hidrolase e
como fatores a presença ou a ausência de sintomas relacionados à absorção da lactose.
4.2- População em Estudo
A população em estudo foi constituída por indivíduos adultos, sadios, maiores de 18
anos de idade, procedentes do município de Porto Alegre.
48
4.3- Amostra e Amostragem
Seleção da Amostra
A amostra foi constituída de indivíduos convidados a participarem do estudo mediante
dois critérios estabelecidos previamente: a quantidade diária de leite de vaca ingerido
habitualmente e a presença ou não de sintomas clínicos após a ingestão de leite.
A amostra foi dividia em 2 grupos:
- o grupo de indivíduos que se auto-referiam tolerantes à lactose (consumo igual ou
superior a 3 copos de leite ao dia) sem a presença de sintomas.
- o grupo de indivíduos que se auto-referiam intolerantes à lactose (consumo de até 1
copo de leite ao dia) com a presença de sintomas clínicos.
Os candidatos compareceram ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre em 8 horas de
jejum e permaneceram no local pelo menos 3 horas consecutivas.
49
Critérios de Inclusão
Foram considerados elegíveis para a pesquisa os indivíduos sadios, voluntários,
maiores de 18 anos de idade, com o consumo de leite de vaca igual ou superior a 3 copos
(750ml) de leite ao dia sem a presença de sintomas e também indivíduos com consumo de
leite de até 250ml (1 copo) e relato de algum desconforto após sua ingestão.
Critérios de Exclusão
Foram excluídos do estudo os indivíduos com as seguintes condições:
- diagnóstico prévio de doença com contra-indicação ao uso de lactose;
- tempo de jejum inferior a 8 horas;
- uso de antibióticos, enemas ou laxativos nos 15 dias precedentes ao exame;
- diarréia no dia da realização do exame ou nos 7 dias precedentes;
- fumo nas 6 horas precedentes ao exame ou durante a realização do mesmo;
- uso de medicações antiparasitárias nos 30 dias precedentes ao exame ou em
tratamento;
- inabilidade para a realização adequada do exame;
50
- não assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
Cálculo do Tamanho da Amostra
Partindo-se da inexistência de dados sobre as mutações T-13910 e A-22018 na
população brasileira, a freqüência do alelo C nos indivíduos mau-absorvedores de lactose é de
100% (ENATTAH et al., 2002). Estimou-se um tamanho amostral total de 20 indivíduos para
um intervalo de confiança de 95% e um poder de 90% com margem de erro para 10%.
4.4- Variáveis Estudadas
Absorção de Lactose
A má absorção de lactose foi diagnosticada quando o aumento máximo da
concentração de hidrogênio foi 20 ppm em relação ao nível basal. De acordo com o
resultado do teste de hidrogênio expirado, os indivíduos foram classificados em: absorvedores
e não-absorvedores de lactose.
51
Sinais Clínicos
Foram verificados os sinais e sintomas apresentados durante a aplicação do exame de
sobrecarga de lactose e também um acompanhamento por 12hs após o término do exame em
ambos os grupos para identificar os sintomas mais freqüentes apresentados pelo grupo dos
não-absorvedores e averiguar se o grupo dos absorvedores não apresentou nenhum sintoma
tardio.
Desfecho de Interesse: presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018
A presença das mutações T-13910 e A-22018 foi identificada a partir de uma amostra
de sangue periférico, através de análise molecular pela técnica da PCR – Reação em Cadeia
da Polimerase e digestão com enzima de restrição específica. Pela análise do padrão
migratório do produto de digestão após eletroforese em gel de agarose a 1,5% foi possível
constatar a presença ou não das mutações em estudo.
De acordo com o resultado da análise molecular, os indivíduos foram classificados
como: lactase persistentes e lactase não persistentes.
52
4.5- Técnica do Teste de Hidrogênio Expirado
O teste do hidrogênio expirado foi realizado em duas etapas: coleta e armazenamento
do material biológico e análise dos níveis de hidrogênio através de cromatografia gasosa no
Centro de Pesquisas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Para a coleta das amostras de ar expirado foi utilizado um sistema coletor (Quintron
R
),
que consta de dois recipientes, interligados por uma válvula em T, com fluxo unidirecional
(figura 1). A válvula é conectada a um bucal. Após a inspiração normal, o indivíduo expira
através do bucal, preenchendo o primeiro recipiente plástico com ar do espaço morto. Com a
pressão, haverá abertura da válvula, e o restante do ar expirado será coletado no segundo
recipiente, o qual é impermeável, não permitindo escape ou contaminação da amostra. Após o
preenchimento do segundo recipiente, a coleta é finalizada e o mesmo é destacado e vedado.
A amostra pode ficar aí armazenada ou ser transferida para seringas ou recipientes específicos
para armazenamento. Com esta técnica, obtém-se uma amostra significativa do ar alveolar.
Neste estudo foram utilizados recipientes específicos para armazenamento com
capacidade para 750ml, nos quais as amostras permaneceram até serem analisadas. Eram
armazenadas amostras de 300 a 500ml de cada indivíduo. Os recipientes conforme
demonstrado na figura 1 eram esvaziados e reutilizados.
53
Figura 1 - Recipiente utilizado para coleta das amostras de ar expirado
54
O aparelho de cromatografia gasosa empregada para medida da concentração do
hidrogênio no ar expirado foi um cromatógrafo de gás (Quintron Microlizer, modelo 12i) com
sensibilidade de 1 ppm de hidrogênio e acurácia de ± 2 ppm de hidrogênio.
Para a análise da concentração de hidrogênio nas amostras de ar expirado, inicialmente
o aparelho era calibrado com um gás de referência que continha uma concentração conhecida
de hidrogênio. Foi utilizado gás com uma concentração de hidrogênio de 96 ppm. Após este
processo, assegurando-se a exatidão do aparelho, iniciava-se a medida das amostras. Uma
quantidade de 20ml de ar era aspirada com uma seringa do recipiente onde estava armazenada
e injetada no cromatógrafo. A seguir, a amostra era conduzida através de uma coluna de
cromatografia por gás carreador. O gás carreador utilizado é o ar atmosférico filtrado por uma
coluna preenchida com material que retém impurezas, tais como álcool, acetona ou gases
orgânicos. Os componentes da amostra são separados de acordo com sua velocidade de
deslocamento até a extremidade distal da coluna. Nesse local, há um sensor que detecta
hidrogênio e emite um sinal proporcional à concentração do gás. Esse sinal analógico é
convertido para a forma digital (em ppm, de acordo com as unidades utilizadas para
calibragem) e exibido no visor do aparelho, alguns minutos depois de iniciada a análise.
Foi considerado como critério de positividade o aumento nas concentrações de
hidrogênio igual ou superior a 20 ppm acima do nível basal.
55
4.6- Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR)
Os testes de biologia molecular foram feitos no Centro de Terapia Gênica do Hospital
de Clínicas de Porto Alegre.
A presença das mutações foi analisada por técnica da PCR usando os primers descritos
abaixo, desenhados para este trabalho (USM).
Para a realização da PCR foram coletados 10ml de sangue periférico em EDTA no
momento da realização do teste de hidrogênio expirado. O DNA foi extraído através de kit
comercial de extração (Easy-DNA
TM
, Invitrogen). O DNA foi utilizado exclusivamente para
este estudo, sendo posteriormente descartado. Medidas adicionais de preservação do
anonimato dos participantes foram tomadas pela codificação das amostras de DNA e
resultados de teste de hidrogênio expirado.
Os primers utilizados para a amplificação do polimorfismo C/T-13910 foram os
seguintes: primer foward 5’-AAGACGTAAGTTACCATTTAATAC-3’ e o primer reverse
5’-CGTTAATACCCACTGACCTATCCT-3’. Os primers utilizados para a amplificação
do polimorfismo G/A-22018 foram os seguintes: primer foward 5’-
TAAGAACATTTTACACTCTTC-3’ e o primer reverse 5’-
AGAAAATGGGTTTTCGCCATG-3’.
Para cada reação de PCR foram utilizados: 1x Tampão KCl, 0,2 nM de dNTP, 1,5 nM
de MgCl
2,
20 pmol de primer foward, 20 pmol de primer reverse e 1 µ de Taq DNA
Polimerase e 100 ng de DNA, totalizando um volume final de 50 µL em água destilada.
56
Todos os reagentes foram adquiridos da Invitrogen. As reações de amplificação foram
realizadas em aparelho termociclador do tipo Eppendorf Personal Cycler e cada reação era
composta de 30 ciclos de 90 segundos e temperatura de anelamento de 56° C.
Após a reação de PCR, o produto da mesma era verificado em gel de agarose 1,5%,
corado com brometo de etídio. Uma vez que houvesse a confirmação da amplificação da
seqüência pretendida, era realizada a digestão enzimática.
A digestão foi realizada através das enzimas de restrição BsmFI (New England
Biolabs) para a mutação C/T-13910 e HhaI (Invitrogen) para a mutação G/A-22018 nas
seguintes condições: 16 µL de água, 3 µL de tampão, 1 µL de enzima de restrição e 10 µL de
produto de PCR por 4 horas a 65º C e 37º C respectivamente.
O resultado foi verificado por eletroforese em gel de agarose a 2% e classificados em
CC, CT, TT e GG, GA, AA.
4.7- Logística
Foram incluídos no estudo 20 indivíduos residentes no município de Porto Alegre,
sendo 18 sujeitos caucasóides e 1 voluntário com descendência asiática que demonstraram
interesse em participar da pesquisa após o esclarecimento sobre a mesma.
57
As coletas das amostras de hidrogênio expirado ocorreram durante o período
compreendido entre os meses de outubro a dezembro de 2004.
Ao chegar ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no turno da manhã, o indivíduo
voluntário que estivesse em jejum e com o termo de consentimento livre e esclarecido
preenchido e assinado era encaminhado ao Centro de Pesquisas e recebia as orientações sobre
como deveria proceder durante as coletas para permanecer no estudo. Previamente, no
momento da seleção dos voluntários era verificado se os mesmos apresentavam alguma
condição listada nos critérios de exclusão e também eram submetidos a um questionamento
sobre a quantia de leite ingerida diariamente, bem como se apresentava algum sintoma após o
consumo de leite ou derivados. Àqueles que consumiam leite no mínimo três vezes ao dia
habitualmente era solicitado que antes do dia marcado para o exame, ingerisse 1 litro de leite
em um dia e observasse qualquer manifestação de desconforto abdominal, bem como outros
sintomas.
No dia do exame, inicialmente era coletada a primeira amostra de ar expirado (em
jejum), e o voluntário recebia 50g de lactose diluída a 20% em um volume final de 250ml de
água. A ingestão da lactose era efetuada em até 2 minutos sob supervisão. Após esse
momento, só era permitida a ingestão de água até o término das coletas. As coletas
subseqüentes eram realizadas 60, 120 e 180 minutos após a administração da lactose. No
intervalo, os indivíduos permaneciam na sala de exame e era coletada a amostra de sangue
para análise molecular. Após a quarta coleta, os indivíduos recebiam um lanche, eram
liberados e eram contatados pela autora por 12hs após o término do experimento para o
acompanhamento da melhora ou piora dos sintomas apresentados durante o exame ou o
aparecimento de algum sintoma tardio.
58
As amostras de ar eram armazenadas em recipientes específicos e analisadas entre as
coletas através de cromatografia gasosa.
Todas as coletas foram realizadas pela autora com auxílio de uma médica
colaboradora do estudo para coleta de sangue e um acadêmico de medicina. A análise das
amostras e a medida de hidrogênio expirado foram realizadas pela autora.
O sangue coletado durante o teste do hidrogênio expirado foi congelado até o
momento da análise molecular das mutações que ocorreram a partir de julho de 2005.
A extração de DNA e a técnica da Reação em Cadeia da Polimerase foram realizadas
no Centro de Terapia Gênica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre pela autora com o
auxílio e a supervisão de 2 biólogas colaboradoras deste estudo.
4.8- Análise Estatística
A análise estatística descritiva foi utilizada para caracterização da amostra com uso de
gráficos e tabelas. As variáveis quantitativas foram descritas através de média e desvio padrão
ou mediana e percentis 25–75. As variáveis qualitativas foram descritas através de freqüências
absoluta e relativa. Para avaliar a normalidade dos dados foi aplicado o teste de Shapiro-
Wilks, resultando nos níveis de H
2
expirado como uma distribuição assimétrica.
59
A comparação dos níveis de hidrogênio expirado dentro dos grupos dos tolerantes e
intolerantes à lactose foi realizada através do teste de Friedman e para complementar este
teste na presença de significância estatística foi aplicado o teste de Wilcoxon.
A comparação dos valores da excreção de H
2
nos quatro momentos do teste (basal, 60,
120 e 180 minutos) entre os grupos dos absorvedores e não absorvedores foi obtida através do
teste de Mann-Whitney.
A avaliação da concordância entre os testes de hidrogênio expirado e análise
molecular foi obtida através do Coeficiente de Kappa. O nível de significância adotado foi de
5%.
Os dados foram processados e analisados por meio do programa SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences) versão 10.0.
4.9- Considerações Éticas
O protocolo do presente estudo e seu termo de consentimento livre e esclarecido foi
aprovado pela Comissão Científica do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas
de Porto Alegre e Comissão de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (projeto nº 04123).
60
As amostras de sangue foram identificadas por códigos e descartadas ao término do
estudo.
A inclusão no estudo dos indivíduos voluntários só ocorreu após a assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido (ANEXO 1).
5- RESULTADOS
5.1 – Características da Amostra
Vinte indivíduos foram convidados a participarem do estudo. Dezoito voluntários
eram caucasóides e 1 pessoa era de descendência asiática, com idade superior a 18 anos. Dos
20 indivíduos incluídos no estudo, dois eram do sexo masculino e dezoito (90%) eram do
sexo feminino. A média de idade da amostra foi de 32,7 ± 7,3 anos (tabela 1).
62
Tabela 1 - Características gerais dos indivíduos estudados
Variável n = 20
Idade (anos) 32,7 ± 7,3
Sexo feminino, n (%) 18 (90)
Sexo masculino, n (%)
Caucasóides, n (%)
2 (10)
19 (95)
Asiático, n (%) 1 (5)
Os sintomas apresentados pelos 10 voluntários que se auto-referiam como intolerantes
à lactose durante a aplicação do teste de hidrogênio expirado e até 12hs após o término do
exame, estão descritos na tabela 2. Seis dos 10 indivíduos que se auto-referiam como
tolerantes à lactose informaram ter uma necessidade de ingestão alimentar imperiosa durante
os primeiros 60 minutos do exame e 4 indivíduos deste grupo não apresentaram queixa
alguma.
63
Tabela 2 - Sintomas apresentados pelos indivíduos auto-referidos intolerantes à lactose
durante o teste do H
2
Relato de Sintomas n= 10
Distensão abdominal, n (%) 5 (50)
Náuseas, n (%) 5 (50)
Flatulência, n (%) 6 (60)
Diarréia, n (%) 5 (50)
Urgência evacuatória, n (%) 3 (30)
Cefaléia, n (%) 3 (30)
Eructação, n (%) 1 (10)
Plenitude gástrica, n (%) 1 (10)
64
5.2 – Resultados do Teste do Hidrogênio Expirado
O teste do hidrogênio expirado foi positivo (nível de hidrogênio maior que 20 ppm em
relação ao nível basal) em 9 (45,0%) dos 20 indivíduos e negativo em 11 (55,0%). Entre os 10
indivíduos que se auto-referiam como intolerantes à lactose, 09 apresentaram os resultados do
teste de H
2
expirado positivo e um indivíduo apresentou o teste H
2
negativo. Entre os 10
voluntários que se auto-referiam como tolerantes à lactose, todos participantes apresentaram o
teste H
2
expirado negativo.
Os resultados dos valores das medianas do teste do hidrogênio expirado, encontrados
nos quatro momentos das coletas (basal, 60, 120 e 180 minutos), tanto nos 10 indivíduos com
os testes positivos quanto nos 10 com os testes negativos, estão demonstrados na tabela 3.
65
Tabela 3 - Avaliação do teste de H
2
expirado
Teste de H
2
Avaliação
positivo *
Mediana (P25 – P75)
negativo **
Mediana (P25 – P75)
P
Basal 7,0
a
(2,0 – 13,0) 8,0 (1,0 – 18,0) 0,822
60 min. 61,0 (37,5 – 94,5) 8,0 (3,0 – 12,0) < 0,001
120 min. 80,0 (60,0 – 101,5) 7,0 (1,0 – 12,0) < 0,001
180 min. 73,0 (62,0 – 102,5) 2,0 (1,0 – 7,0) < 0,001
* Houve diferença estatisticamente significativa pelo teste de Friedman (p = 0,001) entre os 4 momentos das avaliações do H
2
expirado no grupo positivo (não absorvedores);
** Não houve diferença estatisticamente significativa pelo teste de Friedman (p = 0,172) entre os 4 momentos das avaliações
do H
2
expirado no grupo negativo (absorvedores);
a
Pelo teste de Wilcoxon, existe diferença estatisticamente significativa no grupo positivo (não absorvedores) entre o basal e
as avaliações em 60 min (p = 0,008), 120 min (p = 0,008) e 180 min (p = 0,008).
Houve diferença estatisticamente significativa pelo teste de Mann-Whitney nos níveis
de hidrogênio entre os absorvedores (teste H
2
negativo) e não absorvedores (teste H
2
positivo)
nas avaliações em 60 min (p<0,001), 120 min (p<0,001) e 180 min (p<0,001), sendo que o
grupo dos não absorvedores demonstrou um nível mais elevado de hidrogênio em cada uma
dessas avaliações conforme demonstrado na Figura 2. No grupo dos não absorvedores (teste
66
H
2
positivo), houve uma diferença estatisticamente significativa da avaliação do nível basal
para as demais (p=0,008) coletas (Tabela 3).
180 min120 min60 minbasal
Nível de hidrogênio expirado (em ppm)
180
150
120
90
60
30
0
Teste do H2
não absorvedores
absorvedores
79
75
69
66
41
Figura 2 - Comparação entre os níveis de H
2
expirado entre os grupos dos absorvedores e não
absorvedores
67
O maior aumento do hidrogênio expirado no grupo dos não absorvedores (teste H
2
positivo) ocorreu aos 120 minutos. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os
níveis de hidrogênio nas avaliações em 60 min, 120 min e 180 min conforme demonstrado na
Figura 3.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Basal 60 min 120 min 180 min
Momento da avaliação
Nível mediano de hidrogênio
expirado (em ppm)
+
-
Teste do H
2
Figura 3 - Nível de hidrogênio expirado (em ppm) na amostra
68
5.3 – Resultados do Teste Molecular para as Mutações C/T e G/A
A distribuição dos genótipos possíveis para a mutação G/A (AA, GA e GG) entre os
vinte indivíduos estudados está demonstrada na tabela 4 e figura 4. A presença da mutação A-
22018 em ambos os alelos (AA) esteve presente em 4 (20,0%) indivíduos estudados e em 6
(30,0%) indivíduos esteve presente em somente um dos alelos (GA). Desta forma, 10 (50,0%)
dos 20 voluntários da amostra estudada apresentaram resultados positivos para a mutação
citada, considerados mutantes e 10 (50,0%) dos sujeitos apresentaram o genótipo (GG),
considerados não mutantes.
Entre os três genótipos possíveis para a mutação C/T (TT, CT e CC) foi obtido o
seguinte resultado entre os 20 voluntários que participaram do estudo conforme demonstrado
na tabela 4 e figura 4. A presença da mutação T-13910 em ambos os alelos (TT) esteve
presente em 3 (15,0%) sujeitos e em 7 (35,0%) indivíduos esteve presente em somente um dos
alelos (CT). Desta forma, 10 (50,0%) em 20 sujeitos da amostra estudada apresentaram
resultados positivos para a mutação citada, portanto, considerados mutantes e 10 (50,0%) dos
voluntários apresentaram o genótipo (CC), considerados não mutantes.
69
Tabela 4 - Distribuição dos genótipos na amostra.
Genótipos
CC C/T T/T
(n = 10) (n = 7) (n = 3)
GG (n = 10)
10
(100,0 %)
_
_
GA (n = 6)
_ 06
(100,0 %)
_
AA (n = 4)
_ 01
(25,0 %)
3 (75,0%)
70
Figura 4 - Os produtos digeridos do PCR foram amplificados em gel de agarose a 2,5%.
Linhas 1 e 9 mostram produtos de PCR não digeridos. Linhas 2 e 6 mostram indivíduos
homozigotos para os genótipos de não-persistência de lactase CC
13910
e GG
22018;
4 e 8
homozigotos para os genótipos de persistência de lactase TT
13910
e AA
22018
; 3 e 7 indivíduos
heterozigotos para o genótipo de persistência de lactase CT
13910
e GA
22018
. O marcador de
DNA com 50 pb está demonstrado na linha 5.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
71
5.4 – Concordância entre Testes Molecular, H
2
Expirado e Sintomas
Relacionando os resultados verificados quanto à presença das mutações A-22018 e T-
13910, os resultados do teste de hidrogênio expirado e a manifestação de sintomas dos 20
indivíduos analisados obtiveram-se os resultados demonstrados na tabela 5. Foi encontrado
um Coeficiente de Concordância Kappa entre o teste delta H
2
e as mutações G/A-22018 e
C/T-13910 igual a – 0,9 (p < 0,001). Entre os 11 indivíduos absorvedores, 10 (90,9%)
apresentaram as duas mutações (C/T e G/A), o que explica a relação inversa que existe entre
esses dois testes. Entre os sintomas apresentados e as mutações foi identificado um
Coeficiente de Concordância Kappa = – 0,8 (p < 0,001). Dos 10 indivíduos que não
apresentaram sintomas, 9 (90,0%) apresentaram as duas mutações (C/T e G/A). Por fim,
obteve-se um Coeficiente de Concordância Kappa = 0,9 (p < 0,001) entre os resultados do
delta H
2
e os sintomas relatados pelos indivíduos durante o teste. A relação entre esses dois
testes, diferentemente dos demais, é diretamente proporcional, ou seja, entre os 9 não
absorvedores, 9 (100,0%) apresentaram algum tipo de sintoma durante o teste de hidrogênio
expirado. O resultado final entre os testes de sobrecarga de lactose e molecar entre os dois
grupos participantes do estudo que se auto-referiam como tolerantes ou intolerantes à lactose
está demonstrado de forma esquematizada na Figura 5.
72
Tabela 5 - Concordância entre a análise molecular e os testes do hidrogênio e sintomas
Genótipo
Fenotipo
Auto-referido
H
2
Expirado
Sintomas
Gastrointestinais
N = 20
CCGG intolerância Positivo presente n = 9
CCGG tolerância Negativo ausente n = 1
CTGA tolerância Negativo ausente n = 5
CTGA intolerância Negativo presente n = 1
CTAA tolerância Negativo ausente n = 1
TTAA tolerância Negativo ausente n = 3
73
Figura 5 - Representação esquemática dos resultados encontrados.
SIM NÃO
Tolerante
(
auto-referido
)
Absorvedor
(H
2
expirado)
Ausência de
sintomas
Mutação
(alelo T -13910)
6 – DISCUSSÃO
6.1 – Características gerais do estudo
Este trabalho caracteriza-se como sendo um estudo transversal que objetivou verificar
a relação entre a presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018 no gene da lactase-florizina
hidrolase e a absorção de lactose em indivíduos procedentes do município de Porto Alegre. A
amostra foi constituída de 20 indivíduos com idade superior a 18 anos. Os participantes foram
selecionados segundo o relato da quantidade de leite consumida, habitualmente, por dia e
quanto à presença ou ausência de sintomas relacionados à ingestão de leite. Os voluntários
que se auto-referiam como tolerantes à lactose relataram um consumo habitual entre 3 copos
de leite (750ml) a 1 litro de leite ao dia sem a manifestação de sintomatologia associada à
intolerância à lactose e os participantes que se auto-referiam como intolerantes ao leite
relataram um consumo de no máximo 1 copo (250ml) de leite ao dia com a presença de algum
desconforto abdominal até mesmo sintomas mais severos. A má absorção de lactose foi
diagnosticada através do teste de hidrogênio expirado após a ingestão de 50 g de lactose
diluída em solução aquosa a 20%. O teste teve duração de 3 horas e foi considerado positivo
75
quando o aumento foi superior a 20 partes por milhão na concentração de H
2
em relação ao
nível basal. Os voluntários também foram classificados como indivíduos com lactase
persistente e lactase não persistente através da análise molecular dos dois polimorfismos
(C/T-13910 e G/A-22018) responsáveis pela persistência da Lactase Florizina Hidrolase no
adulto pelo método da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR).
6.2 – A Prevalência de Hipolactasia Primária do Tipo Adulto Avaliada através
do Teste do Hidrogênio Expirado
O teste do hidrogênio expirado, que teve seu uso difundido a partir da década de 70,
hoje é uma das técnicas mais utilizadas para o diagnóstico da má absorção de lactose (LEIS et
al., 1997). A simplicidade e a natureza não-invasiva do método tornam-no ideal para
aplicação em estudos epidemiológicos e também em estudos científicos devido sua alta
sensibilidade e especificidade.
AROLA et al. (1988) compararam o teste do hidrogênio expirado (método indireto)
com a medida da atividade da lactase por biópsia jejunal (método direto) em 63 indivíduos
adultos e obtiveram no exame, uma especificidade de 96% e uma sensibilidade de 69%. Os
valores preditivos positivo e negativo foram de 85% e 90% respectivamente.
O teste de tolerância à lactose também é bastante utilizado em estudos de prevalência e
comumente usado na clínica para diagnóstico de má absorção, mas conforme citado
anteriormente neste trabalho, apesar de ser um exame simples, sua sensibilidade e
76
especificidade são questionáveis devido a variações nas taxas de esvaziamento gástrico a ao
metabolismo da glicose (BRUMMER et al., 1993).
Existem protocolos diferentes para a aplicação do teste de hidrogênio expirado quanto
à quantidade de lactose a ser administrada, volume de água para a diluição, tempo total do
exame e tempo de intervalo entre as coletas. Neste estudo foi utilizado o teste clínico
convencional aplicado para indivíduos adultos com suspeita de intolerância à lactose.
Administração oral de 50 g de lactose (equivalente a quantidade de lactose em 1 litro de leite)
diluída em 250ml de água, conforme estudo realizado por BRIET et al. (1997). As coletas de
hidrogênio expirado foram realizadas com intervalos de 60 minutos, conforme demonstrado
por SOLOMONS et al. (1980), esse intervalo não diminui a sensibilidade do exame e o teste
teve duração de 3 horas, com coletas aos 60, 120 e 180 minutos após a ingestão de lactose.
Consideramos como critério de positividade o aumento igual ou superior a 20 ppm de
hidrogênio acima do nível basal, critério mais adotado na literatura. Estudo brasileiro,
realizado por REIS et al. (1999) também preconiza um aumento na concentração de
hidrogênio acima de 20 ppm para o diagnóstico de má absorção de lactose, pois este critério
apresentou melhor correlação com a ocorrência de intolerância à lactose utilizando o teste do
hidrogênio expirado.
Dentre os trabalhos brasileiros publicados nas bases pesquisadas, Capes e Pubmed,
sobre má absorção de lactose, não foi encontrado na literatura, nenhum realizado em
indivíduos adultos procedentes do município de Porto Alegre, somente estudo em crianças.
Estudo realizado no município de Porto Alegre por PRETTO et al. 2002 identificou uma
prevalência de má absorção de lactose de 8,4%, visto que o referido estudo utilizou doses
fisiológicas de lactose em crianças e adolescentes para o diagnóstico (1 copo de 250ml de
77
leite – 12,5 g de lactose). A prevalência observada neste estudo foi considerada elevada para
as características étnicas do Sul do Brasil, considerando a faixa etária estudada, a dose de
lactose e o veículo de administração.
SPARVOLI (1990), estudando 70 indivíduos de 19 a 59 anos nascidos na Região Sul
do Brasil, demonstrou má absorção de lactose em 37,5% dos caucasóides e em 68,18% dos
negróides. O teste utilizado para diagnóstico foi o teste de tolerância à lactose com dose de 50
g de lactose em solução aquosa a 10%. Em São Paulo, TRONCON et al., (1981) também
encontraram taxas mais elevadas de má absorção de lactose em pacientes de cor não-branca
em relação aos de cor branca (94,45% x 68,75%). Tais resultados foram obtidos em pacientes
adultos e com a utilização do teste de tolerância à lactose (dose de 50 g dissolvida em 300ml
de água). Outro estudo efetuado em São Paulo por SEVÁ-PEREIRA et al., (1982) com
adultos demonstrou taxas de 85% de má absorção em indivíduos negróides e de 50% em
caucasóides. A dose de lactose empregada foi de 50 g em solução aquosa a 10%, e o método
diagnóstico foi o teste de tolerância.
Estudo recente realizado em São Paulo, ESCOBOZA et al., (2004), identificaram uma
prevalência de hipolactasia primária do tipo adulto de 60,8%. Entre os 115 pacientes
estudados (idade entre 5 a 60 anos) verificou-se uma maior prevalência de hipolactasia em
indivíduos não-brancos (91,3%) que em indivíduos de cor branca (53,2%). Os pacientes
foram selecionados, pois seriam submetidos à endoscopia por causas diversas: dor epigástrica,
dispepsia, esofagite, refluxo gastroesofágico e úlcera péptica. Durante a endoscopia foram
coletadas 3 amostras da segunda porção do duodeno para análise histológica, medida de
atividade de sucrase e lactase e para análise imunohistoquímica. A quantidade de leite
ingerido, habitualmente, referido pelos pacientes foi similar tanto no grupo dos pacientes com
78
normolactasia quanto no grupo dos indivíduos com hipolactasia. Os pacientes que relataram o
consumo de até 2 copos de leite ao dia (1 copo = 250ml), 24,2% eram normolactásicos e 8,6%
apresentavam hipolactasia. Os pacientes com hipolactasia relataram a presença de sintomas
tais como: diarréia (15,7%), dor abdominal (8,7%), flatulência (4,4%) e 71,4% não referiram
sintomas gastrointestinais. No grupo dos pacientes com normolactasia, os autores, também
observaram: diarréia (11,1%) e dor abdominal (6,7%), sendo que a maioria (82,2%) destes
pacientes não apresentou queixas gastrointestinais.
Em nosso estudo, os sintomas mais relatados pelos voluntários foram: flatulência
(30%), dor abdominal (25%), diarréia (25%) e náuseas (25%). Dos 10 indivíduos que
relataram sintomas durante o teste de sobrecarga com 50 g de lactose, 9 tiveram o teste de
hidrogênio expirado positivo e apenas 1 sujeito apresentou o teste de hidrogênio expirado
negativo. Este resultado negativo talvez possa ser explicado pela possibilidade do indivíduo
apresentar no cólon flora bacteriana não produtora de hidrogênio ou então, presença de
parasitose não tratada. Apesar da medida da concentração de H
2
expirado ser um método de
diagnóstico sensível e específico, pode sofrer influência da velocidade de esvaziamento
gástrico, do uso de antibióticos, do tipo de alimentação, do pH intestinal e também da
capacidade das bactérias do cólon de produzirem H
2
. Cerca de 90% dos adultos possuem
bactérias capazes de produzir H
2,
o que pode resultar em 10% de resultados falsamente
negativos (SEVÁ-PEREIRA et al., 1999). Modificações na qualidade, na quantidade e na
distribuição da flora bacteriana podem alterar o resultado de exame (GARDINER et al.,
1981).
No presente estudo a amostra foi de conveniência e selecionada conforme a queixa
auto-referida de desconforto abdominal após a ingestão de leite em quantidade mínima de 1
79
copo. Por outro lado os critérios de exclusão foram observados em indivíduos assintomáticos
e assim, a possibilidade de descartar a maioria das causas secundárias de má absorção de
lactose. É provável que a elevada concordância (90%) observada entre os sintomas e o teste
do hidrogênio expirado deva-se a estes fatos.
Em relação aos bons absorvedores de lactose em nossa pesquisa, conforme já referido,
eles relataram um consumo habitual de no mínimo 3 copos de leite in natura por dia e foram
incluídos no estudo mediante um teste prévio de consumo de 1 litro de leite em 1 dia. Entre os
indivíduos que se auto-referiam maus absorvedores de lactose, relataram não tolerar nenhuma
quantidade de leite ou no máximo 1 copo (250ml) de leite por dia, sem ser in natura. Estes
dados estão de acordo com a literatura que sugere que as pessoas com hipolactasia do tipo
adulto podem tolerar até 2 copos de leite (25 g lactose) ao dia desde que em horários
diferentes e não sendo in natura, visto que a presença de outros alimentos ingeridos junto com
o leite reduz os sintomas de má absorção de lactose (SUAREZ et al., 1997). CARROCCIO et
al. (1998) em estudo cego em indivíduos da população Italiana, demonstraram que apenas
63% das pessoas que se auto-referiam intolerantes à lactose, submetidos ao teste do
hidrogênio expirado, eram realmente mau-absorvedores de lactose, e apenas 5 pacientes
destes mal-absorvedores apresentaram algum sintoma com 25g de lactose, equivalente a
aproximadamente 2 copos de leite. Outro estudo, na Galicia, demonstrou que 32,5% da
população apresentaram alteração no teste do hidrogênio após o consumo de 50 g de lactose
em solução aquosa a 20%. Este percentual diminuiu significativamente após a diminuição da
quantidade de lactose ingerida (25 g e 12,5g de lactose) e do veículo utilizado para a
administração da mesma. Apenas 13,7% dos indivíduos apresentaram má-absorção de lactose
após o consumo de 250ml de leite e 3,8% depois do consumo de 250ml de iogurte (LEIS et
al., 1997).
80
6.3 – Análise Molecular
Existem 9 genótipos possíveis para o gene da LPH. KUOKKANEN et al (2003)
compararam o genótipo dos pacientes com a atividade da enzima através de material de
biópsia intestinal e identificaram 4 genótipos: CCGG e CCGA (não persistência de lactase) e,
CTGA e TTAA (persistência de lactase). Em nosso estudo foram identificados 4 genótipos na
amostra estudada: 10 indivíduos CCGG (não persistência de lactase), 6 CTGA, 1 CTAA e 3
sujeitos TTAA todos associados à persistência de lactase. Identificamos 1 genótipo CTAA –
persistência de lactase, até então ainda não descrito na literatura.
Nossos resultados demonstraram que a análise do polimorfismo C/T-13910 e G/A-
22018 no gene da Lactase Florizina Hidrolase (LPH) apresentou uma forte concordância (k -
0,9) com o teste de hidrogênio expirado para diagnosticarmos má-absorção de lactose e,
também uma forte concordância entre o teste molecular e a presença de sintomas relacionados
com a má absorção de lactose (k -0,8). O indivíduo auto-referido intolerante à lactose com o
teste H
2
negativo (absorvedor) e presença de sintomas apresentou genótipo CTGA, compatível
com persistência de lactase. Por outro lado, um indivíduo auto-referido tolerante à lactose
com o teste H
2
negativo (absorvedor) e ausência de sintomas ao exame apresentou genótipo
CCGG, associado à não persistência de lactase.
No presente estudo, os voluntários que apresentaram o genótipo CCGG (não
persistência de lactase), 9/10 tiveram o teste de H
2
positivo e apresentaram sintomas após o
exame. Apenas 1/10 apresentou o teste de H
2
negativo, sendo que os sintomas não estavam
presentes. Dentre as possíveis explicações para esta discrepância, pode-se citar um declínio
81
mais lento nos níveis de lactase que levariam a uma hipolactasia tardia neste indivíduo. Isto,
apesar de ser um fator a ser considerado na explicação do observado é discutível, pois o
indivíduo tinha apenas 40 anos de idade. Outras possibilidades para a discordância entre a
mutação e o teste do hidrogênio expirado seriam: flora intestinal bacteriana não produtora de
hidrogênio, jejum incorreto ou uma refeição rica em carboidrato na noite anterior ao exame.
Salienta-se que o H
2
excretado no nível basal (28 ppm) foi superior ao valor de ponto de corte
estabelecido neste estudo de 20 ppm. TADESSE et al (1992) e VELIGATI et al (1994) já
demonstraram que o nível de hidrogênio excretado no basal superior ao valor de ponto de
corte pode significar supercrescimento bacteriano, jejum inadequado ou uma refeição muito
rica em carboidrato antes do início do jejum.
Conforme demonstrado em estudos anteriores,
pode ocorrer uma adaptação da flora intestinal reduzindo os sintomas relacionados à má
absorção de lactose quando há um consumo regular de lactose em quantidades reduzidas
(HERTZLER & SAVAIANO, 1996), ou uma alteração na microbiota do cólon, propiciando o
consumo de hidrogênio pela própria população de bactérias (HILL, 1983; TOMLIN et al.,
1991).
Os voluntários que apresentaram genótipos de persistência de lactase obtiveram
resultados negativos no teste do hidrogênio expirado, mas 1 sujeito CTGA apresentou
sintomas de má absorção de lactose durante o teste. O mesmo foi observado por
HÖGENAUER e colaboradores, recentemente, em excelente análise na Áustria. Os resultados
do referido estudo mostraram que a correlação do genótipo CC (lactase não persistente) foi
excelente com os resultados positivos do hidrogênio expirado (36/37 sujeitos, 97%), enquanto
que a correlação dos genótipos CT e TT (lactase persistente) com os resultados negativos do
hidrogênio expirado foi menor (74/86 sujeitos, 86%). Os 123 pacientes que participaram do
estudo apresentavam sintomas relacionados com a má absorção de lactose e todos eram
82
caucasianos (HÖGENAUER et al. (2005). Neste estudo foi analisado somente o polimorfismo
da variante C/T-13910, ao passo que nós avaliamos também o polimorfismo da variante G/A-
22018).
Outro estudo recente realizado na Alemanha por BÜNING et al. (2005) analisou os
dois polimorfismos do gene da LPH. Foram 166 pacientes com sintomas de hipolactasia
submetidos tanto aos testes de hidrogênio expirado quanto a análise do DNA. Os resultados
observados mostraram: 116 pacientes apresentaram o teste do hidrogênio positivo, desses 106
(91,4%) com a variante C na posição 13910 e 103 com a variante G na posição 22018. Este
resultado evidencia o genótipo relacionado com a não persistência de lactase. Entre os 50
pacientes com o teste do hidrogênio expirado negativo, 2 apresentaram a variante C na
posição 13910, genótipo de não persistência da lactase. Ambos os pacientes repetiram o teste
do hidrogênio expirado, um paciente obteve H
2
expirado positivo e o outro novamente
apresentou o teste do H
2
negativo. A explicação pelos autores foi de que o paciente apresentou
hipolactasia e flora bacteriana não excretora de hidrogênio.
Os resultados do presente trabalho permitem concluir que a análise dos polimorfismos
C/T-13910 e G/A-22018 no gene da Lactase Florizina Hidrolase podem ser considerados um
bom indicador para o diagnóstico de má absorção de lactose. É um método bastante sensível
(75%) e específico (99%) conforme demonstrado em estudo feito por HÖGENAUER et al
(2005) e tem ótima concordância com o teste de hidrogênio expirado. As vantagens do teste
molecular em relação aos outros métodos de diagnóstico de hipolactasia primária do tipo
adulto são: menor exigência de tempo disponível do paciente para realização do teste e menor
desconforto por parte do paciente, visto que é necessária apenas uma coleta de sangue
periférico. Outras vantagens são: não requer preparação para realização do exame (por
83
exemplo: jejum), não submete o indivíduo que apresenta sintomas relacionados à intolerância
à lactose ao componente que lhe é agressor e também devemos considerar que é um método
direto de analisar a persistência ou não da enzima lactase. Realçamos também, alguns
inconvenientes para a realização do teste do H
2
expirado, tais como: tempo de duração do
teste (3hs), jejum prolongado (12hs), método de diagnóstico indireto e a possibilidade de
desconforto gastrointestinal nos indivíduos intolerantes à lactose. A única dificuldade para a
execução do teste molecular é a reduzida disponibilidade de laboratórios capacitados a
realizar o teste molecular. Por este motivo, a padronização de um teste molecular, menos
invasivo, e com ótima concordância com o teste do H
2
expirado é de grande interesse.
A limitação do nosso estudo é o número que pode ser considerado reduzido em
indivíduos analisados. No entanto, é o primeiro realizado no Brasil. O fato de termos
identificado os dois polimorfismos do gene da LPH e encontrado uma forte concordância
entre o teste do hidrogênio expirado e a análise molecular nos estimula a propor a ampliação
da amostra para calcularmos a sensibilidade e especificidade do novo teste. Desta forma,
identificar a prevalência dos fenótipos de persistência ou não persistência da enzima em nossa
população.
Apesar da concordância entre as mutações C/T-13910 e G/A-22018 e a intolerância à
lactose (medida através de presença de sintomas ou do teste de H
2
expirado) não ser absoluta
em diferentes estudos, os níveis altos de concordância encontrados neste e em outros
trabalhos, indicam que o teste molecular possa ser implantado na rotina de diagnóstico de
hipolactasia primária do tipo adulto.
84
7 – CONCLUSÕES
9 A presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018 no gene da LPH foram
identificadas nos indivíduos auto-referidos como tolerantes à lactose.
9 A técnica de PCR para a detecção das mutações C/T-13910 e G/A-22018 foi
padronizada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
9 O resultado do teste do hidrogênio expirado foi concordante em 100% nos
indivíduos auto-referidos como tolerantes e em 90% nos intolerantes à lactose.
9 Houve concordância entre a presença das mutações C/T-13910 e G/A-22018 e
a absorção de lactose em indivíduos auto-referidos como tolerantes e
intolerantes à lactose.
85
9 Houve concordância estatisticamente significativa entre a análise molecular e o
teste de hidrogênio expirado (k = -0,9).
9 Houve concordância estatisticamente significativa entre a análise molecular e a
ocorrência de sintomas (k = -0,8).
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
96
ANEXO 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Muitas pessoas, apesar de beberem leite de vaca, não conseguem digerir totalmente o
açúcar do leite, chamado lactose. Com isso, podem apresentar algum desconforto como
vômitos, cólicas, distensão abdominal e diarréia. O diagnóstico de má absorção de lactose é
geralmente feito pelo teste de hidrogênio expirado, que pode causar os mesmos desconfortos
mencionados acima.
A finalidade deste estudo é verificar se é possível substituir o teste de hidrogênio
expirado pela análise molecular direta das mutações que causam a intolerância, diminuindo
assim os possíveis fatores de desconforto dos pacientes que precisam ser submetidos a este
exame.
A pesquisa consiste de um exame simples, no qual o indivíduo deve comparecer no 1ª
andar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em jejum de 8hs e irá permanecer no local do
exame durante 3hs. Primeiramente a pessoa irá assoprar em uma seringa para coletar o ar
expirado basal (jejum), ingerir 50g de lactose diluída em água e após 60 min, 120 min e 180
min da ingestão do açúcar, serão realizadas novas coletas de ar expirado. Neste intervalo o
indivíduo irá permanecer em jejum, podendo beber somente água. Também será coletada uma
pequena amostra de sangue que será usada para pesquisar as mutações T-13910 e A-22018 no
gene da lactase, que é a enzima responsável pela digestão da lactose. Esta coleta é semelhante
a que é feita para exames laboratoriais como hemograma e glicemia.
97
Durante a realização do estudo, as amostras serão identificadas com um código, ao
qual somente um dos pesquisadores terá acesso, de modo a poder disponibilizar os resultados
a quem os desejar. Após o fim do estudo, todo o material coletado será descartado.
Pelo presente termo de consentimento livre e esclarecido, declaro que autorizo a
minha participação neste projeto, pois fui informado dos objetivos e dos procedimentos que
serei submetido, como também dos desconfortos e benefícios deste estudo.
Nome: _________________________ Assinatura:_________________________
Data: ____/____/____
Pesquisadora: Andréa Cristina da Silva Bulhões - fone: (51) 9954-1998
Pesquisadora responsável: Drª Themis Reverbel da Silveira
98
ANEXO 2 - Relação de Genótipos, Fenótipos, resultados do teste H2 e a
presença de sintomas dos 20 indivíduos do Estudo
Caso nº Genótipo Fenótipo
referido
Teste H
2
Sintomas
1
CCGG
intolerante
positivo
presente
2
CCGG
intolerante
positivo
presente
3
CCGG
intolerante
positivo
presente
4
CCGG
intolerante
positivo
presente
5
CCGG
intolerante
positivo
presente
6
CCGG
intolerante
positivo
presente
7
CCGG
intolerante
positivo
presente
8
CCGG
intolerante
positivo
presente
9
CCGG
intolerante
positivo
presente
10
CCGG
tolerante
negativo
ausente
11
CTGA
intolerante
negativo
presente
12
CTGA
tolerante
negativo
ausente
13
CTGA
tolerante
negativo
ausente
14
CTGA
tolerante
negativo
ausente
15
CTGA
tolerante
negativo
ausente
16
CTGA
tolerante
negativo
ausente
17
CTAA
tolerante
negativo
ausente
18
TTAA
tolerante
negativo
ausente
19
TTAA
tolerante
negativo
ausente
99
20
TTAA
tolerante
negativo
ausente
100
ANEXO 3 - Níveis de hidrogênio expirado nos 9 indivíduos com testes positivos
Caso nº Basal 1 hora 2 horas 3 horas
1
7 43 144 93
2
2 86 98 56
3
16 108 82 66
4
5 97 72 83
5
0 44 48 70
6
20 92 95 165
7
14 61 75 100
8
12 32 105 107
9
2 23 38 14
101
ANEXO 4 - Níveis de hidrogênio expirado nos 11 indivíduos com testes
negativos
Caso nº Basal 1 hora 2 horas 3 horas
1
9 8 7 4
2
1 1 0 1
3
2 3 1 1
4
18 8 14 4
5
13 10 11 7
6
9 13 13 18
7
28 14 19 1
8
3 14 3 0
9
0 1 0 0
10
19 12 12 13
11
0 5 2 2
102
Anexo 5 - Molecular analysis of lactase-hlorizin hydrolase gene in Brazilian
self-reported milk tolerant and intolerant individuals
1
Andréa C.S. Bulhões
1,3
, Fernanda S. de Oliveira
2,3
, Ursula S. Matte
2,3
, Helena A.S. Goldani
1,3
Rafael Mazzuca
3
, Themis R. Silveira
1,3
.
1
Post-Graduation Program in Gastroenterology;
2
Gene Therapy Center and
3
Gastroenterology
and Hepatology Laboratory – Research Center, Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Corresponding author:
Andréa C.S. Bulhões
Centro de Pesquisas - HCPA
Rua Ramiro Barcelos 2350
90035-903 Porto Alegre – RS
Brazil
Fax: +55 51 2101-8760
E-mail: [email protected].br
1
Artigo enviado para Revista Clinical Nutrition, em fase de revisão para publicação.
103
Summary
Background & aims: Persistence of lactase in adults was related to two mutations in
lactase phlorizin hydrolase (LPH) gene. This study aimed to compare the hydrogen breath test
(HBT) with the presence of these mutations in Brazilian self-reported milk tolerant and
intolerant individuals.
Methods: Self-reported milk tolerant and intolerant adults underwent HBT after oral
ingestion of 50g lactose (equivalent to 1 litre of milk). Molecular analysis for C/T-13910 and
G/A-22018 mutations was performed using a PCR-based method.
Results: There was significant agreement between the self-reported history of lactose
tolerance and the results of HBT. The genotypes CT/GA, CT/AA e TT/AA (lactase
persistence) were found in 10 individuals, all of them with negative HBT. The genotype
CC/GG (lactase non-persistence) was found in 10 individuals, 9 of them with positive HBT
results. There was significant agreement between the presence of mutations in the LPH gene
promoter and HBT results. Genotype CT/AA has not been described previously.
Conclusions: The present study showed a strong agreement between mutations G/A-
22018 e C/T-13910 and HBT. This study corroborates the high levels of agreement between
molecular analysis and HBT, suggesting that the molecular test could be used for the
diagnosis for adult type primary hypolactasia.
Keywords: lactase-phlorizin hydrolase, milk intolerance, lactose intolerance, hydrogen
breath test.
104
Introduction
Lactose is hydrolized in the small intestine into glucose and galactose by the lactase-
phlorizin hydolase (LPH) found in the intestinal villi. Lactose malabsorption consists of a
failure on the mechanisms of digestion and absorption of lactose that can be shown by
laboratorial tests whereas lactose intolerance is defined as a clinical syndrome caused by
lactose ingestion.
1,2
Adult type hypolactasia is characterized by the fall of lactase activity levels to 5% to
10% of birth levels that occurs during childhood and adolescence. It affects more than 75% of
the population worldwide with regional frequencies varying from nearly 5% in northern
Europe to more than 90% in some Asian and African countries.
3
Deficiency of lactase activity measured in enterocytes is the gold-standard diagnosis
for lactose malabsorption, however it is an invasive test.
4,5
Amongst non-invasive laboratorial
exams for lactose malabsorption diagnosis, the hydrogen breath test (HBT) is widely used.
Yet, due to the lactose overload test, it may cause symptoms such as bloating, vomit,
abdominal distension, colic, and diarrhea. Sensitivity ranges from 69% to 100% and
specificity from 96% to 100% when compared to lactase activity in the intestinal biopsy
material.
4,6,7
Lactase activity is determined by a gene (LPH) found at chromosome 2
8
and its
persistence in adult life has dominant autosomal inheritance.
3,9,10
Recently, it has been found
that this persistence is due to two mutations (C/T-13910 and G/A-22018) in the LPH gene
105
promoter region.
11,12
The presence of mutant alleles T-13910 and A-22018 have been related
to persistent levels of lactase activity in duodenal biopsy material.
13
This study aimed to compare the hydrogen breath test (HBT) with the presence of the
mutations C/T-13910 and G/A-22018 in the LPH gene in 2 groups of individual self-reported
as tolerant and intolerant to milk and lactose-containing milk derivatives.
Subjects and Methods
This study was approved by the Ethical Research Committee of Hospital de Clinicas
de Porto Alegre. Informed and written consent was obtained from all subjects.
Adult individuals from Porto Alegre-RS, south of Brazil, were selected, 10 self-
reported lactose tolerant and 10 intolerant ones. Sample size was calculated based on the
frequency of C allele in individuals with lactose malabsorption of 97%.
11
As there is no data
regarding the prevalence of LPH gene mutations in Brazilian population, we calculated 10
subjects for each group, considering confidence interval 95%, power 0.9, and standard error
0.1.
Individuals who were intolerant to lactose were defined as not been able to drink any
quantity of milk due to presence of symptoms (nausea, abdominal pain, flatulence) or those
able to drink up to 2 glasses of milk (approximately 500ml) during the day.
14
Tolerant
106
individuals were those reporting being able to drink more than 3 glasses of milk per day
without symptoms.
None of the subjects reported history of gastrointestinal disorders associated with
secondary lactose intolerance e.g. Crohn’s disease, ulcerative colitis, celiac disease, irritable
bowel syndrome, diarrhea or use of antibiotics, enemas, laxatives in the 15 days before the
exam. All subjects underwent HBT and were classified as with or without lactose
malabsorption.
H
2
Breath Test
Subjects were instructed to fast and avoid smoking for at least 8 hours before HBT. It
was performed after oral ingestion of 50g lactose (equivalent to 1 litre of milk) diluted in
250ml of tap water.
Breath H
2
excretion was measured in parts per million (ppm) using a gas
chromatographer (Model 12i Quintron
®
, Quintron Instrument Company Inc, Milwaukee,
USA) at baseline and every 60 min after ingestion of lactose over a period of 180 min. HBT
was considered positive (lactose malabsorption) when excretion was higher than 20 ppm
compared to baseline. Gastrointestinal symptoms e.g. diarrhea, bloating, abdominal pain,
flatulence, and cramping were observed after the test.
107
DNA testing
For DNA analysis, genomic DNA was isolated from venous blood (Easy-DNA
TM
,
Invitrogen, USA). For testing the variant C/T-13910, the fragment containing the
polymorphic site was amplified by polymerase chain reaction using the following primers:
C/T-for 5’-AAGACGTAAGTTACCATTTAATAC-3’ and C/T-rev 5’-
CGTTAATACCCACTGACCTATCCT-3’ and digested with endonuclease BsmFI (New
England Biolabs, USA). For the detection of G/A-22018 polymorphism, primers used were
G/A-for 5’-TAAGAACATTTTACACTCTTC-3’ and G/A-rev 5’-
AGAAAATGGGTTTTCGCCATG-3’ and the PCR product was digested with HhaI
(Invitrogen, USA). PCR was performed in Eppendorf Personal ThermoCycler (Eppendorf,
Germany), with a final volume of 25 µL using 100 ng of genomic DNA, 1x 500 mM KCl
buffer (pH 8.4), 5mM MgCl
2
, 0.2 mM of dNTPset, 20 pmol of each primer and 1 U Taq DNA
polymerase – all reagents were purchased from Invitrogen (USA). Annealing temperature was
56
0
C for both polymorphisms. PCR products and digestion fragments were analyzed on 1.5%
agarose gel stained with ethidium bromide. A DNA test suggestive for lactase non-persistence
was interpreted as CC/GG genotype, while CT or TT and GA or AA genotypes were
indicative for lactase persistence.
108
Statistical analysis
All data were analyzed by SPSS version 10.0 software. HBT values at baseline, 60,
120, and 180 min from subjects with and without lactose malabsorption were compared by
Mann-Whitney test. The agreement assessment between HBT and molecular analysis was
obtained by the Kappa coefficient, with significant level of 5%.
Results
Out of the 20 individuals enrolled in this study, 18 (90%) were female. All were
caucasians, except for one Asian descendent. Overall mean age was 32.7 ± 7.3 years. Mean
age of self-reported tolerant subjects was 32.2 ± 6.2 years and 33.2 ± 8.6 years for intolerant
ones.
Out of 10 self-reported tolerant subjects, all (100%) had negative HBT and no
evidence of gastrointestinal symptoms of lactose intolerance. From the 10 self-reported
lactose intolerant subjects, 9 had positive HBT and 1 had a negative result. However, all of
these subjects had any of the following symptoms: abdominal distention (n=5), nausea (n=5),
flatulence (n=6), diarrhea (n=5). There was high agreement between the self-reported history
of tolerance to lactose and the results of HBT (kappa=0.9, p<0.001).
109
HBT levels at baseline, 60, 120, and 180 min from subjects with and without lactose
malabsorption are shown in figure 1. Hydrogen breath excretion levels in subjects with
lactose malabsorption were significantly higher than in subjects without lactose malabsorption
at 60, 120, and 180 min. (p<0.001). The maximum H
2
breath excretion in subjects with
lactose malabsorption occured at 120 min.
Figure 1. Results of Hydrogen Breath Test in self-reported lactose tolerant and
intolerant individuals.
Genotype distribution for the mutations G/A (AA, GA e GG) and C/T (TT, CT, CC)
among the 20 individuals studied is presented on table 1. Photograph of 1.5% agarose gel with
different genotype patterns is shown on figure 2. The genotypes CT/GA, CT/AA e TT/AA,
related to the lactase persistence phenotype, were found in 10 individuals (CTGA in 6 of
them, CTAA in 1 and TTAA in 3 individuals). All of them showed negative HBT results. The
genotype CC/GG, related to lactase non-persistence was found in 10 individuals, 9 of them
showed positive HBT results. There was high agreement between the presence of mutations in
the LPH gene promoter and HBT results (Kappa = – 0.9 (p < 0.001). Genotype CT/AA has
not been described previously, and is related to lactase persistence, as it would be expected.
Table 1. Lactase Phlorizin Hydrolase genotype-phenotype correlation and HBT
results.
110
Figure 2. Digested PCR amplification products were analysed on 2.5% agarose gel.
Discussion
This study assessed the relationship between the presence of mutations C/T-13910 e
G/A-22018 in the LPH gene and HBT results on individuals self-reported as milk tolerant and
intolerant. There was strong agreement between the presence of these mutations and negative
HBT (without lactose malabsorption). Likewise, absence of mutations strongly agreed with
positive HBT (lactose malabsorption).
We also found a high degree of agreement between self-reported milk tolerance or
intolerance and HBT results. The inclusion criteria used in this study in order to classify
individuals as lactose tolerant was the ability to drink at least 3 glasses of milk per day. This
criteria was established due to prior studies showing that people with adult type hypolactasia
were able to tolerate up to 2 glasses of milk (500ml, 25 g lactose) a day.
14,15
In this study, 50g
of lactose orally were used (equivalent to lactose quantity in 1 litre of milk) diluted in 250 ml
of water.
16
Self reported lactose intolerance to amounts smaller than two cups of milk a day
may not be sufficient to identify lactose malabsorbers as it has been demonstrated in patients
with irritable bowel syndrome.
17
Enattah et al studied 9 Finn families and identified two mutations related to lactase
persistence (C/T-13910 and G/A-22018)
11
. All non-persistent lactase individuals were
homozigous CC/GG. Afterwards, Kuokkanen et al described 4 genotypes compared to the
111
measurement of lactase enzymatic activity: CCGG and CCGA (non persistence of lactase),
CTGA and TTAA (persistence of lactase)
13
. In the present study we identified 1 genotype
CTAA, not described in the literature yet. This individual, as it would be expected, had
negative HBT and no symptoms of lactose intolerance, suggestive of lactase persistence.
In the present study, one out of the 10 subjects with CCGG genotype (lactase non
persistence) showed negative H
2
test without symptoms. This could be explained by a slow
decrease of lactase levels and hypolactasia could develop later in life. Another explanation
could be the possible presence of an intestinal flora that does not produce H
2.
18,19
Tolerance to small amounts of lactose by individuals with hypolactasia can be
explained by several factors: adaptation of the intestinal flora, colon microbial alteration
20
and
ingestion of milk in small amounts throughout a period of time along with other foods.
15
These mechanisms of tolerance could explain the disagreement between symptoms of lactose
intolerance and HBT results as high as 47%.
21
Among all subjects who presented with genotypes of lactase persistence (CTGA,
TTAA and CTAA), one CTGA subject presented nausea and abdominal distension during the
test, despite negative HBT. The presence of symptoms may suggest a possible secondary
cause for lactose intolerance; however, it has not done any further investigation such as
gastrointestinal endoscopy.
There are few studies comparing the presence of mutations and HBT, and all of them
were made in European countries. In Brazil, prevalence of adult type primary hypolactasia,
assessed by lactose tolerance test, varies from 38% in caucasians and 95% in negroids,
19,22
with high regional differences due to Brazilian population ethnic heterogeneity. Regarding the
112
Brazilian pediatric population, it has been shown a prevalence of 8.4% of lactose
malabsorption assessed by HBT.
23
Recently, hypolactasia prevalence of 53% in white
individuals and 91% in nonwhite ones was identified by measuring lactase activity by
immunohistochemistry in duodenal mucosa.
14
Recent studies demonstrated that CC genotype agreement with positive HBT results
was of 91% to 97%, whereas the correlation between CT and TT genotypes and negative
HBT results was from 86% to 89%.
5,7
Molecular analysis for the diagnosis of lactose
malabsorption presented positive predictive value of 97% and negative of 86%
7
related to
HBT. It also has advantage over HBT as it causes less discomfort to the patient.
24
The present study showed a strong agreement between mutations G/A-22018 and C/T-
13910 and HBT. This study corroborates the high levels of agreement between molecular
analysis and HBT in a heterogeneous ethnic background. It can be suggested that the
molecular test could be used for the diagnosis for adult type primary hypolactasia for both
clinical and populational settings.
Acknowledgements
This study has been supported by grant from Fundo de Incentivo a Pesquisa (FIPE)
and Grupo de Pesquisa e Pós-graduação (GPPG) – Hospital de Clinicas de Porto Alegre,
Brazil.
113
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Table 1. Lactase Phlorizin Hydrolase genotype-phenotype correlation and HBT
results.
Genotype n = 20 Self-reported phenotype H
2
excretion
CCGG
n = 9
n = 1
lactose intolerant
lactose tolerant
Positive
Negative
CTGA
n = 1
n = 5
lactose intolerant
lactose tolerant
Negative
Negative
CTAA n = 1 lactose tolerant Negative
TTAA n = 3 lactose tolerant Negative
117
180 min120 min60 minbasal
Nível de hidrogênio expirado (em ppm)
180
150
120
90
60
30
0
Teste do H2
não absorvedores
absorvedores
79
75
69
66
41
Figure 1. Results of Hydrogen Breath Test in self-reported lactose tolerant and
intolerant individuals.
118
Figure 2. Digested PCR amplification products were analysed on 2.5% agarose gel.
Lanes 1 and 9 show no digested PCR product. Lanes 2 and 6 show CC
13910
e
GG
22018
homozygous lactase non-persistent genotypes; 4 and 8 show TT
13910
and AA
22018
homozygous
lactase persistent genotypes; 3 and 7 show CT
13910
and GA
22018
heterozygous lactase
persistent genotypes. The 50 bp DNA ladder is on lane 5.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
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