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DESENVOLVIMENTO DE CARREIRA EM PSICÓLOGOS: TAREFAS
EVOLUTIVAS DO ESTÁGIO DE ESTABELECIMENTO
Lívia Maria Bedin
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em Psicologia
Sob Orientação do
Prof. Dr. Jorge Castellá Sarriera
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Março, 2010.
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Aos colegas, psicólogos,
que traçam suas trajetórias
e desenvolvem suas carreiras
acreditando sempre na nossa profissão.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Jorge, por me aceitar e confiar no meu potencial, por cobrar
e exigir sempre o melhor, qualificando os trabalhos e respeitando a ética da pesquisa com
seres humanos, pelo modelo de competência profissional e também pela compreensão e
suporte que sempre me deu;
Ao Instituto de Desenvolvimento Global, por possibilitar que eu realizasse o mestrado
com tranquilidade, fornecendo apoio e incentivo sempre no meu desenvolvimento de carreira.
Aos colegas e amigos Seonara, Marla, Jaciane e César, por me darem cobertura nesse período
de afastamento. A minha diretora e também mãe, Zeila, pela paciência, pelo exemplo de vida,
por trabalhar dobrado na minha ausência e por me mostrar que a educação é a melhor
herança;
Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária, em especial a Maria
Célia, Ângela e Daniel, que fizeram grandes contribuições a este trabalho. Também aos
colegas que sempre estenderam a mão quando precisei, Eveline, Patrícia, Maíne, Fabiane,
Tiago, Gabriela e Anelise;
Ao Programa de Pós-Graduação da UFRGS, pelo acolhimento e por todo suporte que
tive nestes dois anos;
Aos professores que participaram da minha banca de qualificação, Prof. Marco
Teixiera, Profª. Dulce Helena Penna Soares e Profª. Neuza Guareschi, pelas contribuições que
fizeram para o aprimoramento deste estudo;
Aos participantes e colegas psicólogos, que estão sempre buscando exercer a profissão
com dignidade, ética e respeito;
Aos meus amigos, pela compreensão e apoio que sempre tem me dado e por saberem
que mesmo longe, amigos de verdade não se esquecem;
A minha família, mãe, pai e meus quatro irmãos e cunhados maravilhosos, pelo apoio
incondicional e sem o qual não seria a pessoa que sou hoje; pela compreensão da minha
ausência em momentos importantes e pelo amor que sempre tive de todos;
Ao meu marido, Cristiano, que todos os dias esteve ao meu lado, compreendendo
minhas ausências e sempre acreditando e cuidando de mim,
Muito Obrigada!
“Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá”
Aquarela
Toquinho, 1983.
SUMÁRIO
RESUMO .............................................................................................................................. 8
ABSTRACT .......................................................................................................................... 9
APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 10
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO........................................................................................... 11
1.1
O Contexto atual do mercado de trabalho .................................................................... 11
1.1.1
Tipos de vínculo de trabalho ................................................................................. 16
1.2
Contexto da profissão de Psicólogo ............................................................................. 20
1.3
Desenvolvimento de carreira ....................................................................................... 25
1.3.1
Conceitos e fundamentos ...................................................................................... 25
1.3.2
Teorias de desenvolvimento de carreira ............................................................... 30
1.3.2.1
Teoria Life-Span, Life-Space ............................................................................ 32
1.3.2.1.1
Estágio de estabelecimento de carreira ............................................................. 33
1.4
Justificativa, apresentação do problema e dos objetivos da pesquisa .......................... 34
CAPÍTULO II: MÉTODO................................................................................................... 36
2.1
Participantes ................................................................................................................. 36
2.2
Instrumentos e materiais .............................................................................................. 37
2.3
Procedimentos de escolha dos participantes e coleta de dados .................................... 38
2.4
Procedimentos de análise de dados .............................................................................. 39
2.5
Procedimentos éticos ................................................................................................... 40
CAPÍTULO III: RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 41
3.1
Resumo da trajetória profissional dos participantes .................................................... 41
3.2
Análise de conteúdo categorial qualitativo .................................................................. 55
2.3
Discussão ..................................................................................................................... 66
CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 71
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 73
ANEXOS ............................................................................................................................. 80
A
NEXO
A.
Termo de consentimento livre e esclarecido ...................................................... 80
A
NEXO
B.
Ficha de dados sociodemográficos ..................................................................... 81
A
NEXO
C.
Entrevista semi-estruturada ................................................................................ 82
A
NEXO
D.
Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul ....................................................................... 83
6
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Figura 1. Taxa média de desocupação – mês de novembro ................................................ 17
Figura 2. Percentual da população ocupada de acordo com a posição no trabalho principal
no período de referência ...................................................................................................... 18
Figura 3. Taxa média de desocupação – mês de janeiro ..................................................... 18
Figura 4. Participantes ......................................................................................................... 41
Figura 5. Relações entre as categorias e os indicadores ...................................................... 57
Figura 6. Síntese dos resultados .......................................................................................... 65
Tabela 1. Termos e definições adotados em carreiras ......................................................... 25
Tabela 2. Características dos participantes .......................................................................... 37
Tabela 3. Conteúdos manifestos e relações entre os indicadores e os critérios de análise .. 56
Tabela 4. Categorias temáticas ............................................................................................ 57
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos ............ 12
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ........................................................ 12
PEA – População Economicamente Ativa .......................................................................... 13
PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego ....................................................................... 13
CBO – Código Brasileiro de Ocupações ............................................................................. 20
CFP – Conselho Federal de Psicologia ............................................................................... 20
CNS – Conselho Nacional de Saúde ................................................................................... 20
CRP – Conselho Regional de Psicologia ............................................................................. 22
8
RESUMO
O objetivo deste estudo foi compreender como psicólogos porto-alegrenses estão vivenciando
as tarefas evolutivas do desenvolvimento de carreira inerentes ao estágio de estabelecimento,
de acordo com a teoria de Donald Super. Além disso, buscou-se verificar as diferenças
percebidas entre a realização das tarefas do desenvolvimento de carreira de psicólogos com
relação ao tipo de vínculo empregatício, seja ele público, privado ou autônomo e, também,
conhecer como os profissionais relacionam a atual conjuntura sócio-econômica na inserção do
psicólogo no mercado de trabalho. Foram entrevistados 15 trabalhadores psicólogos (12
mulheres e 3 homens) com idades entre 30 e 38 anos, escolhidos de modo a contemplar a
forma de seu contrato trabalhista (público, privado ou autônomo). A entrevista considerou as
tarefas do desenvolvimento de carreira que dizem respeito ao estágio de estabelecimento:
estabilização, consolidação e progresso. Os dados coletados foram analisados
qualitativamente. Os resultados apontaram seis categorias relacionadas ao estabelecimento de
carreira dos psicólogos participantes: a rede de relacionamento, o processo desenvolvimental,
a realização profissional, a legalização do vínculo de trabalho, a preocupação com o
desempenho e a busca constante por qualificação.
Palavras-chave: Desenvolvimento de carreira; orientação profissional; trabalho; psicólogos
9
ABSTRACT
Career development of psychologists: developmental tasks of establishment stage
The objective of this study was to understand how psychologists from Porto Alegre are
experiencing developmental tasks of career establishment stage, according to Donald Super’s
theory. In this research there were interviewed 15 psychologists (12 women and 3 men) aged
between 30 and 38 years old, chosen to reflect the form of their labor contract (public, private
or autonomous). In addition, we attempted to verify the perceived differences between the
tasks of the career development of psychologists regarding the type of employment
relationship, whether public, private or autonomous, and also know how professionals relate
to current socio- economic configuration in the placing of psychologists in the labor market.
The interview included career development tasks related to establishment stage: stabilization,
consolidation and progress. Data collected were analyzed using qualitative research methods.
The results showed six categories associated with participant’s career establishment:
relationship network, developmental process, professional achievement, work contracts’
legalization, performance concern and constantly seeking qualification.
Keywords: Career development; career counseling, work, psychologist performance
10
APRESENTAÇÃO
Esta pesquisa aborda o desenvolvimento de carreira de psicólogos porto-alegrenses e
como estes estão vivenciando as tarefas evolutivas referentes ao estágio de desenvolvimento
de carreira. As motivações e os questionamentos para a construção do problema de pesquisa
da pesquisadora surgiram a partir da prática como psicóloga, através da vivência e da
observação de trajetórias profissionais e dificuldades de estabelecimento na profissão de
psicólogos.
A dissertação é composta por cinco capítulos e apresenta a seguinte estrutura:
Capítulo I: o marco teórico que busca contemplar algumas características do mundo do
trabalho até a atualidade, de forma a introduzir o contexto no qual os participantes desta
pesquisa se encontram, bem como o contexto da profissão de psicólogo. Também são
apresentados alguns conceitos e fundamentos para a compreensão do tema de carreira,
enfatizando a abordagem de desenvolvimento de carreira Life-span, Life-space, proposta por
Donald Super (1980).
Capítulo II: o caminho metodológico trilhado para responder as questões da pesquisa.
Capítulo III: resultados empíricos sobre as vivências dos psicólogos no
desenvolvimento de suas carreiras e discussão dos dados empíricos encontrados, em sua
dialogia com os pressupostos do estudo e com algumas contribuições da literatura.
Capítulo IV: apresentação das considerações finais e recomendações para intervenções
e estudos futuros.
Boa leitura.
11
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
Conhecer a trajetória de carreira de psicólogos porto-alegrenses e compreender suas
práticas inseridas nas complexas configurações do cenário de trabalho contemporâneo são
alguns dos interesses deste estudo, bem como a preocupação com a sua inserção no mercado
de trabalho, considerando seu estabelecimento em carreiras. Estudos recentes focalizam os
desafios diante das incertezas do mundo do trabalho e do desemprego, bem como o processo
de empregabilidade, inserção e trajetórias profissionais (Câmara, Sarriera & Pizzinato, 2004).
A importância de estudos e reflexões sobre o tema frente à crescente demanda por
atividades onde o psicólogo possa se inserir e se estabilizar no mercado de trabalho demonstra
a necessidade de pesquisas na área. Esse estudo busca a articulação entre elementos empíricos
e pressupostos teóricos de modo a conhecer as práticas de psicólogos como um fenômeno
atravessado por determinações históricas, políticas e socioeconômicas. A pesquisa parte da
questão de como psicólogos constroem suas trajetórias de carreira frente às modificações nos
contextos e relações de trabalho.
A seguir, a revisão de literatura contempla algumas características do mundo do
trabalho até a atualidade, de forma a introduzir o contexto no qual os participantes desta
pesquisa se encontram, seguido do contexto da profissão de psicólogo. Após, será apresentado
um apanhado geral a respeito dos conceitos e fundamentos para a compreensão do tema de
carreira, abordando diversos autores e teorias. Será enfatizado, ao final, o enfoque da
abordagem de desenvolvimento de carreira Life-span, Life-space, proposta por Donald Super
(1980), trazendo a teoria de um modelo que considera que todo indivíduo, ao longo de sua
vida, exerce o desenvolvimento de carreira.
1.1 O Contexto atual do mercado de trabalho
De acordo com Antunes (2002), devido à redução de segurança na manutenção dos
empregos, cresce a preocupação com a empregabilidade. O trabalhador passa a buscar
capacitação pessoal e profissional, sendo controlado pelo tempo, até mesmo fora do trabalho.
A empregabilidade refere-se às condições individuais de competência e aptidão para chegar
ao mercado de trabalho, manter-se no emprego e reingressar no mercado de trabalho. Para
Sarriera e Silva (2003), as formas de enfrentamento da realidade do trabalho de trabalhadores
pesquisados são adaptativas e não buscam melhorias e mudanças em suas condições de
trabalho, visam apenas à manutenção de seus empregos por causa do sentimento de medo de
perder o emprego.
12
As transformações econômicas, políticas e tecnológicas em curso causam repercussões
significativas no mercado de trabalho e para a classe trabalhadora. Tais consequências não se
resumem apenas ao aumento do desemprego, mas referem-se à qualidade do nculo
empregatício, ao aumento do trabalho sem carteira assinada, à ausência de direitos previstos
na legislação trabalhista brasileira.
Todos esses processos estão presentes na economia e na sociedade brasileira,
compondo um contexto de desemprego estrutural, de subemprego e de precarização do
trabalho. Como esse cenário não é provisório, o medo em relação ao desemprego passa a
atingir também os trabalhadores empregados, pois cada trabalhador é potencialmente
desempregado.
Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006), são considerados
desocupados os indivíduos sem qualquer trabalho na semana de referência, mas que estavam
disponíveis para trabalhar nessa semana e que tomaram providências para consegui-lo no
período de 30 dias, sem terem tido qualquer trabalho nesse período. Reitera-se que, em maio
de 2006, a população desempregada em seis capitais brasileiras (Recife, Salvador, Belo
horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) foi estimada em 2,2 milhões de pessoas
(IBGE, 2006) e em janeiro de 2009 a população desempregada nestas mesmas capitais foi de
1,9 milhões de pessoas (IBGE, 2009).
Diferentemente do IBGE, os dados do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2006), são considerados desempregados os indivíduos
que se encontram numa situação involuntária de não-trabalho, por falta de oportunidade de
trabalho, ou que exercem um trabalho irregular com desejo de mudança.
Assim, de acordo com o DIEESE (2006), consideram-se desempregadas as pessoas
que se incluem em uma das seguintes situações:
Desemprego aberto - pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias
anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhum trabalho nos últimos sete dias;
Desemprego oculto pelo trabalho precário - compreende as pessoas que procuraram
efetivamente trabalho nos 30 dias anteriores ao dia da pesquisa, ou nos últimos 12
meses, e que se encontram em alguma das seguintes situações: realizam, de forma
irregular, algum trabalho remunerado, realizam algum trabalho não remunerado de
ajuda em negócios de parentes, ou realizam algum trabalho recebendo exclusivamente
em espécie ou benefício;
Desemprego oculto pelo desalento e outros - pessoas sem trabalho e que não o
procuraram nos últimos 30 dias por desestímulos do mercado de trabalho, ou por
13
circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura efetiva de trabalho nos últimos 12
meses.
O aspecto positivo da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) é que ela apresenta
os números do desemprego oculto por trabalho precário e o desemprego oculto pelo
desalento. Sendo assim, os desalentados integram o cálculo da População Economicamente
Ativa (PEA), e os que estão exercendo trabalho precário não são considerados empregados,
alargando os números do desemprego.
Na região metropolitana de Porto Alegre, a População Economicamente Ativa
registrou o número de 1.835 mil pessoas em 2005. A taxa média de desemprego total foi de
14,5%; a taxa de desemprego aberto foi registrada em 10,3%, a taxa de desemprego oculto
passou para 4,2% (DIEESE, 2006).
Dentre as perdas vivenciadas por quem está na situação de desemprego, além das
materiais, destacam-se os sentimentos de insegurança e desvalia, perdas da consideração
social e da autoconsideração expressas através da vergonha. Esta é vivenciada pela pessoa
devido ao fato de tomar para si a responsabilidade pela sua própria exclusão, carregando
consigo o sentimento de fracasso, a incompetência e a culpabilidade (Forrester, 1997).
Uma pesquisa realizada por Sarriera, Berlim, Verdin e Câmara (2004) aponta que
jovens desempregados apresentam um maior mal-estar e sentimento de desvalorização
pessoal, quando comparado com demais jovens. Quanto mais o período de desemprego se
estende, maior também é o risco de depressão e apatia, e, em muitos casos, de desmotivação
vital, o que pode levar a comportamentos de desprezo pela vida.
Sarriera (1993) estudou os efeitos do desemprego no bem-estar psicológico e na
motivação vital de jovens. Em outro estudo realizado por Sarriera, Schwarcz e Câmara (1996)
com jovens desempregados de Porto Alegre, verificou-se que o jovem é afetado, em sua
saúde, passando a apresentar sentimentos de depressão, baixa auto-estima e auto-eficácia
percebida diminuída. Os mesmos jovens desempregados demonstraram desvalorização de sua
experiência escolar e de trabalho, bem como valoração do trabalho como uma forma de
obtenção de dinheiro, o que leva muitas vezes a atitudes de passividade, caracterizadas por
sentimentos de ineficiência e limitadas estratégias de ação (Sarriera, Schwarcz, Câmara,
Gandarillas & Bem, 1996).
De acordo com Soares (2000), a crise econômica vivida nos últimos tempos traz
também uma crise social, ambas com profundas consequências na saúde em geral, e também
na saúde mental. No momento em que as condições de trabalho se encontram ameaçadas pelo
desemprego em massa e pelas consequências da globalização e dos avanços tecnológicos, o
14
sofrimento físico e psíquico é indissociável dessa crise. A identidade pessoal e profissional é
muito atingida nessas situações de estresse e de ameaça de desemprego, quando o trabalhador
perde o significado de seu trabalho, o interesse e o prazer naquilo que faz. O papel do
psicólogo é fundamental no auxílio da redução do sofrimento psíquico nesta situação, atuando
na prevenção das doenças físicas e mentais advindas do desemprego. Buscando contribuir
neste sentido, Sarriera, Câmara e Berlim (2000) realizaram uma intervenção destinada a
estimular e acompanhar os jovens no processo de inserção e manutenção no mercado de
trabalho, obtendo resultados como a melhora da auto-estima e autoconfiança dos jovens na
busca de trabalho e colocação profissional.
A partir dos anos 80, inicia-se uma nova Revolução Industrial, baseada nos avanços da
tecnologia da informação e dos microcomputadores. O desemprego, advindo disto, atinge
altas taxas em todo o mundo. O novo mercado de trabalho traz muita insegurança para os
profissionais, que são levados a modificar suas crenças sobre seu emprego ou carreira, em
face de um ambiente competitivo e excludente (Baiocchi & Magalhães, 2004).
Neste contexto, emergem questões relativas à lealdade à organização e ao
aperfeiçoamento profissional, como formas do indivíduo assegurar-se em sua carreira. Os
conceitos de comprometimento organizacional e com a carreira adquirem relevância. O
comprometimento caracteriza o envolvimento que uma pessoa tem com o seu trabalho,
associado a sentimentos de lealdade, desejo de permanecer e de se esforçar para alcançar
metas relacionadas ao desenvolvimento da carreira (comprometimento de carreira) e/ou em
prol da organização (comprometimento organizacional).
A economia atual, caracterizada por uma competitividade global acentuada, alta
frequência de fusões e aquisições de empresas, desemprego e recessão, traz novas
perspectivas de entendimento dos comportamentos relacionados à carreira. O conceito de
entrincheiramento reflete estas mudanças. O indivíduo entrincheirado encontra-se numa
postura estática e defensiva, como sugere o significado da palavra. De acordo com Carson e
Bedeian (1995), muitos profissionais se entrincheiram numa carreira ou organização devido a
três categorias de fatores: investimentos na carreira, custos emocionais e limitações nas
alternativas de carreira. Os investimentos na carreira referem-se aos aspectos financeiros e de
tempo, relacionados ao aperfeiçoamento profissional e dedicação ao trabalho que o sujeito
percebe como sendo perdidos no caso de uma mudança na carreira. Os custos emocionais
incluem a perda das redes de relacionamento interpessoais ligadas ao trabalho e o impacto que
uma mudança de carreira pode gerar na vida pessoal e familiar. O fator limitação de
alternativas de carreira refere-se à percepção do sujeito sobre o seu potencial de recolocação
no mercado.
15
Os estudantes universitários concluem seus cursos com diferentes atitudes e
expectativas frente ao futuro profissional. Embora, exista certo otimismo quanto ao futuro ao
final da graduação, a falta de conhecimentos sobre os desafios nas especificidades das
respectivas áreas de atuação parece ser uma situação bastante comum (Gondim, 2002).
O jovem trabalhador, em geral, não compreende o funcionamento, os objetivos e as
características das empresas e do mercado de trabalho, por vezes, não percebendo estes como
transparentes e previsíveis. Devido a isso, pode encontrar dificuldade de procurar conhecer as
oportunidades, bem como demonstrar desconhecimento de seus planos e metas pessoais
(Sarriera & Verdin, 1996).
O cenário contemporâneo do mundo do trabalho requer profissionais que sejam
capazes de gerenciar suas próprias carreiras (Sorj, 2000). O enfraquecimento dos sindicatos e
a relativa erosão das identidades ocupacionais ou de classe resultam no isolamento do
indivíduo numa trajetória particular de construção das próprias condições de empregabilidade.
Este termo é definido por Chiavenato (2002) como a adequação contínua da pessoa ao
emprego que ela pretende conquistar ou manter.
Baiocchi e Magalhães (2004) encontraram uma correlação positiva entre
comprometimento e entrincheiramento na carreira. A associação entre os escores totais foi
explicada pela correlação entre as dimensões de custos emocionais e identidade de carreira,
ou seja, o indivíduo identificado com a sua atividade profissional pode se entrincheirar devido
aos custos emocionais que associa a uma mudança na carreira. Pesquisadores e práticos em
orientação de carreiras constataram que existem diferenças individuais importantes
relacionadas à adaptabilidade de carreira. Enquanto alguns indivíduos mostram-se capazes de
lidar com as incertezas, outros apresentam dificuldades em responder às demandas de
autonomia, comportamento exploratório, tomada de decisão e planejamento profissional
(Lassance, 2005).
Neste sentido, de acordo com Sorj (2000), a construção da empregabilidade a longo
prazo apóia-se nas redes de sociabilidade disponíveis para o sujeito (família, vizinhança,
associações, etc.), pois estas tornaram-se fontes valiosas de informação e de renovadas
oportunidades no mercado de trabalho. A imprevisibilidade do novo contexto tende a
aprofundar o recurso a essas redes; e a participação nas atividades sociais que tais redes
organizam se tem tornado um pré-requisito de empregabilidade.
De acordo com Silveira e Wagner (2006), aspectos relativos à realidade social, política
e econômica têm tornado a saída dos filhos da casa paterna cada vez mais difícil. Um dado da
realidade brasileira é que 81% das famílias paulistanas nessa etapa ainda possuem pelo menos
um filho adulto jovem em casa. Na Espanha, 67% dos rapazes e 49% das moças de faixa
16
etária entre 25 e 27 anos ainda permanecem vivendo na casa de seus pais (Rodrigo &
Palacios, 1998). Dessa maneira, alguns estudiosos apontam para o surgimento de uma nova
fase no ciclo evolutivo da família chamada etapa do “ninho cheio” (Carter & McGoldrick,
1995). Ainda pouco estudada, a fase do ninho cheio compreende o processo de permanência
dos adultos jovens na residência de sua família de origem.
O fenômeno do ninho cheio, que ocorre quando o adulto jovem segue residindo com
sua família de origem, sem emancipar-se financeira e emocionalmente de seus pais, merece
atenção pela tamanha frequência com que vem ocorrendo em nossa sociedade. Pode-se pensar
que essa é uma nova forma de organização familiar que vem surgindo, também, em resposta
às difíceis condições sociais do momento (Silveira & Wagner, 2006).
No nível macrossistêmico, a sociedade espera que as famílias se ajustem a um ciclo
normativo, mais ou menos flexível, dependendo da cultura vigente. As famílias, por sua vez,
sentem-se pressionadas a cumprir essas expectativas sociais. Provavelmente, esse seja um
momento de transição em que observamos, em larga escala, o fenômeno do ninho cheio, em
que, tradicionalmente, seria esperado o contrário, ou seja, a saída dos filhos da casa dos pais,
que caracteriza o ninho vazio (Silveira & Wagner, 2006).
1.1.1 Tipos de vínculo de trabalho
No Brasil, o entendimento popular de “trabalho formal” ou “informal” deriva da
ordem jurídica. São informais os empregados que não possuem carteira de trabalho assinada
(Noronha, 2003). Em termos de mercado de trabalho, é razoável supor que o início dos anos
de 1990 representou uma ruptura no movimento crescente de formalização do trabalho. Desde
então, tem crescido a informalidade”. A proporção de empregados sem carteira cresceu de
20%, em janeiro de 1991, para 28,1%, em janeiro de 2001; ao mesmo tempo, a proporção de
empregados com carteira decresceu 12,8%.
A tradicional distinção entre empregado e autônomo, bem como entre autônomo e
empregador, baseia-se no grau de subordinação ou dependência. O primeiro normalmente
trabalha de acordo com regras definidas pelo empregador, é pago por hora de trabalho (e não
por tarefa ou resultado), tem horário de trabalho relativamente definido e deve estar
disponível e subordinar-se a apenas um empregador nas horas contratadas. Essas
características variam de acordo com as atividades. O “tipo ideal” de assalariado, o qual
agrupa todas elas, encontra-se aparentemente em declínio por diversas razões.
Primeiro, por causa de mudanças econômicas e administrativas do mundo empresarial.
Mas, ao mesmo tempo em que o contrato de trabalho típico declina, juristas vem tentando
atualizar a noção de contrato de “emprego” por meio da definição de um conjunto de traços
17
que distinguiriam os contratos de trabalho dos contratos de serviço. Isso ocorre em países
tanto de tradição legislada (ou corporativista) como de tradição contratual (ou pluralista).
Discutindo a legislação e a tradição jurídica britânica, Pitt (1995) opõe os contract of service
(empregados) aos contract for service (autônomos).
A precarização do vínculo empregatício é, sem sombra de dúvida, o fenômeno mais
marcante do cenário de trabalho brasileiro. A análise de dados referentes às pesquisas mensais
de emprego, disponível no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dá uma idéia
do crescimento do trabalho sem vínculo empregatício.
Enquanto os indicadores de desemprego, no período de 1983 a 2000, oscilam entre
percentuais bastante distintos e dificultam a análise (Figura 1), os indicadores que revelam a
característica do vínculo empregatício, neste mesmo período, são claros e surpreendentes
(Figura 2). É possível perceber o decréscimo dos empregados com carteira de trabalho
assinada de 55,91% para 44,50%.
Figura 1. Taxa média de desocupação – mês de novembro.
Fonte: IBGE, 2006.
Por outro lado, o aumento de empregados sem carteira de trabalho assinada e de
trabalhadores por conta própria vem aumentando, embora apresente alguma oscilação. Porém,
fica claro que o número de empregadores se mantém estagnado por volta de 4%, evidenciando
a escassez de novos postos de trabalho.
18
Figura 2: Percentual da população ocupada de acordo com a posição no trabalho principal no
período de referência
Fonte: IBGE, 2009.
Dados mais atuais do IBGE (2009) mostram que as taxas médias de desocupação no
mês de janeiro dos últimos seis anos em seis regiões metropolitanas pesquisadas (Recife,
Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) vêm decrescendo (Figura
3). Porém, quando comparadas às taxas de desocupação do século passado, estas as superam
em dobro.
Figura 3: Taxa média de desocupação – mês de janeiro.
Fonte: IBGE, 2009.
19
Em um país com regiões que ainda enfrentam a transição de uma economia de
subsistência para uma economia moderna e urbana, qualquer noção de contrato de trabalho
legítimo está em permanente e rápida mutação. Não no Brasil, as noções do lícito, do justo
e do aceitável estão em constante mudança, e mais ainda em períodos como o atual, no qual a
economia e o cenário ideológico internacional trazem para a pauta novas noções de contratos
de trabalho. O desafio é a construção de uma tipologia contratual capaz de retratar e explicar
as diferentes razões que levam à não observância da lei.
Robbins e Decenzo (2004) definem os empregados de tempo parcial, temporários e os
trabalhadores contratados. Os empregados de tampo parcial são aqueles que trabalham menos
de 40 horas semanais, e são geralmente utilizados em empresas que precisam de mão de obra
em períodos de pico, como, por exemplo, caixas de banco em horário de atendimento. Os
empregados temporários também são geralmente contratados em períodos de pico de
produção, porém, estes ficam apenas por algum período, como, por exemplo, na substituição
de férias de funcionários. os trabalhadores contratados, são aqueles que trabalham em
projetos específicos, por contratos estabelecidos previamente.
Por trás do atraente slogan de liberdade atrelado à rotina do freelancer, também
mudanças no mercado de trabalho responsáveis pelo crescimento desta modalidade de
profissional. Novas condições de contratação, além da Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) surgiram como mais uma forma de atender as demandas das empresas e driblar o
desemprego – uma delas foi a Pessoa Jurídica (Baroni, 2007).
De acordo com Baroni (2007) grande parte dos profissionais que se aventura nessa
direção o faz por conta das dificuldades em encontrar uma colocação no mercado de trabalho.
Ainda que tenha atrativos, também é preciso lembrar que existem desafios na vida dos
freelancers. Um deles é lidar com a falta de estabilidade financeira. Em um mês é possível
conseguir diversos projetos e ganhar três ou até quatro vezes mais do que um funcionário
CLT. No próximo, porém, nenhum trabalho pode aparecer. No fim de cada mês, o resultado
depende única e exclusivamente do freelancer.
O trabalhador autônomo, dentro da sua jornada de trabalho, não tem mais a
possibilidade de separar espaços de não-trabalho, de refugo, de resistência, como a
continuidade da relação salarial permitia (Lazzarato & Negri, 2001). O controle exercido
pelas empresas sobre as atitudes e valores dos sujeitos extrapola a vida profissional e invade a
vida privada. Desse modo, não é mais o capital que ocupou toda a vida, mas sim o trabalho,
tornando-se todos, trabalhadores autônomos, responsáveis por suas carreiras e atividades nos
dias de hoje.
20
Castel (2005) afirma que é exatamente em torno do emprego que continua a estar
comprometida uma parte essencial do destino social da grande maioria da população. É que o
trabalho não perdeu sua importância, mas sim sua consistência, de onde ele tirava o essencial
de seu poder protetor e sua segurança. Portanto, se o trabalhador é obrigado a mostrar
flexibilidade, polivalência, senso de responsabilidade, espírito de iniciativa e capacidade de
adaptação às mudanças, pode ele comportar-se deste modo sem um mínimo de segurança e de
proteções?
1.2 Contexto da profissão de Psicólogo
A profissão do psicólogo é regulamentada pela lei 4.119, de 27 de agosto de 1962,
que dispõe sobre a Profissão de Psicólogo no território brasileiro, quanto ao exercício
profissional, funções legais do psicólogo, formação, diplomação e vida escolar. Esta lei
federal regulamenta a profissão e estabelece os critérios legais e civis para desempenhá-la. A
regulamentação da profissão garante seu exercício, delimitando sua prática e competências a
graduados em curso superior em Psicologia.
Por se tratar de uma profissão preocupada com a promoção da dignidade e integridade
humana, a saúde é um dos âmbitos de atuação profissional dos psicólogos. Nesse sentido, a
Resolução do Conselho Nacional de Saúde, CNS 218/97, reconhece o psicólogo como
profissional de saúde de nível superior. O Código Brasileiro de Ocupações (CBO) também
reconhece a profissão, bem como suas áreas de atuação, sendo seu código nº 2515. A
profissão de psicólogo foi regulamentada em 1962, porém, o Conselho Federal de Psicologia
e os Conselhos Regionais foram criados quase dez anos depois, pela Lei 5.766 (em
20/12/1971), e instalados em 27 de agosto de 1974 (CFP, 2000).
Em 1953, surge o primeiro curso brasileiro de psicologia, na Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Foi criado, no mesmo ano, o primeiro anteprojeto de Lei
de normatização da categoria, elaborado em conjunto pela Associação Brasileira de
Psicotécnica (ABP) e pelo ISOP (Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação
Getúlio Vargas) (Jacó-Vilela, 2001).
No Rio Grande do Sul, o primeiro curso de psicologia regulamentado foi o da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Fundado no dia 30 de
junho de 1953, foi o primeiro curso de psicologia criado na região sul do país em nível de
pós-graduação. Como curso de graduação, passou a funcionar em 1963.
Quanto à formação, pode-se observar uma valorização da área clínica, pois essa tem
maior dimensão nos currículos dos cursos de Psicologia. As disciplinas direcionadas à
Psicologia no contexto do trabalho são em número bem menor, o que reforça uma identidade
21
clínica à Psicologia (Freiras, 2002). Para Zanelli (2002), existem barreiras nas organizações
que dificultam extrapolar as atividades técnicas; entretanto, também os psicólogos estão mal
preparados até para as atividades mais tradicionais e não assumem ou não têm qualificação
para ampliar suas tarefas. O autor corrobora que o processo de formação existente reitera
conteúdos da área clínica e é calcado no modelo médico de intervenção. Na maioria das
faculdades de psicologia, o estudo de indivíduos e grupos possui características da prática de
consultório e, portanto, se mostra insatisfatório para as demais áreas.
Porém, de acordo com a Resolução 8, de 7 de maio de 2004 do Conselho Nacional
de Educação, novas Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em psicologia
postulam a possibilidade de ênfases para o curso de Psicologia, dentre elas:
a) Psicologia e processos de investigação científica que consiste na concentração em
conhecimentos, habilidades e competências de pesquisa definidas no núcleo comum da
formação, capacitando o formando para analisar criticamente diferentes estratégias de
pesquisa, conceber, conduzir e relatar investigações científicas de distintas naturezas;
b) Psicologia e processos educativos que compreende a concentração nas
competências para diagnosticar necessidades, planejar condições e realizar procedimentos que
envolvam o processo de educação e de ensino-aprendizagem através do desenvolvimento de
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores de indivíduos e grupos em distintos contextos
institucionais em que tais necessidades sejam detectadas;
c) Psicologia e processos de gestão que abarca a concentração em competências
definidas no núcleo comum da formação para o diagnóstico, planejamento e uso de
procedimentos e técnicas específicas voltadas para analisar criticamente e aprimorar os
processos de gestão organizacional, em distintas organizações e instituições;
d) Psicologia e processos de prevenção e promoção da saúde que consiste na
concentração em competências que garantam ações de caráter preventivo, em nível individual
e coletivo, voltadas a capacitação de indivíduos, grupos, instituições e comunidades para
protegerem e promoverem a saúde e qualidade de vida, em diferentes contextos em que tais
ações possam ser demandadas;
e) Psicologia e processos clínicos que envolve a concentração em competências para
atuar, de forma ética e coerente com referenciais teóricos, valendo-se de processos
psicodiagnósticos, de aconselhamento, psicoterapia e outras estratégias clínicas, frente a
questões e demandas de ordem psicológica apresentadas por indivíduos ou grupos em
distintos contextos;
f) Psicologia e processos de avaliação diagnóstica que implica na concentração em
competências referentes ao uso e ao desenvolvimento de diferentes recursos, estratégias e
22
instrumentos de observação e avaliação úteis para a compreensão diagnóstica em diversos
domínios e níveis de ação profissional.
A partir das novas Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em psicologia,
percebe-se um movimento de descentralização da área clínica, incluindo-se na formação do
psicólogo, de igual maneira, as demais áreas da psicologia. Dessa forma, é possível preparar
os profissionais para atuarem com mais competência e capacidade em diversos contextos de
trabalho.
Uma pesquisa sobre psicólogos em contexto do trabalho da grande Porto Alegre
(Mância, Rodrigues & Minozzo, 2003) aponta referência de que os profissionais que
trabalham como assalariados se sentem em constante ambivalência. Primeiramente por não
corresponderem ao ideal clínico pelo qual o psicólogo é reconhecido. Além disso,
ambivalência na ligação profissional como assalariado vinculado a uma empresa que, por um
lado lhe garante estabilidade, mas, por outro, lhe distancia do ideal de profissional liberal,
sendo limitado pelo desejo da organização. As autoras mencionam que todos os psicólogos
entrevistados atuavam na área de recursos humanos das empresas. Grande parte deles não
exerce atividades ligadas diretamente à psicologia, mas à administração. A esse fenômeno ela
chamou de “perda de identidade de psicólogo”. Devido a isso, a maioria desses profissionais
busca realizar sua pós-graduação ou mestrado na administração.
Zanelli (2002) concorda com tais perspectivas, afirmando que o psicólogo no contexto
do trabalho possui um caráter eminentemente operacional e técnico. Nas empresas, os
psicólogos são reconhecidos como os profissionais que aplicam testes e empregam. Em
síntese, modelos que não se diferenciam das atividades iniciais da área no Brasil,
reproduzindo a antiga psicotécnica.
Yamamoto e colaboradores (2003) trazem um breve histórico dos estudos realizados
sobre a situação profissional do psicólogo no Brasil, bem como pesquisas regionais do Estado
de São Paulo e do Rio Grande do Norte. No ano de 1997, foi realizado um levantamento
amplo sobre a situação da psicologia no Rio Grande do Norte (Yamamoto, Siqueira &
Oliveira, 1997), com uma amostra de 190 de um total de 448 psicólogos inscritos no Conselho
Regional de Psicologia (CRP). Os principais resultados ratificam os dados nacionais
(Conselho Federal de Psicologia, 1988) e locais (Yamamoto, 1988), com o marcante
predomínio da área da psicologia clínica-saúde (67,5%), seguida pela psicologia do trabalho
(14,4%), educacional (10,1%) e outras. Destacam-se, neste levantamento, os indícios de
inserção dos profissionais em novos campos de atuação, à semelhança do que registrava a
literatura nacional (CFP, 1992; 1994).
23
Em estudo do CFP (2004), sobre o perfil do profissional, encontram-se dados que nos
ajudam a compreender a categoria. Como se poderia imaginar, a psicologia é ainda uma
profissão exercida predominantemente por mulheres, as quais representam 91% do total. A
área de psicologia clínica (55%) é o maior campo de atuação exercido pelos psicólogos,
seguido pela área organizacional ou do trabalho, exercida por 17% dos profissionais e sendo
seguida pela atuação em políticas públicas de saúde e atividades educacionais, ambas com
11%. Além disso, o psicólogo do trabalho possui como especificidade atuar
predominantemente como assalariado, enquanto em outras áreas, como a clínica, encontramos
predominância do profissional liberal.
É importante compreender a questão da predominância feminina na profissão de
psicólogo. A divisão sexual do trabalho, baseada em relações patriarcais de sexo e gênero,
permaneceu entendida como divisão natural entre os papéis sociais masculinos e os papéis
sociais femininos. (Liedke, 1997).
Criadas para responsabilizarem-se pela manutenção da afetividade nos
relacionamentos familiares, as mulheres são socializadas na direção de serem confiáveis,
obedientes, honestas, comportadas, calorosas, amorosas, com ênfase na interdependência
pessoal, sendo reforçados aspectos como submissão, docilidade e capacidade de doação
(Lassance & Magalhães, 1997). Estas características limitariam a atuação das mulheres no
mundo do trabalho, no qual os comportamentos valorizados são aqueles considerados como
masculinos: “características como orientação para a competência, auto-afirmação, realização,
independência, instrumentalidade, experiência, curiosidade” (Lassance & Magalhães, 1997, p.
52).
A partir das características consideradas ‘naturais’ a homens e mulheres ocorreria uma
divisão entre as profissões possíveis a cada sexo: aos homens caberiam as profissões que
comportam atividades que envolvam a autonomia, o comando e que estejam de alguma forma
relacionadas à virilidade e masculinidade; já às mulheres caberiam as ocupações vinculadas
ao cuidado e expressão de afeto, como a psicologia. O suposto caráter humanitário da
psicologia, exercido através de práticas que envolvem a expressividade atribuída às
mulheres – constrói o cenário propício para o predomínio feminino na profissão.
Gondim (2008) apresentou estudo recente sobre a identidade profissional, o
significado no trabalho e valores éticos do psicólogo brasileiro no III Congresso Brasileiro de
Psicologia Organizacional e do Trabalho. Neste estudo, a identidade profissional foi
considerada uma construção relacional, desenhada e redesenhada dinamicamente na oposição
entre os significados compartilhados pelos membros do grupo em relação a outros grupos.
24
O objetivo da pesquisa da Gondim (2008) foi investigar a identidade profissional a
partir da ordenação estabelecida pelos psicólogos das áreas profissionais afins e não afins à
psicologia. Os resultados indicaram que 64% dos psicólogos consideram a área saúde como
afim à psicologia em oposição à de exatas, seguido de 24% dos que elegeram a área social
como afim, mantendo a de exatas como área de oposição à psicologia. A área de atuação do
psicólogo não exerceu influência na escolha dos grupos de afinidade, sinalizando haver uma
identidade supra-ordenada no grupo de psicólogos, a despeito das áreas e das atividades que
estejam se dedicando.
Além deste estudo, Gondim (2008) apresentou uma pesquisa que partiu da concepção
do significado do trabalho como uma cognição subjetiva e social que varia individualmente na
medida em que deriva do processo de atribuir significados. Nesta pesquisa, foi focalizada a
importância que a pessoa atribui ao trabalho frente às demais esferas da vida, como lazer,
família, religião e comunidade. Também a caracterização de como o trabalho deve ser e a
caracterização do trabalho como ele é na realidade. Foi aplicado um questionário eletrônico
(por meio da internet) composto de uma questão sobre centralidade do trabalho, um inventário
com 62 itens estruturados referentes aos atributos valorativos e descritivos e uma ficha cio-
demográfica em 139 psicólogos brasileiros espalhados em vários estados da federação. Os
resultados indicaram que os psicólogos participantes da pesquisa tomam o trabalho como a
segunda esfera de vida (a família como a primeira). Os escores nas categorias valorativas
indicam que os psicólogos definem que o trabalho deve prover principalmente crescimento e
independência, reconhecimento econômico bem como igualitarismo e acolhimento. Em
seguida, deve prover também realização bem como dignidade e humanização.
Segundo Zanelli (2002), a carreira de psicólogo é construída ao longo da vida. O
mundo do trabalho oferece perspectivas que o recém-graduado pode estranhar, mas, à medida
que o tempo passa, adquire novos valores e habilidades. O desempenho bem-sucedido de um
psicólogo depende do seu envolvimento amadurecido com as questões do mundo do trabalho,
os jogos do poder e as regras do capital.
A abertura de espaços para a atuação psicológica, tão reclamada pelos recém-
graduados e pelos profissionais com maior tempo de exercício, requer uma mudança que não
se deve esperar que provenha, dadivosamente, de um ato formal de algum ponto da estrutura.
Ou os psicólogos se refazem para se fazerem necessários, ou os espaços são progressivamente
reduzidos (Zanelli, 2002). A partir deste breve apanhado geral acerca do contexto da
profissão, percebe-se a importância de novas pesquisas na área, atualizando dados sobre as
práticas na profissão e servindo como auxílio no desenvolvimento de carreira dos psicólogos.
25
1.3 Desenvolvimento de carreira
1.3.1 Conceitos e fundamentos
A carreira nasce, cresce, amadurece e morre. É preciso ter consciência de que a
mesma, como os seres vivos, não é imóvel ou permanente. Tem um ciclo de vida. Tem uma
dinâmica específica de funcionamento, que deve ser bem entendida para ser melhor dominada
(Saviolli, 1999).
Para Souza, Bittencourt, Pereira Filho e Bispo (2005), a carreira poderia ser definida
como uma sequência de funções e cargos que os indivíduos assumem ao longo de sua vida
profissional. A discussão contemporânea sobre o tema atribui ao profissional a
responsabilidade pelo gerenciamento de sua carreira, que é visualizada como uma relação
estabelecida entre indivíduo e organização, na qual os interesses das partes precisam ser
contemplados e trabalhados em conjunto. A carreira passa a ser concebida como um processo
de negociação entre interesses pessoais e profissionais, ou seja, o profissional passa a fazer
escolhas e a planejar sua própria carreira, desenvolvendo seu próprio projeto de
desenvolvimento profissional.
Ainda se tratando da definição de termos e definições adotados em carreiras, Pontes
(2007) apresenta uma tabela de termos e conceitos (Tabela 1).
Tabela 1
Termos e definições adotados em carreiras
TERMOS
CONCEITOS
Plano de Carreira
É o instrumento que define as trajetórias de carreiras existentes
na empresa.
Trajetória de Carreira
Sucessão de cargos que exigem requisitos crescentes.
Trajetória de Carreira –
Linha de Especialização
Sucessão de cargos de uma mesma família (atividade de mesma
natureza) que exigem requisitos crescentes.
Trajetória de Carreira –
Linha Generalista
Sucessão de cargos de famílias diferentes que exigem requisitos
crescentes.
Trajetória de Carreira –
Linha Hierárquica
Sucessão de cargos executivos que exigem requisitos crescentes
e alocados em graus superiores aos cargos técnicos e
administrativos.
Trajetória de Carreira – Y
Sucessão de cargos técnicos ou administrativos com
complexidade similar aos cargos executivos. Permite ao
profissional crescer na organização através da ocupação de
26
cargos técnicos ou gerenciais.
Segmento de Carreira
Cargos configurados de forma ampla e dispostos em níveis
crescentes de complexidade.
Planejamento de Carreira
É o estabelecimento do plano de desenvolvimento individual
com os funcionários.
Carreira Individual
É a sucessão de cargos ocupados por um indivíduo em sua
trajetória profissional.
Plano de Desenvolvimento
Individual
É o objetivo de desenvolvimento futuro do profissional e o
acompanhamento constante desse objetivo. Refere-se ao
aprendizado atual com as experiências profissionais do
indivíduo que possam melhorar as competências para atingir o
objetivo de desenvolvimento.
Dutra (1996) coloca que carreira é um termo de difícil definição, pois pode ser
utilizado para referir-se à mobilidade ocupacional como, por exemplo, o caminho a ser
trilhado por um executivo, ou para referir-se à estabilidade ocupacional, ou seja, a carreira
como uma profissão. Para Dutra (1996), a carreira não é uma sequência linear de experiências
e trabalhos, mas sim uma série de estágios e transições que irão variar em função das pressões
sobre i indivíduo, originadas dele próprio e do ambiente onde está inserido. Além disso, a
carreira é fruto da relação estabelecida entre a pessoa e a empresa, englobando as perspectivas
de ambas.
O modelo tradicional de carreira, que tem como fundamentos principais o cargo, a
senioridade, o esquema escalar de remuneração vem sendo progressivamente substituído por
um sistema centrado na valorização das competências, na consideração do valor agregado e
na flexibilidade da remuneração (Cherques, 2006). Três atributos são fundamentais na
definição do conceito de carreira tradicional: o da previsibilidade, concepção na qual o
trabalhador ao ingressar na carreira possui o conhecimento das possibilidades de seu futuro
profissional; o da progressão, concepção da existência de um crescimento gradual e
sistemático (promoções); e o da determinação, concepção da estabilidade nas regras das
posições verticais.
Neste conceito formal o sistema de carreira é anacrônico porque trata os diferentes de
forma homogênea, não considera as peculiaridades das áreas, das funções e evidencia uma
visão reducionista da realidade organizacional. Gradualmente, o entendimento da carreira
tradicional, na qual o indivíduo deveria adaptar-se as oportunidades oferecidas pelas
organizações mudou para outro entendimento, na qual as organizações devem oferecer as
27
condições necessárias para a realização das expectativas e demandas dos empregados
(Cherques, 2006).
Outro tipo de carreira é a denominada Carreira Proteana. O conceito de carreira
proteana é o contraponto da carreira organizacional situada no tempo e no espaço. Na
perspectiva proteana, o conceito de carreira é ampliado para as noções de inclusão ou
centralidade, que representa o progressivo reconhecimento da expertise de um profissional em
determinada área; e progressão interfuncional, representa a movimentação lateral em diversos
segmentos, propiciando a visão do todo. Neste cenário, o profissional passa a ser o
proprietário de sua carreira e a se perceber como uma unidade econômica autônoma,
disputando espaço no mercado de competências (Martins, 2006).
A atual preocupação das organizações em atrair e manter os profissionais evidencia
o impacto do novo comportamento individual (proteano). Nesse modelo, o profissional
participa ativamente tanto do planejamento como da execução das ações de desenvolvimento,
a capacidade de administrar-se assume caráter prioritário. A gestão de carreira proteana
abrange as seguintes etapas: escolha, referente às decisões fundamentais de carreira;
planejamento, estabelecimentos de metas e estratégias de carreira; implementação, execução
do plano e avaliação, bem como apreciação dos resultados alcançados. Assim, a carreira
proteana realoca, o mesmo desafio com que a gestão de pessoas sempre se defrontou:
compatilizar os interesses individuais e organizacionais, buscando simultaneamente os
resultados e satisfações (Martins, 2006).
Além disso, o progresso da automação, aliado a outros fatores sociais e econômicos
como maior oferta de mão-de-obra e a competição exacerbada contribuem para a redução do
emprego e para o aumento de sua temporalidade e vulnerabilidade. A carreira significa
administrar a própria vida pessoal e profissional visando cuidar do aperfeiçoamento e dos
relacionamentos profissionais. Crescer e desenvolver-se são grandes desafios imposto pelas
novas exigências das organizações do trabalho (externamente) e pelos sonhos, esperanças e
expectativas (internamente) (Motta, 2006).
Ainda para Motta (2006), a concepção do trabalho descartável alterou o significado
das relações de trabalho. O trabalho é visto menos pelos seus aspectos sociais de contribuição
e mais como uma transação econômica em que os sujeitos negociam suas atividades
específicas em troca de ganhos. Desta maneira, os valores que inspiraram os primeiros
grandes planos de carreira gerencial mais de cinquenta anos, estão ultrapassados. São
menos comuns os planos de contribuir para o progresso da empresa e de sentir-se socialmente
mais responsável e útil com o aumento das responsabilidades administrativas. Atualmente,
28
prevalecem as expectativas de preservar a individualidade, obter satisfação no trabalho e a
aquisição de bens materiais.
Nessa nova realidade estimulam-se as pessoas a construir espaços de empregabilidade
e de crescimento profissional através do desenvolvimento constante de suas habilidades e
atitudes. Independentemente das organizações, as carreiras constroem-se como um sequência
de percepções individuais, comportamentos que mostram um auto-desenvolvimento e um
êxito nas experiências de trabalho e de vida das pessoas. Para Resende (2003), cuidar da
empregabilidade significa ajustar ou adequar suas qualificações aos novos desenhos das
profissões e dos cargos que estão sendo criados nas organizações. Significa adquirir novos
conhecimento, desenvolver novas especialidades e assim poder ter atender aos requisitos dos
cargos multifuncionais em crescimento nas empresas. Significa aprender a planejar e
replanejar sua carreira, mantendo-se atento às mudanças que estão acontecendo no meio
ambiente.
Nos marcos da empregabilidade, a qualificação profissional deixa de ser somente uma
atividade concentrada em um período da vida do trabalhador, para tornar-se uma exigência
permanente pela atualização das capacidades adquiridas, um movimento constante em direção
a conquista de novas habilidades e disposições (Lemos, 2006). Juntamente com este conceito
uma nova atitude frente ao trabalho é esperada e essa atitude vem modificando a concepção
tradicional de carreira. Na era da empregabilidade a carreira passa a ser uma construção
individual, marcada por uma sucessão de escolhas autônomas do trabalhador, responsável
pela sua trajetória profissional.
Desta forma a segurança do profissional do séc. XXI não será mais garantida pelo
emprego prolongado, mas sim pela empregabilidade, ou seja, conseguir empregos para seus
conhecimentos, habilidades e atitudes desenvolvidas por meio de educação e treinamento
sincronizadas com as necessidades do mercado. No atual contexto de transformações no
mundo do trabalho, as carreiras tornam-se fluídas, exige-se do trabalhador versatilidade e
capacidade de se autogerir, assumindo riscos pelas mudanças em sua trajetória profissional. A
principal ruptura da carreira tradicional deve-se ao desaparecimento de um guia externo para
as experiências de trabalho. A carreira começa quando o individuo define suas metas, seu
caminho, ela é mais pró-ativa, portátil, descontínua, menos previsível e mais improvisada
(Lemos, 2006).
Uma carreira eficaz beneficia o indivíduo, a organização e a sociedade. Na perspectiva
do indivíduo, proporciona o desenvolvimento e utilização do potencial. Quanto à organização,
ocorre uma complementaridade entre as competências individuais e suas necessidades. Para a
sociedade, uma carreira bem-sucedida integra o sujeito a comunidade. A partir deste enfoque
29
distinguem-se quatro significados de carreira, como: progressão, como profissão, como
seqüência de ocupações assumidas por um indivíduo em sua vida, como seqüência de
experiências relacionadas ao trabalho (Coelho, 2006).
A principal ruptura da carreira tradicional deve-se ao desaparecimento de um guia
externo para as experiências de trabalho. As possibilidades de carreira sem fronteiras têm
como pressuposto a existência de um mercado de trabalho dinâmico e capaz de contratar
competências, através de contratos pontuais e de curto prazo. A carreira não termina com a
maturidade ou com a aposentadoria ou com o rompimento do contrato de trabalho com a
empresa. Construir uma carreira para uma empresa específica representa um risco cada vez
maior (Falcoz & Chanlat, 2006).
Antes de emergirem as carreiras das corporações, considerava carreiras as trajetórias
das profissões liberais, constituídas através do estudo e do conhecimento sistemático através
de um longo período de educação. Com todas as mudança e transformações no mundo do
trabalho ocorrendo, previa-se que o conceito de carreira e o preparo profissional também se
modificassem. Surgiram diversos tipos de contratos, de local de trabalho e de relação empresa
x empregado ou empresa x trabalhador autônomo. Assim, para o desenvolvimento de uma
carreira sem fronteiras é necessário se adaptar as novas formas de relacionamento com a
empresa e adotar um novo significado para o trabalho. Este modelo pressupõe uma alta
identidade com o trabalho, autonomia do trabalhador e mobilidade profissional (Coelho,
2006)
Para Lacombe e Chu (2006), a carreira sem fronteiras compreende vários tipos de
carreiras desenvolvidas em diversos cenários e demanda a apropriação pelo indivíduo do
planejamento e do desenvolvimento de sua carreira e, para tanto, apontam a necessidade de se
investir em competências como o know-how (o conhecimento, a técnica), o know-why (as
motivações para o exercício do trabalho) e o know-whom (a rede de relacionamentos). Para
desenvolver a carreira, as pessoas precisam buscar expandir o seu conhecimento e as suas
habilidades, bem como a sua rede de relacionamento para além das fronteiras de uma única
organização, o que poderá proporcionar mais oportunidade de desenvolvimento de carreira.
De acordo com pesquisa realizada pela consultoria DBM do Brasil, mais de 50% das
colocações de profissionais no mercado são feitas através da indicação de amigos ou
profissionais reconhecidos. Portanto, criar e manter uma boa rede de contatos é a chave que
consegue abrir diversas portas. A pesquisa realizada pela consultoria DBM do Brasil provou o
quanto ter uma boa rede de relacionamentos pode contar pontos na hora de conseguir uma
nova colocação no mercado de trabalho. Dos profissionais entrevistados que encontraram uma
recolocação, 70% foram ajudados pelas redes de contatos que possuíam. Outros 15% por
30
conta de empresas especializadas em recolocação profissional, 12% por meio de headhunting,
2% por métodos tradicionais, como envio de currículo, e apenas 1% via internet. Ou seja, na
maioria dos casos, a conquista de um emprego aconteceu por indicação de amigos, ex-colegas
ou pessoas conhecidas (Semerene, 2006).
Até bem pouco tempo, a escolha da profissão se fazia aos 17 anos, no momento em
que se prestava o exame vestibular. Uma vez formada, a pessoa seguia na mesma carreira até
se aposentar. Segundo especialistas, esse cenário mudou, hoje é incomparavelmente mais fácil
seguir carreira numa área completamente diferente da formação acadêmica. Uma pesquisa do
Observatório Universitário, instituição de pesquisa ligada à Universidade Cândido Mendes,
do Rio de Janeiro, concluiu que 54% das pessoas não trabalham na área que estudaram
(Crippa, 2008). Dos que fazem engenharia, por exemplo, 67% trabalham em ramos diversos.
Em comunicação, esse número é de 72% e em administração, 50%. Em parte, isso se explica
pelo lento crescimento de alguns setores da economia. Como não avançam, essas áreas não
absorvem mão-de-obra na mesma velocidade em que ela é formada pelas universidades.
Resende (2003) aponta que o cenário para os próximos tempos não deixa dúvidas
quanto ao crescimento gradativo de dificuldades para se ter êxito na vida social e profissional
e quanto ao aumento das exigências de mais requisitos de qualificações, habilidades e
competências das pessoas para que possam ser bem-sucedidas. As mudanças rápidas e
constantes de tecnologia e de características do mercado de trabalho bem como a
descontinuidade e imprevisibilidade da economia, das empresas e do mercado apresentam
uma realidade que exige com que as pessoas se conscientizem da necessidade de desenvolver
e ampliar competências e habilidades. Os profissionais devem desenvolver a disposição para
estudar e a capacidade de aprender, além de serem flexíveis, adaptativos e polivalentes para
estarem preparados para o mundo do trabalho atual.
1.3.2 Teorias de desenvolvimento de carreira
Pensando na importância da biografia pessoal quando se fala em carreira, pode-se
dizer que o somatório de cada encontro, desencontro, dos eventos, momentos, emoções,
ações, omissões que se tem ao longo da vida nesses contextos faz ser o que as pessoas são
hoje. Faz da sua biografia pessoal o seu patrimônio existencial inalienável e intransferível, no
qual podem ser localizados os potenciais para a felicidade pessoal e para a missão de vida de
cada um (Moggi & Burkhard, 2003).
Antigamente, era muito comum depositar a responsabilidade do rumo da carreira ao
chefe ou aos recursos humanos das empresas, porém hoje está cada vez mais claro que este
papel é de cada pessoa por si só. Moggi e Burkhard (2003) enfatizam a evolução das leis
31
biológicas como fases que influenciam diretamente e como determinado indivíduo vai se
comportar no restante da sua vida. Uma das explicações está na medicina, que começa a
mapear e indicar que a cada sete anos os órgãos internos têm as suas células trocadas, isso
equivale a dizer que, a cada sete anos, as pessoas são diferentes.
A partir desta visão, Moggi e Burkhard (2003) traçam o desenvolvimento de carreira
em setênios. Por exemplo, a vivência da fase infantil (zero aos sete anos) de que o mundo é
bom faz a criança desenvolver-se de forma positiva até mesmo organicamente e forma o
extrato básico para o seu senso moral para o resto da vida. Na fase juvenil (sete aos 14 anos),
forma-se o próprio mundo interior, e dependendo dos valores vivenciados e transmitidos, a
morada interior pode ser bem estruturada, harmônica ou desleixada e caótica. A vivência
fundamental de que o mundo é belo forma a base para o senso estético para o resto da vida. É
a partir dos 14 aos 21 anos que se representa a fase adolescente, é a hora de pensar na escolha
profissional, que carreira se quer seguir. Por mais que se considere precoce falar em carreira
nesta idade, é preciso que haja uma definição.
De acordo com os autores, na fase emotiva, dos 21 aos 28 anos, as habilidades técnicas
tornam-se mais evidentes. E, psicologicamente falando, é uma época de grandes variações
emocionais. É a fase de maior experimentação profissional. A fase racional, marcada dos 28
aos 35 anos, destaca a qualidade de ponderação, quando a razão começa a dominar os
impulsos. Saber falar, ouvir e perceber o que está por trás das situações são algumas
habilidades sociais que começam a ficar mais evidentes nesta fase da vida. Quanto à carreira,
é neste período que desenvolvem as habilidades sociais, isto é, as faculdades para saber falar
com propriedade e saber ouvir.
A fase consciente, dos 35 aos 42 anos, representa a fase da consolidação e, ao mesmo
tempo, a crise da autenticidade. Tudo é questionado, os papéis que são desempenhados, as
expectativas dos outros que são atendidas para ser bem-vindos e aceitos. O casamento
também é avaliado, as obrigações, os objetivos, etc. A fase imaginativa é característica dos 42
aos 49 anos, em que as pessoas se reinserem numa fase de experimentação, vivendo de acordo
com as próprias convicções e tentando ser autênticos.
A fase inspirativa é marcada dos 49 aos 56 anos, em que a faculdade inspirativa que
desabrocha nessa etapa da vida é uma faculdade metamorfoseada de ouvir e sentir em um
nível mais elevado. A faculdade inspirativa capacita a pessoa a ler uma mensagem ou escutar
uma pessoa e ouvir o que existe entre as linhas ou atrás das palavras. Na fase intuitiva, dos 56
aos 63 anos, é colhido o que foi plantado nas fases anteriores em termos de um verdadeiro
desenvolvimento existencial. É importante ressaltar que muitas pessoas derrapam em suas
32
carreiras ao não perceberem de forma consciente o momento de mudar de curva no seu
processo de desenvolvimento (Moggi & Burkhard, 2003).
Isto que dizer que muitas pessoas são brilhantes técnicos no início de sua carreira e se
deixam levar por essa competência pelo resto da vida, ou seja, é preciso estar atento a novas
qualidades latentes interiores que podem e precisam ser desenvolvidas nas pessoas. O ideal,
de acordo com Moggi e Burkhard (2003) é que se mude a ênfase em cada uma das fases da
vida, para que se possa ter uma carreira adequada e que satisfação e sentimento de estar
cumprindo com a sua missão de vida.
Diversas teorias de desenvolvimento de carreira vêm sendo trabalhadas e
desenvolvidas, porém, para fins deste estudo, será apresentada a seguir a Teoria Life-Span,
Life-Space, proposta e desenvolvida por Donald Super e colaboradores.
1.3.2.1 Teoria Life-Span, Life-Space
A proposta teórica do desenvolvimento de carreira de Donald Super e seus
colaboradores foi construída ao longo do século XX (Super, 1957; Super, 1980; Super, 1983;
Super, Savickas & Super, 1996) e é chamada abordagem de desenvolvimento ou evolutiva. O
enfoque desenvolvimental caracteriza-se por ser uma teoria específica do comportamento
vocacional, e tem seu maior mérito em buscar explicitar o caráter sequencial do mesmo ao
longo da vida (Teixeira, 2002).
A teoria conhecida como life-span, life-space, consolidou-se como um modelo para
compreender o desenvolvimento vocacional e auxiliar no aconselhamento e educação de
carreira (Brown & Brooks, 1996). No Brasil, o modelo de Super tem orientado trabalhos de
pós-graduação (Sparta, Lassance, Paradiso & Bardagi, 2005) e a intervenção em orientação
profissional (Lassance, 1999). Super (1980) propôs um modelo, o Arco-íris de Carreira (Life-
career Rainbow), no qual a dimensão longitudinal é apresentada na extensão do arco e a
dimensão transversal é apresentada nos diversos segmentos que compõem o conjunto dos
arcos.
Super (1963a) coloca que cada indivíduo possui um sistema de autoconceito que é
formado pelas percepções que possui sobre si e estas podem mudar ao longo de sua vida. Os
autoconceitos são estruturas que preparam os indivíduos a organizarem suas experiências. É
importante observar, porém, que as pessoas não possuem um autoconceito, mas vários. São
exemplos dele o de pai, filho, profissional ou cônjuge.
Quando uma pessoa expressa uma preferência vocacional, está mostrando o tipo de
pessoa que imagina ser. Futuramente, ao exercer uma profissão, ela tenta aprimorar este
33
conceito e, ao estabelecer-se profissionalmente, ela atingirá a auto-realização, que é a
representação efetiva de um papel profissional (Super, 1963b).
Super apresenta cinco estágios de desenvolvimento de carreira em sua teoria (Life-
Span), são eles: crescimento, exploração, estabelecimento, manutenção e declínio (Super,
1957; Super, 1963b; Super, Savickas & Super, 1996). O estágio de crescimento (quatro aos 13
anos de idade) vai da infância até a adolescência e se caracteriza pelos movimentos de
identificação da criança com outros significativos, o que lhe permite ir construindo o seu
autoconceito.
O estágio exploratório (14 aos 24 anos de idade) vai da adolescência até o início da
vida adulta, sendo o período no qual o jovem explora profissões e representa papéis na escola,
no lazer e no trabalho. O estágio de estabelecimento (25 aos 44 anos de idade) se caracteriza
pelo esforço do indivíduo em manter-se na escolha profissional. Na fase de permanência (45
aos 65 anos), a preocupação do indivíduo é a sua manutenção na posição que conquistou.
Por fim, o estágio de declínio (a partir dos 65 anos) representa a velhice e caracteriza-
se pela redução gradual das atividades ocupacionais até a sua interrupção. É importante
colocar que as idades são aproximadas, podendo variar de pessoa para pessoa.
1.3.2.1.1 Estágio de estabelecimento de carreira
Considerando-se que este estudo teve como foco o adulto jovem, será mais bem
descrito o estágio de estabelecimento de carreira proposto por Super. O estágio de
estabelecimento constitui-se das tarefas evolutivas relacionadas à estabilização, consolidação
e avanço em uma posição ocupacional. Do jovem adulto (entre 25 e 44 anos) espera-se que se
estabilize em uma posição ocupacional ou profissão que permita a auto-expressão de
interesses, valores e autoconceitos, através da assimilação da cultura organizacional e do
desempenho satisfatório das tarefas sob sua responsabilidade. Ainda demanda-se que
demonstre atitudes de trabalho positivas e bitos produtivos, além de que demonstre
capacidade de estabelecer bons relacionamentos interpessoais com parceiros de trabalho. Ao
final do estágio de estabelecimento, espera-se que o trabalhador refine seus autoconceitos de
forma a estabelecer profundidade e concretude à sua história ocupacional, possibilitando uma
reflexão produtiva acerca dos propósitos, potencialidades e limitações, na direção de uma
maior coerência. Esta visão mais refinada de si mesmo oportuniza as condições para
progresso (vertical nas posições, ou horizontal nas tarefas), de forma a potencializar a
integração com o ambiente do trabalho, tarefa central da teoria do desenvolvimento
vocacional (Super, 1980).
34
De acordo com Super (1980), os estágios correspondem a uma grande linha de
desenvolvimento que ocorre ao longo da vida. Os momentos em que se dão as transições de
um estágio a outro podem variar muito de indivíduo para indivíduo. Além disso, dentro de
cada estágio podem ocorrer mini-ciclos de declínio, manutenção, estabelecimento, exploração
e crescimento; ou seja, o avanço no desenvolvimento da carreira envolve um movimento
contínuo de explorar novos papéis e tentar se estabelecer através de avanços e recuos
contínuos (Super, Super & Savickas, 1996).
Além dos estágios de desenvolvimento de carreira (Life-span), a teoria destaca a
existência de um espaço de vida (Life-Space) composto pelos diversos papéis que uma pessoa
desempenha ao longo de sua vida, embora cada papel possa variar em importância ou mesmo
não existir em determinadas épocas da vida. De acordo com Super, Savickas e Super (1996)
alguns papéis são bastante comuns em nossa sociedade: o papel de criança (inclusive o de
filho ou filha); o de estudante; o de lazer (quando o indivíduo está em atividades de lazer); o
de cidadão; o de trabalhador; o de dono ou dona-de-casa; e o papel de aposentado.
Ao longo das mudanças que compõem o ciclo vital, o indivíduo vai modificando os
conceitos que tem de si em relação a cada papel. O seu sistema de autoconceito passa por
modificações importantes. A teoria reconhece que o autoconceito não é estático e pode se
modificar ao longo da vida de acordo com as experiências pelas quais o indivíduo passa e das
chances que lhe são oferecidas. A qualidade das decisões relevantes tomadas pelo indivíduo
ao longo de sua vida vai depender da sua maturidade vocacional. O grau de entrelaçamento
entre as tarefas de desenvolvimento vocacional e a preocupação de carreira indica o nível de
maturidade vocacional (Savickas, 2002; Super, 1963a).
A partir da realidade profissional observada, e do exposto acima, esta pesquisa buscou
compreender a trajetória profissional de psicólogos porto-alegrenses. De forma mais
específica, as vivências relacionadas às tarefas evolutivas do estágio de estabelecimento de
carreira proposto por Super (1980) em sua Teoria de desenvolvimento de carreira, Life-span,
Life-space.
1.4 Justificativa, apresentação do problema e dos objetivos da pesquisa
As preocupações com a colocação dos psicólogos porto-alegrenses no mercado de
trabalho, bem como com o seu estabelecimento em carreiras estáveis são assuntos de interesse
desta pesquisa. Como visto anteriormente, alguns estudos focalizam os desafios diante das
incertezas do mundo do trabalho e do desemprego, bem como o processo de empregabilidade,
inserção e trajetórias profissionais.
35
Desta forma, o objetivo geral deste estudo foi compreender como psicólogos porto-
alegrenses estão vivenciando as tarefas evolutivas do desenvolvimento de carreira inerentes
ao estágio de estabelecimento. Os objetivos específicos buscaram 1) analisar o estágio de
desenvolvimento da carreira no qual se encontram os psicólogos pesquisados e as
características específicas que apresentam neste estágio; 2) verificar as diferenças percebidas
entre a realização das tarefas do desenvolvimento de carreira de psicólogos com relação ao
tipo de vínculo empregatício, seja ele público, privado ou autônomo; 3) verificar se ocorrem
transições dentro do mesmo estágio de desenvolvimento de carreira; e 4) conhecer como os
profissionais relacionam a atual conjuntura sócio-econômica na inserção do psicólogo no
mercado de trabalho.
36
CAPÍTULO II: MÉTODO
O delineamento desse estudo é qualitativo exploratório descritivo. Foi realizada
análise de conteúdo categorial temática, conforme as indicações propostas por Bardin (1977).
A análise de conteúdo pode ser considerada como “um conjunto de técnicas de análise das
comunicações” (p. 33). Isso implica na utilização de “procedimentos sistemáticos e objetivos
de descrição do conteúdo das mensagens” (p. 40).
No entanto, o que se objetiva nessa perspectiva de análise são as condições de
produção de dada mensagem, o que ocorre através da inferência desses conhecimentos. Tal
procedimento pode ocorrer utilizando-se de indicadores, sejam eles quantitativos ou
qualitativos. Neste estudo optou-se por uma análise de conteúdo qualitativa, que, segundo
Bardin (1977), é definida pela ausência ou presença dos indicadores e não pela sua
frequência.
2.1 Participantes
Participaram desta pesquisa 15 psicólogos com idades entre 30 e 38 anos, que estavam
exercendo a profissão. Optou-se por limitar a faixa etária dos participantes com o objetivo de
levar em consideração o contexto no qual estão inseridos. Este número buscou satisfazer os
critérios de representatividade e saturação dos dados (Pourtois & Desmet, 1992). Os
participantes de níveis sócio-econômicos variados residem na região metropolitana de Porto
Alegre RS. Buscou-se a proporcionalidade na escolha de sexo, conforme porcentagem
obtida no Conselho Federal de Psicologia (2004), ou seja, três homens e doze mulheres. As
características dos participantes podem ser verificadas na Tabela 2.
Quanto à situação ocupacional, os participantes foram igualmente distribuídos em
termos de vínculo empregatício em empresas públicas, privadas ou como autônomos, de
forma que possibilitou uma avaliação das diferenças entre os grupos no que se refere às
vivências das tarefas do estágio de estabelecimento do desenvolvimento de carreira em cada
uma. A escolha dos participantes foi efetuada de forma intencional, de modo a contemplar a
forma de contrato trabalhista dos participantes, e de maneira que se tivessem cinco
participantes para cada tipo de contrato de trabalho, dentre eles quatro mulheres e um homem.
Dentre os participantes, procurou-se garantir que trabalhassem em diferentes áreas do campo
da psicologia, a fim de se representar a profissão sem dar enfoque para uma única
especialidade.
A idade média foi de 31 anos (X = 31,6; SD = 2,2) e a média do tempo de formação
foi de seis anos (X= 6,6; SD = 2,2). Os dados mostram ainda que todos os participantes
37
complementaram sua formação acadêmica prosseguindo nos estudos. Embora tenha
predominado a busca por especializações, foram frequentados também mestrado, cursos de
aperfeiçoamento e capacitações.
Tabela 2
Características dos participantes
Participanteª
Idade
(em anos)
Sexo
Tempo de
formado
(em anos)
Formação
complementar
Vínculo
empregatício
Área de atuação
1.
Ana Paula
34
F
7
Formação e Mestrado
Autônoma
Clínica
2.
Ana Rita
30
F
4
Uma especialização
Autônoma
Clínica
3.
Ana Mara
30
F
5
Três especializações
Autônoma
Avaliação
psicológica e clínica
4.
Ana Laura
31
F
6
Uma especialização e
mestrando (and.)
Autônoma
Clínica
5.
Antônio
31
M
6
Mestrado
Autônomo
Clínica e esporte
6.
Maria Clara
30
F
5
Duas especializações
CLT
Clínica
7.
Maria Inês
31
F
6
Residência e uma
especialização
CLT
Saúde mental
8.
Maria Helena
32
F
7
Uma especialização
CLT
Assistência social
9.
Maria Luísa
31
F
6
Mestrado e residência
CLT
Docência e clínica
10.
Mario
32
M
5
Uma especialização
CLT
Organizacional
11.
Eva
Lúcia
34
F
10
Duas especializações
Concurso
Público
Clínica
12.
Eva
Patrícia
30
F
7
Uma especialização
Concurso
Público
Social
13.
Eva Lara
30
F
5
Três especializações
Concurso
Público
Saúde mental
14.
Eva
Roberta
38
F
13
Uma especialização
Concurso
Público
Assistência social
15.
Everton
30
M
7
Duas especializações e
mestrado
Concurso
Público
Social comunitária
ª Os nomes aqui apresentados são fictícios
Quanto às atividades profissionais, predomina a atuação em clínica entre os
autônomos, social entre os concursados e, entre os celetistas, varia a área de atuação entre
clínica, saúde mental, social, docência e organizacional. Porém, alguns desenvolvem duas ou
mais atividades de trabalho, concomitantemente, como os docentes que também atendem no
consultório.
2.2 Instrumentos e materiais
A coleta de dados foi realizada através de dois instrumentos, o questionário de dados
sociodemográficos e a entrevista semi-estruturada. Ambos estão descritos a seguir.
38
Questionário de dados sociodemográficos (Anexo B): Os participantes responderam a
um questionário sociodemográfico construído especialmente para este estudo. O questionário
coletou dados sobre sexo, idade, escolaridade, renda, estado civil, situação familiar e situação
ocupacional. Sobre a situação ocupacional, abordou-se o vínculo de trabalho atual (serviço
público, privado ou autônomo) para se garantir cinco participantes de cada vínculo.
Entrevista semi-estruturada (Anexo C): A entrevista foi realizada a partir de um roteiro
que buscou contemplar as tarefas do desenvolvimento de carreira, que dizem respeito às
tarefas do estágio de estabelecimento. A estrutura do roteiro da entrevista semi-estruturada foi
desenvolvida a partir da literatura acerca das tarefas evolutivas do desenvolvimento de
carreira inerentes ao estágio de estabelecimento, considerando as tarefas de estabilização,
consolidação e progresso. As questões expressas no roteiro da entrevista foram apenas
norteadoras. Nem todas as perguntas previstas foram necessariamente feitas aos entrevistados,
pois alguns discorreram sobre tais aspectos antes mesmo de serem questionados.
2.3 Procedimentos de escolha dos participantes e coleta de dados
As entrevistas foram agendadas conforme a disponibilidade dos participantes, após
assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Foram observados os
procedimentos de garantia do anonimato dos participantes e confidencialidade dos dados, que
serão guardados em local seguro por cinco anos. Nenhum participante solicitou atendimento
em orientação profissional, mas, de qualquer forma, este foi oferecido, conforme consta no
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A).
Foi realizado contato telefônico com cada participante e combinado a data e o horário de
realização da entrevista, em local definido por ele, de acordo com sua facilidade de acesso.
Foi priorizado um espaço físico que garantiu a privacidade e permitiu a realização da
entrevista livre de ruídos e de interrupções de terceiros.
O primeiro passo foi o estabelecimento de contato com participantes em potencial, que
foram inicialmente indicados através da rede de relacionamento da pesquisadora após terem
ciência dos objetivos da pesquisa. O procedimento adotado para a captação dos próximos
participantes foi reconhecido como bola-de-neve (Turato, 2003), em que o participante indica
um novo sujeito a pedido do pesquisador, até concluir o processo. Para se garantir a
diversidade de áreas de atuação dos psicólogos participantes, foi solicitado ao participante que
indicasse algum colega atuante em uma área da psicologia diferente da sua. Os psicólogos
contatados receberam bem a proposta de participar da pesquisa, sendo solícitos e alegando a
importância do tema. Apenas um convite foi recusado por motivo de falta de tempo.
39
A interrupção de entrevistas com novos participantes se deu a partir da constatação de
que as informações obtidas apresentaram certa reincidência, configurando o que Flick (2004)
denomina saturação. Ao iniciar a entrevista, foi solicitado ao entrevistado que respondesse aos
itens do formulário de dados sociodemográficos (Anexo B). As entrevistas foram realizadas
pela pesquisadora e gravadas em arquivo digital compactado (mp3), sendo transcritas
integralmente para realização da análise de dados.
A seleção de participantes foi delicada, exigindo a observância de muitos cuidados
éticos, uma vez que, sendo a pesquisadora componente desse universo de profissionais, corria
o risco de enviesar o processo de escolha, tornando-o intencional e incluindo, por exemplo,
apenas pessoas conhecidas ou, ainda, apenas pessoas bem-sucedidas profissionalmente. Estes
cuidados foram tomados, chegando-se aos 15 participantes que aceitaram colaborar com a
pesquisa sem qualquer problema ou desconforto.
2.4 Procedimentos de análise de dados
Os dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo. A análise deve seguir as
quatro etapas propostas por Bardin (1977), o levantamento, a partir das entrevistas, o recorte
do material em unidades temáticas, a categorização, as inferências e a interpretação de dados.
A primeira fase incluiu as transcrições das entrevistas na íntegra e as leituras gerais do
material. Após, foram destacadas unidades de sentido das transcrições. As unidades de sentido
foram posteriormente agrupadas em categorias definidas a partir dos dados encontrados e
agrupados em temáticas.
Na fase da inferência e interpretação, tentou-se desvendar o conteúdo subjacente ao
que está manifesto nos trechos selecionados e categorizados. Para inferir o pesquisador deve
utilizar “índices cuidadosamente postos em evidência por procedimentos mais ou menos
complexos” (Bardin, 1977, p.41). A autora ainda apresenta que a descrição é o primeiro passo
da análise e a interpretação é o último, considerando a inferência seu intermédio. Quanto a
essa fase, que ela traduz como um procedimento de dedução lógica, a autora esclarece que
pode servir a dois tipos de problemáticas, uma relativa às causas possíveis, e outra às
consequências prováveis.
A apresentação de resultados e a discussão foram feitas inicialmente através de um
resumo da entrevista de cada participante e em seguida identificados e definidos os temas
emergentes dentro de cada contexto e os resultados relativos aos mesmos. Após a
apresentação dos resultados, foi realizada uma discussão geral dos dados obtidos a fim de
compreender como os psicólogos estão vivenciando as tarefas evolutivas do estágio de
estabelecimento no desenvolvimento de carreira. Também foi realizada uma discussão acerca
40
das diferenças entre os três grupos de participantes, de acordo com o tipo de vínculo
empregatício de cada um.
Para análise dos dados colhidos com os participantes, foi utilizado o software Atlas.ti
5.6, que tem como pano de fundo a abordagem específica da codificação teórica. Segundo
Flick “os computadores e o software devem ser vistos como uma ferramenta pragmática para
auxiliar a pesquisa qualitativa” (2004, p.270). Foram identificados nos registros os
indicadores definidos a priori, com o auxilio deste software.
2.5 Procedimentos éticos
Respeitando a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde no Brasil, os
participantes desta pesquisa foram informados dos principais objetivos e procedimentos do
estudo. Desta forma, foi possível que os mesmos tivessem uma decisão livre e esclarecida
sobre sua participação, recebendo e assinando em duas vias de igual teor o termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A).
Assim sendo, todos os participantes concordaram com a realização da pesquisa e
tomaram ciência dos seus objetivos, não sendo identificados e tendo seus nomes
resguardados. Foi solicitada a autorização de todos os participantes para a publicação dos
resultados. Esse estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEP/UFRGS)
conforme Anexo D.
Somente foi agendada a entrevista com os participantes após o aceite inicial em
participar da pesquisa. Antes do início da entrevista, a pesquisadora explicou novamente ao
participante os objetivos e procedimentos da pesquisa e solicitou a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A).
41
CAPÍTULO III: RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a apresentação dos resultados, inicialmente será descrito o resumo da trajetória
profissional dos participantes deste estudo, e, em seguida, será apresentada a análise de
conteúdo categorial qualitativo. Após a apresentação dos resultados, será realizada uma
discussão geral dos dados obtidos.
3.1 Resumo da trajetória profissional dos participantes
A apresentação da história resumida de cada participante será feita por agrupamento
conforme o vínculo empregatício. Primeiramente, será apresentada a trajetória profissional
dos autônomos, seguida pelos celetistas e, por fim, pelos concursados. A figura 4 apresenta os
nomes fictícios dados a cada um dos 15 participantes, facilitando identificá-los conforme o
seu vínculo empregatício.
Figura 4. Participantes
42
3.1.1 Ana Paula
Ana Paula tem 34 anos, mora sozinha e trabalha como psicóloga clínica há cerca de
sete anos. No momento da entrevista, atua como autônoma, atendendo em sua clínica
particular, que também subloca para outros psicólogos. Durante a graduação, fez um curso de
formação em psicologia clínica e, após, concluiu um mestrado acadêmico.
Quando se formou, abriu um Instituto de psicologia clínica com colegas. Começou a
atender e, após dois anos de formada, começou a supervisionar estagiários. Um ano depois,
também entrou em uma clínica de convênios de plano de saúde, por indicação de uma colega.
Ficou quatro anos e meio e foi demitida por que estavam reduzindo o quadro. Nesse período,
também fechou o Instituto, pois com a saída de muitos colegas ficou difícil de manter os
custos. Buscou o mestrado, que terminou um ano. No início do ano, fez um contrato
emergencial com a Prefeitura de Porto Alegre por quatro meses, onde dava aulas para ensino
médio, técnico de contabilidade e ensino normal.
Recentemente, foi aprovada em um concurso para professor substituto de uma
Universidade Federal no interior do Estado, que irá iniciar no próximo mês. Está ansiosa, pois
ainda não sabe quais disciplinas vai lecionar e como vai ser. Diz estar muito feliz também
com essa oportunidade, por estar buscando a área da docência e da clínica. Tem planos de
iniciar o doutorado, que também é algo que vai impulsionar a carreira, o que irá auxiliar a ter
uma estabilidade maior que está buscando.
Está investindo na profissão, na experiência, na docência e no contato com as pessoas
que estão na área. Acredita que é importante manter o contato com colegas e continuar
estudando para poder estar inserido nesse mercado. Percebe que, neste momento, sua
realização pessoal está bem, se realiza com o que faz e gosta da profissão que escolheu,
porém, não tem estabilidade financeira. Em termos financeiros, não consegue se sustentar,
ainda precisa de auxílio da família. Está formada cerca de sete anos e tem uma renda
mensal entre mil e dois mil reais. Considera seu momento de vida como de transição e
angustiante. Está saindo de um contrato temporário para um trabalho no qual vai se sentir
mais segura, mais firme, quando assumir o cargo de professora substituta na Universidade.
3.1.2 Ana Rita
Ana Rita tem 30 anos, nasceu em Bagé, local onde fez a graduação de psicologia. Hoje
mora em Porto Alegre e trabalha como psicóloga clínica cerca de quatro anos. No
momento da entrevista, atua como autônoma, atendendo em uma clínica particular onde
subloca horários. Fez um curso de especialização em psicologia clínica.
43
Quando acabou a graduação, fez uma especialização em psicologia clínica humanista,
com duração de três anos em Pelotas. Em 2005, veio morar em Porto Alegre. Trabalhou por
um ano como voluntária em uma ONG, atendendo meninas e mulheres vítimas de violência
sexual, física e psicológica. Nesse período, também iniciou os atendimentos na clínica
particular onde atende até o momento. Em 2006, entrou na Sociedade de Psicologia, onde
participa de grupos de estudo da obra de Freud e clínica. Também realizou trabalho voluntário
no Hospital São Pedro, onde fez cursos sobre dependência química.
Atualmente, está participando de grupos de estudo e buscando aumentar a rede de
contatos. Considera que é preciso estar em contato com a rede de relacionamentos e estar no
meio para ter encaminhamento de pacientes. Também está fazendo contato com algumas
empresas pra se vincular e dar desconto no atendimento aos funcionários.
Ana Rita está dois anos estudando para concurso público, refere que esse é o seu
foco, sua meta, pois sempre buscou essa estabilidade e segurança financeira e profissional.
realizou vários concursos para psicólogo, mas ainda não foi chamada em nenhum.
No momento da entrevista, Ana Rita referiu sentir-se bastante insatisfeita e frustrada
com a profissão e com a falta de estabilidade econômica, por estar formada há cinco anos,
com pós-graduação e ter pouco retorno, tanto em relação a pacientes, como em relação a
empregos. Ana Rita não consegue pagar as contas com o que ganha dos pacientes, de mil a
dois mil reais, e é ajudada pela família. Porém, coloca que ainda não perdeu as esperanças,
está motivada, com força de vontade e muita persistência para atingir suas metas e passar em
um concurso público.
3.1.3 Ana Mara
Ana Mara tem 30 anos, é casada, mora com o marido e trabalha com clínica e
avaliação psicológica há cerca de cinco anos. No momento da entrevista, atua como
autônoma, atendendo em uma clínica particular que aluga e realiza avaliações em algumas
empresas. Possui três especializações, em psicoterapia psicanalítica, em avaliação psicológica
e em dinâmica de grupos.
Ana Mara atende desde que se formou em uma clínica. Refere que muitos pacientes
vêm da clínica mesmo, outros através de amigos e familiares. quanto às avaliações
psicológicas, uma amiga indicou Ana Mara para uma empresa de segurança, pois não podia
atendê-la por não ter especialização na área, e, como Ana Mara estava cursando a
especialização de avaliação psicológica, a amiga a indicou. Atualmente, realiza as avaliações
nessa empresa como autônoma, e também ministra treinamentos nesse local.
44
Coloca ter sido muito feliz nas suas escolhas e utilizar todo conhecimento aprendido.
Foi a partir do momento que abriu seu campo de atuação, conciliando clínica e avaliação, que
percebeu a sua carreira deslanchar. Aponta a ampliação da rede de contatos e relacionamento
como fundamental para seu crescimento.
Ana Mara se percebe estabilizada como psicóloga, mas diz que as conquistas são
muito recentes e que vieram de uma caminhada. Com o ganho que tem hoje, cerca de três a
quatro mil reais, consegue se manter. Pensa ter feito a escolha certa na carreira, acredita poder
conquistar muito mais na profissão, sempre aliando o conhecimento a supervisão e o
autoconhecimento.
3.1.4 Ana Laura
Ana Laura tem 31 anos, é casada, mora com o marido e trabalha com clínica cerca
de seis anos. No momento da entrevista, atua como autônoma, atendendo em uma clínica
particular que aluga. Possui especialização em atendimento psicológico/psicanálise e está
concluindo o mestrado em psicologia social.
Atualmente está fazendo o mestrado. Também faz supervisão e análise. Aluga o
consultório com outros colegas. Mesmo não tendo muitos encaminhamentos, sente-se
tranquila com a clínica, e quem indica os pacientes são os amigos e conhecidos. Por trabalhar
em consultório, refere ter bastantes horários para estudo e lazer. Considera que o mestrado é
um momento de produção científica, além de proporcionar uma titulação que conta bastante.
Se sente satisfeita com a qualidade do trabalho que realiza, mas pensa em fazer doutorado
ao terminar o mestrado. Coloca como possibilidade buscar algum concurso no futuro, desde
que não impossibilite o trabalho na clínica.
Ana Laura não se considera estabelecida profissionalmente, pois o que recebe hoje, de
quinhentos a mil reais, é insuficiente pela relação tempo e quantidade de estudo, além disso,
muitas vezes precisa da ajuda dos pais ou do companheiro, até mesmo por morar na casa dele,
pois ele que arca com as despesas. Hoje se sente bem no caminho que está construindo como
psicóloga e psicanalista.
3.1.5 Antônio
Antônio tem 31 anos, é casado, mora com a esposa e trabalha com psicologia clínica e
do esporte cerca de seis anos. No momento da entrevista, atua como autônomo, atendendo
em uma clínica particular que aluga e com psicologia do esporte. Possui mestrado em
epidemiologia.
45
Antônio se formou em 2003, um mês depois de formado estava trabalhando no
consultório da sua namorada na época, hoje esposa. No segundo mês de formado, começou a
trabalhar com esporte no local onde tinha realizado um estágio. Em 2006, sentiu a
necessidade de fazer o mestrado. Por ser autônomo, conseguiu conciliar o tempo entre
mestrado, trabalho na clínica e no esporte. O mestrado foi uma oportunidade de pesquisar, de
fazer contatos profissionais, ampliar a rede profissional de esporte que não tinha. Desde 2005,
trabalha com a Federação Brasileira de Vela, e acompanha atletas da equipe olímpica
Brasileira.
Profissionalmente, faz duas coisas que gosta muito, no entanto, esperava que já tivesse
mais resultados financeiramente e de estar mais seguro. Acredita que está investindo e está
tendo um resultado suficiente pra que continue tanto do ponto de vista do trabalho, quanto
econômico, pois atualmente ganha de três a quatro mil reais por mês. Tem um bom nível de
encaminhamentos de colegas e também de pacientes. Pensa em fazer o doutorado, pois é uma
forma de orientar o estudo e pensa na docência como algo complementar.
3.1.6 Maria Clara
Maria Clara tem 30 anos, é solteira, mora com a mãe e trabalha com psicologia clínica.
No momento da entrevista, atua como psicóloga clínica contratada por um centro de plano de
saúde. Também trabalha como autônoma, atendendo em uma clínica particular que aluga.
Possui curso de formação incompleto em psicologia clínica humanismo e atualmente está
fazendo especialização em cognitivo comportamental.
Meio ano depois de formada, Maria Clara foi contratada por uma empresa de plano de
saúde de grupo. A entrada foi através da rede de relacionamento, por indicação. Está lá
cinco anos. Refere estar pela segurança, garantia de um salário fixo, férias, 13º. Mas
percebe que o salário não é proporcional ao trabalho realizado, remunerando pouco o
psicólogo. Acredita ser uma referência para os colegas, por ser uma das psicólogas mais
antigas e também pelas indicações que recebe para atendimento.
Maria Clara também atende em seu consultório particular, que divide com outras
colegas. Quer investir mais na clínica, pois para se estabilizar ainda precisa crescer em termos
de clientela, pois sua intenção é priorizar o consultório ao plano de saúde, embora ainda
precise dele como garantia de um salário fixo. Buscou credenciamento junto a empresas para
atender os funcionários, a fim de melhorar o número de pacientes.
Percebe-se no caminho certo e tem planos futuros de fazer cursos curtos, aumentar o
círculo de relações e se aprofundar nas coisas que aprendeu, com uma boa supervisão.
Atualmente seu pai a ajuda com parte do custo da especialização e da terapeuta, pois não teria
46
como pagar os dois com os cerca de dois a três mil reais mensais que ganha no emprego e na
clínica particular somados, pois além dos custos com o curso, ela paga contas de moradia e
transporte. Sem essa ajuda não poderia estar investindo na carreira nesse momento. Percebe
como muito importante ter um planejamento de carreira e um planejamento financeiro,
preparando já nos dias de hoje sua aposentadoria.
3.1.7 Maria Inês
Maria Inês tem 31 anos, nasceu em Bom Retiro do Sul, é casada, mora com o marido e
trabalha com saúde mental em um CAPS de uma Prefeitura de um município da região
metropolitana de Porto Alegre. No momento da entrevista, atua como psicóloga contratada
pelo município. Possui residência em saúde mental coletiva e especialização em humanização
da atenção e gestão do SUS.
Após se formar, Maria Inês ficou meio ano estudando e entrou para residência em
saúde pública, período muito intenso, chegando a fazer 60 horas semanais, entre trabalho e
disciplinas. Ao término da residência montou uma empresa com um projeto de estruturação
de CAPS com mais quatro colegas e apresentaram o projeto em diversos municípios.
Fecharam um contrato de seis meses com um município e começaram as atividades, porém,
por motivos políticos, não conseguiram manter as atividades e fecharam.
Ficou dois meses sem trabalhar e foi indicada por uma conhecida para atender em uma
empresa privada de nutrição, com um contrato informal de trabalho como autônoma. Porém,
tinha que cumprir horários, o vínculo e as relações eram precários, além do salário que era
muito baixo. Maria Inês ficou ali, pois precisava se sustentar.
Cerca de um ano depois, Maria Inês recebeu um telefonema para participar de um
processo seletivo em um CAPS do município onde trabalha dois anos e meio. A
contratação foi feita através de um convênio da Prefeitura com uma associação de usuários e
familiares. Um ano depois, Maria Inês foi convidada para assumir a coordenação do CAPS e,
ao assumir o cargo, Maria Inês entrou na especialização em humanização da atenção e gestão
do SUS, que deu todo o respaldo técnico para exercer suas atividades.
Maria Inês sempre sonhou em fazer um concurso público. Percebe a precariedade do
vínculo no seu local atual de trabalho e também acha que pagam muito mal os psicólogos,
recebendo de mil a dois mil reais por mês. Percebe-se estabilizada do ponto de vista da
escolha, mas sente-se instável quanto ao vínculo empregatício, sente o risco de demissão e
procura pela estabilidade de um concurso público. Está fazendo grupo de estudo na Escola de
Saúde Pública e pensa em fazer mestrado, pois acredita ter muito a aprender.
47
3.1.8 Maria Helena
Maria Helena tem 32 anos, nasceu em Bom Princípio, é casada, mora com o marido e
uma filha e trabalha como psicóloga na assistência social da Prefeitura de Porto Alegre. No
momento da entrevista, atua como psicóloga contratada pela Prefeitura. Possui especialização
em transtornos do desenvolvimento.
Trabalhou algum tempo com voluntariado e buscou a especialização; na semana que
entregou a monografia de conclusão da graduação foi chamada para assumir na unidade de
assistência social de um processo seletivo que havia participado algum tempo atrás. Está lá há
cinco anos, gosta do trabalho e do atendimento às famílias. Nunca havia trabalhado com a
questão da assistência antes. Refere ter se identificado com o trabalho e com a equipe, que a
acolheu muito bem. Para ela, estes cinco anos foram muito gratificantes e espera ficar
bastante tempo lá. Existe a possibilidade de que o programa, que é federal, seja cancelado,
mas enquanto não acabar ela se sente motivada para ficar ali trabalhando.
Maria Helena trabalha 30 horas semanais e o trabalho é tranquilo. Sempre pensou em
fazer mestrado e doutorado, mas pensa nisso para o futuro. Atualmente, sente-se realizada
profissionalmente, além disso, tem uma filha pequena e está pensando em ter outro filho,
então, por enquanto, vai se voltar pra isso. A rotina e o local de trabalho são importantes para
Maria Helena, pois consegue almoçar em casa e chegar em casa às cinco horas e trinta
minutos da tarde, o que dificilmente conseguiria em outro lugar. Pensa que poderia ganhar
mais, porque ganha entre mil e dois mil reais por mês, mas, no momento, o seu marido ganha
mais e pode arcar com as contas.
Percebe ter feito uma caminhada bonita, passando por várias coisas e acabando nesse
lugar. Maria Helena não se sente estabilizada no trabalho devido ao vínculo, pela instabilidade
de ser um programa federal, de ter a questão política, da possibilidade de mudar a gestão.
Porém, tem uma grande rede de contatos e relacionamento e, se o programa acabar, acredita
que conseguirá se recolocar sem problemas.
3.1.9 Maria Luísa
Maria Luisa tem 31 anos, nasceu em Nova Friburgo/RJ, é casada, mora com o marido
e está grávida. Trabalha como professora em uma Universidade do interior do Rio Grande do
Sul. No momento da entrevista, atua como professora contratada pela Universidade e atende
em uma clínica que aluga com colegas. Possui mestrado em psicanálise e residência em saúde
pública.
No último ano da faculdade fez alguns concursos públicos. Participava de muitos
grupos de estudo e, ao se formar, não sabia ao certo o que ia fazer e decidiu fazer o mestrado
48
no Rio de Janeiro, se dedicou um semestre estudando para prova e passou. No segundo ano do
mestrado, foi chamada em um dos concursos que havia prestado no último ano da faculdade,
então assumiu a vaga no concurso da Prefeitura do Rio de Janeiro e terminou o mestrado
também. Na prefeitura, foi lotada na assistência social, trabalhando com equipes
multiprofissionais. Inicialmente ficou na supervisão de projetos sociais, foi onde mais gostou
de trabalhar, pela equipe e pelas atividades que desempenhava. Porém, houve uma mudança
política e a nova gestão colocou as pessoas de confiança na supervisão, e Maria Luísa foi
enviada para trabalhar em um abrigo de adolescentes construído em baixo de um viaduto. Ali
ficava mais no âmbito da saúde mental, pois era a única psicóloga da equipe. estava há dois
anos trabalhando na Prefeitura. Neste ano, casou-se com um psicólogo de Porto Alegre que
estava morando algum tempo e trabalhando em outra área, em uma empresa de
informática que vinha desde Porto Alegre. Por estar muito cansada do trabalho no abrigo,
decidiram sair do Rio de Janeiro e vieram morar em Porto Alegre para que os dois pudessem
buscar trabalho na psicologia.
Quando veio para Porto Alegre, Maria Luísa começou a estudar para a residência de
saúde pública, se dedicou e passou. Refere ter sido ótimo, ter tido muito trabalho e dedicação
exclusiva. Ao término da residência, alugou uma sala com alguns colegas e voltou a atender
na clínica, mas com poucos pacientes ainda, por não ser daqui e ainda não ter formado uma
rede que ajude nos encaminhamentos. Meio ano após terminar a residência, participou da
seleção para uma vaga de professor em psicologia escolar em uma universidade particular do
interior do Rio Grande do Sul que viu na internet, pois estava sempre buscando acompanhar a
abertura de concursos na área. Está trabalhando lá há um ano contratada com carteira assinada
como professora horista. Ainda não está cansada de viajar toda semana para o interior, e a
universidade dá um bom suporte. Além disso, financeiramente também é bom, a universidade
tem um plano de carreira docente e também arca com todas as despesas de deslocamento,
recebendo de três a quatro mil reais por mês sem ter que gastar com o deslocamento.
Atualmente se sente bem como psicóloga, mas tem vontade de exercer mais a atividade
clínica psicanalítica, e não a docência. Maria Luísa havia iniciado uma formação
psicanalítica, mas teve que trancar pelas viagens ao interior e também porque agora está
grávida.
Maria Luísa se considera estabilizada na profissão. Por ter passado pelos três tipos de
vínculo empregatício, refere que enquanto autônoma foi totalmente inseguro, instável e
angustiante. Quanto ao concurso público, refere ser parecido com seu contrato atual de
carteira assinada, pois ambos passam a ela a mesma relação de estabilidade, pois com a
carteira assinada, desde que desempenhe um bom trabalho e se dedique, está segura. A
49
diferença é que no concurso o desempenho pode variar sem risco de demissão. Pretende
assumir supervisões de estágio no futuro, após ganhar o bebê e tem vontade de fazer o
doutorado. Futuramente também pensa em buscar dar aula em Porto Alegre, para não ter que
viajar tanto. Também vai fazer concursos, e acredita que se dedicando muito consegue passar,
mesmo com a concorrência alta.
3.1.10 Mário
Mário tem 32 anos, é solteiro e mora sozinho. Nasceu em Caxias do Sul e trabalha
como psicólogo em uma empresa multinacional na região metropolitana de Porto Alegre. No
momento da entrevista, atua como psicólogo organizacional contratado pela empresa três
meses. Está cursando uma especialização em gestão empresarial.
Ao terminar a faculdade, foi efetivado como consultor residente na consultoria onde
era estagiário. Após um tempo, recebeu uma proposta de trabalhar em uma empresa na área
de recursos humanos. Ficou dois anos e meio e refere ter sido uma ótima experiência, onde
foi promovido três vezes. Recebeu uma proposta de transferência para Santa Catarina, onde
realizou um trabalho por um ano e decidiu voltar para Porto Alegre pelas diferenças culturais.
Em Porto Alegre, começou a trabalhar em outra empresa, mais voltado para treinamento e
desenvolvimento. Algum tempo depois, viu sua atuação limitada e buscou outra empresa.
três meses foi contratado por uma multinacional, como analista sênior, onde ganha
um salário de cerca de quatro a cinco mil reais mensais. Refere que o volume de trabalho é
muito grande e nunca trabalhou tanto. De todas as transições de emprego, esta é a que está
mais difícil, por causa da carga de trabalho. Refere ter ficado angustiado pela sensação de que
não iria dar conta das cobranças, mais internas do que externas. Por isso, começou a fazer
uma pós-graduação em gestão empresarial e tem se dedicado a aprender o funcionamento da
empresa.
Para o futuro, busca o nível de gestão, um cargo de supervisão, coordenação, ou
gerência. Mas para isso Mário diz que terá que investir muito em capacitação, compreensão
de negócios, conhecimento em línguas, entre outros. Se sente estabelecido e confortável na
carreira, refere ter trilhado um caminho que se orgulha e com muitas conquistas.
3.1.11 Eva Lúcia
Eva Lúcia tem 34 anos, nasceu em São Luiz Gonzaga, é casada e mora com o marido.
Trabalha como psicóloga na Prefeitura de um município da região metropolitana de Porto
Alegre. No momento da entrevista, atua como psicóloga concursada da Prefeitura há um ano e
atende em sua clínica particular há cerca de nove anos. Possui duas formações em psicanálise.
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Quando se formou abriu consultório e continuou estudando mais na área clínica, fez a
sua primeira formação em psicanálise que durou dois anos, depois fez outra de quatro anos
também na psicanálise. Atende no consultório há cerca de nove anos e Eva Lúcia gosta muito
da clínica, mas refere que no consultório o retorno é demorado e difícil, pois o investimento é
alto, pela formação, as especializações, o investimento em supervisão e em análise pessoal,
refere que teve momentos de frustração, e de até repensar a clínica.
Há um ano Eva Lúcia fez um concurso para uma Prefeitura de um município da região
metropolitana de Porto Alegre e passou. ela atende crianças e adolescentes com
deficiência. Fez o concurso para mudar um pouco e não ficar no consultório. Alem disso,
financeiramente o concurso proporciona um alívio, por ter um valor fixo e também uma
segurança pelos direitos. Trabalha 30 horas por semana, e este foi uma das condições para
assumir o concurso, pois assim pode continuar se dedicando ao consultório. A bagagem que
tem de formação e experiência ajuda muito seu trabalho na Prefeitura. Também está
aprendendo muito lá, por trabalhar com pacientes deficientes o que torna a atividade mais
complexa. Eva Lúcia trabalha com uma equipe de fonoaudióloga, terapeuta ocupacional,
psicopedagoga e assistente social, as trocas são constantes e conseguem ter uma visão
ampliada dos pacientes.
Eva Lúcia pretende seguir estudando, fazendo supervisão e análise. Tem planos de no
futuro fazer a formação oficial de analista didata. Sente-se hoje mais experiente, mais madura,
acredita que teve paciência para acreditar e seguir investindo na carreira, e a experiência de
análise também ajudou nisso. Acredita estar estabelecida na carreira, hoje tem mais pacientes
na clínica e sente seu trabalho reconhecido na Prefeitura, atendendo um grande volume de
pacientes lá, o que também dão muita experiência. Atualmente recebe de dois a três mil reais
por mês, somando a clínica e a prefeitura. Refere que a indicação de pacientes vem mais dos
colegas, pela rede de contatos profissionais e também alguns pacientes que encaminham, pois
acreditam que fez um bom trabalho.
3.1.12 Eva Patrícia
Eva Patrícia tem 30 anos é solteira e mora com os pais. Trabalha como psicóloga na
Prefeitura de um município da região metropolitana de Porto Alegre. No momento da
entrevista, atua como psicóloga concursada da Prefeitura um ano e atende em sua clínica
particular cerca de sete anos. Possui uma especialização em clínica com ênfase em saúde
comunitária.
Ao se formar, refere que o primeiro ano foi difícil, alugou uma sala com colegas, mas
tinha poucos pacientes. Também levou seu currículo a escolas e ofereceu orientação
51
vocacional junto com uma colega. Então, aceitou um convite de uma colega para trabalhar na
APAE de um município no interior do Estado. Estava trabalhando dois dias por semana lá,
quando outra colega a convidou para assumir um posto de saúde em um município próximo.
Então, Eva Patrícia viajava e ficava quatro dias no interior. Já cansada das viagens, dois anos
depois, decidiu deixar de trabalhar na APAE, pois a psicologia não era muito valorizada lá, e
não era vantajoso financeiramente.
Ao realizar o trabalho no posto de saúde, Eva Patrícia buscou como suporte a
especialização em saúde comunitária, que durou dois anos. Gostava muito do seu trabalho no
posto de saúde, porém, após dois anos de trabalho foi demitida por questões de mudança
política. Começou a fazer a licenciatura em psicologia, pois gostava da área escolar. Nesse
período, um amigo entrou em contato e a convidou para assumir uma vaga de professora em
uma escola, para dar aula de psicologia para o ensino médio. Eva Patrícia lecionou por três
anos nesta escola, foi sua primeira experiência com carteira assinada, o que oferecia uma
estabilidade que não tinha com a clínica. A escola fechou e Eva Patrícia foi demitida.
Então, decidiu que queria ser funcionária pública. Estava chateada por ter se dedicado
tanto à profissão e não ser valorizada. Começou a estudar e prestar concursos. Meio ano
depois foi aprovada e chamada para psicóloga da assistência social de uma Prefeitura de um
município da região metropolitana de Porto Alegre, onde está até o momento da entrevista.
Gosta do seu trabalho, mas enfrenta dificuldades, dentre elas políticas, além do salário que
refere ser baixo. Para complementar está atendendo também em uma clínica de hemodiálise.
Trabalhando no município, e na clínica particular, ganha no total entre dois a três mil reais por
mês.
Sente-se feliz, com a estabilidade do concurso está conseguindo fazer planos, mas
ainda mora com sua mãe. Se sente segura no trabalho, mas não estabilizada. Tem a
expectativa de ser chamada em dois outros concursos que foi aprovada, o que seria um
progresso, pois são melhores financeiramente, e também locais mais tranquilos de trabalhar.
Também tem realizado algumas orientações vocacionais em uma escola que três anos a
chama para trabalhar no período de escolhas dos alunos.
3.1.13 Eva Lara
Eva Lara tem 30 anos e mora com o companheiro. Trabalha como psicóloga na
Prefeitura de um município da região metropolitana de Porto Alegre. No momento da
entrevista, atua como psicóloga concursada da Prefeitura três anos e meio. Possui três
especializações, uma em psicologia social e institucional, uma em humanização da atenção e
da gestão do SUS e uma em psicanálise.
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Quando se formou foi convidada para participar da organização de uma cooperativa
que seria contratada por uma ONG em projetos sociais, que durou um ano, porém, ficou mais
no planejamento do que na execução por questões políticas. Naquele mesmo ano tentou entrar
na residência, mas não conseguiu. Ao longo do ano seguinte estudou para a residência e para
os concursos que apareciam.
Passou na residência e começou a cursar. No entanto, durante o ano que estava na
residência, Eva Lara passou no concurso que está hoje, e optou por abandonar a residência e
assumir o concurso. Coloca que no trabalho tem questões políticas de gestão bem
complicadas, e que buscou as especializações que a auxiliaram a compreender o seu papel e o
funcionamento da instituição. Além disso, por estar atendendo os pacientes no CAPS, sentiu
falta da formação clínica, e buscou a especialização na psicanálise. Coloca que trabalha 20
horas por semana, mas se sente totalmente absorvida no trabalho. Gosta do seu trabalho, mas
continua buscando outros concursos pela questão financeira, pois refere ter investido muito na
formação, na análise e na supervisão e o salário não é compatível com isso.
Eva Lara se sente estabilizada na carreira, gosta do que faz e toma esse trabalho como
um aprendizado muito grande de vida. Mas, financeiramente não consegue se sustentar com
esse trabalho, pois recebe cerca de mil a dois mil reais por mês. Contudo, percebe o trabalho
como um investimento na experiência ainda. Pensa, no futuro, em buscar o mestrado e
doutorado para trabalhar com ensino e poder abrir horizontes.
3.1.14 Eva Roberta
Eva Roberta tem 38 anos é casada e mora com o marido. Trabalha como psicóloga na
Prefeitura de Porto Alegre. No momento da entrevista, atua como psicóloga concursada da
Prefeitura há nove anos. Possui uma especialização em psicoterapia com orientação analítica.
Logo depois de formada, estava muito motivada e começou a fazer concursos para as
cidades próximas. Foi aprovada em um concurso de uma Prefeitura da região metropolitana
de Porto Alegre, o que deu um grande alívio a Eva Roberta, pois sabia que tinha essa vaga
garantida. Mas, como o sabia quanto tempo levaria para ser chamada, iniciou um projeto de
pesquisa de um ano e meio, com uma bolsa. Também iniciou uma especialização em
psicoterapia de orientação analítica, que durou três anos e começou a atender em um centro
espírita, onde ficou quatro anos como autônoma.
Levou três anos para ser chamada no concurso, onde foi alocada na assistência social,
para trabalhar com abrigos. Um ano após assumir, passou em outro concurso e foi chamada na
Prefeitura de Porto Alegre também na assistência social. Além de poder trabalhar na mesma
cidade em que morava e ter uma remuneração melhor, refere que o serviço de Porto Alegre
53
era muito mais organizado. Está trabalhando nove anos na Prefeitura e refere que, nesse
período, as gestões mudaram bastante, e que as colegas de trabalho também mudavam, o que
dificultava a construção do serviço.
Sente-se estabilizada e satisfeita como psicóloga, por estar fazendo aquilo que gosta.
Pelo lado financeiro tem a satisfação pela estabilidade, mas acredita que pela complexidade o
trabalho deveria ser mais valorizado, pois ganha cerca de três a quatro mil reais por mês. Para
Eva Roberta a questão da estabilidade do concurso e da certeza da aposentadoria proporciona
uma grande segurança. Refere que não tem como progredir na carreira, pois o concurso é um
caminho único, porém, está sempre participando de cursos e pensa em fazer uma
especialização ou buscar o mestrado para qualificar o seu trabalho.
3.1.15 Everton
Everton tem 30 anos e mora com a esposa. Trabalha como psicólogo na Prefeitura de
um município do interior do Rio Grande do Sul. No momento da entrevista, atua como
psicólogo concursado da Prefeitura três anos e meio. Possui duas especializações, uma em
saúde e trabalho e outra em humanização do SUS. Também tem mestrado em psicologia
social.
Após se formar continuou atendendo na clínica onde fez estágio e dois meses depois
foi chamado para trabalhar em um centro de plano de saúde por indicação de uma colega da
clínica. Coloca que o local tinha regras de atendimentos e não havia nenhum trabalho
multidisciplinar e que os psicólogos eram muito pouco valorizados. Nesse período, tentou
fazer a prova para residência em saúde pública, porém, passou nas provas e não passou na
avaliação do currículo. Everton estava a quase dois anos trabalhando quando foi demitido sem
motivo.
Ficou um ano desempregado apenas estudando para concursos, mas, nesse período
percebeu que precisava qualificar o seu currículo, motivo pelo qual não tinha sido aprovado
nas seleções da residência. Buscou a especialização em saúde e trabalho. Também fez vários
concursos, sendo chamado no concurso que está quatro anos, na Prefeitura de um
município do interior do Estado. Trabalha 24 horas por semana, no começo trabalhava um
pouco em cada área, educação, saúde, assistência social. No último ano focou sua atuação
mais para a saúde. Quando terminou a especialização em saúde e trabalho, se inscreveu para
um mestrado em psicologia social, referindo que não ia mais ficar acomodado. Ao concluir,
participou da seleção para a especialização em humanização da saúde, que tinha como
requisito ser servidor público. Everton coloca que não conseguiu implantar ainda a
54
humanização no local onde trabalha por causa de mudanças de gestão, em função das
eleições.
Por isso, Everton está se planejando para buscar outro local de trabalho, porém,
percebe que está mais preparado para buscar um novo concurso na área da psicologia social.
Também vai buscar oportunidades de docência. Mas, coloca a importância da estabilidade que
o emprego público oferece, e que, por isso, não vai largar seu trabalho a não ser que seja por
algo melhor e também com estabilidade de salário. Além disso, quer ter tempo para fazer
outras coisas, o que o horário do emprego público proporciona, pois prima pela qualidade de
vida que tem hoje com sua esposa e seus pais, mesmo que esteja ganhando menos do que
poderia. Seu salário é de mil a dois mil reais por mês, mas refere ter uma tranquilidade
financeira pela ajuda da esposa.
Não se percebe estabilizado, pois está formado sete anos e acha que pode usar mais
o seu potencial. Quer chegar a um cargo de gestão, mas sabe que tem ainda que percorrer um
caminho, ampliar sua rede de contatos. Everton coloca que para progredir na carreira é
importante fazer parte de um grupo e não ficar sozinho, como os grupos que se formam na
especialização, onde trocas de experiência e funcionam como motivadores. Quando
terminou o mestrado havia pensado em ficar um tempo sem fazer pós-graduação. Porém, após
a conclusão, acabou entrando na especialização em humanização, e já está pensando no
doutorado.
55
3.2 Análise de conteúdo categorial qualitativo
A partir das tarefas do estágio de desenvolvimento de carreira apontadas por Super,
foram delimitados nove indicadores conforme a sua relação com a descrição das tarefas de
desenvolvimento de carreira e referentes ao estágio de estabelecimento: 1) Profissão:
descrição de conteúdos relativos à fixação profissional; 2) Provisão: descrição de conteúdos
relativos à provisão material a si ou à família; 3) Habilidades: descrição de conteúdos
relativos ao uso de habilidades e conhecimentos; 4) Interesses significativos: descrição de
conteúdos relativos à busca de interesses significativos; 5) Preocupação Profissional:
descrição de conteúdos relativos ao interesse do participante na sua própria situação
profissional; 6) Segurança: descrição de conteúdos relativos à busca de segurança; 7)
Firmeza: descrição de conteúdos relativos à firme consolidação em uma profissão satisfatória;
8) Benefícios: descrição de conteúdos relativos às expectativas de conseguir benefícios
econômicos e 9) Avanço: descrição de conteúdos relativos à busca por postos de maior
responsabilidade e independência.
Para cada indicador foram utilizados quatro critérios de análise, conforme os objetivos
específicos deste estudo. Os critérios de análise são 1) descrição das características específicas
expressas no indicador; 2) diferenças percebidas quanto ao vínculo empregatício expressas no
indicador; 3) presença de transições relativas ao trabalho, dentro do mesmo estágio de
estabelecimento, expressas no indicador e 4) relações expressas entre o contexto sócio-
econômico e o indicador.
Para cada um dos nove indicadores foram realizados os quatro níveis de análise
propostos. As unidades menores de registro foram agrupadas em conteúdos expressos. Os
conteúdos semelhantes foram agrupados em categorias, obedecendo aos critérios apontados
por Bardin (1977, p.38): 1) homogeneidade; 2) exaustividade; 3) exclusividade; 4)
objetividade e 5) pertinência. As categorias obtidas correspondem às formas de vivência das
tarefas de estabelecimento de carreira propostas pela literatura.
A Tabela 3 mostra os conteúdos manifestos de alguns participantes e as relações de
análise que foram encontradas para cada indicador relacionado às três tarefas evolutivas do
estágio de estabelecimento: estabilização, consolidação e progresso. Os quatro critérios de
análise 1) características específicas, 2) vínculo, 3) transições e 4) contexto foram
relacionados aos nove indicadores: profissão, provisão, habilidades, interesses significativos,
preocupação profissional, segurança, firmeza, benefícios e avanço.
56
Tabela 3
Conteúdos manifestos e relações entre os indicadores e os critérios de análise
Tarefas do
Estágio de
Estabelecimento
Indicadores
Características
(conteúdos
manifestos)
Vínculo Transições Contexto
Estabilização
Espera-se que o
jovem adulto seja
capaz de fixar-se
profissionalmente,
de prover
materialmente a si
ou à família e que
faça uso de suas
habilidades e
conhecimentos e
que persiga
interesses
significativos
1) Profissão Carteira Assinada
Concurso Público
Reconhecimento
Não descrevem De emprego
Busca local
de trabalho
estável
Saturação
Interferência política
Demanda
Não atribui o sucesso
da fixação a
conjuntura
socioeconômica
2) Provisão Apoio financeiro
da rede familiar
extensa
Divisão de contas
entre cônjuges
Não descrevem Não referem Profissão
desvalorizada
Nível de salário da
profissão é baixo
3) Habilidades Construção para o
uso do
conhecimento
Processo
Não descrevem Busca de
desafio para
suas
habilidades
Não referem
4) Interesses
significativos
Produz realização
profissional
Identificação com
o trabalho
Não descrevem Não referem Não referem
Consolidação
Espera-se que o
jovem adulto passe
a interessar-se pela
sua situação
profissional,
buscando segurança
e buscando
estabelecer-se com
firmeza em uma
profissão,
consolidando-a
5) Preocupação
Profissional
Preocupação da
relevância
Preocupação com
o futuro
Medo do
desemprego
Ampliar a rede Não referem Crise mundial
Aumento do
desemprego
Poucos pacientes
Qualificação e
Competitividade
6) Segurança Serviço Público
Carteira Assinada
Há diferença e há
mais segurança no
serviço público
Mudanças Políticas
podem transferir ou
demitir
Não referem Mudanças políticas
7) Firmeza Pleno exercícios
das atividades
Confiança na
prática
Não descrevem Não referem Não referem
Progresso
Indivíduos
possuem
expectativas de
conseguir maiores
benefícios
econômicos e
avançar para postos
de maior
responsabilidade e
independência
8) Benefícios Qualificação
Cursos
Pós-graduação
Ampliação da
Rede
Diferença
Garantia de valor no
publico
Possibilidade no
privado de aumentar
os ganhos
Rede Social
Troca de
emprego
para
aumento de
benefícios
Não referem
9) Avanço Cargo
comissionado
Formação para se
sentir mais capaz
Ampliação da
Rede
Público é estagnado Não referem Política
Mudanças políticas
não estimulam a
busca por
responsabilidade e
independência
(Concursados)
57
Quanto ao primeiro vel de análise, foram obtidas seis categorias temáticas, descritas
a seguir, e posteriormente relacionadas às tarefas definidas a priori: 1) Rede; 2) Processo; 3)
Realização; 4) Legalização; 5) Preocupação com o desempenho; 6) Qualificação. A Tabela 4
apresenta as categorias e a frequência de vezes que os participantes as mencionam, bem como
os indicadores relacionados a elas.
Tabela 4
Categorias temáticas
Categorias (Nº de Indexações) Indicadores
1. Rede (48) Profissão, Provisão, Benefícios e Avanço
2. Processo (41) Habilidades
3. Realização (48) Interesses significativos
4. Legalização (57) Profissão e Segurança
5. Preocupação com o desempenho (32) Preocupação profissional e Firmeza
6. Qualificação (42) Benefícios e Avanço
Com auxílio do software Atlas.ti, foi possível identificar as relações entre os
indicadores e as categorias emergentes, conforme é possível visualizar na Figura 5. Os
indicadores foram indexados aos conteúdos expressos nas falas dos participantes, e após
relacionados às categorias emergentes.
58
Figura 5. Relações entre as categorias e os indicadores
A categoria Rede foi definida a partir de conteúdos expressos pelos participantes e
podem ser compreendidos como relativos às relações de rede entendidas pelos participantes
como necessárias para o estabelecimento profissional. Isto se dá, pois referem a importância
do apoio familiar no seu sustento para continuar investindo na psicologia, bem como na
importância da rede de relacionamentos para buscar trabalho e encaminhamento de pacientes.
Os conteúdos foram identificados a partir dos indicadores 1) Profissão; 2) Provisão; 8)
Benefícios e 9) Avanços. Entre os conteúdos analisados descritos pelos participantes, houve
48 citações indexadas a esta categoria, referentes a treze participantes. A seguir, algumas
citações que podem exemplificar esta categoria.
Um exemplo da importância do apoio da rede pode ser observado na fala de Ana Rita
(“Então, assim, como eu não consigo (...) ter uma segurança pra pagar as contas, , com o
que eu ganho dos meus pacientes, a minha família me ajuda, né, me um auxílio familiar”).
Outra fala da participante Ana Paula também mostra a importância do suporte familiar ("pra
eu me sustentar e ter minha independência financeira... não tenho hoje, assim, eu ainda
preciso de auxílio da minha família”). Eva Patrícia refere ainda morar com sua mãe pela
questão da instabilidade que sente (“Eu ainda moro com a minha e, né, acho que isso é
importante falar, por causa dessa instabilidade muito, né”). Ana Laura mora com o namorado,
e refere que se tivesse que morar sozinha com o que ganha não conseguiria (“Mas se eu
tivesse que morar sozinha não teria condições. Mas com ele sim, (...) é ele que acaba tendo
os custos com isso, com a maioria das coisas, assim, né”). Maria Helena diz que conta com o
suporte do marido (“No momento, o meu marido ganha mais que eu, pode bancar algumas
coisas, e eu tenho essa facilidade de ter essa vida que favorece a maternidade. Então, cada um
faz a sua parte, assim”).
Everton conta com o suporte da esposa (“(...) uma coisa também que essa
tranquilidade, é na função do casal, ela tá bem, bem empregada agora. Então, é uma coisa
que se soma, né. Ela trabalhar e ganhar bem mais que eu, eu não tenho problema nenhum com
isso”). Maria Clara está fazendo um curso de especialização e conta com a ajuda do pai (“O
meu pai, ele me dá uma ajuda pra, porque assim, é bem alto o custo do meu curso e o custo da
minha psicóloga, então, assim, eu não teria como pagar os dois inteiros agora, (...) ele me
um apoio que sem ele eu não poderia estar fazendo o que eu estou fazendo”).
quanto ao papel da rede enquanto contatos que facilitam a busca de trabalho e
encaminhamentos, Eva Patrícia refere que conseguiu seu primeiro trabalho através de uma
amiga (“aí uma amiga (...) me ligou perguntando se eu não queria (...) trabalhar num posto de
59
saúde, porque ela tava saindo de lá”). Ana Paula refere como fundamental sua rede de
relacionamentos (“(...) tanto no início, logo que eu me formei, até agora, eu sempre tive essa
rede de contato, então até esses trabalhos que eu tive (...) foi através da rede de contatos”).
Ana Mara também aponta a rede de contatos como principal fonte de encaminhamento de
trabalhos (“então, alguns encaminhamentos vieram da própria clínica, e outros dos amigos,
principalmente, da família, começa assim né... “Ah, minha filha se formou, um
cartãozinho”, aquela coisa, né”). Maria Inês diz ter sido indicada por uma colega para um
trabalho (“Por indicação, foi uma colega da residência, que não podia assumir o trabalho e me
passou”). Antônio coloca a rede que formou durante o mestrado como importante (“o
mestrado (...) foi uma oportunidade que eu tive de pesquisar, de fazer outros contatos
profissionais, uma rede profissional em cima de esporte que eu não tinha”).
A categoria Processo foi definida a partir de conteúdos expressos pelos participantes
referentes à passagem temporal e o desenvolvimento, experiência e uso de conhecimentos e
habilidades. Os conteúdos foram identificados a partir do indicador 3) Habilidades. Entre os
conteúdos analisados descritos pelos participantes, houve 41 citações indexadas a esta
categoria, referentes aos quinze participantes. A seguir, algumas citações que podem
exemplificar esta categoria.
Eva Lúcia descreve seu processo (“Ai... chega um tempo, assim, que tu investe,
investe, investe, e o retorno ele não é igual ao investimento que tu fez. tu começa a te
frustrar, tu começa a repensar, né. Então, tem que ter paciência, tu tem que acreditar naquilo,
né... tu tem que passar pela experiência. Hoje, eu acho que eu mais, ah... madura, mais
decidida, mais... tendo um retorno melhor, né, no consultório... em cada paciente, com mais
pacientes, né, a bagagem que eu tenho, hoje, facilita um monte o meu trabalho”), bem como
Eva Patrícia (“Eu fico muito feliz, porque eu acho que agora eu colocada, assim, né, claro
que eu acho que eu tenho uma experiência, eu já tenho uma caminhada, né”). Ana Mara
descreve suas conquistas (“muito bom eu posso considerar, porque é um crescente que não é
duma hora pra outra, foram coisas que foram conquistadas e plantadas”) e Maria Helena
comenta sobre sua caminhada (“Então, assim, eu fiz uma caminhada de acordo com o que a
vida me trouxe. Eu tenho agora 7 anos de formada só. Então, acho que é uma vitória, assim”).
O processo também é descrito por Maria Luísa (“quando a pessoa vai atingindo uma
maturidade, eu acho que é mais difícil, sinceramente, pra quem tem 24, 25 anos, que acabou
de se formar. A gente, que caminhou um pouquinho já, foi acumulando um pouquinho mais
de experiência. Aí, eu me sinto, hoje, um pouco mais segura”) e por Maria Clara (“assim, até
o tempo de experiência, tu fica cada vez mais perspicaz, né, e tu começa a ter uma visão que
engloba várias coisas, e é aquele raciocínio diagnóstico, que daqui um pouco tu pensa
60
a diante, tu recebe um paciente e tu sabe muitas coisas que ele vai te trazer, como é que tu
vai intervir”).
A categoria Realização foi definida a partir de conteúdos expressos pelos participantes
referentes à importância da realização profissional e a identificação com o trabalho que
realizam e com a área da psicologia que escolheram. Os conteúdos foram identificados a
partir do indicador 4) Interesses significativos. Entre os conteúdos analisados descritos pelos
participantes, houve 48 citações indexadas a esta categoria, referentes a quatorze
participantes. A seguir, algumas citações que podem exemplificar esta categoria.
A realização de Mário com sua carreira é expressa em vários momentos (“Na minha
carreira eu me sinto tão confortável, que eu penso: “poxa, se eu fosse abrir mão disso e fazer
uma outra coisa, o que que eu faria, e porque eu faria”), Ana Paula refere estar em um
momento de realização pessoal (“Eu vejo que na minha vida, a minha realização pessoal está
bem, eu me realizando com o que eu faço, eu gosto do que eu faço, é essa a profissão que
eu quero”). Para Ana Mara, as escolhas trouxeram realização (“Eu fui muito feliz nas minhas
escolhas porque eu uso tudo nos dias de hoje, tudo que eu aprendi eu uso”), Maria Inês
também aponta suas conquistas (“Foi a minha vitória! Era o que eu queria mesmo, né, voltar
para aquilo que eu me formei, que eu me planejei, que era o que realmente me faz sentido no
trabalho, né, estar num serviço como esse”). Antônio refere estar realizado nas suas atividades
(“eu faço duas coisas que eu gosto muito de fazer, não tem nada nessas duas coisas que eu não
goste de fazer”). Everton aponta a realização pela tranquilidade que conseguiu alcançar (“Eu
acho que a visão que se tem dos outros, as pessoas: “pô, tu trabalha 3 dias por semana, que
vida boa”. Eu tô muito contente com isso, é bom mesmo”).
A categoria Legalização foi definida a partir de conteúdos expressos pelos
participantes referentes à legalidade dos contratos trabalhistas, no que se refere aos direitos e
benefícios de trabalhador, oferecendo uma estabilidade no trabalho. Os conteúdos foram
identificados a partir dos indicadores 1) Profissão e 6) Segurança. Entre os conteúdos
analisados descritos pelos participantes, houve 57 citações indexadas a esta categoria,
referentes aos quinze participantes. A seguir, algumas citações que podem exemplificar esta
categoria.
Ana Rita refere como meta passar em um concurso público pela segurança que vai
encontrar (“entrar num concurso público, o quanto isso é importante pra mim, sabe. O quanto
isso tem significado na minha vida, porque vai me trazer uma tranquilidade e uma segurança
que eu não consigo em nenhum local, sabe”). Já Eva Lúcia refere a estabilidade alcançada
através do concurso (“É que o concurso público tem aquela coisa, né... de tu ter o salário no
fim do mês, ah... tu ter alguns benefícios que como autônomo tu não tem. Tu sabe que aquilo
61
que tu vai ganhar é aquilo que tu vai ganhar, né”). Eva Patrícia conta sua busca pela
legalização para sair da instabilidade (“Aí eu decidi que eu queria passar num concurso, que
eu tava cansada dessa coisa de instabilidade, né, a história quando eu fui demitida do posto de
saúde foi muito sofrido pra mim, porque eu amava trabalhar lá, né, e a questão da clínica
muito instável”). Maria Inês (“mas agora eu me sinto instável nesse vínculo empregatício, isso
eu me sinto muito instável, me sinto com risco de demissão, e procuro pela estabilidade de um
concurso público, essa é a minha meta”). Maria Luísa aponta se sentir segura com a carteira
assinada (“o fato de ter todos os benefícios previstos, carteira assinada, férias, 13º, tudo
muito... bem tranquilo, bem certinho”), bem como Maria Clara (“ali paga pouco pro trabalho
que a gente tem, mas é uma segurança, então, eu tenho essa segurança em estar lá, porque eu
tenho um fixo, tudo, tem férias, tem 13º, e isso me uma segurança”). Para Everton o
concurso é uma garantia (“É a garantia... a coisa da garantia, né. Tu sabe que todo mês vai
ali o teu salário. E tu ter a tua vida, pra fazer as coisas”).
A categoria Preocupação com o Desempenho é definida a partir de conteúdos
expressos pelos participantes referentes à preocupação com o futuro, devido ao seu
desempenho e à qualidade do trabalho oferecido, também referem o medo do desemprego
caso seu desempenho não corresponda com as exigências do mercado. Os conteúdos foram
identificados a partir do indicador 5) Preocupação profissional e 7) Firmeza. Entre os
conteúdos analisados descritos pelos participantes, houve 32 citações indexadas a esta
categoria, referentes a doze participantes. A seguir, algumas citações que podem exemplificar
esta categoria.
O trabalho de Eva Patrícia fez com que se preocupasse em buscar uma formação para
dar conta das atividades (“E aí, o trabalho no posto começou a exigir uma formação mais na
comunitária, eu fiz, concluí a especialização, no fim, foram 2 anos, né, terminei”), assim
como Maria Inês (“Na mesma época que eu assumi a coordenação, e acho que foi uma das
coisas que me potencializou pra assumir, foi ter entrado também no curso de especialização
em humanização do SUS e que deu todo um respaldo também técnico pra estar pensando esse
lugar de coordenação e trabalho”).
Para Maria Luísa, a preocupação com o desempenho é constante (“E hoje, eu sinto
segurança, porém um custo, o custo que tem é eu estar sempre procurando me dedicar
muito, sabe, não deixar furo, e isso eu me preocupo muito, assim, de não me atrasar pras
aulas, é uma preocupação que eu tenho, sabe. Então, eu me sinto muito nessa obrigação de
mostrar que eu tô, assim, dedicada e empenhada naquilo que eu fazendo”), também para
Maria Clara (“Mas, aí, eu comecei a entrar de novo em, lá pelas tantas em conflito, assim, de,
bá... “não, mas não é suficiente isso que eu sei e eu preciso buscar mais, eu preciso de alguma
62
coisa que me ajude na prática. Então, hoje eu me sinto muito mais eficaz enquanto
profissional”).
A categoria Qualificação é definida a partir de conteúdos expressos pelos participantes
referentes à busca de formação específica para desenvolver novas competências e se sentir
mais capacitado para o trabalho e também a busca de especializações e outras pós-graduações
como forma de alcançar maiores benefícios e avanços profissionais. Os conteúdos foram
identificados a partir dos indicadores 8) Benefícios, 9) Avanço. Entre os conteúdos analisados
descritos pelos participantes, houve 42 citações indexadas a esta categoria, referentes a
quatorze participantes. A seguir, algumas citações que podem exemplificar esta categoria.
Mario refere sua busca por avanço através da qualificação (“comecei o pós-graduação
em gestão empresarial, eu me dedicando muito a aprender o funcionamento da empresa,
para entender exatamente que ferramentas são essas, como é que eu posso tirar o melhor
proveito delas, e como é que eu posso dominá-las. Então, têm um aprendizado dentro da
empresa e onde eu faço pós”). Da mesma forma, Ana Paula refere a continuação dos estudos
como forma de obter avanços (“O doutorado também é algo que vai impulsionar porque eu
vou continuar estudando”). Ana Mara refere o quanto a especialização abriu outros mercados
de atuação (“surgiu uma oportunidade mais na área da avaliação psicológica. Então, pra dar
conta disso, eu busquei a especialização em avaliação psicológica, e foi quando eu comecei,
aliando a teoria, né, com a prática. Então, essa parte de avaliação me abriu todo um outro
mercado, que eu até então desconhecia”).
Antônio refere poder ampliar sua atuação a partir do mestrado realizado e pensa
em fazer doutorado (“Eu penso em fazer o doutorado, me interesso muito, porque é uma
forma de orientar o meu estudo, mais do que qualquer outra coisa e penso também na
alternativa de mandar o meu currículo com o mestrado para alguns lugares pra dar aula”).
Everton aponta que as qualificações potencializam seu trabalho (“E quando eu terminei o
mestrado, eu não tinha pensado logo em especialização, mas comecei outra, logo depois, e
eu falei: ai, agora quero dar um tempo, não quero ficar fazendo s-graduação”. Mas,
esses dias, eu já me peguei pensando no doutorado, porque vai te dando gás, vai te
potencializando”).
O segundo nível de análise é relativo ao segundo objetivo específico e obedece à
relação entre os tipos de vínculo, autônomos, celetistas ou concursados e as categorias
encontradas na primeira análise. Este tipo de análise compreende as descrições dos
participantes sobre diferenças percebidas por eles entre os tipos de vínculos trabalhistas e os
indicadores identificados. diferenças expressas pelos participantes entre os vínculos
quanto às categorias Rede, Legalização e Qualificação. Entre os conteúdos analisados
63
descritos pelos participantes, houve 36 citações indexadas ao nculo, referentes a dez
participantes. A seguir, algumas citações que podem exemplificar estas relações.
Na categoria rede, as diferenças entre os vínculos estão relacionadas à possibilidade do
trabalhador autônomo em ampliar sua rede de contatos e também de benefícios. Eva Lúcia
aponta a questão (“É... que o concurso público tem aquela coisa, né... de tu ter o salário no fim
do mês, ah... tu ter alguns benefícios que como autônomo tu não tem. Tu sabe que aquilo que
tu vai ganhar é aquilo que tu vai ganhar, né, na clínica tem épocas que tu fica um tempão
ganhando aquela coisa por mês, mas aquilo ali é aquele tempo, aquilo pode aumentar. Porque,
na verdade, chega um momento na clínica que tu cria um patamar e fica, né. E vai crescendo,
menos do que aquilo não”).
Na categoria legalização, as diferenças entre os nculos estão relacionados ao fato de
haver mais segurança no serviço público e celetista, garantias de vínculo legal e benefícios e,
por outro lado, autonomia e liberdade no trabalho autônomo. Isto pode ser identificado nas
falas de Eva Roberta (“a questão da estabilidade, de ter um ganho que tu sabe que tu vai ter,
né, se eu continuar trabalhando na prefeitura depois de me aposentar, isso uma segurança,
né, inevitável, a questão do final do ano, de 13º”) e de Ana Mara (“Olha, eu tenho uma vida
muito tranquila, porque eu tenho muitos espaços... como a gente tem uma situação autônoma,
a gente acaba tendo muito espaço livre, então, eu tenho muita liberdade”).
Na categoria qualificação, as diferenças entre os vínculos são relacionadas à
possibilidade dos profissionais autônomos e celetistas de progredir na carreira e ter mais
benefícios na medida em que buscam mais qualificação e formação. Mário diz que seu foco é
atingir um cargo de gestão e, para isso, está cursando gestão empresarial e se capacitando
enquanto líder (“Então, eu tenho que continuar investindo em compreensão de negócios,
tenho que aprofundar meu conhecimento em línguas, tenho que me capacitar como líder,
como coach...”).
O terceiro nível é relativo ao terceiro objetivo específico de análise e obedece à
relação entre as transições dentro do mesmo estágio de estabelecimento e os conteúdos
identificados pelos indicadores. As transições descritas pelos participantes estão relacionadas
às categorias Processo, Legalização e Qualificação. Entre os conteúdos analisados descritos
pelos participantes, houve 22 citações indexadas às transições, referentes a nove participantes.
A seguir, algumas citações que podem exemplificar estas relações.
As relações encontradas relativas à categoria processo dizem respeito às mudanças de
emprego que são descritas pelos participantes como relativas à busca de desafio para suas
habilidades e aumento de benefícios ao longo do tempo. Mário refere sua decisão de transição
na busca de novos desafios (“Chegou num ponto, na consultoria, que eu conhecia tudo o que a
64
gente fazia. Não conhecia tudo de RH, mas conhecia tudo o que a consultoria podia oferecer.
E eu queria mais, sabe. Eu sempre quis RH interno. Em consultoria tu não tem aquela coisa
processual, longitudinal, que é o que sempre me fascinou em RH.”).
Para atingirem novas responsabilidades precisam buscar qualificação. Maria Inês
refere a importância da especialização para desempenhar o cargo de coordenação que assumiu
(“Na mesma época que eu assumi a coordenação, e acho que foi uma das coisas que me
potencializou pra assumir foi ter entrado também no curso de especialização em Humanização
que deu todo um respaldo também técnico pra estar pensando esse lugar de coordenação, e
isso me ajudou a ficar, permanecer na coordenação”).
Outra relação percebida é a busca pela legalização do trabalho através de um concurso
público, o que fez com que alguns participantes realizassem transições em busca da
estabilidade do concurso. A fala de Maria Inês reflete essa relação (“mas agora eu me sinto
muito instável nesse vínculo empregatício, me sinto com risco de demissão, e procuro pela
estabilidade de um concurso público, essa é a minha meta”).
O quarto nível corresponde ao quarto objetivo específico de análise e obedece às
relações existentes entre o contexto sócio-econômico e os conteúdos identificados pelos
indicadores. O contexto descrito pelos participantes está relacionado às categorias Rede,
Legalização e Preocupação com o desempenho. Entre os conteúdos analisados descritos pelos
participantes, houve 43 citações indexadas ao contexto, referentes a treze participantes. A
seguir, algumas citações que podem exemplificar estas relações.
A relação encontrada relativa à categoria rede diz respeito à desvalorização da
profissão no mercado e o baixo salário dos psicólogos, o que leva os participantes a
dependerem do apoio da família para se manter. Eva Patrícia refere essa experiência (“aí eu
deixei a APAE, porque eu tava com muita coisa e porque eu não tava rendendo nada, assim,
ó, uma exploração financeira... é que faz muito tempo, assim, eu trabalhava como autônoma
lá, com RPA, e a hora de trabalho era um absurdo, assim, era tipo, oito reais a hora, eu acho
que era isso, e os gastos com viagem, nada disso tava incluído (...) por causa dessa
instabilidade muito, eu ainda moro com a minha mãe”).
A categoria legalização é relacionada ao contexto, pois os participantes referem que a
política exerce grande influência na profissão, modificando as relações e as atividades dos
profissionais. Maria Helena refere a influência na política (“não me sinto estabilizada, porque
é sempre uma instabilidade essa questão de ser um programa federal, de ter essa questão
política, de muda gestão, de repente muda”). Maria Inês também refere ter sentido influência
política no seu trabalho (“Mas a questão política por trás disso, a ameaça da demissão, desse
jogo político, ele ficou, assim, o tempo inteiro. Às vezes, a gente até brincava, assim: “quem
65
será o próximo a ser demitido?”. Então tem esse fantasma, hoje um pouco mais ameno, mas
ele vem com a gente, vem nesse vínculo, né, empregatício”).
A relação encontrada entre o contexto e a categoria preocupação com o desempenho
está relacionada ao aumento do desemprego, à competitividade e saturação do mercado e à
crise mundial, que os participantes referem como preocupante. Ana Rita aponta esta questão
(“com a falta de estabilidade econômica, né, porque isso às vezes é muito frustrante pra ti,
assim... tu formada, cinco anos, com pós-graduação, tu estuda bastante, assim, e tu...
pouco retorno, assim, sabe. Tanto em relação a pacientes, como em relação a empregos. O
quanto difícil o mercado de trabalho, eu trago muito isso pra terapia, assim. O quanto
competitivo, né... o quanto tu tem que ser muito bom pras pessoas te valorizarem”). Ana
Laura também aponta certa preocupação com o tema (“eu acho que é um momento, que é
capaz de piorar, pelo que dizem cada vez mais psicólogos que se formam, eu acho que nesse
sentido de esgotamento, assim, de muito profissional pra pouca demanda de trabalho, eu acho
que talvez até piore. Mas eu ainda confio, apesar de tudo isso, eu ainda confio que o meu
trabalho possa fazer com que outros encaminhamentos cheguem”).
A Figura 6 representa a síntese dos resultados, demonstrando as relações e conexões
entre as tarefas de desenvolvimento de carreira do estágio de estabelecimento, as seis
categorias emergentes dos conteúdos analisados no primeiro nível e suas relações com os
outros três níveis de análise.
Figura 6. Síntese dos resultados
66
2.3 Discussão
O objetivo geral deste estudo foi compreender as vivências dos psicólogos
entrevistados ao que se refere às tarefas evolutivas do desenvolvimento de carreira inerentes
ao estágio de estabelecimento. Os resultados possibilitaram esta compreensão e trazem
algumas questões a serem discutidas e problematizadas, relacionando-se os dados com a
teoria de desenvolvimento de carreira proposta por Super (1980).
Cada participante teve sua trajetória única, buscando a inserção profissional em
diversas áreas da psicologia. No entanto, a área de maior atuação entre eles é a psicologia
clínica e a psicologia social, no campo da saúde mental e coletiva e assistência social. Uma
pesquisa realizada no Rio Grande do Norte aponta o índice de 41% dos psicólogos inscritos
no Conselho Regional trabalhando na área social, referindo haver nessa área uma possível
sinalização de transição do modelo de atuação clínico individualizante para uma perspectiva
coletiva, principalmente nas instituições de assistência social (Oliveira, Seixas, Lima, Ribeiro
& Yamamoto, 2009). A atividade de docência também tem se apresentado como possibilidade
de atividade complementar para alguns participantes, que têm buscado a formação acadêmica
para este fim.
Nas entrevistas percebem-se algumas contradições entre as tarefas constitutivas do
estágio de estabelecimento de carreira e a forma como ela está sendo vivenciada. A tarefa de
estabilização, que indica entre outras a necessidade de o trabalhador prover materialmente a si
e a sua família não é vivenciada por muitos participantes. No entanto, a vivência atual de
outra tarefa também prescrita pela literatura para esse estágio, a de progresso, compreende o
investimento em qualificação na busca de avanços para atividades de maior responsabilidade.
O que se percebe nos relatos dos participantes é a incompatibilidade de vivenciar as
duas tarefas simultaneamente: sustento próprio e investimento em qualificação nesse estágio
de estabelecimento de carreira. A rede acaba fazendo o papel da provisão e sustento enquanto
os psicólogos seguem investindo em qualificação para conseguir colocarem-se no mercado de
trabalho. Uma pesquisa recente realizada com profissionais de nível superior aponta que no
momento do desemprego o que tende a moderar os efeitos da desocupação é o apoio moral e
financeiro recebido da família, o que possibilita a dedicação na busca de emprego (Pinheiro &
Monteiro, 2009).
A teoria de Super foi muito criticada por ignorar o contexto social no qual as carreiras
se desenvolvem e as novas configurações do mercado de trabalho. A partir destas críticas, e
embasado por perspectivas contextualistas (Young, Valach & Collin, 2002) e construtivistas
(Savickas, 2002), Super desenvolveu uma nova perspectiva fundamentada na idéia da
67
interação entre indivíduo e contexto, no potencial para a mudança e na perspectiva de que o
indivíduo é o construtor de seu próprio desenvolvimento. Super mantém a idéia dos estágios,
porém, refere que os mesmos seguem uma sequência mais ou menos rígida. A partir desta
idéia, é possível que os psicólogos estejam vivenciando o estabelecimento de carreira, porém,
em uma ordem diferente, de acordo com o contexto no qual estão inseridos e também com as
características da profissão.
Além disso, o processo vivenciado pelos participantes aponta que, ao longo do tempo,
vão adquirindo maturidade e conquistando seus espaços e identidades profissionais, o que vai
ao encontro da teoria na dimensão Life-span. Quer dizer, é ao longo do tempo, com a
maturidade e experiência que os psicólogos conseguem se estabilizar, consolidar e progredir
na profissão.
Outra abordagem que busca contemplar a diversidade de contextos e possibilidades
em orientação profissional é o paradigma ecológico. Esta abordagem teórica, no cenário
brasileiro, tem como propósito trabalhar as relações indivíduo-sociedade através da análise
integrada e contextualizada dos diferentes elementos que intervém no processo de escolha
profissional e na inserção dos jovens no mercado de trabalho (Sarriera, 1999). O enfoque
psicossocial se preocupa com o processo, considerando o desenvolvimento de carreira como
um todo (Sarriera, 2004).
A realização foi apontada pelos participantes como algo mais importante do que a
questão financeira. A identificação de habilidades e áreas específicas de trabalho onde possam
se inserir é o que oferece a realização profissional e pessoal. Os resultados encontrados em
uma pesquisa realizada com psicólogos por Gondim (2008) aprontam que os participantes
definem que o trabalho deve prover principalmente crescimento e independência,
reconhecimento econômico bem como igualitarismo e acolhimento. Em seguida, deve prover
também realização.
No contexto da carreira proteana, o critério de sucesso é interno (sucesso psicológico),
não externo, a carreira é desenhada pelo indivíduo, e pode ser redirecionada para atender às
necessidades e realizações da pessoa (Hall, 1996). Apesar de muitos participantes referirem a
desvalorização do psicólogo e a baixa remuneração, foram unânimes em suas escolhas de
seguir investindo na profissão, por ser esta o que lhes dava realização. A realização está
relacionada ao profissional fazer aquilo que gosta, aquilo que é interessante e aquilo que
optou fazer.
Outra questão abordada entre os participantes foi a busca pela estabilidade através da
legalização dos contratos trabalhistas e dos direitos de trabalhador. A segurança de ter um
salário fixo e o suporte de uma instituição proporciona a estabilização e consolidação
68
profissional esperada no estágio de estabelecimento. Os profissionais autônomos não referem
esta segurança. É neste momento que o tipo de vínculo empregatício passa a ser fator chave
na sensação de estabilidade e segurança no trabalho.
De acordo com Pinheiro e Monteiro (2009), em um mundo onde as relações de
trabalho estão cada vez mais mutáveis, a busca por um emprego registrado se torna mais
intensa. Antunes (2002) coloca que devido à redução de segurança na manutenção dos
empregos, cresce a preocupação com a empregabilidade. O trabalhador passa a buscar
capacitação pessoal e profissional, sendo controlado pelo tempo, até mesmo fora do trabalho.
A empregabilidade refere-se às condições individuais de competência e aptidão para chegar
ao mercado de trabalho, manter-se no emprego e reingressar no mercado de trabalho.
A preocupação com o desempenho é referida pelos participantes através da
preocupação com o futuro, devido ao medo do desemprego caso seu desempenho não
corresponda às exigências do mercado e preocupações quanto à qualidade do trabalho
oferecido. No contexto da economia e na sociedade brasileira, percebe-se uma situação de
desemprego estrutural, de subemprego e de precarização do trabalho cada vez maiores.
Assim, o medo em relação ao desemprego passa a atingir também os trabalhadores
empregados, pois cada trabalhador é potencialmente desempregado.
Para Sarriera e Silva (2003), as formas de enfrentamento da realidade do trabalho de
participantes de uma pesquisa são adaptativas e o buscam melhorias e mudanças em suas
condições de trabalho, visam apenas à manutenção de seus empregos por causa do sentimento
de medo de perder o emprego. De acordo com Zanelli e Bastos (2004), além da exigência de
novas habilidades e competências, os postos de trabalho são mais fluidos e menos definidos e
as pessoas são pressionadas a conhecerem uma gama cada vez maior de tarefas e a
desenvolverem competências múltiplas para atender às exigências do mercado.
A busca por qualificação é apontada pelos participantes como fundamental para
progredir na carreira. Mencionam também o fato de saírem da faculdade despreparados para o
mercado de trabalho, com poucas habilidades e competências para dar conta das demandas
exigidas pelas atividades de trabalho. Considerando-se que seis participantes fizeram uma
especialização e nove participantes têm duas ou mais especializações lato ou stricto-sensu,
fica evidente a busca da educação continuada para realização do trabalho com qualidade,
buscando unir o embasamento teórico às práticas cotidianas.
Nesse conjunto, pode-se, ainda, considerar que as ferramentas buscadas cursos de
formação, psicoterapia e supervisão assim como as trocas intra e interprofissionais, aludidas
como de fundamental importância, têm exercido uma mediação nesse momento. Isto se na
medida em que permite aos psicólogos transitar dentro e fora da prática, experimentando,
69
aprendendo e simultaneamente refletindo e fazendo sínteses sobre a experiência concreta de
ser psicólogos.
Ao que diz respeito às diferenças percebidas entre os tipos de vínculos trabalhistas, os
psicólogos referem a importância da rede de contatos, ou network para o crescimento e
estabelecimento na profissão. Para os psicólogos que trabalham como autônomos na área
clínica, por exemplo, é a rede de relacionamentos que encaminha os pacientes. Além disso, as
indicações para vagas de trabalho com carteira assinada foram o principal meio de conseguir
as atuais posições dos participantes, que apresentaram transições importantes através destes
novos postos de trabalho. Outra diferença importante de ser observada, e também apontada
pela literatura (Baroni, 2007) é a liberdade percebida pelos profissionais autônomos, referindo
serem gestores do seu tempo e, com isso, também gozarem de qualidade de vida, mesmo que,
por outro lado, tenha a insegurança e instabilidade na profissão.
Embora para os funcionários públicos pesquisados o avanço na carreira muitas vezes
não esteja relacionado à qualificação, o que para os autônomos e celetistas é diretamente
atrelado, percebe-se que todos buscaram qualificar-se, apresentando uma ou mais
especializações. Este fato é relacionado à busca de qualificação para atender às demandas
para as quais os psicólogos não apresentavam competências necessárias para desempenhar os
papéis e atribuições demandadas pelo serviço público, sendo que muitas especializações
foram em áreas de saúde pública.
O contexto é outro fator que interfere diretamente na carreira dos psicólogos, pois,
além da situação econômica apontada, a influência da política nos servidores públicos foi
relatada com grande intensidade. Se, por um lado, os programas públicos visam a atender os
objetivos da constituição federal, através de propostas de melhorias, por outro, a mudança
constante dos cargos de gestão acaba por não permitir a continuidade dos processos, levando à
população ao descrédito e os profissionais da saúde acabam tendo suas ações limitadas.
Já quanto às transições vividas por alguns participantes, foram relacionadas à mudança
do local de trabalho, seja por demissões, seja por busca de melhores oportunidades. Ao
qualificarem-se, os participantes começam a buscar novos níveis de responsabilidade. Por
outro lado, os psicólogos que foram demitidos apontaram transições no sentido de buscar a
estabilidade de um concurso público, a fim de garantir sua estabilidade e legalização das
relações de trabalho. Além disso, transições foram percebidas como processos naturais do
desenvolvimento vital, sejam elas por mudanças de cidade ou de estado civil, por exemplo,
acarretando no desenvolvimento de novos papéis sociais bem como desenvolvendo diferentes
níveis de responsabilidades.
70
Os psicólogos participantes desta pesquisa estão buscando desenvolver a profissão
através dos recursos que têm disponíveis, interagindo com o contexto em constante
transformação e buscando formas justas e legais de trabalho. Através de ações que procuram
valorizar a profissão, estes profissionais são os arquitetos das suas trajetórias únicas de
carreira.
71
CAPÍTULO IV: CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral deste estudo foi compreender a vivência dos psicólogos participantes
com relação às tarefas evolutivas do estágio de estabelecimento de carreira. Além disso,
buscou-se identificar suas características específicas neste estágio; identificar as diferenças
percebidas na carreira relacionadas ao tipo de vínculo empregatício, e a influencia do contexto
no trabalho do psicólogo. A utilização da metodologia qualitativa mostrou-se adequada para
obtenção das respostas a estes objetivos, permitindo a compreensão do desenvolvimento de
carreira dos psicólogos entrevistados e como estes estão vivenciando as tarefas do estágio de
estabelecimento de carreira proposto por Super (1980).
A análise e discussão dos resultados mostraram que os psicólogos pesquisados não
estão estabelecidos nos moldes apontados pela teoria, embora estejam realizando algumas das
tarefas do estágio de estabelecimento, outras ainda não foram plenamente contempladas,
como a provisão, a segurança e firmeza na profissão. Porém, a descoberta de suas habilidades,
interesses de carreira e preocupação com a profissão estão sendo vivenciadas de forma a
servir de estímulo para continuarem investindo na carreira de psicólogo como forma de
alcançar a realização.
Além disso, uma forte influência do vínculo na percepção de estabilidade e
consolidação no trabalho dos psicólogos participantes, que a maioria colocou a situação de
sentir-se estabilizado apenas quando conseguirem (ou conseguiram, no caso dos concursados)
um trabalho com carteira assinada ou, o que é o desejo de muitos, passar em um concurso
público. O trabalho do psicólogo, enquanto autônomo, requer muito investimento a curto
prazo, enquanto o retorno vem a médio e longo prazo, principalmente na prática da psicologia
clínica. As transições vivenciadas pelos participantes foram principalmente no intuito de
buscar esta estabilidade, no sentido de garantir a empregabilidade. O fato de buscarem
principalmente os vínculos públicos é atribuído ao contexto, que o contrato através da
iniciativa privada não dá garantias.
Este estudo tem limitações que são importantes de serem apontadas, dentre elas o fato
de não ter aprofundado a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho, bem como a teoria
de desenvolvimento de carreira ao que diz respeito à orientação vocacional e inserção no
trabalho. Tal fato se deu, pois estas questões não foram objetivo da pesquisa, o que não
significa que não sejam de extrema relevância no desenvolvimento de carreira, e que devam
continuar sendo pesquisadas no contexto da psicologia, como tem sido feito por outras
pesquisas (Callegari, 2001; Krawulski, 2004; Pimentel, 2007).
72
A questão de gênero no desenvolvimento de carreira de psicólogos não foi discutida
neste trabalho, sugerindo-se como tema de futuras pesquisas, pois, por ser uma profissão com
maioria de trabalhadores do sexo feminino (CFP, 2004), caracteriza diferenças de gênero.
Outra questão a ser estudada de forma mais específica refere-se à saúde do trabalhador,
levando-se em conta a prática dos psicólogos, que trabalham em diversos contextos, dentre
eles locais que trabalham com vulnerabilidades sociais e transtornos mentais, que exigem do
profissional muito preparo e capacitação. Espera-se, com este estudo, auxiliar na compreensão
do desenvolvimento de carreira de psicólogos, através do estudo de suas trajetórias
profissionais e dos caminhos que os levaram ou estão levando ao estabelecimento de carreira
e à plena realização enquanto psicólogos.
73
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Artes Médicas.
Zanelli, J. C. (2002). O psicólogo nas organizações de trabalho. Porto Alegre, Brasil:
Artmed.
80
ANEXOS
A
NEXO
A.
Termo de consentimento livre e esclarecido
Prezado(a) participante:
Sou aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estou realizando uma pesquisa sob
orientação do Prof. Dr. Jorge Castellá Sarriera, cujo objetivo é compreender como os
psicólogos porto-alegrenses estão vivenciando as tarefas evolutivas do desenvolvimento de
carreira inerentes ao estágio de estabelecimento.
Sua participação envolve conceder uma entrevista, que será gravada em arquivo de áudio, se
assim você permitir, e que tem a duração aproximada de uma hora e trinta minutos, e o
preenchimento de um questionário com dados sociodemográficos.
A sua participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar, se quiser desistir
ou retirar o seu consentimento a qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo sem
qualquer prejuízo ou penalização. Embora esta pesquisa não apresente riscos, caso sinta a
necessidade de apoio em orientação profissional, poderá ser encaminhado para atendimento
em orientação profissional no Serviço de Orientação Profissional da UFRGS, (51) 3308-5453,
minimizando, dessa forma, os riscos que podem ocorrer.
Os arquivos de áudio gravados, as transcrições das entrevistas e formulários preenchidos
serão arquivados no Instituto de Psicologia da UFRGS, sala 122, na Rua Ramiro Barcelos,
2600, e incinerados após o período de cinco anos.
Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade semantida no mais rigoroso
sigilo e serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo(a).
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará contribuindo
para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo(s) pesquisador(es)
através dos telefones: (51) 3308-5239 ou pelo e-mail: [email protected] (Lívia).
A presente pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de
Psicologia, com sede na Rua Ramiro Barcelos, 2600, e-mail [email protected] e telefone:
(51) 3308-5066 e foi aprovada em 10/07/2009, sob o protocolo de pesquisa N
o
2009023.
Atenciosamente,
_____________________________________
Orientador: Prof. Dr. Jorge Castellá Sarriera
________________________________
Mestranda: Lívia Maria Bedin
Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste termo de
consentimento.
__________________________________
Nome e assinatura do participante
_______________________________
Local e data
81
A
NEXO
B.
Ficha de dados sociodemográficos
1. Idade:_________________
2. Sexo: ( ) M ( ) F
3. Situação Conjugal:
( )Solteiro(a)
( ) Casado(a) formal ou informalmente
( ) Separado/divorciado(a)
( ) Viúvo(a)
4. Local de nascimento: ____________________________
5. Escolaridade
Ano de Graduação: ____________
Pós-graduação: ( ) sim ( ) não
( ) especialização ( ) mestrado ( ) doutorado
Descrição da Pós-graduação (local e área): ______________________________________
Ano de Formação do Pós: ___________
6. Situação familiar (com quem você mora)
( ) sozinho(a)
( ) com marido/esposa ou companheiro(a) (sem filhos)
( ) com marido/esposa ou companheiro(a) e filhos
( ) com pais ou parentes
( ) com filho(s)
( ) com amigos ou conhecidos
( ) outros: ______________________________
7. Renda Mensal:
( ) Menos de R$ 500,00 ( ) Entre R$ 500,00 e R$ 1000,00
( ) Entre R$ 1001,00 e R$ 2000,00 ( ) Entre R$ 2001,00 e R$ 3000,00
( ) Entre R$ 3001,00 e R$ 4000,00 ( ) Entre R$ 4000,00 e R$ 5000,00
( ) Entre R$ 5001,00 e R$ 6000,00 ( ) Acima de R$ 6000,00
8. Tempo que iniciou atividade profissional:______anos e_______meses.
82
A
NEXO
C.
Entrevista semi-estruturada
Questões Norteadoras:
Conte-me sobre sua trajetória profissional, desde a escolha da formação até os dias de hoje.
Como você considera que pode consolidar-se nesta posição que ocupa hoje.
É possível avançar para novos níveis de responsabilidade no seu trabalho?
O que você está fazendo atualmente para desenvolver a sua carreira?
83
A
NEXO
D.
Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
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Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo