É muito importante fazer essas escolhas, porque corremos o risco de
nos esquecermos de quem somos. É preciso encontrar o meio termo,
que interesse e faça sentido para todos. A comunidade japonesa, por
muitos anos, foi proibitiva. Isso de certa maneira tornava menos
atraente para o jovem estar em contato com a sua cultura, pois a
convivência entre o velho e o novo tornava-se muito conflituosa. Os
casamentos, por exemplo, só eram permitidos entre japoneses. Os
noivos conheciam-se por fotografias, era um miai-kekkon
(casamento arranjado).
Segundo ela, esse tipo de “acordo” era feito para formar laços de
parentesco, com seus respectivos compromissos e interesses. Voltamos a perguntar
sobre a união das famílias e o contato com os mais velhos, tão privilegiados entre os
japoneses. Indagamos especialmente sobre a organização dos eventos para as
famílias, como uma gincana que envolve a família e a escola. Comentamos que
seria uma maneira agradável de se reunir e de, ao mesmo tempo, preservar e
transmitir a cultura japonesa. A professora Estela explicou:
É undoukai o nome. Elas são organizadas prioritariamente
direcionadas às crianças, que não comparecem ao evento para
testar seus limites, mas para brincar e interagir não apenas com
crianças da mesma idade, como também com suas próprias
famílias e com todo o resto da comunidade. Todos participam. A
família, crianças, professores ajudam a montar barracas, angariar
brindes, prendas, preparar objetos e acessórios que serão usados.
Pedimos à professora, na sequência, para que ela contasse mais
sobre sua cultura e sobre o espírito de cooperativismo que existe na sociedade
japonesa.
Eu acho que esse forte espírito de coletividade que temos, por uma
consciência de grupo também muito forte, acabam sobrepujando as
individuais. Por exemplo, para nos mantermos conectados, criaram-
se as seções, que funcionam mais ou menos assim: em uma quadra
onde existam duas famílias de japoneses, já podemos caracterizar
uma seção. Cada seção tem um presidente, que é o responsável por
fazer a conexão entre os moradores daquelas quadras. Se alguém
da colônia morre, é ele quem vai comunicar os demais. Quando
nasce a mesma coisa. Ele passa dando os parabéns nos
aniversários, nas datas importantes para cada família. Essas seções
são organizadas nas cidades, formando as Shybu (associações),
como são chamadas, que por sua vez reúne as seções de cada
cidade. No Paraná são 74 Shybu. Na década de 30 eram
responsáveis por organizar a vacinação. Só a título de curiosidade,
eu fui vacinada pelo Dr. Gabriel Martins, recém chegado em
Londrina, na época em que a varíola estava fazendo muitas vítimas.
Questionamos, então, a Profa. Estela a respeito da ocorrência de
organizações desse tipo no período da 2º Guerra Mundial e se ela considerava que